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Expediente Editorial
Grupo Cultivar de Publicações Ltda.
CNPJ: 02783227/0001-86
Insc. Est. 093/0309480
A edição deste mês da revista Cultivar Grandes Culturas destaca a
Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 chegada da cigarrinha-africana (Leptodelphax maculiger) ao Brasil.
Pelotas – RS • 96015-300 Identificada no estado de Goiás, requer atenção para se saber qual o
seu desenvolvimento e o potencial de migração e de dano. Artigo de
revistacultivar.com.br
contato@grupocultivar.com
capa descreve o que se sabe sobre essa nova ameaça, já conhecida
em outros países.
Assinatura anual (11 edições*): R$ 290,90
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
A luta contra a ferrugem continua a ser um desafio para os produ-
Números atrasados: R$ 28,00
Assinatura Internacional:
tores. O fungo Phakopsora pachyrhizi tem mostrado evolução preo-
US$ 150,00 cupante, com a eficácia dos fungicidas diminuindo a cada safra, con-
€ 130,00 forme informa o Consórcio Antiferrugem. Artigo sobre o tema apre-
FUNDADORES senta também os resultados da tradicional avaliação de fungicidas.
Milton de Sousa Guerra (in memoriam)
Newton Peter Por outro lado, seguem os avanços significativos no entendimento
Schubert Peter de problemas como o quebramento de hastes e a podridão de va-
gens e grãos de soja. Pesquisas apontam formas de manejo para os
• Diretor produtores.
Newton Peter
REDAÇÃO
E a importância do conhecimento biológico é destacada em artigo
• Editor sobre a aplicação de bioinseticidas. Entender o alvo biológico é cru-
Schubert Peter
cial para o sucesso dessa tecnologia, e nosso artigo fornece orienta-
• Redação ções valiosas nesse sentido.
Rocheli Wachholz
Miriam Portugal
Nathianni Gomes O manejo específico por cultivar é outro tópico abordado, com fo-
co na rentabilidade do trigo. A atenção aos detalhes pode fazer uma
• Design Gráfico e Diagramação grande diferença na produtividade e na lucratividade.
Cristiano Ceia
• Revisão Isso e muito mais você encontra nas próximas páginas.
Aline Partzsch de Almeida
COMERCIAL
COMERCIAL Boa leitura!
• Coordenação
Charles Ricardo Echer Schubert Peter
• Vendas
Sedeli Feijó Índice
José Geraldo Caetano
04 Diretas Nossa
Franciele Ávila
06 Mundo Agro capa
CIRCULAÇÃO
07 Coluna Jogo Ganho
• Coordenação
Simone Lopes 08 Ferrugem-asiática
16 Quebramento das hastes e podridão dos grãos
• Assinaturas
Natália Rodrigues 21 Danos por nematoides e suas formas de controle
Premiação
A Biotrop recebeu o prêmio
Deusa Ceres como a empre-
sa destaque do agronegócio
2022, iniciativa da Associação
dos Engenheiros Agrônomos
do Estado de São Paulo (AE-
ASP). É uma das mais impor-
tantes e tradicionais honrarias
oferecidas a empresas e pes-
soas que se dedicam ao en-
grandecimento da agricultura,
contribuindo para o aumento
da produção de alimentos sau-
dáveis e para a conservação
ambiental. Rogério Rangel, di-
Compra
retor de marketing da Biotrop, A Bunge e o Renewable Energy Group
recebeu a homenagem em Inc., subsidiária da Chevron Corporation,
nome da empresa. adquiriram a Chacraservicios S.r.l., com
sede na Argentina. De acordo com as em-
presas, esse investimento em sementes
Mosaic adiciona nova fonte de óleo às cadeias de
suprimentos globais da Bunge e da Che-
A Mosaic Fertilizantes in- vron e ajudará ambas a atender à crescen-
formou que Eduardo Monteiro, te demanda por matérias-primas renová-
anteriormente vice-presidente veis com baixo teor de carbono. Os termos
comercial da companhia, será o da transação não foram divulgados.
"Country Manager". Monteiro será
responsável pelas áreas comer-
cial de Brasil e Paraguai, supply
chain e unidades de misturas. Em Gente nova
sua nova função, ele continuará
reportando-se a Corrine Ricard, A UPL anunciou Giuliano Argenta
presidente da empresa. Scalabrin como diretor de negócios
da Natural Plant Protection (NPP) no
Brasil. Essa unidade de negócio foi es-
Laborsan tabelecida em 2021 para desenvolver
e lançar no mercado biossoluções.
A Laborsan Agro trabalha
para aumentar sua atuação
em Mato Grosso. "Temos re-
sultados comprovados em
diversas culturas, com alta
performance no tratamento
de sementes. Vamos intensi-
ficar nossa presença no Mato
Grosso, com pesquisas, time
de campo e ações estratégi-
cas", destaca Francisco Albu-
querque, fundador e diretor
da empresa.
Fungicidas
contra a ferrugem
Consórcio Antiferrugem apresenta os resultados de avaliação de eficácia
de produtos realizada na safra 2022/23; a eficiência vem sendo reduzida
a cada safra com a evolução do fungo Phakopsora pachyrhizi
N
a safra 2022/2023,
a ferrugem-asiática
voltou a mostrar
por que é consi-
derada a principal preocupação
dos produtores com relação às
doenças na cultura da soja. As
baixas temperaturas que ocorre-
ram em novembro e dezembro
de 2022 prolongaram o ciclo de
desenvolvimento da cultura em
diferentes regiões. Com um ciclo
mais longo, os fungicidas repre-
sentam a principal estratégia de
manejo para reduzir perdas de
produtividade. Falhas de controle
foram observadas com o aumen-
to da demanda por fungicidas
curativos e a ocorrência de redu-
ções significativas de produtivi-
dades em lavouras. O controle da
ferrugem-asiática pelo escape,
com a redução de ciclo associada
à redução do inóculo do fungo
pelo vazio sanitário, tem sido a
principal estratégia de controle
da doença.
Cláudia V. Godoy
Figura 1 - severidade da ferrugem-asiática (%), porcentagem de controle (%)
em relação à testemunha sem fungicida (T1) para os diferentes tratamentos A eficiência dos fungicidas
no protocolo com fungicidas registrados. Média de 21 experimentos, safra vem reduzindo a cada safra com
2022/2023. Barras com médias seguidas de mesma letra não diferem entre a evolução do fungo Phakopso-
si pelo teste de Tukey (p≤0,05). Programa: metominostrobina + tebuconazol e ra pachyrhizi, cada vez menos
clorotalonil/protioconazole + fluxapiroxade + mancozebe/tebuconazol + impir-
sensível aos principais grupos de
fluxam e mancozebe/picoxistrobina + ciproconazol e clorotalonil, tratamentos
fungicidas. Atualmente, o fungo
aplicados em intervalos de 14 dias. Circular técnica 195, Embrapa Soja
apresenta menor sensibilidade
aos três principais grupos de
fungicidas sítio-específicos que
compõem todos os fungicidas
registrados para o controle da
doença: os inibidores da desme-
tilação (IDM - triazóis), os inibi-
dores da quinona externa (IQe -
estrobilurinas) e os inibidores da
succinato desidrogenase (ISDH
- carboxamidas). Nas últimas sa-
fras, mudanças de sensibilidade
do fungo P. pachyrhizi aos IDM
têm sido observadas, influencian-
do o controle com protioconazol
e tebuconazol, sendo atribuídas
a novas mutações no genoma do
fungo, como a V130A, além das
já descritas anteriormente F120L,
Y131H/F, I45F, K142R, I475T. A
presença de novas mutações e a
Figura 2 - severidade da ferrugem-asiática (%), porcentagem de con-
variação de eficiência dos fungi-
trole (%) em relação à testemunha sem fungicida para os diferentes
tratamentos no protocolo com fungicidas sítio-específicos em mistura
cidas desse grupo em diferentes
com fungicidas multissítios (mczb – mancozebe; cltl – clorotalonil). locais reforça a necessidade de
Média de 18 experimentos, safra 2022/2023. Médias seguidas de rotação desses dois ingredientes
mesma letra nas barras não diferem entre si pelo teste de Tukey ativos em programas de controle
(p≤0,05). Circular técnica 195, Embrapa Soja da ferrugem-asiática.
