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PROMIP MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS

VENDA PROIBIDA – DISTRIBUIÇÃO GRATUITA


ANO IV | VOL. 11 | AGOSTO 2022

Trichoderma Tripes uma A construção A Busca do Varejo por


no Manejo Temível Praga do Selo MIP Alimentos Mais Seguros
Biológico do em Cultivos de EXPERIENCE do Campo à Mesa do
Mofo Branco Hortaliças Consumidor
Pág. 16 Pág. 20 Pág. 31 Pág. 37
MENOS PROBLEMAS,
MAIS PRODUTIVIDADE!
SO LUÇÕ E S I NT E G R A DA S B A L L AG R O .
MIP EXPERIENCE - VOL 10

EXPEDIENTE ÍNDICE

A Revista MIP EXPERIENCE é uma Entendendo o MIP EXPERIENCE.................... 2


publicação periódica editada pela PROMIP
Manejo Integrado de Pragas Ltda e que Grupo MNS fez do pimentão o
compõe a plataforma de mesmo nome. protagonista da Segurança do Alimento ... 6
Tiragem: 2000 exemplares
A História do Manejo Integrado de Pragas
Editor: (MIP) no Brasil – Tomate ..................................... 10
Marcelo Poletti – CEO PROMIP
Trichoderma no Manejo Biológico do Mofo
Colaboradores desta edição: Branco........................................................................................16
– Bruno Martinelli Braga
– Caio Munhoz Theodoro
Tripes uma temível praga em cultivos de
– Fernanda Carla Ferreira
hortaliças........................................................................20
– Giampaolo Buso
Nutrição de Plantas e a Sustentabilidade
– Julia Carlini
na Produção de FLV ...............................................25
– Luciane Katarine Becchi
– Santin Gravena A Construção do Selo
– Sérgio Minoru Hanai MIP EXPERIENCE ............................................................31
– Thiago Moreira
Estudos de metagenômica e a
sustentabilidade no campo ............................ 34
Projeto gráfico e diagramação:
A busca do varejo por alimentos
Linea Creativa Comunicação
mais seguros do campo à mesa do
PROMIP consumidor.................................................................37
Estrada Bode Branco, s/n - Cx Pstl 111 - km 02 -
Conceição, Eng. Coelho - SP, CEP: 13445-970
A assistência técnica e a extensão como
+55 19 4040 4112 fator de sucesso para o manejo integrado
+55 19 99910 1858 em campo.................................................................. 41
atendimento@promip.agr.br
promip.agr.br

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MIP EXPERIENCE - VOL 11

Entendendo o MIP EXPERIENCE

O MIP EXPERIENCE nasceu em meados de 2019


em uma iniciativa que visa consolidar um sistema
de produção agrícola sustentável para a entrega
de alimentos frescos nas gôndolas das principais
redes de distribuição brasileiras, mantendo como
Nosso intuito é inovar
pedra fundamental e propósito a promoção de
colocando em prática uma
estratégias de manejo que respeitem e promo-
versão moderna de MIP,
vam a saúde das pessoas e do planeta, com maior
considerando questões
contribuição e resultados para o agricultor.
importantes que vão além
do manejo fitossanitário,
O programa tem como premissa o Manejo Inte- e que certamente
grado de Pragas (MIP), conceito instituído há dé- impactam toda a cadeia
cadas por cientistas que propuseram uma forma do agronegócio, desde a
de equilibrar o uso das diferentes tecnologias, en- pesquisa até o varejo, e
tre elas a adoção de práticas para a otimização do consequentemente a vida
controle natural de pragas e doenças, levando em de todos nós
consideração aspectos sociais, ambientais e eco- consumidores.
nômicos.
Nosso intuito é inovar colocando em prática uma
versão moderna de MIP, considerando questões
2
importantes que vão além do manejo fitossanitá- EXPERIENCE, possibilitando ao agricultor par-
rio, e que certamente impactam toda a cadeia do ticipar de políticas de incentivo à produção
agronegócio, desde a pesquisa até o varejo, e con- sustentável e crédito de carbono, agregando
sequentemente a vida de todos nós consumidores. resultados a todos os stakeholders;
Consideramos que a revitalização do manejo in- • Consolidar o programa identificando-o atra-
tegrado de pragas deve ser construída de modo vés de um Selo Específico, que será validado
compartilhado, demonstrando-se na prática as com protocolos estabelecidos a partir de cer-
contribuições de cada elo desta cadeia. Busca- tificações já existentes no mercado, com a in-
mos a sinergia entre as tecnologias e inovações, clusão da obrigatoriedade de itens exclusivos
inserindo-as no programa de modo que não im- do programa;
pactem a rotina da propriedade ou empresa rural,
• Divulgar os benefícios do Certificado MIP EX-
e se encaixem prontamente nos custos e fluxos
PERIENCE identificando e promovendo os
de caixa normais do agricultor.
agricultores “fornecedores” qualificados pelo
Os principais objetivos do programa são: sistema.
• Demonstrar que o Manejo Integrado de Pra- A filosofia do MIP EXPERIENCE baseia-se no
gas (MIP) é a prática mais adequada para a ob- “aprender fazendo” por isso o programa está sen-
tenção de bons resultados do campo à mesa do construído a partir dos resultados alcançados
do consumidor; em campos demonstrativos, que permanecem
• Apoiar ativamente o agricultor e estimular a abertos para visitas periódicas de nossos parceiros
sua adesão ao programa proporcionando-lhe e de seus clientes, técnicos, agricultores e empre-
melhores resultados econômicos, sociais e sas agrícolas interessadas. É necessário simplifi-
ambientais; car as ações em campo, realizando o que de fato é
essencial, ou seja, o que trará resultados perceptí-
• Viabilizar efetivamente a produção de alimen- veis para o agricultor e ao mesmo tempo, o ajuda-
tos livres de resíduos com ênfase no uso do rá na comunicação com seus clientes. O essencial
controle biológico aplicado de forma integra- deve agregar valor ao esforço do produtor rural,
da à outras táticas de manejo, atendendo uma
através de indicadores que facilitarão a sua comu-
demanda crescente por grande parte da po-
nicação com o mercado, seus parceiros e clientes.
pulação brasileira e mundial;
Essa conexão de valores, do campo ao consumi-
• Acompanhar e validar a emissão de gases dor, é extremamente importante para que o MIP
do efeito estufa dentro do sistema MIP seja adotado de maneira prática e efetiva.

O Programa MIP EXPERIENCE promoverá a interação e troca de experiências práticas entre diversos elos
da cadeia do agronegócio até o consumidor.

O MIP EXPERIENCE é uma iniciativa da Promip SELO MIP EXPERIENCE


que conta com a participação de diversas institui-
O programa MIP EXPERIENCE tem o intuito de
ções parceiras, empresas de destaque no agrone- apresentar para o mercado um Selo que identi-
gócio brasileiro, e startups que juntas, estão tra- ficará um sistema de produção baseado em três
zendo para o programa inovações disruptivas. pilares específicos:
As contribuições das empresas parceiras têm • uso obrigatório do monitoramento de pragas
ocorrido de forma técnica e científica tanto nas e doenças;
discussões e decisões de campo, quanto nas
• uso obrigatório de insumos biológicos e
ações que visam otimizar a transferência do co-
nhecimento de modo generalizado. • medição da emissão de gases do efeito estufa.
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MIP EXPERIENCE - VOL 11

Este Selo já está em fase de validação e suas pre- em webinars com a participação de convidados
missas estão sendo testadas em condições reais especiais, mesa redonda na Hortitec (23 de junho
de produção comercial agrícola. Nos três primei- de 2022) e em outros encontros técnicos e cientí-
ros módulos do programa (maio de 2020 até de- ficos.
zembro de 2021) foram desenvolvidos protocolos
A ideia é, cada vez mais, aproximar o agricultor
que agora estão sendo validados com o apoio de
produtores parceiros. das tecnologias aportadas no programa, demons-
trado de forma prática e em área comercial, que
MIP EXPERIENCE 2022 é possível sim, transformar o conceito de MIP em
Desde abril de 2022 iniciamos um novo ciclo do melhores resultados com economia de recursos
programa com a execução das atividades em áreas e melhor rentabilidade. Como a participação ati-
de produção comercial de hortaliças em empresas va, envolvimento e apoio de todos os agentes da
agrícolas parceiras do programa. Também apre- cadeia do agronegócio, incluindo o varejo, nosso
sentaremos o tema e os resultados do programa propósito será cumprido com êxito.

Marcelo Poletti
CEO e Fundador
PROMIP

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QUEM MANDA NO SEU
CULTIVO? VOCÊ OU A
LAGARTA-DO-CARTUCHO?
Conheça o seu mais novo aliado
no combate a essa praga!

Bioinseticida altamente eficaz no controle


exclusivo da lagarta-do-cartucho. Por ser natural,
não deixa resíduos na cultura, não causa danos
ao meio ambiente e ao aplicador e ainda
contribui para a redução da aplicação de
defensivos químicos.

promip.agr.br/baculomip-sf

ATENÇÃO: ORGANISMOS VIVOS DE USO RESTRITO AO CONTROLE DE PRAGAS. CLASSE TOXICOLÓGICA NÃO
DETERMINADA DEVIDO À NATUREZA DO PRODUTO (INSETICIDA MICROBIOLÓGICO). LEIA ATENTAMENTE E
SIGA RIGOROSAMENTE AS INSTRUÇÕES CONTIDAS NO RÓTULO E BULAS DE CADA PRODUTO. REGISTRO NO
MAPA – Nº 02021 (BACULOMIP-SF). PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS COM USO APROVADO PARA A AGRICULTURA
ORGÂNICA. CONSULTE SEMPRE UM ENGENHEIRO AGRÔNOMO E FAÇA MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS.
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MIP EXPERIENCE - VOL 11

Grupo MNS fez do pimentão o


protagonista da Segurança do
Alimento
Com tecnologia e manejo integrado, a MNS transformou o pimentão de vilão dos
agrotóxicos à protagonista do Alimento Seguro.

