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Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais

Geraldo Cechella Isaia (Organizador/Editor)


© 2010 IBRACON. Todos direitos reservados.

Capítulo 4

Materiais de Construção e o Meio


Ambien te
Vanderley M. John
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

4.1 Introdução

Em apenas 250 anos, a sociedade industrial logrou dobrar a expectativa de vida


do ser humano, multiplicando por seis o numero a população. Apesar de 45% da
população do mundo viver na pobreza e pouco consumir, enfrentamos uma crise
ambiental séria em escala planetária. Problemas ambientais são hoje parte de
nossas discussões diárias: o aquecimento global; a poluição do ar e das águas que
afeta a saúde e qualidade de vida de populações mesmo em zonas rurais; a
destruição de ecositemas naturais, como a Amazônia e suas implicações no
licenciamento ambiental de importantes hidroelétricas. A busca de um novo
modelo de desenvolvimento que seja ambientalmente sustentável, socialmente
mais justo e economicamente viável responde a problemas reais, particularmente
em um país em desenvolvimento. A recente aprovação da Política Nacional sobre
Mudança do Clima - PNMC (Lei Nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009) Política
Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010)
demonstram que esta discussão amadureceu na sociedade. As questões
ambientais serão cada vez mais um fator dominante nas atividades diárias de
engenheiros e arquitetos.
Este capítulo discute a relação entre a crise ambiental e o fluxo de materiais de
construção necessário para manter e ampliar o ambiente construído em que
vivemos. O leitor deve ter em mente que este capítulo não pretende esgotar o
tema, mas apenas introduzi-lo apresentando conceitos e ferramentas que podem
ser utilizados para analisar e mitigar estes impactos. Não é objetivo deste capitulo
discutir o impacto de cada um dos mate~ais de cons!1:1ção em p~icular.
Tampouco serão discutidos os importantes unpactos soc1rus e econoID1cos da
produção de materiais de construção.
O capítulo inicia discutindo as implicações ambientais do fluxo dos
98 V.M. John

. . - na econom ia e suas implica ções para a principal t0


matena1s de construçao . 1 d nte
. t 1·s causado s pelos mesmos . a esca a e produçã o
dos problemas am b 1en ª e analisad a pela ferrame nta
d fl
e uxo de
• que
materi· .
pode ser adequad ament . , A --1· d c· 1 ais
Assim boa parte do capítulo está dedicad a a na ~se o . ic o de Vida' ~
t d logia que ainda é pouco conheci da no Brasil, particularmente pelo
:~~n~e iros civis - e aos temas_ lixi~iaç ão e teor de compos tos voláteis e qu!
·tem medir impactos ambient ais na fase de uso. De toda~ as maneiras
penru ,, . t d '
espera-s e um grande avanço nos proxim os anos no en en imento desses
problemas. _ .
Como ponto de partida, é desejável reforçar-se um ponto: na~ e'?ste material
de construção que não cause impacto ~bienta1:. Cabe ª,5> tecruco _selecionar
para cada situação o material que pen:uta cumpnr a funçao requenda com 0
mínimo impacto ambiental e que, simulta neamen te, garanta o necessário
desempenho técnico adequado e seja viável econom icament e.
Finalmente, os materiais de construção trazem importa ntes benefícios sociais e
econômicos - no Brasil a produção de materiais para a construção representa
5 ,4% do PIB (LCA CONSULTORES , 2005), e a informa lidade em muitos setores
é importante. Porém, apesar de importantes para a sustentabilidade , esses
aspectos estão fora do escopo deste capítulo. Figura 1 - Um simpl
de um enorm

4.2 O fluxo dos materiais e o ambiente

Vivemos em um mundo feito por materiais de constru ção , pois nenhuma O concreto de
atividade humana é realizada sem o suporte de um ambiente construído homem. Com as
adequado. Cidades (Figura 1), rodovias, barragens, aeropor tos, pontes, vias 2009, (SNIC, 200
férreas, edifícios de todas as espécies, sistemas de esgoto, muros que separam 362 milhões de
vizinhos e países, etc. Vivemos cercados por concreto , aço, alumínio, cal, gesso, ton/hab .ano) ( Qu
rochas naturais, vidro, plásticos, zinco, cobre, cerâmic as, etc. A presença destes
produtos nos é tão natural quanto a vegetação. Quadro 1 - Estimativa

A econom ia e a construção depende m de um fluxo constan te de materiais, da


extração de matéria s primas, atividad es fabris, transpo rte, montagem, Mater
manutenção e desmon tagem final (NATIO NAL RESEA RCH COUNCIL, 2004).
Estu~os de fluxo de materiais permite m estimar que, em média a cada an?, são
extraidos da natureza cerca de 10 toneladas de matéria s primas por habitante,
sendo que este valor pode atingir 80 tonelada s/hab .ano em países desenvolvidos.
Entre 40% e 75% das matérias-primas extraídas da naturez a são transfonnad~s opulação
~m m~teriais de c?~struç ão (JOHN, 2000): a constru ção civil é o setor mai: nsumo per/ca ,
mte~s!vo em matenai s de toda a econom ia. Pelo menos nos Estados Unidos, ess
~~cipa ção no consum o de materiais tem mantido tendênc ia crescente nos
ultimas cem anos. Esse Valor é b
agora 0
auto . ~onsum
(~ob1 Iística q
3,2 ~VEA, 201
' l De acordo com a Norma ISO 14040· "A
·
. . . aspeC'ol
Análise de Ciclo de Vida é uma técnica para deterrrunar os .1iJP
lllilhões de ton
·
ambl·entaí·s e impactos da e Slll
potenciai · d
relevantes do s· t ali s associa os a um produto: juntando um inventário de todas as entra sSill'.td·' '
1s ema av ando os · bº . . ,..,, .
interpretando os resul~ dos das fase im.pactos ~ i~ntrus potenciais associados a essas entradas ~ Ver ~
detalhes sob . s de inventário e impacto em relação com os objetivos de estudo ·
re este tema no item 4.8 deste capítulo.
Materiais de Construção e o Meio Ambiente 99

mente
oláteis
bªs man
I .ento d
f.Ste ma
~1co sele
uerida e
o nece

~ícios soe

Figura 1 - Um simples olhar para uma grande cidade, como São Paulo, revela que nossas vidas dependem
de um enorme fluxo de materiais de construção. O estudo do fluxo dos materiais nos diz que
cada pedaço dessa cidade será resíduo em um futuro próximo.

01s ne O concreto de cimento Portland é o material artificial de maior consumo pelo


1te cons homem. Com as 51 milhões de toneladas de cimento produzidas no Brasil em
r pontes, 2009, (SNIC, 2009), é possível estimar-se que são consumidos a cada ano mais
' que sep 362 milhões de toneladas de produtos à base de cimento (cerca de 1,9
r.no, eai , g ton/hab.ano) (Quadro 1).
resença d Quadro 1 - Estimativa do fluxo brasileiro anual de materiais necessários para produzir concreto (dados 2009). A
massa de água do concreto endurecido inclui umidade adsorvida.

