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Cultivar Grandes Culturas • Ano XXV • Nº 290 • ISSN - 1516-358X

Expediente Editorial
Grupo Cultivar de Publicações Ltda.
CNPJ: 02783227/0001-86
Insc. Est. 093/0309480
A edição deste mês da revista Cultivar Grandes Culturas destaca a
Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 chegada da cigarrinha-africana (Leptodelphax maculiger) ao Brasil.
Pelotas – RS • 96015-300 Identificada no estado de Goiás, requer atenção para se saber qual o
seu desenvolvimento e o potencial de migração e de dano. Artigo de
revistacultivar.com.br
contato@grupocultivar.com
capa descreve o que se sabe sobre essa nova ameaça, já conhecida
em outros países.
Assinatura anual (11 edições*): R$ 290,90
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
A luta contra a ferrugem continua a ser um desafio para os produ-
Números atrasados: R$ 28,00
Assinatura Internacional:
tores. O fungo Phakopsora pachyrhizi tem mostrado evolução preo-
US$ 150,00 cupante, com a eficácia dos fungicidas diminuindo a cada safra, con-
€ 130,00 forme informa o Consórcio Antiferrugem. Artigo sobre o tema apre-
FUNDADORES senta também os resultados da tradicional avaliação de fungicidas.
Milton de Sousa Guerra (in memoriam)
Newton Peter Por outro lado, seguem os avanços significativos no entendimento
Schubert Peter de problemas como o quebramento de hastes e a podridão de va-
gens e grãos de soja. Pesquisas apontam formas de manejo para os
• Diretor produtores.
Newton Peter
REDAÇÃO
E a importância do conhecimento biológico é destacada em artigo
• Editor sobre a aplicação de bioinseticidas. Entender o alvo biológico é cru-
Schubert Peter
cial para o sucesso dessa tecnologia, e nosso artigo fornece orienta-
• Redação ções valiosas nesse sentido.
Rocheli Wachholz
Miriam Portugal
Nathianni Gomes O manejo específico por cultivar é outro tópico abordado, com fo-
co na rentabilidade do trigo. A atenção aos detalhes pode fazer uma
• Design Gráfico e Diagramação grande diferença na produtividade e na lucratividade.
Cristiano Ceia
• Revisão Isso e muito mais você encontra nas próximas páginas.
Aline Partzsch de Almeida
COMERCIAL
COMERCIAL Boa leitura!
• Coordenação
Charles Ricardo Echer Schubert Peter

• Vendas
Sedeli Feijó Índice
José Geraldo Caetano
04 Diretas Nossa
Franciele Ávila
06 Mundo Agro capa
CIRCULAÇÃO
07 Coluna Jogo Ganho
• Coordenação
Simone Lopes 08 Ferrugem-asiática
16 Quebramento das hastes e podridão dos grãos
• Assinaturas
Natália Rodrigues 21 Danos por nematoides e suas formas de controle

• Expedição 26 Capa - nova praga no Brasil


Edson Krause 30 Vencedores do Desafio Cesb
33 Remineralizadores de solo
Nossos Telefones: (53)
36 Manejo específico em cultivares de trigo
• Assinaturas • Comercial e Redação
3028.2000 3028.2075 40 Alvo biológico e bioinseticidas
Crédito de Mauricio Paulo Batistella Pasini
44 Bicho-mineiro em café
revistacultivar.com.br Relato científico recente
instagram.com/revistacultivar 48 Coluna Agronegócios descreve o encontro de
facebook.com/revistacultivar 49 Coluna Mercado Agrícola cigarrinha-africana em
youtube.com/revistacultivar milho no Estado de Goiás
50 Coluna ANPII
twitter.com/revistacultivar
DIRETAS

Premiação
A Biotrop recebeu o prêmio
Deusa Ceres como a empre-
sa destaque do agronegócio
2022, iniciativa da Associação
dos Engenheiros Agrônomos
do Estado de São Paulo (AE-
ASP). É uma das mais impor-
tantes e tradicionais honrarias
oferecidas a empresas e pes-
soas que se dedicam ao en-
grandecimento da agricultura,
contribuindo para o aumento
da produção de alimentos sau-
dáveis e para a conservação
ambiental. Rogério Rangel, di-
Compra
retor de marketing da Biotrop, A Bunge e o Renewable Energy Group
recebeu a homenagem em Inc., subsidiária da Chevron Corporation,
nome da empresa. adquiriram a Chacraservicios S.r.l., com
sede na Argentina. De acordo com as em-
presas, esse investimento em sementes
Mosaic adiciona nova fonte de óleo às cadeias de
suprimentos globais da Bunge e da Che-
A Mosaic Fertilizantes in- vron e ajudará ambas a atender à crescen-
formou que Eduardo Monteiro, te demanda por matérias-primas renová-
anteriormente vice-presidente veis com baixo teor de carbono. Os termos
comercial da companhia, será o da transação não foram divulgados.
"Country Manager". Monteiro será
responsável pelas áreas comer-
cial de Brasil e Paraguai, supply
chain e unidades de misturas. Em Gente nova
sua nova função, ele continuará
reportando-se a Corrine Ricard, A UPL anunciou Giuliano Argenta
presidente da empresa. Scalabrin como diretor de negócios
da Natural Plant Protection (NPP) no
Brasil. Essa unidade de negócio foi es-
Laborsan tabelecida em 2021 para desenvolver
e lançar no mercado biossoluções.
A Laborsan Agro trabalha
para aumentar sua atuação
em Mato Grosso. "Temos re-
sultados comprovados em
diversas culturas, com alta
performance no tratamento
de sementes. Vamos intensi-
ficar nossa presença no Mato
Grosso, com pesquisas, time
de campo e ações estratégi-
cas", destaca Francisco Albu-
querque, fundador e diretor
da empresa.

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MUNDO AGRO

Agritechnica Clube da Inovação Soja


O município de Sorriso foi es- inovação e sustentabilidade. Lá,
colhido para sediar o segundo há 20 anos, a Bayer instalou uma
evento da iniciativa do Clube unidade, hoje um dos centros
da Inovação Soja, movimento estratégicos de inovação em
liderado pela Bayer, criado para pesquisa e desenvolvimento pa-
defender, incentivar tecnologia, ra a América Latina.

A feira Agritechnica terá sua


edição de 2023 realizada de 12
a 18 de novembro, em Hanôver
(Alemanha). Tradicionalmente, é
Café
local de apresentação de diversas A UPL e a Embrapa Territorial de café no Brasil. Um dos objetivos
novidades do setor de máquinas assinaram protocolo de intenções é fornecer aos consumidores mais
agrícolas. Neste ano, o tema do para trabalhar conjuntamente em e melhores informações sobre
evento será a "Produtividade ver- projetos relacionados ao desenvol- quem produz o grão, além do que
de". Timo Zipf, gerente de proje- vimento de métricas e indicadores já é oferecido pelos selos de certi-
tos Agritechnica, explica a atuali- de sustentabilidade na produção ficação.
dade da questão. Para ele, novos
conceitos e inovações pioneiras
em máquinas agrícolas podem ga-
rantir a produtividade e proteger
a natureza e o meio ambiente. O
assunto receberá diferentes abor-
dagens, passando por tópicos co-
mo pulverização inteligente, sen-
soriamento remoto e inteligente,
conectividade e outros. A feira é
uma promoção da DLG (Socieda-
de Agrícola Alemã).

06 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 290


SOJA

Fungicidas
contra a ferrugem
Consórcio Antiferrugem apresenta os resultados de avaliação de eficácia
de produtos realizada na safra 2022/23; a eficiência vem sendo reduzida
a cada safra com a evolução do fungo Phakopsora pachyrhizi

N
a safra 2022/2023,
a ferrugem-asiática
voltou a mostrar
por que é consi-
derada a principal preocupação
dos produtores com relação às
doenças na cultura da soja. As
baixas temperaturas que ocorre-
ram em novembro e dezembro
de 2022 prolongaram o ciclo de
desenvolvimento da cultura em
diferentes regiões. Com um ciclo
mais longo, os fungicidas repre-
sentam a principal estratégia de
manejo para reduzir perdas de
produtividade. Falhas de controle
foram observadas com o aumen-
to da demanda por fungicidas
curativos e a ocorrência de redu-
ções significativas de produtivi-
dades em lavouras. O controle da
ferrugem-asiática pelo escape,
com a redução de ciclo associada
à redução do inóculo do fungo
pelo vazio sanitário, tem sido a
principal estratégia de controle
da doença.

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Cláudia V. Godoy
Figura 1 - severidade da ferrugem-asiática (%), porcentagem de controle (%)
em relação à testemunha sem fungicida (T1) para os diferentes tratamentos A eficiência dos fungicidas
no protocolo com fungicidas registrados. Média de 21 experimentos, safra vem reduzindo a cada safra com
2022/2023. Barras com médias seguidas de mesma letra não diferem entre a evolução do fungo Phakopso-
si pelo teste de Tukey (p≤0,05). Programa: metominostrobina + tebuconazol e ra pachyrhizi, cada vez menos
clorotalonil/protioconazole + fluxapiroxade + mancozebe/tebuconazol + impir-
sensível aos principais grupos de
fluxam e mancozebe/picoxistrobina + ciproconazol e clorotalonil, tratamentos
fungicidas. Atualmente, o fungo
aplicados em intervalos de 14 dias. Circular técnica 195, Embrapa Soja
apresenta menor sensibilidade
aos três principais grupos de
fungicidas sítio-específicos que
compõem todos os fungicidas
registrados para o controle da
doença: os inibidores da desme-
tilação (IDM - triazóis), os inibi-
dores da quinona externa (IQe -
estrobilurinas) e os inibidores da
succinato desidrogenase (ISDH
- carboxamidas). Nas últimas sa-
fras, mudanças de sensibilidade
do fungo P. pachyrhizi aos IDM
têm sido observadas, influencian-
do o controle com protioconazol
e tebuconazol, sendo atribuídas
a novas mutações no genoma do
fungo, como a V130A, além das
já descritas anteriormente F120L,
Y131H/F, I45F, K142R, I475T. A
presença de novas mutações e a
Figura 2 - severidade da ferrugem-asiática (%), porcentagem de con-
variação de eficiência dos fungi-
trole (%) em relação à testemunha sem fungicida para os diferentes
tratamentos no protocolo com fungicidas sítio-específicos em mistura
cidas desse grupo em diferentes
com fungicidas multissítios (mczb – mancozebe; cltl – clorotalonil). locais reforça a necessidade de
Média de 18 experimentos, safra 2022/2023. Médias seguidas de rotação desses dois ingredientes
mesma letra nas barras não diferem entre si pelo teste de Tukey ativos em programas de controle
(p≤0,05). Circular técnica 195, Embrapa Soja da ferrugem-asiática.
Nos experimentos em rede
para o controle da ferrugem-asi-
ática da soja da safra 2022/2023
foram realizados quatro protoco-
los nas principais regiões produ-
toras, por 22 instituições, sendo
avaliados fungicidas registrados,
novos fungicidas que estão em
fase de registro, misturas de fun-
gicidas registrados com fungici-
das multissítios e ingredientes
ativos isolados para monitorar
mudanças de sensibilidade do
fungo.
Nesses experimentos, os fun-
gicidas são avaliados individual-
mente, em aplicações sequen-

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ciais, em semeaduras tardias, cia da ferrugem pode acontecer tos dessa região na sumarização
para determinar a eficiência de antecipadamente, sendo neces- na safra passada. No entanto, na
controle. Essas informações de- sário o monitoramento da lavou- safra 2022/2023, além de Mato
vem ser utilizadas na determina- ra e da região para definir o início Grosso, ocorreram diferenças no
ção de programas de controle, das aplicações. Mato Grosso do Sul e no Paraná,
priorizando sempre a rotação de Em todos os protocolos, foram não sendo realizada separação
fungicidas com diferentes modos eliminados da análise os experi- por regiões.
de ação e adequando os progra- mentos onde havia sintomas na Todos os tratamentos apre-
mas à época de semeadura. Apli- primeira aplicação (três experi- sentaram severidade inferior à
cações sequenciais e de forma mentos). testemunha sem fungicida (T1)
curativa devem ser evitadas para Na análise conjunta dos fun- (Figura 1). A porcentagem de
diminuir a pressão de seleção de gicidas registrados foram utiliza- controle dos fungicidas registra-
resistência do fungo aos fungici- dos 21 experimentos. Ocorreram dos variou de 28% (T8 - azoxis-
das. diferenças de eficiência entre os trobina + benzovindiflupir) a 69%
Os experimentos de ferrugem- fungicidas com tebuconazol e (T15 - protioconazole + fluxapi-
-asiática são realizados nas se- protioconazol, com variações en- roxade + mancozebe). As me-
meaduras tardias, a partir de no- tre os locais. Esse mesmo padrão nores severidades e as maiores
vembro, para garantir a presença havia sido observado nos experi- porcentagens de controle foram
da doença, ressaltando que essa mentos realizados no Mato Gros- observadas para os tratamentos
não é a situação de muitas la- so na safra 2021/2022, o que le- com programa de rotação de fun-
vouras no Brasil que têm apre- vou à separação dos experimen- gicidas (T16 – 69%), protiocona-
sentado escape da doença ou
incidência tardia pela época de
semeadura.

Cláudia V. Godoy
No experimento com os fun-
gicidas registrados, foram avalia-
dos 14 e um programa (T16) que
incluiu a rotação dos fungicidas
com a adição de multissítios aos
fungicidas que não apresentavam
na formulação (Figura 1). O pro-
grama não representa uma re-
comendação da rede de ensaios
e a escolha de fungicidas para a
rotação deve ser adequada a ca-
da região e época de semeadura,
em função da ocorrência de dife-
rentes doenças na lavoura.
As aplicações iniciais foram
estabelecidas nos protocolos aos
45-50 dias após a emergência, no
pré-fechamento das linhas de se-
meadura e repetidas em interva-
los de 14 dias em média. A calen-
darização não é uma recomenda-
ção de controle. Ela é realizada
nos experimentos em rede para
reduzir as causas de variação. Em
semeaduras tardias, como as dos Falhas de controle foram observadas com o aumento da demanda por fungicidas curativos e a
experimentos em rede, a incidên- ocorrência de reduções significativas de produtividades em lavouras

