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2 Geografia

SUMÁRIO DO VOLUME
GEOGRAFIA
O MUNDO RURAL EM TRANSFORMAÇÃO 5
1. Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do
tempo 5
1.1 Sociedades nômades 6
1.2 Sociedades sedentárias: a domesticação de plantas e animais 6
1.3 Atividade agropecuária no mundo 11
1.4 O comércio mundial de alimentos e o papel da OMC nos contenciosos agropecuários 14

AGROPECUÁRIA BRASILEIRA: CARACTERÍSTICAS, PRODUÇÃO E IMPLICAÇÕES SOCIAIS 21


2. Evolução da produção agropecuária 21
2.1 Estrutura fundiária 23
2.2 Cenário social no espaço rural 26
2.3 Principais produções agropecuárias 29

CENÁRIOS DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL MUNDIAL 40


3. Industrialização 40
3.1 Evolução da indústria no mundo 41
3.2 Revolução industrial e sistemas produtivos 41
3.3 Classificação da indústria 45
3.4 Fatores que determinaram e determinam a localização industrial no mundo 45
3.5 Tecnopolos Mundiais 56

INDÚSTRIA BRASILEIRA 62
4. do passado ao presente, uma nova conjuntura 62
4.1 São fatores de industrialização 62
4.2 As características do processo de desenvolvimento industrial brasileiro 63
5. Concentrações industriais no Brasil 68
Geografia 3
SUMÁRIO GERAL
VOLUME 1

UNIDADE: O MUNDO RURAL EM TRANSFORMAÇÃO


1. Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

UNIDADE: AGROPECUÁRIA BRASILEIRA: CARACTERÍSTICAS, PRODUÇÃO E IMPLICAÇÕES SOCIAIS


2. Evolução da produção agropecuária

UNIDADE: CENÁRIOS DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL MUNDIAL


3. Industrialização

UNIDADE: INDÚSTRIA BRASILEIRA


4. Do passado ao presente, uma nova conjuntura
5. Concentrações industriais no Brasil

VOLUME 2

UNIDADE: DEMOGRAFIA, TRABALHO E CONSUMO


6. População Mundial

UNIDADE: POPULAÇÃO BRASILEIRA


7. Um novo cenário, novas mudanças

UNIDADE: URBANIZAÇÃO MUNDIAL


8. Um mundo de cidades

UNIDADE: URBANIZAÇÃO BRASILEIRA


9. Brasil Urbano.

VOLUME 3

UNIDADE: UM SÓ MUNDO, VÁRIOS CENÁRIOS GEOGRÁFICOS


10. Os cenários continentais do planeta

UNIDADE: O BRASIL NO CENÁRIO MUNDIAL


11. Globalização e suas influências no cenário político-econômico-social brasileiro
Geografia 5
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

O MUNDO RURAL EM TRANSFORMAÇÃO


1. ECONOMIA EXTRATIVA, A REVOLUÇÃO AGROPECUÁRIA NEOLÍTICA E A EVOLUÇÃO
DA AGROPECUÁRIA AO LONGO DO TEMPO

A economia extrativa é caracterizada por atividades como a caça, a pesca e a coleta de vegetais fazendo
com que os grupos humanos tornem-se dependentes da oferta de alimentos pela natureza, obrigando-os a
deslocamentos constantes no espaço em função do esgotamento desses produtos necessários à sobrevivência.
Na atualidade verifica-se a presença de grupos humanos nômades em algumas regiões do planeta, como
áreas florestadas, desérticas e semiáridas, por exemplo. No entanto, tal situação de nomadismo é rara, pois
a humanidade realizou a primeira revolução agropecuária no neolítico, quando iniciou a domesticação de
plantas e animais, tornando-se sedentária.
A domesticação de plantas e animais permitiu que as sociedades nômades se fixassem em algumas áreas
apropriadas ao desenvolvimento da agropecuária, formando os primeiros agrupamentos humanos que
deram origem às primeiras cidades. Com o passar do tempo, ocorreu a evolução da atividade agropecuária
com a incorporação de novas tecnologias que permitiram o aumento da produtividade, favoreceram
a urbanização, desencadearam a inter-relação entre o campo e a cidade, mas infelizmente, ainda não
conseguiram extinguir a fome – esse flagelo que em pleno século XXI ainda atinge a humanidade, pois
segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), mais de 1 bilhão de
pessoas sofrem com a fome no mundo, em consequência da crise econômica e devido ao aumento nos
últimos três anos dos preços dos alimentos. Ainda, de acordo com as declarações do diretor-geral da FAO,
Jacques Diouf de 30/04/2010, no mundo há 1 017 bilhão de famintos, dos quais 642 milhões são da
Ásia e do Pacífico, 265 milhões da África, 42 milhões da América Latina e Caribe, e 15 milhões dos países
desenvolvidos. A situação é muito difícil, já que o número de pessoas que passam fome aumentou em 105
milhões em 2009 (em comparação com 2008) e este número (1 017 bilhão) mostra que uma em cada seis
pessoas é atingida por esse flagelo no mundo.

