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DISCIPLINA DE ESTRUTURAS METÁLICAS

Análise Plástica de Estruturas

Francisco Virtuoso

2008/09

(Versão revista em Outubro de 2012)


Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

INDÍCE

Nota introdutória. .............................................................................................................................................. ii  

1.   Esforço axial e flexão em regime elástico. Revisão dos conceitos fundamentais.............................. 1  

2.   Esforço axial e flexão em regime elasto-plástico. Revisão dos conceitos fundamentais .................. 4  
2.1.   Momento de cedência e momento plástico ......................................................................................... 4  
2.2.   Relações momentos-curvaturas .......................................................................................................... 9  
2.3.   Conceito de rótula plástica ................................................................................................................ 10  
2.4.   Análise elasto-plástica ....................................................................................................................... 13  

3.   Análise plástica limite .............................................................................................................................. 16  


3.1.   Introdução ......................................................................................................................................... 16  
3.2.   Mecanismos globais e locais. Mecanismos múltiplos ....................................................................... 16  
3.2.1   Número de rótulas necessário para a formação de um mecanismo ....................................... 16  
3.2.2   Mecanismos globais ou completos .......................................................................................... 17  
3.2.3   Mecanismos locais ou parciais ................................................................................................ 18  
3.2.4   Mecanismos múltiplos .............................................................................................................. 19  
3.3.   Teoremas da análise plástica limite .................................................................................................. 20  
3.4.   Exemplos de aplicação dos teoremas da análise plástica limite....................................................... 25  
3.4.1   Exemplos de cálculo plástico de vigas contínuas .................................................................... 25  
3.4.2   Cálculo plástico de estruturas sujeitas a cargas distribuídas .................................................. 30  
3.4.3   Exemplos de cálculo plástico de pórticos ................................................................................ 33  
3.4.4   Consideração da interacção entre o esforço axial e o momento flector no cálculo plástico de
pórticos .................................................................................................................................... 38  
3.5.   Carregamentos paramétricos ............................................................................................................ 40  
3.6.   Conceito de redistribuição de esforços ............................................................................................. 45  

4.   Referências ............................................................................................................................................... 48  

5.   Bibliografia complementar ...................................................................................................................... 48  

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

NOTA INTRODUTÓRIA.

Este texto foi elaborado como texto de apoio ao ensino da análise plástica de estruturas
na disciplina de Estruturas Metálicas do MEC (Curso de Mestrado Integrado em
Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico). A primeira versão do texto foi elaborada
durante os anos lectivos de 2007/08 e 2008/09, tendo o texto original sido revisto e
sofrido pequenas alterações nos anos lectivos subsequentes.

O principal objectivo deste texto é apresentar os princípios básicos da análise plástica


limite de estruturas. Embora o texto tenha sido elaborado no âmbito do funcionamento da
disciplina de Estruturas Metálicas salienta-se que as matérias abordadas não são de
aplicação exclusiva a estruturas metálicas. Antes pelo contrário, a análise plástica de
estruturas é um assunto transversal a toda a engenharia de estruturas, sendo aplicável
às estruturas metálicas, de betão armado, de madeira e de alvenaria, e também às
estruturas geotécnicas.

Embora seja apresentada uma revisão dos conceitos fundamentais relativamente á


plasticidade de secções e ao comportamento elasto-plástico de estruturas é importante
frisar que este texto foi elaborado no pressuposto que os leitores dominam o
comportamento plástico de secções, e a análise elástica e elasto-plástica de estruturas,
matérias que no actual curriculum do MEC/IST são leccionadas nas disciplinas de
Resistência de Materiais e de Análise de Estruturas I.

Finalmente uma palavra de agradecimento aos Professores Ricardo Vieira, Eduardo


Pereira e Luis Guerreiro pela preciosa colaboração na elaboração e revisão deste texto.

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

1. ESFORÇO AXIAL E FLEXÃO EM REGIME ELÁSTICO. REVISÃO DOS


CONCEITOS FUNDAMENTAIS

As diferentes teorias da flexão baseiam-se, em geral, na hipótese de conservação das


secções planas, vulgarmente designada por hipótese de Bernoulli. De acordo com esta
hipótese admite-se que as secções de uma viga, perpendiculares ao seu eixo antes de
este sofrer uma deformação, permanecem planas e perpendiculares ao eixo da peça
após a sua deformação.

Considere-se uma peça linear em que o seu eixo longitudinal coincide com o centro de
gravidade das secções transversais. De acordo com a hipótese de conservação das
secções planas é possível relacionar a extensão de uma fibra paralela ao eixo da peça
com o raio de curvatura associado à deformação daquele eixo. Considerem-se as duas
secções transversais representadas na figura 1, A-A’ e B-B’, afastadas entre si de um
comprimento infinitesimal dx.

Figura 1 – Deformação de uma peça linear por flexão

Na figura 1 representa-se também a deformação do troço infinitesimal de viga quando


sujeito a um momento flector constante M. Como não existe nenhum esforço axial
aplicado a variação do comprimento do eixo é nula, pelo que todas as extensões são
devidas ao momento flector. Tendo em consideração a cinemática do problema e que
todas as fibras têm um comprimento inicial dS0 = dx = Rdθ, tem-se que a extensão de
uma fibra genérica definida pela coordenada z é dada por

dS - dS0 (R + z) dθ - Rdθ z
εxx(z) = = = (1)
dS0 Rdθ R

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Por simplificação de notação, e a menos de situações particulares explicitamente


indicadas, considera-se neste texto εxx (z) = ε.

Se o comportamento do material for elástico linear tem-se que

σ=Eε (2)

em que E representa o módulo de elasticidade e σ a tensão normal. Realce-se que à


semelhança da simplificação adoptada para as extensões, σ representa na realidade
σxx (z), uma vez que se refere à tensão segundo o eixo x e é variável ao longo da altura
da secção, sendo por isso dependente do eixo z.

A distribuição de tensões na secção tem de ser estaticamente equivalente ao momento


flector aplicado, tendo-se assim

M=⌠
⌡A σ z dA (3)

Tendo em conta a relação de elasticidade, dada pela equação 2, e a relação de


compatibilidade entre as extensões e o raio de curvatura R definida na equação 1, e
admitindo que a secção é homogénea, pode escrever-se

⌠ E 1 z2 dA = E ⌠ EΙ
M=⌠
⌡A E ε z dA = ⎮ ⎮ z2 dA = (4)
⌡A R R⌡ R

2
em que Ι = ⌠
⌡A z dA representa o momento de inércia da secção em relação ao eixo y.

Frequentemente utiliza-se a curvatura, χ = 1/R, em vez do raio de curvatura, podendo


escrever-se a relação entre o momento e a curvatura

M=EΙχ (5)

Refira-se que, de uma forma geral, quer o momento flector M, quer a curvatura χ são
variáveis ao longo do eixo da peça.

No caso do esforço axial a extensão axial ε0 é constante na secção transversal, tendo-se


a seguinte relação com o esforço axial N

N = EA ε0 (6)

A partir do esforço axial N e do momento flector M, e tendo em consideração as


características mecânicas da secção transversal, é possível obter as tensões normais na
secção transversal, as quais são dadas por

N Mz
σ = σN + σM = + (7)
A Ι

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em que σN e σM representam as parcelas de tensão associadas ao esforço axial e ao


momento flector, respectivamente. Na figura 2 representa-se para um caso genérico a
distribuição de tensões normais de uma secção solicitada em flexão composta.

Figura 2 – Tensões normais numa secção solicitada em flexão composta

No caso mais geral da secção estar sujeita a flexão composta desviada, e admitindo que
os esforços estão referidos aos eixos principais centrais de inércia, as tensões normais
são dadas por

N M yz M zy
σ = σN + σMy + σMz = + - (8)
A Ιy Ιz

Na figura 3 representam-se os diagramas de tensões devidos a cada um dos esforços


actuantes numa secção solicitada em flexão composta desviada.

Figura 3 – Tensões normais numa secção solicitada em flexão composta desviada

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2. ESFORÇO AXIAL E FLEXÃO EM REGIME ELASTO-PLÁSTICO. REVISÃO


DOS CONCEITOS FUNDAMENTAIS

2.1. Momento de cedência e momento plástico

Alguns materiais estruturais, dos quais o mais importante é o aço, apresentam um


comportamento caracterizado por um patamar de cedência associado a uma tensão
normal designada por tensão de cedência. Na figura 4 representa-se o diagrama tipo da
relação tensões-extensões que se obtém num ensaio experimental dum provete de aço e
em que são evidentes a existência do referido patamar de cedência. A tensão de
cedência associada a este patamar é representada por fy.

Figura 4 – Diagrama tensões-extensões de um provete de aço

Para efeitos de análise de estruturas o diagrama tensões-extensões (σ–ε) do aço pode


ser aproximado por uma diagrama simplificado, constituído unicamente pelo troço
elástico linear, desde a origem até se atingir a tensão de cedência, e por um patamar de
tensão constante e igual à tensão de cedência. No caso dos aços as tensões de cedência
em compressão e tracção são iguais pelo que se adopta a relação tensões-extensões
indicada na figura 5, que se designa por relação tensões-extensões elasto-plástica.

As relações entre esforços e deformações e entre os esforços e tensões obtidas para os


materiais elásticos lineares são válidas para os materiais elasto-plásticos desde que a
tensão máxima na secção não ultrapasse, em valor absoluto, a tensão de cedência.
Definem-se assim os esforços de cedência de uma secção como sendo aqueles para os
quais o máximo valor absoluto da tensão na secção é igual à tensão de cedência.

