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Expediente Editorial
Grupo Cultivar de Publicações Ltda.
CNPJ: 02783227/0001-86 A produção agrícola é uma das bases mais sólidas da economia bra-
Insc. Est. 093/0309480 sileira. Em tempos de incertezas, a revista Cultivar Grandes Culturas des-
Rua Sete de Setembro, 160
Pelotas – RS • 96015-300 te mês apresenta desafios emergentes. A detecção precoce de ferrugem-
-asiática na Região Sul lança um alerta. O fungo Phakopsora pachyrhizi
revistacultivar.com.br
contato@grupocultivar.com
manifestou-se em plantas de soja guaxa antes mesmo da janela de se-
meadura. Essa antecipação pode representar sérias implicações para a
Assinatura anual (11 edições*): R$ 293,90 saúde da cultura na região.
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 28,00
Assinatura Internacional: A resistência das plantas daninhas a herbicidas torna-se uma preo-
US$ 150,00 e € 130,00
cupação renovada. O picão-preto, já conhecido por sua resistência no
FUNDADORES passado, reaparece. Dessa vez resistente ao glifosato. Isso sinaliza que
Milton de Sousa Guerra (in memoriam) soluções de décadas atrás podem não ser mais suficientes hoje.
Newton Peter
Schubert Peter
No controle de pragas, diferentes manejos são testados. Os números
• Diretor reafirmam o Brasil como grande produtor de soja. Porém, as pragas, co-
Newton Peter mo lagartas e percevejos, comprometem essa produção. Cada uma das
REDAÇÃO opções possui vantagens e desvantagens...
• Editor
Schubert Peter Por sua vez, o algodão enfrenta ameaças de uma variante do nema-
toide-das-galhas. Uma praga que pode comprometer a já consolidada
• Redação
Rocheli Wachholz posição do Brasil no mercado têxtil. A cana-de-açúcar, pilar do agrone-
Miriam Portugal gócio brasileiro, também não escapa. A cigarrinha-da-cana-de-açúcar
Nathianni Gomes causa perdas variáveis, afetando desde a produtividade até a qualidade
• Design Gráfico e Diagramação da matéria-prima.
Cristiano Ceia
• Revisão Diante desses desafios, apresentamos alternativas. As ameaças são
Aline Partzsch de Almeida reais e variadas. É imperativo estar alerta e investir em pesquisa e de-
COMERCIAL
COMERCIAL senvolvimento.
• Coordenação
Charles Ricardo Echer Tudo isso e muito mais nas próximas páginas. Boa leitura!
• Vendas
Sedeli Feijó Índice
José Geraldo Caetano
Franciele Ávila 04 Diretas Nossa
CIRCULAÇÃO
06 Mundo Agro capa
07 Coluna Jogo Ganho
• Coordenação
Simone Lopes 08 Tratamento de sementes em soja
Biotrop
“A Biobest, presente no mercado
global há 36 anos e com mais de 2,5
mil colaboradores, é a melhor escolha
para a Biotrop por ser uma organiza-
ção 100% concentrada em produtos
biológicos, ter presença global, porém
não estar presente na América Latina”,
analisou Antonio Carlos Zem, CEO da
Biotrop, sobre a recente negociação
envolvendo as empresas.
Agrocete
A Agrocete lançou o NOD nos minerais do solo, disponi-
PHOS. Trata-se de produto bio- bilizando parte desse nutriente
lógico "3 em 1", possibilitando para absorção pela cultura da
redução da aplicação do ferti- soja.
lizante fosfatado, mantendo a De acordo com Andrea de
produtividade e reduzindo os Figueiredo Giroldo, diretora
custos para o produtor rural. de marketing e desenvolvimen-
Conforme informa a empre- to da Agrocete, a parceria da
sa, as três ações do produto: empresa com instituições de
(a) fixação biológica de nitrogê- pesquisa é fundamental. No
nio (FBN), complementar à rea- caso do NOD PHOS, possibili-
lizada pelas bactérias Bradyrhi- tou comprovar para técnicos e
zobium, já tradicionalmente uti- produtores os efeitos buscados
lizadas na soja; (b) promoção pela empresa em suas novas
de crescimento vegetal natural, soluções.
induzida pela liberação de fitor- O NOD PHOS é atualmente
mônios pelas bactérias conti- registrado para soja, mas há pe-
das no produto biológico; e (c) dido de registro para a cultura
solubilização de fósforo retido do milho.
Embrapa BioConsortia
O Instituto A BioConsortia Inc. expande-se no Brasil. Seu fo-
Nacional da co são produtos microbianos que "reduzem a neces-
Propriedade sidade de fertilizantes de nitrogênio sintético e pro-
Industrial (Inpi) tegem as plantações de pragas". A empresa busca
deferiu o pedi- registro para vários produtos aplicados em semen-
do de patente tes, incluindo um fungicida direcionado a patógenos
do “Processo do início da estação, como rizoctonia e pythium,
de Produção de Nanocompósito de Carbonato de bem como um nematicida de amplo espectro que
Cálcio e Lignina Kraft a partir de Emissões Gasosas”, também mostra atividade contra importantes inse-
desenvolvido pela Embrapa Agroenergia. O processo tos do solo, como a lagarta-da-raiz do milho.
contribui para a mitigação de gases do efeito estufa, Há algum tempo, a BioConsortia anunciou acordo
pois utiliza emissões de dióxido de carbono (CO2) para comercial e de pesquisa e desenvolvimento com a
produzir um nanocompósito de carbonato de cálcio e Mosaic Company para soluções microbianas fixado-
lignina kraft. ras de nitrogênio. Os testes de campo na produção
A invenção é resultado do projeto AgriCarbono, ini- brasileira de milho já estão em andamento.
ciado em 2019 e encerrado no primeiro semestre des-
te ano. O propósito da pesquisa era usar gás carbônico
para a produção de suportes de liberação controlada
de moléculas de agroquímicos.
conhecimento
inovações, temos a
utilização de ozônio
contra patógenos;
o gás tem efeito
consolidado
deletério sobre os
micro-organismos
O
tratamento de cada vez mais dependente da tal, visto que se a planta de iní-
sementes é um utilização de sementes trata- cio estiver nutrida e protegida,
processo descrito das, o que mostra um entendi- terá em tese maiores chances
como a cobertu- mento bastante peculiar desta de ser mais resiliente às intem-
ra de sementes com produtos ferramenta, podendo aumen- péries e se desenvolver dessa
fitossanitários sintéticos ou tar consideravelmente a produ- forma com maior força e de-
biológicos. Alguns autores vão ção agrícola. Tais tecnologias sempenho.
além e descrevem que fatores são capazes de causar efeitos Atualmente, por exemplo,
como a luz, a temperatura, os diretos até as quatro primeiras quando pensamos em grandes
gases, dentre outros, podem semanas de plantio, quando há produções de soja, podemos
ser utilizados de maneira ra- cotilédones, ou um pouco após entender uma série de fatores
cional para o tratamento de sua queda das plantas. Além tecnológicos que têm promo-
sementes. disso, podem ocorrer efeitos vido este crescimento. Dentre
A agricultura atual tem sido que refletem no ciclo do vege- estes fatores, há o tratamento
controles
semeadura.
Material
e métodos
Os experimentos foram instala-
dos no campo experimental do Ins-
Manejos biológico, misto e químico apresentaram titudo Goiano de Agricultura (IGA),
resultados diversos no controle de pragas na cultura da soja Fazenda “Rancho Velho”, localizada
na Rodovia GO 174, km 45, à direita
A
+ 5 km, municipío de Montividiu –
tualmente, o Brasil é o de soja, entre eles as lagartas desfo- GO, nas coordenadas 17° 26’ 43.51’’
segundo maior produ- lhadoras e de vagens, o percevejo- latitude Sul e 51° 08’ 47.55’’ longitu-
tor e exportador mun- -marrom e a mosca-branca podem de Oeste, e 864 metros de altitude,
dial de soja [Glycine ser considerados os de maior im- durante o período de 20 de outubro
max (L.) Merrill], apresentando área portância no Brasil. de 2021 a 23 de março de 2022.
