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SUMÁRIO DO VOLUME
GEOGRAFIA
O MUNDO RURAL EM TRANSFORMAÇÃO 5
1. Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do
tempo 5
1.1 Sociedades nômades 6
1.2 Sociedades sedentárias: a domesticação de plantas e animais 6
1.3 Atividade agropecuária no mundo 11
1.4 O comércio mundial de alimentos e o papel da OMC nos contenciosos agropecuários 14
INDÚSTRIA BRASILEIRA 62
4. do passado ao presente, uma nova conjuntura 62
4.1 São fatores de industrialização 62
4.2 As características do processo de desenvolvimento industrial brasileiro 63
5. Concentrações industriais no Brasil 68
Geografia 3
SUMÁRIO GERAL
VOLUME 1
VOLUME 2
VOLUME 3
A economia extrativa é caracterizada por atividades como a caça, a pesca e a coleta de vegetais fazendo
com que os grupos humanos tornem-se dependentes da oferta de alimentos pela natureza, obrigando-os a
deslocamentos constantes no espaço em função do esgotamento desses produtos necessários à sobrevivência.
Na atualidade verifica-se a presença de grupos humanos nômades em algumas regiões do planeta, como
áreas florestadas, desérticas e semiáridas, por exemplo. No entanto, tal situação de nomadismo é rara, pois
a humanidade realizou a primeira revolução agropecuária no neolítico, quando iniciou a domesticação de
plantas e animais, tornando-se sedentária.
A domesticação de plantas e animais permitiu que as sociedades nômades se fixassem em algumas áreas
apropriadas ao desenvolvimento da agropecuária, formando os primeiros agrupamentos humanos que
deram origem às primeiras cidades. Com o passar do tempo, ocorreu a evolução da atividade agropecuária
com a incorporação de novas tecnologias que permitiram o aumento da produtividade, favoreceram
a urbanização, desencadearam a inter-relação entre o campo e a cidade, mas infelizmente, ainda não
conseguiram extinguir a fome – esse flagelo que em pleno século XXI ainda atinge a humanidade, pois
segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), mais de 1 bilhão de
pessoas sofrem com a fome no mundo, em consequência da crise econômica e devido ao aumento nos
últimos três anos dos preços dos alimentos. Ainda, de acordo com as declarações do diretor-geral da FAO,
Jacques Diouf de 30/04/2010, no mundo há 1 017 bilhão de famintos, dos quais 642 milhões são da
Ásia e do Pacífico, 265 milhões da África, 42 milhões da América Latina e Caribe, e 15 milhões dos países
desenvolvidos. A situação é muito difícil, já que o número de pessoas que passam fome aumentou em 105
milhões em 2009 (em comparação com 2008) e este número (1 017 bilhão) mostra que uma em cada seis
pessoas é atingida por esse flagelo no mundo.
Adaptado para o Acervo CNEC com base no Instituto Internacional de Investigação da Política Alimentar.
http://newsimg.bbc.co.uk – acessado em 04/08/2010
6 Geografia
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo
Pérsia (atual Irã), a Nordeste. Mais ou menos ao mesmo tempo, surgiram outras áreas de domesticação
de plantas e de animais, como no México (milho, abóbora, pimenta e feijão), no Peru (batata) e na Ásia
Meridional (soja e arroz).
Nas outras regiões da Terra, a expansão da flora e da fauna foi feita a partir de alguns focos de
domesticação. A expansão europeia favoreceu a difusão de plantas e de animais: o cavalo foi trazido
para a América; o milho espalhou-se pela Europa, Ásia e África, a cana-de-açúcar, confinada na bacia
mediterrânea, chegou às Américas, etc.