ÍNDICE GLOBAL DA FOME EM 2009 − GRAU DE SEVERIDADE

Extremamente alarmante Alarmante Sério Moderado Baixo Sem dados


Países industrializados

Adaptado para o Acervo CNEC com base no Instituto Internacional de Investigação da Política Alimentar.
http://newsimg.bbc.co.uk – acessado em 04/08/2010
6 Geografia
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

1.1 Sociedades nômades Nas regiões montanhosas, o clima, o relevo


e os aspectos biológicos proporcionaram a
Nas sociedades nômades, que se deslocavam no transformação de bandos coletores e de caçadores
espaço em busca de alimentos, o ambiente natural e (nômades) em povos sedentários. Isso só aconteceu
as variações climáticas determinavam a economia, a devido às condições pouco favoráveis, as quais
organização social e os costumes de seus integrantes, os levaram a desenvolver técnicas agrícolas mais
pois a quantidade e a qualidade das vestimentas, a elaboradas, como a irrigação, o terraceamento e as
existência ou não de habitações mais duradouras, a curvas de nível. Os abrigos eram mais duradouros
disponibilidade de instrumentos para a caça, a pesca e as ferramentas, melhores trabalhadas, serviram
e para a coleta e o tempo de permanência dos grupos
como primeiro passo no surgimento de civilizações
humanos variavam de acordo com o meio. Desse
urbanizadas e mais desenvolvidas culturalmente.
modo as características do espaço geográfico das
Os povos que habitavam as regiões de florestas
regiões frias, temperadas, intertropicais (florestadas
tropicais eram caçadores e coletores, pois viviam
e de savanas) e de montanhas determinaram
diferentes adaptações para os diversos grupos num ambiente rico em oferta de alimentos.
nômades. Construíam habitações usando madeira e palha;
No Ártico, a escassez de vegetação não permitiu a desenvolviam povoamentos mais densos nas várzeas
existência de povos coletores de sementes, de frutos, fluviais; utilizavam ervas medicinais para produção
de raízes e de folhas. Do grupo de caçadores, os de remédios, fibras e penas para vestimentas, redes
esquimós, foi exigida uma capacidade de adaptação e utensílios, folhas para cestos e pigmentos para
ao frio e técnicas específicas para a obtenção de tintura do corpo. Atualmente, as florestas tropicais
alimento. Por isso, agasalhavam-se com as peles, abrigam povos caçadores e coletores, como os
e as habitações fixas, sólidas e com uma estrutura indígenas amazônicos e os pigmeus africanos,
interna bem elaborada que os protegia do frio e das que veem suas culturas ameaçadas pelo avanço da
grandes tempestades de neve. Para a locomoção, economia moderna e os fluxos migratórios.
eram utilizados, no verão, os barcos feitos com a
pele e nos períodos de inverno, trenós puxados 1.2 Sociedades sedentárias: a
por cães. A alimentação era baseada em mamíferos domesticação de plantas e animais
marinhos pescados com arpões de ossos ou de
marfim.
Os povos da floresta boreal ou taiga do Norte A Revolução Neolítica foi o conjunto de
eram bandos concentrados na região do Canadá, mudanças na vida das sociedades humanas
da Península Escandinava e da Sibéria e usavam ligado à prática da agricultura, da pecuária
tecnologia de subsistência semelhante à dos povos e da sedenterização. Promoveu profundas
do Ártico. A base de subsistência era a caça, e as transformações na vida dos homens pela passagem
técnicas utilizadas eram as armadilhas e a tocaia da economia extrativa para a economia produtiva
auxiliada por arcos e flechas. Já a pedra polida e há cerca de 12 000 anos.
a pedra lascada eram usadas como instrumentos Arqueólogos encontraram elementos capazes
cortantes. de relatar a história do nascimento da agricultura
Na divisão social, os bandos dividiam-se em e evidenciaram que ela não apareceu em uma
dois grupos, uns caçando no interior das florestas única região da Terra, mas em diversas regiões
e outros migrando para a tundra, guiados por um simultaneamente. As zonas de domesticação de
chefe de operações de caça. plantas e de animais surgiram no Crescente Fértil,
Os habitantes das pradarias tornaram-se localizado entre os rios Nilo, Tigre e Eufrates,
caçadores devido à presença de animais herbívoros. considerado o berço das mais antigas civilizações
Usavam o couro para confeccionar vestimentas e neolíticas. Nesse local, a agricultura (trigo e cevada)
fazer habitações (tendas), ossos para fazer armas e desenvolveu-se nas planícies inundadas pelas
utensílios e, nos rios, praticavam a pesca. cheias periódicas desses rios; a pastorícia (criação
Nas savanas, os grupos humanos coletavam de ovelhas, de bois e de cabras) surgiu nos dois
frutos e raízes, caçavam animais nativos da região e grandes planaltos: o planalto da Anatólia, na Ásia
utilizavam os rios para a pesca. Menor (atual Turquia), ao Norte, e o planalto da
Geografia 7
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

Pérsia (atual Irã), a Nordeste. Mais ou menos ao mesmo tempo, surgiram outras áreas de domesticação
de plantas e de animais, como no México (milho, abóbora, pimenta e feijão), no Peru (batata) e na Ásia
Meridional (soja e arroz).
Nas outras regiões da Terra, a expansão da flora e da fauna foi feita a partir de alguns focos de
domesticação. A expansão europeia favoreceu a difusão de plantas e de animais: o cavalo foi trazido
para a América; o milho espalhou-se pela Europa, Ásia e África, a cana-de-açúcar, confinada na bacia
mediterrânea, chegou às Américas, etc.

Domesticação é o processo pelo qual os grupos humanos controlam o crescimento e a


reprodução de plantas e de animais de acordo com suas necessidades.

