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Afeto Versus Humor PDF
Afeto Versus Humor PDF
Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo
2007; 52(3):108-13
Leonardo Baldaçara1, Celso Ricardo Bueno2, David Souza Lima3, Luciana PC Nóbrega4, Marsal Sanches5
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Baldaçara L, Bueno CR, Lima DS, Nóbrega LPC, Sanches M. Humor e afeto. Como defini-los? Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo. 2007;
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mania e melancolia) sejam tão antigas quanto a pró- que para outros autores caracterizaria os afetos como
pria medicina, a abordagem psicopatológica de seus veremos a seguir. Por outro lado também se refere à
elementos centrais só surgiu no século XVIII3. O sig- distimia como uma variação de humor, através do
nificado dos termos cunhados varia conforme o autor tônus afetivo. Nessa afirmação poderia estar se refe-
e o século, nem sempre se referindo à mesma função rindo ao humor como um elemento basal.
mental ou à sua combinação4 . Ribot (1906)8 definiu emoções e sentimentos como
No século XVII, influenciado por trabalhos de uma vivência transitória, mais ou menos intensa e re-
Descartes e Leibniz*, os sentimentos eram vistos como lacionada a um objeto reconhecível. Humor e afeto,
pensamentos vagos ou confusos (Wang, 2005)3. Até o por sua vez, eram vistos como estados de duração mais
século XVIII, prevalecia a opinião de que toda ativi- prolongada, capazes de fornecer a tonalidade afetiva
dade psíquica alheia à esfera intelectual pertenceria à basal ao indivíduo, não havendo necessariamente um
vida afetiva5. objeto reconhecível4. Entretanto, não diferenciou es-
No século XVIII, as emoções eram consideradas ses dois elementos.
como um resíduo das sensações ou um componente Para Jaspers (1979)9, sentimentos são todo fenô-
da volição, mas nunca como uma função psíquica em meno psíquico que não se pode coordenar com os fe-
si. Mas, estando a emoção e a paixão sempre acompa- nômenos da consciência objetiva, nem com os impul-
nhadas de sensações e mudanças corporais, eram con- sos instintivos e atos da vontade. Em outras palavras,
sideradas portadoras de propriedades motivacionais6. sentimento seria um nome geral para as vivências
No final do século XIX e início no XX iniciou-se o afetivas. Também equivaleria a todas as formações
desenvolvimento dos primeiros conceitos e os dife- psíquicas não desenvolvidas e imprecisas, todas aque-
renciais dos diversos componentes da vida afetiva. las que não se podem apreender e esquivam à análise.
Entretanto como é visto até hoje, os mesmos termos Classificou os sentimentos segundo a fenomenologia,
tiveram diferentes significados e importância para objetos a que se dirigem, origem, importância, parti-
cada autor. Alguns se destacaram na psiquiatria devi- cularidades, intensidade de duração, e sua diferencia-
do ao rigor de suas descrições. Faremos a seguir um ção das sensações. Quanto ao diferencial da duração,
breve relato dos principais conceitos encontrados na fala de três conceitos: sentimento, afeto e disposição.
psicopatologia clássica Além disto, chamou de “sentimentos” os movimen-
tos singulares próprios e originários da alma; de “afe-
Definições na psicopatologia clássica tos” os processos de sentimentos complexos e momen-
tâneos de grande intensidade e com manifestações
Bleuler (1971)7, na 10a edição de seu Tratado de concomitantes de natureza corpórea; e de “disposições
Psiquiatria, agrupou dentro do conceito de afetividade do estado de espírito” a constituição interior mais
os sentimentos e estados de ânimo, os afetos, humo- duradoura que conferem um colorido particular a toda
res, emoções e a vida instintivo-pulsional. Colocou a existência da vida psíquica.
afetividade como o grupo de todas as vivências e afe- Já Schneider (1968)10 mencionava sentimentos cor-
to como um termo geral para todos os elementos. Para porais que se distinguiam dos sentimentos psíquicos
esse autor a afetividade é vivida subjetivamente, mas (anímicos). Esses últimos não se localizam no corpo
se manifesta ao mesmo tempo em nossa ação, nosso ou em parte dele, ainda que possam provocar sensa-
pensamento, assim como através dos processos vitais ções e sentimentos corporais. Freqüentemente são
corporais. Nossa ação orienta a busca pelo prazer e reativos, motivados por: alegria, medo ou arrependi-
afastamento do desagradável. Bleuler (1971)7 relata mento frente a algum evento. Na medida em que se
ainda que nosso pensamento reflete nossas sensações ligam a algo percebido, não se prendem aos elemen-
sendo marcado por nossos sentimentos. tos da percepção, mas ao sentido do que se percebe.
