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Guia de Boas Práticas

para a
Gestão de Infestantes
Hort

Nos sistemas de produção horto industriais tem-se verificado um aumento


de prejuízos associados à flora infestante e parasita com impacto nega vo
na produ vidade e qualidade dos produtos. Estas culturas possuem grande
importância económica, sendo que os produtos fitofarmacêu cos
(herbicidas) representam um valor elevado na conta de cultura dos
produtores. Por outro lado, a u lização excessiva e ineficaz dos herbicidas
leva, por vezes de forma irreversível, a níveis de contaminação bem como
desequilíbrios e prejuízos nos ecossistemas agrários, em termos de poluição
da água, do solo e perda de biodiversidade. Com esta parceria pretende-se
aplicar e desenvolver tecnologias adaptadas às par cularidades dos
sistemas horto industriais.

https://hortinf.webnode.pt/

Coordenação:

Sociedade Agrícola João Carlos Fernandes António Maria Graço, Lda


S. João de Brito, S.A. Flauzino da Silva Moisés
Hort

FICHA TÉCNICA

Guia de boas prá cas para gestão de infestantes

Propriedade e edição
COTHN - CC: Centro Opera vo e Tecnológico Hortofru cola
Nacional - Centro de Competências
h ps://www.cothn.pt/

Coordenação
Ana Paula Nunes
Isabel Calha

Grafismo da capa
Helder Coelho - Centro Opera vo e Tecnológico Hortofru cola
Nacional

Impressão
Netcópia, Centro de impressão e fotocópias

Tiragem
100 exemplares

ISBN
978-972-8785-25-3

Ano
2022
Índice

Prefácio 3
1. Introdução 5
2. Caracterização do sistema produtivo e práticas culturais 6
2.1. Introdução 6
2.2. Características dos produtores, das suas explorações e parcelas 7
2.2.1. Produtores 7
2.2.2. Explorações agrícolas 8
2.2.3. Parcelas das explorações agrícolas 9
2.3. Sistema produtivo do Vale do Tejo 10
2.3.1. Modo de produção 10
2.3.2. Monitorização das características edáficas e hídricas 10
2.3.3. Sucessão Cultural 12
2.4. Caracterização dos sistemas culturais 13
2.4.1. Instalação da cultura 13
2.4.2. Fertilização 15
2.4.3. Plantação 15
2.4.4. Gestão de infestantes 16
2.4.5. Rega 18
2.4.6. Colheita 19
2.5 Conclusão 20
3. Comunidade de plantas infestantes associadas a culturas hortoindustriais do Ribatejo 21
3.1. Introdução 21
3.2. Comunidade de plantas infestantes 21
3.3. Diversidade da comunidade de plantas infestantes 22
3.4. Distribuição das comunidades de infestantes 29
4. Tecnologia de gestão de infestantes das culturas horto-industriais do Ribatejo 33
4.1. Introdução 33
4.2.1 Banco de sementes do solo 34
4.2.2 Monitorização 35
4.3. Evitar a produção e dispersão de sementes 36
4.3. 1 Medidas preventivas 36
4.3.2 Medidas culturais 42
4.4. Diversificar os métodos de controlo 45
4.4.1 Métodos físicos 45
4.4.3 Métodos biológicos 52
4.5. Conclusão 55
5. Perspetivas futuras 56
Bibliografia 58
Glossário 66
Agradecimentos 67
Anexo 1 - Inquérito para caracterização do sistema produtivo 68

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Prefácio
A Agricultura nos nossos dias enfrenta grandes desafios em várias vertentes, sendo de destacar o
posicionamento em relação às alterações climáticas e a produção de alimentos, para fazer face ao
contínuo aumento da população, tendo presente que é pequena a margem para aumentar a área
agrícola, garantindo em simultâneo a sustentabilidade dos agro-ecossistemas de um ponto de vista
agronómico, económico, ambiental, social e cultural.

Por forma a levar a bom termo os desafios acima elencados, são inúmeras as áreas do
conhecimento envolvidas que devem estar ligadas de forma integrada, onde ancestrais e novas
metodologias e tecnologias devem coexistir para dar resposta aos desafios colocados. Deste modo,
a Investigação, a Inovação, o Desenvolvimento, a Transferência de Conhecimento e a Formação,
são áreas que assumem enorme importância para que os propósitos enunciados se tornem
realidade.

Constituindo as infestantes um problema na Agricultura, atendendo aos prejuízos, da mais diversa


índole, podem causar, compete à Herbologia, enquanto ciência que abrange a Sistemática, a
Biologia, a Ecologia e a gestão das Infestantes, dar resposta aos problemas por estas colocadas.

Um dos maiores problemas com que os produtores de culturas hortoindustriais se confrontam, nos
anos mais recentes no Vale do Tejo, prende-se com a gestão da infestantes e, como tal, no âmbito
da Herbologia.

O Grupo Operacional HortInf, pôs em execução um projeto tendo por objetivo dar resposta ao
problema. Para tanto reuniu numa parceria entidades públicas e privadas ligadas à produção, à
atividade académica e à Investigação, que tiveram oportunidade de realizar um diversificado
conjunto de estudos com o propósito de dar uma melhor resposta e desta forma, contribuir, através
da difusão dos seus resultados, para a sustentabilidade das culturas na região.

Esta colaboração de pessoas com interesses idênticos, mas com origens diferentes, conduz a
patamares de eficiência e de conhecimento que dificilmente seriam atingidos se na sua base
estivesse um mesmo modo de ser, estar e pensar. Por outro lado, ao juntar instituições com
diferentes missões e visões no mesmo projeto, também facilita a transferência do conhecimento.
E este ponto é muito importante, porquanto é a difusão do conhecimento que confere valor ao
trabalho realizado.

O livro apresenta uma caracterização do sistema produtivo e práticas culturais adotadas nas
culturas hortoindustriais no Vale do Tejo, assim como as espécies que na atualidade têm o estatuto
de infestantes, pelo que mereceram uma maior atenção. Nesta sequência apresenta-se um
conjunto diverso de medidas cuja integração conduz à gestão sustentável dessas espécies, e, desta
forma, também das culturas.

A publicação deste manual na área da Herbologia, que comtempla novo conhecimento adquirido,
é tanto mais de salientar uma vez que o número de publicações nesta área do conhecimento no
nosso país é escasso.

Assim, as páginas que se seguem cumprirão indubitavelmente a sua função se alargarem o


horizonte a alguns dos seus leitores na área da Herbologia, e ultrapassarão os seus propósitos se

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estimularem um ou outro a juntar-se a esta comunidade de autores, fazendo aumentar o número
daqueles que produzem e difundem conhecimento, que num Mundo Globalizado o torna “plano”.

João Portugal

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1. Introdução
Autores: Ana Paula Nunes

Nos sistemas de produção hortoindustriais praticados no vale do Tejo tem-se verificado um


aumento de prejuízos associados à flora infestante e parasita com significativo impacto negativo na
produtividade, qualidade dos produtos obtidos e na rendibilidade económica das empresas
agrícolas.

Para atenuar este impacto negativo, os produtores recorrem a mobilizações prévias do solo e a
sachas, mas principalmente, a tratamentos com produtos fitofarmacêuticos (herbicidas) cuja
aplicação recorrente tem contribuído para a redução da sua eficácia e determina a ocorrência de
resistências e problemas de fitotoxicidade. Estas práticas tornam muito difícil, e por vezes
impossível, o combate a determinadas espécies de infestantes, anuais ou perenes, e à ocorrência
de plantas parasitas. A cultura do tomate para indústria é uma das culturas hortoindustriais na qual
os fatores intermédios de produção, nomeadamente os herbicidas, representam um valor elevado
na conta de cultura dos produtores. Por outro lado, a utilização excessiva e ineficaz dos herbicidas
leva, por vezes de forma irreversível, a níveis de contaminação e a desequilíbrios nos ecossistemas
agrícolas, em termos de poluição da água, do solo e perda de biodiversidade. Assim, torna-se, cada
vez mais necessário e urgente, a utilização de meios de proteção alternativos, económicos, eficazes,
com menor impacto para o aplicador, ambiente e consumidor.

Esta é uma problemática que compromete a sustentabilidade dos sistemas produtivos


hortoindustriais no vale do Tejo e que levou à constituição do Grupo Operacional HortInf (GO
HortInf).

O GO HortInf insere-se no PDR2020, na Área 1. Inovação e Conhecimento, na Medida 1. Inovação


e na Ação 1.1 Grupos Operacionais. Este projeto permitiu a constituição de um consórcio que
procurou desenvolver soluções que contribuíssem para o controlo da flora infestante e parasita nas
culturas hortoindustriais. O consórcio, que integrou empresas (Agromais, CRL, Torriba, S.A., Soc.
Agrícola de S. João de Brito, S.A., António Maria Graço, Lda), pessoas singulares com atividade
agrícola (João Carlos Moisés), associações (FNOP) e entidades com atividade na investigação e
desenvolvimento (ESAS, INIAV, I.P, CCTI e COTHN-CC), procurou dar um contributo para uma
melhor gestão da flora infestante com a apresentação deste manual. As estratégias /soluções
apresentadas estão alinhadas, em particular, com o objetivo de redução da utilização de pesticidas
da Estratégia do Prado ao Prato, pela utilização de técnicas de controlo alternativas, como a
introdução de culturas de cobertura, a monda mecânica, a implementação adequada de sucessão
cultural e a aplicação localizada de herbicidas no momento oportuno, em particular para o controlo
da infestante parasita rabo-de-raposa (Phelipanche ramosa (L.) Pomel).

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2. Caracterização do sistema produtivo e práticas culturais
Autores: Alexandra Seabra Pinto & Artur Amaral

2.1. Introdução
Um dos objetivos deste projeto foi caracterizar o sistema produtivo do regadio do Vale do Tejo e
conhecer as principais práticas culturais ligadas à gestão das infestantes e plantas parasitas,
características das principais culturas da região. A metodologia de recolha da informação para a
concretização deste objetivo foi o inquérito por questionário. Este foi aplicado junto de uma
amostra constituída por produtores associados às Organizações de Produtores (OP) parceiras do
Grupo Operacional (GO) HortInf. As respostas foram obtidas pela técnica face a face nas instalações
das OP, com o apoio dos seus técnicos e durante o período de janeiro a outubro de 2019. Teve
como principal unidade de análise a parcela da exploração; no entanto, diversas questões
permitiram caracterizar o produtor (respondente do inquérito) bem como a sua exploração.

As 37 questões do inquérito (Anexo 1) foram estruturadas por diferentes temas que permitiram
caracterizar os produtores, as suas explorações e parcelas, bem como descrever o sistema
produtivo e as principais operações culturais. O inquérito possibilitou ainda identificar os principais
inimigos das culturas e, por fim, analisar o comportamento dos produtores relativamente à
estimativa de risco.

Neste capítulo apresentam-se os resultados de um trabalho estatístico descritivo sobre as respostas


que se obtiveram no inquérito e que permitiram caracterizar o sistema produtivo de regadio da
região do Vale do Tejo, bem como as práticas culturais seguidas, por um conjunto de produtores
representativos da região, nas parcelas das suas explorações. A amostra estudada é constituída por
114 parcelas inseridas em 50 explorações agrícolas.

Figura 1 – Distribuição geográfica das parcelas inquiridas

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As parcelas que foram objeto de análise neste trabalho situam-se em quatro unidades territoriais
(NUTIII): Médio Tejo, Lezíria do Tejo, Oeste e Área Metropolitana de Lisboa e em 12 concelhos
destas regiões. Na Figura 1 é possível visualizar esta distribuição e constatar que 83% das parcelas
se concentram em oito concelhos da Lezíria do Tejo; destas (94 parcelas), cerca de 23% localizam-
se na Golegã, 20% em Almeirim e 17% em Rio Maior. As restantes parcelas da Lezíria do Tejo situam-
se nos concelhos de Salvaterra de Magos, Cartaxo, Azambuja, Santarém e Alpiarça.

2.2. Características dos produtores, das suas explorações e parcelas


2.2.1. Produtores
Os 50 produtores que responderam ao inquérito foram caracterizados segundo a idade,
habilitações literárias, frequência de cursos de formação nos últimos cinco anos, participação em
estruturas organizativas. No Quadro 1 observa-se que mais de metade (58%) dos produtores
tinham uma idade compreendida entre os 41 e os 64 anos e apenas cinco produtores tinham uma
idade inferior a 30 anos. A informação sobre as habilitações literárias dos produtores revelou que
cerca de 40% dos indivíduos tinham frequentado o ensino secundário e que nove produtores eram
licenciados. Com as questões ligadas aos cursos de formação especializada procurou saber-se se os
produtores investiam na sua formação ao longo da vida. Verificou-se que 72% dos produtores
tinham o curso de higiene e segurança no trabalho e o curso de aplicação de produtos
fitossanitários, cumprindo com o disposto na Lei n.º26/2013, de 11 de abril. Constatou-se ainda
que apenas 25% dos produtores investiram noutras formações (gestão da rega, GAIN -Curso de
Direção de Empresas Agrícolas e Agroindustriais).
Quadro 1 – Caracterização sociodemográfica dos produtores

Frequência % total
Idade
<30 anos 5 10
30-40 anos 7 14
41-64 anos 29 58
≥ 65 anos 9 18

Habilitações
Sem escolaridade 2 4
Ensino Preparatório 20 40
Ensino Secundário 19 38
Ensino Superior 9 18

Formações nos últimos 5 anos


Aplicação de Produtos Fitossanitários 36 72
Operadores de Máquinas 28 56
Primeiros Socorros ou Higiene e
Segurança no Trabalho 36 72
Outros (Gain, Prodi,…) 10 20

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Todos os produtores eram associados de organizações de produtores; cerca de 83% estavam
inseridos no sistema de certificação GLOBALG.A.P. e 22% dos produtores beneficiavam de uma
medida agroambiental (produção integrada e/ou uso eficiente de água).

Com o inquérito foi possível conhecer as iniciativas de investimento dos produtores em software e
equipamento de monitorização da sua atividade nos últimos cinco anos. Os resultados mostraram
que cerca de metade investiu em programas de gestão agrícola, de rega e de controlo de
equipamento de rega.

2.2.2. Explorações agrícolas


As 50 explorações agrícolas analisadas tinham uma área média de 130 ha com um valor mínimo de
5 ha e um máximo de 761 ha. Na Figura 2 é possível observar a distribuição das explorações por
classe de área. Constata-se que 50% das explorações tinham uma área inferior a 100 ha,
distribuídas, com peso igual (20%), por duas classes de área: 20-49 ha e 50-99 ha; na classe de
menor área, 5-19 ha, apenas se encontravam cinco explorações. As restantes explorações, de
maiores dimensões, situavam-se nas classes 100-199 ha (32%) e 200-399 ha (14%). Observa-se
ainda que só duas explorações tinham uma área superior a 400 ha. Estas parcelas situam-se nos
concelhos de Almeirim, Golegã e Vila Franca de Xira.

Figura 2 – Número de explorações por classe de área

A maioria dos produtores (70%) identificou três culturas principais nas suas explorações. Com o
objetivo de se conhecer a importância dessas culturas na exploração, calculou-se o peso da área de
cada cultura na superfície agrícola útil (SAU) da exploração. Verificou-se que em cerca de 37% das
explorações, a primeira cultura principal representava menos de 50% da SAU da exploração; e nas
restantes explorações o peso da primeira cultura principal situava-se entre 51 e 90% da SAU da
exploração. Estes pesos confirmam a respetiva preponderância na exploração.