O grupo MNS é um exemplo do agronegócio bra-


sileiro, um dos líderes na produção de legumes e
verduras no Brasil. Fundada em 1994, com a
Fundada em 1994, com a união das famílias Mo- união das famílias Morioka,
rioka, Nagahama, Shimizu e Horigome, o Grupo Nagahama, Shimizu e
MNS surgiu com a visão de ser a melhor e uma Horigome, o Grupo MNS
das maiores distribuidoras de hortifrutis do Bra- surgiu com a visão de ser a
sil. E conseguiu! melhor e uma das maiores
distribuidoras de hortifrutis
A MNS começou com quatro produtos – cebola, do Brasil. E conseguiu!
cenoura, beterraba e batata – e hoje tem mais de
120 itens em seu portfólio, reconhecida como um
dos melhores fornecedores de FLV do país, com
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presença em todas as regiões brasileiras e nas
principais redes de varejo, tem três centros de
distribuição, operações de importação e exporta-
ção, certificações internacionais de boas práticas
agrícolas e prêmios de excelência do setor.
E para falar sobre o protagonismo do Grupo que
o engenheiro agrônomo Thiago Moreira, geren-
te de Qualidade da MNS e diretor executivo do
Comitê Técnico do Grupo Vegetais Saudáveis,
atendeu nossa equipe na segunda quinzena de
janeiro, época de fortes chuvas que prejudicaram
a produção e o escoamento de FLV.
Nossos produtos têm a garantia de segurança do
Qual o diferencial do Grupo MNS? alimento, capilaridade de distribuição em todo
Trabalhamos no tripé do respeito às pessoas, ao território nacional e uma logística eficaz de aten-
produto no campo e ao meio ambiente. Nosso dimento ao varejo. Somos um fornecedor de con-
alicerce vem dos ensinamentos do empresário fiança, um produtor incansável pela segurança
japonês e monge budista Kazuo Inamori, que do alimento e a nutrição do consumidor.
prega que o segredo para a sobrevivência de O Grupo MNS é membro do Grupo Vegetais
uma empresa está no valor que ela é capaz de Saudáveis. Como diretor executivo do Comitê
gerar para a comunidade, na felicidade de seus Técnico do VS, quais as vantagens de participar
funcionários, na empatia e humildade de suas li- dessa iniciativa?
deranças e na determinação e criatividade disse-
minada em cada ambiente de trabalho. Fazendo Tudo começa com o propósito. Um grupo de 10
o que é certo, com equilíbrio entre resultados e empresas que produz alimentos respeitando
responsabilidade, transparência e compromisso toda a cadeia, as boas práticas agrícolas e a en-
contínuo com toda a sociedade. trega do alimento seguro. Nossas certificações são
reconhecidas nos mercados nacional e internacio-
O Grupo MNS cresce disseminando conhecimen- nal, como o Global G.A.P (protocolo privado de cer-
to, são mais de 2000 fornecedores cadastrados na tificação de Boas Práticas Agrícolas com objetivo
empresa e mais de 120 produtos comercializados de aumentar o compromisso do produtor com a
fornecendo assessoria técnica, insumos e moni- segurança e sustentabilidade do alimento), além
torando o respeito às diretrizes de Boas Práticas da rastreabilidade em todo o processo, da semen-
Agrícolas e Boas Práticas de Fabricação. te à entrega ao consumo.
Dentre os fornecedores, 55 pertencem a um gru- O Grupo VS tem como pilares: o manejo integra-
po de trabalho de desenvolvimento englobando do, a tecnologia e a prevenção para produzir um
a produção dirigida e o programa Colheita Segu- alimento seguro, assim como o controle de resí-
ra. Com isso, somos capazes de beneficiar cente- duos, a mitigação de perdas no processo (campo,
nas de propriedades rurais, que passam a contar armazenamento, distribuição e ponto de venda),
com produtos de qualidade superior. tendências da indústria de FLV e conhecimento
técnico-científico.
Só podíamos estar alinhados com um grupo de
empresas com esse propósito, e que além disso,
nos proporciona visibilidade e abertura de opor-
tunidades comerciais com as maiores redes de
varejo do Brasil.
A MNS utiliza o manejo integrado de pragas
(controle biológico + controle químico) em
suas culturas?
Sim, temos o programa de Colheita Segura (PCS)
que é um projeto inovador que promove o uso
consciente de defensivos agrícolas, através da
educação, acompanhamento, transferência de
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MIP EXPERIENCE - VOL 11

tecnologia e assessoria técnica a produtores ru- a rastreabilidade, instalar novas tecnologias, insu-
rais. Temos um manejo dirigido para cada pro- mos, assistência técnica no campo e nas pesquisas.
duto. Por exemplo, o pimentão, que em 2013 era
Temos que mudar paradigmas. O varejo não ado-
o vilão dos agrotóxicos numa análise da ANVISA,
ta uma política de educação ao consumidor, que
hoje é o protagonista do manejo biológico, alcan-
certamente não se importaria de pagar mais por
çando mais de 95% em conformidade em testes
um alimento com valor agregado e seguro.
cegos que fazemos no campo.
O Sr. mencionou o exemplo do pimentão. Quais
Por que muitos produtores ainda não utilizam
os desafios de aumentar a produtividade e sus-
o Manejo Integrado de pragas?
tentabilidade na produção do legume tão con-
Falta de conhecimento e consequentemente a sumido no Brasil?
visão de custos.
Quando o produto foi eleito pela ANVISA como
Neste caso acredito que a visão de custos é rela- um dos maiores alimentos com resíduo químico,
tiva entre “prevenção” ou “investimento” do que decidimos usar conhecimento e tecnologia para
“custos” ou “despesas” (claro que o momento que mudar o manejo na produção.
estamos vivendo é de aumento considerável de
Hoje usamos o manejo integrado com 60% bio-
custos no setor de insumos). Ao meu ver, utilizar
lógicos e 40% químico. No caso dos bilógicos
o Manejo Integrado de Pragas significa trabalhar
nós dividimos em duas linhas: Macro (insetos do
de forma preventiva, evitando ou diminuindo
BEM) e micro (Microrganismos) para entregar
eventuais despesas futuras.
um produto com mais de 95% de conformidade.
O custo é um empecilho. Esse produtor que usa Isso prova que o conhecimento e a tecnologia
defensivo químico indiscriminadamente está fa- que existem já permitem produzir um alimento
zendo uma conta simples e não contabiliza que realmente seguro.
está tendo excesso de gastos e também os danos
ambientais. A conta, principalmente no quesito
Ambiental, vai chegar mais cedo ou mais tarde.
Esse abismo entre os grandes produtores e os
médios e pequenos já melhorou muito com os
parâmetros do Comitê Minor Crops, do MAPA,
que integra agências públicas e privadas a fim
de aumentar o número de produtos registrados
para uso nas culturas do setor HF, gerando mais
opões de insumos com custos mais atrativos,
sempre respeitando a legislação vigente.
O manejo biológico não é necessariamente mais Outro desafio é a distribuição. No nosso caso,
caro e se for utilizado de maneira correta, pode abastecemos o mercado em caminhões refrige-
até igualar os custos, se comparado ao uso de rados com +/- 5 Graus Positivos, rodando pelas
químicos. Acima de tudo, o manejo biológico traz estradas “de asfalto brasileiro” e todas as intem-
muitos benefícios a médio e longo prazos para o péries climáticas, como as chuvas torrenciais que
ecossistema local – saúde do solo, da água, do ar, necessitam mudar a logística de rotas para aten-
da fauna e flora. der o varejo.

Por que o produtor ainda não consegue ser re- Como em todo negócio essencial para a popu-
munerado (como deveria) pelos seus esforços lação, como a produção e abastecimento de ali-
e boas práticas no campo? mentos, se tiver uma política pública aliada com
investimento privado e incentivos, o resultado será
Falta de real gestão e administração das suas muito melhor: com produtividade, menos perda e
operações de produção e comercialização. O au- desperdício e mais segurança do alimento.
mento de custos dos insumos também é um fato
que agrava este cenário. Somando-se a esses fa-
tores, a falta de reconhecimento é uma realidade.
Thiago Moreira
Valorizar o investimento no conhecimento para Diretor de Qualidade
manter boas práticas de produção, adequar sis- Grupo MNS
temas para conseguir as certificações, implantar
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MIP EXPERIENCE - VOL 11

A História do Manejo Integrado de


Pragas (MIP) no Brasil – Tomate

Para falar um pouco sobre a história do Manejo


Integrado de Pragas (MIP), optou-se por abordar
apenas destaques vividos pelo autor enquanto
acadêmico de uma universidade, a UNESP – Cam-
pus de Jaboticabal-SP. Na atividade de ensino,
pesquisa e extensão, foi acompanhado por mui-
tos dos seus colaboradores tanto na própria uni- Apesar das dificuldades
versidade pelos docentes e discentes como pelas em controlar tantas
instituições estaduais e federais com seus pesqui- pragas com danos diretos
sadores e extensionistas, e pelos produtores que e indiretos, conseguimos
colaboraram disponibilizando suas propriedades reduzir as pulverizações
para o incremento de conhecimentos agregados em pelo menos 30%.
aos sistemas de MIP. Foi assim que no primeiro
artigo dividiu-se em duas partes distintas: uma
introdutória destacando-se as dificuldades iniciais
do agronegócio brasileiro nos seus primórdios
10
abraçando-se com os pesticidas na tentativa de abundância de inimigos naturais, com o tomate
evitar perdas de produção e não se imaginava que representava um verdadeiro desafio porque as
as consequências poderiam ser desastrosas como produções convencionais eram sistemas nômades
foram, na forma de desequilíbrios ecológicos mo- e em grande parte de produtores arrendatários de
numentais de pragas culminando com muitas terras. O tomate rasteiro era cultivado em extensas
populações resistentes em diversas culturas, des- áreas para fornecer à indústria sucos e molhos com
tacando-se o algodão. A outra parte seria a abor- média de aplicações de pesticidas de 16 por safra
dagem de algumas culturas mais importantes e o estaqueado por 36. O maior agravante era que
referindo-se a episódios mais detalhados da histó- o MIP trata apenas do manejo de insetos e ácaros,
ria como Algodão e Citros no primeiro artigo, fi- mas existiam as doenças também e a aplicação de
cando para o presente número o Tomate e o Café micronutrientes foliares. Assim, os produtores são
pelo que as duas culturas representam para o Bra- tentados sempre aproveitarem pulverizações sis-
sil. O Tomate por estar na mesa do brasileiro pra- temáticas de fungicidas e adubos para acrescen-
ticamente todos os dias tanto na forma in natura tarem os inseticidas e acaricidas, preventivamen-
como processado em diversos tipos de alimentos te, supondo estarem economizando.
e o Café pelo consumo interno, na forma de bebi-
da diária e principalmente por ser uma das princi-
pais commodities de exportação. Assim, registra-
mos na literatura, a história do MIP representativo
de duas culturas anuais e duas perenes, como eu
disse, vividas por mim, o autor, desculpando-se
por eventuais omissões de passagem por abso-
luta falta de registros, de acesso ou de memórias
mesmo. Devido o volume de informações muito
grande do tomate encontrado, deixaremos o café
para o próximo número.

