No Cross No Crown

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Sem cruz, sem coroa.
Sem cruz,
Sem coroa.
Um discurso que mostra a natureza e a disciplina de
a Santa Cruz de Cristo: E que a Negação da
O eu e o carregar diariamente a cruz de Cristo são o

Único caminho para o descanso e o Reino de Deus.
por
William Penn
EDITADO POR JASON R. HENDERSON
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v.1
1
“E disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém vier

depois de mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua
cruz e siga-me”. (Lucas 4:23).
***
“Combati o bom combate, terminei a carreira, consegui

guardei a fé: Doravante está guardada para mim uma coroa de
justiça, etc.” (2 Timóteo 4:7).
2
Conteúdo
Avançado por William Evans e Thomas Evans 5
Prefácio de William Penn 7
Capítulo I. Um Cristianismo Sem Cruz 11
Capítulo II. Uma Grande Apostasia 23
Capítulo III. A Cruz Diária 35
Capítulo IV. Negando o eu legítimo 40
Capítulo V. Negando o Eu Ilegal 55
Capítulo VI. Adoração Espiritual 66
Capítulo VII. O Pecado do Orgulho 89
3
4
Avançar
O tratado intitulado “No Cross, No Crown”, escrito por

William Penn (1644-1718) durante sua prisão na Torre de
Londres, em 1668, foi justamente considerado uma das
melhores produções de sua pena. Sua educação e posição
na vida o qualificaram eminentemente para julgar o vazio,
a vaidade e a pecaminosidade daqueles prazeres e
subvenções mundanas que ele aqui censura, e contra os
quais ele produz argumentos tão conclusivos a partir das
Sagradas Escrituras. Admirado e cortejado por seus
talentos e realizações, amado por sua disposição amável e
maneiras envolventes, com o caminho para a honra e a
promoção aberto diante dele, ele tinha todos os incentivos
que o mundo poderia oferecer para buscar suas gratificações.
Mas no vigor e frescor da juventude, quando tudo diante
dele era brilhante e promissor, em obediência à vontade de
seu Pai celestial, William Penn renunciou voluntariamente
às suas perspectivas de honra e vantagem terrena, renunciou
às modas e costumes da época, e viveu uma vida séria e
abnegada, em conformidade com o exemplo dos homens
santos dos tempos antigos e com os preceitos de nosso
Senhor e Seus apóstolos, conforme estabelecidos nas Escrituras da
5
Em consequência desta mudança, ele sofreu muita

oposição de seus parentes e amigos, e foi até banido da
casa de seu pai. Mas nem estes julgamentos nem a sua
subsequente prisão conseguiram abalar a sua constância
nem induzi-lo a recuar daquilo que ele acreditava ser o seu
dever religioso. E Deus, a quem ele se esforçou para servir
e honrar em meio ao desprezo e à reprovação, não apenas
o apoiou acima do medo do homem, e encheu sua alma de
paz e contentamento, mas restaurou seu lugar na estima e
nas afeições de seus parentes, e o tornou honrado aos
olhos do mundo por suas virtudes cristãs.
Seu pai o amou com crescente ternura e, em seu último
suspiro, prestou testemunho em favor dos princípios
religiosos que seu filho havia adotado.
William Penn tinha 24 anos de idade quando escreveu
“No Cross, No Crown”. Não foi, portanto, produzido pelo
cansaço do mundo, ou pela repulsa que surge da longa
indulgência. Foi o resultado de um exame calmo e deliberado
dos costumes e costumes do mundo, visto pelos olhos de
um cristão sincero e devotado. Ele pensava, sentia e
escrevia como alguém sensível à dignidade e aos nobres
dotes do homem e ao seu elevado destino como ser imortal.
A solidez do argumento, a profundidade da experiência
cristã, a moralidade exaltada e a religião pura, com as
quais a obra está repleta, recomendam-na à leitura séria e
atenta de todas as denominações da cristandade.
William Evans e Thomas Evans

Editores da Biblioteca do Amigo – 1837
6
Prefácio de William Penn
Leitor, a grande tarefa da vida do homem é responder ao fim

pelo qual ele vive; e isto é, glorificar a Deus e experimentar Sua
salvação. Este é o decreto do céu, tão antigo quanto o mundo.
Mas é assim que o homem não se importa com nada menos do
que deveria e se recusa a investigar seu próprio ser, sua origem,
dever e fim; escolhendo antes dedicar seus dias para gratificar o
orgulho, a ganância e o luxo de seu coração, como se tivesse
nascido para si mesmo, ou se dado a existência, e portanto não
sujeito ao cálculo e julgamento de um Poder superior. A esta
lamentável situação o pobre homem se trouxe, por sua
desobediência à lei de Deus em seu coração, fazendo aquilo que
sabe que não deveria fazer e deixando de fazer o que sabe que
deveria fazer. Enquanto esta doença persistir sobre o homem, ele
fará de Deus seu inimigo e tornar-se-á incapaz do amor e da
salvação que Deus manifestou ao mundo através de Seu Filho,
Jesus Cristo.
Se, leitor, você é uma pessoa assim, meu conselho para você
é que se retire para dentro de si mesmo e observe a condição de
sua alma; pois Cristo lhe deu luz para fazer isso.
Pesquise com cuidado e minuciosamente; sua vida depende disso;
7
sua alma está em jogo. Sua vida só deve ser vivida uma vez; se você
abusar, a perda é irreparável; o mundo não tem preço suficiente para
resgatar você. Irás então, num mundo como este, ignorar o momento
da tua visitação e perder a tua alma?
Oh, não provoque Deus para rejeitá-lo. Você sabe o que é ser
rejeitado? É Tophet; é o inferno, a angústia eterna dos condenados.
Ó leitor! Como alguém que conhece os terrores do Senhor, eu

o convenço a ser sério, diligente e fervoroso em relação à sua própria
salvação! Como alguém que conhece o conforto, a paz, a alegria e o
prazer dos caminhos da justiça, exorto-o e convido-o a abraçar as
repreensões e convicções da luz e do Espírito de Cristo na sua própria
consciência e a suportar o julgamento do seu pecado. O fogo queima
apenas o restolho; o vento sopra apenas a palha. Entregue seu
corpo, alma e espírito Àquele que faz novas todas as coisas – novos
céus e nova terra, novo amor, nova alegria, nova paz, novas obras,
uma nova vida e conduta. Os homens tornaram-se corruptos e
impuros pelo pecado, e devem ser salvos através do fogo, que os
purifica. Por isso a Palavra de Deus é comparada a um fogo, e o Dia
da salvação a um forno; e o próprio Cristo como refinador de ouro e
purificador de prata.
Venha, leitor, ouça-me um pouco; Eu busco a sua salvação;

esse é o meu projeto. Um Refinador chegou perto de você, Sua graça
apareceu para você, uma graça que lhe mostra as concupiscências
do mundo e lhe ensina a negá-las. Receba Seu fermento e ele
mudará você. Receba Seu remédio e ele o curará. Ele é tão infalível
quanto livre. Um toque em Suas vestes já fez isso, e ainda fará, pois
Sua virtude é a mesma e não pode ser esgotada. Nele habita a
plenitude; bendito seja Deus por Sua suficiência. Ele deitou
8
Prefácio
ajude-O para que Ele possa ser poderoso para salvar todos os que
vêm a Deus por meio Dele. Faça isso e Ele mudará você; sim, “Ele
transformará o vosso corpo vil, semelhante ao Seu corpo glorioso, de
acordo com a operação pela qual Ele é capaz de submeter todas as
coisas a Si mesmo”. 1 O que então devemos fazer para sermos
testemunhas de Seu poder e amor? Esta é a coroa; mas onde está a
cruz? Onde está o cálice amargo e o batismo sangrento? Venha,
leitor, seja como Ele. Para esta alegria transcendente, levante a
cabeça acima do mundo; então a sua salvação realmente se
aproximará.
A cruz de Cristo é o caminho de Cristo para a coroa de Cristo.
Este é o tema do seguinte discurso – escrito pela primeira vez durante
meu confinamento na torre de Londres no ano de 1668, agora
reimpresso com grande ampliação de matéria e testemunhos – para
que você possa ser ganho para Cristo; ou se já conquistado,
aproximado Dele. É um caminho no qual Deus, em Sua bondade
eterna, guiou meus pés na flor da minha juventude, quando tinha
cerca de vinte e dois anos de idade. Ele me pegou pela mão e me
tirou dos prazeres, das vaidades e das esperanças do mundo. Provei
os julgamentos de Cristo e Suas misericórdias, e as carrancas e
reprovações do mundo. Alegro-me com minha experiência e a dedico
ao seu serviço em Cristo. Deixo-o ao meu país e ao mundo dos
cristãos. Que Deus, se Ele quiser, torne isso eficaz para todos eles,
e desvie seus corações daquela inveja, ódio e amargura que eles
têm uns contra os outros sobre as coisas mundanas - sacrificando a
humanidade e a caridade à ambição e à cobiça, por causa das quais
eles enchem a terra com problemas e opressão. E que eles recebam
em seus corações o Espírito de Cristo, cujos frutos são amor, paz,
alegria,
1 Filipenses 3:21
9
temperança e paciência, bondade fraterna e caridade, e

assim, em corpo, alma e espírito, fazem uma tripla liga contra
o mundo, a carne e o diabo, os únicos inimigos comuns da
humanidade. Assim, tendo vencido os seus inimigos pelo
poder da cruz de Jesus, e através de uma vida de abnegação,
eles podem finalmente alcançar o descanso eterno e o reino
de Deus.
Assim deseja e assim reza seu fervoroso amigo cristão,
William Penn.
10
Capítulo I.
Um cristianismo sem cruz
Embora o conhecimento e a obediência da doutrina da

cruz de Cristo sejam de infinita importância para as almas
dos homens - sendo a única porta para o verdadeiro
cristianismo e o caminho que os antigos sempre trilharam
para a bem-aventurança - ainda assim, com extrema aflição,
deixe-me dizer , é tão pouco compreendido, tão
negligenciado e, o que é pior, tão amargamente contradito
pela vaidade, superstição e intemperança dos professos
cristãos. Na verdade, tal é o estado das coisas hoje em dia,
que devemos renunciar à crença no que o Senhor Jesus
nos disse, que “qualquer que não tomar a sua cruz diária e
vier após mim, não pode ser meu discípulo”; ou, admitindo
isso como verdade, conclua que a maioria dos cristãos se
engana miseravelmente no grande negócio do cristianismo
e decepciona a sua própria salvação.
Pois, sejamos sempre tão ternos e caridosos na
pesquisa daquelas nações que reivindicam interesse no
santo nome de Cristo, se quisermos ser justos também,
devemos reconhecer que depois de todas as graciosas
vantagens da luz que estas últimas eras de o mundo recebeu - pela v
11
doutrina, milagres, morte, ressurreição e ascensão de Cristo, com os dons do

Seu Espírito Santo; ao que podemos acrescentar, os escritos, trabalhos e
martírios de Seus queridos seguidores em todos os tempos – parece que resta
muito pouco do Cristianismo além do nome. E lamentavelmente, o nome
cristão, sendo agora usurpado pela velha natureza e vida pagã, faz com que
muitos dos que o professam sejam verdadeiros pagãos disfarçados. Pois embora
não adorem os mesmos ídolos, ainda assim adoram a Cristo com o mesmo
coração; e eles nunca poderão agir de outra forma, enquanto viverem nas
mesmas concupiscências. O cristão não mortificado e o pagão têm a mesma
confiança.
região.
Pois embora tenham objetos diferentes aos quais dirigem suas orações,
ainda assim a adoração em ambos é apenas forçada e cerimoniosa, e a
divindade que eles adoram verdadeiramente é o deus deste mundo, o grande
senhor das concupiscências; a ele eles se curvam com todos os poderes da
alma e dos sentidos. O que vamos comer?
O que vamos beber? O que devemos vestir? E como passaremos nosso tempo?
De que forma podemos acumular riqueza, aumentar o poder, alargar os nossos

territórios e dignificar e perpetuar os nossos nomes e famílias na terra? Esta
sensualidade básica é compreendida pelo amado apóstolo João nestas palavras:
“A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida,
que não são do Pai, mas do mundo que jaz na maldade.” 1
É uma reflexão triste, mas uma verdade que não será negada, que essas
concupiscências mundanas preenchem grande parte do estudo, cuidado e
conduta da cristandade. E o que agrava a miséria é que essas coisas crescem
com o tempo. Pois à medida que o mundo é mais velho, é pior. Os exemplos de
ex-indecentes
1
1 João 2:16, 5:19
12
eras e suas conclusões miseráveis não detiveram, mas antes

entusiasmaram as nossas. Na verdade, as pessoas de hoje
parecem ter melhorado o antigo estoque de impiedade, e
levaram-no muito mais longe do que os exemplos anteriores,
que em vez de avançarem na virtude, caíram
escandalosamente abaixo da vida dos pagãos. Sua altivez,
lascívia, impureza, embriaguez, palavrões, mentiras, inveja,
calúnia, crueldade, traição, cobiça, injustiça e opressão são
tão comuns e cometidas com tal invenção e excesso, que
eles tropeçaram e amarguraram infiéis e fez com que
desprezassem aquela religião sagrada, pela qual seu bom
exemplo deveria ter conquistado sua afeição.
Esta miserável deserção dos tempos primitivos, quando

a glória do Cristianismo era a pureza de seus professores,
não posso deixar de chamar a segunda e pior parte da
tragédia que se abateu sobre o abençoado Salvador da
humanidade. Pois os judeus, devido ao poder da ignorância
e ao seu preconceito contra a maneira não mundana de Sua
aparição, não O reconheceram quando Ele veio, e assim, por
dois ou três anos, perseguiram-No e finalmente O crucificaram
em um dia. Mas a crueldade dos falsos cristãos dura muito
mais tempo. Eles primeiro, com Judas, O professaram, e
depois, por muitas eras, O traíram, perseguiram e crucificaram
da maneira mais vil, por meio de uma apostasia perpétua na
conduta da abnegação e da santidade de Sua doutrina; suas
vidas mostrando a falsidade de sua fé. São estes que o autor
da epístola aos Hebreus nos diz: “crucificam novamente para
si o Filho de Deus e expõem-no à ignomínia”. 2 João, na sua
revelação, chama aos seus corações contaminados, “as ruas de Sodo
2 Hebreus 6:6
13
e o Egito espiritualmente chamado”,3 onde ele viu o Senhor Jesus

crucificado muito depois de Ele ter ascendido. Como Cristo disse
antigamente, que os inimigos do homem são os de sua própria
casa; portanto, os inimigos de Cristo agora são principalmente
aqueles de Sua própria profissão. Na verdade, estes cuspem nele,
pregam-no e perfuram-no, coroam-no de espinhos e dão-lhe fel e
vinagre para beber. Nem isso é difícil de compreender; pois
aqueles que vivem na mesma natureza e semente malignas que
os judeus viveram, que O crucificaram exteriormente, devem
necessariamente crucificá-Lo interiormente. Aqueles que rejeitam
a graça agora em seus próprios corações são um em linhagem e
geração com os judeus de coração duro que resistiram à graça
que então apareceu em e por Cristo.
O pecado é de uma natureza em todo o mundo; pois embora
um mentiroso não seja um bêbado, nem um xingador um prostituto,
nem seja propriamente um assassino, ainda assim eles são todos
de uma igreja, todos ramos de uma única raiz perversa, todos de
uma mesma família. Eles têm apenas um pai, o diabo, como Cristo
disse aos judeus professos, a igreja visível daquela época. Ele
menosprezou as pretensões deles para com Abraão e Moisés e
disse-lhes claramente: “Aquele que cometeu o pecado foi o servo
do pecado”.4 Eles fizeram as obras do diabo e, portanto, eram
filhos do diabo. Este argumento sempre se sustentará pelas
mesmas razões e, portanto, ainda é válido. “Vós sois servos dele”,
diz Paulo, “a quem obedeceis”. 5 E João diz à igreja antiga:
“Ninguém vos engane; aquele que comete pecado é do diabo.” 6
Judas era um cristão melhor para ele? chorando: “Salve, mestre!”
e beijando Cristo? De jeito nenhum!
3 Apocalipse 11:8
4 João 8:34
5 Romanos 6:16
6 1 João 3:8
14
Estas palavras foram o sinal de sua traição, o sinal dado pelo qual os
malditos judeus deveriam conhecê-lo e levá-lo. Ele o chamou de
Mestre, mas o traiu. Ele beijou, mas O vendeu para ser morto. Esta
é a substância do falso
A religião do cristão. Se um homem lhes perguntar: “Cristo é o seu
Senhor?” Eles gritarão: “Deus me livre de qualquer outra coisa! Sim,
Ele é nosso Senhor!” “Muito bem, mas você guarda Seus
mandamentos?” "Não, como deveríamos?" “Como então vocês são
Seus discípulos?” “É impossível”, eles dizem, “O quê! Você gostaria
que guardássemos Seus mandamentos? Nenhum homem pode!”
Mas é impossível fazer isso, sem o qual Cristo tornou impossível ser
cristão? Cristo é irracional? Ele colhe onde não semeou ou exige
onde não capacitou? Assim é que, com Judas, eles O chamam de
Mestre, mas participam do mal do mundo para traí-Lo. Eles O beijam
e abraçam, no que diz respeito à sua profissão; e depois vendê-Lo
para satisfazer as paixões que mais satisfazem.
Ninguém engane a sua própria alma; as uvas não se colhem

dos espinhos, nem os figos dos cardos; um lobo não é uma ovelha,
nem um abutre é uma pomba. Qualquer que seja a forma, povo ou
igreja da qual você pertença, esta é a verdade de Deus para a
humanidade: aqueles que têm a forma de piedade, mas que por suas
vidas não mortificadas negam seu poder, constituem a falsa igreja,
não a verdadeira. E embora esta igreja possa se chamar a noiva do
Cordeiro, ou a igreja de Cristo, ela é aquela misteriosa ou misteriosa
Babilônia, que é apropriadamente chamada pelo Espírito Santo, “a
mãe das prostitutas e de todas as abominações” . castidade e pureza
cristãs, em todas as enormidades da Babilônia pagã - uma cidade
suntuosa dos tempos antigos, muito
7 Apocalipse 17:5
15
conhecida como a residência dos reis da Babilônia e, naquela época,

um lugar de maior orgulho e luxo. Como ela era então, a mística
Babilônia é agora, a grande inimiga do verdadeiro povo de Deus.
É verdade que aqueles que nascem da carne odeiam e

perseguem aqueles que nascem do Espírito, os circuncidados de
coração. Estes não podem reconhecer nem adorar a Deus de acordo
com as invenções, métodos e prescrições de Babilónia, nem receber
como doutrina as suas vãs tradições, assim como não podem aceitar
as suas modas e costumes corruptos na sua conduta. E porque não
conseguem se conformar, a apóstata Babilônia rapidamente se torna
perseguidora. Não é suficiente que ela própria abandone a antiga
pureza; outros devem fazê-lo também. Ela não dará descanso
àqueles que não participarem com ela em sua degeneração ou
receberem sua marca. Há alguém mais sábio do que ela, do que a
chamada igreja mãe? Não, não, ninguém pode fazer guerra à fera
que ela monta – aqueles poderes mundanos que a protegem e
prometem mantê-la contra os gritos de seus dissidentes. A apostasia
e a superstição são sempre orgulhosas e impacientes com a
dissidência. Todos devem se conformar ou perecer. Portanto, as
testemunhas mortas e o sangue das almas sob o altar são encontrados
dentro dos muros desta mística Babilônia, esta grande cidade de
falsos cristãos, e são atribuídos a ela pelo Espírito Santo no livro do
Apocalipse.
Os filhos de Babilônia estão tão inteiramente reduzidos ao

domínio das trevas, por meio de sua contínua desobediência à
manifestação da luz divina em suas almas, que se esquecem do que
o homem já foi, ou do que deveria ser agora. Eles não reconhecem o
Cristianismo verdadeiro e puro quando o encontram, embora se
orgulhem deles-
16
em professá-lo. Suas opiniões sobre a salvação são tão carnais

e falsas que chamam o bem de mal e o mal de bem.
Eles fazem de um demônio um cristão e de um santo um
demônio. E embora a injusta indulgência de suas vidas seja uma
fonte de lamentação (assim como é de destruição para eles
mesmos), ainda assim a falsa noção de que eles podem ser
filhos de Deus enquanto estão em um estado de desobediência
aos Seus santos mandamentos, é, de todos os outros enganos,
os mais mortais para sua condição eterna. Infelizmente, eles
acreditam que são discípulos de Jesus, embora se revoltem
contra Sua cruz. Eles se lisonjeiam como membros de Sua
verdadeira igreja, que não tem mancha nem ruga, embora suas
vidas sejam cheias de manchas e rugas. Pois eles estão em paz
no pecado e seguros em suas transgressões.
A sua vã esperança silencia as suas convicções interiores
e enterra todos os ternos movimentos de arrependimento, de
modo que o seu erro sobre o seu dever para com Deus é tão
pernicioso como a sua rebelião contra Ele. Assim, eles andam
em precipícios e se lisonjeiam até que a sepultura os engula, e
o julgamento do grande Deus quebra sua letargia e desengana
suas pobres e miseráveis almas com a angústia dos ímpios
como recompensa por seu trabalho.
Esta foi, é e será a condenação de todos os cristãos do
mundo - um fim tão terrível que a compaixão por si só seria
suficiente para me motivar a dissuadir todos contra a superstição
e as concupiscências do mundo, e para convidar os professores
do cristianismo ao conhecimento e a obediência da cruz diária
de Cristo como o único caminho dado por Ele e designado para
nós para a bem-aventurança. Por esta cruz diária, aqueles que
agora apenas usurpam o nome podem ter a coisa em si; e pelo
seu poder eles podem tornar-se participantes da ressurreição.
17
reção que há em Cristo Jesus para novidade de vida. Pois

aqueles que estão verdadeiramente em Cristo, isto é,
redimidos por Ele e enxertados Nele, são novas criaturas.
Eles receberam uma nova vontade, tal como a vontade de
Deus, e não a sua própria. Eles oram em verdade e não
zombam de Deus quando dizem: “Seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu”.8 Eles têm novas afeições, tais
como as que estão fixadas nas coisas do alto, e fazem de
Cristo seu tesouro eterno. Eles têm uma nova fé, que supera
as armadilhas e tentações do espírito do mundo em si
mesmos ou conforme aparece através de outros. E eles têm
novas obras, não de invenção supersticiosa ou de invenção
humana, mas os puros frutos do Espírito de Cristo operando
neles - tais como amor, alegria, paz, mansidão, longanimidade,
temperança, bondade fraternal, fé, paciência, gentileza e bondade, contra
Aqueles que não têm este Espírito de Cristo e não andam
nele, disse-nos o apóstolo Paulo, “não são dele”;9 mas a ira
de Deus e a condenação da lei cairão sobre eles. De fato,
“nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo,
que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito”.
10 Mas por esta mesma doutrina, aqueles que não andam
segundo o Espírito Santo não estão em Cristo.
Estes não têm herança Nele, nem direito justo à salvação por
Ele; e, conseqüentemente, há condenação para tal.
8 Mateus 6:10; Lucas 11:2

