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Cultivar Grandes Culturas • Ano XXV • Nº 293 • ISSN - 1516-358X

Expediente Editorial
Grupo Cultivar de Publicações Ltda.
CNPJ: 02783227/0001-86 A produção agrícola é uma das bases mais sólidas da economia bra-
Insc. Est. 093/0309480 sileira. Em tempos de incertezas, a revista Cultivar Grandes Culturas des-
Rua Sete de Setembro, 160
Pelotas – RS • 96015-300 te mês apresenta desafios emergentes. A detecção precoce de ferrugem-
-asiática na Região Sul lança um alerta. O fungo Phakopsora pachyrhizi
revistacultivar.com.br
contato@grupocultivar.com
manifestou-se em plantas de soja guaxa antes mesmo da janela de se-
meadura. Essa antecipação pode representar sérias implicações para a
Assinatura anual (11 edições*): R$ 293,90 saúde da cultura na região.
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 28,00
Assinatura Internacional: A resistência das plantas daninhas a herbicidas torna-se uma preo-
US$ 150,00 e € 130,00
cupação renovada. O picão-preto, já conhecido por sua resistência no
FUNDADORES passado, reaparece. Dessa vez resistente ao glifosato. Isso sinaliza que
Milton de Sousa Guerra (in memoriam) soluções de décadas atrás podem não ser mais suficientes hoje.
Newton Peter
Schubert Peter
No controle de pragas, diferentes manejos são testados. Os números
• Diretor reafirmam o Brasil como grande produtor de soja. Porém, as pragas, co-
Newton Peter mo lagartas e percevejos, comprometem essa produção. Cada uma das
REDAÇÃO opções possui vantagens e desvantagens...
• Editor
Schubert Peter Por sua vez, o algodão enfrenta ameaças de uma variante do nema-
toide-das-galhas. Uma praga que pode comprometer a já consolidada
• Redação
Rocheli Wachholz posição do Brasil no mercado têxtil. A cana-de-açúcar, pilar do agrone-
Miriam Portugal gócio brasileiro, também não escapa. A cigarrinha-da-cana-de-açúcar
Nathianni Gomes causa perdas variáveis, afetando desde a produtividade até a qualidade
• Design Gráfico e Diagramação da matéria-prima.
Cristiano Ceia
• Revisão Diante desses desafios, apresentamos alternativas. As ameaças são
Aline Partzsch de Almeida reais e variadas. É imperativo estar alerta e investir em pesquisa e de-
COMERCIAL
COMERCIAL senvolvimento.
• Coordenação
Charles Ricardo Echer Tudo isso e muito mais nas próximas páginas. Boa leitura!

• Vendas
Sedeli Feijó Índice
José Geraldo Caetano
Franciele Ávila 04 Diretas Nossa
CIRCULAÇÃO
06 Mundo Agro capa
07 Coluna Jogo Ganho
• Coordenação
Simone Lopes 08 Tratamento de sementes em soja

• Assinaturas 14 Controle de pragas em soja


Natália Rodrigues
20 Manejo de soja guaxa
• Expedição 24 Capa - Ferrugem em soja guaxa
Edson Krause
28 Manejo de cigarrinha em cana
Nossos Telefones: (53) 34 Picão-preto resistente ao glifosato
• Assinaturas • Comercial e Redação
38 Caruru resistente ao herbicida imazethapyr
3028.2000 3028.2075
Crédito de Tatiana Kuciak
41 Variante de nematoides-das-galhas em algodão
revistacultivar.com.br Com a detecção dos primeiros focos
44 Coluna Agronegócios de ferrugem antes do início da safra,
instagram.com/revistacultivar
veja quais cuidados iniciais o produtor
facebook.com/revistacultivar 45 Coluna Mercado Agrícola precisa tomar em relação à soja guaxa
youtube.com/revistacultivar e ao manejo sanitário da cultura
46 Coluna ANPII
twitter.com/revistacultivar
DIRETAS

Coopernorte K+S Brasil


A Coopernorte registrou colheita de A K+S Brasil, unidade da K+S
cerca de 7,2 milhões de sacas de soja Group, empresa alemã com mais
em áreas pertencentes a cooperados e de 60 anos de participação do mer-
clientes na safra 2022/23. Trata-se de cado brasileiro, informa mudança
aumento de 15% em comparação com em sua equipe de vendas e marke-
a safra anterior. “Tal conquista reflete o ting de produtos premium. A empre-
compromisso da Coopernorte em ofe- sa passou a contar com a expertise
recer soluções agrícolas de qualidade e de Mário Marin, que assumiu a po-
em auxiliar os produtores locais a alcan- sição de "head of sales & marketing
çarem resultados ainda mais expressi- premium products".
vos”, destaca Bazílio Carloto, diretor-
-presidente da cooperativa.

Biotrop
“A Biobest, presente no mercado
global há 36 anos e com mais de 2,5
mil colaboradores, é a melhor escolha
para a Biotrop por ser uma organiza-
ção 100% concentrada em produtos
biológicos, ter presença global, porém
não estar presente na América Latina”,
analisou Antonio Carlos Zem, CEO da
Biotrop, sobre a recente negociação
envolvendo as empresas.

Syngenta Seeds GDM


Carlos Hentschke assumiu o cargo de "Brazil & A GDM anunciou acordo para adquirir a integralida-
Paraguay seeds business unit head" na Syngenta Se- de das cotas sociais da empresa Biotrigo Genética. A
eds. Ele acumula mais de 20 anos de experiência na concretização depende da aprovação do Conselho Ad-
Corteva Agriscience, onde ocupou diversas posições de ministrativo de Defesa Econômica (Cade), no Brasil; e
gerenciamen- da Comissão Na-
to. Hentschke cional de Defesa
expressou en- da Concorrência
tusiasmo com da Argentina.
o novo cargo “Biotrigo e GDM
e destacou a têm muito em co-
importância de mum, o que ga-
trabalhar em rante a continui-
uma empresa dade e comple-
que "valoriza mentaridade de
a diversidade, suas operações”,
a inclusão e a afirma Ignacio
sustentabilida- Bartolomé, CEO
de". da GDM.

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MUNDO AGRO

Agrocete
A Agrocete lançou o NOD nos minerais do solo, disponi-
PHOS. Trata-se de produto bio- bilizando parte desse nutriente
lógico "3 em 1", possibilitando para absorção pela cultura da
redução da aplicação do ferti- soja.
lizante fosfatado, mantendo a De acordo com Andrea de
produtividade e reduzindo os Figueiredo Giroldo, diretora
custos para o produtor rural. de marketing e desenvolvimen-
Conforme informa a empre- to da Agrocete, a parceria da
sa, as três ações do produto: empresa com instituições de
(a) fixação biológica de nitrogê- pesquisa é fundamental. No
nio (FBN), complementar à rea- caso do NOD PHOS, possibili-
lizada pelas bactérias Bradyrhi- tou comprovar para técnicos e
zobium, já tradicionalmente uti- produtores os efeitos buscados
lizadas na soja; (b) promoção pela empresa em suas novas
de crescimento vegetal natural, soluções.
induzida pela liberação de fitor- O NOD PHOS é atualmente
mônios pelas bactérias conti- registrado para soja, mas há pe-
das no produto biológico; e (c) dido de registro para a cultura
solubilização de fósforo retido do milho.

Embrapa BioConsortia
O Instituto A BioConsortia Inc. expande-se no Brasil. Seu fo-
Nacional da co são produtos microbianos que "reduzem a neces-
Propriedade sidade de fertilizantes de nitrogênio sintético e pro-
Industrial (Inpi) tegem as plantações de pragas". A empresa busca
deferiu o pedi- registro para vários produtos aplicados em semen-
do de patente tes, incluindo um fungicida direcionado a patógenos
do “Processo do início da estação, como rizoctonia e pythium,
de Produção de Nanocompósito de Carbonato de bem como um nematicida de amplo espectro que
Cálcio e Lignina Kraft a partir de Emissões Gasosas”, também mostra atividade contra importantes inse-
desenvolvido pela Embrapa Agroenergia. O processo tos do solo, como a lagarta-da-raiz do milho.
contribui para a mitigação de gases do efeito estufa, Há algum tempo, a BioConsortia anunciou acordo
pois utiliza emissões de dióxido de carbono (CO2) para comercial e de pesquisa e desenvolvimento com a
produzir um nanocompósito de carbonato de cálcio e Mosaic Company para soluções microbianas fixado-
lignina kraft. ras de nitrogênio. Os testes de campo na produção
A invenção é resultado do projeto AgriCarbono, ini- brasileira de milho já estão em andamento.
ciado em 2019 e encerrado no primeiro semestre des-
te ano. O propósito da pesquisa era usar gás carbônico
para a produção de suportes de liberação controlada
de moléculas de agroquímicos.

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SOJA

Novidades e Dentre outras

conhecimento
inovações, temos a
utilização de ozônio
contra patógenos;
o gás tem efeito

consolidado
deletério sobre os
micro-organismos

O
tratamento de cada vez mais dependente da tal, visto que se a planta de iní-
sementes é um utilização de sementes trata- cio estiver nutrida e protegida,
processo descrito das, o que mostra um entendi- terá em tese maiores chances
como a cobertu- mento bastante peculiar desta de ser mais resiliente às intem-
ra de sementes com produtos ferramenta, podendo aumen- péries e se desenvolver dessa
fitossanitários sintéticos ou tar consideravelmente a produ- forma com maior força e de-
biológicos. Alguns autores vão ção agrícola. Tais tecnologias sempenho.
além e descrevem que fatores são capazes de causar efeitos Atualmente, por exemplo,
como a luz, a temperatura, os diretos até as quatro primeiras quando pensamos em grandes
gases, dentre outros, podem semanas de plantio, quando há produções de soja, podemos
ser utilizados de maneira ra- cotilédones, ou um pouco após entender uma série de fatores
cional para o tratamento de sua queda das plantas. Além tecnológicos que têm promo-
sementes. disso, podem ocorrer efeitos vido este crescimento. Dentre
A agricultura atual tem sido que refletem no ciclo do vege- estes fatores, há o tratamento

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Adalvan Daniel Martins


Fotos Adalvan Daniel Martins

por Cercospora kikuchii, entre


outros patossistemas, molé-
culas como o carbendazim e
o tiofanato-metílico têm sido
amplamente utilizadas em nos-
so país.
Sobre o controle de insetos-
-praga, as sementes de soja
têm sido tratadas contra as
pragas de início do ciclo como
lagartas, como a Elasmopalpus
lignosellus, com o uso de neo-
nicotinoides. Também são tra-
tadas para o controle de nema-
toides, principalmente como
Crescimento de Trichoderma (cor verde) e Sclerotinia sclerotiorum
espécies de Meloidogyne. Nes-
(cor branca) em experimento de tratamento de sementes de soja te caso, são usadas moléculas
como a abamectina. Espécies
de Trichoderma estão relacio-
nadas com o tratamento de se-
mentes de soja, com a premis-
de sementes que, especialmen- sa de controle de patógenos de
te após os anos 1990, teve seu solo e promoção de crescimen-
grau de importância aumenta- to vegetal e maior resistência
do quando pôde ser realizado às intempéries do ambiente.
em condições controladas em Esses agentes fitossanitá-
plantas industriais, diferente- rios têm sido aplicados com o
mente da maneira rudimentar uso de adjuvantes, soluções
que estava sendo nas proprie- empregadas para melhorar a
dades rurais. aderência às sementes, tam-
Primeiramente, o tratamen- bém corantes que dão aquela
to de sementes pode ser reali- conhecida cor de sementes tra-
zado com produtos sintéticos tadas, diferenciando-as de ou-
ou biológicos que possam di- tras que não passaram por este
minuir a efetividade de popu- processo.
lações de patógenos e insetos- O crescimento pode ser vi-
-praga. Eles são empregados sualizado, mais recentemente,
para proteger as sementes com uso de micronutrientes e
enquanto estiverem no arma- bioestimulantes. Para os plan-
zenamento e também quando tios de soja, o mercado e as
forem plantadas. Essa proposta propostas de pesquisas têm
pode servir como um limitante crescido na área. É importante
às pragas presentes na semen- que as sementes expostas às
te ou no substrato de plantio. condições de campo estejam
Em relação ao controle de nutridas desde seus primei-
doenças, como o mofo-branco, ros momentos de germinação,
Semente de soja após ataque causado por Sclerotinia sclero- dando maior agilidade ao pro-
de Sclerotinia sclerotiorum tiorum, a mancha-alvo, causa- cesso. Esses inoculantes têm
da por Corynespora cassiicola, sido usados como fonte de
e o crestamento foliar, causado fixação de nitrogênio, como,

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Thiago Costa Ferreira

Dessa forma, o que une este


momento atual de pesquisas
e os resultados já obtidos do
tratamento de sementes de so-
ja no país é a possibilidade de
pesquisas que unam os fato-
res já descobertos e a chance
de sua utilização em conjun-
to. Dessa forma, barateia-se
o processo e permite-se mais
sustentabilidade. Podem esses
pontos ser importantes nesta
escalada. Assim, a condução de
um tratamento de sementes de
soja com o uso de radiação não
ionizante junto de um compos-
to fitossanitário pouco agres-
sivo ao meio ambiente pode
ser uma importante fonte de
buscas.
Avaliação de tratamento de sementes de soja com Trichoderma
Nesse processo é importan-
te considerar as opiniões dos
agricultores, para que ferra-
mentas sejam desenvolvidas
por exemplo, com a inocula- obtendo sucesso contra pragas em consonância com seus an-
ção em sementes de bactérias e ainda promovendo cresci- seios e possibilidades da pes-
que fixam esse nutriente do ar mento vegetal. quisa científica.
atmosférico e o disponibilizam Dentre outras inovações, Concluímos este artigo com
para as plantas em formas pas- temos a utilização de ozônio a seguinte indagação: “De que
síveis de absorção. contra patógenos, visto que forma a pesquisa científica po-
Até o momento, discutimos este gás tem um efeito deleté- de se aliar mais aos interesses
informações que provavelmen- rio sobre os micro-organismos, dos produtores rurais, para
te não são desconhecidas, mas controlando suas populações. assim pensar juntos soluções
será que sabemos informações Além disso, há a inoculação em relação ao tratamento de
sobre os novos estudos acerca de nanomateriais (substâncias sementes de soja?”. C

do tratamento de sementes de em tamanho diminuto, mais


soja? de 100 vezes menores que um
A proposta de "priming" pa- milímetro) como indutores de Thiago Costa Ferreira,
ra o tratamento de sementes é resistência e de crescimento. O UEPB
importante, devido a pesquisas tratamento com estas diminu-
de indutores de resistência e tas partículas é veiculado por
de crescimento, como ondas meio de substâncias orgânicas
magnéticas, luzes, tempera- ou sintéticas. Outro ponto im-
tura, umidade e presença de portante a se observar é a pos-
moléculas, como sais e carboi- sibilidade de uso de radiação
dratos. não ionizante (que não oferece
Apesar de ainda em fase risco à saúde), o que favorece
experimental, alguns métodos as ligações no metabolismo da
são relacionados com o trata- semente e permitem seu me- Thiago Ferreira comenta novidades
em tratamento de sementes
mento de sementes de soja, lhor desenvolvimento.

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 11


SOJA

Teste de no controle de pragas na cultura da


soja cultivada em duas épocas de

controles
semeadura.

