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ANATOMIA FOLIAR DE DIFERENTES CULTIVARES DE SOJA E SUA RELAÇÃO


COM INCIDÊNCIA E SEVERIDADE DE DOENÇAS

Article · December 2011

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4 authors, including:

Sebastião Carvalho Vasconcelos Filho Jaqueline Martins Vasconcelos


Instituto Federal Goiano Universidade Federal de Rondônia
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GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN 1984 - 3801)

ANATOMIA FOLIAR DE DIFERENTES CULTIVARES DE SOJA E SUA RELAÇÃO


COM INCIDÊNCIA E SEVERIDADE DE DOENÇAS

Henrique Antônio de Oliveira Lourenço1, Sebastião Carvalho Vasconcelos Filho2*,


Jaqueline Martins Vasconcelos3, Hércules Diniz Campos1

Resumo: Embora a soja seja uma espécie de grande importância econômica no mundo e de
ampla utilização, poucos são os trabalhos disponíveis na literatura que se destinam ao estudo
da sua anatomia foliar, principalmente, comparando diferentes cultivares e sua relação com
patógenos. Desta forma, o presente trabalho objetivou avaliar a anatomia foliar de diferentes
cultivares de soja e sua relação com a incidência e severidade de doenças. As cultivares
comparadas foram: Monsoy 6101, Anta 82, Monsoy 7908, BRS Valiosa e Pioneer P98Y11,
sendo suas folhas coletadas nos estádios fisiológicos R2 e R5.1. Foram medidos o índice
estomático e densidade estomática das faces adaxial; espessura de folha, mesofilo,
parênquima paliçadico, parênquima lacunoso; altura da epiderme adaxial e abaxial. As
diferenças entre as medidas revelaram a maior susceptibilidade a doenças para as cultivares
que apresentaram as menores espessuras, bem como para as que apresentaram os maiores
índices estomáticos.

Palavras-chaves: morfologia, patógenos, Glycine max.

LEAF ANATOMY OF DIFFERENT SOYBEAN CULTIVARS AND ITS RELATION


WITH INCIDENCE AND SEVERITY OF DISEASES

Abstract: Although soybean is a species of great economic importance in the world and
widely used, there are few works available in the literature that are intended for studying its
leaf anatomy, especially comparing different cultivars and their relation with pathogens. Thus,
the aim of the present study was evaluate the leaf anatomy of different soybean cultivars and
their relation with the incidence and severity of diseases. The cultivars compared were:
Monsoy 6101, Anta 82, Monsoy7908, BRS Valiosa and Pioneer P98Y11, and its leaves
collected at physiologic stage R2 and R5.1. We measured the stomatal index and stomatal
density in adaxial and abaxial surfaces; leaf, mesophyll, palisade parenchyma, spongy
parenchyma thickness; height of abaxial and adaxial epidermis. The differences between
measurements revealed a higher susceptibility to diseases in cultivars that had the smallest
thicknesses, as well for those with highest stomatal index.

Keywords: morphology, pathogens, Glycine max.


__________________________________________________________________________________________
1
Universidade de Rio Verde - Campus Universitário I - Fazenda Fontes do Saber, Caixa-Postal 104, Rio Verde
(GO). 75901-970.
2.
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde. Rod. Sul Goiana, Km 01,
Zona Rural, Caixa Postal 66, Rio Verde (GO). CEP: 75901-970. * E-mail: sebastiao-vasconcelos@hotmail.com.
Autor para correspondência.
3 Universidade Federal de Viçosa - UFV, Departamento de Botânica. Avenida Peter Henry Rolfs, s/n, Campus
Universitário, Centro, Viçosa (MG). CEP: 36570-000.

Recebido em: 30/01/11. Aprovado em: 14/09/11.

