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Cultivar Grandes Culturas • Ano XXV • Nº 290 • ISSN - 1516-358X

Expediente Editorial
Grupo Cultivar de Publicações Ltda.
CNPJ: 02783227/0001-86
Insc. Est. 093/0309480
A edição deste mês da revista Cultivar Grandes Culturas destaca a
Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 chegada da cigarrinha-africana (Leptodelphax maculiger) ao Brasil.
Pelotas – RS • 96015-300 Identificada no estado de Goiás, requer atenção para se saber qual o
seu desenvolvimento e o potencial de migração e de dano. Artigo de
revistacultivar.com.br
contato@grupocultivar.com
capa descreve o que se sabe sobre essa nova ameaça, já conhecida
em outros países.
Assinatura anual (11 edições*): R$ 290,90
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
A luta contra a ferrugem continua a ser um desafio para os produ-
Números atrasados: R$ 28,00
Assinatura Internacional:
tores. O fungo Phakopsora pachyrhizi tem mostrado evolução preo-
US$ 150,00 cupante, com a eficácia dos fungicidas diminuindo a cada safra, con-
€ 130,00 forme informa o Consórcio Antiferrugem. Artigo sobre o tema apre-
FUNDADORES senta também os resultados da tradicional avaliação de fungicidas.
Milton de Sousa Guerra (in memoriam)
Newton Peter Por outro lado, seguem os avanços significativos no entendimento
Schubert Peter de problemas como o quebramento de hastes e a podridão de va-
gens e grãos de soja. Pesquisas apontam formas de manejo para os
• Diretor produtores.
Newton Peter
REDAÇÃO
E a importância do conhecimento biológico é destacada em artigo
• Editor sobre a aplicação de bioinseticidas. Entender o alvo biológico é cru-
Schubert Peter
cial para o sucesso dessa tecnologia, e nosso artigo fornece orienta-
• Redação ções valiosas nesse sentido.
Rocheli Wachholz
Miriam Portugal
Nathianni Gomes O manejo específico por cultivar é outro tópico abordado, com fo-
co na rentabilidade do trigo. A atenção aos detalhes pode fazer uma
• Design Gráfico e Diagramação grande diferença na produtividade e na lucratividade.
Cristiano Ceia
• Revisão Isso e muito mais você encontra nas próximas páginas.
Aline Partzsch de Almeida
COMERCIAL
COMERCIAL Boa leitura!
• Coordenação
Charles Ricardo Echer Schubert Peter

• Vendas
Sedeli Feijó Índice
José Geraldo Caetano
04 Diretas Nossa
Franciele Ávila
06 Mundo Agro capa
CIRCULAÇÃO
07 Coluna Jogo Ganho
• Coordenação
Simone Lopes 08 Ferrugem-asiática
16 Quebramento das hastes e podridão dos grãos
• Assinaturas
Natália Rodrigues 21 Danos por nematoides e suas formas de controle

• Expedição 26 Capa - nova praga no Brasil


Edson Krause 30 Vencedores do Desafio Cesb
33 Remineralizadores de solo
Nossos Telefones: (53)
36 Manejo específico em cultivares de trigo
• Assinaturas • Comercial e Redação
3028.2000 3028.2075 40 Alvo biológico e bioinseticidas
Crédito de Mauricio Paulo Batistella Pasini
44 Bicho-mineiro em café
revistacultivar.com.br Relato científico recente
instagram.com/revistacultivar 48 Coluna Agronegócios descreve o encontro de
facebook.com/revistacultivar 49 Coluna Mercado Agrícola cigarrinha-africana em
youtube.com/revistacultivar milho no Estado de Goiás
50 Coluna ANPII
twitter.com/revistacultivar
Carolina Deuner (UPF)

SOJA

Avanços no
entendimento
Com novas pesquisas, quebramento de hastes
e podridão de vagens e grãos de soja tornam-
se problemas manejáveis pelo produtor