Nos experimentos em rede
para o controle da ferrugem-asi-
ática da soja da safra 2022/2023
foram realizados quatro protoco-
los nas principais regiões produ-
toras, por 22 instituições, sendo
avaliados fungicidas registrados,
novos fungicidas que estão em
fase de registro, misturas de fun-
gicidas registrados com fungici-
das multissítios e ingredientes
ativos isolados para monitorar
mudanças de sensibilidade do
fungo.
Nesses experimentos, os fun-
gicidas são avaliados individual-
mente, em aplicações sequen-
Cláudia V. Godoy
No experimento com os fun-
gicidas registrados, foram avalia-
dos 14 e um programa (T16) que
incluiu a rotação dos fungicidas
com a adição de multissítios aos
fungicidas que não apresentavam
na formulação (Figura 1). O pro-
grama não representa uma re-
comendação da rede de ensaios
e a escolha de fungicidas para a
rotação deve ser adequada a ca-
da região e época de semeadura,
em função da ocorrência de dife-
rentes doenças na lavoura.
As aplicações iniciais foram
estabelecidas nos protocolos aos
45-50 dias após a emergência, no
pré-fechamento das linhas de se-
meadura e repetidas em interva-
los de 14 dias em média. A calen-
darização não é uma recomenda-
ção de controle. Ela é realizada
nos experimentos em rede para
reduzir as causas de variação. Em
semeaduras tardias, como as dos Falhas de controle foram observadas com o aumento da demanda por fungicidas curativos e a
experimentos em rede, a incidên- ocorrência de reduções significativas de produtividades em lavouras
Coamo;
Mônica A. Müller,
João Paulo Ascari,
Karla Kudlawiec,
Fundação MT;
Jairo dos Santos,
Agrodinâmica;
José Fernando J. Grigolli,
Famiva Pesquisa e Soluções Agrícolas;
Luana M. de R. Belufi,
Fundação de Pesq. e Desenv.Tecn. Rio Verde;
Luís Henrique Carregal,
Agro Carregal Pesq. e Prot. de Plantas Eireli;
Lucas Henrique Fantin,
Fundação Chapadão;
Maurício Silva Stefanelo,
Ceres Consultoria Agronômica;
Marcio Goussain Júnior,
Assist Cons. e Exper. Agronômica Ltda.;
Mônica P. Debortoli,
Nédio R. Tormen,
Ricardo S. Balardin,
Instituto Phytus;
A eficiência dos fungicidas vem reduzindo a cada safra com a evolução do fungo
Mônica C. Martins,
Phakopsora pachyrhizi, cada vez menos sensível aos principais grupos de fungicidas
Ide Consultoria
SOJA
Avanços no
entendimento
Com novas pesquisas, quebramento de hastes
e podridão de vagens e grãos de soja tornam-
se problemas manejáveis pelo produtor
D
esde a safra de 2021/22, diversas institui-
ções de pesquisa vêm desenvolvendo novos
estudos visando aprofundar o entendimento
sobre os sintomas de quebramento de haste
e apodrecimento de vagens e grãos de soja. Os primeiros
sintomas foram relatados durante a safra de 2019/20 na
região do Médio-Norte, do Estado de Mato Grosso, com-
preendendo os municípios de Ipiranga do Norte, Tapurah,
Sorriso e Lucas do Rio Verde.
Na safra de 2022/23, esse problema estendeu-se para
outros municípios do Estado de Mato Grosso e, segundo
informações de produtores locais, relatos de perdas supe-
riores a 40% são observados em áreas com alta incidência
de quebramento de haste. Além dos danos observados
no campo, o problema se estende para grãos e semen-
tes armazenados, em que a perda na qualidade do grão
torna-se mais severa conforme o aumento do tempo de
armazenamento. Nesse caso, as sementes sintomáticas
tornam-se fonte de inóculo para as sementes sadias, au-
mentando os riscos de contaminação, além de ser fonte
de inóculo para a safra seguinte.
Os sintomas de quebramento de hastes e apodreci-
mento de vagens e grãos foram popularmente denomi-
nados de anomalia de hastes e vagens. Contudo, pesqui-
sas recentes identificaram fitopatógenos que causam os
sintomas típicos de quebramento de hastes e podridão
de vagens e grãos. Os sintomas característicos foram ob-
servados na parte inferior da planta, cerca de 3 cm a 5 cm
acima do solo. Nas hastes, são observadas estrias longi-
tudinais ao longo do caule evoluindo para necrose, que
podem ou não ocasionar seu quebramento. Nas vagens,
os sintomas comuns se iniciam na junção dos tecidos das
A B
vagens, que evoluem para necrose representatividade dos locais de co- comerciais de fungicidas. Para isso,
parcial ou total desse órgão, oca- leta, durante a safra de 2022/23 as foram testadas as carboxamidas:
sionando a podridão. Nesses casos, amostragens incluíram os Estados de benzovindiflupir (Solatenol - STL),
as sementes ou os grãos também Goiás, Tocantins e Rondônia. fluxapiroxade (FXD), bixafem (BIX)
ficam comprometidos, podendo ser Os experimentos foram condu- e impirfluxam (IPFX); e os triazóis:
observado um aspecto enrugado zidos em duas etapas, sendo que difenoconazol (DFZ), protioconazol
com alteração de cor (escurecido ou na primeira, o objetivo foi realizar (PTZ) e mefentrifluconazol (MFTZ).
pálido). o isolamento dos fungos envolvi- As concentrações de fungicidas tes-
Em estudo recente, publicado dos no quebramento de hastes e tadas foram: 0,01 mg, 0,1 mg, 1 mg,
pela revista Cultivar na edição 281, apodrecimento de vagens e grãos, 10 mg e 100 mg de ingrediente ativo
foram identificados os gêneros fún- confirmar sua patogenicidade em (I.A.) por litro (L). Placas de Petri com
gicos Diaporthe/Phomopsis, Colleto- soja e identificar molecularmente o meio de cultura batata-dextrose-
trichum spp. e Cercospora spp. em os principais patógenos encontra- -ágar (BDA) BDA foram utilizadas co-
amostras de plantas de soja com dos nas amostras sintomáticas. No mo controle.
sintomas de podridão de vagens e segundo experimento, o objetivo foi Para realizar a etapa de isolamen-
grãos. Os primeiros estudos desen- verificar a eficiência de controle in to e identificação dos patógenos,
volvidos até o momento contaram vitro das principais carboxamidas e foram coletadas 64 amostras de
com amostragem de plantas sinto- triazóis que compõem as misturas soja com sintomas de quebramento
máticas direcionada exclusivamente
para regiões do Estado do Mato
Grosso, e as pesquisas foram condu-
zidas para o entendimento do apo-
drecimento de vagens e grãos.
