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Começo minhas considerações sobre esta obra pelo seu último capítulo, visto a
necessidade de problematizar aspectos da militância negra que dizem respeitos à
subjetividade do negro nessa sociedade de classes racista, e que certamente interfere também
na sua militância cotidiana. Acredito ser esse um passo inicial importante para podermos
então, como parte da militância nos apropriar da discussão riquíssima trazida neste livro sobre
as relações raciais no Brasil, que é de acordo com a nossa história, e podemos também dizer
com a história do capitalismo mundial, se coloca como elemento indispensável para o real
entendimento do desenvolvimento da sociedade de classes capitalista.
A mudança para o trabalho assalariado coloca para os negros uma outra realidade
material, mas é importante frisar que o fim da escravidão não significa o fim do racismo, mas
sim sua transformação para adequar-se às novas necessidade da classe dominante, que por ser
herdeira direta dos senhores de escravos ainda carregam fortemente o racismo como base de
seus pensamentos, e que também precisa perpetuar essa ideologia como parte do processo de
extração de mais-valia e para cumprir o seu papel na divisão internacional do trabalho.
Ao analisarmos os negros num país como o nosso, percebemos que: “(...) o seu
comportamento está fundamentalmente marcado pelo relacionamento que havia entre
senhores e escravos no passado no nível de dominação/subordinação. Essas reminiscências
produzem, por seu turno, mecanismos sociopsicológicos de compensação simbólicos – de
desajustamento, reajustamento e ajustamento -, fazendo a sua personalidade ser atingida e
impossibilitada de reagir a não ser de forma diferente das camadas brancas, diante do mesmo
fato”. (p.280-281)
Assim como já apontavam C.L.R. James e os Panteras Negras, Moura aponta que há
certa desconfiança negra em relação aos brancos, fruto da estrutura racista. Isto leva os negros
a ficarem em estado de alerta ao iniciar contatos mais estáveis e/ou patrimoniais com brancos.
Essa dinâmica também é verdadeira no que diz respeito às organizações partidárias ou sociais
hegemonicamente brancas.
A agressividade do universo plebeu coloca uma crítica étnico social profunda, ao ter
como base fatores socioeconômicos frutos desse sistema de opressão e exploração, assim
como questionando-os. Já a agressividade negra pequeno-burguesa nasce, centralmente, da
necessidade de ganhar espaços sociais individualmente, mostrando uma assimilação de
valores individualistas e de ascensão, esses acabam interiorizando parte importante dos
valores capitalistas brancos, levando em conta que os indivíduos desse setor já têm acesso a
níveis de vida e profissionais “compensadores”.
“Já os jovens negros da classe média diferem dos mais velhos e se realizam por meio
de uma das formas de agressividade sexual. A agressividade difere dos velhos em dois planos:
1) Não são ambíguas, mas são, pelo contrário, apresenta publicamente como elemento
compensador. Procuram relações com brancas não profissionais, que vão encontrar em grupos
boêmios e supostamente radicais na conduta sexual, em ambientes artísticos ou culturais onde
essa forma de liberalismo se pratica; 2) procuram prolongar essas relações em termos de
união semipermanente (encontros permanentes públicos, mas sem união definitiva), ou
amigação que raramente termina em casamento por várias razões: resistência da família da
moça (se for branca); saturação sexual dela e seu deslocamento para outro país onde vai
esquecer; falta de recursos econômicos satisfatórios”. (288-289)
Me parece importante pontuar que vários dos comportamentos dos homens negros
devem ser analisados e problematizados à partir da relação com o papel social historicamente
colocado (imposto) à eles: o do homem que é corpo, selvagem (inclusive sexualmente), viril e
não racional. Fanon discute alguns desses aspectos em “ Peles Negras, Mascaras Brancas”.