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•Aateriais

1v,
de Construção Civil e Princípios de Ciências e Engenhana
. de M t · ·
Geraldo Cechella !saia (Organizador/Editor) a enrus
© 010 mRACON. Todos direitos reservados.
2

Capítulo 10

Microes trutura dos Materiais Metálicos


Fabio Domingos Pannoni
Gerdau Aços Longos S.A..

10.1 Introdução
Dentre os materiais encontrados no nosso dia-a-dia muitos são reconhecidos
comJ. sendo metais.' embora, em quase sua totalidade: eles sejam, de fato, ligas
metálicas. O conceito de metal está relacionado a certo número de propriedades
facilmente reconhecíveis, como, por exemplo, brilho metálico, opacidade, boa
condutibilidade elétrica e térmica, ductilidade, etc.
Uma liga consiste da união íntima de dois ou mais elementos químicos, em que
pelo menos um é metal e todas as fases existentes têm propriedades metálicas.
Como exemplos, temos o latão (liga de cobre e zinco), o aço carbono (liga de
ferro e carbono), o bronze (liga de cobre e estanho), dentre muitos outros.
O grande uso do aço pode ser atribuído às notáveis propriedades dessa liga, à
abundância de matérias-primas necessárias à sua produção e ao seu preço
altamente competitivo. O aço pode ser produzido em uma enorme variedade de
propriedades, que podem ser muito bem controladas, de mod? a ~t~n~er_uma
enorme gama de usos. o produto final pode ser algo co~o um b1stun c1rurg1co, a
carroceria de um automóvel, um arranha-céu, um petroleiro, um reator nuclear ou
um fogão.
_Este capítulo trata, de modo resumido, de certos c~nceitos envolvidos com a
nucroestrutura de materiais metálicos, em especial os ferrosos, com? a
solidificação, 0 diagrama de fases, transformações de f~se~, ~ratamentos térrrncos
e alguns exemplos de ligas mais comuns em engenhana civil.

l0.2 Solidificação dos metais


De modo geral a obtenção de metais no estado sólido passha por uma etafa ~~
fusão . ' . . - E rocesso embora ten a como pon o
. , seguida da solidificaçao. sse P ; dá origem a diversas
Partida um líquido relativamente homogeneo,
282 F. Domingos Pannoni

heterogeneidades no metal sólido formado. Essas heterogeneidades podem ser


herdadas pelos produtos metalúrgicos nas etapas subseqüentes de l?rocessamento
e vão dar origem a muitas das estruturas internas observadas ao llll.croscópio.
A solidificação dos metais se dá pela nucleação e pelo crescimento de cristais
da fase sólida no interior do líquido. Pode-se dizer, assim, que a solidificação é
um processo de cristalização. A nucleação de cristais é, de modo geral,
heterogênea, ou seja, ocorre sobre um substrato que pode ser a parede do molde,
partículas sólidas ou embriões do próprio metal sólido rre~entes ~o .líquido. No
caso mais geral, ao se preencher um molde com metal líqmdo, a rap1da extração
de calor junto à superfície interna do molde promoverá uma intensa cristalização,
formando uma camada de grãos extremamente finos conhecida como zona
coquilhada. Esses grãos apresentam direções cristalográficas aleatórias.
Os cristais metálicos, de modo geral, apresentam velocidades de crescimento,
a partir do líquido, diferentes em direções diferentes. Assim, os metais que
apresentam simetria cúbica, por exemplo, têm velocidade máxima de crescimento
na direção <100> (índices de Miller, em cristalografia1) . Esse fato faz com que se
estabeleça uma competição entre os inúmeros cristais nucleados junto à superfície
do molde. Como, de modo geral, existe um gradiente de temperatura na direção
normal à parede da lingoteira, os cristais que por acaso tenham suas direções de
crescimento rápido alinhadas ou paralelas à direção de máxima extração de calor
crescerão mais rapidamente. A estrutura resultante, de grãos alongados na direção
normal à parede da lingoteira, correspondente à direção cristalográfica <100>, é
chamada de região colunar, e os grãos assim constituídos são chamados de grãos
colunares.
A solidificação da maioria dos metais em condições industriais apresenta uma
interface não plana entre a fase sólida que vem crescendo e a fase líquida. Essa
interface apresenta protuberâncias, as quais encontram um líquido mais super-
resfriado, ou um gradiente de temperatura mais acentuada à sua frente, o que faz
com que o resto do cristal cresça mais rapidamente. Em seguida, as paredes
laterais dessas protuberâncias podem gerar novas protuberâncias, análogas às
anteriores, formando , por sua vez, protuberâncias secundárias. A estrutura
resultante desse crescimento é parecida com o tronco e os galhos de uma árvore
conífera (por exemplo, um pinheiro) e é chamada de dendrita.

10.3 Diagramas de fase

1O3 .1 Introdução

Dia~as de fases são ferramentas consideradas fundamentais em metalurgia. O


desenvol_vnnento ~e um~ ~croestrutura particular de uma liga, passível de observação
em~ srrnples ID1cr~sc,..op1? de laboratório, está relacionado ao seu diagrama de fases.
Devido ao ~ato da existencia de forte correlação entre a microestrutura observada para
uma da~a liga e suas proprieda~es ~ecânicas, fica evidente a importância do emprego
desses diagramas no me10 acadeID1co e tecnológico.
1
Ver Capítulo 6 - Estrutura atômica e molecular.
Microestrutura dos Materiais Metálicos
283

JOJ.2 Diagramas defase em condição de equilíbrio

A obtenção de determinadas propriedades nos m tai li


rocessos de fusão, solidificação, tratamentos térnu·coes s e ~a~ podedenvolver
P · d d lt e mecamcos, tu o com a
finahda e e a erar a estrutura do material em e . ,. .
,. · A alt - d · sca1a rrucroscop1ca e
rnacroscop1ca. eraçao a rrucroestrutura consiste na m d d .d d
tamanho e distribui ão d · . . u ança a quant1 a e,
forma, _ ç os rrucroconstitumtes ou fases presentes seja
através da alteraçao da composição química , seiaJ
pela modifi - d ·',.
caçao as vanave1s ·
de processo.
A ~~or parte dos met'?s puros não apresenta as propriedades mecânicas
neces~anas a um ~ande numero de fina;1idades industriais. Assim, para que as
propnedades deseJadas possam ser atendidas, toma-se necessário combinar dois
ou mais metais, de modo a formar uma liga metálica. A estrutura interna, chamada
de rnicroestrutura, que resulta quando essa mistura solidifica do estado líquido, é
de grande importância com respeito aos usos da liga, e seu estudo é certamente
um dos mais importantes, se não o mais importante, ramo da metalurgia.
O diagrama de fases (também conhecido como diagrama de equilíbrio) é um
gráfico conciso, que fornece muitas informações sobre a estrutura das fases
existente para uma liga específica. Esses diagramas representam as relações entre
a temperatura e as composições existentes, assim como a quantidade de cada fase,
em condições de equilíbrio. Eles são construídos partir de dados obtidos a partir
de uma série de curvas de resfriamento de ligas contendo diferentes proporções
dos metais constituintes.
É importante considerarmos que, devido ao fato de os diagramas de fase
representarem um estado de equilíbrio teórico, existente somente sob condições
ideais, a informação contida nesses diagramas deve ser considerada como sen?o
aproximada. Quando a cinética de determinada reação é lenta, o matenal
submetido a aquecimento ou resfriamento rápido (po: ex~mplo, em ág~a ou ar)
pode não sofrer, parcial ou totalmente, as transformaçoes md1cadas no ~iagrama.
Pode-se, assim, reter uma fase de alta temperatura a temperatura amb1e~te ~em
que se processem as reações indicadas.~ ~~or parte do! tratamentos_ terrruc~s
aplicados às ligas metálicas utiliza os pnnc1p1os que serao desenvolvidos mais
adiante.

1O.3 .2 .1 Curvas de resfriamento d


As alterações térmicas que ocorrem durante o resfriamento de um metal ou e
.
Iiga, da temperatura em que ele esta,. no estªd0 líquido até a temperatura em que
. d .i:
el 'T1d são costumerramente apresenta as na 1orma
e se apresenta como um so o, . - d ma curva de resfriamento é
f
gr~ca. A obtenção de dados para ª c_o~poSiçaio n~erior da massa líquida, e a
feita por meio da inserção de u_m prrometro t ao mesmo tempo em que a
O
temper~tura é lida em pequen~s mte~alos d~e:mp~ra~ra abaixo daquela em que
massa e resfriada lentamente, mdo até uma
ocorre a solidificação. . cai lentamente até que a temperatura
8
A curva de resfriamento de metros puro
284 F. Domingos Pannoni

de solidificação seja atingida, quando, então, ela muda de tr~jetória e se mantém


horizontal por um período de tempo, após o qual volta a carr, conforme o metal
vai se resfriando. A seção horizontal da linha representativa do fenômeno indica
um período (estacionário) durante o qual o metal apresenta mudança do estado
líquido para o estado sólido; nesse estágio, o calor latente de solidificação é
dissipado.
A curva (a) da Figura 1 mostra uma curva de resfriamento esquemática, para
um metal puro. O resfriamento acontece de modo uniforme a certa velocidade até
que um patamar é atingido, quando os primeiros cristais começam a se formar.
Conforme o resfriamento continua, o calor latente de fusão é liberado, de tal
modo que a temperatura se mantém constante por um tempo, até que toda a massa
líquida tenha solidificado. O resfriamento posterior fará com que a temperatura
continue a cair.
A curva (b) da Figura 1 mostra a curva de resfriamento para uma liga binária
que forma uma solução sólida. A curva que representa o trecho inicial do
resfriamento é semelhante ao caso (a), mas, durante o período de solidificação, a
temperatura não se mantém constante - cai ao longo do tempo, até que toda a
massa metálica tenha solidificado.
(a) - Metal puro (a) - Liga binária

Estado liquido Estado liquido


Início da
/ solidificação
Mudança para o
estado sólido
Término da
/ solidificação
Decréscimo de Decréscimo de
temperatura até a temperatura até a
temperatura temperatura
ambiente ambiente
Tempo
Figura 1 - Representação esquemática das curvas de resfriamento. (a) Metal puro; (b) liga binária.

10.3.2.2 Diagramas de fase


tfu
a A c~nS ção de u?I. diagrama de fases para uma solução sólida pode ser feita
co~artrr_ ~e uma se1;1e de cui:vas de resfriamento obtidas para diferentes
po~içoes de uma liga, como Ilustrado na Figura 2 para as ligas cobre-níquel.
Esses sistemas aprese tam · . . '
1eta mtersolub1bdade entre os dois componentes
. n comp
nas fases Üqmda e sólida. · As temperaturas correspondentes aos pontos supenores ·
sobre as curvas de resfriame t (B B B · · ,, d
composição d li fi
d ª ga, omece
n
uma curva
° ,
1, 2 • • ·), quando ad1c1onadas ao gráfico e
chamada de linha liquidus O conjunto de
t
0
~s ~o% e ~e~pera~ra correspondentes aos pontos inferiores (C, C2...) versus C1'
posiçoes da liga fornece a curva denominada linha solidus. A linha so/ídus
Microesirwura dos Materiais Metálicos
285

representa o ponto de fusão das diferentes soluções sólidas, ao passo que a linha
·quidus
l1 representa a curva dos pontos de solidificaça- t B B
d t d f - d 0 . 0 s pon os e 4
On·espon em aos pon os e usao e ._ componentes puros . A regiao ·- .... linh
e . . ; . enue as as
/iquidus e /?lzdus repr~senta u~a regiao b~fas1ca, na qual cristais sólidos de uma
solução sohd~ homo~enea .est~o em .equ!hbrio com O líquido, de composição
adequada. Aclll1:a ?~
linha lzquzdus existrra uma fase líquida, enquanto abaixo da
linha solidus ex1~trr~ somente .u1:1a fase sólida.
A Figura 2 (a) md1ca que ad1çoes de cobre ao níquel promovem um decréscimo
do ponto de fusão. Esse é um fenôm~no bastante comum. Por exemplo, podemos
abaixar o ponto de congelamento da agua pela adição de sal de cozinha. Por outro
lado, adições de níquel ao cobre promovem o aumento do ponto de fusão do
cobre.
O diagrama de fases apresentado na Figura 2 (b) toma possível predizer o
estado de qualquer liga no sistema a qualquer temperatura incluída no diagrama.
Isso é perfeitamente válido para a situação em que se dê tempo suficiente ao
sistema para permitir que ele atinja o equilibrio. No dia-a-dia, entretanto, é muito
rara a observação de um sistema que atinja (ou mesmo se aproxime) do equilíbrio
verdadeiro, especialmente a baixas temperaturas. Entretanto, o diagrama de fases
é uma valiosa ferramenta que serve como um guia na previsão do comportamento
de um sistema sob condições que se distanciem do equilibrio.
A Figura 2 (b) indica que o líquido L é uma solução homogênea composta por
cobre e níquel. A fase A corresponde a uma solução sólida que contém cobre e
níquel (e que possui estrutura cristalina CFC). ~b~o de apro~~damen te
1080oC, o cobre e o níquel são mutuament~ soluve1s no esta~? solido, p~a
qualquer composição. Esse sistema, em que existe comple~a solubilidade dos dois
componentes nos estados sólido e líquido, é chamado de isomorfo.

o 1400 ü 1400
o o

....~ 1300
~- 1300
.....
~ ~
! 1200 ~ 1200
E E
~ 1100B
Q)

i,.:. 1100
10001-,;~.;.__ _ _ _ __
o 20 40 60 80 1Q1
Tempo> Ni, % (peso)
(b)
(a)
fri nto de soluções sólidas cobre - níquel. (a) Curvas de
Figura 2 - Diagrama de equiltbrio para curvas de res ~e d ,,
resfriamento; (b) diagrama e iases.

composição no diagrama de fases· igur


l
; feita localizando-se o ponto temperatura-
A det~rminação das fases presentes F a 2 (b) indica que uma liga que
286 F. Domingos Pannoni

contenha 80%Ni e 20%Cu, a llOOºC, estará _localizada no ~onto A. Assim, a fase


presente será unicamente a a.. O ponto D, situado a aproXIIIla,d~ente 30%Ni e
70%Cu, a 1200ºC, conterá tanto a fase a. quanto a fase líqmda, ambas ern
equilfürio.
Consideremos agora o ponto B na Figura 3. Pode~os observar, ao seu redor,
as três regiões, ou campos, de fases que aparecem no diagrama: o campo alfa (ex)
!..
o campo líquido (L), e o campo bifásico.~a. + ~ O ponto B trata de uma lig~
situada na região bifásica. Em todas as reg1oes bifas1cas (e somente nelas), podern
ser imaginadas diversas linhas horizontais, uma para cada temperatura. As linhas
são chamadas de isotermas (ou linhas de amarração). Essas linhas cobrem a
região bifásica e terminam nas curvas que delimitam seu campo.
A Figura 3 mostra, assim, as três regiões, ou campos, de fases que aparecem no
diagrama: o campo alfa (a), o campo líquido (L) e o campo bifásico (a+ L). o
cálculo da concentração das fases, em um campo bifásico em equilfürio, é feito
através dos passos a seguir descritos.
Escolhe-se um ponto situado dentro do campo bifásico (por exemplo, o ponto
B, situado a 1250ºC e com a composição 35%Ni - 65%Cu). Em seguida,
• traça-se a isoterma através da região bifásica, passando pelo ponto B;
• traçam-se, a partir dos pontos de interseção x e y, linhas perpendiculares à
isoterma, as quais são estendidas até o eixo horizontal, onde a composição deve
ser lida.
A linha perpendicular a partir do ponto x (isto é, sobre a linha liquidus) se
encontra com a composição de 31,5%Ni - 68,5%Cu (o ponto CL). Essa é a
co~posição da fase líquida. Do mesmo modo , o ponto y (que intercepta a linha
solidus) mostra a composição da fase sólida a como sendo de 42,5%Ni - 57,5Cu
(o ponto Cu).