Diante disso, visando o entendi-
mento desse problema, pela segun-
da safra consecutiva, foram realiza-
das coletas de plantas de soja que
apresentavam sintomas de quebra-
mento de hastes e apodrecimento
de vagens e grãos nas regiões com Figura 2 - inoculação de plantas de soja sadias com Diaporthe spp., utilizando o método de
alta incidência dos sintomas. Adicio- inoculação direta com palitos contaminados com o fungo e confirmação da patogenicidade
nalmente, visando garantir a maior (Postulado de Koch) do fungo Diaporthe spp. causando o quebramento de haste em soja
maior atividade intrínseca tanto para dridão de vagens e grãos. mento químico/biológico de semen-
Diaporthe spp. quanto para Colleto- Esses resultados indicam uma tes. Essas são medidas simples, mas
trichum spp. (Figura 3A). A inibição maior associação de Diaporthe/Pho- eficientes para mitigar o problema. A
do crescimento micelial foi superior mopsis spp. com os sintomas descri- correta identificação dos patógenos
a 60% desde a dose de 10 mg de tos como quebramento de haste e envolvidos e a utilização de controle
I.A./L para ambos os patógenos. O apodrecimento de vagens e grãos, cultural associado ao controle quími-
controle de Colletotrichum spp. foi uma vez que esses sintomas são bas- co eficiente são importantes estraté-
superior a 90% desde a dose de 10 tante similares aos observados na gias de manejo para reduzir danos na
mg de I.A./L (Figura 3B). Entre os literatura americana. Novos estudos produtividade e obter maior qualida-
triazóis, DFZ e PTZ apresentaram deverão ser realizados para identifi- de dos grãos da soja. C
No país todo
Uma pesquisa inédita realizada
pela Syngenta, em parceria com a
consultoria Agroconsult e a Socie-
dade Brasileira de Nematologia,
obteve a distribuição e o cresci-
Pesquisa aponta a distribuição geográfica de nematoides mento dos nematoides no Brasil,
percorrendo todo o país durante
O
a safra de 2021. Essa pesquisa traz
s nematoides parasi- dutor. Porém, em se tratando dos detalhes importantes sobre a pro-
tas de plantas repre- nematoides das lesões ou de cistos, blemática em todas as regiões, nos
sentam um sério pro- nem sempre ocorre essa percepção mais diversos cultivos.
blema para a agricul- (Figura 1). No total, foram analisadas
tura brasileira. São responsáveis por Apesar da importância que os 21.661 amostras e, em um pano-
elevadas perdas em culturas de im- nematoides representam para a rama geral, os nematoides foram
portância econômica, incluindo so- agricultura brasileira, poucos são os encontrados em mais de 90% das
ja, algodão, milho, cana-de-açúcar levantamentos de sua ocorrência amostras realizadas em todo Brasil
e muitas outras. Contudo, muitas no território nacional. Geralmen- por laboratórios de nematologia (Fi-
vezes os danos causados passam te esses são restritos a empresas gura 2). Esses números preocupam
despercebidos pelos produtores, já privadas, que encomendam tais não só os produtores, mas todos os
que nem sempre estão associados estudos para direcionamento de su- envolvidos neste cenário.
a sintomas característicos do ata- as pesquisas internas e, em alguns A pesquisa envolveu as culturas
que desses patógenos. Quando se casos, essa informação está ligada de soja, milho, algodão, café, cana-
trata dos nematoides-das-galhas, a trabalhos acadêmicos realizados -de-açúcar e olerícolas. As espécies
Meloidogyne spp., os sintomas são por pesquisadores, com divulgação ou gêneros mais comuns identifica-
facilmente identificados pelo pro- restrita de resultados. dos nessas amostras foram: Aphe-
Syngenta
grupo é responsável por perdas
mais acentuadas do que aquelas
causadas por Pratylenchus spp.,
devido à elevada agressividade
das espécies às culturas da soja e
do algodão, por exemplo. São re-
latadas perdas de mais de 55% da
produtividade em lavouras de soja
altamente infestadas por M. incog-
nita e tais perdas podem ser ainda
maiores, dependendo das condi-
ções edafoclimáticas, cultivar utili-
zada e outras espécies presentes na
área. Assim como para o nematoide
das lesões, a adoção da rotação de
Figura 1 - sintomas do ataque de nematoides em raízes de soja. Da
esquerda para a direita: Heterodera glycines e Pratylenchus brachyurus
culturas em áreas infestadas pelo
nematoide das galhas é limitada,
porque quase todas as plantas cul-
tivadas são suscetíveis. Além disso,
lenchoides besseyi, Ditylenchus spp., específico nas raízes, caracterizado ainda existe carência de cultivares
Helicotylenchus spp., Heterodera por lesões de coloração escura, que adaptadas para várias regiões pro-
glycines, Meloidogyne spp., Praty- também podem ser atribuídas ao dutoras e que apresentam resistên-
lenchus spp., Radopholus similis, parasitismo de fungos e bactérias, cia aos nematoides das galhas.
Rotylenchulus reniformis e Scutello- fazendo com que sua identificação Ao contrário de Meloidogyne
nema spp. nas lavouras seja dificultada. Além spp., o nematoide de cisto da soja,
O senso comum é de que os da soja, P. brachyurus parasita o H. glycines, apresenta maior distri-
nematoides representam problema milho e o algodão, culturas normal- buição nas lavouras localizadas no
apenas à região do Cerrado bra- mente inseridas nos sistemas de Cerrado brasileiro, onde mais de
sileiro (Figura 3A), especialmente produção após a colheita da soja. 40% das amostras indicaram sua
nas culturas da soja e do algodão. Pratylenchus brachyurus parasita presença. Nos estados do Sul do pa-
Porém, na região Sul do país, onde uma ampla gama de hospedeiros, ís, essa espécie foi encontrada em
se tem a falsa ideia de que não há dificultando o seu manejo, pois não quase 8% das amostras. Esse nema-
problema com nematoides, a dis- há disponibilidade de cultivares de toide apresenta elevado potencial
tribuição desses organismos apon- soja, milho ou algodão com resis- de causar danos à soja. A depender
tada pela pesquisa é preocupante tência a esse parasita. A rotação de do nível populacional presente e da
e desperta o alerta para o potencial culturas com plantas não hospedei- raça do nematoide, além da ferti-
de perdas nessa região, visto que ras ou resistentes a esse nematoi- lidade do solo e suscetibilidade da
mais de 97% das áreas amostradas de seria uma boa opção para seu cultivar, as perdas em produtivida-
apresentaram ocorrência destes pa- manejo, entretanto, a maioria das de podem chegar até 90%. Adicio-
tógenos, mostrando que o proble- plantas de cobertura é suscetível nalmente, a elevada variabilidade
ma está subestimado em tal região a P. brachyurus, especialmente as genética apresentada por H. glyci-
(Figura 3B). gramíneas. nes, refletida na grande quantidade
O nematoide das lesões, Pra- Outro nematoide, Meloidogyne de raças presentes no Brasil, e a
tylenchus sp., é o que apresentou spp., tem distribuição diferente en- capacidade de sobreviver por vários
maior disseminação nas lavouras tre as lavouras do Sul e do Cerrado. anos na ausência de plantas hos-
brasileiras, ocorrendo em mais de Enquanto nos estados do Sul esse pedeiras fazem com que o manejo
86% das amostras oriundas do Cer- gênero está presente em quase desse nematoide seja bastante difí-
rado e Norte e em mais de 57% das 64% das amostras, no Cerrado sua cil. O uso de cultivares resistentes é
amostras do Sul do país. Esse ne- disseminação ocorre em pouco a melhor ferramenta para o manejo
matoide causa um sintoma pouco mais de 25% das amostras. Esse de H. glycines, devido ao baixo cus-
Fotos Syngenta
é necessário conhecer a raça presen-
te na área para a escolha correta da
cultivar e agregar outras ferramentas
ao manejo, tais como a rotação de
culturas, a manutenção de cobertura
do solo, visando aumentar o teor de
matéria orgânica, e o uso de nemati-
cidas químicos e biológicos.
Uma espécie que tem trazido
preocupação aos produtores de soja
e algodão é Rotylenchulus renifor-
mis, pela elevada capacidade que a
soja apresenta em multiplicar esse
nematoide e pelo elevado potencial
de causar danos ao algodoeiro. Sua Figura 3 - distribuição de nematoides no Brasil. Acima (A): região do
disseminação nas lavouras brasilei- Cerrado brasileiro; abaixo (B): região Sul
ras deve ser outro motivo de preo-
cupação, uma vez que este esteve
presente em mais de 36% das amos-
tras do Cerrado e em quase 20% das
amostras do Sul do país.