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INTRODUÇÃO Dentre os danos pré-colheita


causados às diferentes culturas na América
A soja [Glycine max (L.) Merrill], do Sul, podem ser citados insetos (30,3 %),
pertencente a família Fabaceae, destaca-se plantas daninhas (23,6 %) e patógenos (46,1
como a oleaginosa de maior importância no %), que provoca redução de 19,2 % de
mundo, com produção estimada de 210,8 produtividade (BERGAMIN FILHO &
milhões de toneladas e área plantada de 96,2 KIMATI, 1997). Entre os fatores que mais
milhões de hectares (UNITED STATES afetam o rendimento da soja, as doenças são
DEPARTMENT AGRICULTURE, USDA, as que causam maior impacto. Entre 1979 e
2009). Principal produto agrícola da 1999 mais de 50 doenças foram identificadas
exportação brasileira, a produção nacional da no Brasil (EMBRAPA, 2000).
safra 2008/2009, foi estimada em 57,1 Para compreender a relação entre
milhões de toneladas, com uma área plantada anatomia foliar e as doenças de planta, é
de 21,7 milhões de hectares (COMPANHIA necessário estabelecer o conceito de que a
NACIONAL DE ABASTECIMENTO, doença é o mau funcionamento de células e
CONAB, 2009). Esta oleaginosa é tecidos do hospedeiro que resulta de sua
amplamente utilizada na produção de ração contínua irritação por um agente patogênico
animal, óleo, farinha, sabão, cosméticos, ou fator ambiental e que conduz ao
resinas, tintas, solventes e biodiesel, porém, desenvolvimento de sintomas (KRUGNER,
estudos da anatomia foliar, principalmente 1997).
comparando diferentes cultivares e sua Devido a importância das doenças
relação com patógenos são poucos. Trabalhos no processo produtivo dessa cultura, este
envolvendo incidência e severidade de trabalho tem por objetivo estudar
doenças em sua maioria tem como objetivo anatomicamente os diferentes tipos de tecidos
estudar a influência dos fatores abióticos encontrados nas folhas de diferentes
como temperatura, densidade pluviométrica, cultivares de soja e a possibilidade de
período de molhamento, população de respostas das cultivares ao estresse biótico
plantas, prevenção e controle químico. por doenças em virtude de suas diferenças
Entretanto, considerando a possível morfológicas.
diversidade de características anatômicas nas
diferentes cultivares dentro da espécie, torna- MATERIAIS E MÉTODOS
se imprescindível o estudo dos fatores
bióticos, entre os quais a anatomia da folha, O experimento foi conduzido na
que apresenta estruturas clorofilianas, casa de vegetação do Departamento de
responsáveis pela capacidade fotossintética Fitopatologia da Universidade de Rio Verde,
da planta. FESURV. As sementes foram tratadas com
A quantificação e localização de Derosal Plus, visando diminuir possíveis
estômatos, tricomas, parênquimas, epiderme interferências de fungos presentes nas
e presença de lignina, são importantes na sementes e semeadas em bandejas de
verificação da relação entre a disposição germinação contendo apenas areia, em
dessas estruturas e a incidência e severidade seguida foram transplantadas para os vasos.
de doenças, e ao reconhecer essas diferenças, A adubação dos vasos foi realizada segundo
espera-se obter informações que possam ser (MALAVOLTA, 1981) e a irrigação
utilizadas em pesquisas de fitopatologia, realizada diariamente.
melhoramento genético e nutrição mineral Ao final da tarde (<30 ºC), as folhas
foliar, além de contribuir para a completamente expandidas foram colhidas de
sustentabilidade no processo produtivo, com plantas nos estádios fenológicos R 1 (floração
expectativas de incremento de produtividade plena) e R 5.1 (início de enchimento), na
e utilização racional de defensivos. altura do terço médio da planta em cada