CENOURA, CAMELO, BOI,


CAVALO,
CEBOLA, CARNEIRO, IAQUE
PORCO
MAÇÃ

Aveia,
vinha

Alho, azeitona
BACIA MEDITERRÂNEO
Aspargo ARROZ
GIRASSOL Aipo, DAMASCO,
tâmara CEREAIS, CHÁ
ORIENTE
AMÉRICA MÉDIO SUDESTE ASIÁTICO
CENTRAL PATO, GANSO,
PERU ABELHA Trigo,
cevada BANANA, COCO
CABRA,
AMÉRICA ANDINA PLANALTOS CARNEIRO
DA ÁFRICA
Painço, ORIENTAL
PLANALTO arroz, sorgo
LHAMA E ALPACA BRASILEIRO Cacau, Arroz, Búfalo,
milho, Café, pimenta porco
mandioca, algodão, Bicho-da-seda,
abacaxi melão BÚFALO, PORCO porco, frango,
PIMENTA, ganso, zebu
FEIJÃO

Áreas de origem das principais plantas cultivadas pelo Principais áreas


homem e a difusão do seu cultivo de domesticação
MORANGO, BATATA de animais
antes de de 5000 de 2000 a.C. d.C.
5000 a.C. a 2000 a.C. a0

Adaptado para o Acervo CNEC de http://huberb.people.cofc.edu - acessado em 10/08/2010

1.2.1 Sociedades sedentárias: modernização da agropecuária na primeira,


segunda e terceira fase da Revolução Industrial
A partir da Revolução Neolítica, a agropecuária difundiu-se por todos os espaços favoráveis à sua
prática no planeta, permitindo o desenvolvimento de novas tecnologias, formas de vida, organização
social, etc. Porém o grande desenvolvimento da atividade agropecuária ocorreu com a Revolução Industrial
em suas sucessivas fases. Assim, antes da primeira fase da Revolução Industrial, disseminaram-se pela
Europa novas técnicas que permitiram um aumento da produtividade no campo para fornecer alimentos
e matérias-primas para o meio urbano, tais como: seleção dirigida de espécies e rotação de culturas – em
que o espaço cultivável passou a ser dividido em três campos de cultivo com plantações simultâneas de
espécies diferentes em cada um deles e com rotatividade anual.
A segunda fase da Revolução Industrial promoveu uma nova modernização agropecuária, pois
propiciou o aumento da produtividade com o uso de máquinas, de insumos e de espécies selecionadas.
Inaugurava-se uma nova fase nos sistemas agropecuários, na qual a forma de conceber e de gerenciar
a atividade rural passa a ser chamada de Agricultura Industrial (AI), Agricultura Convencional ou
Agricultura Química. Tais tecnologias desenvolvidas no espaço industrial urbano e aplicadas ao espaço
rural, promovendo a interdependência entre tais espaços, caracterizaram a fase conhecida como Segunda
8 Geografia
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

Revolução Agrícola. Essa fase, em sua evolução, insumos modernos das próprias empresas desses
desencadeou a Revolução Verde – conjunto de grupos internacionais. Para fechar o círculo dessa
dominação e dependência, as grandes empresas
tecnologias, criadas nos EUA e que se expandiu compram a produção agrícola e a industrializam ou a
para o mundo todo, com o objetivo de aumentar comercializam (exportam) internacionalmente. Esse
a produtividade, reduzir a fome e, também de círculo vicioso ilustra o drama da insustentabilidade
ampliar o mercado consumidor de máquinas e da agricultura.
insumos para a agropecuária. Por último, outro ponto negativo da Revolução
Verde refere-se à substituição das variedades nativas
pelas melhoradas, as quais, geneticamente mais
Ampliando Horizontes uniformes que as nativas, são desenvolvidas visando
à aptidão para a mecanização e o monocultivo, de
REVOLUÇÃO VERDE modo que ocorra a substituição de um grande grupo de
variedades nativas por outro relativamente pequeno de
A Revolução Verde consistiu em um amplo variedades melhoradas que passa a ocupar uma grande
programa criado para aumentar a produção agrícola área. Essa substituição resulta no imediato aumento da
no mundo por meio de inovações genéticas em produtividade, porém traz uma preocupação com a alta
sementes, uso intensivo de insumos industriais, uniformidade genética e consequente vulnerabilidade a
mecanização e redução do custo de manejo. epidemias de doenças e insetos.
O programa iniciou-se em 1943, quando o governo Disponível em: <http://ffaleiros@pac.embrapa.br>.
(Adaptado) Acesso em 20 maio 2010
mexicano convidou a Fundação Rockefeller, dos
EUA, para desenvolver estudos sobre as causas Atualmente, novas técnicas são aplicadas à
da fraqueza de sua agricultura. Desse modo, foram
criadas novas variedades de milho, trigo e arroz de
agropecuária como a biotecnologia, resultante
alta produtividade, que fizeram não só o México das inovações da Revolução Técnico-Científica
aumentar sua produção de milho, como também ou terceira fase da Revolução Industrial. Verifica-
a Índia — arroz e o Paquistão — trigo. O impacto se, pois, um avanço na seleção de espécies:
social da Revolução Verde, à medida que ajudou antes a seleção dirigida limitava-se a promover
a erradicar a fome no mundo, fez com que Norman
Ernest Borlaug, considerado o pai do movimento,
cruzamentos entre indivíduos da mesma espécie
ganhasse o Prêmio Nobel da Paz em 1970. Porém, até obter descendentes mais produtivos, e, hoje,
propiciou a concentração fundiária, à proporção que a Engenharia Genética promove introdução de
as novas sementes exigiam solos mais férteis; por genes selecionados em plantas e animais, gerando
isso, pediam mais adubos e eram menos resistentes descendentes mais favoráveis, caracterizando a
às pragas, exigindo maior uso de agrotóxicos. Tais
exigências promoveram endividamento de agricultores
seleção planejada de espécies. Os organismos
mais pobres que tiveram de vender as suas terras, produzido pela Engenharia Genética são
favorecendo a concentração fundiária e a monocultura. denominados de Organismos Geneticamente
O programa passou a sofrer críticas, porque Modificados (OGMs ou transgênicos).
muitos questionaram a sustentabilidade de um Os OGMS são espécies que receberam genes
projeto baseado em monoculturas e que fazia uso
em grande escala de fertilizantes, de agrotóxicos e
estranhos, de qualquer outro ser vivo, em seus
de insumos de alto custo. Outro ponto negativo era códigos genéticos. Por meio dessa tecnologia, é
os maus tratos ao meio ambiente decorrentes do possível, por exemplo, inserir genes de bactérias em
avanço das fronteiras agrícolas. milho para aumentar a resistência e a produtividade
Outro fator a ser considerado na Revolução Verde da planta, criar clones de animais, como ovelhas,
foi o favorecimento de interesses econômicos de
poderosos grupos internacionais. Essa revolução
bovinos e suínos, melhorar o valor nutricional dos
serviu de carro–chefe para ampliar, no mundo, a alimentos, entre outros. Essa tecnologia permite
venda de insumos agrícolas modernos: máquinas, reduzir os custos de produção, preservar mais o
equipamentos, implementos, fertilizantes, defensivos, meio ambiente e projeta a possibilidade de, no
pesticidas, etc. Sem dúvida, houve, com rapidez e futuro, se produzir mais e melhores alimentos.
eficiência, uma enorme expansão dessas empresas.
Como exemplo, o grupo econômico Rockefeller, o qual
O mundo vivencia, na atualidade, graves
sabemos que atua em múltiplas frentes diversificadas problemas relacionados ao progresso da demanda
com grandes empresas no setor financeiro, industrial por alimentos em função do aumento da população
e agro-industrial, na área do petróleo e em outros global, da melhoria nas condições de vida de muitos
ramos. Por meio de seus bancos, concedem povos, da concorrência de cultivos para produção
empréstimos e financiamentos aos governos para
subsidiar o crédito rural utilizado pelos agricultores
de biocombustíveis com cultivos tradicionais e das
para adquirir maior quantidade de máquinas e de catástrofes naturais que promovem perdas de safras.
Geografia 9
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