Após
Material Estado fresco Unidade
endurecimento
Cimento 51 59 106 ton
gregados (1 :5,5) 281 281 10s ton
gua (a/e -0,6) 31 17 106 ton
atai 362 356 106 ton
População 192 192 106 hab
Consumo per/capita 1,9 1,9 ton/hab
o setor
s Unidos,
crescent Esse valor é baixo se comparado com países desenvolvidos. Comparemos
agora o consumo de materiais para fazer concreto com o da indústria
automobilística que produziu, em 2010, 2,6 mil}iõ~s ?e
automóveis d~ passeio
(ANFAVEA, 2010). A massa total destes automove1s e provavelmente inferior a
3,2 milhões de toneladas, mais de 100 vezes menor que o consumo de produtos

ntradas e
e estudo''· \fé
100 V. M. John

· t N dade a frota de mais de 23 milhões de automóveis de


à base de cunen o. a ver . d b
· d os pai"s tem uma massa infenor a dos pro utos a ase de
P·asse10 que ro am n ,, d
d m 2009 E esta produção devera crescer acentua a.mente no
cimento, gera os e · . . ,,
próximo período para atender as demandas sociais do pais. _
Portanto, nenhum outro setor da economia tem a escala ?e p~oduçao do setor
fabricante de materiais de construção. E essa escal~ faz mmta diferença: mesmo
materiais com pequeno impacto ambiental por ~mda~e de massa, ªº,, longo do
ciclo de vida, por exemplo, extração da areia,. o 1IDpac_to total e :n?rm~;
Adicionalmente materiais abundantes como a areia e a argila para ceranuca Ja
estão escassos e~ locais próximos de muitas das grandes ou médias cidades. Em
conseqüência, aumenta a distância de transporte e os impactos ambientais
associados, e também o custo.
Em conclusão, um dos maiores desafios ambientais da construção é diminuir a
intensidade de uso de materiais pelas construções. Em outras palavras, é preciso
construir mais utilizando menos materiais, ou "desmaterializar" a construção. A
redução das perdas de materiais, associadas tanto a questões de qualidade e grau
de industrialização, quanto a questões gerenciais da obra é uma estratégia
importante. Adicionalmente, seleção correta do material mais adequado para cada
solicitação (mecânica, ambiental, necessidade do usuário) é urna forma eficiente
de reduzir o consumo de materiais.

4.3 Materiais de construção e a mudança climática

O aquecimento do planeta é talvez o mais importante problema da agenda


ambiental atual. O problema é simples de entender: a temperatura do planeta é
produto_ do b~~ço en~rg~tico: a energia recebida do sol aquece; aquecida, a terra
se resfria ermtmdo radiaçao para espaço. O aumento da concentração de alguns
gases da atmosfera, principalmente o C02, o metano (CH4), o N02 e outros vêm
provocando a diminuição progressiva da quantidade de energia emitida ~ara o
espaço. Mantida a radiação solar, espera-se que a terra aqueça.
Com~ ~ode se~ visto na Figura 2, nos cerca de 8000 AC que precederam a
revoluçao mdustnal, a concentração de C02 permaneceu estável entre 250 ppm e
280.ppm. No entanto, desde 1750, quando iniciou a revolução industrial esse teor
~ubm de 2~0 p~m P~ª. 375 ppm, valor recorde nos últimos 400 ~l anos.
fi o~to, nao e~st:, duvida de que o ser humano tem contribuído para esse
enomeno. A em1ssao desses gases pela ativ·d1 d h ,,
aumentou em 70% entre 1970 e
2004
. ª e umana esta se acelerando:

'
r
Materiais de Construção e o Meio Ambiente JOJ

Umldo,

Semi-seco

Seco, pré-aquecedor

Seco, pré-calclnador

Teórico
1
O 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000

Consumo de energia (GJ/ton

Figura 2 - Evolução da concentração de C02 na atmosfera (IPCC, 2007).

O aquecimento global tem conseqüências práticas muito além da elevação do


oceano pelo degelo dos pólos. Eventos climáticos extremos, como ciclones,
chuvas torrenciais, enchentes, ondas de calor vão ficar mais freqüentes; secas,
inundações passarão a atingir regiões pouco suscetíveis no passado. Algumas
regiões ficarão mais secas, em outras choverá mais.
Os materiais de construção são importantes contribuintes para a mudança
climática, tanto pelo uso de combustíveis quanto pela decomposição de calcário.

43.1 Emissões associadas à geração de energia


a da
do pl Quase todos os materiais, como as cerâmicas, cimento, aço, alumínio, zinco,
ecida, gesso, cobre são produzidos por calcinação2 • A energia térmica é, na maioria das
vezes, conseguida pela queima de derivados de petróleo, gás ou carvão. O
o de
processo de combustão libera na atmosfera carbono que estava fixo no subsolo.
outros A madeira nativa, muitas vezes ilegal, é outra fonte de energia térmica em alguns
~ tida materiais: florestas nativas são transformadas em C02. A queima da madeira é
mais de ¾ da geração de C02 brasileira.
As emissões de gases do efeito estufa e outras, devido o uso de energia, variam
muito. Em primeiro lugar, a quantidade de energia necessária para a calcinação
do material depende da eficiência energética de cada planta industrial, que é
muito variável. A Figura 3 ilustra este fato, que não é um privilégio da indústria
cimenteira: variações ainda mais acentuadas ocorrem na produção nacional de
gesso (PERES et al., 2001) da cerâmica vermelha (MANFREDINI, SATILER,
2004) de outros materiais (SPERB, 2000). Mesmo em uma dada categoria de
forno , ocorrem variações significativas devido a diferenças na eficiência
energética dos processos.

2 Calcinação: É processo de aquecer uma substância a altas _tempe~~ s_:m, contudo, atingir ~e~ ponto de _fusã~,
O
de forma a conseguir sua decomposição química e c.ons:_quente el~naçao ~os produtos ~olate1s. A ~alc1~açao
também é usada para a eliminação da água de cristalizaça_o, _ope~çao conhec'.da como queuna: na ox1d_açao de
substâncias poluidoras presentes em resíduos, buscando a elt_mm~ça? de sua tox1dez. Cal e gesso sao pr~uz1d?s p~r
calcinação. Na produção do cimento Portland, além da calcmaçao interferem outros processos como a smtenzaçao
(Ver capítulo 24 deste livro).
J02 V. M. John

380

360 ...
340 .. .. +

Ê...
.!:!:
320 +

...o 300 1-
V

280 +

260 +
1750
240 i ~

8000 6000 4000 2000 o 2000

Ano

Figura 3 - Influência do tipo de processo no consumo de energia para calcinação do clínquer. Dados internacionais
típicos, a partir de Sathaye et al. (2001 ). A tecnologia dominante na indúst1ia cimenteira brasileira é a via seca, com
pré-calcinador.

O tipo de combustível é outro fator que influencia na quantidade de C02


emitido por unidade de energia (Figura 4). No caso de energia derivada de fontes
renováveis, como cinza de casca de arroz, bagaço de cana e madeira plantada ou
nativa oriunda de florestas manejadas, o impacto pode ser muito reduzido, uma
vez que o C02 liberado foi previamente retirado da atmosfera pelo crescimento da
biomassa. No entanto, quando a energia é produzida pela queima de madeira não
maneja da ou ilegal, além de a emissão de C02 não ser compensada pela reposição
da floresta, ocorre a destruição dos ecossistemas.

Bagaço de cana

Carvão vegetal

Gãs
...,.
Óleo

Carvão mineral

o 8 15 23 30

Figura 4 - Quantidade de COi liberada para produzir um GJ de energia para diferentes combustíveis
(Sathaye et al., 2001 ). O bagaço de cana, é um exemplo de biomassa residual renovável, é considerado
neutro em relação à emissão de C02.

