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A ID A D E D A O PO R T U N ID A D E

Recursos para Educação de Adolescentes

P&R PUBLICAÇÕES
CAIXA POSTAL 817 - PHILLIPSBURG - NOVA JÉRSEI 08865

© 1997, 2001 por Paul David Tripp


Publicado originalmente em inglês com o título
AGE OF OPPORTUNITY
pela Presbyterian and Reformed Publishing Company.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzi­
da, armazenada em sistema de recuperação ou transmitida de nenhuma forma
ou por nenhum meio - eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou de outro
modo, exceto para breves citações com o propósito de fazer críticas ou comentar,
sem autorização prévia da publicadora "Presbyterian and Reformed Publishing
Company", P.O. Box 817, Phillipsburg, Nova Jérsei 08865-0817.

Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional ™© 1993, 2000. Copyright por In­
ternational Bible Society. Usado com permissão. Todos os direitos reservados
mundialmente. Textos em itálico indicam ênfase acrescentada.

ISBN 978-85-7414-020-9

Tradução: Talita Baulé


Revisão: Fábio Amarante
Editoração e Capa: Edvaldo Matos
Supervisão de Produção: Edimilson Lim a dos Santos

Prim eira edição em português: 2008


Segunda impressão: 2011
Terceira impressão: 2014

Publicado no Brasil com a devida autorização


e com todos os direitos reservados pela:
EDITORA BATISTA REGULAR DO BRASIL
Rua Kansas, 770 - Brooklin - CEP 04558-002 - São Paulo - SP
Telefone: (011) 5561-3239 - Site: www.editorabatistaregular.com.br
Para Luella

Há vinte e seis anos, você tem sido


minha melhor amiga, professora e exemplo.

Você me ensinou de várias maneiras o que


realmente é educar.

Obrigado; sua contribuição é muito maior do que


você possa imaginar.
Índice
Prefácio..................................................................................................5

Primeira Parte:
Removendo os Resíduos

1. Idade da Oportunidade ou Período


de Sobrevivência?........................................................................8
2. Que ídolos estão no C am inho?...........................................26
3. O que é Família? D efinição...................................................38
4. O que é uma Família? Descrição da T arefa....................52
5. Pais, Conheçam Seus A dolescentes................................... 74

Segunda Parte:
Estabelecendo Objetivos Espirituais

6. Objetivos, Glória e G raça.................................................... 100


7. Há uma Guerra Sendo Travada........................................110
8. Convicções e Sabedoria....................................................... 131
9. Vida no Mundo Real............................................................ 147
10. Um Coração Voltado para D eu s.......................................176
11. Saindo de C a sa ...................................................................... 203

Terceira Parte:
Estratégias Práticas para a Educação de Adolescentes

12. Três Estratégias para a Educação dos Adolescentes ...226


13. Pequenos Passos para uma Grande M udança............. 248
Prefácio

Foi em agosto de 1971, três meses antes de completar vinte


e um anos, que assumi meu primeiro cargo pastoral, como
Diretor de Jovens da Igreja Metodista Unida de Whaley Street,
em Colúmbia, Carolina do Sul. Aqueles dias em Whaley Street
parecem estar tão distantes, quase como se fizessem parte
da vida de outra pessoa. Por outro lado, há uma coisa que
permanece em mim: o desejo de ver o Evangelho aplicado aos
difíceis anos de transição entre a infância e a fase adulta.

Eu não poderia ter escrito este livro em 1971. Em muitos


aspectos, eu era um dos jovens sobre os quais escrevo aqui.
Mas, mais do que isso, havia muito trabalho que Deus pre­
cisava realizar em mim por meio de tantas pessoas que Ele
levantaria. Seria impossível mencionar todos os que contri­
buíram para as reflexões aqui contidas. Este livro representa
o ministério de amor de pastores, professores, amigos, irmãos
e famílias; todos os que colaboraram para que eu entendesse
o que significa viver biblicamente.

Gostaria de agradecer a algumas pessoas que foram im­


portantes colaboradoras para minha vida, meu ministério e
este livro. Primeiramente, agradeço a meus filhos, Justin (9/76),
Ethan (9/78), Nicole (9/81) e Darnay (10/85). Vocês me deram a
oportunidade de aprender e me ensinaram muito sobre o que
significa educar à maneira de Deus. Obrigado pelo dom do
perdão que vpcês me concederam tantas e tantas vezes. Obri­
gado por me)'ajudarem a ver que a adolescência é, na verdade/
uma época qe enorme oportunidade. Obrigado também por
não me acusà^em de gostar mais do computador do que de
6 PREFÁCIO

vocês quando passei todas aquelas noites no quarto, digitando.


Enfim, obrigado por me permitirem contar as histórias das
nossas lutas. Elas ajudam a dar integridade a este livro.

Tedd, estou certo de que você não faz idéia do quanto me


serviu de guia durante esses anos. Raramente deixo de m en­
cionar seu nome em uma ilustração ou citação quando estou
ensinando. Obrigado por me encorajar a escrever este livro.

Ed, Dave e John (membros da faculdade da Fundação Cris­


tã de Aconselhamento e Educação), obrigado por me ajudarem
a considerar e aplicar a teologia escriturística onde realmente
importa. Obrigado, também, por sua contínua influência ao
ministrarmos juntos.

Sue, jamais poderei lhe agradecer o suficiente pelas horas


de trabalho editorial que simplesmente fizeram deste um livro
melhor. Sua habilidade de capturar meus pensamentos com
economia e clareza de palavras é grandemente apreciada.

Ruth, obrigado pelas muitas horas dedicadas à transcrição.


Sua disposição para o trabalho me deu o "em purrão" de que
precisava.

Jayne, obrigado por se com prometer a fazer as coisas


planejadas realmente acontecerem. Este livro é um dos frutos
de seu comprometimento.

M inha oração é que este livro proporcione esperança,


coragem e discernimento aos milhares de pais que vão co­
meçar ou que já estão vivenciando a adolescência de seus
filhos. Que as verdades da Palavra de Deus transformem um
período de ansiosa sobrevivência em época de expectativa e
oportunidade!
PRIMEIRA PARTE

Removendo
os Resíduos
Idade da Oportunidade ou
Período de Sobrevivência?
ESTÁ em todo lugar a nossa volta: na sitcom1 da televi­
são, na revista da prateleira do supermercado, nas estantes da
livraria do bairro, nos programas de entrevistas da televisão
e do rádio e, sim, até em alguns livros cristãos sobre família.
Os pais têm medo de seus filhos adolescentes. Até mesmo
quando estão desfrutando as delícias dos primeiros anos da
vida da criança, olham para o futuro com pavor, esperando
o pior e sabendo que, em poucos e rápidos anos, essa precio­
sidade se transformará em monstro da noite para o dia. Eles
ouviram histórias suficientes de pais que passaram pelo "vale
da escuridão" da adolescência e conhecem os perigos que os
aguardam. São aconselhados a esperar o pior e agradecer se
saírem do "vale" sãos, com os adolescentes vivos e sua família,
intacta.

Deparei com esta visão da adolescência recentemente,


em uma conferência sobre o casamento. O fim de semana ha­

1. "Sitcom é um estrangeirismo, sendo a abreviatura da expressão em inglês situatinn


comedy. Por vezes, utiliza-se uma versão aportuguesada para o mesmo termo:
comédia de situação. Um bom exemplo de sitcom é o seriado Friends. Sitcoms
normalmente consistem numa série de televisão com personagens comuns onde
existem uma ou mais histórias de humor encenadas em ambientes comuns como
família, grupo de amigos, local de trabalho. Em geral são gravados em frente de
uma platéia ao vivo e caracterizados pelos "sacos de risadas", embora isso não seja
uma regra." (Fonte: Wikipédia)
IDADE DA OPORTUNIDADE OU PERÍODO DE SOBREVIVÊNCIA? 9

via sido ótimo, em todos os sentidos. As mensagens tinham


sido envolventes, desafiadoras e edificantes. A alimentação
e as acomodações haviam sido maravilhosas e a conferência
fora realizada em um lindo local à beira mar. Quando o fim
de semana estava para terminar, enquanto eu olhava para o
sol cintilando nas águas da baía, notei um casal sentado nas
proximidades. Pareciam bastante infelizes.

Fiquei curioso, e então perguntei a eles se haviam gostado


da conferência. Tudo tinha sido muito bom, responderam.
Comentei que eles não pareciam estar muito felizes. A mulher
respondeu: "Temos dois adolescentes e estamos com medo
de ir para casa. Gostaríamos que este fim de semana durasse
para sempre!" "É de se esperar que os adolescentes sejam
rebeldes; todos nós fomos", o marido acrescentou. "Você tem
que 'resistir' "Além disso", lamentou-se ela, "não se pode
discutir com hormônios!"

Fui embora convencido de que alguma coisa estava funda­


mentalmente errada com a nossa visão dessa época específica
da vida. Há algo inerentemente errado na epidemia cultural
do medo e no cinismo em relação a nossos adolescentes. Algo
não vai bem quando o objetivo máximo dos pais é sobreviver
a essa fase. Precisamos reconsiderar: esta é a visão bíblica de
tal período da vida? Esta visão leva a estratégias bíblicas de
educação e à esperança bíblica?

Precisamos verificar o que há de errado com o cinismo em


relação aos adolescentes, que é endêmico em nossa cultura.

Muitas vezes falamos de nossos adolescentes como se eles


não fossem rríais do que um punhado de hormônios de fúria
e rebelião /envolvidos por pele em desenvolvimento. Temos
como objetivo de alguma forma conter esses hormônios para
10 CAPÍTULO UM

que possamos sobreviver até que o adolescente chegue aos


vinte anos. Uma mãe recentemente se alegrou em me dizer que
seu filho havia feito vinte anos, como se ele tivesse passado
por uma porta mágica, saindo do perigo para a segurança.
"Conseguim os!" disse ela.

A mentalidade da "sobrevivência" expõe a pobreza desta


visão dos adolescentes. Muitos pais que vêm conversar co­
migo sobre seus filhos adolescentes falam sem esperança e
os vêem como vítimas dos hormônios que os levam a fazer
loucuras. Embora jamais o digam, a teologia que se esconde
atrás desta visão é que as verdades das Escrituras, o poder do
Evangelho, a comunicação bíblica e os relacionamentos que
agradam a Deus não são páreo para os anos da adolescência.
Sim, cremos que a Palavra de Deus é poderosa e eficaz, exceto
se alguma pobre alma está tentando aplicá-la a um filho entre
catorze e dezenove anos! Agora até temos uma categoria de
crianças chamadas "pré-adolescentes". Essa é a época em que
as características de monstro do adolescente começam a se
desenvolver e erguem suas horripilantes cabeças.

Estamos acomodados com a visão dos adolescentes que


diz que por causa das importantes mudanças biológicas que se
passam no interior deles, eles são essencialmente inatingíveis?
Estamos acomodados com a visão hormonal dos adolescentes
que os reduz a vítimas das forças biológicas, eximindo-os de
responsabilidade por suas próprias escolhas e ações? Nós
realmente desejamos ter uma visão dos adolescentes que nos
faria acreditar que as verdades que dão vida e esperança a
todos que crêem não podem atingir o adolescente? Não po­
demos conservar uma fé robusta no poder do evangelho se
continuarmos aprovando o cinismo de nossa cultura sobre a
adolescência.
IDADE DA OPORTUNIDADE OU PERÍODO DE SOBREVIVÊNCIA?
11

S a c rifíi rinient© E s p e c ia is ?
Em 2 Tim óteo 2:22, Paulo exorta Tim óteo: "Fuja dos
desejos malignos [paixões] da juventude". Esta pequena e
interessante frase nos conclama ao equilíbrio na maneira de
pensar sobre os adolescentes e no modo como definimos tal
fase da vida. Por um lado, a Bíblia nos desafia a não sermos in­
gênuos quanto a esse período de vida. Há paixões que afligem
de forma especial os jovens, tentações que são especialmente
fortes. Estas devem ser enfrentadas. As Escrituras ordenam
que sejamos estratégicos, que façamos a pergunta: "Quais são
os desejos malignos que oprimem uma pessoa durante este
período específico da vida?"

Ao mesmo tempo, Paulo usa a palavra "juventude" porque


cada fase tem seu próprio conjunto de tentações. As tentações
de um menino, de um jovem e de um velho não são exatamente
as mesmas. As tentações do adolescente não são especialmente
cruéis e intensas. Todos que desejam agradar ao Senhor de­
vem, em todas as épocas da vida, vigiar, orar, resistir e lutar
para não cair em tentação. O adolescente é chamado para se
guardar das tentações que são típicas da juventude, enquanto
as pessoas mais velhas são chamadas a se guardarem contra as
tentações típicas da maturidade. Todos, independentemente
da idade, devem aceitar cada estágio da batalha como cristãos
que vivem em um mundo degradado.

B a ta lh a i a B io lo g ia ou lla ta itia ição?

A passagem de 2 Timóteo também é útil na maneira como


coloca e define a batalha do jovem. Há, de fato, uma batalha
sendo travada impetuosamente nas vidas dos jovens, mas não
é a batalha da biologia. E^tfha batalha intensamente espiritual,
uma batalha pelo coração. E exatamente isso que Paulo deseja
que nós saibamos quándo exorta Timóteo a não deixar seu
12 CAPÍTULO UM

coração ser controlado pelos desejos malignos. Esta batalha


não é exclusivamente dos adolescentes. Ela se define um pouco
mais durante a adolescência, mas é a batalha de todo pecador.

A tendência de todo pecador, não im portando a sua


idade, é bem capturada por Paulo em Romanos 1:25, isto é,
a tendência de trocar a adoração e o serviço ao Criador pela
adoração e o serviço à criatura. Sim, é ali na vida do adoles­
cente que deixa as suas convicções em troca da aprovação de
seus amigos, mas está presente tão fortemente no adulto que
negligencia a família e as prioridades espirituais em troca de
sucesso profissional. A batalha, como Paulo a entende, é uma
batalha do coração, e é dramaticamente importante porque o
que controla o coração dirige a vida.

Há significativas tentações do coração com as quais os


adolescentes deparam, levando-os a crer que eles não podem
viver sem algum aspecto da criação. Essas vozes os chamam
a crer que identidade, significado e propósito podem ser en­
contrados na criatura e não no Criador. São os conflitos que
podem alterar a vida do adolescente. Não ousamos perdê-los
por causa de nossos temores biologicam ente orientados e
de nossa mentalidade de sobrevivência. Temos que crer que
Jesus veio para que cada um de nós fosse liberto dos desejos
de nossa natureza pecaminosa a fim de que possamos servir
a Ele, somente a Ele. Isso inclui os nossos adolescentes.

As Lutas elos Pais


O tumulto da adolescência não é composto somente das
atitudes e ações dos adolescentes, mas dos pensam entos,
desejos, atitudes e ações dos pais também. A adolescência é
difícil para nós porque ela tende a trazer à luz o pior de nós.
E durante esses anos que os pais se pegam dizendo coisas que
nunca pensaram que iriam dizer. Os pais se vêem reagindo
IDADE DA OPORTUNIDADE OU PERÍODO DE SOBREVIVÊNCIA?
13

com acusações, manipulação de culpa e ultimatos, respon­


dendo com um nível de ira que nunca pensaram ser possível.
É durante esses anos que os pais lutam com a vergonha por
estarem associados ao adolescente que um dia foi, quando
criança, uma grande fonte de orgulho e alegria.

E vital para nós confessarmos que a luta da adolescência


não diz respeito somente à biologia e à rebelião adolescente.
Esses anos são difíceis para nós porque eles expõem os pen­
samentos errados e desejos de nossos próprios corações. Há
um princípio aqui que precisamos reconhecer. Minha mãe
o colocava da seguinte maneira: "Não há nada que saia de
alguém embriagado que já não estivesse lá antes". Esses anos
são difíceis para nós porque eles rasgam o véu e nos expõem.
E por isso que as tentações são tão difíceis, porém tão úteis nas
mãos de Deus. Não mudamos radicalmente em um momento
de tentação. Não, as tentações revelam o que sempre fomos.
As tentações desnudam coisas para as quais, de outra forma,
permaneceríamos cegos. Assim também, a adolescência expõe
nosso farisaísmo, nossa impaciência, nosso espírito implacável,
nossa falta de amor servil, a fraqueza de nossa fé e nossa ânsia
por conforto e comodidade.

Por que PerclsRies Operfiimiciades


Recentemente, recebi em meu escritório um pai que esta­
va tão bravo com seu filho, que já era um enorme esforço ele
conseguir se controlar diante de mim. Ele não via as tremendas
necessidades espirituais de seu filho e nem que havia sido
especialmente incumbido por Deus para supri-las. Não havia
ternura no relacionamento entre eles; nem mesmo cordialida­
de. Havia, sim, uma tensa distância. Em uma ocasião, o pai
levantou-se para falar ao filho sobre seu boletim escolar. Ele foi
até a cadeira/ónde o filho estava sentado, esfregou o boletim
em seu rosto e disse: "Com o você se atreve a fazer isso comigo
14 CAPÍTULO UM

depois de tudo o que eu tenho feito por você?" Para ele, as más
notas eram uma afronta pessoal. E não era dessa forma que ele
achava que as coisas tinham que funcionar. Ele havia feito a
sua parte; agora o filho deveria fazer a dele. Ele estava bravo
com seu filho, mas não por causa de seu pecado contra Deus.
Ele estava bravo porque o filho havia privado dele como pai,
coisas que ele valorizava muito: sua reputação como bom pai
cristão, o respeito que achava que merecia e a comodidade que
pensava que finalmente alcançaria com filhos mais velhos.

Não havia nele atitude de ministério, nem senso de opor­


tunidade, nem tentativa de tomar parte no que Deus estava
fazendo na vida de seu filho. Ao contrário, ele estava cheio
da ira descrita em Tiago 4:2: "Vocês cobiçam coisas, e não as
têm ".

O cinismo cultural que em discussão aqui está baseado


em quem achamos que os adolescentes são e no que achamos
que eles estão passando. Nossa tendência é crer que pouco
podemos fazer para tornar esses anos mais produtivos. Tal
cultura diria que precisamos aplicar estratégias positivas de
sobrevivência que preservem a sanidade dos pais e a estabili­
dade do casamento, e que mantenham o adolescente tão fora
de perigo causado por suas próprias mãos quanto possível.

Contudo, em minha experiência, quando os pais começam


a reconhecer, admitir, confessar e mudar as atitudes de seus
próprios corações e as ações erradas que fluem delas, o resul­
tado é uma diferença marcante em seu relacionamento com
os filhos adolescentes e na maneira como vêem os conflitos da
adolescência. Quando nos preocupamos com a adolescência,
precisamos olhar não apenas para nossos filhos, mas também
para nós mesmos. Os pais que humildemente se dispõem a
mudar, se colocam em posição para ser instrumentos de m u­
dança de Deus.
IDADE DA OPORTUNIDADE OU PERÍODO DE SOBREVIVÊNCIA? 15

Urna lllanrH!,- i .íellior (de Vc ■ ■- Jolescência)

É hora de rejeitar o cinismo indiscriminado de nossa cul­


tura em relação à adolescência. Este não é um período de luta
não dirigida e improdutiva, mas de oportunidade sem prece­
dente. São os anos dourados da paternidade, quando todas as
sementes plantadas começam a ser colhidas e quando se pode
ajudar o adolescente a internalizar a verdade, preparando-o
para uma vida produtiva de honra a Deus como adulto.

São anos de profundo questionamento, anos de maravi­


lhosas discussões nunca antes possíveis. Anos de falha e luta
que expõem o verdadeiro coração do adolescente. São anos de
ministração diária e de grande oportunidade.

Estes não são anos para serem meramente sobrevividos!


Devem ser encarados com um senso de esperança e missão.
Quase todo dia traz uma nova oportunidade de entrar na vida
de seu adolescente com ajuda, esperança e verdade. Não deve­
mos nos resignar a um relacionamento cada vez mais distante.
Esta é uma época de conexão com nossos filhos como nunca
houve antes. São anos de grande oportunidade.

E sobre isso que este livro trata. E um livro de oportuni­


dade e esperança. E hora de abandonarmos a posição defen­
siva e segura do cinismo e do medo para virmos para a luz,
examinando o plano que Deus tem para nós ao educarmos
filhos adolescentes. Este é um livro sobre atividades, objeti­
vos e estratégias práticas. Este é um livro que acredita que as
verdades das Escrituras se aplicam tão poderosamente aos
adolescentes quanto a todas as outras pessoas.

Ao mesmo tempo, este livro não é ingênuo. A adolescência


é freqüentemente um período cataclísmico de conflito, luta
e dor. São anos de novas tentações, de provações e testes.
E n tretan to , estas m esm as lu tas, co n flito s, provações e
16 CAPÍTULO UM

testes são o que produz oportunidades para educação tão


maravilhosas.
Reconhecendo o s Mom entos d e Mudança de D eus
Em uma gelada terça-feira, eu havia tido reuniões de
aconselhamento durante todo o dia e dado aulas por três
horas à noite. Estava indo para casa aproximadamente às dez
horas, sonhando com uma hora ou mais de relaxamento an­
tes de ir para a cama. Silenciosamente, esperei que, por uma
razão inexplicável, a família toda tivesse ido para a cama às
nove horas. Ou, se não tivessem ido para a cama, esperei que
eles instintivamente soubessem que eu estava cansado e não
queria ser incomodado. Raciocinei que havia servido a Deus
fielmente aquele dia. Certamente, Deus concordaria que eu
tinha o direito de me desligar da vida! Sonhei com a sala de
estar vazia, uma coca-cola light bem gelada, o jornal e o controle
remoto. Estava totalmente exausto e tinha o direito de relaxar.
(Você pode ver que eu estava me aproximando da casa com
uma atitude desinteressada de ministério!)

Abri a porta sem fazer barulho, na vã esperança de que


pudesse entrar sem ser notado. As luzes da sala estavam apa­
gadas e a casa, silenciosa. Enchi-me de esperança. Talvez os
meus sonhos tivessem se realizado; uma noite de descanso só
para mim! Coloquei apenas um pé para dentro quando ouvi
uma voz nervosa. Que decepção! Desejei agir como se nada
tivesse ouvido. Era a voz de Ethan, meu filho adolescente.
Minha decepção logo se transformou em ira. Quis agarrá-lo e
dizer: "Você não sabe como foi o meu dia? Não sabe o quanto
estou cansado? A última coisa de que preciso agora é lidar com
seus problemas. Você vai ter que resolver isso sozinho. Gostaria
que uma vez na vida você pensasse em outra pessoa além de
si mesmo. Faço tanto por você e esse é o agradecimento que
recebo. Você não pode me deixar em paz por uma noite?"
IDADE DA OPORTUNIDADE OU PERÍODO DE SOBREVIVÊNCIA? 17

Todos esses pensamentos me vieram à mente, mas eu não


disse uma só palavra. Ouvi Ethan derramar sua queixa. Como
sempre, ele estava bravo com seu irmão mais velho e amaldi­
çoando o fato de ele ter um irmão mais velho que parecia não
fazer nada senão "estragar a sua vida". Passava das dez da
noite. O problema que dera inicio ao dilema era insignificante.
Fui tentado a dizer para ele se acalmar e lidar com o proble­
ma, mas outra coisa a fazer me alertou. Aquele era um dos
momentos inesperados de oportunidade, um dos momentos
mundanos ordenados por um Deus amoroso e soberano, onde
o coração de meu adolescente estava sendo exposto. Era mais
do que um momento do Ethan com o seu pai. Era o momento
de Deus, um momento dinâmico de redenção, em que Deus
continuaria o trabalho de resgate que havia começado há anos
em meu filho. A única dúvida naquela hora era se eu seguiria
o plano de Deus ou o meu próprio. Eu acreditaria no Evange­
lho naquele momento, confiando que Deus me daria aquilo
de que eu tanto precisava para poder realizar o que ele estava
me chamando para realizar na vida de meu filho?

Pedi que Ethan se sentasse à mesa da sala de jantar e me


dissesse o que estava acontecendo. Ele estava magoado e bravo.
Seu coração estava exposto. Conversamos abertamente sobre
a sua ira e ele ficou pronto para ouvir. Uma insignificante
discussão com seu irmão abriu a porta para falarmos sobre
coisas que estavam longe de ser insignificantes. Deus me deu
força e paciência. Ele encheu a minha boca para falar as coisas
certas. Ethan viu a si mesmo de maneira diferente aquela noite
e confessou coisas que nunca havia admitido antes.

Era quase meia-noite quando eu disse boa noite a Ethan.


Abraçamo-nos e fomos dormir. O que à primeira vista parecia
ser um m omento de irritação por causa de um problem a
obviamente sem importância, na verdade havia sido uma
18 CAPÍTULO UM

op o rtu n id ad e m arav ilh o sa de m in istrar, ordenada por


um Deus de amor. Ficou muito claro que Deus não estava
trabalhando somente para mudar Ethan, mas para me mudar
também. O egoísmo de meu coração fora revelado naquela
noite, o m esm o egoísm o que faz com que pais ataquem
violentamente os mesmos adolescentes que precisam deles.
Minha necessidade de Cristo também havia sido exposta. De
forma alguma eu poderia agir como seu instrumento sem a
sua força.
Pequenos Mom entos, M to Cliamaelo
Decidi escrever sobre o caso acima por ter representado um
daqueles notáveis momentos que não só acontecem todos os
dias, mas muitas vezes ao dia. Cada um desses momentos está
repleto de oportunidades. Momentos assim são muito mais
abundantes do que os momentos dramáticos da adolescência -
como gravidez, drogas e violência - que recebem tanta atenção
da mídia. Nenhum de nós vive constantemente em grandes
momentos de decisão importante; não existem tantos deles na
vida. Ao contrário, vivemos num mundo incrivelmente banal.
E aqui que precisamos ver nossos adolescentes com os olhos
da oportunidade e não com olhos de espanto e medo.

A briga pelo último pedaço de sobremesa, o grito por não


ter o que vestir meia hora antes do horário de aula, o boletim
amassado no bolso da calça jeans jogada no cesto de roupa
suja, a expressão de "trom ba" diante do "N ão" de um pai, a
terceira batida de carro sem grandes conseqüências do mês,
as constantes palavras de descontentamento, o argumento
de que "todo mundo faz isso" e de que "sou o único cujos
pais obrigam a...", tudo isso deve ser visto como mais do que
chateações que atrapalham a vida que, de outra forma, seria
agradável. Estes são momentos para os quais Deus fez os pais.
Vocês são os agentes vigilantes de Deus. O chamado de vocês é
IDADE DA OPORTUNIDADE OU PERÍODO DE SOBREVIVÊNCIA? 19

incrivelmente alto. Vocês são o instrumento de Deus para aju­


dar e preparar um filho para fazer suas últimas decisões antes
de sair de casa e entrar no mundo de Deus. Estes momentos
fazem sua vida valer a pena. Aqui você fará uma contribuição
que é infinitamente mais valiosa do que qualquer carreira ou
realização financeira.
R econ h ecen d o. ortumielacies
Quanto mais convivo com meus próprios filhos adolescen­
tes, observando seus amigos e interagindo com outros pais de
adolescentes, mais me convenço de que esta é uma época de
incessantes oportunidades. Há coisas que são expostas neste
período delicado, assustador, difícil e volátil de desenvolvi­
mento que o fazem tão cheio de oportunidades. Esta não é a
época de se esconder! Não é a época de temer que o pior vá
acontecer numa cena de total caos doméstico. Não é a época de
aceitar um "conflito de gerações" ditado pela cultura. Esta é a
época de entrar em cheio na batalha e de se aproximar de seu
filho adolescente. E época de envolvimento, interação, diálogo
e relacionamento comprometido. Não é a época de deixar o
adolescente esconder suas dúvidas, temores e erros e sim, a
época de buscar, amar, encorajar, ensinar, perdoar, confessar
e aceitar. E uma época maravilhosa!

Atualmente, enquanto escrevo este livro, minha esposa


e eu temos três adolescentes. Em nenhum outro período de
nossas vidas tivemos tanto senso de chamado. Temos rido,
chorado, dialogado e orado com nossos filhos. Temos luta­
do por eles e com eles. Temos visto erros e tentativas como
oportunidades. Nem sempre temos reagido em fé e tem sido
necessário confessar nossos próprios pecados, mas temos co­
mentado um com o outro que este é um período maravilhoso
da vida em família. Estamos tão felizes por estarmos fazendo o
que estamos fazendo. Vemos a glória de Deus sendo revelada
20 CAPÍTULO UM

até no meio de nossos débeis esforços e fraqueza de fé.

Há três portas fundamentais de oportunidades pelas quais


todo pai de adolescente pode entrar. Cada um desses proble­
mas se torna um meio de ajudar o adolescente a internalizar
as verdades às quais ele foi exposto por anos. Os problemas
da insegurança, da rebelião e do mundo em expansão do
adolescente são, na verdade, portas divinas de oportunidades
por meio das quais os pais têm acesso exclusivo às questões
centrais nas vidas de seus adolescentes.

Ii> insegurança d© A d o le s c e n te

Adolescentes não são pessoas seguras! O adolescente que


parece ser seguro no café da manhã pode facilmente sucum­
bir no jantar. A adolescente que vai dormir achando que está
com boa aparência acorda, olha no espelho antes do café da
manhã e fica convencida de que sua cabeça é grande demais
para seu corpo. O adolescente que é seguro porque pensa que
finalmente entende as regras o suficiente para ser considerado
um humanóide quase normal acabará se convencendo de que
é um desajuste social terminal por causa de algum momento
embaraçoso em uma festa.

Nosso filho Ethan tinha aproximadamente quinze anos


quando chegou em casa uma tarde, obviamente desanimado.
Perguntei a ele o que estava errado e ele me disse que todos
os dias, as pessoas o ridicularizavam quando ia ou voltava
da escola. Ele disse: "Vejo as pessoas olharem para mim, con­
versarem e rirem ". Foi um período difícil para ele. Ele estava
crescendo rapidamente e tinha insegurança em relação a si
mesmo, seu corpo e sua aparência. Ethan estava naquela fase
de transição entre menino e homem e projetava a sua insegu­
rança em todos a sua volta. Esta época de insegurança física
foi um período de muitas oportunidades para ouvir, amar e
IDADE DA OPORTUNIDADE OU PERÍODO DE SOBREVIVÊNCIA? 22

encorajar para o Evangelho.

Este é um período em que o adolescente fica cheio de dú­


vidas. Quem sou eu? Minha aparência é boa? Por que a vida é
tão confusa? Será que um dia me lembrarei de todas as regras?
O que é certo e o que é errado? Quem está certo e quem está
errado? O que está acontecendo com meu corpo? O que vou
fazer de minha vida? Serei bem-sucedido ou não? As pessoas
realmente gostam de mim? Eu sou normal? Minha família é
normal? Deus é real?

O mundo da aparência física, o mundo dos relaciona­


mentos, o mundo das idéias, o mundo das responsabilidades
e o mundo do futuro são todos assustadores e incertos para o
adolescente. É esta realidade que faz esta época ser uma era de
tantas oportunidades. Em meio a tantas dúvidas, importantes
temas bíblicos podem ser discutidos, tais como a doutrina da
criação, o temor do homem, a soberania de Deus, a natureza
da verdade, identidade em Cristo, guerra espiritual e tentação,
para mencionar apenas alguns. No contexto das inseguranças
diárias, temos a oportunidade de ajudar o adolescente a fazer
a teologia conceituai se tornar teologia funcional e formadora
de vida. Cada uma dessas dúvidas fornece uma oportunidade
de discutir, testar, experimentar, aplicar e internalizar impor­
tantes verdades bíblicas.

Ji, Rebelião d® Àci®ieseente

As histórias de rebelião bruta e flagrante são uma das


razões porque os pais temem os anos da adolescência. A idéia
de que uma doce criança possa se transformar no líder de
uma violenta gangue é o pior pesadelo de um pai. Temos que
reavaliar nossa expectativa de rebelião automática do adoles­
cente. Ao mesmo tempo, temos que reconhecer que esta é uma
era em que os filhos tentam ultrapassar os limites, em que as
22 CAPITULO UM

tentações são abundantes e em que os relacionamentos com


amigos nem sempre promovem o bom comportamento.
Recebem os um daqueles tenebrosos telefonemas num
domingo à tarde. Era uma mãe de nossa igreja dizendo que
nosso filho não havia dormido em sua casa, como pensávamos.
Ela nos contou que nosso filho havia pedido a seu filho que o
acobertasse, mas ele teve um despertar de consciência e pediu
ajuda à mãe. Ela telefonou a nós. Ficamos com medo e desapon­
tados. Por um momento, nos rendemos à pior das hipóteses.
Quantas vezes ele havia mentido? Estávamos convivendo com
um filho que não conhecíamos? Ao mesmo tempo, estávamos
profundamente agradecidos pela misericórdia libertadora do
Senhor. Perguntamos a nosso filho e ele confessou. Foi um
momento divisor de águas em que ele escolheria a quem ser­
vir. Saímos do quarto tão agradecidos porque um evento que
esperávamos que nunca acontecesse tinha, no plano de Deus
de misericórdia, acontecido.

Há desejos que fazem o adolescente ficar susceptível à


tentação de se rebelar: o desejo de ser um indivíduo e pensar
por si mesmo, o desejo de liberdade, o desejo de experimentar
coisas novas, o desejo de testar os limites, o desejo de estar no
controle, o desejo de tomar suas próprias decisões, o desejo de
ser diferente, o desejo de se adequar e o desejo de ser aceito.
Estes, bem como inúmeros outros desejos, todos estimulados
pela autonomia e egocentrismo da natureza do pecado, podem
certamente levar o adolescente para o mau caminho.

Por outro lado, esses conflitos de rebelião e submissão se


tornam o contexto em que outros temas bíblicos podem ser
discutidos, aplicados e internalizados. As verdades bíblicas
que se relacionam com autoridade, semear e colher, natureza
da verdade e da falsidade, sabedoria e insensatez, lei e graça,
confissão, arrependimento, perdão e a natureza e função do
IDADE DA OPORTUNIDADE OU PERÍODO DE SOBREVIVÊNCIA? 23

coração, todos esses tópicos podem ser abordados em meio a


esses momentos cruciais de submissão e rebelião. Os pais que
têm olhos voltados para a oportunidade terão muitas e muitas
chances de lidar com as questões centrais da fé bíblica na vida
de seus filhos adolescentes.

iiiicl© em E x p a n sã o do A d o le s c e n te

Uma das coisas que assustam os pais e é fonte de insegu­


rança para seus filhos é a súbita explosão do mundo do ado­
lescente. De repente, parece que o mundo fica maior. Aquele
menino ou menina que ficava horas brincando no quintal,
agora percorre muitos quilômetros em busca de novos lugares,
novas experiências e novos amigos.

Este mundo nem sempre é excitante para o adolescente.


As vezes, ele parece ser assustador e esmagador. Há momen­
tos em que o adolescente se mostra animado com a alegria da
descoberta e há outros em que ele fica tímido e distante. As
vezes, ele gosta de ser adolescente, às vezes, parece ter medo
das expectativas postas sobre ele.

Não há como interromper a expansão de seu mundo. E um


mundo de novos amigos, novos locais, novas oportunidades e
responsabilidades, novos pensamentos, novos planos, novas
liberdades, novas tentações, novos sentimentos, novas expe­
riências e novas descobertas. Todas as alegrias e inseguranças
desse mundo em expansão fornecem oportunidades para você
ajudar o adolescente a entender e pessoalmente internalizar
verdades fundamentais. Tais verdades incluem a soberania e
a providência de Deus, o auxílio sempre presente do Senhor,
a natureza dos relacionamentos bíblicos, batalha espiritual,
disciplina, autocontrole, satisfação, fidelidade, fidedignida-
de, natureza do corpo de Cristo, o mundo, a carne e o diabo,
os princípios da responsabilidade e da prestação de contas,
24 CAPÍTULO UM

prioridades bíblicas, descobertas e exercício de dons, além de


muitas outras verdades e princípios bíblicos. A lista é bastante
extensa, mas este mundo em expansão provê maravilhosas
oportunidades para os pais prepararem seus adolescentes para
uma vida eficiente e produtiva no mundo de Deus.

Rejeita raismo
A primeira coisa a ser feita ao formarmos uma visão bíblica
da educação de nossos adolescentes é rejeitar o cinismo som­
brio e agourento de nossa cultura. É verdade, a adolescência
traz mudança, insegurança e tumulto, mas são estas as coisas
que Deus usa para trazer a verdade à luz aos olhos de nossos
filhos. Se desejamos ser Seus instrumentos, temos que lidar
com nossa própria idolatria e aplicar uma fé bíblica robusta a
cada momento difícil, uma fé que creia que Deus governa sobre
todas as coisas para o nosso bem, que ele é auxílio sempre pre­
sente na angústia, que ele opera em toda situação realizando
o seu propósito redentor e que a sua Palavra é poderosa, ativa
e eficaz.

Não queremos ser levados a assumir uma posição defensi­


va de sobrevivência por causa da insegurança, da rebelião e do
mundo em expansão do adolescente. Ao contrário, desejamos
considerar o chamado de Paulo a Timóteo como a agenda de
Deus para nosso trabalho com os adolescentes. "Pregue a pa­
lavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda,
corrija, exorte com toda a paciência e doutrina" (2 Timóteo
4:2). Desejamos encarar essa importante época com esperança;
não esperança em nossos adolescentes ou esperança em nós
mesmos, mas esperança em Deus, que é capaz de fazer mais
do que qualquer coisa que pedimos ou imaginamos, ao apro­
veitarmos as oportunidades que ele coloca em nosso caminho.
Desejamos encarar essa época com senso de propósito e de
chamado.
IDADE DA OPORTUNIDADE OU PERÍODO DE SOBREVIVÊNCIA? 25

Quando as pessoas perguntarem com o que você tra­


balha, diga: "Sou pai de um adolescente. Este é o emprego
mais importante que já tive. Todas as outras coisas que faço
na vida são secundárias." Depois diga: "Sabe, nunca tive um
emprego tão estimulante e tão cheio de oportunidades. Eu sou
necessário todos os dias. Faço coisas importantes, proveitosas
e duradouras todos os dias. Não deixaria este emprego por
nada no m undo!"
Que ídolos Estão
no Caminho?
SE desejamos mesmo ser eficazes por Cristo nas vidas
de nossos adolescentes, é importante que sejamos honestos a
respeito de nossos próprios ídolos - as áreas onde nós tendemos
a trocar a adoração e o serviço ao Criador pela adoração
e serviço às coisas criadas. M uitas vezes, ao procurarmos
entender os conflitos do adolescente, olhamos apenas para
ele e para seus problemas. Na realidade, é tempo de olharmos
para dentro de nós mesmos e perguntarmos: "O que de fato
governa os nossos corações?" E certo que, neste momento,
todo pai cristão daria, espontaneamente, a resposta teológica
correta. Somos filhos de Deus. Ele governa os nossos corações.
Será mesmo? Não estou falando da afirmação teológica, mas
de nossa adoração cotidiana. Onde realmente importa - nos
quartos, salas, cozinhas e corredores da vida - o que controla
os nossos corações?
Csiimece co m o S e u C o ra ç ã o
Será perda de tempo para nós, pais, pensarmos em estra­
tégias de educação para os adolescentes sem antes examinar­
mos a nós mesmos. Se nossos corações são controlados por
algo que não seja Deus, deixaremos de enxergar as preciosas
oportunidades de educação da adolescência como oportuni­
dades. Em vez disso, elas serão uma sucessão constante de
irritantes controvérsias causadas por uma pessoa incrivelmente
QUE ÍDOLOS ESTÃO NO CAMINHO?
27

egocêntrica que não é adulto nem criança, mas que tem a ex­
cepcional habilidade de transformar em caos até o momento
menos relevante de nossas vidas. O cinismo de nossa cultura
em relação aos adolescentes revela aquilo a que nós, como pais,
servimos. Nossos corações nos cegam para as oportunidades
à nossa volta durante a adolescência.
Aqui, há um importante princípio ensinado em toda parte
nas Escrituras e enunciado mais claramente em Ezequiel 14:4:
"Assim diz o Soberano, o SENHOR: Quando qualquer israelita
erguer ídolos em seu coração e puser um tropeço ímpio diante
do seu rosto e depois for consultar um profeta, eu, o SENHOR,
eu mesmo, responderei a ele conforme a sua idolatria".

Colocarei esta passagem em minhas próprias palavras. Os


líderes de Israel haviam buscado a Deus a fim de ouvir as Suas
palavras para eles, mas ao se aproximarem, Deus percebe que
seus corações estavam tomados por ídolos. Assim, Deus diz:
"Porque há ídolos em seus corações, a única coisa que estou
interessado em falar é sobre a idolatria de vocês". Por quê?
Há uma pequena frase aqui que nos dá a deixa. Deus diz que
quando alguém ergue um ídolo em seu coração, também põe
um "tropeço ímpio diante de si". O princípio revelado aqui
é o princípio da inevitável influência. Aquilo que controla o
meu coração irá controlar a minha vida. Um ídolo do coração
sempre coloca um tropeço ímpio diante de minha face.

Ponha uma das mãos na frente de seu rosto, com os dedos


um pouco separados. Ao tentar olhar por entre os dedos, a
sua visão ficará obstruída. Enquanto sua mão estiver na frente
do rosto, não importa para onde você se vire, sua visão será
alterada por causa dos dedos. Assim acontece também com o
ídolo no meu coração. Ele exercerá inevitável influência sobre
minha vida. Aonde quer que eu vá, o que quer que eu faça, o
ídolo influenciará tudo o que eu fizer e a maneira como fizer.
28 CAPÍTULO DOIS

Esta é a razão porque Deus diz: "Para mim não faz sentido falar
sobre qualquer outra coisa, porque o que quer que eu diga, de
alguma forma, será usado para servir ao ídolo que governa o
seu coração. Portanto, quero lidar com a sua idolatria. Esta é
minha prioridade".

Não podemos ignorar este tema central. Estou profun­


damente persuadido de que nossos ídolos nos fazem ver as
oportunidades como provações e nos forçam a revidar a nossos
adolescentes com palavras amargas de juízo, acusação e con­
denação, comportando-nos em relação a eles com intolerância
e raiva. Embora Deus nos chame para amar, aceitar, perdoar
e servir, muitas vezes mal somos capazes de ser gentis.

Consideremos alguns ídolos típicos dos pais e a maneira


como eles moldam as nossas respostas aos adolescentes.

©1© do Conforto

Secretamente, em nossos corações, muitos de nós deseja­


mos que a vida seja um resort. Resort é aquele local onde você
é quem é servido. Suas necessidades vêm em primeiro lugar
e você só faz aquilo que quiser e no tempo em que quiser. As
únicas exigências com as quais você tem que lidar num resort
são aquelas que você impõe a si mesmo. Num resort, prevalece
o senso de merecimento; você já pagou e tem direito de esperar
certas coisas. Receio que muitos de nós vivam pelo conforto e
tenham essa mentalidade como pais educadores. Concluímos
que temos direito ao sossego, à harmonia, à paz e ao respeito
e respondemos com raiva quando não obtemos essas coisas.

As Escrituras nos advertem que a vida está longe de ser um


resort. A vida é uma guerra. Isso fica claramente demonstrado
na adolescência. Eu disse muitas vezes aos meus adolescentes
quando saíam de casa: "H á uma guerra lá fora e ela está sendo
travada no campo de seu coração; pelo controle de sua alma". O
QUE ÍDOLOS ESTÃO NO CAMINHO?
29

tumulto, o caos e a inquietação da adolescência não são apenas


resultado das importantes mudanças biológicas que ocorrem,
mas devem-se também a uma dramática guerra espiritual.

Os pais que exigem conforto, sossego, regularidade, paz,


espaço, tranqüilidade e harmonia estarão mal equipados para
a guerra. Eles começarão a ver o adolescente como inimigo e
passarão a lutar com ele, e não por ele, e pior ainda, tenderão a
esquecer a real natureza da batalha e a identidade do verda­
deiro inimigo. Agirão com base no desejo frustrado, fazendo e
dizendo coisas lamentáveis e não serão eficazes e produtivos
nos m omentos estratégicos de ministério em que Deus os
colocou.

O íd©!© cio R e sp e ito

Um pai havia quebrado todos os CDs da filha. Ele a tran­


cara em seu quarto todas as noites e expusera os pecados dela
a toda a igreja em uma reunião de oração. Ele a esbofeteou no
rosto na frente de seus amigos e tentara depreciá-la e incitá-la
à submissão, nunca deixando de dizer a ela que ele tinha sido
um adolescente exemplar. Em meu escritório, ele me disse com
grande energia e resolução: "Vou fazê-la me respeitar nem que
seja a última coisa que eu faça na vida!".

O desejo pelo respeito governava o seu coração e ele estava


convencido de que tinha o direito de ser respeitado. Assim,
todo problema se tornava uma questão de respeito. Ele via
desrespeito até onde este não existia. A vida se tornara uma
série de exames finais em que ele nunca dava a sua filha mais
cio que um "E " como avaliação. Ele considerava todo o desen­
volvimento, insegurança e inabilidade da filha como afronta
pessoal. Não havia dimensão vertical ou espiritual em seu pen­
samento. Ele não via a filha em termos de seu relacionamento
com Deus, mas somente em relação a si mesmo. Ele não via
30 CAPÍTULO DOIS

a si mesmo como agente para conduzi-la ao temor de Deus


que leva à salvação. Seu coração era movido pelo objetivo de
que ela o temesse e desse a ele o respeito de que ele achava
ser merecedor.

O respeito é bom? Claro que sim! É algo que os pais devam


procurar instilar em seus filhos? Sim! Mas isso não deve ser o
que controla meu coração, ou eu personalizarei aquilo que não
é pessoal. Perderei de vista o meu papel como representante
de Deus e exigirei e lutarei por algo que somente Deus pode
produzir.

Infelizmente, os olhos do pai estavam cegos para o deus


que o governava e para o fato de que, em sua busca por res­
peito, ele encorajava uma reação exatamente oposta.

’’ Ihfolo da V a lo riz a çã o

Estávamos presentes para atender às ligações da escola.


Estávamos presentes nas madrugadas quando os pesadelos
aconteciam. Trocamos a roupa de cama que mais uma vez
fora molhada. Fomos à farmácia 24 horas de pijamas e chi­
nelos para comprar remédio. Fizemos bolos de aniversário
especiais, em formato de skate. Limpamos vômito do carpete
do quarto. Comparecemos a reuniões com o diretor da escola.
Passamos horas fazendo o vulcão de papel machê. Provemos
transporte a milhares de eventos. Assistimos até o fim a inú­
meros e penosos recitais, gastamos milhões em memoráveis
férias. Andamos quilômetros e mais quilômetros por entre as
gôndolas de supermercados para alimentar bocas e encher
estômagos. Andamos exaustivamente pelas lojas em busca
de roupas "legais". Lavamos uma montanha de roupas, alta
como o Pico da Neblina! Desistimos de nossos sonhos para
pagar pelos instrumentos musicais e aparelhos ortodônticos.
Já não está na hora de recebermos alguma consideração?
QUli ÍDOLOS ESTÃO NO CAMINHO? 31

Não sei dizer quantas vezes ouvi pais recitarem partes


desta lista para mim, sempre com aquela mesma frase-resumo
no final. Parece tão lógico, tão inofensivo, tão certo. Os filhos
têm que valorizar seus pais. Mesmo assim, a busca da valoriza­
ção não pode ser nosso objetivo. Quando ela se torna a nossa
razão de viver, procuramos inconscientemente, com olhos
hipervigilantes, a valorização em todas as situações.

Não é sempre que os adolescentes chegam em casa no fim


do dia, abrem impetuosamente a porta e dizem: "Sabe sobre
o quê eu estava pensando no ônibus agora na volta da escola,
mãe? Sobre o quanto você e o papai têm feito por mim todos
esses anos. Vocês têm estado comigo e sido por mim desde
o primeiro minuto de minha vida até agora. Meu coração se
encheu de gratidão no ônibus, e mal podia esperar para chegar
em casa e dizer obrigado!". Se isso acontecer com você, erija
lápides como memorial permanente ou acenda uma chama
eterna!
Pouquíssim os pais, ao irem dormir, ouviram soluços
vindos do quarto da filha adolescente e tiveram a conversa a
seguir: "O que aconteceu, querida?", "Ah, eu estava pensando
em você e na mamãe e no quanto tenho sido ingrata. Sinto-me
tão culpada por não tê-los valorizado mais e me comprometi a
demonstrar que dou valor a vocês todos os dias!". Ao contrá­
rio, a tendência dos adolescentes é serem muito mais cheios de
si mesmos e de seus próprios interesses do que de consciência
e de reconhecimento do valor das outras pessoas.

Se os pais esqueceram o seu próprio relacionamento ver­


tical com Deus ao ministrarem aos adolescentes, se pensam
•■m tudo como se houvesse um contrato "Eu sirvo, você me
valoriza" entre pais e filhos, irão lutar com muito abatimento
e i ra durante o período da adolescência. Exatamente quando
os pais esperam que os filhos quase-crescidos lhes dêem ao
32 CAPÍTULO DOIS

menos um pouco em troca, eles parecem mais egoístas e ingra­


tos do que antes. Mais uma vez, todo pai precisa se perguntar:
"Por que estou fazendo o que estou fazendo? A quem estou
servindo? Que coisas passei a esperar e exigir? De quem são
os desejos que governam os momentos de oportunidade que
tenho com meu filho adolescente - de Deus ou m eus?"

O ídolo do Sucesso

Um pai disse-me na presença de seu filho adolescente:


"Você sabe o que é ir à igreja e saber que todos ali estão comen­
tando e orando por seu filho rebelde? Sabe o que é entrar no
culto com todos os olhares voltados para você e sabendo que
as pessoas estão indagando como estão as coisas e como você
e sua esposa estão enfrentando a situação? Tentamos cumprir
fielmente tudo o que Deus nos chamou para fazer como pais
e olhe só o que acabou nos acontecendo! Pergunto a mim
mesmo: se soubesse que tudo terminaria desse jeito, teríamos
optado por ter filhos? Não consigo descrever o quanto estou
decepcionado e envergonhado".

Naquela tarde, com o seu filho ouvindo, aquele pai falou o


que muitos pais sentem, mas nunca verbalizaram. Nossa ten­
dência como pais é encararmos a tarefa de educar com expec­
tativas como se tivéssemos garantias rigorosamente aplicadas.
Achamos que, se fizermos a nossa parte, nossos filhos serão
cidadãos exemplares. Contudo, em um mundo depravado,
não é assim que as coisas funcionam. Tendemos a encarar a
tarefa de pais com um senso de propriedade, pensando: esses
são nossos filhos, temos direito à obediência deles.

Essas suposições abrem caminho para que nossa identida­


de seja absorvida por nossos filhos. Começamos a ter neces­
sidade de que eles sejam o que deveriam ser para podermos
ter a sensação de realização e sucesso. Começamos a olhar
OUE ÍDOliOS ESTÃO NO CAMINHO? 33

para nossos filhos como troféus e não como criaturas de Deus.


Secretamente, desejamos exibi-los nas estantes de nossas vidas
como testemunhos vivos de um trabalho bem feito. Quando
eles não correspondem às nossas expectativas, não ficamos
tristes por eles nem lutamos por eles, mas ficamos bravos com
eles e lutamos contra eles. Na verdade, ficamos tristes por nós
mesmos e por nossa perda. Ficamos bravos porque eles nos
tomaram algo de valor, algo que se tornou o nosso tesouro,
que passou a governar os nossos corações: uma reputação para
o sucesso.
É tão fácil perder de vista o fato de que eles são filhos de
Deus, e que não pertencem a nós. Eles não nos são dados para
trazer glória a nós, mas a Ele. Nossos adolescentes vêm Dele,
existem por Ele e a glória de suas vidas é para Ele. Nada so­
mos além de agentes designados a realizar o Seu plano. Nada
somos além de instrumentos em Suas mãos. Nossa identidade
está estabelecida Nele e em Seu chamado para nós, não em
nossos filhos e no desempenho deles. A rejeição máxima que
deve nos fazer chorar não é a deles em relação a nós, mas deles
em relação a Deus.
Como pais, nossas dificuldades aparecem quando perde­
mos essas "realidades verticais" de vista, quando perdemos
de vista Deus e a Sua propriedade sobre nossos filhos, assim
como o Seu chamado para sermos pais fiéis, não importando o
resultado. Quando a tarefa de educar se reduz a nosso trabalho
árduo, ao desempenho do adolescente e à reputação da famí­
lia, fica muito difícil reagirmos com fidelidade desinteressada
diante dos erros de nossos filhos.

Momentos de ministério instituídos por Deus se tornarão


momentos de nervosa confrontação, cheios de palavras de cen­
sura. Ao invés de conduzir o adolescente necessitado a Cristo
uma vez mais, nós os agrediremos com nossas palavras. Ao
34 CAPÍTULO DOIS

invés de amar, rejeitaremos. Em vez de falarmos palavras de es-


perança, condenaremos. Nossos sentimentos serão inundados
muito mais com nossa própria vergonha, raiva e mágoa do que
com tristeza por causa da situação de nosso filho inconstante
diante de Deus.

Precisam os com eçar exam inando os nossos próprios


corações. Agimos como se tivéssemos propriedade e direitos
sobre nossos filhos? Passamos subitamente a ser governados
pela reputação? Lutamos em nosso interior para amar o filho
adolescente? Existe uma distância entre nós, resultante de tal
luta? Somos oprimidos por pensamentos sobre o que outros
acham? Chegamos até a questionar os princípios da Palavra
e a indagar por que eles não "funcionaram " para nós? Estas
perguntas precisam ser respondidas se pretendemos ser o que
Deus ordenou que fôssemos nas vidas de nossos adolescentes,
que são pecadores vivendo em um mundo depravado.

>> .1’i'Sol© de Coníroie

Estou cada vez mais convencido de que há apenas duas


maneiras de se viver: (1) confiando em Deus e vivendo em
submissão a Sua vontade e autoridade, ou (2) tentando ser
Deus. Pouco há entre uma opção e outra. Como pecadores,
parecemos nos sair melhores na última opção do que na pri­
meira!

Esta dinâmica espiritual atinge em cheio o papel dos pais


como educadores. Obter êxito na educação é perder o controle
de forma justa e instituída por Deus. O objetivo dos pais como
educadores é tornarem-se prescindíveis. O objetivo dos pais
deve ser educar filhos que já foram totalmente dependentes
para serem independentes, pessoas maduras que, com con­
fiança em Deus e ligados adequadamente à comunidade cristã,
sejam capazes de andar por si mesmas.
QUL ÍDOLOS ESTÃO NO CAMINHO? 35

Nos prim eiros anos, nós, pais, detemos o controle de


tudo, e, embora nos queixemos do estresse de todas as coisas,
gostamos de estar no poder! Não há muitas coisas que uma
criança possa decidir fazer, além de praticar as funções cor­
porais espontâneas. Escolhemos a comida delas, estabelece­
mos o horário de descanso para elas, o modo como devem se
exercitar fisicamente, o que vêem e ouvem, aonde vão, quem
são os seus amigos e assim por diante. Entretanto, a verdade
é que, desde que nascem, nossos filhos vão se tornando mais
independentes. O bebê que não conseguia rolar sem ajuda
agora pode engatinhar até o banheiro sem nossa permissão e
desenrolar todo o rolo de papel higiênico! Esta mesma criança
logo irá sair de casa para lugares bem distantes do alcance dos
pais.
Nós nem o percebemos. Esperamos que nossos filhos sejam
exatamente como nós. Sempre gostei muito de esportes, jogava
na escola e ainda gosto de assistir aos jogos. Lembro-me da
primeira vez em que meu filho mais velho, Justin, disse que
não queria assistir ao jogo de futebol comigo. O quê? Não
gosta de futebol? Eu quis dizer: "Isso não está certo! Eduquei
você para ser um fã de esportes organizados! Você não quer
ser como eu?"

Ou, eu me lembro quando minha filha Nicole disse pela


primeira vez que não gostava de geléia. Foi quase como se
livesse dito que não gostava do Natal ou das férias de verão.
I 'arecia haver algo teologicamente errado nesse fato! Determi­
nei que a convenceria de que geléia é uma delícia! Antes que
ela saísse de casa, estaria profunda e permanentemente ligada
.1 essa guloseima!

Quantos pais têm conflitos em relação aos amigos que


seus filhos escolhem? Sim, a escolha dos companheiros é um
assunto muito sério, mas também é uma área onde o controle
36 CAPÍTULO DOIS

deve ser entregue à criança em processo de amadurecimento.


Nosso objetivo como pais não é reter o controle rigoroso de
nossos filhos numa tentativa de garantir a segurança deles e
a nossa sanidade. Só Deus pode exercer tal tipo de controle.
O objetivo é ser usado por Ele para instilar em nossos filhos
um autocontrole em permanente amadurecimento por meio
dos princípios da Palavra e permitir que eles exerçam círculos
cada vez mais amplos de escolha, controle e independência.

Normalmente trabalho com pais que desejam fazer o re­


lógio voltar. Eles pensam que a única esperança é voltar aos
dias de controle total. Tentam tratar o filho adolescente como
uma criança pequena. Acabam mais como carcereiros do que
como pais, e se esquecem de ministrar o Evangelho, que é a
única esperança nesses momentos cruciais de conflito.

E vital que nos lembremos das verdades do Evangelho. A


primeira é que nenhuma situação está fora de controle, pois
Cristo é "cabeça sobre todas as coisas para a igreja, que é o seu
corpo" (Efésios 1:22 e 23a). A segunda é que as situações não
só estão sob controle, mas Deus atua nelas, operando o bem
que prometeu (Romanos 8:28). Assim, não preciso controlar
todo desejo, pensamento e ação de meu adolescente. Em cada
situação, ele estará debaixo do soberano controle de Cristo, que
realiza aquilo que eu não posso realizar. A terceira é que pre­
ciso lembrar que o objetivo de meu papel como pai educador
não é conformar meus filhos à minha imagem, mas trabalhar
para que eles sejam conformados à imagem de Cristo! Meu
objetivo não é "clonar" meus gostos, opiniões e hábitos em
meus filhos. Não é a minha própria imagem que desejo ver
neles; mas a de Cristo.

Não podemos considerar a adolescência, com seus tumul­


tos e conflitos, sem olharmos honestamente para aquilo que
nós, como pais, trazemos para a batalha. Se nossos corações
<.)Uli ÍDOLOS ESTÃO NO CAMINHO? 37

lorem governados pelo conforto, pelo respeito, pela necessi-


d ade de valorização, pelo sucesso e pelo controle, ansiaremos
i 11con seien temen te para que os adolescentes correspondam à
nossa expectativa, em vez de ministrarmos a suas necessidades
espirituais. Em vez de vermos os momentos de conflito como
portas de oportunidade abertas por Deus, nós os veremos como
íatores de irritação, frustração e decepção, e experimentaremos
crescente ira contra os mesmos filhos a quem fomos chamados
para ministrar.
O Que é Uma Família?
Definição
A pergunta: "o que é uma família?" tem sido discutida por
toda a história humana e será assunto de debate nas futuras
gerações. Cada geração reconhece o significado da família e
o fato de ela ter mudado do que era nas gerações anteriores.
A natureza da família é uma discussão abrangente em nossa
cultura atualmente sob o rótulo politicamente famoso "valores
de família".

Nosso objetivo aqui não é entrar na discussão cultural


tentando dar uma ampla definição bíblica à família. Nossa
meta é definir a família em todos os aspectos, isto é, responder
a pergunta: "O que é família?" de maneira funcional. O que
estamos realmente perguntando é: "O que Deus pretendia
que a família fosse?" Isto é importante porque nossa definição
funcional de família moldará nossos objetivos para nossos
filhos e nossas ações para com eles. A pergunta: "O que
Deus pretendia que a família fosse?" é a base da pergunta:
"Com o Deus quer que nós ajamos em relação a nossos filhos
adolescentes? Você jamais conseguirá obter uma percepção
bíblica adequada da descrição de sua tarefa como pai de um
adolescente a menos que tenha primeiro entendido a descrição
de sua tarefa como pai de forma mais genérica.