Para Bleuler(1971)7 o humor corresponde, do pon- Não é a impressão ótica de uma notícia escrita que
to de vista biológico, à primazia de uma função vital, me faz triste e sim o seu sentido, a sua significação.
o qual envolve todas as atividades intelectuais, emo- Em última análise, todo sentimento corporal, locali-
cionais e vegetativas. Apesar de referir que pode esse zado ou difuso (vital), é também um sentimento “psí-
elemento se expressar através do comportamento, este quico”, do contrário, não seria um sentimento. Porém,
autor relata que deve ser de duração limitada, pois como nem todo sentimento psíquico é motivado e, por
poderia não permitir a satisfação de outras necessida- conseguinte, não pode ser assim suficientemente ca-
des vitais. Acreditamos que talvez estaria se referin- racterizado, não saberíamos de nenhuma designação
do a variações momentâneas e reativas do humor, o inequívoca para eles.
* Descartes e Leibniz APUD Wang YP. Aspectos históricos da doença maníaco-depressiva. In: Moreno RA, Moreno DH. Da psicose
maníaco-depressiva ao espectro bipolar. São Paulo: segmento Farma; 2005. p.13-42.
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Baldaçara L, Bueno CR, Lima DS, Nóbrega LPC, Sanches M. Humor e afeto. Como defini-los? Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo. 2007;
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Segundo Schneider (1968)10 os sentimentos psíqui- nismo. Define-se afeto como a qualidade e o tônus
cos têm uma valência positiva ou negativa, são esta- emocional que acompanham uma idéia ou represen-
dos do eu, agradáveis ou desagradáveis. Agrupa ain- tação mental. Os afetos acoplam-se a idéias, anexan-
da os sentimentos psíquicos em: do a elas um “colorido” afetivo, seriam os componen-
A) Sentimentos subjetivos: agradáveis (alegria, bem- tes emocionais de uma idéia. Em uma acepção mais
estar, facilidade, júbilo, felicidade, quietude, con- ampla, também se pode fazer uso do termo afeto para
tentamento, confiança); ou desagradáveis (triste- designar, de modo inespecífico, qualquer estado de
za, preocupação, angústia, medo, mal-estar, estra- humor, sentimento ou emoção.
nheza, pusilanimidade, nostalgia, desespero, hor- Já as emoções, para Paim (1993)12, são reações
ror, aborrecimento, ira, cólera, inveja, ciúme, mo- afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por es-
notonia). tímulos significativos. É um estado afetivo intenso, de
B) Sentimentos de valor: referentes a si mesmo, afir- curta duração, originado geralmente como uma reação
mativos (força, orgulho, vaidade, autoconfiança, do indivíduo a certas excitações internas ou externas,
superioridade, arrogância), ou negativos (vergo- conscientes ou inconscientes. Freqüentemente, acom-
nha, sentimento de culpa, arrependimento, emba- panha-se de reações somáticas mais ou menos especi-
raço); e sentimentos referentes aos outros, afirma- ficas.
tivos (amor, inclinação, confiança, compaixão, es- Sentimentos são estados e configurações estáveis;
tima, interesse, aprovação, gratidão, respeito, ad- em relação às emoções, são mais atenuados em sua
miração), ou negativos (ódio, aversão, desconfi- intensidade e menos reativos a estímulos passageiros.
ança, desprezo, hostilidade, zombaria, desconten- Os sentimentos estão geralmente associados a conteú-
tamento, indignação). dos intelectuais, valores, representações e, no mais das
Já os sentimentos anímicos são classificados de vezes, não implicam concomitantes somáticos. Cons-
emoções. Denominam-se afetos aos sentimentos tituem fenômeno muito mais mental do que somático.
anímicos reativos e de caráter agudo, intensos e acom-
panhados por manifestações corporais denominadas Definições na psicopatologia atual
afetos (horror, ira, júbilo). Já o humor, trata-se de um
estado de duração prolongada e nem sempre de índo- Vemos então a variedade de definições para a vida
le reativa. O humor geralmente implica em sentimen- afetiva. Levando em conta cada autor, acreditamos que
tos orgânicos, na ressonância dos acontecimentos ul- a maioria se refere ao humor como o elemento basal
timamente vividos, e sentimentos anímicos, não (ou estado de ânimo) e a afeto como estados passa-
reativos e que têm suas raízes no fundo da personali- geiros vivenciados segundo o conteúdo do pensamen-
dade. Sentimentos anímicos envolvem ainda inclina- to. Usaremos tais definições no item a seguir.