Além da contribuição para o aquecimento global, os processos de calcinação


possuem outros impacto s ambien tais importa ntes e que depend em dos
combustíveis e de processos, como chuvas ácidas, emissão de dioxina s\ etc.
4 A dioxina é um solvente orgânico
altamente tóxico, carcinogênico e teratogênico. É um dos poluentes orgiinic(i,
persistentes sujeitos a Convenção de Estocolmo. É considerada, hoje, a mais violenta substância criuchi pelo
Homem, com seu grau de periculosi dade ultrapassa ndo o urânio e o plutônio.
...:_.,

Materiais de Construção e o Meio Ambiente J03

43.J Decomposição do calcário

O calcário é importa nte matéria -prima para a produção de vários materiais de


construção, em especia l na produçã o do cimento , da cal hidratada e do aço. Cada
tonelada de calcário calcinad o libera 440 kg de C02 para a atmosfera, de acordo
com a Equação 1:

CaC03 + E 7 CaO + C02 Equaçã o 1

Para a produção de uma tonelada de clínquer é necessário cerca de 1,15 ton de


calcário que liberam cerca de 51 Okg de C02. A este total deve ser somado o C02
emitido pela queima de combustíveis fósseis, que variam de acordo com o
combustível e a natureza do processo industrial.
Conseqüentemente, a substituição do clínquer por outras materiais-primas
(Figura 5), como adições minerais ativas, especialmente as residuais, permite a
mitigação das emissões de C02associadas a decomposição do calcário e, no caso
das matérias primas residuais, das oriundas da energia térmica para a produçã o do
clínquer. Segund o o WBCSD (2008) a indústria cimente ira brasilei ra é
consideravelmente melhor que a média mundial. Os participantes brasileiros do
programa Cement Sustainability lnitiative tem uma emissão média de C02 de
menos de 600 kg/ton de cimento , contra uma média global dos participantes do
programa de 665 kg/ton de cimento4 •

900

675

450

225

o
CPI CPII E CP Ili CPIV

Figura 5 - Efeito da substituição do clínquer por escória e cinzas volantes na emissão de CO, de cimentos, estimado
o por análise do ciclo de vida. Foram admitidos teores máximos de substituição permitidos na nonnalização nacional
produzidos por uma fábrica hipotética utilizando coque de petróleo como combustível (CARVALHO, 2001).

Além do cimento, materiais como cerâmica, aço e alumínio são responsáveis


por importantes emissões de C02. As emissões do aço variam entre 200 e 2200 kg
C02/t, depend endo da matéria -prima e fonte energét ica do process o
(SANDBERG et al., 2001). Os valores ~ais baixos CO!f~Spondem a aço ~eciclado
processado com energia renovável. Assun, em matenai s como o aço, cimento e
4
Mais detalhes sobre O tema ver Capítulo 24 _ O Cimento Portland no Brasil, neste livro.

dos poluen
substância
104 V. M. John

,, . de matéria -prima reciclad a é uma fonte eficaz para a redução do


alurmmo, o uso
impacto ambiental. . ~ d -
As estimativas das emissões ,,de. gases .do e!e1to ~s~1a na pro uçao d~st~s e
ateriais são mais dif1ce1s devido a carenci a de dados estatístic os
ou tros m . tal d · · aI ,, ·
confiáveis. A estimativa do impacto amb1en . e matenrus como aço, umuu0 e
lásticos é dificultada porque suas indústnas fornecem para outras. cadeias
~rodutivas, sendo difícil identificar o impacto da parcela consmmda pela
construção civil.

4.4 Compostos orgânicos voláteis

Compostos orgânicos voláteis são aqueles que possuem ponto de início de


ebulição abaixo de 250ºC (a pressão de 101,3kPa) e, portanto, evaporam dos
materiais à temperatura ambiente. O teor de voláteis é normalmente expresso em
g/dm3 para líquidos. Outra medida possível é a taxa de emissão expressa em
(g/m2 .h).
Esses compostos, além de colaborarem para a formação de smog5 e o
aquecimento global, podem causar problemas de saúde de trabalhadores. Quando
a emissão ocorre em edifícios em uso ela afeta também os usuários, tendo sido
uma das causas da síndrome dos edifícios doentes.
Além de tintas, os voláteis podem ser encontrados em adesivos, carpetes,
revestimentos de pisos poliméricos, chapas de madeira, incluindo os pisos de
madeira, entre outros (KIM e KIM, 2005). O Quadro 2 apresenta exemplos da
taxa de emissão de compostos voláteis para diferentes materiais. Observa-se que
as emissões não vêm apenas de materiais de construção, mas também de outros
componentes dos edifícios. Também é possível observar-se que a taxa de emissão
diminui rapidamente com o envelhecimento do produto.
Estudo realizado por Uemoto e Agopyan (2007) em tintas imobiliárias
brasileiras detectou presença de compostos orgânicos voláteis mesmo em tintas à
base de água ... Foram encontradas substâncias como solventes cloradas,
compostos aromáticos, formaldeído, etc. No entanto, as tintas à base de água
apres~ntaram emissões de voláteis totais inferiores a 20g/dm3, limite máximo
especificado pela Comunidade Européia para esses produtos somente a partir do
~o 2010 (Quadro 3). A limitação da emissão de voláteis totais é uma
Slillplificação, pois diferentes voláteis possuem diferentes toxicidades.

• Smog é a junção de duas palavras in l . p(1Í


mistura de gases fumaça d g esas. smoke e fog, respectivamente, fumaça e neblina Caracteriza-se ·s
, e vapores e água s d ti d . · Játei
orgânicos (VOC) dióxido de ifu ' ~n ~ orma o por óxidos de nitrogênio (NOx), compostos vo
, su reto, aerossóis ácidos e gases.
Materiais de Construção e o Meio Ambiente J05

Quadro 2 - Exemplo de taxas de emissão total de voláteis (TVOC) prod utos a difierentes 1·dades
iução (HANSON, 2003).

os es Produto TVOC [µg/m2·h] Idade do produto


lÇO. a} Carpete a3 Novo
outras Carpete grosso 3360 Novo
Piso vinilico 17034 1-3 anos, edifício com problemas
Piso vinilico 12192 0,5 ano, rolo sem uso
Piso vinilico 1629 1 ano, rolo sem uso
Piso de linóleo 220 Novo
Piso de linóleo 22 Novo
Pinho natural 216 Novo
) de · Cola a base de água para piso 271000 Úmida
Selante de silicone 13000 Media de O a 10h
Selante de silicone <2000 Media de O a 1OOh
irinta látex acrílica 430
!finta látex 249 7 dias
rnngimento de madeira 10000 média 0-10 h após aplicação
ifingimento de madeira <100 Media de O a 1OOh
Cera de piso 80000 Media de O a 10h
tera de piso <5000 Media de Oa 10h
Placa de gesso acartonado 12mm 26 Nova
Madeira aglomerada 2000 Nova
Madeira aglomerada 200 12 anos de idade
Pesticida 14000000
1exem Roupa lavada a seco 100 Media de 0-1 dia após lavagem
>bserva Roupa lavada a seco 50 Média de 1-2 dias depois da lavagem

bémde Cadeira de escritório 1060 1h


Cadeira de escritório 100 981 h
LXadee

Salthammer (2004) apresenta uma excelente visão geral sobre o problema de


compostos orgânicos voláteis. A série de normas européias EN 13419 (CEN,
2002) estabelece procedimentos para determinação de compostos orgânicos
voláteis em materiais de construção, exceto painéis de madeira. Chang (2001) é
imite boa referência de consulta para medidas de emissões de tintas e pinturas, que
nte ap também podem ser medidas com as normas da série ISO 11890 (ISO, 2006). A
totais norma NBR 15316 (ABNT, 2009) que especifica chapas de fibras de madeira de
:les. média densidade (MDF), é a pioneira ao tratar de emissões de voláteis em
materiais de construção brasileiros, sendo que já se encontram produtos de baixa
emissão no mercado.