Ouvi muitos de meus irmãos cristãos contarem histórias


de férias e os planos elaborados feitos por muitos meses para
() QUE É UMA FAMÍLIA? DEFINIÇÃO 39

assegurar que a família tivesse um período relaxante. Ocorreu-


ine um dia, ao ouvir outro relato de pacote de férias bem pes­
quisado para Orlando, que muitos pais são mais organizados,
mais intencionais, fazem mais pesquisas e são mais objetivos
para planejar férias do que para educar os filhos.

Imagine como seriam minhas férias se eu soubesse "mais


ou menos" o que vêm a ser férias, mas não tivesse muita cer­
teza. Imagine como seria se eu pensasse "m ais ou m enos" em
um lugar para onde gostaria de ir com minha família nas férias,
mas não decidisse um destino específico. E se eu tivesse um
pouquinho de senso de direção, mas não verificasse os mapas?
E se eu soubesse quanto as férias tendem a custar, mas não me
preparasse bem financeiramente? Que possibilidade a minha
família teria de realmente desfrutar algum tipo de férias, e de
que as férias fossem bem-sucedidas, então? O mesmo acontece
com a vida familiar. E vital que estejamos biblicamente infor­
mados, biblicamente preparados e biblicamente intencionados.


â Fam ilia; A Prim ei - * ■'-Mtiiiiiiilacle d e A p re n d iz a d o
D eus

O texto de Juizes 2:5-15 descreve uma das situações mais


tristes de toda as Escrituras. Trata-se da descrição que chama
a atenção para a importância da família naquilo que Deus
está fazendo na terra. No relato, descobrimos que a primeira
geração de israelitas que crescera na Terra Prometida "não
conhecia o SENHOR e o que ele havia feito por Israel" (v.
10). Atente para essas palavras. Elas nos deveriam chocar! A
primeira geração de filhos que crescera na Palestina não sabia
quem Deus era e não conhecia as coisas maravilhosas que ele
fizera para libertar e suster o Seu povo!

O que houve? De que forma isso pôde ter acontecido?


C'omo os filhos dos israelitas não conheciam a Deus? Como
40 CAPÍTULO TRÊS

eles poderiam não saber sobre as pragas, o Mar Vermelho,


o Monte Sinai, a água que saiu das rochas e o maná do céu?
O que saíra errado? Como os filhos dos israelitas cresceram
confortavelmente adorando a outros deuses?

Os profetas de Israel deixaram de cumprir a seu dever?


Os sacerdotes foram negligentes? Não, a falha não era deles. O
principal erro foi a família não ter realizado aquilo que Deus
pretendia que ela realizasse.

Quando Israel estava se preparando para entrar na terra


da promessa, Deus falou sobre os Seus propósitos para a
família. O plano de Deus está registrado em Deuteronômio
6. Essencialmente, Deus diz o seguinte: "Planejei a família
para ser minha primeira comunidade de aprendizado. Não
há melhor contexto para ensinar as verdades que devem ser
ensinadas para que meu povo possa viver da maneira como
deve". Deus diz: "Vocês moram com seus filhos. Vocês estão
presentes quando eles se deitam, vocês estão presentes quando
eles se levantam. Vocês estão presentes durante os muitos dias
da vida de uma criança. Ensinem a seus filhos; a família será
a sala de aula".

Os pais têm oportunidades únicas de instruir a seus filhos,


oportunidades que ninguém mais terá, por morarem juntos.
Deus nos manda aproveitar as oportunidades ao máximo. Tire
partido da pergunta incisiva, feita bem na hora em que você
está colocando seu filho para dormir. Aproveite ao máximo a
queixa da manhã, com a qual você acha que não tem tempo
de lidar. Pergunte a seu filho em idade escolar como foi o dia
dele, mas faça-o na cozinha, na hora do lanche da tarde, para
que seja uma conversa e não apenas um breve cumprimento
à criança quando ela chega em casa. Desligue o rádio do carro
e converse com seu filho. A família é a primeira comunidade
de aprendizado de Deus. Os pais possuem uma plataforma
O QUE É UMA FAMÍLIA? DEFINIÇÃO 41

de instruções que ninguém mais possui.

Como você sabe, a família é radicalmente diferente da sala


de aula como cenário para o aprendizado. A sala de aula é um
vácuo, separado da vida. Nas classes, nós nos desdobramos
exaustivamente para recriar a vida a fim de que possamos
estudá-la, enquanto a família é vida! Na família, a vida é trazida
não somente a nossas portas, mas à nossas cozinhas, quartos e
cantos. Na família, a vida acontece a toda nossa volta e implora
para ser questionada, avaliada, interpretada e discutida. Não
há fórum de instrução sobre a vida que seja mais consistente,
fértil e dinâmico do que a família, porque isso é exatamente o
que Deus planejou que a família fosse: uma comunidade de
aprendizado.

O Deus Criador que governa sobre todas as coisas, em


quem estão ocultos todos os tesouros de sabedoria e conheci­
mento, que revela a Si mesmo no mundo que fez e na Palavra
que inspirou, cham ou os pais para serem Seus prim eiros
professores. É nossa responsabilidade garantirm os que a
família, não importa o que mais ela faça, esteja funcionando
como uma eficaz comunidade de aprendizado. Isso significa
que todos os momentos de problema, conflito, dúvida, ques-
lionamento, confusão, dificuldade, unidade, divisão, alegria,
Iristeza, trabalho, lazer, relacionamento, obediência, rebelião,
esperança, medo, riso, autoridade e submissão que constituem
os momentos multicoloridos da vida familiar devem ser vistos
como momentos de aprendizado! E isso que faz da família uma
ferramenta vital à obra que o Redentor está fazendo na terra.
Diferentemente da sala de aula, na família o ensino aconte-
i e espontaneamente. Não há planejamento de lições, livros de
exercícios, fileiras ou carteiras. Você tem que viver preparado,
com olhos abertos. O momento pode acontecer no caminho
para a loja de materiais quando o garotinho pergunta se Deus
42 CAPÍTULO TRÊS

fez os postes de telefone. Ou pode ocorrer inesperadamente,


quando a adolescente resmunga no banheiro que odeia tanto
o seu próprio rosto, que tem vergonha de sair de casa. Deus
nos chama para agarrar as oportunidades e ensinar, ensinar,
ensinar.

Coiiliecen - o■ luncis
Se o seu desejo é funcionar como instrumento de Deus
na vida de seu filho adolescente, você precisa saber que Deus
planejou que a família fosse a Sua primeira comunidade de
aprendizado, que os pais fossem os Seus primeiros professo­
res e que a vida familiar fosse o contexto exato para que as
instruções para a vida ocorressem. Uma vez entendido que
você é um dos professores escolhidos por Deus, a próxima
pergunta a se fazer é: "Quem são os alunos?" Não é suficiente
dizer que os alunos são os nossos filhos. Precisamos de uma
descrição bíblica de quem esses filhos são. Um bom professor
não conhece bem apenas o seu material, mas os seus alunos
também. O mesmo ocorre com os pais. Quanto mais precisa
for a nossa compreensão de nossos filhos, maior será o êxito
que teremos em fazer aquilo que Deus nos chamou para fazer.

A Bíblia descreve nossos filhos de muitas maneiras, mas


há quatro verdades bíblicas sobre eles que são fundamentais.
Depois que eu as compreender como pai, meu dever de ensinar
começará a tomar forma.

Filh o s s ã o S e r e s á e A lian ça
Talvez você esteja pensando: "O que será que isso significa,
e como saber disso/esse conhecimento irá me ajudar a ser um pai me­
lhor para meu adolescente?" Deixe-me explicar. Quando a Bíblia
declara que filhos são seres de aliança, isso significa que filhos
foram feitos para ter um relacionamento com Deus. Eles foram
feitos para conhecer, amar e obedecer a Ele. Filhos não foram
I) QUE É UMA FAMÍLIA? DEFINIÇÃO 43

feitos para levar vidas autônomas, orientando-se e dirigindo a


si mesmos e sendo auto-suficientes. É propósito de Deus que
tudo o que um filho pensa, faz e diz seja em submissão amorosa
a Ele. Este é o primeiro e maior mandamento de acordo com
Cristo (Mateus 22:37-38). Isto é o que pode ser dito de mais
básico sobre a identidade dos filhos.

A Bíblia diz mais. Ela diz que se os filhos não estão vivendo
em alegre submissão a Deus, estarão vivendo em submissão
a outra pessoa ou coisa. Ou nossos filhos servirão e adorarão
a Deus ou servirão e adorarão a outra coisa. Não se pode
dividi-los em dois grupos: aqueles que adoram e aqueles que
não adoram. Todos eles são adoradores. A pergunta é: "A que
adoram (veja Romanos 1:18-32)?" Tudo o que um filho faz, tudo
o que deseja, todo pensamento que ele tem e toda escolha que
ele faz, todo relacionamento que ele busca e toda atitude que
ele toma é, de alguma forma, expressão de adoração. Quando
irmão e irmã brigam agressivamente por quem irá usar o te­
lefone, ou quando um adolescente quer morrer por causa da
falta de aceitação de seus companheiros, é importante lembrar
que a adoração está sendo expressa. Há uma dimensão vertical,
espiritual, para cada ação horizontal e interpessoal.

Filhos são adoradores e suas vidas são moldadas e contro­


ladas por aquilo a que adoram. Isso significa que todo momen­
to é um momento de Deus. A cada momento, um filho ou está
aceitando o seu papel como criatura e vivendo em obediência
e adoração a Deus, ou está trocando Deus por algum aspecto
do mundo criado que ele vive para conseguir obter. Os filhos
normalmente não pensam de si mesmos dessa forma (nem
os pais!), assim, eles precisam que nós mostremos fielmente
a eles a natureza de aliança de suas ações. Não há parte mais
importante da descrição bíblica da tarefa dos pais.
44 CAPÍTULO TRÊS

Filhos são Seres S o c ia is


Os filhos não foram criados para ter um relacionamento
apenas com Deus; eles foram criados para se relacionarem com
outras pessoas também. Este é o segundo grande mandamen­
to (Mateus 22:39). Nossos filhos foram feitos para a vida em
comunidade. Deus sempre fala das pessoas enquanto envol­
vidas em relacionamentos. O individualismo auto-suficiente
e espontaneamente formado da cultura ocidental é estranho
às Escrituras. O objetivo da vida de uma pessoa não é ser
saudável, mas viver em comunidade com outras pessoas que
vivem em comunidade com Deus!

Desde o seu primeiro momento de vida, o filho tem uma


responsabilidade moral perante as pessoas à sua volta. Ele é
chamado para amar aos outros como ama a si mesmo. Tudo
o que ele faz irá expressar submissão ao chamado de Deus
para com a comunidade ou rejeição do mesmo. Pecadores
não encaram bem a comunidade. Por sua própria natureza,
eles orientam a si mesmos. O pecado flui da adoração a si
mesmos. Desta forma, filhos pecadores que vivem em um
mundo depravado terão problemas com o plano de Deus para
a comunidade.

Nunca vi um de meus filhos, diante do último biscoito de


chocolate, dizer a um de seus irmãos: "Sabe, eu adoro biscoito
de chocolate, mas há algo que me daria mais prazer do que
comê-lo. Gostaria muito de saber que você pegou o último
biscoito e que isso deixou você feliz". Não, eu vejo que meus
filhos ficam nervosos ao perceberem que a pilha de biscoitos
está diminuindo. Ouço-os perguntar: "Alguém ainda está com
fome?" "Quem pegou o outro biscoito de chocolate?" "Quem
já comeu três biscoitos?" Cada pergunta nasce do interesse
próprio, do medo de que alguém possa pegar o que eles que­
rem.
() QUE É UMA FAMÍLIA? DEFINIÇÃO 45

Finalmente, o último biscoito chega ao prato de alguém


e o tumulto começa. Então, um filho, com pena de si mesmo,
chora porque ninguém o ama e isso não é justo. Daí, o filho
advogado argumenta que a situação é injusta, dado o que
aconteceu das últimas quatro vezes que comeram biscoitos.
(Quem se lembra?!) Depois, o filho fatalista que diz que odeia
comer biscoitos porque isso sempre acontece. Pecadores lutam
com o chamado de Deus para amar, portanto, a comunidade
deve ser uma constante ênfase em nossos lares.
Os filhos foram criados por Deus para a vida em comuni­
dade, mas por causa do pecado, esta representa uma de suas
maiores lutas. Amar ao semelhante como a si mesmo parece
ser um mandamento radical para o pecador. (E é!) Ele argu­
menta contra tudo o que há em seu interior. A auto-orientação
do filho é tão natural quanto a sua respiração. Lembro-me
quando isso me ocorreu, há alguns anos, quando eu era pro­
fessor no jardim-de-infância. Eu nunca tive que ensinar meus
lilhos a agredir fisicamente uns aos outros, a ser ciumentos,
a falar asperamente, a empurrar para ser o primeiro da fila, a
anunciar que o almoço deles era melhor do que o do vizinho,
a se gabarem de suas conquistas e a transformar tudo em
competição. Mas passei horas tentando transformar aquele
quarto de pecadores egoístas em comunidade amorosa onde
o aprendizado poderia prosperar. Assim é a vida dos pais. Boa
parte de seu trabalho será resultado de reconhecer também que
filhos foram criados por Deus para serem sociais, para viverem
em comunidade amorosa uns com os outros e de reconhecer
que o pecado substitui o amor deles pelos outros por um amor
idólatra de si mesmos.

! s ã o In té rp r e te s

A Bíblia tem muito a dizer sobre a maneira como pensamos


porque esta é uma parte importantíssima daquilo que somos
46 CAPÍTULO TRÊS

como criaturas feitas à imagem de Deus. Proporei algo que


poderá chocar você: todos os filhos pensam. Alguns deles de­
monstram isso mais do que outros, mas todos os filhos pensam,
e os pensamentos de seus corações moldam a maneira como
vivem suas vidas. Por essa razão, a Bíblia destaca a importância
daquilo que pensamos. A Bíblia fala sobre verdade e falsidade,
sobre sabedoria e insensatez, sobre fé e incredulidade, sobre
revelação e tradição humana, sobre luz e trevas e sobre bem
e mal. Deus diz que há um modo certo e um modo errado de
se pensar a respeito da vida e o seu pensamento sobre ela, seja
ele qual for, molda a maneira como você age.

O que significa dizer que filhos pensam? Significa que os


filhos irão procurar entender a vida. Eles tentarão organizar,
interpretar e explicar as coisas que acontecem à volta deles e
dentro deles. Os filhos são incessantes intérpretes e reagem à
vida não com base nos fatos, mas com base na compreensão
que eles têm desses fatos.

Recentemente, minha filha adolescente gritou da porta de


seu quarto: "Alguém roubou minha mochila de escola!" Agora,
a primeira coisa que se deve saber é que aquela não era uma
declaração de fato, mas uma interpretação dos fatos. No caso,
uma interpretação maravilhosamente conveniente dos fatos.
Era mais fácil ela acreditar que havia uma trama de roubo de
mochilas em nossa casa do que encarar a possibilidade de ela
ser responsabilizada pelo sumiço. Eu a ajudei a entender que
ela estava interpretando e expliquei como aquela interpretação
era conveniente a ela. Depois, encontramos a mochila bem
perto de onde ela estava, debaixo das roupas que estavam ali
há tanto tempo.

A Bíblia não só diz que os seres humanos são intérpretes,


mas que, para interpretar a vida corretamente, precisamos
da revelação de Deus, da Sua verdade. E por isso que Ele nos
() QUE É UMA FAMÍLIA? DEFINIÇÃO 47

deu a Sua Palavra. Imediatamente após criar Adão e Eva, a


primeira coisa que Deus fez foi falar com eles, explicando-lhes
o significado e o propósito de suas vidas. Por que Deus fez isso?
Porque mesmo que Ele soubesse que eles eram pessoas per­
feitas vivendo em um mundo perfeito em um relacionamento
perfeito com Ele, eles não entenderiam a vida por si mesmos.
Adão e Eva precisavam das palavras de Deus para entenderem
o seu mundo. O mesmo acontece com nossos filhos.

Em Gênesis 3, outro intérprete entra em cena: a Serpente.


É importante entender o que aconteceu ali. O que a Serpente
fez foi usar o mesmo conjunto de fatos sobre os quais Deus
falara a Adão e Eva e dar a eles uma interpretação bastante
diferente. Se Adão e Eva decidissem crer na interpretação
da Serpente, seria tolice continuar a obedecer a Deus! Eles
realmente ouviram e realmente acreditaram. O resultado foi
a queda do mundo em pecado. Como seus primeiros pais, os
filhos estão incessantemente interpretando. O entendimento
que eles têm da vida é sempre importante. Ele estará baseado
ou na verdade ou na falsidade e moldará a tudo o que eles
fizerem.

Os pais que entendem que seus filhos são intérpretes fazem


tudo o que podem para que eles pensem em voz alta e instilam
neles uma visão bíblica diferenciada da vida. Eles perceberão
que isso normalmente não é feito nos períodos formais de
instrução como na adoração familiar, mas espontaneamente,
conforme surgem as questões no curso da vida em família. Isso
não é feito estabelecendo-se devocionais diários em família.
Embora importantes, eles não são suficientes. E vital que, ao
vivermos os momentos rotineiros da vida com nossos filhos,
os ensinemos a ver a vida da perspectiva de Deus. Os pais
que entendem que seus filhos não reagem simplesmente aos
fatos, mas os interpretam de maneira a dar a eles formato
48 CAPÍTULO TRÊS

e significado específicos, farão boas perguntas e serão bons


ouvintes. Para eles, a o diálogo na fam ília assum irá um
significado e propósito completamente novos.

Os Filhos '' •mp' ' mí Ssgiincif i . ‘oração


A maioria dos pais com quem trabalhei têm o seguinte
objetivo: levarem seus filhos a fazer o que é certo. O objetivo
deles é controlar, dirigir ou guiar o comportamento dos filhos.
Para eles, esta é a essência da educação cristã. Assim, João, que
teve notas baixas, fica proibido de ver televisão até que suas
notas melhorem, e Sueli, que não devolveu a blusa de sua
irmã após levá-la emprestada sem pedir, não poderá pedir
mais nada emprestado a ninguém por seis semanas. Estas so­
luções funcionam externamente, mas não operam mudanças
no coração.
Precisamos perguntar por que Sueli acha que tem direito
de pegar o que não lhe pertence sem permissão e sem senso
algum de obrigação de devolver. O que ela pensa sobre si
mesma e sobre os outros que tom a isso aceitável a sua consci­
ência? Não basta colocar limites de comportamento em torno
dela. Nosso objetivo é sermos usados por Deus para expor e
nutrir os corações de nossos filhos para que eles desejem se
comportar de modo agradável ao Senhor.

Superficialmente, enfatizar o comportamento parece cor­


reto e bíblico. O comportamento não é importante? Deus não
nos chama para sermos santos como Ele é santo? Não somos
chamados a obedecer? A resposta óbvia a cada uma dessas
perguntas é sim, mas é preciso dizer mais. As Escrituras não
só nos chamam a obedecer, mas também nos revelam o que
controla o nosso comportamento: o coração.
Lucas 6:43-45 diz:

Nenhuma árvore boa áá fruto ruim, nenhuma árvore ruim dá


O QUE É UMA FAMÍLIA? DEFINIÇÃO 49

fruto bom. Toda árvore é reconhecida por seus frutos. Ninguém


colhe figos de espinheiros, nem uvas de ervas daninhas. O homem
bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e
o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração,
porque a sua boca fala do que está cheio o coração.
Assim como todos nós, os filhos se comportam segundo o
coração. O comportamento específico discutido em Lucas 6 é a
comunicação de uma pessoa, mas o princípio se aplica a todo
o comportamento humano, até mesmo ao comportamento de
uma criança. Os pensamentos e razões do coração moldam
a maneira como um filho reage. Se o filho crê em coisas que
não são verdadeiras e deseja aquilo que é errado, não há como
ele fazer o que é certo. Assim, o objetivo da educação não é
focalizar na obtenção do comportamento certo, mas pastorear
os corações de nossos filhos. Por que João, um adolescente
brilhante, tem tido notas tão ruins? Precisamos perceber que
suas notas são uma janela para os pensamentos e razões de
seu coração. Precisamos considerar que desejos do coração o
têm levado a usar o tempo necessário para estudar em coisas
de menor importância. Precisamos examinar como ele justifica
a sua irresponsabilidade para si mesmo. A reação do coração
e a mudança do coração são o nosso enfoque porque sabemos
que aquilo que controla o coração também irá controlar a vida.

Permita-me usar a mesma metáfora que Cristo usou, a


árvore, para ressaltar a importância desta verdade no enten­
dimento de nossa tarefa em relação aos adolescentes.

Suponhamos que eu tenha uma grande macieira plantada


em meu quintal, e que todos os anos ela floresça e produza
maçãs. Só que, bem na época em que as maçãs estão prontas
para serem colhidas, elas apodrecem e caem no chão. Após o
mesmo acontecer por várias estações, minha esposa se aproxi­
ma de mim e diz: "Sabe, Paul, não faz muito sentido ter uma
50 CAPÍTUI.O TRÊS

macieira e nunca poder comer as maçãs. Tudo o que sempre


sobra para nós é essa gosma marrom em nosso gramado. Você
não pode fazer algo com a macieira?" Então eu penso, pondero
e tenho uma idéia. Digo a minha esposa que vou consertar
nossa árvore e que sairei por mais ou menos uma hora, para
comprar as coisas de que preciso.

Sem demora, volto ao quintal carregando uma escada, um


par de tesouras para poda, um grampeador industrial e dois
alqueires de maçãs. Cuidadosamente, corto todas as maçãs
podres da árvore e grampeio maçãs vermelhas e brilhantes
do tipo "Fu ji" nela. Satisfeito por ter conseguido resolver o
problema, chamo minha esposa ao quintal para ver a árvore.

Não é ridículo? Sim, é ridículo porque isso não resolveu


o problema, que ia muito além da questão dos frutos. Há algo
fundamentalmente errado com a própria árvore, até mesmo
no nível de suas raízes, que precisa de mudança. Troquei má
comida por boa comida, mas a árvore em si ainda está impos­
sibilitada de produzir frutos saudáveis. Além disso, os frutos
que eu anexei artificialmente à árvore não vão durar porque
não há nada que dê vida a eles; é necessário que haja raízes
saudáveis que possam nutri-los.

Estou convencido de que boa parte daquilo que tenho


chamado de educação cristã nada mais é do que o "gram pea-
mento de frutos"; uma tentativa artificial de substituir frutos
por frutos. Seu enfoque está apenas em como mudar compor­
tamentos, desprovido de interesse em conhecer e pastorear
os corações de nossos filhos. Quem educa dizendo "pecado é
ruim, não o cometa" se esquece de que o pecado não é somente
uma questão de comportamento, mas inclui os pensamentos
e as razões do coração. Há uma falha em se reconhecer que se
o coração não mudar, qualquer alteração de comportamento
que aconteça será temporária e cosmética, uma vez que não
l ) QUE É UMA FAMÍLIA? DEFINIÇÃO 51

estará anexada às raízes do coração.

Cristo reconheceu isto ao discutir a natureza do adultério


no Sermão do Monte, registrado em Mateus 5:27-28. Ele deu
aos pensamentos e desejos o valor moral das ações quando
declarou que adultério não envolve apenas o ato físico da in­
fidelidade sexual, mas também as concupiscências do coração.
Cristo põe limites ao coração e não ao comportamento. Como
pais, precisamos fazer o mesmo. Nosso objetivo máximo é que
Deus governe efetiva e funcionalmente os corações de nossos
filhos. Estamos trabalhando em todo encontro de pais como
Seus instrumentos para fazer isso acontecer. Não podemos
nos satisfazer com o grampeamento de frutos do controle de
comportamento.

O pai bem-sucedido entende que a família é a primeira


comunidade de aprendizado de Deus. Ela foi posicionada
exclusivamente por Deus para comunicar verdade de forma
consistente e efetiva. Os pais são os principais professores,
escolhidos por Deus. Para executar bem a tarefa incumbida por
Deus, você irá desejar conhecer os seus alunos, os seus filhos.
Irá também levar a sério a descrição que a Bíblia traz deles e
tentar entender como tal descrição molda a forma como você
lida com a tarefa de ensinar. Isto é o que faremos no próximo
capítulo.
O Que é Uma Família?
Descrição da Tarefa
PARA fazer uma viagem longa, é preciso saber mais do
que apenas para onde se vai e como chegar lá. É preciso saber
muitas coisas sobre o veículo que fará o transporte. Se, por
alguma estranha razão, você soubesse que deveria viajar para a
Califórnia, mas não soubesse dar a partida, nem desligar o car­
ro, e desconhecesse o fato de que ele necessita de combustível,
de forma alguma chegaria a seu destino. O mesmo acontece
com a educação dos adolescentes. Se pretendemos alcançar os
objetivos que Deus estabeleceu para nós ao educarmos nossos
filhos adolescentes, teremos de adquirir um entendimento
preciso do veículo que Ele escolheu para fazê-lo: a família.

No capítulo anterior, definimos a família como a primeira


comunidade de aprendizado de Deus. Reconhecemos que a
família fornece o contexto mais consistente e abrangente para
transmitirmos aos nossos filhos uma perspectiva bíblica dife­
renciada da vida. Como pais, devemos entender as implicações
da aceitação de nosso papel como os principais educadores
escolhidos por Deus.

Talvez você entenda o conceito de família como comuni­


dade de aprendizado, mas não saiba muito bem como ensinar
a verdade de Deus na vida diária. Quando um filho é ridicula­
rizado por causa de seus tênis baratos, como transformar isso
em momento de ensino? Quando sua filha diz a você às 21h45
l) IJUE É UMA FAMÍLIA? DESCRIÇÃO DA TAREFA 53

que precisa de material escolar para um projeto que tem que ser
entregue na manhã seguinte, como aproveitar ao máximo essa
oportunidade de ensino? Quando outro filho fica parado em
frente à porta aberta da geladeira bem abastecida e diz que não
há nada para comer, como tirar proveito da situação? Quando
um filho aparece com o cabelo verde, tingido com gelatina de
limão na casa de um amigo, que verdades ensinar?

Estou convencido de que perdemos esses momentos dinâ­


micos porque não sabemos o que dizer. Muitas vezes, quanto
mais próximo de experiências da vida real, do cotidiano, mais
obscuro se torna o nosso cristianismo. Então, nós, inabilmente,
lançamos passagens bíblicas fora de contexto sobre nossos fi­
lhos na esperança de que elas, de alguma forma, os motivem a
fazer o que é certo. Há, contudo, três temas fundamentais que
estão presentes em cada situação humana. A Bíblia tem muito
a dizer sobre eles, e esses temas devem formar o conteúdo de
nossas interações de ensino com nossos filhos.

:& irssiJiiícuSsi síssítíí® cScsBtíiiiíítiiÉaíííisi ie e ló g ie a

O que é teologia? E o estudo de Deus, de Sua existência,


de Sua natureza e de Sua obra. E plano de Deus que a família
funcione como comunidade teológica. Isso significa que o fato
máximo da vida da família é o fato de Deus existir e de sermos
Suas criaturas. Tudo o que fazemos, pensamos e dizemos está
relacionado a tal realidade. Não devemos jamais permitir que
vejamos a vida de forma horizontal, isto é, somente em termos
de relacionamentos e circunstâncias terrenos. Devemos sem­
pre questionar sobre Deus, a Sua vontade e a Sua obra, não
importando qual seja o assunto ou situação em discussão.

O objetivo de tudo isso é enraizar a identidade de nossos


filhos na existência e na glória de Deus. Queremos que eles
entendam que eles foram feitos por Ele, que eles pertencem a
54 CAPÍTULO QUATRO

Ele e que eles foram chamados para viver para a Sua glória.
Somos chamados por Deus a fazer teologia, isto é, a viver nos­
sas vidas com consciência de Deus momento após momento.
Ele é a realidade que dá sentido e forma a todos os fatos que
discutimos e consideramos.

Em Deuteronômio 6:20-25, a tarefa de enraizar a identidade


de nossos filhos na existência e na obra de Deus é colocada no
contexto de uma vida diária. O filho vem a seu pai e diz: "Papai,
por que temos que obedecer a todas essas regras?" Muitos pais
respondem da seguinte forma: "Obedeça porque eu mandei e
pronto!" Ou: "Obedeça, senão..." Moisés nos chama para algo
bem diferente. Ele nos chama para vermos a oportunidade que
a pergunta envolve. Ele nos instrui a contar a nosso filho que
ele é filho de um Deus de redenção. A dizer a ele como Deus
utilizou as forças da natureza para cumprir as Suas promessas
a Seu povo. A dizer a ele que Deus nos deu as Suas regras para
o nosso bem, e que o Seu caminho é um caminho de bênção.
Enraíze a sua identidade no solo da glória e da bondade de
Deus.

O Mestre de Eclesiastes diz isso da seguinte maneira: "Que


grande inutilidade! Que grande inutilidade! Nada faz sentido
debaixo do sol!" Palavras poderosas que todo pai precisa con­
siderar. Se você não olha para os céus, se age como se Deus não
existisse, tudo perde o significado. Se você vê a vida somente
de forma horizontal, nada tem significado. O Mestre de Ecle­
siastes diz que todo trabalho, toda sabedoria, toda realização,
todo prazer, todo sucesso e toda a fadiga não fazem sentido
algum, a menos que relacionados a Deus. Se não há um Deus
glorioso e bom que reina sobre a terra, que tem um plano e
cuja vontade deve ser feita, não há razão para coisa alguma.
Por que pensar, trabalhar, obedecer, amar, estudar, discutir,
servir ou dar? Por quê? Por quê? Toda a vida se reduz em uma
OIJH É UMA FAMÍLIA? DESCRIÇÃO DA TAREFA 55

massa caótica de escolhas vazias, a menos que seja enraizada


110 único fato que faz todos os outros fatos fazerem sentido:
I )EUS. Esta verdade deve permear todo encontro com nossos
íi lhos assim como a tinta vermelha penetra em cada fibra de
tecido branco quando mergulhado nela.

Dizer que a família é uma comunidade teológica significa


que estamos sempre "teologizando". Estamos sempre vendo
tudo tendo Deus como referência: quem Ele ê, o que Ele está
fazendo e o que Ele quer que sejamos e façamos. Não há mo­
mentos independentes. Todas as coisas de nossas vidas têm
cordas que as unem a Ele. Falaremos agora sobre o que dizer
ao teologizar com nossos filhos.

í©tJ© Ite m e n te ê um Itesfiemt© cie D eus

Não devemos jamais permitir que nossos filhos creiam em


um Deus distante e desinteressado, que vem em nosso auxílio
apenas quando Ele ouve o nosso clamor em oração. A Bíblia
apresenta Deus como alguém que está perto e ativo em nossas
vidas. O salmista diz que Ele é "auxílio sempre presente na
adversidade" (Salmo 46:1). Não existe uma linha telefônica
divina de emergência porque Deus já está presente e ativo.
Não há momentos em que Deus esteja ausente ou inativo, e
nem situação, local ou relacionamento que Ele não governe.

Paulo disse aos atenienses que Deus governava o Seu


mundo de forma que não "esteja longe de cada um de nós"
e que Ele assim o faz para que "os homens o buscassem e
talvez, tateando, pudessem encontrá-lo" (Atos 17:27). Deus
está próximo. Deus está envolvido. Este momento é o Seu
momento, onde Ele está ativamente realizando a Sua vontade.
O que mais importa neste momento não é o que nós deseja­
mos, mas o que Ele está fazendo. Os adolescentes irão crer,
por engano, que o que eles desejam é o mais importante. Eles
56 CAPÍTULO QUATRO

enxergarão os seus desejos como necessidades e expressarão


essas "necessidades" como exigências, questionando o nosso
amor se deixarmos de cumpri-las. Devemos ser fiéis e fazer
o olhar deles desviar daquilo que desejam para o que Deus
requer.

Paulo diz aos romanos que "Deus age em todas as coisas


para o bem daqueles que o am am " (Romanos 8:28). Em toda
situação, em todo problema, em todo local, em todo relaciona­
mento, em todo tempo, Deus está operante. Todo momento é
momento de Deus.

Meu filho parou em frente à vitrine de uma loja e disse:


"Eu simplesmente tenho que comprar aqueles sapatos! Papai,
eu preciso deles!" Olhei para os pés dele para me certificar de
que não estivessem descalços. Sabia que ele tinha mais sapatos
em casa. O que ele quis dizer quando afirmou que precisava
daqueles sapatos?

A tendência dos adolescentes não é viver com uma cons­


ciência funcional de Deus. Eles são cheios de si mesmos. Eles
sabem muito bem o que querem dos momentos da vida e
tendem a "nadar" em autopiedade, resmungar e reclamar,
ou estourar de raiva quando a vontade deles não é feita. Eles
tendem a se esquecer de Deus e de Sua vontade. Tendem a
reduzir a vida a este momento de desejo. Adolescentes não
tendem a lidar bem com a decepção; mas tendem a viver
achando que têm direitos. O que tudo isso significa é que os
adolescentes tendem a ser incrivelmente focados no horizontal
e no presente. Eles precisam que nós os guiemoâ em direção a
Deus, à Sua existência, a Seu caráter e à Sua vontade.

S e m p re utna A genda mais Elevada

Em toda situação da vida familiar, sempre há algo mais


importante do que planejamos, do que desejamos, do que
*i:i: É UMA FAMÍLIA? DESCRIÇÃO DA TAREFA 57

c|iieremos, ou daquilo para que estamos trabalhando. Sempre


I iá um propósito mais elevado e uma agenda mais elevada. O
propósito mais elevado é a vontade de Deus e a agenda mais
('levada é que vivamos para agradá-Lo. Isso significa que, em
vez de nós mesmos e a nossa felicidade, Ele deve ser o foco e
,1 razão de tudo o que fazemos.
Se perguntássemos, a maioria dos adolescentes diria que o
que desejam na vida é apenas ser feliz. O que nos assusta em
relação a isso não é somente a definição deles de felicidade,
que muda quase de hora em hora, mas que não há foco mais
elevado do que o seu próprio prazer. A pergunta "para o prazer
de quem?" precisa ser feita pelos pais em toda situação até que
seja a resposta instintiva do coração do adolescente.

Um dia, meu filho chegou da escola de cabeça baixa.


Perguntei a ele o que havia acontecido e ele disse: "N ada".
Então eu disse que ele não havia sido muito convincente, e
que, obviamente, algo o estava incomodando. Expressei meu
amor por ele e disse que adoraria conversar quando ele esti­
vesse pronto. Mais tarde, naquela noite, me aproximei dele.
Perguntei como ele estava e disse que ele realmente pareceu
estar desanimado quando chegou da escola aquela tarde. Então
ele deixou escapar: "Ninguém quer ser amigo de quem tem
caráter! Todos os garotos populares da escola, todos os que
são líderes, são bobos. Eles são o centro das atenções, atraem
todas as garotas, e eu aqui estou, um rapaz legal em quem
se pode confiar, e sem amigos! Seria melhor ser bobo! O que
adianta ser bom se ninguém nota?"

Que momento ótimo para falar sobre uma agenda mais


elevada! Falamos sobre viver para agradar a Deus. Lemos o
Salmo 73, onde o salmista também está convencido de que os
errados é que estavam vencendo. Falamos sobre o fato de Al­
guém notar. Nós falamos da depravação do mundo e de como
58 CAPÍTULO QUATRO

os errados são aplaudidos e os certos são ridicularizados ou


ignorados. Fizemos conexões entre a existência, a glória e o
plano de Deus e a experiência escolar de meu filho. Falamos
sobre o propósito de Deus ao colocá-lo em provação. Nós tí­
nhamos tido a mesma conversa em outras situações, muitas e
muitas vezes. Precisamos desviar nossos adolescentes de sua
própria glória para um entendimento concreto do que significa
viver para a glória de Deus.

A História Deles na H istê iia cie B e n s


Os cristãos modernos têm erroneamente tentado manusear
a Bíblia como se ela fosse uma enciclopédia de pensamento
religioso. Nossa tendência é sempre nos aproximar da Bíblia
para encontrar versículos sobre um determinado assunto. Este
tipo de atitude rouba da Bíblia a sua vitalidade, o seu espírito.
A Bíblia não é composta como uma enciclopédia, organizada
por tópicos. Por exemplo, você não entenderia o que a Bíblia
tem a dizer se reunisse todos os versículos sobre casamento,
governo, sexo, educação de filhos, comunicações, trabalho,
dinheiro, igreja etc. O que quer que você aprendesse com
esses versículos estaria distorcido e fora de contexto porque
seriam entendidos separadamente do que a Bíblia realmente
é. A Bíblia não é um índice tópico, um dicionário ou uma en­
ciclopédia. A Bíblia é um livro de histórias. E a história de Deus,
a história de Seu caráter, a Sua criação, a Sua redenção deste
mundo depravado, e de Seu plano soberano para as épocas.
E uma história verdadeira e inalterável. E a história. Todas as
outras histórias de povos e nações podem encontrar sua vida,
significado e esperança nesta história. Esta história grandiosa e
universal é o que dá a nós todos uma razão para nos levantar
de manhã e fazer aquilo para que fomos chamados.
"Teologizar" com filhos adolescentes não significa lançar
versículos bíblicos ocasionais que se relacionem com o tópico
(HJI-: É UMA FAMÍLIA? DESCRIÇÃO DA TAREFA 59

rm questão, mas significa todos os dias, de todas as formas


possíveis, embutir a história de seu adolescente na história
maior de Deus. Os adolescentes vivem soterrados por sua
própria história. Eles tendem a viver com tal angústia. O dra­
ma do momento específico parece ser a coisa mais importante
iia história! Quando tentamos ajudá-los a ver que não é tão
importante quanto eles pensam, revidam com o típico: "Não
adianta, você não entende!"

E o atual poder da história deles que muitas vezes coloca


os adolescentes em tantos apuros. Eles perdem o foco. Vivem
somente para aquilo que podem aproveitar do momento.
Tendem a viver levados por seus próprios desejos e escra­
vizados a uma busca pela felicidade pessoal. Nesta busca
por satisfação de desejos e prazer pessoal, eles quase sempre
tomam decisões das quais se arrependem por toda a vida. Os
adolescentes precisam desesperadamente enxergar a história
maior. Eles precisam ver suas vidas como parte de algo que é
mais abrangente e mais importante do que a felicidade deles.
Eles precisam estar conectados a uma glória para a qual pos­
sam viver e que seja maior do que a sua própria glória. Eles
precisam que sua história seja embutida na história de Deus
todos os dias. Isso dará a eles uma razão para fazer o que é
certo. Isto lhes dará esperança. Dará a eles força para suportar
ao que Deus os chama para suportar.

A Bíblia tem muito a dizer sobre todos os tópicos mencio­


nados anteriormente, mas o que ela tem a dizer só faz sentido
quando considerado do ponto de vista da gloriosa história
de Deus e de Sua obra. Temos que tomar muito cuidado para
não retirar Deus dos mandamentos e princípios das Escritu­
ras. Ele Se encontra em poder e glória por trás de todos eles.
Cada mandamento conta com a força Dele para ser obedecido,
cada princípio conta com a sabedoria Dele e cada promessa
60 CAPÍTULO QUATRO

conta com Ele para ser cumprida. O sistema todo depende da


veracidade da história.

Isto é o que os adolescentes precisam entender sobre a vida.


Existe um Deus e Ele está vivo e ativo! Sua história e Sua obra
estão registradas na Bíblia. A coisa mais importante da vida é
viver em sintonia com o que Ele está fazendo. Como filho de
Deus, eu me torno parte de Seu plano grandioso e universal.
Torno-me parte do que Ele está realizando na terra. Isto é o que
dá significado e propósito a qualquer drama que eu possa estar
vivendo agora mesmo! Como pais, precisamos ser fiéis todos
os dias, embutir as histórias de nossos adolescentes na história
de Deus. Devemos ensiná-los a sempre perguntar: "Quem é
Deus?" "O que Ele está fazendo?" "O que Ele prom eteu?" "O
que Ele ordenou?" "Com o esses fatos moldam a minha ma­
neira de pensar e a minha reação diante das situações diárias
da vida?"

Caiíiffísir $3 ©fesdefeiisr
Finalmente, encarar a família como comunidade teológica
significa ser muito prático sobre o que significa seguir a Deus
nas situações corriqueiras da vida diária. Não fazemos muitas
coisas tão grandiosas e significativas em nossa vida. A maioria
de nós não será mencionada nos livros de história. A maioria
de nós só será lembrada pela família e talvez por alguns ami­
gos. A maioria de nós será esquecida em duas a três gerações
após a nossa morte. Simplesmente não há muitos momentos
grandiosos da vida, e nós certamente não vivemos a vida na­
queles momentos. Não, vivemos a vida no mais absoluto dia-
a-dia. Existimos nos banheiros, quartos, salas e corredores da
vida. E nesses lugares que o caráter de nossa vida é definido.
É nesses lugares que vivemos a vida de fé. Então, precisamos
ensinar nossos filhos a levarem esse foco no que é de Deus aos
momentos mais triviais da vida.
nu: i; u m a f a m í l i a ? d e s c r i ç ã o d a t a r e f a 61

Precisamos ensinar a nossos filhos adolescentes o que


ij;nifica viver para Deus onde eles vivem todos os dias, em
iodos aqueles momentos comuns em casa, na escola ou na
companhia de amigos. Há duas perguntas que, se feitas regu-
Lirmente, trarão Deus a todos esses momentos. Queremos fazer
('ssas perguntas a nossos adolescentes até que eles aprendam
.1 lazê-las por si mesmos. Elas se resumem em duas palavras:
confiar e obedecer.

Permita-me começar com a segunda palavra. Em toda si-


I li ação, desejamos que nossos adolescentes tenham o coração
em Deus. Desejamos que eles tenham o objetivo de viver para
■igradá-Lo. Assim, devemos encorajá-los em toda situação
a perguntar: "Nesta situação específica, quais são as coisas que
Deus me chamou para fazer que eu não posso transferir para mais
ninguém?"

Esta pergunta requer que eles pensem de maneira real e


específica sobre o chamado de Deus. Uma vez que o adoles­
cente tenha esclarecido biblicamente essas responsabilidades,
a única reação adequada será obedecer.

A palavra confiar faz o adolescente ver o fato de que ele tem


limites. Há coisas importantes em toda situação que precisam
mudar, e que estão fora do controle do adolescente. Elas não
são responsabilidade dele porque estão além de sua habilidade
de produzir. Essas áreas devem ser confiadas a Deus. Assim,
precisamos levar nossos filhos adolescentes a perguntarem:
"Nesta situação, quais são as coisas que preciso confiar às
mãos capazes e amorosas de Deus?"

Os adolescentes tendem a ficar confusos em relação a tais


áreas (os adultos também). Eles tentam fazer coisas que devem
ser feitas por Deus e se esquecem de fazer as coisas para as
quais foram chamados. A filha disse a sua mãe: "N em que seja
62 CAPÍTULO QUATRO

a última coisa que eu faça, vou ensinar a ele (ao irmão mais
novo) que deve ficar longe de meu quarto. Vou fazer com
que ele respeite a mim e as coisas que me pertencem de uma
maneira ou de outra". Embora ela não percebesse, ali estava
uma adolescente completamente determinada a fazer a obra
de Deus e se esquecendo de fazer as coisas simples que Deus
a havia chamado para fazer durante os tempos de maus tratos.
Ela iria colher o desastre de tentar fazer o que somente Deus
pode fazer.

A família é uma comunidade teológica, assim, precisamos


ensinar a nossos filhos que todos os momentos são momentos
de Deus. Há sempre uma agenda mais elevada do que a feli­
cidade pessoal, há uma história maior e mais importante do
que a história deles daquele momento, e em toda situação, eles
são chamados para confiar e obedecer a Deus. A família cristã
não pensa teologicamente só aos domingos; ela/az teologia de
domingo a domingo.

fih Fam ília c©m© Co^sumieisicl© S©cl©Bégiica


Assim como somos necessários aos adolescentes para en­
raizar a identidade deles no caráter e na existência de Deus,
também o somos para enraizar a identidade deles na comu­
nidade. Pecadores são individualistas inflexíveis. Pecadores
desejam cantar como Frank Sinatra: "Fiz o que eu queria!" São
cheios de si mesmos. Só pensam em suas próprias necessidades
e desejos. Pecadores, de acordo com Paulo no livro de Efésios,
são pessoas levadas pelos desejos de sua natureza pecaminosa
(Efésios 2:3). Pecadores querem que sua vontade seja feita e
lutarão com quem quer que tente impedi-los. Conseqüente­
mente, os pecadores são muito melhores em fazer guerra do
que em promover a paz (leia Tiago 4:1-10), muito melhores
no ódio do que no amor. Eles são muito melhores em causar
divisão do que em criar unidade.
m u ; í; u m a f a m í l i a ? d e s c r i ç ã o d a t a r e f a 63

Todos já experimentamos isso em nossos lares. Dizem que,


c]uando há mais de uma pessoa dentro de uma sala, em algum
momento, provavelmente ocorrerá conflito, e, às vezes, até se
houver apenas uma pessoa na sala! Infelizmente, por causa do
j 'ecado, o conflito é a regra em nossos lares. Não, eu não estou
Ia Iando das lutas com real confronto físico, mas das lutas das
pessoas em seus relacionamentos. Vemos competição onde não
deveria haver, palavras rudes são proferidas, atitudes egoístas
são praticadas e ira é expressa. Os conflitos infectam muitos
de nossos momentos em família. Conflitos existem porque,
como pecadores, tendemos a viver por nós mesmos. Nosso
próprio bem se torna nosso maior bem e as pessoas a nossa
volta parecem estar sempre no caminho.

Quanto é diferente a vida quando vista de maneira bíblica!


A história de Deus não é apenas a história de Seu caráter e de
Sua obra redentora, é também a história de Seu chamado a um
povo para ser o povo de Deus. É a história de Sua formação
de uma comunidade de amor onde todas as antigas linhas di­
visórias de raça, sexo, nação e classe econômica são rompidas
e o povo de Deus vive como um "novo homem em Cristo"
(Efésios 2:11-22). A pessoa de sucesso aos olhos de Deus não
é simplesmente uma pessoa que O ama, mas alguém que
lambém realmente ama a seu próximo como a si mesmo.

Não há contexto mais fundamental, prontam ente dis­


ponível e consistente do que a família para ensinar o que
significa viver em comunidade. A família é uma comunidade,
e apresentará uma visão da comunidade quer perceba, quer
não. A família ensinará e servirá de modelo do significado de
amar ao próximo como a si mesmo ou ela violará esse padrão
em cada ponto e ensinará um individualismo autocentrado.
Mensagens poderosas sobre a natureza dos relacionamentos
serão ensinadas pelo modo como Mamãe e Papai falam um
64 CAPÍTULO QUATRO

com o outro, servem um ao outro, tomam decisões e lidam com


suas diferenças. É impossível para uma família esquivar-se de
ensinar e apresentar alguma filosofia funcional do relaciona­
mento a seus filhos.

A família é chamada para ser o contexto em que o con­


ceito de amar ao próximo como a si mesmo é ensinado com
autoconsciência todas as vezes. Há oportunidades diárias não
somente de transmitir instruções sobre o primeiro-grande-
m andam ento, m as tam bém instruções sobre o segundo-
grande-mandamento. Ao mesmo tempo, na correria de nossos
horários frenéticos, fica muito fácil deixarmos as oportunida­
des passarem, impondo soluções superficiais em vez de lidar
com as questões do coração.

Certo casal me contou, numa ocasião, como seus dois filhos


adolescentes brigavam constantemente pelo aparelho de som
da sala de estar. As brigas haviam se tornado tão feias, que
eles tinham até quebrado um móvel lutando para ver quem
iria tocar o CD. A solução dos pais, que eles compartilharam
orgulhosamente comigo, foi estabelecer para cada filho um
horário semanal de uso do aparelho. Os conflitos terminaram,
então, o problema estava resolvido. Mas eles haviam perdido
a oportunidade dada por Deus de falar sobre a importante
questão do coração: amar ao próximo como a si mesmo. Ao
chegarem a uma solução humana, a segunda melhor, esses
pais perderam a oportunidade divina de fazer brilhar a luz
do segundo grande mandamento no momento.

Isso é o que Cristo chamou de uma das questões mais


relevantes da lei em Mateus 23. Ele repreendeu os fariseus
por enfatizarem os aspectos práticos do comportamento, ne­
gligenciando os aspectos mais importantes do coração, como
a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Contudo, os pais m ui­
tas vezes reagem a uma situação causada por problemas do
i.Ulü É UMA FAMÍLIA? DESCRIÇÃO DA TAREFA
65

i oração impondo algum padrão de comportamento. Isso cria


11 m paliativo situacional instantâneo, mas deixa as questões
mais importantes do coração ocultas e inalteradas.

Provérbios 20:5 diz: "Os propósitos do coração do ho­


mem são águas profundas, mas quem tem discernimento os
(raz à tona". E a isso que devemos estar comprometidos em
nossos relacionamentos. Quando egoísmo, individualismo e
rxigências gerarem conflitos, disputas e tensão em nossos lares,
devemos agradecer a Deus pela oportunidade de lidarmos
com algo que Ele disse ser o que mais importa depois de nosso
relacionamento com Ele. Se formos verdadeiramente gratos,
não optaremos por soluções rápidas e superficiais, mas nos
esforçaremos para desvendar as questões do coração que são
o real motivo do conflito.

Não há melhor local para se fazer isso do que no lar, onde


os filhos são cham ados por Deus para amar pessoas com
quem não escolheram viver. No lar, eles não podem fugir das
responsabilidades diárias de dar, amar e servir e quase tudo
.1volta deles tem que ser compartilhado. No lar, os desejos
ileles conflitarão com os planos de outro alguém. No lar, eles
enfrentarão a absoluta impossibilidade de amar ao próximo
como a si mesmos, se não for pelo auxílio de Cristo.

así d© Amor ou Lei da Vontade?

As reações do adolescente às outras pessoas serão molda-


eias pela lei do amor: "Façam aos outros o que vocês querem
q ue eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas" (Mateus
7:12). Ou as suas reações serão moldadas pela lei da vontade:
"De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês?
Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? Vocês
cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não con­
seguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer
66 CAVÍTULO QUATRO

guerras. Não têm, porque não pedem " (Tiago 4:1-2).

O lar é o contexto onde o verdadeiro coração do adolescen­


te para com os relacionamentos é consistentemente exposto. A
família provê situação após situação onde aquilo que governa
o coração é revelado. A briga pela última gota de leite no café
da manhã, o empurrão dado em resposta a um encontrão
acidental no corredor, a discussão por causa da demora em
usar o banheiro, o desentendimento causado pelas roupas
emprestadas e não devolvidas, o debate quanto a quem vai
usar o carro, a disposição para participar de humor pejorativo,
a exigência de ajuda unida à indisposição para ajudar, a falta
de participação voluntária e espontânea nas tarefas da casa,
a disposição para participar de crescentes duelos de palavras
cruéis e milhares de outras situações não devem ser vistas
como as sofríveis controvérsias da vida em família. Esses são
os momentos em que Deus nos chama para algo maior do que
nosso próprio conforto e comodidade. Esses são tempos em
que Deus nos chama para amar nossos filhos com o amor do
segundo-grande-mandamento, para que estejamos dispostos a
investir tempo na educação do segundo-grande-mandamento
de que eles tão desesperadamente carecem. Em tais momentos,
precisamos ser governados não pela lei da vontade própria,
mas pela lei divina do amor, deixando de ceder às soluções
rápidas e superficiais que nos dão a tranqüilidade que deseja­
mos, mas que não formam em nossos filhos o coração de amor
semelhante ao de Cristo que Deus requer.

i iniilia com o Corriiinldafie IlecleiitGra


A vida em todas as suas ásperas realidades se desenrola no
contexto da família. Por causa do pecado, a família é um local
de promessas não cumpridas, sonhos desfeitos e expectativas
frustradas. O namorado que parecia ser tão sensível e atencioso
se torna um marido distante e descomprometido. A namorada
M]I■. íi UMA FAMÍLIA? DESCRIÇÃO DA TAREFA 67

que parecia ser tão alegre e feliz se torna a esposa amarga e


insatisfeita. A criança que parecia ser tão doce e receptiva se
lorna rebelde e distante. O casal que jurou que jamais repeti­
ria os erros de seus pais percebe que está dizendo e fazendo
precisamente as mesmas coisas que repudiavam.

Precisamos encarar o fato de que as ásperas realidades


>Ia Queda são retratadas na vida familiar diária. Reconhecer
isso humildemente nos abre para uma das mais maravilho­
sas funções da família cristã. É quando nós humildemente
encaramos a realidade de nossa falsidade que começamos
a buscar e entesourar as riquezas da graça do Senhor Jesus
Cristo. Quando nós, pais e filhos semelhantemente, reconhe­
cemos nossas necessidades como pecadores, a família se torna
uma comunidade verdadeiramente redentora onde os temas:
graça, perdão, libertação do pecado, reconciliação, nova vida
em Cristo e esperança se tornam os temas centrais da vida em
família.

Ao escrever um capítulo deste livro, vivi os temas de


meu próprio pecado: padrões de irritabilidade e comunicação
áspera em relação a minha filha adolescente. Quando Deus
revela o pecado, há somente duas respostas para o cristão.
Uma é gerar algum sistema de autojustificação para fazer
com que os desejos e o comportamento errados se tom em
aceitáveis à nossa própria consciência. A outra é admitir o
pecado, confessá-lo a Deus e ao homem e colocar-se uma vez
mais debaixo da misericórdia justificadora de Cristo. Os pais
que têm a primeira reação não terão um lar que funcione como
com unidade redentora. Inadvertidam ente, eles ensinarão
seus filhos a esconderem o pecado, a racionalizá-lo, a negar a
sua existência ou a culpar aos outros. Pais que têm a segunda
reação ensinarão seus filhos a confiar em Cristo, a confessar
pecados e a crer que onde o pecado é abundante, a graça se
68 CAPÍTULO QUATRO

torna ainda mais abundante. Eles ensinarão seus filhos a cres­


cer para serem pessoas cheias de esperança, que têm visto e
crido que há não abismo tão profundo que Jesus não seja ainda
mais profundo!

A chave para a família funcionar como comunidade re­


dentora, onde o Evangelho é a "cola" que faz a família ficar
unida, são pais que confiam tanto em Cristo que estão prontos
e dispostos a confessar as suas faltas a seus filhos. Com fre­
qüência, até a forma como os pais falam sobre sua infância é
assustadoramente farisaica. "Ora, no meu tem po", eles dizem,
"eu nem mesmo pensaria em fazer tal coisa..." E fácil para os
pais se relacionarem com seus filhos como o fariseu que orou
no templo dizendo: "Deus, eu te agradeço porque não sou
como os outros hom ens..." (Lucas 18:9-14). Contudo, os pais
que admitem o seu pecado estarão em posição de ser exemplo
do Evangelho para seus filhos diariamente.

Se não rebaixarmos os padrões de Deus aceitando um


padrão humano e inferior, a lei de Deus revelará o pecado.
As Escrituras falam da Palavra como luz, como um professor
que nos guia a Cristo, e como um espelho em que vemos a nós
mesmos. Se os pais fielmente mantiverem a si mesmos e a seus
filhos no alto padrão de Deus, os filhos começarão a ver sua
total necessidade de Cristo.

Lembro-me de ter ouvido minha filha chorar em seu quarto


uma noite. Entrei e perguntei a ela qual era o problema. Em
lágrimas, ela me disse: "Papai, eu não consigo, simplesmente
não consigo fazer o que você está me pedindo. É impossível!"
Pedi para ela explicar melhor e ela disse: "Você me diz que eu
deveria querer dividir as coisas com meus irmãos, mas eu não
quero. Quando você me diz para dar a eles algo que é meu, eu
dou, mas eu odeio ter que fazer isso e fico brava com você por
me pedir e brava com eles, por levarem algo que é meu! Eu
n lli; É UMA FAMÍLIA? DESCRIÇÃO DA TAREFA 69

não quero dividir, eu odeio fazer isso! É impossível gostar de


dividir minhas coisas!" Ao dizer essas palavras, ela começou
.) chorar novamente.

Em seu quarto, naquela noite, ela começou a experimen-


!ar algo maravilhoso: o fato de não haver possibilidade de
justiça no cumprimento da lei. Ela começou a perceber que,
em sua própria força, pelo exercício de sua própria vontade,
não conseguia obedecer a Deus. Em seu quarto, naquela noite,
ela passou a clamar por Cristo e a ver que Ele era a sua única
esperança. Uma dificuldade em dividir que não foi encoberta
por alguma solução humana cosmética se tornou o contexto
em que Cristo, o Redentor, foi revelado.

Se a Palavra for firmemente mantida como o padrão para


a família, o pecado será revelado pelo que é. Somente assim a
mensagem da redenção em Cristo Jesus faz sentido. Quando
o Espírito Santo opera por meio do ministério fiel dos pais que
abandonam o seu próprio desejo de conforto e comodidade,
filhos orgulhosos e fariseus que defendem e justificam a si
mesmos se tornam seguidores da graça.

V ida no lliJíici© Decaído

Há coisas que sabemos que nossos filhos irão passar em


nossos lares. Haverá pecado contra eles. Eles fazem parte de
uma família de pecadores que ainda não foram totalmente
santificados. Eles ouvirão palavras rudes e verão gestos in­
delicados. Eles experimentarão o egoísmo de outros e serão
objeto de irritação e raiva de alguém. Precisamos receber essas
experiências com a mensagem da redenção. Devemos ensinar
nossos filhos que há um Redentor que veio, que perdoa, que
liberta, reconcilia e restaura. Você exemplifica isso quando faz
mais do que dizer a seus filhos em plena briga que vão para
seus quartos e deixem uns aos outros em paz. Você exemplifica
70 CAPÍTULO QUATRO

isso quando exige que eles encarem uns aos outros, lidem com
suas diferenças, confessem pecados, peçam perdão e restaurem
os relacionamentos. Assim fazendo, você ensina o Evangelho,
testifica da presença e do poder do Redentor, e ensina seus
filhos a serem pessoas cheias de esperança até em meio a um
mundo decaído.

Você também sabe que seus filhos experimentarão seu pró­


prio pecado. Palavras que ferem e magoam virão diretamente
de suas bocas. Preguiça e irresponsabilidade serão reveladas.
Eles responderão em egoísmo e não em amor; rebelar-se-ão em
vez de se submeter e tomarão coisas em vez de dá-las. Cada
uma dessas experiências é uma oportunidade de fazer reden­
ção, isto é, trazer seus filhos ao local de esperança e auxílio: o
Senhor Jesus Cristo.

Muitas vezes perdemos essas oportunidades porque es­


tamos ocupados demais resolvendo o problema atual. Gasta­
mos energia tentando evitar que os irmãos briguem, quando
deveríamos expor o pecado por trás da discussão e levar as
pessoas envolvidas a Cristo para experimentarem o Seu perdão
e auxílio, buscando-O em confissão e arrependimento. Também
perdemos essas oportunidades porque vemos os pecados de
nossos filhos como afrontas pessoais. Somos envolvidos por
nossa própria mágoa e ira. Em vez de dizermos palavras de
esperança e graça, esbravejamos palavras nervosas de contra­
riedade e decepção ("Gostaria que você se organizasse uma
vez na vida!") ou palavras de censura ("Você não muda nunca
mesmo!").

Não devemos nos distanciar dos pecados de nossos filhos


como se eles tivessem um problema com o qual não possamos
nos identificar. Precisamos nos identificar com eles. Nós tam­
bém somos pecadores. O pecado é uma condição humana. É
um problema que reside em nossa própria natureza. Nenhum
n u i; É UMA FAMÍLIA? DESCRIÇÃO DA TAREFA 71

de nós está imune à doença. Não há pecado que nossos filhos


possam cometer que nós também não sejamos capazes de
cometer. Quando admitimos que somos semelhantes, repre­
sentamos um entusiasmo pessoal com o Evangelho, porque
He é nossa única esperança também. Não respondemos com
um dizendo: "Com o você pôde fazer isso?" ou "Por que você
faria isso?", mas educamos com uma humilde consciência de
nosso próprio pecado. Entendemos o "com o" e o "porquê" do
pecado, porque nós já o cometemos e ainda o cometeríamos,
não fosse a gloriosa graça do Senhor Jesus Cristo.

