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Uma obra ou uma opinião diz muito sobre seu autor, assim deve ser encarado o fenômeno dos
Agroglifos ou Crop Circle.
Círculos em plantações, são fenômenos que a muito intrigam a humanidade. Já em 1886, uma
publicação na Nature, relatava o aparecimento de círculos de cultivo em uma fazenda no
interior da Inglaterra evidenciando assim a preocupação em dar uma explicação cientifica para
o fenômeno, que a princípio têm suas origens em tempos remotos.
No Brasil a cidade de Ipuaçu, oeste do estado de Santa Catarina, recebeu o fenômeno durante
oito anos consecutivos, até que em 2015, a cidade de Prudentópolis no estado do Paraná, passou
a figurar como local de aparecimento por 2 anos consecutivos.
Em Prudentópolis tanto em 2015 e 2016, foram realizados estudos que compreenderam desde
análises de solo e folhas a detecção de ondas de rádio, emitidas no interior do agroglifo, tendo
as mesmas cessado após o desaparecimento da figura, após a colheita do cereal.
Além de todas as informações relativas as características físicas de solo e planta e também de
dados de medições de radiações eletromagnéticas, duas perguntas não possuem respostas; qual
o objetivo? E o que significa o Agroglifo? Com a finalidade de tentar dar início a uma possível
linha de pesquisa na área de interpretação dos Agroglifo, utilizei uma ferramenta matemática
desenvolvida sobre os estudos dos Crop Circle ingleses na década de 80 e 90, os chamados
Teoremas de Hawkins.
Teorema é uma afirmação que pode ser provada. A verdade, aparece, pela resolução
matemática proposta pela afirmação. Junto com o teorema vêm uma sequência de fórmulas e
equações que constitui a prova. O teorema como ferramenta matemática surgiu com Euclides
de Alexandria, professor e matemático platônico, considerado o pai da geometria.
Provavelmente foi professor na biblioteca de Alexandria e lá escreveu uma de suas obras mais
conhecidas e que influenciou outros grandes da antiguidade, como Arquimedes, o livro Os
Elementos.
Gerald Stanley Hawkins, foi um matemático, físico e radioastrônomo, inglês, que nos anos 60,
utilizando computadores da época, analisou as formações de Stonehenge, chegando à
conclusão que as formações neolíticas eram na realidade um calendário para observações
astronômicas. Desse estudo publicado na Nature, surgiu um livro, “Stonehenge decoded”,
publicado em 1965.
No final dos anos 80 o Drº Hawkins, passou a investigar os círculos ingleses, após ter contato
com um livro chamado “Circular Evidence”, de Colin Andrews e Patrick Delgado. Da análise
dos círculos ingleses publicados nessa obra, Hawkins encontrou relações e teoremas
matemáticos ao analisar as proporções de diâmetros e áreas de círculos, triângulos e pentágonos
existentes nas figuras. Os valores existentes nessas relações eram como ele pode comprovar
diatômicos, porque geravam valores exatos e relacionados com notas musicais, o que segundo
Hawkins indicava algo sobre a inteligência por trás do fenômeno. O mais impressionante é que
estatisticamente a probabilidade da relação de diâmetros e áreas de círculos, triângulos,
pentágonos, gerar razões diatômicas aleatoriamente é de 1:400.000, possível, mas não comum.
Tendo em conta esse estudo Hawkins desenvolveu 4 teoremas matemáticos para estudo da
geometria das figuras, correlacionando os valores das relações de diâmetros e áreas dos círculos
com notas diatômicas.
Teoremas de Hawkins e a teoria musical.