9 Romanos 8:9
10 Romanos 8:1
18
Um Reprovador Interior e Salvador
A religião dos ímpios é uma mentira: “Não há paz”, diz o profeta,

“para os ímpios”. 11 Na verdade, não pode haver nenhuma, pois eles
são reprovados em suas próprias consciências e condenados em
seus próprios corações por todos os seus desobediência.
Vá aonde eles quiserem, as repreensões vão com eles e, muitas
vezes, os terrores também. É um Deus ofendido que os pica e, por
Sua luz, “coloca seus pecados em ordem diante deles”. 12 Às vezes,
eles se esforçam para apaziguá-Lo por meio de sua devoção e
adoração exteriores, mas em vão; pois a verdadeira adoração a Deus
é fazer a Sua vontade, que eles transgredirão. Às vezes, eles voam
para esportes e companhia para abafar a voz do Reprovador e
embotar Suas flechas, para afastar pensamentos perturbadores e
proteger-se fora do alcance do Inquietador de seus prazeres. Mas o
Todo-Poderoso, mais cedo ou mais tarde, certamente os alcançará.
Não há como escapar de Sua justiça para aqueles que rejeitam os
termos de Sua misericórdia. Na verdade, seu Acusador está sempre
com eles; eles não podem se livrar Dele mais do que de si mesmos.
Ele está no meio deles e ficará perto deles. Aquele Espírito que
testemunha com os espíritos dos justos testemunhará contra os deles.
Sim, os seus próprios corações os condenarão abundantemente; e

“se o nosso coração nos condena”, diz o apóstolo João, “Deus é
maior e conhece todas as coisas”;13 isto é, não há como escapar dos
julgamentos de Deus se um homem não for capaz de escapar da
condenação de si mesmo.
Naquele Dia, cristãos orgulhosos e luxuosos aprenderão que
Deus não faz acepção de pessoas; que todas as seitas,
11 Isaías 48:22; Isaías 57:21

12 Salmo 50:21
13
1 João 3:20
19
denominações, e nomes serão engolidos nestas duas

espécies: ovelhas e cabras, justos e injustos. Na verdade, os
próprios justos devem ser provados, o que fez um homem
santo clamar: “Se os justos dificilmente são salvos, onde
aparecerão os ímpios e os pecadores?”14 Se os seus
pensamentos, palavras e obras tiverem de resistir à prova e
virem sob escrutínio perante o Juiz imparcial do céu e da
terra, como então deveriam os ímpios ser isentos? Não,
Aquele que não pode mentir nos disse que muitos então
clamarão: “Senhor, Senhor!” Eles exporão sua profissão e
recontarão as obras que fizeram em Seu nome, e ainda assim
serão rejeitados com esta terrível sentença; “Afastai-vos de
Mim, vós que praticais a iniqüidade, não vos conheço.”15
Como se Ele tivesse dito: 'Fora, malfeitores; pois embora
você tenha me professado, eu não o conheço. Vá daqui e vá
para os deuses a quem você serviu; suas amadas
concupiscências, que você adorou, e o mundo maligno que
você tanto cobiçou e adorou. Deixe-os salvá-lo agora, se
puderem, da ira que cairá sobre você, que é o salário dos atos que você c
Aqui está o fim do trabalho daqueles que constroem sobre a
areia; o sopro do Juiz irá derrubá-lo, e lamentável será sua
queda.
Mas para os justos a sentença é alterada e o Juiz sorri.
Ele lança o olhar de amor sobre Suas próprias ovelhas e as
convida com: “Vinde, benditos de Meu Pai, que através da
paciente perseverança em fazer o bem, há muito esperas
pela imortalidade. Vocês foram os verdadeiros companheiros
de Minhas tribulações e cruzes, e com fidelidade incansável,
em obediência à Minha santa vontade, têm valentemente
14 1 Pedro 4:18
15 Lucas 13:24-27
20
perseverou até o fim, olhando para Mim, o Autor de sua preciosa fé,
pela recompensa que prometi aos que Me amam e não desfalecem.
Ó, entre na alegria do seu Senhor e herde o reino preparado para
você desde a fundação do mundo.”
Ó cristandade! Minha alma ora fervorosamente para que, depois

de todas as suas elevadas profissões de Cristo e de Sua religião
mansa e santa, sua vida inadequada e anticristo não possa rejeitá-lo
naquele grande tribunal do mundo, e você finalmente perca esta
grande salvação. Ouça-me uma vez, eu lhe imploro: Cristo pode ser
seu Senhor e você não lhe obedece? Ou você pode ser Seu servo e
ainda assim não servi-Lo verdadeiramente? Não se engane, o que
você planta, isso você colherá. Ele não é seu Salvador enquanto
você rejeita Sua graça em seu coração, pela qual Ele o salvaria.
Venha agora, do que Ele te salvou? Ele o salvou de suas
concupiscências pecaminosas, de suas afeições mundanas e de
conversas vãs? Se não, então Ele não é o seu Salvador. Pois embora
Ele seja oferecido como Salvador a todos, na verdade Ele é realmente
um Salvador apenas para aqueles que são salvos por Ele; e ninguém
é salvo por Aquele que ainda vive naqueles males pelos quais estão
perdidos para Deus, e dos quais Ele veio para salvá-los.
É do pecado que Cristo veio para salvar o homem, e da morte

e da ira como salário disso. Mas aqueles que não são salvos - isto é,
verdadeiramente libertos pelo poder de Cristo em suas almas do
poder que o pecado teve sobre eles - nunca poderão ser salvos da
morte e da ira que são o salário certo do pecado em que vivem. ... Na
medida em que as pessoas obtêm vitória sobre as concupiscências
malignas e carnais nas quais foram viciadas, elas são verdadeiramente
salvas e são testemunhas da redenção que vem por meio de Jesus
Cristo.
21
Na verdade, Seu nome mostra Sua obra; “E você chamará Seu

nomeie Jesus, porque Ele salvará o Seu povo dos seus pecados”.16
“Eis”, disse João de Cristo, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo!”17 Eis Aquele a quem Deus deu como luz para o povo
e para salvação de todos os que recebem Sua luz e graça em seus
corações, e tomar sua cruz diária e segui-Lo - aqueles que preferem
negar a si mesmos o prazer de satisfazer suas concupiscências,
do que pecar contra o conhecimento que Ele lhes deu de Sua
vontade, ou fazer aquilo que sabem que não deveriam pendência.
16 Mateus 1:21
17 João 1:29
22
Capítulo II.
Uma Grande Apostasia
Por tudo o que foi dito, ó cristandade, e pela lâmpada

que o Senhor acendeu em você (se você a usar), deveria
evidentemente aparecer: Primeiro, quão grande foi o seu
retrocesso; pois em vez do templo do Senhor, você se
tornou uma gaiola de pássaros imundos; e em vez de uma
casa de oração, vocês são um covil de ladrões, uma
sinagoga de Satanás e a morada de todo espírito impuro.
E segundo, que sob toda esta deserção manifesta, você,
no entanto, valorizou o seu eu corrupto com base na sua
profissão de cristianismo, e temerosamente se iludiu com
as esperanças de salvação. O primeiro torna a sua doença
perigosa, mas o último torna-a quase incurável.
No entanto, há misericórdia com o Deus de
compaixão, para que Ele seja temido. Ele não tem prazer
na morte eterna dos pobres pecadores e apóstatas, mas
deseja que todos cheguem ao conhecimento e à obediência
da verdade, e sejam salvos. Assim, Ele enviou Seu Filho
como propiciação e O deu como Salvador para tirar os
pecados do mundo inteiro, para que aqueles que crêem e
O seguem possam sentir a justiça de Deus na remissão de
seus pecados e no apagamento de seus pecados. das suas transgr
23
para sempre. Eis o remédio! Uma cura infalível, uma das

designações de Deus! Na verdade, um antídoto precioso que nunca
falhou! Um remédio universal do qual nenhuma doença poderia escapar!
Mas você dirá: o que é Cristo e onde Ele pode ser encontrado?
Como Ele é recebido e aplicado para operar esta cura poderosa?
Eu lhe direi então: Primeiro, Ele é a grande Luz espiritual do mundo
que “ilumina todo aquele que vem ao mundo”. 1 Como tal, Ele
manifesta aos homens seus atos de escuridão e maldade, e os
reprova por cometê-los. . Em segundo lugar, Ele não está longe de
vocês, como disse o apóstolo Paulo de Deus aos atenienses. E o
próprio Cristo diz: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a
minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e
ele comigo”.2 Que porta pode ser essa, senão a do coração do
homem?
Mas, infelizmente, como a pousada de antigamente, você está

cheio de outros hóspedes. Suas afeições divertiram outros amantes;
não houve espaço para o seu Salvador em sua alma. Portanto, a
salvação ainda não entrou em sua casa, embora tenha chegado à
sua porta, e muitas vezes a tenha sido oferecida e a tenha
professado por muito tempo. Mas se Ele ainda chama, se Ele ainda
bate, isto é, se Sua luz ainda brilha e reprova você, então há
esperança de que seu dia não acabou e que o arrependimento não
está escondido de seus olhos. Sim, o Seu amor ainda está por
você, e o Seu santo convite continua para salvá-lo.
Portanto, ó cristandade, acredite, receba-O e aplique-O

corretamente! Isto é de absoluta necessidade, para que sua alma
possa viver para sempre com Ele. Ele disse aos judeus: “Se vocês
1 João 1:9
2 Apocalipse 3:20
24
não acredite que eu sou Ele, você morrerá em seus pecados;

e para onde eu vou, vós não podeis ir.”3 Porque não creram
Nele, não O receberam, nem nenhum benefício Dele. Mas
aqueles que creram Nele, O receberam: “E a todos quantos
O receberam”, diz-nos Seu amado discípulo, “a eles deu
poder para se tornarem filhos de Deus; que não nascem do
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do
homem, mas de Deus”.4 Ou seja, estes não são filhos de
Deus segundo os modismos, prescrições e tradições dos
homens. Estas não são a Sua igreja e o seu povo segundo a
vontade da carne e do sangue, ou as invenções de homens
carnais não familiarizados com a regeneração e o poder do
Espírito Santo. Não, estes são nascidos de Deus, de acordo
com a Sua vontade, e a operação e santificação do Seu
Espírito e Palavra de vida neles. Tais pessoas estão bem
familiarizadas com a correta aplicação de Cristo, pois Ele
realmente lhes fez propiciação, reconciliação, salvação,
justiça, redenção e justificação.
Então eu lhe digo: a menos que você acredite que
Aquele que está à porta do seu coração e bate, e põe os seus
pecados em ordem diante de você, e o chama ao
arrependimento, é o Salvador do mundo, você também
morrerá em seu pecados; e onde Ele foi, você nunca chegará.
Pois se você não acredita Nele, é impossível que Ele lhe faça
bem ou efetue a sua salvação. Cristo não trabalha contra a
fé, mas por ela. Diz-se antigamente que Ele não fez muitas
obras poderosas em alguns lugares porque as pessoas não
acreditavam Nele. Se você realmente acredita Nele, seus
ouvidos estarão atentos à Sua voz em você, e a porta do seu coração
3 João 8:21, 24
4 João 1:12-13
25
bate. Você se renderá às descobertas de Sua luz, e os ensinamentos

de Sua graça serão muito queridos para você.
É da natureza da verdadeira fé gerar um santo temor de ofender
a Deus, uma profunda reverência por Seus preceitos e uma terna
consideração pelo testemunho interior de Seu Espírito como aquele
pelo qual Seus filhos, em todas as épocas, foram conduzidos com
segurança. para a glória. Pois assim como aqueles que
verdadeiramente crêem recebem Cristo em todas as Suas ofertas à
alma, aqueles que assim O recebem recebem poder para se tornarem
filhos de Deus; isto é, eles recebem um poder interior e uma habilidade
para fazer tudo o que Ele exige: força para mortificar suas
concupiscências, para controlar suas afeições, resistir aos maus
movimentos, negar a si mesmos e vencer o mundo em suas
aparências mais sedutoras. Esta é a vida da bendita cruz de Cristo,
que é o tema do discurso a seguir; e é isso que você, ó homem, deve
assumir, se pretende ser um discípulo de Jesus. Pois você não pode
verdadeiramente receber a Cristo, ou crer Nele, enquanto rejeita Sua
cruz. Receber a Cristo é o meio designado por Deus para a salvação
e, portanto, carregar sua cruz diária após Ele é o verdadeiro
testemunho de tê-Lo recebido e o grande sinal do discipulado. “Se
alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz
e siga-me.”5
Isto, cristandade, é o que tanto lhe faltou, e a falta disso provou

ser a causa do seu miserável declínio do puro cristianismo. Considere
isso bem, pois é seu dever e será de grande utilidade para sua
restauração. Assim como o conhecimento adequado de uma doença
orienta o médico a fazer um julgamento correto e seguro na aplicação
de seu medicamento, ele irá esclarecê-lo muito no caminho de seu
tratamento.
5 Mateus 16:24
26
recuperação para conhecer e pesar a primeira causa desta falha e

doença espiritual que se abateu sobre você. Para fazer isso, será
necessária uma visão geral do estado primitivo do Cristianismo e do
trabalho daqueles que primeiro trabalharam na vinha de Cristo.
Cristianismo Primitivo
A obra do apostolado, segundo nos é dito por um dos seus

principais colaboradores, era “converter as pessoas das trevas para a
luz e do poder de Satanás para Deus” . , que é o príncipe das trevas
ou da maldade (sendo uma palavra uma metáfora para a outra), por
cujo poder seu entendimento foi obscurecido e suas almas mantidas
a serviço do pecado, eles deveriam voltar suas mentes para o
aparecimento de Cristo, a Luz e Salvador do mundo. Pela Sua luz, Ele
brilha em suas almas e assim lhes dá uma visão de seus pecados. Ele
revela toda tentação e movimento neles para o mal e os reprova
sempre que cedem a isso, para que possam se tornar filhos da luz e
andar no caminho da retidão. Para esta abençoada obra de reforma,
Cristo dotou Seus apóstolos com Seu Espírito e poder, para que os
homens não pudessem mais dormir na segurança do pecado e na
ignorância de Deus, mas despertassem para a justiça e recebessem
vida do Senhor Jesus Cristo. . Estes então foram capazes de deixar
de pecar, negar a si mesmos os prazeres da maldade e, pelo
verdadeiro arrependimento, voltar seus corações para Deus fazendo
o bem, no qual encontraram paz.
E verdadeiramente, Deus abençoou tanto o trabalho fiel destes pobres
6 Atos 26:18
27
comerciantes (Seus grandes embaixadores para a

humanidade), que, em poucos anos, muitos milhares que
viveram sem Deus no mundo - sem sentir ou temer Dele, na
ilegalidade e como estranhos à obra de Seu Espírito em seus
corações, sendo cativados pelas concupiscências carnais -
foram interiormente atingidos e vivificados pela Palavra da
vida, e tornaram-se sensíveis à vinda e ao poder do Senhor
Jesus Cristo como Juiz e Legislador em suas almas. Pela
Sua santa luz e Espírito, as coisas ocultas das trevas foram
trazidas à luz e condenadas, e o puro arrependimento dessas
obras mortas foi gerado neles para que pudessem servir ao
Deus vivo em novidade de Espírito.
Conseqüentemente, estes não viviam mais para si
mesmos, nem foram levados pelas suas antigas
concupiscências que os haviam seduzido do verdadeiro temor
de Deus. Em vez disso, a lei do Espírito da vida (pela qual
eles venceram a lei do pecado e da morte) era o seu deleite,
e nela meditavam dia e noite. Sua consideração para com
Deus não derivava mais dos preceitos dos homens, mas do
conhecimento que haviam recebido por Sua própria obra e
impressões em suas almas. Eles abandonaram seus antigos
senhores - o mundo, a carne e o diabo - e se entregaram à
santa orientação da graça de Cristo, que os ensinou a “negar
a impiedade e as concupiscências do mundo, e a viver de
forma sóbria, justa e piedosa”. , nesta vida presente.”7 Esta é
realmente a cruz de Cristo: e aqui está a vitória que ela dá
àqueles que a assumem. Por esta cruz eles morriam
diariamente para a antiga vida que viviam, e por uma santa
vigilância contra os movimentos secretos do mal em seus
corações, eles esmagaram o pecado em sua concepção, sim, até mesmo
7 Tito 2:11
28
o apóstolo João aconselha, eles “guardaram-se, para que o Maligno

não lhes tocasse”. 8 A luz,
que Satanás não pode suportar, e com a qual Cristo os iluminou,
revelou seu adversário em todas as suas abordagens e ataques à
mente, e o o poder que receberam através de sua obediência às
manifestações daquela luz abençoada permitiu-lhes resistir e vencê-
lo em todos os seus estratagemas. Foi assim que, onde antes nada
era examinado, agora nada deixava de ser examinado. Todo
pensamento deve ser julgado, e sua origem e tendência devem ser
bem aprovadas antes que eles lhe concedam qualquer espaço em
suas mentes. Não havia medo de receber inimigos como amigos
enquanto essa guarda rigorosa fosse mantida no próprio portal da
alma. Os velhos céus e terra, isto é, a velha maneira de viver terrena
e a antiga adoração carnal ou sombria, desapareceram rapidamente e
a cada dia todas as coisas se tornavam novas. “Não era mais judeu o
que o era exteriormente, nem a circuncisão era a que havia na carne;
mas ele era um judeu que o era interiormente; e a circuncisão era do
coração, no espírito e não na letra, cujo louvor não é do homem, mas
de Deus.”9
A glória da cruz brilhou tão conspicuamente através da abnegação

na vida daqueles que diariamente a carregavam, que encheu os
pagãos de espanto e, em pouco tempo, abalou tanto seus altares,
desacreditou seus oráculos, atingiu a multidão, invadiu o corte, e
venceu seus exércitos, que conduziu sacerdotes, magistrados e
generais em triunfo atrás dela como troféus de seu poder e vitória.
Embora esta integridade habitasse entre os cristãos, poderoso foi
8 1 João 5:18
9 Romanos 2:28-29
29
a presença e invencível o poder que os acompanhava.