Tomate Praga chave no MEP - Mosca branca Bemisia ar-


gentifollii ou B. tabaci Biótipo B que transmite o
Outra cultura que merecia a nossa atenção era o
tomate cujo montante de inseticidas chegava 40 vírus Geminivirus ou Begomovirus
vezes aplicados numa safra (com tempo de safra
muito mais curta do que a do algodão) devido à Princípios do MEP. Como um fato histórico para
presença de cerca de 10 pragas e boa parte delas o MIP e o MEP adotado por nós para implemen-
transmissoras de viroses e perfuradoras de frutos. tar nas culturas agrícolas mais importantes a par-
Apesar das dificuldades em controlar tantas pra- tir dos anos 1970, desde a UNESP de Jaboticabal,
gas com danos diretos e indiretos, conseguimos o tomate também fazia parte dessas pesquisas e
reduzir as pulverizações em pelo menos 30%. Po- desenvolvimento, estavam os 4 princípios1. Estes
demos dividir o cultivo do tomateiro basicamente eram para caracterizar que os sistemas MIP/MEP
em 3 sistemas de produção atualmente para tra- não são apenas junção de ferramentas e sim atitu-
çar alguns fatos históricos relevantes relacionados des dinâmicas com a primeira consideração sen-
ao MIP e depois evoluído para MEP apesar das do sobre os inimigos naturais das pragas do toma-
dificuldades apresentadas por esses sistemas de te, incluindo-os nas planilhas de campo para uso
produção: Estaqueado, crescimento indetermina- do Nível-de-Não e de Ações Seletivas ao aplicar
do, para comércio in natura; Rasteiro crescimen- pesticidas. Atitudes também no uso de inimigos
to determinado para processamento industrial e naturais em programas de liberações de predado-
Estufa, indeterminado, para comércio in natura. res, parasitoides (macrobiodefensivos) e entomo-
A nossa experiência foi com os dois principais que patógenos (microbiodefensivos) além de atenção
são o Estaqueado e o Rasteiro, ambos a céu aberto, redobrada em táticas de manejo ambiental que é
nos quais se implementou sistemas de MIP e MEP o quarto princípio (todo ambiente pode ser equili-
desde o início dos anos 1980 até os dias atuais. En- brado e biodiverso). Com o passar do tempo foi se
quanto a pesquisa e desenvolvimento do MIP e fortalecendo a ideia de MEP substituindo o MIP,
MEP para o Algodão e Citros sem bicudo e psilí- mas na prática ficava mais difícil porque em cada
deo, respectivamente, foi relativamente fácil, com tipo de cultura surgia um problema de praga mais

1 GRAVENA, S. & BENVENGA, S. R. Manual Prático de Manejo Ecológico de Pragas do Tomate. Jaboticabal, 2003, 144p.
11
MIP EXPERIENCE - VOL 11

grave como citado no artigo anterior. Mesmo as- bolim, da Universidade Federal de Viçosa que tem
sim nunca se desistiu de incrementar mais táticas trabalhado muito em prol do MIP-Tomate.
ecológicas como os níveis de não-ação, manejo
Campos Demonstrativos e Difusão do MIP/MEP.
ambiental e os micro e macro biodefensivos na
Foram vários campos demonstrativos espalhados
prática do manejo.
pelo Estado de S. Paulo e às vezes fora do Estado.
Manejo Integrado/Ecológico de Pragas no To- Impossível lembrar e citar todos que colaboraram,
mateiro. A primeira ideia de MIP em tomate foi mas foram muitos e agradecemos o empenho dis-
expressa em palestra solicitada pelo Prof. M. G. C. posto na época. Os primeiros campos foram em
CHURATA-MASCA, UNESP de Jaboticabal-SP, a ser Cosmópolis-SP realizados com apoio da AgrEvo
ministrada por nós durante o 24º. Congresso de na época implantados em maio de 1997, toma-
Olericultura e Reunião Latino-Americana de Oleri- te de crescimento indeterminado (estaqueado) e
cultura, em Jaboticabal-SP, em julho de 1984. Nes- em todos eles o esquema era de blocos pareados
te mesmo ano, em outubro, 16-18, solicitado pela A-MEPD(Manejo Ecológico de Pragas e Doenças) e
Associação de Engenheiros Agrônomos do Ceará B-MCPD(Manejo Convencional de Pragas e Doen-
e indicado pelo Prof. Xico Graziano, da Economia ças) com avaliação de insetos, ácaros pragas e ini-
da UNESP de Jaboticabal, fomos até Ubajara-CE, migos naturais. Conclui-se que com o MEPD ob-
ministrar curso de MIP-Tomate envarado para 33 teve-se redução do uso de pesticidas em 45% em
profissionais do Estado, com aulas teóricas e prá- relação ao MCPD, baseado no programa de calen-
ticas, num total de 24 horas com certificado. Na dário usado pelo produtor de Cosmópolis. Em se-
ocasião reforçamos a ideia de MIP-Tomate no Bra- guida, também com apoio da AgrEvo, antiga Hoe-
sil e demos início a pesquisa e desenvolvimento chst, sob comando de Hideo Dodo, e com apoio do
de estratégias e táticas de manejo para a difícil ta- Instituto Nacional de Tecnologia, sob orientação de
refa de redução das 36 pulverizações dos cultivos Irene Baptista de Alleluia, montamos campos de-
estaqueados e 16 dos rasteiros. Ao mesmo tempo, monstrativos em Paty de Alferes-RJ. A redução do
outros autores como a Ana Maria Primavesi lança- uso de Pesticidas foi de 22% e de inseticidas foi de
va o livro Manejo Ecológico de Pragas e Doenças, 38%, tendo sido adotado nas plantações da família
1990, baseado em seu incansável trabalho ecológi- Rachid nas safras seguintes. Continuando ainda
co de grande repercussão. Quanto ao tomate, teve em Paty de Alferes, com mais campos, em abril de
poucas referências de técnicas ecológicas de ma- 1998, Todos os campos até agora eram variedade
nejo de pragas, mas era o início. Débora. Neste campo notamos uma importante
Em 2014 a Embrapa lança uma revisão de táticas evolução nos resultados, conseguimos com MEPD
completa sobre o MIP-Tomate, Circular Técnica reduzir em 62% o uso de inseticidas e 26% na de
129, Alexandre P. Moura e Colaboradores. Neste fungicidas. Os campos seguintes foram em Mogi
artigo não abordamos estudo de táticas e sim sis- Guaçu-SP, em março de 1998. Foram na proprieda-
temas. Outros autores também tiveram expressão de do Sr. Clovis Ferreira Filho. Já a redução do uso
no MIP-Tomate e um deles é o Prof. Laercio Zam- de inseticidas no MEPD foi menor, mas houve, 15%

Manejo Ecológico

300
Nº de insetos / 60 ponteiros

2 Tripes Pulgão
+ Fig. 1 - Campo experimental
250 3
Mosca Branca Vetores Totais
rasteiro testando estratégias
200 Pulverização alvo de manejo comparando com
3 Manejo Ecológico de Pra-
150 3 + Pulverização conjugada
+ 4 gas do Tomate pelo CEMIP-
4 11
100 11 7
12
+
14
+ Unesp. Araçatuba-SP, 2000.
1 + 13 12
Nível de ação 11
60 14
+
50 16

0
4 7 10 13 17 20 26 29 31 38 45 52 59 66 70 81 84 87 91 96 98 103 105 110 115

Dias após transplantio

12
de inseticidas e 6% de fungicidas. O campo que de- Estão preparando a fazenda para certificação e
mandou depois foi em tomate industrial, ou seja, rastreabilidade da produção, sob orientação de
de crescimento determinado, em Araçatuba-SP, Sérgio Benvenga. Historicamente iniciou-se nos
em Maio de 2000. Foi a pedido da Parmalat S/A e idos anos 1990 juntamente como o Mallmann, se
da empresa Aventis da época. Foi instalado blocos constituindo na época que perdura até os dias de
pareados comparando-se o MEP, sistema da Grave- hoje dos raros produtores de tomate que tiveram a
na Ltda com o MCP, sistema do produtor. O uso de perspicácia de aceitar nossas orientações emana-
inseticidas com o MEP foi de 10 pulverizações e 19 das da UNESP de Jaboticabal, CEMIP, na forma de
na do MCP, com redução de 48% Fig.1. extensão, resultado de pesquisa no Departamen-
to de Entomologia. Isso em tomate é uma glória,
O importante é que neste tempo de estudos do
pois é uma cultura de difícil conciliação ecológica,
MEP-Tomate, alguns produtores significativos fo-
que depende muito da resiliência do produtor.
ram adotando o sistema MEP e dois deles foram
clientes da Gravena Ltda por mais de 20 anos tendo Pesquisa e Conclusão. Os vários campos de-
como consultor agregado o Dr. Sergio Benvenga, monstrativos foram unânimes em reduzir signi-
nosso colaborador desde a fundação da Gravena ficativamente o número de pulverizações, mas
até a sua transferência para a SGS em 2015. Atual- para não ter dúvida nenhuma das vantagens
mente ele atua como Consultor independente. científicas do MEP em relação ao MCP instala-
mos 2 ensaios de comparação dos sistemas MIP-
Adoção por Mallmann e os Andrades. O MIP/
Tomate em blocos casualizados com 6 repetições
MEP das extensas áreas de produção de tomate
sendo um no sistema indeterminado no Sítio
do Senhor Nelson Mallmann tinha a nossa aten-
Horto Florestal, Jaboticabal-SP e outro no siste-
ção, era o nosso cliente de tomate, através do tra-
ma determinado do Sítio Santa Clara, Monte Al-
balho do Sergio e o time de Inspetoras de Pragas
to-SP, GRAVENA et al.(2009)2. O primeiro estava
incansáveis e capacitadas. O outro grupo que ado-
circundado por áreas naturais de matas sem to-
tou o MIP/MEP-Tomate foi o da família Andrade,
mate, portanto sem imigração de mosca branca
também produtores de tomate como o Mallmann.
e outras pragas do tomate Figs. 2 e 3.
Lauro e Claudio Andrade, sob administração de
Lauro ainda está sob consultoria do Sergio, ago- Do MIP-Gravena para o MCP-Fabricante a redu-
ra autônomo. Eles continuam plantando tomate ção das pulverizações foi de 73% e com produção
estaqueado em Monte Mor-SP em larga escala. do MIP em 7% a mais. O segundo que foi instala-

Fig. 2 - Campo experimental estaqueado testando estratégias de manejo comparando com Manejo
Ecológico de Pragas do Tomate pelo CEMIP-Unesp Jaboticabal-SP, 2009.

2 GRAVENA, S., BENVENGA, S. R., SILVA, J. L. da, GRAVENA, R. e GRAVENA, A.R. Comparação de Sistemas de
Manejo de Mosca Branca e outras pragas em Tomate. Gravena, Santin, GRAVENA – Pesquisa, Consultoria, e
Treinamento Agrícola Ltda. Jaboticabal-SP, 2008 24p.
13
MIP EXPERIENCE - VOL 11

Fig. 3 - Ato de amostragem de Mosca Branca, Pulgões e Tripes no MEP do Campo experimental do
CEMIP-Unesp, 2009.

do entremeio a outras plantações de tomate de


outras safras também com intensa imigração de
mosca branca e outras pragas do tomate, foi inu-
tilizada não chegando ao fim do ciclo. Este estudo
foi perfeito para alertar os produtores, principal-
mente os arrendatários, para destruição imediata
de restos de cultura e adotar rotação de cultura
para interromper tais imigrações. Conclui-se que
o grande gargalo na eficácia de sistemas ecológi-
cos é justamente a tiguera de tomate entre um
plantio e outro. É o maior entrave que nós temos Santin Gravena
e tivemos na história dos estudos e desenvolvi- Professor aposentado da UNESP Jaboticabal-SP
mento dos sistemas de MIP e MEP do tomate no GCONCI-Grupo de Consultores em Citros e outras
Culturas. Entomologista SG-mepconsultoria
Brasil e no mundo.
14
ESPALHE PROTEÇÃO
NA SUA LAVOURA.