Material
e métodos
Os experimentos foram instala-
dos no campo experimental do Ins-
Manejos biológico, misto e químico apresentaram titudo Goiano de Agricultura (IGA),
resultados diversos no controle de pragas na cultura da soja Fazenda “Rancho Velho”, localizada
na Rodovia GO 174, km 45, à direita

A
+ 5 km, municipío de Montividiu –
tualmente, o Brasil é o de soja, entre eles as lagartas desfo- GO, nas coordenadas 17° 26’ 43.51’’
segundo maior produ- lhadoras e de vagens, o percevejo- latitude Sul e 51° 08’ 47.55’’ longitu-
tor e exportador mun- -marrom e a mosca-branca podem de Oeste, e 864 metros de altitude,
dial de soja [Glycine ser considerados os de maior im- durante o período de 20 de outubro
max (L.) Merrill], apresentando área portância no Brasil. de 2021 a 23 de março de 2022.
plantada de 41,4 milhões de hec- Levando em consideração o po- Foram implantados dois ensaios,
tares (ha), com produção de 125,5 tencial de dano destas pragas, o sur- o primeiro na janela usual da região
milhões de toneladas (t) e produti- gimento de populações renitentes para semeadura da cultura (primei-
vidade de 3.026 quilos por hectare e o uso indiscriminado de produtos ra época) e o outro, 30 dias depois
(kg/ha), conforme dados da safra químicos na tentativa de controle, (segunda época), com o intuito de
de 2021/22. Entretanto, existem o uso de produtos biológicos em observar a ocorrência e avaliar a
vários fatores que interferem na um manejo alternativo (misto) será pressão das pragas no plantio mais
sua produção, ocasionando grandes uma opção viável para os produto- tardio. A semeadura da primeira
prejuízos. Além do clima, os insetos- res. Desta forma, este trabalho teve época da soja foi realizada no dia 20
-praga são outra importante causa o objetivo de avaliar a eficiência dos de outubro de 2021 e da segunda
de redução da produção da cultura manejos biológico, misto e químico época no dia 20 de novembro de

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Tabela 1 - descrição dos manejos utilizados na cultura da soja para controle
2021. Foi realizada em solo úmido e de insetos-praga, em duas épocas (1ª e 2ª) de plantio da cultivar BMX Desafio
argiloso, no sistema plantio direto. RR. Safra 2021/2022. Montividiu - GO
Nas duas épocas utilizou-se a culti-
var Brasmax Desafio RR, com ciclo Tratamentos Descrição Manejo de herbicidas e fungicidas

médio de 115 dias para a região, T1 Controle Sem aplicações de inseticidas


em sistema de semeadura mecâni- Biológicos ou Químicos

ca com espaçamento de 0,45 m en- T2 Manejo Controle de insetos-praga realizado apenas com produtos Biológicos
Biológico (On farm ou comercial - fungos, bactérias e vírus) do plantio a colheita Realizado igualmente para todos
tre linhas e 20 plantas/metro linear, os tratamentos, conforme áreas do
totalizando uma população total Manejo
Controle de pragas realizado com produtos Biológicos (On farm ou talhão onde o ensaio foi instalado
T3 comercial - fungos, bactérias e vírus) e Químicos, intercalados, conforme
aproximada de 440 mil plantas/ Misto
nível de controle da população de pragas do plantio a colheita
ha. O delineamento experimental Manejo Controle dos insetos-praga realizado exclusivamente
adotado para ambos os ensaios foi T4
Químico com produtos Químicos (do plantio a colheita)
o de blocos casualizados (DBC), com
quatro tratamentos distribuídos
em quatro repetições, totalizando Figura 1 - flutuação populacional dos insetos-praga após aplicações dos manejos
16 unidades experimentais cada. biológico, misto e químico na primeira época de semeadura da soja, cultivar
As unidades experimentais consis- BMX Desafio RR. Safra 2020/2021. Montividiu, GO
tiram em sete linhas de soja espaça-
das a 0,45 metro (m) por 10 m de
comprimento, com área útil total
equivalente a 31,5 m² por parcela
e 504 m² de área total ocupada. A
descrição dos manejos utilizados
na cultura da soja para controle dos
insetos-praga encontra-se exposta
na Tabela 1.
Para a definição dos produtos a
serem aplicados em cada manejo,
foi realizado monitoramento se-
manal nas duas épocas de plantio,
sendo contabilizado o número de
indivíduos por espécie (utilizando

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Suellen Polyana da Silva Cunha Mendes
Tabela 2 - produtos biológicos e químicos utilizados nos Tabela 3 - produtos biológicos e químicos utilizados no
manejos e número de aplicações para controle de pragas manejo e número de aplicações para controle de pragas
na 1ª época de plantio da soja, cultivar BMX Desafio RR. na 2ª época de plantio da soja, cultivar BMX Desafio RR.
Safra 2020/2021. Montividiu - GO Safra 2020/2021. Montividiu - GO

1ª Época - Aplicações 2ª Época - Aplicações


Manejos Manejos
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª

Controle - - - - - - Controle - - - - - -

Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Bacillus Metarhizium
M. anisopliae
anisopliae +
Biológico thuringiensis thuringiensis thuringiensis thuringiensis thuringiensis thuringiensis Biológico thuringiensis thuringiensis thuringiensis thuringiensis Beauveria + B. bassiana
bassiana (2,0 + (2,0 + 2,0 Kg ha-1)
(4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) 2,0 Kg ha-1)

Bacillus Bacillus ChinNPV Indoxacarbe Bacillus Bacillus Acetamiprido


Clorfenapir Clorfenapir Acefato
Misto thuringiensis thuringiensis - + HearNPV + Novalurom Misto thuringiensis - thuringiensis + Bifentrina
(0,8 L ha-1) (0,8 L ha-1) (1,0 Kg ha )
-1
(4,0 L ha-1) (4,0 L ha-1) (0,2 L ha ) (0,2 L ha )
-1 -1
(4,0 L ha )
-1
(4,0 L ha-1) (0,3 L ha-1)

Clorfenapir Espinetoram Espinetoram Zeta-cipermetrina Lambda-cialotrina


Químico - - - - Químico - - - + Bifentrina + Thiametoxan
(0,8 L ha-1) (0,15 L ha-1) (0,15 L ha-1) (0,2 L ha-1) (0,25 L ha-1)

pano de batida e coleta de folhas), vazão de 150 L/ha. tos presentes. Já o monitoramento
e as aplicações foram definidas a As descrições dos produtos apli- de mosca-branca foi realizado atra-
partir do índice populacional de cados, a partir do índice das pragas vés da retirada dez folhas do terço
cada praga presente na área, desta nas duas épocas estão descritas nas médio das plantas ao acaso por par-
forma, para cada época de semea- Tabelas 2 e 3. cela, e posteriormente levadas ao
dura foi adotado um manejo espe- As avaliações de incidência das laboratório para contagem de ninfas
cífico visando a praga com maior pragas foram realizadas semanal- e de ovos de praga. Foi utilizada
incidência. As aplicações foram re- mente, sendo adotada para lagartas uma lupa disposta sobre bancada,
alizadas com pulverizador costal de e percevejo-marrom a metodologia com aumento de 40 x, para auxiliar
pressão constante, propelido a CO2, de pano de batida. Foram padroni- na observação em 4 cm² por folha
equipado de barra com seis pontas, zadas três batidas de pano por par- e contagem de ninfas da praga. Ao
espaçadas a 0,5 m do tipo cone va- cela na amostragem, realizando a todo foram realizadas dez amostra-
zio, modelo Conejet TXA 8002 VK e contagem e identificação dos inse- gens no ensaio de primeira época e
nove amostragens no ensaio de se-
gunda época.
Figura 2 - flutuação populacional dos insetos-praga após aplicações dos manejos A colheita dos experimentos foi
biológico, misto e químico na segunda época de semeadura da soja, cultivar realizada de forma mecânica, com
BMX Desafio RR. Safra 2020/2021. Montividiu, GO
auxílio de colhedora de parcelas
Almaco, sendo colhidas as quatros
linhas centrais em 10 m de compri-
mento e estimada a produtividade
(13% b.u) por hectare. As médias
foram avaliadas por análise de vari-
ância com aplicação do teste F a 5%
de probabilidade. Quando o efeito
de tratamentos foi significativo,
realizou-se teste de comparação de
médias pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade, com o auxílio do pro-
grama estatístico SASM-Agri.
Ao final, foram realizadas análises
de custo dos dois ensaios, avaliando
a relação entre o número de aplica-
ções, os custos e a produtividade de

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Suellen Polyana da Silva Cunha Mendes

Tabela 4 - relação entre número de aplicações, custos e


produtividade dos manejos (biológico, misto e químico)
para controle de pragas na soja - 1ª e 2ª épocas. Safra
2021/2022. Montividiu - GO

Número de Custo Produtividade Custo - Prod. Relação (B-C, M-C


Plantios Manejos
aplicações (sc/ha) (sc/ha) (sc/ha) e Q-C) sc/ha

Controle - - 102,0 - -

Biológico 6 1,0 105,0 104,0 2,0


1ª época
Misto 5 1,6 105,0 103,4 1,4

Químico 3 2,1 105,0 102,9 0,9

Controle - - 62,0 - -

Biológico 6 6,0 68,0 62,0 0,0


Lagarta infectada por produto biológico 2ª época
Misto 5 1,6 72,0 70,4 8,4

Químico 3 1,4 77,0 75,6 13,6

cada manejo empregado no contro- cações visando o controle destas la- duas lagartas por pano de batida
le das pragas na cultura da soja. gartas (tanto com produto biológico durante as semanas de monitora-
quanto químico) foram eficientes, mento (Figura 2).
Resultados reduzindo a população de lagartas A partir da sexta avaliação foi
e discussão e mantendo o índice menor que identificada a presença de S. frugi-
De acordo com os monitora- um por pano de batida ao longo perda, mosca-branca e percevejo-
mentos no ensaio conduzido na pri- do período de monitoramento. Em -marrom na área do ensaio. Após a
meira época de semeadura, foi ob- relação ao percevejo-marrom (E. sétima avaliação foram realizadas
servado no início a predominante heros), a população da praga per- aplicações focadas no controle dos
ocorrência da lagarta falsa-medidei- maneceu com baixo índice de ocor- insetos sugadores (mosca-branca
ra. A população desta praga atingiu rência, sendo observada ocorrência e percevejo-marrom), sendo ob-
maior quantidade de indivíduos na nas últimas três avaliações (Figura servada eficiência de até 54% no
oitava semana de monitoramento 1). Assim, entre os manejos da pri- manejo biológico (M. anisopliae +
(Figura 1). As aplicações do mane- meira época não foi necessária uma B. bassiana), 85% no manejo misto
jo biológico visando o controle da aplicação específica visando o con- (acefato) e 77% no manejo quími-
falsa-medideira mantiveram a po- trole desta praga. co (zeta-cipermetrina + bifentrina)
pulação da praga menor que duas Já em relação aos resultados para mosca-branca (Figura 2). Após
lagartas por pano de batida até a obtidos no ensaio conduzido em se- as aplicações, o índice de percevejo-
sétima avaliação, quando houve gunda época de semeadura, foi ob- -marrom se manteve abaixo de um
crescimento da população desta servada maior ocorrência de inse- por pano de batida em todos os
lagarta. A partir deste momento, as tos-praga durante o ciclo da cultura tratamentos aplicados, enquanto a
aplicações do B. thuringiensis uti- (Figura 2). A lagarta falsa-medideira testemunha apresentou 1,5 perce-
lizado no estudo “tratamento bio- foi encontrada ao longo de todas as vejo por pano de batida ao final das
lógico” não apresentaram o efeito avaliações realizadas, sendo a única avaliações.
desejado. praga com ocorrência nas primeiras No cultivo de primeira época
Ainda no ensaio conduzido na cinco semanas de monitoramen- não foi observada diferença signi-
primeira época de semeadura, a to. As aplicações com o produto ficativa entre os tratamentos para
presença de S. frugiperda e A. gem- biológico B. thuringiensis (manejo a produtividade da soja (Figura 3).
matalis deve ser pontuada, mesmo biológico), com produto biológico Os manejos biológico, misto e quí-
que em índices menores quando B. thuringiensis seguido de químico mico apresentaram produtividade
comparado ao da falsa-medideira, clorfenapir (manejo misto) e com semelhantes (105 sacas por hectare
apresentou maior ocorrência da produto químico espinetoram (ma- - sc/ha), enquanto o controle, sem
terceira até a sétima semana de nejo químico) mantiveram a popu- aplicações de inseticidas, obteve
monitoramento (Figura 1). As apli- lação da falsa-medideira abaixo de três sacas a menos (102 sc/ha). No

16 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


Figura 3 - produtividade após aplicações de diferentes manejos (biológico, misto
e químico) para o controle de insetos-praga na soja, em duas épocas de plantio de biológicos.
da cultivar BMX Desafio RR. Safra 2021/2022. Montividiu – GO No cultivo de primeira época,
o manejo biológico apresentou
produtividade semelhante à dos
demais manejos (105 sc/ha), porém
com menor custo de aplicação (~ 1
sc/ha) e maior relação de ganho (~
2 sc/ha) quanto aos outros manejos
(misto e químico).
Em relação aos insetos-praga na
segunda época, além da ocorrên-
cia de lagartas, foi observada uma
maior população de insetos sugado-
*Médias seguidas pelas mesmas letras não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
res ao final do ciclo, mosca-branca
(Bemisia tabaci) e percevejo-mar-
cultivo de segunda época, o manejo aos manejos misto e químico. A rom (Euschistus heros). Com isso,
químico (77 sc/ha) diferiu estatisti- maior pressão de pragas nesta épo- foram introduzidas aplicações dos
camente do controle sem aplicação ca de semeadura comprometeu a fungos B. bassiana e M. anisopliae
(62 sc/ha), com um incremento de eficiência dos produtos biológicos no manejo biológico. E os manejos
15 sc/ha, enquanto o manejo misto aplicados, necessitando utilização misto e químico demonstraram me-
produziu 72 sc/ha e o manejo bioló- de outros agentes biológicos, ajuste lhor desempenho.
gico atingiu 68 sc/ha (Figura 3). de doses e concentrações aplicadas. No cultivo de segunda época, os
A redução de produtividade no Desta forma, o manejo químico ob- manejos misto e químico apresen-
ensaio instalado na 2ª época de teve a maior relação de ganho en- taram as maiores produtividades
semeadura tem ligação direta com tre os manejos aplicados, atingindo (72 e 77 sc/ha), menores custos
o aumento da pressão dos insetos- 13,6 sc/ha (Tabela 4). de aplicação (1,4 e 1,6 sc/ha) e
-praga, principalmente do perce- maiores relações de ganho (8,4 e
vejo-marrom e da mosca-branca Conclusões 13,6 sc/ha). Por sua vez, o manejo
no estádio reprodutivo, pois estes e apontamentos biológico demonstrou maior inves-
afetam diretamente o enchimento Na avaliação de insetos-praga na timento por hectare para o controle
de grãos, causando atrofia e, conse- primeira época, destacou-se a ocor- insetos-praga, isso devido ao maior
quentemente, redução do seu peso rência das lagartas falsa-medidiera nível populacional encontrado no
e qualidade. (Rachiplusia nu e Chrysodeixis inclu- período mais tardio. C