Não queremos comunicar a nossos filhos que seria melhor


para eles se pudessem de alguma forma ser como nós! De
forma alguma! Ao contrário, precisamos dizer que é somente
por meio de Cristo que hoje experimentamos qualquer liber­
dade das coisas com as quais eles estão em luta. Dispomo-nos
a compartilhar com eles as nossas lutas com o pecado para
que a misericórdia de Cristo seja revelada por meio de nossa
história (veja o exemplo de Paulo em 2 Coríntios 1:8-11).

Sabemos, também, que nossos filhos enfrentarão a deca­


dência e a falência do mundo. Paulo diz em Romanos 8 que
o mundo todo geme, aguardando a redenção (v. 22). Em sua
experiência, nossos filhos verão um mundo de promessas não
cumpridas, relacionamentos rompidos, instituições falidas,
governos corruptos, ambição egoísta, violência desumana e
famílias desfeitas. Eles experimentarão tentações, mentiras
e esquem as do inimigo. Eles vivem em um m undo onde
realmente existe um Diabo que procura devorá-los. Eles se­
rão surpreendidos e enganados. Eles viverão mágoa, medo,
desapontamento e desânimo. E terão milhares de razões para
cinismo e desesperança.

Não poderemos protegê-los da decadência de seu mundo.


Não podemos agir como se ele não existisse, porque em todo
72 CAPÍTULO QUATRO

lugar onde eles olham, eles verão falência. Aqui também, de­
vemos trazer o Evangelho. Este mundo não é lugar de caos não
atenuado. Sobre toda falência governa o Cristo ressurreto, que
reina sobre todas as coisas por amor de Seu povo. Ele vai tra­
zer fim a todo o pecado, dor e sofrimento. O que enfrentamos
aqui não se compara às glórias da eternidade. Há esperança!
Precisamos encontrar maneiras práticas de comunicar esta
esperança a nossos filhos. Há mais e melhores coisas por vir.
Há uma razão para continuar.

Em face de tanto pecado, em face do mundo, da carne e do


Diabo, a família precisa funcionar como comunidade redento­
ra, admitindo humildemente a realidade do pecado. Devemos
também visar com consistência e expectativa à maravilhosa
realidade da graça do Cristo ressurreto, que reina sobre todas
as coisas para a salvação de Seu povo. Cada situação onde o
pecado ergue a cabeça constitui uma oportunidade de ensi­
nar sobre a graça. Cada situação onde o Tentador é revelado
constitui uma oportunidade de apontar para Cristo, que é
maior. Cada circunstância de erro é uma porta aberta para a
mensagem de perdão e libertação.

Não há comunidade de aprendizado mais consistente


e efetiva do que a família. A existência e a glória de Deus, a
responsabilidade moral de amar ao próximo e a esperança
do Evangelho em face de nosso pecado devem ser temas
constantes que interpretam, definem, explicam e organizam a
vida familiar. Sendo pais, nós devemos aceitar a nossa posição
como os principais professores de Deus. Este é um chamado
elevado e para toda a vida. Nada que venhamos a fazer será
mais importante. Ao seguirmos o chamado de Deus, orare­
mos por nossos filhos como Paulo orou pela igreja de Efeso:
"O ro também para que os olhos do coração de vocês sejam
iluminados, a fim de que vocês conheçam a esperança para a
)([!•: É UMA FAMÍLIA? DESCRIÇÃO DA TAREFA 73

t|ual ele os chamou, as riquezas da gloriosa herança dele nos


santos e a incomparável grandeza do seu poder para conosco,
os que cremos, conforme a atuação da sua poderosa força"
(Ufésios 1:18,19).
Pais, Conheçam Seus
Adolescentes
VOCÊ se lembra de como era ser adolescente? Lembra-se
de seu senso crítico, de seu senso crítico em relação a sua apa­
rência física e de sua confusão geral? Você se lembra que ficava
supersatisfeito consigo mesmo num dia e, no dia seguinte,
queria morrer de desgosto? Lembra-se de tentar parecer "b a­
cana" e acabar sendo totalmente ridículo? Lembra-se de fazer
coisas imaturas e irresponsáveis bem na época em que tentava
ganhar o respeito de seus pais? Pais eficientes são aqueles que
conseguem se lembrar de como era viver no assustador mundo
da adolescência.

Lembro-me de uma vez em que finalmente consegui que


meus pais me deixassem usar o carro, mas acabei ficando sem
gasolina e peguei carona para casa, deixando as chaves na
ignição! Fiquei arrasado quando minha mãe me disse minu­
ciosamente que tolice era fazer o que fiz.

Lembro-me de ter ido certa vez a um restaurante como o


McDonald's. Talvez isso denuncie a minha idade, mas eu tinha
comprado uma garrafa de refrigerante. Quando estava indo
para minha mesa, notei que três garotas a quem eu havia co­
nhecido uns dias antes haviam entrado no restaurante. Fiquei
animado com a presença delas! Enquanto tentava atrair a aten­
ção das garotas ao me sentar, bati com a garrafa, derramando o
refrigerante em meu colo. As garotas olharam para mim e, de
r\l\ CONHEÇAM SEUS ADOLESCENTES
75

ivpente, caíram na risada ao me verem ali, sentado com uma


enorme rodela de guaraná na parte da frente da calça! Tudo
i >que eu queria era sair daquele lugar o mais rápido possível,
mas a única porta parecia estar a quilômetros de distância e
I nira chegar lá eu teria de passar pelo trio gargalhante! Jamais
me esquecerei daquele trajeto até a porta. Senti que demorei
uns três meses para chegar lá. Eu tinha certeza de que todos no
local estavam olhando fixamente para aquela marca de guaraná
liem na frente de minhas calças de cor cáqui. Tive pensamentos
suicidas no estacionamento aquela noite. Eu sabia que nada
mais poderia a ser feito, estava tudo acabado, eu jamais seria
um ser humano normal! Eu não havia passado no teste e elas
ainda estavam rindo!

Se os pais não se lembrarem de momentos assim, se dei­


xarmos de reconhecer a proporção que tais eventos assumem
para nossos filhos adolescentes, nós não os levaremos a sério.
Vez após vez, minimizaremos coisas que são muito importan­
tes para nossos adolescentes. Perderemos oportunidades de
fazer desses momentos mais do que momentos de vergonha
humana; não traremos a presença, o poder, o amor e a direção
do Redentor a uma pessoa arrasada e confusa. Precisamos ir
além de dizer: "Que diferença faz?" para realmente nos co­
municarmos com nossos adolescentes que nós levamos eles e
o mundo deles a sério. Queremos que eles realmente saibam
que nós estaremos sempre prontos para ouvir o que eles têm a
dizer, para amá-los, apoiá-los e ajudá-los. Precisamos fazê-los
entender que nunca zombaremos das coisas que eles levam a
sério.

O problema é que aquela crise da adolescência nos pega de


surpresa. Eu estava cuidando de meus afazeres uma manhã,
quando contornei o balcão da cozinha e encontrei meu filho
de pé ali. Antes que eu o cumprimentasse, ele disse: "Papai,
76 CAPÍTULO CINCO

o que você acha das minhas orelhas?" "O que eu acho áas suas
orelhas?'' pensei. Eu realmente não havia parado para pensar
nas orelhas dele e sei que nunca havia falado sobre elas com
minha esposa! Mas, de repente, ele ficou muito sério em relação
às orelhas. Ele percebeu minha hesitação, então eu quis dizer
algo (quase) inteligente! Daí, eu disse: "Bem, o que você acha
delas?"

Não creio que alguma vez eu já tenha opinado especifica­


mente sobre orelhas. Não presto atenção nelas quando vou ao
shopping. Nunca orei: "Deus, obrigado por ter me dado um belo
par de orelhas. Não sei o que teria feito se elas fossem assim ou
assado". Contudo, de repente, sem aviso algum, ali estava eu,
envolvido em uma conversa muito séria sobre orelhas. Meu
filho havia se olhado no espelho aquela manhã, na esperança
de ter se tornado mais parecido com um ser humano normal,
quando notou suas orelhas - e elas pareciam não se ajustar a
sua cabeça! Tentei falar sobre a majestade da habilidade cria­
tiva de Deus e da tecnologia das orelhas, mas ele não prestava
atenção. Disse: "M as, papai, elas simplesmente parecem que
se projetam nos lados da cabeça. São tão salientes. O que se faz
com elas? As minhas não se ajustam direito a minha cabeça;
fico com tanta vergonha, e o pior é que vou ter que ficar com
elas para sempre!" Aquela foi a manhã em que mais falei sobre
orelhas em toda a minha vida.

Talvez seja por isso que os pais encaram a adolescência


com tanta apreensão. Não gostamos da imprevisibilidade, da
espontaneidade. Ficamos nervosos com a rapidez com que as
coisas ficam sérias ou com que as coisas podem mudar. Assim,
nossa tendência é acatar a mentalidade da sobrevivência da
cultura e procurar outro livro que nos ajude a lidar com o caos
da adolescência. Recentemente, vi uma camiseta que dizia: "E
claro que pareço cansado, tenho um filho adolescente!"
Sl\ CONHEÇAM SEUS ADOLESCENTES 77

Nunca seremos capazes de prever o que cada dia trará


quando educamos adolescentes, mas quanto mais entender­
mos sobre essa fase, mais poderemos lidar com ela com espí-
i ilo preparado e não com espírito de medo. Devemos rejeitar
■i sobrevivência autocentrada que acredita que o sucesso seja
, 11ravessar a adolescência de nossos filhos com nossa sanidade
c nossos casamentos intactos. Não devemos nos conformar com
nada menos do que ser instrumentos nas mãos de Deus, que
está fazendo coisas importantes nas vidas de nossos filhos.

que a B íb lia diz s o b r e ©s Ad©i@$centes


Precisamos ter uma visão bíblica sobre os adolescentes,
mas há um problema: ela não fala nada sobre eles! Se pro­
curasse todos os versículos sobre adolescentes em uma con­
cordância bíblica, você não encontraria nenhum. O período
de vida a que nós chamamos adolescência é uma invenção
relativamente recente. Entretanto, a Bíblia nos dá descrições
maravilhosas sobre as tendências da juventude. Muitas delas
são encontradas no livro de Provérbios.

Os primeiros sete capítulos de Provérbios registram um


pai sábio dando conselhos práticos sobre a vida a seu filho.
Ao estudar esses capítulos, encontrei os tipos de coisas que
passamos com nossos adolescentes. No entanto, nenhum des­
ses temas leva à desesperança tão prevalecente na visão que
nossa cultura possui da adolescência. Ao contrário, eles sim­
plesmente e sabiamente começam a fornecer orientação para
os tipos de conflitos que você terá ao viver com o adolescente.
Vejamos as tendências reveladas nesta parte de Provérbios.

riiStihtiiiíi A n seio por Sabedoria 011 D isciplina

Provérbios enfatiza o valor da sabedoria e a importância


tia disciplina. Em essência, o pai de Provérbios diz a seu filho:
"Não importa o que você tenha na vida, busque a sabedoria!
78 CAPÍTULO CTNCO

Ela é mais valiosa do que você im agina". Semelhantemente,


é enfatizada a importância de se atentar e de se submeter à
disciplina. Provérbios chega a dizer: "Aquele que odeia a
repreensão é tolo" (Provérbios 12:1). Essas são ênfases reve-
ladoras do coração do adolescente (e de seus pais!). A maioria
dos adolescentes simplesmente não anseia pela sabedoria.
Na verdade, a maioria pensa que é muito mais sábia do que
realmente é e erroneamente acredita que seus pais têm pouca
visão prática das coisas a oferecer. Eles tendem a pensar que
seus pais "realm ente não entendem" ou estão "bastante por
fora do assunto". Entretanto, a maioria deles sofre de severa
falta de sabedoria e precisa desesperadamente de disciplina
amorosa, bíblica e fielmente dispensada.

A maioria dos adolescentes não vai ao encontro do pai


para dizer: "Sabe, papai, eu estava pensando no quanto você
é sábio, e no quanto é bom que Deus o tenha posto em minha
vida para que eu possa obter sabedoria também. Pensei em vir
aqui conversar com você por um tempo e absorver um pouco
da sabedoria que tanto você quanto eu sabemos que eu preciso
desesperadamente". Isso não acontece assim. Os adolescente
em geral não imploram para absorver a nossa sabedoria. M es­
mo assim, não podemos ceder e deixar que eles estabeleçam a
agenda de nosso relacionamento com eles.

Pergunte a si mesmo se a maneira como você responde a


seu filho adolescente torna a sabedoria atraente. Você faz com
que a disciplina tenha um gosto doce? Vejo pais tornarem a
disciplina mais amarga ao bater nos filhos com palavras de­
preciativas. Torne a sabedoria atraente. Faça da disciplina algo
a ser desejado. Não deixe que o medo do que possa acontecer
o faça tentar produzir como controle humano o que somente
Deus pode produzir por Sua graça.

Ganhe seus filhos para a sabedoria. Conquiste-os por ela.


r. ' ( >NI IEÇAM SEUS ADOLESCENTES 79

N.io se faz isso com confrontos rudes e inflamados e conflitos


\ribais grosseiros. Nenhuma sabedoria é transmitida nesses
momentos. Se você atingir seus filhos com uma barragem de
11.ilas verbais, eles correrão para o abrigo ou sairão disparando
i.imbém. Uma boa regra é lidar consigo mesmo antes de lidar
i (>m o adolescente (Mateus 7:3-5). As vezes, começo a falar com
11 m de meus filhos e vejo minha esposa atrás dele, gesticulando
■.em parar para mim. Não, ela não está orientando navios. Ela
está me dizendo que não estou pronto para ter aquela con­
versa. Preciso de mais tempo para me preparar considerando
biblicamente as questões em discussão, falando com minha
esposa e orando por meu filho e por mim mesmo. Depois de
fazer tudo isso, minha disposição de espírito muda totalmente
e fico mais preparado para funcionar como instrumento de
mudança de Deus.

Depois de se preparar, fale com o adolescente no lugar


eerto e na hora certa. Vá a um quarto silencioso da casa, de
preferência o quarto do adolescente, onde ele fica mais à von­
tade. Não encaixe esses importantes momentos de sabedoria
ou disciplina em períodos de muita atividade; não proceda
apressadamente. Não o faça na frente de outras pessoas, nem
ao sair do carro, a caminho da escola ou da igreja. Reserve
tempo e, ao fazê-lo, diga: "Você é importante e o que Deus diz
é importante, então, estou disposto a gastar o tempo que for
necessário para ser Seu instrumento de disciplina". Lembre-se,
transmitir sabedoria não é atingir a cabeça de seu filho com
palavras que machucam, mas sim, colocar uma preciosa guir-
landa ao redor de seu pescoço. E dar a ele as jóias mais valiosas
do mundo. E o ouro direto de Deus para as mãos dele. Isso
difere radicalmente da maneira que os adolescentes tendem a
pensar a respeito da sabedoria e da disciplina. Não confirme
a visão que eles têm das coisas, nem permita que o valor e a
beleza desses momentos sejam roubados por seu pecado.
80 CAPÍTULO CINCO

Os adolescentes tendem a ser defensivos. Eles muitas


vezes consideram nossa preocupação amorosa e auxílio pa­
ternal como acusação de erro. Em resposta, eles defendem
seus pensamentos e atitudes, envolvendo-nos em discussões.
Precisamos ter muito cuidado com as palavras que usamos.
Precisamos estar certos de que faremos perguntas honestas
a nossos filhos, e não acusações provenientes de conclusões
óbvias. Precisamos exercer o autocontrole que recebemos de
Deus. Precisamos nos abster de discussões em voz alta que
pouco têm a ver com uma perspectiva sábia dos problemas
em vista e tudo têm a ver com quem vai ganhar ou perder a
discussão. Provérbios diz: "A resposta calma desvia a fúria,
mas a palavra ríspida desperta a ira" (Provérbios 15:1). De­
vemos conscienciosamente evitar cair em conflitos enérgicos
emocionalmente carregados.

Descobri que é muito útil fazer três coisas quando meus


filhos ficam defensivos. Primeira, esclareço as minhas ações
para eles. Digo: "Não me entenda mal, não estou acusando
você de nada. Eu o amo muito e porque o amo, desejo fazer
tudo o que puder para ajudar você a ingressar no mundo
adulto. Nunca pense que estou contra você. Estou a seu favor.
Quero que você faça algo por mim: se alguma vez você achar
que eu o julguei mal, que eu não entendo a situação, ou que
eu expressei ira pecaminosa contra você, por favor, respeitosa­
mente diga isso a mim. Quero ser usado por Deus para ajudar
e encorajar você. De forma alguma desejo oprimir você".

Segunda, eu os ajudo a exam inar sua própria defesa.


Adolescentes, como todos os pecadores, sofrem de cegueira
espiritual. Eles não vêem a si mesmos como realmente são e
assim, precisam de nossa ajuda. Direi: "Sabe, há muita tensão
neste quarto. Eu não gritei com você. Não xinguei você, nem
acusei você de nada, mas parece que você está bravo comigo.
I'AIS, CONHEÇAM SEUS ADOLESCENTES
81

1’oderia explicar por que está tão bravo? Não quero que esta
conversa cause incômodo entre nós. Eu não pedi para falar
com você porque estava com vontade de brigar. Eu amo você
c quero ajudá-lo de todas as formas possíveis".

Terceira, tento ser fiel em confessar meus pecados contra


meus filhos adolescentes. Irritação, impaciência, juízo de in­
tenções, xingamentos, palavras de censura, elevação de voz,
enfim, qualquer situação onde você tenha se permitido ficar
emocionalmente fora de controle, e qualquer lugar onde você
tenha agredido fisicamente, agarrado ou empurrado, tudo se
encaixa na categoria de "provocar os filhos à ira" e deve, por­
tanto, ser confessado a Deus e a eles. Sua humildade e brandura
de coração constituem exemplos maravilhosos para seu filho.
Declare, humilde e firmemente, sua confiança no perdão de
Cristo. Ao fazê-lo, você permite que eles saibam que não estão
sozinhos na luta contra o pecado e demonstra que a confissão
produz resultados benéficos. Seja humilde o suficiente para
admitir que seus filhos realmente o provocam. Descubra o
que o provoca. Antes da "conversa", ore para que você seja
exemplo do amor de Cristo diante de seu filho adolescente. Se
você começar a perder o controle, peça licença, saia do local,
ore, se recomponha e depois volte e termine a conversa.

A dolescentes não só tendem a ser defensivos, como


também a se protegerem. A tendência dos adolescentes não
é viver abertamente. Normalmente eles não ficam andando
pela casa, ansiosos por conversar com a mamãe ou com o
papai. Eles muitas vezes são mestres em dar respostas vazias.
Não é raro para eles passar um tempo descomedido em seus
quartos. Infelizmente, receio, muitos pais aceitam a vala que
os adolescentes tendem a construir ao redor de si mesmos.
Iiles se adaptam à falta de tempo e de relacionamento com o
Ii lho que, há uns poucos anos, queriam arrastar consigo por
82 CAPÍTULO CINCO

toda parte. Eles desistem de falar quando o adolescente desiste


de falar. Assim, quando acontecem coisas importantes, com
as quais o adolescente jamais deveria lidar sozinho, mamãe e
papai simplesmente não podem ser encontrados.

Procure seu filho. Expresse amor por ele diariamente.


Não faça perguntas que possam ser respondidas por "sim " ou
"n ã o ". Elabore perguntas que exijam descrições, explicações e
transparência. Não se dirija a ele somente para disciplinar. Não
o surpreenda apenas quando ele estiver fazendo algo errado,
mas surpreenda-o também quando ele estiver fazendo algo
certo e o incentive. Ore diariamente com ele, mesmo que isso
o constranja. Todas as noites, antes que ele vá dormir, procure-
o e diga um carinhoso "boa-noite". Como este tem sido um
hábito da família há anos, nossos filhos adolescentes nos pro­
curam para dizer boa-noite. Entre no mundo do adolescente
e permaneça lá. Jamais permita que ele o veja como alguém
que não faça parte de seu mundo funcional. Os adolescentes
rejeitam as "granadas" de sabedoria e disciplina lançadas à
distância por alguém que já não tem estado por perto há um
bom tempo.

Ao responder perguntas sobre suas próprias decisões e


ações, filhos adolescentes tendem a transferir a culpa. Eles
dirão que não ouviram as suas instruções ou que você não
deu a eles tem po suficiente. Talvez culpem a um irmão.
Esteja consciente de que essas respostas podem causar muita
frustração. (Como se você não soubesse!) Antecipe o fato de
que você irá precisar do autocontrole que somente o Espírito
Santo pode dar.

Uma das maneiras que os adolescentes usam para trans­


ferir a culpa é acusando-nos de ser especialmente duros com
eles e excessivamente tolerantes com seus irmãos. Eles nos
chamam de rigorosos e inconsistentes. Nesses momentos,
CAIS, CONHEÇAM SEUS A D O LES C EN T ES 83

é importante manter o foco, sem se desviar do assunto em


discussão a fim de elaborar justificativas para sua maneira
de educar. Nessas ocasiões, mais uma vez, tento reagir com
humildade e paciência. Digo: "Tenho certeza de que há vezes
em que deixo passar coisas com as quais eu deveria lidar, mas
acho que você sabe que eu amo a todos vocês e que procuro
ser o que Deus quer que eu seja nas vidas de cada um. Num
outro momento, terei prazer em falar sobre mim e sobre as
pressões que os pais sofrem ao educarem seus filhos. Adoraria
contar a você como tudo funciona e ouvir as suas impressões
a meu respeito, mas, neste momento, é sobre você que preciso
falar".

Em geral, adolescentes não são bons ouvintes. Mantenha


a conversa interessante e direta. Não se estenda em descrições
detalhadas de como tudo era tão diferente em "seus dias". A
maneira de lidar com a curta duração da atenção de nossos
adolescentes é transformar esses momentos de sabedoria e
disciplina em interações, não em palestras. Alguns de nós
carregamos estantes portáteis invisíveis conosco, as quais es­
tamos sempre prontos para armar. Deixe-as no armário. Faça
perguntas estimulantes que levem o adolescente a examinar
suas atitudes, suas suposições, seus desejos e suas escolhas.
Ajude-o a fazer com que a luz da Palavra brilhe sobre ele.
Surpreenda-o com a verdade. Deixe que a sabedoria cintile
diante de seus olhos. Não ceda à tendência de falar sem parar,
ignorando-o e criticando-o severamente. Envolva o adolescente
em um diálogo interessante que não realce a sua autoridade
nem o direito que você tem de dizer a ele o que fazer. Ao con­
trário, fale com ele de tal forma que a verdade seja exaltada e
a beleza dela seja destacada.

Não se deixe levar. Não se deixe excluir. Não se envolva


em uma guerra pessoal. Profira fielmente palavras doces de
84 CAPÍTULO CINCO

sabedoria e palavras amáveis de disciplina. Sustente o que é


valioso diante do adolescente e confie em Deus para produzir,
no coração dele, um amor pela verdade.

A. Te n dê ncia d o s A d o le s c e n te s a o L egalista©

Provérbios não é um guia do que se deve ou não fazer, ou


do que é certo ou errado. Provérbios nos fornece duas visões
de mundo: a sabedoria e a estultícia. No livro, encontramos
dois caminhos de vida: o caminho do sábio, orientado pela
verdade de Deus, e o caminho do tolo, orientado pela pers­
pectiva e pelo desejo humanos. Deus busca muito mais do que
comportamento exterior. Ele age para que não sejamos nada
menos do que participantes de Sua natureza divina (2 Pedro
1:4)! Não podemos e não devemos reduzir a vida piedosa a
um conjunto de regras. Vida piedosa é a adoração humilde e
grata que nos faz desejar o que Deus diz ter valor e fazer o que
Deus diz que O glorifica.

Os adolescentes, contudo, tendem a ser legalistas ferre­


nhos, a enfatizar a letra e não o espírito da lei. Em geral, os
adolescentes forçam a cerca enquanto dizem a você que ainda
estão no quintal. Eles o levam a discutir sobre limites, envol­
vendo você em conversas para saber "até onde" podem ir e
respondendo, mais tarde: "mas eu fiz exatamente o que você
me disse para fazer".

Precisamos ser hábeis ao falar sobre o espírito da lei com


os adolescentes. Precisamos falar sobre as questões do coração
por trás dos comandos. Precisamos mostrar a eles a diferen­
ça entre a pureza interior e o cumprimento farisaico de um
dever. Precisamos ver o legalismo do adolescente como uma
oportunidade para falar sobre o que significa ter um coração
segundo Deus e um coração inclinado a fazer o que é certo.

Meu filho costumava ser rude em suas brincadeiras físicas


r\IS, CONHEÇAM SEUS ADOLESCENTES 85

com o irmão, aproveitando-se de seu tamanho e força. Em


muitas ocasiões, o irmão acabava frustrado e em lágrimas.
Assim, pedi que ele não brincasse mais daquela forma. Ao
lazer o pedido, na verdade eu estava resumindo uma porção
de coisas que se encaixavam na categoria da intim idação
I>clo uso do seu tamanho como vantagem sobre o irmão mais
novo. Alguns dias depois, ouvi o irmão chorando novamente
na sala de estar e disse: "Pensei que havia pedido a você que
não fizesse isso a seu irm ão" Sua resposta foi: "Eu nem toquei
nele". Dá para perceber o que aconteceu? Tecnicamente, ele
havia guardado a letra da lei, não tocando nem machucando
íisicamente o irmão. Contudo, ele desobedecera por completo
ao espírito do pedido, intimidando fisicamente o irmão sem
locar nele.

Ao fazermos os adolescentes perceberem este legalismo,


lembrando qual é o verdadeiro espírito das exigências de Deus,
eles reconhecerão a sua inabilidade e começarão a ansiar por
Cristo. De outra forma, eles tenderão a ser como os fariseus,
que reduziam a lei de Deus a padrões humanos praticáveis.
Cristo disse a Seus seguidores que a menos que a justiça deles
excedesse a dos escribas e fariseus, eles não entrariam no reino
dos céus! Quando mostrarmos aos adolescentes a magnitude
do espírito da lei, eles dirão: "Eu não consigo fazer isso. Não
consigo amar. Não consigo dar. Não sou um servo". Eles pas­
sarão a buscar o auxílio que somente Cristo pode dar.

Os riscos aqui são altos. O legalismo humano leva ao fa-


risaísmo humano e o farisaísmo humano nega a necessidade
da graça de Cristo, que salva e capacita. O farisaísmo humano
abraça a mais impiedosa das mentiras de Satanás, que diz
que uma pessoa pode ser justa se guardar a lei. Se isso fosse
verdade, o nascimento, a vida, a morte e a ressurreição de
Cristo não teriam sido necessários. Devemos ajudar nossos
86 CAPÍTULO CINCO

adolescentes a verem o seu próprio legalismo e não devemos


nos envolver nas intermináveis discussões sobre limites do
legalismo. Devemos ajudar nossos filhos a perceberem a sua
rebelião de coração e levá-los a Cristo, que é a justiça deles.

;ia d o s A d o le sc e n te s a S e rem i in sen satos


na EscoSlia d e s u a s Com panhias
Em Provérbios há muitas citações sobre a amizade e sobre
a influência que as outras pessoas exercem sobre você e sobre
o seu comportamento. Os adolescentes muitas vezes são ingê­
nuos e insensatos na escolha de seus amigos. Provérbios chega
até a dizer que, ao avistar certas pessoas, você deve passar para
o outro lado da calçada! As amizades são muito importantes.
Conhece-se uma pessoa por suas companhias. E impossível
ficar imune à influência de um amigo. Ainda assim, os ado­
lescentes comumente supõem que não serão influenciados e
reagem à nossa preocupação dizendo: "Deixa com igo".

Ao refletir sobre este assunto, pensei em uma experiência


de minha própria adolescência. Quando me lembrei do fato,
fui tentado a ligar para minha mãe e pedir perdão! Por volta
da época em que eu comecei a notar o sexo oposto, passei tam­
bém a ser ávido participante de um ministério de adolescentes
local. Parecia que naquele ministério todos acabavam saindo
em pares. Encontrei uma pessoa de quem gostei e trouxe-a
para casa depois de uma das reuniões de fim de semana.
Agora percebo, ao lembrar o que ocorreu, que ela era uma das
garotas mais (não sei que termo usar aqui) inconsistentes da
comunidade cristã. Fico muito feliz por não ter me casado com
ela! Lembro-me da cena surreal que vivi aquele dia, quando a
levei para minha casa. Minha mãe tinha aquele clássico sorriso
de desgosto na face, tentando ser educada e gentil e, ao mesmo
tempo, desejando me resgatar do perigo moral! Lembro-me de
que minha mãe me perguntou mais tarde naquela noite o que
IWIS, CONHEÇAM SEUS ADOLESCENTES 87

liavia me atraído naquela garota em especial. (Parecia óbvio:


ela era bonita, divertida e gostava de mim.) Lembro o quanto
iui defensivo (embora não o admitisse na época) e lembro tam­
bém que minha mãe me advertiu sobre a importância daquele
I ipo de escolha. Lembro, ainda, de ter ficado muito ofendido
c de ter dito a ela que deixasse o assunto por minha conta.

É preciso abordar tais assuntos com sensibilidade, amor


e paciência. Os adolescentes tendem a ser espinhosos e de­
fensivos quando questionados sobre seus amigos. E como se
a seguinte regra vigorasse para eles: "rejeitar meus amigos é
rejeitar a m im ". Como pais, temos de ter muito cuidado com
a forma como falamos sobre o assunto. Nunca faça uso de
termos pejorativos para se referir a seus amigos nem denigra
o caráter deles. Seu objetivo deve ser com que o adolescente
neutralize a emoção e o vínculo do relacionamento a fim de
adquirir uma visão longa, honesta e bíblica dele. Eles não o
farão sem a sua ajuda. Mas também é v e r d a d e que eles não o
farão se, por seu próprio temor, você tiver denegrido emocio­
nalmente os relacionamentos que são preciosos para eles.

Este assunto deve ser posto em pauta. Os adolescentes


precisam aprender a escolher sabiamente os seus amigos.
Precisam entender que as amizades exercem uma poderosa
influência sobre eles. E vital que nós, como pais, evitemos
abalar nossa influência com nossos filhos por cometermos a
imprudência de rotular a seus amigos, fazendo acusações in­
justificadas, julgando intenções e tecendo suposições sobre a
natureza e o nível da influência da amizade. Precisamos fazer
boas perguntas que ajudem nossos filhos a examinarem seus
pensamentos, desejos, intenções, escolhas e comportamentos
com respeito à amizade. Queremos que nossos filhos adquiram
um discernimento do coração que os leve a decisões muito mais
sábias em relação à amizade. Não estamos realizando nada
88 CAPÍTULO CINCO

no nível do coração quando julgamos em temor e decidimos


coisas por eles. Assim fazendo, perdemos a oportunidade
de ver acontecer neles uma mudança de coração duradoura,
embora somente isso produza mudanças básicas na maneira
como encaram a amizade.

S iiseetib ilicia ila ç ã o Seicyai


O pai de Provérbios tem muito a dizer sobre a tentação
sexual. Precisamos levar este tema a sério, especialmente em
uma cultura que tem distorcido tanto a visão da sexualidade
humana. Fora da comunidade cristã, não existe lugar onde
o adolescente possa receber algo que se assemelhe a uma
perspectiva correta dessa importante área da vida humana.
A adolescência é a época do despertar físico, e é quando, pela
primeira vez, nossos filhos sentem o desejo de ter um relacio­
namento com o sexo oposto. A luxúria e a fantasia muitas vezes
se tornam os pecados secretos dos adolescentes. Não podemos
evitar essa área, nem reagir a ela com vergonha e ambivalência.
Devemos falar sobre sexo com nossos filhos precocemente e
manter sempre o assunto em aberto como tópico para livre
discussão.

Muitos pais parecem ter medo da primeira conversa sobre


sexo. Passam semanas se preparando, respiram aliviados por
sobreviverem ao desafio e nunca falam sobre o assunto nova­
mente. E você? Sabe como seu filho tem se saído nessa área?
Sabe se ele tem problemas com luxúria, fantasias ou mastur-
bação? Sabe se ele tem visão bíblica dos relacionamentos com
o sexo oposto? Sabe quantas mentiras sexuais do mundo ele
tem aceitado? Entende as situações, locais e relacionamentos
em que ele tem sido tentado? Você tem discutido com ele
sobre as maneiras de fugir das "paixões da m ocidade"? Você
não poderá educá-lo neste ponto, se permitiu que as portas se
fechem.
IM S , CONHEÇAM SEUS ADOLESCENTES
89

Se nossa intenção é ajudar os adolescentes em sua luta pela


pureza sexual, a chave é começar cedo para que, na época em
111le a criança chegar à adolescência, pais e filhos, semelhante­
mente, tenham superado qualquer constrangimento ou reserva
.10 conversarem sobre sexo. Eu introduzi o tópico pela primeira
vez a meus dois filhos mais velhos quando eles tinham onze e
nove anos de idade. Uma noite, levei-os para comer pizza. Eles
i icm tinham idéia de onde estavam se metendo! Fiz perguntas
I >ara ter certeza do quanto eles realmente sabiam e iniciei dan-
do explicações e desenhando em um guardanapo. Meu filho
mais velho começou a engasgar com a pizza e disse: "Papai,
você não vai desenhar aquilo que eu estou imaginando, vai?"
I íu disse: "Escolhi um lugar onde ninguém consegue nos ver"
e começamos a conversar. Eles perceberam que o assunto não
me deixava constrangido e logo começaram a se abrir com
perguntas que já estavam guardando há algum tempo.

Com o passar dos anos, temos nos empenhado em man-


ler um diálogo aberto sobre o assunto, já que sempre surgem
novas perguntas, novas tentações, novos problemas e novas
situações. Crescer no entendimento do caminho divino da
pureza sexual não é algo que possa acontecer em uma só
conversa. Aprender como reconhecer e a fugir da tentação
não é uma habilidade que pode ser dominada depois de uma
conversa introdutória sobre sexualidade. Os pais precisam
estar comprometidos com um processo que começa nos anos
que precedem a adolescência e continua, com consistência, até
que nossos filhos estejam prontos para deixar os nossos lares.

Seus filhos adolescentes se sentem à vontade quando


lalam sobre sexo com você? Você tem passado a eles uma
mensagem confusa, dizendo, por um lado, que sexo é um dom
maravilhoso de Deus, e por outro, comunicando medo, reserva
c esquiva? Você tem concordado que este tópico representa
90 CAPÍTULO CINCO

um tabu? Você sabe qual é o grau de conhecimento de seus


filhos nessa área e qual é a fonte de informações deles? Você
sabe em que áreas seu filho adolescente luta com a tentação
sexual e como ele está lidando com o problema? Ele é capaz de
abraçar uma visão distintivamente bíblica da sexualidade? Ele
é capaz de criticar as distorções da cultura a seu redor? Ele tem
um coração voltado à pureza sexual ou tem ultrapassado os
limites da modéstia e das propriedades bíblicas? Se não tiver
respostas prontas para tais perguntas, você não tem mantido
o tópico aberto como deveria.
Na adolescência, a percepção sexual e a tentação sexual
explodem. Os adolescentes começam a formar um estilo de
vida sexual que será mantido por muitos anos. E a época em
que muitos deles caem num pecado sexual que altera o curso
de suas vidas, os padrões secretos do pecado sexual que os
escraviza por muitos anos. Devemos estar comprometidos
com uma educação aberta, positiva e consistente nessa área.
Devemos nos comprometer em procurar os nossos filhos com
perguntas honestas e discussões pacientes. Devemos a b o rd a r o
assunto de sexo cedo, voltando ao assunto sempre e de forma
aberta, até que o filho deixe o lar.

A u sê n c ia cie Perspectiva E s c a to ió g ic a
A escatologia, ou o enfoque na eternidade, não é o
ponto forte da teologia funcional da maioria dos adolescen­
tes. Eles não tendem a viver com a eternidade em vista. Eles
não pensam em termos de recompensa tardia. O enfoque dos
adolescentes está chocantemente no presente. Eles vivem como
se o momento presente fosse o único momento da vida. Eles
não pensam em termos de investimento. Eles não têm uma
mentalidade de colheita. Gálatas 6:7 diz: "D e Deus não se
zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá".
Este é um importante princípio espiritual que raramente faz
r ( ONHEÇAM SEUS ADOLESCENTES
91

I >.i i to da visão típica do adolescente.

Adolescentes precisam ser ensinados a pensar em termos


i lc investimento de longo prazo. Esta não é a maneira como
eles normalmente pensam a respeito de suas vidas. Eles ten-
i Ic m t t l a viver para aquilo que desejam no momento e a adiar o
i (imprimento de suas responsabilidades até o último minuto.
I Yecisamos ensiná-los a examinar os tipos de sementes que eles
estão plantando agora e o tipo de colheita que essas sementes
i mo produzir. Precisamos, de forma amorosa, desafiar a forma
i 'o mo eles crêem que este momento físico é tudo o que importa
c que a felicidade presente e temporal é tudo. Eles precisam
entender que Deus está operando em algo maior do que este
momento, que Ele os está preparando para algo maravilhoso
no futuro.

A cultura ao nosso redor reforça a mentira de que a vida


se encontra nas riquezas presentes, terrenas e físicas, e que a
pessoa bem-sucedida é aquela que tem mais bens. O que nos­
sos adolescentes ouvem é que eles são vistos pela etiqueta que
usam, pelo tamanho de seu próprio corpo, pela sua própria
inteligência ou habilidade atlética, pelo carro que dirigem,
pela casa onde moram, pelo seu nível de popularidade. O que
dizem a eles é que eles são vistos até pelo creme dental que
usam!

Quem são os heróis da cultura ocidental? São pessoas de


caráter que vivem com uma mentalidade de colheita, inves-
(indo em coisas que têm significado eterno? Não, são pessoas
que têm uma voz bonita, que usam roupas caras, dirigem
carros modernos, têm m úsculos desenvolvidos e enormes
contas bancárias. São pessoas que vivem o momento e que
acumulam tesouros na terra. São, em geral, pessoas cuja visão
da eternidade não é maior do que a do mais imaturo dos ado­
lescentes. Aos olhos de Deus, eles são, na verdade, anti-heróis
92 CAPÍTULO CINCO

que levam nossos filhos a crer em mentiras e a viver por aquilo


que é passageiro.

Nossos adolescentes precisam que estejamos de prontidão,


ensinando-os a olhar para a vida a longo prazo, do ponto de
vista da eternidade. A vida parece radicalmente diferente
quando vista dessa perspectiva! Eles precisam ver que cada
escolha, cada ação é um investimento, e que é impossível que
a vida seja vivida sem que se plante sementes que serão as
plantas da vida que eles um dia colherão.

FaSta cite Conhecim ento eSo Geração

Bem no meio das instruções do pai de Provérbios a seu


filho se encontra a seguinte advertência: "M eu filho, escute o
que lhe digo; preste atenção às minhas palavras. Nunca as
perca de vista; guarde-as no fundo do coração, pois são vida
para quem as encontra e saúde para todo o seu ser" (Provér­
bios 4:20-22). Ele está dizendo: "Filho, ouça cuidadosamente.
O que eu tenho a dizer a você é muito importante. Não deixe
essas palavras escaparem". Depois ele diz: "Acima de tudo,
guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida"
(Provérbios 4:23). Em outras palavras, "De tudo o que eu disse
a você, filho, concentre-se em seu coração. Conheça-o. Guarde-
o. Seu coração é o centro de controle de sua vida, filho. O que
governar o seu coração governará você".

Conforme afirmado anteriormente, não devemos simples­


mente educar comportamentos. Não estamos apenas contro­
lando decisões e procurando nos certificar de que nosso filho
vá aonde queremos que ele vá e faça o que desejamos que ele
faça. Deus nos chamou para uma missão mais importante.
Queremos conhecer o coração de nossos filhos, ajudando-os
a ver seus corações como realmente são e ser usados por Deus
para ajudar a produzir um coração governado por nada além
I',. CONHEÇAM SEUS ADOLESCENTES
93

i Ir Deus e de Sua verdade.

Sua conversa com uma filha adolescente vai além da solu­


ção de problemas de circunstância e de relacionamento? Você a
.ijtida a ver o coração por trás dos problemas? Você a auxilia a
ver as áreas onde ela tem trocado o Criador por algum aspecto
i l.i criação como aceitação dos companheiros, de determinado
lu-in ou alguma posição cobiçada? Você a tem ajudado a ver
(is desejos que governam o coração dela? Você a tem ajudado
.i confessar seus verdadeiros tesouros? Tem investido tempo
I ia ra amorosamente apontar as áreas onde o pensamento dela
está em desacordo com as verdades das Escrituras? Tem feito
I vrguntas que expõem os pensamentos e intenções do coração?
Tem mostrado a ela como a sua verdadeira adoração é expressa
na maneira como ela reage às situações e relacionamentos?

Sempre que falamos em conhecer o coração, temos que fa-


lar sobre a realidade da cegueira espiritual. Todos nós lutamos
com a falta de conhecimento do coração, com a cegueira espi­
ritual. Mas parece que especialmente os adolescentes, lutam
(om isso porque tendem a pensar em suas vidas em termos tão
i omportamentais, físicos e presentes. A tendência deles não é
passar muito tempo examinando seus corações. Eles não fazem
perguntas desafiadoras e reveladoras a si mesmos. Tendem a
íicar concentrados no momento externo e presente. Por essa
razão, um de meus objetivos com meus adolescentes não é
apenas ensiná-los sobre Deus e Sua vontade, mas ajudá-los a
conhecer a si mesmos. Quero que eles se tom em cientes dos
lemas de suas próprias lutas com o pecado, os temas de suas
fraquezas e sua susceptibilidade à tentação.

Porque desejo ajudar m eus adolescentes a crescer no


conhecimento de si mesmos, não abro à força a porta de seus
quartos anunciando a regra que deixou de ser cumprida e o
castigo que será imposto. Na hora da disciplina, conversa­
94 CAPÍTULO CINCO

mos. Tento fazer perguntas que sondam o caminho através


do engano do pecado e expõem o coração. E quanto mais
meus filhos conhecem a si mesmos, mais apreciam as coisas
que digo a eles, porque percebem que precisam de minha ins­
trução. Parte da atitude defensiva tão típica dos adolescentes
vem da absoluta falta de conhecimento próprio e da completa
cegueira espiritual deles. Tenho trabalhado incessantemente
para ajudar meus filhos a conhecerem a si mesmos para que
esse conhecimento os leve a ter sede de Deus. Creio que todo
momento seja auto-revelador.

Uso esta ilustração em aconselhamento, mas acho que


ela é especialmente verdadeira em relação aos adolescentes.
Quando um adolescente passa o "vídeo" da sua história para
você, ele muitas vezes nem faz parte dela. A versão que o ado­
lescente dá de sua própria vida enfoca a pressão da situação
ou aquilo que outras pessoas fizeram a ele. Ao relatar a sua
história, ele o faz de maneira a atribuir a outra pessoa ou fator
a responsabilidade pelas coisas que ele fez!

Um dia m inha filha chegou da escola balançando um


boletim com as notas de uma disciplina. Ela disse: "Papai,
preciso falar com você sobre minha nota de Espanhol". Eu
já sabia que estávamos encrencados! Ela continuou dizendo
orgulhosamente: "Tirei o maior "D " da classe!" Do jeito que
ela falou sobre sua nota, achei que deveria fixar aquele "D "
na geladeira. Afinal, eu era o orgulhoso pai de uma filha que
havia se saído bem sob coação educacional e incompetência
pedagógica! Ela me disse que todos os alunos, até os mais
inteligentes, tinham tirado notas ruins. Houve apenas alguns
"C "s na classe e ela tirou um "D+". Então, ela continuou, me
contando o motivo: "Papai, é o novo professor. Ele está apren­
dendo a dar aulas praticando conosco. Papai, é como se nós
fôssemos cobaias". Quanto mais eu ouvia, mais orgulhoso eu
M'.. CONHEÇAM SEUS ADOLESCENTES 95

l icdva! Que filha disciplinada, obter êxito apesar da inaptidão


do professor novato!

Na verdade, ao ouvir seu discurso naquela tarde, enchi-me


de tristeza porque percebi que aquilo não era uma represen-
í.tção teatral. Olhei para o seu rosto e vi que ela acreditava no
que estava dizendo. Ela realmente achava que não tinha culpa.
I Ia realmente acreditava que a culpa era toda do professor.
Em algum momento entre receber a prova e chegar em casa,
ela havia gerado uma interpretação dos eventos que retirava
de cena a sua responsabilidade. Ela estava espiritualmente
cega e não conseguia ver os reais problemas do coração que o
boletim revelava.

Ao começar a discipliná-la, o que eu iria enfrentar? Ela


ia ser defensiva. Ela ia se sentir falsa e erradamente acusada.
Ela provavelmente me acusaria de não ser compreensivo e me
acharia insensível. Ela se perguntaria por que eu havia tomado
partido do professor contra ela. Esses são os tipos de situações
com as quais nós normalmente iremos lidar ao buscarmos
penetrar nos corações de nossos adolescentes.

Como pai, meu objetivo não é apenas ver meus filhos se


aproximarem de Deus, mas sim que, ao fazê-lo, eles também
passem a conhecer a si mesmos. E somente quando uma pessoa
conhece a Deus que ela pode realmente conhecer a si mesma, e
quando isso acontece, sua sede de Deus aumenta. Este crucial
efeito recíproco da vida espiritual é o que desejamos ver em
nossos adolescentes, um conhecimento pessoal profundo de
Deus e um conhecimento contínuo de si mesmos.

O que precisamos entender aqui é que isso não é apenas


uma luta de "carne e sangue", com pais tentando abrir os
olhos de seus adolescentes para aquilo que eles realmente
são. Trata-se de uma batalha espiritual. Há um inimigo que
96 CAPÍTULO CINCO

é m entiroso, enganador e trapaceiro. Os adolescentes são


especialmente susceptíveis a suas mentiras sobre o ego. Eles
acreditam que o problema não esteja com eles, e que foram
escolhidos para serem injustamente censurados e corrigidos.
Precisaremos permanecer firmes e pacientes, sem nos deixar
levar por aquelas batalhas verbais debilitantes que não abrem
os olhos do adolescente, apenas o fazem ficar mais defensivo
e distante. Com amor e humilde dependência de Cristo, pre­
cisamos aproveitar toda oportunidade para expor problemas
cruciais do coração (temor do homem, materialismo, egoísmo,
luxúria, cobiça, inveja, incredulidade, farisaísmo, ira, amor ao
mundo, ganância, rebelião etc.), ajudando os adolescentes a
olharem para si mesmos no espelho perfeito das Escrituras.

Port, i r iilJíertas po r To d o Larfta»

Questões como sabedoria e insensatez, legalismo e piedade


real, amizade, sexualidade, eternidade e conhecimento pes­
soal do coração são expostas durante a adolescência, abrindo
muitas portas de oportunidades. Deus usa discussões como
essas para ajudar os adolescentes a conhecê-Lo, a amá-Lo e
a internalizarem a Sua verdade de maneira que adquiram
orientação prática para suas vidas.

Essas coisas também tornam a adolescência uma época as­


sustadora para os pais que educam. Essas áreas podem causar
pânico e medo e dar ocasião à ira dos pais. Essas são questões
sobre as quais os pais dizem coisas de que se arrependem para
o resto de suas vidas. Essas questões podem ser usadas por
Deus para estabelecer um vínculo mais profundo entre pais e
adolescentes ou para ser aquilo que o Inimigo usa para formar
uma barreira maior no relacionamento entre eles.

Se reagir por ansiedade, irritação e medo, você irá tentar


controlar seu filho ainda mais. Em vez de ver a adolescência
I- -.r., CONHEÇAM SEUS ADOLESCENTES 97

i umo uma fase de preparação, você acabará por aderir a uma


mentalidade de sobrevivência. Sua tendência será ver a vida
como um campo minado, não esperando muito mais do que
poder conduzir seu adolescente pela vida com todos os seus
membros intactos. Em seu desespero, você cederá a emoções
i le fúria e fará coisas insensatas e improdutivas que mais tarde
serão vistas por você com vergonha e arrependimento. Você
lará coisas como castigar seu filho por seis anos ou dirá a ele
que o toque de recolher é às três da tarde! Você prometerá
.1 ele que nunca mais lhe dará um centavo sequer enquanto
viver! Você irá tomar a habilitação dele e a rasgará, ou pisará
nos CDs que o têm levado à loucura, tristemente invocando o
nome do Senhor e a verdade de Sua Palavra o tempo todo. Em
sua autopiedade, por causa da dureza de sua tarefa como pai
e da paz que seu filho lhe tirou, você irá recorrer à agressão
por palavras e à tentativa de motivá-lo com ameaças. Você
lentará controlá-lo e manipulá-lo à obediência e iniciará im ­
produtivos conflitos de medição de forças. Seu relacionamento
se desintegrará o tempo todo, e a rebeldia de seu adolescente
só aumentará. Por fim, você admitirá que é impotente e, como
ato final de ira, você desistirá totalmente de educar, dizendo
a si mesmo que fez tudo o que podia.
Porém, se você agir para com o adolescente com confiante
fé no Redentor, cuja Palavra é verdadeira e cuja presença so­
berana habilita seus esforços fracos e débeis, Deus irá usá-lo
para comunicar amor, compreensão, graça, esperança e vida.
Você fará perguntas serenas, mas investigativas, as quais farão
com que o adolescente examine as coisas que ele nunca exa­
minou sozinho. Você irá envolver o adolescente em debates
instigantes sem nunca se tornar prejudicialmente pessoal e
condenatório. Você aplicará a correção em espírito de aceita­
ção, perdão e esperança. Você sorrirá quando sua filha vier
para casa, e ela não ficará tensa quando você entrar no quarto
98 CAPÍTULO CINCO

dela. Você a verá à sua procura para falar sobre coisas que
muitos adolescentes escondem ou ignoram. E, conforme o re­
lacionamento ficar mais profundo, você a observará aderindo
progressivamente ao caráter de Cristo.
S E G U N D A PA R T E

Estabelecendo
Objetivos Espirituais
Objetivos, Glória e Graça

Eu havia ido ao quarto de meu filho sentindo-me um tanto


consternado. Estava cansado aquela noite não só fisicamente,
mas também como pai. Cansado da constante necessidade de
ministrar que meus filhos representavam. Eu não queria ter
com o mesmo filho a mesma conversa que eu já havia tido
dez mil vezes! Eu queria dizer à minha esposa: "Vá você. Eu
já não agüento mais; não vou passar por tudo de novo!" Eu
estava indignado com a imaturidade e o pecado de meu filho
que exigiam tanto de minha atenção e tempo.

Eu havia passado algum tempo em oração antes de ir a seu


quarto. Senti-me melhor e pensei que estava preparado para
ter uma conversa produtiva. Mesmo assim, senti-me abatido
ao entrar em seu quarto. Ele também estava cansado e, de im e­
diato, reagiu defensivamente ao que eu disse. Ele me acusou
de não ser carinhoso e de ser indelicado e incompreensivo. Ele
parecia rebater cada ponto que eu levantava. Não era dessa
maneira que eu tinha previsto que as coisas aconteceriam. Ele
não só foi impassível, mas me provocou de todas as formas
possíveis.

Em algum ponto da conversa, perdi o controle. Irado, eu


disse a ele palavras indelicadas como nunca dissera. Saí do
quarto dizendo que esperava viver o suficiente para vê-lo me
admirar de verdade, mas acho improvável que isso aconteça.
Ao sair, ele me lançou um olhar penetrante de ira e mágoa.
i mjF.TIVOS, GLÓRIA K GRAÇA 101

Sentei-me no escuro ao lado de minha cama, derrotado e


desencorajado como pai. O chamado de Deus para mim como
pai me pareceu irrealista e impossível. Havia um conflito entre
o que eu sabia e o que eu havia feito. Tive dúvidas se algum
dia conseguiria cumprir o que cabia a mim. Meus sentimentos
oscilavam entre a autopiedade e a convicção. Quis ferir a meu
filho como ele havia me ferido, mas sabia que esse desejo era
errado. Ao sentar-me ali, percebi que essa era uma tarefa da
qual eu não podia desistir. Não havia como escapar. Amanhã
eu acordaria para enfrentar as mesmas exigências. Clamei por
caráter e força. Orei por fé e perseverança. Eu jamais havia
estado mais ciente de minha própria e incessante necessidade
do Senhor.

Talvez você já tenha se sentido prostrado pelo que leu neste


livro. Talvez tenha se enchido de arrependimento. Talvez os pe­
cados de seu coração tenham sido expostos. Talvez você tenha
sido tentado a dizer: "Paulo, eu nunca vou ser capaz de fazer
o que você descreveu!" Talvez você esteja pensando: "Talvez
isso funcione com seus filhos, Paulo, mas jamais funcionará
com os m eus".

Antes de considerarmos os objetivos de Deus para nós


como pais de adolescentes, precisamos primeiramente refletir
sobre quem somos como filhos de Deus. E importante vermos
que a glória e a graça de Deus são muito maiores do que o
nosso pecado e a nossa luta para educar.

Quero mostrar a você três passagens que têm sido minhas


companheiras nos momentos de desânimo e derrota. Deus
usou essas passagens para mudar radicalmente a minha ma­
neira de pensar a respeito daquilo que Ele me chamou para
fazer nas vidas de meus filhos adolescentes.
102 CAPÍTULO SEIS

Aclrmiráwel Poder
Há poucas coisas na vida que requerem tanta qualidade
o tempo todo quanto a educação de filhos. Poucas coisas na
vida apresentam um potencial tão grande de dificuldades e
situações dramáticas inesperadas. Falei com muitos pais de
adolescentes que disseram ter medo e se sentiram como se não
tivessem força para fazer aquilo para que foram chamados. E
essencial, diante disso, que não nos esqueçamos da força que
desfrutamos como filhos de Deus.

Em Efésios 3:20, Paulo nos conduz a tal poder em uma


doxologia bastante conhecida.

Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o


que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua
em nós, a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas
as gerações, para todo o sempre! Amém!

O Deus que é nosso Pai é um Deus de admirável poder.


Por meio de Seu poder, Ele é capaz de realizar coisas que vão
muito além de tudo o que possamos verbalizar ou imaginar.
Pense em algo que aparentemente seja o mais impossível de
se realizar em sua vida. Deus é capaz de fazer mais! Pense
no que a Bíblia diz ser muito necessário na vida de seu filho
adolescente; porém pareça irreal e inatingível. Deus é capaz
de fazer mais!

E importante que consideremos a nossa tarefa de pais do


ponto de vista do incrível poder de Deus: o poder por meio do
qual Ele criou o mundo, formou o universo, ressuscitou a Cristo
de entre os mortos e venceu o pecado. Nosso Deus é um Deus
de poder glorioso e muito além do que nossas mentes podem
conceber. Não podemos olhar para nossas responsabilidades
como pais somente da perspectiva de nosso próprio temor e
fraqueza. Devemos nos lembrar de que somos os filhos do
OBJETIVOS, GLÓRIA E GRAÇA 103

Todo-poderoso. Ele é o Poder! Ele é a Força.

Contudo, existem outras coisas que precisam ser ditas.


Talvez você esteja pensando: "Ah, Paulo, como seria bom se
eu pudesse ter um pouco desse poder!" Mas você não sabe
como fazê-lo. Na verdade, muitos pais com quem tenho falado
ficam desanimados com passagens como Efésios 3:20 porque
elas parecem ser tão distantes da experiência deles.

Precisamos olhar cuidadosamente para as palavras desta


doxologia. Ela diz que Deus é "capaz de fazer infinitamente
mais do que tudo o que pedimos ou pensam os" (agora, preste
atenção a estas palavras) "de acordo com o seu poder que atua
em nós". Onde está o Seu poder? Em algum lugar nos céus, dis­
ponível apenas àqueles que têm descoberto o mantra espiritual
correto para chamá-lo à ação? Não, não é isso que Paulo diz.
Ele diz algo que é glorioso e radical, porém real. O admirável
poder de Deus reside em Seu povo e atua ativamente! Pais, tal
poder glorioso reside em seu interior como filho de Deus, e
não está dormente, O poder admirável e ativo de Deus os tem
chamado para realizar o que, de outra forma, seria impossível.

E em nossos momentos de fraqueza, quando nos recusa­


mos a desistir, que experimentamos os recursos gloriosos que
residem em nosso interior como filhos do Todo-poderoso. Em 2
Coríntios 12:9, Paulo nos diz que o poder de Deus é aperfeiçoa­
do em nossa fraqueza. Muitas vezes deixamos de experimentar
o Seu poder porque desistimos quando não vemos a saída. E
quando estamos além d o s recursos de n o ssa própria força e
sabedoria que tendemos a sucumbir às emoções do momento,
dizendo e fazendo coisas das quais nos arrependeremos pelo
resto de nossas vidas. Entretanto, por causa da obra de Cristo
por nós, podemos agir de modo diferente, ou seja, podemos
educar com coragem e esperança. E importante reconhecer a
força que nos foi outorgada como filhos de Deus.
104 CAPITULO SEIS

cia G lória

Em João 17, Cristo enfrenta a cruz, a ressurreição e Sua


ascensão ao céu. Nos momentos finais antes de Sua ascensão,
Ele vai ao Pai em oração por Seus discípulos e por aqueles que
iriam crer por intermédio do ministério deles. Ele ora pelos
relacionamentos que Seus seguidores iriam ter uns com os
outros; para que Seus filhos experimentem a mesma união que
Ele tem com o Pai e com o Espírito. Imagine uma família onde
tal unidade reinasse! Novamente, é tentador olhar passagens
como essa e dizer: "Ora, convenhamos! Só pode ser brincadei­
ra. Você não acha que isso realmente pode acontecer, acha?".

Antes de descartar a passagem por considerá-la puro


idealismo, distante demais de nossa experiência para ser de
qualquer encorajamento ou auxílio prático, precisamos prestar
muita atenção a suas palavras (João 17:20-23):

Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles
que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que
todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que
eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu
me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam
um, assim como nós somos um: eu neles e tu em mim. Que eles
sejam levados à plena unidade...

Em Sua oração, Cristo diz que havia feito algo magnífico


por Seu povo. Conhecendo a decadência do mundo e nossos
corações pecaminosos, Cristo viu que, por nós mesmos, não
teríamos como experimentar o amor e a unidade que fazem
parte de Seu plano para nós. Na terra Ele havia visto amargura,
ira, ciúmes, cobiça, engano e vingança, que são produtos do
pecado. Ele sabia que tinha que prover abundantemente por
Seu povo ou este jam ais viveria em unidade e amor. Irmãos
jam ais am ariam irm ãs, m aridos jamais amariam esposas,
OBJETIVOS, GLÓRIA F, GRAÇA 105

amigos jamais amariam amigos e pais jamais amariam seus


filhos sem a intervenção divina. E foi exatamente isso que Ele
proveu!
Preste muita atenção às palavras do versículo 22: "Dei-lhes
a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós
somos um ". Ouça o que Cristo está dizendo. Quando Cristo
veio à terra e encarnou, a glória do Deus todo-poderoso foi
posta sobre Ele para que, por meio Dele, a glória de Deus fosse
vista por todos nós. Cristo diz, então, que deu a Seus filhos a
glória que foi colocada sobre Ele para que eles fossem uml Pre­
cisamos abraçar esta realidade redentora. Aquilo que estava
muito além de nosso entendimento foi posto por Cristo a nosso
alcance. Ele colocou a glória do Deus todo-poderoso sobre nós
por uma razão específica: para que nossos relacionamentos uns
com os outros espelhassem os da Trindade. Paulo diz isso em
Colossenses 2:9-10: "Pois em Cristo habita corporalmente toda
a plenitude da divindade, e, por estarem nele, que é o Cabeça
de todo poder e autoridade, vocês receberam a plenitude".

Toda vez que você tenta conversar com o adolescente,


não estão presentes no local apenas você e ele sozinhos, espe­
rando que de alguma forma, de alguma maneira, consigam
lidar um com o outro. A glória de Deus foi dada como dom
para você para que você possa ser um instrumento humilde,
gentil, paciente e tolerante do amor e da unidade que Deus
planejou para o Seu povo. Seu dom de glória é sua esperança
de unidade.

