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CONTEÚDO
Ponto de Vista 4
Artigos Técnicos
Desafios no manejo da vassourinha-de-botão 5
em ambiente de Cerrado
Núbia Maria Correia
Divulgando a Pesquisa
Pantoea ananatis em Oryza sativa no Brasil 47
Laísa Maindra Lima Horn et al.
Painel Agronômico 48
Publicações Recentes 50
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS
PROTEÇÃO DE PLANTAS No 3 - Outubro 2023
EXPEDIENTE
Publicação trimestral gratuita da
NPCT – Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia
O jornal publica artigos técnico-científicos elaborados pela
comunidade científica nacional e internacional visando
o manejo responsável de insetos-praga, doenças,
nematoides e plantas daninhas.
COMISSÃO EDITORIAL
Editor
Claudinei Kappes
Editora Assistente
Silvia Regina Stipp
Gerente de Distribuição
Evandro Luis Lavorenti
ENDEREÇO
NOTA DOS EDITORES
As opiniões e as conclusões expressas pelos autores nos artigos não Rua Ataulfo Alves, 352, sala 1 - CEP 13424-370 - Piracicaba-SP, Brasil
refletem necessariamente as mesmas da comissão editorial deste jornal. Website: www.npct.com.br/IAProtecao
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS PROTEÇÃO DE PLANTAS No 3 – OUTUBRO 2023
3
PATROCINADORES
NOTA: Os interessados em patrocinar o Jornal Informações Agronômicas podem entrar em contato com
ELavorenti@npct.com.br ou LProchnow@npct.com.br
PONTO DE VISTA
E os Produtos Biológicos,
Vieram pra Ficar?
Claudinei Kappes
Sim! Logo, preciso dizer que os produtos biológicos Mas o que justifica tal aumento? Vou elencar três moti-
fazem parte da agricultura brasileira há muitos anos. Basta vos. Primeiro, por ser uma ferramenta auxiliar no manejo
questionar, por exemplo: qual produtor de soja nunca ino- integrado de nematoides, pragas e doenças. Segundo, pelo
culou as suas sementes com Bradyrhizobium spp.? “Que anseio e necessidade que o produtor tem de reduzir os
atire a primeira pedra”. Uma prática antiga, consolidada e custos de produção. E, por último, a busca por sistemas de
indispensável para fornecer o nitrogênio que esta leguminosa produção equilibrados a longo prazo. Afinal, a sociedade
necessita através da simbiose. mundial implora e pressiona por uma agricultura cada vez
O “mundo dos biológicos” não parou por aí. Arrisco-me mais sustentável. E como todos sabem – ao menos as pessoas
a dizer que está apenas começando. Após vários anos de ligadas ao agronegócio –, o agro do Brasil está na “mira” e
pesquisas, estamos presenciando a oferta de outros tipos de na “lupa” de vários países, sobretudo dos europeus.
inoculantes no mercado, como os solubilizadores de fósforo Nossa agricultura é tropical, intensificada e pouco
e potássio. Não posso me esquecer do Azospirillum spp., diversificada. São aspectos que levam ao surgimento de
cujo uso está consolidado em gramíneas, principalmente problemas fitossanitários em um curto período de tempo.
no milho, como promotor de crescimento, e ganha força na Isso quando não promovem o surgimento de alvos secun-
coinoculação em soja. Em alguns países, estes inoculantes dários de pragas ou doenças. Esse dinamismo faz com que
são chamados de bioinsumos, enquanto no Brasil são deno- as empresas público-privadas direcionem seus esforços,
minados de microrganismos promotores de crescimento de investimentos, pesquisas e ofertas de produtos em nosso
plantas. país, pois é um mercado significativo.
O fato é que há outra fatia importante dos agentes Por outro lado, muito se tem indagado quanto à efi-
biológicos na agricultura brasileira, representada pelos bio- cácia dos biodefensivos a campo. Cabe a nós, profissionais
defensivos, em sua maioria à base de bactérias e fungos. E da agricultura, realizar os devidos estudos, configurar con-
aqui estou me referindo aos bionematicidas, bioinseticidas clusões e sugerir recomendações para uma correta adoção
e biofungicidas. Neste segmento, houve aumento expressivo dos produtos pelos agricultores. E quanto à permanência
no lançamento de produtos comerciais e na sua adoção a destes no mercado, a exemplo dos inoculantes, dependerá
campo nos últimos anos, para as mais variadas culturas e de vários fatores, mas especialmente de seu desempenho e
pragas/doenças-alvos. eficiência no manejo fitossanitário das culturas.
INFORMAÇÕES
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS
AGRONÔMICAS PROTEÇÃO
PROTEÇÃO DE
DE PLANTAS
PLANTAS N
No 3
o
3–
– OUTUBRO
OUTUBRO 2023
2023
5
ARTIGO TÉCNICO 1
Desafios no Manejo da
Vassourinha-de-Botão em
Ambiente de Cerrado
Núbia Maria Correia1
Abreviações: DAA = dias após a aplicação; DAPA = dias após a primeira aplicação; MATOPIBA = Maranhão, Tocantins, Piauí e
Bahia; PPO = enzima protoporfirinogen oxidase.
1
Engenheira Agrônoma, Pesquisadora da Embrapa Cerrados, Planaltina, DF; e-mail: nubia.correia@embrapa.br
soja, na condição de safrinha (outono-inverno), a redução sementes coletadas em áreas agrícolas, identificaram quatro
da produtividade de grãos foi de 9,4% a 74,9%, em função espécies de vassourinha-de-botão, dos gêneros Borreria e
do aumento da densidade de plantas de vassourinha na área Mitracarpus, que serão apresentadas a seguir. O estudo con-
(CAMPOS, 2022). tou com a colaboração de dois taxonomistas especialistas2
A grande dificuldade no manejo dessa planta inicia-se na no gênero Borreria e na tribo Spermacoceae, e os resultados
sua identificação a campo, pois as espécies de vassourinha- foram apresentados no XXXII Congresso Brasileiro da Ciência
de-botão são parecidas morfologicamente, o que gera das Plantas Daninhas (PEDROSO et al., 2022).
confusão. As espécies pertencem aos gêneros Borreria e Entre as espécies de vassourinha-de-botão identificadas
Mitracarpus, que fazem parte da família Rubiaceae, tribo está a Borreria spinosa, também conhecida como Borreria
Spermacoceae. São espécies nativas do Brasil, mas algumas densiflora. É uma planta herbácea ou subarbustiva, ereta,
também ocorrem em outros países da América do Sul. com 10 a 100 cm de altura; possui ramos tetrágonos, glabros
O gênero Borreria, também conhecido como Sperma- ou pubescentes; folhas pseudoverticiladas pela presença de
coce, é outro ponto de conflito, pois para alguns autores braquiblastos; as inflorescências são terminais e axilares,
não há distinção entre os gêneros, e eles podem ser consi- bilaterais, com 1 a 5 glomérulos por ramo (NEPOMUCENO
derados sinônimos (LORENZI, 2008; KISSMANN; GROTH, et al., 2018), com produção média de 93 mil sementes por
2000). Por outro lado, existem aqueles que reconhecem a planta, que são fotoblásticas positivas (MARTINS, 2008)
diferenciação entre os gêneros, e as espécies que ocorrem (Figura 1). Trata-se de uma espécie perene e pode formar
no Brasil estão agrupadas no gênero Borreria (ZAPPI et al., rizomas (LUNA; DRUETTA, 2018).
