Você está na página 1de 68

1

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


2

CONTEÚDO
Ponto de Vista 4

Artigos Técnicos
Pegada de carbono na agricultura: Rumo à 5
produção agrícola neutra e integrada à indústria
Vitor Vargas et al.

Fertilizantes NK no grânulo: Implicações 25


operacionais e agronômicas no cultivo do milho
de segunda safra
Mariana Gabriele Marcolino Gonçalves et al.

Corte de seções e telemetria em centrífugas: 34


Recursos tecnológicos para melhorar a eficiência
no uso de fertilizantes
Vinicius Grillo, Evelyn Fernandes, Leandro Maria Gimenez

Extração e exportação de nutrientes em 46


cultivares de soja Enlist®, Xtend® e
Roundup Ready®
Fernando Vieira Costa Guidorizzi et al.

Tecnologia de fertilizante nitrogenado ureia + 57


Duromide: Oportunidade para melhorar a
produtividade dos cafeeiros Conilon
Cesar Abel Krohling, José Braz Matiello, Danilo Ramos Sério

Painel Agronômico 63

Cursos e Eventos 65

Publicações Recentes 66

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS
NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 - Dezembro 2023
ISSN 2311-5904

EXPEDIENTE
Publicação trimestral gratuita da
NPCT – Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia

O jornal publica artigos técnico-científicos elaborados pela


comunidade científica nacional e internacional visando
o manejo responsável dos nutrientes das plantas.
COMISSÃO EDITORIAL
Editor
Luís Ignácio Prochnow
Editora Assistente
Silvia Regina Stipp

Gerente de Distribuição
Evandro Luis Lavorenti

NOTA DOS EDITORES ENDEREÇO


As opiniões e as conclusões expressas pelos autores nos artigos não Rua Ataulfo Alves, 352, sala 1 - CEP 13424-370 - Piracicaba-SP, Brasil
refletem necessariamente as mesmas dos editores deste jornal. Website: www.npct.com.br/IA
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023
3

PATROCINADORES

NOTA: Os interessados em patrocinar o Jornal Informações Agronômicas podem entrar em contato com
ELavorenti@npct.com.br ou LProchnow@npct.com.br

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


4

PONTO DE VISTA

AQUECIMENTO GLOBAL:
QUEM DEVE SER
RESPONSABILIZADO?
Luís Ignácio Prochnow1
Carlos Eduardo Pellegrino Cerri2
Heitor Cantarella3

Um dos artigos técnicos deste jornal é sobre gases de tem sido desproporcional e de clara proteção infundada
efeito estufa e aquecimento global. O foco do artigo é forne- ao setor, impedindo avanços reais. Isto fica muito claro,
cer alternativas para a mitigação dos efeitos dos gases cau- por exemplo, no TED talk entitulado What the fossil fuel
sados pelos fertilizantes nitrogenados através da utilização industry doesn’t want you to know/Al Gore, o qual pode
de fontes adequadas e do manejo apropriado do solo e das ser visualizado através do link https://www.youtube.com/
culturas. Sem dúvida, é um artigo que apresenta informações watch?v=xgZC6da4mco&t=811s.
relevantes sobre como o setor de insumos pode contribuir A nosso ver, na tentativa de desviar o foco do problema
para a redução dessas emissões. Dito isto, gostaríamos de real, tenta-se passar a imagem equivocada de que outros
aproveitar a oportunidade para avaliar o assunto sob uma setores são igualmente responsáveis e, neste sentido, a agri-
ótica mais abrangente. cultura e o Brasil têm sido atingidos. Existe um esforço para
Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que o setor nos transformar em vilões, acima da nossa real contribuição.
energético, que inclui, entre outros, transporte, eletricidade, Além disto, a situação também é utilizada para a proteção
geração de calor, fabricação e construção, é responsável por de mercados específicos. A verdade é que não existe solução
aproximadamente 75% das emissões dos gases de efeito razoável se não criarmos alternativas para o setor energético,
estufa, enquanto as atividades agropecuárias respondem em especial para o uso de combustíveis fósseis, e isto não
por menos de 15%. Estes dados deixam claro que o grande tem sido feito de forma satisfatória. Sem dúvida, o setor
responsável pelo problema do aquecimento global é o setor agropecuário tem uma parcela de contribuição nas emis-
de energia, notadamente no uso de combustíveis fósseis sões, podendo inclusive contribuir para sequestrar carbono
(carvão, óleo e gás). da atmosfera, mas não somos o grande vilão desta triste
Existe um esforço enorme da indústria de energia de realidade. Enquanto não se encontrar soluções válidas para
mascarar a sua enorme contribuição e também em se apre- minimizar os efeitos do setor energético, as outras tentativas
sentar com boa vontade para minimizar o problema, mas isoladas serão em vão.
não é isto que vem ocorrendo. A representação deste setor Com os votos de um excelente ano de 2024 a todas as
nas iniciativas mundiais para discutir e apresentar soluções pessoas de boa vontade e comprometidas com a evolução
válidas para diminuir os efeitos dos gases de efeito estufa do setor agropecuário no Brasil e no mundo!

1
Engenheiro Agrônomo, Dr., Diretor Geral da NPCT, Piracicaba, SP; email: Lprochnow@npct.com.br
2
Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor Titular do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ-USP e Coordenador do Centro de Estudos de
Carbono em Agricultura Tropical, Piracicaba, SP; email: cepcerri@usp.br
3
Engenheiro Agrônomo, Ph.D., Diretor do Centro de Solos e Recursos Ambientais do Instituto Agronômico, Campinas, SP; email:
heitor.cantarella@sp.gov.br

INFORMAÇÕES
INFORMAÇÕES
AGRONÔMICAS
AGRONÔMICAS
NUTRIÇÃO
NPCT
DE PLANTAS
No 20 – DEZEMBRO
No 20 – DEZEMBRO
2023 2023
5

ARTIGO TÉCNICO 1 Click here for


English version

Pegada de Carbono na Agricultura:


Rumo à produção agrícola neutra e
integrada com a indústria
Vitor Vargas1, Thais Coser2, Thais Regina de Souza3, Frank Brentrup4, Mohammad Hesan5, Cintia Neves6,
Stephane Bungener7, Rafael Otto8, Maria da Conceição Santana Carvalho9, Douglas Guelfi10, Heitor Cantarella11

1. INTRODUÇÃO: CONCEITO DE PEGADA No Brasil, a agricultura desempenha papel significativo


DE CARBONO na produção, representando 25% a 30% do produto interno
bruto (PIB). O país se destaca como um importante produtor
A agricultura é responsável por 10% a 12% do total das
emissões globais de gases de efeito de estufa – GEE (SMITH global, gerando alimentos suficientes para atender às neces-
et al., 2007) e espera-se que este nível aumente no futuro sidades internas e a uma parcela substancial da demanda
devido à necessidade de expandir a produção agrícola para internacional. O Brasil é o principal exportador de diversos
atender à crescente demanda por alimentos, ração animal, produtos agrícolas, incluindo soja, açúcar, carne de frango,
fibras e bioenergia. Estima-se que até 2050 teremos nove carne bovina, café, suco de laranja, tabaco, etanol, milho
bilhões de pessoas na Terra. e fibra de algodão. Além disso, desempenha papel crucial

Abreviações: ACV = análise do ciclo de vida; BPM = boas práticas de manejo; C = carbono; CFT = Cool Farm Tool; CH4 = metano;
CO2 = dióxido de carbono; DCD = dicianodiamida; DMPP = 3,4-dimetilpirazol fosfato; EUN = eficiência de uso de nitrogênio; GEE =
gases de efeito estufa; IN = inibidor de nitrificação; K = potássio; MRV = medição de carbono, relatório e verificação; N = nitrogênio;
NA = nitrato de amônio; NC = nitrato de cálcio; NDCs = contribuições nacionalmente determinadas; NH3 = amônia; N2O = óxido
nitroso; P = fósforo; PGC = pegada de carbono; PIB = produto interno bruto; UAN = nitrato de amônio ureia; UE = União Europeia;
WBCSD = Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável ; WRI = Instituto de Recursos Mundiais.

1
Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador BAC/ASK/YARD – Yara International, Dülmen, Alemanha; email: vitor.vargas@yara.com
2
Engenheira Agrônoma, Dra., Pesquisadora BAC/ASK/YARD – Yara International, Dülmen, Alemanha; email: thais.coser@yara.com
3
Engenheira Agrônoma, Dra., Pesquisadora HVC/ASK/YARD – Yara International, Dülmen, Alemanha; email: thais.desouza@yara.com
4
Ph.D. Ciências Agrícolas, Pesquisador Líder R&D SSR/ASK/YARD – Yara International, Dülmen, Alemanha; email: frank.brentrup@yara.com
5
Engenheiro Mecânico, Engenheiro de Carbon Footprint, Energy and Environment – Yara International, Porsgrunn, Noruega; email:
mohammad.hesan@yara.com
6
Engenheira Agrônoma, MSc., Department of Sustainability, Yara Brasil, São Paulo, SP, Brasil; email: cintia.neves@yara.com
7
Ph.D. em Engenharia de Sistemas Energéticos, Diretor Energy & Environment - Yara International, Geneva, Suiça; email: stephane.bungener@yara.com
8
Engenheiro Agrônomo, Dr., Departamento de Ciência do Solo da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, SP, Brasil; email: rotto@usp.br
9
Engenheira Agrônoma, Dra., Pesquisadora e Secretária Executiva do Portfólio Nutrientes para a Agricultura, Embrapa Arroz e Feijão, Santo
Antônio de Goiás, GO, Brasil; email: maria.carvalho@embrapa.br
10
Engenheiro Agrônomo, Dr., Departamento de Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brasil; email: douglas.guelfi@ufla.br
11
Engenheiro Agrônomo, Ph.D., Diretor do Centro de Solos e Recursos Ambientais do Instituto Agronômico, Campinas, SP, Brasil; email:
heitor.cantarella@sp.gov.br

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


6

nos mercados de carne suína, frutas tropicais e produtos Determinadas (NDCs)” e as empresas multinacionais, em
florestais. Ademais, o Brasil é autossuficiente em diversos particular as empresas de alimentos, começaram a discutir
produtos, como feijão, cacau, mandioca, banana e hortaliças. e formalizar as suas metas de redução de emissões nas suas
A agricultura, sem as emissões relacionadas ao des- cadeias de produção.
matamento, é o segundo setor que mais contribui para as A crescente demanda dos consumidores por produtos
emissões de GEE, sendo responsável por mais de 9,8% das mais sustentáveis e o interesse dos acionistas têm feito com que
emissões brasileiras (1,35 bilhão de toneladas de CO2eq), as empresas de alimentos se conscientizem da necessidade de
enquanto o país como um todo contribui com aproximada- reduzir as emissões da sua cadeia produtiva e, também, as emis-
mente 3,3% das emissões globais de GEE. Segundo o Obser- sões no campo, reforçando a importância da implementação
vatório do Clima do Brasil (ALENCAR et al., 2023), a fermen- de práticas agrícolas sustentáveis, buscando maior efi­ciência.
tação entérica, processo digestivo natural que ocorre nos A necessidade de mitigar as mudanças climáticas levou muitas
animais ruminantes (por exemplo, bovinos), é responsável empresas de alimentos a publicar metas ambiciosas de redução
por 63% das emissões brasileiras. Notavelmente, a produção de emissões na procura da neutralidade climática, investindo
pecuária possui enorme potencial para a transição da atual fortemente em iniciativas que as aproximem da concretização
pegada de carbono da produção agrícola brasileira para um desses objetivos. As metas de cada empresa podem ser facil-
modelo de baixo carbono. Em relação a outros produtos mente consultadas em seus relatórios de sustentabilidade. Por
agrícolas, o Brasil serve de modelo a ser seguido. A agricul- exemplo, a Nestlé comprometeu-se a reduzir as suas emissões
tura brasileira é caracterizada pela alta eficiência no uso da em 50% até 2030 e a alcançar emissões líquidas zero até 2050
terra, particularmente na produção de soja, milho e algodão, (NESTLÉ, 2022). A americana PepsiCo pretende reduzir 40%
majoritariamente cultivados em sistemas de duplo cultivo. das emissões de GEE em toda a cadeia produtiva até 2030
A ampla adoção da tecnologia melhorou o uso eficiente da (PEPSICO, 2022). Para monitorar o alcance de tais metas, as
energia e, ao mesmo tempo, aumentou a produtividade. empresas precisam seguir determinados procedimentos e índi-
Entre os insumos utilizados no setor agrícola, os fertili- ces que são validados e revisados pela comunidade científica.
zantes e as sementes (através do melhoramento de plantas) Desde a sua origem na análise energética, nas décadas
são ferramentas cruciais para aumentar o rendimento das de 1960 e 1970, a análise do ciclo de vida (ACV) tornou-se
culturas. A utilização de fertilizantes minerais é imprescindí- uma ferramenta abrangente, e é utilizada para explorar
vel para fornecer nutrientes às plantas e dar suporte à pro- potenciais impactos numa série de métricas ambientais e uso
dução de alimentos (DOBERMANN et al., 2022). No entanto, de recursos, incluindo a pegada de carbono dos produtos. A
os fertilizantes também contribuem significativamente ACV tem sido amplamente utilizada atualmente para orientar
para a pegada de carbono (PGC) dos produtos agrícolas e, decisões desafiadoras e selecionar caminhos tecnológicos,
consequentemente, dos produtos alimentícios derivados impulsionados pela PGC (McMANUS; TAYLOR, 2015).
da produção agrícola (HILLIER et al., 2009). O impacto dos À medida que a sociedade busca maior compreensão e
fertilizantes, principalmente os nitrogenados, nas emissões alternativas para a mitigação das emissões de GEE, o termo
de GEE torna-se evidente durante sua produção, transporte “pegada de carbono” ganha mais popularidade. Este termo
até a propriedade agrícola e após a sua aplicação (emissões tem sido amplamente pesquisado em países reconhecidos
de óxido nitroso – N2O) (BRENTRUP et al., 2018). Outros pelas suas capacidades na produção de alimentos. Isto mos-
insumos agrícolas, como o consumo de combustíveis fósseis tra o quanto os setores estão comprometidos em encontrar
usado em operações de maquinário e energia/eletricidade soluções para melhorar a eficiência na utilização de energia e
em áreas irrigadas, são reconhecidos como importantes dos recursos. Para padronizar as comparações e demonstrar
fontes de emissões de GEE na produção alimentar. Em algu- à sociedade o impacto real da produção de uma determinada
mas culturas de alto valor agregado, os defensivos agrícolas quantidade de produto, a métrica da PGC é normalmente
também adquirem relevância na pegada de C, mas no cultivo preferida. Porém, com isso, também podem ser observados
de grãos sua magnitude pode ser considerada insignificante. muitos exemplos de usos indevidos, especialmente no setor
Há muito tempo se discute a necessidade de um esforço primário. Nesse sentido, é fundamental padronizar o conheci-
coletivo significativo para reduzir as temperaturas globais, mento e as metodologias de tais métricas. É crucial esclarecer
que impactam na produção de alimentos, na dinâmica da o conceito, e os métodos, incluindo os limites, associados à
economia e na sobrevivência das espécies. O Acordo de pegada de carbono do produto para evitar mal-entendidos.
Paris, assinado em 2015, foi um compromisso marcante Isto é particularmente importante na agricultura, onde o
nos esforços para limitar o aumento da temperatura global reconhecimento e a abordagem da PGC se tornaram um
abaixo de 2 oC em relação aos níveis pré-industriais. As alte- elemento-chave das práticas sustentáveis e podem diferenciar
rações climáticas resultantes deste aumento podem causar os produtos, criando um novo fator de competitividade no
graves impactos no ambiente e na sociedade, ameaçando agronegócio. Em resumo, garantir uma compreensão clara do
a agricultura e a segurança alimentar. Foi neste contexto termo é vital para uma comunicação precisa e para a imple-
que os países assinaram as “Contribuições Nacionalmente mentação eficaz de medidas de sustentabilidade.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


7

O conceito de pegada de carbono segue a metodologia tes são classificados com base nos nutrientes primários que
de avaliação do ciclo de vida, ou seja, contabiliza todas as contém, sendo as três classes principais: nitrogênio (N), fós-
emissões de GEE relacionadas a um produto ao longo do seu foro (P) e potássio (K). Se um fertilizante contém esses três
ciclo de vida. Os limites do ciclo de vida vão, idealmente, do nutrientes primários ele é classificado como NPK.
início ao fim da jornada do produto agrícola (dentro e fora O N não é encontrado em formas minerais como P ou K,
da porteira), o que significa desde a extração e fornecimento ele é extraído do ar onde está na forma de N2, e é considerado
de quaisquer matérias-primas necessárias até a disposição um nutriente vital para o crescimento vegetativo, desenvolvi-
final do produto avaliado, ou seja, após ele ter completado mento das folhas e saúde geral das plantas. Os fertilizantes
sua função e chegado ao fim da vida como descarte. Con- nitrogenados normalmente incluem N em uma ou mais das
tudo, na prática, os limites de uma análise de ciclo de vida seguintes formas: nítrica, amoniacal ou amídica. Nitrato de
são definidos de forma mais estreita, por exemplo, “da pro- amônio (NA), nitrato de amônio e cálcio (CAN), nitrato de
dução dos insumos até a indústria/varejo” ou “da produção cálcio (NC), ureia (UR) e nitrato de amônio ureia (UAN) são
dos insumos até a saída da porteira”. Em uma análise de alguns dos fertilizantes nitrogenados produzidos quimicamente,
ciclo de vida, todas as emissões de GEE dentro dos limites e cada um tem suas próprias características e aplicações. A
definidos são recolhidas em um inventário, convertidas em amônia (NH3) é a molécula básica para a síntese da maioria
uma unidade comum (equivalentes de CO2) e, finalmente, dos fertilizantes nitrogenados. Parte das emissões de GEE
expressas por unidade de produto avaliado, por exemplo, dos fertilizantes nitrogenados deriva do gás natural, principal
em kg CO2eq t-1 de grão de milho. matéria-prima da qual o hidrogênio (H2) é extraído para pro-
Normalmente, as análises de ciclo de vida de produtos duzir amônia. O gás natural funciona também como fonte de
agrícolas estão dentro de um limite da “produção dos energia à indústria. A PGC de um produto na saída da fábrica
insumos até a saída da porteira”. Isto fornece informações representa a quantidade de emissões de gases de efeito estufa
valiosas sobre o impacto climático dos produtos agrícolas e geradas ou utilizadas ao longo de seu ciclo de vida parcial. A
permite aos agricultores documentar melhorias ou classificar PGC contabiliza todas as emissões de GEE relacionadas às
seus produtos de acordo com a pegada de carbono, ofere- matérias-primas, fabricação e transporte de um produto.
cendo opções aos seus clientes. Os dados da ACV também A quantificação da PGC da produção de fertilizantes
são informações importantes para empresas de alimentos, nitrogenados envolve a avaliação das emissões de GEE
que estão frequentemente comprometidas com metas de associadas às várias fases do processo de produção dentro
sustentabilidade, por exemplo, dentro da estrutura da SBTi do seu limite. Para o cálculo da PGC até a saída da fábrica de
(do inglês, Science-based Target Initiative). Na contabilidade produção de fertilizantes nitrogenados deve-se considerar
corporativa das emissões de GEE das empresas de alimentos, as fontes primárias de emissões, tais como:
as emissões provenientes da produção de matérias-primas
• Extração de matérias-primas: a extração e o processa-
agrícolas fazem parte das chamadas emissões de Escopo 3.
mento de matérias-primas utilizadas na produção de fertilizan-
Neste caso, os dados da ACV podem ser utilizados pela
tes nitrogenados, como, por exemplo, gás natural (durante a
empresa de alimentos para quantificar e monitorar estas
perfuração e transporte), pode resultar em emissões de GEE.
emissões nos seus inventários corporativos de GEE.
• Hidrogênio para produção de amônia: aproximada-
A nossa principal meta neste artigo é aprofundar o
mente 65% do gás natural utilizado no processo de produção
conceito de PGC associada às culturas agrícolas alimentí-
de amônia é dedicado à produção de hidrogênio por meio
cias e energéticas, elucidando os seus vários componentes.
da reforma a vapor do gás natural.
Nosso objetivo é esclarecer os principais contribuintes para
• Energia: Cerca de 35% do gás natural utilizado no
as emissões neste contexto, com foco específico nos fertili-
processo de produção de amônia é dedicado à manutenção
zantes nitrogenados. Além disso, exploraremos os esforços
da alta temperatura necessária ao processo. Existem outros
feitos pela indústria de fertilizantes para mitigar as emissões
processos com alta demanda energética na cadeia de pro-
durante o processo de produção. Ademais, nosso artigo des-
dução, como compressão, resfriamento e separação, que
tacará o papel dos agricultores na implementação de práticas
podem contribuir para as emissões.
que efetivamente reduzam as emissões, contribuindo para
uma redução geral do impacto ambiental da agricultura no • Ácido nítrico: o ácido nítrico é outro componente
Brasil e com valor para a cadeia de produção de alimentos. essencial dos fertilizantes nitrogenados. Sua produção
envolve a oxidação da amônia, que pode liberar óxido nitroso
2. PEGADA DE CARBONO DE MATÉRIAS-PRIMAS, (N2O), cujo efeito de aquecimento global é 273 vezes maior
FERTILIZANTES E PROCESSOS NA INDÚSTRIA que o do dióxido de carbono (CO2) (SMITH et al., 2021).
DE FERTILIZANTES • Transporte: O transporte de matérias-primas para a
unidade de produção pode resultar em emissões elevadas.
A indústria de fertilizantes desempenha papel crucial
na agricultura global, fornecendo nutrientes para melhorar A Figura 1 apresenta uma comparação da PGC do
o crescimento e a produtividade das culturas. Os fertilizan- nitrato de amônio produzido em diferentes locais, em

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


8

solução aquosa ou não, conforme relatado pela Comissão de redução de N2O tem uma PGC 50% menor quando compa-
Europeia no JRC EUR 31653 (VIDOVIC et al., 2023). Nota-se rado a uma planta de produção padrão atual. Ao utilizar NPK
que a intensidade média das emissões GEE do nitrato de produzido a partir de amônia verde, a PGC pode ser reduzida
amônio produzido na Europa (UE27) é 54% menor que a em até 80%. Isto cria uma oportunidade para os agricultores
média ponderada universal. escolherem o produto (fertilizante) que lhes permite minimi-
É fundamental balancear a necessidade de aumentar zar as emissões durante o seu processo de produção.
a produtividade das culturas com a adoção de práticas res-
ponsáveis e ecológicas no uso de fertilizantes à medida que 3. METODOLOGIAS PARA AVALIAÇÃO DA
a indústria evolui para satisfazer as exigências da agricultura PEGADA DE CARBONO DE PRODUTOS
e da conservação ambiental. AGRÍCOLAS
Projetos de abatimento de N2O estão sendo desen- A pegada de carbono normalmente se refere às emis-
volvidos com sucesso em todo o mundo, utilizando tecno- sões de GEE associadas a um produto ou processo. As emis-
logias de redução secundária e terciária. Depois de reduzir sões não se restringem apenas a C ou CO2, mas, em estudos
as emissões de N2O e melhorar a eficiência energética nas agrícolas, incluem também metano (CH4) e N2O. A pegada é
fábricas de fertilizantes, o foco principal deverá passar para a expressa como equivalente de CO2 (CO2 eq), para o qual são
produção de amônia a partir de fontes alternativas, que não aplicados fatores aos GEE que não o CO2, conforme mencio-
dependam do gás natural. A amônia azul e verde são duas nado anteriormente.
formas emergentes de produção de amônia com ênfase na A PGC do produto pode ser avaliada de diferentes
sustentabilidade e na redução do impacto ambiental. maneiras. As condições-limite dos cálculos podem ser defi-
A amônia azul é produzida pelo método tradicional nidas de acordo com a finalidade e o âmbito da avaliação. A
(amônia cinza), e a principal diferença é que o CO2 gerado PGC pode referir-se, por exemplo, a uma fase da produção,
nesse processo é capturado e armazenado, evitando que como a fabricação do fertilizante, as emissões de GEE em
entre na atmosfera. Já a amônia verde é produzida a partir escala de campo ou outras condições pertinentes de com-
de fontes renováveis e sustentáveis de hidrogênio, muitas paração. O relato mais completo da PGC é feito por meio da
vezes obtidas através de processos como a eletrólise da água análise do ciclo de vida (ACV), como mencionado na intro-
alimentada por fontes de energia renováveis, como a eólica dução, que contabiliza todo o ciclo de vida de um produto,
ou a solar. A amônia produzida com biometano renovável desde a extração dos recursos, produção, uso e reciclagem,
também é considerada verde (Figura 2). até o descarte dos resíduos remanescentes, conhecidos
A Figura 3 mostra a produção da formulação NPK 15-15-15 como cradle to grave, que, na tradução literal, significa "do
com diferentes estratégias de redução da PGC. O fertilizante berço ao túmulo”, contabilizando, então, “dentro e fora da
NPK 15-15-15 produzido a partir da amônia cinza e tecnologia porteira” (EUROPEAN COMMISSION, 2010; IBICT, 2023).

3,2

2,9
2,6 2,7
-54% 2,6 2,6 2,6 2,6
2,5
2,4 2,4 2,4 2,5
2,2 2,2

1,9 1,9 1,9


1,7 1,7

1,1
Argélia

Sérvia
Estados Unidos

Chile

Turquemenistão

China
Egito
Canadá

IIndonésia

Turquia

Jordânia

Geórgia

Tunísia

Rússia

Ucrânia

Trindade e Tobago
UE27 + GB

Média ponderada

Marrocos
Bielorússia

Arábia Saudita

Figura 1. Pegada de carbono da produção de nitrato de amônio em diferentes locais.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


9

Figura 2. Rotas de produção de amônia (NH3).


Amônia renovável: é o termo utilizado pela Yara Brasil para denominar a amônia produzida com H2 proveniente do biometano da indústria sucro-energética.
Amônia verde: é produzida usando fontes de energia renováveis, como energia eólica ou solar, para gerar hidrogênio por meio de eletrólise. Este
processo visa reduzir as emissões de carbono e o impacto ambiental em comparação com os métodos tradicionais.
Amônia cinza: é sinônimo de amônia produzida convencionalmente. É gerado através do processo Haber-Bosch, que depende de combustíveis fósseis
como o gás natural e resulta em emissões substanciais de carbono.
Amônia azul: é produzida capturando e armazenando as emissões de carbono geradas durante o processo de produção de amônia. Combina o método
convencional Haber-Bosch com tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS) para mitigar o impacto ambiental.
Amônia marrom: refere-se à amônia produzida através de métodos tradicionais e de uso intensivo de energia, muitas vezes envolvendo o uso de
carvão. O processo de produção emite uma quantidade significativa de dióxido de carbono.
Fonte: Adaptada de BRASIL (2021).