D
esde a safra de 2021/22, diversas institui-
ções de pesquisa vêm desenvolvendo novos
estudos visando aprofundar o entendimento
sobre os sintomas de quebramento de haste
e apodrecimento de vagens e grãos de soja. Os primeiros
sintomas foram relatados durante a safra de 2019/20 na
região do Médio-Norte, do Estado de Mato Grosso, com-
preendendo os municípios de Ipiranga do Norte, Tapurah,
Sorriso e Lucas do Rio Verde.
Na safra de 2022/23, esse problema estendeu-se para
outros municípios do Estado de Mato Grosso e, segundo
informações de produtores locais, relatos de perdas supe-
riores a 40% são observados em áreas com alta incidência
de quebramento de haste. Além dos danos observados
no campo, o problema se estende para grãos e semen-
tes armazenados, em que a perda na qualidade do grão
torna-se mais severa conforme o aumento do tempo de
armazenamento. Nesse caso, as sementes sintomáticas
tornam-se fonte de inóculo para as sementes sadias, au-
mentando os riscos de contaminação, além de ser fonte
de inóculo para a safra seguinte.
Os sintomas de quebramento de hastes e apodreci-
mento de vagens e grãos foram popularmente denomi-
nados de anomalia de hastes e vagens. Contudo, pesqui-
sas recentes identificaram fitopatógenos que causam os
sintomas típicos de quebramento de hastes e podridão
de vagens e grãos. Os sintomas característicos foram ob-
servados na parte inferior da planta, cerca de 3 cm a 5 cm
acima do solo. Nas hastes, são observadas estrias longi-
tudinais ao longo do caule evoluindo para necrose, que
podem ou não ocasionar seu quebramento. Nas vagens,
os sintomas comuns se iniciam na junção dos tecidos das

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Figura 1 - (A) região de amostragem e percentual de gêneros fúngicos presentes em amostras de plantas de soja
com sintomas de quebramento de hastes; (B) região de amostragem e percentual de gêneros fúngicos presentes
em amostras de plantas de soja com sintomas de podridão de vagens e grãos

A B

vagens, que evoluem para necrose representatividade dos locais de co- comerciais de fungicidas. Para isso,
parcial ou total desse órgão, oca- leta, durante a safra de 2022/23 as foram testadas as carboxamidas:
sionando a podridão. Nesses casos, amostragens incluíram os Estados de benzovindiflupir (Solatenol - STL),
as sementes ou os grãos também Goiás, Tocantins e Rondônia. fluxapiroxade (FXD), bixafem (BIX)
ficam comprometidos, podendo ser Os experimentos foram condu- e impirfluxam (IPFX); e os triazóis:
observado um aspecto enrugado zidos em duas etapas, sendo que difenoconazol (DFZ), protioconazol
com alteração de cor (escurecido ou na primeira, o objetivo foi realizar (PTZ) e mefentrifluconazol (MFTZ).
pálido). o isolamento dos fungos envolvi- As concentrações de fungicidas tes-
Em estudo recente, publicado dos no quebramento de hastes e tadas foram: 0,01 mg, 0,1 mg, 1 mg,
pela revista Cultivar na edição 281, apodrecimento de vagens e grãos, 10 mg e 100 mg de ingrediente ativo
foram identificados os gêneros fún- confirmar sua patogenicidade em (I.A.) por litro (L). Placas de Petri com
gicos Diaporthe/Phomopsis, Colleto- soja e identificar molecularmente o meio de cultura batata-dextrose-
trichum spp. e Cercospora spp. em os principais patógenos encontra- -ágar (BDA) BDA foram utilizadas co-
amostras de plantas de soja com dos nas amostras sintomáticas. No mo controle.
sintomas de podridão de vagens e segundo experimento, o objetivo foi Para realizar a etapa de isolamen-
grãos. Os primeiros estudos desen- verificar a eficiência de controle in to e identificação dos patógenos,
volvidos até o momento contaram vitro das principais carboxamidas e foram coletadas 64 amostras de
com amostragem de plantas sinto- triazóis que compõem as misturas soja com sintomas de quebramento
máticas direcionada exclusivamente
para regiões do Estado do Mato
Grosso, e as pesquisas foram condu-
zidas para o entendimento do apo-
drecimento de vagens e grãos.
Diante disso, visando o entendi-
mento desse problema, pela segun-
da safra consecutiva, foram realiza-
das coletas de plantas de soja que
apresentavam sintomas de quebra-
mento de hastes e apodrecimento
de vagens e grãos nas regiões com Figura 2 - inoculação de plantas de soja sadias com Diaporthe spp., utilizando o método de
alta incidência dos sintomas. Adicio- inoculação direta com palitos contaminados com o fungo e confirmação da patogenicidade
nalmente, visando garantir a maior (Postulado de Koch) do fungo Diaporthe spp. causando o quebramento de haste em soja