AMPLO CONTROLE DE LAGARTAS


O agente biológico Trichogramma pretiosum é
uma microvespa que parasita ovos de diversas tipos
de mariposas, como a traça-do-tomateiro, a broca-
grande-do-tomate, lagarta-da-espiga-do-milho,
lagarta-do-cartucho-do-milho, lagarta-da-soja
e lagarta-falsa-medideira em
diversas culturas.

promip.agr.br/trichomip-p

ATENÇÃO: ORGANISMOS VIVOS DE USO RESTRITO AO CONTROLE DE PRAGAS. CLASSE TOXICOLÓGICA NÃO
DETERMINADA DEVIDO À NATUREZA DO PRODUTO (INIMIGOS NATURAIS). LEIA ATENTAMENTE E SIGA
RIGOROSAMENTE AS INSTRUÇÕES CONTIDAS NO RÓTULO E BULAS DE CADA PRODUTO. REGISTRO NO MAPA –
Nº 8815 (TRICHOMIP P). PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS COM USO APROVADO PARA A AGRICULTURA ORGÂNICA.
CONSULTE SEMPRE UM ENGENHEIRO AGRÔNOMO E FAÇA MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS.
15
MIP EXPERIENCE - VOL 11

Trichoderma no Manejo
Biológico do Mofo Branco
Com mais de 250 espécies
O fungo Trichoderma spp. é considerado atual- descritas na literatura,
mente um dos mais importantes agentes de con- Trichoderma spp. é
trole biológico na agricultura. Com mais de 250 um fungo versátil que
espécies descritas na literatura, Trichoderma spp. além de apresentar alta
é um fungo versátil que além de apresentar alta capacidade de colonizar
capacidade de colonizar a rizosfera das plantas, a rizosfera das plantas,
também é capaz de parasitar outras espécies de também é capaz de
fungos e decompor a matéria orgânica do solo. E parasitar outras espécies
por possuir tais características, é que este fungo se de fungos e decompor a
tornou um dos microrganismos mais estudados matéria orgânica do solo.
para o uso de controle biológico na agricultura.
16
Trichoderma é um fungo habitante de solo facil- defesa. De forma direta, tem-se o parasitismo
mente encontrado em solos de regiões de clima que é quando o fungo interfere diretamente no
temperado e tropical. São fungos filamentosos, crescimento e na sobrevivência do patógeno,
com colônias de coloração esverdeada, que cres- crescendo em sua direção e degradando a pare-
cem rapidamente sobre o seu substrato, sendo de celular pela secreção de enzimas líticas, como
capaz de decompor a matéria orgânica, interagir quitinases, celulases, glucanases e proteases. Ou-
com outros fungos realizando o controle biológico tro mecanismo de controle utilizado pelo fungo
e estabelecer interações benéficas com as plantas. Trichoderma é a antibiose, onde através da pro-
dução de substâncias tóxicas é possível inibir
ou suprimir o patógeno alvo. Trichoderma spp.
também pode, por meio da competição promo-
ver o controle de fitopatógenos, competindo no
ambiente tanto por nutrientes, como por espaço,
prejudicando o processo de infecção do patóge-
no na planta.

Isolado de Trichoderma harzianum em placa com


meio de cultura BDA (Foto: Bárbara Silva)

Devido a toda sua versatilidade e às muitas pes-


quisas envolvendo o gênero, atualmente a maio-
ria dos biofungicidas registrados no Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) são
à base de Trichoderma. Para os fungicidas micro-
biológicos os produtos registrados são à base de
Trichoderma harzianum, Trichoderma asperel-
lum, Trichoderma afroharzianum e Trichoderma
stromaticum. Existe também um produto regis-
trado como nematicida microbiológico à base de
Trichoderma endophyticum. Esses biofungicidas
são utilizados em culturas como soja, algodão,
milho, feijão, morango, citros, cana-de-açúcar,
café, tabaco, hortaliças, ornamentais, frutíferas e
espécies florestais. E a escolha do uso do produto
está ligada à sua capacidade de controle de al- Estruturas reprodutivas (conídios e fiálides) do fungo
gumas doenças. As doenças causadas por pató- Trichoderma harzianum (Foto: Vanessa Passaglia)
genos de solo tem sido os principais alvos para
De maneira indireta os dois principais mecanis-
os produtos à base de Trichoderma spp., princi-
mos de controle observados para Trichoderma
palmente aquelas causadas por Sclerotinia scle-
sp. são por meio da promoção de crescimento
rotiorum, Fusarium spp. Rhizocthonia solani e
das plantas e da indução de resistência. Algumas
Macrophomina phaseolina.
espécies de Trichoderma já foram relatadas pela
Os mecanismos utilizados pelas espécies de Tri- sua capacidade de promover o crescimento das
choderma para inibir ou atacar fungos fitopato- plantas as quais estão associados. Sabe-se que
gênicos são diversos e podem ocorrer de forma essas espécies aumentam a disponibilidade de
direta, quando o Trichoderma age diretamente nutrientes, como por exemplo o aumento da dis-
sobre o patógeno ou indireta, quando o fungo ponibilidade de fósforo de baixa solubilidade no
desencadeia reações na planta que levam a sua solo para as plantas. Além disso, essa interação do
17
MIP EXPERIENCE - VOL 11

fungo com raízes das plantas também desenca- A aplicação dos produtos à base de Trichoderma
deiam uma série de alterações morfológicas e rea- spp. pode ser realizada via tratamento de semen-
ções bioquímicas, que levam à ativação dos seus tes, aplicação no sulco de plantio ou pulverização
mecanismos de defesa contra fitopatógenos. foliar e essa escolha depende da espécie de Tri-
choderma e do patógeno alvo. No caso de S. scle-
Um dos principais alvos dos biofungicidas à base
rotiorum, na cultura da soja, por exemplo, para a
de Trichoderma, registrados no Brasil, é o fungo
maioria dos produtos as aplicações são via pulve-
Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo-bran-
rização foliar e de forma preventiva, ou seja, antes
co, uma doença com uma ampla gama de hos-
da observação de desenvolvimento do patóge-
pedeiros, que infecta a maioria das plantas cul-
no. Geralmente recomenda-se que se realize as
tivadas e de importância econômica no Brasil. O
aplicações em V2 e posteriormente no início do
mofo-branco é uma doença que se torna mais
florescimento. Essas recomendações de melhor
severa em condições de alta umidade e tempe-
época de aplicação e a dosagem ideal para cada
raturas amenas, variando de entre 15 °C e 21 °C.
patossistema deve ser seguida de acordo com o
Nessas condições, o fungo se multiplica rapida-
consta na bula do produto registrado. Outro fator
mente, causando sintomas que são semelhantes
importante para a utilização de produtos à base
nas diversas culturas hospedeiras, como lesões
de Trichoderma são as condições climáticas no
amareladas no caule das plantas que evoluem
momento que se faz a aplicação, pois o agente
para uma coloração marrom, com aspecto de
de biocontrole, assim como o patógeno, necessi-
uma podridão mole. Em seguida, com o desen-
ta de condições ideais para o seu desenvolvimen-
volvimento do fungo ocorre a formação de um
to. Assim, para garantir a eficácia dos produtos
micélio branco e denso que se espalha para qual-
utilizados é importante sempre realizar as aplica-
quer outra parte aérea da planta com a qual te-
ções com as temperaturas mais amenas, no fim
nha contato. Posteriormente, esse micélio dá ori-
do dia, para evitar incidência de luz solar direta
gem aos escleródios, estruturas de sobrevivência
logo após as aplicações. Ao tomar esses cuidados,
do patógeno que podem sobreviver no solo na
se garante as condições necessárias para que o
ausência do hospedeiro, por muitos anos.
Trichoderma spp. possa se estabelecer no cultivo
e fazer o seu papel como agente de biocontrole.
A B
Diante de todos os desafios enfrentados pelos
agricultores para manter a fitossanidade das la-
vouras, a associação de diferentes medidas de
controle, incluindo o manejo biológico com o fun-
go Trichoderma spp. podem reduzir significativa-
mente a incidência de mofo-branco, permitindo
a manutenção do potencial produtivo e tornan-
do os sistemas de produção mais sustentáveis ao
longo das safras seguintes.

(A) Escleródio de Sclerotinia scletiorum no caule de


plantas de soja (Foto: Abner Bartz). (B) Fungo Tricho-
derma harzianum crescendo sobre escleródio de S.
sclerotiorum (Foto: Fernanda Ferreira)

O manejo do mofo-branco requer a integração


de diversas medidas de controle visando reduzir
a taxa de progresso da doença e o inóculo inicial
(escleródios no solo), mantendo assim a doença
em um nível abaixo do dano econômico. Dentre
as várias medidas de controle que podem ser uti- Fernanda Carla Ferreira
lizadas, o controle biológico por meio de produ- Engenheira Agrônoma
tos à base de Trichoderma sp. tem sido essencial PROMIP
como estratégia de manejo.
18
19
MIP EXPERIENCE - VOL 11

Tripes uma temível praga em


cultivos de hortaliças

Praga
Os insetos da ordem Thysanoptera caracterizam-
-se pelo tamanho diminuto (1 a 1,5 mm de com- Os tripes podem ser
primento), pelas asas estreitas e franjadas, larvas encontrados na face
ápteras (sem asas) e são popularmente conheci- inferior das folhas, nas
dos como tripes, lacerdinhas, amintinhas ou bar- flores, nas brotações,
budinhos. Seu ciclo de vida inclui dois estádios ficando abrigados entre
“larvais” com intensa atividade e alimentação, dobras e reentrâncias
além de dois estágios inativos, sem alimentação, das plantas, por isso é
conhecidos como pré-pupa e pupa, que podem considerado um inseto
ser encontradas na planta ou no solo dependen- de difícil controle.
do da espécie.
Frankliniella schultzei, F. occidentalis, Thrips pal-
mi e T. tabaci (Thripidae) são as espécies mais im-
20
portantes para a horticultura brasileira, infestando Apesar dos danos diretos, o fator limitante da pro-
várias culturas, como tomate, pimentão, berinjela, dução das hortaliças são os danos indiretos cau-
entre outros. Os tripes podem ser encontrados na sados pelos tripes às culturas, devido a capacida-
face inferior das folhas, nas flores, nas brotações, de de disseminação de viroses, como o vírus do
ficando abrigados entre dobras e reentrâncias das vira-cabeça-do-tomateiro. Esse vírus possui o tipo
plantas, por isso é considerado um inseto de difícil de transmissão persistente-propagativa em que o
controle. vírus é adquirido pelas larvas do inseto, após, pelo
Danos menos uma hora de alimentação. O vírus circula
e se multiplica no corpo do inseto e este, na fase
Os tripes possuem aparelho bucal adaptado para adulta, transmite o complexo de vírus durante
raspar e perfurar os tecidos vegetais da planta e toda a vida adulta.
sugar o conteúdo das células que extravasa. Nos
locais onde são realizadas as picadas é possível Os sintomas de infecção pelo vírus do vira-cabe-
observar áreas necrosadas devido à morte dos te- ça-do-tomateiro são mosaicos, arroxeamento,
cidos, folhas com manchas irregulares de colora- manchas marrons (necróticas) nas folhas e haste,
ção esbranquiçada ou prateada, presença de pon- deformação foliar, curvatura do topo da planta,
tuações escuras (fezes), aspecto de queimadura, nanismo, anéis cloróticos ou necróticos nos frutos.
seguido de desfolha. Além disso, atacam flores, Os sintomas do vírus do vira-cabeça-do-tomateiro
causando esterilidade e/ou prejudicando o desen- são observados geralmente no topo da planta e
volvimento de frutos. nos frutos, de 7 a 10 dias após a data de infecção.

1 2

3 4

1 - Adultos de tripes; 2 - Folha de tomateiro com pontuações prateadas; 3 - Tomateiros com sintomas da doen-
ça vira-cabeça: deformação foliar, necrose e curvatura do topo da planta; 4 - Frutos com anéis amarronzados
(necróticos).