Para o cálculo da PGC foram desenvolvidas diferentes


diretrizes e protocolos gerais a fim de garantir qualidade,
consistência e comparabilidade das análises e resultados.
A Organização Internacional de Padronização (ISO) publicou
a ISO 14067 como uma norma internacional que especifica
princípios, requisitos e diretrizes para a quantificação e preparo
de relatórios de PGC de um produto, de maneira consistente
com as normas internacionais sobre ACV (ISO 14040 e ISO
14044) (ISO, 2023). O Instituto de Recursos Mundiais (WRI)
e o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento
Sustentável (WBCSD) desenvolveram um padrão internacional
para quantificação e um relatório de GEE corporativo já no
final da década de 1990. Atualmente, seu protocolo de GEE é
amplamente utilizado e inclui um padrão para “Quantificação
e Relatórios do Ciclo de Vida do Produto” (WRI, 2011). Outra
norma PGC é a PAS 2050, desenvolvida pelo Instituto de
Normalização do Reino Unido (do inglês, British Standards
Figura 3. Pegada de carbono (t CO2 eq t-1 do produto) do NPK Institute – BSI). O PAS 2050 é amplamente utilizado e é
15-15-15 em plantas que utilizam diferentes estratégias considerado o primeiro padrão de PGC empregado interna-
de redução da pegada de carbono. cionalmente (BSI, 2011).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


10

Além dos padrões gerais, também existem ferramentas à porteira” de suco de laranja para os Estados Unidos foi
de cálculo estabelecidas que permitem a análise concreta da encomendada pela indústria do suco para detectar onde,
PGC de forma consistente. Um exemplo é a ferramenta Cool na cadeia de produção, ocorreram as maiores emissões de
Farm Tool (CFT), que permite o cálculo da PGC de produtos GEE (MARTIN, 2009). Neste caso, a maior contribuição foi a
agrícolas e animais. A CFT foi desenvolvida há mais de 10 anos dos fertilizantes nitrogenados. Outro exemplo foi o estudo
por um pequeno grupo de empresas de alimentos em cola- da pegada de carbono e hídrica na produção de laranjas e
boração com a Universidade de Aberdeen, na Escócia. Hoje, morangos realizado por Mordini et al. (2009). Nesses casos,
a companhia Cool Farm Alliance, que possui e desenvolve a ACV incluiu todas as emissões até o produto chegar às
a ferramenta CFT, é composta por cerca de 160 membros gôndolas do supermercado.
representantes do ramo alimentício, ONGs, universidades e Um exemplo de ACV "do berço à porteira” é o pro-
agricultores. A CFT é amplamente utilizada em toda a cadeia grama Renovabio no Brasil. Todas as emissões de GEE para
de produção de alimentos, por exemplo, para quantificar e a produção de biocombustíveis são calculadas e os valores
monitorar as emissões de GEE para efeitos de elaboração são auditados por empresas certificadoras. O Renovabio
de relatórios e outros fins. Vários parceiros e membros recompensa os produtores de biocombustíveis com certifi-
acadêmicos garantem o respaldo científico e a robustez da cados de descarbonização (CBIOs) quando comprovam uma
ferramenta (COOL FARM ALLIANCE, 2023). redução das emissões de GEE em comparação com os seus
Os valores de referência para as emissões de carbono correspondentes fósseis (gasolina, diesel) (BRASIL, 2020).
(ou GEE) associadas a produtos ou processos intermediários
utilizados para o cálculo da ACV estão disponíveis em bases
4. PEGADA DE CARBONO DE PRODUTOS
de dados de inventários de ciclo de vida, como o Ecoinvent. AGRÍCOLAS
Esse banco de dados é atualizado frequentemente e está Com base na metodologia de cálculo da PGC, e utili-
agora na versão 3.9.1 (ECOINVENT, 2023). zando dados de estudos de médio e longo prazo e estraté-
Conforme comentado anteriormente, a pegada de car- gias de fertilização nitrogenada, estimamos a PGC para os
bono de uma cultura pode estar restrita a uma fase específica seguintes produtos: grãos de milho, grãos de café, algodão
(ou seja, operações agrícolas) ou a todo o ciclo. Os limites em caroço e colmos de cana-de-açúcar, desde a produção
da avaliação devem ser definidos, por exemplo, até a saída do fertilizante na fábrica até a produção dos mencionados
da porteira da fazenda (ACV “do berço à porteira”), que produtos antes de serem distribuídos ao mercado consumi-
compreende as fases de produção dos insumos, incluindo dor, utilizando a ferramenta CFT. Estudos de médio e longo
extração, até a produção do produto agrícola, ou até ao prazo são importantes quando se considera o efeito residual
consumidor final, considerando o descarte final dos resíduos dos fertilizantes, visto que normalmente se observa pouca
do produto (ACV “do berço ao túmulo”), que seria dentro e diferença na produtividade nos primeiros ciclos de cultivo.
fora da porteira. O importante é que os limites sejam bem Os dados das culturas selecionadas apresentadas neste
definidos e claros. Neste último, a ACV inclui os GEE emitidos estudo foram obtidos pelos autores em estudos anteriores
pela fabricação de máquinas agrícolas, seu funcionamento e utilizados nesta publicação para exemplificar o impacto da
(consumo de combustível), todos os insumos agrícolas adubação nitrogenada na PGC das culturas.
(sementes, fertilizantes, defensivos), irrigação, colheita e 4.1. Milho
transporte para o mercado. Cada vez mais, as empresas
Em diferentes países, a adubação, principalmente a
de alimentos estão investigando a emissão de GEE total na
nitrogenada, desempenha papel fundamental na PGC da
cadeia de produção.
cultura do milho. De acordo com dados obtidos em diversas
A PGC, em versões mais curtas ou mais amplas, é cada publicações (ADVIENTO-BORBE et al., 2007; BARBER et al.,
vez mais utilizada para avaliar a sustentabilidade e também 2011; GRASSINI e CASSMAN, 2012; MA et al., 2012; MIDDE­
para ajudar os consumidores na tomada de decisões sobre LAAR et al., 2013; WANG et al., 2015; BEER et al., 2005; QI
qual produto comprar. Existem muitos exemplos de ava- et al., 2018; USUBHARATANA e PHUNGRASSAMI, 2016;
liações da pegada de carbono de produtos agrícolas. Por STAPPEN et al., 2018; XU et al., 2018; ZHANG et al., 2016),
exemplo, a PGC da produção de fertilizantes em diferentes em média, a produção de fertilizantes contribui com 32%
regiões do mundo foi calculada por Hoxha e Christensen das emissões no campo (dentro da porteira) considerando
(2019). A Fertilizers Europe desenvolveu uma calculadora todos os fertilizantes (Figura 4), e com 27% se apenas os
online da pegada de carbono dos fertilizantes (FERTILIZERS fertilizantes nitrogenados forem considerados (Figura 4A).
EUROPE, 2023). Além da produção de fertilizantes, as emissões de N2O no
Nos supermercados é comum encontrar o valor do campo relacionadas à aplicação de fertilizantes nitrogena-
PGC estampado em certos produtos, o que pode ajudar dos no cultivo de milho podem contribuir com 11% a 56%,
os consumidores, preocupados com o meio ambiente, na equivalentes, em média, a 38�. Portanto, a composição da
compra dos produtos. Por exemplo, uma ACV "do berço PGC do milho relacionada à fertilização com N é de até 65%.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


11

(A)

França
milho alimentação animal 34%

milho verão, 150 kg ha-1 N 37% 14%

China
milho verão, 225 kg ha-1 N 45% 11% Produção de fertilizante: N

rotação milho-forragem, 150 kg ha-1 N 24% Produção de fertilizante: P e K

Emissões do solo (N2O)


rotação milho-forragem, 100 kg ha-1 N 24%
Uso de energia
monocultivo milho, 150 kg ha-1 N 25%
Outros
Canadá

rotação milho-soja, 150 kg ha-1 N 25%

rotação milho-soja, 100 kg ha-1 N 25%

monocultivo milho, 250 kg ha-1 N 26%

monocultivo milho, 200 kg ha-1 N 28%


Nova Zelândia

milho grãos 23% 9%

milho silagem 28% 8%

milho irrigado 17%


EUA

irrigado, boas práticas, monocultivo contínuo 22% 0%

irrigado, intensivo, monocultivo contínuo 22% 4%

Média 27% 8%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Porcentagem de contribuição
Austrália

milho para salgadinhos 9% (B)


milho grãos (secos) 21%
Bélgica

milho grãos (úmidos) 19% Produção de fertilizante: N, P e K

Emissões do solo
milho silagem 18%
Uso de energia
milho (primavera), prática comum 42%
Outros

milho (primavera), produtividade muito elevada 29%

milho (primavera), alta produtividade e eficiência 28%

milho (primavera), padrão ótimo 25%

Média nacional 2016 42%


China

Média nacional 2015 41%

plantio direto, incorporação de resíduos, irrigado 43%

cultivo reduzido (subsolador), incorporação de resíduos, irrigado 41%

cultivo reduzido (escarificador), incorporação de resíduos, irrigado 41%

cultivo convencional com incorporação de resíduos, irrigado 41%


Tailândia

Milho doce 53%

Média 33%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Porcentagem contribuição

Figura 4. Contribuição para a pegada de carbono da cultura do milho (vários usos) em relação à produção de fertilizantes (N, P e K),
emissões de N2O do solo e uso de energia. Na Figura 4A, o impacto causado pela produção do fertilizante nitrogenado foi
avaliado separadamente dos impactos causados pela produção dos adubos fosfatado e potássico, enquanto em (B) eles foram
avaliados conjuntamente.
Fontes: (A) Adviento-Borbe et al. (2007), Barber et al. (2011), Grassini e Cassman (2012), Ma et al. (2012); Middelaar et al. (2013), Wang et al. (2015).
(B) Beer et al. (2005), Qi et al. (2018), Usubharatana e Phungrassami (2016), Stappen et al. (2018), Xu et al. (2018), Zhang et
al. (2016).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


12

A fertilização nitrogenada está bem documentada como Este efeito retardado da aplicação de diferentes fontes está
o principal fator das emissões de CO2 na produção de milho relacionado aos efeitos distintos de cada fonte e ao tipo de
de sequeiro. O uso de energia também pode contribuir sig- solo onde o experimento está localizado, que é argiloso e com
nificativamente, especialmente em sistemas irrigados (até alto teor de matéria orgânica, que atua como um tampão,
42%), porém, a irrigação na produção de milho não é uma proporcionando ao solo capacidade de fornecer N para a
prática comum no Brasil. É importante enfatizar que a fase cultura. Após dez anos de estudo, observou-se que a dose de
de cultivo no campo é muito significativa na avaliação da PGC máxima eficiência agronômica para o milho foi de 138 kg ha-1
de todo o ciclo (dentro e fora da porteira). Em um estudo com o uso de CAN e de 226 kg ha-1 com o uso de ureia (dose
na Tailândia, com a produção de milho doce enlatado (até a 63% maior), o que significa que menos fertilizante na forma
fase de processamento), a fase de cultivo foi responsável por de CAN foi necessário para chegar à máxima eficiência agro-
35% das emissões, enquanto em outro estudo na Austrália, nômica, comparado ao uso de ureia. No experimento não foi
avaliando a produção de flocos de milho (até o varejo), a avaliada a resposta do milho a doses de N como sulfato de
fase de cultivo foi responsável por 42% das emissões. Uma amônio. Comparando as fontes, na dose considerada usual
importante demanda comercial do milho produzido no ter- pelo produtor, o rendimento do milho aumentou 7,2% com o
ritório brasileiro é a produção de etanol. Contudo, há pouca uso do CAN em relação à ureia ou ao sulfato de amônio. Isto
informação disponível sobre a PGC do etanol de milho. reflete as menores perdas de N por volatilização de NH3 com
De acordo com Mekonnen et al. (2018), cerca de 30% da o uso deste fertilizante bem como a menor acidificação do
PGC do etanol de milho estão relacionados à produção de solo. Estas foram, provavelmente, as principais razões para
fertilizantes, emissões do solo e agricultura, enquanto 62% explicar os menores rendimentos alcançados nas parcelas
estão associados ao transporte e processamento. Um estudo com ureia e sulfato de amônio, respectivamente. Tanto as
realizado nas condições brasileiras apontou que o cultivo e perdas por volatilização de amônia quanto a acidificação
o transporte são responsáveis por 78% da PGC do etanol de do solo alteram a dinâmica de suprimento de N às plantas,
milho (MOREIRA et al., 2020). Este mesmo estudo mostrou limitando o crescimento das plantas de milho e, consequen-
que a PGC do etanol de milho brasileiro é menor que a do temente, restringindo a obtenção de maiores produtividades.
etanol produzido nos Estados Unidos devido à fonte de energia Ao analisar a pegada de carbono dos grãos de milho
utilizada no processamento (queima de lenha de eucalipto, em (Figura 5) calculada pela ferramenta Cool Farm, levamos
vez de gás natural) e ao uso de milho de segunda safra, que em consideração a demanda por N na máxima eficiência
geralmente requer menos fertilizante nitrogenado que o milho econômica, entendendo que o produtor almeja alcançar alta
de safra única. A Diretiva Europeia de Energia Renovável adota produtividade respeitando as margens estabelecidas para
uma fração de 47% das emissões durante a fase de cultivo. garantir a eficiência do seu negócio. Considerando os preços
As emissões de N2O do solo normalmente representam do milho (US$ 15,00 saca-1) e dos fertilizantes na época (CAN =
o principal contribuinte à PGC da produção de milho, visto US$ 539 ton-1 e ureia = US$ 567 ton-1), a máxima eficiência
que o cereal responde à fertilização nitrogenada, e doses de econômica foi encontrada para CAN e ureia nas doses de
aproximadamente 100 kg ha-1 de N têm sido praticadas no Brasil 102 e 145 kg ha-1 de N, respectivamente. Assim, com o CAN
(variam de 50 a 220 kg ha-1 de N). Embora a emissão de N2O foi necessário utilizar menos N do que com a ureia para
não represente um problema agronômico para a produção atingir a máxima eficiência econômica. É crucial comparar
de milho no Brasil ou no mundo, uma vez que as emissões diferentes doses, uma vez que os resultados demonstram
em relação à quantidade de N aplicada são muito menores diferentes eficiências entre as duas fontes de N, bem como
quando comparadas com o N perdido por volatilização de respostas distintas da cultura ao uso dos fertilizantes. Vários
NH3 e com o escoamento de N, o conceito dos 4C's (aplicar estudos realizados em condições tropicais destacaram a
a fonte certa, na dose certa, na época certa e no lugar certo) questão relacionada à volatilização de NH3 pela aplicação de
se ajusta adequadamente às reduções na PGC do milho. ureia na superfície do solo, que variam regularmente entre
Em um estudo de longo prazo realizado na região do 20% e 30% do N aplicado. Em longo prazo, tal volatilização
Cerrado (Santo Antônio de Goiás, GO), o desempenho da pode acelerar o processo de esgotamento do N do solo, espe-
produção de grãos de milho foi avaliado e três fertilizantes cialmente se o agricultor não considerar a reposição dessa perda
nitrogenados foram comparados como alternativas para de N. Neste estudo, a volatilização de NH3 da ureia na cultura
complementar o N necessário para o milho no estádio de do milho foi, na média de 10 anos, equivalente a 17% (dados
crescimento V4. As fontes testadas incluíram nitrato de não apresentados). Além disso, comparando-se diferentes
amônio e cálcio (CAN), ureia comum e sulfato de amônio. doses de N, estamos considerando a necessidade de diferentes
Os resultados parciais deste estudo foram apresentados em quantidades de fertilizantes sendo produzidas e transportadas.
edição anterior do Jornal Informações Agronômicas, em 2021 Os resultados da PGC da produção de milho com base
(OTTO et al., 2021). Os resultados indicam uma resposta da na dose de máxima eficiência econômica de N para ureia e
cultura do milho às doses de N e um claro efeito da fonte de CAN são exibidos na Figura 5 e mostram diferenças entre
N utilizada, que foi observado somente após quatro anos. fertilizantes e a contribuição de cada origem, o que demons-

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


13

250
Transporte Uso energia (operações)
Proteção de cultivos Emissões N2O - solo e fertilizantes
Produção fertilizantes Manejo de resíduos

200 Referência -1% -4%


-7%

-29%
Pegada de carbono (kg CO2 eq t-1)

150

-54%

100

50

0
Ureia CAN Ureia Ureia CAN CAN - NH3 Verde
Rússia Catar União Europeia (EU)

Figura 5. Pegada de carbono do milho (grãos) cultivado com doses ótimas de duas fontes de N (ureia e nitrato de amônio e cálcio – CAN)
aplicadas em cobertura, em condições tropicais no Brasil. As estimativas também consideram a origem da fonte de N e uma
redução adicional baseada no aumento da produção de fertilizantes com o processamento de amônia verde.
Fonte: Dados de pesquisa realizada pela EMBRAPA no estado de Goiás (OTTO et al., 2021).

tra as principais fontes de energia no local das indústrias de No estudo conduzido durante dez anos pela Embrapa
fertilizantes. Há uma redução de 29% na pegada de C do Arroz e Feijão (OTTO et al., 2021), a adubação com CAN
milho quando se substitui o CAN da Rússia pelo CAN da União aumentou a produção de biomassa da parte aérea em
Europeia (UE). Por outro lado, tal redução não é observada aproximadamente 6,5%, equivalente a um aumento de
para a ureia, uma vez que a diminuição na PGC com a subs- 1,1 t ha-1. Houve também aumento de 12,5% no teor de
tituição de ureia produzida na UE representa apenas 6,5% e N acumulado na parte aérea (dados não apresentados).
3,1% em comparação com a ureia proveniente da Rússia e do Considerando-se que, com a decomposição dos resíduos,
Catar, respectivamente. Ao comparar a PGC do milho cultivado parte do N acumulado é transformado em N2O, estima-se
com a adubação de cobertura com ureia ou CAN é importante que a adubação com CAN apresente maior proporção de
destacar a ausência de efeito caso os fertilizantes sejam oriun- CO2eq derivado dos resíduos em comparação com a ureia.
dos da Rússia, no entanto, para fertilizantes produzidos com A PGC do milho relacionada à decomposição de resíduos
tecnologia de abatimento de N2O na indústria europeia há varia de 13% a 29% do total.
uma redução significativa nas emissões de CO2 com CAN, de No que diz respeito à produção de fertilizantes, o maior
24,2%, comparado à ureia. Quando as indústrias produzem o impacto é atribuído à fonte de energia, com exceção do
CAN com NH3 verde essa redução chega a 50,5%. tratamento com amônia verde. Neste estudo, a contribuição
De acordo com Snyder et al. (2009), a PGC da produção da produção de fertilizantes na PGC foi equivalente a
de milho nos EUA variou de 120-220 kg CO2 eq t-1 de grãos 37%. Por outro lado, ao considerar as emissões do uso de
em sistemas de plantio direto e de 140 a 250 kg CO2 eq t-1 fertilizantes, a ureia apresenta uma PGC maior, devido
de grãos em cultivo convencional, enquanto a contribuição à liberação de CO2 consumido durante a sua produção.
dos fertilizantes nitrogenados representou 67%-75% no Neste caso, os processos associados à transformação da
sistema conservacionista e 45%-60% no sistema convencional. ureia representaram mais de 40% da PGC total do milho,
Na China, a PGC reportada por Yan et al. (2015), com base em enquanto para o CAN esta proporção foi de 24%. Dada a
um grande levantamento, foi de 330 kg CO2 eq t-1 de grãos, com maior produtividade observada nas áreas tratadas com
contribuição da fertilização nitrogenada em torno de 75%. Os CAN, é também esperada maior contribuição dos processos
números do presente estudo estão dentro da faixa de variação associados à colheita, em contraste com a ureia. Esses
observada nos EUA e inferiores aos obtidos na China, o que processos acarretam maior consumo de combustível e
está associado às maiores doses de N adotadas no país asiático. também maior demanda por lenha para secagem de grãos.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


14

É fundamental destacar que a PGC para o milho varia dose de 192 kg ha-1 de N aumentou em 50% a produtividade
regionalmente, pois depende de uma série de fatores, como de algodão em relação ao tratamento sem N. Diferenças esta-
potencial de rendimento e consumo de insumos que, por sua tísticas na produtividade do algodoeiro com o uso de ureia
vez, dependem da qualidade do solo e da disponibilidade e CAN foram observadas apenas no quarto ciclo fenológico.
de insumos para o agricultor. No entanto, quando considerada a média das quatro safras
de algodão (de 2016 a 2019), a fonte CAN resultou em maior
4.2. Algodão produtividade por unidade de N em comparação com a ureia,
O algodão fornece aproximadamente um quarto das e as doses de N calculadas para a eficiência econômica ótima
fibras têxteis globais (ZHANG et al., 2023). O Brasil é um dos foram de 171 kg ha-1 para o CAN e 189 kg ha-1 para a ureia.
principais exportadores e produtores mundiais de algodão e Analisando-se a PGC por tonelada de algodão em caroço
as projeções indicam uma taxa de crescimento da produção nas doses de máxima eficiência econômica das duas fontes
de 2,8% ao ano até 2032/2033 (MAPA, 2023). Em 2022/2023, (Figura 6) verificou-se que os fatores que mais contribuíram
o Brasil plantou aproximadamente 1,7 milhão de hectares com as emissões foram a produção de fertilizantes nitroge-
de algodão e produziu 4,5 milhões de toneladas de fibras e nados na indústria (6% a 30% da PGC) e sua aplicação no solo
sementes, das quais cerca de 71% vieram do Centro-Oeste, (32% a 50% do PGC). A maior PGC foi observada com o uso
no Estado de Mato Grosso (CONAB, 2023). A maior parte da de CAN produzido na Rússia, seguido pela ureia produzida na
produção em Mato Grosso é de sequeiro de segunda safra, Rússia, ureia produzida na Europa, CAN produzido na Europa
semeada de janeiro ao início de fevereiro e após a colheita e, finalmente, CAN produzido na Europa utilizando a amônia
da soja. verde. Os dados revelam a possibilidade de se reduzir em
Um ensaio de média duração localizado em Mato 27% a PGC quando o CAN é produzido com amônia verde,
Grosso (Diamantino, 14o04'57,7''S, 57o27'42,5''O e altitude comparado ao CAN produzido na Rússia. O principal fator
de 270 m), com algodão semeado após a soja, foi estabele- que aumenta a PGC do CAN produzido na Rússia é o processo
cido em 2016 e continuou até 2019 (quatro safras de algo- de produção do fertilizante (307 CO2 eq t-1 de algodão em
dão). O objetivo do ensaio foi avaliar o efeito de diferentes caroço) em comparação com o CAN produzido com amônia
doses de N (0, 48, 96, 144 e 192 kg ha-1 de N) e duas fontes verde (42 CO2 eq t-1 de algodão em caroço). Considerando-se
(ureia e CAN) na produtividade e na qualidade da fibra do que 32%-50% da PGC são decorrentes do uso de N na fase
algodão (OTTO et al., 2021; OTTO et al., 2023). A produção de produção do algodão, novas estratégias para melhorar
acumulada nas quatro safras foi afetada pelo N aplicado e a a eficiência de uso do N e reduzir as perdas de N durante o

Produção de fertilizantes Emissões N2O - solo e fertilizantes


Manejo do resíduo de colheita Proteção de cultivo
Uso de energia (campo) Transporte fora da porteira

Referência
1.000 - 6% - 11%
- 16%
800 - 27%
kg de CO2 eq t-1 de algodão

600

400

200

0
CAN Rússia UREIA Rússia UREIA EU CAN EU (a) CAN EU - Amônia verde (b)

Figura 6. Pegada de carbono (PGC) da produção de algodão em caroço (kg CO2 eq t-1) em um ensaio utilizando doses de N para máxima
eficiência econômica de duas fontes (CAN = nitrato de amônio e cálcio e ureia) provenientes da Europa e da Rússia e com
utilização da tecnologia de amônio verde. (a) CAN da Europa; (b) CAN da Europa produzido com amônia verde.
Fonte: Dados de pesquisa realizada no estado de Mato Grosso (OTTO et al., 2023).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


15

cultivo do algodão surgem como alternativas para diminuir do Amparo, sul de Minas Gerais, para estimar a PGC do cafe-
a PGC, reduzindo as chances de substituição do algodão por eiro (Figura 7). Com o apoio da ferramenta Cool Farm®, foram
outras fibras alternativas no futuro (ZHANG et al., 2023). considerados neste estudo os seguintes fatores: duas fontes
de N (ureia e NA), dose adequada de N para café segundo a
4.3. Café análise foliar e a expectativa de produtividade (400 kg ha-1),
A indústria alimentícia vem passando por importantes produtividade média do café em oito anos (plantas de 4 a
transformações e assumindo compromissos para reduzir as 11 anos) e origem dos fertilizantes (Rússia e Europa).
emissões de GEE em todo o processo produtivo. Este é o Considerando os oito anos de desenvolvimento do
caso da Nestlé e da Illy (ILLY, 2022), grandes empresas que ensaio (2016 a 2023), a dose de 400 kg ha-1 proporcionou
atuam no mercado cafeeiro. A Nestlé, por exemplo, vem produtividade média de café de 2,93 t ha-1 para NA e 2,66 t ha-1
acelerando suas iniciativas para enfrentar as mudanças cli- para ureia. A PGC para a produção de café foi 16% menor
máticas e compromete-se a zerar as emissões líquidas até quando a fonte de N aplicada foi NA produzido na Europa,
2050 (NESTLÉ, 2022). Para atingir este objetivo, uma das em comparação com a UR produzida na Rússia. Este número
ações da empresa consiste em incentivar os agricultores a foi ainda menor com o NA produzido na Europa através da
adotar práticas sustentáveis, que reduzam as emissões de tecnologia de amônia verde (31%). É interessante notar que
GEE e aumentem o sequestro de carbono no solo. a origem dos fertilizantes, a tecnologia de produção, a pro-
O uso eficiente de fertilizantes, especialmente de N, dutividade, a fonte e a dose de N, são fatores importantes
contribuirá significativamente para o sucesso das metas que determinam a PGC dos produtos (Figura 7).
estabelecidas. Para tal, será necessário implementar um O manejo sustentável da cafeicultura é importante, pois
conjunto de boas práticas que aumentem a eficiência do o café é considerado uma cultura com baixa eficiência no
uso de nutrientes e restaurem a saúde do solo. Fertilizantes uso de nutrientes e que requer altas doses de N. Práticas de
com baixa PGC e manejo eficiente, que proporcione menores manejo de fertilizantes que melhorem a qualidade do café e
perdas de N, serão peças-chaves nesse processo. Estima-se reduzam as emissões de GEE são estratégias fundamentais
que as emissões de GEE relacionadas à fertilização nitroge- para agregar valor à cadeia produtiva do café.
nada podem representar até 70% do total de GEE emitidos
na cadeia produtiva do café. 4.4. Cana-de-açúcar
Com o objetivo de avaliar o uso de fontes de N na pro- A escolha do fertilizante nitrogenado pode afetar as
dutividade e nas emissões de GEE da cultura do café Arábica, emissões de N2O dos solos e, portanto, alterar a PGC da
um estudo de longo prazo foi realizado pela Universidade produção de cana-de-açúcar. Um ensaio de campo de
Federal de Lavras (UFLA) na Fazenda NKG, em Santo Antônio longa duração com cana-de-açúcar, variedade IAC-5000,

Produção de fertilizante
Solo/fertilizante
3.000 Proteção de cultivo
Uso de energia (campo)
+ 6%
referência Transporte fora da porteira
2.500 - 3%
kg de CO2 eq t-1 de café

- 16%
2.000
- 31%

1.500

1.000

500

0
NA (Rússia) UR (Rússia) UR (Europa) NA (Europa) NA (NH3 verde)

Figura 7. Estimativa da pegada de carbono do cafeeiro considerando a dose de nitrogênio de 400 kg ha-1, as fontes nitrato de amônio
(NA) e ureia (UR) de diferentes origens e tecnologias de produção.
Fonte: Dados da pesquisa realizada pela Universidade Federal de Lavras no sul de Minas Gerais (SARKIS et al., 2023; SOUZA et al., 2023).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


