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CAROS COLEGAS

No sentido de aprimorar as fontes bibliográficas para esta cadeira e para que estas
estivessem mais sucintas e organizadas, decidimos elaborar um resumo de um dos livros
recomendados, o Kuby, recorrendo às 6ª e 7ª edições. Esta tarefa incidiu nos capítulos
que correspondem aos temas que foram lecionados no decorrer das aulas.
Numa primeira leitura rápida pode parecer um pouco extenso. No entanto, tendo em
conta que se baseiam única e exclusivamente no conteúdo do livro, tentámos condensar
a substância sem omitir ou descurar algo que pudesse comprometer a sua compreensão
e correta apreensão. Procurámos recorrer sempre a uma linguagem assertiva e simples
que, ainda assim, será sempre periodicamente pautada por erros de tradução ou
explanações menos conseguidas.
Esperamos que com esta sebenta vos habilitemos a penetrar na intimidade do mundo
da Imunologia, deslindando ilustres mistérios que vos permitam, enfim, passar à
cadeira.
Os autores
ÍNDICE
CÉLULAS E ÓRGÃOS DO SISTEMA IMUNITÁRIO (CAP. II) ............................................................ 3
ANTIGÉNIOS (CAP. III) .............................................................................................................. 19
ANTICORPOS (CAP. IV) ............................................................................................................. 25
INTERAÇÕES ANTIGÉNIO-ANTICORPO (CAP. VI) ..................................................................... 35
MAJOR HISTOCOMPATIBILITY COMPLEX (MHC) (CAP. VII).................................................. 37
PROCESSAMENTO E APRESENTAÇÃO DOS ANTIGÉNIOS (CAP. VIII) ......................................... 43
RECEPTOR DE CÉLULAS T (TRC) (CAP. IX) ............................................................................ 49
MATURAÇÃO, ATIVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS LINFÓCITOS T (CAP. X) ............................... 53
MATURAÇÃO, ACTIVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS LINFÓCITOS B (CAP. XI) ............................ 59
RECETORES E SINALIZAÇÃO: CITOCINAS E QUIMIOCINAS (CAP. XII) ...................................... 67
SISTEMA COMPLEMENTO (CAP. XIII)....................................................................................... 79
RESPOSTAS EFECTORAS - IMUNIDADE MEDIADA POR ANTICORPOS E CÉLULAS (CAP. XIV) .... 91
MIGRAÇÃO LEUCOCITÁRIA E INFLAMAÇÃO (CAP. XV) ........................................................... 103
REACÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE (CAP. XVI) ...................................................................115
RESPOSTA IMUNE ÀS DOENÇAS INFECCIOSAS (CAP. XVII) .................................................... 125
VACINAS (CAP. XVIII) ...........................................................................................................133
SIDA E OUTRAS IMUNODEFICIÊNCIAS (CAP. XIX) ...................................................................139
TOLERÂNCIA E AUTO-IMUNIDADE (CAP. XX) ........................................................................151
IMUNOLOGIA DA TRANSPLANTAÇÃO (CAP. XXI) ..................................................................155
CANCRO E SISTEMA IMUNITÁRIO (CAP. XXII) .......................................................................165
CÉLULAS E ÓRGÃOS DO SISTEMA IMUNITÁRIO (CAP. II)
O sistema imunitário (SI) possui vários órgãos e tecidos. Os órgãos classificam-se em primários
e secundários, e estão ligados pelo sistema linfático. As células do SI são os leucócitos, que são
de vários tipos. Os linfócitos são os únicos leucócitos que apresentam as propriedades de
diversidade, especificidade, memória, reconhecimento  pertencem à imunidade adquirida.
As restantes células têm funções de imunidade inata (como a fagocitose e activação do
complemento) e de activação de linfócitos, regulação da imunidade adquirida. Há ainda
citocinas, moléculas libertadas na resposta inflamatória, com função de regulação imunitária e
de sinalização.

HEMATOPOIESE
Todas as células derivam da HSC – hematopoietic stem cell, indiferenciada e pluripotente. No
desenvolvimento das células do SI, há diferenciação das linhas celulares mielóide (inclui a
eritróide) e linfóide. O comprometimento com uma linha depende do “microambiente indutor
de hematopoiese”, ou seja, da presença de factores de crescimento (p. ex. GM-CSF, G-CSF, M-
CSF) e citocinas, mas também da capacidade das células progenitoras em adquirir receptores e
resposta a esse estímulo. Os estímulos podem ser factores solúveis que se difundem ou
moléculas de membrana no estroma que provocam contacto “célula a célula”. Os linf. T e
macrófagos activados produzem estas substâncias hematopoiéticas.
A regulação da hematopoiese é feita através de:
 Citocinas produzidas pelas stem-cells na medula óssea.
 Linfócitos-T activados e macrófagos.
 Regulação genética da expressão de determinados receptores de membrana.
 Remoção de células por indução de apoptose.

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Um erro em qualquer um
destes factores pode
levar a alterações graves,
como proliferação
descontrolada
(culminando, p. ex. em
leucemias), indução
precoce ou inibição da
morte celular
programada, erros de
diferenciação.
A hematopoiese pode ser
estudada in vitro – com
recurso a placas de Petri
com um meio com
células do estroma,
culturas de células
estaminais ou de células
progenitoras. É
necessário adicionar as
citocinas de crescimento,
os CSF (colony-
stimulating factors) e a EPO (eritropoietina).
A hematopoiese é regulada ao nível genético - existem vários genes responsáveis pelo
desenvolvimento das linhas celulares. O estudo é feito em ratinhos “knockout”, em que um gene
é marcado para disrupção. Na ausência da função daquele gene, são estudadas as
consequências. O gene GATA-2 está relacionado com as 3 linhas celulares (eritróide, mielóide e
linfóide) e o factor Ikaros com a linha linfóide.
A Morte Celular Programada é um mecanismo homeostático essencial – cada célula tem um
tempo definido de sobrevivência; no caso dos leucócitos, os linfócitos são os que apresentam
maior “longevidade”, até 20-30 anos (alguns linf. T); os neutrófilos, de apenas algumas horas ou
dias. A apoptose, o conjunto de mecanismos de morte celular programada, é controlada por
vários genes, entre eles o FAS e as caspases (indutor e proteases) e o Bcl-2 (inibidor). Esta família,
Bcl-2 e Bcl-X, codifica proteínas que inibem a apoptose. São importantes no desencadear de uma
infecção, pois o organismo pode não conseguir produzir células suficientes. Inibindo-se a
apoptose, o número de células aumenta.
 Uma activação do Bcl-2 leva a proliferação de células de linfoma. Por outro lado, após
uma infecção é necessário eliminar o excesso de linfócitos.
 Linfócitos T activados têm menores níveis de proteína Bcl-2 e são mais susceptíveis a
apoptose que linf. naïve ou de memória.
 Um estímulo antigénico leva à diminuição da susceptibilidade a apoptose. No timo,
glucocorticóides também induzem a fase efectora da apoptose.

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Apoptose Necrose
Diminuição do volume celular –
retracções da membrana, condensação do Aumento do tamanho e ruptura
citoplasma
Corpos apoptóticos – Extravasamento do conteúdo celular –
na membrana, com os organelos, para com libertação de enzimas líticas e
destruição controlada por macrófagos inflamação
Cromatina condensada e fragmentação do
DNA
As células estaminais hematopoiéticas podem ser enriquecidas – há estudos que indicam que
existem “antigénios de diferenciação”, que marcam as células que já entraram na hematopoiese
e perderam a pluripotência. Por citometria de fluxo com cell-sorting e Ac Anti-Ag de
diferenciação é possível “purificar” as células de MO de tal modo que haja muito mais células
pluripotentes, CD34+ (marcador, apesar de não específico, de células estaminais); nesta
elevanda concentração de células pluripotentes, com os factores de crescimento adequados, é
possível uma célula originar todas as linhas hematopoiéticas. Este mecanismo pode
transformar-se num tratamento de doenças como a SCID (Severe-combined Immunodeficiency).

CÉLULAS DO SISTEMA IMUNITÁRIO  os linfócitos são as células centrais, responsáveis pela


imunidade adquirida e por propriedades do sistema imunitário como diversidade,
especificidade, memória e distinção self/ nonself. Os restantes leucócitos desempenham
importantes papéis de fagocitose e destruição de agentes estranhos, apresentação antigénica,
secreção de citocinas.

Células Linfóides
Constituem 20-40% dos leucócitos e 99% das células na linfa. O ser humano tem em média 1011
linfócitos em permanente circulação no sangue e linfa, com capacidade de migração para os
tecidos. Há 3 grandes populações, com base na membrana e função:
 Linfócitos B;
 Linfócitos T;
 Células NK.
Os linfócitos B e T inactivados são pequenos, móveis, não-fagocitários; não são distinguíveis
morfologicamente. Linf. B e T que não interagiram com Ag são ditos naïve; são células paradas
em G0, de citoplasma muito pequeno, núcleo com cromatina densa e poucos organelos. Têm
uma sobrevivência muito curta. A interacção com o Ag na presença de certas citocinas leva à
progressão do ciclo, aumentando o tamanho – tornam-se linfoblastos. Os linfoblastos
proliferam e diferenciam-se em células efectoras e em células de memória. As células de
memória são semelhantes a pequenos linfócitos mas com moléculas diferentes à superfície; as
efectoras são maiores e com mais organelos.
A diferenciação dos linfócitos pode ser avaliada pela reacção de anticorpos monoclonais com as
moléculas de superfície. Os anticorpos monoclonais que reagem com uma molécula de
membrana particular são agrupados em CD – cluster of differenciation. Se não houver
reconhecimento por Ac conhecidos, mas por um novo Ac, é atribuído um novo CD reflectindo
uma nova molécula.

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Linfócitos B
 Matura na medula óssea em grande parte dos mamíferos, incluindo o Homem (na Bolsa
de Fabricius nas aves).
 Os linf. B maturos distinguem-se inequivocamente dos outros linfócitos pela síntese e
exposição na membrana de moléculas de Ac, que servem de receptores de Ag, que são
directamente reconhecidos. O linfócitos B reconhecem Ag SOLÚVEIS e Ag ligados a
moléculas.
 Outras moléculas de superfície (muitas vezes não específicas de linf. B):
o CD45, na forma B220;
o Moléculas MHC II – permitem a função como APC;
o CR1 e CR2 – receptores de moléculas do complemento;
o FcγRII (CD32) – receptor IgG;
o B7-1 (CD80) e B7-2 (CD86) – interagem com CD28 e CTLA-4, moléculas
reguladoras importantes na superfície de diferentes linf. T, incluindo Th.
o CD40 – interage com o CD40L na superfície das Th, de modo essencial para a
sobrevivência de linf. B estimulados por antigénios e para a subsequente
diferenciação em plasmócitos ou linf. B de memória.
 A activação e diferenciação de clones de linf. B com especificidade é induzida
selectivamente por:
o Interacção entre Ag e Ac de membrana num linf. B naïve (mas já maturo);
o Interacção com linf. Th e macrófagos.
 O linf. B divide-se sucessivamente e diferencia-se num período de 4 a 5 dias, criando
PLASMÓCITOS e LINF. B DE MEMÓRIA. Os plasmócitos de um clone, com menor
quantidade de Ac de membrana, sintetizam e libertam novos Ac (específicos de Ag); são
células terminais, sem maior diferenciação; morrem após 1 ou 2 dias.

Linfócitos T
 Maturam no timo.
 Têm receptores de Ag na superfície: o TCR (T-cell receptor), que tem uma estrutura
diferente das Ig sendo, no entanto, relativamente semelhante no local de ligação do Ag.
O TCR não reconhece antigénios livres, mas apenas Ag ligados a classes particulares de
moléculas self, a maioria moléculas codificadas pelo MHC. Não reconhece Ag solúveis,
portanto.

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 Para ser reconhecido pela maioria dos linf. T, o Ag tem de ser apresentado com
moléculas MHC na superfície das APC ou de células infectadas por vírus, tumorais, de
enxertos.
 Além do TCR, os linf. T exprimem:
o CD3 (e outros complexos de polipeptídeos);
o CD4 (os linf. Th) ou CD8 (dimérica, os linf. Tc) - glicoproteínas;
o CD28 – nos linf. T maduros; é um receptor para o sinal co-estimulatório das
moléculas B7, nos linf. B e outras APC;
o CD40L (=CD154) – no Th, ligando para a CD40 na superfície das APC;
o CD45 – uma molécula de transdução de sinal.
 No geral, a expressão de CD4 ou CD8 restringe a classe de moléculas MHC que são
reconhecidas; diferencia também duas subpopulações: Th (T-helper, CD4+, restritos a
MHC classe II) e Tc (T-citotóxicos, CD8+, restritos a MHC classe I). A razão normal
Th/Tc= CD4/CD8  2:1 – pode estar alterada em imunodeficiências, doenças auto-
imunes, etc.
 No entanto, esta classificação não é absoluta. Os linfócitos CD4+ reconhecem MHC
classe II e os CD8+ MHC classe I; mas por vezes linf. CD4+ podem actuar como citotóxicos
e alguns linf. Tc podem produzir citocinas e ter efeitos semelhantes a Th.
 Th – é activado por apresentação de Ag+MHC II apenas expresso na APC; divide-se,
dando origem a um clone específico para o mesmo complexo Ag-MHC II; este tipo de
linf. T secreta várias citocinas que activam linf. B, T e outras células. Alterações destas
citocinas levam a mudança na resposta imunitária por outros leucócitos. Há muitos tipos
de Th, caracterizados por funções e padrões de produção de citocinas diversos. Por
exemplo:
o Th1: padrão de citocinas que facilita inflamação e activa linf. T e macrófagos;
o Th2: activa particularmente linf. B e respostas mediadas por anticorpos – IL-4;
o Th17: produtores de IL-17; útil para combate a fungos; é pró-inflamatório;
o Treg: linfócitos T-reguladores, CD4+, FOXP3+, CD25+;
 Tc – é activado por apresentação Ag+MHC I na superfície de uma célula self alterada, na
presença de citocinas próprias. Esta activação leva a célula a proliferar e a diferenciar-
se em CTL – linfócito T citotóxico (efector). As CTL produzem poucas citocinas; possuem
a capacidade para reconhecer e eliminar cél. self alteradas.
 Outra subpopulação está sob pesquisa: Ts – T-supressoras. As Ts são controversas – a
supressão mediada por linf. T pode ser apenas uma consequência de actividade Th ou
Tc, sem ser um tipo diferente.
No entanto, apesar de não
terem sido individualizadas
ainda, é certo que alguns linf. T
auxiliam a supressão da
imunidade humoral e da
imunidade mediada por células.

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Células NK
 Descobertas em 1976; 5-10% dos linfócitos; pequena população de linfócitos granulosos
de grandes dimensões com citotoxicitade contra células tumorais sem imunização
prévia.
 Têm um papel importante na defesa contra células tumorais e contra células infectadas
com alguns vírus (não todos);
 Não possuem TCR nem Ac de membrana (não têm marcadores de superfície de linf. T
nem B)  reconhecem células-alvo de duas formas diferentes:
o Receptores NK – para distinguir anomalias de superfície noutras células, como
uma ↓da expressão de moléculas MHC I e perfis antigénicos anómalos;
o ADCC – Antibody-dependent Cell-mediated cytotoxicity: Reconhecimento de Ac
Anti-tumor ou Anti-viral ligados a estas células – o organismo produz Ac que se
ligam aos Ag de superfície de células alterada; os Ac são reconhecidos por
células NK, que têm CD16, um receptor da região Fc da IgG. O receptor liga-se a
estes Ac causando destruição da célula marcada.
o Têm CD56 e CD16 à superfície; a CD16 é um FcR para IgG;
 Actualmente começa a reconhecer-se uma população, as NK1-T. Este tipo de células
pode ser responsável por uma resposta rápida que ocorre enquanto as respostas Th
ainda se estão a desenvolver. Têm características de cél. NK e de linf. T:
o Têm TCR, que ao contrário do comum interage com moléculas MHC-like (CD1)
em vez das moléculas MHC I ou II reconhecidas pelo TCR dos linf. T.
o Tal como células NK, têm níveis variáveis de CD16 à superfície, assim como
outros receptores típicos de cél. NK; podem destruir células.
o Quando activadas, podem favorecer a produção de Ac pelos linf. B, tal como a
inflamação e o desenvolvimento e proliferação de linf. Tc.

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Fagócitos mononucleares
O sistema fagocítico mononuclear
consiste em monócitos circulantes
no sangue e macrófagos nos
tecidos. Na hematopoiese a linha
granulocítica-monocítica forma
promonócitos, que vão para o
sangue e se diferenciam em
monócitos. Os monócitos circulam
cerca de 8h no sangue; depois,
migram para os tecidos e
diferenciam-se em macrófagos
específicos de tecido ou em células
dendríticas. Na transformação
para macrófago a célula aumenta
o tamanho, o número e a
complexidade de organelos; a
capacidade fagocítica aumenta,
produzindo níveis mais altos de
enzimas hidrolíticas; começa a
segregar factores solúveis. Os
macrófagos podem estar fixos
num tipo de tecido ou livres.
Existem células derivadas de
macrófagos em diversos tecidos,
como os macrófagos alveolares, as células de Kupffer, as células mesangiais, as células da
microglia e os osteoclastos.
Os macrófagos estão geralmente quiescentes e são activados por uma grande variedade de
estímulos no decurso da resposta imunitária – a fagocitose de Ag pode ser um dos estímulos
activadores; citocinas do linf. Th, mediadores inflamatórios e componentes da parede
microbiana podem também funcionar como “catalisadores”. No entanto, o IFN-γ libertado pelos
Th é um dos mais potentes activadores de macrófagos.
Os macrófagos activados produzem respostas mais eficazes que os quiescentes:
 Maior actividade fagocitária;
 Maior capacidade de destruição celular;
 Maior secreção de mediadores da inflamação;
 Maior capacidade para activar células T;
 Apenas os macrófagos activados produzem proteínas citotóxicas para eliminar
patogéneos (cél. infectadas por vírus, tumorais, bactérias intracelulares);
 Expressam níveis mais altos de MHC II  são APCs (APC – Antigen Presenting Cell). Existe
grande cooperação macrófago<->linf Th na resposta imunitária.
FAGOCITOSE  Ingestão e digestão de Ag exógenos e endógenos (microorganismos, partículas
insolúveis, células lesadas, factores de coagulação). Tem várias fases:

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 Quimiotaxis1: os macrófagos são atraídos e movem-se em direcção aos mediadores de
inflamação libertados no local.
 Adesão: o Ag adere à membrana célula do macrófago. As proteínas isoladas bactérias
capsuladas aderem com mais dificuldade que bactérias não-capsuladas e partículas
virais.
 Emissão de Pseudópodes: estimulada pela adesão, há protusões da membrana
plasmática que rodeiam o material a fagocitar.
 Fusão dos Pseudópodes: faz com que se crie o fagossoma, vesícula com o material para
fagocitose, que entra na via de endocitose.
 Fusão com lisossoma: Fagolisossoma, digestão por enzimas lisossomais.
 Exocitose: dos produtos de digestão.
OPSONIZAÇÃO  O macrófago possui ainda receptores de Ac: se o material a fagocitar está
coberto por Ac, há reconhecimento mais fácil e fagocitose mais eficaz do que do Ag por si só. O
Ac funciona como Opsonina, uma molécula que liga o Ag e o macrófago para promover a
fagocitose. Este processo chama-se opsonização. (Mais informação no capítulo sobre
antigénios).
ACTIVIDADE CITOTÓXICA E ANTIMICROBIANA  produzem substâncias que destroem os materiais
fagocitados; muitos destes mediadores são espécies reactivas de oxigénio (ROS).
Mecanismos de toxicidade dependentes do oxigénio – Os macrófagos activados produzem
ROS/ROIs (reactive oxigen intermediates) e RNIs (reactive nitrogen intermediates), com
potencial antimicrobiano. Durante a fagocitose existe uma “explosão” respiratória no
macrófago activado, activando várias oxidases de membrana que produzem anião superóxido,
peróxido de hidrogénio e outros agentes oxidantes, muito tóxicos. Com a exposição a Ag de
membrana de patogéneos (LPS, p. ex.) e a IFN-γ, os macrófagos ↑a expressão de NOS, ↑a
produção de NO – muito tóxico para bactérias, fungos, parasitas.
MECANISMOS DE TOXICIDADE INDEPENDENTES DO OXIGÉNIO  os macrófagos activados sintetizam
lisozima + enzimas hidrolíticas, que não necessitam de oxigénio para actuar. Produzem também
defensinas, ricas em cisteína, que formam canais permeáveis a iões na membrana das bactérias.
As defensinas podem destruir muitas bactérias como S. aureus, S. pneumoniae, E. coli, P.
aeruginosa, H. influenzae. Produzem ainda TNF-α (Tumor Necrosis factor α), citotóxico para
(algumas) células tumorais.
PROCESSAMENTO ANTIGÉNICO E APRESENTAÇÃO  apesar de muitos antigénios ingeridos pelos
macrófagos serem degradados e eliminados, existe alguma apresentação. Com a activação do
macrófago mais complexos Ag-MHC II se deslocam para a membrana.
Secreção de Factores – os macrófagos libertam muitas proteínas importantes para a resposta
imunitária, como:
 Citocinas – IL-1, TNF-α, IL-6 promovem resposta inflamatória, a IL-1 activa linf. T e a
combinação das 3 promove a febre (actua sobre o centro da termorregulação
hipotalâmico); o TNF-α causa morte celular;
 Proteínas do complemento – são maioritariamente produzidas no fígado, mas também
nos macrófagos;

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Quimiotaxis ou quimiotaxia: Diz-se quando uma célula dirige o seu movimento/acção de acordo com a
concentração/presença de algum elemento, como acontece com os macrófagos e os mediadores de
inflamação que sinalizam o local.

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 Enzimas hidrolíticas – importantes na fagocitose, a acumulação pode levar a lesão
tecidular.
Células granulocíticas
Neutrófilos, eosinófilos ou basófilos, consoante a morfologia e propriedades tintoriais (afinidade
por ambos os corantes, pela eosina ou pela hematoxilina, respectivamente). São fagócitos
excepto os basófilos. Os neutrófilos (50-70% dos leucócitos) são mais numerosos que os
eosinófilos (1-3%) e os basófilos (<1%).

Neutrófilos
 Produzidos na MO; libertados para o sangue periférico, circulam 7-10h antes de
migrarem para os tecidos, onde duram poucos dias.
 A MO liberta doses adicionais de neutrófilos na resposta à infecção – são geralmente as
primeiras células a chegar ao local de inflamação. Há Leucocitose (aumento do número
de leucócitos em circulação) na resposta a infecções.
 Têm núcleo trilobado, tendo por vezes o nome de PMN (polimorfonucleares).
 Extravasamento: movimento dos neutrófilos circulantes para os tecidos. Ocorre em
vários passos:
o A célula adere ao endotélio vascular; entra nos espaços entre células endoteliais
adjacentes; passa a membrana basal do endotélio, saindo completamente do
espaço vascular e entrando no tecido.
 Uma série de factores quimiotácticos, produzidos na inflamação, promovem o
recrutamento dos neutrófilos para o local: moléculas do complemento; componentes
da coagulação; citocinas produzidas por linf. T activados e macrófagos.
 Os neutrófilos têm grânulos primários (maiores, mais densos, têm peroxidase, lisozima
e enzimas hidrolíticas) e secundários (têm colagenase, lactoferrina, lisozima) e as
enzimas líticas e bactericidas estão em ambos; os grânulos fundem-se com fagossomas
para digestão e eliminação do conteúdo. Têm mecanismos aeróbios e anaeróbios para
produzir substâncias antimicrobianas; matam os microorganismos ingeridos mais
frequentemente que os macrófagos; têm uma capacidade respiratória superior, criando
mais intermediários reactivos de oxigénio e de azoto; expressam níveis maiores de
defensinas que os macrófagos.

Eosinófilos
 Células fagocitárias de núcleo bilobado que migram para os tecidos; papel menos
importante que os neutrófilos excepto no que toca ao combate a parasitas – os seus
grânulos lesam a membrana dos parasitas.

Basófilos
 Granulócitos não fagocitários; libertam substâncias farmacologicamente activas dos
seus grânulos; importantes na resposta alérgica.

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Mastócitos
 Os precursores são libertados indiferenciados pela MO; só se diferenciam na passagem
para os tecidos onde actuam – por exemplo a pele, tecido conjuntivo, epitélio de
mucosas; os seus grânulos contêm histamina e outros componentes; actuam com os
basófilos na reacção alérgica.

Células Dendríticas (DC)


 O nome deve-se à presença de
prolongamentos citoplasmáticos múltiplos;
são difíceis de isolar porque os
prolongamentos são facilmente lesados. Há
muitos tipos de células dendríticas, mas a
maioria das células maturas tem a função de
apresentar antigénios aos linf. Th. Tipos de
células dendríticas conhecidas:
o Cél. de Langerhans, cél. dendríticas
intersticiais, cél. mielóides, cél
dendríticas linfóides.
o Têm origem na linha mielóide e linfóide da hematopoiese.
o Todas expressam altos níveis de moléculas MHC classe I e classe II
simultaneamente e moléculas da família de co-estimuladores B7.
 São apresentadores de Ag mais potentes que macrófagos e linf. B (que
têm de ser activados antes de funcionarem como APC).
o As células imaturas adquirem os Ag por fagocitose ou endocitose e processam-
no para apresentação, já por células maturas; na resposta a uma infecção ou
inflamação tanto as formas imaturas como as maturas migram para os nódulos
linfáticos, onde sensibilizam os linf. Th, que necessitam desta apresentação para
iniciar a sua resposta.
o Existem ainda as cél. dendríticas foliculares – não têm origem na MO, não são
APC (não expressam moléculas MHC II); não activam linf. Th. Localizam-se nos
folículos linfáticos (ricos em linf. B) e têm na sua superfície receptores Ac, que
recebem complexos Ag-Ac  a ligação dos linf. B a estes Ag ligados pode ser
fundamental para a sua resposta.

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ÓRGÃOS DO SISTEMA IMUNITÁRIO
São distinguíveis, quanto à função, em primários –
timo e medula óssea –, secundários – gânglios
linfáticos, tonsilas, MALT, GALT, BALT – e até
“terciários” – cutâneo-associados.

Órgãos Linfóides Primários


Têm o microambiente para desenvolvimento e
maturação dos linfócitos  Timo e Medula Óssea

Órgãos Linfóides Secundários


Aprisionam antigénios encontrados em tecidos ou
espaços vasculares específicos, são locais onde os
linfócitos maduros interagem efectivamente com
os antigénios.
Os vasos sanguíneos e linfáticos ligam estes órgãos,
criando uma unidade funcional.

Órgãos Linfóides Primários


Local onde os linfócitos imaturos, criados na
hematopoiese, maturam e se tornam
comprometidos com uma especificidade
antigénica particular. A célula só se torna
imunocompetente depois de maturar num órgão
linfóide primário.

Timo
Órgão ímpar, único, bilobado, no mediastino anterior. Tem o seu auge de desenvolvimento no
início da puberdade (70g na infância), quando o SI está no auge do desenvolvimento, atrofiando
depois (3g no idoso). Possui:
 Córtex: densa, linf. T imaturos, timócitos;
 Medula: esparsa, tem poucos timócitos.
Ambas as regiões possuem elementos do estroma: rede de células epiteliais, dendríticas,
macrófagos que interagem com os timócitos. Algumas células epiteliais do córtex emitem
prolongamentos que envolvem múltiplos timócitos, criando complexos – são as ditas “nurse
cells”.
Função: maturar e seleccionar um repertório de linf. T, que proteja o organismo de infecção.
Neste processo, os timócitos têm uma grande variedade de TCR criados “aleatoriamente”.
Assim, grande parte não tem a capacidade de reconhecer complexos Ag-MHC e só uma pequena
parte consegue. O timo tem a capacidade de induzir a morte dos timócitos que não reconhecem
os complexos Ag-MHC (SELECÇÃO POSITIVA) e dos que apresentam autorreactividade -reagem
com antigénios MHC -“self” - e que poderiam causar autoimunidade (SELECÇÃO NEGATIVA).
95% dos timócitos não chega a maturar.
Doenças que afectem a função do timo ou pessoas/animais timectomizados mostram muito
baixos níveis de linf. T circulantes e ausência de imunidade mediada por células, tendo
imunodeficiência e susceptibilidade aumentada a infecções.

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Medula Óssea
É o órgão de origem e de maturação dos linfócitos B, a partir de progenitores linfóides. As células
do estroma da medula óssea interagem com os linf. libertando citocinas necessárias para o seu
desenvolvimento.
Tal como na selecção tímica, um processo semelhante elimina os linf. B que não são funcionais
ou que são autorreactivos (Nota: os linf. B não precisam de apresentação antigénica!).

Sistema linfático
Recebe o líquido intersticial que não retorna aos capilares  linfa. A linfa flui para capilares
linfáticos, depois vasos linfáticos. O maior vaso linfático é o canal torácico, que drena na veia
subclávia esquerda. A linfa não tem meio de propulsão que não a bomba muscular esquelética;
serve como modo de controlar a volémia no sistema circulatório. Os vasos linfáticos possuem
válvulas unidireccionais que evitam o refluxo.
Quando um Ag desconhecido entra no sist. linfático é levado para gânglios linfáticos, onde é
“aprisionado”. À medida que a linfa passa pelos vasos e gânglios, fica enriquecida em linfócitos
 transporte de linfócitos e Ag do tecido conjuntivo para tecido linfóide organizado, onde a
resposta se processa. O sistema linfático tem ainda a função de absorver as gorduras.
Órgãos Linfóides Secundários
Podem ser mais ou menos organizados:
 Gânglios linfáticos interpostos nos vasos linfáticos;
 Baço;
 Tecido linfático difuso no sistema respiratório;
 Folículos linfáticos.

Gânglios Linfáticos
Têm a função de preparar a resposta imunitária contra o Ag que chega e é aprisionado.
Estruturas encapsuladas com uma rede reticular com linfócitos, macrófagos e células
dendríticas. As células dendríticas podem ser foliculares ou interdigitadas. Tem vários vasos
linfáticos aferentes (permitindo maior entrada, que se faz pelo córtex, favorecendo a captura de
Ag) mas apenas um eferente (de modo a concentrar a linfa em Ag e linfócitos – no entanto,
apesar da grande proliferação linfocitária no gânglio, muitos linfócitos entram directamente do
sangue pelas vénulas pós-capilares, enriquecendo a linfa).
 Córtex: linfócitos maioritariamente B, macrófagos, cél. dendríticas foliculares em
folículos linfáticos.
 Paracórtex: maioritariamente linf. T, cél. dendríticas interdigitadas. É a zona dependente
do timo: sem a função deste órgão, esta zona fica praticamente despovoada.
 Medula: menos densamente povoada, células da linha linfóide; tem plasmócitos.
Após apresentação antigénica pelas APC no paracórtex há activação, no mesmo local, dos linf.
B pelos Th. Estas células, juntas, proliferam. Os plasmócitos produzem alguma IgM e IgG.
Durante 4-7 dias da estimulação Ag, alguns linf. B e Th migram para o córtex, para os folículos
linfóides.

14
Folículos Linfóides
Há dois tipos de folículos linfoides – primário e secundário:
 O primário é difuso, com cél. dendríticas em rede e linf. B quiescentes.
 O secundário forma-se após estimulação antigénica; apresenta um anel concêntrico de
linf. B, a rodear o centro germinativo, com linf. B em proliferação, alguns linf. Th,
macrófagos e cél. dendríticas foliculares. Apenas alguns linf. B activados chega a
proliferar no centro germinativo, havendo uma selecção rigorosa que leva à apoptose
de 90%. Linf. B activados que produzam Ac com maior força de ligação ao Ag são
seleccionados positivamente. Dos 10% que sobrevive, podem diferenciar-se em
plasmócitos produtores de Ac ou cél. de memória.
No folículo primário, interacções entre lnf. B, linf, Th e cél. dendríticas leva ao desenvolvimento
para folículo secundário. Os plasmócitos produzidos no centro germinativo migram para a
medula do gânglio ou são encaminhados, p. ex, para a MO.

Baço
Tem a função de preparar respostas a Ag na corrente sanguínea. Enquanto os gânglios estão
especializados na resposta a Ag nos tecidos em volta, o baço está especializado em filtrar o
sangue e Ag sanguíneos/ em circulação. Responde, portanto, a infecções sistémicas. Não tem
vasos linfáticos em número significativo, porque todos os Ag e linfócitos que recebe são
provenientes da circulação sanguínea. Possui:
 Polpa branca: tem muitos linfócitos, maioritariamente T, que formam uma rede
periarteriolar com folículos linfóides ricos em linf. B associados.
 Zona marginal (rica em linf. B, em torno da rede periarteriolar, na periferia da polpa
branca), com macrófagos e cél. dendríticas interdigitadas que recebem os Ag e os
apresentam. Os linf. Th são activados, activam linf. B e ambos migram para o folículo. O
folículo primário converte-se em secundário, com o desenvolvimento do centro
germinativo e a proliferação e diferenciação de linf. B.
 Polpa vermelha: rede de sinusóides com macrófagos, poucos linfócitos. É o local de
filtração de hemácias.
A esplenectomia aumenta a susceptibilidade a infecções, principalmente bacteriemia, mas
também outras.

MALT – Tecido Linfóide Associado a Mucosas


A mucosa do aparelho digestivo (GALT – Gut), respiratório e urogenital (BALT – Bladder) cria
uma área muito ampla, propícia para a entrada de patogéneos. Esta área é defendida pelo MALT,
que pode ser desde uma toalha difusa de células linfóides na lâmina própria a formações muito
organizadas, como tônsilas, folículos linfáticos, placas de Peyer. O MALT tem uma importante
função efectora, comprovado pelo seu elevado número de plasmócitos. Os plasmócitos das
mucosas produzem sobretudo IgA, a Ig das mucosas.
No intestino, o GALT tem linfócitos intraepiteliais, com TCR-δγ, receptor pouco comum que tem
uma diversidade limitada de reconhecimento de Ag. O intestino tem a capacidade de endocitar
Ag directamente do lúmen, pelas células M, sendo uma grande fonte de estimulação do SI. As
células M têm um formato especial, achatado, sem microvilosidades e com uma invaginação
basal. No pólo basal ligam-se “clusters” de linf. B e T e macrófagos; os Ag endocitados são
directamente recebidos pelas células, que são mais facilmente activadas. As células M
predominam nos ditos “locais de indução”.

15
A mucosa é uma barreira muito funcional de protecção contra agressões, sendo essencial como
mecanismo de imunidade inata. Uma das razões são as tight-junctions entre células.
Curiosamente, alguns patogéneos usam as células M como meio de entrada, causando a sua
destruição ou sendo simplesmente endocitados. São exemplos a Salmonella enteroinvasiva, a
Vibrio cholerae e o vírus da poliomielite.

Tecido Linfóide Cutâneo-Associado


A pele, importante barreira ao ambiente exterior, é um tecido essencial na imunidade inata,
devido à sua grande área. A epiderme possui vários tipos celulares com função imunitária:
 Os queratinócitos libertam citocinas que podem induzir reacção inflamatória local; além
disso, podem ser estimulados para exibirem moléculas MHC II à superfície e
funcionarem como APC.
 As células de Langerhans, na profundidade da epiderme, são células dendríticas.
Expressam altos níveis de MHC II à superfície e funcionam como potentes activadoras
de linf. Th. O seu padrão de migração para os gânglios linfáticos é descrito abaixo e
permite a integração de todo o SI em respostas localizadas.
 Tem também “linfócitos intraepidérmicos”, semelhantes a linfócitos intraepiteliais do
MALT (maioria CD8+ e com receptores T –δγ. Estão bem situados para encontrar Ag que
penetrem a pele e para os combater.
 Há ainda linfócitos CD4+ e CD8+ na derme; a maioria foi previamente activada ou tem
função de memória.

FUNÇÃO SISTÉMICA DO SISTEMA IMUNITÁRIO


O sistema Imunitário é constituído por uma grande diversidade de células e órgãos dispersos
pelo organismo; no entanto, em qualquer acção, a resposta é cooperativa, integrada e
coordenada por todo o sistema. Numa lesão cutânea, por exemplo, a resposta processa-se da
seguinte forma:
 Lesão tecidular com infecção  resposta inflamatória: aumento do fluxo sanguíneo,
vasodilatação,  da permeabilidade vascular  sinais quimiotácticos para recrutamento
de fagócitos e linfócitos para a área afectada;
 Os factores gerados nesta fase inicial da infecção estimulam a resposta pela imunidade
adquirida;
 As cél. dendríticas – neste caso, células de Langerhans (na pele e mucosas) – captam os
Ag do patogéneo e migram pelos vasos linfáticos para gânglios linfáticos. Uma vez lá
diferenciam-se e tornam-se parte da população de cél. dendríticas “interdigitadas” no
gânglio; iniciam os mecanismos de resposta adquirida, apresentando Ag aos linf. Th;
 Os linf. Th podem então ser activados, proliferar e produzir substâncias importantes:
o Que estimulam linf. B para a produção de Ac, neste caso dependente de linf. T.
A produção de Ac pode ter início também estimulada pela chegada de Ag ao
gânglio pela linfa.
o Quimiotácticos, que promovem a migração linfocitária dos vasos para o gânglio,
pelo endotélio de vénulas pós-capilares.
o Os linfócitos que respondem ao Ag são retidos 48h no gânglio, para activação e
proliferação, antes de serem libertados pelo vaso eferente do gânglio.

16
o Quando livres, migram para o sangue pela veia subclávia; nos vasos próximos
da inflamação o endotélio está mais aderente a linf. T activados e leucócitos
(pelos factores quimiotácticos libertados), guiando-os para o local onde são
necessários.
o Numa fase posterior da resposta, os Ac produzidos no gânglio são também
levados pela corrente sanguínea até ao local, saindo com o plasma devido ao
aumento da permeabilidade vascular.
o O resultado desta acção coordenada de moléculas difusíveis, células e órgãos é
uma resposta direccionada e eficaz contra a infacção.
CÉLULAS E ÓRGÃOS LINFÓIDES – comparações evolutivas
 Imunidade Inata: a partir dos invertebrados e também em algumas plantas;
 Imunidade Adquirida: apenas a partir dos Vertebrados (resposta mediada por linf. T, cél.
e órgãos linfóides, ainda que muito variáveis entre diferentes ordens).
A tendência evolutiva no que diz respeito ao desenvolvimento do SI passa por desenvolver novos
órgãos e mecanismos em ordens mais evoluídas mantendo, no entanto, os de ordens mais
antigas. Por ordem evolutiva:
 GALT, esboço de baço e timo – comum à maioria;
 MO hematopoiética e gânglios linfáticos
 Centros germinativos com capacidade proliferativa nos folículos linfáticos
A evolução fez-se do seguinte modo:
Agnatha2  Peixes (cartilagíneos  ósseos)  Anfíbios  Répteis  Aves  Mamíferos
 A nível celular, apenas a partir dos peixes com mandíbula (Gnathosomata) e
cartilaginosos (tubarões e raias) se desenvolveu a imunidade adquirida, com a presença
de linf. T e B.
Apenas espécies com imunidade adquirida têm células com receptores específicos de Ag (linf. T
e B) à superfície; todas as outras não são capazes de reconhecer e reagir contra um Ag específico,
não tendo especificidade nem memória imunitária.

2
Primeiros vertebrados sem mandíbula (ex: lampreia)

17
ANTIGÉNIOS (CAP. III)
Antigénios: são todas as substâncias reconhecidas pelo receptor das imunoglobulinas do linf. B,
ou pelo TCR complexado com o MHC. Podem ser:
 Celulares ou não celulares (os não celulares, solúveis);
 De natureza química diferente: Proteínas, polissacarídeos, lípidos/glicolípidos;
 Capazes de estimular linfócitos T, ou B, ou ambos;
 Naturais ou sintéticos. Os naturais podem ser Autoantigénios (do próprio, self);
Alloantigénios (da mesma espécie); Xenoantigénios (de uma espécie diferente).
Antigenicidade ≠ Imunogenicidade
Antigenicidade: capacidade de interagir com os receptores celulares de superfície ou os
anticorpos (produtos da estimulação e resposta imunitária).
Imunogenicidade: capacidade para induzir uma resposta imunitária celular ou humoral, criando
linfócitos – se interagir com Linf. B, Plasmócitos (B efectores) e B de memória; se interagir com
Linf. T, T-helper, T-citotóxicos, T de memória.
Um Imunogénio é SEMPRE um antigénio, mas o contrário não é verdade. A imunogenicidade
não é uma propriedade intrínseca do antigénio, mas depende das particularidades do meio
biológico em que o Ag se encontra.

Existem diferenças na resposta imunitária consoante o tipo de reconhecimento do imunogénio,


que é feito por processos diferentes em linf. B e T. O “hospedeiro” é assim uma peça
fundamental na resposta, uma vez que o mesmo antigénio pode ter diferentes respostas
consoante o poder imunogénico que tem para o indivíduo. As proteínas são as moléculas mais
imunogénicas; os polissacarídeos os segundos classificados. Os lípidos e ác. nucleicos
geralmente não são imunogénicos a não ser quando complexados com proteínas ou
polissacarídeos.
Para a imunidade mediada por células, apenas proteínas, alguns lípidos e glicolípidos são
imunogénios; o reconhecimento NÃO É DIRECTO, é mediado pelo MHC – moléculas do MHC e
partes do antigénio são expressos à superfície da célula para que sejam identificados como
imunogénios. Para o reconhecimento de lípidos e glicolípidos existe uma molécula de
membrana MHC-like, a CD1.