Monitoramento
ao ambiente. Dessa forma, a tomada de decisão
Muitas vezes o manejo de tripes é realizado se- para a aplicação de inseticidas deve ser feita com
guindo calendário pré-definido, gerando des- base no nível de infestação da praga em campo.
perdícios por aplicações excessivas, reduzindo a O monitoramento de pragas é uma ferramenta
população de organismos benéficos, deixando fundamental no sucesso do controle de pragas e
resíduos nos produtos e prejuízos ao homem e sustentabilidade da produção. Por meio do moni-
21
MIP EXPERIENCE - VOL 11

toramento é possível identificar os insetos presen- em cada ponto de amostragem (1m de fileira de
tes na lavoura, estabelecer os níveis populacionais, cultivo), e avaliando a quantidade de insetos pre-
porcentagem de dano, monitorar os inimigos na- sentes na superfície. Além da batedura de pontei-
turais e com essas informações tomar uma ação ros, o monitoramento de adultos de tripes pode
de controle. ser realizado com armadilhas adesivas de colora-
O nível de controle de insetos vetores de viroses, ção azul principalmente, ou amarelas, que estão
como tripes é de 1 vetor por ponteiro em média disponíveis no mercado, e ou confeccionadas com
e/ou 0,5 tripes/ponteiro em culturas de verão. O cartolinas, lonas, plásticos untadas com cola ento-
monitoramento de ninfas e adultos de tripes nos mológica. As armadilhas devem ser instaladas em
primeiros 60 dias após o transplantio da cultura é estacas na bordadura de cada cultura, na altura
realizado com a batedura de ponteiros em bande- do topo das plantas e inspecionadas diariamente
jas plásticas com fundo branco, agitando, vigoro- para identificação da entrada dos insetos na área
samente as folhas da região superior das plantas e localização de focos de infestação.

1 2

1 - Monitoramento de tripes: batedura de ponteiros em bandejas plásticas de fundo branco; 2 - Armadilha


adesiva amarela instalada na bordadura do talhão.

Manejo O manejo biológico de tripes (F. occidentalis)


pode ser realizado com a liberação do perceve-
O manejo de insetos vetores de viroses, como os
jo predador Orius insidiosos (Hemiptera: Antho-
tripes, deve preconizar várias táticas de controle, coridae), INSIDIOMIP, registrado para o alvo, em
adotadas simultaneamente, dentre elas a produ- baixas, médias e altas infestações, podendo cada
ção de mudas em locais protegidos, juntamente fêmea adulta predar até 85 insetos por dia. O áca-
com a aplicação de inseticidas de ação sistêmica, ro predador Stratiolaelaps scimitus (Acari: Lae-
a eliminação de plantas daninhas hospedeiras da lapidae), STRATIOMIP, por ser generalista, se ali-
praga e fontes de inóculo de viroses da cultura, e a menta vorazmente do fungus gnats e diferentes
destruição e incorporação de restos culturais para organismos que ocorrem no solo, incluindo pupas
reduzir o deslocamento dos insetos da lavoura de tripes, sendo que um predador pode consu-
mais velha para a mais nova. mir dezenas de presas diariamente. Utilizados em
Com a cultura instalada, e o monitoramento in- conjunto, o STRATIOMIP e o INSIDIOMIP podem
dicando que o nível de controle foi atingido, ou reduzir a população de tripes no solo e parte aérea
seja, a infestação pode acarretar em perdas eco- respectivamente, mantendo a densidade popula-
nômicas, o manejo químico e biológico deve ser cional baixa.
utilizado, de forma alternada, ou conjunta quando O manejo químico de tripes pode ser realizado
possível, levando em consideração principalmen- utilizando inseticidas registrados no MAPA para a
te a compatibilidade entre os produtos, o modo cultura e alvo, sendo os principais grupos quími-
de ação, o estádio de desenvolvimento da praga e cos neocotinoide, éter piridiloxipropílico, espinosi-
a fenologia da cultura, de forma a reestabelecer o nas, neocotinoide + piretroide, metilcarbamato de
equilíbrio populacional da praga em campo. fenila entre outros.
22
1 2

1 - Aplicação de inseticidas químicos no manejo


de tripes na cultura do tomate; 2 - Liberação do
percevejo predador Orius insidiosos (Hemipte-
Luciane Katarine Becchi
ra: Anthocoridae), INSIDIOMIP, para o controle de
Engenheira Agrônoma
Frankliniella occidentalis (Thysanoptera: Thripidae) PROMIP
na cultura do tomate; 3 - Adulto de O. insidiosos.
23
MIP EXPERIENCE - VOL 11

24
Nutrição de Plantas e a
Sustentabilidade na Produção de FLV

A sustentabilidade é um conceito muito citado na


atualidade, mas o que ele significa e como aplicá-lo
na produção de Frutas, Verduras e Hortaliças (FLV)?
O mercado das FLV é complexo e muito dinâmico Plantas bem nutridas são
e a diversidade de materiais genéticos e sistemas mais responsivas, produzem
produtivos é enorme ao mesmo tempo em que a mais na mesma área de
produção destes cultivos impacta diretamente na cultivo, são mais saudáveis,
vida do consumidor através da variação de preços toleram melhor pragas e
de produtos muito consumidos, como a batata, doenças, contribuindo para o
tomate cebola, entre outros na cadeia do varejo. uso racional de defensivos e
As FLVs estão inseridas em temas fundamentais para a eficiência de métodos
à população, como alimentação, economia e até como controle biológico de
a saúde. O consumo de frutas e hortaliças é reco- pragas.
mendado pela FAO (Organização das Nações Uni-
das para a Alimentação e a Agricultura) de forma
geral nos guias alimentares para manter a saúde
25
MIP EXPERIENCE - VOL 11

e a boa nutrição bem como para a prevenção de rando o que já existe de nutrientes disponível no
doenças crônicas, incluindo a obesidade e o câncer. solo, a demanda de nutrientes específicas para a
planta que está sendo cultivada e o equilíbrio nu-
Por isso, a busca da sustentabilidade em produção
tricional de modo que nenhum nutriente limite o
de FLV deve abranger diversos aspectos, tais como
desenvolvimento da planta, assim como não haja
a adequação do manejo, utilizando as melhores
nutrientes em excesso que possam ser perdidos
práticas agronômicas; o emprego de técnicas que
por processos como lixiviação, volatilização, entre
promovam a racionalização do uso de insumos
outros fatores que podem diminuir a sustentabili-
como fertilizantes, defensivos; a otimização da
dade da produção.
produtividade na mesma área plantada, aumento
da qualidade da produção e a diminuição dos im- Plantas bem nutridas são mais responsivas, pro-
pactos ao meio o ambiente. duzem mais na mesma área de cultivo, são mais
saudáveis, toleram melhor pragas e doenças, con-
A nutrição de plantas exerce um importante papel
tribuindo para o uso racional de defensivos e para
no alcance de um manejo sustentável, começan-
a eficiência de métodos como controle biológico
do pelos princípios básicos, como o diagnóstico
de pragas.
da área a ser cultivada através de técnicas como
análises de solo e avaliação do histórico da área, Os dados abaixo revelam resultados reais em pro-
buscando se utilizar os dados corretos na reco- dutividade e qualidade da produção de cultivos
mendação de nutrição e plantas para que a quan- quando as boas práticas de nutrição de plantas
tidade de fertilizante aplicada seja ideal e conside- são adotadas com as soluções nutricionais Yara:

Resultados cultura da Alface


+76g por planta Antecipação de
15,9% colheita em 3 dias
Peso médio por planta Precocidade –
560
552 Dias até o ponto de colheita
540 49
520 48
48
500 47
476
480 46
45
460 45
440 44
420 43
Padrão Yara Padrão Yara

+4 folhas por planta + 1 dia de durabilidade


11,7% 50%

Peso médio por planta Tempo de prateleira – pós-colheita


39 4
38 3
38 3
37 3
2
36 2
35 2
34
34 1
33 1
32 0
Padrão Yara Padrão Yara

Resultados cultura do Tomate


+9,82 ton +0,1ºBrix +10,5 ton
10,2% 1,3% 1,4,5%
Produtividade ton ha Brix Frutos 3A ton ha
7,5
108 7,5 85,0
105,616 83,0
106 7,5
104 7,5 80,0
102 7,5
100
7,4 75,0
98 7,4 72,5
96 95,797 7,4
94 7,4 70,0
92 7,4
90 7,4 65,0
Padrão Yara Padrão Yara Padrão Yara

Resultados compilados de 5 anos de trabalhos de posicionamento nutricional adequado em produtores rurais


de FLV. Fonte: Yara Fertilizantes
26
A fonte do nutriente utilizado é um fator de máxi- desses elementos nas plantas. Na adubação de
ma importância pois impacta no atendimento das produção onde normalmente são empregados
demandas nutricionais, considerando aspectos da nutrientes como cálcio, potássio e principalmente
cultura e análise de solo e pode impactar direta- o nitrogênio, o nitrogênio é o nutriente com maior
mente na eficiência e na sustentabilidade do cul- potencial de beneficiar o sistema produtivo assim
tivo de FLVs. como prejudicá-lo, principalmente nos aspectos
Quando pensamos em fertilizantes para plantio relacionados à sustentabilidade.
há diferenças significativas. A depender da tec- São duas a principais formas de nitrogênio absor-
nologia empregada eles podem conter além do vidas pelas plantas: a primeira é o nitrogênio na
fósforo(P), vários nutrientes que farão diferença forma nítrica, essa forma de nitrogênio interage
no desempenho da área cultivada, assim como sinergicamente com a absorção de elementos
podem conter misturas de grânulos que são fer- como cálcio, potássio, zinco, ferro, entre outros
tilizantes e, inevitavelmente, irão causar algum pela planta, já o segundo tipo que é o nitrogênio
nível de desuniformidade da área ou podem ser na forma amoniacal é antagonista no processo de
fertilizantes granulados que promovem uma área absorção desses elementos, ambos são importan-
cultivada com grande uniformidade. tes no sistema produtivo, porém a melhor eficiên-
Também é importante estar atento aos micronu- cia agronômica das plantas normalmente ocorre
trientes. A dose deve ser muito bem calculada de quando a maior parte da nutrição ocorre com ni-
modo que não haja prejuízo por excesso ou falta trogênio nítrico.

Quando adubamos usando fontes amoniacais danos ambientais e tornando o sistema mais
existem alguns processos naturais que ocorrem sustentável. Já fontes com sulfato de amônio e
no solo através da ação de bactérias, como o pro- ureia são mais danosas, pois a primeira forma de
cesso de nitrificação, esse processo transforma o nitrogênio que se disponibilizará para as plantas é
nitrogênio que está na forma amoniacal em nitro- a amoniacal, no caso da ureia, que normalmente
gênio na forma nítrica, o que geralmente é bené- é a fonte mais barata de nitrogênio, ainda temos
fico no aspecto de eficiência da nutrição, porém outro ponto fundamental a considerar. Antes da
esse processo libera para a atmosfera o óxido ni- disponibilização do nitrogênio amoniacal para as
troso, um gás causador de efeito estufa cujo po- plantas, o nitrogênio na forma amídica, que é a for-
tencial de dano é quase 300 vezes maior do que o ma inicialmente existente na ureia, precisa sofrer
algumas transformações. Durante esse processo
dano causado pelo dióxido de carbono.
ocorre um fenômeno conhecido como volatiliza-
Portanto, quando usamos a maior parte da nu- ção que pode gerar perdas de nitrogênio passan-
trição com fontes nitrogenadas nítricas, como do de 80% em algumas situações, tornando a adu-
o nitrato de cálcio, estamos causando menos bação menos eficiente.
27
MIP EXPERIENCE - VOL 11

Para todos hortifrútis,


nutrição de qualidade
aumenta rentabilidade.
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de todas as frutas, hortaliças e legumes.
Com fertilizantes sólidos, líquidos e foliares,
os Programas Nutricionais específicos para cada
cultura garantem mais rentabilidade à produção
e mais qualidade ao produto que chega à mesa
de todos os brasileiros.