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Figura 3 - (A) percentual de controle in vitro de Diaporthe spp. e (B) Colletotri-
chum spp. contra benzovindiflupir (STL), fluxapiroxade (FXD), bixafem (BIX) e e Colletotrichum spp., de
impirfluxam (IPFX); ao lado de ambos os gráficos estão as fotos representativas forma que foi possível fa-
dos ensaios de Diaporthe spp. e Colletotrichum spp., respectivamente zer associação constante
entre os sintomas pre-
A sentes no campo e esses
patógenos presentes nas
lesões.
A fim de investigar
a relação desses fun-
gos com os sintomas de
quebramento e a podri-
dão, foram executadas
as etapas do Postulado
B de Koch. Para o teste de
patogenicidade, foram
utilizados isolados de Dia-
porthe spp. recuperados
de plantas com sintomas
de quebramento de has-
tes e podridão de vagens
e grãos. Plantas de soja
sadias foram inoculadas,
utilizando o método de
inoculação de micélio
fúngico por infecção dire-
de hastes e 39 amostras com sinto- Paulo. Para a identificação, foi rea- ta do caule (Figura 2). Após, 21 dias
mas de apodrecimento de vagens lizado o isolamento direto a partir sob condições controladas em casa
e grãos, visando garantir a maior de estruturas fúngicas presentes de vegetação, as plantas inoculadas
representatividade em áreas comer- nos tecidos vegetais. Os fungos pu- apresentaram os primeiros sinto-
ciais e com maiores severidades dos rificados foram cultivados em meio mas de necrose e quebramento da
sintomas. As amostragens foram re- de cultura BDA, e a confirmação da haste (Figura 2). A confirmação da
alizadas em 22 municípios do Brasil, identidade dos isolados foi realizada patogenicidade ocorreu com o rei-
coletadas nos Estados de Goiás (Pla- por meio de sequenciamento da re- solamento de Diaporthe spp. recu-
naltina e Rio Verde), Mato Grosso gião ITS (região interna do espaça- perado de plantas de soja inocula-
(Brasnorte, Campo Novo do Parecis, dor transcrito do DNA ribossomal). das com os patógenos. O isolado de
Campo Verde, Canarana, Confresa, Nas amostras provenientes de Diaporthe spp. obtido foi novamen-
Diamantino, Lucas do Rio Verde, hastes foram obtidos 125 isolados, te sequenciado para a confirmação
Nova Mutum, Querência, Santa Rita sendo esses Diaporthe/Phomopsis do gênero, levando à conclusão das
do Trivelato, Sapezal, Sinop, Sorriso spp. (35,2%), Colletotrichum spp. etapas do Postulado de Koch (Figu-
e Tabaporã), Rondônia (Ariquemes, (25,6%), Fusarium spp. (25,6%) e ra 2). Esse resultado sugere, por-
Colorado do Oeste, Itapuã do Oeste Cercospora spp. (13,6%) (Figura tanto, relação causal entre o fungo
e Rio Crespo) e Tocantins (Gurupi e 1A). Nas amostras com sintomas de Diaporthe spp. e os sintomas de
Santa Rosa do Tocantins). apodrecimento de vagens e grãos, necrose e quebramento da planta
As etapas de isolamento, identi- foram identificados os gêneros Col- (Figura 2).
ficação, patogenicidade e análises letotrichum spp. (32,4%), seguidos Para o teste de efetividade in
moleculares foram conduzidas no de Diaporthe spp. (29,7%), Cer- vitro de carboxamidas e triazóis,
Centro de Pesquisa e Desenvolvi- cospora spp. (25,2%) e, em menor foram selecionados dez isolados
mento da estação experimental frequência, o fungo Fusarium spp. de Colletotrichum spp. e Diaporthe
da Syngenta Proteção de Cultivos, (12,7%) (Figura 1B). Os fungos mais spp. Entre as carboxamidas testa-
localizada na cidade Holambra, São recorrentes foram Diaporthe spp. das, o fungicida STL apresentou a