Observe ainda que Cristo diz: "Que eles sejam levados à


plena unidade". E importante ver que Cristo não ora: "Que
eles possam levar a si mesmos à plena unidade". Não, Cristo
está dizendo: "Pai, se Seus filhos devem viver em união e amor,
é o Senhor que deve levá-los a isso". Novamente, naqueles
momentos na sala, não somos apenas nós que atuamos. Deus
106 CAPÍTULO SEIS

opera para produzir o que somente Ele pode produzir. Esses


são os Seus momentos de graça, os Seus momentos de redenção
e de mudança.

É provável que não haja nenhuma outra época de nossas


vidas em que necessitemos mais do dom de glória de Deus
e de Sua atividade momento a momento quanto durante os
anos em que educamos os nossos filhos adolescentes. Nesse
período, enfrentamos nossa fraqueza, pecado e inabilidade.
É nesses anos que o inimigo quer nos demover dos elevados
objetivos para os quais fomos chamados por Deus para nos
fazer contentar com o controle humano e o sucesso situacio-
nal. Precisamos nos lembrar de que o dom de glória de Deus
foi dado para transpor o abismo que existe entre nós e nossos
filhos para que o Seu amor e unidade floresçam entre nós.

Tiid© cie q u e P r e c is a m o s

Nenhuma outra passagem tem conferido tanto consolo a


mim como pai quanto 2 Pedro 1:3-9.

Seu divino poder nos deu tudo de que necessitamos para a


viáa e para a piedade, por meio do pleno conhecimento daquele
que nos chamou para a sua própria glória e virtude. Dessa
maneira, ele nos deu as suas grandiosas e preciosas promessas,
para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza
divina e fugissem da corrupção que há no mundo, causada pela
cobiça. Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé
a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domí­
nio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança
a piedade; à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor.
Porque, se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em
sua vida, elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de
nosso Senhor Jesus Cristo, sejam inoperantes e improdutivos.
Todavia, se alguém não as tem, está cego, só vê o que está perto,
OBJETIVOS, GLÓRIA E GRAÇA 107

esquecendo-se da purificação dos seus antigos pecados.

Pedro diz que há crentes cujas vidas são inoperantes e im­


produtivas. Ele então explica por que isso acontece. É que tais
crentes carecem das qualidades que geram uma vida produti­
va. Fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança,
piedade, fraternidade e amor são as qualidades essenciais para
que a vida do cristão seja operante. Elas também são essenciais
para uma educação produtiva, as qualidades de que precisa­
mos naqueles momentos difíceis com nossos adolescentes.

Pedro também nos diz que essas qualidades essenciais


não estão presentes nas pessoas: porque elas estão cegas e só
vêem o que está perto, esquecendo-se de que foram limpas
de seus pecados passados. Em resumo, elas se esqueceram de
sua identidade. Elas se esqueceram de quem são como filhas de
Deus. Eis o argumento de Pedro: se você se esqueceu de quem
é como filho de Deus, você desistirá de buscar as qualidades
que tornarão sua vida operante e produtiva.

Os primeiros versículos da passagem expõem as glórias de


nossa identidade como filhos de Deus das quais Pedro diz que
não devemos nos esquecer. Ele diz que Deus nos deu tudo de que
necessitamos para a vida e para a piedade. Deus nos deu tudo de
que precisamos, não somente para a vida eterna, mas também
para a vida de honra a Deus para a qual fomos chamados até
que Ele retorne. Observe o tempo verbal. Pedro diz que Deus
nos deu tudo de que necessitamos. Já aconteceu! Esta é uma
verdade fundamental do Evangelho. Deus nunca nos chama
para fazer algo sem prover os meios. Se Ele nos chamar para
cruzar o Mar Vermelho, Ele nos capacitará a nadar, enviará
um barco, construirá uma ponte ou dividirá as águas!

Pedro diz: "Não se esqueçam de quem vocês são. Vocês


são os filhos de Deus que herdaram as riquezas além de sua
108 CAPÍTULO SEIS

capacidade de compreensão. Vocês têm tudo de que precisam


para fazer aquilo para o que Deus os chamou. Não cedam ao
desânimo. Não desistam. Não fujam de seu chamado. Não
se contentem em ter um pouquinho de fé, piedade, conheci­
mento, domínio próprio, perseverança, fraternidade e amor.
Apoderem-se de tudo o que é de vocês por herança como filho
de Deus".

Precisamos entrar no quarto de nossos filhos adolescentes


dizendo a nós mesmos: "Tenho tudo de que preciso para rea­
lizar aquilo para o que Deus me chamou". Nesses momentos,
podemos experimentar um pouco mais da herança de caráter
que Cristo nos proveu por meio de Sua morte.

Poder incrível habitando em nosso interior, o dom da


glória concedido para que nós possamos ser agentes do amor
e da unidade e tudo de que precisamos para fazer aquilo para
o que Deus nos chamou: este é o Evangelho. Esta é nossa iden­
tidade como filhos de Deus. Estas são as verdades que podem
nos fazer levantar de nossa fadiga e desânimo para educarmos
nossos filhos com fc, coragem e esperança. Elas nos chamam
a permanecer firmes nos elevados objetivos de Deus e a lutar
contra a desesperança que o inimigo quer que reine em nossos
corações.

Não fomos deixados sozinhos. Deus nos deu ricos recursos


de graça. Ele opera em nós e por meio de nós produz o que
jamais poderíamos produzir por nós mesmos. O Evangelho
diz que nós podemos educar com esperança. Naqueles m o­
mentos quando estamos no fim de nossas forças, podemos
experimentar o Seu poder para amar, exercer domínio próprio,
perseverar, fazer o que é bom e ser gentis, mesmo diante da
resistência de nossos adolescentes.

Deus conhece nossas fraquezas. Ele tem ciência de nosso


OBJETIVOS, GLÓRIA F, GRAÇA 109

pecado. E Ele nos deu dons gloriosos de graça para que pos­
samos ser Seus instrumentos de mudança nas vidas de nossos
filhos. Não podemos ceder ao desânimo e desesperança. Cristo
nos dá razão para termos esperança; esperança de podermos
ser operantes e produtivos na educação de nossos adoles­
centes. Os dons da graça que Ele dá transformam pecadores
fracos e falhos em operantes e produtivos filhos do Deus todo-
poderoso. Podemos permanecer em Seus elevados objetivos
com esperança ao olharmos para a educação pelas lentes de
Sua graça e glória.

Na escuridão daquela noite, após deixar o quarto de meu


filho, minha mente recorreu a essas passagens. Recitei-as uma
vez mais para mim mesmo. Confessei minha desobediência e
incredulidade e orei por um coração de fé. As verdades conti­
das nas passagens renovaram minha esperança e coragem. Elas
me ajudaram a andar novamente em direção aos objetivos de
Deus. Ao me deitar para dormir, ansiei para que a manhã che­
gasse. Mal podia esperar para falar com meu filho, expressar
meu amor e pedir perdão a ele. Eu sabia que haveria muitos
outros momentos de desafio e luta, mas eu tinha esperança.
Eu pude olhar para eles do ponto de vista da graça e da glória
de Deus.
Há Uma Guerra Sendo Travada

Aconteceu de forma inesperada, como quase sempre.


Muito hesitante, a minha filha disse que precisava me contar
algo. Falou que era sobre a escola, e que estava em apuros.
Ela estava obviamente muito preocupada com o que tinha
a dizer. Enquanto ela ainda fazia a sua introdução, meu
coração disparou. O que ela havia feito? Quão sério era o
problema? Há quanto tempo estava acontecendo? O que eu
estava para ouvir? Convidei-a para sentar-se comigo e falar.

Com a cabeça baixa a fim de evitar olhar diretamente para


meus olhos, ela me entregou um pedaço de papel amarrotado.
"Fui pega na aula de inglês dando este bilhete para a Saman-
tha", ela disse. "O professor ficou muito bravo quando o leu e
imediatamente nos mandou para a diretoria. A diretora disse
que eu tinha que mostrar o bilhete a você hoje à noite, e que
quer vê-lo amanhã. Depois ela decidirá o que vai fazer conos­
co". Eu ainda não havia lido o bilhete, mas, novamente, um
milhão de coisas passaram por minha cabeça enquanto eu o
segurava ainda embolado em minha mão. Era o meu pequeno
bebê. Ela nunca havia se envolvido em problemas. Ela nunca
havia se comportado com falta de respeito pela autoridade.
Senti meu mundo idílico e minha visão idealizada de minha
filha se despedaçar.

Desenrolei o papel e vi que o que estava escrito nele era


descaradamente ofensivo e um desrespeito à autoridade. Não
HÁ UMA GUERRA SENDO TRAVADA 111

conseguia acreditar que aquele tipo de linguagem pudesse


passar pela mente de minha doce menininha, e menos ainda
que ela fosse capaz de escrever aquilo para ser passado a outra
pessoa na sala de aula de uma escola cristã! Senti jorrar em
mim uma mistura volátil de ira, tristeza e vergonha.

Fiquei muito bravo por ela ousar ser tão atrevidamente re­
belde e insensível. Nós a havíamos ensinado na verdade. E
era assim que ela nos agradecia? Como ela poderia ser capaz
disso? Ao mesmo tempo, fiquei triste. Um mundo simples,
doce e descomplicado havia repentinamente morrido. Estava
acabado. Ela não era mais a menininha inocente que subia no
colo do papai para ouvi-lo contar histórias. Ela não era mais
a pequena brincalhona que tentava escapar das cócegas do
papai dando gritinhos pelo corredor. Eu queria aquele mundo
agora. Queria poder fazer o tempo voltar. Não queria ter que
educar a pessoa que escreveu aquele bilhete. Queria minha
menininha de volta.
Havia, contudo, uma terceira coisa que senti: vergonha.
Eu gozava de boa reputação na comunidade cristã. Era pastor,
professor no seminário e conselheiro. Havia proferido palestras
sobre família cristã e sobre educação no lar em conferências. O
que as pessoas diriam de mim agora? Que especialista, hein?!
Que exemplo! Senti pena de mim mesmo. O que a administra­
ção da escola teria pensado ao receber aquele bilhete? O que
teria pensado de mim?

Li e reli o bilhete diversas vezes enquanto ela permanecia


ali, sentada. Não conseguia me convencer de que ela realmente
havia escrito aquilo. Perguntei novamente se de fato havia sido
ela. Acho que no fundo eu esperava que ela dissesse que não
havia sido ela, que ela estava apenas assumindo a culpa de
outra pessoa. Mas a verdade era que ela realmente havia escrito
o bilhete. As palavras haviam vindo da mente dela e estavam
112 CAPÍTULO SETE

escritas com a caneta dela. Ela havia escrito exatamente o que


queria dizer a sua amiga. Não havia dúvida disso.

Eu queria saber também se isso era a "ponta do iceberg".


Em que outras coisas ela estaria envolvida das quais nós não
tínhamos conhecimento? Que linguagem ela usava com os
amigos que nem pensaria em usar em casa? Com quem ela
estava andando na escola? Quão más eram suas companhias?
Por onde ela havia andado? O que mais havia feito que logo
ouviríamos falar, que abalaria mais ainda aquela imagem de
menina que levávamos em nossos corações? Entrei em conflito.
Queria saber tudo, mas tinha medo do que poderia ouvir.

Não sei quantos minutos se passaram, mas meus pensa­


mentos estavam perturbados pelo que ela havia dito: "Papai,
você só vai ficar aí sentado olhando para o bilhete? Não vai
dizer nada?" Eu disse com emoção: "Neste momento, não sei
o que dizer". Em seguida, perguntei se havia algo mais que
ela precisava me contar.

E por causa deste tipo de situação, a imprevisibilidade da


adolescência e de nossos próprios conflitos do coração perante
ela, que os pais precisam de um conjunto claro de objetivos
bíblicos que funcione como um guia da parte de Deus para
nos manter na estrada onde Ele deseja que andemos. Tais situ­
ações podem ser recebidas como momentos de oportunidade
soberanamente concedidos para que pastoreemos os corações
que Deus tem exposto em nossos adolescentes. Ou podem se
tornar momentos onde uma cunha de distância e ira é intro­
duzida de forma até mais profunda entre nós e nossos filhos
adolescentes.

Não podemos deixar para decidir o que fazer quando esses


momentos vierem sobre nós, inesperadamente. Não pode­
mos esperar que quando o momento for de tensão e de fortes
HÁ UMA GUERRA SENDO TRAVADA 113

emoções, seremos capazes de pensar com clareza, de forma


bíblica e concreta. Não podemos esperar estabelecer objetivos
para o longo prazo quando estamos abatidos por sentimentos
de tristeza e decepção. Temos que entrar nesses momentos já
comprometidos com um conjunto concreto de objetivos. Se
não for assim, ficamos impedidos de realizar as boas coisas
que são possíveis enquanto Deus nos capacita a transformar
uma situação de pecado em oportunidade redentora.

Desejo usar o que aconteceu com minha filha como contex­


to da vida real para discutir cinco objetivos fundamentais para
a educação de adolescentes no lar. Mas, primeiro destacarei o
que não deve ser o nosso objetivo.

Com portam ento R eg rad o

Receio que a maioria dos pais de adolescentes tenha como


objetivo mais básico controlar o comportamento de seus filhos.
Eles temem os três grandes vícios da adolescência: drogas e
álcool, sexo e o abandono da escola, e querem fazer qualquer
coisa para impedir que seus filhos caiam neles. Assim, procu­
ram maneiras de controlar o comportamento de seus adoles­
centes e fazem tudo o que for preciso para controlar as suas
escolhas e atividades. Passam boa parte de seu tempo agindo
como detetives e mais parecem policiais do que pais.

Eles buscam motivar pela culpa ("depois de tudo o que


fizemos por você, é assim que você agradece?" ou "o que você
acha que o Senhor sente quando olha para o que você está
fazendo?"), por medo ("você tem noção das doenças que se
pode pegar assim?" ou "se você fizer isso, nem digo o que serei
capaz de fazer!", ou por manipulação ("se v o cê_____ , vamos
ficar muito mais propensos a emprestar o carro" ou "vamos
fazer um trato: se você_____ , nós iremos _____ para você").

Como pais, precisamos admitir o temor que nos dá tentar


1U CAPÍTULO SLTE

realizar o trabalho de Deus. Ao infligirmos culpa, instilarmos


o medo e controlarmos por meio da manipulação, é possível
que estejamos tentando produzir o que somente Deus pode
produzir ao operar para mudar os corações de nossos adoles­
centes. O que precisamos fazer é confiar em Seu trabalho ao
buscarmos, em fé serena, ser instrumentos de mudança em
Suas mãos redentoras. Controlar o comportamento de um
adolescente cujo coração não seja submisso a Deus nos trará,
na melhor das hipóteses, uma vitória de curto prazo. Não há
dúvidas de que, assim que estiver fora de seu sistema de con­
trole, ele passará a agir de maneira mais consistente com os
verdadeiros pensamentos e intenções de seu coração. Ele não
fará mais o que é correto, porque quando o fazia era forçado
pelo controle externo dos pais. Na verdade, seu coração nun­
ca mudou. Nós vemos isso muitas e muitas vezes quando os
adolescentes vão para a faculdade e parecem lançar fora tudo
o que "aprenderam " em seus lares cristãos.

Colossenses 2:20-23 nos adverte contra a estratégia de


controle de comportamento:

/á que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares


deste mundo, por que, como se ainda pertencessem a ele, vocês
se submetem a regras: "Não manuseie!", "Não prove!", "Não
toque!"? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso,
pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas
regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa
religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não
têm valor algum para refrear os impulsos da carne.
O método das regras e ordens que se concentra basica­
mente em manter o adolescente "longe de encrencas" acaba
falhando porque não lida com o coração. Como Paulo afirma
tão poderosam ente, o método não tem "valor algum para
refrear os impulsos da carne". O que Paulo quer dizer é que o
HÁ UMA GUERRA SENDO TRAVADA 115

método não lida com a origem do comportamento errado das


pessoas, com os desejos pecaminosos do coração. Pedro diz
que a corrupção do mundo é causada pelos desejos maus (2
Pedro 1:4). Temos que trabalhar no nível dos desejos do coração
com nossos adolescentes, ou ganharemos muitas batalhas e, no
fim, perderemos a guerra. Não é suficiente sermos detetives,
carcereiros e juizes. Devemos pastorear os corações de nossos
filhos com o mesmo cuidado fiel e vigilante de suas almas que
nós recebemos de nosso Pai celestial.

O pai ou mãe que tem um modelo pastoral de educação


fará mais do que anunciar regras e aplicar punições quando
as regras forem infringidas. Pais que pastoreiam irão amparar
os adolescentes. Eles sondarão e examinarão. Eles envolverão
seu filho em estimulantes discussões. Não aceitarão conviver
com a distância, o esquivamento e a falta de respostas. Eles
não deixarão os filhos ditarem as regras do relacionamento.
Em tempos difíceis, eles conversarão em vez de reinquirir.
Eles não estarão lá simplesmente para mostrar que o filho
está errado e para anunciar sua disciplina. Eles buscarão
expor os verdadeiros pensamentos e intenções do coração do
adolescente fazendo perguntas que revelam o coração. ("O
que você estava pensando e sentindo naquele m om ento?"
"Por que aquilo era tão importante para você?" "O que você
buscava realizar quando fez aquilo?" "Qual era a coisa mais
importante para você naquele momento?" "De que você estava
com medo naquela situação?" "O que você estava tentando
conseguir?" "Por que você ficou tão bravo?" "Se você pudesse
voltar no tempo e fazer algo diferente, o que mudaria?" etc.)
Eles ajudarão o adolescente a olhar para si mesmo no espelho
preciso da Palavra, que é capaz de expor e julgar o coração.
E eles farão tudo isso em espírito hum ilde, manso, dócil,
perdoador, tolerante e em amor paciente.
116 CAPÍTULO SETE

Ao fazê-lo, eles encarnarão o amor de Cristo, que é o


Grande Pastor da alma do adolescente. Colossenses 3:12-14
nos dá uma maravilhosa descrição das atitudes que precisam
m oldar os encontros m inisteriais que tem os com nossos
adolescentes.

Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-


se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e
paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas
que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes
perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o
elo perfeito.
Pais que se aproximam do adolescente com tais atitudes
de coração demonstram a presença Daquele que jamais dei­
xa de estar presente e é ilimitado em amor que redime. Ele,
o Grande Transformador de Corações, será então capaz de
usá-los como instrumentos em Suas mãos restauradoras. Que
diferença da ira ansiosa, do controle temeroso e da manipula­
ção desesperada que tantos pais exercem na tentativa de fazer
os adolescentes praticarem o que é certo! Tiago diz que tal ira
"não produz a justiça de D eus" (Tiago 1:20).

As tentativas de controle, embora pareçam ser corretas, na


verdade atrapalham aquilo que o Senhor está tentando fazer
na vida do adolescente. Ezequiel afirma muito claramente o
objetivo de Deus: "reconquistar o coração da nação de Israel,
que me abandonou em troca de seus ídolos" (Ezequiel 14:5).
Deus diz: "É para isto que estou trabalhando, para reconquistar
os corações do meu povo a fim de que eles sirvam a mim, e
somente a m im ". Podemos ter um objetivo menor ao educar­
mos nossos filhos? Devemos trabalhar para ver os ídolos do
coração que têm moldado o comportamento deles. Eles são
expostos quando o Espírito opera por meio de nós para fazer
brilhar a luz das Escrituras na vida do adolescente.
HÁ UMA GUERRA SENDO TRAVADA 117

Tudo o que fizermos com nossos filhos adolescentes, dos


encontros casuais até os momentos de crise, deve ser moldado
por um compromisso básico com a mudança de coração. Este
pastorear de corações pelos pais pode ser resumido em cinco
objetivos fundamentais que fornecem orientação prática em
tudo o que fazemos com nossos adolescentes. Esses objetivos
constituem o tema deste e dos próximos quatro capítulos.

O B J E T IV O 1 - Enfoque na Batalha Espiritual

A vida dos adolescentes tende a ser dominada pelas coisas


do mundo que podem ser vistas, tocadas e provadas. Eles são
por demais afligidos quando se trata de sua própria aparên­
cia. Anseiam ser aceitos pelos seus companheiros e são muito
possessivos em relação a suas próprias coisas. Usam termos
dramáticos para falar sobre o que lhes parece bonito ou atra­
ente. Sentem-se arrasados quando alguém zomba da roupa
que vestem. Ficam angustiados quando perceberem a rejeição.
Tendem a ser intensamente materialistas, isto é, voltados para
o mundo físico.

Muitas vezes, o invisível mundo espiritual, que é mais


importante, parece irreal para eles. Adolescentes tendem a crer
em duas mentiras fatais. A primeira é que o físico é mais real
do que o espiritual. Não surpreende que a felicidade presen­
te, física e pessoal pareça mais importante para eles do que a
bênção eternal. Segunda, eles tendem a crer na permanência
do mundo físico. Para eles, parece que o mundo não vai aca­
bar. Parece que ele sempre vai existir e que é nele que "tudo
acontece".

Que diferença da perspectiva bíblica! Asafe, no Salmo


73, diz que a prosperidade dos maus é como um sonho. Que
excelente análise! Um sonho parece real, mas não é. Ele acaba
no momento em que o corpo desperta. Os bens terrenos que
118 CAPÍTULO SETE

uma pessoa adquire se acabam mesmo enquanto estão sendo


ajuntados. O mundo físico está fadado a perecer.

Em 2 Coríntios 4:16-18, Paulo expressa a mesma idéia da


seguinte forma:

Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos


a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia
após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão
produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que
todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas
no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não
se vê ê eterno.

Paulo está preocupado com o que não se vê. Seu enfoque


está nas coisas espirituais. Ele não está envolvido com o m un­
do físico e material. Por quê? Pura e simplesmente porque o
mundo passa. Cristo disse: "Pois, que adiantará ao homem
ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o
homem poderá dar em troca de sua alma?" (Mateus 16:26).
João nos adverte em sua primeira carta a não amar "o mundo
nem o que nele há" (1 João 2:15). O tema se encontra em toda
parte nas Escrituras. O sábio vive por aquilo que não se pode
ver. O tolo vive para construir outro celeiro para armazenar
o que perece e não tem utilidade no mundo por vir. O sábio
anseia pela bênção espiritual, o tolo suplica por recompensa
física. O sábio pensa na eternidade, o tolo vive o momento.

Os adolescentes não só tendem a viver com o foco no


mundo físico, perdendo ou minimizando o significado do
mundo espiritual, como também tendem a viver com uma
mentalidade de tempo de paz. Em tempos de paz, as pessoas
dão-se à luxúria, ao lazer e aos prazeres. Elas se concentram
em seus desejos. Contudo, em tempo de guerra, as pessoas
vivem com outro enfoque. A fábrica que produzia sistemas
HÁ UMA GUERRA SENDO TRAVADA 119

de som estéreo em abundância é convertida para produzir


equipamento eletrônico para a batalha. A linha de montagem
que produzia carros de luxo começa a produzir tanques. Jovens
vão para o serviço militar em vez de para a escola. A guerra
domina o foco não só dos soldados profissionais, mas de toda
a sociedade.
Eis o ponto. As Escrituras dizem que a vida é uma guerral
Como disse tantas vezes a meus filhos, "Existe uma guerra
sendo travada. E ela está sendo travada no campo de seu
coração, pelo controle de sua alma. Cada situação que você
enfrenta hoje é uma escaramuça na guerra. Tome cuidado,
esteja ciente da batalha. Não se esqueça de que há um inimigo
astuto lá fora cujo objetivo é enganar, dividir e destruir. Saiba
que para vencer, você tem que lutar. Não se pode relaxar, não
se pode esquecer". Nunca será demais repetir isso a nossos
adolescentes (ou a nós mesmos).

Pessoas sábias, maduras e piedosas têm ciência do mundo


espiritual; elas o vêem em toda situação da vida, e nunca vêem
a vida "debaixo do sol" (leia Eclesiastes). Elas vêem as impli­
cações espirituais em tudo o que fazem, em toda situação que
enfrentam. E isto que devemos almejar produzir em nossos
adolescentes. Para tal, nós, primeiramente, temos que consi­
derar o mundo espiritual. Devemos viver cientes da guerra.
Há duas coisas que nos impedem de ensinar nossos filhos
a enfrentarem e a lutarem na batalha espiritual. Primeira, há
uma tendência de nossa parte a nos preocuparmos mais com
o mundo visível do que com o mundo invisível, especialmente
quando se trata de nossos adolescentes. Importa-nos mais
saber que eles perderam o emprego e que isso poderá afetar a
educação deles no futuro do que as questões espirituais interio­
res que Deus está revelando naquele momento. Preocupamo-
nos mais com as notas baixas em seus boletins escolares do
120 CAPÍTULO SETE

que com o que as notas revelam sobre a condição espiritual de


nossos filhos. Ficamos bravos porque o quarto está uma desor­
dem caótica de roupas sujas e não vemos o coração por trás da
bagunça. Ficamos chateados porque o carro está amassado e
damos muito mais importância para o dano físico do que para
o dano espiritual que pode estar acontecendo ao mesmo tempo
na vida do adolescente. Dizemos que sua roupa está ridícula
ou nos queixamos porque ele bebeu o que restava do leite ou
porque sua música nos deixa loucos, e o tempo todo deixamos
de considerar o que realmente tem importância eterna.

Por causa disso, não aproveitamos as oportunidades di­


árias de lembrar aos adolescentes da luta espiritual presente
em cada situação neste mundo decaído. Se a intenção é pro­
duzirmos adolescentes que se envolvam na batalha espiritual,
precisamos começar perguntando a nós mesmos o que real­
mente é importante para nós. Estamos, pelas coisas que nos
interessam e pela maneira como resolvemos os problemas,
verdadeiramente demonstrando o oposto daquilo que dize­
mos crer? Nossas próprias vidas são consistentes com o que
dizemos que gostaríamos de produzir em nossos adolescentes?

A segunda coisa que atrapalha a nossa tentativa de abrir


os olhos do adolescente para a batalha espiritual é o equívo­
co cultural. A tendência de nossa cultura cristã é o equívoco
quanto à batalha espiritual. Nós tendemos a pensar nela como
o lado mais bizarro das coisas espirituais. Para a maioria dos
cristãos, se a batalha espiritual virasse um filme, este teria de
ser produzido por Stephen Spielberg, com o roteiro escrito por
Steven King! A batalha espiritual nos faz pensar em possessão
demoníaca, demonstrações horripilantes de controle satânico
e exorcismos dramáticos. Contudo, as Escrituras apresentam a
batalha espiritual não como o lado violento e bizarro da vida
cristã, mas como o que a vida cristã él
HÁ UMA GUERRA SENDO TRAVADA 121

Ao introduzir o assunto da batalha espiritual no final de


sua carta aos Efésios (6:10-18), Paulo não muda de assunto para
falar do lado escuro da espiritualidade. Ele faz algo muito di­
ferente. Ele faz um resumo de tudo o que havia dito até aquele
ponto. Onde a batalha espiritual acontece? No corpo de Cristo,
no relacionamento conjugal, no relacionamento entre pais e
filhos, entre escravos e senhores e em todo local da cultura à
nossa volta. Nossos adolescentes precisam aprender a lutar na
guerra e a usar o equipamento que o Senhor nos providenciou.
A descrição de Paulo precisa moldar a maneira como pensamos
sobre esta guerra de todos os dias e de todas as situações.

Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seuforte poâer. Vistam


toáa a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as
ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos,
mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste
mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões
celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que
possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de
terem feito tudo. Assim, mantenham-sefirmes, cingindo-se com
o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça e tendo os pés
calçados com a prontidão do evangelho da paz. Além disso, usem
o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas
inflamadas do Maligno. Usem o capacete da salvação e a espada
do Espírito, que é a Palavra de Deus. Orem no Espírito em to­
das as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente,
estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos.

A fim de que permaneçam fortes na batalha espiritual, os


nossos adolescentes precisam saber que realmente existe um
mundo espiritual onde a guerra tem sido travada. Eles preci­
sam saber quem é o inimigo (e quem o inimigo não é). Precisam
conhecer as armas da guerra e como usá-las e precisam saber
como a vitória acontece na vida diária. Isso é essencial porque
122 CAPÍTULO SETE

a guerra espiritual não só acontece onâe nós estamos, mas ela


é aquilo que estamos vivendo. É por isso que Paulo resume sua
carta aos Efésios como o faz. Ele não quer que pensemos em
todas as situações e relacionamentos de forma horizontal. Ele
quer que percebamos que há dramáticas lutas verticais acon­
tecendo em tudo. Então, ele nos diz para tomarmos cuidado
com os esquemas do diabo, permanecermos firmes no poder
do Senhor, colocarmos a armadura toda de Deus e orarmos.
Uma guerra está sendo travada. Não se trata de um aspecto da
vida cristã, mas sim da própria vida cristã. Infelizmente, por
aderirem ao conceito cultural errado, a maioria dos pais cris­
tãos não fazem lembrar a seus adolescentes constantemente da
batalha nem os preparam para as vitórias diárias que podem
ser experimentadas pelos filhos de Deus.

Nosso objetivo é educar filhos que vivam com plena cons­


ciência do mundo espiritual. Desejamos ser usados por Deus
para produzir jovens adultos que entendam as implicações
espirituais de tudo o que fazem. Nosso objetivo é produzir
filhos que existam no mundo visível, mas que vivam para o
que não pode ser visto, tocado ou experimentado.

Q u alid ad es cie um G u erreiro Espiritual

Como é o adolescente que entende e participa da batalha


espiritual? A seguir, relacionarei várias qualidades que fazem
parte de sua vida:

1. Ele tem um profundo e sincero temor a Deus internali­


zado. Esta é a base da vida espiritual. É o temor de Deus que é
o princípio de uma vida verdadeiramente sábia (Prov. 1:7). O
tolo não tem o temor de Deus no coração, por isso vive para o
que o momento pode oferecer e para aquilo que os olhos po­
dem ver. O que é o temor de Deus? E o motivador inegociável
da pessoa espiritual. Deus, Sua presença, Sua vontade e Sua
HÁ UMA GUERRA SENDO TRAVADA 123

glória são a razão por que a pessoa espiritual faz o que faz.
Ele tem uma única motivação na vida: viver para agradar a
Seu Senhor. Ele não vive para seu próprio prazer nem para o
prazer de outros. Ele não vive para o que pode possuir. Ele faz
o que faz porque Deus é e tem falado. Este é o único sistema
de orientação de sua existência. Ele não faz o que faz porque
há alguém olhando, ou por ter medo das conseqüências, mas
por nutrir profundo e reverente amor a Deus. Desobedecer-
Lhe consciente e propositalmente é impensável.

Esta é a única coisa que mantém os adolescentes puros


em tempos de tentação quando estamos longe e a pressão está
sobre eles para ultrapassar os limites de Deus.

2. Depois do temor de Deus, mas diretamente relacionado


a ele está a submissão à autoridade. Uma das coisas tristes que
ouço os pais dizerem é: "Convenhamos, Paulo, é de se esperar
que os adolescentes sejam rebeldes. Faz parte do crescimen­
to". Não creio que devamos vir a esperar ou aceitar a rebelião
casualmente por parte de ninguém. Ela sempre será errada e
perigosa!

Se a pessoa teme a Deus, será submissa às autoridades que


Deus colocou em sua vida. Aquele que desconsidera, discute
ou tenta contornar as autoridades não está usufruindo a ajuda
de Deus na batalha espiritual. Deus colocou autoridades em
nossas vidas para refrear o pecado. Alguém que esteja ciente de
sua pecaminosidade e que deseje viver uma vida pura não se
irritará contra a autoridade, mas a respeitará e se submeterá a
ela. Este é o espírito que desejamos ver em nossos adolescentes.

Se o adolescente vê a autoridade como negativa e punitiva,


algo não está certo. Nosso objetivo é ensinar ao adolescente a
admitir a necessidade de uma autoridade provida por Deus e
a importância da submissão voluntária a ela. Queremos que
124 CAPÍTULO SETE

eles cresçam vendo a autoridade figurar em suas vidas como


instrumentos de ajuda, orientação, proteção e controle, amo­
rosamente instituídos por um Deus que conhece os corações
deles e a natureza de sua luta neste mundo depravado. Por
fim, desejamos que eles digam: "Preciso da autoridade e quero
a autoridade. Sou grato por Deus a tê-la instituído em minha
vida".

Este objetivo pode parecer irrealista por duas razões. Pri­


meira, pelo fato de muitos de nós já estarmos tão acostumados
a aceitar as respostas negativas dos adolescentes que ficamos
surpresos quando eles reagem demonstrando aceitação, res­
peito e obediência voluntária. Em vez de esperarmos respeito
e ficarmos desgostosos ante a rebelião, temos sucumbido à
crença cultural de que a rebelião é uma norma aceitável para
a adolescência.

Segunda, pelo fato de, para muitos de nós, este objetivo


soar "bom demais para ser verdade", porque não lutamos e
vencemos aquelas lutas essenciais com a autoridade enquanto
nossos filhos eram menores. Passamos tempo demais satisfa­
zendo as suas exigências e cedendo ao mau comportamento
deles. Justificaríamos a rebelião, dizendo que "os dentinhos
deles estavam apontando", que eles estavam "cansados de­
m ais" ou que eles estavam simplesmente tentando "cham ar a
atenção". Agora que se tornaram adolescentes, nossas crianças
não conseguem valorizar a nossa autoridade. Eles não vêem
necessidade de se submeter a ela. Eles não entendem por que
nós não justificamos a rebelião deles como em outras épocas
e por que agora tentamos impedi-los. Como adolescentes, eles
agora estão dispostos demais a nos confrontar quando tenta­
mos exercer autoridade de pais. Como pais, nós precisamos
entender que a rebelião contra a nossa autoridade nunca é
correta, seja qual for a idade do filho. Rejeitar a autoridade dos
HÁ UMA GUERRA SENDO TRAVADA 125

pais é rejeitar a autoridade de Deus. E rejeitar a autoridade de


Deus é, na verdade, assumir para si a autoridade que é Dele.
E tentar ser Deus. Quer seu adolescente perceba isso ou não,
seu risco não poderia ser maior.

3. A próxima qualidade evidente em uma pessoa que está


envolvida em batalha espiritual é liberalmente discutida em
Provérbios. Trata-se da separação dos ímpios. Colocando em
termos positivos, o adolescente que teme a Deus vai querer
estar com outros adolescentes que temem a Deus. E verdade
que se pode conhecer alguém por suas companhias! Se um
adolescente for sério em seu desejo de participar da batalha
espiritual, se estiver firme no propósito de viver de modo agra­
dável ao Senhor e se estiver vivendo em submissão voluntária
às autoridades em sua vida, então ele irá desejar gastar tempo
com pessoas que têm o s m esm o s valores q u e ele. Os adoles­
centes rebeldes não o atrairão. Os adolescentes que não têm
interesse nas coisas espirituais não o desviarão. Ao contrário,
onde quer que esteja, ele irá instintivamente buscar aqueles
que têm o coração em Deus. Ele se sentirá estranhamente
deslocado com pessoas que não tenham interesse nas coisas
que Deus diz que são importantes.

4. E impossível participar da batalha espiritual se você não


tem a habilidade de considerar a sua fé e aplicá-la às situações
da vida. O que um adolescente necessita, se pretende viver de
forma que honre a Deus, é um conhecimento profundo das
Escrituras que permita que ele aplique os Seus mandamentos,
princípios e perspectivas às várias situações que surgem na
vida diária. Ele precisa ser mais do que alguém que simples­
m ente tem conhecim ento bíblico, ele precisa ser capaz de
encarar a vida com sabedoria bíblica.

Estou convencido de que muitos adolescentes não estão


preparados para a batalha espiritual porque nunca foram
126 CAPÍTULO SETE

ensinados a pensar biblicamente. Eles freqüentaram a escola


dominical, portanto, conhecem todas as histórias bíblicas mais
comuns e memorizaram todas as passagens bíblicas favoritas,
mas esses não são muito mais do que textos isolados, descone­
xos para eles. Eles não foram entretecidos numa perspectiva
bíblica consistente e nítida da vida. A Bíblia não é uma ma­
neira de pensar para os adolescentes. É um livro de histórias
moralistas e de regras. O resultado é que, embora eles tenham
muito conhecimento bíblico, eles têm pouca sabedoria bíblica.
Falta-lhes a visão bíblica funcional e útil da vida que impede
que eles vivam tolamente.

Devemos ensinar nossos filhos a pensar biblicamente, a


interpretar todos os fatos da vida de uma perspectiva bíblica.
Devemos ensiná-los a sempre perguntar como a Bíblia pode
ajudá-los a entender a questão que estão considerando.

Eles devem aprender a olhar para si mesmos, para a vida,


para os relacionamentos, para as posses, para a moralidade,
para o lazer, para o governo, para o aprendizado, para o co­
nhecimento, para o casamento, para a família, para o passado,
para o futuro, para o amor, para o ódio, para o caráter, para a
maturidade, para o que é certo e para o que é errado, para o
bem e para o mal, para o sucesso e para o fracasso e para tudo o
mais que encontrarão na vida, do ponto de vista das Escrituras.
O objetivo é que essa visão de vida consistentemente bíblica
os capacite a reconhecer o que é sábio pensar e fazer em cada
situação. Não realizaremos isso ao cuspirmos ordens a eles. O
processo leva tempo, paciência e amor. Para que isso aconte­
ça, nós também teremos de ter gastado tempo pensando nos
problemas por nós mesmos. Não podemos guiar/aconselhar
nossos filhos a algo de que nós mesmos não dispomos.

5. A parte final do objetivo de se concentrar na luta espiri­


tual é a consciência bíblica. Talvez seja óbvio, mas os adolescen­
HÁ UMA GUERRA SENDO TRAVADA 127

tes não tendem a ser muito conscientes. Eles são muito cientes
de como os outros reagem a eles. Eles se concentram em sua
própria aparência física e em como se sentem, mas tendem a
carecer da essência da consciência bíblica: uma consciência do
coração. Isso é poderosamente demonstrado quando um pai
ou mãe aponta uma atitude errada no adolescente. Na maioria
das vezes, o adolescente reage com amargura, achando que
foi falsamente acusado ou injustamente discriminado.

Desejamos ser usados por Deus para produzir adolescentes


que possam examinar a si mesmos regularmente no espelho
perfeito da Palavra de Deus e que possam humildemente
aceitar o que ele revela. O adolescente que tem uma visão
precisa de si mesmo não só reagirá bem à ajuda de seus pais,
como a buscará. Ele será consciente de sua fraqueza espiritual
e aceitará com alegria os recursos que Deus colocou em sua
vida. Ele não se justificará, nem se defenderá, não discutirá
nem transferirá a culpa quando seu erro for apontado. Ele não
terá de si mesmo "um conceito mais elevado do que deve ter"
(Romanos 12:3). Pode ser difícil acreditar, mas é verdade.

M uitos adolescentes não tomam medidas de proteção


contra o pecado ("fugindo das paixões da m ocidade") por
crerem que são muito mais fortes e mais maduros do que na
verdade são. Eles realmente crêem que podem brincar com
fogo sem se queimarem. Mesmo quando se queimam por suas
escolhas e comportamento, a visão imprecisa que têm de seu
ego os leva a concluir que o que houve foi realmente culpa de
outras pessoas ou das circunstâncias. Como é importante que
aproveitemos toda oportunidade que Deus nos dá de colocar­
mos o espelho da Palavra na frente dos adolescentes para que
eles possam começar a se verem como realmente são! Muito
freqüentemente, nos momentos em que seus corações estão
começando a ser revelados, nossa própria ira e frustração nos
128 CAPÍTULO SETE

fazem agredi-los com palavras e impor castigos severos a eles.


Nós nos esquecemos de funcionar como instrumentos de Deus
e então nossa ira só deixa nossos filhos mais defensivos, mais
fechados e mais enganados a respeito de si mesmos.
O que significa ser biblicamente consciente? Significa que
o adolescente irá viver com conhecimento preciso e prático dos
temas pessoais da fraqueza, da tentação e do pecado. Todos
nós pecamos, embora nem sempre da mesma maneira. Há
certos temas para nossas lutas com o pecado. O adolescente
espiritualmente consciente sabe em que área ele é susceptível
à tentação e sabe que o conhecimento o ajuda a tomar medidas
de proteção contra ela.
Ao dirigir para igreja certo domingo, inadvertidamente,
passei com o carro sobre um buraco bastante grande no asfalto.
Depois do chacoalhão, minha esposa disse que estava confusa.
Perguntei a ela o motivo e ela disse que não entendia por que,
domingo após domingo, eu caia no mesmo buraco! Ele ficava
sempre no mesmo lugar, todas as semanas, e a avenida tinha
outra pista. Por que não desviávamos do buraco?
Os adolescentes muitas vezes cairão no mesmo buraco
espiritual, vez após vez, por causa da cegueira espiritual em
relação aos temas de seus corações. Uma das coisas mais úteis
que podemos fazer por eles espiritualmente é ajudá-los a olhar
adiante na vida, prevendo onde a tentação os atingirá e ensi­
nando a eles como evitá-la. Quando fazemos isso, eles crescem
em consciência e em apreciação da misericórdia e da graça do
Senhor que os ajuda em tempos de necessidade. Eles também
começarão a ver seus pais não como juizes e carcereiros, mas
como recursos dados por Deus para ajudá-los a lutar nas mais
importantes batalhas na vida.
Em tempos de luta e colapso, precisamos fazer mais do
que anunciar juízo sobre o que está errado e impor castigo.
HÁ UMA GUERRA SENDO TRAVADA 129

Precisamos falar, discutir, questionar, avaliar, nos envolver e


interagir com nossos filhos adolescentes, esperando que Deus
use esses momentos de oportunidade para abrir um pouco
mais os olhos deles para quem eles realmente são e para a
constante necessidade que eles têm de Cristo.

Naquela noite, ao segurar aquele bilhete horrível escrito


por minha filha, foi importante manter esse primeiro objetivo
em mente. Ali estava uma oportunidade maravilhosa, provida
por Deus, de falar com ela sobre a natureza da batalha espi­
ritual. Porém, em geral esse é o tipo de momento em que os
pais dizem aos adolescentes que os castigarão severamente,
que sentem muita vergonha deles, que jamais pensariam em
fazer tal coisa quando jovens, que não podem acreditar que isso
é o que os adolescentes fazem depois de tudo o que fizeram
por eles! Os pais muitas vezes anunciam a punição e saem do
local, perdendo uma oportunidade de ouro de fazer a obra do
Senhor.

O bilhete de minha filha era mais do que linguagem obs­


cena e desrespeito. Ele revelava a guerra espiritual que estava
reinando em sua vida. Pela graça de Deus a guerra havia
eclodido, mas ela não conseguia ver a realidade. Sua maior
preocupação era o fato de estar "encrencada" na escola e em
casa. Ela temia pelo que iria acontecer a ela como conseqüência
de seu comportamento. Ela precisava que seus pais a levassem
a um nível mais profundo de preocupação e entendimento
em relação ao ocorrido. O que a havia motivado a escrever
aquilo? Aquilo era o resultado de que tipo de desejo? Como a
situação toda revelava o que era importante para ela? O que o
bilhete revelava sobre seus relacionamentos com os colegas e
sobre a sua reação à autoridade? O que ela poderia aprender,
diante dos fatos, sobre a sua própria susceptibilidade pessoal
à tentação?
130 CAPÍTULO SETE

Ao refletir com ela sobre essas questões, minha esposa


e eu a estávamos ajudando a entender e a participar da luta
espiritual. Tal discussão nos deu a oportunidade de falar a
ela sobre os temas: temor de Deus, submissão à autoridade,
separação dos ímpios, habilidade de ponderar e aplicar a fé, e
consciência bíblica. Aquele momento nos forneceu a oportu­
nidade de ajudar a nossa filha a se conhecer de maneira mais
exata, de conhecer a Deus de modo mais pessoal e de ser muito
mais sábia no entendimento dos esquemas do inimigo. Em
meio ao real colapso, ela deu mais um passo para se tornar
participante ativa da luta espiritual. Ela jamais teria caminhado
nessa direção sem a nossa ajuda.
Convicções e Sabedoria

MINHA esposa e eu íamos passar o fim de semana em


uma conferência. Nosso filho perguntou se ele poderia ficar
com uma família de nossa igreja que tinha filhos de sua idade.
Nós concordamos. Depois de levá-lo, tomamos o nosso rumo.
Parecia que aquele seria um fim de semana comum, sem gran­
des acontecimentos. Mal sabíamos que Deus tinha planejado
outra coisa para nosso filho. Aquele seria um fim de semana
de tentação, escolha, decisão e de penoso exercício de fé.

Antes de nosso filho chegar à casa de nossos amigos, as


crianças da fam ília haviam ido à locadora para alugar alguns
filmes. Assistir aos filmes seria o grande evento daquela sexta-
feira à noite. Acontece que os pais da família tiveram que sair
de casa naquela noite e depois que saíram, os vídeos aparece­
ram. Não demorou muito até que nosso filho percebesse que
os vídeos continham material a que ele não deveria assistir.

Ele decidiu tentar convencer os outros a não assistir aos


vídeos. Eles pensaram que ele estava sendo "tolo" e colocaram
o primeiro vídeo. Como jovem adolescente, sem saber o que
mais poderia fazer, ele passou a noite na cozinha, consumindo
mais salgadinhos e refrigerantes do que havia consumido em
toda a sua vida. Ele havia feito uma escolha. Havia exercido
convicção. Ele havia suportado a pressão por sua fé.

Quando os pais voltaram para casa e o encontraram na


cozinha, perguntaram a ele por que não estava com os outros.
132 CAPÍTULO OITO

Quando ele explicou, eles tiveram duas reações. Primeira, fica­


ram desapontados com seus próprios filhos pelos vídeos que
haviam escolhido e pela insensibilidade que demonstraram
em relação ao hóspede deles. Segunda, eles ficaram admirados
com nosso filho pela escolha que ele fizera de praticar aquilo
que pensava ser o certo.
Temo que muitos de nós estejamos tão ocupados em tomar
decisões por nossos filhos para mantê-los a salvo que não lhes
ensinamos a desenvolver um conjunto próprio de convicções
bíblicas internalizadas. Uma coisa é um adolescente fazer o que
é certo diante de olhares de crítica ou sob ameaça de punição.
Algo totalmente diferente é ver o exercício independente,
espontâneo e sincero de convicção pessoal. Ao prepararmos
nossos filhos adolescentes para sair neste mundo entrevado e
decaído e viver uma vida piedosa, é obrigatório que façamos do
desenvolvimento de convicções internalizadas um de nossos
principais objetivos.

O B JE T IV O 2 - PesenweSwenci© urm C o ra ç ã o de
C o n v icçã o e S a b e d o ria
Juntamente com o desenvolvimento de convicções, tam­
bém é necessário desenvolver sabedoria, que é a segunda me­
tade deste objetivo, se pretendemos que nossos adolescentes
vivam de forma agradável a Deus. Permita-me ilustrar isso
com outra história.

Recebi um telefonem a quando estava no trabalho, no


meio do dia. Era meu filho, ligando de seu emprego de meio-
período. Ele havia recebido ordens para realizar algo perigoso
e que não fazia parte das tarefas que ele havia sido contratado
para executar naquela função. Não se tratava de algo imoral
e não era algo claramente certo ou errado, mas uma decisão
precisava ser tomada. Ele telefonou para mim e perguntou
se poderia me enviar a descrição das tarefas de sua função
CONVICÇÕES E SABEDORIA 133

por fax para que pudéssemos discutir o que ele deveria fazer.
Falamos sobre as pessoas que seriam envolvidas na questão.
Quem eram as pessoas que exerciam autoridade sobre ele e
por que elas haviam dado aquela ordem? Falamos sobre a
maneira como ele deveria lidar com os seus superiores. De
certa forma, meu filho queria que eu tomasse a decisão por ele,
mas eu não fiz isso por considerar que aquela situação havia
sido providenciada por Deus para o seu desenvolvimento. Ele
estava aberto, buscando e pensando do modo certo. Depois
de discutir a questão, eu disse que oraria por ele. Eu estava
con fian te que ele tinha tudo de que precisava para tomar uma
decisão sábia.

O que aconteceu? Ele foi demitido! Eu nem pude acredi­


tar. Ele havia feito tudo corretamente e mesmo assim perdeu
o emprego. Fui tentado a questionar Deus. Ele não poderia
encorajá-lo somente daquela vez? Mas mesmo na demissão
houve uma oportunidade de falar sobre vida em um mundo
d estru íd o, s o b r e a b ên ç ã o de fa z er as coisas da maneira de
Deus e o que significa se entregar ao cuidado soberano de
Deus. Então, em poucos meses, ele foi readmitido. O gerente
regional ficara muito irritado com a maneira com que aquelas
pessoas lidaram com a situação e instruiu seus subordinados
a oferecer o emprego a meu filho novamente.

Observe que esta situação foi muito diferente do incidente


dos vídeos daquela sexta-feira à noite, m a s n ã o menos im por­
tante. A primeira situação teve a ver com o que eu chamarei
questões de limites claros. Há questões sobre as quais Deus
fala claramente, em que certo e errado ficam óbvios. O que se
faz necessário é o exercício de convicção pessoal, bíblica e in­
ternalizada. A segunda situação teve a ver com o que chamarei
questões de sabedoria. Há questões para as quais não existe
um "assim diz o Senhor" direto, mas das quais as Escrituras
134 CAPÍTULO OITO

falam com milhares de princípios bíblicos de ponderação para


que nós possamos viver sabiamente neste mundo decaído. O
necessário neste caso é a sabedoria bíblica prontamente apli­
cável.
Ao deparar com questões de limites claros, seu adoles­
cente não precisará orar por sabedoria. Por exemplo, em uma
loja de departamentos, não é necessário orar para que Deus
lhe dê sabedoria a fim de saber se deve roubar ou não! O que
ele precisa aqui é de um coração submisso à vontade de Deus
conforme se encontra revelada em Sua Palavra. Ele precisa de
um coração mais controlado por amor pelo Criador do que
pela coisa criada.

Mas ao cieparar com questões de sabedoria, o adolescen­


te nunca as resolverá tratando-as como se fossem simples
questões de limite. Caso tente fazê-lo, ele começará a perder
a confiança nas Escrituras, achando que elas não falam clara­
mente quanto às questões de sua vida. Assim, em sua falta de
confiança nas Escrituras, ele partirá para um de dois extremos:
legalismo, fazendo de tudo uma rígida questão de limites; ou
insensatez, concluindo que tudo o que não for uma questão
óbvia de limites é irrelevante e não mencionada nas Escrituras.

Temo que muitos de nós ajamos de forma inadequada


ao prepararm os nossos filhos para lidar com questões de
sabedoria. Para alguns de nós, isso ocorre porque vivemos
com uma dicotomia secular-espiritual em nossas próprias
vidas. M uitos de nós pensamos em nossas vidas como se
houvesse dois mundos: o mundo do espiritual, que inclui a
nossa devoção, a igreja e a vida formal de adoração, tendendo
também a abranger as questões sobre as quais Deus nos deu
mandamentos claros. A atenção a essas coisas compõe nossa
definição do que é espiritual.
O outro mundo desta forma dupla de pensar na vida é o
CONVICÇÕES E SABEDORIA 135

secular. Este não inclui o mundo dos mandamentos claros de


Deus nas Escrituras nem a vida de devoção, adoração e igreja
de uma pessoa. Na forma dupla de pensar, as Escrituras têm
pouco ou nada a dizer sobre a vida neste segundo mundo.
Este tende a ser o mundo onde eu vivo todos os dias e gasto
a maior parte de meus esforços produtivos. Como podemos
ensinar nossos adolescentes a exercer sabedoria bíblica aí se nós
mesmos não estamos acostumados a fazê-lo? Como podemos
ensinar sabedoria quando nós não temos percebido que tudo na
vida é espiritual e que as Escrituras, de alguma forma, falam
sobre todas as situações da experiência humana?

Há outra razão porque os pais deixam de preparar seus


filhos bem para as decisões de sabedoria que eles irão enfren­
tar quando deixarem o lar. Tristemente, é que muitos pais
simplesmente não possuem uma sabedoria das Escrituras que
seja fluida, funcional e aplicável às situações. O conhecimento
bíblico que muitos de nós temos é apenas um pouco maior
que aquele adquirido na escola dominical. Conhecemos as
histórias mais contadas, compreendemos em parte as princi­
pais doutrinas e sabemos trechos das passagens mais citadas,
mas não meditamos e não temos um conhecimento profundo
da Palavra. Não sabemos como usar a sua sabedoria para nos
orientar em assuntos da vida diária e nossa própria falta de
conhecimento nos impede de disciplinar nossos filhos para
que vivam de maneira biblicamente sábia.

Como pai, você não pode dar o que não tem. Só poderemos
ensinar nossos filhos a ser obedientes à Palavra na prática,
exercendo convicção bíblica decisiva, se estivermos fazendo
o mesmo. Só poderemos ensinar nossos filhos a aplicar sabia­
mente os princípios da Palavra às questões da vida se isso for
o que nós estivermos procurando fazer. Estudantes obedientes
à Palavra tendem a produzir o mesmo tipo de filhos.
136 CAPÍTULO OITO

E n ten d en d o < e s t õ e s de L im ite s C laro s


Deixe-me definir melhor o que quero dizer quando falo em
questões de limites claros e questões de sabedoria. As questões
de limites claros são situações que envolvem mandamentos
diretos das Escrituras, por exemplo, o chamado para falar a
verdade, honrar pai e mãe, não roubar nem cometer adultério
ou fornicação. Para viver da maneira de Deus nessas situa­
ções, o adolescente precisa de duas coisas básicas. Primeira:
conhecer os mandamentos das Escrituras. O adolescente não
pode permanecer dentro dos limites estabelecidos por Deus
se não souber quais são esses limites. Segunda, ele precisa ter
convicção pessoal, isto é, um coração comprometido em fazer
a vontade de Deus independentemente das conseqüências.

Estou persuadido de que é muito importante definir o


conceito de convicções para nossos adolescentes. Muitas vezes
chamamos de convicção o que na verdade é preferência. As
verdadeiras convicções são baseadas na verdade revelada (ou
seja, as Escrituras). As preferências estão baseadas no desejo
pessoal. As convicções são constantes; as preferências mudam
com o desejo. As convicções exigem fé; as preferências contam
com as emoções do momento. Nossos adolescentes precisam
entender a diferença entre convicção e preferência.

Há seis características da convicção bíblica:

1. A convicção bíblica sempre tem por base o estudo, a submissão


e a aplicação das Escrituras. E o conhecimento da vontade de
Deus combinado com um coração disposto a obedecer que é
posto em ação nas situações da vida diária.

2. A convicção bíblica é sempre predeterminada. Não se


chega a convicções bíblicas impulsivamente ou no calor das
circunstâncias. As convicções bíblicas são predeterminadas
primeiramente por Deus. Ele tomou a decisão por nós. Muito
CONVICÇÕES E SABEDORIA 137

antes de entrarmos na situação, decidimos que viveremos de


acordo com os mandamentos claros da Palavra. Trazemos este
compromisso do coração, feito muito anteriormente, a cada
nova situação.

3. A convicção bíblica não muda com as circunstâncias. Ela


não cede às pressões externas. Vemos isso poderosamente
demonstrado por Cristo, pelos apóstolos e mártires de outrora.
A convicção está baseada em um compromisso interior e não
nas pressões externas exercidas por pessoas ou na presença
de conseqüências situacionais.

4. Convicções bíblicas são inflexíveis. Convicções verdadeiras


têm uma característica inegociável: não se abre mão delas, elas
não são deixadas para trás e não se faz concessões a fim de
conseguir ou alcançar alguma coisa.

5. A verdadeira convicção bíblica é ousada. Há confiança fun­


damental para isso porque ela está baseada na palavra clara
do Senhor conforme revelada nas Escrituras. Em convicção eu
percebo que foi o Deus que fez o mundo e que controla este
momento que falou; portanto, não há lugar mais seguro para
estar do que estar ativamente cumprindo a Sua vontade! A
verdadeira convicção não é tímida e hesitante, mas produz
atos corajosos de fé.

6. A verdadeira convicção bíblica é sempre posta em prática. A


convicção que não é vivida, que não dirige minha vida diária,
não é convicção verdadeira. Se meu coração conhece, entende,
reconhece e se submeteu ao que é certo, isso será definitiva­
mente percebido nas decisões que tomo no dia-a-dia.

Nós desejamos ser usados por Deus para desenvolver este


tipo de coração em nossos adolescentes. Pense, mais uma vez,
sobre o incidente com minha filha e o bilhete que ela escreveu
na escola. O que ela carecia era de convicções bíblicas pessoais
CAPÍTULO OITO
138

e internalizadas. A pessoa que não tem convicções bíblicas


não tem um sistema interno de coibição. Essa pessoa fará o
que é certo quando estiver sendo observada ou quando sob
pressão externa. Contudo, quando esses motivadores externos
são removidos, essa pessoa se comportará de modo diferente.
O problema dela não era conhecimento. Não era nem mesmo
reconhecimento de que o padrão de Deus era correto. O que
faltava era o compromisso de obedecer a Deus independente­
mente de seu custo. Amorosamente, Deus revelou essa dife­
rença de forma dramática, para que ela tivesse uma mudança
de coração.

EintendtefMJ© a s Q uestões «Se S a b e d o ria


Tão im portante quanto ter convicção bíblica e quanto
prestar atenção às questões de limite é o fato de o crente gas­
tar a maior parte de seu tempo se debatendo com questões
de sabedoria. Porque decidiu há muito tempo que viveria em
submissão ao senhorio de Cristo, o verdadeiro crente vive vo­
luntariamente dentro dos limites, sem testá-los. Basicamente,
ele leva uma vida de obediência, mas depara com milhares de
situações em que necessita de sabedoria, isto é, precisa aplicar
os princípios, perspectivas e temas das Escrituras para que suas
decisões práticas diárias expressem a vontade de Deus para sua
vida. Nessas situações, ele precisa de sabedoria por não haver
expressão "assim diz o Senhor" clara. Ao mesmo tempo, ele
sabe que as Escrituras falam a todas as circunstâncias da vida.
Queremos ser usados por Deus para desenvolver adolescentes
que possam sair para o mundo e viver sabiamente.

Abaixo, relembraremos a situação de meu filho em seu


emprego e veremos os muitos e muitos princípios das Escritu­
ras que se aplicam a ela e que definem o que viver sabiamente
parece ser em tal circunstância.
CONVICÇÕES E SABEDORIA 139

1. O princípio da autoridade. As autoridades em sua vida


(pais, chefes, agentes do governo) são claramente apresentados
nas Escrituras como ordenados e apontados por Deus. Eles
são apresentados nas Escrituras como servos de Deus para o
bem de meu filho. Sempre que apelar para ou discordar de tais
autoridades, ele deve fazê-lo em espírito de honra, gratidão e
submissão.

2. O princípio da graça. Provérbios diz que "A resposta


calma desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira"
(15:1). Naquela época de discórdia e controvérsia, a maneira
como ele falou teve muita importância.

3. O princípio da verdade, mesmo a verdade falada em amor.


E importante que meu filho evite a tentação de manipular ou
adornar a verdade. Ao mesmo tempo, é essencial que ele não
use a verdade vingativamente como uma arma. Ele tem que
falar a mesma verdade que gostaria que dissessem a ele.

4. O princípio do que é mais importante ("hígher agenda").


Como crente, ele é chamado a trabalhar de maneira que "torne
o Evangelho atraente". Até no trabalho devemos funcionar
como embaixadores do Senhor e porta-vozes vivos da Sua
verdade.

5. O princípio do conselho sábio. As Escrituras me advertem


contra a tomada de decisão impulsiva e independente. Deus
promete dar sabedoria a quem a pedir, sem mostrar favori­
tismo. Também nos é dito que na multidão de conselhos há
sabedoria. Foi importante para nosso filho não reagir com
impetuosidade, mas gastar tempo para receber a sabedoria
que Deus prometeu.

6. O princípio da fidelidade ou da integridade. Foi importante


para nosso filho examinar a descrição das tarefas relacionadas
à sua função porque ele teve que aceitar a obrigação de realizar
140 CAPÍTULO OTTO

o trabalho que ele havia prometido em troca de seu salário. As


Escrituras nos conclamam a tomar cuidado com as promessas
que fazemos e a cumprirmos aquilo que prometemos.

