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TEMPO LÓGICO E A

ASSERÇÃO DE CERTEZA
ANTECIPADA
Tempo na psicanálise:
a posteriori
“Possa ele ressoar uma nota justa entre o antes e o depois em que o situamos
aqui, mesmo que demonstre que o depois se fazia de antecâmara para que o
antes pudesse tomar seu lugar” (Lacan, 1945)

Passado engendrado a partir da experiência do futuro

“... O inconsciente é o evasivo – mas conseguimos cerca-lo numa estrutura, uma


estrutura temporal, da qual se pode dizer que jamais foi articulada, até agora,
como tal.” (Lacan, Sem. 11, pg. 36, 1964)
Problema de lógica

O diretor do presídio diz a três detentos:


“Devo liberar um de vocês. Para decidir, vocês passarão por uma prova. Aqui tem
3 discos brancos e 2 discos pretos. Sem que vocês saibam, prenderei em cada um
de vocês um desses discos nas costas. Vocês poderão ver os discos que estão
presos nas costas dos seus companheiros, mas não poderão comunicar-se entre si.
O primeiro que puder deduzir sua própria cor e explicar a partir de uma
fundamentação lógica, será liberado”.
Cada prisioneiro recebe um disco branco nas costas
Possíveis combinações
Dedução imediata
A solução perfeita

Os presos olham entre si por um certo tempo e juntos se dirigem a saída.


Separadamente dão a seguinte explicação: “Sou branco. Como os outros presos
são brancos, achei que se eu fosse preto, cada um deles poderia ter inferido: ‘Se
eu também fosse preto, o outro, devendo reconhecer imediatamente que era
branco, teria saído na mesma hora, logo, não sou preto’. E os dois teriam saído
juntos, convencido de ser branco. Se não estavam fazendo nada, é que eu era
branco como eles”.
Solução apresentada - Sofisma

Sofisma: argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir a ilusão


da verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta,
na realidade, uma estrutura interna inconsistente, incorreta e deliberadamente
enganosa.

A B C
Solução a partir da lógica clássica -
sofisma
1 – Constatação imediata. Instante de A ver dois brancos. Se A visse dois pretos,
imediatamente sairia da sala. Não é possível deduzir.
2 – Impasse das possíveis combinação. A sabe que B e C são brancos e passa a
conjeturar por eles. Se B vê C branco e vê A preto, B pensaria: se eu fosse preto,
C sairia, logo sou branco. Com esses dados apenas, a impossibilidade de deduzir
se mantem. A continua na dúvida de ser branco ou preto.

A B C
A B C
Solução a partir da lógica clássica -
sofisma
Lacan afirma: “ Esse problema é insolúvel para as formas da lógica clássica, que
visam o eterno e obter uma resposta no ‘que possa ser visto de um só golpe’.
Deste modo, apagam a temporalidade e enfatizam a concepção espacializada”.

Eterno: a ausência do tempo


O tempo lógico – saída do impasse

Lacan isola três momentos da evidência, cujos valores lógicos irão revelar-se
diferentes e de ordem crescente:

INSTANTE DE VER

TEMPO PARA COMPREENDER

MOMENTO DE CONCLUIR
INSTANTE DE VER:
ESTANDO DIANTE DE DOIS PRETOS, SABE-SE QUE SE É BRANCO

A exclusão lógica dá ao movimento sua base. Valor instantâneo da evidência. É


posto quando o problema é colocado. Conclusão imediata.
Instante do olhar: abre o intervalo para que o dado da prótase (diante de dois pretos)
transmude-se no dado da apódose (é-se branco). Subjetivação impessoal.

Ver dois brancos => Impossibilidade de dedução.

Abre-se para o segundo tempo que cria a hipótese do sujeito assumir o atributo preto.
Tempo de compreender
SE EU FOSSE PRETO, OS DOIS BRANCOS QUE ESTOU VENDO NÃO TARDARIAM A SAIR.
Cria-se uma hipótese.
Intuição pela qual o sujeito objetiva algo mais do que os dados oferecidos.
Os sujeitos B e C constatariam, sendo A preto, que eles são brancos, pois ninguém se
movimenta para a saída.
A inércia é a chave do problema
A evidência desse momento supõe a duração de um tempo de meditação. Nesse tempo, os
sujeitos indefinidos, a não ser por sua reciprocidade, ficam presos por uma causalidade
mútua a um tempo que se furta ao próprio retorno da intuição que o objetivou.

A B C
Momento de concluir
APRESSO-ME A ME AFIRMAR COMO BRANCO, PARA QUE ESSES BRANCOS, ASSIM
CONSIDERADOS POR MIM, NÃO ME PRECEDAM, RECONHECENDO-SE PELO QUE
SÃO.
O sujeito conclui o movimento lógico na decisão de um juízo no qual
estabelece uma asserção sobre si.

Há ai o tempo que pressiona a não deter-se na vacilação.

O ato funda a certeza. A conclusão não se alcança sendo expectador, os dados


serão sempre incompletos, sendo a própria ação que engendra a certeza.

A B C
Tensão temporal

■ Na urgência do movimento lógico, o sujeito precipita simultaneamente seu


juízo e sua saída,..., dando a modulação em que a tensão do tempo inverte-se
na tendência ao ato que evidencia aos outros que o sujeito concluiu.

■ O juízo assertivo manifesta-se por um ato. Ato que antecipa à sua certeza, em
razão da tensão temporal.

■ Certeza antecipada: o sujeito, em sua asserção, atinge uma verdade que será
submetida à prova da dúvida, mas que ele não poderia verificar se não a
atingisse na certeza.
O tempo lógico – saída do impasse
Não se trata de sucessão cronológica. Tomá-los deste modo é espacializá-los
segundo um formalismo que tende a reduzir o discurso a um alinhamento de
sinais. Mostrar que a instância do tempo se apresenta de um modo diferente em
cada um desses momentos é preservar-lhes a hierarquia, revelando neles uma
descontinuidade tonal, essencial para seu valor.

Há uma presença real do tempo, pois em cada passagem do tempo lógico, o


problema se torna um problema diferente.
O tempo lógico – saída do impasse
“Se introduz qualidades do tempo que são diferentes, qualidades que não são
afetivas, que não são libidinais, que não são modificações afetando a duração,
porém que podem ser definidas de maneira puramente lógicas....A conclusão é,
pela estrutura, diferente em cada caso.
A instância do tempo se apresenta sob um modo diferente em cada um desses
momentos.”
Miller
Valor das moções suspensas no
processo
Seu papel, apesar de crucial na prática do processo lógico, não é o da
experiência na verificação de uma hipótese, mas antes o de um fato intrínseco
à ambiguidade lógica.

O que as moções suspensas denunciam não é o que os sujeitos vêem, mas o que
eles descobriram positivamente por aquilo que não vêem. As moções suspensas
são significantes em função do tempo de parada.

Como se vê na determinação lógica dos tempos de parada ( que as moções


constituem)... revela-se a cada vez como o desenrolar subjetivo de uma instância
do tempo, ou, melhor dizendo, como a fuga do sujeito para uma exigência
formal.
O tempo lógico

O tempo lógico se distingue da duração psicológica. Não é o tempo da duração,


mas um tempo descontínuo, que que refere a uma ordem de sucessão.

A sessão analítica é a sessão lógica para Lacan. Deste modo, não se trata de
tomar a sessão como curta, variável ou fixa, pois a qualificação passa pela
duração. Trata de tomar a sessão a partir do tempo lógico, totalmente
abstraído da duração.

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