plantada de 41,4 milhões de hec- Levando em consideração o po- Foram implantados dois ensaios,
tares (ha), com produção de 125,5 tencial de dano destas pragas, o sur- o primeiro na janela usual da região
milhões de toneladas (t) e produti- gimento de populações renitentes para semeadura da cultura (primei-
vidade de 3.026 quilos por hectare e o uso indiscriminado de produtos ra época) e o outro, 30 dias depois
(kg/ha), conforme dados da safra químicos na tentativa de controle, (segunda época), com o intuito de
de 2021/22. Entretanto, existem o uso de produtos biológicos em observar a ocorrência e avaliar a
vários fatores que interferem na um manejo alternativo (misto) será pressão das pragas no plantio mais
sua produção, ocasionando grandes uma opção viável para os produto- tardio. A semeadura da primeira
prejuízos. Além do clima, os insetos- res. Desta forma, este trabalho teve época da soja foi realizada no dia 20
-praga são outra importante causa o objetivo de avaliar a eficiência dos de outubro de 2021 e da segunda
de redução da produção da cultura manejos biológico, misto e químico época no dia 20 de novembro de
ca com espaçamento de 0,45 m en- T2 Manejo Controle de insetos-praga realizado apenas com produtos Biológicos
Biológico (On farm ou comercial - fungos, bactérias e vírus) do plantio a colheita Realizado igualmente para todos
tre linhas e 20 plantas/metro linear, os tratamentos, conforme áreas do
totalizando uma população total Manejo
Controle de pragas realizado com produtos Biológicos (On farm ou talhão onde o ensaio foi instalado
T3 comercial - fungos, bactérias e vírus) e Químicos, intercalados, conforme
aproximada de 440 mil plantas/ Misto
nível de controle da população de pragas do plantio a colheita
ha. O delineamento experimental Manejo Controle dos insetos-praga realizado exclusivamente
adotado para ambos os ensaios foi T4
Químico com produtos Químicos (do plantio a colheita)
o de blocos casualizados (DBC), com
quatro tratamentos distribuídos
em quatro repetições, totalizando Figura 1 - flutuação populacional dos insetos-praga após aplicações dos manejos
16 unidades experimentais cada. biológico, misto e químico na primeira época de semeadura da soja, cultivar
As unidades experimentais consis- BMX Desafio RR. Safra 2020/2021. Montividiu, GO
tiram em sete linhas de soja espaça-
das a 0,45 metro (m) por 10 m de
comprimento, com área útil total
equivalente a 31,5 m² por parcela
e 504 m² de área total ocupada. A
descrição dos manejos utilizados
na cultura da soja para controle dos
insetos-praga encontra-se exposta
na Tabela 1.
Para a definição dos produtos a
serem aplicados em cada manejo,
foi realizado monitoramento se-
manal nas duas épocas de plantio,
sendo contabilizado o número de
indivíduos por espécie (utilizando
Controle - - - - - - Controle - - - - - -
Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Metarhizium
M. anisopliae
anisopliae +
Biológico thuringiensis thuringiensis thuringiensis thuringiensis thuringiensis thuringiensis Biológico thuringiensis thuringiensis thuringiensis thuringiensis Beauveria + B. bassiana
bassiana (2,0 + (2,0 + 2,0 Kg ha-1)
(4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) 2,0 Kg ha-1)
pano de batida e coleta de folhas), vazão de 150 L/ha. tos presentes. Já o monitoramento
e as aplicações foram definidas a As descrições dos produtos apli- de mosca-branca foi realizado atra-
partir do índice populacional de cados, a partir do índice das pragas vés da retirada dez folhas do terço
cada praga presente na área, desta nas duas épocas estão descritas nas médio das plantas ao acaso por par-
forma, para cada época de semea- Tabelas 2 e 3. cela, e posteriormente levadas ao
dura foi adotado um manejo espe- As avaliações de incidência das laboratório para contagem de ninfas
cífico visando a praga com maior pragas foram realizadas semanal- e de ovos de praga. Foi utilizada
incidência. As aplicações foram re- mente, sendo adotada para lagartas uma lupa disposta sobre bancada,
alizadas com pulverizador costal de e percevejo-marrom a metodologia com aumento de 40 x, para auxiliar
pressão constante, propelido a CO2, de pano de batida. Foram padroni- na observação em 4 cm² por folha
equipado de barra com seis pontas, zadas três batidas de pano por par- e contagem de ninfas da praga. Ao
espaçadas a 0,5 m do tipo cone va- cela na amostragem, realizando a todo foram realizadas dez amostra-
zio, modelo Conejet TXA 8002 VK e contagem e identificação dos inse- gens no ensaio de primeira época e
nove amostragens no ensaio de se-
gunda época.
Figura 2 - flutuação populacional dos insetos-praga após aplicações dos manejos A colheita dos experimentos foi
biológico, misto e químico na segunda época de semeadura da soja, cultivar realizada de forma mecânica, com
BMX Desafio RR. Safra 2020/2021. Montividiu, GO
auxílio de colhedora de parcelas
Almaco, sendo colhidas as quatros
linhas centrais em 10 m de compri-
mento e estimada a produtividade
(13% b.u) por hectare. As médias
foram avaliadas por análise de vari-
ância com aplicação do teste F a 5%
de probabilidade. Quando o efeito
de tratamentos foi significativo,
realizou-se teste de comparação de
médias pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade, com o auxílio do pro-
grama estatístico SASM-Agri.
Ao final, foram realizadas análises
de custo dos dois ensaios, avaliando
a relação entre o número de aplica-
ções, os custos e a produtividade de
Controle - - 102,0 - -
Controle - - 62,0 - -
cada manejo empregado no contro- cações visando o controle destas la- duas lagartas por pano de batida
le das pragas na cultura da soja. gartas (tanto com produto biológico durante as semanas de monitora-
quanto químico) foram eficientes, mento (Figura 2).
Resultados reduzindo a população de lagartas A partir da sexta avaliação foi
e discussão e mantendo o índice menor que identificada a presença de S. frugi-
De acordo com os monitora- um por pano de batida ao longo perda, mosca-branca e percevejo-
mentos no ensaio conduzido na pri- do período de monitoramento. Em -marrom na área do ensaio. Após a
meira época de semeadura, foi ob- relação ao percevejo-marrom (E. sétima avaliação foram realizadas
servado no início a predominante heros), a população da praga per- aplicações focadas no controle dos
ocorrência da lagarta falsa-medidei- maneceu com baixo índice de ocor- insetos sugadores (mosca-branca
ra. A população desta praga atingiu rência, sendo observada ocorrência e percevejo-marrom), sendo ob-
maior quantidade de indivíduos na nas últimas três avaliações (Figura servada eficiência de até 54% no
oitava semana de monitoramento 1). Assim, entre os manejos da pri- manejo biológico (M. anisopliae +
(Figura 1). As aplicações do mane- meira época não foi necessária uma B. bassiana), 85% no manejo misto
jo biológico visando o controle da aplicação específica visando o con- (acefato) e 77% no manejo quími-
falsa-medideira mantiveram a po- trole desta praga. co (zeta-cipermetrina + bifentrina)
pulação da praga menor que duas Já em relação aos resultados para mosca-branca (Figura 2). Após
lagartas por pano de batida até a obtidos no ensaio conduzido em se- as aplicações, o índice de percevejo-
sétima avaliação, quando houve gunda época de semeadura, foi ob- -marrom se manteve abaixo de um
crescimento da população desta servada maior ocorrência de inse- por pano de batida em todos os
lagarta. A partir deste momento, as tos-praga durante o ciclo da cultura tratamentos aplicados, enquanto a
aplicações do B. thuringiensis uti- (Figura 2). A lagarta falsa-medideira testemunha apresentou 1,5 perce-
lizado no estudo “tratamento bio- foi encontrada ao longo de todas as vejo por pano de batida ao final das
lógico” não apresentaram o efeito avaliações realizadas, sendo a única avaliações.
desejado. praga com ocorrência nas primeiras No cultivo de primeira época
Ainda no ensaio conduzido na cinco semanas de monitoramen- não foi observada diferença signi-
primeira época de semeadura, a to. As aplicações com o produto ficativa entre os tratamentos para
presença de S. frugiperda e A. gem- biológico B. thuringiensis (manejo a produtividade da soja (Figura 3).
matalis deve ser pontuada, mesmo biológico), com produto biológico Os manejos biológico, misto e quí-
que em índices menores quando B. thuringiensis seguido de químico mico apresentaram produtividade
comparado ao da falsa-medideira, clorfenapir (manejo misto) e com semelhantes (105 sacas por hectare
apresentou maior ocorrência da produto químico espinetoram (ma- - sc/ha), enquanto o controle, sem
terceira até a sétima semana de nejo químico) mantiveram a popu- aplicações de inseticidas, obteve
monitoramento (Figura 1). As apli- lação da falsa-medideira abaixo de três sacas a menos (102 sc/ha). No
A
safra brasileira de grãos culturas de milho safrinha e algo- doptera, Helicoverpa e falsa-me-
no ciclo 2023/24 poderá dão, torna o terreno ainda mais dideira, e os percevejos, que são
chegar a uma produção fértil para o aumento da lagarta, os grandes vilões das plantações.