7. O princípio da soberania de Deus. Foi tentador para nosso


filho olhar para a circunstância como "um a tremenda falta de
sorte" que de algum modo o abatera. Ele precisava ver que
este evento estava sob o controle de Deus que tudo governa
por amor a ele. Ele não precisou entrar em pânico, nem obter
controle. Ele teve liberdade para agir sabiamente e entregar o
resultado a Seu Pai celestial, que julga todas as coisas de forma
justa.
8. O princípio dos valores. Em situações assim, expressamos
o que realmente importa para nós. Para nosso filho, foi tenta­
dor viver pelas coisas que podem ser vistas. Quando se está
na escola, ter um emprego é muito importante. As Escrituras
recomendam não viver para os tesouros da terra ou por aquilo
que podemos ver, tocar, experimentar ou quantificar. Por ou­
tro lado, somos chamados a viver pelas coisas que têm valor
eterno. Mesmo naquela situação em relação ao emprego, nosso
filho estava sendo chamado a viver para a glória de Deus, a
viver para manter seu próprio coração puro e a buscar o reino
de Deus e a Sua justiça. Resumindo, isso significa fazer o que
é certo, confiando que Deus é o provedor.

9. O princípio do coração. As Escrituras, como observamos


anteriorm ente, nos ensinam que "n ós nos com portam os
conforme o coração". Aquilo que fazemos expressa os pen­
samentos e desejos de nossos corações. Foi importante para
nosso filho estar ciente de seu coração naquela circunstância.
A que tentações ele estaria especialmente susceptível? Ele
seria tentado a ceder ao temor do homem? Seria tentado a se
irar? Seria afligido por dúvidas em relação a Deus? Cederia ao
desânimo? Sucumbiria à pressão de seus companheiros ou à
CONVICÇÕES E SABEDORIA 141

pressão de tomar uma decisão precipitada? É muito importante


nesse tipo de situação o adolescente agir com consciência do
coração para que possa se proteger das tentações em que ele
sabe que é especialmente fraco.

10. O princípio da glória de Deus. Nosso filho foi chamado


para viver para algo mais grandioso do que o seu próprio
bem, conforto, sucesso, afluência e comodidade. O que mais
importa que ele faça é agir de maneira que agrade a Deus.
Isso é mais importante do que resolver a situação, agradar ao
chefe, agradar a si mesmo ou manter o emprego. Ele jamais
fará o que é certo no dia-a-dia, em sua vida prática, a menos
que a glória de Deus seja o seu objetivo máximo. Sempre que
desobedecemos a Deus, indicamos que nossa própria glória e
bem são mais importantes para nós do que a glória de Deus.

Estes dez princípios trazem foco à situação de emprego


que nosso filho teve de enfrentar, ajudando-o a ver mais cla­
ramente o que deve fazer, por que, como e quando deve fazer.
Há inúmeros outros princípios que se aplicam à situação e cada
um deles é luz para o coração e lâmpada para os pés.

As verdades das Escrituras são como uma grande orques­


tra sinfônica. Na verdade, não se pode entender ou desfrutar
uma sinfonia ouvindo as notas do violino, do oboé ou do
tímpano, separadamente. Não se desfruta sua rica beleza ou­
vindo um dueto de trompete e contrabaixo. Somente quando
você ouve todos os instrumentos juntos é que realmente pode
entender a majestade e beleza da sinfonia. Em uma orquestra,
um instrumento torna o outro mais bonito. Cada instrumento
complementa e equilibra o outro. Semelhantemente, as Escritu­
ras nos fornecem uma sinfonia de verdades. Não somente uma
nota, mas muitas contribuem para os tons ricos e harmônicos
da verdade.
142 CAPÍTULO OITO

Como pais, precisamos ter uma mentalidade sinfônica


ao treinarmos nossos filhos para a vida santa. Não podemos
"m artelar" sempre a mesma nota. Devemos apresentá-los à
sinfonia toda de sabedoria bíblica para que eles possam tomar
decisões bíblicas sãs. Para fazer o que devemos, nós mesmos
temos que conhecer a sinfonia e devemos estar comprometidos
a gastar tempo para falar com nossos filhos diariamente sobre
os princípios que se aplicam às situações de suas vidas. Preci­
samos abandonar o método rápido e fácil, aquele mero "faça
isso, não faça aquilo" que dizemos na correria, com pouca ou
nenhuma discussão ou explicação. Precisamos convidar nossos
filhos a examinar e discutir as questões, vendo dificuldades e
problemas como oportunidades de ajudá-los a ouvir um pou­
co mais a sinfonia da verdade de Deus e a entender como as
notas dela dão sentido à vida. É de suma importância que não
pensemos por nossos filhos, mas que os ensinemos a pensar na
vida, empregando a sinfonia de perspectivas que Deus dispôs
a nós em Sua Palavra.

E s tr a té g ia s p ara © Deseriwel^iraiemt©
cie um C o ra ç ã e Sálíl®

Para que se possa educar filhos que gozem de convicção e


sabedoria, é preciso ter uma estratégia. A seguir, relacionarei
algumas ações que podem ser tomadas para nos auxiliar a
desenvolver uma consciência sensível e um coração sábio em
nossos filhos.

1. Veja as situações difíceis, penosas e problemáticas como opor­


tunidades dadas por Deus para desenvolver uma mente bíblica em
seu adolescente. Esse é o tema deste livro: os problemas existem
porque Deus, que nos ama e que está no controle de tudo,
realiza os Seus maravilhosos propósitos neles.

Há muitos anos, uma mãe de coração partido me disse


CONVICÇÕES E SABEDORIA 143

que havia encontrado material pornográfico no quarto de seu


filho. Ela estava arrasada e seu marido, zangado. Conforme ela
descreveu, eles estavam se preparando para "dar um pega" no
filho, quando decidiram me procurar primeiro. Eles precisa­
vam de perspectiva. Sim, eu compartilhei com eles a tristeza,
mas também vi algo muito maravilhoso acontecendo. Vi a mão
libertadora de Deus. O filho deles poderia ter escapado ileso e
se aproximado somente um pouco mais daquele mundo secre­
to e escravizante do pecado sexual, mas Deus, em Sua glória e
bondade, tinha outro plano. Eu disse àquela mãe: "Você não
vê que a obra de Deus para libertar seu filho dessa tentação
já começou? Agradeça a Ele por Seu maravilhoso amor e faça
parte do que Ele está realizando. Não vá "estourando logo de
cara". Diga a seu filho o quanto ele é amado por Deus e que
hoje esse amor está sendo demonstrado por meio da maneira
como Ele ordenou que a pornografia fosse encontrada. Depois,
ajude-o a entender os pensamentos e as razões de seu coração
que o levaram a cometer tal pecado".

Se você olhar para situações assim como fatores de irritação


que arruinam seus planos; se você reagir a elas impulsivamente
com impaciência, irritação e palavras de baixo calão; se você
não refletir uma mente bíblica ("Eu não estou nem aí com o que
você faz quando está fora de casa, mas vou dizer uma coisa,
se fizer isso novamente, vai ter que procurar outro lugar para
morar!), o adolescente irá crescer fazendo o mesmo. Em vez
disso, pare, agradeça a Deus por seu alto chamado como pai
ou mãe e tenha uma conversa paciente, que envolva o coração,
com seu filho ou filha.

2. Resista à tentação áe tomar decisões pelo adolescente. Lem­


bre-se, precisamos ter um objetivo mais fundamental do que
manter os adolescentes a salvo controlando o comportamento
deles. Gaste tempo ensinando a eles como tomar uma decisão
144 CAPÍTULO OITO

sábia. Ensine o conteúdo bíblico que se aplica a cada situação


e ensine o processo bíblico de tomada de decisões. Nosso
objetivo deve ser colocar cada vez mais decisões nas mãos de
nossos filhos conforme eles forem amadurecendo. Para fazer
isso, você precisará lidar com seu próprio temor, seu próprio
desejo de controlar e sua própria relutância em colocar a sua
vida e a vida de seu filho nas mãos capazes de Deus.

Você também precisará ser paciente e perseverante face à


resistência. Efésios 4:2 provê o modelo para nós: "Sejam com­
pletamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando
uns aos outros com amor". Suportar com amor significa ter
paciência face à provocação. Adolescentes dizem coisas sem
pensar, dão desculpas fracas e seus argumentos não têm lógica.
Eles fazem declarações extremas ("Ninguém n u n c a , "Você
e a mamãe sempre, sempre ....", "Isto acontece comigo toda
vez que ..."). Eles dizem que você simplesmente não entende.
Eles comparam você aos pais de seus amigos. E fazem tudo
isso porque adolescentes tendem a não buscar a sabedoria. Em
geral, eles acham que não precisam de ajuda e vêem a sua ins­
trução e intervenção em amor como interferência inoportuna.
E sua tarefa ganhá-los para andar nos caminhos do Senhor.
Você é chamado a ser instrumento de sabedoria na vida de seu
filho adolescente. Para que isso aconteça, você deve ser gentil,
humilde, paciente e perseverante.

3. Discirna o coração de seu filho adolescente (Provérbios 20:5).


Faça perguntas abertas, sem respostas definidas, que o ajudem
a comunicar o que ele realmente pensa e o que realmente quer.
Quando o fizer, não repreenda o adolescente por sua hones­
tidade. Não é preciso falar asperamente a alguém que esteja
sendo aberto, comunicativo e disposto a aprender. Pergunte a
ele o que deseja fazer e por quê. Pergunte o que é importante
na situação e por quê. Pergunte o que ele mais teme quando
CONVICÇÕES E SABEDORIA 145

pensa sobre o que poderia acontecer. Peça que ele descreva o


que realmente o faria feliz na situação. Pergunte o que ele acha
que Deus pensa sobre a circunstância.

O objetivo é fazer com que ele olhe para si mesmo. Você


terá de fazer boas perguntas as quais ele seja incapaz de res­
ponder sem examinar seu próprio coração. Resista a fazer
declarações sobre o que seu filho fez, por que ele o fez e qual
será a conseqüência do que fez. Resista a ser o único a pensar
e a falar ao examinar a situação. Resista a transformar uma
discussão de escolhas e decisões em outro sermão, apontando
o dedo para ele com o rosto vermelho de raiva e em voz alta
enquanto ele fica parado, esperando que você o deixe. Se nós
lidarmos consistentemente com as coisas dessa forma, não
demorará muito até que nossos filhos determinem evitar essas
"conversas" a todo custo e tenham um senso de temor quando
nos aproximamos de seus quartos. As vezes, nós, inadverti­
damente, levamos nossos filhos a caírem no mesmo silêncio
que nós dizemos tanto odiar.

4. Seja persistente. Não aceite grunhidos, gemidos, falta de


contato visual, silêncio ou respostas "sim " ou "não" despro­
vidas de explicações. Seja positivo, amigável e encorajador,
mas seja persistente. Poucos adolescentes facilitarão as coisas
para você neste processo. Freqüentemente eles têm muitas
perguntas e muito a dizer, mas não se expressam a menos que
lhes seja dada a oportunidade de conversar com alguém que
realmente pareça interessado. Procure o adolescente e envolva-
o pacientemente na conversa. Não se ofenda com a resistência
dele, mas faça-o se lembrar do amor e do compromisso que
você tem com ele. Faça com que ele entenda que o objetivo da
conversa não é apanhá-lo no erro e aplicar um castigo, e sim
ajudá-lo a identificar e a fazer o que é certo.

5. Ajuáe o adolescente a determinar se a questão com a qual ele


146 CAPÍTULO OJTO

está lidando é de limite claro ou de sabedoria. Discuta a diferença


entre as questões. Se estiver lidando com uma questão de li­
mite claro, discuta a natureza da convicção bíblica verdadeira
e pessoal com ele. Faça com que a conversa não seja levada no
campo abstrato, mas no contexto das circunstâncias específicas
em que ele se encontra. Se, juntos, vocês determinarem que
estão lidando com uma questão de sabedoria, então, relembre,
com o adolescente, as passagens, princípios e perspectivas que
possam se aplicar à situação. Cite exemplos de sua própria vida
sobre como você procura exercer sabedoria bíblica ao tomar
decisões.

6. Não tente contar ao adolescente, em uma só conversa, tudo o


que você aprendeu. Ao falar, esteja sensível à maneira como está
sendo recebido. O adolescente está participando ativamente
e de boa vontade? Ou está fazendo tudo o que pode para en­
cerrar a conversa e deixar o local? Você falou por tanto tempo
que a atenção dele se desviou? Lembre-se, você mora com seus
filhos e terá outra oportunidade de abordar o assunto nova­
mente. Seja sábio, use poucas palavras ponderadas e colocadas
estrategicamente. Lembre-se, o objetivo não é demonstrar o
quanto você é sábio, mas ensinar seu filho a pensar e a viver
sabiamente. Esta não será a sua última oportunidade. Apro­
veite o momento, mas note que muitos outros virão.
Vida no Mundo Real

ELA está no estilo dos tênis que você vê. Ela está nos sons
da música que você ouve. Ela é demonstrada quando o adoles­
cente fala com você em um tipo de língua que mal se entende.
Ela é vista na maneira como os adolescentes se relacionam uns
com os outros e com você. Ela invade a sua casa por meio de
televisão, rádio e internet, por DVDs e aparelhos de som, por
jornais e revistas. Ela diz a você o que pensar, o que desejar
e o que fazer. Ela molda os relacionamentos e define o que é
importante.

Ela é inevitável e muito poderosa, muitas vezes imper­


ceptível, mas visível em todos os lugares, sempre nova e ao
mesmo tempo antiga em sua influência, sempre reconhecida
por seu poder de moldar nossas ações, mas mais significativa
em sua habilidade de moldar nossos pensamentos. Ela é algo
que criamos, embora diariamente ela nos molde. Trata-se da
cultura humana. Onde há pessoas, há cultura. Onde há pessoas
decaídas, há cultura decaída. Esta é a vida no mundo real.

Uma das habilidades mais importantes a ser desenvolvida


pelos adolescentes é a consciência da cultura. Com isso, não
pretendo dizer desenvolvimento de uma apreciação por m ú­
sica clássica ou por ópera, mas de uma visão da maneira como
a batalha espiritual é travada na cultura em que vivemos. Para
tal, precisamos ter um entendimento prático da natureza da
luta do crente com a cultura.
148 CAPÍTULO NOVE

O s Silvia te 033, Sau sa:


Duas Reações Típica* Itura

Durante o jantar de sábado à noite na igreja, as famílias


Silva e Sousa se encontram na fila para se servirem. Ambas as
famílias estão esperando que não tenham de se sentar juntas
para jantar, mas, por infelicidade, acabam dividindo a última
mesa disponível. Não que haja algum problema entre as famí­
lias, mas elas simplesmente não se entendem de jeito nenhum!

Vamos dar uma olhada ao redor da mesa. Os filhos dos


Silva estão vestidos de maneira bastante conservadora e con­
versam sobre um livro que estão lendo juntos como família.
Seus filhos têm pouca interação com pessoas que não são cristãs
por causa da influência negativa que elas exercem. Música
moderna não entra na casa deles e os Silva não vão ao cine­
ma. Eles têm televisão, mas os filhos só assistem a programas
educativos.

O sr. e a sra. Silva atuam dentro de um círculo de vida


muito pequeno. O sr. Silva trabalha com dois outros homens
cristãos e os contatos da sra. Silva com outras m ulheres
ocorrem na maioria das vezes dentro de um grupo de apoio
minúsculo de amigas cristãs. Superficialmente, os filhos dos
Silva têm aparência e agem de forma muito diferente de seus
companheiros. O modelo de relacionamento dos Silva com o
mundo exterior é "Saia do meio deles e viva separado".

Fica muito fácil ver que os Sousa reagem de forma bastante


distinta à sua cultura. Seus filhos estão vestidos de maneira
muito diferente dos filhos dos Silva. Para começar, os Sousa
usam muito mais bijuterias e brincos - inclusive os meninos! A
filha dos Sousa traz um walkman ao redor do pescoço, embora
não o utilize durante o jantar. Os filhos dos Sousa participam de
muitas atividades na escola pública. Todos os filhos dos Sousa
VIDA NO MUNDO REAI,
149

têm aparelhos de som em seus quartos e assistem à televisão


por muito tempo. O filho mais velho toca em uma banda cristã
de rock alternativo. Superficialmente, os filhos dos Sousa têm
aparência e agem como seus companheiros não cristãos. O
modelo de relacionamento dos Souza com o mundo exterior
é "Esteja no mundo, mas não seja do m undo".

Rejeição e Assim ilação


Os Silva ilustram uma reação rejeição-isolamento à cultura.
A filosofia básica é: O mal está nas coisas, então, evite as coisas. Tal
estratégia normalmente inclui uma lista de atividades culturais
a serem evitadas (filmes, música, dança etc.). Interpreta-se o
ser separado do mundo como significando que a família cris­
tã deva evitar a participação do mundo secular sempre que
possível. Superficialmente, essa reação pode não parecer tão
ruim, embora traga inerentes perigos e deficiências.

Primeiro, há nessa reação uma sutil negação da doutrina


da criação, que declara que tudo o que Deus fez era bom (Gê­
nesis 1:31; Salmo 139:14). Não que Deus tenha criado o rock
pesado. Ele realmente criou as estruturas melódicas e rítmicas
que esse tipo de música emprega. O mal não é alguma presença
orgânica dentro de certas coisas, mas é o resultado da forma
como as coisas são usadas para expressar os pensamentos e
satisfazer os desejos do homem pecaminoso. Nossa maneira
de pensar a respeito dessas questões tem de ser biblicamente
precisa. Por exemplo, a música moderna não é má em si mes­
ma, como se o mal fosse uma substância presente no interior
dela. A música moderna torna-se problemática por ser um
meio poderoso para a visão de mundo de indivíduos que estão
vivendo em rebelião contra Deus. Porque ser isso verdade, é
importante ensina r nossos filhos a resistir à forma como ela
serve de instrumento para seus corações pecaminosos sem
deixá-los pensar que eles ganham a batalha contra o pecado
150 CAPÍTULO NOVE

simplesmente ao evitarem determinadas coisas.

Segundo, essa reação tende a desconsiderar o âmago de


nossa luta hum ana contra o mal. Lutam os essencialmente
com o mal que está em nosso interior, e não com o mal que se
encontra fora de nós. Há uma guerra sendo travada: a guerra
interior, travada na área do coração. Pedro diz que Deus deu
a seus filhos tudo de que precisavam para fugir da "corrupção
que há no mundo, causada pela cobiça" (2 Pedro 1:4). Como
pais, precisamos ensinar nossos filhos que não resolvemos
a luta com o mal evitando certas coisas, embora haja vezes
em que fugir de certas situações, locais e relacionamentos é o
principal meio de evitar a servidão do pecado. Contudo, Paulo
diz que tais restrições "não têm valor algum para refrear os
impulsos da carne" (veja Colossenses 2:16-23). Simplesmente
evitar a tentação externa não restringe o pecado porque isso
não lida com o pecado que já está no coração. Queremos en­
sinar nossos filhos que evitar não é curar, embora isso possa
ser usado por Deus para limitar o dano do pecado em nossas
vidas.
Terceiro, a reação de isolamento tende a promover uma
perigosa justiça própria. Agir com justiça própria pode ser
equiparado a seguir "um a lista". As pessoas que a seguem são
consideradas justas e maduras e as pessoas que não a seguem
são consideradas carnais e imaturas. Cristo ponderou essa
visão do farisaísmo quando atacou o orgulho espiritual dos
fariseus (conforme Mateus 5:20; Mat. 23; Lucas 18:9 e Isaías
29:13). É possível seguir rigorosamente essa lista, mas, ao
mesmo tempo ter um coração distante de Deus e totalmente
confiante no ego. E claro que deve haver uma maneira melhor
de ensinar nossos adolescentes a reagir à cultura do que o
isolamento evangélico-conservador atual.

Os Sousa diriam que encontraram um caminho melhor: a


VIDA NO MUNDO REAL
151

assimilação. A filosofia da assimilação é a seguinte: As coisas


são neutras, então não há mal em participar delas. Mas esta abor­
dagem também tem defeitos.

As Escrituras ensinam que nada é neutro. Neste mundo,


as coisas sempre trazem algum tipo de carga moral. Cristo
disse isso muito claramente: "Aquele que não está comigo,
está contra m im " (Mateus 12:30). Por exemplo, você poderia
argumentar que a língua é neutra em si mesma. As letras e as
palavras, individualmente, e os sons que elas produzem são
neutros, mas nós nunca, jamais as encontramos assim. A língua
é sempre usada para portar significado. Ao ser empregada, a
língua deixa de ser neutra.

Dessa forma, há certas coisas que devemos reconhecer ao


pensarmos nas instituições, nos relacionamentos, na mídia e
nos produtos da cultura ao nosso redor:

29; Todas as coisas que Deus criou são boas.

Todas as coisas com que deparamos foram compostas,


ou são usadas, de uma forma que contém significado.

i ’ Tudo pode ser usado para o bem ou para o mal.

Tudo na cultura expressa as perspectivas do criador


e/ou usuário.

Jíi*- Nós nunca encontramos coisas na cultura ao nosso


redor em um contexto ou cenário neutro.

Assim como a reação de rejeição-isolam ento à cultura


tem seus pontos fracos, a reação de assimilação, comum na
igreja evangélica, também tem. Nossos filhos precisam de
um terceiro modo de reagir à cultura à sua volta, um modo
que seja resultante de boas ponderações bíblicas. Eles preci­
sam entender o que é a cultura e a natureza de seu poder e
influência^ e traçar um plano bíblico pelo qual possam viver.
152 CAPÍTULO NOVE

ie é C u ltu ra?
No início, Deus criou as pessoas com capacidade de inte­
ragir com o mundo e deu a elas a responsabilidade de fazê-lo
de forma a refletir a Sua imagem. Deus nunca pretendeu que
as pessoas tivessem um relacionamento passivo com o mundo
que Ele fez. Ele queria que elas "vestissem " o mundo ao redor
delas. Ele fez as pessoas à Sua imagem com uma habilidade
criativa que não foi dada a nenhuma outra criatura e ordenou
que ela fosse usada (veja Gênesis 1:26-31; 2:15-20). Assim,
desde a criação, as pessoas sem p re tiveram o m u n d o em suas
mãos. Ele nunca foi deixado sozinho. Nunca o encontramos em
seu estado original. As pessoas estão sempre instintivamente
interagindo com o mundo. Elas estão sempre organizando
e reorganizando, interpretando e reinterpretando, criando e
recriando, construindo e reconstruindo. A presença da cultura
é constante e sempre mutante.
Deus colocou as pessoas no ambiente primário do mundo
que criou, mas nós nunca vivemos apenas naquele ambiente.
Sempre vivemos dentro do ambiente secundário também - a
cultura criada humanamente. Assim, a luta com a cultura é
inescapável.

Como então, podemos definir cultura? A s p e s so a s feitas à


imagem de Deus interagem com o mundo que Deus criou, o
que resulta em cultura. Onde há pessoas, há cultura. Mesmo
que se isole da cultura que a cerca, uma família não escapará
da luta cultural, porque como pessoas feitas à imagem de Deus,
elas irão formar uma cultura familiar. Assim também, mesmo
que uma pessoa tente se isolar tanto da cultura ao seu redor
quanto da familiar, ainda não poderá escapar da luta cultural,
pois irá criar uma cultura individual. Não há como escapar de
lidar com os relacionamentos, hábitos, instituições, estruturas,
meios, produtos e crenças que compõem a cultura. Nós sempre
VIDA NO MUNDO REAL
153

vivemos toda a nossa vida nesse ambiente secundário.


Algo mais precisa ser dito sobre isso: a Queda é a razão
da luta cultural. Antes da Queda, Adão e Eva interagiam com
o mundo criado por Deus. Expressavam sua criatividade à
semelhança de Deus, mas não havia problemas, porque tudo
o que eles faziam, diziam e criavam, bem como todos os seus
hábitos e maneiras de se relacionar eram baseados nas pala­
vras de Deus. Tragicamente, outra voz, a da Serpente, entrou
em cena para dar outra interpretação ao que Deus havia feito
e dito. Ao dar ouvidos à nova voz, Adão e Eva criaram a luta
cultural. Desde a Queda, as pessoas constroem a cultura com
base em muitas e variadas autoridades concorrentes. Os dias
simples de Gênesis 1 e 2 já se foram. Agora, a tela cultural está
manchada com pecado e, até a eternidade, a cultura humana
não irá refletir novamente a vontade de Deus de forma perfei­
ta. Os adolescentes precisam crescer entendendo isso e sendo
preparados para isso.
Além de inevitável, a luta com a cultura é sempre moral.
As pessoas sempre interagem com o mundo em espírito de
submissão a Deus e a Sua Palavra ou em rebelião e dependência
de suas próprias mentes. A luta cultural lida sempre com o que
é certo e errado, verdadeiro e falso, bom e ruim, fé e incredu­
lidade e desejo humano ou vontade de Deus. O isolamento é
impossível. A assimilação na verdade é a aceitação da derrota.
Conforme afirmado anteriormente, precisamos encontrar um
caminho melhor.

Wacessíclau -í Krjteção
Podemos ver a influência na forma como nos vestimos.
Pouquíssimos de nós ainda usam paletó Nehru (com gola ca­
reca, como o que os Beatles usavam) com calças boca de sino
(não que eu esteja reclamando por isso!). Na verdade, poucos
de nós usam o mesmo estilo de roupas que usamos dez, talvez
154 CAPÍTULO NOVE

até cinco, anos atrás. O comprimento das saias sobe e desce e


a largura das gravatas vai de estreita a larga e a moda sempre
volta ao que era. Por quê? Quem nos diz que é hora de mudar?
Por que as roupas outrora consideradas atraentes parecem
estranhas e até ridículas agora? Você já olhou fotos em um
álbum de família e disse: "Não acredito que eu usava isso!"?
A moda é um exemplo evidente da influência da cultura. Ela
não só molda o que fazemos, mas a maneira como pensamos
e como vemos as coisas.
O exemplo que usei com meus filhos adolescentes para
apontar a influência traiçoeira da cultura que os cerca (e a nós
também) foi o ar. Assim como o ar que nós constantemente
respiramos, a cultura é o ar espiritual que nossos corações cons­
tantemente absorvem. Muitos dos poluentes do ar físico são
invisíveis. O mesmo acontece com a cultura. Creio que, como
pais, cometemos um grande erro em nossa tendência de en­
fatizar o óbvio (sexo, drogas, violência, aborto etc.), enquanto
negligenciamos os poluentes mais enganosos e invisíveis do ar
cultural à nossa volta. O resultado é que, embora nossos filhos
possam não tomar parte dos "grandes pecados", eles acabam
servindo aos ídolos da cultura circundante. (Consulte a Figura
1 para obter exemplos desses temas-ídolos, seu impacto sobre
os adolescentes e a alternativa bíblica.) Certamente, esses ídolos
devem ser mais temidos porque nos abatem sem ser vistos,
aparentando ser inofensivos e atraentes (leia Colossenses 2:1-8,
em especial o versículo 8). Eles também favorecem os desejos
da natureza pecaminosa, isto é, alimentam exatamente aquilo
que Deus, por Seu Espírito, busca destruir.
Outro erro que temos tendência a cometer como pais é
culpar o veículo e não enfatizar os temas-ídolos que os veícu­
los promovem. Vários veículos como governo, música, filmes,
revistas, educação, televisão e conversa fútil das pessoas nas
ruas, transmitem e promovem a filosofia da cultura. Nenhum
VIDA NO MUNDO REAL
155

desses veículos é mau ou perigoso em si mesmo. O perigo está


na maneira como eles são usados para promover as coisas. E
mesmo em um mundo decaído, eles são usados tanto para o
bem quanto para o mal. O importante não é "m assacrar" o
transmissor da mensagem. Devemos estar cientes do poder
da mídia de transmitir as idéias de uma cultura, mas são as
idéias que são perigosas e devem ser o foco de nossa atenção.
Por exemplo, m uitos pais cristãos não deixam seus filhos
adolescentes irem ao cinema para ver filmes censurados, mas
permitem que eles assistam por muitas horas às comédias de
situação da televisão (sitcoms), que transmitem aos nossos lares
as perspectivas, os relacionamentos e os valores da cultura que
nos cerca.
E neste ponto que a metáfora da poluição nos auxilia.
Quando há veneno no ar físico, as pessoas usam equipamentos
de proteção para filtrá-los. Da mesma forma, os adolescentes
precisam de filtros espirituais contra os venenos invisíveis do
ar cultural. Nossos filhos precisam da proteção oferecida por
uma visão bíblica do mundo e da vida e, como pais, desejamos
começar dando isso a eles logo nos seus primeiros momentos
de vida. Também desejamos ter olhos de fé para ver que toda
situação, relacionamento e problema de suas vidas é uma
oportunidade para repensar e aplicar cuidadosamente uma
visão bíblica da vida a situações concretas.

Conversando sofere Cultura com Adolescentes


A luz disso, não hesite em conversar, conversar e conversar
com seus filhos e filhas adolescentes. A adolescência não pode
ser uma época de distanciamento em seu relacionamento com
eles. Eles precisamp Á sua orientação como pai tanto quanto
precisaram até agora, portanto, devemos procurar estar com
eles. A seguir, sugiro algumas estratégias para períodos de
conversa.
156 Figura 1. Temas (ídolos) da Cultura M oderna

TEMA DEFINIÇÃO

R E L A T IV IS M O • N ã o h á p a d r ã o a b s o lu t o p a r a a v id a .

• C a d a p e s s o a d e t e r m i n a o q u e é c e r t o p a r a s i.

• 0 q u e é c e r t o m u d a c o n f o r m e a s it u ç ã o .

IN D IV ID U A L IS M O • N ã o h á o b j e t iv o m a i o r d o q u e m i n h a f e l i c i d a d e e p r a z e r .

• N ã o h á p r o p ó s it o m a io r d o q u e s u p r ir m in h a s p r ó p r ia s

n e c e s s id a d e s , v o n t a d e s , d ir e it o s e d e s e jo s .

E M O C IO N A L IS M O • O s s e n t i m e n t o s s ã o o s i n a l i z a d o r m a i s i n f lu e n t e e im p o r t a n t e

d a q u ilo q u e é c e r t o e m e lh o r.

• O s s e n t im e n t o s s ã o u s a d o s c o m o s is t e m a d e o r ie n t a ç ã o p e s s o a l.

IM E D IA T IS M O • F o c o n o p re s e n t e - v iv e - s e p a ra o m o m e n to .

• F o c o n a f e lic id a d e p e s s o a l a t u a l.

• N ã o h á s e n s o d e g r a t if ic a ç ã o e in v e s t im e n t o fu t u ro s .

M A T E R IA L IS M O • N ã o h á r e c o n h e c i m e n t o d o m u n d o e s p ir i t u a l.

• 0 o b j e t iv o d e v i d a é t e r p r a z e r f í s i c o e p o s s u i r b e n s m a t e r i a i s .

• F o c o n a q u ilo q u e s e p o d e v e r.

A U T O N O M IA • N ã o h á s e n s o d e r e s p o n s a b ilid a d e in a t a o u n a t u r a l a u m a

a u t o r id a d e s u p e r io r a s i m e s m o .

• N ã o h á r e c o n h e c im e n t o fu n c io n a l d a e x is t ê n c ia d e D e u s e d o

c h a m a d o p a r a v i v e r p a r a a S u a g ló r ia .

“V I T I M I S M O ” • N ã o h á s e n s o d e r e s p o n s a b ilid a d e p e s s o a l p e lo s a to s.

• C r e n ç a d e q u e o q u e s o u é fru t o d e m in h a e x p e r iê n c ia .

• M e u s d e fe it o s s e d e v e m à s o u t r a s p e s s o a s e à s s it u a ç õ e s

q u e f o g e m a m e u c o n t r o le .
157

FRUTO NO ADOLESCENTE ALTERNATIVA BÍBLICA

• N ã o h á c o n v ic ç ã o n e m c o n s is t ê n c ia d e e s t il o VERDADE: S u b m is s ã o e o b e d iê n c ia

d e v id a , v o lu n t á r ia s a o s m a n d a m e n t o s e

• N ã o h á r e s t r iç õ e s in t e rn a s . p r in c íp io s d a s E s c r it u ra s .

• S u s c e p t ib ilid a d e à in f lu ê n c ia d e o u t ro s .

• A v e rs ã o a re g ra s.

• E g o í s m o , i n t e r e s s e p r ó p r i o , f o c o n o s “d i r e i t o s ” . DOIS GRANDES MANDAMENTOS:


• F a lt a d e c o m p r o m i s s o c o m o u t r o s . V id a m o ld a d a p e lo c o m p r o m is s o

• P r e g u iç a e ir r e s p o n s a b ilid a d e p r á t ic o d e a m a r a D e u s e a o

• R e s m u n g o s e re c la m a ç õ e s p ró x im o .

• O a d o le s c e n t e é m o v id o p e lo q u e s e n t e s e r FÉ BÍBLICA: C o m p r o m is s o a t e s t a r

c e r t o - f o c o n o s b o n s s e n t im e n t o s . tud o s e g u n d o a s v e rd a d e s d a s

• R a ra m e n te a g e co n tra o q u e se n te . E s c r it u ra s .

• S e n s ib ilid a d e à a p r o v a ç ã o o u d e s a p r o v a ç ã o

d e o u tra s p e s s o a s .

• M e n t a l i d a d e “p r e c i s o t e r i s s o a g o r a ” . ETERNIDADE: C o m p r o m is s o

• N ã o h á f o c o e m in v e s t im e n t o s d e lo n g o p r a z o . p e s s o a l e m fa z e r tu d o o q u e fa ç o

• N ã o h á s e n s o d e c o n s e q ü ê n c ia s . c o m o s o lh o s v o lt a d o s p a r a a

• D e c is õ e s im p u ls iv a s . r e a lid a d e d a e t e r n id a d e .

• N ã o h á b u s c a in d e p e n d e n t e d a s c o i s a s d o ESPIRITUALIDADE: U m a v id a

S e n h o r. m o ld a d a p o r s e r ie d a d e n a s q u e stõ e s

• N ã o h á f o c o e m c a r á t e r e a t it u d e . d o c o r a ç ã o e n o r e la c io n a m e n t o

• F o c o e m r o u p a s , b e le z a , a m ig o s e c o is a s . com D eu s.

T e n d ê n c ia à r e b e liã o c o n t r a a a u t o r id a d e . EXISTÊNCIA: V i d a g u i a d a p e lo

N ã o h á f o c o r e a l e m d ir e ç ã o a D e u s n a v id a . r e c o n h e c im e n t o d o C r ia d o r e v id a

A a u t o r id a d e e a d is c ip lin a s ã o v is t a s c o m o p a r a a S u a g ló r ia ,

n e g a t iv a s .

P a d r õ e s r e g u la r e s d e t r a n s f e r ê n c ia d e c u lp a . PECADO: R e c o n h e c i m e n t o h u m i ld e

J u s t ific a r , r a c io n a liz a r o m a u c o m p o r t a m e n t o - d a lu t a c o n t r a o p e c a d o n o i n t e r i o r

a g ir d e f e n s iv a m e n t e . e c o m a t e n t a ç ã o n o e x t e r io r . G r a t i d ã o

F a lt a d e c o n f is s ã o . p e la g r a ç a p e r d o a d o r a d e C r is t o .

F a lt a d e s e n s o d e n e c e s s i d a d í í d e m u d a n ç a

p e s s o a l.
158 CAPÍTULO NOVE

Não espere que seu filho e/ou filha venham falar com você.
Aproxime-se de maneira amorosa, amigável e positi­
vamente. Os adolescentes que estão na defensiva não
falam espontaneamente e não ouvem com atenção.

Não aceite falta áe resposta. Dê continuidade ao "sim " e


ao "não". Faça perguntas que não possam ser respon­
didas por simples concordância ou discordância, mas
que exijam que revele o que está pensando, sentindo
e fazendo.

Seja positivo. Não aja como um detetive, à caça do que


houve de errado. O propósito dessas conversas não
é "apanhar" o adolescente no erro, mas ajudá-lo a
entender, desejar e fazer o que é certo. É tão comum
as conversas entre adolescentes e seus pais serem
negativas e desanimadoras para o adolescente.

Procure expor amorosamente os erros do pensamento do


adolescente sem fazê-lo sentir-se ignorante ou estúpido.
Ensine-o, de maneira positiva, a ver em que ponto
os poluentes de sua cultura foram inalados por ele.

Torne-se parceiro do adolescente na luta, compartilhando


com ele a sua própria luta para viver uma vida santa em
uma cultura ímpia. Reconheça os lugares onde você
foi influenciado. Peça ao adolescente que ore por você
quando prometer orar por ele nessa luta.

Direcione sempre o adolescente para Cristo, que mostra


misericórdia e graça nos momentos de necessidade e
que pacientemente continua a operar em nós até que
Sua obra esteja completa.

Lembre-se sempre de que você não pode proteger seus filhos


da cultura. A única estratégica eficaz é prepará-los para
VIDA NO MUNDO REAL 159

lidar com a cultura de maneira bíblica. Este compro­


misso de amor de sua parte levará anos.

j: - Por fim , siga o modelo do caráter de Cristo. Não caia em


discussões de poder verbal negativo. Rebata a ira, o
negativismo e as acusações com a força das palavras
suaves. Não agrida o adolescente com palavras, mas
ganhe-o com o mesmo amor demonstrado por Cristo.

Cluai üfluêficia da Cultura?

Você já ficou assustado com os trajes usados por seu filho


adolescente? Já reclamou do ritmo rápido e frenético de sua
vida? Alguma vez seu filho lhe pareceu falar em um dialeto
desconhecido? Alguém em sua casa trabalha quarenta horas
semanais, de segunda a sexta? Você já considerou aposentar-se
aos sessenta e cinco anos? Já questionou a sanidade de se forçar
um filho de dezoito anos a tomar decisões valiosas e cruciais
sobre carreira ao deparar-se com a faculdade? Já sucumbiu a
comprar o último modelo de aparelho de ginástica para no
fim vê-lo juntar poeira em algum quarto da casa? Seu filho
adolescente possui um walkman? O ano em que o adolescente
completa 16 anos é mágico em sua casa por ser o ano em que
ele pode obter a carteira de habilitação? Todas essas coisas
retratam a nítida influência da cultura moderna sobre a ma­
neira com que cada uma de nossas famílias pensa a respeito
da vida.

Se entendermos de que forma somos influenciados por


nossa cultura, poderemos ensinar nossos filhos adolescentes
a viver de modo sábio, alerta e redentor. Viver de modo sábio
refere-se à habilidade de aplicair os princípios das Escrituras
à tomada de decisões práticas no contexto de sua cultura. De
modo alerta significa viver ciente da filosofia "falsa e engana­
dora" da cultura e não ceder à tentação de servir a ídolos. De
160 CAPÍTULO NOVE

modo redentor significa não se satisfazer com o isolamento ou


com a vida protecionista, mas seguir o mandamento de Cristo
para ser "sal e luz" em um mundo corrompido e entrevado.

Insisto em que você não se conforme com a mera sobrevi­


vência em relação a seus filhos adolescentes. Agradeça a Deus
se eles não são sexualmente ativos e não usam drogas, mas
estabeleça um objetivo mais elevado. A vontade de Deus é
que eles sejam "participantes da natureza divina", fujam "da
corrupção que há no mundo, causada pela cobiça" (2 Pedro
1:4) e também que brilhem "com o estrelas no universo...no
meio de uma geração corrompida e depravada" (Filipenses
2:15).
A influência da cultura à nossa volta é muito mais pe­
netrante do que as imagens ofensivas óbvias encontradas na
televisão e nos filmes, nas revistas e na música. Ainda assim,
todos nós somos tentados a fazer dessas os pontos focais de
nossos debates e escaramuças com os adolescentes. As vezes
nós até reagimos negativamente às coisas culturais que os
adolescentes trazem para casa (música, moda) não porque elas
sejam moralmente corruptas, mas porque elas são diferentes da
cultura de nossa própria época de juventude. Dizemos: "Você
não vai pôr essa barulheira para tocar aqui!" (o que expressa o
sentimento exato que nossos pais tiveram em relação à nossa
música). Mas é moralmente errado meu filho gostar de uma
música que eu considero inaudível? Outras vezes, dizemos:
"Você não vai usar isso de jeito nenhum!" (o que expressa a
perplexidade de nossos pais diante das roupas que nós achá­
vamos bonitas). Mas é moralmente errado meu filho usar calças
tão grandes que ele consiga dar três passos antes que as pernas
das calças saiam do lugar?

Quando reagimos a questões de gosto da mesma forma


como reagimos às questões morais, depreciamos toda a questão
VIDA NO MUNDO REAL 161

cultural e enfraquecemos a influência positiva que podemos


ter com nossos filhos adolescentes. Precisamos aceitar que de
muitas formas eles serão diferentes de nós. A questão não é
se eles estão participando das coisas que são agradáveis a nós,
mas se eles estão envolvidos em coisas que são agradáveis a
Deus! Para tal, é preciso ter consciência das influências sutis e
penetrantes da cultura em que eles vivem.

A forte influência da cultura pode ser resumida em quatro


áreas. Tais áreas, quanto reunidas, resumem toda a vida. A
cultura influencia todas as áreas de sua vida de alguma forma.
É por isso que devemos ser vigilantes e ensinar os adolescentes
a também serem.

1. A cultura define o ritmo de vida. Você já reclamou por estar


muito ocupado ou por ter uma vida muito agitada? Quanto
tempo você tem para meditação ou reflexão pessoal? Quantos
momentos de atividade familiar você tem quando todos os
membros da família estão presentes? Você faz ao menos uma
refeição por dia com todos reunidos? Uma vez por semana?
Uma vez por mês? Você fica pensando sobre como você e seus
filhos poderão participar de todas as atividades planejadas da
igreja, da escola, dos esportes e das aulas de música? Você já
parou para pensar quem foi que disse para você viver dessa
forma? Você já desejou parar o mundo e desaparecer? O ritmo
de vida em nossa cultura está diretamente relacionado com o
que a cultura pensa que é importante. E resultado direto de
uma cultura que a aquisição e a realização como dois de seus
valores mais elevados.

A cultura influencia hão somente a nossa agenda diária,


mas a ordem dos eventos ^de nossas vidas também. Há uma
ordem de vida não expressa, mas obrigatória na cultura ociden­
tal. A ordem segue a direção do grande sonho, a aposentadoria
e o máximo em sucesso pessoal: a aposentadoria precoce. A
162 CAPÍTULO NOVE

ordem é escola até o ensino médio, faculdade, casamento,


moradia, carreira, promoção, moradia melhor, aposentadoria.
Certamente há variações, mas a semelhança é notável entre a
ordem de eventos das vidas da maioria das pessoas.

Quem definiu tal ordem para nossas vidas? Quais são os


seus pontos fortes e fraquezas? Como ela atrapalha o plano
revelado de Deus para nós? Onde ela tende a nos escravizar
mais do que a nos servir? Onde vemos que nós mesmos e
nossos adolescentes a seguimos cegamente?

Uma das coisas que gosto de fazer é entreouvir as con­


versas ao meu redor na fila do caixa do supermercado. Acho
tais conversas informativas e esclarecedoras, mesmo que eu
fique com dor no pescoço por tentar ouvir sem ser notado!
Ouvi dois homens mais velhos alguns meses atrás. Um disse:
"Ei, Joe, não tenho visto você ultimamente". "Eu me aposentei
no ano passado", Joe respondeu. "Deve ser legal", o amigo
respondeu. Joe disse: "Não sei por que fui fazer isso. Parecia
que era tudo de bom, mas eu odiei; estou enlouquecendo! Já
comecei a procurar emprego". "Nossa, Joe, você me jogou um
balde de água fria na cabeça", disse o amigo ao sair. Assim é a
influência da cultura. Ela dita as passagens convencionais da
vida, e nós muitas vezes as seguimos sem nem mesmo saber
por que tomamos as decisões que tomamos.

2. A cultura define a agenda da vida. Uma agenda é um pla­


no que revela o que estamos fazendo e por quê. Uma agenda
sempre expressa prioridades e valores. O planejamento de
uma vida é formado pela determinação daquilo que é de valor
e pelo estabelecimento de um plano para a sua obtenção. Em
qualquer cultura, a agenda da vida de uma pessoa expressará
o que é importante para aquela cultura. Se você tivesse que
relacionar as prioridades de nossa cultura, quais seriam elas?
Elas diferem muito de suas próprias prioridades? Em quê elas
VIDA NO MUNDO REAL 163

diferem das prioridades bíblicas?

Nossa cultura está sempre expressando sua perspectiva


sobre o que é importante, o que tem valor e o que é "verdadei­
ro". Por exemplo, quando o adolescente assiste a uma semana
de sitcoms, dram as, noticiários, program as de entrevistas
e programas de manchetes de revistas, sem nunca ouvir a
menção de Deus ou da Bíblia, a cultura está dizendo pode­
rosamente a ele o que é importante e o que não é. Imagine a
influência da televisão sobre o adolescente que a assiste três
horas por noite, vinte e uma horas por semana. Isso eqüivale
a quase 7700 horas de sua adolescência. Durante essas horas
de bombardeamento cultural, ele normalmente está relaxado
e não pensa de forma crítica. Respira o ar cultural pouco se
importando com a proteção. Seria o cúmulo da ingenuidade
pensar que ele pode permanecer imune à influência. A visão
de vida passada a ele irá influenciar a sua vida e o seu plano
de vida se ele respirar a cultura sem ser crítico e aceitar as suas
prioridades.

Quantas famílias cristãs se comprometem tanto com en­


sino, relacionamentos, comunhão e ministério de sua igreja
local, que recusariam uma promoção ou uma oferta de traba­
lho porque isso lhes afastaria do corpo de Cristo com o qual
estão comprometidos? A maioria das famílias cristãs agarraria
o emprego e esperaria poder encontrar uma "boa igreja" no
local para onde fossem. Uma das fraquezas da igreja ocidental
é que ela é tão transiente, que torna difícil o desenvolvimento
de relacionamentos e o reconhecimento de dons necessários
para que o povo de Deus possa realizar aquilo para o que tem
sido chamado. É errado mudar? Não, mas devemos tomar tal
decisão do ponto dêx vista dos valores bíblicos e não seguir
cegamente o que dita a èultura. Não ensinaremos nossos filhos
adolescentes a viverem de olhos abertos se não estivermos
164 CAPÍTULO NOVE

fazendo o mesmo.
3. A cultura define e molda os nossos relacionamentos. Coisas
como a visão que temos sobre a autoridade e o governo, sobre
o homem e a mulher e seus papéis, sobre as crianças e o lugar
delas na sociedade, sobre o relacionamento entre homens e
mulheres, sobre a sexualidade, sobre a família e o papel e a
importância dela na cultura e sobre os idosos são exemplos
das formas como a cultura molda os nossos relacionamentos.
Um exemplo da poderosa influência da cultura sobre
nossos relacionamentos é a redefinição radical da família que
ocorreu recentemente. Família já foi um termo usado somente
para descrever um marido (do sexo masculino) e uma esposa
(do sexo feminino) que fossem casados (um com o outro), e
seus filhos. Agora o termo tem uma variedade interminável
e desconcertante de significados. E tentador pensar que essa
redefinição radical de família nunca nos influenciará, mas não
é preciso ir muito além do vasto número de divórcios e famílias
onde há apenas o pai ou a mãe dentro da igreja para nos lem­
brarmos humildemente de que estamos sendo influenciados.
Para os adolescentes, a influência da cultura não é menos
poderosa. Há uma pressão em nossa cultura para que me­
ninos e meninas formem pares ("Vou sair com ...."). A esses
relacionamentos é dada forte ênfase física, que fica evidente
na razão por que uma pessoa é considerada atraente ("Ele
é tão m usculoso" ou "Ela é tão bonitinha") e na ênfase na
expressão sexual. (Uma música diz: "Anseio por seu toque.")
"Sexy" tende a ter mais destaque do que "m aduro". E, numa
cultura focada no aspecto físico, dizer que uma pessoa tem uma
agradável personalidade (que significa ser gentil, educado,
generoso, paciente etc.) é acabar com ela.
Outra evidência da influência da cultura sobre os rela­
cionamentos é o modo machista, confrontador e desafiador
VIDA NO MUNDO REAL 165

("vai encarar?") com que os meninos adolescentes tendem a


se relacionar uns com os outros. Esse rompante de ousadia
insultante e irreverente: "Eu faço o que eu quero" é inculcado
constantemente em nossos jovens rapazes por meio de uma
interminável corrente de eventos esportivos e propagandas que
apresentam heróis arrogantes que não respeitam a ninguém
e promovem a filosofia de que se você usar os sapatos certos,
tiver músculos suficientes, acreditar em si mesmo e estiver
seguro de que ninguém irá tentar lhe impedir, você pode ser
ou fazer tudo o que quiser. Acima de tudo, não se pode jamais
demonstrar timidez ou aparentar ou reconhecer ser fraco. O
estilo desafio-contra-desafio de relacionamento entre pessoas
do sexo masculino não só chegou às equipes esportivas mirins
de nossa cultura, como tem ditado o tom dos relacionamentos
nas ruas e em todas as esferas da vida. Seu materialismo, in­
dependência, arrogância individualista e pretenso poder não
poderiam ser mais apelativos à natureza do pecado. Observe o
adolescente se relacionar com seus colegas, irmãos, com você
e outras pessoas que exercem autoridade. Você consegue ver
a influência da cultura no estilo de relacionamento dele?

Nossa tarefa é nos certificar de que os estilos e regras de


relacionamento que promovemos a nossos filhos, por palavra
ou por exemplo, estejam de acordo com os padrões bíblicos
de relacionamento (leia Efésios 2; Romanos 12; Colossenses
2:12-14 e Mateus 5-7, o Sermão do Monte).

4. A cultura influencia poderosamente a nossa vida espiritual.


A cultura sempre exercerá influência sobre a vida religiosa
ou espiritual de uma pessoa. Não há meio termo aqui. Ou a
vida espiritual da pessoa molda a sua maneira de pensar e de
reagir à cultura, ou a vida religiosa ou espiritual da pessoa se
torna aculturada.

Mais uma vez, comece tomando ciência da posição de


166 CAPÍTULO NOVE

nossa cultura em relação a esses assuntos. Primeiro, a religião


tem sido virtualmente excluída do debate cultural. Os repre­
sentantes das instituições religiosas raramente são bem rece­
bidos quando questões culturais importantes são discutidas.
Segundo, muitas vezes a religião é apresentada pela mídia
popular de forma sutilmente negativa. Terceiro, a psicologia
tem o seu lugar como "religião" dominante de nossa cultura.
Ela define quem as pessoas são. Ela define o significado e o
propósito de nossa existência. Ela define o que é normal e o
que não é. Ela define por que as pessoas fazem o que fazem
e como as mudanças podem ocorrer. E eufemismo dizer que
essas coisas têm influenciado a igreja e as nossas próprias vidas
espirituais.
Nossos adolescentes precisam entender que não vivem
em um vácuo. Eles vivem em uma cultura que exerce influ­
ência em todas as áreas de suas vidas. E importante que eles
aprendam não só a se proteger dos poluentes da cultura, mas
também a influenciar a cultura com a verdade de Jesus Cristo.
Ao tentarmos prepará-los, precisamos ser humildemente ho­
nestos quanto às áreas em que nossos próprios estilos de vida
têm sido mais moldados pelas normas da cultura do que pelos
princípios bíblicos. Não podemos conduzir nossos adolescen­
tes a um estilo de vida consistentemente bíblico sem estarmos
dispostos a avaliar as áreas onde nossas próprias vidas estão
inconsistentes.

Reagiu Suituras Um Piau© p ara


n o s s o s à d e le sce rste s
Você se lembra dos Silva e dos Sousa? As famílias esco­
lheram estratégias radicalmente diferentes para lidar com a
cultura. Os Silva estão convencidos de que o isolamento é a
estratégia certa. Eles não percebem que é impossível escapar
da luta com a cultura, porque onde houver pessoas, haverá cul­
VIDA NO MUNDO REAL 167

tura. Eles não percebem que a cultura começa com o coração.


As instituições, a mídia, os relacionamentos e os produtos de
uma cultura são fruto daquilo que a sociedade anseia e serve.
A luta cultural é na verdade uma luta contra os desejos maus
do coração e, embora a separação às vezes seja a escolha certa
a fazer, um adolescente não estará a salvo somente porque
sua família evita locais físicos, situações, relacionamentos e
instituições da cultura a seu redor. Além disso, os Silva não
prepararam seus filhos para obedecer ao chamado de Cristo
para ser sal e luz em um mundo corrompido e entrevado.

A família Sousa olha para os Silva e está convencida de


ter encontrado uma maneira melhor de reagir à cultura. A
assimilação parece ser tão sensata para eles. Eles consideram
a maioria das coisas na cultura como neutras e não vêem mal
em permitir que seus filhos participem delas ativamente. Essa
visão equivocada da neutralidade os leva a um envolvimento
com a cultura que carece de análise ou avaliação. Assim como
os Silva, os Sousa não ensinaram seus filhos a agir como sal e
luz.
Os pais precisam lançar mão de uma terceira forma de
orientar seus filhos que não caia nos pontos fracos do isola­
mento ou da assimilação. Eu chamo essa terceira forma de
interação redentora.

O B JE T IV O 3 - Eftsiítamclf ■■■ > loiescen te a E n ten ­


d e r e a in te ra g ir so m Itura de
Form a Redentora
Este objetivo tem como propósito educar adolescentes que
sejam totalmente capazes de interagir com a cultura sem se
tornar escravizados a seus ídolos. E a meta da interação não é
obter prazer e a satisfação pessoal, mas redimir a cultura para
Cristo. Mateus 5:13-16 nos dá o fundamento bíblico para esta
estratégia.
168 CAPÍTULO NOVE

Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como
restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora
e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não se pode
esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também,
ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha.
Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a
todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante
dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao
Pai de vocês, que está nos céus.

Ao optar pela assimilação, a família Sousa perdeu o sal, e


em seu isolamento, a família Silva escondeu a sua luz. Quere­
mos ensinar nossos filhos a não fazer nenhuma dessas coisas,
mas a saírem, a se envolverem, protegidos pela verdade e
estando prontos para a redenção. A estratégia da interação re­
dentora tem dois objetivos fundamentais. Primeiro, queremos
que nossos adolescentes conheçam e entendam completamente
a verdade de Deus, para que se protejam da aculturação. Se­
gundo, queremos ensinar a eles o que significa, na vida prática
diária, viver a verdade tendo em vista o Pai celestial deles.

Estes dois objetivos nos provêm as faces interna, externa


e ascendente da vida cristã em um mundo decaído. A face in­
terna é um compromisso pessoal com a verdade que protegerá
os adolescentes das sutis mentiras e do engano dos ídolos da
cultura à nossa volta. A face externa corresponde a viver de
tal modo que mesmo quando não estejam verbalmente inte­
ragindo com a cultura, eles testemunhem à realidade de Jesus
Cristo por meio do modo como conduzem suas vidas. A face
ascendente demonstra tudo isso sendo feito para que as pesso­
as dêem a Deus, o Pai, a glória que é devida a Ele. Não temos
que ter medo de estabelecer objetivos elevados e não devemos
deixar a agenda ser definida pela reticência dos adolescentes.
Esses objetivos não serão realizados em um só tipo de situação,
VIDA NO MUNDO REAL 169

mas são executáveis conforme o Espírito Santo habilitar o seu


compromisso diário e fiel de usar as oportunidades que Deus
dá a você para preparar seus filhos adolescentes para serem o
povo de Deus.

Permita-me sugerir cinco estratégias para preparar seus


filhos adolescentes para interagir de forma redentora com a
cultura.

1. Preparar. O primeiro passo é instilar nos adolescentes


uma visão bíblica da vida. Muitas famílias realizam anos de
devocionais sem foco. O que os filhos recebem durante esses
períodos não é totalmente sem mérito, mas poderia ser muito
melhor se os pais tivessem como objetivo o instilar de uma
visão de mundo bíblica. Sem ela, os filhos acabam se fami­
liarizando com todas as histórias cristãs mais conhecidas e
obtêm visão doutrinária casual, mas nada disso é agrupado
em um sistema utilizável de verdade que reflita a maneira de
Deus de pensar sobre a vida. A meta de toda instrução bíblica
familiar deve ser que nossos filhos se tornem "plenamente
preparado(s) para toda boa obra" (2 Timóteo 3:17). Tudo o
que aprendemos das Escrituras deve ser incorporado a um
sistema bíblico de pensar. Isso pode ser realizado quando
várias perguntas são feitas de uma vez:

J O que a passagem nos ensina sobre Deus, Seu caráter


e Seu plano?

§í O que aprendemos sobre nós mesmos, nossa nature­


za, nossa luta e sobre o propósito para nossas vidas?

Q que a passagem nos ensina sobre certo e errado,


bom e ruim e verdadeiro e falso?

Is - Que instrução temos aqui sobre relacionamentos,


amor, autoridade etc.?
170 CAPÍTULO NOVE

)i»& O que a passagem nos ensina sobre a vida, seu signi­


ficado e propósito?

O que a passagem nos ensina sobre o homem interior,


o coração e a maneira como ele funciona?

/ O que aprendemos da passagem que orienta nossa


maneira de viver e de tomar decisões?

' Como a passagem nos ajuda a entender e criticar a


nossa cultura?

Ao ensinarmos nossos filhos a fazer e a responder tais


perguntas, mostraremos a eles como usar o que eles lêem na
Bíblia para pensar sobre as situações práticas de suas vidas.
Conhecer a verdade irá ajudar nossos adolescentes a aprender
a estar "no mundo, mas a não ser do m undo" (leia a oração de
Cristo em João 17:15-18).

2. Teste. Nesta etapa, ensinamos os adolescentes a criticar,


avaliar, interpretar e analisar a cultura ao seu redor da pers­
pectiva bíblica. É por isso que eles devem primeiro estar bem
fundamentados no conhecimento da verdade bíblica.

É aqui que muitos pais cristãos tomam a decisão que parece


correta na superfície, mas que creio ser totalmente errada se a
intenção é preparar os adolescentes para serem uma influência
redentora na batalha contra a cultura. Assim como os Silva,
muitos pais cristãos tentam ao máximo manter a cultura que
os cerca fora de seus lares (fitas cassete, CDs e vídeos). Assim
procedendo, eles perdem uma oportunidade maravilhosa e
focada de ensinar seus filhos a usar a visão bíblica da vida
para entender e criticar a cultura.

É importante nem sempre dizer não aos pedidos de seu


filho, mas convidá-lo a trazer o item desejado para casa, sentar-
se para assistir e ouvir com ele, envolvê-lo numa discussão
VIDA NO MUNDO REAL 171

de conteúdo e depois compartilhar a sua avaliação. Ajude o


adolescente a entender o que torna o item atraente (o artista,
a mensagem, a música, o visual, a ação, a pressão dos colegas
etc.). Depois, a maneira mais fácil de criticar o item é aplicar
a ele o mesmo grupo de perguntas que tem sido usado para
estudar a Bíblia em seus devocionais familiares.

Uma grande tentação para os pais é exagerar na reação


a essas questões de gosto que realmente não são o foco da
crítica. Por exemplo, resista ao desejo de argumentar que o
que ouviram na verdade não é música, ou pelo menos não
é como a música de sua época. Não inicie discussões sobre
roupas, cabelo e bijuterias. A intenção é atingir o coração do
problema, ou seja, qual é a visão de vida (veja as perguntas
acima) promovida por aquele item? Tudo o que se pode ver
em seu exterior são expressões do coração do artista, diretor
ou produtor e o importante é gastar tempo observando isso.

Sempre, ao aproveitar a oportunidade de ir ao cinema ou a


shows com os adolescentes, de ouvir música em casa ou alugar
e assistir aos vídeos com eles, você estará obtendo o máximo
benefício de uma oportunidade imensa de criar adolescentes
que consigam aprender a pensar com clareza bíblica e cultural.
A televisão também fornece grandes oportunidades. A sitcom
aparentemente inofensiva irá sutilmente promover os ídolos
da cultura ao redor. É importante expor esses temas encobertos
a seus filhos. Nosso objetivo é sensibilizá-los a serem alertas e
vigilantes. Desejamos que se tornem perspicazes e sábios, então
procuramos ter oportunidades que produzam tais resultados.
Estamos interessados em mais do que protegê-los; queremos
que eles influenciem a cultura de forma redentora e que tragam
glória a Deus ao fazê-lo.

