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CLUBE DE REVISTAS

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Centro Tecnológico COMIGO

ANUÁRIO DE PESQUISAS
AGRICULTURA - RESULTADOS 2023

EDITORES TÉCNICOS

Amanda Magalhães Bueno


Diego Tolentino de Lima
Eduardo Hara
Guilherme Braga Pereira Braz
Hemython Luis Bandeira do Nascimento
Leonardo Fernandes Sarkis
Rafael Henrique Fernandes
Ubirajara Oliveira Bilego

Centro Tecnológico COMIGO


Geração e Difusão de Tecnologias
Rio Verde, GO
2023
CLUBE DE REVISTAS
Centro Tecnológico COMIGO

Rod Go 174, Km 252.5 - Zona Rural - Rio Verde - GO


CEP 75913-899
Fone: (64) 3611-1573 ou (64) 3611-1684
www.comigo.coop.br
ctc@comigo.com.br

Comitê de publicação

Amanda Magalhães Bueno


Diego Tolentino de Lima
Eduardo Hara
Guilherme Braga Pereira Braz
Hemython Luis Bandeira do Nascimento
Leonardo Fernandes Sarkis
Rafael Henrique Fernandes
Ubirajara Oliveira Bilego

Periodicidade: anual
Volume 6 n. 1, 2023
Publicação online

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP


Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano
Centro Tecnológico COMIGO

Anuário de Pesquisa Agricultura - Resultados 2023


Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste
Goiano Centro Tecnológico COMIGO
Av. Presidente Vargas, 1878, Jardim Goiás, Rio Verde - GO
CEP 75901-901 - CP 195
Editores Técnicos: Amanda Magalhães Bueno; Diego Tolentino de Lima;
Eduardo Hara; Guilherme Braga Pereira Braz; Hemython Luis Bandeira
do Nascimento; Leonardo Fernandes Sarkis; Rafael Henrique Fernandes;
Ubirajara Oliveira Bilego;
Rio Verde, GO: Centro Tecnológico COMIGO, 2023.
218 p.: il. (algumas color.).

1. Workshop - Resultados. I. Bueno, Amanda Magalhães,


ISSN
II. Lima, Diego Tolentino de, III. Almeida, III. Hara, Eduardo, IV. Braz,
Guilherme Braga Pereira, V. Bandeira do Nascimento, Hemython Luis, VI.
Sarkis, Leonardo Fernandes, VII. Fernandes, Rafael Henrique. VIII. Bilego,
Ubirajara Oliveira.
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Sumário
APRESENTAÇÃO 7
EDITORIAL 8
AGRADECIMENTOS 9
PRECIPITAÇÃO PLUVIAL NO CTC 10

ENTOMOLOGIA 12

INSETICIDAS NO CONTROLE DE PERCEVEJO-MARROM (Euschistus heros)


NA CULTURA DA SOJA 13
INSETICIDAS NO CONTROLE DE NINFAS DE MOSCA-BRANCA (Bemisia tabaci)
NA CULTURA DA SOJA 22
INSETICIDAS NO CONTROLE DO PULGÃO Melanaphis sorghi NA CULTURA DO SORGO 30

FERTILIDADE DO SOLO E FERTILIZANTES 38

APLICAÇÃO ANTECIPADA DE NITROGÊNIO EM COBERTURA NO SORGO 39


IMPACTO DE DOSES DE CALCÁRIO E MÉTODOS DE INCORPORAÇÃO NA PRODUTIVIDADE DE GRÃOS
NA SUCESSÃO SOJA-SORGO 45
COMPATIBILIDADE DE DIQUAT E OCTABORATO NA DESSECAÇÃO PRÉ-COLHEITA DA SOJA E
IMPACTOS DO BORO NO SORGO EM SUCESSÃO 54

FISIOLOGIA E NUTRIÇÃO DE PLANTAS 62

EFEITOS DE DOSES E ÉPOCAS DE ADUBAÇÃO COM FÓSFORO VIA FOLIAR, NA NUTRIÇÃO E


PRODUTIVIDADE DA CULTURA DA SOJA 63
EFEITOS DE DOSES E ÉPOCAS DE ADUBAÇÃO COM MAGNÉSIO VIA FOLIAR, NA NUTRIÇÃO E
PRODUTIVIDADE DA CULTURA DA SOJA 76
A ADUBAÇÃO FOLIAR COM BIOESTIMULANTES É CAPAZ DE INCREMENTAR A PRODUTIVIDADE DE
GRÃOS DE MILHO CULTIVADO EM SEGUNDA SAFRA? 89
A ADUBAÇÃO FOLIAR COM BIOESTIMULANTES É CAPAZ DE INCREMENTAR A PRODUTIVIDADE DE
GRÃOS DE SORGO, CULTIVADO EM SEGUNDA SAFRA NO SUDOESTE GOIANO? 100

FITOPATOLOGIA 110

O CONTROLE DE DOENÇAS COMEÇA CEDO: FUNGICIDAS NO VEGETATIVO DA SOJA 111

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DIFERENTES FUNGICIDAS NO CONTROLE DA FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA,
SAFRA 2022/2023 EM RIO VERDE-GO 120
PRODUTOS BIOLÓGICOS E QUÍMICOS E NO CONTROLE DE FITONEMATOIDES
COM OCORRÊNCIA SIMULTÂNEA NA CULTURA DA SOJA 129
PROGRAMAS DE APLICAÇÕES DE FUNGICIDAS NO CONTROLE DE
HELMINTOSPORIOSE DO MILHO 142
CONTROLE QUÍMICO DE DOENÇAS FOLIARES DO SORGO NA SEGUNDA SAFRA
DO ANO AGRÍCOLA 2022/2023 151

FITOTECNIA 160

PRODUTIVIDADE DE SOJA CULTIVADA SOBRE A PALHADA DE Panicum maximum


EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO LAVOURA PECUÁRIA 161
DESEMPENHO PRODUTIVO DE HÍBRIDOS DE MILHO CULTIVADOS NA
SEGUNDA SAFRA 172
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE HÍBRIDOS DE SORGO GRANÍFERO
EM DUAS ÉPOCAS DE SEMEADURA 180

PLANTAS DANINHAS 160

DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA SUBMETIDA


A APLICAÇÃO DE HERBICIDAS RESIDUAIS EM DIFERENTES MODALIDADES 189
RESIDUAL DE PICLORAM EM NOVAS ÁREAS AGRÍCOLAS: IMPACTOS,
DETECÇÃO E MEDIDAS PARA ATENUAÇÃO 198
PERÍODO RESIDUAL ENTRE A APLICAÇÃO DA MISTURA MSMA + DIURON
E SEMEADURA DE CULTIVARES DE SOJA 207

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APRESENTAÇÃO

O Centro Tecnológico COMIGO – CTC, é revisões técnico-científicas de temas bastante


parte integrante da Cooperativa Agroindustrial dos atuais do setor agropecuário brasileiro. O Centro
Produtores Rurais do Sudoeste Goiano – COMIGO. Tecnológico COMIGO – CTC, continua contando
Sua principal missão é desenvolver e difundir com o imprescindível apoio da administração da
tecnologias agropecuárias, que possam apoiar os cooperativa, dos nossos consultores técnicos, dos
produtores no manejo de suas culturas visando maior parceiros e da equipe de suporte de campo, no
rentabilidade e sustentabilidade ambiental. Com sentido de apoiar os cooperados e a sociedade na
uma área física de aproximadamente 200 hectares, melhoria da qualidade de vida e na perpetuação do
incluindo a área da feira anual da cooperativa – a pujante setor agropecuário brasileiro.
TECNOSHOW – o CTC está localizado em local
estratégico da região Centro-Oeste do país, em Rio
Verde – GO. O Centro Tecnológico COMIGO tem se
consolidado cada vez mais como uma referência
em pesquisa agropecuária da região, do estado e
do país, em função da capacitação do seu corpo
técnico, da qualidade das suas pesquisas e da
imparcialidade dos seus resultados. Anualmente os
resultados obtidos são divulgados nos Workshops
de Agricultura e Pecuária, que em 2023 completam
sua 22ª e 13ª edições, respectivamente. O Centro
Tecnológico COMIGO – CTC, mantém sua atuação
em sete grandes temas: Manejo e Controle de
Doenças, Pragas e Plantas Daninhas, Solos e
Nutrição de Plantas, Fitotecnia e Produção Animal,
Agricultura de Precisão e Zootecnia, e os resultados
do presente Anuário contemplam os trabalhos
realizados na safra 2022/2023. Contamos também
nesta edição com a participação de parceiros
externos, que enriquecem o documento com

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EDITORIAL
O ano agrícola 2022/2023 teve desde o seu início 31,5 milhões de toneladas de grãos, um aumento de 9,1%
uma série de particularidades, que envolveram aspectos em relação a safra 2021/22. O que irá contribuir para
geopolíticos, comerciais e climáticos relevantes, que que Goiás se posicione em 4º lugar no ranking nacional
influenciaram decisivamente na gestão e tomada de de estados produtores, contribuindo com 10,14% da
decisões do agricultor durante a safra e safrinha deste ano. produção nacional.
Sob o ponto de vista geopolítico global, mesmo se Contudo, a safra 2022/2023 também foi
passando mais de um ano do início dos conflitos entre Rússia importante para o Centro Tecnológico Comigo, buscando
e Ucrânia, e com a trégua ainda distante de uma solução atender as demandas tanto do corpo técnico como
pacífica, os frequentes atos de agressividade entre os de seus cooperados. O Centro Tecnológico Comigo
países, imediatamente traz a tona a questão da insegurança ampliou a sua equipe de pesquisa, contratando mais dois
alimentar a nível mundial, principalmente no que se refere ao pesquisadores e ampliando para sete o total da equipe.
transporte de grãos nas regiões atingidas pelo conflito, como Esses novos pesquisadores vieram para somar as linhas
a disponibilidade de matérias prima de fertilizantes para as de pesquisa já existentes, Fitopatologia e Nematologia,
nações consumidoras. Gerando constantes incertezas no Controle e manejo de plantas daninhas e Entomologia,
mercado e para todos os players envolvidos, sempre atentos com o conhecimento nas áreas de Fertilidade do solo/
aos fatos mais recentes que ocorrem na região. Fertilizantes e Nutrição de plantas/Fisiologia vegetal.
No âmbito nacional, a incerteza ficou quanto ao rumo A ampliação da equipe de pesquisa veio para
das medidas políticas econômicas que seriam adotadas no reforçar o compromisso que a Comigo tem junto ao seus
início do novo governo, que por sua vez, trouxeram muita cooperados, no que diz respeito a geração e difusão de
desconfiança e incerteza junto ao setor agrícola. Criando tecnologias aplicadas que auxiliem no incremento da
muita apreensão e expectativa também para o produtor produtividade.
rural. Assim, muitos trabalhos foram realizados neste
Quanto aos fatores climáticos na safra 2022/2023, último ano agrícola, respondendo a muitas questões
chamaram a atenção algumas situações adversas. A dos cooperados e do corpo técnico da Comigo, e cuja
primeira delas, diz respeito ao veranico ocorrido no mês de grande parte está contida no anuário de pesquisas que
novembro, um dos maiores severos dentro da série histórica poderá ser acessado e baixado no site da Comigo.
para o mês registrado no Centro Tecnológico Comigo, Para o próximo ano agrícola novos desafios já
registrando volumes de apenas 60mmm para todo o mês, surgem no horizonte, entre eles a grande expectativa
muito abaixo do esperado e necessário para a cultura da da ocorrência do fenômeno El Nino, o que traz muito
soja em sua fase vegetativa. Outro ponto em comum e apreensão e cautela por parte dos produtores tanto
constatado pelos agricultores, foi o alongamento do ciclo da quanto ao início das chuvas como na sua regularidade.
soja, principalmente nos materiais de ciclo médio e precoce, Contudo, somente com informações de qualidade e
provavelmente em função do clima irregular, como descrito corpo técnico de apoio capacitado o cooperado poderá
acima. E finalmente, e não menos importante, o baixo atuar de forma segura e assertiva.
volume de chuvas principalmente após o mês de março, Desejamos que este conteúdo seja útil para
o que juntamente com o atraso do plantio da safrinha, tomadas de decisões na sua próxima safra e safrinha.
comprometeram aquelas lavouras que foram plantadas Lembrando sempre que o Centro Tecnológico Comigo
tardiamente. está a disposição para sugestões de temas, procure
Mesmo neste contexto, esse ano segundo dados da nossa equipe de agrônomos da sua região e traga
Secretaria de Agricultura do Estado de Goiás, são esperadas através dele as suas demandas. Obrigado e boa leitura!

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AGRADECIMENTOS

À Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano –


COMIGO, pelas condições operacionais e financeiras de trabalho.

À equipe de apoio do Centro Tecnológico COMIGO, pelo esforço e dedicação,


imprescindíveis na realização dos trabalhos.

Aos autores que contribuíram com a produção dos textos.

Aos parceiros de pesquisa da COMIGO.

À equipe da ASCOM - Assessoria de Comunicação da COMIGO.

Às equipes do Departamento de Assistência Técnica da COMIGO.

A todos que de alguma maneira contribuíram para a realização deste trabalho.

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PRECIPITAÇÃO
PLUVIAL NO CTC

MESES
ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
2002 279 159 128 75 31 0 12 8 45 52 159 337 1.285,0
2003 361 163 366 150 30 15 0 20 17 142 230 351 1.845,0
2004 244 461 207 145 81 0 10 0 0 162 214 216 1.740,0
2005 264 101 223 6 48 10 0 20 169 108 364 538 1.851,0
2006 124 225 325 65 16 0 23 22 3 292 395 448 1.938,0
2007 303 433 236 24 36 0 16 0 0 260 159 324 1.791,0
2008 357 363 282 201 0 0 0 2 21 175 212 155 1.768,0
2009 156 160 290 69 5 15 9 70 89 204 349 351 1.767,0
2010 212 359 171 32 0 0 17 0 80 129 170 194 1.364,0
2011 233 201 390 51 0 80 0 0 0 232 76 165 1.428,0
2012 275 265 125 99 61 15 0 0 89 113 335 127 1.504,0
2013 475 270 552 162 7 13 0 0 17 108 317 225 2.146,0
2014 52 144 272 109 11 6 74 0 74 116 431 368 1.657,0
2015 74 158 244 112 89 16 6 0 46 30 202 178 1.155,0
2016 322 189 293 8 14 35 0 78 17 137 116 270 1.479,0
2017 243 245 85 29 5 0 0 0 30 64 260 150 1.111,0
2018 222 151 265 66 21 0 0 17 70 176 292 162 1.442,0
2019 138 189 406 60 65 0 0 0 36 135 212,5 310 1.551,5
2020 264,5 407 166 20 26,5 0 0 0 15,5 106,5 161 116 1.283,0
2021 231 136 87 43,5 26 22 0 0 12,7 357,5 238,5 242,5 1.396,7
*2022 364 227,5 242,5 10 0 19 0 0 0 103,8 62,4 312,3 1.341,5
2023 235,2 249,9 288,9 76,0 12,3 23,0 0,3 78,3 50,4 - - - -
MÉDIA 246,8 238,9 256,6 73,3 26,6 12,2 7,6 14,3 40,1 145,6 225,2 251,8 1564,0
*A partir do mês de setembro de 2022, os dados de precipitação passaram a ser coletados de forma automática por estação meteorológica da marca
Plugfield®, localizada na área experimental do CTC.

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Entomologia 11
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Entomologia
12 Entomologia
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INSETICIDAS NO CONTROLE DE
PERCEVEJO-MARROM (Euschistus
heros) NA CULTURA DA SOJA

LIMA, Diego Tolentino1, FERNANDES, Rafael produtor mundial desde o ano de 2020. Além do destaque
Henrique2, BRAZ, Guilherme Braga Pereira3, como produtor, também ocupa o primeiro lugar como
BUENO, Amanda Magalhães4, SARKIS, Leonardo maior exportador desse grão, principal produto da
Fernandes5
exportação do agronegócio brasileiro, com estimativa
de exportação de 94,4 milhões de toneladas das 153,6
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Entomologia do Centro milhões produzidas na safra 2022/2023, segundo
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: a CONAB (2023). Produção 22,4% superior a safra
diegotolentino@comigo.com.br passada, com uma produtividade média de 3.527 kg.ha-1,
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador
Agronômico em Fitopatologia do Centro registrando recordes históricos de área de plantio,
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: produtividade e produção (CONAB 2023).
rafaelhenrique@comigo.com.br No entanto, assim como todas espécies
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas- cultivadas, a expansão da produtividade da soja depara-
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, se ainda com muitos desafios. Problemas fitossanitários
GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br continuam sendo importantes fatores que desafiam a
4
Eng.a Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora
Agronômica em Fisiologia Vegetal e Nutrição de consolidação da agricultura de altas produtividades.
Plantas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, Os insetos sugadores caracterizam-se como um dos
GO, Brasil. E-mail: amandamagalhaes@comigo.com. principais insetos-pragas que prejudicam a exploração
br
5
Eng. Agrônomo, Me. em Ciência do Solo, Pesquisador desse potencial. O percevejo-marrom Euschistos heros
Agronômico em Fertilidade do Solo e Fertilizantes do é a principal espécie praga desse grupo na cultura da
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. soja, pois apresenta ampla distribuição de ocorrência
E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br
(PANIZZI, 2015).
O percevejo-marrom, normalmente, pode passar

INTRODUÇÃO por três gerações durante o ciclo da cultura da soja,


podendo haver uma quarta geração após a colheita, com
A soja é uma das mais importantes espécies o inseto se alimentando de hospedeiros alternativos.
de plantas cultivadas dentro da cadeia agroindustrial Em ambos os casos o percevejo-marrom pode ainda
nacional e internacional, sendo o Brasil o maior entrar em diapausa, período em que não se alimenta,

Entomologia 13
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sobrevivendo através de reservas de lipídios e se utilização de doses acima da recomendada e tecnologia
abrigando na palhada, o que possibilita ao inseto passar de aplicação ineficiente. Neste sentido, o sucesso
pela entressafra e iniciar os danos nas lavouras de soja no manejo de percevejos depende de vários fatores,
rapidamente na próxima safra (HOFFMANN-CAMPO et entre eles a eficiência de controle dos inseticidas,
al., 2000; GRIGOLLI e GRIGOLLI, 2019). que é dependente de uma tecnologia de aplicação
Os danos na soja por percevejo-marrom são adequada, a qual deve proporcionar boa cobertura
acusados desde o início da formação das vagens e penetração no dossel da cultura, pois o percevejo-
até o final do período de enchimento dos grãos marrom se concentra mais na parte média da planta
(HOFFMANN-CAMPO et al., 2000; SILVA et al., 2014). e os inseticidas sistêmicos não são translocados para
Adultos e ninfas a partir do terceiro instar são os baixo (ROGGIA et al., 2018).
principais responsáveis pelos danos. Com seu aparelho O objetivo do trabalho foi avaliar a eficiência de
bucal em forma de estilete que é inserido nas vagens, controle de diferentes inseticidas, sobre o percevejo-
atingindo diretamente os grãos, são responsáveis marrom (E. heros), em três aplicações sequenciais, e
por sérios prejuízos no rendimento e na qualidade de determinar a produtividade em função dos tratamentos
grãos e sementes (PANIZZI et al., 2012; CZEPAK et al., inseticidas na cultura da soja.
2017). Ocorre má-formação do grão e das vagens e os
grãos podem reduzir seu tamanho, ficar enrugados, MATERIAL E MÉTODOS
chochos e mais escuros. Além disso, as folhas podem
não senescer e ficarem retidas na planta por ocasião da O experimento foi conduzido na área
colheita (HOFFMANN-CAMPO et al., 2000). experimental do Centro Tecnológico COMIGO (CTC),
Este inseto é bastante conhecido por sua da Cooperativa COMIGO, no município de Rio Verde –
dificuldade de controle, por poucos grupos químicos GO (S 17°45'57" e W 51°02'07"; 839 metros de altitude).
de inseticidas com boa eficiência, por possuírem Foi aplicado a lanço 150 kg ha-1 de Cloreto de Potássio
capacidade migratória a curtas distâncias, elevado (KCl) antes da semeadura. A cultivar de soja CZ37B43
potencial reprodutivo e elevado período de sobrevivência IPRO foi semeada no dia 29 de novembro de 2022, com
na fase adulta (GRIGOLLI e GRIGOLLI, 2019). Apesar a densidade de semeadura de 14,0 sementes por metro
disto, dentre as práticas de controle para percevejo- (população final de 259 mil plantas ha-1). A adubação de
marrom, aplicáveis atualmente, a mais comum é o semeadura foi realizada com 450 kg ha-1 de 00-20-00
controle químico, por se configurar uma prática rápida (Super Simples) Turbo Micro (0,15% de Zn; 0,15% de
e eficiente quando respeitadas as particularidades de Mn; 0,075% de B; 0,075% de Cu) no sulco.
cada produto comercial (GALLO et al., 2002). As sementes receberam tratamento On
Neste sentido existe uma preocupação cada dia Farm (Standak Top, dose de 0,2 L p.c. para 100 kg
maior com o surgimento de populações de percevejos de sementes). No momento da semeadura foram
resistentes a inseticidas químicos (CASTELLANOS et aplicados no sulco 1,0 L ha-1 do inoculante Cell Tech
al., 2018; SOMAVILLA et al., 2020), pois é recorrente o (Bradyrhizobium japonicum Estirpe SEMIA 5079 e
uso contínuo de ingredientes ativos com os mesmos SEMIA 5080, concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL-1),
mecanismos de ação, a aplicação de inseticidas com 0,1 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum (Azospirillum
amplo espectro de ação no início do ciclo da cultura, e a brasilense, concentração mínima 3,0 x 108 UFC mL-

14 Entomologia
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), 0,5 L ha-1 do inseticida biológico Meta-Turbo SC
1
(1,5 kg ha-1), a terceira com Evolution (2,0 L ha-1) + Aureo
(Metarhizium anisopliae IBCB425, concentração (0,375 L ha-1), e a quarta com Aproach Power (0,6 L ha-1)
mínima de 1,0 x 108 propágulos viáveis mL-1), 0,2 L ha-1 + Versatilis (0,35 L ha-1) + Bravonil 720 (1,0 L ha-1).
de Nodulus Gold (13,9 g L-1 de Cobalto, 139 g L-1 de As únicas aplicações de inseticidas realizadas
Molibdênio), 0,25 L ha-1 de Tricho-Turbo (Trichoderma no experimento foram referentes aos tratamentos.
asperellum BV10, concentração mínima de 1,0 x 1010 Foram realizadas três aplicações sequenciais dos
conídios viáveis mL-1) e 0,4 L ha-1 de Verango Prime (500 tratamentos descritos na Tabela 1, com intervalo de 10
g L-1 Fluopiram). O volume de aplicação utilizado no dias entre a primeira e a segunda aplicação, e de 11 dias
sulco foi de 60 L ha-1. entre a segunda e terceira aplicação, sendo a primeira
A área passou a entressafra semeada com realizada no enchimento de grãos (R5.2). As aplicações
Urochloa ruziziensis, sendo realizada dessecação com foram realizadas com pulverizador pressurizado
Xeque Mate (3,0 L ha-1) + DMA 806 BR (2,0 L ha-1) 20 por CO2 (Número de patente: BR102016007565-3)
dias antes da semeadura, uma aplicação em sistema montando em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75
plante-aplique logo após a semeadura com DIQUAT cv). O pulverizador é dotado com barra de 5,0 metros
CCAB 200 SL (2,0 L ha-1) + Agral (0,25 L ha-1), mais uma com 10 bicos de pulverização espaçados em 0,5 m.
aplicação em pós, 30 dias após a semeadura, com As pontas utilizadas para pulverização foram modelo
Xeque Mate (2,2 L ha-1), para o controle de plantas- ADIA 11001.D, da marca Magnojet. A calibração do
daninhas. O manejo de doenças foi realizado com equipamento foi ajustada com a pressão de trabalho na
quatro aplicações de fungicidas, iniciando no estádio ponta de pulverização de 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de
vegetativo com Helmstar Plus (0,5 L ha-1) + Aureo (0,375 aplicação de 150 L ha-1.
L ha-1), a segunda com Viovan (0,6 L ha-1) + Unizeb Gold

Entomologia 15
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Tabela 1. Tratamentos inseticidas para controle de percevejo-marrom, Euschistus heros, na soja
cultivar CZ37B43 IPRO. Centro Tecnológico COMIGO – CTC, Rio Verde-GO, safra 2021/2022.

mL ou g Dose de ativo
Nº Tratamentos Ingrediente ativo
*p. c. ha-1 (g ha-1)
1 Testemunha -- -- --
2 Bazuca duo 1000 Metomil + Bifentrina 200 + 25
3 Curbix 750 Etiprole 150
Tiametoxam + Lambda-
4 Engeo Pleno 250 35,3 + 26,5
cialotrina
Sulfoxaflor + Lambda-
5 Expedition 300 30 + 45
cialotrina
6 Feroce 1000 Acefato + Bifentrina 850 + 30
Zeta-Cipermetrina +
7 Hero 200 40 + 36
Bifentrina
8 Polytrin 1000 Profenofós + Cipermetrina 400 + 40
9 Sperto 300 Acetamiprido + Bifentrina 75 + 75
10 Talisman 600 Carbossulfano + Bifentrina 90 + 30
Isocicloseram + Lambda-
11 Verdavis 250 25 + 37,5
cialotrina
Dinotefuram + Lambda-
12 Zeus 500 42 + 24
cialotrina
* p. c. = produto comercial.

Os tratamentos foram dispostos no delineamento encerraram um dia após a terceira aplicação porque aos
em blocos ao acaso (DBC), com quatro repetições. As 7 dias após esta aplicação não foram mais encontrados
parcelas experimentais foram constituídas por 10 linhas percevejos na área, inclusive na testemunha sem
de cultivo, espaçadas de 0,5 metros, com 10 metros de aplicação, pois a senescência e queda das folhas da
comprimento. A parcela útil desconsiderou 1,0 m inicial lavoura já se encontrava em estágio avançado.
e final de cada linha da parcela e as duas linhas das Foi avaliado o número de percevejos adultos e
extremidades. ninfas a partir do terceiro instar (maiores que 0,3 cm).
As avaliações do número de insetos foram Para esta amostragem foi utilizado o método do pano-
realizadas previamente à primeira aplicação, um e sete de-batida, com pelo menos dois pontos de 1,0 m de linha
dias após a primeira aplicação (1DA1 e 7DA1), dois e 11 ao acaso na parcela útil em cada uma das avaliações. A
dias após a segunda aplicação (2DA2 e 11DA2) e um produtividade de grãos foi obtida em três linhas centrais
dia após a terceira aplicação (1DA3). As avaliações se de semeadura com 3,0 metros de comprimento dentro

16 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
de cada parcela útil. Os grãos foram colhidos, trilhados dos inseticidas por meio da fórmula de Abbott (1925).
e secos. Foi calculada a produtividade para um hectare,
considerando-se a umidade padrão de 13% para RESULTADOS E DISCUSSÃO
comercialização do grão, tomado como medida a saca
de 60 kg de grãos. Na avaliação prévia antes da primeira aplicação
Os dados do número de percevejos adultos e dos tratamentos, a média geral do número de percevejos
ninfas foram analisados separadamente. E juntamente (adultos) por metro no experimento (tratamentos +
com os dados de produtividade foram submetidos à testemunha) foi de 1,3, não sendo observada diferença
análise de variância (ANAVA) pelo teste F. No caso de entre os tratamentos (Tabela 2). Este resultado
efeito significativo dos tratamentos, as médias foram demonstra a uniformidade de distribuição do inseto na
comparadas pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). O área. Esta similaridade é importante para garantir que o
número de insetos nos tratamentos e na testemunha número inicial de percevejos por metro não influencie
foram utilizados para o cálculo da eficiência de controle nos resultados subsequentes.

Tabela 1. Número médio de adultos de percevejo-marrom (Euschistus heros) por metro e eficiência
de controle (%), um e sete dias após a primeira aplicação (1DA1 e 7DA1), dois e 11 dias após a
segunda aplicação (2DA2 e 11DA2) e um dia após a terceira aplicação (1DA3) na soja cultivar CZ
37B43 IPRO. Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

1DA1 7DA1 2DA2 11DA2 1DA3


Tratamento

Prévia
Nº EC(%) Nº EC(%) Nº EC(%) Nº EC(%) Nº EC(%)

1 1,1 a 3,5 b - 2,4 a - 1,9 b - 1,5 b - 2,1 b -


2 1,3 a 0,6 a 82,1 0,8 a 68,4 0,4 a 80,0 0,3 a 83,3 0,3 a 88,2
3 1,1 a 0,6 a 82,1 0,9 a 63,2 0,3 a 86,7 0,8 b 50,0 0,6 a 70,6
4 2,0 a 0,6 a 82,1 1,1 a 52,6 0,6 a 66,7 0,4 a 75,0 0,0 a 100,0
5 1,8 a 0,8 a 78,6 1,5 a 36,8 0,8 a 60,0 0,9 b 41,7 0,3 a 88,2
6 1,0 a 0,3 a 92,9 1,1 a 52,6 0,1 a 93,3 1,0 b 33,3 0,1 a 94,1
7 1,0 a 1,1 a 67,9 1,1 a 52,6 0,6 a 66,7 0,3 a 83,3 0,9 a 58,8
8 2,0 a 0,8 a 78,6 0,6 a 73,7 0,3 a 86,7 1,3 b 16,7 0,3 a 88,2
9 1,0 a 1,3 a 64,3 1,4 a 42,1 0,5 a 73,3 1,0 b 33,3 0,1 a 94,1
10 1,1 a 0,9 a 75,0 1,1 a 52,6 0,6 a 66,7 0,4 a 75,0 0,3 a 88,2
11 1,4 a 0,4 a 89,3 1,0 a 57,9 0,3 a 86,7 0,3 a 83,3 0,3 a 88,2
12 1,1 a 1,0 a 71,4 0,4 a 84,2 0,4 a 80,0 0,6 a 58,3 0,4 a 82,4
*Médias seguidas por mesma letra na coluna não se diferem pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05). Eficiência de controle maior que 90%
( ); entre 80 e 89% ( ); entre 60 e 79% ( ); entre 40 e 59% ( ); inferior a 40% ( ).

Entomologia 17
CLUBE DE REVISTAS
Apenas aos sete dias após a primeira aplicação 11DA2, foi superior a 80% de eficiência de controle,
(7DA1) dos tratamentos inseticidas para controle sendo ainda a maior parte das avaliações superior até
de percevejo-marrom na cultura da soja não foram a 90% (Tabela 3). Para Profenofós + Cipermetrina, ainda
observadas diferenças no número médio de percevejos assim, na média geral das quatro avaliações de ninfas
adultos por metro entre a testemunha e os demais de percevejo-marrom, atingiu 80,1% de eficiência de
tratamentos, momento em que foi observado o controle (Tabela 3).
maior pico populacional de percevejos adultos na
testemunha (2,4 insetos por metro), fato provavelmente
causado pela migração da praga de áreas adjacentes à
estação de pesquisa sendo colhidas. Dessa forma foi
a avaliação que apresentou eficiências de controle, de
forma geral, mais baixas, com exceção do tratamento
com Dinotefuram + Lambda-cialotrina, com 84,2% de
eficiência aos 7DA1. No restante das avaliações (1DA1,
2DA2, 11DA2 e 1DA3) a testemunha apresentou maior
número de percevejos adultos do que nos demais
tratamentos, apesar disto os inseticidas não diferiram
entre si (Tabela 2).
Nas avaliações de um dia após cada aplicação,
para avaliar o efeito imediato dos tratamentos inseticidas,
1DA1, 2DA2 e 1DA3, apesar de não haver diferença
no número de percevejos adultos por metro entre os
inseticidas, houve classes variadas de eficiência de
controle. Os tratamentos que mostraram eficiência de
controle superior a 80% nestas três avaliações (1DA1,
1DA2 e 1DA3) foram Metomil + Bifentrina, Acefato +
Bifentrina e Isocicloseram + Lambda-cialotrina (Tabela
2).
A presença de ninfas foi observada somente
a partir de 7DA1, chegando a um pico populacional
máximo na última avaliação (1DA3) com média de
7,1 insetos por metro na testemunha. Em todas
as avaliações de ninfas o tratamento testemunha
apresentou número maior de indivíduos que nos demais
tratamentos, apesar disto os inseticidas não diferiram
entre si (Tabela 3). No presente trabalho, o controle
de ninfas para todos os tratamentos inseticidas, com
exceção do tratamento Profenofós + Cipermetrina aos

18 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 3. Número médio de ninfas de percevejo-marrom (Euschistus heros) por metro e eficiência
de controle (%), sete dias após a primeira aplicação (7DA1), dois e 11 dias após a segunda aplicação
(2DA2 e 11DA2) e um dia após a terceira aplicação (1DA3) na soja cultivar CZ 37B43 IPRO. Centro
Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

7DA1 2DA2 11DA2 1DA3


Tratamento

Nº EC(%) Nº EC(%) Nº EC(%) Nº EC(%)

1 2,5 b - 2,6 b - 6,8 b - 7,1 b -


2 0,1 a 95,0 0,0 a 100,0 0,5 a 92,6 0,3 a 96,5
3 0,0 a 100,0 0,0 a 100,0 0,8 a 88,9 0,6 a 91,2
4 0,4 a 85,0 0,4 a 85,7 0,4 a 94,4 0,0 a 100,0
5 0,1 a 95,0 0,1 a 95,2 0,5 a 92,6 0,3 a 96,5
6 0,0 a 100,0 0,0 a 100,0 0,3 a 96,3 0,0 a 100,0
7 0,0 a 100,0 0,0 a 100,0 0,3 a 96,3 0,1 a 98,2
8 0,5 a 80,0 0,4 a 85,7 1,8 a 74,1 1,4 a 80,7
9 0,3 a 90,0 0,0 a 100,0 0,0 a 100,0 0,1 a 98,2
10 0,1 a 95,0 0,0 a 100,0 0,6 a 90,7 0,4 a 94,7
11 0,0 a 100,0 0,0 a 100,0 0,0 a 100,0 0,3 a 96,5
12 0,0 a 100,0 0,0 a 100,0 0,1 a 98,1 0,1 a 98,2
*Médias seguidas por mesma letra na coluna não se diferem pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05). Eficiência de controle maior que 90%
( ); entre 80 e 89% ( ); entre 60 e 79% ( ); entre 40 e 59% ( ); inferior a 40% ( ).

A eficiência de controle é dependente de que ocorre com adultos migrantes que reeinfestam a
uma tecnologia de aplicação adequada, isto é, boa lavoura, reduzindo efeito residual das aplicações.
cobertura e penetração no dossel da cultura, visto que A média geral de eficiência de controle dos
o percevejo-marrom se concentra no terço médio das tratamentos no presente trabalho, considerando
plantas (ROGGIA et al., 2018), principalmente as ninfas adultos e ninfas nas cinco avaliações no decorrer das
que tem menor mobilidade que os adultos. O volume três aplicações sequencias foi, em ordem decrescente:
de aplicação utilizado no presente trabalho foi 150 L Isocicloseram + Lambda-cialotrina (90,10%), Metomil +
ha , considerado um volume adequado do ponto de
-1
Bifentrina (88,22%), Dinotefuram + Lambda-cialotrina
vista da tecnologia de aplicação, propiciou controle (87,18%), Acefato + Bifentrina (86,16%), Carbossulfano
eficiente das ninfas, visto que não há migração de + Bifentrina (83,31%), Tiametoxam + Lambda-cialotrina
insetos imaturos de outras áreas, diferentemente do (83,29%), Etiprole (82,77%), Zeta-Cipermetrina +

Entomologia 19
CLUBE DE REVISTAS
Bifentrina (82,25%), Acetamiprido + Bifentrina (79,25%), de eficiência de controle entre os tratamentos em
Sulfoxaflor + Lambda-cialotrina (77,95%), Profenofós + determinadas avaliações, não houve reflexo na
Cipermetrina (74,44%). produtividade de grãos de soja, não sendo observadas
Apesar das variações nas porcentagens diferenças estatísticas (Figura 1).

70 65,2
63,5 62,9
59,4 58,6 61,0 60,3 59,7
60 57,1 58,6
55,4
51,3
Produtividade (sacas.ha )
-1

50

40

30

20

10

0
a a a a a e a a a a a a
u nh ntrin ntrin ntrin otrin iprol otrin ntrin etrin otrin otrin ntrin
m e e e l Et -cial Bife erm -cial -cial Bife
ste Bif Bif Bif cia
Te to + o + o + bda- a p a
bd mil + + Ci mbd mbd rina +
a
f a r i d fan am am o s a a t
e l
p
Ac tami ossu m + L + L Met enofó r + L + L erme
e b m f fl o m
Ac Car efura o ser
a a
Pro foxa etox ta-Ci
p
o t c l l m e
Din ci Su Tia Z
Iso

Figura 1. Produtividade da cultivar de soja CZ37B43 IPRO com diferentes tratamentos para o
controle de percevejo-marrom (Euschistus heros). Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-
GO, safra 2022/2023. *As médias não se diferiram pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05).

Ressalta-se que as três aplicações sequenciais Bifentrina, Tiametoxam + Lambda-cialotrina, Etiprole e


do mesmo inseticida, realizadas no presente trabalho, Zeta-Cipermetrina + Bifentrina apresentaram eficiência
foram realizadas somente de forma experimental para média de controle de ninfas e adultos de percevejo-
avaliação da eficiência de controle. Recomenda-se o marrom, média de cinco avaliações no decorrer das
manejo integrado de pragas na lavoura seguindo-se três aplicações sequencias, superior a 80%. Entretanto
rigorosamente o princípio da rotação entre mecanismos não houve reflexo na produtividade de grãos de soja.
de ação dos inseticidas.
AGRADECIMENTOS
CONCLUSÃO
À equipe de campo, pesquisadores e estagiários
Os inseticidas Isocicloseram + Lambda- do CTC pelo apoio na implantação e condução do
cialotrina, Metomil + Bifentrina, Dinotefuram + Lambda- experimento.
cialotrina, Acefato + Bifentrina, Carbossulfano +

20 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
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manejo integrado. Londrina: Embrapa Soja, 2000. 70
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Entomologia 21
CLUBE DE REVISTAS

INSETICIDAS NO CONTROLE DE
NINFAS DE MOSCA-BRANCA
(Bemisia tabaci) NA CULTURA DA
SOJA

LIMA, Diego Tolentino1, FERNANDES, Rafael e internacional, porém, assim como as demais culturas,
Henrique2, BRAZ, Guilherme Braga Pereira3, passa por problemas fitossanitários. Dentre os insetos
SARKIS, Leonardo Fernandes5, BUENO, Amanda e outros artrópodes de importância econômica nesta
Magalhães4
cultura há os que atacam raízes e nódulos da soja, os
que atacam plântulas, hastes e pecíolos da soja, os que
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Entomologia do Centro atacam as folhas da soja e os que atacam vagens e grãos
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: (HOFFMANN-CAMPO et al., 2012).
diegotolentino@comigo.com.br Dentre os que atacam as folhas da soja, merece
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador
Agronômico em Fitopatologia do Centro destaque a mosca-branca, Bemisia tabaci (Hemiptera:
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: Aleyrodidae), um inseto sugador polífago (se alimenta
rafaelhenrique@comigo.com.br de várias espécies de plantas), considerada uma das
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas- principais pragas agrícolas das regiões tropicais que tem
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, afetado as lavouras de soja no Brasil de forma crescente
GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br nos últimos anos (SOSA-GÓMEZ et al., 2010). Este inseto
4
Eng. Agrônomo, Me. em Ciência do Solo, Pesquisador
Agronômico em Fertilidade do Solo e Fertilizantes do se alimenta mais frequentemente na face abaxial da
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. folha, sugando os açúcares diretamente das células do
E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br floema e injetando toxinas, esses são os danos diretos.
5
Eng.a Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora
Agronômica em Fisiologia Vegetal e Nutrição de Os indiretos são a transmissão de viroses e formação
Plantas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, de fumagina, causada pelo fungo Capnodium sp., ao se
GO, Brasil. E-mail: amandamagalhaes@comigo.com. alimentarem, os insetos excretam o “honeydew”, que é
br
uma substância açucarada na folha, na qual o fungo se
desenvolve (MOSCARDI et al., 2012).

INTRODUÇÃO Diferenças na biologia e no comportamento


entre populações de B. tabaci fizeram com que alguns
A soja (Glycine max), atualmente, é uma taxonomistas considerassem diferentes “biótipos” ou
das mais importantes entre as espécies de plantas “raças”. Em condições de campo, atualmente o “biótipo
cultivadas dentro da cadeia agroindustrial nacional A” foi substituído quase na totalidade pelo “biótipo

22 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
B”, considerado, portanto, uma praga muito mais químico, porém, em momentos adequados (somente
importante que o “biótipo A”, devido principalmente à quando o prejuízo causado pela praga é igual ou maior
maior agressividade, com uma taxa de reprodução de que seu custo de controle, chamado de nível de dano
aproximadamente 30% maior. É também mais tolerante econômico), além de envolver outros tipos de controle,
ao frio, apresenta maior gama de hospedeiros e tem visando reduzir o uso dos produtos químicos. Dentre os
maior capacidade de transmissão de viroses, além de métodos integrados ao MIP tem-se o controle biológico,
maior resistência aos inseticidas. Além disso, a mosca- controle cultural, resistência de plantas, métodos
branca “biótipo B” tem maior taxa de alimentação legislativos e controle por comportamento (GALLO et
e produção de “honeydew” e, consequentemente, al., 2002).
maiores chances de desenvolvimento de fumagina O objetivo do trabalho foi avaliar a eficiência
(MOSCARDI et al., 2012). de controle de diferentes inseticidas, sobre ninfas
A mosca-branca “biótipo Q” foi coletada e de mosca-branca (B. tabaci), em três aplicações
identificada pela primeira vez no Brasil em 2013, no Rio sequenciais, e determinar a produtividade em função
Grande do Sul. Desde então vem se espalhando pelo dos tratamentos inseticidas na cultura da soja.
país, já sendo presente nos estados do Sul, em São Paulo
e também em Goiás, e tem preocupado os produtores MATERIAL E MÉTODOS
e pesquisadores do Brasil, porque este “biótipo” possui
resistência a vários inseticidas disponíveis no mercado. O experimento foi conduzido na área
Além disso, tem maior capacidade de sobreviver sob experimental do Centro Tecnológico COMIGO (CTC),
baixas e altas temperaturas, em relação ao “biótipo B”, da Cooperativa COMIGO, no município de Rio Verde –
conferindo maior competitividade (PITTA et al., 2019). GO (S 17°45'57" e W 51°02'07"; 839 metros de altitude).
Além de diferentes “biótipos”, mudanças Foi aplicado a lanço 150 kg ha-1 de Cloreto de Potássio
comportamentais na mosca-branca também (KCl) antes da semeadura. A cultivar de soja CZ37B43
podem ser observadas devido à disponibilidade de IPRO foi semeada no dia 29 de novembro de 2022, com
hospedeiros. Por exemplo, no sistema agrícola do a densidade de semeadura de 14,0 sementes por metro
Brasil Central, onde o cultivo sucessivo de soja/milho (população final de 264,5 mil plantas ha-1). A adubação
proporcionou ao “biótipo B” a capacidade de colonizar, de semeadura foi realizada com 450 kg ha-1 de 00-20-00
desenvolver e completar seu ciclo na cultura do milho, (Super Simples) Turbo Micro (0,15% de Zn; 0,15% de
planta reportada em trabalhos anteriores como não Mn; 0,075% de B; 0,075% de Cu) no sulco.
hospedeira desta espécie (QUINTELA et al., 2016). As sementes receberam tratamento On
Atualmente, a ferramenta mais utilizada no Farm (Standak Top, dose de 0,2 L p.c. para 100 kg
controle desta praga é o controle químico, e em virtude de sementes). No momento da semeadura foram
das características biológicas do inseto, torna-se aplicados no sulco 1,0 L ha-1 do inoculante Cell Tech
preocupante o surgimento de resistência a inseticidas. (Bradyrhizobium japonicum Estirpe SEMIA 5079 e
Neste sentido, nos últimos anos, o conceito de controle SEMIA 5080, concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL-1),
de pragas vem se modificando, passando de aplicações 0,1 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum (Azospirillum
sistemáticas de forma calendarizada, para o Manejo brasilense, concentração mínima 3,0 x 108 UFC mL-
Integrado de Pragas (MIP), que permite o controle 1
), 0,5 L ha-1 do inseticida biológico Meta-Turbo SC

Entomologia 23
CLUBE DE REVISTAS
(Metarhizium anisopliae IBCB425, concentração (1,5 kg ha-1), a terceira com Evolution (2,0 L ha-1) + Aureo
mínima de 1,0 x 108 propágulos viáveis mL-1), 0,2 L ha-1 (0,375 L ha-1), e a quarta com Aproach Power (0,6 L ha-1)
de Nodulus Gold (13,9 g L-1 de Cobalto, 139 g L-1 de + Versatilis (0,35 L ha-1) + Bravonil 720 (1,0 L ha-1).
Molibdênio), 0,25 L ha-1 de Tricho-Turbo (Trichoderma As únicas aplicações de inseticidas realizadas no
asperellum BV10, concentração mínima de 1,0 x 1010 experimento foram referentes aos tratamentos. Foram
conídios viáveis mL-1) e 0,4 L ha-1 de Verango Prime (500 realizadas três aplicações sequenciais dos tratamentos
g L-1 Fluopiram). O volume de aplicação utilizado no descritos na Tabela 1, com intervalo de 11 dias entre
sulco foi de 60 L ha-1. a primeira e a segunda aplicação, e de 12 dias entre a
A área passou a entressafra semeada com segunda e terceira aplicação, sendo a primeira realizada
Urochloa ruziziensis, sendo realizada dessecação com no início da formação das vagens (R3). As aplicações
Xeque Mate (3,0 L ha-1) + DMA 806 BR (2,0 L ha-1) 20 foram realizadas com pulverizador pressurizado
dias antes da semeadura, uma aplicação em sistema por CO2 (Número de patente: BR102016007565-3)
plante-aplique logo após a semeadura com DIQUAT montando em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75
CCAB 200 SL (2,0 L ha-1) + Agral (0,25 L ha-1), mais uma cv). O pulverizador é dotado com barra de 5,0 metros
aplicação em pós, 30 dias após a semeadura, com com 10 bicos de pulverização espaçados em 0,5 m.
Xeque Mate (2,2 L ha-1), para o controle de plantas- As pontas utilizadas para pulverização foram modelo
daninhas. O manejo de doenças foi realizado com ADIA 11001.D, da marca Magnojet. A calibração do
quatro aplicações de fungicidas, iniciando no estádio equipamento foi ajustada com a pressão de trabalho na
vegetativo com Helmstar Plus (0,5 L ha-1) + Aureo (0,375 ponta de pulverização de 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de
L ha-1), a segunda com Viovan (0,6 L ha-1) + Unizeb Gold aplicação de 150 L ha-1.

24 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Tratamentos inseticidas para controle de ninfas de mosca-branca, Bemisia tabaci, na soja
cultivar CZ37B43 IPRO. Centro Tecnológico COMIGO – CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

mL ou g Dose de ativo
Nº Tratamentos Ingrediente ativo
*p. c. ha-1 (g ha-1)

1 Testemunha -- -- --
2 Benevia 500 Ciantraniliprole 50
3 Boveria-Turbo 500 Beauveria #

Beauveria + Carbossulfano
4 Boveria-Turbo + Talisman 500 + 1000 # + 150 + 50
+ Bifentrina

5 Cordial 250 Piriproxifem 25

Espiropidiona +
6 Elestal Neo1 150 45 + 36
Acetamiprido

7 Maxsan 500 Dinotefuram + Piriproxifem 50 + 12,5

Abamectina +
8 Minecto Pro1 600 10,8 + 36
Ciantraniliprole

9 Privilege 250 Acetamiprido + Piriproxifem 50 + 25


10 Talisman 1000 Carbossulfano + Bifentrina 150 + 50
11 Vinquo 500 Afidopiropeno 50
* p. c. = produto comercial. 1Adicionado o adjuvante Ochima (Alquil Ester Fosfatado, 752 g L-1) na dose de 0,25 L ha-1.
# Beauveria bassiana IBCB66, concentração mínima de 1 x 109 UFC g-1 de produto comercial.

Os tratamentos foram dispostos no delineamento coletados quatro trifólios, no terço médio ou inferior
em blocos ao acaso (DBC), com quatro repetições. As de plantas distintas e distribuídas aleatoriamente
parcelas experimentais foram constituídas por 10 linhas por parcela, dentro da parcela útil. Os trifólios foram
de cultivo, espaçadas de 0,5 metros, com 10 metros de levados para laboratório e as ninfas de mosca-branca
comprimento. A parcela útil desconsiderou 1,0 m inicial foram contabilizadas com auxílio de microscópio
e final de cada linha da parcela e as duas linhas das estereoscópio com aumento fixo de 20 vezes. A
extremidades. produtividade de grãos foi obtida em três linhas centrais
As avaliações do número de insetos foram de semeadura com 3,0 metros de comprimento dentro
realizadas previamente à primeira aplicação, 11 dias de cada parcela útil. Os grãos foram colhidos, trilhados
após a primeira aplicação, 12 dias após a segunda e secos. Foi calculada a produtividade para um hectare,
aplicação e 10 dias após a terceira aplicação. Para considerando-se a umidade padrão de 13% para
a amostragem de ninfas de mosca-branca foram comercialização do grão, tomado como medida a saca

Entomologia 25
CLUBE DE REVISTAS
de 60 kg de grãos.
Os dados do número de ninfas de mosca-branca Na avaliação prévia, antes da primeira aplicação
por trifólio e de produtividade foram submetidos à dos tratamentos, a média geral do número de ninfas
análise de variância (ANAVA) pelo teste F. No caso de de mosca-branca por trifólio de soja no experimento
efeito significativo dos tratamentos, as médias foram (tratamentos inseticidas + testemunha) foi de 5,9,
comparadas pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). O não sendo observada diferença entre os tratamentos
número de insetos nos tratamentos e na testemunha (Tabela 2). Este resultado demonstra a uniformidade
foram utilizados para o cálculo da eficiência de controle de distribuição da praga na área. Esta similaridade é
dos inseticidas por meio da fórmula de Abbott (1925). importante para garantir que o número inicial de ninfas
de mosca-branca por trifólio não influencie no cálculo
RESULTADOS E DISCUSSÃO da eficiência de controle obtida pelos tratamentos no
decorrer das aplicações.

Tabela 2. Número médio de ninfas de mosca-branca (Bemisia tabaci) por trifólio e eficiência de
controle (%), 11 dias após a primeira aplicação (11DA1), 12 dias após a segunda aplicação (12DA2)
e 10 dias após a terceira aplicação (10DA3) na soja cultivar CZ 37B43 IPRO. Centro Tecnológico
COMIGO - CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

11DA1 12DA2 10DA3


Tratamento

Prévia
Nº EC(%) Nº EC(%) Nº EC(%)

1 6,7 a 20,8 c - 26,3 d - 15,1 b -


2 5,2 a 10,3 b 50,8 11,0 b 58,2 2,2 a 85,6
3 6,6 a 11,8 b 43,6 14,4 c 45,3 2,2 a 85,6
4 5,0 a 15,3 b 26,8 15,3 c 41,8 2,9 a 80,7
5 6,1 a 12,6 b 39,6 5,0 a 81,0 0,3 a 97,8
6 5,1 a 5,8 a 72,0 3,3 a 87,7 1,7 a 89,0
7 5,2 a 12,4 b 40,4 5,2 a 80,4 1,2 a 92,3
8 6,5 a 6,3 a 70,0 10,5 b 60,1 2,6 a 82,9
9 5,2 a 12,3 b 40,8 4,5 a 82,9 0,5 a 97,0
10 6,6 a 11,8 b 43,6 15,7 c 40,5 3,1 a 79,6
11 6,7 a 6,0 a 71,0 4,5 a 83,0 1,7 a 89,0
*Médias seguidas por mesma letra na coluna não se diferem pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05). Eficiência de controle maior que 90%
( ); entre 80 e 89% ( ); entre 60 e 79% ( ); entre 40 e 59% ( ); inferior a 40% ( ).

26 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
Com apenas uma aplicação, na avaliação aos o princípio da rotação entre mecanismos de ação
11DA1, todos tratamentos apresentaram redução dos inseticidas. Neste caso podemos observar que
no número médio de ninfas de mosca-branca por existem opções interessantes para ser realizada esta
trifólio em relação à testemunha, entretanto nenhum rotação, incluindo também os ativos recentemente
dos tratamentos apresentou eficiência de controle registrados no Brasil, Espiropidiona e Afidopiropeno,
superior a 80%. Os tratamentos que apresentaram como opções a mais além dos frequentemente mais
eficiência de pelo menos 70% foram Espiropidiona utilizados (Piriproxifem e Ciantraniliprole).
+ Acetamiprido, Abamectina + Ciantraniliprole e O controle biológico com o fungo Beauveria
Afidopiropeno, os mesmos apresentaram número bassiana também tem um papel importante no
médio de ninfas por trifólio inferior em relação aos manejo de resistência, e já conta com vários registros
demais tratamentos (Tabela 2). de produtos comerciais no Ministério da Agricultura,
Aos 12DA2 os tratamentos Piriproxifem, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O tratamento
Espiropidiona + Acetamiprido, Dinotefuram com três aplicações sequenciais de B. bassiana,
+ Piriproxifem, Acetamiprido + Piriproxifem e isolado ou em associação com inseticida químico,
Afidopiropeno apresentaram eficiência de controle proporcionou eficiência de controle de ninfas de
acima de 80% e menor número médio de ninfas mosca-branca superiores a 80% (Tabela 2).
por trifólio que os demais tratamentos. Já com três Apesar das variações nas porcentagens
aplicações, 10 DA3, com exceção do tratamento de eficiência de controle entre os tratamentos em
Carbossulfano + Bifentrina, todos tratamentos determinadas avaliações, e diferenças no número
apresentaram eficiência acima de 80%, com médio de ninfas de mosca-branca por trifólio, não
destaque para os tratamentos contendo Piriproxifem houve uma aparente correlação com as diferenças
apresentando eficiências acima de 90% (Piriproxifem de produtividade de grãos de soja, observadas na
isolado, Dinotefuram + Piriproxifem e Acetamiprido + Figura 1. Tal fato pode ter acontecido por influência
Piriproxifem) (Tabela 2). de outros fatores no campo (de maior interferência
Em trabalhos anteriores Piriproxifem e do que a infestação por ninfas de mosca-branca) que
Ciantraniliprole apresentaram as melhores eficiências não foram controlados e nem avaliados.
de controle sobre ninfas de mosca-branca, superior
a 80%, com apenas duas aplicações sequenciais
(LIMA et al. 2021). Entretanto no presente trabalho
somente Piriproxifem atingiu 80% com apenas
duas aplicações, Ciantraniliprole necessitou de três
aplicações para o mesmo (Tabela 2).
Ressalta-se que as três aplicações
sequenciais do mesmo inseticida químico, realizadas
no presente trabalho, foram realizadas somente de
forma experimental para avaliação da eficiência
de controle. Recomenda-se o manejo integrado
de pragas na lavoura seguindo-se rigorosamente

Entomologia 27
CLUBE DE REVISTAS
70
61,0 a 60,6 a
60 59,0 a 58,5 a 58,2 a 58,0 a 58,0 a 56,3 b
52,8 b 54,4 b 55,2 b
Produtividade (sacas.ha )
-1

50

40

30

20

10

0
ha le m no r i a na na le m do m
mun ilipro oxife rope auve entri entri ilipro oxife ipri oxife
te an ipr pi Be if if n pr am pr
Tes iantr + Pir Afido o + B o + B antra Piri Acet Piri
n n i +
+ C i do fa fa C am a+
t i na mipr o s s u l os s u l e f u r i d i on
ec ta rb arb t p
am Ace + Ca C Di no pi r o
A b ia E s
u ver
a
Be

Figura 2. Produtividade da cultivar de soja CZ37B43 IPRO com diferentes tratamentos para o
controle de ninfas de mosca-branca (Bemisia tabaci). Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio
Verde-GO, safra 2022/2023. *Médias seguidas por letras distintas se diferiram pelo Teste de Scott-
Knott (p<0,05).

É importante ressaltar que o sucesso no


CONCLUSÃO
manejo da mosca-branca na soja não depende
somente eficiência de controle dos inseticidas,
Os tratamentos Piriproxifem, Espiropidiona
existem vários fatores importantes envolvidos.
+ Acetamiprido, Dinotefuram + Piriproxifem,
Neste sentido, a eficiência de controle de um
Acetamiprido + Piriproxifem e Afidopiropeno
inseticida, seja biológico ou químico, é dependente
apresentaram eficiência de controle acima de 80%
de uma tecnologia de aplicação adequada, que deve
e menor número médio de ninfas por trifólio que os
proporcionar boa cobertura e penetração no dossel,
demais tratamentos após duas aplicações.
pois a maior proporção das ninfas está localizada
Já após três aplicações, exceto Carbossulfano
nos terços médio e inferior da cultura, devido ao local
+ Bifentrina, os demais tratamentos apresentaram
de oviposição pelas fêmeas e seu hábito alimentar,
eficiência acima de 80%, destacando-se Piriproxifem
apesar dos adultos se concentrarem no terço
isolado, Dinotefuram + Piriproxifem e Acetamiprido +
superior (POZEBON et al., 2019).
Piriproxifem com eficiências acima de 90%.

28 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
E. M.; WIEST, G.; SCHOFFEN, M. E.; ZANETTI, V. H.
AGRADECIMENTOS
Q da questão. Cultivar grandes culturas, v. 238, p.
19-21, 2019.
À equipe de campo, pesquisadores e
POZEBON, H., CARGNELUTTI FILHO, A.,
estagiários do CTC pelo apoio na implantação e
GUEDES, J. V. C., FERREIRA, D. R., MARQUES, R.
condução do experimento.
P., BEVILAQUA, J. G., PATIAS, L. S., COLPO, T. L.,
ARNEMANN, J. A. Distribution of Bemisia tabaci
REFERÊNCIAS
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Entomologia Experimentalis et Applicata, First
ABBOTT, W. S. A method of computing the
published: 17 June 2019.
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S.; CARVALHO, R.L.P.; BAPTISTA, G.C.; BERTI
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FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.;
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- manejo integrado de pragas. Curitiba: SENAR:
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PITTA, R. M.; CROSARIOL NETTO, J.; BARROS,

Entomologia 29
CLUBE DE REVISTAS

INSETICIDAS NO CONTROLE DO
PULGÃO Melanaphis sorghi NA
CULTURA DO SORGO

LIMA, Diego Tolentino1, FERNANDES, Rafael entanto na safra 2021/2022 atingiu 3,1 milhões de toneladas,
Henrique2, BRAZ, Guilherme Braga Pereira3, e na safra 2022/2023 deverá atingir 4,6 milhões de toneladas
BUENO, Amanda Magalhães4, SARKIS, Leonardo (CONAB, 2023). A região Centro-Oeste participa com mais
Fernandes5
da metade da produção nacional, sendo o estado de Goiás
o maior produtor, que devido ao zoneamento agroclimático
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
do estado, posiciona o sorgo como principal substituto
Agronômico em Entomologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: do milho segunda safra, geralmente em sucessão a soja
diegotolentino@comigo.com.br implantada no início de novembro e cultivada até a última
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador
semana de fevereiro (primavera-verão). A produtividade
Agronômico em Fitopatologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: desta cultura no estado de Goiás pode ser atingir as 134
rafaelhenrique@comigo.com.br sacas ha-1 (ALMEIDA et al., 2020).
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
O pulgão-da-cana-de-açúcar se tornou destaque
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas-
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, na cultura do sorgo desde a safra 2019/2020 em todo país,
GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br por causar danos significativos e perdas em produtividade,
4
Eng.a Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora
se tornando uma praga chave (FERNANDES et al., 2021).
Agronômica em Fisiologia Vegetal e Nutrição de
Plantas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, Em Goiás, de modo geral, a população de pulgão no sorgo
GO, Brasil. E-mail: amandamagalhaes@comigo.com. foi melhor controlada durante esta safra. Um manejo mais
br
assertivo do inseto, tanto em número de aplicações quanto
5
Eng. Agrônomo, Me. em Ciência do Solo, Pesquisador
Agronômico em Fertilidade do Solo e Fertilizantes do em época de controle e inseticidas mais adequados,
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. possibilitou que a infestação não alcançasse níveis
E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br
preocupantes na maioria das lavouras. Também foi relatado
que a pressão de insetos nesta safra foi menor que em

INTRODUÇÃO safras anteriores. E as chuvas, de modo geral, contribuíram


para os bons resultados da cultura (CONAB, 2023).

