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V

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Ficha Técnica

Universidade Federal de Viçosa – Daniele Cadête de Araujo Lima


UFV Analista – Psicóloga

Bruna Bucchianeri
Demetrius David da Silva Analista – Psicóloga
Reitor
Jorge Luiz César de Andrade
Assistente – Assistente de RH
Centro Nacional de Treinamento
em Armazenagem – CENTREINAR Equipe Gecap

Fernando da Costa Baêta


Diretor-Geral Diretoria de Operações e Abastecimento -
Dirab
Luís César da Silva José Jesus Trabulo de Sousa Júnior
Professor Autor do Curso Diretor Executivo

Paulo Cesar Correa Suarm - Superintendência de


Professor Colaborador Armazenagem
Stelito Assis dos Reis Neto
Renata Cássia Campos Superintendente
Professora Colaboradora
Gerência de Armazenagem - Gearm
Fernanda Dutra da Silva Paulo Claudio Machado Junior
Assistente Administrativo Gerente

Mariana Breda Pozze


Companhia Nacional de Analista - Engenheiro Agrônomo-Agrícola
Abastecimento - Conab
Equipe Gearm
Guilherme Augusto Sanches Ribeiro
Diretor Presidente

Diretoria de Gestão de Pessoas - Digep


Bruno Scalon Cordeiro
Diretor Executivo

Superintendência de Desenvolvimento
de Pessoas - Sudep
Giovana Iannicelli Crema Rodrigues
Superintendente

Gerência de Capacitação e
Desenvolvimento - Gecap
Bruno Pimentel
2
Gerente
Autor do Curso

Prof. Luís César da Silva


Doutor em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Viçosa
Departamento de Engenharia
Agrícola

Site: agais.com

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Propriedades Física
dos Grãos:
Amostragem,
Determinação de
Impurezas e
Umidade

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Índice

1. Introdução ..................................................................................................................... 6
2. Propriedades ................................................................................................................ 9
2.1 Teor de água ...................................................................................................... 9
2.1.1 Métodos Diretos ............................................................................................ 12
2.1.2 Métodos indiretos .......................................................................................... 13
2.2 Massa Específica ............................................................................................. 15
2.3 Ângulo de Repouso......................................................................................... 16
2.4 Porosidade ........................................................................................................ 18
2.5 Calor específico – entalpia específica............................................................ 19
3. Amostragem de cargas de grãos ............................................................................. 20
4. Equações de Desconto de Secagem e Limpeza .................................................... 22
5. Exemplos aplicativos ................................................................................................. 28
6. Referências................................................................................................................. 32
7. Exercícios ................................................................................................................... 34

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Propriedades Físicas dos Grãos:
amostragem e determinação de impurezas e umidade

1. Introdução
Para o perfeito entendimento dos processos aplicados ao pré-processamento, beneficiamento e
processamento de grãos a compreensão de conceitos relativos à estrutura e propriedades físicas dos
grãos é necessária.
As sementes quando lançadas ao solo germinam, passam pelo ciclo vegetativo, formam novas
plantas, que florescem, e ao serem fecundadas dão origem a novas sementes.
Uma flor completa possui os órgãos masculino e feminino, Figura 1. O estame é a estrutura masculina.
Em sua extremidade está a antera que internamente guarda os grãos de pólen. Estes quando
maduros são levados pelo vento, insetos ou pássaros. Dentre muitos, alguns grãos de pólen chegarão
ao estigma, que é a estrutura da flor onde localiza o órgão feminino.

Figura 1 – Processo de polinização (fecundação).

O grão de pólen aderido à abertura do estigma (Figura 1) desenvolve o tubo polínico que chega
até o ovário, onde está para ser fecundado o óvulo. Pelo tubo polínico desce dois núcleos
espermáticos. Um deles irá fundir com uma das células do óvulo para formar o embrião. O outro irá
fundir com outras células do óvulo para formar outras estruturas da semente.