ções ou tendências habituais da personalidade, inclu- Owens, Maxmen (1979)13 relatam que muitos au-
sive da personalidade anormal. tores enfatizam a duração dos estados emocionais,
Para Ey et al(1981)11, afeto é um termo geral para referindo ao afeto como uma condição imediata e hu-
exprimir todos os fenômenos da afetividade, isto é, mor como um estado prolongado ou uma soma de
todas as nuanças do desejo, prazer e dor, que entram numerosas instancias de afeto. Relata que o humor é
na experiência sensível sob a forma do que chama- uma experiência interna, enquanto o afeto se refere a
mos sentimentos vitais, humor e emoções. Separou ainda manifestações externas. Kolb (1973)14 define o afeto
esses elementos como afetividade de base ou holotí- como uma experiência subjetiva, confrontando outros
mica dos sentimentos complexos (paixões, sentimen- psiquiatras que enfatizam a natureza subjetiva do
tos sociais) ou catatímica, formada pela afetividade humor e consideram o afeto como observável.
elaborada em um sistema pessoal de vida. Das obras de psicopatologia atuais, dois autores
Quanto aos afetos basais, relatam Ey et al(1981)11 destacam-se por agruparem as definições anteriores.
que constituem o teclado sensível da experiência, pois Para Dalgalarrondo (2000)15 o humor, ou estado de
podemos dizer que cada movimento ou modalidade ânimo, é definido como o tônus afetivo do indivíduo,
dela tem uma tonalidade afetiva (tímica) mais ou o estado emocional basal e difuso no qual ele se en-
menos viva, vivenciada sobre o registro do prazer ou contra em determinado momento. É a disposição
da dor, da euforia ou da tristeza. afetiva de fundo que penetra toda a experiência psí-
Segundo Paim (1993)12, no estado de ânimo (ou quica. Define o afeto como a qualidade e tônus emoci-
humor) há componentes somáticos e psíquicos, que onal que acompanham uma idéia ou representação
se unem de maneira indissolúvel para fornecer um mental. Também diz que, em uma acepção mais am-
colorido especial à vida psíquica momentânea. Em boa pla, usa-se o termo afeto para designar qualquer esta-
parte o humor é vivido corporalmente e se relaciona do de humor, sentimento ou emoção.
consideravelmente às condições vegetativas do orga- Cheniaux Jr (2002)16 agrupou os elementos sobre
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a denominação de afetividade. Segundo esse autor os emoções. O que deve ser observado e como o é no
afetos, assim como as sensações, consistem em esta- transtorno depressivo também é proposto para o epi-
dos psíquicos subjetivos, mas que, diferentemente sódio maníaco. Assim, temos um humor anormal per-
destas, se caracterizam pela propriedade de serem sistentemente elevado, expansivo ou irritável, por pelo
agradáveis ou desagradáveis. Os afetos podem ser menos uma semana. Observa-se além do que é relata-
vistos como uma conseqüência das ações do indiví- do pelo paciente e seus familiares, suas atitudes na
duo que visam à satisfação de suas necessidades (cor- entrevista, assim como a forma de seus pensamento,
porais ou psíquicas). Relata que o afeto pode desig- auto-estima, atenção entre outros elementos indica-
nar genericamente os elementos da afetividade, ou- tivos indiretos de uma perturbação mais extensa e
tras vezes é empregado como sinônimo de emoção. duradoura da esfera afetiva.
Define emoção como um estado afetivo súbito, de Já a Classificação Internacional de Doenças (Or-
curta duração e grande intensidade, que se acompa- ganização Mundial da Saúde)18, na sua 10a edição
nha de alterações corporais, relacionadas a uma (1993), refere-se a esses transtornos como perturba-
hiperatividade autonômica. Define sentimento como ções do humor ou do afeto. Nos critérios diagnósticos
um estado afetivo menos intenso e mais prolongado, são incluídas observações diretas e indiretas da esfera
sem as alterações fisiológicas das emoções e que tal- afetiva, mas também é mais flexível quando se refere
vez resultem de um processamento cognitivo maior a temporaridade. Mesmo levando-se em conta de que
do que haveria as emoções. O humor representa um pode haver alteração do afeto, o elemento mais im-
somatório ou sínteses dos afetos presentes na consci- portante observado é o humor, entretanto esse não é
ência em um dado momento. Constitui o estado conceituado na classificação. Também são importan-
afetivo basal e fundamental, que se caracteriza por ser tes para a observação das perturbações o nível de ati-
difuso, isto é, não relacionado a um objeto específico, vidade e o pensamento.
e por ser geralmente persistente e não-reativo.
