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Introdução

O trabalho tem como tema Filosofia Politica. Porém, o mais importante de conhecer a linha
do tempo é entender certas questões da história da Filosofia Política. É o e desdobramento
conceitual que oferece, então, o principal fio condutor: por meio dele se pode observar o
desenvolvimento de temas ainda presentes no debate contemporâneo (justiça, democracia,
liberdade, soberania, poder e reconhecimento), para ficar somente em alguns. Com a
contextualização histórica das sucessivas doutrinas políticas do Ocidente.

Geralmente, a “filosofia política” corresponde um modo distinto de se propor a questão das


relações entre filosofia e ciência política, colocando assim de sobreaviso qualquer um que
esteja tentando a acreditar que o problema tenha uma solução única. Creio que um enfoque
desse tipo possa ser útil, entre outras coisas, para evidenciar um dos motivos da confusão que
reina sobre essa matéria.

As escolhas que presidem à organização do trabalho remetem, naturalmente, a certo modo de


entender a filosofia política. Embora ela seja obviamente entrelaçada com os processos
históricos e com os conflitos políticos e sociais, não cremos que seja redutível a uma mera
tradução desses no plano da reflexão e da elaboração conceitual. A especificidade da filosofia
política, ao invés disso, consiste a nosso ver na tentativa de propor argumentações, na
construção de um conjunto de raciocínios em torno das questões que a convivência social e
política inevitavelmente levanta.

Objectivo geral:

 Apresentar ideias fundamentais da filosofia política.

Objectivos específicos:

 Analisar a filosofia política e idade Antiga, Moderna e Contemporânea;


 Descrever as relações entre filosofia política e Ciência politica;
 Identificar as funções básicas da filosofia política.

A realização deste trabalho usou-se a pesquisa bibliográfica para basear-se na parte teórica da
pesquisa, com investigação em livros e artigos que abordam assuntos relacionados ao tema.

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1. A Filosofia e a filosofia política

Não devemos jamais esquecer, porém, quando falamos de filosofia política, que ela, antes de
ser política, é filosofia. Numa das primeiras páginas do seu ensaio O que é a filosofia política,
de 1955, Leo Strauss, o grande estudioso do pensamento político clássico e moderno,
colocava logo e com força a questão da relação entre a filosofia política e a filosofia “sem
adjectivos”. “Por ser a filosofia política um ramo da filosofia, nem mesmo a explicação mais
provisória do que é a filosofia política pode dispensar de esclarecer, ao menos de modo
igualmente provisório, o que é a filosofia”.

Por isso, antes de voltar a reflectir sobre qual é a natureza peculiar da filosofia política, no seu
entrelaçamento muitas vezes estreitíssimo com as outras disciplinas filosóficas e não
filosóficas, convém antes de tudo pôr as cartas na mesa e explicitar por qual modo de entender
a filosofia nos deixará guiar ao traçar o nosso mapa.

A filosofia não é como a física, a química, a história uma forma de


saber codificado, que goza de uma legitimidade assegurada e
incontestada, e que tenha um estatuto que não seja ele mesmo
objecto de discussão. Ao contrário, a filosofia é, no melhor dos
casos, uma forma de “saber” que deve sempre de novo demonstrar
a sua eventual legitimidade. Por isso não se pode dar uma
definição consolidada ou geralmente aceita da filosofia. Toda
filosofia que se respeite é também, ou talvez é antes de tudo, uma
definição do que se deve entender por filosofia.
(BERTELLONI, 2005)
Para ARISTÓTELES (1973), A Filosofia é, para dizer da forma mais breve possível, uma
forma sofisticada e institucionalizada de discurso que, quanto ao método, utiliza
fundamentalmente um único recurso, o da argumentação pública, crítica e aberta, ao passo
que, quanto ao objecto, aborda a questão tão iniludível quanto (talvez) inexaurível da nossa
orientação no mundo, questão essa à qual não podem dar resposta as ciências dos factos,
porque elas próprias necessitam de legitimação e de orientação.