1
1
u 1300 - +- -
o 1
1
L - ~~_.,.---ll~. ,,,J!'
, a

- t
cl
f •
c 1
0 eª

~R~s--.J
1100
20
.._----~
30
·--Z.--·
40
-
~1.J
50
Ni, % (peso)
Figura 3 - Porção do diagrama de fase cobre - níquel.
MicroeSlrutura dos Materiais Metálicos 287

Assim,· o resfriamento
1
feito
)1 em
,, , condições de equiliíbno ,
· e·isto e, .
um resfriamento
feito muito entamente
fr' evara
d . as estruturas
,, . representad .
as esquematicamente na
1'
igura 4. 0 res 1amento a hga hqu1da leva ao ati'ngrr· li 'd
F - dO · · "lid . ' a curva qm us, a
formaçao pnmerro. so 0 , CUJa composição está definida pela isoterma
correspondent~ C~ 6 %Ni - 54%Cu): A composição do líquido é de 35%Ni -
65%Cu, que e diferente da , do sohdo (46%Ni _ 54%Cu). A continuidade do
resfriamen~o acaba le~ando as composições distintas de cada fase, assim como
suas quantidades relativas.

1300 ü 1300
0 0
o

~
...
(IJ
....:::, ::,
~ ~
~ 1200 ~ 1200
E E
~
(1)
1-

1100 __2._4---32....._.31.,S--4.a.2.-S--146__, 1100 -----....1.......;i _,__ _.___.__,


24 32 35 42,5 46
20 30 40 50 20 30 40 50
Ni, % (peso) Ni, % (peso)
Figura 4 - Representação do desenvolvimento da microestrutura durante a solidificação muito lenta de uma liga
35%Ni - 65%Cu.

Deve ser ressaltado o fato de que a composição química da liga permanece a


mesma; ocorre uma distribuição de cobre e níquel nas duas fases. A solidificação
estará encerrada a uma temperatura de cerca de 1220ºC, levando a uma estrutura
policristalina de fase a, que possui uma composição química 35%Ni - 65%Cu.
Finalmente, é importante destacar que o tratamento visto acima é aplicado para
ligas nas quais os constituintes são mutuamente solúveis tanto no estado líquido
quanto no sólido (isomorfos). Outras possibilidades importantes existem, como as
ligas de metais mutuamente solúveis no estado líquido, mas insolúveis no estado
sólido, e ligas de metais mutuamente solúveis no estado líquido e parcialmente
solúveis no estado sólido. Essas diferentes situações fogem do escopo deste
capítulo e não serão, por isso, tratadas aqui.

1033 O sistema/erro-carbono

l0.3.3.1 Alotropia do ferro .


Alguns elementos químicos possuem a propn:dade d,,e se apresentarem co.m
formas e propriedades físicas diferentes. Esse :enomeno e chamado de al~tropza.
P?u.cos metais apresentam alotropia. O ferro e um deles, apresentando tres fases
dtShntas, cuja existência é função da temperatura.
O ferro se apresenta, da temperatura ambiente até a temperatura de 912ºC, sob
288 F. Domingos Pannoni

a forma alotrópica conhecida como ferrita ( ou Fe-u, ferro -a ou aind


ferrita-u). A ferrita possui estrutura cristalina cúbica de cor ª
centrado (CCC)2. A partir de 912ºC, indo at~ 1394ºC, a ferrita pas;º
por uma transformaçã o polimórfica a au~t~n1ta (Fe--y ou ainda ferro~
-y). A austenita apresenta um reticulado cub1co de face centrada (CFC)
e sofre nova transformaçã o a partir d~ 1394ºC, qua?do passa a ferrita-
3 (Fe-õou ainda ferro-8), que possm estrutura cnstahna CCC. Ess
estrutura se mantém até 1538ºC , quando o ferro se funde . A Figura ;
mostra, de modo esquemático, a curva de resfriamento do ferro puro
As transformaçõ es alotrópicas do ferro são apresentadas , assim com~
a nomenclatura usualmente empregada para indicar os vários pontos
em que ocorrem as transformaçõ es. As temperaturas em que
acontecem alterações da estrutura metálica , desde a temperatura
ambiente ~~té sua fusão, são chamadas pontos de transformação, ou
pontos cnt1cos.

Temperatura, ºC
1600
t-----.1538°t
1500

1400
Ferro-ó
(CCC)
r r
1300

1200 · Ferro-y ;:o


CD
.9
(CFC) C/) e:
Q)
~
1100 Q) E

3 Q)
CD ::,
::,
1000 õ i
1 1
900 912°C Ar3 Ac3

800 1 1

700

600
Ferro-a
(CCC - magnéti~

Tempo
Il
Figura 5 - Representação esquemática das tra ~ -
nomenclatura usualmente emp e d ns ormaçoes alotrópicas do ferro, mostrando se, à direita. a
r ga a para os vários pontos em que ocorrem as transformaçocs. -

2ver Capítulo 6 - Estrutura atômica e molecular.


Microestrutura dos Materiais Metálicos 289

A cada transfo rm~ção alotróp ica corresp onde um despre ndimen to de


0
cal?r.l~ tente de _fusao, que també ~ ~c?rre quando o ferro líquido se
sohd1fica. !1-ssim , ~u:ant e a. ~ohd1f icação, e por ocasiã o das
transfo rmaçoe s alotrop1~as~ venf1c am-se mudan ças de energia , que
causam uma descon tinuida de nas curvas de resfria mento e
aquecim ento, traduz idas grafica mente como uma "parad a" a uma
tempera tura consta nte ou como uma modifi cação na inclina ção da
curva.
Essas "parad as" foram determ inadas pelo francês Le Chatel ier3 •
Assim, a termin ologia origina l continu a sendo empreg ada para indicá-
las. A ocorrê ncia de parada é indicad a pela letra "A" (do francês arrêt).
Se a transfo rmação ocorre r no resfria mento, utiliza- se como índice a
letra "r" (refroi dissem ent); se ocorre r durante o aqueci mento, o índice é
a letra "c" ( de chauff age). Os pontos Ac e Ar não coinci dem
exatam ente, a não ser que as velocid ades de resfria mento e aqueci mento
sejam extrem amente lentas.
É import ante ressalt ar que a forma alotróp ica austen ita tem a
capacidade de dissolv er uma quantid ade apreciá vel de carbon o, ao
passo que o mesmo não ocorre com a forma alotróp ica ferrita, que só
pode manter em soluçã o quantid ades mínima s de carbon o.

1O.3 .3 .2 O diagra ma de fases ferro-c arbono


A Figura 6 descre ve o diagram a de fases para o sistem a ferro-
carbono . Antes de iniciar mos o estudo do diagram a, devem os fazer
algumas consid eraçõe s iniciai s.
A primei ra consid eração diz respeit o ao diagram a que corresp onde
somente à liga binária ferro-c arbono . Os aços comerc iais não sã~ lig~s
binária s, pois neles estão presen tes, sempre , elemen tos re_s1,d~a1s
oriundos do proces so de fabrica ção, como fósforo , enxofr e, sl11c10 e
manganês. A presen ça desses elemen t?s, nos teores normal mente
encontrados nos aços, pouco afeta o diagram a ferro-c arbono . ~utra
conside ração se refere ao diagram a de fases f~rro-c arbo?º · Est~ e, de
fato , um diagram a Fe-Fe3 C, visto que a extrem 1da~e- do eixo hon zontal
corresp onde a 6,67% de carbon o, que é a compos 1çao do carbon eto de
ferro (Fe 3C).

3 lie . . . talu ista francês que contribuiu para o desenvolvimento da


tenn:· ~u'.s Le_ Châtelier ( 1850 - 1936), qufrruco_edme uilirio químico.
inam.ica. E conhecido pela descoberta da lei O eq
290 F. Domingos Pannoni

Temperatura, °C

15oot.A------,------------,,.,.-_:l
1 0
t /
Liga líquida /
/ +-

f /
/
1300 + /
austenita solidus

1200
Liga líquida
1100 + Fe3C
Austenita F

Ledeburita +
Ledeburita + Fe3C
austenita + Fe3C
~

Fe-a
,P 1 K
1 1
1 1
600 1 1
1 1 1
1 1
: Perlita : 1 1
Perlita + Fe3C, perlita e
500 1 + 1 '1 1
Ledeburita + Fe3 C
1 Fe-a 1
Fe3C 1 ledeburita 1
1 Ql 1 1
400 'O 1 1
1
1
:e; 1 1
1 ]? 1 1
::, 1 1
300 l
1
UJ 1 -,.
- 1
1 1' 1 1
200 1
1
1
--- 1
~---
100 1
1
1
···········AÇOS······· ····
-, 1

1 1
····•·· Ferros fundidos······-~
o 1

o
0,022
i
0,76
1 2 3 4 5 6 6,67
2,14 Carbono, %(p
Figura 6 - O diagrama de fases para o sistema ferro-carbono. O diagrama de fases acima representado é o resultado do
trabalho combinado de muitos pesquisadores ao longo dos anos.

Ele não retrata composições localizadas entre 6,67% C e 100% C. Na prática,


todos os aços e ferros fundidos possuem teores de carbono inferiores a 6,67% C.
Uma liga de aço pode, a princípio, conter até 2,14% C , mas, na prática. ~s
conc~ntrações de carbono raramente excedem 1,0 % C. Ferros fundidos s~o
classificados como ligas ferrosas que contêm entre 2 ,14% C e 6,67%,. ·
Entretanto, cabe ressaltar-se que os ferros fundidos comerciais raramente contem
mais de 4,5% C. Em face da influência do silício nessa liga sobretudo sob o ponto
de vista de sua constituição estrutural , o ferro fundido é, normalmente.
Micrvestnuura dos Materiais ,Hetálicos 291

considerado uma "liga ternária


. Fe-C-Si" , , pois ili' . , fr ..
O s cio está, equentemente.
P resente em teores
. . , supenores
. aos
, do proprio carbono A ti.d d
. quan a e e car onod b
nesses matenais e supenor. aquela retida. em soluç- ao so'lid a na .
austernta.
resultando em carb ono parcialmente livre , na .f:orma de · d
1 ve10s ou 1ame1as e
1

ITT"afita.
0

Por fi?1,
não ~e trata, a rigor, de um diagrama de equilibrio estável. Se assim
fosse, nao devena ocorrer qu~quer mudança de fase com o tempo. Verificou-se.
en~etanto, que, mesmo em liga~ fef1:o-carbono relativamente puras (isto é, com
baixos teores de elementos residuais), mantidas durante anos a temperaturas
elevadas (entre 65~ºC e 7.00ºC), o F~C pode se decompor em ferro e carbono
(como grafite)· Assrm, o diagrama representado na Firura 6 deve ser considerado
como sendo de um equilfürio metaestável4. º
O carbono é uma impureza intersticial no ferro e forma uma solução sólida
tanto na ferrita como na ferrita-õ e na austenita. A solubilidade máxima do
carbono na ferrita é de 0,022% C a 727ºC (a solubilidade do carbono na ferrita-8
é praticamente a mesma que a da ferrita, exceto pela faixa de temperaturas em que
cada uma existe). A pequena solubilidade pode ser explicada pela forma e pelo
tamanho das posições intersticiais nas estruturas CCC, que tomam difícil
acomodarem-se os átomos de carbono. Embora a concentração seja be!Il baixa. o
carbono tem grande influência nas propriedades mecânicas da ferrita. E uma fase
macia, que pode ser tomada magnética a temperaturas abaixo de 768ºC (a
temperatura Curie) e possui uma densidade de 7,88 g/cm2 •
A austenita, quando ligada somente com o carbono, não é estável em
temperaturas inferiores a 727ºC. A solubilidade máxima do carbono na austenita.
aproximadamente de 2,14% C, ocorre a 1147ºC. Essa solubilidade é cerca de 100
vezes maior do que o valor máximo para a ferrita com estrutura CCC. uma vez
que as posições intersticiais na estrutura cristalina CFC são maiores. e. portanto.
as deformações impostas sobre os átomo~ de ferro que se encontram em Yolta do
átomo de carbono são muito menores. A medida que a temperatura decresce a
partir de 1147ºC, a quantidade de carbono solúvel na austenita toma-se cad~ \'eZ
menor, até que, a 727ºC, ela é de somente 0,77% C. Pode ser observado. na Figura
6, o domínio em que coexistem a austeni~ e. a cementi~ ..
A cementita (Fe3C) se forma quando o lirmte de solubilidade p~-o car~ono na
ferrita é excedido a temperaturas abaixo de 727ºC, para compos1çoes e'üstentes
dentro da região de fases "a + F~C". A cementita coexist~ ~bé~ com a
austenita entre as temperaturas de 727ºC e 1l 47ºC. A cemen~ta e mmto dura e
frágil; a resistência de alguns aços é aumentada substancialmente pela sua
presença. . , .
A cementi·ta e, um · taesta'vel Se mantida a temperatura ambiente.
matena1 me · ·d
ela permanecerá indefinidamente como um composto: ,entretanto. se aqueci ,ª
entre 6SOº , · anos ela mudara ou se transformara.
C e 700ºC por vanos • · 1 f · d ,
gradua1 mente em fernta . b (como grafite). Esse matena . res na o ate
e car ono A · · ,
a tem ' . _ ará à cementita novamente. ssim. como Jª
v· peratura ambiente, nao retoro d. ama de fases representado na
1st0 anteriormente fica evidente que O iagr
'
4Meta és d pequenas perturbações.
estável: capaz de perder a estabilidade atrav e
292 F. Domingos Pannoni