2017; NEPOMUCENO et al., 2018; LIMA et al., 2020). Neste No período de 2021 a 2023, várias regiões agrícolas
artigo, optou-se por considerar os gêneros distintos, exceto foram visitadas3 no Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato
nas citações, nas quais se manteve a identificação utilizada Grosso, Minas Gerais e Piauí. Na maioria delas, B. spinosa foi
no trabalho original. a espécie de vassourinha-de-botão mais comumente encon-
As espécies Borreria spinosa, Borreria verticillata, trada nas áreas, com infestações variando de baixa a alta,
Borreria remota e Mitracarpus hirtus já foram identificadas em alguns casos em situações bem complicadas. Contudo,
apesar de B. spinosa ser a espécie mais comum nas áreas
nas áreas agrícolas do Brasil. Todavia, no campo, todas as plan-
agrícolas do Cerrado, esta é constantemente denominada de
tas de vassourinha-de-botão são tratadas e denominadas de
Borreria verticillata ou Spermacoce verticillata.
B. verticillata, o que remete ao erro, pois são espécies dife-
rentes, que podem ter respostas diferentes aos herbicidas, B. spinosa distingue-se de B. verticillata pelos glomérulos
somadas à sua interação com o ambiente. Até mesmo em hemisféricos (vs. glomérulos globosos) e flores com lobos do
trabalhos científicos alguns autores citam apenas o gênero cálice linear-triangulares (vs. flores com lobos do cálice linear-
da planta, por não terem certeza da espécie que está sendo espatulados) (NEPOMUCENO et al., 2018). B. verticillata é
estudada (ANDRADE JR., 2020; OLIVEIRA, 2021). Além uma planta perene, reproduzida por sementes, herbácea
disso, muitos profissionais de campo (técnicos agrícolas ou subarbustiva, semiprostrada a ereta, com 30 a 100 cm
e agrônomos) confundem a vassourinha-de-botão com de altura; possui ramos cilíndricos, glabros; folhas pseudo-
outras espécies, como Spermacoce latifolia (erva-quente) e verticiladas pela presença de braquiblastos muito desenvol-
Richardia brasiliensis (poaia-branca) que, embora sejam da vidos, sésseis a pseudopecioladas; inflorescências globosas,
mesma família, apresentam características morfológicas e muito compactadas, ocorrendo no ápice dos ramos, com
fisiológicas diferentes. 1 a 3 glomérulos por ramo e sementes fotoblásticas neutras
(KISSMANN; GROTH, 2000; LORENZI, 2008; NEPOMUCENO
Portanto, é importante identificar corretamente a
et al., 2018). Detalhes das plantas de B. verticillata podem
espécie que infesta uma área ou região para que se possa
ser observados na Figura 2, além da sua infestação na cultura
determinar o seu nível de tolerância aos herbicidas e esta-
da soja em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia.
belecer recomendações de manejo mais assertivas e menos
genéricas. Nesse artigo são apresentadas informações sobre Já Mitracarpus hirtus é uma planta anual reproduzida
as principais espécies de vassourinha-de-botão identificadas por sementes, herbácea, ereta, com até 50 cm de altura,
nas áreas agrícolas do Brasil, além das percepções sobre a
ecofisiologia e o manejo dessas plantas, com o objetivo de 2
ra. Layla Mabel Miguel, Universidad Nacional del Nordeste,
D
auxiliar o setor produtivo na definição do melhor programa Corrientes, Argentina; Me. Álvaro Nepomuceno, doutorando do
de manejo para desinfestação das áreas. Programa de Pós-Graduação em Botânica da Universidade Esta-
dual de Feira de Santana, Feira de Santana, BA, Brasil.
2. PRINCIPAIS ESPÉCIES DE 3
s visitas foram realizadas pela autora, com a colaboração de
A
VASSOURINHA-DE-BOTÃO
agrônomos da região, e fazem parte do projeto “Vassourinha-
Pedroso et al. (2022), a partir da análise de plantas de-botão: mapeamento e manejo da planta daninha nas regiões
de quatro acessos de vassourinha-de-botão, oriundas de agrícolas do Cerrado”.
A B
Figura 1. Plantas de Borreria spinosa: detalhes dos caules, folhas e inflorescências. Infestação de Borreria spinosa na cultura da soja,
antes (A) e após a colheita (B), em áreas agrícolas de Planaltina, DF, e Pirenópolis, GO, respectivamente.
ramificada, com caule tetragônico, pilosidade nos ângulos e regiões, M. hirtus é conhecida como erva-quente, gerando
inflorescências terminais e verticilares (KISSMANN; GROTH, mais uma vez dúvidas e conflitos de informações, pois erva-
2000; LORENZI, 2008). quente é outra espécie, de outro gênero botânico, Sper-
B. remota é planta anual, herbácea, apresenta cresci- macoce latifolia, ou, segundo os taxonomistas especialistas,
mento prostrado, com muita ramificação, caule e ramos arro- Borreria latifolia. As plantas de M. hirtus e de B. remota estão
xeados, folhas com nervuras evidentes e glomérulo terminal. apresentadas nas Figuras 3 e 4, respectivamente.
Até o ano de 2023, B. remota foi encontrada apenas
3. CONHECENDO A VASSOURINHA-DE-BOTÃO
em uma área agrícola do estado de São Paulo, enquanto
M. hirtus foi identificada em várias áreas agrícolas, especial- Em algumas áreas agrícolas ocorre a infestação mista de
mente em infestações mistas com B. spinosa. Em algumas B. spinosa e M. hirtus, ou seja, a ocorrência das duas espécies
A B
Figura 2. Plantas de Borreria verticillata: detalhes dos caules, folhas e inflorescências. Infestação de Borreria verticillata na cultura da
soja (A, B), em uma área agrícola de Luís Eduardo Magalhães, BA.
no mesmo local. Ambas apresentam certa semelhança M. hirtus também é tolerante ao herbicida glyphosate,
morfológica, mas diferem substancialmente em outras como foi constatado no estudo desenvolvido em condições
características, inclusive no ciclo biológico, pois B. spinosa de campo na estação experimental da Embrapa Cerrados,
é planta perene e M. hirtus anual. Essas infestações mistas em Planaltina, DF, onde plantas adultas de M. hirtus, pul-
podem causar equívocos, principalmente em relação à verizadas com dosagens crescentes de glyphosate (0; 0,24;
aplicação de herbicidas e à resposta das plantas ao pro- 0,48; 0,96; 1,44; 1,92 e 2,40 kg ha-1 de equivalente ácido),
duto, pois é possível encontrar plantas mortas ao lado de não foram totalmente controladas pelo herbicida (Figura 6).
outras que não manifestaram sintomas de fitointoxicação Com base no modelo, para a obtenção de 100% de mortali-
(Figura 5). Esse fato pode remeter ao erro, por se pensar dade das plantas seria necessária a aplicação de 3,4 kg ha-1
que se trata de seleção de biótipos resistentes, quando, de equivalente ácido de glyphosate, o que é inviável, tanto
na realidade, é a resposta de duas espécies diferentes no aspecto econômico quanto ambiental. Isso indica que
ao herbicida. as plantas adultas dessa espécie não são controladas pelo
Figura 3. Plantas de Mitracarpus hirtus: detalhes dos ramos, folhas e inflorescências em áreas agrícolas de Planaltina, DF.
herbicida, exigindo a adoção de outras estratégias quími- do Cerrado, com secamento da parte aérea. As plantas de
cas de manejo, seja a aplicação do herbicida em plantas M. hirtus realmente morreram, ao contrário das de B. spinosa,
mais novas, seja o uso de outros herbicidas combinados ao que secaram as folhas e os ramos, mas as raízes e o caule con-
glyphosate (em aplicação sequencial) ou mistura em tanque. tinuam vivos. No retorno das chuvas, nos meses de setembro/
outubro, a umidade favorecerá a rebrota das plantas. Trata-se
Outra característica dessas espécies é que ambas de uma estratégia de sobrevivência das plantas no período seco,
encerram o ciclo reprodutivo com a produção de sementes garantindo a perpetuação da espécie na área com o novo ciclo
e liberação ao solo nos meses de maio a junho, na região vegetativo/reprodutivo no ano agrícola seguinte. Na Figura 7
A B C
Figura 5. Infestação mista de Borreria spinosa (→) e Mitracarpus hirtus (→) (A), mostrando reação diferencial ao herbicida: plantas
mortas de M. hirtus ao lado de plantas verdes de B. spinosa (B, C).
