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Aula 4
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LACAN, De la psychose paranoïaque ..., p. 337
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LACAN, De la psychose paranoïaque ..., p. 244
incapaz de desenvolver as estruturas que permitiriam que tais conflitos próprios aos
processos identificatórios fossem agenciados de outra forma.
Veremos a partir da aula que vem como Lacan irá partir desta reflexão sobre a
teoria da personalidade, mas para reconstruí-la, agora através de empréstimos maciços
vindos da filosofia, da etologia animal e da psicologia do desenvolvimento. Notemos
apenas que em sua tese, Lacan está mesmo disposto a afirmar que o desejo instaura um
ciclo de comportamento marcado por exigências de satisfação. A compreensão deste
ciclo fornece a chave compreensiva para as patologias, já que mesmo a psicose se
apresente “como um ciclo de comportamento”.
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LACAN, idem, p. 307
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Idem, o. 315
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Idem, p. 308
nulidade da ‘psicologia’ mas ele de fato erige seus conceitos em ídolos. As
abstrações da análise se tornam para ele realidade concreta6.
Por fim, vale lembrar o sentido de uma certa relação entre Lacan e o surrealismo
a respeito do problema da paranóia. Salvador Dali escrevera, em 1930, algumas
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Idém, pag. 316
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idém, pag. 334
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LACAN, idem, p. 325
considerações sobre a paranóia e intentava dar suporte teórico à suas concepções
estéticas através do desenvolvimento de um método designado por ele de “paranóia-
crítica”. Para o pintor catalão, a paranóia era uma interpretação delirante da realidade,
uma atividade criadora lógica que, longe de basear-se em um “erro” de julgamento,
estava apenas em desacordo com a realidade socialmente compartilhada 9. Era, assim,
uma forma de conhecimento muito mais capacitada a apreender a realidade absoluta
proposta na noção de surrealidade, a este realismo bruto que o surrealismo procurava
através da crítica da realidade como construção aparente. Pois lembremos como o
surrealismo se via como “materialista”, “uma feliz reação contra as tendências irrisórias
do espiritualismo”.
A idéia converge com tese de Lacan, para quem a psicose paranóica estava
fundada no desconhecimento que o doente tinha de sua própria diferença.
Desconhecimento da dissimetria entre sua forma delirante de conhecimento e o
conhecimento verdadeiro que “aí se define, com efeito, por uma objetividade da qual o
critério de assentimento social, próprio a cada grupo não está de resto ausente” 10. A
psicose, ao ser apreendida em sua racionalidade lógica interna, expunha uma sintaxe
original cuja produção simbólica, em muitos pontos, assemelhava-se às manifestações
estéticas do estilo. Daí a conclusão:
Por estas conclusões já dá para imaginar porque, no meio médico, somente seu
amigo Henri Ey rompeu com o silêncio sobre a tese fazendo a sua defesa através de um
artigo para a revista de psiquiatria L’Encéphale. O fato é que a leitura de Politzer
permitiu a Lacan abordar a obra de Freud a partir de uma perspectiva até então estranha
ao meio psiquiátrico francês e muito mais próxima ao espírito dos surrealistas.
9
Dali definirá a paranóia como: “delírio de associação interpretativa que comporta uma estrutura
sistemática” (DALI, Salvador; La conquete de l’irrationnel in Oui: pour une révolution paranoïaque-
critique, Denöel: Paris, pag.19).
10
LACAN, Jacques; Da psicose paranóica, pag. 346.
11
LACAN, Jacques; O problema do estilo e a concepção psiquiátrica das formas paranóicas da
experiência, pag. 380.