,com
106 V. M . John

de . -
errussao de compostos org ,·cos voláteis (VOC) para diferentes tintas estabelecid
. _ o pela
Q d 3 L' ·t s
A n
a

ua ro. - uru e . UROPEAN UNION 2004. UEMOTO eAGOPYAN, 2007). Deterrrunaçao de acordo
Comumdade Européia (E cor:i a ISO 11890 (2002).

Base Limites Máximos (gil)


Produtos
Até 01/01/200 7 Até 01/01/2010
áoua 75 30
Interior/fosco (brilho<25@60º) solvente 1400 30
água 150 100
Interior/brilhante (Brilho<25@60º)
solvente 1400 100
água 175 140
Exterior (substrato mineral)
solvente 1450 430
água 150 130
Interior e exterior (madeira e metal)
solvente 1400 300
água 150 130
Interior e exterior (vernizes e stains)
solvente 500 400
água 150 30
Fundo anticorrosivo Primers
solvente 1450 1350
água 150 30
Fundo preparado r
solvente 750 750
Revestimento de alto desempen ho água 140 140
monocomp onente solvente 1600 1500
Revestime nto de alto desempen ho água 140 140
bicompone nte
solvente ~50 500
água 150 100
Revestime nto multicolorid o
solvente 1400 100

Revestimento com efeito decorativo


água
solvente
~ºº
1500
1200
200

Os impactos dos voláteis na qualidade do ambiente interno são ligados ao risco


que eles oferecem à saúde dos trabalhadores e usuários, não da concentração total
do volátil no material, mas da sua concentração no ambiente (C), que depende da
taxa de emissão (Ea) e pode ser estimada pela Equação 2:

C = Ea.A / nV (µg/m3) Equação 2


onde:
Ea: taxa de emissão do volátil (µg/m2.h);
A: área superficial (m2);
N: quantidade de trocas de ar por hora (h-1);
V: volume do ambiente.

Vários parâmetros ambientais influenciam na emissão e concentração de


v~lá~eis ~o ambiente, como a temperatura (KIM e KIM, 2005), a taxa de
elimmaçao do poluente (reação, adsorção, filtração pelos materiais em contato) e
a concentração externa (HANSON, 2003).
Materiais de Construção e o Meio Ambiente J07

A influ~ncia da taxa de ventila_ção (número de trocas de ar por hora) mostra que


para ambientes altamente ventilados, como os ambientes não condicionados
artificialmente , 0 problema perde relevância. Observa-se tendência de
cre~cimento ~o us~ de ar condicionado no Brasil, em especial os equipamentos
spht, o__nd~ nao existe qualqu~r troca de ar com o ambiente, de forma que a
importancia desse fator devera aumentar, tomando mais critica o controle desta
\ ariável.
Na Europa, existem vários sistemas de certificação de materiais em termos de
sua emissão de compostos orgânicos voláteis (KEPHALOPOULOS 2005). Esse
requisito também é parte integrante de todo o sistema de avaliação ~biental de
edifícios.

4.5 Contaminação do ambiente por Iixiviação

A água, em contato com os materiais, pode lixiviar compostos tóxicos,


contaminado o solo e o lençol freático. O estudo de lixiviação de espécies
químicas, muito provavelmente se iniciou pela análise do risco de contaminação
do lençol freático, por água que percolava aterros de resíduos industriais e,
posteriormente, foi ampliado para análise dos riscos ambientais associados ao uso
de resíduos como matérias-primas. Trata-se de tema de conhecimento ainda
incipiente, embora venha ganhando importância e está em rápido
desenvolvimento.
Sabe-se, atualmente, que a lixiviação de espécies perigosas não é exclusividade
de materiais produzidos com resíduos. Materiais que contenham biacidas
potenciais também são problemas. Togerõ (2004) demonstrou que o chumbo e o
biocida carbendazina são lixiviados pela chuva (Figura 6). A autora também
analisou a lixiviação de metais pesados de concretos contendo aditivos e adições
e concluiu que os aditivos orgânicos podem ser rapidamente lixiviados e que o
uso de escórias de alto-forno, por exemplo, pode reduzir as quantidades lixiviadas
para o ambiente. A investigação combinou dados de experimentos de campo com
ensaios de laboratório e dados estatísticos, o que permitiu estimar-se a massa de
contaminantes lixiviados anualmente em toda a Suécia e Inglaterra.
Madeiras tratadas com biocida CCA (arseniato de cobre cromatado) liberam
por lixiviação as espécies químicas perigosas__ que co1!1põe º. pro~uto (Figura 7),
utilizados no tratamento realizado para protege-la da b10detenoraçao. Khan, Solo-
Gabriele et al. (2006) demonstram que esta lixiviação é mensurável durante a fase
de uso e Khan Jambeck et al. (2006) mostram que, em aterros, provavelmente
seja muito le~ta. A água lixiviada da madeira tr~t~da com creoso!o li~e:a
hidrocarbonetos poliaromáticos e compostos heteroc1chclos contendo rntrogerno
(BECKER et al. 2002).
J08 V. M. John

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O 100 200 300 O 100 200 300
Precipitação acumulada (mm) Precipitação acumulada (mm)

Figura 6 - Lixiviação acumulada de chumbo (esquerda) e carbendazina (direita) de pinturas e~postas às


intempéries durante 33 dias. Valores expressos em mg/m2 de superfície de painel (TORGERO, 2004).

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Precipitação acumulada (mm)

Figura 7 -Quantidade acumulada de lixiviação de arsênico (As), cobre (Cu) e cromo (Cr) de madeira (Jack pine)
tratada com 1% CCA exposta a intempéries em Ontário Canadá
(TAYLOR e COOPER, 2005).

