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Ficha Técnica
Bruna Bucchianeri
Demetrius David da Silva Analista – Psicóloga
Reitor
Jorge Luiz César de Andrade
Assistente – Assistente de RH
Centro Nacional de Treinamento
em Armazenagem – CENTREINAR Equipe Gecap
Superintendência de Desenvolvimento
de Pessoas - Sudep
Giovana Iannicelli Crema Rodrigues
Superintendente
Gerência de Capacitação e
Desenvolvimento - Gecap
Bruno Pimentel
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Gerente
Autor do Curso
Site: agais.com
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Tratamentos
Fitossanitário:
Controle de Pragas
em Grãos
Armazenados
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Índice
1. Introdução .................................................................................................................... 5
2. Fungos .......................................................................................................................... 7
2.1 Métodos de controle de fungos .......................................................................... 8
3. Insetos .......................................................................................................................... 9
3.1. Sistema digestivo, respiratório e circulatório dos insetos ............................ 16
4. Métodos de controle de insetos ............................................................................... 17
4.1 Método físico ...................................................................................................... 17
4.2 Método Químico ................................................................................................. 18
4.2.1 Inseticidas .............................................................................................. 18
4.2.2 Atmosfera modificada ........................................................................... 20
4.2.3 Atmosfera controlada ............................................................................ 20
5. Ácaros (Acarus siro).................................................................................................. 22
6. Roedores .................................................................................................................... 23
6.1 Métodos de controle de roedores ..................................................................... 25
7. Pássaros ..................................................................................................................... 27
7.1 Controle de Pássaros em UA ............................................................................ 28
1. Introdução
No armazenamento de grãos em silos ou graneleiros é estabelecido um ecossistema, Figura 01, em
que estão presentes elementos abióticos e bióticos. Os elementos abióticos, sem vida, estão
distribuídos no espaço intergranular e correspondem ao: (i) ar; (ii) impurezas como frações de solo,
areia e restos vegetais; e (iii) restos de defensivos. Os elementos bióticos, com vida, são os grãos,
fungos, bactérias, insetos e ácaros.
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Calor
CO2
H2O
Odores
Temperatura Ecossistema
Umidade Relativa
Radiação Solar Agentes Bióticos
(grãos, fungos, Danos a massa de grãos
bactérias, insetos,
ácaros) (micotoxina, toxinas, residuos
agrotoxicos, fezes, pelos e urina de
Agentes Abióticos roedores, partes de insetos, fezes e
(impurezas, defensivos penas de aves, outros)
e ar)
O volume do espaço intergranular pode ser estimado por meio da porosidade expressa em
porcentagem. Para milho, a porosidade é de 40%. Em um silo de 5.000 sacas de milho, 300 t, o volume
do produto armazenado corresponde a 400 m³ (=300t / 0,75 t/m³) e o volume do espaço intergranular
é de 160 m³. No espaço intergranular circulam os fungos, insetos-praga, ácaros e bactérias.
Fungos, insetos e ácaros são considerados pragas de grãos armazenados por consumirem os grãos
e, ou por contaminá-los podendo deixar o produto impróprio para o consumo humano e animal. Da
mesma forma, roedores e pássaros são também pragas dos produtos armazenados. Para o controle
dessas pragas é indicada a adoção do Manejo Integrado de Pragas – MIP.
O MIP - Grãos Armazenados tem por objetivo o controle racional das infestações das pragas, com
uso correto de defensivos, fato que implica em menores danos à saúde dos colaboradores, ao meio
ambiente e redução de custos. O MIP - Grãos Armazenados tem por pilares: (i) limpeza e
desinfestação dos potenciais nichos ecológicos de proliferação de pragas; (ii) identificação das pragas,
(iii) determinação do nível de infestação; e (iv) adoção de medidas de controles.
O MIP envolve ainda a adoção de boas práticas como:
- varrição, aspiração de pisos, paredes e tetos, e a lavagem quando possível;
- remoção e queima de restos de grãos e entulhos infestados com insetos e fungos
provenientes da safra anterior;
- manutenção de todas as instalações limpas e as áreas adjacentes;
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- instalação e, ou construção de barreiras físicas para impedir o acesso de pássaros
e roedores;
- monitoramento e controle de roedores; e
- registro com fichas técnicas dos produtos químicos utilizados e as receitas
agronômicas.
Além desses cuidados, é recomendado evitar a construção de jardins e o descarte de alimentos
e restos de grãos, nas imediações da unidade.