Teorema Valor numérico Nota diatômica equivalente
fá” (Relação das áreas dos
I 4/3 círculos concêntricos) e dó
(Círculos satélites)
dó” (relação de áreas dos
círculo circunscrito e
inscrito) e sol’ (relação da
II 4
área do anel dos círculos
com a área do círculo
inscrito)
dó’(relação da área do
círculo circunscrito e
inscrito) e dó (área do anel
formado pelas duas
III 2
circunferências) – Se for
aplicado 4 vezes na figura
transforma-se em dó’’’’ e
sí’’’’
Fá (Relação das áreas do
círculo circunscrito e
IV 4/3
inscrito dentro de um
hexágono)
V Teorema Geral – ainda por ser definido
É necessário calcular principalmente a espessura dos anéis formados quando da relação de uma
circunferência maior e uma circunferência menor. No caso do agroglifo estudado, observamos
a relação das duas maiores circunferências (C2 e C1) e também avaliamos a distribuição
espacial das circunferências cheias (C3,C4,C5,C6 e C7), buscando quando possível encontrar
outras formas geométricas como triângulos, retângulos, quadrados ou até hexágonos, que
possam se formar, mediante a posição que as mesmas ocupam no agroglifo, avaliando assim,
posteriormente, suas medidas e verificando se apresentam proporções que possam indicar o
uso de geometria sagrada ou até mesmo de proporções áureas ou o chamado número de ouro ϕ
= 1,618033988.
No agroglifo de 2015, avaliamos as circunferências C1 e C2, e também o triângulo formado
pela disposição das circunferências C4-C5-C6 e C7 com a circunferência C3, unindo o centro
de origem da circunferência C3 com as tangentes que passam por C4 e C7, fechando o triângulo
com a tangente mais distante que passa pela circunferência C5.
Óbvio que outras figuras e relações aparecem, porém fica para um próximo artigo, pois as
relações estudadas acima tratam-se de relações que englobam boa parte da figura.
Na primeira análise da figura de 2015, analisamos o anel formado pela circunferência C1 e C2.
Esse anel possui cerca de 1,50 metros, cuja a origem se dá pela circunferência C2 de largura
2,45 metros e a circunferência inscrita C1 também de largura 2,45 metros. Se a relação da área
do anel formado pelas duas circunferências for proporcional dentro dos valores estabelecidos
pelos teoremas de Hawkins, estaremos diante de uma construção equivalente geometricamente
aos Crop circle ingleses.
Figura 02: Análise da proporcionalidade da C1 e C2 do agroglifo de Prudentópolis 2015.
Albrecht, 2019.
Após efetuados os cálculos vemos que a relação entre a circunferência C1 e C2, não apresenta
nenhuma proporcionalidade, segundo os teoremas de Hawkins. Isso significa que são medidas
ao acaso, gerando valores cuja o significado não pode ser interpretado frente as provas da teoria
desenvolvida no estudo dos agroglifos ingleses.
Segunda análise: Estudo do triângulo retângulo formado pela posição das circunferências C4-
C5-C6 e C7 com a circunferência C3.
Na segunda análise tratamos de estudar a proporção e a relação das medidas de dois triângulos
retângulos formados pela disposição e união de 3 tangentes limites, das circunferências C4-
C5-C6 e C7 com o centro da circunferência C3.
Tabela 02:
Lados (m) Triângulo maior Agroglifo Triângulo de Ouro ∆ (m)
Hipotenusa 61,04 61,04 0,00 m
Cateto Adjacente 47,64 48,83 - 1,19 m
Cateto Oposto 38,16 36,62 +1,54 m
Como mostrado na tabla acima, as diferenças nas razões de 2,5%, se traduzem em medidas
reais de – 1,19 m para a razão CA/H e em +1,54 m para a razão CO/H, ou seja, erro de 2,56%
e 4,20%, respectivamente.
Parece claro que erros dessa magnitude são difíceis de se cometer na medição com trena, já
que estamos falando de diferenças de mais de 1 metro. Dessa forma podemos concluir que na
construção da figura, não houve nenhuma preocupação em representar ou indicar algum tipo
de forma geométrica precisa e proporcional, tratando-se de medidas sem nenhum significado.