de 317,5 milhões de toneladas, que tem alta capacidade de adap- “Essa tecnologia inédita foi desen-
de acordo com a Companhia Na- tação. A gerente explica que “os volvida para o cenário brasileiro e
cional de Abastecimento (Conab). agricultores perceberam que a passou por uma fase de otimiza-
Devido à imensidão de território Spodoptera está fazendo o ciclo ção para extrair o melhor efeito si-
brasileiro semeado e como cada completo durante todo o ano e nérgico dos ativos. A combinação
região é impactada por diferentes existe presença constante da la- e a proporção exatas dos ingre-
variações climáticas e pressão garta na palhada. Na última safra dientes conferem uma formulação
de pragas e doenças, o agricultor de soja, a população dessa praga diferenciada com altíssima perfor-
precisa estar preparado. Na so- cresceu muito e o manejo tardio mance para insetos mastigadores
jicultura, os insetos ainda são o para o controle acarretou proble- e sugadores.”
principal desafio da lavoura. Den- mas, pois ela tem voracidade e O Premio® Star atua por con-
tre todos, a grande preocupação ataca as flores e vagens”. tato e ingestão e tem amplo es-
ainda continua sendo as diferen- Como qualquer outra praga, o pectro, efeito de choque e resi-
tes espécies de Spodoptera. momento de aplicação é crucial dual, menor lavagem pela chuva
Caso não seja controlada, essa para o sucesso no combate e, e otimização operacional. “Esse
praga tem alto potencial de dano, dessa forma, evitar prejuízos com é um produto revolucionário e
causando perdas significativas perdas de produtividade ao final sustentável para as lavouras. O
de produtividade. “O manejo das da safra. “Para um bom manejo protagonismo da FMC em inseti-
Spodopteras deve contemplar to- de controle da Spodoptera é pre- cidas é resultado dos constantes
do o sistema de produção e não ciso empregar produtos com alta investimentos em pesquisa e de-
apenas uma cultura isolada. Essa tecnologia e com moléculas mais senvolvimento, buscando sempre
lagarta está presente em todo o atualizadas para evitar o manejo entender as reais necessidades
Brasil, pois a espécie tem vários de resistência, como o inseticida do produtor”, ressalta a gerente.
hospedeiros alternativos, o que Premio® Star, recém-lançado pela A FMC e o logotipo da FMC,
facilita a manutenção durante o FMC”, diz Débora. assim como o produto Premio®
ano e em diversas culturas. Ao A solução oferece proteção Star, são marcas comerciais da
longo do tempo, foi possível notar para 50 pragas em 58 culturas e é FMC Corporation ou afiliada. Pro-
o aumento da incidência dessa o único produto do mercado que dutos de uso agrícola. Consulte
praga, principalmente nas lavou- oferece controle simultâneo para sempre um engenheiro agrôno-
ras de soja e algodão”, destaca as principais pragas da soja, como mo. Sempre leia o rótulo e siga
Débora Prado, gerente de cultivos lagartas e percevejos, e outros al- todas as instruções, restrições e
da FMC. vos secundários. precauções de uso do produto.
A Spodoptera sempre esteve Débora ressalta que com o
presente nas lavouras de soja, Premio® Star, o agricultor poderá
e o plantio de sucessão, com as combater as lagartas, como Spo-
tempo todo
período da entressafra
passa a se tornar campo
fértil para sua permanência
e multiplicação
O
manejo de doenças
na cultura da soja
tem atingido níveis
de complexidade
que demandam ações combina-
das durante todo o ano. Como a
monocultura de soja é atividade
permanente, a pressão de doen-
ças necrotróficas tem sido cada
vez mais elevada, visto a vasta
oportunidade desses patógenos
sobreviverem em condições de
“solo/palhada”. Outro adicional
são as doenças biotróficas como
ferrugem e oídio, que também
têm exigido um conhecimento am-
pliado dos agrônomos, técnicos e
produtores. Neste caso, elas têm
encontrado grande disponibilidade essas plantas de soja guaxa, con- produtividade podem chegar até
de sobrevivência, mesmo na entres- segue identificar problemas como 90% para ferrugem (Godoy et al.,
safra, através da hospedagem em ferrugem-asiática (Phakopsora 2020), e a 35% por oídio (Godoy et
soja espontânea ou guaxa. pachyrhizi) (Figura 3), oídio (Micros- al., 2021).
A soja espontânea ou guaxa é phaera difusa) (Figura 4), septoriose Com todas essas condições dis-
fruto de germinação e emergência (Septoria glycines) e cercosporiose poníveis para a hospedagem des-
de sementes oriundas da perda na (Cercospora spp.) (Figura 5), além ses patógenos e insetos, o período
colheita ou, até, no transporte pelas de mosca-das-hastes (Melana- da entressafra, que deveria estar
rodovias e ferrovias (Figuras 1 e 2). gromyza sojae) (Figura 6). ausente de soja para reduzir a via-
Após a safra de verão, essas plantas Os danos dessas doenças na bilidade destes indivíduos, passa
se estabelecem em áreas de pousio, safra normal podem atingir magni- a se tornar um campo fértil para
pastagem ou até em lavouras de in- tudes preocupantes. No caso das permanência e multiplicação dos
verno que não executam o correto necrotróficas, severidades elevadas mesmos. Assim, o início da safra
manejo de plantas daninhas. Dessa de septoriose ou cercposporiose de soja seguinte, que deveria ter
forma, a soja passa a ser uma hos- podem comprometer mais de 30% baixa disponibilidade de inóculo de
pedeira preferencial de doenças e cada, no rendimento final (Guima- doenças, passa a ser alvejado por
também de insetos na entressafra. rães, 2008; Godoy et al., 2016). Já uma grande pressão de patógenos,
Qualquer pessoa que observa para as biotróficas, as perdas de visto sua permanência na entressa-
da pelo patógeno Phakopsora pachyrhizi Figura 4 - oídio, resultado da ação de Microsphaera difusa
Figura 7
Figura 6 - a mosca-das-hastes,
Melanagromyza sojae, pode gerar
danos severos
nem manter plantas vivas de soja entressafra. Para o produtor gastar Marcelo Gripa Madalosso,
no campo (Figura 8). Nesse perío- menos com fungicidas e evitar o Universidade Regional Integrada – URI;
do, plantas voluntárias devem ser dano de doenças, é fundamental o Leonardo Gollo,
eliminadas. O objetivo é reduzir a manejo do ano todo. C
Madalosso Pesquisas
população do fungo no ambiente
na entressafra, e assim atrasar a
ocorrência da doença na safra (Em-
brapa, 2022).
No entanto, esses mesmos esta-
dos do Sul do país não têm feito o
devido serviço de casa para a redu-
ção de soja guaxa em suas lavouras,
com situações preocupantes (Figura
9). Muitos produtores têm confiado
no possível efeito da geada para o
controle dessas plantas, porém esse
efeito é cada vez menos confiável.
Dessa forma, os agrônomos, téc-
nicos e produtores precisam dire-
cionar o olhar para a entressafra co-
mo forma de reduzir os gastos com
controles químicos ou biológicos
durante a safra, visto a capacidade
de doenças e pragas sobreviverem
na ponte verde. O controle de do-
enças na safra corrente de soja tem Figura 9 - durante o vazio sanitário plantas voluntárias devem ser eliminadas;
relação direta com o que ocorre na o objetivo é reduzir a população de fungo no ambiente
CAPA
Perigo à S
etembro de 2023. Cerca de um mês antes
da abertura da janela de semeadura da
soja em Erechim, município localizado no
Norte do Estado do Rio Grande do Sul, já foi
espreita
possível diagnosticar ferrugem-asiática em plantas de
soja voluntárias, também conhecidas como guaxas ou
tigueras. A doença é causada pelo fungo Phakopsora
pachyrhizi e a identificação foi realizada no Laboratório
de Fitopatologia da Universidade Federal da Fronteira
Sul (UFFS) - Campus Erechim. Essa ocorrência foi relata-
Com a detecção dos primeiros focos
da no site do Consórcio Antiferrugem, que é coordena-
de ferrugem-asiática antes do início do e gerenciado pela equipe da Embrapa Soja.
da safra, veja quais cuidados iniciais o
produtor precisa tomar em relação à soja
guaxa e ao manejo sanitário da cultura
Cigarrinha A
cana-de-açúcar é uma das
culturas mais importantes
do Brasil, sendo respon-
sável pelo maior desen-
sob controle
volvimento do agronegócio no país
envolvendo etanol e energia, possuindo
cerca de 8,6 milhões de hectares de área
colhida. Porém, seu desenvolvimento e
potencial são ameaçados por diversas
pragas que causam grandes prejuízos
O ataque da cigarrinha-da- comerciais.
cana-de-açúcar causa perdas A cigarrinha-das-raízes (Mahanarva
significativas no canavial, fimbriolata) é umas das pragas que
com a morte das touceiras, ameaçam esta cultura, causando perdas
na produtividade, que variam de 15% a
dificuldades de brotação e 80%, e reduções na qualidade da maté-
inviabilidade das gemas ria-prima, que podem chegar até 30%.
Por isso, são de extrema importância o
conhecimento do inseto-praga, a aten-
ção e o cuidado com o monitoramento,
para que decisões assertivas sejam to-
madas no combate e controle dele na
cultura.
