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APONTAMENTOS SOBRE SEXUALIDADE E

A CONSUBSTANCIALIDADE DAS RELAÇÕES DE PODER

Rafael Dias Toitio1

Resumo: Embora o feminismo não seja uma corrente teórica unificada e sem ambiguidades, já que no seu
interior há diversas posições, práticas e projetos políticos, podemos afirmar que, atualmente, tem se
consolidado uma nova perspectiva na teoria feminista: a perspectiva da imbricação, articulação ou
consubstancialidade das relações sociais de gênero, “raça” e classe. Nesse trabalho, procuro apontar
alguns caminhos para pensar a sexualidade no processo de co-formação das relações de poder. Para tanto,
utilizarei as reflexões de feministas francesas como Daniele Kergoat, Jules Falquet e Monique Wittig, e
também alguns elementos teóricos das estadunidenses pós-estruturalistas Gayle Rubin, Judith Butler e
Donna Haraway. No fim, procuro dar alguns exemplos para pensar como a opressão à sexualidade se
“entrecruza” com e pode ser co-formada pela exploração econômica, a dominação e a opressão racial e de
gênero.
Palavras-chave: Relações de poder. Consubstancialidade. Sexualidade.

Embora o feminismo não seja uma corrente teórica unificada e sem ambiguidades, já que no seu
interior há diversas posições, práticas e projetos políticos, podemos afirmar que, nas últimas décadas, tem
se consolidado uma nova perspectiva na teoria feminista: a perspectiva da imbricação, articulação ou
consubstancialidade das relações sociais de poder. Ela ganhou força nos anos 1980 e 1990 a partir das
teorizações das feministas negras estadunidenses, as feministas do (então chamado) “terceiro mundo” e as
feministas materialistas francófonas. Falar em dominação e opressão da mulher já não bastava para elas,
pois outras relações de poder mediavam, articulavam, produziam e eram produzidas pelas relações de
gênero. No plano internacional, duas correntes destacam-se no debate teórico: as feministas materialistas
francófonas e as feministas pós-estruturalistas estadunidenses. No Brasil, a socióloga feminista Heleieth
Saffioti, uma das teóricas a propor a discussão, absorve a contribuição de ambas as vertentes (cf.
SAFFIOTI, 1992, 2009).
Saffioti (2009) chama atenção para o fato de que as sociedades capitalistas modernas são
alicerçadas em relações hierárquicas e contraditórias, dentre as quais se destacam três contradições
fundamentais: de classe, de sexo e de raça/etnia. Tais relações não correm paralelamente, mas se
“entrecruzam”, sendo que uma contradição se faz na outra e aprofunda as demais. Ainda que sob
perspectivas epistemológicas diferentes, tanto a corrente francesa como a estadunidense chegam a essa
mesma conclusão. Contudo, diferenciam-se quanto ao entendimento do papel da sexualidade nesse
processo, ainda mais se compreendida no sentido de práticas e expressões sexuais não hegemônicas.
Enquanto uma parte das feministas francesas como Daniele Kergoat e Helena Hirata, não (ou mal) tratam

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Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Brasil), com bolsa do Cnpq.
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X
do assunto, Jules Falquet e Monique Wittig, que são da mesma vertente das primeiras, tratam em termos
de instituição social. Já as estadunidenses Gayle Rubin, Judith Butler e Donna Haraway, nos passos do
filósofo francês Michel Foucault, pensam a sexualidade em termos de relações de poder.
A proposta do presente texto consiste em fazer alguns apontamentos sobre a questão da
sexualidade como relação de poder, a partir da perspectiva materialista e utilizando algumas contribuições
da perspectiva pós-estruturalista. Essa abordagem se justifica pela grande quantidade de debates
elaborados no campo pós-estruturalista sobre o papel das ideias, discursos, normas e representações na
construção do sexo e do desejo. Falta, contudo, fazer uma discussão a partir da vertente materialista que
enfoca as questões relacionadas às condições de vida, ao trabalho e distribuição da riqueza social, às
determinações materiais2 etc. Embora as ideias, discursos, normas e representações regulam, controlam e
organizam as relações, não se pode esquecer que aquelas são construídas no interior de práticas e relações
sociais hierárquicas. Por isso, esse texto se propõe a fazer o debate da sexualidade como relação de poder,
procurando tecer algumas considerações sobre o “solo” de relações e práticas onde as normas, visões e
discursos sobre sexualidade foram criadas.
Para isso, tento fugir da dicotomia entre materialidade e cultura, tomando-os em uma relação
dialética e dinâmica. Até mesmo porque parto de uma concepção de materialidade proposta por Karl
Marx nas “Teses sobre Feuerbach”, que não resume materialidade ao “econômico”: “Toda vida social é
essencialmente prática. Todos os mistérios que conduzem a teoria ao misticismo encontram sua solução
racional na prática humana e na compreensão dessa prática” (MARX, 2007, p. 534). Assim, sexualidade
será entendida aqui como prática social – e não natural – que, quando exercida em conformidade com
outras práticas, cria representações e normas que dão sentido a essas práticas (daí a necessidade da
compreensão), mas o faz criando legitimidade a certas formas, identidades, práticas e expressões sexuais
materializadas em um grupo social determinado que oprime e subordina (ideológica e, por vezes,
economicamente) os demais grupos.