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 11


Figura 3 - severidade da ferrugem-asiática (%), porcentagem de controle
(%) em relação à testemunha sem fungicida (T1) para os diferentes tra- dos os fungicidas multissítios (clo-
tamentos no protocolo com ingredientes ativos isolados para monitora- rotalonil, mancozebe e oxicloreto
mento. Média de 18 experimentos, safra 2022/2023. Médias seguidas de cobre) e fluazinam. Entre os
de mesma letra nas barras não diferem entre si pelo teste de Tukey multissítios, a menor severidade e
(p≤0,05). Circular técnica 195, Embrapa Soja
a maior porcentagem de controle
foram observadas para clorotalo-
nil (T8 – 51%), seguido de man-
cozebe (T9 – 44%) e oxicloreto de
cobre (T10 – 43%) (Figura 3).
Entre os IDM, diferentemente
da safra 2021/2022, as menores
severidades foram observadas
para protioconazol (T4) e tebuco-
nazol (T2), com porcentagens de
controle semelhantes (49%) (Figu-
ra 3). Na safra 2021/2022, a seve-
ridade do tratamento com protio-
conazol foi inferior a tebuconazol.
A eficiência desses dois ativos va-
riou entre regiões e dentro das re-
giões, evidenciando a presença de
populações com sensibilidade di-
zole + fluxapiroxade + mancozebe porcentagens de controle foram ferenciada aos IDM numa mesma
(T15 – 69%) e impirfluxam + me- observadas para os tratamentos região e a necessidade de rotação
tominostrobina + clorotalonil (T12 com metominostrobina + tebu- de fungicidas com esses dois in-
– 67%), seguidos dos tratamentos conazol e clorotalonil (T3 – 74%) gredientes ativos para controle
com azoxistrobina + protioconazol e protioconazol + impirfluxam e eficiente da ferrugem-asiática.
+ mancozebe (T14 – 63%), tebu- mancozebe (T6 – 72%) (Figura 2). Fluazinam (T11) apresentou seve-
conazol + impirfluxam (T6 – 63%), As porcentagens de controle com ridade semelhante a clorotalonil,
metominostrobina + tebuconazol a adição de multissítios, compa- tebuconazol e protioconazol, com
(T3 – 62%) e protioconazole + rando as eficiências de controle controle de 48%, sendo uma op-
mancozebe (T13 – 61%) (Figura 1). dos produtos sítio-específicos no ção para as áreas com mofo-bran-
No protocolo com fungicidas protocolo de fungicidas registra- co pela eficiência desse produto
sítio-específicos em mistura com dos (Figura 1), aumentou de 7% no controle da doença.
multissítios (Figura 2), fungicidas (tebuconazol + impirfluxam) a Entre os IQe, semelhante às sa-
do protocolo com fungicidas re- 14% (protioconazol + benzovindi- fras anteriores, a menor severida-
gistrados (T3 a T7 e T9 – Figura 1) flupir), evidenciando a importân- de foi observada para picoxistro-
foram misturados aos multissítios cia da adição de fungicidas mul- bina (T6), com 44% de controle, e
mancozebe (T4 a T8) e clorotalonil tissítios em semeaduras tardias, a maior severidade ocorreu para
(T3) e comparados ao fungicida com alta pressão de ferrugem. azoxistrobina (T5 – 23% de con-
formulado em mistura pronta azo- Na análise do protocolo de trole), sendo semelhante ao IDM
xistrobina + protioconazol + man- monitoramento da sensibilidade ciproconazol (T3 – 24% de contro-
cozebe. do fungo P. pachyrhizi, com fungi- le) e menor que a severidade na
Todos os tratamentos apre- cidas com ingrediente ativo iso- testemunha sem fungicida (Figura
sentaram severidade inferior à lado (Figura 3), foram utilizados 3).
testemunha sem fungicida (T1) 18 experimentos. Fungicidas com Os fungicidas para controle
(Figura 2). A porcentagem de con- ingredientes ativos isolados vêm da ferrugem-asiática devem ser
trole das misturas de fungicidas sendo avaliados desde a safra utilizados sempre em misturas co-
variou de 65% (T2) a 74% (T3). As 2003/2004. Nos experimentos re- merciais ou misturas em tanque
menores severidades e as maiores alizados nessa safra foram incluí- para maior eficiência de controle

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e para atrasar o processo de re- inclui outras culturas anteriores à Cláudia V. Godoy,
sistência, incluindo os fungicidas soja, como trigo, cevada e feijão Maurício C. Meyer,
multissítios. e também em regiões onde as Ivani de O. N. Lopes,
Os protocolos dos ensaios coo- chuvas se iniciam mais tarde. Nes- Embrapa Soja;
perativos determinam aplicações sas situações, para o controle da Carlos M. Utiamada,
sequenciais para comparação dos ferrugem-asiática, são necessários Luiz Nobuo Sato,
Tagro;
fungicidas, não sendo uma reco- fungicidas sítio-específicos mais Hercules D. Campos,
mendação de controle. No mane- eficientes, aplicados em intervalos UniRV / Campos Pesquisa Agrícola Ltda.;
jo da doença devem ser seguidas menores. Com o crescente relato Alfredo Riciere Dias,
as estratégias antirresistência que de resistência de fungos aos fun- Desafios Agro;
incluem não utilizar mais que du- gicidas sítio-específicos na cultura Alana Tomen,
as aplicações do mesmo produto da soja, os fungicidas multissítios Ivan Pedro Araújo Júnior,
em sequência e no máximo duas (mancozebe, clorotalonil e fungi- Fabiano V. Siqueri,
aplicações de produtos contendo cidas cúpricos) têm assumido pa- Proteplan;
carboxamida por cultivo. pel cada vez mais importante no Aline G. de Carvalho,
João Mauricio T. Roy,
A semeadura no início da épo- manejo de doenças na cultura. Os Centro de Pesquisa Agrícola Copacol;
ca recomendada é uma das es- fungicidas representam uma das Ana Cláudia R. Mochko,
tratégias de manejo da ferrugem ferramentas de manejo, devendo Fundação MS;
para escapar do período de maior ser adotadas todas as demais es- Carlos Alberto Forcelini,
quantidade de inóculo do fungo tratégias para o controle eficiente Agrotecno Research;
no ambiente. O manejo da ferru- da ferrugem-asiática. Carlos André Schipanski,
gem-asiática deve ser adequado Informações sobre o controle Débora Fonseca Chagas,
à época de semeadura. Semea- das outras doenças da soja po- G12 Agro;
duras mais tardias ocorrem em Marina Senger,
dem ser consultadas no portal da
Jeane Galdino,
regiões onde o sistema de cultivo Embrapa Soja. C
Eloir Moresco,
3M Experimentação Agrícola;
João Carlos Bonani,
Marcos V. Garbiate,
Cláudia V. Godoy

Coamo;
Mônica A. Müller,
João Paulo Ascari,
Karla Kudlawiec,
Fundação MT;
Jairo dos Santos,
Agrodinâmica;
José Fernando J. Grigolli,
Famiva Pesquisa e Soluções Agrícolas;
Luana M. de R. Belufi,
Fundação de Pesq. e Desenv.Tecn. Rio Verde;
Luís Henrique Carregal,
Agro Carregal Pesq. e Prot. de Plantas Eireli;
Lucas Henrique Fantin,
Fundação Chapadão;
Maurício Silva Stefanelo,
Ceres Consultoria Agronômica;
Marcio Goussain Júnior,
Assist Cons. e Exper. Agronômica Ltda.;
Mônica P. Debortoli,
Nédio R. Tormen,
Ricardo S. Balardin,
Instituto Phytus;
A eficiência dos fungicidas vem reduzindo a cada safra com a evolução do fungo
Mônica C. Martins,
Phakopsora pachyrhizi, cada vez menos sensível aos principais grupos de fungicidas
Ide Consultoria

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Carolina Deuner (UPF)

SOJA

Avanços no
entendimento
Com novas pesquisas, quebramento de hastes
e podridão de vagens e grãos de soja tornam-
se problemas manejáveis pelo produtor

D
esde a safra de 2021/22, diversas institui-
ções de pesquisa vêm desenvolvendo novos
estudos visando aprofundar o entendimento
sobre os sintomas de quebramento de haste
e apodrecimento de vagens e grãos de soja. Os primeiros
sintomas foram relatados durante a safra de 2019/20 na
região do Médio-Norte, do Estado de Mato Grosso, com-
preendendo os municípios de Ipiranga do Norte, Tapurah,
Sorriso e Lucas do Rio Verde.
Na safra de 2022/23, esse problema estendeu-se para
outros municípios do Estado de Mato Grosso e, segundo
informações de produtores locais, relatos de perdas supe-
riores a 40% são observados em áreas com alta incidência
de quebramento de haste. Além dos danos observados
no campo, o problema se estende para grãos e semen-
tes armazenados, em que a perda na qualidade do grão
torna-se mais severa conforme o aumento do tempo de
armazenamento. Nesse caso, as sementes sintomáticas
tornam-se fonte de inóculo para as sementes sadias, au-
mentando os riscos de contaminação, além de ser fonte
de inóculo para a safra seguinte.
Os sintomas de quebramento de hastes e apodreci-
mento de vagens e grãos foram popularmente denomi-
nados de anomalia de hastes e vagens. Contudo, pesqui-
sas recentes identificaram fitopatógenos que causam os
sintomas típicos de quebramento de hastes e podridão
de vagens e grãos. Os sintomas característicos foram ob-
servados na parte inferior da planta, cerca de 3 cm a 5 cm
acima do solo. Nas hastes, são observadas estrias longi-
tudinais ao longo do caule evoluindo para necrose, que
podem ou não ocasionar seu quebramento. Nas vagens,
os sintomas comuns se iniciam na junção dos tecidos das

16 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 290


Figura 1 - (A) região de amostragem e percentual de gêneros fúngicos presentes em amostras de plantas de soja
com sintomas de quebramento de hastes; (B) região de amostragem e percentual de gêneros fúngicos presentes
em amostras de plantas de soja com sintomas de podridão de vagens e grãos

A B

vagens, que evoluem para necrose representatividade dos locais de co- comerciais de fungicidas. Para isso,
parcial ou total desse órgão, oca- leta, durante a safra de 2022/23 as foram testadas as carboxamidas:
sionando a podridão. Nesses casos, amostragens incluíram os Estados de benzovindiflupir (Solatenol - STL),
as sementes ou os grãos também Goiás, Tocantins e Rondônia. fluxapiroxade (FXD), bixafem (BIX)
ficam comprometidos, podendo ser Os experimentos foram condu- e impirfluxam (IPFX); e os triazóis:
observado um aspecto enrugado zidos em duas etapas, sendo que difenoconazol (DFZ), protioconazol
com alteração de cor (escurecido ou na primeira, o objetivo foi realizar (PTZ) e mefentrifluconazol (MFTZ).
pálido). o isolamento dos fungos envolvi- As concentrações de fungicidas tes-
Em estudo recente, publicado dos no quebramento de hastes e tadas foram: 0,01 mg, 0,1 mg, 1 mg,
pela revista Cultivar na edição 281, apodrecimento de vagens e grãos, 10 mg e 100 mg de ingrediente ativo
foram identificados os gêneros fún- confirmar sua patogenicidade em (I.A.) por litro (L). Placas de Petri com
gicos Diaporthe/Phomopsis, Colleto- soja e identificar molecularmente o meio de cultura batata-dextrose-
trichum spp. e Cercospora spp. em os principais patógenos encontra- -ágar (BDA) BDA foram utilizadas co-
amostras de plantas de soja com dos nas amostras sintomáticas. No mo controle.
sintomas de podridão de vagens e segundo experimento, o objetivo foi Para realizar a etapa de isolamen-
grãos. Os primeiros estudos desen- verificar a eficiência de controle in to e identificação dos patógenos,
volvidos até o momento contaram vitro das principais carboxamidas e foram coletadas 64 amostras de
com amostragem de plantas sinto- triazóis que compõem as misturas soja com sintomas de quebramento
máticas direcionada exclusivamente
para regiões do Estado do Mato
Grosso, e as pesquisas foram condu-
zidas para o entendimento do apo-
drecimento de vagens e grãos.
Diante disso, visando o entendi-
mento desse problema, pela segun-
da safra consecutiva, foram realiza-
das coletas de plantas de soja que
apresentavam sintomas de quebra-
mento de hastes e apodrecimento
de vagens e grãos nas regiões com Figura 2 - inoculação de plantas de soja sadias com Diaporthe spp., utilizando o método de
alta incidência dos sintomas. Adicio- inoculação direta com palitos contaminados com o fungo e confirmação da patogenicidade
nalmente, visando garantir a maior (Postulado de Koch) do fungo Diaporthe spp. causando o quebramento de haste em soja

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 17


Figura 3 - (A) percentual de controle in vitro de Diaporthe spp. e (B) Colletotri-
chum spp. contra benzovindiflupir (STL), fluxapiroxade (FXD), bixafem (BIX) e e Colletotrichum spp., de
impirfluxam (IPFX); ao lado de ambos os gráficos estão as fotos representativas forma que foi possível fa-
dos ensaios de Diaporthe spp. e Colletotrichum spp., respectivamente zer associação constante
entre os sintomas pre-
A sentes no campo e esses
patógenos presentes nas
lesões.
A fim de investigar
a relação desses fun-
gos com os sintomas de
quebramento e a podri-
dão, foram executadas
as etapas do Postulado
B de Koch. Para o teste de
patogenicidade, foram
utilizados isolados de Dia-
porthe spp. recuperados
de plantas com sintomas
de quebramento de has-
tes e podridão de vagens
e grãos. Plantas de soja
sadias foram inoculadas,
utilizando o método de
inoculação de micélio
fúngico por infecção dire-
de hastes e 39 amostras com sinto- Paulo. Para a identificação, foi rea- ta do caule (Figura 2). Após, 21 dias
mas de apodrecimento de vagens lizado o isolamento direto a partir sob condições controladas em casa
e grãos, visando garantir a maior de estruturas fúngicas presentes de vegetação, as plantas inoculadas
representatividade em áreas comer- nos tecidos vegetais. Os fungos pu- apresentaram os primeiros sinto-
ciais e com maiores severidades dos rificados foram cultivados em meio mas de necrose e quebramento da
sintomas. As amostragens foram re- de cultura BDA, e a confirmação da haste (Figura 2). A confirmação da
alizadas em 22 municípios do Brasil, identidade dos isolados foi realizada patogenicidade ocorreu com o rei-
coletadas nos Estados de Goiás (Pla- por meio de sequenciamento da re- solamento de Diaporthe spp. recu-
naltina e Rio Verde), Mato Grosso gião ITS (região interna do espaça- perado de plantas de soja inocula-
(Brasnorte, Campo Novo do Parecis, dor transcrito do DNA ribossomal). das com os patógenos. O isolado de
Campo Verde, Canarana, Confresa, Nas amostras provenientes de Diaporthe spp. obtido foi novamen-
Diamantino, Lucas do Rio Verde, hastes foram obtidos 125 isolados, te sequenciado para a confirmação
Nova Mutum, Querência, Santa Rita sendo esses Diaporthe/Phomopsis do gênero, levando à conclusão das
do Trivelato, Sapezal, Sinop, Sorriso spp. (35,2%), Colletotrichum spp. etapas do Postulado de Koch (Figu-
e Tabaporã), Rondônia (Ariquemes, (25,6%), Fusarium spp. (25,6%) e ra 2). Esse resultado sugere, por-
Colorado do Oeste, Itapuã do Oeste Cercospora spp. (13,6%) (Figura tanto, relação causal entre o fungo
e Rio Crespo) e Tocantins (Gurupi e 1A). Nas amostras com sintomas de Diaporthe spp. e os sintomas de
Santa Rosa do Tocantins). apodrecimento de vagens e grãos, necrose e quebramento da planta
As etapas de isolamento, identi- foram identificados os gêneros Col- (Figura 2).
ficação, patogenicidade e análises letotrichum spp. (32,4%), seguidos Para o teste de efetividade in
moleculares foram conduzidas no de Diaporthe spp. (29,7%), Cer- vitro de carboxamidas e triazóis,
Centro de Pesquisa e Desenvolvi- cospora spp. (25,2%) e, em menor foram selecionados dez isolados
mento da estação experimental frequência, o fungo Fusarium spp. de Colletotrichum spp. e Diaporthe
da Syngenta Proteção de Cultivos, (12,7%) (Figura 1B). Os fungos mais spp. Entre as carboxamidas testa-
localizada na cidade Holambra, São recorrentes foram Diaporthe spp. das, o fungicida STL apresentou a