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estágio, totalizando-se três folhas por unidade em hipoclorito de sódio 2,5% por 24 horas
experimental (vaso). até clarear. Em seguida, foram realizados três
Em cada folíolo, foram realizados enxágues em água destilada, onde
seis cortes, sendo dois cortes transversais permaneceram por 12 horas. Posteriormente,
para medições anatômicas e quatro cortes permaneceram por 24 horas em etanol 70%,
para vista frontal, para análise foliar através sendo coradas com fucsina 1% por 48 horas.
da diafanização (KRAUS & ARDUIN, Após coloração, foram mantidas em etanol
1997). 50% por uma semana e desidratadas em série
A porção mediana dos folíolos etanólica crescente e pós-desitratadas em
colhidos foi fixada em FAA70 por 24 horas xileno por 15 minutos. As lâminas foram
(JOHANSEN, 1940,). montadas com bálsamo-do-canadá.
Para as medições anatômicas, após a Para análise histoquímica na
fixação o material foi desidratado em série identificação da presença de lignina foi
etanólica 70, 80, 90 e 100 % por duas horas utilizada a reação por floroglucinol
cada (JOHANSEN, 1940) e pós-desidratados acidificado (FOSTER, 1949).
em xileno P.A. por duas horas. Em seguida, o A captura das imagens foi feita
material foi infiltrado em parafina com ponto utilizando microscópico óptico Nikon® e
de fusão de 60 ºC, por uma hora em parafina câmera digital Sony® acoplada ao
com xileno (1:1) e por uma hora em parafina microscópico. As imagens foram tiradas com
pura. zoom óptico de 40 e 10 vezes e zoom digital
A inclusão foi realizada em blocos de 2.0.
de parafina e, posteriormente, o material foi As análises das imagens foram feitas
cortado em micrótomo rotativo a 20 µm. por meio do programa Anati Quant 2®.
Os cortes foram fixados em lâmina Foram analisados a espessura da folha, do
de vidro com ajuda do adesivo de Bissing mesofilo foliar, dos parênquimas paliçadico e
(BISSING, 1974) e dispostos em chapa lacunoso, da epiderme adaxial e abaxial,
aquecida a 40 ºC para total expansão dos densidade e índice estomático e ainda
cortes. As lâminas contendo os cortes fixados verificada a área lignificada da folha. O
foram desparafinizadas em xilol por 30 e 15 cálculo do índice estomático foi feito de
minutos de cada vez, hidratados em serie acordo com a fórmula de Cutter (1986):
etanólica decrescente (100, 90, 80 e 70 %) e índice estomático (IE) = [NE/(CE + NE)] x
água destilada. 100, em que NE é o número de estômatos e
A análise anatômica foi feita por CE o número de células epidérmicas
meio de cortes corados com azul de toluidina propriamente ditas.
0,05% pH 4,0 (O’BRIEN et al., 1964). Para O delineamento experimental foi
coloração dos mesmos, o material inteiramente casualizado no esquema fatorial,
permaneceu imerso no corante por cerca de sendo o fator um, as diferentes cultivares e o
20 minutos, sendo desidratado em série fator dois, os estádios fenológicos. Foram
etanólica crescente (70, 80, 90 e 100%) e realizadas três repetições. Como tratamentos
pós-desidratado em xileno P.A + álcool P.A e foram utilizados as cultivares Monsoy 6101,
em Xileno P.A por dez e cinco minutos. Para Anta 82, Monsoy 7908, BRS – Valiosa e
a realização das fotomicrografias, as lâminas P98Y11, as quais são as mais representativas
foram preparadas com algumas gotas de no sudoeste goiano. Os resultados foram
bálsamo-do-canadá e lamínula. submetidos à análise de variância e as médias
Para análise da superfície foliar, comparadas pelo teste de Tukey à 5% de
amostras das folhas foram diafanizadas probabilidade, utilizando-se o programa
(ARNOTT, 1959). Cortes das folhas fixadas Sisvar.
foram imersos em hidróxido de sódio a 5%
por 48 horas, sendo posteriormente RESULTADOS E DISCUSSÃO
enxaguadas em água destilada e mergulhadas

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As folhas de Glycine max (L.) Tricomas tectores unisseriados são


Merrill , independente da cultivar analisada apêndices epidérmicos encontrados nas duas
são anfiestomáticas, ou seja, presença de faces foliares, são longos e extremamente
estômatos em ambas as faces da folha, tipo frágeis e as células epidérmicas em torno
paracítico, acompanhados por uma ou mais possuem arranjo radial. Observou-se a
células subsidiárias de cada lado, presença de tricomas glândulares, em grande
posicionadas paralelas longitudinalmente a quantidade na face abaxial (Figura 1 - C e D).
fenda estomática. A maior concentração de A alta densidade de tricomas pode interferir
estômatos foi verificada na face abaxial, na continuidade de água sobre a superfície da
classificadas como anfihipoestomáticas. Em folha, dificultando a germinação dos esporos
vista frontal as células epidérmicas exibem e multiplicação de bactérias (SILVA,
paredes sinuosas nas duas faces da folha ALQUINI & CAVALLET, 2005).
(Figura 1 - A e B).