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Figura 5 – Relação tensões-extensões elasto-plástica

Para o caso particular de uma secção sujeita apenas a um momento flector define-se o
momento de cedência, Mc, como o valor do momento para o qual a tensão máxima é
igual à tensão de cedência, tendo-se

M|zmax| Ι
|σmax| = = fy ⇒ M c = fy (9)
Ι |zmax|

Ι
ou, definindo o módulo de flexão elástico Wel = ,
|zmax|

Mc = Wel fy (10)

Refira-se que no caso geral uma secção tem dois momentos de cedência, cada um dos
quais associados ao respectivo eixo principal de inércia, sendo dados por

Ιy
Mc.y = Wel.y fy com Wel.y = (11)
|zmax|

Ιz
Mc.z = Wel.z fy com Wel.z = (12)
|ymax|

Se o momento flector aplicado for superior ao momento de cedência as fibras da secção


vão plastificando, começando pelas mais afastadas da linha neutra, sendo essa
plastificação progressiva até que a secção esteja totalmente plástica. Considere-se por
exemplo uma secção rectangular, conforme se representa na figura 6, na qual se
representam também os diagramas de tensões e de extensões para valores variáveis do
momento flector. Nos diagramas apresentados na figura 6 considera-se a variação do
momento desde zero até ao momento plástico Mpl, momento para o qual a secção está
toda plastificada, passando pelo momento de cedência Mc, momento para o qual se inicia
a cedência da secção.

Conforme já se referiu (equação 10) o momento de cedência é dado por Mc = Wel fy, pelo
que no caso da secção rectangular se tem

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Ι bh3 2 bh2 bh2


Wel = = = ⇒ Mc = f (13)
|zmax| 12 h 6 6 y

Figura 6 – Variação dos diagramas de tensões e extensões com o momento flector

A distribuição de tensões na secção tem de ser estaticamente equivalente aos esforços


aplicados pelo que

N=⌠
⌡ σ dA (14)

M=⌠
⌡ σ z dA (15)

Como o esforço axial é nulo, e designando por AC e AT as áreas das parcelas de secção
em que a tensão de cedência é de compressão e tracção, respectivamente, tem-se

N=⌠
⌡ σ dA = AC (- fy) + AT fy = 0 ⇒ AC = AT (16)

ou seja, para o momento plástico a linha neutra, designada por linha neutra plástica,
divide a secção em duas áreas iguais.

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Conforme se representa na figura 7, no caso de uma secção rectangular a linha neutra


plástica passa no centro de gravidade da secção, tendo-se:

bh
N=0⇒C=T= f (17)
2 y

Em que C e T representam as resultantes da tensões de compressão e tracção,


respectivamente. O momento plástico corresponde ao momento resultante das tensões
na secção, ou seja

h h bh h bh2
M = Mpl ⇒ Mpl = ⌠
⌡σ z dA = C +T =2x f = f (18)
4 4 2 y4 4 y

Figura 7 – Diagrama de tensões associado ao momento plástico numa secção rectangular

Por analogia com o módulo de flexão elástico designa-se por módulo de flexão plástico,
Wpl, o factor que relaciona a tensão de cedência fy com o momento plástico Mpl, ou seja

Mpl = Wpl fy (19)

No caso da secção rectangular o módulo de flexão plástico é dado por

bh2
Wpl = (20)
4

No caso mais geral da secção não ser simétrica em relação ao eixo de flexão, como se
ilustra na figura 8, a linha neutra plástica não coincide com a linha neutra elástica.

Conforme já se referiu a linha neutra plástica divide a secção em duas áreas iguais ou
seja AC = AT. Assim, no caso geral, o momento plástico Mpl é dado por

Mpl = ⌠
⌡ σ z dA = ⌠
⌡ - fy z dA + ⌠
⌡AT fy z dA = (SC + ST) fy (21)
AC

ou

Mpl = Wpl fy com Wpl = SC + ST (22)

em que SC e ST representam os valores absolutos dos momentos estáticos das áreas A C


e AT, respectivamente.

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Figura 8 - Diagrama de tensões associado ao momento plástico numa secção não simétrica em relação ao
eixo de flexão

O quociente entre os momentos plástico e de cedência, ou, o que é equivalente, o


quociente entre os módulos de flexão plástico e elástico, designa-se por factor de forma f,
ou seja

Mpl Wpl
f= = (23)
Mc Wel

No caso de uma secção rectangular tem-se

bh2
Wpl 4
f= = = 1,50 (24)
Wel bh2
6

Na tabela 1 indicam-se os valores dos factores de forma para diferentes geometrias de


secções transversais, salientando-se, pela sua importância no projecto de estruturas
metálicas, o caso das secções em Ι ou H.

Tabela 1 – Exemplo de factores de forma para diferentes secções


Secção Rectangular Circular Ι ou H (*) Tubular Tubular
maciça rectangular circular
Factor de 1,50 1,70 1,10 a 1,15 1,10 a 1,20 1,27
forma
* Flexão em torno do eixo paralelos aos banzos. Para a flexão em torno do eixo perpendicular às almas o
factor de forma é aproximadamente igual ao de uma secção rectangular, i.e., 1,50.

Exemplo 2.1: Cálculo do factor de forma da secção de um perfil HEA300


3 3
Wel.y = 1260 cm Wel.z = 420,6 cm
⎪W = 1382 cm
pl.y
3 ⎪W = 641,2 cm
pl.z
3
eixo yy ⎪ 1382 eixo zz ⎪ 641,2
⎪f = 1260 = 1,10 ⎪f = 420,6 = 1,52

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2.2. Relações momentos-curvaturas

No caso de uma secção rectangular e com base nos diagramas de tensões e extensões
indicados na figura 6, é possível obter a relação momentos-curvaturas que se representa
na figura 9 e que se indica por (M - χ)exacta.

Figura 9 – Relação momentos curvaturas exacta e aproximada

Enquanto o momento flector for inferior ao momento de cedência a relação


momentos-curvaturas é caracterizada por um troço com um declive igual à rigidez de
flexão elástica da secção E Ι. Quando o momento aplicado é superior ao momento de
cedência a rigidez da secção depende apenas da zona não plastificada, caracterizada
pela variável a (ver figura 6). Nesta situação o momento flector e a curvatura podem ser
definidos em função de a por
2
⎡ h - a ⎛h h - a⎞ ba2 ⎤ 3h2 - a2 ⎡ 3 1 a ⎤
M = ⎢ b 2 ⎜2 - 4 ⎟ x 2 + 6 ⎥ fy = b fy = Mc ⎢ - ⎛⎜ ⎞⎟ ⎥ (25)
⎣ ⎝ ⎠ ⎦ 12 ⎣ 2 2 ⎝h⎠ ⎦

2 ε y 2 fy h 2 fy
χ= = = χc ⎛⎜ ⎞⎟ com χc = (26)
a Ea ⎝a⎠ Eh

em que χc representa a curvatura de cedência da secção. Com base nas equações 25 e


26 é possível escrever o momento em função da curvatura obtendo-se
2
⎡ 3 1 ⎛χc⎞ ⎤
M = Mc x ⎢ - ⎜ ⎟ ⎥ para χ ≥ χc (27)
⎣ 2 2 ⎝ χ ⎠ ⎦

Como se representa na figura 9 verifica-se que, quando χ/χc cresce e tende para ∞, o
valor de M tende assimptoticamente para o valor do momento plástico Mpl.

A relação momentos-curvaturas exacta pode ser aproximada por um diagrama bilinear,


definido pelos troços correspondentes à rigidez elástica e ao momento constante e igual
ao momento plástico, o qual se representa também na figura 9. Este diagrama é
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semelhante ao diagrama tensões-extensões de um material elasto-plástico, designando-


se por relação momentos curvaturas elasto-plástica perfeita uma vez que no primeiro
troço se admite um comportamento elástico e no segundo troço um comportamento
plástico.

No caso de secções com outras geometrias as relações momentos curvaturas são


semelhantes às das secções rectangulares, diferindo apenas para curvaturas superiores
à curvaturas de cedência χc. Na figura 10 representam-se num diagrama (χ/χc; M/Mc) as
relações momentos curvaturas para um conjunto de secções com diferentes geometrias,
sendo visível que, para curvaturas superiores à curvatura de cedência, as diferentes
curvas reflectem o valor do factor de forma das secções.

Figura 10 - Relações momentos-curvaturas para secções com diferentes geometrias

Refira-se que a aproximação das relações momentos-curvaturas através de um diagrama


elasto-plástico anteriormente apresentada para as secções rectangulares é também
adoptada para as secções com outras geometrias.

2.3. Conceito de rótula plástica

Conforme se verificou ao analisar a secção rectangular, para momentos flectores


superiores ao momento de cedência, a um aumento do momento flector corresponde um
aumento das zonas plastificadas. Na figura 11 representa-se um troço de uma viga onde
existe um máximo do momento flector. Na mesma figura representa-se também o
diagrama de momentos flectores e de curvaturas na zona envolvente da secção onde o
momento flector é máximo.

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Figura 11 – Variação das zonas plastificadas na proximidade de uma secção submetida ao momento plástico

Conforme se pode verificar da figura 11 quando o momento flector atinge o valor do


momento plástico numa secção fica também definida a zona plastificada da viga,
nomeadamente o comprimento afectado pela plastificação. Este comprimento designa-se
por comprimento de rótula plástica, Lp, e depende da variação do diagrama de momentos
ao longo do eixo e da relação entre o momento plástico M pl e o momento de cedência Mc,
ou seja, do factor de forma.

Exemplo 2.2: Considere-se a viga simplesmente apoiada com uma secção rectangular e sujeita a uma carga
concentrada a 1/2 vão representada na figura 12.

Quando o momento máximo for igual ao momento plástico da secção obtém-se a carga última da estrutura. O
comprimento da rótula plástica é definido pela zona plastificada entre as duas secções em que o momento é
igual ao momento de cedência, tendo-se

Mpl
L
=
Mc
L - Lp
⇒ Lp = L - L
Mc
Mpl
⇒ Lp = (1 - 1f) L
1
Tratando-se de uma secção rectangular tem-se f = 1,50, ou seja, Lp = L
3

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Figura 12 – Exemplo de cálculo do comprimento de uma rótula plástica

Refira-se que a forma e o comprimento da zona plastificada são função da relação


momentos curvaturas exacta. Na figura 9 representa-se uma relação momentos
curvaturas, designada por aproximada, a qual corresponde a admitir um comportamento
elasto-plástico perfeito para a secção. Com efeito a relação momentos curvaturas
aproximada é constituída pelo troço elástico linear, caracterizado por um declive igual à
rigidez de flexão elástica da secção EΙ, o qual é válido até se atingir o momento plástico,
Mpl, e por um troço plástico associado a um momento constante e igual ao momento
plástico.