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Por meio dessas fusões ocorre a fecundação e a partir de então várias multiplicações celulares
acontecem, como também, serão armazenadas reservas nutricionais, para que a nova semente ao
ser lançada ao solo tenha vigor para germinar e dar origem a uma nova planta.
Durante o desenvolvimento da semente o teor de matéria seca aumenta até ser atingido o ponto de
maturação fisiológica, enquanto o teor de água reduz, Figura 2.
O ponto de maturação fisiológica, geralmente, está associado à máxima qualidade fisiológica da
semente. Para os grãos de milho esse ponto é percebível visualmente, quando surge na base do grão
uma macha negra. Para soja é quando as vagens começam a tomar a tonalidade castanha. Por esta
ocasião grãos de milho e soja apresentam teor de água entre 35 a 40%.
Até o ponto de maturação fisiológica a semente permanece vinculada com a planta mãe e
teoricamente logo após esse ponto já poderia ser colhida de tal forma a preservar o máximo de matéria
seca. No entanto, devido ao teor de água do produto estar superior a 30% é recomendado que o
mesmo permaneça no campo até que seja atingido o ponto ideal para colheita mecanizada.

Ponto de
maturação
fisiológic
a
Teor de matéria seca

Teor de água

35 a 40%

Ponto ideal de
colheita mecanizada
< 24%

Tempo

Figura 2 – Desenvolvimento de sementes – linha pontilhada ganho de matéria seca, linha contínua
variação do teor de água.

Quando da maturação fisiológica as sementes apresentam a estrutura completa que são: (i)
casca – cobertura protetora; (ii) tecido de reserva; e (iii) tecido meristemático – o embrião. Cada uma
dessas partes resulta de um dos componentes do óvulo e têm funções específicas. Vide as Figuras 3
e 4.

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A casca é a estrutura externa protetora da semente. Sementes de cereais, como milho, sorgo, cevada
e trigo, são revestidas pelo tegumento e pericarpo, enquanto sementes de oleaginosas, como soja,
ervilha e feijão, são revestidas somente pelo tegumento. A diferença é que o pericarpo origina de
partes da parede do ovário, enquanto o tegumento de células internas do óvulo.

Figura 2– Semente de feijão: A - vista lateral, B – vista frontal e C semente aberta.

Figura 3 – Semente de Milho: A - vista lateral, B – vista frontal e C semente aberta.

Independente da origem da casca, esta tem as seguintes funções básicas: (i) manter unidas às
partes da semente; (ii) proteger os tecidos internos contra choques mecânicos e térmicos; (ii) servir
de barreira ao ataque de insetos, fungos e bactérias; (iv) regular a velocidade de hidratação da
semente; (v) regular as trocas gasosas (oxigênio e gás carbônico); e (vi) regular o processo de
germinação.
O tecido de reserva armazena substâncias nutritivas que serão utilizadas para o
desenvolvimento do embrião desde o plantio até a formação de uma plântula que apresente a
capacidade de se manter de forma autotrófica. Em sementes de cereais as reservas são
armazenadas no endosperma, enquanto, nas oleaginosas nos cotilédones.

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O endosperma tem como principal produto armazenado o amido, no entanto, outras substâncias
como açúcares e óleos podem estar presentes. O endosperma em grãos de milho, trigo e sorgo, como
também de outras gramíneas, não são vivos. Pois os núcleos das células que deram origem ao
endosperma, foram degenerados em função do acumulo de amido.
Os cotilédones juntos com o eixo embrionários formam o embrião. Diferente do endosperma,
estes são vivos. Em sementes como de soja e feijão, os cotilédones são robustos, e quando da
germinação, após a emergência eles funcionam como as primeiras folhas da planta realizando
fotossínteses. Outra característica é que as plantas ditas oleaginosas, geralmente possuem dois
cotilédones, exemplo soja e feijão, enquanto que os cereais, milho, trigo, sorgo, cevada, possuem
cotilédone único e de tamanho reduzido.
O eixo embrionário é a parte vital da semente, pois possui a capacidade de desenvolver e gerar
a nova planta. Portanto, caso o eixo embrionário seja danificado a semente não germinará, sendo,
portanto classificada como grão.
Os danos podem ser mecânico e, ou, térmico. Os danos mecânicos são causados por aplicação
de forças externas resultante de altas quedas, ou ainda pela movimentação em transportadores como
elevadores de caçamba, redlers e transportadores helicoidais. Os danos térmicos resultam de
períodos de exposições a altas temperaturas e, ou, ambientes extremamente secos. Por isso, alguns
pesquisadores recomendam secar sementes utilizando temperatura do ar de secagem máxima de 45
°C e umidade relativa superior a 10%.