A primeira cultura principal mais referida foi o tomate de indústria, presente como cultura principal
em 32 explorações e representando uma área acumulada de 3 400 ha.

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Figura 3 – Culturas principais das explorações

Tal como é possível observar na Figura 3, esta cultura foi também identificada como segunda
cultura principal para cinco explorações. O milho foi identificado como a principal cultura em dez
explorações, com uma área acumulada de 1 800 ha, sendo identificada como segunda principal
cultura em dez explorações e terceira principal cultura em cinco explorações. A segunda principal
cultura identificada com mais área acumulada foi a da batata com 900 ha, correspondendo a 11
explorações. Outras culturas, como os cereais de outono-inverno e culturas de primavera-verão,
foram identificadas como a terceira cultura mais importante na exploração. Importa notar que
cinco explorações identificaram como segunda e terceira principal cultura o “pousio” e que 21
explorações não responderam à questão sobre a segunda e terceira cultura.

2.2.3. Parcelas das explorações agrícolas


A distribuição das 114 parcelas pelas principais culturas revelou que o tomate de indústria ocupava
70 parcelas com uma área média por parcela na ordem dos 19 ha; no entanto, com valores mínimo
e máximo de área por parcela, de 0,7 ha e 90 ha, respetivamente. A batata estava presente em 23
parcelas, com uma área média de 11ha por parcela e o milho em 7 parcelas com uma área média
de 17 ha por parcela. As restantes 14 parcelas estavam ocupadas com outras culturas como o
pimento, a ervilha, entre outras.
A questão sobre a titularidade da parcela permitiu saber que mais de metade (65%) das parcelas
eram arrendadas, apenas 31% eram próprias e cinco parcelas tinham outro tipo de titularidade,
nomeadamente, a cedência. Na Figura 4 é possível ver que cerca de 72% das parcelas arrendadas
estavam ocupadas com tomate para indústria e que nas parcelas próprias as principais culturas
eram a batata e o tomate de indústria.

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Figura 4 – Titularidade da parcela e cultura principal

2.3. Sistema produtivo do Vale do Tejo


A caracterização do sistema produtivo foi realizada com base num conjunto de questões que
permitiram conhecer o modo de produção seguido nas parcelas, a monitorização das características
edáficas e hídricas e a sucessão cultural nos cinco anos anteriores à última cultura de primavera-
verão.

2.3.1. Modo de produção


O principal modo de produção identificado foi o convencional, presente em cerca de 75% das
parcelas. O modo de produção integrada foi seguido nas restantes 28 parcelas. A análise desta
informação por cultura principal da parcela permitiu constatar que a produção integrada foi o
principal modo (87% das parcelas) identificado nas parcelas com cultura da batata; enquanto a
produção convencional foi predominante nas parcelas ocupadas com a cultura do tomate (99%).
Na cultura do milho, o modo de produção integrada foi seguido em quatro parcelas; o modo de
produção convencional foi seguido nas outras três parcelas onde o milho era a cultura principal.
Por forma a validar a existência de uma associação entre o modo de produção e a cultura principal
da parcela, realizou-se o teste estatístico não paramétrico do qui-quadrado (χ2). O teste revelou
que essa associação existia (p=0,00), ou seja, que a escolha do modo de produção dependia da
cultura principal da parcela.

2.3.2. Monitorização das características edáficas e hídricas


No gráfico da figura 5 identificam-se as diferentes classes texturais encontradas nas parcelas das
explorações.

10
2% 2%

9%

34%
10%

20%

24%

Franco-argiloso Franco-Arenoso Argiloso Franco


Arenoso Areno-Argiloso Franco-Arenoso

Figura 5 - Principais classes texturais.

As principais classes texturais indicadas foram: franco-argiloso (34%), franco-arenoso (24%) e


argiloso (20%).

A cultura do tomate para indústria foi conduzida em solos do tipo argiloso e franco-argiloso (47%)
com textura entre média a pesada (10% e 20%, respetivamente). Cerca de 40% das parcelas com
batata encontravam-se em solos franco-argilosos com uma textura média em cerca de 30% destas
parcelas. A cultura de milho foi igualmente conduzida em solos franco-argilosos em que a textura
variava entre média (29%) e pesada (14%).

No que diz respeito à monitorização das características edáficas, constatou-se que as análises de
terras foram efetuadas na totalidade das parcelas: com periodicidade anual em cerca de 65% das
parcelas e de dois em dois anos nas restantes parcelas.

Os produtores foram igualmente questionados sobre a realização de análises à água e foliares. Os


resultados mostraram que foram efetuadas análises à água na totalidade das parcelas, com a
seguinte periodicidade: anual, em 78% das parcelas; de quatro em quatro anos, em 16% das
parcelas; e de dois em dois anos, nas restantes. Relativamente às análises foliares, verificou-se que
eram realizadas em cerca 33% das parcelas; no entanto, só ocorriam quando eram detetados
sintomas nas culturas. Quando se cruzou a informação das análises foliares com a principal cultura
da parcela, constatou-se que estas foram realizadas em 40% das parcelas com tomate de indústria
e em 27% das parcelas com batata. Igualmente, quando se cruzou esta informação com o modo de
produção seguido nas parcelas com tomate de indústria, constatou-se que as análises foliares eram
realizadas regularmente na única parcela de tomate de indústria que seguia o modo de produção
integrada.

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2.3.3. Sucessão Cultural
Com o inquérito foi possível conhecer as culturas de outono-inverno e de primavera-verão que se
sucederam nas parcelas nos cinco anos anteriores à campanha primavera-verão de 2018. Os
produtores foram questionados sobre esta prática e os resultados mostraram que em mais de
metade das parcelas (56%) era efetuada a sucessão cultural.

Quando se analisou esta informação por cultura principal, apurou-se que, das 23 parcelas com a
cultura da batata, apenas uma não fazia sucessão de culturas e que esta prática era seguida pela
totalidade das parcelas com milho. Verificou-se ainda que a sucessão cultural só ocorreu em 30%
das parcelas ocupadas com tomate de indústria. Por forma a validar a existência de uma associação
entre a sucessão cultural e a cultura principal da parcela realizou-se, novamente, o teste estatístico
do χ2. O resultado deste teste (p=0,00) confirmou essa associação. Assim, a análise da sucessão
cultural num período de cinco anos foi realizada tendo em consideração a cultura principal da
parcela da última campanha e considerando apenas as parcelas onde foi indicada a existência de
sucessão cultural.

Tomate de indústria

A sucessão cultural ocorreu em apenas 21 parcelas ocupadas por esta cultura. Procurou
caracterizar-se os diferentes tipos de sucessão cultural indicados para este conjunto de parcelas;
contudo, os resultados mostraram a impossibilidade de encontrar uma sucessão padrão para esta
cultura. Só duas parcelas seguiram a mesma sucessão cultural ao longo dos cinco anos: tomate
alternado com azevém. Contudo, constatou-se que: em 13 parcelas não foi dada resposta sobre as
culturas seguidas em anos mais longínquos; em 10 parcelas, a resposta “sem cultura” surgiu,
sobretudo, na questão relativa à cultura de outono-inverno e para diferentes anos; e em nove
parcelas a cultura do tomate era relativamente recente, uma vez que apenas foi indicada no
penúltimo ou último ano da sucessão cultural.

Esta análise permitiu ainda verificar que as principais culturas de outono-inverno utilizadas na
sucessão cultural com tomate, para além do azevém, foram: aveia, trigo, cevada e outros cereais.
Nas culturas de primavera-verão foram indicadas as seguintes: milho, batata, fava, ervilha, brócolo.

Batata

A sucessão cultural foi indicada para a maioria das parcelas com batata; no entanto, e tal como
verificado com a cultura anterior, os produtores tiveram alguma dificuldade em recordar as culturas
realizadas em anos mais distantes. Os resultados mostram igualmente a inexistência de uma
sucessão tipo para esta cultura. Contudo, quando se analisou com detalhe as 22 sucessões culturais
constatou-se que a cultura da batata era relativamente recente em nove parcelas, visto que foi
referida pela primeira vez no penúltimo e último ano da sucessão cultural; observou-se ainda que
em 15 parcelas a cultura do milho foi identificada em várias campanhas, sendo esta a principal
cultura que alternava com a batata. Outras culturas como a ervilha, brócolo e pimento foram
identificadas nas sucessões culturais, bem como dois cereais de outono-inverno, designadamente,
o centeio e a cevada. A resposta “sem cultura” surgiu em sete parcelas e nas questões relativas à
cultura outono-inverno. Verificou-se igualmente que em três parcelas o tomate para indústria foi
substituído pela cultura da batata na última campanha.

12
Milho

Os produtores das sete parcelas que identificaram esta cultura como sendo a principal na última
campanha informaram que tinham realizado a sucessão cultural nos últimos cinco anos.
Novamente, não foi encontrada uma sucessão cultural tipo para esta cultura. Igualmente, os
produtores tiveram alguma dificuldade em recordar-se das culturas realizadas em campanhas
anteriores. A cultura do milho surgiu pela primeira vez na última campanha em duas parcelas, tendo
substituído a cultura do tomate e do amendoim, respetivamente. Outras culturas identificadas nas
sucessões culturais foram: azevém, centeio, ervilha, batata, rabanete e girassol.

2.4. Caracterização dos sistemas culturais


Os resultados obtidos com o inquérito permitiram fazer uma caracterização detalhada das
atividades culturais realizadas nas parcelas e segundo as suas principais culturas.

2.4.1. Instalação da cultura

Os produtores foram questionados sobre o número de


mobilizações do solo nas suas parcelas e por cultura principal.
Os resultados revelaram que em quase metade das parcelas
(49%) foram realizadas seis a sete mobilizações por cultura
principal. Na Figura 6 é possível observar que em 14% das
parcelas foram realizadas mais de sete mobilizações.
Quando se cruzou esta informação com a cultura principal da
parcela verificou-se que para o tomate de indústria o número
mínimo de mobilizações era de quatro e que em mais de
metade das parcelas foram realizadas entre seis a sete
mobilizações. Na cultura da batata verificou-se uma situação
semelhante, pois foram realizadas seis a sete mobilizações em Figura 6 – Nº de mobilizações por parcela
quase metade das parcelas. Na cultura do milho, o número de
mobilizações mínimo foi de duas e o máximo de sete.

No Quadro 3 apresentam-se os sistemas de mobilização por cultura principal. Pela sua análise
verifica-se um predomínio do sistema de mobilização convencional tradicional, que inclui
operações tão diversificadas, tais como: gradagens, lavoura, escarificação, subsolagem e/ou
fresagem com rototerra (grade animada). O sistema convencional simplificado, que inclui apenas
gradagem, subsolagem e/ou rototerra, é seguido em sete parcelas. O sistema de mobilização de
conservação é seguido apenas em cinco parcelas (três em sistema de mobilização mínima e duas
em sistema de mobilização em faixas). Deste modo, podemos verificar que o sistema de
mobilização convencional predomina nos sistemas culturais da região.

13
Quadro 3 - Sistemas de mobilização utilizados nas parcelas

Sequência de Convencional Convencional Conservação Conservação Conservação


Máquinas Tradicional Simplificada Mobilização Mobilização Sementeira
Mínima Faixas Direta
Cultura
Principal
Tomate 68 1 0 0 0
Batata 22 0 1 0 0
Milho 1 3 0 0 0
Brócolo 3 1 0 0 0
Pimento 4 0 0 0 0
Amendoim 1 1 0 0 0
Girassol 0 1 1 2 0
Ervilha 0 0 1 0 0
Trigo 1 0 0 0 0
Total 100 7 3 2 0

Os produtores foram questionados sobre a duração total (nº de horas/ha) das operações de
mobilização do solo. Calcularam-se os respetivos valores médios por cultura principal e obtiveram-
se os seguintes resultados: batata 4,8 h/ha; milho 2,9 h/ha; e tomate 7,4 h/ha. Na figura 7
observam-se os intervalos de confiança a 95% para as durações médias das operações nas três
culturas principais. Os respetivos limites superiores e inferiores nos quais os valores (horas por
hectare) de duração das operações se situavam são os seguintes: batata (3,81; 5,84); milho (1,61;
4,1); e tomate (6,4; 8,4).

Figura 7 – Intervalos de Confiança (95%) de duração total das operações por cultura principal

A modulação dos solos foi realizada em 88% das parcelas, sendo a leira o principal tipo de
modulação referido e o armador com fresa o principal equipamento utilizado. Este sistema de
modulação foi indicado para a quase totalidade (96%) das parcelas ocupadas com a cultura do
tomate.

14
Os produtores foram ainda questionados sobre outro tipo de mobilizações, em particular, as que
realizavam para combater mecanicamente as infestantes. Verificou-se que estas mobilizações
foram efetuadas na quase totalidade da amostra (100 parcelas). A principal mobilização indicada
foi a sacha (84%), com uma duração média de 1,3 h/ha e a principal alfaia utilizada foi a multifresa.
A amontoa foi realizada nas restantes parcelas, com uma duração média de 1,6 h/ha e com as
seguintes alfaias: derregador e/ou o sachador equipado com aivequilhos.

2.4.2. Fertilização

Com o inquérito foi possível conhecer outras operações culturais, nomeadamente, a fertilização.
Assim, no que diz respeito à utilização de estrume, este foi aplicado em fundo, em 30 parcelas cuja
principal ocupação era a cultura de tomate de indústria (22), da batata (5) e do pimento (3). O
estrume mais utilizado foi o de aves.

Figura 8 – Fertilizantes sólidos e fertirrigação da cultura principal da parcela

Os produtores foram igualmente questionados sobre a aplicação de corretivos/fertilizantes nas


suas parcelas. A Figura 8 mostra que em 70% das parcelas com tomate de indústria foram aplicados
fertilizantes sólidos e nas mesmas parcelas foi realizada a fertirrigação. O mesmo não se verificou
nas outras duas culturas. Em 74% e 86% das parcelas com batata e milho, respetivamente, foi
apenas utilizado fertilizante sólido. Apenas para uma parcela ocupada com milho foi indicada a
fertilização com produto sólido e a utilização de fertirrigação.

2.4.3. Plantação

A operação cultural plantação foi analisada por tipo de cultura principal na última campanha
primavera-verão de 2018. A densidade de plantação, em média, foi de: 33 300 plantas/ha no
tomate para indústria; 21 467 plantas/ha na cultura da batata; e 80 000 a 83 000 sementes/ha na
cultura do milho.

15
Nos gráficos da Figura 9, é possível observar as principais datas médias de plantação para as culturas
do tomate de indústria, batata e milho, respetivamente.

Figura 9 – Distribuição do número de parcelas por classes de data de plantação e segundo a cultura principal

No tomate para indústria as plantações ocorreram essencialmente no mês de maio em cerca de


63% das parcelas. A plantação da cultura da batata verificou-se essencialmente nos finais dos meses
de março e abril. A sementeira nas parcelas do milho ocorreu, sobretudo, durante o mês de maio.

2.4.4. Gestão de infestantes

Os produtores foram questionados sobre as três principais infestantes observadas nas suas
parcelas. Na figura 10 identificam-se as 13 infestantes referidas pelos produtores, bem como a sua
importância segundo o número de parcelas nas quais foram observadas. Em quase metade das
parcelas a principal infestante indicada foi a erva-moira; esta planta foi referida como 2ª principal
infestante em cerca de 21 parcelas e como 3ª principal infestante em cinco parcelas. Da observação
da figura 8 é também possível verificar que a junça, a milhã e a figueira do inferno foram igualmente
indicadas como a primeira principal infestante em 28%, 11% e 4% das parcelas, respetivamente.