Apagou o fogo, assustou leões, virou o fio da espada, superou
instrumentos de crueldade, condenou juízes e converteu
algozes. As formas como os seus inimigos procuraram destruí-
los apenas os aumentaram; e pela profunda sabedoria de
Deus, aqueles que em todos os seus desígnios se esforçaram
por extinguir a verdade tornaram-se grandes promotores dela.
Entre os fiéis não era permitido um pensamento vão, nem
uma palavra vã, nem uma ação imprópria; não, nem mesmo
um olhar indecente. Não havia trajes de corte, trajes
chamativos, discursos lisonjeiros ou honras pessoais; muito
menos poderiam aquelas imoralidades obscenas e vícios
escandalosos agora em voga entre os cristãos encontrar exemplo ou lugar
Seu grande cuidado não era como desperdiçar seu precioso
tempo, mas como resgatá-lo, para que pudessem ter o
suficiente para “realizar sua grande salvação com temor e
tremor”;10 não com bailes e máscaras, com teatros, danças. ,
festas e jogos, não, não! “Tornar segura a sua vocação e
eleição celestiais”11 era muito mais caro para eles do que as
pobres e insignificantes alegrias da mortalidade.
Tendo, com Moisés, “visto Aquele que é invisível”,12 e
descoberto que Sua benevolência era melhor que a vida, e a
paz de Seu Espírito mais que o favor dos príncipes, então
eles não temeram a ira de César, e escolheram antes
sustentar as aflições dos verdadeiros peregrinos de Cristo do
que desfrutar os prazeres passageiros do pecado. Sim, eles
consideravam Suas reprovações mais valiosas do que os
tesouros perecíveis da terra. E se as tribulações do Cristianismo fossem m
10 Filipenses 2:12
11 2 Pedro 1:10
12 Hebreus 11:27
30
desejáveis para eles do que os confortos do mundo, e as

reprovações de um mais atraentes do que todas as honras
do outro, então certamente não havia tentação no mundo
que pudesse abalar a integridade da cristandade.
A Grande Apostasia
Por esta breve visão do que foi a cristandade, você

pode ver, ó cristandade, o que você não é e o que deveria
ser.
Mas como é que de um povo tão manso, misericordioso,
abnegado, sofredor, temperante, santo, justo e bom, e tão
semelhante a Cristo, cujo nome ela leva, encontramos agora
uma cristandade que é supersticiosa, idólatra, perseguidora,
orgulhoso, apaixonado, invejoso, malicioso, egoísta, bêbado,
lascivo, impuro, mentiroso, palavrão, amaldiçoando, cobiçoso,
opressor, fraudador - com todas as outras abominações
conhecidas na terra, e que em excesso justamente
escandaloso para o pior das eras pagãs , superando-os mais
no mal do que no tempo: digo, como aconteceu esta
lamentável deserção? Apresento isso como a razão
indubitável desta degeneração, a saber: o desrespeito em
sua mente pela luz de Cristo que brilha em você, que
primeiro lhe mostrou seus pecados, os reprovou, e lhe
ensinou e capacitou a negá-los e resistir a eles. Pois é certo
que, qualquer medida de temor a Deus e abstinência de
injustiça que você testemunha, não foi ensinada pelos
preceitos dos homens, mas por aquela luz e graça que revela
os pensamentos e propósitos mais secretos do seu coração,
sonda o seu íntimo. partes, coloca seus pecados em ordem
diante de você e os reprova por eles, não permitindo que um pensam
31
passar sem julgamento. Então, quando você começou a desconsiderar

esta luz e graça, a ser descuidado com a santa vigilância que uma vez foi
estabelecida em seu coração, e não manteve vigilância ali como
antigamente para a glória de Deus e sua própria paz, então o inquieto
inimigo de o bem do homem aproveitou-se rapidamente desta negligência
e muitas vezes surpreendeu-te com tentações, cuja adequação às tuas
próprias inclinações não dificultou a sua conquista sobre ti.
Sim, você negligenciou assumir o jugo santo de Cristo e carregar

sua cruz diária. Você foi descuidado com seus afetos e não controlou
suas ações, esquecendo-se de manter contas em sua própria consciência
por Cristo, sua luz, o grande Bispo de sua alma e Juiz de suas obras.
Dessa forma, seu santo medo decaiu e seu amor esfriou; e assim a
vaidade abundou e o dever tornou-se pesado.
Então surgiu a formalidade, em vez do poder da piedade; e

superstição, no lugar da obra de Cristo.
E embora a tarefa de Cristo fosse desviar as mentes de Seus discípulos
de um templo exterior com seus ritos e serviços carnais, para a adoração
interior e espiritual de Deus (adequada à natureza da divindade), ainda
assim uma adoração mundana, humana e pomposa é trazido novamente,
e um sacerdócio, templo e altar mundanos são restabelecidos. Agora,
“os filhos de Deus viram mais uma vez que as filhas dos homens eram
formosas”, 13 isto é, o olho puro escureceu, que o arrependimento havia
aberto e que não via nenhuma beleza fora de Cristo; e o olho da luxúria
foi aberto novamente pelo deus do mundo.
E então aqueles prazeres mundanos - que fazem com que aqueles que
os amam se esqueçam de Deus, embora tenham sido uma vez
desprezados por causa de Cristo - começaram a recuperar sua antiga beleza e beleza.
13 Gênesis 6:2
32
interesse em seus afetos; e gostando deles, eles passaram a ser a

busca, o cuidado e o prazer da sua vida.
É verdade que ainda permaneciam as formas exteriores de
adoração e uma reverência nominal e verbal a Deus e a Cristo. Mas
isto foi tudo o que sobreviveu; pois a ofensa da santa cruz cessou, o
poder da piedade foi negado, a abnegação foi perdida e, embora
você tenha se tornado frutífero na invenção de ornamentos
cerimoniais, você permaneceu estéril nos frutos abençoados do
Espírito. E, infelizmente, mil conchas não podem formar um núcleo,
nem muitos cadáveres podem formar um homem vivo.
Assim, a religião passou da experiência para a tradição, e a

adoração, do poder para a forma, da vida para a letra. Em vez de
apresentar pedidos vivos e poderosos a Deus, animados por um
profundo sentimento de necessidade e pela assistência do Espírito
Santo (por quem os antigos oravam, lutavam e prevaleciam com
Deus); eis uma repetição prescrita, uma formalidade monótona e
insípida, composta de reverências e ajoelhamentos, roupas e móveis
especiais, perfumes, vozes e música - uma performance mais
adequada para a recepção de algum príncipe terreno, do que para a
adoração celestial do único verdadeiro e Deus imortal, que é um
espírito eterno e invisível.
À medida que seu coração se tornou carnal, sua religião

também; e não gostando dele como era, vocês o moldaram ao seu gosto.
Sem dúvida você se esqueceu das palavras do santo profeta: “O
sacrifício dos ímpios é uma abominação ao Senhor”,14 e da
declaração de Tiago: “Vocês pedem e não recebem”, e por quê?
“porque você pede errado”, isto é, com um coração que não está
certo, mas insincero e não mortificado, não na fé
14 Provérbios 15:8
33
que purifica a alma e, portanto, nunca poderá receber o que é pedido.

Assim, pode-se dizer agora com verdade que a condição de muitos é
piorada pela sua religião, pois eles são tentados a pensar que são
melhores por causa dela, embora
não são.
Por esta visão que é dada da sua queda do Cristianismo
primitivo, e da verdadeira causa disso - a saber, uma negligência da
cruz diária de Cristo - confio que o caminho da sua recuperação
possa ser facilmente visto. Pela porta pela qual você saiu, você deve
entrar. Assim como tudo foi perdido por negligenciar e deixar cair a
cruz diária, tomar e suportar a cruz diária será o seu meio de
recuperação. Esta é a maneira pela qual pecadores e apóstatas se
tornam discípulos de Jesus. “Se alguém”, diz Cristo, “vier após Mim e
ser Meu discípulo, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz diária e
siga-Me”. Nada menos que isso servirá. Assim como é suficiente,
também é indispensável. Não há coroa senão junto à cruz; não há
vida eterna senão através da morte. E é justo que aquelas afeições
malignas e bárbaras que crucificaram Cristo novamente, sejam agora
crucificadas em você por Sua santa cruz. Sangue requer sangue; Sua
cruz é a morte do pecado que causou Sua morte; e Ele é a morte da
morte, de acordo com aquela passagem: “Ó morte! Eu serei a sua
morte!”15
15 Oséias 13:14, Vulgata

34
Capítulo III.
A Cruz Diária
Portanto, ó cristandade, sendo a cruz diária tanto então como

agora o único caminho para a glória, será de grande vantagem para a
sua alma considerar seriamente:
Primeiro, o que é a cruz de Cristo.
Em segundo lugar, onde a cruz de Cristo será elevada.
Terceiro, como e de que maneira deve ser suportado.
Em quarto lugar, qual é o grande trabalho e negócio do

cruzar.
Quanto ao primeiro: o que é a cruz de Cristo? A cruz de Cristo é

uma figura de linguagem, emprestada da árvore externa, ou cruz de
madeira, na qual Cristo se submeteu à vontade de Deus, permitindo-
lhe sofrer a morte nas mãos de homens maus. A cruz mística ou diária
é aquela graça e poder divinos que crucificam as vontades carnais
dos homens, contradizem as suas afeições corruptas e se opõem
constantemente aos apetites desordenados e carnais das suas mentes.
Este poder pode ser justamente denominado o instrumento da morte
santa do homem para o mundo e de sua conformação à vontade de
Deus.
35
Nada mais pode mortificar o pecado ou facilitar a nossa submissão

à vontade divina em coisas que de outra forma seriam muito
contrárias à nossa.
“A pregação da cruz” nos tempos primitivos foi apropriadamente
chamada por Paulo (aquele famoso e hábil apóstolo nas coisas
espirituais) de “o poder de Deus”,1 embora para aqueles que
perecem, fosse então, como agora, loucura. Isto é, para aqueles
que estavam verdadeiramente cansados e oprimidos e necessitados
de um libertador, para quem o pecado era pesado e odioso, a
pregação da cruz (pela qual o pecado deveria ser mortificado) era
o poder de Deus, ou a pregação do poder divino pelo qual foram
feitos discípulos de Cristo e filhos de Deus. E esse poder atuou tão
poderosamente sobre eles que nenhum escarnecedor orgulhoso
ou licencioso poderia desapaixoná-los por ele. Mas para aqueles
que andaram no caminho largo, em plena amplitude de suas
concupiscências, e dedicaram seu tempo e cuidado ao prazer de
seus apetites corruptos, para quem todos os jugos e freios eram e
são intoleráveis, a estes a pregação da cruz foi e é uma tolice.
Onde aparece esta cruz e onde deve ser tomada? Eu

respondo, dentro; isto é, no coração e na alma - pois onde está o
pecado, aí deve estar a cruz. Todo mal vem de dentro. Cristo
ensinou: “De dentro do coração do homem procedem os maus
pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios, os
roubos, a cobiça, a maldade, o engano, a lascívia, o mau-olhado,
a blasfêmia, o orgulho, a tolice: todos esses males vêm de por
dentro e contamina o homem”.2 O coração do homem é a sede do
pecado e onde ele está contaminado, ali ele deve ser santificado;
onde o pecado mora, lá ele deve
1 1 Coríntios 1:18
2 Marcos 7:21-23
36
A Cruz Diária
morrer, deve ser crucificado. O costume no mal tornou natural que os

homens praticassem o mal; e assim como a alma governa o corpo,
esta natureza corrupta influencia todo o homem. Mas ainda assim, é
tudo de dentro.
A experiência ensina a cada filho e filha de Adão a verdade disso.
As tentações do inimigo são sempre dirigidas ao coração ou à mente,
que está dentro: se não aceitarem, a alma não peca; mas se forem
abraçados, então a luxúria (ou desejo desordenado) é imediatamente
concebida, e como diz o apóstolo: “quando a concupiscência concebeu,
dá à luz o pecado; e quando o pecado é consumado (isto é, agido), ele
produz a morte”.3 Aqui está tanto a causa como o efeito, a genealogia
do pecado, seu surgimento e seu fim.
Em tudo isto, o coração do homem mau é a casa da moeda do

diabo, a sua casa de trabalho, o lugar da sua residência, onde exerce
o seu poder e a sua arte. Portanto, a redenção da alma é
apropriadamente chamada de “a destruição das obras do diabo”4 e “a
introdução da justiça eterna”.5 Quando os judeus teriam difamado o
milagre de Cristo de expulsar demônios por uma imputação blasfema
dele ao poder de Belzebu, Cristo diz: “Ninguém pode entrar na casa de
um homem forte e roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrar o homem
forte”. 6 Isto nos mostra a contrariedade entre Belzebu e o poder pelo
qual Cristo desapossou ele, e nos ensina que as almas dos ímpios são
a “casa” do diabo, e que seus bens, suas más obras, nunca podem ser
destruídos até que aquele que os realizou e mantém a casa seja preso.
Tudo isso torna mais fácil saber onde
3 Tiago 1:15
4 1 João 3:8
5Daniel 9:24
6 Mateus 12:29
37
a cruz deve ser tomada, a única pela qual o homem forte pode ser
amarrado, seus bens destruídos e suas tentações resistidas - isto é,
dentro, no coração do homem.
Em seguida, como e de que maneira a cruz deve ser carregada
diariamente? O caminho, como a cruz, é espiritual.
É uma submissão interior da alma à vontade de Deus, tal como é
manifestada pela luz de Cristo nas consciências dos homens, embora
seja contrária às suas próprias inclinações. Por exemplo; quando o
mal se apresenta, aquilo que revela o mal também instrui a não ceder
a ele, e se um homem segue seu conselho, isso lhe dá poder para
escapar dele. Mas aqueles que olham e contemplam a tentação,
finalmente caem nela e são vencidos por ela; cuja consequência é a
culpa e o julgamento.
Portanto, assim como a cruz de Cristo é aquele Espírito e poder

nos homens (embora não dos homens, mas de Deus) que atravessa
e reprova as concupiscências e afeições carnais, assim o modo de
tomar a cruz é uma completa renúncia da alma ao descobertas e
exigências dele, sem consultar o prazer mundano, ou facilidade ou
interesse carnal (pois estes são cativados em um momento). Assim,
a alma deve vigiar continuamente contra toda aparência do mal e,
pela obediência da fé (em amor verdadeiro e confiança em Deus),
oferecer alegremente até a morte de cruz aquela natureza maligna
em si mesma que, não suportar o calor do cerco e ficar impaciente
na hora da tentação, por sua estreita relação com o tentador, trairia
facilmente suas almas em suas mãos.
Isto pode mostrar à experiência de todos como é difícil ser um

verdadeiro discípulo de Jesus! O caminho é realmente estreito, e a
porta muito estreita, onde nem uma palavra, não, nem uma palavra
38
A Cruz Diária
o pensamento deve escapar do relógio ou escapar do

julgamento. Tal circunspecção, tal cautela, tal paciência, tal
constância, tal santo temor e tremor, dão uma interpretação
fácil àquela dura afirmação: “Carne e sangue não podem
herdar o reino de Deus”. Pois aqueles que estão cativados
pelas concupiscências e afeições carnais não podem suportar
a cruz; e aqueles que não podem suportar a cruz, nunca
deverão receber a coroa. Para reinar é preciso primeiro sofrer.
39
Capítulo IV.
Negando o eu legítimo
Em quarto lugar, qual é a grande obra e negócio da cruz a

respeito do homem? É de tão grande importância que isto seja
respondido de forma verdadeira, clara e completa, que tudo o que foi
dito antes parece servir apenas como um prefácio. Abortar isso é
nada menos que um desvio da alma sobre seu caminho para a bem-
aventurança. Portanto, prosseguirei a questão, com a ajuda de Deus
e com o melhor conhecimento que Ele me deu, na experiência de
vários anos de discipulado.
A grande obra e negócio da cruz de Cristo, no homem, é a
abnegação - uma palavra pouco compreendida, mas de muita
profundidade em si mesma e de dolorosa contradição com o mundo.
O Filho de Deus nos precedeu e, pelo cálice amargo que bebeu e
pelo batismo que sofreu, deixou-nos um exemplo que devemos seguir
Seus passos. Isso fez com que Ele fizesse aquela difícil pergunta à
esposa de Zebedeu e a seus dois filhos, quando ela solicitou que um
pudesse sentar-se à Sua direita e o outro à Sua esquerda em Seu
reino: “Vocês podem beber do cálice que eu lhe darei? beber e ser
batizado com o batismo com que fui batizado?” Parece que a fé deles
era forte; eles responderam: “Somos capazes”. Ao que Ele respondeu:
“De fato bebereis do meu cálice e sereis batizados
40
com o batismo com que sou batizado;”1 mas Ele deixou a recompensa
deles para Seu Pai.
Qual foi o cálice que Ele bebeu e o batismo que Ele sofreu? Eu
respondo; foram a negação e a oferta de Si mesmo pelo Espírito
eterno à vontade de Deus, passando pelas tribulações de Sua vida e
pelas agonias de Sua morte na cruz, para a salvação do homem.
Agora, qual é o nosso cálice e a nossa cruz que devemos beber

e sofrer? São a negação e a oferta de nós mesmos, pelo mesmo
Espírito, para fazer ou sofrer a vontade de Deus para Seu serviço e
glória. Esta é a verdadeira vida e obediência da cruz de Jesus – ainda
estreita, mas antes de Cristo era um caminho imbatível. Pois Cristo
veio na grandeza de Seu amor e força quando não havia ninguém
para ajudar, ninguém para abrir os selos, para dar conhecimento ou
para dirigir o curso da recuperação do pobre homem. E embora
revestido das fraquezas de um homem mortal, sendo interiormente
fortalecido pela onipotência de um Deus imortal, Ele viajou por todos
os estreitos e dificuldades da humanidade; e, como o primeiro de
todos os outros, trilhou o caminho inexplorado para a bem-aventurança.
Ó, vinde, sigamo-Lo, o mais incansável, o mais vitorioso Capitão

da nossa salvação, a quem todos os grandes Alexandres e poderosos
Césares não podem ser comparados.
Pois todos estes eram grandes príncipes da sua espécie, e também
conquistadores, mas com princípios muito diferentes. Cristo se tornou
sem reputação para salvar a humanidade; mas essas pessoas
arruinaram completamente para aumentar seu nome.
Eles venceram os outros, não a si mesmos; mas Cristo conquistou a
si mesmo, o próprio poder que os venceu. Eles avançaram seu império
por meio de rapina e sangue; mas Ele por
1 Mateus 20:20-23
41
sofrimento e persuasão. Eles prevaleceram através da força, mas Cristo

nunca fez uso da compulsão. A miséria e a escravidão seguiram todas
as suas vitórias, mas Cristo trouxe liberdade e felicidade àqueles que
Ele venceu. Em tudo o que faziam, procuravam agradar a si mesmos;
em tudo o que fez, Ele teve como objetivo agradar a Seu Pai, que é
Deus dos deuses, Rei dos reis e Senhor dos senhores. Com razão,
então, Ele é chamado de o mais excelente príncipe e conquistador. E
é esse padrão mais perfeito de abnegação que devemos seguir, se
algum dia chegarmos à glória.
O Eu Legal
Para fazer isso, consideremos a abnegação em sua verdadeira

distinção e extensão. Existe um eu lícito e um ilícito, e ambos devem ser
negados por causa dAquele que, em submissão à vontade de Deus,
não teve nada de caro para que pudesse nos salvar. E embora quase
nenhuma parte do mundo tenha progredido a ponto de precisar de uma
lição sobre a negação do eu legítimo (uma vez que todos os dias eles
se sacrificam mais avidamente aos prazeres do eu ilícito), ainda assim
irei pelo menos abordar o assunto, como este talvez possa encontrar-se
com alguns que estão tão avançados nesta guerra espiritual, a ponto de
receber benefícios dela.
O eu legítimo, que devemos negar, é aquela conveniência,

facilidade, prazer e abundância que, em si, está tão longe de ser mau
que pode ser considerado a generosidade e bênção de Deus para nós:
coisas como maridos , esposas, filhos, casas, terras, reputação, liberdade
e a própria vida. Esses são os favores de Deus, dos quais podemos
desfrutar com prazer legítimo e aproveitar com justiça conforme nosso
interesse honesto.
42
Mas quando Deus os requer, em qualquer momento, ou se