Identificação
do inseto-praga
A cigarrinha-das-raízes (Mahanarva
fimbriolata) pertence à ordem dos he-
mípteras (assim como cigarras, perce-
vejos e pulgões). É um inseto do tipo
sugador. Seu ciclo biológico varia de 63
a 79 dias, sendo fortemente afetado por
fatores climáticos que interferem dire-
tamente em sua dinâmica populacional,
desfavorecendo sua sobrevivência e afe-
tando o ciclo reprodutivo das fêmeas. O
início de seu ciclo está muito associado à
“época das águas”, em que o clima úmi-
do favorece a eclosão dos ovos.
A cigarrinha passa por três estágios
biológicos durante seu desenvolvimen-
to: ovo, ninfa e adulto.
As fêmeas depositam os ovos na ba-
se das touceiras ou entre os restos ve-
getais deixados no solo. A proibição da
queima de cana-de-açúcar favoreceu a
Controle
biológico
O controle biológico da praga
pode ser feito a partir da introdução
dos inimigos naturais da cigarrinha-
-das-raízes. O método mais conhe-
cido e utilizado atualmente é com
a aplicação do fungo entomopa-
togênico Metarhizium anisopliae,
Ninfas e seus primeiros danos econômicos Insetos adultos em copulamento também conhecido como fungo-
na base das touceiras de cana e raízes (macho e fêmea) -verde. Quando em contato com o
inseto-praga, ocorre a germinação
dos conídios, que penetram no te-
etanol. Pode afetar ainda a cor e Controle gumento do inseto em um período
as características do açúcar final, físico de dois a três dias. O período de
demandando alto custo e dificul- O método físico cultural consiste colonização ocorre de dois a quatro
dade de moagem decorrente do na retirada da palhada residual, dei- dias; e a esporulação em dois a três
acréscimo de fibra vegetal e col- xando o solo exposto, aumentando dias, dependendo das condições do
mos secos mortos. a temperatura do local, reduzindo ambiente. O ciclo total da doença é
a umidade e dificultando a sobre- de oito a dez dias para a morte do
Métodos vivência e a eclosão dos ovos; tam- inseto e infestação do fungo.
de controle bém se pode não realizar plantio Quando o fungo Metarhizium
O principal meio de controle é direto e manter o solo exposto no anisopliae é aplicado da forma cor-
o conhecimento do inseto-praga, e plantio; e investir na nutrição da reta, considerando as condições
o monitoramento cuidadoso para cultura, com processos como cala- ambientais ideais, a qualidade do
avaliar o estágio em que se encon- gem, adubação e fosfatagem. Isso fungo e a dosagem, o método se
tra a infestação, acompanhando a permite o desenvolvimento do sis- torna muito eficiente.
evolução da praga. tema radicular da cana, melhoran- Outros dois métodos biológicos
O monitoramento do canavial do sua resistência à falta de água e para controle da cigarrinha que
deve ocorrer principalmente em o controle de pragas. vêm se mostrando promissores e
períodos chuvosos, quando se inicia estão em estudo: o uso do micro-
o desenvolvimento do inseto, sen- Controle -himenóptero Anagrus urichi, um
do necessária uma tomada de ação químico parasitoide de ovos; e o da mosca
quando o “nível de controle" (NC) O método químico possui gran- Salpingogaster nigra, que é um pre-
é atingido, isto é, quando são iden- de eficácia no controle contra cigar- dador de ninfas.
tificadas cinco ninfas/metro e 0,5 a rinhas, principalmente o do tipo sis- A utilização do manejo integra-
0,75 adulto/cana. têmico. Porém, em alguns casos, há do de pragas para o controle eficaz
Como em toda cultura, o mane- necessidade de reaplicação, sendo do inseto em sua cultura é sempre
jo integrado de pragas é sempre a preciso repassar duas ou três vezes a melhor opção, adotando medi-
melhor solução, pois quando se in- devido à mutação dos insetos e à das de controle de acordo com seu
tegram vários tipos de controle, vo- resistência a alguns inseticidas. monitoramento e realidade no mo-
cê abrange o seu índice de eficácia Em alguns casos, o controle de mento, sendo extremamente asser-
no tratamento. ninfas e adultos requer produtos tivo nas tomadas de decisão. C
A
resistência de plantas B. pilosa e B. subalternas, com pe- solucionado.
daninhas a herbicidas quenas diferenças morfológicas e Em 2023, o picão-preto volta a
no Brasil foi pela pri- suscetibilidade a herbicidas. Naque- ser um problema para os produto-
meira vez relatada aos la oportunidade, a cultura de soja res de grãos no Brasil, pois foram
herbicidas inibidores da ALS (1993), resistente ao glifosato ainda não relatados casos de resistência ao
exatamente com picão-preto, na estava sendo cultivada no Brasil, e o glifosato. Desenvolvemos pesquisa
época descrita como Bidens pilo- desafio para o produtor era grande. no passado que mostram que po-
sa. Porém, foi depois identificado No entanto, quando em 2005 foi li- pulações resistentes a inibidores
que, no Brasil, infestando culturas berado o uso de culturas resistentes da ALS têm a mesma adaptabili-
agrícolas, há predominância de ao glifosato, o problema de controle dade que populações suscetíveis.
duas espécies do gênero Bidens, do picão-preto foi imediatamente Assim, uma vez selecionadas estas
Divulgação
Fotos Pedro Jacob Christoffoleti
Resistência
mente afetada por inúmeros fato-
res, dentre os quais se destaca a
competição com plantas daninhas,
entre elas as espécies de carurus
analisada
(Amaranthus spp.), que podem re-
duzir em até 30% de produtividade
da cultura.
A planta daninha Amaranthus
hybridus é uma anual, herbácea,
Estudo mostra as características ecofisiológicas específicas ramificada, ereta, pigmentada, de
do caruru (Amaranthus hybridus) resistente ou não ao cerca de 40-100 centímetros (cm)
de altura, nativa da América Tropi-
herbicida imazethapyr
cal. Essa espécie é popularmente
A
conhecida como caruru, caruru-
tualmente, o Brasil é cimento, porém a margem para a -de-folha-larga, caruru-gigante,
referência no cenário abertura de novas áreas é muito caruru-bravo, caruru-roxo, crista-
agrícola mundial, se pequena, impulsionando a necessi- -de-galo, crista-de-galo-roxo e ca-
destacando como um dade por um melhor manejo para ruru-branco.
dos maiores produtores de grãos. melhorar a produtividade das cul- Outra característica importante
Além disso, a demanda mundial turas. Porém, a produtividade das dessa espécie é a presença de duas
por alimento continua em cres- lavouras de grãos pode ser direta- variedades principais, sendo elas
Divulgação
Figura 1 - curvas de dose-resposta para a população de Amaranthus hybridus proveniente de Cândido Mota (SP); para as
variáveis de porcentagem de controle (à esquerda) e de massa seca relativa (à direita) para as populações suspeitas de
resistência e suscetível ao herbicida imazethapyr
a paniculatus e a patulus. A dife- vez maior, contribuindo para a se- tes do sistema de manejo químico
rença entre as variedades é que na leção de populações resistentes, da cultura.
paniculatus a inflorescência é tipo que consequentemente diminuem No ano de 2018, no estado
panícula, apresentando coloração a produtividade das culturas e ele- do Rio Grande do Sul, ocorreu o
roxa, e na patulus a inflorescência vam os custos de produção. primeiro relato da espécie Ama-
é também do tipo panícula, mas ranthus hybridus, com resistência
de coloração esverdeada. Uma úni- Novo caso múltipla ao herbicida glifosato (ini-
ca planta de caruru pode produzir de resistência bidor da EPSPs) e a chlorimuron-
aproximadamente 200 mil semen- Os herbicidas do grupo quími- -ethyl, (inibidor da ALS). Porém,
tes. co dos inibidores da Acetolactato até o momento não havia nenhum
Para o controle do caruru o mé- Sintase (ALS) foram muito utiliza- caso de resistência a imazethapyr,
todo mais utilizado é o controle dos na cultura da soja antes do sendo o primeiro caso de Amaran-
químico, por ser um método mais advento da tecnologia Roundup thus hybridus resistente a esse her-
eficiente em extensas áreas de la- Ready (RR), com destaque para os bicida (Figura 1).
