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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS PROTEÇÃO DE PLANTAS No 3 – OUTUBRO 2023


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CONTEÚDO
Ponto de Vista 4

Artigos Técnicos
Desafios no manejo da vassourinha-de-botão 5
em ambiente de Cerrado
Núbia Maria Correia

Bacillus amyloliquefaciens no controle 21


biológico de nematoides em soja e milho
Carlos Guarnieri, Orlando Garcia

Uso de fungos entomopatogênicos no manejo 29


de pragas na agricultura – Você sabe que fungo
e que dose aplicar?
Marcos Roberto Conceschi et al.

Os desafios na pulverização de frutíferas 36


Fabiano Griesang

Divulgando a Pesquisa
Pantoea ananatis em Oryza sativa no Brasil 47
Laísa Maindra Lima Horn et al.

Painel Agronômico 48

Cursos, Simpósios e Outros Eventos 49

Publicações Recentes 50

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS
PROTEÇÃO DE PLANTAS No 3 - Outubro 2023

EXPEDIENTE
Publicação trimestral gratuita da
NPCT – Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia
O jornal publica artigos técnico-científicos elaborados pela
comunidade científica nacional e internacional visando
o manejo responsável de insetos-praga, doenças,
nematoides e plantas daninhas.

COMISSÃO EDITORIAL

Editor
Claudinei Kappes

Editora Assistente
Silvia Regina Stipp

Gerente de Distribuição
Evandro Luis Lavorenti

ENDEREÇO
NOTA DOS EDITORES
As opiniões e as conclusões expressas pelos autores nos artigos não Rua Ataulfo Alves, 352, sala 1 - CEP 13424-370 - Piracicaba-SP, Brasil
refletem necessariamente as mesmas da comissão editorial deste jornal. Website: www.npct.com.br/IAProtecao
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PATROCINADORES

NOTA: Os interessados em patrocinar o Jornal Informações Agronômicas podem entrar em contato com
ELavorenti@npct.com.br ou LProchnow@npct.com.br

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PONTO DE VISTA

E os Produtos Biológicos,
Vieram pra Ficar?

Claudinei Kappes

Sim! Logo, preciso dizer que os produtos biológicos Mas o que justifica tal aumento? Vou elencar três moti-
fazem parte da agricultura brasileira há muitos anos. Basta vos. Primeiro, por ser uma ferramenta auxiliar no manejo
questionar, por exemplo: qual produtor de soja nunca ino- integrado de nematoides, pragas e doenças. Segundo, pelo
culou as suas sementes com Bradyrhizobium spp.? “Que anseio e necessidade que o produtor tem de reduzir os
atire a primeira pedra”. Uma prática antiga, consolidada e custos de produção. E, por último, a busca por sistemas de
indispensável para fornecer o nitrogênio que esta leguminosa produção equilibrados a longo prazo. Afinal, a sociedade
necessita através da simbiose. mundial implora e pressiona por uma agricultura cada vez
O “mundo dos biológicos” não parou por aí. Arrisco-me mais sustentável. E como todos sabem – ao menos as pessoas
a dizer que está apenas começando. Após vários anos de ligadas ao agronegócio –, o agro do Brasil está na “mira” e
pesquisas, estamos presenciando a oferta de outros tipos de na “lupa” de vários países, sobretudo dos europeus.
inoculantes no mercado, como os solubilizadores de fósforo Nossa agricultura é tropical, intensificada e pouco
e potássio. Não posso me esquecer do Azospirillum spp., diversificada. São aspectos que levam ao surgimento de
cujo uso está consolidado em gramíneas, principalmente problemas fitossanitários em um curto período de tempo.
no milho, como promotor de crescimento, e ganha força na Isso quando não promovem o surgimento de alvos secun-
coinoculação em soja. Em alguns países, estes inoculantes dários de pragas ou doenças. Esse dinamismo faz com que
são chamados de bioinsumos, enquanto no Brasil são deno- as empresas público-privadas direcionem seus esforços,
minados de microrganismos promotores de crescimento de investimentos, pesquisas e ofertas de produtos em nosso
plantas. país, pois é um mercado significativo.
O fato é que há outra fatia importante dos agentes Por outro lado, muito se tem indagado quanto à efi-
biológicos na agricultura brasileira, representada pelos bio- cácia dos biodefensivos a campo. Cabe a nós, profissionais
defensivos, em sua maioria à base de bactérias e fungos. E da agricultura, realizar os devidos estudos, configurar con-
aqui estou me referindo aos bionematicidas, bioinseticidas clusões e sugerir recomendações para uma correta adoção
e biofungicidas. Neste segmento, houve aumento expressivo dos produtos pelos agricultores. E quanto à permanência
no lançamento de produtos comerciais e na sua adoção a destes no mercado, a exemplo dos inoculantes, dependerá
campo nos últimos anos, para as mais variadas culturas e de vários fatores, mas especialmente de seu desempenho e
pragas/doenças-alvos. eficiência no manejo fitossanitário das culturas.

INFORMAÇÕES
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS
AGRONÔMICAS PROTEÇÃO
PROTEÇÃO DE
DE PLANTAS
PLANTAS N
No 3
o
3–
– OUTUBRO
OUTUBRO 2023
2023
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ARTIGO TÉCNICO 1
Desafios no Manejo da
Vassourinha-de-Botão em
Ambiente de Cerrado
Núbia Maria Correia1

1. INTRODUÇÃO A tolerância ao herbicida glyphosate potencializou a


seleção dessa planta daninha nas áreas agrícolas, sobretudo
A vassourinha-de-botão é um problema crescente nos
após a introdução da soja transgênica tolerante ao herbicida,
cultivos agrícolas do Brasil devido à dificuldade de controle que impulsionou o número de pulverizações de glyphosate
e à tolerância ao herbicida glyphosate (MARTINS; CHRIS- na mesma área por ano. Tolerância é a característica inata
TOFFOLETI, 2014; LOURENÇO, 2018; ANDRADE JR., 2020, da espécie em sobreviver às aplicações de herbicida na
KALSING et al., 2020). Essa planta daninha tornou-se pro- dosagem recomendada, que seria letal a outras espécies,
blemática nas regiões agrícolas do MATOPIBA (Maranhão, sem alterações marcantes em seu crescimento e desen-
Tocantins, Piauí e Bahia) e sua ocorrência está aumentando volvimento (CHRISTOFFOLETI; LÓPEZ-OVEJERO, 2008).
em outras regiões produtoras, como Mato Grosso, Goiás Outros estudos indicaram que o controle da vassourinha-
e Minas Gerais. Portanto, trata-se de uma planta daninha de-botão pelo glyphosate diminui com o crescimento das
emergente de difícil controle e em expansão nas áreas agrí- plantas (LIMA et al., 2019; ANDRADE JR., 2020), justificado
colas do Brasil, principalmente no Cerrado. A esse respeito, pela menor absorção e translocação do herbicida (FADIN et
no trabalho sobre levantamento de plantas daninhas de al., 2018).
difícil controle nas áreas agrícolas de Goiás, a vassourinha-de- As plantas de vassourinha-de-botão podem infestar
botão foi a terceira espécie de planta daninha com maior inci- pastagens e culturas agrícolas. Na cultura da soja, as perdas
dência nas propriedades rurais, perdendo apenas para o capim- na produtividade de grãos ocasionadas pela interferência
amargoso e a buva, enfatizando a sua importância (OLIVEIRA, dessa planta daninha podem atingir até 37% (LOURENÇO
2021). JR., 2018). Na cultura do sorgo, instalada após a colheita da

Abreviações: DAA = dias após a aplicação; DAPA = dias após a primeira aplicação; MATOPIBA = Maranhão, Tocantins, Piauí e
Bahia; PPO = enzima protoporfirinogen oxidase.

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Engenheira Agrônoma, Pesquisadora da Embrapa Cerrados, Planaltina, DF; e-mail: nubia.correia@embrapa.br

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soja, na condição de safrinha (outono-inverno), a redução sementes coletadas em áreas agrícolas, identificaram quatro
da produtividade de grãos foi de 9,4% a 74,9%, em função espécies de vassourinha-de-botão, dos gêneros Borreria e
do aumento da densidade de plantas de vassourinha na área Mitracarpus, que serão apresentadas a seguir. O estudo con-
(CAMPOS, 2022). tou com a colaboração de dois taxonomistas especialistas2
A grande dificuldade no manejo dessa planta inicia-se na no gênero Borreria e na tribo Spermacoceae, e os resultados
sua identificação a campo, pois as espécies de vassourinha- foram apresentados no XXXII Congresso Brasileiro da Ciência
de-botão são parecidas morfologicamente, o que gera das Plantas Daninhas (PEDROSO et al., 2022).
confusão. As espécies pertencem aos gêneros Borreria e Entre as espécies de vassourinha-de-botão identificadas
Mitracarpus, que fazem parte da família Rubiaceae, tribo está a Borreria spinosa, também conhecida como Borreria
Spermacoceae. São espécies nativas do Brasil, mas algumas densiflora. É uma planta herbácea ou subarbustiva, ereta,
também ocorrem em outros países da América do Sul. com 10 a 100 cm de altura; possui ramos tetrágonos, glabros
O gênero Borreria, também conhecido como Sperma- ou pubescentes; folhas pseudoverticiladas pela presença de
coce, é outro ponto de conflito, pois para alguns autores braquiblastos; as inflorescências são terminais e axilares,
não há distinção entre os gêneros, e eles podem ser consi- bilaterais, com 1 a 5 glomérulos por ramo (NEPOMUCENO
derados sinônimos (LORENZI, 2008; KISSMANN; GROTH, et al., 2018), com produção média de 93 mil sementes por
2000). Por outro lado, existem aqueles que reconhecem a planta, que são fotoblásticas positivas (MARTINS, 2008)
diferenciação entre os gêneros, e as espécies que ocorrem (Figura 1). Trata-se de uma espécie perene e pode formar
no Brasil estão agrupadas no gênero Borreria (ZAPPI et al., rizomas (LUNA; DRUETTA, 2018).
2017; NEPOMUCENO et al., 2018; LIMA et al., 2020). Neste No período de 2021 a 2023, várias regiões agrícolas
artigo, optou-se por considerar os gêneros distintos, exceto foram visitadas3 no Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato
nas citações, nas quais se manteve a identificação utilizada Grosso, Minas Gerais e Piauí. Na maioria delas, B. spinosa foi
no trabalho original. a espécie de vassourinha-de-botão mais comumente encon-
As espécies Borreria spinosa, Borreria verticillata, trada nas áreas, com infestações variando de baixa a alta,
Borreria remota e Mitracarpus hirtus já foram identificadas em alguns casos em situações bem complicadas. Contudo,
apesar de B. spinosa ser a espécie mais comum nas áreas
nas áreas agrícolas do Brasil. Todavia, no campo, todas as plan-
agrícolas do Cerrado, esta é constantemente denominada de
tas de vassourinha-de-botão são tratadas e denominadas de
Borreria verticillata ou Spermacoce verticillata.
B. verticillata, o que remete ao erro, pois são espécies dife-
rentes, que podem ter respostas diferentes aos herbicidas, B. spinosa distingue-se de B. verticillata pelos glomérulos
somadas à sua interação com o ambiente. Até mesmo em hemisféricos (vs. glomérulos globosos) e flores com lobos do
trabalhos científicos alguns autores citam apenas o gênero cálice linear-triangulares (vs. flores com lobos do cálice linear-
da planta, por não terem certeza da espécie que está sendo espatulados) (NEPOMUCENO et al., 2018). B. verticillata é
estudada (ANDRADE JR., 2020; OLIVEIRA, 2021). Além uma planta perene, reproduzida por sementes, herbácea
disso, muitos profissionais de campo (técnicos agrícolas ou subarbustiva, semiprostrada a ereta, com 30 a 100 cm
e agrônomos) confundem a vassourinha-de-botão com de altura; possui ramos cilíndricos, glabros; folhas pseudo-
outras espécies, como Spermacoce latifolia (erva-quente) e verticiladas pela presença de braquiblastos muito desenvol-
Richardia brasiliensis (poaia-branca) que, embora sejam da vidos, sésseis a pseudopecioladas; inflorescências globosas,
mesma família, apresentam características morfológicas e muito compactadas, ocorrendo no ápice dos ramos, com
fisiológicas diferentes. 1 a 3 glomérulos por ramo e sementes fotoblásticas neutras
(KISSMANN; GROTH, 2000; LORENZI, 2008; NEPOMUCENO
Portanto, é importante identificar corretamente a
et al., 2018). Detalhes das plantas de B. verticillata podem
espécie que infesta uma área ou região para que se possa
ser observados na Figura 2, além da sua infestação na cultura
determinar o seu nível de tolerância aos herbicidas e esta-
da soja em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia.
belecer recomendações de manejo mais assertivas e menos
genéricas. Nesse artigo são apresentadas informações sobre Já Mitracarpus hirtus é uma planta anual reproduzida
as principais espécies de vassourinha-de-botão identificadas por sementes, herbácea, ereta, com até 50 cm de altura,
nas áreas agrícolas do Brasil, além das percepções sobre a
ecofisiologia e o manejo dessas plantas, com o objetivo de 2
 ra. Layla Mabel Miguel, Universidad Nacional del Nordeste,
D
auxiliar o setor produtivo na definição do melhor programa Corrientes, Argentina; Me. Álvaro Nepomuceno, doutorando do
de manejo para desinfestação das áreas. Programa de Pós-Graduação em Botânica da Universidade Esta-
dual de Feira de Santana, Feira de Santana, BA, Brasil.
2. PRINCIPAIS ESPÉCIES DE 3
 s visitas foram realizadas pela autora, com a colaboração de
A
VASSOURINHA-DE-BOTÃO
agrônomos da região, e fazem parte do projeto “Vassourinha-
Pedroso et al. (2022), a partir da análise de plantas de-botão: mapeamento e manejo da planta daninha nas regiões
de quatro acessos de vassourinha-de-botão, oriundas de agrícolas do Cerrado”.

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A B

Figura 1. Plantas de Borreria spinosa: detalhes dos caules, folhas e inflorescências. Infestação de Borreria spinosa na cultura da soja,
antes (A) e após a colheita (B), em áreas agrícolas de Planaltina, DF, e Pirenópolis, GO, respectivamente.

ramificada, com caule tetragônico, pilosidade nos ângulos e regiões, M. hirtus é conhecida como erva-quente, gerando
inflorescências terminais e verticilares (KISSMANN; GROTH, mais uma vez dúvidas e conflitos de informações, pois erva-
2000; LORENZI, 2008). quente é outra espécie, de outro gênero botânico, Sper-
B. remota é planta anual, herbácea, apresenta cresci- macoce latifolia, ou, segundo os taxonomistas especialistas,
mento prostrado, com muita ramificação, caule e ramos arro- Borreria latifolia. As plantas de M. hirtus e de B. remota estão
xeados, folhas com nervuras evidentes e glomérulo terminal. apresentadas nas Figuras 3 e 4, respectivamente.
Até o ano de 2023, B. remota foi encontrada apenas
3. CONHECENDO A VASSOURINHA-DE-BOTÃO
em uma área agrícola do estado de São Paulo, enquanto
M. hirtus foi identificada em várias áreas agrícolas, especial- Em algumas áreas agrícolas ocorre a infestação mista de
mente em infestações mistas com B. spinosa. Em algumas B. spinosa e M. hirtus, ou seja, a ocorrência das duas espécies

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A B

Figura 2. Plantas de Borreria verticillata: detalhes dos caules, folhas e inflorescências. Infestação de Borreria verticillata na cultura da
soja (A, B), em uma área agrícola de Luís Eduardo Magalhães, BA.

no mesmo local. Ambas apresentam certa semelhança M. hirtus também é tolerante ao herbicida glyphosate,
morfológica, mas diferem substancialmente em outras como foi constatado no estudo desenvolvido em condições
características, inclusive no ciclo biológico, pois B. spinosa de campo na estação experimental da Embrapa Cerrados,
é planta perene e M. hirtus anual. Essas infestações mistas em Planaltina, DF, onde plantas adultas de M. hirtus, pul-
podem causar equívocos, principalmente em relação à verizadas com dosagens crescentes de glyphosate (0; 0,24;
aplicação de herbicidas e à resposta das plantas ao pro- 0,48; 0,96; 1,44; 1,92 e 2,40 kg ha-1 de equivalente ácido),
duto, pois é possível encontrar plantas mortas ao lado de não foram totalmente controladas pelo herbicida (Figura 6).
outras que não manifestaram sintomas de fitointoxicação Com base no modelo, para a obtenção de 100% de mortali-
(Figura 5). Esse fato pode remeter ao erro, por se pensar dade das plantas seria necessária a aplicação de 3,4 kg ha-1
que se trata de seleção de biótipos resistentes, quando, de equivalente ácido de glyphosate, o que é inviável, tanto
na realidade, é a resposta de duas espécies diferentes no aspecto econômico quanto ambiental. Isso indica que
ao herbicida. as plantas adultas dessa espécie não são controladas pelo

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Figura 3. Plantas de Mitracarpus hirtus: detalhes dos ramos, folhas e inflorescências em áreas agrícolas de Planaltina, DF.