Nos últimos anos a produção brasileira de sorgo Historicamente o Melanaphis sacchari (pulgão-

estava ao redor de dois milhões de toneladas por ano, no da-cana-de-açúcar) tem sido uma importante praga na
cultura da cana-de-açúcar tanto no Brasil quanto nos EUA,

30 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
causando danos ao se alimentar da seiva da planta e Como o potencial de dano está relacionado com o
transmitir o vírus do mosaico (Sugarcane Yellow Leaf Virus, potencial reprodutivo do inseto, o monitoramento deve ser
SCYLV) (SINGH et al., 2004; SILVA et al., 2014). Em 2013 constante, pois, se a população do pulgão atingir níveis
nos EUA e 2019 no Brasil, os problemas com o pulgão-da- elevados na lavoura o controle será mais difícil e os danos
cana-de-açúcar na cultura do sorgo, primeiramente, foram já estarão ocorrendo. Assim, um dos pontos principais
atribuídos a um novo biótipo de M. sacchari, no entanto, no manejo para se utilizar a intervenção com inseticidas
foi desvendado por técnicas moleculares e morfológicas é o chamado “timing” de aplicação (hora certa de fazer
que se tratava da espécie Melanaphis sorghi (NIBOUCHE a aplicação), quando a infestação ainda está no início
et al. 2021). (FERNANDES et al., 2021; LIMA et al., 2021). A utilização
Além disso, M. sacchari e M. sorghi, apesar de inseticidas no manejo de M. sorghi tem se mostrado
de espécies diferentes, eram tratadas na literatura uma realidade para redução da infestação pelo inseto
como o mesmo pulgão-da-cana-de-açúcar. De fato, e manutenção das produtividades da cultura do sorgo
existe a dificuldade em diferenciar essas espécies por nos EUA, principalmente quando se trata de híbridos
características morfológicas (NIBOUCHE et al., 2021). sensíveis ao pulgão (LAHIRI et al., 2019). Neste sentido o
Mas no Brasil os grandes aumentos populacionais objetivo do trabalho foi avaliar a infestação de M. sorghi e a
observados causando sintomas em plantas de sorgo produtividade do sorgo, em função de diferentes manejos
revelaram, inclusive por técnicas moleculares, a presença (épocas e números de aplicações) diferentes inseticidas.
de M. sorghi (FERNANDES et al., 2021; NIBOUCHE et al.,
2021; HARRIS-SHULTZ et al. 2022). MATERIAL E MÉTODOS
Na região do Sudoeste Goiano, tem-se observado
maior ocorrência do pulgão M. sorghi no final da fase O experimento foi conduzido na área experimental
vegetativa e início da fase reprodutiva da lavoura de sorgo. do Centro Tecnológico COMIGO (CTC), da Cooperativa
Os insetos se concentram na parte de baixo das folhas e COMIGO, no município de Rio Verde – GO (S 17°45'57"
se alimentam sugando a seiva da planta, sendo comum e W 51°02'07"; 839 metros de altitude). Em área colhida
a infestação iniciar nas folhas mais velhas (baixeiro) e anteriormente com soja foi realizada a semeadura do
avançar para as mais novas. Os sintomas: amarelecimento, híbrido de sorgo granífero 1G 100 no dia 04 de março de
manchas vermelhas e necróticas, podem ser observados 2023, com a densidade de semeadura de 10,0 sementes
até mesmo na face superior da folha. Os danos são por metro (população final de 165 mil plantas ha-1). A
potencializados em situações de estresse, principalmente adubação de semeadura foi realizada com 400 kg ha-1 de
hídrico (SINGH et al., 2004). Ocorre formação de grandes 15-15-15. No momento da semeadura foram aplicados
colônias e, com a excreção de grandes quantidades no sulco 0,15 L ha-1 de Biomax Azum (Azospirillum
de substâncias açucaradas, se desenvolve um fungo brasilense, concentração mínima 3,0 x 108 UFC mL-1), 0,5
(geralmente do gênero Capnodium) de cor enegrecida, L ha-1 do inseticida biológico Meta-Turbo SC (Metarhizium
chamado de fumagina, que prejudica a fotossíntese da anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1,0 x 108
folha. Em altas infestações a planta pode secar mesmo propágulos viáveis mL-1) e 0,25 L ha-1 de RayNitro Zn News
antes de emitir a panícula, ou ainda emitir a estrutura (83,3 g L-1 de Nitrogênio, 83,3 g L-1 de Fósforo - P2O5 e 47,6 g
reprodutiva, porém com enchimento de grãos altamente L-1 de Zinco). O tratamento de sementes foi realizado com
comprometido. CropStar (1,0 L para 100 kg de sementes). A adubação

Entomologia 31
CLUBE DE REVISTAS
de cobertura foi realizada com 150 kg ha-1 de Ureia Turbo na Tabela 1. Apenas no tratamento denominado Padrão
(ureia + NBPT). foram realizadas duas aplicações para o controle de
O controle de plantas daninhas foi realizado através Melanaphis sorghi. Nos demais tratamentos realizada
de uma aplicação em sistema plante-aplique logo após a apenas uma única aplicação, já na testemunha não
semeadura com Gesaprim (2,0 L ha-1) e outra aplicação houve aplicação de inseticidas. As duas aplicações no
17 dias após a semeadura com Proof (3,0 L ha-1) + Iharol tratamento padrão foram realizadas logo no início da
Gold (0,4 L ha-1). Para o controle de manchas foliares foi formação das primeiras colônias com poucos insetos, não
realizada uma aplicação com o fungicida Orkestra (0,35 L permitindo que a nota de infestação não ultrapassasse a
ha-1) + Mees (0,5 L ha-1) + Unizeb Gold (1,5 kg ha-1), 40 dias classe 1,0 na escala proposta por Fernandes et al. (2021),
após a semeadura. em que a planta de sorgo apresenta poucos pulgões e
As únicas aplicações de inseticidas realizadas no não há presença de exsúvia (colônia pequena, menos de
experimento foram referentes aos tratamentos descritos 50 pulgões folha-1).

Tabela 1. Tratamentos inseticidas para controle de pulgão, Melanaphis sorghi, no sorgo 1G100. Centro
Tecnológico COMIGO – CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

mL ou g Dose de ativo
Tratamentos Ingrediente ativo
*p. c. ha-1 (g ha-1)
Testemunha -- -- --
Tiametoxam + Lambda-
1ª 42,3 + 31,8 +
Engeo Pleno + Premio 300 + 100 cialotrina +
Padrão

13/04 20
Clorantraniliprole

Wild + Battus 1000 + 400 Clorpirifós + Acetamiprido 480 + 80
26/05
Wild 1000 Clorpirifós 480
60% (nota 3,0)

Closer 100 Sulfoxaflor 24


25/04/23 -
Infestação

Battus 400 Acetamiprido 80


Tiametoxam + Lambda-
Engeo Pleno 300 42,3 + 31,8
cialotrina
Wild + Battus 1000 + 400 Clorpirifós + Acetamiprido 480 + 80

Wild 1000 Clorpirifós 480


86% (nota 4,3)

Closer 100 Sulfoxaflor 24


10/05/23 -
Infestação

Battus 400 Acetamiprido 80


Tiametoxam + Lambda-
Engeo Pleno 300 42,3 + 31,8
cialotrina
Wild + Battus 1000 + 400 Clorpirifós + Acetamiprido 480 + 80
* p. c. = produto comercial.

32 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
Nos demais tratamentos com inseticidas (Wild, apresenta poucos pulgões e há presença de
Closer, Battus, Engeo Pleno e Wild + Battus), uma única exsúvias;
aplicação, porém em dois momentos distintos, com • Nota 3 (60% de infestação), a planta de sorgo
infestação de 60% e 86%. Totalizando 12 tratamentos apresenta uma quantidade moderada de
(inseticidas + testemunha sem aplicação), dispostos pulgões, muitas exsúvias e há o surgimento
no delineamento em blocos ao acaso (DBC), com de alguns sintomas, como amarelecimento ou
quatro repetições. As parcelas experimentais foram avermelhamento na folha (colônias grandes,
constituídas por 10 linhas de cultivo, espaçadas de mais de 50 pulgões folha-1);
0,5 metros, com 10 metros de comprimento. A parcela • Nota 4 (80% de infestação), a planta de sorgo
útil desconsiderou 1,0 m inicial e final de cada linha da apresenta grande quantidade de pulgões,
parcela e as duas linhas das extremidades. muitas exsúvias e há sintomas na planta tanto na
As aplicações foram realizadas com nervura central como na borda da folha.
pulverizador pressurizado por CO2 (Número de patente: • Nota 5 (100% de infestação), a planta de sorgo
BR102016007565-3) montando em trator (MF 275, fica tomada de pulgões, muitas exsúvias e há
Massey Ferguson, 75 cv). O pulverizador é dotado sintomas em toda a planta com o início de morte
com barra de 5,0 metros com 10 bicos de pulverização das folhas.
espaçados em 0,5 m. As pontas utilizadas para A produtividade de grãos foi obtida em três
pulverização foram modelo ADIA 11001.D, da marca linhas centrais de semeadura com 3,0 metros de
Magnojet. A calibração do equipamento foi ajustada comprimento, realizando dois pontos de amostragem
com a pressão de trabalho na ponta de pulverização de dentro de cada parcela útil. Os grãos foram colhidos,
2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação de 150 L ha-1. trilhados e secos. Foi calculada a produtividade para
Foi avaliada a infestação por pulgão M. sorghi nas um hectare, considerando-se a umidade padrão de 13%
parcelas um (1DA1), oito (8DA1) e 14 (14DA1) dias após para comercialização do grão, tomado como medida a
a aplicação no nível de infestação de 60% (aplicado em saca de 60 kg de grãos.
25/04/23). Na data de 14DA1, atingiu-se a infestação Os dados de notas de infestação por M. sorghi
de 86% (10/05/23) quando realizou-se a aplicação nos no sorgo e produtividade foram submetidos à análise
tratamentos restantes. E logo após avaliada a infestação de variância (ANOVA) pelo teste F e no caso de
um (1DA2), seis (6DA2), 14 (14DA2) e 28 (28DA2) dias efeito significativo dos tratamentos, as médias foram
subsequentes à referida aplicação. comparadas pelo teste de Scott-Knott (P<0,05). Foi
A infestação do pulgão M. sorghi no sorgo, calculada a porcentagem de redução das notas de
avaliada em três pontos por parcela, foi classificada de infestação dos tratamentos em relação à testemunha.
acordo com a escala de notas proposta por Fernandes Esta porcentagem de redução foi apresentada
et al. (2021), onde: juntamente com as próprias médias das notas de
• Nota 1 (20% de infestação), a planta de sorgo infestação através de diferentes cores com as seguintes
apresenta poucos pulgões e não há presença de classificações: maior que 90% ( ); entre 80 e 89% ( );
exsúvia (colônia pequena, menos de 50 pulgões entre 60 e 79% ( ); entre 40 e 59% ( ); inferior a 40% ( ).
folha-1);
• Nota 2 (40% de infestação), a planta de sorgo

Entomologia 33
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 2) foi realizada a segunda aplicação em 26/05/23, a
RESULTADOS E DISCUSSÃO
qual manteve o controle da praga até a colheita. Desta forma
não permitindo que a nota de infestação ultrapassasse a
No tratamento padrão (único com duas aplicações)
classe 1,0 na escala proposta por Fernandes et al. (2021),
a primeira aplicação (13/04/23) foi realizada de forma
em que a planta de sorgo apresenta poucos pulgões e não
antecipada em relação aos demais, mantendo uma baixa
há presença de exsúvia (colônia pequena, menos de 50
infestação do pulgão M. sorghi no sorgo 1G100 até 14DA2
pulgões folha-1).
(avaliado 24/05/23), e com início da reinfestação (nota 0,8,

Tabela 2. Notas de infestação para o pulgão Melanaphis sorghi no híbrido de sorgo 1G100, em função dos
tratamentos inseticidas um (1DA1), oito (8DA1) e 14 (14DA1) dias após a aplicação com infestação de 60%
e (1DA2), seis (6DA2), 14 (14DA2) e 28 (28DA2) à de 86%. Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-GO,
safra 2022/2023.

Tratamentos 1DA1 8DA1 14DA1 1DA2 6DA2 14DA2 28DA2


Testemunha 3,2 c 4,0 b 4,4 c 4,3 d 4,3 b 4,0 d 5,0 d
Padrão 0,0 a 0,0 a 0,0 a 0,0 a 0,3 a 0,8 a 0,0 a

60% - Clorpirifós 0,4 a 0,0 a 0,9 b 1,4 b 2,0 c 3,1 c 5,0 d


60% - Sulfoxaflor 2,5 b 0,0 a 0,6 b 1,0 b 0,9 b 2,5 b 5,0 d
60% - Acetamiprido 2,8 b 0,0 a 0,2 a 0,9 b 0,9 b 2,3 b 5,0 d
60% - Tiametoxam + Lambda-
2,4 b 0,0 a 0,0 a 0,3 a 0,9 b 2,2 b 5,0 d
cialotrina
60% - Clorpirifós + Acetamiprido 0,2 a 0,0 a 0,0 a 0,4 a 0,5 a 2,3 b 5,0 d

86% - Clorpirifós 3,1 c 4,3 b 4,4 c 0,1 a 0,0 a 0,3 a 3,7 c


86% - Sulfoxaflor 3,0 c 4,2 b 4,2 c 2,9 c 0,2 a 0,0 a 2,9 b
86% - Acetamiprido 2,9 c 4,1 b 4,0 c 2,7 c 0,3 a 0,0 a 2,1 b
86% - Tiametoxam + Lambda-
3,0 c 4,3 b 4,6 c 3,3 c 0,0 a 0,0 a 2,3 b
cialotrina
86% - Clorpirifós + Acetamiprido 3,2 c 4,3 b 4,3 c 0,0 a 0,0 a 0,0 a 1,6 b
*Médias seguidas por mesma letra na coluna não se diferem pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05). Porcentagem de redução da nota
de infestação em relação à testemunha, maior que 90% ( ); entre 80 e 89% ( ); entre 60 e 79% ( ); entre 40 e 59% ( ); inferior a
40% ( ).

Nos tratamentos para controle do pulgão menores notas de infestação, nos demais três
M. sorghi em que a aplicação foi realizada com tratamentos apesar da redução da nota em relação
infestação média na nota 3,0 (60% de infestação) à testemunha, as notas ficaram acima de onde havia
observa-se que onde foi utilizado o Clorpirifós (60% Clorpirifós (Tabela 2). Já aos 8 dias após a aplicação
- Clorpirifós e 60% - Clorpirifós + Acetamiprido) em destes tratamentos (8DA1), todos foram eficientes
apenas um dia após a aplicação (1DA1) apresentou em reduzir a infestação para nota zero (Tabela 2).

34 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
Aos 14DA1 alguns tratamentos aplicados rapidamente, de forma intermediária foram os
com 60% de infestação começaram a perder o efeito tratamentos com a presença de princípios ativos
residual, com 60% - Clorpirifós apresentando redução sistêmicos (Sulfoxaflor, Acetamiprido e Tiametoxam).
da nota de infestação em relação à testemunha Destacando-se novamente a mistura de Clorpirifós
inferior a 80%. Aos 1DA2, 60% - Sulfoxaflor e 60% com Acetamiprido (sistêmico) com maior residual
- Acetamiprido também apresentaram redução da (Tabela 2).
nota de infestação em relação à testemunha inferior A produtividade do sorgo, observada na
a 80%. Aos 6DA2 foi 60% - Tiametoxam + Lambda- Figura 1, foi superior no tratamento Padrão, onde a
cialotrina que também reduziu da nota de infestação infestação foi mantida com notas inferiores a classe
em relação à testemunha para menos de 80%, 1,0 na escala de Fernandes et al. (2021). Estes
o que ocorreu com a mistura 60% - Clorpirifós + resultados estão de acordo com o trabalho de Lima
Acetamiprido somente 14DA2 (Tabela 2). et al. (2021), em que a maior produtividade do híbrido
Aos 28DA2 todos os tratamentos com uma de sorgo 1G100 foi obtida com controle do pulgão M.
única aplicação em 60% de infestação do pulgão sorghi realizado até no máximo nota 1,0 de infestação,
M. sorghi já haviam apresentado nota 5,0 escala de ou seja, no máximo 20% de infestação. Os resultados
notas proposta por Fernandes et al. (2021), onde de produtividade do presente demonstram também o
a planta de sorgo fica tomada de pulgões, muitas potencial danoso do pulgão M. sorghi para a cultura
exsúvias e há sintomas em toda a planta com o início do sorgo, quando não manejado de forma adequada,
de morte das folhas (Tabela 2). Entretanto, como por exemplo na testemunha que teve redução de
observado, isso não ocorreu de forma uniforme, 55% em relação ao tratamento padrão. Ressaltando
pois o Clorpirifós isolado perdeu o efeito residual que na literatura há relatos de perdas no rendimento
mais rapidamente, de forma intermediária foram os de até 100%, dependendo do genótipo em condições
tratamentos com a presença de princípios ativos de alta infestação (FERNANDES et al., 2021).
sistêmicos (Sulfoxaflor, Acetamiprido e Tiametoxam)
e com efeito de controle mais persistente a mistura
do Clorpirifós com Acetamiprido (sistêmico) de forma
sinérgica.
Na Tabela 2 observa-se padrão semelhante de
controle (redução nas notas de infestação do pulgão
M. sorghi) e efeito residual quando os tratamentos
foram aplicados com infestação em nota média 4,3
(86% de infestação). Sendo que, quando utilizado o
Clorpirifós (isolado ou em mistura) em apenas um dia
após a aplicação (1DA2) houve as menores notas de
infestação. Já nos três demais tratamentos com ativos
sistêmicos, aos 6DA2 e 14DA2, se igualaram aonde
havia Clorpirifós. E aos 28DA2 também observa-
se Clorpirifós isolado perdeu o efeito residual mais

Entomologia 35
CLUBE DE REVISTAS
120 a
110,8
110
b b
100 b
92,5
b 89,4 90,2
90
Produtividade (sacas.ha )
c c 83,2
-1

80 c c 74,9 77,3
69,4 71,4
70 d d
60 d 54,9 55,3
49,7
50
40
30
20
10
0
a s r a o o s a o o r o
u nh irifó xaflo otrin iprid iprid irifó otrin iprid iprid xaflo adrã
m r p f o a l m m r p a l m m f o P
te l o u l ci ta ta l o ci ta ta ul
Tes % - C % - S bda- Ace Ace % - C bda- Ace Ace % - S
60 60 Lam 0% - ós + 86 Lam ós + 6% - 86
+ 6 irif + irif 8
x am l o rp x am lorp
to C to C
i ame 0 %- i ame 6% -
T 6 T 8
0 %- 6 %-
6 8

Figura 1. Produtividade do híbrido de sorgo 1G100 com diferentes tratamentos para o controle do pulgão
Melanaphis sorghi. Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023. *Médias seguidas
por mesma letra não se diferem pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05).

Quando realizada apenas uma aplicação para produtividade em relação aos demais tratamentos dentro
controle de do pulgão M. sorghi no híbrido de sorgo 1G100 da mesma classificação (60 ou 86%), com exceção de
em 60% de infestação, que neste caso foi no momento em a Sulfoxaflor na classe 60% (Figura 1), provavelmente
lavoura se encontrava em Estádio 5 – (Emborrachamento), devido ao menor efeito residual observado nas avaliações
o efeito residual dos tratamentos foi suficiente apenas até de infestação por M. sorghi no híbrido de sorgo 1G100
o florescimento (Estádio 6), assim as plantas passaram o (Tabela 2).
enchimento de grãos (Estádio 7 e 8) com altas infestações Outro ponto importante no manejo do pulgão
de pulgão o que refletiu, de forma geral, em redução da M. sorghi na cultura do sorgo está relacionado com a
produtividade em relação a quando esta única aplicação tecnologia de aplicação. Além de respeitar as condições
foi realizada em 86% de infestação, que neste caso foi no ambientais adequadas no momento da aplicação, não
momento em a lavoura se encontrava ente o Estádio 6 e 7, é aconselhável a utilização de volumes de aplicação
assim o efeito residual dos tratamentos foi suficiente para reduzidos, pois, maior quantidade de calda aplicada por
que as plantas passaram o enchimento de grãos (Estádio área pode proporcionar melhor cobertura e deposição do
7 e 8) com baixas infestações de pulgão. inseticida no terço inferior da planta, local onde geralmente
O Clorpirifós isolado tanto aplicado na infestação se inicia a infestação desta praga.
de 60%, quanto de 86%, apresentou redução da

36 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
SANTOS, N. M.; LIMA, P. F.; SANTOS, V. M. C. dos;
CONCLUSÃO
SIMEONE, M. L. F.; PARRELLA, R. A. da C.; MENEZES, C. B.
de; OLIVEIRA, I. R. de; MENDES, S. M. Manejo do pulgão
No controle do pulgão M. sorghi na cultura
da cana-de-açúcar (Melanaphis sacchari/sorghi) na
do sorgo, o inseticida Clorpirifós isolado perdeu o efeito
cultura do sorgo. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo,
residual mais rapidamente. A presença dos princípios
2021. 24 p. (Comunicado Técnico, 249).
ativos sistêmicos Tiametoxam, Acetamiprido e Sulfoxaflor
HARRIS-SHULTZ, K.; ARMSTRONG, J.S.;
aumenta o efeito residual. O controle é melhorado com
CARVALHO, G., JR.; SEGUNDO, J.P.; NI, X. Melanaphis
a mistura do Clorpirifós com Acetamiprido, com efeito
sorghi (Hemiptera: Aphididae) clonal diversity in the United
sinérgico.
States and Brazil. Insects, v. 13, n. 416, p. 1-8, 2022.
O tratamento padrão, com duas aplicações,
LAHIRI, S.; XINZHI, N.; BUNTIN,G. D.; PUNNURI,
para controle do pulgão M. sorghi na cultura do sorgo
S.; JACOBSON, A.; REAY-JONES, F. P. F.; TOEWS, M. D.
proporcionou maior produtividade que os tratamentos
Combining host plant resistance and foliar insecticide
com apenas uma aplicação. Tratamentos com diferenças
application to manage Melanaphis sacchari (Hemiptera:
no efeito residual e diferentes épocas de aplicação
Aphididae) in grain sorghum. International Journal of
interferem na produtividade de grãos de sorgo.
Pest Management, v. 67, n. 1, p. 10-19, 2019.
LIMA, D. T.; FERNANDES, R. H.; ALMEIDA, D. P.
AGRADECIMENTOS
Timing de aplicação para o pulgão da cana-de-açúcar
na cultura do sorgo. In: FURTINI NETO, A. E.; LIMA, D. T.;
À equipe de campo, pesquisadores e estagiários
ALMEIDA, D. P.; NASCIMENTO, H. L. B.; FERNANDES,
do CTC pelo apoio na implantação e condução do
R. H.; BILEGO, U. O. (Eds.). Anuário de Pesquisas
experimento.
Agricultura – 2ª Safra 2020/2021. Rio Verde: Instituto de
Ciência e Tecnologia COMIGO, 2021. p. 34-41.
REFERÊNCIAS
NIBOUCHE, S.; COSTET, L.; MEDINA, R. F.;
HOLT, J. R.; SADEYEN, J.; ZOOGONES, A. S.; BROWN,
ALMEIDA, D. P.; FURTINI NETO, A. E.; LIMA,
P.; BLACKMAN, R. L. Morphometric and molecular
D. T.; FERNANDES, R. H.; FREITAS, B. V.; ROSA, V. C. S.;
discriminaton of the sugarcane aphid, Melanaphis
JESUS, E. S.; SCHNEIDER, S. A. O. Épocas de semeadura
sacchari, (Zehntner, 1897) and the sorghum aphid
de híbridos de sorgo em segunda safra 2018/2019:
Melanaphis sorghi (Theobald, 1904). PLoS ONE, v. 16, n.
produtividade de grãos. In: FURTINI NETO, A. E.; LIMA, D.
3, p. 1-17, 2021.
T.; ALMEIDA, D. P.; NASCIMENTO, H. L. B.; FERNANDES,
SILVA, M. L.; ROCHA, D. A.; SILVA, K. T. B. Potential
R. H.; BILEGO, U. O.(Eds.). Anuário de Pesquisas
population growth of Melanaphis sacchari (Zethner)
Agricultura – Resultados 2020. Rio Verde: Instituto de
reared on two hosts plants. Current Agricultural Science
Ciência e Tecnologia COMIGO, 2020. p. 203-210.
and Technology, v. 20, p. 21-25, 2014.
CONAB. Companhia Nacional de
SINGH, B. U.; PADMAJA, P. G.; SEETHARAMA,
Abastecimento. 11º Levantamento - Safra 2022/23.
N. Biology and management of the sugarcane aphid,
Disponível em: <https://www.conab.gov.br/info-agro/
Melanaphis sacchari (Zehntner) (Homoptera: Aphididae),
safras/graos/boletim-da-safra-de-graos>. Acesso em: 20
in sorghum: a review. Crop Protection, v. 23, n. 9, p. 739-
ago. 2023.
755, 2004.
FERNANDES, F. O.; SOUZA, C. da S. F.; AVELLAR,
G. S. de; NASCIMENTO, P. T.; DAMASCENO, N. C. R.;

Entomologia 37
CLUBE DE REVISTAS

Fertilidade
do Solo e
Fertilizantes
38 Fertilidade do Solo e Fertilizantes
CLUBE DE REVISTAS

APLICAÇÃO ANTECIPADA DE
NITROGÊNIO EM COBERTURA NO
SORGO

SARKIS1, Leonardo Fernandes; RODRIGUES2, em segunda safra no cerrado. Dessa forma, a cultura tem
Matheus Silva; BUENO3, Amanda Magalhães; ganhado espaço como opção alternativa, principalmente
HARA4, Eduardo; FREITAS5, Andréia Victor em épocas de semeaduras tardias. Ainda assim, o
atraso na semeadura pode reduzir o potencial produtivo
1
Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando devido as perdas por adversidades climáticas, como
em Ciência do Solo. Pesquisador Agronômico deficiência hídrica, fotoperíodo e baixa temperatura do
no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail:
ar (FORNASIERI FILHO e FORNASIERI 2009). Na região
leonardofernandes@comigo.com.br
2
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ciências Agrárias/ sudoeste de Goiás, semear o sorgo até o último decêndio
Agronomia. Coordenador Técnico da Agricultura de fevereiro, associado a outras práticas de manejo, ajuda
de Precisão COMIGO (AP COMIGO). E-mail:
a garantir altas produtividades conforme observado para
matheussilva@comigo.com.br
3
Engenheira Agrônoma, Dr. em Agronomia. diversos híbridos (ALMEIDA et al. 2019; ALMEIDA et al.
Pesquisadora Agronômica no Centro Tecnológico 2020; ALMEIDA et al. 2021).
COMIGO (CTC). E-mail: amandamagalhães@comigo.
Dentre as práticas de manejo que podem
com.br
4
Engenheiro Agrônomo, Gerente de Geração e incrementar a produtividade de grãos, a adubação
Difusão de Tecnologia do Centro Tecnológico COMIGO nitrogenada em cobertura tem apresentado resultados
(CTC). E-mail: eduardohara@comigo.com.br
positivos para a cultura do sorgo (ALMEIDA et al.,
5
Discente de graduação da Faculdade de Agronomia
do Instituto Federal Goiano (IFGoiano), campus Rio 2022). No entanto, aplicações tardias de nitrogênio (N)
Verde. Estagiário no Centro Tecnológico COMIGO em superfície podem resultar em elevadas perdas por
(CTC). E-mail: andreiavictor781@gmail.com
volatilização de amônia (NH3) e baixa eficiência no uso
do nutriente pela cultura devido ao final do período de
chuvas, o que dificulta a incorporação do fertilizante
INTRODUÇÃO e absorção pelas raízes. Nesse cenário, ajustar as
estratégias de adubação pode contribuir com ganhos
O sorgo granífero possui tolerância superior expressivos em produtividade dos híbridos modernos de
ao déficit hídrico quando comparado ao milho elevado potencial.
(FORNASIERI FILHO e FORNASIERI 2009; ALMEIDA As tecnologias para fertilizantes são opções
et al., 2019), principal espécie atualmente cultivada interessantes para aumentar a eficiência de uso de

Fertilidade do Solo e Fertilizantes 39


CLUBE DE REVISTAS
nutrientes na agricultura. Dentre essas, os nitrogenados e ureia + NBPT (ureia turbo®) em cobertura na cultura do
estabilizados têm se destacado no mercado como sorgo, sendo conduzido de 14/03/2023 a 03/08/2023.
importante ferramenta para redução dessas perdas. Anteriormente a instalação do experimento,
A adubação com ureia convencional em cobertura foi realizada análise de solo de amostra coletada na
e sem incorporação favorece as perdas de N-NH3 profundidade de 0 a 20 cm, a qual apresentou as
(Martins et al., 2021), principalmente na ausência de seguintes propriedades químicas e textura: pH em
chuvas na primeira semana após a aplicação, em CaCl2 de 4,4; 3,81 cmolc dm-3 de H+ + Al+3; 1,65 cmolc
volume e intensidade suficientes para a incorporação dm-3 de Ca+2; 0,53 cmolc dm-3 de Mg+2; 50,59 mg dm-3
do fertilizante. Já a ureia associada a este tipo de de K; 9,49 mg dm-3 de P; 0,36 mg dm-3 de B; 4,66 mg
tecnologia possui aditivos capazes de inibir ou atrasar dm-3 de Zn; 0,67 mg dm-3 de Cu; 13,88 mg dm-3 de Mn;
algum processo de transformação do N no solo, sendo 29,8 g dm-3 de M.O.; 43,81% de areia; 8,95% de silte e
o NBPT [N- (n-butil)] tiofosfórico triamida a molécula 47,22% de argila. O solo é classificado como Latossolo
mais utilizada atualmente como inibidor de urease em Vermelho distrófico (SANTOS et al., 2018). De acordo
todo o mundo (SANZ-COBENA et al., 2012). com classificação de Köppen, o clima de Rio Verde é
As maiores perdas de N por volatilização para do tipo Aw, que recebe denominação de “tropical com
ureia convencional ocorrem nos 7 primeiros dias após a estação seca”. Os dados climatológicos relacionados
aplicação dos fertilizantes (COSTA et al.; 2003; AFSHAR a temperatura máxima e mínima do ar e precipitações
et al., 2018), que representa o período crítico de perdas. durante o período de condução do experimento foram
O NBPT normalmente atrasa esse período aumentando monitorados por estação meteorológica da marca
a chance de incorporação do N-fertilizante no solo pela Plugfield® instalada na área de pesquisa do CTC.
chuva. A redução das perdas de N-NH3 está relacionada A semeadura do sorgo em sucessão a soja foi
a manutenção do N na forma amídica por meio da realizada de forma mecanizada no dia 14/03/2023,
inibição temporária da urease que é responsável pela adotando-se espaçamento entrelinhas de 0,5 m,
hidrólise da ureia. utilizando o híbrido AG1070, com densidade de
Neste contexto, o objetivo do trabalho foi avaliar semeadura de 10,5 sementes m-1. As sementes utilizadas
a resposta da adubação nitrogenada em cobertura no experimento foram tratadas industrialmente com
na cultura do sorgo a partir da ureia convencional ou fungicidas e inseticidas.
ureia + NBPT (Ureia turbo®) aplicadas em diferentes Na adubação de semeadura, foi utilizado o
estágios fenológicos, mensurando os incrementos em formulado 15-15-15 (mistura granulada) aplicado no
produtividade de grãos. sulco de semeadura na dose de 400 kg ha-1, totalizando
60 kg ha-1 de N, P2O5 e K2O, respectivamente.
MATERIAL E MÉTODOS O delineamento utilizado foi o de blocos
completos ao acaso (DBC), com 4 repetições, avaliando-
O experimento foi realizado em condições de se 7 tratamentos (Tabela 1). As unidades experimentais
campo em área localizada no Centro Tecnológico foram compostas por dez linhas de semeadura, com
COMIGO, sediada na cidade de Rio Verde (GO) (S comprimento de 5,0 m (25,0 m2). Considerou-se como
17°46'01" O 51°02'07", altitude de 790 m), visando aferir área útil para as avaliações apenas as seis linhas
o impacto da época de aplicação de ureia convencional centrais de cada unidade experimental, excluindo-se

40 Fertilidade do Solo e Fertilizantes


CLUBE DE REVISTAS
0,5 m de cada extremidade. sorgo, sendo 3 épocas, quando as plantas estavam nos
Os tratamentos consistiram na aplicação de ureia estágios 2 (29/03/2023, 15 DAS), 4 (10/04/2023, 27
convencional e ureia turbo® em cobertura na cultura do DAS) e 5 (18/04/2023, 35DAS), respectivamente.

Tabela 1. Tratamentos avaliados no experimento de adubação nitrogenada com ureia e ureia turbo® em
cobertura na cultura do sorgo. Rio Verde (GO), 2023.

Dose
Tratamentos Época de aplicação DAS*
( kg ha-1 de N)

Controle 0 - -
Ureia convencional Estágio 2 15
Ureia convencional Estágio 4 27
Ureia convencional Estágio 5 35
Ureia turbo® 60 Estágio 2 15
Ureia turbo® Estágio 4 27
Ureia turbo® Estágio 5 35
*DAS: dias após semeadura.

Durante o desenvolvimento da soja no período Scott-Knott (p≤0,05).


de safra e do sorgo na safrinha, todos os tratos culturais
foram realizados de acordo com as recomendações RESULTADOS E DISCUSSÃO
técnicas, procedendo ao controle de plantas daninhas,
pragas e doenças sem deixar que estes influenciassem A precipitação acumulada durante a condução
negativamente no desenvolvimento da cultura. do experimento foi de 542 mm. Na semana anterior a
Ademais, na ocasião da colheita foi avaliada data da primeira adubação de cobertura, houve acúmulo
a produtividade de grãos sorgo. Para determinação de 8,1 mm de chuva, sendo 0 mm observados aos 4
da produtividade de grãos, foi realizada o arranquio dias anteriores a aplicação, resultando na diminuição
manual de todas as plantas (no sorgo panículas) da umidade na superfície do solo. Nos primeiros 15
presentes na área útil de cada unidade experimental, dias após cada época de aplicação do N em cobertura,
onde posteriormente este material foi submetido as chuvas corresponderam a 61,5 mm (11,3%), 35,4 mm
aos processos de trilha, embalagem, identificação, (6,5%) e 13,5 mm (2,5%), respectivamente. A precipitação
pesagem e correção da umidade dos grãos para 13%. pluviométrica e a distribuição das chuvas no período
As análises estatísticas foram realizadas com após a aplicação influenciaram significativamente
o programa computacional SISVAR. Os dados do (p<0,05) na eficiência da adubação nitrogenada em
experimento foram submetidos à análise de variância cobertura. Observamos que menores precipitações
pelo teste F (p≤0,05) e, quando houve efeito significativo, nas 2 primeiras semanas após a adubação resultaram
aplicou-se o critério de agrupamento de médias de em menores produtividades. A ureia turbo® apresentou

Fertilidade do Solo e Fertilizantes 41


CLUBE DE REVISTAS
maior eficiência comparada a ureia convencional nas nitrogenadas. A temperatura média no mesmo período
aplicações tardias com menores precipitações após a foi de 21,1 ºC, ocorrendo mínima de 15,0 oC e máxima
adubação em cobertura. de 28,4 oC, respectivamente.
A umidade relativa do ar foi maior que 70%
Artigo:
praticamente em todo oNitrogênio
período após as adubações

Figura 1. Precipitação acumulada (mm), temperaturas máximas (°C) e umidade relativa (%) após as épocas
da adubação nitrogenada com ureia e ureia turbo® em cobertura na cultura do sorgo. Rio Verde (GO), 2023.

Os resultados de produtividade de sorgo adubações foram menos frequentes e apresentaram


submetido a adubação nitrogenada em cobertura com menores volumes, houve redução 8,7 e 19,3 sacas ha-
ureia convencional ou ureia turbo®, em 3 épocas de 1
, respectivamente. Esse fato pode ser explicado pelas
aplicação, estão apresentados na Figura 2. Observou- condições favoráveis as perdas de N-NH3 que resulta
se diferença significativa (p<0,05) na produtividade de em baixa eficiência no uso do nutriente pela cultura.
grãos em função das estratégias de aplicação de N em Assim, contar apenas com as condições climáticas
cobertura. representa alto risco de ineficiência na incorporação do
Para a ureia convencional, a maior produtividade N-fertilizante (Dawar&Zaman et al., 2011).
foi observada na primeira época de adubação em Para a ureia turbo®, observamos maior eficiência
cobertura, quando a cultura estava no estágio 2 (15 comparada a ureia convencional nas aplicações tardias
DAS), época que apresentou maior precipitação com menores precipitações após as adubações em
acumulada após a aplicação do fertilizante na cobertura. Na adubação realizada no estágio 4 (27 DAS),
superfície do solo. Nas aplicações tardias, estágios essa tecnologia resultou em ganhos de produtividade
4 (27 DAS) e 5 (35 DAS), quando as chuvas após as de 6,7 sacas ha-1 quando comparado a aplicação de

42 Fertilidade do Solo e Fertilizantes


CLUBE DE REVISTAS
ureia convencional nesse cenário favorável as perdas cultura. Este fato demonstra que o aditivo contendo
de N-NH3. Quando comparada ao controle, a aplicação NBPT adicionado a ureia é uma ferramenta interessante
de ureia turbo® em cobertura aos 27 DAS incrementou que resulta em incrementos de produtividade,
a produtividade em 10,5 sacas ha-1. principalmente em cenários favoráveis as perdas de
Já para a adubação realizada no estágio 5, as N-NH3. No entanto, antecipar a adubação nitrogenada
produtividades foram inferiores (p<0,05) em relação as para aproveitar as últimas chuvas é outra estratégia
duas outras épocas de adubação e iguais em relação fundamental para aumentar a absorção de N pelas
controle, indicando que a adubação nitrogenada tardia, raízes e, consequentemente, a eficiência da aplicação
com baixa precipitação acumulada após a aplicação em cobertura.
(13,5 mm) resultou em baixo aproveitamento pela

Adubação com
N apenas na
semeadura:

400kg ha-1 de

15 15-15

Figura 2. Produtividade do sorgo cultivado no experimento de adubação nitrogenada com ureia e ureia
turbo® aplicadas em cobertura em diferentes épocas. Rio Verde (GO), 2023.
*Letras maiúsculas comparam dentro da mesma época: ureia convencional e ureia turbo® (Tukey, P<0,05).
*Letras minúsculas comparam as épocas de aplicação das fontes (Tukey, P<0,05).

é interessante para aproveitar as últimas chuvas


CONCLUSÕES
e aumentar a eficiência no uso de nitrogênio pela
cultura do sorgo. O uso da ureia turbo® é uma
Nas condições em que o presente experimento
ferramenta que incrementa a produtividade de sorgo
foi executado, concluímos que a estratégia de
comparado a ureia convencional em condições de
antecipação da adubação nitrogenada em cobertura
menores precipitação após a aplicação.

Fertilidade do Solo e Fertilizantes 43


CLUBE DE REVISTAS
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44 Fertilidade do Solo e Fertilizantes


CLUBE DE REVISTAS

IMPACTO DE DOSES DE CALCÁRIO


E MÉTODOS DE INCORPORAÇÃO
NA PRODUTIVIDADE DE GRÃOS NA
SUCESSÃO SOJA-SORGO

ALMEIDA, Dieimisson Paulo1; SARKIS, Leonardo


Fernandes2; FREIRE, Yarlla Brunna Dourado3;
INTRODUÇÃO
DELGADO, Vanderson Aparecido Diego4; LIMA,
Diego Tolentino de5, FERNANDES, Rafael Os solos do cerrado são altamente
Henrique6, FURTINI NETO, Antônio Eduardo7. intemperizados, apresentando baixos teores de matéria
orgânica, saturação por bases e capacidade de troca
1
Eng. Agrônomo. Dr. em Agronomia / Produção de cátions, além de baixo pH e presença de alumínio
Vegetal. Pesquisador em Manejo e Controle de tóxico que afeta diretamente o crescimento radicular e,
Plantas Daninhas.
2
Eng. Agrônomo. Mestre e Doutorando em consequentemente, a absorção de água e de nutrientes.
Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas. Pesquisador (ALMEIDA et al., 2015).
em Fertilidade do solo e fertilizantes do Centro A calagem é indispensável para adequar
Tecnológico COMIGO-CTC, COMIGO, Rio Verde - GO.
E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br as propriedades químicas desses solos que têm a
3
Graduanda em Agronomia, IF Goiano-Campus Rio acidez como um dos principais fatores limitantes ao
Verde, Rio Verde – GO. E-mail: yarllabrunna99@gmail. desenvolvimento das culturas (FURTINI NETO et al.,
com;
4
Graduando em Agronomia, Universidade de Rio 2001). Essa técnica diminui a acidez potencial do solo
Verde, Rio Verde – GO. E-mail: vandersomdelgado@ e eleva o pH, bases trocáveis (SB), capacidade de troca
hotmail.com; catiônica (CTC) e a saturação por bases (V%) do solo
5
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador em
Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO-CTC, para níveis adequados, além de outros benefícios que
COMIGO, Rio Verde - GO. E-Qmail: diegotolentino@ contribuem para o aumento de produtividade (SARKIS et
comigo.com.br; al., 2022).
6
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador em
Fitopatologia do Centro Tecnológico COMIGO-CTC, Todavia, tal correção do solo em profundidade por
COMIGO, Rio Verde - GO. E-mail: rafaelhenrique@ meio da aplicação de calcário, pode ser influenciada por
comigo.com.br; diversos fatores, tais como a dose do corretivo utilizado,
7
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia. Professor Titular
aposentado da Universidade Federal de Lavras, UFLA, granulometria, reatividade do calcário, profundidade de
Lavras-MG. E-mail: furtinineto@gmail.com; incorporação, frequência de aplicação, tempo de reação,
poder tampão do solo, precipitação, entre outros, visto
que a reação do corretivo depende do contato com o

Fertilidade do Solo e Fertilizantes 45


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solo na presença de umidade (GONÇALVES et al., 2011; com incorporação e sem incorporação nos atributos
SARKIS et al., 2022). químicos no perfil do solo e os impactos na
Recentemente, inúmeros estudos sobre produtividade de grãos da sucessão soja-sorgo.
calagem em áreas de abertura têm indicado que os
métodos de cálculo para recomendação da dose MATERIAL E MÉTODOS
de calcário subestimam a correção necessária e
não permitem atingir o grau de correção desejável O experimento foi conduzido em condições de
(MORAES, 2019). Em geral, observa-se que doses campo, na área experimental do Centro Tecnológico
superiores às calculadas pelos métodos convencionais COMIGO (CTC) no município de Rio Verde – Goiás (S
resultam em melhores respostas agronômicas e evitam 17º45’49’’ e W 51º02’07’’, com 834 metros de altitude).
novas aplicações de calcário em intervalos de dois a O solo é classificado como Latossolo Vermelho
três anos para que os solos atinjam valores desejáveis distrófico (SANTOS et al., 2018). Antes da implantação
de saturação por bases e teores adequados de Ca e Mg do experimento foi realizado a amostragem do solo,
(MOREIRA e MORAES, 2018). no dia 03 de outubro de 2021, para realização das
Neste contexto, o objetivo desse trabalho foi análises químicas e textura, conforme os resultados
avaliar o efeito da aplicação de doses de calcário apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Atributos do solo na profundidade de 0-20 cm no local de condução da pesquisa na


área experimental no Centro Tecnológico COMIGO – CTC, Rio Verde – GO, antes da implantação
do experimento safra 2021/2022.

Profundidade pH Ca Mg Al H+Al CTC K K PMeh M.O. V Argila

(cm) (CaCl2) ---------------- cmolc dm-3 ---------- - mg dm-3 - % % %

0-20 4,84 1,97 0,84 0,04 2,49 5,65 0,36 139,51 17,09 1,76 56,28 44,45

O experimento foi conduzido em delineamento


com blocos casualizados, com quatro repetições e
arranjo estatístico em parcelas subdivididas (2x5),
sendo o fator parcela “com” e “sem” incorporação do
calcário e o fator subparcela constituído pelas doses
calcário (0, 2, 4, 6 e 12 t ha-1 de calcário), totalizando em
40 unidades experimentais em uma área de 0,36 ha-1. A
aplicação de calcário foi realizada no dia 04 de outubro
de 2021, a lanço e manualmente, para as respectivas
doses. Cada bloco possuía 9 x 20 metros, totalizando
180 m², com as devidas doses de calcário. Logo em
seguida, a área foi cultivada com o sistema agrícola 1ª
safra (soja) e 2ª safra (sorgo).

46 Fertilidade do Solo e Fertilizantes


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Tabela 2. Relação de tratamentos avaliados no experimento de doses de calcário e métodos de
incorporação. Rio Verde (GO), 2022/2023.

Fator parcela Fator subparcela


Tratamentos
Métodos de Incorporação Dose de calcário (t ha-¹)
1 0
2 2
3 Superficial 4
4 6
5 12
6 0
7 2
8 Grade aradora 32” 4
9 6
10 12

Com base nos resultados da análise de BioAg), 0,1 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum,
solo (Tabela 1) realizada antes da implantação (Azospirillum brasilense, concentração mínima 3,0
do experimento (2021/2022), calculou-se a dose x 103 UFC mL-1, Biosoja), 0,5 L ha-1 do inseticida
necessária para elevar a saturação de bases a 70%, biológico Meta-Turbo SC (Metarhizium anisopliae
a qual foi de 1,7 toneladas de calcário ha . O calcário
-1
IBCB425, concentração mínima de 1,0 x 108
utilizado na pesquisa possuía 79% de poder relativo propágulos viáveis mL-1, Biovalens), 0,2 L ha-1 Nódulos
de neutralização total (PRNT), poder de neutralização Gold (13,9 g L-1 de Cobalto, 139g L-1 de Molibdênio,
de 90% (PN), teores de 43 % de óxido de cálcio e 6% BIOSOJA) 0,4 L de Verango Prime L ha-1 . O volume
de óxido de magnésio. aplicado foi de 60 L ha-1. Já no dia 25 de outubro de
No dia 11 de outubro de 2021 aplicou-se 2021 aplicou-se 56 kg ha-1 Sulfurgran.
102 kg ha-1 de microgram 12 e no dia seguinte Após a colheita da soja, foi realizado a
houve aplicação de 202 kg ha de KCl, baseado nos
-1
implantação da cultura do sorgo no dia 09 de março
resultados da análise de solo da área experimental. de 2022, sendo utilizado o híbrido AG 1070, com 10,5
Na presente área, realizou-se a semeadura da soja sementes por metro (população final na colheita de
no dia 21 de outubro de 2021, sendo a densidade de 210 mil plantas ha-1). Referente aos adubos utilizados,
semeadura de aproximadamente 9,6 sementes por aplicou-se 295 kg ha-1 do formulado 08-20-18 no sulco
metro (população final na colheita de 192 mil plantas de semeadura. As adubações de cobertura foram no
ha ). No que se refere aos adubos, aplicou-se 201
-1
dia 25 de março de 2022, aplicando-se 200 kg ha-1 de
kg ha-1 de Fosfato Monoamônico MAP no sulco e 20-00-20 e no dia 14 de abril de 2022 aplicando-se
1,0 L ha do inoculante Cell Tech (Bradyrhizobium
-1
150 kg ha-1 de ureia.
japonicum Estirpe SEMIA 5079 e SEMIA 5080, No segundo ano agrícola, a semeadura
concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL , Monsanto
-1
da soja foi realizada de forma mecanizada no dia

Fertilidade do Solo e Fertilizantes 47


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04/11/2022, adotando-se espaçamento entrelinhas da umidade para 14% (b.u.), e determinou-se a
de 0,5 m, utilizando a cultivar ST700 i2x, com produtividade em sacas de 60 kg de grãos ha-¹.
densidade de semeadura de 15 sementes m-1. As Os resultados de produtividade (sacas ha-
sementes utilizadas no experimento foram tratadas ¹
) foram submetidos à análise de variância, com o
industrialmente com fungicidas e inseticidas, bem objetivo de detectar a significância dos fatores ou de
como foi realizada a prática de inoculação visando sua interação.
assegurar o processo de fixação biológica de As produtividade de grãos (sacas ha-1)
nitrogênio. A adubação com KCl foi realizada a lanço resultantes das doses de calcário com e sem
3 dias antes da semeadura (DAS) e no momento da incorporação foram analisadas por meio de
semeadura foi realizado a aplicação de 450 kg ha-1 regressão não linear, utilizando o modelo exponencial
superfosfato simples (20% P2O5) no sulco. de máximo crescimento (Equação 1) três parâmetros
Após a colheita da soja foi instalado na mesma para as doses de calcário incorporadas e, o
área experimental a segunda etapa do trabalho modelo exponencial de crescimento (Equação 2)
visando avaliar o efeito dos tratamentos na cultura três parâmetros para as doses de calcário sem
do sorgo. Para tanto, no dia 15/03/2023, foi realizada incorporação :
a semeadura do sorgo com o híbrido AG1070,
adotando-se densidade de semeadura de 10,5
sementes m-1. Na adubação do sorgo, foi realizada a
aplicação de 400 kg ha-1 do formulado 15-15-15 no Em que:
sulco de semeadura e 150 kg ha-1 de ureia + NBPT y = variável resposta; x = dose de calcário (t ha-
(Ureia Turbo) em cobertura aos 20 DAS. 1
); a, b e y0 = parâmetros estimados do modelo.
Em ambos os anos agrícolas, antes da Os modelos foram selecionados considerando-
semeadura das culturas, foram realizadas coletas de se a significância da análise de variância da regressão,
solo em 4 profundidades: 0-10; 10-20; 20-40; 40-60 o coeficiente de determinação (R2) e a significância
cm. As amostras foram analisadas para verificar o dos coeficientes do modelo por meio do teste “t”,
efeito dos tratamentos no pH, saturação por bases, de Student, além do conhecimento da evolução do
acidez potencial (H+Al), teores de cálcio, magnésio fenômeno biológico.
e potássio.
Por meio de um pluviômetro instalado no local RESULTADOS E DISCUSSÃO
do experimento, foi monitorada a precipitação pluvial
acumulada desde a semeadura das culturas. Os resultados de pH, saturação por bases,
Para avaliação da produtividade de grãos, teores de alumínio, cálcio, magnésio e potássio
adotou como área útil 3 metros de comprimento apresentados na Tabela 1, referem-se a amostragem
das 3 linhas centrais, totalizando 9 metros em cada de solo anterior à aplicação das doses de calcário,
unidade experimental (parcela). ou seja, antes do cultivo das culturas (soja e sorgo),
Após a colheita, as amostras foram trilhadas informações essas que servem para comparar com
e determinou-se o teor de água (umidade) dos grãos os dados do ano agrícola (21/22), resultantes da
de soja e milho. Posteriormente, fez-se a correção amostragem estratificada após a aplicação dos

48 Fertilidade do Solo e Fertilizantes


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tratamentos (Tabela 2). os estudos sobre a necessidade de calagem, no
Comparando os teores iniciais sem a aplicação qual observa-se que doses superiores às calculadas
do corretivo e posteriormente a aplicação, durante o pelos métodos convencionais resultam em melhores
cultivo da soja, no estádio fenológico R1, pode-se respostas agronômicas e evitam novas aplicações
observar que ocorreu aumento do pH, da saturação de calcário em curto intervalo de tempo (MOREIRA e
por bases e dos teores de cálcio, magnésio e potássio MORAES, 2018). Todavia, segundo Brady e Weil, 2013,
em função das doses crescentes. De acordo com aplicação muito elevada de calcário, com valores
Sousa e Lobato, 2004, deve-se utilizar o calcário que superiores aos recomendados para o crescimento
complemente o teor de Mg no solo no mínimo entre adequado das plantas, pode reduzir a disponibilidade
0,5 cmolc dm-3 e 1,0 cmolc dm-3, o que foi observado de fósforo e micronutrientes às culturas. No entanto,
independente da dose e método de incorporação nas como foi verificado no experimento, as maiores doses
profundidades do solo. de calcário resultaram em altas produtividades.
Pode-se perceber que como a calagem O período de março até agosto de
foi realizada próxima a implantação da cultura 2022, apresentou média de precipitação de
da soja, aproximadamente 17 dias de diferença, aproximadamente 261,5 mm, no qual o mês de março
o período foi curto para ocorrer a reação do atingiu o maior volume de chuva durante todo o ciclo
calcário, independentemente da dose e método de da cultura. Diante disso, no que diz respeito a reação
incorporação, uma vez que não houve tempo para o do calcário, ela ocorre principalmente na presença de
calcário reagir completamente. Já referente a cultura água, contribuindo para que ocorra a solubilização do
do sorgo, o período de aplicação do calcário até a calcário e a liberação dos íons de cálcio, que resultam
semeadura foi de 156 dias, havendo maior tempo e em hidroxilas (OH-), responsáveis pela correção da
volume de chuva para reação do corretivo. acidez. A velocidade de reação do calcário é mais
A reação de solubilização do calcário é lenta, rápida quanto maior for o PRNT do corretivo (SOUZA
exigindo maior contato entre partículas do solo e e LOBATO, 2004)
o corretivo. A calagem possui papel de extrema
importância pensando na redução da lixiviação de
K por exemplo, visto que aumenta a CTC do solo,
fornece mais sítios de troca para a retenção de
potássio, assim como observado nas altas doses de
calcário aplicadas, as quais apresentaram também
maiores teores de K no solo (SOUZA; LOBATO, 2004).
Na safra 2021/2022, as precipitações
acumuladas nos meses de outubro, novembro,
dezembro e janeiro foram de 139,5; 238,5; 245,5 e 364
mm, respectivamente. Já em 2022/2023, nos meses
de março, abril, maio, junho, julho e agosto, foram de
232,5; 10; 0; 19; 0; 0 mm, respectivamente.
Atualmente, está crescendo consideravelmente

Fertilidade do Solo e Fertilizantes 49


50
Tabela 2. Valores referente ao pH, saturação por bases, teor de alumínio, H+ Al, cálcio, magnésio e potássio, em função dos
métodos de incorporação das doses de calcário em diferentes profundidades no solo nos anos agrícolas 21/22.

Fertilidade do Solo e Fertilizantes


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Em relação a incorporação ou não das doses independentemente da significância do teste de F da
do calcário, não ocorreu diferença estatística nessas análise de variância, mas em função da significância
condições de solo previamente corrigido, quando do teste de F da análise de regressão e parâmetro
ocorreu a abertura desta área. No entanto, em relação às do modelo, bem como dos valores do coeficiente de
doses, pode-se observar um aumento na produtividade determinação (Banzatto e Kronka, 2013), estimaram-
de sorgo com a aplicação de maiores doses de calcário. se as regressões que melhor se ajustaram aos dados
Assim, uma vez que, dados para os fatores quantitativos de produtividade em função das doses de calcário
podem ser discutidos por meio do estudo de regressão aplicadas (Figura 1).

130 Com incorporação


Produ�vidade de sorgo (sacas ha-1)

y = -0,0732x3 + 1,1587x2 - 2,9916x + 113,88


128 Sem incorporação
R² = 0,986
126
124
122
120
118
116
y = 0,1001x2 - 0,5477x + 113,35
114 R² = 0,7726
112
110
108
0 2 4 6 8 10 12 14
Dose de calcário (t ha-1)

Figura 1. Produtividade do sorgo de 2022 em função das doses de calcário e formas de aplicação.

Para os resultados de produtividade de sorgo 4, 6 e 12 t ha-¹ de calcário foram incorporadas a


em 2022, a análise de regressão ajustadas aos valores produtividade de grãos do híbrido de sorgo AG1070
das doses 0, 2, 4, 6 e 12 t ha-¹ com incorporação, foi de 109,1; 112,4; 116,4; 119,1; 121,8 sacas ha-¹,
resultou em coeficientes de determinação ajustado respectivamente. Já sem a incorporação das doses de
(R²ajustado) de 98% por meio do modelo exponencial de calcário de 0, 4, 6 e 12 t ha-¹ o híbrido de sorgo AG1070
máximo crescimento com 3 parâmetros. Além disso, foi produziu em média 112,8; 113,4; 114; 115,1; 121,6 sacas
realizado também o ajuste da regressão aos valores das ha-¹, respectivamente. Portanto, pode-se observar
doses 0, 2, 4, 6 e 12 t ha-¹ sem incorporação e obteve que, as maiores produtividade do híbrido de sorgo
coeficientes de determinação ajustado (R²ajustado) de AG1070 implantado aos 156 dias após a aplicação do
77% com ajuste ao modelo de crescimento exponencial calcário, foi ao aplicar as doses de 6 e 12 t ha-1 calcário,
com 3 parâmetros. ou seja 3,53 e 7 vezes a mais a dose requerida para
Observa-se na Figura 1 que, quando as doses, elevar a saturação por bases a 70%, conforme cálculo

Fertilidade do Solo e Fertilizantes 51


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considerando os dados das análises da área antes de agronômicas, como o tempo de reação, umidade do
implantar o experimento (Tabela 1). calcário e do solo, densidade do solo, profundidade
Vanin et al. 2017 verificaram que há necessidade de incorporação e maior exigência das variedades
do uso de doses maiores que aquela calculada (1,75 t atuais. Normalmente não é possível aplicar calcário
ha-1) pelo método de saturação por bases para elevar antecipadamente por questões operacionais e
até 60%. Assim constataram que para obter incremento logísticas, ocorrendo muitas vezes próximo a data de
na produtividade de soja 11 meses após a aplicação semeadura. Além disso, o tempo para a completa reação
do do calcário foi necessário aplicar de 3 a 4 vezes a do calcário esperado para 2 a 3 meses não considera
mais que a dose calculada pelo método de saturação a ampla variação de umidade do solo, principalmente
por bases. em solos arenosos que secam rapidamente. Outro
Para o ano agrícola 2022/2023, observamos aspecto importante é a umidade do calcário e perdas
também que doses de calcário maiores que por deriva devido ao vento, o que normalmente não é
as calculadas pelos métodos convencionais contabilizado para ajuste das doses no momento da
incrementaram a produtividade de sorgo. Alguns aplicação, podendo resultar em subdoses (Sarkis et at.,
fatorem contribuem para que estas doses promovam 2022).
melhor correção do solo e favoreçam as respostas

146 Com incorporação Sem incorporação


Produ�vidade de sorgo (sacas ha-1)

144
142
y = -0,0076x3 + 0,2223x2 - 0,7379x + 132,94
140 R² = 0,8826
138
136
134
132
130
128
0 2 4 6 8 10 12 14
Dose de calcário (t ha-1)

Figura 2. Produtividade do sorgo de 2023 em função das doses de calcário e formas de aplicação.

de saturação por bases para elevar até 70%. Os


CONSIDERAÇÕES FINAIS
resultados referentes aos próximos anos agrícolas
poderão consolidar tal premissa no sistema de
Diante os resultados iniciais do trabalho
agrícola implantado, no que tange a correção dos
percebe-se que há necessidade do uso de doses
atributos de acidez em subsuperfície do solo e a
maiores que aquela calculada (1,7 t ha-1) pelo método

52 Fertilidade do Solo e Fertilizantes


CLUBE DE REVISTAS
manutenção do incremento da produtividade atingida GONÇALVES, J. R. P.; MOREIRA, A.; BULL, L.
a médio e longo prazo. Ainda, o acompanhamento T.; CRUSCIOL, C. A. C.; BOAS, R. L. V. Granulometria
ano a ano irá estabelecer segurança aos técnicos na e doses de calcário em diferentes sistemas de
recomendação e aos produtores na implementação manejo</b> - doi: 10.4025/actasciagron.v33i2.3659.
do uso de maiores doses de calcário. Acta Scientiarum. Agronomy, v. 33, n. 2, p. 369- 375,
2011.
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C. D. Atributos Físicos, Macro e Micromorfológicos os sistemas de produção de milho e sorgo no Brasil.
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de Pernambuco. Revista Brasileira de Ciência do MILHO E SORGO. Anais. v. 32, p. 347- 383, 2018.
Solo, Viçosa, v. 39, n. 5, p. 1235-1246, 2015. SANTOS, H.G.; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS,
ALOVISI, A. M. T., AGUIAR, G. C. R., ALOVISI, L.H.C.; OLIVEIRA, V.A.; LUMBRERAS, J.F.; COELHO,
A. A., GOMES, C. F., TOKURA, L. K., LOURENTE, E. R. M.R.; ALMEIDA, J.A.; CUNHA, T.J.F.; OLIVEIRA, J.B.
P., & da SILVA, R. S. Efeito residual da aplicação de Sistema brasileiro de classificação de solos.
silicato de cálcio nos atributos químicos do solo e na Centro Nacional de Pesquisa de Solos. 5 ed. Brasília:
produtividade da cana-soca. Revista Agrarian, v. 11, Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro:
n. 40, p. 150-158, 2018. Embrapa Solos. 2018. 588 p.
MORAES, F. A. Doses de calcário na construção SOUZA, D.M.G.; LOBATO, E. Cerrado:
da fertilidade do perfil do solo. 2019. Tese de Doutorado. Correção do solo e adubação. EMBRAPA
Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) - Universidade Informações Tecnológicas. 2. ed. il. Brasília, 2004.
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do solo. Curso especialização em Fertilidade do solo direto: Doses e métodos de incorporação e seus
e nutrição de plantas no agronegócio. Lavras: UFLA/ efeitos na produtividade da soja. Caderno de
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SARKIS, L.F.; ALMEIDA, D.P.; GONÇALO, T.;
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Solos arenosos: estratégias para uso eficiente de
corretivos e fertilizantes e aumento do potencial
produtivo de grãos desde a abertura de área. Anuário
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BRADY, N. C.; WEIL, R. R. Elementos da
natureza e propriedades dos solos. 3. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2013.