A filosofia, portanto, não é um saber dos factos, mas, como mostra a história do pensamento a
quem saiba ler e entender seus percursos, é uma espécie de ininterrupto diálogo
argumentativo, um contínuo intercâmbio de razões e de críticas: a especificidade da filosofia
com relação às outras formas de comunicação ou de significação está, portanto, justamente na
tentativa de construir argumentações, isto é, de não se basear nem na autoridade, nem na
convenção, nem na imaginação ou na sugestão, mas de procurar construir raciocínios
persuasivos.
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Sendo filosofia, e não ciência da política, a filosofia política se
defronta justamente com problemas deste tipo: aborda questões
normativas, quando procura construir bons argumentos para
responder aos dilemas que a nossa convivência nos põe, aos
dissídios e aos conflitos que nela diariamente se encontram. Mas
aborda também, ou talvez ainda antes, questões estruturais quando
se pergunta qual é a natureza da sociedade, qual é a essência do
poder, quais são os motivos, as características, a natureza do agir
político. para exprimi-lo uma vez mais, “a filosofia política é,
portanto, a tentativa de conhecer verdadeiramente ao mesmo tempo
a natureza das coisas políticas e a justa ou boa ordem política”.
(STRAUSS, 1990:36)

Porém, Justamente porque tem a ver com problemas dessa espécie, a filosofia política tem
mais a natureza de uma “filosofia última” do que de uma “filosofia primeira”: o terreno no
qual deve mover os próprios passos é um terreno no qual muitas outras disciplinas, filosóficas
e não, já têm traçado estradas e percursos.

Ocupando-se de um fenómeno complexo, como a vida humana associada, a filosofia política


não pode ser de modo algum auto-suficiente: ao invés, ela entra necessariamente em contacto
com muitas outras abordagens disciplinares, e constitui entre elas um ponto de intersecção e
de encontro.

Para CHALELET (1989:34), “com efeito, em primeiro lugar a filosofia política se conecta
com a filosofia moral, porque as questões em torno do que é justo, ou a propósito da vida
recta, têm o seu lugar genético precisamente no âmbito da filosofia moral.” O outro
momento de fortes conexões, que nem sempre é ressaltado como se deveria, é aquele que a
meu ver se deve estabelecer entre a filosofia política e a filosofia social. A pergunta sobre a
justiça política pressupõe, de facto, como é óbvio, determinadas suposições sobre o modo
como é feita e funciona a sociedade.

1.1. A Filosofia Politica

A filosofia política e os temas de política aparecem no pensamento filosófico de LIMA VAZ


apenas de maneira marginal. Ele nunca se dedicou a pensar estes âmbitos em profundidade.
Mas, dada a estreita relação da política com a antropologia e a ética, seu pensamento passou
por temas políticos e possui grande potencial de influência em temas de filosofia política.

“O objectivo da filosofia política, em suma, parece-nos ser o de propor bons argumentos


para responder aos desafios, aos problemas e aos conflitos que nascem na cooperação

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social, que nos tocam a todos como cidadãos, e que nos chamam ao confronto, à discussão e
à tomada de posição” LIMA VAZ (1988:67).

Para tentar oferecer uma primeira e provisória definição, poder-se-ia antes de tudo observar
que a filosofia política é uma forma de saber que assume como seu objecto aquilo que parece
ser um aspecto fundamental da experiência humana: ela se ocupa, de fato, das interacções
entre os seres humanos na sociedade na medida em que são influenciadas ou reguladas por
relações de poder, que asseguram a integração entre os diversos atores sociais e governam
seus comportamentos também por meio de certo uso da coerção, ou seja, da possibilidade de
impor sanções.

A filosofia política, com outras palavras, ocupa-se das interacções sociais entre os seres
humanos na medida em que essas se configuram como relações de poder, e dão lugar à
discussão ou ao conflito sobre o modo como o poder deve ser distribuído ou organizado.

A filosofia política, portanto, é uma forma de pensamento que


assume como seu objecto central, ainda que não exclusivo, as
problemáticas do poder. Mas como podemos definir o “poder”? por
“poder” podemos entender, numa primeira aproximação, a
capacidade que alguém tem de controlar, mediante a própria
influência ou com a ameaça de sanções, o comportamento de outras
pessoas, ou de ver obedecidas as próprias disposições. (LIMA
VAZ 1999)
Neste contexto, as interacções sociais nos oferecem uma amostragem riquíssima das formas
de poder porque quase nenhuma relação social é isenta dele. Talvez haja relações de poder
mesmo na amizade e no amor, mas sem dúvida relações de poder, informais ou formalizadas,
estruturam o relacionamento na família, no mundo do trabalho, nas associações, enfim, em
quase todos os tipos de relação social.