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PROPRIEDADES DO IMUNOGÉNIO que contribuem para a imunogenicidade:
 Substância estranha ao organismo: para ocorrer resposta imunitária, o Ag tem de ser
identificado como “nonself”; do mesmo modo, as moléculas self têm de ser toleradas
pelos linfócitos, capacidade adquirida na sua maturação, por apresentação antigénica
controlada. Assim a distância filogenética entre duas espécies condiciona a proximidade
estrutural entre elas, e o grau de semelhança dos Ag presentes – o que determina menor
imunogenicidade com uma maior semelhança estrutural. As excepções são proteínas
conservadas ao longo da evolução (transversais entre espécies), como o colagénio, ou
células self que não são alvo de apresentação, como é o caso dos espermatozóides ou das
células da córnea.
 Tamanho molecular: maior tamanho, maior imunogenicidade, com algumas excepções.
No geral: 100000Da – muito imunogénico; 5000-10000Da – pouco imunogénico.
 Composição química e heterogeneidade/complexidade: partículas mais heterogéneas
(heteropolímeros vs homopolímeros) e mais complexas são mais imunogénicas – por
exemplo, uma proteína com vários aa diferentes e com estrutura terciária ou quaternária
será mais imunogénica, ou um polímero com vários açúcares diferentes. Homopolímeros
sintéticos são menos imunogénicos, geralmente, não tendo tanta influência o seu
tamanho face a heteropolímeros mais pequenos.
o Em termos de estrutura e de epitopos, a 1ª é um determinante sequencial, a 2ª,
3ª, 4ª são conformacionais (determinantes do epitopo usado para interacção).
 Capacidade para ser processado e exposto com uma molécula do MHC, à superfície de
uma célula apresentadora de antigénios ou célula “self” alterada: moléculas maiores são
mais imunogénicas porque são mais rapidamente fagocitadas e apresentadas; moléculas
que não são degradadas e apresentadas com o MHC são fracos imunogénios, como os
produtos sintéticos análogos dos biológicos (por exemplo D-aminoácidos, que não são
degradados).

PROPRIEDADES DO SISTEMA BIOLÓGICO que contribuem para a imunogenicidade:


 Genótipo do receptor: espécie, tipo TCR, BCR, genes reguladores, perfil HLA ou MHC -
diferentes polimorfismos de um gene e diferentes genótipos do indivíduo determinam
a rapidez do processamento dos imunogénios, determinando a resposta final – disto são
exemplo os vários genótipos para o MHC, que condicionam diferentes graus de reacção,
diferentes tempos de processamento e apresentação aos linfócitos T, por exemplo,
numa família; o mesmo se aplica para o BCR e TCR, entre outros.
 Dose + meio de administração do antigénio: cada imunogénio tem uma curva dose-
resposta. Dosagem e meio de administração óptimos: pico de resposta. Menor
quantidade de imunogénio pode não desencadear resposta por falta de activação linf.
ou por tolerância a baixas doses ( a tolerância pode ser induzida por doses muito altas
também!). O meio de administração condiciona os órgãos mais envolvidos: intravenosa,
baço; subcutânea, gânglios linfáticos.
o Repetição da exposição (boosters): ↑produção clonal específica, logo ↓dose
requerida para resposta.
o Administração subcutânea>Intravenosa>Oral.

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 Presença de adjuvantes: substâncias que, quando misturadas com o antigénio,
aumentam a imunogenicidade deste – ↑reconhecimento pelos TLR. O mecanismo não
é conhecido, mas os adjuvantes:
o Prolongam a persistência do Ag  ex. alum
o Melhoram a co-estimulação  ex. adjuvante completo de Freund, LPS
bacteriano
o Aumentam a inflamação local  ex. adjuvante completo de Freund, alum
o Estimulam a proliferação linfocitária não específica de Ag  ex. LPS bacteriano

EPITOPOS
As células não reconhecem o antigénio como um todo, mas pequenas porções: os EPITOPOS ou
DETERMINANTES ANTIGÉNICOS.
EPITOPOS: regiões imunologicamente activas do imunogénio, que se ligam ao receptor celular
específico membranar ou ao paratopo do anticorpo. Os anticorpos têm vários paratopos, logo
um receptor reconhece e reage de forma diferente a diferentes epitopos do mesmo antigénio.
Os linfócitos podem utilizar várias estruturas como um “epitopo”: por exemplo, para antigénios
proteicos, podem ser usados elementos da estrutura primária, secundária, terciária ou
quaternária; para polissacarídeos, muitas vezes ramificados, várias ramificações podem ser
interpretadas juntas como “epitopo”.
Reconhecimento por linfócitos B: de antigénios solúveis, livres em solução; usam como epitopos
partes muito acessíveis do antigénio. O local de reconhecimento do Ag costuma ser hidrofílico,
para estar exposto na membrana e se ligar a Ag livres em circulação.
Reconhecimento por linfócitos T: geralmente, por reconhecimento de antigénios com moléculas
MHC à superfície de APCs ou células alteradas; o epitopo para os Linf. T é geralmente
indissociável da parte da molécula MHC exposta.

Epitopos e Linfócitos B
 O reconhecimento e interacção correctas entre o anticorpo e o epitopo do Ag dependem
do local de ligação ao Ag no anticorpo à superfície do linf. B – tamanho, forma… uma
vez que as ligações são não-covalentes, é importante que a ligação seja adequada. O
epitopo não pode ser maior que o local de reconhecimento do anticorpo (paratopo).
 Os epitopos podem conter aminoácidos sequenciais e não sequenciais. A desnaturação
de uma proteína leva a perda de estrutura e pode fazer com que deixe de ser

21
reconhecida pelo anticorpo. Grandes Ag são reconhecidos como um todo, na interacção
paratopo e suas margens (epitopos “conformacionais”); pequenos Ag são colocados
dentro do local de ligação /fenda, de modo mais compacto.
o Epitopo sequencial – determinante sequencial – depende da sequência de aa
para ser reconhecido;
o Epitopo conformacional (não IMUNOLÓGICO
sequencial) – determinante
conformacional – depende da
NÃO IMUNOLÓGICO
estrutura para ser
reconhecido, aa distantes na
sequência que ficam próximos
quando a estrutura da
molécula se forma.
 Os epitopos reconhecidos por Ac de linf. B tendem a estar em zonas flexíveis do
imunogénio, com mobilidade de local/resíduo. No entanto, a ligação tem menos
afinidade do que com epitopos “rígidos”.
 Proteínas complexas têm múltiplos epitopos sobrepostos, aliás, grande parte da
superfície da molécula complexa (globular, por exemplo) é potencialmente antigénica.
Assim, diferentes espécies têm o potencial de reconhecer diferentes porções da
molécula. Alguns epitopos são IMUNODOMINANTES, isto é, induzem maior resposta do
que outros numa espécie particular. A imunodominância está relacionada com as
propriedades do epitopo, da molécula e dos mecanismos de regulação do animal.

Epitopos e Linfócitos T
 Não perdem propriedade com alteração conformacional. Ao contrário dos epitopos
reconhecidos pelos linf. B, os epitopos reconhecidos pelos linf. T não perdem as
propriedades com a desnaturação. Isto acontece porque o reconhecimento é por
apresentação de antigénios processados, ou seja, moléculas MHC combinadas com
peptídeos antigénicos, cuja estrutura já foi destruída, não afectando esta o processo de
reconhecimento.
 O reconhecimento é por um “complexo trimolecular” – T-cell receptor, molécula MHC e
peptídeos antigénicos. O peptídeo liga-se a uma fenda na molécula MHC, e fica
“encapsulada” entre a MHC e o TCR, quando estes se ligam topo a topo. Ao contrário
dos epitopos para linf. B, em que interessa a ligação ao Ac, no caso de reconhecimento
com linf. T interessa a qualidade da ligação à molécula MHC e também ao TCR.
 O processamento antigénico é requerido para que a partícula interaja com a molécula
MHC, especificamente. Este processamento varia com a proveniência do Ag, que pode
ser endógeno ou exógeno.
 Os epitopos reconhecidos pelos linf. T são muitas vezes “internos”, ou seja, estão dentro
da molécula e são expostos pelo processamento.

Resposta Primária (humoral ou celular)  Ag intacto


Resposta Secundária humoral  Ag intacto
Resposta Secundária celular  Ag intacto ou desnaturado
(Resposta Primária – 1º contacto, IgM; Secundária – contactos subsequentes, + rápida,
IgG, switching de classe)

22
HAPTENOS E O ESTUDO DA IMUNOGENICIDADE
HAPTENO: molécula orgânica, pequena, que
tem propriedades antigénicas mas não é, por
si só, imunogénica. A partícula torna-se
imunogénica quando ligada a uma proteína,
o portador, formando um complexo
hapteno-portador, imunogénico.
Os anticorpos produzidos contra este
complexo vão reconhecer como epitopos
porções do hapteno isolado, da proteína
portadora isolada, do complexo como um
todo. Assim, a conjugação faz com que o
hapteno, que inicialmente e isolado não
produz resposta, passe a ser reconhecido
pelo sistema imunitário e funcione como um
verdadeiro imunogénio.
A implicação dos haptenos é no estudo das reacções cruzadas; após produção de Ac anti-
hapteno, a introdução de outros haptenos idênticos pode produzir resposta por semelhança
estrutural dos epitopos (para os quais o organismo já foi sensibilizado). O Ac vai reconhecer o
epitopo se ele for igual (partilhado) ou estruturalmente muito semelhante, mesmo que a
molécula seja distinta, reagindo contra ele. O fenómeno de reacção cruzada é a excepção à
especificidade da interacção Ag-Ac.
Um exemplo do uso de haptenos é o teste de gravidez usado antigamente, por inibição da
aglutinação. Se houver hCG na urina, não se forma precipitado porque os Ac reconhecem a hCG
e ligam-se à hormona solúvel, e não ao complexo hCG-hapteno. Se não houver hCG na urina há
ligação Ac-complexo e aglutinação (o complexo é imunogénico e em proporção adequada com
o Ac precipita, enquanto no caso da mulher grávida há mais hCG, solúvel e livre, que se liga ao
Ac inibindo a aglutinação).
-Interesse de substâncias que funcionem como haptenos – podem obter-se Ac contra elas
próprias. Se em diferentes haptenos a configuração total for mantida e só variar o derivado não-
iónico, um mesmo Ac liga-se a todos eles.
Os receptores da imunidade inata e da imunidade adquirida diferem. Os da imunidade adquirida
(Ac e TCR) são altamente específicos para certas zonas do antigénio e partes da sua estrutura.
Os receptores da imunidade inata reconhecem padrões muito menos específicos – geralmente,
zonas de um agente patogénico que foram mantidas durante a evolução e que são, por isso,
diferentes do hospedeiro filogeneticamente afastado.
Os receptores deste tipo são PRRs: Pattern-recognition receptors. Reconhecem glícidos,
algumas proteínas e lípidos, alguns padrões de ácidos nucleicos. Raramente estes receptores
originam problemas de autoimunidade, porque os factores reconhecidos são produzidos pelo
agressor e nunca pelo hospedeiro, o que difere da subtileza das diferenças entre os epitopos
nonself e self da imunidade adquirida.

23
Um exemplo de PRR solúvel é a CRP (proteína C-reactiva), que facilita a opsonização1 quando
ligada a uma molécula estranha (bacteriana), além de activar o complemento e a lise mediada
pelo complemento; outro é a proteína de ligação ao LPS das bactérias gram-negativas.
Um exemplo de PRR ligadas a membranas são o SR (Scavenger receptor) e o TLR (Toll-like
receptor). O TLR é activado, p. ex, por agentes patogénicos e causa activação da transcrição e
síntese e secreção de citocinas, o que recruta macrófagos e neutrófilos para o local de
inflamação. O TLR pode também recrutar e activar macrófagos, células NK e células dendríticas
para apresentação antigénica aos linfócitos T.
A interacção entre produção e sinalização por citocinas e a activação dos linfócitos T
demonstra a ligação entre as imunidades inata e adquirida na resposta eficaz a antigénios.

1
Opsonização – Processo pelo qual moléculas (opsoninas) são ligadas à membrana do elemento
“perigoso” para o organismo, impedindo a sua ligação a outras células (infecção) e facilitando a
fagocitose. Isto pode ser feito por moléculas do complemento ou por antigénios, que criam uma
“película” de sinalização. Uma importante opsonina é a proteína C3b do complemento. O
reconhecimento faz-se por moléculas do complemento ou por células fagocitárias, como os
macrófagos.

24
ANTICORPOS (CAP. IV)
Anticorpos: são proteínas de ligação aos antigénios, segregados pelos plasmócitos. Encontram-
se no soro, a maioria na fracção gama do proteinograma electroforético.

Funções:
 Receptores membranares de linfócitos B (IgD e IgM);
 Neutralização;
 Regulação da resposta imunitária;
 Iniciação da resposta a um Ag:
o Fomação de imunocomplexos;
o Activação do complemento (IgG1, 2,3, IgM);
o Opsonização (IgG1,3, 4);
o Imunidade das mucosas (IgA e IgM);
o Imunidade neonatal (IgG);
o Hipersensibilidade tipo I, imediata (IgE);
o Citotoxicidade mediada por Ac:
 IgG – macrófagos, monócitos, neutrófilos, NK, Linf. T;
 IgE – Eosinófilos;
Anticorpos de membrana nos linfócitos B conferem especificidade na ligação aos antigénios. A
interacção específica entre o anticorpo de membrana e o antigénio é que possibilita a formação
de clones “antigénio-específicos” de linfócitos B.
Os anticorpos produzidos em resposta a um
antigénio são heterogéneos. A maioria dos
antigénios são complexos e têm vários
determinantes antigénicos diferentes; o
sistema imunitário (SI), em resposta, recruta
vários clones de linfócitos B e produz
anticorpos para os vários epitopos
(=determinantes antigénicos) do antigénio. Os
anticorpos produzidos por cada clone são
monoclonais, mas no total a resposta a um
antigénio é POLICLONAL: é necessário
considerar que, no soro, existem produtos de
vários clones que criam uma resposta
policlonal e heterogénea para os antigénios
com que o SI contacta.
Os anticorpos do soro chamam-se
IMUNOGLOBULINAS (Ig), para as distinguir de
outras proteínas na fracção das gama-
globulinas. Encontram-se na fracção gama do
proteinograma electroforético, na sua
maioria, mas também podem ser encontradas na fracção beta-2 (e também noutras, alfa e beta).
Podem ser sIg, se segregadas, ou mIg, se ficarem na membrana.
O linfócito B pode ter na superfície vários tipos de Ig, sequencialmente: primeiro, quando
imaturo, IgM, que com a maturação coexiste com IgD, antes da exposição ao Ag; o linfócito B de

25
memória tem IgM, IgG, IgA ou IgE na membrana. Contudo, a especificidade para o Ag não muda
e é constante para determinado linfócito, quaisquer que sejam as classes de Ig que expresse,
mesmo que simultaneamente.

ANTICORPOS SÃO HETERODÍMEROS


Os Ac partilham a estrutura: têm 4 cadeias peptídicas, iguais duas a duas; 2 cadeias leves (L, peso
molecular 25000) e 2 cadeias pesadas (H, peso molecular 50000). A cadeia leve une-se à pesada
por pontes dissulfito, além de ligações não-covalentes, criando um heterodímero H-L. Ligações
idênticas unem os dois heterodímeros H-L entre eles, pela ligação H-H, formando um “dímero
de dímeros”. O número de pontes dissulfito H-H e a sua localização varia entre Igs.
As Ig possuem:
 Domínio V (highly variable domains): São regiões de grande variabilidade, VL na
cadeia leve e VH na cadeia pesada, uma região V por cada cadeia. Têm o terminal amina
da cadeia peptídica; têm cerca de 100-110 aa. São estas regiões que determinam a
especificidade da ligação de um anticorpo a um antigénio que lhe é complementar, daí
que nestas regiões haja CDR (complementarity-determining regions), ou regiões de
hipervariabilidade; as CDR da cadeia leve e pesada são o que constitui o local de ligação
Ag-Ac, ou seja, integram o paratopo. São as CDR (ou HV) que têm maior variabilidade; o
resto do domínio V, Fr, não é tão variável.
 Domínio C (constant domains): São regiões semelhantes para a mesma classe de Ig,
CL e CH. Existem várias regiões C, uma em cada cadeia leve e três ou quatro em cada
cadeia pesada. Têm o terminal carboxilo da cadeia peptídica. Os Anticorpos são
glicoproteínas e, geralmente, os locais de glicosilação são nas regiões C. A glicosilação
provavelmente aumenta a solubilidade das moléculas de Ac e afecta a taxa de
eliminação.
 Região de charneira: onde o Ac “dobra” a cadeia pesada, é uma região rica em
prolina. Não está presente em todas as cadeias pesadas (p. ex, ausente na M e E, que
têm um domínio adicional no meio da cadeia). Para “cima” desta zona, como 2 braços,
ficam os fragmentos ab (Fab), que ligam o antigénio, cada um com uma cadeia leve e o
domínio V e um C da cadeia pesada; para “baixo” fica o fragmento c (Fc), apenas as
uniões entre domínios C das cadeias pesadas.
Digestão de Ig por papaína e pepsina – a digestão por papaína origina 3 fragmentos, 2 iguais
(Fab) e um diferente (Fc); a digestão por pepsina origina 1 fragmento, o F(ab)2 (os 2 Fab unidos),
uma vez que o Fc é destruído pela enzima. A redução por mercaptoetanol destrói pontes S-S e
separa cadeias leves de pesadas.

Cadeias Leves
São de dois tipos, k e ʎ; na espécie humana, 60% são k e 40% são ʎ. Uma molécula de anticorpo
possui apenas UM TIPO de cadeia leve, k ou ʎ, nunca ambas. As cadeias ʎ apresentam uma
variabilidade ligeira de aminoácidos que cria 4 subtipos.

Cadeias Pesadas
São de 5 tipos, µ, γ, α, δ, ε (isótipos) – correspondendo à classificação das diferentes classes de
anticorpos: IgM (µ), IgG (γ), IgA (α), IgD (δ), IgE (ε). Possuem um domínio V e 3 ou 4 domínios C;
as regiões C classificam os 5 tipos de cadeia pesada. Cada cadeia pesada associa-se a uma cadeia
leve. As cadeias pesadas associam-se com outra do mesmo tipo. Existem 2 subtipos de cadeia α

26
e 4 subtipos de cadeia γ. As cadeias µ e ε contêm um domínio C extra, compensando a falta da
região de charneira.
O monómero de anticorpo tem duas cadeias pesadas idênticas e duas cadeias leves idênticas,
numa estrutura H2L2; pode ser uma associação de monómeros, (H2L2)n. A estrutura de cada Ig
depende dos níveis de organização da proteína, da sua estrutura primária, secundária, terciária
ou quaternária – respectivamente a sequência linear de aa, a formação de pregueamento em
folha β anti-paralela, a formação de estruturas globulares e a associação destas estruturas. A
estrutura quaternária é o que permite a interacção entre cadeias leves e pesadas e a formação
dos vários domínios, entre eles o local de ligação ao antigénio e vários outros locais com funções
biológicas efectoras.
Cada domínio forma: um “loop” sobre ele mesmo, unindo os bordos por pontes dissulfito; uma
folha β em comprimento. As folhas β interagem entre elas por intermédio de pontes dissulfito
e pontes hidrogénio, como uma “sandwich” cujo recheio são as ligações entre cadeias. As
ligações são feitas entre domínios semelhantes, por exemplo, CH2-CH2, CH3-CH3 e CH1-CL. Os
aminoácidos hidrofóbicos ficam virados para o espaço entre cadeias.

A região CDR é a região, em cada domínio V, responsável pela interacção e ligação com o
antigénio ou hapteno. Há indícios de que mais CDR da cadeia pesada interajam com o Ag do que
CDR da cadeia leve. Para a ligação, há indícios de que o anticorpo, o antigénio ou ambos alteram
a sua estrutura para uma melhor complementaridade.
A região CH1 e CL permitem aumentar as possibilidades de ligações estáveis VL VH, aumentando
as ligações entre elas e até as ligações ao antigénio, possibilitando mais combinações estáveis e
mais complementaridade.
A região de charneira é rica em prolina e cisteína, é susceptível à clivagem por enzimas. Não tem
homologia com os outros domínios, dá flexibilidade à IgG, D e A criando 2 segmentos dobrados
como uma “dobradiça de porta”. Assim, os braços Fab podem assumir vários ângulos quando o
Ag se liga. Movem-se alinhando com os epitopos, ou os epitopos e a superfície celular; o Fc
move-se para facilitar as funções efectoras.

27
O Fc tem funções efectoras; enquanto o Fab é responsável pela interacção com o Ag, o Fc
interage com proteínas do soro ou receptores de membrana de células, tendo várias funções,
como:
 Opsonização: é a promoção de fagocitose dos antigénios pelos macrófagos e
neutrófilos. Proteínas de membrana, os FcR (Fc receptors), ligam-se à região constante
das Ig; estão presentes na superfície dos fagócitos acima mencionados; a ligação de
vários anticorpos contendo o mesmo antigénio (p. ex, uma bactéria) ao FcR produz um
sinal que culmina com a fagocitose do complexo Ac-Ag. No interior do fagócito, o
patogéneo sofre digestão enzimática, danos oxidativos, ruptura da sua membrana por
peptídeos anti-bacterianos.
 Activação do Complemento: IgM e IgG (nos humanos) têm a capacidade de activar o
sistema do complemento, um conjunto de glicoproteínas do soro que consegue perfurar
a membrana celular. Um importante produto da activação desta via é o fragmento C3b,
que se liga de forma inespecífica ao complexo Ag-Ac junto do local onde o sistema foi
activado. A ligação do C3b permite a fagocitose; a ligação a eritrócitos (que possuem
receptores para o C3b) e o transporte até aos macrófagos residentes no fígado e baço,
que destroem o complexo sem destruir o eritrócito; o C3b permite a remoção dos
patogéneos e a sua destruição, com ou sem a morte da célula à qual o complexo ou o
C3b aderiu. A activação do complemento requer 2 Fc próximas uma da outra.
 Citotoxicidade mediada por células dependente de Anticorpos (ADCC): A ligação do
anticorpo ligado a células alvo ao FcR de vários tipos celulares, particularmente as
células NK, direcciona a citotoxicidade destas para a célula alvo.
 Transcitose dos Anticorpos: Algumas Ig conseguem atravessar epitélios, num processo
de transcitose, chegando às mucosas. A capacidade de transporte depende das
características do Fc. No humano e no rato, a IgA é a maior Ig capaz de transcitose, se
bem que a IgM também seja transportada para as mucosas. A IgG, também nestas
espécies, atravessa a placenta e as mucosas passando da mãe para o feto; isto ocorre
no 3º trimestre de gestação e é o que protege o feto, de forma transitória, logo após o
nascimento. NOTA: a transcitose da IgG materna é um fenómeno de Imunização Passiva;
este fenómeno é diferente da Imunização activa, em que há a produção autónoma de
Ig. A imunização passiva é usada por vezes em algumas terapias com anticorpos.

28
CLASSES DE ANTICORPOS E FUNÇÕES BIOLÓGICAS

IgG
 A mais abundante no sangue, ~= a 80%;
 2 cadeias γ e 2 cadeias leves, k ou ʎ (apenas um tipo!);
 4 subclasses, de acordo com os 4 subtipos de CH γ (diferenças nos aa), mas 90-95% de
homologia;
 Monómeros;
 Em termos de concentração sanguínea: IgG1>IgG2>IgG3>IgG4;
 Diferenças na extensão da região de charneira e no nº e localização de pontes S-S entre
CH;
 Atravessam a placenta (IgG2 apenas de forma residual), importantes na protecção do
feto;
 IgG3 ↑ activa o complemento, também IgG1 e IgG2 (ordem decrescente), IgG4 não
activa;
 IgG1 e IgG3 têm ↑ afinidade para FcR dos fagócitos, medeiam opsonização; IgG2 tem
baixa afinidade, IgG4 intermédia;
 IgG3 tem região de charneira mais longa e com mais pontes S-S;
 IgG1 tem menor glicosilação;
 Semi-vida ~= 23 dias, ↑produção, ↓glicosilação.

29
IgM
 5~10%
 2 cadeias L, k ou ʎ, 2 H do isotipo µ (com 4 domínios);
 IgM monomérica: na membrana plasmática de linfócitos B;
 IgM pentamérica: secretada por plasmócitos; 5 unidades monoméricas unidas por
pontes S-S no CH 3 e 4.
 Cada pentâmero possui uma cadeia adicional ligada por S-S a dois Fc, a cadeia J (joining),
que une os 5Fc dos monómeros que estão voltados uns para os outros, ou seja, no
centro do pentâmero; a cadeia J é adicionada imediatamente antes da secreção;
 Tem 10 Fab, locais de ligação ao Ag, 2 por cada monómero – no entanto, ligam-se apenas
≤10 haptenos ou pequenos Ag ou ≤5 Ag de maiores dimensões (obstrução física);
 É a 1ª a ser produzida em resposta a um Ag;
 É a 1ª a ser produzida pelo recém-nascido;
 Maior valência: as IgM são muito eficientes para reagir com Ag repetitivos, sendo ideais
para aglutinar hemácias ou neutralizar vírus, p. ex, com menos moléculas de IgM que as
de IgG que seriam precisas;
 As IgM são mais eficientes que as IgG na activação do complemento;
 Difunde mal devido ao tamanho, está em ↓concentração no fluido intersticial. As
cadeias J permitem que a IgM se ligue a receptores celulares e seja transportada pelos
epitélios até às zonas de secreções da mucosa. Depois da IgA, é a que tem maior
secreção para as mucosas, sendo auxiliar nesta função.
 ↑glicosilação

IgA
 10-15%
 2 subtipos: IgA1 e IgA2; IgA1 –
monomérica, colar de glúcidos na região
charneira, 50% das IgA das secreções,
90% das IgA nas secreções; IgA2 – H e L
ligadas por ligações não-covalentes;
 Principal Ig nas secreções e mucosas (Ig
das MUCOSAS), como leite materno,
saliva, lágrimas, muco respiratório,
genitourinário, digestivo;
 No soro, monomérica, por vezes
polimérica (dímeros, tetrâmeros,…) – se
polimérica tem cadeia J;
 A sIgA (IgA secretada) é um dímero ou
tetrâmero, com cadeia J e um
polipeptídeo chamado Componente Secretor, que é responsável pela ligação às
membranas para passagem e é produzido pelas células epiteliais das mucosas; tem 5
domínios Ig-like;
 1. O dímero ou tetrâmero liga-se ao receptor poli-Ig na membrana basolateral da célula
epitelial, por ponte S-S;
 2. O complexo é transportado até ao lúmen;

30
 3. O Receptor poli-Ig é clivado, deixando a componente secretora ligada à IgA, que passa
a sIgA – a presença do componente secretor permite a protecção contra a clivagem
pelas proteases da mucosa;
 Liga vários grandes Ag, com vários epitopos (bactérias, vírus); dificulta infecção e adesão
dos patogéneos;
 Os complexos Ag-Ac ficam retidos no muco e são eliminados (cílios, movimentos
peristálticos);
 A quantidade de IgA no jejuno ultrapassa a quantidade na Medula Óssea, Baço e linfa;
 Os plasmócitos que segregam IgA residem nos tecidos subepiteliais;
 O leite materno contém sIgA, que ajuda na imunização passiva do recém-nascido no 1º
mês.

IgE
 ~=0%, concentração 0,3µg/ml, não obstante, grande potencial biológico;
 Medeia REACÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE tipo I, imediatas;
 2 cadeias leves e 2 pesadas, tipo ε, com 4
domínios;
 Liga-se a FcR na membrana de basófilos (sangue)
ou mastócitos (tecidos); com a ligação de Ag
(alergénios) – desgranulação (exocitose dos
grânulos) dos basófilos e mastócitos - >
manifestações alérgicas, por resposta à
histamina, prostaglandinas, citocinas,…;
 A desgranulação localizada mediada por IgE pode
estimular acumulação de células para defesa anti-
parasítica;
 Vida média 2,5 dias;
 ↑glicosilação, ↓síntese.

IgD
 0,2%;
 Ac na membrana de linfócitos B maduros, com a
IgM;
 Sem função biológica efectora conhecida, em
investigação;
 ↑glicosilação, ↓síntese.

DETERMINANTES ANTIGÉNICOS NAS IG


Os Ac, sendo glicoproteínas, são fortes imunogénios. Induzem resposta imunitária, a partir de 3
tipos de determinantes antigénicos: isotipos, alotipos, idiotipos.
 Isotipos: são as variações entre cadeias pesadas e as variações entre tipos e subtipos de
cadeias leves; todos os indivíduos da mesma espécie expressam todos, espécies
diferentes não, daí que se possam produzir Ac anti-cadeias leves ou anti-cadeias
pesadas humanas, em animais;

31
 Alotipo: diferenças na sequência de aa entre indivíduos da mesma espécie, diferenças
alélicas do mesmo isotipo; anti-Ac são detectáveis após transfusão ou reacção às Ig
maternas no feto;
 Idiotipo: diferenças específicas nas sequências V das cadeias L e H de cada Ac.

B-CELL RECEPTOR
As “caudas” das mIg são demasiado curtas para interagir com vias de sinalização intracelulares
(tirosina cinase, prot. G)  BCR (B-cell Receptor) é fulcral, sendo constituído por:
 Porção transmembranar com mIg e 2 heterodímeros associados, Igα e Igβ, ligados por
S-S, com 61 e 48 aa respectivamente.
FcR: interage com o Fc do Ac; em células da imunidade inata, é um meio de activação de outras
vias pelos Ac, como a fagocitose, no processo de Opsonização; a interacção cruzada dos FcR
possibilita a regulação da activação e diferenciação de células do SI e, por vezes, a diminuição
das respostas celulares.

A SUPERFAMÍLIA DAS IG
A estrutura característica das cadeias das Ig, leves e pesadas, indica que tiveram evolução
comum a partir de um gene que codificava um peptídeo de cerca de 110 aa. Várias outras
proteínas têm este ancestral comum, pertencendo à superfamília das Ig: parte do B-cell
receptor; Poly-Ig receptor (componente secretor para IgA e IgM); T-cell receptor; CD4, CD8,
entre outras; moléculas MHC classe I e classe II; moléculas de adesão, VCAM-1, ICAM-1, ICAM-
2, LFA-3; factor de crescimento derivado das plaquetas. A maioria destas moléculas não é capaz
de ligar Ag, sugerindo que a estrutura típica das Ig tem outras funções, como a melhor interacção
com a superfície da célula.

ANTICORPOS MONOCLONAIS
A produção de anticorpos monoclonais em laboratório é essencial para aumentar a eficácia de
anti-soros específicos para testes de diagnóstico e experiências in vitro. A técnica de produção
foi criada por Köhler e Milstein em 1975.
A técnica consiste na fusão de um plasmócito normal, produtor de anticorpos, com uma célula
de mieloma (plasmócito mutado, canceroso), gerando um HIBRIDOMA. O hibridoma possui a
imortalidade celular típica das células cancerosas e as funções secretoras de um plasmócito,
criando culturas que produzem indefinidamente grandes quantidades do anticorpo secretado
pelo plasmócito.
Fazendo a cultura dos hibridomas, em meio selectivo com HAT: apenas os hibridomas
sobrevivem (plasmócitos e células de mieloma morrem). Faz-se selecção do Ac pretendido por
ELISA ou RIA. Após o isolamento, faz-se a selecção dos clones Produção monoclonal.
Existem algumas dificuldades técnicas, nomeadamente o facto de as culturas de células de
mieloma imortais serem susceptíveis ao HAT, não sendo possível manter a secreção de Ac nos
hibridomas. Em alternativa, imortalizam-se células B, acrescentando ainda Ag EBV (vírus Epstein-
Barr) para manter a secreção de Ac. É necessário usar células in vitro uma vez que os humanos
não podem ser imunizados com o mesmo espectro de Ag que os animais. No entanto, em meio
in vitro os linfócitos B só produzem IgM de baixa afinidade – a solução passa por imunizar
ratinhos, já com linfócitos B e T humanos, para posterior selecção dos B e produção de Ac
monoclonais.
Os Ac monoclonais são úteis no diagnóstico; nos testes de gravidez; na administração de

32
fármacos, como reagentes para terapêutica; na imagiologia, marcados com substâncias
radioactivas.
Pode fazer-se também a produção de IMUNOTOXINAS: complexando uma toxina com um
anticorpo monoclonal anti-célula tumoral, na região de ligação à célula, pode administrar-se a
toxina directamente sobre o tumor. Por exemplo, toxina diftérica, Shigella, …, que inibem a
síntese proteica e têm função anti-tumoral com poucas (ou até uma) moléculas. Esta técnica
ainda está em estudo, com resultados promissores e mais investigação sobre a segurança em
curso.
ABZIMAS: Anticorpos monoclonais catalíticos, que catalisam reacções, tendo um dualismo
anticorpo-enzima; a ligação Ag-Ac é semelhante a uma ligação enzima-substrato, com a
diferença de que o Ac não altera o Ag; no entanto, quando ligado com uma certa afinidade, por
ligações não covalentes, estabiliza o Ag para posterior alteração química enzimática,
funcionando como catalisador. As Abzimas ↓a energia de activação necessária, tendo papel de
enzima apesar de serem Ac, uma vez que detectam e ligam o Ag como Ac.

33
INTERACÇÃO ANTIGÉNIO-ANTICORPO (CAP. VI)
A interação Ag-Ac é semelhante à interação enzima-substrato, mas não resulta em alterações
químicas irreversíveis nem do Ac nem do Ag. É altamente específica e reversível, e envolve várias
interações não-covalentes entre o epitopo do Ag e as
CDRs da Região Variável do Ac:
 Pontes de hidrogénio
 Ligações iónicas
 Interações hidrofóbicas
 Forças de Van der Waals
As interações não covalentes são fracas e a curta
distância, por isso para criar uma ligação forte são
necessárias em grandes quantidades juntamente com
uma elevada justaposição e complementaridade entre
Ag e Ac (que está na base da sua especificidade).

AFINIDADE E AVIDEZ
Afinidade – traduz a força de ligação entre 1 CDR e 1 Epitopo. É quantificável através da
constante de equilíbrio (Ka) ou através da Equação de Scatchard. Uma ligação com baixa
afinidade é facilmente dissociável.
[𝐴𝑐-𝐴𝑔]
𝐴𝑐 + 𝐴𝑔 ⇌ 𝐴𝑐-𝐴𝑔 𝐾𝑎 = [𝐴𝑔][𝐴𝑐]

Avidez – traduz a força total de ligação entre 1 Ac multivalente (1 valência = 1 sítio de ligação)
e 1 Ag com vários epitopos. Em sistemas biológicos representa melhor a realidade do que a
afinidade, pois entre Ag e Ac multivalentes a ligação de um epitopo a um paratopo num local
facilita outra ligação num outro local. Por vezes, a alta avidez compensa a baixa afinidade, como
acontece com as IgM.

REACTIVIDADE CRUZADA
Embora a reacção Ag-Ac seja muito específica, um Ac pode ligar-se a Ag diferentes se:
 Partilharem um epitopo
 Tiverem um epitopo muito semelhante
É frequente entre Ag polisacarídicos que contenham resíduos semelhantes, como é o caso do
Sistema ABO. A produção dos Ac anti-A ou anti-B não é induzida pela exposição a Ag dos glóbulos
vermelhos mas sim por reatividade cruzada com Ag semelhantes de bactérias intestinais.
Linfócitos B que produzam Ac contra os Ag dos próprios eritrócitos são eliminados durante a
Seleção Negativa.

Muitos vírus e bactérias têm epitopos idênticos ou semelhantes a componentes das células
humanas. Por vezes, esses epitopos induzem a formação de Ac que por reatividade cruzada
interagem com esses componentes, danificando os tecidos numa reação autoimune. É o que
acontece com o antigénio M de Streptococcus pyogenes.

Algumas vacinas utilizam este princípio. Por exemplo, a vacina da varíola contém Vaccinia virus,
e induz a produção de Ac que também reagem com o vírus da varíola.

35
O Kuby inclui aqui uma longa secção sobre as várias técnicas usadas no laboratório de
imunologia, que está resumida na Sebenta Imunologia 2010 (por capítulos).

36
MAJOR HISTOCOMPATIBILITY COMPLEX (MHC) (CAP. VII)
Conjunto de genes fortemente ligados cujos produtos estão envolvidos no reconhecimento
celular, discriminação entre self e nonself, histocompatibilidade/histoincompatibilidade de
tecidos transplantados, desenvolvimento de
resposta imunitária (humoral ou mediada por
células). A molécula MHC indica aos linfócitos T
que a APC é uma célula self, e a sua maioria
apenas reconhece Ag quando estão ligados a um
MHC, sendo que o conjunto de moléculas MHC
expressas por um indivíduo influencia o espectro
de Ag aos quais os seus linfócitos T conseguem
reagir. Daí a sua importância em doenças
infeciosas e autoimunes. O MHC é conhecido
como HLA no Homem e H-2 no rato.

GENES
Nos humanos localiza-se no cromossoma 6 e está organizado em regiões que codificam 3 classes
de moléculas:
 MHC Classe I – glicoproteínas expressas na superfície de quase todas as células
nucleadas que apresentam Ag peptídicos a células TC, 3 genes clássicos (A, B, C) podem
expressar até 6 MHC I clássicos diferentes em cada indivíduo
 MHC Classe II – glicoproteínas expressas principalmente em APC que apresentam Ag
peptídicos processados a células TH, 3 genes clássicos (DP, DQ, DR)
 MHC Classe III – proteínas extracelulares com funções imunitárias (no Sistema
Complemento, na Inflamação…), TNF e outros produtos

Genes ditos não clássicos codificam moléculas ligeiramente diferentes a nível de estrutura e
função das moléculas MHC classicamente descritas. Cada ser humano pode expressar até 6
variantes de moléculas MHC Classe I clássicas diferentes pois pode ter até 6 alelos diferentes
nos 3 loci clássicos dos 2 cromossomas (a Microglobulina β2 é muito conservada e não participa
na ligação ao peptídeo Ag), e até 12 variantes de moléculas MHC Classe II diferentes (como é

37
um heterodímero uma das cadeias pode ser codificada pelo cromossoma materno e a outra pelo
paterno). Por isso o MHC pode ser considerado poligénico.

HAPLÓTIPOS
O MHC é altamente polimórfico e herdado em haplótipos, ou seja, existem vários alelos
possíveis para cada loci mas são herdados em conjunto (a ocorrência de crossing-over é muito
rara, porém significativa para gerar variabilidade na espécie). Cada indivíduo recebe assim dois
blocos – haplótipos –, um de cada progenitor, sendo geralmente heterozigoto e expressando
ambos (co-dominância). Assim, em regra, dois irmãos não serão histocompatíveis com os pais,
mas têm 1/4 de probabilidade de o serem entre eles.

ESTRUTURA DO MHC

MHC Classe I:
Cadeia α – grande cadeia transmembranar, possui 3 domínios externos α1, α2 e α3, muito
polimórfica (mas α3 é altamente conservado)
Microglobulina β2 – muito conservada, ligada não covalentemente à Cadeia α, interage com α1,
α2 e α3, não é codificada no MHC (está no cr. 15)
Par distal (α1-α2) – plataforma de folhas β ladeada por hélices α forma o sulco de ligação dos
peptídeos
Par proximal (α3- Microglobulina β2) – estrutura semelhante às Ig
Há elevada homologia entre α3, Microglobulina β2 e a Região Constante das Ig. α3 interage com
CD8. É necessária a interação de Microglobulina β2 com a Cadeia α e com um peptídeo
temporário para o MHC Classe I adquirir a conformação correta.

38
MHC Classe II:
2 cadeias polipeptídicas diferentes α e β cada uma com dois domínios externos (α1 e α2, β1 e
β2), ligadas não covalentemente
Par distal (α1-β 1) – sulco de ligação dos Ag processados
Par proximal (α2-β2) – estrutura semelhante às Ig
Esta molécula surge individualmente na membrana celular. Porém, em cristalografia, forma
dímeros (“dímeros de dímeros”, com 2 cadeias α e 2 β), estando os sulcos de ligação dos Ag
orientados em direções opostas. Ainda não se sabe se esta forma dimérica ocorre in vivo, mas a
presença de alguns locais de ligação a CD4 sugere que sim.
Cada domínio de MHC Classes I e II é codificado por um exão diferente.

MHC Classe III:


Diferentes das outras classes em termos de estrutura e função, não são membranares.

Outras moléculas semelhantes a MHC Classe I mas não codificadas no MHC apresentam Ag não
peptídicos a linfócitos T. É o caso de CD1, que apresenta Ag lipídicos de bactérias.

INTERAÇÃO PEPTÍDICA
Uma molécula de MHC apresenta um só peptídeo. Cada variante de MHC é capaz de se ligar a
um conjunto de numerosos Ag diferentes e alguns Ag podem ligar-se a várias variantes de MHC
diferentes, sendo a ligação “promíscua” e não específica (ao contrário da ligação entre TCR e
Ag). A capacidade do MHC de interagir com determinado Ag varia entre indivíduos,
possivelmente porque o polimorfismo ocorre principalmente na região de ligação aos Ag.

MHC Classe I:
Liga peptídeos endógenos e apresenta-os a linfócitos CD8+, podendo desencadear uma resposta
por imunidade celular. Cada tipo de MHC I (A, B e C nos humanos) liga um conjunto específico
de peptídeos. Uma célula nucleada expressa cerca de 105 cópias de cada variante de MHC I, pelo
que apresenta muitos peptídeos (diferentes e iguais) em simultâneo, e pensa-se que bastam
100 complexos MHC-peptídeo para que um linfócito TC reconheça e lise a célula. NKC têm
recetores para MHC I que as podem estimular ou inibir.
Os peptídeos ligados têm 2 características: têm entre 8 e 10 aminoácidos (os com 9 são mais
comuns e ligam-se com maior afinidade) e contêm Resíduos de Ancoragem. Estes são
sequências de aminoácidos normalmente hidrofóbicos essenciais para a ligação ao sulco do
MHC I, uma vez que as suas cadeias laterais são complementares à superfície do sulco.
Dependem da variante de MHC I, mas podem variar ligeiramente nos aminoácidos desde que

39
sejam semelhantes. Geralmente, como estes resíduos estão nas extremidades do peptídeo, este
forma um arco sobre o pavimento do sulco e fica mais exposto para interagir com o TCR.