Ao adoptar-se uma relação momentos curvaturas elasto-plástica perfeita elimina-se a


transição entre o fim do comportamento elástico, correspondente ao momento de
cedência, e o momento plástico. Assim ao adoptar-se a relação momentos curvaturas
elasto-plástica perfeita admite-se para as secções um comportamento elástico, se o
momento for inferior ao momento plástico, ou um comportamento perfeitamente plástico,
se o momento for igual ao momento plástico. No diagrama de curvaturas da figura 11
representa-se a tracejado as curvaturas correspondentes à relação (M-χ)aproximada.

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2.4. Análise elasto-plástica

Com base na relação momentos curvaturas elasto-plástica perfeita é possível efectuar


uma análise em que se considere a existência de deformações plásticas apenas nas
secções das rótulas plásticas, ou seja, nas secções em que o momento flector é igual ao
momento plástico, enquanto que para as restantes secções se admite um
comportamento elástico.

Refira-se que ao concentrarem-se as deformações plásticas apenas na secção em que o


momento é máximo, e uma vez que se admitiu que a zona plastificada tem um
comprimento infinitesimal, deixa de fazer sentido que a relação momento-deformação
não linear seja referida às curvaturas, passando a ser referida a uma rotação numa rótula,
localizada numa secção, e que se pretende que represente os efeitos de plasticidade em
toda a rótula plástica real. Ao se concentrarem numa rótula plástica todos os efeitos não
lineares utiliza-se para essa rótula a relação momentos-rotações indicada na figura 13.

Figura 13 – Relação momentos-rotações numa rótula plástica

Tem-se assim que as rótulas plásticas têm um comportamento rígido-plástico, uma vez
que as suas rotações são nulas enquanto o momento flector for inferior, em valor
absoluto, ao momento plástico, e são indeterminadas quando o momento flector for igual
ao momento plástico.

As análise efectuadas com base em modelos em que se admite um comportamento


elástico para as barras se concentra o comportamento plástico nas rótulas plásticas
designam-se por análises elasto-plásticas. As análises elasto-plásticas são incrementais
porque no caso geral uma estrutura hiperestática têm de se determinar os sucessivos
incrementos de carga necessários para a formação de cada uma das novas rótulas
plásticas. Após a formação de uma rótula plástica, e para o incremento seguinte, o
sistema estático tem de ser alterado através da introdução de uma rótula na secção em
que se formou a rótula plástica.

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Exemplo 2.3: Considere-se a viga encastrada apoiada indicada na figura 14a sujeita a uma carga
concentrada a 1/2 vão e admitam-se as relações momentos-curvaturas lineares das secções e
momentos-rotações rígido-plásticas das rótulas plásticas indicadas na figura 14b.

Figura 14 – Análise elasto-plástica de uma viga encastrada apoiada

Na figura 14c representa-se a solução do problema admitindo um comportamento elástico linear. Este
diagrama é válido até à carga P1 para a qual se forma a 1ª rótula plástica, o que ocorre quando o momento
máximo na secção A for igual ao momento plástico, ou seja

3P1L 16 Mpl
MA1 = = Mpl ⇒ P1 =
16 3 L

Para esta carga o deslocamento no ponto B é calculado com base no comportamento elástico linear de uma
viga encastrada apoiada tendo-se
3 2 2
7 P1 L 7 16 Mpl L 7 Mpl L
δB1 = = =
768 EI 768 3 EI 144 EI

Para cargas superiores a P1, ou seja para os incrementos de carga a partir de P1, a secção A comporta-se
como uma rótula uma vez que o incremento do momento é nulo quando a rotação aumenta. Assim, para os

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incrementos da carga, a estrutura comporta-se como uma viga simplesmente apoiada, conforme se
representa na figura 14e. Este modelo é válido até se formar a 2ª rótula plástica, a qual vai ocorrer na secção
B. Para se determinar o máximo incremento de carga ΔP2 basta impôr que o momento total na secção B seja
igual ao momento plástico, ou seja:

5 ΔP2 L 2 Mpl
MB = MB1 + ΔMB2 = M + = Mpl ⇒ ΔP2 =
6 pl 4 3 L

O acréscimo de deslocamento do ponto B é dado por

3 2 2
ΔP2 L 2 Mpl L 2 Mpl L
ΔδB2 = = =
48 EI 3 48 EI 144 EI

No fim do 2º incremento o valor do parâmetro de carga total P2 é dado por

16 Mpl 2 Mpl 6Mpl


P2 = P1 + ΔP2 = + =
3 L 3 L L

Este valor do parâmetro de carga designa-se por carga última Pu = P2. Com efeito, e uma vez que a estrutura
é hiperestática do 1º grau, a ocorrência de duas rótulas plásticas transforma a estrutura num mecanismo pelo
que não é possível aumentar mais a carga aplicada.

Somando o diagrama de momentos correspondente a P1, calculado para uma viga encastrada apoiada, com
o diagrama de momentos correspondente a ΔP2, calculado numa viga simplesmente apoiada, obtém-se o
diagrama de momentos associado a P2, o qual está representado na figura 14f.

No fim do 2º incremento de carga o deslocamento no ponto B, δB2, tem também de ser calculado somando o
deslocamento devido à carga P1, calculado para a viga encastrada apoiada, e o deslocamento devido a ΔP2,
calculado numa viga simplesmente apoiada, tendo-se

( )
2 2
7 2 Mpl L 9 Mpl L
δB2 = δB1 + ΔδB2 = + =
144 144 EI 144 EI

Com base nos resultados apresentados obtém-se a relação carga deslocamento representada na figura 14g,
verificando-se que, após a formação da 1ª rótula plástica existe uma redução da rigidez, e que, após a
formação da 2ª rótula plástica a rigidez é nula, o que corresponde à formação de um mecanismo. A análise
da relação carga-deslocamento permite ainda verificar que após a ocorrência da 1ª rótula plástica ainda foi
possível aumentar a carga de 12.5%, o que corresponde, neste caso, ao aumento da capacidade da viga até
à formação de um mecanismo plástico.

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3. ANÁLISE PLÁSTICA LIMITE

3.1. Introdução

O objectivo da análise plástica limite é obter a carga última da estrutura e a


correspondente distribuição de esforços sem ter de efectuar uma análise incremental,
como na análise elasto-plástica. De outra forma, na análise plástica limite pretende
identificar-se as secções em que se formam as rótulas plásticas, associadas à formação
de um mecanismo de colapso, sem ter de efectuar uma análise incremental e sem ter de
identificar a sequência da formação das sucessivas rótulas plásticas.

Para efectuar uma análise plástica limite introduzem-se as seguintes hipóteses


relativamente ao comportamento mecânico do material e das secções:

Hipótese 1 – Admite-se que as deformações plásticas se concentram nas secções


em que ocorrem rótulas plásticas e que estas rótulas apresentam um
comportamento rígido-plástico conforme se representa na figura 15.

Hipótese 2 – Desprezam-se as deformações elásticas ao longo das barras, ou


seja, os troços de barra entre rótulas plásticas comportam-se como
barras rígidas.

Figura 15 – Relação momentos rotações rígido-plástica

3.2. Mecanismos globais e locais. Mecanismos múltiplos

3.2.1 Número de rótulas necessário para a formação de um mecanismo

O valor da carga última de uma estrutura está associado à formação de um mecanismo


de colapso que impede a estrutura de suportar incrementos de carga. No caso geral, e
designando por α o grau de hiperestaticidade, a formação de (α+1) rótulas plásticas é
condição suficiente para a existência de um mecanismo de colapso. Note-se que a
existência de α rótulas plásticas transforma a estrutura numa estrutura isostática, sendo
necessária a criação de uma rótula adicional para que se forme um mecanismo.

16
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

3.2.2 Mecanismos globais ou completos

Designa-se um mecanismo por global ou completo quando esse mecanismo envolve a


formação de (α+1) rótulas plásticas. Num mecanismo global a existência de (α+1) rótulas
plásticas permite definir o momento flector em igual número de secções. O conhecimento
do momento flector nestas (α+1) secções permite determinar a distribuição de esforços
na estrutura, que é α vezes hiperestática, e ainda o valor do parâmetro de carga
associado. Pode assim dizer-se que num mecanismo global a distribuição de esforços é
totalmente determinada e que a análise do equilíbrio da estrutura permite obter o valor do
parâmetro da carga associado.

Exemplo 3.1: Considere-se a viga encastrada apoiada representada na figura 16a.

Figura 16 – Análise plástica de uma viga encastrada-apoiada

A estrutura é uma vez hiperestática, ou seja, α = 1. Para que se forme um mecanismo completo são
necessárias 2 rótulas plásticas. Tendo em consideração a forma do diagrama de momentos flectores devido
à carga concentrada aplicada, e em particular as secções em que os momentos são máximos, admite-se que
as rótulas plásticas se vão formar nas secções A e B. Define-se assim o mecanismo indicado na figura 16b.

Nas secções em que se formam rótulas plásticas o momento flector é igual ao momento plástico, o que
permite obter o diagrama indicado na figura 16c. O conhecimento do momento flector permite levantar a
hiperestaticidade da estrutura (α = 1), permitindo ainda obter, por equilíbrio, o valor do parâmetro de carga Pu,
tendo-se

Pu L 3 6 Mpl
= Mpl ⇒ Pu =
4 2 L

Este valor é igual ao valor obtido anteriormente através de uma análise elasto-plástica incremental (ver
exemplo 2.3). Refira-se que, ao contrário do que sucede numa análise elasto-plástica, a deformada da
estrutura não fica determinada, ficando apenas identificado o mecanismo de colapso definido através da
localização das rótulas plásticas.