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28
Aspectos relacionados às fontes dos nutrientes Emissões e gasto de energia com fertilizantes:
são muito importantes também para a sanidade valores usados na Europa
e a qualidade do produto colhido. Por exemplo,
plantas nutridas com nitratos de cálcio em geral UR NA SA ST KCI
Fertilizante (46) (34) (21) (48) (60)
tendem a sofrer menos com ataques de patóge-
nos, pois desenvolvem uma estrutura mais resis- kg CO2 Eq/kg de produto
tente nas suas paredes celulares. O cálcio também Fábrica 0,91 1,18 0,58 0,26 0,25
minimiza a ocorrência de podridões nos ápices N₂O uso no campo 2,37 1,26 0,98 0 0
dos frutos e queimaduras nos bordos das folhas,
N₂O via NH₃ 0,28 0,01 0,02 0 0
comum em situações com variações climáticas e
na disponibilidade hídrica. Assim, plantas bem nu- N₂O via lixiviação NO₃ 0,48 0,35 0,22 0 0
tridas irão produzir vegetais mais saudáveis com CO₂ Calagem 0,36 0,27 0,50 0,01 0
níveis de cálcio, magnésio, zinco, ferro além de vi-
Total (Prod+Uso)/
taminas e proteínas que influenciam na saúde do 11,19* 9,14 10,95 0,56 0,43
kg nutriente
consumidor.
Energia
51,0 41,9 38,4 2,7 5,0
Quando mencionamos as fontes de nutrientes (Mj/kg nutriente)
devemos avaliar o sistema como um todo no que *Ureia inclui 0,73kg CO₂ eq pela hidrólise no solo.
tange a sustentabilidade. Não só a emissão de
óxido nitroso nos processos que ocorrem no solo Fertilizer Europe 2011
deve ser considerada, mas o aspecto relacionado
ao processo fabril tem impacto relevante de forma Para mensurar o impacto ambiental do nitrato de
que para se produzir cada tipo de fertilizante nitro- cálcio no sistema em relação a outras fontes ni-
genado há um diferente impacto durante toda a trogenadas podemos avaliar os dados obtidos em
cadeia de produção. pesquisa realizada pela Embrapa-Meio Ambiente
no município Santo Antônio do Jardim-SP. Foram
A tabela abaixo mostra o equivalente em CO₂ por
aplicados os seguintes tratamentos: T2 – nitrato de
quilograma de fertilizantes produzidos. Note que
cálcio; T5 – Ureia; T7 – nitrato de cálcio + nitrato de
os fertilizantes nitrogenados causam maior impac-
amônio e T8 – testemunha (sem aplicação de N).
to ambiental. A ureia é o componente que com
Para todos os tratamentos (com exceção da teste-
maior impacto em dióxido de carbono (CO₂), se-
munha) a dose aplicada foi de 300 kg de N/ha, par-
guido do sulfato de amônio e do nitrato de amônio,
celadas em 3 vezes. Foram medidas as perdas por
isso considerando produção e uso no campo soma-
volatilização de NH₃ e de N₂O (figuras C e D abaixo).
dos. Nesse caso, não foi avaliado o nitrato de cálcio
que é muito usado em FLV, mas é o fertilizante Observou-se que a ureia foi a fonte que apresentou
nitrogenado de menor impacto ambiental na ca- mais perdas por volatilização de ambos os gases,
deia, comparativamente com as fontes ao lado. atingindo valores de 43,7% do total do N aplicado,
29
MIP EXPERIENCE - VOL 11

enquanto as perdas de nitrato de cálcio, tanto para de alguns nutrientes, além de conseguir atender
amônia quanto para óxido nitroso, foram estatisti- a demanda da planta no momento da sua ne-
camente iguais à testemunha, sem aplicação de N. cessidade, tornando o sistema mais eficiente.
A adubação com nitrato de cálcio + nitrato de A fertirrigação bem utilizada economiza fertilizan-
amônio volatilizou NH₃ estatisticamente igual à tes, maximiza a produção e causa menos impac-
testemunha e resultou em uma perda de N ao re- tos ambientais, porém, as fontes, doses e parcela-
dor de 2,6% do total aplicado para ambos os gases. mento de nutrientes aqui são mais importantes
que no manejo tradicional.
Gráficos: Emissão cumulativa de N₂O e NH₃ para
os tratamentos T2 (Nitrato de Cálcio), T5 (Ureia), T7 Alguns pontos imprescindíveis para o manejo ade-
(Nitrato de Cálcio + Nitrato de Amônio) e T8 (Teste- quado da fertirrigação são: o pH, a condutividade
munha, sem N). Tratamentos com a mesma letra elétrica (EC) e o índice salino da solução nutriti-
não diferem significativamente (ANOVA com Tu- va (IS), pois eles estão diretamente relacionados
ckey-HSD, p<0,05). à capacidade da planta absorver nutrientes que
afetam diretamente sua disponibilidade, além de
(C) T2 estarem relacionados com a conservação e o bom
T5
12 T7 funcionamento do sistema de fertirrigação.
a T8
10
A busca de técnicas adequadas de manejo, no
caso da nutrição de plantas observando o concei-
to 4C, fonte certa, dose certa, local certo e época
N-N₂O (kg N ha-1)

8
a correta, assim como o uso de produtos que gerem
6 menos impactos em todo o seu processo produ-
tivo são fundamentais para extrair o máximo de
4 produtividade e qualidade na mesma área produ-
a a b
a tiva, juntamente com as demais técnicas de ma-
2
c nejo adequadas e a busca por uma agricultura re-
b b b b b b b c
0
b generativa. Estes são aspectos relevantes na busca
1ª 2ª 3ª Total de uma produção de FLV sustentável.
Aplicação Aplicação Aplicação
Uma produção mais sustentável e ambientalmen-
(D) te responsável deve ser comunicada ao consumi-
160 a dor para que na hora da escolha do seu alimento
T2
140 T5 ele saiba que as melhores práticas foram utiliza-
T7
120 T8 das, resultando em alimentos mais saudáveis, va-
100 lorizando também o produtor rural por esse servi-
ço prestado à sociedade.
kg N-NH₃ ha-1

80
a
60 a
a
A Yara está dedicada a contribuir para o futuro da
40 produção de alimentos neutros em emissões de
20 carbono. A meta é ser neutra em carbono até 2050
b e acreditamos que a solução para os desafios que
1,0 b
b b b a sociedade e o planeta enfrentarão nos próximos
0,5 b b
b b b b b
0,0 anos passa por uma agricultura mais produtiva e

Aplicação

Aplicação

Aplicação
Total sustentável, onde o agricultor seja remunerado
não apenas pelo quanto produz, mas pelo como
FONTE: Packer, A.P.; Ramos, N.P; Cabral, O.M.R; Sil- produz, e nesse sentido as práticas mais sustentá-
veis serão recompensadas e então criaremos um
va, L.R.; Duarte, C.R.M.; Bettanin, V.C; Teixeira, W.G.
ciclo positivo e duradouro. O Brasil e o agricultor
Management of Nitrogen Fertilizer to Reduce Ni-
brasileiro têm um papel fundamental neste pro-
trous Oxide (N₂O) Emission and Ammonia (NH₃)
cesso e a Yara acredita e fará sua parte para ser a
Volatilization from Coffee Plantation. Internatio-
parceira preferida dos clientes e demais parceiros
nal Plant Nutrition Colloquium. Copenhague, Di-
de negócios nessa jornada.
namarca. 2017
Grande nível de importância também se dá a mé-
todos de aplicação dos nutrientes com destaque
para a fertirrigação. Quando bem planejada e Bruno Martinelli Braga
acompanhada com as técnicas de monitoramen- Gerente Comercial
to, a fertirrigação se mostra eficiente, podendo in- Yara Brasil Fertilizantes
clusive trazer economia de até 50% na aplicação
30
A Construção do Selo
MIP EXPERIENCE
Baseado em toda expertise
No volume 10 da Revista MIP Experience conta- já acumulada nos módulos
mos um pouco para você sobre as movimenta- anteriores do MIP EXPERIENCE,
ções de mercado, tendências e exigências em re- concluímos que agora todo
lação ao fornecimento de um alimento produzido este trabalho, traduzido em
de forma segura e saudável e de como os selos e um selo, levará ao mercado um
certificações contribuem para o desenvolvimen- novo momento de validação
to do produtor e de um cenário transparente do na base produtiva em relação
campo à mesa do consumidor. as ações de monitoramento
de pragas, decisão pelo uso
O surgimento de uma referência técni- de manejo biológico e este
ca de boas práticas no campo – o selo olhar de monitoramento
das emissões de carbono,
MIP EXPERIENCE tão importante na pauta de
Diante dos desafios que o produtor enfrenta e impacto ambiental.
dos conceitos de ESG, produção integrada e sus-
tentável que hoje são uma realidade no dia-a-dia
de todos os participantes da cadeia de abasteci- Varejos e compradores que estão preocupados
mento, os selos e as certificações chegam como com a origem dos produtos que comercializam
uma referência de organização e uma maneira e com a maneira que foram produzidos, passam
do produtor garantir para o mercado e para os a exigir do produtor formas de evidenciar as boas
consumidores, que os pilares técnicos daquele práticas, rastreabilidade e o cumprimento das le-
selo estão sendo seguidos. gislações, afim de gerenciar os riscos e impactos
31
MIP EXPERIENCE - VOL 11

que possuem como corresponsáveis pelo alimen-


AUDITORIA COMPLEMENTAR
to que oferecem em suas gôndolas.
Neste contexto, a PROMIP e a PariPassu, através