Em vista disso, é necessário criar novas O espaço mundial do cultivo de transgênicos


tecnologias para superar a estagnação da produção,
aumentar a oferta e reduzir os preços, com o O cultivo de produtos transgênicos no mundo
objetivo de garantir alimentos para todos. é recente e iniciou-se na última década do século XX,
A Organização das Nações Unidas estima que porém expandiu-se rapidamente tanto em área plantada
a produção de produtos alimentares deva ter um quanto em número de países que adotaram tais cultivos.
acréscimo de 50% em produtividade até 2030 Observe o gráfico a seguir que mostra a
para atender à crescente demanda. Nesse contexto, expansão da área plantada de milho transgênico no
as culturas de Organismos Geneticamente período de 1996 a 2005.
Modificados experimentam rápido crescimento nos
últimos anos e geram debates sobre as vantagens e Expansão da área plantada com milho transgênico - 1996-2005
100,000
desvantagens desses cultivos. 90,000
Entre as vantagens dos produtos transgênicos, 80,000
Mundo

citam-se: aumento da produção de alimentos com 70,000

redução nos custos de produção, da resistência 60,000 Países

Em mil hectares
desenvolvidos
induzida — o que diminui a necessidade do uso 50,000

de agrotóxicos —, da produção de alimentos de 40,000


Países

maior qualidade nutricional e maior durabilidade 30,000


em desenvolvimento

da produção de anticorpos em plantas transgênicas; 20,000

a possibilidade de distribuição em massa e a 10,000

introdução de novas características não existentes 0


1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

no organismo em seu estado original. Adaptado para o Acervo CNEC de Brookes and Barfoot via ISAAA, 2006
Todavia, existem desvantagens como: ausência
de controle completo do local onde o gene é Em 2007, a área plantada com transgênicos
inserido, o que pode causar resultados inesperados, envolveu 23 países com cultivos de soja, milho,
uma vez que há a possibilidade de os genes de outras algodão e canola e cresceu atingindo 114 milhões
partes do organismo serem afetados; a transferência de hectares. Mesmo assim, 99% do cultivo
de genes entre espécies que não se relacionam, transgênicos concentram-se em apenas oito países,
como genes de animais em vegetais, de bactérias conforme este gráfico:
em plantas e até de humanos em animais; a falta de
Distribuição das plantações de transgênico em 2007
respeito às fronteiras da natureza que existem para
proteger a singularidade de cada espécie e assegurar Filipinas 0.3

a integridade genética das futuras gerações; a Uruguai 0.5

África do Sul 1.8


promoção da uniformidade genética que leva a uma Paraguai 2.6

maior vulnerabilidade dos cultivos, pois a invasão China 3.8

de pestes, de doenças e de ervas daninhas sempre Índia 6.2

é mais intensa em áreas onde se planta o mesmo Canadá 7

Brasil
tipo de cultivo e, sabe-se que a variedade genética 15

Argentina 19.5
nos sistemas agrícolas promove maior capacidade Estados Unidos 57.7

de adaptação para o enfrentamento de pestes, de 0 10 20 30 40 50 60

doenças e de mudanças climáticas que tendem a milhões de hectares

Adaptado para o Acervo CNEC de Brookes and Barfoot via ISAAA, 2006
afetar apenas algumas variedades; aumento das
alergias em seres humanos pela ingestão de produtos
modificados geneticamente; monopolização das As quatro culturas transgênicas mais comuns
pesquisas por grandes empresas transnacionais são a soja, o milho, o algodão e a canola. Os
como Monsanto, Agrevo, Novatis e outras. Estados Unidos são o maior produtor, com mais de
Consequentemente, monopolização do mercado de 57 milhões de hectares cultivados.
sementes modificadas e seus respectivos insumos e a A tabela a seguir mostra os cultivos transgênicos
maior dependência dos países periféricos em relação de soja, milho, algodão e canola por países em
aos países centrais na produção agropecuária. porcentagem de áreas plantadas. Observe-a.
10 Geografia
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

realizadas para aprimorar o da produção de arroz


Principais cultivos transgênicos em 2005
dourado, uma espécie que foi modificada para
(em % de área plantada por países) produzir betacaroteno, que o corpo converte em
Soja Milho Algodão Canola vitamina A. O arroz dourado pode contribuir para
minimizar a desnutrição em amplas regiões da
EUA 93 52 79 82
Ásia, em que o produto é base da alimentação da
Canadá 60 65 N/A 95 população.
Argentina 99 62 50 --
África do Sul 65 27 95 --
Austrália -- -- 90 --
China -- -- 65 --
Brasil 40 -- -- --
Uruguai 100 -- -- --