2. Fungos
Fungos, também denominados mofos ou bolores, são microrganismos multicelulares ou filamentosos,
que ao infestarem a massa de grãos, alimentos ou rações buscam por nutrientes como carboidratos,
proteínas, gorduras, vitaminas e minerais.
Durante o desenvolvimento, quando submetidos a alguma condição de estresse térmico, os fungos de
algumas espécies produzem micotoxinas. Em função da concentração, as micotoxinas podem causar
intoxicação alimentar em humanos e animais levando a doenças crônicas dos rins ou fígado; danos aos
sistemas imunológicos, cardiovascular, endócrino, reprodutivo ou nervoso; além de hemorragias, aborto,
doenças de pele, câncer, gangrena, paralisia de membros e óbito.
Mesmo não causando acentuados quadros de intoxicação alimentar, a ingestão de rações com
micotoxinas levam a perdas econômicas decorrentes da: (i) redução das taxas de crescimento e, ou de
conversão alimentar; (ii) recusa de alimentos; (iii) aumento do estresse; e (iv) redução ou interrupção
da produção de leite e ovos.
O desenvolvimento de fungos e bactérias está atrelado ao nível de atividade água que varia de 0 a 1. O
nível é caracterizado pela indisponibilidade de água. Enquanto um, a máxima disponibilidade, o que é
constatado, por exemplo, na camada limite de ar sobre um espelho de água. Fungos prevalecem em
ambientes com atividade de água entre 0,65 a 0,90, ou o mesmo que, ambientes com umidade relativa
entre 65% a 90%. Enquanto acima desses valores prevalecem as bactérias.
Os fungos são classificados em: fungos do campo, fungos intermediários e fungos do armazenamento.
Fungos do campo infestam grãos antes da colheita, quando o teor de água está próximo de 35%. Para
essa condição a atividade de água na superfície dos grãos favorece a proliferação de fungos dos gêneros
Alternaria, Cladosporium, Fusarium ou Helminthosporium.
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Os fungos intermediários têm condições ideais para proliferação após a colheita, quando o teor de água
apresenta entre 18,0 e 28,0%. Desse modo, atrasos na secagem e a falta de silos-pulmão adequadamente
projetados, definem condições favoráveis à proliferação, principalmente, de fungos do gênero Fusarium.
Quanto aos fungos do armazenamento, estes proliferam quando o teor de água do produto é inferior a
18%, conforme demonstrado na Quadro 01. A proliferação em silos ou graneleiros dá-se em pontos de:
(i) ocorrências de goteiras e, ou, de infiltração de água; (ii) concentração de impurezas menores do que
os grãos; e (iii) acúmulo pontual de produto com teor de água acima do recomendado. Este último se
deve a falhas no controle da secagem, ou erros na condução da operação de aeração.
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intergranular atuando na descontaminação fúngica. Para a adoção dessas tecnologias o produto deve
estar limpo e seco.
3. Insetos
Os insetos-pragas que infestam os grãos são na maioria pertencentes às ordens Coleópteras e
Lepidópteras. A palavra Coleóptera origina do grego e faz referência ao primeiro par de asas das
espécies dessa ordem, que é uma estrutura rígida denominada élitros. Dessa forma, têm-se “koleos”
significa bainha, estojo e “pteron” – asa, ou seja – faz referência aos insetos que possuem asas no
formato de um estojo.
A ordem Coleóptera é a maior no reino animal e reúne mais de 350 mil espécies, sendo que 500 delas
têm sido associadas à infestação a produtos armazenados de origem vegetal ou animal. Em unidades
armazenadoras de grãos são destaques as seguintes espécies da ordem Coleóptera: Lasioderma
serricorne, Sitophilus oryzae, Sitophilus zeamais, Sitophilus granarius, Rhyzopertha dominica,
Teneboides mauritanicus, Tribolium castaneum, Tribolium confusum, Criptolestes ferrugineus,
Oryzaephilus surinamensis, Zabrotes subfasciatus, Callosobruchus maculatus.
A palavra Lepidóptera (do grego “lepis” = escama, e “pteron” = provido de asas) refere-se à ordem de
espécies de borboletas e mariposas que tem por característica o corpo revestido por escamas. A ordem
Lepidóptera possui aproximadamente 170 mil espécies, cerca de 70 delas estão associadas aos
ambientes de armazenagem de grãos e alimentos. Como exemplos, de espécies dessa ordem podem
ser citados: Sitotroga cerealella, Plodia interpunctella e Corcyra cephalonica e Ephestia ssp.