Ao final dos ensaios, foi realizada dens). Foi observado um controle


uma análise de custo entre os ma- significativo com o uso exclusivo de
nejos e as produtividades obtidas produtos biológicos no início da in- Robério Carlos dos Santos Neves,
em ambos os experimentos (Tabela festação da praga, sendo os resulta- Jhonatan Rafael Wendling,
4). Foi observado que o manejo dos semelhantes aos manejos mis- Carlos Eduardo Xavier dos Santos Joaquim,
biológico apresentou produtivida- to e químico. No entanto, ao final, Suellen Polyana da Silva Cunha Mendes,
de semelhante à dos outros dois na oitava avalição, houve um pico Enderson Gama,
manejos na semeadura de primeira populacional da praga no manejo IGA
época e obteve um custo de pro-
dução menor. Assim, demonstrou
maior relação de ganho (2 sc/ha)
comparado aos manejos misto e
químico.
No ensaio semeado na segunda
época, o manejo biológico teve um
custo mais elevado e uma produti-
Autores realizaram testes com manejos químico, biológico e misto
vidade menor quando comparado

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 17


Tecnologia e inovação: Premio® Star
oferece manejo simultâneo de
lagartas e percevejos na soja
Produto tem alta performance e efeito de choque
e residual; solução é exclusiva da FMC

A
safra brasileira de grãos culturas de milho safrinha e algo- doptera, Helicoverpa e falsa-me-
no ciclo 2023/24 poderá dão, torna o terreno ainda mais dideira, e os percevejos, que são
chegar a uma produção fértil para o aumento da lagarta, os grandes vilões das plantações.
de 317,5 milhões de toneladas, que tem alta capacidade de adap- “Essa tecnologia inédita foi desen-
de acordo com a Companhia Na- tação. A gerente explica que “os volvida para o cenário brasileiro e
cional de Abastecimento (Conab). agricultores perceberam que a passou por uma fase de otimiza-
Devido à imensidão de território Spodoptera está fazendo o ciclo ção para extrair o melhor efeito si-
brasileiro semeado e como cada completo durante todo o ano e nérgico dos ativos. A combinação
região é impactada por diferentes existe presença constante da la- e a proporção exatas dos ingre-
variações climáticas e pressão garta na palhada. Na última safra dientes conferem uma formulação
de pragas e doenças, o agricultor de soja, a população dessa praga diferenciada com altíssima perfor-
precisa estar preparado. Na so- cresceu muito e o manejo tardio mance para insetos mastigadores
jicultura, os insetos ainda são o para o controle acarretou proble- e sugadores.”
principal desafio da lavoura. Den- mas, pois ela tem voracidade e O Premio® Star atua por con-
tre todos, a grande preocupação ataca as flores e vagens”. tato e ingestão e tem amplo es-
ainda continua sendo as diferen- Como qualquer outra praga, o pectro, efeito de choque e resi-
tes espécies de Spodoptera. momento de aplicação é crucial dual, menor lavagem pela chuva
Caso não seja controlada, essa para o sucesso no combate e, e otimização operacional. “Esse
praga tem alto potencial de dano, dessa forma, evitar prejuízos com é um produto revolucionário e
causando perdas significativas perdas de produtividade ao final sustentável para as lavouras. O
de produtividade. “O manejo das da safra. “Para um bom manejo protagonismo da FMC em inseti-
Spodopteras deve contemplar to- de controle da Spodoptera é pre- cidas é resultado dos constantes
do o sistema de produção e não ciso empregar produtos com alta investimentos em pesquisa e de-
apenas uma cultura isolada. Essa tecnologia e com moléculas mais senvolvimento, buscando sempre
lagarta está presente em todo o atualizadas para evitar o manejo entender as reais necessidades
Brasil, pois a espécie tem vários de resistência, como o inseticida do produtor”, ressalta a gerente.
hospedeiros alternativos, o que Premio® Star, recém-lançado pela A FMC e o logotipo da FMC,
facilita a manutenção durante o FMC”, diz Débora. assim como o produto Premio®
ano e em diversas culturas. Ao A solução oferece proteção Star, são marcas comerciais da
longo do tempo, foi possível notar para 50 pragas em 58 culturas e é FMC Corporation ou afiliada. Pro-
o aumento da incidência dessa o único produto do mercado que dutos de uso agrícola. Consulte
praga, principalmente nas lavou- oferece controle simultâneo para sempre um engenheiro agrôno-
ras de soja e algodão”, destaca as principais pragas da soja, como mo. Sempre leia o rótulo e siga
Débora Prado, gerente de cultivos lagartas e percevejos, e outros al- todas as instruções, restrições e
da FMC. vos secundários. precauções de uso do produto.
A Spodoptera sempre esteve Débora ressalta que com o
presente nas lavouras de soja, Premio® Star, o agricultor poderá
e o plantio de sucessão, com as combater as lagartas, como Spo-

18 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


SOJA

Controle o Com condições disponíveis


para a hospedagem de
patógenos e insetos, o

tempo todo
período da entressafra
passa a se tornar campo
fértil para sua permanência
e multiplicação

O
manejo de doenças
na cultura da soja
tem atingido níveis
de complexidade
que demandam ações combina-
das durante todo o ano. Como a
monocultura de soja é atividade
permanente, a pressão de doen-
ças necrotróficas tem sido cada
vez mais elevada, visto a vasta
oportunidade desses patógenos
sobreviverem em condições de
“solo/palhada”. Outro adicional
são as doenças biotróficas como
ferrugem e oídio, que também
têm exigido um conhecimento am-
pliado dos agrônomos, técnicos e
produtores. Neste caso, elas têm

Figura 3 - ferrugem-asiática, causa

20 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


Figuras 1 e 2 - soja espontânea é fruto de germinação e emergência de sementes oriundas da
perda na colheita ou, até, no transporte pelas rodovias e ferrovias

encontrado grande disponibilidade essas plantas de soja guaxa, con- produtividade podem chegar até
de sobrevivência, mesmo na entres- segue identificar problemas como 90% para ferrugem (Godoy et al.,
safra, através da hospedagem em ferrugem-asiática (Phakopsora 2020), e a 35% por oídio (Godoy et
soja espontânea ou guaxa. pachyrhizi) (Figura 3), oídio (Micros- al., 2021).
A soja espontânea ou guaxa é phaera difusa) (Figura 4), septoriose Com todas essas condições dis-
fruto de germinação e emergência (Septoria glycines) e cercosporiose poníveis para a hospedagem des-
de sementes oriundas da perda na (Cercospora spp.) (Figura 5), além ses patógenos e insetos, o período
colheita ou, até, no transporte pelas de mosca-das-hastes (Melana- da entressafra, que deveria estar
rodovias e ferrovias (Figuras 1 e 2). gromyza sojae) (Figura 6). ausente de soja para reduzir a via-
Após a safra de verão, essas plantas Os danos dessas doenças na bilidade destes indivíduos, passa
se estabelecem em áreas de pousio, safra normal podem atingir magni- a se tornar um campo fértil para
pastagem ou até em lavouras de in- tudes preocupantes. No caso das permanência e multiplicação dos
verno que não executam o correto necrotróficas, severidades elevadas mesmos. Assim, o início da safra
manejo de plantas daninhas. Dessa de septoriose ou cercposporiose de soja seguinte, que deveria ter
forma, a soja passa a ser uma hos- podem comprometer mais de 30% baixa disponibilidade de inóculo de
pedeira preferencial de doenças e cada, no rendimento final (Guima- doenças, passa a ser alvejado por
também de insetos na entressafra. rães, 2008; Godoy et al., 2016). Já uma grande pressão de patógenos,
Qualquer pessoa que observa para as biotróficas, as perdas de visto sua permanência na entressa-

da pelo patógeno Phakopsora pachyrhizi Figura 4 - oídio, resultado da ação de Microsphaera difusa

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 21


estamos colocando toda responsa-
bilidade de controle dessa doença
nos fungicidas químicos, e não é
surpresa que as eficácias vêm cain-
do a cada safra. Assim, é fundamen-
tal que sejam observadas estraté-
gias integradas de manejo para que
o controle químico não seja sobre-
carregado e sim um parceiro.
Diante desses fatos, esforços
de diversas instituições públicas e
Figura 5 - cercosporiose, doença resultante da ação de Cercospora spp. privadas têm sido somados para
desenvolver estratégias para mi-
tigar esses desgastes. Além das
recomendações de uso correto de
fungicidas, duas táticas têm sido
fra em condições adequadas e sem lacionados ao sucesso do controle. importantes, como o vazio sanitá-
controle. Esse fato terá relação direta com as rio e o calendário de semeadura.
A presença de doença instalada perdas de produtividade, maior de- Esse último veio através da Por-
na lavoura já nos primeiros estádios posição de produtos no ambiente, taria SDA/Mapa nº 840, que foi
da soja, irá sobrecarregar a capaci- baixa eficácia de controle e maiores modificada pela nº 886, que visa
dade de eficácia de controle satisfa- gastos financeiros de parte do pro- concentrar a semeadura de soja
tória de qualquer fungicida. Com is- dutor, reduzindo sua rentabilidade. em um período restrito, para ten-
so, serão necessários maior número Outro fator intimamente ligado tar diminuir a exposição das plan-
e quantidade de aplicações, não re- a isso é a capacidade dos patógenos tas em condições possivelmente
em superar os controles através mais favoráveis à infecção pelo
da seleção direcional de indivíduos patógeno.
resistentes, por meio do uso de fun- Por outro lado, tecnicamente,
gicida. Neste ponto, os indivíduos mais importante que o calendário
de Phakopsora pachyrhizi (ferrugem de semeadura de soja é o uso e res-
da soja) possuem grandes habilida- peito ao vazio sanitário. A Portaria
des para não serem mortos pelos nº 306 explica sobre o período defi-
controles químicos, através diversas nido e contínuo, de pelo menos 90
estratégias (Figura 7). Neste caso, dias, em que não se pode semear

Figura 7

Figura 6 - a mosca-das-hastes,
Melanagromyza sojae, pode gerar
danos severos

22 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


Figura 8

nem manter plantas vivas de soja entressafra. Para o produtor gastar Marcelo Gripa Madalosso,
no campo (Figura 8). Nesse perío- menos com fungicidas e evitar o Universidade Regional Integrada – URI;
do, plantas voluntárias devem ser dano de doenças, é fundamental o Leonardo Gollo,
eliminadas. O objetivo é reduzir a manejo do ano todo. C
Madalosso Pesquisas
população do fungo no ambiente
na entressafra, e assim atrasar a
ocorrência da doença na safra (Em-
brapa, 2022).
No entanto, esses mesmos esta-
dos do Sul do país não têm feito o
devido serviço de casa para a redu-
ção de soja guaxa em suas lavouras,
com situações preocupantes (Figura
9). Muitos produtores têm confiado
no possível efeito da geada para o
controle dessas plantas, porém esse
efeito é cada vez menos confiável.
Dessa forma, os agrônomos, téc-
nicos e produtores precisam dire-
cionar o olhar para a entressafra co-
mo forma de reduzir os gastos com
controles químicos ou biológicos
durante a safra, visto a capacidade
de doenças e pragas sobreviverem
na ponte verde. O controle de do-
enças na safra corrente de soja tem Figura 9 - durante o vazio sanitário plantas voluntárias devem ser eliminadas;
relação direta com o que ocorre na o objetivo é reduzir a população de fungo no ambiente

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 23


Paola M. Milanesi

CAPA

Perigo à S
etembro de 2023. Cerca de um mês antes
da abertura da janela de semeadura da
soja em Erechim, município localizado no
Norte do Estado do Rio Grande do Sul, já foi

espreita
possível diagnosticar ferrugem-asiática em plantas de
soja voluntárias, também conhecidas como guaxas ou
tigueras. A doença é causada pelo fungo Phakopsora
pachyrhizi e a identificação foi realizada no Laboratório
de Fitopatologia da Universidade Federal da Fronteira
Sul (UFFS) - Campus Erechim. Essa ocorrência foi relata-
Com a detecção dos primeiros focos
da no site do Consórcio Antiferrugem, que é coordena-
de ferrugem-asiática antes do início do e gerenciado pela equipe da Embrapa Soja.
da safra, veja quais cuidados iniciais o
produtor precisa tomar em relação à soja
guaxa e ao manejo sanitário da cultura

24 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


Gabriele Girelli de Andrade Paola M. Milanesi

Esse foco de ferrugem-asiática


em Erechim se soma aos já an-
teriormente encontrados no Rio
Grande do Sul e também identifi-
cados a partir de soja guaxa. Até o
presente momento, a doença foi
também relatada nos seguintes
municípios gaúchos: Cruz Alta, Ma-
to Castelhano, Não-Me-Toque, São Urédias de FAS, à direita detalhe de pústula
Sepé e Tupanciretã.
Sem dúvida, esse cenário pre-
ocupa. A semeadura da soja ainda
nem começou no Rio Grande do Sul voráveis (conforme descrito acima), rante a entressafra; (V) lavouras que
e já há presença da doença. A ocor- existência de um hospedeiro susce- são mantidas em pousio após a co-
rência do fenômeno climático “El tível (soja sem resistência genética lheita da soja que, somado a perdas
Niño” é um agravante para essa si- à doença) e presença constante de de grãos, resulta em plantas guaxas.
tuação, dada a maior frequência de esporos do fungo, estabelece-se na O fungo que causa a ferrugem-
chuvas - que têm sido volumosas, cultura e, conforme progride, leva -asiática consegue sobreviver ape-
em todo o Estado, e isso vem garan- a um quadro de desfolha muito nas em plantas vivas (é considerado
tindo a condição de molhamento intensa - caso não sejam realizadas um patógeno biotrófico). Por isso,
foliar contínuo de, no mínimo, seis aplicações de fungicidas no mo- estima-se que ele tenha possibili-
horas; além de temperaturas entre mento correto. dade de infectar mais de 150 espé-
20°C e 28°C, que são preferenciais A presença de soja guaxa nas cies vegetais. Quando essas plantas
para o fungo. lavouras pode ser resultante de: guaxas permanecem no campo
Na safra 2022/23, na UFFS - (I) perdas de grãos na colheita; (II) após a colheita (seja na safra ou na
Campus Erechim, utilizando a ar- invernos pouco rigorosos, não ha- safrinha), e considerando a presen-
madilha caça-esporos para o moni- vendo ocorrência de geadas que, ça de soja já em desenvolvimento
toramento da chegada de inóculo anteriormente, atuavam erradican- em outros locais, a exemplo do que
de Phakopsora pachyrhizi, os pri- do a soja guaxa; (III) plantio de soja ocorre nos países vizinhos ao Brasil,
meiros esporos foram obtidos em safrinha, acentuando ainda mais como a Bolívia e o Paraguai, tem-
28 de dezembro de 2022. Contudo, as perdas de colheita, manutenção -se a formação de uma ponte verde
por não haver condições favoráveis de grãos na lavoura e, por sua vez, que atua mantendo continuamente
à ferrugem-asiática, os primeiros fo- ocorrência de plantas guaxas; (IV) a presença dos esporos do fungo
cos da doença ocorreram somente dessecação em pré-semeadura de pelo ar.
na primeira quinzena de março de trigo, aveia e plantas de cobertura A antecipação da época de se-
2023. Portanto, em 2023/24 nota- com herbicidas os quais a soja apre- meadura de soja, dando preferên-
-se uma antecipação na presença senta resistência, contribuindo para cia à abertura da janela - metade
do inóculo do fungo, o que é rela- a sua manutenção nas lavouras du- de outubro e primeira quinzena de
cionado ao ambiente favorável.
Por isso, para a safra que está às
Fotos Paola M. Milanesi

vésperas de se iniciar, a ferrugem-


-asiática será uma doença bastante
evidente nas lavouras de soja e re-
quer especial atenção por parte de
produtores, profissionais da área,
cooperativas e empresas relaciona-
das à cadeia produtiva da soja. Essa
preocupação se justifica pela agres-
sividade dessa doença que, na pre-
sença de condições de ambiente fa- Evolução das pústulas de FAS