Figura 6 não representa um verdadeiro diagram~ d~ equilíbrio, pois a


cementita não é um composto em condições de eqmlíbno. Entretanto, como
O
sua taxa de decomposição é muito pequena, qu~se todo carbono no aço estará
na forma de Fe3C, e não de grafite, assim, ~ ~iagr~a.. ~e fases ferro-carb.ono
será válido para todos os fins práticos. A ad1çao ?«:
silicio aos f~rros fundidos
acelera enormemente essa reação de decompos1çao da cementita, formando
grafite. 5 1. d0 4
O sistema ferro-carbono apresenta um eutético loca iz~ a ,30o/~ C e
1147ºC. O líquido se solidifica para formar as ~ases austemta ~ cementita. O
resfriamento subseqüente até a temperatura ambiente promovera mudanças de
fase adicionais:
resfriamento >
- - - - y +Fe3 C
LE -aquecimento (Equação 1)

Pode ser observado que existe um ponto invariante eutetóide para a


composição 0,76% C e a uma temperatura de 727ºC. Essa reação eutetóide pode
ser representada por:
resfriamento
>
y(0,76%pC)- - --
E aq11ec,menJo
a(0,022%pC) + Fe 3 C(6,7%pC) (Equação 2)

Desse modo, a austenita, sólida, se transforma em ferrita e cementita. A


linha GS que, no resfriamento, indica o início da passagem da austenita
a ferrita é representada pela linha A 3 • A linha PSK, abaixo da qual não
pode existir a austenita, é representada por A 1 • A linha ES , indicativa da
solubilidade máxima do carbono na austenita, é representada por Acm·
Essas linhas são chamadas também de linhas de transformação , porque,
ao serem atingidas, quer no resfriamento, quer no aquecimento, têm
início ou terminam importantes transformaçõe s estruturais no estado
sólido. A zona limitada por essas linhas é , por essa mesma razão,
chamada de zona crítica.
Aços com .0 ,76% C são chamados de eutetóides . Os que apresentam
carbono abaixo de 0,76% C são chamados hipoeutetóides e os que
apresentam carbono acima de 0,76% C são conhecidos como
h1pereutetóides .

l0. 3 .3.~ O desenvolvime nto das microestrutur as em ligas ferro-carbono


. C~nsideremos, agora, a transformação que ocorre entre 0 % C e 0,76%C,
1st0 e, ª transformação que ocorre na maior parte dos aços estruturais. Urn
bom exemplo_é o resfriamento de um aço hipoeutetóide com OJ% C. Ao
atravessar a hnha solidus, ele está inteiramente solidificado, na forma de
5 Eutético: mistura de duas · ( _ eniplo,
temos a solda Pb-Sn O Pb ~u mais ~ em proporçao tal que se obtenha o menor ponto de fusão. Con~o ex0 p0n10
eutético. · nde ª 327 C e O Sn a 23 1ºC. A combinação de 670f<: Pb-33%Sn funde a t 80 C -
Microestrutura dos Materiais Metálicos
293

rna solução sólida perfeita - a austenita _ e assim er , , . .


u Iirnite superior da zona crítica, linha A no p tmanecEera ate atm~u
O nt. C d" 1 "d 3' pon O X3. SSa austemta
n terá 0,3-10 isso v1 o e se apresentará na f d . .
co . d CFC orma e cnsta1s com
reucula o .
Ao atingir o ponto x 3 , a austenita
_ _ começa a se transformar em fernta, . que
não pode m~nter dem so1uçao senao .. " .um teor mínimo de carbo . t-
no, en ao se
separa, ocas10nan o, em consequencia , um enriquecimento de carbono na
austenita remanescente, . Para
, . que ocorra nova mudança dessa austem·ta nao -
transformad a, sera n~cess~n~ uma redução de temperatura. Suponhamos
que o ponto X2 seJa ~tmgido. Nesse ponto, mais austenita terá se
transformado em fernta, que se separa, ocasionando um maior
enriquecimento de carbono da austenita remanescente. A exata composição
das duas f~ses, em ~quilíbri~, à temperatura correspondente ao ponto x2 , é
dada pela mtersecçao da horizontal, passando por x 2 , com as linhas GP de
um lado e GS de outro. Vê-se, claramente, que a ferrita separada apresenta
uma pequena porcentagem de carbono, ao passo que a austenita restante se
enriquece paulatinamen te de carbono. A medida que o resfriamento
prossegue, separa-se cada vez mais ferrita, cuja composição percorre a linha
GP e a austenita restante se enriquece de carbono, percorrendo a linha GS.
A 727ºC, no ponto x 1 da linha inferior A 1, o aço consistirá de certa
quantidade de ferrita e de certa quantidade de austenita residual, com 0 ,77%
C. Assim, o aço com 0,3 % C apresentará a máxima quantidade de ferrita
que poderia se separar, e o restante será constituído de austenita com 0,77%
C. Nesse instante, a austenita passa a ferrita , pois, abaixo de 727ºC , não
mais pode existir austenita. A transformação da austenita remanescente em
ferrita é brusca e repentina quando a temperatura de 727ºC é atingida, de
modo que os constituintes resultantes da transformação, ferrita, de um lado,
e carbono, na forma de Fe3 C, de outro não têm tempo de assumirem
posições perfeitamente distintas. Assim, a ferrita e a cementita formadas
dispõem-se, de um modo característico, em lâminas extremamente finas ,
distribuídas alternadamen te , muito próximas umas das outras . Dessa forma ,
origina-se um novo constituinte, que se apresenta em uma forma lamelar
típica, e é conhecido como perlita. Abaixo de 727ºC, resfriando-se até a
temperatura ambiente não se nota mais qualquer alteração estrutural. Em
resumo, os aços hipoe~tetóide s (isto é, aquele~ com teor d~ carbon~ inferi~r
a 0,77%) são constituídos à temperatura ambiente, de fernta e perhta. ~ais
ferrita existirá quanto me~or for a quan_tidade de c~rbono; em c?ntrapartl?a,
quanto mais próximo ao eutetóide, ma10r a quant1dad_e de perhta. Se a !1ga
com teor de c b t o e Q ou o ferro comercialmente puro, apos a
ar ono en re , . , · · 1· h d
solidificação , apresen t ara, a solução sólida austemta ate · 1atmgIT a m a e
transformação A Até a linha GP, o ferro comercia men ~ puro ~era t ,
3
constitui'd d · • d li"nha GP até a temperatura ambiente sera de
e . o e austemta, e a ,, . . b
terr1ta A p· d odo sintetico as m1croestruturas o servadas
d · 1gura 7 retrata, e m ;.
urante o resfriamento de um aço hipoeuteto1de.
294 F. Domingos Pannoni

1600------------------,
1538
1493

1400
1394

ô
o
1200
1147
,._,,
~
~ 1000
L.
Q)
e. 912
E
~ 800
727

\ º~º!: ___ ,& a+ Fe C


~ 9 Fe c 3
3 Cementita (Fe3C)
1
Ferro-a (ferrita)

0,76 1 .
2214 3 4 4,30 5 6 6,67
Composição (o/op C)
Figura 7 - Representação esquemática das microestruturas para uma liga ferro-carbono com composição
hipoeutetóide (contendo menos do que 0.76% de carbono) durante o resfriamento desde a região da austenita até a
temperatura ambiente.

A constituição estrutural à temperatura ambiente das ligas ferro-


carbono, de 0% até 2,11 % de carbono, esfriadas lentamente a partir de
temperaturas acima da zona crítica é dada por:
• ferro comercialmen te puro - ferrita;
• aços hipoeutetóide s (até 0,76% de carbono) - ferrita e perlita;
• aços eutetóides (0,76% de carbono) - perlita;
•aços hipereutetóid es (0,76% a 2,11 % de carbono) - perlita e
cementita.
É importante ressaltar que, na maioria das situações corriqueiras,
taxas de resfriamento muito lentas raramente ocorrem ; de fato, e~
muitas ocasiões são desejáveis condições fora do equilíbrio. Do~s
efeitos importantes do afastamento do equilíbrio são: (1) a ocorrência
de mudanças ou transformaçõ es de fases em temperaturas difer~nte~
daquelas previstas no diagrama de fases, e (2) existência ª
temperatura ambiente de fases fora do equilíbrio, que não apare~em
no diagrama de fases. Esses efeitos serão discutidos a seguir, aind a
neste capítulo.
A Figura 8 mostra o aspecto micrográfico da ferrita, da austenita e
de um aço perlítico-ferrí tico contendo 0,38 % de carbono.
Microesrrur d
ura os Materiais Metálicos 295

. .
Ferrita-n (ampliação de 90x);. ·
·F, " .' .)..;-,, ..J'- r ' . _,.

Co?1o _visto ~te:iormente , o ferro existe em três formas alotrópicas - duas de


especial 1mportancrn - alfa e gama. Elas são estáveis em diferentes faixas de
temperaturas. Essas formas se caracterizam por poderem manter em solução
sólida, dentro de uma grande faixa de concentrações, vários elementos de liga que
podem participar da composição dos aços. Se, no ferro puro, a mudança de alfa à
gama ocorre em uma única temperatura (912ºC), a presença de qualquer elemento
químico adicional acaba por criar uma faixa de temperaturas mais ou menos
estreita, na qual ambas as formas alotrópicas podem coexistir em equilibrio. Os
aços, de modo geral, sofrem adições de elementos de liga para tomá-los
acessíveis ao tratamento térmico ou para melhorar sua resistência à corrosão
atmosférica.
Adições de elementos de liga aos aços, tais como manganês, níquel, cobre,
nitrogênio, silício, cromo, etc., promovem grandes alterações no diagrama de
fases ferro-carbono. Essas alterações compreendem, de modo geral, alterações
na posição dos contornos entre as fases e dos próprios formatos dos campos das
fases. A extensão das alterações é dependente especificamente do elemento de
liga e de sua concentração. Uma importante. . ~teração cau~ad~ pelos elemento~
de liga é o deslocamento da posição eutet01de em relaçao a temperatura e a
concentração de carbono.

10.4 Transformações de fase em metais


1O.4.1 Introdução

Os materiais metálicos são conhecidos pela sua versat~dade: Uma gran~e


Varied d . d obtida através de alteraçoes ID1croestruturais
a e de propnedades po e ser _ de fase. Por exemplo, um aço
0
decorrentes de algum tipo de transfof!11~ça. , tração variando de 630 MPa a
eutetóide d limites de res1stencia a
rna· d po e apresentar d tamento térmico empregado na confecção
is e 2.000 MPa dependendo o tra
da liga. ' " d" . O
A8 divididas em tres grupos 1stmtos.
transformações de fase podem ser
296 F. Domingos Pannoni

primeiro grupo reúne as transformações dependentes da difusão, em que não


existe alteração do número e da composição de fases prese~tes. A e~s~ grupo
pertencem a solidificação de um metal puro, as transformaçoe s alotrop1cas e a
recristalização e o crescimento de grão.
O segundo grupo inclui as transformações ~ue, como no. c~so anterior,
também dependem da difusão , mas existe alteraçao nas compos1çoes das fases
presentes (e, algumas vezes, do número de fases presentes). A reação eutetóide
é um bom exemplo para esse grupo. O terceiro grupo reúne transformações de
fase que se processam sem a ocorrência de difusão. Nesse caso, uma fase
metaestável é produzida. A transformação martensítica se enquadra nessa
categoria.

10.42 Cinética de reações no estado sólido

As transformações de fase que ocorrem no estado sólido não ocorrem, de


modo geral, instantaneamente. Um dos impeditivos é que a geração de uma
nova fase com composição química ou estrutura cristalina distintas envolve a
difusão de espécies; difusão é um fenômeno dependente do tempo.
O primeiro processo a acompanhar uma transformação de fases é a
nucleação. Esse fenômeno consiste na formação de partículas muito pequenas
da nova fase, passíveis de crescimento. Os contornos de grão , assim como
locais contendo imperfeições variadas, são locais favoráveis à formação desses
núcleos. O segundo processo trata do crescimento do núcleo, quando eles
aumentam de tamanho (e uma parte do volume da fase original desaparece). A
transformação termina quando o crescimento dessas partículas de nova fase
atinge o equilfbrio .
. ~ ?ependência da taxa de transformação em relação ao tempo é chamada de
cmetlca de transformação. A fração da transformação, y, é função do tempo, t,
de acordo com:

y = 1-exp(-ktn)
(Equação 3)

onde k e n são consta1:tes. ~ Equação 3 é conhecida como equação de Avrami.