Os insetos-praga de produtos armazenados são caracterizados pelo seu elevado potencial biótico,
capacidade de infestação cruzada e polifagia. O elevado potencial biótico está relacionado com a
capacidade de reprodução de grande número de indivíduos a cada geração e o elevado número de
gerações em curto espaço de tempo. Investigações científicas mostram que casal da espécie
Sitophillus orryzae, em condições favoráveis, levam a reprodução de 1,34 milhões de indivíduos após
a quinta geração. Os insetos-praga de grãos são capazes de realizar a infestação cruzada atacando o
produto no campo e durante o armazenamento. Além disso, os insetos tem a capacidade de infestar
diversos produtos. Exemplos: Sitophillus zeamais podem infestar milho e sorgo. Rhyzopertha dominica,
infesta praticamente todos os cereais - milho, sorgo, trigo, cevada. Zabrotes subfasciatus além do
feijão, infestam também ervilha, soja e grão-de-bico.
Na reprodução dos insetos o ciclo biológico compreende basicamente quatro fases: ovo, larva, pupa e
adulto; conforme representado na Figura 02.
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(a) ordem Coleóptera (b) ordem Lepidóptera
Figura 02 – Ciclo biológico dos insetos.
Adaptado: Canadian Grain Comission
Ovos – podem ser postos em cavidades perfuradas nos grãos, sobre os grãos ou junto às impurezas
e ao material particulado proveniente da atividade dos insetos adultos.. Nas espécies em que os ovos
são colocados fora dos grãos as larvas após eclodirem devem se locomover para perfurar os grãos e
se alimentar
Larvas – é nesta fase que ocorre o crescimento dos insetos e o maior consumo de produto, podendo
a quantidade consumida ser superior várias vezes o próprio peso. A epiderme das larvasnão estende
e dessa forma, elas trocam de epiderme várias vezes.
Pupa - nesta fase o inseto apresenta envolto em uma estrutura denominada casulo. Quando então
ocorrem grandes transformações internas e externas do individuo. E ao final, surge a forma adulta.
Adultos – os insetos adultos podem medir de 0,1 a 1,0 centímetro. Normalmente, possuem três pares
de pernas e o corpo dividido em três partes: cabeça, tronco e abdômen. A cabeça inclui a mandíbula e
os órgãos sensitivos; o tórax inclui as pernas e as asas; e o abdômen, os órgãos reprodutivos e
responsáveis pela respiração. Os adultos movimentam entre o espaço intergranular ou sobre a
superfície da massa de grãos. Algumas espécies da ordem Coleóptera podem penetrar vários metros
na massa de grão.
Quanto aos hábitos alimentares os insetos podem ser classificados em primários, secundários e
associados, Figura 03.
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Primários internos:
Ex.: Sitophilus zeamais;Zabrotes
subfasciatus; Sitotroga cerealella
Insetos
primários Primários externos:
Ex.: Plodia interpunctella; Rhyzopertha dominica,
Lasioderma serricorne; Tenebroides mauritanicus
Insetos
associados Ex.: Tenebrio molitor; Acaros siro
Os insetos-praga primários possuem estrutura mandibular que permite romper a estrutura de grãos
inteiros e sadios. Estes insetos são divididos em: (i) primários internos (Tabela 02) - rompe a estrutura
dos grãos por meio de perfurações e se alimentam das partes internas dos grãos e (ii) primários
externos (Quadro 02) – alimentam-se das partes externas podendo também atacar as partes internas
dos grãos.
Os insetos-praga secundários não conseguem romper a estrutura de grãos inteiros, e ocorrem sempre
associados as pragas primárias. O rompimento dos grãos pode ser causado por insetos primários, ou
em razão danos mecânicos e, ou térmicos que provocam quebras e trincas. Na Quadro 03 são
relacionadas algumas espécies de pragas secundárias.
Os insetos associados, não danificam os grãos, pois se alimentam de detritos e fungos. A ocorrência
dos insetos associados pode alterar a qualidade do produto final devido ao grande número de
indivíduos ou a contaminação dos produtos pela sua atividade metabólica. Exemplo desta categoria
são os ácaros.
Quadro 01 – Descrição dos principais insetos primários internos de importância comercial
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Sitophilus oryzae, Sitophilus zeamais
(Caruncho ou gorgulho do arroz)
Sinais de infestação: aumento da atividade de água e da temperatura nos locais da infestação. Grãos com
orifícios circulares feitos pelos adultos.
Ciclo biológico: A fêmea faz um orifício na superfície do grão e deposita um ovo, fechando o mesmo com uma
secreção. Cada fêmea pode colocar de 150 a 300 ovos. As fêmeas continuam a ovipositar até a morte. Os adultos
vivem de 4 a 12 meses e o ciclo bilógico completa-se em 35 dias em condições ideais.