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 25


Lucas Andrei Favaretto

o controle da doença, associados


aos fungicidas multissítios - princi-
palmente mancozebe e clorotalonil,
é uma medida muito importante
e, para isso, o produtor pode, jun-
tamente ao profissional que lhe dá
assistência técnica, buscar respaldo
a partir das informações contidas
nos resultados dos ensaios sumari-
zados da Embrapa Soja. Essa tem si-
do uma publicação balizadora para
viabilizar a melhor tomada de deci-
são sobre quais fungicidas aplicar e
em quais momentos posicioná-los.
É importante destacar ainda que
os fungicidas devem ser utilizados
conforme a dose descrita em bula e
o produtor deve prezar pela rotação
de ingredientes ativos, a fim de não
estimular que o fungo se torne cada
vez mais insensível aos fungicidas
empregados no controle da ferru-
gem-asiática.
Comparação entre folha de uma planta sem fungicida (à esquerda) e com fungicida (à direita) Além disso, ter o entendimen-
to de que as plantas precisam ser
tratadas por estratos, um a um,
ou seja, primeiro o terço inferior;
novembro (épocas recomendadas so quer dizer que, do momento em em uma próxima aplicação o terço
em Erechim) - além da escolha por que ocorre a infecção da planta pe- médio; e, posteriormente, o terço
cultivares de ciclo mais precoce, dá lo fungo até o surgimento dos pri- superior, usando uma tecnologia de
ao produtor ganho de tempo, pois a meiros sintomas, o processo dura aplicação adequada, com pulveri-
cultura permanecerá na lavoura em em torno de seis dias, dificultando a zadores bem regulados, equipados
um período mais curto, ficando me- percepção do início da doença. Por com pontas em bom estado e que
nos exposta à ocorrência da doença. isso, em safras cujas condições se-
Outras medidas, como uso de cul- jam satisfatórias para a ocorrência
tivares com resistência à ferrugem- da ferrugem-asiática, como a que Gabrieli Girelli de Andrade

-asiática (“soja inox”), podem ser se inicia, a aplicação de fungicidas


uma alternativa, mas desde que jun- realizada junto à primeira aplicação
to haja também reforço com o con- de herbicida em soja, ou também
trole químico. Isso porque nenhuma conhecida como aplicação “zero”,
medida isolada terá bom efeito no poderá trazer resultados benéficos
controle da doença. no controle dessa doença, assim
Com relação ao controle químico, como gerar maior rentabilidade ao
o monitoramento de focos da do- produtor.
ença é essencial para o sucesso no Além disso, em caso de chuvas
controle da ferrugem-asiática, visto muito frequentes, o ideal é encur-
que sua diagnose é complexa, pois a tar o intervalo entre as aplicações,
doença se desenvolve muito rapida- ou seja, passando de 14 ou 15 dias, Uredósporos (esporos)
mente após o momento em que o para dez a 12 dias. O uso de fungici- de Phakopsora Pachyrhizi
fungo acessa os tecidos da planta. Is- das sistêmicos mais eficientes para

26 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


Paola M. Milanesi Tuane Tochetto

Sintomas de ferrugem-asiática na parte de cima da folha de soja

biológicos de boa qualidade e com cultivo de soja no estado entre 13


procedência. de julho e 10 de outubro, sendo
Armadilha caça-esporos para
Finalmente, o cuidado com a que nesta safra o período foi ante-
monitoramento da FAS regulagem adequada das colhedo- cipado em dez dias, ou seja, entre 3
ras é uma medida simples e que de julho e 30 de setembro.
previne a perda de grãos de soja Em caso de dúvidas, o produtor
que, por sua vez, irão germinar e deve buscar a orientação do enge-
permitam que o fungicida atinja o assegurar a manutenção de soja nheiro agrônomo, que é o profissio-
alvo biológico nas folhas, é funda- guaxa na lavoura. Da mesma forma, nal que poderá melhor orientar na
mental. Caso o fungicida necessite o não cultivo de soja na safrinha en- tomada de decisão, visando buscar
de adjuvante, o produtor deve con- fraquece a “ponte verde”. Um bom o manejo mais adequado para a
siderar a utilização para permitir manejo de dessecação, em pré- sua lavoura. É fundamental partir
melhor aproveitamento do residual -semeadura da soja, é uma medida para uma conduta individualizada,
do fungicida. que também auxilia na redução do pois no campo as realidades são
É importante destacar o cresci- inóculo do fungo mantido em plan- muito diversas. Uma excelente safra
mento na utilização de fungicidas tas guaxas. a todos! C

microbiológicos, baseados em No Estado do Rio Grande do Sul,


bactérias benéficas, tais como as está vigente, desde 2022, a Portaria Paola Mendes Milanesi,
do gênero Bacillus; e na levedura SDA Nº 516, de 1º de fevereiro de Tatiana Kuciak,
Saccharomyces cerevisiae, junta- 2022, que define o vazio sanitário Guilherme Martöffel,
mente aos fungicidas sistêmicos. para a cultura da soja. De acordo Gustavo Felipe Ruch,
Pesquisas realizadas pela Embrapa com essa portaria, não deve haver Universidade Federal da Fronteira Sul
Soja e parceiros indicam resultados
promissores. O único cuidado que
o produtor deverá tomar ao utilizar
um produto biológico em sua la-
voura é quanto ao horário de apli-
cação, pois ao realizá-la à tardinha
haverá maior possibilidade para o
bom estabelecimento do agente
de controle biológico, garantindo
melhor eficiência no controle da Autores explicam quais cuidados iniciais o produtor precisa tomar em
ferrugem-asiática. Também, o pro- relação à soja guaxa e ao manejo sanitário da cultura
dutor deverá optar por produtos

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 27


CANA

Cigarrinha A
cana-de-açúcar é uma das
culturas mais importantes
do Brasil, sendo respon-
sável pelo maior desen-

sob controle
volvimento do agronegócio no país
envolvendo etanol e energia, possuindo
cerca de 8,6 milhões de hectares de área
colhida. Porém, seu desenvolvimento e
potencial são ameaçados por diversas
pragas que causam grandes prejuízos
O ataque da cigarrinha-da- comerciais.
cana-de-açúcar causa perdas A cigarrinha-das-raízes (Mahanarva
significativas no canavial, fimbriolata) é umas das pragas que
com a morte das touceiras, ameaçam esta cultura, causando perdas
na produtividade, que variam de 15% a
dificuldades de brotação e 80%, e reduções na qualidade da maté-
inviabilidade das gemas ria-prima, que podem chegar até 30%.
Por isso, são de extrema importância o
conhecimento do inseto-praga, a aten-
ção e o cuidado com o monitoramento,
para que decisões assertivas sejam to-
madas no combate e controle dele na
cultura.

Identificação
do inseto-praga
A cigarrinha-das-raízes (Mahanarva
fimbriolata) pertence à ordem dos he-
mípteras (assim como cigarras, perce-
vejos e pulgões). É um inseto do tipo
sugador. Seu ciclo biológico varia de 63
a 79 dias, sendo fortemente afetado por
fatores climáticos que interferem dire-
tamente em sua dinâmica populacional,
desfavorecendo sua sobrevivência e afe-
tando o ciclo reprodutivo das fêmeas. O
início de seu ciclo está muito associado à
“época das águas”, em que o clima úmi-
do favorece a eclosão dos ovos.
A cigarrinha passa por três estágios
biológicos durante seu desenvolvimen-
to: ovo, ninfa e adulto.
As fêmeas depositam os ovos na ba-
se das touceiras ou entre os restos ve-
getais deixados no solo. A proibição da
queima de cana-de-açúcar favoreceu a

28 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293

Gabriel Augusto de Andrade Rodrigues


Fotos Karen Helena de Andrade Rodrigues

infestação devido à sobreposição de


palha no campo. Cada fêmea ovi-
posita, em média, 340 ovos durante
seu ciclo de vida, tendo o período
de incubação cerca de 15 a 20 dias.
Porém, com a diminuição de chuvas
ocorre a diapausa dos ovos: eles en-
tram em um período de dormência,
garantindo sua sobrevivência para
eclosão em condições favoráveis, Ninfas cobertas por espuma na base das touceiras de cana e raízes
dando origem às ninfas de primeiro
estágio (ecdises).
As ninfas se fixam às raízes das
canas ou radicelas e permanecem e adaptadas para saltos, o que fa- dos tecidos radiculares, o que di-
em torno de 30, 40 dias cobertas cilita seu deslocamento. Apresen- ficulta ou impede o fluxo de água
por uma espuma esbranquiçada se- tam asas também; porém, menos e nutrientes dos vasos condutores
melhante à espuma de sabão, que adaptadas, sendo mais comum (floema e xilema) para a parte aé-
é produzida por elas como forma para dispersão em curtas distâncias. rea da planta, causando-lhe morte
de proteção à exposição ao am- Assim, são capazes de se deslocar devido ao desequilíbrio de nutrien-
biente e ao clima. Nesse período, as das raízes para as partes aéreas das tes e desidratação.
ninfas passam por cinco mudanças plantas, onde passam a se alimen- Este fato é perceptível, pois
de ecdises até amadurecerem a fa- tar e trazer prejuízos econômicos à causa o efeito característico de
se adulta. cultura. “chochamento” dos colmos e afi-
A fêmea vive em média 22 dias e namento, gerando posteriormente
o macho, por volta de 17 dias; apre- Os danos rachaduras e rugas e abrindo porta
sentam entre 11 e 13 milímetros econômicos de entrada para mais patógenos.
(mm) de comprimento, sendo as Os primeiros danos econômicos Os colmos, muitas vezes, chegam a
fêmeas maiores do que os machos. causados pela cigarrinha começam ficar ocos por dentro.
Os machos possuem coloração na fase de ninfa. Ao se alimenta- Na fase adulta, o inseto se ali-
avermelhada com manchas na asa rem, introduzem o aparelho bucal menta das folhas e ocasiona a
e faixas pretas longitudinais em seu através da epiderme da cana, onde “queima da cana-de-açúcar”, decor-
corpo. A fêmea apresenta coloração atingem os vasos lenhosos. A saliva rente da toxina injetada ao se ali-
mais amarronzada. do inseto possui enzimas que au- mentar, causando manchas amare-
Na fase adulta, os insetos apre- xiliam a digestão. Porém, quando ladas que, com o tempo, ficam ver-
sentam pernas mais desenvolvidas inseridas na planta, causam necrose melhas e reduzem sensivelmente a
capacidade fotossintética da planta
(até ficar opaca e morrer).
Gabriel Augusto de Andrade Rodrigues

O ataque desse inseto causa


perdas significativas no canavial
em si, com a morte das touceiras,
dificuldades de brotação e inviabili-
dade das gemas. Porém, sua maior
perda econômica ocorre em termos
de produtividade, pois reduz o brix
e o teor de sacarose. Por outro la-
do, aumenta a fibra no colmo, os
compostos fenólicos e os conta-
minantes que interferem no con-
sumo da levedura na fermenta-
Ninfa de 4 a 5, estágio de cigarrinha-das-raízes Mahanarva fimbriolata ção, impactando a fabricação de

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 29


Karen Helena de Andrade Rodrigues Gabriel Augusto de Andrade Rodrigues

recomenda-se a aplicar inseticidas


seletivos para preservar os inimigos
naturais presentes na área.

Controle
biológico
O controle biológico da praga
pode ser feito a partir da introdução
dos inimigos naturais da cigarrinha-
-das-raízes. O método mais conhe-
cido e utilizado atualmente é com
a aplicação do fungo entomopa-
togênico Metarhizium anisopliae,
Ninfas e seus primeiros danos econômicos Insetos adultos em copulamento também conhecido como fungo-
na base das touceiras de cana e raízes (macho e fêmea) -verde. Quando em contato com o
inseto-praga, ocorre a germinação
dos conídios, que penetram no te-
etanol. Pode afetar ainda a cor e Controle gumento do inseto em um período
as características do açúcar final, físico de dois a três dias. O período de
demandando alto custo e dificul- O método físico cultural consiste colonização ocorre de dois a quatro
dade de moagem decorrente do na retirada da palhada residual, dei- dias; e a esporulação em dois a três
acréscimo de fibra vegetal e col- xando o solo exposto, aumentando dias, dependendo das condições do
mos secos mortos. a temperatura do local, reduzindo ambiente. O ciclo total da doença é
a umidade e dificultando a sobre- de oito a dez dias para a morte do
Métodos vivência e a eclosão dos ovos; tam- inseto e infestação do fungo.
de controle bém se pode não realizar plantio Quando o fungo Metarhizium
O principal meio de controle é direto e manter o solo exposto no anisopliae é aplicado da forma cor-
o conhecimento do inseto-praga, e plantio; e investir na nutrição da reta, considerando as condições
o monitoramento cuidadoso para cultura, com processos como cala- ambientais ideais, a qualidade do
avaliar o estágio em que se encon- gem, adubação e fosfatagem. Isso fungo e a dosagem, o método se
tra a infestação, acompanhando a permite o desenvolvimento do sis- torna muito eficiente.
evolução da praga. tema radicular da cana, melhoran- Outros dois métodos biológicos
O monitoramento do canavial do sua resistência à falta de água e para controle da cigarrinha que
deve ocorrer principalmente em o controle de pragas. vêm se mostrando promissores e
períodos chuvosos, quando se inicia estão em estudo: o uso do micro-
o desenvolvimento do inseto, sen- Controle -himenóptero Anagrus urichi, um
do necessária uma tomada de ação químico parasitoide de ovos; e o da mosca
quando o “nível de controle" (NC) O método químico possui gran- Salpingogaster nigra, que é um pre-
é atingido, isto é, quando são iden- de eficácia no controle contra cigar- dador de ninfas.
tificadas cinco ninfas/metro e 0,5 a rinhas, principalmente o do tipo sis- A utilização do manejo integra-
0,75 adulto/cana. têmico. Porém, em alguns casos, há do de pragas para o controle eficaz
Como em toda cultura, o mane- necessidade de reaplicação, sendo do inseto em sua cultura é sempre
jo integrado de pragas é sempre a preciso repassar duas ou três vezes a melhor opção, adotando medi-
melhor solução, pois quando se in- devido à mutação dos insetos e à das de controle de acordo com seu
tegram vários tipos de controle, vo- resistência a alguns inseticidas. monitoramento e realidade no mo-
cê abrange o seu índice de eficácia Em alguns casos, o controle de mento, sendo extremamente asser-
no tratamento. ninfas e adultos requer produtos tivo nas tomadas de decisão. C

Para o controle efetivo da cigar- diferentes. Para controlar ninfas,


rinha, são conhecidos métodos físi- deve-se optar pelos produtos de Karen Helena de Andrade Rodrigues,
cos, químicos e biológicos. calda granulados. Na fase adulta, Especialista em manejo de pragas

32 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


PLANTAS DANINHAS

Mais uma resistente


Picão-preto resistente ao glifosato é o novo desafio do produtor no manejo de plantas daninhas