MHC Classe II:


Liga peptídeos exógenos (p.e. peptídeos derivados da digestão de moléculas MHC I de uma
célula fagocitada) e apresenta-os a linfócitos CD4+, podendo desencadear uma resposta por
imunidade humoral.
Os peptídeos ligados têm em regra entre 13 e 18 aminoácidos Como o sulco do MHC II é aberto
nas duas extremidades o peptídeo pode ir para além das mesmas, como um longo cachorro
quente num pão (analogia usada no Kuby Immunology, 6ª edição). Não há resíduos de
ancoragem, os 13 aminoácidos centrais determinam a ligação ao MHC II ao longo de vários sítios
e não só nas extremidades, não se formando nenhum arco.

Porém, a associação entre o tipo de um linfócito T e a classe de MHC que reconhece nem sempre
é absoluta (p.e. podem haver linfócitos TC que reconheçam Ag ligados a MHC II).

VARIEDADE
O MHC é muito variável entre espécies e entre indivíduos, devido a polimorfismo nos vários
locus e a variabilidade do número de genes (p.e. DRβ pode ter entre 2 e 9 genes, estando
representados 4 no esquema da pág. 1). Tendo em conta o número de combinações possíveis
de alelos e número de genes para MHC I e II calcula-se um total de 2.25 x 1018 fenótipos possíveis.
Contudo, este número é incerto pois poderá ser inferior ao real, visto que praticamente só a
população europeia foi estudada, ou superior tendo em conta a ocorrência de linkage
disequilibrium (haplótipos), devido a um ainda reduzido número de gerações desde as
populações fundadoras, seleção natural ou diferente propensão à ocorrência de crossing-over
de determinadas regiões. Logo, existe muita dificuldade nos transplantes de órgãos em
encontrar dadores e recetores com MHC compatíveis.

REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO
MHC Classe I são expressos na maioria das células nucleadas (neurónios e espermatozóides em
alguns estágios de desenvolvimento não expressam). Em células saudáveis apresentam
proteínas da mesma, enquanto que em células infetadas por vírus apresentam proteínas virais
(que variam consoante a variante de MHC I, que varia consoante o indivíduo).
MHC Classe II apenas é expresso em APCs, nomeadamente macrófagos, células dendríticas e
linfócitos B. Células tímicas epiteliais e outras células (endoteliais, queratinócitos…) podem ser
induzidas por citocinas a expressá-lo e funcionar como APC em certas circunstâncias.
A regulação é feita por:
 Ativação da APC → ↑ expressão de MHC II
 TNF, IFN γ, β e α → ↑ expressão de MHC
 IFN γ, corticoesteróides, prostaglandinas → ↓ expressão de MHC II em linfócitos B
 Alguns vírus → ↓ expressão de MHC (por diminuição da transcrição ou das moléculas
transportadoras do MHC, estratégia para evitar a resposta imunitária)

40
RESPOSTA IMUNITÁRIA
A variabilidade da resposta imunitária induzida por MHC II é explicada por dois modelos:
 Determinant-selection model – diferentes moléculas MHC II têm diferentes
capacidades de ligar o Ag processado
 Holes-in-the-repertoire model – linfócitos T com TCR que reconheçam Ag estranhos
muito semelhantes a Ag do próprio podem ser eliminados durante o processamento no
timo
Pensa-se que ambos os modelos estão corretos. Diferenças nas capacidades dos MHC se ligarem
a determinado peptídeo ou de um TCR reconhecer o complexo MHC-peptídeo pode levar os
indivíduos a reagir mais ou menos intensamente a certos Ag.

DOENÇAS
Certos alelos de MHC estão associados a doenças autoimunes, víricas, alterações do fator
complemento, alterações neurológicas e alergias, através de mecanismos complexos. Algumas
das doenças mais importantes são Espondilite Anquilosante, Narcolepsia e Hemocromatose
Hereditária.
A variabilidade alélica em MHCs de pessoas doentes costuma ser inferior à da população em
geral.

41
PROCESSAMENTO E APRESENTAÇÃO DOS ANTIGÉNIOS (CAP. VIII)
Para ser reconhecido por um linfócito T, o Ag tem de ser processado (razão pela qual um Ag
desnaturado pode desencadear uma Resposta Secundária Celular) e então formado um
complexo peptídeo-MHC para apresentação antigénica. As células intervenientes na
apresentação antigénica são:
 Células-alvo – apresentam Ag ligados a MHC I
 APCs (Antigen-Presenting Cells) – apresentam Ag estranhos ligados a MHC II. Têm
capacidade de produzir o sinal co-estimulatório B7. São células dendríticas,
macrófagos, linfócitos B e quase todas as células nucleadas (exceto os linfócitos T)
durante uma etapa tardia da resposta inflamatória em função das etapas anteriores
O modo de entrada na célula e o local do processamento definem a ligação do Ag a MHC I ou II,
o que determina o seu reconhecimento por TC ou TH e posterior resposta imunitária:
 Ag endógenos – Ag dentro da própria célula, naturais (estruturas da célula ou
resultantes da sua degradação) ou induzidos por infeção intracelular (como proteínas
víricas), são processados por via endógena ou citosólica
 Ag exógenos – extracelulares, são processados por via exógena ou endocítica

Self-MHC Restriction
Os linfócitos T apenas reconhecem Ag quando apresentados por um MHC self, ou seja, quando
o linfócito e a Célula-alvo/APC têm o mesmo haplótipo de MHC.

CÉLULAS
APCs Profissionais APCs Não Profissionais
Células Dendríticas (vários tipos) Fibroblastos (pele) Células Tímicas Epiteliais
Macrófagos Células da Glia (cérebro) Células Tiroideias Epiteliais
Linfócitos B Células β Pancreáticas Células Endoteliais
Em rigor, todas as células do organismo poderiam ser designadas por APCs pois expressam MHC
I ou MHC II. Porém, por convenção, células que apresentam peptídeos a linfócitos T CD8+ são
designadas por Células Alvo, enquanto que as que apresentam a linfócitos T CD4+ são
designadas APCs.
 Células Alvo – quase todas as células nucleadas expressam MHC I, pelo que podem
funcionar como Células Alvo. Apresentam Ag endógenos a linfócitos TC e
frequentemente são células infetadas por vírus ou microrganismos intracelulares,
cancerígenas, envelhecidas ou alogénicas
 APCs – expressam MHC II e emitem um sinal co-estimulatório B7 (CD 80 ou CD 86):
o Profissionais:
 Células Dendríticas – as mais eficazes, constitutivamente têm elevada
expressão de MHC II e atividade co-estimulatória, podem ativar células TH
naive
 Macrófagos – têm de ser ativados por fagocitose (ao contrário de outras
APCs) de Ag particulados para expressar MHC II e uma molécula
membranar co-estimulatória B7
 Linfócitos B – expressam MHC II constitutivamente mas precisam de ser
ativados para expressar uma molécula co-estimulatória B7

43
o Não Profissionais – podem ser induzidas a expressar MHC II ou um sinal co-
estimulatório, atuam durante curtos períodos de tempo durante uma resposta
inflamatória, são menos importantes (apresentam Ag “de vez em quando”)

PROCESSAMENTO

A maior parte dos peptídeos é degradada em aminoácidos, e não apresentada em MHC.

Via Citosólica
Os níveis das várias proteínas são precisamente
regulados nas células, através de um processo
contínuo de síntese e degradação. Algumas
proteínas têm como destino final a apresentação em
MHC I em vez da degradação total em aminoácidos.
1 – Degradação de proteínas intracelulares
(normalmente marcadas com ubiquitina) no
Proteossoma. Os Proteossomas envolvidos na
apresentação antigénica geram preferencialmente
peptídeos com uma terminação hidrofóbica e/ou
básica – Resíduos de Ancoragem – que se ligam a
moléculas MHC Classe I e contêm 2 subunidades
codificadas no MHC (LMP2 e LMP7) e outra que não
(LMP10, também chamada MECL-1), que são
induzidas por elevados níveis de IFN-γ
2 – Transporte dos peptídeos resultantes são
para o RER pela TAP, com gasto de ATP. A TAP
(Transporter associated with Antigen Processing)
está na membrana do RER e é um heterodímero de
2 proteínas, TAP1 e TAP2, cada uma com maior
afinidade para peptídeos com 8-10 a.a. e com
terminações hidrofóbicas ou básicas, ou seja, que se
liguem facilmente a MHC I

44
3 – Ligação de um peptídeo a um MHC I auxiliado por Chaperones. As cadeias α e β2-
microglobulina são sintetizadas no RER, e a montagem dos peptídeos na molécula MHC I exige
um peptídeo no sulco de ligação e chaperones – calnexina, calreticulina e tapasina:
3.1. – Calnexina liga-se à Cadeia α
3.2. – Ligação da Microglobulina β2 à Cadeia α liberta a Calnexina e forma o MHC I, que se
liga a Calreticulina e Tapasina
3.3. – Tapasina aproxima uma TAP do MHC I, permitindo que este adquira um peptídeo
3.4. – Complexo MHC I-peptídeo, agora estável e com o folding completo, dissocia-se da
Calreticulina e Tapasina e sai do RER via Golgi para a membrana celular

Os genes de TAP e de LMP são polimórficos, pelo que diferenças na clivagem de Ag proteicos ou
no transporte para o RER podem contribuir para a variação da resposta a diversos Ag endógenos
entre indivíduos. Deficiências na TAP podem gerar várias doenças com sintomas de
imunodeficiência e autoimunidade, uma vez que se um peptídeo não se ligar ao MHC I este não
adquire a conformação correta e não migra para a superfície celular.

Via Endocítica
1 – Fagocitose (com hidrólise enzimática do Ag)
– Endocitose – mediada por recetores (como nos linfócitos B) ou pinocitose, sem
degradação do Ag
2 – Degradação do Ag em peptídeos com 13-18 a.a. O Ag atravessa vários compartimentos
ou vesículas endocíticas sucessivamente mais ácidas (endossomas recentes  endossomas
tardios ou endolisossomas  lisossomas)
3 – Transporte de MHC II para as vesículas endocíticas guiado pela Cadeia Invariante. MHC II
são sintetizados no RER, contudo, é importante que não se liguem aos peptídeos transportados
pela TAP. Assim, 3 moléculas MHC ligam-se a um trímero de 3 proteínas Cadeia Invariável
(também conhecida como Ii ou CD74) pelo sulco de ligação, impedindo a ligação de peptídeos
endógenos e ainda contribuindo para o folding, saída do RER para o Golgi e direcionamento para
as vesículas endocíticas da proteína de MHC II

Trímero de 3 proteínas Ii, em tons diferentes

45
4 – Degradação do trímero de Cadeia Invariável em CLIP nas vesículas endocíticas. À medida
que vai passando por vesículas sucessivamente mais ácidas (endossomas recentes 
endossomas tardios  lisossomas), a Cadeia Invariável vai sendo degradada até restar apenas
um fragmento ligado ao sulco de ligação do MHC II, o CLIP (CLass II – associated Invariant chain
Peptide).
5 – CLIP é substituído por um peptídeo Ag exógeno. Reação catalisada nas vesículas
endocíticas pela HLA-DM
6 – HLA-DO pode-se ligar a HLA-DM e inibir a reação. HLA-DO apenas é expressa em linfócitos
B e células do Timo
7 – MHC II-peptídeo é transportado para a membrana celular. A ligação do peptídeo é
necessária para a aquisição da conformação correta e transporte para a superfície celular de
MHC II

No caso dos linfócitos B, o Ag é captado pelas Ig na sua membrana e o conjunto é endocitado,


seguindo-se o processamento intracelular. Depois o Ag é apresentado por um MHC II a linfócitos
T CD4+. Praticamente não apresentam por MHC I.

Processamento de Ag exógenos por um linfócito B que faz Endocitose Mediada por Recetores, atuando os Ac
membranares como recetores. As etapas iniciais da síntese de MHC II não estão representadas

46
Na Via Citosólica, o Ag liga-se ao MHC I no RER, enquanto que na Via Endocítica o Ag se liga ao
MHC II numa vesícula endocítica.

Apresentação de Ag não peptídicos


CD1 é uma família de genes e proteínas que apresentam Ag não peptídicos (lípidos e glicolípidos)
e que são estruturalmente semelhantes a MHC Classe I. A sua expressão varia entre tipos de
células, têm padrões de tráfego celulares diferentes entre si, são processadas de uma maneira
diferente e são reconhecidas por vários tipos de linfócitos.

Apresentação Cruzada de Ag Exógenos


É necessária para que uma célula não APC infetada (não expressa as moléculas co-estimulatórias
necessárias para ativar linfócitos T CD8+ naive) ou APC com Ag adquiridos pela via exógena
ativem uma resposta citolítica. Por vezes, APCs desviam Ag exógenos obtidos por endocitose
para a Via Endógena e MHC I. Se ativar linfócitos T CD8+ diz-se cross-priming, se neles induzir
tolerância diz-se cross-tolerance. As células que mais utilizam este processo são as Células
Dendríticas, principalmente as que residem em órgãos linfoides secundários (pensa-se que

47
recebem Ag de APCs circulantes ou células infetadas senescentes). Também ocorre em linfócitos
B, macrófagos, neutrófilos e mastócitos. Foram propostos dois modelos, ambos com evidências
e que provavelmente coexistem:
 Enzimas especiais de processamento de Ag ligam Ag exógenos a MHC I
 Enzimas especiais de endocitose enviam Ag exógenos para um compartimento
endocítico onde os peptídeos resultantes são transportados para o citosol por TAP
nessas vesículas e depois ligados a MHC I
Pensa-se que, para evitar respostas citolíticas
acidentais a Ag não patogénicos ou self, as células
dendríticas necessitam de ser “licenciadas” por
linfócitos T CD4+ ativados antes de fazerem
apresentação cruzada:
 Célula dendrítica apresenta um Ag em MHC
II pela Via Exógena a um linfócito TH,
ativando-o
 Linfócito TH ativado estimula moléculas co-
estimulatórias na célula dendrítica e
secreta citocinas (principalmente IL-2)
 Esta “segunda opinião” licencia a célula
dendrítica a apresentar Ag internalizados
em MHC I e ajuda a ativar linfócitos T CD8+
naïve

48
RECEPTOR DE CÉLULAS T (TRC) (CAP. IX)
Ao contrário dos anticorpos, a maioria dos TCR,
não reagem com antigénios solúveis, mas com
antigénios processados ligados a uma molécula do
MHC.
A molécula responsável pela especificidade das
células T é um heterodímero composto por
cadeias α e β ou γ e δ. O TCR αβ, como o
anticorpo, é caracterizado por alto grau de
especificidade, sendo por isso considerado uma
molécula do sistema imunitário adaptativo
enquanto que alguns TCR γδ reconhecem classes
de antigénios presentes em grupos patogénicos
não processados e apresentados pelo MHC,
actuando a nível da imunidade inata.
A maioria das células T humanas em circulação
expressa TCR αβ.

ESTRUTURA E FUNÇÕES
As estruturas dos domínios dos heterodímeros TCR αβ e γδ são estritamente similares às das
imunoglobulinas.
Cada cadeia do TCR possui dois domínios com
pontes de dissulfidro que se estendem por 60 a 75
aminoácidos dentro das cadeias. A extremidade
aminoterminal de ambas as cadeias apresenta
sequência variável, sendo a restante sequência da
cadeia conservada.
Os domínios do TCR – um variável (V) e um
constante (C) – são estruturalmente homólogos aos
domínios V e C das imunoglobulinas. Os domínios
variáveis do TCR têm três regiões hipervariáveis
equivalentes a regiões de determinação de
complementariedade (CDRs) das cadeias leves e
pesadas das imunoglobulinas.
Após o domínio constante, cada cadeia do TCR
contém uma curta sequência de conexão na qual um resíduo de cisteína forma uma ligação
dissulfidro com a outra cadeia do heterodímero. Após a região de conexão existe uma região
transmembranar de 21 a 22 aminoácidos que ancora cada cadeia à membrana plasmática
composta por aminoácidos carregados positivamente que promovem também a interação entre
as cadeias do heterodímero do TCR e as cadeias do complemento CD3 transdutor de sinal.
Na extremidade carboxiterminal, cada cadeia do TCR apresenta uma curta cauda citoplasmática
de 5 a 12 aminoácidos
Verificam-se diferenças nas regiões de ligação ao antigénio entre TCRs αβ e γδ como o ângulo
formado entre as regiões V e C que no TCR αβ é de 147o e no TCR γδ de 111 o.

49
ORGANIZAÇÃO E REARRANJO DOS GENES DO TCR
Os genes que codificam os TCR αβ e γδ são expressos apenas em células da linhagem de células
T.
Como no caso dos genes das imunoglobulinas, os genes funcionais do TCR são produzidos por
rearranjo dos segmentos V e J nas famílias das cadeias α e γ e V, D e J nas famílias das cadeias
β e δ. A localização da família de genes de cada cadeia é significativo ao impedir que os
receptores αβ e γδ sejam co-expressos por um mecanismo de exclusão alélica.
A cadeia α (como a cadeia L das Ig) é codificada por segmentos de genes V, J e C. A cadeia β
(como a cadeia H das Ig) é codificada por segmentos de genes V, D, J e C. O rearranjo de
segmentos de genes das cadeias α e β dos
TCR resulta na união de V-J para a cadeia
α e V-D-J para a cadeia β.
O mecanismo de rearranjo de DNA é
similar ao das imunoglobulinas com a
presença de sequências sinais de
recombinação (RSSs) octâmeros e
nonameros conservados contendo
sequencias espaçadas de 12 ou 23 pares
de bases a flanquear cada segmento de
gene V,D e J. A recombinação pode
ocorrer apenas entre RSSs.
As células pré-T expressam genes
activadores de recombinação (RAG-1 e
RAG-2). A enzima recombinase RAG1/2 reconhece os sinais de reconhecimento dos octâmeros
e nonameros e catalisa a união V-J e V-D-J durante o rearranjo génico através da introdução de
uma quebra numa cadeia de DNA entre as sequências codificantes e de sinalização e excisão das
alças de DNA formadas no processo.
A região constante de cada cadeia do TCR é codificada por um segmento de gene C que tem
múltiplos exões: o primeiro exão codifica para a maioria do domínio C da cadeia correspondente,
o exão seguinte uma sequência de conexão, seguido por exões que codificam a região
transmembranar e a cauda citoplasmática.
Para além da flexibilidade de junção, a adição de nucleótidos na região P por variação na
clivagem por endonuclease e na região N, catalisada por uma transferase contribuem para a
diversidade do TCR.
Ao contrário dos genes das Ig, os genes do TCR não sofrem mutação somática, ou seja, os genes
funcionais do TCR gerados por rearranjos génicos durante a maturação da célula T no timo
possuem as mesmas sequências dos encontrados na população de células T periféricas maduras.
Assim, evita-se que a especificidade da célula T mude após a selecção tímica o que reduz a
possibilidade de mutações ao acaso que gerem células T autoreactivas.

50
COMPLEXO DO RECEPTOR DA CÉLULAS T: TCR-CD3
O TCR está associado à membrana com um complexo de transdução de sinal de múltiplos
componentes, CD3 cuja função é semelhante à do complexo Ig-α/Ig-β do receptor das células B.
A molécula acessória participa na transdução do sinal após a interacção de uma célula T com o
antigénio, mas não influencia a interação.
A sua expressão é necessária à expressão do TCR na membrana, pelo que a perda dos genes que
codificam o CD3 leva à perda de todo o complexo molecular.
O CD3 é um complexo de 3 cadeias polipeptídicas invariáveis que se associam para formar 3
dímeros: heterodímero de cadeias α e ε, heterodímero de cadeias δ e ε e homodímero de de 2
cadeias ζζ (90%) ou heterodímero ζη.
As regiões transmembranares de todas as cadeias do CD3 contêm um aminoácido carregado
negativamente (aspartato ou glutamato) que interage com 1 ou 2 aminoácidos carregados
positivamente na região transmembranar de cada cadeia do TCR.
As caudas citoplasmáticas das cadeias do CD3 contêm um motivo de activação de
imunoreceptor baseado em tirosina (ITAM) que interage com tirosina cinases e promove a
transdução do sinal. Cada cadeia γ, δ e ε contém um ITAM, enquanto as cadeias ζ e η contêm 3
cópias.

MOLÉCULAS DE MEMBRANA ACESSÓRIAS DA CÉLULA T


Embora o reconhecimento de complexos antigénio-MHC seja mediado apenas pelo complexo
TCR-CD3, várias outras moléculas de membrana intervêm no reconhecimento do antigénio e na
activação da célula T, reforçando a interação entre as células T e as células apresentadoras de
antigénios ou as células-alvo, actuando na transdução do sinal ou executando ambas as funções.
Os co-receptores CD4 e CD8 ligam-se a regiões conservadas das moléculas do MHC da classe I e
II, reconhecem o complexo peptídeo-MHC e participam na transdução do sinal.
Os domínios extracelulares do CD4 e CD8 ligam-se às regiões conservadas das moléculas do MHC
nas APCs ou células-alvo. O CD8 liga-se a moléculas MHC da classe 1 em contacto com domínios
α2, α3 e β2-microglobulina enquanto o CD4 interage com o MHC II através do contacto do
domínio distal de membrana do CD4 com um bolsão hidrofóbico formado por resíduos dos
domínios α2 e β2 do MHC II.

51
A afinidade do TCR por complexos peptídeo-MHC é aumentada por moléculas de adesão celular
como CD2, LFA, CD28 e CD45R que ligam se forma independente a outros ligandos nas APC ou
células-alvo. Verifica-se ainda aumento transitório da expressão de moléculas de adesão celular
na membrana.

ESTRUTURAS TRIDIMENSIONAIS DOS COMPLEXOS TCR-PEPTÍDEO-MHC


O complexo TCR αβ-peptídeo-MHC consiste numa única molécula de TCR ligada a uma única
molécula de MHC e péptido. O TCR contacta com o MHC através dos seus domínios variáveis.
As alças CDR3 das cadeias α e β do TCR juntam-se no centro
do péptido, a alça do CDR1 da cadeia α fica na extremidade
N-terminal e o CDR1 da cadeia β na extremidade C-terminal
enquanto as alças CDR2α contactam com o MHC.
O reconhecimento do complexo peptídeo-MHC ocorre
através de alças variáveis na estrutura do TCR. CDR1 e CDR3
das cadeias α e β contactam com o péptido e uma grande
área do MHC.
No caso da interação com MHC classe II verifica-se um maior
número de resíduos de contacto o que concorda com a
maior afinidade de ligação já referida.

ALORREACTIVIDADE DAS CÉLULAS T


Para além da reacção com MHC próprio e com antigénios estranhos, as células T respondem às
moléculas do MHC estranhas, uma reacção que leva à rejeição de enxertos alogénicos.
O reconhecimento do MHC estranho pode ser directo – células T reconhecem moléculas do MHC
alogénico em células estranhas como se fossem moléculas do MHC próprio – ou indirecto: as
células T reconhecem o MHC estranho após este ser processado e os seus fragmentos serem
apresentados ligados ao MHC próprio.

52
MATURAÇÃO, ATIVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS LINFÓCITOS T (CAP. X)
Apesar das suas diferenças, todos os grupos de linfócitos T do nosso organismo (T αβ
reguladoras, helper, e citotóxicas e ainda as T γδ) derivam das mesmas células, as células
hematopoiéticas T progenitoras. Os percursores de células T sofrem maturação no timo e
ativação posterior na periferia. Uma vez maduras, as células T desempenham variadas funções,
baseadas sempre no reconhecimento de antigénios MHC-dependente.

MATURAÇÃO
O processo básico de maturação dos linfócitos T demora cerca de 3 semanas, e ocorre no timo,
compreendendo 4 fases fundamentais.

Comprometimento de células hematopoiéticas com a linhagem celular T


1. As primeiras fases da hematopoiese originam células T progenitoras a partir de células
tronco multipotentes;
2. À 8ª/9ª semana de gestação, estas migram para o córtex do timo, comprometendo-se
com a linhagem T graças à ação da proteína Notch, e passam a designar-se timócitos;
3. Os timócitos têm capacidade proliferativa, e ainda não expressam nenhum marcador de
superfície dos linfócitos, como o TCR e os complexos CD, podendo ser designadas de
células duplo-negativas 1 (DN1);
4. A diferenciação de timócitos vai iniciar-se por expressão das proteínas RAG, necessárias
ao rearranjo dos genes do TCR.

Rearranjo dos genes TCR, com consequente expressão diferencial de recetores


membranares

1. Inicia-se o rearranjo dos genes das cadeias γ, δ e β do TCR. Os genes da cadeia α ainda
estão demasiado compactados para serem acedidos pelas recombinases;
2. Começa a haver expressão dos complexos membranares CD44, CD25 e c-Kit – células
DN2;
3. Os linfócitos T γδ maduros vão diferenciar-se a partir da transição DN2-DN3, sofrendo
poucas alterações fenotípicas. Estas células são os primeiros linfócitos maduros a
detetar-se no feto, e a sua abundância relativa vai reduzir-se até á idade adulta, em que
só representam menos de 5% do número total de linfócitos;
4. Continuação do rearranjo profundo dos genes do TCR. Perda de expressão de CD44 e c-
Kit – fenótipo DN3, que vai dar origem aos linfócitos T αβ;
5. As células DN3 expressam o recetor pré-TCR. Este vai induzir a paragem de rearranjo
dos genes TCR γ, δ e β e a iniciação do rearranjo dos genes da cadeia α;
6. Após este rearranjo as células diminuem muito a expressão de CD25 e tornam-se DN4.
Estas vão diferenciar-se em células Duplo-positivas (DP), que expressam os recetores
CD3, CD4 e CD8, além do TCR;
7. A partir das células DP vão-se diferenciar os linfócitos T helper, T citotóxicos, e outras
linhas linfocitárias, incluindo os linfócitos T reguladores e as células Natural Killer 1.

53
54
Seleção das células T que reconhecem MHC próprio (garante competência) e que
não reagem a antigénios próprios (garante tolerância).
1. Seleção positiva – ainda no córtex do timo, as células epiteliais corticais, que expressam
o MHC, interagem com os recetores dos timócitos DP. As células DP cujo heterodímero
TCR αβ reconhecer e se ligar ao MHC próprio (I ou II) sobrevivem e migram para a
medula do timo. As células que não interagem com as moléculas do MHC próprio serão
eliminadas por apoptose;
2. O recetor de membrana que não interagiu com o MHC é eliminado. Assim, as células
que se ligam ao MHC II com o CD4, perdem o CD8, indo tornar-se Linfócitos T helper, e
as que se ligam ao MHC I com o CD8, perdem o CD4, indo tornar-se Linfócitos T
citotóxicos;

3. Seleção negativa - as células dendríticas e os macrófagos da medula do timo, que


expressam MHC I e II que podem estar ligados a auto-antigénios, interagem com os
timócitos que expressam recetores de alta afinidade para moléculas de MHC próprias
ou que reagem a auto-antigénios. Todas as células que interajam na medula do timo
sofrem apoptose, e as que não reagem, sendo por isso tolerantes a auto-antigénios,
sobrevivem. A seleção negativa é o mecanismo principal da tolerância central (a
tolerância periférica está descrita no capítulo XX);
4. Assim, apenas as células cujo TCR lhes permite ligarem-se com baixa afinidade ao MHC
próprio e que não reagem a auto-antigénios completam o processo de maturação e
saem para a periferia como Linfócitos CD4 ou CD8. Estes correspondem a 2% dos
timócitos iniciais, sendo os restantes 98% eliminados por apoptose.

Maturação extra-tímica
1. Após saída do timo, as células T CD4 e CD8 designam-se emigrantes tímicos recentes
(RTE), não possuindo ainda as possibilidades de cativação e expansão clonal;
2. Pensa-se que a maturação final ocorre por interações com MHC e outros complexos das
células apresentadoras de antigénios (APC) nos órgãos linfóides secundários, onde se
originam então linfócitos T naïve.

55
ATIVAÇÃO
Após saída do timo, os linfócitos T naïve circulam entre o sangue e os gânglios linfáticos até
entrarem em contacto com um antigénio estranho, sofrendo então ativação e diferenciação.
A ativação dos linfócitos T naïve é o evento central da resposta imune adaptativa, consistindo
na interação do complexo TCR-CD3 com um antigénio processado e ligado a uma molécula de
MHC (MHC I para células CD8 e II para CD4).

56
Esta interação conduz ao processo de ativação e expansão clonal das células T: enquanto os
linfócitos T naïve são células quiescentes, com metabolismo baixo, cromatina condensada e
paradas em G0 no ciclo celular, os linfócitos T ativados, ou seja, que já contactaram com
antigénios alvo, produzem e segregam uma série de proteínas fundamentais (nomeadamente
citoquinas) para a resposta imunitária e entram em proliferação, diferenciando-se em células T
memória e células T efetoras.
Devido à sua rápida divisão, os linfócitos T ativados correspondem à maioria dos linfócitos
encontrados em periferia, ultrapassando em muito os números de linfócitos T naïve.
A ativação de células T é regulada por uma série de cascatas enzimáticas complexas, que são
sumarizadas no esquema que se segue, e necessita de pelo menos dois sinais para se iniciar: o
sinal 1 (interação TCR-CD3 com o antigénio) e um sinal co-estimulador, produzido pela
interação entre o CD28 da célula T e as moléculas B7 das APC. Na ausência deste o linfócito
mantem-se em anergia clona, não sofrendo ativação.

DIFERENCIAÇÃO DAS CÉLULAS T


Os linfócitos T ativos podem dividir-se em dois grupos fundamentais: linfócitos T efetores,
responsáveis em parte pela resposta imune adaptativa humoral e celular, e linfócitos T de
memória, que irão provocar uma resposta posterior a nova invasão pelo mesmo antigénio.
Descreve-se agora por etapas o processo de diferenciação:

57
1. Aumento da transcrição e da secreção de IL-2 no linfócito ativado, e consequente
estimulação autócrina do recetor de IL-2;
2. Divisão celular rápida provocada pela interleucina 2: a célula vai dividir-se 2 a 3 vezes
por dia ao longo de 4 a 5 dias, garantindo um elevado número de clones dirigido para
aquele antigénio específico;
3. Execução de diferentes funções efectoras, que dependem dos recetores de membrana
expressos, e que serão explicadas em capítulos posteriores;
a. Os linfócitos T helper (CD4) diferenciam-se em Th1 e Th2, sendo responsáveis
pela secreção de citoquinas e auxílio às células B;
b. Os linfócitos T citotóxicos (CD8) são responsáveis pela imunidade celular, tendo
atividade citotóxica para células com o antigénio reconhecido;
c. Os linfócitos T reguladores (CD25) regulam negativamente a resposta imune.
4. Diferenciação de alguns linfócitos T efetores em linfócitos T de memória, que voltam a
entrar em quiescência e só se vão dividir se entrarem em novo contacto com o mesmo
antigénio, desencadeando uma resposta secundária mais forte e rápida.

58
MATURAÇÃO, ACTIVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS LINFÓCITOS B (CAP. XI)
As 3 fases principais que levam à transformação de células B progenitoras, localizadas na medula
óssea, em linfócitos B de memória ou plasmócitos (linfócitos B activos) são, tal como nos
linfócitos T, a maturação, a activação e a diferenciação. A maturação é uma fase independente
de antigénios que ocorre na medula óssea. Já a diferenciação e activação dependem de
linfócitos T helper e de estimulação por um antigénio específico, ocorrendo em órgãos linfóides
secundários.

MATURAÇÃO
A maturação de linfócitos B é o conjunto de processos que leva à transformação de células B
progenitoras em linfócitos B virgens. Decorre desde a vida embrionária inicial, no saco vitelino
e fígado, e ao longo de toda a vida, na medula óssea. A maturação depende da ocorrência de
várias cadeias de eventos simultâneas e interligadas:

59
Proliferação e diferenciação inicial de células B progenitoras na medula óssea,
dependente das células do estroma
1. No estado mais precoce do desenvolvimento, há contacto directo entre as pró-B e as
células do estroma, através de CAMs (VCAM-1 das células do estroma liga-se à VL4 da
pró-B);
2. Interacção c-kit da pró-B com Stem Cell Factor (SCF) das células do estroma estimula a
divisão celular e a diferenciação das primeiras em células pré-B;
3. Produção de IL-7 pelas células do estroma e ligação ao receptor da célula pré-B induz
maturação e perda de contacto directo entre as células e o estroma. A partir de agora
as últimas irão regular as fases subsequentes maturação de linfócitos B apenas à
distância, através de citocinas;
4. As células pré-B podem também dividir-se até 6 a 8 vezes. A sua maturação em células
B imaturas depende do rearranjo genético abaixo descrito.

Rearranjo dos genes de Imunoglobulinas das células tronco linfóides


1. Rearranjo dos genes da cadeia pesada Dh-Jh (em primeiro lugar) e Vh-DhJh na célula
pró-B origina células pré-B;
2. O rearranjo bem-sucedido dos genes da cadeia leve na célula pré-B é o factor
determinante para a sua diferenciação em célula B imatura. Devido à exclusão alélica,
apenas um isotipo de cadeia leve é expresso num linfócito B, pelo que o arranjo dos
genes da cadeia leve compromete a célula B imatura a uma especificidade antigénia
específica;
3. A maturação genética das células B na medula óssea culmina com a produção de células
B imaturas portadoras de IgM, que ainda não são funcionais.

Evolução dos marcadores de superfície celular da linhagem B


1. No estágio pró-B, as células não apresentam cadeias de anticorpos leves nem pesadas,
expressando CD45R e moléculas transdutoras de sinal Ig-alfa/Ig-beta que depois se irão
associar às cadeias de anticorpo de membrana. Expressam ainda o correceptor CD19, e
ainda os CD43, c-Kit, CD24 e HSA;
2. As células pré-B deixam de expressar o CD43 e o c-Kit por acção parácrina da IL-7, e
passam a ter o CD25, receptor de IL-2;
3. Após o rearranjo dos genes das Imunoglobulinas, a IgM aparece à superfície das células
B imaturas, que perdem a expressão do CD25.

60
SELECÇÃO NEGATIVA DE CÉLULAS B AUTO-REACTIVAS
Após estes processos, as células B imaturas são sujeitas aos mecanismos de selecção: as células
B imaturas já expressam Imunoglobulinas M com cadeias leves específicas para um determinado
antigénio. Assim, todas as células que se ligarem aos antigénios em circulação na medula óssea,
ou seja, que reconhecerem antigénios próprios, irão geralmente entrar em apoptose após
ligação ao antigénio, ocorrendo a delecção selectiva de células B reactivas a auto antigénios.
Por vezes, pode haver recuperação de algumas destas células por novo rearranjo dos genes da
cadeia leve.
As que passarem este processo sairão da medula óssea como células B virgens, que ao contrário
das primeiras já responderão positivamente ao encontro com um antigénio estranho. Apenas
cerca de 10% das células B que a medula óssea produz entram em circulação. Os restantes 90%
sofrem este processo de delecção clonal.

ACTIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS B VIRGENS


A activação, diferenciação e proliferação de Linfócitos B ocorrem na periferia em resposta a uma
interacção com um antigénio específico para a Ig de membrana do linfócito. Estes mecanismos
levam à proliferação de plasmócitos e de células B de memória.
Na ausência de activação, os linfócitos B virgens, que em termos de ciclo celular são células
paradas em fase G0, morrem ao fim de algumas semanas por apoptose.

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Os mecanismos de activação e diferenciação podem dividir-se em dois grupos – os despoletados
por antigénios timo-dependentes, dependentes de linfócitos T helper, e os despoletados por
contacto com antigénios timo-independentes, que se podem dividir nos tipos 1 e 2.
As propriedades dos diferentes tipos de antigénios estão descritos abaixo. É de destacar a
propriedade de activação policlonal dos TI-1, que é efectuada por ligação adicional do antigénio
ao Toll TLR-4 das células B não-específicas.

Sinal 1 e 2 - ligação os receptores


Para que uma célula B virgem em G0 seja activada, são necessários dois sinais diferentes: para
antigénios TI, tanto o sinal 1 como o sinal 2 são produzidos imediatamente após contacto com
o antigénio. Para antigénios TD, o sinal 2 é fornecido por ligação através do CD40 ao linfócito Th.
Em ambos os casos, o sinal 1 é produzido por ligação de antigénios multivalentes fazem ligação
às IgM’s de mem brana (mIgM). No entanto, para ambos os tipos de antigénios, a produção de
citocinas estimulantes por T helper é importante na proliferação linfocitária (IL 2, 4 e 5).

Sinalização intracelular – activação do ciclo celular


Como as Igs têm caudas citoplasmáticas curtas, este mecanismo está dependente das Ig-alfa e
Ig-beta que se encontram nas proximidades dos anticorpos de membrana. Estas activam uma
diversidade de cinases que serão responsáveis por
1. Mudar padrões de expressão génica
2. Activar o ciclo celular
3. Provocar mudanças funcionais
4. Diferenciar a célula

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Importância do complexo de co-receptor das células B
1. Correceptor estimulador: é constituído por 3 proteínas de membrana: CD19, CR2 e
TAPA-1. O CD19 tem uma porção intracitoplasmática longa responsável pela
amplificação de sinais emitidos pelo complexo BCR. O CR2 recebe um produto clivado
pelo complemento, C3d, e funciona com um receptor para TAPA-1.
2. Correceptor inibidor: é constituído pelo CD22, que está associado ao BCR em repouso e
emite um sinal negativo que inibe a activação dos linfócitos.

DIFERENCIAÇÃO E SELECÇÃO POSITIVA DOS LINFÓCITOS B ACTIVOS EM CENTROS


GERMINATIVOS
7 a 10 dias após a exposição de linfócitos virgem a antigénios TD, surgem os centros germinativos
de linfócitos B, onde ocorrem os 3 eventos major da sua diferenciação: maturação da afinidade,
mudança de classe e formação de células plasmáticas e células B de memória. Os centros
germinativos estão localizados em folículos linfóides, localizados nos órgãos linfóides
secundários ou noutros órgãos como o intestino.
Na zona escura dos centros germinativos, as células B activadas sofrem intensa proliferação,
sendo conhecidas como centroblastos. Estes originam centrócitos, com maior quantidade de Ig
de membrana, que vão migrar para zona clara e contactar com o antigénio apresentado pelas
células dendríticas.
Os centrócitos que não contactarem com o antigénio apresentado sofrem apoptose. Os que
sobreviverem a esta selecção positiva recebem um sinal de sobrevivência das células T helper e
diferenciam-se em plasmoblastos (que se irão diferenciar me plasmócitos) e células B de
memória.

63
Maturação de afinidade
Consiste no aumento da afinidade dos anticorpos produzidos para o antigénio específico contra
o qual são direccionados. São dependentes dos processos de hipermutação somática nos genes
de Ig’s nos centros germinativos, e posterior selecção por células dendríticas dos linfócitos com
Ig de maior afinidade para o antigénio apresentado

64
Mudança de classe
A mudança de classe dos anticorpos produzidos pelo linfócito B permite que, para um mesmo
antigénio, haja uma diversidade de funções e respostas biológicas desempenhadas pelos
anticorpos. Resulta da propriedade dos domínios das cadeias VH de se associarem com uma
região constante de qualquer isotipo, o que permite mudar actividade biológica mas manter a
afinidade do Ac.
A resposta humoral a antigénios TD é marcada pela mudança massiva para classes não Ig-M,
enquanto a resposta a antigénios Ti é marcada sobretudo pela produção de IgM.
Nos primeiros, é essencial a ligação a linfócitos T helper (CD40-CD40L) para que ocorra mudança
de classe, como é patente na síndrome de híper IgM.

Formação de plasmócitos
Formados nos centros germinativos mas não só, os plasmócitos não têm anticorpos de
membrana, segregando em vez disso elevadas quantidades de anticorpos específicos de uma
determinada classe.
A formação de plasmócitos exige modificação do processamento de RNA, para mudar da forma
membranar para a forma secretada do anticorpo. Exige ainda o aumento exacerbado da
transcrição e tradução das cadeias leves e pesadas.

Formação de células B de memória


Os linfócitos B maduros seleccionados podem também diferenciar-se em células B de memória.
Estes possuem um conjunto de características únicas sintetizadas na tabela abaixo, das quais se
destacam os anticorpos de membrana: dado que esta diferenciação ocorre após a mudança de
classe, as células B de memória podem, ao contrário das virgens, expressar não só IgM e IgD mas
também IgG, IgA e IgE.
As células B de memória são responsáveis por desencadear a resposta secundária, uma resposta
imunitária a um antigénio já antes combatido. Esta resposta é qualitativa e quantitativamente
diferente, sendo mais rápida e mais eficaz que a resposta primária.

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66
RECETORES E SINALIZAÇÃO: CITOCINAS E QUIMIOCINAS (CAP. XII)
As citocinas são moléculas pelas quais as células do sistema imunitário comunicam e podem
estar na forma solúvel ou ligada à membrana celular. Elas podem ser classificadas em grupos:
 Interleucinas – citocinas que comunicam entre leucócitos;
 Quimiocinas – citocinas que permitem a mobilização de células do sistema imunitário.
Estas pertencem a uma classe de moléculas chamadas de quimioatractantes –
moléculas que atraem células por influenciarem a montagem, desmontagem e
contractilidade das proteínas do citoesqueleto e da expressão de moléculas de adesão
na superfície da membrana celular. As quimiocinas atraem células com os recetores
apropriados para regiões onde a concentração de quimiocina é mais elevada.
As suas ações quando se ligam ao respetivo
recetor podem ser:
 Mudar a expressão de moléculas de
adesão e recetores de quimiocinas
na membrana alvo ajudando uma
célula a mover-se de uma
localização para outra;
 Sinalizar uma célula do sistema
imunitário a aumentar/diminuir a
atividade de enzimas, alterar a sua
expressão génica ou
alterar/potenciar os seus efeitos;
 Instruir a uma célula quando
sobrevive ou quando morre.