Figura 4. Plantas de Borreria remota: detalhes dos ramos, folhas e inflorescências.

herbicida, exigindo a adoção de outras estratégias quími- do Cerrado, com secamento da parte aérea. As plantas de
cas de manejo, seja a aplicação do herbicida em plantas M. hirtus realmente morreram, ao contrário das de B. spinosa,
mais novas, seja o uso de outros herbicidas combinados ao que secaram as folhas e os ramos, mas as raízes e o caule con-
glyphosate (em aplicação sequencial) ou mistura em tanque. tinuam vivos. No retorno das chuvas, nos meses de setembro/
outubro, a umidade favorecerá a rebrota das plantas. Trata-se
Outra característica dessas espécies é que ambas de uma estratégia de sobrevivência das plantas no período seco,
encerram o ciclo reprodutivo com a produção de sementes garantindo a perpetuação da espécie na área com o novo ciclo
e liberação ao solo nos meses de maio a junho, na região vegetativo/reprodutivo no ano agrícola seguinte. Na Figura 7

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A B C

Figura 5. Infestação mista de Borreria spinosa (→) e Mitracarpus hirtus (→) (A), mostrando reação diferencial ao herbicida: plantas
mortas de M. hirtus ao lado de plantas verdes de B. spinosa (B, C).

Figura 6. Controle (%) de plantas adultas de Mitracarpus hirtus aos 10 e 45 dias após a aplicação
(DAA) de diferentes doses de glyphosate, em condições de campo. Planaltina, DF, ano
agrícola 2022/2023.

podem ser observadas plantas de B. spinosa aparentemente As espécies perenes, seja B. spinosa, seja B. verti-
mortas, mas com o caule e algumas folhas ainda verdes, cillata, também rebrotam após o corte da parte aérea.
indicando a sobrevivência delas. Os registros fotográficos Esse corte, na maioria das vezes, é feito no momento
foram feitos no mês de junho, em áreas que não receberam da colheita mecanizada dos grãos da cultura, cuja altura
herbicidas ou algum manejo mecânico das plantas. seguirá a altura de trabalho da plataforma da colhedora.
M. hirtus, embora seja uma planta anual e herbácea, No caso da cultura da soja, como o corte é mais baixo,
não é controlada com roçadora ou qualquer outro equipa- dependendo da densidade de plantas de vassourinha-
mento que promova o corte da parte aérea, similar ao que de-botão, estas poderão interferir na colheita dos grãos.
acontece com plantas de buva (Conyza spp.). Após o corte Da mesma forma, a aplicação de herbicidas dessecantes,
da parte aérea, as plantas rebrotam e o controle químico como diquat ou amônio-glufosinato, para uniformizar
torna-se mais difícil (Figura 8). a colheita e dessecar as plantas daninhas do local, não

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Figura 7. Plantas aparentemente mortas de Borreria spinosa, mas como o caule parcialmente verde e com algumas folhas verdes.

A B

Figura 8. Plantas de Mitracarpus hirtus após o corte da parte aérea com roçadora: em pleno crescimento vegetativo (A) e no floresci-
mento (B).

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é eficaz para dessecar as plantas de vassourinha-de- 4. MANEJO DE VASSOURINHA-DE-BOTÃO


botão. Portanto, não resolverá o problema de interferência
O manejo deve ser regionalizado, com base na espécie
dessas plantas na colheita.
predominante e nas condições edafoclimáticas locais. Esses
As plantas rebrotadas são mais competitivas e toleran- fatores permitirão o desenvolvimento das melhores estraté-
tes aos herbicidas do que as plântulas oriundas de semen- gias de manejo, visando a desinfestação da área, com base
tes. Além disso, podem ocorrer na mesma área plantas no uso racional e inteligente de herbicidas e no manejo cultural,
com diferentes idades (2, 3 anos ou mais), em função da como a manutenção de cobertura viva ou morta sobre o solo no
sua persistência aos manejos adotados e da sobrevivência período da entressafra (outono-inverno). Essas práticas são pre-
por longo período. Soma-se a isso o corte da parte aérea conizadas no manejo integrado de plantas daninhas. Somente
das plantas no momento da colheita dos grãos, que não as dessa forma a vassourinha-de-botão será realmente manejada
elimina, mas apenas estimula o fortalecimento do sistema no campo, com redução dos seus níveis populacionais.
radicular, deixando-as mais resilientes ao controle químico
e a outros métodos adotados. Essa característica permite A estratégia de manejo da vassourinha-de-botão,
que plantas da mesma espécie aparentemente iguais, com tendo como referência as espécies perenes B. spinosa e
altura e massa foliar similares, tenham respostas distintas B. verticillata, é a integração dos métodos de controle.
ao mesmo tratamento químico. Assim, pode-se encontrar Deve-se ter consciência que o manejo da vassourinha-de-
plantas com sintomas severos de intoxicação próximas de botão não se resume no uso de um determinado herbicida,
outras plantas, da mesma espécie, pouco ou nada afetadas. na misturas de produtos ou no aumento da dosagem. O
Esse efeito foi observado em áreas infestadas com B. spinosa, manejo não está limitado a um único método, pois são várias
após a aplicação dos herbicidas cloransulam e glyphosate na as ações, químicas e culturais, que devem ser adotadas. Afi-
pós-emergência da soja (Figura 9). nal, não existe herbicida milagroso, nem mistura milagrosa
de herbicidas que em uma única aplicação resolverá o pro-
Em B. spinosa, após o corte das plantas, há mudança da
blema. Trata-se de um programa para desinfestar a área e
arquitetura da parte aérea, passando de ereto, com até 1,0 m
reduzir o potencial de infestação. Como é um programa, uma
de altura, para, no máximo, 30 a 40 cm de altura, e muita
única safra também não será suficiente para pleno êxito. O
ramificação a partir da base da planta. Outro fato interessante
objetivo será alcançado a médio e longo prazo.
é que, mesmo pequenas, rapidamente iniciam o floresci-
mento, com produção e liberação das suas sementes ao solo.
Nada mais é do que uma resposta das plantas às condições 5. DESENVOLVENDO O PROGRAMA DE
do ambiente, especialmente a seca, visto que na região do DESINFESTAÇÃO DA ÁREA
Cerrado, a partir de abril até o final de setembro e início de
outubro, as chuvas são escassas ou nulas. Nesse período, as 5.1. Manejo na entressafra
plantas encontram-se em “repouso metabólico” no campo. (outono-inverno)

A B C

Figura 9. Plantas de Borreria spinosa com sintomas de intoxicação causados pela mistura dos herbicidas cloransulam e glyphosate,
variando de mais severos (A) a pouco ou sem efeito (B, C) na mesma área.

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As espécies perenes de vassourinha-de-botão, B. spinosa necessárias outras estratégias, como a aplicação de her-
e B. verticillata, são mais agressivas e de maior dificuldade de bicidas mais efetivos na safra agrícola (primavera-verão)
controle que as outras, devido ao armazenamento de reser- e o uso de cultivares de maior potencial competitivo. O
vas na base do caule e raízes (Figura 10), o que permite a sua controle químico na safra deverá ser feito com combinações
sobrevivência mesmo em condições adversas do ambiente, de herbicidas com eficácia comprovada, quando inseridos
como a seca. A função do manejo na entressafra será de em um programa de manejo.
inibir o desenvolvimento das plantas, principalmente em Como as plantas apresentam tolerância ao herbicida
relação ao crescimento de raízes e ao armazenamento de glyphosate, outros deverão fazer parte do sistema de produ-
reservas. Portanto, trata-se de um manejo complementar, ção, sobretudo os herbicidas residuais, com ação no banco
que não será responsável pela mortalidade das plantas. Para de sementes do solo. Considerando-se que uma única planta
a mortalidade das plantas de vassourinha-de-botão serão de B. spinosa pode produzir até 93 mil sementes (MARTINS,

A B

C D

Figura 10. Plantas de Borreria spinosa: base do caule e raízes de planta rebrotada (A) e caule lignificado de plantas adultas (C).
Plantas de Borreria verticillata: caule lignificado de plantas adultas (B) e rebrota de plantas na cultura da soja (D).

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2008), negligenciar as sementes que estão compondo o de-botão, inibem o desenvolvimento das plantas, afetando
banco de sementes do solo é um grande erro. Por isso, é o crescimento e a produção de sementes na entressafra.
importante evitar a introdução de novos frutos ou semen- Herbicidas à base de atrazine mais mesotrione, pulverizados
tes no banco de sementes do solo. A dinâmica do banco de em pós-emergência, e de isoxaflutole mais thiencarbazone
sementes de plantas daninhas do solo está apresentada na methyl, aplicados na pré-emergência, são efetivos na inibi-
Figura 11. ção do crescimento da vassourinha-de-botão na cultura do
milho, beneficiando o manejo de B. spinosa no sistema de
produção com a soja em sucessão. O consórcio de milho
com braquiária ruziziensis (Urochloa ruziziensis) é ainda mais
efetivo por causa da cobertura verde formada pela braquiária
após a colheita do milho. O manejo cultural e/ou químico na
entressafra também é importante para reduzir a adição de
novas sementes de vassourinha-de-botão ao solo, impedindo
o aumento do banco de sementes, que é mais intenso, nas
áreas sem nenhuma estratégia de manejo nessa época.
Na Figura 12 é apresentado o desenvolvimento de bra-
quiária ruziziensis e o seu efeito no manejo da vassourinha
de-botão no outono-inverno, evidenciando que uma boa
cobertura do solo na entressafra é uma excelente estratégia
no manejo dessa planta daninha. Além disso, é apresentado o
Figura 11. D
 inâmica do banco de sementes de plantas daninhas resultado do manejo na entressafra com o uso de grade para
do solo. a eliminação de plantas adultas de vassourinha-de-botão.
Fonte: Carmona (1992).
O manejo mecânico, com subsolador ou grade, após a
colheita da cultura de verão pode ter certa efetividade no
O manejo na entressafra, tanto químico quanto cultural, manejo das plantas adultas das espécies perenes de vassou-
ou a associação dos dois, é importante no manejo integrado da rinha-de-botão. Contudo, deve ser cuidadoso com o revolvi-
vassourinha-de-botão. O manejo cultural se refere ao cultivo mento e o corte de todos os resíduos vegetais da parte aérea
de culturas forrageiras, adubos verdes ou à produção de grãos, e raiz, que poderão rebrotar no início das chuvas. Somado
como milho, girassol, sorgo etc. Os herbicidas usados nas cul- a isto, se não for associado ao uso de herbicidas residuais
turas para o controle das plantas daninhas também agregam na safra seguinte, haverá reinfestação da planta daninha na
vantagens, pois, apesar de não controlarem a vassourinha- área e, novamente, a ocorrência de plantas adultas.

A B C

Figura 12. C
 obertura verde do solo com Urochloa ruziziensis e os seus benefícios no manejo de vassourinha-de-botão (A), comparada
à área sem nenhum manejo na entressafra (pousio) (B) e ao manejo mecânico com grade (C).

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Experimentos realizados em área de produção comer- que poderá ser suprimido pelas plantas de vassourinha-de-
cial de grãos4, em Planaltina, DF, na entressafra de 2023, botão (Figura 14). No momento da colheita da soja, a parte
demonstraram que a aplicação de herbicidas logo após a aérea da vassourinha-de-botão é cortada. Logo, as plantas da
colheita da soja, antes da rebrota das plantas de B. spinosa, área são oriundas, principalmente, de rebrota e já possuem
foi mais eficaz na inibição do crescimento das plantas do um sistema radicular formado. Esse fato favorece o cresci-
que quando aplicado nas plantas rebrotadas, depois de 15 a mento das plantas, que é mais rápido do que o crescimento
20 dias da colheita. As plantas sensibilizadas pelo corte da inicial das gramíneas, originárias de sementes. Por isso,
parte aérea foram mais afetadas pelos herbicidas testados mesmo não sendo eficazes no controle (na mortalidade) da
do que as plantas com brotação nova. É uma informação vassourinha-de-botão, é importante avaliar a necessidade
relevante, seja para uso apenas do herbicida na entressafra, da aplicação de herbicidas seletivos para as espécies de
seja para a sua associação à alguma cultura para produção de gramíneas, como atrazine, 2,4-D ou metsulfuron-methyl,
grãos ou cobertura do solo, que pode ter o manejo iniciado para inibir o desenvolvimento da vassourinha-de-botão, sem
antes ou logo após a sua semeadura. afetar o crescimento das gramíneas, para, posteriormente,
O efeito do controle do milho mais o do herbicida na ter a competição desejada das gramíneas com as plantas
inibição de B. spinosa pode ser observado na Figura 13, que de B. spinosa.
mostra o desenvolvimento da planta daninha dentro e fora
da plantação, mas que também foi tratada com o herbicida.
5.2. Manejo na safra agrícola
A planta de B. spinosa está mais debilitada, estiolada e com (primavera-verão)
menor potencial de produção de sementes, comparada O programa de desinfestação da área foi iniciado
à planta do ambiente externo, que não conviveu com as na entressafra e progredirá para a safra agrícola, que é o
plantas de milho. manejo na primavera-verão. Se alguma estratégia foi ado-
O uso de gramíneas forrageiras, tais como braquiária, tada no outono-inverno, agora será feita a complementação
colonião, milheto forrageiro e sorgo forrageiro, na entressa- do manejo para a sua efetividade, que é promover a redu-
fra, instaladas na área após a colheita da soja ou na sobres- ção na densidade populacional de vassourinha-de-botão
semeadura da cultura, também inibem o desenvolvimento da área. Na safra agrícola também deverão ser adotadas
da vassourinha-de-botão. Porém, dependendo da época e medidas culturais relacionadas ao melhor estabelecimento
da forma de semeadura (a lanço ou em linha), a forrageira e desenvolvimento da cultura, iniciando com a escolha de
poderá demorar para emergir e iniciar o seu crescimento, sementes de alta qualidade e vigor e o uso de herbicidas
mais eficazes para vassourinha-de-botão, aplicados na
época certa, de melhor resposta da planta daninha. Em
resumo, deve-se beneficiar a cultura e ter assertividade
4
Dados não publicados. no controle químico.

A B C

Figura 13. C
 ultura do milho e seus efeitos nas plantas de Borreria spinosa (A, B), em comparação com plantas de vassourinha-de-botão
no ambiente externo (C), sem a competição das plantas de milho.

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16

A B

Figura 14. Competição da rebrota de Borreria spinosa no crescimento inicial de milheto forrageiro (A) e de sorgo granífero (B),
semeados após a colheita da soja.