vouras comerciais. Nesse cenário, herbicidas imazethapyr e imaza- A população com resistência
a frequência de utilização de um quim. No entanto, atualmente, os comprovada é do município de
mesmo herbicida ou de herbicidas herbicidas chlorimuron-ethyl, ima- Cândido Mota (SP). O fator de
com o mesmo mecanismo de ação zethapyr, diclosulam e cloransulam resistência é caracterizado pela
para o controle do caruru é cada ainda são componentes importan- relação entre a dose de 50% de
Figura 2 - peso da biomassa da parte aérea por planta Figura 3 - área foliar por planta das populações resisten-
das populações resistente e suscetível de A. hybridus te e suscetível de A. hybridus ao herbicida imazethapyr
ao herbicida imazethapyr
Nova realidade
Variante do nematoide-das-galhas Meloidogyne enterolobii, capaz de parasitar
o algodão, aparece em locais restritos no Brasil e supera a resistência de
cultivar de algodão a Meloidogyne incognita
O
algodão é uma fibra cido como o mais importante por na década de 1990. Em 2001, a
natural versátil e du- sua ampla distribuição mundial e por pesquisadora da Embrapa, Regina
rável, com uma longa causar danos severos a uma extensa Carneiro – referência nos estudos
história de uso na variedade de culturas agrícolas. Até em taxonomia de Meloidogyne –
indústria têxtil. O algodão possui a o momento, apenas três espécies e demais autores, relataram pela
fibra têxtil natural mais importante de nematoides-das-galhas são con- primeira vez esse nematoide como
do mundo, representando cerca de sideradas parasitas do algodoeiro, agente causal do declínio e morte
25% da produção mundial de fibras. M. incognita, raças fisiológicas 3 e 4 de goiabeiras, a partir de amostras
O Brasil é o segundo maior ex- de comum predominância em áre- coletadas nos estados de Pernam-
portador mundial de algodão, com as de sucessão de algodão e soja, buco e Bahia. Mais tarde, foi com-
participação importante no PIB bra- M. acronea, de ocorrência restrita provado o envolvimento do fungo
sileiro. Dentre os principais agentes relatada apenas no Sul da África, e Fusarium solani na expressão dos
bióticos que acometem e reduzem M. enterolobii, uma espécie recém- sintomas observados nos pomares
o potencial produtivo do algodoeiro -detectada no algodão, relatada de de goiabeira. Atualmente, sabe-se
(Gossypium hirsutum L.) (Figura 1), maneira restrita no Brasil (Galbieri e que o nematoide parasita uma ex-
destacam-se os fitonematoides Me- colaboradores, 2020) e nos EUA (Ye e tensa lista de hospedeiras, incluindo
loidogyne incognita, Rotylenchulus colaboradores, 2013). grandes culturas (commodities),
reniformis, Pratylenchus brachyurus A primeira cultura no nosso país hortaliças e fruteiras.
e Aphelenchoides besseyi. a sinalizar ocorrência de M. entero- A infecção se inicia quando os
O nematoide-das-galhas, gênero lobii (sinonímia de M. mayaguensis) nematoides na fase de juvenil de
Meloidogyne Göldi, 1887, é conhe- foi a goiabeira (Psidium guajava) segundo estádio (J2) penetram nas
Figura 1 - cultivo comercial de algodão no cerrado brasileiro Figura 2 - ovo, J2 e fêmea adulta (da esquerda
para a direita) de Meloidogyne enterolobii
raízes e se desenvolvem em adul- croses (Figura 3). Para benefício dos beira não parasita o algodão, sendo,
tos (em sua maioria, fêmeas). As produtores de goiaba, a Embrapa portanto, sugerido como uma nova
fêmeas assumem a forma de pera e lançou, em 2019, o porta-enxerto raça do patógeno em recentes estu-
podem atingir até 1 milímetro (mm) resistente BRS Guaraçá, um híbrido dos desenvolvidos pela Universidade
de comprimento (Figura 2). Elas resultante do cruzamento entre de Brasília e a Embrapa Cenargen
depositam seus ovos nas raízes das Psidium guajava e P. guineense, que (Souza, 2022; Verssiani, 2022).
plantas hospedeiras, em uma massa mostrou resistência a diferentes Em estudo recente, diferentes
gelatinosa que os ajudam a sobrevi- populações de M. enterolobii (anais cultivares de soja foram avaliadas
ver no solo. Cada fêmea pode pro- 38° CBN, n° 78, Congresso Brasileiro quanto à resistência às duas popula-
duzir mais de 400 ovos que darão de Nematologia, Cuiabá-MT). ções (raças) de M. enterolobii (goia-
continuidade ao ciclo (Figura 2). Em soja, o nematoide M. ente- beira, algodoeiro). Uma cultivar, BRS
A população identificada em rolobii foi encontrado pela primeira 7180 IPRO, foi considerada modera-
goiabeira foi disseminada para ou- vez em 2008 no estado de São Pau- damente resistente (MR) a ambas as
tros estados brasileiros por meio da lo pela equipe do professor Jaime raças; e BRS 7980 (MR) apenas para
comercialização de mudas de goia- Maia, e mais recentemente (2019) a raça de goiabeira. Ambas as culti-
beira contaminadas pelo nematoide o pesquisador do IMAmt, Rafael vares apresentam resistência a M.
na região Nordeste, onde se encon- Galbieri, detectou a presença desse javanica e M. incognita (Verssiani e
travam muitos viveiros comerciais nematoide superando a fonte de colaboradores, 2023).
(Carneiro e colaboradores, 2021). resistência M315 a M. incognita, Um aspecto importante desse
Nas raízes de goiabeira infectadas presente em uma cultivar resistente nematoide é a sua agressividade ao
por M. enterolobii observa-se gran- de algodão. Vale ressaltar que a po- algodão, que se manifesta na forma-
de número de galhas, além de ne- pulação de M. enterolobii de goia- ção de galhas de grandes dimensões
Jorge Bleno Silva Verssiani
cos ou biológicos não é garantia de importância agrícola, como, por 3° Caso Bahia Oeste Pivot 80% 6,2
um controle eficaz. A melhor opção exemplo, milho, sorgo, trigo, aveia, 4° Caso Mato Grosso Noroeste Pivot 89% 6,2
possível é o desenvolvimento de alho, amendoim, mamona, mara- Fonte: 38° CBN, Galbieri, 2023
cultivares com resistência genética, cujá e Crotalaria spectabilis, foram
quando disponível, para garantir relatadas como não hospedeiras ou
um manejo eficiente do nematoide. más hospedeiras de M. enterolobii. de algodão, manter maquinários
O mercado atual de sementes de Podendo ser recomendadas dentro agrícolas limpos antes de entrar
algodão dispõe de cinco cultiva- de um manejo baseado em rotação em outros talhões, destinar a água
res com resistência a M. incognita de culturas em áreas infestadas. Ne- residual da lavagem de máquinas
(Figura 5). Trata-se de uma heran- nhuma cultivar comercial de algo- para um local seguro, limpar botas
ça governada por genes de efeito dão com resistência a M. enterolobii e sapatos, pois podem ser fonte de
maior (herança oligogênica), deter- está disponível neste momento. inóculo para o nematoide, e utilizar
minada por dois QTLs (locos gêni- Também não estão disponíveis plantas de cobertura más hospedei-
cos que expressam características produtos nematicidas registrados ras para reduzir a multiplicação do
quantitativas) localizados nos cro- para o manejo desse nematoide em mesmo.
mossomos 11 e 14 (Tabela 1). grandes culturas, como algodão, so- Também é importante ressaltar
Meloidogyne enterolobii se ja e feijão. a necessidade de inspeções perió-
caracteriza pela capacidade de A prevenção é a melhor alterna- dicas nos plantios para a detecção
causar doença em cultivares porta- tiva para o controle do nematoide precoce de eventuais focos do ne-
doras de genes de resistência aos M. enterolobii em algodão. Para matoide. Em caso de suspeita da
principais nematoides-das-galhas, isso, é importante: evitar a entrada presença do nematoide, a correta
em culturas como batata, batata- do nematoide nas áreas de cultivo diagnose pode ser realizada por um
-doce, tomate, pimentão, feijão- laboratório especializado em análi-
-caupi, soja e agora no algodão. ses de eletroforese de isoenzimas e
No caso do algodão, mesmo em marcadores moleculares. C
A
s soluções para mitigar A pesquisadora Pamela Silver (bit. arroz e outras plantas, reduzindo a
as alterações climáticas ly/3Pa2jAw) busca incorporar enzi- necessidade de água.
e seus impactos advirão mas RuBisCO aprimoradas em sua Os pecuaristas estão buscando
do desenvolvimento de tecnologias plataforma sintética, para produzir fórmulas de reduzir as emissões de
inovadoras, sendo as mais promis- um sistema que pode executar a metano – um gás com efeito estu-
soras aquelas baseadas na biologia. fotossíntese em um chip de silício, fa até 80 vezes mais potente que o
A adoção dessas tecnologias em com eficiência de até 80%. Isso per- CO2. Para tanto, selecionam reba-
larga escala depende de diversos mitirá produzir energia ou sintetizar nhos com uma fauna microbiana
fatores, como sua eficiência, prati- produtos, usando sistema similar à do aparelho digestivo que produ-
cidade e custo compatível. fotossíntese. za menos metano. Porém sempre
Comecemos analisando a fo- Julie Gray (Universidade de She- existirão emissões, o que ressalta
tossíntese, o processo que permi- ffield) estuda o metabolismo das a importância de bactérias metano-
te produzir alimentos utilizando a plantas para reduzir o consumo de tróficas aeróbicas, com capacidade
energia solar. Trata-se de um con- água, alterando o número de estô- de capturar metano do ar, que es-
junto sequencial de reações quími- matos, que são os poros nas folhas tão sendo estudadas pela equipe
cas, com diferentes tipos (C3, C4, das plantas, para troca de oxigênio, da professora Mary Lidstrom (Uni-
Cam), que operam com baixa efi- dióxido de carbono e vapor de água versidade de Washington) (sites.
ciência. Em média, estima-se que com o ambiente (bit.ly/45DqVXC). google.com/view/lidstrom-lab/). Já
pouco mais de 10% da energia in- Pamela Ronald (Universidade da a professora Lisa Stein (Universida-
cidente é armazenada nos produtos Califórnia) busca otimizar o uso da de de Alberta) está desenvolvendo
sintetizados pela fotossíntese. água, a partir do estudo do arroz inibidores para reduzir as emissões
As reações químicas da fotos- irrigado (bit.ly/44orofo). Seu obje- de óxidos de nitrogênio decorrentes
síntese são mediadas por enzimas. tivo é reduzir as emissões ao tempo de adubação nitrogenada.