16

foi realizado em Piracicaba, SP, em um Latossolo Vermelho manece na superfície do solo. Estudos recentes mostram que
Argiloso álico, para estudar o efeito das fontes de N (CAN e as emissões de N2O nos canaviais ocorrem principalmente
ureia) na produtividade, volatilização de NH3, emissões de devido ao processo de nitrificação e, em menor proporção,
N2O e PGC da produção de cana-de-açúcar no Brasil. na desnitrificação (LOURENÇO et al., 2018). Normalmente,
Considerando todo o ciclo de avaliação, da cana planta a cana-de-açúcar é plantada em solos bem drenados, como
até a 7ª soca, a produtividade média de colmos de cana-de- Latossolos e Argissolos, e, por esta razão, as fontes de N
açúcar com o uso de ureia e de CAN foi de 85,0 t ha-1. amídica e amoniacal podem apresentar emissões de N2O
Nenhuma diferença no rendimento foi observada entre maiores do que aquelas contendo nitrato.
as fontes de N. As perdas de NH3 pela ureia, expressas em As emissões de GEE, especialmente N2O, podem repre-
percentual do N aplicado, variaram de 2,8% a 16,0%. Para o sentar de 30% a 50% do total de GEE emitidos na produção de
CAN, as perdas de NH3 foram significativamente menores, etanol a partir da cana-de-açúcar (BORDONAL et al., 2013).
variando de 0,4% a 0,7% do N aplicado em todos os ciclos Com a nova legislação brasileira (Renovabio), a produção de
avaliados. A emissão de N2O da ureia foi significativamente etanol está sendo recompensada pela redução das emissões
superior à do CAN; o fator de emissão de N2O foi em média de GEE por meio de créditos de carbono. Como resultado, o
0,90% para UR e 0,47% para CAN durante todo o período uso eficiente de fertilizantes nitrogenados e a redução das
de avaliação (CANTARELLA et al., 2022; DEGASPARI et al., emissões de GEE começam a agregar valor financeiro aos
2020). agricultores.
Com base nos dados da ferramenta Fertilizers Europe
2011 (Ecoivent 2.0), e considerando o rendimento de colmos 5. FATORES DE EMISSÃO DE N2O REGIONAIS
de cana-de-açúcar, a acidificação do solo e as emissões reais Uma incerteza considerável perdura nos inventários
de NH3 e de N2O do ensaio de campo, observou-se que a PGC nacionais sobre a emissão de N2O agrícola em todo o mundo,
para a produção de cana-de-açúcar foi, respectivamente, afetando, consequentemente, a estimativa precisa da PGC
30% e 68% menor, respectivamente, quando o CAN e o CAN dos principais produtos agrícolas. Para a maioria das culturas,
amônia verde foram as fontes de N, em comparação com a PGC associada às emissões diretas e indiretas resultantes do
a ureia (Figura 8). O total de CO2 emitido por tonelada de cultivo está relacionada à fertilização com N e pode represen-
cana foi, em média, 14 kg para CAN verde, 31 kg para CAN e tar 30% a 50% da PGC total calculada. Desta forma, é impor-
44 kg para UR. O CO2 emitido pela calagem para neutralizar tante que sejam calculados os fatores de emissão de N2O
a acidificação do solo causada pelos fertilizantes também foi regionais in situ, uma vez que as condições edafoclimáticas
considerado no cálculo do PGC como uma emissão indireta. e as novas tecnologias de gestão podem diminuir as emissões.
A suposição predominante em muitos estudos, inclusive neste
50 Produção de fertilizante
Emissão N2O (direta)
artigo, é que as estimativas da PGC deveriam considerar o fator
45 referência
Volatilização NH3 (indireta) de emissão estipulado pelo Painel Intergovernamental sobre
40
Mudanças Climáticas (IPCC), convencionalmente estabelecido
kg de CO2 eq t-1 de cana

Calagem (indireta)
35
30
- 30% em 1% do N aplicado. Porém, as emissões diretas de N2O são
25 substanciais, considerando sua magnitude e repercussões
20 ambientais, devido ao potencial de aquecimento global da
15 - 68%
molécula de N2O e, portanto, quanto mais precisa for a sua
10 indicação, mais precisa será a estimativa da PGC.
5
0
Nos últimos anos, vários estudos realizados em diver-
UR (Europa) CAN (Europa) CAN (NH3 verde) sos países, incluindo o Brasil, mediram detalhadamente o
Formas de N impacto da fertilização nitrogenada nas emissões de N2O
em solos cultivados com diferentes culturas. Esses estudos
Figura 8. Estimativa da pegada de carbono da cana-de-açúcar
visam fomentar os relatórios de inventário regional, levando
considerando os fertilizantes nitrato de amônio e cálcio
à melhor compreensão dos processos e fatores que gover-
(CAN), CAN verde, e ureia (UR).
Fontes: Dados da pesquisa realizada pelo Instituto Agronômico
nam as emissões. No contexto brasileiro, culturas como cana-
no estado de São Paulo (DEGASPARI et al., 2020; CANTARELLA
de-açúcar, milho e arroz têm sido submetidas a intensas
et al., 2022).
avaliações, principalmente devido à extensão de suas áreas
de cultivo e às suas altas demandas de N (BAYER et al., 2015;
A ureia é o fertilizante nitrogenado mais utilizado na MARTINS et al., 2015; SIGNOR et al., 2015; SOARES et al.,
cultura da cana-de-açúcar e está sujeita a altas perdas de N 2015; ZSCHORNAC et al., 2018; DEGASPARI et al., 2020;
por meio da volatilização de NH3 quando aplicada superficial- MASCARENHAS et al., 2020).
mente no solo, principalmente quando aplicada no ciclo da Dada a influência das condições ambientais nas emis-
soca, em que uma espessa camada de resíduos vegetais per- sões de N2O, com ênfase acentuada na umidade e no teor

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


17

de matéria orgânica do solo, estas emissões podem divergir afetam negativamente diversas culturas. A adaptação das
significativamente mesmo entre áreas agrícolas que tenham culturas às alterações climáticas iminentes exige pesquisas e
culturas e potenciais produtivos semelhantes. Isto acentua desenvolvimentos aprofundados para compreender como as
a preocupação crítica de que a confiança na metodologia culturas respondem às mudanças climáticas. É fundamental
proposta pelo IPCC para determinar a PGC pode não ser ajustar a fenologia das culturas à disponibilidade de umidade
adequada, gerando potencialmente uma penalidade supe- e investir em variedades com fases de crescimento distintas
restimada para os sistemas de cultivo brasileiros. Consequen- para mitigar ou evitar ocorrências de estresses previsíveis
temente, o monitoramento das emissões de N2O tem sido em períodos críticos. Investimentos significativos por parte
de suma importância. Vários estudos recentes em condições de instituições de melhoramento, empregando processos
de campo no Brasil mostraram que a maioria dos fatores de melhoramento transgênicos e convencionais, têm sido
de emissão de N2O (proporção de entrada de N emitida direcionados para aumentar a resiliência das culturas.
como N2O) são inferiores ao valor padrão do IPCC (BESEN As práticas agronômicas oferecem espaço substancial
et al., 2021; GALDOS et al., 2023; MONTEIRO et al., 2023; para melhorias. Estas práticas abrangem a otimização da
MONTEIRO et al. , 2023; SARKIS et al., 2023). Em estudo densidade (estande) das plantas, a garantia de distribuição
recente de Carvalho et al. (2021), os autores mostram que uniforme de sementes e emergência de plantas e a gestão
o fator de emissão de N2O para fertilizantes nitrogenados de populações de plantas, especialmente para culturas de
utilizados na soqueira da cana-de-açúcar no Brasil foi de grãos. Hou et al. (2020) demonstraram um aumento poten-
0,6% do N aplicado. O uso das emissões regionais de N2O cial de 5,6% na produção de milho em toda a China sem a
na avaliação do ciclo de vida foi responsável pela redução necessidade de aumentar a quantidade de N. Os avanços
da contribuição da fertilização nitrogenada para a PGC geral nos sistemas de semeadura para melhorar a distribuição
do etanol no Brasil entre 17% e 22%, em comparação com o ganharam força; no entanto, esses sistemas estão menos
valor padrão do IPCC. Além das condições edafoclimáticas, disponíveis para os pequenos agricultores. O momento da
as práticas de manejo afetam o padrão das emissões de semeadura das culturas alinhado com o zoneamento agrícola
N2O, permitindo adequar os fatores de emissão, conforme é crítico. Isto é de particular importância para as culturas de
observado por Sarkis et al. (2023) para café e por Degaspari safrinha, uma vez que existe relação direta com o ciclo da 1ª
et al. (2020) para cana-de-açúcar, cujos estudos forneceram safra. Nos últimos anos, foram oferecidos aos agricultores
fatores de emissão específicos para fontes de N. mais variedades de soja de época precoce, permitindo que
maior proporção da área de milho fosse colocada dentro
6. FUTUROS PASSOS RUMO À OBTENÇÃO DE do período de semeadura ideal (IMEA, 2022). Combinar
PRODUTOS AGRÍCOLAS NEUTROS OU DE híbridos de milho com arquitetura superior, reduzir as suas
BAIXO CARBONO exigências hídricas, melhorar a intercepção de luz e alcan-
çar maior densidade sem depender de fatores de produção
Numerosas nações estabeleceram ambiciosas metas adicionais, para além das sementes, são alternativas viáveis
para atingir a neutralidade de carbono até 2050. Dado que para reduzir a pegada de carbono.
a produção de alimentos contribui significativamente para
Nos últimos anos, a Embrapa tem realizado pesquisas
a PGC, correspondendo a 34% das emissões globais de GEE
exaustivas sobre o uso de bactérias promotoras de cres-
(CRIPPA et al., 2021), é necessário identificar práticas capazes
cimento de plantas para aumentar a eficiência de uso de
de mitigar as emissões, reduzindo, assim, o impacto ambien-
nitrogênio (EUN). Entre os microrganismos estudados, o
tal da produção de alimentos, para enfrentar os desafios
Azospirillum brasiliense demonstrou aumentar a EUN ao esti-
relacionados às mudanças climáticas. As potenciais melho- mular o crescimento radicular (BARBOSA et al., 2022), e tem
rias envolvem o aumento da produtividade e do sequestro sido utilizado em culturas como soja (coinoculação) e cereais.
de carbono, ou a diminuição das fontes de carbono. Conse- Segundo Hungria et al. (2022), a adoção da inoculação pode
quentemente, há uma pressão crescente para otimizar as potencialmente reduzir 25% da adubação nitrogenada em
estratégias de produção e reduzir as emissões. cobertura na cultura do milho e mitigar até 236 kg CO2 eq ha-1.
Uma abordagem fundamental para satisfazer o aumento É importante ressaltar que tais reduções foram observadas
previsto na demanda por alimentos é aumentar a produção principalmente em campos com baixas produtividades. De
agrícola nas áreas existentes, aumentando o rendimento qualquer forma, a combinação de promotores de cresci-
por unidade de área. Os avanços no rendimento das culturas mento com programas nutricionais de culturas é uma nova
decorrem principalmente de melhorias genéticas, adequada fronteira para a agricultura adaptativa, uma vez que contri-
utilização de insumos e melhores práticas de manejo no bui para a resiliência das culturas e aumenta a eficiência na
campo. utilização de recursos.
O melhoramento de plantas tem significado particu- Antes de fazer recomendações, é fundamental com-
lar no contexto das alterações climáticas, com o provável preender as condições específicas do local em que as cultu-
aumento de estresses abióticos, como o calor e a seca, que ras serão cultivadas. O monitoramento contínuo do campo

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


18

permite uma melhor tomada de decisão pelos agriculto- É importante dissociar as aplicações de fertilizantes
res. Além disso, a evolução das técnicas de agricultura de nitrogenados da deposição de esterco ou dejetos. As plan-
precisão, facilitada pelos avanços tecnológicos, capacita os tações de milho para silagem e cana-de-açúcar costumam
agricultores a gerenciarem grandes volumes de dados. A fazer uso de estercos, dejetos ou vinhaça. Lourenço et al.
agricultura de precisão permite a aplicação de taxas variáveis (2018) mostraram que antecipar ou adiar a aplicação de
para vários insumos, como sementes, água e fertilizantes, vinhaça em relação à fertilização com N pode reduzir as
contribuindo para o ajuste fino do uso de recursos. emissões de N2O em 50%, enquanto a aplicação de vinhaça
A adoção das práticas 4Rs e a otimização de nutrientes e fertilizantes ao mesmo tempo aumenta as emissões de
também são fundamentais para aumentar a EUN. Entre os N2O acima dos valores de referência do IPCC, o que aumenta
4Rs, a dose certa, especialmente de N, desempenha papel significativamente a PGC dos produtos. Os dejetos contêm
central na diminuição das emissões de N2O e, consequen- água e C orgânico solúvel, e ambos podem causar esgota-
temente, na diminuição da PGC dos produtos agrícolas. Por mento do oxigênio no solo, desencadeando emissões de
essa razão, é fundamental monitorar a disponibilidade de N2O. Mais do que dissociar a aplicação de ambos os fertili-
nutrientes e, com base na análise do solo e na resposta local zantes (mineral e orgânico), é importante que os agricultores
das culturas, os agricultores devem adaptar os programas evitem a fertilização excessiva e definam os programas de
nutricionais das culturas de maneira adequada, a fim de nutrição das culturas combinando ambos os fertilizantes.
otimizar a dose de N. Os outros 3R’s (local certo, fonte certa Em algumas situações, os dejetos orgânicos podem suprir
e época certa) também são importantes porque afetam o toda a demanda de P e K (JATE; LAMMEL, 2022). Diversas
desempenho da cultura, e o agricultor deve seguir as reco- regiões do Brasil já possuem recomendações de resíduos
mendações de acordo com a cultura, condições ambientais orgânicos (IAC, 2022).
e disponibilidade do produto. Alguns estudos mostram aumento nas emissões de
Muitas vezes, os produtores de alimentos definem as carbono por tonelada ou hectare na agricultura irrigada em
boas práticas com base apenas nas suas atividades agrícolas. comparação com a agricultura de sequeiro (DACCACHE et
No entanto, como a agricultura depende do fornecimento de al., 2014; ESMAEILZADEH et al., 2019; ZHENG et al., 2019).
insumos, melhorias nos processos industriais da produção No entanto, outros estudos sugerem que o efeito depende da
de insumos, como fertilizantes, são aspectos importantes unidade de medida da PGC (ZHANG et al., 2018) e da locali-
para a descarbonização. Ao apoiar processos comprometidos zação geográfica das culturas (GRASSINI; CASSMAN, 2012).
com a redução de emissões, surgem oportunidades signifi- No que diz respeito à eficiência de uso da água e à eficiência
cativas para uma redução substancial nas emissões de CO2 energética, existem diferenças significativas entre os sistemas
equivalente. Vale ressaltar que a fabricação de fertilizantes de irrigação (sulco, aspersão, pivô, gotejo e outros). Por outro
contribui com 30% a 40% para a pegada de carbono das prin- lado, a irrigação/fertirrigação tornou-se uma ferramenta
cipais culturas no Brasil. A substituição de fontes de energia importante tendo em conta as alterações climáticas, princi-
e de matéria prima na produção de nitrogênio, passando do palmente em regiões com períodos de seca frequentes, que
gás natural para fontes renováveis, como água (eletricidade podem ocorrer durante fases específicas do desenvolvimento
como fonte de energia e eletrólise como fonte de hidrogê- das culturas e comprometer a produtividade.
nio), permite a produção de amônia verde, pavimentando Outro aspecto importante é a segurança alimentar.
uma redução de 90% nas emissões (AUSFELDER et al.; 2022; Segundo a FAO (2023), a agricultura irrigada representa
CANTARELLA et al., 2023). Embora este processo ainda seja 20% do total de terras cultivadas, mas contribui com mais
limitado e tenha custos elevados, algumas empresas estão de 40% do total de alimentos produzidos em todo o mundo.
profundamente empenhadas nesta transição energética que Um dos principais benefícios da fertirrigação é o aumento
terá impacto nas pegadas de carbono das matérias-primas da produtividade, quando comparada à adubação sólida ou
agrícolas. A adoção de fertilizantes com baixas pegadas de às áreas que são apenas irrigadas. Dependendo da cultura
carbono permitirá aos agricultores melhorar as suas métricas e da localização, os ganhos em produtividade podem dupli-
de sustentabilidade. car. Nas áreas fertirrigadas, o uso de tratores é reduzido, o
O revestimento de fertilizantes com inibidores de que evita a compactação do solo e diminui o uso de diesel.
nitrificação (IN) pode potencialmente diminuir as emissões A fertirrigação também permite a aplicação frequente de
de N2O. Os INs atuam na primeira etapa da nitrificação, nutrientes de acordo com a demanda da cultura, o que
dificultando a conversão do amônio em nitrito. A redução reduz as perdas e aumenta a eficiência. Estudos realizados
da emissão de N2O, segundo Carvalho et al. (2022), varia de na cultura de citros mostraram que a EUN aumentou cerca
45% a 100%, sendo uma opção de gestão promissora para de 25% nas áreas fertirrigadas (QUAGGIO et al., 2019) e as
mitigar as emissões de N2O e, portanto, diminuir a PGC das emissões de N2O foram significativamente inferiores (0,2%
principais culturas no Brasil. Entre os INs, o DMPP (3,4-dime­ do N aplicado), comparado ao fator de referência do IPCC
tilpirazol fosfato) tem se mostrado mais promissor que o (MARTINS et al., 2014), possibilitando menor PGC da cultura
DCD (dicianodiamida). nessas condições.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


19

Boas práticas de manejo (BPM) podem ajudar os agri- forma importante de promover a agricultura sustentável.
cultores a reduzir a PGC pelo incremento no sequestro de C Gramíneas como a Brachiaria sp. podem aumentar o acú-
em solos agrícolas. O aumento do sequestro biológico de C mulo de C no solo, reduzir as perdas de N pela exploração
no solo é uma abordagem bem conhecida para a remoção e mais profunda do solo, permitindo a ciclagem mais eficiente
armazenamento de CO2, principalmente em terras agrícolas e de nutrientes, enquanto as leguminosas podem reduzir a
pastagens. No entanto, para que o C armazenado na matéria dependência da fertilização externa de N através da fixação
orgânica do solo seja contabilizado na PGC é necessário um biológica de N. Faltam estudos que avaliem a contribuição
tempo mínimo de permanência desse C no solo. das culturas não comerciais para as emissões globais de N2O
Sistemas de manejo conservacionista contribuem para e devem ser incentivados para compreender o efeito real de
a redução da PGC, acumulando C no perfil do solo ou aumen- tais práticas na PGC das culturas.
tando a ciclagem de nutrientes e, portanto, dando suporte
para reduzir a utilização de fertilizantes e defensivos. Benefí- 7. IMPORTÂNCIA DA PEGADA DE CARBONO
cios adicionais derivam do aumento da infiltração e armaze- DO PRODUTO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS E
namento de água, diminuindo a dependência da irrigação. De INTEGRAÇÃO DA CADEIA DE VALOR
acordo com Snyder et al. (2009), a PGC da produção de milho A pesquisa científica assume papel fundamental na
nos EUA foi reduzida em 12%-15% com a adoção do sistema resposta às mudanças climáticas e na mitigação do impacto
conservacionista, que incluiu menor uso de combustível, ambiental na agricultura. Fornece informações indispensáveis,
uma vez que as práticas mecânicas para o plantio direto são facilitando a tomada de decisão com precisão por empresas
menos demandantes. O sistema conservacionista baseia-se no e entidades governamentais. As pesquisas direcionadas ao
revolvimento mínimo do solo (menor consumo de energia e estudo das emissões de GEE melhoram a compreensão das
esgotamento mínimo da matéria orgânica do solo), na rotação cadeias produtivas, identificando os setores e os insumos
de culturas e na manutenção de resíduos de culturas na super-
que apresentam maior impacto. Isto, por sua vez, permite a
fície do solo. A adoção de leguminosas na rotação de culturas
formulação de estratégias de mitigação mais precisas.
diminui a dependência do N externo e, consequentemente,
diminui a PGC. Em um estudo de longo prazo realizado nos O setor agrícola brasileiro não foge a esse paradigma.
EUA, Ma et al. (2012) compararam o monocultivo contínuo À medida que a pesquisa avança, a aquisição de práticas
de milho com a sucessão de leguminosas forrageiras (alfafa) de produção sustentáveis contribui não só para o discurso
e grãos (soja) e estimaram maiores emissões de GEE nos sis- ecológico, mas também sustenta o estabelecimento de obje-
temas com leguminosas; no entanto, a pegada foi diminuída tivos, garantindo o cumprimento da legislação ambiental.
em todos as doses de N testadas devido à maior produtivi- Consequentemente, isto está alinhado com o objetivo de
dade. O sistema de produção de milho com dose média de N redução das emissões globais. Dados de campo precisos
(100 kg ha-1 N), seguido de uma leguminosa forrageira, resul- ajudam empresas e governos na elaboração de políticas,
tou em redução de 17% da PGC do milho, comparado com incentivos direcionados e no acesso a subsídios baseados
o sistema de monocultura de milho. Na rotação com soja, a em soluções ambientais.
redução foi equivalente a 8%. Contabilizando a contribuição Uma proporção significativa da PGC dos produtos
de N dos resíduos de leguminosas e comparando 200 kg de N agrícolas provém da utilização de fertilizantes nitrogenados.
aplicados à monocultura com 100 kg de N aplicados ao milho Portanto, a adoção de fontes derivadas de processos mais
em rotação com leguminosas, a PGC foi reduzida em 42% a eficientes, como catalisadores ou produção de fertilizantes
46% no sistema de rotação. Ao mesmo tempo, as práticas de verdes, tem o potencial de reduzir substancialmente as
manejo conservacionistas contribuem para o sequestro do emissões. Isto não só ajuda a atingir as metas estabelecidas
C no solo, sendo altamente benéficas do ponto de vista da pelo governo mas também contribui para a redução das
saúde e fertilidade do solo (PAUSTIAN et al., 2019). emissões das empresas de alimentos. É crucial reconhe-
O Brasil tem um dos exemplos mais bem sucedidos de cer o papel fundamental que os fertilizantes nitrogenados
consórcio de leguminosas em sistemas de sucessão com desempenham na agricultura, principalmente no aumento
soja como cultura de 1ª época, antes do milho e do algodão. da produtividade das culturas. Além disso, os fertilizan-
A eficiência da utilização do N nestes sistemas de cultivo é tes com baixa PGC podem aumentar a rentabilidade dos
elevada, especialmente quando o milho sucede a soja. Novos produtores, adicionando valor comercial aos produtos
sistemas de cultivo, combinando duas ou mais culturas, agrícolas e garantindo acesso aos mercados internacionais.
são alternativas para aumentar a produção de alimentos/ A escolha de fertilizantes nitrogenados provenientes de
madeira/energia por hectare. Exemplos muito bem estabe- fábricas que combatem as emissões de N2O nos locais de
lecidos são os sistemas agroflorestais com culturas perenes, produção é uma estratégia disponível, embora a produção
como café, cacau e árvores frutíferas, e os sistemas de cultivo de fertilizantes verdes ainda não ocorra em grande escala.
e pecuária, incluindo ou não a silvicultura. Para culturas de Processos rigorosos de homologação e rastreabilidade são
grãos, a consorciação com gramíneas ou leguminosas é uma fundamentais para garantir a mitigação de emissões em

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


20

toda a cadeia produtiva, especialmente considerando os ming potential in four high-yielding maize systems. Global Change
mercados futuros que exigem medição de carbono, rela- Biology, v. 13, p. 1972–1988, 2007. https://doi.org/10.1111/j.1365-
tório e verificação (MRV). 2486.2007.01421.x
Os resultados elucidados neste artigo lançam luz sobre ALENCAR, A.; ZIMBRES, B.; SOUZA, E.; TSAI, D.; SILVA, F. B.; QUIN-
aspectos críticos da agricultura brasileira. Isto inclui conhe- TANA, G. de O.; GRACES, I.; COLUNA, I.; SHIMBO, J. Z.; CARVALHO,
cimentos sobre a produção inovadora de tecnologias de K.; POTENZA, R. F. Estimativa de emissões de gases de efeito estufa
fertilizantes que reduzem as emissões nos locais de produ- dos sistemas alimentares no Brasil. SEEG, 2023. Disponível em:
ção e uma compreensão dos impactos de várias fontes de <https://www.oc.eco.br/wp-content/uploads/2023/10/SEEG_ali-
N na produtividade das culturas e na eficiência de uso dos mentares.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2023.
recursos, levando à redução na PGC das culturas. Depender
AUSFELDER, F.; HERRMANN, E. O.; GONZÁLES, L. F. L. Perspective
apenas da produção inovadora de fertilizantes verdes nitro-
Europe 2030: Technology options for CO2-emission reduction of
genados pode resultar em reduções da PGC que variam de
hydrogen feedstock in ammonia production. Frankfurt am Main:
27% a 68% para culturas como algodão, café, cana-de-açúcar
DECHEMA - Gesellschaft für Chemische Technik und Biotechnologie
e milho no Brasil. Quando combinadas com outras práticas
e. V., 2022. 43 p.
de manejo conservacionistas e de baixas emissões, essas
estratégias impulsionam a agricultura brasileira em direção à BARBER, A.; PELLOW, G.; BARBER, M. Carbon footprint of New
neutralidade de carbono. Alinhamentos estratégicos e mode- Zealand arable production – Wheat, maize silage, maize grain
los de negócios que promovam parcerias para a produção de and ryegrass seed. Kumeu: AgriLINK New Zealand Ltd., 2011. (MAF
baixo carbono são essenciais para o avanço da agricultura Technical Paper No: 2011/97). Disponível em: <Carbon Footprint
brasileira no cenário global, reforçando a posição do Brasil of New Zealand Arable Production – Wheat, Maize Silage, Maize
como uma potência agroambiental. Grain and Ryegrass Seed (mpi.govt.nz)>. Acesso em: 10 nov. 2023.
É fundamental enfatizar a importância de índices con- BARBOSA, J. Z.; ROBERTO, LL. A.; HUNGRIA, M.; CORRÊA, R. S.;
fiáveis e específicos da região, como fatores de emissão e MAGRI, E.; CORREIA, T. D. Meta-analysis of maize responses to
acúmulo de carbono locais. A pesquisa de longo prazo auxilia Azospirillum brasilense inoculation in Brazil: Benefits and lessons
na compreensão da dinâmica dos solos tropicais, oferecendo to improve inoculation efficiency. Applied Soil Ecollogy, v. 170,
exemplos e correções para calculadoras de PGC. Tal como 104276, 2022. https://doi.org/10.1016/j.apsoil.2021.104276
observado com o N2O, um valor padrão constante pode não BAYER, C.; GOMES, J.; ZANATTA, J. A.; VIEIRA, F. C. B.; PICCOLO, M.
ser universalmente aplicável, necessitando de fatores de de C.; DIECKOW, J.; SIX, J. Soil nitrous oxide emissions as affected
emissão adaptados com base em circunstâncias específicas.
by long-term tillage, cropping systems and nitrogen fertilization
A colaboração entre o governo e as entidades de pes- in Southern Brazil. Soil and Tillage Research, v. 146, p. 213–222,
quisa é fundamental na orientação de programas, como o 2015. doi:10.1016/j.still.2014.10.011
Plano Nacional de Fertilizantes. O conhecimento oriundo da
BEER, T.; MEYER, M.; GRANT, T.; RUSSELL, K.; KIRKBY, C.; CHEN, D.; EDIS,
pesquisa, alinhado aos pontos fortes ambientais do setor
R.; LAWSON, S.; WEEKS, I.; GALBALLY, I.; FATTORE, A.; SMITH, D.; LI, Y.;
agrícola, orienta os investimentos em fontes mais eficientes,
WANG, G.; PARK,K.; TURNER, D.; THACKER, J. Life-cycle assessment of
descarbonizando simultaneamente as cadeias de produção
e aumentando a produção de alimentos. greenhouse gas emissions from agriculture in relation to marketing
and regional development – Irrigated maize: From maize field to
A ascensão do termo “pegada de carbono” e sua rele- grocery store. Canberra: CSIRO, 2005. (Report HQ06A/6/F3.5.)
vância para os agricultores brasileiros é impulsionada por uma
combinação de preocupações ambientais globais, pressões BESEN, M. R.; RIBEIRO, R. H.; MINATO, E. A.; BATISTA, M. A.; BAYER,
regulatórias, demandas do mercado por sustentabilidade e a C.; PIVA, J. T. Modelling of N2O emissions from a maize crop after
busca por práticas agrícolas inovadoras e eficientes. Conhecer the application of enhanced-efficiency nitrogen fertilisers. Commu-
suas métricas e gerenciar ativamente a PGC está se tornando nications in Soil Science and Plant Analysis, v. 52, p. 1645–1656,
parte integrante da sustentabilidade e competitividade de longo 2021. https://doi.org/10.1080/00103624.2021.1892724
prazo do setor agrícola, tanto no Brasil quanto no mundo. BORDONAL, R. O.; FIGUEIREDO, E. B.; AGUIAR, D. A.; ADAMI, M.;
A jornada que temos pela frente é substancial, exigindo RUDORFF, B. F. T.; LA SCALA, N. Greenhouse gas mitigation poten-
esforços coordenados entre os setores públicos e privados tial from green harvested sugarcane scenarios in São Paulo State,
para enfrentar as mudanças climáticas e descarbonizar as Brazil. Biomass and Bioenergy, v. 59, p. 195–207, 2013. https://
cadeias de produção de alimentos, e assim garantir a segu- doi.org/10.1016/j.biombioe.2013.08.040
rança alimentar. BORDONAL, R. O.; FIGUEIREDO, E. B.; AGUIAR, D. A.; ADAMI, M.;
RUDORFF, B. F. T.; LA SCALA, N. Greenhouse gas mitigation poten-
REFERÊNCIAS tial from green harvested sugarcane scenarios in São Paulo State,
ADVIENTO-BORBE, M. A. A.; HADDIX, M. L.; BINDER, D. L.; WALTERS, Brazil. Biomass and Bioenergy, v. 59, p. 195–207, 2013. https://
D. T.; DOBERMANN, A. Soil greenhouse gas fluxes and global war- doi.org/10.1016/j.biombioe.2013.08.040