Fertilidade do Solo e Fertilizantes 53


CLUBE DE REVISTAS

COMPATIBILIDADE DE DIQUAT E
OCTABORATO NA DESSECAÇÃO
PRÉ-COLHEITA DA SOJA E
IMPACTOS DO BORO NO SORGO
EM SUCESSÃO

SARKIS, Leonardo Fernandes1; BRAZ, INTRODUÇÃO


Guilherme Braga Pereira2; HARA, Eduardo3;
SILVA, Linconl Lima4; DELGADO, Vanderson O avanço das pesquisas e tecnologias disponíveis
Aparecido Diego5
no mercado possibilitaram aumento expressivo do
potencial produtivo de grãos nos últimos anos. No
1
Engenheiro agrônomo, Mestre e Doutorando entanto, esse cenário atual exige adaptações das práticas
em Ciência do Solo. Pesquisador Agronômico de manejo que são dinâmicas e interdependentes.
no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: Dentre as diversas estratégias que asseguram as altas
leonardofernandes@comigo.com.br
2
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia. produtividades de soja, milho e sorgo, destaca-se a
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico necessidade de ajustes nas recomendações de calagem
COMIGO (CTC). E-mail: guilhermebraga@comigo.com. e adubação para suprir a demanda nutricional atual das
br
3
Engenheiro agrônomo, Gerente de Geração e culturas e possibilitar alta eficiência na adubação do
Difusão de Tecnologia do Centro Tecnológico COMIGO sistema.
(CTC). E-mail: eduardohara@comigo.com.br O boro (B), assim como os demais micronutrientes,
4
Discente de graduação da Faculdade de Agronomia
do Instituto Federal Goiano (IFGoiano), campus Rio por ser exigido em menores quantidades pelas
Verde. Estagiário no Centro Tecnológico COMIGO plantas, acaba muitas vezes sendo negligenciados
(CTC). E-mail: linconl96lima@gmail.com nas adubações. Por participar de vários processos do
5
Discente de graduação da Faculdade de Agronomia
da Universidade de Rio Verde (UniRV). Estagiário metabolismo vegetal, em condições de deficiência, as
no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: plantas apresentam rápida inibição na formação de
vandersomdelgado@hotmail.com novos tecidos, redução do transporte de carboidratos e
menor pegamento de flores, além de outros processos
das plantas serem afetados (MANTOVANI et al., 2013).
Por isso, adubações com B têm possibilitado incrementos
nos rendimentos de grãos das culturas em sucessão a

54 Fertilidade do Solo e Fertilizantes


CLUBE DE REVISTAS
soja, como o sorgo (CRUVINEL et al., 2023). ocorrer problemas de incompatibilidade física entre os
Por ser um nutriente imóvel nas plantas, o produtos na calda de aplicação, bem como perda de
fornecimento de B via solo é essencial para a nutrição performance agronômica em função da utilização da
das plantas, pois assegura que o nutriente seja mistura.
absorvido e transportado até os tecidos novos da planta. Diante deste contexto, o objetivo do presente
Ao contrário dessa imobilidade na planta, o B no solo é trabalho foi avaliar a eficácia agronômica da associação
extremamente móvel e, para compensar as perdas por entre o herbicida diquat e octaborato de sódio visando
lixiviação, torna-se necessário a aplicação periódica de à dessecação pré-colheita da soja, mensurando a
doses “corretivas”. Atualmente temos opções de fontes existência de possíveis efeitos antagônicos na utilização
disponíveis no mercado, como ulexita, ácido bórico, desta associação, além de determinar o impacto da
octaborato de sódio, entre outras, as quais variam aplicação deste fertilizante na produtividade de sorgo
quanto a concentração do nutriente, solubilidade em cultivado em sucessão.
água, composição química e outras propriedades
químicas, físicas e físico-químicas. MATERIAL E MÉTODOS
Entre as práticas culturais que apresentaram
aumento na adoção nas últimas safras, está a Foi instalado experimento a campo em área
dessecação pré-colheita, visto que no momento em que localizada no Centro Tecnológico COMIGO, sediada
as plantas atingem a maturação fisiológica, diversas na cidade de Rio Verde (GO) (S 17°46'01" O 51°02'07",
pragas e patógenos incidem sobre esta cultura, além altitude de 790 m). O experimento realizado visando
de por vezes não haver uma uniformidade nos teores aferir o impacto da associação do herbicida diquat
de umidade de grãos (VEIGA et al., 2007). Nestas com octaborato de sódio na dessecação pré-colheita
condições, os herbicidas posicionados na dessecação da soja foi conduzido de 27/10/2022 a 20/02/2023 e o
pré-colheita não devem apresentar seletividade para a instalado para avaliar o efeito das doses de octaborato
cultura, além de possuir rápida ação de contato (INOUE de sódio no sorgo foi instalado em 27/02/2023 e
et al., 2003). Dentro destas características, na atualidade colhido em 12/07/2023.
o diquat consiste no principal herbicida utilizado para Previamente a instalação do experimento,
este propósito, uma vez que age inibindo a fotossíntese, foi realizada análise de solo de amostra coletada na
possuindo ação rápida em função do dano causado na profundidade de 0 a 20 cm, a qual apresentou as
membrana que causa a acelerada desidratação celular seguintes propriedades químicas e textura: pH em
(LACERDA et al., 2001). CaCl2 de 4,9; 2,91 cmolc dm-3 de H+ + Al+3; 2,20 cmolc
Uma possibilidade que tem sido avaliada em dm-3 de Ca+2; 0,76 cmolc dm-3 de Mg+2; 131,34 mg dm-3
algumas regiões no intuito de otimizar a utilização do de K; 22,26 mg dm-3 de P; 0,40 mg dm-3 de B; 6,89 mg
maquinário das propriedades refere-se à aplicação de dm-3 de Zn; 0,93 mg dm-3 de Cu; 19,10 mg dm-3 de Mn;
herbicidas em associação com fertilizantes (BRIGHENTI 21,9 g dm-3 de M.O.; 47,61% de areia; 16,61% de silte e
et al., 2006), uma vez que possibilita a redução de uma 35,77% de argila. O solo é classificado como Latossolo
entrada com o pulverizador. Para assegurar a viabilidade Vermelho distrófico (SANTOS et al., 2018). De acordo
da adoção desta prática, é importante averiguar com classificação de Köppen o clima de Rio Verde é
previamente a recomendação se há possiblidade de do tipo Aw, que recebe denominação de “tropical com

Fertilidade do Solo e Fertilizantes 55


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estação seca”. Os dados climatológicos relacionados a meteorológica da marca Plugfield® instalada na área de
temperatura máxima e mínima do ar, umidade relativa pesquisa do CTC e os resultados estão apresentados
e precipitações durante o período de condução na Figura 1.
do experimento foram monitorados por estação

Figura 1. Precipitação acumulada (mm), temperaturas máximas e mínima (°C) e umidade relativa
(%) durante o período de condução do experimento. Rio Verde (GO), 2023.

A dessecação pré-semeadura da soja foi área experimental a segunda etapa do trabalho


realizada com uma aplicação da associação entre os visando avaliar o efeito dos tratamentos na cultura do
herbicidas glifosato (1400 g e.a. ha ) + clethodim (120 g
-1
sorgo. Para tanto, no dia 27/02/2023, foi realizada a
i.a. ha ) + Iharol Gold (300 mL p.c. ha ), a qual foi realizada
-1 ® -1
semeadura do sorgo com o híbrido AG1070, adotando-
dez dias antes da semeadura da cultura. A semeadura se densidade de semeadura de 10,5 sementes m-1. Na
da soja foi realizada de forma mecanizada no dia adubação do sorgo, foi realizada a aplicação de 400 kg
27/10/2022, adotando-se espaçamento entrelinhas de ha-1 do formulado 15-15-15 no sulco de semeadura e
0,5 m, utilizando a cultivar ST700 i2x, com densidade de 150 kg ha-1 de ureia + NBPT (Ureia Turbo) em cobertura
semeadura de 15 sementes m-1. As sementes utilizadas aos 18 DAS.
no experimento foram tratadas industrialmente com O delineamento utilizado foi o de blocos
fungicidas e inseticidas, bem como foi realizada a completos ao acaso (DBC), com 4 repetições, avaliando-
prática de inoculação visando assegurar o processo de se 10 tratamentos (Tabela 1). As unidades experimentais
fixação biológica de nitrogênio. A adubação com KCl foi foram compostas por dez linhas de semeadura, com
realizada a lanço 3 dias antes da semeadura (DAS) e comprimento de 5,0 m (25,0 m2). Considerou-se como
no momento da semeadura foi realizado a aplicação de área útil para as avaliações apenas as seis linhas
450 kg ha superfosfato simples (20% P2O5) no sulco.
-1
centrais de cada unidade experimental, excluindo-se
Após a colheita da soja foi instalado na mesma 0,5 m de cada extremidade.

56 Fertilidade do Solo e Fertilizantes


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Tabela 1. Relação de tratamentos avaliados no experimento de dessecação pré-colheita de soja
em associação com octaborato de sódio (AduBor®). Rio Verde (GO), 2022/2023.

Dose Dose
Tratamentos1/ Ingrediente ativo
(L ou kg p.c. ha-1) (g i.a. ou kg B ha-1)
Testemunha sem herbicida - - -
Reglone® 1,0 Diquat 200
Reglone® 1,5 Diquat 300
Reglone® 2,0 Diquat 400
Reglone® + octaborato de sódio 1,0 + 5,0 Diquat + Boro 200 + 1,0
Reglone® + octaborato de sódio 1,0 + 10,0 Diquat + Boro 200 + 2,0
Reglone® + octaborato de sódio 1,5 + 5,0 Diquat + Boro 300 + 1,0
Reglone® + octaborato de sódio 1,5 + 10,0 Diquat + Boro 300 + 2,0
Reglone® + octaborato de sódio 2,0 + 5,0 Diquat + Boro 400 + 1,0
Reglone® + octaborato de sódio 2,0 + 10,0 Diquat + Boro 400 + 2,0
1/
Adicionado espalhante adesivo Agral® na dose de 0,5% V/V.

Os tratamentos foram aplicados quando as pragas e doenças sem deixar que estes influenciassem
plantas de soja se encontravam no estádio R7.3, o negativamente no desenvolvimento da cultura.
qual indica que as plantas apresentam mais de 75% Para determinar o efeito dos tratamentos, foram
das vagens maduras (amareladas). A aplicação dos realizadas avaliação de porcentagem de dessecação e
tratamentos no dia 13/02/2022 (109 DAS). No momento desfolha aos 1, 3, 5 e 7 dias após a aplicação (DAA) dos
da aplicação o solo estava úmido e o céu estava com a tratamentos. A desfolha visual foi avaliada adotando-se
presença de poucas nuvens, estando a temperatura, escala em que 0 representa ausência de desfolha nas
umidade relativa do ar e velocidade do vento, mínima e plantas e 100% representa desfolha completa, sendo
máxima, em valores equivalentes a 22,8 e 26,7,oC, 80,6 e conferidas notas para todos os tratamentos, incluindo a
82,9% e 0,8 e 1,8 km h-1, respectivamente. As aplicações testemunha sem herbicida, na qual as plantas passam
foram realizadas utilizando-se um pulverizador de por um processo de desfolha natural. A dessecação foi
pesquisa pressurizado por CO2 com patente junto ao avaliada por meio de escala visual em que 0 representa
INPI (BR102016007565-3), montado em um trator (LS ausência de sintomas de necrose no tecido foliar e 100%
60, 60 cv, Landini). A barra de aplicação foi equipada representa tecido foliar completamente necrosado em
com dez pontas espaçadas 0,5 m entre si, mantida a todas as plantas.
uma altura de 0,5 m da cobertura vegetal. A pressão de Ademais, na ocasião da colheita foi realizada
trabalho nas pontas de pulverização de jato duplo plano avaliação produtividade e umidade de grãos da soja
com indução de ar (ADIA/D 110015; Magnojet) foi de e do sorgo. Para determinação da produtividade de
300 kPa (43,5 psi) e o volume de aplicação 100 L ha-1. grãos, foi realizada o arranquio manual de todas as
Durante o desenvolvimento da soja no período plantas (no sorgo panículas) presentes na área útil
de safra e do sorgo na safrinha, todos os tratos culturais de cada unidade experimental, onde posteriormente
foram realizados de acordo com as recomendações este material foi submetido aos processos de trilha,
técnicas, procedendo ao controle de plantas daninhas, embalagem, identificação, pesagem e correção da

Fertilidade do Solo e Fertilizantes 57


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umidade dos grãos para 13%. aplicação de doses de diquat isolado e associado a
As análises estatísticas foram realizadas com doses de octaborato de sódio estão apresentados na
o programa computacional SISVAR. Os dados do Tabela 2. Na primeira avaliação, realizada apenas 1
experimento foram submetidos à análise de variância DAA, não foi observada diferenças entre tratamentos
pelo teste F (p≤0,05) e, quando houve efeito significativo, para o percentual de desfolha nas plantas de soja.
aplicou-se o critério de agrupamento de médias de Em contraponto, para a avaliação de dessecação,
Scott-Knott (p≤0,05). verificou-se que nas unidades experimentais contendo
a aplicação de diquat isolado (independentemente da
RESULTADOS E DISCUSSÃO dose), bem como naquelas contendo a associação
entre diquat + octaborato de sódio (200 g i.a. + 5,0 kg p.c.
Os resultados de porcentagem de desfolha ha-1), os percentuais de dessecação das plantas de soja
e dessecação das plantas de soja submetidas à eram ligeiramente superiores aos valores observados
nos demais tratamentos avaliados.

Tabela 2. Porcentagem de desfolha e dessecação de plantas de soja submetidas à aplicação de


doses de diquat isolado e associado com doses de octaborato de sódio (AduBor®). Rio Verde (GO),
2022/2023.

Doses Desfolha (%)


Tratamentos
(g i.a. ou kg p.c. ha-1) 1 DAA 3 DAA 5 DAA 7 DAA
Testemunha sem herbicida - 66,25 a 82,50 b 91,25 b 100,00
Diquat 200 68,75 a 98,75 a 100,00 a 100,00
Diquat 300 70,00 a 100,00 a 100,00 a 100,00
Diquat 400 72,50 a 100,00 a 100,00 a 100,00
Diquat + octaborato de sódio 200 + 5,0 71,25 a 100,00 a 100,00 a 100,00
Diquat + octaborato de sódio 200 + 10,0 71,25 a 100,00 a 100,00 a 100,00
Diquat + octaborato de sódio 300 + 5,0 68,75 a 97,50 a 100,00 a 100,00
Diquat + octaborato de sódio 300 + 10,0 66,25 a 100,00 a 100,00 a 100,00
Diquat + octaborato de sódio 400 + 5,0 70,00 a 100,00 a 100,00 a 100,00
Diquat + octaborato de sódio 400 + 10,0 71,25 a 100,00 a 100,00 a 100,00
FCalculado 0,82ns 30,19* 49,00* -
CV (%) 6,74 2,03 0,80 -
Dessecação (%)
Testemunha sem herbicida - 0,00 c 0,00 c 0,00 0,00
Diquat 200 16,25 a 99,50 a 100,00 100,00
Diquat 300 17,50 a 100,00 a 100,00 100,00
Diquat 400 18,75 a 100,00 a 100,00 100,00
Diquat + octaborato de sódio 200 + 5,0 16,25 a 99,50 a 100,00 100,00
Diquat + octaborato de sódio 200 + 10,0 12,50 b 100,00 a 100,00 100,00
Diquat + octaborato de sódio 300 + 5,0 11,25 b 97,50 b 100,00 100,00
Diquat + octaborato de sódio 300 + 10,0 12,50 b 99,50 a 100,00 100,00
Diquat + octaborato de sódio 400 + 5,0 13,75 b 100,00 a 100,00 100,00
Diquat + octaborato de sódio 400 + 10,0 13,75 b 99,75 a 100,00 100,00
FCalculado 11,20* 3896,01* - -
CV (%) 23,64 1,13 - -
ns
e * Não significativo e significativo, respectivamente, a 5% de probabilidade pelo teste F. Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem
entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

58 Fertilidade do Solo e Fertilizantes


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Em nova avaliação realizada aos 3 DAA, todos prática agronômica.
os tratamentos contendo a aplicação de diquat, Aos 5 DAA, excluindo-se a testemunha sem
independentemente das doses utilizadas ou se este foi herbicida, em todos os demais tratamentos os níveis
aplicado isoladamente ou em associação ao octaborato de desfolha e dessecação alcançaram o patamar de
de sódio, os percentuais de desfolha foram superiores 100%, indicando que a cultura já se encontrava apta
aos da testemunha sem herbicida (Tabela 2). Para se para o processo de colheita. Para o tratamento em que
ter uma ideia da performance dos tratamentos, nas não foi realizada a aplicação de diquat isolado ou em
unidades experimentais que receberam a aplicação de associação ao octaborato de sódio, as plantas de soja
diquat, os percentuais de desfolha variaram de 97,50 atingiram o estado de desfolha completa apenas uma
a 100%. Para a variável porcentagem de dessecação semana após a data em que foi realizada a aplicação
aos 3 DAA, observou-se grande incremento nos valores dos herbicidas nos demais tratamentos, demonstrando
em relação à primeira avaliação, visualizando-se um o benefício que a adoção da prática de dessecação
percentual médio entre os tratamentos ≈ 99,50%. A pode trazer na antecipação da colheita da soja.
obtenção destes altos percentuais de dessecação Para as variáveis umidade e produtividade de
da soja poucos dias após a aplicação do diquat está grãos da soja, não foram observadas diferenças entre
relacionada ao mecanismo de ação que o herbicida os tratamentos contendo aplicação do diquat isolado
apresenta, bem como por sua ação de contato (ROMAN ou em associação com octaborato de sódio, nem
et al., 2007). Adicionalmente, verifica-se com base nos tampouco entre estes e a testemunha sem herbicida
resultados do presente trabalho que, aparentemente, (Tabela 3). Este fato demonstra a segurança na utilização
a adição de octaborato de sódio à calda de aplicação da prática de dessecação pré-colheita, desde que
do diquat não impôs restrições na performance do as recomendações técnicas sejam respeitadas, bem
herbicida, demonstrando viabilidade de uso desta como o estádio das plantas na ocasião da aplicação.

Tabela 3. Umidade de grãos (UG) e produtividade (PRO) da soja e do sorgo cultivado em sucessão.
Rio Verde (GO), 2022/2023.

Doses Soja Sorgo


Tratamentos
(g i.a. ou kg p.c. ha-1) UG (%) PRO (scs ha ) -1
UG (%) PRO (scs ha-1)
Testemunha sem herbicida - 14,86 a 81,23 a 14,45 a 103,22 c
Diquat 200 14,72 a 78,55 a 13,40 a 103,37 c
Diquat 300 14,10 a 79,63 a 13,98 a 103,81 c
Diquat 400 13,58 a 80,70 a 13,87 a 110,13 b
Diquat + octaborato de sódio 200 + 5,0 15,35 a 81,21 a 13,58 a 104,55 b
Diquat + octaborato de sódio 200 + 10,0 14,05 a 83,90 a 13,90 a 114,00 a
Diquat + octaborato de sódio 300 + 5,0 13,49 a 86,09 a 13,74 a 108,61 b
Diquat + octaborato de sódio 300 + 10,0 14,44 a 79,29 a 14,23 a 114,73 a
Diquat + octaborato de sódio 400 + 5,0 13,54 a 84,93 a 13,84 a 107,85 b
Diquat + octaborato de sódio 400 + 10,0 14,58 a 78,57 a 13,89 a 109,46 b
FCalculado 1,27ns 0,68ns 1,32ns 1,57*
CV (%) 7,77 7,97 3,74 6,28
ns
e * Não significativo e significativo, respectivamente, a 5% de probabilidade pelo teste F. Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem
entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

Fertilidade do Solo e Fertilizantes 59


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Para o sorgo cultivado em sucessão, observou- C.C.E.; OLIVEIRA, F.A.; FERNANDES, P.B. Aplicação
se incremento significativo (p<0,05) na produtividade simultânea de dessecantes e boro no manejo de
de grãos em função das doses de B adicionadas na plantas daninhas e na nutrição mineral das culturas de
dessecação pré-colheita da soja. As aplicações de 1 e 2 soja e girassol. Planta Daninha, v.24, n.4, p.797-804,
kg ha-1 de B aumentaram, em média, 3,8 e 9,5 sacas ha-1, 2006.
respectivamente. O octaborato de sódio é um produto CRUVINEL, A.G.; ALVES, V.R.; SOUSA NETA, R.;
de alta solubilidade (97 g L-1), sendo uma ferramenta MORAES, K.L.; CANTÃO, V.C.G. Formas de aplicação de
interessante que possibilita a aplicação de doses mais boro e seus efeitos no rendimento do sorgo granífero.
elevadas de B sem causar problemas operacionais In: VII Reunião Centro-Oeste de Ciência do Solo e
como diluição do produto. Comparativamente, o IV Simpósio sobre Nutrição de Plantas no Cerrado.
ácido bórico que também é frequentemente utilizado 2023, Goiânia
em associações com herbicidas, apresenta menor INOUE, M.H.; MARCHIORI JÚNIOR, O.;
solubilidade (47 g L-1), o que limita as maiores doses de B BRACCINI, A.L.; OLIVEIRA JR., R.S.; ÁVILA, M.R.;
devido às dificuldades operacionais como entupimento CONSTANTIN, J. Rendimento de grãos e qualidade
dos bicos de pulverização. de sementes de soja após a aplicação de herbicidas
A estratégia de fornecimento de B via barra de dessecantes. Ciência Rural, v.33, n.4, p.769-770, 2003.
pulverização, além de aproveitar uma operação agrícola LACERDA, A.L.S.; LAZARINI, E.; SÁ, M.E.;
sem causar efeitos antagônicos quando associado ao WALTER FILHO, V.V. Aplicação de dessecantes na
diquat, possibilita a distribuição uniforme do nutriente cultura de soja: antecipação da colheita e produção de
na área de cultivo, o que é o principal desafio em sementes. Planta Daninha, v.19, n.3, p.381-390, 2001.
se tratando da aplicação de fontes granuladas de MANTOVANI, J.P.M.; CALONEGO, J.C.; FOLONI,
micronutrientes devido as baixas doses requeridas J.S.S. Adubação foliar de boro em diferentes estádios
pelas culturas. fenológicos da cultura do amendoim. Revista Ceres,
v.60, n.2, p.270-278, 2013.
CONCLUSÕES ROMAN, E.S.; VAGAS, L.; RIZZARDI, M.A.;
HALL, L.; BECKIE, H.; WOLF, T.M. Como funcionam
Nas condições em que o presente experimento os herbicidas: da biologia à aplicação Passo Fundo:
foi executado, pode-se concluir que a adição de Berthier, 2007. 160 p.
octaborato de sódio ao diquat em aplicações
realizadas visando à dessecação pré-colheita da soja SANTOS, H.G.; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS, L.H.C.;
não afetou o desempenho final do herbicida isolado, OLIVEIRA, V.A.; LUMBRERAS, J.F.; COELHO, M.R.;
independentemente das dosagens utilizadas do ALMEIDA, J.A.; CUNHA, T.J.F.; OLIVEIRA, J.B. Sistema
fertilizante e/ou herbicida. Nenhum dos tratamentos brasileiro de classificação de solos. Centro Nacional
contendo o diquat isolado ou em associação com de Pesquisa de Solos. 5 ed. Brasília: Embrapa
octaborato de sódio afetou o percentual de umidade e a Produção de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa
produtividade de grãos da soja. A estratégia de fornecer Solos. 2018. 588 p, 2018.
de B via calda de pulverização, além de aproveitar a
operação de dessecação da soja para a aplicação VEIGA, A.D.; ROSA, S.D.V.F.; SILVA, P.A.;
uniforme do nutriente, incrementou a produtividade do OLIVEIRA, J.A.; ALVIM, P.O.; DINIZ, K.A. Tolerância
sorgo em sucessão. de sementes de soja à dessecação. Ciência e
Agrotecnologia, v.31, n.3, p.773-780, 2007.
REFERÊNCIAS

BRIGHENTI, A.M.; CASTRO, C.; MENEZES,

60 Fertilidade do Solo e Fertilizantes


CLUBE DE REVISTAS

Fisiologia e
Nutrição de
Plantas
Fisiologia e Nutrição de Plantas 61
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EFEITOS DE DOSES E ÉPOCAS


DE ADUBAÇÃO COM FÓSFORO
VIA FOLIAR, NA NUTRIÇÃO E
PRODUTIVIDADE DA CULTURA DA
SOJA

BUENO1, Amanda Magalhães; LIMA2, Diego,


Tolentino; FERNANDES3, Rafael Henrique;
INTRODUÇÃO
NASCIMENTO4, Hemython Luis Bandeira do;
SARKIS5, Leonardo Fernandes A nutrição desempenha papel fundamental na
busca por altas produtividades para a cultura da soja,
1
Enga. Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora visto que as plantas necessitam de nutrição equilibrada
Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. com todos os 17 elementos essenciais, descritos como
E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br; nutrientes, para alcançar seu máximo potencial de
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador crescimento e rendimento (PRADO, 2021). Nutrientes,
Agronômico em Entomologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: como fósforo, potássio, nitrogênio, os macronutrientes
diegotolentino@comigo.com.br; secundários e micronutrientes, desempenham
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador funções chave nas atividades metabólicas das plantas,
Agronômico em Fitopatologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: influenciando desde a formação e desenvolvimento
rafaelhenrique@comigo.com.br; radicular até a produção e enchimento de grãos
4
Eng. Agrônomo, Dr. Zootecnia, Pesquisador em (FAQUIN, 2005). A nutrição adequada assegura a
Forragicultura do Centro Tecnológico COMIGO, Rio
Verde-GO, Brasil. E-mail: hemythonluis@comigo.com. eficiência fotossintética, otimiza a absorção de água e
br; nutrientes do solo, fortalece a resistência das plantas a
5
Eng. Agrônomo, MS. em Fertilidade do Solo, doenças e estresses ambientais, e é fator fundamental
Pesquisador Agronômico em Fertilidade do Solo e
Fertilizantes do Centro Tecnológico COMIGO. Rio para atingir o máximo potencial produtivo das culturas
Verde, GO, Brasil. E-mail: leonardofernandes@ (TAIZ et al., 2017).
comigo.com.br. Dentre os macronutrientes, o fósforo
desempenha uma série de funções essenciais na
formação e ativação de compostos energéticos como
o ATP (adenosina trifosfato), considerado a moeda

62 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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energética da planta, pois participa efetivamente do para as raízes das plantas ao longo do ciclo de
transporte e armazenamento de energia nas células crescimento. Nos últimos anos, a adubação foliar
vegetais (MALAVOLTA., 2006). Além disso, o fósforo tem emergido como uma estratégia complementar,
está intimamente envolvido na síntese de DNA e permitindo a aplicação direta de fósforo nas folhas, o
RNA, bem como na formação de proteínas (TAIZ et que pode ser especialmente adaptado em situações
al., 2017). Nas fases iniciais do desenvolvimento, o de deficiência nutricional ou limitações de absorção
fósforo é crucial para o enraizamento, promovendo radicular (NACHTIQAÜ; NAVA, 2010).
uma maior absorção de água e nutrientes do solo Os efeitos da adubação foliar com fósforo,
(SALVAGIOTTI et al., 2013). Durante o florescimento apresentam maiores eficiências em momentos
e a formação de vagens, o fósforo é componente críticos de demanda, como durante os períodos que
essencial para a reprodução e o enchimento dos precedem estresses abióticos, fases de floração,
grãos, impactando diretamente na produtividade de formação de vagens e enchimento de grãos. A
culturas graníferas (EPSTEIN, BLOOM, 2006). adubação foliar contribui para a superação de
Ressalta-se ainda, os efeitos do fósforo na possíveis deficiências, otimizando a eficiência de
prevenção e atenuação de estresses. O nutriente absorção do fósforo e maximizando a atividade
desencadeia respostas regulatórias e bioquímicas metabólica da cultura (KAHRAMAN, 2017). Neste
que fortalecem a resistência das plantas a condições sentido, esse estudo teve por objetivo, avaliar os
adversas, como déficit hídrico e altas temperaturas. efeitos da adubação foliar para fornecimento de
Por estar envolvido na síntese de compostos fósforo na nutrição e produtividade de soja, cultivada
bioenergéticos, como o ATP, plantas com adequados no sudoeste goiano na safra do ano agrícola 2022/23.
teores de fósforo, apresentam maior rapidez nas
respostas a situações adversas, possibilitando a MATERAL E MÉTODOS
ativação de enzimas antioxidantes para minimizar
os danos causados pelo
​​ estresse oxidativo, O experimento foi conduzido em área
possibilitando antecipação na regulação osmótica e experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO),
manutenção da fotossíntese por mais tempo (TAIZ et no município de Rio Verde, Goiás, nas coordenadas
al., 2017). geográficas de latitude -17°33'28,95" e longitude
A deficiência de fósforo pode levar a redução -50°59'3,03" e 780 m de altitude. O clima da região
do porte das plantas, atraso do florescimento e é classificado como Aw (Savana Tropical), conforme
baixa formação de vagens e enchimento de grãos, classificação Köppen (ALVARES et al., 2013),
acarretando em quedas na produtividade da com estação seca no inverno (maio a setembro)
cultura (PRADO, 2021). Existem diversas formas de e chuvosa no verão (outubro a abril). Ao longo do
fornecimento de fósforo para a cultura da soja, cada ciclo da cultura, os índices de precipitação pluvial
uma com suas características e aplicabilidades. A e temperatura, foram monitorados, por meio da
aplicação de fertilizantes fosfatados diretamente estação agrometeorológica Plugfield® modelo WS22,
no solo é a principal estratégia para reposição do instalada nas proximidades da área experimental
nutriente (SOUSA; LOBATO, 2004). Esses fertilizantes (Figura 1).
liberam o fósforo no solo, tornando-o disponível

Fisiologia e Nutrição de Plantas 63


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Figura 1. Precipitação pluvial diária e acumulada ao longo dos estádios vegetativos e reprodutivos
da cultura da soja, temperaturas máxima, média e mínima na área experimental da Fazenda Monte
Alegre (COMIGO) no intervalo dos dias 07/10/2022 a 20/02/2023, Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

O solo da área experimental foi classificado camadas de 0-20 cm e 20-40 cm de profundidade, para
como LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico, de análise dos atributos químicos e granulometria do solo
textura argilosa (>35% de argila). Antes da instalação (Quadro 1).
dos experimentos, foram realizadas amostragens nas

Quadro 1. Análise química e granulométrica do solo antes da implantação do experimento de


adubação foliar contendo fósforo na cultura da soja, na área experimental da Fazenda Monte
Alegre (COMIGO) Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe

mg dm-3 --------- cmolc dm-3 -------- ---------------------- mg dm-3 ------------------

8,02 0,26 2,8 0,91 18,26 0,88 6,22 1,61 36,09

0 a 20 cm Mn M.O.S Al H+Al pH Areia Silte Argila V

mg dm-3 % cmolc dm-3 - ------------------- % -------------------

34,07 2,04 0,04 2,42 5,32 44,04 11,58 44,38 61,7

P K Ca Mg S pH V

20 a 40 cm mg dm-3 ------- cmolc dm-3 -------- mg dm-3 - %

0,41 0,04 0,6 0,12 16,62 4,24 12,03

64 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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As necessidades de correção e adubação, O estudo foi realizado em delineamento em
foram calculadas, com base nos resultados da blocos casualizados com quatro repetições, em
análise de solo e exigências nutricionais da cultura esquema fatorial 4x3 + 1. Sendo 4 doses de P2O5 (3, 6,
(SOUSA; LOBATO, 2004). Aos 80 dias pré-semeadura, 9, 12 kg ha-1) divididas em três épocas de adubações
foi realizada a aplicação de 1 t ha-1 de gesso agrícola foliares (em V2, V5, R3 e R5.1; V5, R3 e R5.1 ou V5 e R3),
e após 20 dias a calagem com 2 t ha-1 de calcário e o tratamento adicional, com quatro repetições sem
em área total, sem revolvimento do solo. 30 dias aplicação do fertilizante (testemunha), totalizando
antes da semeadura, foram aplicados 200 kg ha-1 de 13 tratamentos (Figura 2 e Quadro 2). O fertilizante
K2O (cloreto de potássio) e 2 kg ha-1 de B (ulexita), à fosfato monoamônico (MAP purificado - 11% N +
lanço. Um dia antes da semeadura, à lanço, foram 60% P2O5), foi utilizado como fonte do nutriente,
aplicados 1 kg ha-1 de boro e cobre, 2 kg ha-1 de zinco respectivamente nas doses de 5, 10, 15 e 20 kg ha-1
e manganês e 0,85 kg ha-1 de enxofre (25 kg ha-1 Mix (Figura 2 e Quadro 2).
Complexo® - 4% B, 4% Cu, 8% Zn, 8% Mn e 3,5%
S).
Na ocasião da semeadura, via suco de plantio,
foram aplicados 25 kg ha-1 de N e 150 kg ha-1 de P2O5
(fosfato monoamônico). Ainda no sulco de plantio
com auxílio de jato dirigido, com volume de aplicação
de 50 L ha-1, foram aplicados 1 L ha-1 do inoculante
Cell Tech® contendo duas cepas de Bradyrhizobium
japonicum (Semias 5079 e 5080, com 3x109 UFC/
mL); 0,1 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum®
(Azospirillum brasilienses, 3x108 UFC/mL); inseticida
biológico Meta-Turbo® na dose de 0,5 L ha-1
(Metarhizium anisopliae IBCB425 mínimo de 1x108
propágulos viáveis/mL); fungicida biológico Trico-
turbo® 0,25 L ha-1 (Trichoderma asperellum BV10
mínimo de 1x1010 conídios viáveis/mL) e 0,4 L ha-1 do
nematicida Verango® Prime.
Os manejos de plantas daninhas, insetos praga
e doenças, foram realizados conforme o levantamento
das necessidades por meio de avaliações periódicas
da área e as boas práticas agrícolas. Foram levados
em conta os preceitos do manejo integrado de pragas,
doenças e plantas daninhas (MIP, MID e MIPD) para
a tomada de decisão quanto ao método de controle
utilizado. Estes tratos culturais foram adotados em
toda a área experimental.

Fisiologia e Nutrição de Plantas 65


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Figura 2. Descrição gráfica das épocas e doses de aplicação de MAP purificado via foliar na cultura
da soja cultivada em área experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás,
safra 2022/23.

Quadro 1. Descrição do delineamento experimental em função das doses e épocas de aplicação


de fósforo (P2O5) via foliar na cultura da soja cultivada em área experimental da Fazenda Monte
Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

66 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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O plantio foi realizado no dia 07/10/2022 com a a 80 sc ha-1. Foi utilizada metodologia proposta Creste
cultivar de soja SOYTECH 700 i2x, grupo de maturação e Echer (2010), na qual estabelece como faixa de
7.0, com hábito de crescimento indeterminado, e equilíbrio, os valores entre (–(4σ)/3) e (+(4σ)/3) (σ: desvio
população final de 15 plantas m-1 (300.000 plantas ha- padrão), que para o banco de dados em questão, foram
1
). Cada parcela foi composta por 12 linhas espaçadas considerado como adequados, os índices entre -17 e
em 0,50 m, contendo 10 m de comprimento (60 m2 por 17. Os valores abaixo (negativos) ou acima (positivos)
parcela). As avaliações foram realizadas nas seis fileiras dessa faixa, são considerados em desequilíbrio por
centrais, excluindo-se 0,50 m das extremidades (área deficiência ou excesso, respectivamente (Figura 3).
útil de 27 m2). A colheita foi realizada no dia 07/02/2023,
As pulverizações foliares foram realizadas de totalizando o ciclo de 124 dias (da semeadura à colheita).
acordo com o estádio da cultura, com as doses totais Foram realizadas amostragens de produtividade com
divididas em duas, três ou quatro aplicações. Para a coleta das plantas em dois pontos de 3 metros e
pulverização das unidades experimentais, utilizou- 3 linhas (4,50 m²) por área útil de cada parcela. As
se um pulverizador de parcelas pressurizado por CO2 amostras foram secas, trilhadas, pesadas e aferidas a
(Patente: BR102016007565-3) montado em trator. O umidade. A umidade das amostras foi corrigida para
pulverizador possui barra de 5,0 metros com 10 bicos 13%. Na data da colheita foram avaliados o número de
de pulverização espaçados em 0,5 m. Utilizou-se pontas nós reprodutivos na haste principal, número de ramos
modelo ADIA 015.D da marca Magnojet®. A calibração laterais e número total de vagens na haste principal, de
do equipamento foi ajustada com pressão de trabalho três plantas coletadas aleatoriamente na área útil de
em 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação de 150 L cada unidade experimental.
ha-1. A partir da metodologia estatística, foram
Cinco dias após a última aplicação dos avaliadas as significâncias dos fatores e suas
tratamentos (estádio R5.1), foram coletadas 20 folhas interações, por meio da análise de variância pelo teste
por parcela, sendo a terceira completamente expandida F a 5% de probabilidade. Os resultados significativos,
a partir da haste principal, sem o pecíolo (MALAVOLTA quando de caráter quantitativo foram submetidos à
E VITTI, 1997). As amostras de tecido vegetal foram análise de regressão e quando qualitativo, as médias
analisadas conforme metodologia proposta por foram comparadas a partir do teste Scott-Knott a 5% de
Silva (2009), a partir das quais foram determinados probabilidade.
os teores de N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Fe, Mn e Zn. O
resultado médio dos teores foliares de nutrientes foram RESULTADOS E DISCUSSÃO
interpretados conforme metodologia DRIS (Sistema
Integrado de Diagnose e Recomendação), utilizando Os resultados médios das análises foliares
as normas estabelecidas por banco de dados DRIS foram interpretados pelo método DRIS em função do
COMIGO – SOJA, elaborado na safra 2022/2023, para banco de dados DRIS COMIGO – SOJA, elaborado na
as regiões do sudoeste goiano, com altitude superior safra 2022/23 (Figura 3). Os índices DRIS calculados,
a 700 m. indicam a deficiência, excesso e equilíbrio nutricional
Os índices DRIS foram calculados a partir da da amostra, em função da população de referência de
população de referência com produtividade superior alta produtividade (CARVAJAL et al., 2021). Quanto mais

Fisiologia e Nutrição de Plantas 67


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próximo de zero estiver o índice dos nutrientes, maior o kg ha-1 de P2O5, equivalente ao total de 15 kg ha-1 de
potencial da planta apresentar produtividade igual ou MAP purificado em todas as formas de parcelamento,
superior ao limite pré-estabelecido (PARENT; DAFIR, e ainda aquelas que receberam a nutrição foliar com
2019), que para esse estudo, é de 80 sc ha-1. 12 kg ha-1 de P2O5 (20 ha-1 de MAP purificado) com a
As plantas que não receberam adubação foliar dose total divida nos estádios V5, R3 e R5.1 e em V5 e
contendo fósforo (tratamento controle), apresentaram R3, demonstraram desbalanço positivo, com aumento
deficiência de potássio e excesso de cálcio. Já os no teor de potássio foliar (índice DRIS > 17) (Figura 3).
Figura 1 que receberam a adubação foliar com 9
tratamentos

Figura 3. Diagnose do estado nutricional pelo método DRIS, em função das épocas e doses de
aplicação de fósforo (P2O5) via foliar na cultura da soja, cultivada em área experimental da Fazenda
Monte Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

68 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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Quando por meio do índice DRIS, são detectados foram avaliadas por meio da análise de regressão
desbalanços nutricionais positivos nos teores foliares (Figura 4). Já em relação às fontes de variação de
de nutrientes, é indicativo de que esse nutriente se caráter qualitativo, os testes de médias aplicados, pode
apresenta em excesso em relação ao demais. Embora ser visualizado na Tabela 1.
o presente estudo avaliou o fornecimento de fósforo via
foliar na cultura, foram observados, em alguns casos,
o excesso e deficiência de potássio e deficiência de
cálcio no tratamento testemunha. O desbalanço de
potássio identificado nesse caso, pode não estar
relacionado ao excesso do nutriente no solo, e sim a
processos específicos do nutriente nessas plantas.
O potássio é o único nutriente que não participa de
componentes estruturais nas plantas, por isso, é
possível que alguns diagnósticos detectem maiores
ou menores teores foliares desse nutriente, em função
de sua alta mobilidade (EMBRAPA, 2005). O cálcio
atua como sinalizador de estresse dentro da célula,
quando as condições ambientais estão desfavoráveis,
aumenta-se o teor de calmodulina, que é uma proteína
ligada ao cálcio, aumento assim o teor do nutriente nas
folhas. A maior concentração dessa proteína indica a
necessidade de fechamento estomático, e por sua vez,
a saída do potássio das células guarda dos estômatos,
deixando-as com menor turgidez. Por consequência
ocorre a remobilização do potássio para outros órgãos
na planta, reduzindo seu teor foliar.
As aplicações das doses de fósforo via foliar,
em diferentes épocas, não influenciaram o número de
nós na haste principal nem o número de vagens por
planta (Tabela 1). No entanto, os fatores avaliados tanto
de forma isolada, quanto suas interações, atuaram
significativamente sob o número de ramos laterais e
produtividade de grãos (Tabela 1). Os efeitos das doses
nas variáveis produtivas e número de ramos laterais

Fisiologia e Nutrição de Plantas 69


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Tabela 2. Número de nós reprodutivos, número de ramos e número de vagens por planta e
produtividade de grãos (sc ha-1) de soja em função das épocas e doses de aplicação de fósforo
(P2O5) via foliar na cultura da soja, cultivada em área experimental da Fazenda Monte Alegre
(COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

Nós haste
Ramos laterais Vagens Produtividade
Tratamentos principal
(n° planta-1) (n° planta-1) (sc ha-1)
(n° planta-1)
Doses totais de P2O5 Doses totais
(D) de MAP
0 kg ha-1 0 kg ha-1 12,77 1,22 37,05 71,88

3 kg ha-1 5 kg ha-1 13,27 2,16 42,33 78,78

6 kg ha-1 10 kg ha-1 14,05 2,88 47,55 77,78

9 kg ha-1 15 kg ha-1 13,49 2,16 45,72 82,97

12 kg ha-1 20 kg ha-1 13,66 2,11 43,72 81,98

p-valor - 0,144ns 0,0001** 0,062ns 0,005**


Épocas de aplicação
(E)
sem aplicação - 12,77 1,22 c 37,05 71,88 c

V2, V5, R3 e R5.1 - 13,85 2,62 a 44,37 79,06 b

V5, R3 e R5.1 - 13,58 2,00 b 44,37 82,54 a

V5 e R3 - 13,41 2,37 a 45,29 79,08 b

p-valor - 0,194ns 0,0001** 1,927ns 0,002**

Interação (DxE)

p-valor - 0,448ns 0,0004** 0,834ns 0,001**

média - 13,55 2,24 44,23 79,58

C.V. (%) - 5,93 18,74 12,35 2,90


ns
e **, não significativo a 5% e significativo a 1% de probabilidade pelo teste F, respectivamente. Médias seguidas por mesma letra
na linha, não diferem entre si, pelo Teste de Scott-Knott (p-valor <0,05). C.V. (Coeficiente de Variação).

Ao realizar os desdobramentos das equações ramos/planta) (Figura 4a). A máxima produtividade


geradas a partir da análise de regressão, estimou-se de grãos estimada foi de 82,28 sc ha-1 atingida
que a aplicação de 11,78 kg ha-1 de MAP purificado com a aplicação de 11,86 kg de P2O5 ha-1, o que
(7,07 kg P2O5 ha-1) via foliar, independentemente do demandaria a dose total de 19,78 kg ha-1 de MAP
parcelamento do fertilizante, é a dose que acarretaria purificado, independente da época de parcelamento
em maior ramificação lateral em plantas de soja (2,66 da aplicação (Figura 4b).

70 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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a b

Figura 4. Número de ramos laterais por planta (a) e produtividade de grãos (sc ha-1) (b), em
função das e doses de aplicação de fósforo (P2O5) via foliar na cultura da soja, cultivada em área
experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

Ao avaliar as interações entre as fontes ha-1 P2O5, ocorreram nos estádios V5, R3 e R5.1, ocorreu
de variação (dose de P2O5 x época de aplicação), incremento médio de 1,11 ramos laterais em relação à
observou-se que as aplicações de 6 e 12 kg ha P2O5
-1
testemunha. Por fim, quando ocorreu a aplicação de 6 kg
nos estádios V2, V5, R3 e R5.1, foram as doses nesse ha-1 P2O5 em V5 e R3, observou-se a maior ramificação
estádio, que promoveram maior ramificação lateral, em relação aos demais tratamentos, em torno de 2,11
em média 2,03 mais ramos em relação à testemunha mais ramos em comparação à testemunha (Figura 5a).
(Figura 5a). Quando as divisões das doses de 3 e 6 kg

Fisiologia e Nutrição de Plantas 71


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a

Figura 5. Número de ramos laterais (a) e produtividade de grãos (sc ha-1) (b), em função da interação
entre as épocas e doses de aplicação de fósforo (P2O5) via foliar na cultura da soja, cultivada em
área experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO) em Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

Observou-se que ocorreram incrementos à testemunha (ganho de 14,1 sc ha-1). Quando as doses
produtivos, em praticamente todas as doses e épocas de MAP purificado foram divididas em três aplicações, o
de aplicação de fósforo via foliar na cultura da soja, maior incremento produtivo se deu com a aplicação de
exceto com a divisão da dose de 3 kg ha de P2O5 em
-1
3 kg ha-1 de P2O5 (1,66 kg ha-1 de MAP por pulverização
quatro aplicações (1,25 kg de MAP por aplicação). Nesta foliar), sendo 18% superior à testemunha (+ 16,34 sc ha-
forma de parcelamento (V2, V5, R3 e R5.1), o melhor 1
) (Figura 5b). Por fim, na última forma de parcelamento
resultado produtivo ocorreu com a aplicação da dose da adubação foliar, onde as doses foram divididas em
total de 9 kg ha de P2O5, totalizando 3,75 kg de MAP
-1
V5 e R3, o maior índice produtivo encontrado foi obtido
por aplicação alcançando produtividade 16% superior com a aplicação de 9 kg ha-1 de P2O5 (7,5 kg ha-1 de MAP

72 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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purificado por aplicação), atingindo ganhos de 14% em maior ramificação lateral na cultura da soja. Seus
relação à testemunha (+ 12, 02 sc ha-1). efeitos benéficos são intensificados em períodos que
A maior ramificação lateral, proporcionada pela antecedem eventos estressantes às plantas, como falta
aplicação foliar das doses de fósforo, principalmente em de chuva, e naqueles em que ocorre alta demanda
parcelamento nos estádios V2, V5, R3 e R5.1 e em V5 e energética como na formação de vagens e enchimento
R3, indicam que ocorreu maior vigor no crescimento e de grãos.
desenvolvimento vegetativo, do que quando as maiores
doses foram fornecidas no estádio R3 e R5.1. O estádio AGRADECIMENTOS
R3, para as cultivares de crescimento indeterminado,
é aquele no qual ocorre efetivamente redução do À equipe de campo e aos estagiários da
desenvolvimento e crescimento vegetativo (OLIVEIRA Fazenda Monte Alegre e Centro Tecnológico COMIGO,
et al., 2016). indispensáveis para a condução deste trabalho.
Embora tenham ocorrido incrementos
significativos em produtividade em função dos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
parcelamentos das aplicações das doses de fósforo em
todas as épocas avaliadas, foi observado que quando as ALVARES, C. A.; STAPE, J. L.; SENTELHAS, P. C.;
aplicações ocorreram nos estádios reprodutivos, esses DE MORAES GONÇALVES, J. L.; SPAROVEK, G. Köppen’s
incrementos foram ainda maiores. Esses resultados climate classification map for Brazil. Meteorologische
podem estar ligados aos efeitos benéficos da aplicação Zeitschrift, vol. 22, no. 6, p. 711–728, 2013. https://doi.
de fósforo em torno dos 25 dias após a emergência org/10.1127/0941-2948/2013/0507.
(estádio V5), momento que antecedeu um veranico de CARVAJAL, J. E. V.; ÁLVAREZ, E. O. P.; GUTIÉRREZ,
15 dias (Figura 1). Podendo essa aplicação ter auxiliado M. C. Diagnosis and Recommendation Integrated
na maior tolerância ao período de déficit, aliado System , its application and use in agriculture . A review
ainda, com as aplicações nos estádios reprodutivos, I . Introduction. vol. 18, no. 3, p. 29–46, 2021.
época a qual as chuvas retornaram. Essas adubações CRESTE, J. E.; ECHER, F. R. Establishing
também coincidiram com os picos de necessidade de standards for the integrated recommendation and
fósforo pela cultura, devido ao maior gasto energético diagnosis system (DRIS) for irrigated bean crops.
empregado nos processos de detoxificação referentes Communications in Soil Science and Plant Analysis,
a possíveis estresses oxidativos em função do período vol. 41, no. 16, p. 1921–1933, 2010. https://doi.org/10.10
de baixa umidade, bem como, em função da energia 80/00103624.2010.495803.
demandada para a formação de estruturas reprodutivas EMBRAPA. Tecnologias de produção de soja -
(R3) e início do processo de enchimento de grãos (R5.1) Região Central do Brasil 2005. Sistemas de Produção,
(OLIVEIRA et. al., 2016; TAIZ et al., 2014). p. 242, 2005. Available at: http://www.cnpso.embrapa.
br/download/publicacao/central_2005.pdf.
CONCLUSÕES EPSTEIN, EMANUEL BLOOM, A. J. Mineral
plant nutrition. 3rd ed. Amsterdan: Elsevier, 2006.
A adubação foliar com fósforo, quando FAQUIN, V. Nutrição Mineral De Plantas.
realizada nos estádios vegetativos, proporciona Lavras: UFLA/FAEPE, 2005.

Fisiologia e Nutrição de Plantas 73


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74 Fisiologia e Nutrição de Plantas


CLUBE DE REVISTAS

EFEITOS DE DOSES E ÉPOCAS DE


ADUBAÇÃO COM MAGNÉSIO VIA
FOLIAR, NA NUTRIÇÃO E
PRODUTIVIDADE DA CULTURA DA
SOJA

BUENO1, Amanda Magalhães; FREITAS2, Andréia produtos advindos da cultura, movimentou cerca de
Victor; DELGADO3, Vanderson Aparecido Diego; 673,7 bilhões de reais no país (CEPEA; ABIOVE, 2023).
SILVA4, Linconl Lima O Brasil é um dos principais produtores e exportadores
mundiais de soja grão e seus derivados (exportação de
1
Eng . Agrônoma, Dr . em Agronomia, Pesquisadora
a a
178,65 mil toneladas em 2022) (CEPEA; ABIOVE, 2023).
Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do Regiões como o estado de Goiás e o sudoeste goiano
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil.
E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br; desempenham papel fundamental nessa produção. Na
2
Estudante de Graduação em Agronomia no Instituto safra do ano agrícola 2022/23, Goiás obteve produção de
Federal Goiano. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: 17,74 milhões de toneladas em uma área de 4,54 milhões
andreiavictor781@gmail.com;
3
Estudante de Graduação em Agronomia da UniRV. de hectares, com grande contribuição da região sudoeste
Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: vandersomdelgado@ (CONAB, 2023). A importância dessa cultura para essa
hotmail.com; região está relacionada não apenas ao seu impacto
4
Estudante de Graduação em Agronomia no Instituto
Federal Goiano. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: econômico, mas também aos benefícios socioambientais
linconl96lima@gmail.com. e à segurança alimentar (AVELAR; TANNUS, 2022).
A nutrição adequada é fator determinante para
INTRODUÇÃO o crescimento e desenvolvimento saudável da cultura
(MALAVOLTA, 2006). Para alcançar altas produtividades
Vista como uma das culturas de maior e qualidade de grãos, é indispensável fornecer nutrientes
influência econômica mundial, a soja (Glycine max (L.) à soja, dentre eles o magnésio (PRADO, 2008). Embora
Merrill), ocupa posição de destaque, e se apresenta, o fornecimento convencional (via solo) seja a alternativa
para o Brasil, como a mais importante cultura em recomendada, e que para cultura, a principal fonte
termos de produção e exportação de grãos. Somente do nutriente seja o calcário (SOUZA; LOBATO, 2004),
em 2022, a comercialização de grãos e demais a adubação foliar com magnésio vem ganhando

Fisiologia e Nutrição de Plantas 75


CLUBE DE REVISTAS
destaque como estratégia complementar para suprir A presença adequada de magnésio é essencial para a
as necessidades nutricionais e fisiológicas da cultura síntese de clorofila, o metabolismo de carboidratos,
(ELSHERPINY et al., 2023). A adubação foliar consiste lipídios e proteínas, além da produção de energia. A
na aplicação de nutrientes diretamente nas folhas, adubação foliar com magnésio pode proporcionar
permitindo uma rápida absorção e utilização por benefícios no crescimento vegetativo, atenuação de
tecidos vegetais (BOLDRIN et al., 2023; NACHTIQAÜ; estresses abióticos e rendimento de grãos na soja.
NAVA, 2010). Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar
O magnésio é um dos 17 elementos essenciais a interação do parcelamento de doses de magnésio ao
para o crescimento e desenvolvimento das plantas longo do ciclo da soja cultivada no sudoeste goiano.
(PRADO, 2021). Para a soja, desempenha funções vitais
em processos fisiológicos, como a fotossíntese, a síntese MATERAL E MÉTODOS
de clorofila, a ativação de enzimas e a transferência
de energia (TAIZ et al., 2017). Além de exercer papel O experimento foi conduzido em área
fundamental nos mecanismos de defesa das plantas experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO),
em condições de estresse abiótico (SENBAYRAM et no município de Rio Verde, Goiás, nas coordenadas
al., 2015). Assim, plantas cultivadas em condições de geográficas de latitude -17°33'30,62" e longitude
elevada intensidade luminosa e também em situações -50°59'7,96" e 780 m de altitude. O clima da região é
de dias nublados, com baixa luminosidade, parecem ter classificado como Aw (Savana Tropical), conforme
maior necessidade por Mg (CAKMAK; YAZICI, 2010). A classificação Köppen (ALVARES et al., 2013), com
deficiência de magnésio pode resultar em sintomas estação seca no inverno (maio a setembro) e chuvosa
visíveis, como clorose internerval (folhas amareladas no verão (outubro a abril). Ao longo do ciclo da cultura,
entre as nervuras), redução da produção de biomassa e os índices de precipitação pluvial e temperatura, foram
posteriormente a diminuição da produção e qualidade monitorados, por meio da estação agrometeorológica
dos grãos (EPSTEIN; BLOOM, 2006). Plugfield® modelo WS22, instalada nas proximidades
Em suma, o magnésio desempenha papel crítico da área experimental (Figura 1).
no metabolismo das plantas, incluindo a cultura da soja.

76 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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Figura 1. Precipitação pluvial diária e acumulada ao longo dos estádios vegetativos e reprodutivos,
temperaturas máxima, média e mínima na área experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO)
no intervalo dos dias 07/10/2022 a 20/02/2023, Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

O solo da área experimental foi classificado amostragens nas camadas de 0-20 cm e 20-40 cm de
como LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico, de profundidade, para análise dos atributos químicos e
textura argilosa (>35% de argila). Foram realizadas textura do solo (Quadro 1).

Quadro 1. Análise química e granulométrica do solo antes da implantação do experimento de


adubação foliar contendo magnésio na cultura da soja, na área experimental da Fazenda Monte
Alegre (COMIGO) Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe

mg dm-3 --------- cmolc dm-3 -------- --------------------- mg dm-3 -----------------

8,02 0,26 2,8 0,91 18,26 0,88 6,22 1,61 36,09

0 a 20 cm Mn M.O.S Al H+Al pH Areia Silte Argila V

mg dm-3 % cmolc dm-3 - ------------------- % -------------------

34,07 2,04 0,04 2,42 5,32 44,04 11,58 44,38 61,7

P K Ca Mg S pH V

20 a 40 cm mg dm-3 ------ cmolc dm-3 ------- mg dm-3 - %

0,41 0,04 0,6 0,12 16,62 4,24 12,03

Fisiologia e Nutrição de Plantas 77


CLUBE DE REVISTAS
As necessidades de correção e adubação do O estudo foi realizado em delineamento em
solo, foram calculadas, com base nos resultados da blocos casualizados com quatro repetições, em
análise de solo e exigências nutricionais da cultura esquema fatorial 4x3 + 1. Sendo 4 doses totais de
(SOUSA; LOBATO, 2004). Aos 80 dias pré-semeadura magnésio (200, 400, 800 e 1600 g ha-1) divididas
(DPS), foi realizada a aplicação de 1 t ha-1 de gesso em três épocas de aplicações foliares (doses totais
agrícola e após 20 dias a calagem com 2 t ha-1 de divididas nos estádios V5, R3 e R5.1; V5 e R3 ou R3
calcário em área total, sem revolvimento do solo. e R5.1) e o tratamento adicional, sem aplicação do
30 dias antes da semeadura, foram aplicados 200 fertilizante (testemunha), totalizando 13 tratamentos
kg ha-1 de K2O (cloreto de potássio) e 2,00 kg ha-1 de (Figura 2). O fertilizante sulfato de magnésio (MgSO4
B (ulexita), à lanço. Um dia antes da semeadura, à – 11% SO4 + 9% Mg), foi utilizado como fonte do
lanço, foram aplicados 1,00 kg ha-1 de boro e cobre, nutriente.
2,00 kg ha-1 de zinco e manganês e 0,85 kg ha-1 de O plantio foi realizado no dia 07/10/2022
enxofre (25 kg ha-1 Mix Complexo® - 4% B, 4% Cu, 8% com a cultivar de soja SOYTECH 700 i2x, grupo
Zn, 8% Mn e 3,5% S). de maturação 7.0, com hábito de crescimento
Na ocasião da semeadura, via suco de plantio, indeterminado, e população final de 15 plantas m-1
foram aplicados 25 kg ha-1 de N e 150 kg ha-1 de P2O5 (300.000 plantas ha-1). Cada parcela foi composta
(fosfato monoamônico). Ainda no sulco de plantio por 12 linhas espaçadas em 0,50 m, contendo 10 m
com auxílio de jato dirigido, com volume de aplicação de comprimento (60 m2 por parcela). As avaliações
de 50 L ha-1, foram aplicados 1,00 L ha-1 do inoculante foram realizadas nas seis fileiras centrais, excluindo-
Cell Tech® contendo duas cepas de Bradyrhizobium se 0,50 m das extremidades (área útil de 27 m2).
japonicum (Semias 5079 e 5080, com 3x109 UFC/ As pulverizações foliares foram realizadas
mL); 0,10 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum® de acordo com o estádio da cultura, com as doses
(Azospirillum brasilienses, 3x108 UFC/mL); inseticida totais divididas em duas ou três aplicações. Para
biológico Meta-Turbo® na dose de 0,50 L ha-1 pulverização das unidades experimentais, utilizou-se
(Metarhizium anisopliae IBCB425 mínimo de 1,0x108 um pulverizador de parcelas pressurizado por CO2
propágulos viáveis/mL); fungicida biológico Trico- (Patente: BR102016007565-3) montado em trator.
turbo® 0,25 L ha-1 (Trichoderma asperellum BV10 O pulverizador possui barra de 5,0 metros com 10
mínimo de 1,0x1010 conídios viáveis/mL) e 0,40 L ha-1 bicos de pulverização espaçados em 0,5 m. Utilizou-
do nematicida Verango® Prime (i.a Fluopiram). se pontas modelo ADIA 015.D da marca Magnojet.
Os manejos de plantas daninhas, insetos praga A calibração do equipamento foi ajustada com
e doenças, foram realizados conforme o levantamento pressão de trabalho em 2,7 bar (39,1 PSI) e volume
das necessidades por meio de avaliações periódicas de aplicação de 150 L ha-1.
da área e as boas práticas agrícolas. Foram levados
em conta os preceitos do manejo integrado de pragas,
doenças e plantas daninhas (MIP, MID e MIPD) para
a tomada de decisão quanto ao método de controle
utilizado. Estes tratos culturais foram adotados em
toda a área experimental.

78 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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Figura 2. Descrição gráfica das épocas e doses de aplicação de Mg via foliar na cultura da soja
cultivada em área experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra
2022/23.