Figura 1 - Detalhe da diafanização de folha de Glycine max (L.) Merrill. A: Detalhe da face
abaxial. B: Face adaxial. C: Vista frontal dos tricomas. D: Tricoma glandular e
tector. co = célula ordinária, cs = célula subsidiária, es = estômato, seta = tricoma
tector, * = tricoma glandular.

Observou-se em cortes transversais, colaterais com bainha de células


epiderme unisseriada com células cubóides e parenquimáticas que confundem com as
achatadas com paredes periclinais, internas e células do parênquima lacunoso (Figura 2 -
externas convexas (Figura 2 - D e F). D). A análise histoquímica, utilizando
A análise da região da nervura Floroglucina ácida (FOSTER, 1949),
principal revela feixe vascular do tipo evidenciou a parede lignificada dos
colateral, com região convexa voltada para a elementos de vaso, fibras e algumas células
face abaxial (Figura 2 A). Os feixes do parênquima de preenchimento, não sendo
vasculares das nervuras de menor calibre são possível estabelecer diferenças quantitativas

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entre as cultivares (Figura 2 - B e C). acima da epiderme na face abaxial. Uma


O mesofilo é heterogêneo com camada de parênquima paranerval foi
organização dorsiventral. O parênquima encontrada entre os parênquimas paliçádico e
paliçádico possui duas a três camadas de lacunoso (Figura 2 – D e F). Algumas
células alongadas e estreitas, voltadas para a espécies como Quercus calliprinos, Styrax
superfície adaxial da folha, justapostas, com officinal, Pistácia palaestina e Glycine max,
espaço intercelular reduzido que ocorrem apresentam endoderme que se expande
abaixo da epiderme na face adaxial. O lateralmente formando placas parequimáticas
parênquima lacunoso possui células que dividem o mesofilo ao meio, sendo
isodiamétricas, de formato irregular com denominadas parênquima paranerval
espaços intercelulares grandes localizados (MENEZES, SILVA & PINNA, 2006)

Figura 2 - Cortes transversais da folha de Glycine max (L.) Merrill coradas com floroglucina
ácida (A-C) e azul de toluidina (D-F). ep = epiderme, es = estômato, ev = elemento
de vaso, fi = fibra, fl = floema, mp = mesofilo paranerval, pa = parênquima de
preenchimento, pl = parênquima lacunoso, pp = parênquima paliçádico, * = câmara
subestomática, seta = bainha do feixe.

As análises quantitativas revelaram Para o índice estomático da face


que as medidas foliares das diferentes adaxial, verificou-se que a cultivar Monsoy –
cultivares apresentaram diferenças 6101 (9,42 %), Anta – 82 (9,17 %) e Pioneer
significativas. - P98Y11 (8,52 %), apresentaram os maiores

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índices estomáticos e cultivar BRS - Valiosa adaxial, as cultivares que apresentaram as