Ampliando Horizontes

APLICAÇÕES POTENCIAIS DAS CULTURAS


GENETICAMENTE MODIFICADAS

Universidades e Organizações Não Governamentais


vêm desenvolvendo pesquisas para obter culturas que
Disponível em: <http://image.rol.vn>> Acessado em 26 fev. 2010.
apresentam:
Cultivo de arroz dourado em terraços no Vietnã.
Resistência à seca: ecossistemas marginais,
como os da África Subsaariana já estão sendo
afetados pelas mudanças climáticas e pelo uso Novas espécies para a produção de
inadequado do solo com ampliação da desertificação biocombustíveis: apesar de a investigação ainda
e, consequentemente, escassez de água. Nessas estar em fase inicial, a modificação genética pode
regiões africanas, foram cultivadas espécies de milho permitir que os cientistas consigam produzir cultivos
modificadas que apresentaram maior produtividade, de alta-energia para uso de biocombustíveis como o
em torno de 20 a 30%. Tal experimento mostra que etanol. Ao invés de usar cultivos alimentares como
os OGMs na África podem reduzir a escassez de milho ou cana-de-açúcar para a produção de etanol
alimentos e aliviar a fome de milhões de pessoas. (que pode ameaçar a segurança alimentar), é provável
que os cientistas sejam capazes de modificar cepas
de gramíneas perenes e outros que tenham níveis
mais elevados de celulose para conversão em etanol.
Disponível em: <http://earthtrends.wri.org>.
(Adaptado) Acesso em 27 fev. 2010.

Disponível em: <www.fbs.leeds.ac.uk>. Acessado em 26 fev. 2010


Cultivo de milho transgênico na África Subsaariana.

Alimentos fortificados: os produtos alimentares


podem ser geneticamente modificados para produzir Disponível em: <http://news.mongabay.com>. Acesso em 26 fev. 2010.
algumas vitaminas que são importantes para a Plantio experimental de gramíneas no Canadá para produzir
nutrição humana. Novas pesquisas estão sendo biocombustível.
Geografia 11
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

1.3 Atividade agropecuária no mundo

A atividade agrícola e pecuária no mundo pode ser


classificada em intensiva e extensiva. Essa denominação
está relacionada ao grau de capitalização e ao índice
de produtividade independente da extensão da área
utilizada no desenvolvimento da atividade.
Assim, são intensivas as atividades agrícolas ou
pecuárias que utilizam modernas técnicas (insumos,
espécies selecionadas e máquinas) bem como Disponível em: <http://upload.wikimedia.org>.
Acesso em 26 fev. 2010.
acompanhamento de profissionais qualificados e, Agricultura de subsistência – tradicional e de
por isso, apresentam alta produtividade. baixos rendimentos.
Por outro lado, são extensivas aquelas que Agricultura de jardinagem
usam técnicas tradicionais de cultivo e de criação, É praticada no sul e sudeste asiático, em pequenas
apresentam baixo rendimento, promovem o propriedades, com uso de grande quantidade de
esgotamento do solo e a utilização inadequada mão de obra na produção de arroz. Apesar de ser
do espaço, ocasionado desertificação e ainda não considerado de subsistência, esse tipo de agricultura
utilizam profissionais qualificados para acompanhar é muito produtivo, pois há seleção de sementes,
a atividade agrícola e pecuária. utilização de fertilizantes e técnicas de preservação do
São vários os tipos de atividade agropecuárias solo que permitem a fixação da família na propriedade.
no mundo, como: As áreas de rizicultura do sul e sudeste asiático
apresentam elevadas densidades demográficas e, por
Agricultura de subsistência
essa razão, as propriedades são muito pequenas, em
É uma modalidade de produção
geral, com menos de cinco hectares. Trata-se de uma
descapitalizada, cujos produtos destinam-se à
prática agrícola dependente das monções de verão,
subsistência da família, com pequenos excedentes
quando se inicia o período de chuvas intensas.
para a comercialização. Geralmente, é praticada em
pequenas propriedades, com mão de obra familiar Monções de inverno - ventos frios e secos

e com técnicas rudimentares.


Por falta de assistência técnica e de recursos não H
IM
AL
AIA
há preocupação com a conservação dos solos, as Índia
sementes utilizadas são de qualidade inferior, não
se investe em insumos (fertilizantes e agrotóxicos)
e, portanto, a rentabilidade, a produção e a
produtividade são baixas.
Nesse tipo de produção, é comum o uso de OCEANO ÍNDICO
queimadas para a limpeza do campo e, à medida
Mar de Java
que o solo se esgota, ocorre a mudança de local para
Monções de verão - ventos úmidos e quentes
o novo cultivo. Isso promove um deslocamento
da atividade no espaço por pouco tempo, H
caracterizando a agricultura itinerante. IM
AL
AIA
A criação de animais que se desloca no espaço Índia

à procura de pastagens, em função do esgotamento


das mesmas pode ser denominada de pecuária
nômade. Se o deslocamento for sazonal (ocorrer de
acordo com a sucessão das estações do ano), passa a
ser denominado transumância. OCEANO ÍNDICO