Figura 6. Controle (%) de plantas adultas de Mitracarpus hirtus aos 10 e 45 dias após a aplicação
(DAA) de diferentes doses de glyphosate, em condições de campo. Planaltina, DF, ano
agrícola 2022/2023.
podem ser observadas plantas de B. spinosa aparentemente As espécies perenes, seja B. spinosa, seja B. verti-
mortas, mas com o caule e algumas folhas ainda verdes, cillata, também rebrotam após o corte da parte aérea.
indicando a sobrevivência delas. Os registros fotográficos Esse corte, na maioria das vezes, é feito no momento
foram feitos no mês de junho, em áreas que não receberam da colheita mecanizada dos grãos da cultura, cuja altura
herbicidas ou algum manejo mecânico das plantas. seguirá a altura de trabalho da plataforma da colhedora.
M. hirtus, embora seja uma planta anual e herbácea, No caso da cultura da soja, como o corte é mais baixo,
não é controlada com roçadora ou qualquer outro equipa- dependendo da densidade de plantas de vassourinha-
mento que promova o corte da parte aérea, similar ao que de-botão, estas poderão interferir na colheita dos grãos.
acontece com plantas de buva (Conyza spp.). Após o corte Da mesma forma, a aplicação de herbicidas dessecantes,
da parte aérea, as plantas rebrotam e o controle químico como diquat ou amônio-glufosinato, para uniformizar
torna-se mais difícil (Figura 8). a colheita e dessecar as plantas daninhas do local, não
Figura 7. Plantas aparentemente mortas de Borreria spinosa, mas como o caule parcialmente verde e com algumas folhas verdes.
A B
Figura 8. Plantas de Mitracarpus hirtus após o corte da parte aérea com roçadora: em pleno crescimento vegetativo (A) e no floresci-
mento (B).
A B C
Figura 9. Plantas de Borreria spinosa com sintomas de intoxicação causados pela mistura dos herbicidas cloransulam e glyphosate,
variando de mais severos (A) a pouco ou sem efeito (B, C) na mesma área.
As espécies perenes de vassourinha-de-botão, B. spinosa necessárias outras estratégias, como a aplicação de her-
e B. verticillata, são mais agressivas e de maior dificuldade de bicidas mais efetivos na safra agrícola (primavera-verão)
controle que as outras, devido ao armazenamento de reser- e o uso de cultivares de maior potencial competitivo. O
vas na base do caule e raízes (Figura 10), o que permite a sua controle químico na safra deverá ser feito com combinações
sobrevivência mesmo em condições adversas do ambiente, de herbicidas com eficácia comprovada, quando inseridos
como a seca. A função do manejo na entressafra será de em um programa de manejo.
inibir o desenvolvimento das plantas, principalmente em Como as plantas apresentam tolerância ao herbicida
relação ao crescimento de raízes e ao armazenamento de glyphosate, outros deverão fazer parte do sistema de produ-
reservas. Portanto, trata-se de um manejo complementar, ção, sobretudo os herbicidas residuais, com ação no banco
que não será responsável pela mortalidade das plantas. Para de sementes do solo. Considerando-se que uma única planta
a mortalidade das plantas de vassourinha-de-botão serão de B. spinosa pode produzir até 93 mil sementes (MARTINS,
A B
C D
Figura 10. Plantas de Borreria spinosa: base do caule e raízes de planta rebrotada (A) e caule lignificado de plantas adultas (C).
Plantas de Borreria verticillata: caule lignificado de plantas adultas (B) e rebrota de plantas na cultura da soja (D).
2008), negligenciar as sementes que estão compondo o de-botão, inibem o desenvolvimento das plantas, afetando
banco de sementes do solo é um grande erro. Por isso, é o crescimento e a produção de sementes na entressafra.
importante evitar a introdução de novos frutos ou semen- Herbicidas à base de atrazine mais mesotrione, pulverizados
tes no banco de sementes do solo. A dinâmica do banco de em pós-emergência, e de isoxaflutole mais thiencarbazone
sementes de plantas daninhas do solo está apresentada na methyl, aplicados na pré-emergência, são efetivos na inibi-
Figura 11. ção do crescimento da vassourinha-de-botão na cultura do
milho, beneficiando o manejo de B. spinosa no sistema de
produção com a soja em sucessão. O consórcio de milho
com braquiária ruziziensis (Urochloa ruziziensis) é ainda mais
efetivo por causa da cobertura verde formada pela braquiária
após a colheita do milho. O manejo cultural e/ou químico na
entressafra também é importante para reduzir a adição de
novas sementes de vassourinha-de-botão ao solo, impedindo
o aumento do banco de sementes, que é mais intenso, nas
áreas sem nenhuma estratégia de manejo nessa época.
Na Figura 12 é apresentado o desenvolvimento de bra-
quiária ruziziensis e o seu efeito no manejo da vassourinha
de-botão no outono-inverno, evidenciando que uma boa
cobertura do solo na entressafra é uma excelente estratégia
no manejo dessa planta daninha. Além disso, é apresentado o
Figura 11. D
inâmica do banco de sementes de plantas daninhas resultado do manejo na entressafra com o uso de grade para
do solo. a eliminação de plantas adultas de vassourinha-de-botão.
Fonte: Carmona (1992).
O manejo mecânico, com subsolador ou grade, após a
colheita da cultura de verão pode ter certa efetividade no
O manejo na entressafra, tanto químico quanto cultural, manejo das plantas adultas das espécies perenes de vassou-
ou a associação dos dois, é importante no manejo integrado da rinha-de-botão. Contudo, deve ser cuidadoso com o revolvi-
vassourinha-de-botão. O manejo cultural se refere ao cultivo mento e o corte de todos os resíduos vegetais da parte aérea
de culturas forrageiras, adubos verdes ou à produção de grãos, e raiz, que poderão rebrotar no início das chuvas. Somado
como milho, girassol, sorgo etc. Os herbicidas usados nas cul- a isto, se não for associado ao uso de herbicidas residuais
turas para o controle das plantas daninhas também agregam na safra seguinte, haverá reinfestação da planta daninha na
vantagens, pois, apesar de não controlarem a vassourinha- área e, novamente, a ocorrência de plantas adultas.
A B C
Figura 12. C
obertura verde do solo com Urochloa ruziziensis e os seus benefícios no manejo de vassourinha-de-botão (A), comparada
à área sem nenhum manejo na entressafra (pousio) (B) e ao manejo mecânico com grade (C).