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


21

BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Empresa de Pesquisa Energé- DEGASPARI, I. A. M.; SOARES, J. R.; MONTEZANO, Z. F.; DEL GROSSO,
tica. Bases para a consolidação da estratégia brasileira do hidrogê- S. J.; VITTI, A. C.; ROSSETO, R.; CANTARELLA, H. Nitrogen sources
nio. Brasília, DF: MME, 2021. Disponível em: <https://www.epe.gov. and application rates affect emissions of N2O and NH3 in sugarcane.
br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/Publicacoe- Nutrient Cycling in Agroecosystems, v. 116, p. 329–344, 2020.
sArquivos/publicacao-569/Hidroge%CC%82nio_23Fev2021NT%20 https://doi.org/10.1007/s10705-019-10045-w
(2).pdf>. Acesso em: 9 dez. 2023. DOBERMANN, A.; BRUULSEMA, T.; CAKMAK, I.; GERARD, B.; MAJU-
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Empresa de Pesquisa Energé- MDAR, K.; McLAUGHLIN, M.; REIDSMA, P.; VANLAUWE, B.; WOLLEN-
tica. Resolução n° 8, de 18 de agosto de 2020, do Conselho Nacional BERG, L.; ZHANG, F.; ZHANG, X. Responsible plant nutrition: A new
de Política Energética – CNPE. Define as metas compulsórias anuais paradigm to support food system transformation. Global Food Secu-
de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa para rity, v. 33, 100636, 2022. https://doi.org/10.1016/j.gfs.2022.100636
a comercialização de combustíveis. Diário Oficial da União, Brasília,
ECOINVENT. Ecoinvent database. Zurich, 2023. Disponível em:
10 de setembro de 2020. Edição 174, Seção 1, p. 2.
<https://ecoinvent.org/>. Acesso em: 9 dez. 2023.
BRENTRUP, F.; LAMMEL, J.; STEPHANI, T.; CHRISTENSEN, B. Updated
carbon footprint values for mineral fertilizer from different world ESMAEILZADEH, S.; ASGHARIPOUR, M. R.; BAZRGAR, A. B.; SOU-
regions. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON LIFE CYCLE ASSESS- FIZADEH, S.; KARANDISH, F. Assessing the carbon footprint of
MENT OF FOOD (LCA Food 2018), 11., 2018, Bangkok. Proceedings... irrigated and dryland wheat with a life cycle approach in bojnourd.
Bangkok, 2018. 4 p. Environmental Progress and Sustainable Energy, v. 38, n. 4,
e13134, 2019. https://doi.org/10.1002/ep.13134
BSI. British Standards Institution. The Guide to PAS 2050:2011: How
to carbon footprint your products, identify hotspots and reduce EUROPEAN COMMISSION. Joint Research Centre. General guide for
emissions in your supply chain. London, 2011. Disponível em: life cycle assessment: Detailed guidance. 1st edition. Luxembourg:
<https://www.bsigroup.com/globalassets/localfiles/en-th/carbon- Ed. Publication Office of the European Union, 2010.
footprint/pas-2050-2011-guide.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2023. FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations.
CANTARELLA, H.; HORTA NOGUEIRA, L. A.; MOMESSO, L. Amônia Water. Roma, 2023. Disponível em: <https://www.fao.org/water/
verde: reduzindo a pegada de carbono de fertilizantes nitrogena- en/>. Acesso em: 10 nov. 2023.
dos. Informações Agronômicas, n. 18, p. 5–9, 2023. FERTILIZERS EUROPE. Carbon footprinting in fertilizer production.
CANTARELLA, H; DEGASPARI, I. A. M.; ROSSETO, R.; SOUZA, T. R. Quan- Brussels: Fertilizers Europe, 2023. Disponível em: <https://www.
tification of NH3 and N2O emissions and carbon footprint of N fertilizers fertilizerseurope.com/initiatives/carbon-footprint-calculator/>.
in sugarcane. In: INTERNATIONAL PLANT NUTRITION COLLOQUIUM, Acesso em: 10 nov. 2023.
19., 2022, Foz do Iguaçu. Proceedings... São Paulo, 2022.
FERTILIZERS EUROPE. Carbon footprint reference values: Energy
CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A.; MATTOS Jr., D.; BOARETTO, R. efficiency and greenhouse gas emissions in European mineral
M.; RAIJ, B. V. (Ed.). Boletim 100: Recomendações de adubação e fertilizer production and use. Brussels: Fertilizers Europe, 2011.
calagem para o estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronô-
GALDOS, M. V.; SOARES, J. R.; LOURENÇO, K. S.; HARRIS, P.; ZERI,
mico de Campinas, 2022. 489 p.
M.; CUNHA-ZERI, G.; VARGAS, V.; DEGASPARI, I. A. M.; CANTARELLA,
CARVALHO, A.; M.; OLIVEIRA, A. D.; COSER, T. R.; SOUSA, T. R.; H. Multi-experiment assessment of soil nitrous oxide emissions in
LIMA, C. A.; RAMOS, M. L. G.; MALAQUIAS, J. V.; GONÇALVES, A. sugarcane. Nutrient Cycling in Agroecosystems, v. 127, p. 375–392,
D. A.; RIBEIRO JÚNIOR, W. Q. N2O emissions from sugarcane fields 2023. https://doi.org/10.1007/s10705-023-10321-w
under contrasting watering regimes in the Brazilian savannah.
Environmental Technology & Innovation, v. 22, 101470, 2021. GRASSINI, P.; CASSMAN, K. High-yield maize with large net energy
https://doi.org/10.1016/j.eti.2021.101470 yield and small global warming intensity. PNAS, v. 109, n. 4,
p. 1074–1079, 2012. https://doi.org/10.1073/pnas.1116364109
COOL FARM ALLIANCE. The cool farm tool. Grantham, 2023. Dispo-
nível em: <https://coolfarm.org/the-tool>. Acesso em: 9 dez. 2023. HILLIER, J.; HAWES, C.; SQUIRE, G.; HILTON, A.; WALE, S.; SMITH,
CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanha- P. The carbon footprints of food crop production. International
mento da safra brasileira – Grãos: Primeiro levantamento – safra Journal of Agricultural Sustainability, v. 7, n. 2, p. 107–118, 2009.
2023/24. v. 11, n. 1, p. 1–117, 2023. Brasília, DF: CONAB, 2023. doi:10.3763/ijas.2009.0419

CRIPPA, M.; SOLAZZO, E.; GUIZZARDI, D.; MONFORTI-FERRARIO, F.; HOU, P.; LIU, Y.; LIU, W. et al. How to increase maize production
TUBIELLO, F. N.; LEIP, A. Food systems are responsible for a third without extra nitrogen input. Resources, Conservation and
of global anthropogenic GHG emissions. Nature Food, v. 2, n. 3, Recycling, v. 160, 104913, 2020. https://doi.org/10.1016/j.res-
p. 198–209 2021. https://doi.org/10.1038/s43016-021-00225-9 conrec.2020.104913
DACCACHE, A.; CIURANA, J. S.; RODRIGUEZ DIAZ, J. A.; KNOX, J. W. HOXHA, A.; CHRISTENSEN, B. The carbon footprint of fertiliser
Water and energy footprint of irrigated agriculture in the Mediter- production: Regional reference values. In: International Fertiliser
ranean region. Environmental Research Letters, v. 9, n. 12, 124014, Society Conference, 2018. Proceedings... Prague: International
2014. DOI 10.1088/1748-9326/9/12/124014 Fertiliser Society, 2019. 21 p.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


22

HUNGRIA, M.; BARBOSA, J. Z.; RONDINA, A. B. L.; NOGUEIRA, M. McMANUS, M.; TAYLOR, C. The changing nature of life cycle asses-
A. Improving maize sustainability with partial replacement of N sment. Biomass and Bioenergy, v. 82, p. 13–26, 2015. https://doi.
fertilizers by inoculation with Azospirilum braziliense. Agronomy org/10.1016/j.biombioe.2015.04.024
Journal, p. 1–12, 2022. https://doi.org/10.1002/agj2.21150 MEKONNEN, M. M.; ROMANELLI, T. L.; RAY, C.; HOESKTRA, A. Y.;
IBICT. Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. LISKA, A. J.; NEALE, C. M. U. Water, energy and carbon footprint
O que é avaliação do ciclo de vida? Disponível em: <https://acv. of bioethanol from the U.S. and Brazil. Environmental Science &
ibict.br/acv/o-que-e-o-acv/>. Acesso em: 27 nov. 2023. Technology, v. 52, p. 14508–14518, 2018. https://doi.org/10.1021/
ILLY. Impact Report 2022. Trieste, 2022. Disponível em: <https:// acs.est.8b03359
www.illy.com/en-ww/who-we-are/illy-mission-values?lang=en>. MIDDELAAR, C. E. van; CEDERBERG, C.; VELLINGA, T. V.; VAN DER
Acesso em: 28 nov. 2023. WERF, H. M. G.; BOER, I. J. M. Exploring variability in methods and
IMEA. Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária. Milho. data sensitivity in carbon footprints of feed ingredients. Interna-
Cuiabá, 2023. Disponível em: <https://www.imea.com.br/imea- tional Journal of Life Cycle Assessment, v. 18, p. 768–782, 2013.
site/indicador-milho>. Acesso em: 20 out. 2023. https://doi.org/10.1007/s11367-012-0521-9
ISO. International Organization for Standardization. ISO 14067:2018: MONTEIRO, R. C.; FRANHINI, J. C.; JANTALIA, C. P.; URQUIAGA, S.;
Greenhouse gases: – Carbon footprint of products. Disponível em: ALVES, B. J. R.; BODDEY, R. M. Soil nitrous oxide emissions from a
<https://www.iso.org/standard/71206.html>. Acesso em: 2 out. 2023. soybean-wheat succession under different tillage systems in Sou-
thern Brazil. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 47, e0220135,
JATE, M.; LAMMEL, J. Effect of balanced and integrated crop nutri-
2023. https://doi.org/10.36783/18069657rbcs20220135
tion on sustainable crop production in a classical long-term trial.
In: Sustainable crop production – Recent advances. London: Inte- MORDINI, M.; NEMECEK, T.; GAILLARD, G. Carbon & water foo-
chOpen, 2022. 25 p. http://dx.doi.org/10.5772/intechopen.102682 tprint of oranges and strawberries: A literature review. Zurich:
Federal Department of Economic Affairs, 2009. 76 p. Disponível
LOURENÇO, K. S.; DIMITROY, M. R; PIJL, A.; SOARES, J. R.; CARMO, J.
em: <https://saiplatform.org/uploads/Library/WG%20Fruit%20
B.; VEEN, J. A. van; CANTARELLA, H.; KURAMAE, E. E. Dominance of
%20ART%20Final%20Report.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2023.
bacterial ammonium oxidizers and fungal denitrifiers in the complex
nitrogen cycle pathways related to nitrous oxide emission. GCB Bioe- MOREIRA, M. M. R.; SEABRA, J. E. A.; LYND, L. R.; ARANTES, S. M.;
nergy, v. 10, p. 645–660, 2018. https://doi.org/10.1111/gcbb.12519 CUNHA, M. P.; GUILHOTO, J. J. M. Socio-environmental and land-use
impacts of double-cropped maize ethanol in Brazil. Nature Sustai-
MA, B. L.; LIANG, B. C.; BISWAS, D. K.; MORRISON, M. J.; McLAU-
nability, v. 3, p. 209–216, 2020. doi:10.1038/s41893-019-0456-2
GHLIN, N. B. The carbon footprint of maize production as affected
by nitrogen fertilizer and maize-legume rotations. Nutrient Cycling NESTLÉ. Relatório de criação de valor compartilhado e susten-
in Agroecosystems, v. 94, p. 15–31, 2012. https://doi.org/10.1007/ tabilidade de 2022. São Paulo, 2022. Disponível em: <https://
s10705-012-9522-0 www.nestle.com.br/sites/g/files/pydnoa436/files/2023-05/Nes-
MAPA. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Proje- tle_RCVCS2022_Conext_v3.pdf>. Acesso em 28 nov. 2023.
ções do agronegócio: Brasil 2022/23 a 2032/33, Projeções a longo OTTO, R.; CANTARELLA, H.; GUELFI, D.; CARVALHO, M. C. C. Nitro-
prazo. Brasília, DF, 2023. gênio na sustentabilidade de sistemas agrícolas. Informações
MARTIN, A. How green is my orange? The New York Times, Agronômicas, n. 9, p. 30–50, março 2021.
New York, 22 jan. 2009. Disponível em: <https://www.nytimes. OTTO, R.; FERRAZ-ALMEIDA, R.; SOARES, J. R.; CARNEIRO, P. V.;
com/2009/01/22/business/worldbusiness/22iht-22pepsi.19583527. COSER, T. R.; HOROWITZ, N.; SOARES. L. C.; NOVAES, G. B.; VARGAS,
html>. Acesso em 27 nov. 2023. V. P.; HOLZSCHUH, M. J. Nitrogen fertilizer management on cotton
MARTINS, A. A. Fluxos de N2O, CH4 e CO2 em citros adubado via (Gossypium hirsutum L.) yield and quality in two tropical soils.
fertirrigação. 2014. 103 p. Dissertação (Mestrado) – Instituto European Journal of Agronomy, v. 142, 126672, 2023. https://doi.
Agronômico, Campinas, 2014. org/10.1016/j.eja.2022.126672
MARTINS, M. R.; JANTALIA, C. P.; POLIDORO, J. C.; BATISTA, J. N.; PAUSTIAN, K.; LARSON, E.; KENT, J.; MARX, E.; SWAN, A. Soil C seques-
ALVES, B .J. R.; BODDEY, R. M.; URQUIAGA, S. Nitrous oxide and tration as biological negative emission strategy. Frontiers in Climate,
ammonia emissions from N fertilization of maize crop under no-till v. 1, article 8, 2019. https://doi.org/10.3389/fclim.2019.00008
in a Cerrado soil. Soil & Tillage Research, v. 151, p. 75–81, 2015. PEPSICO. 2022 ESG Summary overview: A high-level overview of
https://doi:10.1016/j.still.2015.03.004 our digital 2022 ESG Summary. New York, 2022. Disponível em:
MASCARENHAS, Y. S.; SILVA, M. A. S. da; CORRECHEL, V.; SANTOS, <https://www.pepsico.com/our-impact/sustainability/report-
A. B. dos; CARVALHO, M. T. de M.; MADARI, B. E.; COELHO, A. S.; downloads>. Acesso em: 28 nov. 2023.
GONÇALVES, G. M. de O.; CAETANO, P. H. P. Emission of nitrous QI, J.; YANG, S.; XUE, J.; LIU, C.; DU, T.; HAO, J.; CUI, F. Response of
oxide in flooded rice cultivation in Brazil. Pesquisa Agropecuária carbon footprint of spring maize production to cultivation patterns
Brasileira, v. 55, e01497, 2020. https://doi.org/10.1590/S1678- in the Loess Plateau, China. Journal of Cleaner Production, v. 187,
3921.pab2020.v55.01497 p. 525–536, 2018. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2018.02.184

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


23

QUAGGIO, J. A.; SOUZA, T. R.; ZAMBROSI, F. C. B.; MATTOS JR., D.; International Journal of Life Cycle Assessment, v. 23, p. 225–250,
BOARETTO, R. M.; SILVA, G. Citrus fruit yield response to nitrogen 2018. https://doi.org/10.1007/s11367-017-1325-8
and potassium fertilization depends on nutrient-water manage- UUSUBHARATANA, P.; PHUNGRASSAMI, H. Ecological footprint
ment system. Scientia Horticulturae, v. 249, p. 329–333, 2019. analysis of canned sweet corn. Journal of Ecological Engineering,
https://doi.org/10.1016/j.scienta.2019.02.001 v. 17, p. 22–29, 2016. https://doi.org/10.12911/22998993/63320
SARKIS, L. F.; DUTRA, M. P.; SANTOS, C. A.; ALVES, B. J. R.; URQUIAGA, VIDOVIC, D.; MARMIER, A.; ZORE, L.; MOYA, J. A. Greenhouse
S.; GUELFI, D. Nitrogen fertilizers technologies as a smart strategy to gas emission intensities of the steel, fertilisers, aluminium
mitigate nitrous oxide emission and preserve carbon and nitrogen and cement industries in the EU and its main trading partners.
soil stocks in a coffee crop system. Atmospheric Environment: X, Luxembourg: Publications Office of the European Union, 2023.
v. 20, 100224, 2023. https://doi.org/10.1016/j.aeaoa.2023.100224 doi:10.2760/359533, JRC134682.
SEEG. Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito WANG, Z.; WEN, X.; ZHANG, H.; LU, X.; CHEN, F. Net energy yield and
Estufa - Observatório do Clima. Estimativa de emissões de gases carbon footprint of summer corn under different N fertilizer rates in
de efeito estufa dos sistemas alimentares no Brasil. 2023. Dispo- the North China Plain. Journal of Integrative Agriculture, v. 14, n. 8,
nível em: <https://www.oc.eco.br/wp-content/uploads/2023/10/ p. 1534–1541, 2015. https://doi.org/10.1016/S2095-3119(15)61042-5
SEEG_alimentares.pdf>. Acesso em 20 nov. 2023.
WRI. World Resources Institute. Product life cycle accounting and
SIGNOR, D.; CERRI, C. E. P.; CONANT, R. N2O emissions due to nitro- reporting standard. Washington DC, 2011. Disponível em: <https://
gen fertilizer application in two regions of sugarcane cultivation in ghgprotocol.org/sites/default/files/standards/Product-Life-Cycle-
Brazil. Environmental Research Letters, v. 8, 015013, 2015. Accounting-Reporting-Standard_041613.pdf>
SMITH, P.; MARTINO, D.; CAI, Z; GWARY, D.; JANZEN, H.; KUMAR, P.; XU, Z.; LIU G.; XU, W.; DAI, Y. Evaluation of greenhouse gas emissions
McCARL, B.; OGLE, S.; O’MARA, O.; RICE, C.; SCHOLES, B.; SIRON- from maize production in China. Chemical Engineering Transactions,
TEKO, O. Agriculture. In: In: METZ, B.; DAVIDSON, O. R.; BOSCH, P. v. 70, p. 1309–1314, 2018. https://doi.org/10.3303/CET1870219
R.; DAVE, R.; MEYER, L. A. (Ed.). Climate Change 2007: Mitigation
of climate change. Contribution of Working Group III to the Fourth YAN, M.; CHENG, K.; LUO, T.; YAN, Y.: PAN, G.; REES, R. M. Carbon
Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate footprint of grain crop production in China – based on farm survey
Change. Cambridge, New York: Cambridge University Press, 2007. data. Journal of Cleaner Production, v. 104, p. 130–138, 2015.

SMITH, C.; NICHOLLS, Z. R. J.; ARMOUR, K.; COLLINS, W.; FORS- ZHANG, D.; SHEN, J.; ZHANG, F.; LI, Y. E.; ZHANG, W. Carbon footprint
TER, P.; MEINSHAUSEN, M.; PALMER, M. D.; WATANABE, M. The of grain production in China. Scientific Reports, v. 7, p. 1–11, 2017.
earth’s energy budget, climate feedbacks, and climate sensitivity https://doi.org/10.1038/s41598-017-04182-x
supplementary material. In: MASSON-DELMOTTE, V., P. et al. (Ed.). ZHANG, W.; HE, X.; ZHANG, Z.; GONG, S.; ZHANG, Q.; ZHANG, W.;
Climate change 2021: The physical science basis. Contribution of CHEN, X. Carbon footprint assessment for irrigated and rainfed
working group I to the Sixth Assessment Report of the Intergovern- maize (Zea mays L.) production on the Loess Plateau of China.
mental Panel on Climate Change. Cambridge, New York: Cambridge Biosystems Engineering, v. 167, p. 75–86, 2018.
University Press, 2021. Disponível em: <https://www.ipcc.ch/report/ ZHANG, X.; PU, C.; ZHAO, X.; XUE, J.; ZHANG, R.; NIE, Z.; CHEN, F.;
ar6/wg1/downloads/report/IPCC_AR6_WGI_Chapter07_SM.pdf>. LAL, R.; ZHANG, H. Tillage effects on carbon footprint and ecosystem
SNYDER, C. S.; BRUULSEMA, T. W.; JENSEN, T. L.; FIXEN, P. E. Review services of climate regulation in a winter wheat-summer maize cro-
of greenhouse gas emissions from crop production systems and pping system of the North China Plain. Ecological Indicators, v. 67,
fertilizer management effects. Agriculture, Ecosystems and Envi- p. 821–829, 2016. https://doi.org/10.1016/j.ecolind.2016.03.046
ronment, v. 133, n. 3/4, p. 247–266, 2009. ZHANG, Z.; HUANG, J.; YAO, Y.; PETERS, G.; MAcDONALD, B.; LA
SOARES, J. R.; CANTARELLA, H.; VARGAS, V. P.; CARMO, J. C.; MARTINS, ROSA, A. D.; WANG, Z.; SCHERER, L. Environmental impacts of
A. A.; SOUSA, R. M.; ANDRADE, C. A. 2015. Journal of Environmental cotton and opportunities for improvement. Nature Reviews Earth
Quality, v. 44, p. 423–430, 2015. doi:10.2134/jeq2014.02.0096 & Environment, v. 4, p. 703–715, 2023.
SOUZA, T. L.; OLIVEIRA, D. P.; SANTOS, C. F.; REIS, T. E. P.; CABRAL, ZHENG, H.; YING, H.; YIN, Y.; WANG, Y.; HE, G.; BIAN, Q.; YANG, Q.
J. P. C.; RESENDE, E. R. S.; FERNANDES, T. J.; SOUZA, T. R.; BUILES, Irrigation leads to greater maize yield at higher water productivity
V. R.; GUELFI, D. Nitrogen fertilizer technologies: opportunities and lower environmental costs: A global meta-analysis. Agriculture,
to improve nutrient use efficiency towards sustainable coffee Ecosystems & Environment, v. 273, p. 62–69, 2019.
production systems. Agriculture, Ecosystems and Environment, ZSCHORNACK, T.; ROSA, C. M.; REIS. C. E. S.; PEDROSO, G. M.;
v. 345, 108317, 2023. https://doi.org/10.1016/j.agee.2022.108317 CAMARGO, E. S.; SANTOS, D. C.; BOENI, M.; BAYER. C. Soil CH4 and
STAPPEN, F. van; MATHOT, M.; LORIERS, A.; DELCOUR, A.; STILL- N2O emissions from rice paddy fields in Southern Brazil as affec-
MANT, D.; PLANCHON, V.; BODSON, B.; LÉONARD, A.; GOFFART J. ted by crop management levels: a threeyear field study. Revista
Sensitive parameters in local agricultural life cycle assessments: Brasileira de Ciência do Solo, v. 42, e0170306, 2018. https://doi.
the illustrative case of cereal production in Wallonia, Belgium. org/10.1590/18069657rbcs20170306

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


24
24

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


25
25

ARTIGO TÉCNICO 2
Fertilizantes NK no Grânulo:
Implicações Operacionais e Agronômicas no
Cultivo do Milho de Segunda Safra
Mariana Gabriele Marcolino Gonçalves1, Rodrigo Teixeira Avila2, Lucas Cruciol Maia3,
Thiago Rodrigo Schossler de Souza4, Thiago Martins Machado5

1. INTRODUÇÃO A janela estreita de semeadura da segunda safra é um


grande desafio em termos operacionais. A solução tem sido
O aumento do uso de tecnologias visando a otimização
aumentar a velocidade das operações, a largura de aplicação
das operações agrícolas tem contribuído para a economia de
e fazer as adubações a lanço. Entretanto, isso tem gerado
insumos e a agilidade operacional. Isto tem permitido aos um problema muitas vezes silencioso: a desuniformidade na
agricultores fazer o cultivo da safra de soja e da segunda safra aplicação de fertilizantes, resultando em perdas de produti-
de milho dentro de uma janela de plantio estreita. Conside- vidade, cuja extensão ainda é desconhecida e negligenciada.
rando-se o manejo da fertilidade do solo, tem-se ampliado Misturas de grânulos contendo nitrogênio, fósforo e potássio
cada vez mais a aplicação a lanço bem como a largura das (NPK), ou mesmo nitrogênio e potássio (NK), são produzidas
faixas de aplicação de fertilizantes. Isto tem sido uma exce- com base na simples mistura de matérias primas, como, por
lente ferramenta de ganho operacional no contexto de cul- exemplo, ureia, sulfato de amônio, cloreto de potássio e fos-
tivo dos sistemas soja-milho e soja-algodão. Por outro lado, fato monoamônico (MAP), as quais apresentam grânulos de
faz-se necessária a adequação dos fertilizantes para garantir tamanho, formato e densidade distintos. Associadas às largas
a eficiência na fertilização, tendo em vista que esses insu- amplitudes de aplicação, é provável que grandes distorções
mos podem representar até 30% do custo de produção das na faixa de aplicação aconteçam, contribuindo para a desuni-
culturas e que uma adubação adequada pode resultar em formidade na distribuição efetiva de nutrientes. Além disso,
aumentos significativos de produtividade. as misturas de grânulos, por terem um processo de produ-

Abreviações: CV = coeficiente de variação; K = potássio; MAP = fosfato monoamônico; N = nitrogênio; P = fósforo; PMG = peso de
mil grãos.