Consubstancialidade das relações sociais

A perspectiva das francesas propõe uma análise materialista, histórica e dinâmica das relações de
poder de classe, gênero e sexualidade. Kergoat (2010) se coloca no debate propondo uma visão relacional
de poder, em que classe, raça e gênero devem ser entendidos, cada uma, como uma relação social, isto é,
uma relação antagônica entre dois grupos sociais, instaurada em torno de uma disputa. A autora propõe
uma distinção – a meu ver, de caráter metodológico e não orgânico – entre as relações intersubjetivas,

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Determinação no sentido apontado por Raymond Williams, e pensado a partir da experiência da prática social, de fixar
limites e de exercer pressões (por força externa ou por leis internas de um desenvolvimento particular). E não como causa
externa que prediz ou prefigura por completo, que controla totalmente uma atividade ulterior (WILLIAMS, 2011, p. 44).
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próprias dos indivíduos concretos entre os quais se estabelecem, e as relações sociais, que são abstratas e
opõem grupos sociais em torno de um conflito3. Este se enraíza na materialidade, no sentido de que as
relações sociais de gênero, raça e classe são “relações de produção”, nas quais se entrecruzam exploração,
dominação e opressão. Nesse sentido, para pensar as disputas materiais e ideológicas das relações sociais,
é indispensável analisar como se dá a apropriação do trabalho de um grupo por outro.
Contudo, não se trata apenas de uma relação “material”, mas também produzida por e produtora
de ideias, normas, valores e concepções de mundo. Isso amplia o caráter dinâmico das relações sociais,
que devem ser historicizadas, haja vista que possuem uma “estrutura” que permite sua permanência, mas
também passam por transformações que correspondem a determinados períodos históricos. Para isso,
deve-se desnaturalizar radicalmente as construções que se baseiam na diferenciação das desigualdades,
sem com isso perder de vista a dimensão concreta das relações sociais (KERGOAT, 2010).
Além disso, Kergoat afirma a necessidade de não isolar e segmentar as relações sociais e, para
tanto lança mão dos conceitos de consubstancialidade e coextensividade, no intuito de compreender, de
forma não mecânica, as práticas sociais frente à divisão do trabalho em sua tripla dimensão: de classe,
sexual e racial. O conceito de consubstancialidade, entendido como “unidade de substância”, evidencia
que a diferenciação dos tipos de relações sociais é uma operação por vezes necessária à sociologia, mas
que é analítica, e não pode ser, por isso, aplicada inadvertidamente à análise das práticas sociais
concretas. Isso porque as relações sociais formam um nó que não pode ser desatado no nível das práticas
sociais, mas apenas na perspectiva analítica. E as relações sociais são também coextensivas: ao se
desenvolverem, as relações sociais de classe, gênero e raça se reproduzem e se co-produzem mutuamente.
Deve-se atentar para o fato de que a ideia de consubstancialidade não implica que tudo está relacionado a
tudo, mas constitui apenas uma forma de leitura da realidade social (KERGOAT, 2010). É uma
perspectiva que dá centralidade ao entrecruzamento dinâmico e complexo do conjunto das relações
sociais, cada uma imprimindo sua marca nas outras, ajustando-se às outras e construindo-se de forma
recíproca. Essas relações interagem e estruturam a totalidade do campo social e podem, inclusive, entrar
em contradição entre si.
A ideia do nó nos lembra que, ao menos nas sociedades capitalistas, todo indivíduo pertence a
uma classe, deve possuir um gênero (homem ou mulher) e é racializado. Contudo, esse indivíduo deve
também ter uma expressão sexual e uma identidade de gênero, de forma que, sobretudo para aqueles que
transgridam as formas e modelos sexuais dominantes, a sexualidade também é uma relação de poder, que