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Figura 4 - (A) percentual de controle in vitro de Diaporthe spp. e (B) Colletotrichum spp. contra
difenoconazol (DFZ), protioconazol (PTZ) e mefentrifluconazol (MFTZ); ao lado de ambos os
gráficos, estão as fotos representativas dos ensaios para Diaporthe spp. e Colletotrichum
spp., respectivamente

maior atividade intrínseca tanto para dridão de vagens e grãos. mento químico/biológico de semen-
Diaporthe spp. quanto para Colleto- Esses resultados indicam uma tes. Essas são medidas simples, mas
trichum spp. (Figura 3A). A inibição maior associação de Diaporthe/Pho- eficientes para mitigar o problema. A
do crescimento micelial foi superior mopsis spp. com os sintomas descri- correta identificação dos patógenos
a 60% desde a dose de 10 mg de tos como quebramento de haste e envolvidos e a utilização de controle
I.A./L para ambos os patógenos. O apodrecimento de vagens e grãos, cultural associado ao controle quími-
controle de Colletotrichum spp. foi uma vez que esses sintomas são bas- co eficiente são importantes estraté-
superior a 90% desde a dose de 10 tante similares aos observados na gias de manejo para reduzir danos na
mg de I.A./L (Figura 3B). Entre os literatura americana. Novos estudos produtividade e obter maior qualida-
triazóis, DFZ e PTZ apresentaram deverão ser realizados para identifi- de dos grãos da soja. C

atividades intrínsecas superiores ao car as espécies dos fungos e confir-


MFTZ. Controle superior a 90% foi mar se o quebramento de haste e a Ricardo Francisco Desjardins Antunes,
observado para o fungo Diaporthe podridão de vagens e grãos são sin- Flávia Elis de Mello,
spp. com os fungicidas DFZ e PTZ tomas correlacionados ou se ocor- Sandra Marisa Mathioni,
(Figura 4A). Para Colletotrichum spp., rem de forma independente, uma Victoria Oasis Regis Lessa Matos,
os fungicidas DFZ e PTZ foram os vez que os três gêneros de patóge- Syngenta Proteção de Cultivos;
mais eficientes e apresentaram uma nos são encontrados nos três tecidos Monikéli Aparecida da Silva,
inibição de crescimento micelial su- da planta (haste, vagem e grão). UPF;
perior a 80% (Figura 4B). A rápida expansão dos sintomas Douglas Braga Marques,
Os gêneros fúngicos Diaporthe/ e disseminação para outros Estados Laércio Luiz Hoffmann,
Phomopsis, Colletotrichum spp. e levanta um alerta ao produtor para Syngenta Proteção de Cultivos;
Fusarium spp. foram predominan- o emprego de medidas de controle, Juliano Martins Diniz,
tes em amostras que apresentaram como a sanitização adequada de JMD Agro Sementes;
sintomas de quebramento de haste maquinários que são movimentados Carolina Cardoso Deuner,
e em amostras com sintomas de po- de uma região para outra e o trata- UPF

20 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 290


NEMATOIDES

No país todo
Uma pesquisa inédita realizada
pela Syngenta, em parceria com a
consultoria Agroconsult e a Socie-
dade Brasileira de Nematologia,
obteve a distribuição e o cresci-
Pesquisa aponta a distribuição geográfica de nematoides mento dos nematoides no Brasil,
percorrendo todo o país durante

O
a safra de 2021. Essa pesquisa traz
s nematoides parasi- dutor. Porém, em se tratando dos detalhes importantes sobre a pro-
tas de plantas repre- nematoides das lesões ou de cistos, blemática em todas as regiões, nos
sentam um sério pro- nem sempre ocorre essa percepção mais diversos cultivos.
blema para a agricul- (Figura 1). No total, foram analisadas
tura brasileira. São responsáveis por Apesar da importância que os 21.661 amostras e, em um pano-
elevadas perdas em culturas de im- nematoides representam para a rama geral, os nematoides foram
portância econômica, incluindo so- agricultura brasileira, poucos são os encontrados em mais de 90% das
ja, algodão, milho, cana-de-açúcar levantamentos de sua ocorrência amostras realizadas em todo Brasil
e muitas outras. Contudo, muitas no território nacional. Geralmen- por laboratórios de nematologia (Fi-
vezes os danos causados passam te esses são restritos a empresas gura 2). Esses números preocupam
despercebidos pelos produtores, já privadas, que encomendam tais não só os produtores, mas todos os
que nem sempre estão associados estudos para direcionamento de su- envolvidos neste cenário.
a sintomas característicos do ata- as pesquisas internas e, em alguns A pesquisa envolveu as culturas
que desses patógenos. Quando se casos, essa informação está ligada de soja, milho, algodão, café, cana-
trata dos nematoides-das-galhas, a trabalhos acadêmicos realizados -de-açúcar e olerícolas. As espécies
Meloidogyne spp., os sintomas são por pesquisadores, com divulgação ou gêneros mais comuns identifica-
facilmente identificados pelo pro- restrita de resultados. dos nessas amostras foram: Aphe-

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 21

Syngenta
grupo é responsável por perdas
mais acentuadas do que aquelas
causadas por Pratylenchus spp.,
devido à elevada agressividade
das espécies às culturas da soja e
do algodão, por exemplo. São re-
latadas perdas de mais de 55% da
produtividade em lavouras de soja
altamente infestadas por M. incog-
nita e tais perdas podem ser ainda
maiores, dependendo das condi-
ções edafoclimáticas, cultivar utili-
zada e outras espécies presentes na
área. Assim como para o nematoide
das lesões, a adoção da rotação de
Figura 1 - sintomas do ataque de nematoides em raízes de soja. Da
esquerda para a direita: Heterodera glycines e Pratylenchus brachyurus
culturas em áreas infestadas pelo
nematoide das galhas é limitada,
porque quase todas as plantas cul-
tivadas são suscetíveis. Além disso,
lenchoides besseyi, Ditylenchus spp., específico nas raízes, caracterizado ainda existe carência de cultivares
Helicotylenchus spp., Heterodera por lesões de coloração escura, que adaptadas para várias regiões pro-
glycines, Meloidogyne spp., Praty- também podem ser atribuídas ao dutoras e que apresentam resistên-
lenchus spp., Radopholus similis, parasitismo de fungos e bactérias, cia aos nematoides das galhas.
Rotylenchulus reniformis e Scutello- fazendo com que sua identificação Ao contrário de Meloidogyne
nema spp. nas lavouras seja dificultada. Além spp., o nematoide de cisto da soja,
O senso comum é de que os da soja, P. brachyurus parasita o H. glycines, apresenta maior distri-
nematoides representam problema milho e o algodão, culturas normal- buição nas lavouras localizadas no
apenas à região do Cerrado bra- mente inseridas nos sistemas de Cerrado brasileiro, onde mais de
sileiro (Figura 3A), especialmente produção após a colheita da soja. 40% das amostras indicaram sua
nas culturas da soja e do algodão. Pratylenchus brachyurus parasita presença. Nos estados do Sul do pa-
Porém, na região Sul do país, onde uma ampla gama de hospedeiros, ís, essa espécie foi encontrada em
se tem a falsa ideia de que não há dificultando o seu manejo, pois não quase 8% das amostras. Esse nema-
problema com nematoides, a dis- há disponibilidade de cultivares de toide apresenta elevado potencial
tribuição desses organismos apon- soja, milho ou algodão com resis- de causar danos à soja. A depender
tada pela pesquisa é preocupante tência a esse parasita. A rotação de do nível populacional presente e da
e desperta o alerta para o potencial culturas com plantas não hospedei- raça do nematoide, além da ferti-
de perdas nessa região, visto que ras ou resistentes a esse nematoi- lidade do solo e suscetibilidade da
mais de 97% das áreas amostradas de seria uma boa opção para seu cultivar, as perdas em produtivida-
apresentaram ocorrência destes pa- manejo, entretanto, a maioria das de podem chegar até 90%. Adicio-
tógenos, mostrando que o proble- plantas de cobertura é suscetível nalmente, a elevada variabilidade
ma está subestimado em tal região a P. brachyurus, especialmente as genética apresentada por H. glyci-
(Figura 3B). gramíneas. nes, refletida na grande quantidade
O nematoide das lesões, Pra- Outro nematoide, Meloidogyne de raças presentes no Brasil, e a
tylenchus sp., é o que apresentou spp., tem distribuição diferente en- capacidade de sobreviver por vários
maior disseminação nas lavouras tre as lavouras do Sul e do Cerrado. anos na ausência de plantas hos-
brasileiras, ocorrendo em mais de Enquanto nos estados do Sul esse pedeiras fazem com que o manejo
86% das amostras oriundas do Cer- gênero está presente em quase desse nematoide seja bastante difí-
rado e Norte e em mais de 57% das 64% das amostras, no Cerrado sua cil. O uso de cultivares resistentes é
amostras do Sul do país. Esse ne- disseminação ocorre em pouco a melhor ferramenta para o manejo
matoide causa um sintoma pouco mais de 25% das amostras. Esse de H. glycines, devido ao baixo cus-

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Figura 2 - distribuição geral de nematoides no Brasil
to e à viabilidade econômica. Porém,

Fotos Syngenta
é necessário conhecer a raça presen-
te na área para a escolha correta da
cultivar e agregar outras ferramentas
ao manejo, tais como a rotação de
culturas, a manutenção de cobertura
do solo, visando aumentar o teor de
matéria orgânica, e o uso de nemati-
cidas químicos e biológicos.
Uma espécie que tem trazido
preocupação aos produtores de soja
e algodão é Rotylenchulus renifor-
mis, pela elevada capacidade que a
soja apresenta em multiplicar esse
nematoide e pelo elevado potencial
de causar danos ao algodoeiro. Sua Figura 3 - distribuição de nematoides no Brasil. Acima (A): região do
disseminação nas lavouras brasilei- Cerrado brasileiro; abaixo (B): região Sul
ras deve ser outro motivo de preo-
cupação, uma vez que este esteve
presente em mais de 36% das amos-
tras do Cerrado e em quase 20% das
amostras do Sul do país.
Outros nematoides, como Heli-
cotylenchus sp. e Scutellonema sp.,
estiveram presentes em número
significativo de amostras. No caso da
primeira espécie, observou-se dis-
tribuição generalizada nas amostras
coletadas no país, enquanto a se-
gunda predominou nos estados do A
Sul. Esses nematoides, a exemplo de
P. brachyurus, causam lesões radicu-
lares em plantas de soja, milho, algo-
dão e diversos outros cultivos, sendo
responsáveis por aumentar os pro-
blemas já causados pelo nematoide
das lesões. Até o momento, poucas
informações estão disponíveis a res-
peito do nível de danos econômicos
causados por esses nematoides e
das ferramentas de manejo eficazes
para a sua redução populacional.
Entretanto, sabe-se que algumas B
plantas de cobertura utilizadas pa-
ra o controle de P. brachyurus são
suscetíveis a H. dihystera, havendo milho e do algodão, outras espécies Meloidogyne causam perdas con-
necessidade de que mais opções de vegetais importantes para a agricul- sideráveis em todo o Brasil e, no le-
manejo estejam disponíveis para es- tura brasileira mostraram elevada vantamento realizado, evidenciou-se
sas espécies. disseminação de nematoides. É o que 86% das amostras oriundas do
Além das culturas da soja, do caso do café, em que as espécies de Sul do país tinham a presença desses

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 23


Figura 4 - prejuízo acumulado em dez anos devido ao ataque de nema-
toides na cultura da soja no Brasil tamento mostrou que o prejuízo é
de R$ 27,7 bilhões, o que significa
Fotos Syngenta

que, a cada dez safras, uma inteira


é perdida para os nematoides nessa
cultura (Figura 4). Se o cenário conti-
nuar da forma como se constata atu-
almente no país, com monocultivos
de culturas suscetíveis, uso reduzido
ou ausência de cultivares resistentes
e pouco empenho dos produtores
em manejar os nematoides em todo
o sistema produtivo, é esperado que
as perdas causadas por nematoides
se intensifiquem e cheguem a um
montante superior a R$ 870 bilhões
em dez anos, segundo apontamen-
Figura 5 - prejuízo acumulado em dez anos devido ao ataque de nema- tos desse estudo.
toides em diversos cultivos brasileiros Felizmente, há um constante
empenho das empresas de melho-
ramento em disponibilizar cultivares
resistentes aos nematoides, além de
a pesquisa trazer informações atuali-
zadas sobre plantas de cobertura ve-
getal ou adubação verde que podem
reduzir populações de nematoides
nas condições edafoclimáticas bra-
sileiras. Além disso, novos nematici-
das químicos e biológicos estão sen-
do avaliados por diversas empresas,
com novos modos de ação, mais efi-
cientes, com menor dose, agredin-
do menos o meio ambiente, e com
potencial de controle elevado para
várias dessas espécies de nematoi-
des que foram apontadas no levan-
tamento como as mais importantes
nematoides. Em cana-de-açúcar, 60% das amostras coletadas nessa para o Brasil. Há que se disseminar
esse grupo de nematoides também cultura no Cerrado e em mais de 25% informações de qualidade para que
marcou presença em quase 60% das amostras oriundas do Sul do país. os produtores entendam o poten-
das amostras coletadas no Sul do A informação que esse levanta- cial de danos que esses organismos
país, enquanto Pratylenchus spp. mento nos traz é importantíssima e podem trazer às suas lavouras e con-
esteve presente em quase 100% serve de alerta para a preocupante sigam escolher as ferramentas de
das amostras do Sul, Cerrado e Nor- disseminação de nematoides em to- manejo mais adequadas para evitar
te do Brasil. Espécies de Meloido- do o território brasileiro. Um desdo- os prejuízos. C

gyne spp. também foram detecta- bramento desse estudo, apontou-se


Fernando Godinho de Araujo,
das em mais de 40% das amostras que há uma estimativa de perdas de
IF Goiano;
brasileiras em culturas olerícolas. O R$ 65 bilhões por conta de proble-
Andressa Cristina Zamboni Machado,
nematoide cavernícola, Radopholus mas gerados pelo ataque dos nema-
Agronema;
similis, importante para a cultura da toides no Brasil, em diversos cultivos.
Claudia Regina Dias Arieira,
banana, esteve presente em quase Somente na cultura da soja, o levan-
UEM

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CAPA

Chegou ao A
cigarrinha-africana, Leptodelphax
maculigera, é uma espécie de
inseto da família Delphacidae,
que é encontrada em diversas

Brasil
regiões do mundo, incluindo Europa e Ásia.
E, mais recentemente, América do Sul (Goiás,
Brasil). Essa espécie é capaz de se adaptar a
diferentes regiões e pode ser encontrada em
áreas cultivadas com cereais de importância
Relato científico recente descreve o encontro econômica, como o milho.
A taxonomia de Leptodelphax maculiger
de cigarrinha-africana (Leptodelphax maculiger) é bem estabelecida. Ela pertence à ordem
em milho no Estado de Goiás; veja o que se sabe Hemiptera, caracterizada por possuir um
sobre esse inseto aparelho bucal sugador, e à família Delpha-
cidae, composta por insetos de tamanho
diminuto. No entanto, sua similaridade com
outras espécies de cigarrinhas, por exemplo

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Fotos Mauricio Paulo Batistella Pasini

Figura 1 - Dalbulus maidis

a cigarrinha-do-milho, Dalbulus deste gênero apresentaram va- para determinar a aquisição; e (4)
maidis (Cicadellidae), torna sua riações quanto à transmissão de isolar cigarrinhas bacterilíferas em
identificação em nível de campo fitoplasmas. Por exemplo, Lepto- plantas saudáveis para determinar
desafiadora. Apesar disso, alguns delphax dymas foi detectado carre- a infecção. Desta forma, são cum-
caracteres morfológicos podem ser gando uma cepa de fitoplasma do pridos os passos do postulado de
empregados para separação destas grupo 16Sr III-A. No entanto, esta Koch.
espécies. A cigarrinha-do-milho mesma espécie de cigarrinha não Ressalta-se que ao constatar a
(D. maidis) é caracterizada por foi capaz de transmitir a cepa de presença de indivíduos Leptodel-
apresentar pontuações escuras na fitoplasma do grupo 16Sr XI. Desta phax maculigera e da respectiva
cabeça (Figura 1), enquanto para a forma, análises mais aprofunda- confirmação da espécie, um repor-
cigarrinha-africana (L. maculigera) das devem ser realizadas para: (1) te aos órgãos competentes passa a
há uma mancha escura no clípeo detectar a ocorrência de cepas de ser necessário, a fim de que medi-
(região localizada na parte inferior molicutes nas cigarrinhas; (2) de- das possam ser adotadas.
da cabeça), característica desta es- tectar a ocorrência da mesma cepa Por fim, da ocorrência de qual-
pécie (Figura 2). nas plantas; (3) isolar cigarrinhas quer organismo com potencial de
Em relação à ecologia, assim saudáveis em plantas infectadas praga em ambientes de cultivo,
como outras cigarrinhas, Leptodel-
phax maculigera é uma espécie
que se alimenta da seiva de plan-
tas, principalmente da família Poa-
Ferreira et al. 2023
ceae (gramíneas). Ela é encontrada
em áreas de cultivo de milho, for-
rageiras e plantas não cultivadas.
No Brasil, sua identificação ocorreu
principalmente em milho, capim-
-elefante e braquiária, na região
Centro-Oeste.
Apesar do gênero Leptodelphax
spp. ser relatado como potencial
vetor de molicutes, principalmente
fitoplasmas, uma análise profunda
deve ser realizada, a fim de identi-
ficar se há essa possibilidade para A) Ventral B) Lateral
L. maculigera. Figura 2 - Leptodelphax maculiger (A) mancha escura no clípeo (região
Destaca-se que outras espécies localizada na parte inferior da cabeça); (B) vista lateral