Com o objetivo de se conhecer quais eram as principais infestantes percecionadas nas parcelas
ocupadas com a cultura principal, os respetivos dados foram cruzados e obtiveram-se os resultados
que se encontram o Quadro 4. Da sua análise, é possível constatar uma associação entre algumas
infestantes e as culturas principais. Para confirmar esta associação em termos estatísticos utilizou-
se o teste estatístico do χ2. O resultado do teste (p=0,04) confirmou que as principais infestantes
não eram independentes das culturas principais das parcelas. Assim, na cultura da batata, a
principal infestante identificada foi a junça (referida em 65% das parcelas com esta cultura
principal); em cerca de 43% das parcelas com milho, a principal infestante identificada foi a milhã;
e na cultura do tomate, a erva-moira apareceu em mais de metade das parcelas (58%). A infestante
parasita rabo de raposa foi identificada em cerca de 9% das parcelas com a cultura de tomate e em
4% das parcelas ocupadas com a cultura do milho.

16
50
45
Nº de parcelas 40
35
30
25
20
15
10
5
0

1ª Infestante 2ª Infestante 3ª Infestante

Figura 10 - Principais infestantes das parcelas

Quadro 4 – Distribuição das principais infestantes por cultura principal

Planta Figueira Bredos Cavalinha Erva- Graminhão Junça Milhã Rabo de Outras
Infestante do moira Raposa
Inferno
Cultura
Principal
Tomate 6% 0% 2% 59% 0% 14% 9% 9% 1%
Batata 0% 13% 0% 9% 0% 65% 9% 4% 0%
Milho 0% 0% 0% 14% 14% 14% 43% 0% 15%

Os produtores foram questionados sobre a realização da falsa sementeira (realização de


mobilizações que antecedem a cultura principal com o objetivo de estimular a emergência de
sementes de infestantes, esgotando deste modo o banco de semente) no controlo das infestantes.
Os resultados mostraram que esta operação não foi realizada nas 114 parcelas da amostra.
Ainda sobre as operações de mobilização do solo, procurou perceber-se se existia alguma relação
entre este tipo de operações e a presença de plantas infestantes nas parcelas. Cruzou-se a
informação sobre número de mobilizações do solo e a principal infestante da parcela, aplicou-se o
teste do χ2 e confirmou-se uma associação estatisticamente significativa (p=0,02) entre elas. Assim,
é possível dizer-se que a presença de infestantes na parcela depende do número de mobilizações
do solo. Segundo a informação contida no Quadro 5, constata-se que tanto a erva-moira como a
junça estavam presentes, sobretudo, em parcelas onde foram realizadas seis a sete mobilizações.
A infestante parasita rabo de raposa apareceu em seis parcelas onde foram realizadas mais de seis
mobilizações do solo.

17
Quadro 5 – Número de mobilizações do solo e infestante principal por parcela
Unidade: Nº de parcelas
Planta Figueira Bredos Erva- Junça Milhã Rabo de
Infestante do moira Raposa
Inferno
Nº de
mobilizações
2a3 0 0 1 5 3 0
4a5 1 1 12 11 5 1
6a7 1 2 29 13 5 3
>7 3 0 6 3 0 3

As principais substâncias ativas dos herbicidas utilizados nas parcelas indicadas pelos produtores
foram as seguintes: metame-sódio, rinsulfurão, metribuzina, s-metolacloro, terbutilazina,
pendimetalina, oxifluorfena, quizalope-P-etilo e glifosato.

Os resultados do inquérito também permitiram conhecer a relação existente entre a utilização dos
herbicidas de pré e pós-emergência e a presença de plantas infestantes nas parcelas. No Quadro 6
é possível verificar que os principais herbicidas utilizados nas parcelas foram os de pós-emergência,
pois foram indicados para 71% das parcelas, enquanto os de pré-emergência só foram referidos em
33% da amostra. Do cruzamento desta informação com a identificação das principais infestantes,
observa-se que nas parcelas que utilizaram herbicida de pré-emergência a principal infestante
percecionada foi a junça (55%), tendo também sido identificadas a milhã e a erva-moira em 13% e
16%, respetivamente. Nas parcelas onde foram aplicados herbicidas de pós-emergência foram
identificadas quase todas as principais infestantes anteriormente referidas, com exceção da
infestante gramilhão. Destaca-se a erva-moira, pois foi identificada em quase metade (49%) das
parcelas com este tipo de herbicida.

Quadro 6 – Relação entre planta infestante e tipo de herbicida aplicado na parcela


Unidade: Nº de parcelas
Tipo de Herbicida Herbicida de Pré- Herbicida de Pós-
Emergência Emergência
Planta Infestante
Figueira do Inferno 1 5
Bredos 3 2
Erva-Moira 5 40
Grama 0 1
Gramilhão 1 0
Junça 21 16
Milhã 6 9
Rabo de Raposa 1 7

TOTAL 38 81

2.4.5. Rega

Os produtores foram questionados sobre a origem da água utilizada nas suas parcelas e os sistemas
de rega utilizados. No Quadro 7 encontram-se os resultados do cruzamento destas duas questões.
Constata-se que 64% das parcelas utilizavam furos para obtenção de água de rega e 32% usava
fontes de água superficiais. A rega localizada foi o principal sistema de rega utilizado, identificada

18
em 68% das parcelas. O sistema de rega por aspersão foi usado em 35 parcelas; verificou-se que
este sistema de rega foi o único usado nas parcelas com cultura de milho e foi também utilizado
em mais de metade (65%) das parcelas com a cultura da batata. A totalidade das parcelas com
cultura do tomate utilizou o sistema de rega localizada.

Quadro 7 – Origem da água de rega e sistema de rega


Unidade: Nº de parcelas

Sistema de rega
Origem da
rega Aspersão Localizada Total

Canal 3 33 36
Furo 31 42 73
Poço 0 1 1
Rio 1 3 4
TOTAL 35 78 114

No inquérito os agricultores foram questionados sobre o apoio das OP na gestão da água. Cerca de
32% referiu ter esse apoio através da instalação de sondas e software. Importa referir que 28% dos
produtores que não receberam apoio da OP afirmaram utilizar sondas de monitorização de água
no solo.
Em termos de frequência de rega observou-se que, na quase totalidade das parcelas (90%,) a rega
era diária ou de dois em dois dias. Em termos de quantidade de água utilizada por cultura principal,
os valores médios encontrados foram os seguintes: 5 200 m3/ha para o tomate de indústria, 4 737
m3/ha para a batata e 6 249 m3/ha para o milho.

2.4.6. Colheita

No inquérito foram colocadas três questões relativamente à operação colheita. Começou por
questionar-se os produtores sobre os equipamentos utilizados nesta operação. Verificou-se que em
83% das parcelas foi indicado o equipamento “colhedora” utilizado, sobretudo, nas culturas do
tomate para indústria e da batata. A ceifeira-debulhadora foi usada na totalidade das parcelas com
cultura de milho. No Quadro 8 encontram-se as produtividades médias das três principais culturas.

Quadro 8 – Produtividade da cultura principal na campanha primavera/verão 2018


Unidade: t/ha
Cultura Principal Batata Milho Tomate
Média (t/ha) 39,3 8,6 87,2

Por último, nos gráficos da Figura 11 apresentam-se as principais datas de colheita por cultura
principal. Observa-se que em 60% das parcelas com tomate de indústria a colheita realizou-se entre
o dia 21 de agosto e 20 de setembro de 2018. A colheita da cultura da batata iniciou-se no final do
mês de junho e prolongou-se até à primeira quinzena de outubro de 2018. Por último, e para a
cultura do milho, os resultados revelaram que em mais de metade das parcelas a colheita foi
realizada na segunda quinzena do mês de outubro de 2018.

19
Figura 11 – Distribuição do número de parcelas por classes de data de colheita e segundo a cultura principal

2.5 Conclusão
Do trabalho descritivo realizado a partir deste inquérito exaustivo a uma amostra de produtores da
região do Vale do Tejo realçam-se as seguintes características do sistema produtivo e das práticas
culturais:
• As explorações têm áreas diversas, contudo, a área de 100 ha por exploração divide a
amostra em dois grupos, as que têm área inferior àquele valor e as que o ultrapassam.
• As explorações caracterizam-se pela sua especialização numa única cultura principal.
• O tomate de indústria é uma cultura preponderante neste sistema produtivo, tanto em
termos de área como no número de parcelas que ocupa.
• O arrendamento das parcelas destaca-se das outras formas de titularidade, sendo o tomate
para indústria a cultura que ocupa esta tipologia de parcelas.
• O principal modo de produção seguido é o convencional.
• A monitorização das características edáficas e hídricas das parcelas é prática usual e a sua
periocidade é, geralmente, anual.
• A sucessão cultural é efetuada na quase totalidade das parcelas e para as três principais
culturas.
• Não foi encontrada uma sucessão cultural padrão para cada uma das culturas principais.
• O número de mobilizações do solo nas parcelas é elevado e é uma prática comum às três
culturas principais.
• O sistema de mobilização do solo que se destaca é o convencional tradicional.
• A principal mobilização de combate às infestantes é a sacha, sendo que a amontoa é
igualmente importante, mas com um peso menor.
• A fertilização varia com o tipo de cultura. No caso do tomate para indústria é utilizada a
fertilização sólida e no milho e batata é utilizada a fertilização líquida.
• As infestantes consideradas mais problemáticas pelos produtores foram por ordem decrescente de
importância: erva-moira, junça, milhãs e rabo-de-raposa.
• A presença de infestantes nas parcelas depende do número de mobilizações do solo.
• Os produtores aplicam nas suas parcelas, sobretudo, herbicidas de pós emergência.
• A água da rega das parcelas é obtida, essencialmente, através de furos e fontes de água
superficiais.
• Os equipamentos de colheita e as datas de realização desta operação variam com a cultura
principal da exploração.

20
3. Comunidade de plantas infestantes associadas a culturas hortoindustriais
do Ribatejo
Autores: Isabel M. Calha, Alexandra Seabra Pinto, Inês Rebelo Romão, João Santos

3.1. Introdução
O conhecimento da vegetação espontânea associada às culturas é essencial para uma gestão
sustentável das infestantes. Com esse objetivo realizou-se um estudo ecológico de 2018 a 2019 em
culturas hortoindustriais do Ribatejo a fim de avaliar a distribuição e diversidade (abundância e
frequência) das comunidades de plantas infestantes.
São muitas as espécies de plantas que aparecem nos campos de cultura, associadas à intervenção
humana. As plantas espontâneas ou subespontâneas que se desenvolvem normalmente associadas
ao ecossistema agrário, sem lhe introduzir qualquer carga positiva ou negativa, resultante dos seus
efeitos prejudiciais ou benéficos, são consideradas plantas adventícias. As populações de plantas
adventícias podem adquirir o estatuto de infestante quando, acima de determinados níveis e sob
condicionalismos ecológicos particulares, sejam responsáveis por prejuízos líquidos (balanço
‘benefícios/prejuízos’ negativo) inaceitáveis em termos económicos ou ecológicos (Navas, 1991).
A diversidade expressa-se pela presença de espécies mais competitivas do que outras. Na
abundância há a considerar que aquelas plantas que exercem interferência com a cultura (por
efeitos de competição e alelopatia) representam apenas 10% do banco de sementes do solo, isto
é, das sementes e outros propágulos que se mantém ao longo do tempo no solo.
Nos ecossistemas naturais a presença de plantas espontâneas pode ser considerada, numa primeira
aproximação, como consequência de condições edafo-climáticas que satisfazem as exigências
ecológicas das espécies (Brau-Blanquet, 1932; Ribas-Martinez et al., 1977; 1979). Todavia nos
ecossistemas agrícolas a estrutura das comunidades vegetais é também largamente afetada pelas
práticas culturais, de que se destacam a sucessão de culturas, a fertilização, os métodos químicos
e a mobilização (Fernandes, 1994; Barberi et al., 2001; Bastiaans et al., 2008; Rodriguez et al.; 2018;
Travlos et al., 2018).

3.2. Comunidade de plantas infestantes


Realizaram-se 82 inventários florísticas em parcelas de tomateiro, batateira, milho e amendoim
caracterizadas do ponto de vista agronómico pelas questões colocadas no inquérito HORTINF
(Seabra Pinto et al., 2022). O método de amostragem foi o da “volta ao campo” proposto por
Maillet (1981). Foi avaliada a frequências relativa (FR) e abundância média (AM) das espécies,

21
segundo a escala de Barralis (1975): 1- 0,5 ind/m²; 2- 1,5 ind/m²; 3 - 11,5 ind/m²; 4 - 35,5 ind/m² e
5 - 75 164 ind/m²).

A nível da comunidade, determinou-se a riqueza de espécies (S), isto é, o número de espécies numa
unidade de amostragem, e a abundância total definida como a soma da abundância de cada espécie
presente numa unidade de amostragem. Para este efeito, transformou-se a classe de abundância
numa escala quantitativa utilizando a mediana da gama de densidade associada a cada classe de
abundância (Barralis, 1975).
A frequência relativa (FR) é calculada com base no número total de inventário (n) e o número de
inventários onde a espécies está ausente (a) pela expressão (1)
(𝑛−𝑎)
𝐹. 𝑅. = 100 × (1)
𝑛

A abundância media das espécies calculou-se partir de coeficientes de abundância adequados ao


estudo de agroecosistemas (Barralis 1975, 1976) (Quadro 6) pela seguinte expressão (2).
n1 x A1 + n2 x A2 + n3 x A3 + n4 x A4 + n5 x A5
𝐴𝑀 = n1 + n2 + n3 + n4 + n5
(2)

Onde, ni: número de inventários a que atribui um determinado coeficiente de abundância i, por
espécie.

A relação FR/AM permite distinguir diferentes graus de infestação das espécies (Michez & Guillerm,
1984): 0 muito fraco; + fraco, ++ médio; +++ elevado; ++++ muito elevado.

3.3. Diversidade da comunidade de plantas infestantes


Nos 82 inventários de culturas hortoindustriais, identificaram-se 136 espécies de plantas da
vegetação espontânea distribuídas por 33 famílias. Em termos de biodiversidade as famílias que
apresentaram maior expressão foram Asteraceae, Poaceae, Amaranthaceae, Fabaceae e
Malvaceae, representando mais de 55% do total de espécies presentes nas culturas horto-
industriais do Ribatejo (Quadro 6). As famílias com menor expressão (1-2 espécies) representam
16% do total de espécies presentes, onde se incluem por exemplo as Cyperaceae que incluem as
espécies mais competitivas de infestantes como as junças (Cyperus rotundus e C. esculentus) e as
Orobanchaceae como a planta parasita rabo-de-raposa (Phelipanche ramosa). Predominam as
plantas anuais (79,4%) sobre as vivazes (13,2%) com espécies de ciclo bianual e perene menos
representadas, respetivamente por 5,1 e 1,5%.

22
Quadro 6 – Diversidade das famílias botânicas mais relevantes por cultura, expresso pelo índice riqueza (S) – número
de espécies
Família Batateira Tomateiro Milho Total
(11 parcelas) (62 parcelas) (5 parcelas) (82 parcelas)
Asteraceae 15 26 9 26
Poaceae 8 16 5 16
Amaranthaceae 5 10 2 10
Brassicaceae 4 9 1 9
Convolvulaceae 3 6 0 6
Cyperaceae 2 2 2 2
Fabaceae 1 10 0 9
Malvaceae 2 5 2 9
Orobanchaceae 0 1 0 1
Solanaceae 2 4 3 4
Famílias 21 33 17 33
Espécies 59 136 73 136

O maior número de inventários aumenta a diversidade de espécies por família, independentemente


da família botânica salvo em duas excepções: Cyperaceae (mantêm-se as duas espécies de junça
nas três culturas principais) e Orobanchaceae que, pela sua especificidade, só esteve presente na
cultura do tomate.