Outros nematoides, como Heli-
cotylenchus sp. e Scutellonema sp.,
estiveram presentes em número
significativo de amostras. No caso da
primeira espécie, observou-se dis-
tribuição generalizada nas amostras
coletadas no país, enquanto a se-
gunda predominou nos estados do A
Sul. Esses nematoides, a exemplo de
P. brachyurus, causam lesões radicu-
lares em plantas de soja, milho, algo-
dão e diversos outros cultivos, sendo
responsáveis por aumentar os pro-
blemas já causados pelo nematoide
das lesões. Até o momento, poucas
informações estão disponíveis a res-
peito do nível de danos econômicos
causados por esses nematoides e
das ferramentas de manejo eficazes
para a sua redução populacional.
Entretanto, sabe-se que algumas B
plantas de cobertura utilizadas pa-
ra o controle de P. brachyurus são
suscetíveis a H. dihystera, havendo milho e do algodão, outras espécies Meloidogyne causam perdas con-
necessidade de que mais opções de vegetais importantes para a agricul- sideráveis em todo o Brasil e, no le-
manejo estejam disponíveis para es- tura brasileira mostraram elevada vantamento realizado, evidenciou-se
sas espécies. disseminação de nematoides. É o que 86% das amostras oriundas do
Além das culturas da soja, do caso do café, em que as espécies de Sul do país tinham a presença desses
Chegou ao A
cigarrinha-africana, Leptodelphax
maculigera, é uma espécie de
inseto da família Delphacidae,
que é encontrada em diversas
Brasil
regiões do mundo, incluindo Europa e Ásia.
E, mais recentemente, América do Sul (Goiás,
Brasil). Essa espécie é capaz de se adaptar a
diferentes regiões e pode ser encontrada em
áreas cultivadas com cereais de importância
Relato científico recente descreve o encontro econômica, como o milho.
A taxonomia de Leptodelphax maculiger
de cigarrinha-africana (Leptodelphax maculiger) é bem estabelecida. Ela pertence à ordem
em milho no Estado de Goiás; veja o que se sabe Hemiptera, caracterizada por possuir um
sobre esse inseto aparelho bucal sugador, e à família Delpha-
cidae, composta por insetos de tamanho
diminuto. No entanto, sua similaridade com
outras espécies de cigarrinhas, por exemplo
a cigarrinha-do-milho, Dalbulus deste gênero apresentaram va- para determinar a aquisição; e (4)
maidis (Cicadellidae), torna sua riações quanto à transmissão de isolar cigarrinhas bacterilíferas em
identificação em nível de campo fitoplasmas. Por exemplo, Lepto- plantas saudáveis para determinar
desafiadora. Apesar disso, alguns delphax dymas foi detectado carre- a infecção. Desta forma, são cum-
caracteres morfológicos podem ser gando uma cepa de fitoplasma do pridos os passos do postulado de
empregados para separação destas grupo 16Sr III-A. No entanto, esta Koch.
espécies. A cigarrinha-do-milho mesma espécie de cigarrinha não Ressalta-se que ao constatar a
(D. maidis) é caracterizada por foi capaz de transmitir a cepa de presença de indivíduos Leptodel-
apresentar pontuações escuras na fitoplasma do grupo 16Sr XI. Desta phax maculigera e da respectiva
cabeça (Figura 1), enquanto para a forma, análises mais aprofunda- confirmação da espécie, um repor-
cigarrinha-africana (L. maculigera) das devem ser realizadas para: (1) te aos órgãos competentes passa a
há uma mancha escura no clípeo detectar a ocorrência de cepas de ser necessário, a fim de que medi-
(região localizada na parte inferior molicutes nas cigarrinhas; (2) de- das possam ser adotadas.
da cabeça), característica desta es- tectar a ocorrência da mesma cepa Por fim, da ocorrência de qual-
pécie (Figura 2). nas plantas; (3) isolar cigarrinhas quer organismo com potencial de
Em relação à ecologia, assim saudáveis em plantas infectadas praga em ambientes de cultivo,
como outras cigarrinhas, Leptodel-
phax maculigera é uma espécie
que se alimenta da seiva de plan-
tas, principalmente da família Poa-
Ferreira et al. 2023
ceae (gramíneas). Ela é encontrada
em áreas de cultivo de milho, for-
rageiras e plantas não cultivadas.
No Brasil, sua identificação ocorreu
principalmente em milho, capim-
-elefante e braquiária, na região
Centro-Oeste.
Apesar do gênero Leptodelphax
spp. ser relatado como potencial
vetor de molicutes, principalmente
fitoplasmas, uma análise profunda
deve ser realizada, a fim de identi-
ficar se há essa possibilidade para A) Ventral B) Lateral
L. maculigera. Figura 2 - Leptodelphax maculiger (A) mancha escura no clípeo (região
Destaca-se que outras espécies localizada na parte inferior da cabeça); (B) vista lateral
Eduardo Engel,
Esalq/USP;
Essa espécie é capaz de se adaptar a diferentes regiões e pode ser encontrada
em áreas cultivadas com cereais de importância econômica, como o milho Mauricio Pasini,
Intagro CP&T
Produtividade
gera preservação
Tradicional concurso nacional do Cesb mostra relação entre sustentabilidade e rentabilidade
O
Cesb (Comitê Estra- foram premiados produtores que res mais eficientes, o fórum desta-
tégico Soja Brasil) obtiveram os melhores resultados cou a relação entre produtividade e
anunciou os campe- nas categorias sequeiro e irriga- preservação ambiental. Dados apre-
ões de produtividade do. Na primeira, houve campeões sentados pelo Cesb indicam que
da soja do ano 2023 no 15º Fórum das cinco regiões do país (que o aumento da produtividade nos
Nacional de Máxima Produtividade, disputaram o título nacional). Na últimos nove anos foi responsável
evento que reuniu cerca de 6,5 mil categoria irrigado, a disputa era por evitar o desmatamento de 10,7
produtores. A maior produtividade somente nacional. Os vencedores, milhões de hectares. A área seria a
desta edição foi de 134,46 sacas por seus consultores e demais dados necessária para atingir a produção
hectare (sc/ha). podem ser vistos nas ilustrações total atual com o antigo, menor,
No concurso Desafio Nacional desta matéria. rendimento por hectare.
de Máxima Produtividade da Soja Além de reconhecer os produto- Leonardo Sologuren, diretor
Charles Echer
Como escolher
remineralizadores
Esses produtos ficarão no solo para sempre; isso deve ser levado muito
a sério porque modificam a estrutura física de modo irreversível
D
esde julho de 2013, passaram a ser regidas pela Lei definição, classificação, garantias e
uma lei incluiu re- 6.894/80, de modo semelhante ao demais regras para os reminerali-
mineralizadores e que ocorre com fertilizantes, corre- zadores de solo.
substratos para plan- tivos, inoculantes, estimulantes ou Esse insumo agrícola foi criado
tas entre os insumos destinados à biofertilizantes. para sanar ou mitigar a depen-
agricultura. Com a medida, a ins- Em 10 de março de 2016 foi dência brasileira na importação de
peção e a fiscalização da produção publicada, pelo Mapa, a Instrução fertilizantes. Aproximadamente
e comercialização desses produtos Normativa nº 5, que estabelece a 70% do fosfato e 90% do potássio,
Daniel Debona
Atenção
expansão, por vezes, tem alcançado
áreas não tradicionais e, por conse-
quência, novos produtores.
De forma paralela a este cenário,
aos detalhes
a cada ano estão sendo disponibili-
zadas novas cultivares de trigo pelos
obtentores, o que exige a necessi-
dade constante de atualização dos
produtores, técnicos e agrônomos.