A
resistência de plantas B. pilosa e B. subalternas, com pe- solucionado.
daninhas a herbicidas quenas diferenças morfológicas e Em 2023, o picão-preto volta a
no Brasil foi pela pri- suscetibilidade a herbicidas. Naque- ser um problema para os produto-
meira vez relatada aos la oportunidade, a cultura de soja res de grãos no Brasil, pois foram
herbicidas inibidores da ALS (1993), resistente ao glifosato ainda não relatados casos de resistência ao
exatamente com picão-preto, na estava sendo cultivada no Brasil, e o glifosato. Desenvolvemos pesquisa
época descrita como Bidens pilo- desafio para o produtor era grande. no passado que mostram que po-
sa. Porém, foi depois identificado No entanto, quando em 2005 foi li- pulações resistentes a inibidores
que, no Brasil, infestando culturas berado o uso de culturas resistentes da ALS têm a mesma adaptabili-
agrícolas, há predominância de ao glifosato, o problema de controle dade que populações suscetíveis.
duas espécies do gênero Bidens, do picão-preto foi imediatamente Assim, uma vez selecionadas estas

34 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293

Divulgação
Fotos Pedro Jacob Christoffoleti

populações, mantêm-se na comu-


nidade de plantas daninhas por
muito tempo. É provável que as
populações resistentes de picão-
preto, agora relatadas como resis-
tentes ao glifosato, tenham ainda a
herança de resistência aos inibido-
res da ALS, restringindo, portanto,
seu controle alternativo por este
mecanismo de ação.
Como as populações resisten-
tes de picão-preto ainda estão
restritas em termos de distribui-
ção no país, prevenir é a melhor
recomendação que temos para o
produtor. Sua prevenção inicia-se
na dessecação. Dentre os herbici-
das indicados para a dessecação,
destacam-se os hormonais (2,4-D,
triclopir e fluroxipir), o glufosinato
de amônio e os inibidores da PPO
(saflufenacil). Seguindo aos herbi-
cidas de dessecação, é necessário
associar um bom pré-emergente
de manejo.
Dentre os pré-emergentes com Picão-preto resistente a herbicidas infestando final de ciclo da
eficácia no picão-preto, destacam- soja, enriquecendo o banco de sementes para o próximo ano
-se o flumioxazin e o sulfentrazone.
Na pré-emergência é importante
aplicar os herbicidas antes que se
inicie o processo de germinação do fotossistema II (bentazon). Em no mecanismo de ação do herbi-
das sementes, pois a rápida germi- populações de picão-preto não cida é necessária para um manejo
nação e a grande quantidade de resistente aos inibidores da ALS, o duradouro da resistência aos her-
reserva proporcionam “escapes” chloransulan pode ser utilizado. Na bicidas. Assim, é importante que
de controle se a semente já iniciou pós-emergência também teremos o produtor adote um sistema de
seu processo de emergência. Nes- como opção os herbicidas auxíni- produção que desfavoreça a sele-
se sentido, o "aplique e plante" cos (2,4-D ou dicamba) para cultu- ção do picão-preto resistente ao
pode ser uma boa alternativa; ou, ras resistentes a estes herbicidas glifosato.
se "plante e aplique", esta deve respectivamente, porém o dicam- Em um programa de manejo
ser no máximo em 24 horas após a ba no momento só é registrado pa- de uma planta daninha que re-
semeadura. De qualquer forma, os ra aplicação em pré-semeadura. centemente foi reportada como
melhores resultados são obtidos A mudança para um herbicida resistente ao glifosato, como no
quando o herbicida é ativado no com diferente mecanismo de ação, caso do picão-preto, é importante
solo antes da emergência da plan- que ainda seja ativo na população considerar o uso de todas as op-
ta daninha. de plantas daninhas, é recomen- ções de manejo: cultural, mecâni-
Na pós-emergência, depois dação imediata que toda consul- co e herbicidas disponíveis para o
que a soja se estabeleceu, são re- toria apresenta; pois a integração controle eficaz, em cada situação,
comendados também herbicidas de táticas apropriadas baseadas e empregar algumas premissas de
inibidores da PPO, como fomesa- no conhecimento adequado da boas práticas de manejo (BPMs):
fen e lactofen, além dos inibidores biologia das plantas daninhas e • Diversificação em relação ao

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 35


Pedro Jacob Christoffoleti

vocar dispersão de sementes na


fazenda.
• Faça manejo de plantas dani-
nhas de infestação tardia, pois es-
tas normalmente são resistentes a
herbicidas; e elas que enriquecem
o banco de sementes para o próxi-
mo ciclo da cultura.
• Evite a entrada de sementes
de picão-preto de áreas vizinhas
ou de estradas e rodovias.
Estas medidas parecem ele-
mentares, mas na prática muitas
delas são negligenciadas. Estas
medidas fazem a diferença entre
os produtores, e muitas delas não
representam custo adicional, e sim
apenas uma questão de planeja-
mento e adoção de boas práticas
agrícolas.
Entender a biologia da planta
daninha é fundamental no sistema
de produção com o objetivo de
reduzir o banco de sementes ao
longo dos anos, e com certeza um
dos objetivos das boas práticas de
manejo, porém não é uma tarefa
fácil. O picão-preto é uma plan-
ta daninha que tem ciclo de vida
Reboleira de picão-preto resistente a herbicidas infestando final de ciclo curto, quando comparado com a
da soja, enriquecendo o banco de sementes para o próximo ano cultura; e produz sementes muito
antes da maturação da cultura. A
dispersão do picão-preto, todos
conhecemos pois, com certeza, já
manejo, focada no sentido de pre- • Utilize diversificação de me- tivemos os frutos do picão-preto
venir a produção de sementes, e canismos de ação dos herbicidas sendo transportados em nossas
redução do banco de sementes do recomendados para a área, e que vestimentas. No entanto, a lon-
solo. sejam eficazes no picão-preto, gevidade das sementes é curta, o
• Caso esteja arrendando áreas, mesmo não tendo o biótipo resis- que facilita sua erradicação de uma
escolha áreas livres da planta dani- tente na sua área. área em poucos anos.
nha resistente. • Use sempre dose de bula, Reduzir a “chuva de sementes”
• Utilize sementes de culturas nunca subdoses ou acima da reco- e inserções de novas sementes no
livres de sementes das daninhas mendada. banco de sementes é fundamen-
resistentes, embora o picão-preto • Empregue práticas de condu- tal. Os frutos de picão-preto são
seja uma semente muito fácil de ção da cultura que favoreça o seu de tamanho avantajado, e mesmo
ser eliminada no beneficiamento. rápido fechamento do dossel foliar. assim uma considerável quanti-
• Faça um monitoramento • Se apropriado, utilize práticas dade de sementes por planta é
constante das áreas para constatar de manejo mecânicas, como roça- produzida. Assim, uma das formas
a presença da planta daninha resis- deiras e grades. de evitar que as populações de
tente. • Fique atento para não pro- picão-preto se estabeleçam em

36 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


uma propriedade é evitar que as produção é fundamental, quer seja o uso de culturas de cobertura e
plantas cheguem à fase de matu- em misturas de produtos formula- cobertura morta é fundamental
ração das sementes, evitando o dos ou em tanque ou, ainda, atra- para o controle do picão-preto,
enriquecimento do banco de se- vés da rotação de culturas. Embora dada sua sensibilidade a estas prá-
mentes. Para isso, a tolerância da esta recomendação seja evidente e ticas. No entanto, o aspecto eco-
presença de picão-preto na área todos concordem, há dificuldades nômico às vezes dificulta a adoção
deve ser zero. no seu uso pelo desconhecimento destas práticas. Finalmente, a ado-
Prevenir que as populações dos mecanismos de ação por parte ção de práticas na colheita que evi-
resistentes de picão-preto che- de produtores e recomendante, tem a dispersão das sementes para
guem à fazenda é com certeza um bem como pelo problema do apa- outras áreas, bem como impedir a
dos objetivos de uma boa prática recimento cada vez mais frequente entrada de sementes de bordadu-
de manejo desta planta daninha. de plantas daninhas com resistên- ras ou caminhos, é fundamental.
Assim, uma prática fundamental cia múltipla a vários mecanismos
para evitar que sementes sejam de ação. Alerta
produzidas na cultura é “começar Um aspecto que está cada vez final
o cultivo no limpo”. Isso significa mais complexo no campo é o fato Embora os herbicidas conti-
a necessidade de uma boa desse- de o produtor não seguir a reco- nuem a dominar as práticas de
cação, aliada, posteriormente, a mendação de dose indicada na bu- controle das plantas daninhas devi-
herbicidas residuais e seletivos na la do herbicida, bem como aplicar do a sua vantagem econômica, a
cultura, a fim de evitar totalmente o herbicida no momento indicado sustentabilidade do uso de herbici-
a produção de sementes novas do para o estádio de crescimento da das depende da sua diversificação
picão-preto. Um dos grandes desa- planta daninha. Redução de doses e integração com estratégias não
fios deste procedimento é o custo, do herbicida é uma prática comum químicas de controle de plantas
que em algumas situações não é entre os produtores que levam em daninhas. Somente através da im-
aceito pelo produtor. consideração o princípio de pro- plementação de diversas práticas
Embora as sementes de picão- duzir mais por menos. Também, a de manejo de plantas daninhas é
-preto não sejam similares às da logística de aplicação das grandes que os herbicidas serão conser-
maioria das culturas, às vezes as propriedades rurais leva o produ- vados como um valioso recurso
sementes de culturas de cobertura tor a aplicar herbicidas em estádio agrícola. C

ou adubos verdes, cuja qualidade de desenvolvimento muito avança-


não é tão considerada, podem vir do do picão-preto, o que pode au-
contaminadas de sementes de mentar o processo de seleção para Pedro Jacob Christoffoleti,
picão-preto. Desta forma, é muito a resistência. HERBtech;
importante comprar sementes idô- A adoção de cultivares mais Francielli Santos de Oliveira,
neas e de qualidade. competitivas e de rápido fecha- Esalq/USP;
A prática de levantamento da mento do dossel é, com certeza, Luiz Henrique Franco de Campos,
infestação de plantas daninhas uma boa prática agrícola para HERBtech;
na área é fundamental para a re- combater o picão-preto resistente Leonardo de Oliveira Semensato,
comendação do herbicida corre- ao glifosato. Para isso, é importan- UFSCar
to, porém neste levantamento o te escolher a variedade adequada
produtor deve estar atento para o para o ambiente de produção, re-
incremento da infestação de picão- alizar a semeadura no momento
-preto ao longo dos anos, que po- indicado, seguir a recomendação
de indicar um processo de seleção de taxa de semeadura e espaça-
de plantas resistentes no decorrer mento adequado, além da rotação
dos anos, apesar que a maioria dos de culturas e de um bom manejo
produtores não faz esse levanta- de nutrientes e irrigação.
mento por questões de custo. O uso de cultivo mecânico pode
Diversidade de mecanismos de ser uma prática indicada em algu- Para Christoffoleti, picão-preto
resistente ao glifosato é o novo desafio
ação de herbicidas no sistema de mas situações específicas, porém,

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 37


PLANTAS DANINHAS

Resistência
mente afetada por inúmeros fato-
res, dentre os quais se destaca a
competição com plantas daninhas,
entre elas as espécies de carurus

analisada
(Amaranthus spp.), que podem re-
duzir em até 30% de produtividade
da cultura.
A planta daninha Amaranthus
hybridus é uma anual, herbácea,
Estudo mostra as características ecofisiológicas específicas ramificada, ereta, pigmentada, de
do caruru (Amaranthus hybridus) resistente ou não ao cerca de 40-100 centímetros (cm)
de altura, nativa da América Tropi-
herbicida imazethapyr
cal. Essa espécie é popularmente

A
conhecida como caruru, caruru-
tualmente, o Brasil é cimento, porém a margem para a -de-folha-larga, caruru-gigante,
referência no cenário abertura de novas áreas é muito caruru-bravo, caruru-roxo, crista-
agrícola mundial, se pequena, impulsionando a necessi- -de-galo, crista-de-galo-roxo e ca-
destacando como um dade por um melhor manejo para ruru-branco.
dos maiores produtores de grãos. melhorar a produtividade das cul- Outra característica importante
Além disso, a demanda mundial turas. Porém, a produtividade das dessa espécie é a presença de duas
por alimento continua em cres- lavouras de grãos pode ser direta- variedades principais, sendo elas

38 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293

Divulgação
Figura 1 - curvas de dose-resposta para a população de Amaranthus hybridus proveniente de Cândido Mota (SP); para as
variáveis de porcentagem de controle (à esquerda) e de massa seca relativa (à direita) para as populações suspeitas de
resistência e suscetível ao herbicida imazethapyr

a paniculatus e a patulus. A dife- vez maior, contribuindo para a se- tes do sistema de manejo químico
rença entre as variedades é que na leção de populações resistentes, da cultura.
paniculatus a inflorescência é tipo que consequentemente diminuem No ano de 2018, no estado
panícula, apresentando coloração a produtividade das culturas e ele- do Rio Grande do Sul, ocorreu o
roxa, e na patulus a inflorescência vam os custos de produção. primeiro relato da espécie Ama-
é também do tipo panícula, mas ranthus hybridus, com resistência
de coloração esverdeada. Uma úni- Novo caso múltipla ao herbicida glifosato (ini-
ca planta de caruru pode produzir de resistência bidor da EPSPs) e a chlorimuron-
aproximadamente 200 mil semen- Os herbicidas do grupo quími- -ethyl, (inibidor da ALS). Porém,
tes. co dos inibidores da Acetolactato até o momento não havia nenhum
Para o controle do caruru o mé- Sintase (ALS) foram muito utiliza- caso de resistência a imazethapyr,
todo mais utilizado é o controle dos na cultura da soja antes do sendo o primeiro caso de Amaran-
químico, por ser um método mais advento da tecnologia Roundup thus hybridus resistente a esse her-
eficiente em extensas áreas de la- Ready (RR), com destaque para os bicida (Figura 1).
vouras comerciais. Nesse cenário, herbicidas imazethapyr e imaza- A população com resistência
a frequência de utilização de um quim. No entanto, atualmente, os comprovada é do município de
mesmo herbicida ou de herbicidas herbicidas chlorimuron-ethyl, ima- Cândido Mota (SP). O fator de
com o mesmo mecanismo de ação zethapyr, diclosulam e cloransulam resistência é caracterizado pela
para o controle do caruru é cada ainda são componentes importan- relação entre a dose de 50% de

Figura 2 - peso da biomassa da parte aérea por planta Figura 3 - área foliar por planta das populações resisten-
das populações resistente e suscetível de A. hybridus te e suscetível de A. hybridus ao herbicida imazethapyr
ao herbicida imazethapyr

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 39


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Dessa forma, essas informações de área foliar para as populações


sobre análise comparativa do cres- R e S. Verifica-se que as duas po-
cimento contribuem para um siste- pulações apresentaram valores
ma mais eficiente de manejo. bem próximos. Além disso, obser-
Nesse cenário, as informações va que as maiores médias de área
auxiliam nas práticas de controle foliar foram a partir dos 28 dias,
por conta dos estágios fenológicos sendo assim, no início de desen-
para germinação, desenvolvimen- volvimento a planta R era mais
to, florescimento e dispersão de folha que a S.
sementes da espécie. Conclui-se que não existe dife-
Com o objetivo de conhecer rença nos padrões de crescimento
características ecofisiológicas es- entre os biótipos de A. hybridus R
pecíficas do caruru (Amaranthus e S ao herbicida imazethapyr. As
hybridus), resistente ou não ao populações Amaranthus hybridus
herbicida imazethapyr, foi condu- R e S são semelhantes na produção
zido um experimento em delinea- de biomassa e na emissão de área
mento experimental inteiramente foliar. Sendo assim, ambos apre-
casualizado, em um fatorial de 2 x sentam adaptabilidade ecológica
10, com seis repetições. O fator A semelhante e ocupam ambientes
foi composto por duas populações, semelhantes. Visando o manejo
uma resistente (R), proveniente de das populações com resistência,
controle da população resistente Cândido Mota (SP), e uma popula- devem ser adotadas estratégias
e a dose de 50% de controle da ção suscetível (S) do município de preventivas, pois, uma vez estabe-
suscetível, que foi de 3,74. Já para Florínea (SP). O fator B foi compos- lecida uma população resistente,
o fator de resistência caracteriza- to por dez épocas de colheita de naturalmente ela não retorna para
do pela massa seca em relação à plantas. sua frequência original de susceti-
testemunha, o valor obtido foi de A Figura 2 mostra as curvas bilidade. C