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envolvem-se: (a) identificação de delas e compare com plantas sem
indivíduos e seus respectivos locais a presença de cigarrinhas, a fim de
de ocorrência; (b) quantificação identificar possíveis sintomas com
das densidades populacionais; (c)
estabelecimento das variabilidades
confirmação a posteriori em análi-
se molecular. Primeira
espaciais e temporais; (d) definição
dos níveis de danos e respectivos
Em resumo, Leptodelphax ma-
culigera é uma espécie de inseto
ocorrência
impactos, além das ferramentas a
serem utilizadas para seu respecti-
da família Delphacidae, encontra-
da em diversas regiões do mundo;
no Brasil
vo controle. alimenta-se de seiva de plantas,
Ou seja, da presença de indiví-
duos de Leptodelphax maculigera
verifique se os mesmos estão as-
principalmente de gramíneas. Exis-
te um potencial de transmissão
de molicutes em milho para esta
A primeira ocorrência
de Leptodelphax ma-
culigera (Stål, 1859) no Brasil
sociados à cultura do milho, se as espécie. No entanto, ainda há ne- foi relatada em artigo de Ke-
densidades populacionais estão cessidade de comprovação. Assim rolainy R. Ferreira, Charles R.
elevadas, se é intensa a ativida- como outras espécies de insetos- Bartlett, Manfred Asche, Liz R.
de alimentar e reprodutiva, quais -praga, cigarrinhas são indivíduos S. Silva, Vinícius S. Magalhães
estádios estão ocorrendo, se os altamente adaptáveis, com poten- e Karina C. Albernaz Gondi-
indivíduos ocorrem em uma ou cial biótico e resiliência elevados. nho. A notificação ocorreu no
mais plantas, se estão distribuídas Desta forma, o monitoramento, a Estado de Goiás em espécies
em todo o ambiente de cultivo, se correta identificação e as boas prá- de importância agronômi-
estão distribuídos na região, além ticas agrícolas são essenciais para a ca, como milho, braquiária,
de definir por quais híbridos os assertividade no seu manejo. capim-elefante, cultivar BRS
indivíduos apresentam preferên- Para essa e outras espécies que Capiaçu e feijão. A identifica-
cia alimentar. Cabe destacar que: possam se adaptar, prudência e ção foi realizada por meio da
plantas em que cigarrinhas estive- segurança são fundamentais, a fim análise morfológica da ter-
rem associadas sejam marcadas, de evitar alardes desnecessários e minália masculina. A espécie
acompanhe o desenvolvimento prematuros. C já foi encontrada em plantas
de milho, compartilhando o
mesmo espaço com outra es-
pécie conhecida e de grande
Mauricio Paulo Batistella Pasini

importância econômica para


a cultura, a Dalbulus maidis
(DeLong & Wolcott). Apesar
das diferenças morfológicas, é
possível que elas possam ser
avaliadas em campo apenas
como “cigarrinha-do-milho”,
sem distinguir as espécies
porque a presença de L. ma-
culigera no Brasil era desco-
nhecida. O relato pode ser lido
em https://doi.org/10.21203/
rs.3.rs-2818951/v1.

Eduardo Engel,
Esalq/USP;
Essa espécie é capaz de se adaptar a diferentes regiões e pode ser encontrada
em áreas cultivadas com cereais de importância econômica, como o milho Mauricio Pasini,
Intagro CP&T

28 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 290


CESB

Produtividade
gera preservação
Tradicional concurso nacional do Cesb mostra relação entre sustentabilidade e rentabilidade

O
Cesb (Comitê Estra- foram premiados produtores que res mais eficientes, o fórum desta-
tégico Soja Brasil) obtiveram os melhores resultados cou a relação entre produtividade e
anunciou os campe- nas categorias sequeiro e irriga- preservação ambiental. Dados apre-
ões de produtividade do. Na primeira, houve campeões sentados pelo Cesb indicam que
da soja do ano 2023 no 15º Fórum das cinco regiões do país (que o aumento da produtividade nos
Nacional de Máxima Produtividade, disputaram o título nacional). Na últimos nove anos foi responsável
evento que reuniu cerca de 6,5 mil categoria irrigado, a disputa era por evitar o desmatamento de 10,7
produtores. A maior produtividade somente nacional. Os vencedores, milhões de hectares. A área seria a
desta edição foi de 134,46 sacas por seus consultores e demais dados necessária para atingir a produção
hectare (sc/ha). podem ser vistos nas ilustrações total atual com o antigo, menor,
No concurso Desafio Nacional desta matéria. rendimento por hectare.
de Máxima Produtividade da Soja Além de reconhecer os produto- Leonardo Sologuren, diretor
Charles Echer

30 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 290


de marketing do Cesb, explica que res do Cesb). A dos agricultores em mente quando o produtor selecio-
a produtividade média do Brasil geral será de 65,1 sc/ha. na as tecnologias mais impactantes
é 58,9 sc/ha, número superior ao Marcelo Habe, presidente do e financeiramente viáveis aplicadas
atingido nos Estados Unidos. Nos Cesb, conta que o Desafio de Má- na área do Desafio e as aplica na
últimos 20 anos, o Brasil cresceu xima Produtividade é uma impor- sua área comercial, resultando em
55% em produtividade. Atualmente tante ferramenta de inovação e de aumento da produtividade.”
é o maior exportador, responsável transferência de tecnologia para A 15ª edição do Desafio Nacio-
por 55,2% da oferta mundial de so- o produtor. “O 'desafio' reforça o nal de Máxima Produtividade de
ja. Se a média brasileira fosse igual principal objetivo do comitê, que Soja registrou recorde de inscrições.
à média dos inscritos no concurso é contribuir para o crescimento da Lorena Moura, coordenadora téc-
do Cesb, o país alcançaria 87 sc/ha. produtividade da cultura da soja e nica do Cesb, acredita que o rigor
E caso a média continue crescendo de seu sistema produtivo, com sus- do processo de auditoria é a chave
nos índices atuais, na safra 2032/33 tentabilidade e rentabilidade. Este principal que garante a confiabilida-
atingirá 100,8 sc/ha (para produto- objetivo se materializa principal- de do concurso. C

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SOLOS

Como escolher
remineralizadores
Esses produtos ficarão no solo para sempre; isso deve ser levado muito
a sério porque modificam a estrutura física de modo irreversível

D
esde julho de 2013, passaram a ser regidas pela Lei definição, classificação, garantias e
uma lei incluiu re- 6.894/80, de modo semelhante ao demais regras para os reminerali-
mineralizadores e que ocorre com fertilizantes, corre- zadores de solo.
substratos para plan- tivos, inoculantes, estimulantes ou Esse insumo agrícola foi criado
tas entre os insumos destinados à biofertilizantes. para sanar ou mitigar a depen-
agricultura. Com a medida, a ins- Em 10 de março de 2016 foi dência brasileira na importação de
peção e a fiscalização da produção publicada, pelo Mapa, a Instrução fertilizantes. Aproximadamente
e comercialização desses produtos Normativa nº 5, que estabelece a 70% do fosfato e 90% do potássio,
Daniel Debona

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 33


utilizados no agronegócio brasilei- ciência agronômica e da forma que natureza dissolvê-los via intempe-
ro, são oriundos de outros países sinalizam? rismo. Suponhamos que os mine-
como Marrocos, Rússia e Canadá. Vamos abordar aqui, agora, rais do fonolito sejam dissolvidos
Com o início do conflito entre os remineralizadores de potássio em tempo hábil para o produtor
Rússia e Ucrânia, em 2022, os pre- que estão sendo oferecidos e co- rural, ou seja, alguns meses. Em
ços desses insumos dispararam e mercializados entre os produtores Poços de Caldas (MG), o produto
os remineralizadores tornaram-se rurais. Esses remineralizadores de intemperismo do fonolito é a
a tábua de salvação de muitos agri- são derivados, principalmente, de bauxita, minério de alumínio. Por
cultores brasileiros. Será mesmo? três rochas: fonolito, mica-xisto dedução lógica, o produtor rural,
Mas o que são os remineraliza- e siltito-glauconítico. Como já foi quando aplica o fonolito pulveri-
dores de fato? São rochas pulve- dito, essas rochas, depois de pulve- zado, está fazendo prevalecer em
rizadas que, após a dissolução de rizadas, precisam da dissolução de seu solo o hidróxido de alumínio
suas fases minerais, quando incor- seus minerais para a liberação dos -Al(OH). Alumínio é altamente aci-
poradas ao solo liberam nutrientes seus nutrientes para as plantas. dificante, tóxico e prejudica o de-
para as plantas. Algumas dessas O fonolito tem como os princi- senvolvimento das plantas.
rochas, como o calcário e a fosfo- pais minerais de potássio o micro- O mica-xisto tem como um de
rita, já têm sua classificação inde- clínio e o ortoclásio. São minerais, seus principais minerais de po-
pendente e eficiência comprovada basicamente, constituídos de tássio a moscovita. Esse mineral,
através da calagem e fosfatagem, silício, potássio e alumínio ou sili- que é popularmente conhecido
respectivamente. Então, vamos catos de alumínio e potássio. São como malacacheta, também é um
falar dos remineralizadores de po- altamente insolúveis e necessitam silicato de alumínio e potássio e é
tássio. Existe, realmente, uma efi- de alguns milhões de anos para a altamente insolúvel. A moscovita,
em sua composição, possui 20% de
alumínio e 10% de potássio. Fala-
-se, desses minerais de potássio,
em intemperismo incongruente,
onde o potássio é liberado e o alu-
mínio forma outras fases minerais
e não é disponibilizado para o solo.
Existem dúvidas a esse respeito.
Com essa proporção, nada de alu-
mínio vai para o solo? Também,
por dedução lógica, aplicar mica-
-xisto pulverizado é jogar alumínio
no solo, sendo altamente prejudi-
cial para o solo e para as lavouras.
O siltito-glauconítico, ou ver-
dete, é um tipo de ardósia macia
encontrada no Oeste de Minas
Gerais. Vastos afloramentos dessa
rocha são encontrados nos mu-
nicípios de Tiros, Matutina e São
Gotardo, mais especificamente, no
vale do Rio Abaeté. O mineral po-
tássico dessa rocha é a glauconita,
um silicato de ferro, potássio e alu-
mínio. Mais uma vez, deduz-se que
ocorrerá a liberação de alumínio
Adquirindo a prática do uso de remineralizadores, o produtor realizará uma e ferro na dissolução desse mine-
atividade benéfica para sua fazenda e de fato melhorará o perfil do solo ral. Outro detalhe é que, na região

34 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 290


Fotos Janine T. Camargo

de ocorrência do verdete, não se


percebe solo derivado do intempe-
rismo dessa rocha. Daí a facilidade
em avistar seus afloramentos. Mais
uma vez, por analogia, pergunta-
-se: como uma rocha, rica em ferro
e alumínio e que não forma solo,
pode fornecer algum benefício a
um solo?
O produtor rural deve ter muito
cuidado ao adquirir certos insu-
mos, como os remineralizadores,
devido a sua banalização em fun-
ção de fatores externos. A espe-
culação desses produtos pode
gerar prejuízos irreversíveis para
o agricultor. Os remineralizadores Sugere-se o uso de produtos derivados de Kamafugitos, Mafuritos e similares, alterados, e
não são como os solúveis fertili- não rochas moídas contendo nutrientes dentro de estruturas silicáticas dos minerais
zantes químicos NPK, KCl e MAP,
que podem ser escolhidos e tro-
cados em cada novo plantio, ano
a ano, conforme sua eficiência. Os
remineralizadores ficarão no solo deve perguntar ao vendedor como solo, a capacidade de retenção de
para sempre. Isso deve ser levado os nutrientes serão liberados pa- água (CRA) e ainda possuem os
muito a sério porque modificam ra a lavoura e se a rocha original, nutrientes adsorvidos nas mesmas
a estrutura física do solo de modo antes da pulverização, era intem- de forma solúvel. Sugere-se o uso
irreversível. perizada. Esta é muito mais inte- de produtos derivados de kamafu-
E o que o produtor deve fazer ressante para o produtor do que gitos, mafuritos e similares, altera-
diante disso? Em primeiro lugar a rocha original em si. O intempe- dos, e não rochas moídas conten-
verificar se o remineralizador se rismo está entre a rocha dura e o do nutrientes dentro de estruturas
adapta, basicamente, à Instru- solo, portanto, em maior grau de silicáticas dos minerais. Como já
ção Normativa nº 5, de março de avanço em termos de eficiência foi dito, esses nutrientes, aprisio-
2016: 9% de soma de bases com agronômica. nados nessas estruturas, não são
mínimo 1% de K2O e menos de O outro passo a ser tomado é liberados por moagem de rocha
25% de sílica livre, que é o quartzo. mandar esse produto para ser ana- e, consequentemente, não os dis-
Em segundo lugar é verificar se o lisado, quanto à solubilidade dos ponibilizam para o solo e plantas,
produto a ser adquirido tem auto- nutrientes, em laboratório especia- conforme o produtor necessita.
rização da ANM, Agência Nacional lizado. Esses laboratórios são certi- Adquirindo a prática de uso desses
de Mineração, para a sua extração ficados para tal e utilizam métodos remineralizadores, sugeridos aqui,
como fertilizante. As duas substân- de análise de solubilidade confor- o produtor realizará uma ativida-
cias listadas nessa agência para tal me especificações do Mapa. de benéfica para sua fazenda e de
fim e que se encaixam para remi- Por fim, o produtor deve cer- fato melhorará o perfil do solo,
neralizadores são apenas fosfato e tificar-se de que a rocha original como o aumento de sua atividade
rocha potássica. No rótulo do pro- que gera o produto seja intempe- biológica, a fertilidade e a promo-
duto devem conter o número do rizada, tenha grandes quantidades ção do equilíbrio nutricional para
processo e o número do alvará de de argilas do tipo 2:1, como as as plantas. C

lavra respectivo, para fertilizantes esmectitas (montmorilonitas e ver-


com data de publicação no Diário miculitas). Essas argilas promovem Janine Tavares Camargo,
Oficial da União. alterações físicas positivas para as Fernando Pereira da Rocha Thompsen,
Após essa análise, o produtor lavouras, aumentando a CTC do Rio Paranaíba Pesquisa em Mineração

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 35


TRIGO

Atenção
expansão, por vezes, tem alcançado
áreas não tradicionais e, por conse-
quência, novos produtores.
De forma paralela a este cenário,

aos detalhes
a cada ano estão sendo disponibili-
zadas novas cultivares de trigo pelos
obtentores, o que exige a necessi-
dade constante de atualização dos
produtores, técnicos e agrônomos.
Notoriamente uma cultura bastan-
Manejo específico por cultivar é chave te técnica, se quisermos manter e
para a rentabilidade em trigo ampliar o uso do trigo no Brasil com
bases sólidas, o uso correto de boas

O
práticas agrícolas específicas para
trigo tem avançado Dentre eles, podem ser destacados o cada situação de ambiente e genéti-
em área, produção e preço do cereal no mercado interna- ca utilizada se torna uma obrigação.
rendimento de grãos cional, as condições meteorológicas Muito esforço tem sido realizado
no Brasil nos últimos favoráveis e o contexto do sistema de pela pesquisa para criar tecnologias
anos devido a um conjunto de fatores. produção na região Sul do Brasil. Essa apropriadas para diferentes situa-

Embrapa Trigo

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Figura 1 - resposta de cultivares de trigo (A) BRS Reponte na safra 2013 e (B) BRS Belajoia na safra 2016 à den-
sidade de semeadura em diferentes locais do Rio Grande do Sul