Avaliação do humor e afeto na entrevista
Humor e afeto nas modernas classificações psiquiátrica
psiquiátricas
A distinção do humor e afeto não é sempre um
O DSM-IV-TR (American Psychiatry Association, aspecto fácil e claro. Para Alonso-Fernández (1972)5 a
2000)17 denomina os transtornos referentes à afeti- compreensão descritiva-cognitiva da afetividade ofe-
vidade de transtornos do humor, colocando esse últi- rece muitas dificuldades e Schneider(1968)10 no início
mo elemento como aquele que deve estar predomi- do capítulo de “Sentimentos e Sensações”, em seu li-
nantemente perturbado. Como episódio depressivo vro Psicopatologia Clínica, já mostra a ambigüidade
maior, por exemplo, estabelece como critério humor para definir tais elementos.
deprimido ou perda de interesse ou prazer por um Para Sanches et al (2005)19 estes itens corres-
período mínimo de 2 semanas. Esse critério temporal pondem à seção mais difícil e subjetiva do exame do
valoriza então um estado afetivo basal nos últimos 15 estado mental, haja vista que compreendem a descri-
dias. Portanto podemos concluir dessa classificação ção do estado emocional do indivíduo durante a ava-
que o elemento basal da afetividade é denominado liação. Tal subjetividade decorre das inúmeras varia-
como humor, sendo também o mais importante a ser ções encontradas na maneira como emoções e senti-
observado para estabelecer um critério diagnóstico. mentos são vivenciados e expressos não somente de
Esse critério é semelhante ao adotado por Ribot, 19068 indivíduo para indivíduo como também de cultura
; Schneider, 196810 e Paim, 199312. para cultura (Sanches e Jorge, 2004)20.
Outro fator importante é o de que no DSM-IV-TR Porém sistematizar a observação desses elemen-
toma como referência o que o paciente descreve (as- tos na entrevista psiquiátrica facilita o diagnóstico e
sim denomina-se humor deprimido como tristeza, torna-o mais preciso. Permitem a reavaliação mais
desesperançado, desencorajado ou “na fossa”) e o que fidedígna dos pacientes e a reprodutibilidade dos di-
é observado, pois nem sempre o paciente relata ver- agnósticos. Faremos, portanto uma proposta para a
balmente estar deprimido (choro, expressão facial). abordagem da afetividade no exame psíquico.
Também leva em conta outros sintomas como ditas O primeiro passo como discutido acima é definir
queixas somáticas e vegetativas como podendo ser o que é cada um dos dois elementos. Assim adotamos
expressões da esfera afetiva. Portanto devem-se so- os conceitos de Strauss (1999)21 no qual:
mar as queixas apresentadas pelo paciente (localizan- O humor refere-se às emoções predominantes do
do-as no tempo) ao que é observado na entrevista. paciente. Tem tanto um componente subjetivo (a pró-
Entretanto essa classificação não faz menção aos pria avaliação do paciente) quanto um objetivo (ob-
estados afetivos menos duradouros como afetos e servado ou descrito por outros, por seus acompanhan-
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tes ou membros da equipe do hospital durante uma determinado objeto. Já o afeto trata-se de um elemen-
internação). O humor do paciente, não importando se to de curta duração, uma vivência momentânea rela-
objetivo ou subjetivo, é mais bem descrito em termos cionada a um objeto (uma representação). Durante a
que definem estados emocionais. Exemplos típicos entrevista podemos observar um estado basal (humor)
incluem calmo, feliz, triste, ansioso, deprimido, ale- e diversos estados passageiros de acordo com o con-
gre, eufórico, tenso, hostil, furioso ou enraivecido, texto (afetos). Sentimentos e emoções são conceitos
apático, sério e exaltado. diferenciados, mas acabam incluídos dentro desses
O afeto refere-se à expressão ou à expressividade dois elementos. Padronizar esses elementos pode tor-
das emoções do paciente. Enquanto o humor do paci- nar o exame psíquico mais prático e facilitar futuras
ente pode ser comunicado em uma ou duas palavras, pesquisas.
várias emoções podem ser experimentadas e expres-
sadas durante o curso de uma entrevista de 45 a 90 Referências Bibliográficas
minutos. Por afeto entende-se esta capacidade, ou li-
mitação, do paciente de variar a expressão emocional 1. Arciniegas DB. New-onset bipolar disorder in late life: a case of
de acordo com o conteúdo do pensamento. mistaken identity. [Review] Am J Psychiatry. 2006;163:198-203.