Ele quiser testar nossas afeições, fazendo-nos parte deles; Eu
digo que quando eles são colocados em competição com Ele,
eles não devem ser preferidos, mas negados.
O próprio Cristo desceu da glória de Seu Pai e
voluntariamente se tornou sem reputação entre os homens
para que pudesse nos levar a Deus.
Pensando que não era um roubo ser igual a Deus, Ele
humilhou-Se à pobre forma de um servo; sim, até a
ignominiosa morte de Cruz, e assim nos deu um exemplo de
pura humildade e total submissão à vontade de nosso Pai
celestial.
Esta doutrina Ele nos ensina com estas palavras: “Quem
ama o pai ou a mãe, o filho ou a filha, mais do que a mim, não
é digno de mim”. Novamente: “Qualquer de vocês que não
renuncia a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo”.
Ele disse claramente ao jovem rico que se quisesse ter a vida
eterna, deveria vender tudo e segui-Lo: uma doutrina que era
triste para ele, como também é para aqueles como ele que,
apesar de todas as suas altas pretensões à religião, amam
seus bens mais do que Cristo. Ainda assim, esta doutrina de
abnegação permanece como condição para a felicidade
eterna: “Aquele que quiser vir após mim, negue-se a si mesmo,
tome a sua cruz e siga-me”.
Isso fez com que aqueles pescadores honestos
abandonassem seus ofícios legais e O seguissem quando Ele
os chamasse; e fez com que outros que esperavam pelo
consolo de Israel oferecessem suas propriedades, reputações,
liberdades e vidas também, para desgosto e fúria de seus
parentes e do governo sob o qual viviam, pela vantagem
espiritual que lhes foi concedida por seus fiéis. adesão à Sua santa dou
43
É verdade que muitos procuraram escusar-se de segui-Lo, como

se vê na parábola da festa de casamento. Alguns compraram terras,
alguns casaram-se e outros compraram juntas de bois e disseram
que não poderiam vir. Infelizmente, um amor imoderado pelo mundo
os impediu. Em vez de agirem como seus servos, esses prazeres
legítimos tornaram-se seus ídolos; eles os adoravam mais do que a
Deus e não os renunciavam para ir a Deus. Isto está registrado para
sua reprovação, e podemos ver aqui o poder do eu sobre o homem
mundano, e o perigo que sobrevém a ele pelo abuso de coisas lícitas.
O que!
Sua esposa é mais querida para você do que seu Salvador? Sua
terra e seus bois são preferidos à salvação de sua alma? Ó, cuidado,
para que seus confortos não sejam armadilhas primeiro e depois
maldições. Supervalorizá-los é provocar Aquele que os deu para tirá-
los novamente. Em vez disso, venha seguir Aquele que dá vida eterna
à alma.
Ai daqueles que têm seus corações em suas posses terrenas!
Pois quando eles se vão, o paraíso deles fica aqui. É o pecado da
maior parte do mundo que eles se apeguem aos seus tesouros
mundanos, e quão lamentável é ver suas afeições manchadas e
emaranhadas com suas conveniências e acomodações nele. O
verdadeiro homem abnegado é um peregrino; mas o homem egoísta
é um habitante do mundo. Um usa o mundo como os homens usam
os navios, para transportar a si mesmos ou a seus suprimentos em
uma viagem de volta para casa; o outro não procura mais (seja o que
for que ele afirme) do que se estabelecer em plenitude e facilidade
aqui, e ele gosta tanto disso que, se pudesse, nunca o trocaria.
Não, ele não se preocupará em pensar no outro mundo até ter certeza
de que não deve mais viver neste. Então, infelizmente,
44
será tarde demais! Não para o seio de Abraão, mas para o rico ele
deve ir; a história é tão verdadeira quanto triste.
Por outro lado, não é à toa que os discípulos de Jesus negam
a si mesmos; e, de fato, o próprio Cristo tinha a alegria eterna em
Seus olhos. “Pela alegria que lhe estava proposta”, diz o autor aos
Hebreus, “Ele suportou a cruz”;2 isto é, Ele negou a Si mesmo e
suportou as injúrias e a morte dos ímpios, desprezando a vergonha,
a desonra e a vergonha. o escárnio do mundo. Isso não O fez temer
nem recuar, e Ele se assentou à direita do trono de Deus. Para
encorajamento e grande consolo de Seus discípulos, quando Pedro
Lhe perguntou o que deveriam ter aqueles que haviam abandonado
tudo para segui-Lo; Ele respondeu: “Em verdade vos digo que vós,
os que me seguistes na regeneração, quando o Filho do homem se
assentar no trono da Sua glória, também vós vos assentareis em
doze tronos, julgando as doze tribos de Israel”3. que estavam então
em apostasia da vida e do poder da piedade.
Este foi o destino de Seus discípulos, os companheiros mais imediatos

de Suas tribulações e os primeiros mensageiros de Seu reino. Mas o
que se segue é para todos: “E todo aquele que tiver abandonado
casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou
terras, por amor do Meu nome, receberá cem vezes mais, e herdará
vida eterna.”4 É esta recompensa, esta coroa eterna de justiça, que,
em todas as épocas, suscitou nas almas dos justos uma santa
negligência, sim, um desprezo pelo mundo.
2 Hebreus 12:2
3 Mateus 19:28 KJV
4 Mateus 19:28-29
45
O Exemplo dos Antigos
Esta não é uma doutrina nova; é tão antigo quanto

Abraão. Em vários casos notáveis, sua vida foi composta de
abnegação. Primeiro, ao abandonar a sua própria terra, onde
podemos muito bem supor que ele se estabeleceu no meio da
abundância, ou pelo menos da suficiência. E por que ele deixou isso?
Porque Deus o chamou. Isso deveria ser motivo suficiente;
mas tal é a degeneração do mundo que, na realidade, não o é.
Na verdade, o mesmo ato, com o mesmo incentivo em
qualquer homem agora, embora elogiado em Abraão, seria
ridicularizado e ridicularizado. Infelizmente, quão aptas são as
pessoas a elogiar o que não entendem. E como admiram nos
seus antepassados os mesmos atos que desprezam nos
discípulos fiéis do seu próprio tempo.
Mas Abraão obedeceu, e a consequência foi que Deus
lhe deu uma terra poderosa. Esta foi a primeira recompensa
pela sua obediência; o próximo foi um filho em idade avançada,
já ultrapassado o tempo de sua esposa ter filhos. No entanto,
Deus logo chamou seu querido, seu único filho, a alegria de
sua idade, o filho de um milagre, e aquele de quem dependia
o cumprimento da promessa feita a Abraão. Deus chamou
esse filho, trazendo uma prova que alguém pensaria que
poderia muito bem derrubar sua fé e abalar sua integridade,
ou pelo menos provocar esta disputa dentro dele: “Esta
ordem é irracional e cruel; deve ser do tentador, não pode ser de Deus.
Pois Deus me daria um filho para fazer dele um sacrifício?
Um pai deveria ser o açougueiro de seu único filho? Que Ele
exija que eu ofereça o filho de Sua própria promessa, por
quem Sua aliança será cumprida, é absurdo.” Assim poderia
Abraão ter argumentado naturalmente, a fim de resistir à voz
de Deus e satisfazer suas grandes afeições por
46
seu amado Isaque. Mas o bom e velho Abraão, que conhecia a voz que
lhe prometera um filho, não a esqueceu quando esta o chamou
novamente. Ele não contestou, embora parecesse estranho, e embora
sem dúvida sentisse uma certa surpresa e horror como homem. Ele
aprendeu a acreditar que Deus, que lhe deu um filho por milagre,
poderia operar outro para preservá-lo ou restaurá-lo. Suas afeições não
poderiam superar seu dever, muito menos superar sua fé.
À voz do Todo-Poderoso Abraão curvou-se, construiu um altar,

amarrou nele seu único filho, acendeu o fogo e estendeu a mão para
pegar a faca; mas o anjo parou o golpe. “Espere, Abraão, sua integridade
está provada.” E o que se seguiu? Um carneiro serviu para o sacrifício,
e Isaque foi dele novamente. Isso mostra quão pouco servirá onde
tudo está resignado, e quão baixo é o sacrifício que satisfaz o Todo-
Poderoso onde o coração é aprovado. Não é o sacrifício que recomenda
o coração, mas o coração que dá aceitação ao sacrifício.
Deus muitas vezes toca em nossos maiores confortos e pede

aquilo que mais amamos e do qual estamos menos dispostos a nos separar.
Ele nem sempre os elimina totalmente, mas prova a integridade da
alma, adverte-nos dos excessos e, para que possamos nos lembrar
Dele (o Autor de todas as bênçãos que possuímos), nos ensina a viver
livres para o mundo. Falo minha experiência: a maneira de manter
nossos prazeres é renunciando a eles. E embora isso seja difícil, é bom
vê-los retornar, como Isaque foi para seu pai, com mais amor e bênçãos
do que antes. Ó mundo tolo! Ó cristãos do mundo! Não apenas
estranhos, mas inimigos desta excelente fé! E enquanto você estiver
assim, você nunca poderá saber a recompensa disso.
47
A abnegação de Jó também foi notável. Pois quando os

mensageiros de suas aflições vieram sobre ele com uma história
triste após outra, até que ele ficou quase tão nu como quando
nasceu, a primeira coisa que ele fez foi cair no chão e adorar
aquele poder, e beijar aquela mão. , isso o despiu. Ele estava tão
longe de murmurar que concluiu sua perda de bens e filhos com
estas palavras: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei: o
Senhor deu, e o Senhor tirou, bendito seja o nome do Senhor.”5
Ó profunda fé, paciência e contentamento deste excelente homem!
Alguém poderia pensar que essas repetidas notícias de ruína
foram suficientes para abalar sua confiança em Deus, mas isso
não aconteceu; sua fé o deteve. E ele nos conta o porquê: “Eu sei
(diz ele) que meu Redentor vive.”6 E é manifesto que Seu Redentor
realmente viveu, pois Ele o redimiu do mundo. Seu coração não
estava nos confortos mundanos; sua esperança vivia acima das
alegrias do tempo e dos problemas da mortalidade. Ele não foi
tentado por um, nem abalado por outro; mas firmemente fixado:
“depois que minha pele for arrancada da minha carne, ainda verei
a Deus”.7 Assim, o coração de Jó foi submetido e confortado pela
vontade de Deus.
Moisés é o próximo grande exemplo na história sagrada de

notável abnegação, antes dos tempos do aparecimento de Cristo
na carne. Ele foi salvo, quando criança, por uma Providência
extraordinária, e ao que parece pelo que se seguiu, para um
serviço extraordinário. Filha do Faraó, cujo
5 Jó 1:21
6 Jó 19:25
7 Jó 19:26 Tradução LitV
48
a compaixão foi o meio de sua preservação (quando o rei

decretou o massacre dos homens hebreus), tomou-o como
filho e deu-lhe a educação da corte de seu pai. Sua própria
presença graciosa e habilidades extraordinárias, unidas ao
amor dela por ele e ao desejo de que seu pai o promovesse,
devem tê-lo tornado, se não capaz de sucessão ao trono,
pelo menos de ser um ministro-chefe dos assuntos sob
aquele governo. príncipe rico e poderoso. Pois o Egito era
então o que Atenas e Roma foram depois, o mais famoso
centro de aprendizagem, artes e glória.
Mas Moisés foi ordenado para outra obra e guiado por
uma estrela melhor, um princípio mais elevado. Assim que
ele atingiu a idade de discrição, a impiedade do Egito e as
opressões de seus irmãos lá se tornaram um fardo pesado
demais para ele suportar. E embora a um homem tão sábio
e bom não pudessem faltar sentimentos generosos e
agradecidos por causa da bondade da filha do rei para com
ele, ele também “viu aquele Deus que é invisível”8 e não
ousou viver em a comodidade e a abundância da casa do
Faraó, enquanto seus pobres irmãos eram obrigados a fazer
tijolos sem palha. E assim, com o temor do Todo-Poderoso
tomando conta profundamente de seu coração, ele
nobremente recusou ser chamado de filho da filha do Faraó,
e preferiu uma vida de aflição com os israelitas desprezados
e oprimidos, e ser o companheiro de suas tentações. e
riscos, “do que desfrutar dos prazeres do pecado por um
tempo”;9 estimando as reprovações de Cristo (que ele
sofreu por fazer aquela escolha não mundana) como
riquezas maiores do que todos os tesouros daquele reino.
8 Hebreus 11:27
9 Hebreus 11:25
49
Nem ele foi tão tolo quanto eles pensavam; pois ele tinha a razão
ao seu lado. Diz-se: “Ele estava de olho na recompensa da
recompensa”;10 assim o fez, mas recusou um benefício menor por um
maior. Nisto a sua sabedoria transcendeu a dos egípcios; pois eles
escolheram o mundo atual (que é tão incerto quanto o clima) e assim
perderam aquele mundo que não tem fim. Moisés olhou mais
profundamente, pesou os prazeres desta vida na balança da eternidade
e descobriu que ali não tinham peso. Ele se governou, não pela posse
imediata, mas pela natureza e duração da recompensa.
Sua fé corrigiu-lhe as afeições e ensinou-o a sacrificar os prazeres

de si mesmo pela esperança que tinha de uma recompensa futura
mais excelente.
Isaías não foi um exemplo desprezível desse mesmo
abençoada abnegação; que, de cortesão, tornou-se profeta e deixou
os interesses mundanos de um pela fé, paciência e sofrimentos do
outro. Sua escolha não apenas o fez perder o favor dos homens, mas
a maldade deles (enfurecido por sua integridade a Deus em suas
repreensões fervorosas e ousadas contra eles) fez dele um mártir no
final; pois eles o serraram barbaramente em pedaços no reinado do
rei Manassés. Assim morreu aquele excelente homem, comumente
chamado de Profeta Evangélico.
Acrescentarei mais um exemplo, da fidelidade de Daniel. Este

era um jovem santo e sábio que, quando suas vantagens externas
entraram em competição com seu dever para com o Deus Todo-
Poderoso, abandonou todas elas. Em vez de ser solícito em como se
proteger, como alguém que não se importa com nada menos, ele foi,
com o máximo risco de si mesmo, muito cuidadoso em como preservar
a honra de Deus pela fidelidade ao Seu
10 Hebreus 11:26
50
vai. E embora a princípio isso o tenha exposto à ruína, ainda assim

(como um grande encorajamento para todos os que mantêm uma
consciência limpa em tempos difíceis), sua fidelidade ao seu Criador
finalmente o fez avançar grandemente no mundo; e o Deus de Daniel
tornou-se famoso e temível por meio de sua perseverança, mesmo
aos olhos dos reis pagãos.
O que direi de todos os demais que, não considerando nada
precioso para que pudessem fazer a vontade de Deus, abandonaram
seus confortos mundanos e expuseram seu bem-estar e segurança
(quantas vezes a visão celestial os chamava) à ira e à malícia dos
degenerados? príncipes e uma igreja apóstata?
Mais especialmente Jeremias, Ezequiel e Miquéias, que, depois de
terem negado a si mesmos, em obediência à voz divina, selaram o
seu testemunho com o seu sangue.
Assim foi a abnegação a prática e a glória dos antigos, que
foram predecessores da vinda de Cristo na carne. E devemos esperar
pelo céu sem ele agora, quando o próprio nosso Salvador se tornou o
mais excelente exemplo disso? E isso, não como alguns desejariam
ansiosamente, a saber: “Ele sofreu por nós, para que não precisemos
sofrer”; mas antes, Ele sofreu por nós, para que pudéssemos negar a
nós mesmos e assim sermos os verdadeiros seguidores de Seu
bendito exemplo.
Deixe tudo para ele
Seja você quem for, portanto, que deseja fazer a vontade de

Deus, mas desmaia por causa da oposição das considerações
mundanas; lembre-se de que lhe digo, em nome de Cristo, que quem
prefere pai ou mãe, irmã ou irmão, esposa ou filho, casa ou terra,
reputação, honra, cargo, liberdade ou
51
vida, diante do testemunho da luz de Jesus em sua própria

consciência, será rejeitada por Ele, no exame solene e geral do
mundo, quando todos serão julgados e receberão de acordo com as
ações praticadas (não a profissão feita ) nessa vida. É a doutrina de
Jesus que se a sua mão direita o ofende, você deve cortá-la; e se o
seu olho direito o ofender, você deve arrancá-lo; isto é, se os confortos
mais queridos, mais úteis e ternos que você desfruta, atrapalham sua
alma, interrompendo sua obediência à voz de Deus e sua
conformidade com Sua santa vontade revelada em sua alma, você
está comprometido, sob pena da condenação, separar-se deles.
O caminho de Deus é um caminho de fé, que é tão obscuro

para o sentido natural quanto mortal para o eu. Os filhos da obediência
Portanto, com o santo Paulo, considerem todas as coisas como
escória e esterco para que possam ganhar a Cristo, e conhecer e
andar neste caminho estreito. A especulação não serve, nem noções
refinadas podem entrar nela. Somente os obedientes comerão o bem
desta terra. “Aqueles que quiserem fazer a vontade de Meu Pai”, diz
o abençoado Jesus, “conhecerão a Minha doutrina”;11 eles Ele os
instruirá. Não há espaço no coração para instrução onde o eu legítimo
é senhor e não servo. Pois o eu não pode recebê-lo; e quem deveria
recebê-lo fica oprimido por si mesmo, com medos e dúvidas: “O que
dirá meu pai ou minha mãe? Como meu marido vai me tratar? Ou o
que os magistrados farão comigo? Pois embora eu sinta uma
persuasão muito poderosa e uma clara convicção em minha alma
sobre isto ou aquilo, ainda considerando quão impopular é, que
inimigos tem, e quão estranho parecerei para alguns, espero que
Deus tenha pena de minha fraqueza. se eu afundar. Sou apenas
carne e sangue; pode ser que
11 João 7:17
52
daqui em diante Ele me capacitará melhor; e há tempo

suficiente.” Assim fala o homem egoísta e medroso.
Deliberar é sempre o pior, pois a alma perde na consulta;
mas a manifestação da luz traz consigo poder. Deus nunca
procura convencer as pessoas; mas após sua submissão, Ele
os capacita. Ele não exige nada sem habilidade para realizá-
lo; pois isso seria zombaria e não salvação dos homens.
Basta que você faça o que Deus mostra ser seu dever, desde
que você consinta com a luz e o Espírito pelos quais Ele lhe
dá esse conhecimento. Aqueles que carecem de poder são
aqueles que não recebem Cristo em Suas convicções sobre
a alma, e esses sempre terão falta dele. Mas aqueles que O
recebem, recebem também poder (como os de antigamente)
para se tornarem filhos de Deus, através da pura obediência
da fé.
Portanto, deixe-me implorar-lhe pelo amor e misericórdia
de Deus, pela vida e morte de Cristo, pelo poder do Seu
Espírito e pela esperança da imortalidade, você cujos
corações estão estabelecidos em seus confortos temporais e
são amantes de si mesmos mais do que destas coisas
celestiais; que o tempo passado seja suficiente para tais
coisas! Não pense que é suficiente estar livre de certas
impiedades grosseiras em que outros se encontram, enquanto
o seu amor desordenado pelas coisas lícitas contamina o seu
desfrute delas e afasta o seu coração do medo, do amor, da
obediência e da abnegação de um verdadeiro discípulo de
Jesus. Vire-se então e ouça a voz mansa em sua consciência;
fala de seus pecados e de sua miséria neles. Dá uma
descoberta viva da vaidade do mundo e abre para sua alma
alguma perspectiva de eternidade e o conforto dos justos que
estão em repouso. Se você aderir a isso, isso o divorciará do pecado e
53
que o poder de seus encantos excede o da riqueza, da honra e