apresentou o menor índice, entretanto, a maiores densidades foram Anta – 82
cultivar Monsoy – 7908 não diferiu das (151,1766 est.mm‫־‬²) e Monsoy – 6101
demais cultivares (Tabela 1). Com relação ao (141,2766 est.mm‫־‬²), enquanto a cultivar
índice estomático da face abaxial, verificou- BRS – Valiosa apresentou a menor densidade
se que a cultivar Monsoy – 6101 (20,72%), (96,2833 est.mm‫־‬²). As cultivares Pioneer –
obteve o maior índice estomático e as P98Y11 e Monsoy – 7908 não diferiram das
cultivares Pioneer - P98Y11 (18,63 %) e demais (Tabela 1). O estádio fenológico que
BRS-Valiosa (17,51 %) os menores índices, apresentou a maior densidade estomática foi
porém, as cultivares Monsoy – 7908 e Anta – R 5.1 (Tabela 2).
82, não se diferiram das demais (Tabela 1). O A densidade estomática da face
estádio R 5.1 comparado com estádio R 1 abaxial apresentou dependência das variáveis
apresentou os maiores índices estomáticos na testadas (variedade x estádio). O estádio R 1
face adaxial, (Tabela 2). Em ambos os casos, as cultivares não diferiram entre si (tabela 3)
não houve influência do tratamento dentro de em relação a densidade estomática, já no
estádio, nem de estádio dentro de tratamento. estádio R 5.1, a cultivar que apresentou a
Cultivares que apresentam maior densidade maior densidade estomática foi a Monsoy –
estomática podem ser infectadas mais 6101 (494,9166 est.mm‫־‬²) em contra partida,
facilmente por bactérias. O crestamento a cultivar Pioneer – P98Y11 apresentou a
bacteriano, causado por Pseudomonas menor densidade estomática (379,7333
savastanoi pv. glycinea, doença comum em est.mm‫־‬²), porém a cultivar Anta – 82 não
folhas, inicia-se com a penetração pelos diferiu de nenhuma delas, enquanto a cultivar
estômatos ou ferimentos, associado a um Monsoy – 7908 diferiu somente da Pioneer –
filme de água na superfície da folha. O uso de P98Y11 e a cultivar BRS – Valiosa diferiu
cultivares resistentes é o principal método de somente de Monsoy – 6101 (Tabela 3). O
controle dessa doença (EMBRAPA, 2000). estádio que apresentou a maior densidade
Na densidade estomática da face estomática foi R 5.1 (Tabela 3).

Tabela 1 - Índice estomático da face adaxial, índice estomático da face abaxial e densidade
estomática da face adaxial em corte transversal de cinco cultivares de soja [Glycine
max (L.) Merrill] coletadas em diferentes estádios fenológicos cultivados em casa
de vegetação na Universidade de Rio Verde – FESURV, Rio Verde, Goiás
Tratamento I.E.F.Adaxial I.E.F. Abaxial D.E.F. Adaxial
Cultivar (%) (%) est.mm‫ ־‬²
Monsoy 6101 9,42 a 20,72 a 141,2766 a
Anta 82 9,17 a 19,29 ab 151,1766 a
Monsoy 7908 8,22 ab 18,73 ab 107,9816 ab
BRS Valiosa 6,80 b 17,51 b 96,2833 b
Pionner - P98Y11 8,52 a 18,63 b 126,8783 ab

CV (%) 11,32 6,31 20,35

** Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.

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Tabela 2 - Índice estomático da face adaxial (I.E.F. Adaxial), índice estomático da face
abaxial (I.E.F. Abaxial) e densidade estomática da face adaxial (D.E.F. Adaxial) em
corte transversal de cinco cultivares de soja [Glycine max (L.) Merrill] coletadas em
diferentes estádios fenológicos cultivados em casa de vegetação na Universidade de
Rio Verde – FESURV, Rio Verde, Goiás
I.E.F.Adaxial I.E.F. Abaxial D.E.F. Adaxial
Estádio
(%) (%) est.mm‫ ־‬²
110,1413 b
E1- R 1 7,55 b 19,83 a
139,2973 a
E2- R 5.1 9,31 a 18,11 b

CV (%) 11,32 6,31 20,35

** Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.

Tabela 3 - Densidade estomática da face abaxial (D.E.F. Abaxial) em corte transversal de


cinco cultivares de soja [Glycine max (L.) Merrill] coletadas em diferentes estádios
fenológicos cultivados em casa de vegetação na Universidade de Rio Verde –
FESURV, Rio Verde, Goiás
D.E.F.Abaxial
Tratamento *Estádio
(Cultivar) R1 R 5.1
est.mm‫ ־‬² est.mm‫ ־‬²
Monsoy 6101 314,9466 a B 494,9166 a A
Anta 82 316,7500 a B 448,1266 abc A
Monsoy 7908 278,9533 a B 476,9200 ab A
BRS Valiosa 313,1500 a B 388,7333 bc A
Pioneer - P98Y11 293,3533 a B 379,7366 c A

CV (%) 10,24 10,24

** Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúsculas na linha, não diferem estatisticamente
pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.