PROPRIEDADES GERAIS DAS CITOCINAS E QUIMIOCINAS


As citocinas medeiam a ativação, proliferação e diferenciação da célula alvo
As citocinas ligam-se a recetores específicos que estão na membrana das células alvo e alteram
a atividade enzimática e a expressão génica. A suscetibilidade de uma célula a uma citocina é
determinada pela presença do recetor correspondente na membrana celular. Estes recetores
têm uma elevada afinidade e, aliado a uma secreção de citocinas que é feita muito próximo dos
recetores, uma pequena quantidade de citocinas pode mediar efeitos biológicos poderosos.
As citocinas regulam a intensidade e a duração da resposta imunitárias estimulando ou inibindo
a ativação, proliferação e/ou diferenciação de várias células, regulando a secreção de outras
citocinas ou de anticorpos ou ainda induzindo a morte celular. Podem ainda modular a
expressão de vários recetores para quimiocinas, outras citocinas ou ainda para a própria célula.

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As citocinas ainda exibem:
 Pleiotropia – a mesma citocina tem efeitos diferentes dependendo da célula alvo;
 Redundância – duas ou mais moléculas com a mesma função;
 Sinergia – o efeito combinado de duas citocinas na atividade celular é maior que o seu
efeito somado individualmente;
 Antagonismo – os efeitos de uma citocina inibem os efeitos de outra;
 Indução em cascata – a ação de uma citocina numa célula alvo induz a célula a produzir
uma ou mais citocinas adicionais.
Estes atributos permitem regular a atividade celular numa forma coordenada e interativa.

As citocinas têm numerosas funções biológicas


As principais células produtoras de citocinas são os linfócitos T helper, células dendríticas e
macrófagos. As principais respostas fisiológicas que requerem envolvimento de citocinas são:
 Indução de uma resposta imunitária celular e humoral;
 Indução de resposta inflamatória;
 Regulação da hematopoiese;
 Cicatrização de feridas.
Normalmente uma célula alvo é exposta a uma mistura de citocinas que combinando os seus
efeitos exerce a sua função na célula. Raramente atuam sozinhas.

As citocinas podem provocar e dar suporte à ativação de subpopulações específicas


de células T
Várias citocinas intervêm no processo de ativação/suporte de subpopulações específicas de
células T:
 O linfócito T helper do tipo 1 segrega citocinas que promovem a diferenciação e
atividade de macrófagos e linfócitos T citotóxicos. IL-12 e o interferão (IFN) ϒ induzem a
sua diferenciação;
 O linfócito T helper do tipo 2 ativa células B para produzir anticorpos. IL-4 e IL-5
suportam a sua formação;

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 O linfócito T helper do tipo 17 promove a diferenciação de neutrófilos e macrófagos
ativados e suporta o estado inflamatório. IL-17 e IL-23 induzem a sua formação.
A diferenciação e atividade de cada subpopulação de células é suportada pela ligação de
diferentes combinações de citocinas em que cada combinação leva à transmissão de sinais
intracelulares específicos levando à célula T helper diferenciar-se num determinado tipo.

A ativação celular pode alterar a expressão de recetores e moléculas de adesão


Para uma célula responder a uma molécula de sinalização tem de expressar os recetores para
essa molécula. A resposta dessa célula a essa molécula pode, portanto, ser controlada através
da alteração da expressão do recetor. Por exemplo, a estimulação de uma célula T por um
antigénio:
 Induz alterações na expressão de recetores para quimiocinas levando a que só as células
que foram previamente estimuladas pelo antigénio migrem pela ação das quimiocinas;
 Regula a expressão de moléculas de adesão;
 Regula a expressão de recetores para citocinas.

As citocinas estão concentradas entre as células secretora e alvo


Durante o período em que as células secretora e alvo estão em contacto, o aparelho secretor da
célula secretora está orientado de forma a que as citocinas sejam libertadas diretamente para a
região da membrana da célula alvo que está em contacto próximo com a célula secretora,
permitindo que a concentração efetiva de citocinas na região de contacto entre as duas células
seja muito maior do que fora. Esta forma de libertação deve-se:
 Ao tempo de vida curto das citocinas;
 Ao tempo curto de atuação das citocinas;
 À distância curta a que atuam.

Sinalização através de múltiplos recetores pode ajustar a resposta celular


As citocinas podem ligar-se a mais do que um recetor e os recetores pode ligar mais do que uma
molécula de sinalização. Assim, sinais recebidos através de mais do que um recetor são
integrados ao nível de uma resposta biológica através de vias de sinalização que ajustam a
expressão de fatores de transcrição e da atividade de enzimas.

Famílias de citocinas e seus recetores


Existem seis famílias de citocinas:
 Interleucina 1;
 Hematopoetina;
 Interferão;
 Fator de necrose tumoral;
 Interleucina 17;
 Quimiocinas.

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Citocinas da família da interleucina 1 induzem a libertação de sinais
proinflamatórios
Citocinas da família da interleucina 1 são segregadas muito cedo numa resposta imunitária pelas
células dendríticas e monócitos ou macrófagos. A segregação de IL-1 é estimulada pelo
reconhecimento de antigénios bacterianos, víricos ou parasitários por recetores do sistema
imune inato.
Os membros desta família:
 São proinflamatórios induzindo um aumento da permeabilidade capilar no local da
secreção assim como uma amplificação do nível de migração leucocitária para os tecidos
infetados;
 Sinalizam o fígado a produzir proteínas de fase aguda (Interferão tipo 1, IL-6 e
quimiocina CXCL8) induzindo múltiplos efeitos protetores como a destruição do RNA
viral e a indução de febre;
 Ativam as células T e B;
As principais citocinas desta família são:
 IL-1α e IL-1β – sintetizadas como percursores pro IL-1α (biologicamente ativo e está
ligado à membrana celular) e pro IL-1β (requer processamento posterior e é solúvel). As
duas sofrem ação de uma enzima proteolítica (caspase-1) dentro da célula secretora
para serem ativadas;
 IL-18 – é expressa em monócitos, macrófagos e células dendríticas e é segregada cedo
na resposta imunitária;
 IL-33 – é expressa no tecido muscular liso e epitélio dos brônquios e a sua expressão
pode ser induzida por IL-1β e TNF-α nos pulmões e fibroblastos da pele. Induz os
linfócitos T helper do tipo 2 a libertar citocinas que promovem a interação entre os
linfócitos T com os linfócitos B, mastócitos e eosinófilos;
 IL-1Ra – liga-se aos recetores IL-1R1 e previne a interação com o recetor IL-1AcP
impedindo a transdução de sinal;
 IL-18BP – liga-se ao IL-18 impedindo que este interaja com o seu recetor. O seu efeito
inibitório é potenciado pela ligação de IL-1F7;

70
Os recetores para os membros desta família são:
 Recetores para o IL-1 - IL-1R tipo 1 (IL-1R1) e IL-1R tipo 2 (IL-1R2). O primeiro é expresso
em muitas células, é ativo apenas quando ligado à membrana e precisa de uma proteína
acessória (IL-1RAcP) para o funcionamento completo. O segundo é expresso apenas em
células B e é inativo. Tanto os recetores como a proteína acessória existem ligados a
membranas como solúveis. A sua maior ou menor expressão permite que o organismo
regule os efeitos das citocinas fazendo com que os recetores inativos ou na forma
solúvel compitam com os recetores ativos pelas citocinas;
 Recetores para o IL-18 – constituído por IL-18Rα e IL-18Rβ;
 Recetores para o IL-33 – constituído por T1/ST2 em conjunto com o IL-1RAcP.

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Citocinas da família da hematopoetina (classe 1) induzem uma diversidade de
funções nas células alvo
Várias citocinas pertencem a esta família entre as quais (só estão representadas algumas e com
algumas das suas funções):
 IL-2 – Sinaliza o início da diferenciação da proliferação de células T e B;
 IL-3 – Ativa monócitos e induz a diferenciação em megacariócitos. Induz a proliferação
de eosinófilos e desgranulação dos basófilos.
 IL-4 – Promove as células T naïve a diferenciar-se em linfócitos T helper tipo 2;
 IL-5 - Induz a proliferação de eosinófilos e desgranulação dos basófilos.
 IL-6 – Sinaliza o início da diferenciação de células B para plasmócitos e da secreção de
anticorpos; Importante para o início da resposta imune.
 IL-12 – Promove as células T naïve a diferenciar-se em linfócitos T helper tipo 1;
 G-CSF – Essencial para o crescimento e diferenciação de neutrófilos;
 GM-CSF – Fator de diferenciação para granulócitos e monócitos. Induz a proliferação de
eosinófilos, a diferenciação em megacariócitos e desgranulação dos basófilos.
Os recetores para as citocinas desta família são:
 Regiões homólogas de ligação de citocinas (CHRs - Cytocine-binding Homology
Regions) – esta classe de recetores divide-se em três subfamílias:
o Subfamília de recetores IL-2 – inclui recetores para IL-2, IL-4, IL-7, IL-9, IL-15, IL-
21. São constituídos por 1 cadeia específica de citocinas α, 2 cadeias específicas
de citocinas β e 1 cadeia específica ϒ (responsável pela transdução do sinal e
reconhecimento da citocina). Este recetor encontra-se sob 3 formas: (1) IL-2Rα
(CD25) – tem baixa afinidade, liga-se à citocina mas não faz a transdução do
sinal; (2) IL-2βϒ – tem afinidade intermédia e é capaz de fazer a transdução de

72
sinal; (3) IL-2αβϒ - tem alta
afinidade e é o maior
responsável pelos efeitos
das citocinas. A expressão
das três cadeias que
podem constituir os
recetores varia dentro do
tipo de célula e do seu
estado de diferenciação.
Os recetores de afinidade
intermédia são expressos
em células T em descanso e
nas células Natural Killer, enquanto que os recetores de baixa e alta afinidade
são expressos em células T e B ativadas. A função dos recetores de baixa
afinidade é restringir a expressão de recetores de alta afinidade para garantir
que apenas as células T ativadas por um antigénio proliferem.
o Subfamília de recpetores GM-CSF – inclui receptores para IL-3, IL-5 e GM-CSF.
É constituído por duas subunidades: (1) proteína receptora específica de
citocinas α – tem baixa
afinidade; (2) subunidade
sinalizadora β – após a
ligação da citocina à proteína
receptora específica de
citocinas α, liga-se a ela e o
receptor fica com alta
afinidade permitindo a
transdução do sinal. IL-3 e
GM-CSF antogonizam um
com o outro devido à
competição pelo receptor e
pelo número limitado de
subunidades β.
o Subfamília de receptores gp130 – inclui recetores para IL-6, IL-11, LIF, OSM,
CNTF e IL-27.

Citocinas da família dos interferões (classe 2)


Existem interferões de três tipos que pertencem a esta família:
 Interferões tipo 1 – estão incluídos os interferão α e β. São secretados por macrófagos
ativados, células dendríticas e células infetadas por vírus após reconhecerem os
componentes virais através de recetores de reconhecimento de padrões (PRRs – pattern
recognition receptors). Estes interferões vão depois ligar-se aos respetivos recetores
localizados em diferentes células: (1) induzindo ribonucleases para destruir o RNA viral
e celular; (2) inibindo a síntese proteica prevenindo que as células infetadas produzam
mais vírus; (3) inibindo o funcionamento normal da célula; (4) destruindo as células

73
infetadas; (4) aumentam a expressão de proteínas do complexo MHC na superfície das
células aumentando a sua capacidade de apresentação antigénica;
 Interferões do tipo II – está incluído o interferão ϒ que é produzido por células T e
Natural Killer ativadas. Este é um potente modulador da resposta imune adaptativa,
aumentando o número de células T helper tipo 1 e induzindo a ativação de macrófagos
com a subsequente destruição de qualquer patogéneo intracelular e diferenciação de
linfócitos T citotóxicos. Também aumenta a expressão de proteínas do complexo MHC
na superfície das células aumentando a sua capacidade de apresentação antigénica.
 Interferões do tipo III – estão incluídos os interferões λ1 (IL-29), λ2 (IL-28A) e λ3 (IL-28B)
e regulam a expressão de genes controlando a replicação viral e replicação da célula
hospedeira.
 Existem membros desta família que são minoritários. Aqui incluem-se IL-10, secretada
por monócitos e por células B, T e dendríticas que regulam a resposta imunitária.
Os recetores para as citocinas desta família são semelhantes aos da família das hematopoetinas
(classe 1) mas não possuem a sequência WSXWS característica dos recetores da família das
hematopoetinas (classe 2).

Nota:
JAK – Janus Activated Kinases
STAT – Signal Transducers and
Activators of Transcription

74
Sendo esta a generalidade da transdução do sinal nos recetores de citocinas das classes I e II
como é que o sistema imunitário induz uma resposta específica a cada citocina?
 Elevada especificidade na ligação da citocina no seu recetor;
 Alguns recetores estão ligados a enzimas JAK específicas e ativam fatores de transcrição
STAT únicos;
 A atividade dos fatores de transcrição STAT é específica pois cada um só reconhece
sequências específicas em genes promotores;
 Só os genes promotores que uma determinada célula permite expressar é que podem
ser ativados pelos fatores de transcrição STAT.
Os inibidores dos recetores desta família são a proteína inibidora do STAT ativado (PIAS),
supressor da sinalização de citocinas (SOCS) e fosfatases de tirosina.

Membros da família de necrose tumoral (TNF) podem sinalizar o desenvolvimento,


a ativação e a morte
Os membros desta família têm como funções principais a regulação do desenvolvimento, função
efetora e homeostase das células do sistema muscular, neuronal e imune. Existem vários:
 TNF-α – citocina proinflamatória secretada na forma solúvel por macrófagos ativados
mas também por linfócitos, fibroblastos e queratinócitos em resposta à inflamação,
infeção e ambientes de stress. Para exercer os seus efeitos biológicos liga-se ao
recetores TNF-R1 e TNF-R2;
 TNF-β (Linfotoxina-α) – produzida por linfócitos ativados na forma solúvel e liga-se em
recetores localizados em neutrófilos, células endoteliais e osteoclastos sinalizando a sua
ativação. Em outras células pode levar ao aumento da expressão das glicoproteínas do
MHC e moléculas de adesão;
 Linfotoxina-β – citocina ligada à membrana celular importante na diferenciação
linfocitária;
 BAFF e APRIL – importante na ativação, diferenciação e proliferação dos linfócitos B;
 CD40L – citocina expressa na superfície da membrana das células T necessária para a
diferenciação das células B;
 Fas Ligand (FasL) ou CD95L – induz a apoptose ao ligar-se ao respetivo recetor (Fas –
CD95);
Os recetores para as citocinas desta família são caracterizados por terem
domínios ricos em cisteína (CDRs). Normalmente encontram-se na
superfície da membrana celular mas existem alguns que podem surgir na
forma solúvel que se ligam às citocinas inibindo a sua sinalização.

75
76
Membros da família do IL-17 são proinflamatórios
Pertencem a esta família as interleucinas 17A, 17B, 17C, 17D e 17F. Estas são encontradas em
neutrófilos, queratinócitos e outras células não linfóides e coordenam a libertação de
proinflamatórios e citocinas que mobilizem neutrófilos. A IL-17E é uma exceção nestas funções
promovendo a diferenciação de linfócitos T helper de tipo 2 anti-inflamatórios e suprimem as
respostas dos linfócitos T helper de tipo 17.
 IL-17A – libertada por linfócitos T ativados e estimula a produção de fatores que
sinalizam um estado proinflamatório (IL-6, CXCL8 e G-CSF);
Os recetores para as citocinas desta família são compostos por 5 cadeias proteicas (IL-17RA, IL-
17RB, IL-17RC, IL-17RD, IL-17RE) que variam no seu arranjo para formar vários tipos de
recetores.

As quimiocinas dirigem a migração de leucócitos


As quimiocinas são pequenas citocinas que se ligam a recetores na membrana celular e induzem
o movimento de leucócitos seguindo um gradiente de concentração até à fonte das quimiocinas.
A esta forma de mobilização de células designa-se por quimiotaxia.
Os recetores para as quimiocinas são recetores acoplados a uma proteína G (GPCRs) e são
classificados de acordo com o tipo de quimiocina à qual ligam (por exemplo recetores CCR ligam-
se a quimiocinas CC e os recetores CXCR reconhecem quimiocinas CXCL). A especificidade
intrínseca dos recetores é balanceada pela capacidade de muitos recetores ligarem a mais do
que uma quimiocina de uma determinada família e de mais do que uma quimiocina se ligarem
a mais do que um recetor.

77
ANTAGONISTAS DAS CITOCINAS
São proteínas que inibem a atividade das citocinas ligando-se diretamente ao recetor da citocina
impedindo a transdução de sinal ou bloqueiam uma citocina ativa de ligar-se ao recetor ou
ligam-se à citocina impedindo que esta se ligue ao recetor. Exemplos disto são o IL-1Ra que se
liga ao recetor IL-1 ou IL-2Rα (CD25) que forma um recetor para IL-2 solúvel depois de clivado
prevenindo que a IL-2 se ligue ao recetor que está ligado à membrana celular inibindo a sua
função.

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SISTEMA COMPLEMENTO (CAP. XIII)
Conjunto de proteínas que são maioritariamente produzidas no fígado, estão dissolvidas no
sangue na sua forma inativa e cooperam com os sistemas imunitários inato e adaptativo para
eliminar patogéneos do sangue e tecidos. Estas proteínas interagem entre si em cascada e os
seus componentes podem ser classificados em sete categorias funcionais:

79
 Componentes iniciadores do complemento – iniciam a respetiva cascada através da
ligação a partículas solúveis ou ligadas à membrana celular;
 Mediadores enzimáticos – enzimas proteolíticas que clivam e ativam outros membros
da cascata. Estas são ativadas por ligação a outras macromoléculas, mudança de
conformação ou clivadas por outra protéase;
 Opsoninas ou componentes de ligação a membranas – C3b e C4b estimulam a
fagocitose através da sua ligação às células microbianas e servem como locais de ligação
para células fagocíticas que tenham recetores para C3b e C4b;
 Mediadores inflamatórios (anafilotoxinas) – aumentam o suprimento de sangue na
área em que acuam ligando-se a recetores que estão nas células endoteliais e
provocando vasodilatação. Também atraem outras células para o local de lesão
tecidular;
 Proteínas de ataque à membrana – formam o complexo de ataque à membrana (MAC)
inserindo-se na membrana celular de microorganismos invasores criando buracos que
levam à lise do patogéneo;
 Proteínas recetoras do complemento – estão na superfície da membrana celular e
ligam-se a proteínas específicas do sistema complemento sinalizando funções celulares
específicas;
 Componentes reguladores do complemento – As células do hospedeiro estão
protegidas contra as proteínas do sistema complemento através de proteínas
reguladoras na forma solúvel ou ligadas à membrana celular. Exemplos são o fator I que
degrada C3b e a protectina que inibe a formação do complexo de ataque à membrana.

PRINCIPAIS VIAS DE ATIVAÇÃO DO SISTEMA COMPLEMENTO


Existem três vias principais através das quais o sistema complemento pode ser ativado: a via
clássica, a via da lectina e a via alternativa. Embora a forma como estas vias ativam o sistema
complemento seja diferente todas convergem para a formação de um complexo enzimático, C3
convertase, capaz de clivar a molécula C3 em dois fragmentos (C3a e C3b). Após esta convertase
estar formada é formada uma outra, a C5 convertase, por adição ao complexo de C3b. Esta
convertase vai clivar C5 em C5a (mediador inflamatório) e C5b (fator que inicia a formação do
complexo de ataque à membrana.

A via clássica é iniciada pela ligação de um anticorpo


Esta via começa pela formação de complexos antigénio-anticorpo e só aqueles que são
formados por anticorpos IgM ou algumas subclasses de IgG é que são capazes de ativar esta via.
Estes complexos vão depois originar mudanças de conformação na região Fc do anticorpo
levando à exposição do local de ligação para o complexo C1. Este precisa de se ligar a duas destas
regiões para que a ligação seja estável. Após esta ligação, a porção C1r é ativada e cliva outra
molécula C1r ativando-a. Estas vão depois clivar as moléculas C1s ativando-as. C1s tem dois
substratos C4 e C2. O primeiro é hidrolisado em C4a (anafilotoxina) e C4b. Este último liga-se a
C2. C2 torna-se agora mais suscetível à degradação enzimática da C1s e é clivada em C2a, que é
enzimaticamente ativa se ligada a C4b, e C2b. Origina-se então o complexo C4b2a que é a C3
convertase desta via. Esta convertase degrada agora C3 originando C3a (anafilotoxina) e C3b.
Esta convertase origina um efeito de ampliação já que uma só convertase pode degradar mais

80
de 200 moléculas de C3. C3b vai atuar de três formas diferentes de forma a proteger o
hospedeiro:
 Liga-se covalentemente às superfícies microbianas permitindo que células fagocíticas
com recetores para C3b possam fagocitar o microorganismo (opsonização);
 Liga-se às regiões Fc dos anticorpos que participam nos complexos antigénio-anticorpo
levando à sua solubilização através da ligação a fagócitos ou hemácias que tenham
recetor para C3b e são fagocitados ou destruídos no fígado;
 Ligam-se à membrana onde está a C3 convertase para formar o complexo enzimático
C4b2a3b que corresponde à C5 convertase desta via. Esta vai clivar C5 em C5a
(anafilotoxina) e C5b (componente do complexo de ataque à membrana).

81
A via da lectina é iniciada quando proteínas solúveis reconhecem antigénios
microbianos
A via da lectina, como a via clássica, procede à ativação da C3 convertase composta por C4b e
C2a. No entanto, esta via utiliza lectinas (proteínas que reconhecem carbohidratos específicos
que se encontram na membrana microbiana) em vez de anticorpos como o seu recetor
específico para reconhecer uma ameaça e iniciar o processo de ativação do complemento. Esta
via utiliza também proteínas MASP em vez das C1s e C1r. A proteína MASP-2 é estruturalmente
relacionada com as protéases C1s e clivam C2 e C4 dando origem à C3 convertase (C4b2a).
A lectina de ligação à manose (MBL) liga-se a resíduos de manose que são encontrados na
superfície da membrana de alguns microbianos ativando o complemento via lectina. Esta lectina
é expressa no fígado.

A via alternativa é iniciada de três formas distintas


A via alternativa pode ser iniciada pela:
 Via alternativa “tickover” - iniciada
quando C3, que está em elevada
concentração no soro, sofre hidrólise
espontânea (C3(H₂O)). Na presença do
ião magnésio a proteína fator B liga-se à
C3(H₂O) ficando mais suscetível à
degradação enzimática e é clivada pela
protéase fator D levando à formação de
Ba (que se solta) e Bb, que fica ligado,
originando o complexo C3(H₂O)Bb que
corresponde à C3 convertase desta via na
forma solúvel. Este complexo vai clivar
C3 em C3a e C3b. Esta C3 convertase está
constantemente a ser formada no
plasma mas é rapidamente degradada.
Se existir uma infeção presente as
moléculas C3b recentemente formadas
ligam-se à membrana dos microbianos e
ao C3b vai se ligar o fator B. Este vai ser
degradado posteriormente pelo fator D FIGURE 6-8
(a) Spontaneous
com a formação de complexos C3bBb que hydrolysis of soluble C3 to C3(H2O) allows the altered
corresponde à C3 convertase desta via conformation of C3(H2O) to bind factor B, rendering it
susceptible to cleavage by factor D. The resulting
ligada à membrana celular. A ligação complex C3(H2O)Bb forms a fluid phase convertase
desta C3 convertase é instável até que a capable of cleaving C3 to C3a and C3b. (b) Some of
the C3b molecules formed by the fluid phase
properdina se ligue. Após a ligação da convertase bind to cell membranes. C3b, like C3(H2O)
properdina, vai-se gerar grandes binds factor B in such a way as to make B susceptible
to factor D-mediated cleavage. (c) However,
quantidades de C3b na membrana membrane-bound C3bBb is unstable in the absence
microbiana. A adição de C3b à C3 of properdin (factor P), which binds the C3bBb
complex on the membrane and stabilizes it. Addition
convertase vai originar o complexo of a second C3b molecule to the C3bBb complex
C3bBbC3b, a C5 convertase desta via. Esta forms the C5 convertase, which is also stabilized by
factor P.

82
convertase necessita de ser estabilizada pelo fator P. A C5 convertase vai então clivar C5
para formar C5a e C5b.
 Via alternativa ativada pela
properdina – A properdina
para além de estabilizar a C3
convertase ligada à
membrana celular pode ser a
responsável por iniciar a via
alternativa.
 Via alternativa ativada por
protéases – protéases como a
trombina ou calicreína podem
iniciar a via alternativa.

83
As três vias de ativação do sistema complemento convergem para a formação de C5
convertase
Independentemente da constituição do complexo que dá origem à C5 convertase, o objetivo
dela em todas as via é o mesmo, clivar C5 em C5a e C5b. Este último é originado na superfície
da célula alvo ou do imunocomplexo e dá origem a um local de ligação aos restantes
componentes do complexo de ataque à membrana. C5b é extremamente lábil e rapidamente
inativado e precisa de ser estabilizado pela ligação de C6 para que possa ser funcional.

C5 inicia a formação do complexo de ataque à membrana (MAC)


Para que o complexo de ataque à membrana se possa formar é preciso que o C5b se ligue C6 e
a seguir C7 de forma a por em exposição as regiões hidrofóbicas da membrana celular na
superfície de C7 permitindo que este se possa inserir na membrana. A seguir vai-se inserir C8.
Este é constituído por C8β e C8αϒ. A ligação de C8β ao complexo C5b67 permite que C8 se possa
inserir na membrana fosfolipídica. A partir de agora o complexo C5b678 tem a capacidade de
criar um pequeno poro que é capaz de destruir, por exemplo, hemácias, mas não consegue
destruir células nucleadas. Para isso, é necessário um último passo, a ligação e posterior
polimerização de C9 no complexo C5b678. Vai-se então originar um complexo C5b678 rodeado
por um complexo poly-C9. Este complexo poly-C9 origina um poro maior que o anterior levando
à perda da integridade da membrana celular levando à morte celular.

FUNÇÕES DO SISTEMA COMPLEMENTO

84
RECETORES DO SISTEMA COMPLEMENTO E EFEITOS NAS CÉLULAS

O SISTEMA COMPLEMENTO AUMENTA AS DEFESAS DO HOSPEDEIRO CONTRA INFEÇÕES


Morte celular induzida pelo complexo de ataque à membrana
Os anticorpos e o sistema complemento têm uma grande importância na defesa contra os vírus
e podem ser cruciais no controlo da propagação dessa infeção durante a fase aguda e
protegendo o organismo contra a reinfeção. A maioria dos vírus com involucro e as bactérias
gram negativas são suscetíveis à lise mediada pelo sistema complemento. No entanto, se a
membrana celular não existir à superfície, como acontece com as bactérias gram positivas, o
sistema de ataque à membrana já não consegue destruir o microorganismo.

Promoção da opsonização
Esta pode ser a função fisiologicamente mais importante realizada pelo sistema complemento.
A opsonização com anticorpos e o complemento permite uma proteção contra a infeção viral.
O anticorpo e o complemento criam uma pequena camada proteica à volta dos vírus
neutralizando a sua capacidade de infetar as células ao impedir que o vírus se ligue aos recetores
presentes nas células alvo do vírus no hospedeiro. Também promove a fagocitose através da
ligação das proteínas do complemento ao respetivo recetor seguido de destruição intracelular
da partícula digerida.

85
Promoção da inflamação
C3a, C4a e C5a são anafilotoxinas e por isso induzem
inflamação. C3a e C5a ainda acuam como
quimiocinas para algumas classes de leucócitos.
A ligação destas anafilotoxinas aos respetivos
recetores resulta na secreção de mediadores
solúveis como TNF-α e IL-6. Estes vão depois induzir
um aumento localizado da vasodilatação, permitir a
mobilização de leucócitos para o local de infeção,
aumentam a motilidade do tecido muscular liso que
ajuda a propulsionar o deslocamento de fluido para
o local de infeção, promovem a fagocitose de
agentes invasores e a desgranulação localizada de
granulócitos com a resultante libertação de
histamina e prostaglandinas.

O SISTEMA COMPLEMENTO MEDEIA A INTERFACE ENTRE O SISTEMA IMUNITÁRIO


INATO E ADAPTATIVO

O complemento e as células apresentadoras de antigénios


As células dendríticas, folicular dendríticas e macrófagos expressam recetores para proteínas do
sistema complemento. MBL, C1q, C3b e C4b ao ligarem-se ao respetivo recetor aumentam a
capacidade de captar antigénios. Para além desta função, o recetor da anafilotoxina C5aR
modula nas células apresentadoras de antigénios a sua migração e afeta a produção de
interleucinas, particularmente IL-12, que vai dirigir a resposta da célula T em direção ao fenótipo
T helper tipo 1.

O complemento e a imunidade humoral mediada por células B


CD21 é um recetor com especificidade para C3b e seus produtos de degradação. Se C3b for
encontrado na superfície membranar de um microorganismo, este fica ligado até sofrer
proteólise. Uma célula B que tenha uma imunoglobulina que reconheça aquele microorganismo
vai conseguir ligar-se a ele através dessa imunoglobulina e através do recetor CD21, que se liga
a C3b. Consequentemente vai haver um aumento da interação entre a célula B e o antigénio,
reduzindo a quantidade de antigénio necessário para que a célula B seja ativada.

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O complemento e a imunidade mediada por células T
Ainda está em estudo mas já existem resultados noutros animais que evidenciam a influência
do sistema complemento na resposta imune mediada por células T.

O SISTEMA COMPLEMENTO AJUDA NA FASE DE CONTRAÇÃO DA RESPOSTA IMUNITÁRIA


Após um resposta imunitária podem ainda continuar presente alguns complexos antigénio-
anticorpo solúveis no sangue ou órgãos linfóides e excesso de linfócitos. Para eliminar estes
excessos sem indução de inflamação, o sistema complemento tem uma ação importante.

Eliminação de corpos e células apoptóticas


Após a apoptose de uma célula ser iniciada, esta parte-se em vesículas chamadas de corpos
apoptóticos. C1q liga-se especificamente a estes corpos apoptóticos e ajuda na sua eliminação.
A deposição de C1q inicia a via clássica do sistema complemento e as células apoptóticas são
opsonizadas por C3b permitindo a sua eliminação pelos fagócitos.

Eliminação de imunocomplexos
A ligação de C3b a imunocomplexos facilita a sua ligação por CR1 nos eritrócitos. Apesar dos
eritrócitos não expressarem muito CR1, estes são as células mais numerosas no sangue. Desta
forma os eritrócitos têm uma importância fundamental na eliminação de imunocomplexos
revestidos por C3b levando-os ao fígado e baço onde são retirados do eritrócito e fagocitados.

A REGULAÇÃO DO SISTEMA COMPLEMENTO


A atividade do sistema complemento é passivamente regulado por proteínas de
estabilização e pela composição da membrana celular
A relativa instabilidade de muitos componentes do sistema complemento é o primeiro
mecanismo de proteção das células do hospedeiro contra ativações inadvertidas do sistema
complemento.
O segundo mecanismo de proteção resulta na diferença na composição de carbohidratos entre
a membrana celular das células do hospedeiro e dos microorganismos invasores.

O inibidor de C1, C1INH, promove a dissociação dos componentes de C1


C1IHN é uma proteína do plasma que pertence à classe das serpinas (proteínas inibidoras de
protéases de serina) e atua formando um complexo com as protéases de C1, C1r2s2, levando à
dissociação de C1q e impedindo a ativação de C2 e C4. C1IHN inibe as protéases de serinas C3b
e MASP2 inibindo as vias clássica e da lectina do sistema complemento.

Fatores aceleradores do decaimento promovem o decaimento de C3 convertases


Muitos fatores que estão ligados à membrana celular das células do hospedeiro levam a um
aceleramento do decaimento do complexo C4b2a. Nestes fatores incluem-se o fator acelerador
do decaimento (DAF ou CD55), CR1 (CD35) e C4BP (Binding Protein). Da degradação do
complexo C3b2a resulta na libertação de C2a (difunde-se) e C4b (que é degradado pelo fator I).
Isto acontece para a via clássica e da lectina.
Na via alternativa, DAF e CR1 ligam-se ao fator H separando a C3 convertase desta via em C3b
(é degradado) e Bb (difunde-se).
O fator H e C4BP são componentes reguladores solúveis do sistema complemento. A função do
fator H é assegurada pela ligação a polianiões como o ácido siálico e heparina que são

87
componentes importantes das superfícies celulares dos eucariotas mas não dos procariotas. Já
a função de C4BP é assegurada pela ligação a proteoglicanos da membrana celular do
hospedeiro como o heparan sulfato. Desta forma as células do hospedeiro são protegidas da
deposição dos componentes do sistema complemento.

Fator I degrada C3b e C4b


Fator I consegue clivar C3b e C4b, que estão associados à membrana, em fragmentos inativos.
Fator I requer a presença de cofatores para que possa funcionar:
 Cofator de proteólise de membrana (MCP ou CD46) e CR1 – ligados à
membrana celular;
 Fator H e C4BP – solúveis.
A degradação de C3b e C4b é conduzida, então, pelo fator I em colaboração com as proteínas
de membrana CD46 e CR1 e pelas proteínas solúveis fator H (para C3b) e C4BP (para C4b). Como
as proteínas que estão ligadas à membrana não existem nas células microbianas, C3b e C4b
continuam ligados à membrana exercendo os seus efeitos.
CD46 é também um fator que controla a apoptose das células T. Apenas quando CD46 é perdido
é que a via clássica do sistema complemento pode prosseguir aumentando a ligação de C3b às
células T em apoptose e consequente fagocitose.

Protectina inibe o ataque do complexo de ataque à membrana


A protectina (CD59) liga-se a qualquer complexo C5b678 que se deposite na superfície
membranar das células do hospedeiro e previne a sua inserção. Bloqueia também a ligação de
C9 ao complexo de ataque à membrana em desenvolvimento.
A vitronectina liga-se a qualquer complexo C5b67 na fase solúvel que são libertados das células
microbianas impedindo a sua inserção nas células do hospedeiro.

Carboxipeptidases podem ativar as anafilotoxinas C3a e C5a


A atividade anafilotóxica é regulada pela clivagem de resíduos de arginina na região C-terminal
de C3a e C5a por carboxipeptidases que se encontram no soro. Após esta clivagem a atividade
anafilotóxica é inativada.

88
89
RESPOSTAS EFECTORAS - IMUNIDADE MEDIADA POR ANTICORPOS E CÉLULAS
(CAP. XIV)
RESPOSTAS EFECTORAS MEDIADAS POR ANTICORPOS
Os anticorpos são gerados por plasmócitos (células B activadas) e protegem o organismo de
diversas formas: neutralização, opsonização, fixação do sistema complemento e através de um
processo designado por citotoxicidade mediada por células dependente de anticorpos.
A habilidade dos anticorpos mediarem estas respostas depende da sua especificidade para o
antigénio e do seu isotipo que determina se um anticorpo fixará o complemento, a que
receptores se ligarão e que efeitos celulares irão ter.

Anticorpos medeiam a eliminação de patógenos numa variedade de maneiras


Neutralização
Muitos vírus e algumas bactérias ganham entrada nas células do hospedeiro através da sua
ligação a proteínas específicas estimulando a endocitose. Anticorpos que se liguem a estas
proteínas são moléculas efectoras potentes pois vão impedir que o patógeno inicie a infecção.
Estes anticorpos são conhecidos por anticorpos neutralizantes. Os patógenos neutralizados são
tipicamente fagocitados por macrófagos.
Os anticorpos neutralizantes também podem ser usados para bloquear a entrada de toxinas
dentro das células.
Fisiologicamente, a neutralização é a protecção mais eficaz contra a infecção. Contudo, devido
à rapidez com que os microorganismos proliferam, permite que gerem variantes génicas capazes
de escaparem a estes anticorpos neutralizantes.
Opsonização
As células fagocíticas do sistema imune inato têm dois conjuntos de receptores capazes de se
ligarem a patógenos: os receptores imunes inatos (receptores de reconhecimento padrão) e os
receptores Fc (permite a ligação de imunocomplexos a anticorpos).
Os primeiros são importantes na activação de células apresentadoras de antigénios e na
modulação de sinais que irão ser transmitidos aos linfócitos.
Os segundos geram sinais e regulam a reposta efectora das células do sistema imune inato. A
ligação de um complexo antigénio-anticorpo a um receptor Fc num fagócito irá induzir a
internalização do complexo e a digestão interna do patógeno em lisossomas.
Fixação do Sistema Complemento
Complexos anticorpo-antigénio podem induzir uma cascata do sistema complemento. Quando
anticorpos associados a proteínas do sistema complemento ligam-se à superfície de bactérias e
de alguns vírus com invólucro, ocorre a iniciação da cascata que resulta na formação de um
complexo de ataque à membrana. A capacidade de estimular o dano membranar mediado pelo
sistema complemento designa-se por fixação do sistema complemento.
Toxicidade mediada por células dependente de anticorpos
Os anticorpos podem recrutar a actividade de múltiplas células citotóxicas incluindo as células
NK e granulócitos. Estas células expressam receptores Fc e podem usá-los para ligarem-se aos
anticorpos permitindo-lhes ganhar especificidade antigénica. Anti corpos que se liguem às
células NK vão dirigir a sua actividade citotóxica a uma célula alvo específica.

91
Classes de anticorpos mediam diferentes respostas efectoras
A especifidade dos anticorpos é definida pela sua região Fab e o seu isotipo ou classe pela região
Fc. Dependendo do tipo de ajuda que as célula T recebem durante a sua activacao e às citocinas
a que são expostas as células B irão secretar uma das 4 maiores classes de antigénios: IgM, IgA,
IgE e IgG. IgD é expressa em células B imaturas mas muito pouca ou nenhuma é secretada por
plasmocitos.
Funções efectoras da IgM
As IgM são produzidas durante uma resposta imunitária primária. Protegem-nos contra
patógenos comuns, particularmente aqueles que vêm do tracto digestivo e outras áreas
mucosas. São muito bons a fixar o sistema complemento e induzem eficientemente a lise dos
patógenos aos quais se ligam. São ainda bons a formar complexos anticorpo-antigenio que são
eficientemente fagocitados por macrofagos.
Funções efectoras das IgG
Todas as variantes de IgG ligam-se a receptores Fc e potenciam a fagocitose realizada por
macrofagos. IgG1 é boa a fixar o sistema complemento e a mediar o ADCC pelas células NK. IgG3
é também boa a fixar o sistema complemento.
Funções efectoras de IgA
IgA pode neutralizar toxinas e patógenos e previne que estes entrem na corrente sanguínea.
Não consegue fixar o complemento, não i diz inflamação e actua continuamente em antigénios
e patógenos que tipicamente não nos causa ameaça. A IgA na forma dimérica e polimérica liga-
se ao seu receptor que está nas células endoteliais iniciando a endocitose e transporte de
moléculas da membrana basolateral para a apical das células endoteliais e para dentro dos
tecidos.
Existem 2 subtipos de IgA, a IgA1 (mais prevalente no soro) e a IgA2 (mais prevalente em
secreções). As duas medeiam ADCC ao ligarem-se aos receptores Fc nas células natural killer e
iniciam a desgranulação de granulócitos.
Funções efectoras da IgE
Tem uma grande importância na protecção contra helmintas e protozoários. Têm um potente
efeito ao induzir a desgranulação de eosinófilos e basófilos que causa a libertação de moléculas
como a histamina que fazem dano permanente ao patógeno.

Receptores Fc medeiam muitas funções efectoras dos anticorpos


Os receptores Fc permitem que células imunitárias não especificas possam tirar vantagem da
especificidade dos anticorpos e focar as suas funções celulares num antigénio ou patógeno
especifico. Providenciam também uma ligação entre os sistemas imunes humoral e celular.
Quando o complexo antigénio-anticorpo faz ligações cruzadas com múltiplos anticorpos os
receptores Fc iniciam a resposta efectora. Se ocorrer ligação a apenas um só anticorpo o
receptor Fc nada faz.
Existe uma grande variedade de receptores Fc que variam:
 Na classe do anticorpo a que se ligam
 Nas células que os expressam
 Nas suas propriedades de sinalização
 Todas juntas, estas propriedades definem uma função efectora distinta que o anticorpo
pode executar.

92
93
Visualização geral das repostas efectoras de anticorpos e receptores Fc
Depois de uma infecção, as células B encontram o patógeno e as suas proteínas nos órgãos
linfóides secundários. Aquelas que se ligam aos antigénios são activadas e se receberem a ajuda
de células T diferenciam-se em plasmócitos, células produtoras de anticorpos. A classe que é
produzida vai depender de quanto tempo vai demorar a resposta imunitária e da natureza do
patógeno. Uma infecção pode induzir a produção de múltiplas classes de anticorpos com a
mesma especificidade.
Os plasmócitos libertam os anticorpos de diversos locais (nódulos linfáticos, baço e medula
óssea). IgM, produzidos precocemente numa resposta imunitária, podem encontrar o patógeno
na corrente sanguínea e iniciar uma cascata do sistema complemento. Também podem ser
carregados por poli IgRs para o lúmen de outros tecidos e ligarem-se a patógenos criando
complexos antigénio-anticorpo que podem ser fagocitados por macrófagos. IgG, produzidos
tardiamente numa resposta imunitária, podem fixar o sistema complemento, opsonizar o
patógeno ou serem transportados para o interior de tecidos para interagir com as células inatas
que expressam FcRs activando a sua actividade inflamatória. Enquanto que patógenos
extracelulares influenciam a mudança de classe nas células B para classes que consigam fixar o
sistema complemento, patógenos intracelulares influenciam a mudança de classe para classes
que consigam recrutar células citotóxicas. Estes vão libertar o seu conteúdo provocando a
apoptose da célula infectada, eliminando-a.