Notoriamente uma cultura bastan-
Manejo específico por cultivar é chave te técnica, se quisermos manter e
para a rentabilidade em trigo ampliar o uso do trigo no Brasil com
bases sólidas, o uso correto de boas
O
práticas agrícolas específicas para
trigo tem avançado Dentre eles, podem ser destacados o cada situação de ambiente e genéti-
em área, produção e preço do cereal no mercado interna- ca utilizada se torna uma obrigação.
rendimento de grãos cional, as condições meteorológicas Muito esforço tem sido realizado
no Brasil nos últimos favoráveis e o contexto do sistema de pela pesquisa para criar tecnologias
anos devido a um conjunto de fatores. produção na região Sul do Brasil. Essa apropriadas para diferentes situa-
Embrapa Trigo
A B
ções de modelos de negócio e ma- que permitam a cultivar auxiliar no são as mais utilizadas), não raras ve-
nejo, que só se justifica se aplicadas manejo integrado, principalmente zes chegando a 400 ou 500 sementes
no campo. Todas elas, independen- de doenças. Associado ao melhora- aptas/m². No entanto, em trabalhos
temente do produto a ser gerado, mento, estão as caracterizações e científicos realizados nas últimas dé-
destinam-se a buscar maior renta- os trabalhos de ajuste fitotécnico de cadas, algumas cultivares têm manti-
bilidade ao produtor, associando, cada nova cultivar, que possibilitam do o mesmo desempenho produtivo
quando possível, os maiores rendi- indicar manejo específico e rentável com densidades menores (250 se-
mentos de grãos. Os programas de para cada situação. mentes aptas/m²). Essa redução per-
melhoramento de empresas públicas Na sequência, são relatadas algu- mite economizar sementes (se con-
e privadas são fundamentais para mas oportunidades disponíveis que siderada redução mais conservadora
tornar isso possível, pois buscam proporcionam diferenciações no ma- de 300 para 250, a cada cinco hecta-
reunir um conjunto de características nejo do trigo por cultivar. res de redução é possível semear um
nas cultivares de trigo que podem • Densidade de semeadura: a hectare adicional) sem perder desem-
resultar em rendimento de grãos densidade de semeadura geralmen- penho e utilizar essas sementes para
elevado, qualidade tecnológica apro- te utilizada para o trigo é superior a ampliar a área cultivada ou, adotando
priada para diferentes finalidades e 300 sementes aptas/m² (para culti- estratégias da agricultura de precisão,
conjunto de resistências genéticas vares de ciclo precoce e médio, que direcionar as sementes que sobraram
Figura 2 - resposta da cultivar de trigo BRS Reponte ao aumento na dose de N em cobertura em diferentes am-
bientes na safra 2013 (A) e de diferentes cultivares em um mesmo ambiente (Passo Fundo, RS) na sara 2022 (B)
A B
para aumentar a densidade em áreas manejo desse nutriente. Na Figura 2 é uso do regulador de crescimento
que necessitam de mais sementes pa- possível verificar as respostas de uma trinexapaque-etílico em trigo é uma
ra atingir o teto produtivo do talhão. mesma cultivar (BRS Reponte) em ferramenta validada para situações
Além da resposta diferenciada entre diferentes ambientes e de diferentes específicas, entregando bons resul-
cultivares, podem existir interações cultivares em um mesmo ambiente tados quando utilizada com critério.
com o ambiente de produção, épo- (Passo Fundo). Algumas cultivares exigem a aplica-
ca de semeadura, entre outros, que • Regulador de crescimento: o ção para redução de estatura, forta-
devem ser ajustadas pela assistência
técnica. A Figura 1 demonstra a possi-
bilidade de redução na densidade em Tabela 1 - reação de cultivares de trigo aos principais estresses bióticos e
algumas cultivares da Embrapa e a in- abióticos; fonte: Indicações Técnicas para Trigo e Triticale – Safra 2023;
teração com ambientes de produção Passo Fundo, 2023
diferenciados.
• Dose de nitrogênio (N): o nitrogê- Característica
nio é um dos insumos com maior po- Cultivar
GIB GE FF MM MA O VNAC VMT EP
tencial de impacto no rendimento de
grãos do trigo. O uso adequado (dose, TBIO Ponteiro MS/MR MR/R R/MR SI MR/MS MR SI MR M
Conhecimento
necessário
Entender o alvo biológico permite maior sucesso
da tecnologia de aplicação de bioinseticidas
E
mbora a agricultura pação crescente da sociedade, a ses agentes de controle pode ser
intensa visando à pro- respeito dos resíduos no ambien- uma atividade empresarial sus-
dução de commodities te e nos alimentos e seus impac- tentável e lucrativa.
tenha menos de 100 tos nos serviços do ecossistema Desde então, o número de
anos, várias foram as estratégias (polinizadores e inimigos natu- empresas que produzem agentes
utilizadas neste período no contro- rais), tem incrementado o debate de controle biológico vem cres-
le de pragas agrícolas. Todas, sem sobre o manejo agrícola mais sus- cendo de forma exponencial no
exceção, utilizaram a tecnologia tentável. Brasil. Grande parte deste aumen-
mais moderna no momento, por Os agentes de controle bioló- to tem como fatores determinan-
exemplo, DDT e plantas transgê- gico de pragas, sejam macro (pa- tes o baixo custo de desenvolvi-
nicas. De fato, prometiam “livrar” rasitoides e predadores) ou micro- mento e a evolução da resistência
os agricultores das pragas rapida- -organismos (fungos, vírus, bacté- bem mais lenta em comparação
mente, com máxima eficiência e rias e nematoides) são importan- aos inseticidas convencionais e
baixo custo. tes pilares dessa sustentabilidade. plantas Bt. Entretanto, vários de-
O cenário do século 21 eviden- Embora o primeiro caso mundial safios se fazem presentes para
cia que o uso dessas, e de outras de sucesso do controle biológico que o seu sucesso seja alcançado
estratégias, precisa ser revisto e date de 1888, com a importação e consolidado, entre eles: melho-
otimizado. Apesar dos seus inú- de uma joaninha pelos EUA para ria nas formulações, avaliação da
meros benefícios, são crescentes controle de pragas em citrus, no compatibilidade com agroquími-
e constantes os relatos de resis- Brasil, somente na última década, cos e, especialmente, a tecnologia
tência das pragas aos pesticidas casos de sucesso, como a strartup e a aplicação.
e plantas Bt, o que, muitas vezes, BUG e o uso de Bt bioinseticidas Historicamente, no Brasil, o
resulta em aumento da dose e do contra Helicoverpa armigera, de- conhecimento do alvo biológico,
número de aplicações. A preocu- monstraram que o comércio des- ou seja, o inseto ou ácaro-praga a
Considerações
finais
Os cientistas têm acumulado
informações preciosas para o
manejo de pragas agrícolas, mas,
na maioria das vezes, estas não
chegam ao produtor. É preciso
estreitar as relações entre os
diferentes setores da atividade
agrícola para que a troca de in-
formações possibilite otimizar
o uso de táticas de controle de
pragas. Deve-se ressaltar que es- Em estudo realizado com H. armigera, foi demonstrado que lagartas de
sa não é uma necessidade exclu- quinto instar são 45 vezes menos suscetíveis que as de primeiro instar
CAFÉ
Formas de
controle
Veja as alternativas para o manejo do bicho-mineiro em café
N
os últimos anos o bicho-
-mineiro-do-cafeeiro tem
sido uma importante pra-
ga nos cafeeiros do Cer-
rado mineiro. Esta praga é peculiar em
nosso sistema cafeeiro porque depende
muito do manejo que cada produtor
realiza na sua lavoura. Por isso, é neces-
sário adotar diversas táticas de controle
da praga. A compreensão desta como
praga no sistema cafeeiro é de extrema
importância para o conhecimento das
suas injúrias e do prejuízo que causa.