No quadro seguinte apresentam-se os valores da frequência relativa (FR) e da abundância média


(AM) das espécies com FR > 50%. Destacam-se as seis espécies que estiveram presentes em mais
de metade das parcelas inventariadas, independentemente da cultura e que são, por ordem
decrescente de importância: erva-moira (Solanum nigrum); junça (Cyperus rotundus); figueirra-do-
inferno (Datura stramonium); milhã-pé-de-galo (Echinochloa crus-galli), catassol (Chenopodium
album) e corriola (Convolvulus arvenses) (Figura 12).

Quadro 7 – Frequência Relativa (FR) e Abundância Média (AM) das espécies com FR > 50%
FR AM
Família Espécies Ciclo de vida
(%) (Pl/m2)
Amaranthaceae Chenopodium album anual 59,8 1,35
Convolvulaceae Convolvulus arvensis vivaz 56,5 6,38
Cyperaceae Cyperus rotundus vivaz 72,8 5,23
Solanaceae Datura stramonium anual 67,4 1,85

Poaceae Echinochloa crus-galli ssp. crus-galli anual 64,1 1,83

Solanaceae Solanum nigrum anual 89,1 4,17

23
erva-moira junça
(Solanum nigrum) (Cyperus rotundus)

milhã-pé-de-galo catassol
(Echinochloa crus-galli) (Chenopodium album)

Figura 12 - Infestantes muito frequentes (presentes em mais de 50% dos campos).

Com frequência relativa entre 25 e 50% registaram-se nove espécies (Quadro 8): serralha (Sonchus
oleraceus,); beldroega (Portulaca oleraceae); erva-moira-dos-regatos (Solanum chenopodioides);
moncus-de-perú (Amaranthus retroflexus); juncinha (Cyperus esculentus); labraça-crespa (Rumex
crispus); milhã-digitada (Digitaria sanguinalis); serralha-fina (Sonchus tenerrimus) e bredos
(Amaranthus albus) (Figura 13).

Quadro 8 – Frequência Relativa (FR) e Abundância Média (AM) das espécies com FR entre 25% e 50%

FR AM
Família Espécies Ciclo de vida
(%) (Pl/m2)
Asteraceae Sonchus oleraceus anual 41,3 2,34
Portulacecae Portulaca oleraceae anual 35,9 0,71
Solanum
Solanaceae anual 35,9 3,29
chenopodioides
Amaranthaceae Amaranthus retroflexus anual 34,8 3,72
Cyperaceae Cyperus esculentus vivaz 32,6 2,43
Polygonaceae Rumex crispus vivaz 31,5 0,78
Poaceae Digitaria sanguinalis anual 28,3 3,92
Asteraceae Sonchus tenerrinus a,b,vivaz 28,3 3,50
Amaranthaceae Amaranthus albus anual 25,0 0,76

24
erva-moira-dos-regatos moncus-de-perú labaça-crespa
(Solanum chenopodioides) (Amaranthus retroflexus) (Rumex crispus)

juncinha milhã-digitada beldroega


(Cyperus esculentus) (Digitaria sanguinalis) (Portulaca oleraceae)

Figura 13 - Infestantes frequentes (presentes entre 25% e 50% dos campos).

Nas figuras seguintes apresenta-se a Frequência Absoluta (%) das principais espécies de plantas
infestantes por cultura: tomate de indústria (Figura 14) e batateira (Figura 15).

25
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90

0
100

10
20
30
40
50
60
70
80
90
erva-moira
junça
corriola
urtiga-menor
junça
bolsa-do-pastor
erva-moira-dos baldios
cabelo-de-cão
beldroega
morugem-branca
serralha-macia
corriola
rabo-de-raposa
beldroega
serralha-aspera moncos-de-perú

amio-maior beldro

serralha grama

malvão macela-fétida

orelha-de-rato sempre-noiva
grama milhã-verde
grizandra erva-das-verrugas
alface-brava pataloco
rabo-de-raposa sorgo
labaça sinuosa malvão
bardana-menor acelga-brava
corriola-da-sbalsas bolsa-do-pastor
avoadinha-peluda raspa-saias
erva-bonita tasneirinha
lamio-rosa veronica-da persia
malva avoadinha

Figura 15 – Frequência Absoluta (%) de 51 espécies infestantes da cultura da batateira.


graminhão pinheirinha
Figura 14 – Frequência Absoluta (%) de 51 espécies infestantes da cultura do tomate de indústria.

esparguta carrapiço
veronica-mimosa fisalis

26
O grau de infestação (FR/AM) apresenta-se na figura 16. Nenhuma das espécies apresentou grau
muito elevado de infestação. Três espécies apresentaram-se com elevado grau de infestação: uma
anual (a erva-moira, pertencente à mesma família botânica das culturas do tomate e da batata –
Solanáceas) e duas vivazes (corriola e junça, com propagação vegetativa por órgãos subterrâneos).
Todas estas espécies são difíceis de controlar, pelas razões apontadas.

Figura 16 – Grau de infestação de 136 espécies de infestantes das culturas hortoindustriais dos Ribatejo. Como
resultado de 82 inventários agruparam-se as espécies em grau de infestação muito fraco (0), fraco (+), médio (**) e
elevado (+++). A planta parasita (rabo-de-raposa) destaca-se a rosa.

Dezoito espécies foram classificadas com grau de infestação médio: figueira-do-inferno, milhã pé-
de-galo, catassol, serralha, beldroega, erva-moira-dos-regatos, moncos-de-perú, juncinha, labaça-
crespa, milhã-digitada, serralha-fina, rabo-de-raposa, trepadeira-das-balsas, balanco /aveia-louca,
carriço, cavalinha, ervilhaca e cevada-dos-ratos.

No que respeita às plantas parasitas – família Orobanchaceae e Convolvulaceae - nos inventários


mais antigos o rabo-de-raposa, nem sequer era mencionado na cultura do tomate (Vasconcelos,

27
1989). Agora aparece com grau de infestação médio, mais pela abundância em determinados
campos do que pela frequência com que aparece. Esteve presente em 19 campos de tomate (o que
representa 24% do total) (Figura 14). Mesmo as outras espécies de parasitas como o cuscuta-dos-
campos (Cuscuta campestris) foram mais frequentes na bordadura dos campos. Neste trabalho foi
registada apenas no interior de um único campo de tomate, parasitando a cultura. O que deve ser
considerado um alerta para a sua eventual progressão em anos vindouros.

Quadro 9 - Distribuição por Concelho das espécies mais problemáticas – vivazes e parasitas

Vila
Arruda Rio Salvaterra Torres Franca
Almeirim Alpiarça Azambuja Cartaxo Golegã Loures Santarém
Vinhos Maior de Magos Novas de
Xira TOTAL
junça 10 1 0 6 8 9 1 10 7 7 1 4 64
juncinha 3 1 0 0 4 2 0 7 4 2 1 6 30
corriola 8 1 0 6 7 3 2 5 4 5 0 8 49
labaça-
crespa 4 1 0 3 2 3 2 5 1 3 1 4 29
grama 1 2 0 0 2 2 1 5 1 4 2 0 20
rabo-raposa 4 0 0 5 1 0 1 0 1 4 0 3 19
sorgo 1 1 0 1 2 5 0 0 0 1 1 0 12
uva-
tintureiros 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 2 0 4
caniço 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 2 3
pinheirinha 0 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 3
cavalinha 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 2
erva-bonita 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 2
rícino 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1
cuscuta-
dos-campos 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1
31 8 0 22 26 27 9 34 18 29 8 27

Para comparação dos resultados obtidos no presente estudo da vegetação das culturas
hortoindustriais do Ribatejo com a de outros anteriormente realizados (Vasconcelos, 1989;
Vasconcelos et al., 1999) verifica-se que as espécies mais representativas (frequência superior a
30%) em comum com as de 1989 foram as seguintes: Amaranthus retroflexus, Chenopodium álbum,
Convolvulus arvensis, Datura stramonium, E.crus-galli, P.oleraceae, Rumex cripus, Solanum nigrum
e Sonchus oleraceus. Em contrapartida não foram registadas como relevantes, as espécies que
atualmente são consideradas como das infestantes mais problemáticas, por serem vivazes e de
difícil controlo como as junças (Cyperus rotundus e C. esculentus) ou uma espécie nova como
Solanum chenopodioides. Também nessa época não foi registada a presença da planta parasita

28
rabo-de-raposa (P. ramosa) que nos levantamentos de 2018 surgiu em cerca de 21% dos campos
amostrados.
Estas duas últimas espécies já aparecem referenciadas em levantamentos florísticos mais recentes
realizados no vale do Sorraia em 2000 (Portugal et al., 2000) todavia com pouca notoriedade.
Aproveitamos para referir que o nome científico das espécies tem evoluído, com os estudos
genéticos mais recentes, como por exemplo nas espécies rabo-de-raposa (Phelipanche ramosa,
sinónimo de Orobanche ramosa) e a erva-moira-dos-baldios (Solanum chenopodioides, sinónimo
de Solanum sublobatum Roem & Schult).
Embora os levantamentos possam ter sido realizados em regiões diferentes do Ribatejo, e apenas
na cultura do tomate (Vasconcelos, 1984; Fernandes, 2003), evidenciam a evolução da vegetação
infestante aos longo dos anos.
Dos resultados apresentados pode-se concluir que, nas culturas hortoindustriais do Ribatejo, as
espécies mais frequentes são escassas (apenas seis espécies estão representadas em mais de 50%
dos levantamentos e 12 em mais de 30%) enquanto as raras e pouco frequentes (FR ≤ 10%) são
muito numerosas (106 espécies). Estes resultados correspondem a uma flora pouco diversificada
(em média foram registadas 12 espécies diferentes por parcela, oscilando entre o mínimo de 2-4
espécies por parcela e o máximo de 27) que terá sido muito selecionada pelas práticas agronómicas
em sistemas culturais intensivos (ver capítulo 2).

3.4. Distribuição das comunidades de infestantes

Na figura 17 apresenta-se a distribuição dos inventários por concelho e tipo de solo. A


representatividade da amostragem reflete-se na divisão pelos principais tipos de solos do vale do
Tejo: cambisolos, fluvisolos, regosolos e solochanks (FAO, 2006). Como referem Fried et al. (2012)
as escolhas dos produtores têm uma capacidade limitada de influenciar a composição das espécies
(principalmente determinada por factores abióticos, como o tipo de solo), mas as estratégias de
gestão que implementam nos seus sistemas culturais podem a modular o nível de riqueza e
abundância das infestantes. Esta hipótese foi também confirmada em estudos de vegetação
realizados em Portugal em culturas hortoindustriais (Vasconcelos, 1989; Fernandes, 1994) em
cereais (Sá, 1989; Ramoa et al., 2015) e em culturas perenes (Pacheco et al., 2009).
Para as culturas horto-industriais do Ribatejo faremos a análise comparativa com as associações
fitossociológicas determinadas no estudo da vegetação infestante de culturas aráveis realizado por

29
Rivas-Martínez (2021) na Península Ibérica. As Associações – unidades elementares da vegetação -
são obtidas pela classificação numérica de inventários fitossociológicos e têm base florística e
ambiental. Conforme referido anteriormente os fatores que determinam a ocorrência e
distribuição geográfica da vegetação são, por ordem decrescente de relevância, o clima, a natureza
do substrato e a exposição, mas também as perturbações antrópicas, provocadas pelo Homem
(Espirito-Santo & Arsénio, 2021).

(a) (b)
Figura 17 – Distribuição da amostragem por Concelho (a) e tipo de solo - Atlas do Ambiente Digital (b).

A mobilização do solo favorece a vegetação anual, constituída por plantas que completam o ciclo
de vida num ano e que constituem a classe Stellarietea mediae - que por sua vez se divide em
ordens e alianças. Em solos muito ricos em nutrientes, como o azoto, predomina a vegetação
nitrófila característica da Ordem Chenopodietalia muralis onde se inclui a Aliança Chenopodion
muralis de comunidades hipernitrófilas de óptimo mediterrânico com irradiações eurossiberianas.
São características da vegetação herbácea nitrófila plantas como bredos (Amaranthus retroflexus),
âmio-amior (Ammi majus), margaça (Anthemis cotula); erva-vaqueira (Calendula arvenses),
catassol (Chenopodium album), erva-garfo (Erodium malacoides), erva-moira (Solanum nigrum),
serralha-macia (Sonchus oleraceus) e morugem (Stellaria media).

30
Também plantas como o morrião (Anagallis arvenses) o pampilho-de-micão (Coleotephus myconis)
a corrioloa-bastarda (Fallopia-convolvulus), a fumária-das-paredes (Fumaria muralis) as ervilhacas
(Vicia angustifolia, V. sativa e V. villosa) algumas papoilas (Papaver rhoeas) e o saramago (Raphanus
raphanistrum) têm uma grande amplitude ecológica e podem aparecer nas culturas de todo o país.
Nas culturas de primavera-verão são muito frequentes espécies que vieram da América do Sul a
acompanhar as culturas do tomateiro, batateira e milho, como por exemplo os bredos (Amaranthus
albus, A. blitoides e A. hybridus). Há também outras que são autóctones como o pampilho -das-
searas (Chrysanthemum segetum) e a bardana-maior (Xanthium strumarium).
Todas estas espécies referidas por Espirito-Santo e Arsénio (2021), fazem parte da lista de espécies
identificadas no elenco florístico das culturas hortoindustriais do Ribatejo, no âmbito do projeto
HORTINF.
Nesta comparação ficam de fora algumas espécies, consideradas como das mais problemáticas, a
exemplo da uva-dos tintureiros (Phytolacca americana), as junças (Cyperus spp.) e o rabo-de-raposa
(Phelipanche ramosa) de origem exótica, introduzidas em Portugal mais recentemente. Sementes
da planta parasita rabo-de-raposa, foram muito possivelmente introduzidas em lotes de sementes
de tomate provenientes de outros países mediterrânicos. Este conjunto de espécies tem vindo a
ganhar cada vez mais importância nas culturas hortoindustriais do Ribatejo caracterizadas por
sistemas culturais muito intensivos, cuja gestão de infestantes se fundamenta essencialmente em
métodos mecânicos e químicos.

No projeto HortInf foi desenvolvida a ferramenta “HORTINF” que permite identificar espécies de
infestantes, georreferenciar a zona onde foi identificada, mantendo um registo permanente das
espécies que ocorreram naquele campo, disponibilizando deste modo ao agricultor o histórico da
parcela (Figura 18).

31
Figura 18 - Apresentação da Ferramenta para a gestão de infestantes HORTINF. A – Catálogo, B – Parcela, C -
Georreferenciação e registo. Disponível online em https://hortinf.webnode.pt/.

32
4. Tecnologia de gestão de infestantes das culturas horto-industriais do
Ribatejo
Autores: Isabel Calha & Artur Amaral

4.1. Introdução
“Atualmente as infestantes devem ser controladas através de uma melhor concepção dos
sistemas culturais e deixarem de ser um problema que apenas pode ser resolvido com a
aplicação de herbicidas” (Mortensen et al.,2000).

As infestantes representam uma grave ameaça para a agricultura e causam elevadas perdas de
rendimento das culturas. Podem também ser hospedeiros alternativos de doenças e seus vetores,
pelo que o seu controlo eficaz é a salvaguarda de uma boa produção.