8,11 para esta população, compro- representativas de acúmulo de


vando que a população tem um biomassa para as populações R e
Ana Paula Werkhausen Witter,
FR>1. S. Observa-se que as duas popula-
UEM;
ções tiveram o mesmo padrão de
Daniel Nalin,
Análise crescimento e não houve diferença
USP;
comparativa entre elas. Apesar disso, a popula-
Ana Karoline Sanches,
Atualmente, falta de conheci- ção R apresentou maior acúmulo
Lucas De Freitas Granzioli,
mento em relação à biologia das de matéria seca a partir da segun-
Rubem Silvério de Oliveira Jr.,
espécies das plantas daninhas vem da avaliação em comparação a S.
UEM;
sendo uma das maiores limitações A Figura 3 mostra as curvas re-
Fernando Adegas,
para as estratégias de manejo. presentativas para a progressão
Embrapa

As características ecofisiológicas específicas do caruru (Amaranthus hybridus) resistente ou


não ao herbicida imazethapyr são apresentadas e comentadas pelos autores

40 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


ALGODÃO

Nova realidade
Variante do nematoide-das-galhas Meloidogyne enterolobii, capaz de parasitar
o algodão, aparece em locais restritos no Brasil e supera a resistência de
cultivar de algodão a Meloidogyne incognita

O
algodão é uma fibra cido como o mais importante por na década de 1990. Em 2001, a
natural versátil e du- sua ampla distribuição mundial e por pesquisadora da Embrapa, Regina
rável, com uma longa causar danos severos a uma extensa Carneiro – referência nos estudos
história de uso na variedade de culturas agrícolas. Até em taxonomia de Meloidogyne –
indústria têxtil. O algodão possui a o momento, apenas três espécies e demais autores, relataram pela
fibra têxtil natural mais importante de nematoides-das-galhas são con- primeira vez esse nematoide como
do mundo, representando cerca de sideradas parasitas do algodoeiro, agente causal do declínio e morte
25% da produção mundial de fibras. M. incognita, raças fisiológicas 3 e 4 de goiabeiras, a partir de amostras
O Brasil é o segundo maior ex- de comum predominância em áre- coletadas nos estados de Pernam-
portador mundial de algodão, com as de sucessão de algodão e soja, buco e Bahia. Mais tarde, foi com-
participação importante no PIB bra- M. acronea, de ocorrência restrita provado o envolvimento do fungo
sileiro. Dentre os principais agentes relatada apenas no Sul da África, e Fusarium solani na expressão dos
bióticos que acometem e reduzem M. enterolobii, uma espécie recém- sintomas observados nos pomares
o potencial produtivo do algodoeiro -detectada no algodão, relatada de de goiabeira. Atualmente, sabe-se
(Gossypium hirsutum L.) (Figura 1), maneira restrita no Brasil (Galbieri e que o nematoide parasita uma ex-
destacam-se os fitonematoides Me- colaboradores, 2020) e nos EUA (Ye e tensa lista de hospedeiras, incluindo
loidogyne incognita, Rotylenchulus colaboradores, 2013). grandes culturas (commodities),
reniformis, Pratylenchus brachyurus A primeira cultura no nosso país hortaliças e fruteiras.
e Aphelenchoides besseyi. a sinalizar ocorrência de M. entero- A infecção se inicia quando os
O nematoide-das-galhas, gênero lobii (sinonímia de M. mayaguensis) nematoides na fase de juvenil de
Meloidogyne Göldi, 1887, é conhe- foi a goiabeira (Psidium guajava) segundo estádio (J2) penetram nas

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 41

Jorge Bleno Silva Verssiani


Jorge Bleno Silva Verssiani
Jorge Bleno Silva Verssiani

Figura 1 - cultivo comercial de algodão no cerrado brasileiro Figura 2 - ovo, J2 e fêmea adulta (da esquerda
para a direita) de Meloidogyne enterolobii

raízes e se desenvolvem em adul- croses (Figura 3). Para benefício dos beira não parasita o algodão, sendo,
tos (em sua maioria, fêmeas). As produtores de goiaba, a Embrapa portanto, sugerido como uma nova
fêmeas assumem a forma de pera e lançou, em 2019, o porta-enxerto raça do patógeno em recentes estu-
podem atingir até 1 milímetro (mm) resistente BRS Guaraçá, um híbrido dos desenvolvidos pela Universidade
de comprimento (Figura 2). Elas resultante do cruzamento entre de Brasília e a Embrapa Cenargen
depositam seus ovos nas raízes das Psidium guajava e P. guineense, que (Souza, 2022; Verssiani, 2022).
plantas hospedeiras, em uma massa mostrou resistência a diferentes Em estudo recente, diferentes
gelatinosa que os ajudam a sobrevi- populações de M. enterolobii (anais cultivares de soja foram avaliadas
ver no solo. Cada fêmea pode pro- 38° CBN, n° 78, Congresso Brasileiro quanto à resistência às duas popula-
duzir mais de 400 ovos que darão de Nematologia, Cuiabá-MT). ções (raças) de M. enterolobii (goia-
continuidade ao ciclo (Figura 2). Em soja, o nematoide M. ente- beira, algodoeiro). Uma cultivar, BRS
A população identificada em rolobii foi encontrado pela primeira 7180 IPRO, foi considerada modera-
goiabeira foi disseminada para ou- vez em 2008 no estado de São Pau- damente resistente (MR) a ambas as
tros estados brasileiros por meio da lo pela equipe do professor Jaime raças; e BRS 7980 (MR) apenas para
comercialização de mudas de goia- Maia, e mais recentemente (2019) a raça de goiabeira. Ambas as culti-
beira contaminadas pelo nematoide o pesquisador do IMAmt, Rafael vares apresentam resistência a M.
na região Nordeste, onde se encon- Galbieri, detectou a presença desse javanica e M. incognita (Verssiani e
travam muitos viveiros comerciais nematoide superando a fonte de colaboradores, 2023).
(Carneiro e colaboradores, 2021). resistência M315 a M. incognita, Um aspecto importante desse
Nas raízes de goiabeira infectadas presente em uma cultivar resistente nematoide é a sua agressividade ao
por M. enterolobii observa-se gran- de algodão. Vale ressaltar que a po- algodão, que se manifesta na forma-
de número de galhas, além de ne- pulação de M. enterolobii de goia- ção de galhas de grandes dimensões
Jorge Bleno Silva Verssiani

Rafael Galbieri e Fernando B. de Melo

Figura 3 - sintomas de galhas em raízes de goiabeira de Figura 4 - sintomas provocados por


diferentes diâmetros infectadas por Meloidogyne enterolobii Meloidogyne enterolobii em raiz de algodoeiro

42 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


Figura 5 - cultivares de algodão com Tabela 1 - resistência das cultivares de algodão disponíveis comercialmente
resistência a Meloidogyne incognita
QTLs Função
Cultivar Detentora
qMi-C11 Efeito dominante na formação de galha
IMA 5801B2RF IMAmt
qMi-C14 Efeito parcialmente dominante associado à redução na produção de ovos
IMA 5901B2RF IMAmt
qMi-C11 e qMi-C14 Interação epistática entre os dois QTLs acima, conferindo uma resistência (quase de imunidade) a M. incognita
BRS 500B2RF EMBRAPA
Adaptada de: Gutiérrez et al., 2010; Silva et al., 2019; Lopes et al., 2020.
FM 970GLTP RM BASF

FM 912 GLTP RM BASF


lina do Norte. No Brasil, a recente
Tabela 2 - casos já confirmados
Fonte: elaborado pelos autores variante populacional detectada em da ocorrência de Meloidogyne
algodoeiro é de ocorrência ainda enterolobii em cultivar de algodão
restrita em nível de campo, com portadora de genes de resistência
nas raízes das plantas infectadas, quatro casos já confirmados. O pes- a M. incognita
em comparação com galhas causa- quisador do IMAmt, Rafael Galbieri,
das por outras espécies de nema- apresentou os relatos de detecção Casos Estado Região Sistema Areia pH
toide-das-galhas (Figura 4). dessa nova população do patógeno 1° Caso Minas Gerais Noroeste Pivot 81% 6,5
Sabemos que o manejo de ne- durante o 38° CBN (Tabela 2).
matoides com nematicidas quími- Apenas algumas culturas de
2° Caso Minas Gerais Noroeste Pivot 82% 6,3

cos ou biológicos não é garantia de importância agrícola, como, por 3° Caso Bahia Oeste Pivot 80% 6,2
um controle eficaz. A melhor opção exemplo, milho, sorgo, trigo, aveia, 4° Caso Mato Grosso Noroeste Pivot 89% 6,2
possível é o desenvolvimento de alho, amendoim, mamona, mara- Fonte: 38° CBN, Galbieri, 2023
cultivares com resistência genética, cujá e Crotalaria spectabilis, foram
quando disponível, para garantir relatadas como não hospedeiras ou
um manejo eficiente do nematoide. más hospedeiras de M. enterolobii. de algodão, manter maquinários
O mercado atual de sementes de Podendo ser recomendadas dentro agrícolas limpos antes de entrar
algodão dispõe de cinco cultiva- de um manejo baseado em rotação em outros talhões, destinar a água
res com resistência a M. incognita de culturas em áreas infestadas. Ne- residual da lavagem de máquinas
(Figura 5). Trata-se de uma heran- nhuma cultivar comercial de algo- para um local seguro, limpar botas
ça governada por genes de efeito dão com resistência a M. enterolobii e sapatos, pois podem ser fonte de
maior (herança oligogênica), deter- está disponível neste momento. inóculo para o nematoide, e utilizar
minada por dois QTLs (locos gêni- Também não estão disponíveis plantas de cobertura más hospedei-
cos que expressam características produtos nematicidas registrados ras para reduzir a multiplicação do
quantitativas) localizados nos cro- para o manejo desse nematoide em mesmo.
mossomos 11 e 14 (Tabela 1). grandes culturas, como algodão, so- Também é importante ressaltar
Meloidogyne enterolobii se ja e feijão. a necessidade de inspeções perió-
caracteriza pela capacidade de A prevenção é a melhor alterna- dicas nos plantios para a detecção
causar doença em cultivares porta- tiva para o controle do nematoide precoce de eventuais focos do ne-
doras de genes de resistência aos M. enterolobii em algodão. Para matoide. Em caso de suspeita da
principais nematoides-das-galhas, isso, é importante: evitar a entrada presença do nematoide, a correta
em culturas como batata, batata- do nematoide nas áreas de cultivo diagnose pode ser realizada por um
-doce, tomate, pimentão, feijão- laboratório especializado em análi-
-caupi, soja e agora no algodão. ses de eletroforese de isoenzimas e
No caso do algodão, mesmo em marcadores moleculares. C

cultivares com genes de resistência


a M. incognita, a nova variante de Jorge Bleno da Silva Verssiani,
M. enterolobii é capaz de infectar e Unicampo/Basf;
se multiplicar (Figura 5). Rafael Galbieri,
Nos EUA, a população de M. en- Para os autores, a prevenção é a melhor
IMAmt;
terolobii foi encontrada parasitando alternativa para o controle do nematoide Juvenil Enrique Cares,
algodão e soja no estado da Caro- UnB

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 43


Coluna Agronegócios

Mitigação dos impactos das mudanças climáticas

A
s soluções para mitigar A pesquisadora Pamela Silver (bit. arroz e outras plantas, reduzindo a
as alterações climáticas ly/3Pa2jAw) busca incorporar enzi- necessidade de água.
e seus impactos advirão mas RuBisCO aprimoradas em sua Os pecuaristas estão buscando
do desenvolvimento de tecnologias plataforma sintética, para produzir fórmulas de reduzir as emissões de
inovadoras, sendo as mais promis- um sistema que pode executar a metano – um gás com efeito estu-
soras aquelas baseadas na biologia. fotossíntese em um chip de silício, fa até 80 vezes mais potente que o
A adoção dessas tecnologias em com eficiência de até 80%. Isso per- CO2. Para tanto, selecionam reba-
larga escala depende de diversos mitirá produzir energia ou sintetizar nhos com uma fauna microbiana
fatores, como sua eficiência, prati- produtos, usando sistema similar à do aparelho digestivo que produ-
cidade e custo compatível. fotossíntese. za menos metano. Porém sempre
Comecemos analisando a fo- Julie Gray (Universidade de She- existirão emissões, o que ressalta
tossíntese, o processo que permi- ffield) estuda o metabolismo das a importância de bactérias metano-
te produzir alimentos utilizando a plantas para reduzir o consumo de tróficas aeróbicas, com capacidade
energia solar. Trata-se de um con- água, alterando o número de estô- de capturar metano do ar, que es-
junto sequencial de reações quími- matos, que são os poros nas folhas tão sendo estudadas pela equipe
cas, com diferentes tipos (C3, C4, das plantas, para troca de oxigênio, da professora Mary Lidstrom (Uni-
Cam), que operam com baixa efi- dióxido de carbono e vapor de água versidade de Washington) (sites.
ciência. Em média, estima-se que com o ambiente (bit.ly/45DqVXC). google.com/view/lidstrom-lab/). Já
pouco mais de 10% da energia in- Pamela Ronald (Universidade da a professora Lisa Stein (Universida-
cidente é armazenada nos produtos Califórnia) busca otimizar o uso da de de Alberta) está desenvolvendo
sintetizados pela fotossíntese. água, a partir do estudo do arroz inibidores para reduzir as emissões
As reações químicas da fotos- irrigado (bit.ly/44orofo). Seu obje- de óxidos de nitrogênio decorrentes
síntese são mediadas por enzimas. tivo é reduzir as emissões ao tempo de adubação nitrogenada.
Diversos grupos de cientistas es- em que melhora a produtividade do O Projeto Vesta (vesta.earth),
tudam fórmulas para selecionar criado por Ken Nealson (Universi-
genes ou modificar o genoma das dade Southern California), usa mi-
plantas para otimizar a ação enzi- cróbios para acelerar o processo
mática na fotossíntese. Algumas geológico natural de intemperismo
dessas tecnologias podem ter usos mineral de silicato-carbonato como
ampliados, que não os atualmente um método de redução de CO2 at-
conhecidos. O cientista Tobias Erb mosférico. As taxas naturais de in-
(Instituto Max Planck) estuda popu- temperismo são muito lentas, mas
lações de organismos fotossinteti- o Projeto Vesta está desenvolvendo
zantes, buscando uma abordagem
Os pecuaristas catalisadores microbianos vivos que
que combine seus aspectos mais estão buscando aumentam em muito a taxa desse
eficientes para produzir uma via fórmulas de intemperismo.
fotossintética inovadora e superior reduzir as Os exemplos acima são uma
(bit.ly/3YOQ7YZ). O potencial desta pequena amostra de como a ciên-
abordagem é enorme, tanto para
emissões de cia pode mitigar os impactos das
melhorar a eficiência da fotossín- metano – um gás mudanças climáticas, razão pela
tese quanto para desenvolver rotas com efeito estufa qual é imperativo o investimento
de síntese fora de vegetais. até 80 vezes mais permanente no desenvolvimento
Uma das principais enzimas da potente que o CO2 tecnológico da agricultura e da pe-
fotossíntese é a RuBisCO, existin- cuária. Investir em ciência significa
do diversas variantes dela. O Silver melhorar a qualidade de vida em
Lab, da Harvard Medical School, nosso país e no mundo.
C
está examinando inúmeras formas
da enzima para identificar as mais
eficientes e aumentar a eficiên- Décio Luiz Gazzoni,
cia da fotossíntese nos vegetais. Embrapa Soja

44 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


Coluna Mercado Agrícola

Plantio começou para uma nova supersafra do Brasil


O plantio da nova safra começou com indicativos
que teremos novos recordes sendo batidos pa-
ra dar apoio à economia brasileira. Teremos recorde de
de área ou a voltar a áreas deixadas de lado (com pasta-
gens e, até, abandonadas por não cobrirem os custos de
produção). Até mesmo áreas de soja da região arrozeira
plantio de soja, que deve ultrapassar os 46 milhões de gaúcha podem voltar a ter arroz neste ano.
hectares (ha) - com crescimento de 1,5 a 2,5 milhões Outro que ainda pode ter crescimento é o milho da sa-
oriundos de pastagens degradas e de áreas de rotação frinha. Ainda há dúvidas, mas, depois de uma supersafra
ou trocas de cultivos, como alguns casos do milho no Sul de soja e muita área nova da oleaginosa, os produtores
e Sudeste do país. não terão grandes alternativas para o plantio. Devem op-
Pela primeira vez em mais de 20 anos, teremos o arroz tar por milho, sorgo; alguns recorrendo ao arroz em pivô.
ganhando área e, assim, podendo crescer mais de 100 mil Feijão deve avançar. E o trigo pode ser alternativa para os
hectares apoiado pelos indicativos praticados no mercado, estados centrais.
que são os maiores historicamente em reais. Dessa forma, O fato é que estamos começando uma nova temporada
depois de vários anos, o mercado está pagando mais pelo e com potencial de mais recorde de área e de produção.
arroz, o que estimulou produtores a buscar crescimento Para consolidar o Brasil como celeiro do mundo.