94
RESPOSTAS EFECTORAS MEDIADAS POR CÉLULAS
Dentro das células com actividade citotóxica incluem-se as células T citotóxicas (CD8+), linfócitos
NKT e células NK. Todas induzem a morte celular iniciando a apoptose nas células alvo.
Conseguem eliminar células infectadas por patógenos intracelulares, células tumorais e células
que foram sujeitas a stress por elevadas temperaturas ou trauma. As células NK são ainda
responsáveis pela rejeição de órgãos em transplantes A resposta imune mediada por células
está preparada para reconhecer e atacar qualquer célula que exiba características “non-self” ou
“altered-self”.

Linfócitos T citotóxicos reconhecem e matam células infectadas ou tumorais através


da activação de TCR
As respostas imunes mediadas por células T podem ser divididas em dois grandes grupos de
acordo com a população efectora que é mobilizada: células T citotóxicas e as células T helper.
A resposta mediada pelos linfócitos T citotóxicos divide-se em duas fases:
 Primeira fase - Linfócitos T naive sofrem activação e posterior diferenciação para um
linfócito T citotóxico funcional num órgão linfóide secundário;
 Segunda fase – Linfócitos T citotóxicos reconhecem complexos antigénicos ligados a
moléculas do MHC tipo 1 numa célula alvo específica que vai culminar na destruição das
células alvo. Os linfócitos T citotóxicos são predominantemente CD8+ e são restritos ao
MHC de classe 1. Como qualquer célula nucleada exprime moléculas do MHC de classe
1, os linfócitos T citotóxicos podem reconhecer e eliminar quase todo o tipo de células
do organismo que exiba antigénios específicos que sejam reconhecidos por ele no
contexto de uma molécula do MHC de classe 1.
Formação dos linfócitos T citotóxicos a partir dos percursores de linfócito T citotóxico
(CTL-P)
Só após o CTL-P ter sido activado é que se diferencia num linfócito T citotóxico funcional. Esta
activação requer pelo menos 3 sinais:
 Sinal proveniente de um antigénio específico transmitido pelo TCR após
reconhecimento de um complexo peptídio-MHC classe 1 numa célula apresentadora de
antigénios;
 Sinal coestimulatório transmitido pela interacção entre CD28-CD80/86 entre um CTL-P
e uma célula apresentadora de antigénios;
 Sinal induzido pela interacção entre IL-2 e o seu receptor de elevada afinidade induzindo
a proliferação e diferenciação de um CTL-P activado por um antigénio para um linfócito
T citotóxico funcional;
É necessário a ajuda das células T helper (CD4+) para o desenvolvimento dos linfócitos T
citotóxicos de memória funcionais e para impulsionar a proliferação de células T funcionais. As
células T helper produzem citocinas que activam células apresentadoras de antigénios e
exprimem CD40 que dá um importante sinal coestimulatório para as mesmas células, que
exprimem o receptor CD40L). Quando CD40 se liga, estimula a célula apresentadora de
antigénios a expressar ligandos coestimulatórios (CD80/86), quimiocinas e citocinas
aumentando a capacidade de activar a célula T citotóxica.

95
As células dendríticas podem ser activadas pelas células T helper por interacção com produtos
microbianos que activaram o TCR das células T helper. Estas retêm a capacidade de activar CTL-
P por algum período de tempo até a célula T helper se desactivar. Células T helper especificas
podem mover-se para activar outras células dendríticas amplificando a activação da resposta.
O desenvolvimento de células T citotóxicas é acompanhado por muitas mudanças:
 CTL-P não expressa receptores de alta afinidade para IL-2, nem produzem grandes
quantidades de IL-2, nem proliferam e nem apresentam actividade citotóxica.
 CTL devidamente activados começam a expressar grazima B e perforina dentro de
grânulos, receptores IL-2 de alta afinidade e sua regulação e IL-2 (principal citocina
requerida para uma proliferecao e diferenciação completas).
Os linfócitos T citotóxicos são muito perigosos para o organismo. No entanto, existem formas
de o organismo se proteger delas:
 A necessidade das células T helper e T citotóxicas terem de reconhecer o antigénio antes
desta ultima estar funcional;
 A não produção de receptores de IL-2 de alta afinidade até as células estarem activadas,
assegurando que só os CTL-P sensibilizados para um antigénio especifico prolifere e
fique citotóxica;
A importância da apresentação cruzada na activação de linfócitos T citotóxicos
A apresentação cruzada é a capacidade das células dendríticas para processarem e
apresentarem antigénios exógenos nas moléculas do MHC de classe 1 e 2. Mesmo que não
sejam infectadas por um patógeno, elas conseguem envolver, processar e apresentar antigénios
através do MHC classe 2 (por via tradicional) e do MHC classe 1 (por apresentação cruzada).
Aquelas que forem infectadas podem apresentar antigénios através do MHC classe 1 por via
tradicional ou por apresentação cruzada.

96
Existem 2 tipos de linfócitos T citotoxicos, os Tc1 e Tc2
Os linfócitos T citotóxicos podem se desenvolver em dois subtipos tendo em conta as citocinas
que produzem e das citocinas que promovem o seu desenvolvimento:
 Tc1 - secretam INF-ϒ;
 Tc2 - desenvolvem-se a partir de IL-4 e secretam mais IL-4 e IL-5 que INF-ϒ;
Os dois tipos têm elevada capacidade de matar. O Tc1 usa perforinas e estratégias mediadas por
Fas e o Tc2 só usa perforinas.
Como os CTL matam células
Os CTL têm duas grandes formas para matar uma célula, através da libertação directa do
conteúdo dos grânulos ou através da interacção entre Fas-FasL. Ambos os processos induzem a
célula a entrar em apoptose.
Para que o CTL possa matar a célula alvo, esta tem de se ligar a ela e formar uma conjugação
célula-célula (beijo da morte). Após isto, o CTL induz a célula alvo entrar em apoptose e dissocia-
se prosseguindo para outra célula.
O complexo de membrana TCR-CD3 no CTL reconhece
antigénios em associação com moléculas do MHC classe 1 da
célula alvo desenvolvendo uma sinapse imunológica
altamente organizada. Nessa sinapse temos um anel central
de moléculas de TCR rodeadas por um anel de moléculas de
adesão formada por interacções entre LFA-1 na membrana do
CTL e as ICAMs na célula alvo.
Os sinais provenientes de TCR potenciam a adesão entre o CTL
e o alvo convertendo LFA-1 de uma forma de baixa afinidade
para uma forma de alta afinidade ficando assim por algum
tempo ate retornar à forma de baixa densidade.

97
 Citólise mediada por granzimas e perforinas
Muitos CTL iniciam a apoptose através de moléculas pro-apoptóticas. Uma delas é a perforina,
que é uma proteína formadora de poros, e granzimas (ou fragmentinas), que é uma protease de
serinas. Grânulos que contêm estas moléculas são levados até ao local de interacção entre o CTL
e a célula alvo através do organizador de microtúbulos que polariza em direcção à sinapse em
resposta à estimulação do TCR.
As perforinas ao contactarem a membrana da célula alvo, inserem-se na membrana, polarizam
na presença de cálcio e formam poros.
A granzima B entra na célula alvo através de endocitose ao ligarem-se A receptores de manose
6-fosfato. Esta vai iniciar uma cascata de reacções que culminam na fragmentação do DNA da
célula alvo e activam uma via apoptótica ao clivar em a pro-caspase 3. A morte mediada por CTL
não só mata células infectadas por vírus como também destrói o DNA viral prevenindo a
continuação da replicação do vírus.
Os CTL têm mecanismos de protecção para não sofrerem acção das moléculas que libertam.
Estes são mais resistentes à sua actividade e expressam elevada quantidade de inibidores de
proteases de serina (serpinas) que os protegem contra a granzima B.

 Citólise mediada por Fas-FasL


Quando os CTL não possuem grânulos com as moléculas anteriores, estes induzem a apoptose
das células alvo através do Fas (CD95). Este vai entregar um sinal de morte celular induzindo a
apoptose quando realiza ligação cruzada com o seu ligando FasL. Este é encontrado na
membrana do CTL.
A principal característica da morte celular por apoptose é o envolvimento de caspases. Ligação
Fas-FasL induz a activação de uma caspase iniciadora na célula alvo.

98
As células NK reconhecem e matam células infectadas e células tumorais através da
ausência de MHC de classe 1
Apesar da ausência de receptores específicos para antigénios, as células NK têm uma grande
importância na defesa contra células infectadas, stressadas e tumorais. Têm também um papel
regulador nas respostas imunitárias inata e adaptativa a antigénios ao secretarem citocinas que
alteram a sua resposta imune.
As células NK são a primeira linha de defesa contra patógenos intracelulares ao matarem as
células infectadas. A sua actividade é estimulada pelo sistema imunitário inato pelas citocinas
IFN-α, IFN-β e IL-12 que aumentam rapidamente no decurso de uma infecção viral. A libertação
de INF-ϒ pelas células NK vai estimular a fagocitose, as actividades microbicidas dos macrófagos
e influencia a diferenciação das células T helper nos seus subtipos.

99
Fenótipo das células NK
As células NK são células linfóides que derivam de um progenitor linfóide comum na medula
óssea. Alguns desenvolvem-se no timo mas este órgão não é essencial para a sua maturação.
As células NK expressam CD49b (integrina), CD2, FcϒRIII e IL-2 e distinguem-se dos outros
linfócitos pela expressão de CD56 que varia de intensidade dependendo da maturação e do
estado de activação. Também expressam receptores NK activadores e inibidores que
determinam quais os alvos da célula NK devem eliminar através de um equilíbrio entre os sinais
recebidos por ambos os receptores.
Como é que as células NK reconhecem as células alvo: Modelo “Missing Self”
Este modelo defende que uma diminuição na expressão de moléculas MHC da classe 1 irá levar
a que os receptores inibidores não se liguem a estas moléculas levando a que sinais inibitórios
não sejam transmitidos e desta forma a célula NK provocará a morte da célula alvo.

Receptores das células NK


Existem dois tipos de receptores: os inibidores e os activadores. Os primeiros ligam-se a
moléculas do MHC da classe 1 bloqueando a célula NK de matar a célula alvo. Se nenhum
receptor inibidor estiver ocupado os receptores activadores sinalizam a célula NK para matar a
célula-alvo.
As sequências intracelulares dos dois receptores são diferentes. Os receptores activadores têm
ITAMs e os inibidores têm ITIMs.
 Receptores NK inibidores e seus ligandos
Estes receptores ligam-se a moléculas do MHC de classe 1 e são os mais importantes na decisão
da célula NK de matar a célula alvo ou não. São membros da família KIR (killer-cell
immunoglobulin-like receptors). Estes são normalmente específicos para regiões polimórficas
das moléculas do MHC de classe 1 HLA-A, HLA-B e HLA-C.
O receptor CD94-NKG2A consegue reconhecer HLA-E que serve como indicador do nível de
síntese de moléculas do MHC de classe 1 na célula, já que não é transportado para a membrana
celular a não ser que esteja ligado a péptidos derivados do HLA-A, HLA-B e HLA-C. Se
expressarem níveis adequados de HMC classe 1 a célula NK não mata a célula alvo.

100
As células NK podem exprimir diferentes KIR cada um específico para uma molécula diferente
do MHC de classe 1 ou para um conjunto de moléculas relacionadas. Isto permite aumentar as
hipóteses de reconhecer variantes polimórficas de HMC de classe 1 impedindo as células NK de
matar células saudáveis por apresentarem uma variante de KIR que não se ligou à variante do
MHC de classe 1 expressa.
 Receptores NK activadores e seus ligandos
NKG2D é o receptor NK activador mais expresso pelas células NK. Os seus ligandos são moléculas
semelhantes ao MHC de classe 1 e não são polimórficas. Estes ligandos são expressos em células
que estão em stress como acontece quando está infectada ou tem o DNA danificado. Estes
também ajudam as células NK a concentrar a sua actividade na célula alvo e a adaptar a sua
actividade lítica.
Muitas moléculas que não são expressas pelas células NK permitem a sua activação. Exemplos
são CD2 (receptor para a molécula de adesão LFA-3), CD244 (receptor para CD48) e receptores
para citocinas inflamatórias. O envolvimento de cada uma destas proteínas concentra a atenção
das células NK a ambientes inflamatórios.
As células NK expressam ainda o receptor FcϒIII (CD16) que é responsável por grande parte do
reconhecimento de células-alvo mediado por anticorpos e consequente destruição. Por
exemplo, células infectadas por vírus expressam proteínas do involucro do vírus na sua
membrana. Anticorpos produzidos por plasmócitos que respondam a estas proteínas vão se ligar
a elas recrutando células NK que vão destruir a célula infectada.
Como é que as células NK induzem a apoptose dos seus alvos
As células NK expressam e secretam FasL e induzem a apoptose a todas as células-alvo que
expressem Fas. O citoplasma das células NK têm no seu interior inúmeros grânulos contendo
perforinas e granzimas. As células NK desenvolvem uma sinapse imunológica organizada no sítio
de contacto com a célula alvo e posteriormente ocorre a desgranulação com a consequente
libertação do seu conteúdo.
Activação e regulação da actividade das células NK
As células NK necessitam de ser testadas antes de poderem usar a maquinaria citotóxica na
célula alvo (mesmo que a informação proveniente dos receptores activadores e inibidores seja
a favor de eliminar a célula). O teste da célula NK ocorre através da primeira ligação aos
receptores inibidores (que se ligam ao MHC de classe 1). Isto é uma forma de testar a célula NK
a restringir a sua actividade e é uma importante estratégia para manter a tolerância às células
do hospedeiro. Só passam no teste aquelas células que têm a capacidade de serem inactivadas
através de interacções inibitórias.
Células infectadas por vírus ou tumorais têm ligandos activadores que se vão ligar aos receptores
activadores das células NK sinalizando-a a matar a célula. Se os receptores inibidores detectarem
níveis normais de MHC de classe 1 estes vão dar sinais inibitórios que vão ultrapassar os sinais
activadores. Isto leva a que a destruição da célula alvo seja inibida e anula a proliferação e
produção de citocinas (TNF-α e IFN-ϒ) pela célula NK. A consequência desta estratégia é a
poupança de células que expressam indicadores críticos de serem células “self”, MHC de classe
1, e eliminar todas as células que não expressem ou expressem pouco esses mesmos
indicadores.
Células NK de memória
Estudos recentes indicam que as células NK podem gerar células de memória em resposta a um
antigénio permitindo aumentar a longevidade e melhorar o tempo da resposta.

101
Células NKT fazem ponte entre os sistemas imunitários inato e adaptativo
As células NKT são um terceiro tipo de células citotóxicas e partilha características dos linfócitos
T citotóxicos e das células NK. Ela desenvolve-se no timo e sofre rearranjos no gene dos
receptores para os antigénios e expressa o complexo TCR na superfície da membrana. Estas são
características presentes no sistema imunitário adaptativo. No entanto, também apresenta
características do sistema imunitário inato, nomeadamente:
 O receptor TCR é invariável com duas cadeias (TCRα e TCRβ) codificadas por segmentos
de genes específicos;
 O receptor TCR reconhece glicolípidos apresentados pela molécula não polimórfica
CD1d;
 As células NKT atuam como células helper (secretando citocinas que modulam a
resposta imunitária) e como células citotóxicas (matando células);
 As células NKT incluem subpopulações CD4+ e CD4- que podem ainda diferir na
produção de citocinas;
 As células NKT provocam a morte celular predominantemente através de interacções
Fas-FasL;
 As células NKT não formam células de memória;
 As células NKT não expressam um número de marcadores que são característicos dos
linfócitos T, mas expressam múltiplas proteínas das células NK;
As células NKT são importantes no sentido em que:
 Controlam infecções com baixa carga bacteriana por bactérias que expressam
glicolípidos que são reconhecidos pelos seus receptores;
 Libertam excessivamente citocinas inflamatórias em condições patológicas;
 Reconhecem antigénios lipídicos específicos das células tumorais;
 Contribuem para a imunidade viral;
 Indirectamente, modulam a resposta imunitária a vírus com a produção de citocinas
(TNF-α, IL-2, IL-4 e IFN-ϒ).

102
MIGRAÇÃO LEUCOCITÁRIA E INFLAMAÇÃO (CAP. XV)
Muitos leucócitos migram entre regiões do corpo, nomeadamente para tecidos lesados ou
infetados. Os linfócitos em particular estão também a circular continuamente no sangue e na
linfa, o que é fundamental para o desencadear de uma resposta inflamatória e aumenta a
probabilidade de encontrarem o Ag para o qual são específicos.
A Inflamação é uma resposta complexa a uma lesão local, caracterizada por rubor, calor, tumor
e dor. Envolve várias células e mediadores, sendo a migração controlada de leucócitos essencial
para o desenrolar e regulação das respostas inflamatórias.

RECIRCULAÇÃO LINFOCITÁRIA
Os linfócitos têm uma notável capacidade de recirculação, movendo-se continuamente pelo
sangue e linfa para os vários órgãos linfoides. Após um breve período de trânsito de
aproximadamente 30 min na corrente
sanguínea, os linfócitos podem ir para o
Baço, para os vários órgãos linfoides
periféricos, por entre as células
endoteliais para tecidos extralinfóides
terciários que normalmente têm poucos
ou nenhum linfócito mas que podem
importá-los durante uma inflamação
(principalmente as interfaces com o meio
externo, a pele e as mucosas
gastrointestinais, pulmonares e
genitourinárias). Depois regressam pela
linfa até ao sangue.
Esta recirculação contínua permite
maximizar o número de linfócitos
específicos para um Ag que encontram
esse Ag, juntamente com outros fatores
que regulam, organizam e direcionam a
circulação de linfócitos e APCs.

MOLÉCULAS DE ADESÃO CELULAR


O endotélio vascular atua como um “porteiro”, regulando passagem de moléculas e linfócitos
no sangue para os tecidos. Para que um linfócito saia de um vaso sanguíneo tem de aderir às
suas células endoteliais, e passar entre as mesmas – extravasamento. Estas expressam CAMs
(Cell Adhesion Molecules) específicas para leucócitos, constitutivamente ou em resposta a
citocinas, que se ligam aos recetores de linfócitos, monócitos e granulócitos, além de
fortalecerem as interações entre várias células imunitárias. São selectinas, mucinas, integrinas
e imunoglobulinas (ICAMs).

103
SELECTINAS – responsáveis pela adesão inicial dos
leucócitos ao endotélio. A lectina liga-se a hidratos de
carbono, como os das mucinas. L-selectina é expressa
pela maioria dos leucócitos circulantes, E-selectina e P-
selectina pelas células endoteliais.
MUCINAS – proteínas altamente glicosiladas, expressas
por células endoteliais e leucócitos. Ligam-se a
selectinas.
Integrinas – heterodímeros expressos apenas por
leucócitos que facilitam a adesão ao endotélio e
interações com outras células. Ligam-se às ICAMs.
Algumas precisam de ser ativadas.
ICAMS – apenas expressas no endotélio, contêm vários
domínios Ig-like. Ligam-se a integrinas.
A MAdCAM-1 pertence às Mucinas e às ICAMs, pelo que
se liga tanto a selectinas como a integrinas. É expressa no endotélio das mucosas.

EXTRAVASAMENTO DE NEUTRÓFILOS
Durante uma resposta inflamatória, o endotélio dos vasos locais fica ativado ou inflamado por
citocinas e outros mediadores, sendo estimulado a expressar CAMs. Geralmente, os neutrófilos
são as primeiras células a extravasar para os tecidos inflamados, num processo de 4 etapas
sobreponíveis, semelhante para monócitos e eosinófilos:
1. Rolamento – ligações fracas por interações
entre selectinas e mucinas são quebradas
pela força da corrente sanguínea e voltam a
estabelecer-se novamente a jusante,
fazendo o neutrófilo rolar sobre o endotélio
2. Ativação – por quimioatrativos expressos
pelas células endoteliais ou pelas células
inflamatórias, que se ligam a recetores do
neutrófilo aumentando a afinidade das suas
Integrinas por ICAMS através de uma
alteração conformacional. Podem ser
quimiocinas (IL-8, MIP-1β…), PAF, produtos
do Complemento, peptídeos bacterianos…
3. Paragem e Adesão – graças às ligações entre Integrinas e ICAMs
4. Migração transendotelial – ainda não é bem compreendida, poderá ser mediada por
quimioatrativos e Integrinas-ICAMs ou por um mecanismo diferente

EXTRAVASAMENTO DE LINFÓCITOS
A recirculação de linfócitos é cuidadosamente controlada para garantir que são recrutadas
populações adequadas de células B e T para os vários tecidos, por um processo de
extravasamento dependente de CAMs com as mesmas 4 etapas que o dos neutrófilos. Porém,
é diferente na medida em que o extravasamento é diferencial entre tecidos.

104
As Vénulas de Endotélio Alto (HEVs) são regiões pós-capilares em vários órgãos linfoides com
células endoteliais cúbicas. Estão presentes em
todos os órgãos linfoides secundários exceto o
Baço. Algumas das suas CAMs, as VA (Vascular
Adressins), apenas são expressas em
determinados tecidos, orientando assim a
saída de populações de linfócitos específicas
para os mesmos – trafficking ou homing,
graças a homing receptors e combinações de
VA e quimiocinas.
Um linfócito naive não é capaz de preparar uma resposta imunitária até ser ativado, tornando-
se numa célula efetora. Isto acontece em qualquer tecido linfoide secundário, em
microambientes especializados onde Células Dendríticas capturam e lhes apresentam Ag. Os
linfócitos naive migram através das HEVs graças à sua L-selectina (e à CD34 ou GlyCAM-1 das
HEV), sendo que o seu padrão de homing as mantém em constante recirculação através do
tecido linfoide secundário, que aprisiona Ag. Ao encontrar um destes Ag, linfócitos naive ativam-
se e crescem, tornando-se em Linfoblastos. A ativação demora cerca de 48 h – shut-down phase
– durante a qual as células se mantêm no paracórtex, proliferam rapidamente e se diferenciam,
não sendo detetados linfócitos específicos para o Ag em circulação (não recirculam). As células
efetoras e de memória assim geradas abandonam o tecido linfoide e entram em recirculação.
Os linfócitos efetores tendem a fazer homing para
regiões infetadas através do reconhecimento de
endotélio inflamado e quimioatrativos inflamatórios,
enquanto que os de memória o fazem seletivamente
para o tipo de tecido onde contactaram inicialmente o
Ag (e onde será mais provável que reencontre um
outro Ag igual). Tanto os linfócitos efetores como os
de memória expressam LFA-1, que interage com
ligandos expressos em tecidos extralinfóides (como
pele ou mucosa) e locais de inflamação, ao contrário
dos naive, juntamente com outras combinações de CAMs, que permitem a sua migração para
tecidos específicos em função das combinações de CAMs correspondentes nestes. Têm pouca
L-selectina, pelo que migram pouco para tecido linfoide secundário através de HEVs (embora
possam alcançá-lo através dos vasos linfáticos aferentes). O processo de extravasamento é
semelhante ao dos neutrófilos, contudo:
 O Rolamento é menos acentuado
 Quimiocinas no endotélio ou secretadas localmente estimulam a ativação de Integrinas
(possivelmente específicas para linfócitos)

105
QUIMIOCINAS – MEDIADORES CHAVE NA INFLAMAÇÃO
Superfamília de pequenos peptídeos com 90 – 130 a.a. Regulam o homing controlando a adesão,
quimiotaxia e ativação de muitos populações e subpopulações de leucócitos, de forma seletiva
ou até específica. Também têm efeitos fora do Sistema Imunitário
 Quimiocinas “Housekeeping” – são expressas constitutivamente e participam na
homeostase ou desenvolvimento, orientando o trafficking de linfócitos
(nomeadamente os recém-produzidos na medula óssea)
 Quimiocinas Inflamatórias – induzidas na inflamação pelo contacto com patogénicos
ou por citocinas pró-inflamatórias (como o TNF-α), recrutam fagócitos e populações
de linfócitos efetores para locais inflamados ao induzir os leucócitos a aderir ao
endotélio, migrar até ao tecido e seguir concentrações de quimiocinas altamente
localizadas, sendo por isso essenciais na montagem de uma resposta adequadamente
focada à infeção
Têm 4 resíduos de Cisteína, sendo que 2 deles permitem classificar as quimiocinas:
 Subgrupo C-C – as Cisteínas estão ligadas
 Subgrupo C-X-C – as Cisteínas estão separadas por um a.a.
Os seus recetores também se dividem em 2 subgrupos, CCR e CXCR. Têm alta afinidade e
especificidade pela quimiocina, contudo, a maioria pode ligar mais do que uma diferente e
muitas quimiocinas podem ligar-se a vários recetores diferentes (não ao mesmo tempo).

Quando um recetor se liga a uma quimiocina apropriada ativa proteínas G, que irão sinalizar
através de cAMP, IP3, Ca2+ e/ou outras proteínas G pequenas. Os efeitos no leucócito são
dramáticos – alteração profunda e abrupta da forma, maior adesão a células endoteliais,
desgranulação e em fagócitos produção de ROS microbicidas.
Uma célula só pode responder a uma quimiocina se tiver um recetor que a reconheça. Assim, a
expressão de diferentes recetores em leucócitos permite regular a resposta destes à produção
de quimiocinas pelos diferentes tecidos, como acontece com TH1 e TH2.
Os linfócitos T ativados são quem expressa maior diversidade de recetores de quimiocinas.

106
OUTROS MEDIADORES DA INFLAMAÇÃO
Além das quimiocinas há ainda produtos libertados por plaquetas, neutrófilos,
monócitos/macrófagos, eosinófilos, basófilos, linfócitos, e 4 sistemas plasmáticos:
 Sistema Cinina
 Sistema Coagulante
 Sistema Fibrinolítico
 Sistema Complemento
São todos ativados quando ocorre dano tecidular para formar uma rede de sistemas
interconectados que produza vários mediadores da inflamação. Os três primeiros incluem o
Fator Hageman = Fator XII da Coagulação.
 Sistema Cinina:
Dano tecidular ativa o Fator XII, que vai ativar uma cascata enzimática que leva à produção de
Bradicinina. Este peptídeo causa vasodilatação, dor e contração do músculo liso. A Kallikreína
atua diretamente no Sistema Complemento, produzindo C5a que induz a desgranulação de
mastócitos, libertando assim muitos outros mediadores inflamatórios.
 Sistema Coagulante
Dano nos vasos sanguíneos ativa uma cascata enzimática que gera grandes quantidades de
Trombina, que transforma Fibrinogénio solúvel do plasma e fluidos extracelulares em
Fibrinopeptídeos e Fibrina insolúveis. A última forma ligações cruzadas e cria um coágulo, que
serve de barreira ao alastrar da infeção, os primeiros aumentam a permeabilidade vascular e a
quimiotaxia de neutrófilos.
 Sistema Fibrinolítico
A partir de Plasminogénio origina Plasmina, que degrada coágulos em produtos quimiotáticos
para neutrófilos e ainda ativa a via clássica do Complemento.
 Sistema Complemento
Tanto a via clássica como a alternativa resultam na formação de vários produtos do
Complemento que são mediadores inflamatórios. As Anafilatoxinas (C3a, C4a e C5a) induzem a
desgranulação de mastócitos. C3a, C5a e C5b67 induzem monócitos e neutrófilos a aderir a
células endoteliais, extravasar e migrar para os locais onde o Complemento está a ser ativado.
Em suma, resulta em influxos de fluidos com Ac e células fagocitárias para o local da entrada de
Ag.
Alguns lípidos também atuam como
mediadores inflamatórios. Após
perturbações na membrana celular,
principalmente em leucócitos,
fosfolípidos são degradados em lyso-
PAF, que é convertido em PAF (Platelet-
Activating Factor) que induz induz a
ativação de plaquetas e vários efeitos
inflamatórios, e Ácido Araquidónico,
que pode ser metabolizado pela COX
em diferentes Prostaglandinas e
Tromboxanos consoante o tipo de
célula. Causam aumento da
permeabilidade vascular, vasodilatação,

107
quimiotaxia de neutrófilos e agregação plaquetar, vasoconstrição, respetivamente. O Ácido
Araquidónico também pode ser metabolizado pela lipoxigenase nos quatro Leucotrienos: LTB4
(quimioatrativo de neutrófilos) e LTC4, LTD4 e LTE4 (antiga SRS-A, indutores da contração do
músculo liso).

Há ainda muitas citocinas com efeitos inflamatórios redundantes e pleiotrópicos, como INF-γ,
IL-12, IL-1, IL-6 e TNF-α.

INFLAMAÇÃO
Resposta fisiológica não específica a uma variedade de estímulos como infeções ou danos
tecidulares com o objetivo de os conter no local. Uma resposta inflamatória aguda, geralmente,
tem um começo rápido, curta duração e é acompanhada da Resposta da Fase Aguda – reação e
sistémica com alterações rápidas dos níveis de várias proteínas plasmáticas. Em algumas
doenças a ativação persistente do sistema imunitário pode causar inflamação crónica,
geralmente com consequências patológicas.
 Infiltração predominantemente de neutrófilos no tecido, havendo para isso um grande
aumento da sua produção na Medula Óssea. Mediadores de inflamação aguda
(Trombina e Histamina; Citocinas como IL-1 ou TNF-α) estimulam as células endoteliais
a expressar E- e P-selectina (respetivamente), às quais se ligam as mucinas PSGL-1 dos
neutrófilos. A alteração conformacional é induzida por IL-8 ou outro quimioatrativo
 No tecido os neutrófilos ativados exibem quimiotaxia devido a uma maior expressão
de recetores de quimioatrativos como quimiocinas, produtos do complemento (C3a,
C5a e C5b67), fibrinopeptídeos, prostaglandinas, leucotrienos ou moléculas libertadas
por microrganismos. Apresentam também uma maior expressão de recetores de Fc,
para Ac ou complemento, aumentando assim a fagocitose.
 O sinal ativador também estimula as vias metabólicas no sentido de um burst
respiratório, que produz ROS e RNS. Estas são libertadas juntamente com o conteúdo
dos seus Grânulos Primários e Secundários (protéases, fosfolipases, elastases e
colagenases) para matar vários microrganismos, porém, contribuem para o dano
tecidual que pode resultar de uma resposta inflamatória. A acumulação de fluido,
proteínas, células e microrganismos mortos constitui o pus.

108
Resposta Inflamatória localizada – tumor, rubor, calor, dor e perda de função
Minutos após uma lesão tecidular, devido a enzimas plasmáticas, prostaglandinas e aos efeitos
indiretos do complemento (C3a, C4a e C5a) que induzem a desgranulação de Histamina de
mastócitos, ocorre:
 Vasodilatação – aumentando o volume de sangue local e diminuindo o fluxo
sanguíneo, o que vai gerar o calor e rubor
 Aumento da permeabilidade vascular – particularmente nas veias pós-capilares, leva
ao edema (tumor) por saída de fluido (por vezes com leucócitos) e à ativação dos
sistemas cinina, coagulante e fibrinolítico
Horas após o início das alterações vasculares, os neutrófilos aderem às células endoteliais,
extravasam, fagocitam invasores e libertam mediadores inflamatórios, nomeadamente MIP-1α
e MIP-1β (Macrophage Inflammatory Proteins) que atraem macrófagos.
5 a 6 horas após o início da resposta inflamatória
chegam macrófagos, que maiores capacidades
de fagocitose e libertação de mediadores
inflamatórios, nomeadamente IL-1, IL-6 e TNF-α,
que geram muitas das alterações locais e
sistémicas de uma resposta inflamatória aguda.
TNF-α e IFN-γ estimulam os macrófagos e
neutrófilos. A libertação de citocinas estimula a
adesão de células imunitárias ao endotélio e o
seu extravasamento, resultando num influxo de
linfócitos, neutrófilos, monócitos, eosinófilos,
basófilos e mastócitos para eliminarem o Ag e
repararem o tecido. IL-12 induz a diferenciação
da subpopulação TH1 pró-inflamatória.

109
Para controlar o dano tecidual e facilitar a reparação (através da acumulação e proliferação de
fibroblastos), a duração e intensidade da resposta aguda local têm de ser cuidadosamente
reguladas, em particular por TGF-β.

Resposta Sistémica de
Fase Aguda – febre,
síntese hormonal (como
ACTH e Hidrocortisona),
leucocitose e síntese de
proteínas de fase aguda no
fígado
O aumento da
temperatura inibe o
crescimento de muitos
microrganismos e parece
melhorar a resposta
imunitária. A proteína C-
reativa é um protótipo de
proteína de fase aguda que
se liga a uma variedade de
microrganismos e ativa o
complemento a depositar C3b na superfície de microrganismos. IL-1, IL-6 e TNF-α levam o
hipotálamo a gerar febre, induzem a produção de proteínas de fase aguda em hepatócitos (e a
diminuição de outras proteínas sintetizadas no fígado por um fator de transcrição semelhante,
como a Albumina) após 12 a 24 horas e de colony-stimulating factors (M-CSF, G-CSF, GM-CSF).

Inflamação Crónica
Causas:
 Persistência do Ag por evasão ao sistema imunitário
 Doenças Autoimunes com ativação crónica de linfócitos T por Ag self
 Alguns tipos de Cancro
Resulta em danos tecidulares significativos, sendo marcada pela acumulação e ativação de
macrófagos, que produzem citocinas que podem estimular fibroblastos a gerar fibrose. Duas são
particularmente importantes, que atuam sinergicamente para iniciar uma inflamação crónica:
 IFN-γ – produzido por linfócitos TH1, TC e NKC, tem muitos efeitos inflamatórios
pleiotrópicos, nomeadamente ativar macrófagos que ficam mais eficazes a apresentar
Ag, eliminar microrganismos e libertar ROS e RNS. É bastante diferente de IFN-α e IFN-
β, produzidos por células infetadas por vírus consoante o tipo da célula
 TNF-α – produzido por macrófagos, tem um efeito citotóxico direto em células tumorais
e causa danos tecidulares
Em doenças como Artrite Reumatoide, Doença de Crohn, Doença de Graves, Tiroidite de
Hashimoto surgem regiões HEV-like nos vasos em locais de infeção crónica, por onde os
leucócitos podem extravasar e contribuir para a inflamação crónica.
Uma resposta inflamatória aguda pode ocorrer sem o envolvimento evidente do sistema
imunitário.

110
AGENTES ANTI-INFLAMATÓRIOS
Apesar de importante para a defesa do organismo, uma resposta inflamatória pode ser
prejudicial para organismo e até tornar-se crónica, como em casos de alergias, doenças
autoimunes, infeções, transplantes ou queimaduras. Assim, desenvolveram-se terapêuticas que
reduzir respostas inflamatórias duradouras e respetivas complicações:
 Bloqueio das CAMs por Ac terapêuticos – redução do extravasamento de leucócitos
 Corticoesteróides – reduzem o nº e a atividade de células imunitárias através de
alterações da recirculação e de vários processos celulares
 Anti-inflamatórios não esteroides (NSAIDs) – os mais comuns, reduzem a inflamação e
a dor por inibição da cicloxigenase
Notas da 7ª edição de Kuby Immunology
Decidiu-se incluir as seguintes secções da 7ª edição pois foram abordadas na aula.

FAGOCITOSE
As células fagocíticas formam na maioria dos tecidos uma linha de defesa inata a seguir à
barreira da pele. Incluem
as Células Dendríticas.
Reconhecem micróbios
através de recetores
membranares – PRRs
(Pattern Recognition
Receptors) – para padrões
ou motivos de moléculas
conservados na superfície
dos mesmos – PAMPs
(Pathogen-Associated
Molecular Patterns, apesar
de serem independentes
da patogenicidade ou não
destes) = MAMPs (de
Microbe), como o LPS.
Alternativamente, pode
ser desencadeada pelo
reconhecimento de uma
proteína solúvel que se liga
a motivos conservados –
Opsonina, como a Proteína
C Reativa – por um Recetor
de Opsoninas.
Os microrganismos internalizados são conduzidos para um fagolisossoma, onde são atacados
por defensinas, catelicidinas, baixo pH, enzimas e ROS e RNS gerados pela NADPH oxidase
durante o burst respiratório (processo metabólico onde se consome muito O2 para produzir
espécies oxidativas).
A fagocitose também é usada para eliminar células mortas, envelhecidas, infetadas, tumorais
ou detritos celulares, graças aos DAMPs (de Damage ou de Danger consoante os autores, como

111
Fosfatidilserina ou Lisofosfatidilcolina) ou opsoninas, reconhecidos por PRRs. A CD47 em células
saudáveis inibe a sua fagocitose.
Os PRRs após reconhecerem PAMPs ou DAMPs vão desencadear várias respostas inatas
possíveis, benéficas ou prejudiciais – fagocitose, síntese de proteínas, interferões, citocinas,
quimiocinas, enzimas.
Os PRRs são expressos em todas os leucócitos, células dendríticas, células da pele, mucosas,
glândulas, endotélio e estroma. Alguns localizam-se em endossomas, lisossomas ou até no
citosol, para que poderem reconhecer PAMPs e DAMPs intracelulares (particularmente ácidos
nucleicos). Formam 4 famílias principais:
TLRs (Toll-Like Receptors): CLRs (C-type Lectin Receptors):
 Em membranas  Apenas na membrana plasmática.
 Com um domínio extramembranar em  Reconhecem geralmente glícidos
ferradura com várias LRRs (Leucine-Rich  Induzem fagocitose, ativação de NF-kB e a
Repeats), dimerizam quando ligam um expressão de várias proteínas
PAMP ou DAMP
 Ativam NF-kB e a expressão de IFN-α e
IFN-β, citocinas, quimiocinas e
antimicrobianos, mas não fagocitose
RLRs (Retinoic acid-inducible gene-I-Like NLRs (Nod-Like Receptors):
Receptors):  No citosol
 No citosol, solúveis  As suas funções ainda não foram bem
 São RNA helicases que detetam caracterizadas
infeções virais  Alguns ativam NF-kB, outros formam
 Ativam o NF-kB, expressão de IFN α e Inflamossomas
IFN β, citocinas, quimiocinas e
antimicrobianos

112
INTERAÇÕES ENTRE IMUNIDADE INATA E ADAPTATIVA
A Imunidade Inata ajuda a ativar e regular a Imunidade Adaptativa. No início da infeção, as
células da imunidade inata reconhecem PAMPs através dos seus PRRs e respondem,
abrandando a infeção, enquanto ajudam a iniciar uma resposta adaptativa por Ac ou
citotoxicidade.
Primeiro, células da imunidade inata, como as células dendríticas, são ativadas ao ligarem-se a
micróbios através de PRRs e levam-nos (ou à superfície ou num fagossoma) pelos linfáticos até
um tecido linfoide secundário (como um gânglio). Aí, expressam CD80 ou CD86 e transferem ou
apresentam o microrganismo ou fragmentos dele a linfócitos TH (via MHC II), TC (via MHC I e
apresentação cruzada numa célula licenciada) ou B.
A ligação de certos PAMPs a certos PRRs induz as células da imunidade inata a secretar citocinas
específicas que influenciam as citocinas que um linfócito naive TC ou TH vai produzir depois de
ser ativado, logo, determinando o seu fenótipo e resposta imunitária.
Os linfócitos B têm TLRs, cuja ativação pode substituir a ativação por linfócitos TH e ser mais
rápida. Os linfócitos T também têm TLRs, que atuam como recetores co-estimulatórios que
diminuem a sua necessidade de células dendríticas. NKC também têm TLRs.
Algumas vacinas contêm Adjuvantes – PAMPs de vírus ou bactérias mortos ou inativados, ou
materiais isolados, que aumentam a resposta imunitária por se ligarem a TLRs. Assim, têm-se
investigado novos adjuvantes que possam ser incluídos em novas e mais eficazes vacinas.
As respostas adaptativas adotaram e modificaram algumas respostas inatas, como a ativação
por Ac ligados a Ag. Há ainda o exemplo do complemento, que pode ser ativado por mecanismos
inatos ou Ac.

113
REACÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE (Cap. XVI)
Geralmente, uma resposta imunitária usa respostas efectoras que induzem respostas
inflamatórias e removem o antigénio sem danificar o tecido. No entanto, podem surgir respostas
inadequadas, quer no decurso da resposta humoral, quer na mediada por células.
Reacções de hipersensibilidade são reacções inflamatórias dentro dos ramos humoral e
mediado por células do sistema imunitário que levam a extenso dano tecidual ou mesmo morte.
Os 4 tipos de hipersensibilidade geram moléculas efectoras e manifestações clínicas
características.
Na hipersensibilidade imediata os sintomas são manifestados minutos ou horas após o contacto
de um receptor sensibilizado com o antigénio. São exemplo as reacções anafiláticas iniciadas
por anticorpos ou complexos antigénio-anticorpo. Na hipersensibilidade tardia (DHT: delayed-
type hypersensivity) constata-se um atraso dos sintomas até dias após a exposição.

CLASSIFICAÇÃO DE GELL E COOMBS


As reacções de hipersensibilidade podem distinguir-se pelo tipo de resposta imunitária e
diferenças nas moléculas efectoras geradas no curso da reacção.

Em reacções de hipersensibilidade imediata, diferentes isotipos de anticorpos induzem


moléculas efectoras imunes específicas. Anticorpos IgE, por exemplo, induzem a desgranulação
de mastócitos com libertação de histamina e outras moléculas biologicamente activas. Em
contraste, anticorpos IgG e IgM induzem reacções de hipersensibilidade através da activação do
complemento. As moléculas efectoras nas reacções do complemento são os complexos de

115
ataque à membrana e os produtos divididos do complemento anafilático C3a e C5a. Em reacções
de DTH, as moléculas efectoras são diversas citocinas secretadas por células TH e TC activadas.
Assim, as reacções de hipersensibilidade são divididas em 4 tipos. Três tipos de
hipersensibilidade ocorrem dentro do ramo humoral e são mediados por anticorpos ou
complexos antigénio-anticorpo: hipersensibilidade mediada por IgE (tipo I), mediada por
anticorpo (tipo II) e mediada pelo complemento (tipo III). Um quarto tipo de hipersensibilidade
depende da activação de células T dentro do ramo mediado por células e é designada DTH ou
tipo IV.