1
E ngenheira Agrônoma, Dra., EuroChem, Paulínia, SP; email: mariana.marcolino@eurochemsam.com
2
Engenheiro Agrônomo, Dr., EuroChem, Paulínia, SP; email: rodrigo.avila@eurochemsam.com
3
Engenheiro Agrônomo, Paulínia, SP; e-mail: lucas.maia@fto.com.br
4
Engenheiro Agrônomo, Dr., EuroChem, Querência, MT, e-mail: thiago.souza@fto.com.br
5
Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor da Universidade Federal do Mato Grosso, Sinop, MT; email: tm.machado@hotmail.com

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


26

ção mais rústico, podem apresentar maior empoamento, no contexto de cultivo de sistemas, e (ii) avaliar a resposta
com maior probabilidade de embuchamento da máquina agronômica do milho de segunda safra a estas duas fontes
no ato da aplicação, quando comparadas aos fertilizantes de nutrientes.
complexos. Nesse cenário, os fertilizantes complexos NK no
grânulo têm ganhado cada vez mais notoriedade entre os 2. EXPERIMENTO 1: DISTRIBUIÇÃO DE
agricultores. Em função desta característica, existe a tendên- FERTILIZANTES NA ADUBAÇÃO DE COBERTURA
cia de maior homogeneidade e precisão na aplicação de fer- DO MILHO DE SEGUNDA SAFRA
tilizantes complexos em comparação à mistura de grânulos. Com a finalidade de comparar a homogeneidade de
Além disso, a alta tecnologia embutida na produção desses distribuição e a faixa de aplicação ideal, foram considera-
fertilizantes garante maior qualidade física, bem como menor dos dois fertilizantes: i) complexo (21-00-21) e ii) mistura
necessidade de manutenção das máquinas para solucionar de grânulos (20-00-20). O ensaio foi realizado em campo,
questões de embuchamento. com distribuidor de fertilizantes contendo mecanismo
O manejo nutricional das culturas é bastante complexo dosador volumétrico e mecanismo distribuidor centrífugo,
e deve ser feito no momento adequado, com os nutrientes modelo Hércules 10000, da marca Stara. Foram utilizadas
e fontes corretas. Nesse sentido, é fundamental para os bandejas distribuídas de forma transversal ao maquinário
componentes de produtividade a utilização de fontes eficien- (Figura 1).
tes de fertilizantes. A eficiência de uma fonte de nutriente
depende não somente das suas características físicas, mas
também das características químicas, as quais acarretam
importantes alterações nas dinâmicas do nutriente, tanto no
solo quanto na planta. Fertilizantes complexos não apresen-
tam tecnologia apenas com relação às propriedades físicas,
mas também químicas. O processo produtivo dos fertilizan-
tes NPK complexos permite controlar a proporção entre dife- Figura 1. Sentido da passada do maquinário no campo e disposição
rentes formas ou mesmo os pares iônicos dos nutrientes (por das bandejas.
exemplo, proporção de N-nítrico e N-amoniacal ou mesmo
potássio em par com o nitrato e não com o cloreto) o que Após a distribuição e a coleta dos fertilizantes nas res­-
pode contribuir sobremaneira para o aumento da eficiência pectivas bandejas foram determinadas a massa e a compo-
de absorção destes nutrientes. sição química de cada uma das amostras. Posteriormente,
Tendo em vista o exposto, os objetivos deste artigo foi determinado o coeficiente de variação, por meio do
são: (i) comparar a qualidade da distribuição de misturas software Adulanço®. Os parâmetros físico-químicos e as
de fertilizantes e de fertilizantes complexos, em termos análises granulométricas dos fertilizantes são apresentados
físicos, levando-se em conta as práticas atualmente vigentes nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Parâmetros físico-químicos dos fertilizantes avaliados e dose considerada na calibração.

Parâmetro / Fertilizante 21-00-21 20-00-20

Composição

NPK no grânulo Mistura de ureia, sulfato de amônio e KCl


Ângulo de repouso (°) 33 39
Umidade (%) 2,6 2,8
Densidade (g dm-³) 0,95 0,75
Dose aplicada (kg ha-1) 239 250

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


27

Tabela 2. A
 nálise granulométrica dos fertilizantes de acordo com • Perfil de distribuição de fertilizantes e segregação
a recomendação do MAPA (2014).
Características físicas, como homogeneidade, consistên-
Percentuais retidos (%) cia, granulometria, dureza e fluidez, influenciam o perfil de
Peneiras distribuição de um fertilizante (ALCARDE et al., 1989). O perfil
(mm) 20-00-20 21-00-21 de distribuição do fertilizante é uma representação gráfica que
caracteriza a sua deposição no campo ao longo de uma linha
Pó 1,95 0,09
transversal à passagem do maquinário. No geral, o fertilizante
0,50 2,40 0,10 complexo 21-00-21 apresentou menor variação de distribuição,
1,0 6,05 0,22
quando comparado à mistura de grânulos 20-00-20 (Figura 2).
Além disso, percebe-se que o fertilizante complexo 21-00-21
2,0 19,30 5,06 apresentou maior distribuição na parte central do perfil
2,8 58,10 86,12 (Figura 2A), enquanto a distribuição da mistura de grânulos
20-00-20 se concentrou nas extremidades (Figura 2B). Essas
4,8 11,35 8,02 discrepâncias são explicadas pela alta variação de diâmetros
apresentada pelo fertilizante 20-00-20 em comparação com
o fertilizante complexo 21-00-21, conforme a Tabela 2.

A
Massa (g)

Distância entre bandejas (m)

B
Massa (g)

Distância entre bandejas (m)

Figura 2. Perfis de distribuição dos fertilizantes avaliados: A) fertilizante complexo 21-00-21 e B) mistura de grânulos 20-00-20.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


28

Tendo em vista os perfis de distribuição observados, 3. EXPERIMENTO 2: EFICIÊNCIA AGRONÔMICA


percebe-se que, sobretudo para a mistura de grânulos DO MILHO EM FUNÇÃO DO SUPRIMENTO DE
20-00-20, houve maior discrepância entre as linhas que mais NITROGÊNIO E POTÁSSIO POR DIFERENTES
receberam e as que menos receberam fertilizantes (Figura 2). FONTES
Assim, onde houve excesso de deposição de fertilizantes existe
maior tendência de acamamento e maior incidência de doenças Além de se comparar os fertilizantes em relação às
em função do maior vigor ocasionado pela nutrição desba- características físicas (mistura de grânulos versus com-
lanceada das plantas. Por outro lado, locais que receberam plexo), testou-se a influência da composição química,
menores doses de nutrientes tendem a apresentar deficiências em termos de doses aplicadas de nutrientes e forma
nutricionais (REYNALDO et al., 2016), comumente clorose, e química dos nutrientes (NH 4+ e/ou NO 3-), no aumento
diminuição de crescimento. Dessa forma, independentemente de produtividade da cultura do milho de segunda safra.
do cenário analisado, ocorrerá redução de produtividade em Para tanto, foi realizado um ensaio para avaliar o desempe-
decorrência dos desbalanços nutricionais. nho agronômico do milho em função de doses crescentes de
misturas de grânulos (30-00-20, constituído de ureia e KCl,
• Largura de trabalho efetiva
A largura de trabalho ideal, também conhe-
cida como largura de trabalho efetiva, é aquela A
que, sendo a maior possível, apresenta um valor
de coeficiente de variação (CV, %) dentro do limite
Coeficiente de variação (%)

desejado/aceitável. No Brasil, tem-se adotado o


CV com valor limite de 20%. A largura de trabalho
ideal foi obtida utilizando-se o software Adulanço®
(GONÇALVES et al., 2003), que define a largura
efetiva em função da uniformidade de distribuição
do fertilizante, e está apresentada na Figura 3. A lar-
gura efetiva possibilitada pelo fertilizante complexo
21-00-21, com CV de 20%, foi de 28 m, enquanto a
permitida pela mistura de grânulos, com este mesmo
CV, foi de 14 m, ou seja, haverá menor número de
passadas do maquinário na área com a utilização
do fertilizante complexo. Dessa forma, as perdas
de produtividade decorrentes do amassamento das
plantas durante a adubação de cobertura serão pra-
ticamente 100% menores (Figura 4). Considerando
uma área de 100 m de largura, para aplicação da
mistura 20-00-20 serão realizadas sete passadas do B
maquinário, enquanto para o fertilizante complexo
21-00-21 serão apenas quatro.
Coeficiente de variação (%)

O perfil de distribuição está intimamente


relacionado à variação da fórmula de cada fer-
tilizante que é aplicado no campo. Espera-se
que, dentro da faixa de trabalho efetiva, ocorra
a menor variação possível da fórmula em relação
à fórmula garantida do fertilizante. Os nutrientes
aplicados variaram entre -0,1% e -1,0% (Figura 5A)
para o fertilizante complexo 21-00-21, enquanto
na mistura 20-00-20 a fórmula variou entre -0,7%
e +3,2%. Isto representa até 16% de variação
da composição de nutrientes em relação à fór-
mula original da mistura de grânulos (20-00-20)
(Figura 5B). Mesmo com uma aplicação mais
uniforme, o fertilizante complexo 21-00-21 ainda
resulta em uma variação da fórmula. Isto é função Figura 3. R
 elação entre os valores de coeficiente de variação da distribuição
de questões analíticas laboratoriais e de pequenas transversal e largura de aplicação para o fertilizante 21-00-21 (A) e a
diferenças nos tamanhos dos grânulos. mistura de grânulos (B).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


29

Mistura 20-00-20 Fertilizante complexo 21-00-21

Figura 4. Número de passadas demandadas de acordo com a largura efetiva permitida por fertilizante avaliado.
Teor garantido pela fórmula (%)

-0,7 -0,6 -1,0 0,0 -0,8

NNaplicado
aplicado K2O aplicado
Teor garantido pela fórmula (%)

N aplicado K2O aplicado


Figura 5. Segregação de fertilizantes considerando o reservatório da adubadora cheio: A) fertilizante complexo 21-00-21 e B) mistura
de grânulos 20-00-20. A linha vermelha indica a fórmula garantida do fertilizante. Os números na parte inferior das colunas
representam as variações, em pontos percentuais, da fórmula garantida.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


30

e 20-00-20, constituído de ureia, sulfato de amônio e KCl) e uso de fertilizante complexo, decorrente das formas quími-
de fertilizante complexo (21-00-21). Neste ensaio garantiu-se cas nas quais se encontram. O N do 21-00-21 encontra-se
uma aplicação homogênea e adequada de todas as fontes. na forma nítrica (NO3-) e amoniacal (NH4+) na proporção de
As variáveis analisadas foram: produtividade (sacas por 1:1. A utilização de duas fontes de N permite à planta regular
hectare), peso de mil grãos (PMG) e número de grãos por melhor o balanço de cátions e ânions internos, promovendo
espiga. A área apresenta solo argiloso (40% de argila) e foi maior produtividade.
realizada correção dos níveis de enxofre para atingir o nível
Na perspectiva da dinâmica do N no solo, a forma nítrica
crítico do nutriente no solo.
é transportada rapidamente via fluxo de massa enquanto
• Incrementos de produtividade em função de doses a forma amoniacal poderá ficar adsorvida às superfícies
de fertilizantes das argilas do solo, concorrendo para o fornecimento mais
Observando-se as três regressões apresentadas na longevo de N. Isto não ocorre com fórmulas à base de ureia
Figura 6, notam-se três respostas distintas de produtividade e sulfato de amônio. Já na perspectiva da planta, há também
em função do acréscimo da dose de fertilizante, e as maio- uma sinergia de absorção de formas nítricas e amoniacais
res produtividades estão sempre atreladas ao fertilizante devido ao balanço de cargas que propiciam a manutenção
complexo 21-00-21. Com a dose de 100 kg ha-1 de N as dis- da homeostase iônica, tanto do citosol quanto do vacúolo
crepâncias entre as fontes avaliadas são máximas. das raízes. A forma nítrica pode ser facilmente depositada no
Analisando-se o desempenho das diferentes fontes de vacúolo sem prejuízo celular, diferente da fonte amoniacal,
fertilizante na dose recomendada de 100 kg ha-1 percebe-se que uma vez absorvida é metabolizada prontamente, haja
que o PMG, seguido pelo número de grãos por espiga, cor- vista a sua potencial toxidez quando em grandes quantida-
roboram as maiores produtividades (Figura 7). Além disso, des. Destaca-se, ainda, que em função do processo exclusivo
plantas adubadas com o fertilizante complexo 21-00-21 de produção deste fertilizante, o K do fertilizante complexo
possuem maior conteúdo de N e K, comparadas às plantas 21-00-21 está ligado ao nitrato, formando KNO3, e não ao
adubadas com as misturas de grânulos 30-00-20 e 20-00-20 cloro, como ocorre no KCl. O NO3 é um par iônico que lixivia
(Figuras 7D e 7E). Os maiores conteúdos de N e K indicam menos que o Cl, podendo promover um fornecimento mais
maior eficiência na absorção de tais nutrientes a partir do longevo de K.
Produtividade (sacas ha-1)

Sem fertilizante N50 N100 N150 N200


Dose de N (kg ha-1)

Figura 6. Produtividade do milho em função de doses crescentes de diferentes fontes de N e K.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


31

A B
Produtividade (sacas ha-1)

Peso médio de grãos (g)


Fertilizante complexo Fertilizante complexo

C D
Conteúdo de N (mg planta-1)
Número de grãos por espiga

Fertilizante complexo Fertilizante complexo

E
Conteúdo de K (mg planta-1)

Fertilizante complexo

Figura 7. Parâmetros produtivos e nutricionais do milho segunda safra suprido por diferentes fontes de nitrogênio e potássio na dose
de 100 kg ha-1 de N.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


32

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS qualidade física, maior dose de K2O aplicada em relação ao


30-00-20 e ainda devido à forma química do seu N ser NH4+
O fertilizante complexo 21-00-21 permitiu uma faixa
de aplicação ideal 100% maior do que a proporcionada e NO3- e não apenas NH4+ como nas demais fontes.
pela mistura de grânulos 20-00-20. Isso ocorreu devido às
menores variações na distribuição e na composição dos REFERÊNCIAS
nutrientes do fertilizante complexo em relação à fórmula. ALCARDE, J. C.; GUIDOLIN, J. A.; LOPES, A. S. Os adubos e a
Os resultados demonstram que os fertilizantes complexos eficiência das adubações. São Paulo: ANDA, 1989. 35 p.
se adequam melhor ao atual cenário de aplicação em largas GONÇALVES, A. O.; MOLIN, J. P.; MENEGATTI, L. A. A. Adu-
faixas no campo e em altas velocidades, contribuindo para
lanço 2.0: software para análise de distribuição transversal.
um ganho operacional do sistema sem perdas de eficiência
Revista Brasileira de Agrocomputação, Lavras, v. 5, n. 1,
na distribuição dos nutrientes.
p. 42–48, 2003.
Em termos agronômicos, o fertilizante complexo
MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
21-00-21 forneceu maior conteúdo de N e K, o que con-
tribuiu para maior peso de mil grãos e maior número de Secretaria de Defesa Agropecuária. Manual de métodos
grãos por espiga, resultando em maior produtividade, analíticos oficiais para fertilizantes corretivos. Brasília,
quando comparado aos fertilizantes misturas de grânulos 2014.
30-00-20 e 20-00-20. REYNALDO, É. F.; MACHADO, T. M.; TAUBINGER, L.; QUA-
Os melhores resultados obtidos com o uso do fertili- DROS, D. de. Distribuição de fertilizantes a lanço em função
zante complexo 21-00-21 ocorreram muito provavelmente da qualidade do insumo. Revista Energia na Agricultura,
devido à interação de aspectos positivos relacionados à sua v. 31, n. 1, , p. 24-30, 2016.

CURSO ON-LINE SOBRE NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO


DAS PRINCIPAIS CULTURAS COMERCIAIS
DO BRASIL

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


33
33

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


34
34

ARTIGO TÉCNICO 3
Corte de Seções e Telemetria em
Adubadoras Centrífugas:
Recursos Tecnológicos para Melhorar a
Eficiência no Uso de Fertilizantes
Vinicius Grillo1, Evelyn Fernandes2, Leandro Maria Gimenez3

1. INTRODUÇÃO nutrientes é obtido desde que o produto recomendado seja


distribuído de maneira precisa e corretamente dosado em
A intensificação da produção agrícola é acompa-
toda a extensão do talhão (REETZ, 2017).
nhada pelo aporte contínuo de nutrientes no sistema, desde
Os principais tipos de produtos utilizados na agricultura
a construção do perfil do solo em áreas em início de uso até
são os pós e os grânulos. Estima-se que, no Brasil, o consumo
a manutenção da fertilidade de sistemas em produção por
total médio no período de 2017 a 2020 foi de 36,7 milhões
longos períodos. Neste contexto, a aplicação de fertilizantes de toneladas de fertilizantes ao ano, com destaque para os
deve assegurar a quantidade suficiente de nutrientes em todo três principais macronutrientes: nitrogênio (4,5 milhões de
o ciclo da cultura, tanto em aplicações na implantação quanto toneladas), fósforo (5,4 milhões de toneladas) e potássio
ao longo do desenvolvimento das plantas, nas aplicações de (6,2 milhões de toneladas) (CUNHA et al., 2023). Dentre as
cobertura. Quanto menores as janelas para as aplicações, principais culturas em área plantada no país, soja, milho,
maiores os benefícios das tecnologias que permitem alta cana-de-açúcar e feijão respondem por 45,7%, 21,8%, 11,1%
capacidade operacional, desde que mantenham a uniformi- e 3,4%, respectivamente, do consumo desses nutrientes
dade em toda a faixa de aplicação. O fornecimento eficaz dos (IBGE, 2019).

Abreviações: CCE = capacidade de campo efetiva; CCO = capacidade de campo operacional; EfC = eficiência de campo;
EfCT = eficiência de campo teórica; Ti = tempo de interrupção; Tm = tempo de máquina; Tp = tempo de produção; Tpr = tempo
de preparo.

1
Graduando em Engenharia Agronômica, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"/USP; e-mail: vinicius.grillo@jacto.com.br
2
Graduanda em Mecanização em Agricultura de Precisão, FATEC Shunji Nishimura; e-mail: evelyn.fernandes@jacto.com.br
3
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Engenharia de Sistemas Agrícolas, Coordenador de Sistemas de Produção Agrícola na Jacto Ag;
e-mail: leandro.gimenez@jacto.com.br

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


35

Segundo o CESB (2023), cerca de 90% das áreas audi- operações de adubação, e os distribuidores centrífugos são
tadas em seu desafio de produtividade nas regiões Norte, ferramentas indispensáveis para tal.
Centro-Oeste e Nordeste do Brasil optam por fazer aplicação
de fertilizantes a lanço, visto que as áreas com fertilidade 2. CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS DOS
já construída podem dispensar adubações no sulco e com DISTRIBUIDORES CENTRÍFUGOS
incorporação, desde que não haja impedimento à infiltração
Os distribuidores centrífugos (Figura 1) têm por
e que a distribuição das chuvas seja homogênea (PÖTTKER,
função distribuir e dosar os produtos sobre o solo, sejam
1999; AMOACY, 2006).
pós ou sejam grânulos. O mecanismo de distribuição é
Os distribuidores centrífugos podem distribuir e responsável por definir a faixa de aplicação e homoge-
dosar fertilizantes e sementes a lanço. O mecanismo neidade e o mecanismo dosador estabelece uma vazão
de distribuição desse tipo de equipamento oferece alta
que, em função da velocidade e largura, definirá a dose
capacidade por permitir o ajuste de amplas faixas de
(SENAR, 2017). Usualmente, estes equipamentos dispõe
velocidade, doses e larguras de aplicação (CUNHA et al.,
de componentes, como:
2023). São equipamentos produzidos por diversos fabri-
cantes e apresentam desde versões de menor porte, que ▪ Esteira: mais comum nos equipamentos de grande
são acoplados no trator pelo sistema de acoplamento de porte, é responsável por transportar o produto do reser-
três pontos, passando por equipamentos de arrasto, até vatório do equipamento até o mecanismo de distribuição,
os automotrizes. Em virtude de sua elevada capacidade, podendo ser de borracha, de talisca ou do tipo colmeia.
estes equipamentos são estratégicos em manejos de ▪ Comporta: controla a vazão do produto sobre o
adubação de sistemas de produção de grãos. Segundo mecanismo dosador. Pode ser acionada de forma mecânica
Matos et al. (2006), o uso desses equipamentos permite ou hidráulica.
reduzir o número de máquinas necessárias para as ope-
▪ Discos distribuidores: discos rotativos que são respon-
rações de semeadura, pulverização e colheita, trazendo
sáveis por lançar o produto para sua deposição na largura
redução nos custos operacional e total, possibilitando
aumento na receita líquida e adequação da capacidade desejada sobre o solo. A uniformidade da dosagem é condi-
dos demais equipamentos em realizar a operação dentro cionada pela qualidade da sobreposição obtida em passadas
do período ideal. O conceito de pontualidade, definido por laterais.
Balastreire (1987) como a “capacidade de efetuar as ope- Alguns equipamentos apresentam também dispo-
rações no período em que a qualidade e/ou quantidade sitivos que permitem melhorar a qualidade e reduzir o
de um produto são otimizadas” se faz muito presente nas desperdício:

Figura 1. Componentes mecânicos de um distribuidor de corretivos e fertilizantes com disco duplo (3), mecanismo dosador volumétrico
do tipo esteira transportadora (1), comporta raspadora dupla (2), atuador do ponto de queda (4) e de bordadura (5).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


36

▪ Atuador do ponto de queda dos discos: altera a faixa de ou volume de material processado por unidade de tempo,
aplicação durante a operação, mudando automaticamente o expressos em toneladas por hora e mais adequadas às ope-
ponto de deposição do produto sobre os discos e permitindo rações de colheita (MIALHE, 1974).
realizar corte de seções. A capacidade de campo pode ser dividida em teórica,
▪ Atuador de bordadura: controla o perfil de distribui- efetiva e operacional. A capacidade de campo teórica
ção na bordadura dos talhões para minimizar os erros de refere-se ao potencial de trabalho que a máquina pode
aplicação e evitar a distribuição em áreas não desejadas. realizar, com base nas características construtivas e suas
especificações, e é definida por:
3. PARÂMETROS OPERACIONAIS E TELEMETRIA LxV
CCT =
A qualidade da aplicação com os distribuidores centrí- 10
fugos é tema de contínua preocupação. A qualidade, usual- em que:
mente expressa em função da variabilidade da dose aplicada CCT = capacidade de campo teórica, em ha h-1;
ao longo da faixa útil da máquina, deve ser periodicamente
L = largura de trabalho, em metros;
verificada com coletas a campo para caracterizar o perfil
transversal de deposição. Em muitas situações, entretanto, V = velocidade de deslocamento, em km h-1.
a distância entre passadas no campo pode diferir daquela A capacidade de campo efetiva (CCE) representa a quan-
planejada, podendo ocorrer falhas ou superdosagem devido tidade de trabalho efetivamente entregue pela máquina,
à sobreposição excessiva. As falhas são caracterizadas como considerando apenas o tempo em que os mecanismos
áreas em que o insumo não foi depositado, seja devido ao estavam atuando. Para a adubação com distribuidores cen-
mau funcionamento do equipamento, seja devido a pro- trífugos seria o tempo em que os mecanismos estão dosando
blemas de calibração, erros do operador ou condições de e distribuindo o produto. A CCE é definida por:
campo, como terreno irregular e obstáculos. Sobreposições At
excessivas ocorrem quando o equipamento passa sobre a CCE =
área mais de uma vez durante a operação. Tp
Para mitigar este tipo de problema e ter maior controle em que:
sobre a qualidade das operações podem ser utilizadas tecno- CCE = capacidade de campo efetiva, em ha h-1;
logias que permitem maior controle e automação, como os At = área trabalhada, em ha;
sistemas de orientação por GNSS (global navigation satellite Tp = tempo de produção, em horas.
systems) e os sensores e softwares de controle e gerencia-
mento. Com o uso da telemetria em máquinas agrícolas é A capacidade de campo operacional (CCO) contabiliza o
possível a coleta e transmissão de dados sobre variáveis tempo empregado para as atividades auxiliares à operação,
ambientais e parâmetros referentes ao funcionamento do que não produzem trabalho, mas são necessárias para o
veículo, como velocidade de deslocamento, largura e vazão, cumprimento da operação, como são os casos de manobras,
além da dosagem. Estes dados permitem uma gestão mais efi- ajustes mecânicos, regulagens e abastecimento de insumos.
ciente das operações com controle em tempo real, apoiando É descrita pela equação:
a otimização no uso do combustível e dos insumos agrícolas A
CCO =
assim como a tomada de decisão sobre manutenções, auxi- Tm
liando também no planejamento operacional. em que:
4. EFICIÊNCIA NO USO DE MÁQUINAS CCO = Capacidade de campo operacional, em ha h-1;
A = Área trabalhada, em ha;
A telemetria é frequentemente utilizada para o geren-
ciamento dos parâmetros de desempenho, expressos pela Tm = Tempo de máquina, em horas.
quantidade de trabalho que uma máquina pode realizar em O tempo de máquina (Tm) é resultante da soma dos
um determinado período – sua capacidade de trabalho. Em tempos de produção, interrupção e preparo. O tempo de
semeadoras, pulverizadores e distribuidores de fertilizantes produção (Tp) é aquele em que a máquina efetivamente rea-
é calculada a capacidade de campo, definida por Milan e lizou o trabalho, quando os seus órgãos ativos estão operando
Rosa (2015) como sendo a razão entre a quantidade de sobre o terreno ou processando o material para o qual foram
trabalho em termos de área por unidade de tempo, por projetados. O tempo de interrupção (Ti) é a soma dos tem-
exemplo, em hectares por hora, ou seja, é o indicador uti- pos necessários e inerentes à realização da operação, como
lizado para equipamentos que devem se deslocar cobrindo manobras, abastecimento, descarregamento, desobstrução
uma determinada área durante a operação. e ajustes. O tempo de preparo (Tpr) é composto pela soma
As capacidades de produção e manipulação são aquelas daqueles tempos necessários para preparar a máquina para
associadas à separação de materiais, medidas em massa iniciar o trabalho e para deixar em condições de ser armaze-

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


37

nada no galpão após a operação: acoplamento, desacopla- logia e a dinâmica das capacidades e eficiências de campo em
mento, deslocamento para a área de trabalho, regulagens A
diferentes B
talhões de uma propriedade para interpretação
para iniciar e limpeza após o trabalho, tempos gastos com da qualidade das operações e oportunidades de melhoria.
controle e manutenção. O Tm é descrito como sendo: Os mapas (Figuras 3, 4 e 5) apresentados são reais e
Tm = Tp + Ti + Tpr foram obtidos a partir de uma máquina com tecnologia de
controle automático de até doze seções, que é fornecida por
em que:
um fabricante no Brasil. O equipamento também dispõe de
Tm = Tempo de máquina, em horas; controle automático de dosagem por meio da alteração de
Tp = Tempo de produção, em horas; altura das duas comportas dosadoras (nesse caso, não são
Ti = Tempo de interrupção, em horas; apenas para abertura e fechamento de meia faixa de apli-
Tpr = Tempo de preparo, em horas. cação) e da rotação da esteira. O controle do perfil de distri-
buição é feito por meio da variação do ponto de queda dos
A razão entre as capacidades permite obter indicadores fertilizantes sobre os discos (JACTO, 2023). As seções abrem
de eficiência representativos do aproveitamento das máqui- e fecham automaticamente, sendo possível rotacionar,
nas e das perdas associadas às circunstâncias da operação. aumentar ou diminuir o perfil de aplicação de acordo com
Segundo Mialhe (1974), a eficiência de campo pode ser a localização georreferenciada de cada seção, mantendo o
dividida em teórica e efetiva. A eficiência de campo teórica perfil ideal de aplicação de fertilizantes granulados (Figura 2).
(EfCT) estima as perdas oriundas do não aproveitamento inte-
gral das dimensões dos órgãos ativos e da magnitude de tempo
nas manobras nas extremidades do talhão, definida por:
CCE
EfCT = x 100
CCT
em que:
EfCT = eficiência de campo teórica, em %;
CCE = capacidade de campo efetiva, em ha h-1;
CCT = capacidade de campo teórica, em ha h-1.
A eficiência de campo (Efc) é o indicador que caracteriza
as perdas de capacidade devido aos tempos empregados
com todas as atividades que não aquela produtiva. Permite
identificar quanto tempo se perde entre preparo, manobras,
abastecimentos e interrupções durante a jornada de traba-
lho, caracterizada por:
CCO
EfC = x 100 Figura 2. Tela do monitor do distribuidor e representação do ponto
CCE de queda dos fertilizantes sobre o disco: (A) e (B) para
em que: aplicação em área total, (C) e (D) com o controle fechando
EfC = eficiência de campo, em %; as seções das pontas do perfil de aplicação.
CCO = capacidade de campo operacional, em ha h-1;
CCE = capacidade de campo efetiva, em ha h-1. 6. CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL
É evidente que os talhões de uma mesma propriedade A partir de uma plataforma digital com nome comercial
diferem entre si nos tempos de deslocamento para a área EKOS®, fornecida por um fabricante de máquinas agrícolas
onde será realizada a operação, abastecimento de insumos, nacional, foram extraídos quatro talhões de uma propriedade
manobras, manutenção e reparos. Assim, a partir de parâ- localizada no estado do Paraná, cujo terreno tem relevo suave
metros operacionais, como velocidade e largura efetiva, e ondulado, nos quais foi realizada a operação de distribuição de
dos tipos de tempo empregados nas operações é possível cloreto de potássio (KCl). A largura efetiva de aplicação foi de
identificar as capacidades e as eficiências inerentes a cada 32 metros e a aplicação foi realizada em pré-semeadura da
talhão. Tais indicadores apoiam o gestor na tomada de deci- soja na safra 2023/24, na dose de 130 kg ha-1 (talhões 1, 2 e
são e maximização das suas receitas. 3) e 165 kg ha-1 (talhão 4). Como pode ser visto na Figura 3, os
talhões apresentam conformações e linhas de tráfego distintas.
5. ESTUDO DE CASO É possível notar um contraste entre os talhões em
Neste estudo de caso objetivou-se verificar o uso do relação às condições operacionais e às quantidades de mano-
corte de seções em comparação com a ausência desta tecno- bras necessárias. O talhão 1, com 144 ha, permite linhas de