A taxa?~ transformaçao, r, e, por convenção, indicada como o inverso de tempo
necessano para que a transformação prossiga até a metade de sua conclusão, to.s:

r= 1/1
/ o,s (Equação 4)
A temperatura é · , 1· d
. uma vanave unportante no processo de tratamento térmico os
metais e de modo al · f1 · ~
p .
d f
d: : ~~fo g~r ' m uencia profundamente a cinética de transforrnaçao
ara ª :nruona das r~ações, em faixas específicas de temperatura, a taxa
rmaçao se correlaciona com a temperatura por:
Microestrutura dos Materiais Metálicos
297

(Equação 5)

onde Ré ª. constante dos gases, Ta temperatura absoluta (K), A é uma


constante independente da temperatura e Q é a e · d . -
específica para a reação. nergia e ativaçao

J0.43 Alterações microestruturais e de propriedades nas ligas


ferro-carbono

O diagrat?a ferro-~arbono (e própria localização da zona crítica),


como descnto na Figura 6, considera taxas de resfriamento muito
lentas. Os constituintes da transformaçã o da austenita - ferrita
cementita e perlita - de acordo com sua quantidade relativa, permite~
certa variação nas propriedades mecânicas dos aços. Esse efeito dos
constituintes obtidos pela lenta decomposição da austenita sobre as
propriedades mecânicas dos aços, embora apreciável, está longe de se
comparar ao efeito que pode ser conseguido pelo rápido resfriamento
da austenita.
A formação da ferrita, da cementita e da perlita exige a mudança do
reticulado cristalino do ferro, assim como o movimento de átomos, por
difusão, através da austenita sólida. Essas modificações levam tempo.
Em conseqüência , se for aumentada a velocidade de resfriamento da
austenita, ou seja, se o aço for resfriado mais rapidamente, não haverá
tempo suficiente para uma completa movimentaçã o atômica, e as
reações de transformaçã o da austenita se modi~icam, podendo I?esmo
deixar de se formarem os constituintes normais - como a perltta - e
surgirem novos constituintes de grande importância para a aplicação
dos aços
Podem.-se exprimir tais fatos, quando se aumenta a velocidade de
resfriamento da austenita no diagrama ferro-carbono , .como resultando
em uma alteração de posição da zona _crítica, traduzida pelo gra.du~~
abaixamento das linhas de transformaçao A 3 e A1, 0 qual pode atrngdi
·f· a não é um rebaixamento a
centenas de graus A rigor ' o que se ·ven ic ' - d ·d
· ,. · das transformaçoe s, ev1 o a
zona .crítica, mas sim um atraso n~ imcw f"' 1· s Com velocidades de
uma .mércia própria de certos feno~en?dsad~ ~~ít.ica, só se verifica a
1
resfriamento maiores do que ª ve ?c e desempenha papel de
formação do constituinte n:iartensita, q~ martensita é uma solução
~~l~vância no tratamento térmico do~açf~~~ita na qual o excesso de
0
hda supersaturada de carbono ~ tensão 'que forma um reticulado
carbono deforma o reticulado em ta ex trutura possui elevada dureza.
~trag.onal de corpo centrado .. Es~ao ~sonstituinte mais duro dos aços e
epois da cementita, a martensita e
298 F Domingos Pannoni

se apresenta na forma de agulhas. ,, .


Os fenômenos que ocorrem quando o aço e resfnado a diferentes
velocidades são melhores compreendido ~ pelo estudo da transformação
isotérmica da austenita em perlita, em diversas temperaturas abaixo de
727ºC (isto é, pelo resfriamento rápido de um aço_ eutetóide até uma
temperatura abaixo de 727ºC), mantendo-se, a segui~, essa temperatura
constante até que toda a transformaçã o da austenita se_ p~ocesse. A
transformaçã o em perlita obedecerá a uma curva de reaçao isotérmica
como a indicada na Figura 9, na qual se considerou um resfriamento
brusco da austenita a 600ºC. Um aço eutetóide possui somente uma
temperatura de transformação - 727ºC - e resulta, como produto de
transformaçã o, somente a perlita.

100
o

?fl. 80 f--- - - - -- -1------ --------; 20



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C>
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E
.... 60 I - - - - - - --J-- -- - - - - - ------4 40 ?fl.
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C>
~
u. 20
r------- 1------ ---- - - - 80

100
1 10 100 1000
Tempo, s

Figura 9 - Representação da transformação isotérmica da transformação da austenita em perlita.

Im~ginemos u~ experimento em que amostras do aço eutetóide são,


depois de convementem ente austenitizado s, mergulhados em um banho
de chumbo a uma temperatura de 680ºC e aí mantidos durante 10, 100,
200, 500, etc. segundos. Como houve um resfriamento brusco da
temperatura de austenitização a 680ºC, a austenita permanece estável,
mas ela tenderá a transformar-s e, com o tempo, no seu produto de
transformação - a perlita.
Decorrido o tempo desejado, as amostras são mergulhadas em água
(ou salm?~ra) e as propriedades são medidas (ou a estrutura observada)
Pª.ra verificar o andamento da transformaçã o. O acompanhamento ao
microscópio é feito pela avaliação do produto resultante da
Microesh·utura dos Materiais Metálicos
299

ansformação normal da austenita isto é el . _


~ perlita presente. Verifica-se que' a for~a~- ª ;vaha~ao ~a quantidade
ensiderada, é progressiva, isto é as amªoºst ª perlfit~, a temperatura
º s de mant1· d as a 6 80 º C durante
edepoi ' temp ras es
d"f nadas em á gua,
. d
quantida es crescen es t d .
e perhta para te os I erentes, mostram
perman~ncia a essa temp~ra~ur~. mpos crescentes de
Repetrndo-se a expenenc1a, isto é mergulhando se
. . , - novas amostras
do mesmo aço d epo1s de convenientem ente austenitizado s e b h
b f d ·d ·d , m an os
de chum o un 1 o, mant1 . os a outras temperaturas , tem- se uma
série _de tempos os quais_ marcam, para várias temperaturas , 0 início
e O fim da transformaç ao. Pode-se, assim, construir um diagrama
"temperatura - t empo " , em que, para cada temperatura, tem-se uma
indicaç~o da por~entagem de transformaçã o em função do tempo.
Esse diagrama e chamado de transformaçã o isotérmica (ou a
temp eratura constante). Nesse diagrama, em que o tempo é
apresentado na forma logarítmica, marcam-se, para cada
temperatura, os pontos de início de transformaçã o da austenita (isto
é, quando começa a se formar perlita) e os pontos de fim de
transformação (quando toda a austenita já foi transformada em
perlita). Tem-se, assim, no diagrama, uma série de pontos de início
e de fim de transformaç ão, os quais, ligados entre si, originam duas
curvas com a forma de C. A Figura lO(a) representa o diagrama de
transformação isotérmica de um aço eutetóide.
Essas curvas são chamadas "TTT", ou "tempo-temp eratura-
transformaçã o". O exame dessas curvas para um aço eutetóide
revela que:
a) a linha horizontal , na parte superior do diagr~ma, representa a
linha inferio r da zona crítica, isto é, a linha A1 a temperatura de
727ºC·
b) ~ linha em forma de C marcada como I_ define o ~empo
~e.cessário para que a transformaçã o da austemta em perhta se
1n1cie·'
,, .
e) a linha marcada coi:no F defin~ o tempo ne~:~sano para que a
transformaçã o da austen1ta em perhta se comple ' ,
d) a t f - d ora para se iniciar e para se completar, a
rans ormaçao em 1 ·d d
tem peratura log . d "ti·ca· em outras palavras, ave oc1 a e
o abaixo ~ ~r~ , .
de transformaçã o é baixa 1n1cialmente ,. . . 1t ,, d
) - 0 se rniciar e se comp e ar e ca a
e a demora para a transformaça ratura até que , a cerca de
Vez menor à medida que decresce a tempe f ' - .
550ºC . ,, "d 101· "cio de trans ormaçao,
f) , t~m-se o mais rap1 ° novamente O tempo par_a que a
t abaixo de 550ºC, aumenta tempo em que a velocidade de
ran sformação se inicie, ao mesmo
tran)sf?rmação decresce; d erca de 200ºC, a linha M i e, mais
g finalmente, à temperatura e c
300 F. Domingos Pannoni

ab aix o, a lin ha Mr , ind ica m o ap are cim en to d~ ou tro tip o de


tra ns fo rm aç ão , qu e ac on tec e ins tan tan ea me nte , e 1~ de pe nd en te do
tem po . A fa ix a de tem pe rat ur as en_tre_ as qu ais oc or re ess a
tra ns fo rm aç ão , tot alm en te dif ere nte da 1n dic ad a pe las cu r~ as . em C,
é de Mi a Mr . As sim , a ce rca de 20 0 0 C, ~m no vo . co ns tit uin te , a
ma rte ns i ta, cu jas pr op rie da de s se rão vis tas ad ia~ te, ap are ce
ins tan tan ea me nte , em po rce nta ge ns cre sc en tes , a pa rti r d~ M i, até
co ns tit uir , à tem pe rat ur a co rre sp on de nte a M r, a tot ali da de do
pr od uto de tra ns fo rm aç ão . _ .
Os co ns tit uin tes res ult an tes da tra ns fo rm aç ao da au ste n1 ta nas
dif ere nte s fai xa s de tem pe rat ur as ap are ce m na se gu int e se qü ên cia:
a) Lo go ab aix o de A 1 , zo na em qu e a ve loc ida de de tra ns fo rm aç ão
é mu ito ba ixa , fo rm a-s e pe rli ta lam ela r, de gr an ula çã o gr os sei ra e
de ba ixa du rez a (5 a 20 Ro ck we ll C) .
b) Na me did a em qu e a tem pe rat ur a ca i , na s pr ox im id ad es do
co tov elo da cu rv a , em tor no de 55 0ºC , a pe rli ta qu e se for ma
ad qu ire tex tur a ca da ve z ma is fin a e du rez a ca da ve z ma is ele va da
(de 30 a 40 Ro ck we ll C) . Pa ra dif ere nc iá- la de pe rli ta lamelar
no rm al, ess e co ns tit uin te é ch am ad o de pe rli ta fin a. Es ta é a for ma
ma is du ra da pe rli ta e a qu e ap res en ta as lam ela s ma is finas
( dif icq me nte pe rce ptí ve is ao mi cro sc óp io) .
c) A tem pe rat ur a en tre 55 0º C e 20 0º C, há , no va me nte ,
ne ce ssi da de de um tem po ma is lon go pa ra se ini cia r a tra ns fo rm ação
da au ste nit a. Ne ssa fai xa de tem pe rat ur as , o pr od uto da
tra ns for ma çã o res ult an te va ria de as pe cto , de sd e um ag reg ad o de
fer rit a em fo rm a de pe na e ca rbo ne to de fer ro mu ito fin o , em torno
de 45 0ºC , até um co ns tit uin te em fo rm a de ag ulh as co m co loraçã o
es cu ra (em tor no de 20 0ºC ). Es sas es tru tur as sã o de sig na das co mo
ba ini ta e po ssu em du rez a qu e va ria de 40 a 60 Ro ck we ll C .
d) Fi na lm en te, na fai xa de tem pe rat ur as co mp ree nd ida s en tre Mi
(ap ro xim ad am en te 20 0ºC ) e M r ( em tor no de 1OO ºC ), for m a-s e um
co ns tit uin te no vo , tot alm en te dif ere nte do s an ter ior e s, cu ja
for ma çã o de pe nd e ex clu siv am en te da tem pe rat ur a - a ma rte ns ita .
. Aç os qu e nã o sã o eu tet óid es ap res en tam cu rv as em " C"
d1f~rentes. No ta- se , ne las , em pr im eir o lug ar, ma is um a linha
~10n~on!al - A 1 • A Fi gu ra lO (b) ilu str a o dia gr am a de tra ns fo rm açã o
1so ter ~1 ca pa ra um aç o hip oe ute tói de . Po
de se r ob se rvado 0
aparecu~ent_o _d~ ou tra lin ha , ind ica da po r Fi. Es sa lin ha indica a
sep a~ aç ao 1n1cial da fer rit a qu an do o aç o en tra , du ran te 0
r~ sfn am en to len to, na zo na crí tic a. A Fi gu ra lO (c) rep resenta 0
f.i ag r~m ! T_TT pa ra u?1 aç o hip ere ute tói de . Ne la, po de -se no tar urn a
arn~a iden~ica. a _d~ Fi gu ra l 4( b) , de sig na da ag or a po r C i, indican do
ep ara ça o rn1cial da ce me nti ta qu an do es se aç o pe ne tra , 00
res fn am en to, na zo na crí tic a.
Microestrut d
ura os Materiais Metálicos
301

900

Austenita 800
_____
-?? _ _f>:__ A~st~nita
F1 A+F A --

700 100 P.
1

600
oo
ai A+F+C
B soo 500
~ 1
Q) 1
e. • 1
E .:oo B • '
{!!. ,___;\L... : Bainita

,.:soo~,;~------ aclcuia, 300

200 200 200

Mr
100 100 100
Martensita Mr
------------------------
o o o
12 -1 8 15 12 -1 8 15 12 4 8 15 1 2 4 8 15 1 2 4 8 15 1 2 4 8 IS 1 2 4 8 15 1 2 4 8 IS 1 2 4 8 15
-Sc<Juodm--t.tn,,.c s-Hot:n+ -Scg.6'das--Monulas_..Hcr:is-+

(a) - eutetóide (b) - hipoeutetóide (b) - hipereutetóide

Figura 10 - Diagrama TTT para: (a) um aço eutetóide, (b) um aço hipoeutetóide e (e) um aço
hipereutetóide.