17
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

3.2.3 Mecanismos locais ou parciais

Em determinadas situações, de uma forma geral tanto mais frequentes quanto maior o
grau de hiperestaticidade de estrutura, a formação de um mecanismo pode envolver a
formação de rótulas plásticas em número inferior a (α+1). Neste caso o mecanismo
designa-se por local ou parcial uma vez que o mecanismo de colapso afecta apenas uma
parte da estrutura, exigindo a formação de rótulas em número inferior às existentes num
mecanismo global.

Numa análise plástica limite a distribuição de esforços no colapso é obtida a partir do


conhecimento da existência do momento plástico nas secções em que se formam rótulas
plásticas. No caso de um mecanismo local, como as rótulas plásticas são em número
inferior a (α+1), a distribuição de esforços no colapso apenas é definida na zona
envolvente do mecanismo associado às rótulas plásticas, sendo indeterminada na
restante parte da estrutura. Embora o mecanismo envolva apenas uma zona local, à
semelhança do que acontece num mecanismo global, a carga última pode ser obtida
através da análise do equilíbrio da estrutura.

Exemplo 3.2: Considere-se a viga representada na figura 17. A estrutura é 2 vezes hiperestática, ou seja
α = 2. Um mecanismo completo envolve a formação de α + 1 = 3 rótulas plásticas.

18
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Figura 17 – Análise plástica de uma viga com um mecanismo local

O mecanismo indicado na figura 17b envolve apenas 2 rótulas plásticas, pelo que se trata de um mecanismo
local. Na zona do mecanismo o diagrama de esforços é totalmente determinado a partir da atribuição do valor
do momento plástico nas secções B e C em que ocorrem as rótulas plásticas. Do equilíbrio da estrutura na
zona do mecanismo é possível determinar o valor do parâmetro de carga associado ao mecanismo, tendo-se

Pu L 3 Mpl 6 Mpl
= ⇒ Pu =
4 2 L

Finalmente pode observar-se que na zona entre as secções A e B o diagrama de esforços é indeterminado
não tendo a existência de um mecanismo local permitindo determinar o diagrama de esforços em toda a
estrutura.

3.2.4 Mecanismos múltiplos

Embora correspondam a situações pouco frequentes, a ocorrência de condições


particulares da estrutura e do carregamento aplicado podem conduzir a que no colapso
exista um número de rótulas plásticas em número superior a (α+1), ou seja, às
necessárias para se formar um mecanismo global. Nestes casos, o mecanismo
designa-se por múltiplo uma vez que, para o mesmo valor do parâmetro de carga último,
pode existir mais do que um mecanismo de colapso. Refira-se que a existência de mais
do que (α+1) rótulas plásticas conduz a que o parâmetro de carga último e o diagrama de
esforços associado sejam totalmente determinados.

Exemplo 3.3: Considere-se a viga representada na figura 18

Tem-se neste caso que a estrutura é uma vez hiperestática ou seja, α = 1. A formação de um mecanismo
completo envolve α + 1 = 2 rótulas plásticas, podendo identificar-se os dois mecanismos representados nas
figuras 18b1 e b2. Devido à simetria da estrutura e do carregamento verifica-se que ambos os mecanismos
estão associados ao mesmo diagrama de esforços, indicado na figura 18c e ao mesmo parâmetro de carga
último, que se obtém do equilíbrio, tendo-se

Pu L 3 Mpl 6 Mpl
= ⇒ Pu =
4 2 L

Verifica-se que se está perante um mecanismo múltiplo uma vez que, para o mesmo valor do parâmetro de
carga de colapso, foi possível identificar dois mecanismos independentes.

19
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Figura 18 – Análise plástica de uma viga com um mecanismo múltiplo

3.3. Teoremas da análise plástica limite

A análise plástica limite baseia-se na aplicação de dois teoremas, designados por


teorema estático e cinemático, os quais permitem obter limites inferiores e superiores da
carga de colapso, respectivamente. A aplicação simultânea daqueles dois teoremas dá
origem a um terceiro teorema, designado por teorema de unicidade, cuja aplicação
permite identificar de forma exacta o parâmetro de carga último da estrutura.

Antes de se enunciarem os teoremas de análise plástica limite considere-se ainda como


hipótese que os carregamentos são proporcionais a uma parâmetro de carga λ,
designando-se o parâmetro de carga de colapso ou último por λu.

Na análise de estruturas, e de uma forma geral, é necessário ter em consideração as


condições de equilíbrio e de compatibilidade, assim como as relações constitutivas.
Conforme já se referiu na análise plástica limite não se consideram as deformações
elásticas dos elementos, considerando-se apenas as deformações plásticas
concentradas nas rótulas plásticas, definidas através da relação rígido-plástica
20
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

representada na figura 15, e considerando que os troços de vigas entre rótulas se


comportam como barras rígidas. Na figura 19 apresentam-se de forma esquemática as
relações constitutivas rígido-plásticas decompostas nas condições de plasticidade e nas
condições de paridade.

As condições de plasticidade consistem em estabelecer-se que em qualquer secção o


momento flector não pode, em valor absoluto, ser maior do que o momento plástico, ou
seja:

Condições de plasticidade: |M| ≤ Mpl ⇒ -Mpl ≤ M ≤ +Mpl

A condição de paridade estabelece que a rotação relativa numa rótula plástica ou é nula
ou, sendo diferente de zero, tem de ter o mesmo sinal que o momento plástico nessa
secção. É assim possível escrever:

Condições de paridade: M = +Mpl ⇒ θpl ≥ 0

M = -Mpl ⇒ θpl ≤ 0

Relações
Equilíbrio constitutivas Compatibilidade
(rígido-plásticas)

Condições de Condições de
plasticidade paridade
M =+Mpl ⇒ θpl ≥ 0
-Mpl ≤ M ≤ +Mpl
M = -Mpl ⇒ θpl ≤ 0

Admissibilidade estática Admissibilidade cinemática

TEOREMA ESTÁTICO TEOREMA CINEMÁTICO


Permite obter um limite inferior λi, Permite obter um limite superior λs,
minorante de λu majorante de λu
λu = max(λi) λu = min(λs)

TEOREMA DA UNICIDADE
λi = λs = λu

Figura 19 – Equilíbrio, compatibilidade e relações constitutivas e sua relação com os teoremas da análise
plástica limite

21
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Refira-se que as condições de plasticidade e de paridade são uma consequência directa


da relação momentos rotações admitida para as rótulas plásticas numa análise rígido-
plástica.

A verificação simultânea das condições de equilíbrio e das condições de plasticidade


constituem as condições de admissibilidade estática. Assim, diz-se que uma distribuição
de esforços numa estrutura é estaticamente admissível se verificar as condições de
equilíbrio e se, simultaneamente, o valor absoluto do momento não ultrapassar o
momento plástico. Saliente-se que, neste caso, as condições de equilíbrio se referem a
obter distribuições de esforços equilibradas, incluindo o equilíbrio com as cargas
aplicadas. A verificação simultânea das condições de compatibilidade e das condições de
paridade constituem as condições de admissibilidade cinemática. No caso de uma
análise plástica limite, em que se admite que as barras se comportam como barras
rígidas e as rótulas plásticas como rígido-plásticas, diz-se que um mecanismo é
cinematicamente admissível se verificar as condições de compatibilidade entre
deslocamentos e rotações, nomeadamente as das rótulas plásticas, e se,
simultaneamente, os valores dos momentos plásticos atribuídos às secções onde se
localizam as rótulas plásticas tiverem o mesmo sinal da rotação nessa rótula associada
ao mecanismo considerado, ou seja, se forem satisfeitas as condições de paridade.

Estabelecidas as condições de admissibilidade estática e cinemática é agora possível


enunciar os teoremas de análise plástica limite:

Teorema estático - A uma distribuição de esforços estaticamente admissível


corresponde um parâmetro de carga λi tal que λi ≤ λu, ou seja, λi é um
minorante do parâmetro de carga último λu.

Teorema cinemático - A um mecanismo cinematicamente admissível corresponde um


parâmetro de carga λs tal que λu ≤ λs, ou seja, λs é um majorante do
parâmetro de carga último λu.

Teorema da unicidade (resultante da aplicação simultânea dos teoremas estático e


cinemático) - Se numa estrutura for possível definir um conjunto de rótulas
plásticas às quais corresponde uma distribuição de esforços estaticamente
admissível, a que corresponde um parâmetro de carga λi (minorante de λu), e
um mecanismo cinematicamente admissível, a que corresponde um
parâmetro de carga λs (majorante de λu), então λi = λs = λu.

Saliente-se que se a um conjunto de rótulas plásticas estão associados uma distribuição


de esforços estaticamente admissível e um mecanismo cinematicamente admissível
então verificam-se simultaneamente as condições de equilíbrio, de compatibilidade, de

22
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

plasticidade e de paridade (note-se que estas duas últimas constituem as relações


constitutivas).

A aplicação do teorema estático a diferentes distribuições de esforços estaticamente


admissíveis permite obter um conjunto de minorantes do parâmetro de carga último λu.
Se a análise for efectuada de forma exaustiva, isto é, se forem analisadas todas as
distribuições de esforços estaticamente admissíveis, o valor do parâmetro de carga último
será igual ao maior dos minorantes λi.

De forma complementar a aplicação do teorema cinemático a diferentes mecanismos


cinematicamente admissíveis permite obter um conjunto de majorantes do parâmetro de
carga último λu. Se a análise for efectuada de forma exaustiva, ou seja, considerando
todos os mecanismos cinematicamente admissíveis, o valor do parâmetro de carga último
será igual ao menor dos majorantes λs.