A B

ções de modelos de negócio e ma- que permitam a cultivar auxiliar no são as mais utilizadas), não raras ve-
nejo, que só se justifica se aplicadas manejo integrado, principalmente zes chegando a 400 ou 500 sementes
no campo. Todas elas, independen- de doenças. Associado ao melhora- aptas/m². No entanto, em trabalhos
temente do produto a ser gerado, mento, estão as caracterizações e científicos realizados nas últimas dé-
destinam-se a buscar maior renta- os trabalhos de ajuste fitotécnico de cadas, algumas cultivares têm manti-
bilidade ao produtor, associando, cada nova cultivar, que possibilitam do o mesmo desempenho produtivo
quando possível, os maiores rendi- indicar manejo específico e rentável com densidades menores (250 se-
mentos de grãos. Os programas de para cada situação. mentes aptas/m²). Essa redução per-
melhoramento de empresas públicas Na sequência, são relatadas algu- mite economizar sementes (se con-
e privadas são fundamentais para mas oportunidades disponíveis que siderada redução mais conservadora
tornar isso possível, pois buscam proporcionam diferenciações no ma- de 300 para 250, a cada cinco hecta-
reunir um conjunto de características nejo do trigo por cultivar. res de redução é possível semear um
nas cultivares de trigo que podem • Densidade de semeadura: a hectare adicional) sem perder desem-
resultar em rendimento de grãos densidade de semeadura geralmen- penho e utilizar essas sementes para
elevado, qualidade tecnológica apro- te utilizada para o trigo é superior a ampliar a área cultivada ou, adotando
priada para diferentes finalidades e 300 sementes aptas/m² (para culti- estratégias da agricultura de precisão,
conjunto de resistências genéticas vares de ciclo precoce e médio, que direcionar as sementes que sobraram

Figura 2 - resposta da cultivar de trigo BRS Reponte ao aumento na dose de N em cobertura em diferentes am-
bientes na safra 2013 (A) e de diferentes cultivares em um mesmo ambiente (Passo Fundo, RS) na sara 2022 (B)

A B

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 37


Figura 3 - posicionamento para o uso de regulador de crescimento em algumas das cultivares de trigo da Embrapa
disponíveis para o Sul do Brasil; vermelho: exige regulador de crescimento; amarelo: pode exigir; verde: não devem
receber regulador de crescimento

BRS 327 BRS Reponte BRS Belajoia BRS TR271


Fotos Embrapa Trigo

Indicado em condições Indicado em condições


Não indicado Não indicado
favoráveis ao acamamento favoráveis ao acamamento

para aumentar a densidade em áreas manejo desse nutriente. Na Figura 2 é uso do regulador de crescimento
que necessitam de mais sementes pa- possível verificar as respostas de uma trinexapaque-etílico em trigo é uma
ra atingir o teto produtivo do talhão. mesma cultivar (BRS Reponte) em ferramenta validada para situações
Além da resposta diferenciada entre diferentes ambientes e de diferentes específicas, entregando bons resul-
cultivares, podem existir interações cultivares em um mesmo ambiente tados quando utilizada com critério.
com o ambiente de produção, épo- (Passo Fundo). Algumas cultivares exigem a aplica-
ca de semeadura, entre outros, que • Regulador de crescimento: o ção para redução de estatura, forta-
devem ser ajustadas pela assistência
técnica. A Figura 1 demonstra a possi-
bilidade de redução na densidade em Tabela 1 - reação de cultivares de trigo aos principais estresses bióticos e
algumas cultivares da Embrapa e a in- abióticos; fonte: Indicações Técnicas para Trigo e Triticale – Safra 2023;
teração com ambientes de produção Passo Fundo, 2023
diferenciados.
• Dose de nitrogênio (N): o nitrogê- Característica
nio é um dos insumos com maior po- Cultivar
GIB GE FF MM MA O VNAC VMT EP
tencial de impacto no rendimento de
grãos do trigo. O uso adequado (dose, TBIO Ponteiro MS/MR MR/R R/MR SI MR/MS MR SI MR M

momento de aplicação, fonte, entre TBIO Audaz MS/MR MR/R MR SI MR MS SI MR B/M


outros) é fundamental para maior ORS Feroz MR MR MR/R MR MR MR/R MR/MS MR B
rentabilidade da lavoura. A resposta TBIO Toruk S/MS MR/R MR MR/MS MS MR S/MS S/MS B
das cultivares pode ser diferente e in-
TBIO Trunfo MR/R MR/MS MS/MR SI MS MS MS MR M
teragir com o ambiente de produção,
onde vários fatores afetam a dinâmica BRS Belajoia MS MR/MS MR MR MR R MR/MS R B

do N. Temperatura, disponibilidade hí- BRS Reponte MR MR MR SI MS R MS MS M


drica, matéria orgânica, sequência de BRS TR271 MR/MS MS/MR MS MR/MS MR/MS MR MS/S MR M
culturas utilizadas na área são alguns BRS 327 MR MR S MR MS MR MR MR A
dos fatores que influenciam. Também,
a eficiência de cada cultivar na utili- GIB = giberela; GE = germinação na espiga; FF = ferrugem da folha; MM = mancha marrom; MA = mancha amarela; O = oídio; VNAC = vírus do
nanismo amarelo da cevada; VMT = vírus do mosaico do trigo; EP = estatura de planta (B = baixa; M = média; A = alta); R = resistente; MR =
zação do N deve ser considerada no moderadamente resistente; MS = moderadamente suscetível; S = suscetível; SI = sem informação.

38 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 290


Figura 4 - comparação de cultivares suscetíveis e
lecimento do colmo e garantia do potencial produtivo ou resistentes a algumas doenças do trigo
aumento do mesmo quando associada a condições que
promovam o rendimento de grãos, mas que aumentem Ferrugem da folha
o risco de acamamento. Entretanto, algumas cultivares
podem apresentar resultados negativos se adotado o uso
indiscriminado do produto. Além do aumento desneces-
sário de custo (produto mais aplicação), em determinadas
cultivares essa estratégia acaba por reduzir o rendimento
de grãos. Portanto, plantas que já apresentam capacidade
de tolerar acamamento em função de sua arquitetura não
devem receber aplicações. Na Figura 3 estão exemplos do
posicionamento de algumas cultivares que “exigem” (ver-
melho), “podem exigir” (amarelo) e “não devem receber”
(verde) aplicação de regulador de crescimento.
• Proteção de plantas: não existe cultivar perfeita em
se tratando de reunir resistências a todas as doenças que Oídio
afetam o trigo. Contudo, os níveis diferentes de resistência
genética disponíveis nas cultivares devem ser explorados
como ferramenta de manejo ou, no mínimo, considerados
em situações de muita suscetibilidade, onde o possível
maior número de produtos e aplicações para a proteção
das plantas deve ser compensado por maior rendimento
de grãos e/ou pagamento de bônus por algum parâmetro
especial que essa cultivar entregue. O controle químico
deve ser ajustado para cada cultivar, de acordo com a ca-
racterização disponibilizada por cada obtentor, além do
monitoramento constante da lavoura para verificação do
momento adequado para aplicação e de possíveis quebras
de resistência para determinadas doenças como ferrugem Mosaico-comum

da folha. Na Tabela 1 estão alguns exemplos da caracte-


rização para resposta a doenças das cinco cultivares com
maior disponibilidade de sementes no Rio Grande do Sul,
além das cultivares da Embrapa indicadas para a região. Na
Figura 4 esses diferenciais de resistência disponíveis atual-
mente podem ser visualizados em ensaios sem a utilização
de fungicidas.
Foram abordados, como exemplos, alguns dos aspectos
de manejo que envolvem o uso de insumos que fazem par-
te dos principais componentes dos custos de produção do
trigo (fertilizantes, agroquímicos e sementes). Vários ou-
tros ajustes específicos podem ser realizados baseados em
Suscetível Resistente
indicadores técnicos consistentes a fim de que cada produ-
tor tenha uma triticultura rentável customizada para sua
realidade de produção. Mesmo que em algumas situações Eduardo Caierão,
(quando necessário) sejam utilizadas menores quantida- João Leonardo F. Pires,
des de insumos, a consolidação e a expansão da triticultura Embrapa Trigo
nacional com essas bases podem favorecer a todos os elos
do complexo agroindustrial do trigo, pois todos ganham e
se reduz o risco das oscilações de área cultivada (e todos
os impactos disso), muito comuns em um passado não tão Caierão e Pires explicam como obter maior
rentabilidade com um manejo específico
distante. C

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 39


BIOINSETICIDAS
Ricardo Antonio Polanczyk

Conhecimento
necessário
Entender o alvo biológico permite maior sucesso
da tecnologia de aplicação de bioinseticidas

E
mbora a agricultura pação crescente da sociedade, a ses agentes de controle pode ser
intensa visando à pro- respeito dos resíduos no ambien- uma atividade empresarial sus-
dução de commodities te e nos alimentos e seus impac- tentável e lucrativa.
tenha menos de 100 tos nos serviços do ecossistema Desde então, o número de
anos, várias foram as estratégias (polinizadores e inimigos natu- empresas que produzem agentes
utilizadas neste período no contro- rais), tem incrementado o debate de controle biológico vem cres-
le de pragas agrícolas. Todas, sem sobre o manejo agrícola mais sus- cendo de forma exponencial no
exceção, utilizaram a tecnologia tentável. Brasil. Grande parte deste aumen-
mais moderna no momento, por Os agentes de controle bioló- to tem como fatores determinan-
exemplo, DDT e plantas transgê- gico de pragas, sejam macro (pa- tes o baixo custo de desenvolvi-
nicas. De fato, prometiam “livrar” rasitoides e predadores) ou micro- mento e a evolução da resistência
os agricultores das pragas rapida- -organismos (fungos, vírus, bacté- bem mais lenta em comparação
mente, com máxima eficiência e rias e nematoides) são importan- aos inseticidas convencionais e
baixo custo. tes pilares dessa sustentabilidade. plantas Bt. Entretanto, vários de-
O cenário do século 21 eviden- Embora o primeiro caso mundial safios se fazem presentes para
cia que o uso dessas, e de outras de sucesso do controle biológico que o seu sucesso seja alcançado
estratégias, precisa ser revisto e date de 1888, com a importação e consolidado, entre eles: melho-
otimizado. Apesar dos seus inú- de uma joaninha pelos EUA para ria nas formulações, avaliação da
meros benefícios, são crescentes controle de pragas em citrus, no compatibilidade com agroquími-
e constantes os relatos de resis- Brasil, somente na última década, cos e, especialmente, a tecnologia
tência das pragas aos pesticidas casos de sucesso, como a strartup e a aplicação.
e plantas Bt, o que, muitas vezes, BUG e o uso de Bt bioinseticidas Historicamente, no Brasil, o
resulta em aumento da dose e do contra Helicoverpa armigera, de- conhecimento do alvo biológico,
número de aplicações. A preocu- monstraram que o comércio des- ou seja, o inseto ou ácaro-praga a

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ser controlado, tem sido despre- plantas transgênicas no controle em várias regiões do Brasil, no se-
zado em detrimento do marketing das pragas levou à simplificação gundo semestre de 2013, embora
estruturado somente para o pro- das atividades agrícolas e, por as vendas de inseticidas tenham
duto comercializado. Insetos pos- consequência, as premissas do aumentado em cerca de 40% entre
suem uma grande variabilidade manejo integrado de pragas, es- janeiro e julho de 2013.
genética e capacidade adaptativa, pecialmente a identificação das Contudo, no início de 2013,
resultado de 300 milhões de anos pragas e seu monitoramento pesquisadores da Embrapa cole-
de evolução, que resultaram na foram relegados a um segundo taram esse inseto em várias locali-
sua sobrevivência e condução ao plano, principalmente devido ao dades do Brasil e identificaram-no
status de maior grupo conhecido seu custo e às dificuldades opera- como Helicoverpa armigera, espé-
de espécies do planeta. cionais. cie que ainda não havia sido rela-
Isto posto, o presente artigo Entretanto, essa situação “con- tada no Brasil. Posteriormente, es-
descreve a importância de conhe- fortável” não perdurou devido à tudos demonstraram que a entra-
cer o alvo da aplicação em termos complexidade e à instabilidade da desse inseto, no Brasil, ocorreu
biológicos, ecológicos e compor- do agroecossistema. Surtos de entre 2006 e 2008. A correta iden-
tamentais, de forma que estas in- Helicoverpa spp. foram relatados tificação da espécie foi primordial
formações possam ser incorpora- no Cerrado brasileiro em 2012 para viabilizar o seu controle, pois
das à tecnologia de aplicação para e, posteriormente, em outras implicou a revisão dos métodos de
maximizar o potencial de controle regiões do Brasil, com impressio- manejo até então utilizados. Essa
dos bioinseticidas. Essa estratégia nantes perdas em torno de US$ 2 praga encontra-se hoje sob contro-
é essencial para que os referidos bilhões. Esses danos foram inicial- le em todo o Brasil.
produtos possam ser considera- mente atribuídos à Helicoverpa
dos um dos pilares do manejo zea, praga muito comum na cultu- Comportamento
sustentável de pragas. ra do milho, e logo os agricultores da praga
começaram a utilizar inseticidas No posicionamento do produ-
Taxonomia: o caso da registrados para esta praga. Entre- to biológico podem ser utilizadas
Helicoverpa armigera tanto, o insucesso na adoção des- informações sobre o inseto, como,
A predominância do uso de tes produtos ficou evidente quan- por exemplo, o comportamento da
inseticidas de amplo espectro e do novos surtos foram relatados espécie praga, a migração ou mes-

Comportamento diário de Spodoptera eridania

Fonte: Guedes et al., 2006 – Revista Plantio Direto

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 41


Tabela 1 - dose-resposta para a toxina Cry1 Ac em diferentes estádios lar-
vais de H. armigera, avaliada após sete dias por bioensaio de toxicidade lagartas de quinto instar (CL50
usando o método de contaminação de superfície 1.420 ng Cry1Ac/cm² de dieta ar-
tificial) são 45 vezes menos sus-
INSTAR LC50(FL 95%) Slop ± SE b X2 c Toxicidade relativa
cetíveis que as de primeiro instar
1st 31.1 (30.5-31.8) 0.0115 ± 0.0010 0.52 1 (CL50 31 ng Cry1Ac/cm² de dieta
2nd 318.1 (312.6-323.8) 0.0018 ± 0.0009 0.51 10.21 artificial). Posteriormente, outro
3rd 535.6 (507.4-566.3) 0.1538 ± 0.0004 0.51 17.20 trabalho demonstrou que, para
4 th
602.9 (547.8-655.2) 0.0518 ± 0.0011 0.98 19.36
C. includens, essa diferença foi
ainda maior: cerca de 400 vezes.
5th 1420.7 (1330.8-1505.3) 0.0322 ± 0.0021 0.54 45.62 Em termos práticos, uma la-
a
Concentração matando 50% com limites fiduciais de 95% (FL) entre parênteses, unidades são ng de toxina Cry1 Ac por cm² de dieta garta grande (a partir do terceiro
b
Slope ± stander error
c
Chi-square instar), tem maior chance de se
Fonte: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0207789.t001
recuperar da infecção por um
entomopatógeno como Bacillus
mo a movimentação na planta. noturna de bioinseticidas pode thuringiensis (Bt), por exemplo.
Em estudo realizado por entomo- favorecer a sua eficiência, devido Para isso, seu sistema imune ini-
logistas da Universidade Federal a temperaturas e umidades mais cia um processo para reparar o
de Santa Maria, foi demonstrado amenas em comparação às con- seu intestino médio (alvo do Bt),
que o comportamento de lepidóp- dições diurnas. descartando as células mortas e
teros-praga da soja varia durante produzindo células novas. A in-
os períodos noturno e diurno. A Composição etária gestão de uma quantidade maior
lagarta falsa-medideira (Chrysodei- da praga de alimento é fundamental para
xis includens) prefere permanecer Os bioinseticidas são mais efi- esta recuperação, o que pode ser
na parte inferior da planta durante cientes contra os primeiros ins- traduzido em maior consumo fo-
o dia (períodos mais quentes) e tares larvais (1° e 2°) de lepidóp- liar em condições de campo.
durante a noite, parte das lagartas teros-praga, enquanto a partir
do terço mediano migram para a do terceiro instar a eficiência fica Exemplo de sucesso de
parte superior da planta, devido reduzida em mais de 50%. Em es- monitoramento em soja
às temperaturas mais amenas. A tudo realizado com H. armigera, Os três aspectos acima men-
lagarta da soja (Anticarsia gemma- no Laboratório de Controle Mi- cionados: taxonomia, compor-
talis), por sua vez, prefere a parte crobiano de Artrópodes Praga da tamento da praga e sua compo-
mediana da planta, com maioria FCAV/Unesp, foi demostrado que sição etária dependem direta-
dos espécimes localizados na par- mente do monitoramento para
te superior durante o dia. Mas a alcançar os seus objetivos. Embo-
espécie que apresentou diferenças ra oneroso e de difícil execução,
mais marcantes foi a Spodoptera existem exemplos onde ele pode
eridania, com a maioria das lagar- ser utilizado com retorno econô-
tas preferindo a parte inferior da mico para o produtor.
planta durante o dia, enquanto à A tese defendida em 2013
noite, a maioria delas localiza-se pelo professor Valmir Aita, da
no terço superior da planta. UFSM, concluiu que o monitora-
As lagartas da parte superior mento com malha amostral de
são um alvo mais fácil de ser atin- 50 m × 50 m para lagartas des-
gido do que as lagartas nas partes folhadoras pode ter viabilidade
mais inferiores da planta. A movi- financeira. De fato, essa amostra-
mentação das lagartas, neste caso gem demonstrou que a popula-
C. includens e S. eridania, ao longo ção mais elevada de lagartas era
Os bioinseticidas são mais eficientes
do dia, pode ser levada em conta contra os primeiros instares larvais localizada, sendo desnecessária a
para decidir o melhor momento da (1° e 2°) de lepidópteros-praga aplicação de inseticidas em área
aplicação. Ademais, a pulverização total. Dessa forma, o maior cus-

