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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS PROTEÇÃO DE PLANTAS No 4 – JANEIRO 2024


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CONTEÚDO
Ponto de Vista 4

Artigos Técnicos
Aspectos gerais da podridão de grãos e 5
sementes da soja
João Paulo Ascari, Paulo Souza

Tecnologias e técnicas incorporadas nos 15


pulverizadores de barras para melhoria
da qualidade de aplicação
João Victor de Oliveira

Bioinsumos: Onde estamos e para onde 27


caminhamos?
Bruna Canabarro Pozzebon, Angélica dos Santos da Cruz,
Bruno Yudi Shintate

Divulgando a Pesquisa
Estratégias de manejo químico e cultural de 36
capim-amargoso resistente ao glifosato no Brasil
Central
Lara Lorrayne Ferreira Alves et al.

Painel Agronômico 37

Cursos, Simpósios e Outros Eventos 39

Publicações Recentes 40

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS
PROTEÇÃO DE PLANTAS No 4 - Janeiro 2024

EXPEDIENTE

Publicação trimestral gratuita da


NPCT – Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia

O jornal publica artigos técnico-científicos elaborados pela


comunidade científica nacional e internacional visando
o manejo responsável de insetos-praga, doenças,
nematoides e plantas daninhas.

COMISSÃO EDITORIAL

Editor
Claudinei Kappes

Editora Assistente
Silvia Regina Stipp

Gerente de Distribuição
Evandro Luis Lavorenti

ENDEREÇO
NOTA DOS EDITORES
As opiniões e as conclusões expressas pelos autores nos artigos não Rua Ataulfo Alves, 352, sala 1 - CEP 13424-370 - Piracicaba-SP, Brasil
refletem necessariamente as mesmas da comissão editorial deste jornal. Website: owww.npct.com.br/IAProtecao
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS PROTEÇÃO DE PLANTAS N 4 – JANEIRO 2024
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PATROCINADORES

NOTA: Os interessados em patrocinar o Jornal Informações Agronômicas podem entrar em contato com
ELavorenti@npct.com.br ou LProchnow@npct.com.br

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PONTO DE VISTA

2023/2024:
Uma Safra Desafiadora!

Claudinei Kappes

Desde criança ouço dizer que “cada ano, o clima é dução. Presenciei, ainda, lavouras de soja sendo colhidas e,
diferente”! E de fato, as condições climáticas na safra a poucos quilômetros dali, campos sendo semeados. Algo
2023/2024, além de nunca ter vivenciado antes, estão marcante, também nunca visto antes.
sendo as mais desafiadoras para os produtores brasileiros. Por outro lado, a atual safra nos faz recordar, ainda mais,
Regiões situadas ao Norte e boa parte do Centro-Oeste do como os princípios básicos da agronomia são importantes.
país enfrentaram uma severa escassez de água. Contra- Um adequado manejo do solo, sem restrições físicas e com
riamente, lavouras na região Sul do Brasil sofreram com o um aporte eficaz de palhada em sua superfície, é considerado
excesso de chuvas. Esta safra também está sendo marcada um “seguro agrícola” em anos com baixa disponibilidade
pelas temperaturas elevadas e várias ondas de calor que, hídrica.
por sinal, foram as mais fortes dos últimos 60 anos. Tudo se Em anos secos como estes, talvez a severidade da
deve a um velho conhecido, o fenômeno El Niño. maioria das doenças seja menor que em anos com muita
Mato Grosso, nosso celeiro agrícola nacional, caminha chuva. Mas é neste cenário que os nematoides ocasionam
para a sua maior perda histórica de produção de soja. Eu as maiores perdas de produtividade. É nesta condição que
estava acostumado a ver os sojicultores perdendo parte de aquele talhão considerado uniforme até então começa a
sua produção por excesso de água; mas, por falta de água, revelar as reboleiras deste inimigo “invisível”. Tempo seco
com esta magnitude, é a primeira vez. Relatos de produtivi- e temperatura elevada também aceleram o ciclo biológico
dades de 6, 15, 20 e 30 sacas de soja por hectare não foram dos insetos-praga. Prova disto foram as altas populações de
poucos nos quatro cantos do estado. mosca-branca que apareceram não apenas em soja, mas
Ademais, muitas áreas tiveram que ser ressemeadas, também em centros urbanos.
devido ao estabelecimento desuniforme das lavouras. O Minha concepção é de que a safra 2023/2024 é um
atraso na semeadura da soja em Mato Grosso fez recordar os período de sobrevivência, devido às condições climáticas
anos 1990, quando semeávamos soja nos meses de novem- adversas, ao mercado não muito atrativo à comercialização
bro e dezembro. O alongamento da janela de semea­dura da de commodities e aos custos de produção elevados. Mas
oleaginosa está afetando, neste momento, a área de milho é isso, agricultura é a arte de produzir a céu aberto. Ela é
safrinha que, por sinal, também terá uma redução de pro- desafiadora, é para poucos, e é para os fortes!

INFORMAÇÕES
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS
AGRONÔMICAS PROTEÇÃO
PROTEÇÃO DE
DE PLANTAS
PLANTAS N
No 4
o
4–
– JANEIRO
JANEIRO 2024
2024
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ARTIGO TÉCNICO 1
Aspectos Gerais da Podridão de
Grãos e Sementes da Soja
João Paulo Ascari1, Paulo Souza2

1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA As partes afetadas da planta são as vagens e os grãos,


que apodrecem parcial ou completamente após serem
A soja (Glycine max) é a principal cultura utilizada infectadas. A distribuição dos sintomas ocorre de forma
no cultivo da safra de verão em Mato Grosso e, pelo bom aleatória nas plantas, assim como nos grãos, dentro da
encaixe na janela de semeadura, geralmente permite boas vagem. Contudo, as vagens inferiores, em cultivares de ciclo
condições para a realização da segunda safra com milho ou indeterminado, tendem a apresentar os primeiros sintomas
algodão. Deste modo, variando conforme a região do estado,
da PGS. Os momentos mais propícios para a visualização
tem-se sistemas de cultivo bem consolidados em soja-milho
dos sintomas de podridão nas vagens ocorrem nos estádios
e soja-algodão.
fenológicos R5.5 e R6; contudo, já é possível verificá-los a
Entre as várias doenças causadas por fitopatógenos, a partir de R5.3.
podridão de grãos e sementes (PGS), popularmente conhecida
Normalmente, os sintomas mais comuns observados
por anomalia da soja, tem causado severas perdas na produti-
são caracterizados pela alteração na coloração externa
vidade da oleaginosa. Os primeiros relatos do problema foram
na safra 2018/2019, registrados em áreas comerciais do Médio das vagens, que apresentam escurecimento e/ou aspecto
Norte Mato-Grossense e em áreas de Rondônia, apresentando encharcado. As vagens mostram-se completamente fecha-
incidência em diversas cultivares de soja. Desde então, a das, sem sinais de abertura ou danos físicos. Internamente,
podridão de grãos foi se espalhando pelas propriedades e os grãos ficam necrosados e/ou completamente podres.
regiões adjacentes ao eixo da BR163, em Mato Grosso. De Em vagens com incidência de podridão, é comum observar
acordo com informações de campo e resultados de pesquisa, maior ocorrência de germinação dos grãos não afetados
a doença tem alto potencial de causar danos, podendo che- (Figura 1).
gar a mais de 40% de redução na produtividade em situações Ainda não se conhece o agente causal primário da
altamente favoráveis (KUDLAWIEC et al., 2023). podridão de grãos e sementes da soja. Com base em resul-

Abreviações: GM = grupo de maturação; Mapa = Ministério da Agricultura e Pecuária; PCR = Reação em cadeia da polimerase;
PGS = podridão de grãos e sementes.

1
Pesquisador em Fitopatologia e Biológicos na Fundação MT, Sapezal, MT; e-mail: joaoascari@fundacaomt.com.br
2
Pesquisador em Data Science na Fundação MT, Rondonópolis, MT; e-mail: paulosouza@fundacaomt.com.br

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Figura 1. Sintomas da podridão observados nas vagens e nos grãos de soja.

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tados de pesquisa, considera-se, atualmente, que a PGS é haste apresentaram, externamente, uma sutil alteração
causada por um complexo de fungos formado, frequente- de cor na epiderme, na região das estrias, com aspecto
mente, por espécies dos gêneros Diaporthe, Fusarium e de encharcamento. Entretanto, ainda são necessários
Colletotrichum. mais estudos para entender o nível de correlação entre a
Na safra 2022/2023, pesquisas realizadas pela Funda- expressão de sintomas externos no caule e a ocorrência
ção MT analisaram mais de 75 amostras de plantas de soja, das estrias (Figura 2).
com presença ou ausência de estrias abaixo da epiderme do Para avaliar a incidência de fungos na haste da planta
caule e com presença ou ausência de sintomas de podridão foram analisadas 31 amostras, com e sem sintomas de estrias
de grãos e sementes. As estrias normalmente são verificadas no caule. Foram realizados isolamentos de fungos presentes
nos primeiros 20 cm do caule acima do solo. Os sintomas nos tecidos com e sem sintomas, e a partir do teste molecular
caracterizam-se por lesões necróticas paralelas e distribuí- de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) determinou-se a
das longitudinalmente no caule, podendo ser identificadas frequência da presença de Diaporthe ueckarae, Macrophomina
através de uma simples raspagem da epiderme. Em obser- phaseolina e do complexo Fusarium incarnatum equiseti
vações de campo, verificou-se que plantas com estrias na (Figura 3).

Figura 2. Estrias no caule da soja: escurecimento de regiões da epiderme que se inicia no colo da planta.

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Figura 3. Frequência de dois principais fungos causadores de podridão em soja, Colletotrichum sp. e Diaporthe sp., isolados a partir de
hastes com e sem presença de estrias na região do colo da planta.

Já nos isolamentos fúngicos realizados nas vagens, Estas espécies fúngicas podem apresentar compor-
observou-se a presença da espécie Diaporthe ueckarae, tamento patogênico (quando causa doença na planta) ou
Colletotrichum spp. e de fungos pertencentes aos comple- endofíticos (quando colonizam os tecidos internos das plan-
xos Fusarium incarnatum equiseti, Fusarium oxysporum e tas, mas não causam doença). As análises moleculares são
Fusarium fujikuroi, identificados também pelo teste PCR capazes de detectá-los, independentemente da expressão de
(Figura 4). sintomas no caule ou nas vagens. Além disso, espécies fúngicas

Figura 4. Frequência de espécies de fungos detectados nas análises moleculares a partir do teste de PCR em hastes e vagens de soja,
na safra 2022/2023.

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similares podem ser encontradas colonizando/infectando as submetidos à análise in silico. Buscou-se entender a combi-
hastes e as vagens da soja. Contudo, ainda não há evidências nação de variáveis a partir de algoritmos de aprendizado de
concretas e suficientes para comprovar a correlação entre a máquina, seguindo métodos propostos por Morettin et al.
presença de estrias no caule e a ocorrência de podridão nas (2022) e Sicsú et al. (2023). A severidade da anomalia em
vagens. grãos e vagens foi categorizada em baixa (0-12%), interme­
A diagnose correta das doenças que ocorrem nas diária ou média (12,1%-25%) e alta (> 25,1%) nas amostras,
vagens é muito importante, pois os erros podem levar a uma em 380 registros de parcelas experimentais.
tomada de decisão equivocada no manejo. Por exemplo, a As variáveis consideradas no modelo foram: a) aplicação
antracnose das vagens tem sido muitas vezes confundida ou não de fungicida (tratamentos fungicidas e controles),
com a podridão de grãos. Apesar de também ser causada b) época de semeadura (outubro, novembro, dezembro),
pelo fungo Colletotrichum spp., ela é uma doença que pode c) hábito de crescimento (determinado, indeterminado, semi
ocorrer em todas as fases de formação e enchimento de determinado), d) cor da flor da cultivar, e) local (condições
grãos, principalmente em ambientes com alta umidade do ambientais referentes a Sorriso e Mutum), f) estande de
ar e temperaturas próximas a 28 °C. As lesões apresentam plantas, g) grupo de maturação (GM) e h) dias até a floração,
coloração negra, desenvolvendo-se na parte externa da a partir da emergência. A árvore gerada está ilustrada na
vagem, principalmente na posição dos grãos, onde é possível
Figura 6, indicando o grau de severidade (risco baixo, médio
observar a presença de estruturas do fungo, denominadas
ou alto para danos) na ocorrência da anomalia.
de acérvulos. Estes podem ser visualizados no campo com
o auxílio de uma lupa (Figura 5). A árvore de decisão faz a leitura das variáveis e posi-
ciona as de maior importância, efetuando questionamentos,
Objetivando estudar o problema da podridão de grãos
de modo que se possa entender a dinâmica da interação des-
e de sementes da soja, a Fundação MT tem desenvolvido
diversos trabalhos para entender as causas da doença e tas variáveis em relação ao grau de severidade da anomalia
planejar o seu manejo. A seguir, apresentamos algumas nas vagens. Pode-se verificar que um fator determinante
informações de pesquisa obtidas in silico (análise por inteli- para a manifestação da anomalia é o período de dias até
gência de máquina) e aplicada, que auxiliam no diagnóstico o florescimento. Observou-se que nos casos em que o flo-
efetivo da doença. rescimento ocorreu 33 dias após a emergência, em 49% da
base de dados, houve baixa severidade da doença. Este fato
2. O QUE AS INTELIGÊNCIAS DE MÁQUINA leva a crer que o manejo da cultura antes do florescimento
TÊM A DIZER? é importante para reduzir os danos pela doença. Quando a
floração ocorreu antes de 33 dias, a árvore de risco consi-
2.1. Árvore de decisão da anomalia derou o grupo de maturação dos materiais como fator de
(decision tree) importância, e 5% da base de dados foi classificada como de
Os dados dos ensaios envolvendo anomalias nos grãos baixa severidade na situação em que o grupo de maturação
e vagens conduzidos pela Fundação MT foram compilados e foi maior ou igual a 8.3.