Aveia,
vinha
Alho, azeitona
BACIA MEDITERRÂNEO
Aspargo ARROZ
GIRASSOL Aipo, DAMASCO,
tâmara CEREAIS, CHÁ
ORIENTE
AMÉRICA MÉDIO SUDESTE ASIÁTICO
CENTRAL PATO, GANSO,
PERU ABELHA Trigo,
cevada BANANA, COCO
CABRA,
AMÉRICA ANDINA PLANALTOS CARNEIRO
DA ÁFRICA
Painço, ORIENTAL
PLANALTO arroz, sorgo
LHAMA E ALPACA BRASILEIRO Cacau, Arroz, Búfalo,
milho, Café, pimenta porco
mandioca, algodão, Bicho-da-seda,
abacaxi melão BÚFALO, PORCO porco, frango,
PIMENTA, ganso, zebu
FEIJÃO
Revolução Agrícola. Essa fase, em sua evolução, insumos modernos das próprias empresas desses
desencadeou a Revolução Verde – conjunto de grupos internacionais. Para fechar o círculo dessa
dominação e dependência, as grandes empresas
tecnologias, criadas nos EUA e que se expandiu compram a produção agrícola e a industrializam ou a
para o mundo todo, com o objetivo de aumentar comercializam (exportam) internacionalmente. Esse
a produtividade, reduzir a fome e, também de círculo vicioso ilustra o drama da insustentabilidade
ampliar o mercado consumidor de máquinas e da agricultura.
insumos para a agropecuária. Por último, outro ponto negativo da Revolução
Verde refere-se à substituição das variedades nativas
pelas melhoradas, as quais, geneticamente mais
Ampliando Horizontes uniformes que as nativas, são desenvolvidas visando
à aptidão para a mecanização e o monocultivo, de
REVOLUÇÃO VERDE modo que ocorra a substituição de um grande grupo de
variedades nativas por outro relativamente pequeno de
A Revolução Verde consistiu em um amplo variedades melhoradas que passa a ocupar uma grande
programa criado para aumentar a produção agrícola área. Essa substituição resulta no imediato aumento da
no mundo por meio de inovações genéticas em produtividade, porém traz uma preocupação com a alta
sementes, uso intensivo de insumos industriais, uniformidade genética e consequente vulnerabilidade a
mecanização e redução do custo de manejo. epidemias de doenças e insetos.
O programa iniciou-se em 1943, quando o governo Disponível em: <http://ffaleiros@pac.embrapa.br>.
(Adaptado) Acesso em 20 maio 2010
mexicano convidou a Fundação Rockefeller, dos
EUA, para desenvolver estudos sobre as causas Atualmente, novas técnicas são aplicadas à
da fraqueza de sua agricultura. Desse modo, foram
criadas novas variedades de milho, trigo e arroz de
agropecuária como a biotecnologia, resultante
alta produtividade, que fizeram não só o México das inovações da Revolução Técnico-Científica
aumentar sua produção de milho, como também ou terceira fase da Revolução Industrial. Verifica-
a Índia — arroz e o Paquistão — trigo. O impacto se, pois, um avanço na seleção de espécies:
social da Revolução Verde, à medida que ajudou antes a seleção dirigida limitava-se a promover
a erradicar a fome no mundo, fez com que Norman
Ernest Borlaug, considerado o pai do movimento,
cruzamentos entre indivíduos da mesma espécie
ganhasse o Prêmio Nobel da Paz em 1970. Porém, até obter descendentes mais produtivos, e, hoje,
propiciou a concentração fundiária, à proporção que a Engenharia Genética promove introdução de
as novas sementes exigiam solos mais férteis; por genes selecionados em plantas e animais, gerando
isso, pediam mais adubos e eram menos resistentes descendentes mais favoráveis, caracterizando a
às pragas, exigindo maior uso de agrotóxicos. Tais
exigências promoveram endividamento de agricultores
seleção planejada de espécies. Os organismos
mais pobres que tiveram de vender as suas terras, produzido pela Engenharia Genética são
favorecendo a concentração fundiária e a monocultura. denominados de Organismos Geneticamente
O programa passou a sofrer críticas, porque Modificados (OGMs ou transgênicos).