A agricultura de subsistência, itinerante ou Mar de Java

não, é largamente praticada em extensas áreas da Acervo CNEC


América Latina, na África e na Ásia. A transumância Na estação de inverno, no hemisfério norte, os ventos frios
de animais é realizada em áreas montanhosas sendo sopram do continente para o oceano, caracterizando as
monções de inverno, em que se verifica a estação seca. No
que, no inverno, o rebanho é colocado nas áreas mais verão, no hemisfério norte, os ventos sopram do oceano para
baixas e, no verão, é conduzido para as partes mais o continente, caracterizando as monções de verão, em que se
verifica a estação chuvosa e o cultivo de arroz nas planícies
altas onde houve a reconstituição das pastagens. inundáveis.
12 Geografia
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

utilização de mão de obra escrava. Atualmente,


ainda há essa prática em latifúndios, com cultivo
de um só produto e com mão de obra assalariada.

Cinturão verde e bacias leiteiras


A produção de hortifrutigranjeiros e a pecuária
de leite intensiva são praticadas no entorno das
cidades ou em espaços próximos a elas onde a terra
é mais valorizada em função da proximidade do
mercado consumidor urbano.
As propriedades utilizadas nessas produções
são pequenas e médias, em geral, a mão de obra
Disponível em: <www.sacredearth.com>. Acesso em 27 fev. 2010. é familiar, e o comércio da produção permite a
Cultivo de arroz na Ásia de Monções. capitalização dos agricultores e dos criadores, que
aplicam o excedente em modernização da atividade.
Os espaços montanhosos da Ásia também
são aproveitados para a prática agropecuária. As
As empresas agrícolas
encostas das montanhas são usadas para a atividade
As empresas agrícolas caracterizam-se pelo
agrícola em terraços e para a atividade pecuária –
emprego de alta tecnologia, pelo eficiente uso de
transumância – em que, no inverno, o gado utiliza as
insumos, como adubações, irrigação, agroquímicos,
pastagens das partes mais baixas, pois as partes mais
entre outros, com o objetivo de obter alta
altas estão recobertas de neve em função das baixas
produtividade por unidade de área e elevada
temperaturas. No verão, o gado é conduzido para
eficiência. O uso dessa tecnologia pode ocorrer em
as partes mais altas, nas quais, durante a primavera,
pequenas, médias e grandes propriedades, podendo
inicia-se o degelo das neves e, no verão, as pastagens
ser familiar ou não.
dessas áreas já estão recuperadas.
A produção é voltada para o mercado interno
e externo, e as propriedades, geralmente, são
especializadas em um tipo de produto.
O espaço agrário dos países desenvolvidos é
organizado em empresas agrícolas que buscam,
constantemente, novas tecnologias para aumentar
a produtividade. Assim, em amplas áreas desse
espaço, a incorporação da tecnologia da informação
na produção e práticas agrícola de precisão são
marcantes.
A agricultura de precisão verifica a
produtividade do solo por meio da colheita, analisa
Disponível em: <www.woldofstock.com>. Acesso em 27 fev. 2010.
as características do solo baseada em coleta de
Terraços da Ásia – forma de aproveitamento das encostas
íngremes. amostras ou em imagens de satélite, faz o controle
preciso da aplicação de insumos, da correção da
A Plantation terra, da plantação e da aplicação de agrotóxicos.
A agricultura do tipo plantation é monocultura As vantagens da utilização das técnicas da
e utiliza grandes propriedades. Sua produção, agricultura de precisão são várias, como: economia
sobretudo de produtos tropicais, destina-se à de agrotóxicos e fertilizantes, aumento da
exportação e é amplamente praticada em vastos produtividade e da exploração da terra de modo
espaços agrícolas da África, da Ásia e da América científico, permitindo sua sustentabilidade por
Latina. Os produtos cultivados são, entre outros, longo prazo.
o café, o cacau, a laranja, o chá, o amendoim, o Os países em desenvolvimento também
algodão, o tabaco, a cana-de-açúcar. apresentam espaços agrários onde predomina a
Nos tempos da colonização, esse tipo de atividade agrícola empresarial, com incorporação
atividade era praticado em latifúndios com de novas tecnologias.
Geografia 13
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