Figura 5. Sintomas de antracnose e de acérvulos do Colletotrichum spp. em vagens de soja.

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Figura 6. Árvore de decisão (algoritmo random forest) para grau de risco da anomalia. Para cada questionamento derivado, a árvore
projeta uma resposta: S (Sim, caminho do lado esquerdo), ou N (Não, caminho do lado direito). Os valores percentuais na
extremidade inferior do gráfico indicam a proporção da base de dados que foi analisada e classificada ao seguir o caminho
designado na árvore de decisão. Para as variáveis expressas em "dias", a data inicial de referência é a emergência da cultura.

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O penúltimo ‘galho’ da árvore registrou a importân- Os resultados de predição apontaram acurácia média
cia do uso de fungicidas. Verificou-se, em 11% da base de de 71% e 76% na utilização dos algoritmos Naive Bayes e
dados, que a aplicação de fungicidas no manejo de plantas redes neurais, respectivamente. O intervalo de confiança
que floresceram antes de 33 dias contribuiu para a baixa entre estes modelos (95% de confiança) esteve entre 55% e
ocorrência da anomalia. Nos tratamentos-controle (sem 84%, ou seja, a cada 100 tentativas de predição, o modelo
aplicação de fungicidas), com estande igual ou maior que acertou entre 55 e 84 vezes a categoria (baixa, média e
152 mil plantas ha-¹, houve manifestação de alta severi- alta) de anomalia. Os resultados preliminares mostram que,
dade da doença. De fato, o estande de plantas também independentemente da causa real da anomalia, as variáveis
foi considerado no quarto galho da árvore de risco, culmi- anteriormente registradas são importantes para a expressão
nando em alto risco para populações iguais ou maiores que do nível de dano e, consequentemente, do nível de redução
200 mil plantas ha-¹. da produtividade da soja.
Os ensaios estavam localizados em duas regiões de É importante destacar que a problemática é recente
maior ocorrência da doença – Nova Mutum e Sorriso, MT. e a base de dados ainda é pequena, porém, está sendo
Verificou-se que as condições ambientais de Sorriso favore- alimentada. A tendência é que, com cada novo registro e
ceram o incremento da severidade da doença. Isto pode estar com as informações advindas da safra 2023/2024, o modelo
relacionado às condições de precipitação e temperatura na computacional seja melhorado e possa ser cada vez mais
região ou ao maior tempo de propagação da problemática, acurado, permitindo entender a interação da doença com
visto que os primeiros relatos também foram observados na as outras variáveis ainda não registradas.
região de Sorriso, MT.
3. O QUE A PESQUISA APLICADA REVELA
2.2. Modelos de predição de risco Diversos ensaios foram conduzidos em condições de
Com os dados compilados, foi proposta a criação de campo para entender a performance de controle das princi-
um modelo preditivo, seguindo as observações e as variá­ pais ferramentas que estão disponíveis ao agricultor, como
veis demonstradas anteriormente. Para tal, 85% da base o controle químico com fungicidas. É interessante notar que
de dados foi utilizada em treinamento computacional, com o algoritmo aplicado nos modelos de previsão de risco de
a aplicação dos algoritmos Naive Bayes e Redes neurais ocorrência da anomalia indicou que o risco de ocorrência de
artificiais (MORETTI et al., 2022; SICSÚ et al., 2023). Para podridão aumentou a partir do estádio reprodutivo da planta.
os demais 15%, removeu-se a informação sobre o grau de Em estudo realizado com o objetivo de avaliar o efeito
anomalia registrado e foi solicitado que a máquina treinada da época de aplicação dos fungicidas, iniciando-se aos 15,
efetuasse a identificação do grau de anomalia aplicado. Na 25, 35 e 45 dias após a semeadura da soja, observou-se que
prática, fornecemos ao ‘computador’ as informações sobre não houve diferenças estatísticas na intensidade da podridão
clima, manejo e cultivares, exceto as de grau de anomalia de grãos de soja e na porcentagem de avariados, represen-
observado, e tentamos entender quantas vezes o computa- tado pela porcentagem de vagens com sintomas de podri-
dor acertou o grau de anomalia que foi registrado. dão, entre os diferentes momentos de aplicação (Figura 7).
Vagem com PGS (%)

Épocas de aplicação

Figura 7. Incidência de vagens com sintomas de podridão de grãos e sementes da soja (PGS) em função de diferentes épocas de aplica-
ção de fungicidas (15, 25, 35 e 45 dias após a semeadura). Pontos em vermelho e azul representam a média do tratamento;
as letras representam o agrupamento estatístico do teste de média de Scott-Knott (5%); os valores nas caixas representam a
porcentagem de controle. Cultivar BMX Desafio RR, safra 2022/2023, Nova Mutum, MT.

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Contudo, devido à importância do problema, pelos danos Normativa do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa)
afetarem diretamente o produto comercial (grãos), e em n° 11, de 15 de maio de 2007. Apesar de não ter exercido
função da ocorrência de outras doenças, como as manchas efeitos mitigatórios dos danos da podridão de grãos, a realiza-
foliares, recomenda-se iniciar as aplicações de fungicidas na ção do tratamento de sementes é extremamente importante
cultura da soja no período entre 25 e 35 dias após a emergên- visando o controle de fungos de solo e pragas iniciais que
cia, garantindo a proteção das folhas do baixeiro das plantas, atacam a soja.
e durante o período de florescimento e/ou fechamento do Tendo em vista a associação de ocorrência da podridão
espaço entre linhas. Isto pode ser constatado também nos de grãos com agentes causais fúngicos, a proteção das plantas
resultados dos ensaios em rede para avaliação de fungicidas com fungicidas se torna importante. Com o objetivo de enten-
na podridão de grãos, disponibilizado pela Embrapa Soja der o comportamento isolado dos fungicidas no controle da
(KUDLAWIEC et al., 2023). podridão de grãos da soja, foram realizadas três aplicações
O tratamento de sementes, na maior parte dos casos, é seguidas do mesmo produto em cada tratamento (lembrando
o primeiro momento de aplicação do manejo fitossanitário que não é recomendado aplicar o mesmo fungicida repeti-
com fungicidas visando o controle de doenças na soja. Estu- das vezes, porém, neste caso, foi para fins de pesquisa). Os
dos conduzidos em Nova Mutum, MT, na safra 2022/2023, resultados mostraram que alguns fungicidas apresentaram
demonstraram que os fungicidas aplicados no tratamento maior resposta no controle do problema (Figura 9). O grupo
de sementes não influenciaram a ocorrência da podridão de fungicidas representados pela cor vermelha agrupou os
de grãos da soja, apresentando resultados semelhantes no produtos com a melhor performance de controle da podri-
controle da doença (Figura 8), avaliado conforme a Instrução dão. No entendimento geral do problema, consideramos
Grãos avariados (%)

Fungicidas

Figura 8. Porcentagem de grãos avariados de soja em função de diferentes fungicidas químicos aplicados no tratamento de sementes
da soja cultivar BMX Desafio RR. T1: Testemunha; T2: Tiofanato-Metílico + Fluaziam; T3: Ipconazole + Thiram; T4: Carboxina
+ Tiram; T5: Metalaxil-M + Tiabendazol + Fludioxonil; T6: Protioconazol + (Fludioxonil + Metalaxil-M); T7: Tiofanatao-Metílico
+ Clorotalonil; T8: Codificado. Safra 2022/2023, Sorriso, MT.
Grãos avariados (%)

Fungicidas

Figura 9. Porcentagem de grãos avariados de soja em função da aplicação isolada de diferentes fungicidas químicos. Pontos em vermelho
e azul representam as médias dos tratamentos; as letras "a" e "b" representam o agrupamento estatístico do teste de média de
Scott-Knott (5%); os valores nas caixas são as porcentagens de controle. T1: Testemunha; T2: Bixafem + Protioconazol + Trifloxis-
trobina; T3: Protioconazol + Impirfluxam; T4: Protioconazol + Fluxapiroxade; T5: Protioconazol + Benzovindiflupir; T6: Tebuconazol
+ Metominostrobina; T7: Picoxistrobina + Benzovindiflupir; T8: Tiofanato + Metílico + Fluazinam; T9: Programa fungicidas [Meto-
minostrobina + Tebuconazol) + Clorotalonil; (Protioconazol + Benzovindiflupir) + Mancozeb; (Bixafem + Protioconazol + Trifloxis-
trobina) + Mancozeb; (Tiofanato-Metílico + Fluazinam) + Clorotalonil]. Cultivar BMX Desafio RR, safra 2022/2023, Sorriso, MT.

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importante a aplicação de fungicidas com diferentes modos soja, os fungicidas sítio-específicos apresentaram diferentes
de ação de controle. Enfatiza-se também a importância de se respostas na redução de grãos avariados da soja quando
utilizar fungicidas com ingredientes ativos do grupo químico combinados com fungicidas multissítios (Figura 10), o que
das carboxamidas e triazois; contudo, como estratégia de pode ser verificado confrontando-se os resultados com os
manejo da resistência do fungo aos fungicidas, é importante apresentados na Figura 9.
rotacionar os fungicidas com ingredientes ativos diferentes. O manejo da podridão de grãos e de sementes de soja
Esses dados ajudam o agricultor a planejar quais serão os é desafiador, e muito ainda precisa ser feito para entender
fungicidas a serem utilizados no programa fitossanitário. o processo infeccioso inicial, as interações do genótipo com
O controle das doenças da cultura da soja tem se tornado o ambiente e definir as ferramentas de controle a serem
um grande desafio nas últimas safras. Em condições ambien- empregadas. Contudo, até o momento, os cuidados na
tais favoráveis ao bom desenvolvimento da soja os patógenos escolha da cultivar em função da data de semeadura, a
também se beneficiam, e as doenças podem se tornar de difícil definição do produto certo e do momento certo para ini-
controle. Nestas situações, os fungicidas multissítios são ainda ciar as aplicações de fungicidas (químicos e biológicos) são
mais importantes, pois afetam diferentes pontos metabólicos pontos importantes a serem considerados no planejamento
do fungo e apresentam baixo risco de resistência. fitossanitário da soja, e que podem mitigar os danos na pro-
Para doenças como a mancha-alvo e a cercosporiose, dutividade causado pelo complexo de doenças incidentes
recomenda-se a aplicação de fungicidas multissítios à base na cultura. O caminho mais seguro é trabalhar de forma
de mancozeb ou clorotalonil para obtenção de melhores preventiva, adotando-se as diferentes estratégias do manejo
resultados. Visando o controle da podridão de grãos da integrado de pragas.
Grãos avariados (%)

Fungicidas

Figura 10. Porcentagem de grãos avariados de soja em função da aplicação isolada de diferentes fungicidas químicos com adição de multis-
sítios. Pontos em azul, vermelho, amarelo e verde representam as médias dos tratamentos; as letras "a", "b", "c" e "d" são o agru-
pamento estatístico do teste de média de Scott-Knott (5%); os valores nas caixas são as porcentagens de controle. T1: Testemunha;
T2: (Bixafem + Protioconazol + Trifloxistrobina) + Mancozeb; T3: (Protioconazol + Impirfluxam) + Mancozeb; T4: (Protioconazol + Fluxa-
piroxade) + Mancozeb; T5: (Protioconazol + Benzovindiflupir) + Mancozeb; T6: (Metominostrobina + Tebuconazol) + Clorotalonil;
T7: Impirfluxam + Metominostrobina + Clorotalonil; T8: (Picoxistrobina + Benzovindiflupir) + Mancozeb; T9: (Tiofanato-Metílico
+ Fluazinam) + Clorotalonil; T10: Azoxistrobina + Protioconazol + Mancozeb; T11: Azoxistrobina + Tebuconazol + Clorotalonil;
T12: Mancozeb; T13: Clorotalonil; T14: Oxicloreto de cobre. Cultivar BMX Desafio RR, safra 2022/2023, Sorriso, MT.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. safra 2022/2023: Resultados sumarizados dos ensaios coopera-
Instrução Normativa nº 11, de 15 de maio de 2007. Estabelece tivos. Londrina, PR: Embrapa Soja, 2023. (Circular Técnica, 197).
o Regulamento Técnico da Soja. Diário Oficial da União: seção MORETTIN, P. A.; SINGER, J. M. Estatística e Ciência de Dados.
1, 16 maio 2007. Disponível em: <https://sistemasweb.cultura. LTC: Barueri, 2022. 464 p.
gov.br/sislegis/action/detalhaAto.do?method=visualizarAtoPor SICSÚ, A. L.; SAMARTINI, A.; BARTH, N. L. Técnicas de machine
talMapa&chave=1194426968>. Acesso em: 2 ago. 2023. learning. Blucher: São Paulo, 2023. 394 p.
KUDLAWIEC, K.; TOMEN, A.; BERGAMIN, A. C. et al. Eficiência SINCLAIR, J. B. Latent infection of soybean plants and seeds
de fungicidas para o controle da podridão de grãos da soja, na by fungi. Plant Disease, v. 75, p. 220–224, 1991.