Condições ótimas: 27 oC, umidade relativa de 70% e teor de água dos grãos de 14%.
Sitophilus granarius
(Caruncho ou gorgulho do trigo)
Sinais de infestação: aumento da atividade de água e da temperatura nos locais da infestação. Grãos com
orifícios circulares feitos pelos adultos.
Ciclo biológico: duração de aproximadamente 40 dias. O indivíduo adulto pode viver até cinco meses. A fêmea
pode pôr até 300 ovos, sendo, normalmente, um por grão.
Condições ótimas para desenvolvimento: temperatura 26 oC, umidade relativa de 65% e teor de água dos
grãos de 14%.
Sitotroga cerealella
(Traça dos cereais)
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Rhizopertha dominica
(Besouro de cereais e farinhas)
Danos: adultos e larvas se alimentam dos grãos, destruindo-os completamente. Os adultos, tem preferência
pela região germinal. Produtos infestados por R. dominica dificilmente apresentam ataque fúngico, pois esta
espécie não ocasiona o aumento da umidade relativa do ar intergranular, como outras espécies
Ciclo biológico: fêmea deposita de 200 a 500 ovos em cavidades naturais na superfície rugosa das sementes.
A oviposição é maior com o aumento da temperatura e pode durar mais de 4 meses.
Plodia interpunctella
(Traça)
Danos: somente as larvas atacam os grãos trincados e, ou quebrados, pois os adultos não possuem aparelho
bocal desenvovido
Ciclo biológico: 28 dias. As fêmeas podem pôr até 400 ovos, que são colocados sobre a superfície dos
produtos. As larvas movimentam e se alimentam sobre a superfície da massa de grãos e produzem as teias.
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Quadro 03 – Descrição dos principais insetos secundários de importância comercial no Brasil
Corcyra cephalonica
Ciclo biológico: 30 a 35 dias. A forma adulta vive cerca de 15 dias.Os ovos são colocados em pequenos
grupos sobre os grãos. A forma adulta é de hábito noturno, voa pouco.
Tribolium castaneum
Ordem: Coleóptera - Família: Tenebrionidae
Danos: Larvas e adultos preferem a região germinal do grão, mas causam severos danos em produtos
farináceos.
Oryzaephilus surinamensis
Ciclo biológico: Os ovos podem ser colocados diretamente sobre os grãos ou em cavidades. Em média 300 a
400 ovos são postos pela fêmea.
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Cryptolestes ferrugineus
Danos: essencialmente praga secundária, porém, as larvas podem penetrar em grãos com danos muitos leves.
Nos grãos elas mostram preferência pela região germinal, causando assim perda de qualidade e redução do
poder germinativo.
Ciclo biológico: a fêmea deposita cerca de 200 ovos nas rugosidades dos grãos ou soltos em meio aos grãos
e material farináceo. Duração 17 a 26 dias.
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Assim, por exemplo, se os insetos não sobem pela lateral do vidro, apresenta corpo achatado,
tem cor marrom claro e mede aproximadamente 3 mm, trata-se do Triboliun castaneum, que é uma
praga secundária comum na infestação de grãos de milho.
O sangue dos insetos, chamado de hemolinfa, não participa das trocas gasosas e é desprovido de
pigmentos transportadores de gases. O sistema circulatório dos insetos é do tipo aberto e é utilizado
para o transporte de nutrientes e substâncias excretadas pelas células
O sistema digestivo é variado. De forma geral, a cavidade bucal dispõe de glândulas salivares que
produzem enzimas digestivas e substâncias lubrificantes. Ao ser ingerido, o alimento passa pela
faringe e esôfago, sendo armazenado no papo. Depois é triturado pela moela e conduzido ao estômago,
onde o alimento é digerido por enzimas. No estômago inicia a absorção de nutrientes o que prossegue
pelo intestino. Na porção final do reto há grande absorção de água por meio de glândulas retais.
No intestino localizam as estruturas excretoras como os tubos de Malpighi, onde o sangue é filtrado e
são excretadas substâncias nitrogenadas, como o ácido úrico, que são misturadas às fezes. A excreção
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do ácido úrico não requer a diluição em água, mas outros compostos nitrogenados, como amônia,
requer água para diluição por serem tóxicos.
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e) Características construtivas e manutenção: os telhados e estruturas dos equipamentos de
transporte de grãos devem ser montados de tal forma a não alojar nichos de propagação de infestações.