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Efeitos subletais
Fotos Ricardo Antonio Polanczyk

Spodoptera frugiperda Helicoverpa zea Spodoptera armigera

to da amostragem em malha foi sivamente brasileira, conforme a necessidade urgente de estreitar


compensado pela economia na demonstrou o artigo publicado o diálogo entre cientistas, agricul-
aplicação de inseticidas em 57%. na revista Biological Conservation tores e empresas no que se refere
Deve-se destacar que o uso de (https://doi.org/10.1016/j.bio- a pesquisas, práticas no campo e
veículos aéreos não tripulados e con.2021.109065). Neste traba- política agrícola. C

o uso de armadilhas inteligentes lho, um grupo de pesquisadores


no monitoramento das lavouras entrevistou cerca de 300 agricul-
serão instrumentos importantes tores e cientistas na Alemanha e Ricardo Antonio Polanczyk,
que tornarão essa atividade pos- Áustria. Os autores enfatizaram Unesp
sível em lavouras muito grandes
ou de difícil acesso. A evolução
dessas tecnologias nos próximos
anos proporcionará um monito-
ramento mais detalhado em ter-
mos específicos, populacionais e
comportamentais das pragas.

Considerações
finais
Os cientistas têm acumulado
informações preciosas para o
manejo de pragas agrícolas, mas,
na maioria das vezes, estas não
chegam ao produtor. É preciso
estreitar as relações entre os
diferentes setores da atividade
agrícola para que a troca de in-
formações possibilite otimizar
o uso de táticas de controle de
pragas. Deve-se ressaltar que es- Em estudo realizado com H. armigera, foi demonstrado que lagartas de
sa não é uma necessidade exclu- quinto instar são 45 vezes menos suscetíveis que as de primeiro instar

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Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 43
Mariana Martins

CAFÉ

Formas de
controle
Veja as alternativas para o manejo do bicho-mineiro em café

N
os últimos anos o bicho-
-mineiro-do-cafeeiro tem
sido uma importante pra-
ga nos cafeeiros do Cer-
rado mineiro. Esta praga é peculiar em
nosso sistema cafeeiro porque depende
muito do manejo que cada produtor
realiza na sua lavoura. Por isso, é neces-
sário adotar diversas táticas de controle
da praga. A compreensão desta como
praga no sistema cafeeiro é de extrema
importância para o conhecimento das
suas injúrias e do prejuízo que causa.
O bicho-mineiro-do-cafeeiro (Leucop-
tera coffeella) é a principal praga no Cer-
rado mineiro. A intensidade dos danos
causados pelas larvas do bicho-mineiro
está associada a uma série de fatores,
como cultivares, manejo da cultura,
clima, altitude, estação do ano, uso de
produtos fitossanitários não seletivos,
presença de plantas espontâneas, entre
outros. As condições climáticas do Cer-
rado têm participação efetiva nos preju-
ízos proporcionados por esta praga. As
fêmeas são capazes de ovipositar cerca
de 50 ovos durante a vida. Nas condi-
ções do Cerrado, o bicho-mineiro pode
chegar a 22 gerações por ano, conside-
rando que o período com temperaturas
mais altas no Cerrado pode durar sete
meses, e o ciclo de vida pode chegar a

44 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 290


Daniel Nogueira

16 dias nos períodos quentes. Em biente com o objetivo de dificultar


poucos dias, a área das lesões evolui, o desenvolvimento e o crescimento
culminando na queda das folhas e di- do bicho-mineiro. São práticas que
minuindo a produtividade. possibilitam aumento da eficiência
quando utilizadas em conjunto com
Controle os controles químico e biológico.
químico Uma das técnicas mais eficientes e
Há diferentes métodos de contro- utilizadas como controle cultural é
le para essa praga, porém o controle com a utilização de trinchas e sopra-
químico, por meio de inseticidas, é dores, visando triturar as folhas que
ainda o mais utilizado. Sendo este estão com pupas e minas. Essas fo-
Inseto adulto de bicho-mineiro
uma ferramenta de grande importân- lhas são sopradas para a entre linha
do café visto em microscópio
cia para a agricultura, necessária para do café. Posteriormente, realiza-se a
reduzir as populações de espécies- operação de trituração dessas folhas
-praga que atingem níveis de infesta- com a trincha. Essas folhas podem ou
ção capazes de causar prejuízos eco- que inseticidas como flupiradifurona não ser retornadas para a linha de ca-
nômicos. Porém, o elevado número e piriproxifen podem ser indicados fé, dependendo do manejo adotado
de aplicações inseticidas aumenta as para o manejo de bicho-mineiro em de cada produtor. Se for retornada,
chances de seleção de populações café como inseticidas seletivos, mas proporciona diversos benefícios para
resistentes, reduz a população de reduzem a atividade predatória de a lavoura. Essa técnica possui maior
inimigos naturais e, consequente- predadores importantes como o eficiência quando a infestação da
mente, acelera a perda de eficiência bicho-lixeiro (Chrysoperla externa). praga estiver elevada, visando assim
do produto químico, além dos riscos Outra informação que pesquisadores reduzir a população de insetos na
causados ao produtor e ao ambiente. verificaram é que o inseticida clorpi- área, quebrando o ciclo da praga.
Atualmente, os inseticidas neuro- rifós pode matar esses predadores e, Desse modo, o monitoramento en-
tóxicos são os mais utilizados pelos por isso, provocar aumento da popu- tra como questão-chave em todos
cafeicultores, como organofosfora- lação de bicho-mineiro na área. os tipos de controle, a fim de definir
dos, carbamatos, piretroides, neoni- qual o momento ideal de entrar com
cotinoides, espinosinas, diamidas e Controle algum tipo de intervenção e qual
biológico. cultural manejo trará mais resultados. Essa
Os organofosforados, em particu- Uma das alternativas de controle tomada de decisão só será possível
lar o clorpirifós, é um inseticida com do bicho-mineiro é o controle cultu- conhecendo o nível de infestação em
baixa eficiência para o bicho-mineiro, ral. Nele, busca-se modificar o am- que a lavoura se encontra.
baixa seletividade aos inimigos na-
turais e alta toxicidade ao ser huma-
no. Este produto deve ser evitado
Mariana Martins

principalmente em altas pressões


populacionais da praga. Em estudos
realizados pelo Grupo de Estudos em
Manejo Integrado de Pragas (GPMIP)
da Universidade Federal de Viçosa,
Campus Rio Paranaíba (UFV-CRP), só
foi possível reverter a resistência de
populações de L. coffeella acima de
dez gerações. Os pesquisadores do
grupo também salientam que o con-
trole químico com inseticidas pouco
seletivos pode ser uma faca de dois
gumes para o cafeicultor. Em seus es-
tudos, os pesquisadores observaram Folha de cafeeiro com mina de bicho-mineiro

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 45


Mariana Martins Daniel Nogueira e Samuel França

dos a farelo de trigo e distribuídos


manualmente ou com auxílio de
polvilhadores adaptados. Porém, a
liberação de ovos através do uso de
drones já é uma realidade.
Pesquisadores da Universidade
Federal de Viçosa Campus Rio Pa-
ranaíba em parceria com a Univer-
sidade Federal de Uberlândia têm
observado aumento da população
e emergência de adultos em áreas
Larva de Chysoperla externa
onde os ovos são liberados. Os pes-
Ovos de crisopídeo em folha de cafeeiro vista em microscópio quisadores também observaram
que o plantio de trigo-mourisco,
nabo-forrageiro e o plantio misto
(trigo-mourisco e nabo-forrageiro)
Outros quesitos que não devem pode ser predador, parasitoide e/ou como cobertura, aumentou a popu-
ser menosprezados: adubação equi- entomopatógeno, para que reduza lação de adultos e ovos do bicho-li-
librada, cumprindo a demanda de a população da praga na área. xeiro. Pesquisares explicam que os
cada nutriente pelo cafeeiro, visando Nos cafezais brasileiros ocorrem adultos do inseto se alimentam de
sua carga pendente e os níveis do naturalmente a presença de insetos polens e néctar de flores e o plantio
nutriente no solo. A utilização de sis- que são parasitas ou predadores do de cobertura aumentou a oferta
temas de irrigação realiza o controle bicho-mineiro. Já existem relatos desses recursos, aumentando a per-
de bicho-mineiro de uma forma indi- de insetos como vespas e formigas manência dos adultos no cafezal,
reta, pois evita que as plantas entrem predando e parasitando minas de esses, por sua vez, colocaram ovo
em déficit hídrico, o que ocasiona bicho-mineiro em áreas de culti- que darão origem a mais indivíduos
estresse e reduz o potencial de defe- vos, alguns relatos demonstram até na área. Outra pesquisa realizada
sa. Essas técnicas podem favorecer 90% de controle por esses insetos. pelo grupo GPMIP no município de
o controle do bicho-mineiro e trazer Porém, esse tipo controle biológico Rio Paranaíba, em que foram ava-
um ambiente de cultivo mais equili- natural é extremamente variável de liados diferentes níveis de liberação
brado e saudável. acordo com condições do cafezal. de C. externa em plantio de cafeeiro
Neste caso, o cafeicultor pode ado- da cultivar Catuaí IAC-144, nota-se
Controle tar práticas de manejo para favore- que todos os blocos de liberação
biológico cer o surgimento e a permanência ficaram acima do nível de controle
Atualmente, o controle biológico desses insetos benéficos no cafezal, (5%).
vem ganhando cada vez mais desta- como por exemplos a manutenção No Triângulo Mineiro e Alto Pa-
que, o qual traz diversos benefícios, de fragmentos de mata nativa pró- ranaíba, a Associação Mineira dos
como a redução nos gastos com ximos à área de cultivo e, também, Produtores de Algodão (Amipa)
agroquímicos e eficiência no controle a adoção do plantio de plantas de comercializa ovos de bicho-lixeiro
dos insetos que causam prejuízos, cobertura. para aplicação. Nos últimos estudos
além de serem inócuos à saúde hu- Outra opção de controle bioló- realizados, esses ovos apresentam
mana e ao meio ambiente. Os cafe- gico disponível para cafeicultores emergência superior a 80%. Geral-
zais possuem diversas características é a liberação de crisopídeos (Chry- mente é recomendada a liberação
que os tornam complexo quanto ao soperla externa). Conhecido como de cerca de 1.500 ovos por hectare.
manejo pragas. Sob a perspectiva bicho-lixeiro, esse inseto passa pe- Cabe sempre a ressalva de que o
do uso do controle biológico, o cafei- las fases de ovo, larva, pupa e adul- sucesso da liberação de inimigos
cultor deve ter em mente que o uso tos, mas apenas na fase larval que naturais, como crisopídeo, está inti-
desta tecnologia consiste em adicio- ele preda as lagartas e pupas de mamente ligado ao controle quími-
nar ou beneficiar um organismo ini- bicho-mineiro. As liberações podem co de pragas, pois muitos insetici-
migo natural do bicho-mineiro, que ser realizadas com ovos mistura- das podem causar efeitos nocivos a

46 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 290


esses insetos também. Neste caso, bolismo dos insetos. café, por exemplo, é uma cultivar
o cafeicultor que optar pela libera- Além disso, algumas plantas resistente ao bicho-mineiro e apre-
ção de insetos, ou até mesmo se também podem produzir proteínas senta boa resistência à ferrugem. A
beneficiar do controle biológico na- específicas que são tóxicas para de- cultivar teve origem na hibridação,
tural, deve ponderar entre o uso de terminados tipos de insetos. Essas realizada no IAC, entre Coffea ra-
inseticidas mais seletivos ou menos proteínas, conhecidas como prote- cemosa e C. arabica (cultivar Blue
seletivos. A exemplo é o grupo de ínas inseticidas, são produzidas na- Mountain) e retrocruzada com
inseticidas à base de clorpirifós, que turalmente pela planta ou podem Mundo Novo. Outra tecnologia
tem alto impacto sobre inimigos na- ser introduzidas através da enge- que está se tornando realidade é o
turais do bicho-mineiro. nharia genética. Outro mecanismo cafeeiro transgênico. Além disso, o
de resistência de plantas a insetos é Instituto Agronômico da Secretaria
Uso de plantas a produção de compostos voláteis de Agricultura de São Paulo (IAC)
resistentes que atraem insetos predadores ou conseguiu uma patente para um ge-
A resistência de plantas a insetos parasitoides que se alimentam dos ne de plantas transgênicas de café.
é um mecanismo de defesa natural insetos herbívoros. Essa estratégia é O uso desta tecnologia beneficia o
que algumas plantas desenvolve- conhecida como defesa induzida e produtor rural quanto à diminuição
ram para se proteger de insetos pode ser uma forma eficaz de con- produtos químicos geralmente apli-
herbívoros. Esse mecanismo envol- trole de pragas no cafeeiro. cados para o controle dessas pra-
ve uma série de processos bioquí- A resistência de plantas a insetos gas. Pesquisadores salientam que a
micos que ocorrem na planta e que é um fenômeno complexo que en- nova cultivar favorece o desenvol-
podem torná-la menos atraente ou volve diversos mecanismos de de- vimento rápido das lavoura, assim
até mesmo tóxica para os insetos. fesa. Esses mecanismos podem ser desenvolvendo plantas GM resis-
Uma das formas mais comuns explorados para o desenvolvimento tentes a pragas, visando a obtenção
de resistência de plantas a insetos de cultivares mais resistentes a in- de grãos de café que atendam às
é através da produção de compos- setos, reduzindo a necessidade de expectativas do mercado. C

tos secundários, como alcaloides, uso de inseticidas e contribuindo


terpenoides e fenóis. Esses com- para o cafeicultor um cultivo seguro Flávio Lemes Fernandes,
postos são produzidos pela planta e produtivo. Adalberto Filipe Macedo,
em resposta ao ataque de insetos e O cafeeiro produz diversas subs- Daniel Costa Nogueira,
podem atuar como repelentes ou tâncias para resistência a pragas, a Mariana Martins Fernandes Oliveira,
como toxinas que afetam o meta- cultivar Siriema da Fundação Pro- Universidade Federal de Viçosa

Mariana Martins
Figura 1 - percentual de folhas minadas ativas de L. coffe-
ella dentro dos blocos de liberação de Chrysoperla externa
no Alto Paranaíba, MG, 2019. *NC = nível de controle de
L. coffeella no Cerrado mineiro