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS PROTEÇÃO DE PLANTAS No 4 – JANEIRO 2024


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ARTIGO TÉCNICO 2
Tecnologias e Técnicas Incorporadas nos
Pulverizadores de Barras para Melhoria
da Qualidade de Aplicação
João Victor de Oliveira1

1. INTRODUÇÃO que é um banco de dados sobre produtos fitossanitários e


afins, registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Os primeiros pulverizadores surgiram no período entre
Abastecimento (Mapa).
1867 e 1900. Isso ocorreu em parte devido ao interesse dos
agricultores em aumentar as produções e melhorar a qua- 2. TIPOS DE APLICAÇÃO
lidade das plantações. Atualmente existem vários tipos de
pulverizadores, e os mais utilizados nas regiões produtoras As aplicações de produtos fitossanitários podem ser
realizadas de três maneiras principais, classificadas de via
de grãos são os de barras (Figura 1). Segundo Santos e Santos
sólida, via líquida e via gasosa. Na aplicação via líquida, indis-
Filho (2001), os pulverizadores de barras estão divididos em
cutivelmente a mais utilizada nos manejos fitossanitários, o
três tipos: montados, de arrasto e automotrizes.
produto formulado é diluído em água para aumentar o seu
Os pulverizadores são máquinas agrícolas que buscam volume, com a finalidade de melhorar a capacidade da apli-
otimizar a pulverização de produtos fitossanitários de maneira cação do ingrediente ativo na área a ser tratada. A maneira
que estes atinjam o alvo desejado de forma adequada. A como o agricultor planeja a aplicação desses produtos em sua
pulverização é o processo físico-mecânico de transformação lavoura diz muito sobre a rentabilidade e os resultados que
de uma substância líquida em partículas ou gotas, enquanto a ele deseja colher futuramente, e pode ser realizada em área
aplicação é a deposição de gotas contendo o ingrediente ativo total, com volume ou taxa de aplicação (litros por hectare)
sobre um alvo desejado, com tamanho e densidade adequa- fixo ou variável, e de maneira localizada.
dos ao objetivo proposto (ANDEF, 2004). A Figura 2 ilustra o
processo de aplicação do produto fitossanitário. 2.1. Aplicação em área total
Os produtos químicos que podem ser utilizados A pulverização em área total de instalação da cultura
nesse processo são os herbicidas, inseticidas, fungicidas envolve a aplicação de um único volume ou taxa, por exem-
e outros 23 produtos, segundo a classificação do Agrofit, plo, litros por hectare. Na teoria, quando é necessário definir

Abreviações: CO = capacidade operacional; Mapa = Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; PWM = Pulse Width
Modulation.

1
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Proteção de Plantas, Especialista de Produto, Jacto, Pompeia, SP; email: joao.victor@jacto.com.br

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16

aplicado (tipo e modo de ação), nível de desenvolvimento


A do alvo e tecnologia de aplicação utilizada.
Gimenez e Milan (2007), em estudo realizado com
o objetivo de avaliar o uso de sistemas mecanizados em
propriedades agrícolas de uma região produtora de grãos
em sistema de plantio direto na região dos Campos Gerais,
PR, e região Sul do Estado de São Paulo, observaram que, dos
242 pulverizadores analisados, 59,6% receberam ajuste do
volume de aplicação, enquanto 40,4% utilizaram a mesma
taxa de aplicação, independentemente do tipo de aplicação.
Atualmente, a aplicação em área total, com volume fixo
do produto, ainda é o método mais utilizado em aplicações
via terrestre. Nesta modalidade não se pretende economizar
produto, apenas aplicar onde é necessário e nas quantidades
exigidas.
B
2.2. Aplicação em taxa variável
A tecnologia de aplicação em taxa variável surgiu com o
intuito de compreender a variabilidade espacial e temporal
dos fatores que influenciam a produtividade e, assim, per-
mitir identificar zonas de manejo e tratamento localizado de
diferentes regiões em um campo de produção (SALVADOR;
ANTUNIASSI, 2011).
Este método funciona com base no princípio de que,
ao invés de se aplicar uma taxa fixa estipulada, a vazão
(L min-1) é ajustada de acordo com as mudanças nas neces-
C sidades locais. Esta tecnologia, quando aliada a uma correta
metodologia de análise e aplicação, traz ótimos resultados
para o campo, reduzindo custos e desperdícios, aumentando
a produtividade e otimizando as condições gerais do talhão.
Normalmente, a metodologia de análise consiste em
realizar amostragens distribuídas de maneira homogênea
na área, mas em alguns casos podem ser direcionadas de
acordo com um zoneamento prévio realizado com auxílio
de sensoriamento remoto, o que pode tornar essas coletas
mais eficientes. Por exemplo, no caso das plantas daninhas,
é possível realizar a aplicação em taxa variável a partir da
identificação do grau de desenvolvimento das plantas e da
Figura 1. Pulverizadores de barras dos tipos: montado (A), de
densidade populacional. Assim, é possível compreender
arrasto (B) e automotriz (C).
as segmentações da área de produção agrícola e oferecer
orientações técnicas para que o agricultor possa realizar a
aplicação correta e da melhor forma possível na lavoura.
a taxa de aplicação (Q), considera-se os seguintes parâmetros
operacionais e especificações: vazão (q), espaçamento (f) e 2.3. Aplicação localizada
velocidade de trabalho (v), como registrados na equação
abaixo: Sistemas inteligentes para aplicações localizadas podem
reduzir consideravelmente os custos, classificando as plantas
q (L min-1) x 600 (constante) daninhas e fazendo a aplicação do produto somente onde é
Q (L ha-1) =
v (km h-1) x f (m) necessário (LIU; ABBAS; NOOR, 2021).
A pulverização localizada pode ser realizada com o
Porém, a taxa de aplicação a ser utilizada depende de auxílio de dois métodos de identificação: a) mapeamento
fatores como: alvo desejado, tipo de bico utilizado, condi- prévio, por análise de imagem e b) em tempo real, por meio
ções edafoclimáticas, arquitetura da planta, produto a ser de sensores ou câmeras.

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Figura 2. Processo de aplicação do produto fitossanitário mostrando a complexidade de cada procedimento até atingir o efeito biológico.
Fonte: Matthews et al. (2014).

Na identificação prévia das plantas daninhas, os mapas controle de seção da barra, permitindo aplicar o produto nas
são confeccionados a partir de imagens aéreas obtidas por “manchas” com plantas daninhas previamente delimitadas.
drones, aviões ou satélites. Posteriormente, essas informa- Nesse contexto, Laursen et al. (2016) destacam que o método
ções são convertidas em mapas, através de softwares de de mapeamento das plantas daninhas para pulverização
agricultura de precisão, e importados para os pulverizadores localizada (grid sprayer) pode reduzir o uso de herbicida em
que possuem a tecnologia de abertura e fechamento de 65% sem perdas de produtividade das culturas.

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Já no sistema de identificação em tempo real, os Quando se trata de herbicidas, os alvos são as plantas
sensores ou câmeras, conforme o pulverizador se desloca, daninhas, contudo, em aplicações em pré-emergência, os
registram a posição da planta e comandam a abertura e o herbicidas são depositados no solo para que se dissolvam
fechamento da ponta de pulverização (bico do pulveriza- na solução do solo e, com isso, atinjam o alvo, nesse caso
dor) de acordo com a localização informada. A válvula para as sementes das plantas daninhas (CHRISTOFFOLETI et al.,
abertura e fechamento necessita de um rápido tempo de 2009). Considerando os herbicidas de pós-emergência, os
resposta, por isso, para esse tipo de tecnologia é utilizada a alvos serão as folhas ou os caules das plantas daninhas.
válvula PWM (Pulse Width Modulation). Esses sistemas são As características da superfície foliar, o ângulo e posição
classificados de duas maneiras: da folha e o número de estômatos, tricomas e glândulas
• Verde sobre palha: utiliza uma série de sensores (HESS, 1985) afetam a área de contato ou molhamento e a
instalados ao longo da barra de pulverização para detectar a absorção do produto aplicado de maneira foliar (HULL et al.,
presença de plantas daninhas. Quando a planta é identificada, 1982; McWHORTER, 1985), ou seja, a sua eficácia.
o sensor transmite um sinal para o bico de pulverização espe-
cífico para liberar a válvula. Assim, somente a planta daninha 3.1. Relação alvo x pulverização
será pulverizada, e não toda a área. Essa leitura é feita por O produto fitossanitário deve ter ação sobre deter-
meio de um feixe de luz emitido por um sensor óptico, que minado organismo que deseja controlar (MATUO, 1998). A
detecta onde há verde (coloração característica da clorofila aplicação de herbicida em pré-emergência é mais facilmente
da planta). Tudo funciona de modo automático, sem a neces- realizada quando comparada com um inseticida de contato,
sidade de calibração inicial. Os sensores também conseguem que deva atingir a parte abaxial das folhas.
trabalhar à noite, com a mesma eficiência. Percebe-se que, tanto na aplicação em pós-emergên-
• Verde sobre verde: a abordagem principal dessa cia como na de pré-emergência, boa parte dos herbicidas
tecnologia consiste em diferenciar as plantas daninhas não atinge o alvo correto. Em média, 30% do produto apli-
das culturas de acordo com a sua cor e forma. Através de cado nas folhas atingem o solo no momento da aplicação,
fórmulas matemáticas, é criada uma gama de cores e uma especialmente se as plantas daninhas estão no início de
gama de formas para cada planta daninha. Mais recente, desenvolvimento (CONTIERO et al., 2018). Outra parte
o uso da inteligência artificial e a aprendizagem com base pode não chegar ao alvo no momento da aplicação por
em banco de dados é outra forma de trabalhar as imagens conta da deriva causada pelo vento ou pela evaporação
para reconhecer diferentes objetos. Atualmente, esta é a do diluente da calda, em função das características físico-
tecnologia mais utilizada na visão computacional quando químicas do ingrediente ativo do produto utilizado (RODRI-
se trata de imagens complexas, ou seja, imagens que GUES; ALMEIDA, 2011). Portanto, qualquer quantidade de
apresentam uma elevada variabilidade na mesma cate- produto que não atinja o alvo não terá qualquer eficiência
goria de objeto. e representará uma forma de perda e poluição ambiental
(SHIRATSUCHI; FONTES, 2002).
3. CARACTERÍSTICAS DO ALVO
Para que o produto fitossanitário possa exercer sua
3.2. Capacidade operacional (CO)
ação sobre um determinado organismo que se deseja con- Para a condução de uma agricultura sustentável é
trolar, ele deve atingi-lo. Dessa forma, o alvo biológico a ser indispensável compreender diversos fatores, como clima,
atingido (de forma direta ou indireta) pode ser uma planta solo, culturas e manejos. O aprofundamento do conheci-
daninha, um inseto, um fungo, uma bactéria ou a própria mento desses e de outros fatores é importante para o bom
cultura. planejamento do processo de desenvolvimento da cultura.
O alvo é um local eleito para ser atingido pelo pro- Dentre as informações que carecem de maior detalhamento
cesso de aplicação, diretamente quando se coloca o pro- estão aquelas referentes às tecnologias de aplicação de
duto em contato com o alvo no momento da aplicação produtos fitossanitários, por exemplo, a quantidade de
e indiretamente pelo processo de redistribuição (GALLI; hectares que o operador consegue aplicar em uma jornada
MONTEZUMA, 2005). Essa redistribuição pode ocorrer por de trabalho de 8 horas.
meio de translocação sistêmica ou pelo deslocamento A busca por avanços no desenvolvimento das máquinas
superficial do depósito inicial do produto (FOLONI; CAR- e implementos de aplicação dos produtos fitossanitários é
BONARI, 2009). constante, assim, um dos pontos observados pelo agricultor
O alvo real deve ser definido em termos de tempo é a capacidade de campo teórica, efetiva e operacional do
(estádio fenológico, altura de planta daninha e desenvol- equipamento. A elevada capacidade operacional é vital para
vimento da doença ou do inseto) e de espaço, de maneira atender áreas cada vez maiores, com qualidade, precisão e
que se possa aumentar a porcentagem de produto que é mais seguro para os operadores.
atinge o alvo (RAMOS et al., 1998). Os parâmetros que afetam a capacidade operacional são:

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• Largura de trabalho (metros); • Peso da máquina: o menor peso da máquina pode


• Velocidade de trabalho (km h-1); refletir em menor resistência à patinagem e demanda de
potência, que está atrelada ao consumo de combustível.
• Área trabalhada (ha); É importante destacar a relação entre os fatores peso e
• Tempo de produção (horas em que a máquina efeti- potência do motor;
vamente realizou o trabalho); • Barra de acionamento hidráulico: otimiza o tempo de
• Tempo de interrupção (soma dos tempos necessários abertura e fechamento das barras, com isso, proporciona
e intrínsecos à realização da operação, como manobras, maior segurança, comodidade ao operador e menor tempo
abastecimento, descarregamento, desobstrução e ajustes); de máquina em preparo;
• Tempo de preparo (soma dos tempos necessários para • Sensores de altura das barras: sistema utilizado nos
preparar a máquina para início do trabalho e em condições equipamentos automotrizes e tracionados que mantém
de ser armazenada no galpão após as operações, como de constante a altura da barra em relação ao solo ou à planta,
acoplamento, desacoplamento, deslocamento para a área evitando falhas na aplicação. É um recurso importante nas
de trabalho, regulagens e calibrações para iniciar, limpeza propriedades onde há necessidade de cruzar terraços ou
e manutenção). curvas de nível;
De maneira geral, as características da propriedade, da • Controladores eletrônicos: mantêm o volume de
operação e do pulverizador vão influenciar na capacidade e aplicação constante e fornecem informações sobre os pro-
eficiência das aplicações. cedimentos de aplicação (área pulverizada, horas, distância
e volumes de calda gastos), permitindo conhecimento dos
3.3. Relação entre componentes de aplicação detalhes do trabalho realizado e otimizando o uso da calda;
e capacidade operacional • Calibração automática: permite maior precisão para
O desenvolvimento dos maquinários utilizados na agri- o cálculo da velocidade e determinação da vazão dos bicos,
cultura visa a incorporação de tecnologias e componentes maior rapidez de calibração (3,4 vezes mais rápido) e menor
para aumentar a precisão, qualidade, segurança no uso e tempo de máquina em preparo;
a capacidade operacional. Entretanto, elevar apenas um • Controle automático de seções: proporciona maior
fator para aumentar a capacidade operacional nem sempre economia de produtos com a redução da sobreposição,
atende às necessidades e expectativas, e a combinação ou menor necessidade de intervenção do operador e, com o
o conjunto de fatores deve ser estudado. sistema bico a bico, pode chegar a uma economia de produto
Alguns exemplos de fatores que podem afetar a capa- fitossanitário de até 10%;
cidade operacional são: • Sistema de abastecimento: a escolha do sistema de
abastecimento impacta no tempo de preparo da calda e,
• Potência do motor: com o aumento da potência existe
assim, no tempo de espera do maquinário, ou seja, maior
uma tendência de aumento da CO;
tempo de espera do maquinário, menor tempo em aplica-
• Vão livre do equipamento: por meio do aumento ção. O sistema que resulta em maior tempo de preparo é o
do vão livre é possível realizar pulverizações terrestres em incorporador químico junto da máquina, o segundo é o pré-
culturas de porte mais elevado sem danificar de forma sig- misturador e o sistema que proporciona maior capacidade
nificativa as culturas; operacional é a calda pronta;
• Comprimento de barra: com o aumento do tamanho • Direcional traseiro: possibilita manobras mais rápidas
das barras de pulverização, a largura útil, ou seja, a área por e precisas com raio de giro 35% menor, proporcionando
passada, também aumenta; maior capacidade operacional;
• Marcação de linhas por satélite (GPS): sistema que
• Volume do reservatório: quando analisado somente
permite direcionar o equipamento no campo, evitando falhas
o volume do reservatório, quanto maior, mais área pulveri-
ou sobreposição na aplicação. Permite, inclusive, trabalhar
zada por hora;
à noite, bem como retornar ao ponto onde havia sido inter-
• Velocidade de trabalho/operacional: quando anali- rompida uma aplicação;
sada somente a velocidade de trabalho, quanto maior, mais • Piloto automático: esse recurso aumenta a eficiência
área pulverizada por hora; e a capacidade operacional do pulverizador, facilitando o
• Velocidade de deslocamento (quantidade de tempo trabalho em campo, já que haverá mais tempo livre para se
gasta para se deslocar até o abastecimento ou de um talhão concentrar em outras operações;
para outro): quanto maior a velocidade de deslocamento, • Barra de luzes: orienta a máquina através de faixas de
menor o tempo de aplicação, considerando uma jornada de luz, o que resulta na diminuição de sobreposições e permite
aplicação fixa; maior eficiência na pulverização;

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• Sistema de filtragem: a presença de filtros, de suc- da técnica de aplicação. Para determinar a taxa de aplicação
ção, linha e dos bicos, realiza a proteção para os bicos de correta deve-se considerar as informações contidas nas bulas
pulverização, tanto em relação ao entupimento quanto dos produtos fitossanitários, tais como:
ao desgaste; com isso, diminui o número de paradas para • Taxa de aplicação mínima e máxima relacionada com o
realizar desentupimento e verificações durante a aplicação; estádio de desenvolvimento do cultivo e/ou alvo em questão;
• Reservatório de água para limpeza: alguns maquiná- • Classificação do tamanho de gota escolhida para
rios de pulverização possuem reservatórios independentes, realização da aplicação (Figura 3);
de 120 a 450 litros, para limpeza de todo o sistema. De • Densidade de gotas segundo o tipo de produto fitos-
modo geral, têm uma capacidade de pelo menos 10% do sanitário a ser aplicado (Tabela 1).
volume do reservatório principal. Ao final da aplicação, o
A densidade de gotas mínima para o controle de um
operador aciona a lavagem do sistema de pulverização,
agente nocivo também deve ser considerada na seleção da
agilizando, assim, a limpeza e diminuindo a ida até o ponto
tecnologia de aplicação de um produto fitossanitário. Por-
de abastecimento de água. A água de lavagem é aplicada
tanto, torna-se necessário o conhecimento do diâmetro e da
na própria lavoura ou descartada conforme a legislação
densidade das gotas quando se faz menção à cobertura de
vigente;
pulverização exigida para o controle de um alvo.
• Sensor de refletância (verde sobre palha): sensores
O tamanho ideal das gotas e a densidade (Tabela 1),
colocados na barra de pulverização são capazes de distinguir
expressa pelo número de gotas por cm², variam com o alvo
a planta da palhada pela presença de clorofila. A pulveriza-
e as características do produto (Figura 3).
ção é efetuada apenas nessas plantas, sem necessidade de
aplicação na área total, economizando produto e realizando A cobertura da pulverização pode ser alterada por meio
mais hectares por hora, com menor quantidade de calda, e de alguns elementos, descritos na equação (CORSHEE, 1967)
diminuindo a quantidade de paradas. a seguir:
• Sensor ou câmera para identificação de planta (verde (V x R x K2)
sobre verde): tecnologia instalada na barra de pulverização, C = 15
AxD
capaz de distinguir a planta daninha da cultura de acordo
com sua cor e forma. A pulverização é efetuada apenas em que:
nessas plantas, sem necessidade de aplicação na área C = cobertura (% da área);
total, economizando produto e realizando mais hectares V = volume ou taxa de aplicação (L ha-1)
por hora, com menor quantidade de calda, e diminuindo a
quantidade de paradas. R = taxa de recuperação (% do volume aplicado captado
pelo alvo);
• Capacitação: o operador responsável pela pulveri- K = fator de espalhamento das gotas;
zação e o preparador de calda, quando bem treinados e
capacitados, podem realizar atividades com mais qualidade, A = superfície vegetal existente no hectare;
segurança, agilidade e precisão. D = diâmetro de gotas (µm).
Entre os elementos que compõem essa representação
4. QUALIDADE DA APLICAÇÃO
numérica, os fatores que estão como numeradores – volume
O alcance da melhor qualidade de aplicação depende de aplicação, taxa de recuperação e fator de espalhamento –
das técnicas e tecnologias incorporadas nos pulverizadores. são diretamente proporcionais à cobertura, ou seja, quando
A escolha correta deve estar diretamente ligada ao alvo aumentam esses fatores, teoricamente aumenta a cobertura
biológico e à sua posição na área a ser tratada. de pulverização. Já os denominadores – superfície vegetal
Quando a qualidade da aplicação é problema, se faz por hectare e diâmetro de gotas – são inversamente pro-
necessário melhorar a cobertura e o potencial de penetração porcionais à cobertura, então, à medida que uma cultura se
das gotas no dossel das plantas. Isso pode ser alcançado pela desenvolve e aumenta a superfície vegetal, teoricamente,
ação concomitante de aumento da taxa de aplicação e da a cobertura será menor. É importante ressaltar que cada
redução do tamanho das gotas, pois estas decisões multipli- pulverização é única, devido às condições de aplicação do
cam o potencial de cobertura da pulverização. Entretanto, é momento, então não é possível, a campo, realizar duas pul-
necessário muita atenção quanto ao uso de gotas mais finas, verizações iguais.
pois há maior risco de perdas e deriva. A avaliação da cobertura de pulverização pode ser
O termo taxa de aplicação, conforme já explicado, se realizada de maneira quantitativa com o emprego de alvos
refere à quantidade de produto aplicado por hectare. Na naturais ou artificiais (Figura 4). No alvo natural, por exemplo
maioria das vezes, ocorre um erro na taxa de aplicação por- o folíolo, pode-se utilizar pigmentos marcadores fluorescen-
que o rendimento operacional é priorizado em detrimento tes para realizar a avaliação. No alvo artificial as opções são

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125 L ha-1 85 L ha-1 45 L ha-1

Figura 3. Relação entre a classe de gotas, taxas de aplicação e densidade de gotas em produtos fitossanitários.

Tabela 1. Densidade de gotas exigida para o controle de um alvo e tamanho de gotas para atingir essa densidade segundo o produto
fitossanitário a ser aplicado.

Produto Densidade (gotas cm-²) Tamanho de gotas

Inseticida sistêmico 20 a 30 Média (M) e grossa (G)

Inseticida de contato 50 a 70 Fina (F) e média (M)

Herbicida pré-emergente 20 a 30 Média (M), grossa (G) e muito grossa (VG)

Herbicida pós-emergente – sistêmico 20 a 30 Grossa (G), muito grossa (VG) e extremamente grossa (XG)

Herbicida pós-emergente – contato 30 a 40 Média (M) e grossa (G)

Fungicida sistêmico 50 a 70 Fina (F) e média (M)

Fungicida de contato > 70 Muito fina (VF) e fina (F)

Fontes: adaptada de Christofoletti (1997) e Voll et al. (2019).

A B C

Figura 4. Avaliação da cobertura de pulverização em alvo artificial (A) e alvos naturais (B e C).