O outono-inverno na região do Cerrado é seco, e é presentes no local, deve ser complementada com outra
quando as plantas de vassourinha-de-botão se encontram aplicação, sequencial, mesmo que seja realizada a mistura
secas, com baixa atividade metabólica. As plantas estão de dois ou três herbicidas inibidores da PPO. Não se trata
estressadas, perenizadas e com sistema radicular profundo. A apenas da quantidade de produtos, mas da época da aplica-
aplicação de herbicidas logo no início do período chuvoso não ção. Semelhante ao que foi feito no experimento realizado
será efetiva, não apenas pela tolerância natural das plantas, na Embrapa Cerrados, no ano agrícola 2022/2023, para o
mas porque elas não estão em condições fisiológicas para controle de plantas adultas de B. spinosa (Tabela 1). Nesse
absorver e translocar os herbicidas de forma adequada. Esse estudo, independentemente dos herbicidas pulverizados na
efeito é prejudicial, especialmente para os herbicidas sistê- primeira aplicação, todos necessitaram de uma segunda apli-
micos móveis pelo floema, como o glyphosate, chlorimuron, cação, realizada na semeadura da soja, para obter um nível
imazethapyr, entre outros. Na Figura 15 tem-se exemplos de de controle próximo de 90% na pré-colheita dos grãos, sem
plantas secas no outono-inverno (A) e de plantas com ativi-
interferência das plantas daninhas na colheita mecanizada e
dade metabólica aparentemente satisfatória para receber
na produtividade de grãos. A segunda aplicação foi realizada
a aplicação de herbicidas (B), pela rebrota das plantas, com
oito dias após a primeira aplicação.
superfície foliar suficiente para absorção e translocação dos
herbicidas. Essa condição é adequada para otimizar a resposta A seguir, são apresentadas algumas sugestões de manejo
dos herbicidas pulverizados na pré-semeadura da cultura de na pré-semeadura da soja, considerando o herbicida glypho-
verão. sate para o controle das outras espécies de plantas daninhas,
Herbicidas inibidores da enzima protoporfirinogen combinado a herbicidas parceiros, em duas aplicações. Na
oxidase (PPO), como flumioxazin, do grupo químico ftali- primeira, pode ser usado como parceiro do glyphosate um
mida, carfentrazone ethyl, do grupo químico triazolinona, herbicida inibidor de PPO (como carfentrazone, flumioxazin,
e saflufenacil e tiafenacil, ambos do grupo químico uracila, saflufenacil ou tiafenacil) ou um mimetizador de auxina (tri-
são moléculas importantes para compor a recomendação de clopyr ou halauxifen), respeitando-se o intervalo de semea-
manejo químico da vassourinha-de-botão na pré-semeadura dura para cada um deles. Antes ou logo após a semeadura da
da soja. A aplicação desses herbicidas, associada ao glypho- soja, faz-se a segunda aplicação, preferencialmente com her-
sate, que permanece no sistema devido às outras espécies bicidas de ação de contato mais um herbicida residual (como

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A B C

Figura 15. Plantas secas, com baixa atividade metabólica na entressafra (outono-inverno) (A, B) e plantas rebrotadas, retomando o cres-
cimento (C), com superfície foliar suficiente para adequada absorção e translocação dos herbicidas, no caso dos sistêmicos.
Crédito das fotos: Diego Motta.

Tabela 1. Controle (%) de vassourinha-de-botão (Borreria spinosa) aos 60 dias após a primeira aplicação (DAPA) de herbicidas na cultura da
soja e na pré-colheita dos grãos, no ano agrícola 2022/2023, na estação experimental da Embrapa Cerrados, em Planaltina, DF.

Resultados do teste F
Fontes de variação
60 DAPA Pré-colheita
1a aplicação 5,53* 3,23 ns
2a aplicação 4,27* 4,07*
1a aplicação x 2a aplicação 1,63 1,21
Bloco 2,44 0,92
CV1 (%) 4,08 9,30
CV2 (%) 6,17 12,64
1a aplicação Controle (%)
Glyphosate + carfentrazone 87,08 b 87,92
Glyphosate + saflufenacil 86,67 b 85,00
Glyphosate + carfentrazone + saflufenacil 86,67 b 81,46
Glyphosate + (halauxifen + diclosulam) 91,67 a 91,25
DMS (5%) 4,58 10,25
2 aplicação
a

Sem 83,33 b 77,08 b


Flumioxazin 89,58 a 87,92 ab
Flumioxazin + imazethapir 88,54 ab 91,25 a
Flumioxazin + piroxasulfone 90,62 a 89,38 ab
DMS (5%) 6,20 12,48

* Significativo ao nível de 1% de probabilidade pelo teste F da análise de variância; ns = não siginificativo.


Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.
DMS = diferença mínima significativa.

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amônio glufosinato+s-metolachlor, flumioxazin+imazethapyr, de vassourinha-de-botão. Esse fato foi confirmado no expe-


flumioxazin+chlorimuron, flumioxazin+piroxasulfone etc.), rimento5 desenvolvido na estação experimental da Embrapa
visando, além do controle das plantas adultas, manter o Cerrados, cujas plantas de soja da cultivar Brasmax Olimpo
resíduo dos herbicidas no solo para evitar novos fluxos de IPRO foram extremamente competitivas e ocasionaram exce-
emergência da vassourinha-de-botão na área. lente complementação do manejo de B. spinosa, somado ao
Na pós-emergência da soja, o manejo deverá ser feito controle químico utilizado.
unicamente com glyphosate. Outros herbicidas, usados em
mistura com o glyphosate, poderão causar mais danos à 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
soja do que benefícios ao controle da vassourinha-de-botão. O programa de desinfestação de vassourinha-de-botão
Na pré-emergência, vários herbicidas controlam adequa- na propriedade rural deve ser iniciado com o mapeamento
damente B. spinosa, como foi comprovado no experimento dos talhões infestados com a planta daninha. Conhecer os
realizado em condições de campo com a cultura da soja no locais e a intensidade da infestação (baixa, média ou alta)
ano agrícola 2021/2022, em Planaltina, DF (Figura 16). Nesse é importante para definir as principais estratégias a serem
estudo, dos oito tratamentos com herbicidas avaliados, adotadas. Acompanhar o crescimento e o desenvolvimento
seis foram eficazes, promovendo notas maiores que 80%, das plantas também é relevante para a identificação correta
e diferiram significativamente dos demais. Destaque para o da espécie da área. Na dúvida, consultar um especialista.
herbicida flumioxazin, isolado e em mistura com imazethapyr O manejo deve ser feito com foco na produtividade
ou piroxasulfone, que resultou em controle de 93% a 100%. da cultura de interesse e também no banco de sementes,
Dentre as medidas culturais, destacam-se o uso de visto que o solo é um reservatório de sementes de plantas
cultivares adaptadas à região, densidade populacional e daninhas. Por isso, não é indicado deixar áreas em pousio,
espaçamento adequados, adubação equilibrada, controle sendo importante estabelecer alguma medida de controle na
satisfatório de pragas, doenças e nematoides etc. Outra prá- entressafra, especialmente o uso de cobertura do solo, viva
tica importante é o uso de cultivares de elevada capacidade ou morta, cujos benefícios são expressivos para o sistema
competitiva. Cultivares com essa característica apresentam de produção.
rápido crescimento inicial, com intenso recrutamento dos A vassourinha-de-botão, principalmente as espécies
recursos do ambiente e alto poder de interceptação da luz perenes B. spinosa e B. verticillata, deve ser manejada e não
solar, dificultando o acesso e a utilização dos recursos pelas apenas controlada. As estratégias de ação devem ser esta-
plantas daninhas (PITELLI; PITELLI, 2008). Cultivares mais belecidas em função do sistema de produção e não apenas
competitivas resultam no fechamento mais rápido do dos- da cultura de interesse no momento.
sel das plantas e, consequentemente, no sombreamento
mais precoce das entrelinhas da cultura, que resultará no
abafamento e na redução da luz disponível para as plantas 5
Dados não publicados.

Figura 16. Controle (%) de Borreria spinosa por herbicidas pulverizados em pré-emergência na cultura da soja, aos 45 dias após a
aplicação. Planaltina, DF, ano agrícola 2021/2022.
Dosagens: s-metolachlor (1.440 g ha-1); s-metolachlor + fomesafen (1.035,7 + 227,8 g ha-1); s-metolachlor + metribuzin (942,8 +
223,5 g ha-1); flumioxazin (60 g ha-1); flumioxazin + imazethapyr (50 + 100 g ha-1); flumioxazin + pyroxasulfone (80 + 120 g ha-1);
sulfentrazone + diuron (210 + 420 g ha-1); diclosulam (29,4 g ha-1). Infestação na testemunha sem herbicida: 39 plantas m-2.
Letras semelhantes não diferem significativamente pelo teste de Skott-Knott a 5% de probabilidade.

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ARTIGO TÉCNICO 2
Bacillus amyloliquefaciens no Controle
Biológico de Nematoides em Soja e Milho
Carlos Guarnieri1, Orlando Garcia2

1. INTRODUÇÃO tentes a nematoides, quando disponíveis, e a aplicação de


nematicidas químicos e biológicos. No entanto, essas estra-
O problema dos nematoides nas culturas da soja e do
tégias nem sempre são completamente eficazes, e o manejo
milho é uma preocupação significativa para os agricultores no
Brasil. Os nematoides são pequenos vermes não-segmentados de áreas infestadas com esse parasita continua sendo um
que vivem no solo e podem parasitar as raízes das plantas, desafio constante.
causando danos à saúde das culturas. As principais espécies É importante mencionar que a pesquisa agrícola no
que afetam a soja e o milho no Brasil são o nematoide-de- Brasil está constantemente buscando novas estratégias e
cisto da soja (Heterodera glycines, não ocorre no milho), o soluções para o controle de nematoides, visando reduzir
nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus spp.) e o as perdas nas lavouras de soja e milho, que são culturas de
nematoide-de-galhas (Meloidogyne spp.). grande importância econômica para o país.
Os nematoides podem reduzir significativamente a pro-
dutividade das culturas, resultando em perdas econômicas
2. CONTROLE BIOLÓGICO DE NEMATOIDES
para os agricultores. Os sintomas incluem amarelecimento O controle biológico de nematoides envolve o uso de
das folhas, murchamento, menor desenvolvimento das raízes organismos vivos, como outros nematoides, bactérias, fun-
e, em casos graves, morte das plantas. gos ou predadores naturais, para reduzir a sua população no
As perdas de produtividade devido aos nematoides solo e, assim, proteger as culturas agrícolas. Essa abordagem
variam em função da região e das condições climáticas, mas é considerada uma alternativa mais sustentável e amiga do
podem ser significativas em algumas áreas. Os agricultores ambiente, comparada ao uso de produtos químicos nemati-
adotam várias estratégias para lidar com esse problema, cidas, que podem ter impactos negativos no solo e no meio
incluindo a rotação de culturas, o uso de cultivares resis- ambiente.

Abreviações: ACC = ácido 1-aminociclopropano-1-carboxílico; AG = giberelina; AIA = ácido indol-3-acético; AJ = ácido jasmônico,
AS = ácido salicílico; DAE = dias após a emergência.

1
Engenheiro Agrônomo, Msc, Pesquisador em Nematologia, Corteva Agriscience; e-mail: carlos.guarnieri@corteva.com
2
E ngenheiro Agrônomo, Lider de Projetos em Tratamento de Sementes na America Latina, Corteva Agriscience; e-mail:
orlando.garcia@corteva.com

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2.1. Agentes de controle biológico metabólica, produção de enzimas e tolerância a condições


ambientais adversas. Por isso, tem aplicação em diversas
Alguns exemplos de agentes de controle biológico de
áreas, como controle de nematoides, indução de crescimento
nematoides estão listados a seguir:
radicular em plantas, etc.
• Nematoides predadores: existem nematoides que se
alimentam de nematoides parasitas de plantas. Por exemplo, 2.3. Bacillus amyloliquefaciens
os nematoides do gênero Mononchus. cepa PTA-4838
• Fungos: certos fungos, como os do gênero Pochonia,
Hirsutella e Arthrobotrys, podem ser usados para controlar B. amyloliquefaciens cepa PTA-4838 é uma bactéria
nematoides. Esses fungos infectam e matam os nematoides natural do solo que coloniza de forma agressiva as raízes das
parasitas quando entram em contato com eles no solo. plantas para criar uma barreira biológica viva, que cresce
junto com a planta (Figura 1) e protege as raízes contra danos
• Bactérias antagonistas: algumas bactérias benéficas, causados por patógenos, proporcionando um ambiente ideal
como as do gênero Bacillus, produzem substâncias que para o crescimento das plantas. Trata-se de uma rizobacté-
são tóxicas para nematoides. Essas bactérias podem ser ria simbiótica, que depende das secreções das raízes para
aplicadas no solo para reduzir a população de nematoides sobreviver. Ela impede a invasão de nematoides parasitas
fitopatogênicos. de plantas, ao mesmo tempo que preserva as atividades de
• Micorrizas: as micorrizas são associações simbióticas fungos micorrízicos arbusculares e de outros organismos
entre fungos e raízes de plantas. Elas podem melhorar a benéficos. Isso significa que essa bactéria não se deslocará
resistência das plantas aos nematoides, tornando as raízes prontamente da zona das raízes e fornecerá proteção
menos hospitaleiras para os nematoides parasitas. estendida por pelo menos 80 dias durante a temporada de
• Tratamentos microbiológicos do solo: algumas for- crescimento das plantas. Por ser uma bactéria muito agres-
mulações comerciais contêm uma combinação de microrga- siva em sua multiplicação, pode ser usada em baixas doses
nismos benéficos, como bactérias e fungos, que podem ser no tratamento de sementes de soja e milho.
aplicadas ao solo para promover a supressão de nematoides.
É importante ressaltar que o sucesso do controle biológico
de nematoides pode variar de acordo com as condições locais,
os tipos de nematoides presentes e as práticas agrícolas
adotadas. Portanto, a escolha da estratégia de controle
biológico mais adequada deve ser baseada em uma avaliação
cuidadosa das condições específicas de cada área agrícola.
Além disso, o manejo integrado de nematoides, que combina
várias estratégias, muitas vezes é a abordagem mais eficaz
para controlar esses parasitas de forma sustentável.

2.2. Bacillus amyloliquefaciens


Bacillus amyloliquefaciens é uma espécie de bactéria
gram-positiva do gênero Bacillus. Essa bactéria é conhecida
por sua capacidade de produzir enzimas que degradam
o amido, daí o nome “amyloliquefaciens”. Além disso, o
B. amyloliquefaciens também é conhecido por sua capaci- Figura 1. Colonização de raízes de milho por B. amyloliquefaciens
dade de produzir antibióticos e substâncias antimicrobianas cepa PTA-4838.
que podem inibir o crescimento de patógenos bacterianos e
fúngicos. Essa bactéria é amplamente utilizada na agricultura Para entender o potencial nematicida desta cepa,
como agente de controle biológico para proteger as plantas diversos testes foram conduzidos em laboratório. Nestes, foi
contra doenças e promover o crescimento das culturas. Ela observada a produção de proteases pelas colônias de bacté-
pode colonizar as raízes das plantas e ajudar na absorção de rias que cresceram em dois meios de cultura diferentes, um
nutrientes pelas plantas. Ademais, o B. amyloliquefaciens é mais pobre em nutrientes e outro mais rico, como descrito
utilizado em diversas aplicações industriais, incluindo a pro- na Figura 2. Proteases são enzimas que são secretadas por
dução de enzimas, fermentações industriais e na fabricação agentes de controle biológico de fitonematoides como um
de produtos farmacêuticos. dos mecanismos envolvidos na ação contra esses patógenos
Essa bactéria possui diversas cepas, cada uma delas em diferentes estádios de desenvolvimento – ovos, juvenis
com características específicas. As diferentes cepas de ou adultos. A casca do ovo dos nematoides é composta de
B. amyloliquefaciens podem variar em relação à capacidade diferentes camadas, sendo elas proteína, quitina e lipídio.