Experimentos realizados em área de produção comer- que poderá ser suprimido pelas plantas de vassourinha-de-
cial de grãos4, em Planaltina, DF, na entressafra de 2023, botão (Figura 14). No momento da colheita da soja, a parte
demonstraram que a aplicação de herbicidas logo após a aérea da vassourinha-de-botão é cortada. Logo, as plantas da
colheita da soja, antes da rebrota das plantas de B. spinosa, área são oriundas, principalmente, de rebrota e já possuem
foi mais eficaz na inibição do crescimento das plantas do um sistema radicular formado. Esse fato favorece o cresci-
que quando aplicado nas plantas rebrotadas, depois de 15 a mento das plantas, que é mais rápido do que o crescimento
20 dias da colheita. As plantas sensibilizadas pelo corte da inicial das gramíneas, originárias de sementes. Por isso,
parte aérea foram mais afetadas pelos herbicidas testados mesmo não sendo eficazes no controle (na mortalidade) da
do que as plantas com brotação nova. É uma informação vassourinha-de-botão, é importante avaliar a necessidade
relevante, seja para uso apenas do herbicida na entressafra, da aplicação de herbicidas seletivos para as espécies de
seja para a sua associação à alguma cultura para produção de gramíneas, como atrazine, 2,4-D ou metsulfuron-methyl,
grãos ou cobertura do solo, que pode ter o manejo iniciado para inibir o desenvolvimento da vassourinha-de-botão, sem
antes ou logo após a sua semeadura. afetar o crescimento das gramíneas, para, posteriormente,
O efeito do controle do milho mais o do herbicida na ter a competição desejada das gramíneas com as plantas
inibição de B. spinosa pode ser observado na Figura 13, que de B. spinosa.
mostra o desenvolvimento da planta daninha dentro e fora
da plantação, mas que também foi tratada com o herbicida.
5.2. Manejo na safra agrícola
A planta de B. spinosa está mais debilitada, estiolada e com (primavera-verão)
menor potencial de produção de sementes, comparada O programa de desinfestação da área foi iniciado
à planta do ambiente externo, que não conviveu com as na entressafra e progredirá para a safra agrícola, que é o
plantas de milho. manejo na primavera-verão. Se alguma estratégia foi ado-
O uso de gramíneas forrageiras, tais como braquiária, tada no outono-inverno, agora será feita a complementação
colonião, milheto forrageiro e sorgo forrageiro, na entressa- do manejo para a sua efetividade, que é promover a redu-
fra, instaladas na área após a colheita da soja ou na sobres- ção na densidade populacional de vassourinha-de-botão
semeadura da cultura, também inibem o desenvolvimento da área. Na safra agrícola também deverão ser adotadas
da vassourinha-de-botão. Porém, dependendo da época e medidas culturais relacionadas ao melhor estabelecimento
da forma de semeadura (a lanço ou em linha), a forrageira e desenvolvimento da cultura, iniciando com a escolha de
poderá demorar para emergir e iniciar o seu crescimento, sementes de alta qualidade e vigor e o uso de herbicidas
mais eficazes para vassourinha-de-botão, aplicados na
época certa, de melhor resposta da planta daninha. Em
resumo, deve-se beneficiar a cultura e ter assertividade
4
Dados não publicados. no controle químico.
A B C
Figura 13. C
ultura do milho e seus efeitos nas plantas de Borreria spinosa (A, B), em comparação com plantas de vassourinha-de-botão
no ambiente externo (C), sem a competição das plantas de milho.
A B
Figura 14. Competição da rebrota de Borreria spinosa no crescimento inicial de milheto forrageiro (A) e de sorgo granífero (B),
semeados após a colheita da soja.
O outono-inverno na região do Cerrado é seco, e é presentes no local, deve ser complementada com outra
quando as plantas de vassourinha-de-botão se encontram aplicação, sequencial, mesmo que seja realizada a mistura
secas, com baixa atividade metabólica. As plantas estão de dois ou três herbicidas inibidores da PPO. Não se trata
estressadas, perenizadas e com sistema radicular profundo. A apenas da quantidade de produtos, mas da época da aplica-
aplicação de herbicidas logo no início do período chuvoso não ção. Semelhante ao que foi feito no experimento realizado
será efetiva, não apenas pela tolerância natural das plantas, na Embrapa Cerrados, no ano agrícola 2022/2023, para o
mas porque elas não estão em condições fisiológicas para controle de plantas adultas de B. spinosa (Tabela 1). Nesse
absorver e translocar os herbicidas de forma adequada. Esse estudo, independentemente dos herbicidas pulverizados na
efeito é prejudicial, especialmente para os herbicidas sistê- primeira aplicação, todos necessitaram de uma segunda apli-
micos móveis pelo floema, como o glyphosate, chlorimuron, cação, realizada na semeadura da soja, para obter um nível
imazethapyr, entre outros. Na Figura 15 tem-se exemplos de de controle próximo de 90% na pré-colheita dos grãos, sem
plantas secas no outono-inverno (A) e de plantas com ativi-
interferência das plantas daninhas na colheita mecanizada e
dade metabólica aparentemente satisfatória para receber
na produtividade de grãos. A segunda aplicação foi realizada
a aplicação de herbicidas (B), pela rebrota das plantas, com
oito dias após a primeira aplicação.
superfície foliar suficiente para absorção e translocação dos
herbicidas. Essa condição é adequada para otimizar a resposta A seguir, são apresentadas algumas sugestões de manejo
dos herbicidas pulverizados na pré-semeadura da cultura de na pré-semeadura da soja, considerando o herbicida glypho-
verão. sate para o controle das outras espécies de plantas daninhas,
Herbicidas inibidores da enzima protoporfirinogen combinado a herbicidas parceiros, em duas aplicações. Na
oxidase (PPO), como flumioxazin, do grupo químico ftali- primeira, pode ser usado como parceiro do glyphosate um
mida, carfentrazone ethyl, do grupo químico triazolinona, herbicida inibidor de PPO (como carfentrazone, flumioxazin,
e saflufenacil e tiafenacil, ambos do grupo químico uracila, saflufenacil ou tiafenacil) ou um mimetizador de auxina (tri-
são moléculas importantes para compor a recomendação de clopyr ou halauxifen), respeitando-se o intervalo de semea-
manejo químico da vassourinha-de-botão na pré-semeadura dura para cada um deles. Antes ou logo após a semeadura da
da soja. A aplicação desses herbicidas, associada ao glypho- soja, faz-se a segunda aplicação, preferencialmente com her-
sate, que permanece no sistema devido às outras espécies bicidas de ação de contato mais um herbicida residual (como
A B C
Figura 15. Plantas secas, com baixa atividade metabólica na entressafra (outono-inverno) (A, B) e plantas rebrotadas, retomando o cres-
cimento (C), com superfície foliar suficiente para adequada absorção e translocação dos herbicidas, no caso dos sistêmicos.
Crédito das fotos: Diego Motta.
Tabela 1. Controle (%) de vassourinha-de-botão (Borreria spinosa) aos 60 dias após a primeira aplicação (DAPA) de herbicidas na cultura da
soja e na pré-colheita dos grãos, no ano agrícola 2022/2023, na estação experimental da Embrapa Cerrados, em Planaltina, DF.
Resultados do teste F
Fontes de variação
60 DAPA Pré-colheita
1a aplicação 5,53* 3,23 ns
2a aplicação 4,27* 4,07*
1a aplicação x 2a aplicação 1,63 1,21
Bloco 2,44 0,92
CV1 (%) 4,08 9,30
CV2 (%) 6,17 12,64
1a aplicação Controle (%)
Glyphosate + carfentrazone 87,08 b 87,92
Glyphosate + saflufenacil 86,67 b 85,00
Glyphosate + carfentrazone + saflufenacil 86,67 b 81,46
Glyphosate + (halauxifen + diclosulam) 91,67 a 91,25
DMS (5%) 4,58 10,25
2 aplicação
a
Figura 16. Controle (%) de Borreria spinosa por herbicidas pulverizados em pré-emergência na cultura da soja, aos 45 dias após a
aplicação. Planaltina, DF, ano agrícola 2021/2022.
Dosagens: s-metolachlor (1.440 g ha-1); s-metolachlor + fomesafen (1.035,7 + 227,8 g ha-1); s-metolachlor + metribuzin (942,8 +
223,5 g ha-1); flumioxazin (60 g ha-1); flumioxazin + imazethapyr (50 + 100 g ha-1); flumioxazin + pyroxasulfone (80 + 120 g ha-1);
sulfentrazone + diuron (210 + 420 g ha-1); diclosulam (29,4 g ha-1). Infestação na testemunha sem herbicida: 39 plantas m-2.