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os papeis hidrossensíveis, que em contato com uma solução ciência e eficácia da pulverização. Algumas bulas especificam
aquosa marcam as gotas para posterior avaliação, e o papel condições de umidade relativa e temperatura do ar para uso
kromekote, que tem a cor branca e é utilizado em conjunto do produto.
com o corante, por exemplo a anilina, para marcar as gotas
que chegam até o papel. 6.2. Vento
Entre as condições meteorológicas que afetam a
6. CONDIÇÕES CLIMÁTICAS E DERIVA deriva, a velocidade e a direção do vento normalmente
As condições meteorológicas que atuam no momento são os fatores mais críticos. A condição ideal de vento para
da aplicação influenciam a realização da pulverização, sendo aplicação dos produtos situa-se entre 3 e 10 km h-1, o que,
inclusive muito comum inviabilizá-la (GALLI; MONTEZUMA, na prática, significa sentir uma leve brisa no rosto ou veri-
2005). Temperatura, umidade relativa do ar, ventos, chuvas, ficar uma pequena movimentação nas folhas das culturas.
orvalho e luminosidade exercem grande influência sobre a Ventos superiores a 10 km h-1 favorecem demasiadamente
eficiência dos produtos fitossanitários, e a observação, até a deriva das gotas e ventos abaixo de 3 km h-1 podem fazer
mesmo o registro, desses fatores é de fundamental impor- com que as gotas (principalmente as muito finas) fiquem
tância para o sucesso da operação ou para entender uma suspensas no ar e não consigam atingir o alvo desejado.
possível falha na eficiência. As gotas pequenas produzidas durante a aplicação não
têm energia suficiente para provocar o impacto no alvo,
Rodrigues e Almeida (2011) citam que a aplicação de
ficando flutuantes e movendo-se muito lentamente, o que
herbicidas só deve ocorrer sob condições de temperatura
as dispersa no ambiente ao redor.
inferiores a 30 °C, umidade relativa do ar acima de 50% e
ventos na faixa ideal de 3,0 a 6,5 km h-1 ou não superior a Fatores como tamanho da gota, velocidade da gota
10 km h-¹. Estas condições, em grande parte do Brasil, só (entre o orifício de saída do bico de pulverização e o depósito),
são encontradas à noite ou antes das 10 horas da manhã e turbulência e resistência do ar e altura da barra afetam a dis-
após às 16 horas. Atualmente, o não respeito às condições tância que uma gota percorre antes de se depositar no alvo,
climáticas adequadas é provavelmente uma das principais resultando em maior exposição da gota ao efeito do vento.
causas do desperdício de produtos fitossanitários no campo. Assim, idealmente, uma brisa leve fornece a energia
Muitas vezes, devido às exigências da janela de aplicação em necessária para que as gotas atinjam o alvo. A Figura 5 traz
grandes áreas, as pulverizações são realizadas em condições as recomendações de aplicação de acordo com as condições
adversas. de vento.
A direção do vento deve ser considerada em toda apli-
6.1. Temperatura e umidade relativa do ar
cação, principalmente quando existem áreas ao entorno
Em condições tropicais de alta temperatura, o fenô- com possíveis situações de dano pela deriva, ou seja, os
meno da evaporação das gotas é bastante problemático, produtos fitossanitários não devem ser aplicados quando o
agravando-se sobremaneira em dias mais secos, quando a vento estiver soprando em direção a uma cultura suscetível
umidade relativa do ar é baixa. Nessas condições, uma gota próxima, a uma cultura em estádio vulnerável de crescimento
de água é convertida em vapor muito rapidamente, fazendo ou em áreas sensíveis (como as áreas onde existe apicultura).
com que as aplicações com gotas médias ou pequenas eva- Se essas condições existirem, considere outro método de
porem e muitas vezes não cheguem a atingir o alvo. Segundo controle ou outro momento de aplicação.
Ozkan (2000), em aplicações com pulverizadores de barra, Algumas bulas podem apresentar limites diferentes
as gotas iguais ou menores que 50 μm evaporam completa- para a aplicação. Por isso, é importante consultar a bula
mente antes de alcançar o alvo, permitindo que o produto dos produtos para conhecer as restrições exatas em cada
puro se disperse. Menor umidade do ar também provoca situação. O efeito dos impactos negativos do vento pode
menor absorção e translocação dos produtos aplicados. ser minimizado usando barras de pulverização protegidas,
A quantidade de calda pulverizada que evapora da alturas mais baixas de barra, assistência de ar e produtos
superfície-alvo está relacionada à quantidade de calda para minimizar esse impacto, como os redutores de deriva.
depositada sobre essa superfície. Condições meteorológi-
cas quentes e/ou secas levam à menor deposição e causam 6.3. Deriva
mais deriva devido à evaporação da calda pulverizada. Gotas A deriva, por definição, é o deslocamento da calda de
menores, mais sujeitas à deriva e à evaporação, têm menos produtos fitossanitários para fora do alvo desejado. Este
chance de serem depositadas na superfície-alvo do que as fenômeno pode ocorrer pela ação do vento, escorrimentos
gotas grandes. ou mesmo volatilização do diluente e do produto. É uma
Os produtos fitossanitários diferem em sua taxa de das principais causas da contaminação do aplicador e do
evaporação. Utilizar formulações e adjuvantes que reduzam ambiente e de insucessos nas aplicações (CHRISTOFOLETTI,
evaporação quando possível pode trazer benefícios na efi­ 1999).

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Figura 5. Recomendações de aplicação dos produtos fitossanitários de acordo com as condições de vento.
Fontes: Matuo (1998); adaptada de Andef (2004).

A deriva ocorre devido a duas causas principais e é aplicação, ou seja, na água, para via terrestre. Dependendo
potencializada por uma série de outros fatores. Os dois do teor desses elementos na água, o ingrediente ativo pode
principais fatores de deriva são o movimento das partículas ser adsorvido, mitigando a sua eficiência, por isso a impor-
e a volatilidade dos ingredientes ativos. A deriva de partí- tância de se conhecer a fonte d’água que é utilizada para
culas (também chamada de deriva física) é o fator que os realizar as aplicações e os processos de filtragem.
operadores são capazes de mitigar com mais facilidade.
Também deve-se considerar a velocidade e a direção do Ainda, deve-se citar a chuva como fator de prejuízo
vento, conforme mencionado, bem como as outras condi- ao sucesso das aplicações. Precipitações pluviais após a
ções meteorológicas, antes da aplicação. Na pulverização, o aplicação de produtos, por exemplo, em pós-emergência,
aplicador e o responsável técnico têm a responsabilidade de
​​ podem comprometer o desempenho no controle de plantas
garantir que o produto não cause efeitos indesejados e, ao daninhas, doenças e insetos. Dessa forma, o intervalo de
mesmo tempo, assegurar um tratamento eficaz. tempo entre a aplicação e a ocorrência de chuvas, bem como
a quantidade e a intensidade das mesmas, o modo de atua-
6.4. Outras condições
ção do produto (sistêmico ou contato), as formulações e as
Outras condições que podem influenciar nas aplicações concentrações utilizadas, influenciam a eficácia do controle
dos produtos fitossanitários são: teores de argila e matéria (MARTINI et al., 2003).
orgânica do solo, chuva e inversão térmica.
Já a inversão térmica, que consiste na alteração da
Os teores de argila e matéria orgânica do solo influen-
ciam a aplicação, pois a adsorção dos herbicidas aos coloi- ordem das camadas de ar na atmosfera e provoca um fenô-
des do solo impede sua ação nas plantas daninhas. Essas meno capaz de manter uma barreira de ar quente acima de
características do solo influenciam também a lixiviação dos zonas de ar frio, que retém as massas de baixa temperatura
produtos de forma geral (OLIVEIRA JR. et al., 2011). Esses mais próximas do solo, também tem influência nas aplica-
fatores precisam de atenção quando presentes no veículo de ções, pois impede a calda de chegar até o alvo.

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7. TECNOLOGIAS PARA EVITAR DESPERDÍCIO a formação e o tamanho de gotas: o aumento da pressão


causa redução no diâmetro das gotas e aumenta a fração
As perdas dos ingredientes ativos (Tabela 2) no processo
do espectro de gotas suscetíveis à deriva; já no caso de
de aplicação reduzem a dose real destes produtos sobre os
pressão insuficiente as gotas ficam maiores, o que pode
alvos.
provocar o escorrimento. A velocidade de operação tem
A ponta de pulverização hidráulica, que é responsável que ser condizente com o terreno, velocidades maiores
pela fragmentação do líquido em gotas, não produz todas as podem ocasionar oscilação da altura da barra, assim, resul-
gotas do mesmo tamanho, mas sim uma faixa de tamanhos – tando em maiores perdas e até risco de acidentes. Deve-se
o espectro de gotas. Independentemente do espectro de manter a barra de pulverização o mais próximo possível da
gotas gerado pela ponta utilizada, uma pequena parte do superfície a ser pulverizada, com uma altura mínima para
volume aplicado é formada por gotas finas e muito finas, ocorrer a sobreposição, gerar uniformidade na pulverização,
sensíveis ao processo de deriva. Para uma determinada considerando as recomendações do fabricante, e reduzir o
ponta, quanto maior for a porcentagem de gotas finas e potencial de deriva.
muito finas, que fazem parte do espectro produzido, maior
A assistência de ar possibilita o uso das gotas finas
será o risco de perdas.
com maior eficiência, pela redução da deriva e formação
7.1. Técnicas para redução das perdas de maiores depósitos sobre o alvo, além de permitir maior
penetração dessas gotas em culturas mais enfolhadas, com
As técnicas para reduzir as perdas e melhorar a qualidade redução das perdas para o solo (JORGENSEN; WITT, 2000). A
das aplicações consistem em uma combinação de fatores, tecnologia PWM mantém a pressão de trabalho mesmo com
como uso de bicos de pulverização, adjuvantes, formulações, a variação de velocidade da máquina e realiza a compensa-
parâmetros operacionais (pressão, velocidade e altura de ção da vazão durante a pulverização em curva, reduzindo os
barra), assistência de ar e tecnologia de pulverização pulsada riscos de perdas e a sub e sobredosagem.
(PWM).
É importante ressaltar, ainda, que a interação entre
Os bicos de pulverização possuem características que os diversos fatores no momento do manejo interfere no
ajudam a minimizar as perdas, como a indução de ar, que planejamento das atividades, notadamente no que se refere
oferece menor risco de deriva, quando comparado a uma à escolha da técnica, em função do tipo de produto e da
ponta convencional. Alguns adjuvantes apresentam carac- condição de aplicação. O uso dessas e de outras técnicas de
terísticas focadas na diminuição de perdas, como os redu- redução das perdas não isenta o aplicador da observação
tores de deriva, os adesivos, os redutores de evaporação, das condições meteorológicas adequadas e da análise dos
entre outros. As formulações dos produtos fitossanitários riscos inerentes ao ambiente em torno dos locais onde os
estão sendo atualizadas para serem, além de eficazes, mais produtos serão aplicados.
seguras, por exemplo, formulações antigas de herbicidas
sistêmicos, com alto potencial de volatilidade, ganham nova REFERÊNCIAS
formulação com o uso de matérias primas mais seguras e
com menor potencial volátil para a formulação do ingre- ANDEF. Associação Nacional de Defesa Vegetal. Manual de
diente ativo. tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários. Campi-
nas: Linea Criativa, 2004. 52 p.
Os parâmetros operacionais são de responsabilidade
do operador e do responsável técnico, que devem realizar CHRISTOFFOLETI, P. J.; MOREIRA, M. S.; CARVALHO, S. J. P.;
a correta regulagem. No momento da escolha de um bico LOPEZ-OVEJERO, R. E.; NICOLAI, M.; CARDINALI, V. C. B.
de pulverização é necessário saber qual a taxa de aplica- Resistência de plantas daninhas aos herbicidas inibidores
ção que será utilizada em cada aplicação e a velocidade da ESPSs. In: VELINI, E. D.; MESCHEDE, D. K.; CARBONARI, C. A.;
de trabalho, para a escolha da vazão correta do bico e da TRINDADE M. L. B. (Ed.). Glyphosate. Botucatu: FEPAF, 2009.
pressão de trabalho. A pressão de pulverização influencia p. 309–356.

Tabela 2. Perdas físicas e químicas no processo de aplicação dos produtos fitossanitários.

Perdas físicas Perdas químicas

Deriva e evaporação Inativação dos ingredientes ativos pela presença de íons e coloides na água
Escorrimento e rebote das gotas Degradação dos princípios ativos por pH inadequado e fotodegradação (raio UV)
Misturas em tanque inadequadas (decantação, separação de fases, floculação e
Lavagem do produto
antagonismo de produtos)

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ARTIGO TÉCNICO 3
BIOINSUMOS:
Onde Estamos e Para Onde Caminhamos?
Bruna Canabarro Pozzebon1, Angélica dos Santos da Cruz2, Bruno Yudi Shintate3

1. INTRODUÇÃO A eficiência dos microrganismos presentes nas formula-


ções, associada à redução de custos e melhores produtivida-
No Brasil, o uso de produtos biológicos vem se con-
des, são alguns dos fatores de maior destaque que acarretam
solidando e assumindo posição de destaque como um
manejo sustentável e regenerativo para a lavoura. Fruto o aumento do uso de bioinsumos pelo produtor rural em suas
de muito investimento em pesquisa, desenvolvimento lavouras. Adicionalmente, destaca-se a preocupação por
e inovação, os produtos biológicos estão causando uma parte dos produtores acerca do meio ambiente e do futuro
revolução no campo, e hoje são considerados o futuro da do agronegócio brasileiro, que dependem cada vez mais de
agricultura. boas práticas agrícolas.
São inúmeros os benefícios que os produtos biológicos O interesse de inúmeras empresas pelo segmento de
podem trazer ao produtor, como maior eficiência no pro- produtos biológicos tem alavancado ainda mais esse mer-
cesso produtivo, redução no uso de insumos e, consequen- cado e contribuído para o desenvolvimento de novas tecno-
temente, dos custos, resultando em maior retorno sobre o logias. Antes alicerçada apenas por instituições públicas e
investimento. A evolução das formulações de bioprodutos universidades, a pesquisa acerca dos microrganismos e de
facilitou a inserção e a permanência destes no mercado agrí- seus mecanismos de ação agora se expande e novos ativos e
cola. De formulações simples e de baixo tempo de prateleira, modos de ação são descobertos. Diversos avanços têm sido
as tecnologias embarcadas nas formulações atualmente alcançados, tanto no acúmulo de informações a respeito
propiciaram o crescimento do mercado de bioinsumos, com dos principais microrganismos envolvidos nos bioinsumos
tecnologias mais eficientes a campo e de melhor qualidade quanto em relação ao desenvolvimento de formulações mais
para suprir as demandas do produtor rural. estáveis para aplicação em campo.