Desde sempre que a gestão de infestantes se tem baseado na implementação de uma vasta gama
de métodos químicos e físicos utilizados diretamente na cultura após a plantação ou a sementeira.
A sua ação não é permanente, podendo haver ao fim de pouco tempo nova emergência de
infestantes. Pelo que a maior parte deles deveria ser complementado por outros métodos,
designadamente os culturais.

A crescente preocupação com os herbicidas em relação à segurança alimentar, saúde dos


trabalhadores agrícolas, biodiversidade, e ambiente, em geral, renovaram o interesse em medidas
alternativas de controlo das infestantes. A mobilização do solo constitui um dos principais métodos
no combate das infestantes, na maior parte das culturas. No entanto, a gestão sustentável das
infestantes deveria deixar de ser baseada apenas em medidas diretas como a aplicação de
herbicidas ou a remoção física por técnicas de mobilização, mas ser considerada como fazendo
parte de uma gestão equilibrada dos diferentes tipos de plantas e outros organismos que
constituem o sistema cultural. Nesta perspetiva as medidas profiláticas e culturais, devem ser
promovidas visando não só a remoção das plantas à superfície do solo e redução do banco de
sementes do solo, mas também promover as interações entre a rizosfera e os microrganismos do
solo. Sendo complementadas quando necessário com medidas de combate direto, como os
métodos físicos, químicos ou biológicos.

Os sistemas culturais intensivos, como a produção de culturas hortoindustriais no Ribatejo,


assentam na monocultura ou numa sucessão de culturas pouco diversificada, o que significa que as
principais culturas são frequentemente cultivadas na mesma terra reduzindo assim alguns dos
serviços dos ecossistemas que poderiam ser prestados pela diversificação cultural. A simplificação
do sistema cultural permite a adaptação de espécies problemáticas de infestantes, tais como
populações resistentes, vivazes (inversão de flora) e perda de biodiversidade.

As infestantes, uma vez estabelecidas, mantêm uma interação contínua com as culturas e a
paisagem circundante /território, em estreita dependência das condições edafo-climáticas e das
mudanças nas práticas culturais. A sua gestão a longo prazo nunca é estática; depende de uma
combinação de técnicas e estratégias adequadas. Sistemas culturais sustentáveis, baseados na
proteção integrada (diversificação dos métodos de controlo, conjugados de forma sinérgica) e

33
complementados com os princípios da agricultura de precisão (isto é, intervir com a aplicação
adequada, no local certo e no momento certo) contribuem para a redução do uso de pesticidas,
mantendo o equilíbrio dos ecossistemas.

No contexto dos sistemas culturais a prevenção e a gestão de infestantes devem seguir três
princípios fundamentais:

1. Conhecer a biologia das infestantes;


2. Evitar a produção e dispersão de sementes;
3. Diversificar os métodos de controlo

4.2. Conhecer a biologia das infestantes

O primeiro passo para uma gestão eficaz das infestantes é inventariar a vegetação a partir de
registos de anos passados e recentes do campo (ver Capítulo 3). A proliferação de infestantes
depende de uma variedade de fatores, como por exemplo, cobertura vegetal, condições climáticas,
práticas culturais, humidade do solo, entre outros. As populações de infestantes tendem a
prosperar em condições semelhantes às da cultura, de modo que a produção contínua da mesma
cultura ou similares no mesmo solo favorece determinadas espécies e populações.

4.2.1 Banco de sementes do solo


O solo constitui um reservatório de sementes e outros propágulos (rizomas, bolbos e/ou rebentos)
que inclui não só as produzidas no ano (chuva de sementes), mas também as produzidas ao longo
de dezenas e centenas de anos, designado banco de sementes do solo (BSS).

A melhor estratégia de longo prazo para reduzir a densidade de infestantes é promover o


esgotamento gradual do BSS (Bastiaans et al., 2008).

O esgotamento do banco de sementes do solo pode ser obtido aumentando a perda de sementes
já existentes, reduzindo o input de novas sementes ou através de uma combinação de ambos. A
predação, a decomposição e a germinação são os principais processos que contribuem para uma
redução do BSS (Gallandt, 2006) (Figura 19).

34
Figura 19 - Dinâmica do banco de sementes do solo. O banco de sementes do solo pode conter de 2000 a 70000
sementes/m². Das sementes produzidas no ano, apenas 1-9% desenvolvem-se e emergem. As restantes permanecem
no solo, a várias profundidades. As práticas de gestão do solo podem afetar a dimensão, composição e persistência do
banco de sementes do solo. Fonte: [4] Chee-Sanford et al 2006.

O banco de sementes do solo é muitas vezes estudado com o propósito de antecipar os problemas
relacionados com a gestão da flora infestante, e entre muitos outros, estudar a diversidade
biológica (biodiversidade). De facto, a diversidade das comunidades de plantas espontâneas tem
sido utilizada por numerosos autores como indicador de biodiversidade, pois permite quantificar o
impacto das práticas culturais sobre o equilíbrio dos ecossistemas agrícolas (Albrecht, 2003).

4.2.2 Monitorização
A identificação das espécies de plantas adventícias que predominam na parcela cultural (elenco
florístico) é fundamental, quer as espécies de plantas presentes na parcela no ano da cultura ou em
anos anteriores. A correta identificação das espécies permite ter acesso à sua bioecologia e
funcionalidade no ecossistema agrícola, como por exemplo o ciclo de vida (anuais, bienais e
vivazes); a presença de infestantes resistentes como por exemplo o catassol ( Chenopodium sp), ou
infestantes de difícil controlo como as junças (Cyperus rotundus e Cyperus esculentus; Cyperaceae)
ou o rabo-de-raposa (Phelipanche ramosa; Orobancaceae), por serem, vivazes e parasitas,
respetivamente, o que requer uma estratégia dirigida de intervenção (seleção de herbicidas
eficazes, técnica de aplicação adequada, alternância de herbicidas com modos de ação diferentes).
Numa perspetiva ecológica também a presença de espécies raras ou com interesse funcional
(repositório de auxiliares) requer cuidados específicos de proteção e preservação.

Cada vez mais a gestão das infestantes deve ser tecnologicamente assistida, fazendo uso de
modelos de previsão da emergência das infestantes ou de sistemas de apoio à decisão (DSS), sobre
quando e como intervir.

Os modelos de previsão de emergência simulam a emergência de cada espécie infestante a partir


das condições edafo-climáticas da parcela. A temperatura, a humidade do solo e a luz são os
principais fatores que condicionam a germinação e emergência das plântulas. Os dois primeiros são
os mais utilizados, em modelos do integral térmico (somatório de graus dia) ou em modelos

35
temperatura e humidade do solo (ao somatório de graus dia acrescentam a humidade relativa do
solo). A aplicação prática destes modelos é já uma realidade utilizada para prever a emergência de
infestantes anuais em culturas de regadio. Podemos dar como exemplo os seguintes:

AlerInf - para infestantes da cultura do milho, em Itália (Masin et al., 2010),

MalerbAlertUS - para infestantes culturas de cereais, em Espanha (Sousa et al., 2021),

Pickitt - para plantas parasita do tomate, em Israel (Ephrath et al., 2012).

Os sistemas de apoio à decisão (SDD) estão um passo à frente dos modelos de previsão da
emergência. São plataformas que apresentam recomendações a partir de informação fornecida
pelo utilizador, como por exemplo:

1) A cultura;
2) O tipo de solo;
3) Identificação das infestantes presentes na parcela e que é necessário controlar;
4) Indicação do estado de desenvolvimento da cultura e das infestantes.
Estes modelos permitem ajudar na escolha dos herbicidas a aplicar, tomando em consideração a
alternância de modos de ação (MOA) para prevenção da ocorrência de resistência. Podem incluir
também a sugestão de outros métodos de controlo, como por exemplo preventivos (seleção das
culturas a introduzir na rotação), culturais (densidade e data de plantação mais adequados) ou
mecânicos (eficácia de diferentes técnicas de mobilização (Cirujeda e Taberner, 2009).

O sistema de apoio à decisão IPMWise foi inicialmente desenvolvido para cereais, mas atualmente
já inclui recomendações para mais de dez culturas diferentes que podem ser integradas em rotação
(Montull et al., 2022). Para a cultura do arroz em Portugal foi recentemente desenvolvido a
“Ferramenta Inteligente de Apoio à Decisão” – FIAD - para a prevenção da resistência aos herbicidas
(Lusosem, 2019).

4.3. Evitar a produção e dispersão de sementes

4.3. 1 Medidas preventivas

As medidas preventivas são aquelas que, quando utilizadas ANTES da instalação da cultura,
permitem reduzir o aparecimento de infestantes e contribuir para o esgotamento do banco de
sementes. Podem atuar a três níveis: antes da sementeira, na cultura e na colheita.

Antes da sementeira – para prevenir a entrada de sementes do exterior


O princípio básico é a utilização de semente certificada, isenta de infestantes, em particular de
sementes de dimensões minúsculas, como as da planta parasita rabo-de-raposa (ø 200 a 300 µm)
para a qual existe tolerância ‘zero’ (ISTA, 2019). São as designadas medidas profiláticas ou de
higiene.

36
Na cultura – para reduzir o banco de sementes
1) Seleção de culturas a integrar na rotação ou sequência cultural;
2) Mobilizações para instalação da cultura;
3) Falsa sementeira, que fomenta a germinação na ausência da cultura e permite controlar as
plântulas com métodos não seletivos, químicos ou mecânicos;
4) Culturas de cobertura;
5) Predação de sementes, estabelecendo bancos de escaravelhos, como por exemplo, através
de faixas de vegetação nas margens do campo;
6) Prevenção da produção de sementes, eficaz para espécies cuja inflorescência se localiza
acima da cultura (p.e. gramíneas), através da eliminação das flores, por métodos químicos
(glifosato) ou mecânicos (corte).

À colheita – para prevenir a dispersão das sementes


Pode-se evitar a dispersão das sementes pelas ‘ceifeiras’ utilizando métodos tão simples, como
recolha das sementes no interior da máquina de colheita em vez de a despejar no campo (após
crivagem) ou utilizar equipamento mais sofisticado para a destruição ou perda de viabilidade das
sementes.
A destruição das sementes dentro das ‘colhedoras’ pode ser feita através de técnicas mecânicas
como tratamento por salitre, queima orientada ou moagem (Sims et al., 2018), o que requer
equipamento específico cuja eficiência e viabilidade económica necessitam de ser estudadas caso
a caso. Começaram a ser implementadas com sucesso na Austrália, para prevenir a dispersão de
populações resistentes aos herbicidas (Walsh et al., 2017).

As sementes e propágulos recolhidas nas ceifeiras ou no campo (em redes ou cestos) antes da
colheita/ceifa podem servir de biomassa em centrais de produção de energia (Gerowitt & Baraibar,
2022; Kashti et al 2022).

Sequência cultural
Manter uma adequada rotação de culturas, com uma elevada diversidade cultural, introduzindo
culturas de diferentes famílias e diferentes tecnologias produtivas, incluindo culturas de cobertura
e consociações, pode ajudar a perturbar a competição espacial entre culturas e infestantes, tanto
acima como ao nível do solo.

Antes da implantação dos campos há que dar atenção aos antecedentes culturais, fazendo
rotações. A seleção das culturas deve obedecer aos seguintes princípios:

● Alternância de culturas com diferente tipo de produção: folhas (alface, couves); raízes e
tubérculos (cenouras, batata-doce, batata), bolbos (alho, alho-francês, cebola) e frutos
(tomate, abóbora, pimento);
● Sempre que possível incluir cereais na rotação (trigo, cevada, milho, aveia,...;
● Alternância de ciclos diferentes: culturas de outono-inverno e culturas de primavera-verão;
● Alternância de culturas pouco competitivas (cenoura, alface, alho-francês, cebola, cenoura
e com culturas competitivas (batata, abóbora, tomate);
● Evitar cultivar espécies da mesma família botânica em anos seguidos: Apiaceae (p. e.
cenoura, aipo); Solanaceae (p. ex. tomate, batata, pimento, beringela), Cucurbitaceae (p.
e. pepino, melão, abóbora, curgete, melancia);

37
● Para as solanáceas em particular, qualquer cultura desta família só deve ocupar o solo de
4 em 4 anos.

A rotação de culturas anuais, bienais ou vivazes pode ser eficaz, bem como a sucessão de culturas
de leguminosas e de gramíneas. A seleção de culturas deve permitir manter um equilíbrio positivo
de azoto e assegurar o balanço entre culturas de rendimento (cash crops) e culturas funcionais (que
prestam serviços aos ecossistemas).

A incorporação de culturas alelopáticas, para inibir o crescimento de infestantes, pode também ser
considerada, com espécies como o trigo-mourisco (Fagopyrum esculentum Moench); a mostarda-
negra (Brassica nigra L.), o girassol (Helianthus spp.), o sorgo (Sorghum bicolor L.), o trigo (Triticum
spp.), a cevada (Hordeum vulgare L.), a aveia (Avena sativa L.) e o centeio (Secale cereale L.). Estas
culturas são conhecidas por produzir aleloquímicos, como os glucosinolatos das Brassicaceae e os
derivados de benzoxazinoides das gramíneas; outras culturas já foram identificadas e utilizadas
como bio-herbicida, como por exemplo extratos derivados de girassol e de sorgo (sorgoleone)
(Macias et al., 2007).

Para a gestão da planta parasita rabo-de-raposa (P. ramosa) as rotações teriam de ser longas (em
Israel recomendam sete anos) considerando a longevidade do banco de sementes desta espécie
(superior a 20 anos). E evitar as seguintes culturas hospedeiras: tomate, beterraba, cenoura, cebola
e espargos. As culturas não hospedeiras e por isso recomendadas para a sucessão de culturas
incluem leguminosas como a ervilha e a fava, o linho e os cereais, incluindo o milho e o arroz. As
condições de alagamento do solo também contribuem para reduzir o banco de sementes.

No caso da junça, a rotação com cereais pode contribuir para reduzir a infestação. As junças, como
plantas em C4 são muito sensíveis ao ensombramento, e os cereais pela densidade de plantação e
rápida cobertura do solo contribuem para reduzir a sua densidade. Os herbicidas disponíveis para
a cultura do milho para o controlo da junça são mais uma ferramenta que se pode utilizar.

Culturas de cobertura

As culturas de cobertura são definidas como plantas cultivadas, principalmente para cobrir o solo,
a fim de o proteger da erosão e das perdas de nutrientes entre períodos de produção regular de
culturas (Lemessa & Wakjira, 2015).

As culturas de cobertura são introduzidas no sistema de cultivo de duas formas principais (Kalinova,
2010): como culturas intercalares durante a estação de outono-inverno e terminam o ciclo antes
da sementeira/plantação da cultura principal, uma prática comum nos sistemas de cultivo anual;
cultivadas simultaneamente com a cultura principal, durante todo ou parte do ciclo cultural, como
coberturas vivas, designadas por consociação (intercropping) ou em faixas alternadas (Hartwig &
Ammon, 2002). A primeira situação é a mais viável e frequente no Ribatejo, sendo o azevém a
cultura mais utilizadas (ver Capítulo 2).

É necessária a seleção criteriosa de culturas de cobertura que suprimam adequadamente as


infestantes durante muito tempo e que sejam compatíveis com a cultura principal, isto é, não
provoquem quebras de produtividade, de forma a manterem o sistema economicamente viável.
Em todos estes casos, as culturas de cobertura fornecem camadas de vegetação viva e resíduos

38
vegetais que suprimem as infestantes, através da competição por nutrientes do solo, água e luz,
criando condições ambientais desfavoráveis para a germinação e fixação das infestantes e
exercendo efeitos alelopáticos que inibem a germinação, a emergência e o crescimento das
infestantes. A libertação de aleloquímicos fomenta modificações a nível do solo, alterando o
equilíbrio dos microrganismos na rizosfera da cultura principal e das espécies infestantes,
contribuindo para o empobrecimento destas últimas (Sias et al., 2021) (Figura 20).