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Figura 4 - (A) percentual de controle in vitro de Diaporthe spp. e (B) Colletotrichum spp. contra
difenoconazol (DFZ), protioconazol (PTZ) e mefentrifluconazol (MFTZ); ao lado de ambos os
gráficos, estão as fotos representativas dos ensaios para Diaporthe spp. e Colletotrichum
spp., respectivamente

maior atividade intrínseca tanto para dridão de vagens e grãos. mento químico/biológico de semen-
Diaporthe spp. quanto para Colleto- Esses resultados indicam uma tes. Essas são medidas simples, mas
trichum spp. (Figura 3A). A inibição maior associação de Diaporthe/Pho- eficientes para mitigar o problema. A
do crescimento micelial foi superior mopsis spp. com os sintomas descri- correta identificação dos patógenos
a 60% desde a dose de 10 mg de tos como quebramento de haste e envolvidos e a utilização de controle
I.A./L para ambos os patógenos. O apodrecimento de vagens e grãos, cultural associado ao controle quími-
controle de Colletotrichum spp. foi uma vez que esses sintomas são bas- co eficiente são importantes estraté-
superior a 90% desde a dose de 10 tante similares aos observados na gias de manejo para reduzir danos na
mg de I.A./L (Figura 3B). Entre os literatura americana. Novos estudos produtividade e obter maior qualida-
triazóis, DFZ e PTZ apresentaram deverão ser realizados para identifi- de dos grãos da soja. C

atividades intrínsecas superiores ao car as espécies dos fungos e confir-


MFTZ. Controle superior a 90% foi mar se o quebramento de haste e a Ricardo Francisco Desjardins Antunes,
observado para o fungo Diaporthe podridão de vagens e grãos são sin- Flávia Elis de Mello,
spp. com os fungicidas DFZ e PTZ tomas correlacionados ou se ocor- Sandra Marisa Mathioni,
(Figura 4A). Para Colletotrichum spp., rem de forma independente, uma Victoria Oasis Regis Lessa Matos,
os fungicidas DFZ e PTZ foram os vez que os três gêneros de patóge- Syngenta Proteção de Cultivos;
mais eficientes e apresentaram uma nos são encontrados nos três tecidos Monikéli Aparecida da Silva,
inibição de crescimento micelial su- da planta (haste, vagem e grão). UPF;
perior a 80% (Figura 4B). A rápida expansão dos sintomas Douglas Braga Marques,
Os gêneros fúngicos Diaporthe/ e disseminação para outros Estados Laércio Luiz Hoffmann,
Phomopsis, Colletotrichum spp. e levanta um alerta ao produtor para Syngenta Proteção de Cultivos;
Fusarium spp. foram predominan- o emprego de medidas de controle, Juliano Martins Diniz,
tes em amostras que apresentaram como a sanitização adequada de JMD Agro Sementes;
sintomas de quebramento de haste maquinários que são movimentados Carolina Cardoso Deuner,
e em amostras com sintomas de po- de uma região para outra e o trata- UPF

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