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Suspensões contendo ovos ou juvenis de nematoides


Atividade proteolítica (U mL-1)

foram contaminadas com esses extratos, avaliando-se, a


seguir, a eclosão de juvenis (efeito ovicida) e a mortalidade de
juvenis. Observou-se uma eclosão muito baixa de nematoide-
de-cisto (H. glycines) e nenhuma eclosão de nematoide-de-
galhas (M. incognita), mostrando, assim, um efeito ovicida
muito potente dos metabólitos produzidos por esta cepa de
B. amyloliquefaciens (Figura 3).

Horas de cultivo

Meio de cultura 1 Meio de cultura 2

Figura 2. Atividade proteolítica de B. amyloliquefaciens cepa PTA-


4838 cultivado em diferentes meios, nas condições de pH
7 e 60 °C. * Indica diferença estatística entre as médias
e ns sem diferença estatística, de acordo com o teste t
de Student.

A ação das proteases é importante para a degradação da


primeira camada composta por proteína e para que o agente
de controle biológico tenha sucesso na ação contra ovos. Os
Figura 3. Número de juvenis eclodidos de Heterodera glycines e
nematoides possuem uma camada de cutícula que envolve
de Meloidogyne incognita após o contato com os meta-
todo o seu corpo e que tem a função de proteção e manu-
bólitos produzidos por Bacillus amyloliquefaciens. A letra
tenção do exoesqueleto flexível. A cutícula é composta de
minúscula se refere à análise com Heterodera glycines e
.
proteínas tipo-colágeno e outras substâncias. A degradação
a letra maiúscula com Meloidogyne incognita.
dessa camada por agentes de controle biológico necessita
da ação de enzimas do tipo protease.
A Figura 4 mostra que os ovos expostos a essas toxinas
Para entender o efeito de outros metabólitos produzidos não se tornam juvenis de nematoide-de-galhas, que são a
por essa bactéria, avaliou-se o efeito de extratos coletados fase infectiva da espécie e que podem causar problemas,
em colônias estabelecidas sobre ovos e juvenis de diferentes assim que penetram nas raízes.
espécies de nematoides. Para tal, o extrato com compostos Na avaliação do efeito direto sobre juvenis, obteve-se
produzidos pela bactéria foi avaliado em duas condições: mortalidades próximas a 100% nas três principais espécies
• Metabólitos totais: incluindo as enzimas e proteínas de nematoides (de cisto, das galhas e das lesões radiculares),
(metabólitos primários) e as toxinas (metabólitos secundários). seja com os metabólitos primários, seja com os secundários
• Metabólitos secundários: ausência do efeito de (Figura 5). Com isso, conclui-se que esta cepa tem um alto poder
enzimas devido ao aquecimento por 30 minutos a 90 oC, nematicida, afetando e matando diversas fases de três espécies
que proporcionou a inativação de enzimas com atividade de nematoides, e, portanto, deve ser considerada em testes de
nematicida. campo para manejo de áreas com infestação desse parasita.

Figura 4. Ação de metabólitos em juvenis de Meloidogyne incognita após 10 dias de contato com: A) meio de cultura (Testemunha);
B) Extrato com metabólitos totais; C) Extrato com metabólitos secundários.
Crédito das fotos: Thalita Monteiro.

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Figura 5. Porcentagem de mortalidade de nematoides Pratylenchus brachyurus, Meloidogyne incognita e Heterodera glycines após o
contato com os metabólitos produzidos por Bacillus amyloliquefaciens. A letra minúscula se refere à análise com P. brachyurus,
a letra maiúscula com M. incognita e a letra minúscula seguida de * com H. glycines.

Além do efeito nematicida, avaliou-se também a pro-


dução de fitohormônios por esse microrganismo (Figura 6).
Descobriu-se que essa bactéria pode produzir, quando colo-
niza as raízes das plantas, diversos compostos que auxiliam o
Concentração (ng mL-1)

desenvolvimento vegetal e a resposta a estresses bióticos e


abióticos, como exemplos, o ácido indol-acético, a giberelina
e o ácido jasmônico.
Com base nesses resultados em laboratório, este
microrganismo teve sua eficácia testada contra diversas
espécies de nematoides em soja e milho, quando aplicado no
tratamento de sementes. Na Figura 7 estão apresentados os
resultados médios de seis ensaios conduzidos em condição
controlada (vasos em casa de vegetação), onde se tratou as
sementes de milho com diferentes doses de B. amylolique-
faciens cepa PTA-4838. Aos 70 dias após a emergência, foi
quantificada a concentração de nematoides Pratylenchus
brachyurus nas raízes das plantas. Observou-se uma redução
do ataque destes nematoides nas raízes em mais de 80%,
dependendo da dose utilizada nas sementes. Figura 6. Quantificação de fitohormônios produzidos por Bacillus
Com os resultados obtidos em laboratório e em casa de amyloliquefaciens em meio de cultura e em produto
vegetação mostrando o alto potencial nematicida da bactéria, comercial. ACC = ácido 1-aminociclopropano-1-carbo-
na sequência foi avaliado o efeito do seu uso em condição de xílico; AIA = ácido indol-3-acético; AG = giberelina; AJ =
campo, onde áreas infestadas com nematoides tinham seu ácido jasmônico e AS = ácido salicílico. Letras diferentes
potencial produtivo comprometido. Dois experimentos foram indicam diferença significativa entre os tratamentos, de
conduzidos no Cerrado brasileiro durante a safra 2019/2020 acordo com o teste de Tukey a 5% de probabilidade.
no município de Brasília, DF (áreas com histórico de infestação
natural de P. brachyurus). As sementes de milho foram trata-
das com B. amyloliquefaciens cepa PTA-4838 e comparadas à Bacillus amyloliquefaciens cepa PTA-4838 foi avaliado
testemunha. Avaliou-se o controle de nematoides nas amos- também no tratamento de sementes de soja, em área
tras de raízes aos 70 dias após a semeadura (Figura 7) e aos infestada por nematoide-de-cisto na região de Rio Verde,
45 dias após a emergência das plantas (Figura 8). Observou-se GO, comparando-o com outros nematicidas utilizados pelos
que a infestação de nematoides nas raízes foi 70% menor produtores. Na Tabela 1 observa-se que a quantidade de
na área que recebeu a bactéria no tratamento de sementes. H. glycines nas raízes diminuiu em mais de 60% quando se
Esse menor ataque de nematoides permitiu um aumento na utilizou essa bactéria, mostrando-se similar ou até superior
produtividade em mais de 8 sc ha-1 (Figura 9). a outros nematicidas.

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Número de Pratylenchus brachyurus


por grama de raiz

Bacillus Bacillus Bacillus Testemunha


amyloliquefaciens amyloliquefaciens amyloliquefaciens
(5 mL ha-1) (10 mL ha-1) (15 mL ha-1)

Figura 7. Número de Pratylenchus brachyurus por grama de raiz de milho aos 70 dias após a semeadura com sementes tratadas com
diferentes doses de Bacillus amyloliquefaciens cepa PTA-4838. Letras diferentes indicam diferença significativa entre os tra-
tamentos, de acordo com o teste de Tukey a 5% de probabilidade. Médias de seis ensaios.

3.000 10,2
b
10,0
Produtividade (t ha-1)

2.500 9,8
Contagem de nematoides

9,6 a
2.000
por grama de raiz

9,4
1.500 9,2
9,0
1.000 8,8

500 Figura 9. Produtividade de milho após a maturidade fisiológica dos


grãos. Letras diferentes indicam diferença significativa
0 pelo teste de Tukey (α = 0,05). As barras nos gráficos
indicam o desvio padrão. Box-Cox λ = -4,8784.
Figura 8. Contagem de nematoides (Pratylenchus brachyurus) por
grama de raiz de milho aos 42 dias após a emergência. Tabela 1. Concentração de Heterodera glycines em raízes de soja aos
45 dias após a emergência (DAE), em diferentes tratamen-
Letras diferentes indicam diferença significativa pelo teste
tos de sementes com nematicidas. Letras diferentes indi-
de Tukey (α = 0,1). As barras nos gráficos indicam o erro
cam diferença significativa para o teste de Tukey (α = 0,05).
padrão. Box-Cox λ = -0,0769.
H. glycines/10 g raiz
Essa redução do ataque resultou em incremento de Tratamentos
45 DAE Controle (%)
produtividade de mais de 70% (Tabela 2), porém trata-se
de uma área muito afetada por nematoides (produtividade T1 - Testemunha 135,7 a -
média abaixo de 30 sc ha-1), onde apenas a aplicação de T2 - Bacillus amyloliquefaciens 49,5 b 63,5
nematicidas não é suficiente para elevar a produtividade a T3 - Nematicida 1 89,9 b 33,8
patamares rentáveis para o produtor. T4 - Nematicida 2 127,6 a 6,0
Em um outro ensaio feito em vasos foi possível observar T5 - Nematicida 3 57,4 b 57,7
o efeito da redução e do ataque de Pratylenchus brachyurus CV (%) 53,34
nas raízes de soja (Figura 10). Nas plantas que receberam
o tratamento com B. amyloliquefaciens cepa PTA-4838, CV = coeficiente de variação.

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Tabela 2. Produtividade média de soja obtida em diferentes trata- as raízes estavam mais claras e com menos lesões. As lesões
mentos de sementes com nematicidas. Letras diferentes necrosam as radicelas e afetam a absorção de água e nutrien-
indicam diferença significativa para o teste de Tukey tes pelas plantas.
(α = 0,05).
Outro ensaio foi conduzido com a cultura da soja em
Produtividade de soja área contendo quatro espécies diferentes de nematoides –
Tratamentos Meloidogyne incognita, M. javanica, Heterodera glycines e
(kg ha-1) Incremento (%) Pratylenchus brachyurus –, na região de Guaíra, SP. Neste,
observou-se uma redução do ataque de todos os nema-
T1 - Testemunha 920 a -
toides nas raízes das plantas tratadas, principalmente aos
T2 - Bacillus amyloliquefaciens 1.610 ab 76,2 44 dias após a emergência, quando houve redução de 65%
T3 - Nematicida 1 970 a 5,5 neste parâmetro (Figura 11). Após a colheita desta soja,
T4 - Nematicida 2 2.630 b 187,7 observou-se incremento de produtividade de 10 sc ha-1
em relação à testemunha, atingindo 72 sc ha-1. A diferença
T5 - Nematicida 3 1.710 ab 86,3
entre os tratamentos foi observada mesmo antes da soja
CV (%) 24,2 completar o seu ciclo, mostrando que as plantas nas parce-
las tratadas com B. amyloliquefaciens estavam mais altas e
CV = coeficiente de variação. uniformes (Figura 12).

Figura 10. R
 aízes de soja atacadas por Pratylenchus brachyurus: A) semente tratada com Bacillus amyloliquefaciens; B) semente sem
tratamento (testemunha).
Crédito das fotos: Andressa Machado.

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Figura 11. Número total de Meloidogyne incognita, M. javanica, Heterodera glycines e Pratylenchus brachyurus nas raízes de soja aos
44 e 78 dias após a emergência (DAE). Letras diferentes indicam diferença significativa entre os tratamentos, de acordo com
o teste de Tukey a 5% de probabilidade.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS caz quando se combinam diversas táticas de redução das


Com base nos resultados obtidos em ambientes contro- populações no solo. Portanto, o uso de bionematicida deve
lados e protegidos, como laboratório e casa de vegetação, estar associado à rotação de culturas e ao uso de materiais
aliados aos resultados alcançados em campos infestados, resistentes ou tolerantes ao ataque de nematoides e à
conclui-se que o B. amyloliquefaciens cepa PTA-4838 tem prevenção da contaminação de novas áreas. Se um talhão
grande potencial para auxiliar no manejo de áreas infesta- apresenta alta população de nematoides, será necessário o
das de nematoides, sejam elas de milho ou de soja. Porém, manejo desta área por várias safras para se obter níveis de
é essencial lembrar que o manejo de nematoides só é efi- produtividades satisfatórios novamente.

Testemunha Bacillus
amyloliquefaciens

+ 10,4 sc ha-1
Figura 12. Soja tratada com Bacillus amyloliquefaciens, aos 75 dias após a emergência, comparada à testemunha.
Crédito da foto: Pedro Soares.

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ARTIGO TÉCNICO 3
Uso de Fungos Entomopatogênicos no
Manejo de Pragas na Agricultura –
Você Sabe que Fungo e que Dose Aplicar?
Marcos Roberto Conceschi1, Álefe Vitorino Borges2, Juscelio Ramos de Souza3, Bruno Neves Ribeiro4

1. INTRODUÇÃO 2. GÊNEROS E ESPÉCIES DE FUNGOS


A agricultura desempenha um papel fundamental na ENTOMOPATOGÊNICOS MAIS UTILIZADOS
produção de alimentos para a crescente população mun- NO BRASIL
dial, mas enfrenta desafios significativos devido às pragas Diversos gêneros e espécies de fungos entomopatogê-
que ameaçam a produtividade. As pragas causam perdas nicos têm sido estudados e aplicados no controle de pragas
significativas na produção e nos rendimentos, e o uso indis- na agricultura. Os mais notáveis incluem:
criminado de pesticidas químicos tem gerado problemas de
• Metarhizium: esse gênero pertence à família Cla-
ordem ambiental e de saúde pública, além de resistência
vicipitaceae, que atua sobre uma enorme diversidade de
das pragas às moléculas utilizadas, estimulando a busca por
hospedeiros (muitas ordens e famílias taxonômicas). A
alternativas mais sustentáveis de manejo. Quando se utiliza
espécie Metarhizium anisopliae é a mais conhecida por sua
o Sistema Integrado de Manejo (SIM), a adoção de fungos
eficácia no controle de pragas que têm parte do seu ciclo de
entomopatogênicos ganha destaque. Esses microrganismos vida próximo ao solo, tais como as cigarrinhas em cana-de-
são capazes de infectar e matar insetos e ácaros-pragas. açúcar e pastagens. Atualmente, é um agente de controle
Neste artigo, exploramos o uso desses fungos na agri- microbiológico amplamente empregado no Brasil. Nesse
cultura, abordando os gêneros e espécies mais relevantes, mesmo gênero, surgem novos registros de produtos com a
o mecanismo de ação, a estratégia de manejo inundativa, espécie Metarhizium rileyi, anteriormente conhecida como
as doses de propágulos infectivos (conídios ou blastosporos) Nomuraea rileyi e comumente observada causando alta
necessárias por hectare e a compatibilidade com defensivos mortalidade de lagartas no campo, fenômeno conhecido
químicos. como epizootia, que ocorre naturalmente nas lavouras em

Abreviação: SIM = Sistema Integrado de Manejo.