Cinco dias após a última aplicação dos Creste e Echer (2010), na qual estabelece como faixa de
tratamentos (estádio R5.1), foram coletadas 20 folhas equilíbrio, os valores entre (–(4σ)/3) e (+(4σ)/3) (σ: desvio
por parcela, sendo a terceira completamente expandida padrão), que para o banco de dados em questão, foram
a partir da haste principal, sem o pecíolo (MALAVOLTA considerado como adequados, os índices entre -17 e
E VITTI, 1997). As amostras de tecido vegetal foram 17. Os valores abaixo (negativos) ou acima (positivos)
analisadas conforme metodologia proposta por dessa faixa, são considerados em desequilíbrio por
Silva (2009), a partir das quais foram determinados deficiência ou excesso, respectivamente (Figura 3).
os teores de N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Fe, Mn e Zn. O A colheita foi realizada no dia 07/02/2023,
resultado médio dos teores foliares de nutrientes foram totalizando o ciclo de 124 dias (da semeadura à colheita).
interpretados conforme metodologia DRIS (Sistema Foram realizadas amostragens de produtividade com
Integrado de Diagnose e Recomendação), utilizando a coleta das plantas em dois pontos de 3 metros e
as normas estabelecidas por banco de dados DRIS 3 linhas (4,50 m²) por área útil de cada parcela. As
COMIGO – SOJA, elaborado na safra 2022/2023, para amostras foram secas, trilhadas, pesadas e aferidas a
as regiões do sudoeste goiano, com altitude superior umidade. A umidade das amostras foi corrigida para
a 700 m. 13%. Na data da colheita foram avaliados o número
Os índices DRIS foram calculados a partir da de nós reprodutivos na haste principal, número de
população de referência com produtividade superior ramos laterais e número total de vagens, de três plantas
à 80 sc ha . Foi utilizada metodologia proposta por
-1
coletadas aleatoriamente na área útil de cada unidade

Fisiologia e Nutrição de Plantas 79


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experimental.
Foram avaliadas as significâncias dos fatores
e suas interações, a partir da análise de variância
pelo teste F a 5% de probabilidade. Os resultados
significativos, quando de caráter quantitativo foram
submetidos à análise de regressão e quando qualitativo,
as médias foram comparadas a partir do teste Scott-
Knott a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados médios das análises foliares


foram interpretados pelo método DRIS em função do
banco de dados DRIS COMIGO – SOJA, elaborado na
safra 2022/23 (Figura 3). Os índices DRIS calculados,
indicam a deficiência, excesso e equilíbrio nutricional
da amostra, em função da população de referência de
alta produtividade (CARVAJAL et al., 2021). Quanto mais
próximo de zero estiver o índice dos nutrientes, maior o
potencial da planta apresentar produtividade igual ou
superior ao limite pré-estabelecido (PARENT; DAFIR,
2019).
As plantas que não receberam adubação foliar
contendo magnésio, apresentaram índices de potássio
em desbalanço negativo (-21) e cálcio com desequilíbrio
pelo excesso (19). Comportamento semelhante
também foi observado nas plantas que receberam as
doses totais de 400 g no manejo das doses em V5, R3 e
R5.1; 400 g e 1600 g em V5 e R3 (Figura 3). Destaca-se
que as plantas que tiveram as doses de Mg foliar de 800
g e 1600 g divididas em 3 aplicações em V5, R3 e R5.1 e
também para a dose de 400 g em V5 e R5.1, obtiveram
os índices DRIS dentro do nível adequado, indicando
equilíbrio entre os nutrientes (Figura 3) e alto potencial
produtivo.

80 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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Figura 3. Diagnose do estado nutricional pelo método DRIS, em função das épocas e doses de
aplicação de Mg via foliar na cultura da soja, cultivada em área experimental da Fazenda Monte
Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

A aplicação das doses de magnésio via foliar, resultados, com incremento médio de 5 vagens por
influenciou de forma significativa, o número de nós planta, em relação à testemunha (Tabela 1). Quanto à
reprodutivos na haste principal a produtividade de produtividade, os resultados demonstram que, quando
soja (Tabela 1). As épocas de aplicação das doses de o parcelamento das doses de Mg ocorreu em V5, R3
magnésio, avaliadas individualmente, apresentaram e R5.1 e em R3 e R5.1, foram atingidos os melhores
influência direta no número de nós reprodutivos índices produtivos, com incremento médio em torno
na haste principal, de modo que o as plantas com de 10,34 sc ha-1 relação à testemunha (Tabela 1). Os
parcelamento das doses de Mg nos estádios V5, dois parcelamentos, apresentaram em comum, as
R3 e R5.1, apresentaram 3 nós a mais, em relação à aplicações nos estádios R3 e R5.1, momentos esses de
testemunha (Tabela 1). maior demanda nutricional para a cultura, em função do
Para o número de vagens por planta, o início de formação das vagens e posterior enchimento
parcelamento da adubação nos estádios V5, R3 e R5.1 de grãos.
e em V3 e R3, foram os que alcançaram os melhores

Fisiologia e Nutrição de Plantas 81


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Tabela 1. Número de nós reprodutivos, número de ramos e número de vagens por planta e
produtividade de grãos (sc ha-1) de soja em função das épocas e doses de aplicação de Mg via
foliar na cultura da soja, cultivada em área experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO), Rio
Verde, Goiás, safra 2022/23.

Nós haste
Ramos laterais Vagens Produtividade
Tratamentos principal
(n° planta-1) (n° planta-1) (sc ha-1)
(n° planta-1)
Doses
Doses totais
totais de
de Mg (D)
MgSO4
0 g ha-1 0 kg ha-1 15 2,30 45 71,88
200 g ha -1
2,22 kg ha -1
17 2,44 47 80,70
400 g ha -1
4,44 kg ha -1
15 2,44 45 83,95
800 g ha -1
8,88 kg ha -1
18 2,44 50 82,00
1600 g ha -1
17,76 kg ha -1
15 2,55 48 78,70
p-valor - 0,002** 0,579 ns
0,269 ns
0,002**
Épocas de
aplicação (E)
sem aplicação - 15 b 2,30 45 b 71,88 c
V5, R3 e R5.1 - 18 a 2,58 50 a 82,35 a
V5 e R3 - 16 b 2,41 50 a 79,57 b
R3 e R5.1 - 16 b 2,33 44 b 82,10 a
p-valor - 0,001** 0,335 ns
0,017** 0,012**
Interação
(DxE)
p-valor - 0,000** 0,554ns 0,004** 0,022**
média - 16 2,41 47,40 80,61
C.V. (%) - 7,04 21,27 10,52 4,23
ns
e **, não significativo a 5% e significativo a 1% de probabilidade pelo teste F, respectivamente. Médias seguidas por mesma letra
na coluna e diferem entre si, pelo Teste de Scott-Knott (p-valor <0,05). C.V. (Coeficiente de Variação)

Após realizado os desdobramentos das ha-1 atingida com a aplicação de 1190 g de Mg ha-1, o
equações geradas a partir da análise de regressão, que demandaria a aplicação total de 13,22 kg de sulfato
estimou-se que a aplicação de 900 g de Mg ha via foliar, -1
de magnésio (9% de Mg2+), independente da época de
independentemente do parcelamento do fertilizante, é parcelamento da aplicação (Figura 4b).
a que acarreta no maior número de nós reprodutivos
na haste principal (17,43 nós/planta) (Figura 4a). A
máxima produtividade de grãos estimada é de 88,39 sc

82 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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a b

Figura 4. Número de nós reprodutivos por planta (a) e produtividade de grãos (sc ha-1) (b), em
função das e doses de aplicação de Mg via foliar na cultura da soja, cultivada em área experimental
da Fazenda Monte Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

Ao avaliar as interações entre as fontes tratamentos (Figura 5a). O número de vagens por planta
de variação (dose de Mg x época de aplicação), foi influenciado apenas quando a adubação foliar com
observou-se que as aplicações de Mg nos estádios magnésio ocorreu nos estádios V5, R3 e R.1, com as
V5, R3 e R5.1, bem como em V5 e R3, resultaram em doses de 200 e 800 g ha-1 de Mg, promovendo em
maiores alterações, sendo a dose de 800 g ha-1 de média incrementos em torno de 18% em relação à
Mg, aquela que nas duas situações, promoveu maior testemunha (+10 vagens/planta) (Figura 5b).
quantidade de nós reprodutivos em relação aos demais

Fisiologia e Nutrição de Plantas 83


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a

Médias seguidas por mesma letra a cima das barras, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p-valor <0,05).

Figura 5. Número de nós reprodutivos na haste principal (a), número de vagens por planta (b) e
produtividade de grãos (sc ha-1) (c), em função da interação entre as épocas e doses de aplicação
de magnésio via foliar na cultura da soja, cultivada em área experimental da Fazenda Monte Alegre
(COMIGO) em Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.

84 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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A produtividade da soja também foi Quando a luz é absorvida pela clorofila, ocorre a
estatisticamente influenciada em função da interação emissão dos elétrons do magnésio, o que desencadeia
entre as doses de magnésio e a época de aplicação. uma série de reações químicas na fotossíntese.
Verificou-se que a aplicação de Mg via foliar foi Essas reações levam à conversão de dióxido de
eficiente em proporcionar incremento produtivos, em carbono e água em açúcares e oxigênio. O oxigênio é
todos os casos, independentemente da época ou dose liberado como subproduto, enquanto os açúcares são
aplicada (Figura 4c). No entanto, quando as doses usados ​​como fonte de energia para o crescimento e
foram aplicadas divididas em três épocas, sendo uma desenvolvimento da planta.
no vegetativo (V5), e duas no reprodutivo (R3 e R5.1), O maior número de nós reprodutivos e vagens
observou-se que a melhor produtividade foi obtida com por planta, em função de doses mais elevadas
a dose de 800 g ha-1, com incrementos de 12,61 sc ha-1 de magnésio (800 g ha-1), tendo pelo menos uma
(15%) em relação à testemunha (Figura 5c). aplicação no estádio vegetativo (V5, R3 e R5.1 ou V5
Já, quando as aplicações ocorreram de forma e R3), observados no presente estudo, indicam que
parcelada entre os estádios V5 e R3 a dose de 400 g a maior parte da energia proveniente dos açúcares
ha-1, foi a que promoveu maior incremento produtivo, na fixados na fase vegetativa, foi convertido na produção
ordem de 13%, totalizando 11,48 sc ha-1 em relação ao das estruturas reprodutivas. De modo que, quando
tratamento sem adubação foliar (Figura 5c). Por fim, ao em menores doses (200 e 400 g ha-1), a aplicação de
observar os resultados referentes a divisão das doses magnésio ocorreu apenas na fase reprodutiva (R3 e
de Mg apenas no período reprodutivo (R3 e R5.1), R5.1), houve o aumento da capacidade fotossintética
verificou-se que a aplicação das doses totais de 200 e da planta, no período de maior exigência energética da
400 g ha-1 de magnésio, promoveram incremento médio cultura e favoreceu o enchimento de grãos.
de 15% na produção, totalizando ganhos de 13,67 sc
ha-1 em relação à testemunha (Figura 4). CONCLUSÕES
De forma semelhante Boldrin et al. (2023),
observaram incrementos produtivos na ordem de 14 sc A adubação foliar com até 1600 g ha-1 de
ha-1, com a aplicação de 5,5 kg de sulfato de magnésio magnésio, não causa desbalanços nutricionais
(500 g de Mg) via foliar, no estádio R5.1 da cultura detectadas pelo método DRIS na cultura da soja. No
da soja. Também com a mesma dose de sulfato de entanto é capaz de reordenar o equilíbrio nutricional
magnésio, em estudos desenvolvidos por Altarugio et quando diagnosticados excesso de cálcio e deficiência
al. (2017), foi observado um incremento de 7,56 sc ha-1, de potássio. A aplicação de magnésio, independente
quando as aplicações ocorreram em R5.1. da dose, traz melhores índices produtivos quando
Estudos indicam que o fornecimento de realizada nos estádios V5, R3 e R5.1 ou em R3 e R5.1. A
magnésio via foliar, promove, mesmo em solos adubação foliar contendo 900 g de Mg ha-1 acarretaria
com adequados teores do nutriente, incrementos os melhores resultados de produtividade, caso o
significativos no teor de clorofila, indicando sua função parcelamento das doses não fosse considerado.
nutrifisiológica às plantas. O magnésio é o átomo Com base nos resultados encontrados, em anos
central do anel de porfirina, que é a parte da molécula onde ocorreram veranicos nos estádios vegetativos de
de clorofila que interage diretamente com a luz solar. desenvolvimento da soja, recomenda-se a aplicação

Fisiologia e Nutrição de Plantas 85


CLUBE DE REVISTAS
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Fisiologia e Nutrição de Plantas 87


CLUBE DE REVISTAS

A ADUBAÇÃO FOLIAR COM


BIOESTIMULANTES É CAPAZ DE
INCREMENTAR A PRODUTIVIDADE
DE GRÃOS DE MILHO CULTIVADO
EM SEGUNDA SAFRA?

BUENO1, Amanda Magalhães; SARKIS2, Leonardo


Fernandes; LIMA3, Diego, Tolentino; FERNANDES4,
INTRODUÇÃO
Rafael Henrique; NASCIMENTO5, Hemython Luis
Bandeira do; O cultivo do milho em segunda safra, conhecida
como safrinha, desempenha papel importante para
1
Enga. Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora
Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do o Brasil ao ampliar a produção de grãos e fortalecer
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. a segurança alimentar e econômica do país. Essa
E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br; prática agrícola é especialmente relevante devido à sua
2
Eng. Agrônomo, MS. em Fertilidade do Solo,
Pesquisador Agronômico em Fertilidade do Solo e capacidade de utilizar as áreas agrícolas já manejadas na
Fertilizantes do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, safra de verão, maximizando o uso do solo (PERIN et al.,
GO, Brasil. E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br; 2009). A safrinha diversifica a produção agrícola, e reduz
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Entomologia do Centro Tecnológico a dependência exclusiva da safra principal de milho, com
COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: diegotolentino@ a possibilidade de uma janela adicional de cultivo capaz
comigo.com.br; de produzir oferta estável de grãos para a alimentação
4
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador
Agronômico em Fitopatologia do Centro Tecnológico humana e produção de ração animal (ALMEIDA JUNIOR
COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: rafaelhenrique@ et al., 2017).
comigo.com.br; Embora apresente várias vantagens, o principal
5
Eng. Agrônomo, Dr. Zootecnia, Pesquisador em
Forragicultura do Centro Tecnológico COMIGO, Rio gargalo do cultivo em segunda safra no sudoeste
Verde-GO, Brasil. E-mail: hemythonluis@comigo.com.br goiano, é a escassez de água principal fator limitante
para a produção de milho, uma vez que o período de
cultivo coincide com o início da estação seca na região
(PERIN et al., 2009). A falta de água compromete o
desenvolvimento adequado das plantas, afetando a
germinação, o crescimento, a formação e enchimento

88 Fisiologia e Nutrição de Plantas


CLUBE DE REVISTAS
dos grãos (BERGONCI et al., 2000). A redução da
MATERAL E MÉTODOS
disponibilidade hídrica pode resultar em estresse
hídrico nas plantas, levando a uma diminuição na
O experimento foi conduzido em área
produtividade, encurtamento do ciclo vegetativo e
experimental do Centro Tecnológico Comigo, no
acarretando reduções do tamanho e mal formações
município de Rio Verde, Goiás, nas coordenadas
das espigas (BERGAMASCHI et al., 2006).
geográficas de latitude - 17°45'58.83" e longitude
O uso de fertilizantes foliares com ativos
- 51° 2'5.56" e 841 m de altitude. O clima da região é
bioestimulantes no cultivo de milho safrinha, vem sendo
classificado como Aw (Savana Tropical), conforme
posicionado como ferramenta que visa aumentar a
classificação Köppen (ALVARES et al., 2013), com
resistência da cultura a períodos de déficit hídrico,
estação seca no inverno (maio a setembro) e chuvosa
bem como auxiliar no melhor aproveitamento e uso
no verão (outubro a abril). Ao longo do ciclo da cultura,
da água (SANTOS et al., 2020). Os bioestimulantes são
os índices de precipitação pluvial e temperatura, foram
produtos de origem mineral e/ou biológica que, quando
monitorados, por meio da estação agrometeorológica
aplicados em plantas, têm a capacidade de melhorar
Plugfield® modelo WS22, instalada nas proximidades
seu crescimento, desenvolvimento e resistência
da área experimental (Figura 1).
aos estresse ambientais (SOUZA et al., 2023). Esses
produtos são classificados como fertilizantes foliares, no
entanto, apresentam compostos além dos nutricionais,
que influenciam os processos fisiológicos, bioquímicos
e metabólicos das plantas, como aminoácidos, extratos
de algas, substâncias húmicas, enzimas, dentre outros
(EL BOUKHARI et al., 2020).
A aplicação de bioestimulantes pode resultar em
uma série de benefícios, como aumento da absorção
de nutrientes, melhor desenvolvimento radicular,
maior resistência a estresses abióticos, otimizando os
processos de transporte e distribuição hídrica dentro
das plantas. Ao fortalecer a resistência das plantas
ao estresse hídrico, possibilitam minimizar o efeito
negativo da falta de água na safrinha, aumentando o
potencial de produção e a utilização mais eficiente dos
recursos hídricos disponíveis.
Neste sentido, o objetivo desse estudo foi
avaliar o uso potencial de diferentes fertilizantes com
compostos bioestimulantes de aplicação foliar, e seus
efeitos em parâmetros biométricos e de produtividade
de milho, cultivado em segunda safra no sudoeste
goiano.

Fisiologia e Nutrição de Plantas 89


CLUBE DE REVISTAS

Figura 1. Precipitação pluvial, temperaturas máxima, média e mínima diária e acumulada ao longo
dos estádios vegetativos e reprodutivos do milho, cultivado em área experimental do Centro
Tecnológico Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23 – período de 09/03/2023 a 09/08/2023.

O solo da área experimental foi classificado camadas de 0-20 cm e 20-40 cm de profundidade, para
como LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico, de análise dos atributos químicos e granulometria do solo
textura argilosa (>35% de argila). Antes da instalação (Quadro 1).
dos experimentos, foram realizadas amostragens nas

90 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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Quadro 1. Análise química e granulométrica do solo antes da implantação do experimento com
uso fertilizantes foliares bioestimulantes na cultura do milho, em área experimental do Centro
Tecnológico Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23.

Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe

mg dm-3 --------- cmolc dm-3 -------- -------------------------- mg dm-3 -------------------------

10,42 0,29 3,35 0,87 4,84 0,46 7,79 0,79 86,05

0 a 20 cm Mn M.O.S Al H+Al pH Areia Silte Argila

mg dm-3 % cmolc dm-3 - ----------------------- % -----------------------

18,24 2,78 0,09 2,5 5,5 44,08 9,34 46,59

Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe

mg dm-3 ----------- cmolc dm-3 ---------- --------------------------- mg dm-3 ------------------------

7,49 0,14 3,12 0,87 2,29 0,41 4,34 0,58 25,3

0 a 40 cm Mn M.O.S Al H+Al pH Areia Silte Argila

mg dm-3 % cmolc dm-3 - ---------------------- % ------------------------

11,99 2,66 0,08 2,56 5,56 43,51 8,99 47,51

As necessidades de correção e adubação, e doenças, foram realizados conforme o levantamento


foram calculadas, com base nos resultados da análise das necessidades por meio de avaliações periódicas
de solo e exigências nutricionais da cultura (SOUSA; da área tendo como critério as boas práticas agrícolas.
LOBATO, 2004). Na ocasião do plantio, que ocorreu no Foram levados em conta os preceitos do manejo
dia 09/03/2023, foi realizada a adubação com 400 kg integrado de pragas, doenças e plantas daninhas
ha do fertilizante formulado 15-15-15 (60 kg ha de N,
-1 -1
(MIP, MID e MIPD) para a tomada de decisão quanto
P2O5 e K2O). Ainda no sulco de plantio com auxílio de ao método de controle utilizado. Estes tratos culturais
jato dirigido, com volume de 50 L ha , foram aplicados
-1
foram adotados em toda a área experimental.
0,15 L ha do inoculante Biomax Azum® (Azospirillum
-1
O estudo foi realizado em delineamento em
brasilienses, 3x10 UFC/mL); inseticida biológico Meta-
8
blocos casualizados com 12 tratamentos e quatro
Turbo® na dose de 0,5 L ha (Metarhizium anisopliae
-1
repetições. Os tratamentos foram compostos da
IBCB425 mínimo de 1x10 propágulos viáveis/mL) e
8
aplicação das doses comerciais de 11 fertilizantes
0,25 L ha do fertilizante RayNitro Zn News® (7% N;
-1
foliares bioestimulantes, sendo uma aplicação no
7% P2O5; 4% Zn). No dia 10/04/2023 foi realizada a estádio V5 e outra no início do pendoamento (VT) e o
adubação de cobertura com 150 kg ha de ureia turbo®
-1
tratamento testemunha (sem aplicação de fertilizantes
(67,5 kg ha de N) estabilizada com NPBT.
-1
foliares) (Quadro 1 e Figura 2).
Os manejos de plantas daninhas, insetos praga

Fisiologia e Nutrição de Plantas 91


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Quadro 2. Descrição dos tratamentos contendo os fertilizantes foliares bioestimulantes aplicados
na cultura do milho, cultivado em área experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC) Rio
Verde, Goiás, 2° safra 2022/23.

Dose
Tratamentos Garantias
L ou kg ha-1
1 Testemunha - -

2 Salus Magis® 10% N 0,25

3 Foltron Plus® 5% N; 19% P2O5; 5% K2O; 0,7% C.O.T. 1,00

Nutriplenus 5% N; 8% P2O5; 5% K2O; 1% Ca; Mg 1%; 0,4% B; 0,2% Cu; 0,5% Mn;
4 1,00
Completo® Zn 1,0%

5 Niphokam® 10% N; 8% P2O5; 8% K2O; 1% Ca; 1% Zn; 0,5 Mg; 0,5% B 1,00

6 Bioamino® Extra 4% N; 23% C.O.T. 0,75

7 Biozyme® 1% N; 5% K2O; 0,08% B; 0,4% Fe; 1% Mn; 1% S; 2% Zn; 3,5% C.O.T. 0,25

0,09% Cinetina; 0,05% ácido giberélico; 0,05% ácido 4-indol-3-


8 Stimulate® 0,50
ilbutírico

1% N; 3,1% S; 0,09% B; 0,06% Co; 1,3% Fe; 1% Cu; 1,1% Mn; 0,04%
9 Crop+® 0,50
Mo; 2,3% Zn; 6% C.O.T.

12% N; 3% K2O; 1 % Mg; 9,5 % S; 2%B; 0,1 % Cu; 6,5% Mn; 9,0% Zn;
10 Profol Exclusive® 1,50
0,1% Mo

11 Fertileader FIX® 5% Ca; 0,5% B; 0,1% Mo; 4% C.O.T. 0,50

12 Scudero® 2% P2O5; 6,9% Ca; 1,9% de Mg; 2,75% Si 1,00

92 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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Figura 2. Descrição gráfica das épocas de aplicação dos tratamentos contendo fertilizantes foliares
bioestimulantes, na cultura do milho, cultivado em área experimental do Centro Tecnológico
Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23.

O plantio foi realizado com o híbrido de milho Foram realizadas amostragens de produtividade com a
B2401 PWU (Brevant) de ciclo classificado como coleta das plantas em dois pontos de 3 metros e 3 linhas
superprecoce, e população final de 2,8 plantas m -1
(4,50 m²) por área útil de cada parcela. As amostras
(56.000 plantas ha ). Cada parcela foi composta por
-1
foram secas, trilhadas, pesadas e aferidas a umidade.
12 linhas espaçadas em 0,50 m, contendo 10 m de A umidade das amostras foi corrigida para 13%. Na
comprimento (60 m por parcela). As avaliações foram
2
data da colheita foram coletadas 3 espigas por parcela
realizadas nas seis fileiras centrais, excluindo-se 0,50 m e avaliados o número de fileiras de grãos por espiga,
das extremidades (área útil de 27 m ). As pulverizações
2
número de grãos por fileira, tamanho e diâmetro de
foliares foram realizadas de acordo com o estádio da espiga e porcentagem de espigas com falha de grãos
cultura. Para pulverização das unidades experimentais, na extremidade.
utilizou-se um pulverizador de parcelas pressurizado A análise estatística se deu por meio da análise
por CO2 (Patente: BR102016007565-3) montado em de variância pelo teste F a 5% de probabilidade, para
trator. O pulverizador possui barra de 5,0 metros com avaliação das significâncias dos resultados. Quando
10 bicos de pulverização espaçados em 0,5 m. Utilizou- significativos, os resultados de caráter qualitativo
se pontas modelo ADIA 015.D da marca Magnojet. A tiveram suas médias comparadas a partir do teste
calibração do equipamento foi ajustada com pressão Scott-Knott a 5% de probabilidade.
de trabalho em 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação
de 150 L ha-1. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A colheita foi realizada no dia 09/08/2023,
totalizando o ciclo de 153 dias (da semeadura à colheita). As aplicações foliares dos bioestimulantes,

Fisiologia e Nutrição de Plantas 93


CLUBE DE REVISTAS
não foram capazes de influenciar significativamente em função dos baixos teores desses nutrientes no solo,
as variáveis biométricas apresentadas na Tabela 1. mas podem ser induzidas pela falta de água no sistema
No geral, observou-se em todos os tratamentos, alta de cultivo (EPSTEIN; BLOOM, 2006). Isso ocorre, pois
porcentagem de falha de grãos na extremidade da a planta necessita de água na rizosfera para ocorra o
espiga, em torno de 15% do tamanho total das espigas, contato íon raiz, de modo que esses nutrientes possam
apresentava falhas de granação (Tabela 1 e Figura 3). ser absorvidos por fluxo de massa e também por
O déficit hídrico é uma das possíveis causas desse difusão, como é o caso do potássio (NEJAD et al., 2019;
sintoma, bem como as deficiências de nitrogênio, PRADO, 2021; RAIJ, 2011).
potássio e boro, que não necessariamente ocorrem

Tabela 1. Porcentagem de falhas de grãos, número de fileiras, número de grãos por fileira e
diâmetro de espiga, em função da aplicação de fertilizantes foliares bioestimulantes na cultura do
milho, em área experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2023.

Falha de grãos na Fileiras por Grãos por Diâmetro de


Tratamentos
espiga espiga fileira espiga

Produtos Comerciais (% espiga-1) (n° espiga-1) (n° espiga-1) (cm espiga-1)

1 Testemunha 19,28 16 29,66 50,54


2 Salus Magis® 17,93 16 28,66 50,79
3 Foltron plus® 13,34 16 30,41 50,49
4 Nutriplenus Completo® 15,95 16 31,08 49,98
5 Niphokam® 17,27 16 29,91 50,74
6 Bioamino® Extra 13,99 16 31,85 51,62
7 Biozyme® 13,96 16 30,00 49,53
8 Stimulate® 14,33 16 31,25 50,42
9 Crop+® 16,08 16 32,33 51,17
10 Profol Exclusive® 14,33 16 30,24 50,71
11 Fertileader FIX® 13,23 16 30,66 50,46
12 Scudero® 17,65 16 30,83 50,90

p-valor 0,306ns 0,723ns 0,855ns 0,909ns

média 15,69 16,42 30,57 50,61


C.V. (%) 22,98 5,62 8,76 3,08

94 Fisiologia e Nutrição de Plantas


. CLUBE DE REVISTAS

Figura 3. Níveis de falhas de grãos na extremidade da espiga em experimentos conduzidos no


Centro Tecnológico Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23. Fonte: Amanda M. Bueno

As espigas avaliadas no experimento, de ganho, em torno de 17,98 sc ha-1 de incremento,


apresentaram número médio de 16,42 fileiras, 30,57 alcançando percentual 21% superior à não aplicação
grãos por fileira e diâmetro de 50,61 cm, esses dos produtos foliares. A aplicação dos tratamentos 3 e
caracteres, não foram influenciados pela aplicação 4, não promoveram incrementos produtivos (Figura 4b).
foliar dos diferentes bioestimulantes (Tabela 1). A baixa produtividade de grãos observada nesse
No entanto, a aplicação dos fertilizantes foliares estudo, bem como altos incrementos produtivos obtidos
influenciou significativamente o tamanho de espigas e com o uso da maioria dos fertilizantes foliares, foram
produtividade final de grãos (Figura 4). intensificados em função das condições climáticas
As aplicações dos tratamentos 8 e 9, nos adversas as quais a cultura foi submetida. Na Figura 1, é
estádios vegetativos do milho, acarretaram em espigas possível observar que no período reprodutivo, ocorreu
maiores em relação aos demais tratamentos, sendo precipitação pluvial de apenas 35 mm. Os estádios que
em média 6% maiores do que aquelas provenientes compreendem a fase reprodutiva da cultura do milho,
de plantas que não receberam adubação foliar (Figura são as mais sensíveis em relação ao déficit hídrico.
4a). Já em relação à produtividade, as aplicações Estima-se que do início do pendoamento (VT), período
dos bioestimulantes que compõe os tratamentos 2 que antecede ao florescimento, até a maturidade
e 10, apresentaram produtividade em torno de 8% fisiológica (R6), a demanda de água da cultura seja de
superiores à testemunha, com incremento médio de 8 mm/dia (CIAMPITTI et al., 2016). Com base no ciclo
5,57 sc ha-1. As aplicações dos tratamentos 5, 6, 7, 8, 11 do híbrido estudado, estima-se que para que ocorresse
e 12 acarretaram em incremento médio de 11,64 sc ha- seu máximo potencial produtivo, seriam necessários
, produtividade cerca de 15% superior à testemunha.
1
em torno de 400 mm no período em questão.
O tratamento 9, foi o que apresentou maior percentual

Fisiologia e Nutrição de Plantas 95


CLUBE DE REVISTAS
a

MédiasMédias seguidas
seguidas por mesma
por mesma letra aletra
cimaacima das barras,
das barras, não não diferem
diferem entre
entre si pelo
si pelo teste
teste de Scott-Knot
de Scot (p-valor
-Knot ( p-valor <0,05).
<0,05).

Figura 4. Tamanho de espiga (cm) (a) e produtividade e grãos (sc ha-1) (b) em função da aplicação
de fertilizantes foliares na cultura do milho, cultivado em área experimental do Centro Tecnológico
Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2023.

De acordo com SOUZA et al. (2023), os efeitos plantas, como manutenção da fototossíntese e redução
benéficos da utilização de bioestimulantes nas do gasto energético pelo fornecimento de compostos
principais culturas agrícolas do Brasil estão associados à orgânicos como aminoácidos. Além disto, também,
presença condições de estresses como o déficit hídrico promovem o equilíbrio hormonal das plantas,
e variações térmicas extremas, semeadura realizada favorecendo a expressão do seu potencial genético
fora da janela adequada, entre outros. Os efeitos (FERREIRA et al., 2007).
benéficos observados pelo uso dos bioestimulantes,
podem ser associados à suas funções fisiológicas à

96 Fisiologia e Nutrição de Plantas


CLUBE DE REVISTAS
FRANÇA, S.; SANTOS, A. O.; RADIN, B.; BIANCHI, C. A.
CONCLUSÕES
M.; PEREIRA, P. G. Deficit hídrico e produtividade na
cultura do milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
A estratégia de nutrição foliar com
vol. 41, no. 2, p. 243–249, 2006. https://doi.org/10.1590/
bioestimulantes organominerais se mostra eficiente na
s0100-204x2006000200008.
atenuação de estresses causados pelo déficit hídrico
BERGONCI, J. I.; BERGAMASCHI, H.; BERLATO,
no cultivo de milho semeado fora da janela adequada
M. A.; SANTOS, A. O. Potencial da água na folha
no sudoeste goiano. Nove dos onze fertilizantes foliares
como um indicador de déficit hídrico em milho.
avaliados, apresentaram significativos incrementos
Pesquisa Agropecuária Brasileira, vol. 35, no. 8,
produtivos em relação ao tratamento em que não
p. 1531–1540, 2000. https://doi.org/10.1590/s0100-
ocorreram adubações foliares. No entanto, vale
204x2000000800005.
ressaltar que o plantio de milho fora da janela técnica
CIAMPITTI, I. A.; ELMORE, R. W.; LAUER, J.
adequada não é recomendado e que a metodologia
Fases de Desenvolvimento da Cultura do Milho V1. no.
adotada no presente estudo, foi utilizada a fim de
October, p. 3305, 2016.
observar a performance dos bioestimulantes em
EL BOUKHARI, M. E. M.; BARAKATE, M.; BOUHIA,
condições adversas.
Y.; LYAMLOULI, K. Trends in Seaweed Extract Based
Biostimulants: Manufacturing Process and. Plants, , p.
AGRADECIMENTOS
23, 2020.
EPSTEIN, EMANUEL BLOOM, A. J. Mineral
À equipe de campo e estagiários do Centro
plant nutrition. 3rd ed. Amsterdan: Elsevier, 2006.
Tecnológico COMIGO, indispensáveis para a condução
FERREIRA, L. A.; OLIVEIRA, J. A.; VON PINHO,
deste trabalho.
É. V. D. R.; DE QUEIROZ, D. L. Bioestimulante e
fertilizante associados ao tratamento de sementes
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de milho. Revista Brasileira de Sementes, vol. 29,
no. 2, p. 80–89, 2007. https://doi.org/10.1590/S0101-
ALMEIDA JUNIOR, J. J.; MATOS, F. S. A.;
31222007000200011.
SMILJANIC, K. B. A.; FURQUIM, M. C.; SOUZA, I. A.;
NEJAD, GHAFFARI ALI SEYED ETESAMI,
JUSTINO, P. R. V. Plantio de milho em diferentes épocas
H. The Importance of Boron in Plant Nutrition.
visando características biométrica da espiga no
vol. 20, no. September, p. 16, 2019. https://doi.
sudoeste goiano. II Colóquito Estadual de Pesquisa
org/10.1002/9781119487210.ch20.
Multidisciplinar, Mineiros, , p. 10, 2017.
PERIN, A.; GUARESCHI, R. F.; SILVA JUNIOR,
ALVARES, C. A.; STAPE, J. L.; SENTELHAS, P. C.;
HILTON ROSA, S.; SILVA, A.; AZEVEDO, W. R.
DE MORAES GONÇALVES, J. L.; SPAROVEK, G. Köppen’s
Produtividade de híbridos de milho na safrinha em
climate classification map for Brazil. Meteorologische
Goiás Productivity of maize hybrids winter of Goiás
Zeitschrift, vol. 22, no. 6, p. 711–728, 2013. https://doi.
state. no. June 2007, p. 19–28, 2009.
org/10.1127/0941-2948/2013/0507.
PRADO, R. de M. Mineral nutrition of tropical
BERGAMASCHI, H.; DALMAGO, G. A.;
plants. Berna: Springer Nature, 2021.
COMIRAN, F.; BERGONCI, J. I.; MÜLLER, A. G.;
RAIJ, B. Van. Fertilidade do Solo. Piracicaba:

Fisiologia e Nutrição de Plantas 97


CLUBE DE REVISTAS
International Plant Nutrition Institute, 2011.
SANTOS, L. T. S.; VESPUCCI, I. L.; NUNES, M. P.
C. Aplicação adicional de bioestimulantes em estádio
reprodutivo de feijão comum (Phaseolus vulgaris l.)
com intuito de acréscimo na produtividade. Pubvet, vol.
14, no. 3, p. 1–7, 2020. https://doi.org/10.31533/pubvet.
v14n3a533.1-7.
SOUSA, D. M. G.; LOBATO, E. Cerrado: correção
do solo e adubação. 2nd ed. Brasília: Embrapa
Informações Tecnológicas, 2004.
SOUZA, L. P. de; FRANCO JÚNIOR, K. S.; RIBEIRO,
V. M.; BRIGANTE, G. P. Bioestimulante Ascophyllum
nodosum na cultura do milho Biostimulant Ascophyllum
nodosum in corn crop Bioestimulante Ascophyllum
nodosum en la cosecha de maíz. Research, Society
and Development, vol. 2023, p. 1–7, 2023.

98 Fisiologia e Nutrição de Plantas


CLUBE DE REVISTAS

A ADUBAÇÃO FOLIAR COM


BIOESTIMULANTES É CAPAZ DE
INCREMENTAR A PRODUTIVIDADE
DE GRÃOS DE SORGO, CULTIVADO
EM SEGUNDA SAFRA NO
SUDOESTE GOIANO?

BUENO1, Amanda Magalhães; FERNANDES2,


Rafael Henrique; LIMA3, Diego, Tolentino3;
INTRODUÇÃO
SARKIS4, Leonardo Fernandes; BRAZ5, Guilherme
Braga Pereira O sorgo granífero (Sorghum bicolor (L.) Moench)
vem se tornando cultura destaque a nível mundial, tanto
1
Eng . Agrônoma, Dr . em Agronomia, Pesquisadora
a a devido à sua ampla gama de aplicações bem como
Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do à sua adaptabilidade frente a diferentes condições
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil.
edafoclimáticas. Sua capacidade de resistência a
E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br;
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador condições ambientais adversas, tornou seu cultivo
Agronômico em Fitopatologia do Centro viável para regiões onde fatores climáticos, como a
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
escassez de água, desempenham papel limitante na
rafaelhenrique@comigo.com.br;
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador produção de grãos (JULIO et al., 2022). Outro aspecto
Agronômico em Entomologia do Centro favorável para a expansão da cultura do sorgo a nível
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
Brasil está relacionado à oportunidade de realizar a
diegotolentino@comigo.com.br;
4
Eng. Agrônomo, MS. em Fertilidade do Solo, safra de sucessão, também conhecida como segunda
Pesquisador Agronômico em Fertilidade do Solo e safra ou safrinha. Durante esse período, as condições
Fertilizantes do Centro Tecnológico COMIGO. Rio
de cultivo tornam-se desafiadoras devido à incerteza
Verde, GO, Brasil. E-mail: leonardofernandes@
comigo.com.br; na frequência das chuvas, muitas vezes insuficientes
5
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador para garantir uma produção satisfatória (FERREIRA et
Agronômico em Plantas Daninhas do Centro
al., 2019).
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
guilhermebraga@comigo.com.br. Em regiões do estado de Goiás, como o sudoeste
goiano, a janela técnica de cultivo em segunda safra,
muitas vezes torna arriscado o plantio de culturas
tradicionais, como o milho (PERIN et al., 2009). Dessa

Fisiologia e Nutrição de Plantas 99


CLUBE DE REVISTAS
forma o sorgo se destaca como alternativa viável et al., 2007; SANTOS et al., 2020). A incorporação
devido ao seu curto ciclo, sua capacidade de se dos bioestimulantes foliares nas práticas de cultivo
adaptar a diferentes tipos de solo, aliado ao alto do sorgo tem o potencial de melhorar a eficiência
potencial produtivo. Essas características contribuem do uso de recursos e, consequentemente, aumentar
para a diversificação das opções de cultivo na região, a produtividade da cultura (FERREIRA et al., 2019;
mitigando os riscos associados à agricultura em PEREIRA ARAÚJO et al., 2020).
segunda safra (MENEZES, 2021). O boletim da Neste sentido, o objetivo desse estudo foi
safra de grãos 2022/23 emitido pela CONAB (2023), avaliar o uso potencial de diferentes fertilizantes
demostra a importância da cultura para o estado. Até com compostos bioestimulantes de aplicação foliar,
junho de 2023 a área plantada com sorgo em Goiás e seus efeitos em parâmetros biométricos e de
era de 384,7 mil hectares com produção estimada produtividade de sorgo, cultivado em segunda safra
de 1.341,4 mil toneladas na segunda safra (CONAB, no sudoeste goiano.
2023).
Estudos vem sendo amplamente MATERAL E MÉTODOS
desenvolvidos, a fim de otimizar ainda mais a O experimento foi conduzido em área
produtividade do sorgo, e novas ferramentas como experimental do Centro Tecnológico Comigo, no
o uso de fertilizantes bioestimulantes foliares vem município de Rio Verde, Goiás, nas coordenadas
ganhando destaque. Esses produtos são compostos geográficas de latitude - 17°46'0.33" e longitude -
de aminoácidos, nutrientes, hormônios, dentre outros, 51°2'5.09" e 843 m de altitude. O clima da região é
que tem por objetivo aumentar o crescimento e o classificado como Aw (Savana Tropical), conforme
desenvolvimento das plantas, estimulando processos classificação Köppen (ALVARES et al., 2013),
fisiológicos que aumentam a absorção de nutrientes com estação seca no inverno (maio a setembro)
e a resistência a estresses ambientais (BRIGLIA et e chuvosa no verão (outubro a abril). Ao longo do
al., 2019). Os efeitos dos bioestimulantes têm sido ciclo da cultura, os índices de precipitação pluvial
objeto de estudo em diversas culturas, entretanto, e temperatura, foram monitorados, por meio da
ainda não existe um consenso consolidado sobre sua estação agrometeorológica Plugfield® modelo WS22,
efetividade, especialmente em cultivos que não estão instalada nas proximidades da área experimental
sujeitos a condições de estresse abiótico (FERREIRA (Figura 1).

100 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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Figura 1. Precipitação pluvial, temperaturas máxima, média e mínima diária e acumulada ao longo
dos estádios vegetativos e reprodutivos do sorgo, cultivado em área experimental do Centro
Tecnológico Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23 – período de 09/03/2023 a 24/07/2023.

O solo da área experimental foi classificado camadas de 0-20 cm e 20-40 cm de profundidade, para
como LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico, de análise dos atributos químicos e granulometria do solo
textura argilosa (>35% de argila). Antes da instalação (Quadro 1).
dos experimentos, foram realizadas amostragens nas

Fisiologia e Nutrição de Plantas 101


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Quadro 1. Análise química e granulométrica do solo antes da implantação do experimento com
aplicação de fertilizantes foliares bioestimulantes na cultura do sorgo, em área experimental do
Centro Tecnológico Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23.

Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe

mg dm-3 --------- cmolc dm-3 -------- --------------------------- mg dm-3 ----------------------

10,42 0,29 3,35 0,87 4,84 0,46 7,79 0,79 86,05

0 a 20 cm Mn M.O.S Al H+Al pH Areia Silte Argila

mg dm-3 % ---- cmolc dm-3 ---- - --------------------- % -------------------------

18,24 2,78 0,09 2,5 5,5 44,08 9,34 46,59

Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe

mg dm-3 --------- cmolc dm-3 -------- --------------------------- mg dm-3 ------------------------

7,49 0,14 3,12 0,87 2,29 0,41 4,34 0,58 25,3

0 a 40 cm Mn M.O.S Al H+Al pH Areia Silte Argila

mg dm-3 % ---- cmolc dm-3 ---- - ---------------------- % ------------------------

11,99 2,66 0,08 2,56 5,56 43,51 8,99 47,51

As necessidades de correção e adubação, Os manejos de plantas daninhas, insetos praga


foram calculadas, com base nos resultados da análise e doenças, foram realizados conforme o levantamento
de solo e exigências nutricionais da cultura (SOUSA; das necessidades por meio de avaliações periódicas
LOBATO, 2004). Na ocasião do plantio, que ocorreu no da área tendo como critério as boas práticas agrícolas.
dia 09/03/2023, foi realizada a adubação com 400 kg Foram levados em conta os preceitos do manejo
ha do fertilizante formulado 15-15-15 (60 kg ha de
-1 -1
integrado de pragas, doenças e plantas daninhas
N, P2O5 e K2O). Ainda no sulco de plantio com auxílio (MIP, MID e MIPD) para a tomada de decisão quanto
de jato dirigido, com volume de aplicação de 50 L ha -
ao método de controle utilizado. Estes tratos culturais
1
, foram aplicados 0,15 L ha do inoculante Biomax
-1
foram adotados em toda a área experimental.
Azum® (Azospirillum brasilienses, 3x10 8
UFC/mL); O estudo foi realizado em delineamento em
inseticida biológico Meta-Turbo® na dose de 0,5 L ha -1
blocos casualizados com 12 tratamentos e quatro
(Metarhizium anisopliae IBCB425 mínimo de 1x10 8
repetições. Os tratamentos foram compostos de
propágulos viáveis/mL) e 0,25 L ha -1
do fertilizante aplicações das doses comerciais de 11 fertilizantes
RayNitro Zn News® (7% N; 7% P2O5; 4% Zn). No dia foliares bioestimulantes, sendo uma aplicação no
10/04/2023 foi realizada a adubação de cobertura estádio 2 e outra no emborrachamento (estádio 5) e o
com 150 kg ha de ureia turbo® (67,5 kg ha de N)
-1 -1
tratamento testemunha (sem aplicação de fertilizantes
estabilizada com NPBT. foliares) (Quadro 2 e Figura 2).

102 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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Quadro 2. Descrição dos tratamentos contendo os fertilizantes foliares bioestimulantes aplicados
na cultura do sorgo, cultivado em área experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC) Rio
Verde, Goiás, 2° safra 2022/23.

Dose
Tratamentos Garantias
L ou kg ha-1

1 Testemunha - -

2 Salus Magis® 10% N 0,25

3 Foltron Plus® 5% N; 19% P2O5; 5% K2O; 0,7% C.O.T. 1,00

Nutriplenus 5% N; 8% P2O5; 5% K2O; 1% Ca; Mg 1%; 0,4% B; 0,2% Cu; 0,5%


4 1,00
Completo® Mn; Zn 1,0%

5 Niphokam® 10% N; 8% P2O5; 8% K2O; 1% Ca; 1% Zn; 0,5 Mg; 0,5% B 1,00

6 Bioamino® Extra 4% N; 23% C.O.T. 0,75

1% N; 5% K2O; 0,08% B; 0,4% Fe; 1% Mn; 1% S; 2% Zn; 3,5%


7 Biozyme® 0,25
C.O.T.

0,09% Cinetina; 0,05% ácido giberélico; 0,05% ácido 4-indol-3-


8 Stimulate® 0,50
ilbutírico

1% N; 3,1% S; 0,09% B; 0,06% Co; 1,3% Fe; 1% Cu; 1,1% Mn;


9 Crop+® 0,50
0,04% Mo; 2,3% Zn; 6% C.O.T.

12% N; 3% K2O; 1 % Mg; 9,5 % S; 2%B; 0,1 % Cu; 6,5% Mn;


10 Profol Exclusive® 1,50
9,0% Zn; 0,1% Mo

11 Fertileader FIX® 5% Ca; 0,5% B; 0,1% Mo; 4% C.O.T. 0,50

12 Scudero® 2% P2O5; 6,9% Ca; 1,9% de Mg; 2,75% Si 1,00

Fisiologia e Nutrição de Plantas 103


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Figura 2. Descrição gráfica das épocas de aplicação dos tratamentos contendo fertilizantes foliares
bioestimulantes, na cultura do sorgo, cultivado em área experimental do Centro Tecnológico
Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23.

O plantio foi realizado com o híbrido de sorgo Foram realizadas amostragens de produtividade com a
AG1070 (Bayer) de ciclo classificado como precoce, e coleta das plantas em dois pontos de 3 metros e 3 linhas
população final de 10,5 plantas m (210.000 plantas ha
-1 -
(4,50 m²) por área útil de cada parcela. As amostras
). Cada parcela foi composta por 12 linhas espaçadas
1
foram secas, trilhadas, pesadas e aferidas a umidade. A
em 0,50 m, contendo 10 m de comprimento (60 m 2
umidade das amostras foi corrigida para 13%. Na data
por parcela). As avaliações foram realizadas nas seis da colheita foram coletadas 3 panículas por parcela e
fileiras centrais, excluindo-se 0,50 m das extremidades foram avaliados o tamanho, largura e peso de panícula.
(área útil de 27 m ). As pulverizações foliares foram
2
A análise estatística se deu por meio da análise
realizadas de acordo com o estádio da cultura. Para de variância pelo teste F a 5% de probabilidade, para
pulverização das unidades experimentais, utilizou- avaliação das significâncias dos resultados. Quando
se um pulverizador de parcelas pressurizado por CO2 significativos, os resultados de caráter qualitativo
(Patente: BR102016007565-3) montado em trator. O tiveram suas médias comparadas a partir do teste
pulverizador possui barra de 5,0 metros com 10 bicos Scott-Knott a 5% de probabilidade.
de pulverização espaçados em 0,5 m. Utilizou-se pontas
modelo ADIA 015.D da marca Magnojet. A calibração RESULTADOS E DISCUSSÃO
do equipamento foi ajustada com pressão de trabalho
em 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação de 150 L As aplicações foliares dos bioestimulantes,
ha .-1
não foram capazes de influenciar significativamente
A colheita foi realizada no dia 24/07/2023, as variáveis biométricas apresentadas na Tabela 1. As
totalizando o ciclo de 140 dias (da semeadura à colheita). panículas de sorgo apresentaram em média, 28,54 cm

104 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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de altura, 58,77 cm de largura e 126,6 gramas. Embora aplicações dos fertilizantes foliares, foi possível observar
esses atributos não tenham sido influenciados pelas incrementos na produtividade de grãos (Figura 3).

Tabela 1. Tamanho, largura e peso de panícula em função da aplicação de fertilizantes foliares


bioestimulantes na cultura do milho, em área experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC)
Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23.

Tamanho da
Tratamentos Largura da panícula Peso da panícula
panícula

Produtos Comerciais (cm) (cm) (g planta-1)

1 Testemunha 27,26 63,27 141,66

2 Salus Magis® 26,70 53,02 124,75

3 Foltron Plus® 27,58 56,18 121,58

4 Nutriplenus Completo® 27,54 56,71 130,00

5 Niphokam® 27,87 58,04 129,16

6 Bioamino® Extra 26,54 58,93 113,00

7 Biozyme® 44,75 65,33 142,00

8 Stimulate® 26,58 55,03 125,83

9 Crop+® 26,45 58,08 125,75

10 Profol Exclusive® 26,91 57,46 109,00

11 Fertileader FIX® 27,54 61,28 129,58

12 Scudero® 27,12 61,89 124,00

p-valor 0,371ns 0,615ns 0,373ns

média 28,54 58,77 126,36

C.V. (%) 33,71 13,36 14,38

A aplicação dos fertilizantes foliares na cultura em relação à não adubação foliar. Em seus estudos,
do sorgo se mostrou efetiva em promover incrementos FERREIRA et al. (2019), observaram incremento de
produtivos quando aplicados os tratamentos 3, 4, 5, 7, 10 produtividade, na cultura do sorgo, em torno de 12%,
e 11, que em média produziram 5,4% mais em relação que representou em torno de 25,66 sc ha-1, com a
a testemunha, totalizando 5,39 sc ha-1. Os demais aplicação de bioestimulantes foliares, associados à
produtos, não promoveram incrementos significativos adubação com nitrogênio via solo.

Fisiologia e Nutrição de Plantas 105


CLUBE DE REVISTAS

Médias
Médias seguidas
seguidas porpor mesma
mesma letra
letra acimadas
a cima dasbarras,
barras,não
nãodiferem
diferementre
entresisipelo
peloteste
teste de
de Scot
Scot-Knot
-Knot (p-valor<0,05).
( p-valor <0,05).

Figura 3. Produtividade e grãos (sc ha-1) em função da aplicação de fertilizantes foliares na cultura
do sorgo, cultivado em área experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás,
2° safra 2022/23.

Os resultados relacionados ao incremento cultura do sorgo, apresenta potencial incremento na


de produtividade na cultura do sorgo, neste estudo, produtividade de grãos, porém em menor escala ao se
não foram tão expressivos quanto aos encontrados comparar os efeitos obtidos pela cultura do milho. Isso
para a cultura do milho. Ao observar as garantias dos se deve a resistência da cultura frente ao déficit hídrico.
produtos que surtiram maiores resultados, é possível
concluir que eles apresentam maior apelo nutricional, AGRADECIMENTOS
com macronutrientes e micronutrientes contidos em
maiores quantidades. Esses resultados evidenciam, À equipe de campo e estagiários do Centro
assim como ressaltado por Pereira Araújo et al. Tecnológico COMIGO, indispensáveis para a condução
(2020), que a intensidade dos resultados obtidos está deste trabalho.
diretamente ligada ao potencial genético da cultura.
Esses resultados corroboram a notória eficiência REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
do uso da água pela cultura do sorgo, que mesmo
passando por períodos de déficit hídrico durante os ALVARES, C. A.; STAPE, J. L.; SENTELHAS, P. C.;
seus estádios reprodutivos (precipitação acumulada de DE MORAES GONÇALVES, J. L.; SPAROVEK, G. Köppen’s
35 mm – Figura 1), obteve alto teto produtivo, mesmo climate classification map for Brazil. Meteorologische
sem a aplicação dos fertilizantes foliares. Zeitschrift, vol. 22, no. 6, p. 711–728, 2013. https://doi.
org/10.1127/0941-2948/2013/0507.
CONCLUSÕES BESERRA DE MENEZES, C. Melhoramento
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106 Fisiologia e Nutrição de Plantas


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BRIGLIA, N.; PETROZZA, A.; HOEBERICHTS, F. SANTOS, L. T. S.; VESPUCCI, I. L.; NUNES, M. P.
A.; VERHOEF, N.; POVERO, G. Investigating the impact C. Aplicação adicional de bioestimulantes em estádio
of biostimulants on the row crops corn and soybean reprodutivo de feijão comum (Phaseolus vulgaris l.)
using high-efficiency phenotyping and next generation com intuito de acréscimo na produtividade. Pubvet, vol.
sequencing. Agronomy, vol. 9, no. 11, p. 1–15, 2019. 14, no. 3, p. 1–7, 2020. https://doi.org/10.31533/pubvet.
https://doi.org/10.3390/agronomy9110761. v14n3a533.1-7.
CONAB, C. N. de A. Grãos: Safra 2022/23. SOUSA, D. M. G.; LOBATO, E. Cerrado: correção
Acompanhamento da Safra Brasileira, vol. 10, no. 9, do solo e adubação. 2nd ed. Brasília: Embrapa
p. 117, 2023. Informações Tecnológicas, 2004.
FERREIRA, L. A.; OLIVEIRA, J. A.; VON PINHO,
É. V. D. R.; DE QUEIROZ, D. L. Bioestimulante e
fertilizante associados ao tratamento de sementes
de milho. Revista Brasileira de Sementes, vol. 29,
no. 2, p. 80–89, 2007. https://doi.org/10.1590/S0101-
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FERREIRA, L. L.; SOUZA, B. R. de; PEREIRA, A.
I. A.; CURVÊLO, C. R. D. S.; FERNANDES, C. D. S.; DIAS,
N. D. S.; NASCIMENTO, E. K. Á. do. Bioestimulante E
Nitrogênio De Liberação Gradual No Desempenho
Do Sorgo. Nativa, vol. 7, no. 4, p. 330, 2019. https://doi.
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JULIO, M.; GUIMARÃES, M.; LIMA, W.; RAFAELE,
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PEREIRA ARAÚJO, G.; CARDOSO BATISTA, P. S.;
DE SOUZA CANGUSSÚ, L. V.; DE SOUZA CANGUSSÚ,
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Fisiologia e Nutrição de Plantas 107


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Fitopatologia
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O CONTROLE DE DOENÇAS
COMEÇA CEDO: FUNGICIDAS EM
FASE VEGETATIVA DA SOJA

FERNANDES1, Rafael Henrique; LIMA2, Diego território brasileiro (GODOY et al., 2016; YORINORI et al.,
Tolentino de; BRAZ3, Guilherme Braga Pereira; 2005; SINCLAIR E HARTMAN, 1999). As diversidades
SILVA4, Lincoln Lima; DELGADO5, Vanderson edáficas e as condições climáticas de cada safra, são
Aparecido Diego
fatores preponderantes para as diferentes severidades
e importância econômica de cada doença (EMBRAPA
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador
2010). Estes patógenos podem causar problemas em
Agronômico em Fitopatologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: todos os tecidos da planta, contudo, as doenças foliares
rafaelhenrique@comigo.com.br são as mais comuns, com frequência e intensidade
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
bastante variáveis ao longo das regiões produtoras
Agronômico em Entomologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: (JULIATTI et al., 2004).
diegotolentino@comigo.com.br Na região Centro-Oeste, doenças como a
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
mancha-alvo (Corynespora cassiicola), antracnose
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas-
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, (Colletotrichum truncatum), mancha olho de rã
GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br (Cercospora sojina), septoriose (Septoria glycines) e
4
Graduando em Agronomia pelo Instituto Federal
crestamento foliar de cercóspora (Cercospora kikuchii)
Goiano, Campus de Rio Verde. Rio Verde, GO, Brasil.
E-mail: linconl96lima@gmail.com estão amplamente disseminadas nas regiões produtoras
5
Graduando em Agronomia pela Universidade de da oleaginosa. Estes patógenos têm capacidade de
Rio Verde – UniRV. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
sobreviverem em restos de cultivo durante a entressafra e
vandersomdelgado@hotmail.com
quando encontram hospedeiros suscetíveis e condições
ambientais favoráveis, infectam novamente as lavouras e
podem causar prejuízos acima de 30% (JULIATTI et al.,
INTRODUÇÃO
2004; KLINGELFUSS e YORINORI, 2001; GODOY et al.,
2016).
Já foram descritos mais de 100 patógenos
A soja está sujeita à infecção destes patógenos
causando alguma injúria na cultura da soja (Glycine
em qualquer estádio fenológico, na verdade podem
max (L.) Merril) em todo o mundo, sendo que cerca
ocorrer desde a semente até a colheita. Muitas vezes
de 40 destes (fungos, bactérias, vírus e nematoides)
a penetração e colonização de tecidos ocorrem
já foram identificados causando doenças em
prematuramente na planta, mas nem sempre acontece a

Fitopatologia 109
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manifestação dos sintomas característicos das doenças vegetativos (FERNANDES et al., 2020; ANDRADE,
logo em seguida. Este intervalo entre a infecção e 2019; GUIMARÃES, 2008). Contudo, cada vez mais esta
aparecimento dos sintomas é o chamado período de prática tem ganhado espaço, pois além dos benefícios
latência, que pode variar de acordo com o patógeno e diretos sobre a produtividade, é necessário refletir
condições climáticas. sobre a produção e sobrevivência de inóculos para os
A utilização de materiais com resistência às cultivos subsequentes.
doenças foliares tem sido a principal ferramenta A diversidade dos sistemas produtivos e de
adotada, pois não altera as demais atividades de manejo cultivares disponíveis, somado ao número elevado
da cultura é de fácil execução. No entanto, na maioria de fungicidas disponíveis no mercado, muitas das
das vezes, as doenças acontecem de forma simultânea vezes tem deixado técnicos e produtores com dúvidas
na lavoura e os diferentes níveis de resistência e/ referentes aos posicionamentos para as aplicações em
ou tolerância das cultivares à estas doenças podem estádios vegetativos. Por algum tempo, produtos de
permitir que alguma delas se sobressaia. Somam- menor custo, ou remanescentes de safras passadas,
se ao controle genético, o controle químico com eram destinados para esta aplicação. Entretanto, ao
fungicidas, rotação de culturas, controle biológico, passo que a prática foi se estabelecendo, busca-
pousio da área, controle cultural, entre outros. No se o posicionamento mais adequando em relação
entanto, existem entraves técnicos e econômicos que às moléculas e, principalmente, organismos alvo da
dificultam a adoção de algumas delas pelos produtores, aplicação.
principalmente o pousio da área e a rotação de culturas. Assim, o objetivo foi avaliar o desempenho de
Assim, a utilização do controle químico com fungicidas diferentes fungicidas comerciais quando aplicados em
torna-se indispensável. fase vegetativa da soja, bem como os seus possíveis
Tem crescido a prática de aplicações de incrementos na eficiência de controle de doenças
fungicidas de forma antecipada, em estádio vegetativo foliares e na produtividade da cultura.
da soja visando justamente o controle destas doenças
que podem infectar a planta precocemente. Geralmente, MATERIAL E MÉTODOS
esta aplicação é feita com as plantas em estádio V3 ou
V4, em associação com a aplicação de herbicida em O experimento foi conduzido em condições de
pós-emergência. As aplicações de fungicida nesta campo, na área experimental do Centro Tecnológico
fase favorecem a deposição de moléculas fungicidas Comigo, localizado em Rio Verde-GO (S 17°45’44”
em quantidade adequada em toda a planta, incluindo O 51°02’03” e altitude média de 835 metros), com
o ‘futuro baixeiro’. Sabe-se que, nas aplicações em predominância de áreas com latossolo Vermelho
estádios mais avançados, após o fechamento completo Distrófico (SANTOS et al., 2018).
das entrelinhas, a deposição da calda de aplicação A semeadura da área experimental foi realizada
pode ser desigual entre os terços da planta (HOLTZ et no dia 14 de outubro de 2022, com a cultivar Bônus IPRO
al., 2014; SILVA et al., 2014; WEBER et al., 2017). (8579 RSF). As sementes foram tratadas industrialmente
Na literatura são encontrados dados com 48 g de Ciantraniliprole + 1 g de Metalaxil + 2,5
divergentes quanto a eficiência e viabilidade técnica g de Fludioxonil para cada 100 kg de sementes (80
e econômica de realizar aplicações em estádios mL de Fortenza 600 FS + 100 mL de Maxim XL / 100

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kg sementes). A densidade de semeadura utilizada
foi de 11,3 sementes por metro. No sulco de plantio
foram aplicados: o inoculante Nitrogin Cell Tech HC
(Bradyrhizobium japonicum – Semia 5079 e Semia
5080, com 3 x 109 células viáveis/mL, Monsanto BioAg)
na dose de 1,0 L ha-1 + Biomax Azum, Vittia (Azospirillum
brasilense, 3 x 108 células/mL) na dose de 0,1 L ha-1 + o
inseticida biológico Meta-Turbo SC, Vittia (Metarhizium
anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1 x
108 propágulos viáveis mL-1) na dose de 0,5 L ha-1 + o
fertilizante Nodulus Gold, Vittia (1 % de Co, 10% de Mo)
na dose de 0,2 L ha-1 + o nematicida Verango Prime,
Bayer (Fluopiram, 500 g i.a. L-1, SC) na dose de 200 g
de i.a. ha-1. Todos aplicados com Micron e volume de
aplicação de 60 L ha-1.
A adubação foi realizada na semeadura, com
280 kg ha-1 do fertilizante formulado 08:20:18 (N:P:K),
aplicado no sulco de plantio. E após a semeadura, com
152 kg de KCl (60% de K2O) aplicado à lanço em área
total, no dia 24/10/2022.
O delineamento experimental utilizado foi o
de Blocos Casualizados (DBC), com 14 tratamentos e
quatro repetições, totalizando 56 parcelas. As parcelas
foram compostas por 10 linhas de plantio, espaçadas a
0,5 metros, e oito metros de comprimento, totalizando
40 m2 (8 x 5 m). Como parcela útil foram considerados
os seis metros centrais das seis linhas centrais (6 x 3
m, 18 m2).
Os tratamentos consistiram na aplicação de
diferentes fungicidas comerciais em fase vegetativa
da soja (Tabela 1). Mais precisamente, esta aplicação
ocorreu aos 30 DAE (dias após emergência), com a
cultura em estádio fenológico V5 (cinco nós e quarta
folha trifoliada desenvolvida). Foi conduzido também um
tratamento controle, que não recebeu a aplicação em
estádio vegetativo, mas recebeu as demais aplicações
de fungicidas. Além de um tratamento testemunha,
sem nenhuma aplicação.