Letras semelhantes não diferem significativamente pelo teste de Skott-Knott a 5% de probabilidade.
ARTIGO TÉCNICO 2
Bacillus amyloliquefaciens no Controle
Biológico de Nematoides em Soja e Milho
Carlos Guarnieri1, Orlando Garcia2
Abreviações: ACC = ácido 1-aminociclopropano-1-carboxílico; AG = giberelina; AIA = ácido indol-3-acético; AJ = ácido jasmônico,
AS = ácido salicílico; DAE = dias após a emergência.
1
Engenheiro Agrônomo, Msc, Pesquisador em Nematologia, Corteva Agriscience; e-mail: carlos.guarnieri@corteva.com
2
E ngenheiro Agrônomo, Lider de Projetos em Tratamento de Sementes na America Latina, Corteva Agriscience; e-mail:
orlando.garcia@corteva.com
Horas de cultivo
Figura 4. Ação de metabólitos em juvenis de Meloidogyne incognita após 10 dias de contato com: A) meio de cultura (Testemunha);
B) Extrato com metabólitos totais; C) Extrato com metabólitos secundários.
Crédito das fotos: Thalita Monteiro.
Figura 5. Porcentagem de mortalidade de nematoides Pratylenchus brachyurus, Meloidogyne incognita e Heterodera glycines após o
contato com os metabólitos produzidos por Bacillus amyloliquefaciens. A letra minúscula se refere à análise com P. brachyurus,
a letra maiúscula com M. incognita e a letra minúscula seguida de * com H. glycines.
Figura 7. Número de Pratylenchus brachyurus por grama de raiz de milho aos 70 dias após a semeadura com sementes tratadas com
diferentes doses de Bacillus amyloliquefaciens cepa PTA-4838. Letras diferentes indicam diferença significativa entre os tra-
tamentos, de acordo com o teste de Tukey a 5% de probabilidade. Médias de seis ensaios.
3.000 10,2
b
10,0
Produtividade (t ha-1)
2.500 9,8
Contagem de nematoides
9,6 a
2.000
por grama de raiz
9,4
1.500 9,2
9,0
1.000 8,8
Tabela 2. Produtividade média de soja obtida em diferentes trata- as raízes estavam mais claras e com menos lesões. As lesões
mentos de sementes com nematicidas. Letras diferentes necrosam as radicelas e afetam a absorção de água e nutrien-
indicam diferença significativa para o teste de Tukey tes pelas plantas.
(α = 0,05).
Outro ensaio foi conduzido com a cultura da soja em
Produtividade de soja área contendo quatro espécies diferentes de nematoides –
Tratamentos Meloidogyne incognita, M. javanica, Heterodera glycines e
(kg ha-1) Incremento (%) Pratylenchus brachyurus –, na região de Guaíra, SP. Neste,
observou-se uma redução do ataque de todos os nema-
T1 - Testemunha 920 a -
toides nas raízes das plantas tratadas, principalmente aos
T2 - Bacillus amyloliquefaciens 1.610 ab 76,2 44 dias após a emergência, quando houve redução de 65%
T3 - Nematicida 1 970 a 5,5 neste parâmetro (Figura 11). Após a colheita desta soja,
T4 - Nematicida 2 2.630 b 187,7 observou-se incremento de produtividade de 10 sc ha-1
em relação à testemunha, atingindo 72 sc ha-1. A diferença
T5 - Nematicida 3 1.710 ab 86,3
entre os tratamentos foi observada mesmo antes da soja
CV (%) 24,2 completar o seu ciclo, mostrando que as plantas nas parce-
las tratadas com B. amyloliquefaciens estavam mais altas e
CV = coeficiente de variação. uniformes (Figura 12).
Figura 10. R
aízes de soja atacadas por Pratylenchus brachyurus: A) semente tratada com Bacillus amyloliquefaciens; B) semente sem
tratamento (testemunha).
Crédito das fotos: Andressa Machado.
Figura 11. Número total de Meloidogyne incognita, M. javanica, Heterodera glycines e Pratylenchus brachyurus nas raízes de soja aos
44 e 78 dias após a emergência (DAE). Letras diferentes indicam diferença significativa entre os tratamentos, de acordo com
o teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Testemunha Bacillus
amyloliquefaciens
+ 10,4 sc ha-1
Figura 12. Soja tratada com Bacillus amyloliquefaciens, aos 75 dias após a emergência, comparada à testemunha.
Crédito da foto: Pedro Soares.
ARTIGO TÉCNICO 3
Uso de Fungos Entomopatogênicos no
Manejo de Pragas na Agricultura –
Você Sabe que Fungo e que Dose Aplicar?
Marcos Roberto Conceschi1, Álefe Vitorino Borges2, Juscelio Ramos de Souza3, Bruno Neves Ribeiro4
1
Engenheiro Agrônomo, Dr., Essere Group, Olímpia, SP; e-mail: marcos.conceschi@essere.group
2
Engenheiro Agrônomo, Dr., Essere Group, São José do Rio Preto, SP; e-mail: alefe.borges@essere.group
3
Engenheiro Agrônomo, Dr., Essere Group, Olímpia, SP; e-mail: juscelio.souza@essere.group
4
Engenheiro Agrônomo, Dr., Essere Group, São José do Rio Preto, SP; e-mail: bruno.neves@essere.group
determinadas situações de condições ambientais, favoreci- • Contato: Os propágulos infectivos dos fungos (coní-
das especialmente pela maior umidade relativa. dios ou blastosporos) entram em contato com o inseto ou o
• Cordyceps: gênero da família Cordycipitaceae, com ácaro e aderem à sua superfície cuticular;
diversas espécies estudadas para o controle de pragas na • Germinação: Os propágulos germinam, produzem
agricultura. O gênero Cordyceps é famoso por sua relação uma estrutura de penetração (algumas espécies formam
parasítica sobre uma grande diversidade de espécies de apressório) que, associada às enzimas produzidas pelo
insetos e ácaros-pragas. Beauveria bassiana é a espécie mais microrganismo, auxilia na penetração mecânica das suas
conhecida nesse gênero (sim, Beauveria bassiana = Cordy- hifas para o interior do corpo da praga;
ceps bassiana, são sinônimos) e é amplamente utilizada • Penetração: O fungo invade o corpo do hospedeiro,
devido à sua capacidade de infectar uma ampla gama de passa a crescer internamente e produzir toxinas que retar-
ordens de insetos e ácaros-pragas, dentre elas: Coleoptera dam as atividades fisiológicas e comportamentais do hos-
(besouros), Hemiptera (pulgões, moscas brancas, psilídeos pedeiro;
e percevejos), Lepidoptera (lagartas), Thysanoptera (tripes)
• Colonização: O fungo se multiplica no interior do
e Acari (ácaros tetraniquídeos). Outras espécies de fungos
hospedeiro, consumindo seus nutrientes e destruindo os
entomopatogênicos nesse gênero são cada vez mais estu-
órgãos vitais;
dadas e adotadas, como a espécie Cordyceps fumosorosea,
que é o nome correto e usual para as já conhecidas espécies • Morte e esporulação: Com o hospedeiro morto, o
Isaria fumosorosea e Paecilomyces fumosoroseus (também fungo emerge de seu corpo na forma de estruturas espo-
são sinônimos), e Cordyceps javanica (anteriormente Isaria ruladas (conidióforos com conídios aéreos), à medida que
javanica), espécie mais recente em registros de produtos as condições ambientais são favoráveis (alta umidade e
no Brasil. temperaturas entre 25 °C e 30 °C). A partir daí, os conídios
podem ser dispersados pelo vento e chuva e infectar outros
• Hirsutella: é um gênero pertencente à família Ophio-
insetos ou ácaros.
cordycipitaceae, fungo com características epizoóticas, de
difícil produção em fermentações sólidas. Apresentam os 4. CONTROLE MICROBIOLÓGICO INUNDATIVO:
alvos biológicos nas ordens Coleoptera, Hemiptera, Diptera,
QUE DOSE DE CONÍDIOS APLICAR POR
Hymenoptera, Lepidoptera, Thysanoptera Acari (Eriophyidae,
Tarsonemidae, Tenuipalpidae Tetranychidae). HECTARE?