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No francês, o termo relações sociais pode ser traduzido de duas formas: rapport social e relation social. Relation social
remete às relações concretas que mantém os grupos e indivíduos; são relações interpessoais, cotidianas e relativamente fáceis
de mudar, que podem ser observadas empiricamente. Já rapport social refere a relações abstratas, estruturais, impessoais e que
apenas mudam por meio das lutas coletivas (os movimentos sociais). São relações antagônicas e contraditórias entre grupos ou
classes sociais, que pré-configuram o social (KERGOAT, 2009).
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se expressa nas formas de opressão e nos mecanismos de controles sobre o “sexo”. Mas como a
sexualidade pode se inserir no processo de co-formação das relações sociais de poder? Como pensá-la na
perspectiva da consubstancialidade?

Sexualidade e relações sociais de sexo

Uma das teorias privilegiadas na construção do debate político sobre a sexualidade é a teoria
feminista, uma vez que as reflexões sobre as relações de gênero sempre envolveram questões como a
ligação histórica entre sexualidade e reprodução, a subordinação sexual da mulher ao homem, a
“sexualização” das mulheres negras, a sexualidade das mulheres lésbicas etc. A “imbricação” entre
gênero e sexualidade tem como mediação o sexo: que pode ser pensado no sentido de sexo masculino e
sexo feminino, em suas dimensões culturais e biológicas, ou como prática ou desejo sexual. Nesse
sentido, cabe indagar se a divisão sexual do trabalho – entendendo a divisão do trabalho como elemento
central para a explicação materialista – é fundada apenas na divisão dos papeis sexuais? Qual a
“mediação” que garante a relação entre o grupo social de mulheres e o de homens? É o que tentarei
discutir nessa parte.
Para as feministas materialistas francesas, existem três formas de divisão do trabalho: a divisão
social do trabalho, que dá origem às classes sociais; a divisão racial do trabalho, que sustenta a construção
dos grupos “racializados”; e a divisão sexual do trabalho, que engendra a divisão da humanidade em dois
grupos “sexuados” (homem e mulher). Esta forma de divisão do trabalho organiza as relações sociais de
sexo, as quais se assentam em dois princípios fundamentais: o princípio de separação, que divide os
trabalhos de homens e trabalhos de mulheres; e o princípio de hierarquização, devido à atribuição maior
de “valor” ao trabalho considerado de homem em detrimento do trabalho considerado de mulher. Assim,
a divisão sexual do trabalho tem por características a destinação prioritária dos homens à esfera produtiva
e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apreensão pelos homens das funções de forte
valor social agregado (políticas, religiosas, militares etc.). O conceito de relações sociais de sexo, ou
relações de gênero, procura evidenciar o caráter histórico das relações entre os sexos ao demonstrar que
as condições em que vivem homens e mulheres não são produtos de um destino biológico, mas são antes
de tudo construções sociais4 (KERGOAT, 2010). Mas qual o papel e a relação da sexualidade nesse
processo? Jules Falquet (2008) sugere que ela deva ser incluída e entendida nas relações sociais de sexo e,
para tanto, indica as reflexões das feministas lésbicas Monique Wittig e Gayle Rubin.