Adequação
Itens Adicionais
do MIP Experience apresentarão para o mercado MIP EXPERIENCE
Itens Adicionais
o SELO MIP EXPERIENCE. MIP EXPERIENCE
Global
Como o selo está sendo construído Itens Adicionais
MIP EXPERIENCE
Markets
Avançado
Global
Levando-se em consideração que, para se obter Itens Adicionais Markets
Global
uma certificação é necessário: padronizar proces- MIP EXPERIENCE
Markets Intermediário
sos, treinar a equipe e criar uma cultura de regis- Diagnóstico Básico
Inicial
tro das atividades e de melhoria contínua, o prin-
cipal objetivo do SELO MIP EXPERIENCE é, com Evolução

este olhar operacional e de mudança de cultura,


ajudar o produtor, a indústria e o varejo a terem “Um dos principais desafios que vemos hoje ain-
uma referência técnica para aprofundar e promo- da no uso dos biológicos como alternativa à in-
ver o desenvolvimento da cadeia de alimentos tervenção química, mesmo em produtores já
em relação a três pilares: auditados, é o desconhecimento das técnicas, de
como realizar uma operação correta e eficiente e
- Monitoramento de Pragas das possibilidades existentes para cada alvo. Do
- Uso de Manejo biológico mesmo modo, muitos produtores já entendem a
importância de olhar para a emissão de carbono,
- Monitoramento de Emissão de Carbono
mas não sabem ainda como traduzir isto para a
rotina do dia-a-dia. O selo vai ajudar a fomentar
a adoção destas práticas na produção de um ali-
mento mais seguro e ambientalmente mais res-
ponsável” diz Heidy Milan, especialista em certifi-
cações PariPassu.
A construção do protocolo contou as seguintes
Baseado em toda expertise já acumulada nos etapas:
módulos anteriores do MIP EXPERIENCE, con-
cluímos que agora todo este trabalho, traduzido Levantamento inicial de informações técnicas e
em um selo, levará ao mercado um novo momen- alinhamento das expectativas em relação às de-
to de validação na base produtiva em relação as mandas de mercado que serão atendidos com o
ações de monitoramento de pragas, decisão pelo checklist da auditoria do selo;
uso de manejo biológico e este olhar de monito- Alinhamento de conhecimento técnico do comi-
ramento das emissões de carbono, tão importan- tê MIP Experience envolvida na construção do
te na pauta de impacto ambiental. selo, em relação aos pilares propostos e a estrutu-
ra de protocolos já utilizados pelo mercado;
Com o selo o produtor que adota boas práticas
nestes pilares poderá melhorar sua operação e Desenvolvimento do questionário que será utili-
mostrar para o mercado um processo validado e zado pelo auditor para validação dos processos
acompanhado por uma auditoria anual. proposto pelo selo.
Monitoramento das pragas, planejamento de No segundo semestre de 2022 está prevista a va-
intervenções e uso de insumos biológico regis- lidação do check list com a aplicação prática a
trados e com origem rastreada, operação da campo e o lançamento deste selo para o merca-
aplicação dos biológicos, manejo do solo, uso de do. Acompanhe e faça parte você também deste
práticas conservacionistas, desmatamento e mo- marco de desenvolvimento da cadeia produtiva.
nitoramentos de emissão de carbono serão al-
guns dos assuntos abordados no protocolo que
está sendo construído para complementar as au-
ditorias já adotadas no mercado, como é o caso Giampaolo Buso
do Global Markets APAS, amplamente utilizado Diretor Executivo
pelos varejos brasileiros para avaliar e aprovar for- PariPassu
necedores de frutas, legumes e verduras.
32
33
MIP EXPERIENCE - VOL 11

Estudos de metagenômica e a
sustentabilidade no campo

As ferramentas de biologia molecular estão apro-


ximadamente há 10 anos modificando de for- Em pouco tempo,
ma sensível a maneira que o mercado enxerga podemos amplificar
a Genômica. Se antigamente, o popular teste de regiões do DNA de
paternidade trouxe a importância do DNA para bactérias, fungos, vírus e
o dia-dia da população, hoje estamos diante de protozoários, sequenciar
análises de DNA que tem propiciado avanços sig- o material e confrontar os
nificativos em diferentes setores. A grande vanta- dados resultantes contra
gem inerente à sensibilidade das novas metodo- um banco de dados
logias e o avanço da pesquisa básica colocaram genômico mundial para
essas ferramentas em grande destaque para que possamos estudar
quem está mais atento na inovação biomolecular cada ser vivo dessa
aplicável ao mercado privado. Se antes era neces- amostra.
sário cultivar organismos em placa de petri para
34
identificação e controle dos micro-organismos análise desses dados, utilizando ferramentas de
desejados e/ou indesejados, atualmente, através bioinformática, é possível detectar a variação de
de uma metodologia chamada Metagenoma, vias metabólicas entre grupos do estudo, elencan-
é possível detectar todos os micro-organismos do quais dessas vias se alteram mediante a utili-
presentes em uma amostra sem a necessidade zação de um tratamento específico. Ou seja, po-
de isolar o alvo de interesse. Uma pequena por- demos estudar como a alteração da população de
ção de amostral ambiental, industrial ou bioló- bactérias do solo, resulta na alteração das vias me-
gica é necessária para se fazer um estudo com tabólicas de uma planta cultivada neste solo. Essa
um grau de complexidade bastante elevado pen- possibilidade, por si só, abre um amplo espectro
sando-se nos micro-organismos ali presentes e de possíveis aplicações em diagnóstico e melho-
em sua distribuição. Em pouco tempo, podemos rias produtivas como veremos mais para frente.
amplificar regiões do DNA de bactérias, fungos,
Se parar para pensar por segundos, irá reparar que
vírus e protozoários, sequenciar o material e con-
estamos literalmente rodeados de bactérias e ou-
frontar os dados resultantes contra um banco de
tros organismos. Muitos deles, sem qualquer im-
dados genômico mundial para que possamos es-
portância para nossa saúde ou qualquer atuação
tudar cada ser vivo dessa amostra.
estratégica no nosso cotidiano, mas outros, como
Você deve se perguntar o por que é tão importan- vimos recentemente acontecer com o vírus cau-
te termos essas informações em mãos, correto? sador do Covid, podem até parar um planeta. Há
milhares de patógenos já estudados e que são de-
Além de se obter toda informação dos micro-orga-
tectados mundialmente com o único objetivo de
nismos presentes em um material, é possível rea-
manter nossa população saudável, não é mesmo?
lizar estudos estatísticos de comparação entre
amostras submetidas a condições de estimulo As bactérias, como bem sabem, fazem parte de
diferentes. Além disso, utilizando os processos de um seleto grupo de organismos com grande im-

35
MIP EXPERIENCE - VOL 11

portância para nós. Elas vivem, em milhares, den- Sim, o manejo parece ser eficiente nesse sen-
tro de nosso organismo. A ciência hoje já foi capaz tido e isso é muito gratificante aos envolvidos,
de mostrar através de estudos metagenômicos não é mesmo?
comparativos que há composições distintas, de
Apesar dos dados reforçarem o protagonismo do
pessoa para pessoa, da microbiota intestinal que manejo para o controle de CO₂, outros resultados
resultam em condições de saúde igualmente va- elencaram dados que também indicam o quanto
riadas. Nesse sentido, também não é difícil ima- o manejo pode ser positivo para os cultivos. Vias
ginar que os animais também apresentam essa metabólicas relacionadas a ações benéficas ao
variação de composição entre eles, e quando fa- enraizamento das plantas, por exemplo, foram
lamos em produção animal, nos atentamos para alteradas positivamente pelo aumento de bacté-
a possibilidade de um controle sensível na nutri- rias como as Bacillus circulans.
ção desses animais, que pode proporcionar um
melhor rendimento de conversão alimentar, por Os resultados obtidos nesse estudo preliminar in-
exemplo. dicam a importância estratégica que essa ferra-
menta terá para os cultivos, abrindo espaço para
Basicamente, onde há bactérias, podemos atuar uma revolução em diagnóstico molecular na
no sentido de entender sua distribuição e plane- agricultura. Isso porque, empresas como a BPI,
jar ações para melhora dos processos produtivos. podem desenvolver soluções para utilização em
Mediante a esse cenário, é que a empresa sedia- loco, com resultados rápidos, para análise de ge-
da em Botucatu-SP, a BPI Biotecnologia Pesqui- nes que tiveram importância confirmada através
sa e Inovação, tem atuado de forma ativa com a de estudos metagenômicos realizados anterior-
intenção de trazer essa “lupa” aos olhos daqueles mente. Qualquer gene alterado nas vias metabó-
que estão entendendo a precisão e a importância licas observadas nesses estudos pode a seguir ser
dessa ferramenta molecular. Em parceria com o estudado isoladamente, trazendo uma inovação
MIP, a BPI iniciou os testes moleculares em culti- realmente disruptiva e sensível para os sistemas
vos de pimentão, tomate e berinjela com objeti- produtivos. Projeta-se uma identificação ime-
vo de entender como o manejo proposto poderia diata desses potenciais marcadores moleculares
estar atuando, em nível molecular, nesses culti- que resultaria em tomada de decisão também
vos. A amostra coletada foi o solo, em que obtive- muito veloz para direcionar o cultivo para o cami-
mos os DNAs dos micro-organismos para a análi- nho certo.
se de Metagenoma. A partir da análise dos dados
Os próximos passos são promissores e os novos
do sequenciamento desse DNA fizemos a avalia-
estudos se iniciaram para a confirmação e a con-
ção das vias metabólicas que estariam alteradas
solidação dos resultados já obtidos. Esperamos
comparando-se o grupo controle ao tratamento em breve trazer mais informações com grande
proposto pelo programa. Os dados desse estudo impacto para produtores em busca de melho-
preliminar não decepcionaram, demonstrando rias e inovação. A Biologia Molecular Genômica,
uma série de resultados de grande valor para a já recheada de estudos acadêmicos, pede espa-
produção. ço para iniciativa privada em busca de contribuir
A via metabólica que apresentou alteração em com praticidade, sensibilidade e precisão.
maior destaque, em todos os tempos de trata-
mento do estudo, foi a via PWY-6142-Gluconeo-
gênese II, que trata-se de uma via que retira CO₂ Basicamente, onde há
do meio ambiente e converte em açúcar, confir- bactérias, podemos atuar
mando a importância que o manejo pode apre- no sentido de entender sua
sentar contra os gases do efeito estufa. Os grupos distribuição e planejar ações
tratados apresentaram um aumento dessa via para melhora dos processos
em relação ao controle sendo as bactérias Me- produtivos.
thanothermobacter sp. e Methanobacterium sp,
os gêneros provavelmente responsáveis por essa
mudança. Além disso, alguns cultivos apresenta-
ram via metabólica diminuída para a CENTFER- Caio Munhoz Theodoro
M-PWY de fermentação do piruvato para buta- Biomédico pela UNIFESP e Mestre
em Gestão Empresarial pela FGV
noato, sendo que está via seria responsável pelo o
CEO da BPI
aumento de CO₂ no sistema.
36
A busca do varejo por alimentos
mais seguros do campo à mesa
do consumidor

Segurança de Alimentos é o alicerce para uma ca-


deia produtiva saudável. Há anos, o varejo tem se Em pouco tempo,
organizado para garantir, do campo à mesa, um podemos amplificar
produto seguro, livre de contaminações químicas, regiões do DNA de
físicas e biológicas. Ações preventivas e medidas de bactérias, fungos, vírus e
autocontrole bem implementadas, possibilitam o protozoários, sequenciar
desenvolvimento de uma gestão de qualidade efi- o material e confrontar os
caz, por isso, ao longo dos anos, adotou-se uma sé- dados resultantes contra
rie de ferramentas para avaliar a qualidade dos pro- um banco de dados
dutos recebidos em centros de distribuição, como genômico mundial para
fichas técnicas de padrão de qualidade e inspeções que possamos estudar
por amostragem, além de processos para adequa- cada ser vivo dessa
do armazenamento, transporte, manipulação e ex- amostra.
posição dos alimentos na área de vendas.
37
MIP EXPERIENCE - VOL 11

Todos esses processos são importantes para evi- jornada daquele alimento. O varejo não só pode,
tar perdas, desperdício e atender a expectativa como deve se envolver com toda cadeia produ-
do cliente no ponto de venda. Mas não basta o tiva, colaborando para seu desenvolvimento e
varejo trabalhar somente “controlando”. A ga- capacitando pessoas. Também deve controlar
rantia da produção de alimentos seguros é feita a origem dos produtos que coloca na gôndola,
por meio da participação ativa de todos os elos através da implementação da rastreabilidade,
da cadeia. Para promover essa mudança, todos realização de análises laboratoriais de resíduos
devem estar comprometidos. Esse comprome- de defensivos químicos, análises microbiológicas
timento é promovido por meio da capacitação e auditorias de qualidade nos sites de produção
e sensibilização das pessoas que participam da e packing houses.