A Holanda é pioneira nesse tipo de abordagem e estruturou uma legislação


específica que se aplica a todos os materiais pétreos a serem usados externamente:
o Building Materials Decree (COMMISSIO NED BY THE SOIL
DIRECTORATE, 1999). Esse decreto tem por objetivo preservar o solo e a água
superficial de contaminação e se aplica tanto a materiais que contêm resíduos
como aqueles produzidos com matérias-primas virgens.
6
A imissão de cada uma das espécies químicas inorgânicas importantes (por
:x~mplo, os metais As, Ba, Cd, C.9, Cr, Cu, Hg, M_o, Ni, Pb, Sb, Sn, e os
~rn?ns, co1:10. Br, Cl, F, S04, cianetos) é estimada de forma simplificad~. ?s
hmites de urussão foram estabelecidos de maneira a impedir que a lixiv1açao
em 100 anos provoque uma alteração inaceitável na composição de u~a
ca1;1ª?ª de s~l~ pad:ão de 1 m de espessura. A contaminação por espéci~s
qu;II?1cas orgamcas e controlada pelo estabelecimen to de uma concentraçao
max1ma.
Materiais de Construção e o Meio Ambiente J09

Existe grande variedade de testes para analise de fenômenos de lixiviação,


in lusive os presentes na normalização brasileira de resíduos (NBR 10005 e NBR
)0006, 20~~). No en~anto, a maioria .dos testes oferece resultados comparativos,
uào pernutmdo estimarem-se os unpactos ambientais. Por essa razão, a
metodologia holandesa tem ganhado espaço. Ela trabalha com dois métodos
básicos de lixiviação: o método da coluna (NEN 7343, 1995), utilizado para
materiais granulares, como agregados e mesmo solos, que ficam confinados
dentro de uma coluna pela qual passa água desmineralizada em velocidade
controlada; e o método de difusão, também conhecido como ensaio do tanque
(NEN 7345 ou NEN 7375, 2004), em que um corpo-de-prova, preferencialmente
cubo com aresta maior que 40 mm é imerso em água desmineralizada por um
período de 64 dias. Em ambos os casos, a água é coletada periodicamente e
submetida a análises químicas, visando-se medir a concentração de espécies de
interesse. Com os resultados experimentais, é possível produzirem-se parâmetros
que caracterizam a lixiviação de cada espécie química. No ensaio de difusão,
aplica-se a lei de Fick, sendo estimado um coeficiente de difusão de cada espécie
química. Uma abordagem simplificada é também possível, analisando-se o
conteúdo ..total de material lixiviável por meio do ensaio de disponibilidade
(TOGERO, 2004).
Com os parâmetros aplicados a modelos matemáticos simplificados, é
possível extrapolar o comportamento em longo prazo. Esses modelos levam
em conta a geometria do material em condições de uso (por exemplo,
espessura da camada), diferenças de temperatura entre o ensaio e o ambiente
de uso e também a fração de tempo durante a qual se espera que o material
permaneça molhado , pois a lixiviação de materiais expostos permanenteme nte
em água é mais rápida se expostos esporadicamente. Assim, é possível projetar
uma solução construtiva de forma a controlar a irnissão do meio ambiente, seja
mudando a geometria da construção, seja protegendo a construção da água da
chuva. Está também fartamente documentada a influência do pH na lixiviação
de diferentes espécies química (VAN DER SLOOT et al., 2001), o que traz
uma complexidade adicional para o problema. Em conseqüência, nos materiais
cimentícios, a carbonatação, que altera o pH e até precipita novas fases,
modifica significativamente a cinética de lixiviação (GARRABRA NTS,
SANCHEZ e KOSSON, 2004).
A metodologia holandesa é, no momento, a mais adequada para se analisar os
riscos de contaminação do ambiente quando se utilizam resíduos como matérias-
primas. Um excelente guia para o método holandês é apresentado por Schreurs
(2003).

4.6 Geração de resíduos


Como conseqüência da grande massa de materiais manejada pela construção
civil, agravada pelas elevadas perdas, o setor é_um grande_ g,:rad~r de resíduos.
Somente os resíduos da atividade de construçao e demoliçao sao gerados em
' Imissão é a concentração da emissão que atinge um organismo ou objeto. Emissão é a liberação pela fonte produtora.
110 V. M. John

· .
massa supen01 a 500kg/h ab ·ano A este total devem ser adicion ados os resídu
· . . d . _ os
gerados na extração e process amento de matenr us, e CUJO total nao existe
estimativa. · t bl ·
'd
O s resi u os da constru ção civil causam unporta n es pro emas ambientais
b t b, · ,
como o assoreamento de sistemas de drenag em ur ana e am em Importantes
problemas sociais, pois a sua deposiç ão irregula r na ~alh': urbana exige que a
autoridade municipal gaste vultosos recurso s na regulan zaçao do problema.
Recente mente, a Resolu ção nº 307 do CONA MA,.. (2?02! (alterada pela
Resoluç ão CONAMA nº 348 de 2004) estabel eceu referen cias unporta ntes para
a gestão desses resíduos e que já começa m a gerar demand_as P~~ os fabricantes
de diferentes materiais. Recent emente foi elabora da normal izaçao Importa nte que
permite o uso da fração mineral (excetua do o gesso~ dest~s resíduos em
pavimentos e até fabricação de produto s de concret o, que amda nao tem escala de
produção. Uma visão sobre a compos ição da fração minera l dos resíduos de
construção brasileiro pode ser encontr ada em Angulo et al. (2010), que discute a
influencia da porosid ade dos agregad os reciclados no desemp enho mecânico do
concreto.
Uma deficiê ncia conhec ida na Resolu ção nº 307 do CONA MA é a
classificação de todas as madeira s como classe B, de fácil reciclagem. Esta
classificação tomou possíve l o desenvo lviment o de um mercad o de uso de
resíduos de constru ção, usado como combus tível sem maiore s preocup ações com
o impacto ambien tal. Ocorre que as madeira s tratadas com CCA (arseniato de
cobre cromat ado), ao serem queima das liberam arsênic o e geram cinzas
contaminadas (WASS ON et al. (2005).

4.7 Outros impact os

A produção e o transpo rte dos materia is de constru ção são responsáveis por
parte importante da poluiçã o emitida pela indústr ia, dada a varieda de de produtos
empregados na constru ção. Mesmo jazidas de extraçã o de argilas e rochas,
centrais de produç ão de asfalto usinado e centrais de concret o são fontes de
poluentes, sejam de compos tos orgânic os ou partícul as inorgân icas respiráveis.
Não se pode deixar de mencio nar o impacto da indústr ia de materiais de
~onstruçã~ no meio am~i~nte natural: a extraçã o das matéria s-primas necessárias
~ produçao dos matenru s de constru ção necessa riamen te significa impacto
1IDportan~e. Mesmo atividades relativa mente simples do ponto de vista de
~ngenhana, como a extraçã o de areia, dada a sua escala estão associadas ª
importantes degradações ambien tais.
A alta informalidade em muitos setores fabrican tes de materia is se constitui eJI1
um a~avan te: s~nega ção d.e impost os, corrupç ão de agentes público~, e
consequent~ reduça? da capacid ade de investim ento do estado, se aliam a práticas
de de~respeit~ a legislação trabalhista e ambien tal, além da fabrica ção de produtos
de bruxa quahda ?e. A seleção ~e _fornecedores socialm ente respons áveis é a base
do uso sustentável de matena is de constru ção. O Consel ho Brasileiro de
Materiais de Construção e o Meio Ambiente 111

Constru~ão Sustent~veF dese~~olveu um guia rápido para detectar a


info1mahdade na cadeia de matenrus. A ferramenta encontra-se disponível no site
www.cbcs.org.br.
Um caso parti~ular de destaque no país é a extração da madeira nativa,
realizada predorrunantemente de maneira ilegal, provocando desmatamento da
Amazônia, corrupção de agentes públicos e a sonegação de impostos.