1
Engenheiro Agrônomo, Dr., Essere Group, Olímpia, SP; e-mail: marcos.conceschi@essere.group
2
Engenheiro Agrônomo, Dr., Essere Group, São José do Rio Preto, SP; e-mail: alefe.borges@essere.group
3
Engenheiro Agrônomo, Dr., Essere Group, Olímpia, SP; e-mail: juscelio.souza@essere.group
4
Engenheiro Agrônomo, Dr., Essere Group, São José do Rio Preto, SP; e-mail: bruno.neves@essere.group

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determinadas situações de condições ambientais, favoreci- • Contato: Os propágulos infectivos dos fungos (coní-
das especialmente pela maior umidade relativa. dios ou blastosporos) entram em contato com o inseto ou o
• Cordyceps: gênero da família Cordycipitaceae, com ácaro e aderem à sua superfície cuticular;
diversas espécies estudadas para o controle de pragas na • Germinação: Os propágulos germinam, produzem
agricultura. O gênero Cordyceps é famoso por sua relação uma estrutura de penetração (algumas espécies formam
parasítica sobre uma grande diversidade de espécies de apressório) que, associada às enzimas produzidas pelo
insetos e ácaros-pragas. Beauveria bassiana é a espécie mais microrganismo, auxilia na penetração mecânica das suas
conhecida nesse gênero (sim, Beauveria bassiana = Cordy- hifas para o interior do corpo da praga;
ceps bassiana, são sinônimos) e é amplamente utilizada • Penetração: O fungo invade o corpo do hospedeiro,
devido à sua capacidade de infectar uma ampla gama de passa a crescer internamente e produzir toxinas que retar-
ordens de insetos e ácaros-pragas, dentre elas: Coleoptera dam as atividades fisiológicas e comportamentais do hos-
(besouros), Hemiptera (pulgões, moscas brancas, psilídeos pedeiro;
e percevejos), Lepidoptera (lagartas), Thysanoptera (tripes)
• Colonização: O fungo se multiplica no interior do
e Acari (ácaros tetraniquídeos). Outras espécies de fungos
hospedeiro, consumindo seus nutrientes e destruindo os
entomopatogênicos nesse gênero são cada vez mais estu-
órgãos vitais;
dadas e adotadas, como a espécie Cordyceps fumosorosea,
que é o nome correto e usual para as já conhecidas espécies • Morte e esporulação: Com o hospedeiro morto, o
Isaria fumosorosea e Paecilomyces fumosoroseus (também fungo emerge de seu corpo na forma de estruturas espo-
são sinônimos), e Cordyceps javanica (anteriormente Isaria ruladas (conidióforos com conídios aéreos), à medida que
javanica), espécie mais recente em registros de produtos as condições ambientais são favoráveis (alta umidade e
no Brasil. temperaturas entre 25 °C e 30 °C). A partir daí, os conídios
podem ser dispersados pelo vento e chuva e infectar outros
• Hirsutella: é um gênero pertencente à família Ophio-
insetos ou ácaros.
cordycipitaceae, fungo com características epizoóticas, de
difícil produção em fermentações sólidas. Apresentam os 4. CONTROLE MICROBIOLÓGICO INUNDATIVO:
alvos biológicos nas ordens Coleoptera, Hemiptera, Diptera,
QUE DOSE DE CONÍDIOS APLICAR POR
Hymenoptera, Lepidoptera, Thysanoptera Acari (Eriophyidae,
Tarsonemidae, Tenuipalpidae Tetranychidae). HECTARE?
A Figura 1 apresenta imagens de placas contendo os A estratégia inundativa envolve a aplicação de grandes
principais fungos comercializados no Brasil. Em detalhes, quantidades de propágulos infectivos (conídios ou blas-
na Tabela 1, estão as espécies, principais alvos e número de tosporos) no ambiente agrícola para combater as pragas.
registros no país. Além da quantidade, a qualidade é relevante, devendo-se
levar em conta o vigor dos propágulos e não somente
3. MECANISMOS DE AÇÃO DOS FUNGOS a capacidade de germinação. Propágulos vigorosos de
ENTOMOPATOGÊNICOS fungos são aqueles que germinam em até 16 h (FARIA et
al., 2022). A frequência de infecção e a performance do
Os fungos entomopatogênicos utilizam mecanismos
produto a campo são maiores se os propágulos germinam
complexos para infectar e matar insetos e ácaros. Os prin-
mais rapidamente após a aplicação, pois reduz o tempo
cipais passos envolvidos podem ser vistos no esquema da
de exposição às condições adversas, como incidência de
Figura 2 e incluem:

Beauveria bassiana Metarhizium anisopliae Metarhizium rileyi Cordyceps javanica

Figura 1. Imagens de placas contendo as principais espécies de fungos entomopatogênicos comercializadas no Brasil.

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Tabela 1. Espécies de fungos entomopatogênicos, principais alvos controlados, com base no registro em bula, isolados registrados e
número total de produtos registrados no Brasil.

Isolados registrados N° total de produtos


Espécie Principais alvos biológicos
(nº de produtos) registrados*

IBCB 66 (81 produtos)


CBMAI 1306 (5 produtos)
PL 63 (4 produtos)
BV 15 (3 produtos)
Mosca-branca, cigarrinha-do-milho, GHA (2 produtos)
ácaro-rajado, broca-do-café,
Beauveria bassiana Ball 6-2 (1 produto) 101
bicudo-da-cana-de-açúcar,
percevejo-marrom etc. R 414 (1 produto)
CG 716 (1 produto)
BV 13 (1 produto)
CBMAI (1 produto)
PPRI 5339 (1 produto)

ESALQ 3422 (4 produtos)


Mosca-branca, cigarrinha-do-milho,
Cordyceps fumosorosea ESALQ 4778 (2 produtos) 8
psilídeo dos citros, cochonilhas etc.
ESALQ 1296 (2 produtos)

BRM 27666 (1 produto)


Mosca-branca, psilídeo dos citros,
Cordyceps javanica BV 14 (1 produto) 3
cigarrinha-do-milho etc.
URM 7662 (1 produto)

CCT 7765 (2 produtos)


Hirsutella thompsonii Ácaro-rajado etc. 3
CCT 4466 (1 produto)

Cigarrinhas-das-raízes, IBCB 425 (92 produtos)


Metarhizium anisopliae cigarrinha-das-pastagens, IBCB 438 (1 produto) 94
percevejo-castanho etc. E-9 (1 produto)

Lagarta-do-cartucho, CCT 7771 (2 produtos)


Metarhizium rileyi lagarta falsa-medideira, CG 1153 (1 produto) 4
lagarta-armígera etc. PHP 1705 (1 produto)

* Na quantificação dos produtos, não foram consideradas as segundas marcas do mesmo produto.
Fonte: AGROFIT (2023).

A B C
luz ultravioleta, altas temperaturas e baixa umidade rela- ladas e em campo. Segundo estudos realizados por Lacey et
tiva. Portanto, a escolha da dose de propágulos vigorosos al. (2008) com Beauveria bassiana no controle de mosca-
aplicada por hectare é um aspecto crítico na estratégia de branca (Bemisia tabaci), a quantidade de conídios suficiente
controle microbiológico inundativo e depende da espécie para matar 50% da população de ninfas de terceiro ínstar, em
de fungo entomopatogênico, do tipo de praga, da forma condições de laboratório, foi de 100 conídios/mm2. Para atingir
de aplicação e das condições ambientais. a deposição de 100 a 150 propágulos/mm2 geralmente temos
A dose ideal pode variar consideravelmente, de acordo que realizar uma aplicação de 100 L de calda por hectare
com a espécie da praga, estádio de desenvolvimento e com cerca de 1 x 107 conídios/mL de calda (MASCARIN et
tecnologia de aplicação, mas geralmente está próxima ou al., 2013), que corresponde a 1 x 1012 conídios por hectare.
acima de 1 x 1012 propágulos vigorosos por hectare. Essa Essa quantidade é necessária, pois nem todos os conídios
dose permite que sejam distribuídos cerca de 100 propágulos que chegam no alvo/praga são capazes de completar sua
vigorosos por mm2 em uma superfície plana (Figura 3). A quan- germinação e penetração. Essa depende do vigor dos pro-
tidade de propágulos recomendada é baseada em estudos págulos aplicados, da parte do corpo do inseto/ácaro que
que indicam alta performance de produtos microbiológicos os propágulos atingem, das condições ambientais que estão
à base de fungos entomopatogênicos em condições contro- submetidos etc.

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Figura 2. Esquema do ciclo de infecção de Beauveria bassiana no corpo do hospedeiro.


Fonte: Modificada de Mascarin e Jaronski (2016).

Atingir de 100 a 150 conídios/mm2

1 hectare = 10.000 m2 = 10.000.000.000 mm2 = 1 x 1010 mm2

Figura 3. Deposição e germinação de conídios de fungos entomopatogênicos sobre o corpo de adultos de Diaphorina citri pulverizados
associados a diferentes adjuvantes. As setas pretas indicam conídios depositados, alguns em fase de germinação.
Fonte: Conceschi (2017).

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O que significam essas doses em relação aos produ- de produtos em suas práticas agrícolas, muitas vezes em uma
tos comerciais no Brasil? Para responder a essa pergunta, mesma aplicação. A interação entre esses dois métodos de
precisamos observar as concentrações dos produtos nas controle pode ter implicações significativas para a eficácia
respectivas bulas. Para esse tema, chamamos a atenção do controle de pragas, especialmente das pragas de difícil
para a unidade de medida relacionada, que é dada em mL controle e dos vetores de patógenos de plantas. Algumas
ou g ou L ou kg. É comum encontrarmos divergências nesse considerações importantes são:
sentido em alguns produtos, sendo necessário unificar a uni- • Ativo x inertes na formulação: A interação entre
dade de medida para fins de comparação. Por exemplo, um fungos entomopatogênicos e produtos químicos pode variar
produto que apresenta 1 x 1012 conídios vigorosos/kg tem a dependendo das substâncias envolvidas, de modo que
mesma concentração de outro que apresenta 1 x 109 conídios devem ser consideradas, nos testes de compatibilidade, a
vigorosos/g, bastando dividir o valor por 1.000 para transfor- marca do produto, a dose e o volume de calda na mistura
mar kg em g de produto. Por outro lado, na mesma unidade testada. Portanto, não basta somente conhecer a compati-
de medida, geralmente mL ou g, um produto que tem 1 x 1010 bilidade para o ingrediente ativo;
conídios vigorosos/g é dez vezes mais concentrado do que
• Inseticidas, herbicidas, adjuvantes e fertilizantes:
outro que tem 1 x 109 conídios vigorosos/g (Figura 4). Diante
Alguns produtos químicos podem ser prejudiciais aos fungos
disso, o primeiro produto aplica 1 x 1012 conídios vigorosos/
entomopatogênicos, afetando sua germinação e reduzindo
hectare com apenas 100 g/ha, enquanto o segundo produto
a performance a campo, devido à inibição ou atraso da ger-
deve aplicar 1 kg/ha para atender a mesma concentração
minação dos propágulos. Portanto, é importante escolher,
recomendada por hectare. O fato é que produtos com con-
com base nas marcas de cada produto químico, aqueles que
centração de 1 x 109 conídios vigorosos/g ou mL, ou abaixo
tenham um impacto mínimo sobre a germinação dos propá-
dessa concentração, acabam se tornando inviáveis economi-
gulos dos fungos, a fim de garantir sua rápida germinação e
camente para aplicar 1 x 1012 conídios vigorosos/ha, ou seja,
penetração no hospedeiro após a aplicação.
para a aplicação do controle microbiológico inundativo. São
poucos os produtos no mercado que atendem essa premissa • Fungicidas: Fungicidas químicos têm o potencial de
com viabilidade econômica, e saber escolher é fundamental afetar os fungos entomopatogênicos, pois podem matar
para atingir alta performance de controle. ou inibir a germinação dos propágulos infectivos. Dessa
forma, não é recomendável utilizar fungos entomopatogê-
5. COMPATIBILIDADE COM DEFENSIVOS nicos e fungicidas na mesma calda de aplicação. Embora
não seja recomendável a aplicação na mesma calda, é pos-
QUÍMICOS SINTÉTICOS E FERTILIZANTES
sível utilizar fungos entomopatogênicos e fungicidas em
A compatibilidade dos fungos entomopatogênicos momentos distintos durante o ciclo de desenvolvimento
com defensivos químicos e fertilizantes é uma preocupação da cultura, obedecendo um intervalo de segurança entre
importante para os agricultores que utilizam uma variedade as aplicações.

Figura 4. Relação de equivalência de dois produtos comerciais para atender a mesma quantidade de conídios de 1 x 1013 conídios vigorosos.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS CONCESCHI, M. R. Parâmetros a serem considerados nas


O uso de fungos entomopatogênicos no controle de pra- pulverizações do fungo Isaria fumosorosea para o manejo
gas na agricultura é uma estratégia eficaz e sustentável, com de Diaphorina citri. 217. Tese (Doutorado) – Escola Superior
potencial de reduzir a dependência de defensivos químicos de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, SP, 2017. Doi:
no manejo de pragas ou aumentar a eficiência de controle 10.11606/T.11.2017.tde-29082017-091810.
quando associadas ao SIM. No entanto, as empresas e os agri-
FARIA, M. R.; MASCARIN, G. M.; LOPES, R. B. Controle de
cultores devem respeitar as doses de propágulos infectivos
(conídios ou blastosporos) dos fungos entomopatogênicos qualidade de produtos comerciais à base de fungos para
a serem aplicados. o manejo de invertebrados (insetos, ácaros, nematoides)
O controle microbiológico inundativo é a melhor estra- em sistemas agropecuários. Brasília, DF: Embrapa Recursos
tégia quando se pretende reduzir a população da praga em Genéticos e Biotecnologia, 2022.
curto espaço de tempo de forma eficaz. Nesse contexto, mais FRONZA, E.; SPECHT, A.; HEINZEN, H.; BARROS, N. M.
pesquisas e monitoramentos devem ser realizados a fim de Metarhizium (Nomuraea) rileyi as biological control agent.
auxiliar o agricultor na tomada de decisão. A normatização
Biocontrol Science and Technology, p. 1243–1264, 2017.
e a padronização governamental das unidades de medidas
para os produtos microbiológicos é de fundamental impor- LACEY, L. A.; WRAIGHT, S. P.; KIRK, A. A. Entomopathoge-
tância para auxiliar o produtor na escolha de produtos que nic fungi for control of Bemisia tabaci Biotype B: Foreign
atendam a estratégia de controle microbiológico inundativo. exploration, research and implementation. In: GOULD,
Além disso, a compatibilidade dos fungos com os produtos J.; HOELMER, K.; GOOLSBY, J. (Ed.). Classical biological
químicos é um fator importante a ser considerado para
control of Bemisia tabaci in the United States – A Review of
garantir que essas abordagens possam ser utilizadas de
forma eficaz no campo. A pesquisa futura deve se concentrar Interagency Research and Implementation. Springer, 2008.
na otimização das práticas de manejo que integram fungos p. 33–69.
entomopatogênicos e produtos químicos, visando uma agri- MASCARIN, G. M.; QUINTELA, E. D.; SILVA, E. G.; ARTHURS,
cultura mais sustentável. S. P. Precision micro-spray tower for application of entomo-
pathogens. Biossay, v. 8, n. 1, 2013.
LITERATURA CONSULTADA
AGROFIT. Sistema de agrotóxicos fitossanitários. Brasília, MASCARIN, G. M.; JARONSKI, S. The production and uses
DF: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, of Beauveria bassiana as a microbial insecticide. World
2023. Disponível em: <https://sistemasweb.agricultura.gov. Journal of Microbiology and Biotechnology, v. 32, n. 11,
br/pages/AGROFIT.html>. Acesso em: 1 out. 2023. p. 177, 2016.

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ARTIGO TÉCNICO 4
Os Desafios na
Pulverização de Frutíferas
Fabiano Griesang1

1. INTRODUÇÃO principais espécies cultivadas e características de cultivo,


importantes para determinar o método de aplicação mais
Garantir a sanidade dos cultivos de frutíferas é uma
adequado. Para facilitar a apresentação dos modelos de
tarefa complexa, que exige cuidados diversos relacionados ao
manejo do pomar, equilíbrio nutricional e, quando necessá- pulverizadores utilizados nos tratamentos de frutíferas, os
rio, aplicação de produtos fitossanitários para inibir a ação de pomares foram agrupados de acordo com as características
organismos que prejudicam a sua qualidade e produtividade. das copas, sendo que para cada grupo de pomares foram
É tarefa dos pulverizadores garantir que o produto atinja o relacionadas as soluções de pulverização mais encontradas
alvo e, assim, possibilite que o ingrediente ativo atue sobre no campo.
o agente de dano, impedindo que ele se instale no cultivo e
2. FRUTICULTURA NO BRASIL
ocasione prejuízos. Fazer com que o produto alcance o alvo
de maneira efetiva, econômica, com o mínimo de riscos ao Produzir frutas e atender todas as expectativas de um
seu entorno, devido à deriva e contaminação, é o principal mercado consumidor cada vez mais exigente representa
desafio para os novos conceitos de pulverizadores que um enorme desafio para os fruticultores. Em um primeiro
se apresentam ao mercado. Por se tratar de plantas que momento, os atributos estéticos das frutas são muito impor-
podem alcançar tamanhos variados, geralmente plantadas tantes, uma vez que a compra é feita com os “olhos”. Uma
em linhas, com trânsito das máquinas ocorrendo nas entre- vez realizada a compra, são consideradas as características
linhas, o uso de tecnologias, como a assistência de ar para o de textura, sabor e suculência da fruta. Se atendidas as
transporte das gotas até o alvo, é muito importante. expectativas, a fidelização do cliente torna-se mais provável.
No intuito de trazer para o leitor uma abordagem mais Outro aspecto que vem ganhando crescente relevância para
ampla sobre o assunto, apresento uma breve contextua- os consumidores mais atentos e exigentes é a presença de
lização da fruticultura brasileira, trazendo dados sobre as resíduos de pesticidas nesses produtos. Já é comum que

Abreviação: DMV = diâmetro mediano volumétrico.

