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Resumo: Trata-se presentemente de Artigo Científico a

respeito do tema As Contribuições Sociais Incidentes sobre a


Violência Contra a Mulher, especificamente sobre os
Parâmetros da lei Lei nº 11.340/06 e tem por objetivo promover
um estudo acerca desses assuntos, sua origem e evolução
histórica, seus fundamentos Constitucionais e embasamento legal,
os elementos constantes da sua regra matriz de incidência, bem
como sobre seu papel no contexto geral social. Deste modo, ainda
que sem pretensão de esgotar o objeto de análise, o que se
pretende é que esta propicie um amplo entendimento acerca do
assunto proposto, identificar qual a amplitude das Contribuições
estudadas no artigo ou mesmo que facilite o entendimento e
assistência da problemática  que se tornou problema social no
Brasil.

Palavras-chave: Leis, Repercussões, Mulher na sociedade,


Violência.

1. Considerações Iniciais sobre a Problemática

A violência contra a mulher insere-se na trama da relação de


poder que, historicamente, marca a vida das pessoas na sociedade.
De acordo com Foucauld (1979) “o poder não é uma coisa ou sua
posse, mas depende da relação que se estabelece entre pessoas
ou grupos de interesse”. Desse modo, a violência contra a mulher
reflete a natureza contraditória da vida social, marcada por
conflitos insolúveis e de variadas formas de agressões físicas ou
simbólicas.

O dia 25 de novembro é dedicado à não violência contra a


mulher. Originalmente estabelecido em 1981, no Primeiro
Encontro Feminista Latino Americano e do Caribe, foi escolhida
essa data a fim de homenagear três mulheres militantes da
República Dominicana: Pátria, Minerva e Maria Tereza Mirabel,
que, por se oporem à ditadura de Trujilo, foram emboscadas
quando seguiam por uma estrada em 25 de novembro de 1960 e
mortas a pauladas. Para manterem as aparências, as autoridades
simularam sua morte como decorrente de um “acidente” ocorrido
na estrada. Em 1994 as Nações Unidas designaram essa data
como o Dia Internacional da não violência contra a mulher (DE
CICCO, 2004).

No Brasil, durante toda a década de 1980, o movimento


feminista buscou várias formas de ações para trazer a esfera
pública um assunto que até então era visto como de âmbito
privado. Como resultado, a violência contra a mulher começou a
ser tratada como problema a ser combatido por meio de políticas
públicas. Serviços especializados foram criados, sobretudo nas
grandes cidades, como as delegacias da mulher, os centros de
atendimento jurídico e de apoio social às mulheres em situação de
violência e as casas de abrigo (CAMARGO, 2000). Também foi
reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como
um problema de saúde pública, devido sua dimensão e gravidade
das sequências orgânicas e emocionais que produz (ALVES;
COURA, 2001).

Mas somente na década de 90 foram tomadas medidas mais


efetivas, como a criação de serviços de atenção à violência sexual
para a prevenção e profilaxia de doenças sexualmente
transmissíveis, de gravidez indesejada e para a realização de
aborto legal quando necessário (SCHRAIBER; D’OLIVEIRA,
2003).

Atualmente, diversas organizações têm desenvolvido guias


para nortear as ações de profissionais de saúde, de modo que
possam identificar, apoiar e dar o devido encaminhamento às
vítimas. Tais medidas são os resultados da compreensão de que a
violência representa uma violação dos direitos humanos,
constituindo, ainda, em uma importante causa de sofrimento e um
fator de risco para diversos problemas de saúde e psicológicos.
Entretanto, apesar desses avanços, o setor saúde nem sempre
oferece uma resposta satisfatória para o problema, que acaba
diluindo entre outros agravos, sem considerar a intencionalidade
do ato que gerou o estado de morbidade. Esta situação decorre da
invisibilidade em alguns setores que ainda se limitam a cuidar dos
sintomas das doenças e não contam com instrumentos capazes de
identificar o problema. O resultado é que as internações terminam
por mostrar respostas insuficientes dos serviços para as
necessidades das mulheres. Uma vez que a situação de violência
não se extingue, suas repercussões sobre o adoecimento do corpo
ou o sofrimento mental ressurgem e voltam a pressionar os
serviços para novas internações (SCHRAIDER; D’OLIVEIRA,
2003).

A violência contra a mulher, além de ser uma questão


política, cultural, policial e jurídica, é principalmente, um caso de
saúde pública. Muitas mulheres adoecem a partir de situações de
violência em casa. A ligação entre a violência contra a mulher e a
sua saúde tem se tornado cada vez mais evidente, embora a
maioria das mulheres não relate que viveu ou vive uma situação
de violência doméstica. Por isso, é extremamente importante que
os profissionais de saúde sejam treinados para identificar, atender
e tratar as pacientes que se apresentam com sintomas que podem
estar relacionados a abuso e agressão (CAMARGO, 2000).