muitos questionaram a sustentabilidade de um Os OGMS são espécies que receberam genes
projeto baseado em monoculturas e que fazia uso
em grande escala de fertilizantes, de agrotóxicos e
estranhos, de qualquer outro ser vivo, em seus
de insumos de alto custo. Outro ponto negativo era códigos genéticos. Por meio dessa tecnologia, é
os maus tratos ao meio ambiente decorrentes do possível, por exemplo, inserir genes de bactérias em
avanço das fronteiras agrícolas. milho para aumentar a resistência e a produtividade
Outro fator a ser considerado na Revolução Verde da planta, criar clones de animais, como ovelhas,
foi o favorecimento de interesses econômicos de
poderosos grupos internacionais. Essa revolução
bovinos e suínos, melhorar o valor nutricional dos
serviu de carro–chefe para ampliar, no mundo, a alimentos, entre outros. Essa tecnologia permite
venda de insumos agrícolas modernos: máquinas, reduzir os custos de produção, preservar mais o
equipamentos, implementos, fertilizantes, defensivos, meio ambiente e projeta a possibilidade de, no
pesticidas, etc. Sem dúvida, houve, com rapidez e futuro, se produzir mais e melhores alimentos.
eficiência, uma enorme expansão dessas empresas.
Como exemplo, o grupo econômico Rockefeller, o qual
O mundo vivencia, na atualidade, graves
sabemos que atua em múltiplas frentes diversificadas problemas relacionados ao progresso da demanda
com grandes empresas no setor financeiro, industrial por alimentos em função do aumento da população
e agro-industrial, na área do petróleo e em outros global, da melhoria nas condições de vida de muitos
ramos. Por meio de seus bancos, concedem povos, da concorrência de cultivos para produção
empréstimos e financiamentos aos governos para
subsidiar o crédito rural utilizado pelos agricultores
de biocombustíveis com cultivos tradicionais e das
para adquirir maior quantidade de máquinas e de catástrofes naturais que promovem perdas de safras.
Geografia 9
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo
Em mil hectares
desenvolvidos
induzida — o que diminui a necessidade do uso 50,000
no organismo em seu estado original. Adaptado para o Acervo CNEC de Brookes and Barfoot via ISAAA, 2006
Todavia, existem desvantagens como: ausência
de controle completo do local onde o gene é Em 2007, a área plantada com transgênicos
inserido, o que pode causar resultados inesperados, envolveu 23 países com cultivos de soja, milho,
uma vez que há a possibilidade de os genes de outras algodão e canola e cresceu atingindo 114 milhões
partes do organismo serem afetados; a transferência de hectares. Mesmo assim, 99% do cultivo
de genes entre espécies que não se relacionam, transgênicos concentram-se em apenas oito países,
como genes de animais em vegetais, de bactérias conforme este gráfico:
em plantas e até de humanos em animais; a falta de
Distribuição das plantações de transgênico em 2007
respeito às fronteiras da natureza que existem para
proteger a singularidade de cada espécie e assegurar Filipinas 0.3
Brasil
tipo de cultivo e, sabe-se que a variedade genética 15
Argentina 19.5
nos sistemas agrícolas promove maior capacidade Estados Unidos 57.7
Adaptado para o Acervo CNEC de Brookes and Barfoot via ISAAA, 2006
afetar apenas algumas variedades; aumento das
alergias em seres humanos pela ingestão de produtos
modificados geneticamente; monopolização das As quatro culturas transgênicas mais comuns
pesquisas por grandes empresas transnacionais são a soja, o milho, o algodão e a canola. Os
como Monsanto, Agrevo, Novatis e outras. Estados Unidos são o maior produtor, com mais de
Consequentemente, monopolização do mercado de 57 milhões de hectares cultivados.
sementes modificadas e seus respectivos insumos e a A tabela a seguir mostra os cultivos transgênicos
maior dependência dos países periféricos em relação de soja, milho, algodão e canola por países em
aos países centrais na produção agropecuária. porcentagem de áreas plantadas. Observe-a.
