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São João Paulo II sempre deu uma atenção especial à catequese. Como supremo
pastor da Igreja, ele teve a consciência de que era o primeiro catequista. Ele considerou
o seu ser catequista como “um dos maiores deveres do seu múnus apostólico”. E disse:
“A catequese, aliás, foi sempre uma preocupação central do meu ministério de sacerdote
e bispo” (no. 4). Esta tarefa de “sumo catequista” ele cumpriu-a fielmente ao longo de
todo o seu pontificado. Nas audiências das Quartas-feiras Papa João Paulo II apresentou
um ciclo de catequeses bem elaboradas sobre o Credo começando com a doutrina sobre
Deus Criador, o Filho Redentor e o Espírito Santificador, sobre a Igreja e sobre a
Virgem Maria. Ele mesmo desenvolveu com a ajuda de alguns colaboradores estes
catequeses que poderíamos considerar catequeses exemplares quanto ao conteúdo e à
metodologia.
A sua preocupação com a catequese se mostrou também pelo fato de que logo no
início do seu pontificado ele deu à Igreja um documento de suma importância em
relação à catequese, a saber, a exortação apostólica Catechesi Tradendae. Quanto à
gênese deste documento, podemos dizer o seguinte: A IV Assembleia Geral do Sínodo,
que em Outubro de 1977 estudou o tema: “A catequese no mundo contemporâneo, com
particular referência às crianças e aos jovens”, solicitara ao Beato Papa Paulo VI um
documento, como ele fizera anteriormente sobre a Evangelização, a Evangelii
nuntiandi. O trabalho foi começado, João Paulo I o continuou e João Paulo II retomou
a herança dos seus antecessores, dando-lhe a inconfundível marca do seu estilo e
finalmente o publicou em 16 de Outubro de 1979. Depois da sua carta encíclica
Redemptor hominis, sobre Cristo, o Redentor do Homem (04.03.1979) é o segundo
A estrutura do documento:
Jesus ensinou. É esse o testemunho que Ele dá de Si mesmo: “Eu estava todos os
dias sentado no Templo a ensinar” (Mt 26, 55; cf. Jo 18, 20). É essa também a
observação que fazem cheios de admiração os Evangelistas, surpreendidos por verem
ensinar sempre e em qualquer lugar, e fazê-lo duma maneira e com uma autoridade
desconhecidas até então: “De novo concorreu a Ele muita gente e, como de costume,
pôs-se outra vez a ensiná-la” (Mc 10, 1). “E maravilhavam-se, por causa da sua
doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade” (Mc 1, 22; cf. Mt 5, 2; 11, 1;
13, 54; 22, 16; Mc 2, 13; 4, 1; 6, 2. 6; Lc 5, 3. 17; Jo 7, 14; 8, 2 etc.). O mesmo atestam
os seus adversários, para daí tirarem um motivo de acusação e de condenação: “Ele
subleva o povo, ensinando por toda a Judéia, a começar da Galiléia até aqui” (Lc 23, 5).
Na Catechesi tradendae São João Paulo II destaca que a catequese deve ser
centrada sobre a Pessoa de Jesus Cristo. Num outro documento, na exortação apostólica
Novo millennio ineunte (2001), falando da ação pastoral da Igreja nos alvores do
terceiro milênio, ele observa que, para responder aos desafios que a Igreja é chamada a
enfrentar, não é necessário inventar nenhum novo “programa”:
“O programa já existe: é o mesmo de sempre, expresso no Evangelho e na
Tradição viva. Concentra-se, em última análise, no próprio Cristo, que temos de
conhecer, amar, imitar, para n'Ele viver a vida trinitária e com Ele transformar a história
até à sua plenitude... É um programa que não muda com a variação dos tempos e das
culturas, embora se tenha em conta o tempo e a cultura para um diálogo verdadeiro e
uma comunhão eficaz. Este programa de sempre é o nosso programa para o terceiro
milênio” (NMI, 29).
São João Paulo II não poderia ser mais explícito e categórico acerca da
centralidade de Cristo no anúncio do Evangelho. O Evangelho é Cristo. E Cristo é o
Evangelho. O conteúdo das palavras é, de fato, a Palavra.
O Cristo do Evangelho, porém, deve ser representado na integridade ou
totalidade, e não de maneira parcial, fragmentária. É o próprio Pontífice que adverte
contra toda a deturpação da figura de Cristo, contra todo o modo unilateral de apresentar
Diversos são os modos com que o anúncio de Cristo através da catequese pode
ser realizado. No entanto, é necessário que os evangelizadores sejam credíveis, que a
sua vida irradie a beleza do Evangelho. O Bem-aventurado Paulo VI tinha dito que “o
homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os
mestres, ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (EN, 41). Mais
do que nas palavras, o homem de hoje acredita nas ações. A linguagem do testemunho é
e será sempre, a mais inteligível, mais incisiva e, por isso, a mais eficaz.
Não basta, pois, que Jesus Cristo seja proclamado com a palavra nos encontros
de catequese e na celebração dos sacramentos; é necessário que Ele seja acolhido e
vivido no dia-a-dia da vida. Cristo é anunciado, vivendo-o. Os evangelizadores devem
viver e agir como Cristo. Sobre o seu rosto deve resplandecer o próprio rosto do Cristo.
Seja-me permitido de fazer uma observação final: é muito evidente que a exortação
apostólica Catechesi Tradendae é centrado no mistério de Cristo. A conclusão deste
documento chave, porém, é pneumatológica, ou seja, fala do Espírito Santo como
mestre interior e assim complementa a sua dimensão cristocêntrica. João Paulo II diz
(no. 72):
Antes de mais nada é claro que a Igreja, quando realiza a sua missão de
catequizar (...), deve estar bem consciente de agir como instrumento vivo e dócil do
Espírito Santo. Assim, invocar incessantemente esse mesmo Espírito, estar em
comunhão com Ele e esforçar-se por conhecer as suas autênticas inspirações tem de ser
a atitude da Igreja que ensina, bem como de todo e qualquer catequista. É a missão da
Igreja catequizante e o sinal de uma autêntica “renovação no Espírito” de “levar o maior
número possível de fiéis, pelos caminhos da vida de todos os dias, ao esforço humilde,
paciente e perseverante por conhecerem cada vez melhor o mistério de Cristo e por
darem testemunho dele”.
Como é seu costume, no final desta exortação apostólica, São João Paulo II faz
uma referência à Virgem Maria, Mãe e modelo do discípulo (no. 73). Por uma vocação
singular Maria foi o primeiro catequista, pois ela “catequizou” o próprio Filho de Deus
formando-o “no conhecimento humano das Escrituras e da história do desígnio de Deus
sobre seu povo, assim como na adoração do Pai”. Do outro lado, ela foi também a
primeira catequizanda do seu Filho, “a primeira, sobretudo, porque ninguém foi assim
“ensinado por Deus” (cf. Jo 6, 45), num tal grau de profundidade “Mãe e ao mesmo
tempo discípula”, dizia a respeito dela Santo Agostinho”. E São João Paulo II conclui:
“Que a presença do Espírito Santo, pois, pelo valimento de Maria, possa lograr para a
Igreja um impulso sem precedentes na atividade catequética que para ela é essencial!”