O bicho-mineiro é peculiar em nosso sistema cafeeiro porque


depende muito do manejo que cada produtor realiza na sua lavoura

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 47


Coluna Agronegócios

Soja e abelhas: mais produtividade, menos emissões

A
soja é a quarta cultura mais ser polinizadas por visitantes florais até seis tividade da soja? O ovário da soja normal-
cultivada em todo o mundo, horas após a abertura da flor. mente apresenta de três a quatro óvulos,
depois de milho, arroz e trigo, As flores usam estratégias para atrair podendo atingir até seis óvulos. As observa-
contribuindo com 25% do óleo comes- abelhas como forma, tamanho, cor e subs- ções de campo mostram que o número mé-
tível e 65% da proteína para formulação tâncias voláteis. As abelhas atraídas são dio de sementes/vagem é de 2,5, indicando
de rações para consumo animal. Desde a reforçadas para continuar visitando flores que nem todos os óvulos são fecundados. A
década de 1970, a produção de soja cres- de uma determinada espécie de planta, a presença de abelhas aumenta a deposição
ceu mais rápido do que qualquer uma das fim de obter recursos (recompensas) pa- de pólen no estigma e a formação dos tubos
principais culturas, prevendo-se produção ra sua sobrevivência, como pólen, néctar, polínicos, elevando a probabilidade de fer-
próxima a 400 milhões de toneladas (Mt) resinas, ceras, lipídios e óleos essenciais. tilização dos óvulos. Nas lavouras próximas
nesta safra. O Brasil consolida-se como o Os cientistas demonstraram evidências de a apiários foi observado maior número de
maior produtor mundial, com colheita es- que a soja possui características de flores vagens com três e quatro grãos e menor nú-
timada de 159,8 Mt – 40% da soja produ- que, ativamente, atraem polinizadores, mero de vagens chochas ou com um grão.
zida no mundo - ocupando 43,8 milhões como (a) guias de néctar nas flores, para Em geral, os estudos realizados em di-
de hectares. orientação do polinizador; (b) emissões de ferentes países mostram um aumento de
A polinização é um dos serviços ecos- substâncias orgânicas voláteis sinalizado- produtividade da soja entre 15%-20%, na
sistêmicos mais importantes, permitindo a ras, que atraem abelhas; (c) um nectário presença de população adequada de abe-
perpetuação das espécies vegetais, garan- funcional que produz néctar com concen- lhas. Os experimentos da Embrapa mostra-
tindo o fluxo e a troca de material genético trações substanciais de açúcares solúveis. ram ganhos médios de 13%. Esse incremen-
entre plantas. Estima-se que existam 300 O néctar é a principal recompensa to de produtividade é uma renda líquida
mil espécies diferentes de plantas com flo- floral da soja para as abelhas, e o pico de para o produtor, uma vez que não requer
res, entre elas 1,2 mil são cultivadas para produção de néctar ocorre por volta do qualquer alteração no sistema de produção,
fornecer alimentos ou outros produtos e meio-dia, em quantidade apreciável e com como aumento de área, sendo utilizada a
serviços. Cerca de 80% das plantas com alta concentração de açúcares. Como na mesma quantidade de sementes, adubo,
flores precisam de algum tipo de poliniza- natureza todos os eventos têm uma fun- pesticida ou óleo diesel, ou seja, os custos
ção biótica, para o que contam com deze- ção, entende-se que, se uma planta de permanecem os mesmos. Considerando a
nas de milhares de espécies de artrópodes soja está investindo energia para atrair e produtividade média da safra 2022/23, e
polinizadores. fidelizar polinizadores, existe uma razão a cotação atual da soja, isso significa uma
Aproximadamente um terço da pro- para tanto, e essa razão é o aumento da renda líquida adicional de R$ 1.000,00 por
dução global de alimentos depende de produção de sementes pelas plantas. hectare. O que equivale a 25% do custo de
polinizadores. Nos EUA, US$ 5 bilhões são Nesse contexto, uma integração har- produção estimado para a próxima safra.
anualmente adicionados ao valor da pro- mônica de abelhas silvestres ou maneja- As emissões de gases de efeito estufa
dução agrícola, devido à polinização por das com a cultura da soja é primordial, são calculadas ao longo do ciclo da soja,
abelhas. Em termos globais, esse valor as- pois, com a expansão contínua de área, em sua maioria decorrentes dos insumos
cende a mais de US$ 200 bilhões. as lavouras de soja estão se aproximando utilizados. Ao colher mais, usando a mes-
dos repositórios de abelhas nativas ou dos ma quantidade de insumos, sem aumen-
Soja apiários fixos. Com a descoberta da soja tar a área utilizada, o produtor de soja está
A soja é descrita nos textos clássicos como um excelente pasto apícola, os api- diminuindo a quantidade de emissões por
como uma espécie autógama, autopoli- cultores estão posicionando seus apiários tonelada de soja produzida. Esse é um fato
nizável e cleistogâmica, portanto, quando migratórios nas proximidades de áreas de muito importante para compor a imagem
as flores se abrem, a maioria delas teria cultivo de soja, para permitir que as abe- de sustentabilidade da agricultura brasilei-
sido previamente autopolinizada. Ainda lhas forrageiem na planta. De sua parte, ra junto aos consumidores dos países que
nos anos 1980, pesquisadores americanos os sojicultores estão mostrando interesse importam nossos produtos.
demonstram que esta condição é preva- crescente na colocação de apiários próxi- A Embrapa publicou dois livros sobre o
lente em climas mais frios, onde as flores mos às suas lavouras, pelo incremento de tema, um denominado Soja e abelhas, e o
maduras permanecem parcialmente ou to- produtividade observado empiricamente outro Plantas que os polinizadores gostam,
talmente fechadas com baixa ou nenhuma na cultura. que podem ser adquiridos através do e-mail
produção de néctar. Estudos em ambien- livraria.aeesoja@gmail.com. C

tes com temperaturas mais elevadas – à Mais renda,


semelhança do que ocorre com o Brasil menos emissões Décio Luiz Gazzoni,
- indicaram que as flores de soja podem Por que as abelhas aumentam a produ- Embrapa Soja

48 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 290


Coluna Mercado Agrícola

Brasil precisa dobrar a capacidade de embarques nos portos

S
omando soja e milho, teremos 175 milhões de toneladas mais crítico, a perda beirou os R$ 30 por saca. No mesmo momen-
(t) a serem embarcadas pelos portos. Só que a capacida- to, os prêmios americanos estavam em 80 a 90 pontos acima de
de máxima de embarque mensal deles oscila entre 17 e Chicago; ou US$ 31 por tonelada a mais nos portos americanos.
19 milhões de t. E isso quando tudo funciona de maneira ideal, O Brasil tem a melhor soja do mundo, com 44% a 48% de
sem chuvas. proteína. A soja americana tem 42% de proteína. A bolsa nego-
A estrutura está estrangulada. Isso faz com que navios fiquem cia com referencial de soja de 42% de proteína. O marcador de
ao largo por muito tempo até atracar e carregar. Por isso, os prê- qualidade é bom. Mas o país perde porque os navios têm que
mios - valores que formam o preço final que chega aos produtores ficar parados à espera do momento de atracar. Cada dia de um
- normalmente caem a valores negativos. Neste ano, o pico de bai- navio parado custa ao exportador de US$ 25 mil a US$ 50 mil.
xa chegou aos 230 pontos negativos nos meses de março e abril, Houve casos de navios parados por mais de 40 dias. Assim, foi
quando a soja estava em forte movimento e centenas de navios grande o desconto pago pelos produtores em razão de proble-
parados ao largo para atracar e carregar. A pressão de baixa nos mas de infraestrutura. O mesmo ocorre com milho e farelo.
prêmios naquele momento tirou do produtor US$ 0,23 por bushel. Bilhões de dólares desperdiçados!
Isso descontava um potencial de US$ 85 por tonelada de soja, re- Há necessidade de uma campanha para melhorar os portos.
presentando US$ 5 a menos por saca ao produtor. No momento Dobrar sua capacidade em poucos anos seria o ideal.

Milho Feijão
A safra está em colheita. A safrinha tem potencial de 100 O feijão da segunda safra está todo colhido. Houve perdas
milhões de toneladas (t) também está sendo colhida. Os em- em algumas áreas.
barques devem aumentar de agosto em diante. Até junho, As lavouras irrigadas devem manter os números do ano pas-
contabilizou-se pouco mais de 11 milhões de t embarcadas. sado. Assim, a safra total oscilará em torno de três milhões de t.
O número deve chegar ao final de 2023 em 50, 55 milhões Será inferior à demanda (3,3 milhões de t). Por isso, no segundo
de t. Esperam-se recorde histórico e ascensão no topo do semestre, espera-se mercado firme.
ranking dos exportadores mundiais.

Soja Arroz
Os embarques do ano totalizaram 53,4 milhões de t até a A demanda interna flui lentamente. As indústrias apostam no
primeira semana de junho. Há chance de chegar ao final do apoio do bolsa família para algum aumento de demanda. O arroz
ano com 95 milhões de t ou mais. O complexo soja, que tam- em casca gira lentamente. A indústria compra apenas o que pro-
bém envolve o farelo, faturou US$ 60 bilhões ano passado. cessará imediatamente. O ano está sendo de exportações, meio
Neste ano pode chegar aos US$ 70 bilhões. de os vendedores obterem liquidez.

Curtas e boas
TRIGO - O mercado reagiu em razão EUA - Produtores plantaram uma gran- brasileira. E carregar uns dez milhões de t
de problemas na safra dos EUA e riscos de safra, com cerca de 37,2 milhões de de milho brasileiro. Segue como o maior
de redução da oferta no Leste europeu. hectares de milho; e soja na faixa dos 35,4 importador mundial de alimentos.
Há chance de não renovação do corre- milhões. Mas sofreram já nas primeiras ARGENTINA - Sofreu muito. A safra está
dor de grãos livre no Mar Negro. Acordo semanas, enfrentando seca e calor. Pode na reta final da colheita da soja. Há ainda
que vence em 18 de julho. A produção haver menor potencial produtivo das la- milho para ser colhido. A soja rendeu algo
na Ucrânia é menor. Rússia destina vouras, com colheitas previstas em 387,8 perto de 21 milhões de t, frente ao poten-
grande parte das exportações para a milhões de t de milho e 122,7 milhões de t cial de 48 milhões de t. A safra do milho foi
China. Assim, o mercado internacional de soja. No final de junho as apostas mos- apontada na faixa de 36 milhões de t, frente
terá menos oferta. A safra Brasileira travam números bem menores. Fôlego ao potencial de 50 milhões de t. A seca foi
está nos campos, com área próxima à positivo para Chicago. muito dura e os investimentos dos produ-
do ano passado e potencial de colher CHINA - Segue num grande ano para tores têm sido cada vez menores. C

dez milhões de t. Assim, abaixo da de- compras. Tem levado das mãos para a bo-
manda. Haverá exportação a partir de ca nos momentos mais vantajosos. Assim, Vlamir Brandalizze
outubro; e importação no final da en- paga menos neste ano que nos anteriores. Brandalizze Consulting
tressafra. Deve levar mais de 65 milhões de t de soja Instagram: @brandalizzeconsulting

Cultivar Grandes Culturas 290 • revistacultivar.com.br • 49


Coluna ANPII

E o repositório de micro-organismos benéficos é inesgotável

A
microbiologia do solo é es- Aí surgiram os primeiros estudos te para as plantas, mas como algo vi-
tudada de forma científica com os fixadores em gramíneas, com vo, dinâmico, que necessita de muita
desde o século 19. Passo a a classificação da nova espécie de administração para se manter saudá-
passo, com a evolução de novas tec- Azospirillum, o A. brasilense. A partir vel, sustentável e produtivo ao longo
nologias, os conhecimentos foram se daí, o caminho se abriu para novas dos anos.
acumulando e, com efeito sinérgico, pesquisas, sendo que se avolumaram E este movimento não vai parar
crescendo seu espectro, não só no em trigo, milho e arroz. E em 2009 por aqui. Ainda há uma longa, talvez
campo do conhecimento, mas na ge- foi registrado o primeiro inoculante infinita, estrada a ser percorrida. A
ração de tecnologias para aumentar a para estas culturas, com a fixação de prospecção de novos micro-organis-
produtividade agrícola. pequenas, mas expressivas quanti- mos, sua caracterização genética e
O uso de micro-organismos para o dades de nitrogênio e com uma forte a identificação de suas funções se
controle biológico teve como primeiro ação na produção de hormônios que tornaram muito mais fáceis e rápidas
e bem-sucedido desenvolvimento, a incrementam o desenvolvimento das com o uso de ferramentas genéticas,
criação dos inoculantes para legumi- plantas, a partir de um maior cresci- que permitem uma avaliação mais
nosas, no final do século 19, semen- mento radicular. rápida e mais segura, otimizando o
te do que viria a ser o caso de maior Isto abriu uma enorme possibili- tempo e os recursos financeiros das
sucesso no uso da microbiologia do dade de novas prospecções na mi- instituições de pesquisa.
solo como uma tecnologia microbio- crobiota dos solos, em diversas regi- Com o uso destas tecnologias, te-
lógica utilizada em larga escala na ões geográficas, e foram descobertos mos uma rápida descoberta de mais
agricultura. novos gêneros, espécies e cepas, com material biológico para ser testado
Hoje, o uso da fixação biológica do funcionalidades de grande utilidade em todas as fases até chegar à sua
nitrogênio é a fonte de nitrogênio mais para as culturas. disponibilização para as indústrias de
utilizada na cultura da soja, trazendo A partir daí, tendo em vista o estí- inoculantes, que devem se capacitar
consideráveis benefícios para o agri- mulo ao enraizamento, ao crescimen- a desenvolver produtos adequados às
cultor em termos de produtividade e to mais rápido das plantas, a uma mais necessidades da agricultura brasileira.
para a sociedade como um todo, pela intensa reciclagem de nutrientes e a A ANPII, hoje contando com 14 em-
redução da emissão de gases efeito outros fatores, inclusive o controle presas associadas, promove diversas
estufa, contribuindo para mitigar a concomitante de pragas e doenças, atividades divulgando os novos conhe-
mudança climática. novos inoculantes estão entrando no cimentos e auxiliando as associadas a
Até a década de 70 do século pas- mercado agrícola, tornando o uso de trilharem, cada vez mais, o caminho
sado, usava-se a palavra inoculante bioinsumos já não mais uma ferra- da modernidade e inovação, ofere-
apenas para os micro-organismos cha- menta alternativa, mas, sim, em mui- cendo bons produtos aos agricultores
mados diazotróficos, isto é, os fixado- tos casos sendo a primeira opção para brasileiros. C

res de nitrogênio, sendo que o grupo o agricultor.


dos rizóbios, que se associavam com Isto está sendo uma tremenda
leguminosas, eram quase que como reversão na agricultura, com o solo Solon Araujo,
sinônimos de inoculante. sendo visto não apenas como supor- Diretor executivo da ANPII

Hoje, o uso da fixação biológica do


nitrogênio é a fonte de nitrogênio
mais utilizada na cultura da soja,
trazendo consideráveis benefícios
para o agricultor em termos de
produtividade e para a sociedade
como um todo

50 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 290


Doenças • revistacultivar.com.br

A ameaça
Altas pressões do
fungo causador
da mancha-alvo
vêm ocorrendo ano
após ano na soja;
e aumentando no
algodão

A
cultura da soja é afe-
tada por várias do-
enças importantes,
classificadas como
foliares, da haste ou radiculares.
Entre as foliares se destacam a
ferrugem-asiática, as manchas
(alvo, cercosporiose e septo-
riose), a antracnose e o oídio.
Fundação MT

A ocorrência, intensidade e im-


portância de cada uma delas
está relacionada à presença do
inóculo, às características varie-
tais e às condições de ambiente
e cultivo. A ferrugem-asiática e
a mancha-alvo destacam-se pela
ampla abrangência geográfica,
pelo potencial de dano elevado
e pela crescente ocorrência de
resistência de seus agentes aos
fungicidas.