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Tabela 1. Descrição dos tratamentos com diferentes fungicidas comerciais, ingredientes ativos
e doses utilizadas nas aplicações de fungicidas em fase vegetativa da soja. Centro Tecnológico
Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

Produto Comercial (p. c.) e dose Ingrediente Ativo (I. A.) e concentração Dose (g de I.A.
Trat.
(L ou kg ha-1) (g L-1 ou kg L-1) ha-1 )

1. Score Flexi (0,15) Propiconazol (250) + Difenoconazol (250) 37,5 + 37,5

2. Aproach Power (0,6) Picoxistrobina (90) + Ciproconazol (40) 54 + 24

3. Nativo (0,5)1 Trifloxistrobina (100) + Tebuconazol (200) 50 + 100

4. Abacus (0,3)2 Piraclostrobina (260) + Epoxiconazol (160) 78 + 48

5. Opera (0,5) 2 Piraclostrobina (133) + Epoxiconazol (50) 66,5 + 25

6. Prisma Plus (0,2) Difenoconazol (250) 50

7. Priori Top (0,3)3 Azoxistrobina (200) + Difenoconazol (125) 60 + 37,5

8. Helmstar Plus (0,5)1 Azoxistrobina (120) + Tebuconazol (240) 60 + 120

9. Teburaz (0,5)4 Azoxistrobina (120) + Tebuconazol (200) 60 + 100

10. Comet (0,3) Piraclostrobina (250) 75

11. Cypress (0,3) Ciproconazol (150) + Difenoconazol (250) 45 + 75

12. Fusão (0,6)5 Metominostrobina (110) + Tebuconazol (165) 66 + 99

Controle
13. - -
(Sem aplicação no vegetativo)
Testemunha
14. - -
(Sem aplicações de fungicidas)
1
Adicionado Aureo (0,25% v/v); 2Adicionado Mees (0,5 L ha-1); 3Adicionado Ochima (0,25 L ha-1); 4Adicionado Nori (0,25% v/v); 5Adicionado
Iharol Gold (0,15% v/v)

O programa de aplicações foi composto pelos aplicados Bixafem + Trifloxistrobina + Protioconazol


diferentes fungicidas aplicados em fase vegetativa (Fox Xpro, 0,5 L ha-1; 62,5 + 75 + 87,5 g de i. a.; adicionado
(Tabela 1), seguido de mais três aplicações (Tabela adjuvante Aureo 0,25% v/v.) + Mancozebe (Unizeb
2). Em 28/11/2022, com a cultura iniciando a fase Gold, 1,5 kg ha-1; 1.125 de i. a.). Posteriormente, em
reprodutiva (R1 – Início do florescimento com uma 15/12/2022, foram Picoxistrobina + Protioconazol
flor aberta em qualquer nó da haste principal) foram (Viovan, 0,6 L ha-1; 60 g + 70 g de i. a.) + Mancozebe

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(Unizeb Gold, 1,5 kg ha-1; 1.125 de i.a.). E na última de pulverização foi acondicionada em tanques
aplicação, também conhecida como aplicação de tipo post-mix com capacidade de 10 L. As pontas
fechamento de ciclo, Difenoconazol + Ciproconazol utilizadas para pulverização foram modelo AD-IA/D
(Cypress, 0,3 L ha ; 75 g + 45 g de i. a.) + 720 g de
-1
110.015, da marca Magnojet. O equipamento foi
Clorotalonil (Bravonil 720, 1,0 L ha ). -1
calibrado com pressão de trabalho na ponta de 3,8
Todas as aplicações foram realizadas bar (55,11 PSI) e volume de aplicação de 150 L ha-1.
com pulverizador pressurizado por CO2 (Patente: Durante as aplicações, as condições meteorológicas,
BR102016007565-3) montado em trator (MF 275, temperatura (°C), umidade relativa do ar (%) e
Massey Ferguson, 75 cv). O pulverizador possui velocidade do vento (km h-1) foram mensuradas com
barra de pulverização com 5,0 m de largura e 10 o equipamento termo-higro-anemômetro (Tabela 2).
bicos de pulverização espaçados a 0,50 m. A calda

Tabela 2. Datas das aplicações e dados meteorológicos mensurados durante as aplicações do


programa de aplicações de fungicidas utilizados no experimento. Centro Tecnológico Comigo, Rio
Verde-GO, safra 2021/2022.

Horário Temperatura Umidade Relativa Velocidade do


Data
(h) (°C) do ar (%) vento (km h-1)
1ª Aplicação Início 06:50 22,2 83,4 5,94
19/11/2022 Término 09:02 23,7 73,5 4,75

2ª Aplicação Início 17:05 30,2 59,0 2,88


28/11/2022 Término 17:32 29,7 62,2 1,80

3ª Aplicação Início 11:05 29,7 69,9 2,88


15/12/2022 Término 11:56 30,3 70,7 5,04

4ª Aplicação Início 09:04 21,1 78,2 4,32


02/01/2023 Término 09:38 22,6 82,4 3,60

O controle de plantas daninhas foi realizado em O controle de pragas foi empregado com base
dois momentos. Inicialmente no pré-plantio da soja, no manejo integrado, sendo realizadas avaliações
visando basicamente a dessecação e formação de e levantamentos semanais quanto à ocorrência,
palhada de Brachiaria ruziziensis, que foi realizada no nível populacional e dano das principais pragas. As
dia 30/09/2022 com glyphosate (Roundup Ultra, 650 g recomendações de inseticidas priorizaram a rotação
e. a. kg ) na dose de 1.625 g e. a. ha . E também em
-1 -1
de mecanismos de ação e ingredientes ativos. As
pós-emergência da cultura, em estádio fenológico aplicações visaram, prioritariamente, o controle de
entre V2 e V3, quando foi aplicado glyphosate (Xeque coleópteros desfolhadores (família Chrysomelidae) em
Mate, 500 g e. a. L ) com dose de 1.000 g e. a. ha . Estas
-1 -1
fases iniciais, lagartas e percevejos (principalmente
aplicações foram realizadas com volume de aplicação percevejo-marrom, Euschistus heros) ao longo do ciclo.
de 150 L ha .-1

Fitopatologia 113
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Foram realizadas cinco avaliações de severidade, na área experimental foram o crestamento foliar
nos dias anteriores às aplicações de fungicidas, e duas de cercóspora (Cercospora kikuchii), mancha -alvo
avaliações aos 15 e 40 dias após a última aplicação. As (Corynespora cassiicola) e mancha-parda (Septoria
escalas diagramáticas utilizadas para a quantificação glycines). Outras doenças, com incidência e severidade
das doenças no campo foram as propostas por Martins pouco expressivas, foram a antracnose (Colletotrichum
et al. (2004), para o complexo de doenças de final de spp.) e mancha-olho-de-rã (Cercospora sojina). Estas
ciclo da soja (Septoria glycines e Cercospora kickuchii) doenças se manifestaram em diferentes estádios
e Soares et al. (2009) para mancha-alvo (Corynespora fenológicos das plantas. Contudo, as severidades de
cassiicola). As avaliações foram feitas nos terços inferior crestamento tiveram maior destaque após o início do
e médio de cinco plantas selecionadas aleatoriamente enchimento de grãos.
na parcela útil. Os dados de severidade obtidos ao Os valores de severidade final e AACPD do
longo do o ciclo da cultura, foram utilizados para tratamento testemunha foram superiores aos demais,
determinar a Área Abaixo da Curva do Progresso da tanto para DFC quanto para mancha-alvo (Tabela 3).
Doença (AACPD – variável utilizada como ferramenta O que evidencia a capacidade destes patógenos em
para quantificar doença no campo) (CAMPBELL e comprometer os tecidos foliares quando não é feita a
MADDEN, 1990). Enquanto que, os dados mensurados intervenção através dos fungicidas.
na última avaliação, com as plantas em estádio De maneira geral, observa-se que os tratamentos
fenológico R7 (iniciando a maturação fisiológica das com programas de aplicações incluindo estádio
vagens), representaram a severidade final das doenças. vegetativo foram capazes de melhorar o controle da
A colheita foi realizada no dia 27/02/2023, mancha-alvo e também das DFCs (Tabela 3). Para
totalizando um ciclo de 136 dias. Para determinação mancha-alvo, apenas a aplicação com Picoxistrobina
da produtividade foram colhidos três metros de três (66,5 g) + Epoxiconazol (25 g) obteve severidade final
linhas da parcela útil. As amostras foram identificadas semelhante à do tratamento controle (Tabela 3). Para
e trilhadas, em seguida a massa (kg) e umidade a severidade de mancha-parda + crestamento de
mensuradas. Os dados foram ajustados para 13% cercóspora (DFC), os tratamentos com Trifloxistrobina
de umidade dos grãos, a estimativa de produtividade (50 g) + Tebuconazol (100 g) e Azoxistrobina (60 g) +
corrigida em função do número de plantas colhidas e Tebuconazol (100 g) obtiveram valores semelhantes
a população (plantas ha-1), e apresentados em sacas de onde não foi realizada aplicação no vegetativo. Já
60 kg por hectare (sc ha-1). para AACPD-DFC, as aplicações neste estádio foram
Os dados foram submetidos à análise de capazes de reduzir esta variável, independentemente
variância e quando verificada diferença significativa do fungicida que foi aplicado (Tabela 3). Com
entre as médias, as comparações foram realizadas destaque ligeiramente superior para as aplicações
através do teste de Scott-Knott (P<0,05) pelo software com Trifloxistrobina (50 g) + Tebuconazol (100 g),
SISVAR (FERREIRA, 2014). Picoxistrobina (78) + Epoxiconazol (48 g), Azoxistrobina
(60 g) + Difenoconazol (39,5 g), Azoxistrobina (60 g)
RESULTADOS E DISCUSSÃO + Tebuconazol (120 g), Metominostrobina (66 g) +
Tebuconazol (99 g).
As principais doenças foliares observadas

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Tabela 3. Valores médios de severidade final e área abaixo da curva do progresso de doenças
(AACPD) para as doenças de final de ciclo (DFC) e mancha-alvo, com diferentes fungicidas aplicados
em fase vegetativa da soja. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

Mancha-alvo DFC+
Trat. Fungicida Vegetativo Severidade AACPD Severidade AACPD
1. Score Flexi 5,0 a 136,3 a 6,0 a 238,4 b
2. Aproach Power 5,0 a 140,0 a 5,8 a 223,3 b
3. Nativo 5,3 a 115,2 a 7,0 b 202,4 a
4. Abacus 5,2 a 116,6 a 5,5 a 196,8 a
5. Opera 7,3 b 158,7 a 6,5 a 245,2 b
6. Prisma Plus 5,7 a 141,7 a 6,5 a 245,2 b
7. Priori Top 4,3 a 105,3 a 6,2 a 196,7 a
8. Helmstar Plus 4,5 a 105,8 a 6,5 a 192,0 a
9. Teburaz 5,8 a 131,1 a 7,2 b 228,5 b
10. Comet 6,0 a 120,5 a 6,0 a 220,1 b
11. Cypress 5,0 a 116,2 a 6,7 a 225,4 b
12. Fusão 4,0 a 117,3 a 6,0 a 199,9 a
13. Controle 7,4 b 213,0 b 8,3 b 291,9 c
14. Testemunha 10,8 c 308,6 c 16,7 c 442,9 d
C.V. 14,67 16,90 13,92 12,59
+
DFC = Mancha-parda + Crestamento foliar de cercóspora
C.V. (%) = Coeficiente de variação
Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (P<0,05)

Os resultados de produtividade se comportaram Tebuconazol (120 g), Ciproconazol (45) + Difenoconazol


de forma semelhante aos de severidade e AACPD. (75), Metominostrobina (66) + Tebuconazol (99) não
Nos quais é possível observar o impacto das doenças foram observados incrementos produtivos.
avaliadas sobre a produtividade sem a adoção do
controle químico, com produtividade abaixo das
60 sacas por hectare e significativamente inferior
aos demais (Figura 1). A maioria dos programas de
aplicações que incluíram aplicação no vegetativo
contribuíram não só para a redução das doenças
no campo, mas também possibilitaram incrementos
na produtividade da lavoura em comparação com o
tratamento controle (sem aplicação no vegetativo).
Apenas quando foram aplicados Azoxistrobina (60 g) +

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a a a a a a a a a
80 b 70,0 b b b
70,4 70,6 68,8 69,2 68,4 69,4 69,3 68,8 c
Produ�vidade (sacas ha-1)

70 64,7 64,2 64,6 64,9


59,9
60
50
40
30
20
10
0

Fungicidas aplicados em fase vegeta�va

Figura 1. Produtividade média de sacas de soja, cultivar Bônus, em razão dos diferentes fungicidas
aplicados na fase vegetativa da cultura. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
C.V. = 7,75%

CONCLUSÕES AGRADECIMENTOS

Os fungicidas comerciais avaliados Á equipe de campo, estagiários e demais


apresentaram bom desempenho quando aplicados na pesquisadores do CTC pelo apoio na execução do
fase vegetativa da soja. Praticamente todos eles foram experimento.
capazes de reduzir significativamente a severidade e
AACPD das doenças avaliadas. REFERÊNCIAS
Percebe-se que, o nível de intensificação dos
cultivos com a adoção de práticas e cultivares que visam ANDRADE, L. R. Avaliação de diferentes
a elevação dos patamares de produção têm provocado, fungicidas no controle de Septoria glycines na
concomitantemente, dificuldades expressivas no cultura da soja. 25 f. Trabalho de Conclusão de Curso
manejo satisfatório de doenças foliares na soja. Por – Agronomia, Universidade Federal de Uberlândia,
tanto, a realização de aplicações em estádio vegetativo Uberlândia, 2019.
apresenta-se como uma estratégia que passa a ser CAMPBELL, C. L.; MADDEN, L. V. Introduction
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JULIATTI, F. C.; POLIZEL, A. C.; JULIATTI, F. C. Agricultura, v. 25, n. 5, p. 459-468, 2017.
Manejo integrado de doenças na cultura da soja. Ed. YORINORI, J. T.; PAIVA, W. M.; FREDERICK, R. D.;
UFU, Universidade Federal de Uberlândia –UFU, 2004, COSTAMILAN, L. M.; BERTAGNOLLI, P F.; HARTMAN,
327p. G. E.; GODOY, C V.; NUNES JUNIOR, J. Epidemics of
KLINGELFUSS, L. H.; YORINORI, J. T. Infecção soybean rust (Phakopsora pachyrhizi) in Brazil and
latente de Colletotrichum truncatum e Cercospora Paraguay form 2001 to 2003. Plant Disease, v. 89, n. 6,
kikuchii em soja. Fitopatologia Brasileira, v. 26, n. 2, p. 675-677, 2005.
p.158-164, 2001.
MARTINS, M.C.; GUERZONI, R.A.; CÂMARA,

Fitopatologia 117
CLUBE DE REVISTAS

DIFERENTES FUNGICIDAS NO
CONTROLE DA FERRUGEM
ASIÁTICA DA SOJA, SAFRA
2022/2023 EM RIO VERDE-GO

DELGADO1, Vanderson Aparecido Diego; SILVA2, primeiros casos da doença no Brasil foram identificados
Lincoln Lima; FERNANDES3, Rafael Henrique; no Paraná (JACCOUD FILHO et al., 2001; YORINORI
LIMA4, Diego Tolentino de; BRAZ5, Guilherme et al., 2002). Duas safras depois, a doença já havia se
Braga Pereira
espalhado pela maioria do território brasileiro (YORINORI
et al., 2005).
1
Graduando em Agronomia pela Universidade de
Desde então, a ferrugem asiática da soja vem
Rio Verde – UniRV. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
vandersomdelgado@hotmail.com sendo monitorada de perto por centros de pesquisa,
2
Graduando em Agronomia pelo Instituto Federal públicos e privados, espalhados pelo Brasil. Esta doença
Goiano, Campus de Rio Verde. Rio Verde, GO, Brasil.
causa grande preocupação entre os produtores, pois
E-mail: linconl96lima@gmail.com
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador além de apresentar elevada severidade, é facilmente
Agronômico em Fitopatologia do Centro disseminada. As estruturas responsáveis pela
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
disseminação da doença são chamadas uredósporos,
rafaelhenrique@comigo.com.br
4
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador que são carregados pelo vento e podem percorrer
Agronômico em Entomologia do Centro longas distâncias, infectando novas plantas e iniciando
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
novos ciclos da doença (YORINORI e WILFRIDO, 2002).
diegotolentino@comigo.com.br
5
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador O controle químico é considerado oneroso e pouco
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas- eficiente após o aparecimento dos sintomas na cultura.
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde,
Um método eficaz para o manejo da ferrugem
GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br
asiática da soja é o uso de cultivares precoces, que
passam menos tempo no campo, o que permite o
cultivo com menores chances de exposição ao fungo.
INTRODUÇÃO Além disso, é importante realizar o plantio antecipado,
respeitando o vazio sanitário e o calendário de semeadura
A ferrugem asiática da soja, causada pelo de cada estado. O monitoramento constante da lavoura
fungo Phakopsora pachyrhizi, é considerada uma das também é fundamental, pois, temperaturas entre 16 e
principais doenças que afetam a cultura. Em 2001, os 28°C e elevada umidade relativa do ar são fatores que

118 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
favorecem o desenvolvimento do fungo (YORINORI & ciclo médio de 115 dias. É um material estável, com alto
WILFRIDO, 2002). potencial produtivo e população recomendada entre
Devido a pouca diversidade de cultivares 260 e 320 plantas por hectare. A cultivar CZ 37B43
resistentes à ferrugem, o uso de defensivos agrícolas IPRO possui resistência ao acamamento, tolerância
tem aumentado para combater a doença. Este é o meio à podridão cinzenta (Macrophomina sp.) e sistema
mais utilizado, mas deve ser realizado de forma racional radicular vigoroso.
para não inviabilizar a cultura (GODOY e CANTERI, A semeadura foi realizada tardiamente de modo
2004). que houvesse maior chances de exposição da área
A adoção de cultivares de soja resistentes à experimental à Ferrugem Asiática da Soja (FAS), por
ferrugem asiática e o uso de produtos fitossanitários, isso foi realizada no dia 16/12/2022 com densidade de
como os fungicidas, são fundamentais para a 16 sementes por metro. As sementes foram tratadas
prevenção e controle da doença no campo. É industrialmente (TSI) com 5 g de Piraclostrobina + 45
importante que todas as decisões sejam tomadas de g de Tiofanato Metílico + 50 g de Fipronil para cada
forma técnica, considerando todos os fatores para a 100 kg de sementes (Standak Top – 200mL /100kg
escolha de produtos com alta performance. O controle sementes). Na semeadura também foram aplicados:
químico é adotado de forma preventiva ou no início o inoculante Nitrogin Cell Tech HC (Bradyrhizobium
do aparecimento dos sintomas da doença, buscando japonicum Semia 5079 e Semia 5080, com 3 x 109
controlar os esporos de P. pachyrhizi por meio de células viáveis/mL, Monsanto BioAg) na dose de 1,0
fungicidas. L ha-1, o co-inoculante Biomax Azum (Azospirillum
A maioria dos fungicidas comerciais é composta brasiliense, 3 x 108 células mL-1) na dose de 0,1 L ha-
por moléculas de diferentes grupos químicos, que 1
, o inseticida biológico Meta-Turbo SC (Metarhizium
devem ser utilizadas preferencialmente em combinação. anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1 x 108
É fundamental avaliar a eficiência desses produtos e propágulos viáveis mL-¹) na dose de 0,5 L ha-¹ e 0,2 L ha-¹
monitorar a sensibilidade do fungo às moléculas, para do fertilizante Nodulus Gold (1 % de Co, 10% de Mo)
garantir que os fungicidas utilizados sejam eficazes no com Micron e volume de aplicação de 60 L ha-¹. No dia
controle da ferrugem asiática da soja. 24/10/2022, foram aplicados 152 kg ha-1 de KCl (cloreto
Diante disso, foi realizado um estudo para de potássio, 60% de K2O) e 450 kg ha-1 do fertilizante
avaliar a eficiência de diferentes fungicidas no controle Super Simples (20% de P2O5).
da ferrugem asiática da soja durante o ano agrícola O experimento foi conduzido em delineamento
2022/2023 em Rio Verde, Goiás. experimental em blocos casualizados (DBC), com 16
tratamentos e quatro repetições/blocos, totalizando
MATERIAL E MÉTODOS 64 parcelas. Cada parcela foi composta por 10 linhas
de plantio, com espaçamento de 0,5 m, e 10 metros de
O experimento foi realizado em condições de comprimento, totalizando 50 m2. A parcela útil, utilizada
campo, na área experimental do Centro Tecnológico para as avaliações, foi considerada, descartando-se
Comigo (CTC), em Rio Verde - GO, com a cultivar de dois metros das extremidades e duas linhas laterais de
soja CZ 37B43 IPRO. Essa cultivar possui hábito de bordadura, totalizando 18 m2.
crescimento indeterminado, grupo de maturação 7.4 e Foram realizadas quatro aplicações sequenciais

Fitopatologia 119
CLUBE DE REVISTAS
de diferentes fungicidas, iniciando aproximadamente (1ª 25/01/2023; 2a 09/02/2023; 3a 24/02/2023; 4a
30 dias após a emergência das plântulas, com a 10/03/2023). Os tratamentos que compuseram o
cultura entre os estádios V5 e V6, e intervalos entre experimento foram diferentes fungicidas aplicados
as aplicações de aproximadamente quinze (15) dias para o controle da ferrugem asiática da soja (Tabela 1).

Tabela 1. Descrição dos tratamentos, produtos comerciais, ingredientes ativos e doses dos
fungicidas utilizados para o controle da ferrugem asiática da soja. Centro Tecnológico Comigo, Rio
Verde- GO, safra 2022/2023.

Tratamentos Dose
Produto Comercial – p.c. (ingredientes ativos – I.A.) L ou kg p.c ha -¹ g I.A ha -¹

Excalia Max4 (Impirfluxam + Tebuconazol) 0,5 30+100

Fox Supra² (Impirfluxam + Protioconazol) 0,35 42+84

Fox Xpro² (Bixafem + Trifloxistrobina + Protioconazol) 0,5 62,5+75+87,5

Blavity1 (Fluxapiroxade + Protioconazol) 0,3 60+84

Belyan1 (Fluxapiroxade + Piraclostrobina Mefentrifluconazol) 0,6 53,3+106,7+80

Evolution3 (Azoxistrobina + Protioconazol + Mancozebe) 2,0 75+75+1.050

Viovan (Picoxistrobina + Protioconazol) 0,6 60+70

Versatilis (Fenpropimorfe) 0,3 225

Mitrion (Benzovindiflupir + Protioconazol) 0,45 33,75+67,5

Vessarya (Benzovindiflupir + Picoxistrobina) 0,6 60+30

Aproach Power (Picoxistrobina + Ciproconazol) 0,6 54+24

Sphere Max2 (Trifloxistrobina + Ciproconazol) 0,2 75+32

Fusão5 (Metominostrobina + Tebuconazol) 0,58 63,8+95,7

Orkestra SC1 (Fluxapiroxade +Protioconazol) 0,35 58,5+116,5

Alade (Benzovindiflupir + Ciproconazol + Difenoconazol) 0,5 30+45+75

Testemunha - -
Adicionado Mees (0,3 L ha-¹); 2 Adicionado Auero (0,25% v/v); 3Adicionado Strides (0,25% v/v); 4Adicionado Agris (0,5 L ha-¹);
1 5

Adicionado Iharol Gold (0,15% v/v).

120 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
As aplicações foram realizadas com pulverizador Magnojet. O equipamento foi calibrado com pressão
pressurizado por CO2 (Patente: BR102016007565-3) de trabalho na ponta de 3,8 bar (55,11 Psi) e volume
montado em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75 cv). de aplicação constante de 150 L ha-1. Durante as
Pulverizador dotado com barra de cinco metros com aplicações, as condições meteorológicas, temperatura
10 bicos de pulverização espaçados a 0,50 m. A calda (°C), umidade relativa do ar (%) e velocidade do vento
preparada foi acondicionada em tanques tipo post-mix (km h-1) foram mensuradas com o equipamento termo-
com capacidade de 10 L. As pontas utilizadas para higro-anemômetro (Tabela 2).
pulverização foram modelo AD-IA/D 110.015, da marca

Tabela 2. Datas das aplicações e dados meteorológicos mensurados nas aplicações dos diferentes
fungicidas para o controle da ferrugem asiática da soja. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO,
safra 2022/2023.

Horário Temperatura Umidade Relativa do ar Velocidade do vento


Data
(h) (°C) (%) (km h-1)

1a Aplicação Inicio 10:04 22,0 83,8 8,28


25/01/2023 Término 14:32 22,7 84,2 10,8
2a Aplicação Inicio 11:20 29,8 66,5 3,96
09/02/2023 Término 15:10 30,1 67,2 2,88
3 Aplicação
a Inicio 09:12 23,2 85,0 7,56
24/02/2023 Término 16:14 24,3 77,5 5,04
4a Aplicação Inicio 09:34 25,6 74,2 7,2
10/03/2023 Término 15:04 30,2 59,5 9,36

A eficiência dos tratamentos para o controle da umidade dos grãos e a estimativa de produtividade
ferrugem foi estimada por meio de seis avaliações de corrigida em função do número de plantas colhidas e
severidade, seguindo a escala diagramática sugerida a população (plantas ha-¹) e apresentados em sacas de
por Godoy et al. (2006). As avaliações foram realizadas 60 kg por hectare (sacas ha-¹). Através da avaliação da
em cinco plantas aleatórias dentro da parcela útil, no severidade ao longo do ciclo foram calculados a área
terço médio e no inferior da planta. A média de cada abaixo da curva de progresso da doença – AACPD
parcela foi composta pela média da severidade nas (CAMPBELL e MADDEN, 1990), neste caso AACP-
diferentes porções das plantas. As avalições foram Ferrugem, e eficiência de controle (%).
realizadas um dia antes das aplicações, e aos 10 e 30 Os dados de severidade final da ferrugem
dias após a última aplicação. A produtividade de grãos asiática, AACP-Ferrugem e de produtividade foram
foi avaliada realizando a colheita de três metros de três submetidos à análise de variância e quando verificado
linhas centrais de cada parcela, totalizando 9 metros diferença significativa entre as médias, as comparações
de colheita. As amostras foram submetidas a trilharem, foram realizadas através do teste de Scott-Knott (P<0,05)
medindo a umidade (três vezes) e pesagem da massa pelo software SISVAR (FERREIRA, 2014).
fresca (kg). Os dados foram ajustados para 13% de

Fitopatologia 121
CLUBE DE REVISTAS
RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Centro Tecnológico Comigo (CTC), o primeiro


foco da ferrugem asiática da soja na safra 2022/2023 foi
observado no dia 27/01/2023. Os valores de severidade
final e AACP-ferrugem foram maiores no tratamento
testemunha, significativamente superior aos demais
tratamentos, com severidade final atingindo 41,8% de
tecido afetado pela doença (Tabela 3). Esses níveis de
severidade e AACP-Ferrugem impactaram diretamente
na produtividade, que foi de apenas 42,8 sacas ha-¹,
(Tabela 3).
As aplicações dos produtos comerciais Alade,
Orkestra, Sphere Max, Aproach Power, Vessarya, Belyan
e Versatilis apresentaram uma redução significativa
na severidade em relação à testemunha. Porém, em
patamares inferiores aos obtidos pelos tratamentos
com os demais fungicidas (Tabela 3). Os tratamentos
aplicados tiveram um nível de controle aceitável da
ferrugem asiática da soja, reduzindo os níveis de
severidade e a quantidade de ferrugem em diferentes
níveis. Entretanto, os demais produtos obtiveram maior
controle da ferrugem asiática, pois apresentaram
menores valores de severidade e AACP-ferrugem, não
diferenciando estatisticamente entre si (Tabela3).
A eficiência de controle dos diferentes fungicidas
aplicados variou entre 50,6% e 75,8%. O menor valor foi
obtido pela aplicação de Trifloxistrobina + Ciproconazol,
enquanto o maior foi obtido com Protioconazol +
Impirfluxam, com 75,8% (Tabela 3). Vale aqui destacar
também os produtos comerciais: Excalia Max, Evolution,
Mitrion e Fusão, que obtiveram eficiência de controle
com valores próximos e considerados satisfatórios
(72%, 73%, 73,1% e 71,3%, respectivamente).

122 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 3. Médias da Severidade Final, Área abaixo da curva do progresso da ferrugem (AACP-
Ferrugem), eficiência de controle (%) e produtividade média de sacas de soja por hectare após a
aplicação dos diferentes fungicidas para o controle da ferrugem asiática da soja. Centro Tecnológico
Comigo, Rio Verde- GO, safra 2022/2023.

Severidade Final AACP- Controle Produtividade


Produto comercial (p.c.)
(% de tecido afetado) ferrugem (%) (sacas ha-¹)

Excalia Max 11,7 a 130,8 a 72,0 63,1 a


Fox Supra 9,7 a 113,3 a 75,8 63,1 a
Fox Xpro 9,4 a 156,7 a 66,5 60,4 a
Blavity 14,3 a 149,1 a 68,1 62,8 a
Belyan 18,8 b 173,3 b 62,9 57,5 a
Evolution 12,0 a 126,0 a 73,0 58,5 a
Viovan 13,9 a 146,6 a 68,8 59,8 a
Versatilis 18,5 b 171,5 b 63,3 51,6 b
Mitrion 12,9 a 125,6 a 73,1 56,5 b
Vessarya 20,0 b 196,0 b 58,1 52,3 b
Aproach Power 21,4 b 212,6 b 54,5 55,4 b
Sphere Max 22,0 b 231,0 b 50,6 52,6 b
Fusão 11,2 a 134,3 a 71,3 58,0 a
Orkestra SC 23,4 b 210,7 b 54,9 55,0 b
Alade 20,6 b 207,2 b 55,7 53,8 b
Testemunha 41,8 c 467,3 c 0,0 42,8 c
C.V. 23,14 16,80 - 8,54
C.V. = Coeficiente de Variação
Médias com letras iguais nas colunas não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (P<0,05)

A produtividade da soja está diretamente moderadamente a doença, reduziram a severidade da


relacionada ao controle da ferrugem asiática, visto que, doença entre 50% e 70% e aumentaram a produtividade
ela causa a queda prematura de folhas e prejudica entre 8 e 14 sacas ha-1, também em comparação a
consideravelmente a fotossíntese. Os fungicidas testemunha (Tabela 3).
são usados para combater essa doença e proteger As aplicações de Versatilis, Vessarya, Aproach
o potencial produtivo da lavoura. Os produtos aqui Power, Sphere Max, Orquestra e Alade apresentaram
destacados, reduziram a severidade da doença valores de produtividade superiores à testemunha,
em mais de 70% e aumentaram a produtividade mas, inferiores aos demais tratamentos (Figura 1). Tais
aproximadamente 15 sacas ha -1
em relação à resultados de produtividade, demonstram a grande
testemunha (Tabela 3). Os fungicidas que controlaram relação entre a severidade da doença, a capacidade

Fitopatologia 123
CLUBE DE REVISTAS
de controle de cada produto comercial, e também, com os dados de produtividade (Tabela 3 e Figura 1),
dá indícios sobre a suscetibilidade de Phakopsora fica evidente as diferenças de grupos de fungicidas
pachyrhizi quanto aos diferentes ingredientes ativos com melhor desempenho que possibilitaram maiores
e combinações aqui testadas. Pois, ao analisar os produtividades. Da mesma forma, o grupo que
dados relacionados ao desenvolvimento da doença apresentou valores medianos das variáveis avaliadas.
e eficiência de cada produto (Tabela 3) juntamente

Figura 1. Produtividade média após a aplicação dos diferentes fungicidas para o controle da
ferrugem asiática na soja. Centro Tecnologia COMIGO – CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

70,0 a a a
a
Produtividade média (sacas ha-1)

a a a a
60,0 a b b b
b b b
50,0 c
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Versa�lis
Fox Supra

Mitrion
Belyan

Sphere Max

Fusão
Evolu�on

Aproach Power

Alade
Excalia Max

Blavity

Orkestra

Testemunha
Fox Xpro

Viovan

Vessarya

O uso de fungicidas sítio-específicos, como produtos comerciais. Deve-se priorizar, sempre que
os triazóis (IDM), estrobilurinas (IQe) e carboxamidas possível, realizar aplicações associadas de fungicidas
(ISDH), aplicados de forma isolada e por períodos sítio-específicos e multissítios, pois, além de aumentar
sequenciais representam médio a alto risco de indução a eficiência de controle das doenças, são aliados
de resistência do agente patogênico P. pachyrhizi no manejo da resistência do fungo aos fungicidas
(BALARDIN et al., 2017). Assim, é importante ressaltar (GARCÉS-FIALLOS e FORCELINI, 2013).
que os programas de aplicações avaliados, com Diante disso, é necessário pontuar que, o grande
aplicações sequenciais do mesmo produto, sendo número de fungicidas comerciais disponíveis no
muitos deles misturas de ingredientes ativos de sítio- mercado, bem como as quase infinitas combinações
específicos e sem multissítio em sua composição, possíveis de ingredientes ativos, têm apresentado
não são recomendações técnicas para o manejo da desempenho variável frente a ferrugem asiática da soja.
ferrugem asiática da soja. São exclusivamente realizados Os resultados aqui obtidos, devem ser analisados para
para fins científicos e avaliação do desempenho de auxiliar nas decisões para a formação do programa

124 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
de aplicações que será adotado para cada realidade. to Plant Disease Epidemiology. New York, NY. Wiley.
Levando em conta, principalmente, o risco de exposição 1990.
da lavoura à ferrugem. FERREIRA, D.F. Sisvar: a Guide for its Bootstrap
procedures in multiple comparisons. Revista Ciência e
CONCLUSÃO Agrotecnologia, v.38, n.2, p.109-112, 2014.
GARCÉS-FIALLOS, F. R; FORCELINI, C. A.
Os fungicidas apresentam diferentes níveis de Controle comparativo da ferrugem asiática da soja com
desempenho quanto ao controle de ferrugem asiática fungicida triazol ou mistura de triazol + estrobilurina.
e impacto na produtividade de grãos. Revista Bioscience Journal, Uberlândia, v. 29, n. 4, p.
No tratamento testemunha, sem a aplicações 805-815, 2013.
de fungicida a doença atingiu elevados patamares GODOY, C. V.; UTIAMADA, C. M.; MEYER, M. C.;
de infecção e comprometeu drasticamente a CAMPOS, H. D.; LOPES, I. de O. N.; DIAS, A. R.; MUHL,
produtividade. O que reforça a forte dependência da A.; WESP-GUTERRES, C.; PIMENTA, C. B.; ANDRADE
adoção do controle químico para o manejo da ferrugem JUNIOR, E. R. de; MORESCO, E.; KONAGESKI, F. T.;
asiática e viabilidade do cultivo em condições com alto BONANI, J. C.; ROY, J. M. T.; GRIGOLLI, J. F. J.; NUNES
risco de exposição ao patógeno. JUNIOR, J.; ARRUDA, J. H.; NAVARINI, L.; BELUFI, L.
Foi possível identificar grupos de fungicidas M. de R.; SILVA, L. H. C. P. da; SATO, L. N.; GOUSSAIN
com desempenhos semelhantes. Sendo que, o grupo JUNIOR, M. M.; SENGER, M.; MULLER, M. A.;
composto pelos fungicidas: Excalia Max, Fox supra, DEBORTOLI, M. P.; MARTINS, M. C.; TORMEN, N. R.;
Fox Xpro, Blavity, Belyan, Evolution, Viovan, Mitrion e BALARDIN, R. S.; MADALOSSO, T.; KONAGESKI, T. F.;
Fusão, se destacaram quanto a redução nos processos CARLIN, V. J. Eficiência de fungicidas para o controle
epidemiológicos da doença e permitiram a obtenção da ferrugem-asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi,
de maiores produtividades. na safra 2019/2020: Resultados sumarizados dos
ensaios cooperativos. Londrina: Embrapa Soja, 2020.

AGRADECIMENTOS 19 p. (Embrapa Soja. Circular técnica, 160).


GODOY, C.V.; CANTERI, M.G. Efeitos protetor,

À equipe de campo, estagiários e aos curativo e erradicante de fungicidas no controle da

pesquisadores do CTC pelo apoio na execução do ferrugem da soja causada por Phakopsora pachyrhizi,

experimento. em casa de vegetação. Fitopatologia brasileira, v.29,


n.1, 2004.
JACCOUD FILHO, D. S.; HIAR, C. P.; BONA, P.
REFERÊNCIAS
F.; GASPERINI, L. Ocorrência da ferrugem da soja na
Região dos Campos Gerais do Paraná. In: REUNIÃO
BALARDIN, R. S.; MADALOSSO, M. G.;
DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO
STEFANELLO, M. T.; MARQUES, L. N.; DEBORTOLI, M.
BRASIL, 23., 2001, Londrina-PR. Londrina: Embrapa
P. Mancozebe: muito além de um fungicida. 1 Ed.
Soja, 2001. p. 109-110. (Embrapa Soja. Documentos,
Porto Alegre – RS: Bookman Editora Ltda., 2017, 96p.
157)
CAMPBELL, C. L.; MADDEN, L. V. Introduction
YORINORI, J. T.; MOREL, W.; FERNANDEZ, F.

Fitopatologia 125
CLUBE DE REVISTAS
T. P. Epidemia de ferrugem de soja no Paraguai e na
Costa Oeste do Paraná, em 2001. In: REUNIÃO DE
PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO
BRASIL, 23., 2001, Londrina: Embrapa Soja, 2001.
p.117-118. (Embrapa Soja. Documentos, 157).
YORINORI, J. T; PAIVA, W. M.; FREDERICK, R.
D.; COSTAMILAN, L. M.; BERTAGNOLLI, P. F.; GODOY,
C. V.; NUNES JUNIOR, J. Epidemics of soybean rust
(Phakopsora pachyrhizi) in Brazil and Paraguay from
2001 to 2003. Plant Disease, v. 89, p. 675-677, 2005.
YORINORI, J.T.; WILFRIDO, M.P. Ferrugem
da soja: Phakopsora pachyrhizi Sydow. Londrina:
Embrapa Soja, 2002.

126 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS

PRODUTOS BIOLÓGICOS E
QUÍMICOS E NO CONTROLE
DE FITONEMATOIDES COM
OCORRÊNCIA SIMULTÂNEA NA
CULTURA DA SOJA

SILVA1, Linconl Lima; FERNANDES2, Rafael a importância mercadológica. Assim, em virtude da


Henrique; GERALDINE3, Alaerson Maia; ARAÚJO4, consolidação de um mercado internacional relacionado
Fernando Bessa, DELGADO5, Vanderson Aparecido a derivados dessa oleaginosa como importante fonte de
Diego
proteína vegetal que abastece setores ligados tanto a
nutrição humana quanto animal, a soja lidera o ranking
1
Graduando em Agronomia, Instituto Federal
Goiano – Campus Rio Verde, Rio Verde – GO. E-mail: da principal oleaginosa cultivada no contexto mundial
linconl96lima@gmail.com (HIRAKURI e LAZZAROTTO, 2014).
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador No Brasil, a soja se destacou como um produto
Agronômico em Fitopatologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: comercial no final da década de 60 tendo sua expansão
rafaelhenrique@comigo.com.br no território no início dos anos 70. E graças a um
3
Eng. Agrônomo, Doutor em Fitopatologia, Professor progresso contínuo, possui hoje um papel relevante na
do Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde, Rio
Verde – GO. E-mail: alaerson.geraldine@ifgoiano.edu. economia brasileira sendo a principal cultura agrícola no
br país (MANDARINO, 2017). Nesse âmbito, a produção de
4
Eng. Agrônomo, Departamento de Assistência soja na safra 2021/2022 no Brasil foi de 125,5 milhões de
Técnica COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
fernandobessa@comigo.com.br toneladas (CONAB, 2022).
5
Graduando em Agronomia, Universidade de Rio A escala de produção no cultivo dessa
Verde, Rio Verde, GO. E-mail: vandersomdelgado@ commodity vem aumentando expressivamente ao
hotmail.com
longo dos anos, podendo melhorar ainda mais por
meio de diversas práticas agronômicas que ajudam a
planta a expressar seu teto produtivo em um ambiente
INTRODUÇÃO
favorável, que consequentemente, reduz perdas na
produtividade. Todavia, existem diversos fatores que
O cultivo da soja dentro de uma perspectiva
limitam sua produtividade, dentre eles, destacam-se os
mundial, vem apresentando um acelerado
fitonematoides dos gêneros Pratylenchus, Heterodera,
crescimento graças a diversos fatores, dentre eles,

Fitopatologia 127
CLUBE DE REVISTAS
e Helicotylenchus, que causam danos as raízes, estrutura responsável por armazenar em média de
prejudicam o desenvolvimento da planta e reduzem sua 200 a 600 ovos, estrutura essa também, resistente às
produtividade. adversidades do ambiente (CARES e BALDWIN, 1995).
Os fitonematoides do gênero Pratylenchus O ciclo de vida dessa espécie partindo da eclosão dos
são endoparasitas migradores, ou seja, possuem juvenis até o desenvolvimento dos cistos, é em média
a capacidade de se locomover pelo solo, adentrar de 20 a 30 dias. Após esse período, cada fêmea produz
nas raízes e se mover dentro do tecido radicular em média 400 ovos, morrendo e se transformando em
para se alimentar, deixando a raiz suscetível a outros cisto (EMBRAPA, 1997). Estes cistos contendo ovos,
patógenos e atrapalhando também a absorção de podem ficar no solo, viáveis até oito ou mais anos,
água e nutrientes. O órgão responsável por permitir característica essa que dificulta ainda mais o completo
que esses fitonematoide ataquem o tecido radicular controle dessa praga, já que essa estrutura facilita sua
é denominado estile, tendo em vista que esse tipo de dispersão e aumenta a proteção da próxima geração
aparelho bucal não está presente em nematoides de (YOUNG, 1992).
vida livre, e consequentemente eles não conseguem Um dos gêneros que vem ganhando grande
atacar o tecido radicular das plantas (GOULART, 2008). relevância principalmente em relação ao cultivo da soja
Seu deslocamento dentro do tecido radicular é em é o gênero Helicotylenchus spp. fitonematoide esse,
direção ao córtex por meio de processos mecânicos classificado como espécies de importância secundária.
e enzimáticos para o rompimento da parede celular e Porém, isso vem mudando graças ao aumento de sua
outros tecidos (FERNANDES et al., 2020a). Os danos disseminação e incidência (MACHADO et al., 2019).
causados ao sistema radicular são manifestados na O fitonematoide em questão, tem a capacidade de
parte aérea da planta, dentre eles é comum observar se mover no solo e também no sistema radicular e
plantas com porte reduzido, sintomas de deficiência sua alimentação traz grandes prejuízos para a planta
nutricional. Uma das características do ataque dos pois ocorre o extravasamento do conteúdo celular
fitonematoides em geral é a ocorrência dos sintomas consequentemente a morte e necrose dos tecidos
na forma de reboleira. Dependendo da gravidade do (BLAKE, 1966).
problema na cultura da soja pode ocorrer perdas de Deste modo, considerando os impactos
até 50 % de produtividade pelo ataque do Pratylenchus negativos na planta causados pelos fitonematoide dos
brachyurus, sendo espécie de relevância para à soja gêneros Pratylenchus, Heterodera e Helicotylenchus,
(FRANCHINI et al., 2014). é necessário entender sua dinâmica no solo para
A espécie Heterodera glycines popularmente adotar medidas que reduzam a multiplicação e
conhecido como o nematoide de cisto da soja é consequentemente diminuam os potencias prejuízos.
um endoparasita sedentário, o que significa que Nesse âmbito, dentre as formas de manejo eficazes no
essa espécie de nematoide não se move livremente controle desse fitonematoides está o controle cultural,
pelo sistema radicular, porém ao penetrar na raiz, que consiste na escolha de cultivares resistentes e
diminui a absorção de água e nutriente pela planta. que não favorece a multiplicação desses nematoides
Este gênero se caracteriza pela formação de cistos fitoparasitas, quebrando seu ciclo de vida. Além disso,
de cor amarronzada, que são estruturas formadas fatores como a aplicação de controle varietal, por
pelo corpo da fêmea após a sua morte, sendo essa meio de cultivares de soja resistentes, lavagem dos

128 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
implementos agrícolas que entram em contato com o
MATERIAL E MÉTODOS
solo, e a implantação do controle biológico e químico, e
também interfere diretamente no controle populacional
O experimento foi conduzido em condições de
desses fitonematoides.
campo, na Fazenda Três Barras, que fica localizada às
Diante disso, o objetivo foi avaliar a eficiência
margens da BR - 060 na Zona Rural de Rio Verde – GO
de nematicidas químicos e biológicos no controle de
(Figura 1). A área do experimento está localizada nas
fitonematoides dos gêneros Pratylenchus, Heterodera
coordenadas S 17°48'36.8” e W 51°09'25.4" e altitude
e Helicotylenchus em área de produção naturalmente
média de 852 metros. Segundo Thornthwaite (1948)
infestada. Além disso, acompanhar o a flutuação
o clima de Rio Verde - GO é classificado em B4 rB’4a’
populacional ao longo do ciclo da soja e avaliar seus
(úmido; pequena deficiência hídrica; mesotérmico;
possíveis impactos na produtividade da cultura.
evapotranspiração no verão menor que 48% da
evapotranspiração anual).

Figura 1. Imagem de satélite da área experimental. Fonte: Google Earth.

Foram avaliados 9 tratamentos, constituídos 45 unidades experimentais, cada uma com dimensões
de nematicidas químicos e biológicos, aplicados de 6,0 m de largura (12 linhas) e 15 m de comprimento,
via sulco de plantio (SP) e também via tratamento de totalizando 90 m2.
semente (TS) (Tabela 1), com 5 repetições, totalizando

Fitopatologia 129
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Relação dos tratamentos aplicados com os diferentes produtos comerciais, tipo de aplicação (TS
– Tratamento de semente; SP – Sulco de Plantio), ingredientes ativos, doses e volume de aplicação.

Produto Tipo de Ingrediente ativo ou Concentração Dose Volume de


Trat.
Comercial (p.c.) aplicação Agentes Biológicos e/ou UFC g-1 utilizada aplicação

1 Inlayon SP Bacillus amyloliquefaciens 3% (5x109) 200 mL ** 60 L**

2 Aveo EZ TS Bacillus amyloliquefaciens 27% (6,1x1010) 20 mL * 400 mL*

Tricho-Turbo + Trichoderma asperellum + 21,20% (1x1010) 100 mL **


3 SP 60 L**
No-Nema Bacillus amyloliquefaciens 4,2% (3x109) + 200 mL

Bacillus subtilis + 20% (1x1011)


4 Presence TS 150 g* 600 mL*
Bacillus licheniformis 20% (1x1011)

5 Verango Prime SP Fluopiram 500 g L-1 400 mL** 60 L**

6 Avicta 500 TS Abamectina 500 g L-1 125 mL* 500 mL*

Nemat + Paecilomyces lilacinus + 30 % (7,5x109)


7 TS 100 g + 60 g* 500 mL*
EcoTrich Trichoderma harzianum 30 % (1x1010)
Acrescent Raiz F Ácidos carboxílicos 200 mL*
8 TS # 200 mL*
Acrescent Solus F Ácidos Carboxílicos 2, L ha-1 /(+)

9 Testemunha - - - - -

* Para 100 kg de sementes; ** Por hectare; (+) dose usada em aplicação terrestre em pós-emergência da cultura (entre V2 e V3); #
não informado.

No dia 03 de novembro de 2022, foi semeada a 1,0 x 108 UFC mL-1 (500 mL ha-1) no sulco de plantio
cultivar DS 7417 IPRO que possui hábito de crescimento (SP) e com um volume de calda de 60 L ha-1 utilizando
indeterminado, com o ciclo estimado de 118 dias, com o equipamento pulverizador de jato dirigido (Micron)
o grupo de maturação 7.4 e com uma população de acoplado à semeadora-adubadora. A adubação foi
300.000 plantas ha (15 sementes m ). A semeadura foi
-1 -1
realizada em sulco de semeadura de 400 kg ha-1 do
realizada por uma semeadora-adubadora pneumática fertilizante super simples (00-20-00).
(SM700, 6 linhas a 0,5 m, VENCE TUDO) montada em Para caracterização química do solo, foram
um trator (6155J, 115 cv, John Deere), regulada para coletadas amostras na camada de zero (0) a vinte
densidade de semeadura de 15 sementes m . Além -1
centímetros de profundidade (0-20 cm) em oito (8)
disso, foram aplicados, em todos os tratamentos, pontos aleatórios na área experimental, formando uma
produtos à base de microrganismos, com o intuito de amostra composta para homogeneização e envio de
promover a fixação biológica de nitrogênio, crescimento amostra simples para o laboratório. Os resultados estão
radicular e controle de pragas do solo, sendo eles: Cell apresentados no Quadro 1.
Tech Max 3,0 x 10 UFC mL (750 mL ha ), Bio Max
9 -1 -1

Azum 3,0 x 108 UFC mL-1 (100 mL ha-1) e Meta-Turbo

130 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Quadro 1. Atributos do solo na profundidade de 0-20 cm no local de condução da pesquisa, Rio
Verde – GO, safra 2022/2023.

Época de pH Ca Mg Al H+Al CTC K K PMeh M.O. V Argila


semeadura (CaCl2) ---------------- cmolc dm-3 --------------- - mg dm-3 - % % %
03/11/2022 4,62 2,88 0,6 0,123 4,04 7,72 0,20 78,64 11,09 3,18 47,67 58

Para realizar a identificação de quais espécies de 61 dias após o plantio do experimento; População
fitonematoides estavam presentes na área experimental, Inicial na Raiz (Pir) que representa a quantidade de
foram realizadas amostragens de solo em três épocas juvenis de Pratylenchus spp., Heterodera glycines,
diferentes. A primeira época foi na implantação do Helicotylenchus spp. presente na raiz 61 dias após o
experimento (03/11/2022), realizando a amostragem plantio; População Inicial (Pi) que representa a soma
de solo na profundidade de 0-25 cm com o auxílio de da quantidade de juvenis de cada gênero, Pratylenchus
uma pá de corte. Ao todo, foram realizadas na primeira spp., Heterodera glycines, Helicotylenchus spp.
época, 45 coletas na área experimental, um ponto em presente no solo e nas raízes aos 61 dias após o plantio
cada parcela. As amostras foram separadas por bloco do experimento (Pis+Pir); População final no solo (Pfs),
e homogeneizadas, formando 5 amostras. Na segunda que representa a quantidade de juvenis de Pratylenchus
e terceira época, 3 de janeiro de 2023 e 28 de fevereiro spp., Heterodera glycines, Helicotylenchus spp. no solo
de 2023, foi feito a coleta de solo e raiz em 3 pontos no final do cultivo; População final na Raiz (Pfr), que
aleatórios dentro da unidade experimental, formando representa a quantidade de juvenis de Pratylenchus
uma amostra composta por parcela, totalizando 45 spp., Heterodera glycines, Helicotylenchus spp. na raiz
amostras em cada época. no final do cultivo; População final (Pf), que representa
Para a determinação populacional de a soma de (Pfs) (Pfr); Flutuação populacional (Fp), que
fitonematoides presentes na área experimental, é feita por meio da razão entre Pf e Pi (Pf / Pi). Essas
as amostras de solo e raiz foram enviadas para um interações auxiliam na interpretação da dinâmica
laboratório especializado, onde foram processadas populacional dos fitonematoides estudados durante
seguindo a metodologia conforme Jenkins (1964), e as determinado período de tempo. Nesse sentido, fatores
amostras de raízes conforme Coolen & D’Herde (1972). que influenciam na população destes fitonematoides,
De forma a avaliar os efeitos dos diferentes provavelmente irão causar variações na Fp. Desse
produtos sobre a população de Pratylenchus spp., modo, podemos inferir que: Fp <1, a população foi
Heterodera glycines, Helicotylenchus spp. durante reduzida; Fp = 1, a população se manteve; Fp > 1, a
o ciclo da soja, foi avaliado a dinâmica populacional população aumentou. Sendo assim, a análise dessas
dos três diferentes fitonematoides. Sendo assim, variáveis pode auxiliar na interpretação sobre da
as avaliações seguiram os seguintes parâmetros: eficiência ou ineficiência de determinado tratamento
População inicial no solo (Pis), que representa a (FERNANDES et al., 2020b).
quantidade de juvenis de Pratylenchus spp., Heterodera Ao final do experimento, as plantas foram
glycines, Helicotylenchus spp. presentes no solo colhidas em 3 linhas centrais da parcela com 4 metros

Fitopatologia 131
CLUBE DE REVISTAS
de comprimento, totalizando 12 metros lineares (parcela Heterodera glycines e Helicotylenchus spp., sendo os
útil), sendo essas plantas trilhadas, pesadas e corrigindo valores expressos em juvenis para os três gêneros /
sua umidade para 13%, sendo a produtividade de grãos 100 cm3 de solo, e juvenis dos três gêneros / grama de
calculada em sacas de 60 kg ha-1. Os dados obtidos raiz, além de ser expresso também valores para cisto
foram submetidos à análise de variância e teste de viáveis e inviáveis para a espécie Heterodera glycines.
médias Scott-Knott a 5 % de probabilidade utilizando o A população de fitonematoides do gênero
programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2008). Pratylenchus spp. no solo, teve ligeiro aumento em
todos os tratamentos, comparando as duas épocas de
RESULTADOS E DISCUSSÃO coleta (Figura 2), exceto a população do tratamento 1
(Inlayon). Já a população na raiz diminuiu em todos os
Foram identificados três diferentes gêneros tratamentos, exceto nos tratamentos 7 (Nemat + Eco
de fitonematoides, sendo eles: Pratylenchus spp., Trich) e 9 (testemunha).

Coleta dia 03/01/2023 Coleta dia 28/02/2023


200 200
Juvenis de Pratylenchus spp./100 cm3

Juvenis de Pratylenchus spp./100 cm3

175 175
150 150
125 125
100 100
75 75
50 50
25 25
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Média de Praty - Raiz Média de Praty - Solo Média de Praty - Solo Média de Praty - Raiz

Figura 2. Média da população de Pratylenchus spp. em raiz e solo em duas épocas de coleta. Número dos
tratamentos seguindo a ordem descrita na Tabela 1.

A população de fitonematoides do gênero de Heterodera glycines na raiz, diminuiu em todos os


Heterodera glycines no solo, diminuiu em todos os tratamentos, exceto no tratamento 9 (Testemunha)
tratamentos comparando as duas épocas de coleta que manteve a população basicamente inalterada.
(Figura 3), exceto a população nos tratamentos 3 Em todos os tratamentos o número de cistos viáveis
(Tricho-Turbo+No-Nema), 8 (Acrescent Raiz F + aumentou e cistos inviáveis não foram detectados na
Acrescent Solus F) e 9 (Testemunha). A população última avaliação (dados não apresentados).

132 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Coleta no dia 03/01/2023 Coleta no dia 28/02/2023
250
250
225 225

Juvenis H. glycines/100cm3
Juvenis de H. glycines/100 cm3

200 200
175 175
150 150
125 125
100 100
75 75
50 50
25 25
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Média de Heter - Raiz Média de Heter - Solo


Média de Heter - Raiz Média de Heter - Solo

CV = Cistos Viáveis; CI = Cistos Inviáveis

Figura 3. Média da população de Heterodera glycines em raiz e solo em duas épocas de coleta. Número
dos tratamentos seguindo a ordem descrita na Tabela 1.

A população no solo de Helicotylenchus spp. épocas. De forma similar, as médias populacionais


diminuiu, em todos os tratamentos, comparando as duas de Helicotylenchus spp. nas raízes apresentaram
épocas de coleta (Figura 4). Exceto a população nos reduções expressivas em todos os tratamentos, quando
tratamentos 1 (Inlayon), 5 (Verango Prime) e 7 (Nemat comparados os dados aos 61 dias após a semeadura e
+ Ecotrich), que mantiveram valores próximos nas duas no final do cultivo.

Coleta dia 03/01/2023 Coleta dia 28/02/2023


Juvenis de Helicotylenchus spp./100 cm3
Juvenis de Helicotylenchus spp./100 cm3

200 200
175 175
150 150
125 125
100 100
75 75
50 50
25 25
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Média de Heli - Raiz Média de Heli - Solo Média de Heli - Solo Média de Heli - Raiz

Figura 4. Média da população de Heterodera glycines em raiz e solo em duas épocas de coleta. Número
dos tratamentos seguindo a ordem descrita na Tabela 1.

Fitopatologia 133
CLUBE DE REVISTAS
Em todas as análises em que se observou a antagonista ainda não está bem elucidado (MONDIN
diminuição populacional dos fitonematoides, havia 2020).
algum agente de biocontrole. Esse fator pode estar Ao analisar os valores de Flutuação
ligado à ação de determinados microrganismos populacional do gênero Pratylenchus spp., é possível
que compõe o produto (seja fungo ou bactéria) e identificar diferenças na dinâmica populacional entre
que possui a capacidade de colonizar a rizosfera e os tratamentos. Tendo em vista que valores de Fp >1,
sintetizar fitohormônios que induzem a planta a emitir indica aumento na população e Fp < 1, diminuição.
novas raízes, além de liberar metabólicos secundários Desse modo, os únicos tratamentos que demonstraram
que são capazes de repelir e ocultar substâncias Fp > 1, foram Nemat + Eco Trich (Paecilomyces lilacinus
químicas que atraem o fitonematoide, ou até mesmo + Trichoderma harzianum) e o tratamento testemunha
liberar substâncias toxicas à praga, porém esse efeito (Quadro 2).

Quadro 2. Dados não normalizados de Pratylenchus spp. em raiz e solo em duas épocas de coleta sendo: Pis
(População inicial no solo), Pir (População inicial na raiz), Pi (População Inicial de solo + raiz), Pfs (População
final no solo), Pfr (População final na raiz), Pf (População final de solo + raiz) e Fp (Flutuação populacional).

Pis Pir Pi Pfs Pfr Pf


Tratamentos Fp
03/01/23 03/01/23 03/01/23 28/02/23 28/02/23 28/02/23

Inlayon 7 126 133 6 22 28 0,21


Aveo EZ 3 173 176 6 41 47 0,26
Tricho-Turbo + No-Nema 2 70 72 2 20 22 0,3
Presence 7 88 95 10 47 57 0,59
Verango Prime 8 119 127 18 45 63 0,47
Avicta 500 6 123 129 20 28 48 0,37
Nemat + EcoTrich 6 97 103 12 123 135 1,30

Acrescent Raiz F +
0 60 60 13 29 42 0,7
Acrescent Solus F

Testemunha 7 33 40 12 41 53 1,32
Níveis populacionais de Pratylenchus spp.: baixo ( ); médio ( ); alto ( )

Na Tabela 2 está descrito a classificação estavam com o nível médio e alto. Já a população
dos níveis de Pratylenchus spp. para raiz e solo. A final na raiz (Pfr), os valores se mostraram baixos para
população inicial no solo (Pis) em todos os tratamentos todos os tratamentos, com exceção do tratamento com
foi considerado baixo. Já a população inicial na raiz Nemat + Eco Trich.
(Pir), somente os tratamentos Tricho-Turbo + No-Nema,
Acrescent Raiz F + Acrescent Solus F e a testemunha
estavam com a população baixa, os outros tratamentos

134 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 2. Valores de referência para níveis populacionais de Pratylenchus spp. em raiz e solo.