Hipersensibilidade Mediada por IgE (Tipo I)


Uma reacção de hipersensibilidade tipo I é induzida por determinados tipos de antigénios
(alergénios) e possui todas as características de uma resposta humoral normal, ou seja, um
antigénio induz uma resposta humoral de anticorpos pelos mesmos mecanismos descritos para
outros antigénios solúveis, resultando na geração de células plasmáticas e células de memória.

O que distingue uma resposta de hipersensibilidade de tipo I de uma resposta humoral normal
são as células plasmáticas que secretam IgE em resposta à activação de células T H2 alérgico-
específicas. Essa classe de anticorpos liga-se com alta afinidade a receptores Fc na superfície de
mastócitos teciduais e basófilos sanguíneos; mastócitos e basófilos ligados pela IgE são
considerados sensibilizados. Uma exposição posterior (2ª exposição) ao mesmo alergénio
resulta na ligação cruzada da IgE fixa à membrana dos mastócitos e basófilos com desgranulação
destas células. Os mediadores farmacologicamente activos libertados pelos grânulos actuam
nos tecidos circundantes. Os principais efeitos - vasodilatação e contracção do músculo liso –
podem ser sistémicos ou localizados consoante a extensão da libertação do mediador.
Actualmente, o termo alergia tem sido utilizado como sinónimo de hipersensibilidade tipo I.

Componentes comuns de reacções do tipo I


1 – Alergénios
A maioria dos seres humanos desenvolve respostas de IgE significativas somente como defesa
contra Infecções parasitárias. Contudo, algumas pessoas apresentam atopia: predisposição
hereditária ao desenvolvimento de reacções de hipersensibilidade imediatas contra antigénios
ambientais comuns pelo que antigénios não parasitários (alergénios) estimulam a produção

116
inapropriada de IgE. Estes indivíduos apresentam níveis anormalmente elevados de IgE
circulante e elevados números de eosinófilos circulantes sendo susceptíveis a alergias, eczemas
e asma. A maioria das reacções alérgicas mediadas por IgE ocorre nas mucosas, em resposta a
Ag que encontram no organismo por inalação ou ingestão.

2 – Anticorpo – IgE
Quando injectado em indivíduos sensibilizados, ocorre reacção P-K.
Em indivíduos normais, o nível de IgE no soro é o mais baixo entre todas as classes de anticorpos.
É composta por duas cadeias pesadas e duas cadeias leves com um domínio adicional, CH4, que
contribui para a ligação da porção Fc a receptores, FcR, na superfície dos mastócitos e basófilos.
A vida média da IgE é de 2,5 dias, mas quando ligada a receptores, é estável durante várias
semanas.

3 – Mastócitos e Basófilos
Contêm grânulos com substâncias farmacologicamente activas (histamina e aminas
tensoactivas).

4 – Receptores Fc ligadores de IgE (IgE-binding FcR)


A actividade reactiva de IgE depende da sua
capacidade de se ligar a receptores
específicos para a porção Fc das cadeias ε
(pesadas). Foram identificadas 2 classes de
receptores: FcεRI e FcεRII.
Os mastócitos e os basófilos expressam
FcεRI que se liga a IgE com maior afinidade,
permitindo a ligação a IgE mesmo em baixa
concentração sérica. Eosinófilos, células de
Langerhans, monócitos e plaquetas
também expressam FcεRI, mas em níveis
muito menores.

Efeitos que desencadeiam a desgranulação dos mastócitos:

1. Ligação cruzada do alergénio à IgE ligada ao receptor Fc na superfície do mastócito.

117
2. PTK (proteína tirosina cinase) fosforila fosfolipase C que converte PIP-2 (fosfatidil
inosiol-4,5-bifosfato) em DAG (1,2-diacilglicerol) e IP3 (inositol trifosfato). DAG activa
PKC que, juntamente com cálcio, é necessária para a montagem microtubular e fusão
dos grânulos com a membrana plasmática. IP3 é um potente mobilizador de reservas de
cálcio intracelular.
3. A ligação cruzada de FcεRI também activa uma enzima de converte PS (fosfatidilserina)
em PE (fosfatidiletanolamina). PE é metilada para formar fosfatidilcolina por PMT I e II
(fosfolípido metil transferases I e II).
4. O cúmulo de Pc na superfície exterior da membrana plasmática gera aumento da fluidez
e facilita a formação de canais de cálcio. O influxo de cálcio resultante e a MAPK-PKT-
activada activam a fosfolipase A2 que promove a quebra de PC em fosfatidilcolina e
ácido araquidónico.
5. O ácido araquidónico é convertido em leucotrienos e prostaglandina D2.
6. A MAPK (mitogen-activated protein kinase) induz a secreção de citocinas por aumento
da transcrição de genes.
7. A ligação cruzada de FcεRI também activa adenilato ciclase na membrana com aumento
transitório de AMPc.
8. Proteínas cinases dependentes de AMPc fosforilam as proteínas granulares de
membrana alterando a permeabilidade dos grânulos à água e ao cálcio com dilatação,
fusão com a membrana e libertação dos mediadores.

5 – Agentes farmacológicos que medeiam as reacções


As manifestações clínicas das reacções de hipersensibilidade do tipo I estão relacionadas com
os efeitos biológicos dos mediadores libertados durante a desgranulação de mastócitos e
basófilos. Esses mediadores farmacologicamente activos actuam tanto em tecidos localizados
como em populações de células efectoras secundárias, incluindo eosinófilos, neutrófilos,
linfócitos T, monócitos e plaquetas.
Os mediadores podem ser classificados em primários e secundários. Os mediadores primários,
pré-produzidos antes da desgranulação são armazenados nos grânulos, são a histamina,
protéases, factor quimiotrófico eosinofílico, factor quimiotrófico neutrofílico e heparina. Os
mediadores secundários são sintetizados após a activação da célula-alvo ou libertados pelo
colapso de fosfolípidos da membrana durante o processo de desgranulação; incluem: factor
activador de plaquetas, leucotrienos, prostaglandinas, bradicininas e diversas citocinas e
quimiocinas.
HISTAMINA: a actividade biológica só é observada alguns minutos após a activação dos
mastócitos. Liga-se a 3 tipos de receptores:
 H1: constrição do músculo liso intestinal e brônquico, aumento da permeabilidade das
vénulas e secreção de muco pelas células caliciformes.
 H2: vasopermeabilidade (contracção de células endoteliais), vasodilatação
(relaxamento do músculo liso de vasos sanguíneos), estimulação de glândulas exócrinas
e aumento da libertação de ácido no estômago. A ligação de histamina a receptores H2
inibe a desgranulação por um mecanismo de feedback negativo.
 H3
LEUCOTRIENOS: broncocronstrição, aumento da permeabilidade vascular e produção de muco.
PROSTAGLANDINAS: broncoconstrição.

118
CITOCINAS: mastócitos humanos secretam IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-10, IL-13, GM-CSF e TNF-α que
alteram o microambiente local, levando ao recrutamento de células inflamatórias como
neutrófilos e eosinófilos. IL-4 e IL-13 estimulam a resposta TH2 e aumentam a produção de IgE
por células B. IL-5 é particularmente importante no recrutamento e activação dos eosinófilos.
Altas concentrações de TNF-α secretadas por mastócitos podem contribuir para o choque na
anafilaxia sistémica.

Anafilaxia Sistémica
Estado semelhante a choque com falha dos sistemas respiratório, circulatório e gastrointestinal,
frequentemente fatal que ocorre em minutos após uma reacção de hipersensibilidade tipo I,
geralmente induzida por um alergénio (veneno de abelha, vespa, picada de formiga, frutos-do-
mar, nozes, fármacos: penicilina, insulina, antitoxinas, …) introduzido directamente na corrente
sanguínea ou absorvido pelo intestino ou pele.
O tratamento consiste na administração de epinefrina que neutraliza os efeitos de mediadores
como a histamina e os leucotrienos com relaxamento do músculo liso, redução da
permeabilidade vascular e aumento do débito cardíaco. Aumenta ainda os níveis de AMPc nos
mastócitos, bloqueando a desgranulação.

Atopia
Reação de hipersensibilidade limitada a um tecido ou órgão, no local de entrada do alérgeno.
Incluem rinite alérgica, dermatite tópica e alergias alimentares.

Regulação da resposta de Hipersensibilidade tipo I


Níveis de IgE influenciados por:
 Constituição genética
 Dose de antigénio: doses pequenas induzem resposta contínua de IgE enquanto doses
grande geram produção transitória de IgE, com mudança para IgG
 Modo de apresentação do antigénio: a Th1 inibe a resposta devido à secreção de INF-
α (indivíduos normais) enquanto a Th2 aumenta a resposta por IL-4, que induz a
mudança de classe para IgE e regula a expansão clonal do linfócito B (indivíduos
atópicos).

Métodos Clínicos para detecção de hipersensibilidade tipo I


A hipersensibilidade tipo I é comumente identificada e estimada através de testes cutâneos.
Pequenas quantidades de alergénios em potencial são introduzidas em locais cutâneos
específicos por meio de injecção intradérmica ou picada/raspagem superficial. Um número de
alergénios pode ser aplicado em vários locais do antebraço de um indivíduo de cada vez. Se a
pessoa é alérgia, mastócitos locais desgranulam e a libertação de histamina e outros mediadores
induz inchaço e calor em 30 minutos.
Apresentam como vantagens o baixo custo e a possibilidade de estudar um grande número de
alergénios. Como desvantagens contam-se o risco de sensibilização do indivíduo a novos
alergénios e o risco de choque anafilático sistémico.
Outro método para estudar a hipersensibilidade do tipo I é determinar o nível sérico de
anticorpo IgE por RIST (radioimmunosorbent). O teste RAST (radioallergosorbent) detecta o nível
sérico de IgE específica para um dado alérgeno.

119
Controlo médico da Hipersensibilidade tipo I
A imunoterapia com repetidas injecções de doses aumentadas de alergénios
(hipossensibilização) pode reduzir a gravidade de reacções tipo I ou mesmo eliminá-las
completamente. A introdução repetida de alergénio parece causar uma transferência para a
produção de IgG (anticorpo bloqueador, pois compete pelo alergénio lingando-se a este e
permitindo a sua remoção por fagocitose) ou induzir supressão mediada por células.
Outra forma de imunoterapia consiste no uso de anticorpo monoclonal humanizado anti-IgE.
Estes anticorpos ligam-se à IgE apenas se esta não estiver ligada a FcεRI. Quando injectados em
indivíduos com hipersensibilidade, os anticorpos ligam-se à IgE livre, desregulando a produção
de IgE pelas células B e a expressão de FcεRI nos mastócitos e basófilos.

Hipersensibilidade Citotóxica Mediada por Anticorpo (Tipo II)


As reacções de hipersensibilidade do tipo II envolvem a destruição de células mediada por
anticorpo. Um anticorpo ligado ao antigénio de superfície de uma célula pode activar o sistema
do complemento, criando poros na membrana de uma célula estranha ou mediar a destruição
celular através da citotoxicidade mediada por célula dependente de anticorpo (ADCC).
Neste processo, células citotóxicas com receptores Fc ligam-se à região Fc de anticorpos em
células-alvo e promovem a morte das células. O anticorpo ligado a uma célula estranha também
pode actuar como opsonina, capacitando células fagocíticas com receptores Fc ou C3b a ligarem-
se e fagocitarem a célula revestida por anticorpo.
Determinadas doenças auto-imunes envolvem destruição celular mediada por autoanticorpo
através de mecanismos do tipo II.

Reacções de Transfusão
Um grande número de proteínas e glicoproteínas da membrana dos eritrócitos é codificada por
diferentes genes, cada um dos quais apresenta um número de alelos alternativos. Um indivíduo
que possui uma forma alélica de um antigénio de grupo sanguíneo pode reconhecer outras
formas alélicas como estranhas em sangue transfundido e gerar uma resposta imunitária
mediada por anticorpos. Alguns destes anticorpos já foram introduzidos por exposição natural
a determinantes antigénios similares de uma variedade de microrganismos presentes na flora
normal do intestino. É o caso dos antigénios do grupo sanguíneo ABO.
Os anticorpos dos antigénios A, B e O, chamados isohemaglutininas, geralmente são da classe
M. Um indivíduo com sangue do tipo A, por exemplo, reconhece epítopos semelhantes a B de
microrganismos intestinais e produz isoemaglutininas contra esses epitopos. Esse mesmo
indivíduo não responde a epitopos semelhantes ao grupo A dos mesmos microrganismos
intestinais porque são muito similares aos seus próprios, ou seja, verifica-se um estado de
autotolerância.

120
Se um indivíduo do tipo A é transfundido com sangue contendo células do tipo B, as
isoemaglutininas anti-B ligam-se às células sanguíneas B e medeiam a destruição destas por
meio de lise mediada pelo complemento. Anticorpos a outros antigénios de grupos sanguíneos
podem resultam de repetidas transfusões, pois pequenas diferenças alélicas nesses antigénios
podem estimular a produção de anticorpo, geralmente IgG.
As manifestações clínicas de reacções de transfusão resultam de hemólise intravascular massiva
dos eritrócitos transfundidos e podem ser imediatas ou tardias. As reacções imediatas estão
mais associadas com incompatibilidades de grupos sanguíneos ABO, que levam à lise mediada
pelo complemento desencadeada por isoemaglutininas IgM. Após algumas horas, a
hemoglobina livre pode ser detectada no plasma, esta é filtrada pelos rins gerando
hemaglobinúria, parte da hemoglunina é convertida em bilirrubina. Os sintomas típicos incluem
febre, resfriado, naúsea, coagulação em vasos sanguíneos, dores no dorso inferior e
hemoglobina na urina. O tratamento envolve o término da transfusão e a manutenção do fluxo
urinário com diuréticos.
As reacções de transfusão hemolítica tardias geralmente ocorrem em indivíduos que receberam
repetidas transfusões de sangue ABO compatível que é incompatível para outros antigénios de
grupo sanguíneo. As reacções desenvolvem-se entre 2 e 6 dias após a transfusão. O sangue
transfundido induz a selecção clonal e produção de IgG contra diversos antigénios de membrana
de grupos sanguíneos, mais comumente Rh, Kidd, Kell e Duffy.
O isotipo predominante envolvido nestas reacções é IgG que é menos efectivo do que IgM na
activação do complemente. Assim, a lise dos eritrócitos transfundidos mediada pelo
complemento é incompleta e muitas das células são destruídas em locais extravasculares
através de aglutinação, opsonização e subsequente fagocitose por macrófagos. Os sintomas
incluem febre, baixa hemoglobina, aumento da biliorrubina, icterícia moderada e anemia. A
hemoglobina livre geralmente não é geralmente detectada no plasma ou urina porque a
destruição de células sanguíneas ocorre em locais extravasculares.

Doença hemolítica do recém-nascido


Esta patologia é desenvolvida quando anticorpos IgG maternos específicos para antigénios fetais
de grupo sanguíneo atravessam a placenta e destroem os eritrócitos fetais.
A eritroblastose fetal é comumente desenvolvida quando um feto Rh+ expressa um antigénio
Rh, não expresso pela mãe Rh-. Durante a gravidez, os eritrócitos do feto são separados da
circulação materna por uma camda de células na placenta – trofoblasto. Durante a primeira
gravidezs com um feto Rh+, uma mulher Rh- geralmente não é exposta a eritrócitos fetais
suficientes para actiovar células B Rh-específicas. No nascimento, a separação da placenta da
parede uterina permite que grandes quantidades de sangue do cordão umbilical entrem na
circulação da mãe. Estes eritrócitos activam células B Rh-específicas e células B de memória na
mãe que numa gravidez posterior resultam na formação de anticorpos IgG anti-Rh que
atravessam a placenta e danificam as células sanguíneas do feto. Pode desenvolver-se uma
anemia moderada a grave no feto, por vezes com consequências fatais. A conversão de
hemoglobina em bilirrubina pode representar um risco acrescido para o recém-nascido, pois a
bilirrubina lipossolúvel pode ser acumulada no cérebro, gerando dano cerebral.
A doença hemolítica do recém-nascido gerada pela incompatibilidade de Rh em gravidez
subsequente pode ser quase inteiramente prevenida pela administração de anticorpos contra o
antigénio Rh às 28 semanas de gestação e 24-48h após o primeiro parto. Estes anticorpos

121
(Rhogam) ligam-se a qualquer eritrócito fetal que entre na circulação sanguínea materna e
facilita a sua eliminação antes da activação da célula B.

Anemia Hemolítica induzida por fármacos


Determinados antibióticos (penicilina, cefalosporina e estreptomicina) podem adsorver
inespecificamente a proteínas na membrana dos eritrócitos, formando um complexo similar ao
complexo carregador de hapteno. Em alguns pacientes, estes complexos induzem a formação
de anticorpos que se ligam ao fármaco absorvido à membrana do eritrócito induzindo lise
mediada pelo complemento e anemia progressiva. Quando o fármaco é retirado, a anemia
hemolítia desaparece.

Hipersensibilidade Mediada pelo Complexo Imune (Tipo III)


A reacção anticorpo-antigénio gera complexos imunes que geralmente facilitam a eliminação do
antigénio pelas células fagocitárias. Contudo, grandes quantidades destes complexos levam a
reacções de hipersensibilidade do tipo III danificadoras de tecidos.
A magnitude da reacção depende da quantidade de complexos imunes e da sua distribuição no
organismo. Quando os complexos são depositados em tecidos muito próximos do local de
entrada do antigénio desenvolve-se uma reacção local, mas quando os complexos são formados
no sangue a reacção pode desenvolver-se no local onde estes se depositam, geralmente nas
paredes de vasos sanguíneos, membrana sinovial, membrana basal glomerular do rim e plexo
coróide. A deposição destes complexos activa o recrutamento de neutrófilos ao local. O tecido
é danificado como consequência da libertação granular de neutrófilos.
As reacções de hipersensibilidade desenvolvem-se quando complexos imunes activam o arranjo
de moléculas efectoras imunes do sistema complemento – os produtos activos do complemento
C3a e C5a são anafilatoxinas que geram desgranulação localizada dos mastócitos e consequente
aumento da permeabilidade vascular local. C3a, C5a e C5b também são factores quimiotáxicos
para neutrófilos que podem ser acumulados em grande número no local de depósito do
complexo imune. Complexos imunes maiores são depositados na membrana basal de paredes
de vasos sanguíneos ou glomérulos renais enquanto pequenos complexos são depositados no
subepitélio.
A ligação dos complexos imunes a Fc e receptores do complemento em leucócitos leva à
activação de uma resposta inflamatória. Grande parte do dano tecidual é originado pela
libertação de enzimas líticas pelos neutrófilos ao tentar fagocitar os complexos imunes. O

122
componente C3b actua como opsonina, revestindo complexos imunes ao qual um neutrófilo se
liga através do receptor de complemento tipo 1, específico para C3b. A activação do
complemento pode levar à agregação plaquetar, libertação de factores de coagulação e
formação de microtrombos.

Reacções localizadas  Exemplo: Picada de insecto


Após a picada de um insecto, um indivíduo sensível pode ter uma reacção do tipo I
rápida e localizada. Frequentemente, após 4 a 8 horas, desenvolve-se no local uma
reacção de Arthus com eritema (presença de eritrócitos) e edema (cúmulo de fluido)
pronunciados.

Reacções generalizadas  Exemplo: Doença do Soro


São frequentemente observadas após administração de antitoxinas contendo soro estranho
como soro antitetânico ou antidiftérico.
Neste caso, o indivíduo receptor desenvolve anticorpos específicos para as proteínas séricas
estranhas que formam complexos imunes com os antigénios estranhos. Sete a vinte e um dias
após a administração do soro, o indíviduo manifesta febre, fraqueza, vasculite generalizada
(erupções) com edema e eritema, linfoadenopatia, artrite e glomerulonefrite. Os sintomas
podem desenvolver-se 1 a 3 dias após uma exposição subsequente ao mesmo antigénio.

Hipersensibilidade do Tipo IV ou Tipo Tardia (DTH)


Quando algumas subpopulações de células TH
encontram determinados tipos de antigénios,
secretam citocinas que induzem uma resposta
inflamatória localizada caracterizada por um grande
influxo de células inflamatórias inespecíficas,
particularmente macrófagos.
Embora em alguns casos uma reacção DTH gere
intenso dano tecidual e seja patológica, em muitos
casos o dano tecidual é limitado e a resposta exerce
um papel importante na defesa contra petogénios
intracelulares e antigénios de contacto.
O desenvolvimento da resposta DTH começa com uma
fase de sensibilização inicial de 1 a 2 semanas após o
contacto primário com o antigénio. Durante este
período, as células TH são activadas e expandidas
clonalmente pelo antigénio apresentado em conjunto
com a molécula do MHC de classe II numa célula
apresentadora de antigénios apropriada, como as
células de Langerhans ou os macrófagos. Geralmente
as células T activadas durante a fase de sensibilização
são CD4+, mas em alguns casos podem intervir células
CD8+.
Uma exposição subsequente ao antigénio induz a fase efectora da resposta de DTH, na qual as
células TH1 secretam citocinas que recrutam e activam macrófagos e outras células inflamatórias

123
inespecíficas. Uma resposta DTH surge habitualmente 24 horas após o segundo contacto com o
antigénio, com um pico às 48 a 72 horas.
Os macrófagos são as principais células efectoras da resposta DTH: as citocinas libertadas por
células TH1 induzem monócitos sanguíneos a aderirem a células endoteliais vasculares e
migrarem do sangue para o local da resposta DTH atraídos por quimiocinas como a proteína
quimiotática de monócito (MCP-1/CCL2), onde se diferenciam em macrófagos activados.
Pode formar-se um granuloma quando a activação contínua de macrófagos induz a adesão de
um macrófago a outro com formação de células gigantes multinucleadas formam nódulos
palpáveis com libertação de elevadas concentrações de enzimas líticas podendo conduzir a
extensa necrose tecidual.
De entre as citocinas produzidas pelas células TH1 diversas atraem e activas macrófagos ao local
da infecção. IL-3 e GM-CSF induzem hematopoiese localizada da linhagem de granulócitos –
monócitos. O IFN-γ e o TNF-β (juntamente com o TNF-α derivado de macrófagos e a IL-1) actuam
nas células endoteliais, facilitando o extravasamento de monócitos e outras células
inflamatórias inespecíficas.
Os macrófagos activados podem mediar a activação de mais células TH1 por libertação de IL-12.
IL-18 e IL-12 estimulam a síntese de IFN-γ por células TH1. A IL-17 aumenta a produção de
quimiocinas para o recrutamento de monócitos e neutrófilos ao local da reacção.

Detecção através de testes cutâneos


A presença da reacção de DTH pode ser medida experimentalmente através da injecção
intradérmica de antigénio e observação da lesão cutânea característica que se desenvolve no
local da infecção. Uma reacção positiva no teste cutâneo incida que o indivíduo possui uma
população de células TH1 sensibilizadas específicas para o antigénio testado.
Por exemplo, para determinar se um indivíduo foi exposto a M. tuberculosis, PPD, uma proteína
derivada da parece celular da microbactéria, é injectada intradermicamente. O
desenvolvimento de uma lesão sólida no local, levemente inchada e vermelha, 48 a 72h após a
injecção indica exposição prévia.

Dermatite de contacto
Muitas dermatites de contacto são mediadas por células TH1. As substâncias que geram a
reacção (formaldeído, níquel, agentes activos em cosméticos e tinta para cabelo, veneno de
carvalho e hera, …) são na sua maioria pequenas moléculas que podem complexar com
proteínas da pele. Este complexo é internalizado por células apresentadoras de antigénios na
pele e processadas e apresentadas junto com moléculas de MHC da classe II, causando activação
de células TH1 sensibilizadas.

124
RESPOSTA IMUNE ÀS DOENÇAS INFECCIOSAS (CAP. XVII)
Caso um agente patogénico tente iniciar uma infecção num hospedeiro susceptível, devem
ocorrer uma série de eventos envolvendo uma resposta imunitária inata e adaptativa.
Uma das primeiras e mais importantes características da resposta inata do hospedeiro é a
barreia formada pela superfície de células epiteliais da pele e do intestino. A dificuldade de
penetrar essa barreira epitelial assegura que a maioria dos agentes patogénios não tenha acesso
fácil ao hospedeiro. Para além de promover uma barreira física, produz substâncias químicas
úteis para prevenir a infecção: a secreção de enzimas gástricas por células epiteliais
especializadas diminui o pH do estômago e do trato gastrointestinal superior enquanto células
do intestino produzem péptidos antibacterianos.
Outra característica importante da imunidade inata é a presença da flora comensal nos tractos
gastrointestinal, genitourinário e respiratório que inibe por competição a ligação do patogénico
às células do hospedeiro.
Muitos agentes patogénicos procuram escapar à destruição pelo sistema imunitário reduzindo
a sua antigenicidade quando crescem dentro da célula hospedeira, variando os antigénios de
superfície, abrigando os seus antigénios de membrana, camuflando-se por mimetizar a
superfície das células do hospedeiro, expressando moléculas com sequência de aminoácidos
similar às moléculas da membrana da célula do hospedeiro ou adquirindo um revestimento com
moléculas da membrana do hospedeiro. Alguns agentes são ainda capazes de suprimir
selectivamente a resposta imune ou regulá-la, permitindo que um ramo ineficaz do sistema
imunitário seja activado.

1 - INFECÇÕES VIRAIS
Uma série de mecanismos imunitários efectores específicos associada a defesas não específicas
é recrutada para prevenir ou eliminar a infecção viral.

A passagem através da mucosa do trato respiratório, genitourinário e gastrointestinal é


responsável pelo maior número de casos de transmissão. A entrada do vírus também pode
ocorrer através de rupturas na pele causadas por picadas de insectos ou microcortes.
A resposta imunitária inata à infecção viral primária consiste na indução de interferões tipo I
(IFN-α e IFN-β) e na activação de células NK. Moléculas de RNA de cadeia dupla produzidas
durante o ciclo de vida viral são detectadas por receptores semelhantes ao Toll (Toll-like
receptors - TLRs) que induzem a expressão de IFN-α e IFN-β pela célula infectada.
Estas citocinas também podem ser produzidas por monócitos, macrófagos e fibroblastos. IFN-α
e IFN-β podem induzir uma resposta antiviral ou resistência à replicação viral pela ligação no

125
receptor IFN-α/β e activação da via de sinalização JAK/STAT que induz a transcrição de diversos
genes. Um destes genes codifica a enzima 2’-5’-oligo-adenilato sintase que activa a ribonuclease
e degrada o RNA viral.
Outros genes activados pela ligação do IFN-α/β
também contribuem para inibir a replicação
viral. Por exemplo, a ligação do IFN-α/β induz
uma proteína cinase específica (proteína cinase
dsRNA-dependente) a inactivar a síntese
proteica e bloquear a replicação viral na célula
infectada.
A ligação do IFN-α e IFN-β à célula NK induz
actividade lítica. A actividade das células NK é
bastante aumentada pela IL-12, produzida nas
fases iniciais da resposta à infecção viral.
Anticorpos específicos para antigénios da
superfície viral são frequentemente cruciais
para conter a disseminação do vírus durante a
infecção aguda ou na protecção contra a
reinfecção. Estes são particularmente efetivos
se localizados no local de entrada do vírus no organismo.
A neutralização viral por anticorpos por vezes envolve mecanismos que operam depois da sua
ligação à célula do hospedeiro. Por exemplo, anticorpos podem bloquear a penetração viral
através da ligação a epitopos necessários para mediar a fusão do envelope viral com a
membrana plasmática.
Anticorpos ou complemento podem também aglutinar as partículas virais e funcionar como
agente de opsonização para facilitar fagocitose de partículas virais mediada por receptores Fc
ou C3b.
Embora os anticorpos tenham um papel importante na contenção da disseminação de um vírus
na fase aguda da infecção, não são capazes de eliminar os vírus se estes estiverem em estado
latente no qual o seu DNA é integrado no DNA cromossómico do hospedeiro. Quando a infecção
está estabelecida, os mecanismos imunitários mediados por células são responsáveis pela
defesa do hospedeiro, em particular as células TCCD8+ e THCD4+, principais componentes da
defesa antiviral. As células TH1 activadas produzem várias citocinas, incluindo IL-2, INF-γ e TNF
que promovem a defesa contra os vírus de forma directa e indirecta. O INF-γ age de forma
directa pela indução de um estado anti-viral nas células. A IL-2 age indirectamente auxiliando o
recrutamento de percursores dos linfócitos T citotóxicos numa população efectora. Tanto IL-2
como INF-γ activam células NK que desempenham um papel importante na defesa do
hospedeiro durante os primeiros dias da infecção viral, até que uma resposta específica se
desenvolva.
Na maioria das Infecções virais, a actividade dos CTLs específicos inicia-se dentro de 3 a 4 dias
após a infecção, atingindo o pico em 7 a 10 dias, depois declina. Em 7 a 10 dias após a infecção
primária, a maioria dos viriões foi eliminada paralelamente ao desenvolvimento de CTLs. Os CTLs
específicos para o vírus eliminam as células próprias infectadas com o vírus, eliminando assim
fontes potenciais de novos vírus.

126
Apesar do seu genoma de tamanho restrito, foram descobertos vírus que codificam proteínas
que interferem em vários níveis das defesas específicas e não específicas do hospedeiro. Como
foi referido anteriormente, a indução de IFN-γ e IFN-β é o principal mecanismo de defesa contra
a infecção viral, mas alguns vírus desenvolveram estratégias para evadir a acção do IFN-γ/β. Por
exemplo, o vírus da hepatite C bloqueia ou inibe a acção da PKR enquanto o HSV inibe a
apresentação de antigénios pelas células hospedeiras infectadas através da inibição da
conjugação do antigénio com MHC de classe I.
O adenovírus e o citomegalovírus utilizam mecanismos moleculares distintos para reduzir a
expressão de moléculas do MHC de classe I na superfície, inibindo novamente a apresentação
de antigénios para as células T CD8+.
Vários vírus possuem estratégias para evadirem a destruição mediada pelo complemento: o
vírus da vaccinia secreta uma proteína que se liga ao componente C4b do complemento,
inibindo a via clássica de activação. O HSV tem um componente glicoproteico que se liga ao
componente C3b do complemento, inibindo tanto a via clássica como a via alternativa.
Em alguns vírus como o vírus influenza, a variação antigénica contínua tem como resultado o
aparecimento frequente de novas linhagens infeciosas para as quais não existe imunidade
protectora. Mecanismos semelhantes observam-se no rinovírus e HIV.

2 – INFECÇÕES BACTERIANAS
A imunidade às infecções bacterianas é obtida por meio de anticorpos a menos que a bactéria
seja capaz de crescer intracelularmente; nesse cado, a reação de hipersensibilidade tardia possui
um papel fundamental.
As bactérias entram no organismo pelas várias vias naturais ou através de vias não naturais
abertas por fissuras nas membranas da mucosa ou da pele. Consoante o número de
microrganismos que entram e os seus factores de virulência, diversos níveis de defesa do
organismo são recrutados. Se o tamanho do inóculo e a virulência forem baixos, os fagócitos dos
tecidos são capazes de eliminar a bactéria através da imunidade inata e defesa inespecífica.
Inóculos maiores ou organismos com maior virulência tendem a induzir uma resposta imune
adaptativa específica.
A infecção por bactérias extracelulares faz com que ocorra uma indução na produção de
anticorpos humorais, que são ordinariamente secretados pelas células plasmáticas nos nódulos
linfáticos regionais e na submucosa dos tratos respiratório e gastrointestinal. A resposta imune
humoral é a principal resposta protectora contra bactérias extracelulares.
As bactérias extracelulares podem ser patogénicas porque induzem uma resposta inflamatória
localizada ou produzem toxinas (endotoxinas ou exotoxinas) que podem ser citotóxicas.
O anticorpo que se liga aos antigénios acessíveis na superfície de uma bactéria pode, juntamente
com o componente C3b do complemento, agir como uma opsonina que aumenta a fagocitose e
assim ajuda a eliminar a bactéria. No caso de algumas bactérias, principalmente organismos
gram-negativos, a activação do complemento pode levar directamente à lise do organismo. A
activação do sistema do complemento mediada por anticorpo também pode induzir a produção
localizada de moléculas imunes efectoras que auxiliam no desenvolvimento de uma resposta
inflamatória ampliada e mais eficaz. Por exemplo, os produtos de clivagem do complemento
C3a, C4a e C5a agem como anafilatoxinas.

127
Outros produtos de clivagem do complemento servem como factores quimiotróficos para
macrófagos e neutrófilos, contribuindo para o recrutamento de células fagocitárias para o sítio
da infecção. O anticorpo para a toxina bacteriana pode ligar-se a ela e neutralizá-la; os
complexos anticorpo-toxina são então eliminados pelas células fagocíticas da mesma forma que
qualquer outro complexo antigénio-anticorpo.
Embora a imunidade inata não seja muito eficaz contra patogénios bacterianos intracelulares,
as bactérias intracelulares podem activar as células NK que, por sua vez, exercem uma defesa
precoce contra estas bactérias. As infecções pelas bactérias intracelulares tendem a induzir uma
resposta imune mediada por células; especificamente, a reacção de hipersensibilidade do tipo

128
tardia. Nesta resposta, as citocinas que são secretadas pelas células T CD4+ são importantes,
particularmente o IFN-γ que activa os macrófagos para matar os patogénios ingeridos de
maneira mais eficaz.
Existem quatro etapas primárias nas Infecções bacterianas:
- Ligação às células do hospedeiro;
- Proliferação;
- Invasão do tecido do hospedeiro;
- Dano induzido pela toxina às células do hospedeiro.
Os mecanismos de defesa do hospedeiro agem em cada etapa e diversas bactérias
desenvolveram formas de enganar alguns destes mecanismos.

Algumas bactérias apresentam estruturas ou moléculas de superfície que aumentam a sua


capacidade de se ligar a células do hospedeiro: várias bactérias gram-negativas possuem pili,
outras secretam moléculas de adesão (ex: Bordetella pertussis) que se ligam tanto às bactérias
como às células epiteliais ciliadas do trato respiratório superior.
Anticorpos do tipo IgA específicos podem bloquear a ligação nas células epiteliais da mucosa e
são o principal mecanismo de defesa do hospedeiro contra a infecção bacteriana. No entanto,
algumas bactérias (ex: Neisseria gonorrhoeae, Haemophilus influenzae e Neisseria meningitidis)
conseguem escapar à resposta da IgA pela secreção de protéases que clivam esse anticorpo na
região da dobradiça: os fragmentos Fab e Fc resultantes da clivagem têm uma meia-vida
diminuída nas secreções das mucosas, não sendo também capazes de aglutinar microrganismos.
Os microrganismos podem ainda escapar à resposta IgA alterando os seus antigénios de
superfície (ex: Neisseria gonorrhoeae) ou apresentando estruturas de superfície que inibam a
fagocitose como a cápsula polissacarídea do Streptococcus pneumoniae, a proteína M de
Streptococcus pyogenes ou a secreção de coagulase que precipita um revestimento de fibrina
por alguns estafilococos patogénicos.
Algumas bactérias podem apresentar mecanismos que interfiram com o sistema do
complemento como as gram-negativas que sintetizam cadeias longas laterais de peptídeo A que
evitam a lise ou Pseudomonas que secretam elastase que inactiva anafilotoxinas C3a e C5a,
diminuindo a reacção inflamatória localizada.
Várias bactérias possuem ainda a capacidade de sobreviver dentro de células fagocíticas como
a Listeria monocytogenes que escapa do fagolisossoma para o citoplasma e a Mycobacterium

129
avium que bloqueia a fusão lisossomal com o fagolisossoma. Algumas micobactérias são
resistentes ao ataque oxidativo que ocorre dentro do fagolisossoma.
Contudo, a resposta imunitária também pode contribuir para a patogénese bacteriana, ou seja,
a doença não é causada apenas pelo agente, mas também pela resposta imunitária: a
superprodução de citocinas estimulada pelo patogénico leva aos sintomas do choque séptico
bacteriano, intoxicação alimentar e síndrome do
choque tóxico.
A capacidade para algumas bactérias sobreviverem
intracelularmente dentro das células infectadas,
pode activar cronicamente células T CD4+, levando
à destruição tecidual por uma resposta mediada
por células com as características de uma resposta
de hipersensibilidade do tipo tardia. As citocinas
secretadas por estas células T CD4+ activadas
podem induzir um cúmulo excessivo e activação
dos macrófagos, resultando na formação de um
granuloma. As concentrações localizadas das
enzimas lisossomais nestes granulomas
conseguem causar extensiva necrose tecidual.

3 – DOENÇAS PARASITÁRIAS
A maioria das Infecções parasitárias resulta em doenças crónicas, preferencialmente, ao invés
das agudas, embora existam algumas excepções como a malária aguda.
O tipo de resposta imunitária que se desenvolve após infecção por um protozoário e a eficácia
da resposta dependem em parte da localização do parasita dentro do hospedeiro. Muitos
protozoários têm fases no ciclo de vida nas quais estão livres na corrente sanguínea e é durante
estas fases que a resposta humoral é mais eficaz. Muitos destes agentes são capazes de
crescimento intracelular pelo que durante esta fase as respostas imunes mediadas por células
são eficazes na defesa do hospedeiro.
Os helmintas são parasitas grandes que normalmente não se multiplicam dentro das células.
Apesar de serem mais acessíveis ao sistema imunitário, devido ao baixo número de organismos
que infecta o hospedeiro, a exposição ao parasita é limitada, induzindo baixos níveis de
imunidade. Helmintas geralmente são atacados por mecanismos mediados por anticorpos.

4 – DOENÇAS FÚNGICAS
As doenças fúngicas raramente são graves em indivíduos normais e saudáveis, mas constituem
um grave problema em indivíduos imunocomprometidos. Tanto a imunidade inata como a
adaptativa controlam a infecção por fungos ubiquitários.
As barreias da imunidade inata controlam a maioria dos fungos. Os organismos comensais
também controlam o crescimento de certos patogénios potenciais e a fagocitose por neutrófilos
é uma forte defesa contra a maioria dos fungos.
A alternativa de lecitina e o caminho da activação do complemento são disparados por
componentes presentes na maioria das células da parede dos fungos e a solução da infecção
normal por indivíduos saudáveis é rápida. Proteínas com ligações com manose reconhecem
alguns dos principais fungos patogénicos (C. albicans, C. neoformans e A. fumigatus).

130
A activação do complemento por qualquer via alternativa ou da lecitina permite ligação aos
componentes do organismo e consequente fagocitose e destruição intracelular por mecanismos
de morte oxigénio-dependentes ou oxigénio-independentes. No caso de Infecções pulmonares,
proteínas surfactantes presentes no pulmão ligam-se a patogénios e aumentam a fagocitose.
Receptores ligados às células, incluindo receptores do complemento CR1, CR3 e CR4 e cercas
PRRs ligam-se a proteínas dos fungos e medeiam a fagocitose ou iniciam a expressão de citocinas
que carregam moléculas imunitárias para o local.

DOENÇAS INFECCIOSAS EMERGENTES


Patogénios emergentes (ex: ébola, Leggionella pneumophilia) e reemergente (ex: tuberculose,
difteria, …) incluem novos patogénios e alguns que já tinham sido controlados por práticas de
saúde pública. Os factores que levam à emergência desses agentes incluem a capacidade
adaptativa dos microrganismos, o aumento no número de viagens e o intenso crescimento de
algumas populações.

NOTA: No manual são abordados exemplos da resposta imunitária à infecção por diversos microrganismos (vírus
influenza, C. diphtheriae, M. tuberculosis, Plasmodium, …). Optei por não integrar os referidos exemplos no resumo,
mas considero que poderão ser uma leitura interessante .

131
VACINAS (CAP. XVIII)
IMUNIZAÇÃO ACTIVA E PASSIVA
O estado de imunização pode ser induzido por imunização activa ou passiva. Em ambos os casos
a imunidade pode ser adquirida por um processo natural (geralmente transferência da mãe para
o feto ou infecção prévia) ou por meios artificiais como a injecção de anticorpos ou vacina.
A imunização passiva pode ser induzida pela transferência de anticorpos pré-formandos, mas
não se verifica activação do sistema imunitário não é gerada resposta de memória e esta é eficaz
por um curto período de tempo. Infecção ou vacinação geram longo período de imunidade já
que o sistema imunitário desempenha um papel activo com proliferação das células B e T
reactivas ao antigénio e formação de células de memória.
A vacinação activa não é 100% eficaz uma vez que existe uma pequena percentagem dos
indivíduos que responde de forma insuficiente e não é adequadamente protegida. As crianças
necessitam tipicamente de inoculações repetidas em intervalos de tempo apropriados para
obter uma imunidade eficaz. Nos primeiros meses de vida, a causa pode ser a persistência de
anticorpos maternos circulantes.
Os agentes utilizados para a indução da imunidade passiva são anticorpos obtidos de seres
humanos ou animais, enquanto a imunidade activa é obtida pela inoculação de patogénicos
microbianos que induzem imunidade sem causar doença ou componentes antigénicos dos
patogénicos.
No passado, antes das vacinas e anticorpos se tornarem disponíveis, a imunização passiva era
a que fornecia a principal defesa contra as doenças infeciosas. Actualmente, existem várias
condições nas quais a imunização passiva ainda é utilizada:
 deficiência na síntese de anticorpo como resultado de anomalia congénita ou adquirida
das células B;
 indivíduo exposto a uma patologia que poderá gerar complicações e não existe tempo
para uma protecção adequada por imunização activa (p.e. botulismo, tétano, difteria,
hepatite, sarampo e raiva);
 infecção por agentes patogénios cujos efeitos podem ser neutralizados por anticorpos.
Contudo, existem riscos associados à injecção do anticorpo pré-formado: se o anticorpo for
produzido por outra espécie, o receptor pode produzir uma resposta intensa para os
determinantes idiotípicos do anticorpo estranho. Acresce que alguns indivíduos produzem IgE
específico para um anticorpo específico com indução de desgranulação sistémica enquanto a
produção de IgM ou IgG pode motivar reacções de hipersensibilidade tipo III.