10 Geografia
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo
Ampliando Horizontes
que o realiza, é comprovadamente negativo para os A agricultura passou a fazer parte do mandato
demais países, pois prejudica o comércio de bens de Doha e foi decidido que deveria haver redução
agropecuários. em tarifas, em subsídios à exportação e em apoio
O Acordo sobre Agricultura estabelece quatro doméstico. Foram estabelecidos prazos nas
categorias de apoio doméstico, classificadas em caixas:
negociações em Doha, de modo que, até março
• caixa amarela – composta por subsídios de 2003, cada país deveria enviar uma proposta
distorcivos ao comércio, isto é, os governos fazemà OMC, e as negociações em torno das mesmas
pagamentos aos produtores para que eles possam ocorreriam em Cancun.
reduzir os preços de seus produtos no mercado. Essas negociações ocorreram em 2003,
• caixa verde – composta por subsídios que não ocasião em que foi criado o G-20, grupo de vinte
causam distorções ao comércio, pois estes são dados
países em desenvolvimento liderados pelo Brasil,
para assistência em caso de catástrofes naturais, Índia e África do Sul, que montaram uma espécie
construção de infra-estrutura, controle de pestes e
de coalizão de veto para impedir que as negociações
de doenças e medidas de proteção ambiental. avancem, enquanto não fossem propostas medidas
• caixa azul – composta de subsídios que distorcemefetivas para liberalizar a agricultura, já que os
o comércio, porém desvinculada da quantidade EUA e a União Europeia, os maiores praticantes
produzida. de subsídios à agricultura, apresentaram propostas
• caixa S&D (tratamento especial e diferenciado) tímidas, isto é, que previam pouca liberalização.
— destinada para política de apoio doméstico O G-20 é um grupo forte nas negociações,
de países em desenvolvimento, são medidas de pois alguns países membros, como o Brasil, já
assistência governamental ao desenvolvimento do haviam conseguido vitória no órgão de solução
setor agrícola. de controvérsias em disputas agrícolas: venceu os
Existe, ainda, o limite de minimis, que permite
EUA, no contencioso sobre o algodão, e a União
qualquer tipo de subsídio, desde que ele não Europeia, no contencioso sobre o açúcar. Essas
ultrapasse 5% da produção total. vitórias pareciam demonstrar que os subsídios
Os subsídios à exportação são os pagamentos agrícolas distorciam, de fato, o comércio, e a OMC,
feitos pelo governo de um país aos agricultores que
ao dar ganho de causa ao Brasil nos contenciosos
produzem para o mercado externo. Os agricultores agrícolas, ratificava isso.
que recebem tais subsídios colocam os produtos no Desde o estabelecimento da OMC, as
mercado com preços mais baixos, o que prejudica conferências para negociações multilaterais
os produtores de outros países que não recebem têm ocorrido de dois em dois anos. Todas as
ajuda governamental. conferências ocorridas depois de 2001: Doha, em
O Acordo sobre Agricultura previu redução dos2001, Cancun, em 2003, Hong-Kong, em 2005
valores usados em cada caixa de apoio doméstico são consideradas partes da Rodada de Doha, em
de 20%, para os países desenvolvidos, e de 13%, todas elas, as negociações não avançaram, pois os
para os países em desenvolvimento, e também países desenvolvidos não aceitam retirar subsídios
redução dos subsídios à exportação em 36% para de modo a liberalizar efetivamente o comércio de
os países desenvolvidos e 24% para os países em bens agropecuários e exigem que os demais países
desenvolvimento. (em desenvolvimento e LDCs) façam liberalização
para o comércio de serviços. Desse modo, em julho
A Rodada de Doha de 2006, o secretário da OMC declarou que a
Rodada de Doha estava suspensa, já que os grupos
A Rodada de Doha iniciou-se em 2001 não conseguiram fazer um rascunho da declaração
em Qatar e ficou conhecida como rodada que atendesse os interesses de todos. Os grupos
do desenvolvimento, pois tem como objetivo que participaram da Rodada de Doha foram: U.E.,
criar mecanismos que ajudem os países menos EUA, G-10, G-20, Cairns, G-33 e LDCs.
desenvolvidos e em desenvolvimento a se
desenvolverem por meio do comércio internacional.
Prezado leitor,
Agradecemos o interesse em nosso
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uma amostra gratuita.
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