“A filosofia política engloba a multiplicidade de reflexões filosóficas sobre a origem ou a


organização da vida em sociedade  e as várias implicações que esse convívio impõe aos
indivíduos”. (TAYLOR, 2005:87)

Mesmo que alguns pensadores tenham reflectido sobre as mesmas noções e temáticas, como a
justiça e a natureza das leis, a relevância de suas propostas está mais na novidade ou
especificidade com a qual abordaram essas questões do que em sua viabilidade prática.

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2. A História da filosofia política e principais representantes

2.1. Filosofia política na Idade Antiga

A relevância dos gregos para o pensamento político ocidental não se deixa perceber apenas na
etimologia da palavra política, que se origina do grego pólis  (que significa cidade), mas
também nos mitos e nos grandes legisladores, em especial Sólon.

Para RIBEIRO (2014:36-40), “os escritos de Platão e Aristóteles, que orientaram suas


principais reflexões pela noção de virtude, indicaram e orientaram, em certo sentido, os
principais temas com os quais os filósofos ocuparam-se por muitos anos.”

Certamente, a discussão acerca da melhor forma de governo da cidade do Estado e a questão


da convencionalidade das leis foram duas das principais contribuições desse período histórico.

2.2. Filosofia política na Idade Moderna

É o período moderno, entretanto, aquele que estabeleceu as principais temáticas que estão em
questão ainda hoje. Distanciando-se de propostas anteriores, os filósofos desse período
argumentaram sobre a hipótese de um contrato social que seria o marco do início da vida em
sociedade. (DUSO, 2005:07)

A pretensa sociabilidade natural dos seres humanos é criticada por Thomas Hobbes, que


pensou a situação anterior à sociedade como instável e perigosa, propondo que apenas um
poder absoluto poderia garantir a segurança de todos em sociedade. O custo seria a liberdade
dos indivíduos (entendidos como seres naturalmente belicosos), a qual deveria ser
severamente diminuída para que um estado de paz pudesse ser instaurado.

De acordo com LOCKE (1980:67), com sua defesa de uma visão liberal e democrática do
Estado, “pensou o contrato como meio de assegurar certos direitos naturais, especialmente o
de propriedade, devendo o indivíduo ser submisso ao governo na medida em que esses
direitos forem respeitados”.

Na óptica de DÉRATHÉ (2010), o terceiro grande contratualista,  Jean Jacques Rousseau,


“defendeu o ser humano como naturalmente bondoso, sendo sua corrupção fruto do convívio
social. Coube a esse filósofo de origem genovesa a proposta de uma vontade geral, conceito
ainda hoje muito estudado”. É Nicolau Maquiavel, entretanto, que muitos identificam como o
inaugurador do pensamento político moderno. Sua ênfase sobre os fatos e as circunstâncias
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resultou em uma visão menos idealizada da acção política. Criticou, principalmente,
a relevância da noção de virtude para que um governante tivesse êxito em suas acções.
Segundo BENTHAM (1906:89),  apresenta-se como
um dos primeiros críticos da concepção naturalista dos
direitos em um precursor do positivismo no direito. De
acordo com seu pensamento, só se poderia tratar de direitos,
em um sistema político, como expressão de uma vontade
humana e não algo natural e anterior a um governo. Sua
perspectiva, baseada em seu utilitarismo, foi desenvolvida
posteriormente por John Stuart Mill e John Austin.

2.3. Filosofia política na Idade Contemporânea

As implicações sociais das revoluções industriais e os movimentos por independência, em


especial o da Revolução Francesa, modificaram o cenário mundial do século XIX e
fomentaram a discussão sobre a democracia e a questão dos direitos. Há muitas contribuições
relevantes nesse período histórico, mas são as consequências das duas grandes guerras que
marcam profundamente o pensamento político contemporâneo.

Destaca-se, quanto a isso, as observações da pensadora alemã Hannah Arendt, com sua visão


sobre a banalidade do mal e as iniciativas revolucionárias, dentro de suas pesquisas acerca do
fenómeno do totalitarismo.