1
E ngenheiro Agrônomo, Doutor em Produção Vegetal, Especialista de Produtos em Máquinas Agrícolas Jacto; e-mail:
fabiano.griesang@jacto.com.br

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grandes redes varejistas disponham de um sistema de aná- tratar. Assim, chegamos a sete agrupamentos principais:
lises capaz de identificar os mais ínfimos traços de pesticidas A) laranja, limão, oliveira, abacate, manga; B) café, maçã,
nas amostras. Se é detectada a presença de algum produto pera; C) ameixa, pêssego, caqui, goiaba; D) uva, maracujá,
não autorizado ou fora do limite permitido em alguma amos- kiwi; E) amêndoas, como nozes pecan, macadâmia e serin-
tra, o produtor arca com pesadas penalizações e com o risco gueira (aqui não se trata de fruta, mas por se tratar de
de perder o espaço de comercialização de seus produtos. arbórea importante, também foi considerada); F) palmeiras,
Na perspectiva da produção de frutas no Brasil, algumas como coco, açaí e dendê; G) mamão e banana.
características nos distinguem de outros países importan-
tes na produção mundial. As vastas extensões territoriais,
3.1. Laranja, limão, oliveira, abacate e manga
água em abundância em grande parte do país, bem como Neste grupo de frutíferas, é comum a produção em
variações de clima, permitem o cultivo de espécies de clima áreas de grande extensão e é perceptível a tendência de
tropical e temperado. Temos a nosso dispor tecnologias adoção de plantas mais compactas e produtivas. As plantas
nacionais para a obtenção de novas cultivares, adaptadas a com mais de 6,0 m de altura, espaçadas em 8,0 m entre
cada região produtora, com variedades cada vez mais pro- linhas e grandes espaços entre plantas vem sendo substi-
dutivas, de melhor qualidade e com características deseja- tuídas por plantas com até 4,0 m de altura, espaçadas em
das por cada mercado consumidor. Nos campos, temos um até 7,0 m entre linhas e espaços reduzidos entre plantas.
agricultor arrojado, apto a adotar novas tecnologias, desde Com essa mudança, facilitam-se os tratos fitossanitários,
que estejam bem fundamentadas e que apresentem bom o manejo de copa e de frutos e a colheita, sem que haja
potencial de sucesso. redução na produtividade.
Todavia, alguns fatores desafiam a nossa produção: da Para a obtenção de plantas menores e mais produtivas,
mesma forma que as condições ambientais são favoráveis foram selecionadas linhagens de frutíferas, adotados porta-
para o crescimento das culturas, com temperatura, lumino- enxertos menos vigorosos e podas nos pomares, que limitam
sidade e abundância de água, essas condições também se o tamanho das plantas e possibilitam a entrada de radiação
apresentam como um cenário propício para o estabeleci- solar na parte interna das plantas, promovendo novos fluxos
mento e proliferação de diversas pragas, doenças e plantas de brotação e a produção de frutos também na parte interna
daninhas, impactando severamente os cultivos que não da planta (Figura 1).
forem manejados adequadamente. Para dar aos cultivos as À medida que a evolução na arquitetura e no tamanho
condições de sanidade adequadas, a aplicação de diversos das plantas foi ocorrendo, o método de aplicação foi se apri-
insumos via caldas líquidas é requerida, e esta é realizada morando: no início, operadores realizavam a aplicação a par-
por meio de pulverizadores. tir de pistolas de pulverização e mangueiras, que resultavam
em rendimento de trabalho bastante limitado. Um grande
2. POMARES BRASILEIROS avanço ocorreu com a vinda dos pulverizadores assistidos a
Dentre os cultivos perenes de maior importância no ar, conhecidos por turbo-pulverizadores, com maior capaci-
Brasil, a laranja e o café se destacam com as maiores áreas de dade de trabalho. Reservatórios maiores permitiram diminuir
cultivo, mas os cultivos de banana, coco, amêndoas, goiaba, o número de paradas para reabastecimentos, favorecendo
uva, maçã, mamão, manga, pêssego e ameixas também o aumento da capacidade operacional do equipamento. As
apresentam grande importância, de modo que demandam primeiras versões fabricadas no mercado brasileiro e ainda
soluções em pulverização específicas. presentes na maioria dos pomares do país foram os pulveri-
zadores com ventiladores radiais (Figura 2). Estes têm como
3. MODELOS DE PULVERIZADORES PARA OS característica a grande versatilidade de uso, permitindo
entrar em pomares mais adensados ou com terrenos de
POMARES BRASILEIROS
superfície irregular, porém apresentam como característica o
Os pomares apresentam características diversas, que potencial de ocorrência de perdas significativas de produtos,
exigem técnicas/equipamentos específicos para garantir se regulados de maneira inadequada.
a melhor aplicação. O método de condução das plantas, Para garantir a sanidade vegetal dos pomares moder-
práticas de manejo das copas, estádio de desenvolvimento nos, cresce o uso de pulverizadores que possuem como
da planta, espaçamento, largura e altura das plantas são característica defletores mais ajustados à copa da planta,
informações importantes na hora de definir o melhor modelo como é o caso dos defletores do tipo torre, que geralmente
e configuração do pulverizador. proporcionam melhor qualidade na aplicação (Figura 3). Com
Para facilitar a recomendação de modelos de pul- esse modelo de equipamento, o duto que direciona a cortina
verizadores, os cultivos foram agrupados de acordo com de ar, bem como o ramal que sustenta os bicos de pulveri-
algumas características comuns. Levamos em consideração zação, se aproximam da copa da cultura, permitindo maior
principalmente as dimensões da planta, o espaçamento eficiência na aplicação, com menor potencial de perdas, se
entre plantas e a localização dos alvos que se pretende comparado ao defletor radial.

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Figura 2. Pulverizadores radiais, presentes nos cultivos de frutí-


B feras há muitos anos, representaram um grande avanço
tecnológico para o tratamento de pomares.
Fonte: Arquivo pessoal do autor.

Figura 1. Pomares de laranja (A) e de manga (B) com dimensões


reduzidas, abundância de ramos e frutos em toda a copa.
Fonte: Arquivo pessoal do autor.

Na busca por aumento da eficiência nas aplicações,


abre-se também a oportunidade para adoção de novos con-
ceitos de pulverização, como é o caso dos pulverizadores
com defletores convergentes, que direcionam o fluxo de Figura 3. Evolução dos pulverizadores radiais para torres, aprimo-
ar e pulverização de para a copa das plantas maneira mais rando a qualidade da aplicação.
eficiente (Figura 4). Nesse conceito de pulverizadores, a Fonte: Arquivo de imagens da Jacto.
eficiência da aplicação é superior, com o melhor aproveita-
mento da energia demandada para produção de ar e gotas,
sendo possível trabalhar com volumes de calda reduzidos,
já que as perdas na forma de deriva são substancialmente
inferiores.

3.2. Café, maçã e pera


Este grupo de pomares tem como característica as copas
de altura média não superior a 4,0 m (geralmente em torno
de 3,0 m, para facilitar a colheita e as práticas de manejo),
com largura não superior a 2,5 m. O espaçamento entre
linhas oscila entre 3,5 e 4,5 m, o que resulta no espaço para
o trânsito do maquinário entre 1,5 e 2,5 m.
Para o café, o principal ponto considerado na condução Figura 4. Avanços tecnológicos em pulverizadores para citros,
das copas é a operação de colheita, prejudicada quando as com sistema de pulverização envolvente, que se ajusta
plantas ultrapassam 3,5 m de altura, uma vez que as colhedo- perfeitamente à copa das plantas.
ras de café foram projetadas para essa altura máxima. Assim, Fonte: Arquivo pessoal do autor.

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as plantas são submetidas a podas de formação, também rendimento da colheita. Plantas com menores dimensões, tanto
chamadas de esqueletamento, em que boa parte dos ramos em altura quanto em largura, estão recebendo grande desta-
secundários e do ápice é cortada, permitindo novos fluxos de que em novas propostas de condução da cultura , como o muro
brotação e formação de ramos reprodutivos mais próximos frutal. Neste sistema, as linhas de cultivo ficam mais próximas
ao caule das plantas (Figura 5). (até 2,8 m entre linhas) e as plantas são mantidas com alturas
de até 3,0 m. Com isso, todas as práticas de manejo e colheita
são otimizadas: uma pessoa é capaz de colher até três vezes
A mais frutas no mesmo período. O tratamento fitossanitário
desses cultivos também é facilitado, uma vez que a distância
do pulverizador até a planta é reduzida, bem como também é
menor a profundidade da copa, representando menor desafio
para atingir todos os estratos da planta.
Para esses cultivos, o modelo de pulverizador mais
empregado dispõe de defletor do tipo radial. Cresce também
o uso de pulverizadores com o defletor do tipo torre, cujas
dimensões se ajustam ao tamanho dos cultivos e melhora de
forma significativa a qualidade da distribuição dos produtos
em todas as porções do dossel das plantas.
B
3.3. Ameixa, pêssego, caqui e goiaba
Os cultivos de frutas de caroço, oliveira, caqui e goiaba,
apresentam como característica comum a presença de galhos
que expandem a copa em várias direções, e não a partir de
um tronco principal único. A altura das plantas geralmente
não excede 3,0 m e, em algumas situações, chegam a formar
uma espécie de túnel vegetal, cobrindo parcial ou totalmente
as entrelinhas (Figura 6).

Figura 5. Sistema de cultivo predominante para as culturas de


café (A), maçã (B) e pera (C).
Fonte: Imagens gentilmente cedidas por Tiago de Oliveira Tavares
(café) e Celito Soldá (maçã).

Para a maçã, novamente a operação de colheita tem


impulsionado a cadeia produtiva a buscar plantas menores,
uma vez que ela é realizada de forma manual. Plantas maio-
res demandam o uso de escadas para acessar as frutas forma- Figura 6. Pomares de pêssego (A) e ameixa (B).
das no ápice das plantas, o que compromete sobremaneira o Fonte: Arquivo pessoal do autor.

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Para esses cultivos, os pulverizadores mais empregados


são os que dispõe de defletor radial, que apresenta grande A
versatilidade de uso, sendo possível, com alterações simples
na regulagem, atender a todas as demandas que surgem ao
longo da safra.

3.4. Uva, maracujá e kiwi


Estes cultivos precisam de uma estrutura para a condu-
ção dos ramos, que pode ser do tipo latada, espaldeira ou
mista. No sistema latada, uma superfície contínua de ramos e
folhas se forma a uma altura que facilita o manejo e a colheita,
geralmente situada entre 1,9 e 2,5 m. Na espaldeira, a con-
dução é feita na forma vertical, com a formação de diversas
camadas nas quais a planta é conduzida, alcançando alturas
de até 2,5 m. Nos sistemas mistos, as plantas são conduzidas
em estruturas na forma de Y, onde as plantas concentram
a parte vegetativa na parte mais alta da estrutura, porém
não ocorre o encontro das plantas na entrelinha. Nesses
cultivos, há condições bem distintas de aplicação, conforme
a cultura vai se desenvolvendo, modificando drasticamente
a quantidade de folhas, ramos e frutos ao longo do desen-
volvimento (Figura 7).

Figura 7. Pulverizador para cultivos conduzidos em parreirais.


Fonte: Arquivo pessoal do autor.

3.5. S
 eringueira, macadâmia e nogueira
pecan
Estes cultivos têm como característica principal o grande C
tamanho das copas, superando facilmente 8,0 m de altura
(Figura 8). Para possibilitar o alcance do alvo, que geralmente
são as folhas, é indispensável um equipamento que disponha
de assistência de ar de grande capacidade, e que transporte
as gotas até a porção mais alta dessas plantas. No caso da
seringueira, a ausência de folhas na parte mais baixa das
plantas possibilita a utilização de um defletor vertical, que
direciona toda a pulverização e ar somente para cima, favo-
recendo o alcance de alturas maiores, de até 15,0 m. Nas
nogueiras, a presença de galhos e ramos laterais exige que o
equipamento aplique também na lateral das plantas, e não Figura 8. Cultivos altos, como seringueira (A), macadâmia (B) e
somente para cima. Logo, o defletor adequado para esses nogueira pecan (C).
cultivos também recebe algumas modificações importantes. Fonte: Arquivo pessoal do autor.

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3.6. Coco, dendê e açaí


Neste caso, as plantas possuem um tipo de caule A
diferente do apresentado pelas espécies descritas anterior-
mente, denominado de estipe (Figura 9). As plantas superam
facilmente os 10 m de altura quando atingem a fase adulta.
Em geral, as aplicações são requeridas somente na porção
mais alta da planta, onde estão encontradas as folhas e fru-
tos. Para atingir este local, o equipamento mais adequado
é o do tipo canhão, usualmente conhecido como Jatão, que
consiste em uma turbina que direciona o ar em alta veloci-
dade por um duto, em cuja extremidade superior se encontra
com as gotas pulverizadas e as transporta até o alvo.

3.7. Mamão e banana


As aplicações nos cultivos de mamão e banana são bas-
B
tante complexas devido, principalmente, ao hábito de cresci-
mento das plantas. No caso do mamão, a planta se assemelha
a uma palmeira, por possuir as folhas concentradas no ápice
da planta, porém a produção dos frutos ocorre diretamente
no caule. Assim, a aplicação é demandada desde a base da
planta até o seu topo, enquanto nos espaços entre as plantas
não há necessidade de realizar a pulverização. Na bananeira, a
posição das folhas se assemelha à do mamoeiro, uma vez que
todas elas são projetadas do ápice da planta. Todavia, para a
bananeira, o cacho de frutos fica anexado ao ápice da planta
e pendurado na lateral. Assim, as aplicações de produtos fitos-
sanitários para essas duas frutíferas são bastante complexas, Figura 10. C
 ultivos de mamão (A) e banana (B), com detalhes para
sendo corriqueiro grandes desperdícios de produtos pela a forma de crescimento das plantas.
dificuldade em se atingir exclusivamente o alvo (Figura 10). Fonte: (A) Ramos et al. (2018), (B) Yara Brasil (2020).

Figura 9. Cultivo de palmeiras, cujas estruturas caulinares são do tipo estipe.


Fonte: Arquivo pessoal do autor.