Na comparação das Figuras ll(b) e ll(c), verifica-se, ainda, que o aumento do


teor de carbono tende a deslocar a curva "C" para a direita, isto é, retarda o início
e o fim da reação para formação da perlita. Além disso, a temperatura de reação da
martensita é grandemente rebaixada com o aumento do teor de
carbono.Finalmente , uma última observação pode ser feita: existe uma tendência
geral das curvas em "C" de se aproximarem tanto mais do eixo das ordenadas
quanto menor o teor de carbono, o que significa que, quanto menor o teor de
carbono, tanto mais difícil se obter por resfriamento, ainda que muito rápido, de
uma estrutura unicamente martensítica.
As curvas ITf descritas abaixo são típicas das transformações que ocorrem a
uma temperatura constante. Entretanto, do ponto de vista prático, as
transformações que mais interessam são as que se verificam quando a temperatw·a
d:cresce continuamente visto que a maior parte das operações de tratamento
'
· envolve transformações
te. rnuco fr. ,, A ·
que ocorrell?- ~m res 1amento ~o~tinuo. ss~m, a
ngor, o diagrama TIT não poderia ser utilizado com ? obJet1vo ~e verificar
estruturas resultantes de resfriamento contínuo em determinadas velocidades.
302 F. Domingos Pannoni

o
900

1 2 4 8 15 1 2 4 8 15 1 2 4 8 15
+-Segundos ,. • Minutos~Horas -+

Figura 11 - Diagrama ITf para resfriamento contínuo.

Entretanto, é possível, pelo emprego de técnicas semelhantes às utilizadas para


a determinação dos diagramas de transformação isotérmica, obter um diagrama
como o representado na Figura 11. Essa determinação leva a um deslocamento
para a direita e para baixo das partes superiores das curvas de início e de fim de
transformação, em relação às curvas TTT, como se pode observar na Figura.
Essa figura indica, ainda, em linhas pontilhadas, a parte inferior do diagrama.
ou seja, a parte de baixo do "cotovelo" das curvas. Isso porque, para resfriame~to
contínuo, uma vez ultrapassadas as curvas de início e de fim de transformaça?,
numa determinada velocidade de resfiiamento, nada mais ocorre ou nada mais
resta a transformar, pois as transformaçõe s previstas ou procuradas se
completaram.
Na parte inferior do diagrama, restarão apenas as linhas Mi e Mr
Microestrurura dos Materiais Metálicos 303

Spondentes à formação de martensita, que sempre poderá ser formada desde


corre d fri d '
ue a velocidad~ e}es ~ento a otad~ ~eJa tal que a curva correspondente
qev1·te ou tangencie o Joelho da curva de llllc10 de transformação.
fi . 1 p·
Esses fatos _1cam_ 1:1ais caros na 1gura 1~, em que várias velocidades de
friarnento sao ad1c1onadas. A figura perrrute comprovar a importância do
~~s1 grama de resfriamento contínuo na determinação das estruturas e propriedades
ª resultam quando os aços, depois de aquecidos, são submetidos a várias
qufocidades de resfriamento. O exame da Figura 12 permite as seguintes
venclusões: um aço resfriado muito lentamente, por exemplo, dentro de um forno
courva A), começa a se transformar em perlita ao atingir o ponto Ai e, ao atingir
(0e ponto Ar, é inteiramente constituído de perlita. Essa perlita é de granulação
osseira e apresenta baixa dureza. Logo, aços esfriados muito lentamente
:resentam, à temperatura ambiente, o constituinte perlita grosseira e são de
baixa dureza.
800

700

600
ü
o

~
:, 500
~ \ A
Q)
a. '' ''
E 400
Q) '' ' ',l'
1-
'' '\ .... ........ _
''
300
'' M,
-....
'
200

100
º""
Dmr
''
' M, \
F E D e B

Tempo, 5 (escala logarítmica) _


.
Figura . da superposiçao
12 - Representação esquemática . - de curvas, de resfriamento no diagrama de transformaçao
para resfriamento continuo.

. . ,, . r exemplo (curva B), o aço apresentará


Com resfriamento mais rap1do, ª? ari po d Com velocidade de resfriamento
perlita mais fina, com dureza mais e e~a .ª·. ·ada em e e terminada em Cr dá
maior, em óleo (curva C), a ~ansformaçaâ mi~~ maior. c~m resfriamento ainda
como constituinte perlita mais fina, com . ~r~ de transformação se dá no ponto
mais rápido (curva D), verifica-se que~ m;cio a curva de resfriamento não toca
Di· A velocidade de resfriamento ~gora e :od~eque a transformação em perlita
na
a curva de fim de transformaçao, de ·da Ao atingir o ponto Dmi• a
penas se inicia, interrompen o- d se em segm · - ·
artensita cuja formaçao temuna em
austenita que não se transformou passa_ a md d esfriamento é simultaneamente
Dmr· A estrutura resultante dessa veloc1da e e
Perlita e martensita.
304 F. Domingos Pannoni

Com um resfriamento ainda mais rápido (curva F), em água, verifica-se que a
curva de resfriamento não toca a curva de transformação, de modo que não há
transformação da austenita em produto lamelar, ma~ su:nplesmente passagem a
martensita, quando, no resfriamento, ~ão atl~g1da~ as te11:,peraturas
correspondentes a Mi e Mf. Logo, os aços esfnados mms rapidamente sao os mais
duros.
Pode-se notar que há uma velocidade de resfriam~~t~ à qual correspon9e uma
curva de resfriamento que tangencia a curva C de ~cio de tra~sformaçao para
resfriamento contínuo. A essa velocidade de resfriamento da-se o nome de
velocidade de têmpera. Ela indica que é desnecessário ,,r~sfriar-se o aço ~ais
rapidamente para que se produza uma estrutura martens1t1ca. Define-se, assim,
velocidade crítica de resfriamento (ou de têmpera) como a "menor velocidade de
resfriamento que produzirá estrutura inteiramente martensítica".
A velocidade de resfriamento e, em última análise, o tipo de tratamento térmico
serão, portanto, escolhidos de acordo com a estrutura e as propriedades que se
desejam.
Assim, quando se visa obter a máxima dureza, deve-se procurar produzir a
estrutura martensítica, isto é, escolher um tratamento térmico com resfriamento
rápido. Quando se visa ao mínimo de dureza, é necessária estrutura perlítica, ou
seja, resfriamento lento.

10.4.4 Comportamento mecânico de ligas ferro-carbono

Uma grande parcela dos aços utilizados na construção civil possui uma
estrutura composta de ferrita e perlita. Os aços longos e planos costumeiramente
utilizados sofrem adições de elementos de liga, cuja principal finalidade é a de
permitir sua produção na aciaria. Esses elementos adicionados também
promovem o aumento de resistência da liga. Por exemplo, o manganês é
adicionado para se combinar com o enxofre, e, ao mesmo tempo, é um agente de
aumento de resistência mecânica. O manganês e o silício são desoxidantes; o
alumínio é um desoxidante e um refinador de grão - também um agente de
aumento de resistência.
_As ligas ferrosas, como vistas anteriormente, são constituídas por
rrucroestruturas diversas, como a ferrita, cementita, martensita, etc. A cementita é
muito_ mais dura, porém muito mais frágil do que a ferrita. Assim, o aumento da
quantidade de cementita em um dado aço (mantidos os outros microconstituintes
constantes) resultará em um material de maior resistência mecânica. Como a
cem~~tita é frágil, o aumento deste constituinte promoverá uma diminuição da
ductilidade (e da tenacidade). A Figura 13 mostra a influência do teor de carbono
em algumas propriedades mecânicas importantes.
Os aços ferríticos-perlíticos comuns são, essencialmente, aços que dependem,
para~ obtenção de suas propriedades, da presença de carbono e manganês. O
conteudo ~e carbono pode ser variado de 0,05% a 1,0% (em peso), enquanto que
o manganes pode variar de 0,25% a 1,7%.
MicroeSfrutura dos Materiais Metálicos 305

% Fe 3C
o 3 6 9
1200
1 - r- 12

i.----Perlita + Ferrita_r_-.+l...'...P~er~lit~a_J
15

m
a.. 1100 + Fe C 120
3
~
m
'õ 1000

-"'
e
<Q) 100
'ci> 900
....
Q)

Q)
"O
800 +-- Limite de resistência 80 ?fl.
2 ai
.E "O
ro
Q)
700 :'Q

-o
eQ)
E
600
60 U
o
::::,

m
o 40
o 500
"'
Q)
Q)
"O
400
2 20
.E Alongamento___ .
:::i 300
1~
o 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
%C

Figura 13 - Influência do teor de carbono existente em aços estruturais comuns sobre o limite de escoamento,
limite de resistência e ductilidade.
(Adaptado de Metais Handbook: Heat Treating, Vol. 4, 9th edition, American Society for Metais, 1981 , p.9)

A Figura 14 mostra o efeito da variação desses dois elementos


químicos na resistência mecânica. A regressão linear indica as
contribuições relativas na resistência de três mecanismos importantes:
e?durecimento por solução sólida, tamanho de grão e endureciment o por
dispersão. O carbono proporciona um meio muito barato de aumento de
resistência de aços normalizados , mas a extensão dessa adição depende
do requisito de soldabilidade da liga. A soldagem de aços com elevado
teor de carbono leva à formação de trincas dentro da região de solda, de
modo que é usualmente necessário limitar o teor de carbono a menos de
0,2%. Nessas circunstância s, o aumento adicional de resistência pode ser
obtido pelo endurecimen to por soluç~o sólida, aum~ntando-s~ o teor de
manganês a entre 1% a 1 5%. Alternativame nte, o refrno de grao pode ser
obtido através da pequ~na adição de elementos tais como alumínio,
vanádio, titânio e nióbio, em concentrações que normalmente não
excedem 0,1 % .
306 F. Domingos Pannoni

600 600

ro
ll.
(l) :E 500 500
"O -
(l) -~
- u
·- e: Perlita
E •(l)
::i 'ti
ºiii
~ 400
Tamanho de grão

Endurecimento por solução sólida Endurecimento por solução


pelo manganês sólida pelo manganês
300
0,05 O, 1 O O, 15 0 ,20 0,25 0,5 1,0 1,5 2 ,0

C,%P Mn, %P

Figura 14 - Fatores que contribu em à resistência dos aços C-Mn (adapta do de IRVINE et ai., 1962, p. 821).

O alumínio forma uma dispersão estável de partículas de AlN (nitreto de


alumínio) , algumas das quais perm anece m nos conto rnos de grão
austeníticos em altas temperaturas, segurando esses contornos e prevenindo
o crescimento excessivo do grão. Na transformação, da ferrita e perlita,
tamanhos de grão ao redor de 5 µm a 6 µm de diâmetro pode m ser atingidos
com 0,03% AlN no aço. O vanádio, titânio e nióbio formam carbonetos
muito estáveis, que também "travam" os contornos de grão da austenita,
permitindo que se formem grãos de ferrita muito mais finos quando da
transformação da austenita.
A maior parte dos aços carbono é utilizada na condição de "laminado a
quente" , isto é, diretamente da laminação, sem posterior lamin ação a frio ou
tratamento térmico. O grupo mais importante de aços carbono, laminados a
quente, contém menos de 0,25% de carbono e é utiliz ado para fins
estruturais como perfis, cantoneiras , chapas, etc., em edificações , pontes,
vasos de pressão, navios e tanques de estocagem.

10.4.5 Tratamento térmico de ligas metálicas

Compreende-se por tratamento térmico um conjunto de operações de


aquecimento a que são submetidos os aços , sob condições controladas de
temperatura, tempo , atmosfera e velocidade de resfriamento , com o objetivo
de altera r as suas propr iedad es ou confe rir-lh es carac terísticas
determinados.
As propriedades dos aços dependem, a princípio, de sua estrutura. Os
tratamentos térmicos modificam , em maior ou meno r escal a, a estrutura dos
aços, resultando, em conseqüência, na alteração mais ou menos pronu nciada
de ~uas propriedades. Viu-se, de fato, nos parágrafos anteriores deste
capitulo, como se produzem transformações na austenita, segundo o tipo, ª
Microestn 1 . d
t wa os Materiais Metálicos 307

eJocidadc e as condições de resfriamento d


:struturas obtidas apresenta suas características ª _?ta_das. Cada uma das
aço, conforme a estrutura ou combinação d propnas, que se transferem
aO . . b. . e estruturas prese t
Os princ1pa1s o Jetlvos dos tratamentos térm1· _ .n es .
• remoção de tensões (oriundas, por exemp~is ~ao osfs~gumtes:
0
trabalho mecânico); ' res namento ou de
• aumento ou diminuição da dureza;
• aumento da resistência mecânica;
• melhoria da ductibilidade;
• melhoria da usinabilidade;
• melhoria da resistência ao desgaste;
• melhoria nas propriedades de corte;
• melhoria da resistência à corrosão·
• melhoria da resistência ao calor; '
• modificação das propried~des elétricas e magnéticas.
De modo geral, a melhoria de uma das propriedades mediante um
determinado tratamento térmico, é conseguida co~ prejuízo de
o.utras. Por exemplo, o aumento da ductibilidade provoca
simultaneame nte queda nos valores de dureza e resistência à tração.
Assim, torna-se necessária uma aplicação criteriosa de um dado
tratamento térmico, de modo a se reduzirem ao mínimo os
inconveniente s.