Para Hemingway (1957) e Veiga, dia, apresentam resistência a fungos que


Corso e Curi (1992), por se tratar de uma das germinam, à noite, sendo estes dessecados
vias de entrada para determinados fungos e pela evaporação da umidade, antes da
bactérias no interior de folíolos, bem como abertura do estômato (SILVA; ALQUINI;
favorecer uma penetração mais fácil, o estudo CAVALLET, 2005)
do índice estomático pode ser aplicado à área O número de estômatos por área
de fitopatologia, pois relaciona-se entre os pode sofrer influência ambiental, sendo
fatores que podem contribuir para o variável entre diferentes cultivares. Baixos
desenvolvimento dos patógenos. níveis de luz azul, aliados a altas irradiâncias,
Apesar do patógeno penetrar pelos reduzem a densidade de estômatos na face
estômatos, a densidade estomática, pode não adaxial, mas aumenta na face abaxial em
ter relevância, considerando que a abertura cultivares de soja, indicando diferentes vias
tardia de alguns tipos de estômato durante o regulatórias envolvidas na formação dos

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estômatos nas duas faces foliares (LEAL- & CAVALLET, 2005).


COSTA et al., 2008) A eficiência da fotossíntese pode
Na variável espessura da folha, do estar relacionada a especialização do
corte transversal, as cultivares que parênquima paliçadico, no mesofilo
apresentaram a maior espessura foram dorsiventral a maioria dos cloroplastos
Pioneer – 98Y11 (160,4300 µm) e Monsoy – encontra-se nas células do parênquima
6101 (159,1916 µm), respectivamente e a paliçadico, podendo ser ampliada pelos
cultivar BRS – Valiosa a menor espessura espaços intercelulares no mesofilo,
(132,2066 µm), entretanto a cultivar Monsoy facilitando as trocas gasosas (MENEZES,
– 7908 não diferiu das demais (Tabela 4). SILVA & PINNA, 2006).
Não houve influência do tratamento no Para a espessura do parênquima
estádio, nem de estádio no tratamento. O lacunoso em corte transversal, nenhuma das
estádio que apresentou maior espessura de cultivares diferiram entre si ou mesmo entre
folha foi R 5.1 (Tabela 5). os dois estádios (Tabela 4). Não houve
Na avaliação de espessura de influência do tratamento dentro de estádio,
mesofilo em corte transversal, as cultivares nem de estádio dentro de tratamento. Dentro
Pioneer -P98Y11 (137,7466 µm) e Monsoy – de estádio, o que apresentou maior espessura
6101 (134,1716 µm) apresentaram as maiores de parênquima lacunoso foi R 5.1 (Tabela 5).
espessuras e a cultivar BRS – Valiosa a A cultivar Anta 82 apresentou a
menor espessura (110,9433 µm), entretanto maior altura de epiderme adaxial (16,0350
as cultivares Anta - 82 e Monsoy – 7908 não µm) e a cultivar BRS – Valiosa a menor
diferiram das demais cultivares (Tabela 4). (13,0250 µm), entretanto a cultivar Pioneer
Não houve influência do tratamento no P98Y11 não diferiu das demais, enquanto a
estádio, nem de estádio no tratamento. O cultivar Monsoy 6101 diferiu apenas de BRS
estádio que apresentou maior espessura do – Valiosa e a Monsoy - 7908 diferiu apenas
mesofilo foi R 5.1 (Tabela 5). de Anta – 82 (Tabela 4). Não houve
Com relação a espessura do influência do tratamento no estádio, nem de
parênquima paliçádico em corte transversal, estádio no tratamento. O estádio que
verificou-se que as cultivares Pioneer apresentou maior espessura do parênquima
P98Y11 (87,7483 µm) e Monsoy – 6101 lacunoso foi R 5.1 (Tabela 5).
(83,7016 µm) apresentaram as maiores Com relação a altura da epiderme
espessuras, e a cultivar BRS – Valiosa abaxial em corte transversal, houve
apresentou a menor espessura (70,0450 µm), dependência das variáveis testadas
porém, a cultivar Anta – 82 não diferiu das (tratamento*estádio). Para o estádio 1 (R 1), a
cultivares Pioneer P98Y11, Monsoy – 6101 e cultivar Monsoy – 6101 apresentou a maior
Monsoy – 7908, enquanto a cultivar Monsoy altura da epiderme adaxial entre as cultivares
– 7908 não diferiu das demais (Tabela 4). (8,5533 µm) e as cultivares Monsoy – 7908,
Não houve influência do tratamento no Pioneer – P98Y11 e BRS – Valiosa, ficaram
estádio, nem de estádio no tratamento. O com as menores médias, entretanto, a cultivar
estádio que apresentou maior espessura do Anta – 82 não diferiu das demais (Tabela 6).
parênquima paliçádico foi R 5.1 (Tabela 5). No estádio 2 (R 5.1), as cultivares que
A densidade, compactação e apresentaram a maior altura da epiderme
espessura da parede das células do abaxial foram Anta 82 (11,7033 µm) e
parênquima paliçádico de cultivares da Monsoy – 6101 (11,3633 µm), enquanto as
mesma espécie podem apresentar resultados cultivares BRS – Valiosa e Monsoy – 7908
diferentes quanto à resistência aos apresentaram as menores alturas da epiderme
microrganismos. Quanto maior o número de abaxial, porém, a cultivar Pioneer
células, índice de compactação e ou células P98Y11não diferiu das demais (Tabela 6). O
com parede mais espessas maior a resistência estádio que apresentou a maior altura de
da cultivar a patógenos. (SILVA, ALQUINI epiderme abaxial foi R 5.1 (Tabela 6).