Um dos principais nomes da segunda metade do século XX em filosofia política é John


Rawls, que criticou uma interpretação utilitarista da justiça e propôs a justiça como equidade.
Em Uma teoria da justiça, afirma que sua proposta seria a escolhida por pessoas em uma
situação idealizada, a saber, pessoas livres, razoáveis e em iguais condições de escolha,
promovendo, assim, uma sociedade mais igualitária. O resultado seria válido para qualquer
sociedade democrática.

Já Ronald Dworkin propõe a igualdade como valor central, defendendo que todos deveriam
ter a mesma disponibilidade de recursos, em seu livro A virtude soberana. Esses dois filósofos
são os principais representantes do pensamento político liberal na contemporaneidade.

Em crítica principalmente à noção abstracta de pessoa e às condições de escolha adoptadas


por John Rawls, o termo comunitarismo foi utilizado para referir-se às teorias que rejeitaram
as pretensões universalistas, indicando que as decisões políticas dependiam de pessoas em
seus próprios contextos, enfatizando a cultura e as tradições.  Michael Walzer e Charles

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Taylor são seus principais representantes, embora rejeitem essa classificação. Este último
e Axel Honneth, inclusive, é os principais propositores da teoria do reconhecimento.

Como ocorreu nos demais campos de investigação filosófica, as


questões políticas passaram a receber novos olhares, em especial o
do economista Amartya Sen, que enfatizou a questão da pobreza e
desenvolveu a teoria das capacidades, e o de Michel Foucault, com
sua proposta original sobre o poder, ou melhor, as relações de
poder que se constituem no tecido social. É sua a noção de bio -
poder, que seria um mecanismo usado pelos governos para
controlarem todo um grupo de pessoas. (BETELLONI, 2005)

2.4. A diferença entre filosofia política e ciência política

De acordo com ARISTÓTELES (2010:4-5) “Considera-se que a filosofia política seja um


estudo de cunho normativo, uma vez que suas propostas envolvem teorizações sobre a
política em um contexto estritamente filosófico”. Portanto, a ciência política, por outro lado,
seria a forma de pensamento político voltada à prática da política, descrevendo o modo como
os governos agem em nível nacional e internacional.

2.5. A crítica de Marx à filosofia política hegeliana

Embora Marx (1818 - 1883) tenha sido o pensador socialista maisimportante do século XIX,o
início de sua carreira teórica e política é marcado por umcarácter democrata radical; a sua
entradano movimento socialista foi construída aos poucos, condicionada pela situação de seu
país de origem, a Alemanha, e pelos diversos projectos políticos que ali diferentes classes
sociais representavam.

Na década de 1840, a Alemanha ainda não existia como um país unificado (o que só
aconteceria em 1871), mas somente como uma confederação de reinados e principados, com
um predomínio político da Prússia e da Áustria, dois países cujos regimes eram de carácter
absolutista.

“É nesse contexto de indefinições que Marx parte para uma crítica dessa filosofia do Estado
racional. Para superar este dilema dos jovens hegelianos, Marx busca auxílio na filosofia” de
LUDWIG FEUERBACH (1804-1872).

Eventualmente a Filosofia política é o campo de investigação filosófica das questões da vida


política dos seres humanos. No seu amplo alcance de questões destacam-se algumas como os
princípios de justificação do poder e do governo, este último em sua origem, natureza e
propósito; e as obrigações dos membros constituintes de uma sociedade. Pode-se dizer que o
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problema central da filosofia política é como implementar ou limitar o poder público para
manter a sobrevivência e melhorar a qualidade da vida humana.

Nesta definição muito precisa e enxuta de Max Weber, que já se tornou clássica, são
indicados talvez os elementos essenciais sobre os quais se exerce a reflexão da filosofia
política: por um lado as comunidades humanas se organizam, delimitando-se territorialmente,
em torno de formas de poder organizado que, de certo momento histórico em diante, pode ser
definido como poder estatal. Para Max Weber (1890:4), “é característico do poder do estado,
além de exercer-se sobre um determinado território, que ele detenha o monopólio da força
legítima. o estado subtrai a todo indivíduo o direito de exercer coerção ou violência sobre os
outros e o reserva a si”.

3. As relações entre filosofia política e ciência política

3.1. Oposição - divergência – 1ª definição de filosofia política

Quando se entende por filosofia política a teoria da óptima república, a relação com a ciência
política é de clara oposição. Enquanto a ciência política tem uma função essencialmente
descritiva ou explicativa, a filosofia como teoria da óptima república tem uma função
essencialmente prescritiva: o objecto da primeira é a política tal como é (a “verdade
efectiva”); o objecto da segunda, a política tal como deveria ser.