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Saffioti aponta que, como qualquer relação de poder, não existe o total esmagamento da mulher como agente “dominada-
explorada”, pois nos dois polos das relações existe poder, mas em doses tremendamente desiguais. Trata-se, antes de tudo, de
uma relação dialética (SAFFIOTI, 1992, p. 184).
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Também da vertente do feminismo materialista, Wittig (1993) afirma que, se a opressão da mulher
não se encontra em um elemento natural, não existindo, por isso, uma divisão natural ou biológica entre
homens e mulheres – pois, caso o contrário, atribuir-se-ia um caráter natural a uma questão que é histórica
e social, tornando-a impossível de mudar –, isso evidencia que uma das principais relações que une o
grupo de homens ao de mulheres, a heterossexualidade, constitui uma instituição social. Utilizando a
mesma concepção, Falquet fala como a heterossexualidade endossa fortemente as leis e políticas do
Estado, organizando a circulação de pessoas de acordo com o sexo, a classe e a “raça”, ocorrendo o
mesmo com a possibilidade de acesso ao mercado remunerado, à aliança, à legitimação, à posse das
crianças e à herança (FALQUET, 2008, p. 134-5).
Já a contribuição da estadunidense Gayle Rubin se dá por meio do seu artigo “O tráfico de
mulheres: notas para uma „economia política‟ do sexo”, de 1975. Ali ela oferece uma série de
formulações teóricas que impactaram bastante a produção feminista posterior e que, para esse debate,
sublinho apenas alguns aspectos. Primeiro, ela utiliza o termo “gênero” que, até o seu texto, era mais
utilizado no campo da medicina, psicologia e sexologia. Rubin propõe que a opressão das mulheres e das
“minorias sexuais” deveria ser entendida a partir do “sistema sexo/gênero” que, numa “definição
preliminar”, ela resume como uma série de arranjos pelos quais uma sociedade transforma a sexualidade
biológica em produtos de atividade e intervenção humana, social, e nos quais as necessidades sexuais são
transformadas (RUBIN, 1986, p. 97). Ela traz a ideia da “organização social do sexo” que, num nível
mais geral, baseia-se no gênero, na obrigatoriedade da heterossexualidade e na repressão da sexualidade
da mulher. Trocando em miúdos, o gênero, como uma divisão dos sexos imposta socialmente, impõe não
apenas uma identificação com um sexo, mas também obriga que o desejo sexual seja orientado ao outro
sexo. A divisão sexual do trabalho está implícita nos dois aspectos de gênero: criam os indivíduos como
masculino e feminino, e os criam também como heterossexuais. Rubin conclui, com isso, que o mesmo
sistema de regras e relações (o “sistema sexo/gênero”) que oprime as mulheres, é responsável também
pela opressão dos/as homossexuais (RUBIN, 1986, p. 115). Propõe, assim, uma teoria que busca entender
como ambas as opressões estão articuladas e faz uma proposta analítica em que a divisão dicotômica e
binária de gênero estabelece e se estabelece dentro do arco compulsório da heterossexualidade. As
práticas, manifestações e arranjos sexuais são regulados para se restringirem nesse marco.
É importante apontar, aqui, que Rubin está discutindo a partir da análise de “sistemas” de
parentesco, conceito proposto por Lévi-Strauss, para designar a organização política baseada nas relações
familiares de comunidades e tribos. Da mesma forma, podemos pensar também o patriarcado que, como
sistema social que concentra o poder no homem (o pather) o qual tem amplo controle sobre a mulher e a
prole, em contextos de pequenas economias rurais e de fraca intervenção do Estado, também organiza
suas relações em torno da heterossexualidade compulsória e da divisão binária de gênero. O papel da
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mulher estava quase totalmente ligado ao doméstico, à família e à reprodução. Tanto as relações de
parentescos como as patriarcais se desenvolveram em sociedades anteriores ao surgimento da
industrialização, da urbanização e do trabalho “livre” assalariado. O avanço das relações capitalistas
destruiu aos poucos a força material e política das relações de parentesco e patriarcais e, com ela, rompeu-
se a base sobre a qual se desenvolveu a heterossexualidade compulsória – que hoje existe como norma ou
concepção de mundo.
Com isso, teria sentido pensar a sexualidade como relação de poder se a nossa análise parte do
feminismo materialista para quem uma relação de poder é uma relação não apenas social como também
material? Faz sentido se não utilizarmos a noção de materialidade de forma restrita e economicista.
Em primeiro lugar, deve-se levar em conta a observação das feministas socialistas sobre a
afirmação de Engels, em “A origem da família, propriedade privada e do Estado”, de que para a
concepção materialista, o fator determinante da história é, em última instância, a produção e reprodução
imediata da vida, envolvendo por um lado a produção dos meios de subsistência e, por outro, a produção
dos próprios seres humanos. A reprodução sexual é um elemento característico e constitutivo das
condições materiais de existência, sendo que, nas relações de parentesco, a criação do gênero, a
reprodução dos indivíduos e a regulação social da sexualidade formam parte do mesmo processo de
produção e reprodução, em que a família tem papel central – até mesmo por constituir unidade econômica
elementar desse sistema. Tal processo atuava na produção de pessoas de acordo com modelos sociais que
foram úteis para o desenvolvimento do capitalismo. Além disso, a própria divisão sexual do trabalho não
pode ser entendida à margem da produção “generificada” das pessoas e da reprodução da
heterossexualidade (BUTLER, 2000). E o contrário também é válido, haja vista que embora o advento da
urbanização, a expansão do trabalho “livre” assalariado e a organização política das mulheres tenham
trazido conquistas e maior independência política e econômica a elas, a divisão sexual do trabalho ainda
permanece e, com isso, o reforço dos mecanismos de criação dos papeis sexuais, do binarismo de gênero
e do heterossexismo.
Em segundo lugar, Butler (2000) indaga se a luta dos sujeitos cujas sexualidades não-normativas
são marginalizadas e desqualificadas, trata-se apenas de uma questão de reconhecimento cultural e se as
normas culturais que os constrangem podem ser indissociáveis de seus efeitos materiais. A filósofa pós-
estruturalista oferece alguns exemplos para refletir sobre essa indagação. Lembra a exclusão de lésbicas e
gays das noções de família definidas pelo Estado (que, de acordo com o direito tributário e de
propriedade, é uma unidade econômica), negando-lhes a condição de cidadania; a privação ao direito de
herdar as propriedades do amante morto ou receber do hospital o corpo deste; as taxas de pobreza entre as
lésbicas etc. Nesse mesmo sentido, Wittig insiste na opressão e violência material que os discursos dos