O bicho-mineiro-do-cafeeiro (Leucop-
tera coffeella) é a principal praga no Cer-
rado mineiro. A intensidade dos danos
causados pelas larvas do bicho-mineiro
está associada a uma série de fatores,
como cultivares, manejo da cultura,
clima, altitude, estação do ano, uso de
produtos fitossanitários não seletivos,
presença de plantas espontâneas, entre
outros. As condições climáticas do Cer-
rado têm participação efetiva nos preju-
ízos proporcionados por esta praga. As
fêmeas são capazes de ovipositar cerca
de 50 ovos durante a vida. Nas condi-
ções do Cerrado, o bicho-mineiro pode
chegar a 22 gerações por ano, conside-
rando que o período com temperaturas
mais altas no Cerrado pode durar sete
meses, e o ciclo de vida pode chegar a
Mariana Martins
Figura 1 - percentual de folhas minadas ativas de L. coffe-
ella dentro dos blocos de liberação de Chrysoperla externa
no Alto Paranaíba, MG, 2019. *NC = nível de controle de
L. coffeella no Cerrado mineiro
A
soja é a quarta cultura mais ser polinizadas por visitantes florais até seis tividade da soja? O ovário da soja normal-
cultivada em todo o mundo, horas após a abertura da flor. mente apresenta de três a quatro óvulos,
depois de milho, arroz e trigo, As flores usam estratégias para atrair podendo atingir até seis óvulos. As observa-
contribuindo com 25% do óleo comes- abelhas como forma, tamanho, cor e subs- ções de campo mostram que o número mé-
tível e 65% da proteína para formulação tâncias voláteis. As abelhas atraídas são dio de sementes/vagem é de 2,5, indicando
de rações para consumo animal. Desde a reforçadas para continuar visitando flores que nem todos os óvulos são fecundados. A
década de 1970, a produção de soja cres- de uma determinada espécie de planta, a presença de abelhas aumenta a deposição
ceu mais rápido do que qualquer uma das fim de obter recursos (recompensas) pa- de pólen no estigma e a formação dos tubos
principais culturas, prevendo-se produção ra sua sobrevivência, como pólen, néctar, polínicos, elevando a probabilidade de fer-
próxima a 400 milhões de toneladas (Mt) resinas, ceras, lipídios e óleos essenciais. tilização dos óvulos. Nas lavouras próximas
nesta safra. O Brasil consolida-se como o Os cientistas demonstraram evidências de a apiários foi observado maior número de
maior produtor mundial, com colheita es- que a soja possui características de flores vagens com três e quatro grãos e menor nú-
timada de 159,8 Mt – 40% da soja produ- que, ativamente, atraem polinizadores, mero de vagens chochas ou com um grão.
zida no mundo - ocupando 43,8 milhões como (a) guias de néctar nas flores, para Em geral, os estudos realizados em di-
de hectares. orientação do polinizador; (b) emissões de ferentes países mostram um aumento de
A polinização é um dos serviços ecos- substâncias orgânicas voláteis sinalizado- produtividade da soja entre 15%-20%, na
sistêmicos mais importantes, permitindo a ras, que atraem abelhas; (c) um nectário presença de população adequada de abe-
perpetuação das espécies vegetais, garan- funcional que produz néctar com concen- lhas. Os experimentos da Embrapa mostra-
tindo o fluxo e a troca de material genético trações substanciais de açúcares solúveis. ram ganhos médios de 13%. Esse incremen-
entre plantas. Estima-se que existam 300 O néctar é a principal recompensa to de produtividade é uma renda líquida
mil espécies diferentes de plantas com flo- floral da soja para as abelhas, e o pico de para o produtor, uma vez que não requer
res, entre elas 1,2 mil são cultivadas para produção de néctar ocorre por volta do qualquer alteração no sistema de produção,
fornecer alimentos ou outros produtos e meio-dia, em quantidade apreciável e com como aumento de área, sendo utilizada a
serviços. Cerca de 80% das plantas com alta concentração de açúcares. Como na mesma quantidade de sementes, adubo,
flores precisam de algum tipo de poliniza- natureza todos os eventos têm uma fun- pesticida ou óleo diesel, ou seja, os custos
ção biótica, para o que contam com deze- ção, entende-se que, se uma planta de permanecem os mesmos. Considerando a
nas de milhares de espécies de artrópodes soja está investindo energia para atrair e produtividade média da safra 2022/23, e
polinizadores. fidelizar polinizadores, existe uma razão a cotação atual da soja, isso significa uma
Aproximadamente um terço da pro- para tanto, e essa razão é o aumento da renda líquida adicional de R$ 1.000,00 por
dução global de alimentos depende de produção de sementes pelas plantas. hectare. O que equivale a 25% do custo de
polinizadores. Nos EUA, US$ 5 bilhões são Nesse contexto, uma integração har- produção estimado para a próxima safra.
anualmente adicionados ao valor da pro- mônica de abelhas silvestres ou maneja- As emissões de gases de efeito estufa
dução agrícola, devido à polinização por das com a cultura da soja é primordial, são calculadas ao longo do ciclo da soja,
abelhas. Em termos globais, esse valor as- pois, com a expansão contínua de área, em sua maioria decorrentes dos insumos
cende a mais de US$ 200 bilhões. as lavouras de soja estão se aproximando utilizados. Ao colher mais, usando a mes-
dos repositórios de abelhas nativas ou dos ma quantidade de insumos, sem aumen-
Soja apiários fixos. Com a descoberta da soja tar a área utilizada, o produtor de soja está
A soja é descrita nos textos clássicos como um excelente pasto apícola, os api- diminuindo a quantidade de emissões por
como uma espécie autógama, autopoli- cultores estão posicionando seus apiários tonelada de soja produzida. Esse é um fato
nizável e cleistogâmica, portanto, quando migratórios nas proximidades de áreas de muito importante para compor a imagem
as flores se abrem, a maioria delas teria cultivo de soja, para permitir que as abe- de sustentabilidade da agricultura brasilei-
sido previamente autopolinizada. Ainda lhas forrageiem na planta. De sua parte, ra junto aos consumidores dos países que
nos anos 1980, pesquisadores americanos os sojicultores estão mostrando interesse importam nossos produtos.
demonstram que esta condição é preva- crescente na colocação de apiários próxi- A Embrapa publicou dois livros sobre o
lente em climas mais frios, onde as flores mos às suas lavouras, pelo incremento de tema, um denominado Soja e abelhas, e o
maduras permanecem parcialmente ou to- produtividade observado empiricamente outro Plantas que os polinizadores gostam,
talmente fechadas com baixa ou nenhuma na cultura. que podem ser adquiridos através do e-mail
produção de néctar. Estudos em ambien- livraria.aeesoja@gmail.com. C
S
omando soja e milho, teremos 175 milhões de toneladas mais crítico, a perda beirou os R$ 30 por saca. No mesmo momen-
(t) a serem embarcadas pelos portos. Só que a capacida- to, os prêmios americanos estavam em 80 a 90 pontos acima de
de máxima de embarque mensal deles oscila entre 17 e Chicago; ou US$ 31 por tonelada a mais nos portos americanos.
19 milhões de t. E isso quando tudo funciona de maneira ideal, O Brasil tem a melhor soja do mundo, com 44% a 48% de
sem chuvas. proteína. A soja americana tem 42% de proteína. A bolsa nego-
A estrutura está estrangulada. Isso faz com que navios fiquem cia com referencial de soja de 42% de proteína. O marcador de
ao largo por muito tempo até atracar e carregar. Por isso, os prê- qualidade é bom. Mas o país perde porque os navios têm que
mios - valores que formam o preço final que chega aos produtores ficar parados à espera do momento de atracar. Cada dia de um
- normalmente caem a valores negativos. Neste ano, o pico de bai- navio parado custa ao exportador de US$ 25 mil a US$ 50 mil.
xa chegou aos 230 pontos negativos nos meses de março e abril, Houve casos de navios parados por mais de 40 dias. Assim, foi
quando a soja estava em forte movimento e centenas de navios grande o desconto pago pelos produtores em razão de proble-
parados ao largo para atracar e carregar. A pressão de baixa nos mas de infraestrutura. O mesmo ocorre com milho e farelo.
prêmios naquele momento tirou do produtor US$ 0,23 por bushel. Bilhões de dólares desperdiçados!