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4. CRITÉRIOS PARA A ESCOLHA DE UM


PULVERIZADOR
No momento de selecionar um pulverizador para
realizar o tratamento dos pomares é importante considerar
alguns parâmetros para que a escolha seja, de fato, a mais
adequada às suas características locais. Deve-se levar em
conta o tamanho da área, relevo (especialmente declivi-
dade), fre­quência das aplicações, capacidade operacional
da máquina e número de horas diárias a aplicar.
A capacidade operacional do pulverizador representa a
área que é possível tratar por unidade de tempo, e é muito
influenciada pela velocidade de trabalho e pela taxa de apli-
cação [volume de calda utilizado por unidade de área (ha)
ou volume de copa (m³)]. O tempo em que o pulverizador
está em operação em um dia de trabalho deve considerar as Figura 11. Reservatórios com capacidade volumétrica de 200 a
condições meteorológicas favoráveis à aplicação, o número 400 L são montados no sistema de três pontos do trator.
de turnos de trabalho e o tempo dedicado a deslocamentos Fonte: Arquivo pessoal do autor.
e preparo da calda.
Dentre as variações encontradas nos pulverizadores de 4.1.2. Reservatório com 500 a 1.000 litros
frutíferas estão: tamanho do reservatório; tipo, tamanho e de capacidade
capacidade dos defletores de ar; tecnologias para controle
da vazão; sensores para identificação de plantas, corte de Para pomares formados de plantas de pequeno a
seções e uma grande diversidade de modelos e vazões de médio porte, como é o caso de uva, mirtilo e maracujá,
pontas de pulverização. com espaçamentos entre linhas de 2,0 a 3,0 m e altura de
até 2,5 m, já é possível utilizar pulverizadores montados de
4.1. Tamanho do reservatório até 400 L e pulverizadores de arrasto de 500 a 1.000 L de
capacidade (Figura 12). A faixa de potência para tratores
Pulverizadores com reservatórios de maior capacidade
utilizados para acionar esses pulverizadores geralmente
são preferidos quando se objetiva reduzir a frequência das
está entre 40 e 60 cv.
paradas para abastecimento e, muitas vezes, o tempo gasto
em deslocamentos. O tamanho do reservatório do pulve-
rizador deve ser compatível com a capacidade do trator e
as características da cultura e da fazenda. O trator deverá
ser capaz de tracionar a máquina em todas as condições da
fazenda, nos deslocamentos até a área de aplicação e durante
a operação nos pontos de maior desafio para o conjunto,
como em locais com terreno de relevo irregular e inclinado.

4.1.1. Reservatório com 200 a 400 litros de


capacidade
De maneira geral, os reservatórios de até 400 L são
montados no sistema de três pontos do trator, enquanto
aqueles com 500 L de capacidade e maiores são construídos
sobre carretas, tracionadas pela barra de tração do trator.
Os pulverizadores utilizados em cultivos de menor Figura 12. Reservatórios com capacidade volumétrica de 500 a
porte geralmente possuem menor capacidade volumétrica. 1.000 L são montados sobre estruturas com chassi e
Os menores espaços nas entrelinhas representam um ponto eixo próprios, tracionadas pela barra de tração.
crucial para a definição do tamanho do conjunto de pulve- Fonte: Arquivo pessoal do autor.
rização (1,3 a 2,0 m), requerendo-se pulverizadores com
dimensões mais compactas. São exemplos os cultivos de uva
4.1.3. Reservatório com 1.500 a 2.000 litros
e os de legumes tutorados, como tomate, pepino, pimentão
e berinjela. Os pulverizadores usualmente possuem capaci-
de capacidade
dade de 200 a 300 L (Figura 11) e são tracionados por tratores Em pomares com dimensões de médio a grande porte,
compactos de 20 a 50 cv de potência. como é o caso de café, maçã e ameixa, que são conduzidos a

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alturas de 3,0 a 4,0 metros e espaçamentos entre linhas de


2,5 a 4,0 m, é comum a utilização de pulverizadores de
arrasto com capacidade de 1.500 a 2.000 L (Figura 13), o que
possibilita melhorias importantes no rendimento operacional
decorrente da redução das paradas para reabastecimento
de calda. A faixa de potência dos tratores geralmente está
entre 50 e 75 cv.

Figura 14. Reservatórios com capacidade volumétrica de 4.000 L


são os maiores disponíveis no mercado atual, ideais para
grandes fazendas, e proporcionam ótimo desempenho
operacional.
Fonte: Arquivo de imagens da Jacto.

meio de defletores. Assim, a nuvem de gotas é distribuída em


todas as extensões da copa, especialmente frutos, flores e
folhas. Os tipos de defletores mais comuns nos pomares bra-
sileiros podem ser classificados em três categorias: radiais,
Figura 13. Reservatórios com capacidade volumétrica de 1.500 torres e convergentes.
a 2.000 L são demandados para cultivos comerciais
maiores e proporcionam boa capacidade operacional. 4.2.1. Defletores radiais
Fonte: Arquivo de imagens da Jacto.
Os defletores radiais apresentam grande versatilidade
e são os mais populares nos pomares brasileiros. Têm como
4.1.4. Reservatório com 4.000 litros de característica principal um ventilador axial que succiona o
capacidade ar e um difusor que direciona o fluxo em sentido perpen-
dicular ao eixo do ventilador (Figura 15). Os ramais e bicos
Para plantas maiores, como é o caso da maioria das responsáveis por conduzir a calda e produzir as gotas são
plantas cítricas, cujas copas podem superar 5,0 m de altura, fixados no entorno da saída do ar. Os pulverizadores com
ou arbóreas, como as diversas nozes (pecan, macadâmia, sistemas radiais de ventilação apresentam grande versati-
amêndoa e castanheira), abacate e outras, que podem até lidade, com oportunidade de uso em plantas com copas de
superar 10,0 m de altura, os espaços entre as linhas de tamanhos e formatos diversos. As regulagens são bastante
cultivo são maiores (entre 5,0 e 12,0 m), o que possibilita o simples, além de, geralmente, apresentarem menor custo,
tráfego das máquinas de maior tamanho. Para estes cultivos, devido à menor complexidade e quantidade de componen-
as máquinas que predominam são as com reservatórios de tes presentes. Por outro lado, difusores radiais tendem a
2 a 4 mil litros de capacidade (Figura 14), tracionadas por apresentar resultados inferiores na qualidade da aplicação,
tratores de 65 a 110 cv de potência. já que o fluxo de ar é projetado em direção tangencial
Para determinar a potência do trator necessária para à projeção da copa da cultura, o que pode resultar em
operar um pulverizador de frutíferas, é importante conside- maiores perdas de produto por deriva e dificultar o alcance
rar o peso da máquina abastecida e de todos os componentes dos estratos da planta mais distantes do ponto onde são
que exigem potência do trator, como a bomba de defensivos, produzidas as gotas.
a assistência de ar e os agitadores de calda – os fabricantes
usualmente especificam esta demanda. 4.2.2. Defletores do tipo torre
As torres de pulverização podem ser montadas sobre
4.2. A assistência de ar pulverizadores com turbinas radiais, e este complemento
O transporte das gotas do pulverizador até o alvo em proporciona melhorias significativas na qualidade da apli-
aplicações de frutíferas é feito por meio de assistência de cação alcançada pelo equipamento (Figura 16). Os ramais e
ar. O deslocamento de ar é realizado por ventiladores que bicos são posicionados na saída de ar da torre e permitem
captam o ar do ambiente e o direcionam até as plantas por melhor distribuição de gotas ao logo do perfil vertical da

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Figura 15. O
 s defletores radiais são versáteis, porém apresentam Figura 17. D
 efletores convergentes apresentam grande versati-
limitações para assegurar qualidade nas aplicações. lidade de uso, representando grandes melhorias na
Fonte: Arquivo de imagens da Jacto. qualidade e eficiência das aplicações.
Fonte: Arquivo pessoal do autor.

4.3. Configuração do pulverizador


Para que o pulverizador realize com sucesso a deposi-
ção dos produtos no alvo é necessário que se façam alguns
ajustes levando-se em consideração as características do
talhão a ser tratado, as características do produto que está
sendo aplicado e as condições do ambiente no momento
da aplicação.

4.3.1. Características do pomar


No pomar, é importante considerar as dimensões das
Figura 16. D
 efletores na forma de torre requerem cuidados maio-
plantas (altura e largura), o espaçamento entre as linhas
res na condução dos pomares para apresentarem todo
de cultivo e a densidade da copa (folhas, ramos e frutos).
o potencial na melhoria da qualidade das aplicações.
Plantas maiores, mais enfolhadas e com presença de frutos
Fonte: Arquivo pessoal do autor.
apresentam maior superfície a ser coberta pela pulveriza-
ção, portanto, maior será a demanda por volume de calda
planta. Geralmente, os bicos são distribuídos de maneira e volume de ar para promover a adequada qualidade na
equidistante e, combinados ao fluxo de ar direcionado à aplicação.
toda copa da planta, permitem melhorias significativas na
qualidade da aplicação, decorrente da menor distância entre 4.3.2. Volume de calda e de ar do
o ponto onde as gotas são formadas e os diversos estratos pulverizador
da planta. O incremento do volume de aplicação (L ha-1, L planta-1
ou mL m-³ de copa) é realizado a partir da seleção de bicos
4.2.3. Defletores convergentes de pulverização de maior vazão, diminuição da velocidade
Os difusores convergentes, por sua vez, são consti- de deslocamento ou aumento da pressão do sistema de
tuídos de diversos corpos articuláveis que permitem posi- pulverização. Se o objetivo for aumentar o volume de ar des-
cionar cada segmento de pulverização em uma posição locado, a alternativa mais utilizada é diminuir a velocidade
específica, acompanhando o formato da copa da cultura de deslocamento do pulverizador.
ou outro critério pré-definido (Figura 17). Permitem maior
envolvimento da copa da cultura, o que favorece a quali- 4.3.3. Condições ambientais no
dade da aplicação e reduz significativamente a ocorrência momento da aplicação
de deriva e contaminação de áreas adjacentes. Apresen- Quanto ao ambiente no momento da aplicação, é
tam maior complexidade e, por permitirem diversas opor- importante considerar a temperatura, a umidade relativa
tunidades de melhorias na aplicação, são os equipamentos e a velocidade do vento predominante. Quando ocorrem
preferidos por usuários mais adeptos a tecnologias. temperaturas acima de 30 oC, bem como umidade relativa do

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ar inferior a 50%, é recomendável reavaliar a necessidade de f=n  ível de vegetação/densidade de folhas (entre 0,5 e 2,0,
continuar a aplicação, em virtude da propensão de perdas de sendo 0,5 para pomares com baixo índice foliar e ausência
gotas por evaporação, o que pode comprometer a segurança de frutas e 2,0 para pomares com intensa vegetação e
na aplicação e a eficácia dos produtos aplicados. Se a pressão presença de frutas).
da praga/doença estiver alta, aguardar a condição climática Considerando-se o exemplo de um pomar de laranjas
adequada não é a melhor opção, e uma das alternativas é com 4,0 m de altura, distância entre pulverizador e centro
modificar alguma condição do pulverizador para reduzir as da planta de 3,0 m, volume de ar produzido pela turbina de
perdas. Pode-se, por exemplo, diminuir a marcha do trator 20 m³ s-1 (72.000 m³ h-1) e uma planta com média densidade
para diminuir a velocidade de trabalho e diminuir a pressão foliar, representado por pomar após a colheita dos frutos (1),
do sistema de pulverização, no intuito de produzir gotas de temos a seguinte condição:
tamanho maior, mais seguras quanto ao risco potencial de
evaporação. 72.000 m³ h-1
Vel = = 6 km h-1
(4 m x 3 m x 1 x 1.000)
4.3.4. Características do pulverizador
Quanto ao equipamento, é importante considerar a Logo, a velocidade máxima a trabalhar nesse pomar,
capacidade do ventilador, em volume de ar deslocado por considerando a capacidade do equipamento e as caracte-
unidade de tempo, e os ajustes possíveis no direcionamento rísticas do pomar, é de 6 km h-1.
do ar do defletor de modo a contemplar a copa do cultivo.
É importante também observar a capacidade da bomba de 4.4. Seleção de pontas de pulverização e
pulverização para o deslocamento da calda, os bicos respon- tamanho de gotas
sáveis pela produção das gotas e a possibilidade de ajustes Para a aplicação de produtos fitossanitários em frutífe-
no número e direcionamento dos bicos, se necessário, bem ras, o tamanho das gotas deve ser suficientemente pequeno
como da pressão de trabalho. para possibilitar a sua adequada penetração na copa das
plantas, bem como assegurar a cobertura satisfatória de todas
4.3.5. Ajustes na velocidade de trabalho as superfícies sensíveis ao ataque das pragas e doenças. Nesse
Quanto maior for a distância entre o pulverizador e a sentido, as pontas de pulverização mais recomendadas são as
planta, maior será a energia necessária para fazer com que do tipo cone vazio, por terem como característica a produção
as gotas atinjam o alvo, bem como maiores serão as perdas de gotas com diâmetro mediano volumétrico (DMV) de 100 a
oriundas de deriva e evaporação. 130 micrômetros (µm), classificadas como muito finas a finas.
A velocidade de deslocamento do pulverizador no Sabe-se que gotas de tamanho tão diminuto apresentam
momento da aplicação tem grande importância na defini- elevada propensão de se perderem por deriva e evaporação,
ção da capacidade operacional na máquina. Quanto maior especialmente quando submetidas a ambiente de baixa
a velocidade de trabalho, maior a área tratada por unidade umidade relativa e elevada temperatura, mas o fato de estas
de tempo. No caso de pulverizadores de frutíferas, conside- gotas serem transportadas por uma cortina de ar produzida
rando-se que as opções de variação de volume/velocidade pelo próprio pulverizador atenua substancialmente as perdas.
do deslocamento de ar são bastante limitadas, a velocidade
da aplicação passa a ser limitada pela quantidade de ar LITERATURA CONSULTADA
necessária para transportar as gotas até o alvo. A definição CARVALHO, G. F. G. Aplicação de produtos fitossanitários
do limite de velocidade pode ser obtida a partir de cálculo na cultura dos citros utilizando pulverizador envolvente.
matemático, que considera as dimensões da copa da planta, 2014. 63 p. Tese (Doutorado em Agronomia) – Faculdade
a densidade vegetal, a distância entre o pulverizador e o de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual
centro da linha de cultivo e o volume de ar disponibilizado Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Jaboticabal, 2014.
pela turbina.
DORUCHOWSKI, G.; ŚWIECHOWSKI, W.; MASNY, S.; MACIE-
v SIAK, A.; TARTANUS, M.; BRYK, H.; HOŁOWNICKI, R. Low-drift
Vel = nozzles vs. standard nozzles for pesticide application in
(a x d x f x 1.000)
the biological efficacy trials of pesticides in apple pest and
em que: disease control. Science of the Total Environment, v. 575,
p. 1239–1246, 2017. Disponível em: <https://doi.org/
Vel = velocidade (km h-1), 10.1016/J.SCITOTENV.2016.09.200>. Acesso em: 15 set.
v = volume de ar produzido pela turbina (m³ h-1), 2023.
a = altura da planta (m), GRIESANG, F.; DECARO, R. A.; SANTOS, R. T. S.; VECHIA, J. F.;
d = distância entre extremidade do defletor e centro da DELLA SANTOS, C. A. M.; FERREIRA, M. C. Droplet size and
planta (m), uniformity influence on the qualitative and quantitative

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS PROTEÇÃO DE PLANTAS No 3 – OUTUBRO 2023


46

parameters of agricultural spray. Aspects of Applied Biology, SAAB, O. J. G. A.; GRIESANG, F.; ALVES, K. A.; HIGASHIBARA,
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different conditions of leaf wetness. Engenharia Agrícola,
GRIESANG, F.; FERREIRA, M. C.; ABI SAAB, O. J. G. Type of
v. 37, n. 2, p. 286–291, 2017. Disponível em: <https://doi.
nozzle and air assistance in the coverage and deposition of
org/10.1590/1809-4430-eng.agric.v37n2p286-291/2017>.
plant protection products on vineyards. Aspects of Applied Acesso em: 15 set. 2023.
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SANTOS, C. A. M.; DELLA VECHIA, J. F.; BRENHA, J. A. M.;
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cation methods. 4th ed., v. 1. Hoboken: Wiley-Blackwell, C. Regulagem, manutenção e calibração de pulverizadores
2014. 517 p. agrícolas. In: CASTILHO, R. C.; BARILLI, D. R.; TRUSSI, C. C.
MATUO, T. Técnicas de aplicação de defensivos agrícolas. (Org.). Tópicos em entomologia agrícola - X. v. 1. Jaboticabal:
Jaboticabal: FUNEP, 1990. 139 p. Gráfica Multipress Ltda., 2017. p. 179–190.