03
Doenças • revistacultivar.com.br

tância econômica, como o algo-


Figura 1 - Redução média de produtividade em função de diferentes níveis
de severidade de mancha-alvo em 74 variedades de soja nas regiões Sul,
dão; e em outras utilizadas como
Médio Norte e Oeste de Mato Grosso na safra 2021/22. Fonte: Proteplan coberturas, como, por exemplo,
as crotalárias (C. spectabilis, C.
breviflora e C. ochroleuca) e o
feijão guandu, assim como em
diversas espécies de plantas da-
ninhas (Figura 2). Isso significa
que o inimigo estará lá na área de
cultivo, aguardando pelo novo ci-
clo da soja, o que lhe proporciona
uma vantagem logística enorme,
especialmente a da infecção pre-
coce, que se inicia tão logo fina-
liza a proteção pelo tratamento
de sementes. Fica evidente que a
proteção da parte aérea da planta
deve começar já na fase vegeta-
tiva da soja.
Ainda que a ferrugem-asiática riam em função da severidade da Os sintomas mais comuns da
seja o pesadelo de muitos sojicul- doença, que está muito relacionada mancha-alvo são caracterizados
tores, é importante destacar que à suscetibilidade das cultivares de por manchas no limbo foliar, cau-
outras doenças podem reduzir soja. Na avaliação de 72 delas, nas sadas por lesões com halo ama-
consideravelmente a produtivida- regiões Sul, Médio Norte e Oeste relado, evoluindo para grandes
de da cultura da soja. A mancha- de Mato Grosso, na safra 2021/22, manchas circulares, de coloração
-alvo (causada por Corynespora a redução na produtividade da soja, castanha. Nas cultivares suscetí-
cassiicola) é um exemplo. exclusivamente pela mancha-alvo, veis, as manchas podem ser ob-
variou de 9 a 21% (Figura 1). Na servadas também em pecíolos,
Mancha-alvo mesma safra 2021/22, nos ensaios hastes e vagens. Ou seja, a do-
Acredite, mas houve um perí- cooperativos, três a quatro aplica- ença reduz drasticamente a área
odo, há uns 15, 20 anos, em que ções de fungicidas para controle da fotossintética da planta e causa
havia dúvidas sobre a capacidade mancha-alvo geraram diferenças de queda prematura das folhas.
dessa doença causar perdas econô- até 1.047 kg/ha (MS), 1.339 kg/ha O que mais o tipo de sintoma
micas na soja. Hoje, a mancha-alvo (GO) e 1.362 kg/ha (MT). Os dados da mancha-alvo nos diz? Que a ar-
é a principal doença da cultura no falam por si. ma principal do fungo para atacar
Centro-Oeste e em parte do Sudes- O fungo C. cassiicola sobrevive a soja são suas toxinas, liberadas
te e do Sul. em sementes infectadas, restos nas folhas após o processo de in-
Os danos pela mancha-alvo va- culturais de espécies de impor- fecção. Fungicida algum age sobre
Proteplan

Figura 2 - Sintomatologia da mancha-alvo em culturas de interesse econômico (soja


e algodão), cobertura (Crotalaria spectabilis) e planta daninha (corda-de-viola)

04
Doenças • revistacultivar.com.br

Divulgação
as toxinas dos patógenos, então a
proteção tem que ocorrer antes,
evitando a infecção ou o cresci-
mento inicial do fungo no interior
dos tecidos. Novamente, isso nos
remete à necessidade de um ma-
nejo preventivo, especialmente
nos genótipos mais suscetíveis,
nas áreas de monocultura de soja
ou de sucessão com algodão ou
crotalária.
O manejo efetivo da mancha-
-alvo envolve pelo menos quatro
medidas integradas, entre elas
a utilização de cultivares resis-
tentes ou tolerantes, o uso de
sementes sadias e tratadas com
fungicidas, a rotação ou suces-
são de culturas com espécies de
gramíneas e a aplicação de fun-
gicidas na parte aérea. Este úl-
timo está sob ameaça em razão
das constantes mutações sofri-
das pelos fungos, que lhes con-
ferem menor sensibilidade aos
produtos utilizados no controle.
Na prática, isso resulta em falhas
de controle no campo, aumento
do custo de produção e menor
rendimento de grãos.
A menor sensibilidade de
Corynespora aos fungicidas é al-
go bastante presente no Brasil,
sendo determinante a escolha
e a combinação dos fungicidas
a serem utilizados. Em um pri-
meiro momento, verificou-se
resistência aos fungicidas do
grupo dos benzimidazóis e es-
trobilurinas, que deixaram de
ser efetivos no controle da do-
ença. Posteriormente, foram ob-
servadas mutações que afetam
parcialmente a performance das
carboxamidas. Contudo, a partir
da safra 2028/19, o desempenho
de várias combinações de ativos
(Figura 3) vem apresentando re-
dução linear na sua eficácia so-
bre a mancha-alvo, o que ame-
aça a sustentabilidade tanto da

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Doenças • revistacultivar.com.br

efeito do fenômeno La Niña, as


Figura 3 - Desempenho médio de controle de diferentes misturas de
ingredientes ativos fungicidas sobre mancha-alvo nas últimas 12 safras
chuvas se concentraram nas regi-
nos ensaios cooperativos sumarizados pela Embrapa ões Centro-Oeste e Norte, e assim
também a doença (Figura 5). Na
safra 2022/23, já numa migração
para El Niño, houve grande concen-
tração nas regiões Sul e Sudeste. A
expectativa para o verão 2023/24
é se aproximar de cenários ante-
riores, como ocorreu em 2018/19,
último ano sob efeito do El Niño no
Sul, quando a ferrugem atingiu sua
severidade mais elevada, até 80%.
É prudente estar preparado, safras
assim são recorde de produtivida-
de ou de perdas.
Relaxar no manejo da ferru-
gem é atitude de alto risco. Na
safra 2022/23, no Sul do Brasil,
soja como do algodão. este impacto, o número de apli- aplicações de fungicida em nú-
Nesse contexto, é de suma im- cações de fungicidas foi recorde
portância adotar estratégias de nos anos 2000, chegando a sete

Roberto Castro
manejo para prolongar a vida útil intervenções por safra e dando
das moléculas de ação sítio-es- início ao processo de resistência
pecífica, tendo em vista a baixa aos fungicidas.
diversidade de ingredientes ati- Com a implantação do vazio
vos eficientes para este alvo no sanitário e a definição de calen-
mercado. Urge, então, a adoção dários de semeadura, associados
dos fungicidas de ação multissítio, a novas e modernas combinações
como o mancozebe, o clorotalonil de fungicida, em programas de
e os cúpricos, que não só reduzem manejo mais preventivos, foi fun-
o risco de aumento da resistência damental a estabilização da ferru-
dos fungos, como proporcionam gem e seus danos. Cultivares mais
eficácia de controle mais estável, precoces e com resistência par-
benefícios que se traduzem em in- cial à doença e o conhecimento
cremento de produtividade. do patógeno também trouxeram
a sua contribuição.
Ferrugem-asiática Atualmente, a ferrugem da so-
A ferrugem-asiática, causada ja é uma doença bem manejada.
pelo fungo Phakopsora pachyrhi- Mas segue importante e não deve
zi, espalhou-se no Brasil no início ser subestimada. Os dados gera-
dos anos 2000. Rapidamente, tor- dos pelo Consórcio Antiferrugem
nou-se a doença mais destrutiva nas últimas três safras mostram
à soja (Figura 4). Nos primeiros diferenças - entre com e sem ma-
anos de convivência com a doen- nejo adequado da doença - pró-
ça, enquanto dois cultivos suces- ximas a uma tonelada de grãos
sivos de soja eram permitidos, e o por hectare. Convenhamos, isso
vazio sanitário ainda não era rea- não é pouco.
lidade, a redução na produtivida- A distribuição da ferrugem no
de de grãos pela ferrugem chegou Brasil segue fielmente os padrões
ao nível de 80%. E para minimizar climáticos. No verão 2021/22, sob

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Doenças • revistacultivar.com.br
Fotos Divulgação

Figura 4 - Importância do controle químico com fungicidas (quatro aplicações, à esquerda) no manejo da ferrugem (testemunha sem fungicida à direita)

mero muito acima da média não inadequado. sultado desse processo, a eficácia
foram suficientes para um bom Apesar da menor prevalência média de alguns tipos de fungi-
controle da ferrugem, especial- da ferrugem nas últimas safras, cidas vem diminuindo. No perío-
mente devido à falta de atenção as mutações genéticas para re- do entre 2018 e 2022, de acordo
às condições favoráveis à doen- sistência aos fungicidas continu- com o os resultados do Consórcio
ça e a um manejo inicial tardio e aram se processando. Como re- Antiferrugem, ela variou de 68%
para 51%, ou de 73% para 59%
(Figura 6). Isso significa que, se
repetidos o mesmo manejo e os
produtos, os resultados atuais de
controle serão inferiores.
A eficácia do controle quími-
co da ferrugem é especialmente
menor no final do ciclo da cultu-
ra. Um mesmo tipo de fungicida,
aplicado em diferentes momen-
tos, especialmente a partir do
estágio R5.1 (Figura 7), apresen-
ta resultados inferiores. Contri-
buem para isso a maior intensi-
dade da doença, o caráter mais
curativo das aplicações, a maior
frequência de mutantes resis-
tentes na população do fungo, o
menor número de ingredientes
ativos seletivos e eficazes e o es-
tágio fisiológico da planta. Ficar
refém de aplicações emergenciais
à ferrugem é atitude de alto risco.
No jogo contra a ferrugem, a
vantagem deve ser estabelecida
no primeiro tempo, ou seja, nas
aplicações iniciais. É fundamen-
tal começar com os melhores
fungicidas, já aplicados a partir
do pré-fechamento das entre li-
A redução na produtividade da soja, exclusivamente pela mancha-alvo, variou de 9 a 21% nhas, usualmente V7-V8. Na safra

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Figura 5 - Distribuição da ferrugem-asiática nas safras 2021/22 (esquerda), 2022/23 (centro) e 2018/19 (direita),
última safra sob efeito do fenômeno El Niño no Sul. Consórcio Antiferrugem

2022-23, em experimento onde difenoconazol. Em 2022/23, na ferrugem e cercosporiose.


houve a presença de ferrugem e presença da ferrugem, a mesma Quando possível, um fungici-
manchas foliares em severidade aplicação extra agregou 11,8 sc/ da com efeito multissítio deve
superior a 50%, essa aplicação ha, especialmente quando com- participar de todos os tratamen-
correspondeu a incrementos en- plementada com morfolina. Não tos a partir de V7-V8, especial-
tre 9,7 e 17 sc/ha, conforme o abra mão de uma combinação mente em situações de ambien-
fungicida aplicado. Na aplicação segura, com ativos eficazes para te ou época de semeadura mais
seguinte, em R2-R3, a variação
foi de 2,1 a 12 sc/ha. A recomen-
Figura 6 - Eficácia média de controle da ferrugem-asiática por diferentes
dação é começar cedo e com as
tipos de fungicidas, de 2018 a 2022. Consórcio Antiferrugem
melhores ferramentas.
Um bom início oportuniza ter-
minar bem, desde que o manejo
sequencial também seja de quali-
dade, considerando as condições
ambientais e as necessidades da
cultura em cada safra. Na safra
2021/22, com predominância de
manchas foliares (cercosporiose),
uma quarta aplicação de fungi-
cida em R5.4 agregou 6,7 sc/ha
sobre o manejo padrão com três
tratamentos (V7, R3 e R5.1), com
destaque à complementação com

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favoráveis às doenças. À medida Tabela 1 - Eficácia de controle da ferrugem-asiática, com ou sem o


que a época de semeadura da multissítio mancozebe, em diferentes épocas de semeadura da soja.
soja é retardada, ocorre maior Passo Fundo, 2017
exposição à ferrugem, as aplica-
ções são mais curativas e a fre-
Época de semeadura e controle da ferrugem (%)
quência de indivíduos resisten- Fungicida
4/10 16/10
tes é maior. Consequentemente, 27/10 6/11 16/11 29/11 13/12

a eficácia de controle diminui Estrob. + Carbox. 81,1 72,4 66,3 47,6 48,6 43,7 38,4
(Tabela 1). A presença conjunta Estrob. + Carbox. + Multissítio 87,4 85,2 80,3 81,8 81,1 77,0 75,8
de um bom fungicida multissítio Estrob. + Triazol 88,1 77,8 74,4 60,2 63,5 50,6 52,9
proporciona maior estabilidade
Estrob. + Triazol + Multissítio 88,8 86,3 84,3 83,4 83,5 80,5 79,1
e segurança no manejo das do-
enças.
Controle efetivo da ferrugem

Roberto Castro
envolve várias estratégias. Vazio
sanitário, semeaduras no início
da safra e cultivares mais preco-
ces e com resistência parcial são
estratégias muito importantes e
que vêm antes no planejamento
da lavoura. A utilização de fun-
gicidas é fundamental e a única
disponível após a implantação
da cultura. Por isso, a indústria
investe pesado em pesquisa e
desenvolvimento de novos in-
gredientes ativos eficazes à fer-
rugem. Contudo, essa não é uma
tarefa fácil e rápida. Então com-
binar ingredientes ativos já exis-
tentes em mesclas mais robustas
e diferentes tem sido a estratégia
para manter o controle químico
seguro a curto e médio prazos.
Nossa parte é utilizá-los correta-
mente para que possam expres-
sar todo seu potencial, minimizar
os riscos de resistência, manter
a sustentabilidade da soja e pro-
teger o ambiente.
Tanto no caso da ferrugem
como da mancha-alvo é impor-
tante considerar a regionalidade
da informação de eficácia dos
fungicidas, pois existem popu-
lações com níveis de resistência
variáveis. Um mesmo produto
poderá apresentar resultados
diferentes conforme o local on-
de é aplicado. Nenhum fungi- A ferrugem-asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, surgiu no Brasil no
cida isoladamente será seguro início dos anos 2000 e, rapidamente, se tornou a doença mais destrutiva à soja

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Doenças • revistacultivar.com.br

o suficiente. Prefira sempre pro-


Figura 7 - Eficácia média de controle da ferrugem-asiática por fungicidas,
gramas de aplicação que incluam, aplicados em estádios diferentes da cultura da soja. Passo Fundo, 2018
combinem ou alternem diferentes
mecanismos de ação, juntamente
com multissítios.
O surgimento de novas doenças,
ou o agravamento das já existentes,
é fato certo em uma cultura em
área tão expressiva como a soja.
As condições climáticas tropicais e
subtropicais das regiões brasileiras
permitem à cultura altas produti-
vidades, mas também trabalham a
favor dos seus inimigos. Recente-
mente, os problemas relacionados
às podridões de vagens da soja no
Mato Grosso têm dominado a aten-
ção dos produtores, técnicos e pes- o manejo. Contudo, é necessário de ser importantes.
quisadores, o que se justifica plena- manter a atenção em relação aos Na luta contra as doenças,
mente pela abrangência do proble- vários inimigos tradicionais, entre nunca baixe a guarda! Pratique a
ma, suas consequências negativas eles os mais importantes em nível rotação de culturas, utilize culti-
à produtividade da soja e à neces- de Brasil, a ferrugem-asiática e a vares menos suscetíveis, escolha
sidade urgente de alternativas para mancha-alvo, que nunca deixaram a época de semeadura de menor
risco, semeie boas sementes e
tratadas, inicie cedo com a prote-
Fundação MT

ção da parte aérea, nunca espere


pelo inimigo para iniciar as apli-
cações, utilize os fungicidas que
permanecem efetivos, que con-
trolem conjuntamente as princi-
pais doenças, e sempre associe
o uso de fungicidas multissítios.
Essa é a melhor forma de você
proteger sua soja hoje e amanhã.

Carlos Alberto Forcelini;


Rafael Roehrig,
Agro Tecno Research, RS
Ivan Pedro Junior;
Alana Tormen;
Fabiano Siqueri,
Proteplan, MT

Caderno Técnico
Circula encartado na revista
Cultivar Grandes Culturas nº 290
Capa - Marcelo Madalosso
Reimpressões podem ser solicitadas
através do telefone: (53) 3028.2075
A menor sensibilidade de Corynespora aos fungicidas já é algo bem presente no Brasil, www.revistacultivar.com.br
sendo determinantes a escolha e a combinação dos fungicidas a serem utilizados

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