3. Identifique. Aqui ensinamos nossos filhos a reconhecer o


que existe em comum entre as pessoas. As lutas da vida neste
172 CAPÍTULO NOVE

mundo decaído são a experiência universal de todos os seres


humanos. Os gritos do irado cantor de rock são também os
nossos gritos. A diferença está na maneira como interpretamos
e reagimos a essas lutas. Na música rock moderna, ouvimos
os gritos de raiva, medo, decepção e solidão. Ouvimos sobre
desilusão e desconfiança. Ouvimos sobre a busca do amor
verdadeiro, a quebra de confiança, a amizade traída, a família
e o governo. Ouvimos sobre paixões sensuais, ganância, ego­
ísmo e hipocrisia. Temos coisas em comum até com o cantor
que mais nos ofende, e que representa as próprias coisas das
quais queremos proteger nossos filhos. Nossas famílias têm
falhado, promessas não têm sido cumpridas, temos agido com
ganância, vemos o governo e a igreja falharem. Nossa fé tem
sido desafiada e nossas esperanças, frustradas. Nós e o mun­
do temos sido quebrantados pelo pecado, e todos nós temos
sentido a dor. Na verdade, essa é uma das razões porque tal
material é tão atraente para nossos filhos. Quer nos sintamos
à vontade em admitir ou não, tais cantores, escritores e direto­
res dão voz aos gritos de nossos próprios filhos, que também
têm experimentado as realidades brutas da vida no mundo
decaído.

Isso é importante. Muitos cristãos acreditam na mentira


de que não têm nada em comum com a sua cultura. Toda­
via, se olharmos para nosso próprio pecado e para o fato de
pecarem contra nós, iremos humildemente reconhecer que a
experiência e o sofrimento são compartilhados por todos. É o
reconhecimento do que temos em comum que nos leva a mi­
nistrar à cultura. E somos chamados para levar a mensagem
do Evangelho aos pontos comuns.

Pretendemos educar adolescentes que tenham aprendido a


se identificar com a sua cultura, não concordando com as suas
interpretações e reações, mas identificando-se com a sua luta e
VIDA NO MUNDO REAL 173

reconhecendo com humildade por que essas reações parecem


lógicas para algumas pessoas que não conhecem a Cristo e a
Sua Palavra. ("O mundo está destruído, então, vamos ficar
com raiva!" "O mundo está destruído, então, vamos cair na
farra!" "Cuide de si mesmo e aproveite tudo ao máximo.")
Identificar-se significa reconhecer os pontos comuns. Quando
ensinamos nossos adolescentes a reconhecerem humildemente
a sua própria luta para viver neste mundo decaído, eles cons-
troem plataformas de ministério à cultura.

4. Decida. Queremos ensinar nossos filhos adolescentes


a reconhecer quando podem ser participantes redentores de
sua cultura e quando devem se apartar dela. As Escrituras
nos ensinam a fazer ambas as coisas, embora também des­
crevam como o povo de Deus tem lutado com essa questão
da participação-separação (leia 1 Coríntios 8, 10; 2 Coríntios
6:14-18; Romanos 14).

Como pais cristãos, dispomos de muitas formas de ajudar


nossos filhos a lidar com tais questões. Não se contente em
simplesmente dizer não. Não diga: "Você vai fazer isso porque
eu disse para fazer e ponto final!" Não discuta em voz alta por
causa das atividades propostas para a sexta-feira à noite. Cal­
mamente, ajude seu filho a aprender a ponderar tais decisões.
Exija que ele participe da discussão e da ponderação. Muitos
pais não só protegem os adolescentes do mundo, mas também
impedem que eles se envolvam no processo de tomada de de­
cisão. Ao fazê-lo, esses pais os deixam despreparados para as
milhares de decisões que eles terão que tomar quando adultos.
Momentos assim são oportunidades de preparar o adolescente
para reagir com sabedoria bíblica às muitas escolhas que terão
de fazer adiante.

5. Redima. Neste ponto, ensinamos nossos adolescentes


a testemunhar as boas novas de Cristo, recuperando assim o
174 CAPÍTULO NOVE

terreno perdido para o mundo. Deus ordena que tenhamos voz


na cultura não só para sermos negativos, não só para estarmos
sempre falando contra algo. O objetivo é declarar positivamente
o que Deus tinha em mente quando estabeleceu as coisas no
principio, fazer parte da reconstrução da cultura da maneira
Dele, e proclamar que essa reconstrução só pode ser realiza­
da por pessoas que estejam vivendo em um relacionamento
adequado com Deus por meio de Cristo Jesus.

Nunca se pretendeu que a igreja de Jesus Cristo, a família


cristã, existisse como um gueto isolado no meio de uma cultura
entrevada e decadente. Somos chamados por Cristo para ser
participantes do mundo como Seus agentes de redenção.

Assim, é necessário que preparemos os nossos adoles­


centes. Precisamos treiná-los na verdade, ensinando a eles
habilidades avaliativas e analíticas. É preciso dar exemplo de
como pensar e interpretar a vida biblicamente. Precisamos
envolvê-los no processo de tomada de decisão. Precisamos
ensiná-los a reconhecer os pontos comuns e a responder aos
clamores da cultura na língua que ela entenda. Precisamos
ensiná-los a reconhecer os ídolos que estão por trás do que a
cultura produz. E preciso ensiná-los a participar de debates
culturais, a se tornarem pessoas de influência e a serem re-
construtores. E precisamos ensiná-los a fazer tudo isso sem
dar chance ao isolamento farisaico ou ao comprometimento
pessoal da assimilação.

E estimulante saber que nós podemos fazer isso sem temor.


Deus nos deu a Sua Palavra, nos encheu com o Seu Espírito e
nos cercou com os recursos do corpo de Cristo. Ele nos dará
oportunidades diárias de envolver nossos filhos em conver­
sas produtivas e enriquecedoras sobre a natureza e as lutas
do mundo e a natureza das lutas de seus próprios corações.
Felizmente, não estamos sozinhos. Ele está conosco, dando-
VIDA NO MUNDO REAL 175

n os tudo de que precisamos para produzir adolescentes que


enfrentem o mundo com mais do que uma mera lista do que
devem ou não fazer.

Com esperança, nós podemos nos manter firmes em nosso


objetivo de educar adolescentes que sejam capazes de pensar
biblicamente, de entender a sua cultura e de lidar com qual­
quer coisa que dela resulte a partir de uma perspectiva bíblica.
Esses adolescentes se tornarão adultos que sabem quando se
apartar e quando se envolver. Eles saberão quando destruir e
como reconstruir. Serão pessoas de influência. Serão sal e luz.
Um Coração Voltado
Para Deus
ANTES que eles viessem ao mundo, já tínhamos sonhos
para eles. Antes de nos casarmos, falávamos sobre ter filhos,
quantos gostaríamos de ter, como os educaríamos e o que de­
sejávamos para eles. Lembro-me da alegria que senti quando
soube que havia um bebê crescendo no interior de minha
esposa. Lembro que colocava as mãos no ventre dela, pois a
única conexão que me era possível fazer com meu filho era
quando eu conseguia senti-lo se mexer ali.

Lembro-me de que ia para o trabalho e ficava pensando


nele. Quem ele ou ela seria? Como seria a aparência daquele
pequeno ser? Ele seria fisicamente normal? O que ele seria:
estudioso, pregador, atleta, mecânico? Ela teria uma boa car­
reira, iria para o campo missionário, encontraria um homem
íntegro para se casar - como seria a sua jornada? Lembro-me
do momento em que nosso primeiro filho nasceu e que, ao
pegá-lo nos braços, senti o choque estrondoso entre uma ale­
gria absoluta e um terrível medo dentro de mim. Ele estava
ali, saudável, vivo e acabado de nascer! Tínhamos um filho!
Contudo, naqueles momentos, fui confrontado com a extensão,
a importância, a imponência e responsabilidade daquela tarefa.
Eu era o pai! Ninguém mais estaria na posição de sua mãe e
eu. Deus nos havia escolhido para ser os principais agentes
de amor, cuidado, instrução e treinamento.
UM CORAÇAO VOLTADO PARA DEUS 177

Naqueles primeiros anos de sua vida, tivemos sonhos,


conversas, compramos livros e oramos. A ele, nós amamos,
embalamos, alimentamos, instruímos, brincamos, disciplina­
mos e oramos. Durante anos, tivemos longas horas de trabalho
árduo. Tivemos milhares de conversas sobre o que se passara
no dia quando ele chegava da escola. Houve milhares de mo­
mentos de instrução. Houve milhares de períodos de consolo
e encorajamento. Houve uma corrente de natais e férias que
vieram e se foram.

Houve milhares de primeiros e últimos. Entre nós, muitas


foram as conversas tarde da noite, depois de ele ter ido para a
cama. Oramos com ele e por ele. Nós o instruímos diariamente
na Palavra e o levamos a locais onde outras pessoas também
o faziam. Mas, mesmo com tudo isso, não éramos os pais que
pretendíamos ser. Houve vezes em que nossos olhares foram
de irritação, nossas palavras, hostis, nossos silêncios, incômo­
dos. Fizemos muitas coisas, mas nenhuma delas de maneira
perfeita. Em tudo isso, fomos confrontados com nossas fra­
quezas e os recursos sempre presentes da força de Deus.

Dissem os "n ão" e "sim " inúmeras vezes. Compramos


roupas, skates, livros e móveis. Nós o matriculamos em escolas
e o tiramos de outras. Sentamo-nos com ele em seu quarto
inúmeras vezes e tivemos conversas sobre coisas realmente
importantes. Conhecemos e recebemos seus amigos em nossa
casa. Cumprimentamos namoradas e ouvimos histórias de
chefes difíceis de lidar. Passamos por projetos de ciências e
vestibulares.
Trabalhamos continuamente. Oramos sem cessar, muitas
noites indo a seu quarto enquanto ele dormia, colocando as
mãos sobre ele, e mais uma vez o entregando ao Senhor. E nós
fizemos todas essas coisas novamente com cada um de nossos
filhos.
178 CAPÍTULO DEZ

O que estávamos fazendo? Simplesmente percorrendo as


passagens da vida em família? Qual era o nosso objetivo? Qual
era o nosso foco? O que queríamos produzir?

M ossa Meta mais E levad a


Todos nós temos desejos em relação a nossos filhos. Que­
remos que tenham um bom nível de instrução, um emprego
satisfatório, um casamento de muito amor e que tenham seus
próprios filhos saudáveis, uma boa casa e uma vida que não
seja arrasada pela tragédia. Mas qual é o desejo central que
dá foco a todos os esforços e sonhos? Se nós pudéssemos de­
sejar apenas uma coisa para nossos filhos, o que seria? Mais
do que casas, carros, empregos e cônjuges, mais importante
do que localização e situação, que tipo de pessoa temos nos
empenhado tanto em produzir? Mais do que onde eles estão
e do que irão fazer, o que desejamos que eles sejam?

Davi capta o que deve ser o foco de suma importância de


todos os nossos esforços como pais ao descrever seus próprios
desejos.

Uma coisa pedi ao SENHOR;


é o que procuro:
que eu possa viver na casa do SENHOR
todos os dias da minha vida,
para contemplar a bondade do SENHOR
e buscar sua orientação no seu templo. (Salmo 27:4)

Como é agradável o lugar da tua habitação,


SENHOR dos Exércitos!
A minha alma anela, e até desfalece,
pelos átrios do SENHOR;
o meu coração e o meu corpo
cantam de alegria ao Deus vivo.
até o pardal achou um lar,
UM CORAÇÃO VOLTADO PARA DEUS 179

e a andorinha um ninho para si,


para abrigar os seus filhotes,
um lugar perto do teu altar,
ó SENHOR dos Exércitos, meu Rei e meu Deus.
Como são felizes
os que habitam em tua casa;
louvam-te sem cessar!
M elhor é um dia nos teus átrios
do que mil noutro lugar;
prefiro ficar à porta da casa do meu Deus
a habitar nas tendas dos ímpios. (Salmo 84:1-4, 10)

O que Davi expressa na linguagem vivida do Antigo Testa­


mento é um coração voltado para Deus. Sobre todas as coisas, esse
é o objetivo de nossos esforços como pais. Essa é a qualidade
que desejamos ver em nossos adolescentes ao se prepararem
para deixar o lar. Essa qualidade dará foco divino a todas as
suas outras qualidades de caráter e a suas vidas também. Não
podemos nos permitir elevar alguma outra qualidade acima
desta. Não podemos estar tão ocupados para investir em vê-la
se desenvolver. Não podemos seguir as normas culturais que
elevam a instrução e a carreira muito mais do que qualquer
outra coisa; a Bíblia diria que a pessoa que vive somente para
obter sucesso nessas coisas é tola. O objetivo de ter o coração
voltado para Deus reflete o propósito de nossa criação como
seres humanos. O Breve Catecismo de Westminster diz bem:
"o fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e
gozá-lo para sem pre".

E possível que para muitos de nós tal objetivo pareça


irrealistamente alto. Acostumamo-nos a nos sentir bem porque
o adolescente concorda em ir à igreja sem iniciar uma briga,
ou porque seu comportamento é quase respeitoso pela casa.
Entretanto, esse é o objetivo de Deus para cada um de nós;
180 CAPÍTULO DEZ

podemos nos contentar com menos do que isso para nossos


filhos? Talvez esse objetivo pareça irrealista para nossos
adolescentes por não ser a meta que temos estabelecido para
nós mesmos. Não temos fé para tentar atingi-lo para eles
porque não o temos visto como possibilidade para nós mesmos.

< JB J£ lil ;ü"0 ■'! I w . , ' envolvendo no A d o le s c e n te


iiiti C o ra ç ã o V oltad o para Deus

É uma triste realidade que muitos filhos deixem seus lares


cristãos sem ter um coração voltado para Deus. Eles podem
professar que são cristãos e certamente não são ateus, mas têm
um modo mundano de encarar a vida. Há pouca evidência
de sede de Deus em sua vida diária. Esses filhos não negam
a Deus conscientemente, mas outras coisas têm substituído o
governo funcional Dele. O amor de Deus foi substituído pelo
amor a outras coisas. Mesmo que não sejam manifestamente
rebeldes, no nível do coração, há um amor maior pelo "m undo"
do que pelo "Pai" (1 João 2:15). Eles têm adorado e servido às
coisas criadas e não ao Criador (Romanos 1:25).

© qu@ llosjwe de Errad©?


Por que essa situação é tão comum? Se o Senhor é o foco
central de nossas vidas, por que esse valor não é passado a
nossos filhos? A pergunta atorm enta muitos pais cristãos
prostrados pela dor, mas creio que seja uma pergunta que
todos nós deveríamos fazer. Todos nós devemos sondar os
nossos corações e examinar as nossas vidas fam iliares quando
a fazemos. Sugiro algumas possíveis respostas à pergunta.

1. A primeira resposta é fam iliariâaâe. Um antigo ditado


diz: "a familiaridade cria desprezo". Como seres humanos
decaídos, tendemos a achar normais e garantidas as coisas
que têm sido parte constante de nossas vidas. No reino físico,
não vivemos com um senso de apreciação pela abundância de
UM CORAÇÃO VOLTADO PARA DEUS 181

alimento, roupa, moradia e saúde que desfrutamos na cultura


ocidental. Somos incrivelmente ricos pelos padrões do restante
do mundo, contudo, não vivemos com senso de privilégio. Na
verdade, nós freqüentemente murmuramos e nos queixamos
porque não achamos que temos o suficiente! Um de nossos
adolescentes abre a porta de uma geladeira totalmente cheia e
lamenta que não há nada para comer! Foi somente após viajar
para países do Terceiro Mundo que eu recuperei meu senso
de privilégio e conseqüente gratidão.

Essa dinâmica está certamente presente no reino espiritual


também. De alguma forma, precisamos ultrapassar a habitua-
lidade que caracteriza o cristianismo para nossos adolescentes.
Precisamos ajudá-los a reconhecer o gracioso privilégio que é
nascer em uma família da fé. Precisamos ajudá-los a ver que
a "norm alidade" de seus lares cristãos é tudo menos normal
neste mundo. Ao contrário, ele é o ato de um Deus soberano e
amoroso, que literalmente utilizou as forças da natureza e do
curso da história humana para que nós viéssemos a conhecer
a Ele e a Sua verdade. Além disso, nossos adolescentes pre­
cisam ver que Ele continua presente, diariamente operando
em nós para que nós não desviemos e para que nós vivamos
tendo a Sua glória como nosso máximo objetivo. Precisamos
destacar fielmente a Sua existência e poder e as evidências de
Suas mãos em ação. Não podemos permitir que nós mesmos
ou que nossos adolescentes se esqueçam do mais glorioso fato
de nossa existência: que Deus é de fato real, que Ele é glorioso
em poder e bondade e que Ele nos fez para sermos Seus filhos!
Jamais haverá algo mais importante ou maravilhoso do que
isso.

Teremos falhado para com nossos filhos se não fizermos


tudo o que pudermos para que eles deixem o lar com um
senso de reverência e temor a Deus e às glórias de Sua graça.
182 CAPÍTULO DEZ

Não podemos relaxar se nossos adolescentes não tiverem


gosto no conhecimento de Deus, em ser amados por ele e em
ser escolhidos com a finalidade de viver para a Sua glória.
Precisamos reconhecer humildemente que uma razão pela
qual não temos transmitido isso a eles é a possibilidade de
nós mesmos termos perdido isso. Muitos de nós nos tornamos
"cegos, vendo somente o que está perto, esquecendo-nos da
purificação dos nossos antigos pecados" (2 Pedro 1:9). Nossos
filhos adolescentes não entenderão que a redenção é um dom
e um privilégio se nós mesmos não a apreciarmos.

Muitos de nós precisamos ouvir essas palavras não apenas


com coração humilde e convicto, mas com um coração que
encontre conforto no perdão que Cristo comprou. Nosso Re­
dentor não só convence, como perdoa. Não só perdoa, como
liberta. Não só liberta, como restaura. Isso tudo é oferecido a
você como pai cristão. A obra de Cristo por nós significa que
nós não temos que viver paralisados pelo arrependimento.
Nós confessamos os nossos pecados; Ele perdoa e liberta. Ao
prosseguirmos em fé, Ele faz mais do que nós poderíamos
pedir ou imaginar pelo poder de Seu Espírito que está em nós.
O Evangelho nos permite olhar para trás em paz e para frente
em esperança.

2. A segunda resposta tem a ver com o estilo de vida. Deu-


teronômio 6 prefigura um estilo de vida onde os pais estão
com os filhos. ("Converse sobre elas quando estiver sentado
em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se
deitar e quando se levantar" [v.7].) Na antiga cultura agrária,
a família estava junta o tempo todo. Os pais orientavam seus
filhos nas habilidades práticas, nas visões da vida e nas ques­
tões da fé. O lar e a propriedade da família eram o foco das
vidas e das atividades familiares. No pequeno negócio familiar
ou na agricultura familiar, quando havia uma necessidade ou
IJM CORAÇÃO VOLTADO PARA DEUS 183

crise na família, o trabalho dava espaço à necessidade pessoal


do momento. Os membros da família estavam fisicamente
presentes uns com os outros a maior parte do tempo. Os pais
daquela cultura falavam com seus filhos literalmente da hora
em que se levantavam até o momento em que iam dormir.

É importante reconhecer que o estilo de vida familiar tí­


pico da atualidade difere radicalmente da vida do lar que era
a norma quando Deuteronômio foi escrito. Com a revolução
industrial e a ascensão da educação moderna, o lar e a proprie­
dade familiar passaram a não ser mais o ponto focal das vidas
dos membros da família. Na verdade, os membros da família
raramente passam tempo juntos. Nossos lares parecem mais
hotéis, aonde todos nós chegamos para dormir à noite, e de
onde cada um parte em diferentes direções na manhã seguinte.
Vá a um shopping center e note como são poucas as famílias que
estão juntas. Olhe ao redor no culto de adoração em sua igreja
e observe como a maioria das famílias nem sequer se sentam
juntas. O ponto não é que nós devamos exigir que nossos filhos
estejam conosco todas as horas do dia, ou que devamos desejar
que tivéssemos sido pais há 150 anos. Devemos simplesmente
reconhecer que a palavra que captura o estilo de vida da família
moderna não é união, mas separação.

O significativo grau ao qual a maioria das famílias moder­


nas leva vidas separadas certamente afeta a nossa habilidade
de com unicar tem or redentor a nossos filhos. Depois dos
cinco ou seis anos, a maioria deles irá passar a maior parte
das horas do dia fora de casa. Ao amadurecem e começarem
a desenvolver amizades, a participar de atividades externas e
a procurar emprego, o tempo gasto fora do lar (e longe da in­
fluência orientadora dos pais) só aumentará. Em nossa cultura,
é quase considerado estranho um adolescente passar tempo
com os pais. Quando famílias são vistas juntas, normalmente
184 CAPÍTULO DEZ

é porque há crianças menores. E na cultura norte-americana,


aos dezoito anos (que raramente é a idade em que a maioria
atinge a plena maturidade!) a maior parte dos adolescentes sai
de casa para estudar em alguma faculdade distante e nunca
mais volta a morar com Mamãe e Papai.

Permita-me dizer que não estou sugerindo que todos nós


devamos adotar o sistema de escola em casa e proibir que
nossos filhos trabalhem, participem de atividades externas ou
partam para faculdades distantes. Nós simplesmente precisa­
mos reconhecer que o estilo de vida da separação afeta a nossa
habilidade de educar nossos adolescentes da maneira como
Deus nos chamou a fazer. Se pretendemos preparar nossos
filhos para a idade adulta, precisaremos ter foco e disciplina.
Precisaremos criar oportunidades de conversar informalmente
com nossos adolescentes sobre aquilo que é importante. Preci­
saremos avaliar as escolhas que fazemos para nossas famílias
e até que ponto as ocupações serão permitidas como norma.
Você simplesmente não pode orientar, pastorear, discipular
ou desenvolver filhos de quem raramente está perto.

Para alguns de nós, isso significará desligar a televisão.


Para outros, compartilhar muito mais da vida pessoal e do
coração com os filhos. Para alguns, significará simplificar o
estilo de vida e para outros, esforçar-se mais para conversar
diariam ente com cada filho, ir ao quarto do adolescente,
mostrar interesse em sua vida, e falar sobre a própria vida.
Para alguns de nós, significará viajar menos e focar menos no
desenvolvimento da carreira. Para alguns, significará confes­
sar o próprio egoísmo, por levar uma vida fechada e isolada
com a sempre disponível desculpa de estar muito ocupado.
Para todos nós, significa perguntar se transmitimos aos filhos
adolescentes o amor a Deus e o compromisso de viver para
a Sua glória. Se isso não aconteceu, significa perguntar se o
UM CORAÇAO VOLTADO PARA DEUS 185

excesso de atividades e o fato de estar separado são parte do


motivo.
3. A terceira resposta à pergunta sobre por que não temos
transmitido a nossos filhos a apreciação por Deus é difícil
de encarar, mas deve ser considerada. Trata-se da hipocrisia.
Os filhos cujos pais vocalizam um forte compromisso com a
fé, mas não vivem de forma consistente com ela, tenderão a
desprezar tal fé. Viver consistentemente com a fé não significa
levar uma vida perfeita, mas viver de modo que revele que
Deus e a Sua Palavra são as coisas mais importantes para você.
Um pai assim pode até honrar a Deus no erro, com humildade
na confissão e determinação para mudar (arrependimento).

Pais que falam sobre o pecado, mas vivem de forma fari-


saica ("No meu tempo..." "Eu acordo e vou para o trabalho
todos os dias, e você não me vê reclamando!") estão funcio­
nalmente negando o Evangelho. Pais que falam sobre o amor
sacrificial de Cristo, mas vivem de maneira egoísta ("Quem
pegou meu jornal?" "Desligue essa barulheira infernal, essa
música está me deixando louco!") estão funcionalmente ne­
gando o Evangelho. Pais que falam sobre a graça de Cristo,
mas condenam verbalmente ao disciplinar seus filhos ("Você
nunca será ninguém na vida." "O que está tentando fazer, vê
quantas coisas estúpidas você consegue fazer em um dia?")
negam funcionalmente o Evangelho.

Pais que falam sobre o perdão de Cristo, mas vivem com


ira e espírito rancoroso em relação aos filhos ("Saia da minha
frente! No momento não consigo nem olhar para você." "Da
próxima vez que você quiser algo de mim, lembre-se de como
me tratou hoje!") negam funcionalmente o Evangelho. Pais que
falam em buscar o Reino de Deus, mas que se deixam levar
pelo materialismo da cultura ocidental (viver para obter rou­
pas melhores, uma casa melhor e maior, carro e férias) negam
186 CAPÍTULO DEZ

funcionalmente o Evangelho. Deus nos chama a levarmos vidas


que sejam dignas do Evangelho que recebemos (Efésios 4:1).
Se não o fizermos como pais, nossos adolescentes tenderão a
descartar ou até desprezar o próprio Evangelho que dizemos
ser de suma importância. Eles tenderão a rejeitar o Deus que
nós tão mal representamos e eles, também, acabarão por servir
aos ídolos da cultura ao redor (leia Juizes 2:6-15).

'.'icíTide s e u c o r a ç ã o

Como você reage ao que estou dizendo? Fica na defensiva?


Envergonhado? Desanimado? Não fique! Isso também é negar
funcionalmente o Evangelho. Se você vê seus pecados e falhas,
não é preciso se justificar a mim, a seu filho ou a Deus. Você
não tem de viver com o pesado fardo do remorso, nem ficar
tentado a desistir. O Evangelho traz esperança não só para
seus filhos, como também para você, em relação a si mesmo.
Cristo o convida amorosamente a se arrepender e a deixá-Lo
fazer uma nova obra em sua vida.

Como pais, precisamos estar dispostos a sondar nossos


corações e a examinar nossas vidas. Precisamos estar dispostos
a confessar e a nos arrepender do modo como nossas vidas
têm contradito as nossas palavras a respeito do que há de mais
importante para nós. E precisamos confessar nossos pecados,
não com sentimentos de tristeza pela derrota e fracasso, mas
reconhecendo alegremente que há perdão e libertação em
Cristo! Ele, que nos perdoa, também nos move a levar um
novo estilo de vida!

Se você olhar para si mesmo e disser: "Sim, a vida que levo


perante meu filho adolescente é, de muitas formas, uma con­
tradição ao Evangelho", não pense que não existe esperança.
Aproxime-se dele e confesse, dizendo: "Sabe, filho (ou filha),
a forma como tenho vivido e reagido a você tem muitas vezes
UM CORAÇÃO VOLTADO PARA DEUS 187

contradito aquilo que tenho ensinado você a fazer e a forma


como Deus tem respondido a mim. Sei que isso tem muitas
vezes desanimado você e feito você ficar bravo. Sei que eu
tenho sido agido de modo farisaico, ríspido, condenatório e
rancoroso. E estou aqui para pedir perdão. Percebi que, como
seu pai, não tenho representado a Deus muito bem. Peço que
ore por mim, e incentivo você a vir conversar comigo sempre
que achar que reagi de modo hipócrita ou ríspido. Eu me
comprometi diante de Deus a viver de forma que torne a Sua
Pessoa e a Sua Palavra atraentes para você e seus irmãos e
irmãs. Por favor, ore por m im ."

Estou convencido de que essas são palavras de cura que


Deus pode usar para fundamentalmente alterar a apreciação
que seu adolescente tem por Deus. Nunca é tarde demais para
confessar e se arrepender! Não ceda ao derrotismo. Reconheça
que Deus é capaz de restaurar o que a locusta tem comido
(Joel 2:25). Ele é o Deus da restauração, o Criador capaz de
destruir e de recriar! Com humildade, faça parte de Sua obra
de livramento e restauração.

Sinais d e um C s ra çã a Weitscfo ps us

Como seria o coração voltado para Deus na vida diária de


um adolescente? A característica central de um coração voltado
para Deus é a sede profunda e sincera de conhecer e honrar a
Deus, o que precisa ser contrastado com o desempenho farisai­
co das obrigações externas do cristianismo, ou a forma de vida
que almeja obter seus benefícios temporais. Deus comunicou a
Sua rejeição da "obediência" insensível dos israelitas usando
os mais fortes dos termos. Ele disse:

"Para que me oferecem tantos sacrifícios?,


pergunta o SENHOR.
Para mim, chega de holocaustos de carneiros
188 CAPÍTULO DEZ

e da gordura de novilhos gordos.


Não tenho nenhum prazer no sangue de novilhos,
de cordeiros e de bodes!
Quando vocês vêm à minha presença,
quem lhes pediu que pusessem os pés em meus átrios?
Parem de trazer ofertas inúteis!
O incenso de vocês é repugnante para mim.
Luas novas, sábados e reuniões!
Não consigo suportar suas assembléias cheias de iniqüidade.
Suas festas da lua nova e suas festas fixas, eu as odeio.
Tornaram-se um fardo para mim; não as suporto mais!
Quando vocês estenderem as mãos em oração,
esconderei de vocês os meus olhos;
mesmo que multipliquem as suas orações, não as escutarei!
As suas mãos estão cheias de sangue! Lavem-se! Limpem-se!
Removam suas más obras para longe da minha vista!
Parem de fazer o mal, aprendam afazer o bem!
Busquem a justiça, acabem com a opressão.
Lutem pelos direitos do órfão,
defendam a causa da viúva.'' (Isaias 1:11-17)

O SENHOR diz:
"Esse povo se aproxima de mim
com a boca
e me honra com os lábios,
mas o seu coração está longe de mim.
A adoração que me prestam
é feita só de regras
ensinadas por homens." (Isaias 29:13)

Cristo teve o mesmo tipo de reação às obrigações insensí­


veis, virtuosos nos seus próprios juízos, dos fariseus.

Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês limpam


UM CORAÇÃO VOLTADO PARA DEUS 189

o exterior do copo e do prato, mas por dentro eles estão cheios


de ganância e cobiça. Fariseu cego! Limpe primeiro o interior
do copo e do prato, para que o exterior também fique limpo. Ai
de vocês, mestres da lei e fariseus hipócritas! Vocês são como
sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios
de ossos e de todo tipo de imundicie. Assim são vocês: por fora
parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia
e maldade (Mateus 23:25-28).

Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não fo r muito superior


à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no
Reino dos céus. (Mateus 5:20)

As advertências dessas passagens podem nos ajudar a


olhar honestamente para nós mesmos e para nossos adoles­
centes. A santidade é definida como algo mais do que cumprir
uma série de comportamentos (a lista recebida do que deve ou
não ser feito que toda comunidade cristã tem, que tipicamente
combina injunções e proibições bíblicas com padrões humanos
de conduta). A verdadeira santidade flui do coração e produz
uma colheita de bons frutos na vida das pessoas. É isso que
buscamos para nossos adolescentes.

O que você realmente irá ver no adolescente que tem um


coração voltado para Deus é um catálogo de comportamentos,
atitudes, relacionamentos e atitudes que refletem uma busca
pessoal de Deus. Não é o desempenho de obrigações com má
vontade. Não é motivado por ameaças, culpa, ultimatos e
manipulação dos pais. Todas essas intervenções dos pais são
tentativas de produzir o que somente Deus pode produzir. Elas
não produzirão uma colheita duradoura de santidade, somente
frutos que deterioram assim que a pressão é removida (como,
por exemplo, quando o adolescente sai de casa para estudar
em outra cidade e deixa o empenho cristão que, sob pressão,
realizava em casa).
190 CAPÍTULO DEZ

Observe os termos que usei. Queremos que Deus nos use


para desenvolver em nossos adolescentes uma busca pessoal
de Deus, uma seriedade no relacionamento com Ele que seja
motivada internamente. Tal adolescente tomará iniciativas
espirituais por si mesmo. Não precisará ser coagido nem
manipulado, mas se envolverá nas coisas espirituais por ge­
nuinamente desejar fazê-lo, por serem importantes para ele.

Observe ainda que o que estamos descrevendo é uma bus­


ca pessoal de Deus. Buscar não tem a ver com correr atrás de
algo. Tal adolescente é um buscador. Ele tem sede. Ele procura
situações, locais e relacionamentos que o ajudarão a fazer o
que é mais importante para ele: conhecer a Deus. Ele achará
tempo. Ele mudará de direção. Ele será decidido e cheio de
propósito em sua fé. Ele será aberto e ensinável. Ele não tentará
dar desculpas para perder o culto ou o estudo bíblico. Ele lerá,
estudará, meditará e memorizará. De modo independente, e
por sua própria vontade, ele seguirá a Deus.

Terceiro, o que estamos tentando orientar é uma busca


pessoal de Deus. Isso não é o mesmo que fazer parte do corpo
de Cristo porque os relacionamentos "interessantes" estão lá.
Não é aplacar os pais participando das coisas que acontecem
na igreja. Ao contrário, este é um adolescente que passou a
conhecer e a amar a Deus, e que deseja conhecê-Lo melhor.
Há em seu coração desejo verdadeiro de ter comunhão com
Deus e desejo verdadeiro de que sua vida seja agradável a Ele.
E um jovem que realmente ama a Deus, e seu estilo de vida
revela tal amor.
Conforme afirmei anteriormente, a busca pessoal de Deus
se revelará no comportamento, nas atividades e nos relacio­
namentos da vida do adolescente. Se o seu filho adolescente
tiver o coração voltado para Deus, são essas as coisas que você
irá ver.
UM CORAÇAO VOLTADO PARA DEUS 191

Sinais d e um a Bus ■■ W:.', 1>-,>us

1. Haverá uma viãa independente de adoração e devoção pes­


soal. O adolescente passará tempo pessoal com o Senhor. Ele
desejará ler a Bíblia e gastar tempo em oração. Não, ele pro­
vavelmente não se levantará às 5 da manhã a fim de ler e orar
por duas horas, mas haverá desenvolvimento em sua vida de
devoção pessoal.

Lembro-me de ter visto um Novo Testamento bastante


usado perto da cama de meu filho não muito tempo atrás
quando entrei em seu quarto para procurar o telefone sem
fio. Ele o lia diariamente. Ele não havia sido dramático e nem
falado sobre a sua vida devocional, mas existia uma sede de
Deus que o fazia encontrar tempo em seus horários muitas
vezes caóticos para estudar as Escrituras.

2. Haverá desejo de participar de instrução e adoração coletiva. O


adolescente que fica feliz em ir aos cultos, que não precisa ser
ameaçado para estar lá, estará lá por razões básicas. Primeiro,
porque ele gosta de adorar. Para ele, a adoração expressa a
base de sua esperança. E ele gostará de estar com pessoas que
compartilhem o seu desejo de louvar a Deus. Ele estará lá por
achar que a adoração coletiva o ajuda a focalizar na coisa mais
importante de sua vida, a existência de Deus e de Sua glória.
Ele pode não ser capaz de verbalizar todas essas coisas, mas
ele estará lá porque deseja estar lá.

Era domingo à noite e eu havia chegado de uma longa


viagem ao exterior. Estávamos, como família, mergulhando
em algo que parecia ser um período de intensas atividades.
Eu havia decidido que hibernaríamos durante todo o fim de
semana, inclusive no domingo. Teríamos o nosso período de
adoração em família juntos e depois sairíamos para almoçar
fora no domingo. Meu filho mais velho, aproximando-se de
192 CAPÍTULO DEZ

mim, disse que queria ir ao culto de adoração matutino de


nossa igreja. Ele perguntou se eu ficaria ofendido se ele pegasse
o trem para ir ao culto e depois se juntasse a nós para almo­
çar. Eu? Ofendido? Fiquei extremamente satisfeito! (O desejo
de adorar demonstrado por ele também me fez reexaminar
a escolha que eu havia feito.) Eu não queria fazer nada que
refreasse o seu desejo de participar das reuniões coletivas da
igreja.

Isso aponta para outro sinal positivo no desejo do adoles­


cente de participar das reuniões do corpo de Cristo: ele tem
um espírito sedento e ensinável. Os adolescentes muitas vezes
não reconhecem que precisam ser instruídos. Eles podem ficar
defensivos quando se tenta aconselhá-los ou ensiná-los. Muitas
vezes, eles pensam saber muito mais do que realmente sabem
e presumem ser muito mais preparados para a vida do que na
verdade são.

Quando um adolescente busca a instrução, fica evidente


que a graça de Deus está em operação. E sinal de sede espiri­
tual o adolescente ter espírito ensinável. Os adolescentes que
têm o coração voltado para Deus não evitarão os períodos de
ensino e pregação; mas os buscarão. E eles não se sentarão na
última fileira da igreja, esparramados em seus bancos, pare­
cendo mal conseguir suportar o tédio. Não, de alguma forma,
eles demonstrarão ter sede de aprender mais sobre Deus, Sua
vontade e Seu caminho. Eles irão apreciar os professores que
Deus levantou no corpo de Cristo e desejarão estar onde a
instrução bíblica é oferecida.

3. O adolescente que tem o coração voltado para Deus também


buscará ter comunhão com o corpo de Cristo. Ele desejará passar
tempo com outras pessoas que pensam como ele. Buscará a
amizade de pessoas que compartilhem a sua fé e o seu desejo
de estar envolvido na comunidade cristã. Assim é o adolescente
UM CORAÇÃO VOLTADO PARA DEUS 193

que chega na faculdade e imediatamente começa a procurar


os grupos de comunhão cristã entre os estudantes do campus.
Assim é o adolescente que encontra outros cristãos durante o
ensino médio. Quando ele estiver na ativa, ele ficará animado
para conhecer outros cristãos. E também valorizará a ajuda, as
orações, o encorajamento, a experiência, a visão e a sabedoria
dos membros mais experientes do corpo de Cristo.

Lembro-me de um adolescente que veio a meu escritório e


afundou na cadeira naquela postura de quem diz: "tudo bem,
faça alguma coisa para me impressionar". Ele obviamente não
queria estar ali. Eu estava fazendo o melhor que podia para
quebrar as suas defesas e, no meio de meus esforços, ele disse:
"Preciso sair daqui. Isso está me deixando louco! Não basta
ela (a mãe dele) ter trazido Deus a toda discussão que nós
tivemos! Agora ela me força a vir aqui para que você feche a
porta e faça a mesma coisa. Apenas me diga o que você quer
que eu faça e eu farei, para que eu possa ir em bora!" Palavras
tristes, ditas por um jovem bravo que não tinha tempo para as
coisas do Senhor. Infelizmente, também, a reação dele revelava
a maneira errada que a Palavra tinha sido usada em seu lar.
(Discutiremos isso posteriormente.)

4. O adolescente que tem o coração voltado para Deus fica re­


laxado e aberto para conversar sobre as coisas espirituais. Nós não
devemos esperar nem aceitar que nossos filhos adolescentes
sejam fechados e defensivos, relutantes em ouvir a Palavra de
Deus. Estamos procurando produzir jovens adultos que amem
ao Senhor e a Sua Palavra, que entendam que de alguma for­
ma ela fala a toda situação da vida, e que tenham sede de ser
guiados e corrigidos por ela. Não só não desejamos produzir
adolescentes que sejam defensivos espiritualmente, mas de­
sejamos produzir adolescentes que sejam humildes e abertos,
que saibam que precisam da ajuda de Deus e a busquem.
194 CAPÍTULO DEZ

Avalie o adolescente. Como ele reage quando a Bíblia ou


a vontade do Senhor é mencionada em uma conversa? De
alguma maneira, ele fala sobre as verdades da Palavra? Eles
falam em orar e buscar orientação bíblica a fim de tomar uma
decisão? Eles buscam a sua ajuda com uma conversa pela ma­
nhã, um breve telefonema no meio do dia para ver o que você
acha sobre uma questão específica, com uma dessas profundas
discussões tarde da noite onde eles revelam seus corações,
ou com um pedido para que você ore por eles a respeito de
algo que vai acontecer? Eles são consumidores cada vez mais
devotados das coisas do Senhor, sedentos, necessitados, bus-
cadores? Eles ficam relaxados e à vontade com a verdade de
Deus e com as pessoas que a prezam?

Minha filha estava em uma situação difícil com um grupo


de amigos muito competitivo e muitas vezes maldoso. Havia
uma tentação real de ceder à ira, amargura, fofoca e pagar o
mal com o mal. Uma noite, à mesa do jantar, ela contou algu­
mas coisas que estavam acontecendo com o grupo. Então, ela
disse: "Pensei muito e sei qual é a coisa certa a fazer." Talvez
essa não lhe pareça ser uma declaração extraordinária, mas
para mim, é muito encorajadora. Ela estava dizendo que não
tinha seguido a tendência do grupo, mas que tinha parado
para pensar e tentado determinar o que seria correto pensar,
dizer e fazer.

5. Adolescentes que têm um coração voltado para Deus abordarão


o processo de tomada de decisão de uma perspectiva bíblica. Eles terão
um coração voltado para o que é correto. O que nos encoraja
é que nossa filha queria fazer o que era certo, e ela havia pa­
rado para considerar a vontade de Deus. Não podemos ficar
contentes em educar adolescentes cujas decisões são impulsi­
vas, emocionais e egoístas. Devemos manter um padrão mais
elevado diante deles. Queremos ser usados por Deus a fim de
UM CORAÇÃO VOLTADO PARA DEUS 195

desenvolver uma constante referência divina para tudo o que


eles fazem, educar jovens que realmente vivam para a glória
de Deus. Queremos que eles realmente creiam que a pergunta
mais importante em qualquer situação é: "O que Deus quer
que eu pense, deseje, diga e faça?" E desejamos que eles vejam
a Bíblia como sua ferramenta mais importante ao tomarem as
decisões difíceis e práticas da vida.
Nosso objetivo máximo deve ser que nossos filhos ado­
lescentes tenham um coração voltado para Deus. Esta é a raiz
que produzirá todos os outros frutos de santidade em suas
vidas. Assim, queremos ver evidências de uma vida devocional
pessoal, o desejo de adorar e obter instrução coletivamente,
a amizade e a comunhão com o corpo de Cristo, a abertura
natural para as coisas do Senhor e o tomar de decisões de uma
perspectiva bíblica. Não procuramos essas coisas de uma ma­
neira legalista, mas como sinais naturais de um coração que
realmente ama a Deus, que realmente deseja conhecê-Lo e viver
de maneira que O glorifique. E não queremos ceder ao pensa­
mento de que isso é impossível a nossos filhos adolescentes. O
Evangelho é para adolescentes e o Espírito Santo pode operar
santidade no coração de um adolescente tanto quanto no de
qualquer outra pessoa! Se crermos nessas coisas, tentaremos
funcionar como instrumentos de santidade em suas vidas.

E s tr a té g ia s p ara Encerajjar arai C eiraçãs a s e r


Wolfacfci p ara Deus
Se nosso objetivo máximo for que nossos filhos adolescen­
tes tenham um coração voltado para Deus, então precisamos
saber que coisas práticas podemos fazer para encorajar isso
neles. Como em tudo, se pretendemos obter êxito, precisamos
saber aonde estamos indo e como chegaremos lá. Deixe-me
sugerir várias coisas que você pode fazer para que seus filhos
adolescentes tenham sede de Deus. Lembre-se de que todas
196 CAPITULO DEZ

as coisas se aplicam a seus filhos menores também, mas são


especialmente importantes durante a adolescência.

1. Faça da adoração em fam ília uma prioridade e torne-a envol­


vente. Antes de qualquer coisa, envolver seu filho adolescente
significa prender a atenção dele. Significa fazê-lo participar e
se envolver. Também significa atraí-lo e persuadi-lo à vonta­
de e ao caminho de Deus. Para que isso seja possível, nossos
períodos de adoração em família precisam ser agradáveis,
relevantes, desafiantes e interativos. A adoração fam iliar
não precisa ser algo pesado e tedioso para nossos filhos; ela
pode ser um tempo agradável tempo em família centrado nas
Escrituras. Mencionarei algumas coisas que temos feito para
envolver nossos filhos adolescentes.

Temos tentado mantê-los interessados e desafiados usando


bons livros cristãos como base para instrução e debate. Tenho
visto que boa parte da literatura devocional cristã dirigida aos
adolescentes é por demais superficial e muitas vezes contém
psicologia em excesso. (Por exemplo, muito dessa literatura
trata de auto-estima, uma categoria que não é tão desenvolvida
nas Escrituras.) Temos procurado livros dirigidos a adultos
que sejam bons, práticos e de agradável leitura e os lemos
para nossos filhos. As obras de Steve Brown e Max Lucado,
por exemplo, têm correspondido a nossas expectativas.

Adianto-me na leitura do livro e simplifico o vocabulário


conforme o nível do filho mais novo que participa dos devo-
cionais. O propósito é fazer com que o livro seja compreensível
para o filho m ais novo e ao mesmo tempo conceitualmente
desafiante para o mais velho. Tenho recomendado os autores
Steve Brown e Max Lucado por serem excelentes contadores
de histórias e porque eles constantemente fazem interligações
entre as verdades de Deus e a vida diária.
UM CORAÇÃO VOLTADO PARA DEUS 197

Ao desafiar seus adolescentes na adoração familiar, torne


esses períodos conversacionais. Faça-os falar para ver se eles
entendem, se têm dúvidas ou estão confusos e também para
verificar se eles conseguem fazer a conexão do que foi discutido
com o que está acontecendo em suas próprias vidas.
Descobrimos que gastar tempo em Provérbios e nos Evan­
gelhos é muito útil para manter nossos filhos adolescentes
envolvidos. Não há porção de maior praticidade nas Escrituras
do que Provérbios! E literalmente impossível ler um capítulo
do livro que não fale diretamente às coisas que cada um de nós
passa. Os Provérbios muitas vezes acendem boas discussões.

Os Evangelhos também estão repletos de vida real. Deus


veio em carne e está andando entre as pessoas, envolvendo-as
em uma consideração das verdades do reino de Deus. Cristo, o
inquiridor mestre, o contador de histórias mestre, o ilustrador
mestre, pode prender a atenção de seus filhos adolescentes
enquanto você os ajuda a entender as questões importantes
que Ele abordou.

Descobrimos que é importante não começar o período de


adoração familiar com expectativas ou planos rígidos. O que
queremos é uma atmosfera de liberdade, onde os adolescentes
se sintam livres para fazer perguntas, verbalizar dúvidas, ex­
pressar confusão, debater aplicações e tentar extrair inferências
e aplicações, tudo sem ter medo de ser silenciado, repreendido
ou ridicularizado. Queremos que a verdade conecte, convença
e conquiste os nossos filhos adolescentes, portanto, não temos
pressa. Queremos dar a eles tempo para entender e, ao Espírito,
tempo para operar. O tempo é deles. Não temos expectativas
em relação a quanto do material cobriremos e nosso objetivo
não é fazer com que nossos filhos adolescentes concordem
conosco. O objetivo é estimular neles a sede de Deus, então, o
bom é estarmos relaxados e sermos pacientes e criativos.
198 CAPÍTULO DEZ

2. Procure oportunidades de chamar a atenção de seu filho ado­


lescente para Deus. Não os deixe viver no ateísmo funcional,
a visão prática da vida em que Deus esteja ausente. Procure
maneiras naturais de chamar a atenção para a presença, o po­
der e a provisão do Senhor. Sabemos que Ele existe, sabemos
que Ele está sempre ativo e sabemos que tudo o que Ele faz é
bom. Deve haver muitas oportunidades de chamar a atenção
de nossos adolescentes para Ele. Temos que proteger nossos
filhos da teologia do Deus distante e passivo. Muitos adoles­
centes crêem em um Deus que simplesmente não faz diferença
nenhuma, assim, a fé deles e a vida deles estão em dois níveis
completamente diferentes.

3. Seja positivo e mantenha-se centrado em Cristo ao usar as


Escrituras. Há muitos adolescentes que desenvolvem uma ati­
tude negativa em relação às Escrituras por causa da maneira
como seus pais as usam. Não use as Escrituras como cajado
para infligir culpa, para reprimi-lo ou para condená-lo. Não
os envergonhe com as Escrituras. Não bata neles com a Bíblia.
Lembre-se de que a verdade deve sempre ser falada em amor.
O propósito da Palavra na vida do adolescente não é abatê-los
e desencorajá-los, mas prepará-los para ser "apto e plenamente
preparado para toda boa obra" (2 Timóteo 3:17).

Seu uso das Escrituras com o adolescente deve ser im­


pregnado com esperança porque as Escrituras sempre vão
do fracasso humano e do pecado para o perdão e a libertação
em Cristo. Não use a Bíblia de maneira que faça com que o
adolescente corra e se esconda de Deus. Use-a de maneira que
o encoraje a correr para Jesus para obter auxílio que somente
Ele pode dar.

4. Esteja disposto a usar você mesmo como exemplo da graça


perdoadora, capacitadora e libertadora de Cristo. Nossa história
como pais é a história da obra de Deus; é muito importante que
UM CORAÇAO VOLTADO PARA DEUS 199

não levemos o crédito. Abstenha-se de ter aquelas tão típicas


conversas que começam com: "N a minha época..." ou "Quan­
do eu tinha a sua idade...". Não devemos ver a nós mesmos
como imagens que nossos filhos devam contemplar, mas como
janelas através das quais nossos filhos possam ver a glória de
Cristo. Nós chamamos a atenção para Cristo poderosamente
quando humildemente admitimos a nossos filhos que fomos
e somos pessoas necessitadas do auxílio do Senhor.

5. Esteja disposto a pedir perdão, a prestar contas e a orar. Até


uma falha como pai pode ser usada por Deus para amolecer
o coração do adolescente! Que esperança há no Evangelho!
Não deixe aqueles momentos de egoísmo, irritação, palavras
ásperas, impaciência e ira simplesmente caírem no esqueci­
mento. Aproxime-se de seu filho e confesse suas faltas. Peça
que ele ore por você e convide-o a procurá-lo todas as vezes
que for ferido pelas coisas que você disse e fez. Seja exemplo
de humildade, dependência de Cristo e esperança.

Vi o boletim escolar de desenvolvimento de meu filho


no final do dia. Olhei para suas notas e imediatamente fiquei
bravo. Embora as notas não fossem terríveis, eu sabia que ele
poderia se sair melhor. Atacando-o, eu disse a ele o quanto ha­
víamos lutado para fazê-lo passar na escola (culpa). Disse a ele
que eu às vezes me perguntava se ele algum dia tomaria jeito
(condenação). E disse ainda que quando tinha a idade dele,
eu levava a escola muito a sério (farisaísmo). Ele sentou-se de
frente para mim com a cabeça baixa, sem dizer nada. Quando
eu terminei, ele foi para o seu quarto.

Imediatamente, convenci-me de meu erro ao me comportar


daquela maneira. Orei e pedi ao Senhor que me perdoasse.
Mais tarde, naquela noite, chamei meu filho para conversar
novamente. Eu disse a ele que havia percebido que ele não era
o único pecador da casa! Ele sorriu. Pedi perdão a ele. Confessei
200 CAPÍTULO DEZ

que precisava da ajuda de Deus e da oração dele. Disse que


era o seu pai, mas que também queria ser um amigo fiel. Disse
que minha intenção era transmitir esperança a ele até nos
momentos de correção. Ele me agradeceu por ter falado com
ele e foi dormir. Na manhã seguinte, quando voltou da escola,
ele pegou firme em meu braço e disse: "Também quero ser seu
amigo". Palavras preciosas. Elas revelavam que seu coração
havia amolecido e também que Deus estava operando redenção
por meio de minha falha. Lembre-se, não é a sua fraqueza que
vai impedir que Deus opere por seu intermédio, mas a ilusão
de que você é forte. A força de Deus é aperfeiçoada em nossa
fraqueza! Enfatize a força Dele dispondo-se a admitir sua
fraqueza.

6. Seja modelo na oração incessante. Faça com que a oração


se torne uma parte habitual e importante da vida familiar.
Ore constantemente com seus filhos. Se eles disserem que
estão enfrentando uma prova difícil, não prometa que vai
orar; ore com eles no mesmo instante. Se eles compartilharem
com você que estão tendo dificuldade para se relacionar com
alguém, não diga apenas como lidar com o problema; ore por
eles. Quando estiver iniciando uma viagem ou férias, reúna a
família e ore. Quando o seu filho adolescente tiver conflitos ao
lidar com os irmãos, não ceda aos constantes gritos; sente-se
e ore com ele. Pergunte ao adolescente em que áreas ele tem
enfrentado dúvida, medo, ira, desânimo e outras tentações e
ore com ele. Depois, diga a ele que você continuou a orar e
pergunte como as coisas estão. Ore, ore, ore, ore. Na vida do
lar, há milhares de oportunidades naturais de orar com e por
seu filho adolescente.

7. Seja exemplo na sede de Deus. Faça com que seu filho ado­
lescente veja o seu compromisso em relação ao estudo bíblico
pessoal e familiar, ao estar debaixo de constante ensino da
UM CORAÇÃO VOLTADO PARA DEUS 201

Palavra de Deus e ao estar em sólida comunhão e ministério


com o corpo de Cristo. Pergunte a si mesmo: "Eu tenho sede
de Deus e meu filho pode ver isso?" Você é modelo daquilo
que está buscando instilar nele?

Meu pai era muito fiel em nos reunir diariamente para os


devocionais em família. Ele não era professor, mas sempre lia
uma passagem para nós e depois todos nós orávamos. Lembro-
me de um período em que meu irmão mais velho Tedd estava
trabalhando no primeiro turno em uma fábrica. Ele tinha que
estar lá entre 6h e 6h30 da manhã. Papai acordava o restante
da fam ília às 5h para que pudéssemos ler e orar juntos. Depois
voltávamos para a cama enquanto Tedd saía para o trabalho.
Não me lembro muito do que liamos, mas lembro-me de
como o inabalável compromisso com a adoração familiar me
impressionava. Lembro-me de pensar que deveria ser muito
importante porque nada impedia o nosso tempo de leitura e
oração!
Meus pais agiam da mesma forma em relação à adoração
dominical. Ela era parte inegociável de nossa agenda familiar.
A única coisa que fazíamos aos domingos pela manhã era ir
ao culto de adoração na igreja. Até quando estávamos em
férias, meus pais encontravam um lugar para nós adorarmos
no domingo de manhã. Eles demonstravam um compromisso
que revelava a importância dessas prioridades espirituais. Nós
precisamos fazer o mesmo.

Deus nos escolheu para sermos Seus filhos! Ele abriu os


nossos olhos para a Sua verdade. Ele nos perdoou, nos colocou
na posição de filhos adultos e nos outorgou poder por Seu
Espírito. A nossa desobediência e incredulidade, Ele reagiu
com disciplina paciente e amorosa. Temos experimentado a
Sua maravilhosa graça. Ainda que não façamos mais nada, que­
remos que nossos filhos O conheçam, valorizem o Seu amor,
202 CAPÍTULO DEZ

admirem a Sua graça e vivam para a Sua glória. Queremos


que eles experimentem o Seu amor redentor e entreguem os
seus corações a Ele. Assim, faremos da adoração e do ensino
coletivos, do estudo bíblico pessoal, da comunhão, da adoração
em família e do ministério, altas prioridades. Nós nos esforça­
remos para ser pais que praticam diariamente o que significa
"buscar o Seu reino em primeiro lugar", tornando a busca de
Cristo a nossa prioridade. Assim fazendo, permitimos que o
Senhor aja por meio de nós para instilar nos corações de nossos
filhos adolescentes a sede de Deus.
Saindo de Casa

ELA ficou parada na varanda, olhando-o espremer outra


caixa de pertences dentro do carro. Ela tentou ao máximo
piscar para disfarçar as lágrimas e enxergar um jovem bem
preparado, mas toda vez que olhava, só o que vinha a sua
mente era aquele menininho de calças sujas, exibindo um "b i­
gode" de leite e pedindo só mais um biscoitinho de chocolate.
Ela indagava como ele iria se sair. Ele ia morar a milhares de
quilômetros dali, em uma grande universidade. Eles haviam
estado lá juntos e feito tudo o que era necessário, mas daquela
vez, ele iria sozinho. Ele queria que fosse assim, então ela con­
cordou em ir depois. Sim, ela indagava como ele iria se sair,
mas sabia que ela não estava pronta para aquilo.

Ela queria fazer tudo de novo; queria fazer melhor. Ela


queria abraçar seu filho bem forte e pedir perdão por todas
as vezes que deveria ter estado presente, mas não esteve.
Ela queria expressar seu arrependimento por todas as vezes
que respondera com irritação a mais um pedido de ajuda.
Ela queria voltar atrás em relação a todas as palavras que
disse com ira. Ela desejou ter outra chance de ajudá-lo com o
projeto de ciências, que foi tamanho desastre e causou tanto
conflito entre eles. Ela queria voltar no tempo e, desta vez, ir
a todos os jogos dele, que pareciam ser tão sem importância.

Ela desejou ter sido mais fiel em falar sobre as coisas do


Senhor. Desejou ter passado menos sermões e orado mais
204 CAPÍTULO ONZE

com ele. Desejou voltar no tempo e ser mais receptiva com os


amigos dele. Desejou ter ido mais ao quarto dele, só para per­
guntar sobre como tinha sido o seu dia, simplesmente para ter
mais uma desculpa para expressar o amor que sentia por ele.
Havia um temor não expresso nela, de que ele "fracassasse" na
faculdade, assim como tantos outros filhos de famílias cristãs.
Ela ficou ali e orou, sem perceber que ele já havia acomodado
toda a bagagem no carro e também estava na varanda, com o
seu marido.
Seus pensamentos inquietantes e orações silenciosas foram
interrompidos pela voz dele. "Mãe, minha bagagem já está
toda no carro e eu preciso ir. Nem sei dizer o quanto sou grato
por tudo o que você e papai fizeram. Não se preocupe comigo,
vocês cumpriram bem a tarefa de pais. Sei o que é certo e o
que é errado. Vou ficar bem ." Com as últimas palavras, eles se
abraçaram. Lágrimas rolaram dos olhos dela. Ela não viu, mas
ele também chorou. Papai disse: "Vamos orar antes de você
partir." E com aquela oração e um último abraço, ele saltou
da varanda e entrou no carro.

E ela ficou ali, na varanda, nos braços do marido por muito


tempo depois que o carro partiu, sem saber ao certo por que
estava ali e para o quê estava olhando. Aquela parecia uma
forma de manter seu filho perto por um pouco mais de tem­
po. Depois, o marido interrompeu os pensamentos chorosos
dela e disse: "Querida, é por este momento que temos nos
empenhado todos esses anos. Ele é um bom garoto e ele está
pronto. Ele conhece o Senhor e vai ficar bem. Além disso, ele
estará de volta para o Natal em apenas alguns m eses".

Quando entraram em casa, ele disse: "Sei que iremos sentir


a falta dele, mas na verdade devemos ficar felizes. Podemos
ver o fruto de todos os nossos esforços. Valeu a pena. Temos
muito por que ser gratos." Ela não respondeu. Foi difícil para
SAINDO DF. CASA
205

ela não imaginar a si mesma no carro com seu filho, dando-lhe


apenas mais alguns conselhos de última hora. E foi difícil para
a mente dela não chegar a imaginar milhares de possibilidades
de algo não dar certo. Ela sabia que seu marido tinha razão.
O objetivo dos pais é liberar ao mundo jovens adultos prepa­
rados para viver como filhos de Deus e como sal e luz em um
mundo corrompido e decaído. Ela tinha ciência de que seu
filho não era posse dela, de que ele pertencia a Deus e de que
ela e seu pai não eram senão instrumentos nas mãos de Deus.
Ela sabia que aquele era um bom momento, o início de uma
nova etapa, uma emancipação, mas era difícil ficar feliz e difícil
não desejar que ele voltasse para receber um pouquinho mais
de orientação dos pais. Contudo, ela sabia que aquela fase de
sua atuação na vida do filho estava encerrada e que ela tinha
que confiá-lo às mãos de um Pai melhor.