Em outros termos, trata-se de dois modos distintos de considerar o problema político, de dois
pontos de vista respectivamente autónomos, ou, se quisermos, de duas estradas que não estão
destinadas a encontrar-se. A projecção em direcção ao futuro da filosofia como teoria da
óptima república e a utopia; a mesma projecção em direcção ao futuro da ciência política
assume o aspecto de “futurível”.

O desenho utópico é o projecto de um Estado que deve ser, no sentido moral de “deve”; a
futurologia e a previsão de um Estado que deve ser, no sentido naturalista de “deve”: o Estado
utópico é desejável, mas pode não se realizar; o Estado futuro pode até não ser desejável, mas
é aquele que deve necessariamente se realizar, se a previsão estiver cientificamente exacta. Na
passagem do comportamento filosófico para o comportamento científico, a utopia se resume a
futurologia.

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3.2. Separação - convergência – 2ª definição de filosofia política

Na segunda acepção, segundo a qual por filosofia política entende-se uma teoria sobre a
justificação ou legitimação do poder, a relação entre filosofia política e ciência política é
muito mais estreita. Aqui o problema filosófico pressupõe a análise dos fenómenos reais do
poder, que consideramos de competência do cientista político. Por outro lado, o estudo
realista do poder não pode deixar de fazer referência ao problema, que foi considerado
tradicionalmente de competência da filosofia, dos critérios de legitimidade, isto é, das razões
últimas pelas quais um poder é e deve ser obedecido.

A obra de Hobbes, que é sob muitos aspectos uma análise empírica do comportamento
político, foi também considerada, com razão, uma gramática da obediência. Na Filosofia do
direito, de Hegel, é extremamente difícil separar a análise realista da sociedade e do Estado da
ideologia política que a orienta, tão estreitamente entrelaçados estão o momento da explicação
daquilo que acontece e o momento da justificação de por que aquilo que acontece deve
acontecer; o problema da representação histórica e o problema da legitimação ideal do Estado,
ou melhor, de um certo tipo de Estado. É desnecessário acrescentar que uma coisa é
determinar um critério de legitimação, outra é descrever os vários critérios de legitimação
possíveis ou realmente aplicados nos diferentes regimes e nas diferentes épocas históricas
(que é obra da ciência política).

3.3. Continuidade - não distinção - 3ª definição de filosofia política

No caso do terceiro significado de filosofia política — filosofia política como determinação


da categoria da política — a relação com a ciência política é tão estreita, que é difícil
estabelecer uma nítida linha divisória entre uma e outra e dizer onde termina a competência
do cientista e começa a do filósofo. As duas investigações constituem um contínuo: não se
pode pensar em pesquisa em ciência política que não se coloque o problema do conceito de
político e, portanto, da delimitação mesma do próprio campo de pesquisa; mas não se pode
tampouco pensar em uma análise do conceito de político que não considere os dados
recolhidos e os fenómenos examinados pela pesquisa factual.

A diferença entre o plano da filosofia e o plano da ciência não é mais, nesse caso, de natureza
qualitativa, mas exclusivamente de ordem de grandeza. Não há hoje análise científica dos
fenómenos políticos que não comece propondo ou pressupondo uma teoria geral do poder, a
qual deveria servir para delimitar o campo da política em relação ao da economia ou do
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direito etc. Todavia, mais do que de filosofia política, nesse caso seria melhor falar de “teoria
geral da política”, com o mesmo critério com que, no campo do direito, se distingue a teoria
geral do direito da ciência jurídica stricto sensu.

3.4. Integração recíproca – 4ª definição de filosofia política

No caso da filosofia política compreendida como “meta - ciência”, a distinção entre filosofia e
ciência volta a ser muito clara: trata-se de investigações que têm objecto e fins distintos. A
ciência e o discurso ou o conjunto dos discursos sobre o comportamento político; a filosofia e
o discurso sobre o discurso do cientista. Como tal, é uma investigação em segunda instância.
Subentende-se que a diferença não exclui um tipo bem preciso de relação: a meta - ciência se
propõe, em relação à pesquisa científica, um objectivo, como foi dito muitas vezes,
terapêutico, e, portanto, precisa manter um contacto contínuo com a pesquisa científica
propriamente dita. A ciência, por outro lado, serve-se das reflexões relativas ao método e à
linguagem, para corrigir e eventualmente aperfeiçoar o próprio trabalho, controlando seus
resultados.