4.8 Análise do Ciclo de Vida dos materiais de construção

A Análise do Ciclo de Vida (ACV) ou Life Cycle Analysis ou Life Cycle


Assessment (LCA) é a metodologia utilizada para quantificar o impacto
ambiental de um produto ao longo do seu ciclo de vida. Ele tem por base a
medida (inventário) das trocas de massa e energia associadas a cada etapa do
ciclo de vida do produto. A partir destes valores são estimados os impactos
ambientais associados a estas trocas. A ferramenta integra o conjunto de normas
ISO 14000, sendo descrita nas normas entre 14040 a 14049.
Três conceitos inerentes a analise do ciclo de vida significaram uma
mudança nas abordagens anteriores, muitas delas ainda em uso: (a) é
necessário medir os impactos do produto ao longo do ciclo de vida do produto,
do berço ao túmulo e não em uma fase (por exemplo, produção); (b) qualquer
produto sempre tem vários impactos ambientais, que devem ser analisados
simultaneamente: selecionar um produto com base na ausência de determinado
impacto não é solução ambiental adequada na maioria dos casos; (c) é
necessário quantificar os impactos de uma unidade funcional de forma a
comparar produtos capazes de oferecer uma mesma função durante o mesmo
período te tempo.
A análise do ciclo de vida serve de base para elaboração das declarações
ambientais de produtos, documentos que descrevem quantitativamente os
impactos ambientais dos produtos e que, em futuro próximo, deverão
acompanhar a documentação técnica de qualquer material. O melhor exemplo
destas declarações é a base de dados chamada INIES8 que vem sendo
desenvolvida por um conjunto de entidades francesas e que inclui em seu
escopo a informação da vida útil esperada para o produto bem como os
impactos ao longo do ciclo de vida e tem acesso universal gratuito. O
Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) está desenvolvendo
ca uma proposta de Analise do Ciclo de Vida simplificada para ser adotada pela
de construção brasileira, com conceitos similares ao mod~l~ francês·,, .
Existem muitas outras bases de dados, comerciais ou publicas, em
diferentes países do mundo. De forma geral, elas nã? incluem informa~ões
so?re a vida útil ou impactos durante a fase de uso pois foram,,desenvolv1das ,
pnoritariamente, para produtos de consumo. A m~1s !amosa e a S~~PRO,
9
que tem dados internacionais. Outro software gratmto e o BEES (Bmldmg for
7 O CBCS tem como missão promover a melhoria da qualidad: de vida da _População_ brasilei:'1 e a preser:ação de
seu patrimônio natural lo desenvolvimento e implementaçao de conceitos e práticas mais sustentáveis e que
contemplem as climens:Ssocial, econômico e ambiental da cadeia produtiva da indústria da construção civil.
8 \V ww.m1
• •
es.fr
112 V. M. John

Environmental and Econ omic Sustaina~ility), dese nvol vido pelo centro de
pesquisa norte-americano Natio nal Insti tute of S~a~dards ~nd Technology
(NIST) (LIPPIATT, 2007) '. que perm ite toma r a dec1sao comb1n<:ndo asp~ctos
econômicos com ambientais. No entan to os dado s de~ta~ ?ase_s nao se aplicam
ao merc ado brasi leiro , que poss ui difer ença s s1gn1ficat1vas em matriz
energética. . . ,, .
De uma forma geral a seleção de um determinado prod uto que rra mtegrar uma
construção deverá ser feita analisando o impacto da ~onstruç~o. ª? longo da sua
vida útil, pois alguns produtos pode m aumentar o impa cto 1rucial e reduzir 0
impacto durante a fase de uso. Esta atividade irá requ erer o manu seio de grande
quantidade de dados e somente será viável, em grand e escal a, com a adoção dos
softwares BIM (Building Information Models) capazes de automaticamente
buscar os dados dos impactos ambientais de cada prod uto e simular 0
desempenho do edifício ao longo de sua vida util.
A análise do ciclo de vida é, atualmente, a única ferra ment a que permite a
tomada de decisões com base em um entendimento sistêmico da questão
ambiental. Definições e listas de materiais ecoeficientes, baseadas somente em
um ou dois atributos, por exemplo, conteúdo de material reciclado, não uso de
pigmentos de metais pesados, energia incorporada etc., são visões parciais e que
via de regra levam a decisões equivocadas.

4.8.1 Ciclo de vida

O ciclo de vida de qualquer produto inclui a extração das matérias-primas,


processamento industrial, atividades de transporte , mont agem , uso, limpeza e
manutenção, até que sua vida útil chegue ao fim e o prod uto seja retirado de
serviço (Figura 8). Adicionalmente, uma análise rigorosa leva a conclusão que
uma fração dos impactos associados à construção de equip amen tos e máquinas
envolvidos no ciclo de vida deve m ser tamb ém cons idera das, e assim
indefinidamente.
Cada ~ase do ciclo de vida tem seus impactos ambientais específicos, positivos
ou negativos. Alguns exemplos de impactos negativos incluem: o consumo de
recu!s?s ~aturais não renováveis, a emissão de poluentes (C02, SOx, partículas
resprrave1s , etc ..); o consumo e a poluição da água , e a geraç ão de resíduos, etc.
Um exemplo de impactos positivo é a fixação de C02 atmo sférico pela
carbonatação do concreto.

• Disponível no site www.bfrl.nist.gov


Materiais de Construção e o Meio Ambiente 113
pelo e
d Tec
nando Mam~ap~ma •
reciclada •--------- • · •

,---------r------r--------+--------i
Extração de
Matérias p~maa demolição
natural

Figura 8 - Ciclo de vida simplificado de materiais de construção. Entre cada etapa normalmente ocorre uma ou
atividade de transporte, que não deve ser negligenciada. Os fluxos de resíduos estão em linhas pontilhadas.

A etapa de produção não é a únicd a causar impactos ambientais. As atividades


de transporte, montagem em canteiro e a fase de uso (que inclui limpeza e
manutenção) e até a de demolição também causam impactos que podem ser
muito importantes. No caso dos materiais de construção, a fase de uso é muito
mais longa que as demais etapas de produção. Nesta fase, os impactos ambientais
associados vão depender de fatores como hábitos ou atividades desenvolvidas
pelos usuários, condições ambientais as quais a construção está exposta, das
necessidades de manutenção e até a substituição de toda ou de suas partes. A
liberação de voláteis e a lixiviação de espécies químicas são exemplos de
impactos desta fase.

4.82 Vida útil e Análise do Ciclo de Vida

Uma obra é projetada para determinada vida útil, normalmente estabelecida


pela vida útil das partes que não podem ser substituídas. Muitos componentes
utilizados têm vidas úteis inferiores a da construção, exigindo a sua substituição
periódica. A cada substituição serão gerados resíduos e novos impactos
ambientais na fabricação, transporte e montagem do substituto.
Produtos alternativos capazes de desempenhar uma mesma função podem
cos,pos apresentar vidas úteis diferentes em determinadas situações. Assim, ao se
o cons avaliar o impacto ambiental de determinada solução construtiva deve-se
Ü x, p levar em conta a vida útil, incluindo na analise os impactos associados às
~e resíduo eventuais substituições necessárias durante a vida útil do empreendimento.
nosférico A estimativa da vida útil dos produtos é uma condição para a realização
da análise do ciclo de vida de uma construção. John e Sato (2006)
apresentam os conceitos fundamentais relacionados ao tema, incluindo farta
bibliografia.
A vida útil é afetada por decisões simples de projeto, sendo possível
~umentá-la significativamente sem que seja necessário inc~~ment.~ os
impactos ambientais de um determinado produto (JOHN, SJOSTROM e
AGOPYAN, 2002).
114 V. M. John