O B JE T IV O 5 - P rep aran d o c>'. '© le sce in ies p ara


S a íre m d e Casa

Milhares e milhares de pais têm passado por esse mo­


mento, todos cientes de que ele chega, mas todos um tanto
despreparados para o dia em que ele realmente acontece. Este é
o objetivo final que precisa ser estabelecido. Como pais, preci­
samos ver a emancipação do lar como um objetivo importante
e santo. É o que Deus nos chamou para fazer, preparar nossos
filhos para serem importantes contribuintes para a obra do
reino de Deus. Assim, passamos anos preparando os nossos
filhos e depois os enviamos ao mundo. Não, eles não pertencem
a nós; nunca pertenceram. Eles sempre pertenceram ao Deus
que nos nomeou para sermos Seus agentes de crescimento,
maturidade e preparação. Não queremos que eles sejam de­
pendentes e agarrados aos pais. Queremos que eles possam
ficar firmes e contribuir muito. Queremos ser capazes de dizer
alegremente: "Voe livre!", sabendo que eles têm tudo de que
206 CAPÍTULO ONZE

precisam para fazer o que Deus os chamou para fazer. Este é


o objetivo de todos os anos que os pais dedicam à educação
dos filhos.

Sa in d o d e C a s a C edo D em ais

Não é preciso olhar muito ao redor para ver que muitos


adolescentes em nossa cultura e em nossas igrejas estão saindo
de casa cedo demais e bastante despreparados. A saída deles
não é a cena familiar amorosa descrita acima. Esses são adoles­
centes que, desde os treze, catorze ou quinze anos, começam
a dizer a si mesmos que vão sair de casa assim que puderem.
Para eles, o mais importante é completar dezoito anos, quando
se formam no ensino médio e podem consumar a sua própria
liberação. Quando essas crianças saem de casa, elas não dizem
um carinhoso "obrigado", mas partem dizendo palavras iradas
ou simplesmente sem dizer nada porque o relacionamento
com seus pais foi rompido há muito tempo.

Ao aconselhar muitos adolescentes e pais, tem ficado


muito claro para mim que poucos adolescentes saem de casa
por causa das regras. O motivo porque saem de casa é o rela­
cionamento. Eles vão embora porque o relacionamento com os
pais tornou-se tão ruim, tão cheio de ira, confrontos e hosti­
lidade, que não suportam viver sob o mesmo teto com eles.
Infelizmente, isso acontece com freqüência e m lares de cren­
tes. Isto não quer dizer que adolescentes não sejam rebeldes.
Normalmente, eles o são, mas é definitivamente a ruptura de
relacionamentos que os leva a sair, despreparados para viver
vidas santas e produtivas num mundo decaído.

O que acontece é que os pais, desejando que seus filhos


adolescentes façam o que é certo, permitem que sua própria
ira, amargura e espírito rancoroso corrompam e distorçam todo
o processo. Em pouco tempo, tornam-se quase incapazes de
SAINDO DE CASA 207

manter uma conversa com os filhos que não seja impregnada


com sua ira. Suas palavras tornam-se cada vez mais deprecia­
tivas, críticas e condenatórias. Eles se permitem ser absorvidos
em batalhas de palavras, usando como arma o erro de outras
pessoas, para ganhar a guerra pelo poder. Assim fazendo,
esquecem-se de que eles mesmos experimentaram o amor
paternal de Cristo. Foi enquanto eram ainda pecadores que
Cristo morreu por eles. É a bondade Dele que os leva ao arre­
pendimento. É a graça Dele que sobrepuja a profundidade e a
largura do pecado deles. A graça de Cristo nunca desacredita o
que é certo, nunca diz que o pecado é aceitável, mas traz, com
grande poder, amor perseverante àquele que nunca poderia
ganhá-lo por sua própria justiça.

Pais que seguem o exemplo de Cristo não aplicam discipli­


na sem incluir o Evangelho da graça como parte da mensagem.
Não admoestam sem destacar a realidade do amor de Cristo.
Eles vêem toda ocorrência de problema, erro e pecado como
mais uma oportunidade de ensinar seus filhos adolescentes a
se entregarem a Cristo. Nunca chamam o errado de certo, mas
sempre lidam com o erro de uma forma que revele as gloriosas
realidades do Evangelho. E nunca tentam fazer com o poder de
suas palavras ou com a gravidade da disciplina que aplicam o
que somente Cristo pode realizar quando entra no coração do
adolescente por Sua graça. O tema preeminente em seus lares
não será a decepção e a ira por causa do erro do adolescente.
O tema preeminente será Cristo. Ele dominará os períodos de
erro como Perdoador e Libertador, e Ele dominará os períodos
de obediência como Guia e Força. Em cada experiência, a Ele
se buscará e a Ele será dada a glória. Adolescentes que vivem
em lares como esse serão regularmente surpreendidos com o
amor de seus pais e a graça de Cristo que os escolheu para viver
em família onde o amor redentor de Cristo reina supremo.
208 CAPÍTULO ONZE

Q uatro Verbos p ara o s Pais

A seguir, sugiro quatro verbos que podem definir a agenda


para os pais que desejam ser modelos de Cristo para seus filhos
adolescentes.

O primeiro verbo é aceitar. Devemos receber o pecado de


nossos adolescentes com a graça aceitadora de Cristo. Não com
aquela aceitação que compromete o alto padrão de Deus ou o
Seu chamado à confissão e ao arrependimento, mas a aceita­
ção que leva a mudança. Essa aceitação mantém o padrão de
Deus elevado, mas no contexto da esperança encontrada na
cruz de Cristo. Nossa tarefa como pais não é condenar, julgar
ou romper relacionamentos. Nossa tarefa é funcionar como
instrumentos de Deus para operar mudança e a ferramenta
mais poderosa de que dispomos é o nosso relacionamento com
os adolescentes. Queremos conduzir esse relacionamento de
tal forma que a Sua obra prospere em meio a ele.

O próximo verbo é encarnar. Assim como Cristo foi chama­


do para revelar Deus na carne, somos chamados para revelar
Cristo. Como pais, somos chamados para encarnar o amor de
Cristo em todas as interações com nossos filhos adolescentes.
Revelamos o Seu amor, paciência, mansidão, bondade e perdão
quando respondemos com o mesmo para com nossos filhos
(leia Colossenses 3:12-14). Este deve ser um de nossos maiores
objetivos: que Cristo, o Seu caráter e a obra de Seu Evangelho
sejam retratados no modo como nos relacionamos com nossos
filhos adolescentes.

O terceiro verbo é identificar-se. Hebreus 2:11 diz que


Jesus "não se envergonha" de chamar-nos "irm ãos" porque
Ele sofreu as mesmas coisas que nós sofremos. Ele é capaz de
identificar-Se totalmente com as ásperas realidades e tenta­
ções da vida neste mundo decaído. Ele passou pelo mesmo
SAINDO DE CASA 209

processo que nós estamos passando agora. Se Cristo pode Se


identificar conosco, quanto mais nós devemos ser capazes de
nos identificar com nossos filhos adolescentes! Muitas vezes,
os pais dizem que não são de forma alguma como seus filhos
adolescentes e que, na verdade, têm muita dificuldade em se
identificar com eles e seus conflitos. Contudo, nós todos somos
iguais. Não há conflito que nosso filho possa ter que nós já não
tenhamos tido ou que ainda não estejamos tendo. Há vezes
em que nós queremos nos livrar de nossa responsabilidade e
esquecer as coisas que não gostamos de fazer. Há vezes em
que somos defensivos e inacessíveis. Há vezes em que achamos
que sabemos mais do que realmente sabemos.

Temos a natureza decaída em comum com os adolescentes,


e compartilhamos com eles o crescimento progressivo para a
santidade. Não devemos agir como se fôssemos um tipo dife­
rente de pessoa nem assumir uma posição de superioridade
em relação a eles. Devemos nos posicionar ao lado deles como
irmão mais velho e chamar a atenção deles para o único lugar
de esperança: Cristo. Devemos comunicar que não há resposta
que possamos dar a eles da qual nós mesmos não precisemos.

O verbo final é entrar. Assim como Cristo entrou em


nosso mundo e passou trinta e três anos conhecendo nossas
experiências, devemos gastar tempo para entrar no mundo do
adolescente (leia Hebreus 4:14 em diante). Isso significa gastar
tanto tempo fazendo boas perguntas e ouvindo quanto falando.
Na realidade, aquilo que falamos a nossos adolescentes seria
muito mais amoroso e perspicaz se nós gastássemos tempo
conhecendo as pessoas, as pressões, as responsabilidades, as
oportunidades e as tentações que eles enfrentam a cada dia.
Uma das coisas trágicas que acontecem aos pais e aos adoles­
centes é que eles desistem de falar significativamente, hones­
tamente e pessoalmente. Toda a correção, instrução, discussão,
210 CAPÍTULO ONZE

debate e disciplina ocorre na plataforma da ignorância.

Pais que aceitam os adolescentes com a graça de Cristo,


encarnam o amor de Cristo, se identificam como Cristo e en­
tram no mundo do adolescente seguindo o exemplo de Cristo
não terão adolescentes que tentem sair de casa o mais rápido
possível. Eles serão atraídos pelo poderoso amor e graça que
experimentam diariamente. A tendência deles será prezar o
único relacionamento humano em que têm sido consistente-
mente amados quando menos merecem. Isso dará a seus pais a
liberdade e o tempo para prepará-los somente um pouco mais
para sua importante entrada no mundo onde eles ficarão com
Deus por si mesmos.

Som® é a M aturidade?

Antes de definir maturidade, é importante observar que


a Bíblia apresenta a maturidade como objetivo de toda a vida.
Deus ainda está operando trazendo-nos como pais à maturi­
dade em Cristo. Seus filhos adolescentes não sairão de casa
como produtos finalizados. Então, o que estamos buscando
aqui? Enquanto nossos filhos estão se preparando para sair de
casa, queremos ver as sementes da maturidade em suas vidas.
Se as sementes estiverem lá, sabemos que elas continuarão a
crescer por muito tempo após eles terem deixado o cuidado
dos pais. Não desanime ao examinarmos esses objetivos. Nossa
tarefa não é completar a colheita final, mas plantar sementes
de maturidade em nossos filhos. Deus irá regá-las e fazê-las
crescer.

Muitos pais me perguntam como saber quando seus filhos


estão prontos para sair de casa. E uma boa pergunta, algo que
precisa ser perguntado durante toda a vida da criança para
que a prontidão se torne um objetivo que estamos tentando
alcançar. Para ser um objetivo funcional, a prontidão precisa
SAINDO DE CASA
211

ser definida de modo prático. Não se pode produzir algo que


não se entende.

O que na verdade estamos perguntando é o que seria matu­


ridade. Paulo nos dá um maravilhoso resumo em Colossenses
1:9-14:

Por essa razão, desde o dia em que o ouvimos, não deixamos de


orar por vocês e de pedir que sejam cheios do pleno conhecimento
da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espi­
ritual. E isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor
e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra,
crescendo no conhecimento de Deus e sendo fortalecidos com todo
o poder, de acordo com a força da sua glória, para que tenham
toda a perseverança e paciência com alegria, dando graças ao Pai,
que nos tornou dignos de participar da herança dos santos no
reino da luz. Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos
transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos
a redenção, a saber, o perdão dos pecados.

Seis características formam a oração de Paulo pela matu­


ridade para a igreja de Colossos. Elas constituem uma defini­
ção funcional maravilhosa para nós, ao buscarmos avaliar os
nossos adolescentes e a não tão distante emancipação deles de
nossos lares. Lembre-se de que esses são objetivos para toda
a vida. Ao considerarmos os objetivos, pense em inícios, não
em conclusões finais.

1. Sensibilidade à vontade de Deus revelada. É difícil pensar


em algo mais importante para os adolescentes do que uma sa­
bedoria que dê a eles o conhecimento da vontade de Deus nas
variadas situações da vida. Os adolescentes têm a tendência de
viver com uma bolha ao redor da cabeça - tudo o que parecem
experimentar é o que eles pensam e o que eles querem. Quão
importante é que eles adquiram uma visão de algo maior do
212 CAPÍTULO ONZE

que a sua própria felicidade - isto é, viver para a glória de


Deus, somada a um desejo de saber como os princípios das
Escrituras se aplicam à vida diária!

2. Santidade funcional. Paulo ora para que eles "vivam de


maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, fru-
tificando em toda boa obra". Que objetivo para nossos filhos
(e para nós)! Não que eles concordem em ir à igreja conosco,
não que eles se abstenham de drogas e sexo, não que eles con­
sigam um emprego e se saiam relativamente bem na escola.
Tais objetivos não são suficientemente elevados para Paulo, e
também não deveriam ser para nós! Precisamos acreditar que
Deus, por Seu Espírito, pode produzir em nossos adolescentes
um desejo de agradar ao Senhor em tudo o que fazem. Nós não
podemos nos contentar com nada menos que isso.

3. Crescimento espiritual progressivo. Queremos ver os nossos


filhos adolescentes crescendo diariamente no conhecimento do
Senhor. Queremos mostrar a eles que toda situação da vida é
uma oportunidade para conhecer melhor a Deus e a Sua Pala­
vra. Precisamos perguntar: "Eles são ensináveis, eles buscam,
são humildes, têm aprendido as suas lições espirituais?" Se
a resposta for sim, veremos os frutos do crescimento em suas
vidas. Veremos a força substituindo a fraqueza, a sabedoria
substituindo a insensatez, a coragem da fé substituindo a dúvi­
da e o medo, a gratidão substituindo o egoísmo e o desprazer
e o temor do Senhor substituindo a escravidão às opiniões e à
aceitação pelos companheiros.

4. Perseverança. Que im portante sinal de m aturidade,


e que objetivo relevante para se educar os adolescentes!
Nosso desejo é criar adolescentes que, tendo reconhecido
a sua fraqueza, passaram a ver que o poder de Deus é nela
aperfeiçoado. Quando confiam no poder de Deus, e Deus os
habilita, eles não desistem, não fogem e nem cedem diante dos
SAINDO DE CASA 213

problemas. Eles resistem com paciência às coisas que antes os


teriam feito admitir sua derrota. Eles não sucumbem mais à
pressão dos companheiros, mas ficam firmes e não inclinados
a comprometer as suas convicções. Eles não desistem quando
suas responsabilidades apertam e não culpam os outros por
suas falhas. Eles se mantêm em uma conversa difícil com você
mesmo quando são tentados a se fechar em ira, autopiedade
ou defesa. Eles estão aprendendo o que significa "permanecer
firme no Senhor e na força de Seu poder".

5. Uma apreciação da graça áe Deus. Quantos adolescentes pa­


recem ter pouca ou nenhuma consciência do grande privilégio
de ter nascido na família da fé? Quantos adolescentes deixam
de valorizar a herança que a eles foi transmitida? Quantos
deixam de reconhecer o valor dos exemplos de santidade à
sua volta ao crescerem? Muitos adolescentes não só deixam
de reconhecer a graça de Deus nessas experiências, mas mui­
tas vezes desejam que tivessem sido criados em famílias onde
pudessem ter mais "liberdade".

Paulo diz, com efeito: "Vocês percebem o que Deus fez?


Ele os qualificou para a Sua herança! Vocês fazem parte da
família de Deus! Vocês são os herdeiros das riquezas da Sua
graça!". Paulo não queria que os cristãos colossenses deixassem
de perceber o fato mais fenomenal de suas vidas. Devemos nos
esforçar para que nossos adolescentes também não deixem.
Maturidade significa não menosprezar aquilo que merece ser
altamente apreciado.
6. Consciência do Reino. Paulo termina a sua descrição de
maturidade com um princípio muito importante. Cristo não
nos liberta do reino das trevas para que possamos viver por
nós mesmos, como nosso próprio rei. Ele nos traz do reino das
trevas para o Seu reino. De escravos do pecado, passamos a
ser escravos de Cristo! Nossas vidas nunca nos pertenceram,
214 CAPÍTULO ONZE

nós pertencemos a Ele. A Sua vontade é o nosso dever. A Sua


glória deve ser o nosso objetivo. Os Seus propósitos se tornam
nossa agenda de vida. Vivemos por meio dele e para ele. Em
tudo o que fazemos, há uma agenda mais relevante: o Seu
reino e a Sua justiça.

E essencial que os adolescentes que tendem a enxergar


apenas a si mesmos ou aquilo que está próximo e que são
im pulsivos e levados pela emoção, tenham um foco mais
amplo, uma agenda mais relevante. Imagine como seria dife­
rente a vida do adolescente médio se ele tivesse consciência
da obra de Deus e de Seu reino. Imagine o quanto a vida de
seu adolescente mudaria se a vontade dele de fazer parte da­
quilo que Deus está realizando na terra fosse maior do que a
de realizar os seus próprios desejos e sonhos! (Imagine como
nossas próprias vidas mudariam!) Precisamos viver o reino
de Deus diante de nossos filhos para que eles cresçam vendo
a si mesmos como cidadãos do reino, operários do reino e
construtores do reino. Nosso objetivo é que esse foco molde
cada área da vida deles: as amizades, o trabalho, a escola, o
lar, o lazer, os pensamentos e as posses.

Esses padrões p a recem ser inatingíveis? Eles são elevados,


e eu tenho muito o que crescer ainda, mas quero encorajá-lo
a estabelecer padrões altos para si mesmo. Não ceda a qual­
quer perspectiva sobre educação que o convença de que as
promessas e objetivos do Evangelho estão além do alcance
de seu filho adolescente. Creia que Deus pode fazer mais do
que você possa pedir ou pensar, por meio de você e neles.
Aproveite toda oportunidade para encorajar o adolescente a
caminhar em direção a esses objetivos. Tenha uma visão bíblica
de maturidade que guie tudo o que você faz ao preparar seu
filho para essa eventual emancipação de seu lar.
SAINDO DE CASA 215

wt© Diário da Maturidade


"M ãe", ela disse, "posso fazer uma pergunta?" Era de
manhã bem cedo e todos estavam apressados para sair de casa.
Embora na verdade não tivesse tempo, a mãe disse: "Claro, o
que você tem em m ente?" "Bem ", ela disse, hesitante, "sabe
aquele acampamento de fim de semana que eu lhe pedi para
ir? E que vão meninos também. Eu não queria que você pen­
sasse que eu estava fazendo algo escondido nas suas costas e
queria saber o que você acha que eu devo fazer. Eu realmente
quero ir, mas não se for a coisa errada a fazer". A mãe sorriu
por dentro ao perceber a maturidade revelada nessa breve
conversa matinal.
Se seu adolescente está crescendo em sensibilidade à von­
tade revelada de Deus, crescendo em viver uma vida santa,
se você está vendo nele perseverança, gratidão e consciência
do reino, então, essa maturidade crescente produzirá fruto no
modo em que ele ou ela reage às obrigações, decisões, relacio­
namentos e tentações diárias. Você precisa saber quais serão
os frutos práticos da maturidade para poder avaliar se seus
filhos ou filhas estão prontos para sair de sua casa. Vejamos
quais são os frutos práticos da maturidade bíblica.

1. Aceitação de responsabilidade pessoal. Uma adolescente em


processo de amadurecimento começará a abandonar a visão de
que "a vida tem que ser divertida e agradável o tempo todo -
por favor, me distraia ou eu ficarei enfadada". (Lembre-se de
que o tédio tende a ser um dos temores diários da juventude.)
Conforme amadurecer, ela passará a aceitar e até a encontrar
satisfação nas responsabilidades ordenadas por Deus que são
dela. Ela não terá que ser ameaçada, manipulada ou coagida a
fazer o que foi chamada a fazer. Ela não dará desculpas para
sua irresponsabilidade, dizendo: "Ah, desculpe, eu esqueci",
/Não sabia que eu tinha que fazer isso...", ou "Acho que não
216 CAPÍTULO ONZE

entendi bem o que você disse". Ela não terá que ser observada
ou investigada. Ela começará a desenvolver uma reputação
por ser confiável e digna fora do lar.

Você verá uma crescente aceitação de responsabilidade


pessoal em várias áreas da vida. Seu filho adolescente assu­
mirá responsabilidade em manter uma comunhão diária com
o Senhor. Nos primeiros anos de vida de uma criança, os pais
cristãos ficam quase totalmente no controle da exposição dela
às coisas do Senhor. Em algum ponto, a criança deve interna­
lizar esses valores e assumir a responsabilidade por seu pró­
prio relacionamento com Deus. Ela deverá ter um desejo pelo
Senhor que a faça buscar comunhão, ensino bíblico, adoração
pessoal e ministério.

Ele também assumirá a responsabilidade pela manutenção


de relacionamentos saudáveis, produtivos e que glorifiquem
a Deus em sua vida. Isso inclui pais, irmãos, amigos, vizinhos
e outras autoridades fora do lar. Crianças pequenas requerem
constante intervenção dos adultos para manter relacionamen­
tos. Elas tendem a não entender como criam problemas em
seus relacionamentos e a não saber como resolver os proble­
mas que criam. Você deve observar sempre se seu adolescente
está desenvolvendo relacionamentos saudáveis e duradouros,
que não requeiram intervenção consistente de outros para ser
mantido.
Você também deve observar o adolescente crescendo em
uma atitude responsável em relação a trabalho e produtivida­
de. Em nossa sociedade materialista e voltada para o prazer, o
trabalho é considerado um mal necessário e uma interrupção,
algo que devemos fazer para custear os prazeres da vida.
Todavia, a cultura também tende a ver o trabalho como em­
pecilho à nossa busca de prazeres. M uitos adolescentes em
lares cristãos (e talvez seus pais também) adotaram a visão de
SAINDO DE CASA 217

mundo hedonista de nossa cultura. O resultado é o desdém


pelo trabalho e a tentativa de evitá-lo sempre que possível.

A visão bíblica do trabalho é radicalmente diferente. O


chamado ao trabalho significativo, necessário, produtivo e
criativo vai ao âmago de nossa identidade como criaturas
feitas à imagem de Deus. O trabalho era uma parte impor­
tante do mandato original de Deus a Adão e Eva. Era parte
da vida perfeita em um mundo perfeito. A queda do homem
em pecado não criou o trabalho; mas o complicou dramatica­
mente. É verdade que, ao trabalharmos, espelhamos a Deus.
Submetemo-nos ao fato de que somos criaturas em Seu mun­
do. Trabalhando, encontramos alegria e significado em viver
como Ele planejou que vivêssemos. Tornamo-nos ferramentas
pelas quais Ele mantém o Seu mundo e provê para as Suas
criaturas.
Ao avaliarmos nossos adolescentes, buscamos ver uma
atitude positiva e responsável em relação ao trabalho, dentro
e fora do lar. Ouvimos para verificar se eles resmungam, se
queixam ou tendem a se esquivar do trabalho. E buscamos os
resultados de uma vida disciplinada de trabalho em nossos
adolescentes (o elogio de um chefe, a gratidão de um líder
de jovens pela colaboração do adolescente, a disposição em
participar das tarefas da casa etc.).

2. Convicções bíblicas aplicadas. Como discutimos anterior­


mente, o adolescente em processo de amadurecimento erigirá
seus próprios limites morais. Ele não precisará ouvir um "ser­
m ão" para fazer o que é certo, tendo a ameaça de disciplina
como motivação. Um desejo de fazer o que é certo aos olhos
de Deus produzirá o fruto do esmero em sua vida. Você não
se sentirá como se estivesse vivendo com alguém que está
sempre andando na beira do abismo ou com alguém que está
constantemente tentando levar você na conversa.
218 CAPÍTULO ONZE

A dolescentes que vivem com convicção provam que


podem ser confiados. Eles fazem escolhas difíceis até quando
seus pais não estão presentes e jamais ficariam sabendo. Eles
tendem a andar com pessoas que agem da mesma forma. Tais
adolescentes podem tomar decisões que difiram das que você
tomaria, mas elas não ultrapassam os limites de Deus. Afinal,
o objetivo não é que seus filhos concordem com você em todas
as decisões, mas que suas vidas sejam um modelo prático de
submissão a Deus.

Por fim, adolescentes que estão respeitando os limites de


Deus não tendem a se esconder. Não há razão para isso. O que
eles desejam, decidem e fazem abertamente, porque é consis­
tente com a vontade de Deus. Por diversas vezes perguntei
a meus filhos adolescentes: "Você está fazendo algo lá fora
que teria medo ou vergonha de fazer na minha frente?" Esta
pergunta pode ser uma maneira prática de fazê-los pensar se
eles estão vivendo dentro dos limites de Deus.

3. Um espírito acessível, ensinável e buscador. Os adolescentes


que estão em processo de amadurecimento e se preparando
para sair de casa irão reconhecer a enorme tarefa que está dian­
te deles. Eles vão querer toda ajuda e preparo que puderem
obter. Eles não serão intolerantes em relação às conversas a
respeito daquilo que estão fazendo. Eles não ficarão na defen­
siva quando suas escolhas forem questionadas. Eles não se
distanciarão de você com respostas monossilábicas ou sendo
impacientes e argumentativos quando levados ao diálogo. E
eles não transformarão discussões amigáveis em debates hostis
tão logo o assunto toque o comportamento e as escolhas deles.
Isto presume, evidentemente, que nossas atitudes e interações
sejam o que Deus quer que elas sejam quanto à nossa relação
com eles.

Se estivermos realmente nos relacionando com nossos


SAINDO DE CASA 219

filhos adolescentes de maneira santa, algo estará errado se


a nossa sensação for a de estar constantemente pisando em
ovos quando na presença deles. Adolescentes maduros são
acessíveis. Eles aceitam ser ensinados sem brigar. Você pode ir
ao quarto deles para conversar sem se sentir um intruso. Você
pode desafiar amorosamente os seus pensamentos, escolhas e
ações, e eles as discutirão sem ira. Eles não só permitirão que
você se aproxime deles, como o buscarão para obter conselho
e sabedoria.

4. Uma auto-analise precisa. Os adolescentes que estão em


processo de amadurecimento terão uma visão cada vez mais
precisa de si mesmos. Eles terão um senso de suas forças e
fraquezas que orientará as suas escolhas nos relacionamentos
e responsabilidades. Eles terão um senso crescente de onde são
especialmente susceptíveis à tentação. Eles não serão surpreen­
didos quando você amorosamente apontar uma fraqueza que
precisa de atenção. Eles não reagirão dizendo: "De que você
está falando, eu nunca faço isso ". Eles receberão a sua ajuda
porque já terão reconhecido a sua fraqueza e necessidade de
ajuda.
Fui ao quarto de meu filho uma noite porque precisáva­
mos conversar sobre um assunto específico. Bati à porta e ele
atendeu. "Você tem um minuto?", perguntei. "Claro", disse ele.
"Eu não estava fazendo nada im portante." "Quero falar sobre
nosso relacionamento", eu disse. "Tenho estado preocupado
nos últimos tempos e achei que já estava na hora de termos
uma conversa. Parece que você anda realmente defensivo ulti­
mamente. Você parece ficar impaciente toda vez que tentamos
falar sobre suas decisões. Não estamos buscando formas de
irritar você e não queremos arruinar a sua vida. Nós o amamos
e só desejamos que cumpra tudo o que Deus tem para você".

Esperei que ele respondesse. "Acho que você tem razão",


220 CAPÍTULO ONZE

ele disse. "Acho que às vezes é meio difícil falar comigo. Só


penso que eu deveria ter vida própria e tomar minhas próprias
decisões. As vezes sinto como se vocês se esquecessem de
quantos anos eu realmente tenho. Mas sei que ainda preciso de
sua ajuda e que até quando não a quero, eu deveria aceitá-la.
Desculpe-me, sei que tenho dificultado as coisas para vocês
ultim amente". "Eu o desculpo", respondi. "Não queremos to­
mar as suas decisões por você e não queremos tratá-lo como a
uma criancinha; mas realmente achamos que há áreas em que
você ainda precisa de nós e estamos comprometidos em dar a
você a ajuda que Deus nos chamou para dar. Não poderíamos
amá-lo e nem fazer menos do que isso. Eu amo você". "Eu
também amo você", ele respondeu, e eu saí do seu quarto.

E disso que você está em busca. Não de adolescentes per­


feitos, que façam tudo na hora certa e da forma certa. Não,
você procura adolescentes que sejam maduros o suficiente
para perceber que não são produtos acabados e, por causa da
visão precisa que têm de si mesmos, sejam capazes de receber
a ajuda que você tem para oferecer.

5. Perspectiva adequada âas coisas. Já observamos que vive­


mos em uma cultura intensamente materialista que na verdade
louva e serve às coisas criadas e não ao Criador. O materialismo
da cultura ocidental já foi posto nos seguintes termos: "quem
tem mais brinquedos, ganha". Nossa tendência é definir o
sucesso em termos do tamanho da casa de uma pessoa e da
marca e do nível de luxo de seu carro. As etiquetas que costu­
mavam ser costuradas no avesso das roupas agora aparecem
na parte externa, em enormes letras, anunciando bom gosto e
afluência. E ingênuo pensar que nossos adolescentes possam
respirar o ar desta cultura materialista sem inalar alguns de
seus valores.
Como pai, você deve procurar sinais de uma preocupação
SAINDO DE CASA 221

excessiva com as coisas materiais. As perguntas a seguir irão


ajudar você a reconhecê-los. Seus filhos adolescentes expres­
sam a mentalidade "tenho que ter?" A duração do contenta­
mento deles é curta e eles passam rapidamente para o próximo
desejo? Eles tendem a avaliar as pessoas pela aparência e pelas
roupas que usam, associando-se somente a pessoas que se
encaixam em seus padrões de aparência? Tendem a descrever
seus objetivos futuros em termos materialistas, monetários?
Tendem a ficar mais felizes com você e com suas próprias vi­
das quando estão cercados das coisas que querem? Tendem a
aderir a todos os modismos da cultura? Como eles gastam o
dinheiro que você dá a eles e o dinheiro que ganham? Eles têm
espírito generoso, usando o dinheiro para servir aos outros e
ao Senhor?

O adolescente em processo de amadurecimento será grato


pelas coisas que tem, mas aprenderá que a vida não consiste
na abundância de suas posses. Ao mesmo tempo, será um bom
mordomo das coisas que Deus tem dado a ele e será alguém
a quem se as posses de outras pessoas podem ser confiadas.
Ele terá um senso da maneira adequada de usar e de pensar
a respeito das coisas que Deus proveu.

Ilp e n a s uma Q u e stã o cie Tem po


Mais cedo ou mais tarde, todos nós, que temos adoles­
centes, seremos como a mãe e o pai que vimos na varanda.
Talvez imploremos para que um adolescente bravo não vá
embora ou talvez digamos um triste adeus a um filho que
esteja pronto. Todos nós sabemos que o objetivo de Deus para
nós como pais educadores é que nos façamos prescindíveis.
Seu plano é que sejamos Seus instrumentos ao produzir filhos
que sejam biblicamente maduros, que estejam prontos para
enfrentar a vida num mundo decaído, prontos para serem sal
e luz, prontos para contribuir para a obra do Seu reino e não
222 CAPÍTULO ONZE

mais necessitados da orientaçao diária que temos dado a eles


por tantos anos.

Porque é nesta direção que estamos caminhando, precisa­


mos de uma definição clara de maturidade e de um claro senso
daquilo que é o fruto da maturidade na vida diária de nossos
adolescentes. E difícil atingir um destino sem saber onde é!

Por fim, precisamos mais uma vez encarar o fato de que


não podemos dar a nossos adolescentes o que nós mesmos
não temos. Simplesmente sermos pais cristãos não garante que
sejamos biblicamente maduros. Nós também precisamos olhar
atentamente no espelho da Palavra de Deus. Nós atingimos
o padrão bíblico de maturidade? Onde precisamos crescer?
Nós somos exemplo atraente e maduro de santidade diante
de nossos adolescentes? Estamos levando vidas responsáveis?
Nós mesmos somos acessíveis e ensináveis? Vivemos com li­
mites morais que moldam as nossas decisões e ações? Temos
um senso preciso de onde somos fracos e onde somos fortes, e
estamos abertos à ajuda de outras pessoas? Mantemos as coisas
físicas em equilíbrio adequado ou somos pais que trabalham
demais e devemos muito porque temos seguido os valores da
cultura?
Precisamos nos colocar diante de Deus e perguntar se
nós impomos a nossos filhos padrões que nós mesmos não
estamos mantendo (leia as palavras de Cristo aos Fariseus em
Mateus 23:1-4). Nossas vidas contradizem a nossa mensagem?
É possível que nossos filhos nos rejeitem e rejeitem a Deus não
por causa de nossos padrões, mas por causa de nossa própria
hipocrisia? Nós comunicamos humildemente a nossos ado­
lescentes que nós também somos pessoas em processo? Que
precisamos da graça de Deus hoje tanto quanto precisávamos
no primeiro dia em que cremos? Que nós reconhecemos a
inclinação de nossos corações para nos desviar do Criador,
SAINDO DE CASA 223

somente para endeusar a coisa criada? Que precisamos da


ajuda de Deus para permanecer fiéis e crescer tanto quanto
eles? Estamos dispostos a nos aproximar deles em tempos de
erro, buscando o perdão deles e comunicando uma confiança
vibrante na misericórdia perdoadora e libertadora de Cristo?

Nossos adolescentes respeitam as vidas que levamos? Ser


como nós faz parte da definição deles de vida bem-sucedida?
Eles dizem a si mesmos: "Vivo em um mundo onde há m ui­
tas coisas erradas e falsas, mas meus pais são genuínos. Nem
sempre gosto do que eles me dizem ou do que me pedem para
fazer, mas quero ser como eles". Nossos adolescentes olham
para nós e vêem verdade, amor, graça, fidelidade e esperança?
Eles olham para nós e vêem a Cristo?

Obter êxito ao educar significa admitirmos que, como pais,


ainda somos filhos necessitados da ajuda do Pai. Significa ir a
Ele e dizer: "N ão podemos ser aquilo para o que o Senhor nos
chamou sem os generosos recursos de Sua graça. Nós temos
crido, mas ajuda-nos em nossa incredulidade. Obedecemos,
mas fortalece-nos onde ainda somos tentados a desobedecer.
Temos amado, mas ajuda-nos quando somos movidos mais
por amor a nós mesmos do que pelo amor por Ti. Age em nós,
Pai, de modo que o Senhor possa operar por meio de nós para
conquistar as vidas de nossos adolescentes por Sua graça.
Pedimos isso para que as vidas deles e as nossas possam ser
vividas como hinos dedicados à Sua glória".
V '
TERCEIRA PARTE

Estratégias Práticas
para a Educação dos
Adolescentes
Três Estratégias Para a
Educação dos Adolescentes
BILL e Jean vieram a meu escritório parecendo cansados
e desanimados. Eles haviam ansiado por ter uma família e
desfrutaram grandemente seus prim eiros anos como pais.
Eles falaram sobre os grandes períodos de férias e feriados
que haviam tido. Lem braram os doces m omentos em que
preparavam as crianças para dormir, surpreendendo-as com
o café da manhã na cama e trazendo para casa, ao final de um
dia de trabalho, o brinquedo ocasional inesperado. Mas em
algum ponto, de alguma forma, eles perderam de vista o que
e o porquê estavam fazendo. Eles ainda interagiam com os
filhos, mas tudo parecia carecer de continuidade e propósito.

Eles tinham lido a maioria dos livros sobre educação de


filhos e até ido a um seminário de fim de semana; entretanto,
viram o relacionamento deles com o filho adolescente, em
especial, ficar cada vez mais distante. Eles sentiam que, na
maioria das vezes, o disciplinavam com irritação, e não com
propósito bíblico. Eles sentiam como se o processo todo esti­
vesse escapando do controle deles tal qual areia por entre os
dedos.

Jean disse abertamente: "Tantas pessoas já nos disseram o


que fazer, mas não sabemos como agir. Ficamos entusiasmados
toda vez que lemos um livro ou ouvimos um palestrante, mas
as coisas simplesmente não funcionam da forma como foi des­
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES 227

crita e o que esperamos não acontece. Bill interpôs-se: "Acho


que o que ela está dizendo é que precisamos de um foco ou
propósito. Estamos aqui porque queremos ter o mesmo senso
de direção que tivemos quando nossos filhos eram mais jovens.
Temos um adolescente e dois outros que estão a caminho. Não
queremos perdê-los agora". "Além disso, estamos cansados",
disse Jean, "e acho que é porque parece que complicamos os
problemas em vez de resolvê-los. Há sempre alguma bagunça
que estamos limpando".

Perguntei-me mais tarde, naquele dia, quantos outros


casais não teriam a mesma experiência que Bill e Jean. Eles
relembravam com nostalgia a época de ouro que viveram
como pais. A época em que seus filhos mal podiam esperar até
que você chegasse do trabalho e em que pegavam um livro e
imploravam que você o lesse para eles. A época em que você
podia satisfazê-los com alguns momentos de luta no chão.
Quantos pais desejam secretamente que os primeiros anos
voltem? Eles sabem que o relacionamento deles com o filho
adolescente não é mais o que era quando ele era mais jovem,
mas ao invés de fazer mudanças no presente, lastimam a perda
do passado.

Como pais, todos nós precisamos trazer duas coisas a


cada estágio da paternidade: objetivos bíblicos e estratégias
bíblicas para alcançar os objetivos. Nos últim os capítulos,
expusemos cinco objetivos fundamentais para a educação dos
adolescentes. Agora, devemos abordar as estratégias para se
atingir tais objetivos. Quero sugerir três coisas a fazer se você
pretende educar adolescentes santos que estejam preparados
para viver como sal e luz em um mundo decaído. Tais estra­
tégias trarão um senso de propósito e de foco à sua vida com
seu filho adolescente.
Em tudo isso, há uma verdade básica que precisamos
22 8 CAPÍTULO DOZE

lembrar: o que observamos sobre os adolescentes também se


aplica a nós. Todas as visões, princípios e estratégias bíblicas
se aplicam aos nossos adolescentes porque se aplicam às pes­
soas em geral. Isso expõe a verdade central deste livro. Nossos
adolescentes são mais parecidos conosco do que diferentes de
nós. Eles enfrentam um conjunto diferente de pressões, tenta­
ções e oportunidades, mas lidam com elas de maneira que nos
espelham. E, assim como nós, eles não são produtos finais.
Todas as necessidades espirituais que reconhecemos em
nossos adolescentes são, de alguma forma, identificáveis em
nós. Assim, cada uma dessas estratégias deve ser aplicada
com uma humilde disposição de se identificar com a luta do
adolescente, um humilde reconhecimento de que Deus ainda
está trabalhando para nos mudar e uma humilde prontidão
para oferecer a nossos adolescentes a mesma graça que Deus
nos tem dado.

E stra tég ia 1 ° 1 s Eeiuiê ir Prafetcss


Muitos pais cometem o erro de educar sem qualquer sen­
so de "projeto" para os guiar em seus encontros diários com
seus adolescentes. Eles tentam advertir, admoestar, ensinar
e corrigir, mas isso tudo não parece ser consistente. Eles não
vêem frutos de mudança na vida do adolescente. A expressão
"educação por projetos" implica estar focado e cheio de pro­
pósito, ser orientado por objetivos em seus encontros diários
com os adolescentes. Quando educamos com senso de projeto,
sabemos por que estamos buscando o que estamos buscando.
Educar sem senso de projeto é como ir entrar na loja, escolher
madeira, cola, ferragens e ferramentas e começar a trabalhar,
esperando q u e a o m e dir, serrar, martelar e colar, tudo se trans­
formará em algo! Ninguém de nós jamais fez isso porque isso
não funciona. Precisamos saber o que queremos construir e
conhecer os materiais necessários e o processo de construção.
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES 229

Precisam os ter o mesmo senso de projeto com nossos


adolescentes. Em que devemos trabalhar nesse filho específico,
nessa época específica de sua vida? Como devemos agir?
Novamente, educar por projetos significa estar focado, cheio
de propósito, ser orientado por objetivos em nossos encontros
diários com os adolescentes e enfatizar certos temas. Significa
que teremos discutido como perseguir essas questões com
nossos filhos. Significa que educaremos com espontaneidade
preparada, que passaremos por aqueles momentos inesperados,
espontâneos da educação com preparo e propósito.

Educar por projetos significa que não estaremos simples­


mente pensando rapidamente. Teremos perguntado a nós
mesmos em que áreas o adolescente é fraco, em que áreas ele
é suscetível à tentação, em que áreas ele parece estar tendo
dificuldades regularmente e em que áreas vemos rebeldia
e resistência. Essas coisas se tornam nossos projetos. Não
tentaremos fazer tudo de uma só vez; examinaremos nosso
filho, oraremos e consideraremos o nosso foco. Perceberemos
que Deus, em Sua soberania, nos dará oportunidades diárias
de lidar com essas questões. Teremos um senso daquilo que é
importante na vida do adolescente naquele momento e esta­
remos em busca de oportunidades para lidar com isso.

U m Exem plo Bíblico

O Salmo 36:1-4 fornece um modelo maravilhoso de edu­


cação por projetos.

Há no meu íntimo um oráculo


a respeito da maldade do ímpio:
Aos seus olhos é inútil temer a Deus.
Ele se acha tão importante,
que não percebe nem rejeita o seu pecado.
As palavras da sua boca
230 CAPÍTULO DOZE

são maldosas e traiçoeiras;


abandonou o bom senso e não quer fazer o bem.
Até na sua cama planeja maldade;
nada há de bom no caminho a que se
entregou, e ele nunca rejeita o mal.

Ao descrever a "m aldade do ím pio", Davi nos dá um


modelo para entendermos as lutas de nossos adolescentes e
de fazer a obra de Deus no meio deles.

Davi nos aponta duas deficiências dos corações dos "ím ­


pios". Tais deficiências pecaminosas existem nos corações de
muitos, senão da maioria, de nossos adolescentes (e muitas
vezes em n o s s o s c o r a ç õ e s também). Prim eiro, ele observa
que "aos seus olhos é inútil temer a D eus". Ele carece de
consciência d a existência e d a glória de Deus, e n ã o su b m eteu
sua vida ao fato dos fatos. Temer a Deus significa que minha
vida está estruturada por um senso de reverência, adoração e
obediência que flui do reconhecimento Dele e de Sua glória.
Ele se torna o ponto de referência mais importante para tudo
o que eu desejo, penso, faço e digo. Deus é minha motivação
e Deus é meu objetivo. O temor de Deus tem que ser a força
organizadora central de minha vida.
Aos olhos da maioria dos adolescentes, "é inútil temer a
D eus". Seu universo particular tende a ser dominado pelas
coisas que eles estão convencidos de que precisam ou pelo
temor das questões humanas (o desejo de aceitação pelos com­
panheiros ou o temor da rejeição pelos companheiros), ou por
questões de identidade (Sou feio? Sou "cafona"? As pessoas me
acham atraente? As partes de meu corpo um dia combinarão
umas com as outras?). Não é que Deus não domine a cena,
Ele nem sequer está lá! Deus não é a razão e o objetivo deles.
Qualquer que seja a profissão de fé deles, Deus não existe no
mundo funcional onde vivem diariamente.
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES 231

Davi também destaca uma segunda deficiência: que o


ímpio "se acha tão importante". Mais uma vez, isso descreve
m uitos adolescentes. Adolescentes tendem a não ter uma
visão precisa de si mesmos. Eles acham que sabem mais
do que realmente sabem. Acham que são mais maduros do
que na verdade são. Tendem a crer que são espiritualmente
mais fortes e sábios. Ficam convencidos de que superaram a
necessidade da educação dos pais muito antes do tempo e,
quando olham para si mesmos, não usam o espelho perfeito
da Palavra de Deus, mas os espelhos "m ágicos" da opinião
dos companheiros, da avaliação pessoal e da norma cultural.
Em tais espelhos, você realmente vê a si mesmo, mas o que vê
é distorcido, de modo que as suas pernas pareçam ser gordas
e curtas ou o seu pescoço pareça ter sessenta centímetros de
comprimento. Semelhantemente, a típica auto-análise do ado­
lescente é distorcida. Ele não vê a si mesmo com clareza ou
precisão e tende a ter "de si mesmo um conceito mais elevado
do que deve ter" (Romanos 12:3).

Tais deficiências devem permanecer em nossas mentes


ao procurarmos educar nossos filhos adolescentes. Devemos
buscar não apenas corrigir o erro do momento, mas ganhar
mais terreno. Queremos ver nossos filhos crescerem em cons­
ciência e submissão a Deus e no conhecimento preciso de si
mesmos. Vemos cada situação, cada discussão, cada problema,
cada encontro, cada troca de idéias como oportunidade de
trabalhar nessas deficiências fundamentais. E precisamos nos
lembrar de que essas lutas estão presentes nas nossas vidas
também. Elas acontecem nos adolescentes porque acontecem
nas pessoas em geral.

O Salmo 36 nos deu direção e propósito, mas ainda pre­


cisamos estar mais focados e ter um senso pessoal de projeto
com cada um de nossos filhos adolescentes. Como este salmo
232 CAPÍTULO DOZE

nos ajuda a fazer isso? Vamos ver juntos.


Vamos começar pelo objetivo. Davi nos dá um dos melhores
resumos do objetivo de Deus para nós e nossos adolescentes
das Escrituras. Ele o coloca negativamente, mas de forma clara.
Ele diz que porque o "ím pio" carece do temor de Deus e não
tem um conceito preciso de si mesmo, ele "abandonou o bom
senso e não quer fazer o bem ". Tais qualidades são o objetivo
máximo de tudo o que fazemos como pais. Queremos ajudar
nossos filhos a serem sábios e afazerem o bem.

Quem é o sábio? E a pessoa que teme ao Senhor, cuja


vida é organizada pela existência de Deus e de Sua vontade
revelada. Tal pessoa trará uma qualidade de sabedoria a sua
vida diária que pode vir somente do alto. Quem é a pessoa que
pratica o bem? Não é a pessoa que tem se comprometido em
fazer tudo de forma que agrade ao Senhor e que é consistente
com os mandamentos e princípios das Escrituras? Aquele que
faz o bem presta atenção aos limites de Deus e procura nunca
ultrapassá-los. A pessoa que é sábia procura trazer a sabedoria
a toda circunstância, a toda decisão e a todo relacionamento.
Ela sempre está perguntando: "Que decisão, atitude ou ação
expressaria melhor a vontade de Deus para mim nesta situação
específica?". Resumindo, a santidade prática e funcional é o
nosso objetivo.

Educar com senso de projeto significa ter objetivos claros


em mente, mas também precisamos ajudar nossos adolescen­
tes a viver com um senso da situação. Deus, em Seu plano
soberano, colocou cada um em um cenário específico, um
contexto específico de vida. Esse será diferente para cada um
de nossos adolescentes. O adolescente que freqüenta a escola
pública está em uma situação diária muito diferente daquele
que freqüenta uma escola cristã. O que vai às aulas em um pe­
queno colégio rural tem uma situação diária bastante diferente
TRÊS ESTR A T ÉG IA S PARA A EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES 233

daquele que vai às aulas em uma enorme escola na cidade.


Talvez a sua família não seja de grandes posses, mas o seu
filho adolescente vai a uma escola suburbana onde a maioria
das crianças vem de famílias consideravelmente abastadas.
Esta diferença será uma fonte diária de luta e tentação para
seu filho adolescente.

Preciso saber o que Deus tem colocado diante de meu


filho para que eu possa ensiná-lo a viver de olhos abertos
às pressões, oportunidades, responsabilidades e tentações
específicas que ele enfrenta. Com que relacionamentos impor­
tantes ele tem que lidar? Quem são as vozes de influência e
o que elas estão dizendo? Que valores têm sido promovidos
em seu mundo? Quais são as áreas de luta diária? Quem são
as autoridades a quem ele tem que se reportar? Precisamos
fazer estas perguntas para obter um senso preciso da situação
específica de nosso adolescente porque a santidade nunca é
geral. A santidade sempre é específica. Ela é sempre praticada
nos detalhes das situações e relacionamentos. Ser santo sig­
nifica ser sábio e fazer o bem no cenário específico onde Deus
me colocou. Nossos filhos adolescentes precisam ter não só
objetivos focados, como também um entendimento preciso de
sua situação.

Agora, passaremos ao terceiro foco da educação por pro­


jetos. Para que nossos filhos adolescentes sejam santos (Ob­
jetivo n° 1: Ser sábio e fazer o bem), e pratiquem a santidade
em seus mundos (Objetivo n° 2: Conhecer a situação deles),
eles precisam estar preparados (Objetivo n° 3: Visão pessoal
bíblica). Eles precisam entrar na situação deles com um senso
preciso de si mesmos e da guerra travada em seu interior. Se
nossos adolescentes não têm essa visão pessoal, a tendência
deles será carecer de autocontrole. O autocontrole é o sistema
de restrição interno do coração, a consciência respondendo ao
234 CAPÍTULO DOZE

conhecimento do ego e ao conhecimento do que é certo e que


Deus nos tem dado. É o coração respondendo ao ministério
do Espírito Santo para nos tornar humildes e obedientes.

As palavras d e D avi n o S alm o 36 d esta ca m dois aspectos


importantes da visão pessoal. Primeira, o adolescente deve de­
tectar o seu próprio pecado. Já observamos que os adolescentes
(não diferentes do restante de nós) não são bons nisso. Eles
tendem a ter uma visão inflada do ego. Precisamos perguntar:
"Que coisas sobre si mesmo meu adolescente não está vendo
que Deus quer que ele veja?" Que fraquezas, erros, pecados,
atitudes, valores, desejos, ídolos, pensamentos ou motivações
ele precisa enxergar e não está enxergando? E como podemos
usar as situações normais de sua vida para ajudar a detectar
esses problemas?

O segundo elemento da visão pessoal é igualmente im ­


portante. Não é suficiente que nossos adolescentes detectem o
seu próprio pecado; eles têm que passar a odiá-lo também. Um
dos truques favoritos de Satanás é apresentar o pecado como
algo que não é tão ruim. Este tem sido um de seus principais
esquemas desde o Éden, e os adolescentes (novamente, não
diferentes de nós) são muito susceptíveis. Até quando reco­
nhecem o erro, eles tendem a torná-lo mais brando do que o
que realmente é. Quando deixam de cumprir uma promessa,
dizem a você que esqueceram. Quando desobedecem, dizem
que não entenderam. Quando falam rispidamente, dizem que
nós os entendemos mal. Quando falamQs sobre um erro que
cometeram, eles se referem ao mesmo erro cometido por um
de seus irmãos. Eles tendem a não ver o pecado cõmo rebe­
lião arrogante contra Deus, como algo perigoso, destrutivo e
que leva à morte. Eles tendem a não vê-lo como repulsivo. Na
verdade, ele às vezes irá até parecer atraente e apelativo. E
lembre-se de que todas essas coisas se aplicam também a nós.
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES 235

Se não odiarem o pecado, os nossos filhos adolescentes


não irão fugir dele. Nossa tarefa é trabalhar com eles nas
circunstâncias diárias da vida para ajudá-los a ver o pecado
como Deus o vê. Assim fazendo, nosso objetivo e oração é que
eles odeiem aquele pecado e se entreguem a Cristo, dizendo:
"M iserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo
sujeito a esta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso
Senhor!" (Romanos 7:24-25).

A visão pessoal bíblica sempre tem estes dois fatores pre­


sentes: a detecção do pecado e o ódio ao pecado. Quando os
adolescentes ganharem esse tipo de visão pessoal, eles saberão
onde são fracos e reconhecerão a natureza de sua própria luta
contra o pecado. Eles serão sensíveis em relação à tentação.
Viverão de forma vigilante e por isso, em vez de cair repetidas
vezes no mesmo pecado, reagirão com autocontrole e, com a
ajuda de Deus, viverão sabiamente e farão o bem.

Queremos que nossos filhos vivam como em período de


guerra e não com a mentalidade de tempos de paz. Há uma
guerra sendo travada - uma guerra espiritual, travada no
campo de seus corações em meio às situações diárias vividas
por eles. Nossos filhos devem entrar na batalha preparados se
pretendem ser e fazer o que Deus os chamou para ser e fazer.

Recapitulemos os três objetivos da educação por proje­


tos. Nossos objetivos são concentrar todos os nossos esforços
educacionais em sermos usados por Deus (1) para produzir
adolescentes que sejam sábios e que façam o bem; (2) ajudá-los
a manter um conhecimento preciso de sua situação atual de
vida; e (3) prepará-los para buscar a santidade, ajudando-os
a detectar e a odiar o próprio pecado. Tudo isso deve ser feito
em espírito de hum ildade, reconhecendo que essas coisas
devem ser objetivos para nossas vidas também. Não deve­
mos ingressar na educação por projetos como juizes que já
236 CAPÍTULO DOZE

resolveram todos os problemas, mas como quem reconhece o


próprio pecado e a contínua necessidade de Cristo.

Minha esposa e eu temos buscado fazer isso reunindo-nos


algumas vezes por ano para fazer uma boa análise de cada
filho. Esta é a maneira usual de iniciarmos o ano letivo. Tenta­
mos reconhecer quais são os nossos "projetos" para cada filho
naquela época específica. Perguntamos a nós mesmos: "Que
lutas importantes presentes na vida dele precisamos acompa­
nhar?" Perguntamos a nós mesmos como nosso filho vê tais
áreas atualmente? Queremos saber onde ele está sendo tentado
em sua situação diária. Buscamos discernir de que maneiras
ele tende a minimizar ou racionalizar essas coisas. Buscamos
identificar as áreas em que podemos expor a luta dele com o
pecado e encorajá-lo com o sempre presente auxílio de Cristo.
Por fim, isso nos dá oportunidade de sermos honestos quanto
às nossas próprias lutas com o pecado enquanto lidamos com
a cegueira, a racionalização e a resistência de nossos filhos.

O ponto é que nós não estamos fazendo tudo ao mesmo


tempo. Não estamos só esperando que de alguma forma, de
alguma maneira, nossa educação seja benéfica. Estamos agindo
com propósito, foco e prioridades. Minha esposa e eu temos
visto os benefícios da educação por projetos em nossos filhos e
também temos sido beneficiados. A educação por projetos nos
mantém focados nas prioridades de Deus e não nas irritações
e diferenças pessoais que causam tanto conflito entre pais e
adolescentes.

Estratégia n° 2 : Diálogo Constante


\
Há anos, tem sido meu hábito "visitar" cada. um de meus
filhos quando chego em casa à noite. Lembro-me de uma noite
em que fui ao quarto de um deles para conversar. Perguntei
como ele estava e como havia sido o seu dia. Ele disse que
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES
237

estava tudo bem, mas não me convenceu muito. "Você não


me parece estar bem ", disse eu. "O que aconteceu?" "N ada",
ele disse, "Só a mesma coisa de sempre". "Algo deve estar em
sua mente; você parece desanimado", eu respondi. E difícil
explicar, você sabe, a vida é ... uma porcaria", ele resmungou.
"Sim, a vida pode realmente ser difícil às vezes", eu disse. "Mas
eu ainda não sei do que estamos falando". "Temos que falar
sobre isso agora?", ele disse com uma ponta de impaciência.
Eu disse: "Veja, você sabe que eu o amo, venho aqui todos os
dias porque me importo com você. Não estou tentando causar
problemas a você. Se você não quer falar agora, tudo bem ".

"Parece impossível às vezes", ele disse. "As coisas nunca


dão certo...parece que você nunca leva o crédito por aquilo
que faz. Se você faz o que é certo, ninguém percebe, mas há
sempre alguém por perto para te pegar quando você faz algo
errado. Agora mesmo eu quero que a escola e o meu emprego
se danem! Estou cansado dessa "encheção". As vezes sinto
como se estivesse usando uma camiseta que dissesse: 'Sou
um idiota, por favor, me importune'. Fico pensando se vale
a pena, por que aceito tamanha tortura. Não acho que possa
continuar com isso... Alguma coisa tem que mudar".

Como pais de adolescentes, é importante perceber que


essas conversas não acontecem simplesmente. Você é que faz
com que elas ocorram, ao procurar seu filho diariamente. Esta
procura diária não tem que ser negativa, algo que o adoles­
cente tema antes mesmo que aconteça ou que mal tolere o seu
desenrolar. Ao contrário, esses períodos podem ser de afeição
e encorajamento, um hábito de seu relacionamento com o
adolescente que tanto você quanto ele passem a apreciar.

Por que os nossos adolescentes precisam de conversas


constantes (diárias)? Por que é perigoso para nós deixar passar
dias, semanas, às vezes até meses entre as conversas pessoais e
238 CAPÍTULO DOZE

reveladoras com eles? Hebreus 3:12-13 responde esta pergunta


para nós e fornece um modelo para nossas trocas de idéias
diárias com os adolescentes.

Cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha coração


perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo. Ao contrário,
encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que
se chama "hoje", de modo que nenhum de vocês seja endurecido
pelo engano do pecado.

Esta passagem nos dá um m otivo para conversarmos


constantemente com nossos adolescentes. O motivo vem na
forma de advertência contra afastar-se de Deus. Observe que
o afastamento é referente ao coração. O coração sempre se
afasta antes dos olhos, da boca, dos ouvidos e dos pés.

Há muitos adolescentes vivendo em lares cristãos que


freqüentam cultos de adoração, participam de devocionais
em família e são ativos no grupo de jovens de sua igreja, mas
cujos corações há muito se afastaram do Deus vivo. Quando
tais adolescentes partem para a faculdade e apostatam da fé,
não significa que algo novo e radical esteja acontecendo, mas
trata-se do fruto do afastamento de Deus que aconteceu em
seus corações meses, talvez até anos antes.

A passagem acima caracteriza o afastamento de quatro


maneiras. Cada aspecto nos ajuda a entender a natureza da
advertência. Primeiro, somos advertidos contra um coração
perverso - um coração que não mais deseja agradar <10 Senhor
e não se submete mais às Escrituras. A seguir, a passagem nos
adverte contra um coração incrédulo. Este se refere à perda de
fé, esperança, apreciação e confiança em Deus e em Sua Pala­
vra. Terceiro, a passagem fala da apostatação como afastamento
do Deus vivo. Apostatar não é somente descumprir a lei moral;
é abandonar pessoalmente a comunhão com o próprio Deus.
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES 239

Por fim, a apostatação é caracterizada pelo coração endurecido.


Este tem a ver com a cauterização da consciência, que a torna
insensível ao ministério de convencimento do Espírito Santo. O
coração deixa de ficar incomodado com as coisas que outrora
causavam muita preocupação e culpa.

Como pais, queremos fazer tudo o que podemos para


proteger nossos filhos adolescentes da apostatação. Queremos
protegê-los da rebelião, da incredulidade, da rejeição a Deus e
do endurecimento de seus corações. Para fazê-lo, o escritor de
Hebreus diz, precisamos de constantes conversas, isto é, preci­
samos encorajá-los diariamente. Os adolescentes (como todos
nós) precisam de contato e de ajuda diários. Eles precisam de
encorajamento e exortação diários. Eles precisam de argüição
diariamente. Precisam de constantes conversas.

Observe que a passagem nos revela o motivo por que eles


precisam desse ministério diário: por causa do engano do pecado.
O pecado é enganoso e adivinhe a quem ele engana primeiro?
O seu filho adolescente verá facilmente os pecados de outros
a sua volta, mas muitas vezes ficará surpreso quando os dele
forem apontados. O problema com que estamos lidando aqui é
a cegueira espiritual. Este é um problema universal. Enquanto
houver pecado remanescente, haverá algum grau de cegueira
espiritual em todos nós.

Quando você pensar nas necessidades do adolescente,


coloque a cegueira espiritual bem no alto da lista. Esta certa­
mente é uma das conseqüências mais importantes da Queda.
Lembre-se, pessoas fisicamente cegas sabem que são cegas e
estruturam suas vidas conforme as suas necessidades. Mas as
pessoas que são espiritualmente cegas não sabem que o são;
elas acham que enxergam, e que enxergam bem. Certamen­
te isso explica por que nossos adolescentes muitas vezes se
sentem feridos e falsamente acusados e se tornam defensivos
CAPÍTULO DOZE
240

quando apontamos suas áreas de erro.


É muito importante entender a dinâmica espiritual em ação
aqui. Estamos sendo impelidos a ter contato diário não porque
pegamos uma pessoa em pecado e temos que confrontá-la.
Confronto e restauração não são o foco da passagem. Ela é pre­
ventiva. Somos impelidos a ter contato diário porque enquanto
houver pecado habitando no adolescente, haverá algum grau
de cegueira espiritual. E já que pessoas espiritualmente cegas
tendem a não se reconhecer como tal, elas normalmente não
procuram ajuda. O adolescente não tende a procurar você
porque não acha que precisa. É por isso que você tem que se
comprometer com este modelo preventivo de constantes con­
versas. É necessário ter um ambiente no lar onde haja sempre
conversas acontecendo, onde os filhos não possam murmurar
saudações, sentar-se à mesa da cozinha em silêncio e passar
o resto do tempo sozinhos em seus quartos. Você tem que ser
determinado em falar com eles e a conseguir que falem com
você, de preferência todos os dias. Enquanto fazemos isso, pre­
cisamos encarar nossa própria cegueira espiritual. Não somos
imunes a nada do que foi exposto aqui. Naquelas conversas
com o filho adolescente, Deus está operando para abrir não
só os olhos deles, mas também os nossos.