10 .4.5 .1 Recozimento de ligas ferrosas


O termo recozimento se refere a um tratamento térmico no qual um
material é exposto a uma temperatura elevada por um período de
tempo prolongado e é, então, resfriado lentamente. Esse tratamento é
normalmente empregado no alívio de tensões oriundas de tratamentos
mecânicos, ou na alteração de propriedades mecânicas, como
resistência, ductilidade ou tenacidade, ou ainda na remoção de gases
ou produção de uma microestrutur a definida.
Os processos de recozimento compreendem , de modo geral, três
estágios:
a) aquecimento até a temperatura desejada;
b) manutenção ( ou "encharcame nto"), por certo período de tempo,
na temperatura desejada; .
c) resfriamento, geralmente feita até a temperatura ambiente; .
O termo recozimento abrange difere~tes trata~entos espec1f1~0.s:
recozimento total recozimento isotérmico, recozimento para ahv10
de tensões, normalização e têmpera. .
~ recozimento total (ou pleno) consiste no,. ~quec1m~n.to do aço
acima da zona crítica durante O tempo necessano e suf!c1ente para
ter-se a 8 b. . - d arbono ou dos elementos de hga no ferro
1 11
gama segº ~d dizaçao ºf ~amento lento realizado sob condições que
, u1 a e um res n '
308 F. Domingos Pannoni

permitam a formação dos constituintes normais de acordo com 0


diagrama de fases ferro-carbono (por exemplo, em um forno ) . Esse
tratamento é utilizado com freqüência em aços com teores baixos e
médios de carbono que serão submeti~os à., u_sinagem ou que
experimentar ão uma extensa deformaçao plast1ca durante uma
operação de conformação . A liga é austenitizada pelo seu
aquecimento de 15ºC a 40ºC acima das linhas A3 ou A 1, conforme
indicadas nas Figuras 15 e 16. A Figura 15 indica que, nessas
condições , obtém-se a perlita grosseira, que é a microestrutu ra ideal
para melhorar a usinabilidade dos aços de baixo e médio teor de
carbono. A Figura 16 mostra a faixa de temperaturas empregada para
o recozimento pleno. Como pode ser observada , a prática comum
para recozer aços hipoeutetóide s é aquecê-los a temperaturas acima
da linha superior de transformaçã o A3, de modo a obter-se a
austenitizaçã o completa . A Figura 16 indica, ainda , qu e os
constituintes estruturais que resultam do recozimento pleno são a
perlita e a ferrita para os aços hipoeutetóide s ; perlita e cementita para
os aços hipereutetóid es, e apenas perlita para os aços eutetóides. O
recozimento isotérmico (ou recozimento cíclico) é usado , muitas
vezes , para substituir o recozimento total , pois este consome,
freqüentemen te , muito tempo .
-~--------
Curva de
resfriamento

~
-
:::::,
rL.o
Q)
e.
E
Q)
1-

M. --- - -
' superfície

Mr - ------------- ----
\
Produto: perlita (ou perlita e ferrita ou perlita e cementita)

Tempo, escala logarítmica

· de transfonnaçao
Figura 15 - Diagrama esquemát1co .
- para recozimento pleno.
Microestruti d
ira os Materiais Metálicos
309
1600 , - - - - - -

1400

ô
-
o

~
:J
1200

ro
L..
1000
Q)
a.
E
~

1
1
600
F+ p:
1
C+P
1
1
400
O 0,3 0,8 11,3 2
(Fe) Composição (%p C)
Figura 16 - Diagrama de fases ferro-carbono, indicando a faixa de temperaturas para recozimento pleno.

Es~e _tratamento consiste no aquecimento do aço nas mesmas


cond~çoes emp,,re_gadas ..no recozimento total e é seguido de um
resfn~mento rap1do ate a temperatura situada dentro da porção
superior de transformaç ão isotérmica, em que o material é mantido
durante o tempo necessário a se produzir a transformaç ão
completa. Em seguida, o resfriamento até a temperatura ambiente
pode ser apressado, como indicado na Figura 17. Os produtos
resultantes desse tratamento são também perlita e ferrita, perlita e
cementita ou só perlita. A estrutura final, contudo, é mais uniforme
do que aquela obtida no caso do recozimento pleno. Além disso, o
ciclo de tratamento pode ser sensivelmen te encurtado, de modo que
é muito prático quando se quer tirar vantagem do resfriamento
rápido desde a temperatura de transformaçã o e desta à temperatura
ambiente, como em peças pequenas que possam ser aquecidas em
banhos de sal ou chumbo fundido. Para peças grandes, entretanto,
o recozimento isotérmico não é vantajoso sobre o pleno, visto que
a velocidade de resfriamento no centro de peças de grande seção
P?d_e ser tão baixa, que se torna i~possível o seu resfriamento
rap ido à temperatura de transformaça o ·
Aços que contêm teores médios e al~os de car~ono ~ que possuam
u~a microestrutu ra composta por perhta gr?sseHa un1for1:11e podem
ainda ser ·t d ara serem conveniente mente usinados ou
mui o uros pt o recozimento para a J"'1v10 • d t -
.
deformad os p 1asticamen · e
d ensoes
e.
·
(ou reco z1men t o su b cri'tºco)
1 consiste no aquecimento o aço a
310 F. Domingos Pa11noni

temper aturas abaixo do limite inferio r da zona crítica . Aços que


contêm teores médios e altos de carbon o ~ que yossua m uma
microe strutur a compo sta por perlita gro~se ua umfor ~e podem
ainda ser muito duro s para serem convem enteme ~t~ usrnad o s ou
deform ados plastic amente . O recozim ento para alivio de ten sões
consis te no aqueci mento do aço a temper aturas abaixo do limite
inferio r da zona crítica . O objetiv o é aliviar as tensõe s orig inadas
durant e a s olidifi cação ou produz idas em operaç õe s de
transfo rmação mecân ica a frio, como a estamp agem profun da , corte
por chama , soldag em ou usinag em. As tens~e s começ am a ser
aliviad as a temper aturas logo acima da ambien te. Entreta nto, é
aconse lhável o aqueci mento lento até pelo menos SOOºC para
garant ir os melhor es resulta dos.

~
:::,

~
Q)
e.
E
Q)
1-

M, -------- -------- --

Produto: perlita (ou perllta e ferrita ou perlita e cementita)

Tempo, escala logarítmica


Figura 17- Diagrama esquemático de transformação para recozimento isotérmico.

De qualqu er modo , a temper atura de aqueci mento deve ser a


mínim a :º_mpa tível com o tipo e ~s condiç ões da peça , para que não
se modifi que sua e s trutura Interna nem suas propri edades
mecân icas. A Figura 18 indica a faixa de temper aturas utilizad as
~ess~ tr~tame_nto. O aqueci mento é feito e m um a te mp eratura
rnfeno r a da linha A 1 (ou até aproxi madam ente 700ºC, na região a
+ F~3C), em que as peças perman ecem pelo tempo necessá rio,
seguin do-se, de modo geral, por resfria mento ao ar. O aqu ecimen to
a temper atura~ en~re IOº C _e 20ºC abaixo da linha A 1 produz a
mel~o~ combin aç~o de microe strutur a , dureza e proprie dades
mecam c~s . Se a micr~e.stru t.ura origina l contive r perl i ta , os tempos
de recozim ento subcnt 1co ficarão na faixa de 1Sh a 25h.
. . Metálicos
Microestrutura dos Matena,s 311

1600,-------

1400

...--..
üo 1200
...._.. A
ro

-'-
=,
~
Q)
e.
1000

E
Q) Recozimento
1-- subcrítico
F i---r-.....:::Y ~..-----A1
1
1
600 F + p: 1
C +P
1
1
400
0 0,3 0,8 11,3 2
(Fe ) Composição (%p C)

Figura 18 - Diagrama de fases ferro-carbono, indicando a faixa de temperaturas para


recozimento subcótico.

Aços que foram deformados plasticament e (por exemplo, durante a


?peração de laminação) são compostos por grãos de perlita de formato
u.regular, em geral grandes, que possuem grande variabilidad e de
dimensões. O tratamento de normalização é utilizado para refinar os
g:ãos , isto é, para diminuir o tamanho médio dos grãos e produzir uma
distribuição mais uniforme e desejável. Esse tratamento,
esquematizad o na Figura 19, consiste no aquecimento do aço a uma
temperatura acima da zona crítica ( cerca de 50ºC a 1OOºC), para
for~ar austenita, seguido de resfriamento ao ar at~ a temperatura
ambiente. A temperatura de aquecimento supera a ~1nba A3 ,para os
a~os hipoeutetóid es e a linha Acm para os aç~s b1p~reut~~o1des. A
Figura 20 ilustra a operação realizada, e~ funçao da b1po~et1c! cu:_va
de transformaçã o. Os constituintes obtidos na. normah~aça_ o sao.
normalmente , a ferrita e a perlita fina, ou cement1ta e perhta fina.
312 F. Domingos Pannoni

1600---------,

1400

o 1200
-
o

~
A

- 1000
:::J
~
Q)
e..
E
Q)
1- Normalização
F l---~~-- ----A1
1
1
600 1
F+ P 1 C+P
1
1
4QQu.__ ____:1_,Ji.- --~-__,

0 0,3 0 ,8 11,3 2
(Fe) Composição (%p C)
Figura 19 - Diagrama de fases ferro-carbono, indicando a faixa de temperaturas para normalização.

~
:::::,
......
~
Q)
e..
E
Q)
1-

M. ------
'

M,~---------- ----------

Produto: perlita fina ou perlita e ferrita ou perlita e


cementita)

Tempo, escala logarítmica


Figura 20 - Diagrama esquemático de transformação para normalização.
Microestrutura dos Materiais Metálicos 313

A têrnp~ra consiste 0 no aqu~cimento. do aço até sua temperatura de


aus tenitizaçao
. - entre 815 C e
- 0870 C -
. dsegmdo de
. resfriamento rápido. A Figura
21 esquematiza essa operaçao. s me10s e res~namento utilizados dependem do
r de carbono e da presença de elementos de liga do aço em questão. Dependem
teo d d' - d
tarn bém da forma e as 1mensoes a
,. A . peça. O que se procura, nessa operação, é
btenção da estrutura martens1tica. ssun, a curva de resfriamento deve passar
: ~querda do cotove!o da curva C, e~itando-se a transformação da austeni~ em
seus produt?s ~ormais. ?s me1~~ mais com__?ns de resfriamento são: águ~, agua
ontendo sais diversos, oleo (ad1tivado ou nao) e soluções aquosas de polímeros.
~m meios gasosos, os meios mais comuns são, além do ar, nitrogênio, hélio e
aroônio. O constituinte final desejado é a martensita. Os objetivos dessa operação,
sob O ponto de vista das propriedades mecânicas, são o aumento da dureza do aço
e da sua resistência à tração. Resultam também do processo a redução da
ductilidade e da tenacidade e o aparecimento de tensões internas, que podem
ocasionar empenamento e deformação.

Curva de
resfriamento

~
::,
+-'

~
Q)
e.
E
Q)
1- Revenido até
dureza
desejada

Produto: martensita revenida


Tempo, escala logarítmica
. de trans~onnação para têmpera e revenido.
Figura 21 - Diagrama esquemático

10.4.6 Ligas ferrosas


. 0 principal constituinte. Elas são
fi rro é O
Ligas ferrosas são aquelas em que . e d que qualquer outro tipo de metal.
P~oduzidas em quantidades muito supenore~ .º de construção em engenharia.
Sao especialmente importantes como matenrus .
O grande uso das ligas ferrosas e, resultado de que.
ta terrestre·
a) nun· , · d e - b ndantes na cros , ,.. .
enos e 1erro sao a ~ ser obtidos de forma econoID1ca;
b) o ferro metálico e suas hgas podem
314 F. Domingos Pannoni

c) as ligas ferrosas são especialmente versáteis,já que suas propriedades físicas


e mecânicas podem ser adaptadas a qualquer necessidade.,, . .
A Figura 22 ilustra a classificação taxonômica para as vanas ligas ferrosas.

Não
ferrosas

Ferros
Aços fundidos

Baixa-liga _ _ _....1...._ __ . Alta-liga

\Baixo teor de carbono


[C)<0,25%

Comum

Tralâvel Aço
terrnlcamente ferramenta

Aços de grande Possuem maior


ductilidade, bons para o resistência meclmica que
trabalho mecilnlco e os aços com baixo teor
soldagem (construção de Exemplos: de carbono, porém com
pontes, ediflcios, navios, sacrifício da ductilidade e
caldeiras, carrocerias de -ASTMA36 tenacidade. Suas
automóveis e peças -ASTMA283 aplicações tipices
estruturais de grandes incluem rodas e trilhos de Exemplos:
dimensões). Não
-ASTMA570
trens, engrenagens,
tratáveis termfcamanta virabrequins e
para a forma~o da componentes estruturais -AISI/SAE 1OXX
martansíta. que exigem elevada -AISI/SAE 11XX
resistência, resistência à -AISI/SAE 12XX
Aços que contém outros abrasão e -AISI/SAE 13XX
elementos de liga, corno tenacidade.São ligas -AISI/SAE 40XX
o cobre, níquel, cromo, tratáveis termicamente
-AISI/SAE 41XX
vanádio, titanlo, nlóblo, por austenil/zação,
etc., em concentrações Exemplos: támpera e ravan/mento, -AISI/SAE 43XX
combinadas que podem para a melhoria da -AISI/SAE 46XX
atingir 10% em peso da -ASTMA242 propriedadas macánlcas. -AISI/SAE 48XX
' - - - - -...J liga. Estes aços possuem -ASTM A572 -AISI/SAE 51XX
maior resistência -AISI/SAE 61XX
-ASTM A588
mecanlca do que os aços
-ASTMA709 -AISI/SAE 86XX
comuns ao carbono
contendo baixo teor de -AISI/SAE 92XX
carbono. Não tratáveis
tarmlcamente para a
formação de martensita.

Figura 22 - Classificação das ligas ferrosas.

10.4.6.l Aços
sir:1~! ~~o ligas de ?atureza relativamente complexa. Sua definição não é
apefar de ~!to 9°~· ª. ngor, os aços comerciais não são ligas binárias. De fato,
pnncipru.s elementos de liga serem o ferro e o carbono eles contêm
sempre outros elementos secundários, presentes devido aos ~rocessos de
Microestrwura dos Materiais Metálicos
315

t bricação. Nessas condições, podemos definir O a


~arbono que contém, geralmente, de oOOS% at~º com~ sendo uma liga Ferro-
carbono. além de certos elementos secundários (com~P~f~:adamente" 2,11,% de
Enxofre), presentes devido aos processos de fab . _, MAanganes, ~osforo
e . d - · , . ncaçao. s propnedades
..,.,ecâmcas os aços sao mmto .
sens1ve1s ao teor de carbono da 11ga;
,.. - d . . em geral, os
aç os possuem concentraçao e carbono mfenor a 101 A cl ifi - . d
·fi . 7 0
c• ass caçao 11ustra a na
Figura 22 e1ass1 ica os aços m~s co1!mns de acordo com a sua concentração de
carbono.Aços ao car~ono conte1:1, alem de manganês, concentrações residuais de
outros elementos de h~a. Aços-liga, por outro lado, sofrem adição intencional de
outros elementos de liga. A definição de aço proposta permite uma distinção
entre os aços carbono comuns e os aços ligados.