Se quisermos resumir as diferentes relações que se estabelecem entre filosofia política, nas
suas diferentes acepções, e ciência política, poderíamos dizer que:

 No primeiro caso há uma relação de separação e, concomitantemente, de divergência;


No segundo caso, a relação e também de separação, mas concomitantemente de
convergência;
 No terceiro caso, há uma relação de continuidade e, portanto, substancialmente de
indistinção (trata-se, talvez, de uma distinção conveniente);
 No quarto caso, a relação é de integração recíproca ou de mútuo serviço.

Portanto, observando esses vários tipos de relação, pode-se ainda fazer uma consideração:
permanecendo fixo o carácter de “não valoração” “avalutativita”da ciência política ou a
ciência é não valorativa ou não é ciência, a maior distância entre filosofia política e ciência
política se verifica lá onde a filosofia política é compreendida como assumindo um carácter
fortemente valorativo.

A partir da tipologia, fica claro que as acepções em que a filosofia política assume um
carácter fortemente valorativo são as duas primeiras, ou seja, a filosofia política como
descrição da óptima república e como determinação de um princípio de legitimação. E são

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esses, de facto, os dois casos nos quais a relação entre filosofia e ciência é de separação, antes
que de integração. (CHAUÍ, 2002)

4. As funções básicas da filosofia política

Segundo WEFFORT (2000:56), As funções básicas da filosofia política são:

 Criticar, quando necessário, as noções e conceitos (públicos e privados) que


determinada população mantém sobre as suas instituições governamentais;
 Examinar as teorias históricas e sociológicas de natureza empírica que orientam
julgamentos de ordem política, no intuito de lhes determinar validade;
 Engajar-se em avaliar as "teorias de meios de acção" ( means - ends theo'l'ies),
também cognominadas de "ciências de curso de acção" (policy sciences) e "guias de
deliberações prudentes" ( prudcntial policies);
 Criticar comportamentos políticos apontando nestes quaisquer implicações políticas de
ética normativa;
 Avaliar instituições e usos políticos à luz da operacionalidade de princípios políticos.

A primeira função da filosofia política é criticar as premissas de certa população a respeito do


seu governo e instituições políticas. Torna-se, por isso, tarefa de descobrir, expor e avaliar os
mitos culturalmente estabelecidos que a maioria das pessoas adquire no processo de sua
socialização política. Este objectivo tem muito em comum com o que Robert Franklin Hoxie
classificava como a função principal da educação: sofisticação. Também relaciona-se à crença
popular de que o que há de errado no mundo tem mais a ver com o que as pessoas "sabem" do
que com o fato de serem elas ignorantes. Essa tarefa, pois, envolve uma busca sistemática
visando destruir tais "dichés" populares como também metáforas, preconceitos e estereótipos.

Grande parte da obra de C. Wright Mills, Power Elite é dedicada mais ao esforço de destruir
as ilusões populares do que de criar teorias sistemáticas. Os comentários na introdução ao
capítulo sobre "The Theory of Balance" claramente estabelecem esta distinção.

Segundo MILLS apud RIBEIRO (1097: 29) escreve: "Sem desejar ser incomodados com as
questões morais da economia, os americanos se apegam à ideia de que seu governo é uma
espécie de máquina automática, regulada pelo equilíbrio de interesses divergentes. Esta
imagem da política é simplesmente uma extensão da imagem oficial da economia: em ambas
um equilíbrio é alcançado pelo vaivém de interesses diversos, cada qual restringido apenas

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pelas interpretações legalistas e morais." Outros exemplos poderiam ser facilmente
oferecidos, tais como a noção de "capitalismo popular" que é tão enganadora quanto
"democracia popular". Ambas, as elites e as massas, fazem grande uso de tais noções
estereotipadas. A primeira função da filosofia política é, pois, a de criticar tais ilusões
populares.