da beleza do mundo e, finalmente, lhe dará aquela tranquilidade
que as tempestades do tempo nunca poderão naufragar ou
perturbar. Aqui todas as suas alegrias são abençoadas. Embora
sejam pequenos, são grandes por causa daquela presença que
está dentro deles.
Mesmo neste mundo os justos têm a melhor parte, pois
usam o mundo sem repreensão e não abusam dele.
Eles veem e abençoam a mão que os alimenta, veste e preserva.
Contemplando-O em todos os Seus dons, eles não os adoram,
mas a Ele. Na verdade, a doçura de Sua bênção é uma
vantagem que tais pessoas têm sobre aqueles que não O veem.
No seu crescimento não são exaltados, nem nas suas
adversidades são abatidos; pois eles são moderados em um e
confortados em outro, por Sua divina
presença.
Em suma, o céu é o trono, e a terra é apenas o escabelo
daquele homem que tem o eu sob os pés. Aqueles que conhecem
esta estação não serão facilmente movidos. Eles aprendem a
contar seus dias para não se surpreenderem com sua dissolução.
Aprendem a “resgatar o seu tempo, porque os dias são maus”;12
lembrando-se de que são apenas mordomos e devem entregar
as suas contas a um Juiz imparcial.
Portanto, não para si mesmos, mas para Ele eles vivem, e Nele
morrem, e são abençoados com aqueles que morrem no Senhor.
Assim concluo meu discurso sobre o uso correto do eu legal.
12 Efésios 5:16
54
Capítulo V.
Negando o eu ilegal
Chego agora ao eu ilícito, que, mais ou menos, é a

preocupação imediata da maior parte da humanidade. Esse
eu ilegal é duplo. Primeiro, aquilo que se relaciona com o
culto religioso; segundo, aquilo que diz respeito à conduta
moral e civil no mundo. Ambos são de consequências infinitas
a serem consideradas por nós. Serei o mais breve possível,
com tranquilidade para minha consciência e sem prejuízo ao
assunto em questão.
Esse eu ilícito na religião, que deveria ser mortificado
pela cruz de Cristo, é a invenção e a realização do culto a
Deus pelo homem, o que não o é verdadeiramente, nem na
sua instituição nem na sua execução. Neste grande erro,
muitos daqueles que se atribuem o nome de cristãos assumem
a liderança, sendo muito exteriores, pomposos e supersticiosos
no seu culto. Estes não apenas erram excessivamente por
um despreparo espiritual no modo como prestam adoração
ao Deus Todo-Poderoso (que é um espírito eterno), mas a
adoração em si é composta daquilo que é totalmente
inconsistente com a própria forma e prática da doutrina de
Cristo e o exemplo apostólico. A adoração dos apóstolos era
clara e espiritual; a adoração de hoje é
55
espalhafatoso e mundano. A adoração de Cristo era interior, na

alma; a adoração do mundo é externa e corporal. A verdadeira
adoração era adequada à natureza de Deus, que é espírito; mas a
adoração inventada pelo homem acomoda-se à parte carnal. Em
vez de excluir carne e sangue, eis que agora existe uma adoração
calculada para gratificar a carne, como se o objetivo não fosse
apresentar a Deus uma adoração agradável a Ele, mas torná-la
agradável ao homem.
Este é um culto revestido de edifícios e imagens imponentes,
móveis e roupas ricas, vozes e música refinadas, lâmpadas caras,
velas de cera e perfumes, e tudo isso representado com a variedade
mais agradável aos sentidos externos que a arte pode inventar ou
adquirir. Eles agem como se o mundo fosse se tornar judeu ou
egípcio novamente, ou que Deus fosse um homem velho, e Cristo
um menino, para ser tratado com uma espécie de mascarada
religiosa - pois é assim que eles O retratam em seus templos, e
muitos em suas mentes. Tal adoração carnal pode muito bem
adequar-se a esta ideia de Deus, pois quando os homens podem
considerá-Lo como eles próprios, não é de admirar que se dirijam
a Ele e O entretenham de uma forma que seria mais agradável dos
outros para eles próprios.
Mas o que disse o Todo-Poderoso a um povo tão sensual de
antigamente, na mesma ocasião? “Você pensou que eu era alguém
como você, mas vou reprová-lo e colocar seus pecados em ordem
diante de você. Agora considerem isto, vocês que se esquecem de
Deus, para que eu não os despedace e não haja quem os livre.
Mas àquele que ordena a sua conduta correta, eu mostrarei a
salvação de Deus.”1 A adoração aceitável para Ele é: “Praticar a
justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com Deus.”2 Aquele que
1 Salmo 50:21-23
2 Miquéias 6:8
56
Negando o eu ilegal
sonda o coração e prova os pensamentos do homem, e coloca seus

pecados em ordem diante dele, que é o Deus dos espíritos de toda
carne, não olha para a estrutura externa, mas para a estrutura interna
da alma, e a inclinação do coração. Nem se pode pensar com
sobriedade que Aquele que está “vestido de honra e majestade
divina, que se cobre de luz como de uma vestimenta, que estende os
céus como uma cortina, que coloca as vigas de Seus aposentos nas
profundezas, que faz das nuvens Suas carruagens, que anda sobre
as asas do vento, que faz de Seus anjos espíritos e de Seus ministros
um fogo flamejante, e que lançou os alicerces da terra, para que ela
não seja abalada para sempre”,3 pode ser adequadamente adorado
por aquelas invenções humanas que são o refúgio de um povo que
apostatou do poder primitivo e da espiritualidade do culto cristão.
Um templo interior
Cristo afastou Seus discípulos da glória e adoração do templo

exterior e instituiu uma adoração mais interior e espiritual, na qual
instruiu Seus seguidores. “Nem neste monte, nem em Jerusalém”,
diz Cristo à mulher samaritana, “não adorarás o Pai. Deus é espírito,
e aqueles que O adoram devem adorá-Lo em espírito e em verdade.”4
É como se Ele tivesse dito: ‘Por causa da fraqueza do povo, Deus
condescendeu, em tempos passados, em limitar Ele mesmo para um
tempo, lugar, templo e serviço externos, nos quais e pelos quais Ele
seria adorado; mas isso foi durante a ignorância dos homens
3 Salmo 104:1-5
4 João 4:24
57
importância de Sua onipresença, quando não consideravam o

que Deus é, nem onde Ele está. Eu vim para revelá-Lo a todos
quantos Me recebem. Deus é um espírito e Ele será adorado
em espírito e em verdade.'
As pessoas devem conhecê-Lo como espírito, considerá-
Lo e adorá-Lo como tal. Não é a adoração corporal, nem os
serviços cerimoniais em uso entre vocês agora que servirão ou
darão aceitação a este Deus que é espírito. Vocês devem
obedecer ao Seu Espírito que luta com vocês para livrá-los do
mal do mundo, para que, curvando-se às Suas instruções e
comandos em suas próprias almas, vocês possam saber o que
é adorá-Lo como um espírito.
Então você entenderá que não se trata de ir a este monte, nem
a Jerusalém, mas sim fazer a vontade de Deus e guardar Seus
mandamentos. Comungue com seu próprio coração e não
peque; tome a sua cruz, medite na Sua santa lei e siga o
exemplo daquele que o Pai enviou.
Estêvão, aquele ousado e constante mártir de Jesus, disse

aos judeus quando era prisioneiro em seu tribunal: “Salomão
construiu uma casa para Deus, porém o Altíssimo não habita
em templos feitos por mãos; como diz o profeta, o céu é o meu
trono e a terra o escabelo dos meus pés, onde está a casa que
me edificarás, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu descanso?
Não foi a Minha mão que fez todas estas coisas?”5 Eis que aqui
está uma destruição total de todos os templos mundanos e
seus acessórios cerimoniais! O mártir segue seu golpe contra
aqueles judeus apóstatas, que eram os pomposos, cerimoniosos
e adoradores mundanos daquela época: “Vocês, obstinados e
incircuncisos de coração e ouvidos, vocês sempre resistem ao Santo
5 Atos 7:47-50
58
Negando o eu ilegal
Espírito; como fizeram vossos pais, vós também o fazeis.”6 É

como se Ele lhes tivesse dito: 'Nem o vosso templo exterior, os
ritos e os serviços obscuros, nem as vossas pretensões de
sucessão na natureza desde Abraão, e, por religião, desde Moisés
são de qualquer importação; pois vocês são resistentes ao Espírito
e opositores às Suas instruções. Você não se curvará ao Seu
conselho, nem seus corações estarão retos para com Deus. Vocês
são os sucessores da iniqüidade de seus pais! E, embora vocês
sejam admiradores verbais dos profetas, vocês não são os
sucessores de sua fé e vida.'
O profeta Isaías vai um pouco além do que é citado por
Estêvão. Pois, depois de ter declarado o que não é a casa de
Deus (o lugar onde habita a Sua glória), estas palavras seguem
imediatamente: “Mas para este homem olharei, sim, para o pobre,
e de espírito contrito, e que treme. na Minha palavra.”7 Eis, ó
homem carnal e supersticioso, o verdadeiro adorador e o lugar de
descanso de Deus! Esta é a casa e o templo dAquele que o céu
dos céus não pode conter - uma casa que o eu não pode construir,
nem a arte ou o poder do homem preparar ou consagrar.
Paulo, o grande apóstolo dos gentios, usa expressamente

duas vezes a palavra templo para se referir ao homem, e não a
uma construção feita pelas mãos e pela arte do homem. Na sua
primeira epístola à igreja de Corinto, ele escreve: “Não sabeis que
sois templo do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da
parte de Deus?”8 E novamente, ele diz às mesmas pessoas, em
sua segunda epístola: “Pois vós sois o templo do Deus vivo, como
Deus disse”; e então cita as palavras de Deus pelo profeta: “Eu
6 Atos 7:51
7 Isaías 66:2
8 1 Coríntios 6:19
59
habitarei neles e andarei neles; e eu serei o seu Deus, e eles serão o

meu povo.”9 Este é o templo evangélico, a igreja cristã, cujos
ornamentos não são os bordados e móveis da arte e riqueza
mundanas, mas as graças do Espírito – mansidão, amor. , fé,
paciência, abnegação e caridade. É aqui que a Sabedoria eterna -
“que estava com Deus desde a eternidade, antes que as colinas
surgissem ou as montanhas fossem construídas” - escolhe habitar,
“regozijando-se (ele diz) na parte habitável de Sua terra, e Meu deleite
está com os filhos dos homens;”10 não em casas construídas de
madeira e pedra. Esta casa viva é mais gloriosa do que a casa morta
de Salomão, que era apenas uma figura; assim como Salomão foi
uma figura de Cristo, que nos edifica como um templo santo para
Deus. Foi prometido antigamente que “a glória da última casa deveria
transcender a glória da primeira”;11 o que de fato pode ser aplicado
a isso. Pois o profeta não falou de um templo ou casa exterior que
superasse outro em brilho exterior; pois onde está o benefício disso?
Mas a promessa era que a glória divina, a beleza da santidade na
casa ou igreja evangélica, composta de crentes renovados, excederia
a glória exterior do templo de Salomão, que, em comparação com os
últimos dias, era apenas como carne para espírito, semelhanças
desbotadas em comparação com a substância eterna.
Os cristãos realmente têm locais de reunião, mas não no estilo

judaico ou pagão, mas sim simples, desprovidos de pompa e
cerimônia, adequados à simplicidade da vida e da doutrina de seu
abençoado Senhor. Pois a presença de Deus não está na casa,
9 2 Coríntios 6:16
10 Provérbios 8:31
11 Ageu 2:9
60
Negando o eu ilegal
mas com aqueles que estão nela, que são a igreja do Evangelho, e
não a casa. Oh, se aqueles que se autodenominam cristãos
conhecessem uma santidade real em si mesmos pela lavagem da
graça regeneradora de Deus, em vez daquela santidade imaginária
atribuída aos lugares! Então eles saberiam o que é a igreja e onde é
que Deus aparece neste dia do evangelho. Sim, isso fez com que o
profeta Davi dissesse: “A filha do Rei é toda gloriosa por dentro; suas
vestes são de ouro trabalhado.”12 Qual é a glória que há dentro da
verdadeira igreja e o ouro que constitui sua glória interior? Diga-me,
ó homem supersticioso! São seus templos imponentes, altares,
tapetes, mesas, tapeçarias, vestimentas, órgãos, vozes, velas,
lâmpadas, incensários, pratos e joias, com os mesmos móveis
encontrados em seus templos mundanos? Não tem isso!
Isto não é nada em comparação com o adorno divino da filha do Rei

do céu, a abençoada e redimida igreja de Cristo. Ó miserável
apostasia! Ó miserável substituto para a perda da vida apostólica, a
glória espiritual da igreja primitiva.
As falsas cruzes dos homens
No entanto, alguns desses admiradores da pompa e glória

externas desejam ser considerados amantes da cruz e, por isso,
tornaram-se muitos. Mas, infelizmente! que esperança há de
reconciliar isso com o Cristianismo? Pois embora estes pretendam
adorar a Deus com suas cruzes externas, eles erram perigosamente
da verdadeira cruz de Cristo e daquela santa abnegação de si
mesmo que foi de Sua bendita designação.
Na verdade, tais cruzes parecem impedir a verdadeira
12 Salmo 45:13
61
um, pois em vez de mortificarem suas vontades com isso, eles tanto
o fizeram quanto o usam de acordo com suas vontades; de modo
que estas cruzes decorativas se tornaram um emblema daqueles
que não fazem nada além do que desejam. No entanto, com isso
desejam ser considerados discípulos dAquele que nunca fez a Sua
própria vontade, mas apenas a vontade de Seu Pai celestial.
Essas cruzes externas são aquelas que a carne e o sangue
podem facilmente carregar, pois a carne e o sangue as inventaram.
Portanto, não são a cruz de Cristo, que é o poder de Deus para
crucificar a carne e o sangue. Milhares deles não têm mais virtude
do que uma migalha. São sombras pobres e vazias, transportadas
como amuletos, embora não consigam repelir um único mal. Na
verdade, os homens pecam com eles nas costas; e embora eles os
exibam sobre seus corações, infelizmente, suas amadas
concupiscências também permanecem lá, sem a menor inquietação.
Eles são tão silenciosos quanto os falsos deuses de Baal, não tendo
vida nem poder. E como eles poderiam? Pois a sua substância é
terrena, e a sua imagem e obra são apenas invenções e trabalhos
de artistas mundanos. São jugos sem restrição e cruzes que nunca
crucificam. Uma carroça inteira deles deixaria um homem tão
impassível quanto
o encontrei. Os homens podem antes quebrar seus miolos com eles
do que com seus pecados; e temo que isso já seja conhecido na
própria consciência daqueles que os usam e os adoram.
Nem é uma vida reclusa (a alardeada justiça de alguns que se
encerram em mosteiros e conventos) muito mais louvável, ou um
pouco mais próxima da natureza da verdadeira cruz; pois embora
isso não seja ilegal, não é natural, e a verdadeira religião não o
ensina. O verdadeiro convento e mosteiro cristão estão dentro, onde
a alma está enclausurada do pecado. E esta casa religiosa
62
Negando o eu ilegal
os verdadeiros seguidores de Cristo andam com eles, não se

isentando das interações com o mundo, embora se mantenham
longe de seus males.
Mas a vida monástica é um tipo de abnegação ociosa e
inútil, que é um fardo para os outros. Homens e mulheres são
trancafiados internamente para não cometerem danos
externos, aprendendo uma espécie de paciência pela força,
uma abnegação contra a sua própria vontade, evitando a
tentação em vez de aprenderem a ser fiéis e constantes nela.
Não é grande coisa se eles não cometerem os pecados que
não são tentados a cometer; pois onde o olho não vê, aí o coração não
almejar.
A cruz de Cristo é de outra natureza. Ela realmente

supera o mundo e leva a uma vida de pureza diante das
seduções. Aqueles que a suportam não ficam assim
acorrentados por medo de morder; nem trancados, para que
a sua fé não seja roubada. Eles recebem poder de Cristo, seu
capitão, para resistir ao mal e fazer o que é bom aos olhos de Deus.
Na verdade, eles desprezam o mundo e amam a sua
reprovação acima do seu louvor. Eles não ofendem os outros,
mas amam aqueles que os ofendem. Que mundo teríamos se
todos, por medo de transgredir, se enjaulassem atrás de
quatro paredes? Não, a perfeição da vida cristã se estende a
todo trabalho e comércio honesto praticado entre os homens.
Tal severidade não é o efeito do espírito livre de Cristo, mas
uma humildade voluntária e carnal – algemas criadas e
colocadas pelo próprio homem, sem prescrição ou razão.
Os mosteiros e conventos são os seus próprios
legisladores e estabelecem as suas próprias regras, punições
e penitências, uma severidade restringida que está em
desacordo com o resto da criação. Pois a sociedade é um dos grandes
63
criação, e não ser destruído por medo do mal. É o pecado que o

estraga que deve ser banido, por meio de reprovação constante e de
um exemplo notável de virtude testada. A verdadeira piedade não
afasta os homens da sociedade, mas permite-lhes viver melhor nela
e estimula os seus esforços para consertá-la - “não escondendo a
sua vela debaixo do alqueire, mas colocando-a sobre uma mesa, num
candelabro”.
Além disso, tais coisas são invenções egoístas, pois através
delas os homens fogem sozinhos e deixam o mundo para trás, para
se perder. Os cristãos deveriam antes manter o leme e guiar o navio
ao seu porto adequado; não fugir silenciosamente do navio pela parte
de trás, deixando aqueles que permanecem sem piloto, levados pela
fúria dos tempos maus sobre as rochas ou areias da ruína.
Tomar a cruz de Jesus é um exercício muito mais interior. É a

circunspecção e disciplina da alma, em conformidade com a mente
divina nela revelada. O corpo não segue a alma e a alma não segue
o corpo?
Considere então que nenhuma célula externa pode isolar a alma da
luxúria, ou a mente de suas infinitas imaginações injustas. “Os
pensamentos do coração do homem são apenas maus, e isso
continuamente.”13 O mal vem de dentro, e não de fora. Como então
um aplicativo externo pode remover uma causa interna? Ou como
pode uma restrição ao corpo causar um confinamento da mente?
Examine, ó homem, o seu fundamento, o que é, e quem o

colocou lá; para que no final não pareça que você colocou uma fraude
eterna em sua própria alma. Devo confessar que tenho ciúmes da
salvação da minha espécie.
Tendo encontrado misericórdia de meu Pai celestial, eu gostaria
13 Gênesis 6:5
64
Negando o eu ilegal
ninguém se engane até a perdição, especialmente em relação à

religião, onde as pessoas são mais propensas a considerar tudo
como garantido e a perder infinitamente por suas próprias lisonjas
e negligência.
A justiça interior e constante de Jesus é algo muito diferente
de todas as devoções inventadas do pobre homem supersticioso;
e ser aprovado aos olhos de Deus supera todos os exercícios
corporais na religião que resultam da invenção dos homens. A
alma que é despertada e preservada por Seu santo poder e Espírito
vive para Ele no caminho de Sua própria instituição, e O adora em
Seu próprio Espírito - isto é, no sentido santo, vida e liderança
disso - o que de fato é a verdadeira adoração do evangelho.
Não quero dizer nenhum desrespeito pela verdadeira

aposentadoria cristã; pois não apenas reconheço, mas admiro a
solidão. O próprio Cristo foi um exemplo disso. Ele amou e escolheu
frequentar sozinho muitas montanhas, jardins, praias.
Na verdade, é um requisito para o crescimento da piedade, e eu
reverencio a virtude que a busca e a utiliza, desejando que
houvesse mais dela no mundo. Mas isso deveria ser gratuito e não
restrito.
65
Capítulo VI.
Adoração Espiritual
Há outros de visão mais refinada e prática reformada, que

não ousam usar, muito menos adorar, um pedaço de madeira
ou pedra, ou uma imagem de prata ou ouro; nem permitirão
aquela pompa na adoração praticada por outros, como se a
adoração de Cristo fosse deste mundo, embora Seu reino fosse
de outro. No entanto, embora estes sejam doutrinariamente
avessos a tais superstições, eles não se abstêm de curvar-se
aos seus próprios deveres religiosos, ao mesmo tempo que
consideram que as coisas que vão contra a natureza da sua
facilidade carnal são uma cruz grande demais para carregar.
Pois se eles se abstêm de pecados graves e escandalosos, ou,
se o ato não é cometido embora os pensamentos sobre ele
sejam abraçados (de modo que tenha um curso completo na
mente), eles se consideram suficientemente seguros, dentro dos
limites do discipulado e os limites do cristianismo. Mas isso
também fica muito aquém da verdadeira disciplina da cruz de
Cristo, e aqueles que se lisonjeiam em assumir isso serão, no
final, enganados com um fundamento arenoso e com o clamor
noturno do Noivo. Pois Cristo disse: “Digo-vos que de toda
palavra vã que os homens disserem, darão conta no dia do julgamento”.
1 Mateus 12:36
66
Não é o cumprimento dos deveres religiosos, mas a fonte do

desempenho que Deus olha. Os homens podem, e alguns o fazem,
contrariar suas próprias vontades em suas próprias vontades – uma
omissão ou comissão voluntária. Mas: “Quem exigiu isso de vossas
mãos?”2 foi o que o Senhor disse aos judeus do passado, quando eles
pareciam ansiosos para servi-Lo, mas de uma forma que eles próprios
planejaram ou inventaram, e em seu próprio tempo e vontade. Estes não
vieram com uma alma verdadeiramente tocada e preparada pelo poder
divino de Deus, mas apenas com adoração corporal, que, diz-nos o
apóstolo, pouco aproveita. Infelizmente, não se apegar à cruz na adoração
(bem como em outras coisas) tem sido uma grande causa da problemática
superstição que ainda existe no mundo. Pois os homens não trouxeram
sua adoração à luz, assim como seus pecados!
Na verdade, aqueles que eles ignorantemente consideraram uma espécie

de desculpa para o outro, nunca consideraram que as suas actuações
religiosas deveriam necessitar de uma cruz, ou de uma defesa.
Um coração preparado para adoração
A verdadeira adoração só pode vir de um coração preparado pelo