A Figura 1 apresenta imagens de placas contendo os A estratégia inundativa envolve a aplicação de grandes
principais fungos comercializados no Brasil. Em detalhes, quantidades de propágulos infectivos (conídios ou blas-
na Tabela 1, estão as espécies, principais alvos e número de tosporos) no ambiente agrícola para combater as pragas.
registros no país. Além da quantidade, a qualidade é relevante, devendo-se
levar em conta o vigor dos propágulos e não somente
3. MECANISMOS DE AÇÃO DOS FUNGOS a capacidade de germinação. Propágulos vigorosos de
ENTOMOPATOGÊNICOS fungos são aqueles que germinam em até 16 h (FARIA et
al., 2022). A frequência de infecção e a performance do
Os fungos entomopatogênicos utilizam mecanismos
produto a campo são maiores se os propágulos germinam
complexos para infectar e matar insetos e ácaros. Os prin-
mais rapidamente após a aplicação, pois reduz o tempo
cipais passos envolvidos podem ser vistos no esquema da
de exposição às condições adversas, como incidência de
Figura 2 e incluem:
Figura 1. Imagens de placas contendo as principais espécies de fungos entomopatogênicos comercializadas no Brasil.
Tabela 1. Espécies de fungos entomopatogênicos, principais alvos controlados, com base no registro em bula, isolados registrados e
número total de produtos registrados no Brasil.
* Na quantificação dos produtos, não foram consideradas as segundas marcas do mesmo produto.
Fonte: AGROFIT (2023).
A B C
luz ultravioleta, altas temperaturas e baixa umidade rela- ladas e em campo. Segundo estudos realizados por Lacey et
tiva. Portanto, a escolha da dose de propágulos vigorosos al. (2008) com Beauveria bassiana no controle de mosca-
aplicada por hectare é um aspecto crítico na estratégia de branca (Bemisia tabaci), a quantidade de conídios suficiente
controle microbiológico inundativo e depende da espécie para matar 50% da população de ninfas de terceiro ínstar, em
de fungo entomopatogênico, do tipo de praga, da forma condições de laboratório, foi de 100 conídios/mm2. Para atingir
de aplicação e das condições ambientais. a deposição de 100 a 150 propágulos/mm2 geralmente temos
A dose ideal pode variar consideravelmente, de acordo que realizar uma aplicação de 100 L de calda por hectare
com a espécie da praga, estádio de desenvolvimento e com cerca de 1 x 107 conídios/mL de calda (MASCARIN et
tecnologia de aplicação, mas geralmente está próxima ou al., 2013), que corresponde a 1 x 1012 conídios por hectare.
acima de 1 x 1012 propágulos vigorosos por hectare. Essa Essa quantidade é necessária, pois nem todos os conídios
dose permite que sejam distribuídos cerca de 100 propágulos que chegam no alvo/praga são capazes de completar sua
vigorosos por mm2 em uma superfície plana (Figura 3). A quan- germinação e penetração. Essa depende do vigor dos pro-
tidade de propágulos recomendada é baseada em estudos págulos aplicados, da parte do corpo do inseto/ácaro que
que indicam alta performance de produtos microbiológicos os propágulos atingem, das condições ambientais que estão
à base de fungos entomopatogênicos em condições contro- submetidos etc.
Figura 3. Deposição e germinação de conídios de fungos entomopatogênicos sobre o corpo de adultos de Diaphorina citri pulverizados
associados a diferentes adjuvantes. As setas pretas indicam conídios depositados, alguns em fase de germinação.
Fonte: Conceschi (2017).
O que significam essas doses em relação aos produ- de produtos em suas práticas agrícolas, muitas vezes em uma
tos comerciais no Brasil? Para responder a essa pergunta, mesma aplicação. A interação entre esses dois métodos de
precisamos observar as concentrações dos produtos nas controle pode ter implicações significativas para a eficácia
respectivas bulas. Para esse tema, chamamos a atenção do controle de pragas, especialmente das pragas de difícil
para a unidade de medida relacionada, que é dada em mL controle e dos vetores de patógenos de plantas. Algumas
ou g ou L ou kg. É comum encontrarmos divergências nesse considerações importantes são:
sentido em alguns produtos, sendo necessário unificar a uni- • Ativo x inertes na formulação: A interação entre
dade de medida para fins de comparação. Por exemplo, um fungos entomopatogênicos e produtos químicos pode variar
produto que apresenta 1 x 1012 conídios vigorosos/kg tem a dependendo das substâncias envolvidas, de modo que
mesma concentração de outro que apresenta 1 x 109 conídios devem ser consideradas, nos testes de compatibilidade, a
vigorosos/g, bastando dividir o valor por 1.000 para transfor- marca do produto, a dose e o volume de calda na mistura
mar kg em g de produto. Por outro lado, na mesma unidade testada. Portanto, não basta somente conhecer a compati-
de medida, geralmente mL ou g, um produto que tem 1 x 1010 bilidade para o ingrediente ativo;
conídios vigorosos/g é dez vezes mais concentrado do que
• Inseticidas, herbicidas, adjuvantes e fertilizantes:
outro que tem 1 x 109 conídios vigorosos/g (Figura 4). Diante
Alguns produtos químicos podem ser prejudiciais aos fungos
disso, o primeiro produto aplica 1 x 1012 conídios vigorosos/
entomopatogênicos, afetando sua germinação e reduzindo
hectare com apenas 100 g/ha, enquanto o segundo produto
a performance a campo, devido à inibição ou atraso da ger-
deve aplicar 1 kg/ha para atender a mesma concentração
minação dos propágulos. Portanto, é importante escolher,
recomendada por hectare. O fato é que produtos com con-
com base nas marcas de cada produto químico, aqueles que
centração de 1 x 109 conídios vigorosos/g ou mL, ou abaixo
tenham um impacto mínimo sobre a germinação dos propá-
dessa concentração, acabam se tornando inviáveis economi-
gulos dos fungos, a fim de garantir sua rápida germinação e
camente para aplicar 1 x 1012 conídios vigorosos/ha, ou seja,
penetração no hospedeiro após a aplicação.
para a aplicação do controle microbiológico inundativo. São
poucos os produtos no mercado que atendem essa premissa • Fungicidas: Fungicidas químicos têm o potencial de
com viabilidade econômica, e saber escolher é fundamental afetar os fungos entomopatogênicos, pois podem matar
para atingir alta performance de controle. ou inibir a germinação dos propágulos infectivos. Dessa
forma, não é recomendável utilizar fungos entomopatogê-
5. COMPATIBILIDADE COM DEFENSIVOS nicos e fungicidas na mesma calda de aplicação. Embora
não seja recomendável a aplicação na mesma calda, é pos-
QUÍMICOS SINTÉTICOS E FERTILIZANTES
sível utilizar fungos entomopatogênicos e fungicidas em
A compatibilidade dos fungos entomopatogênicos momentos distintos durante o ciclo de desenvolvimento
com defensivos químicos e fertilizantes é uma preocupação da cultura, obedecendo um intervalo de segurança entre
importante para os agricultores que utilizam uma variedade as aplicações.
Figura 4. Relação de equivalência de dois produtos comerciais para atender a mesma quantidade de conídios de 1 x 1013 conídios vigorosos.