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affect within the mental status examination. Am J Psychiatry.
Depois de definidos os elementos, passamos en- 2003; 160:1527-9.
tão a avaliá-los. Baseado no mesmo autor acima, pro- 3. Wang YP. Aspectos históricos da doença maníaco-depressiva.
pomos a observação de algumas propriedades. O hu- In: Moreno RA, Moreno DH. Da psicose maníaco-depressiva
mor pode ser caracterizado mais a fundo em termo de ao espectro bipolar. São Paulo: Segmento Farma; 2005. p.13-42.
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depressões, por exemplo, têm uma qualidade invari- Alonso-Fernández F. Fundamentos de la psiquiatria actual. 2ª
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6. Berrios GE. The history of mental symptoms: descriptive
podem ter uma variação diurna na qual a depressão psychopathology since the nineteenth century. Cambrige:
diminui levemente com o passar do dia. Reatividade Cambrige University Press; 1996. 565p.
refere-se a quando um humor em particular muda, ou 7. Bleuler E. La afectividad. In: Bleuler E. Tratado de psiquiatria.
não em resposta a eventos ou circunstâncias externas. 10ª ed. Madrid: Espasa-Calpe; 1971. p.87-10.
Duração refere-se à persistência de um humor medida 8. Ribot TH. Les maladies de la mémoire. 19a ed. Paris: Felix Alcan;
1906. 288p.
em dias, semanas ou mesmo anos. A duração é 9. Jaspers K. Os fatos particulares da vida psíquica. Sentimentos e
freqüentemente de importância diagnóstica. Por exem- estados de ânimo. In: Jaspers K. Psicopatologia geral. Rio de
plo, humor deprimido deve persistir por duas sema- Janeiro: Atheneu; 1979. v.1, p.132-43.
nas ou mais no tratamento depressivo maior, enquan- 10. Schneider K. Esboço de uma psicopatologia dos sentimentos e
to a depressão ou disforia que caracterizam o trans- impulsos. In: Schneider K. Psicopatologia clínica. São Paulo:
Mestre Jou; 1968. p. 217-48.
torno distímico devem durar dois anos ou mais. 11. Ey H, Berard P, Brisset C. Semiologia da afetividade de base ou
O afeto pode ser descrito em termo de: variação “holotímica”. In: Ey H, Berard P, Brisset C. 5ª ed. Manual de
(plano, restrito); padrão de mudança (fluído, monotônico, psiquiatria. Rio de Janeiro: Masson do Brasil; 1981. p.104-5.
lábil); adequação (o afeto é inapropriado, se incongru- 12. Paim I. Alterações da afetividade. In: Paim I. Curso de
ente com o conteúdo do pensamento ou grosseiramen- psicopatologia. 11ª ed. São Paulo: EPU; 1993. p.181-92.
13. Owens H, Maxmen JS. Mood and affect: a semantic confusion.
te diferente do que seria esperado para a idade e posi- Am J Psychiatry. 1979; 136:97-9.
ção social do paciente); intenção da expressão (rígido ou 14. Kolb L. Modern clinical psychiatry. 8th ed. Philadelphia: WB
embotado se a expressão emocional estiver virtual- Saunders; 1973. 694p.
mente ausente ou marcadamente reduzida). Outro 15. Dalgalarrondo P. A afetividade e suas alterações. In:
elemento do afeto do paciente é o relacionamento, a ca- Dalgalarrondo P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos
mentais. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul; 2000. p.100-
pacidade do paciente de conectar com o entrevistador 41.
interpessoalmente. 16. Cheniaux Jr. E. Afetividade. In: Cheniaux Jr E. Manual de
psicopatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p.87-
Conclusão 93.
17. American Psychiatry Association. Diagnostic and statistical
manual of mental disorders. Text revision (DSM-IV-TR™. Wa-
Perante os conceitos acima, uma das dificuldades shington (D.C); American Psychiatric Association; 2000.
do exame psíquico é definir se o que é observado tra- 18. Organização Mundial de Saúde. Transtornos do humor
ta-se de humor ou afeto. Segundo autores atuais o (Afetivos). In: Organização Mundial de Saúde. Classificação de
humor significa o somatório de vivências afetivas. É transtornos mentais e de comportamento da CID-10. Descrições
um elemento mais duradouro e não se relaciona a um clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artmed; 1993.
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