Abreviação: K = potássio; Mapa = Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; MIPD = Manejo Integrado de Pragas e
Doenças; N = nitrogênio; P = fósforo; SIM = Sistema Integrado de Manejo; UV = radiação ultravioleta.

1
E ngenheira Agrônoma, Dra. em Fitopatologia, Coordenadora de Marketing e Portfólio, Biotrop Soluções em Tecnologia Biológica;
Vinhedo, SP; e-mail: bruna.pozzebon@biotrop.com.br
2
Engenheira Agrônoma, Analista de Marketing, Biotrop Soluções em Tecnologia Biológica; e-mail: angelica.cruz@biotrop.com.br
3
Engenheiro Agrônomo, Analista de Marketing, Biotrop Soluções em Tecnologia Biológica; e-mail: bruno.shintate@biotrop.com.br

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No decorrer deste artigo serão abordados a relevância solubilização e mineralização de fósforo (P) e potássio (K) e
do mercado de bioinsumos e as perspectivas e desafios promoção do crescimento de plantas (MEYER et al., 2022);
enfrentados no agronegócio, aliados à evolução de produtos, • Biofertilizantes: são bioinsumos compostos por micror-
e os principais cuidados para que as tecnologias biológicas ganismos benéficos e/ou seus metabólitos que, quando
sejam efetivas quando utilizadas no campo. aplicados via tratamento de sementes, sulco de plantio ou
pulverização, favorecem o uso de nutrientes em associação
2. EVOLUÇÃO E TENDÊNCIAS DO MERCADO DE com a planta, melhorando o desenvolvimento, crescimento e
PRODUTOS BIOLÓGICOS arranque inicial da cultura (SARITHA; TOLLAMADUGU, 2019);
O uso de produtos biológicos tem se consolidado no • Biodefensivos: essa classificação engloba macro e
Brasil e no mundo por se tratar de um manejo sustentável e microrganismos e seus metabólitos que apresentam como
regenerativo, que traz vários benefícios à agricultura. Conforme ação principal o controle de pragas e doenças, reduzindo a
Pozzebon (2023), o crescimento exponencial ocorre devido população de insetos e/ou a pressão de sintomas de doenças
à adoção desses insumos em várias culturas. Além disso, os no campo. Esse grupo é constituído por biofungicidas, bioin-
microrganismos que compõe esses produtos beneficiam as seticidas e bionematicidas, nas mais diferentes formulações
plantas de diferentes formas, como promoção de cresci- e com modos de ação distintos (ABBEY et al., 2019);
mento, ciclagem de nutrientes e controle de pragas e doenças. • Bioestimulantes ou ativadores microbiológicos: são
Uma das grandes vantagens da utilização destas tecno- compostos por substâncias naturais com diferentes compo-
logias é que elas permitem conciliar os interesses dentro do sições e concentrações que atuam maximizando o desen-
cenário agrícola, visto que representam soluções inovadoras volvimento das plantas e reduzindo os efeitos de estresses
(VIDAL et al., 2020). Devido aos avanços nas formulações e bióticos e abióticos (MARRONE, 2019).
tecnologias ao longo dos anos, produtos biológicos podem
Diante disso, os defensivos biológicos têm modos de
ser utilizados associados ou como complementos ao manejo
ação exclusivos, complexos e geralmente múltiplos, o que
convencional, facilitando o operacional no campo e, ainda,
significa que pragas e patógenos causadores de doenças
sendo amplamente utilizados no Manejo Integrado de Pragas
em plantas têm risco baixo de desenvolver resistência a
e Doenças (MIPD) (MARCHESE; FILIPPONE, 2018).
eles (GLARE et al., 2012; MARRONE, 2019). A maioria dos
Divididos em biodefensivos e semioquímicos (ou bio- pesticidas químicos atuais tem um único local de ação, ata-
químicos), os produtos biológicos podem ser classificados cando uma via metabólica vulnerável da praga. Com isso,
de acordo com a sua finalidade em: após o uso repetido e contínuo de um pesticida químico, as
• Inoculantes: são bioinsumos que contêm em sua pragas são capazes de desenvolver resistência ao produto,
formulação microrganismos com atuação favorável ao desen- reduzindo o desempenho esperado do produto na lavoura
volvimento vegetal, por meio da fixação de nitrogênio (N), (MARRONE, 2019) (Figura 1).

Figura 1. Diferenças entre produtos químicos e produtos biológicos.


Fonte: adaptada de Marrone (2019) e Abbey et al. (2019).

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Durante muito tempo, grande parte dos produtos Os produtos biológicos fazem parte de um mercado que
biológicos foram produzidos pelos próprios produtores ou não para de crescer. Embora o maior percentual de cresci-
vendidos sem registro em decorrência da falta de fortes mento tenha ocorrido nos últimos três anos, o uso de bioin-
concorrentes contra os insumos químicos e da falta de sumos vem ganhando espaço desde 2010 (BORSARI, 2023).
conhecimento sobre os insumos biológicos. Esse cenário De acordo com a pesquisa de mercado da empresa Research
começou a mudar, ainda que lentamente, quando o registro and Markets, o mercado de produtos biológicos deverá atingir
para comercialização de defensivos biológicos passou a ser um faturamento de US$ 18,5 bilhões até 2026 (ANPII, 2023).
exigido, de forma semelhante ao que ocorria com o registro Isso representa um crescimento de 74%, contra apenas 3,4%
de defensivos químicos (Figura 2). Contudo, devido ao cresci- dos defensivos químicos, demonstrando que na nova era da
mento deste mercado e pela pressão da sociedade por uma agricultura, conhecida como Agricultura 4.0, uma das metas
agricultura mais sustentável e regenerativa, a legislação foi a serem seguidas é a redução do uso de agrotóxicos aliada
alterada para priorizar o registro de produtos biológicos, por- ao aporte tecnológico com sistemas inteligentes – duas ferra-
que são produtos de baixa toxicidade e que são registrados mentas que vão atuar tanto na segurança alimentar quanto na
por alvo e não por cultura, quando se trata de biofungicidas, segurança energética do país (VASCONCELOS, 2018).
bionematicidas e bioinseticidas (CROPLIFE, 2021). Além disso, o Brasil lidera o uso e o desenvolvimento de
Criado em maio de 2020 pelo Mapa, o Programa Nacio- insumos biológicos e aplica esse tipo de manejo em milhões
nal de Bioinsumos (PNB) tem como finalidade ampliar e for- de hectares. De acordo com estudo realizado pela CropLife
talecer a utilização de bioinsumos na agricultura e pecuária Brasil em parceria com a S&P Global, a taxa de crescimento
brasileira, atuando de forma estratégica e contribuindo para anual de biodefensivos no período de 2018 a 2022 foi de
os avanços no desenvolvimento de biológicos no país nos 61,2%, com projeção de R$ 17 bilhões até 2030 (MEDEIROS,
últimos anos através de marcos regulatórios, investimentos 2023) (Figura 3). Isso se justifica devido ao intenso desenvol-
em pesquisa, tecnologia e inovação, crédito e fomento, vimento de produtos a campo, que apresentam resultados
conhecimento e capacitação, implementação de biofábricas muito satisfatórios no manejo de pragas e doenças. Além
e programas estaduais (VIDAL et al., 2021; CRUVINEL, 2023). disso, não favorecem o surgimento de organismos resistentes
O PNB visa estimular a adoção de ativos sustentáveis aos ativos, devido aos inúmeros mecanismos de ação que os
com base no uso de tecnologias, produtos e processos desen- microrganismos benéficos apresentam.
volvidos a partir de recursos renováveis, por meio da ação De forma geral, as grandes culturas são as que mais
integrada dos setores de ciência, tecnologia e inovação e do impulsionam o mercado de produtos biológicos no Brasil,
setor produtivo, através de alternativas mais sustentáveis segundo pesquisa da S&P Global em colaboração com a
(BRASIL, 2020). CropLife. A pesquisa mostrou que a soja é a cultura com a
Registros aprovados (número)

Ano

Figura 2. Evolução no número de produtos biológicos registrados no Brasil ao longo dos anos.
Fonte: CropLife (2021).

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Faturamento (R$ bilhões)

Ano
Figura 3. Estimativa da evolução do mercado de biodefensivos no Brasil.
Fonte: adaptada de IHS Markit (2021).

maior porcentagem de área tratada com biodefensivos (42% indicando um faturamento de R$ 4,8 bilhões em 2022 e
do total), seguida pelas culturas do algodão, com 21%, cana- crescimento do mercado de 32% ao ano desde 2019 no
de-açúcar, com 18%, e milho, também com 18% (Figura 4). cenário nacional, e de aproximadamente R$ 20 bilhões em
Quando segmentado, a adoção de nematicidas, por exemplo, nível global em 2022/2023 (BORSARI, 2023).
na cultura da soja, já representa mais de 90% de adoção de Com isso, o crescimento e o sucesso dos produtos
produtos bionematicidas para o controle desses vermes de biológicos incentivam cada vez mais o investimento das
solo (RANGEL, 2023). empresas em produtos modernos, tecnológicos e de baixo
Em 2023, ocorreu a primeira edição do Fórum de Bio- risco ambiental e para a saúde humana. O reflexo disso é
insumos do Agro em São Paulo, SP. Reunindo os principais observado no aumento do número e variedade de produtos
especialistas do setor, trouxe dados atualizados de mercado, biológicos registrados por ano, bem como na tendência pro-
missora do mercado agrícola, impulsionada pelo crescente
foco na sustentabilidade e na produção de alimentos mais
saudáveis.

3. VANTAGENS E DESAFIOS DO USO DE


PRODUTOS BIOLÓGICOS
O Brasil está na vanguarda na regulamentação dos
bioinsumos, o que contribui ainda mais para o crescimento
desse mercado. O tempo para o registro do produto junto
aos órgãos regulamentadores costuma ser de 1,5 a 2,5 anos
e o produto pode ser registrado para mais de uma finalidade.
Por exemplo, um produto pode ser registrado como bione-
maticida, biofungicida (ou ambos), bioestimulante etc., além
de dispensar receituário agronômico, no caso de bioinsumos
de toxicidade baixa.
Algumas das vantagens da utilização de produtos de
base biológica é que os bioinsumos podem ser utilizados
em qualquer cultura, tanto em cultivos orgânicos quanto em
Figura 4. Estimativa (%) de área tratada com biodefensivos em convencionais, pois o registro é feito por alvo. Além disso,
diferentes culturas no Brasil. produtos biológicos possuem ingredientes ativos naturais,
Fonte: adaptada de CropLife (2021). apresentando baixo ou nenhum impacto sobre a saúde