Isso descontava um potencial de US$ 85 por tonelada de soja, re- Há necessidade de uma campanha para melhorar os portos.
presentando US$ 5 a menos por saca ao produtor. No momento Dobrar sua capacidade em poucos anos seria o ideal.
Milho Feijão
A safra está em colheita. A safrinha tem potencial de 100 O feijão da segunda safra está todo colhido. Houve perdas
milhões de toneladas (t) também está sendo colhida. Os em- em algumas áreas.
barques devem aumentar de agosto em diante. Até junho, As lavouras irrigadas devem manter os números do ano pas-
contabilizou-se pouco mais de 11 milhões de t embarcadas. sado. Assim, a safra total oscilará em torno de três milhões de t.
O número deve chegar ao final de 2023 em 50, 55 milhões Será inferior à demanda (3,3 milhões de t). Por isso, no segundo
de t. Esperam-se recorde histórico e ascensão no topo do semestre, espera-se mercado firme.
ranking dos exportadores mundiais.
Soja Arroz
Os embarques do ano totalizaram 53,4 milhões de t até a A demanda interna flui lentamente. As indústrias apostam no
primeira semana de junho. Há chance de chegar ao final do apoio do bolsa família para algum aumento de demanda. O arroz
ano com 95 milhões de t ou mais. O complexo soja, que tam- em casca gira lentamente. A indústria compra apenas o que pro-
bém envolve o farelo, faturou US$ 60 bilhões ano passado. cessará imediatamente. O ano está sendo de exportações, meio
Neste ano pode chegar aos US$ 70 bilhões. de os vendedores obterem liquidez.
Curtas e boas
TRIGO - O mercado reagiu em razão EUA - Produtores plantaram uma gran- brasileira. E carregar uns dez milhões de t
de problemas na safra dos EUA e riscos de safra, com cerca de 37,2 milhões de de milho brasileiro. Segue como o maior
de redução da oferta no Leste europeu. hectares de milho; e soja na faixa dos 35,4 importador mundial de alimentos.
Há chance de não renovação do corre- milhões. Mas sofreram já nas primeiras ARGENTINA - Sofreu muito. A safra está
dor de grãos livre no Mar Negro. Acordo semanas, enfrentando seca e calor. Pode na reta final da colheita da soja. Há ainda
que vence em 18 de julho. A produção haver menor potencial produtivo das la- milho para ser colhido. A soja rendeu algo
na Ucrânia é menor. Rússia destina vouras, com colheitas previstas em 387,8 perto de 21 milhões de t, frente ao poten-
grande parte das exportações para a milhões de t de milho e 122,7 milhões de t cial de 48 milhões de t. A safra do milho foi
China. Assim, o mercado internacional de soja. No final de junho as apostas mos- apontada na faixa de 36 milhões de t, frente
terá menos oferta. A safra Brasileira travam números bem menores. Fôlego ao potencial de 50 milhões de t. A seca foi
está nos campos, com área próxima à positivo para Chicago. muito dura e os investimentos dos produ-
do ano passado e potencial de colher CHINA - Segue num grande ano para tores têm sido cada vez menores. C
dez milhões de t. Assim, abaixo da de- compras. Tem levado das mãos para a bo-
manda. Haverá exportação a partir de ca nos momentos mais vantajosos. Assim, Vlamir Brandalizze
outubro; e importação no final da en- paga menos neste ano que nos anteriores. Brandalizze Consulting
tressafra. Deve levar mais de 65 milhões de t de soja Instagram: @brandalizzeconsulting
A
microbiologia do solo é es- Aí surgiram os primeiros estudos te para as plantas, mas como algo vi-
tudada de forma científica com os fixadores em gramíneas, com vo, dinâmico, que necessita de muita
desde o século 19. Passo a a classificação da nova espécie de administração para se manter saudá-
passo, com a evolução de novas tec- Azospirillum, o A. brasilense. A partir vel, sustentável e produtivo ao longo
nologias, os conhecimentos foram se daí, o caminho se abriu para novas dos anos.
acumulando e, com efeito sinérgico, pesquisas, sendo que se avolumaram E este movimento não vai parar
crescendo seu espectro, não só no em trigo, milho e arroz. E em 2009 por aqui. Ainda há uma longa, talvez
campo do conhecimento, mas na ge- foi registrado o primeiro inoculante infinita, estrada a ser percorrida. A
ração de tecnologias para aumentar a para estas culturas, com a fixação de prospecção de novos micro-organis-
produtividade agrícola. pequenas, mas expressivas quanti- mos, sua caracterização genética e
O uso de micro-organismos para o dades de nitrogênio e com uma forte a identificação de suas funções se
controle biológico teve como primeiro ação na produção de hormônios que tornaram muito mais fáceis e rápidas
e bem-sucedido desenvolvimento, a incrementam o desenvolvimento das com o uso de ferramentas genéticas,
criação dos inoculantes para legumi- plantas, a partir de um maior cresci- que permitem uma avaliação mais
nosas, no final do século 19, semen- mento radicular. rápida e mais segura, otimizando o
te do que viria a ser o caso de maior Isto abriu uma enorme possibili- tempo e os recursos financeiros das
sucesso no uso da microbiologia do dade de novas prospecções na mi- instituições de pesquisa.
solo como uma tecnologia microbio- crobiota dos solos, em diversas regi- Com o uso destas tecnologias, te-
lógica utilizada em larga escala na ões geográficas, e foram descobertos mos uma rápida descoberta de mais
agricultura. novos gêneros, espécies e cepas, com material biológico para ser testado
Hoje, o uso da fixação biológica do funcionalidades de grande utilidade em todas as fases até chegar à sua
nitrogênio é a fonte de nitrogênio mais para as culturas. disponibilização para as indústrias de
utilizada na cultura da soja, trazendo A partir daí, tendo em vista o estí- inoculantes, que devem se capacitar
consideráveis benefícios para o agri- mulo ao enraizamento, ao crescimen- a desenvolver produtos adequados às
cultor em termos de produtividade e to mais rápido das plantas, a uma mais necessidades da agricultura brasileira.
para a sociedade como um todo, pela intensa reciclagem de nutrientes e a A ANPII, hoje contando com 14 em-
redução da emissão de gases efeito outros fatores, inclusive o controle presas associadas, promove diversas
estufa, contribuindo para mitigar a concomitante de pragas e doenças, atividades divulgando os novos conhe-
mudança climática. novos inoculantes estão entrando no cimentos e auxiliando as associadas a
Até a década de 70 do século pas- mercado agrícola, tornando o uso de trilharem, cada vez mais, o caminho
sado, usava-se a palavra inoculante bioinsumos já não mais uma ferra- da modernidade e inovação, ofere-
apenas para os micro-organismos cha- menta alternativa, mas, sim, em mui- cendo bons produtos aos agricultores
mados diazotróficos, isto é, os fixado- tos casos sendo a primeira opção para brasileiros. C
A ameaça
Altas pressões do
fungo causador
da mancha-alvo
vêm ocorrendo ano
após ano na soja;
e aumentando no
algodão
A
cultura da soja é afe-
tada por várias do-
enças importantes,
classificadas como
foliares, da haste ou radiculares.
Entre as foliares se destacam a
ferrugem-asiática, as manchas
(alvo, cercosporiose e septo-
riose), a antracnose e o oídio.
Fundação MT
03
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04
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Divulgação
as toxinas dos patógenos, então a
proteção tem que ocorrer antes,
evitando a infecção ou o cresci-
mento inicial do fungo no interior
dos tecidos. Novamente, isso nos
remete à necessidade de um ma-
nejo preventivo, especialmente
nos genótipos mais suscetíveis,
nas áreas de monocultura de soja
ou de sucessão com algodão ou
crotalária.