Importante destacar que tanto as circunferências C4 e C5, relacionadas ao triângulo maior e as
circunferências C6 e C7, relacionadas ao triangulo menor, não apresentam proporcionalidade
com seus respectivos triângulos retângulos, formados da posição que estas ocupam em relação
ao centro da circunferência C3. No caso das circunferências C4 e C5, para a formação da
tangente na circunferência C5, o CA (cateto adjacente), comum aos dois triângulos, se sobrepõe
ou corta a C5 em dois pontos entrando na circunferência cerca de 60 cm, não formado uma
tangente, o que indica a desproporção na construção das mesmas em relação ao alinhamento
do centro da circunferência C3, como mostrado na figura abaixo.
Figura 04: Ampliação do detalhe do ponto que deveria existir uma tangente, para que as
circunferências C4 e C5, fossem proporcionais a um triângulo de ouro. Albrecht, 2019.
Fraude?
Para se analisar se esses erros podem indicar uma fraude, temos que estabelecer que o
fraudador, tinha a intenção de fazer uma figura com padrões geométricos conhecidos da
matemática e da geometria sagrada ou esotérica, a fim de com isso demonstrar um
conhecimento superior em matemática e geometria e mostrar suas habilidades em confeccionar
tal figura em um campo de trigo.
Para isso temos que analisar as taxas de erros cometidos na construção da figura, partindo do
princípio que o executor queria fazê-las com as proporções áureas conhecidas e analisar se as
mesmas taxas estão dentro de valores aceitáveis e possíveis de se cometer na execução desse
tipo de trabalho, usando ferramentas muitas vezes mencionadas pelos céticos como cordas e
trenas.
A seguir identificamos as medidas discrepantes, em relação a uma hipotética distribuição e
construção das circunferências C4 e C5, caso as mesmas fossem proporcionais para serem
inscritas em um triangulo áureo, em relação a distribuição e tamanho das mesmas
circunferências encontradas no Agroglifo de Prudentópolis em 2015.
Figura 06: Comparação entre a disposição da C4 e C5, no agroglifo e em um triângulo áureo
perfeito, levando em conta o diâmetro e a distância de centro a centro entre as circunferências
C4 e C5 com a circunferência C3. Albrecht, 2019.
Todos os pontos avaliados, superaram em mais de 13 vezes os erros admitidos para uso de um
instrumento de medição básico, uma trena.
Isso no leva a conclusão de que, seja quem for que fez o Agroglifo, não estava preocupado com
a harmonia, proporções e as dimensões das formas geométricas e muito menos com a precisão
na execução do trabalho. Mesmo levando em conta a hipótese de uma fraude, os erros são
muito grandes.
Conclusões
- Por não apresentar proporcionalidade mediante a aplicação dos teoremas, é possível que os
fenômenos ocorridos no Brasil sejam diferentes dos da Inglaterra, já que os teoremas foram
desenvolvidos estudando as formações inglesas da década de 80 e 90.
- Não há linguagem matemática nas figuras, tão pouco, pode-se extrair informações que levem
a descoberta de razoes entre áreas e diâmetros que levem a notas diatômicas.
- A disposição das circunferências em relação a outras maiores não guardam nenhuma relação
entre si.
- O cálculo dos erros, levando-se em conta a localização e as proporções áureas entre as
circunferências C4, C5 e C3, apresentaram valores superiores a erros admitidos como
aceitáveis de 1/1.000. O menor erro encontrado foi de 13/1.000 e o maior de 90/1.000. Mesmo
para uma fraude, são erros grosseiros, que pode nos levar a conclusão que a intenção do
executor era somente de impressionar a olho nu, não se importando com a exatidão das formas
geométricas e nem com suas posições relativas.
- O Agroglifo foi executado sem precisão, seja na posição das circunferências, seja os seus
respectivos diâmetros, indicando a não preocupação do executor com a harmonia e precisão,
seja ele quem for.