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


38

Figura 3. Linhas de tráfego reais nos diferentes talhões.

tráfego mais longas, com comprimento médio de 1,7 km. O porções que receberam o fertilizante à medida que a máquina
talhão 2, com 63 ha, apresenta tiros mais curtos de 0,6 km, se deslocava. A variação da largura dos polígonos registrados
mas com conformação que permite maior paralelismo entre demonstra os locais em que o sistema alterou, de forma auto-
as linhas. O talhão 3, com 164 ha, apresenta uma diversidade mática, a largura de aplicação em função das passadas laterais.
de trajetos de comprimentos variados e curvilíneos, com Na Figura 4B são apresentados os mapas de simulação
necessidade de muitos arremates. No talhão 4, com 52 ha, da sobreposição do fertilizante caso a máquina não dispu-
os limites A, B e C se assemelham aos dos talhões 1, 2 e sesse do sistema de controle de seções. Observa-se maior
3, respectivamente, com o desafio adicional de atravessar sobreposição no talhão 3 e no limite C do talhão 4. O formato
curvas de nível nos limites A e B. destes talhões não permite o paralelismo e a equidistância
entre as linhas de tráfego. Neste tipo de situação, as soluções
7. ANÁLISE ECONÔMICA DA TECNOLOGIA DE usuais, com apenas uma ou duas seções, não asseguram a
CONTROLE DE SEÇÕES aplicação sem a ocorrência pronunciada de sobreposição. O
Como mostra a Figura 4A, o controle de seções permitiu corte abrupto de uma das seções, caso fosse utilizado o sistema
que o produto fosse aplicado sem a ocorrência de sobreposi- com duas seções, permitiria reduzir a largura de aplicação para
ções, além daquela especificada. Os polígonos demonstram as 16 metros, deixando muitas falhas na aplicação.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


39

Figura 4. Mapas da operação nos talhões demonstrando situações com (A) e sem (B) o funcionamento do controle de seções de dis-
tribuição de cloreto de potássio. É possível notar a alteração da largura dos polígonos, representando o ajuste realizado de
modo automatizado pelo equipamento.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


40

Nos talhões 1, 2 e 4 (limites A e B) as sobreposições total nos talhões 1, 2 e 4. No limite C do talhão 4 o corte de
ocorreram apenas nas bordas (Figura 5); no talhão 3 e no seções foi amplamente empregado, sobretudo nos pontos
limite C do talhão 4 as sobreposições ocorreram também mais sinuosos, o que pode ser verificado na Figura 5. O
dentro dos talhões, ao longo das passadas do equipamento. talhão 3 apresentou 9,5 ha de sobreposição, correspondendo
Os valores de sobreposições obtidos na simulação estão a 6,0% da área total, observando-se sobreposição nas par-
descritos na Tabela 1. tes onde as linhas de tráfego ficaram próximas e, portanto,
As sobreposições de fertilizante registradas com o inferiores à largura efetiva de 32 metros.
corte de seções corresponderam, em média, a 3,5% da área

Figura 5. Mapas de sobreposição do fertilizante em situações de controle (A) e sem controle (B) do corte de seções.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


41

Tabela 1. Caracterização e comparação econômica da redução dos custos pela sobreposição de fertilizante nos talhões do estudo.

Custo da sobreposição
Sobreposições Economia
Preço médio de fertilizante
Talhões Limites Dose do corte de
Sem corte de Com corte de KCl - 2023 Sem corte Com corte seções
seção seções de seção de seções
ha % ha % kg ha-1 R$ t-1 R$ ha-1 R$ ha-1 R$ ha-1
1 - 6,5 4,5 3,0 2,1 130 16,4 7,6 8,8
2 - 5,0 7,9 2,7 4,3 130 28,9 15,6 13,3
3 - 24,0 14,6 9,5 5,8 130 53,2 21,1 32,1
2.801,3
4 A 0,8 5,3 0,5 3,3 165 24,6 15,3 9,3
4 B 1,3 6,2 0,8 3,8 165 28,4 17,5 10,9
4 C 2,6 16,8 0,9 5,8 165 77,5 26,8 50,7

Se a aplicação de fertilizante nesses talhões não fazer 64 ha a mais que no talhão 4, isto é, generalizando, o
tivesse sido realizada com a utilização do recurso de controle talhão 1 possui uma capacidade de trabalho efetiva 20%
de seções, e considerando em toda safra os excessos visua- maior que o talhão 4.
lizados na sobreposição (Figura 5A), a variabilidade espacial Na Figura 8 é apresentada a divisão do tempo relativo à
deixaria de ser natural, passando a ser induzida, desenca- produção, interrupção e preparo da máquina nos diferentes
deando problemas como competição intraespecífica, erros talhões, extraídos na plataforma EKOS®. Os tempos de inter-
no manejo da fertilidade e diferenças em produtividade pela rupção e de preparo no talhão 3 foram maiores, em relação
desuniformidade na distribuição dos fertilizantes na lavoura. aos demais, devido à maior necessidade de realização de
Ainda, considerando a cotação do KCl no estado do manobras e deslocamentos para reabastecimentos.
Paraná de R$ 2.801,33 t-1 em agosto/2023 (DERAL-PR), Os tempos dispendidos com manobras e deslocamen-
verifica-se na Tabela 1 que, em todas as condições do estudo, tos impactam diretamente nas capacidades e eficiências
o controle de seções proporcionou economia nas aplica- de campo efetiva e operacional, conforme apresentado
ções. Nas áreas mais desafiadoras – talhão 3 e limite C do na Tabela 2. As diferenças entre as capacidades de campo
talhão 4 – o custo por sobreposição foi 60% inferior com a efetiva e operacional são maiores nos talhões em que os
utilização do corte de seções. Para os demais, a economia tempos de interrupção e preparo foram maiores. Nos talhões
oscilou entre 38% e 50%, observada nos talhões 4 (limite A) 1 e 2 observa-se redução de cerca de 4,5% da eficiência de
e 1, respectivamente. campo efetiva para a operacional, enquanto nos talhões 3 e
4 a redução foi em torno de 8,2%.
8. INFORMAÇÕES OPERACIONAIS: SUPORTE
Nos talhões 3 e 4 há oportunidade para melhorias na
PARA O GERENCIAMENTO E ALOCAÇÃO DE alocação dos pontos de abastecimento/reabastecimento
RECURSOS NA PROPRIEDADE de insumos, com o intuito de minimizar o tempo gasto com
Na Figura 6, obtida a partir dos dados registrados pelo deslocamentos para esta finalidade. Reprojetar as linhas de
equipamento, observa-se que a velocidade de aplicação do tráfego a fim de otimizar as manobras e o paralelismo entre
fertilizante durante as operações oscilou entre os talhões. as passadas também são pontos importantes para se pensar
No talhão 1 foi possível desenvolver maiores velocidades, no planejamento logístico destes talhões.
quando comparado aos demais talhões. No limite C do A adoção de estratégias para diminuir o tempo empre-
talhão 4, observa-se maior constância na velocidade em gado com manobras e abastecimento permite aumentar o
relação aos demais limites, possivelmente devido ao fato de aproveitamento do tempo de máquina com maior partici-
as linhas de tráfego estarem no sentido das curvas de nível, pação do tempo produtivo. Em outras palavras, estas estra-
neste limite, não havendo necessidade de atravessá-las. tégias possibilitam elevar a eficiência de campo.
Constata-se pela Figura 7 que no talhão 1, por ser a área Além das menores eficiências, os deslocamentos para
que permitiu desenvolver e manter maiores velocidades, a manobras e abastecimento também impactaram no con-
capacidade de campo efetiva esteve próxima de 48,0 ha h-1, sumo de combustível nos talhões 3 e 4. Comparados ao do
enquanto nos demais talhões as manobras influenciaram talhão 1, os consumos de combustível nos talhões 2, 3 e 4
para que esse valor fosse menor: cerca de 42 ha h-1 nos foram, respectivamente, 0,05, 0,16 e 0,11 L ha-1 maiores.
talhões 2 e 3 e 40 ha h-1 no talhão 4. Em uma jornada de Considerando-se R$ 5,0 L-1 o preço do óleo diesel (DERAL-PR,
trabalho de 8 horas, nas condições do talhão 1, seria possível agosto/2023), os custos adicionais com combustível nos

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


42

Figura 6. Mapas de velocidade das operações nos talhões.

Figura 7. Mapas de capacidade de trabalho efetiva nos talhões.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


43

Figura 8. Participação relativa do tempo dispendido com produção, interrupção e preparo da máquina nos diferentes talhões.

Tabela 2. Síntese das capacidades e eficiências nos talhões. 9. USO DOS MAPAS PARA INTERPRETAR
A QUALIDADE DAS APLICAÇÕES E AS
Capacidade de campo (ha h-1) Eficiência
Talhões de campo OPORTUNIDADES DE MELHORIA NA OPERAÇÃO
Efetiva Operacional (%) Para interpretar a qualidade das aplicações, a análise de
1 43,6 33,1 72,8 uniformidade de aplicação, com coletas em campo, é essen-
2 42,3 24,2 54,5 cial e permite identificar problemas nos equipamentos como
calibrações inadequadas ou falhas no sistema de distribuição.
3 39,6 24,3 55,9
De forma complementar, os mapas permitem elevar a
4 38,8 26,9 64,1
qualidade na análise da operação. São ferramentas utilizadas
não apenas para interpretar a qualidade das aplicações, mas
talhões 2, 3 e 4 foram de R$ 15,7, R$ 131,2 e R$ 28,6, res- principalmente para identificar oportunidades de melhorias
pectivamente, em relação àquele que seria observado caso nas operações. Identificação de falhas e sobreposições, com-
a eficiência fosse elevada para aquela observada no talhão paração com dados históricos, correlação com condições de
1. Ou seja, manobras e deslocamentos para abastecimento, solo, feedbacks para operadores, avaliação do desempenho e
apesar de inerentes à operação, podem ser considerados doses de insumos e implementação de técnicas de agricultura
como ineficiências, com impacto direto no custo de pro- de precisão são alguns dos exemplos de uso.
dução. Neste estudo, na situação mais extrema, foi obser- A melhoria da qualidade operacional é alcançada ao
vado um aumento de até 27% no custo com combustível. longo do tempo, sendo mais efetiva quando apoiada em
Na Figura 9 é possível observar muitos pontos críticos nos indicadores que permitam comparações válidas. Os dados
talhões 3 e 4, onde o consumo de combustível total foi obtidos via telemetria viabilizam a construção de indicadores
maior que 0,6 L ha-1. e representações visuais para este melhor gerenciamento.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


44

Figura 9. Mapas de consumo de combustível operacional nos talhões.

O controle de seções é amplamente aceito e utilizado IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Levantamento
em equipamentos com faixa definida pela própria largura da Sistemática da Produção Agrícola: Série histórica da estimativa anual
da área plantada, área colhida, produção e rendimento médio dos
máquina, como pulverizadores e semeadoras, permitindo
produtos das lavouras. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/
economia no uso de insumos e melhoria do desempenho das estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9201-levantamento-
lavouras. Este recurso está agora disponível em distribuidores sistematico-da-producao-agricola.html?=&t=series-historicas>. Acesso
de fertilizantes e, de modo similar, permite economia de em: 4 out. 2023.
insumos, evita danos às lavouras e assegura menor impacto JACTO. Uniport 5030 NPK. Disponível em: <https://jacto.com/brasil/
ambiental. products/adubadoras/uniport-5030-npk>. Acesso em: 25 out. 2023.

REFERÊNCIAS MATOS, M. A.; SALVI, J. V.; MILAN, M. Pontualidade na operação de


semeadura e a antecipação da adubação e suas influências na receita
AMOACY, F. C. Adubação na superfície ou incorporada? Plantio Direto, líquida da cultura da soja. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 26, n.
Piracicaba, v. 1, n. 73, p. 35, 2006. 2, p. 493–501, 2006.
BALASTREIRE, L. A. Máquinas agrícolas. São Paulo: Manole, 1987. MIALHE, L. G. Manual de mecanização agrícola. São Paulo: Editora
307 p. Agronômica Ceres, 1974. 301 p.
CERQUEIRA LUZ, P. H.; OTTO, R.; VITTI, G. C.; QUINTINO, T. A.; ALTRAN,
MILAN, M.; ROSA, J. H. M. Corte, transbordo e transporte (CTT):
W. S.; IKEDA, R. Otimização da aplicação de corretivos agrícolas e ferti-
Aspectos relevantes e uso da modelagem para o CTT. In: BELARDO,
lizantes. Informações Agronômicas, Piracicaba, v. 129, p. 1–13, 2010.
G. C. et al. Processos agrícolas e mecanização da cana-de-açúcar.
CESB. Comitê Estratégico Soja Brasil. Reunião anual de devo- Jaboticabal: SBEA, 2015. p. 415–428.
lutiva técnica: 15º Desafio Nacional de Máxima Produtividade.
Indaiatuba, 2023. PÖTTKER, D. Modos de aplicação de fósforo para uma sequência de
culturas em plantio direto. Revista Plantio Direto, Passo Fundo,
CUNHA, J. F.; FRANCISCO, E. A. B.; PROCHNOW, L. I.; CASARIN, V.
v. 53, p. 15, out. 1999.
Balanço de nutrientes na agricultura brasileira no período de 2017 a
2020. Informações Agronômicas, Piracicaba, n. 19, p. 5–19, set. 2023. REETZ, H. F. Fertilizantes e seu uso eficiente. 1ª ed. São Paulo: Asso-
DERAL. Departamento de Economia Rural. Secretaria da Agricultura e do ciação Nacional Para Difusão de Adubos, 2017. 178 p.
Abastecimento. Pesquisa de preços pagos pelos produtores – 2023. Dis- SENAR. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Mecanização: Apli-
ponível em: <https://www.agricultura.pr.gov.br/Pagina/Departamento- cação de corretivos e fertilizantes com distribuidor centrífugo. Brasília,
de-Economia-Rural-Deral>. Acesso em: 4 out. 2023. 2017. 164 p. (Coleção SENAR, 182)

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


45
45

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


46
46

ARTIGO TÉCNICO 4
Extração e Exportação de Nutrientes em
Cultivares de Soja Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®
Fernando Vieira Costa Guidorizzi1, Linker Augusto Santos Louvison2, Victor Hugo Ferreira Lima de Aguiar3,
Yush Spazziani Sardinha4, Lucas Elias dos Santos5, João Eduardo Zanon6, Carlos Roberto Sant Ana Filho7,
Guilherme Amaral de Souza8, João Augusto Lopes Pascoalino9

1. INTRODUÇÃO Diante do exposto, estudos para avaliar o crescimento,


a extração e a exportação de nutrientes em diferentes cul-
A soja [Glycine max (L.) Merr.] é uma cultura de grande
tivares de soja, como a Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®,
importância para a economia mundial, pois em 2021 foi
são fundamentais para a realização dos manejos de nutrição
cultivada em 101 países e alcançou produção de aproxi-
e adubação na cultura.
madamente 378 milhões de toneladas de grãos (FAOSTAT,
2023). A maior parte dessa produção é utilizada pela indús- Importantes trabalhos avaliando a extração e a exporta-
tria, principalmente como fonte básica para a produção de ção de nutrientes foram realizados em diferentes cultivares
proteína, óleos comestíveis e biocombustíveis. Além disso, o de soja (BENDER et al., 2015; GASPAR et al., 2017; BARTH et
farelo, um subproduto da extração de óleo, é utilizado como al., 2018; BORTOLON et al., 2018), porém pouco se conhece
importante alimento para a pecuária e a aquicultura (CHEN sobre esses parâmetros nas cultivares que apresentam as
et al., 2012; SORATTO et al., 2022). biotecnologias Enlist® e Xtend®. Além disso, faz-se necessária
O Brasil é o maior produtor mundial de soja e responde a realização de estudos em áreas com grande potencial produ-
por aproximadamente 35% da produção mundial (FAOS- tivo, ou seja, com produtividade acima de 85 sacas por hectare.
TAT, 2023; CONAB, 2023). Em função da sua importância, Portanto, devido ao aumento dos níveis de produti-
muitas cultivares de soja com diferentes tecnologias estão vidade média no Brasil e visando a melhoria e atualização
sendo lançadas no Brasil, onde atualmente existem cerca de dos programas de manejo de recomendação de nutrição e
2.430 cultivares registradas no Ministério da Agricultura adubação para a cultura da soja, o objetivo desse trabalho
Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2023). Dentre essas culti- foi avaliar a extração e exportação de nitrogênio (N), fósforo
vares estão as novas biotecnologias da soja Enlist® e Xtend®, (P2O5), potássio (K2O), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre
que são resistentes aos ingredientes ativos 2,4-D e Dicamba, (S-SO4), boro (B), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), zinco
respectivamente. Em breve, essas novas biotecnologias, em (Zn), cobalto (Co), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e selênio (Se)
conjunto com a soja Roundup Ready®, representarão grande durante o ciclo de desenvolvimento das cultivares de soja
parte da área de soja cultivada no Brasil. Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®.

Abreviações: B = boro; Ca = cálcio; Co = cobalto; Cu = cobre; Fe = ferro; K = potássio; Mg = magnésio; Mn = manganês; Mo =


molibdênio; MSPA = matéria seca na parte aérea; N = nitrogênio; Ni = níquel; P = fósforo; S = enxofre; Se = selênio; Zn = zinco.

1
Engenheiro Agrônomo, Dr., ICL América do Sul, e-mail: fernando.guidorizzi@icl-group.com
2
Engenheiro Agrônomo, ICL América do Sul, e-mail: linker.louvison@icl-group.com
3
Engenheiro Agrônomo, ICL América do Sul, e-mail: victor.aguiar@icl-group.com
4
Engenheiro Agrônomo, ICL América do Sul, e-mail: yushsardinha@gmail.com
5
Engenheiro Agrônomo, ICL América do Sul, e-mail: lucas.elias@icl-group.com
6
Engenheiro Agrônomo, e-mail: jemzanon@gmail.com
7
Químico, ICL América do Sul, e-mail: carlos.santana@icl-groupcom
8
Engenheiro Agrônomo, ICL América do Sul, e-mail: guilherme.souza@icl-group.com
9
Engenheiro Agrônomo, Dr., ICL América do Sul, e-mail: joao.pascoalino@icl-group.com

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


47

2. MATERIAIS E MÉTODOS Tabela 1. Atributos físicos e químicos do solo nas profundidades


de 0-20 e 20-40 cm.
O experimento foi conduzido no Innovation Center, cen-
tro de pesquisa pertencente à ICL, situado em Iracemápolis, Características 0-20 cm 20-40 cm
SP (22°38’ S, 47°30’ W), com altitude de 570 m, classificação Atributos físicos
climática Cwa e solo classificado como Latossolo Vermelho
distrófico típico. Os dados climáticos registrados durante o Argila (%) 50 -
desenvolvimento e condução do experimento estão apre- Silte (%) 21 -
sentados na Figura 1. Areia total (%) 29 -
O experimento foi instalado em uma área que vem
sendo manejada no Sistema Plantio Direto nos últimos anos Atributos químicos
agrícolas, com a semeadura da soja ou milho entre outubro e pH (CaCl2) 5,1 5,0
abril e do feijão-comum ou milheto entre março e setembro. M.O. (g dm-3) 19,7 17,6
Antes da semeadura da soja, amostras de solo nas P resina (mg dm ) -3
27,4 17,1
profundidades de 0-20 e 20-40 cm foram retiradas e sub-
S (mg dm ) -3
27,2 34,0
metidas à análise. Com base nos resultados, foram aplica-
dos 4,0 t ha-1 de calcário (26,6% de CaO e 13,3% de MgO), K (mmolc dm ) -3
5,3 4,9
2,5 t ha-1 de gesso (21% de Ca e 17% de S-SO4), 2,0 kg ha-1 Ca (mmolc dm ) -3
29,8 26,2
de B (fertilizante com 10% de B – base ulexita acidulada) e Mg (mmolc dm ) -3
15,1 13,2
120 kg ha-1 de K2O (fertilizante com 60% de K2O). Os atribu-
H + Al (mmolc dm ) -3
17,6 17,8
tos físicos e químicos do solo, após a realização da calagem
e gessagem, estão apresentados na Tabela 2. Ainda nesse SB (mmolc dm ) -3
50,2 44,3
período, foram realizados os manejos de dessecação com CTC (mmolc dm ) -3
67,7 62,1
glifosato, haloxifope-R-metílico e saflufenacil. V (%) 73,4 71,3
A semeadura das cultivares de soja Brasmax Coliseu I2X B (mg dm-3) 0,8 0,6
(Enlist®), Brasmax Vênus CE (Xtend®) e Brasmax Zeus IPRO
(Roundup Ready®) foi realizada no dia 01/11/2022, utili- Cu (mg dm-3) 2,1 1,7
zando semeadora composta por sistema de distribuição de Fe (mg dm-3) 64,3 30,4
sementes à vacuo, com população de 300.000 plantas ha-1, Mn (mg dm ) -3
10,6 3,1
no espaçamento entre linhas de 45 cm e na profundidade Zn (mg dm ) -3
2,5 5,1
de 3 cm.

Figura 1. Precipitação pluvial (barras cinzas), temperatura máxima (linha vermelha) e temperatura mínima (linha cinza) registradas
durante o ciclo de desenvolvimento das cultivares de soja Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®. Dados oriundos da estação
meteorológica do Innovation Center (ICL).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


48

Tabela 2. Extração e exportação de N, P2O5, K2O, Ca, Mg, S-SO4, B, Cu, Fe, Mn, Zn, Co, Mo, Ni e Se pelas cultivares de soja Enlist®, Xtend®
e Roundup Ready®.

Nutrientes Enlist® Xtend® RR® Enlist® Xtend® RR® Enlist® Xtend® RR®

- - - - - Extração (kg ha-1 t-1) - - - - - - - - - Exportação (kg ha-1 t-1) - - - - - - - - Exportação relativa (%) - - - -
N 142,9 (1)
179,9 145,8 53,9 55,1 55,6 37,7 30,6 38,1
P2O5 31,9 36,4 29,4 9,3 b 10,9 a 9,3 b 29,2 29,9 31,6
K2O 120,8 127,6 106,9 19,1 19,6 20,6 15,8 15,4 19,3
Ca 35,8 b 61,1 a 43,5 ab 2,2 2,3 2,1 6,1 3,8 4,8
Mg 13,6 18,9 14,7 2,5 2,5 2,6 18,4 13,2 17,7
S-SO4 17,9 27,3 22,2 6,7 8,6 8,3 37,4 31,5 37,4

- - - - - - Extração (g ha-1 t-1) - - - - - - - - - - Exportação (g ha-1 t-1) - - - - - - - - Exportação relativa (%) - - - -


B 163,9 179,8 160,1 37,3 38,7 34,6 22,8 21,5 21,6
Cu 37,5 42,6 32,8 10,9 b 12,7 a 11,0 b 29,1 29,8 33,5
Fe 726,3 ab 1106,9 a 673,9 b 122,3 246,7 123,1 16,8 22,3 18,3
Mn 195,4 309,9 198,4 14,1 14,3 15,7 7,2 4,6 7,9
Zn 159,7 178,5 140,1 46,5 44,8 43,8 29,1 25,1 31,3
Co 0,4 0,5 0,5 0,2 0,2 0,2 50,0 40,0 40,0
Mo 12,4 9,2 13,2 3,2 3,8 3,3 25,8 41,3 25,0
Ni 1,9 2,5 2,2 0,4 0,5 0,6 21,1 20,0 27,3
Se 1,5 1,6 2,2 1,3 1,1 1,7 86,7 68,8 77,3

A presença de letras minúsculas indica diferença estatística entre os tratamentos de acordo com o teste de Tukey a 5% de probabilidade.
(1)

RR®: Roundup Ready®.