Pratylenchus spp.*
Nível Raiz (Nematoides/ g de raiz) Solo (Nematoide / 100cc)
Baixo 0-80 0-50
Médio 80-160 50-100
Alto >160 >100
*Adaptado de Stephen Koenning, Universidade da Carolina do Norte, EUA (2007)

Em relação a espécie Heterodera glycines, os (Abamectina), todos os outros tratamentos possuem


tratamentos que tiveram Fp < 1 foram: Inlayon, Presence, microrganismos em sua composição, demonstrando
Verango Prime, Avicta 500, Nemat + Eco Trich. Com a importância e o diferencial desses organismos em
exceção do Avicta 500, que possui molécula química associação com às plantas (Quadro 3).

Quadro 3. Dados não normalizados de Heterodera glycines em raiz e solo em duas épocas de coleta
sendo: Pis (População inicial no solo), Pir (População inicial na raiz), Pi (População Inicial de solo + raiz), Pfs
(População final no solo), Pfr (População final na raiz), Pf (População final de solo + raiz) e Fp (Flutuação
populacional).

Pis Pir Pi Pfs Pfr Pf


Tratamento Fp
03/01/23 03/01/23 03/01/23 28/02/23 28/02/23 28/02/23
Inlayon 214 13 227 57 1 58 0,25
Aveo EZ 32 0 32 33 0 33 1,01

Tricho-Turbo + No-
49 0 49 62 0 62 1,25
Nema

Presence 73 14 87 32 0,8 32,8 0,38


Verango Prime 136 8 144 36 0 36 0,25
Avicta 500 105 3 108 81 0,4 81,4 0,75
Nemat + EcoTrich 58 12 70 4 0 4 0,06
Acrescent Raiz F +
71 9 80 75 6 81 1,02
Acrescent Solus F
Testemunha 28 0 28 29 1 30 1,07
Níveis populacionais de Pratylenchus spp.: baixo ( ); médio ( ); alto ( )

Na Tabela 3 está descrito a classificação dos tratamento com Inlayon, que estava alto. Ao final do
níveis de Heterodera glycines para raiz e solo. A experimento houve uma redução da população final no
população inicial no solo (Pis) em todos os tratamentos solo (Pfs) para os tratamentos com Inlayon, Presence,
foi considerado baixa e média com exceção do Verango Prime, Avicta 500 e Nemat + Eco Trich.

Fitopatologia 135
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 3. Valores de referência para níveis populacionais de Heterodera glycines em raiz e solo.

HETERODERA GLYCINES**
Nível Solo (Nematoide / 100cc) Cisto
Baixo 0-100 0-2
Médio 100-200 2-5
Alto >200 >5
**Adaptado de Asmus e Andrade, 1999; Garcia et al., 1999; Inomoto et al., 2010.

Ao analisar os valores de Flutuação populacional demonstrou que grande parte dos produtos biológicos
do gênero Helicotylenchus spp., o único tratamento trazem resultados positivos para a redução no número
que demonstrou Fp > 1 foi Verango Prime (Fluopiram) e multiplicação da população de fitonematoides.
(Quadro 4). Nesse âmbito, mais uma vez o experimento

Quadro 4. Dados não normalizados de Helicotylenchus spp. em raiz e solo em duas épocas de coleta
sendo: Pis (População inicial no solo), Pir (População inicial na raiz), Pi (População Inicial de solo + raiz), Pfs
(População final no solo), Pfr (População final na raiz), Pf (População final de solo + raiz) e Fp (Flutuação
populacional).

Pis Pir Pi Pfs Pfr Pf


Tratamento Fp
03/01/23 03/01/23 03/01/23 28/02/23 28/02/23 28/02/23

Inlayon 109 71 180 114 9 123 0,68


Aveo EZ 121 61 182 64 8 72 0,39
Tricho-Turbo + No-Nema 82 51 133 61 5 66 0,49
Presence 177 85 262 87 7 94 0,35
Verango Prime 133 18 151 163 3 166 1,09
Avicta 500 125 65 195 70 7 77 0,4
Nemat + EcoTrich 99 115 214 89 3 92 0,43

Acrescent Raiz F +
161 103 264 122 7 129 0,48
Acrescent Solus F

Testemunha 131 77 208 53 9 62 0,3

Apesar de ser considerado um fitonematoide profissionais da área, já que, em níveis populacionais


de importância secundária, com o passar dos anos o elevados, este gênero pode reduzir e o crescimento das
gênero Helicotylenchus spp. tem ganhando mais espaço plantas e consequentemente o rendimento de grãos.
e causando preocupação à comunidade científica e Além disso, a presença desse fitonematoide nas raízes,

136 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
as injúrias causadas no sistema radicular podem servir um acompanhamento para que se consiga implantar
de porta de entrada para microrganismos patogênicos. diversas formas de controle. Desse modo, os resultados
(KIRSCH et al.,2016). do experimento não se expressaram em produtividade
O manejo de nematoides envolve diversas pois não diferenciaram estatisticamente (Figura 5).
práticas agronômicas com o intuito de atingir controle Todavia, é possível observar pontos interessantes no
significativo, principalmente no quesito de redução quesito de manejo, reforçando a importância do uso
populacional. O que torna difícil a tarefa de avaliar a de produtos químicos e biológicos de forma assertiva
avaliação da redução populacional de fitonematoides e frequente, para que o manejo se estruture ao longo
somente em uma safra. Afinal, é um processo gradual dos anos.
e que envolve um nível de conhecimento técnico e

80
ns
70
Produtividade (sacas ha-1)

60

50

40

30

20

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9

ns: Não significativo / C.V. (Coeficiente de Variação = 9,26)


ns: Não significa�vo / C.V. (Coeficiente de Variação = 9,26

Figura 5. Produtividade média de grãos de soja (sacas ha-1), safra 22/23, Rio Verde – GO.

em áreas comerciais naturalmente infestadas com


CONCLUSÃO
misturas populacionais é dificultoso e requer a adoção
de diversas medidas de controle de forma associada,
Mesmo que diferenças significativas não
ao longo dos anos.
tenham sido observadas quanto a produtividade,
De toda forma, é possível destacar alguns
alguns produtos aplicados possibilitaram reduções na
resultados. Como, por exemplo, para a espécie
população de alguns dos gêneros de fitonematoides
Heterodera glycines, os produtos: Inlayon, Presence,
avaliados. Contudo, a duração deste efeito sobre a
Verango Prime, Avicta 500, Nemat + Eco Trich
população destes nematoides, não pôde ser mensurada
conseguiram restringir parcialmente a multiplicação
neste trabalho. Até porque, o manejo de fitonematoides
desse fitonematoide no solo, representando a flutuação

Fitopatologia 137
CLUBE DE REVISTAS
populacional < 1. ABASTECIMENTO. Acompanhamento de safra de
Portanto, os resultados reforçam a importância grãos safra 2021/22. Disponível em: https://www.
da adoção de medidas de controle de forma conjunta conab.gov.br/info-agro/safras/graos/boletim-da-safra-
para o manejo de Pratylenchus spp., Heterodera de-graos. Acessado em: 01 de setembro de 2022.
glycines e Helicotylenchus spp. Pois a adoção de COOLEN, W. A.; D’HERDE, C. J. A method for the
do controle químico ou biológico, de forma pontual quantitative extraction of nematoides from plant tissue.
e isolada não é suficiente para se atingir níveis de Ghent: State Agricultural Research Center, 1972, 77p.
controle satisfatórios, sobretudo, frente a misturas EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE
populacionais com diferentes gêneros fitonematoides. PESQUISA AGROPECUÁRIA. Nematoide de cisto da
Além do mais, é necessário enxergar que o manejo soja. Londrina, PR. 1997.
deve ser constante, e reforçado a cada safra com as FERNANDES, G. A.; ANCHIÊTA, A. L. M.;
inovações que abastecem o conhecimento técnico e o CASSINO, A. A.; OLIVEIRA, L.A.; FERNANDES, A. A.; DA
mercado. SILVA, E. H.; PEREIRA, I.S. Métodos de controle do
fitonematoide Pratylenchus brachyurus na cultura da
AGRADECIMENTOS soja. Multidisciplinary Reviews, 3, 2020a.
FERNANDES, R. H.; VILELA JUNIOR, M. P.; LIMA,
Aos cooperados Acássio Teles de Castro e DIEGO TOLENTINO DE; FURTINI NETO, ANTÔNIO
Acássio Júnior por disponibilizarem a aérea para EDUADRO. Produtos Biológicos e Químicos, em
a montagem do experimento. Aos funcionários da Tratamento de Semente e Sulco de Plantio, para o
Fazenda Três Barras pelo acompanhamento e auxílio manejo de Pratylenchus brachyurus em soja. Anuário
na condução da lavoura. Ao Engenheiro Agrônomo de Pesquisas Agricultura – Instituto de Ciência e
e consultor do Departamento de Assitência Técnica Tecnologia Comigo, v.3, n.1, p. 177-186, 2020b.
da COMIGO, Fernando Bessa Araújo por todas as FERREIRA, D. F. SISVAR: Um programa para
contribuições que permitiram a execução do trabalho. análises e ensino de estatística. Revista Symposium
E por fim, a toda equipe de campo e pesquisadores do (Lavras), v. 6, p. 36-41, 2008.
Centro Tecnológico Comigo – CTC. FRANCHINI, J. C.; DEBIASI, H.; DIAS, W. P.; RAMOS
JUNIOR, E. U.; SILVA, J. F. V. Perda de produtividade

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roots caused by Radopholus similis and Helicotylenchus A. V.; BASSOI, L. H.; INAMASU, R. Y. (Ed.). Agricultura de

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Revisão Anual de Patologia de Plantas. Passo Fundo: Pratylenchus). Embrapa Cerrados-Documetos

(RAPP Ltda), v. 3, p. 29-84, 1995. (INFOTECA-E). 2008.

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138 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
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como -uma-potente -ferramenta-parasolos-
supressivos-anematoides#:~:text=Bacillus%20
amyloliquefaciens%20%C3%A9%20uma%20ri-
zobact%C3%A9rias,prote%C3%A7%C3%A3o%20
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36.

Fitopatologia 139
CLUBE DE REVISTAS

PROGRAMAS DE APLICAÇÕES DE
FUNGICIDAS NO CONTROLE DE
HELMINTOSPORIOSE DO MILHO

FERNANDES1, Rafael Henrique; LIMA2, Diego


Tolentino de; BRAZ3, Guilherme Braga Pereira;
INTRODUÇÃO
BUENO4, Amanda Magalhães; SARKIS5, Leonardo
Fernandes A estimativa da produção de grãos para a safra do
ano agrícola 2022/2023 aponta para valores recordes
de produção, assim como ocorrido na safra anterior.
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento
Agronômico em Fitopatologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: (Conab), são estimados 320,1 milhões de toneladas,
rafaelhenrique@comigo.com.br crescimento de 17,5% ou 47,6 milhões de toneladas
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador em relação à safra 2021/2022 (CONAB, 2023a). Estes
Agronômico em Entomologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: valores são consequência da combinação do aumento
diegotolentino@comigo.com.br nas áreas de cultivo e de produtividade. Estima-se que
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador a área cultivada apresente uma alta de 5% (3,8 milhões
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas-
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, de hectares), resultando em 78,3 milhões de hectares.
GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br Os maiores incrementos são observados na soja, com
4
Eng. Agrônoma, Dra. Em Agronomia, Pesquisadora 2,58 milhões de hectares ou 6,2%, no milho, 615,4 mil
Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do
Centro Tecnológico Comigo. Rio Verde, GO, Brasil. hectares ou 2,9% e, no trigo, 345,2 mil hectares ou
E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br 11,2% (CONAB, 2023a).
5
Eng. Agrônomo, Ms. em Ciência do Solo, De acordo com Edegar Pretto, presidente
Pesquisador Fertilidade e Fertilizantes do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: da Conab, estes dados reforçam o recorde da safra
leonardofernandes@comigo.com.br brasileira de grãos que é proveniente, principalmente,
da produtividade acima do que foi previsto para o milho
segunda safra, juntamente com o melhor desempenho
das culturas no campo (CONAB, 2023b). São esperadas
cerca 130 milhões de toneladas colhidas deste cereal,
produção 14,9% superior à obtida na safra 2021/22,
cultivadas em 22,2 milhões de hectares (aumento

140 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
de 2,9%), com produtividade média de 5.855 kg/ha mancha de turcicum ou mancha de HT, é causada pelo
(aumento de 11,7%) (CONAB, 2023a). Em Goiás, a fungo Exserohilum turcicum e apresenta elevadas
produção de milho deve totalizar 12,59 milhões de severidades em condições de plantio em segunda
toneladas (aumento de 29,2%), com produtividade safra. Os sintomas incluem lesões necróticas,
de 6,74 toneladas por hectare (alta de 32,8%) e área elípticas, medindo de 2,5 cm a 15 cm de comprimento
plantada de 1,87 milhões de hectares (GOVERNO DE com coloração que varia de cinza a marrom e, no
GOIÁS, 2023). interior das lesões, observa-se intensa esporulação
Na região do Sudoeste Goiano, o clima do patógeno. A disseminação do fungo ocorre pelo
adverso, com a ocorrência de baixas temperaturas transporte de conídios pelo vento a longas distâncias
e precipitações tardias, entre junho e julho, e as primeiras lesões aparecem, normalmente, nas
favoreceram o enchimento dos grãos em lavouras folhas inferiores. O patógeno apresenta capacidade
mais tardias, propiciando o aumento das estimativas de sobrevivência em restos culturais e pode utilizar o
de produtividade média. Em contrapartida, o ritmo sorgo, o capim sudão, o sorgo de halepo e o teosinto
de colheita manteve-se mais lento, pois além de como hospedeiros (COSTA & COTA, 2021).
atrasar também a perda de umidade dos grãos, os O controle da helmintosporiose no milho inclui
baixos preços do milho no mercado e a falta de rede medidas como uso de cultivares geneticamente
armazenadora, contribuíram para que os produtores resistentes, plantio em época adequada, rotação
aguardassem a redução natural da umidade em de culturas não suscetíveis, manejo adequado da
campo visando diminuir os custos (CONAB, 2023a). lavoura (CASELA et al., 2006) e o controle químico,
Embora as condições climáticas nesta medida muito utilizada principalmente quando se
segunda safra propiciarem um aumento na objetiva o controle rápido e preciso da doença.
produtividade, é importante destacar que umidade Estudos relatam avaliações com diversos
relativa do ar acima de 60% e temperaturas elevadas programas de aplicação de fungicidas com
também são fatores que contribuem para maior diferentes grupos químicos e ingredientes ativos.
incidência e severidade de doenças foliares no milho Camera et al. (2019a) relatam que os fungicidas
(COTA et al., 2017). protioconazol + trifloxistrobina apresentam a maior
Diversas doenças e patógenos podem eficiência de controle químico de helmintosporiose
desempenhar papel limitante para o desenvolvimento e a menor AACPD (Área Abaixo da Curva de
da cultura e causar elevado potencial de perdas. Progresso da Doença). Em outro trabalho, Camera et
Entretanto, a região de cultivo, a época de cultivo, al. (2019b) relatam que os fungicidas protioconazol
o genótipo cultivado, as condições edafoclimáticas, + trifloxistrobina apresentaram a menor taxa de
a altitude e as estratégias de manejo utilizadas expansão de lesão de E. turcicum quando aplicado
constituem variáveis para incidência e severidade dos curativamente. Pesquisadores da Fundação MS
sintomas apresentados (FERNANDES et al., 2022). (2020) avaliaram diferentes fungicidas aplicados
Dentre as doenças, a helmintosporiose destaca- em três estádios de desenvolvimento (V8, pré-
se como uma das principais doenças fúngicas que pendoamento e 15 dias após) e obtiveram controle
afetam a produção do milho. da doença acima de 80%.
A helmintosporiose, também conhecida como Em um manejo fitossanitário eficiente

Fitopatologia 141
CLUBE DE REVISTAS
para obtenção de altas produtividades, além de kg ha-1 do fertilizante Ureia protegida, tratada com
conhecer o desempenho do material cultivado e NBPT ([N-(n-butil) Triamida Tiofosfórico]; inibidor de
realizar o monitoramento frequente da lavoura, o urease).
controle químico tem sido cada vez mais utilizado. O controle de plantas daninhas foi realizado
Atualmente, existe uma gama de ingredientes com uma aplicação de S-Metolacloro (Dual Gold,
ativos, grupos químicos, diferentes condições de 960 g L-1, EC, Syngenta), na dose de 1,44 kg de i. a.
manejo e posicionamentos, que variam segundo ha-1, Aatrazina (Gesaprim, 500 g L-1, SC, Syngenta) na
clima, histórico da área, cultivar escolhida e nível dose de 1,0 kg de i. a. ha-1 e Glyphosate (Crucial, 540
econômico do produtor. Desta forma, torna-se g e. a. L-1, SL, Sumitomo) na dose 1,08 kg de e. a. ha-1,
fundamental conhecer as moléculas fungicidas, os realizada no dia da semeadura da área experimental.
produtos comerciais e programas de aplicação que Posteriormente, em pós-emergência da cultura (em
apresentem maior eficiência de controle e maior estádio fenológico V3) foram aplicados Glyphosate
custo/benefício da aplicação. (Crucial, 540 g e. a. L-1, SL, Sumitomo), na dose de 0,81
Diante disso, o objetivo foi avaliar a eficiência kg de e. a. ha-1, Atrazina (Proof, 500 g L-1, SC, Syngenta)
de controle de helmintosporiose no milho com na dose de 1,0 kg de i. a. ha-1 e adjuvante óleo mineral
diferentes posicionamentos de programas de (Iharol Gold, 756,8 g L-1, EC, Ihara), na dose de 0,302 kg
aplicações de fungicidas em condições de segunda e. a. ha-1. Também foram realizadas duas aplicações
safra. de inseticidas visando principalmente o controle
da cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) e lagartas,
MATERIAL E MÉTODOS variando com os seguintes produtos: Talisman (0,5 L
ha-1), Wild (1,0 L ha-1), Premio (0,1 L ha-1), Sperto (0,3 L
O experimento foi conduzido em condições de ha-1) e Engeo Pleno (0,3 L ha-1).
campo na área experimental do Centro Tecnológico Os tratamentos consistiram na execução de
Comigo (CTC), no município de Rio Verde-GO programas de aplicações de fungicidas, com duas
(S 17°45’45” e 51°01’03” W), com 837 metros de aplicações (Tabela 1).
altitude, com predominância de áreas com Latossolo
Vermelho Distrófico (SANTOS et al., 2018).
O material de milho utilizado foi o híbrido NK
520 VIP3 (Syngenta®). Semeadura e colheita foram
realizadas nos dias 01/03/2023 e 31/07/2022,
respectivamente, totalizando um ciclo de 152
dias. Na semeadura foram aplicados 400 kg ha-1
do fertilizante formulado 15:15:15 (N:P:K) no sulco
de plantio. A densidade de semeadura foi de 2,8
sementes por metro e o estande final de plantas foi
de 54.000 plantas por hectare (estande avaliado com
a cultura em estádio V3). A adubação de cobertura
foi realizada em 16/03/2023, com a aplicação de 150

142 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Descrição dos tratamentos contendo a relação dos programas de aplicações de fungicidas,
ingredientes ativos (I. A.), doses de I. A. aplicados no híbrido NK 520 VIP3. Centro Tecnológico
Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

1ª Aplicação 2ª Aplicação

Produto Comercial (kg ou L ha-1) Produto Comercial (kg ou L ha-1)


Trat.
Ingredientes Ativos – I. A. (g de I. A. ha-1) Ingredientes Ativos – I. A. (g de I. A. ha-1)

1 Priori Xtra (0,3) + Score Flexi (0,2)/1 Miravis Duo (0,6)/1

Azoxistrobina (60) + Ciproconazol (24) +


Pidiflumetofem (45) + Difenoconazol (75)
Propiconazol (50) + Difenoconazol (50)

2 Priori Xtra (0,3) + Score Flexi (0,2)/1 Priori Top (0,3) + Bravonil 720 (1,0)/1

Azoxistrobina (60) + Ciproconazol (24) + Azoxistrobina (60) + Difenoconazol (37,5) +


Propiconazol (50) + Difenoconazol (50) Clorotalonil (720)

3 Aproach Power (0,6) + Unizeb Gold (1,5) Aproach Power (0,6) + Unizeb Gold (1,5)

Picoxistrobina (54) + Ciproconazol (24) + Picoxistrobina (54) + Ciproconazol (24) +


Mancozebe (1.125) Mancozebe (1.125)

4 Abacus (0,35)/2 Orkestra (0,3) + Unizeb Gold (1,5)/2

Fluxapiroxade (50) + Piraclostrobina (100) +


Piraclostrobina (91) + Epoxiconazol (56)
Mancozebe (1.125)

5 Nativo (0,6)/3 Fox Xpro (0,5) + Unizeb Gold (1,5)/3

Bixafem (62,5) + Trifloxistrobina (75) +


Trifloxistrobina (60) + Tebuconazol (120)
Protioconazol (87,5) + Mancozebe (1.125)

6 Tridium (2,0)/3 Tridium (2,0)/3

Azoxistrobina (94) + Tebuconazol (112) + Azoxistrobina (94) + Tebuconazol (112) +


Mancozebe (1.194) Mancozebe (1.194)

7 Tamiz (0,5) + Troia (1,5)/4 Tamiz (0,5) + Troia (1,5)/4

Azoxistrobina (60) + Tebuconazol (80) + Azoxistrobina (60) + Tebuconazol (80) +


Mancozebe (1.200) Mancozebe (1.200)

8 Aproach Power (0,6) + Unizeb Gold (1,5) Tridium (2,0)/3

Picoxistrobina (54) + Ciproconazol (24) + Azoxistrobina (94) + Tebuconazol (112) +


Mancozebe (1.125) Mancozebe (1.194)

9 Abacus (0,35) + Unizeb Gold (1,5)/2 Fox Xpro (0,5) + Unizeb Gold (1,5)/3

Piraclostrobina (54) + Epoxiconazol (56) + Bixafem (62,5) + Trifloxistrobina (75) +


Mancozebe (1.125) Protioconazol (87,5) + Mancozebe (1.125)
10
- -
Testemunha
/ Adicionado Ochima (0,25 L ha ); / Adicionado Mees (0,5 L ha ); / Adicionado Aureo (0,25% v/v); / Adicionado Agris (0,5 L ha-1)
1 -1 2 -1 3 4

Fitopatologia 143
CLUBE DE REVISTAS
A primeira aplicação, realizada em 14/04/2023, (temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do
foi com a cultura em estágio vegetativo (entre V6 e V7) vento) foram mensurados com o auxílio do aparelho
e a segunda, em 25/04/2023, no pré-pendoamento da termo-higro-anemômetro (Tabela 2).
cultura. Durante as aplicações os dados meteorológicos

Tabela 2. Datas das aplicações e dados meteorológicos mensurados nas aplicações de fungicidas
no milho em segunda safra, híbrido NK 520 VIP3. Centro Tecnológico Comigo-CTC, Rio Verde-GO,
safra 2022/2023.

Data Horário (h) T (°C) UR (%) Velocidade do vento (km h-1)

1ª Aplicação Início 09:03 23,3 88,0 1,44

(14/04/2023) Término 10:09 24,6 87,1 2,88

2ª Aplicação Início 09:35 25,4 74,2 3,60

(25/04/2023) Término 11:47 28,4 68,9 2,88

O delineamento experimental utilizado foi As duas primeiras avaliações foram realizadas na


de blocos casualizados com dez (10) tratamentos e véspera das aplicações e a terceira, 20 dias após a
quatro (4) repetições, totalizando 40 parcelas. Cada última aplicação. As avalições foram feitas em duas
parcela foi composta por 10 linhas de plantio, com folhas do terço médio (folha da espiga e a folha
espaçamento entre linhas de 0,5 m, e 10 metros oposta à espiga) de três (3) plantas aleatórias dentro
de comprimento. A parcela útil foi composta pelas da parcela útil, sendo a média destas utilizadas para
seis linhas centrais excluindo dois (2) metro das representar a média da parcela.
extremidades, totalizando a área útil de 18 m . 2
Os dados de severidade foram expressos
As aplicações foram feitas com pulverizador em porcentagem (%) de tecido foliar afetado e a
pressurizado por CO2 (Número de patente: partir deles foi calculada a área abaixo da curva de
BR102016007565-3) dotado com barra de progresso da doença – AACPD (Campbell e Madden,
pulverização com 10 bicos, espaçados a 0,5 m e com 1990), eficiência de controle das aplicações (% de
pontas de pulverização ADIA 110.015/D, montado controle). A produtividade de grãos foi estimada
em um trator (MF 275, Massey Ferguson, 75 cv). através da colheita de três (3) metros de três (3)
Antes do início das aplicações foi feita a calibragem linhas da parcela útil. Os resultados obtidos foram
do equipamento e os ajustes para pressão de corrigidos para 14% de umidade e expressos em
trabalho de 3,8 bar (55,11 Psi) e volume de aplicação sacas de 60 kg ha-1. Os dados de severidade, AACP-
constante de 150 L ha-1. Helmintosporiose e produtividade foram submetidos
Foram realizadas três (3) avaliações de à análise de variância e aplicado o teste de Scott-
severidade para estimar a área direta afetada Knott (P<0,05) para separação das médias, através
por Exserohilum turcicum utilizando a escala software SISVAR (FERREIRA, 2014).
diagramática proposta por Lazaroto et al. (2012).

144 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
(Figuras 1 e 2).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os programas de aplicações de fungicidas
avaliados obtiveram desempenho semelhante, com
Os resultados referentes à severidade final
reduções do desenvolvimento da doença no campo,
e AACP-Helmintosporiose (Figuras 1 e 2) tiveram
reduzindo satisfatoriamente a severidade final e
comportamento semelhante. Destacam-se os altos
também a AACP-Helmintosporiose (Figuras 1 e 2). A
níveis de severidade e AACP-Helmintosporiose
redução média na severidade final foi de 60,7% com
observados no tratamento testemunha, com
execução dos programas de aplicações, variando de
quase 20% de tecido foliar afetado e AACP-
18,6% na testemunha a 6,5% de tecido foliar afetado
Helmintosporiose elevada (468,0), com ambas as
nos tratamentos 1 e 6 (Figura 1).
variáveis diferenciando-se dos demais tratamentos

b
Severidade (% de tecido foliar afetado)

20,0

15,0

10,0 a
a a a a
a a a a

5,0

0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tratamentos

Médias comcom
Médias letras iguais
letras acima
iguais acimadas
dasbarras
barras não diferementre
não diferem entresi si pelo
pelo teste
teste de Sco�-Kno�
de Scott-Knott (P<0,05)
(P<0,05)

Figura 1. Severidade final de helmintosporiose no híbrido NK 520 VIP3 com diferentes programas
de aplicações de fungicidas. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

Em relação a eficiência de controle entre os Flexi / 2ª Miravis Duo), 2 (1ª Priori Xtra + Score Flexi /
programas de aplicações, também foram obtidos 2ª Priori Top + Bravonil 720), 6 (1ª Tridium / 2ª Tridium),
resultados similares. A eficiência de controle ficou em 7 (1ª Tamiz + Troia / 2ª Tamiz + Troia) e 9 (1ª Abacus +
torno de 60% independentemente do programa de Unizeb Gold / Fox Xpro + Unizeb Gold), que obtiveram
aplicações. Vale aqui, destacar de forma discreta, os valores acima de 60% de controle da doença (Figura 2).
programas dos tratamentos 1 (1ª Priori Xtra + Score

Fitopatologia 145
CLUBE DE REVISTAS
500,0 100
90
b
AACP-Helmintosporiose

Eficiência de Controle (%)


400,0 80
65 63 65 64
58 59 58 61 70
57
300,0 60
50
200,0 40
a a a a 30
a a a
a a
100,0 20
10
0,0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tratamentos

AACPD Eficiência de Controle

Médias com letras iguais nas barras não diferem entre si pelo teste de Sco�-Kno� (P<0,05)

Figura 2. Área Abaixo da Curva de Progresso de helmintosporiose no milho e eficiência de controle


estimada com diferentes programas de aplicações de fungicidas, híbrido NK 520 VIP3. Centro
Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

Por fim, os valores de produtividade do milho (testemunha), a produtividade foi comprometida. Ao


também acompanharam os demais resultados. passo que, nos tratamentos com diferentes programas
O que reforça a alta relação entre a incidência e de aplicações ocorreram reduções na severidade
severidade de Helmintosporiose com a produtividade e no desenvolvimento da doença no campo, o que
da cultura. Sendo que, onde os valores de severidade possibilitou maior sanidade e produtividade superiores
e AACP-Helmintosporiose foi mais alto, tratamento 10 (Figura 3).

146 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
120,0 a a
a a a a a
100,0 a a
b
Produtividade (sacas ha-1)

80,0

60,0

40,0

20,0

0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tratamentos

Médias com
Médias com letras
letrasiguais
iguaisacima
acimadas
dasbarras
barrasnão diferem
não entre
diferem si pelo
entre teste
si pelo de Scott-Knott
teste (P<0,05)
de Sco�-Kno� (P<0,05)
C.V. =
C.V. 11,14%
= 11,14

Figura 3. Produtividade média do híbrido NK 520 VIP3 após a execução de diferentes programas
de aplicações de fungicidas. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

planta e reduzir a produtividade, deixar de executar


CONCLUSÃO
aplicações de fungicidas com este propósito restringe
o potencial produtivo da lavoura.
Os programas de aplicações de fungicidas foram
eficientes no controle da Helmintosporiose no milho.
Eles reduziram a severidade da doença e possibilitaram AGRADECIMENTOS
ganhos expressivos de produtividade.
Os fungicidas são importantes ferramentas Á equipe de campo, estagiários e demais

a serem utilizadas dentro do manejo de doenças pesquisadores do CTC pelo apoio na execução deste

foliares na cultura do milho. Neste trabalho, não experimento.

foram identificadas diferenças significativas entre


os programas de aplicações avaliados. Todavia, é REFERÊNCIAS
necessário ressaltar a ocorrência de múltiplas doenças
de forma simultânea na lavoura e a necessidade de CAMERA, J. N.; FORCELINI, C. A.; KOEFENDER,
posicionamentos que proporcionem ampla proteção J.; GOLLE, D. P.; SCHOFFEL, A.; DEUNER, C. C.
ao híbrido. E ainda que, frente ao potencial da Reaction of maize hybrids to Northern corn leaf
Helmintosporiose em causar danos aos tecidos da blight and common rust, and Chemical control of
Northern corn leaf blight. Plant Patology, v. 86,

Fitopatologia 147
CLUBE DE REVISTAS
article e0082018, 2019a. Safrinha 2019. LOURENÇÃO, A. L. F.; GRIGOLLI, J.
CAMERA, J, N.; KOEFENDER, J.; GOLLE, D. P.; F. J.; GITTI, D. C.; BEZERRA, A. R. G.; MELOTTO, A. L.
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FUNDAÇÃO MS. Tecnologia e Produção:

148 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS

CONTROLE QUÍMICO DE DOENÇAS


FOLIARES DO SORGO NA SEGUNDA
SAFRA DO ANO AGRÍCOLA
2022/2023

FERNANDES1, Rafael Henrique; LIMA2, Diego mundo. Do ponto de vista agronômico, é classificado em
Tolentino de; BRAZ3, Guilherme Braga Pereira; cinco grupos: granífero, sacarino, forrageiro, vassoura e
BUENO4, Amanda Magalhães; SARKIS5, Leonardo biomassa. O primeiro grupo é utilizado na alimentação
Fernandes
humana e animal, inclui tipos de porte baixo adaptados
à colheita mecânica, e apresenta maior destaque
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador
Agronômico em Fitopatologia do Centro na produção, consumo e, consequentemente, na
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: economia (SILVA, 2019). O sorgo forrageiro é utilizado
rafaelhenrique@comigo.com.br principalmente por sua eficiência como complemento
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Entomologia do Centro alimentar de ruminantes, na forma de silagem ou pastejo
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: (OLIVEIRA, 2015). Já os sorgos do tipo sacarino e biomassa
diegotolentino@comigo.com.br são voltados para produção de bioenergia, enquanto o
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas- grupo vassoura apresenta panícula longa transformada
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, em vassouras artesanais para uso doméstico (FOLTRAN,
GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br 2012).
4
Eng. Agrônoma, Dra. Em Agronomia, Pesquisadora
Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do O sorgo é semeado em quase sua totalidade no
Centro Tecnológico Comigo. Rio Verde, GO, Brasil. período de segunda safra, pois apresenta tolerância
E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br ao estresse hídrico e adaptações ao clima quente,
5
Eng. Agrônomo, Ms. em Ciência do Solo,
Pesquisador Fertilidade e Fertilizantes do Centro como sistema radicular bem desenvolvido, extenso e
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: fibroso, e faixa de temperatura ideal entre 33°C e 34°C
leonardofernandes@comigo.com.br (MAGALHÃES et al., 2000). O ciclo de vida do sorgo, de
forma geral vai de 90 a 120 dias, mas pode apresentar
variações dependendo da cultivar e do local onde é
INTRODUÇÃO plantado, podendo chegar próximo aos 140 dias para
alguns cultivares de sorgo granífero. Tais vantagens
O sorgo (Sorghum bicolor L.) é um vegetal de competitivas do sorgo estão acompanhadas de menor
origem tropical e o quinto cereal mais plantado no custo de produção, pois quando comparado ao milho há

Fitopatologia 149
CLUBE DE REVISTAS
redução de 20 a 30%. Além disso, é uma ótima opção e pragas e pelo aperfeiçoamento de profissionais.
para a segunda safra caso a janela se encurte no plantio Apesar do alto rendimento na produção de grãos
da primeira safra (VIANA, 2022). e matéria seca, o cultivo do sorgo ainda carece de
Segundo a Companhia Nacional de incentivos consistentes dos setores público e privado
Abastecimento (Conab), a produção brasileira de para a ampliar a competitividade e seus horizontes de
sorgo deverá totalizar 4,326 milhões de toneladas no mercado. A falta de estruturação da cadeia produtiva
ano agrícola 2022/2023, aumento de 38,7% quando e logística do transporte, com altos preços de frete e
comparado ao ano anterior, quando foram colhidas 3,12 combustível, a perda de grãos no transporte, a falta
milhões de toneladas. Em relação à área cultivada, houve de locais de armazenamento e o valor do sorgo sendo
aumento de 20,9%, com 1,130 milhões de hectares em balizado pelo preço do milho constituem desafios para
2021/2022 para 1,367 milhões de hectares nesta safra. a expansão da cultura no país (VIANA, 2022).
A produtividade também apresentou incremento de Outro fator desafiador no cultivo do sorgo é o
14,7%, sendo estimados 3.165 kg ha-1 em contrapartida déficit de produtos fitossanitários registrados para
ao rendimento de 2.760 kg ha-1 na última safra (CANAL a cultura, pois são diversas as doenças que atacam
RURAL, 2023). e comprometem a produtividade, como antracnose
Dentre os produtores nacionais de sorgo, (Colletotrichum graminicola – sin. Colletotrichum
Goiás é estado com maior produção (1,44 milhões de sublineolum P. Henn., Kabat e Bulbak), helmintosporiose
toneladas), seguido de Minas Gerais (1,20 milhões (Exserohilum turcicum), míldio (Peronosclerospora
de toneladas) e Mato Grosso do Sul (0,48 milhões de sorghi), ergot/doença açucarada do sorgo (Claviceps
toneladas) (CONAB, 2023). O alto rendimento das africana), ferrugem (Puccinia purpurea), cercosporiose
lavouras goianas foi favorecido por fatores como a (Cercospora sorghi) e a podridão seca (Macrophomina
continuidade das chuvas em abril, favorecendo o phaseolina) (SILVA et al., 2012). É inevitável as
enchimento de grãos; baixa precipitação e baixas comparações com o cultivo do milho, visto que para
temperaturas na segunda quinzena de julho, este cereal existem dezenas de produtos disponíveis,
contribuindo para a perda de umidade dos grãos nas estratégias bem definidas de aplicações e incentivos
lavouras; e pelo manejo de pragas, como o pulgão, financeiros para o desenvolvimento de novas moléculas,
com controle mais assertivo do inseto, impedindo que enquanto tais estratégias de controle são bem mais
a infestação alcançasse níveis de dano econômico em escassas no cultivo do sorgo. Além disso, anualmente
grande parte das lavouras (CONAB, 2023). Deste modo, são lançados híbridos de milho que apresentam
Goiás deve produzir cerca de 32 milhões de toneladas tolerâncias e/ou resistência à patógenos, enquanto
de grãos na safra 2022/2023, colocando o estado que para o sorgo este número é notadamente menor
em terceiro lugar entre os maiores produtores (Mato (FERNANDES et al., 2022).
Grosso e Paraná) (GOVERNO DE GOIÁS, 2023). Baseado na dificuldade de acesso a produtos
O aumento de área cultivada e produtividade nas fitossanitários, na escassez de produtos registrados e
últimas safras aliado ao avanço da cadeia produtiva do na falta de informações e pesquisas sobre o controle
sorgo nos últimos anos pode ser considerado reflexo químico de doenças no sorgo, há a necessidade de
do desenvolvimento de materiais melhor adaptados às conhecimento e avaliação de programas de aplicação
regiões de cultivo, com maior resistência a doenças e do custo/benefício do uso de fungicidas, visando

150 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
alavancar os índices de produtividade. Várias são as a aplicação na pré-semeadura do sorgo com Glyphosate
moléculas e grupos químicos utilizados em outras (Crucial, 540 g e. a. L-1, SL, Sumitomo) na dose de 1,08
culturas, como a soja e o milho, que devem ser kg ha de e. a., Carfentrazona-Etílica (Aurora, 400 g i. a.
analisadas quanto ao seu uso e eficiência no sorgo, L.-1, FMC, EC) na dose de 0,028 kg de i. a. ha-1 e Atrazina
pois podem auxiliar no manejo das doenças. (Proof, 500 g i. a. L.-1, SC, Syngenta) na dose de 1,0 kg
Desta forma, o objetivo foi avaliar a eficiência de i. a. ha-1. Posteriormente, cerca de 20 dias após a
de aplicações de fungicidas no controle de doenças semeadura, foram aplicados em pós-emergência das
foliares no sorgo, especialmente antracnose e plantas daninhas o herbicida Atrazina (Proof, 500 g i.
helmintosporiose. a. L-1, SC, Syngenta), na dose de 1,5 kg i. a. ha-1, com
adição 0,400 L ha-1 de adjuvante óleo mineral (Iharol
MATERIAL E MÉTODOS Gold, 760 g L-1, EC, Ihara). Para o controle de pragas
foram realizadas avaliações semanais e aplicações de
O experimento foi conduzido na área inseticidas recomendados quando atingido o nível de
experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC), controle. As principais pragas que acometeram a área
localizado em Rio Verde-GO (S 17°45’46’’ e W 51°02’03’’, experimental foram lagarta-do-cartucho e pulgões.
835 m de altitude), com áreas predominantes de O delineamento experimental utilizado foi o de
Latossolo Vermelho distrófico (SANTOS et al., 2018). Blocos Casualizados, com 12 tratamentos e quatro
O material utilizado foi o híbrido de sorgo repetições/blocos, totalizando 48 parcelas. As parcelas
1G100 (Brevant®), semeado no dia 28/02/2023, com foram compostas por 10 linhas, espaçadas a 0,50 m
densidade de semeadura de 10,5 sementes por metro. e com 10 metros de comprimento, equivalente a uma
As sementes foram tratadas com 2,5 g de Fludioxinil, área de 50 m2 (10,0 x 5,0 m), sendo considerada como
2,0 g Metalaxil e 15 g de Tiabendazol (Maxim Advanced, parcela útil seis metros das seis linhas centrais (18 m2).
0,1 L /100 kg de sementes ); 40 mL kg Fluxofenin Os tratamentos foram compostos por duas
(Benefic, EC, 40 mL / 100 kg de sementes); 62,5 g aplicações (sequenciais) de diferentes fungicidas,
Clorantraniliprole (Dermacor 0,1 L / 100 kg sementes). contendo misturas duplas e duas misturas triplas
No sulco de semeadura foram aplicados o inseticida de moléculas fungicidas, além de um tratamento
biológico Meta-Turbo SC, Biovalens (Metarhizium testemunha (Tabela 1). A primeira aplicação foi
anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1 x realizada cerca de 40 dias após a emergência e a
108 propágulos viáveis mL-1) na dose de 0,5 L ha-1, o segunda aplicação realizada 10 dias após, culminando
co-inoculante Biomax Azum, Biosoja (Azospirillum com a fase de pré-emborrachamento da cultura.
brasilense, 3 x 108 células/mL) na dose de 0,15 L ha-1 e Durante as aplicações as condições meteorológicas
RayNitro Zn News (7% de N, 7% de P2O5 e 4% de Zn), na de temperatura (°C), umidade relativa do ar (%) e
dose de 0,25 L ha-1. velocidade do vento (km h-1) foram mensuradas com o
Na adubação de plantio foram aplicados 400 equipamento termo-hidro-anemômetro (Tabela 2).
kg ha-1 do formulado 15:15:15 (N:P:K). Além disso, foi
realizada uma adubação de cobertura com 150 kg ha-1
de Ureia protegida com NBPT, em 17/03/2023.
O controle de plantas daninhas foi realizado com

Fitopatologia 151
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Relação dos tratamentos com diferentes produtos comerciais, composição de ingredientes
ativos e doses utilizadas nas aplicações no sorgo 1G100. Centro Tecnológico Comigo-CTC, Rio
Verde-GO, Safra 2022/2023.

Tratamentos Produto Comercial – p. c.


g I. A. ha-1
Ingrediente (s) Ativo (s) – I. A. e concentração g L ou kg
-1 -1
Dose (L ou kg ha-1)

Benzovindiflupir (60) + Difenoconazol (90) + Ciproconazol (150) Alade (0,5) 30 + 45 + 75


Picoxistrobina (90) + Ciproconazol (40) Aproach Power (0,6) 54 + 24
Difenoconazol (250) + Ciproconazol (150) Cypress 400EC (0,4) 1
100 + 60
Mefentrifuconazole (200) + Piraclostrobina (200) Melyra (0,5) 2 100 + 100
Piraclostrobina (133) + Epoxiconazol (50) Opera (0,6) 2 79,8 + 30
Fluxapiroxade (167) + Piraclostrobina (333) Orkestra (0,3) 2
50 + 99
Propiconazol (250) + Difenoconazol (250) Score Flexi (0,2) 50 + 50
Metominostrobina (110) + Tebuconazol (165) Fusão (0,725) 80 + 120
Azoxistrobina (120) + Tebuconazol (160) Tamiz (0,5) 3 60 + 80
Piraclostrobina (260) + Epoxiconazol (160) Abacus (0,35) 2
91 + 56
Azoxistrobina (47) + Tebuconazol (56) + Mancozebe (597) Tridium (2,0) 4
94 + 112 + 1.194
Testemunha - -
1
Adicionado Ochima (0,25 L ha ); Adicionado Mees (0,5 L ha ); Adicionado Agris (0,6 L ha ); Adicionado Aureo (0,25% v/v)
-1 2 -1 3 -1 4

As aplicações foram realizadas com pulverizador post-mix com capacidade de 10 L. As pontas utilizadas
pressurizado por CO2 (Patente: BR102016007565-3) para pulverização foram modelo ADIA 110 015/D,
montando em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75 cv). da marca Magnojet. A calibragem do equipamento
O pulverizador é dotado com barra de cinco metros, ajustada para pressão de trabalho na ponta de 3,8 bar
com 10 bicos de pulverização espaçados a 0,50 m. A (55,1 PSI) e volume de aplicação de 150 L ha-1.
calda preparada era acondicionada em tanques tipo

152 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 2. Dados meteorológicos nas aplicações de fungicidas no sorgo, híbrido 1G100. Centro
Tecnológico Comigo-CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

Horário Temperatura Umidade Relativa do Velocidade do


Data
(h) (°C) ar (%) vento (km h-1)

1ª Aplicação Início 10:32 28,1 66,9 5,40

17/04/2023 Término 14:25 30,2 63,2 8,28

2ª Aplicação Início 14:40 30,2 59,1 4,32

25/04/2023 Término 16:20 28,9 59,6 2,88

As avaliações de incidência e severidade das


RESULTADOS E DISCUSSÃO
doenças foram realizadas na véspera de cada aplicação
e 25 dias após a última aplicação. Nas avaliações foram
As principais doenças com ocorrência
identificadas as principais doenças que acometeram
na área experimental, foram a helmintosporiose
as plantas e realizada uma estimativa de severidade
(Exserohilum turcicum) e antracnose foliar e de colmo
média dos tecidos foliares afetados por estas doenças,
(Colletotrichum graminicola). Além disso, é necessário
expressa em % de tecido foliar, variando de 0 a 100%.
destacar as condições de déficit hídrico e de mato-
A partir das avaliações foi possível calcular a Área
competição, principalmente com a capim-colchão
Abaixo da Curva de Progresso de Doenças (AACPD)
(Digitaria horizontalis) com os quais a cultura conviveu
(CAMPBELL e MADDEN, 1990), que auxilia na
durante seu ciclo. De toda forma, os valores elevados
quantificação da doença no campo e é utilizada para os
de severidade final e AACP-Manchas foliares obtidos
cálculos de eficiência de controle (%) dos tratamentos.
pelo tratamento testemunha, com 13,63% e 287,75
A colheita foi realizada no dia 29/06/2022,
(Tabela 3), respectivamente, demonstram a capacidade
completando o ciclo com 121 dias de cultivo. A
dos patógenos em se estabelecer e a sensibilidade do
produtividade foi estimada pela colheita de três metros
híbrido de sorgo a estas doenças fúngicas, mesmo em
de três linhas da parcela útil. As amostras colhidas
condições desafiadoras de cultivo.
foram identificadas e posteriormente trilhadas, pesadas
Todos os fungicidas avaliados foram capazes
e mensuradas quanto à umidade. Os dados foram
de reduzir a severidade final de doenças e a AACP-
ajustados para umidade padrão de 14% e os resultados
Manchas foliares em relação ao tratamento testemunha.
expressos em sacas de 60 kg por hectare (sc ha-1).
Contudo, é possível observar que as aplicações
Os dados de severidade, AACP-Manchas
com Picoxistrobina + Ciproconazol, Piraclostrobina
foliares e produtividade foram submetidos à análise
+ Epoxiconazol (+), Fluxapiroxade + Piraclostrobina,
de variância e aplicado o teste de Scott-Knott (P<0,05)
Propiconazol + Difenoconazol tiveram desempenho
para separação das médias, através software SISVAR
ligeiramente inferior aos demais e semelhante entre
(FERREIRA, 2014).
si (Tabela 3). Ressalta-se que, para AACP-Manchas
foliares, a aplicação de Piraclostrobina + Epoxiconazol

Fitopatologia 153
CLUBE DE REVISTAS
(+) obteve valores semelhantes aos melhores apresentados para cada doença separadamente.
tratamentos. No entanto, entende-se que no cenário de cultivo do
Em valores absolutos a maior eficiência de sorgo no Sudoeste Goiano, há a necessidade de que
controle foi obtida pelo tratamento com aplicações os produtos tenham boa performance para ambas as
de Azoxistrobina + Tebuconazol + Mancozebe, com doenças. Diante disso, pode-se ressaltar os valores
65% (Tabela 3). Lembrando que, esta variável remete de eficiência de controle acima de 60%, obtidos pelas
a eficiência de cada fungicida em reduzir a severidade aplicações com: Difenoconazol + Ciproconazol,
de uma determinada doença, no caso deste trabalho, Mefentrifluconazol + Piraclostrobina, Piraclostrobina
as avaliações levaram em consideração a ocorrência e + Epoxiconazol (++) e Azoxistrobina + Tebuconazol
severidade de duas das principais doenças da cultura + Mancozebe (Tabela 3), com 60, 64, 61 e 65%
de forma simultânea. Por isso, os valores aparentemente respectivamente.
baixos, certamente seriam maiores se fossem

Tabela 3. Valores médios de Severidade Final, AACPD-Manchas foliares e Eficiência de controle em


função dos diferentes fungicidas aplicados no sorgo, híbrido 1G100. Centro Tecnológico Comigo-
CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.

Severidade Final AACPD Eficiência


Tratamentos (% de Tecido (Manchas de Controle
afetado) foliares) (%)

Benzovindiflupir + Difenoconazol + Ciproconazol 4,63 a 128,55 a 55

Picoxistrobina + Ciproconazol 6,00 b 146,36 b 49

Difenoconazol + Ciproconazol 4,13 a 115,05 a 60

Mefentrifluconazol + Piraclostrobina 4,19 a 104,25 a 64

Piraclostrobina + Epoxiconazol (+) 5,25 b 128,76 a 55

Fluxapiroxade + Piraclostrobina 5,88 b 140,80 b 51

Propiconazol + Difenoconazol 6,50 b 159,86 b 44

Metominostrobina + Tebuconazol 4,56 a 127,69 a 56

Azoxistrobina + Tebuconazol 3,72 a 122,66 a 57

Piraclostrobina + Epoxiconazol (++) 3,75 a 111,78 a 61

Azoxistrobina + Tebuconazol + Mancozebe 3,22 a 101,61 a 65

Testemunha 13,63 c 287,75 c 0

C.V. 11,88 13,64 -

154 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Os dados de pluviometria obtidos através de uma Que ocorreu simultaneamente após dias com baixas
estação meteorológica automática (Plug Field) na área temperaturas e estresses hídricos moderados. Ainda
experimental do CTC, indicam que após a semeadura assim, a severidade das doenças foliares (e antracnose
foi registrado um volume pluviométrico de 399 mm, no colmo) saíram de não mais que 3% nos tratamentos
sendo eles distribuídos em 289 mm no mês de março, com aplicações (dados não apresentados), para até o
76 mm em abril, 12 mm em maio e 22 mm no mês de dobro deste valor em alguns tratamentos (Tabela 3).
junho. É notório que o volume considerável de chuvas Em relação à produtividade, todos os programas
após a semeadura da área experimental, sobretudo de aplicações de fungicidas obtiveram valores
no mês de março e meados de abril, possibilitou bom superiores aos do tratamento testemunha (Figura 1). O
desenvolvimento vegetativo da cultura, bem como ganho médio foi acima de 15 sacas por hectare. Estes
pode ter sido fundamental para as infecções iniciais resultados, reforçam novamente o grande potencial
observadas já na primeira avaliação de severidade, em de utilização de fungicidas no controle de doenças no
16/04. A partir daí, a progressão da doença avançou de sorgo e na manutenção da sanidade, com impactos
forma lenta até a fase de enchimento pleno dos grãos. diretos sobre a produtividade das lavouras.

a a a a a a a
a a a a
100,0
Produtividade (sacas ha-1)

b
80,0

60,0

40,0

20,0

0,0
Opera

Abacus
Alade

Aproach Power

Fusão

Tamiz
Orkestra
Melyra

Score Flexi

Tridium

Testemunha
Cypress

Médias seguidas por letras iguais acima das barras não diferem entre si pelo teste de Sco�-Kno� (P<0,05)
C.V. (Coeficiente de Variação) = 8,13%

Figura 1. Gráfico com a produtividade média de sorgo (sacas por hectare) do híbrido 1G100 após
as aplicações dos diferentes ingredientes ativos fungicidas. Centro Tecnológico Comigo-CTC, Rio
Verde-GO, safra 2022/2023.

Fitopatologia 155
CLUBE DE REVISTAS
Ganhos expressivos de produtividade com a experimento.
aplicação de fungicidas na cultura do sorgo têm sido
observadas nos últimos anos, não somente em anos REFERÊNCIAS
com volumes e distribuição pluviométrica favoráveis,
como neste ano agrícola. Mas também em anos com CANAL RURAL. Sorgo: Conab projeta safra
desafios hídricos, seja por déficits acentuados ou brasileira de 4.326 mi de toneladas em 22/23. 2023.
geadas intensas, o controle de doenças tem contribuído Disponível em https://www.canalrural.com.br/radar/
com incrementos produtivos consideráveis (Fernandes sorgo-conab-projeta-safra-brasileira-de-4326-mi-de-t-
et al., 2022). em-22-23/. Acesso em agosto de 2023.
CONAB – COMPANHIA NACIONAL DE
CONCLUSÃO ABASTECIMENTO. Acompanhamento da safra
brasileira de grãos – Safra 2022/2023 – 11º
As doenças que acometem a cultura do sorgo Levantamento. Brasília (DF), v. 10, n. 11, agosto, 2023.
atingem níveis elevados de severidade e comprometem FERNANDES, R. H.; LIMA, D. T.; ALMEIDA,
a produtividade da lavoura quando não são adotadas D. P. Controle químico de doenças foliares no sorgo
medidas de controle com elevada eficiência. Estes granífero. Anuário de Pesquisas de Agricultura 2ª
impactos podem acontecer tanto em anos com volumes Safra – 2021/2022, v. 5, n. 2, p. 49-55 2022.
pluviométricos satisfatórios ou mesmo naqueles com FERREIRA, D.F. Sisvar: a Guide for its Bootstrap
déficits hídricos mais severos. procedures in multiple comparisons. Revista Ciência e
Os fungicidas avaliados apresentam efetividade Agrotecnologia, v.38, n.2, p.109-112, 2014.
na redução dos níveis de doenças severidade e AACP- FOLTRAN, D. E.; SAWAZAKI, E.; FREITAS, R. S.
Manchas foliares, no campo. Contudo, foi possível Novos cultivares de sorgo vassoura para agricultura
identificar misturas de ingredientes ativos com regional. Pesquisa e Tecnologia, vol. 13, n. 1, janeiro
desempenho ligeiramente superior. Misturas contendo – junho, 2016.
os ingredientes ativos: Tebuconazol, Mefentrifuconazol, GOVERNO DE GOIÁS. Goiás se isola na
Priclostrobina (com doses mais altas), Azoxistrobina e liderança da produção de sorgo e girassol no
Metominostrobina, estão entre os que apresentaram país. 2023. Disponível em: https://www.goias.gov.br/
melhor desempenho. servico/43-economia/128588-goi%C3%A1s-se-isola-
Realizar aplicações de fungicidas é prática na-lideran%C3%A7a-da-produ%C3%A7%C3%A3o-
primordial para proteção do cultivo e obtenção de de-sorgo-e-girassol-no-pa%C3%ADs.html. Acesso em
melhores resultados de produtividade. Os produtos agosto de 2023.
aqui avaliados proporcionaram incrementos produtivos, MAGALHÃES, P. C.; DURAES, F. O. M.;
independentemente de qual tenha sido aplicado. SCHAFFERT, R. E. Fisiologia da planta do sorgo. Sete
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AGRADECIMENTOS 3. 2000.
OLIVEIRA, N. S. S. Características
Á equipe de campo, estagiários e demais bromatológicas de genótipos de sorgo submetidos
pesquisadores do CTC pelo apoio na execução do a diferentes densidades de plantas em diferentes

156 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
épocas de corte. 2015. Trabalho de Conclusão de
Curso (Bacharelado em Agronomia) - Universidade
Federal de São João Del Rei, 2015.
SANTOS, H.G.; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS, L.H.C.;
OLIVEIRA, V.A.; LUMBRERAS, J.F.; COELHO, M.R.;
ALMEIDA, J.A.; CUNHA, T.J.F.; OLIVEIRA, J.B. Sistema
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mode=view&p_p_col_id=column-
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de-sorgo-no-brasil-sobe-mais-de-36-em-apenas-uma-
safra. Acesso em agosto de 2023.

Fitopatologia 157
CLUBE DE REVISTAS

Fitotecnia
158 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS

PRODUTIVIDADE DE SOJA
CULTIVADA SOBRE A PALHADA DE
Panicum maximum EM SISTEMAS
DE INTEGRAÇÃO LAVOURA
PECUÁRIA

NASCIMENTO¹, Hemython Luis Bandeira do; Agronômica em Fisiologia Vegetal e Nutrição de Plantas
BILEGO², Ubirajara Oliveira; MARQUES³, Bruno do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil.
de Souza; LIMA4, Diego Tolentino; FERNANDES5, E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br
Rafael Henrique; BRAZ6, Guilherme Braga Pereira;
8
Eng. Agrônomo, Me. em Ciência do Solo, Pesquisador
Agronômico em Fertilidade do Solo e Fertilizantes do
BUENO7, Amanda Magalhães; SARKIS8, Leonardo
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil.
Fernandes; COSTA9, Kátia Aparecida de Pinho; E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br
9
Zootecnista, Dsc. Professor do IF Goiano – Campus de
1
Eng. Agrônomo, Dr. Zootecnia, Pesquisador em Rio Verde – GO. E-mail: katiazoo@hotmail.com
Forragicultura do Instituto de Ciência e Tecnologia
COMIGO, Rio Verde-GO.
E-mail: hemythonluis@comigo.com.br INTRODUÇÃO
2
Médico Veterinário, Dr. em Ciência Animal,
Pesquisador em Produção Animal do Instituto de
A produção e consumo global de alimentos têm
Ciência e Tecnologia COMIGO, Rio Verde-GO.
E-mail: ubirajarabilego@comigo.com.br gerado preocupações socioeconômicas e ambientais,
3
Médico Veterinário, mestrando do programa de pós- tornando a agricultura sustentável uma prioridade
graduação em Zootecnia do IF Goiano, Rio Verde-GO.
(ALLAOUI et al., 2018). Nesse cenário sistemas integração
E-mail: brunoszmarques@gmail.com
4
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador lavoura-pecuária surgem como uma estratégia para
Agronômico em Entomologia do Centro atender às altas demandas alimentares promovendo
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
conservação ambiental (VALANI et al., 2021; MUSCAT et
diegotolentino@comigo.com.br
5
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador al., 2021). A adoção de práticas sustentáveis é essencial
Agronômico em Fitopatologia do Centro para equilibrar aumento de produtividade e conservação
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
do meio ambiente (ROESCH-MCNALLY et al., 2018).
rafaelhenrique@comigo.com.br
6
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador O sinergismo observado nos sistemas integrados
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas- lavoura-pecuária entre culturas agrícolas e criação de
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde,
animais, proporciona diversos benefícios. A diversificação
GO, Brasil. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br
7
Eng.a Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora de atividades em uma mesma área contribui para maior

Fitotecnia 159
CLUBE DE REVISTAS
produção de alimentos em espaços limitados (VALANI que favorecem a produtividade da soja. A utilização
et al., 2021). A relação entre as atividades agrícolas do sistema integrado lavoura-pecuária na forma de
e pecuárias permite a reciclagem de nutrientes e a sucessão forrageira proporciona maior cobertura do
melhoria das propriedades do solo (RYSCHAWY et al., solo ciclagem de nutrientes pelo melhor aproveitamento
2017). das excretas dos animais, do que o cultivo do milho em
A biomassa de forrageiras contribui para a sucessão, resultando em maior produtividade da soja
estabilidade do solo (FRANZLUEBBERS E GASTAL (DIAS et al., 2020; MUNIZ et al., 2021). Vale ressaltar
2019), protegendo-o de condições climáticas adversas que a escolha adequada das forrageiras, associada
e promovendo ciclagem de nutrientes (PETERSON et a implantação correta do pasto safrinha e ao manejo
al., 2020). A sucessão forrageira na segunda safra após adequado dos sistemas integrados são cruciais para
a colheita da soja é uma técnica eficaz para a produção otimizar esses benefícios e garantir uma agricultura
de biomassa, melhorando a cobertura do solo e mais resiliente e sustentável.
proporcionando alimentação para o gado (ANDRADE Objetivou-se com esse estudo avaliar a influência
et al., 2020). do cultivo de forrageiras do gênero Panicum maximum
A persistência da palhada do milho e de outras durante a segunda safra em sistemas de Integração
culturas como a de forrageiras tropicais é crucial para Lavoura Pecuária sobre as características do solo e
a conservação do solo. A composição dos resíduos, produtividade da soja no Cerrado Goiano.
rica em materiais lignificados, confere resistência à
decomposição, mantendo-a por mais tempo sobre o solo MATERIAL E MÉTODOS
(CECCON, 2013). A relação C:N dos resíduos vegetais
desempenha papel fundamental na decomposição, O experimento foi conduzido na fazenda
afetando a disponibilidade de nutrientes (ACOSTA et experimental do Centro Tecnológico COMIGO, em
al., 2014; DIAS et al., 2020) que atenderam à demanda Rio Verde – GO. Segundo Thornthwaite (1948) o
da soja, resultando em maior rendimento de grãos clima de Rio Verde - GO é classificado em B4 rB’4a’
(MUNIZ et al., 2021). Forrageiras tropicais, como as (úmido, pequena deficiência hídrica, mesotérmico e
dos gêneros Panicum e Brachiaria, contribuem para evapotranspiração no verão menor que 48%). A área
maior produção de biomassa e ciclagem de nutrientes, utilizada para o ensaio encontra-se sob as coordenadas
promovendo a reciclagem de nitrogênio e carbono 17⁰45’48’’ S e 51⁰02’14’’ W, com altitude de 832 m,
e melhorando a qualidade do solo (BAPTISTELLA et ocupando aproximadamente 5,15 ha, divididos em dois
al., 2020). Estudos realizados por Muniz et al. (2021) blocos (Figura 1). O solo da área é do tipo LATOSSOLO
mostraram que a Brachiaria brizantha BRS Paiaguás e o VERMELHO Distrófico (SANTOS et al. 2018), com tores
Panicum maxímum BRS Tamani apresentaram relação médios de 35,6% de argila, 7,6% de silte e 56,8% de
carbono:nitrogênio (C:N) superior a 30:1, indicando areia.
lenta decomposição dos resíduos vegetais e maior No bloco 01 o sistema de integração Lavoura-
persistência da palhada no sistema. Pecuária é utilizado desde a safra 2011/2012, no bloco
Neste contexto, deve-se considerar os benefícios 02 esse sistema começou a ser utilizada um pouco
que o componente animal traz ao sistema em termos mais recente a partir do ano agrícola 2016/2017. No
de produção de biomassa e liberação de nutrientes, estudo, foram avaliados três sistemas de produção, dois

160 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
com integração lavoura pecuária (ILP), nos quais após de culturas (SS), onde é plantada a soja na safra e o
a colheita da soja é plantado o capim para pastejo dos milho na segunda safra.
animais na entressafra, e um tradicional com sucessão

Figura 1. Foto aérea da área do experimento durante a safrinha. (Fonte: Pedro Cabral)

Antes da implantação da cultura da soja na safra ao laboratório para determinação das características
2022/2023 foram realizadas coletas de solo na área químicas (Tabela 1).
experimental na profundidade de 0 a 20 cm e enviadas

Fitotecnia 161
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Capacidade de troca catiônica (CTC), matéria orgânica (MO) e teores de nutrientes do
solo em sistemas de Integração Lavoura Pecuária e de Sucessão (SS) na região de Rio Verde – GO.