I0.4.6.2 Aços comuns com baixo teor de carbono


Os,aços com. baixo teor de carbono são o~ aços mais produzidos no mundo (e
tambem os mais baratos de serem produzidos). Eles contêm, de modo geral,
menos de 0,25% de carbono e não respondem ao tratamento térmico com o
objetivo de formar martensita. O aumento de resistência é, muitas vezes, feito
pelo trabalho a frio 6 • Os microconstituintes desses aços são a ferrita e a perlita.
Assim, são aços que apresentam elevada ductilidade e tenacidade. São também
facilmente soldáveis e usináveis.
Aplicações típicas desses aços incluem as carrocerias dos automóveis, os perfis
estruturais I e H , cantoneiras e chapas utilizadas em edificações, pontes,
tubulações, etc. De modo geral, esses aços possuem limite de escoamento de 275
MPa e limite de resistência à tração situado entre 415 MPa e 550 MPa.

10.4.6.3 Aços com baixo teor de carbono, de alta resistência e baixa liga
Os aços de alta resistência e baixa liga (ARBL) constituem um importante
subgrupo dos aços com baixo teor de carbono. Esses aços também são
conhecidos como aços microligados. Eles contêm outros elementos de liga, como
cobre, níquel, cromo, nióbio, vanádio, etc., em concentrações que podem atingir
10% (de modo geral, essas adições não passam de 3%): Esses aços possuem
maior resistência mecânica do que os aços comuns com baixo te?r de carbono. A
rr_iai~ria destes aços pode ter sua resi~tê~ci~ a~en:ada me?iante tratamento
terrruco, podendo atingir limites de res1stencia a traçao supenores .ª. 480 MP_a.
Esses aços apresentam boa ductilidade, podem ser soldados com ta~ili?ade e s,ao
muito conformáveis. A família de aços conhecidos_co,:11~ aços patmave1s t~be°:
pertence ao grupo dos aços de baixa liga e alt~ n~s1s~e~cia. Qu~do sub~e~dos a
ambientes adequados, apresentam elevada res1s~enc1a a corr?s~o atmos!e:1ca.
O Quadro 1 apresenta as composições e propnedades mecarucas de ~ar1os aços
comumente utilizados. 0 aço ASTM A36 é um aço ~omum, com baixo teor de
car?ono, 0 aço ASTM A 572 Grau 50 é um aço de baixo teor d~ carbono, de ~ta
" . e baixa
res1stênci·a mecaruca . e O aço ASTM A588 Grau B e um aço de baixo
. 11ga,

6 O traba . nto de resistência de aços, particularmente na obtenção de barras


e aram lhoª frio é um importante processo de aume limite de resistência de um aço contendo 0,05%p C,
I 0
subrn ti~ds, de aços carbono e aços ligados. Por exemp o, de trefilação atinge, costumeiramente, valores acima
e Oa _ d te O processo • .
de 550 MP uma reduçao de área de 95% uran . tos roduzirão resultados duas vezes maiores.
ª· Aços contendo teores de carbono mais ai P
316 F. Domingos Pannoni

teor de carbono, de alta resistência mecânica e baixa liga, resistente à corrosão


atmosférica (isto é, um aço patinável).
Quadro l _Composições químicas e propriedades mecânicas de alguns aços comuns

Mn, Smax Si Cu Ni Cr V
ASTM
e max Pmu
(%) (%) (%) (%)
{%) (%) (%) (%) {%)
A36 0,26 -- 0,04 0,05 0,40max 0,20m,n (*}
0,01-
A572
0,23 1,35max 0,04 0,05 0,40max - - - 0,15
Gr.50
0,15- 0,40- 0,01-
A588 0,75-1,35 0,04 0,05 0,20-0,40 0,50""'"
0,20 0,50 0,70 0,10
Gr.B
Limite de Limite de Alongamento mínimo, (%)
ASTM Resistência íMPa) Lo = 200mm
escoamento (MPa)
A36 250m.n 400-550 20
A572 450m.n 18
345mn
Gr.50
A588 485mn 18
345m.n
Gr.B

10.4.6.4 Aços com médio teor de carbon o


Aços com médio teor de carbono possuem um teor de carbono situado
entre 0,25% e 0,60%. São ligas que podem ser tratadas terrnicamente por
austenitização, têmpera e revenimento, de modo a proporcionar melhorias
em suas propriedades mecânicas. Os aços comuns com médio teor de
carbono somente podem ser tratados termicamente quando em seções
muito delgadas e com taxas de resfriamento muito rápidas. Adições de
certos elementos de liga, tais como cromo, níquel e molibdênio melhoram
muito a capacidade dessas ligas de serem termicamente tratadas , as quais
são mais resistentes do que os aços com baixo teor de carbono , porém
sacrificam sua ductilidade e tenacidade . Suas principais aplicações incluem
rodas e trilhes de trens, engrenagens e variados componentes estruturais de
alta resistência que exigem combinação de elevada resistên cia, resistência
à abrasão e à tenacidade. O Quadro 2 traz alguns exemp los de aços comuns
ao carbono (AISI 1040 e 1095) e aço-liga (AISI 4340) temperados em óleo
e revenidos.
Quadro 2 - Composições químicas e propriedades mecânicas de alguns aços comuns e aços-liga
temperados em óleo e revenidos.

AISI e Mn, Pma.x Smax


(%) {%) SI Ni Cr Mo
(%) (%) -
1040
1095
0,37-0,44
0,90-1,03
0,60-0,90
0,30-0,50
0,030
0,030
0,050
0,050
-
-
-
-
-
-
--
4340 0,38-0,43 0,60-0,80 0,030 0,20/0,3Q.
0,040 0,15/0,35 1,65/2,00 0,70/0,90
ASTM Limite de escoamento Limite de Alongam ento mínimo, (%)
CMPa)
1040 430-585
Resistênc ia CMPa)
605-780
Lo-50m m
33-19
-
1095 510-830 760-1280 26-10
4340 895-1570 980-1960 21-11 -
M'
icroestrutura dos Materiais Metálicos 317

io.4.6.5 Aços com alto teor de carbono


Aços com alto teor de carbono possuem normalm
tr O 60 01 1 01 s-
situados en e , w e , ,o. ao aços mais duros
4 ' ente,
· t
teores de carbono
, · d d , res1s entes e também os
t1'\enos ducte1s entre to os os aços carbono Eles sa- ·a1m ' . '
"' , b - s- · o espec1 ente resistentes
ao desgaste e a a rasao. ao capazes também de manter fi d afiil d
ti am t · um 10 e corte a 0
Os aç?s para err ~n .as e ma°:_z~s são ligas com alto teor de carbono, contend~
tamb~m cromo, vanadio , tungstemo e molibdênio. Esses elementos químicos se
combmam ,com 0_ carbono , formand o carbetos muito duros e resistentes ao
desgaste e a abras.ao; E~ses aços são utilizados em ferramentas de corte, molas,
arames de alta resisten cia, compon entes agrícolas resistentes ao desgaste, etc.

I0.4.6.6 Aços inoxidá veis


Aços .inoxidáveis são produto s resistentes à corrosão em uma ampla variedade
de ambientes. Eles possuem em sua composição um mínimo de 10,5% do
elemento químico cromo, o que lhes confere a formação de uma camada passiva
de óxidos complex os de cromo (III) quando exposto ao oxigênio do ar. A camada
é muito fina para ser visível, fazendo com que a aparência da liga perman eça
brilhante ao longo dos anos . Essa camada é impermeável à água e ao ar,
protegendo o metal do ataque. Quando a superfície é riscada e a película
degenerada, ela rapidam ente se regenera. Esse fenômeno é chamad o de
passivação e ocorre em outros metais, como o alumínio e o titânio. O níquel
também contribui para a passivação, assim como outros elementos, como o
molibdênio e o vanádio . Existem cerca de 150 tipos de aços inoxidáveis, dos
quais 15 são os mais comuns . Os usos mais comuns dos aços inoxidáveis são em
cutelaria, utensílios domésticos em geral, instrumentos cirúrgicos, equipamentos
industriais, na indústri a aeroespacial e automotiva e em edificações.
Os aços inoxidáveis são divididos em três classes, em que se considera a fase
constituinte estrutural predominante: austenitica, martensític~ ou ferrítica. Os
aços inoxidáveis austenít icos, ou série 300, compreendem mais de 70% do total
produzido de aços inoxidá veis. Eles contêm um máximo de 0,15% de carbono,
um mínimo de 16% de cromo e níquel e/ou manganês ~uficiente para ~:,ter a
estrutura austenitica em todas as temperaturas compreendidas entre a regiao da
criogenia até O ponto de fusão da liga. Uma composição típica é a que contém
1~% de cromo e 10% de níquel, popul~ ente c_onhec!do _por inox, ~8/10. Estes
sao os aços inoxidáveis mais resistentes a corrosao ~ nao sa~ magne~cos.
Os aços inoxidáveis martensíticos não são tão res1_st~nte~ a con:o~ao quanto ~s
austeníticos ou os ferríticos, mas possuem alta res1stencia mecamca. Eles s~o
capazes
. d b 'd
e serem su meti os a a tr tamento térmico
. , .' de tal modo que a martens1 ta
,. ,..
seJa o seu · . al . . t Os aços inoxidave1s martens1t1cos contem cromo
prmc1p const1tu m e. d
(12% a 14%) molibdê nio (0,2% a 1%), de zero a menos e ? ,..e 1?1que e 2~ d ' I
aproxun· d ' 01. d carbono (aumentando a res1stenc1a, mas
t a amente 0,1 % a 1-10 e
ornAando_ o material mais frágil)· - bastante resistentes à corrosão
ços mox ·d , · ~ 'f por sua vez, sao ,
rn . 1 ave1s 1em 1cos, ,. El ntêm cromo na faixa de 10,5% e
as ainda menos do que os austemticos. es co
318 F. Domingos Pannoni

27%, e muito pouco níquel. A maior parte das comp.,osi_ções incl~i 1:1olibdênio,
alumínio ou titânio. Eles são compostos , como o propno nome md1ca, da fase
ferrita-o. (CCC). . " . "
Aços inoxidáveis austeníticos e ferríticos sã~ endurecidos e te11: sua_res1st~nc~a
aumentada mediante deformação plástica a fr10,_ ~a vez qu~ nao sao tr~a~e1s
termicamente. O Quadro 3 apresenta as compos1ço~s e prop~1ed~d:s mecfil;l:cas
de alguns aços inoxidáveis comuns. O aço AISI 409,,e um aço mo~~davel femtico,
os AISI 304 e 316L são austeníticos, e o AISI 410 e um martens1tico.
Quadro 3 - Composições químicas e propriedades mecânicas de alguns aços inoxidáveis.
AISI e max (%) Mnmu Cr Ni Ti Mo Simax Pmax Smax
(%) (%) (%) (%) (%) (%} (%)
(%)
409 o.ao 1,0 10,5-11,8 0,50max 0,75 - 1,0 0,045 0,030
304 0,08 2,0 18,0-20,0 8-10,5 - - 0,75 0,045 0,030
410 0,15 1,0 11,5-13,5 0,75mu: - - 1,0 0,040 0,030
AlSI Limite de escoamento (MPa) Limite de Alongam. mrnimo, (%)
Resistência (MPa} Lo=SOmm
409 205 380 20
---- -- -- 40
-
304 - 205 515
410 275 485 20

10.4.6.7 Ferros fundidos


Ferro fundido pode ser definido como sendo uma liga ferro-carbono-silício
contendo teores de carbono acima de 2,14%, em quantidade superior à que é
retida em solução sólida na austenita, de modo a resultar carbono parcialmente
livre, na forma de veios ou lamelas de grafita.
Na prática, a maioria dos ferros fundidos contém entre 3,0% e 4,5% de
carbono. A observação do diagrama de fases ferro-carbono, na Figura 6, indica
que as ligas contidas nessa faixa de composições se encontram na fase líquida a
temperaturas entre aproximadamente 1150ºC e 1300ºC (isto é , muito abaixo da
temperatura de fusão dos aços). Assim, essas ligas podem ser fundidas com
facilidade.
Como visto anteriormente, a cementita é um composto instável. Ela pode se
decompor em ferrita-a e grafita, de acordo com:

F~ C ~ 3Fe(o.) + C (grafita) (Equação 6)

A ten?ência a formar grafita é determinada pela composição da liga e pela taxa


de resfnamento; ela é promovida pela presença de silício em teores superiores a
1%_. Taxas de resfriamento mais lentas promovem a formação de grafita. Os tipos
mais c~muns de ferros fundidos são os ferros fundidos cinzento, nodular, branco
e maleavel.
Os ferros fundidos cinzentos são, dentre os ferros fundidos, os mais utilizados.
Den~e tod?s os materiais metálicos, eles estão entre os mais baratos. O ferro
fu nd1do ci~zento se caracteriza por apresentar como elementos de liga
nd
fu amentais O carbono e o silício, em uma estrutura em que uma parcela
Microestrutura dos Materiais Metálicos 319

relativamente grande do carbono está no estado livre como grafita lamelar


e outra parcela no estado combinado, como cementita. A grafita lamelar :
circundada por . u~a matriz de ferrita-c, ou perlita. Sua denominação s:
ongma da colmaçao escura que apresenta pela observação de uma região
fraturada. Os teores d.e, c.arbon? nos ferros fundidos cinzentos variam entre
2,5% e 4,0%, os de s1hc10 vanam entre 1,0% e 3,0% e os de manganês de
0,20% a 1,00%.
<?s "fe~ros fu~d~dos cinzentos apres~~tam fácil fusão e moldagem, boa
res1stenc1~ mecamca, excel~nte usmab1hdade, boa resistência ao desgaste e
boa capacidade_de amorteciment o. As propriedades dessas ligas apresentam
forte correlaçao com a composição química, especialmente com a
concentração de carbono grafítico e o silício. Quanto maior a quantidade de
grafita, mais mole e menos resistente será o material. A espessura das peças
e a forma como a grafita se apresenta (forma e dimensão dos veios) também
contribuem na determinação de suas propriedades. Entretanto, a matriz dos
ferros fundidos cinzentos contém ferrita e perlita. Se a ferrita predominar,
melhor será a usinabilidade do material, mas sua resistência mecânica e
resistência ao desgaste serão prejudicadas.
Se a perlita for o constituinte predominante na matriz metálica, os ferros
fundidos cinzentos corresponden tes apresentarão melhor resistência
mecânica. Uma matriz metálica contendo ferrita e perlita em proporções
praticamente idênticas proporcionará ao material dureza e resistência
mecânica intermediárias . A introdução de elementos de liga ou a aplicação
de tratamentos térmicos modificam a microestrutura da matriz, podendo
originar perlita fina ou a uma matriz acicular típica da martensita. Assim, as
propriedades mecânicas podem ser muito alteradas. .
Os ferros fundidos cinzentos são eficientes para amortecer a energia
vibracional quando comparados com os aços. Assim, estrutu~as <!ue
compõem a base de máquinas e equipame~tos pesados expostas a v1bra~oes
são construídas quase sempre nesse matenal. C~mo. possuem grande flmdez
quando líquidos, permitem a fundição de peças mtnncadas. Outra vant~g,:m
é a pouca contração do metal fundido. O Quadro 4 aprese~ta as ~omposiçoes
químicas e propriedades mecânicas de alguns ferros fundidos cmzentos ·
, . e propriedades mecânicas de ferros fundidos cinzentos.
. - quurucas
Quadro 4 - Compos1çoes
M Cr Ni Ti Mo SI Pmax Smax
e (ºf)0 (%) (%) %) (%) (%) (%) %)
SAE G1800 (%) 5 9 2 8-2,3 0,15 0,15
3,4-3,7 0, -0, _ 2:0-2,4 0,12 0,15
SAEG2500 6 9 1,8-2,1 0,07 0,15
3,2-3,5 0, -0, _
SAE G4000 3,0-3,3 0,7-1,0