ARTIGO TÉCNICO 4
Os Desafios na
Pulverização de Frutíferas
Fabiano Griesang1
1
E ngenheiro Agrônomo, Doutor em Produção Vegetal, Especialista de Produtos em Máquinas Agrícolas Jacto; e-mail:
fabiano.griesang@jacto.com.br
grandes redes varejistas disponham de um sistema de aná- tratar. Assim, chegamos a sete agrupamentos principais:
lises capaz de identificar os mais ínfimos traços de pesticidas A) laranja, limão, oliveira, abacate, manga; B) café, maçã,
nas amostras. Se é detectada a presença de algum produto pera; C) ameixa, pêssego, caqui, goiaba; D) uva, maracujá,
não autorizado ou fora do limite permitido em alguma amos- kiwi; E) amêndoas, como nozes pecan, macadâmia e serin-
tra, o produtor arca com pesadas penalizações e com o risco gueira (aqui não se trata de fruta, mas por se tratar de
de perder o espaço de comercialização de seus produtos. arbórea importante, também foi considerada); F) palmeiras,
Na perspectiva da produção de frutas no Brasil, algumas como coco, açaí e dendê; G) mamão e banana.
características nos distinguem de outros países importan-
tes na produção mundial. As vastas extensões territoriais,
3.1. Laranja, limão, oliveira, abacate e manga
água em abundância em grande parte do país, bem como Neste grupo de frutíferas, é comum a produção em
variações de clima, permitem o cultivo de espécies de clima áreas de grande extensão e é perceptível a tendência de
tropical e temperado. Temos a nosso dispor tecnologias adoção de plantas mais compactas e produtivas. As plantas
nacionais para a obtenção de novas cultivares, adaptadas a com mais de 6,0 m de altura, espaçadas em 8,0 m entre
cada região produtora, com variedades cada vez mais pro- linhas e grandes espaços entre plantas vem sendo substi-
dutivas, de melhor qualidade e com características deseja- tuídas por plantas com até 4,0 m de altura, espaçadas em
das por cada mercado consumidor. Nos campos, temos um até 7,0 m entre linhas e espaços reduzidos entre plantas.
agricultor arrojado, apto a adotar novas tecnologias, desde Com essa mudança, facilitam-se os tratos fitossanitários,
que estejam bem fundamentadas e que apresentem bom o manejo de copa e de frutos e a colheita, sem que haja
potencial de sucesso. redução na produtividade.
Todavia, alguns fatores desafiam a nossa produção: da Para a obtenção de plantas menores e mais produtivas,
mesma forma que as condições ambientais são favoráveis foram selecionadas linhagens de frutíferas, adotados porta-
para o crescimento das culturas, com temperatura, lumino- enxertos menos vigorosos e podas nos pomares, que limitam
sidade e abundância de água, essas condições também se o tamanho das plantas e possibilitam a entrada de radiação
apresentam como um cenário propício para o estabeleci- solar na parte interna das plantas, promovendo novos fluxos
mento e proliferação de diversas pragas, doenças e plantas de brotação e a produção de frutos também na parte interna
daninhas, impactando severamente os cultivos que não da planta (Figura 1).
forem manejados adequadamente. Para dar aos cultivos as À medida que a evolução na arquitetura e no tamanho
condições de sanidade adequadas, a aplicação de diversos das plantas foi ocorrendo, o método de aplicação foi se apri-
insumos via caldas líquidas é requerida, e esta é realizada morando: no início, operadores realizavam a aplicação a par-
por meio de pulverizadores. tir de pistolas de pulverização e mangueiras, que resultavam
em rendimento de trabalho bastante limitado. Um grande
2. POMARES BRASILEIROS avanço ocorreu com a vinda dos pulverizadores assistidos a
Dentre os cultivos perenes de maior importância no ar, conhecidos por turbo-pulverizadores, com maior capaci-
Brasil, a laranja e o café se destacam com as maiores áreas de dade de trabalho. Reservatórios maiores permitiram diminuir
cultivo, mas os cultivos de banana, coco, amêndoas, goiaba, o número de paradas para reabastecimentos, favorecendo
uva, maçã, mamão, manga, pêssego e ameixas também o aumento da capacidade operacional do equipamento. As
apresentam grande importância, de modo que demandam primeiras versões fabricadas no mercado brasileiro e ainda
soluções em pulverização específicas. presentes na maioria dos pomares do país foram os pulveri-
zadores com ventiladores radiais (Figura 2). Estes têm como
3. MODELOS DE PULVERIZADORES PARA OS característica a grande versatilidade de uso, permitindo
entrar em pomares mais adensados ou com terrenos de
POMARES BRASILEIROS
superfície irregular, porém apresentam como característica o
Os pomares apresentam características diversas, que potencial de ocorrência de perdas significativas de produtos,
exigem técnicas/equipamentos específicos para garantir se regulados de maneira inadequada.
a melhor aplicação. O método de condução das plantas, Para garantir a sanidade vegetal dos pomares moder-
práticas de manejo das copas, estádio de desenvolvimento nos, cresce o uso de pulverizadores que possuem como
da planta, espaçamento, largura e altura das plantas são característica defletores mais ajustados à copa da planta,
informações importantes na hora de definir o melhor modelo como é o caso dos defletores do tipo torre, que geralmente
e configuração do pulverizador. proporcionam melhor qualidade na aplicação (Figura 3). Com
Para facilitar a recomendação de modelos de pul- esse modelo de equipamento, o duto que direciona a cortina
verizadores, os cultivos foram agrupados de acordo com de ar, bem como o ramal que sustenta os bicos de pulveri-
algumas características comuns. Levamos em consideração zação, se aproximam da copa da cultura, permitindo maior
principalmente as dimensões da planta, o espaçamento eficiência na aplicação, com menor potencial de perdas, se
entre plantas e a localização dos alvos que se pretende comparado ao defletor radial.
as plantas são submetidas a podas de formação, também rendimento da colheita. Plantas com menores dimensões, tanto
chamadas de esqueletamento, em que boa parte dos ramos em altura quanto em largura, estão recebendo grande desta-
secundários e do ápice é cortada, permitindo novos fluxos de que em novas propostas de condução da cultura , como o muro
brotação e formação de ramos reprodutivos mais próximos frutal. Neste sistema, as linhas de cultivo ficam mais próximas
ao caule das plantas (Figura 5). (até 2,8 m entre linhas) e as plantas são mantidas com alturas
de até 3,0 m. Com isso, todas as práticas de manejo e colheita
são otimizadas: uma pessoa é capaz de colher até três vezes
A mais frutas no mesmo período. O tratamento fitossanitário
desses cultivos também é facilitado, uma vez que a distância
do pulverizador até a planta é reduzida, bem como também é
menor a profundidade da copa, representando menor desafio
para atingir todos os estratos da planta.
Para esses cultivos, o modelo de pulverizador mais
empregado dispõe de defletor do tipo radial. Cresce também
o uso de pulverizadores com o defletor do tipo torre, cujas
dimensões se ajustam ao tamanho dos cultivos e melhora de
forma significativa a qualidade da distribuição dos produtos
em todas as porções do dossel das plantas.
B
3.3. Ameixa, pêssego, caqui e goiaba
Os cultivos de frutas de caroço, oliveira, caqui e goiaba,
apresentam como característica comum a presença de galhos
que expandem a copa em várias direções, e não a partir de
um tronco principal único. A altura das plantas geralmente
não excede 3,0 m e, em algumas situações, chegam a formar
uma espécie de túnel vegetal, cobrindo parcial ou totalmente
as entrelinhas (Figura 6).