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humana e ao meio ambiente, o que diminui a dependência como à aplicação correta da dose no campo para o controle
de aplicações constantes de outros produtos e contribui de determinado alvo (SANTIN et al., 2022).
para o manejo integrado (SANTIN et al., 2022). Outro ponto Aliado a todos os desafios, pode-se ainda citar o baixo
relevante é que os produtos biológicos são tecnologias que nível de conhecimento dos produtores a respeito das pro-
atuam em benefício da planta, seja na fisiologia, seja no priedades físicas, químicas e biológicas que levam às suas
desenvolvimento e promoção de crescimento, entre outros, funcionalidades positivas e, ainda, o pouco acesso à assis-
e apresentam efeito prolongado no controle de pragas e tência técnica especializada para a orientação do uso desses
doenças, mas sempre em equilíbrio com o ambiente. produtos. Para mudar esse cenário, são necessárias pessoas
Os bioprodutos à base de bactérias, fungos, vírus e treinadas e altamente qualificadas atuando no campo.
outros micro e macrorganismos são utilizados na agricultura Uma equipe treinada e que conhece o produto não apenas
visando reduzir os custos de produção, impedir o desenvol- convence o produtor sobre a eficiência da tecnologia como
vimento de insetos e patógenos resistentes às moléculas e também gera confiança e estreita o relacionamento.
garantir a efetividade do manejo. Os biológicos entram para
solucionar os problemas que os defensivos químicos, sozi- 4. CUIDADOS NA UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS
nhos, já não podem mais controlar de forma eficiente. Como BIOLÓGICOS
vantagens adicionais, os biológicos ainda fazem menor uso Com o advento da Agricultura 4.0, o que se busca no
dos recursos naturais, atuam na sustentabilidade do solo e na processo produtivo é incentivar a adoção de sistemas de
segurança de quem aplica e de quem consome os alimentos. cultivo mais sustentáveis e, assim, menos dependentes do
Quando combinados ao manejo do produtor, os efeitos uso de defensivos químicos (MORANDI; BETTIOL, 2009).
dos produtos biológicos corroboram para que a agricultura Integrar diferentes métodos no manejo de uma determinada
atinja patamares ainda melhores de produtividade, aumen- cultura favorece o ambiente e potencializa o processo pro-
tam a saúde do solo, pois melhoram o desenvolvimento dutivo como um todo, pois é possível fazer melhor uso dos
de microrganismos benéficos que colonizam o solo, con- recursos naturais e das tecnologias investidas no sistema.
tribuindo para o equilíbrio dos sistemas agrícolas, com a Em se tratando de bioinsumos, os cuidados na utilização
preservação de inimigos naturais. Além disso, os produtos começam muito antes da sua aplicação na lavoura. Pensando
biológicos podem atuar melhorando o desenvolvimento de em extrair o potencial máximo que estes produtos podem
plantas, promovendo crescimento, podem ajudar positiva- entregar, devemos olhar a cadeia produtiva como um todo,
mente em períodos de estresses bióticos e abióticos e no desde a aquisição de produtos de qualidade, com registro no
manejo de pragas e doenças em inúmeras culturas. Mapa, o transporte, a armazenagem, até a aplicação, sem-
Contudo, devido à demanda crescente por esse tipo de pre respeitando as condições técnicas recomendadas pelo
insumo na agricultura, o principal desafio está relacionado fabricante. Por se tratar de organismos vivos, na maioria das
ao controle de qualidade na produção de insumos biológicos vezes, são altamente influenciáveis pelo ambiente e podem
nas propriedades agrícolas para uso próprio (produção on requerer cuidados mais específicos.
farm) (EMBRAPA, 2023).
Um ponto crucial, seja na produção on farm seja na 4.1. Cuidados na aplicação
indústria, são os cuidados no momento de produção e os Saber o momento correto de aplicação dos produtos
critérios de avaliação de qualidade dos produtos. Caso esses biológicos no manejo de uma determinada cultura é um
cuidados não sejam realizados adequadamente, a produção fator determinante para o sucesso da lavoura, devido à
pode ser comprometida, principalmente por contaminações grande influência das condições climáticas para o efetivo
que podem ocorrer durante o processo produtivo, pela falta funcionamento destes produtos. É importante ressaltar que o
dos agentes biológicos especificados no produto, ou pela posicionamento dos produtos biológicos no campo deve ser
baixa concentração destes. Os contaminantes presentes em sempre de forma preventiva e contínua, para que se possa
uma formulação, por exemplo, podem resultar em prejuízos assegurar a efetividade do bioproduto no campo.
tanto para a lavoura quanto para o ambiente e os animais. O desenvolvimento de formulações visando a estabiliza-
Diante disso, caracterizar o agente biológico em nível de ção dos microrganismos vivos para obter maior praticidade e
espécie assegura a ação esperada do produto, pois nos per- tempo de prateleira teve grande avanço nas últimas décadas
mite estudar, entender e caracterizar os mecanismos de ação (EMBRAPA, 2022). Hoje já existem no mercado produtos
do microrganismo em questão. Adicionalmente, a análise de com vida de prateleira (shelf-life) de até 36 meses, bem
contaminantes na amostra (pureza) também é fundamental como inúmeras formulações de biológicos que permitem a
para que não haja outros organismos que podem ser nocivos sua mistura com defensivos químicos, sem que o produto
ao agente biológico ativo, ao meio ambiente e à saúde biológico perca a eficiência ou a concentração do microrga-
humana. Além disso, conhecer a concentração do bioformu- nismo, e que trazem também maior flexibilidade de horários
lado está diretamente relacionado ao ajuste de dose, bem de aplicação na lavoura.

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Produtos à base de bactérias do gênero Bacillus spp. 4.2. Cuidados com a compatibilidade
são exemplos de maior praticidade e flexibilidade na maioria
A combinação de produtos químicos e biológicos é uma
das formulações atuais. Estes microrganismos possuem a
alternativa que tem se mostrado eficaz em diversos estudos.
capacidade de formar estruturas de resistência, conhecidas
Produtos biológicos utilizados no manejo de pragas, doenças
como endósporos, que se caracterizam por ser uma espécie
e nematoides, em muitos casos, além de reduzir os custos
de “cápsula protetora” da célula bacteriana, e que permite a
de produção, ao ser associado a um defensivo químico, pode
sobrevivência da bactéria em condições adversas (BAHADIR
também potencializar o seu efeito no campo.
et al., 2018). Segundo Tortora et al. (2013), os endósporos
bacterianos podem permanecer em estado latente, desi- Contudo, de acordo com Ávila et al. (2005), os ingre-
dratados, por longos períodos, e sobreviver em condições dientes ativos dos produtos químicos podem interferir no
de escassez de umidade, temperatura elevada, presença de desenvolvimento e nos mecanismos de ação dos agentes de
ácidos e álcoois e à falta de nutrientes. biocontrole, fato que justifica a importância de se verificar
a compatibilidade entre eles. Diante disso, o conhecimento
Com isso, e com a evolução nas tecnologias de formu-
da especificidade de cada um dos produtos que irão compor
lações, atualmente já é possível ao produtor rural realizar a
a calda é de grande importância para entender os riscos de
mistura do produto biológico aos insumos químicos, incluindo
incompatibilidade física, química e biológica da mistura, tanto
aqueles que abaixam o pH da calda e/ou que apresentam alta
no processo de preparo quanto no processo de aplicação.
salinidade, não dependendo de horário para a aplicação, e
A atenção se deve tanto à acidez ou alcalinidade quanto à
que, quando somada à tecnologia embarcada na formulação,
salinidade da calda, toxicidade do produto químico sobre o
dispensa a necessidade de refrigeração, garantindo a vida de
microrganismo e o tempo de mistura que os produtos quími-
prateleira do produto em temperatura ambiente.
cos e biológicos permanecem em contato na mesma calda.
É importante ressaltar que nem todas as bactérias
Estudos realizados por Jaros-Su et al. (1999) mostraram
produzem endósporos, e que as espécies de Bacillus spp. só
que os fungicidas químicos são os maiores causadores de
produzem essas estruturas quando estão em condições de
efeitos negativos sobre os fungicidas ou inseticidas à base
estresse por temperatura ou restrição hídrica. Diante disso,
de fungos benéficos. Rossi-Zalaf et al. (2008) também encon-
quando se trata de produtos formulados com microrganis-
traram resultados que mostram que, independentemente
mos à base de células vegetativas, ou seja, que não têm capa-
do tipo de formulação, os fungicidas químicos são sempre
cidade de formação de uma estrutura de resistência extrema,
tóxicos aos fungos entomopatogênicos, e isto normalmente
como, por exemplo, fungos e outros gêneros de bactérias, é
está relacionado ao fato de não serem seletivos, em testes
necessário ter um cuidado maior em relação às condições
realizados in vitro.
necessárias para realizar a aplicação no campo.
Já quando são realizadas combinações entre inseticidas
Para esses tipos de bioformulados, condições como
químicos e fungos entomopatogênicos, a maioria dos testes
temperatura, radiação ultravioleta (UV) e umidade são cru-
realizados mostra efeito aditivo no manejo de pragas (ALVES
ciais para o desenvolvimento do microrganismo e podem
et al., 1998; LOUREIRO et al., 2002; SANTOS et al., 2018;
interferir negativamente na eficácia do produto caso não
PESSOA et al., 2020).
sejam tomados os cuidados necessários no momento da
aplicação, que, de forma geral, são: realizar a aplicação nos Uma mistura muito importante a ser considerada é a
períodos de temperaturas mais amenas e com baixa radiação de produtos biológicos com herbicidas, que normalmente
UV; aplicar o produto com o mínimo de umidade necessária reduzem muito o pH de calda, tornando-a muito ácida e,
no solo para que o inóculo possa iniciar a multiplicação e consequentemente, extremamente tóxica a alguns micror-
colonização do ambiente; evitar a mistura em calda com ganismos. De maneira geral, bioformulados à base de célu-
defensivos químicos que abaixem muito o pH de calda ou las vegetativas costumam apresentar maior problema de
que tornem a calda muito salina (a menos que haja teste de incompatibilidade quando comparados aos bioformulados
compatibilidade) para não matar o microrganismo; evitar à base de Bacillus spp. devido às estruturas de resistência
deixar as misturas em tanque, seja com produtos biológicos produzidas por esses microrganismos.
seja com produtos químicos, por muitas horas seguidas e Portanto, antes de tomar qualquer decisão em relação
sem agitação, a fim de evitar problemas operacionais; para à mistura da calda com um defensivo, é fundamental analisar
a aplicação de produtos sólidos, como os WP, o ideal é sem- os testes de compatibilidade, que podem ser feitos por vários
pre realizar a pré-mistura antes de adicionar o produto no laboratórios e empresas do ramo do agronegócio. Muitas
tanque do pulverizador. empresas de insumos biológicos já possuem aplicativos
Recomenda-se sempre seguir as orientações técnicas digitais que permitem calcular a compatibilidade entre os
do fabricante sobre o momento adequado de aplicação, já vários produtos.
que no mercado existe uma ampla gama de produtos e uma O cuidado na realização desses testes é fundamental
variação muito grande entre eles. para a tomada de decisão no campo, pois caso um teste não

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS PROTEÇÃO DE PLANTAS No 4 – JANEIRO 2024


33

tenha sido feito com precisão e qualidade técnica, poderá BORSARI, A. Redução de custos, aumento da produtividade
afetar drasticamente os resultados. Diante disso, a princi- e proteção da natureza. Total Agro: A Granja, ed. 899, p. 20–24,
pal orientação é sempre seguir as recomendações técnicas 2023.
contidas na bula de cada produto, pois estas irão garantir a BRASIL. Decreto nº 10.375, de 26 de maio de 2020. Institui
qualidade e a eficácia do produto a campo. o Programa Nacional de Bioinsumos e o Conselho Estraté-
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haja grande perspectiva de crescimento nos próximos anos, sil.org/noticias/biodefensivos-cada-vez-mais-presentes-no
ainda existem importantes desafios a serem enfrentados, campo/>. Acesso em: 3 nov. 2023.
como o desenvolvimento de bioherbicidas, o aumento do
CROPLIFE BRASIL. Evolução da agricultura brasileira e
shelf-life de inoculantes à base de células vegetativas, o
inovação no desenvolvimento de defensivos. São Paulo,
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produtivas com controle biológico.
CRUVINEL, A. Redução de custos, aumento da produtivi-
Diante disso, esse é um mercado aquecido no agro-
dade e proteção da natureza. Total Agro: A Granja, ed. 899,
negócio, e entender e posicionar os produtos adequada-
p. 20–24, 2023.
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DIVULGANDO A PESQUISA
Estratégias de manejo químico e cultural de
capim-amargoso resistente ao glifosato no Brasil Central¹
Lara Lorrayne Ferreira Alves2, João Pedro da Silva Massura2, Maria Paula Camargo Prado2,
Lara dos Santos Gessi2, Alaerson Maia Geraldine3

O objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes tra- Resultados:


tamentos químicos, com a associação de combinações
• Os herbicidas testados antes da semeadura e na pós-
de herbicidas à manutenção de espécies forrageiras no emergência da soja promoveram um controle acima de 90% de
período de entressafra, para o manejo de capim amargoso plantas adultas de capim-amargoso até a colheita dos grãos.
(Digitaria insularis) resistente ao glifosato em cultura de
soja. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, • Após a colheita, houve nova emergência de capim-
em arranjo de parcela subdividida 4 × 5, com quatro repeti- amargoso, principalmente nas parcelas sem cobertura
ções. Os tratamentos consistiram de (a) quatro combinações verde na entressafra.
dos herbicidas cletodim, glifosato, haloxifop-p-metil, • A sobressemeadura da soja com espécies forrageiras
glufosinato de amônio e s-metolacloro nas parcelas; (b) permitiu o estabelecimento dessas plantas, que, conse-
coberturas verdes com as cultivares Panicum maximum quentemente, interferiram na emergência e no crescimento
Massai, BRS Tamani e BRS Zuri e com Urochloa ruziziensis, do capim-amargoso.
além de pousio, nas subparcelas, e (c) controle com a • Os tratamentos químicos com combinações de her-
aplicação isolada de glifosato na dessecação e na pós- bicidas associados à manutenção de espécies forrageiras
emergência da cultura de soja infestada com capim- no período da entressafra são eficazes para o controle de
amargoso e capinada. plantas adultas de capim-amargoso resistente ao glifosato.

Tabela 1. População de plantas de soja (Glycine max) e produtividade de grãos afetadas por tratamentos com herbicidas aplicados na
pré-semeadura e na pós-emergência das plantas1.