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grupos dominantes fazem aos oprimidos; violência que se perpetua, dentre outras formas, pelo
intermediário do discurso científico e o da grande comunicação (WITTIG, 2007).
Por fim, não se deve esquecer a força material que podem ter as ideias, concepções e normas
sociais. Essa é uma indicação de Karl Marx, em “Crítica à Filosofia do Direito de Hegel”, e discutida por
Antonio Gramsci no debate contra o economicismo.
“Referências ao senso comum e à solidez de suas crenças encontra-se frequentemente em Marx.
Contudo, trata-se de referências não à validez do conteúdo de tais crenças, mas sim a sua solidez formal e,
consequentemente, à imperatividade quando produzem normas de conduta” (GRAMSCI, 2006, 118).
No debate sobre a relação entre sexualidade e materialidade, a contribuição de Michel Foucault é
basilar. Ele fundamenta a concepção da historicidade do sexo ao discutir o desejo sexual, que deve ser
contestado como ente biológico pré-existente ao social (FOUCAULT, 1979): o desejo sexual é gerado,
produzido e conformado no interior das relações sociais; estas conferem forma e conteúdo àquele. Assim,
a heterossexualidade como única forma de expressão do desejo sexual não é resultado do instinto dos
indivíduos – e essa afirmação deve ser entendida com base nos estudos de outros historiadores e cientistas
sociais. Por isso, penso que o heterossexismo, ou a heterossexualidade compulsória – que impõe a
perspectiva heterossexual na construção da sexualidade de todos os indivíduos –, deve ser entendido
como uma concepção de mundo que se torna norma social ao se solidificar nos corpos e nas práticas
individuais.
Entre outros elementos, Foucault evidencia como a sexualidade também constitui uma relação de
poder ao promover o deslocamento do espaço e do “nível” em que a análise do poder se realiza. Ele
enfatiza as formas mais regionais e concretas de poder, tomando o corpo em técnicas de adestramento e
dominação. O poder intervém materialmente na realidade mais concreta dos indivíduos – o seu corpo – e
que se se situa ao nível do próprio corpo social e não acima dele, penetrando na vida social e, por isso,
pode ser caracterizado como micro-poder (FOUCAULT, 1979; MACHADO, 1979, p. XII).
Aqui, cabe apontar que embora o debate das feministas materialistas ofereça uma contribuição
impar para pensar a sexualidade, penso ser restrito conceber a heterossexualidade apenas como instituição
social. Falquet (2008, p. 132), para conceitua-la como instituição que endossa o Estado e organiza a
circulação de pessoas e as formas de aliança, filiação e herança, se afasta do “contexto das pulsões e
práticas sexuais” e pensa a sexualidade não como uma nova relação de poder e sim para melhor analisar e
enriquecer o debate sobre a divisão sexual do trabalho. Contudo, deve-se alertar para o fato de que, caso
se assuma o conceito de instituição social proposto por Scott (2010), como um sistema de normas inter-
relacionadas que têm raízes em valores partilhados e se generalizam por uma sociedade ou grupos social
particular como suas formas comuns de agir, pensar e sentir, não se deve esquecer que as instituições