Os perfis metálicos em “U” utilizados na montagem de telhados ou dos equipamentos devem estar
voltados para baixo, para não propiciar o acúmulo de sujidades que podem favorecer o alojamento e
reprodução de insetos. Quanto à manutenção da estrutura física, visa eliminação de rachaduras em
pisos e paredes, de tal forma que esses locais não sirvam para o alojamento e reprodução dos insetos.
O uso de telhas transparentes no telhado de graneleiros também contribui reduzindo o desenvolvimento
de insetos da ordem Lepidoptera.
f) Uso de embalagens: a embalagem presta como barreira física aos insetos. Algumas embalagens,
como as de sementes, são multifoliadas com papéis especiais que bloqueiam a entrada dos insetos.
g) Terra de diatomácea (SiO2): trata-se de uma substância abrasiva a base de sílica que promove a
escarificação do inseto e remoção da cera que recobre o exoesqueleto de algumas espécies, levando
a perda de água e morte por desidratação. O uso da terra de diatomácea pode ser conduzido por meio
de três tipos de tratamentos: (i) Tratamento de sementes ou grãos: é aplicado no recebimento na
dosagem de 1 kg por tonelada; (ii) Tratamento de superfície: dá-se pelo polvilhamento sobre a massa
de grãos, na dosagem de 100g/m²; e (iii) Envelopamento da Massa de Grão: consiste em tratar por
meio do polvilhamento de uma camada de 1,5 m de grãos, que ocupará a região inferior dos graneleiros
ou dos silos. O polvilhamento é feito na correia transportadora, ou em outro tipo de transportador.
4.2.1 Inseticidas
O inseticida ideal é o que: (i) elimina os insetos; (ii) não causa danos a humanos e ao meio ambiente;
(iii) apresenta resistência à degradação ao ser exposto a altas temperaturas e, ou baixas umidades
relativa; (iv) tem atividade residual compatível ao período de armazenagem; e (v) apresenta baixo nível
de contaminação. Além disso, deve ser de baixo custo, fácil manuseio, e contenha odores de proteção.
O poder de ação dos inseticidas está relacionado ao estádio de desenvolvimento e aos hábitos
dos insetos. Inseto que tem parte do seu desenvolvimento no interior dos grãos, maior será a dificuldade
para ação do inseticida.
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Os inseticidas utilizados em armazenagem têm os seguintes mecanismos de ação: contato,
ingestão e fumigação.
CE = concentrados emulsionáveis.
Nota: Sempre consulte boletins de atualização do MAPA
b) Inseticidas fumigantes
Enquadram-se como fumigantes os inseticidas que tem como mecanismo de ação o sistema
respiratório dos insetos. No Brasil o mais utilizado é a fosfina (PH 3). O gás fosfina tem origem
emcomprimidos, pastilhas, ou sachês de fosfeto de alumínio (AlP), ou de fosfeto de magnésio. Estas
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substâncias em reação com o vapor de água presente no ar liberam o gás, conforme demonstrado
abaixo:
- A partir do fosfeto de alumínio: AlP + 3H2O → PH3 + Al(0H)3
- A partir do fosfeto de magnésio: Mg3P2 + 6H2O → 2PH3 + 3Mg(0H)2
A eficiência da fumigação está relacionada ao: (i) tempo de exposição; (ii) a vedação do local; (iii) a
temperatura e umidade relativa adequadas. Para as condições brasileiras no tratamento de grãos
armazenados em silos, o tempo de tratamento recomendado é de 240 horas.
Para minimizar a inflamabilidade e explosividade, na formulação nos comprimidos, pastilhas e sachês
além dos sais fosfeto de alumínio ou fosfeto de magnésio são acrescentados carbamato de amônia. O
carbamato de amônia absorve o calor da reação de liberação do gás fosfina e libera os gases amônia
e dióxido de carbono. A amônia serve como gás alerta e o gás carbônico reduz a inflamabilidade do
𝑃𝐻3 .
4.2.2 Atmosfera modificada
Para esse caso o estabelecimento da atmosfera modificada ocorre com a redução da concentração e
oxigênio (O2) e aumento da concentração de gás carbônico (CO 2) em razão da respiração dos grãos,
insetos, fungos aeróbicos e ácaros. Em razão desta atividade respiratória, estudos científicos mostram
que a concentração de O2 reduz de 21,0 para faixa de 1 a 2%, enquanto, a de CO 2 aumenta de 0,035
para 20,0%. Essa atmosfera é inóspita ao desenvolvimento de insetos, ácaros e fungos aeróbicos.
Nesse caso, se a massa de grão com elevado teor de água (acima de 16% para a maioria dos grãos),
há risco de ocorrer o desenvolvimento de bactérias láticas e, ou de leveduras, o que depreciará a
qualidade do produto armazenado.