MO CTC Ca Mg Al K P(Mehlich) B
Sistema
% ----------cmolc dm ---------
-3
--------- mg dm --------
-3

Sucessão 2,6 7,3 3,0 0,76 0,07 130 38,2 0,64


ILP Zuri 2,5 7,2 3,2 0,87 0,06 182 32,2 0,48
ILP Quênia 2,5 7,2 2,4 0,69 0,10 157 48,1 0,50

Após a colheita do milho no sistema de 72 horas e posteriormente pesadas novamente


sucessão e retirada dos animais dos pastos nas para determinação da massa seca. Para estimar
áreas de ILP, foi realizada a dessecação da biomassa a massa residual de raiz do capim, primeiramente
com 2,5 L ha de Roundup Ultra® (Glifosato – Sal de
-1
quantificou-se a densidade de touceiras, com o
Amônio, 715 g L ) nas áreas de ILP onde estava o
-1
auxílio de uma moldura de tubos PVC medindo
capim plantado, nas áreas cultivadas com milho na 1,0 m x 1,0 m (1,0 m²) foram contadas todas as
segunda safra a dessecação foi realizada utilizando touceiras no interior da moldura em dois pontos
2 L ha de Xeque Matt (Glifosato – Sal Potássio,
-1
por piquete. Com base na densidade de touceira,
720 g L ) e 2 L ha de Podium EW (FENOXAPROPE-
-1 -1
foram coletadas em pontos aleatórios 3 touceiras
P-ETÍLICO 110 g L ). Nos sistemas de Integração
-1
por piquete, na profundidade de 0 a 20 cm. As
Lavoura Pecuária, na segunda safra da safra amostras foram armazenadas em sacos plásticos
anterior (2021/2022), foram implantadas duas e posteriormente lavadas em água corrente até
cultivares de Panicum maximum, (BRS Zuri e o remover todo o solo, após lavadas, as amostras
BRS Quênia) mais detalhes sobre a implantação, foram acondicionadas em sacos de papel, levados
condução e resultados obtidos com essas culturas para secar em estufa de circulação de ar forçada à
na segunda safra de 2022 podem ser consultados 55°C por 72 horas e posteriormente pesadas para
em Bilego et al. (2022). obtenção da massa seca. Para estimar a massa de
Após a dessecação da área, foram raiz por área multiplicou-se a médias da massa de
realizadas coletas de amostras para estimativa da raiz por touceira pela densidade de touceiras.
massa residual de palhada e de raiz deixadas no Antes da semeadura da soja na área foram
sistema, as amostras de palhada foram colhidas aplicados 152 kg ha -1 de KCl à lanço. No dia 26 de
em dois pontos por piquete, utilizando moldura outubro de 2022 foi realizada a semeadura da cultivar
de tubos PVC medindo 1,0 m x 1,0 m (1,0 m²). No de soja CZ37B43IPRO, utilizando semeadoura
momento da coleta, as amostras foram cortadas adubadora com uma taxa de semeadura de 15
rente ao solo, pesadas e retiradas sub-amostras sementes m -1, no momento da semeadura foi
com aproximadamente 500 g, colocadas em realizada a adubação na linha com 450 kg ha -1 de
sacos de papel, pesados e levados para secar superfosfato simples. As sementes foram tratadas
em estufa de circulação de ar forçada à 55°C por com Standak Top (25 g L-1 i.a. Piraclostrobina, 225 g

162 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
L-1 i.a. Tiofanato Metílico e 250 g L-1 i.a. Fipronil). No completos casualizados (DBC), com três sistemas
momento da semeadura foram aplicados no sulco de produção (SS, ILP-Zuri e ILP-Quênia), dois blocos
1,0 L ha -1 do inoculante Cell Tech (Bradyrhizobium e duas repetições dentro de cada bloco, totalizando
japonicum Estirpe SEMIA 5079 e SEMIA 5080, assim 12 unidades experimentais. Os dados foram
concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL-1, Monsanto analisados utilizando o método de modelos mistos
BioAg), 0,1 L ha -1 do coinoculante Biomax Azum com estrutura paramétrica especial na matriz de
(Azospirillum brasilense, concentração mínima covariância, por meio do procedimento MIXED do
3,0 x 103 UFC mL-1, Biosoja), 500 mL ha -1 de Meta software estatístico SAS (LITTELL et al., 2006). As
Turbo (Metarhizium anisopliae), 200 mL ha -1 de forrageiras foram consideradas efeitos fixos, blocos
Nodulus Gold (Ascophyllum nodosum) e 400 mL e repetições foram considerados efeito aleatório.
ha -1 de Verango Prime (FLUOPIRAM). O volume de Para escolher a matriz de covariância foi usado o
aplicação utilizado no sulco foi de 60 L ha -1. critério de informação de Akaike (WOLFINGER et al.,
Após a semeadura, foram realizadas duas 1993). As médias dos tratamentos foram estimadas
aplicações de herbicidas para controle de plantas pelo “LSMEANS” e a comparação foi realizada pelo
daninhas, aos 28 dias após a semeadura (DAS) teste de Tukey com nível de significância de 10%.
foram aplicados 2 L ha -1 de Xeque Matt + 1,22 L
ha -1 de Podium EW. O manejo de doenças e pragas RESULTADOS E DISCUSSÃO
foi realizado adotando um cronograma com cinco
aplicações. A primeira com Score flexi + Seven Durante o ciclo de desenvolvimento da
(0,150 e 1,5 L ha -1 respectivamente). A segunda cultura da soja, verificou-se temperatura média
com Ampligo 0,2 L ha -1. A terceira com Unizeb Gold variando entre 22 e 23 °C, e um acumulado de
+ Sulfato de Magnésio + Excalia Max + Proclaim + chuvas de 1.252 mm, com chuvas bem distribuídas
Nomolt + Agris (1,5 + 2,0 + 0,5 + 0,2 + 0,2 + 0,5 L ha -1 durante todo o ciclo da cultura (Figura 2).
respectivamente). A quarta com Viovan + Bravonil
720 (0,6 + 1,0 L ha -1 respectivamente). E na quinta
com Bravonil 720 + Cypress + Fastac Duo + Cordial
(1,0 + 0,3 + 0,5 + 0,25 ha -1 respectivamente). Ao final
do ciclo da soja foi realizada a dessecação com
Reglone + Agral (2,0 + 0,5 L ha -1 respectivamente).
Para estimativa da produtividade de grãos,
foram coletadas quatro fileiras centrais com 3,0
metros de comprimento dentro de cada parcela
útil. Os grãos foram colhidos, trilhados e secos.
Foi calculada a produtividade por hectare,
considerando-se a umidade padrão de 13% para
comercialização do grão, tomado como medida a
saca de 60 kg.
O delineamento experimental foi blocos

Fitotecnia 163
CLUBE DE REVISTAS

Figura 2. Precipitação e temperaturas registradas no Centro Tecnológico COMIGO no período de


outubro de 2022 a março de 2023.

Para a massa residual de palhada, verificou-se


diferença significativa entre os sistemas de produção (p
< 0,0001), com maiores valores observados no sistema
de sucessão em relação aos sistemas de integração
lavoura pecuária, em média nas áreas cultivadas com
milho na safrinha 2022 a massa residual de palhada
foi cerca de 2.000 kg ha-1 maior em relação às áreas
cultivadas com os capins Zuri ou Quênia (Figura 3A), a
menor quantidade de resíduo de palhada foi observada
nas áreas cultivadas com o capim Quênia. Em relação
ao residual de raiz deixado no sistema ILP, não foi
verificada diferença entre os capins Quênia e Zuri (P =
0,5274), sendo verificado um valor médio de 3.300 kg
ha-1 de raiz deixados no solo na camada até 20 cm de
profundidade (Figura 3B).

164 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
A B

Figura 3.Residual de palhada (A) e de raiz (B) deixados pelas culturas cultivadas
na safrinha de 2022 nos sistemas de Integração Lavoura Pecuária (ILP Zuri e ILP
Quênia) e de sucessão (SS) na região de Rio Verde, GO.
Médias seguidas por letras diferentes nas barras, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 10%.

Apesar das diferenças verificadas entre os sistemas para a produtividade de Soja (p = 0,4912), que
sistemas de produção para o residual de palhada, não em média foi de 5.364 kg ha-1 (Figura 4), correspondendo
foram verificadas diferenças significativas entre os a aproximadamente 91 sacas ha-1.

Fitotecnia 165
CLUBE DE REVISTAS

Produtividade de soja na safra 2022/2023 em sistemas de Integração


Figura 4.
Lavoura Pecuária e de Sucessão na região de Rio Verde, GO.
Médias seguidas por letras diferentes nas barras, diferem estatisticamente de Tukey a 10%.

Esse equilíbrio verificado entre os sistemas de


produção para produtividade de soja apesar da maior
quantidade de deixada no sistema pelo milho safrinha,
pode estar relacionada aos bons níveis de fertilidade e
altos teores de matéria orgânica verificados em todos
os sistemas (Tabela 1), bem como ao fato de a palhada
de forrageiras do gênero Panicum máximo proporcionar
melhor cobertura do solo e maior uniformidade de
distribuição na área em comparação à palhada do
milho ao longo de todo o ciclo da soja (Figura 4 A, B e
C). Além disso, a palhada de capins do gênero Panicum
máximum apresenta maior eficiência na ciclagem de
nutrientes, proporcionando maior retorno de Nitrogênio,
Fósforo e Potássio para o sistema quando comparados
à palhada do milho (DIAS et al., 2020).

166 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
A B C

Figura 5. Soja na palhada de capim-quênia (A), capim-zuri (B) e de milho (C).

Durante a safrinha 2021/2022 ocorreu um forte sistema ILP também foram afetadas pela falta de chuva
veranico na fase de enchimento de grãos do milho durante o período, porém em menor intensidade que o
comprometendo significativamente a produtividade da milho safrinha. Um resumo da produtividade obtida nos
cultura no sistema de sucessão, produzindo em média sistemas de produção durante a safrinha 2021/2022 e
apenas 32,5 sacas de milho ha-1. As forrageiras do na safra 2022/2023 pode ser verificado na Tabela 2.

Tabela 2. Produtividades obtidas nos sistemas de produção na segunda safra do ano agrícola
2021/2022 e na safra do ano agrícola 2022/2023.

Cultura na 2ª Produtividade na 2ª Produtividade


Sistema safra (safra safra de soja na Safra
2021/2022) (safra 2021/2022)¹ 2022/2023

Sucessão (Soja x Milho) Milho 32,5 sacas ha-1 89,6 sacas ha-1

ILP (Soja x Pastagem) Capim-zuri 6,6 @ ha-1 91,3 sacas ha-1

ILP (Soja x Pastagem) Capim-quênia 4,5 @ ha-1 92,0 sacas ha-1

em sistemas de integração lavoura pecuária, pois além


CONCLUSÃO
de possibilitarem a obtenção de bons resultados na
etapa da pecuária, se manejados de forma adequada,
Gramíneas forrageiras do gênero Panicum
podem ainda deixar uma palhada de excelente
maximum apresentam grande potencial para utilização

Fitotecnia 167
CLUBE DE REVISTAS
qualidade para o cultivo da soja na safra posterior, Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.37, p. 204-212.
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168 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
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Fitotecnia 169
CLUBE DE REVISTAS

DESEMPENHO PRODUTIVO DE
HÍBRIDOS DE MILHO CULTIVADOS
NA SEGUNDA SAFRA

LIMA1, Diego Tolentino, TAVARES2, Rose Luiza O milho pode ser cultivado na primeira safra, bem
Moraes, PAIVA3, Lucas Barros; BORDIGNON3, João como na segunda (também conhecida como safrinha),
Guilherme Queiroz possibilitando maior disponibilidade do grão no mercado
durante todo o ano. Das quase 130 milhões de toneladas
de grão de milho desta safra estimadas pela CONAB
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador (2023), 100 milhões são das lavouras de segunda safra,
Agronômico em Entomologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: na qual houve um incremento de 4,5% em área plantada
diegotolentino@comigo.com.br (17,1 milhões de hectares) e 11,6% de produtividade (5,8
2
Eng.a Agrônoma, Dra. em Engenharia Agrícola, toneladas por hectare). Essa estimativa de 100 milhões
Professora da Universidade de Rio Verde (UniRV). Rio
Verde, GO, Brasil. E-mail: roseluiza@unirv.edu.br de toneladas na segunda safra corresponde a um
3
Graduando em Agronomia - Universidade aumento de 16,6% em relação a última safra, já as 130
de Rio Verde (UniRV). Rio Verde, GO, Brasil. milhões de toneladas estimadas da produção total reflete
E-mail: lucasbpaiva@academico.unirv.edu.br;
joaogqbordignon@academico.unirv.edu.br em aumento de aproximadamente 15% (CONAB, 2023).
De acordo com a CONAB (2023), no sudoeste
goiano, principal região produtora do estado, as chuvas
tardias e baixas temperaturas ocorridas, entre junho e
INTRODUÇÃO julho, também atrasaram a perda de umidade dos grãos
e o ritmo da colheita. Por outro lado, estas precipitações
O milho (Zea mays) é uma importante espécie favoreceram o enchimento de grãos das lavouras mais
cultivada no Brasil, por deter alto teor nutritivo, pode tardias e propiciaram o aumento nas estimativas de
ser destinada à fabricação de diversos produtos produtividades médias na região.
para alimentação humana, animal, bem como para No mercado atual existe grande número de híbridos
a produção de biocombustíveis, além do país ser um de milho, por volta de 90% das áreas cultivadas no Brasil
dos grandes exportadores do cereal. Diante disso, são provenientes de sementes híbridas, especialmente
essa cultura possui grande importância econômica híbridos simples e triplos, uma vez que apresentam
para o país, sendo o terceiro maior produtor de milho maiores produtividades e uniformidade (SOUZA, 2018).
em quantidade e em área plantada, ficando atrás É essencial que durante o período de crescimento e
apenas dos Estados Unidos e da China (USDA, 2021). desenvolvimento do milho, haja disponibilidade hídrica,

170 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
temperatura, fotoperíodo favorável, fertilidade do solo em segunda safra, em sucessão a soja, verificando
adequada, manejo adequado de doenças e insetos- assim, a produtividade final de grãos.
pragas, pois são requisitos que contribuirão para altas
produtividades. MATERIAL E MÉTODOS
Desse modo, se faz fundamental possuir
conhecimento a respeito da qualidade do material O experimento foi conduzido em condições de
utilizado, conhecer as características agronômicas e campo, na área experimental da Fazenda Monte Alegre,
produtivas dos híbridos de milho, visto que influenciará da Cooperativa COMIGO, localizada no município de
diretamente na produtividade final. As culturas Rio Verde – GO (S 17°33'14.8" O 50°58'44.1", altitude
quando cultivadas em condições edafoclimáticas média de 790 metros). O solo da área é caracterizado
ideais, tendem a expressar seu total potencial. Assim, como Latossolo Vermelho Distrófico (SANTOS et al.,
conhecer os melhores híbridos para a região de cultivo, 2018). Em área colhida anteriormente com soja foi
em especial o estado de Goiás é aconselhado para realizada a semeadura dos híbridos, listados na Tabela
auxiliar o produtor na tomada de decisão, garantindo 1, no dia 14 de fevereiro de 2023. A maioria dos híbridos
melhores produtividades (COSTA et al., 2019). recebeu tratamento industrial padrão da empresa e os
O objetivo do presente trabalho foi avaliar demais foram tratados com CropStar, na dose de 1,5 L
o desempenho de diferentes híbridos de milho para 100 kg de sementes.
disponíveis no mercado, em condições de semeadura

Fitotecnia 171
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Híbridos de milho e população de plantas no estabelecimento da cultura. Fazenda Monte
Alegre, Centro Tecnológico COMIGO (CTC), Rio Verde- GO, safra 2022/2023.

HÍBRIDO *POPULAÇÃO (mil plantas ha-1)


B2360 PWU 50,36
B2401 PWU 50,38
NK520 VIP3 50,38
STATUS VIP3 51,09
AG3500 RR 51,11
AG8480 PRO4 51,13
AG7098 TER 51,84
SYN555 VIP3 51,84
AG8701 PRO4 51,87
B2800 VYHR 52,58
AG8700 PRO4 52,60
NK511 VIP3 52,60
AG3510 RR 53,31
FEROZ VIP3 54,07
AG8600 PRO4 54,09
B2620 PWU 54,09
AG8088 PRO2 54,82
*População de plantas por hectare avaliada durante o experimento.

A densidade de semeadura utilizada foi de de Enxofre, parcelada em duas aplicações de 200 kg


2,8 sementes por metro para todos os híbridos. A ha-1, sendo a primeira cerca de 20 dias, e a segunda 30
adubação realizada na semeadura em sulco foi com dias após a semeadura.
250 kg ha do fertilizante 13-33-00. Momento em que
-1
Referente ao manejo de plantas daninhas,
também foi aplicado no sulco 0,2 L ha de Biomax-1
foi aplicado no sistema plante-aplique (logo após a
Azum + 0,25 L ha de RayNitro. O volume de aplicação
-1
semeadura) 2,0 L ha-1 de Finale + 1,5 L ha-1 de Dual
utilizado no sulco foi de 60 L ha-1.Os dezessete híbridos Gold + 0,15 L ha-1 de Mees. Após 10 dias da semeadura,
foram semeados no espaçamento de 0,5 m, dispostos realizou-se aplicação de herbicida em pós-emergência
em parcelas de 12 linhas (6 metros de largura), com na cultura com 3,0 L ha-1 de Facero + 0,15 L ha-1 de Mees.
100 metros de comprimento, totalizando em 600 m2 Para o manejo de pragas, foram realizadas avaliações
cada parcela, com três repetições de cada material. semanais quanto à ocorrência, nível populacional com
Utilizou-se o delineamento experimental em blocos base no manejo integrado e nível de dano econômico.
casualizados (DBC). A adubação de cobertura foi Cerca de 50 dias após a semeadura, quando a cultura
realizada com 400 kg ha do fertilizante 20-00-20+9,5%
-1
estava no estádio V8/V9, foi necessário realizar

172 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
aplicação de inseticidas para o controle de lagarta-do- Os grãos foram trilhados e secos, e a produtividade por
cartucho (Spodoptera frugiperda), com uma aplicação hectare foi calculada tendo em conta a umidade padrão
de 1,5 L ha-1 de Regio + 0,1 L ha-1 de Premio. de 13%, bem como a medida da saca de 60kg de grãos.
Aos 30 dias após a semeadura, foi avaliada Por fim, os dados de produtividade foram submetidos
a população de plantas (Tabela 1), na qual foram a análise de variância (ANOVA) pelo teste F. No caso, o
escolhidos de forma aleatória em cada híbrido um efeito dos tratamentos foi significativo, assim as médias
ponto por parcela, contabilizando o número de plantas foram comparadas pelo teste de Scot-Knott (P<0,05),
em três linhas de três metros. Com 147 dias após a pelo software SISVAR (FERREIRA, 2014).
semeadura (11/07/23) alguns híbridos começaram a
apresentar umidade dos grãos próximo a 13%, e a partir RESULTADOS E DISCUSSÃO
daí a umidade dos grãos foi medida duas vezes por
semana para cálculo do ciclo (dias até atingir 13% de A produtividade média de grãos dos híbridos de
umidade dos grãos) de cada um dos híbridos. A fazenda milho no presente trabalho foi de 114,5 sacas ha-1. Os
possui estação meteorológica própria (Plugfield), híbridos que obtiveram maiores produtividades foram:
para registro de dados climáticos. O experimento foi B2800 VYHR, B2360 PWU, AG3500 RR, AG8480 PRO4,
instalado próximo à estação e os dados de precipitação B2401 PWU, AG8700 PRO4, SYN555 VIP3, AG8600
foram coletados para o presente trabalho. PRO4 e AG8701 PRO4, com média de 126,78 sacas ha-1.
A colheita dos híbridos de milho foi realizada Quanto aos que apresentaram menores produtividades,
no dia 02/08/2022 (169 dias após a semeadura). A se enquadram B2620 PWU, NK511 VIP3, AG3510 RR,
produtividade foi obtida em dois pontos aleatórios NK520 VIP3, STATUS VIP3, AG8088 PRO2, FEROZ VIP3
dentro da parcela útil e em cada ponto foram colhidas e AG7098 TER, com média de aproximadamente 100,70
três linhas de semeadura com três metros de sacas ha-1 (Figura 1).
comprimento, totalizando nove metros em cada ponto.

Fitotecnia 173
CLUBE DE REVISTAS
140 133
126 127 129 129 130
122 122
120 118
109 110 112
105
Produtividade (saca ha )

95 96
-1

100
87 88
b a a a a a a
80 b b b b b b b b a a a

60

40

20

0
U
AG RO ER

51 RR

U
B2 60 P R

HR
NK S 2

AG 0 V 3

4
AG 55 O4
ST 88 P3

B2 PR 3
AG 401 O4

B2 500 4
NK 510 3

AG 620 IP3
U O

RO
52 IP

00 IP
3 IP

R
87 PW

84 PW

80 W
I
AT PR

86 PR

N PR
T

VY
V
80 V

87 5 V
B2 1 V

AG P
FE 98
Z

AG 01

SY 0

80

0
70

3
0

3
AG

Figura 1. Produtividade dos diferentes híbridos de milho cultivados na segunda safra. Fazenda
Monte Alegre, Centro Tecnológico COMIGO - CTC. Rio Verde - GO, safra 2022/23. Coeficiente de
variação (C.V.) = 12,84%. Médias seguidas por letras iguais, não diferem entre si pelo teste de
Scott-Knott (p<0,05).

Os híbridos mais precoces foram AG8700 (período de pendoamento-espigamento) com o período


PRO4, AG3500 RR e B2360 PWU, com 147 dias até em que tende a ocorrer baixa disponibilidade hídrica.
atingirem 13% de umidade dos grãos (Figura 2), Plantar híbridos de ciclo superprecoce e precoce em
ficaram no grupo dos mais produtivos (média de 128,93 razão do rápido desenvolvimento, podem auxiliar no
sacas ha ) (Figura 1). O milho em períodos críticos do
-1
escape dos períodos de déficit hídrico.
desenvolvimento, ou seja, o período de florescimento à
maturação fisiológica, quando passado por estresses
pode influenciar na redução direta do seu rendimento
final. Conforme Bergamaschi et al. (2006), pode ocorrer
a redução do número de grãos por espiga. Uma forma
de poder minimizar os danos, consiste em plantar
a lavoura de milho em uma determinada época a fim
de não coincidir o período crítico a estresse hídrico

174 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
180
167 167 167 167 169 169 167
164 164
160 157 157
153 153 153
147 147 147
140

120
Ciclo (dias)

100

80

60

40

20

0
86 PR U

AG 0 P U

VY U
NK US 2

NK 51 3

8 0P 3

SY 00 O4

87 5 V 4

84 1 P 4

B2 500 4
ST 88 IP3

AG 20 P3

B2 0 P 3

HR
80 Z V R

51 RR

B2 60 R
3 VIP

AG 62 VIP

IP
O

AG 55 RO

AG 40 O

3 RO
AG 701 W

8 W

80 W
AG RO TE

R
5 I V
AT PR

P
0

N P
B2 1
FE 98

0
70

3
AG

Figura 2. Ciclo (dias), para atingir naturalmente 13% de umidade nos grãos, dos diferentes híbridos
de milho cultivados na segunda safra. Fazenda Monte Alegre, Centro Tecnológico COMIGO - CTC.
Rio Verde - GO, safra 2022/23.

A maioria (66,67%) dos híbridos tardios, com de produção, houve disponibilidade hídrica de 153,9
mais de 160 dias de ciclo (NK511 VIP3, NK520 VIP3, mm. Todavia no mês seguinte, em abril, choveu apenas
STATUS VIP3, AG8088 PRO2, FEROZ VIP3 e AG7098 58,2 mm, período no qual iniciou o pendoamento-
TER), ficaram no grupo dos menos produtivos. As espigamento, momento esse em que a cultura possui
exceções foram B2800 VYHR, AG8480 PRO4 e SYN555 alta sensibilidade ao estresse hídrico, seguindo os
VIP3 que ficaram no grupo dos mais produtivos (Figura meses de maio, junho e julho com 19,8 mm (porém sem
1). nenhuma chuva significativa, acima de 10,0 mm).
De acordo com o registro pluviométrico (Figura Segundo Doorenbos e Kassan (1994), as
3), o mês de fevereiro no qual ocorreu a semeadura maiores produções observadas na cultura do milho
dos híbridos, houve precipitação de 285,0 mm, porém ocorrem com consumos de água variando entre 500 e
após a semeadura no dia 14/02/23 houve somente 800 mm, em todo o ciclo da cultura. A precipitação total
99,6 mm deste total. Referente ao mês de março, logo registrada durante o ciclo da lavoura experimental foi de
no início, o milho estava no estágio V3, compreendido 331,5 mm. Como visto, houve uma redução significativa
no momento em que ocorre a definição do potencial na disponibilidade hídrica, desse modo, a produtividade

Fitotecnia 175
CLUBE DE REVISTAS
média pode ter sido afetada negativamente. Além hídrico (período de pendoamento-espigamento), após
disso, em 15 de abril todos híbridos já pendoados e esse período choveu apenas 17,0 mm dos apenas 58,2
com espigas formando, o período crítico a estresse mm totais do mês de abril.

350

300

250
Precipitação (mm)

200

150

100

50

0
Fev Mar Abr Mai-Jul TOTAL

Figura 3. Registro pluviométrico (chuvas – mm) no período do experimento. Fazenda Monte Alegre,
Centro Tecnológico COMIGO - CTC. Rio Verde - GO, safra 2022/23. Fonte: Estação Meteorológica
instalada na própria fazenda (Plugfield). *Dados de Fevereiro contabilizados somente após a
semeadura em 14/02/23.

Assim, é fundamental que o produtor tenha Porém ainda assim os riscos vão ocorrer. No
conhecimento das condições climáticas favoráveis presente experimento, os híbridos foram cultivados
para a implantação da lavoura, optar por híbridos na janela de plantio ideal para o milho segunda safra,
com as melhores características para seu sistema período compreendido na região do sudoeste goiano,
produtivo e buscar realizar o melhor manejo do solo, entre janeiro e fevereiro, visando melhores condições
adubação, controle de insetos pragas e doenças que climáticas durante os estágios de desenvolvimento
podem afetar o desenvolvimento da cultura ao longo da cultura. Mas, como discutido, faltou chuva em
de seu ciclo. É essencial realizar o planejamento momentos determinantes do potencial produtivo
do milho segunda safra desde o início do cultivo da da lavoura, especificamente na propriedade onde o
cultura de verão, visando liberar a área o mais cedo trabalho foi conduzido, o que provavelmente reduziu
possível, reduzindo os riscos de perdas por estresse as médias em relação às observadas de forma geral
hídrico. na região (CONAB, 2023).

176 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
DOORENBOS, J.; KASSAM, A. H. Efeito da
CONSIDERAÇÕES FINAIS
água no rendimento das culturas. Campina
Grande: UFPB, 1994. 306p. Estudos FAO. Irrigação e
Diversos fatores podem influenciar na média
Drenagem, 33.
de produtividade final, como visto, condições
FERREIRA, D. F. Sisvar: a guide for its bootstrap
edafoclimáticas como a disponibilidade hídrica, no
procedures in multiple comparisons. Ciência e
qual pode afetar as atividades fisiológicas da planta,
Agrotecnologia, v.38, n.2, p. 109-112, 2014.
interferindo diretamente no acúmulo de matéria
SANTOS, H.G.; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS,
seca produção e produção de grãos. Portanto, nas
L.H.C.; OLIVEIRA, V.A.; LUMBRERAS, J.F.; COELHO,
condições do presente experimento, os híbridos
M.R.; ALMEIDA, J.A.; CUNHA, T.J.F.; OLIVEIRA, J.B.
que obtiveram maiores produtividades foram: B2800
Sistema brasileiro de classificação de solos.
VYHR, B2360 PWU, AG3500 RR, AG8480 PRO4,
Centro Nacional de Pesquisa de Solos. 5 ed. Brasília:
B2401 PWU, AG8700 PRO4, SYN555 VIP3, AG8600
Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro:
PRO4 e AG8701 PRO4, com média de 126,78 sacas
Embrapa Solos. 2018. 588 p.
ha-1. E com menores produtividades, B2620 PWU,
SOUZA JR., C. L. Seleção Recorrente. In:
NK511 VIP3, AG3510 RR, NK520 VIP3, STATUS VIP3,
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AG8088 PRO2, FEROZ VIP3 e AG7098 TER, média de
Viçosa, MG: Editora UFV, 2018, 1 ed, 295-306.
100,70 sacas ha-1.
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Milho e Sorgo. Circular Técnica, 258).

Fitotecnia 177
CLUBE DE REVISTAS

DESEMPENHO AGRONÔMICO DE
HÍBRIDOS DE SORGO GRANÍFERO
EM DUAS ÉPOCAS DE SEMEADURA

BRAZ1, Guilherme Braga Pereira; LIMA2, Diego que o torna importante contribuinte para a economia
Tolentino de; FERNANDES3, Rafael Henrique; agrícola local. O cultivo do sorgo em Goiás tem ganhado
SILVA4, Linconl Lima; DELGADO5, Vanderson destaque devido a sua boa adaptação às condições
Aparecido Diego; FERREIRA6, Camila Jorge
edafoclimáticas da região, por apresentar tolerância ao
Bernabé
estresse hídrico, além da sua capacidade de crescimento
em solos contrastantes e menores custos de produção
1
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia.
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico comparado a cultura do milho (BUFFARA et al., 2018).
COMIGO (CTC). E-mail: guilhermebraga@comigo.com. Apesar da crescente demanda pelo cultivo de sorgo no
br 2 Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia. país, ainda existem muitas dúvidas quanto a adequações
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico
COMIGO (CTC). E-mail: diegotolentino@comigo.com. para garantir maior rendimento da cultura na época de
br 3 Engenheiro agrônomo, Doutor em Fitotecnia. segunda safra (safrinha), sendo necessário definir, entre
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico outras técnicas, a adequação da época de semeadura e
COMIGO (CTC). E-mail: : rafaelhenrique@comigo.
a escolha do híbrido de sorgo.
com.br 4 Discente de graduação da Faculdade de
Agronomia do Instituto Federal Goiano (IFGoiano), Em Goiás, o cultivo do sorgo é uma prática
campus Rio Verde. Estagiário no Centro Tecnológico frequentemente adotada em período de safrinha após a
COMIGO (CTC). E-mail: linconl96lima@gmail.com
colheita da soja. O momento ideal para semear o sorgo
5
Discente de graduação da Faculdade de Agronomia
da Universidade de Rio Verde (UniRV). Estagiário granífero nessa região é determinado por múltiplos
no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: fatores, incluindo as condições climáticas e o cronograma
vandersomdelgado@hotmail.com
de semeadura das safras anteriores (FERREIRA et al.,
6
Engenheira agrônoma. Doutora em Agronomia.
Professora na Universidade de Rio Verde. E-mail: 2020). Embora o sorgo tenha uma boa capacidade de
camilajbferreira@gmail.com se adaptar a condições de menor disponibilidade de
água, é essencial sua implantação em épocas mais
antecipadas para assegurar que a demanda hídrica da
INTRODUÇÃO cultura seja atendida durante o seu ciclo de crescimento,
em especial nas fases de florescimento e formação dos
O Estado de Goiás é o maior produtor de sorgo grãos, as quais são especialmente sensíveis à falta de
granífero no Brasil, representando aproximadamente água. Neste sentido, a definição da época de semeadura
35% da produção nacional (CONAB, 2023), fato mais adequada é fator limitante ao seu desenvolvimento.

178 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
Além da época de semeadura, a seleção de no município de Rio Verde (GO) (S 17°45'42" O 51°02'09",
híbrido de sorgo apropriado é fundamental para altitude de 827 m). Em cada experimento foi avaliado o
o sucesso do seu cultivo. No estado de Goiás, os desempenho produtivo de híbridos de sorgo granífero,
agricultores devem avaliar uma série de fatores, variando entre estes a época de semeadura, onde a
incluindo condições climáticas, qualidade do solo e primeira e segunda época de semeadura ocorreram
características desejadas, a fim de tomar decisões sobre em 14/03/2023 e 29/03/2023, respectivamente.
qual híbrido de sorgo cultivar (STARCHAK et al., 2022). O clima de Rio Verde é classificado como B4
Um dos principais fatores preponderantes ao optar rB’4a’, o qual se caracteriza como úmido, de pequena
por um híbrido de sorgo incluem a adaptação deste às deficiência hídrica, mesotérmico e evapotranspiração
condições climáticas, o que deve ser conciliado com a no verão menor que 48% da evapotranspiração anual
escolha da época de semeadura mais adequada. (THORNTHWAITE, 1948). Os dados climatológicos
Neste sentido, este trabalho teve como objetivo relacionados a temperatura máxima e mínima do
avaliar o desempenho agronômico de híbridos de sorgo ar e precipitações durante o período de condução
em diferentes épocas de semeadura. dos experimentos estão apresentados na Figura 1.
É oportuno destacar que o volume de precipitação
MATERIAL E MÉTODOS acumulado durante o ciclo do sorgo, para a primeira e
segunda época de semeadura, foi de 198 e 125 mm,
Foram conduzidos dois experimentos na área respectivamente, havendo maiores concentrações de
experimental do Centro Tecnológico COMIGO sediada chuvas durante os primeiros meses de implantação dos
experimentos.

Fonte: INMET - Ins�tuto Nacional de Meteorologia. Estação de coleta: Rio Verde (GO).

Figura 1. Temperaturas máxima e mínima e precipitações observadas durante o período de condução dos
experimentos. Rio Verde (GO), 2023.

Fitotecnia 179
CLUBE DE REVISTAS
A área em que os experimentos foram instalados Turbo (ureia + NBPT).
haviam sido cultivadas com soja na safra de verão. O solo Em ambos os experimentos, o delineamento
de ambas as áreas experimentais foi classificado como utilizado foi o de blocos ao acaso (DBC), avaliando-se
Latossolo Vermelho Distrófico (SANTOS et al., 2018). sete tratamentos com três repetições. Os tratamentos
Antes da semeadura da soja nas áreas experimentais, foram compostos por diferentes híbridos de sorgo
foi realizada a análise de amostras do solo coletadas na granífero, os quais apresentam recomendação para
profundidade de 0 a 20 cm, a qual revelou as seguintes o cultivo em segunda safra no Estado de Goiás. Os
propriedades físico-químicas para a primeira época de híbridos avaliados foram AG1070, AG1077 e AG1085,
semeadura: pH em CaCl2 de 5,11; 3,19 cmolc dm-3 de H+ pertencentes ao portfólio da Sementes Agroceres,
+ Al+3; 2,11 cmolc dm-3 de Ca+2; 0,55 cmolc dm-3 de Mg+2; 1G100 e 1G211, pertencentes ao portfólio da Brevant,
104,39 mg dm-3 de K; 9,31 mg dm-3 de P; 25,60 g dm-3 de e ADV1151 IG e ADV1277 AX, pertencentes ao
M.O.; 37,62% de areia; 6,96% de silte e 55,42% de argila; portfólio da ADVANTA. As unidades experimentais
e segunda época de semeadura: pH em CaCl2 de 5,36; foram compostas por seis linhas de semeadura, com
2,51 cmolc dm-3 de H+ + Al+3; 3,10 cmolc dm-3 de Ca+2; comprimento de 5,0 m (15,0 m2). Considerou-se como
0,83 cmolc dm-3 de Mg+2; 130,74 mg dm-3 de K; 17,02 mg área útil para as avaliações apenas as seis linhas
dm-3 de P; 25,30 g dm-3 de M.O.; 52,03% de areia; 9,00% centrais de cada unidade experimental, excluindo-se
de silte e 38,97% de argila. 0,5 m de cada extremidade.
Para eliminar as plantas daninhas emergidas Durante o desenvolvimento do sorgo foram
nas áreas experimentais, imediatamente após a realizados tratos culturais de acordo com as
semeadura de cada experimento foi realizada aplicação recomendações técnicas, procedendo ao controle
da mistura entre os herbicidas glifosato (1400 g e.a. de plantas daninhas, pragas e doenças sem deixar
ha-1) + atrazina (1000 g i.a. ha-1) + Iharol Gold® (300 mL que estes influenciassem negativamente no
p.c. ha-1). Em ambos os experimentos, a semeadura desenvolvimento da cultura. Para o controle de plantas
direta foi realizada de forma mecanizada, adotando- daninhas, foi realizada aplicação em pós-emergência
se espaçamento entrelinhas de 0,5 m e densidade de do sorgo do herbicida atrazina (1500 g i.a. ha-1) + Iharol
10,5 sementes por m. As sementes foram tratadas com Gold® (300 mL p.c. ha-1) aos 20 dias após a emergência
o inseticida CropStar (1,0 L p.c. 100 kg-1 de sementes). da cultura. Para o controle de pragas e manchas
A adubação de semeadura foi realizada com 400 kg foliares foi realizada uma aplicação da mistura entre o
ha-1 do formulado 15-15-15. Ademais, no momento da inseticida Wild (0,5 L p.c. ha-1) e o fungicida Orkestra +
semeadura foram aplicados no sulco via micron (volume Unizeb Gold (0,35 L + 1,5 kg p.c. ha-1), adicionando-se
de aplicação 60 L ha-1) o Biomax Azum (Azospirillum o óleo vegetal Mees (0,5 L p.c. ha-1) aos 35 dias após a
brasilense, concentração mínima 3,0 x 108 UFC mL-1) na emergência da cultura.
dose de 0,15 L p.c. ha-1 + Meta-Turbo SC (Metarhizium Para mensurar o desempenho produtivo
anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1,0 x 108 dos híbridos de sorgo granífero para a primeira e
propágulos viáveis mL-1) na dose de 0,5 L p.c. ha-1 + segunda época de semeadura, nos dias 31/07/2023 e
RayNitro Zn News (83,3 g L-1 de N, 83,3 g L-1 de P2O5 e 04/08/2023, respectivamente, foi realizada a colheita
47,6 g L-1 de Zn) na dose de 0,25 L p.c. ha-1. A adubação manual de todas as panículas presentes na área útil
de cobertura foi realizada com 150 kg ha-1 de Ureia de cada unidade experimental, onde posteriormente

180 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
este material foi submetido aos processos de trilha,
embalagem, identificação, pesagem e correção da
umidade dos grãos para 13%. A análise estatística foi
realizada com o programa computacional SISVAR. Os
dados foram submetidos à análise de variância pelo
teste F (p≤0,05) e, quando houve efeito significativo,
aplicou-se o teste de comparação de médias LSD de
Fisher (p≤0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 2 estão apresentados os resultados


de produtividade de grãos (sacas ha-1) dos híbridos
de sorgo granífero em função das duas épocas de
semeadura dos experimentos. Para os resultados
observados na primeira época, fica evidenciado que
os híbridos alcançaram bons patamares produtivos,
especialmente quando se considera o volume
de chuvas total acumulado durante o período de
condução do experimento (198 mm). Os valores de
produtividade entre os híbridos variaram entre 86 e
119 sacas ha-1, constatando-se que o material AG1070
apresentou rendimento de grãos superior em 27,8% em
comparação com a média de produtividade observada
nos híbridos ADV1151 IG e ADV1277 AX. Ao comparar
a performance produtiva entre os demais híbridos
da primeira época de semeadura, ressalta-se que
diferenças significativas não foram observadas.

Fitotecnia 181
CLUBE DE REVISTAS

Primeira época de semeadura* Segunda época de semeadura*


CV (%) = 16,83 DMS = 30,48 CV (%) = 16,43 DMS = 22,69
* Significativo pelo teste F (p≤0,05). Médias seguidas por letras distintas diferem entre si pelo teste LSD de Fisher (p≤0,05).

Figura 2. Produtividade de híbridos de sorgo granífero cultivado em duas épocas de semeadura.


Rio Verde (GO), 2023.

Para o experimento instalado na segunda época da cultura, considerando a produtividade dos sete
de semeadura, período no qual é considerado tardio em híbridos avaliados, verificou-se decréscimo médio
termos de implantação da cultura do sorgo no Estado de 24 sacas ha-1 devido à semeadura tardia, havendo
de Goiás (29/03/2022), observou-se comportamento reduções em valores variando de 7 a 45 sacas ha-1
de redução na produtividade de grãos quando se a depender do material. A redução nos patamares
comparou o desempenho produtivo isolado de cada produtivos de todos os híbridos de sorgo é explicada
híbrido de sorgo entre as épocas de semeadura (Figura pela menor disponibilidade hídrica na segunda época
2). Para se ter uma noção da redução no rendimento de semeadura (125 mm).
de grãos de sorgo em função da época de implantação Acerca do desempenho produtivo dos híbridos

182 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
na segunda época de semeadura, observou-se
CONCLUSÕES
que AG1077 e 1G100 apresentaram produtividade
superior em comparação com o AG1085 (Figura
Independentemente da época de semeadura,
2). Diferentemente do observado para a primeira
se for levado em consideração o volume de chuvas
época de semeadura, neste segundo experimento,
durante o período de condução dos experimentos,
os patamares produtivos dos híbridos ADV1151 IG e
contata-se que os híbridos de sorgo apresentam
ADV1277 AX ficaram mais próximos dos materiais que
patamares produtivos satisfatórios (1ª época
compuseram o grupo de tratamentos com maiores
produtividades variando de 86 e 119 sacas ha e 2ª -1

produtividades. Ademais, além das características


época produtividades variando de 62 a 86 sacas ha-1).
agronômicas que são importantes para a escolha dos
Semeaduras mais tardias do sorgo implicam
híbridos, especificamente para os materiais ADV1151
em menores potenciais produtivos da cultura,
IG e ADV1277 AX deve ser considerado também os
independentemente do híbrido avaliado.
benefícios que estes podem trazer em termos de
Considerando as duas épocas de semeadura,
manejo de problemas fitossanitários comuns a cultura
os híbridos de sorgo que apresentaram maiores
do sorgo (CRUVINEL et al., 2021; AVELLAR et al., 2022),
produtividades de grãos foram: AG1077, AG1070,
uma vez que o ADV1151 IG apresenta como diferencial
1G211 e 1G100.
a possibilidade de uso de herbicidas do grupo químico
das imidazolinonas (ex.: [imazethapyr + imazapic]),
REFERÊNCIAS
além do ADV1277 AX constituir-se em alternativa para
o manejo varietal do pulgão Melanaphis sacchari.
AVELLAR, G.S.; MENDES, S.M.; MARRIEL,
Compilando os resultados dos experimentos, fica
I.E.; MENEZES, C.B.; PARRELLA, R.A.C.; SANTOS, D.
evidenciado que a cultura do sorgo apresenta elevada
G. Resistance of sorghum hybrids to sorghum aphid.
adaptabilidade as condições edafoclimáticas da região
Brazilian Journal of Biology, v.82, e264139, 2022.
Sudoeste de Goiás, onde mesmo em condições de
BUFFARA, M.A; SILVA, A.G.; TEIXEIRA, I.R.;
baixa disponibilidade hídrica, os híbridos avaliados
COSTA, K.A.P.; SIMON, G.A.; GOULART, M.M.P. Seeding
conseguiram alcançar bons patamares produtivos.
system and density for winter Urochloa ruziziensis
Apesar disto, fica constatado também que eventuais
intercropped with sorghum between soybean crops.
atrasos na época de implantação da cultura irão
Comunicata Scientiae, v.9, n.2, p.340-350, 2018.
repercutir em menor potencial produtivo do sorgo, fato
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO
já relatado na literatura, incluindo trabalhos realizados
– CONAB. Safra Brasileira de Grãos. Disponível em:
no mesmo local que os do presente estudo (SILVA et
https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos.
al., 2022). Neste sentido, para alcançar maior êxito na
Acesso: 18 de agosto de 2023.
exploração comercial da cultura do sorgo, torna-se
CRUVINEL, A.G.; BRAZ, G.B.P.; SIMON,
fundamental realizar o planejamento desde a escolha
G.A.; SILVA, A.G.; RIBEIRO, L.C.L.; GONCALO, T.P.
da cultivar de soja que será utilizada na safra de verão,
Interference of increasing densities of sourgrass in
dando-se preferencia para materiais com ciclo precoce,
grain sorghum. Revista Brasileira de Milho e Sorgo,
uma vez que esta prática possibilita a semeadura do
v.20, e1213, 2021.
sorgo em períodos mais antecipados.

Fitotecnia 183
CLUBE DE REVISTAS
FERREIRA, R.V.; TAVARES, R.L.M.; MEDEIROS,
S.F.D.; SILVA, A.G.D.; JÚNIOR, J.P.D.S. Carbon stock
and organic fractions in soil under monoculture and
sorghum bicolor–urochloa ruziziensis intercropping
systems. Bragantia, v.79, n.3, p.425-433, 2020.
SILVA, L.L.; ALMEIDA, D.P.; LIMA, D.T.;
FERNANDES, R.H. Diferentes épocas de semeadura de
híbridos de sorgo na 2ª safra do ano agrícola 2021/22:
Produtividade de grãos. Anuário de Pesquisas
Agricultura: 2a Safra - 2021/2022, Centro Tecnológico
COMIGO, v.5, n.2, p.84-94, 2022.
STARCHAK, V.I.; STEPANCHENKO, D.;
MATVIENKO, E. Use of factor analysis in grain sorghum
breeding. BIO Web of Conferences, v.43, e.01020, p.1-
10, 2022.
THORNTHWAITE, C.W. An Approach toward
a Rational Classification of Climate. Geographical
Review, v. 38, n 1., p. 55-94, 1948.

184 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS

Plantas
Daninhas
Entomologia 185
CLUBE DE REVISTAS

DESEMPENHO AGRONÔMICO DE
CULTIVARES DE SOJA SUBMETIDAS
A APLICAÇÃO DE HERBICIDAS
RESIDUAIS EM DIFERENTES
MODALIDADES

BRAZ1, Guilherme Braga Pereira; ALMEIDA2,


Dieimisson Paulo; LIMA3, Diego Tolentino de;
INTRODUÇÃO
FERNANDES4, Rafael Henrique; DELGADO5,
Vanderson Aparecido Diego; SILVA6, Linconl Lima O aumento da dispersão das plantas daninhas
resistentes a herbicidas, em especial ao glifosato, tem se
constituído em um dos principais entraves visualizados
1
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia. dentro dos sistemas de produção agrícola, uma vez que
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico proporciona redução na produtividade das culturas, além
COMIGO (CTC). E-mail: guilhermebraga@comigo.
de incrementar o custo de produção. Neste sentido, fica
com.br
2
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia. evidente a necessidade de mudança de postura no que
E-mail: dieimissonpa@gmail.com diz respeito às estratégias adotadas para o manejo de
3
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia.
plantas daninhas visando assegurar a sustentabilidade
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico
COMIGO (CTC). E-mail: diegotolentino@comigo. dos sistemas de produção de soja.
com.br No planejamento das estratégias para o manejo de
4
Engenheiro agrônomo, Doutor em Fitotecnia.
plantas daninhas, a adoção de práticas como adubação
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico
COMIGO (CTC). E-mail: : rafaelhenrique@comigo. de acordo com as recomendações baseadas na análise
com.br de solo, escolha da cultivar com adaptabilidade para
5
Discente de graduação da Faculdade de Agronomia
região de cultivo, densidade de semeadura de acordo
da Universidade de Rio Verde (UniRV). Estagiário
no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: com a recomendação, inserção de plantas de cobertura
vandersomdelgado@hotmail.com na rotação de culturas, entre outras, consistem em passos
6
Discente de graduação da Faculdade de Agronomia
fundamentais para melhorar o controle da comunidade
do Instituto Federal Goiano (IFGoiano), campus Rio
Verde. Estagiário no Centro Tecnológico COMIGO infestante e assegurar a performance adequada dos
(CTC). E-mail: linconl96lima@gmail.com herbicidas (NORSWORTHY et al., 2012). Acerca do
controle químico, cada vez mais têm sido constatados
os benefícios oriundos da utilização dos herbicidas

186 Plantas Daninhas


CLUBE DE REVISTAS
residuais, uma vez que estes produtos contribuem para a recomendação desta prática de controle de plantas
diminuição do banco de sementes de plantas daninhas daninhas.
no solo, bem como apresentam elevada eficácia no Diante deste contexto, o objetivo do presente
manejo das espécies de difícil controle (SALOMÃO et trabalho foi avaliar o desempenho agronômico de
al., 2021). cultivares de soja submetidas à aplicação de herbicidas
Tradicionalmente, os herbicidas residuais são residuais em diferentes modalidades.
recomendados em aplicações em pré-emergência,
que consiste no uso imediatamente antes ou após a MATERIAL E MÉTODOS
semeadura da cultura, condição na qual ainda não
houve a emergência da soja. Contudo, em áreas Nove experimentos foram instalados a campo
com grande pressão de plantas daninhas no banco em um mesmo talhão localizado na Fazenda Monte
de sementes no solo, uma prática que pode ser Alegre, da Cooperativa COMIGO, sediada no município
empregada refere-se à aplicação dos herbicidas de Rio Verde (GO) (S 17°33'14" O 50°58'44", altitude de
residuais em pós-emergência da cultura (overlapping) 790 m), sendo conduzidos no período de 25/10/2022
objetivando sobrepor o residual que estes produtos a 24/02/2023. Em cada experimento foi avaliado o
apresentam no controle de plantas daninhas, situação desempenho agronômico de uma cultivar de soja
que possibilita redução na emergência das espécies distinta submetida à aplicação de herbicidas residuais
que compõem a comunidade infestante. Na atualidade, em diferentes modalidades.
apesar de trabalhos de pesquisa demonstrarem a O clima do município de Rio Verde é do
viabilidade na adoção desta prática (TAKANO et al., tipo B4 rB’4a’ (Úmido; pequena deficiência hídrica;
2015; SALOMÃO et al., 2021), ainda não há uma grande mesotérmico; evapotranspiração no verão menor
gama de informações acerca da seletividade dos que 48% da evapotranspiração anual), segundo a
herbicidas residuais entre as diferentes cultivares de classificação de Thornthwaite (1948). Na Figura 1
soja. A execução de pesquisas que visam determinar encontram-se os dados climatológicos relacionados a
a seletividade dos herbicidas residuais aplicados em temperatura máxima e mínima do ar e precipitações
pós-emergência de acordo com a genética da cultivar durante o período de condução dos experimentos.
de soja consiste em passo fundamental para ampliar

Plantas Daninhas 187


CLUBE DE REVISTAS

Fonte: INMET - Ins�tuto Nacional de Meteorologia. Estação de coleta: Rio Verde (GO).
Figura 1. Temperaturas máxima e mínima e precipitações observadas durante o período de
Figura 1. Temperaturas máxima e mínima e precipitações observadas durante o período de
condução dos experimentos. Rio Verde (GO), 2022/2023.

O solo da área experimental é classificado como utilizadas nos experimentos foram: HO Iguaçu IPRO
Latossolo Vermelho Distrófico (Santos et al., 2018). (GMR: 6.4; 18 sementes m-1), HO Corumbá IPRO
Antes da instalação dos experimentos, foi realizada a (GMR: 6.7; 16 sementes m-1), ST 700 I2X (GMR: 7.0; 16
análise de amostras do solo coletadas na profundidade sementes m-1), NS 7474 IPRO (GMR: 7.4; 12 sementes
de 0 a 20 cm, a qual revelou as seguintes propriedades m-1), HO Aporé IPRO (GMR: 7.5; 16 sementes m-1), CZ
físico-químicas: pH em CaCl2 de 5,3; 2,31 cmolc dm-3 de 37B43 IPRO (GMR: 7.4; 16 sementes m-1), M 7601 I2X
H+ + Al+3; 2,73 cmolc dm-3 de Ca+2; 0,79 cmolc dm-3 de (GMR: 7.6; 12 sementes m-1), HO Maracaí IPRO (GMR:
Mg+2; 153,70 mg dm-3 de K; 8,45 mg dm-3 de P; 23,80 g 7.7; 12 sementes m-1) e BMX Bônus IPRO (GMR: 7.9;
dm-3 de M.O.; 47,61% de areia; 16,61% de silte e 35,77% 12 sementes m-1). Todas as sementes utilizadas nos
de argila (textura argilo-arenoso). experimentos receberam tratamento industrial com
O controle das plantas daninhas (dessecação fungicidas e inseticidas, bem como foi realizada a
de pré-semeadura) presentes na área experimental foi prática de inoculação visando assegurar o processo
realizado com duas aplicações de herbicidas, sendo de fixação biológica de nitrogênio. Visando realizar a
a primeira realizada quinze dias antes da semeadura prática de adubação da cultura, foi aplicado à lanço em
com a aplicação de glifosato (1400 g e.a. ha ) + 2,4-D
-1
área total o equivalente a 200 kg ha-1 de KCl + 20 kg ha-1
amina (804 g e.a. ha-1) e a segunda realizada no dia da de ulexita + 25 kg ha-1 de Mix Complex. No momento
semeadura, com a aplicação de diquat (400 g i.a. ha-1) + da semeadura, a adubação foi realizada com aplicação
Ochima (400 mL p.c. ha ).
® -1
no sulco do equivalente à 250 kg ha-1 de 10-46-00 +
Para todos os experimentos, a semeadura direta 9% de S. A emergência das plântulas de soja das nove
foi realizada de forma mecanizada no dia 25/10/2022, cultivares ocorreu no dia 01/11/2022.
adotando-se espaçamento entrelinhas de 0,5 m. As Em todos os experimentos, o delineamento
cultivares de soja, o grupo de maturidade relativa utilizado foi o de blocos ao acaso (DBC), avaliando-
(GMR) e as respectivas densidades de semeadura se dez tratamentos com quatro repetições (Tabela

188 Plantas Daninhas


CLUBE DE REVISTAS
1). Os tratamentos foram compostos pela aplicação 5,0 m (25,0 m2). Considerou-se como área útil para
de herbicidas em pré-emergência e/ou em pós- as avaliações apenas as seis linhas centrais de cada
emergência da soja, acrescido de uma testemunha sem unidade experimental, excluindo-se 0,5 m de cada
aplicação. As unidades experimentais foram compostas extremidade.
por dez linhas de semeadura, com comprimento de

Tabela 1. Relação de tratamentos avaliados no experimento realizado com cultivares de soja


submetidas a aplicação de herbicidas em diferentes modalidades. Rio Verde (GO), 2022/2023.

Tratamentos Dose (g ou L p.c. ha-1) Ingrediente ativo Dose (g i.a. ha-1)


Eddus (Pré) 2,5 [fomesafen + S-metolachlor] [297,5 + 1292,5]
Eddus (Pós) 2,0 [fomesafen + S-metolachlor] [238 + 1034]
Eddus (Pré/Pós) 2,5/2,0 [fomesafen + S-metolachlor] [297,5 + 1292,5]/[238 + 1034]
Reator (Pré) 2,5 clomazone 900
Reator (Pós) 2,0 clomazone 720
Reator (Pré/Pós) 2,5/2,0 clomazone 900/720
Kyojin (Pré) 0,3 [pyroxasulfone + flumioxazin] [90 + 60]
Spider (Pré) 30 diclosulam 25,2
ZethaMaxx (Pré) 0,5 [imazethapyr + flumioxazin] [106 + 50]
Testemunha - - -

A primeira aplicação dos tratamentos nos 63,4%, respectivamente, o céu estava com a presença
experimentos foi realizada em pré-emergência da de poucas nuvens e a velocidade do vento em valores
soja, na modalidade plante e aplique. Esta aplicação próximos de 1,8 km h-1.
foi realizada no dia 26/10/2022. No momento da As aplicações foram realizadas utilizando-se um
aplicação o solo apresentava-se com boa umidade e o pulverizador de pesquisa pressurizado por CO2 com
céu estava com a presença de poucas nuvens, estando patente junto ao INPI (BR 102016007565-3), montado
a temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do em um trator (LS 60, 60 cv, Landini). A barra de aplicação
vento, mínima e máxima, em valores equivalentes a 27,4 foi equipada com dez pontas espaçadas 0,5 m entre si,
e 31,6oC, 53,6 e 72,4% e 0,8 e 2,6 km h-1, respectivamente. mantida a uma altura de 0,5 m da cobertura vegetal.
A segunda aplicação foi realizada em pós-emergência A pressão de trabalho nas pontas de pulverização de
da soja no dia 24/11/2022 (23 dias após a emergência jato duplo plano com indução de ar (ADIA/D 110015;
da soja). Nesta ocasião, as plantas de soja estavam Magnojet) foi de 300 kPa (43,5 psi) e o volume de
no estádio V3/V4 (cultivares tardias) e V4 (cultivares aplicação 150 L ha-1.
precoces), apresentando altura variando entre 15 e 20 Para eliminar possíveis interferências das falhas
cm. No momento da aplicação o solo encontrava-se no controle das plantas daninhas entre os herbicidas
com boa umidade, a temperatura e a umidade relativa avaliados influenciando nos resultados, e com o objetivo
do ar, mínima e máxima, eram de 24,3 e 24,5oC e 60,1 e de deixar as plantas de soja expostas apenas ao efeito

Plantas Daninhas 189


CLUBE DE REVISTAS
dos tratamentos, aos 34 dias após a semeadura (DAS) que os valores foram baixos, alcançado percentuais
foi realizada, em todos os experimentos, uma aplicação máximos de 10,00% (dados não apresentados).
em pós-emergência da soja da associação entre Independentemente da cultivar de soja, os tratamentos
glifosato (1170 g e.a. ha-1) + haloxyfop (162 g i.a. ha-1) que proporcionaram maiores percentuais de injúrias
+ Iharol Gold® (400 mL p.c. ha-1). Além disso, durante foram os que continham a aplicação da mistura
o desenvolvimento da soja foram realizados tratos formulada entre [fomesafen + S-metolachlor] em
culturais de acordo com as recomendações técnicas, pós-emergência da cultura. É oportuno destacar que
procedendo ao controle de pragas e doenças sem atualmente esta mistura formulada apresenta registro
deixar que estes influenciassem negativamente no na cultura da soja apenas para uma aplicação ao longo
desenvolvimento da cultura. do ciclo na modalidade em pré-emergência. Neste
Aos 10 dias após a aplicação dos herbicidas sentido, o presente trabalho demonstra o potencial de
em pós-emergência foi realizada avaliação de utilização desta mistura em pós-emergência da soja
fitointoxicação, utilizando para esta avaliação escala visando conferir maior atividade residual no controle de
que apresenta notas variando de 0% a 100%, onde plantas daninhas mediante à aplicação de [fomesafen
0% significa ausência de sintomas e 100% representa + S-metolachlor], visto que as injúrias provocadas por
a morte de todas as plantas presentes na área útil. esta mistura formulada foram de baixa intensidade, se
Ademais, na ocasião da colheita foi realizada avaliação caracterizando por sintomas de leve clorose. Contudo,
do estande de plantas, procedendo a contagem do é importante que avaliações sobre a seletividade desta
número de plantas presentes em 3 m, sendo os dados mistura formulada em aplicações em pós-emergência
desta variável apresentados na forma de número da soja sejam continuamente avaliadas, uma vez
de plantas por metro linear. Para determinação da que trabalhos na literatura já demonstraram que o
produtividade de grãos, foi realizada o arranquio fomesafen, um dos ingredientes ativos que compõem
manual de todas as plantas presentes na área útil de esta mistura proporciona injúrias a depender da dose
cada unidade experimental, onde posteriormente e estádio de aplicação (ALONSO et al., 2011; ALONSO
este material foi submetido aos processos de trilha, et al., 2013).
embalagem, identificação, pesagem e correção da Acerca dos efeitos do clomazone, os sintomas
umidade dos grãos para 13%. de intoxicação visualizados foram de baixíssima
As análises estatísticas foram realizadas com intensidade (< 5,00%) e ocorreram apenas no
o programa computacional SISVAR. Os dados de tratamento com aplicação em pré e pós-emergência
todos os experimentos foram submetidos à análise de da soja. Este fato demonstra a boa seletividade que
variância pelo teste F (p≤0,05) e, quando houve efeito a nova formulação comercial microencapsulada à
significativo, aplicou-se o critério de agrupamento de base de clomazone apresenta para a soja (Reator),
médias de Scott-Knott (p≤0,05). inclusive viabilizando o seu uso com o intuito de
sobrepor a atividade residual no controle de plantas
RESULTADOS E DISCUSSÃO daninhas nesta cultura (SALOMÃO et al., 2021). Por
fim, independentemente da cultivar de soja, não foram
De maneira geral, quando se observa as notas observados sintomas de intoxicação nas plantas em
conferidas na avaliação de fitointoxicação, verifica-se função da aplicação em pré-emergência de [fomesafen

190 Plantas Daninhas


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+ S-metolachlor] (Eddus), clomazone (Reator), independentemente da modalidade de aplicação, foi
[pyroxasulfone + flumioxazin] (Kyojin), diclosulam capaz de proporcionar reduções no estande da soja
(Spider) ou [imazethapyr + flumioxazin] (ZethaMaxx), (Tabela 2). Novamente, estes resultados subsidiam a
demonstrando a boa seletividade que estes herbicidas segurança na utilização dos herbicidas avaliados, haja
apresentam para a cultura quando posicionados dentro visto que o fato de não terem impactado a população
do intervalo de doses recomendado. final da cultura possibilita a manutenção deste
Para a avaliação de estande de plantas, componente de rendimento.
nenhum dos tratamentos herbicidas avaliados,

Plantas Daninhas 191


192
Tabela 2. Estande de plantas e produtividade de grãos em cultivares de soja submetidas a aplicação de herbicidas em diferentes
modalidades. Rio Verde (GO), 2022/2023.