Diversos grupos de cientistas es- em que melhora a produtividade do O Projeto Vesta (vesta.earth),
tudam fórmulas para selecionar criado por Ken Nealson (Universi-
genes ou modificar o genoma das dade Southern California), usa mi-
plantas para otimizar a ação enzi- cróbios para acelerar o processo
mática na fotossíntese. Algumas geológico natural de intemperismo
dessas tecnologias podem ter usos mineral de silicato-carbonato como
ampliados, que não os atualmente um método de redução de CO2 at-
conhecidos. O cientista Tobias Erb mosférico. As taxas naturais de in-
(Instituto Max Planck) estuda popu- temperismo são muito lentas, mas
lações de organismos fotossinteti- o Projeto Vesta está desenvolvendo
zantes, buscando uma abordagem
Os pecuaristas catalisadores microbianos vivos que
que combine seus aspectos mais estão buscando aumentam em muito a taxa desse
eficientes para produzir uma via fórmulas de intemperismo.
fotossintética inovadora e superior reduzir as Os exemplos acima são uma
(bit.ly/3YOQ7YZ). O potencial desta pequena amostra de como a ciên-
abordagem é enorme, tanto para
emissões de cia pode mitigar os impactos das
melhorar a eficiência da fotossín- metano – um gás mudanças climáticas, razão pela
tese quanto para desenvolver rotas com efeito estufa qual é imperativo o investimento
de síntese fora de vegetais. até 80 vezes mais permanente no desenvolvimento
Uma das principais enzimas da potente que o CO2 tecnológico da agricultura e da pe-
fotossíntese é a RuBisCO, existin- cuária. Investir em ciência significa
do diversas variantes dela. O Silver melhorar a qualidade de vida em
Lab, da Harvard Medical School, nosso país e no mundo.
C
está examinando inúmeras formas
da enzima para identificar as mais
eficientes e aumentar a eficiên- Décio Luiz Gazzoni,
cia da fotossíntese nos vegetais. Embrapa Soja
Milho Feijão
A safra de milho do Brasil cresce ano a ano. Já supera Produtores do feijão carioca estão apreensivos nesta
os 130 milhões de toneladas (t) e deve andar perto de 140 primeira safra, que deve ter área menor devido aos preços
milhões de t em 2024. Assim, seguiremos como maior ex- abaixo dos custos. O plantio do feijão preto segue normal. O
portador mundial do cereal, com mais de 55 milhões de t consumo manteve-se, mas a oferta foi maior. Assim, merca-
neste ano; e devendo ir a 60 milhões de t em 2024. do está frágil.
Soja Arroz
O Brasil está plantando a maior safra da história da so- O mercado do arroz em 2023 atingiu as maiores co-
ja, com mais de 46 milhões de hectares. Os EUA estão a tações históricas em reais. A safra limitada, a demanda
todo vapor na colheita. São dois fatores que, normalmen- aquecida. O mercado internacional em alta fez com que
te, limitam as cotações em Chicago. Por isso, é importante as cotações internas chegassem aos R$ 150 nos estados
acompanhar o mercado e fazer proteção via opções. centrais e superassem os R$ 110 no Sul. Com isso, o plan-
tio deve reverter mais de 20 anos de queda e avançar uns
100 mil hectares.
Curtas e boas
TRIGO - o mercado neste semestre EUA - produtores reclamam de da não foram oficializados. Isso indica
de 2023 foi fraco e nas menores co- grandes perdas na safra devido ao cli- que as importações em 2024 devem
tações desde 2018. No mercado glo- ma, com a soja devendo ficar perto de crescer forte e não ficar somente em
bal segue com produção menor que 110 milhões de t e milho na faixa de 23 milhões de t, como aponta o USDA.
a demanda e deve ter cotações mais 375 milhões de t. Com isso, os volu- O arroz também foi prejudicado pelo
fortes. Aqui vamos ter recuperação mes para exportação serão limitados clima e vai manter os chineses como
das cotações quando voltarmos a ex- em 2024, abrindo espaço para o Brasil. maiores importadores do cereal. C
portar, de dezembro em diante. Brasil CHINA - teve grandes problemas
produz dez milhões de t, consome 12 com o clima. A safra mais afetada foi Vlamir Brandalizze
milhões; exportará dois milhões de t a do milho, que teve perdas de mais Brandalizze Consulting
e importará mais de quatro milhões. de 20 milhões de t. Mas os dados ain- Instagram: @brandalizzeconsulting
O
uso de inoculantes para se mostra um pouco diferente. O nú- respondem ao Azospirillum. Somando
prover as culturas de legu- cleo central das pesquisas se concen- isto com a diversidade brasileira, ne-
minosas com o nitrogênio trou na Embrapa Agrobiologia, em Se- cessitaremos de um grande número
via fixação biológica começou com ropédica, RJ, sob a batuta da já men- de cepas utilizadas em inoculantes,
uma vitoriosa associação entre pesqui- cionada Johanna Dobereiner e sua permitindo ao agricultor que ele, jun-
sa e empresas privadas. Em 1956, era competente equipe, que segue com tamente com as informações da pes-
criada a primeira fábrica de inoculan- um brilhante trabalho da área. Fruto quisa, vá testando em suas lavouras as
tes no Brasil pela empresa Leivas Leite, desta equipe, o Departamento de Bio- melhores combinações de inoculantes.
em Pelotas (RS), com cepas de Rhizo- química e Biologia Molecular da UFPR A ANPII, juntamente com o grupo
bium selecionadas pela Secretaria de montou um dos mais renomados cen- de pesquisas da UFPR, um dos mais
Agricultura daquele estado sulino e tros de pesquisa com estas bactérias, competentes centros de pesquisa do
com o apoio técnico do pesquisador reconhecido mundialmente. Em para- mundo, testou duas cepas, com um
João Rui Jardim Freire. lelo, na Embrapa Soja também foram maior poder de liberação de amônia,
A partir daí as pesquisas se intensi- desenvolvidas pesquisas e, fruto dos dentro do protocolo do Mapa, tendo
ficaram e, além da Secretaria do RS e trabalhos na UFPR e na Embrapa So- obtido sucesso nos testes, com todos
da UFRGS, novos centros de pesquisa ja, foram feitos os ensaios de campo os requisitos para o registro do pro-
se incorporaram ao sistema e o grupo que embasaram as duas primeiras duto. As exigências feitas pelo órgão
da doutora Johanna Dobereiner, no cepas para a produção de inoculantes regulador estão sendo cumpridas rigo-
famoso km 47, do Ministério da Agri- no Brasil, tendo o primeiro produto, rosamente, dentro dos mais rígidos pa-
cultura, depois viria a ser um dos mais desenvolvido por empresa particular, drões técnico-científicos, inclusive com
dinâmicos grupos de pesquisa em fixa- sido registrado em 2009. o uso das modernas ferramentas de
ção biológica do nitrogênio. IAC, Esalq Mas até hoje temos apenas duas biologia molecular, com o auxílio dos
e IBPT Paraná e outras instituições de cepas de Azospirillum sendo utilizadas órgãos de pesquisa, visando permitir
pesquisa também se engajaram no sis- no país. Muito boas estirpes, que es- que o Mapa registre o produto sem
tema de seleção de cepas e difusão do tão contribuindo muito para a agricul- sombra de dúvida sobre sua eficiência.