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Anatomia foliar... 45

Segundo Alquini et al. (2006) a “A cutina e a cera também podem


principal função da epiderme é a de ser barreiras contra fungos, bactérias e
revestimento. A disposição compacta das insetos. Em condições ambientais mais
células impede a ação de choques mecânicos severas, a cera tem papel importante quando
e a invasão de agentes patogênicos, além de a cutina não é suficiente” (ALQUINI et al.,
restringir a perda de água. É de fundamental 2006). Embora não tenha sido possível
importância conhecer a espessura dessa observar estas variáveis pelos métodos
estrutura nas diferentes cultivares e utilizados, torna-se necessário citá-las, como
estabelecer ligações entre as médias obtidas e informação complementar dentro do assunto
a sensibilidade aos agentes patogênicos. em estudo.

Tabela 4 - Espessura da folha, mesofilo, parênquima paliçadico, parênquima lacunoso e


altura da epiderme adaxial em corte transversal de cultivares de soja [Glycine max
(L.) Merrill] coletadas em diferentes estádios fenológicos cultivados em casa de
vegetação na Universidade de Rio Verde – FESURV, Rio Verde, Goiás
Tratamento E.Folha E.Mesofilo E.P.Paliçadic E.P.Lacunoso A.E.Adaxial
(Cultivar) (µm) (µm) o (µm) (µm) (µm)