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Ao estabelecer a AC à pressão normal, a exceção do ozônio, os demais tratamentos requerem
o acondicionamento do produto em estruturas herméticas para retenção e manutenção da
concentração dos gases. A estrutura pode ser, por exemplo, pequenos frascos plásticos ou metálicos;
embalagens com revestimentos plásticos impermeáveis à troca de gases, big bags, silos bolsa, silos
metálicos ou em concreto revestidos de material vedante, containers, e etc.
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Quanto à concentração de 𝑂2 em relação à concentração de 𝐶𝑂2 , têm-se: (i) atmosfera com
60% de 𝐶𝑂2 e 8% de 𝑂2 são muito efetivas para eliminar insetos que se alimentam das partes internas
dos grãos, enquanto baixa concentração de 𝑂2 é mais efetiva para o controle dos insetos externos aos
grãos; (ii) alta concentração de 𝐶𝑂2 mesmo com concentração de 𝑂2 em 20% irá controlar os insetos
devido a toxidade do 𝐶𝑂2 . Para temperatura de 20 °C, pesquisas apontam os seguintes níveis letais de
concentração de 𝐶𝑂2 : 40% por 17 dias; 60% por 11 dias; e 80% por 8,5 dias.
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Algumas espécies produzem sérias irritações na pele dos trabalhadores que manuseiam os produtos
infestados.
O ciclo biológico compreende quatro estádios: ovo, larva, ninfa e adulto. As fêmeas podem colocar até
250 ovos, sendo as condições ótimas para desenvolvimento temperatura de 20 a 25°C e umidade
relativa de 75-80%. Como sinais de infestação é observado pó de grão, que parece estar se em
movimento, entretanto é o sinal de atividade dos ácaros. Altas populações de ácaros causam um odor
doce.
O controle de ácaros dá-se pela secagem dos grãos a níveis de teores de água, que propicie a
ocorrência no espaço intergranular níveis de atividade de água abaixo de 0,65.
6. Roedores
Estudos revelam que em média um roedor consome 25 g de alimentos por dia. Fato, que pode gerar
um prejuízo anual de cinco dólares. No entanto, um roedor ao se alimentar, geralmente, danifica um
volume que varia de cinco a dez vezes ao consumido. O que estende o prejuízo anual para 25 a 50
dólares, por roedor.
Quanto às possibilidades de contaminação dos alimentos, são estimados que por meio dos pelos,
fezes, urina e mordidas dos roedores podem ser transmitidas quarenta e cinco tipos de doenças.
Outro fator são os danos estruturais causados pelos roedores, como por exemplo, os provocados aos
cabos elétricos. Isto pode causar curtos-circuitos ou ser fonte de ignição em explosões e incêndios.
As três principais espécies de roedores que infestam unidades armazenadoras são os: camundongos
(Mus musculus), ratos de telhado ou rato preto (Rattus rattus), e ratazanas (Rattus novergicus)(Figura
07).
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a) Camundongo b) Rato de telhado ou rato preto c) Ratazana ou rato de esgoto
(Mus musculus) (Rattus rattus) (Rattus novergicus)
Os camundongos (Mus musculus) dentre as três espécies citadas são os de menor porte e estes têm
por características: (i) peso médio de 10 a 20 g; (ii) expectativa de vida 12 meses; (iii) período de
gestação de 19 a 21 dias, que se repete de 5 a 6 vezes ao ano. A cada gestação nascem de 3 a 8
filhotes; (iv) caudas afiladas; e (v) orelhas salientes em relação ao tamanho da cabeça. Estes roedores,
geralmente, vivem em pequenos grupos familiares e se abrigam em caixas, móveis, pilhas de caixas e
sacarias e tocas escavadas em paredes. O raio de ação a partir do abrigo é de aproximadamente três
metros.
Os ratos de telhado, ou também denominados ratos pretos, (Rattus rattus) chegam a pesar 300 g.
Possuem corpo esguio, orelhas e olhos grandes em relação à cabeça, a cauda é afilada e o
comprimento desta é maior que o do corpo. Fato, que os conferem mobilidade e equilíbrio ao escalar
paredes, cabos elétricos e galhos de árvores. A maturidade sexual ocorre dos 60 aos 75 dias de vida;
e o período de gestação é de 20 a 22 dias, com ninhadas de 7 a 12 filhotes. Por ano ocorrem de 4 a 8
ninhadas. A expectativa de vida é de dezoito meses. Estes se organizam em colônias e se abrigam em
lugares altos, onde constroem seus ninhos. Descem ao solo somente em busca de alimentos e água.