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expressam as relações de poder de uma sociedade e sempre são, em maior ou menor grau, impostas por
um grupo aos restantes (SCOTT, 2010, p. 112-4).
Nessa perspectiva, a análise foucaultiana contribui para pensar poder e sexualidade, a partir de
uma concepção pautada na “desnaturalização” do sexo e do desejo, em um momento teórico-político
fundamental para repensar o sexo, sua formação e formas sociais. Foucault nega a tese defendida pela
maior parte da esquerda de que a relação entre poder e sexo é apenas uma relação “jurídica”, de repressão
e de interdição. Ou seja, a sexualidade seria, sobretudo, o proibido, o não dito, o grande tabu. No debate
com essa linha de pensamento, afirma Foucault que o que distingue a análise da repressão dos instintos e
a sua análise de que a “lei” é constitutiva do desejo (isto é, que o desejo e o sexo são construções sociais)
é, certamente, a maneira de conceber a natureza e a dinâmica das pulsões (FOUCAULT, 1998, p. 93).
Assim, para ele, não existiria uma “pulsão” ou “impulso” sexual “essencial”, derivado meramente da
dinâmica do funcionamento fisiológico do corpo. A sexualidade é antes controlada, incitada e construída
nos indivíduos por instituições, normas, aparelhos, no interior das próprias relações sociais (e não anterior
ou estranha a estas).
A opressão sobre as sexualidades não-normativas, que se expressa nas formas de preconceito
sexual, de violência simbólica ou física e de conformação do desejo, evidencia uma hierarquia entre
práticas, identidades e expressões sexuais legítimas e não legítimas. Para entender a dinâmica das
relações regidas por essa hierarquia, Butler lança mão do conceito de “matriz heterossexual” que, em
resumo, designa a grade de inteligibilidade cultural por meio da qual corpos, gêneros e desejos são
naturalizados. A imposição de constituir corpos coerentes e inteligíveis torna necessário que haja um sexo
“estável” expresso por um gênero “estável”, que é definido oposicional e hierarquicamente por meio da
prática compulsória da heterossexualidade (BUTLER, 2003, p. 215-6). Com o conceito de “matriz
sexual”, Butler oferece um recurso analítico interessante para compreendermos a dinâmica da opressão
sexual: a forma heterossexual reprodutiva é a forma que tem a prerrogativa de legitimidade no interior de
um circuito onde sexo, gênero, desejo e práticas sexuais estão íntima e imbricadamente articulados: a
produção de oposições assimétricas entre “feminino” e “masculino”, em que estes são compreendidos
como atributos expressivos de “macho” e de “fêmea”, é instituída e demandada pela heterossexualização
do desejo (BUTLER, 2003, p. 38-9). A reprodução da “matriz” reitera a ilegitimidade das diversas e
inúmeras práticas e expressões sexuais que fogem a esse “padrão” regulatório.
Ao tratar o sexo e o desejo no interior das relações de poder, faz-se necessário aprofundar o debate
teórico-político que fundamenta essas categorias e, nesse sentido, refletir melhor sobre as relações de
poder de sexualidade. Essas são relações conflituosas não necessariamente entre dois grupos antagônicos,
como o grupo social heterossexual e o grupo social homossexual – que de fato existem. O conflito se dá
entre o grupo dos/as heterossexuais e outros grupos cuja sexualidade não seja normatizada, que engloba
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travestis, transexuais, lésbicas, bissexuais, intersex, gays, transgêneros. A opressão sexual não é apenas o
constrangimento abstrato de uma norma, mas de uma norma que se materializa em indivíduos concretos
cuja ideologia concebe a heterossexualidade uma prática natural e, por isso, obrigatória.
Penso ser dessa forma que se deve entender a categoria hegemonia heterossexual utilizada por
Foucault e por Butler. Embora o termo seja utilizado no sentido de hegemonia cultural, não se deve
esquecer que são grupos que afirmam ou negam determinada concepção de mundo, pois as ideias,
representações, normas e visões de mundo não pairam no ar como abutres que voam sob a carniça. Mas a
opressão realizada pelo grupo de sexualidade hegemônica se dá desde o controle e regulação da
sexualidade, passando pelas diversas formas de violência até os casos de extermínio de homossexuais,
travestis e transexuais. Tudo isso em nome da heterossexualização do desejo. A hegemonia heterossexual
é o “quadro” político-cultural sobre o qual são organizadas as demais expressões e práticas sexuais, além
de estruturar a forma de inteligibilidade e as formas ideológicas (no sentido de visão de mundo) que nos
apresentam os mecanismos pelos quais concebemos nosso próprio sexo, corpo e desejo. De acordo com