A aplicação do teorema estático ou do teorema cinemático em conjunto com o teorema


da unicidade permite evitar a análise exaustiva de todas as distribuições de esforços
estaticamente admissíveis ou de todos os mecanismos cinematicamente admissíveis.
Nestas situações a aplicação dos teoremas da análise plástica limite pode consistir na
utilização de um dos teoremas fundamentais, estático ou cinemático, na determinação do
parâmetro de carga associado, λi ou λs, e finalmente na aplicação do teorema de
unicidade para verificar se o parâmetro obtido é efectivamente o parâmetro de carga
último λu.

Assim na aplicação do teorema estático em conjunto com o teorema da unicidade é


necessário definir um diagrama de esforços estaticamente admissível. A esse diagrama
corresponde um parâmetro de carga λi ≤ λu. Associando as rótulas plásticas às secções
em que o momento flector é igual ao momento plástico é possível definir um mecanismo.
A verificação da admissibilidade cinemática - condições de compatibilidade e de paridade
desse mecanismo - permitirá, por aplicação do teorema de unicidade, confirmar ou não
que se trata do mecanismo de colapso.

Na aplicação do teorema cinemático em conjunto com o teorema da unicidade começa


por definir-se um mecanismo cinematicamente admissível, atribuindo a cada rótula
plástica um momento com sinal de acordo com a rotação, obedecendo à condição de
paridade. O parâmetro de carga λs pode ser determinado através da aplicação do
princípio dos trabalhos virtuais - PTV - e corresponde a um limite superior do parâmetro
de carga último, ou seja, λu ≤ λs. Atribuindo às secções onde se arbitraram as rótulas
plásticas momentos flectores iguais aos momentos plásticos obtém-se uma distribuição
de esforços na estrutura. A verificação da admissibilidade estática dessa distribuição de

23
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

esforços permite confirmar, ou não, por aplicação do teorema de unicidade, que se trata
do mecanismo de colapso.

Na aplicação do teorema cinemático, e conforme se ilustra nos exemplos que a seguir se


apresentam, a determinação do parâmetro de carga associado a um mecanismo
cinematicamente admissível pode ser efectuada recorrendo à aplicação do princípio dos
trabalhos virtuais (PTV), igualando o trabalho das forças exteriores, W, à energia de
deformação da estrutura, U.

De acordo com as hipóteses indicadas em 3.1 as únicas deformações que se consideram


são as deformações plásticas nas secções das rótulas plásticas, pelo que a energia de
deformação será a associada às rotações destas rótulas. A energia de deformação
associada às rótulas plásticas é dada pelo produto entre os momentos plásticos e as
rotações, sendo positiva a contribuição de todas as rótulas plásticas uma vez que, por
aplicação das condições de paridade, o momento plástico e a rotação correspondente
têm sempre o mesmo sinal.

O trabalho das forças exteriores será o que resulta dos deslocamentos dos mecanismos
de barras rígidas associados à formação das rótulas plásticas. No caso das estruturas de
barras que se têm vindo a analisar as forças exteriores são as cargas aplicadas,
concentradas ou distribuídas, e os momentos aplicados.

24
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

3.4. Exemplos de aplicação dos teoremas da análise plástica limite

3.4.1 Exemplos de cálculo plástico de vigas contínuas

Exemplo 3.4. Para ilustrar a aplicação dos teoremas da análise plástica limite apresenta-se neste exemplo a
resolução do mesmo problema de duas forma distintas: a resolução apresentada na parte da esquerda
(figuras 20a e c) corresponde à aplicação do teorema estático e do teorema da unicidade; na parte da direita
(figuras 20b e d) apresenta-se a resolução do mesmo exemplo por aplicação do teorema cinemático e do
teorema da unicidade.

TEOREMA ESTÁTICO TEOREMA CINEMÁTICO

Figura 20a Figura 20b

Equilíbrio Compatibilidade

Mpl λiL L
MB = - + = Mpl δB = θ
2 4 2

6Mpl L
λi = W = λs θ
L 2

U = Mpl θ + Mpl 2θ = 3Mpl θ

6Mpl
PTV ⇒ W = U ⇒ λs =
L

Mecanismo correspondente Distribuição de esforços correspondente

Figura 20c Figura 20d

O mecanismo é cinematicamente admissível pois é A distribuição de esforços é estaticamente


compatível e verifica as condições de paridade, admissível pois é equilibrada e verifica as
pelo que, de acordo com o teorema da unicidade condições de plasticidade, pelo que, de acordo com
o teorema da unicidade
λu = λi
λu = λs

25
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Exemplo 3.5. Considere-se a viga biencastrada representada na figura 21a.

Tendo em conta apenas as reacções verticais e os momentos flectores nos apoios a estrutura tem um grau
de hiperestaticidade α = 2 pelo que são necessárias três rótulas plásticas para formar um mecanismo
completo.

Admita-se o mecanismo com rótulas plásticas nas secções A, B e E representado na figura 21b.
Designem-se por θ as rotações nas diferentes rótulas plásticas e por δ os deslocamentos verticais das
secções carregadas. Por compatibilidade, e definindo θ=θA como variável independente, tem-se:

L θ 4 θL θL
δB = θ ; θ1 = ; θ2 = θ; δC = ; δD =
4 3 3 32 34

Figura 21a Figura 21b

Por aplicação do PTV obtém-se

L θ L θ L⎞ L
W = λ ⎛θ + + =λ θ
⎝ 4 3 2 3 4⎠ 2

4 θ 8
U = Mpl ⎛θ + θ + ⎞ = Mpl θ
⎝ 3 3⎠ 3

16 Mpl
PTV ⇒ W = U ⇒ λs =
3 L

Na figura 21c representa-se o diagrama de esforços para este parâmetro de carga. O diagrama de esforços é
estaticamente determinado porque nas secções das rótulas plásticas (A, B e E) o momento é igual ao
momento plástico, positivo ou negativo, consoante a rotação da rótula.

Os momentos indicados para as secções C e D são obtidos do equilíbrio da estrutura, sendo também
indicados na figura 21c tendo-se:

MB = Mpl (por simetria)

16 Mpl L 5
MC = Mpl + = M > Mpl
3 L 8 3 pl

Como o momento na secção C é superior a Mpl a distribuição de esforços não é estaticamente admissível
16 Mpl
pelo que o parâmetro de carga λs = não é o parâmetro de carga último. Com base no diagrama de
3 L
esforços da figura 21c pode obter-se uma distribuição de esforços estaticamente admissível considerando um
parâmetro de carga

3 16 Mpl 16 Mpl
λi = =
5 3 L 5 L

26
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Note-se que este parâmetro de carga foi obtido do valor de λs, calculado anteriormente, multiplicado pelo
factor 3/5 que é o necessário para que MC = Mpl, repondo assim a verificação da admissibilidade estática. Na
16 Mpl
figura 21d representa-se o diagrama de momentos correspondente a λi = .
5 L

Figura 21c Figura 21d

Da análise dos resultados obtidos conclui-se que o mecanismo considerado não é o mecanismo de colapso.
Relativamente às cargas de colapso determinou-se um limite superior e um limite inferior pelo que se pode
escrever

16 Mpl 16 Mpl
≤ λu ≤
5 L 3 L

Como o mecanismo anterior não permitiu obter o mecanismo de colapso, uma vez que a condição de
plasticidade não era verificada na secção C, ensaie-se um novo mecanismo, representado na figura 21e, com
rótulas plásticas nas secções A, C e E.

Figura 21e Figura 21f

Por compatibilidade tem-se:

L L
θA = θ; θE = θ; θC = 2θ; δB = δD = θ ; δC = θ
4 2

Por aplicação do teorema cinemático obtém-se para este mecanismo

W=λ (θ L4 + θ L2 + θ L4) = λLθ


U = Mpl (θ + 2θ + θ) = 4Mplθ

4Mpl
PTV ⇒ W = U ⇒ λs =
L

Na figura 21f representa-se o digrama de momentos flectores definido pelos momentos plásticos nas secções
da rótulas plásticas, sendo o seu sinal definido pela rotação das rótulas, e em equilíbrio com o parâmetro de
carga calculado, o que conduz a

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

6Mpl L Mpl
MB = MD = -Mpl + =
L 4 2

Este diagrama é estaticamente admissível, pois para além de ser equilibrado verifica as condições de
plasticidade em todas as secções, pelo que se tem

4Mpl
λi = λs = λu =
L

Saliente-se que este valor está compreendido entre os limites determinados na análise do primeiro
mecanismo. O mecanismo de colapso está representado na figura 21e, sendo definido por rótulas plásticas
nas secções A, C e E. O diagrama de momentos flectores no colapso é o representado na figura 21f com
Mpl
MB = MD = .
2

Exemplo 3.6. Na figura 22a representa-se uma viga contínua de três tramos, sendo o carregamento
constituído por duas forças concentradas aplicadas a meio dos dois primeiros vãos. A estrutura tem um grau
de hiperestaticidade α = 2, pelo que são necessárias α + 1 = 3 rótulas plásticas para formar um mecanismo
global.

Figura 22a

Considere-se o mecanismo parcial, representado na figura 22b, definido por rótulas plásticas nas secções B e
C. Por compatibilidade tem-se:

L
δB = θ
2

Figura 22b Figura 22c

Por aplicação do teorema cinemático obtém-se para este mecanismo

L
W=λ θ
2

U = Mpl (2θ + θ) = 3Mplθ

6Mpl
PTV ⇒ W = U ⇒ λs =
L

Na figura 22c representa-se o diagrama de momentos flectores correspondente ao mecanismo adoptado, em


que o momento é igual ao momento plástico nas secções das rótulas plásticas. O mecanismo adoptado é um

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

mecanismo parcial uma vez que mobiliza apenas duas rótulas plásticas, número inferior às três rótulas
necessárias para formar um mecanismo global, pelo que o diagrama de esforços não é totalmente
determinado. Tem-se assim que os valores dos momentos MD e ME não são conhecidos, existindo para o seu
cálculo apenas uma informação adicional que é o valor do parâmetro de carga já determinado.

