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P o d e -se , para cria r certos efeitos de sentido, m udar a seqüên

cia line ar dos enunciados. P o r exem plo, certas n arrativas com eçam
pelo fim e, depois, rela ta m , por meio da rem em oração de algum
personagem , o que d everia, na ordem cronológica, v ir antes. Q u a n
do essas alterações são bem fe itas, o leitor é sempre capaz de recons
titu ir, de fo rm a p e rfe ita , a progressão lin e a r.
C abe observar, a inda, que um texto pode relatar tra n sfo rm a
ções de estado e não ser um a n a rra ção : basta que o texto não este
ja interessado em relatar os fatos sob o ponto de vista de sua progres
são no tem po.
Dessa fo rm a , um texto pode relatar m udanças de estado e fi
xar-se m ais num a reflexão crítica sobre essas m udanças. P o d e não
se interessar por n arra r as diferentes etapas em que se desdobraram
tais m udanças.
O texto que segue, por exem plo, não é uma narração, apesar
de relatar uma m udança de estado:
No mundo medieval, o homem era capaz de adm inistrar com
competência quase todo o espaço que o rodeava e não tinha ne
cessidade da especialização. Ele era capaz de plantar o trigo e de
moer o grão, de fa bricar o azeite e a lamparina.
Hoje, um homem da cidade morre de fome se o agricultor
não lhe fornece o grão já moído e fica na escuridão se o eletricis
ta não o socorre com sua assistência.
É que, no mundo m edieval, a produção era menos diversifica
da que no mundo moderno e os bens de consumo existiam em me
nor quantidade.
C om o se pode notar, apesar de relatar uma tran sfo rm açã o que
se processou na H is tó ria , o texto acim a não é n arra tivo , já que se
atém mais a interpretar as razões dessas m udanças do que a narrar
os vá rio s passos que deram origem a elas.
TEXTO
COMENTADO
Marcela
Gastei trin ta dias para ir do Rocio Grande ao coração de Mar
cela, não já cavalgando o corcel do cego desejo, mas o asno da pa
ciência, a um tem po manhoso e teim oso. (... )
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Teve duas fases a nossa paixão, ou ligação, ou qualquer ou-
tro nome, que eu de nomes não curo; te ve a fase consular e a fa
se imperial. Na primeira, que foi curta, regemos o X a v ie r e eu,10
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s e m q u e el e j a m a i s a c r e d i t a s s e d i v i d i r c o m i g o o g o v e r n o de R o
ma; mas , q u a n d o a c r e d u l i d a d e não pôde r es i s t i r à e v i d ê n c i a , o X a
v i e r d e p ô s as i n s í g n i a s , e eu c o n c e n t r e i t o d o s os p o d e r e s na m i -
n h a m ã o ; f oi a f a s e c e s a r i a n a . E r a m e u o u n i v e r s o ; m a s , ai t r i s t e !
n ã o o e r a de g r a ç a . F o i - m e p r e c i s o c o l i g i r d i n h e i r o , m u l t i p l i c á - l o , i n
v e n t á - l o . P r i m e i r o e x p l o r e i as l a r g u e z a s de m e u pai ; el e d a v a - m e
t u d o o q u e eu l he p e di a , s e m r e p r e e n s ã o , s e m d e m o r a , s e m f r i e
za; d i z i a a t o d o s q u e eu e r a r a p a z e q u e el e o f o r a t a m b é m . Ma s
a t al e x t r e m o c h e g o u o a b u s o , q u e el e r e s t r i n g i u um p o u c o as f r a n -
quezas, depoi s mai s, depoi s mai s. E n t ã o recorr i a m i n h a mãe, e i n
d u z i - a a d e s v i a r a l g u m a c o u s a , q u e me d a v a às e s c o n d i d a s . Er a
p o u c o ; l a n c e i m ã o de um r e c u r s o ú l t i m o : e n t r e i a s a c a r s o b r e a h e
r a n ç a de m e u pai , a a s s i n a r o b r i g a ç õ e s , q u e d e v i a r e s g a t a r um di a
com usura

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