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OS LIMITES DO PODER CONSTITUINTE

Será que o poder constituinte é um poder ilimitado, ou será que é um poder sujeito a certas
pautas / balizas?

É uma questão muito controversa, pois os oito cientistas defendiam que ele era uma realidade
ilimitada. Defendiam que era uma realidade autónoma, independente de qualquer outro poder, e
um poder omnipotente, isto é, que não estava subordinado a qualquer outro.

DECISIONISTAS: mais tarde, na 1ª metade do Sec. XX, as teorias decisionistas alemãs (Karl
Schwett) defendiam uma teoria idêntica, no âmbito da ausência de poderes limitadores do Poder
Constituinte.

Sustentavam a ideia de que o povo era o único sujeito do Poder Constituinte e este era a legítima
manifestação da soberania de determinado povo. Como tal, o acto constituinte resultava de uma
decisão política fundamental e era uma ordem fundadora e soberana.

Estas teorias foram contrariadas por outras teorias diversas, como por exemplo as doutrinas do
DIREITO NATURAL.

O Prof. Jorge Miranda defende a existência de limites importantes ao Poder constituinte:

1. Limites Transcendentes: são limites fixados pelo Direito natural, da natureza supra
positiva que vinculavam o Direito positivo e que limitariam o poder constituinte;
2. Limites Imanentes: conjunto de pautas que resultariam não só do Poder Constituinte,
mas também da própria ordem jurídica positiva. Por exemplo: aspectos relacionados com
a forma de Estado;
3. Limites Heterónimos: isto é, quando temos uma constituição que se encontra vinculada
a outras ordens jurídicas diferentes:
Ex.: Certas regras de Direito internacional público; constituições externas, por exemplo, a
Constituição canadiana que tinha alguns aspectos ditados pela ordem constitucional
britânica.
O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, por seu turno, tem uma posição própria que deriva da sua
matriz ESTRUTURALISTA. O Prof. Rebelo de Sousa concebe limites ao poder político, mas
estes limites derivam das próprias estruturas da sociedade, do Estado e do poder.

Não defende a existência de poderes omnipotentes, como defendiam as ideias oitocentistas,


porque qualquer sociedade encontra-se marcada por um conjunto de valores, de opções
ideológicas, um conjunto de vectores de evolução social e económica e, portanto, todas estas
realidades acabam por ser corporizadas no processo constituinte e, assim, a Constituição é
limitada, condicionada por essas mesmas realidades.

O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa é ainda contra a teoria do poder constituinte ser limitado sob o
ponto de vista jurídico, e isto porque o poder constituinte se fosse limitado nesse prisma,
pressuporia a faculdade das normas da Constituição originária serem declaradas inconstitucionais
por violação de um outro ordenamento jurídico que seria exterior, mas que na realidade não
existe.

Assim, a inconstitucionalidade das normas constitucionais estará relacionada com os limites do


poder constituinte e, mesmo na Alemanha, onde se fazem grandes referências ao Direito natural,
os tribunais alemães têm contestado muito esta possibilidade, resistindo a declararem
inconstitucionais as normas da Constituição.

Ainda na óptica deste professor há também uma grande fragilidade no que toca aos limites
imanentes e mesmo relativamente aos limites heterónimos, na medida em que nestas situações
existe uma auto-limitação do próprio poder, pois este é livre de adoptar este tipo de
comportamento.

Ex.: Os Direitos Fundamentais dos cidadãos estão vinculados à Declaração Universal dos
Direitos do Homem.

Ou seja, esta submissão só existe quando o País assim o quer e a Constituição o designa. Há pois
uma auto-limitação. A nossa Constituição está limitada pela Declaração Universal.

Formas de Exercício do Poder Constituinte


1- Formas democráticas: Existe um livre consentimento do Povo, como sujeito do Poder
Constituinte na feitura das normas constitucionais;

2- Formas autocráticas – Essa intervenção do Povo ou está condicionada ou se encontra


ausente;
3- Formas mistas – Encontramos aspectos de uma e de outra.

1- Formas Democráticas:

a) Formas representativas – que decorrem da aprovação de uma Constituição através de


uma Assembleia Constituinte;

b) Formas directas – têm lugar nas Constituições dos Cantões Suíços: uma assembleia
popular aprova o texto da Constituição. São os próprios cidadãos e não os seus representantes
que intervêm na feitura da Constituição;

c) Formas referendárias – Há uma assembleia representativa que aprova o texto


constitucional ele será posteriormente submetido a referendo. Ex. Constituição Espanhola de
1978.

2 – Formas Autocráticas:

a) Formas Monocráticas – aquelas que resultam da decisão de uma só pessoa. Ex.: outorga
monárquica; formas Cesaristas;
b) Formas Convencionais – quando há uma assembleia não eleita pelo Povo que decreta
uma norma constitucional. Ex.: Assembleia vanguardista popular;
3 - Formas Mistas:

Têm uma componente complexa onde concorrem vontades de natureza autoritária e


democrática. As formas plebiscitárias que são consideradas autoritárias pelo Prof. Marcelo.
Todavia, são consideradas pela maioria dos autores como mistas. Ex.: Constituição francesa
de 1958 que foi plebiscitada porque foi elaborada por um órgão não representativo e, depois,
foi submetida à vontade popular.
NB. Para mehor esclarecimento de dúvidas referente a esta aula poderemos esclarecer na
próxima cessão que teremos. Cordiais saudações.

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