Wittig (2007), os discursos que oprimem particularmente as LGBT, que tomam por dado aquilo que
funda toda sociedade – a heterossexualidade –, impossibilitam esse grupo de construir suas próprias
categorias e os impedem de falar senão nos termos dominantes. Hegemonia, assim, deve ser pensada
amplamente: trata-se de um conjunto de práticas e expectativas, de compreensão da natureza do ser
humano e seu mundo; constitui um sentido absoluto por se tratar de uma realidade vivida além da qual se
torna muito difícil para a maioria dos membros da sociedade mover-se, e que abrange as diversas áreas de
suas vidas (cf. WILLIAMS, 2011).
Contudo, cabe ressaltar que as relações de poder de sexualidade, como uma relação social, não
constitui uma “relação de produção”, no sentido proposto por Kergoat (2010), em que o grupo
heterossexual se apropriaria, por exemplo, do trabalho dos demais grupos. Sua origem material está nas
sociedades dominadas pelas relações de parentesco ou nas patriarcais, em que a divisão sexual do
trabalho, pautada na divisão hierárquica de gênero e na heterossexualização do desejo, tinha papel central
na estruturação da família como principal unidade econômica de produção e reprodução social. A família
é aqui a forma concreta de cooperação social entre homens e mulheres que, para ser preservada e
reproduzida, necessita criar mecanismos (como costumes, discursos, valores, papéis etc.) que garanta a
criação de dois gêneros estáveis que estabelecem relação dentro do imperativo da heterossexualidade.
Assim, o heterossexismo é produzido pela divisão sexual do trabalho, mas ele também organiza
dialeticamente as relações sociais de sexo, já que é sob sua “marca” que se dá a relação entre o grupo de
homens com o de mulheres.
Embora o desenvolvimento e alargamento das relações capitalistas estejam acabando (ou no
mínimo, subsumindo) com a base material dessa forma de organizar e conceber o sexo e o desejo, Rubin
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(cf. RUBIN; BUTLER, 2003) afirma que deve se questionar a magnitude das mudanças nas relações
sociais e de parentesco, os intervalos de tempo necessários para que isto se dê e o fato de que muito de
nossas psiques foram formadas há muito tempo e podem ser refratárias a mudanças sociais tão rápidas.
Além disso, é importante pensar que o capitalismo se reproduz reforçando a divisão sexual do trabalho.
Se pensarmos a situação das mulheres trabalhadoras frente ao processo de “reestrutura produtiva”, que
envolve a generalização da terceirização e a flexibilização das relações e contratos de trabalho, veremos
que a concentração da maioria delas em ocupações socialmente desprestigiadas, consideradas de baixa
qualificação, precárias ou informais, como emprego doméstico, prestação de serviços pessoais , comércio
informal e trabalho não remunerado. E mesmo com o aumento da participação feminina em profissões de
nível superior, há um confinamento das trabalhadoras em ocupações e atividades tradicionalmente
consideradas femininas, como magistério, atividades sociais e de cuidado, como enfermagem e
assistência social, secretárias (cf. ARAÚJO, 2012). Isso mostra a persistência da criação dos papéis
sexuais e de gêneros binários, o que reforça os mecanismos de heterossexualização do desejo, e este, por
sua vez, reforça os mecanismos de criação de dois gêneros “estáveis”, que estabelecem uma relação
hierárquica.
Vale lembrar, ainda, o objetivo da abordagem de Kergoat (2010, p. 99) de desnaturalizar
radicalmente as construções que se baseiam na diferenciação das desigualdades, sem com isso perder de
vista a dimensão concreta das relações sociais. E somar a ele a afirmação de Gramsci de que a
historicidade das práticas e ideias é sempre uma historicidade dialética, pois “dá lugar a lutas de sistemas,
a lutas entre maneiras de ver a realidade” (GRAMSCI, 2006, p. 368). Lutas realizadas não entre ideias e
representações, mas no embate concreto entre grupos e forças sociais. O grupo heterossexual só pode ser
hegemônico porque suas práticas, normas e concepções são naturalizadas e interiorizadas, ocultando uma
relação hierárquica entre esse grupo privilegiado e os demais subalternos. A luta contra essa relação
desigual não deve ser necessariamente a luta contra os/as heterossexuais, mas sim contra as relações e os
mecanismos de poder que mantêm e reproduzem o heterossexismo. E isso, deve ser feito levando em
conta a consubstancialidade das relações sociais, a partir de uma perspectiva que não essencialize o que é
materialidade e o que é cultura, distanciando-se, assim, do risco de defender uma luta em detrimento de
outras ou de não historicizar todas as formas e relações de poder.