Milho Feijão
A safra de milho do Brasil cresce ano a ano. Já supera Produtores do feijão carioca estão apreensivos nesta
os 130 milhões de toneladas (t) e deve andar perto de 140 primeira safra, que deve ter área menor devido aos preços
milhões de t em 2024. Assim, seguiremos como maior ex- abaixo dos custos. O plantio do feijão preto segue normal. O
portador mundial do cereal, com mais de 55 milhões de t consumo manteve-se, mas a oferta foi maior. Assim, merca-
neste ano; e devendo ir a 60 milhões de t em 2024. do está frágil.

Soja Arroz
O Brasil está plantando a maior safra da história da so- O mercado do arroz em 2023 atingiu as maiores co-
ja, com mais de 46 milhões de hectares. Os EUA estão a tações históricas em reais. A safra limitada, a demanda
todo vapor na colheita. São dois fatores que, normalmen- aquecida. O mercado internacional em alta fez com que
te, limitam as cotações em Chicago. Por isso, é importante as cotações internas chegassem aos R$ 150 nos estados
acompanhar o mercado e fazer proteção via opções. centrais e superassem os R$ 110 no Sul. Com isso, o plan-
tio deve reverter mais de 20 anos de queda e avançar uns
100 mil hectares.

Curtas e boas
TRIGO - o mercado neste semestre EUA - produtores reclamam de da não foram oficializados. Isso indica
de 2023 foi fraco e nas menores co- grandes perdas na safra devido ao cli- que as importações em 2024 devem
tações desde 2018. No mercado glo- ma, com a soja devendo ficar perto de crescer forte e não ficar somente em
bal segue com produção menor que 110 milhões de t e milho na faixa de 23 milhões de t, como aponta o USDA.
a demanda e deve ter cotações mais 375 milhões de t. Com isso, os volu- O arroz também foi prejudicado pelo
fortes. Aqui vamos ter recuperação mes para exportação serão limitados clima e vai manter os chineses como
das cotações quando voltarmos a ex- em 2024, abrindo espaço para o Brasil. maiores importadores do cereal. C
portar, de dezembro em diante. Brasil CHINA - teve grandes problemas
produz dez milhões de t, consome 12 com o clima. A safra mais afetada foi Vlamir Brandalizze
milhões; exportará dois milhões de t a do milho, que teve perdas de mais Brandalizze Consulting
e importará mais de quatro milhões. de 20 milhões de t. Mas os dados ain- Instagram: @brandalizzeconsulting

Cultivar Grandes Culturas 293 • revistacultivar.com.br • 45


Coluna ANPII

A necessidade da ampliação das pesquisas

O
uso de inoculantes para se mostra um pouco diferente. O nú- respondem ao Azospirillum. Somando
prover as culturas de legu- cleo central das pesquisas se concen- isto com a diversidade brasileira, ne-
minosas com o nitrogênio trou na Embrapa Agrobiologia, em Se- cessitaremos de um grande número
via fixação biológica começou com ropédica, RJ, sob a batuta da já men- de cepas utilizadas em inoculantes,
uma vitoriosa associação entre pesqui- cionada Johanna Dobereiner e sua permitindo ao agricultor que ele, jun-
sa e empresas privadas. Em 1956, era competente equipe, que segue com tamente com as informações da pes-
criada a primeira fábrica de inoculan- um brilhante trabalho da área. Fruto quisa, vá testando em suas lavouras as
tes no Brasil pela empresa Leivas Leite, desta equipe, o Departamento de Bio- melhores combinações de inoculantes.
em Pelotas (RS), com cepas de Rhizo- química e Biologia Molecular da UFPR A ANPII, juntamente com o grupo
bium selecionadas pela Secretaria de montou um dos mais renomados cen- de pesquisas da UFPR, um dos mais
Agricultura daquele estado sulino e tros de pesquisa com estas bactérias, competentes centros de pesquisa do
com o apoio técnico do pesquisador reconhecido mundialmente. Em para- mundo, testou duas cepas, com um
João Rui Jardim Freire. lelo, na Embrapa Soja também foram maior poder de liberação de amônia,
A partir daí as pesquisas se intensi- desenvolvidas pesquisas e, fruto dos dentro do protocolo do Mapa, tendo
ficaram e, além da Secretaria do RS e trabalhos na UFPR e na Embrapa So- obtido sucesso nos testes, com todos
da UFRGS, novos centros de pesquisa ja, foram feitos os ensaios de campo os requisitos para o registro do pro-
se incorporaram ao sistema e o grupo que embasaram as duas primeiras duto. As exigências feitas pelo órgão
da doutora Johanna Dobereiner, no cepas para a produção de inoculantes regulador estão sendo cumpridas rigo-
famoso km 47, do Ministério da Agri- no Brasil, tendo o primeiro produto, rosamente, dentro dos mais rígidos pa-
cultura, depois viria a ser um dos mais desenvolvido por empresa particular, drões técnico-científicos, inclusive com
dinâmicos grupos de pesquisa em fixa- sido registrado em 2009. o uso das modernas ferramentas de
ção biológica do nitrogênio. IAC, Esalq Mas até hoje temos apenas duas biologia molecular, com o auxílio dos
e IBPT Paraná e outras instituições de cepas de Azospirillum sendo utilizadas órgãos de pesquisa, visando permitir
pesquisa também se engajaram no sis- no país. Muito boas estirpes, que es- que o Mapa registre o produto sem
tema de seleção de cepas e difusão do tão contribuindo muito para a agricul- sombra de dúvida sobre sua eficiência.
uso de inoculantes. Novas empresas tura brasileira. O que ainda é pouco Uma vez liberado o registro, um
produtoras surgiram, o mercado foi para o tamanho e a diversidade, como grande número de empresas associa-
sendo ampliado e chegamos ao atual escrevemos acima, do Brasil. É neces- das à ANPII colocaria no mercado um
estágio de 83% dos agricultores usan- sário que outras instituições de pes- novo inoculante à disposição dos agri-
do inoculantes em soja, anualmente. quisa ampliem o leque de seleções, cultores, permitindo a continuidade de
Dentro deste quadro, é importante pois temos mais de cem culturas que um processo de seleção ampla, com o
ressaltar o grande volume de seleção uso do melhor material genético de
de cepas de Bradyrhizobium. No início acordo com a variabilidade dos fatores
havia cerca de dez cepas no mercado, de produção existente em um país do
sendo incorporadas aos inoculantes. tamanho do Brasil. O mercado recebe-
Durante anos a fio, as pesquisas foram ria, de pronto, uma grande quantida-
se estreitando, os agricultores foram de de um novo inoculante, com forte
aumentando suas produtividades e competição, dando ao comprador uma
o processo de seleção ao longo de 30 É necessário que grande escolha de marcas e, por en-
anos se solidificou em torno das quatro outras instituições de quanto, quatro cepas de Azospirillum.
cepas atualmente em uso. Mas a base pesquisa ampliem o A ANPII, cujas empresas já fizeram
para seleção foi muito ampla. E isso se leque de seleções, um grande esforço para desenvolver o
mostra adequado para um país, e para produto com este novo material e testá-
uma agricultura, tão diversificado co- pois temos mais -lo a campo em diversas regiões, espera
mo o Brasil, com uma imensa varieda- de cem culturas que o órgão regulador, mais uma vez,
de de solos, clima, métodos de cultivo que respondem ao seja um fator de avanço tecnológico na
e quantidade de cultivares em uso. A Azospirillum agricultura brasileira. C

variedade de cepas tem que acompa-


nhar esta diversificação de fatores de Solon Araujo,
produção existentes no país. Diretor executivo da ANPII
No caso do Azospirillum, o quadro

46 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 293


Café • revistacultivar.com.br

Manejo sustentável
e inteligente
A sustentabilidade do manejo de plantas daninhas no cafezal
está baseada em práticas que proporcionam eficácia de
controle do amplo espectro das comunidades

A
produtividade da cul- através da utilização de insumos A sustentabilidade do manejo de
tura do café está fun- que proporcionam melhorias na plantas daninhas está baseada em
damentada no poten- produção. Por outro lado, também práticas que proporcionam eficácia
cial do ambiente de é necessário proteger a produtivi- de controle do amplo espectro das
produção, e para que seja econo- dade, combatendo seus fatores re- comunidades de plantas daninhas
micamente viável há necessidade dutores, como as plantas daninhas, no ambiente. No entanto, é im-
de incrementos de produtividade através do seu manejo. portante que estas práticas sejam

Wenderson Araujo CNA

03
Café • revistacultivar.com.br

cies de plantas estão na entrelinha,


Fotos Pedro Jacob Christoffoleti

vegetando de forma controlada e


durante o momento correto, esta
convivência pode ser benéfica. As-
sim, é prática usual entre os produ-
tores de café permitir a vegetação
na entrelinha, principalmente do
capim-braquiária, como é o caso da
Brachiaria ruziziensis.
Dentre os benefícios que a co-
bertura na entrelinha com vegeta-
ção promove, destaca-se a redução
da compactação do solo, pois após
a dessecação desta vegetação há
a formação de canalículos no solo
decorrente da morte do sistema
radicular do capim-braquiária.
Além disso, promove a ciclagem de
nutrientes no solo extraindo-os em
Figura 1 – buva resistente ao glifosato infestando a cultura de café profundidade, e liberando-os em
superfície durante o processo de

empregadas de forma a conservar sejam adequadamente recomenda-


o ambiente de produção, com se- das para cada situação de manejo.
gurança do alimento, ou seja, sem O objetivo deste artigo é pro-
resíduos no produto colhido, prin- porcionar conhecimento sobre
cipalmente quando fundamentada as medidas de manejo de plan-
no uso de herbicidas. tas daninhas na cultura de café,
Os herbicidas devem ser em- principalmente através do uso de
pregados de forma seletiva, miti- pré-emergentes, para dar suporte
gando os problemas de resistência nas recomendações de manejo de
de plantas daninhas a herbicidas, plantas daninhas de forma eficaz,
principalmente ao glifosato. Neste seletiva e com sustentabilidade
sentido, integrar práticas de manejo econômica e ambiental.
é recomendação para a cultura do
café, principalmente através de Plantas daninhas
cobertura viva na entrelinha do na cafeicultura
cafezal e palhada sobre a linha da As perdas de produtividade na
cultura. cultura de café devido à matocom-
Existem três requisitos essen- petição podem chegar a 30%, 40%.
ciais na propriedade para uso de Plantas daninhas que competem
herbicidas de forma adequada e com a cultura do café causam danos
inteligente. Primeiro, a equipe de diretos e indiretos, que afetam seu
aplicação dos herbicidas deve estar crescimento e desenvolvimento,
devidamente capacitada. Também geram perdas de produtividade e
é importante que os equipamentos qualidade dos grãos, e ainda atuam
de aplicação estejam devidamente como hospedeiras alternativas para
calibrados e em boas condições de pragas e doenças que acometem o
trabalho. Finalmente, é importante cafeeiro.
que as moléculas de herbicidas No entanto, quando outras espé-

04
Café • revistacultivar.com.br

decomposição da planta após a sua perene, o cafeeiro é capaz de lidar cada, ou seja, em faixa ou em área
dessecação. Destaca-se também com certo nível de competição sem total; além de considerar o estádio
que na rizosfera do sistema radi- que seu crescimento e produção de desenvolvimento das plantas
cular destas plantas de cobertura sejam afetados significativamente, daninhas, se em pré ou pós-emer-
na entrelinha do café há também mas períodos como florescimento gência. Neste artigo vamos tratar
uma população microbiana bené- e frutificação demandam atenção principalmente do controle em pré-
fica para a cultura. E, por fim, há para o manejo eficiente das plantas -emergência, utilizando herbicidas
supressão de forma significativa daninhas. residuais.
da infestação de plantas daninhas, Assim como em outras culturas, Em um cafezal jovem, em forma-
principalmente folhas largas. o controle químico de plantas da- ção, o sistema radicular é pouco de-
A severidade dos danos ocasio- ninhas é frequentemente utilizado, senvolvido e a competição por espa-
nados pela infestação de plantas pois, em geral, apresenta boa rela- ço e recursos com a planta daninha
daninhas em um cafezal depende ção custo-benefício com elevada é grande, pois a adubação no sulco
de diversos fatores, dentre eles a eficácia. As condições de uso de de plantio pode conferir uma alta
composição da flora infestante, o herbicidas na cultura de café estão agressividade para o mato. Assim, a
número de indivíduos, suas carac- baseadas no estágio da lavoura: (I) prática recomendada é manter uma
terísticas biológicas, a extensão na dessecação, antes da instalação faixa de um metro de cada lado da
do período de convivência e a fase da lavoura; (II) no cafezal em for- planta controlada com herbicidas, e
de desenvolvimento em que a mação; (III) em cafezal em franca com a entrelinha roçada. Nesta si-
cultura se encontra durante a ma- produção. Também é importante tuação é comum associar herbicidas
tocompetição. Por ser uma planta considerar a área do cafezal apli- pré e pós-emergentes.