Senhor – uma preparação que é feita pela santificação do Espírito Santo.
Pois certamente, se os filhos de Deus devem ser guiados por este Espírito
no curso geral de suas vidas (como Paulo ensina), muito mais deveria ser
esse o caso em sua adoração ao seu Criador e Redentor. Qualquer oração
oferecida, ou doutrina proferida, que não venha da preparação do Espírito
Santo, não é aceitável a Deus, nem pode ser a verdadeira adoração
evangélica que é em espírito e verdade. Pelo que são eloquentes e
apaixonados
2 Isaías 1:12
67
palavras ao Deus Todo-Poderoso; ou a dedicação de algum lugar ou

tempo a Ele? É um espírito para quem as palavras, os lugares e os
tempos, estritamente considerados, são impróprios ou inadequados.
Embora sejam instrumentos de adoração pública, são apenas
corporais e visíveis, e não podem levar nossos pedidos a Deus, muito
menos recomendá-los ao Criador invisível. As palavras são para o
bem da congregação, mas é a linguagem da alma que Deus ouve.
Nem pode a alma gemer ou falar corretamente com o Deus Todo-
Poderoso, exceto com a ajuda do Seu Espírito. A alma do homem,
por mais viva que seja em outras coisas, está morta para Deus até
que Ele sopre nela o Espírito de vida; não pode viver para Ele, muito
menos adorá-Lo, sem isso. Assim, Deus (pelo profeta Ezequiel) nos
diz numa visão a respeito da restauração da humanidade: “Abrirei as
vossas sepulturas e porei o Meu Espírito em vós, e vivereis.”3 Agora,
Cristo ensinando Seus discípulos a orar não é argumento. contra
isso, pois a questão não é
se os homens podem repetir Suas palavras (como agora é
praticado de maneira muito supersticiosa e presunçosa), mas se eles
podem dizê-las com o mesmo coração e sob as mesmas qualificações
que Seus pobres discípulos e seguidores fizeram. . Pois tanto os
discípulos de então, como todos os verdadeiros discípulos de agora,
não devem orar suas próprias orações, mas sim as dele, de acordo
com Ele os capacita.
Agora considere, se nos for dito para não pensarmos no que

diremos quando nos apresentarmos diante dos príncipes do mundo,
porque então isso nos será dado; e se então “não somos nós que
falamos, mas o Espírito de nosso Pai celestial que fala em nós”,4
muito menos podem nossa habilidade natural, estudo e formas de
3 Ezequiel 37:12-14
4 Mateus 10:20
68
discurso seja aceitável em nossas abordagens ao grande Príncipe

dos príncipes, Rei dos reis e Senhor dos senhores. É de Sua ajuda
que precisamos, e Ele a concederá se formos verdadeiramente
Seus filhos. Pois não só a boca do corpo, mas a boca da alma está
fechada até que Deus a abra; mas sendo aberto pelo Seu Espírito,
Ele gosta de ouvir a linguagem disso. Na verdade, o Seu ouvido está
aberto a todos esses pedidos, e o Seu Espírito intercede fortemente
por aqueles que os oferecem. Mas o corpo nunca deve ir antes da
alma na oração.
Mas pode-se perguntar: como será obtida esta preparação? Eu
respondo: esperando pacientemente, mas vigilante e atentamente
em Deus. “Senhor”, diz o salmista, “ouviste o desejo dos humildes;
Você preparará o coração deles; Você fará com que Teu ouvido
ouça.”5 Você não deve pensar seus próprios pensamentos, nem falar
suas próprias palavras, mas afastar-se de todas as imaginações
confusas que podem amontoar-se e pressionar a mente; este é
realmente o silêncio da santa cruz. Não pense em ganhar o Todo-
Poderoso com matéria bem composta e expressa na frase mais
hábil. Não, um gemido, um suspiro de uma alma ferida, um coração
tocado pelo verdadeiro remorso, uma tristeza sincera e piedosa, que
é obra do Espírito de Deus, supera e prevalece com Deus.
Portanto, fique quieto em sua mente e espere sentir algo de

Deus para prepará-lo e prepará-lo para adorá-Lo de forma verdadeira
e aceitável. Tomando assim a cruz e fechando as portas e janelas da
alma contra tudo que possa interromper sua presença em Deus - não
importa quão agradável o objeto possa ser em si mesmo, ou quão
lícito ou necessário seja em outra época - o poder de o Todo-Poderoso
entrará, e Seu Espírito
5 Salmo 10:17
69
prepare o coração para que ele possa oferecer um sacrifício

aceitável. É Ele quem revela à alma suas verdadeiras necessidades
e as pressiona; e quando chora, só Ele pode supri-los. As petições
que não resultam de tal sentido e preparação são formais e fictícias;
eles não são verdadeiros. Pois os homens oram segundo seus
próprios desejos cegos, e não segundo a vontade de Deus, e Seu
ouvido está tapado para tais coisas.
Mas pelo mero suspiro dos pobres e pelo choro dos necessitados,
Deus disse que Ele se levantará. Sim, para os pobres de espírito,
para as almas desesperadas, para aqueles que necessitam da Sua
assistência, que estão quase sobrecarregados, que sentem a sua
necessidade e clamam em voz alta por um libertador; que não têm
ninguém na terra para ajudar, “ninguém no céu senão Ele, nem nada
na terra que se compare a Ele”6 - estes Ele libertará. Ele redimirá
suas almas do engano e da violência, e precioso será o sangue deles
aos Seus olhos. “Este pobre homem chorou, e o Senhor o ouviu e o
livrou de todas as suas angústias.
O anjo do Senhor acampa-se ao redor daqueles que O temem e os
livra.”7 Ele convida todos a virem e provarem como Ele é bom. Sim,
“Ele abençoará aqueles que temem ao Senhor, tanto pequenos como
grandes.”8
Mas o que é tudo isso para quem não tem fome? Os saudáveis
não precisam de médico; os plenos não têm necessidade de suspirar,
nem os ricos de clamar por socorro. Aqueles que não são sensíveis
às suas necessidades interiores e não têm medos e terrores sobre si,
que não sentem necessidade do poder de Deus para ajudá-los, nem
da luz de Seu semblante para confortá-los - o que isso tem a ver com
a oração? Sua devoção é, na melhor das hipóteses, uma
6 Salmo 73:25
7 Salmo 34:6-7
8 Salmo 115:13
70
zombaria do Todo-Poderoso. Eles não sabem, não precisam, não

desejam o motivo pelo qual oram. Eles oram para que a vontade de
Deus seja feita e, ainda assim, fazem constantemente a sua própria.
Eles pedem graça, mas abusam do que têm. Eles oram pedindo o
Espírito, mas resistem a ele em si mesmos e o desprezam nos outros.
Eles solicitam a misericórdia e a bondade de Deus, mas não sentem
necessidade real delas. Neste entorpecimento interior, eles são tão
incapazes de louvar a Deus pelo que têm, como de orar pelo que
não têm. Está escrito: “Louvarão ao Senhor aqueles que O buscam;
pois Ele satisfaz a alma ansiosa e sacia o faminto com coisas
boas”.9 Isto também é reservado para os pobres e necessitados, e
para aqueles que temem a Deus. “Que os pobres [espiritualmente]
e os necessitados louvem o teu nome; vós, os que temeis ao
Senhor, louvai-O; e vós, semente de Jacó, glorificai-O”.10 Jacó era
um homem simples e de coração reto; e aqueles que são tais são a
sua semente. E embora, com ele, eles possam ser tão pobres
quanto vermes aos seus próprios olhos, ainda assim recebem poder
para lutar com Deus e prevalecer como ele fez.
Sem a preparação e consagração deste poder, nenhum homem
está apto a comparecer diante de Deus; ou então é uma questão de
menos santidade e reverência adorar a Deus sob o Evangelho do
que era nos tempos da lei, quando todos os sacrifícios eram
aspergidos antes de serem oferecidos, e os ofertantes eram
consagrados antes de se aproximarem do Senhor. Se o toque de
um animal morto ou impuro os tornou impróprios para o templo ou
sacrifício, ou mesmo para a sociedade com os limpos até serem
primeiro aspergidos e santificados, como podemos pensar tão
humildemente no culto instituído por Cristo nos tempos do Evangelho,
acreditando nele para permitir que pessoas despreparadas e não sancionada
9 Salmos 22:26; 107:9

10 Salmo 74:21; 22:23
71
ofertas tificadas? Aqueles que diariamente tocam (em seus

pensamentos, palavras ou ações) o que é moralmente impuro podem
adorar corretamente o Deus puro sem recorrer ao sangue de Jesus
que purifica a consciência das obras mortas? É uma contradição
total! O impuro não pode adorar de forma aceitável o que é sagrado;
nem os impuros adoram o que é perfeito. Existe uma santa união e
comunhão entre Cristo e Seus seguidores; mas não há absolutamente
nada entre Cristo e Belial, entre Ele e aqueles que desobedecem aos
Seus mandamentos e desprezam Sua cruz abençoada e abnegação.
E assim como acontece com o pecado, também a formalidade não

pode adorar a Deus, mesmo que a maneira seja a própria ordenação de Deus.
Isso fez o profeta clamar: “Com que irei diante do Senhor e me
curvarei diante do Deus Altíssimo?
Irei diante dele com holocaustos, com bezerros de um ano? Será que
o Senhor ficará satisfeito com milhares de carneiros, dez mil rios de
azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, e o fruto
do meu corpo pelo pecado da minha alma?
Ele te mostrou, ó homem, o que é bom; e o que o Senhor exige de
você, senão que pratique a justiça, ame a misericórdia e ande
humildemente com o seu Deus?” e a minha boca anunciará o Teu
louvor.”12 Ele não ousou abrir os seus próprios lábios, pois sabia que
isso não poderia louvar a Deus corretamente: “Pois Tu não desejas
sacrifício, senão eu o daria”. Se minhas oferendas formais servissem,
você não as desejaria; pois “Você não tem prazer em holocaustos.
Os sacrifícios de Deus são um espírito quebrantado, um
11 Miquéias 6:6-8
12 Salmos 51:15
72
coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás.” 13 E por

quê? Porque esta é a obra de Deus, o efeito do Seu poder; e Suas
próprias obras O louvarão.
O próprio Deus fala com o mesmo propósito pela boca de Isaías,
em oposição às formalidades e adoração labial dos judeus degenerados.
“Assim diz o Senhor: 'O céu é o meu trono, e a terra é o meu escabelo.
Onde está a casa que você vai construir para mim? E onde é o lugar do
Meu descanso? Pois todas essas coisas a minha mão fez, e todas essas
coisas existem, diz o Senhor. 'Mas para este olharei: para aquele que é
pobre e contrito de espírito, e que treme da Minha palavra.'14 Eis o
verdadeiro adorador! - alguém preparado por Deus, circuncidado de
coração e ouvido, que não resiste ao Espírito Santo, como fizeram
aqueles judeus professos e elevados. E visto que assim era então,
mesmo no tempo da Lei (que era a dispensação de atuações externas
e sombrias), podemos esperar aceitação sem a preparação do Espírito
nestes dias do Evangelho, que é o momento adequado para o
derramamento fora do Espírito? De jeito nenhum! Deus ainda é o que
Ele era; e ninguém é Seus verdadeiros adoradores, exceto aqueles que
O adoram em Seu próprio Espírito puro. Destes, Ele é terno como a
menina dos Seus olhos; o resto apenas zomba dele.
Ouça o que se segue imediatamente em Isaías, pois este é o

estado da cristandade hoje em dia: “Quem mata um touro é como se
matasse um homem; aquele que sacrifica um cordeiro, como se
quebrasse o pescoço de um cachorro; aquele que oferece uma oferta
de cereais, como se oferecesse sangue de porco; aquele que queima
incenso, como se abençoasse um ídolo. Eles escolheram seus próprios caminhos
13 Salmo 51:16-17
14 Isaías 66:1-2
73
deleita-se nas suas abominações.”15 Ninguém diga agora: 'Não

apresentamos esse tipo de ofertas', pois esse não é o problema.
Deus não se ofendeu com as ofertas, mas com os ofertantes.
Essas foram as formas legais de sacrifício designadas por Deus,
mas o povo não as apresentou naquele estado de espírito e sob a
disposição de alma exigida, Deus declarou Sua aversão, e isso
com grande agravamento.
Em outro lugar, pelo mesmo profeta, Ele lhes ordena: “Não

façam mais sacrifícios fúteis; o incenso é uma abominação para mim.
Os vossos sábados, e a convocação das assembleias, as vossas
festas fixas, a minha alma odeia. Eles são um problema para Mim,
estou cansado de suportá-los. Quando você estender as mãos,
esconderei de você os meus olhos. Mesmo que você faça muitas
orações, eu não ouvirei.”16 Esta é uma denúncia terrível de sua
adoração. E porque? Porque seus corações estavam poluídos.
Eles não amaram o Senhor de todo o coração, mas quebraram
Sua lei, rebelaram-se contra Seu Espírito e não fizeram o que era
certo aos Seus olhos. A causa é clara pelo remédio que Ele
prescreve: “Lavai-vos, purificai-vos. Afaste o mal de suas ações
de diante dos Meus olhos. Pare de fazer o mal, aprenda a fazer o
bem. Busque julgamento; repreender o opressor; defenda o órfão,
suplique pela viúva.”17
Nesses termos, e nada menos, Ele os convida a vir a Ele e

lhes diz que “embora seus pecados sejam como a escarlata, eles
se tornarão brancos como a neve; e ainda que sejam como o
carmesim, tornar-se-ão brancos como a lã.”18 Tão verdade é que
15 Isaías 66:3
16 Isaías 1:13-15
17 Isaías 1:16-17
18 Isaías 1:18
74
passagem notável do salmista: “Vinde e ouvi, todos os que

temeis a Deus, e eu contarei o que Ele fez pela minha alma.
Clamei a Ele com a minha boca, e Ele foi exaltado com a minha
língua. Se eu considerar a iniqüidade em meu coração, o
Senhor não me ouvirá. Mas verdadeiramente Deus me ouviu;
Ele atendeu à voz da minha oração. Bendito seja Deus que
não desviou a minha oração, nem rejeitou de mim a sua misericórdia.”19
Esperando no Senhor
Muito poderia ser citado para mostrar o descontentamento

de Deus até mesmo contra Suas próprias formas de adoração,
quando realizadas sem o Seu Espírito, e sem a necessária
preparação do coração do homem, que somente Ele pode
operar ou dar. Mais do que todos os outros escritores das
escrituras sagradas, isso nos é recomendado com mais
frequência e enfaticamente pelo exemplo do salmista. Davi,
repetidamente lembrando-se de seus próprios grandes deslizes
e da causa deles, e da maneira pela qual ele veio a ser aceito
por Deus e a obter força e conforto Dele, muitas vezes lembra-
se de esperar em Deus. “Guia-me na tua verdade e ensina-me,
pois tu és o Deus da minha salvação; em Ti espero o dia
todo.”20 Sua alma buscava em Deus a salvação, para ser
libertada das armadilhas e dos males do mundo. Isto mostra
um exercício interior, uma assistência espiritual, que não se
manifestava em formas externas, mas numa ajuda divina interior.
E, na verdade, Davi teve grande incentivo para fazê-lo,
pois a bondade de Deus o convidou e o fortaleceu. “Pois”, diz
ele, “esperei pacientemente no Senhor,
19 Salmo 66:16-20
20 Salmo 25:5
75
e Ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor. Ele me tirou

do lamaçal e colocou meus pés sobre uma rocha.” 21 O Senhor
apareceu interiormente para consolar a alma de Davi, que
esperava por Sua ajuda, para ser libertada das tentações e
aflições que estavam prestes a dominá-la, e para receber
segurança e paz. Portanto ele diz: “O Senhor estabeleceu o
meu caminho”;22 isto é, fixou sua mente no caminho certo.
eeza.
Antes, cada passo que David dava o confundia, e ele mal
conseguia caminhar sem cair. As tentações o atacaram por
todos os lados; mas ele esperou pacientemente no Senhor com
a mente retraída, vigilante e atento à lei e ao Espírito de Deus,
sentindo o Senhor inclinar-se para ele. Seu clamor necessitado
e sensato entrou no céu e prevaleceu, e então veio o resgate e
a libertação. No tempo de Deus, e não no de Davi, foi concedida
força para realizar seus exercícios e superar todos os seus
problemas. Assim, “um novo cântico foi colocado em sua boca,
sim, louvores ao nosso Deus”.23 Certamente, este foi um
cântico criado e colocado por Deus, e não dele mesmo.
Outra vez, o encontramos chorando assim: “Como suspira
o cervo pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma
por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo;
quando irei e comparecerei diante Dele?”24 Isso vai além da
formalidade e não pode estar vinculado a nenhuma lição externa.
Por meio disso podemos ver que a verdadeira adoração é uma
obra interior, que a alma deve ser tocada e elevada em desejos
celestiais pelo Espírito celestial, e que a verdadeira adoração
ocorre na presença de Deus. “Quando irei e aparecerei?” Não no templo,
21 Salmo 40:1-2
22 Salmo 40:2
23 Salmo 40:3
24 Salmo 42:1-2
76
nem com sacrifícios exteriores, mas diante de Deus, em Sua presença.