PLANEAMENTO DE VACINAS PARA A IMUNIZAÇÃO ACTIVA


A maioria das doenças infeciosas é combatida através de mecanismos não-específicos da
imunidade inata como sistema do complemento, interferões, células NK, fagócitos activados e
compostos antimicrobianos, entre outros.
O sistema imunitário adaptativo proporciona uma resposta mais flexível aos agentes
patogénicos pelo que a vacinação prepara o sistema imunitário para lidar rápida e efectiva
contra os patogénios não eliminados pela imunidade inata. Contudo, o desenvolvimento de uma
resposta imunitária não implica o alcance de um estado de imunidade protectora: é necessário
o desenvolvimento de memória imunológica.
O papel das células de memória na imunidade dependem, em parte, do período de incubação
do patogénico: para vírus com curto período de incubação (ex: Influenza) a protecção eficaz

133
depende da manutenção de níveis elevados de anticorpos neutralizantes por reimunizações
repetidas. Um período de incubação mais longo (ex: poliovírus) permite que as células B de
memória respondam produzindo elevados níveis de anticorpos séricos pelo que a vacina visa
induzir resposta imunológica.
A vacina comum normalmente aplicada consiste em organismos vivos atenuados, células
bacterianas inactivadas ou partículas virais, proteínas ou carbohidratos (subunidades)
provenientes do microrganismo.

VACINAS COM ORGANISMOS VIVOS ATENUADOS


Os organismos podem ser atenuados, perdendo a patogenicidade mas mantendo a sua
capacidade de crescimento transitório num hospedeiro inoculado.
A atenuação pode ser obtida por crescimento da bactéria ou vírus durante um período
prolongado sob condições de cultura anormal. Este procedimento seleciona os mutantes que
são mais apropriados para o crescimento em condições de cultura anormal e portanto menos
capazes de crescer num hospedeiro normal. Esta técnica é aplicada na vacina BCG contra
Mycobacterium bovis.
As vacinas atenuadas apresentam diversas vantagens - a capacidade de crescimento transitório,
permitem uma exposição prolongada do sistema imunitário aos epitopos individuais dos
organismos atenuados com imunogenicidade aumentada e produção de células de memória.
Assim, muitas vezes exigem uma única imunização, eliminando a necessidade de reforços
repetidos.

134
A capacidade de em muitas vacinas o patogénico atenuado se replicar dentro das células do
hospedeiro torna estas vacinas particularmente apropriadas para indução de resposta mediada
por células.
Como desvantagens contam-se a possibilidade da reversão do agente para a forma virulenta
(ex: vacina Sabin - poliomielite) e o facto de poderem ser associadas a complicações similares às
observadas na doença natural (ex: sarampo).
Actualmente, as técnicas de engenharia genética fornecem técnicas de atenuar
irreversivelmente os vírus pela remoção selectiva de genes necessários à virulência.

VACINAS COM ORGANISMOS INACTIVADOS OU MORTOS


Uma das formas comuns de produção de vacinas é a inactivação do agente patogénico por calor
ou meios químicos, tornando-o incapaz de se replicar no hospedeiro. É essencial manter a
estrutura dos epitopos nos antigénios de superfície durante a inactivação. A inactivação pelo
calor é geralmente insatisfatória ao induzir desnaturação proteica com alteração de epitopos de
dependam de estrutura proteica terceária ou quaternária. A inactivação química com
formaldeído ou outros agentes alquilantes revelou-se eficaz.
Estas vacinas apresentam algumas desvantagens: requerem geralmente mais do que uma dose
para induzir uma imunidade duradoura e induzem predominantemente uma resposta humoral
revelando-se menos eficazes do que as vacinas atenuadas em induzir uma resposta mediada por
células e provocar uma resposta de IgA secretora.
Apesar da segurança ser maior do que a vacina atenuada, serem estáveis e de fácil transporte,
a administração intramuscular torna-as menos atractivas para o uso em campanhas de
imunização em massa.

VACINAS DE SUBUNIDADE
Alguns riscos associados às vacinas de patogénios atenuados ou inactivados podem ser evitados
através do recurso a vacinas que possuem macromoléculas específicas e purificadas derivadas
de patogénios. Três formas gerais destas vacinas são utilizadas actualmente: exotoxinas
inactivadas, polissacarídeos capsulares e antigénios recombinantes de superfície.
As exotoxinas produzidas por algumas bactérias induzem muitos dos sintomas que resultam da
infecção. As vacinas para a difteria e tétano podem ser produzidas pela purificação da exotoxina
bacteriana e inactivação com formaldeído para formar o toxoide. A vacinação com toxoide induz
anticorpos antitoxóide capazes de se ligar à toxina e neutralizar os seus efeitos. A imunidade
passiva à toxina pode ser obtida pela transferência de soro contendo anticorpos antitoxóide.
A virulência de algumas bactérias depende das propriedades antifagocíticas da cápsula de
polissacarídeo hidrofílica. O revestimento da cápsula com anticorpos e/ou complemento
aumenta muito a capacidade dos neutrófilos e macrófagos fagocitarem os patogénios. Esta
técnica é utilizada na produção de vacinas contra Streptococcus pneumoniae e Neisseria
meningitidis.
Algumas subunidades de glicoproteínas virais foram testadas como vacinas com pouco sucesso.
São contudo candidatas para a produção de vacinas contra HIV-1 e HSV.
Acresce que as proteínas dos agentes patogénicos podem ser produzidos por técnicas de DNA
recombinante através da clonagem e expressão da proteína em bactérias, leveduras ou células
de mamíferos. Primeira vacina aprovada: Hepatite B.

135
Por fim, podem ser identificados os epitopos mais reactivos e criar péptidos sintéticos que
mimetizem aqueles epitopos usando-os como vacinas. As vantagens seriam a facilidade de
síntese sobre condições de controlo e completa segurança, contudo os peptídeos não são tão
imunogénicos como as proteínas e é difícil obter imunização celular e humoral ao mesmo
tempo.

VACINAS CONJUGADAS
Uma limitação das vacinas de polissacarídeos é a sua
incapacidade de activar células T helper: activam
células B de forma timo-independente tipo 2 com
produção de IgM, mas com pouca troca de classes,
sem afinidade de maturação e com pouco
envolvimento de células de memória.
Uma forma de envolver directamente as células TH na
resposta a antigénios polissacarídeos é conjuga-los
com proteínas carregadoras (vacina Haemophilus
influenzae tipo b). O conjugado toxoide-proteína é considerado mais imunogénico do que o
polissacarídeo sozinho, activando células TH e possibilitando a troca de classe de IgM para IgG.
Embora este tipo de vacina possa induzir células B de
memória, é incapaz de induzir células T específicas
para o antigénio.
Vacinas multivalentes de subunidades com múltiplas
cópias de um dado péptido ou uma mistura de
péptidos conferem imunidade humoral e celular ao
preservar os epitopos imunodominantes para células
B e T.
Uma alternativa é preparar um complexo matriz
sólida + anticorpo-antigénio (SMAA) pela ligação de
anticorpos monoclonais a uma matriz antigénica
sólida e saturação do anticorpo com o antigénio
desejado. Estes complexos multivalentes induzem
fortes respostas humorais e celulares e a sua natureza
particulada aumenta a imunogenicidade por facilitar a
fagocitose.
Outra técnica consiste na utilização de detergentes
para incorporar antigénios proteicos (p.e. proteínas
de membrana de patogénios) em lipossomas, micelas
ou complexos imunoestimulantes (ISCOMs).

VACINAS DE DNA
DNA de plasmídeo codificando proteínas antigénicas é injectado directamente no músculo do
receptor. O DNA é internalizado em células musculares e a proteína antigénica codificada é
expressa levando à indução da resposta humoral e mediada por células. Acresce que o DNA é

136
internalizado e expresso pelas células musculares hospedeiras e o antigénio viral expresso nas
células dendríticas presentes na área injetada.
Apresenta como vantagens a expressão da proteína codificada no hospedeiro de forma natural
sem desnaturação ou modificação, a indução de resposta imunitária humoral e mediada por
células e a expressão prolongada do antigénio com memória imunológica.

VACINAS DE VECTORES RECOMBINANTES


Genes que codificam grandes antigénios de patogénios virulentos podem ser introduzidos
dentro de vírus ou bactérias atenuadas que actuam como vector replicando-se dentro do
hospedeiro e expressando o produto génico do patogénico.
Estas vacinas podem ser testadas mais rapidamente, economizando tempo.
Verifica-se ainda que a imunidade efectiva contra um grande número de doenças (ex: cólera,
gonorreia) depende do aumento da produção de IgA secretora na superfície das mucosas. A
introdução de genes codificando antigénios de organismos patogénicos em linhagens
bacterianas da flora comensal induz imunidade na superfície mucosa.

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SIDA E OUTRAS IMUNODEFICIÊNCIAS (CAP. XIX)
IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS
Uma imunodeficiência primária resulta de uma
herança genética ou de um defeito que se
desenvolve no sistema imunitário.
As consequências celulares de um defeito
genético particular dependem do componente
do sistema imunitário envolvido e a gravidade
do defeito. Defeitos que levem à interrupção
precoce do desenvolvimento das células
hematopoiéticas afectarão todas as células que
derivariam delas. Defeitos em células mais
diferenciadas têm consequências que tendem a
ser mais específicas e, normalmente, menos
severas.
Defeitos que afectem componentes dos linfócitos T tendem a ter um impacto geral maior na
resposta imune do que defeitos que afectem só as células B ou respostas inatas. Células T
disfuncionais levam a, por exemplo, à diminuição da expressão de anticorpos, à desregulação
da produção de citocinas ou à debilitação da citotoxicidade celular. Isto acontece devido à
função essencial que as células T têm em direccionar a resposta imunitária e porque vão afectar
as imunidades humoral e mediada por células.
Defeitos nas células B resultam na diminuição da expressão de uma ou mais classes de
anticorpos e são tipicamente caracterizadas por infecções bacterianas recorrentes. Estes
sintomas são similares àqueles que têm defeitos nos genes que codificam os componentes do
sistema complemento. Os fagócitos são também importantes na remoção de bactérias e fungos
e indivíduos que tenham fagócitos disfuncionais sofrem de um aumento da recorrência de
infecções por estes patógenos.

Imunodeficiências combinadas afectam a imunidade adaptativa


As imunodeficiências combinadas (CID) são caracterizadas pela ausência ou disfunção severa de
células T combinada com alguma disfunção na resposta com anticorpos. Defeitos das células T
normalmente afectam a imunidade humoral, porque os linfócitos T helper são necessários para
uma completa activação dos linfócitos B e consequentemente para a produção e mudança de
classe de anticorpos, e a imunidade mediada por células, porque temos uma redução nas
respostas de hipersensibilidade do tipo retardado e da citotoxicidade celular. Devido a isto, é
muito frequente nos doentes com CID um aumento da susceptibilidade a infecções a todo o tipo
de infecções, especialmente vírus, fungos e parasitas.

139
Imunodeficiência combinada severa (SCID)
É das formas mais graves de imunodeficiência combinada. Esta resulta de defeitos genéticos que
culminam na ausência quase total ou mesmo total de linfócitos T funcionais. Normalmente estes
defeitos genéticos ocorrem ou nas células estaminais que dão origem à linhagem linfóide ou nas
células iniciais do desenvolvimento dos linfócitos T.
Quatro observações são frequentemente encontradas em doentes com SCID:
o Deficiente sinalização das citocinas nos percursores de células T;
o Morte prematura das células da linhagem linfóide devido à acumulação de substâncias
tóxicas;

140
o Defeitos nos arranjos V(D)J nos linfócitos em desenvolvimento;
o Defeitos na sinalização pré-TCR e TCR durante o desenvolvimento;
Dependendo da mutação em causa os doentes com SCID podem ter uma perda apenas nas
células T ou então perda das células T e B.
Clinicamente, a SCID é caracterizada por um
número muito baixo de linfócitos
circulantes e uma falha na montagem de
uma resposta imune mediada pelas células
T. Na maioria dos casos o timo não está
completamente desenvolvido. A linhagem
eritróide e mielóide encontra-se normal.
Os genes normalmente envolvidos a SCID
são o IL2RG, RAG1 e RAG2 e deficiência na
cinase JAK-3.
Outras causas de SCID poderão ser:
o Deficiência na deaminase de
adenosina (ADA)
A deaminase de adenosina cataliza a
conversão de adenosina ou
desoxiadenosina a inosina ou desoxiinosina,
respectivamente. A deficiência desta
enzima resulta na acumulação intracelular
de metabolitos tóxicos de adenosina que
interfere com o metabolismo das purinas e
na síntese de DNA, levando à morte celular.
o Disgenesia Reticular (RD)
Os estágios iniciais do desenvolvimento das células hematopoiéticas são bloqueados por
defeitos no gene da adenilato cinase 2 (AK2) favorecendo a apoptose dos percursores linfóides
e mielóides o que leva uma elevada redução de leucócitos circulantes.
Defeitos no MHC podem se assemelhar a SCID – Síndrome do linfócito nu
A falha na expressão de moléculas de MHC pode levar a uma falha geral do sistema imunitário
que se assemelha com SCID sem ter impacto directo nos linfócitos circulantes. Por exemplo, sem
as moléculas de MHC de classe 2, a selecção positiva de linfócitos CD4+ no timo é prejudicada e
consequentemente as respostas mediadas por linfócitos T helper.
Mutações nos genes TAP podem levar à não expressão de moléculas de MHC de classe 1.
Defeitos no desenvolvimento do timo
Algumas síndromes que afectam as células T advêm da falha do desenvolvimento do timo. A
síndrome de DiGeorge é um exemplo. Esta síndrome resulta de várias deleções numa região do
cromossoma 22 que apanham um dos genes mais influentes, o TBX1. Este codifica um factor de
transcrição essencial para o desenvolvimento correcto das estruturas da terceira e quarta bolsas
faríngeas, o que engloba o timo.
Síndrome de Wiskott-Aldrich (WAS)
O gene WASP codifica a proteína WAS necessária para a montagem e reorganização dos
filamentos de actina nas células da linhagem hematopoiética, importante para a formação de
sinapses imunitárias e para a sinalização intracelular. Mutações neste gene causam WAS. As

141
manifestações clínicas mais comuns são eczemas, trombocitopenia, defeitos na imunidade
humoral e na imunidade mediada por células e infecções recorrentes.
Síndrome de Hiper IgM
Resulta de uma deficiência no ligando CD40 (CD40L ou CD154) que leva a uma deficiente
comunicação entre as células T e as células apresentadoras de antigénios. As células T helper
não expressam o ligando CD40L funcional na sua membrana plasmática, que normalmente
interage com a molécula CD40 presente na superfície das células B e das células dendríticas. Esta
ligação é essencial para a activação das células apresentadoras de antigénios e a ausência da sua
expressão nas células B interfere na mudança de classe de anticorpo, na resposta a antigénios
dependentes de células T e na produção de células de memória. Contudo, as células B
respondem a antigénios independentes de células T como demonstram os níveis normais a
elevados de IgM. Pessoas com esta patologia têm infecções recorrentes, predominantemente
no tracto respiratório.
Síndrome de Hiper IgE (Síndrome de Job)
Resulta frequentemente da mutação do gene STAT3 que está envolvido na cascata de
sinalização induzido por IL-6 e TGF-β, importante para a diferenciação de linfócitos T helper tipo
17. A sua ausência leva à desregulação da via de desenvolvimento dos linfócitos T helper e pode
ser a razão de sobreprodução de IgE. Doentes com esta síndrome têm níveis baixos de linfócitos
T helper tipo 17 circulantes (importantes na clearance de infecções fúngicas e bacterianas
extracelulares) e as células naive não são capazes de produzir IL-17 e IL-22 em resposta a
estimulação antigénica. Defeitos neste gene levam também à inibição da sinalização
desencadeada pela IL-10 e do desenvolvimento de linfócitos T reguladores, daí que o seu
número seja baixo.

Imunodeficiências que envolvam células B exibem uma produção baixa de uma ou


mais classes de anticorpos
Imunodeficiências que envolvam células B exibem-se de diversas formas desde a ausência total
de linfócitos B, plasmócitos e imunoglobulinas até à ausência selectiva de uma classe de
anticorpos. Doentes com destas imunodeficiências sofrem de infecções bacterianas recorrentes
e mostram uma imunidade normal contra a maioria dos vírus e fungos, já que a sua imunidade
mediada pelos linfócitos T não está afectada.
Agamaglobulinemia ligada ao X (X-LA)
A X-LA ou a hipogamaglobuninemia de Bruton’s é caracterizada por uma grande baixa de IgG e
a ausência das restantes classes de imunoglobulinas. Normalmente não existem células B
periféricas e sofrem de infecções bacterianas recorrentes. Esta patologia é causada por defeitos
na tirosina cinase de Bruton’s (Btk) que é necessária para a transdução de sinais através dos
receptores BCR. Sem esta enzima funcional, no desenvolvimento dos linfócitos B estes ficam na
fase pré-linfócito B com as cadeias pesadas reorganizadas, mas com as cadeias leves na sua
forma germinativa.
Imunodeficiências variáveis comuns (CVIDs)
Pessoas com doenças deste grupo têm em comum as infecções recorrentes (especialmente
causadas pelas estirpes bacterianas mais frequentes nas infecções respiratórias) resultantes da
imunodeficiência marcada pela redução nos níveis de uma ou mais classes de anticorpos e pela
deficiente resposta das células B aos antigénios.
As causas destas doenças são muito variáveis.

142
Deficiência selectiva de IgA
Pessoas com esta deficiência apresentam níveis normais de todas as classes de anticorpos e com
baixa na classe de anticorpos IgA. Os sintomas mais frequentes são infecções do tracto
respiratório e genitourinário, locais primários de secreção de IgA. A causa desta patologia está
relacionada com a incapacidade dos linfócitos B sofrerem uma normal diferenciação em
plasmócitos secretores de IgA.

Disfunções dos componentes da imunidade inata podem ter impacto nas respostas
adaptativas
Muitos dos defeitos do sistema imune inato ocorrem na linhagem mielóide ou no sistema
complemento. Muitos destes defeitos resultam num número baixo de fagócitos ou num defeitos
na fagocitose que são manifestados por infecções recorrentes. A fagocitose pode falhar em
várias fases incluindo na motilidade dos fagócitos, a aderência destes aos microorganismos ou
na morte intracelular por macrófagos.
Deficiência da adesão leucocitária (LAD)
Uma deficiência relacionada com a disfunção das moléculas de adesão tem origem num defeito
localizado nas cadeias β comuns e afecta a expressão das três moléculas que usam esta cadeia
(CD11a ou LFA-1; CD11b ou Mac-1; CD11c ou gp150/95). Esta deficiência leva ao aumento da
susceptibilidade a infecções bacterianas e a várias fúngicas, já que o recrutamento de leucócitos
aos locais de inflamação está comprometido. A imunidade vírica é também afectada dado a uma
deficiente interacção entre células B e T.
Doença granulomatosa crónica (CGD)
Esta doença tem impacto na fagocitose e tem duas formas distintas, uma ligada ao X e uma
autossómica recessiva. Este grupo de doenças tem origem num defeito na via oxidativa do
fosfato dinucleótido adenina nicotinamida (NADPH) (ausência ou defeitos na proteína
fagossoma oxidase (phox)) pela qual os fagócitos geram radicais superóxido e outros compostos
reactivos que matam patógenos fagocitados. Estes doentes sofrem de infecções bacterianas e
fúngicas recorrentes e uma resposta inflamatória excessiva que leva à formação de granulomas
(pequena massa de tecido inflamado).
Síndrome de Chediak-Higashi (CHS)
Esta síndrome é caracterizada por infecções bacterianas recorrentes e defeitos na coagulação,
pigmentação e função neurológica. Os sinais que caracterizam esta síndrome são a baixa de
neutrófilos e um comprometimento das células T, NK e granulócitos. Esta síndrome tem origem
numa mutação do gene regulador de tráfico lisossomal (LYST) que causa defeitos na proteína
LYST que é importante para o transporte de proteínas para os lisossomas e para controlar o seu
tamanho, função e movimento.

Deficiências do sistema complemento são relativamente comuns


Estas imunodeficiências podem se manifestar de variadíssimas formas dependendo do
componente do sistema complemento que está afectado. A maioria das deficiências estão
associadas a um aumento da susceptibilidade a infecções bacterianas e/ou a doenças causadas
por imunocomplexos.

143
Imunodeficiências que levem à disfunção da regulação imunitária podem
manifestar-se como doenças auto-imunes
Poliendocrinopatia auto-imune e distrofia ectodérmica
Resulta da mutação do gene regulador AIRE que expressa a proteína AIRE. Esta proteína é
expressa nas células epiteliais tímicas, onde actua como um factor de transcrição que controla
a expressão de todos os antigénios restritos a tecidos do hospedeiro facilitando a selecção
negativa. Uma redução dos níveis desta proteína leva a uma redução dos níveis dos antigénios
específicos dos tecidos nas células epiteliais tímicas permitindo que células T autoreactivas
escapem e vão para a periferia.
Pacientes com esta patologia têm uma inibição da função endócrina, dada a autoreactividade
de linfócitos T aos órgãos endócrinos, e candidíase crónica. Autoanticorpos também podem ser
observados.
Síndrome da Desregulação imunitária, Poliendocrinopatia e Enteropatia ligada ao X
(IPEX)
Doentes com IPEX têm uma mutação no gene FoxP3 que expressa a proteína foxP3 que controla
o desenvolvimento e função de linfócitos T reguladores que destroem as células T que forem
autoreactivas. A falta de expressão desta proteína leva à ausência dos linfócitos T reguladores
permitindo a passagem de linfócitos T autoreactivos para a periferia levando a uma doença auto-
imune sistémica que leva à destruição da bexiga, pâncreas, tiróide e pele.

Imunodeficiências são tratadas por terapia de reposição


Apesar de não haver cura para estas patologias existem alguns tratamentos possíveis. Estes
tratamentos incluem-se em três grupos:
 Reposição de uma proteína em falta;
 Reposição de um tipo celular ou linhagem;
 Reposição de em gene defeituoso ou em falta;
Estas reposições podem ser feitas através da ingestão ou via intravenosa, utilização de
clones, transplantação de medula óssea ou terapia génica.

IMUNODEFICIÊNCIAS SECUNDÁRIAS
Estas imunodeficiências têm várias causas possíveis desde a infecções virais como o vírus HIV
como o tratamento por medicamentos, doenças metabólicas ou má nutrição. Os sintomas mais
frequentes incluem aumentos da susceptibilidade a agentes infecciosos comuns e, por vezes,
algumas infecções oportunistas. Tudo depende do grau de imunossupressão e os factores de
susceptibilidade inerentes ao hospedeiro.

Hipogamaglobulinemia
Doentes com esta patologia manifestam infecções recorrentes e normalmente surge em adultos
jovens que têm níveis muito baixos de imunoglobulina total com normal função e número dos
linfócitos T. Geralmente é tratada com terapia de reposição de imunoglobulinas.

Imunodeficiência induzida por agentes


Resulta de uma exposição de agentes ambientais que induzem um estado de imunodeficiência.
Pode resultar de drogas imunossupressoras usadas no combate a doenças auto-imunes, drogas
citotóxicas ou radioterapia dado a doentes com cancro.
Idades extremas (muito novo/muito velho) também são factores que induzem uma
imunodeficiência secundária fisiológica. Nos bebés, pois os sistemas de imunidade inata e

144
adquirida necessitam de mais algum tempo de maturação. Nos idosos, já que a imunidade
mediada por células está geralmente mais diminuída e a variabilidade do reportório de células
B diminui.
Outras causas comuns de imunodeficiência secundária são a má nutrição que afecta a
imunidade inata e adquirida:
o Hipoproteinémia está associada à depressão no número e função das células T;
o Insuficiência nos micronutrientes (zinco e vitamina C, por exemplo) contribui para uma
imunodeficiência geral e um aumento da susceptibilidade de infecções oportunísticas;
o Deficiência de vitamina D está ligada à inibição da abilidade dos macrófagos agirem
contra patógenos intracelulares

HIV / AIDS
O Vírus da Imunodeficiência Humana Adquirida (HIV-1) é o causador do Síndrome de
Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Foi descoberto em 1981, em doentes com infecções
oportunistas raras e com uma grande diminuição dos níveis de linfócitos CD4. Desde a sua
descoberta, a incidência tem vindo a aumentar de forma epidémica, atingindo os 35,3 milhões
de infectados e 36 milhões de mortos no final de 2012 (WHO). Inicialmente afectava sobretudo
homens, mas a incidência no sexo feminino está a aumentar drasticamente.
A transmissão do HIV é feita por três tipos de vias principais, sobretudo através da transmissão
de células infectadas com o HIV; estes mecanismos não estão ainda totalmente conhecidos
o Contacto sexual: por ordem decrescente de probabilidade de transmissão, sexo anal,
sexo vaginal (75% de todas as inoculações), contacto dos fluidos sexuais com a mucosa
oral;
o Sangue infectado;
o De mãe para filho: através do sangue no parto ou do leite na amamentação.

Características básicas do vírus HIV-1


O HIV é um retrovírus, tendo a informação genética na forma de RNA que é convertida pela
Transcriptase Reversa em DNA. O DNA integra-se no genoma celular e é expresso. Quando os
viriões montados no citoplasma saem da célula provocam lise celular, incorporam parte da
membrana do hospedeiro formando o seu invólucro lipídico, onde se localizam as proteínas de
adesão e invasão.
O HIV é praticamente restrito a humanos, devido à especificidade dos receptores celulares e
dependência de factores essenciais à sua replicação. As proteínas de membrana do HIV
interagem fortemente com os receptores CD4, sendo as células com este receptor as infectadas
pelo vírus. Assim, o HIV infecta predominantemente linfócitos T helper, monócitos e
macrófagos.

Ciclo de replicação viral


1. Adesão: ligação do gp120 ao CD4 da célula alvo;
2. Fusão do invólucro viral com a membrana plasmática é mediada pela ligação da gp41
do vírus ao receptor de quimiocinas CXCR4 dos linfócitos T ou ao CCR5 dos monócitos.
O aumento de algumas quimiocinas pró-inflamatórias aumenta a expressão de CXCR4,
susceptibilizando a célula ao vírus, enquanto outras vão competir com o vírus pela
ligação a este receptor, diminuindo a susceptibilidade ao vírus.
3. Retrotranscrição do RNA do vírus em cDNA graças à TR viral. Incorporação do pró-vírus
(DNA) no genoma pela integrasse viral.

145
4. Expressão do DNA viral (factores de transcrição necessários) e maturação das proteínas
virais por clivagem no citoplasma.
5. Libertação das muitas partículas virais, com lise celular.
Frequentemente, os gp120 expressos na membrana plasmática de uma célula infectada vão
interagir com os CD4’s de células adjacentes. Isto e a co interacção com outras proteínas provoca
a fusão das duas membranas, provocando a formação de sincícios, que constituem grandes
massas multinucleadas. Os vírus HIV podem assim ser classificados em:
o Indutores de sincícios – infectam sobretudo Linfócitos T helper;
o Não indutores de sincícios – infectam sobretudo macrófagos e monócitos.
Também se pode classificar de forma equivalente o HIV pela sua afinidade para os receptores
CXCR4 e CCR5.

146
Evolução da infecção – de HIV a AIDS
1. Evento de infecção inicial e captura
por células dendríticas;
2. Células dendríticas transportam vírus
até órgãos linfóides e apresentam-no
a linfócitos T helper;
3. O vírus e as células dendríticas
activam os linfócitos T, que se podem
então tornar hospedeiros do HIV. O
tempo de semi-vida de linfócitos
infectados será de apenas 1,5 dias,
dificultando a sua identificação;
4. O HIV infecta rapidamente as
grandes populações de linfócitos T
CD4 nos órgãos linfóides, a virémia
aumenta e a contagem linfócitária
diminui – fase aguda;
5. Início da resposta imunitária, muito
forte e envolvendo linfócitos
citotóxicos (resposta celular) e
anticorpos anti-HIV (resposta
humoral). Esta resposta estabiliza a
diminuição população CD4 e a
virémia cai – seroconversão;
6. A infecção entra na sua fase crónica, com uma duração de anos, em que o
sistema imunitário limita parcialmente a progressão da infecção. No entanto, é
de destacar que embora a virémia permaneça baixa, a multiplicação activa do
vírus nos órgãos linfóides continua e vai acelerando ao longo da fase crónica,
como demonstram os níveis de linfócitos CD4. Os gráficos indicam ainda que é
possível prever o prognóstico da doença e a duração da fase crónica
(maioritariamente assintomática) pela medição destes 2 indicadores.
7. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, caracterizada por alterações
profundas na resposta imunitária, caracterizadas pela tabela 19-4;
8. Infecções oportunistas que irão causar a morte do organismo hospedeiro.

147
Diagnóstico
O diagnóstico da infecção de HIV tem essencialmente duas vertentes: o diagnóstico serológico,
que pode ser feito após a fase de seroconversão, uma vez que detecta a presença de anti-corpos
HIV pelo método ELISA, e o diagnóstico clínico, que divide o estágio da doença nas categorias
A, B e C, listadas na tabela 20-3. Estas categorias têm em conta o tipo e quantidade de infecções
oportunistas e a contagem de células T

Tratamento
O tratamento farmacológico do HIV é diverso e permite hoje em dia travar a progressão da
doença e melhorar a quantidade e qualidade de vida, apesar dos seus extensos efeitos
secundários. Os fármacos mais utilizados incluem
o Inibidores da Transcriptase reversa - análogos nucleosídicos e não nucleosídicos;
o Inibidores da protease;
o Inibidores da fusão.

148
Desenvolvimento de uma vacina
Estão em desenvolvimento várias vacinas que procuram imunizar contra o HIV, mas as
características do vírus dificultam esta tarefa por vários motivos, nomeadamente
o Elevada taxa de mutação do vírus;
o Dificuldade em criar uma forma atenuada do vírus que mantenha a antigenicidade;
o Dificuldade em proteger contra a transmissão pelo trato genitlal;
o Ausência de modelos animais adequados;
o Escassez de casos de recuperação natural de doentes, essenciais para o
desenvolvimento de outras vacinas.

149
TOLERÂNCIA E AUTO-IMUNIDADE (CAP. XX)
TOLERÂNCIA
Um linfócito diz-se tolerante a um a antigénio quando não desencadeia uma resposta imunitária
perante a sua apresentação.
Os antigénios capazes de induzir tolerância em linfócitos são designados tolerógenos, por
oposição aos antigénios que desencadeiam resposta imunitária, que se dizem Imunógenos. No
entanto, a resposta ou não-resposta que um antigénio induz depende:
 Do Ag: natureza e concentração (maiores doses de Ag induzem tolerância);
 Da especificidade do linfócito;
 Da forma de apresentação e do microambiente: presença de co-estimuladores e
adjuvantes à resposta imunitária (p.e. citosinas inflamatórias), forma de apresentação e
porta de entrada no organismo.
Os mecanismos de tolerância protegem-nos assim de linfócitos auto-reactivos, e dividem-se em
dois grandes grupos:
 Tolerância central – delecção selectiva de clones T e B imaturos que reagem com alta
afinidade contra antigénios próprios, i.e., que são específicos para antigénios do
organismo. Ocorre nos órgãos linfóides primários (medula óssea para Linfócitos-B e timo
para T). Este processo não elimina todos os linfócitos auto-reactivos, porque (1) nem
todos os antigénios próprios são apresentados nos órgãos primários e (2) linfócitos com
afinidade fraca para Ag’s self completam o seu processo de maturação, podendo dar-
lhes futuramente uma resposta imunitária em determinadas condições e ambientes.
 Tolerância periférica – inactivação (indução de anergia) ou delecção de linfócitos que
reagem com antigénios próprios após maturação. É característica dos linfócitos T, uma
vez que os linfócitos B, mesmo reconhecendo um antigénio próprio, não produzem
resposta na ausência de estímulo por parte das células Thelper. Mecanismos de
tolerância periférica incluem:
o Supressão: inactivação de células T por células T reguladoras, com afinidade
média para auto-antigénios. Regulada por citosinas, como IL-10 e TGF-Beta;
o Inibição: inactivação de células T por ligação ao CD80 da APC (antigen-
presenting cell) através do CD152 e não do CD28 como na resposta imunitária
normal;
o Delecção: delecção do linfócito T por ligação à célula APC através do Fas/Faz-
ligando, indutora da apoptose;
o Ignorância imunológica: não apresentação de alguns antigénios às células T, que
assim não conseguem produzir qualquer resposta. Muito importante no
organismo, sendo as barreiras hemato-encefálica e a hemato-testicular algumas
das mais importantes barreiras que permitem a ignorância imunológica de
antigénios “self”.

151
AUTO-IMUNIDADE
Resposta inadequada do sistema imunitário contra antigénios próprios. Caracteriza-se pela falha
dos sistemas de tolerância, conduzindo a uma resposta aberrante a um antigénio ou a alterações
da selecção e maturação linfocitária. Pode estar, ou não, associada a imunodeficiência.
As doenças auto-imunes podem classificar-se em Órgão-Específicas Sistémicas, consoante a
localização do antigénio alvo está restrita a um local ou é generalizada no organismo.

Mecanismos propostos para a auto-imunidade


A sequência de eventos que conduz à doença auto-imune é muito variada e não é ainda clara.
Sabe-se que que na base das doenças auto-imunes estão contribuições genéticas (por exemplo,
ao nível dos genes do HLA e do sistema do complemento) assim como factores ambientais. A
incidência é de modo geral maior nas mulheres de idade fértil, devido ao efeito estimulador dos
estrogénios sobre o Sistema Imunitário.
Alguns dos “triggers” ambientais mais comuns para a doença auto-imune são: (1) a exposição
de linfócitos a antigénios dos quais estão normalmente isolados por barreiras, i.e., falha da
Ignorância Imunológica e (2) mimetismo molecular de antigénios humanos por parte de vírus ou
outros micróbios, e (3) expressão inapropriada de moléculas de MHC II em células não-
apresentadoras de antigénios.
Os mecanismos de activação e mobilização do Sistema Imunitário contra os antigénios “Self”
que caracterizam a doença auto-imune são essencialmente três, e iniciam-se quase sempre com
a apresentação de antigénios pelas células APC aos linfócitos T CD4 (T helper). Uma vez
activadas, estas podem:
 Activar macrófagos, produzindo uma reacção inflamatória contra as células com o Ag;
 Activar células T citotóxicas, produzindo dano celular directo;
 Activar Linfócitos B, que vão produzir auto-anticorpos contra o Ag self.

152
Doenças auto-imunes órgão-específicas
Envolve manifestações associadas ao dano ou disfunção de um órgão-específico. Este dano pode
ser directo, por ligação de linfócitos ou anticorpos a antigénios de membrana e consequente lise
da célula, ou indirecto, por ligação de anticorpos a receptores e estimulação consequente de
uma função celular indevida ou do crescimento celular exacerbado. Aqui ficam alguns exemplos
destas doenças.
 A Diabetes Mellitus Insulino-dependente caracteriza-se pelo ataque auto-imune às
células Beta-pancretáticas e sua destruição. Esta é mediada inicialmente pelas células T
citotóxicas, que vão libertar citosinas e activar macrófagos, responsáveis pela destruição
celular. Os auto-anticorpos produzidos por linfócitos B auto-reactivos activados vão
facilitar também fenómenos de lise celular mediada pelo complemento. Tudo isto
resulta num défice permanente de insulina;
 A Síndrome de GoodPasture caracteriza-se pela presença de auto-anticorpos anti-
membrana basal que se ligam e acumulam no glomérulo renal e nos alvéolos
pulmonares. Estes levam à activação do complemento e consequente dano celular,
provocando uma reacção inflamatória que irá provocar hemorragias e danos
pulmonares e renais permanentes, provocando a morte em meses;
 A Doença de Graves não é, ao contrário das anteriores, provocada por dano celular
directo por parte do S.I.. Caracteriza-se pela produção de auto-anticorpos que se ligam
ao receptor de TSH das células tiroideias e estimulam a produção de hormonas
tiroideias. Esta sobreestimulação da tiróide leva ao hipertiroidismo.

153
Doenças auto-imunes sistémicas
Nas doenças auto-imunes sistémicas, a resposta é direccionada contra antigénios presentes
num elevado número de tecidos e órgãos, reflectindo geralmente um defeito subjacente da
regulação imune que resulta em linfócitos B e T híper-reactivos. Aqui ficam alguns exemplos
destas doenças, de mecanismos variados e subtis.
 O Lúpus Eritematoso Sistémico caracteriza-se por um aumento da actividade
linfocitária e, paralelamente, a um défice na limpeza de resíduos celulares apoptóticos;
isto leva à exposição de antigénios intra-celulares e sobretudo nucleares, normalmente
protegidos pela ignorância imunológica. A apresentação por células APC a Linfócitos T
helper leva à activação de Linfócitos B e produção de uma panóplia de auto-anticorpos
específico, que vão levar à deposição de imunocomplexos nos vasos e à destruição
celular mediada pelo complemento. Isto provoca vasculite, glomerulonefrite, erupções
cutâneas e oclusão dos vasos que resulta em dano tecidual
generalizado;
 A Artrite Reumatóide é uma doença auto-imune comum que se caracteriza pela
produção de um grupo de auto-anticorpos – factores reumatóides – que podem activar
a cascata do sistema do complemento e provocar inflamação crónica das articulações e
sintomas cardiovasculares e hematológicos.

Tratamento das doenças auto-imunes


As terapias actuais centram-se no combate aos sintomas, mas podem frequentemente incluir
plasmaferese e imunossupressores. A administração oral do antigénio pode aumentar a
tolerância a este. Os antagonistas do TNF-alfa têm mostrado bons resultados no controlo da
artrite reumatóide, psoríase e doença de Crohn.

154
IMUNOLOGIA DA TRANSPLANTAÇÃO (CAP. XXI)
Transplantação (em imunologia): acto de transferir células, tecidos ou órgãos de um local para
outro, entre dador e receptor.
A transplantação surge da ideia de que implantar um tecido saudável (enxerto) de um indivíduo
(dador) em um outro que dele necessite (receptor) é a cura. Isto só foi possível com o
desenvolvimento da cirurgia, mas tem vários problemas, nomeadamente ao nível da falta de
órgãos para transplante. Os problemas relacionados com a imunologia são também muito
sérios, fazendo com que o conhecimento dos mecanismos envolvidos esteja na base do sucesso
desta prática. Esses mecanismos estão envolvidos não só na protecção do ataque por agentes
estranhos, como também na rejeição dos enxertos provenientes de um qualquer dador que não
seja geneticamente idêntico ao receptor.
O primeiro transplante com sucesso em humanos, realizado em Boston em 1954, foi um
transplante de rim entre irmãos gémeos monozigóticos. Actualmente fazem-se transplantes de
rim, pâncreas, coração, pulmão, fígado, medula óssea e córnea, alguns entre indivíduos não-
idênticos e com taxas crescentes de sucesso. Grande parte deste sucesso deve-se aos
imunossupressores, fármacos e anticorpos específicos que ajudam a prolongar a vida do
enxerto; têm no entanto uma acção imunossupressora deletéria quando usados a longo prazo.
Novos métodos incluem a indução de tolerância ao enxerto sem causar a imunossupressão de
outras respostas do indivíduo, aumentando a eficácia do transplante sem comprometer o SI do
receptor.

BASES IMUNOLÓGICAS DA REJEIÇÃO DE ENXERTOS


Tipos de enxertos:
 Autólogo/Autoenxerto – provém do indivíduo que o recebe, transplante de uma para
outra parte do corpo.
 Singénico/Isoenxerto – transferência entre indivíduos geneticamente idênticos (p. ex.
gémeos monozigóticos)
 Alogénico/Aloenxerto – entre indivíduos geneticamente diferentes, mas pertencentes
à mesma espécie.
 Xenogénico/Xenoenxerto – entre indivíduos de espécies diferentes. Como existe
grande escassez de órgãos para transplante, a criação de animais para doação de
órgãos começa a ser uma hipótese a considerar.
Os autoenxertos e isoenxertos costumam ter sucesso junto do receptor, devido à proximidade
genética; os aloenxertos facilmente são reconhecidos como estranhos e rejeitados pelo sistema
imunitário; os xenoenxertos têm ainda menor semelhança genética, o que causa uma rejeição
ainda mais rápida e exacerbada.

A rejeição de Aloenxertos tem ESPECIFICIDADE e MEMÓRIA


Cada tecido tem uma taxa de rejeição de aloenxertos – essa rejeição é mais rápida na pele que
em outros tecidos, como o rim ou coração. Apesar disso, a rejeição apresenta sempre
especificidade e memória (exemplo):
1. Transplante de enxerto tipo A em rato tipo B – REJEIÇÃO PRIMÁRIA  revascularização
da área, infiltração de linfócitos, monócitos, neutrófilos, … (dias 3-7); ↓da
vascularização (dias 7-10); necrose (dia 10); rejeição completa (dias 12-14).

155
2. MEMÓRIA – novo transplante do mesmo tipo de tecido provoca rejeição mais rápida (5-
7 dias) – REJEIÇÃO SECUNDÁRIA.
 ESPECIFICIDADE – se um enxerto tipo C for transplantado ao mesmo tempo que o A
(pela segunda vez), a rejeição será secundária para o A e primária para o C  a rejeição
apresenta especificidade de tecido.