A segunda função da filosofia política é, em essência, o desenvolvimento da primeira, acima


elaborada. Esta envolve a crítica de construções históricas e sociológicas e das teorias
elaboradas por aqueles que se dedicam ao estudo da política para explicá-la como base para
julgamentos políticos. A diferença entre esta função e a primeira se encontra, talvez, somente
no valor da distinção feita pelo historiador intelectual entre pensamento e opinião.

A primeira é mais sofisticada, ou mais elaborada. O objectivo principal da filosofia política,


neste sentido, é o de examinar a validade das teorias empíricas elaboradas para explicar a vida
política. T.D. Weldon já fizera esta observação, apesar de esse autor enfatizar a distinção
-mais do que deveria, talvez -entre a separação de teorias de fato e as teorias de cunho
puramente teórico.

"O objectivo da filosofia não é proporcionar novas informações sobre a política ou nenhum
outro assunto. Problemas filosóficos são inteiramente de ordem secundária, gerados pela
linguagem na qual fatos são descritos ou explicados por aqueles cuja função é construir e
defender teorias científicas." A filosofia política, nesta fase, se ocupa com a crítica e a
avaliação de teorias da política É neste ponto que a filosofia política, como aqui se examina,
pode estabelecer ligações com a prática actual encontrada nesse campo, isto é, a preocupação
em avaliar a posição de teóricos políticos. Mas, sem dúvida, logo será levantada a objecção de
que filósofos políticos contemporâneos não lidam suficientemente com teorias a respeito do
estado actual das coisas, mas simplesmente. Descrevem - nas. A filosofia política, portanto,
tem sido até aqui um empreendimento crítico voltado para a avaliação de pensamentos mais
ou menos complexos sobre a vida política.

A terceira função assemelha-se às duas primeiras: objectiva criticar a validade das teorias
sobre os "meios e fins deação" (means - ends theories). ll:stes são os "imperativos -
hipotéticos" (hypothetical - imperatives) da filosofia ou as declarações de "probabilidades" às
quais se refere o conceito de "ciência de curso de acção" (policy science) de Harold Lasswell.
Trata-se do conhecido axioma cuja premissa final sempre segue o padrão: "Se X... então Y."

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Não seria necessária uma análise exaustiva da vida política para apreender quão comuns e
decisivas são estas teorias na estrutura e no processo do pensamento político. As afirmativas
de facto contidas nas premissas das teorias de "meios - e fins – de - acção" são fundamentais
no julgamento e na avaliação da política. Por exemplo: "Não tente resolver problemas de
desemprego com seguro estatal ou você rebaixará o carácter dos desempregados", pode ser
interpretado como: "Se você não quer diminuir o carácter daqueles que se encontram sem
emprego, não tente diminuir o desemprego pelo uso de seguro estatal."

A quarta das funções positivas da filosofia política é de ordem ética. É normativa mas não em
primeira aproximação. A filosofia política não deve ser considerada como responsável em nos
apontar o que fazer no campo moral, isto é, exigir-se que elas nos determine o que é certo e o
que é bom. Para isso, uma divisão de trabalho de ordem intelectual se faz necessária: de uma
disciplina não se devem exigir fórmulas para todos os problemas. Mas, embora a teoria
política não possa determinar o que é certo ou errado, e como julgamentos éticos devem ser
considerados válidos, ela tem, apesar disso, uma função normativa de primeira ordem. A
função ética da filosofia política é delinear as implicações políticas de julgamentos feitos pela
ética normativa. A ética nos fornece os padrões seu conteúdo é a moral, e a filosofia política
se encarrega de formular as implicações políticas. O seu conteúdo, nesse sentido, varia de
acordo com a posição normativa extraída da ética adoptada pelo teórico político.

Neste contexto nos parece óbvio e até natural; há, certamente, a questão de que se pode
demonstrar filosoficamente a superioridade de um sistema ético sobre outro. Mas refutações
raramente convencem adversários; e é bastante provável que o campo da filosofia política
permanecerá dividido entre aderentes de diferentes orientações normativas. Mesmo que ainda
exista a "verdadeira" ética normativa e sua teoria política, seja ela qual for.