Um em cada cinco dias de falta ao trabalho é decorrente de


violência sofrida pelas mulheres em suas casas. A cada cinco anos
a mulher perde um ano de vida saudável, se ela sofre violência
doméstica. Em 1993 o Banco Mundial diagnosticou que a prática
de estupro e de violência doméstica são causas significativas de
incapacidade e morte de mulheres na idade produtiva, tanto nos
países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento, e dados do
BID - Banco lnteramericano de Desenvolvimento resultantes de
pesquisas realizadas em Santiago (Chile) e em Manágua
(Nicarágua), em 1997, concluíram que as mulheres agredidas
física, psicológicas ou sexualmente por seu companheiro, em
geral, recebem salário inferior ao de uma trabalhadora que não é
vítima de violência doméstica (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE
SAÚDE, 2002).
Segunda a Organização Mundial de Saúde (2002), a
violência doméstica incide sobre 25% a 50% das mulheres; e os
custos com a violência doméstica são da ordem de 14,2% do PIB
(Produto Interno Bruto), o que significa 168 bilhões de dólares.
Segundo a Sociedade Mundial de Vitimologia, que pesquisou a
violência doméstica em 138 mil mulheres de 54 países, 23% das
mulheres brasileiras estão sujeitas à violência doméstica; a cada
quatro minutos uma mulher é agredida em seu próprio lar, por
uma pessoa com quem mantém uma relação de afeto. As
estatísticas disponíveis e os registros nas Delegacias
Especializadas de Crimes contra a Mulher demonstram que 70%
dos incidentes acontecem dentro de casa e que o agressor é o
próprio marido ou companheiro (OLIVEIRA, 1998).

Mais de 40% das violências resultam em lesões corporais


graves decorrentes de socos, tapas, chutes, amarramentos,
queimaduras, espancamentos e estrangulamentos. O Brasil é o
país que mais sofre com a violência doméstica, perdendo de
10,5% do seu PIB (Produto Interno Bruto), porém, a magnitude
das conseqüências da violência doméstica no Brasil na economia,
nos custos para o sistema de saúde, a polícia, o Poder Judiciário,
os órgãos de apoio à mulher na própria saúde das mulheres, ainda
não pode ser medida com maior precisão, pois as nossas
estatísticas necessitam de dados importantes que não são
coletados, sobretudo nos serviços de saúde (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DE SAÚDE, 2002).

A mulher em situação de violência se apresenta com medo,


insegurança, desconfiança, dor, incerteza, frustração, além das
lesões físicas. Diante de tal situação, ela, acima de tudo, merece e
deve ser atendida com respeito e solidariedade e precisa receber
orientações que a ajudem a resolver ou diminuir seus problemas.
Para profissionais de saúde, um outro grande desafio que está
colocado, é como equacionar a "urgência" ou a "emergência" no
momento do atendimento, do ponto de vista da atenção médica e
dos demais procedimentos estritamente de saúde, e ao mesmo
tempo prestar um acolhimento solidário e digno, ou seja, mais
humanizado, capaz de aumentar a auto-estima das mulheres
atendidas (BRITO, 1997).

Do ponto de vista profissional, percebe-se que os serviços


de saúde, devido sua interação e contato com a mulher em algum
momento de sua vida, possibilitam aos profissionais de saúde
reconhecer e ajudar as vítimas da violência. Portanto, é necessário
que o enfermeiro atente-se para a importância de aprofundar seus
conhecimentos e refletir a respeito da violência contra a mulher, e
desta forma auxiliar na elaboração de protocolos de atendimento
às vítimas (MONTEIRO; BIFFI, 2006).

Este estudo teve como objetivo reconhecer a violência contra a mulher como um problema de
saúde pública, em especial, situá-lo no âmbito da atenção primária, cujo foco de ação dos
profissionais está na prevenção dos agravos e na recuperação da saúde, seja no plano
individual ou coletivo.

2. Objetivo

Realizar levantamento bibliográfico sistematizado para


identificar os principais tipos de violência sofridos pelas mulheres
e as repercussões da agressão física à sua saúde.

3. Material e Métodos

Trata-se de uma revisão bibliográfica sistematizada


realizada por meio de levantamento retrospectivo de artigos
científicos publicados e livros no período de 1997 a 2006.

A busca bibliográfica foi realizada em estudos indexados


nas bases de dados internacionais Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), National Library of
Medicine (MEDLINE) e na coleção Scientific Eletronic Library
Online (SCELO) após consulta às terminologias em saúde a
serem utilizadas na base descritores da Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS) da Bireme (Decs) e Pubmed (Mesh). Os descritores
utilizados foram: saúde da mulher, violência, agressão física.

Os artigos selecionados foram nacionais e internacionais


publicados nos idiomas português e inglês no período
anteriormente mencionado, referentes aos trabalhos expostos à
vibração nas diversas funções, disponíveis no Brasil ou na
Internet em bibliotecas nacionais.

Os artigos foram analisados e categorizados com vista à


classificação e o delineamento dos estudos, observando-se: ano de
publicação, fonte, formação e origem do autor/pesquisador, objeto
de estudo, população estudada, tempo de exposição, instrumento
de avaliação ou de coleta de dados, sinais e sintomas referidos e
lesões e doenças diagnosticadas.

Como se trata de um artigo de revisão, não houve


necessidade de submissão do presente estudo ao Comitê de Ética
em Pesquisa.