3.5. S
eringueira, macadâmia e nogueira
pecan
Estes cultivos têm como característica principal o grande C
tamanho das copas, superando facilmente 8,0 m de altura
(Figura 8). Para possibilitar o alcance do alvo, que geralmente
são as folhas, é indispensável um equipamento que disponha
de assistência de ar de grande capacidade, e que transporte
as gotas até a porção mais alta dessas plantas. No caso da
seringueira, a ausência de folhas na parte mais baixa das
plantas possibilita a utilização de um defletor vertical, que
direciona toda a pulverização e ar somente para cima, favo-
recendo o alcance de alturas maiores, de até 15,0 m. Nas
nogueiras, a presença de galhos e ramos laterais exige que o
equipamento aplique também na lateral das plantas, e não Figura 8. Cultivos altos, como seringueira (A), macadâmia (B) e
somente para cima. Logo, o defletor adequado para esses nogueira pecan (C).
cultivos também recebe algumas modificações importantes. Fonte: Arquivo pessoal do autor.
Figura 15. O
s defletores radiais são versáteis, porém apresentam Figura 17. D
efletores convergentes apresentam grande versati-
limitações para assegurar qualidade nas aplicações. lidade de uso, representando grandes melhorias na
Fonte: Arquivo de imagens da Jacto. qualidade e eficiência das aplicações.
Fonte: Arquivo pessoal do autor.
ar inferior a 50%, é recomendável reavaliar a necessidade de f=n ível de vegetação/densidade de folhas (entre 0,5 e 2,0,
continuar a aplicação, em virtude da propensão de perdas de sendo 0,5 para pomares com baixo índice foliar e ausência
gotas por evaporação, o que pode comprometer a segurança de frutas e 2,0 para pomares com intensa vegetação e
na aplicação e a eficácia dos produtos aplicados. Se a pressão presença de frutas).
da praga/doença estiver alta, aguardar a condição climática Considerando-se o exemplo de um pomar de laranjas
adequada não é a melhor opção, e uma das alternativas é com 4,0 m de altura, distância entre pulverizador e centro
modificar alguma condição do pulverizador para reduzir as da planta de 3,0 m, volume de ar produzido pela turbina de
perdas. Pode-se, por exemplo, diminuir a marcha do trator 20 m³ s-1 (72.000 m³ h-1) e uma planta com média densidade
para diminuir a velocidade de trabalho e diminuir a pressão foliar, representado por pomar após a colheita dos frutos (1),
do sistema de pulverização, no intuito de produzir gotas de temos a seguinte condição:
tamanho maior, mais seguras quanto ao risco potencial de
evaporação. 72.000 m³ h-1
Vel = = 6 km h-1
(4 m x 3 m x 1 x 1.000)
4.3.4. Características do pulverizador
Quanto ao equipamento, é importante considerar a Logo, a velocidade máxima a trabalhar nesse pomar,
capacidade do ventilador, em volume de ar deslocado por considerando a capacidade do equipamento e as caracte-
unidade de tempo, e os ajustes possíveis no direcionamento rísticas do pomar, é de 6 km h-1.
do ar do defletor de modo a contemplar a copa do cultivo.
É importante também observar a capacidade da bomba de 4.4. Seleção de pontas de pulverização e
pulverização para o deslocamento da calda, os bicos respon- tamanho de gotas
sáveis pela produção das gotas e a possibilidade de ajustes Para a aplicação de produtos fitossanitários em frutífe-
no número e direcionamento dos bicos, se necessário, bem ras, o tamanho das gotas deve ser suficientemente pequeno
como da pressão de trabalho. para possibilitar a sua adequada penetração na copa das
plantas, bem como assegurar a cobertura satisfatória de todas
4.3.5. Ajustes na velocidade de trabalho as superfícies sensíveis ao ataque das pragas e doenças. Nesse
Quanto maior for a distância entre o pulverizador e a sentido, as pontas de pulverização mais recomendadas são as
planta, maior será a energia necessária para fazer com que do tipo cone vazio, por terem como característica a produção
as gotas atinjam o alvo, bem como maiores serão as perdas de gotas com diâmetro mediano volumétrico (DMV) de 100 a
oriundas de deriva e evaporação. 130 micrômetros (µm), classificadas como muito finas a finas.
A velocidade de deslocamento do pulverizador no Sabe-se que gotas de tamanho tão diminuto apresentam
momento da aplicação tem grande importância na defini- elevada propensão de se perderem por deriva e evaporação,
ção da capacidade operacional na máquina. Quanto maior especialmente quando submetidas a ambiente de baixa
a velocidade de trabalho, maior a área tratada por unidade umidade relativa e elevada temperatura, mas o fato de estas
de tempo. No caso de pulverizadores de frutíferas, conside- gotas serem transportadas por uma cortina de ar produzida
rando-se que as opções de variação de volume/velocidade pelo próprio pulverizador atenua substancialmente as perdas.
do deslocamento de ar são bastante limitadas, a velocidade
da aplicação passa a ser limitada pela quantidade de ar LITERATURA CONSULTADA
necessária para transportar as gotas até o alvo. A definição CARVALHO, G. F. G. Aplicação de produtos fitossanitários
do limite de velocidade pode ser obtida a partir de cálculo na cultura dos citros utilizando pulverizador envolvente.
matemático, que considera as dimensões da copa da planta, 2014. 63 p. Tese (Doutorado em Agronomia) – Faculdade
a densidade vegetal, a distância entre o pulverizador e o de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual
centro da linha de cultivo e o volume de ar disponibilizado Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Jaboticabal, 2014.
pela turbina.
DORUCHOWSKI, G.; ŚWIECHOWSKI, W.; MASNY, S.; MACIE-
v SIAK, A.; TARTANUS, M.; BRYK, H.; HOŁOWNICKI, R. Low-drift
Vel = nozzles vs. standard nozzles for pesticide application in
(a x d x f x 1.000)
the biological efficacy trials of pesticides in apple pest and
em que: disease control. Science of the Total Environment, v. 575,
p. 1239–1246, 2017. Disponível em: <https://doi.org/
Vel = velocidade (km h-1), 10.1016/J.SCITOTENV.2016.09.200>. Acesso em: 15 set.
v = volume de ar produzido pela turbina (m³ h-1), 2023.
a = altura da planta (m), GRIESANG, F.; DECARO, R. A.; SANTOS, R. T. S.; VECHIA, J. F.;
d = distância entre extremidade do defletor e centro da DELLA SANTOS, C. A. M.; FERREIRA, M. C. Droplet size and
planta (m), uniformity influence on the qualitative and quantitative
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DIVULGANDO A PESQUISA
Pantoea ananatis em Oryza sativa no Brasil¹
Laísa Maindra Lima Horn1*, Ricardo Trezzi Casa1, Mayra Juline Gonçalves1,
Flávio Chupel Martins1, Bruno Tabarelli Scheidt1, Fernando Sartori Pereira1,
Alba Nise Merícia Rocha Santos1, Valdemir Rossarola2, Eduardo Silva Gorayeb1
1
Fonte: Ciência Rural, Santa Maria, v. 53, n. 5, e20210832, 2023.
2
Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Lages, SC; *e-mail:
maindrac@gmail.com
3
Agronomia, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Lages, SC.
PAINEL AGRONÔMICO
CURSOS, SIMPÓSIOS E
OUTROS EVENTOS
1. I V ENCONTRO DE ENTOMOLOGIA E 6. CURSO DE PRODUÇÃO DE SOJA – MÓDULO
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE MANEJO FITOSSANITÁRIO
Local: E vento on line Local: E mbrapa Soja, Londrina, PR
Data: 6 a 10/NOVEMBRO/2023 Data: 27/NOVEMBRO a 1/DEZEMBRO/2024
Informações: Universidade Federal da Grande Dourados Informações: Embrapa Soja
Website: https://www.even3.com.br/iveecb/ Email: soja.eventos@embrapa.br
Website: https://www.embrapa.br/cursos/
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