No tratamento das sementes de soja foram utilizados amostragens das plantas, ou seja, nos estádios fenológicos
0,9 g ha-1 de Co, 18 g ha-1 de Mo e 1,8 g ha-1 de Ni (produto VE, V3, V4, V10, R1, R3, R4, R5.2, R5.4, R5.5, R6, R7 e R8
com 0,45% de Co, 9,0% de Mo, 0,9% de Ni e outros com- que correspondem a 0, 20, 40, 60, 80, 100 e 120 dias após a
postos), piraclostrobina, tiofanato metílico, fipronil, grafite, emergência (DAE), respectivamente. Cada unidade experi-
Bradyrhizobium japonicum ou Bradyrhizobium elkanii. mental foi composta por 6 linhas de 11,5 m de comprimento,
Na adubação de semeadura foram aplicados, no sulco de onde se utilizou como área útil as 4 linhas centrais de 10 m
semeadura, 20 e 80 kg ha-1 de N e P2O5, respectivamente de comprimento para realizar as avaliações.
(fertilizante com 10% de N e 49% de P2O5).
Foram realizadas as avaliações de acúmulo de maté-
Após a emergência, que ocorreu em 06/11/2023, a ria seca na parte aérea (MSPA), teores de N, P, K, Ca, Mg,
população de plantas foi aferida com o objetivo de alocar S, B, Cu, Fe, Mn, Zn e Se na parte aérea e nos grãos e a
as unidades experimentais em locais com a população de produtividade de grãos das cultivares de soja, conforme
plantas uniforme. Entre a emergência e a colheita foram metodologias descritas por Guidorizzi et al. (2021). Os teores
realizados manejos fitossanitários com glifosato, tiameto- de P, K e S foram convertidos e estão apresentados como
xam, lambda-cialotrina, acefato, imidacloprido, bifentrina,
P2O5, K2O e S-SO4.
trifloxistrobina, tebuconazol, fluxapiroxade, piraclostrobina,
Beauveria bassiana, Bacillus subtilis, Bacillus amylolique- A colheita para determinação da produtividade de
faciens, Bacillus pumilus e Trichoderma harzianum. Além grãos de soja foi realizada no estádio de desenvolvimento
disso, foram realizados manejos nutricionais e fisiológicos R8, quando os grãos apresentaram aproximadamente 14%
com pulverizações de fertilizantes foliares nos estádios de de umidade.
desenvolvimento V3, R1 e R3 da cultura da soja, conforme Os dados obtidos foram submetidos à análise de variân­
prescrição agronômica da ICL. cia e as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste
O experimento foi conduzido no esquema de parce- Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o programa SISVAR
las subdivididas,com seis repetições por tratamento. As 5.4 (FERREIRA, 2011). Os resultados das épocas de amos-
parcelas foram compostas pelas cultivares de soja Enlist®, tragem foram avaliados por análise de regressão, utilizando
Xtend® e Roundup Ready® e as subparcelas pelas épocas de o programa SigmaPlot 12.5.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


49

2. CONDIÇÕES CLIMÁTICAS E PRODUTIVIDADE 3. ACÚMULO DE MATÉRIA SECA NA


DE GRÃOS PARTE AÉREA
As condições climáticas registradas durante o ciclo As cultivares de soja Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®
de desenvolvimento das cultivares de soja foram adequa- apresentaram valores de crescimento e acúmulo de matéria
das para um bom desenvolvimento das plantas (Figura 1). seca na parte aérea (MSPA) semelhantes (Figura 2).
As médias de temperatura mínima e máxima durante o
O acúmulo de MSPA foi baixo em todas as cultivares até
experimento foram de 18,6 oC e 30,1 oC, respectivamente,
o estádio de desenvolvimento V3 devido, principalmente, ao
e a precipitação foi de 850 mm. As produtividades de grãos
baixo crescimento e baixa emissão de nós e folhas. A partir de
das cultivares Enlist®, Xtend® e Roundup Ready® foram de
V4 houve intensificação no acúmulo de MSPA que se prorrogou
85,8, 89,4 e 97,7 sacos ha-1, respectivamente.
até R6, estádio em que foram obtidas as quantidades máximas
Os resultados de extração e exportação de nutrientes de acúmulo na MSPA das cultivares Enlist® (20.827 kg ha-1),
aqui apresentados foram obtidos em solo corrigido, de alta Xtend® (21.383 kg ha-1) e Roundup Ready® (22.996 kg ha-1). Esse
fertilidade e com elevados patamares de produtividade, aumento ocorreu devido ao alto crescimento das cultivares de
superiores à média alcançada no Brasil, que atualmente é soja e à emissão de nós, ramos, folhas, vagens e grãos. A partir
de 59,7 sacos ha-1 (CONAB, 2023). de R6 o acúmulo de MSPA diminuiu devido à senescência e à
abscisão foliar em todas as cultivares, porém de forma mais
intensa na Xtend®.
Acúmulo de MS (kg ha-1)

Figura 2. Acúmulo de matéria seca (MS) na parte aérea ao longo do ciclo de desenvolvimento de cultivares de soja Enlist®, Xtend® e
Roundup Ready®.
** Significativo a 1% de probabilidade de acordo com o teste F. Barras verticais indicam os valores de DMS entre os tratamentos pelo
teste Tukey a 5% de probabilidade.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


50

Portanto, com base nos resultados de acúmulo de


MSPA, é importante que entre os estádios V4 e R6 as con-
dições de manejos fitossanitários, nutricionais e fisiológicos
estejam adequadas para que a cultura da soja possa formar
importantes componentes de produção definidos entre esses
estádios, tais como número de vagens por planta (V4-R4),
número de grãos por vagem (R1-R4) e peso de grãos (R5-R6).
O índice de colheita é a relação percentual entre a
massa de grãos produzida e a massa total da planta (incluindo
grãos) e indica a eficiência da planta quanto à partição dos
produtos da fotossíntese destinados à produção de grãos.
Nesse experimento, os valores encontrados foram de 24,7%,
25,1% e 25,4% nas cultivares Enlist®, Xtend® e Roundup
Ready®, respectivamente. Esses índices de colheita foram
baixos, quando comparados aos obtidos em outros trabalhos

Extração de nutrientes (kg ha-1)


(BENDER et al., 2015; GASPAR et al., 2017) e podem ser
atribuídos às adequadas condições climáticas e de fertili-
dade do solo, os quais possibilitaram bom desenvolvimento
da cultura da soja. Diante do exposto, os dados sugerem
que o manejo com nutrientes que atuam na redistribuição
de fotoassimilados da fonte para o dreno, como P, K, Mg e
B, são fundamentais para aumentar o índice de colheita e,
consequentemente, o peso de grãos da soja.

4. EXTRAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE NUTRIENTES


4.1. Nitrogênio, fósforo e potássio
As extrações de N, P2O5 e K2O foram semelhantes entre
as cultivares de soja Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®
(Figura 3).
Entre VE e V3 as extrações de N, P2O5 e K2O foram bai-
xas, entretanto, é importante ressaltar que o P deve estar
disponível para a absorção da cultura da soja desde a sua
emergência, pois a sua falta pode comprometer o desen-
volvimento do sistema radicular, parte aérea, formação da
população de plantas e, consequentemente, a produtividade
de grãos de soja.
A partir de V4 as extrações N, P2O5 e K2O se intensi-
ficaram e aumentaram até o estádio de desenvolvimento
R6, no qual as extrações máximas nas cultivares Enlist®,
Xtend® e Roundup Ready® foram, respectivamente, de 638,5,
763,6 e 747,2 kg ha-1 de N, 142,0, 160,5 e 151,7 kg ha-1 de
P2O5 e 550,7, 562,6 e 574,7 kg ha-1 de K2O. Em R6, a cultivar
Xtend® apresentou maior extração de N do que a Enlist®.
Dessas quantidades foram exportados, na mesma ordem
pelas cultivares Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®, 37,7%,
30,6% e 38,1% de N, 29,9, 29,9 e 31,6% de P2O5 e 15,8, 15,4
e 19,3% de K2O.
Ainda sobre esses macronutrientes, é importante res- Figura 3. Extração de N, P2O5 e K2O ao longo do ciclo de desenvol-
saltar que as exigências em N, P2O5 e K2O foram altas devido vimento das cultivares de soja Enlist®, Xtend® e Roundup
ao elevado acúmulo de MSPA ocasionado pela fertilidade Ready®.
de solo, condições edafoclimáticas e alta produtividade de ** Significativo a 1% de probabilidade de acordo com o teste F.
grãos de soja. Deste modo, é necessário que os manejos Barras verticais indicam os valores de DMS entre os tratamentos
de nutrição e adubação com N, P2O5 e K2O em cultivares de pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


51

soja com elevados patamares produtivos sejam revisados,


principalmente no que se diz respeito à quantidade de
nutrientes fornecidos para a cultura da soja, seja via fertili-
zantes minerais, seja via matéria orgânica do solo, palhada
remanescente sobre a superfície do solo, fixação biológica
de nitrogênio, entre outras.

4.2. Cálcio, magnésio e enxofre


As três cultivares apresentaram baixas extrações de Ca,
Mg e S-SO4 até o estádio de desenvolvimento V3 (Figura 4).
A partir de V4 as extrações de Ca, Mg e S-SO4 foram
intensificadas e aumentaram até o estádio de desenvolvi-
mento R6, no qual ocorreram extrações máximas desses
nutrientes. Nesse estádio, as quantidades máximas extraí-

Extração de nutrientes (kg ha-1)


das pelas cultivares Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®
foram, respectivamente: 147,2, 252,7 e 187,0 kg ha-1 de Ca,
60,6, 78,1 e 77,0 kg ha-1 de Mg e 80,7, 124,3 e 110,4 kg ha-1
de S-SO4. As cultivares Xtend® e Roundup Ready® apresen-
taram maiores extrações de Ca, Mg e S-SO4 do que a Enlist®.
Dessas quantidades foram exportados, respectivamente,
pelas cultivares Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®, 6,1%,
3,8% e 4,8% de Ca, 18,4%, 13,2% e 17,7% de Mg e 37,4%,
31,5% e 37,4% de S-SO4.
Conforme relatado para os demais macronutrientes,
as exigências de Ca, Mg e S-SO4 foram altas devido às ade-
quadas condições de cultivo e alta produtividade de grãos
obtida com as cultivares de soja Enlist®, Xtend® e Roundup
Ready®. Desta forma, é necessário reforçar que os manejos
de nutrição com Ca, Mg e S-SO4 precisam receber os devi-
dos cuidados para que a adequada disponibilidade desses
nutrientes permita a obtenção de altas produtividades.
O Ca, o Mg e o S-SO4 podem ser fornecidos para a cul-
tura da soja através da matéria orgânica do solo, palhada
remanescente sobre a superfície do solo, fertilizantes, cal-
cário (Ca e Mg) e gesso agrícola (Ca e S-SO4). As doses de
calcário aplicadas podem suprir as exigências de Ca e Mg da
soja, entretanto, fica como ponto de atenção a solubilização
desse calcário a tempo de fornecer o Ca e o Mg conforme as
exigências das cultivares Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®,
principalmente em condições de manejo de solo que o
calcário não for incorporado e resultar em valores de pH
superiores a 6,0 (CaCl2), pois nessas condições a solubilização
do calcário pode ocorrer de forma lenta.

4.3. Cobre, ferro, manganês e zinco


As extrações de Cu, Fe, Mn e Zn foram semelhantes
entre as cultivares de soja Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®
(Figura 5). Figura 4. Extração de Ca, Mg e S-SO4 ao longo do ciclo de desenvol-
Entre os estádios de desenvolvimento VE e V3 as extra- vimento de cultivares de soja Enlist®, Xtend® e Roundup
ções de Cu, Fe, Mn e Zn foram baixas nas três cultivares de Ready®.
soja, entretanto, a partir de V4 se intensificaram e aumen- ** Significativo a 1% de probabilidade de acordo com o teste F.
taram até R6. Em R6, as extrações máximas das cultivares Barras verticais indicam os valores de DMS entre os tratamentos
Enlist®, Xtend® e Roundup Ready® foram, respectivamente, pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


52
Extração de nutrientes (g ha-1)

Figura 5. Extração de Cu, Fe, Mn e Zn ao longo do ciclo de desenvolvimento de cultivares de soja Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®.
** Significativo a 1% de probabilidade de acordo com o teste F. Barras verticais indicam os valores de DMS entre os tratamentos pelo
teste Tukey a 5% de probabilidade.

163,8, 186,3, e 171,3 0 g ha-1 de Cu, 2.678,8, 4.999,5 e Portanto, conforme mencionado para os demais
2.919,4 g ha-1 de Fe, 890,6, 1.184,0 e 996,5 g ha-1 de Mn e nutrientes, é essencial que os manejos nutricionais com Cu,
674,8, 758,8 e 756,8 g ha-1 de Zn. Nesse estádio, a extração Fe, Mn e Zn sejam revistos, principalmente no que diz res-
de Fe pela cultivar Xtend® foi maior do que as extrações peito às doses que estão sendo fornecidas para a cultura da
obtidas com a Enlist® e Roundup Ready®. Dessas quantida- soja. Ressalta-se que esses nutrientes podem ser fornecidos
des, foram exportados, respectivamente, pelas cultivares para a cultura através da matéria orgânica do solo, palhada
Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®: 29,1%, 29,8% e 33,5% remanescente sobre a superfície do solo e fertilizantes para
de Cu, 16,8%, 22,3% e 18,3% de Fe, 7,2%, 4,6% e 7,9% de aplicação via solo e foliar.
Mn e 29,1%, 25,1% e 31,3% de Zn. As áreas que receberam calagem recentemente
As exigências de Cu, Fe, Mn e Zn pelas três cultivares merecem atenção especial em relação ao fornecimento de
de soja foram altas devido às adequadas condições edafo- Cu, Fe, Mn e Zn, pois o aumento do pH do solo pode diminuir a
climáticas, alto acúmulo de MSPA e produtividade de grãos. disponibilidade desses micronutrientes. Além disso, nas áreas

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


53

com problemas de inundação do solo é necessário atenção


com a disponibilidade de Fe, pois o Fe passará da forma Fe2+
(absorvida pela soja) para Fe4+ (não absorvida pela soja) e,
consequentemente, causará deficiência nutricional de Fe
na cultura (MALAVOLTA, 2006; MARSCHNER et al., 2012).
Nos últimos anos, muito se tem estudado sobre a
importância do Mn para a obtenção de altas produtivida-
des nas cultivares de soja RR. Além do Mn, é importante se

Extração de nutrientes (g ha-1)


atentar para o fornecimento de Zn para as cultivares de soja
Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®, pois, de acordo com os
resultados desse trabalho, elas extraíram, por hectare, 70 g
de Zn para cada 100 g de Mn.

4.4. Boro e selênio


As três cultivares de soja apresentaram comporta-
mento semelhante nas extrações de B, porém, para o Se, as
extrações foram distintas entre as cultivares de soja Enlist®,
Xtend® e Roundup Ready® (Figura 6).
Entre VE e V3 as extrações de B e Se foram baixas,
entretanto, a partir de V4 as extrações de ambos foram incre-
mentadas até R6. Em R6 ocorreram as extrações máximas
de B e Se, as quais, para as cultivares de soja Enlist®, Xtend®
e Roundup Ready® foram, respectivamente, 692,2, 735,1 e
776,3 g ha-1 de B e 6,6, 6,8 e 11,8 g ha-1 de Se. Dessas quan-
tidades, foram exportados pelas cultivares Enlist®, Xtend® e
Roundup Ready®, 22,8%, 21,5% e 21,6% de B e 86,7%, 68,8%
e 77,3% de Se, respectivamente.
Conforme relatado para os demais nutrientes, a exigên-
cia de B foi alta em decorrência das adequadas condições de
cultivo e alta produtividade de grãos obtida com as cultivares
de soja Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®. Portanto, para o B
também é necessária a revisão dos manejos nutricionais para o
fornecimento da quantidade adequada de B e obtenção de altas
produtividades das sojas Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®.
Figura 6. Extração de B e Se ao longo do ciclo de desenvolvimento
Especificamente para o Se, não existem parâmetros
de cultivares de soja Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®.
para classificar as exigências nutricionais das cultivares de
** Significativo a 1% de probabilidade de acordo com o teste F.
soja Enlist®, Xtend® e Roundup Ready®. Diante disso, fica
Barras verticais indicam os valores de DMS entre os tratamentos
como provocação a condução de mais trabalhos de pesquisa
pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
estudando a extração, exportação e manejos nutricionais
com Se na cultura da soja, pois o Se pode aumentar a pro-
dutividade e promover a biofortificação dos grãos de soja
A partir de V4 as extrações de Co, Mo, e Ni se inten-
(SOUZA et al., 2021).
sificaram e aumentaram até o estádio R6, no qual as três
4.5. Cobalto, molibdênio e níquel cultivares de soja apresentaram as extrações máximas des-
ses nutrientes. Em R6, as extrações máximas das cultivares
As curvas de extração de Co, Mo e Ni apresentaram Enlist®, Xtend® e Roundup Ready® foram, respectivamente,
tendências semelhantes nas cultivares Enlist®, Xtend® e 2,0, 2,0 e 2,7 g ha-1 de Co, 58,2, 44,1 e 61,8 g ha-1 de Mo
Roundup Ready® (Figura 7). e 9,6, 11,2 e 11,4 g ha-1 de Ni. Neste estádio, a cultivar
Entre VE e V3 as extrações de Co, Mo e Ni foram baixas, Roundup Ready® apresentou maiores extrações de Co e
porém devem estar disponíveis para a cultura da soja desde Mo do que a cultivar Xtend® . Dessas quantidades foram
a emergência devido à importância de ambos no processo exportados, respectivamente, pelas cultivares Enlist®,
de fixação biológica do nitrogênio e no metabolismo do N, Xtend® e Roundup Ready®: 50,0%, 40,0% e 40,0% de Co,
conforme discutido amplamente na literatura (MALAVOLTA, 25,8%, 41,3% e 25,0% de Mo e 21,1%, 20,0% e 27,3%
2006; CÂMARA, 2014; TAIZ; ZEIGER, 2017). de Ni.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


54

As exigências de Co, Mo e Ni pelas cultivares de soja


foram altas e podem ser atribuídas às adequadas condições
edafoclimáticas de cultivo, alto acúmulo de MSPA, extração
de N e produtividade de grãos das cultivares de soja. Para
esses nutrientes, similar ao que descrevemos para o Se, se
faz necessária a realização de mais trabalhos de pesquisa
avaliando a extração e exportação de Co, Mo e Ni em novas
tecnologias e cultivares de soja para melhor recomendação
dos manejos nutricionais.
Diante do exposto, é preciso que os manejos nutricio-
nais com Co, Mo e Ni na cultura da soja sejam revistos e
incluídos nos boletins de recomendação de adubação. Esses
nutrientes são fundamentais para o processo de FBN e podem
ser fornecidos para a cultura da soja através do tratamento de
Extração de nutrientes (g ha-1)

sementes e de fertilizantes para aplicação foliar.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As exigências nutricionais de N, P2O5, K2O, Ca, Mg, S-SO4,
B, Cu, Fe, Mn, Zn, Co, Mo, Ni e Se pelas cultivares de soja
Enlist®, Xtend® e Roundup Read® foram baixas até o estádio
de desenvolvimento V3, porém a partir de V4 as extrações
se intensificaram e foram incrementadas até R6. Diante do
exposto, é importante que todos os nutrientes estejam dis-
poníveis para absorção da cultura da soja entre os estádios
de desenvolvimento V4 e R6.
Todos os nutrientes foram exigidos em grandes quan-
tidades devido à alta produtividade de grãos obtida com
as cultivares de soja Enlist®, Xtend® e Roundup Read®
(85-97 sacos de soja por hectare). Dessa forma, para obten-
ção de altas produtividades de grãos de cultivares de soja é
essencial que os manejos nutricionais para fornecimento de
N, P2O5, K2O, Ca, Mg, S-SO4, B, Cu, Fe, Mn, Zn, Co, Mo, Ni e Se
sejam revistos, atualizados nos boletins de recomendação
de adubação no Brasil e recomendados de acordo com as
exigências de cada cultivar.

AGRADECIMENTOS
Expressamos nossa gratidão à ICL, à dedicada equipe
de Pesquisa e Desenvolvimento e ao Departamento Técnico.
Agradecemos pelos investimentos e pelo apoio fundamental
que tornaram possível a realização desta pesquisa.

REFERÊNCIAS
BARTH, G.; FRANCISCO, E.; SUYAMA, J. T.; GARCIA, F. Nutrient
uptake illustrated for modern, high-yielding soybean. Better
Crops, v. 102, 2018.
BENDER, R. R.; HAEGELE, J. W.; BELOW, F. E. Nutrient uptake,
Figura 7. Extração de Co, Mo e Ni ao longo do ciclo de desenvol-
partitioning, and remobilization in modern soybean varieties.
vimento de cultivares de soja Enlist®, Xtend® e Roundup
Agronomy Journal, v. 107, p. 563–573, 2015.
Ready®.
** Significativo a 1% de probabilidade de acordo com o teste F. BORTOLON, L.; BORTOLON, E. L. S. O.; CAMARGO, F. P.; SERA-
Barras verticais indicam os valores de DMS entre os tratamentos GLIO, N. A.; LIMA, A. O.; ROCHA, P. H. F.; SOUZA, J. P. S.; SOUZA,
pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. W. C.; TOMAZZI, M.; LAGO, B. C.; NICOLODI, M.; GIANELLO, C.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


55

Yield and nutrient uptake of soybean cultivars under inten- accumulation and partitioning of fall-winter safflower in a
sive cropping systems. Journal of Agricultural Science, v. 10, double-cropping system of southeastern Brazil. Agronomy
p. 344–357, 2018. Journal, v. 113, p. 451–463, 2021.
CÂMARA, G. M. S. Fixação biológica de nitrogênio em soja. MALAVOLTA, E. Manual de nutrição mineral de plantas. São
Informações Agronômicas, n. 147, p. 1–9, 2014. Paulo: Editora Agronômica Ceres, 2006. 638 p.
CHEN, K. I.; ERH, M. H.; SU, N. W.; LIU, W. H.; CHOU, C. C.; MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
CHENG, K. C. Soyfoods and soybean products: From traditio-
Vegetal. Disponível em: <https://sistemas.agricultura.gov.
nal use to modern applications. Applied Microbiology and
br/snpc/cultivarweb/cultivares_registradas>.Acesso em:
Biotechnology, v. 96, p. 9–22, 2012.
1 dez. 2023.
CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Safra de
grãos 2023/24. Disponível em: <https://www.conab.gov.br/ MARSCHNER, P. Mineral nutrition of higher plants. 3rd ed.
info-agro/safras/graos>. Acesso em: 1 dez. 2023. London: Academic, 2012. 651 p.

FAOSTAT. Food and Agriculture Organization of the United SORATTO, R. P.; GUIDORIZZI, F. V. C.; SOUSA, W. S.; GILA-
Nations. Crops 2021. Disponível em: <https://www.fao.org/ BEL, A. P.; JOB, A. L. G.; CALONEGO, J. C. Effects of previous
faostat/en/#data/QCL>. Acesso em: 6 dez. 2023. fall-winter crop on spring-summer soybean nutrition and
seed yield under no-till system. Agronomy, v. 12, p. 2974,
FERREIRA, D. F. A computer statistical analysis system. Ciência
2022.
e Agrotecnologia, v. 35, p.1039–1042, 2011.
GASPAR, A. P.; LABOSKI, C. A. M.; NAEVE, S. L.; CONLEY, S. P. Dry SOUZA, G. A.; MAURI, R.; GUIDORIZZI, F. V. C.; PENHA, E.;
matter and nitrogen uptake, partitioning, and removal across PRADA NETO, I. Nutrir plantas, beneficiar vidas! A biofor-
a wide range of soybean seed yield levels. Crop Science, tificação na produção agrícola. Informações Agronômicas,
v. 57, p. 2170–2182, 2017. Piracicaba, n. 12, p. 1–14, 2021.
GUIDORIZZI, F. V. C.; SORATTO, R. P.; SILVA, M. M.; PINTO, L. O. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia e desenvolvimento vegetal.
G.; FERNANDES, A. M.; SOUZA, E. F. C. Biomass and nutrient 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 888p.

BALANÇO DE NUTRIENTES
(Cortesia temporária da NPCT)
O balanço de nutrientes nas culturas (BNC) é uma
das ferramentas para avaliação do uso de fertilizan-
tes na agricultura e representa a diferença entre a
saída de nutrientes pela colheita (exportação) e sua
entrada no sistema (adubação). Saldos negativos,
nos quais a exportação excede a adubação, levam à
diminuição da fertilidade do solo e, eventualmente,
à redução da produtividade, uma vez que a disponi-
bilidade de nutrientes cai abaixo dos níveis críticos.
Saldos positivos geralmente estão associados ao
aumento da fertilidade do solo e podem, eventu-
almente, representar um elevado risco de perda de
nutrientes para o ambiente.
A NPCT, acreditando que a principal função do
manejo nutricional é facilitar o equilíbrio entre
exportações e adições de nutrientes em níveis
que suportem o crescimento ideal das culturas e
a mínima perda de nutrientes, desenvolveu esta
ferramenta visando facilitar o acesso de agrônomos,
consultores, produtores e técnicos às informações
de exportação e balanço de nutrientes em 18 cul-
turas cultivadas no Brasil.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


56
56

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


57
57

ARTIGO TÉCNICO 5

Tecnologia de Fertilizante Nitrogenado Ureia + Duromide:


Oportunidade para melhorar a produtividade
dos cafeeiros Conilon
Cesar Abel Krohling1, José Braz Matiello2, Danilo Ramos Sério3

1. INTRODUÇÃO razão, a maior preocupação em relação à eficiência da adu-


bação nitrogenada é a volatilização, devido à aplicação de
A moderna cafeicultura brasileira, implantada nos últi-
ureia na superfície do solo sob a projeção da copa do cafeeiro,
mos 50 anos, ocupou áreas de solos naturalmente inférteis,
onde há resíduos vegetais, maior atividade da enzima urease
como as do Cerrado, ou áreas com solos esgotados por cul-
e menor precipitação pluviométrica na superfície para incor-
tivos anteriores. Nessas condições, torna-se imprescindível
poração da ureia (SOUZA et al., 2023). Estima-se que, para a
o suprimento de fertilizantes, para que as lavouras de café cultura do café, as perdas por volatilização de NH3 girem em
possam crescer e produzir com bons níveis de produtividade torno de 30%, ou seja, em média, para cada três aplicações
(MATIELLO et al., 2015). A aplicação de fertilizantes nitroge- de ureia, uma é perdida por volatilização (DOMINGUETTI et
nados é indispensável para esta cultura de alto valor, pois al., 2016). O nitrato de amônio (NH4NO3) não está sujeito a
o nitrogênio (N) é o nutriente mais extraído pelo cafeeiro e perdas consideráveis por volatilização de NH3 (CASSIM et al.,
o segundo mais exportado pelos grãos de café (MARTINEZ 2022), porém, tende a ser mais caro por kg de N, além de
et al., 2014). Segundo Matiello et al. (2015), são aplicados enfrentar, devido ao seu potencial explosivo, restrições de
200 a 500 kg ha-1 de N por safra, parcelados em três a cinco compra, transporte, armazenamento, e maior risco de perda
vezes no período de setembro a março. Entretanto, apenas de qualidade física do produto.
25% a 50% do N aplicado são absorvidos pelos cafeeiros
Uma das formas mais eficientes de mitigar as perdas por
(CANNAVO et al., 2013; FENILLI et al., 2008), devido às perdas
volatilização de NH3, quando comparada a outras tecnologias
que ocorrem por volatilização de amônia (NH3), desnitrifica-
de eficiência aumentada, como as de liberação controlada
ção (N2 e N2O) e lixiviação de nitrato (NO3-).
e liberação lenta, é tratar a ureia com inibidor de urease.
A ureia é o fertilizante nitrogenado mais utilizado para O N-(n-butil) tiofosfórico triamida (NBPT) é o composto
fornecer N às plantas, pois tem vantagens para a indústria, inibidor mais estudado e comercializado em todo o mundo
como alta concentração (46% de N) e custos de produção (CANTARELLA et al., 2018). O NBPT inibe a enzima urease
mais baixos (CANTARELLA et al., 2018). Entretanto, quando do solo, reduzindo a taxa de hidrólise da ureia e, conse-
aplicada sobre o solo, é hidrolisada pela ação da enzima quentemente, as perdas por volatilização de NH3 (TRENKEL,
urease, produzindo NH3, que rapidamente é perdida para a 2010). O problema é que, por ser uma molécula orgânica,
atmosfera na forma de gás, podendo representar mais de a eficiência do NBPT pode ser alterada pelas condições do
60% do N aplicado (PAN et al., 2016), afetando a nutrição ambiente, como altas temperaturas e solos com baixo pH.
vegetal e provocando perdas de produtividade. Por essa Por exemplo, Tasca et al. (2011) observaram aumento de

Abreviações: IS = índice salino; K = potássio; N = nitrogênio; NBPT = N-(n-butil) tiofosfórico triamida; NH3 = amônia; NH4NO3 =
nitrato de amônio; NO2- = nitrito; NO3- = nitrato.

1
Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador, Marechal Floriano, ES.
2
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Fundação Procafé, Varginha, MG.
3
Engenheiro Agrônomo, Koch Fertilizantes do Brasil, Barueri, SP; email: danilo.serio@kochind.com

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


58

12 vezes na volatilização da ureia tratada com NBPT causado 2. MATERIAL E MÉTODOS


pelo aumento da temperatura ambiente de 18 °C para 35 °C,
e Soares e Cantarella (2023) mostraram que a eficiência do 2.1 Descrição do local e solo
NBPT na redução das perdas por NH3 são limitadas a prati- Os experimentos foram conduzidos no sítio Santa Rita,
camente quatro dias em solo com pH 4,5, mas em até 8 a localizado no município de Guarapari, ES (Figura 1). O clima é
11 dias em solo com pH acima de 5,4. classificado como tropical chuvoso de monção (Am), de acordo
Uma das fontes de N estabilizado disponível no mer- com o sistema de classificação Köppen-Geiger, com atualizações
cado é a ureia tratada com tecnologia de inibição de urease feitas por Alvares et al. (2013). Os dados de precipitação plu-
com base na substância Duromide1. Essa tecnologia possui viométrica e de temperatura máxima e mínima do ar durante a
estrutura química distinta do NBPT, tornando o Duromide condução dos experimentos estão apresentados na Figura 2.
mais estável em diversas faixas de temperatura e pH do solo,
promovendo proteção mais longeva e eficiente na inibição
da urease e, consequentemente, reduzindo as perdas por
volatilização de NH3 (CASSIM et al., 2021). Nesse sentido,
maiores reduções das perdas por volatilização de NH3 podem
aumentar a produtividade dos cafezais, além de colaborar
para a manutenção da sustentabilidade da cultura cafeeira.
O objetivo do estudo foi comparar o efeito da tecnologia
ureia + Duromide ao efeito das fontes convencionais de N,
como ureia e nitrato de amônio, na produtividade dos cafeei-
ros Conilon (Coffea canephora). Esse é o primeiro estudo
realizado para avaliar a eficiência dessa fonte estabilizada
na cultura do café.
Figura 1. Localização do município de Guarapari, no estado do
Espírito Santo, onde o experimento sobre fertilização
1
Como exemplo, o SuperN®PRO, da Koch Agronomic Services. nitrogenada na cultura do café conilon foi realizada.