O êxito destas medidas na gestão de infestantes depende de uma série de fatores, que inclui não
só a seleção das espécies, mas também a manutenção das culturas (disponibilidade de azoto e de
água) e muito em particular o método de eliminação: corte, rolagem (roller-crimper começa a ser
utilizado com algum sucesso noutros países), destroçamento, enterramento, palhagem (mulching)
(Rouge et al., 2022; Wang et al., 2022).

A palhagem com culturas de cobertura após o corte (cobertura natural), para ser eficaz, requer uma
elevada quantidade de biomassa das culturas de cobertura, aplicadas como cobertura morta de
forma a evitar que a luz atinja a superfície do solo e haja inibição da germinação das sementes. Em
algumas situações chegam a ser necessárias 9 t/ha de biomassa (Campliglia et al., 2015).

Figura 20 – Efeitos das culturas de cobertura ao longo do sistema cultural. Mudanças no ambiente em redor das
sementes de infestantes como resultado das culturas de cobertura vivas (direita) e dos resíduos de cultura de
cobertura morta (esquerda) em comparação com o pousio (centro). Quanto mais profunda for a posição das
sementes no solo, menos pronunciada será a mudança. A cor do texto indica a resposta de dormência ou germinação
das sementes de infestantes. VERMELHO – inibição; VERDE – promoção; AMARELO – variável; CINZA – neutro.
Adaptado de Sias et al. (2021)

39
No âmbito do projeto HortInf avaliou-se o impacte de uma cultura de cobertura (consociação
leguminosas x gramíneas – CC), na diversidade e densidade de infestantes comparando com uma
testemunha (T) e com a gradagem (FS) (Figura 21).

No entanto, a maior ou menor eficiência destes métodos depende da flora residente e o seu efeito
manifesta-se, no longo prazo, pelo esgotamento do banco de sementes.

No primeiro ensaio, onde predominavam infestantes anuais (figueira-do inferno e erva-moira)


verificou-se uma redução significativa das infestantes (90%) em ambas as modalidades e a
modificação no espectro de infestantes presentes. A gradagem permitiu a redução da figueira-do-
inferno (Datura stramonium) e da erva-moira (Solanum nigrum). A consociação de outono/inverno
estava caracterizada pela ausência de infestantes, cuja área foi ocupada pela cevada, uma das
componentes da cultura de cobertura.

No segundo ensaio, com presença abundante de juncinha (Cyperus esculentus) distribuída de forma
não uniforme na parcela o efeito não foi tão acentuado.

Em campos com a presença de junças a mobilização e a cultura de cobertura favorecem estas


espécies, com maior incremento da junça (Cyperus rotundus) do que da juncinha (C. esculentus). A
escolha de espécies a introduzir na cultura de cobertura deve ser adequada à flora infestante
presente, pois pode condicionar o resultado sobre as infestantes. Para estas plantas vivazes, a
competição exercida pela cultura de cobertura por espaço, luz, água e nutrientes pode não ser
suficiente para as dominar. Outros efeitos para além da competição, devem ser ponderados,
podendo ser necessário selecionar espécies com efeito alelopático, como Brassicaceae (rabanete,
Raphanus raphanistrum e saramago, R. raphanistrum) e leguminosas (luzerna, Medicago sativa)
(Asaig, 2018; Riemens et al., 2008; Calha et al., 2021). Das culturas estudadas num ensaio em
condições controladas, desenvolvendo-se em simultâneo com a juncinha, o rabanete foi o mais
eficaz.

Figura 21 – Culturas de cobertura. A – Emergência, B – Corte e C - Impacto das culturas de cobertura (CC) na redução
das infestantes em comparação com a testemunha (T).

40
As culturas de cobertura também podem contribuir para reduzir a densidade de plantas parasita
como o rabo-de-raposa (Phelipanche ramosa; Orobanchaceae). Esta espécie principalmente
culturas da família das Solanaceae (tomateiro, beringela e tabaco), mas também Brassicaceae
(colza) ou Apiaceae (cenoura) (Romão et al., 2020). Num ensaio em estufa realizado com diferentes
culturas de cobertura, verificou-se a seguinte eficácia na parasitação do sistema radicular do
tomateiro: culturas-armadilha (Linum usitanissimum e Pisum sativum), uma gramínea
micorrizadora (Lolium rigidum) e a mistura de espécies de Poaceae x Fabaceae (Lolium multiflorum
x Trifolium spp.) (Calha et al., 2022).

A cultura de cobertura mais eficaz foi a consociação, cuja mistura de espécies estava bem-adaptada
às condições do vale do Tejo. Estes resultados estão de acordo com os publicados por Qasem (2019)
em que as leguminosas como cultura de cobertura, reduzem eficazmente a parasitação de P.
ramosa em tomate. A consociação Fabaceae x Poaceae aumenta a tolerância a condições
climáticas, uma vantagem para se conseguir um controlo duradouro das infestantes durante um
período prolongado (Figura 22). Além de libertarem compostos aleloquímicos, com efeitos
potenciados quando utilizadas em consociação (Scognamiglio et al., 2013).

L E C Az T

Figura 20 – Ensaio em estufa realizado com diferentes culturas de cobertura, para avaliar a eficácia na parasitação do
sistema radicular do tomateiro com: culturas-armadilha (Linum usitanissimum (L) e Pisum sativum (E)), uma mistura
de espécies de Poaceae x Fabaceae (Lolium multiflorum x Trifolium spp.) (C) e uma gramínea micorrizadora (Lolium
rigidum) (Az).

Os sistemas culturais sustentáveis requerem rotações longas, baseadas na seleção de uma


diversidade de culturas principais e secundárias para manter a cobertura do solo no tempo (culturas
de cobertura) e no espaço (inter-culturas/consociações), a que se junta a diversidade de métodos
de controlo curativos. Há quatro grandes mecanismos ecológicos que interagem entre si,
contribuindo para a redução da pressão das infestantes nesses sistemas agrícolas (Liebman e
Davis,2000; Malézieux, 2012):

● Competição por recursos e nichos ecológicos o que reduz a oportunidade de crescimento e


regeneração das infestantes;

41
● Maior susceptibilidade das infestantes aos efeitos fitotóxicos dos resíduos de culturas ou outras
adições orgânicas ao solo do que as culturas, possivelmente devido a diferenças na
biomassa/dimensão das sementes;
● A libertação lenta de azoto pode favorecer a germinação das sementes de maiores dimensões
(culturas), relativamente a sementes de menor dimensão (como as das infestantes dos géneros
Amaranthus, Chenopodium, Raphanus);
● A adição de materiais orgânicos, como por exemplo composto, pode alterar a incidência e a
severidade das doenças de solo que afectam tanto as culturas como as infestantes.

4.3.2 Medidas culturais

As medidas culturais visam reduzir a concorrência das infestantes com a cultura na fase inicial do
ciclo cultural. Neste âmbito, enquadram-se os métodos que contribuem para aumentar a
capacidade competitiva da cultura, pela seleção de variedades, compasso ou densidade de
plantação, data de sementeira ou plantação e até a estratégia e tipo de fertilização (Barberi, 2002).
Como tal, o foco deve estar na otimização da utilização dos recursos e a minimização dos fatores
de produção externos (fertilizantes e pesticidas) (Harwood, 1990).

Período crítico

O período crítico de competição das infestantes é determinado em cada cultura em ensaios que
permitem avaliar simultaneamente o efeito da manutenção das infestantes por períodos mais ou
menos longos e o efeito da sua remoção periódica (semanal) sobre o rendimento das culturas
(Figura 23). O objetivo é definir qual é o período em que não:

a) ocorrem perdas de rendimento - abordagem clássica;

b) ocorrem perdas para lá de um limiar de rendimento (por exemplo 2,5, 5 ou 10%) - ou o


rendimento marginal da cultura é superior ao custo do controlo das infestantes (Knezevic et al.,
2002; Dunan et al., 1995).

42
Figura 22 - Período crítico, em que a cultura deve estar livre da competição pelas infestantes, é de cerca de 12 dias
(entre o 16º e o 36 º dias após a plantação do tomate) Adaptado de Chaudhari et al., 2016.

Independentemente do método usado, o período crítico de infestação parece depender mais das
características das culturas do que da composição do espectro florístico. Assim, o período crítico
para diferentes culturas varia consoante a rapidez do seu crescimento, isto é a capacidade para
cobrir a linha e/ou a entrelinha. Na maioria das culturas hortícolas é suficiente controlar as
infestantes até ao final da primeira metade do ciclo de cultivo; para culturas não competitivas ou
moderadamente competitivas (por exemplo, cebola), o controlo das infestantes deve continuar
durante 2-4 semanas adicionais para além da metade do ciclo de cultivo; por último, em hortícolas
de folha (por exemplo, pimento) parecem não apresentar um período crítico e devem ser
periodicamente mondados até à colheita, a fim de manter a produtividade (Lichtenhahn et al.,
2005).

Seleção de variedades

Para a gestão sustentável de infestantes em culturas horto-industriais, as variedades deveriam ser


selecionadas não só pelas suas características de produtividade, qualidade e resistência às doenças,
mas também pelas suas características morfológicas e fisiológicas que determinam uma boa
competitividade contra as infestantes.

Existe uma gama de características das variedades que estão associadas à capacidade de supressão,
tolerância ou ambas e que em conjunto contribuem para uma maior competitividade. Como por
exemplo, o índice de área foliar, o ângulo da folha, o crescimento rápido inicial, a altura da planta,
a tolerância ao ensombramento, o vigor precoce, a taxa de afilhamento, a arquitetura da canópia,

43
o comprimento/densidade da raiz, a atividade alelopática e a eficiência no uso da água e dos
nutrientes (Ramussen et al., 2014)

Algumas variedades de tomate revelaram maior tolerância à parasitação e contribuem para reduzir
a produção de sementes do rabo-de-raposa. Na Califórnia, são utilizadas as variedades seguintes:
H9492, H9553, H9888, H9992, H9997, H1100, CXD 233 e PX 665 (Ramussen et al., 2014). No
projecto ZeroParasitic (PRIMA) avaliou-se a tolerância de variedades de tomate europeias, mas não
se detectaram diferenças entre elas (https://zeroparasitic.eu/about).

Sistema de plantação

A utilização de plantas transplantadas, em vez da sementeira em local definitivo, em culturas


hortoindustriais, como o tomate, o pimento ou a cebola, traz uma vantagem competitiva contra as
infestantes, por permitir a redução do período crítico de competição e uma adoção mais fácil de
métodos de gestão de infestantes (mecânicos e/ou químicos (Weaver, 1984).

Densidade de plantação

O aumento da densidade das culturas e a redução do espaçamento entre linhas aumenta a


capacidade competitiva das culturas contra as infestantes (Norris et al., 2001) e também afeta a
produção de sementes das infestantes (Grundy et al., 2004). Contudo, em várias culturas o elevado
custo das plantas a transplantar, o efeito negativo do aumento da densidade no tamanho e
qualidade do produto comercializável (por exemplo, em couve-flor e em alface) e a necessidade de
ter entrelinhas largas que permita um controlo mecânico eficaz das infestantes (por exemplo, em
cebola, espinafre, cenoura, funcho) tem impedido a utilização deste método cultural a outras
espécies de culturas hortícolas (Tei & Pannacci, 2017).

Estratégia e tipo de fertilização

Embora uma boa nutrição seja um contributo importante para obter uma cultura vigorosa e elevada
produtividade, o crescimento das infestantes também é favorecido pela fertilização. As infestantes
podem absorver nutrientes mais rapidamente do que as culturas em fases iniciais de crescimento
e podem efetivamente acumular concentrações mais elevadas de muitos nutrientes do que as
culturas, esgotando os nutrientes do solo e reduzindo o rendimento das culturas (Blackshaw et al.,
2004). Assim, a obtenção de nutrientes para a cultura e não para as infestantes é um instrumento
importante para a produção de uma cultura vigorosa e competitiva.

A distribuição dos fertilizantes no tempo e no espaço durante o ciclo cultural pode ser manipulada
para aumentar a disponibilidade de nutrientes para a cultura e não para as infestantes. A
distribuição dos fertilizantes pode aumentar a competitividade da cultura e reduzir a interferência
das infestantes. Em geral, a distribuição do adubo em faixas abaixo da superfície do solo, em vez de
uma distribuição difusa, ajuda as infestantes a chegar aos nutrientes mais rapidamente,
aumentando a competitividade com as culturas (Tei & Pannacci, 2017)

44
A presença de determinadas espécies infestantes pode ser indicador da qualidade do solo. Como
se pode constatar as medidas culturais contribuem para a maior competitividade das culturas
relativamente às infestantes. Através do melhoramento do solo, quer por adubação, por drenagem
ou por mobilização superficial também se pode favorecer ou conduzir ao desaparecimento de
determinadas espécies que deixam de encontrar as condições ideias para o seu desenvolvimento.

4.4. Diversificar os métodos de controlo

4.4.1 Métodos físicos

O impacte ambiental adverso e o desenvolvimento de resistência a infestantes têm imposto


restrições legais ao uso de herbicidas e contribuído para o desenvolvimento cada vez maior de
novos métodos físicos.

Atualmente está disponível uma série de métodos mecânicos (gradagem, monda na linha por
escovas, estrelas, pinças) e térmicos (queima, vapor de água, laser e electrocução) para a gestão de
infestantes em culturas horto-industrais. Em algumas situações pontuais, ainda se pode recorrer à
monda manual, para retirar infestantes na época da floração, para evitar que cheguem a produzir
sementes (Romão & Calha, 2019).

Métodos mecânicos

Os métodos mecânicos correspondem à mobilização do solo e contribuem para o controlo das


infestantes pelo desenraizamento, enterramento ou destroçamento das plantas. A seleção do
equipamento para obter a melhor eficácia da mobilização, seja na preparação do terreno ou numa
intervenção mais dirigida, à linha ou à entrelinha, depende do bom conhecimento de quais são as
principais infestantes:

● Se predominam espécies anuais (cruciferas, erva-moira, milhãs) os objetivos são o


desenraizar e fragmentar, pelo que a mobilização superficial é suficiente;
● Se dominam espécies que não tem sementes dormentes como Bromus sp. (p.e. fura-capa)
convém enterrar as sementes em profundidade, com uma lavoura profunda;
● Pelo contrário, para espécies não dormentes, esta não é uma boa prática porque as
sementes mantêm-se viáveis e germinam quando são trazidas de novo à superfície do solo
(Zaragoza, 2006).

Já para espécies vivazes o equipamento a utilizar depende do sistema radicular. Os exemplos


seguintes ilustram a necessidade de conhecer bem as espécies presentes:

● rototerra ou multifresa para fragmentação de raízes pivotantes (labaças, Rumex spp.) ou


raízes com gomos (cardo-das-vinhas, Cirsium arvensis.);

45
● escarificadores para arrastamento e exposição à superfície do solo de raízes profundas
(corriola, Convolvulus arvensis), rizomas frágeis (sorgo, Sorghum halepense), rizomas e
tubérculos (junça, Cyperus rotundus) ou bolbos (erva-pata, Oxalis spp.) para dessecação e
esgotamento das reservas;
● no caso da grama (Cynodon dactylon), após a escarificação convém remover os rizomas do
campo, para evitar que voltem a enraizar nos entrenós;
● a drenagem dos campos com o recurso à utilização de subsolador, equipado com
dispositivo toupeira, pode contribuir para reduzir a infestação de vivazes higrófitas com
raízes profundas como caniço (Phragmites australis), pinheirinha (Equisetum
ramossissimum), corriola-das-balsas (Calystegia sepium) e junco-dos-sapos (Juncus
bufonius).