As ratazanas ou rato de esgoto (Rattus novergicus) são os de maior porte. Estas possuem por
características: (i) peso médio de 600 g; (ii) olhos e orelhas pequenas em relação ao tamanho da
cabeça; (iii) cauda grossa com pelos; e (iv) período de gestação de 22 a 24 dias, podendo ocorrer de 8
a 12 gestações por ano. A cada gestação são gerados de 7 a 12 filhotes. A maturidade sexual ocorre
aos 60 a 90 dias de vida. Esses roedores se abrigam, preferencialmente, em tocas em forma de túneis
escavados no solo e estas podem chegar à profundidade de até 1,5 m, o que pode causar danos
estruturais às edificações.
Outros locais utilizados como abrigo são galerias de esgoto e, ou de águas pluviais, caixas
subterrâneas de telefone, redes elétricas subterrâneas e margens de córregos. O raio de ação é de
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aproximadamente 50 metros. No entanto, estes podem nadar distâncias superiores a 500 m. O que é
propiciado, pelo fato desses roedores possuírem membranas interdigitais. Normalmente, vivem em
colônias que podem conter um grande número de indivíduos, o que irá depender da disponibilidade de
alimentos, água e abrigo. Estas colônias possuem divisões hierárquicas determinando dominados e
dominantes.
a) Barreiras físicas
Barreiras físicas são obstruções implantadas nas edificações que visam obstruir a circulação de
roedores. Como exemplos, podem ser citados as construções de: (a) pisos em concreto com espessura
maior que 7,5 cm sob bases adequadamente compactadas; e (b) alicerces em concreto que devem
projetar no mínimo 30 cm acima da linha de terra. Outro artifício é a instalação de telas metálicas em
aberturas externas junto ao solo, dutos de aeração, entradas dos ventiladores e caixas de drenagem.
b) Saneamento de ambientes
Saneamento de ambientes constitui em procedimentos que visam eliminar possíveis locais de abrigo e
fontes de alimentos e água. Para tanto são recomendados: (i) eliminar vegetação em torno das
instalações; (ii) manter as instalações em bom estado de conservação procurando eliminar possíveis
locais de abrigo, como buracos em paredes; (iii) remover pilhas de lixo, restos de materiais de
construção e sucatas. (iv) manter os reservatórios de água fechados; (v) sanar vazamentos em
tubulações de abastecimento de água; e (vi) limpar periodicamente galerias de escoamento de águas
pluviais, evitando o acúmulo de água. Caso seja necessário empilhar algum material, a pilha deve ser
montada a uma distância superior a 30 cm das paredes e a uma altura de 30 cm do solo;
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procedimentos: (a) determinação dos pontos críticos; (b) identificação da espécie; e (c) estimativa do
nível de infestação.
A determinação dos pontos críticos refere-se à identificação da localização dos nichos de
infestação, que podem ser, por exemplo: o pátio onde está armazenado lenha, os túneis abaixo dos
silos; a casa de máquina onde estão as máquinas de pré-limpeza e limpeza, ou os bueiros da drenagem
pluvial.
A identificação das espécies consiste em determinar se prevalece: camundongos, ratos de
telhado ou ratazanas.
E a estimativa do nível de infestação pode ser realizada segundo três procedimentos: (1)
constatação da presença de roedores; (2) captura de roedores; e (3) medição do consumo de
alimentos.
Na constatação da presença de roedores é definido três níveis de infestação: baixo, médio e
alto, e, baseando em algumas características da população dos roedores é feita a estimativa. Exemplo:
constatação da circulação de roedores – se durante o dia ou à noite não forem percebida a
movimentação de roedores a infestação é baixa; se for constatada somente a noite ou ambientes
escuros a infestação é média; e se percebida durante o dia ou a noite o nível de infestação é alta.
Outro exemplo é a presença de fezes. Se visualizadas algumas fezes espalhadas – baixa infestação;
se várias fezes e concentradas em alguns pontos – média infestação; e se constatadas em vários locais
e frescas – alta infestação.
O procedimento captura de roedores consiste na distribuição de 100 armadilhas na área objeto
de estudo. As armadilhas devem ser distribuídas durante três dias e permanecer nos locais das 22:00
a 05:00 horas. De acordo como número de roedores capturados pode se caracterizar o grau de
infestação. No caso da captura de 1 a 5 indivíduos, é o indicativo de baixa infestação; de 6 a 15, média
infestação; de 16 a 29, alta infestação, e acima de 30 altíssima infestação.