A agropecuária em países desenvolvidos No continente europeu, a agropecuária é


A agricultura e a pecuária, em países intensiva, altamente produtiva e submetida a
desenvolvidos, são praticadas de forma intensiva, grande protecionismo, por meio de uma Política
com técnicas modernas, grande produtividade e Agrícola Comum. Apresenta uma agricultura
baixa utilização de mão de obra. O espaço agrário
é organizado, o sistema de armazenagem e o temperada no Centro e Oeste com cultivos de trigo,
transporte dos produtos são eficientes. centeio, cevada, milho, beterraba e uma agricultura
A atividade agropecuária apresenta-se muito mediterrânea, com destaque para a produção de
eficiente, no entanto responde por pequenos vinhas, oliveiras e cítricos.
percentuais do PIB total desses países, nos quais os
governos colocam amplos subsídios agropecuários Agropecuária nos países em desenvolvimento e
para garantir a segurança alimentar e para dinamizar o
de menor desenvolvimento
setor secundário (que produz máquinas e insumos) e o
terciário (responsável pelo comércio interno e externo).
No caso dos Estados Unidos da América, verifica- No espaço agrário dos países em
se o zoneamento agropecuário caracterizando os desenvolvimento e dos de menor desenvolvimento,
belts ou cinturões: encontram-se variados tipos de produção
• dairy belt e green belt – com produção de leite e agropecuária e verificam-se contrastes marcantes em
hortifrutigranjeiros em pequenas propriedades situadas que se observam práticas agropecuárias tradicionais
no Sul dos Grandes Lagos e Nordeste do País;
ao lado de modernas.
• corn belt – cinturão do milho, cultivado em médias
propriedades nas planícies centrais, na região do Nos países emergentes, em geral, a agropecuária
alto curso do rio Mississipi; responde por amplas parcelas do PIB e a utilização
• wheat belt – cinturão do trigo, cultivado em de mão de obra no setor é restrita, devido à
médias propriedades: no Centro-Norte, fronteira modernização da atividade, que promoveu intenso
com o Canadá – trigo de primavera, no Centro-Sul êxodo rural. Desse modo, o setor terciário da
– trigo de inverno; economia apresentou características de hipertrofia,
• cotton belt – cinturão do algodão em médias
propriedade no Sudeste do País; isto é, passou a funcionar com grande contingente
• culturas tropicais, em médias propriedades de mão de obra e baixa capitalização.
situadas na Flórida e na orla do Golfo do México, Nos países de menor desenvolvimento, as
com destaque para o cultivo de laranja; práticas agropecuárias são tradicionais, de baixo
• ranching belt – pecuária extensiva em grandes rendimento e utilizam grande quantidade de mão
propriedades situadas nas terras semiáridas do de obra. O setor primário constitui a base da
Oeste do País;
economia nesses espaços, assim as plantations, que
• dry farming – culturas irrigadas na Costa Oeste.
são responsáveis pelo fornecimento de produtos
ESTADOS UNIDOS - PRINCIPAIS
Adaptado para o Acervo CNEC

para exportação, ocupam os melhores solos,


ÁREAS AGRÍCOLAS
especializam-se em alguns produtos e, em grande
CANADÁ parte, são responsáveis pela situação de fome e
trigo de
subnutrição que afeta as populações. Apesar de a
primavera agropecuária ser a base da economia, esses países
ESTADOS UNIDOS não são os maiores produtores de alimentos e
nem os maiores exportadores, ao contrário, são os
trigo de
outono/ que enfrentam maiores dificuldades econômicas
inverno
OCEANO
ATLÂNTICO
em função dos baixos rendimentos, devido à
OCEANO
MÉXICO ausência de técnicas modernas na atividade, à
0 690 1380
PACÍFICO
km excessiva concentração de terras, ao constante
Corn belt (cinturão do milho) esgotamento dos solos e à carência de investimentos
Wheat belt (cinturão do trigo)
Cotton belt (cinturão do algodão)
governamentais nas áreas de subsistência.
Culturas tropicais (cana-de-açúcar/laranja)
Dry farming (culturas irrigadas)
Green belt (cinturão verde) e dairy belt (cinturão de laticínios)
14 Geografia
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

1.4 O comércio mundial de Del Este, em 1986, e terminou em Marrequech


alimentos e o papel da OMC nos (Marrocos), em 1984, e tinha como objetivo integrar
setores, até então, excluídos das negociações
contenciosos agropecuários no âmbito do GATT, como o comércio de bens
agropecuários e têxteis. Porém, o maior resultado
Os países desenvolvidos procuram garantir a dessa rodada foi a criação da OMC (Organização
segurança alimentar dentro de seus territórios Mundial de Comércio) em 15 de abril de 1994. A
por meio de duas ações: a primeira refere-se à OMC iniciou suas atividades em janeiro de 1995 e,
manutenção da oferta interna de alimentos através desde então, tem, gradativamente, assumido maior
do aumento da produtividade e da eliminação importância no contexto internacional, dado sua
de doenças que atingem a agropecuária, as quais vocação universalista.
possam comprometer a saúde de suas populações; Foi durante a rodada do Uruguai que as
a segunda refere-se ao estabelecimento de políticas negociações agrícolas efetivamente iniciaram, pois,
agrícolas protecionistas, capazes de eliminar a até então, em todas as rodadas de negociações
concorrência de produtores externos. Assim, do GATT, marcadas pela liderança dos países
os países membros da OCDE (Organização e europeus e dos EUA, discutia-se o comércio de
Cooperação para o Desenvolvimento Econômico), bens industrializados, setor em que os países
apesar de terem reduzido os subsídios agropecuários, desenvolvidos são mais eficientes. Desse modo,
ainda aplicaram 258 bilhões de dólares no ano nas negociações do Uruguai, foi assinado o Acordo
de 2008 para ajudar seus produtores internos. sobre agricultura, com o objetivo de tornar o
Além dos subsídios agropecuários, que destinam comércio agrícola mais liberalizado. Este acordo
a seus produtores para que seus produtos sejam baseia-se em três pilares: acesso aos mercados, apoio
ofertados em menor preço no mercado interno e doméstico e subsídios à exportação.
elimine a concorrência dos produtos agropecuários O acesso aos mercados proíbe a implantação
importados, os países desenvolvidos ainda impõem de barreiras não tarifárias (BNTs), que podem
altas tarifas externas, que são denominadas barreiras ser zoossanitárias, fitossanitárias e sociais, em
tarifárias e não tarifárias. As últimas são colocadas que os países elevam as taxas de importação para
sob a alegação de que os produtos agropecuários commodities agropecuárias, com o intuito de
importados comprometem a segurança alimentar garantirem altos padrões de qualidade e de proteção
em seus territórios. Essas políticas distorcem o à saúde dos consumidores. Porém, na verdade, estão
mercado mundial de alimentos e comprometem protegendo seus produtores internos, pois tornam os
as negociações multilaterais, promovendo fracasso produtos importados mais caros. No caso de BNTs,
das rodadas de negociações, como aconteceu com a por questões sociais, os países desenvolvidos elevam
Rodada de Doha, no âmbito da OMC. as taxas de importação de produtos agropecuários
de países menos desenvolvidos, alegando que estes
usam trabalho escravo na produção, desrespeitando
Ampliando Horizontes os direitos humanos.
NEGOCIAÇÕES AGROPECUÁRIAS As barreiras não tarifárias, que existiam
MULTILATERAIS antes da assinatura do Acordo sobre Agricultura,
foram transformadas em tarifas. Depois de feita a
O Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) tarificação, essas tarifas deveriam ser diminuídas em
foi criado em 1947, e seu objetivo era promover o 36% para os países desenvolvidos, 24%, para os
desenvolvimento e o crescimento econômico mediante países em desenvolvimento, e nenhuma diminuição
a gradual liberalização do comércio e o estabelecimento para os países de menor desenvolvimento (LDCs –
de regras universais para a política comercial. Less Developed Countries).
Até meados da década de 1980, o GATT realizou Já o apoio doméstico ocorre quando o governo
sete rodadas de negociações, porém nenhuma delas de um determinado país paga aos agricultores para
incluiu temas relativos ao comércio de produtos produzirem, reduzindo os custos da produção,
agropecuários. Em 1986, o GATT iniciou a oitava diminuindo os preços dos produtos, gerando
rodada de negociações, que ficou conhecida como emprego e dinamizando a economia interna. Tal
Rodada do Uruguai. Tal rodada iniciou-se em Punta apoio, apesar de ser altamente positivo para o país
Geografia 15
Economia extrativa, a revolução agropecuária neolítica e a evolução da agropecuária ao longo do tempo