A quinta função utiliza-se dos trabalhos empreendidos na área da ética normativa. este
objectivo final da filosofia política é o de criticar usos e instituições políticas, à luz de
princípios derivados do estudo e implicações políticas da ética normativa. Este há sido,
historicamente, um dos segmentos mais desenvolvidos da filosofia política -como bem
atestam as obras de Platão, Hobbes, Locke, Rousseau, Marx -e espera-se que assim continue.
Na realidade, um dos aspectos mais desalentadores do cenário contemporâneo da filosofia
política é o declínio observado, de obras produzidas sobre este assunto, pelos filósofos
profissionais. Têm eles permitido que esta forma de "análise filosófica" seja tomada pelos
psicólogos, sociólogos e historiadores. Esta, sem dúvida, uma grande perda; o escopo e a
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preocupação com a lógica e premissas características da filosofia, na melhor das hipóteses,
são mais prescindíveis pela crítica social moderna. A filosofia, e, em particular a filosofia
política, estão perdendo uma grande oportunidade.

A filosofia política tem, portanto, cinco funções principais a desempenhar. Três delas, de
ordem crítica, se referem à avaliação de proposições empíricas de vários níveis de sofisticação
e propósitos; as outras se relacionam com a elaboração de implicações políticas da ética
normativa. O argumento que tem sido aqui examinado é o de que estas funções -se tomadas
colectivamente em soma total constituem um modelo normativo lógico para a filosofia
política. A segunda parte deste estudo constitui um esforço de examinar possíveis objecções a
respeito de outros objectivos até aqui não incluídos.

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Conclusão

Portanto, a filosofia política, portanto, tem uma função ética embora diferente da maneira
como muitos filósofos políticos a têm concebido. Os filósofos políticos de persuasão clássica,
como Leo Strauss, têm criticado posições semelhantes às esboçadas acima, com fundamento
no facto de que a política e a ética são inseparáveis. Eles vêem a filosofia política como sendo
responsável por julgamento de valores primários e pelo exame das bases fundamentais da
ética.

Sendo assim, a filosofia política tem sido argumentada possui estas funções principais: deve
se envolver na crítica de estereótipos populares, teorias sociais empíricas, e esquemas de
acção; por outro lado, deve criticar instituições sociais e costumes, baseando as suas
avaliações nas implicações políticas da ética normativa. Mais ainda: a teoria política não deve
necessariamente se preocupar com orientações administrativas, com a construção de sistemas
ou lidar com a ética normativa ou, ainda, a meta - ética.

Toda reflexão filosófica produz efeitos na realidade na medida mesma em que reinterpreta e
propõe novas e mais profundas compreensões sobre os fenómenos, no caso aqui, o político.
Âmbito de acirradas disputas, muitas vezes pouco racionais e justificadas, o político está
entranhando em nossas vidas. Somos seres políticos e tudo o que diz respeito à política, diz
respeito à nossa existência humana no mundo.

16
Bibliografia

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17
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Montesquieu, Rousseau, “O Federalista”; 2: Burke, Kant, Hegel, Tocqueville, Stuart
Mill, Marx. São Paulo: Editora Ática, 2000.

Índice

18
Introdução..........................................................................................................................2

Objectivo geral:.................................................................................................................2

Objectivos específicos:......................................................................................................2

1.A Filosofia e a filosofia política.....................................................................................3

19
1.1.A Filosofia Politica......................................................................................................4

2.A História da filosofia política e principais representantes............................................6

2.1.Filosofia política na Idade Antiga...............................................................................6

2.2.Filosofia política na Idade Moderna............................................................................6

2.3.Filosofia política na Idade Contemporânea.................................................................7

20
2.4.A diferença entre filosofia política e ciência política..................................................8

2.5.A crítica de Marx à filosofia política hegeliana..........................................................8

3.As relações entre filosofia política e ciência política.....................................................9

3.1.Oposição - divergência – 1ª definição de filosofia política.........................................9

3.2.Separação - convergência – 2ª definição de filosofia política...................................10

3.3.Continuidade - não distinção - 3ª definição de filosofia política...............................10

3.4.Integração recíproca – 4ª definição de filosofia política...........................................11

4.As funções básicas da filosofia política.......................................................................12

Conclusão........................................................................................................................16

Bibliografia......................................................................................................................17

21
Universidade Católica de Moçambique
Instituto de Educação à Distancia

Filosofia Política

Eliza Afonso Zacarias 708193272

Curso: Ensino a Distância


Disciplina: L. da língua Portuguesa
Ano de frequência: 3º ano

22
CED Quelimane, Março, 2020
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