O manejo efetivo da mancha-
-alvo envolve pelo menos quatro
medidas integradas, entre elas
a utilização de cultivares resis-
tentes ou tolerantes, o uso de
sementes sadias e tratadas com
fungicidas, a rotação ou suces-
são de culturas com espécies de
gramíneas e a aplicação de fun-
gicidas na parte aérea. Este úl-
timo está sob ameaça em razão
das constantes mutações sofri-
das pelos fungos, que lhes con-
ferem menor sensibilidade aos
produtos utilizados no controle.
Na prática, isso resulta em falhas
de controle no campo, aumento
do custo de produção e menor
rendimento de grãos.
A menor sensibilidade de
Corynespora aos fungicidas é al-
go bastante presente no Brasil,
sendo determinante a escolha
e a combinação dos fungicidas
a serem utilizados. Em um pri-
meiro momento, verificou-se
resistência aos fungicidas do
grupo dos benzimidazóis e es-
trobilurinas, que deixaram de
ser efetivos no controle da do-
ença. Posteriormente, foram ob-
servadas mutações que afetam
parcialmente a performance das
carboxamidas. Contudo, a partir
da safra 2028/19, o desempenho
de várias combinações de ativos
(Figura 3) vem apresentando re-
dução linear na sua eficácia so-
bre a mancha-alvo, o que ame-
aça a sustentabilidade tanto da
05
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Roberto Castro
manejo para prolongar a vida útil intervenções por safra e dando
das moléculas de ação sítio-es- início ao processo de resistência
pecífica, tendo em vista a baixa aos fungicidas.
diversidade de ingredientes ati- Com a implantação do vazio
vos eficientes para este alvo no sanitário e a definição de calen-
mercado. Urge, então, a adoção dários de semeadura, associados
dos fungicidas de ação multissítio, a novas e modernas combinações
como o mancozebe, o clorotalonil de fungicida, em programas de
e os cúpricos, que não só reduzem manejo mais preventivos, foi fun-
o risco de aumento da resistência damental a estabilização da ferru-
dos fungos, como proporcionam gem e seus danos. Cultivares mais
eficácia de controle mais estável, precoces e com resistência par-
benefícios que se traduzem em in- cial à doença e o conhecimento
cremento de produtividade. do patógeno também trouxeram
a sua contribuição.
Ferrugem-asiática Atualmente, a ferrugem da so-
A ferrugem-asiática, causada ja é uma doença bem manejada.
pelo fungo Phakopsora pachyrhi- Mas segue importante e não deve
zi, espalhou-se no Brasil no início ser subestimada. Os dados gera-
dos anos 2000. Rapidamente, tor- dos pelo Consórcio Antiferrugem
nou-se a doença mais destrutiva nas últimas três safras mostram
à soja (Figura 4). Nos primeiros diferenças - entre com e sem ma-
anos de convivência com a doen- nejo adequado da doença - pró-
ça, enquanto dois cultivos suces- ximas a uma tonelada de grãos
sivos de soja eram permitidos, e o por hectare. Convenhamos, isso
vazio sanitário ainda não era rea- não é pouco.
lidade, a redução na produtivida- A distribuição da ferrugem no
de de grãos pela ferrugem chegou Brasil segue fielmente os padrões
ao nível de 80%. E para minimizar climáticos. No verão 2021/22, sob
06
Doenças • revistacultivar.com.br
Fotos Divulgação
Figura 4 - Importância do controle químico com fungicidas (quatro aplicações, à esquerda) no manejo da ferrugem (testemunha sem fungicida à direita)
mero muito acima da média não inadequado. sultado desse processo, a eficácia
foram suficientes para um bom Apesar da menor prevalência média de alguns tipos de fungi-
controle da ferrugem, especial- da ferrugem nas últimas safras, cidas vem diminuindo. No perío-
mente devido à falta de atenção as mutações genéticas para re- do entre 2018 e 2022, de acordo
às condições favoráveis à doen- sistência aos fungicidas continu- com o os resultados do Consórcio
ça e a um manejo inicial tardio e aram se processando. Como re- Antiferrugem, ela variou de 68%
para 51%, ou de 73% para 59%
(Figura 6). Isso significa que, se
repetidos o mesmo manejo e os
produtos, os resultados atuais de
controle serão inferiores.
A eficácia do controle quími-
co da ferrugem é especialmente
menor no final do ciclo da cultu-
ra. Um mesmo tipo de fungicida,
aplicado em diferentes momen-
tos, especialmente a partir do
estágio R5.1 (Figura 7), apresen-
ta resultados inferiores. Contri-
buem para isso a maior intensi-
dade da doença, o caráter mais
curativo das aplicações, a maior
frequência de mutantes resis-
tentes na população do fungo, o
menor número de ingredientes
ativos seletivos e eficazes e o es-
tágio fisiológico da planta. Ficar
refém de aplicações emergenciais
à ferrugem é atitude de alto risco.
No jogo contra a ferrugem, a
vantagem deve ser estabelecida
no primeiro tempo, ou seja, nas
aplicações iniciais. É fundamen-
tal começar com os melhores
fungicidas, já aplicados a partir
do pré-fechamento das entre li-
A redução na produtividade da soja, exclusivamente pela mancha-alvo, variou de 9 a 21% nhas, usualmente V7-V8. Na safra
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Figura 5 - Distribuição da ferrugem-asiática nas safras 2021/22 (esquerda), 2022/23 (centro) e 2018/19 (direita),
última safra sob efeito do fenômeno El Niño no Sul. Consórcio Antiferrugem
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a eficácia de controle diminui Estrob. + Carbox. 81,1 72,4 66,3 47,6 48,6 43,7 38,4
(Tabela 1). A presença conjunta Estrob. + Carbox. + Multissítio 87,4 85,2 80,3 81,8 81,1 77,0 75,8
de um bom fungicida multissítio Estrob. + Triazol 88,1 77,8 74,4 60,2 63,5 50,6 52,9
proporciona maior estabilidade
Estrob. + Triazol + Multissítio 88,8 86,3 84,3 83,4 83,5 80,5 79,1
e segurança no manejo das do-
enças.
Controle efetivo da ferrugem
Roberto Castro
envolve várias estratégias. Vazio
sanitário, semeaduras no início
da safra e cultivares mais preco-
ces e com resistência parcial são
estratégias muito importantes e
que vêm antes no planejamento
da lavoura. A utilização de fun-
gicidas é fundamental e a única
disponível após a implantação
da cultura. Por isso, a indústria
investe pesado em pesquisa e
desenvolvimento de novos in-
gredientes ativos eficazes à fer-
rugem. Contudo, essa não é uma
tarefa fácil e rápida. Então com-
binar ingredientes ativos já exis-
tentes em mesclas mais robustas
e diferentes tem sido a estratégia
para manter o controle químico
seguro a curto e médio prazos.
Nossa parte é utilizá-los correta-
mente para que possam expres-
sar todo seu potencial, minimizar
os riscos de resistência, manter
a sustentabilidade da soja e pro-
teger o ambiente.
Tanto no caso da ferrugem
como da mancha-alvo é impor-
tante considerar a regionalidade
da informação de eficácia dos
fungicidas, pois existem popu-
lações com níveis de resistência
variáveis. Um mesmo produto
poderá apresentar resultados
diferentes conforme o local on-
de é aplicado. Nenhum fungi- A ferrugem-asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, surgiu no Brasil no
cida isoladamente será seguro início dos anos 2000 e, rapidamente, se tornou a doença mais destrutiva à soja
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Caderno Técnico
Circula encartado na revista
Cultivar Grandes Culturas nº 290
Capa - Marcelo Madalosso
Reimpressões podem ser solicitadas
através do telefone: (53) 3028.2075
A menor sensibilidade de Corynespora aos fungicidas já é algo bem presente no Brasil, www.revistacultivar.com.br
sendo determinantes a escolha e a combinação dos fungicidas a serem utilizados
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