As almas dos verdadeiros adoradores devem ver a Deus e aparecer
diante Dele; e por isso esperam, ofegam, têm sede.
Oh, como a maior parte da cristandade degenerou a partir do

exemplo de Davi! E não é de admirar, pois este bom homem nos diz:
“Verdadeiramente minha alma espera silenciosamente em Deus”;25 e
ele incumbe sua alma de fazê-lo; “Ó minha alma, espera silenciosamente
somente em Deus, pois Dele vem a minha expectativa.”26 É como se
ele dissesse: 'Ninguém mais pode preparar meu coração ou suprir
minhas necessidades. Minha expectativa não é de minhas próprias
performances voluntárias, ou da adoração corporal que posso prestar
a Ele – estas não têm valor; eles não podem me ajudar nem agradá-
Lo. Mas espero Nele por força e poder para me apresentar da maneira
que mais lhe agrada; pois Aquele que prepara o sacrifício certamente
o aceitará.' Em dois versículos ele repete três vezes: “Espero no
Senhor”; “Minha alma espera;” “Minha alma espera pelo Senhor, mais
do que aqueles que esperam pela manhã.”27 Sim, ele espera com
tanta atenção e com tal incansabilidade de alma, que em um lugar ele
diz: “Meus olhos desfalecem, enquanto espero por meu Deus.”28 Ele
não se contentava com tantas orações, uma forma fixa de adoração
ou mera repetição. Não, ele não parou até encontrar o Senhor e o
conforto de Seu
presença, que trouxe a resposta de amor e paz à sua alma.
Essa prática também não era exclusiva de Davi, como um homem

mais inspirado do que normalmente; pois ele fala disso como sendo o
25 Salmo 62:1
26 Salmo 62:5
27 Salmo 130:5-6
28 Salmo 69:3
77
forma de adoração entre o verdadeiro povo de Deus, o Israel

espiritual, o coração circuncidado de seus dias. “Eis que assim como
os olhos dos servos estão voltados para as mãos de seus senhores,
e como os olhos da serva estão voltados para as mãos de sua
senhora, assim os nossos olhos esperam no Senhor nosso Deus,
até que Ele tenha misericórdia de nós.”29 Em em outro lugar ele diz:
“Nossa alma espera no Senhor, Ele é nosso auxílio e escudo.”30 E
“Na presença dos Teus santos esperarei no Teu nome, porque é
bom.”31 Este era o caminho. dos verdadeiramente piedosos
daqueles dias, pelos quais eles passaram a desfrutar de Deus e
adorá-Lo de maneira aceitável.
E a partir de sua própria experiência do benefício de esperar
em Deus, e da prática dos santos daquela época, o salmista
recomenda isso a outros, dizendo: “Espera no Senhor, tem bom
ânimo, e Ele fortalecerá o teu coração: espera. , eu digo, no
Senhor.”32 Espere com fé e paciência, e Ele virá para salvá-lo.
Novamente: “Descanse no Senhor e espere nele com paciência”.33
Lance-se sobre Ele; fique contente; e espere que Ele o ajude em
suas necessidades. Você não pode imaginar quão perto Ele está
para ajudar aqueles que esperam Nele. Mais uma vez, ele nos
ordena: “Espera no Senhor e segue o Seu caminho”. 34 Eis a razão
pela qual tão poucos aproveitam – eles estão fora do Seu caminho,
e tais pessoas nunca podem esperar corretamente Nele. Mas Davi
tinha grandes motivos para o que disse, pois com muito conforto e
vantagem ele encontrou o Senhor em Seu caminho abençoado.
29 Salmo 123:2
30 Salmo 33:20
31 Salmo 52:9
32 Salmo 27:14
33 Salmo 37:7
34 Salmo 37:34
78
O profeta Isaías nos diz que embora os castigos do Senhor

tenham atormentado o povo por seus desvios, ainda assim “no
caminho de Seus julgamentos”, isto é, no caminho de Suas
repreensões e castigos, “eles esperaram por Ele”. , e o desejo de
sua alma era o Seu nome e a lembrança Dele”.35 Eles se
contentaram em ser reprovados e disciplinados, pois haviam
pecado; e o conhecimento de Deus dessa maneira era muito
desejável para eles. Mas, Ele não veio finalmente, e também com
misericórdia? Sim, Ele conheceu, e eles O conheceram quando
Ele veio – uma experiência que o mundo carnal não conhece. “Eis
que este é o nosso Deus; nós esperamos por Ele, e Ele nos
salvará.”36 Ó bendito prazer! Ó preciosa confiança! Aqui estava
uma espera na fé que prevaleceu.
Toda adoração que não é feita com fé é infrutífera para o adorador
e também desagradável para Deus; cuja fé é um dom de Deus, e
a natureza dela é purificar o coração e dar aos que realmente
crêem “vitória sobre o mundo”. 37 Mas eles
continuam: “Nós esperamos por Ele, ficaremos felizes, e
regozijai-vos na Sua salvação.”38 E o profeta acrescenta: “Bem-
aventurados todos aqueles que esperam em Deus”39 E porquê?
“Pois aqueles que esperam no Senhor renovarão as suas forças;
subirão com asas como águias, correrão e não se cansarão,
caminharão e não desfalecerão.”40 O encorajamento é grande. Ó,
ouça-o mais uma vez! “Porque desde o princípio do mundo os
homens não ouviram, nem perceberam com os ouvidos, nem os
olhos viram outro Deus além
35 Isaías 26:8
36 Isaías 25:9
37 1 João 5:4
38 Isaías 25:9
39 Isaías 30:18
40 Isaías 40:31
79
Tu, que age por aquele que nele espera.”41 Contemple a vida
interior e a alegria dos justos, dos verdadeiros adoradores! —
aqueles cujos espíritos se curvaram ao aparecimento do Espírito
de Deus neles, deixando e abandonando tudo o que ele apareceu
contra, e abraçando tudo o que ele os levou.
No tempo de Jeremias, os verdadeiros adoradores também
esperavam em Deus; e ele nos assegura: “Que o Senhor é bom
para os que nele esperam, para a alma que O busca” . Deus.
Tenha misericórdia e julgamento, e espere continuamente em seu
Deus.”43 E Miquéias é muito zeloso e resoluto neste bom
exercício, dizendo: “Olharei para o Senhor, esperarei no Deus da
minha salvação; meu Deus me ouvirá.”44 O mesmo fizeram todos
os filhos do Espírito, que tinham sede de uma sensação interior
Dele.
É acusado de Israel no deserto, como causa de sua

desobediência e ingratidão a Deus, que eles “não esperaram por
Seus conselhos”. 45 E podemos ter certeza de que este é nosso
dever e é esperado de nós; pois Deus exige isso em Sofonias:
“Portanto, espera em mim, diz o Senhor , até o dia em que eu me
levantar”. Suas agitações e surgimentos neles para prepará-los e
santificá-los. Cristo ordenou expressamente aos Seus discípulos
que permanecessem em Jerusalém e esperassem até
41 Isaías 64:4
42 Lamentações 3:25
43 Oséias 12:6
44 Miquéias 7:7
45 Salmo 106:13
46 Sofonias 3:8
80
eles receberam a promessa do Pai, o batismo do Espírito

Santo, a fim de prepará-los para pregar o glorioso Evangelho
de Cristo ao mundo. E embora tenha sido uma manifestação
extraordinária para um trabalho extraordinário, o grau não
muda a regra. Pelo contrário, se tanta espera e preparação
do Espírito fossem necessárias para capacitá-los a pregar
aos homens; alguns, pelo menos, devem ser necessários
para nos preparar para falar com Deus.
Encerrarei esta grande doutrina bíblica de esperar no
Senhor com aquela passagem de João sobre o tanque de
Betesda. “Ora, há em Jerusalém, perto da Porta das Ovelhas,
um tanque, que em hebraico se chama Betesda, e tem cinco
alpendres. Nestes jazia uma grande multidão de doentes,
cegos, coxos, paralíticos, à espera do movimento da água.
Pois um anjo desceu em determinado momento ao tanque e
agitou a água; então, quem entrasse primeiro, depois da
agitação da água, ficaria curado de qualquer doença que
tivesse.” Esta é uma representação mais exata do que se
pretende com tudo o que foi dito sobre o assunto da espera.
Pois assim como havia então uma Jerusalém externa e
legal, agora existe uma Jerusalém evangélica e espiritual, a
igreja de Deus, composta pelos fiéis.
O tanque na Velha Jerusalém, de alguma forma, representava
aquela fonte que agora está aberta na Nova Jerusalém. Esse
tanque era para aqueles que estavam sob enfermidades
corporais; esta fonte é para todos os que têm deficiência de
alma. Houve um anjo que então moveu a água para torná-la
benéfica; é o anjo de Deus agora, o grande Anjo da Sua
presença, que abençoa esta fonte com sucesso. Aqueles
que entraram antes, mas não observaram o anjo e
aproveitaram seu movimento, não encontraram nenhum benefício em
81
aqueles agora, que não esperam pelo movimento do Anjo de Deus,

mas por uma devoção de sua própria formação e tempo correm
diante de Deus como um cavalo para a batalha, esperando pelo
sucesso, certamente fracassarão em suas expectativas.
Portanto, assim como aqueles que precisavam e desejavam ser
curados esperaram com toda paciência e atenção pela moção do
anjo, assim fazem agora os verdadeiros adoradores de Deus, que
precisam e oram por Sua presença, que é a vida de suas almas, até
mesmo como o sol está para as plantas do campo.
Estes muitas vezes provaram a inutilidade de seu próprio trabalho, e
agora chegaram ao verdadeiro sábado. Eles não ousam apresentar
uma invenção própria, ou oferecer um pedido não santificado, muito
menos impor uma adoração corporal quando a alma está realmente
insensível ou despreparada pelo Senhor. À luz de Jesus, eles
esperam para serem preparados, retirados e afastados de todos os
pensamentos que causam a menor distração e desconforto na mente,
até que vejam o Anjo se mover e até que seu Amado tenha prazer
em acordar; pois eles não ousam chamá-lo antes de seu tempo. Eles
temem inventar uma devoção na Sua ausência, pois sabem que não
é apenas inútil, mas reprovável: “Quem exigiu isso de tuas mãos?”47
- disse o Senhor a Israel. “Aquele que crê não se apressa.”48 Aqueles
que adoram com seus próprios recursos só podem fazer como os
israelitas
fizeram: transformar seus brincos em uma imagem derretida e
ser amaldiçoados por seu trabalho. E não se saíram melhor aqueles
que juntaram gravetos, acenderam uma fogueira e se cercaram com
as faíscas que acenderam; para
47 Isaías 1:12
48 Isaías 28:16
82
Deus lhes disse: “eles deveriam deitar-se em tristeza”.49 Isso não

apenas não traz nenhuma vantagem ou bem para eles, mas
também incorre em um julgamento do Senhor; tristeza e angústia
de alma serão sua porção. Infelizmente! carne e sangue orariam
prontamente, mas não podem esperar. Anseia por ser santo, mas
não suporta fazer ou sofrer a vontade de Deus. Com a língua
abençoa a Deus, e com a língua amaldiçoa os homens, feitos à
Sua imagem. Chama Jesus de Senhor, mas não pelo Espírito
Santo. Muitas vezes menciona o nome de Cristo, sim, e também
se ajoelha diante dele, mas não se afasta da iniqüidade, que é
abominável para Deus.
Quatro coisas necessárias
Há quatro coisas necessárias para adorar a Deus

corretamente, e todas elas colocam a realização da adoração
além do poder do homem. A primeira é a santificação do adorador.
Em segundo lugar, a consagração da oferta, que já foi amplamente
comentada. Terceiro, pelo que orar – o que ninguém sabe sem a
ajuda do Espírito de Deus; e, portanto, sem esse Espírito nenhum
homem pode orar verdadeiramente. O apóstolo coloca isso fora
de discussão, dizendo: “Não sabemos o que havemos de pedir
como convém, mas o Espírito ajuda nas nossas fraquezas.”50
Homens não familiarizados com a
obra e o poder do Espírito Santo ignoram a mente de Deus. ,
e estes, certamente, nunca poderão agradá-Lo com suas orações.
Não basta apenas saber que estamos necessitados; pois como
sabemos se nossas necessidades não nos foram enviadas como
uma bênção?
49 Isaías 50:11
50 Romanos 8:26
83
— decepções para os orgulhosos, perdas para os avarentos,

açoites para os negligentes. Orar a Deus para removê-los seria
garantir a nossa própria destruição, e não ajudar a salvação da
nossa alma.
O mundo vil conhece todas as coisas carnalmente, segundo
uma maneira e interpretação carnal; e muitos que desejam ser
considerados iluminados tendem a chamar esses dons da
providência por nomes errados. Por exemplo, às aflições eles
chamam de julgamentos, e às provações (que são mais preciosas
do que seu amado ouro) eles chamam de misérias. Por outro lado,
eles chamam as preferências do mundo pelo nome de honra, e sua
riqueza eles chamam de felicidade.
Portanto, o que guardar, o que rejeitar, o que querer, é uma
dificuldade que só Deus pode resolver na alma. E como Deus sabe,
muito melhor do que nós, o que precisamos, Ele pode nos dizer
melhor o que pedir, do que nós podemos dizer a Ele. Isso fez com
que Cristo exortasse Seus discípulos a evitarem orações longas e
repetitivas, dizendo-lhes que seu Pai celestial sabia o que eles
precisavam antes mesmo de pedirem. Ele, portanto, deu-lhes um
padrão de oração; não (como muitos imaginaram) ser um texto para
liturgias humanas, que são notórias pela extensão e repetição; mas
expressamente para reprovar e evitar tais coisas.
Contudo , como orar ainda é de maior importância do que o
que orar; não apenas o pedido, mas a estrutura do espírito do
peticionário. O que pode ser adequado, mas o quão defeituoso.
Como eu disse, Deus não precisa ser informado por nós sobre
nossas necessidades; na verdade, Ele deve contá-los para nós. No
entanto, Ele deseja que nós os contemos, tanto para que possamos
aprender a buscá-Lo, quanto para que Ele possa se encontrar
conosco. “Para este homem olharei”, diz o Senhor, “para aquele que é pobre e co
84
espírito, e que treme da Minha palavra.”51 Ele olha para os enfermos

de coração, para a alma ferida, para os famintos e sedentos, para os
cansados e oprimidos, aqueles que sinceramente precisam de ajuda.
Mas mesmo estes três não são suficientes por si só para

completar a verdadeira adoração do Evangelho, pois um quarto
requisito deve ser tido, que é a fé - a fé verdadeira, a fé preciosa, a
fé que purifica o coração, vence o mundo e é a vitória do santos. É
esta fé que anima a oração e a leva para casa, como a viúva
persistente que não queria ser negada, ou aquela a quem Cristo
disse: “Ó mulher, a tua fé é grande.”52
No entanto, esta fé não está em nosso poder, pois é um dom de

Deus e dele devemos recebê-la. Com um grão dela, mais trabalho é
feito, mais libertação é realizada e mais bondade e misericórdia são
recebidas, do que por todas as atividades, vontades e labutas do
homem, com todas as suas invenções religiosas e exercícios
corporais. Isto, devidamente ponderado, mostrará facilmente por que
tanta adoração traz tão pouco lucro ao mundo, como vemos; pois a
verdadeira fé foi perdida. Eles pedem e não recebem; eles procuram
e não encontram; eles batem e a porta não lhes é aberta. O caso é
claro: seus pedidos não estão misturados com aquela fé purificadora
pela qual deveriam prevalecer, assim como o bom Jacó lutou com
Deus e prevaleceu.
A verdade é que a grande maioria dos que professam o

Cristianismo ainda estão em seus pecados, seguindo os desejos de
seus corações e vivendo em prazeres mundanos como estranhos a
esta fé preciosa. A razão dada pelo autor de Hebreus para a
51 Isaías 66:2
52 Mateus 15:28
85
A inutilidade daquela palavra pregada ao antigo Israel é “não ser

misturada com a fé naqueles que a ouviram”.53 Pode o ministro então
pregar sem fé? Não, e muito menos pode um homem orar de forma
aceitável a Deus Todo-Poderoso sem fé, especialmente quando nos é
dito que: “O justo viverá pela fé”. Pois a adoração é o ato supremo da
vida do homem, e tudo o que for necessário aos atos religiosos inferiores
não deve faltar aqui.
Isso pode diminuir o espanto de qualquer um quanto ao motivo

pelo qual Cristo tão frequentemente repreendeu Seus discípulos com
as palavras: “Ó homens de pouca fé!” E, no entanto, Ele nos diz que um
grão, mesmo que tão pequeno quanto um grão de mostarda, se for
verdadeiro e correto, é capaz de remover montanhas. É como se Ele
tivesse dito: 'Não há provação ou tentação tão poderosa que a fé não possa vencer.
Portanto, aqueles que são cativados pelo pecado e pelas tentações, e
permanecem não supridos em suas necessidades espirituais, devem
carecer desta fé poderosa.' Tão necessário era isso antigamente, que
Cristo não poderia fazer muitas obras poderosas onde o povo não
cresse Nele, embora Seu poder fizesse maravilhas em outros lugares
onde a fé havia aberto o caminho. Na verdade, é difícil dizer se foi o
poder pela fé, ou a fé pelo poder, que operou o milagre.
“Você acredita”, disse o Senhor, “que sou capaz de abrir seus

olhos?” “Sim, Senhor”,54 disseram os cegos, e então eles viram. Ao
governante, Cristo disse: “Não temas, apenas acredita.”55 Ele o fez, e a
sua filha morta recuperou a vida.
Para outro, Ele disse: “Todas as coisas são possíveis ao que crê”. “Eu
acredito”, exclamou o homem, “ajude meu
53 Hebreus 4:2
54 Mateus 9:28
55 Lucas 8:50
86
incredulidade!”56 Então o espírito maligno foi expulso e a criança

se recuperou. Ele disse a um: “Vai, a tua fé te salvou”;57 e a
outro: “A tua fé te salvou; os vossos pecados estão perdoados.”58
E aos seus discípulos: “Em verdade vos digo: se tiverdes fé e não
duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas também
se disseres a esta montanha: ‘Sê removido e lançado ao mar’,
isso será feito. E tudo o que pedires em oração, crendo,
receberás.”59 Esta passagem convence a cristandade de grande
infidelidade; pois ela ora e não recebe.
Alguns desta geração sem fé desculpariam a sua falta de fé

declarando que é impossível adquirir a fé que lhes falta. Mas a
resposta de Cristo à infidelidade daquela época irá refutar melhor
a descrença desta. “As coisas que são impossíveis aos homens
são possíveis a Deus.”60 Não é impossível para Deus dar a
verdadeira fé, porém, é certo que “sem ela, é impossível agradar
a Deus.”61 E se, sem ela, é impossível agradar a Deus.61 E se,
sem ela, é impossível agradar a Deus. esta fé preciosa é
impossível agradar a Deus, certamente deve ser impossível adorar ou orar.
Mas alguns poderão dizer: O que é esta fé tão necessária
à adoração, que dá aceitação a Deus e devolve benefício aos
homens? Eu digo, é um santo abandono a Deus e confiança Nele,
manifestado por uma obediência real às Suas santas exigências,
que proporciona evidência segura à alma das coisas não vistas, e
um senso geral e sabor da substância das coisas que são. Espero
que. Como esta fé é a
56 Marcos 9:23-24
57 Mateus 9:22
58 Lucas 7:50
59 Mateus 21:21-22
60 Lucas 18:27
61 Hebreus 11:6
87
dom de Deus, por isso purifica os corações de todos os

que o recebem.62 O apóstolo Paulo dá testemunho de que
ele habita apenas numa consciência pura,63 e num lugar
une um coração puro a uma fé não fingida.64 Em outro
lugar, encontre a fé ligada a uma boa consciência.65 Tiago
une a fé com a justiça, e João com a vitória sobre o mundo,
dizendo: “Esta é a vitória que vence o mundo, sim, a vossa
fé.”66 Os herdeiros
desta fé são os verdadeiros filhos. de Abraão, embora
incircunciso na carne; pois estes andam nos passos de
Abraão segundo a obediência da fé. Esta fé vive acima do
mundo, onde ninguém pode chegar, exceto através da
morte para si mesmo, pela cruz de Jesus e por uma total
dependência de Deus. Famosas são as façanhas deste
dom divino, e o tempo não conseguiria contá-las todas.
Mas basta dizer que por meio dele os santos anciãos
suportaram todas as provações, venceram todos os
inimigos, prevaleceram com Deus, demonstraram Sua
verdade, terminaram seu testemunho e obtiveram a
recompensa dos fiéis - uma coroa de justiça, que é a bem-aventurança
62 Atos 15:9
63 1 Timóteo 3:9
64 1 Timóteo 1:5
65 1 Timóteo 1:19, 1:5
66 1 João 5:4
88
Capítulo VII.
O Pecado do Orgulho
Tendo assim descarregado minha consciência contra aquele tipo

de eu ilícito que busca ser um cristão, um crente e um santo, enquanto
permanece um estranho à cruz de Cristo e aos seus santos exercícios;
e tendo descrito brevemente a natureza da verdadeira adoração, e o
uso e papel da santa cruz, a fim de tornar seu desempenho agradável
ao Deus Todo-Poderoso; Eu irei agora (se o Senhor me ajudar)
processar mais amplamente aquela outra parte do eu ilícito, que
preenche o estudo, o cuidado e a conversação do mundo, apresentada
nestas três concupiscências capitais: orgulho, ganância e luxo. Destes
três todos os outros males fluem diariamente, como riachos de suas
próprias fontes. A mortificação destes males constitui uma grande parte
da obra da verdadeira cruz, abrindo caminho para a tão necessária
reforma do homem em humildade, temperança, amor, paciência,
mentalidade celestial e todas as outras graças do Espírito.
O cuidado e o amor de toda a humanidade são direcionados a