Considerações finais

Por fim, gostaria de apontar alguns caminhos para pensar a sexualidade como relação de poder
atualmente, a partir do ponto de vista da consubstancialidade. Primeiro, embora haja no Brasil pesquisas
interessantes que cruzam a categoria de sexualidade com classe, raça e gênero, sob a perspectiva da

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interseccionalidade e dos “marcadores” de diferença (ver, por exemplo, FACCHINI, 2009 e FRANÇA,
2009), faltam análises que privilegiem ou abarquem a opressão vivida por lésbicas, travestis, gays,
transexuais, transgêneros e intersex a partir da vertente do feminismo materialista. Entender, assim, como
a opressão sexual se entrecruza com a exploração econômica, a dominação e a opressão racial e de
gênero.
Uma questão particularmente não explorada é sobre as condições de vida das/os trabalhadoras/os
LGBT, sendo que muitas/os estão distribuídas/os em postos de trabalho “precário” como salões de beleza,
supermercados, telemarketing, prostituição etc. Pode se pensar se houve impacto das políticas neoliberais
e da “reestruturação produtiva”, iniciadas no Brasil durante os anos 1990, sobre essas/es trabalhadoras/es
e, também, averiguar se a ofensiva sobre as classes trabalhadoras contribuiu para a construção da
opressão dessas LGBT, assim como ocorreu com a opressão da mulher.
Cabe citar, aqui, o trabalho da jovem pesquisadora Bruna Martinelli (2012) que faz um estudo de
caso de uma empresa de telemarketing de Campinas (SP). Ela mostra como um trabalho de baixa
qualificação, de pouquíssima autonomia por ser regulado pela pressão do fluxo informacional e
subordinado a um rígido script (roteiro), de alta rotatividade e que produz diversos prejuízos às/aos
trabalhoras/es (lesões por esforço repetitivo, estresse, depressão etc.), absorve uma força de trabalho
composta majoritariamente por mulheres, homossexuais e, também, travestis, todas/os sem qualificação e
experiência. Trata-se de uma parcela da classe trabalhadora que tem dificuldades de se inserir e se fixar
em postos de trabalho mais qualificados e melhor remunerados, o que é visto com bons olhos pela
empresa pois, em geral, são funcionárias/os mais “dedicadas/os”. Isso tudo naturalizando a construção
social da mulher (“a mulher tem mais paciência para ouvir reclamações”, por exemplo) e de gays,
lésbicas e travestis, cujos “trejeitos” e “performances” podem ser escondidos ou disfarçados “atrás do
telefone”.
Uma última consideração também importante é sobre o acesso das travestis ao mercado de
trabalho. Existem raras pesquisas sobre o assunto (feitas por ONGs e fundações), mas que em geral
apontam a tendência das travestis se inserirem na prostituição. O fato de elas romperem as fronteiras de
gênero e, com isso, comprometer o sentido e a inteligibilidade da “matriz” heterossexual, traz graves
consequências para a maior parte delas que são expulsas de casas pela família, se jovens não conseguem
estudar por conta do preconceito de colegas e de profissionais da educação (cf. SIMPSON, 2011), além
de grandes dificuldades de conseguirem emprego na formalidade. O sentimento de ódio gerado pela
existência das travestis é tamanho que as fazem alvo permanente de práticas de violência e extermínio. E
isso é mais brutal uma vez que a prostituição, trabalho informal que nem é regulamentado no Brasil, não
oferece segurança nem a garantia de direitos trabalhistas e sociais. Sua opressão não é menos concreta do

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que as dos demais grupos subalternos: as relações de sexualidade, classe, gênero e, muitas vezes, raça
“co-formam” as condições de existência e vida dessas travestis.

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Notes about sexuality and consubstantiality of power relations

Abstract: Although feminism is not a theoretical unified and unambiguous, considering there are several
positions, practices and political projects, we can say that, currently, has consolidated a new perspective
on feminist theory: the prospect of overlapping, joint or consubstantiality of the social relations of gender,
'race' and class. In this work, I try to show some ways to think about sexuality in the co-formation of
power relations. Therefore, I will use the reflections of French feminists like Daniele Kergoat, Jules
Falquet and Monique Wittig, and also some theoretical elements of American poststructuralist Gayle
Rubin, Judith Butler and Donna Haraway. Finally, I indicate some examples to think like the oppression
of sexuality "intersects" with and can be co-formed by economic exploitation, domination and racial and
gender oppression.
Keywords: Power relations. Consubstantiality. Sexuality.

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