Monsoy 6101 159,1916 a 134,1716 a 83,7016 a 50,2650 a 15,1600 ab

Anta 82 153,9316 a 131,3516 ab 82,1633 ab 48,9450 a 16,0350 a

Monsoy 7908 139,7716 ab 116,8583 ab 72,8300 bc 43,7283 a 13,4000 bc

BRS Valiosa 132,2066 b 110,9433 b 70,0450 c 40,8166 a 13,0250 c

P98Y11 160,4300 a 137,7466 a 87,7483 a 50,1750 a 14,6666 abc

CV (%) 8,43 10,04 7,93 14,46 7,74

** Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.

Tabela 5 - Espessura da folha, mesofilo, parênquima paliçadico, parênquima lacunoso e


altura da epiderme adaxial em corte transversal de cultivares de soja [Glycine max
(L.) Merrill] coletadas em diferentes estádios fenológicos cultivados em casa de
vegetação na Universidade de Rio Verde – FESURV, Rio Verde, Goiás
Estádio E.Folha E.Mesofilo E.P.Paliçadico E.P.Lacunoso A.E.Adaxial
(µm) (µm) (µm) (µm) (µm)

E1- R 1 134,7406 b 114,1746 b 74,8753 b 39,3900 b 12,9206 b

E2- R 5.1 163,4720 a 138,2540 a 83,7200 a 54,1820 a 15,9940 a

CV (%) 8,43 10,04 7,93 14,46 7,74

** Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.

Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 03, p.37 – 47, set/dez. 2011


H. A. O. Lourenço et al. 46

Tabela 6 - Altura da epiderme abaxial em corte transversal de cultivares de soja [Glycine max
(L.) Merrill] coletadas em diferentes estádios fenológicos cultivados em casa de
vegetação na Universidade de Rio Verde – FESURV, Rio Verde, Goiás
A.E.Abaxial
Tratamento x Estádio (Cultivar) R1 R 5.1
(µm) (µm)
Monsoy 6101 8,5533 a B 11,3633 a A
Anta 82 7,9100 ab B 11,7033 a A
Monsoy 7908 7,6700 b B 10,4033 b A
BRS Valiosa 7,4433 b B 10,4766 b A
P98Y11 7,4933 b B 11,1300 ab A

CV (%) 3.31 3.31

** Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúsculas na linha, não diferem estatisticamente
pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.

CONCLUSÕES campo.

Concluiu-se que as folhas de soja REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


são anfiestomáticas com estômatos
paracíticos, concentrados na face abaxial, e ALQUINI et al. Epiderme. In: APEZZATO-
apresentam tricomas tectores e glandulares. DA-GLÓRIA, B.; CARMELLO-
As células epidérmicas têm paredes bastante GUERREIRO, S. M.(Eds.). Anatomia
sinuosas. Possui feixes vasculares colaterais Vegetal. 2. Ed. Atual. Viçosa: Ed. UFV,
com região convexa voltada para a face 2006, p. 88-90.
adaxial. O mesofilo é heterogêneo e
dorsiventral. O parênquima paliçadico possui ARNOTT, H. J. Leaf clearings. Turtox
de duas a três camadas de células bem news, v. 37, n. 8, p. 192-194, 1959.
justapostas, o parênquima lacunoso possui
células dispersas com grandes espaços BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI,
intercelulares. Elas também apresentam uma H.(orgs.). In: KIMATI, H.; AMORIM, L.;
camada de parênquima ou mesofilo BERGAMIN FILHO, A. Manual de
paranerval. fitopatologia: Princípios e conceitos. São
As diferenças encontradas entre as Paulo: Agronômica Ceres Ltda, 1997. v.1. p.
cultivares, foram bastante significativas e 13-15.
fornecem dados que podem ser relacionados
a incidência e severidade dos principais BISSING, D. R. Haupt’s gelatin adhesive
patógenos da cultura. Os resultados mixed with formalin for afixing paraffin
encontrados neste trabalho, servem de sections to slides. Stain Technol, v. 49, n. 2,
embasamento para experimentos de campo, p. 116-117, 1974.
testando as cultivares em épocas de plantio,
para a avaliação da incidência e severidade de COMPANHIA NACIONAL DE
doenças em cada material, e através dos ABASTECIMENTO. Central de
dados obtidos relacioná-los com as medições informações agropecuárias. Série histórica:
encontradas de cada estrutura, buscando soja. Disponível em:
estabelecer ligações entre as referidas médias <
e a incidência e severidade verificadas a http://www.conab.gov.br/conabweb/downloa

Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 03, p.37 – 47, set/dez. 2011


Anatomia foliar... 47

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