Para verificar se o parâmetro de carga calculado é o parâmetro de carga de colapso λu da estrutura é


necessário analisar a possibilidade de se encontrar uma distribuição de momentos estaticamente admissível,
isto é, que verifique o equilíbrio e as condições de plasticidade. Para avaliar esta possibilidade considere-se
ME = -Mpl, ou seja, admita-se que o momento na secção E tem o máximo valor negativo possível. Fixado o
valor de ME, e como o parâmetro de carga é conhecido, pode determinar-se o momento na secção D
obtendo-se por equilíbrio

6Mpl L
MD = -Mpl + 2 = 2Mpl
L 4

6Mpl
Verifica-se que para λs = não é possível obter uma distribuição de momentos estaticamente admissível.
L
Saliente-se que o valor de ME foi admitido igual a -Mpl pois um valor mais negativo violaria a condição de
plasticidade na secção E, enquanto que a um valor menos negativo corresponderia na secção D um
momento maior do que 2Mpl.

Tendo em consideração que para ME = -Mpl se tem MD = 2Mpl pode calcular-se um valor do parâmetro de
carga a que corresponda um diagrama de momentos estaticamente admissível, que por aplicação do
teorema estático será um limite inferior do parâmetro de carga de colapso. Este novo parâmetro de carga
pode ser obtido do anterior dividindo-o por 2 de forma a ter MD = Mpl, ou seja:

1 6Mpl 3Mpl
λi = =
2 L L

Assim, do primeiro mecanismo considerado pode concluir-se que:

3Mpl 6Mpl
≤ λu ≤
L L

Considere-se agora o mecanismo global, representado na figura 22d, definido por 3 rótulas plásticas nas
secções C, D e E. Por compatibilidade tem-se:

L
δD = θ
2

Por aplicação do teorema cinemático obtém-se para este mecanismo

L
W = 2λ θ = λLθ
2

U = Mpl (θ + 2θ + θ) = 4Mplθ

4Mpl
PTV ⇒ W = U ⇒ λs =
L

Na figura 22e representa-se o diagrama de momentos flectores correspondente ao mecanismo adoptado, em


que o momento é igual ao momento plástico nas secções das rótulas plásticas. Como o mecanismo adoptado
é um mecanismo global o diagrama de esforços é totalmente determinado, sendo o momento na secção B
determinado com base em considerações de equilibro, tendo-se

Mpl 4Mpl L Mpl


MB = - + = < Mpl
2 L 4 2

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Figura 22d Figura 22e

4Mpl
Verifica-se que para λs = se obteve um diagrama de momentos estaticamente admissível pelo que, por
L
aplicação do teorema da unicidade, se tem

4Mpl
λi = λs = λu =
L

sendo o mecanismo de colapso o indicado na figura 22d e a correspondente distribuição de esforços a


representada na figura 22e com o valor de M B= Mpl/2.

3.4.2 Cálculo plástico de estruturas sujeitas a cargas distribuídas

Os teoremas da análise plástica limite podem também ser aplicados com toda a
generalidade aos casos em que existam cargas distribuídas aplicadas. Por comparação
com os problemas em que apenas existem cargas concentradas, em que, devido ao
carácter poligonal dos diagramas de momentos flectores, as secções onde se podem
formar rótulas plásticas estão previamente definidas, os problemas com cargas
distribuídas exigem um esforço adicional uma vez que, no caso geral, não é possível
identificar previamente a localização das rótulas plásticas.

Nos exemplos que se apresentam em seguida ilustra-se a aplicação dos teoremas da


análise plástica limite a problemas com cargas distribuídas, em particular no que respeita
ao cálculo do trabalho das forças exteriores, para aplicação do PTV na determinação do
parâmetro de carga associado a cada mecanismo, e à determinação da localização das
secções das rótulas plásticas.

Para ilustrar o cálculo do trabalho das forças exteriores no caso de existirem cargas
distribuídas considere-se o troço de uma barra representado na figura 23. O trabalho das
forças exteriores aplicadas no comprimento infinitesimal dx é dado por

dW = w(x) p(x) dx (28)

30
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Figura 23 – Barra sujeita a uma carga distribuída

O trabalho das forças exteriores aplicadas à barra é obtido por integração de dW ao


longo do comprimento, tendo-se

W = ⌠L dW = ⌠L w(x) p(x) dx (29)


⌡o ⌡o

Se a carga distribuída for constante, ou seja p(x) = cte = p, tem-se que

W = p ⌠L w(x) dx = p A (30)
⌡o

em que A representa a área descrita pelo comprimento carregado da barra no movimento


associado ao mecanismo.

Exemplo 3.7. Considere-se a viga biencastrada sujeita a uma carga uniformemente distribuída representada
na figura 24a.

Figura 24a

Para a aplicação do teorema cinemático é necessário definir a localização das três rótulas plásticas exigidas
para a formação de um mecanismo global. Tendo em consideração as características de simetria da estrutura
e do carregamento conclui-se que as rótulas plásticas se localizam nas secções dos apoios e na secção de
meio vão, dando origem ao mecanismo representado na figura 24b. O parâmetro de carga associado ao
mecanismo definido pode ser obtido por aplicação do PTV, tendo-se
2
1 L pL
W=pA=p L θ= θ
2 2 4

U = Mpl (θ + 2θ + θ) = 4Mplθ

16Mpl
PTV ⇒ W = U ⇒ ps = 2
L

Saliente-se que o trabalho das forças distribuídas foi obtido recorrendo à equação 30, ou seja, resulta do
produto da carga p, constante, pela área A descrita pelo comprimento carregado da barra.

31
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Atribuindo às secções das rótulas plásticas os momentos plásticos com o sinal necessário à verificação das
condições de paridade obtém-se o diagrama de momentos flectores indicado na figura 24c o qual é
estaticamente admissível, pelo que se tem

16Mpl
pi = ps = pu = 2
L

Figura 24b Figura 24c

Exemplo 3.8. Considere-se a viga encastrada-apoiada sujeita a uma carga uniformemente distribuída
representada na figura 25a.

Figura 25a

A formação de um mecanismo global exige a formação de duas rótulas plásticas. Tendo em consideração as
características da estrutura e do carregamento uma das rótulas plásticas localizar-se-á na secção do
encastramento. A localização da segunda rótula, necessária à formação de um mecanismo, não é conhecida
pelo que será definida em função da variável a de acordo com o representado na figura 24b. A
compatibilidade entre os deslocamentos e as rotações conduz a

L-a
δ = (L- a) θ = a θ1 ⇒ θ1 = θ
a

Figura 25b Figura 25c

Da aplicação do PTV tem-se

1 L
W=pA=p L δ = p (L – a) θ
2 2

32
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

U = Mpl (θ + θ + θ1) = (2 + L a- a)M θ = L +a a M


pl pl θ

2 L+a 2 1+ζ a
PTV ⇒ W = U ⇒ ps = M = 2 M com ζ =
L a(L - a) pl L ζ (1 - ζ) pl L

O valor de ps é uma função de ζ, sendo um majorante de pu uma vez que foi obtido por aplicação do teorema
cinemático. O parâmetro de carga de colapso pu corresponde ao menor dos valores de ps, que se obtém para
o valor de ζ que estacionariza a função p(ζ), pelo que se tem

dp 2
= 0 ⇒ ζ(1 - ζ) – (1 + ζ)(1 – 2ζ) = 0 ⇒ ζ + 2ζ - 1 = 0 ⇒ ζ = -1 ± 2 = 0.414

A solução do problema da localização da rótula plástica no vão da viga conduz a

a = ( 2 – 1)L = 0.414L

a que corresponde uma carga última de

Mpl Mpl
pu = (3 + 2 2) 2 = 11,656 2
L L

Na figura 25c representa-se o diagrama de esforços correspondente a este parâmetro de carga


verificando-se que é estaticamente admissível - note-se que o valor máximo do momento positivo ocorre na
secção da rótula plástica - permitindo assim confirmar, por aplicação do teorema da unicidade, que o
parâmetro de carga determinado é o de colapso.

3.4.3 Exemplos de cálculo plástico de pórticos

Nos exemplos que se apresentam para o cálculo plástico de pórticos admite-se como
hipótese que as secções apenas plastificam por flexão e que se pode desprezar o efeito
do esforço axial na redução do momento flector plástico das secções.

Exemplo 3.9. Considere-se o pórtico representado na figura 26a. Os momentos plásticos das travessas e dos
montantes são iguais e dados por Mpl. A estrutura tem um grau de hiperestaticidade α = 3 pelo que são
necessárias 4 rótulas plásticas para formar um mecanismo global.