Nos últimos 10 anos muito se trabalhou para tra- cada elo implementa suas próprias políticas de
zer ao ponto de venda o melhor produto e ga- compliance, qualidade, sustentabilidade, respon-
rantir a segurança alimentar, colaborando para sabilidade social e diversidade.
uma alimentação saudável. Mas hoje, a principal Neste sentido, o Carrefour adotou, em 2018, um
pergunta é: o que é uma alimentação saudável e posicionamento institucional global, o “Act for
como o varejo pode contribuir? De hoje em dian- Food”, onde temos a ambição de sermos os líde-
te, inúmeros são os desafios. Uma alimentação res da transição alimentar, tornando a alimenta-
saudável é muito mais do que ter um produto se- ção saudável acessível a todos. É um movimento
guro e de qualidade na mesa. Uma alimentação que reúne todas as ações e investimentos com
saudável é ter uma dieta equilibrada, com ali- intuito de ampliar a oferta de produtos frescos
mentos provenientes de uma cadeia saudável, ou em nossas lojas, sempre com o olhar da Saúde
seja, uma cadeia socialmente responsável, que Única, um conceito que define a saúde humana,
minimiza ou zera os impactos ambientais, onde ambiental e animal interligadas e dependentes.
38
Neste contexto, a segurança dos alimentos e a que envolvem culturas de suporte fitossanitário
compra responsável são pontos chaves. Todos de- insuficiente, defensivos biológicos, capacitações,
vem estar muito atentos, ampliando as análises e melhores condições para pequenos produtores e
controles e participando ativamente de discussões atendimento às legislações trabalhistas.

sas precisam e precisarão cada vez mais rastrear


Quem trabalha com
suas cadeias para garantir essas premissas, além
alimentos deve sempre buscar
a melhoria contínua dos seus da exigência por parte de órgãos reguladores. A
processos a fim de atingir rastreabilidade tem e sempre terá um papel re-
a excelência em segurança levante nesta jornada de transformação, uma vez
alimentar e saúde única. que traz a transparência para a cadeia produtiva e
para os compromissos firmados pelas empresas.
Quem trabalha com alimentos deve sempre bus-
Bem alinhados com os objetivos de desenvolvi- car a melhoria contínua dos seus processos a fim
mento sustentável da ONU (ODSs), os esforços de atingir a excelência em segurança alimentar e
devem estar direcionados para colaborar com a saúde única.
transformação da cadeia agroalimentar, visan-
do garantir uma cadeia sustentável e inclusiva.
Debates que busquem meios de produção que
respeitem e contribuam para o meio ambiente Julia Carlini
devem ser fomentados por grandes, médias e pe- Gerente de Qualidade e Segurança Alimentar
quenas empresas, visto a urgência do tema ESG, Carrefour Brasil
o qual é diretriz no mercado global. As empre-
39
MIP EXPERIENCE - VOL 11

Pegada de carbo

Inventários de gases de
efeito estufa

Qualidade de água

Qualidade do solo

Biodiversidade do solo

Pesquisa &
Desenvolvimento

SOLUÇÕES
Análises laboratoriais PERSONALIZADAS
PROMOVENDO A
SUSTENTABILIDADE
AMBIENTAL

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

A DeltaCO2 é uma empresa de assessoria e consultoria técnico-científica


que tem como objetivo quantificar os indicadores de sustentabilidade
ambiental, qualidade do solo, emissão de gases do efeito estufa, uso e
qualidade da água e diversidade biológica para produtos e serviços do
agronegócio e propor soluções personalizadas para adequação
desses indicadores de acordo com as principais normas ou
diretivas existentes no Brasil e no exterior.

www.deltaco2.com.br
40
A assistência técnica e a extensão
como fator de sucesso para o
manejo integrado em campo

De acordo com os dados do Censo Agropecuá-


rio 2017, somente 20,2% das propriedades agro- No manejo integrado, a
pecuárias possuem acesso à assistência técnica. assistência técnica contribui
Após mais de dois anos de pandemia, este preo- na implementação dos
cupante dado pode ter piorado. Segundo este processos e procedimentos
mesmo Censo, a assistência técnica impacta no para manejar os riscos da
valor bruto da produção (VBP), chegando, na produção agropecuária,
agricultura familiar, a mais que triplicar o VBP. Ou que são inerentes ao
seja, a assistência técnica aumenta o faturamen- negócio, onde o foco é o
to dentro da porteira. Somente estes dados já se- aumento da produtividade
riam suficientes para justificar a necessidade da com sustentabilidade e
assistência técnica na agricultura; porém, quan- rentabilidade.
do somamos a isso à importância e à necessidade
de inserir a sustentabilidade ambiental, a transfe-
41
MIP EXPERIENCE - VOL 11

rência de conhecimento é fundamental para ob- sequentemente, leva a um aperfeiçoamento do


termos resultados que impactem positivamente, sistema produtivo.
e de forma duradoura, toda a cadeia produtiva,
A assistência técnica pode contribuir em inúme-
principalmente a vida do produtor rural.
ras frentes de trabalho. Entre elas, destacamos:
No manejo integrado, a assistência técnica con-
tribui na implementação dos processos e pro- • Planejamento do sistema de plantio: um exem-
cedimentos para manejar os riscos da produ- plo é o plantio direto, uma das ferramentas da
ção agropecuária, que são inerentes ao negócio, agricultura regenerativa que mantém e recupe-
onde o foco é o aumento da produtividade com ra o equilíbrio químico, físico e biológico do solo,
sustentabilidade e rentabilidade. A assistência permitindo seu uso racional. Outro exemplo é o
técnica de qualidade estimula a coleta de dados cultivo protegido que, com conhecimento técni-
e trabalha as informações para a melhor toma- co, pode aumentar a produtividade e a qualidade
da de decisão, gerando conhecimento que, con- dos produtos, gerando valor para a cadeia;

• Escolha da região de produção, a cultura, varie- de combustível e o desgaste desnecessário dos


dade ou híbrido, a época do ano e a densidade de equipamentos, reduzindo a compactação e dei-
plantas: com conhecimento das macros e micror- xando o solo fisicamente propício para o desen-
regiões e suas particularidades climáticas – que a volvimento radicular;
cada ano se torna mais desafiador, e respeitando • Recomendação nutricional: com base em análi-
a fisiologia das culturas, a assistência técnica co- ses de solo, planta e solução do solo, a assistência
labora no posicionamento correto para otimizar técnica pode recomendar, sem desperdícios ou
os recursos, gerando mais toneladas/hectare; faltas, as correções e adubações necessárias, ra-
• Manejo do solo: conhecendo as características cionalizando o uso dos adubos e fertilizantes;
de cada tipo de solo, a assistência técnica reco- • Escolha do sistema de irrigação, quando e quan-
menda a entrada do equipamento certo para to irrigar: como exemplo, o uso de irrigação via
cada sistema de plantio, diminuindo o gasto gotejamento otimiza cada gota de água e, com
42
43
MIP EXPERIENCE - VOL 11

o uso conjunto de equipamentos como os tensiô-


metros, racionaliza o uso sem faltas ou excessos.
Porém, com aumento da tecnologia, aumenta
também a necessidade de conhecimento técni-
co para o incremento real da eficácia e eficiência
no uso da água;

Estas são só algumas das frentes de trabalho em


que a assistência técnica pode contribuir para o
manejo integrado. Porém, somente a assistência
não promove a autonomia do produtor. Para um
programa de manejo integrado mais resiliente, é
desejável a extensão do conhecimento: transferir
o conhecimento para que o produtor, após ciclos
de treinamentos, tenha capacidade de pensar e
agir com autonomia. Isso não diminui a figura do
agrônomo ou técnico; pelo contrário, leva a um
aprofundamento do conhecimento por ambas as
partes, elevando as discussões e tornando o sis-
tema de produção mais forte e adaptável. A ex-
• Uso correto dos insumos biológicos: monitoran- tensão do conhecimento leva a um compartilha-
do a presença e evolução de pragas e doenças, mento de ideias, onde a comunicação assertiva
com a metodologia adequada, a assistência téc- é a peça-chave para o sucesso de programas de
nica quantifica as pragas, auxiliando na toma- manejo integrado.
da de decisão para entrada dos bioinsumos no
Em um mundo cada dia mais volátil, incerto,
momento correto, em conjunto ou não, com ou-
complexo e ambíguo, o famoso mundo “VUCA”,
tros métodos de controle. No manejo integrado
somado à crescente demanda por alimentos e
de doenças, o conhecimento técnico é primor-
derivados da agricultura, onde os recursos natu-
dial para avaliar a interação “planta > patógeno
rais precisam ser usados com sabedoria, o conhe-
(doença) > ambiente” (triângulo da doença), que
cimento técnico e a extensão do conhecimento
é fundamental para manejos preventivos;
são extremamente necessários para a evolução e
• Adoção de ferramentas digitais: a assistência transformação do sistema produtivo agrícola.
técnica pode contribuir na implementação de
ferramentas digitais para coleta de dados que, se
bem trabalhados, diminuem o retrabalho, ace-
leram a tomada de decisão, auxiliam a gestão Sérgio Minoru Hanai
da propriedade rural como um todo e oferecem Engenheiro Agrônomo MSc
transparência dos processos e procedimentos da Consultor na MHanai Treinamentos
produção para o consumidor final.
44
NOVO
BIOFUNGICIDA

Duravel ®

A
MELHOR
ESCOLHA
É A QUE
DURA
MAIS RENDIMENTO POR HECTARE
Maior concentração de agente biológico,
que promove a maior durabilidade
do tratamento.

MELHOR NÍVEL DE CONTROLE


Agente biológico mais potente, que
possibilita maior eficiência na proteção
do cultivo.

AMPLITUDE TÉRMICA
Agente biológico mais adaptável
à amplitude térmica, que viabiliza maior
eficiência no controle de doenças.

Q ue m e sc olh e D ura v e l ®

es colh e ma is in o vação , ef iciência


e dura b ilid a d e no co ntro le de do enças.
E s sa é a fe rra menta que f altava para
• ESCO
prot e ge r se u p la ntio e pro po rcio nar A
LH
COLH

u m t ra t a me n t o co m m uito m ais
A • ES
ES

l o nge vid a d e . OLHA •


C

BASF na Agricultura.
Juntos pelo seu Legado.

ATENÇÃO ESTE PRODUTO É PERIGOSO À SAÚDE HUMANA, ANIMAL E AO MEIO AMBIENTE. USO AGRÍCOLA. VENDA SOB RECEITUÁRIO
AGRONÔMICO. CONSULTE SEMPRE UM AGRÔNOMO. INFORME-SE E REALIZE O MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS.
DESCARTE CORRETAMENTE AS EMBALAGENS E OS RESTOS DOS PRODUTOS. LEIA ATENTAMENTE E SIGA AS INSTRUÇÕES CONTIDAS NO
RÓTULO, NA BULA E NA RECEITA. UTILIZE OS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL. POR TRATAR-SE DE UM FUNGICIDA BIOLÓGICO
DE MODO DE AÇÃO DISTINTO DOS FUNGICIDAS SINTÉTICOS, DURAVEL
45
®
É UMA FERRAMENTA ESSENCIAL PARA ROTAÇÃO DE ATIVOS,
VISANDO MELHORAR A EFICÁCIA NO MANEJO DE RESÍDUOS, RESISTÊNCIA E CONTROLE DE DOENÇAS. REGISTRO MAPA: DURAVEL® Nº 22718.
MIP EXPERIENCE - VOL 11

46

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