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QUARENTENA

Situação difícil esta em que nos metemos. Sob um aspecto, eu, particularmente, não posso
reclamar, pois já fazia parte do pequeno grupo de pessoas que pode trabalhar em casa, a maior
parte do tempo pelo menos. E por sorte tenho no momento o que fazer.
Por outro lado, conheço muita gente que já tinha sido atingido duramente com o brutal
encolhimento da economia, iniciado lá por 2010 e que aflorou com toda força em 2015, quando
empresas e empregos foram atirados ao lixo e muita gente desde lá tem trocado 6 por 5 no dia a
dia. Agora, trancados em casa, nem 6, nem 5...
Sem contar o contingente enorme de pessoas que sempre vende o almoço para comprar o
jantar, que ganha seus trocados com bicos pela manhã para pagar a despesa no mercadinho à
noite, antes de ir para casa.
Por força de insistentes decretos, instruções, ameaças, campanhas jornalísticas, conselhos de
amigos, parentes etc., estamos submetidos a um isolamento radical, que alguém decidiu chamar
de horizontal sem minimamente explicar a relação entre a geometria e a medicina. Surgiu daí
também a defesa do isolamento vertical. A única pessoa que se propôs a detalhar essa relação
entre a geometria, o isolamento e as famílias, foi uma antiga presidenta, o que, convenhamos,
acabou por complicar tudo. Seu conceito de famílias horizontais virou mais um meme na
internet. Estou aguardando que logo em seguida algum gênio do mesmo calibre daquela
malfadada energúmena venha a propor algum isolamento inclinado, ou curvado, ou de ponta
cabeça, sei lá.
Atravessamos uma tempestade de informações e opiniões conflitantes, infestadas por evidentes
interesses políticos que não fixam um norte a seguir, um cenário de como as coisas vão se
desenrolar. Só sei que entramos todos nós naquela situação conhecida como “sinuca de bico”.
Por que, vamos pensar juntos, se ficarmos todos trancados dentro de casa e mais nada, quando
é que vamos saber que será seguro sair para as ruas?
Com tanta variedade de opiniões, será que haverá um dia num futuro distante em que haverá
um consenso de que poderemos retornar à vida que antes levávamos? Será que um futuro
decreto, municipal, ou estadual, ou presidencial, obrigando-nos a retornar a nossos postos, será
respondido por todos? Nenhuma das 3 entidades, hoje, exerce autoridade sobre o coletivo das
pessoas, convenhamos. Autoridade deriva de credibilidade. Imagine então se a ordem vier do
nosso STF, que mais se assemelha a uma gaiola de pavões interesseiros. Estamos quase num
estado de anomia, no sentido de vivenciar um caos provocado pela atual contestação de todas
as regras ou condutas que mais ou menos nos guiavam até a algum tempo atrás. Até mesmo
quando o condutor era um bêbado irresponsável não havia tanto desacato às regras. Tempos de
reinado da internet e da guerra política suja.
Não temos sequer a orientação de uma OMS confiável, pois esta não é lá essas coisas,
presidida por um etíope (podia ser do Mali, ou das Ilhas Vanuatu, daria no mesmo) que não
entende nada de medicina e é certamente circundado por expoentes do seu nível. Acreditar
neles talvez seja pior do que jogar nossa sorte nos dados.
Então, penso que a volta à normalidade será uma longa e angustiante sucessão de vais e vens,
a se prolongar indefinidamente. As doenças nervosas e o desalento passarão a ser mais
preocupantes do que a gripe, será que não? Pior, ao ouvir de muitas pessoas que nossa vida
nunca mais será como antes, não estará embutida nessa frase alguma ameaça tenebrosa da
qual ainda não nos demos conta?
Cabe reconhecer que aqui no país já demos alguns passos, atabalhoados porém úteis, no
sentido de conter ou contornar os efeitos da epidemia, mas ainda não demos passos visando
delinear uma saída para essa situação de exceção. Todos sabemos que as boas soluções são
frutos de observações e ações racionais e conscientes. Sabemos também que para isso é
fundamental a boa informação. Sequer temos confiança de que o número de contaminados está
sendo bem levantado, só sabemos números dos que dão entrada nos hospitais. E dos que
saem, por uma porta ou outra.
Por isso, estou convencido de que precisamos agora de testes. Milhões, dezenas de milhões,
não milhares. Entendo que só com esses resultados nas mãos é que alguma decisão válida
poderá ser tomada para sairmos desta. Até lá, “Deus me livre e guarde” de pegar esse temido
vírus. Mesmo achando que nosso presidente é um tremendo Zé, vou querer “encher a cara” com
Cloroquina. É o que temos à mão, é o que nos resta fazer.

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