Mecanismo 1 – Admita-se o mecanismo associado à existência de rótulas na base e no topo dos montantes,
usualmente designado por mecanismo de “sway”, representado na figura 26b. A aplicação do teorema
cinemático conduz a

2L
Compatibilidade δH = hθ = θ
3

Cálculo do parâmetro de carga

2L
W = H δH = λ θ
3

U = Mpl (θ + θ + θ + θ) = 4Mpl θ

6Mpl
PTV ⇒ W = U ⇒ λs =
L

33
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Figura 26a

Da análise do diagrama de momentos flectores representado na figura 26c, e tendo em consideração o


equilíbrio com as cargas aplicadas, obtém-se

MC = 3Mpl > Mpl

pelo que a distribuição de esforços não é estaticamente admissível, donde se conclui que o mecanismo
arbitrado não é o mecanismo de colapso, tendo-se

3Mpl 6Mpl
≤ λu ≤
L L

Figura 26b Figura 26c

Mecanismo 2 – Admita-se agora o mecanismo associado à existência de rótulas nas extremidades e a meio
vão da travessa (secções B, C e D) representado na figura 26d. Trata-se de um mecanismo parcial pois
apenas exige a existência de três rótulas plásticas. A aplicação do teorema cinemático conduz a

L
Compatibilidade δV = θ
2

Cálculo do parâmetro de carga

L
W = V δV = 2λ θ=λLθ
2

U = Mpl (θ + 2θ + θ) = 4Mpl θ

4Mpl
PTV ⇒ W = U ⇒ λs =
L

Neste caso o diagrama de momentos flectores é indeterminado pois o mecanismo em análise é parcial, não
permitindo definir o momento plástico num número suficiente de secções. Da análise do diagrama de

34
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

momentos representado na figura 26e, e tendo em consideração que o objectivo é tentar maximizar o
parâmetro de carga que é possível equilibrar, admita-se que no montante AB o momento flector é constante e
igual a -Mpl (Note-se que neste caso a reacção horizontal em A é nula. Qualquer outra distribuição de
esforços plasticamente admissível, ou seja em que -Mpl < M ≤ Mpl, conduz a um valor inferior do parâmetro de
carga λ). Aquela hipótese permite calcular o momento na secção E recorrendo ao equilíbrio da estrutura,
obtendo-se

2 5
ME = -Mpl + λ L = Mpl > Mpl
3 3

donde se conclui que o mecanismo arbitrado não é o mecanismo de colapso, sendo ainda possível concluir
que:

12 Mpl 4 Mpl
≤ λu ≤
5 L L

Figura 26d Figura 26e

Mecanismo 3 – Analise-se finalmente o mecanismo representado na figura 26f, associado à existência de


rótulas na base dos montantes (A e E) e nas secções C e D. Trata-se de um mecanismo global pois
corresponde à existência de 4 rótulas plásticas. A aplicação do teorema cinemático conduz a

Compatibilidade

L 2L
θ1 = θ; δHB = δHD ⇒ θ3 = θ1 = θ; δHD = θ3 h = θ2 h ⇒ θ3 = θ2 = θ; δVC = θ; δHB = θ
2 3

Cálculo do parâmetros de carga

5L
W = H δHB + V δVC = λ θ
3

U = Mpl (θ1 + (θ1 + θ2) + (θ2 + θ3) + θ3) = 6Mpl θ

18 Mpl 3,6Mpl
PTV ⇒ W = U ⇒ λs = =
5 L L

Em função da localização das rótulas e do sinal da respectiva rotação o valor do momento flectore está
definido nas secções A, C, D e E. O momento da secção B determina-se por equilíbrio, tendo-se

MB - Mpl L 3
+ 2λs = Mpl ⇒ MB = - Mpl > - Mpl (|MB| < Mpl)
2 4 5

pelo que o diagrama de momentos é estaticamente admissível. Conclui-se assim que

3,6Mpl
λi = λs = λu =
L

35
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

sendo o mecanismo de colapso o indicado na figura 26f e a correspondente distribuição de esforços a


3
representada na figura 26g, com o valor de MB= - Mpl.
5

Figura 26f Figura 26g

Note-se que na resolução apresentada não se distinguiu se as rótulas nos nós B e D se localizam no
montante ou na travessa. Com efeito, e uma vez que se desprezou o efeito do esforço axial e que os
momentos plásticos da travessa e dos montantes são iguais, o resultado é o mesmo, independentemente de
as rótulas plásticas nos nós B e D se localizarem nos montantes ou na travessa.

Nos casos mais correntes o momento plástico não é igual em todas as barras o que deve
ser tido em consideração na avaliação da capacidade plástica da estrutura. Quando uma
rótula plástica se localiza na junção entre duas barras com momentos plásticos diferentes
deve considerar-se que a rótula plástica se forma na extremidade da barra com o menor
daqueles momentos. A existência de dois momentos plásticos diferentes nas secções
adjacentes ao nó de ligação das duas barras dever ser tida em consideração quer na
aplicação do PTV, para determinar o valor do parâmetro de carga associado a um
mecanismo, quer na verificação da admissibilidade estática, para a aplicação do teorema
estático.

Exemplo 3.10. Considere-se o pórtico representado na figura 27a. Note-se que esta estrutura e o seu
carregamento são idênticos aos do exemplo 3.9 com a única diferença de o momento plástico da travessa ser
dado por Mpl.travessa = 2Mpl, mantendo-se o momento plástico dos montantes, ou seja, Mpl.montantes = Mpl.

Para o mecanismo 3 analisado no exemplo 3.7, com rótulas plásticas em A, C, D e E, representado na


figura 27b, as equações de compatibilidade são as mesmas que foram apresentadas anteriormente. Por
aplicação do PTV tem-se

5L
W = H δHB + V δVC = λ θ
3

U = Mpl θ1 + 2 Mpl (θ1 + θ2) + Mpl (θ2 + θ3) + Mpl θ3 = 8Mpl θ

36
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24 Mpl 4,8Mpl
PTV ⇒ W = U ⇒ λs = =
5 L L

Figura 27a

Em função da localização das rótulas e do sinal da respectiva rotação o valor do momento flector está
definido nas secções A, C, D e E. O momento da secção B determina-se por equilíbrio tendo-se

MB - Mpl L 1
+ 2λs = 2Mpl ⇒ MB = Mpl <Mpl (|MB| < Mpl)
2 4 5

pelo que o diagrama de momentos é estaticamente admissível. Conclui-se assim que

4,8Mpl
λi = λs = λu =
L

sendo o mecanismo de colapso o indicado na figura 27b e a correspondente distribuição de esforços a


1
representada na figura 27c, com o valor de MB= M .
5 pl

Figura 27b Figura 27c

37
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

3.4.4 Consideração da interacção entre o esforço axial e o momento flector no


cálculo plástico de pórticos

Nos exemplos apresentados na secção 3.4.3 não se considerou o efeito do esforço axial
na redução do momento de plastificação das secções e a consequente redução da carga
de colapso plástico da estrutura. A existência simultânea de um esforço axial reduz o
valor do momento flector correspondente à plastificação da secção 1 . Na figura 28
representa-se, a título de exemplo, o diagrama de interacção plástica entre o momento
flector e o esforço axial de uma secção rectangular, sabendo-se que no caso de outras
secções os diagramas são qualitativamente semelhantes, variando apenas em função
das características geométricas das secções.

Figura 28 – Diagrama de interacção M-N de uma secção rectangular

As soluções exactas das cargas de colapso e dos mecanismos e diagramas de esforços


associados, tendo em consideração a interacção entre o momento flector e o esforço
axial, não podem ser obtidas de forma tão simples como as apresentadas anteriormente.
Para obter as soluções exactas consultem-se os textos de Massonet [1] e Horne [2]. No
entanto é importante verificar que da análise das soluções de problemas em que se
considera a interacção M-N verifica-se que a distribuição de esforços axiais nas
estruturas é pouco dependente daquela interacção. Assim a interacção M-N das secções
pode ser considerada de forma aproximada adoptando a seguinte metodologia:

1 - Determina-se o parâmetro de carga, o mecanismo de colapso e as distribuições de


esforços, de momentos flectores e de esforços axiais, considerando que os
momentos plásticos das secções não dependem dos esforços axiais.

2 - Para as secções das rótulas plásticas determinam-se os valores dos momentos de


plastificação em função dos níveis de esforço axial obtidos em 1. Admitindo que o

1
Este problema é leccionado nas disciplinas de Resistência de Materiais, sendo também abordado na disciplina de
Estruturas Metálicas no âmbito da análise da resistência das secções (Virtuoso [3]).
38
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

mecanismo de colapso é o mesmo que foi determinado no ponto 1 determina-se um


valor aproximado do parâmetro de carga, tendo em consideração o efeito dos
esforços axiais, assim como as distribuições de esforços correspondentes.

Refira-se que a metodologia apresentada não garante a verificação da admissibilidade


estática da distribuição de esforços, uma vez que a distribuição de esforços axiais
considerada na determinação dos momentos de plastificação não é, em geral, a mesma
que corresponde ao parâmetro de carga final.

Exemplo 3.11. Considere-se a estrutura e o carregamento apresentados no exemplo 3.9. Considere-se ainda
que o diagrama de interacção M-N é o representado na figura 28 para uma secção rectangular. Da solução
do problema obtida no exemplo 3.9 obtêm-se os esforços axiais nas barras indicados no quadro 2. Neste
quadro indicam-se também os valores dos momentos de plastificação correspondentes aos níveis de esforço
20 Mpl
axial em cada uma das barras, admitindo-se que Npl = .
L

Quadro 2 – Esforços axiais e momentos de plastificação nas barras


Barra N N/Npl M/Mpl
Mpl
1 (AB) 3,2 0,16 0,917
L
Mpl
2 (BD) 3,0 0,15 0,922
L
Mpl
3 (DE) 4,0 0,20 0,894
L
Tendo em consideração os valores dos momentos de plastificação obtidos em função dos níveis de esforço
axial em cada secção tem-se, para o mesmo mecanismo de colapso obtido no exemplo 3.7,

5L
W = H δHB + V δVC = λ θ = 1,667λLθ
3

U = 0,917Mpl θ1 + 0,922Mpl(θ1 + θ2) + 0,894Mpl (θ2 + θ3) + 0,894Mpl θ3 = 5,443Mpl θ

3,265Mpl
PTV ⇒ W = U ⇒ λs =
L

Em função da localização das rótulas e do sinal da respectiva rotação o valor dos momentos flectores está
definido nas secções A, C, D e E. O momento da secção B determina-se por equilíbrio, tendo-se

MB - 0,894Mpl L
+ 2λs = 0,922Mpl ⇒ MB = -0,527Mpl > -Mpl (|MB| < Mpl)
2 4

Na figura 29a representa-se o mecanismo de colapso, sendo a correspondente distribuição de esforços a


representada na figura 29b.

Saliente-se que os momentos de plastificação não são, em geral, iguais nas duas barras adjacentes a um nó,
sendo nestes casos necessário considerar que a rótula plástica se localiza na barra com menor momento de
plastificação. Para o exemplo em análise esta situação ocorre no nó D, verificando-se que o momento de
plastificação é menor na barra DE, que é a barra com maior esforço axial, pelo que é nesta barra que se
considera a rótula plástica.