AISI Limite de escoamento (MPa) Limite de Dureza Brinell


resistência
MPa)
SAE G1800 126 187max
SAE G2500 175 170-229
SAE G4000 270 217-269
320 F. Domingos Pannoni

Os ferros fundidos cinzentos possuem pouca ou nenhuma ductilidade. Os


ferros fundidos nodulares se caracterizam por apresentar, devido a um tratamento
realizado ainda no estado líquido, carbono livre na forma de grafita esferoidal
que confere ao material característica de boa ductilidade e o torna mais tenaz'.
Essas características, aliadas às boas propriedades de resistência à tração, dureza
resistência à fadiga, ao desgaste e a boa usinabilidade, permitiram abrange;
importantes aplicações. O ferro fundido nodular e o ferro fundido dúctil são
termos equivalentes em metalurgia. A adição de magnésio e/ou cério ao aço
cinzento, antes da fundição, acaba por produzir uma microestrutura e
propriedades mecânicas tão diferentes.
A grafita ainda se forma, mas agora como nódulos ou partículas com formato
de esferas, e não mais lamelas. A matriz que circunda essas partículas consiste de
perlita ou ferrita, dependendo do tratamento térmico adotado. O tratamento
térmico por várias horas a 700ºC produzirá uma matriz ferrítica.
As peças produzidas em ferro fundido nodular são mais resistentes e dúcteis do
que as de ferro fundido cinzento; suas propriedades são bastante parecidas com
as de certos aços. Essa classe de materiais é muito utilizada em flanges, tubos,
peças de válvulas, acessórios para equipamentos ferroviários, navais, válvulas,
bielas, tampas de mancais, cubos de rodas , virabrequins, engrenagens especiais,
etc. O quadro 5 apresenta as composições químicas e propriedades mecânicas de
alguns ferros fundidos nodulares.
Quadro 5 - Composições químicas e propriedades mecânicas de ferros fundidos nodulares.
e Mn Cr Ni TI Mo Si Pmax Smax
l%\ (%1 (%1 (%\ (%1 (%} (%) (%) l¾l
ASTMA536 2,0- 0,015- 0,005-
60-40-18
3,5-3,8 0,10-1,00 - 0,20max - o,1011\3X 2,8 O10 0,035
ASTMA536 2,0- 0,015- 0,005-
100-70-03
3,5-3,8 0,1 0-1,00 - 0,20max - 0,10max
2,8 O 10 0,035
ASTMA536 2,0- 0,005-
120-90-02
3,5-3,8 0,10-1 ,00 - 0,20max - o,10nwr. 2,8
0,015-
0,10 0,035
Limite de Alongamento mínimo,
Limite de
AISI resistência (%)
escoamento (MPa)
(MPal Lo - somm
ASTM A536
276 414 18
60-40-18
ASTM A536
100-70-03
483 689 3
ASTM A536
120-90-02
621 827 2

Os ferro~ fun_5lidos branc~s, cuja fratura mostra uma coloração clara (daí vem
sua denomma9~~), caractenzam-se por apresentar como elementos de liga 0
carbono e O silício. Mas sua estrutura, devido às condições de fabricação e ao
meno~ teor. de silício, apresenta o carbono quase inteiramente na forma
combmada (isto é, como cementita).
/ · adequadamente ajustada - teores de carbono e silício -
· - qu~ca
Acomposiçao
e ª velocidade de resfriamento rápida são os meios mais utilizados na produção
Microestrutura dos Materiais Metálicos 321

dos ferros fundidos brancos. Seções mais espessas podem te


r somente uma
camada superficial de ferro branco, que foi resfriada mais rapida
mente durante o
processo de fundição ; o ferro cinzento se forma nas regiões in
teriores, que se
resfriam mais lentamente. Devido à existência de tal quantidad
e de cementita,
esses materiais possuem elevada dureza e resistência ao
desgaste. Como
conseqüência, a usinabilidade é bastante prejudicada. Os elem
entos químicos
níquel , cr om o e molibdênio são, em geral, adicionados, indivi
dualmente ou em
co njunto , co m a finalidade de aumentar a resistência ao desgas
te . Esses ferros
fu ndidos sã o utilizados em equipamentos de manuseio de
terra, mineração,
moagem , em rodas de vagões , em cilindros coquilhados utiliza
dos nas linhas de
laminação , etc. O Quadro 6 apresenta as composições químicas
e propriedades
mecânic as de alguns ferros fundidos nodulares.
Quadro 6 - Composições químicas e propriedades mecânicas de algun
s ferros fundidos brancos.
ASTM e Mn Cr Ni Outros Mo
(% ) (% }
Si Pmax Smax
{% ) (% } {% ) (% ) (% } (% ) (%}
A5 32 75 IA 3,0-3 ,6 1,3 max 1,4-4,0 3,3-
5,0 - 1,0,._ 0,80max 0,30 0,15max
A532 75 IIA 2,4-2 ,8 0,5-1 ,5 11 ,0- 0,5-
14 O 0,5max 1, 2C u 1,0rnax O, 1Omax 0,06,nax
1,0
A5 32 75 23 ,0-
2,3-3,0 0,5-1,5 1,5mu 1, 2C u 1,5max
IIIA 28,0 1,0max 0,10max 0,06max
AS TM Dureza Brinell
A5 32 75 IA 60 0
(temoerado)
A5 32 75 IIA 60 0
(temoerado)
A5 32 75 60 0
IIIA (temoerado)
1

A F ig ur a 23 traz fotomicrografias de um ferro fundido cinzento


, um ferro
fu ndido no du la r e um ferro fundido branco.

Ferro fundido Ferro fu nd id o Ferro fundido


cinzento nodular branco
aumento de 1OOx aumento de 1OO x
au mento de 1OO x . d ti
fundid o no dular
f, fundido cinzento
, e um erro e de um ferro fundido
Figura 23 - Fotomicrografias de um erro d d CALLISTER JR
branco (adapta o e
., 2002, p. 253) .
322 F. Domingos Pannoni

10.4.7 Ligas não ferrosas


A p r o d u ç ã o anual d e aços s u p e r a u
m bilhão d e toneladas. E le s são pro
e m u m a e n o r m e variedade d e com duzidos
posições e propriedades. Entretanto
densidade relativamente alta e são , possuem
susceptíveis à corrosão e m alguns
usuais. A s s im , p a r a muitas aplicaç ambientes
ões rotineiras, to m a - s e vantajosa o
a utilização d e outras ligas c o m pro u necessária
priedades mais adequadas.
10.4.7.1 C o b r e e ligas d e c o b r e
O cobre e suas ligas tê m sido uti
lizados desde a antiguidade. E le
resistente à corrosão e m diversos am é muito
bientes, c o m o a atmosfera e a água
maioria das ligas d e cobre não p do mar. A
o d e s e r endurecida o u te r a s u a
melhorada através d e procedimento resistência
d e tratamento térmico. Conseqüente
deformação plástica a frio e/ou a fo mente, a
rmação d e ligas p o r solução sólida
utilizadas para melhorar as propr devem ser
iedades mecânicas. A s ligas d e c
comuns são os latões, e m que o zin obre mais
co, n a forma d e impureza substituc
elemento d e li g a predominante. A s c ional , é o
omposições, propriedades e aplicaç
de várias das ligas estão listadas no ões típicas
Quadro 7 .
Quadro 7 - Composições químicas, pro
priedades mecânicas e aplicações de li
gas de cobre .

Nome Nl'.ímero Compos. Limite Limite Ductllldade


UNS Condição Escoam. Reslst. (%along. Aplicações
(%)
MPa MPa em50mm\ Típicas
Cobre
eletrolitico C11000 Fios elétricos,
0 ,0 4 0 Recozida 69 220
tenaz 45 rebites, ®.b. p/
telhados.
Bronze 5Sn, Recozida, Grampos de
fosforado C51000 defonnada fusíveis,
0,2P 130 325 64
a frio molas,
bastão / solda
Bronze Bruto de
alumfnlo C95400 4Fe-11AI Mancais,
fusão 241 586 18 engrenagens,
Latão buchas
amarelo C85400 292n, Bruto de Peças/mobília,
comPb 3Pb, 1Sn fusão 83 234 35 acessórios de
llumlnaclío

10.4.7.2Alumínio e suas ligas


O alumínio e suas ligas possuem ba
ixa densidade (2,7 g/cm3, e m relaçã
g/cm yara o aço)., alta condutivid
3 o a 7,85
corrosao atmosci..c.::nca A . . al a d e e létrica e térmica e certa resistênc
• pnnc1p limi'taç-ao d o alumínio ia à
temdperatu~ .de fusão (660ºC), o q u e s tá n a sua baix . a
pdo de sfier utilizado A "es· t" · e r e s tr in ge a temperatura máxima e m que e
· .., is encia meca" n·ica d o alumir ,, u. o pode s e r
le
e e armação plásti~a a frio e med aumentada atrave,s
proc.ess,.os tendem a diminw·r a · ia n te a formação d e ligas. Entretanto , esse
re tê · , - s
li ga m c 1u em s1s n c1 a a c o r r o s a o . O s pn .
n c1.p .
ru s de
propriedad o c obr.e' o_magné . e le m e nto s
,, . sm, 0 sili"cio. , o manga "
n e s e o z in c . ,.,
es e aplicaçoes típicas d e várias das o . A s c o m p os1çoes,
ligas estão listadas no Quadro 8·
Microestrutura dos Materiais Metálicos 323

Quadro 8 - Composições químicas, propriedades mecânicas e aplicações de ligas de alumínio


Nº.da
Número Comp. Limite
Assoe.
UNS Condição Escoam.
~ Ducülidad e
Alum. {%) &~..mi. (%along. Aplicaçõe s
MPa MPa em50mm) Típicas
0,12Cu,
3003 A93003 1,2Mn, Utens.
Recozida 40 cozinha.vasos
0,1Zn 110 30-4-
e tubulação de
pressão
5052 A95052 2,5Mg,
Encruada 195 Arames,
0,25Cr 230 J2-18 rebites.tanques
2,7Cu, Tratada comb.
0,25Mg,
2090 - 2,25Ll,
térmicamente,
trabalhada a 455 455 Estruturas de
5
0,12Zr frio aeronaves

Referências Bibliográficas
ASM. ASM Handbook, Properties and Selection: lrons, Steels, and High-Performance Alloys. v. 1. ASM International .
Materiais Park, OH, 1990.
_ _. ASM Handbook: Alloy Phase Diagrams. v. 3. ASM lnternational , Materiais Park. OH. 1992.
_ _. ASM Handbook: Metallography and Microstructures. V. 9. ASM lntemational . Materiais Park, OH, 1985.
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM A36/36M - 05 - Standard Specification for Carbon
Structural Steel. PA, 2006.
_ _. ASTM A572/A 572M - 04 - Standard Specilication for High-Strength Low-Alloy Columbum-Vanadium
Structural Steel, PA, 2006.
_ _ . ASTM A588/A 588M - 05 - Standard Specilication for High-Strength Low-Alloy Structural Steel, up to 50 ksi
[345 MPa] Minimum Yield Point, with Atmospheric Corrosion Resistance. PA. 2006.
BROOKS. C. R. Principies of lhe Heat Treatment of Plain Carbon and Low Alloy Steels. ASM Intemational, Materiais Park,
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CHIAVER.lNI, V. Aços e Ferros Fundidos. 7. ed. São Paulo: Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais, 2002.
CALLISTER JR., W. D. Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. 5. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos Editora, 2002.
IRVINE, K. J . et al. Joumal of lhe Iron and Steel lnslitute. v.200, p.821. 1962.
SHRAGER, A. M. Elementary Metallurgy and Metallogra phy. 3. ed. New York: Dover Publications , lnc., 1969.

Sugestões para estudo complementar


RHINES, F. N. Phase Diagrams in Metallurgy - Their Developmen t and Application . New York: McGraw-Hill Book
Company, Inc., 1993. .
SHEWMON, P. G. Transforma tions in Metais. New York: McGraw-Hill Book Company, lnc'., 1969 ·
BHADESHIA, H. K. D. H., HONEYCOMBE, R. W. K. Steels - Microstruc ture and Properhes. 3. ed., Oxford: B11nerworth-
Heinemann , 2006. OH 2007
VERHOEVEN, J . D_, S tee1 Metallurgy for the non-metall urgist, ASM lntemational, Materiais Park, , .

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