Outro aspeto a tomar em consideração é a época de intervenção, que está diretamente relacionada
com a fase do ciclo de vida e a fisiologia das infestantes. Por isso a intervenção contra infestantes
anuais deve ser feita, antes da produção de semente. Para infestantes vivazes, a intervenção na
primavera é mais eficaz, quando as reservas se dirigem para os órgãos de superfície (folhas, caules,
flores) do que no outono, quando os açúcares tendem a ser armazenados nos órgãos subterrâneos
de reserva.

Outros fatores a considerar tanto para os equipamentos de mobilização em toda a área (gradagem
escarificação), como para os cultivadores na entrelinha, o ajustamento da intensidade da
mobilização depende de fatores como a resistência do solo, a tolerância da cultura e das infestantes
à mobilização e das interações entre cultura e infestante. O mesmo se passa com os equipamentos
mais recentes de mobilização na linha (Figura 24).

Os equipamentos de mobilização na linha por torção, estrelas ou escovas foram desenvolvidos


principalmente para utilização em pós-emergência em culturas hortícolas de alto rendimento, para
compensar o baixo rendimento de trabalho (Melander, 1998). A sua aplicação em tomate de
indústria foi estudada numa série de ensaios realizados em Espanha e a monda por escovas revelou
ser a mais eficaz, tanto em termos de monda como de relação custo-eficácia (Cirujeda et al. 2013).

Figura 24 – Diferentes opções de equipamento para o controlo mecânico de infestantes na linha em culturas
hortícolas. Adaptado de Van Der Weide et al (2008).

46
A gestão de infestantes na linha com métodos mecânicos proporcionam resultados promissores.
No entanto, a persistência de ação é reduzida, pois se a cultura não for competitiva e cobrir
rapidamente a linha, novas infestantes podem emergir. É necessário por isso complementar a
mobilização na linha com métodos culturais como a aplicação dirigida de fertilizantes, vigor das
sementes, densidade de sementeira e variedades competitivas.

Monda térmica

Os métodos de controlo térmico podem ser divididos, de acordo com o modo de ação, em métodos
de calor direto (fogo, radiação infravermelha, água quente, vapor, ar quente) e formas indiretas de
calor (microondas, radiação laser, radiação ultravioleta, electrocução, entre outros).

O princípio básico do tratamento térmico é atingir a planta durante um período de tempo, menor
que um segundo, com temperaturas elevadas, 100 ⁰C ou superior. O controlo térmico destrói o
material celular da planta, leva à coagulação das proteínas, inviabiliza a respiração e afeta o normal
funcionamento da planta (Ascard, 1998). A dose de energia utilizada pelo equipamento é, de um
modo geral, regulada pela velocidade de trabalho. Uma combinação entre a velocidade de trabalho
e o comprimento do equipamento, determina a duração do tratamento.

A queima antes da emergência da cultura tem sido o método predominante de controlo térmico
das infestantes em culturas em linha, de germinação lenta, tais como a cebola, o alho-francês, a
cenoura e o milho ou antes da plantação, como na cultura do tomate. Os queimadores com chama
têm um interesse limitado em culturas de rápida emergência como a couve (B. oleracea) porque a
cultura pode facilmente emergir antes da maioria das infestantes, tornando a queima inútil
(Melander 1998).

Existem dois tipos fundamentais de monda térmica no mercado: a monda coberta, flamejante até
1 900⁰C, ou a monda por infravermelha, sem chama visível e aquecimento até 900⁰C. Ambos
utilizam gás liquefeito ou misturas de propano-butano como combustível. Os queimadores de
chama não deixam resíduos químicos no solo e na água e não perturbam o solo, mas tem como
principal desvantagem o elevado consumo de combustíveis (Hatcher & Melander, 2003).

Além disso, a sua eficácia depende da espécie e do estado de desenvolvimento das infestantes, que
deve ser muito precoce. A chama mata as infestantes através da rutura das membranas celulares e
do efeito indireto da subsequente dessecação. O efeito da monda térmica varia com o tamanho da
planta; para controlar plantas com 4 a 12 folhas consome-se mais do dobro da energia do que se
se intervir em fases precoces do desenvolvimento (2-4 folhas).

A monda por vapor na linha ou em banda tem uma eficácia potencialmente muito elevada, levando
ao controlo quase completo das infestantes durante longos períodos de tempo. A adição de CaO
ou KOH pode aumentar ainda mais a eficácia ao elevar a temperatura do solo a valores que podem
ultrapassar os 80⁰C a 150 mm de profundidade. De facto, a adição de KOH na dose de 4 000 kg/ha
permitiu a redução em 76% do banco de sementes do solo, comparando com a monda por vapor
de água sem adição. No entanto, esta tecnologia apresenta uma baixa eficiência energética

47
(consumo extremamente elevado de energia fóssil associado ao baixo rendimento) (Hatcher &
Melander, 2003).

Há métodos térmicos mais recentes, tais como a utilização de laser e a electrocução.

O laser atua por emissão de elevada densidade de energia nos meristemas o que provoca a
paragem ou o atraso no crescimento pela temperatura elevada no interior das células das plantas
afetadas. A eficácia desta técnica depende do comprimento de onda, tempo de exposição, potência
e tamanho da mancha do feixe de laser. Pode variar entre espécies de infestantes. Obtiveram-se
resultados promissores em morugem-branca (Stellaria media L., Caryophyllaceae), em camomila
(Tripleurospermum inodorum L., syn. Matricaria inodora L.; Asteraceae) infestantes da cultura da
colza (Brassica napus L.; Brassicaceae) (Mathiesen et al., 2006).

A tecnologia da monda por electrocução consiste numa descarga elétrica através do sistema
vascular das plantas, causando uma destruição celular severa que pode resultar na murchidão das
plantas. É um método sistémico não seletivo que não deixa resíduos no ambiente. O contacto físico
das plantas com os elétrodos de alta tensão permite que a corrente elétrica funcione apenas no
momento da aplicação (Koch et al. 2020).

A eficácia da monda por electrocução depende da espécie, da arquitetura da planta, do estado de


desenvolvimento e da densidade de infestação.

A intervenção precoce é mais eficaz porque as plântulas têm a epiderme mais fina e mais exposta
(menos protegida por ceras epicuticulares ou pêlos) ao contacto com os elétrodos. Elevadas
densidades de infestação reduzem a eficácia pelo efeito de ‘guarda-chuva’, em que as plantas mais
desenvolvidas protegem as mais baixas e impedem a exposição uniforme de todas as plantas.

Também o estado de humidade do solo pode condicionar a eficácia e a seletividade,


particularmente no caso das infestantes vivazes a eficácia é maior em condições de solo seco do
que húmido, porque a corrente elétrica pode atingir partes do sistema radicular mais profundas,
antes de ser dissipada através do solo.

Como estratégia de intervenção na gestão das infestantes pode ser inserido como mais um método
a incluir em programas de proteção integrada. Em sistemas de agricultura de conservação pode
atuar como medida preventiva antes da plantação, substituindo herbicidas não seletivos ou ainda
em técnicas de falsa sementeira. Nas culturas é necessário ajustar adequadamente o espectro
florístico e a época de intervenção, atuando de preferência em fases iniciais de desenvolvimento
da cultura (Quadro 10).

48
Quadro 10 – Exemplos de culturas temporárias e permanentes onde a monda por electrocução tem sido utilizada
com sucesso na Alemanha
Culturas Efeito pretendido Tipo de aplicação

Batateira Como dessecante Aplicação a toda a área

Beterraba-sacarina Controlo de infestantes / Aplicação a toda a área


rebentamento
Aplicação na linha

Colza Preparação do solo Aplicação a toda a área

Culturas de cobertura Finalização Aplicação a toda a área

Vinhas e pomares Controlo de infestantes Desladroamento

Adaptado de Koch et al 2020.

4.4.2 Métodos químicos

Herbicidas

A seletividade para a cultura e a eficácia sobre as infestantes condicionam a escolha dos herbicidas
a utilizar nas culturas horto industriais.

Um dos aspetos a considerar é a seletividade varietal que depende da cultivar utilizada. É conhecida
a tolerância de diferentes variedades de tomate à metribuzina (Starke et al., 2006). Este fator
requer um conhecimento permanentemente atualizado, tendo em conta a inovação constante das
variedades de culturas hortícolas que entram no mercado. Além disso, a atividade e a seletividade
dos herbicidas também pode ser afetada pelo método de implantação (sementeira ou plantação),
ou pelas condições de cultivo, como por exemplo, ar livre ou em estufa (Bond & Walker, 1989; Grey
et al., 2007).

As recomendações de aplicação de herbicidas em culturas horto-industriais não são muito


diferentes do preconizado para outras culturas. Requer que se conheçam, à partida, algumas
propriedades dos herbicidas em termos de absorção, translocação e modo de ação, assim como o
seu comportamento no ambiente (volatilidadae, fotodegradação, persistência no solo) e o efeito
em organismos não visados. O que permite explicar, por exemplo, a época de aplicação. Pré-
emergência ou pré-sementeira (se é absorvido principalmente pelo sistema radicular) ou pós-
sementeira ou plantação (se a absorção é por via aérea). A seletividade (fisiológica ou de posição)
condiciona também a época de aplicação.

Para o controlo de infestantes nas culturas horto-industriais do Ribatejo estão autorizados


herbicidas com base em 11 substâncias ativas (s.a.), pertencentes a nove famílias químicas, a que
correspondem a sete modos de ação (DGAV, 2022) (Quadro 11).

49
Quadro 11 – Herbicidas autorizados para culturas horto-industriais da batateira e do tomateiro. Indicação por
substância ativa, família química e modo de ação (MOA) [56] (HRAC, 2020)
Uso Substância ativa (s.a.) Família química MOA Tomateiro Batateira Época

códig
o
HRAC

cicloxidime Ciclohexanediona xxxxxxxxx

Folha fluazifope-P-butilo Ariloxi-fenoxi- 1/A xxxxxxxxx xxxxxxxxxx 1


estreita propionato
propaquizafop xxxxxxxxx xxxxxxxxxx
(foto)
quizalofope-P-butilo xxxxxxxxx xxxxxxxxxx

S-metalacloro Cloracetamida 15/ xxxxxxxxx 2


K3

clomazona Isoxazolidinone 13/F4 xxxxxxxxxx 2

Folha larga clomazona+metobromurão idem + ureia 5C1- xxxxxxxxxx 2


C2
(foto)
flufenaceto+metribuzina Oxiacetamida 15/ xxxxxxxxx 1
K3

metribuzina Triazinona 6/C1- xxxxxxxxx 1


C2

pendimetalina Dinitroanilina 3 / K1 xxxxxxxxx xxxxxxxxx 2

rinsulfurão sulfonilureia 2 /B xxxxxxxxx xxxxxxxxx 1

Dessecant ácido pelargónico Ácido nonanoico 0/Z xxxxxxxxx 3


e
carfentrazona-etilo Triazolinona 14/E xxxxxxxxx

1 - Pós-Plantação; 2 - Pré-Plantação; 3 - Pré colheita

Recomendações

1 - Selecionar os herbicidas que são eficazes sobre o espectro florístico presente no campo;

2 - Sempre que possível, recorrer a limiares críticos de infestação ou ao período crítico. Estes índices
foram definidos para a cultura do tomateiro por Vasconcelos et al. (1999);

3 - Promover o uso de herbicidas com diferente modo de ação e de misturas de herbicidas para
prevenir a ocorrência de resistências;

4 – Diversificar o modo de ação (MOA) dos herbicidas utilizando produtos mistos com substâncias
ativas de diferente MOA ou fazendo a aplicação em sequência de herbicidas como MOA (no mesmo
ano). De preferência fazer alternância de herbicidas com MOA diferente em anos diferentes. Esta
diversidade reduz a intensidade da seleção para resistência a herbicidas;

50
5 - A alternância e mistura de herbicidas com MOA diferentes é uma estratégia de prevenção de
resistência, que deve ser implementada em conjunto com a diversificação de métodos de controlo
como os referidos anteriormente culturais, físicos e biológicos;

6 - Aplicar a dose de herbicidas rotulada (não reduzir a dose nem aplicar doses mais elevadas do
que as recomendadas no rótulo);

7 - Em caso de gama de doses, utilizar a mais baixa, apenas quando a infestação é uniforme e pouco
densa com as plantas em fases iniciais de desenvolvimento. Em Itália Tei et al. (2002)
desenvolveram um sistema de apoio à decisão que permite adequar herbicidas, doses e épocas de
aplicação às infestantes da cultura do tomate;

8 - Aplicar quando as infestantes estão na fase de plântula ou em estados mais suscetíveis


consoante o herbicida, seguindo sempre a indicação que consta do rótulo;

9 - Preferir herbicidas com menor impacte ambiental;

10 – Preferir as aplicações de pós-emergência às de pré-emergência. São mais específicas e têm


menor risco de contaminação do solo e águas;

11 - Se possível fazer aplicações dirigidas de herbicida, em faixas ou bandas ao longo da linha,


complementando com mobilização na entrelinha ou até por herbirrigação (em sistemas de rega
localizada) como o recomendado para o controlo de plantas parasita;

12 - Por fim, recorrer à agricultura de precisão onde, equipamentos para intervenção química,
mecânica ou térmica, apoiados em tecnologias de deteção das infestantes (weedsmart) e utilizando
sistemas de apoio à decisão (DSS) contribuem para a redução do uso de pesticidas.

No projeto HortInf foram instalados campos piloto para avaliar o efeito da oportunidade de
intervenção para o controlo de plantas parasita do tomateiro. O delineamento experimental foi de
blocos casualizados com três modalidades e três repetições. As modalidades correspondem à T-
Testemunha (sem aplicação fracionada); 246 - aplicação precoce, aos 200 ,400 e 600 GDD e 468 -
intervenção tardia aos 400, 600 e 800 GDD. As aplicações foram sincronizadas com a rega para
facilitar a incorporação do herbicida.

No campo da Azambuja registaram-se em média 30 plantas parasitas/m2 na Testemunha. A


aplicação precoce de rinsulfurão (246) permitiu uma redução de 61% do número de plantas/m 2
enquanto na aplicação tardia (468) se verificou uma redução menor de cerca de 50% do número
de plantas/m2. No entanto, esta diferença entre as duas épocas de intervenção não foi significativa
Calha et al. 2021.

51
4.4.3 Métodos biológicos

Pastoreio

O pastoreio também pode ser utilizado para o controlo de infestantes e de algumas pragas de solo,
com recurso a aves (galinhas, patos, perus). Embora não seja muito utilizado em culturas intensivas,
ocupa um lugar de destaque em modo de produção biológico.