RAMOS, M. C. P.; RODRIGUES, M. A.; MOREIRA, M. A.; PIO, SCAPIN, M. S.; RAMOS, H. H. Manual de tecnologia de apli-
L. A. S. Quais as inovações no cultivo do mamão? Campos & cação em citros. Araraquara: Fundecitrus, 2017. 27 p.
Negócios on Line, Uberlândia, 2019. Disponível em: <https:// YARA BRASIL. Sanidade da banana. São Paulo, 2020. Dispo-
revistacampoenegocios.com.br/quais-as-inovacoes-no- nível em: <https://www.yarabrasil.com.br/conteudo-agrono-
cultivo-do-mamao/>. Acesso em: 15 set. 2023. mico/blog/sanidade-da-banana/>. Acesso em: 15 set. 2023.

2º SIMPÓSIO ONLINE SOBRE


MANEJO DE NEMATOIDES NA AGRICULTURA

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DIVULGANDO A PESQUISA
Pantoea ananatis em Oryza sativa no Brasil¹
Laísa Maindra Lima Horn1*, Ricardo Trezzi Casa1, Mayra Juline Gonçalves1,
Flávio Chupel Martins1, Bruno Tabarelli Scheidt1, Fernando Sartori Pereira1,
Alba Nise Merícia Rocha Santos1, Valdemir Rossarola2, Eduardo Silva Gorayeb1

O estado de Santa Catarina é o segundo maior produtor


de sementes de arroz do Brasil. As pesquisas com bactérias
fitopatogênicas nesta cultura são escassas e a alta frequência
de doenças da panícula leva à hipótese de que sementes
podem estar infectadas por bactérias.
O objetivo desta pesquisa foi quantificar a incidência Incidência (%)
de bactérias nas sementes, verificar a viabilidade das bacté-
rias durante o período de armazenamento e caracterizar as
bactérias associadas. Foram analisadas sementes das safras
2018/19 e 2019/20. Para verificar a incidência, as sementes
foram desinfestadas, plaqueadas em meio de cultura ágar
nutriente + fungicida e incubadas por sete dias a 27 °C. Para
avaliar a viabilidade, a cada 45 dias, três cultivares armaze-
nadas em uma unidade de beneficiamento foram submeti-
das à mesma metodologia de detecção. Para caracterizar,
colônias prevalentes foram isoladas em meio de cultura
semisseletivo Pantoea genus-specific ágar (PGSA), onde as
que apresentaram crescimento foram submetidas à extração Figura 1. Incidência média de sementes de arroz de várzea do
do ácido desoxirribonucleico (DNA) e Reação em Cadeia da estado de Santa Catarina infectadas com bactérias pro-
Polimerase (PCR), sequenciamento do DNA e comparação duzidas nas safras 2018/2019 e 2019/2020.
de sequências no GenBank. A reação de hipersensibilidade
(HR) em tabaco foi realizada utilizando uma suspensão bac-
teriana de cada isolado.
Resultados:
• Todas as amostras de sementes apresentaram inci-
dência média de bactérias de 83% (Figura 1).
• Durante o armazenamento, as sementes mantiveram
viabilidade bacteriana estável, com incidência média de 95%
no início do armazenamento e 99% ao fim.
• Todos os isolados que cresceram no meio de cultura
PGSA foram identificados por caracterização molecular com
100% de identidade com dois espécimes de Pantoea ananatis
e um deles induziu HR em tabaco.

1
Fonte: Ciência Rural, Santa Maria, v. 53, n. 5, e20210832, 2023.
2
Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Lages, SC; *e-mail:
maindrac@gmail.com
3
Agronomia, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Lages, SC.

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PAINEL AGRONÔMICO

PELÍCULA EM FORMA DE SACO PROTEGE PRIMEIRA VARIEDADE DE LARANJA


PLANTAS DE NEMATOIDES RESISTENTE AO AMARELINHO
Pesquisadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Resultante de pesquisa em parceria entre Embrapa,
Universidade de Coimbra (FCTUC) desenvolveram uma Fundação Coopercitrus Credicitrus (FCC) e Centro de
película capaz de proteger as raízes das plantas dos nema- Citricultura Sylvio Moreira (CCSM), vinculado ao Instituto
toides das galhas radiculares (espécie Meloidogyne spp.). Agronômico (IAC), foi lançada a Navelina XR, a única
A película tem formato de saco e é feita à base de papel laranjeira naturalmente resistente à bactéria causadora da
reciclado, polímeros biodegradáveis e bionematicidas clorose variegada dos citros (CVC). A variedade apresenta
para o controle da praga. Segundo a Universidade, esta frutos típicos de laranja Baianinha: sem sementes, com
estratégia de controle é inovadora, sustentável, prática, maturação precoce a meia-estação e que se conservam
de baixo custo e está sendo otimizada. nas plantas após atingirem a maturidade comercial, mas
com certo grau de granulação. A produtividade média
O defensivo biológico utilizado é proveniente de resíduos é de 15 kg/planta aos 4 anos de idade e 100 kg/planta
do processamento do fruto da nogueira, não apresen- aos 10 anos. É indicada para o estado de São Paulo,
tando, portanto, impactos negativos ao meio ambiente. preferencialmente em regiões com temperatura mais
A liberação do composto ocorre internamente e externa- amena. (Canal Rural)
mente ao saco, o que permite uma proteção à planta nos
dois sentidos. O produto não gera resíduos, pois ao final
do processo este é degradado por outros organismos que
MAPA REGISTRA MAIS 13 PRODUTOS DE BAIXO
não são afetados pelo nematicida, além da temperatura
IMPACTO PARA O CONTROLE DE PRAGAS
e humidade.
De acordo com os cientistas, este saco vai impedir que O Ato nº 26 do Departamento de Sanidade Vegetal e Insu-
os parasitas se instalem no sistema radicular da planta mos Agrícolas da Secretaria de Defesa Agropecuária traz
o registro de 55 defensivos agrícolas formulados, ou seja,
e completem o seu ciclo de vida. Segundo os pesqui-
produtos que efetivamente estarão disponíveis para uso
sadores, um dos próximos passos será avaliar melhor
pelos agricultores. Desses, 13 são considerados biológicos,
como os organismos não-alvo afetam na degradação do
sendo sete destinados à agricultura orgânica.
ProBag. (Agrolink)
Ao todo, em 2023 já foram registrados 121 produtos, sendo
28 classificados como de baixo impacto, o que evidencia a
crescente preocupação com práticas agrícolas sustentáveis.
“Os produtos biológicos contêm fungos, bactérias, vírus e
DRONES CONTRA O AVANÇO DO 'GREENING' insetos predadores, representando uma abordagem inova-
Produtores do interior de São Paulo têm usado drones dora e amigável ao meio ambiente no controle de pragas
para tentar conter o avanço do amarelão ou "greening". e doenças nas plantações”, relata a chefe da Divisão de
O Fundo de Defesa da Citricultura, formado por agricul- Registro de Produtos Formulados, Tatiane Almeida.
tores e representantes da indústria de suco, constatou Dentre os produtos químicos registrados, cinco deles apre-
o avanço da doença em propriedades de São Paulo e do sentam uma nova substância ativa denominada isocyclo-
Triângulo Mineiro, maior região produtora de laranja do seram. Trata-se de um ingrediente ativo de última geração
país. O levantamento mapeou, entre junho e setembro, para um amplo espectro de pragas, com um modo de
1.800 talhões e concluiu que o número de pomares ação inédito. Sua eficácia proporciona controle imediato
infectados aumentou 7% em relação ao estudo anterior, e prolongado, mesmo em doses reduzidas. Esses produtos
feito no ano passado. É o maior índice já registrado são recomendados para diversas grandes culturas e, em
desde que a doença foi identificada pela primeira vez especial, para o combate às formigas. Os demais produtos
Brasil, há quase 20 anos. utilizam ingredientes ativos já registrados anteriormente
Em Tabatinga, SP, drones foram escolhidos para pul- no país. Os novos registros são importantes pois diminuem
verizar inseticida na plantação por causa da versatili- a concentração do mercado de defensivos e aumentam a
dade. Eles servem tanto para áreas grandes quanto concorrência. Isso acaba resultando em um comércio mais
menores. É possível fazer aplicações mais localizadas. justo e em menores custos de produção para a agricultura
(Globo Rural) brasileira. (Diário Oficial da União)

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CURSOS, SIMPÓSIOS E
OUTROS EVENTOS
1. I V ENCONTRO DE ENTOMOLOGIA E 6. CURSO DE PRODUÇÃO DE SOJA – MÓDULO
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE MANEJO FITOSSANITÁRIO
Local: E vento on line Local: E mbrapa Soja, Londrina, PR
Data: 6 a 10/NOVEMBRO/2023 Data: 27/NOVEMBRO a 1/DEZEMBRO/2024
Informações: Universidade Federal da Grande Dourados Informações: Embrapa Soja
Website: https://www.even3.com.br/iveecb/ Email: soja.eventos@embrapa.br
Website: https://www.embrapa.br/cursos/

2. 75º CURSO DIACOM: TETRAZÓLIO E PATOLOGIA


DE SEMENTE 7. II SIMPÓSIO MANEJO DE PLANTAS DANINHAS
Local: À
 distância, com transmissão ao vivo
Local: R
 odovia Carlos João Strass, s/n, Distrito de Warta,
Data: 7 e 8/DEZEMBRO/2023
Londrina, PR
Informações: Pro-Hort
Data: 6 a 10/NOVEMBRO/2023
Email: prohort.1997@gmail.com
Informações: Embrapa Soja
Website: https://fealq.org.br/eventos/simposio-
Email: soja.eventos@embrapa.br
manejo-de-plantas-daninhas/
Website: https://web.cnpso.embrapa.br/diacom/
index.html
8. X ENCONTRO NACIONAL DA SOJA
Local: P
 arque de Exposições Governador Ney Braga,
3. II SIMPÓSIO DE HERBICIDAS E TECNOLOGIAS
Av. Tiradentes, 6.275, Cilo II, Londrina, PR
ASSOCIADAS – II SIMPOHERBI
Data: 14 e 15/DEZEMBRO/2023
Local: C
 entro de Convenções, Câmpus de Jaboticabal, Informações: GELQ 2024
Jaboticabal, SP Email: gelq2024@gmail.com
Data: 9 e 10/NOVEMBRO/2023 Website: https://fealq.org.br/eventos/x-encontro-
Informações: Prof. Leonardo Carvalho – Coordenador nacional-da-soja/
Telefone: (16) 3209-7635
Website: https://simpoherbi.wordpress.com/
9. X XXIII CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS
PLANTAS DANINHAS
4. VIII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA DO MILHO
Local: E XPO Dom Pedro – Centro de Convenções
Local: U
 niRV, Campus Rio Verde, Fazenda Fontes do e Exposições de Campinas, Campinas, SP
Saber, Rio Verde, GO Data: 12 a 15/AGOSTO/2024
Data: 22 e 23/NOVEMBRO/2023 Informações: Sociedade Brasileira da Ciência das
Informações: GELQ 2024 Plantas Daninhas
Email: gelq2024@gmail.com Email: sbcpd@sbcpd.org
Website: https://fealq.org.br/eventos/viii-encontro- Website: https://www.sbcpd.org/
nacional-da-cultura-do-milho-104709/
10. IV SIMPÓSIO SOBRE TECNOLOGIAS NO CULTIVO
5. 28th ASIAN-PACIFIC WEED SCIENCE SOCIETY DO CAFEEIRO
CONFERENCE 2023 (APWSS 2023) Local: A
 definir
Local: P
 uket, Talilândia Data: 2 a 4/NOVEMBRO/2024
Data: 26 a 29/NOVEMBRO/2023 Informações: Prof. José Laercio Favarin
Informações: Secretaria Email: ddourado@usp.br
Email: secretariat@apwss2023-phuket.com Website: https://fealq.org.br/eventos/simposio-do-
Website: https://www.apwss2023-phuket.com/ cultivo-cafeeiro/

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PUBLICAÇÕES RECENTES

INSETICIDAS BOTÂNICOS NO BRASIL: UMA VISÃO PANORÂMICA DO CONTROLE


APLICAÇÕES, POTENCIALIDADES E PERSPECTIVAS BIOLÓGICO NA AGRICULTURA MODERNA
(Série Produtor Rural nº 73)
Autores: Leandro P. Ribeiro, José D. Vendramim, Edson
L. L. Baldin; 2023. Autores: Vítor Gazotto Cassiolato et al.; 2022.
Conteúdo: Essencial ao universo de pesquisas ento- Conteúdo: O objetivo deste livro é descrever as carac-
mológicas, a obra cobre uma lacuna de 15 anos sem terísticas de cada grupo de organismos utilizados como
novas publicações sobre o tema. Com uma abordagem agentes biológicos de controle na agricultura atual,
multidisciplinar, o livro contempla todos os aspectos caracterizada por uma crescente exploração dos recur-
inerentes à pesquisa, experimentação e emprego prá- sos de biocontrole no desenvolvimento de um processo
tico dos inseticidas botânicos em programas de manejo mais eficiente e sustentável.
de pragas, servindo como base para o ensino, experi- Preço: gratuito, publicação eletrônica
mentação e difusão desse campo da Ciência no Brasil. Número de páginas: 87
Preço: R$ 199,90 Editora: Divisão de Biblioteca da Escola Superior de
Número de páginas: 652 Agricultura "Luiz de Queiroz"/USP
Editora: FEALQ Website: https://www.livrosabertos.sibi.usp.br/
Website: https://fealq.org.br/

PANORAMA DOS BIOLÓGICOS NA AGRICULTURA MANEJO INTEGRADO DE PLANTAS DANINHAS


(E-BOOK) EM MANDIOCA: UM DESAFIO AMBIENTALMENTE
CORRETO
Autores: Mateus Mondin et al.; 2022.
Conteúdo: De forma didática e organizada, a obra visa Autores: Valdemir Antonio Peressin et al.; 2022.
estabelecer o panorama dos biológicos na agricultura, os Conteúdo: A presença de plantas daninhas (matocom-
principais benefícios e desafios do uso dos bioinsumos em petição) pode afetar negativamente a produtividade da
diversas culturas. Também apresentam aspectos impor- mandioca no campo, refletindo na economia agrícola
tantes da legislação à qual esses produtos estão atrelados, em caráter permanente. Este livro apresenta informa-
contextualizando o controle biológico aplicado com os ções que podem auxiliar na tomada de decisão para
aspectos econômicos, sociais e ambientais vigentes. adoção de tratos culturais da mandioca no estado de
Preço: gratuito, publicação eletrônica São Paulo, Brasil e no mundo.
Número de páginas: 43 Preço: gratuito, publicação eletrônica
Editora: PECEGE Número de páginas: 67
Website: https://fealq.org.br/ Editora: Instituto Agronômico de Campinas
Website: https://www.iac.sp.gov.br/

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O MANEJO DO


GREENING NOVO CASO DE RESISTÊNCIA DE PLANTA
DANINHA AO GLIFOSATO NO BRASIL:
Autores: Antonio Juliano Ayres et al.; 2023. PICÃO-PRETO (Bidens subalternans)
Conteúdo: Plantas hospedeiras e biologia do psilídeo; (Comunicado Técnico, 107)
hábito e dispersão do psilídeo; aquisição e trasmissão
da bactéria pelo psilídeo; fatores relacionados à brota- Autores: Fernando Storniolo Adegas et al.; 2023.
ção; como o clima interfere na bactéria; monitoramento Conteúdo: São apresentados os resultados de estudos
do psilídeo; controle químico; outros métodos para o de comprovação da resistência do picão-preto ao gli-
controle do psilídeo; ação externa. fosato em condições controladas.
Preço: gratuito, publicação eletrônica Preço: gratuito, publicação eletrônica
Número de páginas: 21 Número de páginas: 6
Editora: FUNDECITRUS Editora: Embrapa Soja
Website: www.fundecitrus.com.br/ Website: https://www.embrapa.br/

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PATROCINADORES

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