4.83 Etapas daAnálise do Ciclo de Vida


A áli do ciclo de vida se inicia com a definiç~o dos objetivos e da
fil} ~ed trabalho· porque O trabalho está sendo realizado e a profundidade
tifi
abrangencia o · . , ·
d·d tifi
e extensão do mesmo. A parte central é o mven~io' qu~ ~n c~ e qu~n caos
fluxos de insumos e emissões de cada etapa do c1c~o de v1 ª. o pro uto. ssa etapa
gera uma base de dados contendo tudo o que foi ~o~s~do pelo produto, bem
como as emissões para o ar, terra e água. O inv~ntano, ISoladame~te, te~ r ouca
utilidade prática para tomada de decisão. A se~rr, os res~tados do m~entárío são
transformados em impactos ambientais, ou seJa, nos efeitos que o _ciclo de ,vida
do produto causa no meio ambiente. Fin~ente, para cada situ~ç~o específica,
esses dados necessitam ser interpretados, visando a tomada de dec1sao.

4.8.3.1 Objetivo . . ..
A análise do ciclo de vida pode ter diferentes obJetlvos. Se for ermtrr para uma
declaração ambiental do produto, será necessário realizar uma avaliação completa
e de acordo com um procedimento específico. Já se for para a comparação de
duas opções de processos de produção de um determinado material, pode ser mais
simples , se concentrando nas diferenças entre ambas e outros aspectos
pertinentes. Assim, para cada objetivo, podem ser adotadas estratégias e
simplificações no processo.

4.8.3.2 Limites do sistema (fronteiras)


É um fato que o impacto ambiental total de um produto inclui uma parcela dos
impactos não só dos seus insumos mas também da infra-estrutura , como estradas,
fábricas , equipamentos, em um ciclo que tende ao infinito. Desta forma é
necessário estabelecer fronteiras no estudo.
Esta definição de sistema é um fator crítico pois afeta os resultados, uma vez
que implica em ignorar (truncar) deliberadamente etapas que de fato consumiram
recursos e emitiram poluentes. Em alguns casos, os erros são de até 50%
(L~NZEN e TREOLAR, 2002; SUH e HUPPES, 2005) de forma que novos
metodos baseados em informações de fluxos econômicos entre setores tem sido
desenvolvidos.
A prá~ca mais comID? utiliza critérios como participação do insumo na ma~sa
ºI energia to_?l consurmda pelo produto ou, ainda, no custo de produção. Lipp1att
(. 007) propoe que sejam eliminados somente aqueles produtos que tenham
s~ultaneamente pequena contribuição em massa e em consumo de energia, e
nao P?ssuam grande participação em custo. A definição de fronteiras
pote~~rnlmente altera os resultados de uma análise do ciclo de vida e precisa ser
co~~b ~rada quando da ~n.terpretação dos resultados de sua análise.
ncante~ ~e matenais não controlam as distâncias e os meios de transporte,
nem as cond1çoes de uso d fJ1
ana'lises do berço até a e seus produtos. Portanto freqüentemen te fornece
rta d .e, · ' ' os
consurru·d d -
ores everao compl
po ª
tar
iabnca - cradle-to-gate Neste caso,
· ·da,
emen o estudo para o restante do ciclo de vi
Materiais de Construção e o Meio Ambiente 115

para que seja pdossívdeifl" ~omdar uma decisão adequada, inclusive simulando 0
comportamento o e 1c10 urante toda a sua vida útil.

4 .8.3.3 De~miç ão de parâm~ tros ~?ient ais


A mai?na dos processos mdu~tnais env?lve fluxos de um grande número de
subs~ncias. Por ex~mplo, uma srmple.s ermssão de compostos químicos durante
a queima de maderra revela uma rmstura de vapor, partículas monóxido de
carbono e quase 50 espécies químic~s., inclusive mutagênicas (EN\1IRONMENT
AU~TRALI_A, 2~02), ~ª?ª m:1a ex1gi~~o m~to_dologia e metrologia específicas.
Assim, em situaçoes praticas , e necessano pnonzar-se quais as espécies químicas
de interesse.
Novamente_a ~ecis~o implica em reduzir a quantidade de informações e pode
levar a erros significativos.

4.8.3.4 Definiç ão da unidade funcional


Comparações entre produtos somente podem ser feitas se forem capazes de
cumprirem a mesma função (mesmo desempenho) por um mesmo período de
tempo. Não faz sentido comparar os impactos ambientais de um quilograma de
aço com um quilograma de plástico. Assim é necessário buscar uma unidade
funcional que permita comparar alternativas com diferentes composições para
oferecer a mesma função. Por exemplo,janela de 100 x 100 cm, lm2 de piso com
determinado nível de desempenho por um período de 50 anos, etc.
A busca da unidade funcional correta depende dos objetivos do estudo. Por
exemplo, para o estudo da eco-eficiência da dosagem de concretos, Damineli et
al. (201 O) propõem utilizar como unidade funcional de concreto a quantidade de
aglomerante ou de C02 necessário para produzir uma unidade de resistência
.MPa- ) ou módulo de elasticidade. Muitas bases de dados
1
mecânic a (kg.m-3

rºs, um. apresentam resultados do impacto de matérias-primas , como o cimento ,


f.OilSU polímeros, aço, que para fins de comparação precisam ser transformadas.
t:le até
~ que n 4.8.3.5 Inventá rio
O_inventá rio tem por objetivo quantificar t?dos os ~uxos,. dentro das fronteiras
Íes tem pre~iamente definidas , para cada etapa do ciclo de vida (~1_gura 9) .. O resul~d o
do mventário é uma base de dados, chamada de Inventario do Ciclo de Vida
r,? na. (ICV) ou Life Cycle Inventory (LCI).
rªº· L1 A quantificação envolve tanto medidas de campo quanto a colet~ ~e dados de
Rue te
[e ener fomecedores e até mesmo buscas bibliográficas. No caso de anális~ d: uma
unidade fabril, os dados são tipicamente medidos_ (por exemplo, ermsso~s de
l front
gases na eh armne · " do 1omo ) e a seguir convert idos para a . mesma , urudade.
.i:
, , , ,, .
funciona
. l . o · " ·
mventa no os d fluxos associad os as matena s-pnma s e a energia
nh
Utilizada no processo pode ser obtido diretamente ~os fome~~dores que te aI_?,
e trans eventualmente, realizad o uma análi'se do ciclo de,, vida e ermtido uma declara çao
e, forn . · d · ·
ambiental d arti de dados medios dos setores m ustriais em
te cas os produtos, ou a P r ,, . ,, - b'entais
estatísticas de emissã o de poluentes' disporuve1s em orgaos am I .
elo de
116 V.M.Jo/111

Matérias-prima

l Ar
Energia Solo
Agua Água

Gases Outro s

.
Produtos

Figura 9 - Categorias de fluxos de materiais de um inventário típico (LIPPIAIT, 2007).