HO Iguaçu HO Corumbá ST 700 NS 7474 HO Aporé CZ 37B43 M 7601 HO Maracaí BMX Bônus

Plantas Daninhas
Dose
Tratamentos IPRO IPRO I2X IPRO IPRO IPRO I2X IPRO IPRO
(g ou L p.c. ha-1)
Estande (plantas por m)
Eddus (Pré) 2,5 17,25 14,83 15,94 10,00 13,44 15,39 11,97 10,47 10,77
Eddus (Pós) 2,0 16,94 14,30 14,61 9,75 14,75 15,89 11,67 10,27 13,47
Eddus (Pré/Pós) 2,5/2,0 18,08 14,55 15,36 9,58 13,61 15,30 12,16 10,36 12,74
Reator (Pré) 2,5 17,00 15,83 15,10 10,36 13,86 14,83 11,94 9,97 14,25
Reator (Pós) 2,0 17,94 16,75 14,89 9,72 13,94 14.67 12,27 9,97 13,69
Reator (Pré/Pós) 2,5/2,0 17,86 16,47 15,55 9,89 14,22 16,16 12,27 9,97 14,36
Kyojin (Pré) 0,3 17,44 14,16 14,77 9,94 13,55 14,41 12,11 9,41 13,47
Spider (Pré) 30 17,22 14,77 15,19 9,55 12,52 14,08 12,25 10,05 13,58
ZethaMaxx (Pré) 0,5 17,16 15,66 17,05 9,55 14,00 15,11 11,77 9,89 12,50
Testemunha - 17,94 15,33 14,66 9,11 13,30 15,28 12,00 10,27 12,55
FCalculado 1,40ns 1,96ns 2,10ns 0,71ns 2,31ns 1,44ns 1,46ns 1,35ns 1,93ns
CV (%) 4,17 8,37 6,67 8,13 5,68 7,05 2,89 5,16 11,50
Produtividade de grãos (sacas ha-1)
Eddus (Pré) 2,5 79,5 81,2 85,7 83,4 78,7 82,4 75,0 70,1 62,5
Eddus (Pós) 2,0 87,0 80,2 83,7 75,3 77,8 79,4 77,0 79,2 60,0
Eddus (Pré/Pós) 2,5/2,0 84,4 83,2 81,1 73,8 77,0 77,9 80,6 75,6 61,8
Reator (Pré) 2,5 80,1 74,5 77,8 79,0 76,8 72,4 82,3 74,2 66,1
Reator (Pós) 2,0 85,0 74,8 81,3 78,1 81,0 81,4 76,3 74,1 62,9
Reator (Pré/Pós) 2,5/2,0 84,9 80,7 82,3 82,4 82,1 75,3 77,3 71,8 61,3
Kyojin (Pré) 0,3 83,0 82,1 84,4 75,7 78,1 71,9 74,9 71,3 57,6
Spider (Pré) 30 81,1 86,8 79,3 77,1 77,9 79,1 82,5 71,8 60,4
ZethaMaxx (Pré) 0,5 81,3 87,4 76,0 75,1 81,3 71,7 79,2 80,1 63,4
Testemunha - 91,7 88,7 80,0 77,9 81,9 79,4 77,0 73,0 65,3
FCalculado 3,05ns 2,07ns 1,10ns 1,77ns 0,67ns 1,12ns 0,90ns 1,97ns 0,80ns
CV (%) 5,04 8,24 7,10 6,10 6,39 9,75 7,54 6,38 9,02
ns
Não significativo pelo teste F (p≤0,05).
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Em relação à produtividade de grãos, de maneira (SANTOS et al., 2012). Neste sentido, ao optar-se pela
análoga aos resultados de estande de plantas, em prática de posicionar um herbicida residual em pós-
todas as cultivares de soja, nenhum dos tratamentos emergência (produtos à base de S-metolachlor ou
herbicidas proporcionou reduções nos valores desta clomazone), buscar rotacionar o ingrediente ativo que
variável (Tabela 2). Os resultados do presente trabalho foi utilizado em pré-emergência.
indicam que a seletividade dos tratamentos avaliados
indefere quanto ao material genético semeado CONCLUSÕES
(cultivar), bem como da modalidade de aplicação em
que os herbicidas foram posicionados, desde que Os níveis de fitointoxicação na soja decorrentes
sejam respeitadas as doses recomendadas em bula. da aplicação dos herbicidas foram baixos ou ausentes a
Comparando os resultados de produtividade depender do tratamento avaliado. A aplicação em pós-
entre as cultivares de soja, pode-se notar uma emergência da mistura formulada entre [fomesafen +
tendência de que as cultivares de grupo de maturação S-metolachlor] proporcionou injúrias às plantas de soja,
maior (tardias) apresentaram menores rendimentos em sendo estas caracterizadas como de baixa intensidade.
detrimento das mais precoces. Este comportamento Nenhum dos tratamentos herbicidas
não corrobora com os relatos descritos na literatura, proporcionou reduções no estande da soja,
nos quais, de maneira geral, cultivares com ciclo mais independentemente da cultivar avaliada.
extenso tendem a apresentar maiores patamares Todos os tratamentos herbicidas, nas doses e
produtivos (BIANCHI et al., 2010; MEOTTI et al., 2012). modalidades de aplicação avaliadas, apresentaram
Contudo, os resultados de produtividade entre as seletividade para as cultivares de soja.
cultivares de soja visualizados no presente trabalho
podem ser explicados pela época de semeadura REFERÊNCIAS
(25/10/2022), bem como distribuição pluviométrica ao
longo da condução dos experimentos (Figura 1), fato ALONSO, D.G.; CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JR.,
que acabou por favorecer os materiais mais precoces R.S.; SANTOS, G.; DAN, H.A.; OLIVEIRA NETO, A.M.
a não passarem por um período de veranico durante o Seletividade de glyphosate isolado ou em misturas para
desenvolvimento da cultura. soja RR em aplicações sequenciais. Planta Daninha,
Compilando os resultados dos experimentos, v.31, n.1, p.203-212, 2013.
verifica-se a viabilidade de uso de todos os tratamentos ALONSO, D.G.; CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JR.,
herbicidas nas combinações de doses e modalidades R.S.; ARANTES, J.G.Z.; CAVALIERI, S.D.; SANTOS, G.;
de aplicação avaliadas para o manejo de plantas RIOS, F.A.; FRANCHINI, L.H.M. Selectivity of glyphosate
daninhas na soja. É oportuno destacar que em relação tank mixtures for RR soybean. Planta Daninha, v.29,
aos tratamentos com a aplicação do mesmo herbicida n.4, p.929-937, 2011.
em pré e pós-emergência da soja, apesar da viabilidade BIANCHI, M.A.; FLECK, N.G.; LAMEGO, F.P.;
técnica de uso quanto a seletividade, recomenda-se AGOSTINETTO, D. Papéis do arranjo de plantas e
evitar a utilização desta prática, visto que por se tratar do cultivar de soja no resultado da interferência com
de herbicidas com atividade residual no solo, pode plantas competidoras. Planta Daninha, v.28, n.5, p.979-
haver riscos de carryover para culturas de safrinha 991, 2010.

Plantas Daninhas 193


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MEOTTI, G.V.; BENIN, G.; SILVA, R.R.; BECHE, E.;
MUNARO, L.B. Épocas de semeadura e desempenho
agronômico de cultivares de soja. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, v.47, n.1, p.14-21, 2012.
NORSWORTHY, J.K.; WARD, S.M.; SHAW, D.R.;
LLEWELLYN, R.S.; NICHOLS, R.L.; WEBSTER, T.M.;
BRADLEY, K.W.; FRISVOLD, G.; POWLES, S.B.; BURGOS,
N.R.; WITT, W.W.; BARRETT, M. Reducing the risks of
herbicide resistance: best management practices and
recommendations. Weed Science, v.60, n.1, p.31-62,
2012.
SALOMÃO, H.M.; TREZZI, M.M.; VIECELLI, M.;
PAGNONCELLI JUNIOR, F.B.; PATEL, F.; DAMO, L.;
FRIZZON, G. Weed management with pre-emergent
herbicides in soybean crops. Communications in
Plant Sciences, v.11, n.1, p.60-66, 2021.
SANTOS, H.G.; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS,
L.H.C.; OLIVEIRA, V.A.; LUMBRERAS, J.F.; COELHO,
M.R; ALMEIDA, J.A.; ARAÚJO FILHO, J.C.; OLIVEIRA,
J.B.; CUNHA, T.J.F. Latossolos. In: Sistema Brasileiro
de Classificação de Solos. 5. ed. Brasília :Brasília:
Embrapa, 2018., Cap. 12 p. 219 - 223.
SANTOS, G.; FRANCISCHINI, A.C.; CONSTANTIN,
J.; OLIVEIRA JR., R.S. Carryover proporcionado pelos
herbicidas S-metolachlor e trifluralin nas culturas de
feijão, milho e soja. Planta Daninha, v.30, n.4, p.827-
834, 2012.
TAKANO, H.K.; BRAZ, G.B.P.; OLIVEIRA JR., R.S.;
CONSTANTIN, J.; RIOS, F.A.; GHENO, E.A.; FRANCHINI,
L.H.M.; BIFFE, D.F. Influência de fungicidas sobre
a seletividade de herbicidas para soja RR®. Global
Science and Technology, v.8, n.1, p.70-78, 2015.
THORNTHWAITE, C.W. An Approach toward
a Rational Classification of Climate. Geographical
Review, v. 38, n 1., p. 55-94, 1948.

194 Plantas Daninhas


CLUBE DE REVISTAS

RESIDUAL DE PICLORAM EM
NOVAS ÁREAS AGRÍCOLAS:
IMPACTOS, DETECÇÃO E MEDIDAS
PARA ATENUAÇÃO

BRAZ1; Guilherme Braga Pereira; SOUZA2, USO DE PICLORAM E A


Matheus de Freitas; ALMEIDA3, Dieimisson Paulo;
NASCIMENTO4, Hemython Luís Bandeira do; INCORPORAÇÃO DE ÁREAS PARA
FERREIRA5, Camila Jorge Bernabé; GOMIDES6, PRODUÇÃO DE GRÃOS
Brunno Misofante da Silva
De maneira análoga ao que ocorre nos sistemas
1
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia. de produção agrícola, as plantas daninhas quando
Pesquisador no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). infestando áreas de pastagem acabam trazendo sérias
E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br restrições para a atividade pecuarista, fazendo com
2
Engenheiro agrônomo. Doutor em Fitotecnia.
Professor na Universidade de Rio Verde. E-mail: que haja menor produção de biomassa, diminuição da
matheus_mafs10@hotmail.com qualidade nutricional da forragem, redução da capacidade
3
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia. de suporte do pasto, intoxicação de animais devido à
E-mail: dieimissonpa@gmail.com
4
Engenheiro agrônomo, Doutor em Zootecnia. presença de espécies tóxicas, entre outros prejuízos
Pesquisador no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). oriundos do processo de interferência (FERREIRA et al.,
E-mail: hemythonluis@comigo.com.br 2014). Neste sentido, fica evidenciada a necessidade de
5
Engenheira agrônoma. Doutora em Agronomia.
Professora na Universidade de Rio Verde. E-mail: se adotar medidas para o manejo integrado de plantas
camilajbferreira@gmail.com daninhas em áreas de pastagem, sendo o controle
6
Químico Industrial, Pós-graduado em Perícias químico, realizado mediante a aplicação de herbicidas,
Forenses. E-mail: brunno.gomides@acslab.com.br
um dos métodos mais amplamente utilizados nestes
ambientes.
Em relação ao controle químico de plantas
daninhas nas áreas de pastagem, um dos desafios
visualizados refere-se ao manejo de espécies
classificadas como folhas estreitas (monocotiledôneas),
uma vez que por apresentarem similaridade morfológica

Plantas Daninhas 195


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com a forragem restringem o uso dos herbicidas para herbicidas hormonais serão um sério gargalo para o
o controle eficaz e de forma seletiva (GOULART et al., sistema de produção, uma vez que podem inviabilizar o
2012). Em contraponto, para o controle das plantas cultivo de algumas culturas, como soja, feijão, algodão
daninhas folhas largas (dicotiledôneas), há vários e tomate (CARMO et al., 2008; ASSIS et al., 2010),
herbicidas com registro para uso em pastagem, os fenômeno conhecido como carryover.
quais costumam apresentar boa eficácia quando Para fins de exemplificação do risco intrínseco
posicionados nas doses, modalidade e estágios de ao uso dos herbicidas hormonais com longa atividade
aplicação recomendados. residual no solo, na atualidade Goiás apresenta área
Entre os herbicidas amplamente utilizados para cultivada com soja em valores de ≈ 4,5 milhões de
o controle de plantas daninhas folhas largas em áreas hectares (CONAB, 2023) e a previsão para o final
de pastagem, vários apresentam ingredientes ativos desta década é que a área plantada com esta cultura
contendo como mecanismo de ação o processo de seja próxima de 7,3 milhões de hectares, com base
mimetização da auxina, também conhecidos como na média de crescimento anual nas últimas décadas.
hormonais ou auxínicos. Estes herbicidas apresentam Neste contexto, uma parte considerável das áreas
registro para o controle de plantas daninhas que serão incorporadas para produção de soja serão
dicotiledôneas herbáceas e arbustivas, podendo ser provenientes do setor pecuarista, trazendo consigo
posicionados tanto para uso em aplicações em área o risco da presença de resíduos dos herbicidas
total, como localizadas (foliar, toco ou basal). Contudo, hormonais, os quais poderão impactar negativamente
é oportuno destacar que um dos entraves em relação na produção desta leguminosa.
ao uso destes herbicidas, refere-se a longa atividade Com base no exposto, a presente revisão tem
residual que determinados ingredientes ativos como intuito principal discutir sobre as problemáticas
podem apresentar, como nos casos do picloram e relacionadas ao residual dos herbicidas hormonais
aminopiralide, que apresentam relatos de efeito residual nas novas áreas agrícolas, apresentando os impactos
no solo sobre as culturas por períodos superiores provocados por estes, métodos para a detecção no
a 2 anos após sua aplicação. A duração do período solo, bem como estratégias que podem ser adotadas
residual desses herbicidas depende da dose aplicada e visando a atenuação do problema nos sistemas
das propriedades físico-químicas do ambiente edáfico de produção. Devido ao amplo histórico de uso do
(FRANCO et al., 2016). picloram, bem como pela maior quantidade de produtos
Para áreas exploradas com a atividade comerciais à base deste ingrediente ativo registrados
pecuarista e nas quais não há intenção de migração no Brasil, será direcionado maior foco nesta revisão
para a agricultura, o longo período residual no solo para esta molécula, mas ressalta-se que é importante
que herbicidas como o picloram e aminopiralide que o mesmo cuidado que há com o picloram, seja
apresentam não se constitui propriamente em um direcionado para os produtos formulados à base de
entrave sério. Contudo, dentro do processo de expansão aminopiralide, visto que o mesmo também apresenta
da agricultura brasileira, especialmente na região período de meia vida longa no solo.
do Cerrado brasileiro, boa parte das áreas a serem
incorporadas serão oriundas de locais com histórico de PROPRIEDADES FÍSICO-
cultivo de pastagens. Nestes ambientes, o residual dos QUÍMICAS DO PICLORAM E SEU

196 Plantas Daninhas


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condições edafoclimáticas. A capacidade desse
COMPORTAMENTO NO SOLO
herbicida em alcançar profundidades próximas a 60
cm do solo pode estender o seu período residual, uma
O picloram consiste em um herbicida de
vez que em condições de menor oxigenação do solo, a
ação sistêmica pertencente ao grupo químico ácido
degradação desse herbicida pela atividade microbiana
piridinocarboxílico, sendo registrado para o manejo
é consideravelmente reduzida (PASSOS et al., 2019).
de plantas daninhas em áreas de pastagem e na
Em função do longo período que esta molécula
cultura da cana-de-açúcar, além de alguns produtos
requer para que 50% da concentração inicial aplicada
comerciais apresentarem registro para erradicação
seja dissipada no solo, aliada a elevada suscetibilidade
de tocos (cepas) de eucalipto. Na atualidade
que a soja apresenta à presença de resíduos de
existem no Brasil mais de 60 produtos comerciais
picloram, estes fatores de forma conjunta fazem com
à base deste ingrediente ativo, as quais possuem
que seja comum relatos de intoxicação desta cultura
formulação contendo picloram isolado, bem como
em períodos superiores a 2 anos após a aplicação do
em misturas duplas com 2,4-D, fluroxipir ou triclopir,
herbicida. Associado ao longo período residual desse
além de misturas triplas com aminopiralide + fluroxipir,
herbicida, a sensibilidade de culturas como soja, feijão
aminopiralide + triclopir e fluroxipir + triclopir. Como
e tomate a mimetizadores de auxina agravam o risco
já mencionado anteriormente, o posicionamento dos
de intoxicação em áreas submetidas a aplicação de
produtos comerciais à base de picloram é direcionado
picloram. Outros fatores agravantes estão ligadas as
para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas de
doses aplicadas e a modalidade de aplicação, uma
hábito vegetativo herbáceo e arbustivo.
vez que a nível prático, por vezes há a utilização de
Em relação ao comportamento do picloram no
superdosagens no intuito de buscar maior êxito no
ambiente edáfico, por apresentar o valor de coeficiente
controle de plantas daninhas, além de as aplicações
de adsorção baixo (kf = 0.46) para maioria dos solos e
localizadas forçarem para uma maior deposição do
média solubilidade em água (430 mg/L), esse herbicida
herbicida em um mesmo ponto da área, contribuindo
possui alto potencial de lixiviação, sendo comum
para um aumento substancial da dose recomenda.
encontrar resíduos em camadas mais profundas a
Novamente, nestas situações, haverá uma maior
partir da superfície do solo (SHANER, 2014). Apesar
extensão no residual do picloram, sendo necessário
de ter fraca adsorção a determinados tipos de argila, o
esperar um período de tempo maior para a implantação
aumento dos teores de matéria orgânica pode favorecer
de culturas suscetíveis como a soja.
em parte para o processo de adsorção do herbicida no
solo.
A degradação no solo do picloram é lenta em PREJUÍZOS PROVOCADOS PELO
comparação com outros herbicidas. A principal de PICLORAM
dissipação desse herbicida via ocorre pelo metabolismo
realizado por microrganismos aeróbicos (RODRIGUES Acerca da sintomatologia visualizada em
e ALMEIDA, 2011). Esse fato proporciona uma meia- decorrência das injúrias provocadas pelo picloram,
vida à campo é de 90 dias para o picloram, podendo destaca-se que, normalmente os sintomas são mais
alcançar até 300 dias após sua aplicação para algumas pronunciados nas culturas classificadas como de
folhas largas, uma vez que as espécies de interesse

Plantas Daninhas 197


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econômico classificadas como folhas estreitas tendem No caso das culturas classificadas como de folhas
a ser ligeiramente mais tolerante a presença destes estreitas, além de parte dos sintomas mencionados
resíduos no solo (CARMO et al., 2008). Especificamente anteriormente, é comum observar a formação de raízes
para a cultura da soja, entre os principais sintomas adventícias. A depender da quantidade de resíduo de
observados nas plantas que se desenvolveram picloram no solo, isto pode levar a morte das plantas de
em áreas contendo resíduos de picloram no solo, culturas sensíveis, a qual é lenta, ocorrendo entre 2 e 4
lista-se a ocorrência de epinastia nos trifólios mais semanas após a emergência das plântulas.
jovens, deformações no limbo foliar, paralização do
crescimento e engrossamento de raízes (Figura 1).

Figura 1. Injúrias provocadas na soja pela presença de resíduos de herbicidas auxínicos no solo.

Os prejuízos oriundos das injúrias provocadas observados. Apenas para fins de elucidação da
pela presença dos resíduos de picloram na soja irão sensibilidade da soja ao picloram, em trabalho realizado
impactar no desenvolvimento morfofisiológico das no Centro Tecnológico COMIGO, com o intuito de
plantas e a depender da intensidade irá resultar na correlacionar a concentração deste herbicida no solo
incapacidade de produção de grãos nestas áreas. e a produtividade de diferentes cultivares, foi observado
Em condições de sintomatologia mais branda, devido que a cada 0,05 mg i.a. de picloram kg-1 de solo houve
às menores concentrações de picloram no solo, os uma redução na produtividade desta cultura em valores
prejuízos estarão relacionados a falhas no estande variando de 5,2 a 8,7 sacas ha-1, sendo a intensidade
da cultura, plantas com menor porte e índice de de perdas dependente da cultivar de soja plantada
área foliar e capacidade fotossintética reduzida. (Figura 2).
Independentemente do cenário, se há presença de
resíduos de picloram no solo disponíveis para absorção
das plantas, prejuízos na produtividade da soja serão

198 Plantas Daninhas


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Figura 2. Correlação entre concentração de picloram no solo e produtividade de grãos de soja em


diferentes cultivares.

Além dos prejuízos diretos oriundos da presença poderá dar um direcionamento mais assertivo para
de picloram no solo, uma outra problemática relacionada identificar se uma área apresenta risco potencial para
ao uso deste herbicida refere-se ao fato de por vezes o cultivo de soja ou não devido a presença de resíduos
esta molécula não ser degradada mesmo após passar deste herbicida auxínico.
pelo trato intestinal de animais como bovinos (FERRELL A primeira metodologia que pode ser empregada
et al., 2017). Nesta situação, o animal se alimenta da para elucidar se um solo apresenta ou não risco de ter
pastagem na área em que houve histórico de aplicação resíduo de picloram refere-se a análise do histórico
do picloram e após o processo de digestão, ainda há de uso de herbicidas ao longo dos anos anteriores.
possibilidade de haver contaminação do esterco, fato Por meio do registro histórico de uso dos herbicidas
que inviabiliza a utilização deste resíduo para fins posicionados nas áreas de pastagem, torna-se possível
agrícola. identificar quais produtos comerciais foram aplicados,
doses, modalidade de aplicação e intervalo entre o
MÉTODOS PARA DETECÇÃO DE uso do herbicida e a possível época para implantação

PICLORAM NO SOLO da soja (Figura 3). Com bases nestas informações, há


possibilidade de se excluir ou não o risco de se cultivar

Atualmente existem diferentes possibilidades soja em uma determinada área. A grande dificuldade

que podem ser empregadas com o objetivo de na adoção desta metodologia refere-se à organização

detectar se uma determinada área apresenta resíduo do produtor em termos de arquivar de forma correta

de picloram no solo. Apesar disto, ainda há gargalos todo o histórico de aplicação dos herbicidas aplicados

nestas metodologias, os quais acabam por limitar a na pastagem.

recomendação segura de quando se pode ou não


realizar o cultivo de soja em uma área no caso de ser
detectado a presença do picloram. Contudo, a adoção
de forma integrada dos diferentes métodos de detecção

Plantas Daninhas 199


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Figura 3. Modelo de caderno de campo para registro do histórico de uso de herbicidas em áreas
de pastagem.

Uma outra metodologia que pode ser empregada não sendo possível a extrapolação por todo o talhão.
visando identificar resíduos de picloram no solo refere- Tendo em vista que por vezes os produtos comerciais
se ao uso de plantas bioindicadoras, as quais devem à base de picloram são utilizados em aplicações
apresentar grande sensibilidade ao ingrediente ativo, localizadas, a metodologia de bioensaio pode não
pois desta forma será possível a visualização das injurias ser capaz de identificar reboleiras específicas com a
oriundas da ação do herbicida mesmo em dosagens presença do herbicida se a área amostrada não incidir
muito baixas. Para o herbicida picloram, constituem-se na área com histórico de aplicação.
como alternativas de espécies para serem utilizadas Por fim, nas últimas safras uma metodologia
nos bioensaios tomate, pepino, beterraba (SANTOS et que vem sendo empregada para a detecção de
al., 2013), feijão, e a própria soja (CARMO et al., 2008). resíduos de picloram no solo se constitui na técnica de
Entre os pontos positivos da adoção desta metodologia cromatografia líquida ou gasosa. Nesse procedimento
de detecção refere-se ao custo baixo para execução, analítico é possível quantificar a presença de picloram
sendo necessária apenas a aquisição das sementes no solo. Para que se aumente a precisão no uso desta
da espécie bioindicadora, além da rapidez na obtenção metodologia, é fundamental assegurar que a coleta do
dos resultados, visto que as injúrias oriundas da ação solo seja realizada de acordo com as recomendações
tóxica do picloram costumam aparecer poucos dias técnicas do laboratório, uma vez que este procedimento
após a emergência das plântulas. realizado de forma errônea poderá resultar em um erro
Em contraponto, a utilização do bioensaio ainda na interpretação.
apresenta alguns gargalos, como a não possibilidade Outro ponto importante em relação ao uso
de quantificação real da concentração de picloram no da cromatografia para mensuração dos resíduos de
solo, uma vez que se trata apenas de uma metodologia picloram no solo refere-se aos desafios na interpretação
qualitativa, para a qual constata-se se há ou não a analítica das amostras, uma vez que há situações em
presença do herbicida. Outro entrave em relação ao que a análise detecta a presença do herbicida (leitura
uso das espécies bioindicadoras refere-se ao fato de > que o limite de detecção), mas a concentração fica
que os resultados irão demonstrar o comportamento abaixo do limite de quantificação, cenário no qual
específico para a área em que foi realizado o bioensaio, não é possível ter uma segurança sobre a viabilidade

200 Plantas Daninhas


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de cultivo da soja na área. Na atualidade não se tem análise, se há pretensão do pecuarista de arrendar a
estabelecido na literatura ou a nível prático qual é o propriedade para a soja, sugere-se evitar o uso destes
nível crítico de picloram no solo (concentração) com produtos comerciais com a finalidade de evitar a
base das análises cromatográficas para o qual não se problemática dos resíduos. Na vertente de evitar que
recomendaria o cultivo de soja. Ainda neste contexto, haja o processo de contaminação do solo com resíduos
outros desafios no uso das análises cromatográficas de picloram, deve-se primar pelo uso de forma racional
referem-se ao elevado custo de processamento de uma dos produtos comerciais contendo este ingrediente
amostra, além da busca por laboratórios que realizem ativo, realizando a substituição e/ou rotação com
este tipo de análise, uma vez que esta técnica ainda não moléculas herbicidas que apresentam menor extensão
está totalmente popularizada nas diferentes regiões do da atividade residual no solo.
Brasil. No cenário em que já houve a aplicação prévia
Sumarizando as informações acerca das do herbicida, trabalhos recentes vêm demonstrando o
metodologias para detecção, apesar de ainda potencial de uso de algumas plantas visando realizar a
necessitar de mais avanços para um posicionamento descontaminação do solo com picloram, em processo
seguro em relação ao potencial de cultivo de soja, denominado fitorremediação (PROCÓPIO et al., 2009;
o registro do histórico de aplicação dos herbicidas ASSIS et al., 2010). Apesar do potencial desta prática,
auxínicos, o uso de espécies bioindicadoras e as os estudos ainda são preliminares e necessitam de
análises cromatográficas poderão, de forma conjunta, mais avanços antes de serem recomendados a nível
trazer uma estimativa mais assertiva acerca do intervalo de campo. Outra possibilidade em relação as áreas em
necessário para a implantação da soja de forma segura que já houve histórico de aplicação do picloram refere-
em áreas com histórico de aplicação de produtos se à adoção de esquemas de rotação de culturas,
comerciais à base de picloram. posicionando as culturas do milho e sorgo, uma vez
que estas apresentam maior tolerância a presença
ALTERNATIVAS PARA ATENUAR OS de resíduos desta molécula no solo (CARMO et al.,

PREJUÍZOS 2008). Apesar da menor lucratividade que estes cerais


apresentam em relação à soja, com o cultivo de milho e

Após a demonstração dos impactos provocados sorgo há possibilidade de ter algum lucro num cenário

pela presença de resíduos de picloram e as em que há inviabilidade técnica para a exploração da

metodologias que podem ser utilizadas para detecção oleaginosa.

desta molécula no solo, no último tópico da presente Por fim, para as áreas em que foi constatado

revisão pretende-se apresentar algumas alternativas a presença de resíduos de picloram, mas as

que podem ser empregadas para atenuar os prejuízos concentrações foram baixas (valores < limite de

oriundos do uso deste herbicida em áreas pecuaristas detecção), uma possibilidade que tem sido estudada

antecedendo ao cultivo de soja. Como primeiro passo, pelo Centro Tecnológico COMIGO refere-se ao uso

sugere-se que antes da utilização dos produtos à base de cultivares com tolerância diferencial em termos de

de picloram, seja realizada uma análise minuciosa sensibilidade ao herbicida (Figura 1). Apesar de todas

acerca da possibilidade de migração ou não da área de as cultivares serem sabidamente sensíveis a presença

pecuária para o mercado de grãos, e mediante a esta de resíduos do picloram no solo, em situações que

Plantas Daninhas 201


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há concentrações muito baixas deste herbicida,
AGRADECIMENTOS
aparentemente pode haver resposta diferencial
entre os materiais genéticos de soja. Atualmente
A ACS Laboratórios – Divisão Agroambiental
ainda não há uma resposta clara em termos de efeito
pela parceria na execução das análises cromatográficas
quanto ao comportamento das cultivares de soja,
do experimento.
mas aparentemente, materiais com maior grupo de
maturação (mais tardias) tendem a apresentar uma
REFERÊNCIAS
menor redução na produtividade de grãos em função
dos efeitos fitotóxicos provocados pela presença de
ASSIS, R.L.; PROCÓPIO, S.O.; CARMO, M.L.;
resíduos de picloram no solo em concentrações mais
PIRES, F.R.; CARGNELUTTI FILHO, A.; BRAZ, G.B.P.;
baixas.
SILVA, W.F.P. Fitorremediação de solo contaminado
com o herbicida picloram por plantas de Panicum
CONSIDERAÇÕES FINAIS maximum em função do teor de água. Engenharia
Agrícola, v.30, n.5, p.845-853, 2010.
No cenário de aumento das áreas de cultivo
CARMO, M.L.; PROCOPIO, S.O.; PIRES, F.R.;
de soja previsto para as próximas safras em regiões
CARGNELUTTI FILHO, A.; BARROSO, A.L.L.; SILVA,
exploradas com a atividade pecuarista, há possibilidade
G.P.; CARMO, E.L.; BRAZ, G.B.P.; SILVA, W.F.P.; BRAZ,
de se aumentar a frequência de problemas oriundos
A.J.B.P.; PACHECO, L.P. Seleção de plantas para
da intoxicação desta cultura devido à presença
fitorremediação de solos contaminados com picloram.
de picloram no solo. Entre os principais prejuízos
Planta Daninha, v.26, n.2, p.301-313, 2008.
visualizados na soja provocados pela presença desta
FERREIRA, E.A.; FERNANDEZ, A.G.; SOUZA, C.P.;
molécula no ambiente edáfico estão a redução no
FELIPE, M.A.; SANTOS, J.B.; SILVA, D.V.; GUIMARÃES,
estande de plantas, diminuição de porte e área foliar
F.A.R. Levantamento fitossociológico de plantas
e menor produtividade de grãos, havendo cenários
daninhas em pastagens degradadas do Médio Vale do
em que a depender das concentrações de picloram
Rio Doce, Minas Gerais. Revista Ceres, v.61, n.4, p.502-
no solo, a produção do oleaginosa fica inviabilizada.
510, 2014.
Neste sentido, é fundamental a adoção de métodos
FERRELL, J.A.; DITTMAR, P.J.; SELLERS,
para detecção (histórico de uso, bioensaio e análise
B.A.; DEVKOTA, P. Herbicide residues in manure,
cromatográfica), os quais de forma conjunta poderão
compost, or hay. Gainesville: University of Florida, SS-
trazer uma maior previsibilidade sobre a possibilidade
AGR-415. 2017. 3 p.
de cultivo de soja nas áreas com histórico de aplicação
FRANCO, M.H.R.; LEMOS, V.T.; FRANÇA, A.C.;
de picloram. Com o intuito de atenuar os prejuízos
SCHIAVON, N.C.; ALBUQUERQUE, M.T.G.; ALECRIM,
provocados pelo picloram, sugere-se que o uso deste
A.O.; D’ANTONINO, L. Physiological and morphological
herbicida em áreas destinadas a produção animal seja
characteristics of Phaseolus vulgaris L. grown in soil
realizado de forma racional e que sejam realizados
with picloram residues. Pesquisa Agropecuária
esquemas de rotação de culturas com espécies mais
Tropical, v.46, n.3, p.276-283, 2016.
tolerantes ao herbicida (ex.: milho e sorgo).
GOULART, I.C.G.R.; NUNES, A.L.; KUPAS, V.;

202 Plantas Daninhas


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MEROTTO JUNIOR, A. Interações entre herbicidas
e protetores para o controle de capim-annoni em
pastagem natural. Ciência Rural, v.42, n.10, p.1722-
1730, 2012.
PASSOS, A.B.R.J.; SOUZA, M.F.; SARAIVA, D.T.;
SILVA, A.A.; QUEIROZ, M.E.L.R.; CARVALHO, F.P.;
SILVA, D.V. Effects of liming and Urochloa brizantha
management on leaching potential of picloram. Water,
Air, & Soil Pollution, v.230, n.12, p.1-8, 2019.
PROCÓPIO, S.O.; CARMO, M.L.; PIRES, F.R.;
CARGNELUTTI FILHO, A.; SANTOS, J.B.; BRAZ, G.B.P.;
BARROSO, A.L.L.; SILVA, G.P.; CARMO, E.L.; BRAZ,
A.J.B.P. Utilização do capim-pé-de-galinha gigante
(Eleusine coracana (L.) gaertn.) na fitorremediação de
solo contaminado com o herbicida picloram. Magistra,
v.21, n.3, p.211-218, 2009.
RODRIGUES, B.N.; ALMEIDA, F.S. Guia de
herbicidas. Londrina: IAPAR, v.6. 2011. 697 p.
SANTOS, D.P.; BRAGA, R.R.; GUIMARÃES, F.A.R.;
PASSOS, A.B.R.J.; SILVA, D.V.; SANTOS, J.B.; NERY, M.C.
Determinação de espécies bioindicadoras de resíduos
de herbicidas auxínicos. Revista Ceres, v.60, n.3, p.354-
362, 2013.
SHANER, D.L. Herbicide handbook. Lawrence:
Weed Science Society of America, v.10. 2014. 513 p.

Plantas Daninhas 203


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PERÍODO RESIDUAL ENTRE A


APLICAÇÃO DA MISTURA MSMA
+ DIURON E SEMEADURA DE
CULTIVARES DE SOJA

BRAZ1, Guilherme Braga Pereira; ALMEIDA2,


Dieimisson Paulo; FERNANDES3, Rafael Henrique;
INTRODUÇÃO
LIMA4, Diego Tolentino de; SILVA5, Linconl Lima;
DELGADO6, Vanderson Aparecido Diego Nos últimos anos, o capim-pé-de-galinha tem se
constituído em uma das principais espécies infestantes
na cultura da soja a nível nacional, visto que a mesma
1
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia. apresenta biótipos com resistência ao glifosato e aos
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico graminicidas, além do fato de estar disseminada em
COMIGO (CTC). E-mail: guilhermebraga@comigo.
todas as regiões agrícolas do Brasil (CORREIA et al.,
com.br
2
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia. 2022). Aliado a estes fatores, por ser uma espécie
E-mail: dieimissonpa@gmail.com de metabolismo fotossintético C4, o capim-pé-de-
3
Engenheiro agrônomo, Doutor em Fitotecnia.
galinha apresenta rápida taxa de crescimento inicial,
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico
COMIGO (CTC). E-mail: : rafaelhenrique@comigo. alcançado o estádio reprodutivo cerca de 38 dias
com.br após a sua emergência (TAKANO et al., 2016). Desta
4
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia.
forma, por vezes o controle do capim-pé-de-galinha se
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico
COMIGO (CTC). E-mail: diegotolentino@comigo. torna mais oneroso pelo fato de o momento ideal de
com.br se intervir com a aplicação dos herbicidas ser tardio,
5
Discente de graduação da Faculdade de
e nestas condições são observadas falhas no controle
Agronomia do Instituto Federal Goiano
(IFGoiano), campus Rio Verde. Estagiário no da espécie por se tratar de plantas adultas (TAKANO
Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: et al., 2018).
linconl96lima@gmail.com
Neste sentido, fica evidenciado que o insucesso
6
Discente de graduação da Faculdade de
Agronomia da Universidade de Rio Verde (UniRV). no controle desta planta daninha na maioria das
Estagiário no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). vezes não está relacionado à ocorrência de biótipos
E-mail: vandersomdelgado@hotmail.com
resistentes a herbicidas, mas sim a intervenções
mediante o controle químico por meio de aplicações
fora do estádio recomendado. Nas situações em que

204 Plantas Daninhas


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não é obtido êxito no controle de plantas adultas de área com histórico de aplicação de diuron isolado
capim-pé-de-galinha, uma das alternativas que tem ou em mistura com MSMA, foram instalados três
sido preconizadas pela assistência técnica refere- experimentos a campo, sendo um conduzido na safra
se ao uso de herbicidas em misturas, bem como 2019/2020 (1º ano agrícola) e dois experimentos
a realização de aplicações sequenciais em pós- realizados na safra 2022/2023 (2º ano agrícola).
emergência da planta daninha. Neste contexto, uma O experimento realizado no 1º ano agrícola foi
das alternativas que foi apresentada como eficaz no desenvolvido com o objetivo de aferir o efeito de
controle de capim-pé-de-galinha foi composta pela doses crescentes de diuron em aplicação realizada
mistura entre MSMA + diuron (ALMEIDA et al., 2022). 30 dias antecedendo a semeadura da soja, ao
No referido trabalho foi observado controle total de passo que nos experimentos realizados no 2º ano
capim-pé-de-galinha mediante a aplicação de MSMA agrícola, objetivou-se avaliar o efeito de diferentes
+ diuron após a roçada da planta daninha. períodos entre a aplicação da mistura de MSMA
Apesar do êxito no controle de capim-pé- + diuron e a semeadura de duas cultivares de soja.
de-galinha pela adoção da mistura entre MSMA + Todos os experimentos foram conduzidos na área
diuron, em função do período de meia-vida que estes experimental do Centro Tecnológico COMIGO
herbicidas apresentam no solo (SHANER, 2014), sediada no município de Rio Verde (GO) (S 17°45'42"
questionamentos acerca da segurança na utilização O 51°02'09", altitude de 827 m).
destes previamente a semeadura da soja foram Segundo Thornthwaite (1948) o clima de Rio
levantados. Entre os dois herbicidas, o MSMA, apesar Verde é classificado em B4 rB’4a’ (Úmido; pequena
de possuir meia vida longa no solo, por apresentar deficiência hídrica; mesotérmico; evapotranspiração
um coeficiente de adsorção elevado, oferece menos no verão menor que 48% da evapotranspiração anual).
preocupações quando a eventuais riscos de carryover Na Figura 1 encontram-se os dados climatológicos
quando comparado ao diuron (PRICE et al., 2008). Em relacionados a temperatura máxima e mínima do ar
contraponto, para o diuron, riscos de visualização de e precipitações durante o período de condução dos
injúrias para a soja já foram apontados na literatura experimentos.
em função da atividade residual que este herbicida
apresenta no solo (GHENO et al., 2016).
Diante deste contexto, o objetivo do presente
trabalho foi determinar o efeito de doses de diuron no
desempenho agronômico da soja, bem como aferir
o período residual necessário para a aplicação da
mistura (MSMA + diuron) e a semeadura de cultivares
de soja.

MATERIAL E MÉTODOS

No intuito de compreender melhor o


comportamento agronômico da soja cultivada em

Plantas Daninhas 205


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Fonte: INMET - Ins�tuto Nacional de Meteorologia. Estação de coleta: Rio Verde (GO).

Figura 1. Temperaturas máxima e mínima e precipitações observadas durante o período de condução dos
experimentos. Rio Verde (GO), 2019/2020 e 2022/2023.

O solo na área experimental foi classificado como cmolc dm-3 de H+ + Al+3; 3,86 cmolc dm-3 de Ca+2; 1,03
Latossolo Vermelho Distrófico (Santos et al., 2018). cmolc dm-3 de Mg+2; 164,7 mg dm-3 de K; 28,1 mg dm-3 de
Antes da instalação dos experimentos, foi realizada a P; 28,44 g dm-3 de M.O.; 50,39% de areia; 11,56% de silte
análise de amostras do solo coletadas na profundidade e 38,05% de argila (textura franco-argiloso).
de 0 a 20 cm, a qual revelou as seguintes propriedades Independentemente do ano agrícola, em
físico-químicas para o 1º ano agrícola: pH em CaCl2 todos os experimentos as unidades experimentais
de 5,77; 0,14 cmolc dm de H + Al ; 3,61 cmolc dm
-3 + +3 -3
foram compostas por seis linhas de semeadura, com
de Ca ; 1,28 cmolc dm de Mg ; 167,70 mg dm de K;
+2 -3 +2 -3
comprimento de 15,0 m (45,0 m2). Considerou-se como
42,52 mg dm-3 de P; 31,58 g dm-3 de M.O.; 58,00% de área útil para as avaliações apenas as quatro linhas
areia; 4,25% de silte e 37,75% de argila (textura argilo- centrais de cada unidade experimental, excluindo-
arenoso); e 2º ano agrícola: pH em CaCl2 de 5,75; 1,90 se 0,5 m de cada extremidade. Ademais, todas as

206 Plantas Daninhas


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aplicações dos tratamentos nos experimentos foram 2500 e 3200 g i.a. ha-1.
realizadas utilizando-se um pulverizador de pesquisa A aplicação dos tratamentos foi realizada no
pressurizado por CO2 com patente junto ao INPI (BR dia 08/10/2019, em intervalo de 30 dias antes da
102016007565-3), montado em um trator (LS 60, 60 cv, semeadura da soja. Na ocasião da aplicação, o solo
Landini). A barra de aplicação foi equipada com dez apresentava-se com boa umidade e o céu estava com
pontas espaçadas 0,5 m entre si, mantida a uma altura a presença de poucas nuvens, estando a temperatura,
de 0,5 m da cobertura vegetal. A pressão de trabalho umidade relativa do ar e velocidade do vento, mínima e
nas pontas de pulverização de jato duplo plano com máxima, em valores equivalentes a 26,4 e 30,2oC, 63,6 e
indução de ar (ADIA/D 110015; Magnojet) foi de 300 74,4% e 1,2 e 3,0 km h-1, respectivamente. A precipitação
kPa (43,5 psi) e o volume de aplicação 150 L ha-1. acumulada entre a aplicação dos tratamentos e a
Antes da semeadura da soja, em todos os semeadura da soja foi de 178 mm.
experimentos foi realizada a dessecação de manejo A semeadura da soja foi realizada de forma
das plantas daninhas presentes na área experimental, mecanizada no dia 08/11/2020, adotando-se
as quais foram controladas com uma aplicação da espaçamento entrelinhas de 0,5 m, distribuindo-se
mistura entre glifosato + clethodim (1200 + 192 g i.a. 16 sementes m-1, sendo utilizada a cultivar DS 5916
ha-1), sendo adicionado Iharol Gold® (0,3 mL p.c. ha-1) a IPRO, que apresenta grupo de maturidade relativa de
calda de aplicação. Ademais, no intuito de assegurar 6.1. Todas as sementes utilizadas nos experimentos
que as plantas fossem expostas apenas ao efeito dos receberam tratamento industrial com fungicidas
tratamentos herbicidas aplicados antecipadamente e inseticidas, bem como foi realizada a prática de
a semeadura da cultura, em todos os experimentos inoculação visando assegurar o processo de fixação
foi realizado o controle da comunidade infestante em biológica de nitrogênio. A adubação foi realizada no
pós-emergência da soja com aplicação da mistura momento da semeadura com aplicação no sulco do
entre glifosato + clethodim (960 + 120 g i.a. ha-1) + equivalente à 400 kg ha-1 de 02-20-28 (N-P2O5-K2O).
Iharol Gold® (0,3 mL p.c. ha-1). Durante o ciclo da soja A emergência das plântulas de soja de ambas as
foram realizados tratos culturais de acordo com as cultivares ocorreu no dia 13/11/2020.
recomendações da Seixas et al. (2020), procedendo
ao controle de pragas e doenças sem deixar que estes 2º Ano agrícola: Período entre aplicação de
influenciassem negativamente no desenvolvimento da MSMA + diuron e semeadura de cultivares de soja
cultura.
Em ambos os experimentos, o delineamento
1º Ano agrícola: Doses de diuron e impactos adotado foi o DBC, avaliando-se cinco tratamentos com
na cultura da soja quatro repetições. Os tratamentos foram compostos
pela aplicação da mistura entre MSMA + diuron (2370
O experimento foi instalado no delineamento de + 1750 g i.a. ha-1) em diferentes intervalos em relação à
blocos completos ao acaso (DBC), avaliando-se quatro data de semeadura da soja, estando cada um destes
tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram descritos na Tabela 1.
compostos por uma testemunha sem herbicida, além
da aplicação de três doses de diuron isolado: 1600,

Plantas Daninhas 207


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Tabela 1. Relação de tratamentos avaliados no experimento realizado com cultivares de soja
submetidas a aplicação de herbicidas em diferentes modalidades. Rio Verde (GO), 2022/2023.

Umidade
Velocidade Precipitação acumulada
Data Intervalo Temperatura
do vento entre aplicação e semeadura Relativa do ar Solo
170 mm
1ª: 22/09/22 48 DAS 23,6oC 6,4 km h-1 80,6 % Úmido
109 mm
2ª: 30/09/22 40 DAS 25,2 C
o
3,6 km h-1
69,1 % Úmido
59 mm
3ª: 11/10/22 29 DAS 27,45 C
o
3,5 km h-1
74,1% Úmido
49 mm
4ª: 18/10/22 22 DAS 27,8oC 7,2 km h-1 48,7% Úmido
20 mm
5ª: 25/10/22 15 DAS 33,8oC 7,5 km h-1 65,1% Úmido
DAS = dias antes da semeadura

Para ambos os experimentos, a semeadura volume de aplicação de 60 L ha-1. A adubação foi


direta foi realizada de forma mecanizada no dia realizada com aplicação antecipada à lanço de
09/11/2022, adotando-se espaçamento entrelinhas 150 kg ha-1 de KCl (24/10/2022) e no momento da
de 0,5 m. As cultivares de soja, o grupo de maturidade semeadura com aplicação no sulco do equivalente
relativa (GMR) e as respectivas densidades de à 450 kg ha-1 de super simples turbo micro: 0,15%
semeadura utilizadas nos experimentos foram: CZ de Zn e Mn e 0,075% de B e Cu. A emergência das
37B43 IPRO (GMR: 7.4; 16 sementes m ) e M 7110 -1
plântulas de soja de ambas as cultivares ocorreu no
IPRO (GMR: 6.8; 20 sementes m ). As sementes -1
dia 14/11/2022.
utilizadas nos experimentos receberam tratamento
industrial com fungicidas e inseticidas, bem como foi Variáveis-respostas e análise estatística
realizada a prática de inoculação visando assegurar
o processo de fixação biológica de nitrogênio. Para todos os experimentos, aos 7 e 21 dias
Ademais, via micron foi realizada a aplicação do após a emergência (DAE) da soja foram realizadas
inoculante Nitrogin Cell Tech HC (Bradyrhizobium avaliações de fitointoxicação, utilizando para esta
japonicum – Semia 5079 e Semia 5080, com 3 x 10 9
avaliação a escala proposta pela SBCPD (1995), que
células viáveis mL , Monsanto BioAg) na dose de 1,0
-1
apresenta notas variando de 0% a 100%, onde 0%
L ha + Biomax Azum (Azospirillum brasilense, 3 x
-1
significa ausência de sintomas e 100% representa
10 células mL , Grupo Vittia) na dose de 0,1 L ha
8 -1 -1
a morte de todas as plantas presentes na área
+ inseticida biológico Meta-Turbo SC (Metarhizium útil. Ademais, na ocasião da colheita foi realizada
anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1 x 10 8
avaliação do estande de plantas, procedendo a
propágulos viáveis mL , Grupo Vittia) na dose de 0,5
-1
contagem do número de plantas presentes em 3
L ha + fertilizante Nodulus Gold, (1 % de Co, 10% de
-1
m de fileira. Para determinação da produtividade
Mo, Grupo Vittia) na dose de 0,2 L ha + nematicida -1
de grãos, foi realizada o arranquio manual de todas
Verango Prime SC (Fluopiram, 500 g i.a. L , Bayer -1
as plantas presentes na área útil de cada unidade
CropScience) na dose de 200 g i.a. ha , adotando -1
experimental, onde posteriormente este material

208 Plantas Daninhas


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foi submetido aos processos de trilha, embalagem, no solo, os níveis foram classificados como baixos
identificação, pesagem e correção da umidade dos (<20,00%), constatando-se tendência de recuperação
grãos para 13%. das plantas à medida em que estas foram se
Para todos os experimentos, a análise estatística desenvolvendo.
foi realizada com o programa computacional SISVAR. Para o estande da soja, não foram observadas
Os dados de todos os experimentos foram submetidos reduções no número de plantas em função da
à análise de variância pelo teste F (p≤0,05) e aplicação de doses mais elevadas de diuron,
quando constatado efeito significativo, aplicou- nem tampouco entre os tratamentos contendo
se a análise de regressão (p≤0,05). Os modelos de aplicação do herbicida e a testemunha (dados não
regressão foram selecionados considerando-se a apresentados). Estes resultados demonstram que
significância da análise de variância, o coeficiente de apesar de proporcionar injúrias no desenvolvimento
determinação (R²) e a significância dos parâmetros inicial da soja, a aplicação das doses de diuron 30
do modelo por meio do teste “t” de Student, além do dias antes da semeadura da cultura não causa
conhecimento da evolução do fenômeno biológico. redução na população final de plantas. Por outro
Especificamente no experimento realizado no 1º lado, ocorreu redução na produtividade da soja
Ano agrícola, a produtividade da cultivar de soja em (cultivar DS 5916 IPRO) de 6,5, 11,4 e 11,4% quando
função da aplicação de doses crescentes de diuron, aplicado as doses de 1.600, 2.500 e 3.200 g i.a.
foram analisadas por meio de regressão não linear, ha-1 de diuron, respectivamente (Figura 2). Assim,
utilizando o modelo exponencial em decaimento com pelo modelo exponencial em decaimento ajustado
três parâmetros (Equação 1): constata-se que, ao aumentar a dose de diuron de
2.500 g i.a. ha-1 para 3.200 g i.a. ha-1, a redução na
produtividade observada tende a se estagnar neste
intervalo de doses do herbicida. Com base no modelo
Em que: y = variável resposta; x = dose do ajustado, evidencia-se que 1 saca ha-1 de grãos de
herbicida (g i.a ha-1); y0, a e b = parâmetros estimados soja é reduzida para cada ≈ 440 g i.a. ha-1 de diuron,
do modelo. em aplicações realizadas 30 dias antecedendo a
semeadura da soja.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

1º Ano agrícola: Doses de diuron e


impactos na cultura da soja
Acerca das avaliações de fitointoxicação,
realizadas aos 7 e 21 DAE da soja, foram verificados
sintomas de clorose do tecido foliar da soja, além de
ligeira redução no porte das plantas, especialmente
quando utilizadas doses mais elevadas de diuron
(dados não apresentados). Apesar da constatação
de injúrias decorrentes da ação residual do diuron

Plantas Daninhas 209


CLUBE DE REVISTAS

* Significa�vo*aSignifica�vo
5% de probabilidade pelo teste F. pelo teste F.
a 5% de probabilidade
Figura 2. Produ�vidade de grãos dade
Figura 2. Produ�vidade soja subme�da
grãos da soja asubme�da
aplicação adeaplicação
doses crescentes
de doses de diuron de diur
crescentes
Figura 2. Produtividade de grãos da soja submetida a aplicação de doses crescentes de diuron na
dessecação pré-semeadura da cultura. Rio Verde (GO), 2019/2020.

Tendo em vista que a mistura entre MSMA uma mistura contendo dois herbicidas, observando
+ diuron apresenta eficácia no controle de plantas as propriedades físico químicas da molécula MSMA,
daninhas, em especial sob populações de capim- a qual apresenta elevado valor de coeficiente de
pé-de-galinha entouceiradas e rebrotadas após adsorção, conforme já mencionado anteriormente,
roçada mecânica (ALMEIDA et al., 2022), aliado ao é possível inferir que as injúrias visualizadas nas
fato de que aparentemente em doses menores de plantas de soja são ocasionadas pelo efeito residual
diuron apresenta potencial de uso para manejo da do diuron no solo.
comunidade infestante em aplicações realizadas na Para ambas as cultivares de soja (CZ 37B43
entressafra, ainda há a necessidade de se determinar IPRO e M 7110 IPRO), não foram observadas diferenças
qual o melhor período entre aplicação da mistura de no estande de plantas (dados não apresentados),
MSMA + diuron e a semeadura de cultivares de soja. demonstrando que apesar de aplicações da mistura
entre MSMA + diuron mais próximas a data da
2º Ano agrícola: Período entre aplicação semeadura da soja incrementaram os níveis de
de MSMA + diuron e semeadura de cultivares de intoxicação, a ação fitotóxica dos herbicidas não
soja promoveu a redução na emergência da cultura ou
De maneira semelhante ao apresentado no até mesmo morte de plantas. Em contraponto, para
experimento realizado no 1º ano agrícola, para os produtividade de grãos, verifica-se que para ambas
experimentos do 2º ano agrícola, os sintomas de as cultivares, que a mistura entre MSMA + diuron
fitointoxicação da cultura foram caracterizados como (2370 + 1750 g i.a. ha-1) proporciona redução na
de baixa intensidade (dados não apresentados). produção da cultura à medida em que há diminuição
Novamente, visualizou-se plantas com leve clorose no intervalo entre aplicação dos herbicidas e a
no tecido foliar naqueles tratamentos em que houve semeadura da soja (Figura 3).
menor intervalo entre aplicação da mistura de MSMA
+ diuron e a semeadura da soja. Apesar de se tratar de

210 Plantas Daninhas


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* Significa�vo a 5% de probabilidade pelo teste F.


Figura 3. Produ�vidade de grãos em cul�vares de soja subme�das a aplicação da mistura de
Figura 3. Produtividade de grãos em cultivares de soja submetidas a aplicação da mistura
de MSMA + diuron em diferentes intervalos entre aplicação e a semeadura da cultura. Rio
Verde (GO), 2022/2023.

Com base nas equações ajustadas para de plantas daninhas em áreas onde não se pretende
ambas as cultivares, verifica-se redução de ≈ 1 saca fazer o cultivo em segunda safra. Para aplicações em
ha -1
para cada diminuição de quatro dias entre o período de entressafra é necessário aguardar um
intervalo de aplicação da mistura entre MSMA + acumulado de chuva de no mínimo 180 mm, aliado a
diuron e semeadura da soja. Para os tratamentos um intervalo de tempo de pelo menos 48 dias entre
com menor intervalo entre aplicação e semeadura aplicação e semeadura da soja, para assegurar que
da soja (15 DAS), as reduções na produtividade de o residual imposto pelos herbicidas não afete o
grãos em comparação com os valores obtidos com desenvolvimento e produtividade da cultura. Ademais,
o maior intervalo (48 DAS) foram de 15,1 e 17,3%, para uma maior assertividade no posicionamento
respectivamente, para as cultivares CZ 37B43 IPRO destes tratamentos, torna-se necessário a realização
e M 7110 IPRO. Nos tratamentos com aplicação da de novos estudos em condições edafoclimáticas
mistura entre MSMA + diuron aos 48 DAS da soja, distintas, em especial para solos com texturas
as produtividades observadas nas cultivares foram contrastantes ao da área em que o presente trabalho
de 73,1 e 67,7 sacas ha-1, respectivamente, para foi realizado (ex.: solo arenoso).
CZ 37B43 IPRO e M 7110 IPRO. Para este intervalo
de aplicação, foi observado um volume total de CONCLUSÕES
precipitação na área experimental equivalente a 170
mm. Dentro do intervalo de doses de diuron
Compilando os resultados, há maior segurança avaliado, o aumento do volume aplicado deste
na utilização deste tratamento visando ao controle herbicida proporciona reduções na produtividade da

Plantas Daninhas 211


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soja em valores ≈ 11,4% em aplicações realizadas 30 SANTOS, H.G.; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS,
dias antes da semeadura da cultura. L.H.C.; OLIVEIRA, V.A.; LUMBRERAS, J.F.; COELHO,
Independentemente da cultivar de soja, o M.R; ALMEIDA, J.A.; ARAÚJO FILHO, J.C.; OLIVEIRA,
uso de MSMA + diuron (2370 + 1750 g i.a. ha-1) J.B.; CUNHA, T.J.F. Latossolos. In: Sistema Brasileiro
proporciona reduções na produtividade de grãos de Classificação de Solos. 5. ed. Brasília :Brasília:
quando esta mistura é aplicada em intervalos Embrapa, 2018., Cap. 12 p. 219 - 223.
menores que 48 dias até a semeadura da cultura, SEIXAS, C.D.S.; NEUMAIER, N.; BALBINOT
sendo fundamental haver distribuição pluviométrica JUNIOR, A.A.; KRZYZANOWSKI, F.C.; LEITE, R.M.V.B.C.
em volume no mínimo superior a 180 mm. Tecnologias de produção de soja: região Central
do Brasil. Londrina: Embrapa Soja, 2020. 347 p.

REFERÊNCIAS SHANER, D.L. Herbicide handbook.


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ALMEIDA, D.P.; MORAES, R.S.; FRERREIRA, B.; 2014. 513 p.

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L.S.; TIMOSSI, P.C. Capim-pé-de-galinha é tolerante CONSTANTIN, J.; BRAZ, G.B.P.; PADOVESE, J.C.

ou resistente a herbicidas? Como controlar? Anuário Growth, development and seed production of

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Centro Tecnológico COMIGO, v.5, n.1, p.119-131, 2016.

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CORREIA, N.M.; ARAÚJO, L.S.; BUENO JÚNIOR, CONSTANTIN, J.; SILVA, V.F.V; MENDES, R.R.

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PRICE, A.J.; KOGER, C.H.; WILCUT, J.W.;
MILLER, D.; SANTEN, E.V. Efficacy of residual and
non-residual herbicides used in cotton production
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2008.

212 Plantas Daninhas


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