Figura 2. Precipitação pluviométrica (mm) e temperaturas máxima e mínima (°C) durante o período experimental com a cultura do
café Conilon.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


59

O solo da área experimental foi classificado como Latossolo 2.4. Análise estatística
Vermelho-Amarelo distrófico típico, de acordo com o Sis- Os dados foram submetidos aos testes de homogenei-
tema Brasileiro de Classificação de Solos – SiBCS (SANTOS dade de variância (Bartlett) e normalidade dos erros (Shapiro-
et al., 2018). Foram coletadas amostras de solo da camada Wilk), atendendo, assim, aos pressupostos da análise de variân­
0-20 cm para fins de caracterização química (Tabela 1). cia (BANZATTO; KRONKA, 2015). Posteriormente, os dados
foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e, quando
2.2. D
 elineamento experimental, o valor do teste F foi significativo (p < 0,05), as médias foram
tratamentos e manejo da cultura comparadas pelo teste LSD ao nível de 10% de significância.
O delineamento experimental utilizado foi em
3. RESULTADOS
blocos casualizados, com quatro tratamentos e quatro
repetições. Os tratamentos foram constituídos de um Na safra de 2020/21, somente as fontes ureia + Duro-
controle, sem aplicação de N em cobertura, duas fontes mide e ureia aumentaram estatisticamente a produtividade
nitrogenadas convencionais [ureia (46% de N) e nitrato de dos cafeeiros. Nesse sentido, ureia + Duromide e ureia
amônio (32% de N)] e a ureia + Duromide (46% de N com proporcionaram aumentos de 32 sc ha-1 (29%) e 20 sc ha-1
a adição de Duromide). As unidades experimentais foram (18%) em relação ao tratamento controle, respectivamente
compostas por duas linhas de sete plantas, totalizando (Figura 3). Por outro lado, ao comparar a tecnologia ureia +
14 plantas. Duromide com o nitrato de amônio, a nova tecnologia de
estabilização aumentou significativamente a produtividade
Os cafeeiros da área experimental foram implantados
dos cafeeiros em 21 sc ha-1 (17%) e numericamente em
em 2016, com espaçamento de 2,4 x 1,2 m, totalizando 12 sc ha-1 (10%) em relação à ureia.
3.472 plantas ha-1. A cultivar utilizada foi o clone P1. Os
Na safra de 2021/22, todas as fontes nitrogenadas
fertilizantes nitrogenados foram aplicados em cobertura,
aumentaram a produtividade do cafeeiro em relação ao
conforme expectativa de produtividade da área experimen-
controle sem aplicação de N em cobertura (Figura 3). Porém,
tal, sendo a dose parcelada em três aplicações, setembro,
no ano seguinte, safra de 2022/23, apenas ureia + Duromide
outubro e dezembro de cada ano. As doses totais de N utili-
aumentou a produtividade em 10 sc ha-1 (19%), quando
zadas foram 304, 330 e 368 kg ha-1 para as safras de 2020/21,
comparada ao controle. No acumulado das três safras,
2021/22 e 2022/23, respectivamente. Para o restante da todas as fontes nitrogenadas aumentaram a produtividade
adubação do cafeeiro foram seguidas as recomendações de do cafeeiro em relação ao controle sem aplicação de N.
Prezotti et al. (2017). Os aumentos foram de 70 sc ha-1 (34%), 46 sc ha-1 (23%) e
40 sc ha-1 (20%) para ureia + Duromide, ureia e nitrato de
2.3. Avaliação da produtividade dos
amônio, respectivamente. Entretanto, no acumulado das
cafeeiros três safras, ureia + Duromide foi estatisticamente superior ao
No momento da maturação fisiológica (grãos cerejas), nitrato de amônio, superioridade essa que rendeu 30 sc ha-1
foi realizada a colheita manual dos grãos em cinco plantas (12%) a mais de café e numericamente 24 sc ha-1 (9,5%) a
por unidade experimental; posteriormente, a umidade foi mais em relação à ureia (Figura 3). A ureia + Duromide foi a
corrigida para 12% e a massa de grãos extrapolada para obter fonte que apresentou maior produtividade nos três anos de
a produtividade em sacas ha-1. condução do estudo, mostrando performance consistente.

Tabela 1. Análise química da camada superficial (0-20 cm) de um Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico típico1.

pH H+ + Al3+ Al3+ Ca2+ Mg2+ K+ SB CTC V


H2O - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - cmolc dm - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
-3
%

4,56 3,30 0,19 0,65 0,18 0,18 1,01 4,31 23


C.O. M.O. S B Fe Cu Zn Mn P
g dm -3
% - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - mg dm - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
-3

10,26 1,77 78,60 0,23 43,32 0,57 1,68 5,49 3,11


1
pH (H2O) na relação solo/solução de 1:2,5; H + Al determinado pelo método Shoemaker-McLean-Pratt (SMP); Ca2+, Mg2+ e Al3+
extraídos com KCl 1 mol L-1; M.O.: matéria orgânica do solo obtido por carbono orgânico × 1,724 (Walkley-Black); P, K+, Zn, Cu, Fe
e Mn: extração por Mehlich-1; SO42- extraído por fosfato de cálcio em ácido acético; B extraído com água quente; soma de bases
(SB): Ca2+ + Mg2+ + K+; CTC: capacidade de troca catiônica em pH 7 (SB + H + Al); V%: saturação por bases [(SB/CTC) × 100] e distri-
buição de tamanho de partícula (areia, silte e argila): método do densímetro.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


60

Controle
tecnologia de estabilização da ureia tratada com
Ureia + Duromide Duromide reduziu as perdas por NH3 em 55% e
Ureia 33% em relação à ureia e à ureia tratada com
Nitrato de amônio
NBPT, respectivamente. Em trabalhos recentes
desenvolvidos por Cassimiro et al. (2023) e
Carlos et al. (2021), os autores concluíram que
a maior estabilização sob condições de campo
proporcionada pelo uso de ureia + Duromide foi
importante para aumentar a produção de massa
seca do capim Marandu em 180% e 45% e do arroz
irrigado em 8% e 7% em relação à ureia e à ureia
tratada com NBPT, respectivamente.
O nitrato de amônio, embora apresente
pouca ou nenhuma perda por volatilização de NH3
quando aplicado sobre a superfície do solo com
pH < 7,0 (CASSIM et al., 2022), apresentou menor
produtividade na safra 2020/21 e no acumulado,
quando comparado à ureia + Duromide. A razão
Figura 3. Produtividade de café Conilon (sc ha-1) após a aplicação em cobertura para isso é que, por ser uma fonte que contém
de ureia + Duromide, ureia e nitrato de amônio. Médias seguidas NO3-, pode ser perdido por lixiviação, dada a
da mesma letra na barra para cada safra e acumulado não diferem não adsorção do NO3- aos coloides com cargas
entre si pelo teste LSD a 10% de probabilidade. negativas no solo e à baixa energia de adsorção
deste íon em solos com cargas positivas (H2PO42- >
4. DISCUSSÃO MoO42- > SO42- > NO3- = Cl-) (VIEIRA, 1988). Além
das perdas por lixiviação, fontes que possuem NO3- pron-
A cultura do café é exigente em N, por ser o nutriente tamente disponível para absorção pelas plantas também
mais extraído e o segundo mais exportado da lavoura, ficando promovem maior gasto energético para a assimilação do N,
atrás somente do potássio (K). Segundo o Manual de Adubação pois, diferente do amônio (NH +), o NO - não pode ser usado
4 3
e Calagem para o Estado do Paraná (SBCS/NEPAR, 2019) e o diretamente pelas plantas até que seja reduzido a NH +.
4
Boletim 100 para o Estado de São Paulo (IAC, 2022), para cada Para isso, a redução é catalisada por duas enzimas em duas
1 tonelada de grãos produzida por hectare são exportados etapas, a primeira transformando o NO - em nitrito (NO -)
3 2
37,1 a 42,5 kg de N pelos grãos. Nesse sentido, os cafeeiros do pela ação da nitrato redutase, e a segunda transformando
tratamento controle, que não receberam adubação nitroge- NO - em NH +, pela ação enzimática da nitrito redutase (LI;
2 4
nada em cobertura, tiveram a produtividade reduzida, quando WANG; STEWART, 2013). Por esse motivo, a maior parte do
comparados aos cafeeiros que receberam ureia + Duromide, NO - absorvido pelas palntas é transportado para a parte
3
ureia ou nitrato de amônio em cobertura, conforme demons- aérea para ser assimilado, por se tratar de uma região com
trado no acumulado das três safras de café Conilon (Figura 3). sobras energéticas provenientes do processo fotossintético.
Na safra de 2022/23, a ureia + Duromide foi a única Além disso, o nitrato de amônio possui índice salino (IS)
fonte nitrogenada que aumentou a produtividade dos cafeei- elevado, de 105%, quando comparado com fontes à base
ros em relação ao tratamento controle. A maior produtivi- de ureia, que possuem 75% de IS (SBCS/NEPAR, 2019). Logo,
dade proporcionada nessa safra por essa fonte é atribuída fertilizantes com IS elevado, aplicados em doses elevadas,
à sua eficiência em inibir a enzima urease por período mais como as exigidas pela cultura do café, podem provocar a
longo de tempo, decorrente da alta estabilidade da molécula saída de água das células radiculares para a solução do solo
Duromide contida no fertilizante. Isso se torna vantajoso, com maior pressão osmótica, comprometendo a produtivi-
uma vez que permite maior tempo para que o fertilizante dade da cultura.
nitrogenado seja incorporado ao solo por precipitação ou
irrigação, diminuindo, assim, as perdas de N por volatilização 5. CONCLUSÃO
de NH3 (CASSIM et al., 2021). Dessa forma, o N incorporado A ureia tratada com o inovador inibidor de urease
ao solo, que não foi perdido na forma gasosa (NH3), se torna Duromide foi a única fonte nitrogenada que incrementou
disponível para absorção das plantas, contribuindo para a produtividade dos cafeeiros em todas as safras (2020/21,
maiores incrementos de produtividade. 2021/22 e 2022/23) em relação ao tratamento controle,
A maior eficiência na redução das perdas por volatili- sem aplicação de N, com aumento de 34% no acumulado da
zação de NH3 com uso de ureia + Duromide foi descrita por produtividade dos cafeeiros Conilon, mostrando consistência
Cassim et al. (2021). Os autores observaram que a nova de resultados em todas as safras.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


61

Na comparação entre as fontes nitrogenadas, a ureia IAC. Instituto Agronômico de Campinas. CANTARELLA, H. et
não diferiu do nitrato de amônio. Entretanto, o fertilizante al. (Ed.). Boletim 100: Recomendações de adubação e cala-
de eficiência aumentada ureia + Duromide aumentou a gem para o Estado de São Paulo. Campinas, 2023.
produtividade dos cafeeiros Conilon em 12% em relação ao
LI, S. X.; WANG, Z. H.; STEWART, B. A. Responses of crop
nitrato de amônio e numericamente em 9,5% em relação à
plants to ammonium and nitrate N. Advances in Agronomy,
ureia sem tratamento no acumulado das três safras.
v. 118, p. 205–397, 2013.
REFERÊNCIAS MARTINEZ, H. E. P. et al. Nutrição mineral do cafeeiro e
qualidade da bebida. Revista Ceres, v. 61, p. 838–848, 2014.
ALVARES, C. A. et al. Köppen’s climate classification map for
Brazil. Meteorologische Zeitschrift, v. 22, p. 711–728, 2013. MATIELLO, J. B. et al. Cultura de café no Brasil: Manual de
recomendações. Varginha: Futurama Editora, 2015. 548 p.
BANZATTO, D. A.; KRONKA, S. N. Experimentação agrícola.
4. ed. Jaboticabal: Funep, 2015. PAN, B. et al. Ammonia volatilization from synthetic fertilizers
and its mitigation strategies: A global synthesis. Agriculture,
CANTARELLA, H. et al. Agronomic efficiency of NBPT as a Ecosystems and Environment, v. 232, p. 283–289, 2016.
urease inhibitor: A review. Journal of Advanced Research,
v. 13, p. 19–27, 2018. PREZOTTI, L. C. et al. Calagem e adubação do café Conilon.
In: FERRÃO, R.G.; FONSECA, A. F. A.; FERRÃO, M. A. G.;
CANNAVO, P. et al. Low nitrogen use efficiency and high DE MUNER, L. H. (Ed.). Café Conilon. 2. ed. Vitória: Incaper,
nitrate leaching in a highly fertilized Coffea arabica-Inga 2017. p. 347–357.
densiflora agroforestry system: A 15N labelled fertilizer study. SANTOS, H. et al. Sistema brasileiro de classificação de
Nutrient Cycling in Agroecosystems, v. 95, p. 377–394, 2013. solos. 5. ed. Brasília: Embrapa Solos, 2018.
CARLOS, F. S.; SANTOS, L. V.; KUNDE, R. J. Inibidor de urease SBCS/NEPAR. Manual de adubação e calagem para o
de nova geração na adubação nitrogenada da cultura do Estado do Paraná. 2 ed. Curitiba: Sociedade Brasileira de
arroz irrigado. Informações Agronômicas, n. 11, p. 1–3, Ciência do Solo, 2019.
2021.
SOARES, J. R.; CANTARELLA, H. Dynamics of ammonia
CASSIM, B. M. A. R. et al. Duromide increase NBPT efficiency volatilization from NBPT-treated urea in tropical acid soils.
in reducing ammonia volatilization loss from urea. Revista Scientia Agricola, v. 80, e20220076, 2023.
Brasileira de Ciência do Solo, v. 45, p. e0210017, 2021. SOUZA, T. L. et al. Nitrogen fertilizer technologies: Opportu-
CASSIM, B. M. A. R. et al. Nitrogen fertilizers technologies nities to improve nutrient use efficiency towards sustaina-
for corn in two yield environments in South Brazil. Plants, ble coffe production systems. Agriculture, Ecosystems and
v. 11, p. 1890, 2022. Environment, v. 345, p. 108317, 2023.
CASSIMIRO, J. B. et al. Ammonia volatilization and Marandu TASCA, F. A. et al. Volatilização de amônia do solo após a
grass production in response to enhanced-efficiency nitrogen aplicação de ureia convencional ou com inibidor de urease.
fertilizers. Agronomy, v. 13, p. 837, 2023. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 35, n. 2, p. 493–509,
2011.
DOMINGHETTI, A. W. et al. Nitrogen loss by volatilization
of nitrogen fertilizers applied to coffee orchard. Ciência e TRENKEL, M. Slow and controlled-release and stabilized
Agrotecnologia, v. 40, p. 173–183, 2016. fertilizers: An option for enhancing nutrient use efficiency
FENILLI, T. A. B. et al. Fertilizer 15N balance in a coffee cropping in agriculture. 2. ed. Paris: IFA, 2010.
system: A case study in Brazil. Revista Brasileira de Ciência VIEIRA, L. S. Manual da ciência do solo com ênfase aos solos
do Solo, v. 32, p. 1459–1469, 2008. tropicais. 2. ed. São Paulo: Editora Agronômica Ceres, 1988.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


62
62

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


63
63

PAINEL AGRONÔMICO

REVISÃO DO PLANO NACIONAL DE FERTILIZANTES ANÁLISES DE FERTILIZANTES ORGÂNICOS E DE


CALCÁRIO DO INSTITUTO AGRONÔMICO DE
Em novembro, Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutri-
CAMPINAS SÃO CERTIFICADAS PELO INMETRO
ção de Plantas (Confert) aprovou as diretrizes, metas e
ações do novo Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), O Laboratório de Análise Química de Fertilizantes e de
cujo objetivo é reduzir a dependência externa do país Resíduos do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)
nesse setor, dando competitividade e sustentabilidade obteve a acreditação pelo Inmetro para análises de fer-
à produção brasileira, e contribuindo para a segurança tilizantes orgânicos e de calcário. A ampliação do escopo
alimentar dos brasileiros. certificado foi obtida no ano em que o Laboratório com-
Atualmente, mais de 87% dos fertilizantes utilizados na pleta 13 anos com esta acreditação que, de acordo com
agricultura são importados, ao custo de US$ 25 bilhões a norma internacional ABNT NBR ISO/IEC 17025:2017,
anuais. O horizonte do PNF é chegar em 2050 com uma requer investimentos em estrutura e recursos humanos
produção nacional capaz de atendar entre 45% e 50% da que envolvem manutenção periódica de equipamentos
demanda interna. e capacitação de profissionais para usar as técnicas,
As principais ações de curto e médio prazo visam rea- compreender e incorporar a norma.
tivar, concluir ou ampliar as fábricas de fertilizantes A acreditação garante a adoção de procedimentos de
estratégicas para o Brasil, sobretudo as de nitrogenados modo que estes possam ser reproduzidos em outros
e fosfatados. O Plano visa, ainda, a realização de um lugares e por outras pessoas, apresentando o mesmo
amplo mapea­mento geológico para avaliar o potencial de resultado. Para o cliente, contar com um laboratório
minerais fosfatados e potássicos no país, com pesquisas acreditado representa garantia de qualidade e confia-
regionais em até 60 áreas nas próximas décadas, sobre- bilidade de resultados. As elevadas exigências tornam
tudo em Goiás, Tocantins, Bahia e Mato Grosso. a manutenção da ISO ainda mais difícil, sobretudo em
O Plano também propõe medidas para elevar a oferta instituição pública, onde a finalidade não é competir por
de fertilizantes organominerais e orgânicos, além de preços no mercado e tem sua orientação pela qualidade
reaproveitamento de resíduos sólidos e dos chamados e tecnologia. Por ser credenciado pelo Ministério de
remineralizadores, ou pó de rocha, que podem aumentar Agricultura e Pecuária (MAPA), o laboratório do IAC pode
o efeito dos fertilizantes químicos. (Governo Federal) exercer função de fiscal junto a empresas de fertilizantes
em apoio à rede nacional de laboratórios do MAPA.
No setor de fertilizantes – essenciais para manter a nutri-
ção das plantas –, a acreditação é exigida em tudo o que
NOVA CULTIVAR DE CAPIM-ANDROPOGON envolve o desenvolvimento destes produtos e o controle
É EXCELENTE PARA AMBIENTES DESAFIADORES de qualidade do material produzido para acompanha-
Pesquisadores da Embrapa Cerrados desenvolveram mento da empresa e do MAPA. Verifica-se também a pre-
uma nova cultivar do capim-andropogon, a BRS Sarandi. sença de contaminantes químicos, como metais pesados.
Trata-se de uma evolução do Andropogon gayanus cul- Parte dos serviços prestados pelo laboratório do IAC visa
tivar Planaltina, a primeira forrageira tropical lançada controlar a qualidade, melhorar os produtos já existentes
comercialmente pela Embrapa em 1980. Além do ótimo e estabelecer novos produtos dentro da cadeia de fertili-
desempenho para os rebanhos do Cerrado brasileiro, zantes. “Além da pesquisa, nosso negócio é colocar nossa
com ganhos que chegam a 1,15 kg de peso vivo por dia bagagem técnica para alcançar outros objetivos do IAC,
para bovinos em recria, durante a estação chuvosa, a como a transferência de tecnologias e a capacitação de
nova variedade é excelente opção para os ambientes profissionais”, resume a cientista Aline Renée Coscione,
mais desafiadores em relação ao clima e ao solo, como responsável pela unidade acreditada pela Coordenação
os que têm solos com baixa fertilidade ou passam por Geral de Acreditação do Inmetro e pesquisadora do IAC.
longos períodos de seca ou ainda os que sofrem com "Há agricultores e grandes corporações que buscam as
ataques severos de cigarrinhas. Esse capim se destaca análises do IAC para conferir a qualidade da carga de
por sua rápida rebrota, elevada qualidade nutricional e fertilizantes adquirida, antes de efetuarem o pagamento.
seu ótimo consumo pelos animais”, explica o pesquisador Não são muitos que fazem isso ainda, mas já está sendo
Marcelo Ayres, da Embrapa Cerrados. (EMBRAPA) formada essa consciência no setor". (IAC Notícias)

INFORMAÇÕES
INFORMAÇÕES
AGRONÔMICAS
AGRONÔMICAS
NUTRIÇÃO
NPCT
DE PLANTAS
No 20 – DEZEMBRO
No 20 – DEZEMBRO
2023 2023
64
64

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


65

CURSOS, SIMPÓSIOS E
OUTROS EVENTOS

1. V III ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA DO 5. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL: OTIMIZANDO


SORGO RECURSOS E PRODUZINDO ALIMENTOS MAIS
SAUDÁVEIS
Local: A
 trio Business Center, Avenida Afonso Pena,
3538, Uberlândia, MG Local: A
 nfiteatro do Parque Tecnológico de Piracicaba,
Data: 10 e 11/JANEIRO/2024 Avenida Cezira Giovanoni Moretti, Loteamento
Informações: FEALQ Santa Rosa, Piracicaba, SP
Telefone: (19) 3417-6600 Data: 20 e 21/MARÇO/2024
Email: gelq2024@gmail.com Informações: FEALQ
Website: https://fealq.org.br/eventos/ Telefone: (19) 3417-6600
Email: fealq@fealq.org.br
Website: https://fealq.org.br/eventos/
2. S HOW RURAL COOPAVEL 2024
Local: B
 R-277, km 577, Parque Tecnológico Coopavel, 6. AGRISHOW 2024
Cascavel, PR Local: R
 odovia Prefeito Antônio Duarte Nogueira,
Data: 5 a 9/FEVEREIRO/2024 km 321, Ribeirão Preto, SP
Informações: Secretaria Data: 29/ABRIL a 3/MAIO/2024
Telefone: (45) 99941-0734 Informações: Secretaria
Website: https://showrural.com.br/ Telefone: (11) 98238-0703
Email: agrishow@feirasecongressos.com.br
Website: https://www.agrishow.com.br
3. C ONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO DO
AGRONEGÓCIO 7. C ONGRESSO FERTBRASIL
Local: A
 venida Chucri Zaidan, 246, Vila Cordeiro, São Local: E xpo Dom Pedro, Avenida Guilherme Campos,
Paulo, SP 500 - Bloco II, Jardim Santa Genebra, Campinas, SP
Data: 19/MARÇO/2024 Data: 11 a 13/JUNHO/2024
Informações: Wenter Eventos Informações: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
Telefone: (11) 99500-2999 Telefone: (31) 3612-4542
Email: cbda@wenter.com.br Email: sbcs@sbcs.org.br
Website: https://congressodireitoagro.com.br/ Website: https://www.sbcs.org.br/event/congresso-
fertbrasil/

4. 1ª REUNIÃO DE CORRELAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE


SOLOS E VEGETAÇÃO FLUVIAL - 2024 8. SÃO PAULO SCHOOL OF ADVANCED SCIENCE ON
1ª RCCSV-PR HOLOGENOMIC DATA ANALYSIS FOR AGRICULTURE
Locais: Cascavel, Ouro Verde, Maripá, Terra Roxa e Guaíra, Local: E mbrapa Pecuária Sudeste, Rodovia Washington
no estado do Paraná Luiz, km 234, Fazenda Canchim, São Carlos, SP
Data: 17 a 23/MARÇO/2024 Data: 29/JULHO a 3/AGOSTO/2024
Informações: Andrea Kodama Informações: Secretaria
Telefone: (41) 3675-5771 Telefone: (16) 3411-5622
Email: andrea.kodama@colaborador.embrapa.br Email: hologenomeschool@gmail.com
Website: https://www.embrapa.br/ Website: https://www.embrapa.br/

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


66

PUBLICAÇÕES RECENTES

FÍSICA DO SOLO FATORES DE MANEJO PARA ALTAS


PRODUTIVIDADES DE MANDIOCA DE INDÚSTRIA
Editores: Jackson A. Albuquerque, Paulo I. Gubiani; 2023. NO MATO GROSSO DO SUL
Conteúdo: Breve história da Física do Solo; solo como
sistema trifásico; estrutura e agregação do solo; densi- Editoras: Cleiton Simão Zebalho et al.; 2023.
dade e porosidade do solo; consistência do solo; com- Conteúdo: A importância da mandioca; Global Yield
pactação do solo; aeração do solo; energia térmica do Gap Atlas; lacunas de produtividade da mandioca no
solo; água no solo; fluxo de água no solo; indicadores Brasil; levantamento e organização de dados; potencial
de qualidade física do solo. de produtividade em mandioca de indústria no Mato
Preço: R$ 96,00 Grosso do Sul; fatores que causam as lacunas de produ-
Número de páginas: 344 tividade em lavouras de mandioca de indústria; fatores
Venda: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo – SBCS biofísicos e de manejo que provocam a diferenciação
Website: https://www.sbcs.org.br/ entre altos e baixos teores de amido nas lavouras.
Preço: gratuito, disponível para download
Número de páginas: 87
Editora: Universidade Federal de Santa Maria – UFSM
QUÍMICA DO SOLO Website: https://ufsm.br/r-370-8551
Editores: Tales Tiecher et al.; 2023.
Conteúdo: A formação do solo e sua constituição;
os minerais do solo e suas propriedades; a matéria CICLO DO CARBONO E SUSTENTABILIDADE NA
orgânica do solo: propriedades, reações e processos; PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
a solução do solo; as reações de superfície na interface
fase sólida-solução do solo; as reações ácido-base do Autores: Aline Marchiori Crespo et al.; 2023.
solo; as reações de oxirredução do solo; a salinização Conteúdo: Esta edição do periódico é totalmente dedi-
do solo; a contaminação e a poluição do solo. cada ao tema sustentabilidade e crédito de carbono. Os
Preço: R$ 96,00 artigos apresentados são resultados de estudos desen-
Número de páginas: 84 volvidos sobre o assunto no Estado do Espírito Santo pela
Venda: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo – SBCS equipe de extensionistas e pesquisadores do Instituto e
Website: https://www.sbcs.org.br/ de outras instituições parceiras. Neste volume, os temas
centrais são associados a discussões sobre sistemas
agroflorestais, pecuária, citros e cafeicultura.
Preço: gratuito, disponível para download
FUNDAMENTOS DE DRENAGEM AGRÍCOLA Número de páginas: 88
Autores: Sergio Nascimento Duarte et al.; 2023. Editora: I NCAPER
Conteúdo: Com um conteúdo atualizado, a publicação Website: https://editora.incaper.es.gov.br/
aborda tópicos básicos que formam a visão sistêmica
essencial para o manejo do espaço poroso do solo em
condições de excesso de água e avança para ferramen- QUALIDADE, BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS E DE
tas úteis como os modelos computacionais de simula- PÓS-COLHEITA DE TOMATE DE MESA
ção, passando também pela avaliação econômica, bio- (Boletim Técnico IAC, 234)
drenagem e pelos aspectos ambientais/legais, dentre
outros. Os exemplos de aplicação compartilhados na Autores: E liane Aparecida Benato et al.; 2023.
obra englobam todas as etapas para a elaboração de Conteúdo: Boas práticas agrícolas para tomates de
um sistema de drenagem agrícola, desde sua concepção mesa; classificação de tomates de mesa; qualidade
até sua implantação. física e físico-química de tomates de mesa.
Preço: R$ 99,00 Preço: gratuito, disponível para download
Número de páginas: 339 Número de páginas: 37
Venda: FEALQ Editora: Instituto Agronômico de Campinas – IAC
Website: https://loja.fealq.org.br/ Website: https://www.iac.sp.gov.br/

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


67

PATROCINADORES

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023


68

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS No 20 – DEZEMBRO 2023

Você também pode gostar