uso de inoculantes. Novas empresas tura brasileira. O que ainda é pouco Uma vez liberado o registro, um
produtoras surgiram, o mercado foi para o tamanho e a diversidade, como grande número de empresas associa-
sendo ampliado e chegamos ao atual escrevemos acima, do Brasil. É neces- das à ANPII colocaria no mercado um
estágio de 83% dos agricultores usan- sário que outras instituições de pes- novo inoculante à disposição dos agri-
do inoculantes em soja, anualmente. quisa ampliem o leque de seleções, cultores, permitindo a continuidade de
Dentro deste quadro, é importante pois temos mais de cem culturas que um processo de seleção ampla, com o
ressaltar o grande volume de seleção uso do melhor material genético de
de cepas de Bradyrhizobium. No início acordo com a variabilidade dos fatores
havia cerca de dez cepas no mercado, de produção existente em um país do
sendo incorporadas aos inoculantes. tamanho do Brasil. O mercado recebe-
Durante anos a fio, as pesquisas foram ria, de pronto, uma grande quantida-
se estreitando, os agricultores foram de de um novo inoculante, com forte
aumentando suas produtividades e competição, dando ao comprador uma
o processo de seleção ao longo de 30 É necessário que grande escolha de marcas e, por en-
anos se solidificou em torno das quatro outras instituições de quanto, quatro cepas de Azospirillum.
cepas atualmente em uso. Mas a base pesquisa ampliem o A ANPII, cujas empresas já fizeram
para seleção foi muito ampla. E isso se leque de seleções, um grande esforço para desenvolver o
mostra adequado para um país, e para produto com este novo material e testá-
uma agricultura, tão diversificado co- pois temos mais -lo a campo em diversas regiões, espera
mo o Brasil, com uma imensa varieda- de cem culturas que o órgão regulador, mais uma vez,
de de solos, clima, métodos de cultivo que respondem ao seja um fator de avanço tecnológico na
e quantidade de cultivares em uso. A Azospirillum agricultura brasileira. C
Manejo sustentável
e inteligente
A sustentabilidade do manejo de plantas daninhas no cafezal
está baseada em práticas que proporcionam eficácia de
controle do amplo espectro das comunidades
A
produtividade da cul- através da utilização de insumos A sustentabilidade do manejo de
tura do café está fun- que proporcionam melhorias na plantas daninhas está baseada em
damentada no poten- produção. Por outro lado, também práticas que proporcionam eficácia
cial do ambiente de é necessário proteger a produtivi- de controle do amplo espectro das
produção, e para que seja econo- dade, combatendo seus fatores re- comunidades de plantas daninhas
micamente viável há necessidade dutores, como as plantas daninhas, no ambiente. No entanto, é im-
de incrementos de produtividade através do seu manejo. portante que estas práticas sejam
03
Café • revistacultivar.com.br
04
Café • revistacultivar.com.br
decomposição da planta após a sua perene, o cafeeiro é capaz de lidar cada, ou seja, em faixa ou em área
dessecação. Destaca-se também com certo nível de competição sem total; além de considerar o estádio
que na rizosfera do sistema radi- que seu crescimento e produção de desenvolvimento das plantas
cular destas plantas de cobertura sejam afetados significativamente, daninhas, se em pré ou pós-emer-
na entrelinha do café há também mas períodos como florescimento gência. Neste artigo vamos tratar
uma população microbiana bené- e frutificação demandam atenção principalmente do controle em pré-
fica para a cultura. E, por fim, há para o manejo eficiente das plantas -emergência, utilizando herbicidas
supressão de forma significativa daninhas. residuais.
da infestação de plantas daninhas, Assim como em outras culturas, Em um cafezal jovem, em forma-
principalmente folhas largas. o controle químico de plantas da- ção, o sistema radicular é pouco de-
A severidade dos danos ocasio- ninhas é frequentemente utilizado, senvolvido e a competição por espa-
nados pela infestação de plantas pois, em geral, apresenta boa rela- ço e recursos com a planta daninha
daninhas em um cafezal depende ção custo-benefício com elevada é grande, pois a adubação no sulco
de diversos fatores, dentre eles a eficácia. As condições de uso de de plantio pode conferir uma alta
composição da flora infestante, o herbicidas na cultura de café estão agressividade para o mato. Assim, a
número de indivíduos, suas carac- baseadas no estágio da lavoura: (I) prática recomendada é manter uma
terísticas biológicas, a extensão na dessecação, antes da instalação faixa de um metro de cada lado da
do período de convivência e a fase da lavoura; (II) no cafezal em for- planta controlada com herbicidas, e
de desenvolvimento em que a mação; (III) em cafezal em franca com a entrelinha roçada. Nesta si-
cultura se encontra durante a ma- produção. Também é importante tuação é comum associar herbicidas
tocompetição. Por ser uma planta considerar a área do cafezal apli- pré e pós-emergentes.
Figura 2 – a importância da cobertura viva na entrelinha do café e o uso de herbicidas residuais na linha da cultura
05
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Inibidores do fotossistema II
Ametrina
Diurom
Metribuzim
Clorimurom
Metsulfurom
Flumioxazina
Oxyfluorfem
Sulfentrazone
Indaziflam
Pendimethalina
Pyroxasulfone
Figura 3 - eficácia de controle pré-emergente de flumioxazin + pyroxasulfone em cafezal adulto Efetivo no controle de eudicotiledôneas
comparativamente à testemunha sem aplicação
Fonte: elaboração dos autores
Já no cafezal adulto é importante tem feito uso principalmente do exportação. Também recentemente
considerar as operações executa- glifosato, gerando alguns desafios o glifosato teve um incremento no
das, principalmente na colheita no atualmente, principalmente com preço muito grande, bem como
café. O cafezal deve estar no limpo relação à resistência de plantas houve dificuldade na aquisição do
principalmente após a arruação daninhas e à presença de resíduos produto. É importante destacar que
para facilitar a colheita. Também, no produto colhido, resultando em nas regiões montanhosas de produ-
após a esparramação, é fundamen- barreiras técnicas e comerciais nas ção de café, a aplicação com pulve-
tal que a cultura permaneça no lim- exportações. rizadores costais tem permitido que
po para evitar a matocompetição. a deriva do produto chegue a afetar
Sendo assim, a prática recomen- Glifosato na o crescimento e desenvolvimento
da de manejo de plantas daninhas cultura de café das plantas de café atingidas.
na cultura do café é manejar o Dentre os desafios que o pro- A aplicação de glifosato em pós-
mato, principalmente na linha da dutor tem encontrado nos últimos -emergência dirigida vem sendo
cultura. Este manejo é normal- anos para uso de glifosato na cultura amplamente utilizada. No entanto,
mente feito durante o período de do café, destacam-se a resistência acabou por selecionar indivíduos
maior umidade, ou seja, de setem- de plantas daninhas a herbicidas e o resistentes nas lavouras, onde
bro a abril. Para isso, são usados limite máximo de resíduo nos grãos, destacam-se buva (Conyza spp.),
herbicidas, sendo que o produtor principalmente quando destinado à capim-amargoso (Digitaria insula-
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ris) e capim-pé-de-galinha (Eleusine é importante se atentar à qualida- Vale destacar também que exis-
indica); e favoreceu o aumento de de da água que será usada para a tem diferentes tipos de formula-
indivíduos tolerantes como corda- aplicação. A presença de sólidos ções de glifosato disponíveis no
-de-viola (Ipomoea spp.) e trapo- em suspensão, como partículas mercado, e cada uma delas é mais
eraba (Commelina benghalensis). de argila, e parâmetros como pH, indicada a depender das condições
Para além dos problemas re- dureza e teor de ferro (Fe) podem ambientais antes, durante e após a
lacionados com a resistência de afetar a disponibilidade do glifo- aplicação. O glifosato é um ácido,
plantas daninhas ao glifosato, o sato na calda de aplicação, o que e é encontrado nos produtos co-
Brasil é o maior produtor mundial consequentemente reduz a eficácia merciais na forma de sal, como por
de café, e em 2022 exportou cerca de controle verificada em campo. exemplo amônio, isopropilamina e
de 2,2 milhões de toneladas (t) do Assim, é aconselhado que testes potássio (K). O tipo de sal ao qual
grão, o que é equivalente a 39,4 laboratoriais sejam realizados, a o glifosato foi formulado exerce
milhões de sacas. Estes embarques fim de acompanhar a qualidade influência sobre a penetração fo-
são destinados para 145 países, da água. Caso a qualidade da água liar do ativo. Mas, em nível celular,
dentre eles os Estados Unidos, a disponível para a pulverização não quem atua de fato é a forma ácida
Alemanha, a Itália, a Bélgica e o esteja adequada, é possível utilizar do glifosato. De forma geral, existe
Japão. Cada país apresenta um produtos que ajustem o pH ou ain- um gradiente de sensibilidade das
conjunto de normas específicas da que atuam como condicionado- formulações de glifosato à ocor-
para aceitar a entrada de produtos res no caso da dureza. rência de chuva após a aplicação.
agrícolas em seu território, e uma
dessas normas diz respeito ao limi-
te máximo de resíduos (LMR). No
Brasil, a Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária) determina
que o LMR do glifosato é de um
miligrama por quilo (mg/kg) – valor
verificado também para Estados
Unidos e Japão, por exemplo. No
entanto, o limite estabelecido pela
União Europeia é de 0,1 mg/kg, ou
seja, dez vezes menor comparado
aos demais países.