Figura 2 – a importância da cobertura viva na entrelinha do café e o uso de herbicidas residuais na linha da cultura

05
Café • revistacultivar.com.br

Tabela 1 - principais ingredientes


Pedro Jacob Christoffoleti

ativos de ação pré-emergente


registrados para a cultura do café

Ingrediente ativo Espectro de ação

Inibidores do fotossistema II

Ametrina

Diurom

Metribuzim

Inibidores da enzima ALS

Clorimurom

Metsulfurom

Inibidores da enzima PPO

Flumioxazina

Oxyfluorfem

Sulfentrazone

Inibidores da síntese de celulose

Indaziflam

Inibidores da formação de microtúbulos

Pendimethalina

Inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia muito longa

Pyroxasulfone

Efetivo no controle de monocotiledôneas

Figura 3 - eficácia de controle pré-emergente de flumioxazin + pyroxasulfone em cafezal adulto Efetivo no controle de eudicotiledôneas
comparativamente à testemunha sem aplicação
Fonte: elaboração dos autores

Já no cafezal adulto é importante tem feito uso principalmente do exportação. Também recentemente
considerar as operações executa- glifosato, gerando alguns desafios o glifosato teve um incremento no
das, principalmente na colheita no atualmente, principalmente com preço muito grande, bem como
café. O cafezal deve estar no limpo relação à resistência de plantas houve dificuldade na aquisição do
principalmente após a arruação daninhas e à presença de resíduos produto. É importante destacar que
para facilitar a colheita. Também, no produto colhido, resultando em nas regiões montanhosas de produ-
após a esparramação, é fundamen- barreiras técnicas e comerciais nas ção de café, a aplicação com pulve-
tal que a cultura permaneça no lim- exportações. rizadores costais tem permitido que
po para evitar a matocompetição. a deriva do produto chegue a afetar
Sendo assim, a prática recomen- Glifosato na o crescimento e desenvolvimento
da de manejo de plantas daninhas cultura de café das plantas de café atingidas.
na cultura do café é manejar o Dentre os desafios que o pro- A aplicação de glifosato em pós-
mato, principalmente na linha da dutor tem encontrado nos últimos -emergência dirigida vem sendo
cultura. Este manejo é normal- anos para uso de glifosato na cultura amplamente utilizada. No entanto,
mente feito durante o período de do café, destacam-se a resistência acabou por selecionar indivíduos
maior umidade, ou seja, de setem- de plantas daninhas a herbicidas e o resistentes nas lavouras, onde
bro a abril. Para isso, são usados limite máximo de resíduo nos grãos, destacam-se buva (Conyza spp.),
herbicidas, sendo que o produtor principalmente quando destinado à capim-amargoso (Digitaria insula-

06
Café • revistacultivar.com.br

ris) e capim-pé-de-galinha (Eleusine é importante se atentar à qualida- Vale destacar também que exis-
indica); e favoreceu o aumento de de da água que será usada para a tem diferentes tipos de formula-
indivíduos tolerantes como corda- aplicação. A presença de sólidos ções de glifosato disponíveis no
-de-viola (Ipomoea spp.) e trapo- em suspensão, como partículas mercado, e cada uma delas é mais
eraba (Commelina benghalensis). de argila, e parâmetros como pH, indicada a depender das condições
Para além dos problemas re- dureza e teor de ferro (Fe) podem ambientais antes, durante e após a
lacionados com a resistência de afetar a disponibilidade do glifo- aplicação. O glifosato é um ácido,
plantas daninhas ao glifosato, o sato na calda de aplicação, o que e é encontrado nos produtos co-
Brasil é o maior produtor mundial consequentemente reduz a eficácia merciais na forma de sal, como por
de café, e em 2022 exportou cerca de controle verificada em campo. exemplo amônio, isopropilamina e
de 2,2 milhões de toneladas (t) do Assim, é aconselhado que testes potássio (K). O tipo de sal ao qual
grão, o que é equivalente a 39,4 laboratoriais sejam realizados, a o glifosato foi formulado exerce
milhões de sacas. Estes embarques fim de acompanhar a qualidade influência sobre a penetração fo-
são destinados para 145 países, da água. Caso a qualidade da água liar do ativo. Mas, em nível celular,
dentre eles os Estados Unidos, a disponível para a pulverização não quem atua de fato é a forma ácida
Alemanha, a Itália, a Bélgica e o esteja adequada, é possível utilizar do glifosato. De forma geral, existe
Japão. Cada país apresenta um produtos que ajustem o pH ou ain- um gradiente de sensibilidade das
conjunto de normas específicas da que atuam como condicionado- formulações de glifosato à ocor-
para aceitar a entrada de produtos res no caso da dureza. rência de chuva após a aplicação.
agrícolas em seu território, e uma
dessas normas diz respeito ao limi-
te máximo de resíduos (LMR). No
Brasil, a Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária) determina
que o LMR do glifosato é de um
miligrama por quilo (mg/kg) – valor
verificado também para Estados
Unidos e Japão, por exemplo. No
entanto, o limite estabelecido pela
União Europeia é de 0,1 mg/kg, ou
seja, dez vezes menor comparado
aos demais países.
Devido aos problemas enfren-
tados com o aumento da frequ-
ência de indivíduos tolerantes e
resistentes ao glifosato, aliados à
demanda de adequação e atendi-
mento das exigências nacionais e
internacionais limite de resíduos, é
extremamente importante empre-
gar o manejo integrado de plantas
daninhas. Isso não significa abolir o
uso do glifosato nos cafezais, mas
sim posicioná-lo de maneira estra-
tégica, juntamente com outras ini-
ciativas que protegem a quantidade
e a qualidade da produção.
O glifosato deve ser aplicado em
jato dirigido na lavoura, evitando ao
máximo o contato do produto com
as folhas do cafeeiro, além disso, Divulgação

07
Café • revistacultivar.com.br

Pedro Jacob Christoffoleti


Tabela 2 - eficácia dos principais herbicidas pré-emer-
gentes registrados para a cultura do café

Buva Capim-amargoso Capim-pé-de-galinha Caruru

Ametrina 4 3 3 5

Diurom 4 3 3 5

Metribuzim 4 2 2 4

Clorimurom 2 1 1 3

Metsulfurom 2 1 1 4

Flumioxazina 5 4 4 5

Oxyfluorfem 5 4 4 5

Sulfentrazone 2 3 4 5

Indaziflam 5 5 5 3

Pendimetalina 2 3 4 2

Pyroxasulfone 5 5 5 4

Legenda: eficácia de controle Figura 4 – área com aplicação do herbicida pyroxasulfone 0,4 L/há, 30
dias após a aplicação, em área com alta infestação de gramíneas
1 – <50% 2 – 50 a 70% 3 – 70 a 85% 4 – 85 a 95% 5 – 95 a 100%

Por exemplo, o glifosato sal de po- reduzir a necessidade de aplicação fluxos de emergência de plantas
tássio tolera a ocorrência de chuva de herbicidas, uma vez que estes daninhas.
duas horas após a aplicação, sem serão direcionados apenas para
grande prejuízo sobre a eficácia de a manutenção da linha do cafezal Herbicidas
controle. Enquanto formulações livre de competição. pré-emergentes
com sal de amônio necessitam de Ainda no sentido de reduzir a Atualmente, existem diferentes
mais tempo para serem absorvidas pressão sobre o uso do glifosato, produtos comerciais de ação pré-
pela superfície foliar, então devem outra estratégia interessante é a -emergente disponíveis no mer-
ser posicionadas em aplicações du- aplicação de herbicidas pré-emer- cado, registrados para a cultura
rante períodos com menor chance gentes. Os herbicidas pré-emer- do café, baseados em apenas um
de chuva. gentes têm como objetivo atuar ingrediente ativo ou na mistura
O estabelecimento e a manuten- no controle das plantas daninhas formulada de dois ou mais ativos.
ção do consórcio entre a braquiária durante o processo de germinação, Os principais ingredientes ativos
e o café são outras estratégias que, de modo que a planta daninha sob de ação pré-emergente registrados
dentre outras vantagens, auxiliam o efeito deste tipo de produto não é para a cultura do café atualmente
o manejo de plantas daninhas. A capaz de completar sua germinação estão na Tabela 1.
semeadura da braquiária deve ser e se desenvolver. Existem diferentes Como visto na tabela anterior,
feita nas entrelinhas do cafezal, res- produtos registrados para a cultura cada ingrediente ativo tem como
peitando a distância mínima de um do café que atuam desta forma, e alvo diferentes plantas daninhas,
metro de cada lado da linha para o mais interessante é que a ação então para que a recomendação e o
evitar a matocompetição. Confor- destes produtos se prolonga de 30 controle sejam efetivos é necessá-
me a braquiária se desenvolve, ela a 150 dias após a aplicação, depen- rio fazer um levantamento de quais
ocupa a área da entrelinha e assim dendo da molécula e das condições são as espécies presentes na área,
suprime a germinação e emergên- ambientais. Este é o chamado efeito bem como estimar a quantidade
cia de outras espécies, assim como residual, e pode auxiliar o produtor de cada uma dentro da comuni-
o resíduo depositado sobre o solo reduzindo o número de operações dade infestante. A aplicação dos
após a roçagem da braquiária. Essa de controle de plantas daninhas herbicidas pré-emergentes é dire-
supressão de plantas daninhas na durante um período crítico, que é cionada ao solo, e neste ambiente
entrelinha também é vantajosa por a época chuvosa, onde há vários os produtos estão sujeitos a sofrer

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diversas interações, então é neces- nhum dos herbicidas pré-emer- Assim, a solubilidade do herbicida
sário conhecer as caraterísticas físi- gentes isoladamente consegue em água determina o potencial do
co-químicas do solo, quantificando controlar todas as plantas daninhas. produto lixiviar no perfil do solo, o
principalmente a matéria orgânica e Assim, na maioria das aplicações é coeficiente de adsorção aos coloides
o teor de argila que o compõe. necessário associar dois ou mais do solo (Koc) indica a interação do
A escolha do herbicida residual ingredientes ativos. A associação herbicida com a argila e a matéria
deve ser feita, primeiramente em formulada comercialmente de flu- orgânica, a pressão de vapor repre-
função do conhecimento da flora mioxazin + pyroxasulfone propor- senta a suscetibilidade do herbicida
daninha na área, principalmente se ciona uma combinação de controle em volatilizar-se, além da meia-vida
a predominância é de gramíneas ou de plantas daninhas resistentes ao que representa o efeito de controle
folhas largas; segundo, da textura do glifosato bastante interessante e (residual) do herbicida após sua
solo e do teor de matéria orgânica, um espectro de controle adequado. aplicação.
que determina a dose do herbicida. Para que o produtor utilize corre- Um dos dilemas para o produtor
Também a condição hídrica do solo tamente o herbicida pré-emergente é saber quando, ao longo do ano, fa-
é fundamental para que o produto é importante o conhecimento das zer a aplicação do herbicida residual.
tenha um bom funcionamento, sen- características físico-químicas do Geralmente é indicado que seja feita
do que há herbicidas mais exigentes ingrediente ativo, aliado aos atri- sua aplicação no início das chuvas,
em umidade no solo que outros para butos do solo, que são influencia- quando a quebra da dormência das
sua ativação. dos pelas condições climáticas. sementes de plantas daninhas ocor-
Considerando o controle pré-
-emergente de gramíneas que
apresentam casos de resistência
ao glifosato, moléculas como o
pyroxasulfone e o indaziflam têm se
mostrado alternativas interessantes.
Ambos os produtos entregam ele-
vado controle de gramíneas como
o capim-amargoso e o capim-pé-
-de-galinha e longo efeito residual
durante o período chuvoso. No
entanto, é importante se atentar ao
posicionamento de cada produto,
pois enquanto o pyroxasulfone iso-
lado não apresenta restrição quanto
à idade do cafezal, desde que aplica-
do conforme as recomendações da
bula, o indaziflam, por sua vez, tem a
restrição de poder ser usado apenas
em cafezal a partir do terceiro ano,
ou seja, quando as plantas já apre-
sentam caule lenhoso e lignificado.
Na tabela a seguir estão posicio-
nados os principais herbicidas pré-
-emergentes para a cultura de café
com relação às principais plantas
daninhas resistentes ao glifosato,
através da codificação por cores
da eficácia de cada herbicida. Esta
classificação está baseada na expe-
riência prática dos autores.
Importante destacar que ne-
Jéssica Gorri e Edson Luiz Lopes Baldin

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re. Porém, nem sempre o herbicida Pedro Jacob Christoffoleti

pré-emergente tem um residual


suficiente até a colheita. Assim, a
integração com pós-emergentes e a
aplicação sequencial são indicadas.
Uma recomendação aceita pelo
produtor é quando o mato iniciar
sua emergência, na primavera, en-
trar com uma aplicação de glifosato
para eliminar as plantas em pós-
-emergência, e em seguida aplicar o
pré-emergente. Claro que se nesta
aplicação de glifosato houver plan-
tas daninhas resistentes, é indicado
associar herbicidas alternativos
para o controle de gramíneas (ini-
bidores da ACCase) e de latifolicidas
(inibidores da PPO) para o controle
de folhas largas.
Figura 5 – Pedro Jacob Christoffoleti mostra área de café
Em ensaio desenvolvido pelos Conilon com um bom manejo de plantas daninhas
autores com a formulação comer-
cial contendo os ingredientes ati-
vos flumioxazina + pyroxasulfone
foram obtidos 100% de controle das então, optar pela formulação que as características físico-químicas
plantas daninhas na cultura de café contenha flumioxazin. dos herbicidas, e finalmente utilizar
até os 90 dias após a aplicação do Antes da colheita, quando os uma tecnologia de aplicação apro-
herbicida, conforme pode ser ob- grãos de café já estão em fase de priada, são aspectos fundamentais
servado na figura a seguir. No caso maturação, e com o objetivo de para uma boa prática de manejo de
específico do ensaio, por razões de evitar aplicações de glifosato pró- plantas daninhas, evitando assim
logística de instalação do ensaio e ximo da colheita, é importante que as perdas por matocompetição,
observação de resultados, foi feita o produtor atente para o banco produzindo grãos de café sem re-
a aplicação na entrelinha, porém, de sementes de plantas, e utilize síduo, e mantendo a longevidade
como descrito no artigo, a recomen- herbicidas residuais. Neste caso, o do cafezal. C

dação é que esta aplicação seja feita herbicida residual deve ser aplicado
apenas na linha da cultura, deixan- especialmente na projeção da copa,
do a entrelinha vegetada. O ensaio representando 33% da área, sendo
Pedro Jacob Christoffoleti,
foi conduzido até os 150 dias após que a entrelinha deve permanecer
HERBtech – consultoria e pesquisa agronômica;
a aplicação do herbicida, quando coberta com a palhada do capim-
Francielli Santos de Oliveira,
foram obtidos 95,8% de controle do -braquiária, através do processo de
Esalq/USP;
capim-amargoso e 92% de controle arruação.
Luiz Henrique Franco de Campos,
do capim-pé-de-galinha.
HERBtech;
O herbicida pyroxasulfone é Considerações Leonardo de Oliveira Semensato,
também seletivo para o cafeeiro, finais sobre o manejo UFSCar
inclusive na implantação da cultura, A integração de práticas de
quando aplicado em jato dirigido. manejo de plantas daninhas, bem
Além disso, é eficaz para o controle como a aplicação dos herbicidas no
de gramíneas, como capim-colchão momento certo, constitui o segredo Caderno Técnico
Circula encartado na revista
e capim-amargoso, até 90 dias após do sucesso no manejo de plantas Cultivar Grandes Culturas nº 293
a aplicação. Para o controle de daninhas no cafezal. Conhecer Capa - Wenderson Araujo - CNA
Reimpressões podem ser solicitadas
folhas largas é necessário associá- a biologia da planta daninha, as através do telefone: (53) 3028.2075

-lo com latifolicida em tanque ou, condições edáficas e climáticas e


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