que o realiza, é comprovadamente negativo para os A agricultura passou a fazer parte do mandato
demais países, pois prejudica o comércio de bens de Doha e foi decidido que deveria haver redução
agropecuários. em tarifas, em subsídios à exportação e em apoio
O Acordo sobre Agricultura estabelece quatro doméstico. Foram estabelecidos prazos nas
categorias de apoio doméstico, classificadas em caixas:
negociações em Doha, de modo que, até março
• caixa amarela – composta por subsídios de 2003, cada país deveria enviar uma proposta
distorcivos ao comércio, isto é, os governos fazemà OMC, e as negociações em torno das mesmas
pagamentos aos produtores para que eles possam ocorreriam em Cancun.
reduzir os preços de seus produtos no mercado. Essas negociações ocorreram em 2003,
• caixa verde – composta por subsídios que não ocasião em que foi criado o G-20, grupo de vinte
causam distorções ao comércio, pois estes são dados
países em desenvolvimento liderados pelo Brasil,
para assistência em caso de catástrofes naturais, Índia e África do Sul, que montaram uma espécie
construção de infra-estrutura, controle de pestes e
de coalizão de veto para impedir que as negociações
de doenças e medidas de proteção ambiental. avancem, enquanto não fossem propostas medidas
• caixa azul – composta de subsídios que distorcemefetivas para liberalizar a agricultura, já que os
o comércio, porém desvinculada da quantidade EUA e a União Europeia, os maiores praticantes
produzida. de subsídios à agricultura, apresentaram propostas
• caixa S&D (tratamento especial e diferenciado) tímidas, isto é, que previam pouca liberalização.
— destinada para política de apoio doméstico O G-20 é um grupo forte nas negociações,
de países em desenvolvimento, são medidas de pois alguns países membros, como o Brasil, já
assistência governamental ao desenvolvimento do haviam conseguido vitória no órgão de solução
setor agrícola. de controvérsias em disputas agrícolas: venceu os
Existe, ainda, o limite de minimis, que permite
EUA, no contencioso sobre o algodão, e a União
qualquer tipo de subsídio, desde que ele não Europeia, no contencioso sobre o açúcar. Essas
ultrapasse 5% da produção total. vitórias pareciam demonstrar que os subsídios
Os subsídios à exportação são os pagamentos agrícolas distorciam, de fato, o comércio, e a OMC,
feitos pelo governo de um país aos agricultores que
ao dar ganho de causa ao Brasil nos contenciosos
produzem para o mercado externo. Os agricultores agrícolas, ratificava isso.
que recebem tais subsídios colocam os produtos no Desde o estabelecimento da OMC, as
mercado com preços mais baixos, o que prejudica conferências para negociações multilaterais
os produtores de outros países que não recebem têm ocorrido de dois em dois anos. Todas as
ajuda governamental. conferências ocorridas depois de 2001: Doha, em
O Acordo sobre Agricultura previu redução dos2001, Cancun, em 2003, Hong-Kong, em 2005
valores usados em cada caixa de apoio doméstico são consideradas partes da Rodada de Doha, em
de 20%, para os países desenvolvidos, e de 13%, todas elas, as negociações não avançaram, pois os
para os países em desenvolvimento, e também países desenvolvidos não aceitam retirar subsídios
redução dos subsídios à exportação em 36% para de modo a liberalizar efetivamente o comércio de
os países desenvolvidos e 24% para os países em bens agropecuários e exigem que os demais países
desenvolvimento. (em desenvolvimento e LDCs) façam liberalização
para o comércio de serviços. Desse modo, em julho
A Rodada de Doha de 2006, o secretário da OMC declarou que a
Rodada de Doha estava suspensa, já que os grupos
A Rodada de Doha iniciou-se em 2001 não conseguiram fazer um rascunho da declaração
em Qatar e ficou conhecida como rodada que atendesse os interesses de todos. Os grupos
do desenvolvimento, pois tem como objetivo que participaram da Rodada de Doha foram: U.E.,
criar mecanismos que ajudem os países menos EUA, G-10, G-20, Cairns, G-33 e LDCs.
desenvolvidos e em desenvolvimento a se
desenvolverem por meio do comércio internacional.
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