Predação de sementes

Na natureza existem vários grupos taxonómicos de animais que consomem sementes contribuindo
para reduzir o BSS, como por exemplo, aves, escaravelhos (carabidae) e formigas (Figura 25).
Estudos de campo com o carabídeo Pseudoophonus rufipes na República Checa (Foffová, 2022) e
formigas (Messor barbarus) em Espanha (Baraibar, 2009) mostram resultados promissores sobre
moncos-de-perú (A. retroflexus) e catassol (C. album), espécies muito frequentes nas culturas
horto-industriais do Ribatejo. A predação de sementes pode ser incrementada por medidas
culturais tais como consociações (living mulch), culturas de cobertura (cover crops) e faixas de
compensação ecológica (Albrecht, 2020; Schumacher & Gerhards, 2022).

a) b)

Figura 25 – a) Carabídeo (Pseudoophonus rufipes). Fonte: http://www.mitra-nature.uevora.pt/Especies-e-


habitats/Invertebrados/Insetos/Coleoptera/Carabidae/Harpalinae/Pseudoophonus-rufipes; b) Formigas (Messor
barbarus). Fonte: https://www.museubiodiversidade.uevora.pt/elenco-de-especies/biodiversidade-
actual/artropodes/insectos/messor-barbarus/#specie_imagem-7

Bioherbicidas

Os bioherbicidas são substâncias destinadas a controlar as infestantes sem degradar o ambiente.


Podem ser distinguidos entre herbicidas bioquímicos e microbianos. Os primeiros incluem
metabolitos microbianos, compostos derivados de plantas (‘botânicos’) e outras substâncias
químicas naturais; os herbicidas microbianos são aqueles que contêm micróbios vivos ou mortos,
fitopatogénicos ou não, formulados ou não com os seus metabolitos (Copping and Menn, 2000;
Bailey, 2014).

O controlo biológico através de microrganismos que ocorrem naturalmente nas culturas é uma
alternativa promissora ao uso de herbicidas, desde que o agente biocontrolador (BCA) seja
cuidadosamente selecionado e identificado e sejam também salvaguardados potenciais perigos

52
para a saúde humana e o ambiente. Quanto à aplicação pode seguir duas estratégias de aplicação:
clássica e inundativa. Entre os vários agentes bióticos que podem ser utilizados no controlo
biológico, as bactérias do filoplano são uma alternativa relativamente inexplorada, especialmente
quando comparadas com as rizobactérias (Lindow & Leveau, 2002).

A nível mundial apenas 13 bioherbicidas derivados de microrganismos ou moléculas naturais estão


atualmente disponíveis no mercado. Os primeiros bioherbicidas foram comercializados na década
de 1980. A quota de mercado dos bioherbicidas representa menos de 10% de todos os biopesticidas
(ou seja, biofungicidas, biobactericidas, bioinsecticidas e bionematicidas) (Charudattan, 2001).
Apenas alguns países têm bioherbicidas nos seus mercados: EUA (4); Canadá (3), Ucrânia (1) e
França (1) (Bailey, 2014).

O uso de bioherbicidas está normalmente restringido a um único inimigo alvo pela sua elevada
especificidade. Sendo recomendado para a gestão de espécies invasoras, populações resistentes a
herbicidas ou plantas vivazes, que se destacam no espectro florístico associado a uma cultura pela
dificuldade no seu controlo. Também podem ser visto noutra perspetiva: ajudar a aumentar tanto
a eficácia das tecnologias individuais de controlo de infestantes, como a gestão do banco de
sementes do solo; aumentar da eficácia da monda mecânica (Melander et al., 2005); aumentar o
efeito de supressão de variedades de culturas; finalização de culturas de cobertura; gestão de
populações resistentes aos herbicidas (Cordeau et al., 2016). Recentemente, foram desenvolvidos
programas mais inovadores na utilização de bio-herbicidas, que permitem abreviar determinados
ensaios necessários à análise de risco baseando-se, em alternativa, em dados epidemiológicos e
não em dados da gama de hospedeiros; exploração de nichos de mercado na indústria do lazer; e
a utilização de misturas de agentes patogénicos que permitem alargar o espectro de infestantes
controladas (Babu et al., 2003).

Atualmente não existem muitos herbicidas de origem biológica autorizados na UE, designados por
bioherbicidas. Em Portugal, está autorizado o ácido pelargónico (s.a.) como dessecante da batateira
e em vinha como bioherbicida para desladroamento. É um produto não sistémico, de aplicação à
parte aérea da cultura e com as infestantes em crescimento ativo. Atua por contacto, destruindo a
camada superficial da epiderme das folhas; a nível celular baixa o pH interno das células vegetais.
Nos minutos seguintes, o teor de ATP e Glucose-6-fosfato diminuem. Só mais tarde é que há
evidência de disfunção da membrana que, eventualmente, leva ao esvazeamento das células, e
finalmente ocorre a dessecação do tecido (Savage & Zomer, 1996).

Este bioherbicida tem um melhor efeito sobre as infestantes de folha larga (dicotiledóneas) do que
sobre as de folha estreita (monocotiledóneas) (Pannacci et al., 2022). A eficácia sobre infestantes
vivazes não tem sido muito estudada. O efeito de aplicações repetidas em cardo-das-vinhas
(Cirsium arvense) foram promissores (Ganji & Andert, 2022).

53
No projeto HortInf foram instalados campos piloto para avaliar a eficácia do ácido pelargónico na
juncinha (Cyperus esculentus). A aplicação repetida do produto comercial Beloukha® (10,9 kg/ha
s.a.), na concentração de 10% espaçados de uma semana, permitiu reduzir a parte aérea da junça,
em plantas com 3-4 folhas. Plantas mais desenvolvidas voltaram a rebentar. Estes resultados foram
similares aos obtidos em aboborinha na Califórnia (Webber et al., 2014).

O efeito sobre os tubérculos da juncinha não foi significativo exceto na modalidade em que a
aplicação de ácido pelargónico foi seguida da implementação de uma cultura de cobertura. O que
revela a necessidade de conjugar métodos que por si só podem ter uma eficácia reduzida.

Agricultura de precisão

Nos últimos anos, a agricultura de precisão, baseada no processamento de imagem digital tem sido
utilizada para sistemas de orientação automática dos equipamentos, permitindo o mapeamento
eletrónico da sementeira ou alinhamento da plantação para posterior orientação de dispositivos
de monda seletiva. Estes avanços na tecnologia permitiram abrir novas perspetivas para o controlo
físico e químico das infestantes.

A agricultura de precisão utiliza técnicas para identificar a variabilidade espacial e temporal das
infestantes permitindo geri-las de forma correspondente.

Há duas correntes para a gestão de infestantes em agricultura de precisão:

a) mapas de infestação que são ‘desenhados’ por análise de imagem (hiperespectral,


térmica) capturadas por deteção remota, utilizando imagens de satélite, equipamentos colocados
na ceifeiras e máquinas de colheita e mais recentemente por veículos remotamente controlados
(ROV), mais conhecidos por drones. É necessário o desenvolvimento de algoritmos de análise de
imagem que permitam distinguir a cultura das infestantes.

b) aplicação in loco baseada na identificação da espécie de infestante por técnicas de


inteligência artificial, como machine learning – em que a partir de milhares de fotografias de cada
espécie a máquina é capaz de distinguir a infestante da cultura e até identificar a própria espécie.
Por exemplo, é possível distinguir, com elevado rigor, a cultura do tomate da erva-moira, a principal
infestante desta cultura, através da análise hiperespectral de imagens colhidas em tempo-real no
campo (Slaughter et al., 2008).

As técnicas de agricultura de precisão permitem fazer uma intervenção apenas no local onde se
localizam as infestantes, salvaguardando a cultura e podem ser aplicadas tanto a métodos
mecânicos como químicos.

Nos métodos físicos as novas tendências são para utilizar tecnologias que orientem os
equipamentos para remover seletivamente as infestantes, sem tocar nas plantas cultivadas, através
da agricultura de precisão. Atualmente, já existem vários equipamentos a funcionar numa base
comercial que permitem uma intervenção precisa e uma redução dos custos (Kudsk, 2022) (Figura
26). O mesmo se verifica em termos de métodos químicos permitindo a aplicação de herbicida de
forma seletiva em relação às infestantes.

54
Figura 26 – Equipamentos de agricultura de precisão para mobilização na linha de cultura: Treffel weed – esquerda e
Optiweed – direita. Adaptado de Melander & McCollough (2021).

4.5. Conclusão
Este capítulo apresenta uma série de medidas para enfrentar o problema das infestantes em
culturas hortoindustriais.

Uma das estratégias recomendadas é combinar métodos preventivos, culturais e diretos para
combater eficazmente infestantes problemáticas, que está alinhada com a Lei nº 26/2013 de 11 de
abril, na qual se preconiza a adoção da proteção integrada.

É também referida a importância da agricultura de precisão que pode ser utilizada de forma
dirigida, tanto em métodos físicos, químicos ou biológicos.

De início, analisam-se as medidas preventivas a tomar onde se discute em particular a sucessão de


culturas a introduzir na rotação, com destaque para as culturas de cobertura. Nos métodos diretos,
referem-se as vantagens e desafios dos métodos mecânicos e químicos disponíveis no mercado
nacional e europeu.

Em cada seção apresentam-se também estudos de caso realizados no âmbito do projeto HortInf,
que podem contribuir para a gestão sustentável de infestantes nas culturas horto industriais do
Ribatejo.

55
5. Perspetivas futuras
Autores: Anabela Grifo, Artur Amaral & Isabel Calha

A digitalização e o uso de tecnologias inovadoras estão a impulsionar a transformação digital da


agricultura. A crescente necessidade de obtermos uma maior quantidade de alimentos, a urgência
na utilização de produtos menos agressivos para o meio ambiente, o aquecimento global e os
efeitos consequentes das alterações climáticas, que se têm feito sentir ao longo dos últimos anos,
conduzem-nos a uma agricultura com processos produtivos muito desafiantes.

Dentro do Pacto Ecológico Europeu, a estratégia Farm to Fork tem como objetivo a produção de
alimentos saudáveis e em simultâneo uma produção que respeite o ambiente. Uma das metas
desta estratégia é a redução, em 50%, da utilização de pesticidas químicos e de alto risco, até 2030.

Nesse sentido, o controlo das espécies infestantes requer a utilização de metodologias adequadas
de forma a proteger a biodiversidade e a não alterar a funcionalidade dos ecossistemas.

A deteção remota, com o recurso a imagens que são cada vez mais de alta resolução, tem vindo a
permitir o cálculo de diferentes índices de vegetação. Estes índices conseguem evidenciar
variabilidades nas culturas que não são possíveis de observar em imagens de cor real. Desta forma,
os índices de vegetação revelam zonas de contraste, com manchas que podem ser relacionadas
com a presença de infestantes tornando possível, após confirmação e identificação no campo, agir
com celeridade e precisão, sendo no futuro uma ferramenta indispensável e cada vez mais
valorizada.

Também a presença de robôs na agricultura é uma realidade. Com os desafios da Política Agrícola
Comum e as exigências ambientais prevê-se que a robótica e a inteligência artificial venham a ter,
nos próximos anos, um papel preponderante na gestão das infestantes. Hoje, existem sistemas
robóticos que incorporam câmaras multiespectrais/hiperespectrais e algoritmos de análise que
tornam possível o reconhecimento e classificação das infestantes e, ainda, a aplicação localizada de
herbicidas com precisão. As linhas de investigação e desenvolvimento, na área da robótica em
conjunto com as tecnologias de visão computacional e algoritmos de inteligência artificial, micro e
nanotecnologia, automação e genética molecular conduzirão, no futuro, à vulgar utilização de
robôs no campo, de forma muito expedita, conseguindo chegar onde o homem tem dificuldades,
realizando inúmeras atividades como pulverizações de precisão, monotorização, podas
automáticas, estimativas de produção, limpezas, colheitas seletivas, irrigação etc. No futuro, a
robótica, será de extrema importância para gerir a complexidade da gestão agrícola com a utilização
eficiente dos recursos disponíveis.

Em simultâneo, estamos a assistir a aparecimento de plataformas digitais, capazes de integrar


diferentes sensores e fontes de dados, sistemas de monitorização e de gestão que, no futuro, serão
uma prática comummente utilizada e que proporcionam uma análise e interação quase em tempo
real, permitindo a gestão mais automatizada e sustentável da exploração.

56
Não menos importante serão os mercados digitais, marketplaces, ao aproximar compradores e
vendedores dos mais diversos produtos, agilizando processos e permitindo maior transparência e
confiança na cadeia alimentar.

Assim, há que diligenciar para que a integração das novas tecnologias emergentes seja a realidade
do futuro que possibilitará a aposta numa monitorização permanente da cultura de forma a evitar
o desenvolvimento de focos de infestantes ou a atuar com exatidão no seu controlo e assim reunir
esforços que contribuam para a sustentabilidade dos recursos naturais e dos sistemas produtivos.

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Glossário

Culturas horto-industriais: culturas que se destinam a transformação (processamento) industrial


tais como o tomate para a indústria.

Falsa sementeira: Na falsa sementeira a preparação do solo é efetuada como habitualmente, mas
sem plantar ou semear a cultura. A emergência das infestantes é permitida e até incentivada com
a mobilização e rega do terreno. Depois segue-se a intervenção não seletiva (química, mecânica,
térmica) para as eliminar.

Modo de produção convencional: Entende-se por convencional, o que os agricultores/produtores


estão habituados a fazer. No entanto, e de acordo com Lei n.º 26/2013 de 11 de abril, todos os
utilizadores profissionais em explorações agrícolas são obrigados a cumprir os princípios gerais da
proteção integrada

Rega por aspersão: método de rega no qual a água é distribuída uniformemente e com uma pressão
apropriada sob a forma de chuva ao terreno através da utilização de diversos equipamentos
(sistema de aspersores fixos, semi-fixos, rampas de rega lineares ou rotativas, canhões de rega).

Rega localizada: método de rega que se caracteriza pela distribuição de pequenos débitos próximo
do nível do solo, por intermédio de emissores (gotejadores, difusores, microaspersores) dispostos
uniformemente ao longo de linhas de abastecimento, visando a economia de água dado que esta
é aplicada próximo da zona radicular reduzindo assim as perdas. Este processo permite a
incorporação e aplicação de fertilizantes às plantas através da água de rega.

Sistema convencional simplificado: É o sistema de mobilização na cultura principal, que inclui


apenas gradagem, subsolagem e/ou rototerra.

Sistema de mobilização convencional tradicional: É o sistema de mobilização na cultura principal,


que inclui operações tão diversificadas, tais como: gradagens, lavoura, escarificação, subsolagem
e/ou fresagem com rototerra (grade animada).

Sistema de mobilização de conservação: É o sistema de mobilização na cultura principal, que


considera a mobilização mínima, mobilização em faixas ou sementeira direta.

Sucessão cultural: É a sucessão de culturas entre anos agrícolas, considerando o ano agrícola a
iniciar em outubro e terminando no final de setembro do ano seguinte. Deste modo, todas as
culturas realizadas no mesmo ano agrícola, para além da cultura principal, são culturas intercalares,
uma vez são realizadas entre as culturas principais do ano.

66
Agradecimentos
Os autores agradecem aos técnicos Dulce Rodrigues da Provape; Luis Hilário da Tomataza; Fátima
Alves da TEF a seleção das parcelas amostrar.
E ainda, aos técnicos José Cachado da Torriba e Susete Matos da AgroMais, que apesar de
integrarem a parceria HortInf mantiveram o entusiasmo e disponibilidade no acompanhamento ao
campo durante os levantamentos florísticos das culturas horto industriais do Ribatejo. Não
podemos também de deixar uma palavra de apreço ao conjunto de 114 produtores que se
disponibilizaram para as entrevistas de inquérito.

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Anexo 1 - Inquérito para caracterização do sistema produtivo
(https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe5ubiY2m9SpibVyAS8pek5djYTAXg36GsY7ZM5wBeY0cRVPA/
viewform)

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