Tratamento/Controle População Produtividade


Pré-emergência Pós-emergência (1.000 plantas ha-1) (kg ha-1) (g planta-1)
Cletodim/Glifosato Cletodim/Glifosato 218,75 a 3.032,46 a 13,96 a
Haloxifop-p-metil/Glifosato Haloxifop-p-metil/Glifosato 224,17 a 3.165,38 a 14,14 a
Cletodim/Glifosato Haloxifop-p-metil/Glifosato 229,17 a 3.200,49 a 13,97 a
Cletodim/Glifosato e glufosinato de amônio/
Glifosato 229,58 a 3.362,43 a 13,65 a
S-metolacloro2
Glifosato Glifosato 146,67 b 2.170,82 b 14,67 a
Controle – infestada 14,17 c 9,95 c 3,23 b
Controle – capinada 218,33 a 3.305,76 a 15,12 a
Menor diferença significativa (LSD) 25,39 660,41 3,68
FTratamentos 216,65** 72,52** 29,13**
Coeficiente de variação (CV, %) 5,94 10,82 12,29
1
Médias seguidas de letras iguais, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
2
Primeira aplicação de cletodim + glifosato e aplicação sequencial de glufosinato de amônio + s-metolacloro após 8 dias.
** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F.

1
 onte: Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 58, e02900, 2023.
F
2
Bolsista, Instituto Federal Goiano, Campus Rio Verde, Rio Verde, GO.
3
Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor do Instituto Federal Goiano, Diretor do Polo EMBRAPII IF GOIANO, Rio Verde, GO.

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PAINEL AGRONÔMICO

IAC LANÇA PORTA-ENXERTO DE CAFÉ PARASITOIDE COM TECNOLOGIA 100% NACIONAL


MULTIRRESISTENTE A NEMATOIDES
A Embrapa Clima Temperado (RS), em parceria com a
A cafeicultura nacional passa a contar com um novo porta- empresa Partamon, conseguiu o registro de uma vespa
enxerto multirresistente a nematoides desenvolvido nativa capaz de parasitar as principais espécies de mosca-
pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, por meio das-frutas de importância econômica que afetam a fru-
de tecnologia inédita. O porta-enxerto IAC Herculândia ticultura no Brasil. O parasitoide, denominado Dorycto-
é resultado da recombinação de cinco cultivares clonais bracon areolatus, recebeu Especificação de Referência
de Coffea canephora, denominadas IAC WG, IAC FEBS, (ER 54) como produto fitossanitário junto ao Ministério
IAC PM, IAC LCCBF e IAC ARM, e apresenta resistên- da Agricultura e Pecuária (Mapa).
cia simultânea aos nematoides Meloidogyne exigua, Resultado de mais de 12 anos de pesquisa, essa conquista
M. incognita e M. paranaensis. abre portas para que empresas interessadas busquem o
“É a primeira vez que esse método de seleção é utilizado registro para uso do parasitoide em sistemas de produção
no Brasil em cafeicultura”, afirma Oliveiro Guerreiro orgânicos e convencionais em todo o País. A tecnologia
Filho, pesquisador do IAC. "Com o uso do porta-enxerto ajuda a consolidar cada vez mais o controle biológico no
IAC Herculândia, qualquer cultivar suscetível de café contexto nacional, que cresce de forma muito superior
arábica pode ser utilizada como copa no cultivo em à média mundial – 20% contra 7%.
solos infestados por esses parasitos. Polinizamos mais de Cerca de 90% da tecnologia
100 mil flores para avaliar a compatibilidade entre clones. já está pronta, mas os estu-
Foram três décadas e meia de estudos para chegar a esse dos seguem em andamento
produto inédito no Brasil e no mundo. As equipes fizeram para qualificação das orien-
seleção em plantas multirresistentes com o objetivo de tações aos produtores e vali-
agregar características agronômicas como produção, vigor dação em escala comercial
e tamanho de frutos, além da resistência. (IAC Notícias) (EMBRAPA).

MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS REDUZ NOVAS TECNOLOGIAS PERMITEM AVANÇO NAS


EM 53% O USO DE INSETICIDAS FORMULAÇÕES DE DEFENSIVOS
Produtores paranaenses de grãos que adotaram ações Segundo edição recente do AgriBusiness Global DIRECT,
de boas práticas agrícolas, o MIP-Soja (Manejo Integrado uma estratégia que surge para otimização do uso de
de Pragas da Soja), reduziram em 53%, em média, as defensivos é a nanotecnologia nas formulações. O
aplicações de inseticidas nos últimos dez anos. Os uso de nanopartículas tem mostrado propriedades
dados são resultado de um trabalho feito pelo Instituto importantes para aumento de eficácia dos produtos.
de Desenvolvimento Rural do Paraná e Embrapa Soja. Devido ao tamanho muito reduzido das partículas,
Para chegar a esse número, os profissionais do Instituto há um aumento na área de superfície do ativo, o que
acompanharam 1.639 lavouras no Estado e compararam permite uma penetração melhor e mais rápida no alvo,
com os produtores não adotadores do MIP-Soja.
reduzindo as perdas. Essas nanopartículas podem ser
Edivan José Possamai, coordenador estadual do Pro-
usadas como ingredientes ativos em nanoformulações
jeto Grãos Sustentáveis do IDR-Paraná, explicou que
ou incorporadas em nanocarreadores.
as lavouras acompanhadas fizeram 1,7 aplicação de
inseticida, enquanto os que não adotaram chegaram a Outra técnica que pode ser utilizada na formulação de
3,6 aplicações. Além disso, a primeira pulverização de pesticidas é a microencapsulação. Além de melhorar a
inseticida foi realizada 27 dias mais tarde nas lavouras segurança, regula a taxa de liberação do produto e pro-
dos produtores que adotaram o MIP-Soja. A rentabili- tege o ativo de variações ambientais. Alguns defensivos
dade desses agricultores teve um aumento médio de que utilizam essa tecnologia já estão disponíveis para
duas sacas por hectare, em virtude da diminuição dos uso, melhorando o manuseio, a eficácia em campo e a
custos. (Paraná - Agência Estadual de Notícias) adesão aos alvos. (Global Crop Protection)

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CURSOS, SIMPÓSIOS E
OUTROS EVENTOS

1. I II CONGRESSO DE ENTOMOLOGIA DO PIAUÍ 5. X XXIII CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS


(III CEP) PLANTAS DANINHAS
Local: U
 niversidade Federal do Piauí, BR-343, km 3,5, Local: E XPO Dom Pedro – Centro de Convenções e
Meladão, Floriano, PI Exposições de Campinas, Campinas, SP
Data: 19 a 22/MARÇO/2024 Data: 12 a 15/AGOSTO/2024
Informações: Profa. Dra. Veruska Cavalcanti Barros Informações: Sociedade Brasileira da Ciência das
Email: vcbbio@ufpi.edu.br Plantas Daninhas
Website: https://www.even3.com.br/iiicep/ Email: sbcpd@sbcpd.org
Website: https://www.sbcpd.org/

2. I SIMPÓSIO DE MICROBIOLOGIA EM SISTEMAS


AGRÍCOLAS: USO DE BIOLÓGICOS NO MANEJO 6. V II CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOSSANIDADE
SUSTENTÁVEL DE CANA-DE-AÇÚCAR (CONBRAF)
Local: A
 nfiteatro do Pavilhão da Engenharia, ESALQ/ Local: A
 uditório Fernando Sabino, Campus da Univer-
USP, Piracicaba, SP sidade Federal de Viçosa, Avenida P. H. Rolfs,
Data: 17/ABRIL/2024 s/n, Viçosa, MG
Informações: FEALQ Data: 21 a 23/AGOSTO/2024
Email: fealq@fealq.org.br Informações: Secretaria
Website: https://fealq.org.br/eventos/ Email: contato@conbraf2024.com.br
Website: https://conbraf2024.com.br/

3. C ONGRESSO BRASILEIRO DE AGROQUÍMICA


7. IV SIMPÓSIO SOBRE TECNOLOGIAS NO CULTIVO DO
Local: UNIVEM – Universidade Euripides, Auditório
CAFEEIRO
Shunji Nishimura, Rua Hygino Muzy Filho, 529, Mirante,
Marília, SP Local: A
 definir
Data: 18/ABRIL/2024 Data: 2 a 4/SETEMBRO/2024
Informações: Secretaria Informações: Prof. José Laercio Favarin
Email: eventos@agroquimica.ind.br Email: ddourado@usp.br
Website: https://agroquimica.ind.br/ Website: https://fealq.org.br/eventos/simposio-do-
cultivo-cafeeiro/

4. 76º CURSO DIACOM: TETRAZÓLIO E PATOLOGIA


DE SEMENTES 8. XXIX CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA
Local: E mbrapa Soja, Rua Capitão-do-Mato, s/n, Local: C
 entro de Convenções, Avenida João Naves de
Conjunto Habitacional Violim, Londrina, PR Ávila, 1331, Uberlândia, MG
Data: 6 a 10/MAIO/2024 Data: 22 a 26/SETEMBRO/2024
Informações: Embrapa Soja Informações: Secretaria
Email: soja.eventos@embrapa.br Email: contato@cbe2024.com.br
Website: https://www.embrapa.br/cursos/ Website: https://cbe2024.com.br/#

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PUBLICAÇÕES RECENTES

MANUAL DE FUNGICIDAS: Guia para o controle ENTENDENDO A TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO


químico racional de doenças de plantas
Autores: Ulisses Rocha Antuniassi et al.; 2022.
Autores: Erlei Melo Reis, Andrea Camargo Reis, Marcelo Conteúdo: Tecnologia de aplicação: definição e
Anibal Carmona; 2023. princípios básicos; a teoria da cobertura dos alvos;
Conteúdo: Conceitos de fungicidas e indutores abióticos espectro e classes de tamanho de gotas; seleção de
de resistência; nomenclatura dos fungicidas; histórico do pontas de pulverização; taxa de aplicação; estraté-
desenvolvimento dos fungicidas; fungitoxidade e sensi- gias para a definição dos parâmetros da aplicação; o
bilidade; classificação dos fungicidas; especificidade e espectro de gotas e os alvos; condições meteorológi-
espectro de ação; formulação de fungicidas; adjuvantes; cas para a aplicação de defensivos agrícolas; perdas e
compatibilidade física de agroquímicos; fitoxidade; efeito deriva; técnicas de redução de deriva; tecnologia de
de fungicidas na fisiologia das plantas; principais fungici- aplicação de herbicidas auxínicos; calda: a tecnologia
das; principais usos dos fungicidas; critérios indicadores dentro do tanque; limpeza e descontaminação de
do momento do início e do intervalo das aplicações de pulverizadores.
fungicidas nos órgãos aéreos; resistência de fungos a Preço: R$ 34,20
fungicidas -– redução da sensibilidade; impacto do trata- Número de páginas: 72
mento com fungicida no desenvolvimento de epidemias. Venda: Livraria UFV
Preço: R$ 135,00 Website: https://www.editoraufv.com.br/
Número de páginas: 280
Venda: Livraria UFV
Website: https://www.editoraufv.com.br/
MECANISMOS DE SOBREVIVÊNCIA DAS PLANTAS
DANINHAS: Reprodução, dispersão e dormência

Autor: Kassio Ferreira Mendes; 2022.


AMARELINHO DA CANA-DE-AÇÚCAR: Uma síndrome
Conteúdo: Estratégias de sobrevivência das plantas
e não uma doença
daninhas; banco de diásporos do solo: importância
Autor: Sizuo Matsuoka; 2022. agrícola e ecológica; biologia e reprodução de plantas
Conteúdo: O livro se ocupa de uma suposta doença daninhas via sementes; dispersão, formas de propa-
da cana-de-açúcar que na década de 1990 atemorizou gação vegetativa e controle de plantas daninhas de
os produtores dessa cultura no Brasil, acometendo reprodução assexuada; mecanismos de dormência
principalmente a variedade SP71-6163, na época, de e germinação escalonada das sementes de plantas
alto valor. A ideia geral era a de que se tratava de uma daninhas; formas de dispersão de sementes de plantas
doença com causa específica, e as pesquisas no Brasil e daninhas nos agrosistemas; relação entre os métodos
no mundo se direcionaram para um vírus denominado de manejo de plantas daninhas e o banco de sementes
vírus da folha amarela da cana-de-açúcar (Sugarca- e propágulos; características biológicas e manejo de
neYellowLeafVirus – ScYLV). Porém, desde o início, o plantas daninhas parasitas da parte aérea e do sistema
autor refuta a teoria de que se trata de uma doença, radicular; uso de mapas de distribuição de banco de
argumentando que a baixa produtividade da variedade sementes e comunidade florística no manejo susten-
se deve a um complexo de estressores ambientais. tável de plantas daninhas.
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Número de páginas: 233 Número de páginas: 312
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