39
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Figura 29a Figura 29b

O diagrama de momentos flectores apresentado na figura 29b é estaticamente admissível uma vez que
equilibra as cargas aplicadas e verifica as condições de plasticidade, mesmo tendo em consideração a
3,265Mpl
interacção M-N, pelo que o parâmetro de carga obtido (λu ≈ ) é um valor aproximado por defeito do
L
parâmetro de carga de colapso. Relembre-se que esta solução é aproximada uma vez que os momentos de
plastificação em cada secção foram obtidos com uma distribuição de esforços axiais que não corresponde ao
parâmetro de carga final.

3.5. Carregamentos paramétricos

Analisou-se anteriormente a determinação do parâmetro de carga último quando o


carregamento depende apenas de um único parâmetro de carga. Em determinadas
condições pode tornar-se útil avaliar a capacidade última de estrutura em função de mais
do que um parâmetro de carga, sendo possível definir as relações entre os parâmetros
de carga associadas a cada mecanismo e avaliar, para uma dada relação entre os
parâmetros de carga, qual o mecanismo condicionante e o valor do parâmetro de carga
último associado.

Exemplo 3.12. Para ilustrar uma situação em que existe mais do que um parâmetro de carga considere-se a
viga do exemplo 3.6, apresentado anteriormente, mas com um carregamento em função de dois parâmetros
de carga independentes λ1 e λ2, como se representa na figura 30a.

Figura 30a - Viga contínua sujeita a um carregamento em função de dois parâmetros de carga independentes λ1 e λ2

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Considerando o mecanismo representado na figura 30b, com rótulas plásticas em A, B e C, obtém-se, por
aplicação do teorema cinemático, λ1 = 6Mpl/L. Da análise do diagrama de momentos flectores apresentado na
figura 30c, e para que a distribuição de esforços seja estaticamente admissível, é necessário que

L 8Mpl
2Mpl ≤ λ2 ⇒ λ2 ≤
4 L

Figura 30b Figura 30c

Considerando agora um segundo mecanismo com rótulas plásticas em C, D e E, representado na figura 30d,
obtém-se da aplicação do teorema cinemático λ2 = 4Mpl/L. Da análise do diagrama de momentos flectores
apresentado na figura 30e, e para que a distribuição de esforços seja estaticamente admissível, é necessário
que

L 3 6Mpl
λ1 ≤ M ⇒ λ1 ≤
4 2 pl L

Figura 30d Figura 30e

As condições que se obtiveram da análise dos dois mecanismos anteriores permitem obter o diagrama de
interacção entre λ1 e λ2 representado na figura 30f. Da análise deste diagrama é possível saber quais os
valores limites de λ1 e λ2 que tornam condicionantes os mecanismos 1 e 2 analisados. Conhecida a relação
entre λ1 e λ2 é também possível, e com recurso ao mesmo diagrama, determinar qual o mecanismo
condicionante e qual o parâmetro de carga associado.

41
Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Figura 30f

Considere-se novamente o exemplo 3.6. Tem-se neste exemplo que

λ2 = 2λ1

Representando esta recta no diagrama de interacção entre λ1 e λ2, e determinando a sua intersecção com a
curva de interacção, é possível verificar o resultado obtido no exemplo 3.6, ou seja, que o mecanismo
condicionante é o que envolve a formação de rótulas plásticas em C, D e E, e que

8Mpl 4Mpl
λ2 = 2λ1 = 2λ = , ou seja, λ = .
L L

Exemplo 3.13. Considere-se o pórtico do exemplo 3.9, apresentado anteriormente, mas com as cargas
função de dois parâmetros de carga independentes λ1 e λ2, como se representa na figura 31a.

Figura 31a

Mecanismo 1 - Na figura 31b representa-se o mecanismo correspondente à existência de rótulas plásticas


6Mpl
nas secções A, B, D e E. Da aplicação do teorema cinemático obtém-se λ2 = . Da análise do diagrama de
L
esforços apresentado na figura 30c, e de forma a garantir a admissibilidade estática, tem-se que

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

L 4Mpl
λ1 ≤ Mpl ⇒ λ1 ≤
4 L

Figura 31b Figura 31c

Mecanismo 2 - Na figura 31d representa-se o mecanismo correspondente à existência de rótulas plásticas


8Mpl
nas secções B, C e D. Da aplicação do teorema cinemático obtém-se λ1 = . Da análise do diagrama de
L
esforços apresentado na figura 31e, e de forma a garantir a admissibilidade estática, tem-se

Mpl 3Mpl
λ2 ≤ ⇒ λ2 ≤
h L

Figura 31d Figura 31e

Mecanismo 3 - Na figura 31f representa-se o mecanismo correspondente à existência de rótulas plásticas nas
secções A, C, D e E. Da análise do diagrama de esforços apresentado na figura 31g, de forma a garantir a
admissibilidade estática, e tendo em conta que h=2/3L, tem-se:

λ1L MB - Mpl λ 1L
equilíbrio de momentos na travessa + = Mpl ⇒ MB = 3Mpl -
4 2 2

Mpl + MB 2Mpl 9 Mpl 3 MB


equilíbrio de forças horizontais λ2 = + ⇒ λ2 = +
h h 2 L 2 h

Eliminando MB destas duas equações obtém-se

9Mpl 3
λ2 = - λ1
L 4

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Figura 31f Figura 31g

A verificação da admissibilidade estática obriga a que –Mpl ≤ MB ≤ Mpl pelo que os limites desta última
equação são

8Mpl 3Mpl
Se MB= -Mpl ⇒ λ1 = ; λ2 =
L L

4Mpl 6Mpl
Se MB= Mpl ⇒ λ1 = ; λ2 =
L L

As condições que se obtiveram da análise dos mecanismos permitem obter o diagrama de interacção entre
λ1 e λ2 representado na figura 31h. Da análise deste diagrama é possível saber quais os valores limites de λ1
e λ2 que tornam condicionantes cada um dos mecanismos considerados. Conhecida a relação entre λ1 e λ2 é
também possível, e com recurso ao mesmo diagrama, determinar qual o mecanismo condicionante e qual o
parâmetro de carga associado, deixando-se como exercício complementar obter a solução do problema do
exemplo 3.9 com base no diagrama de interacção representado na figura 31h.

Figura 31h

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

3.6. Conceito de redistribuição de esforços

A aplicação de análise plástica limite permite obter uma distribuição de esforços no


colapso. Esta distribuição é, em geral, diferente da distribuição de esforços obtida para o
mesmo parâmetro da carga, mas através de uma análise elástica linear, e que serve
frequentemente como referência no dimensionamento e verificação de segurança das
estruturas.

A diferença entre os diagramas de esforços obtidos, para um mesmo parâmetro de carga,


através de análises elástica e plástica constitui um diagrama de esforços autoequilibrados,
assim designado porque, embora diferente de zero, não equilibra nenhuma carga exterior,
sendo frequentemente designado por diagrama de redistribuição de esforços. Com efeito,
este diagrama autoequilibrado pode ser entendido como a redistribuição a introduzir nos
diagramas de esforços obtidos através de uma análise elástica de forma a obter o
diagrama obtido numa análise plástica.

Exemplo 3.14. Na figura 32 representa-se a viga encastrada-apoiada submetida a uma carga concentrada a
1/2 vão estudada no exemplo 3.4. Com base numa análise plástica obtém-se um parâmetro de carga último
6Mpl
λu = e a respectiva distribuição de momentos flectores, apresentada na figura 32a. Para o mesmo
L
parâmetro de carga obtém-se a distribuição de momentos com base numa análise elástica linear (ver
exemplo 2.3) representado na figura 32b. A diferença entre os dois diagramas representa a redistribuição de
esforços que é necessário introduzir para passar do diagrama obtido com uma análise elástica para o
diagrama obtido com uma análise plástica. Verifica-se que o diagrama de redistribuição de esforços é
autoequilibrado, uma vez que não equilibra nenhuma carga exterior.

Figura 32 – Redistribuição de esforços numa viga encastrada apoiada

Exemplo 3.15. De forma semelhante ao efectuado para o exemplo 3.12 representa-se na figura 33 a
distribuição dos momentos flectores para a carga de colapso plástico da viga contínua do exemplo 3.6. São
representados os diagramas obtidos através de uma análise plástica, de uma análise elástica linear e a
redistribuição de esforços correspondente.

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Figura 33 – Redistribuição de esforços numa viga contínua

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

Exemplo 3.16 De forma semelhante ao efectuado nos dois exemplos anteriores representa-se na figura 34 a
distribuição dos momentos flectores para a carga de colapso do pórtico analisado no exemplo 3.9. São
representados os diagramas obtidos através de uma análise plástica, de uma análise elástica linear e a
redistribuição de esforços correspondente.

Figura 34 – Redistribuição de esforços num pórtico

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Estruturas Metálicas – Análise plástica de estruturas – Francisco Virtuoso - 2012

4. REFERÊNCIAS

[1] Massonet, Ch. y Save, M. Calcul Plastique des Contructions, Vol I. Centre Belgio
Luxenbourgeois d'Informatión de l'Acier (A.S.B.L.) 2ª Edición. Bruxelles, 1967.

[2] Horne, M. R; Plastic Theory of Structures; Pergamon Press; 1979.

[3] Virtuoso, Francisco; Análise e verificação da segurança de estruturas de aço.


Resistência de secções; Disciplina de Estruturas Metálicas; Mestrado em
Engenharia Civil; Instituto Superior Técnico; 2010.

5. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

Davies, J. M. & Brown, B. A.; Plastic Design to BS 5950. The Steel Construction
Institute; Blackwell Science; 1996.

Manfred A. Hirt, Rolf Bez, Alain Nussbaumer; Construction métallique: notions


fondamentales et méthodes de dimensionnement (TGC volume 10), Press
Polytechniques et Universitaires Romandes, 2005

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