Devido aos problemas enfren-
tados com o aumento da frequ-
ência de indivíduos tolerantes e
resistentes ao glifosato, aliados à
demanda de adequação e atendi-
mento das exigências nacionais e
internacionais limite de resíduos, é
extremamente importante empre-
gar o manejo integrado de plantas
daninhas. Isso não significa abolir o
uso do glifosato nos cafezais, mas
sim posicioná-lo de maneira estra-
tégica, juntamente com outras ini-
ciativas que protegem a quantidade
e a qualidade da produção.
O glifosato deve ser aplicado em
jato dirigido na lavoura, evitando ao
máximo o contato do produto com
as folhas do cafeeiro, além disso, Divulgação
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Ametrina 4 3 3 5
Diurom 4 3 3 5
Metribuzim 4 2 2 4
Clorimurom 2 1 1 3
Metsulfurom 2 1 1 4
Flumioxazina 5 4 4 5
Oxyfluorfem 5 4 4 5
Sulfentrazone 2 3 4 5
Indaziflam 5 5 5 3
Pendimetalina 2 3 4 2
Pyroxasulfone 5 5 5 4
Legenda: eficácia de controle Figura 4 – área com aplicação do herbicida pyroxasulfone 0,4 L/há, 30
dias após a aplicação, em área com alta infestação de gramíneas
1 – <50% 2 – 50 a 70% 3 – 70 a 85% 4 – 85 a 95% 5 – 95 a 100%
Por exemplo, o glifosato sal de po- reduzir a necessidade de aplicação fluxos de emergência de plantas
tássio tolera a ocorrência de chuva de herbicidas, uma vez que estes daninhas.
duas horas após a aplicação, sem serão direcionados apenas para
grande prejuízo sobre a eficácia de a manutenção da linha do cafezal Herbicidas
controle. Enquanto formulações livre de competição. pré-emergentes
com sal de amônio necessitam de Ainda no sentido de reduzir a Atualmente, existem diferentes
mais tempo para serem absorvidas pressão sobre o uso do glifosato, produtos comerciais de ação pré-
pela superfície foliar, então devem outra estratégia interessante é a -emergente disponíveis no mer-
ser posicionadas em aplicações du- aplicação de herbicidas pré-emer- cado, registrados para a cultura
rante períodos com menor chance gentes. Os herbicidas pré-emer- do café, baseados em apenas um
de chuva. gentes têm como objetivo atuar ingrediente ativo ou na mistura
O estabelecimento e a manuten- no controle das plantas daninhas formulada de dois ou mais ativos.
ção do consórcio entre a braquiária durante o processo de germinação, Os principais ingredientes ativos
e o café são outras estratégias que, de modo que a planta daninha sob de ação pré-emergente registrados
dentre outras vantagens, auxiliam o efeito deste tipo de produto não é para a cultura do café atualmente
o manejo de plantas daninhas. A capaz de completar sua germinação estão na Tabela 1.
semeadura da braquiária deve ser e se desenvolver. Existem diferentes Como visto na tabela anterior,
feita nas entrelinhas do cafezal, res- produtos registrados para a cultura cada ingrediente ativo tem como
peitando a distância mínima de um do café que atuam desta forma, e alvo diferentes plantas daninhas,
metro de cada lado da linha para o mais interessante é que a ação então para que a recomendação e o
evitar a matocompetição. Confor- destes produtos se prolonga de 30 controle sejam efetivos é necessá-
me a braquiária se desenvolve, ela a 150 dias após a aplicação, depen- rio fazer um levantamento de quais
ocupa a área da entrelinha e assim dendo da molécula e das condições são as espécies presentes na área,
suprime a germinação e emergên- ambientais. Este é o chamado efeito bem como estimar a quantidade
cia de outras espécies, assim como residual, e pode auxiliar o produtor de cada uma dentro da comuni-
o resíduo depositado sobre o solo reduzindo o número de operações dade infestante. A aplicação dos
após a roçagem da braquiária. Essa de controle de plantas daninhas herbicidas pré-emergentes é dire-
supressão de plantas daninhas na durante um período crítico, que é cionada ao solo, e neste ambiente
entrelinha também é vantajosa por a época chuvosa, onde há vários os produtos estão sujeitos a sofrer
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diversas interações, então é neces- nhum dos herbicidas pré-emer- Assim, a solubilidade do herbicida
sário conhecer as caraterísticas físi- gentes isoladamente consegue em água determina o potencial do
co-químicas do solo, quantificando controlar todas as plantas daninhas. produto lixiviar no perfil do solo, o
principalmente a matéria orgânica e Assim, na maioria das aplicações é coeficiente de adsorção aos coloides
o teor de argila que o compõe. necessário associar dois ou mais do solo (Koc) indica a interação do
A escolha do herbicida residual ingredientes ativos. A associação herbicida com a argila e a matéria
deve ser feita, primeiramente em formulada comercialmente de flu- orgânica, a pressão de vapor repre-
função do conhecimento da flora mioxazin + pyroxasulfone propor- senta a suscetibilidade do herbicida
daninha na área, principalmente se ciona uma combinação de controle em volatilizar-se, além da meia-vida
a predominância é de gramíneas ou de plantas daninhas resistentes ao que representa o efeito de controle
folhas largas; segundo, da textura do glifosato bastante interessante e (residual) do herbicida após sua
solo e do teor de matéria orgânica, um espectro de controle adequado. aplicação.
que determina a dose do herbicida. Para que o produtor utilize corre- Um dos dilemas para o produtor
Também a condição hídrica do solo tamente o herbicida pré-emergente é saber quando, ao longo do ano, fa-
é fundamental para que o produto é importante o conhecimento das zer a aplicação do herbicida residual.
tenha um bom funcionamento, sen- características físico-químicas do Geralmente é indicado que seja feita
do que há herbicidas mais exigentes ingrediente ativo, aliado aos atri- sua aplicação no início das chuvas,
em umidade no solo que outros para butos do solo, que são influencia- quando a quebra da dormência das
sua ativação. dos pelas condições climáticas. sementes de plantas daninhas ocor-
Considerando o controle pré-
-emergente de gramíneas que
apresentam casos de resistência
ao glifosato, moléculas como o
pyroxasulfone e o indaziflam têm se
mostrado alternativas interessantes.
Ambos os produtos entregam ele-
vado controle de gramíneas como
o capim-amargoso e o capim-pé-
-de-galinha e longo efeito residual
durante o período chuvoso. No
entanto, é importante se atentar ao
posicionamento de cada produto,
pois enquanto o pyroxasulfone iso-
lado não apresenta restrição quanto
à idade do cafezal, desde que aplica-
do conforme as recomendações da
bula, o indaziflam, por sua vez, tem a
restrição de poder ser usado apenas
em cafezal a partir do terceiro ano,
ou seja, quando as plantas já apre-
sentam caule lenhoso e lignificado.
Na tabela a seguir estão posicio-
nados os principais herbicidas pré-
-emergentes para a cultura de café
com relação às principais plantas
daninhas resistentes ao glifosato,
através da codificação por cores
da eficácia de cada herbicida. Esta
classificação está baseada na expe-
riência prática dos autores.
Importante destacar que ne-
Jéssica Gorri e Edson Luiz Lopes Baldin
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dação é que esta aplicação seja feita herbicida residual deve ser aplicado
apenas na linha da cultura, deixan- especialmente na projeção da copa,
do a entrelinha vegetada. O ensaio representando 33% da área, sendo
Pedro Jacob Christoffoleti,
foi conduzido até os 150 dias após que a entrelinha deve permanecer
HERBtech – consultoria e pesquisa agronômica;
a aplicação do herbicida, quando coberta com a palhada do capim-
Francielli Santos de Oliveira,
foram obtidos 95,8% de controle do -braquiária, através do processo de
Esalq/USP;
capim-amargoso e 92% de controle arruação.
Luiz Henrique Franco de Campos,
do capim-pé-de-galinha.
HERBtech;
O herbicida pyroxasulfone é Considerações Leonardo de Oliveira Semensato,
também seletivo para o cafeeiro, finais sobre o manejo UFSCar
inclusive na implantação da cultura, A integração de práticas de
quando aplicado em jato dirigido. manejo de plantas daninhas, bem
Além disso, é eficaz para o controle como a aplicação dos herbicidas no
de gramíneas, como capim-colchão momento certo, constitui o segredo Caderno Técnico
Circula encartado na revista
e capim-amargoso, até 90 dias após do sucesso no manejo de plantas Cultivar Grandes Culturas nº 293
a aplicação. Para o controle de daninhas no cafezal. Conhecer Capa - Wenderson Araujo - CNA
Reimpressões podem ser solicitadas
folhas largas é necessário associá- a biologia da planta daninha, as através do telefone: (53) 3028.2075
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