Existem muitos procedimentos dedicados para realizar, particularmente no que


toca o inventário das emissões de gases do efeito estuf a porq ue, inclusive, pode
gerar créditos de carbono. Um dos mais popu lares é o Protocolo GHG
(Greenhouse Gas Protocol), cuja metodologia detal hada facilmente aplicável para
algumas indústrias e adaptável para outras está disponível 10 • O governo brasileiro
publica mensalmente os "Fatores de Emissão de C02 Pela Geração de Energia
Elétrica no Sistema Integrado Nacional" 11 •
Para realizar o inventário que serve de base do BEE S, Lipp iatt (2007) utilizou
questionários enviados a fabricantes, que foram validados e complementados
com os fluxos associados aos fornecedores dos fabricantes . A validação e
consistência de dados é sempre uma necessidade. Um dos aspectos mais difíceis
é a alocação de impactos no caso de processos que geram mais de um produto.
Este é o caso, por exemplo, do processamento de petró leo, que gera produtos do
asfalto, diesel, gasolina, matéria-prima para a indústria petro quím ica, etc.

4.8.3.6 Interpretação
A base de dados do Inventário do Ciclo de Vida quan tifica os fluxos de
diferentes substâncias medidos durante o inventário. Esta mass a de dados
cos ~a ser extensa e de interpretação impossível. Para perm itir a tomada de
dec1sao com base nessas infor maçõ es, é neces sário estim ar os impactos
ambientais produzidos por um ou mais fluxos (CAR VAL HO 2002). .
A decisão sobre quais impactos deve m ser analisados dep;n de da abrangência
e d~ agenda ambiental de cada região ou mesm o de cada setor industrial. Existenl
mmta~ formas de se analisar os impa ctos sejam em nível global (corno 0
aquec1mento global e a degradação da cama da de ozôn io) regional ou Joca!.
De.ntre as ~ais comuns, podem ser destacadas as que segu e~:
• Potencial ~e aquecimento global ou muda nças climáticas;
Degradaçao da cama da de ozônio·
• Acidificação; '
'º www.ghgprotocol.org
li
wwwmct.gov.br/index.php/content/viewn2?64-.html
«·1,
..
'

Materiais de Construção e o Meio Ambiente 117

• Consumo de combustíveis fósseis;


• Toxicidade ecológica;
• Eutrofiza~ão (polui~ão de corp_os-de-água por excesso de nutrientes);
• Degradaçao de ambientes e paisagem;
• Poluição do ar;
• Impacto na saúde humana;
• Smog ou névoa seca;
• Consumo de água;
• Consumo de energia;
• Geração de resíduos.
A maioria desses impactos é facilmente compreendida. A eutrofização é a
poluição de ~orpos-de-água por excesso de nutrientes. O smog fotoquímico
. 2007). (névoa seca) e produto da reação de compostos orgânicos voláteis (COV) com
NOx que ocorre em presença de radiação solar e que leva a formação de
[ partículas em ozônio em nível do solo. Discussão concisa sobre os diferentes
anuente impactos pode ser encontrada em Joillet et al. (2004).
, inclusiv Outras categorias podem ser propostas como impacto na qualidade do ar interno
rotocolo dos edifícios (LIPPIA1T, 2007), ruído, etc. Para uma discussão sistemática sobre
Jte aplicáv categorias de impacto, ver Bare e Gloria (2005) e Joillet et al. (2004).
bvemo b Uma mesma espécie química pode apresentar mais de um impacto. Por

t ção de

(2007) u
l ompleme
exemplo, o dióxido de enxofre pode provocar chuva ácida que, por sua vez,
acidifica os rios e provoca mortandade de peixes. Pode também causar
degradação de patrimônios históricos.
Por outro lado, mais de uma substância ou fluxo pode contribuir para um
determinado impacto ambiental. A acidificação dos rios, por exemplo, é produto
A vali
tos mais não apenas do dióxido de enxofre, mas também de todos os ácidos, como o
deump clorídrico e o nítrico. Neste caso, algumas substâncias apresentam efeito maior
gera produ que outras, ou seja, o impacto ambiental é uma ponderação das quantidades
1 • emitidas de cada substância com o seu potencial de impacto. Além disso, o
ca, etc.
sistema de regeneração do planeta degrada as substâncias a diferentes
velocidades, fazendo que cada uma delas tenha um tempo de atividade próprio. O
Quadro 4 apresenta a ponderação de impactos esperados para diferentes gases que
contribuem para O efeito estufa em diferentes horizontes de tempo (LIPPIATI,
2007). Como pode ser observado, para um horizonte de 100 anos, um grama de
metano tem o mesmo impacto de aquecimento global do. 9u~ 21 g de C02, apesar
de apresentar vida útil significativamente menor q~e o dioxido de carbono. Esses
pesos relativos permitem calcular o impacto ~mb1ental ponderado, expresso em
uma unidade selecionada, no caso, g C02eqmvalente.
118 V.M.John

. alA · tre diferentes gases que contribuem para o Aquecimento Global


Quadro 4 - Exemplos de eqmv encias en . ,2 '
· h · t d JOO anos (dados do IPCC publicados pela EPA , 2002).
considerando um onzon e e
g co2 equivalente para diferentes horizontes de tempo
IGãs Vida útil (anos) 20 anos 500 anos
100 anos
1 1 1
co2 50 - 200
56 6,5
CH4 12 ± 3 21
310 280 170
N20 120
11 .700 9.100 9 .800
HFC-23 264
140 460 42
HFC-152a 1,5
6.300 5.100 4.700
HFC-236fa 209
6.500 4.400 10.000
CF4 50.000
10.000 9.200 6.200 14.000
C2Fs
3.200 7.400 5.000 10.700
Ca F14
3.200 23.900 16.300 34.900
SFs

4.8.3.7 Tomada de decisão


A decisão baseada na Análise do Ciclo de Vida não é tarefa direta. Quando se
comparam produtos, por exemplo, uma das alternativas pode apresentar menor
impacto para o aquecimento global gerando muitos resíduos, enquanto outra gera
menor quantidade de resíduos, embora tenha contribuição grande para o
aquecimento global.
Assim, a decisão somente pode ser tomada se forem atribuídas importâncias
relativas entre os diferentes impactos, permitindo, dessa forma, calcular-se o
impacto total ponderado para cada produto, representado por um número
adimensional, mas comparável. Essa ponderação é produto das prioridades ou da
agenda de desenvolvimento sustentável de uma determinada região, país,
indústria ou até empresa (Quadro 5).

Quadro 5 - Importâncias relativas dos impactos produzidas atribuídas por diferentes instituições norte-americanas
(LIPPIATI, 2007). Embora a importância relativa dependa de decisões políticas e das prioridades ambientais de
diferentes grupos, é comum que o aquecimento global apareça como o mais importante impacto

Impacto EPA BEES


v\quecimento global 16 29
lA.cidificação 5 3
Eutrofização 5 6
'"
ivonsumo de combustíveis fósseis 5 10
Qualidade do ar interno 11 3
v\lteração de habitat 6
16
Consumo de água 8
3
Poluição do ar 9
6
lsmog
6 4
tToxicidade ecológica
11 7
Destruição da camada de ozônio 3
5
!saúde humana
11 8
li
Env1ronmental Protection Agency a a . .
' gencia norte-amencana encarregada de controle ambiental.
Materiais de Construção e o Meio Ambiente 119

Assim,. e1!1bora sej~ ~ma ferr~menta P3:fª qu~ntificar os impactos ambientais de


~ J111ª obJettva, a Análise do Ciclo de Vida exige do usuário uma decisão sobre
q~ais são as prioridades ambientais.

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