Deus ou a si mesmos. Aqueles que realmente amam a Deus acima de
tudo estão sempre se humilhando diante de Seus mandamentos e
amando a si mesmos apenas em subserviência Àquele que é o Senhor de todos.
89
Mas aqueles que rejeitaram este amor a Deus são amantes

de si mesmos; pois todo amor deve estar centrado em um
desses dois. A este amor próprio desordenado, o apóstolo
une com razão os vícios do orgulho e da altivez; pois assim
que os anjos recusaram seu amor, dever e reverência a
Deus, eles se amaram e se valorizaram excessivamente.
Isto rapidamente os levou a ultrapassar sua habitação
adequada e a aspirar acima da ordem de sua criação. Sim,
foi o orgulho que provocou a triste deserção e a triste queda
daqueles que são mantidos nas cadeias das trevas até o
julgamento do grande dia de Deus.
O orgulho, esse mal pernicioso, comumente conhecido
por seus movimentos e tristes efeitos em toda alma não
mortificada, deu início à miséria da humanidade. O orgulho
é um excesso de amor próprio, aliado a uma desvalorização
dos outros e a um desejo de domínio sobre eles; é a coisa
mais problemática do mundo. Há quatro coisas pelas quais
o orgulho se tornou mais conhecido pela humanidade, cujas
consequências trouxeram um grau de miséria igual ao seu
mal. A primeira é uma busca desordenada por conhecimento.
A segunda, uma busca ambiciosa e um desejo de poder. A
terceira, um desejo extremo de respeito e estima pessoal.
O último excesso é o dos bens e adornos mundanos. Ao
justo e verdadeiro testemunho do Deus eterno, colocado
nas almas de todas as pessoas, apelo para a verdade destas coisas.
Para o primeiro, é evidente que um desejo desordenado
de conhecimento introduziu a miséria do homem e provocou
uma queda universal da glória do seu estado primitivo. Adão
desejava ser mais sábio do que Deus o havia criado. Não
bastava conhecer o seu Criador e prestar-lhe aquela santa
homenagem a que o seu ser e a sua inocência naturalmente
90
O Pecado do Orgulho
envolveu-o e excitou-o; nem ter entendimento acima de

todos os animais do campo, das aves do céu e dos peixes
do mar; unido a um poder para governar toda a criação
visível de Deus. Não, ele também deve ser tão sábio quanto Deus.
Esta busca injustificável, esta ambição tola e injusta,
tornou-o indigno das bênçãos que recebeu de Deus. Isso o
tirou do paraíso; e em vez de ser o senhor do mundo inteiro,
Adão tornou-se o vagabundo mais miserável da terra.
Que triste mudança! Em vez de serem como deuses,

eles caíram abaixo das próprias feras. A lamentável
consequência desta grande deserção foi a troca da
inocência pela culpa e do paraíso pela natureza selvagem.
Mas o que é ainda pior, neste estado Adão e Eva adquiriram
outro deus, além do único Deus vivo e verdadeiro. Aquele
que os seduziu para todas essas travessuras, forneceu-
lhes um conhecimento vão e uma sabedoria perigosa - a
habilidade de mentiras e evasões, mudanças, acusações e
desculpas. Perderam a clareza e a sinceridade; e de um
coração reto (a imagem na qual Deus o criou), o homem
tornou-se uma serpente torta e retorcida; a imagem daquele
espírito injusto a cujas tentações ele cedeu sua obediência
e sua felicidade paradisíaca.
Isto não se limita a Adão; pois todos os que carecem
da glória de Deus são filhos verdadeiros de sua
desobediência. Eles, como ele, comeram o que foi proibido.
Eles cometeram coisas que não deveriam ter feito e
deixaram de fazer coisas que deveriam ter feito. Eles
pecaram contra a luz e o conhecimento divinos que Deus
lhes deu. Eles entristeceram o Seu Espírito, e a sentença
sombria foi de fato
91
executado - “No dia em que dele comeres, certamente

morrerás.”1 Isso quer dizer: 'Quando você fizer o que não deve
fazer, não viverá mais em Meu favor, nem desfrutará do conforto
e da presença do Meu Espírito.' Isto é morrer para todos aqueles
desejos e afeições inocentes e santos com os quais Deus criou
o homem; e assim ele fica frio e entorpecido, insensível ao amor
de Deus, ao Seu Espírito Santo, poder e sabedoria, à luz e
alegria de Seu semblante, à evidência de uma boa consciência
e à aprovação do Espírito Santo de Deus. Espírito.
Tendo caído, o conhecimento que Adão tinha de Deus não

consistia mais numa experiência diária do amor e da obra de
Deus em sua alma, mas numa noção do que ele uma vez
conheceu e experimentou. Não sendo esta a sabedoria
verdadeira e viva que vem do alto, mas uma mera imagem, não
pode preservar o homem na pureza; mas antes incha e torna
as pessoas orgulhosas, nobres e impacientes com a contradição.
Este era o estado dos judeus apóstatas antes da vinda de Cristo,
e tem sido a condição dos cristãos apóstatas desde que Ele veio.
Além de uma variedade de performances corporais, a sua
religião baseia-se naquilo que antes conheciam da obra de Deus
em si mesmos (uma obra da qual se revoltaram); ou numa
crença histórica e numa concepção imaginária das experiências
e profecias de homens e mulheres santos de Deus que, em
todas as épocas, mereceram o nome e o carácter dos Seus
verdadeiros filhos.
Tal conhecimento de Deus não pode ser verdadeiro, e
pela experiência descobrimos que sempre produz frutos bastante
contrários à verdadeira sabedoria. Pois como “a sabedoria do
alto é primeiramente pura, depois pacífica, depois gentil e fácil de ser
1 Gênesis 2:17
92
O Pecado do Orgulho
suplicado”,2 então o conhecimento de homens degenerados e não

mortificados é primeiro impuro. Na verdade, veio pela prática do mal
e é mantido em uma consciência e coração impuros que desobedecem
à lei de Deus e diariamente fazem coisas que não deveriam fazer.
Por isso eles estão condenados diante do tribunal de Deus nas almas
dos homens, onde a luz de Sua presença perscruta as coisas mais
ocultas das trevas, os pensamentos mais secretos e as inclinações
ocultas dos homens ímpios. Sim, esta é uma falsa sabedoria; e assim
como é impuro, também é inpacífico, zangado e difícil de ser
suplicado. É atrevido, perverso, perseguidor e ciumento que alguém
seja melhor, e depois odiar e abusar daqueles que
são.
Foi esse orgulho que fez de Caim um assassino; é uma

qualidade rancorosa, cheia de inveja e vingança. O que? Sua religião
e adoração não eram tão boas quanto as de seu irmão? Ele tinha
todas as partes exteriores da adoração. Ele ofereceu exatamente
como Abel fez, e a oferta em si poderia ter sido igualmente boa; mas
parece que o coração que ofereceu não o foi. Há muito tempo Deus
considerou a adoração interior da alma. Qual foi a consequência
dessa diferença? O orgulho de Caim não suportava ser superado
pelo seu irmão. Ele ficou furioso e resolveu justificar sua oferta
vingando sua rejeição na vida de seu irmão. E sem qualquer
consideração pela afeição natural, ou pela condição inferior e primitiva
da humanidade, ele bárbaramente manchou as mãos com o sangue
de seu irmão.
A religião dos judeus apóstatas não melhorou; por terem perdido
a vida interior, o poder e o Espírito da lei, ficaram inchados com o
conhecimento que possuíam. Suas reivindicações a Abraão, Moisés
e às promessas de Deus, em
2 Tiago 3:17
93
essa condição serviu apenas para elevá-los a um orgulho, arrogância e

crueldade horríveis. Eles não suportavam a visão verdadeira quando se
tratava de visitá-los e entretinham os mensageiros de sua paz como se
fossem lobos e tigres.
É notável como os falsos profetas, os grandes maquinadores contra

os verdadeiros, sempre os perseguiram como falsos; e por sua influência
com os príncipes terrenos, ou com a pobre multidão seduzida, fizeram de
outros homens os instrumentos de sua malícia. Foi assim que um santo
profeta foi serrado e outro apedrejado até a morte, etc. Oh, quão
orgulhosos e obstinados são o falso conhecimento e todos os que aspiram
a ele! Na verdade, isso fez com que o Santo Estêvão clamasse: “Vocês,
obstinados e incircuncisos de coração e de ouvidos, resistem ao Espírito
Santo; assim como seus pais fizeram, você também.”3
O verdadeiro conhecimento desceu com a alegria dos anjos,

cantando “paz na terra e boa vontade para com os homens”;4 e o falso
conhecimento entreteve-o com calúnia e violência.
Sim, eles o apedrejaram e frequentemente tentaram matá-lo; e finalmente
eles conseguiram isso perversamente. Mas qual foi o motivo deles?
Porque Ele clamou contra a hipocrisia deles, suas cerimônias sem vida e
a honra que buscavam dos homens. Na verdade, eles próprios dão a
razão com estas palavras: “Se O deixarmos assim, todos os homens
acreditarão Nele”;5 'Ele tirará o nosso crédito junto ao povo; eles aderirão
a Ele e nos abandonarão, e assim perderemos nosso poder e reputação
junto à multidão.'
A verdade é que Ele veio para nivelar a honra e a superação deles.
3 Atos 7:51
4 Lucas 2:14
5 João 11:48
94
O Pecado do Orgulho
abandonar seu orgulhoso sistema religioso e, por Sua graça, levar

um povo àquele conhecimento interior de Deus do qual eles, por
transgressão, há muito haviam se afastado. Então eles veriam o
engano de seus guias cegos que, por suas vãs tradições,
anularam a justiça de Deus, e que estavam tão longe de serem
os verdadeiros professores e expositores vivos dela, que na
realidade eles eram os filhos do diabo - que foi um mentiroso
orgulhoso e um assassino cruel desde o início.
Vendo como o orgulho deles pelo falso conhecimento os

tornara incapazes de receber a simplicidade do Evangelho, Cristo
agradece a Seu Pai por ter escondido seus mistérios dos sábios
e prudentes, e revelado-os aos pequeninos.
Esta mesma falsa sabedoria inchou as mentes dos atenienses
a tal ponto que desprezaram a pregação do apóstolo Paulo como
algo vão e tolo. Mas este apóstolo (que, mais do que todos os
outros, foi educado no saber daqueles tempos), reflete
amargamente sobre a sabedoria tão valorizada pelos judeus e
gregos, dizendo: “Onde está o sábio?
Onde está o escriba? Onde está o disputador deste mundo?
Deus não tornou louca a sabedoria deste mundo?”6 E
então dá uma boa razão para isso: “Para que nenhuma carne se
glorie em Sua presença”. 7 O que significa dizer que Deus
manchará o orgulho dos homens em seu falso conhecimento, de
que eles não terão nada do que se orgulhar; pois tudo dependerá
da revelação do Espírito de Deus.
Na verdade, o apóstolo vai ainda mais longe e afirma: “Que
o mundo pela sabedoria não conheceu a Deus”;8 que
6 1 Coríntios 1:20
7 1 Coríntios 1:29
8 1 Coríntios 1:21
95
isto é, a sabedoria do homem estava tão longe de ser uma ajuda que,
como os homens a usam, era um obstáculo ao verdadeiro
conhecimento de Deus. E na sua primeira epístola ao seu amado
Timóteo, ele conclui assim: “Ó Timóteo! Guarde o que foi confiado à
sua confiança; evitando tagarelices profanas e vãs e contradições
daquilo que é falsamente chamado de conhecimento.”9 Este era o
caminho dos tempos apostólicos, quando a graça divina dava o
verdadeiro conhecimento de Deus e era o guia dos cristãos.
Mas qual foi o sucesso daquelas eras que seguiram os
apóstolos? É melhor do que o dos tempos judaicos? Infelizmente,
nem um pouco! Na verdade, eles excederam os judeus nas suas
pretensões de maior conhecimento, e também na sua degeneração
da verdadeira vida cristã.
Pois embora eles tivessem um modelo mais excelente do que os
judeus, a quem Deus falou por meio de Moisés, seu servo - a saber,
Cristo, o Filho amado, a imagem expressa da substância do Pai, a
perfeição de toda mansidão e humildade - e embora parecessem
viciados à adoração de Seu nome e à veneração de Seus
abençoados discípulos e apóstolos; contudo, tão grande foi seu
abandono do poder interior e da vida do cristianismo na alma, que
sua reverência provou ser pouco mais do que formal e cerimoniosa.
Não obstante, eles, como os judeus, eram zelosos na decoração de

seus sepulcros e ocupados em esculpir suas imagens; contudo, no
que diz respeito às grandes e importantes coisas da lei cristã da vida
- a saber, amor, humildade e abnegação - eles eram degenerados.
Eles se tornaram nobres, orgulhosos, presunçosos, sem afeição
natural, curiosos e controversos, sempre deixando a igreja perplexa
com perguntas duvidosas, enchendo as pessoas de disputas, conflitos.
9 1 Timóteo 6:20
96
O Pecado do Orgulho
e disputas, atraindo-os para seitas e divisões até que finalmente

caíram em derramamento de sangue.
Ó, o estado miserável destes pretensos cristãos que, em vez
da doutrina de Cristo e dos Seus apóstolos de amar os inimigos e
abençoar aqueles que os amaldiçoam, ensinam o povo (sob uma
noção de zelo cristão) a massacrar uns aos outros da forma mais
desumana. E em vez de permitir que o seu próprio sangue fosse
derramado pelo testemunho de Jesus, eles derramaram o sangue
das testemunhas de Jesus, chamando-as de hereges.
Assim, aquela serpente sutil, ou espírito maligno astuto, que tentou
Adão até fazê-lo sair da inocência e persuadiu os judeus a se
afastarem da lei de Deus, enganou os cristãos, com vaidades
mentirosas, para que se afastassem da lei cristã da santidade.
Conseqüentemente, eles se tornaram seus escravos; pois ele governa
nos corações dos filhos da desobediência.
Foi o orgulho (que é sempre seguido de superstição e
obstinação) que levou Adão a buscar uma posição mais elevada do
que aquela em que Deus o colocou. Os judeus, movidos pelo mesmo
orgulho, procurando superar o padrão sagrado dado por Deus a
Moisés no monte, ensinava como doutrinas suas próprias tradições,
de modo que aqueles que recusassem a conformidade com elas
corriam o risco de morte. Assim também os cristãos nominais, do
mesmo pecado do orgulho, com grande superstição e arrogância,
introduziram, em vez de um culto e disciplina espiritual, aquilo que é
evidentemente cerimonioso e mundano, com as suas grandes
inovações e tradições de homens que são fruto de a sabedoria que
vem de baixo.
E como esse orgulho injustificável os levou a princípio a perverter
a espiritualidade do culto cristão, fazendo com que se assemelhasse
mais à religião sombria dos judeus e ao culto espalhafatoso dos
egípcios, do que à simplicidade e
97
simplicidade da instituição cristã; da mesma forma, o mesmo

orgulho e arrogância os estimularam, por meio de todas as
crueldades imagináveis, a manter sua grande imagem. As
mansas súplicas e os humildes protestos daqueles que se
mantinham próximos da pureza primitiva no culto e na doutrina
não conseguiram convencer estes cristãos nominais a
dispensar a imposição das suas tradições. Mas à medida que
os ministros e bispos desses cristãos degenerados se tornaram
ambiciosos, gananciosos e luxuosos (mais parecidos com
potentados mundanos do que com os seguidores de espírito
humilde e mortificados do abençoado Jesus), quase toda
história nos conta com que orgulho e crueldade, sangue e
carnificina e torturas incomuns e requintadas, eles perseguiram os santos m
Estes, os verdadeiros cristãos chamam de mártires; mas o
clero (como os judeus perseguidores) os chamou de
blasfemadores e hereges - cumprindo assim a profecia de
nosso Senhor. Sem dúvida, tais perseguidores são os lobos
que o apóstolo predisse que surgiriam entre eles, não
poupando o rebanho de Cristo, depois que a grande apostasia
começasse; cuja apostasia foi predita por ele como sendo
necessária para a prova dos fiéis e a revelação do grande
mistério da iniqüidade.
Concluirei este assunto com a seguinte afirmação, que
é uma verdade inegável: onde quer que o clero tenha estado
com maior poder e autoridade, e tenha tido a maior influência
sobre líderes e estados, aí tem havido maior confusão,
contenção. , derramamento de sangue, prisões e exílios. Para
provar isso, recorro ao testemunho dos registros de todos os
tempos. Como é em nossa época, deixo para a experiência
dos vivos; no entanto, aqui está uma acusação que dificilmente
pode ser contestada: o povo não se converte, mas
98
O Pecado do Orgulho
bastante debochado em um grau lamentável. A adoração da cristandade é

visível, cerimoniosa e espalhafatosa. O clero ambiciona vantagens mundanas
sob o pretexto de promoções espirituais, fazendo das receitas terrenas a razão
da sua função. Assim, com o seu orgulho e avareza (que o apóstolo Pedro
previu que seriam as suas armadilhas), estes atraíram consigo grande
ignorância, miséria e impiedade sobre o Cristianismo do nosso tempo.
O caminho para a recuperação desta miserável deserção é chegar ao

conhecimento salvífico da verdadeira religião, que é uma experiência da obra
divina de Deus na alma, obtida pela obediência diligente à graça de Deus que
aparece em sua própria alma. Esta graça traz a salvação, transformando você
do caminho largo para o caminho estreito, das suas concupiscências para o
seu dever, do pecado para a santidade, de Satanás para Deus. Você deve ver
e abominar a si mesmo. Você deve vigiar, orar e jejuar. Você não deve olhar
para o seu tentador, mas para o seu Preservador. Evite as más companhias,
retire-se para a solidão e seja um casto peregrino neste mundo maligno. Assim
chegareis ao conhecimento de Deus e de Cristo que traz vida eterna à alma.
Foi a antiga reclamação de Cristo: “Aquela luz veio ao mundo, mas os

homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram
más”. 10 Se você deseja ser um filho de Deus e um crente em Cristo, você
deve seja um filho da luz. Você deve levar até lá suas ações e examiná-las por
meio daquela lâmpada sagrada em sua alma, que é a vela do Senhor que
mostra seu orgulho e arrogância e reprova seu deleite nas modas vãs deste
mundo.
A verdadeira religião é uma negação de si mesmo; sim e de auto-religião
10 João 3:19
99
também. É um vínculo firme ou vínculo da alma com a santidade,

cujo fim é a felicidade, pois por meio dela os homens chegam a ver o
Senhor. “Os puros de coração”, diz Jesus, “vêem a Deus”.11 Aquele
que vem para carregar o jugo de Cristo não se deixa levar pelas
seduções do diabo; na verdade, ele encontra alegrias muito maiores
em sua vigilância e obediência. Se Adão tivesse se preocupado mais
com aquela luz sagrada do paraíso do que com a isca da serpente, e
tivesse mantido a mente em seu Criador, o recompensador da
fidelidade, ele teria visto a armadilha do inimigo e lhe teria resistido.
Ó, então, não se deleite com o que é proibido! Não olhe para isso, se
você não deseja ser cativado por ele. Cristo submeteu Sua vontade
à de Seu Pai e, pela alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz e
negou a vergonha de um caminho novo e inexplorado para a glória?
Você também deve submeter sua vontade à santa lei de Cristo e à
luz em seu coração, e pela recompensa que Ele coloca diante de
você, suportar Sua cruz e desprezar a vergonha dela. Muitos desejam
alegrar-se com Ele, mas poucos sofrerão com Ele, ou por Ele. Eles O
seguirão pelos pães, mas deixarão o cálice amargo de Sua agonia.
Sim, muitos magnificarão os Seus milagres, mas ainda assim estão
ofendidos com a humilhação da Sua cruz. Mas, ó homem! como Ele
fez pela sua salvação, então você deve fazer por amor a Ele - você
deve se humilhar e se contentar em não ter reputação, para que
possa segui-Lo; não no modo carnal e formal, da tradição e prescrição
do homem vão, mas no “caminho novo e vivo”12 que Jesus consagrou.
Todos os que andam desta maneira viajam para o descanso eterno

de Deus, no qual Ele mesmo entrou, que é o santo e único e
abençoado Redentor.
11 Mateus 5:8
12 Hebreus 10:20
100
***
[O integral No Cross, No Crown continua além deste ponto

com um tratamento exaustivo dos pecados do orgulho, da
avareza e do luxo, descrevendo seus muitos ramos e
frutos, e o efeito corruptor que eles têm no coração do
homem. O tratado não editado pode ser encontrado em
The Friend's Library, Vol. 1, ou através de várias fontes online.]
101

No Cross No Crown

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8 Mateus 6:10; Lucas 11:2

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