4. Referencial Teórico

4.1 Histórico da violência contra a mulher

O vocábulo violência vem da palavra latina vis, que quer


dizer força, e se refere às noções de constrangimento e de uso da
superioridade física sobre o outro. A violência é mutante, pois
sofre a influência de épocas, locais, circunstâncias e realidades
muito diferentes. Existem violências toleradas e violências
condenadas, pois desde que o homem vive sobre a terra a
violência existe, apresentando-se sob diferentes formas, cada vez
mais complexas e ao mesmo tempo mais fragmentadas e
articuladas (MINAYO, 2003). 
A violência é um fenômeno extremamente difuso e
complexo, cuja definição não pode ter exatidão científica, já que é
uma questão de apreciação, é influenciada pela cultura e
submetida a uma contínua revisão na medida em que os valores e
as normas sociais evoluem (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE
SAÚDE, 2002).

O movimento feminista, do início da 2ª metade do século


passado, destacou-se por denunciar casos de violência contra a
mulher, dando luz a essa realidade que, até então, só era
mencionada em âmbito privado. A violência exercida dentro dos
lares permanecia sem que ninguém fizesse nem dissesse nada. Até
então, não era manifestada abertamente tendo o apoio das
condições sociais da época (MINAYO, 2003).

O sumário das diversas conferências internacionais


realizadas no século XX contém os enunciados e as definições
dos direitos humanos mínimos para todos os habitantes do planeta
os quais, sem dúvida, tiveram impacto na detecção e investigação
da violência de gênero contra a mulher. Estas convenções foram:
Carta das Nações Unidas (1945); Convenção contra o genocídio
(1948); Pacto internacional dos direitos civis e políticos (1966);
Pacto internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais
(1966); Convenção sobre a eliminação de todas as formas de
discriminação racial (1965); Convenção para a eliminação de
todas as formas de discriminação contra a mulher (1979);
Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanas ou degradantes (1984); Convenção sobre os direitos
da criança (1989); e, Convenção interamericana para prevenir,
punir e erradicar a violência contra a mulher - Convenção de
Belém do Pará (1994) (SCHRAIDER; D’OLIVEIRA, 2002).

Através destas convenções, estabeleceram-se marcos legais


para a proteção dos direitos humanos. Além disso, houve
repercussões positivas no avanço para a compreensão e
erradicação da violência contra a mulher.
4.2 Papel da mulher na Sociedade

Quando se procura entender o papel da mulher na


sociedade, há de se voltar o olhar para os primórdios da existência
de nossa sociedade, dando ênfase à formação do sujeito, seus
grupos e classes sociais.

Desde a colonização do Brasil, o papel da mulher brasileira


perpassa por funções às vezes exóticas, ora degradantes e até
desumanas. Elas foram admiradas, temidas como representantes
de Satã e foram reduzidas a objetos de domínio e submissão por
receberem um conceito de “não-função”, tendo sua real influência
na evolução do ser humano, marginalizada e até aniquilada
(FONSECA, 1997).

Para uma visão das primeiras mulheres brasileiras, se


podem usar o olhar que consta da obra organizada por Del Priore
(2001), iniciada com “relatos de viajantes que observaram a
cultura indígena no Brasil colonial”.

Naquela época, os costumes heterodoxos eram vistos como


indícios de barbarismo e da presença do Diabo. Do nascimento à
velhice, as mulheres Tupinambás recebiam tratamentos e tarefas
enredadas à selvageria e com marcas de barbarismo. Esta pode ser
uma visão estrangeira das mulheres Tupinambás, mas para aquele
povo, tudo era feito seguindo as determinações de sua concepção
da natureza humana. Talvez, ainda hoje, o inconsciente das
mulheres brasileiras esteja atrelado às idéias passadas por
gerações. O desregramento, pecado e danação originados da
fragilidade moral do sexo feminino tiveram enorme utilidade ao
“poder” social masculino, e ao “bem estar” feminino (FONSECA,
1997).

No texto de Emanuel Araújo (in: DEL PRIORE, 2001), no


Brasil colonial, “abafar” a sexualidade feminina seria o objetivo
de Leis do Estado, da Igreja, e o desejo dos pais, visto que “ao
arrebentar as amarras (...) a sexualidade feminina (...) ameaçava o
equilíbrio doméstico, a segurança social e a própria ordem das
instituições civis e eclesiásticas”.

Era função da Igreja “castrar” a sexualidade feminina,


usando como contraponto a idéia do homem superior, a qual cabia
o exercício da autoridade. Todas as mulheres carregavam o peso
do pecado original e, desta forma, deveriam ser vigiadas de perto
e por toda a vida. Tal pensamento, crença e “medo”
acompanharam e, talvez ainda acompanhe a evolução e o
desenvolvimento feminino.

Até o século XVII, só se reconhecia um modelo de sexo, o


masculino. A mulher era concebida como um homem invertido e
inferior, desta forma, entendida como um sujeito menos
desenvolvido na escala da perfeição metafísica. No século XIX a
mulher passa de homem invertido ao inverso do homem, ou sua
forma complementar (FONSECA, 1997).

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