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Módulo II - Deveres
Sem prejuízo do equilíbrio harmônico principiológico, o princípio da legalidade, ao lado do princípio
da moralidade administrativa, é considerado um princípio informador dos demais princípios
constitucionais reitores da administração pública. E isto lhe atribui aplicação quase totalitária na
atividade pública, de forma que a vinculação ao ordenamento esteja, em determinado grau, diluída
e subentendida em todos os mandamentos estatutários. De fato, a leitura atenta dos arts. 116,
117 e 132 da Lei nº 8.112, de 11/12/90, leva a perceber que a legalidade paira, manifestase e,
por fim, repercute na grande maioria das infrações disciplinares neles elencadas (enquanto que as
máximas da impessoalidade, da publicidade e da eficiência têm suas repercussões mais pontuais e
restritas). Em outras palavras, sendo esse um dos dois principais princípios norteadores da
atividade pública, a grande maioria dos enquadramentos disciplinares tem em sua base o
descumprimento do dever de observar normas legais e regulamentares, de forma que o dispositivo
especificamente insculpido no art. 116, III valha quase que como regra geral e difusa dos deveres
estatutários.
Sendo a atividade pública vinculada de forma que o agente público somente pode fazer aquilo que
o ordenamento expressamente lhe permite e uma vez que nenhuma norma autoriza
o cometimento de irregularidade, todo ato ilícito, em regra, passa, em sua base, por
uma inobservância de norma. Todavia, esta infração disciplinar pode ser absorvida por
irregularidades mais graves. Daí, o enquadramento neste inciso somente se justifica se o ato não
configura irregularidade mais grave.
Além da questão da gravidade, a diferenciação entre o enquadramento de uma conduta no inciso
III do art. 116 ou nos demais incisos deste artigo ou nos arts. 117 e 132, todos da Lei n° 8.112, de
11/12/90, também pode advir da análise se o ato infracional comporta ou não enquadramento
mais específico, a prevalecer sobre aquele mais geral e difuso, de forma que podese cogitar de lhe
atribuir valor quase residual. E, nesse aspecto, além da busca do esclarecimento do ânimo
subjetivo com que o ato foi cometido (se com culpa ou se com dolo), também pode ainda se fazer
necessário identificar a ocorrência ou não dos parâmetros elencados no art. 128 da Lei n° 8.112,
de 11/12/90, para diferenciar se o ato, por exemplo, justifica ser enquadrado em afronta do dever
de observar normas legais ou regulamentares (art. 116, III da citada Lei) ou se merece
enquadramento na proibição de valerse do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem (art.
117, IX da mesma Lei).
Neste enquadramento, deve a comissão especificar na indiciação qual norma (tipo da norma, se lei,
decreto, instrução normativa, portaria, etc, número, artigo, inciso) foi descumprida pelo acusado,
sob pena de possibilitar alegação de cerceamento de defesa.
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1/18/2016 Módulo II - Deveres: Inciso III - observar as normas legais e regulamentares
Destaquese que a mera divergência de entendimentos ou de interpretação de normas envolvendo
dois ou mais servidores, desde que não caracterizada máfé de qualquer um dos dois lados, não
configura, a princípio, ilícito disciplinar. É inerente da atividade administrativa, fortemente
hierarquizada, o poder de rever seus próprios atos, em decorrência do princípio da autotutela,
inclusive com a atuação hierárquica. E, muitas vezes, isto se dá em função tão somente de
diferentes interpretações ou entendimentos sem que isto se confunda em afirmar que a postura a
ser reformada decorreu de ato ilícito, passível de responsabilização.
A leitura atenta do art. 116, III da Lei nº 8.112, de 11/12/90, indica que o Estatuto não conferiu ao
servidor nenhum poder discricionário para apreciar a legalidade de norma ou para avaliar, por seus
critérios pessoais, a conveniência de cumprila ou não. Operase a presunção de que as normas
são legais. A norma, desde que devidamente editada por quem é competente e publicada, a partir
de sua data de entrada em vigor, deve ser plenamente cumprida pelo servidor, ainda que este, em
sua própria convicção, a considere ilegal. A convicção por parte do servidor de que a norma
apresenta defeitos de forma ou de mérito deve fazêlo provocar a unidade ou a autoridade
competente para declarar a ilegalidade da norma e para excluíla do ordenamento ou alterála;
além disso, se ele tem elementos de convicção de irregularidade na feitura da norma, ele deve até
representar contra quem a editou. Mas jamais o servidor deve deixar de cumprir a criticada norma,
uma vez que, enquanto não revogada na forma legal, o servidor tem o dever funcional de cumpri
la, por força do dispositivo inquestionável do art. 116, III da Lei nº 8.112, de 11/12/90 e também
por força do princípio da legalidade, sob pena de ver configurado o ilícito em tela.
Eventuais atos irregulares decorrentes do descumprimento de uma norma ilegal não acarretarão
repercussão disciplinar para quem os cometeu cumprindo estritamente a norma, pois assim terá
agido com atenção não só à legalidade mas também à hierarquia. A princípio, o
agente administrativo subordinase de forma mais irrecusável aos mandamentos internos
emanados por autoridades que lhes são proximamente superiores, como, por exemplo, ordens de
serviço, instruções normativas e portaria. Tais atos irregulares em obediência a uma norma
superior, no máximo, se for o caso, poderão acarretar repercussão disciplinar para quem a editou.
Com mais ênfase ainda se reforçam esses argumentos inibidores para o servidor descumprir lei por
entender que ela é inconstitucional (visto, em essência, essa ser uma competência do Supremo
Tribunal Federal).
Não é dado ao servidor o direito de alegar o desconhecimento da norma a fim de justificar sua
inobservância. Todos os atos legais (em sentido extensivo do termo) são publicados (seja em DOU,
seja apenas internamente). Tampouco costuma prosperar a alegação de falta de treinamento ou
capacitação. É dever do servidor, inerente à sua função, manter comprometimento e qualidade nos
trabalhos, de forma que a ele próprio incumbe manterse atualizado com as mudanças e inovações
legais e diligenciar para se familiarizar com o ordenamento que rege sua matéria de trabalho.
FormulaçãoDasp nº 73. Erro de direito
Aplicase ao Direito Administrativo o princípio de que “ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que n
ParecerDasp. Abandono de cargo Ignorância da lei
A ignorância da lei não é cláusula excludente da punibilidade.
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