Quanto à estimativa da população de roedores segundo a medição do consumo de alimento, a
metodologia consiste em distribuir frascos com 30 gramas de grãos de cereais moídos pela área de
estudo. A cada 24 horas os frascos são colhidos para medição de quanto de alimento foi consumido.
Os frascos são reabastecidos e redistribuídos. Isso deverá ser repetido até que a quantidade de
alimento consumida estabilize. Assim, considerando que na média cada rato de telhado consome 15 g
de alimento por dia, ao dividir a quantidade de alimento consumida por 15, estima-se o número de
indivíduos da população.
Em situações que o nível de infestação demande controle por meio da redução da população pode-se
utilizar métodos físicos ou químicos.
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No método físico, é empregado ratoeiras destinadas ao controle dos camundongos e dos ratos de
telhado. A eficiência do emprego das ratoeiras está: (a) no emprego de iscas apropriadas como: queijo,
carne fresca ou toucinho; e (b) na colocação destas em locais onde haja infestação. Outra opção são
as ratoeiras adesivas, que contam com uma plataforma com cola superadesiva com odor atraente aos
roedores. Há também no mercado as ratoeiras elétricas.
Quanto ao método químico, consiste no uso de raticidas que apresentam basicamente duas
modalidades de formulações: as de ação rápida e as de ação lenta. Os raticidas de ação rápida, causam
a morte do roedor em menos de 24 horas. Nessa categoria têm-se substâncias como: arsênio,
fluoracetato de sódio e alfa-naftil-tioureia. Esses princípios ativos são de uso proibido no Brasil. Os
raticidas de ação lenta têm em sua formulação anticoagulantes que levam a morte do roedor entre o
terceiro ao décimo dia de ingestão. Estes raticidas possuem como princípio ativo substâncias que
inibem a formação da protombina em animais de sangue quente. Fato que promove o aparecimento de
hemorragias capilares e em órgãos internos. O uso desse tipo de raticida é preferido, pelo fato de evitar
que os roedores venham a repelir a isca. No mercado atualmente estão disponíveis os de primeira e
segunda geração. Os de primeira geração são necessárias ingestões do princípio ativo por vários dias,
enquanto os dos de segunda geração requer dose única.
Considerando os potenciais de intoxicação dos raticidas aos seres humanos e a outros animais de
sangue quente é recomendado que estas substâncias sejam manipuladas em conformidade com as
recomendações estipuladas nas embalagens. No final dos tratamentos, os restos dos raticidas devem
ser descartados conforme determinação dos fabricantes.
Outro fator importante é que os recipientes utilizados para colocarem as iscas não permitam que: (a)
as iscas sejam atingidas por água de chuva; (b) crianças tenham facilidade de abrir o recipiente; e (c)
outros animais consigam ingerir as iscas.
Ressalta-se que tanto no emprego das ratoeiras como dos raticidas é importante aguardar de dois a
três dias para que esses agentes venham a surtir efeito, poisos roedores possuem neofobia
(desconfiança a objetos e alimentos novos).
Além dos métodos discutidos, outros como empregos de substâncias repelentes, esterilizantes e
fumigantes, podem ser utilizados no controle de populações de roedores.
7. Pássaros
As unidades armazenadoras podem ser infestadas por pombos das espécies Columba lívia, e
(Columbina ssp). Essas aves buscam por alimentos e locais para refúgio e procriação.
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Durante o refúgio, as aves defecam e suas fezes podem contaminar os grãos, como também,
causar doenças como: salmonelose, criptococose, histoplasmose, ornitose, meningite.
8. Referências
03. BROOKER, D. B., BAKKER-ARKEMA F. W., HALL, C. W.. Drying and Storage of Grains and
Oilseeds. New York: Van Nostrand Reinhold. 1992. 4. CARAVALHO, N. M., NAKAGAWA J.
[Coordenadores] Sementes: Ciência, Tecnologia e Produção. Fundação Cargill, 3a Edição. 1988. 424p.
04. GRDC – Grains Research and Development Corporation. Stored grain pests identification (The
back pocket guide). 2011. 20p.
05. HALL, C. W. Drying Farm Crops. Agricultural Consulting Associates, Inc. Reynoldsburg: Ohio,
EUA. 1957. 336p.
08. SILVA, J. S. [editor] Pré-Processamento de Produtos Agrícolas. Instituto Maria. Juiz de Fora. 1995.
509 p.
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09. WEBER, E. A.. Armazenagem Agrícola. Editora. Livraria e Editora Agropecuária, Guaíba: RS.
2001. 396 p.
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