A cegueira espiritual tende a distorcer a visão que temos


de nós mesmos, de Deus, dos outros, do passado, do presente
e do futuro e de onde e como a mudança precisa acontecer.
Se essas coisas forem vistas com distorção ou simplesmente
não forem vistas, não haverá como o adolescefite reagir aos
problemas de sua vida de maneira bíblica e que honre a Deus.

Seguir o modelo de conversas constantes significa estar


disposto a procurar o adolescente. Significa não viver com
a distância que ele introduziu no relacionamento. Significa
não desistir nos momentos desconfortáveis quando você não
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES 241

é bem-vindo e nem apreciado e abandonar o relacionamento


negativo onde você só tem conversas significativas quando o
adolescente faz algo errado.

Comprometa-se com a prevenção. Não se contente com


respostas monossilábicas. Faça boas perguntas que não possam
ser respondidas sem que o adolescente revele o seu coração
(pensam entos, m otivações, propósitos, objetivos, desejos,
crenças, valores etc.). Finalmente, sempre traga o Evangelho a
cada uma dessas conversas. Existe um Redentor. Ele conquistou
o pecado e a morte. Ele está presente como Auxiliador para
todos os problemas. Há esperança! Golias morrem! A mudança
- mudança radical de coração e de vida - é possível!

Um pai que tem a sua esperança no Evangelho procurará


os seus filhos adolescentes e não deixará de fazê-lo até que
eles saiam de casa. Não esperaremos que eles venham até nós
em busca de ajuda. Não discutiremos com eles quanto a ser­
mos necessários ou não. O chamado da Palavra é claro. Com
corações cheios de esperança no Evangelho, questionaremos
e sondaremos, ouviremos e consideraremos, argüiremos e
encorajaremos, admoestaremos e advertiremos, e instruire­
mos e oraremos. Acordaremos todos os dias com um senso de
missão, sabendo que Deus nos deu um alto chamado. Somos
muralhas de proteção que Deus colocou amorosamente ao
redor de nossos adolescentes. Somos olhos que Ele deu para
que eles possam ver. Portanto, converse, converse e converse.

Estratégia ii° 3 ; Levando o A d o le sc e n te ao


Arrependim ento

Secretamente (e algumas vezes não tão secretamente),


muitos pais de adolescentes gostariam de ter um meio de
controle. Gostariam que fosse possível exercer poder sobre
seu filho adolescente para que ele fizesse o que lhe é pedido.
242 CAPÍTULO D O ZE

O que muitos pais lamentam, quando seus filhos entram na


adolescência, é a perda do poder. Então, por meio de palavras
ásperas, disciplinas dramáticas, vergonha e culpa, eles tentam
controlar os pensamentos e o comportamento de seus filhos.
O que acontece, porém, é que eles acabam se vendo em uma
guerra cada vez mais intensa com seus adolescentes por po­
der e controle. Quanto mais os buscam, mais o adolescente se
esconde. Quanto mais agridem com palavras, mais o adoles­
cente reage de igual forma. Quanto mais disciplinam, mais o
adolescente se esforça para ultrapassar os limites estabelecidos.
Quanto mais sondam, menos o adolescente fala. Quanto mais
expõem o que desejam, mais o adolescente decide fazer o opos­
to. Cada um dos lados, pai e adolescente, fica determinado a
derrubar a resolução do outro, o que resulta em um modo de
vida tenso, negativo, debilitante, onde a ira cresce e a única
mudança que ocorre é a mudança para pior.

Esta certamente não é a maneira divina de preparar os


adolescentes para uma vida produtiva e que glorifique a Deus!
Em vez de tentar colocar o adolescente sob o nosso controle,
devemos nos dispor a ser usados por Deus para que eles se
submetam alegremente ao controle Dele. Em vez de vermos a
nós mesmos como agentes de controle, precisamos ver a nós
mesmos como embaixadores da reconciliação. Nosso desejo
deve ser conduzir os adolescentes ao Senhor com corações
arrependidos, como Paulo bem diz em 2 Coríntios 5:17-21.

Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas


antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! Tudo isso
provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de
Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus
em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando
em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da
reconciliação. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES
243

se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por


amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus. Deus
tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que
nele nos tornássemos justiça de Deus.

Como pais, Deus nos reconciliou consigo para que fôs­


semos Seus embaixadores da reconciliação. É como se Deus
fizesse Seu apelo pessoal a nossos adolescentes por meio de
nós! Assim, buscamos levá-los ao Senhor com palavras de
confissão, comprometidos com o arrependimento e com es­
perança na obra efetiva de Cristo na cruz. Não os levaremos
ao Senhor apenas uma vez, mas muitas e muitas vezes, para
receber o Seu perdão e ajuda.

Há quatro passos para o processo de arrependimento e


reconciliação que tornam muito clara a nossa tarefa como
embaixadores de Deus.
1. O primeiro passo é a consideração. Como agentes de Deus,
precisamos perguntar a nós mesmos: "O que Deus quer que
meu filho adolescente veja sobre si mesmo que ele não está
vendo? Como posso ajudá-lo a ver essas coisas?" Isso tem a
ver com as questões discutidas em relação à cegueira espiri­
tual. Mas muitos pais começam a enveredar pelo caminho
errado bem neste ponto. Em vez de envolver os adolescentes
em uma conversa que os leve a considerar as coisas que eles
não considerariam por si mesmos, os pais declaram o que está
errado e o que vai acontecer como conseqüência. Durante todo
o tempo em que estão juntos, o coração do adolescente per­
manece ou passivo ou defensivo. Os seus olhos são de forma
alguma abertos. As interpretações e conclusões são todas feitas
pelo pai. Este tipo de encontro não faz com que o coração do
adolescente mude.
Contraste isso com a maneira como Natã confrontou Davi
em relação ao adultério e ao homicídio que este havia come­
CAPITULO DOZE
244

tido. Natã não entrou furioso na sala do trono de Davi (como


os pais de adolescentes são tentados a fazer) e nem disse: "Ei,
Davi, você é um assassino e adúltero, e para você, está tudo
acabado!" Ao contrário, Natã contou a Davi uma história com
a qual ele pode se identificar. Seu propósito era fazer com que
Davi considerasse o que havia feito, estimular a sua consciência
e abrir os seus olhos.

Quando tento fazer com que meus filhos adolescentes


olhem para as coisas a respeito de si mesmos, tento manter o
foco em situações concretas e normalmente faço cinco pergun­
tas:

O que estava acontecendo? (Fale-me sobre a situação.)

O que você estava pensando e sentindo? (Resposta


do coração à situação.)

O que você fez? (Reação ativa, comportamental à


situação.)

: Por que você agiu assim? (Motivação, objetivos, de­


sejos que moldaram a resposta ativa.)

Qual foi o resultado? (Como a resposta deles afetou


a situação.)

As cinco perguntas acima mudam o foco das outras pesso­


as e detalhes da situação para meu filho. Elas têm sido muito
úteis em ajudar meus filhos adolescentes a considerar o que
Deus quer que eles vejam.

2. O segundo passo é a confissão. Estou convencido de que


um dos grandes erros que cometemos quando confrontamos
nossos filhos é que tendemos a fazer a confissão por eles.
Aparecemos de repente em seus quartos, dizendo a eles o que
fizeram e por que fizeram. Ao agirmos assim, não estamos
levando o adolescente à confissão, e sim, confessando por eles.
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES 245

Na verdade, isso é até pior. Já que não tentamos abrir os seus


olhos, em sua cegueira espiritual eles pensam que nós estamos
errados. Eles sentem como se tivessem sido acusados falsa­
mente e ficam bravos conosco em vez de entristecidos com seu
próprio pecado. Em vez de acabar com a cegueira espiritual,
essa conversa tende a promovê-la. E em vez da consciência do
adolescente ser abrandada, na realidade ela é endurecida.

Precisamos entrar nos quartos de nossos filhos adolescen­


tes reconhecendo que, em nossa própria cegueira, a avaliação
que fazemos deles e a nossa atitude para com eles podem estar
erradas. Devemos estar dispostos a deixar que Deus nos corrija
ao tentarmos corrigi-los.

As palavras ásperas e inflamadas que somos tentados a


dizer durante esses períodos não encorajarão nossos adoles­
centes ao arrependimento, mas produzirão o efeito oposto. Elas
afastarão o adolescente em ira de nós e de Deus. Lembre-se,
Deus está tentando fazer o Seu apelo aos corações de nossos
adolescentes por meio de nós! A maneira como agimos pro­
move ou atrapalha o avanço de Sua obra? Nosso objetivo deve
ser levar os adolescentes a fazerem declarações de confissão.

3. O terceiro passo para levar o adolescente ao arrependimento é o


comprometimento. Este passo não deve ser omitido ou assumido.
Ele envolve a promessa do adolescente de viver, agir e reagir
de uma nova forma. Este comprometimento deve ser feito a
Deus e a determinadas pessoas e deve envolver mudança de
coração, bem como de comportamento. Este é o coração arre­
pendido - a determinação de mudar e de ir em direção oposta.
Precisamos discutir como este novo compromisso se revelará
nos relacionamentos e situações específicos que o adolescente
enfrenta todos os dias. Também precisamos ajudá-lo a prever
quando ele será tentado a deixar o seu compromisso de lado
e a voltar para o Egito.
246 CAPÍTULO DOZE

4. O último passo do processo de arrependimento é a mudança.


O verdadeiro arrependimento sempre resulta em mudanças
concretas na vida do adolescente. Aqui, novamente, precisa­
mos ser específicos. Temos que ajudar os nossos adolescentes a
pensar em situações e relacionamentos específicos e em como
eles farão as coisas antigas de uma nova maneira que glorifique
a Deus. Precisamos continuar lembrando-os que em Cristo eles
têm tudo de que precisam para fazer o que Deus os chamou
para fazer. Ele proverá uma maneira de fazer tudo o que Ele
pede.

Nossa tarefa não é aprimorar o nosso controle, mas levar


nossos filhos e filhas a se submeterem de coração ao controle
do Senhor. Assim, nos esforçamos diariamente para envolvê-
los em consideração, confissão, com promisso e mudança.
Deus escolheu usar-nos para fazer esse apelo a nossos filhos
adolescentes! Como pais, submetemo-nos ao Seu senhorio,
servindo com espírito de embaixadores nas cozinhas, salas de
estar, quartos e corredores da vida.

Neste capítulo, consideramos três estratégias fundamen­


tais para a educação dos adolescentes: A educação por proje­
tos (focalizando a área em que temos que agir no momento);
as conversas constantes (contato diário e encorajamento por
causa da cegueira espiritual) e a condução do filho ao arrepen­
dimento (produzindo consideração, confissão, compromisso
e mudança). Nenhuma dessas estratégias pode se dar inde­
pendentemente, visto que elas são complementares. Juntas,
elas provêm foco e direção às suas interações diárias com o
seu filho. Elas dão a você um senso diário de que você sabe o
que está fazendo, por que está fazendo e de como precisa fazer.
Estas estratégias também serão usadas por Deus para restringir
o seu próprio pecado ao lidar com seu filho. Elas exporão em
seu coração as áreas onde a sua ira, impaciência e frustração
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES 247

impedem a obra que Deus o chamou para fazer.

Lembre-se, o Deus que nos chamou também está nos edu­


cando. Ele está conosco em toda situação e relacionamento.
Nosso Pai nos orientará, dirigirá, protegerá, libertará e amará.
Ele nunca nos deixará sozinhos. Quando estivermos cansados
e sobrecarregados, Ele nos dará descanso. A Sua força agindo
em nós realizará mais do que qualquer coisa que possamos
pedir ou imaginar. Nossa tarefa como pais não é libertar os
nossos filhos do pecado, mas ser agentes do Único que pode
fazê-lo. Não é maravilhoso que, ao educarmos os filhos q u e
Ele colocou sob os nossos cuidados, possamos descansar no
Dele?!
Pequenos Passos Para
Uma Grande Mudança
ERA sexta-feira à noite em um típico seminário de fim de
semana de uma igreja local no meio-oeste. Estava eu falan­
do sobre objetivos bíblicos para a educação de adolescentes
quando, no meio da segunda parte de minha exposição, um
homem sentado no meio no auditório levantou a mão. "Isso é
totalmente irrealista", ele disse, "Ninguém faz isso com ado­
lescentes! Você não fala assim de verdade com seus filhos, fala?
Você realmente acha que pode alcançar esses objetivos? Não
sei de onde seus filhos vêm, mas eles não são como os meus!
Vim aqui para obter ajuda... Essa coisa simplesmente está fora
da realidade!"

Vi o pastor se afundando em seu assento, corado de vergo­


nha. Acho que ele quis me ajudar, mas entendi os sentimentos
do pai e considerei aquele um momento maravilhosamente
honesto. Foi uma ótima oportunidade para os pais que ali
estavam falar honestamente sobre quão desanimados estaVam
com o relacionamento deles com seus filhos adolescentes. Era
verdade: o que eu estava expondo a eles parecia uma enorme
m ontanha intransponível. Eles não tinham idéia de como
sair do vale onde se encontravam e chegar até os picos onde
precisavam estar. E assim que muitos pais se sentem quando
ouvem pela primeira vez este material e talvez seja assim que
você se sinta ao ler este livro. Se isso acontecer, não perca a
PEQUENOS PASSOS PARA UMA GRANDE MUDANÇA 249

esperança.

O expressivo pai pegou firme em meu braço na manhã


seguinte. "Desculpe-me por tê-lo atacado daquela forma...Errei
em ter colocado você em 'maus lençóis"', ele disse. "Tudo o
que você nos disse é bíblico e correto. Sua descrição de como
pode ser o nosso relacionamento com os adolescentes é linda.
Eu só fiquei desanimado por meu relacionamento com meu
filho estar tão longe disso. Parece que estamos o tempo todo
irritados um com o outro. Ele só fala comigo quando tem que
falar e parece que eu só falo com ele quando ele está com pro­
blemas. A noite passada, eu simplesmente não consegui ver
como sair de onde estamos e chegar aonde você descreveu".

As montanhas não são conquistadas em um único passo e


relacionamentos não mudam da noite para o dia. Mudança é
um processo, não um evento. Deus realiza a Sua obra milagrosa
de mudança por meio dos pequenos passos de fé que damos.
É sobre isso que falaremos neste capítulo. Vimos quais são
os altos objetivos para nossos adolescentes. Expusemos três
estratégias fundamentais para realizar esses objetivos. Este
capítulo é sobre os pequenos passos que podem mudar o seu
relacionamento com o(a) adolescente e as mudanças em você
que Deus pode usar para transformar a vida de seus filhos
adolescentes. Estes pequenos passos não serão apresentados
em uma ordem específica de importância. Vale a pena lembrar
de cada um. Enfatize e priorize aqueles que mais se aplicam a
você.
Nunca ceda ao pensamento de que é tarde demais. Muitos
leitores estão lendo este livro com remorso. Você gostaria
de ter recebido essas informações antes. Você está tentado a
pensar que a situação é irreversível e que não há esperanças de
alterar a dinâmica de seu relacionamento com o adolescente.
Você está tentado a pensar que Deus tem um senso fraco de
250 CAPÍTULO TREZE

tempo. O oposto é verdadeiro. Deus sabe exatamente quando


é o momento certo para nos ensinar. Ele nunca está adiantado
e nunca está atrasado.

Enquanto o adolescente estiver vivo e próximo o suficiente


para vocês terem um relacionam ento, haverá esperança.
Vá até ela e comece novamente. Com ece pedindo perdão.
Admita que sua impaciência, espírito rancoroso, egoísmo e
farisaísmo impediram o relacionamento que Deus desejava
que você tivesse com ela. Seja específico em sua confissão. Em
seguida, diga-lhe que você está determinado a estabelecer um
relacionamento de amor, que você se compromete a conversar
e que a vida dela é importante para você e que você deseja
ajudá-la sempre que puder. Depois siga em frente.

Tenho visto inúmeros relacionamentos entre pais e ado­


lescentes mudarem dramaticamente porque os pais se recu­
saram a desanimar. Eles avançaram em humildade e amor e
começaram a se relacionar com os adolescentes de uma forma
mais bíblica. Sem demora, os adolescentes começaram a baixar
antigas muralhas de defesa e se tornaram abertos e comuni­
cativos novamente.

Mantenha a calma. Deus existe. Ele está no controle. Tudo o


que Ele faz é bom. Ele sabe o que está fazendo até quando nós
não sabemos! Como pais de adolescentes, há três coisas que
podem ser feitas para evitar entrar em pânico, tomar decisões
impulsivas e tornar uma situação difícil pior.

Primeira, ouça suficientem ente bem (e faça perguntas


suficientemente boas) para se informar direito de todos os
fatos. Certifique-se de obter um quadro preciso da situação
com que está lidando. Uma vez meus pais voltaram para casa
após uma noite fora e depararam com a cabeça de meu irmão
mais novo totalmente coberta por uma bandagem improvisada
PEQUENOS PASSOS PARA UMA GRANDE MUDANÇA
251

que tínhamos feito com um lençol de cama. Ele havia machu­


cado a cabeça em um radiador. Minha mãe entrou em pânico
imediatamente, começou a gritar e quase chamou uma ambu­
lância. Quando meu pai tirou o curativo, o que ele descobriu
foi um ferimento razoavelmente profundo, mas relativamente
pequeno. Meu irmão está vivo até hoje! Portanto, espere até
ouvir os fatos.

Segunda, não exagere na reação emocional. Não ceda aos


impulsos de ira. Não dê lugar ao medo. Não se deixe vencer
pelo desânimo. Gaste tempo pensando, orando e discutindo
as coisas com seu cônjuge antes de falar com o adolescente.
Tanto dano relacionai e espiritual é causado por pais que não
se preparam para os momentos problemáticos que são opor­
tunidades dadas por Deus para ministrar ao filho adolescente.

Terceira, não torne o erro do adolescente pessoal demais.


Isso transforma o erro dele em ofensa pessoal a você. Um pai
que esteve em meu escritório disse raivosamente ao filho:
"Com o você pôde fazer isso a mim depois de tudo o que fiz
por você?" Ele viu o erro como um ato contra ele, e não como
uma ilustração dada por Deus da luta e da necessidade do
filho. Por causa disso, foi incapaz de ministrar ao filho. Ele não
conseguia superar sua própria ira e mágoa. É difícil ministrar
em amor ao adolescente quando se está muito irado com o que
ele fez. Lembre-se, "a ira do homem não produz a justiça de
D eus" (Tiago 1:20).

Mantenha o diálogo aberto. Está vamos indo a uma loja e, de


repente, a conversa ficou muito importante. Minha filha estava
se abrindo, contando suas lutas na escola de uma forma que
eu nunca havia presenciado antes. Quando ela saiu do carro,
acordei para o fato de que a coisa mais importante que eu
faria com aquela conversa seria o que eu viria a fazer depois
de ela ter acabado. M uitos pais cometem o erro de deixar
252 CAPÍTULO TREZE

que a porta aberta da auto-revelação de seu filho adolescente


se feche novamente. Eles erram em não manter um diálogo
aberto. Eles erram em buscar o adolescente com expressões de
preocupação, promessas de que vão orar e perguntas simples
de como vão as coisas.

E útil adquirir o hábito de fazer verificações regulares


depois que uma questão, problema, tentação, decepção, medo,
luta ou erro que foi revelado. Sua filha adolescente tem expe­
rimentado tentação freqüente e contínua e está sucumbindo?
Há situações novas relacionadas a isso que ela precise discutir
com você? Que novas perguntas ou dúvidas têm surgido? Ela
sente que cresceu? Voltei inúmeras vezes a falar com minha
filha sobre o assunto introduzido naquela tarde. Aprendi
mais sobre o mundo dela e ela ficou menos reservada para
comunicar-se. Ela sabe que eu me importo com ela e passou a
crer que Deus também Se importa.

Demonstre como a Bíblia interpreta, explica e organiza a vida.


Não dê respostas apressadas como: "Eis o que eu penso sobre o
assunto" ou " Faça isso porque eu m andei". O seu adolescente
precisa confiar nas Escrituras como fonte divina de sabedoria e
entendimento sobre a vida. Ele precisa desenvolver a habilida­
de de usar este recurso incrivelmente suficiente. Cada situação
fornece uma oportunidade de ajudá-lo a perceber que ele não
está reagindo simplesmente a suas experiências, mas à sua
interpretação dessas experiências. Cada circunstância também
fornece uma oportunidade de demonstrar como a Bíblia traz
sentido às coisas que seu filho enfrenta todos os dias. O objetivo
é que ele realmente adote as Escrituras como "lâm pada que
ilumina os meus passos e luz que clareia o meu cam inho"
(Salmo 119:105).

Disponha-se a revelar sua própria luta. Muitos pais cometem


o erro de apresentar a seus adolescentes uma visão "sim ples­
PEQUENOS PASSOS PARA UMA GRANDE MUDANÇA 253

mente faça" da vida. Ao deixarem de revelar as suas próprias


lutas, eles minimizam a realidade e a intensidade da luta para
se levar uma vida pura, produtiva e responsável. Fazem pare­
cer como se tudo fosse muito fácil para eles e, de maneira sutil,
comunicam que é assim que tudo funciona: você aprende o que
é certo e simplesmente o faz. Sua impaciência e frustração com
seus adolescentes muitas vezes comunicam uma atitude: "Se
sou capaz de fazer isso, por que você não seria? Que consolo,
instrução, sabedoria e esperança podem advir quando você
compartilha com o adolescente como você tem lutado com os
Golias em sua vida! (Em 2 Coríntios 1:3-11, Paulo ilustra isso
para nós.)
Mantenha Cristo e Sua obra no Centro de Tudo. O relaciona­
mento mais importante da vida de seu adolescente não é o
relacionamento dele com você, mas o relacionamento dele com
Cristo. Sua principal tarefa é levá-lo a Cristo em espírito de
adoração, confiança e obediência. Esteja alerta para as oportu­
nidades de chamar a atenção para o perdão, para a libertação
e para o poder que há Nele. Faça com que toda a sua instrução
seja voltada para Cristo.

Lembre-se, pecadores tendem a se esconder. Tendem a


amar a escuridão e não a luz porque suas obras são más (João
3:19). Eles deixam que a vergonha e a culpa os leve a ficar em
secreto. Cristo dá a seu adolescente uma razão para sair do
esconderijo para a luz. Uma vez que ele comece a compreender
a profundidade e a magnitude da graça de Cristo, não fará mais
sentido pensar em se esconder, negar, se defender e transferir
a culpa. A mensagem da graça de Jesus Cristo precisa dar o
tom a cada conversa.

Lembre-se também, de que você foi chamado para encar­


nar Cristo na vida de seu filho adolescente. Isso significa que
não basta falar da graça Dele; você deve também ser exemplo
254 CAPÍTULO TREZE

dela ao ajudar o adolescente a lidar com os seus próprios pe­


cados. Os períodos de disciplina não devem ser aqueles em que
falar gritando, apontar dedos de acusação, explodir palavras
inflamadas e pisar duro em desagrado dos pais sejam a norma.
E possível disciplinar poderosa e incisivamente em uma atmos­
fera de graça. Se você deixar de falar a verdade em amor, ela
deixará de ser a verdade, pois a pureza de seu conteúdo será
corrompida por sua frustração, impaciência e ira.

Você é pecador. Não demonstre surpresa diante da luta do


adolescente com o pecado. Você sabe que o adolescente vive em
um mundo decaído. Sabe que ele é pecador por natureza. E
sabe que Satanás existe e é mentiroso, maquinador e tentador.
Como pai de um adolescente, você não deve ficar chocado ou
surpreso com a presença e o poder do pecado na vida de seu
filho. Você deve esperar guerra. Ao relacionar-se com seu filho,
você tem que estar armado para uma guerra, não contra ele,
mas contra o verdadeiro inimigo (leia Efésios 6). Se for honesto
em relação à sua própria experiência, você reconhecerá que a
batalha contra o pecado ainda é violenta em seu interior. (Leia
a descrição de Paulo dessa guerra em Romanos 7). Você reco­
nhecerá que é perigoso viver com uma mentalidade tranqüila,
de tempos de paz. E reconhecerá que essa guerra continuará
a ser travada em sua vida e na de seu adolescente até Cristo
voltar.

Isso não significa que minimizamos o pecado. Significa o


oposto. Quando respondemos com choque, tendemos a mi­
nimizar a realidade e o poder do pecado que habita em nós.
Essa reação tende a apresentar o pecado como uma aberração,
como algo extraordinário, e não como elemento presente em
toda situação, ação, pensamento, desejo e palavra humana.
As questões mais profundas da experiência de nossos ado­
lescentes não são a dor e a perda da auto-estima, mas a luta
PEQUENOS PASSOS PARA UMA GRANDE MUDANÇA 255

que enfrentam, momento a momento, com a rebelião e a in­


credulidade. Pais sábios esperam pela batalha, se armam para
ela e ensinam seus filhos e filhas a usar as armas eficazes que
somente Cristo pode prover.

Identifique as “vozes" na vida de seu adolescente. Quem são


as pessoas a quem o seu filho adolescente ouve e respeita?
Quem exerce influência em sua vida? O que essas pessoas
dizem? Quando uma criança é pequena, seus pais são quase
as únicas vozes de influência de sua vida. Mas quando ela
entra na escola, muitas outras vozes passam a fazer parte de
seu mundo. Ao interagirmos com nossos filhos adolescentes,
há sempre um sentido em que estamos em disputa com as
outras vozes de suas vidas. Que visão de vida é promovida
pelo amigo, pela banda de rock, pelo treinador, pela sitcom,
pelo chefe, pelo professor, pela revista, pelo líder de jovens?
Você precisará se expor a alguma dessas vozes. Ouça o CD
enquanto lê a letra impressa na capa. Leia a revista sobre skate.
Sente-se e assista à sitcom. Gaste tempo conhecendo o treinador
e o professor. Saiba com o que você está lidando ao ter aquelas
conversas espontâneas, casuais, mas muito importantes com
o seu filho adolescente. Determine tornar-se conhecedor das
vozes de influência do mundo no interior da mente dele. Seu
objetivo é encorajar a disposição dele de recuar e biblicamente
avaliar as vozes e o fruto da influência delas na forma como
ele pensa, fala e age.

Quando desafiar as vozes que influem na vida de seu


adolescente, certifique-se de que sabe sobre o que está falan­
do. Os pais muitas vezes perdem a credibilidade porque são
mal informados. Quando não cumpre seu dever de casa, você
acaba fazendo uso de estereótipos, generalizações, rumores e
caracterizações simplistas. Isso enfraquece o respeito do ado­
lescente pelas coisas importantes que você tem a contribuir.
256 CAPÍTULO TREZE

Ela vai embora achando que você simplesmente não sabe o que
está falando. Se você quer instruir efetivamente a adolescente e
ajudá-la a aprender a filtrar as vozes da vida dela, gaste tempo
fazendo pesquisas.

Planeje como lidar com a tentação. Você convive todos os dias


com certas tentações e é especialmente susceptível a algumas
delas. O mesmo acontece com a adolescente. Ela vive em um
mundo onde a tentação é uma realidade diária. Não é suficien­
te evidenciar a tentação depois do fato consumado em uma
conversa do tipo: "isso é o que você deveria ter feito". Todos
nós precisamos ensinar nossos filhos e filhas a olhar adiante
e identificar os buracos no asfalto para que não "caiam " neles
uma vez mais.

Precisamos estabelecer um plano tentação com nossos filhos


adolescentes. Primeiro, descubra onde ele está lutando com
a tentação no momento. Depois, com cada tentação, trace um
plano concreto de escape com instruções sobre "o que fazer
quando", sempre tomando o cuidado de mostrar ao adoles­
cente os recursos encontrados no Senhor Jesus Cristo. Por fim,
reveja e revise o plano periodicamente. Os meios de escape
são suficientes e executáveis na prática? O adolescente está
tomando a rota de fuga que o Senhor proveu? Há novas tenta­
ções que precisam se tom ar parte do plano? O resultado disso
será que o adolescente irá ficar sábio em relação à tentação,
apreciando cada vez mais a sua ajuda prática e confiante na
libertação do Senhor.

Torne a prestação de contas responsabilidade de seu filho ado­


lescente. Se o adolescente admite ser menos do que perfeito, se
admite que diariamente, em palavra, pensamento ou em obra,
ele faz coisas que não deveria fazer, se admite que ainda não
sabe tudo, se reconhece que vive em um mundo decaído onde
há tentações a se fazer o que é errado em toda a sua volta, se
PEQUENOS PASSOS PARA UMA GRANDE MUDANÇA
257

admite que há vezes em que ele fica cego para sua própria
fraqueza e erro, então o que ele está dizendo é que ele é uma
pessoa que precisa de ajuda.

O adolescente que reconhece que precisa de ajuda não


se irrita quando a oferecem a ele. Ele não foge da ajuda, mas
a busca. Não faz sentido algum reconhecer a doença física e
evitar o médico, ou ir ao médico e recusar-se a seguir a sua
orientação para cura. Da mesma forma, o adolescente que
começa a reconhecer a guerra contra o pecado buscará ajuda.
Ele irá desejar ter pessoas em sua vida que o amem o suficiente
para conversar, fazer perguntas e exigir que ele preste contas.

Há um princípio importante de ministério pessoal aqui. A


prestação de contas sempre funciona quando a pessoa de quem
se exige que preste contas deseja a ajuda e procura se sujeitar
à chamada a prestar contas. O mundo de Deus é grande. Há
sempre lugares onde se esconder. Um exército de pessoas não
pode obter êxito em exigir que preste contas uma pessoa que
não deseje ajuda. Precisamos reconhecer a nossos adolescentes
que nunca conseguiremos segui-los pelos cantos secretos de
suas vidas se eles não nos quiserem ali. Se assim quiserem,
eles serão capazes de se esconder de nós. Precisamos ensinar
a eles que maturidade significa admitir a necessidade de ajuda
e buscá-la. Adolescentes maduros crescem na disposição de
reconhecer a sua necessidade, gastam menos tempo fugindo
da ajuda e gastam mais tempo buscando-a.

Seja um bom ouvinte e um bom observador. Educar é fazer o


trabalho pastoral em casa. Assim como os pastores, os pais
são chamados a zelar pelas almas daqueles que estão sob
seus cuidados. As pessoas que se saem bem em cuidar de al­
mas não são apenas bons estudantes das Escrituras, mas são
também bons estudantes de sua "congregação". Como pais,
Deus colocou uma "congregação" sob nosso cuidado diário,
258 CAPÍTULO TREZE

mas muitos de nós não temos um modelo de zelo de almas ou


de pastorado para educar. O nosso é um modelo mais do tipo
"controle de comportamento, regularização de resultados".
Muitos que estão em meio à tarefa de educação de adolescentes
tendem a se esquecer das coisas poderosas que a Bíblia tem a
dizer sobre o coração.
Se você entende que sua missão como pai é pastorear o
coração ou zelar pela alma, você irá desejar conhecer bem os
filhos que Deus colocou sob os seus cuidados. Você irá desejar
ser exemplo de Maravilhoso Conselheiro, que é capaz de se
solidarizar com nossas fraquezas e nos mostrar misericórdia
e graça em tempos de necessidade porque Ele gastou tempo
para conhecer a nós e a nosso mundo (leia Hebreus 4:14 em
diante). Para sermos exemplo de Cristo, precisamos desacelerar
nossas vidas a fim de termos tempo para ouvir a nossos filhos
adolescentes e observar o que eles fazem. Muitos gastam pouco
tempo com seus filhos adolescentes e, quando o fazem, são
eles mesmos que falam. Este tende a ser o caso porque estão
à volta deles somente durante os momentos de disciplina.
Você deve dar importância às palavras do adolescente.
O que as observações casuais que ele faz sobre a vida dizem
a sobre o coração dele? Que tipo de conselho ele dá a seus
irmãos mais novos? O que as interações com os companhei­
ros dizem sobre o que se passa no interior dele? O que você
aprende sobre zelar pela alma dele a partir das interpretações
que ele faz sobre sua própria vida? Em que áreas ele profere
palavras de ira, decepção, arrependimento, temor, cinismo e
perda? Ele diz palavras de fé, verdade e esperança? O que ele
fala sobre Deus? O que ele fala sobre si mesmo? Precisamos ser
estudiosos do mundo interior de nossos filhos adolescentes.

Você deve dar im portância às ações dos adolescentes.


De que forma ele reage a você? E aos irmãos? E aos amigos?
PEQUENOS PASSOS PARA TJMA GRANDE MUDANÇA
259

Como ele lida com responsabilidades no lar, no trabalho ou


na escola? Como ele trata os pertences - os seus próprios e
os de outras pessoas? Como ele reage às autoridades em sua
vida? O que ele faz quando tem que tomar decisões? Como
ele lida com os problemas que enfrenta? Como ele reage aos
conflitos? Você vê nele evidências de um coração que quer
fazer o que é certo? Você vê humildade, amor e paciência?
Existem áreas em que ele dá e situações em que ele serve? A
vida dele é auto-absorvida e autofocada? Observe, lembrando
que nossos filhos adolescentes falam e agem de acordo com o
que está no coração. Por meio de nossa observação, Deus nos
revela os frutos das questões básicas do coração.

Não dê vez à "alergia a problemas Muitos pais parecem ter


reações alérgicas aos problemas que os adolescentes trazem a
suas vidas. Suas reações a tais problemas tendem a ser agrava­
das e inflamadas. Eles tentam evitar saber sobre os problemas
de seus filhos adolescentes (numa atitude "não pergunte para
não ter que ouvir"), e anseiam por dias em que tudo ocorra
tranqüilamente (sem chateação). Quando vivemos dessa for­
ma, perdemos de vista o que Deus está fazendo na vida do
adolescente e o que Ele deseja fazer por meio de nós.

D ois p rin cíp io s b íb lico s devem ser constantem ente


m antidos em foco. O prim eiro é que Deus atua em toda
^situação para realizar o que é redentoramente bom. De Sua
perspectiva, não há situações fora de controle. Ele é bom e está
sempre operando soberanamente para o bem (Romanos 8:28
em diante). O segundo princípio é que a provação é uma das
principais ferramentas que Deus usa para nos amadurecer e
completar. Não podemos ceder à idéia de que as dificuldades
vêm p orqu e D eus está ausente ou passivo. Ele está na
dificuldade, usando-a como instrumento de maturidade (Tiago
1:2-8).
260 CAPÍTULO TREZE

Esses dois p rin cíp io s devem alterar radicalm ente a


nossa forma de pensar e de reagir quanto às situações que
envolvem problemas com nossos adolescentes. Temos que
arrazoar conosco mesmos contra a mentalidade de desastre.
Deus pretende que dias difíceis sejam tempos de crescimento
e arrependimento. É durante essas épocas que Deus expõe os
corações de nossos filhos e filhas com o propósito de resgatá-
los do domínio das trevas e transportá-los para o reino de Seu
querido Filho (Colossenses 1:13-14). Em vez de ficar irado e
frustrado - esbravejando com os adolescentes e dizendo que
eles estão arruinando as nossas vidas - precisamos ver esses
tempos difíceis como enormes oportunidades de redenção da­
das por Deus. Em tudo o que dizemos e fazemos, precisamos
nos comprometer a ser parte do que Deus está realizando em
nossas vidas. Esses são os momentos de Deus. Não podemos
perdê-Lo de vista e ceder às reações de ira, medo e desespe­
rança.
Por fim, precisamos ser humildes o suficiente para admitir
que tendemos a ser "alérgicos a problemas" porque tendemos
a viver de forma egoísta e não redentora. Queremos regularida­
de, paz, conforto e sossego. Queremos nossas vidas previsíveis
e descomplicadas. Os problemas que os adolescentes trazem
para casa são uma intrusão nos desejos e planos que temos
para nossas vidas. Tendemos a ficar irados, não porque eles
estão bagunçando suas vidas, mas porque estão bagunçando
as nossas. Somos cativados por nosso próprio plano e tende­
mos a perder de vista o plano de Deus. Começamos a pensar
em nossos filhos como agentes de felicidade, sem lembrar que
somos chamados para ser agentes de Deus de crescimento
em santidade na vida deles. Assim, em tempos de dificulda­
des, lutamos iradamente por nosso próprio sonho em vez de
fazermos alegremente a obra de Deus. Se pretendemos ver
consistentemente os problemas como oportunidades, preci­
PEQUENOS PASSOS PARA UMA GRANDE MUDANÇA
261

samos começar confessando humildemente o nosso egoísmo


ao Senhor.

M antenha o coração sempre focado. Não ceda ao estilo de


vida de educação em que opiniões e sermões são proferidos
com uma ponta de irritação. Não se contente em conseguir
que o adolescente faça o que você deseja. Tenho visto os pais
que envergonham o filho na frente de outros, manipulam o
adolescente com coisas, ameaçam com ultimatos, enchem de
culpa e até usam o Evangelho a fim de manipular, tentando
produzir o comportamento que desejam naquele momento.
Nossa tarefa é trazer à tona os propósitos do coração do
adolescente (Provérbios 20:5). Em toda situação, precisamos
perguntar quais são as questões do coração que Deus está
tentando expor e como podemos ser Seus instrumentos no
processo.
Precisamos entrar em cada situação com respostas bran­
das, com perguntas penetrantes que não possam ser respondi­
das sem que haja auto-revelação e com disposição para gastar
tempo ouvindo, observando e discutindo. Precisamos entrar
armados com o Evangelho da graça e esperança. Precisamos
contar histórias que envolvam o coração e estimular a consci­
ência. Precisamos estar dispostos a falar sobre nossa própria
luta. Precisamos fazer tudo o que podemos para que o adoles­
cente abandone a sua atitude defensiva e olhe para si mesmo
no espelho perfeito da Palavra. Precisamos fazer tudo isso
lembrando que as palavras e ações com que estamos lidando
são frutos de pensamentos e motivações que se enraizaram no
coração do adolescente. Não devemos nos contentar em ser
apanhadores de frutos quando podemos ser escavadores de
raízes. A mudança permanente em nossos adolescentes sempre
começa no nível do coração.

Primeiro, faça o seu dever de casa bíblico. Nossa tarefa como


262 CAPÍTULO TREZE

pais não é clonar a nós mesmos em nossos filhos, conseguir


que se submetam a nossos estilos, desejos e preferências. Nosso
objetivo é que eles sejam submissos à vontade de Deus revelada
em Sua Palavra. Nossa tarefa não é produzir nós mesmos, mas
Cristo, em nossos filhos adolescentes. Assim, precisamos nos
preparar biblicamente por nossa própria causa, para que nos­
sas reações não sejam guiadas pela emoção, mas por propósito
bíblico. O que é biblicamente importante em cada situação e
como podemos perseguir essas coisas?

Também precisamos fazer nosso dever de casa bíblico por


causa de nossos filhos. Devemos ser capazes de demonstrar
que o que estamos exigindo de nossos adolescentes é bíblico.
Devemos ser capazes de demonstrar como cada situação é
interpretada (ou faz sentido) pelos mandamentos, princípios,
promessas e temas das Escrituras. Queremos viver a Palavra
em nosso comportamento e ensinar nossos filhos a olharem
para a vida através das lentes da Palavra. Queremos chamá-
los a serem obedientes a esta Palavra. Nossa esperança é que
nossos filhos e filhas cresçam em apreciação pelas Escrituras
e em amor pelo Deus Nelas revelado. Por fim, nossa oração é
que eles vivam como pessoas da Palavra.

Temo que muitos de nós careçamos desses propósitos por


vivermos com pressa demais. Cedemos a reações impulsivas
e permitimos que nossas emoções nos controlem. Reagimos
rapidamente e queremos resultados de mudança imediatos.
Entramos na cena despreparados para pensar e responder
biblicamente e acabamos dizendo coisas das quais nos arre­
pendemos e anunciando disciplinas que não aplicaremos. No
processo, os propósitos de Deus e os recursos de Cristo ficam
completamente perdidos. A preparação bíblica de antecedência
protege muito disso.
Sempre fale com o adolescente de form a amorosa e construti­
PEQUENOS PASSOS PARA UMA GRANDE MUDANÇA
263

va. Isto parece tão óbvio que nem parece digno de menção.
Contudo, precisamos estar cientes da tentação de falar com
nossos adolescentes de uma maneira que não seja a bíblica.
Há diversas razões porque somos tentados a fazê-lo. Primeiro,
viver com o adolescente significa viver com o inesperado. A
vida muitas vezes fica mais desordenada do que em ordem.
Nesses anos, somos atingidos por coisas que não prevemos e
para as quais nos sentimos despreparados. Nós muitas vezes
cedemos a falar de acordo com o nosso despreparo.

Segundo, no mundo em expansão do adolescente com


mais atividades, mais responsabilidades e um círculo mais
amplo de relacionamentos, nosso filho não tende a ficar por
perto tanto quanto antes. Quando a já ocupada vida da famí­
lia se une à vida frenética de um adolescente, normalmente
não sobra muito tempo livre. Normalmente nos envolvemos
em problem as quando tentam os esprem er uma conversa
importante em breves e poucos momentos ao longo do dia.
Tentamos falar quando o adolescente está de saída, quando
está engolindo apressadamente o café da manhã, ou quando
acontece de estarmos juntos no carro. Quando o adolescente
não é receptivo, ficamos ofendidos e a conversa toma o rumo
errado.

Terceiro, o adolescente está ciente de que está crescendo


e dessa ciência vem o desejo de ser independente, o que não
é, em si mesmo, algo ruim. Contudo, isso pode criar tensão
durante os momentos de discussão. O adolescente tenderá a
ver a nossa intervenção como falta de reconhecimento de sua
maturidade e agirá de modo defensivo. Ele passará a pensar
que não precisa da ajuda que lhe é oferecida. (Obviamente,
precisamos admitir com humildade que os adolescentes não
são os únicos que enfrentam tal luta.) Quando o adolescente
não aprecia receber a ajuda, os pais tendem a ficar magoados,
264 CAPÍTULO TREZE

frustrados ou irritados e revidam de modo emocional, fazendo


algum comentário depreciativo. O adolescente reage da mesma
forma e a conversa assume um tom negativo.

Há um último ponto, talvez o mais importante de todos. Os


adolescentes instintivamente encontrarão e destruirão os nos­
sos ídolos. (Isso certamente será obra de Deus e não intenção do
adolescente.) Nossos filhos e filhas tenderão a descobrir o que
mexe conosco e nos provocarão com freqüência. Se nós temos
um amor excessivo pelas coisas, o adolescente amassará o carro
na primeira vez em que o dirigir sozinho. Em seu nervosismo
para explicar o que houve, ele se sentará inadvertidamente - e
quebrará - a tampa plástica do novo estéreo, enquanto derra­
ma refrigerante em seu novo tapete oriental! Haverá grande
tentação de esbravejar e dizer: "Por que você simplesmente
não acaba com tudo o que há de valor na casa? Parece que
você é bom nisso!" Este não é senão apenas um exemplo de
um princípio muito importante que precisamos ter em mente.
Nossos problemas de comunicação com os adolescentes existem não
simplesmente por causa do caráter deles, mas também por causa de
nossa idolatria. Quando o desejo pelas coisas (posses, posições,
amor, respeito, apreciação, paz e conforto) assume sobre nossos
corações o governo funcional que somente o Senhor deveria
ter, inevitavelmente ocorre conflito em nossos relacionamentos
(leia Tiago 4:1-10).

Quando somos tentados a nos comunicar com o adoles­


cente de forma não bíblica, precisamos examinar a nós mes­
mos. Paulo nos lembra de três coisas importantes aqui: " Sejam
completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns
aos outros com amor". "Seguindo a verdade em amor". "N enhu­
ma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que
for útil para edifícar os outros..." (Efésios 4:2, 15, 29). Esses
mandamentos devem orientar a nossa comunicação com os
PEQUENOS PASSOS PARA UMA GRANDE MUDANÇA
265

adolescentes. Como eles são na prática?

Esse tipo de comunicação evita que haja uma postura de


adversidade "nós versus eles". Contudo, estaremos lado a
lado com nossos adolescentes como aqueles que entendem
totalmente as lutas deles. Não ficaremos acima deles como
aqueles que não conseguem se identificar com o erro deles e
ficam irritados por causa dele. Não há lugar para uma mentali­
dade de "sabe tudo" ou "Tenho todas as respostas e nenhuma
pergunta". Queremos estar com os adolescentes como pessoas
que ainda estão sendo ensinadas pelo Senhor e ainda estão
aprendendo a aplicar corretamente a Sua verdade à vida.

Comunicar-se biblicamente também significa aprender


a respeitar perspectivas e aceitar diferenças. Nossos filhos
adolescentes vão ver a vida de forma diferente de nós. Nosso
objetivo não é que eles concordem perfeitamente conosco a
respeito de todas as coisas, mas que se submetam fielmente ao
Senhor e à Sua verdade. Comunicar-se biblicamente significa
tomar tempo para ouvir o conteúdo, as emoções e as intenções
que são comunicadas em tudo o que nosso adolescente diz.
Significa aprender a fazer boas perguntas em vez de entrar
no quarto fazendo acusações. Significa aprender a levar o
adolescente à confissão, em vez de fazer a confissão por ele.

Ao falarm os com os adolescentes, precisam os tom ar


cuidado para corrigi-los sem menosprezá-los. Precisamos ser
pacientes, percebendo que a mudança pode não acontecer na
hora. Precisamos estar dispostos a voltar muitas vezes, dando
tempo ao Espírito para operar nos corações de nossos filhos.
Precisamos aprender a aceitar e a amar enquanto desaprova­
mos. Precisamos aprender a reconhecer respeitosamente as
coisas que nossos filhos e filhas acham importantes. Precisamos
evitar clichês e histórias muito repetidas que desvalorizam a
conversa e fazem com que o adolescente bloqueie a sua ativida­
266 CAPÍTULO TREZE

de mental. Precisamos minimizar o uso de exemplos pessoais


que tendem a comunicar que passamos pela adolescência sem
dificuldades, ou que atualmente somos perfeitamente justos e
não temos lutas. E precisamos tentar não personalizar demais
nem transformar em catástrofe os problemas que encontramos
com os adolescentes.

Uma vez que é somente pelo poder de Cristo que podemos


fazer essas coisas, precisamos iniciar cada dia dizendo: "Pai,
queremos seguir o Seu exemplo ao educarmos nossos filhos
adolescentes, em bora de m uitas form as nos encontrem os
diariamente necessitados. Pedimos hoje que o Senhor nos dê
poder para que usemos cada situação a fim de pensar, falar e
agir de maneira que revele o Senhor e o que o Senhor fez por
nós por intermédio de Seu Filho.

Esteja disposto a fazer vista grossa para as ofensas menores.


Nem tudo na vida do adolescente é de igual importância.
Não é preciso tratar todos os erros com a mesma intensida­
de e seriedade. O penteado não é tão importante quanto o
desrespeito. As maneiras imperfeitas à mesa não importam
tanto quanto o materialismo crescente que está devorando o
coração do adolescente. O quarto meio desarrumado não é tão
importante quanto as tentações à luxúria e ao pecado sexual.
O ponto não é que o cabelo, as maneiras e o quarto não sejam
importantes, mas sim que eles são menores em comparação
com outras coisas.
O amor sempre está pronto para deixar passar as ofensas
menores. A sabedoria vive com um senso de prioridade, com
um senso bíblico de projeto. Não devemos ter relacionamentos
como se a vida fosse um "exam e final" na escola, em que os
adolescentes são constantemente avaliados e incessantemente
criticados. Não queremos que eles sintam que nunca possam
relaxar e que devam estar sempre prevenidos. Nossa vida
PEQUENOS PASSOS PARA UMA GRANDE MUDANÇA 267

com eles precisa ser moldada por graça infalível, amor sem
limites e paciência perseverante. Resumindo, nossa vida com
eles deve ser moldada por Cristo. Ao encarnarmos a Cristo
por Sua graça diante de nossos filhos, seremos capazes de
receber o erro com graça e eles serão encorajados a levar uma
vida honesta e aberta.

Lide sempre honestamente com suas próprias atitudes. Lembre-


se, o adolescente não é o único pecador da casa. Deus ainda
está operando para nos conformar à imagem de Seu Filho.
Ainda há pecado remanescente em cada pai de adolescente.
Por causa disso, é essencial que nós não só os observemos,
como também observemos a nós mesmos. Precisamos encarar
humildemente o nosso próprio modo defensivo de ser, o nosso
próprio egoísmo, o nosso próprio farisaísmo, a nossa própria
ira e a nossa própria impaciência. Precisamos pedir perdão
regularmente a Deus e a nossos adolescentes.

Seu cônjuge pode ajudá-lo aqui. Lembre-se de que o pe­


cado é enganoso: Você tenderá a ver a partícula de poeira no
olho de seu próximo e nem notar a tora projetando-se de seu
próprio. Peça ajuda na avaliação de sua atitude e ações em re­
lação ao adolescente, e esteja disposto a ouvir mesmo quando
não tiver pedido.

Há m u itas atitu d es b íb licas que devem ser nossos


objetivos pessoais ao educarm os nossos filhos. Prim eiro,
devemos sempre fazer tudo o que fazemos porque estamos
comprometidos a viver para a glória de Deus. Este deve ser
o desejo que supera todos os outros. Devemos ser pessoas
que abandonaram a amargura e a inclinação para guardar
rancor. Devemos estar dispostos a perdoar nossos adolescentes
continuamente. Não devemos ser somente aplicadores da lei,
detetives e juizes. Devemos manter o alto padrão de Deus
diante de nossos filhos em um espírito paciente de amor,
268 CAPÍTULO TREZE

m isericórdia e graça. Devemos ser pessoas que falem com


cuidado, que prometam com cautela, e que sejam sempre fiéis
a suas palavras. Devemos ser pessoas dignas da total confiança
de nossos adolescentes. Devemos sempre fazer o que falamos
e prosseguir com todos os nossos compromissos.

Conforme já afirmado, é essencial que tragamos um espíri­


to de humildade ao nosso relacionamento com os adolescentes.
Devemos nos comprometer a ser acessíveis. Devemos estar
sempre dispostos a admitir, confessar e abandonar o erro. Por
fim, devemos continuar a examinar se nosso relacionamento
com os adolescentes tem sido moldado por uma preocupação
genuína com o bem estar espiritual deles ou pelo nosso próprio
egoísmo e interesse (leia Filipenses 2:1-12).

Espere, aceite e respeite as diferenças. Deus é glorioso em Sua


criatividade! Veja o rosto humano. Não existem dois narizes
iguais! Não seria de estranhar que mais cedo ou mais tarde
Deus simplesmente ficasse sem modelos e começasse a reciclar
os rostos antigos. Contudo, a variedade é tão infinita quanto
a Sua habilidade de criar. O adolescente não é igual a você.
Haverá diferenças. Não veja isso como algum tipo de derrota
pessoal; veja como testemunho à glória e à grandeza de Deus.
Pare para pensar e admire-se do fato de até dentro do pool de
genes de sua própria família haver tamanha variedade e dife­
rença! Veja as diferenças não como motivo de consternação,
mas de louvor.

Nosso segundo filho é artista. Não demorou muito até


que eu percebesse que ele era totalmente diferente de mim.
Ele simplesmente não vê o universo da mesma forma que eu
vejo. Lembro-me de que ele foi incumbido, quando estava no
segundo ano, de escrever uma redação de um parágrafo sobre
a Guerra Revolucionária. Tal tarefa deveria ser realizada com
o pai ou a mãe. Ele veio para casa anunciando que tínhamos
PEQUENOS PASSOS PARA UMA GRANDE MUDANÇA
269

dever de casa para fazer juntos. Depois que ele explicou a


tarefa, pensei que seria muito fácil.

Moramos na Filadélfia, então, escrever sobre a Guerra


Revolucionária não seria nenhum problema. Perguntei a meu
filho que tópico ele havia escolhido. Ele disse: "Arquitetura
durante a Guerra Revolucionária". Eu simplesmente não pude
acreditar no que estava ouvindo. Olhei para aquele menino
pequeno, desalinhado, sorrindo, e me perguntei de onde ele
teria tirado aquela idéia! Então, perguntei a ele e ele disse:
"Papai, hoje, enquanto o professor estava lendo sobre as bata­
lhas para nós, eu fiquei pensando: Mas como eram os prédios?"
“Como eram os prédios?” pensei eu. "O que importam os prédios?
E George Washington, Valley Forge, Bem Franklin e a Declaração
de Independência ? "

Aquele menino pequeno agora é jovem e cursa a faculda­


de de artes. Fico pensando no dom que Deus deu a ele. Estou
muito feliz por ele não ser como eu! Ele abriu meus olhos para
partes do mundo que eu jamais teria visto. Ele contribuiu para
minha vida e para minha família de maneiras que eu nem
conseguiria expressar. Louvo a Deus por ter criado meu filho
como ele é e pelo modo como somos diferentes. Entretanto,
ainda estou ciente da irritação que aquelas diferenças podem
criar e da tendência que ainda existe de desejar que ele seja
como eu.

Precisamos ter cuidado ao distinguir entre diferença e


pecado, entre perspectivas alternativas e rebelião contra a
autoridade. Precisamos ver a diferença entre uma escolha
apropriada e a desobediência. Precisamos encorajar e receber
as diferenças com sabedoria ao mesmo tempo em que con­
frontamos o pecado em amor.

Busque oportunidades de colocar o adolescente em posição de


270 CAPÍTULO TREZE

tomar decisões. A Bíblia nos ensina que a maturidade vem com


a prática (leia Hebreus 5:11-14). Se pretendemos lançar ao
mundo jovens adultos que estejam preparados para tomar
decisões sábias e santas, precisamos dar a nossos adolescentes
oportunidades de aperfeiçoar essa habilidade. Tendemos a
lutar com isso pela mesma razão que o chefe de uma empresa
tem dificuldade para delegar autoridade. Não queremos ter
que consertar a situação depois que outra pessoa cometeu o
erro, então decidimos que não os colocaremos em uma posição
onde isso possa acontecer.

Precisamos instruir nossos adolescentes no processo de


tomada de decisões (pensar, decidir, agir, colher as conse­
qüências e avaliar). Para isso, precisamos resistir à tentação
de considerar mais importante ter uma vida organizada do
que desenvolver neles a habilidade de tomar decisões sábias
e maduras. Temos que resistir à tentação de voltar o relógio
quando nossos filhos erram, assumindo novamente as deci­
sões deles. Por fim, precisamos resistir ao estabelecimento de
regras arbitrárias. Nossos filhos adolescentes devem ter tanta
liberdade quanto as Escrituras permitem para que eles possam
aprender as habilidades do sábio viver.

Admita humildemente os seus limites. Lem bre-se sempre


de que você não é Deus. (Isso não surpreende a ninguém a
não ser você mesmo!) Ao contrário Dele, você e eu somos li­
mitados em força e sabedoria. Há um limite para a mudança
que podemos criar. A mudança nos corações e nas vidas de
nossos adolescentes é sempre resultado da obra graciosa de
Deus. Não devemos tentar fazer, por força humana, o que
somente Deus pode operar. Nunca forçaremos nossos filhos
a se submeterem e a obedecerem, porque a submissão é por
definição o ato voluntário de um coração que pertence a Deus.
Não somos os autores da mudança; nunca seremos menos
PEQUENOS PASSOS PARA UMA GRANDE MUDANÇA 271

nem mais do que instrumentos nas mãos Daquele que criou a


mudança. Não devemos tentar fazer a Sua obra, mas sim ser
pessoas que entendam o que significa orar sem cessar.

Em todas essas coisas, devemos nos lembrar das verdades


da Palavra. Não estamos sozinhos (Josué 1:1-9). Deus é auxílio
sempre presente em tempos de tribulação (Salmo 46). Ele atua
em toda situação, local e relacionamento para realizar o que é
bom (Romanos 8:28 em diante). Ele opera poderosamente em
nós para realizar coisas que são maiores do que tudo o que
podemos pedir ou imaginar (Efésios 3:14-20). Não precisamos
ter medo de nossas fraquezas, porque a Sua graça é suficiente
e a Sua força é aperfeiçoada quando somos fracos (2 Coríntios
12:7-10). Tudo de que precisamos para fazer a vontade de
Deus já nos foi dado em Cristo (2 Pedro 1:3-4). Deus prometeu
dar-nos sabedoria sem favoritismo (Tiago 1:5). Ele é gracioso
e justo para nos perdoar e nos purificar de toda injustiça (1
João 1:9). Por causa da obra vitoriosa de Cristo, nosso trabalho
em Seu nome nunca é inútil (1 Coríntios 15:58). O dia vem
em que essa luta terminará e não haverá mais pecado ou dor
(1 Coríntios 15:50-57).

O que essas promessas fazem por nós? Elas mudam total­


mente a maneira de pensarmos a respeito da tarefa de educar
filhos. Nosso objetivo não pode ser a sobrevivência. Este obje­
tivo é baixo demais porque se esquece das coisas gloriosas que
Deus está fazendo em nós e tem prometido fazer por meio de
nós. Nossa oportunidade é maravilhosa - fazer diariamente
parte da obra gloriosa de redenção de Deus. Não poderíamos
ter um chamado mais elevado! Precisamos ver nossa tarefa
como pais como algo mais do que um dever. E um grande
privilégio. Como Deus pôde confiar tarefa tão importante a
nós? Precisamos abraçar nosso chamado com esperança. Ele
está presente e operantel Temos uma razão para nos levantar
272 CAPÍTULO TREZE

de manhã, lembrando que nossas vidas têm significado e


propósito eternos! Temos motivo para avançar firmes em fé e
fazer com coragem as coisas que Deus nos chamou para fazer
ao educarmos nossos filhos adolescentes.

Que Deus encha você com o conhecimento de Sua glória


ao servi-Lo por meio da educação daqueles que Ele colocou
sob seus cuidados.
ia
•<í

B rigar pelo último doce restante.


Gritar alegando não ter o que vestir meia hora antes do horário da escola.
Dizer: "Sou o único cujos pais obrigam a fazer isso”
Chateações de adolescente que tumultuam a vida dos pais?
Ou excelentes oportunidades de nos associar ouvir
e instruir a nossos filhos?

Paul Trip p desvenda as questões do coração que afetam os pais e seus


filhos adolescentes durante os anos muitas vezes caóticos da adolescên­
cia. C o m sagacidade, sabedoria, humildade e com paixão, ele mostra aos
pais com o aproveitar as inúm eras oportunidades de aprofundar a com un i­
cação, aprender e crescer com seus adolescentes.

A Idade da Oportunidade é um livro m aravilhoso. Ele transborda de verda­


de nova, valiosa e honesta. Tripp fará com que você se veja no espelho
antes de olhar para o seu adolescente. Ele fará com que você procure - e
encontre - a ajuda de seu próprio Pai.” - DAVID PO W LISO N

“ ...abre portas de esperança para pais e adolescentes semelhantemente,


m ostrando com o Deus pode transform ar os corações de famílias
inteiras...Você não vai conseguir parar de ler este livro.”
- TR EM PER LO N G M A N III

“ ...uma riqueza em sabedoria bíblica e um tesouro em passos práticos


para entender e pastorear o coração do adolescente.” -T E D D TRIPP

“ ...fornece um mapa de estrada magnífico para educar filhos


adolescentes...[e] experimentar com eles os desafios, vitórias e alegrias de
nossa jornada rum o à maturidade em C risto.” - KEN SANDE

“ ...otimista, positivo, bíblico... Em um m undo que tem feito da disfunção


uma indústria, é reconfortante ler um livro que defenda que Deus...fez
ampla preparação para que pais e adolescentes sejam bem -sucedidos.”
- J A Y K E S LE R

P AU L DAVID TR IPP, Mestre em Divindade (M .Div.) pelo Phiiadelphia Th e o -


logical Sem inary e D outor em Ministério (D .M in.) pelo W estm inster Th e o lo -
gical Sem inary, é conselheiro e Deão Acadêm ico da Christian Counseling
and Educational Foundation, Glenside, Pensilvânia. Profere palestras
sobre Teologia Prática no W estm inster Theological Sem inary e é renom a-
do conferencista.

ISBN 978-85-7414-020-9

editora ,
788574 140209 ti batista regular

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