Linfócitos T: Papel central na rejeição de Aloenxertos


Sabe-se que são os linfócitos T, não os anticorpos e linfócitos B, que estão implicados na rejeição
de enxertos. Apenas os linfócitos T e não os anticorpos podem transferir a imunidade a
aloenxertos, ou seja, são os linfócitos T os responsáveis pela memória e especificidade.
Tanto as subpopulações TCD4+ como as CD8+ estão envolvidas no processo. Os linfócitos T CD8+
parecem estar menos implicados (a sua remoção não afecta a sobrevivência do enxerto) que os
CD4+ (a sua remoção prolonga o tempo de sobrevivência do enxerto antes da rejeição); se os
linfócitos CD4+ e CD8+ forem removidos, o tempo de sobrevivência do enxerto aumenta muito.
A presença de ambas as subpopulações, CD4+ e CD8+, resulta numa rejeição mais rápida.

HISTOCOMPATIBILIDADE: semelhança antigénica entre tecidos – não leva a rejeição. (≠


histoincompatibilidade – há indução da resposta imunitária e rejeição). Antigénios implicados
 MHC (Complexo major de histocompatibilidade).
Os genes do MHC são herdados dos progenitores em bloco, constituindo haplótipos. Existe
histocompatibilidade se o receptor partilhar pelo menos um haplótipo com o dador e se não
tiverem qualquer haplótipo diferente. Ou seja, mesmo que o receptor seja heterozigótico,
poderá aceitar transplantes de outro indivíduo que seja homozigótico para todos os loci do

156
haplótipo partilhado – situação que não acontece devido à elevada quantidade de
polimorfismos nestes genes. Assim, a semelhança entre pai e filho será de apenas 50%, uma vez
que o outro haplótipo (herdado da mãe pelo filho) difere entre eles; entre 2 irmãos será de
apenas 25%.
Maiores reacções de rejeição  Associadas a incompatibilidade de grupo sanguíneo e de

antigénios HLA (MHC). Assim, várias técnicas são usadas para analisar possíveis
correspondências compatíveis dador-receptor.
Primeiro, testa-se a compatibilidade ABO; estes Ag são expressos nas hemácias, células
endoteliais e epiteliais. Os anticorpos do receptor, ao contactarem com Ag incompatíveis deste
tipo, provocam lise mediada por anticorpos e pelo complemento nas células do dador.
Em segundo lugar, a caracterização do HLA dos dadores
potenciais e do receptor pode fazer-se por teste de
microcitotoxicidade. (Neste teste, células de ambos os
indivíduos são colocadas em vários poços, e são
acrescentados Ac anti-moléculas de alelos específicos do
MHC I e do MHC II nos diferentes poços. Depois de incubar,
adicionam-se proteínas do complemento e a cititoxicidade
é medida pela coloração ou não das células por azul-tripã
ou eosina (viabilidade celular). Se uma célula possuir a
molécula do alelo contra a qual actua o Ac, ocorre lise e a
célula inviável cora. Assim, podem analisar-se os diferentes
alelos dos indivíduos).
O transplante pode ser bem-sucedido sem compatibilidade
HLA completa (que é extremamente difícil de encontrar, só
entre gémeos monozigóticos – Singénicos). É usada uma
MLR (mixed lymphocyte reaction) para quantificar o grau
de compatibilidade entre indivíduos. Os linfócitos do dador
foram irradiados por rX ou tratados com mitomicina C e
servem como células de ESTIMULAÇÃO. Os linfócitos do receptor são células de resposta.
A proliferação dos linf. T do receptor, o que indica activação T, é medida pela ligação de timidina
radioactiva para o DNA:
 Maior diferença no MHC II entre dador e receptor  maior ligação de timidina
radioactiva no MLR.
 ↑activação indica ↓sobrevivência do enxerto.

157
A compatibilidade dos Ag do MHC II é mais
importante que a dos MHC I, que revela maiores
efeitos se houver incompatibilidade dos MHC II.
Transplantes de rim e medula óssea exigem
compatibilidade HLA mais rigorosa que os
transplantes de fígado e coração.

KIR – killer-inhibitory receptors, na superfície das


células NK, parece estar envolvido na rejeição; se
nenhum antigénio MHC I do dador for
reconhecido pelos KIR, a célula é destruída. Os
efeitos nos transplantes de órgãos sólidos são
menores que no transplante de medula óssea.

A compatibilidade MHC não é critério para o


sucesso do transplante – mesmo com Ags MHC
idênticos, incompatibilidades dos Antigénios
Minor de Histocomp. (MICA, antigénios menos
imunogénicos presentes no HLA) podem levar à
rejeição. O MHC é reconhecido directamente
pelos linf. Th e Tc (alorreactividade); no entanto,
os Ag minor de histocomp. são reconhecidos
apenas quando apresentados no contexto de moléculas MHC-self. A resposta de rejeição criada
por estes Ag é menor mas pode resultar na destruição do enxerto, criando a necessidade de
alguma imunossupressão mesmo em transplantes entre indivíduos HLA compatíveis.
Antes da Transplantação: estudar compatibilidade AB0, HLA/MHC, cross-match dador-receptor,
pesquisa de sensibilização prévia, determinação do haplótipo (para transplante de medula).

A rejeição de enxertos mediada por células ocorre em duas fases: Sensibilização e


Efectora
A rejeição é causada, em primeiro lugar, por imunidade mediada por células em resposta a
aloantigénios (moléculas MHC) nas células do enxerto. Estão implicadas tanto reacções de
hipersensibilidade tipo IV como de citotoxicidade mediada por células. Pode ser dividida em
duas fases:
 Fase de Sensibilização (via aferente) – os linfócitos do receptor reconhecem e reagem
contra os antigénios do dador; sensibilização de Linf. T naïve;
 Fase Efectora (via eferente) – destruição, por mecanismos imunológicos, do enxerto.
Fase de Sensibilização: Os linfócitos CD4+ e CD8+ reconhecem (directamente) os aloantigénios
e proliferam em resposta. Há envolvimento dos antigénios dos complexos de
histocompatibilidade major e minor. Quanto ao minor, a resposta é fraca, mas a combinação de
todas as respostas a Ag minor pode ser consideravelmente forte. A resposta a antigénios MHC
implica o reconhecimento da molécula MHC do dador e do ligando peptídico presente na fenda
da molécula MHC (tipo I) do dador, peptídeo que provém de proteínas sintetizadas com a célula
alogénica. No caso dos peptídeos na fenda da molécula MHC tipo II, provêm geralmente de
proteínas processadas pela via de endocitose da APC (Antigen-presenting cell) alogénica.

158
Uma célula Th do receptor fica activada quando interage com uma APC que expressa
simultaneamente o complexo antigénio-molécula MHC e envia o sinal co-estimulatório.
Diferentes células funcionam como APC, em diferentes tecidos. As células dendríticas existem
na maioria dos tecidos e expressam altos níveis de MHC II à superfície; são, por isso, as APC mais
frequentes nos enxertos. As APC do hospedeiro podem também migrar para o enxerto e
endocitar aloantigénios (do MHC e minor) e apresentá-los com moléculas MHC-self.

Estimulação imunitária - Em alguns órgãos e enxertos (p. ex. rim, timo, ilhéus pancreáticos)
existe evidência de que uma população de APC do dador – passenger leukocytes – migra do
enxerto para os nódulos linfáticos regionais. Estes “passenger leukocytes” são células
dendríticas, com níveis ↑de MHC II e Normais de MHC I à superfície. São células disseminadas
por todos os tecidos de mamíferos excepto o cérebro; há evidências de que, como expressam
os Ag MHC do dador, são reconhecidos como non self e induzem resposta, activando linf. T do
nódulo para onde migram; podem também induzir tolerância aos seus Ag de superfície por
delecção, no timo, dos linf. T com receptores específicos para eles.  CONCLUSÃO: há indícios
de que exposição prévia a células do dador pode induzir tolerância, o que é de algum modo
confirmado com resultados que mostram aumento da tolerância ao enxerto em transplantados
sujeitos, previamente, a uma transfusão de sangue do dador).

(No entanto, é de salientar que a exposição prévia a Ag histoincompatíveis do dador


desencadeia a sensibilização, o que no segundo contacto leva a rejeição secundária, mais rápida
e eficaz).

Os “passenger leukocytes” (células dendríticas) não são as únicas células envolvidas na


estimulação imunitária, além de que não actuam em enxertos de pele. As células de Langerhans
e as células endoteliais, ambas com expressão de MHC I e II, estão também envolvidas no
processo.
O reconhecimento de aloantigénios nas células do enxerto induz uma grande proliferação de
linf. T no receptor, principalmente Th (CD4+)  os linf Th têm assim um papel central na fase
efectora da rejeição. Os linfócitos T reconhecem directamente os Ag do MHC II e os peptídeos
expressos à superfície das APC do dador, as APC do dador são reconhecidas SEM
PROCESSAMENTO resposta mais rápida.
Portanto, estão envolvidos na sensibilização:
 Moléculas HLA/MHC classe I e II do dador (reconhecimento directo) e do receptor
(apresentação de outras moléculas);
 Proteínas e peptídeos do dador;
 APC do dador (reconhecidas directamente) e do receptor (apresentação de outras
moléculas); células parenquimatosas do enxerto activação dos linf. T naïve;
 Linf. T do receptor (CD4 e CD8) (sensibilização, activação e passagem para a fase
seguinte).
Fase Efectora: ocorre por vários mecanismos:
 Mais frequente é a resposta mediada por células, nomeadamente Hipersensibilidade
tipo IV (retardada, celular) e citotoxicidade mediada por CTL (cytotoxic T lymphocyte,
CD8+).

159
 Menos frequente é a lise por anticorpos e sistema complemento e a ADCC –
citotoxicidade mediada por células e anticorpos.
Existe grande infiltração de linfócitos T e macrófagos para o enxerto, semelhante
histologicamente à observada em reacções de hipersensibilidade retardada (tipo IV – DTH,
delayed type hypersensitive response). Na DTH as citocinas produzidas pelos linf. T promovem
a infiltração de macrófagos. O reconhecimento de Ag do MHC I pelas TCD8+ do receptor leva a
citotoxicidade mediada por CTL. (Por vezes, algumas TCD4+ que funcionam como células
citotóxicas restritas ao MHC II medeiam a rejeição também). Em cada um destes mecanismos,
as citocinas libertadas pelos linf. T têm um papel central – IL-2, IFN-γ e TNF-β, particularmente.
 IL-2 – proliferação T; criação de CTL efectoras;
 IFN-γ – desenvolvimento da DTH; infiltração de macrófagos para o enxerto e activação
em células mais destrutivas;
 TNF-β – efeito citotóxico directo nas células do enxerto.
Várias citocinas promovem a rejeição  levam à expressão de MHC I ou MHC II em vários tipos
de células do enxerto:
 IFN-α, β, γ; TNF-α, β  ↑MHC I à superfície celular.
 IFN-γ  ↑MHC I e II à superfície celular.
 Durante a rejeição os níveis destas citocinas ↑
 P. ex, antes da reacção apenas as células dendríticas expressam MHC II nos transplantes
cardíacos de rato, enquanto após a libertação de IFN-γ os miócitos e células endoteliais
passam a expressar também, marcando-as para ataque por CTL.

Manifestações Clínicas da
rejeição (imunológica! )
O tempo em que a rejeição
ocorre depende do tipo de
tecido ou órgão em causa e
da reacção que ocorre.
 Hiperaguda – nas 24
h após transplante;
 Aguda – começa nas
primeiras semanas
após transplante;
 Crónica – ocorre
meses a anos após
transplante.
Anticorpos pré-existentes no
receptor Rejeição
hiperaguda: em situações
pontuais, um transplante é
rejeitado tão rápido que o
enxerto não chega a criar
vascularização. Isto ocorre pela presença de Acs no soro do receptor, específicos contra os Ags
do enxerto. Os complexos Ag-Ac formados activam o sistema do complemento, levando à

160
infiltração de neutrófilos no enxerto. Esta reacção inflamatória leva à formação de coágulos nos
capilares, evitando a vascularização do enxerto.
Há vários mecanismos para a formação destes anticorpos pré-existentes contra os Ag MHC
alogénicos – receptores de transfusões sanguíneas repetidas, p. ex, têm no soro quantidades
significativas de anticorpos contra os Ag MHC nos leucócitos do sangue transfundido. Se o MHC
do enxerto for igual ao das células sanguíneas, os Ac reconhecem e atacam mais rapidamente o
tecido estranho; mulheres com múltiplas gestações estão expostas a células fetais, com Ag
paternos, produzindo Ac contra eles; indivíduos que receberam um primeiro transplante e
recebem de novo, do mesmo dador ou de outro semelhante, têm também uma sensibilização
prévia.
Por vezes, os Ac pré-existentes são específicos para os Ag sanguíneos do enxerto; assim, é
necessária a caracterização do grupo sanguíneo e do tecido antes do transplante, evitando
enxertos que resultariam em rejeição hiperaguda. Para evitar esta reacção inesperada faz-se o
Cross-Match dador-receptor, pesquisando Ac pré-formados. (Os Xenotransplantes são
frequentemente rejeitados por este mecanismo).
Além da rejeição hiperaguda mediada por Ac pré-existentes, há a “accelerated rejection”, levada
a cabo por Ac produzidos imediatamente após o transplante.
Rejeição Aguda é mediada por respostas dos linfócitos T: começa cerca de 10 dias após
transplante; infiltração massiva de linfócitos e macrófagos no local de destruição – activação Th
e proliferação. Efectuada pelos mecanismos descritos anteriormente.
Rejeição Crónica ocorre meses a anos após o transplante: surge depois de uma rejeição aguda
diminuir de intensidade; efectuada por mecanismos humorais e celulares. Enquanto o uso de
imunossupressores aumenta bastante a sobrevivência a curto prazo do enxerto (até ao primeiro
ano), pouco ou nada faz com a sobrevivência a longo prazo – não previne a rejeição crónica. Este
tipo de rejeição não é prevenido com imunossupressores e pode levar à necessidade de outro
transplante a longo prazo.

Terapia Imunossupressora (No Geral)


Transplantes alogénicos normalmente requerem imunossupressão. A imunossupressão não é
especifica para os antigénios do enxerto, causando uma susceptibilidade sistémica
(particularmente dos tecidos e órgãos de maior risco) a infecções e descontrolo da proliferação
celular. Alguns destes fármacos causam diminuição da proliferação de linfócitos activados. No
entanto algumas células de divisão rápida, não pertencentes ao SI (p. ex. células do epitélio do
tubo digestivo ou células hematopoiéticas da medula óssea), podem ser também afectadas,
levando a complicações mais ou menos graves. Os indivíduos sujeitos a esta terapia têm risco
aumentado de cancro, hipertensão e problemas no metabolismo ósseo.
 Inibidores mitóticos diminuem proliferação T: por exemplo a azatioprina (dada antes
do transplante, essencialmente), que diminui a proliferação T por inibição, na fase S do
ciclo celular, de um passo da formação de bases purínicas; diminui a proliferação B
também; ciclofosfamida, um agente alquilante que se insere na dupla cadeia de DNA,
forma ligações cruzadas e leva à disrupção – é muito activa contra células de divisão
rápida e é dada na altura do transplante; metotrexatoactua como antagonista do ác.
Fólico, inibindo a síntese de purinas.

161
o A inibição mitótica não é específica, actua em várias células de divisão rápida,
logo estes fármacos podem levar a diminuição ou impedimento da maturação
de outras células.
 Corticosteróides suprimem inflamação: por exemplo a prednisona e a dexametasona,
potentes anti-inflamatórios, actuam em vários níveis da resposta imunitária; são dados
com inibidores mitóticos para diminuir episódios de rejeição aguda.
 Metabolitos fúngicos como imunossupressores: Ciclosporina A; FK506 (tacrolimus);
Rapamicina – ligam-se os três a proteínas imunofilinas no citoplasma, inibem a via da
calcineurina e NFAT. A Ciclosporina A e FK506 bloqueiam a activação de linf. T inibindo
a transcrição dos genes da IL-2 e os receptores IL-2 de alta afinidade (que são
essencialmente activadores); a Rapamicina inibe a proliferação e diferenciação de linf.
Th activados, na fase G1. Pela inibição dos linf. Th e suas citocinas, todos estes
metabolitos reduzem a activação de células efectoras como as Tc, NK, macrófagos e linf.
B. São potentes imunossupressores, com alguns efeitos secundários, como a toxicidade
para o rim; a FK506 e Rapamicina são mais potentes, logo podem administrar-se em
doses menores, com menor risco.
 A Irradiação dos tecidos linfóides elimina os linfócitos: porque os linfócitos têm uma
extrema sensibilidade aos raios-x, a irradiação por raios-x pode ser usada para eliminar
os linf. do receptor antes do transplante. O timo, baço e gânglios linfáticos são irradiados
por raios-x, destruindo os linfócitos; o transplante é feito neste estado de
imunossupressão; como a medula óssea não é irradiada, produz linfócitos para repor as
populações  estes linfócitos parecem ser mais tolerantes para os Ag do dador.

TERAPIA IMUNOSSUPRESSORA ESPECÍFICA – pretende evitar a imunossupressão (mais ou


menos) generalizada do receptor e diminuir o risco de infecção, uma vez que os outros métodos
de imunossupressão são inespecíficos. A imunossupressão específica consistirá em criar um
imunossupressor específico de antigénio, que reduza a resposta contra esse aloantigénio sem
alterar a capacidade do receptor para responder a outros antigénios. Não foi conseguida ainda
em humanos, mas já em experimentação animal, usando Ac ou ligandos solúveis reactivos com
moléculas de superfície.
Anticorpos Monoclonais – podem ser usados para retirar do receptor uma população celular ou
para bloquear sinais co-estimulatórios, induzindo anergia nos linf. T que reconhecem os Ag.
Ainda não é usada como terapia específica em humanos, mas a estratégia passa por atacar a
CD3 (todos os linf. T) ou o receptor IL-2 de alta afinidade (portanto, todos os linfócitos T
activados, anti-TAC) ou a CD25 (linf. Treg). Os Ac Monoclonais são usados também para tratar o
tecido a transplantar, evitando GVHD1. Os Ac mais eficazes para deplecção de células são os que

1
GVHD – Graft versus host disease  é a rejeição do enxerto sobre o receptor, ou seja, as
células do tecido transplantado rejeitam o receptor. Tem grande frequência nos transplantes de
medula óssea, em que o receptor está imunodeprimido (irradiação total) e não consegue fazer
qualquer reacção, mas continua a possuir antigénios contra os quais o dador reage. Caracteriza-
se por activação das cél. T do dador, produção de citocinas, reacções inflamatórias da pele, sist.
GI, fígado. As complicações incluem hemorragia GI, falência hepática. A prevenção passa por

162
activam o complemento. Podem criar-se Ac contra bastantes moléculas (de adesão, citocinas,
…) mas, muitas vezes, é preciso administrar Ac contra todas as moléculas de função redundante
(com a mesma função), como as moléculas de adesão; por outro lado, a maior parte do Ac
monoclonais são provenientes de ratos, levando à sua eliminação no humano.
Indução da Anergia por bloqueio de sinais co-estimuladores – O bloqueio do receptor B7 por
CTLA-4Ig solúvel (livre) permite BLOQUEAR a co-estimulação, induzindo ANERGIA nos linf. T
direccionados contra o enxerto; o uso de Ac monoclonais contra o CD40L tem o mesmo efeito;
a combinação de ambos, um efeito mais prolongado ainda. Estes mecanismos, em modelos
experimentais, aumentam a sobrevivência do enxerto a longo termo, sem comprometer a
eficácia das outras subpopulações de linf. T.

TOLERÂNCIA IMUNITÁRIA A ALOENXERTOS


Há circunstâncias em que o aloenxerto é aceite sem a necessidade de imunossupressão:
 Quando o tecido não tem aloAg (ex. cartilagem e válvulas cardíacas);
 Quando o local que recebe o enxerto está livre de vigilância imunitária (ex. córnea);
 Quando a tolerância imunitária foi biologicamente induzida, normalmente por
exposição prévia às células do dador (sem a reacção de sensibilização).
Alguns locais aceitam incompatibilidade antigénica – quando o local de destino do enxerto
não tem linfáticos nem vasos, não ocorre contacto dos Ag com linfócitos, não há sensibilização
e, portanto, não há resposta. São exemplos a câmara anterior do olho, a córnea, o útero,
testículo, cérebro. Há indícios de que o timo pode ser um destes locais também. Assim, foi
lançada uma nova área de investigação  transplantar células (ex. ilhéus de Langerhans) para
locais livres de vigilância imunitária, obtendo a sua função sem o risco de rejeição.
Exposição precoce a aloantigénios pode induzir tolerância específica – partindo da noção de
que a tolerância surge da exposição precoce aos Ag, há indícios de que a exposição neonatal a
Ag non-self pode induzir essa mesma tolerância, por meios naturais. O mesmo acontece para
células com um locus HLA incompatível entre mãe e filho, se houver contacto das células
maternas e fetais no desenvolvimento – o contacto estimula a tolerância se a incompatibilidade

eliminar total ou parcialmente as cél. T do dador no enxerto, criando uma GVHD atenuada, que
pode ser benéfica para o sucesso do transplante.

163
for baixa; o problema será que esta passagem pela placenta na gestação é rara e, portanto, a
tolerância a alelos maternos não herdados ocorre apenas esporadicamente.
Mecanismos de tolerância:
 Delecção clonal (diminuição do número de linfócitos);
 Anergia clonal (ex. CTLA-4Ig);
 Desvio da resposta imune (Th1 vs Th2) ou predomínio de citocinas supressoras;
 Células Treg – se Th fosse polarizado para Treg, haveria mais tolerância.

TRANSPLANTAÇÃO CLÍNICA
 O transplante de tecidos ou órgãos é o melhor ou até único tratamento para algumas
patologias;
 Os órgãos mais transplantados são, por ordem decrescente, o rim, medula óssea,
fígado, coração, pulmão, pâncreas; por vezes, transplantes simultâneos (ex. coração e
pulmão).
 O maior problema da transplantação “bem-sucedida” está relacionado com a terapia
imunossupressora: aumenta a sobrevivência do órgão a curto prazo mas vulnerabiliza
o doente a longo prazo e não evita a rejeição crónica;
 A rejeição crónica é uma grande causa de fracasso a longo prazo do transplante, uma
vez que o doente passa a necessitar de um novo órgão passados alguns anos do
transplante, aumentando a procura por órgãos compatíveis, tendo ainda a
desvantagem de estarem muitas vezes já sensibilizados; além disso, enquanto para
alguns transplantes (rim) é possível prolongar o tempo de espera (diálise), para outros
(ex. coração) não é possível.

XENOTRANSPLANTAÇÃO  se for conseguida uma xenotransplantação eficaz, poderá ser o fim


da escassez de órgãos para transplante. No entanto, apesar de algumas tentativas com órgãos
de primatas e de porco, nenhuma foi eficaz até ao momento. A reacção de rejeição é
hiperaguda. Além disto, poderá ser uma forma de transmissão de zoonoses, principalmente
entre espécies filogeneticamente próximas.

164
CANCRO E SISTEMA IMUNITÁRIO (CAP. XXII)
TRANSFORMAÇÃO MALIGNA DAS CÉLULAS
Alterações do DNA pode induzir transformação maligna de células
A transformação maligna de células pode ser induzida por várias substâncias químicas e radiação
ionizante. Todas estão ligadas a mutações no DNA e são no seu todo designadas por
carcinogéneos. A infecção por alguns vírus, nomeadamente aqueles que integram os seus genes
no DNA do hospedeiro, necessitando de provocar a ruptura do DNA, podem também levar à
transformação celular.
Graças a uma variedade de mecanismos de reparação de DNA presente nas células, a exposição
a carcinogéneos nem sempre leva a cancro. Uma confluência de vários factores deve ocorrer
antes que suficientes alterações do DNA induzam a célula a malignizar-se.
A descoberta dos oncogenes mudou a forma de compreensão da indução de cancro
Proto-oncogenes são genes cuja sua
expressão normal é essencial para o
controlo da produção de proteínas que
promovem o crescimento celular. A
ocorrência de mutações ou rearranjos
genéticos induzidos por carcinogénicos ou
vírus podem alterar a sua normal função
reguladora, convertendo-os em indutores
de cancro, os oncogenes.

Genes associados ao cancro


controlam a proliferação e
sobrevivência celular
Os tecidos normais mantêm a homeostasia
através de processos altamente regulados
de proliferação celular equilibrados com
morte celular. Os genes envolvidos nestes
processos homeostáticos produzem
proteínas que “encorajam” e
“desencorajam” a proliferação e sobrevivência celular. Mutações nestes genes estão presentes
numa grande maioria dos cancros.
Genes celulares que estão associados com a formação de cancro agrupam-se em três categorias
baseadas na sua actividade: (1) oncogenes, (2) genes supressores tumorais e (3) genes
envolvidos na programação da morte celular ou apoptose.
Várias características existem na transição de uma célula normal para uma celular maligna. Estas
incluem proliferação sustentada, subversão a sinais negativos vindos de reguladores do
crescimento celular e resistência à morte celular (controlados respectivamente por oncogenes,
genes supressores tumorais e genes reguladores da apoptose. Outras características são a
imortalidade, o crescimento de novos vasos e o potencial para invadir tecidos. Factores que
potenciam o desenvolvimento destas características são a inflamação e a instabilidade genética.
 A actividade promotora de cancro dos oncogenes
Uma categoria de proto-oncogenes e os seus homólogos virais codificam factores de
crescimento ou os seus receptores. Em células normais, a expressão de factores de

165
crescimento e os seus receptores é cuidadosamente regulada. Normalmente, uma
população de células secretam factores de crescimento que actuam noutra população
de células que têm o respectivo receptor. A expressão inapropriada de receptor ou de
factor de crescimento pode resultar em proliferação incontrolada.
Outros proto-oncogenes codificam factores de transcrição ou moléculas que participam
na transdução de sinal. Uma expressão exagerada pode levar a uma proliferação
incontrolada.
 Genes supressores tumorais
Os genes supressores tumorais (ou anti-oncogenes) codificam proteínas que inibem a
proliferação celular excessiva. A libertação desta inibição pode levar à ocorrência de
cancro. Ao contrário dos oncogenes que uma mutação num dos alelos é suficiente para
induzir cancro, os genes supressores tumorais necessitam de mutação nos dois alelos
para isso poder acontecer.
 A importância dos genes apoptóticos
Os genes apoptóticos codificam proteínas que induzem ou bloqueiam a apoptose.
Genes pro-apoptóticos actuam como supressores tumorais inibindo a sobrevivência
celular e genes anti-apoptóticos actuam como oncogenes promovendo a sobrevivência
celular. Uma falha nos primeiros genes ou uma actividade exagerada dos segundos pode
levar à transformação neoplásica das células.

A malignização de uma célula envolve múltiplas etapas


O desenvolvimento de uma célula cancerígena a partir de uma célula normal é normalmente um
processo que envolve múltiplas etapas que envolve uma serie de mutações somáticas no DNA
da célula. O número destas mutações vão convertendo progressivamente uma célula normal em
célula pré-cancerígena e, finalmente, numa célula cancerígena onde as barreiras desenhadas
para conter o crescimento celular foram transpostas.
Existem duas fases distintas: a iniciação e a promoção. A primeira envolve mudanças no genoma
mas que por si só não levam a célula a malignizar-se. Como o acumular de alterações no DNA,
afectando tipicamente os proto-oncogenes, genes supressores tumorais e genes apoptóticos, a
célula entra na segunda fase, levando ao crescimento celular descontrolado.
Num tumor em crescimento nem todas as células têm igual potencial de crescimento ilimitado.
As células no interior do tumor podem ser o verdadeiro estimulador do crescimento tumoral.
Estas células, designadas por células estaminais cancerígenas, têm um verdadeiro potencial
ilimitado de regeneração e são os maiores produtores das restantes células do tumor que
partilham o potencial para se dividirem sem limitações.

ANTIGÉNIOS TUMORAIS
As células neoplásicas são células do hospedeiro e muitos dos antigénios associados têm como
objectivo induzir a tolerância mantendo a homeostasia e inibindo o desenvolvimento de auto-
imunidade. Contudo, antigénios únicos ou inapropriadamente expressos podem ser
encontrados em muitos tumores e são frequentemente encontrados pelo sistema imunitário.
A maioria dos antigénios tumorais dão origem a peptídeos que são reconhecidos pelo sistema
imunitário seguido de apresentação pelas moléculas do complexo major de
histocompatibilidade, induzindo a proliferação de linfócitos T citotóxicos específicos para aquele
antigénio ou de células T helper. Os antigénios tumorais reconhecidos pelas células T
enquadram-se, para já, em quatro grupos baseados na sua fonte:

166
 Antigénios codificados por genes exclusivamente codificados pelo tumor;
 Antigénios codificados por variantes de genes normais que se alteraram por mutações;
 Antigénios normalmente expressos só numa certa fase do desenvolvimento;
 Antigénios que são sob expressados num tumor em particular.
Existem dois tipos principais de antigénios tumorais categorizados pela sua singularidade: os
antigénios tumorais específicos (tumor-specific antigens - TSAs) e os antigénios associados a
tumores (tumor-associated antigens – TAAs).

Os antigénios tumorais específicos são exclusivos de células tumorais


Os TSAs são proteínas únicas que resultam de mutações nas células tumorais que criam
proteínas alteradas e, desta forma, novos antigénios. O processamento citosólico dessas
proteínas dá origem a novos peptídeos que são apresentados pelas moléculas de MHC de classe
1 induzindo uma resposta mediada por células por linfócitos T citotóxicos específicos que
normalmente elimina todas as células tumorais.
Tumores induzidos por vírus expressam antigénios tumorais partilhados por todas as células
tumorais induzidas pelo mesmo vírus.

Os antigénios associados a tumores são proteínas celulares normais com um padrão


de expressão característico
Ao contrário das TSAs,
as TAAs não são
únicos no cancro. Eles
representam
proteínas celulares
normais que são
expressas
tipicamente durante
uma certa fase do
desenvolvimento,
mas que estão
expressas nas células
tumorais. Esta
expressão deriva de
mutações que levaram à reactivação de certos genes fetais ou embriológicos, os chamados
antigénios tumorais oncofetais, que normalmente aparecem cedo no desenvolvimento
embrionário antes que o sistema imunitário adquira imunocompetência. Quando a
transformação celular causa o seu aparecimento em células neoplásicas do adulto, elas são
reconhecidas como “non-self” e induzem uma resposta imunológica.
Os TAAs incluem também os produtos de alguns oncogenes. Estas proteínas, embora produzidas
no adulto, são altamente reguladas e expressas em quantidades muito reduzidas. Uma célula
tumoral pode alterar a expressão destas proteínas para quantidades mais elevadas levando à
indução de uma resposta imunitária.

A RESPOSTA IMUNITÁRIA AO CANCRO


As células têm múltiplos mecanismos intrínsecos para prevenir o aparecimento de cancro.
Contudo. Se estes mecanismos falharem, mecanismos de controlo extrínsecos podem eliminar

167
a célula. Estes mecanismos extrínsecos envolvem sinais ambientais que induzam a célula a
activar vias internas que levem à paragem do seu crescimento ou à apoptose para prevenir que
as células cancerígenas se propaguem. Se estes mecanismos mesmo assim não forem suficientes
e o crescimento descontrolado do tumor continuar, a identificação e rejeição das células
tumorais por componentes do sistema imunitário podem ajudar a manter a homeostasia.
Existem três mecanismos pelos quais o sistema imunitário controla as células tumorais:
 Através da destruição de vírus que são conhecidos por transformarem as células;
 Através da eliminação de patógenos e reduzir a inflamação pro-tumoral;
 Através da identificação activa e eliminação de células cancerígenas – imunovigilância.
Estudos recentes mostram que as respostas do sistema imunitário às células tumorais têm
potencial pro-tumoral. Inflamação crónica e selecção mediada pelo sistema imunitário de
células malignas podem contribuir para a sobrevivência e progressão de um cancro.
Imunoedição é o termo que engloba os processos de inibição e promoção tumoral mediados
pelo sistema imunitário.

A imunoedição protege-nos contra o crescimento tumoral e ao mesmo tempo que


promove-o
A hipótese de imunoedição envolve três fases:
 Eliminação – O sistema imunitário tem uma função crucial na identificação e destruição
de todas as novas formas de cancro que surgem;
 Equilíbrio – estado de equilíbrio entre a destruição e sobrevivência de um pequeno
número de células neoplásicas;
 Fuga – células tumorais muito agressivas e pouco imunogénicas prosperam e começam
a propagar-se.

A via imunológica chave que medeia a erradicação tumoral


Existem duas formas de inflamação na resposta ao cancro, a boa ou anti-tumoral e a má ou pro-
tumoral. No lado anti-tumoral estão as respostas inatas dominadas por macrófagos
imunoactivadores (M1), as células dendríticas e as células natural killer. Estas células e as
citocinas que produzem ajudam na obtenção de respostas fortes de linfócitos T helper tipo 1 e
linfócitos T citotóxicos, que estão associados a um bom prognóstico e regressão tumoral. No
lado pro-tumoral estão respostas inatas dominadas por macrófagos anti-inflamatórios (M2) e
células supressoras derivadas da linha mielóide. Estas vão induzir fortes respostas de linfócitos
T helper tipo 2 ou 17 que estão associados a um mau prognóstico e a tempos de sobrevivência
reduzidos.
 Inibidores inatos de cancro
As células natural killer foram as primeiras células reconhecidas com habilidade de destruir
células tumorais. Os mecanismos que a célula NK usa para o reconhecimento incluem uma
série de receptores de membrana que respondem a um balanço entre sinais inibitórios e
activadores dados pelas células do hospedeiro.

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Detectar células “missing self” é uma das maneiras através da qual as células NK
participam na identificação e erradicação de células tumorais. Outra forma é a
transmissão de sinais através da expressão molecular que leva ao aumento de expressão
de receptores activadores de células NK.
Indirectamente, as células NK podem também participar na erradicação de cancro
através da secreção de IFN-ϒ, uma potente citocina anticancro que estimula as células
dendríticas a estimular fortes respostas por linfócitos T citotóxicos.
Macrófagos activados também têm uma importante função na resposta imunitária a
tumores. Estes fazem aglomerados à volta de tumores e a presença de macrófagos pró-
inflamatórios, como os M1, estão correlacionados com a regressão tumoral. Os
macrófagos também expressam receptores Fc que lhes permitem ligar a anticorpos
ligados às células tumorais intervindo, desta forma, na citotoxicidade mediada por
células dependente de anticorpos. A actividade anti-tumoral de macrófagos activados é
provavelmente mediada por enzimas líticas e intermediários de espécies reactivas de

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oxigénio e azoto. Estes secretam uma citocina designada por factor de necrose tumoral
α (TNF-α) que tem uma potente actividade anti-tumoral.
 Tipos de células adaptativas envolvidas na erradicação de cancro
A actividade mais forte dos linfócitos T citotóxicos anti-tumorais está correlacionada
com a regressão tumoral e é importante na manutenção da fase de equilíbrio da
detecção do cancro ou de um estado de dormência das células neoplásicas.
Na fase de equilíbrio as células T citotóxicas ou o INF-ϒ têm uma importância extrema
para impedir o desenvolvimento de cancro ao contrário das células NK que são mais
importantes na fase de eliminação. A pressão que o sistema imunitário adaptativo
exerce nas células cancerígenas durante esta fase permite que elas sofram uma espécie
de selecção natural em que as células neoplásicas menos imunogénicas vão sobreviver
e vão acumulando mutações mais favoráveis à evasão imunológica.
As células B também respondem a antigénios tumorais específicos ao criarem
anticorpos anti-tumorais que promovam o reconhecimento e lise de células tumorais.
Usando os seus receptores Fc, as células NK e macrófagos podem participar na resposta
imunitária a tumores mediando a citotoxicidade mediada por células dependente de
anticorpos. Alguns anticorpos anti-tumorais têm uma acção mais prejudicial ao
bloquearem o acesso dos linfócitos T citotóxicos aos antigénios tumorais permitindo a
sobrevivência das células cancerígenas.
 A importância das citocinas na imunidade contra o cancro
IFN-ϒ e os componentes reguladores desta via são importantes na erradicação de
cancros. Esta citocina pode exercer efeitos anti-tumorais directos nas células tumorais,
incluindo um aumento da expressão de moléculas do MHC de classe 1, tornam as células
tumorais em alvos melhores para os linfócitos T citotóxicos. Os interferões do tipo I (α/β)
e tipo II (ϒ) têm uma actividade de potenciação sobre as células do sistema imunitário
permitindo que estas células se tornem mais eficientes na remoção de tumores.
IL-12 têm a habilidade de potenciar a imunidade anti-tumoral. Isto acontece pois a IL-12
influencia as células dendríticas a activar fortes respostas por parte dos linfócitos T
helper tipo 1 e linfócitos T citotóxicos.
TNF-α induz hemorragia e necrose do tumor. Contudo, esta citocina tem efeitos
inibitórios e de promoção tumoral.

Algumas respostas inflamatórias podem promover o desenvolvimento de cancro


A actividade descontrolada do sistema imunitário pode levar a inflamação patológica ou a auto-
imunidade. Na resposta imunitária ao cancro, a resposta inflamatória tanto pode ajudar na
eliminação de células tumorais como pode potenciar o seu desenvolvimento ao criar
microambientes pro-tumorais.
 Inflamação crónica
A inflamação crónica pode criar microambientes pro-tumorais de várias formas:
o As respostas inflamatórias aumentam os sinais de stress celular e podem levar a
stress genotóxico, aumentando a frequência de ocorrência de mutações
fomentando a génese tumoral;
o Os factores de crescimento e citocinas libertadas por leucócitos induzem a
proliferação celular e, decorrente de mutações, as células tumorais não

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imunogénicas podem adquirir habilidade de responder a estes estimuladores do
crescimento;
o A inflamação é pro-angiogénica, aumentando o crescimento de vasos sanguíneos
e potenciando a invasão tumoral nos tecidos circundantes ou o transporte através
de vasos linfáticos;
 A actividade imunossupressora nos microambientes tumorais
Factores solúveis libertados por células tumorais ou células do sistema imunitário que
se infiltram no tumor podem potenciar o desenvolvimento local de um microambiente
imunossupressor. TGF-β e IDO inibem as respostas por parte dos linfócitos T helper de
tipo 1 e nas fases mais avançadas o TGF-β bloqueia a activação local de células
dendríticas e inibe a função das células T. IL-10 é promotora de tumores e induz
propriedades que tornam as células tumorais tolerantes, mas também pode encorajar
a resposta anti-tumoral por parte do sistema imunitário inato.
A abundância de linfócitos T reguladores, de células supressoras derivadas da linha
mielóide, macrófagos M2 e linfócitos T helper tipo 2 permite que haja um estado de
imunossupressão local ou dirigida aos linfócitos T helper do tipo 2 permitindo a evasão
das células tumorais.

Algumas células tumorais escapam ao reconhecimento e activação do sistema


imunitário
 A expressão de MHC nas células tumorais está reduzida
Mutações que levem à redução da expressão de MHC, à secreção de TSAs, ao transporte
defeituoso associado à apresentação antigénica ou à microglobulina-β2 e à
insensibilidade ao
INF-ϒ levam à
diminuição da
apresentação de
antigénios
tumorais pelas
moléculas do MHC
de classe 1 e a
uma profunda
inibição do
reconhecimento
por parte dos
linfócitos T
citotóxicos.
 A subversão das células tumorais aos sinais apoptóticos
A elevada regulação dos mediadores anti-apoptóticos e a expressão de receptores de
morte celular mutados ou meus ausentes pode levar a que as células tumorais fiquem
resistentes aos sinais de morte celular programada. Uma falha nos mecanismos de
reparação do DNA nas células transformadas combinado com a pressão mediada pelo
sistema imunitário potencia a acumulação de células tumorais com este tipo de
mutações.

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 As células tumorais têm fracos sinais coestimulatórios
Uma completa activação de um linfócito T requer dois sinais: um sinal activador, dado
pelo reconhecimento de um complexo peptídio-molécula do MHC por um TCR, e um
sinal coestimulatório, dado pela interacção entre CD80/86 numa célula apresentadora
de antigénios com moléculas coestimulatórias, como a CD28, num linfócito T. Os dois
sinais são necessários para induzir a produção de IL-2 e a proliferação de linfócitos T.
As células tumorais têm muito pouca imunogenicidade e tendem a terem muito poucas
moléculas coestimulatórias. Sem um número suficiente de células apresentadores de
antigénios na vizinhança de um tumor e com poucos estímulos para levar à sua
activação, as poucas células T que responderem recebem apenas parte dos sinais
activadores, levando à tolerância imunitária.

IMUNOTERAPIA CONTRA O CANCRO


A terapia contra o cancro divide-se em 4 categorias:
 Quimioterapia – bloqueia a síntese de DNA e a divisão celular;
 Terapia hormonal – interfere com o crescimento do tumor;
 Terapia dirigida – pequenas moléculas inibidoras do cancro;
 Imunoterapias – estão desenhadas para ajudar a eliminar o tumor reactivando,
iniciando ou suplementando a resposta imunitária anti-tumoral ou por neutralizando as vias
inibitórias.

Dentro das imunoterapias podemos incluir:


 Anticorpos monoclonais – podem ser conjugados com agentes que aumentem a sua
eficácia;
 Citocinas – Interferões-α, -β, -ϒ, TNF-α, -β, GM-CSF e muitas interleucinas (IL-2, IL-4, IL-
6 e IL-12);
 Activação de células T ex-vivo – As células T são recolhidas do doente com cancro, são
activadas com antigénios tumorais e reintroduzidos no doente para que possam ter actividade
anti-tumoral;
 Vacinas – potenciam ou redirigem uma resposta imunitária existente;
 Manipulação de sinais coestimulatórios
Estudos indicam que a combinação de quimioterapia citotóxica com algumas imunoterapias
pode ser benéfica no sentido em que o primeiro ao matar as células faz com que antigénios
tumorais possam ser libertados potenciando, com a ajuda da imunoterapia, a resposta
imunitária contra esses antigénios.

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