2. Propriedades
As propriedades físicas são importantes parâmetros dos grãos para a aplicação de princípios de
engenharia nas operações de colheita, pré-processamento, beneficiamento e processamento. Dentre
as diversas características são descritas a seguir: teor de água, massa específica, ângulo de repouso
e porosidade.

2.1 Teor de água


Teor de água, ou umidade, é uma das mais importantes propriedades dos grãos, sendo aplicada para
expressar a quantidade de água contida em uma determinada porção de produto.
A forma mais empregada para expressar o teor de água é a relação percentual entre a quantidade
de água e a quantidade total de produto, conforme a equação 01.

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 Ma 
U bu =   x100 eq. 01
 Mt 
em que:
Ubu = teor de água em base úmida, %;
Ma = massa de água contida na amostra de grãos, kg (gramas ou toneladas); e
Mt = massa total da amostra, kg (gramas ou toneladas).

Assim, por exemplo, se em uma amostra de 1 kg de milho, o teor de água for igual a 13%, pode ser
afirmado que 0,130 kg é água e 0,870 kg é matéria seca. Outro exemplo, se para uma carga de 18
toneladas tem o teor de água de 13% é o mesmo que afirmar que 2,34 t é água e 15,6 t é matéria
seca.
A quantidade de matéria seca refere-se a todos os componentes dos grãos menos a porção água.
Portanto, conforme a Tabela 1, a matéria seca corresponde às frações de: proteína, lipídeos,
carboidratos e cinzas.

Tabela 1 – Composição química de alguns cereais e oleaginosas considerando 100 g de amostra


Produto Água Proteína Lipídeos (g) Carboidratos (g) Cinzas (g)
(%) (g)

Arroz 12,0 7,5 1,9 78,3 1,2


(beneficiado)

Milho 13,8 8,9 3,9 74,2 1,2

Sorgo 11,0 11,0 3,3 74,7 1,7

Trigo 12,5 12,3 1,8 74,0 1,7

Feijão 11,2 22,3 1,5 65,6 3,8

Amendoim 5,6 26,0 47,5 21,0 2,3

Soja 10,0 34,1 17,7 38,4 4,7


Fonte: CARVALHO e NAKAGAWA (1979)

Outra forma de expressar o teor de água de produtos é em base seca, que é calculada pela relação
entre a massa de água e a massa de matéria seca, equação 02.

Ma
U bs = eq. 02
Mms

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em que:
Ubs = teor de água em base seca, decimal;
Ma = massa de água contida na amostra de grãos, kg (gramas ou toneladas); e
Mms = massa de matéria seca da amostra de grãos, kg (gramas ou toneladas).

Para transformar o teor de água expresso em base úmida para base seca emprega-se a
equação 03 e ao contrário utiliza-se a equação 04. Essas transformações são frequentes em
programas de computador que simulam o processo de secagem.

U bu
U bs = eq. 03
(100 − U bu )

U bs
U bu = 100 eq. 04
(1 + U bs )

Durante a secagem, seca-aeração, aeração e armazenagem o teor de água do produto pode alterar.
No entanto, a quantidade de matéria seca deve ser preservada, o que deve ser a principal meta no
gerenciamento de unidades armazenadoras.
A redução da matéria seca ocorre em função aos seguintes fenômenos: (i) infestação de insetos e,
ou roedores; (ii) ação de fungos e, ou bactérias; (iii) perdas nas máquinas de pré-limpeza e, ou
limpeza; (iv) esfacelamento dos grãos; e (v) respiração dos grãos.
Especificamente, no processo de respiração da massa de grãos, a matéria seca ao interagir com o
oxigênio presente no ar gera gás carbônico (CO 2), água (H2O) e calor, conforme representado abaixo:
em que:

C6 H12O6 + 6O2  6CO2 + 6 H 2O + calor


→ 180 g de C6H12O6 (glicose - matéria seca) reagem com 134,4 litros de O2;

→ forma: 134,4 litros de CO2 + 108 g de H2O; e


→ produz: 677,2 calorias (2,84 kJ - quilo Joule).

Operacionalmente, o teor de água é medido por meio dos métodos diretos ou indiretos.

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2.1.1 Métodos Diretos
Os métodos diretos permitem a quantificação real da fração de água em uma amostra, sendo
expressa em unidade de massa, gramas, ou de volume, mililitros mL.
Dentre os métodos diretos destacam-se o emprego da estufa e do destilador. No caso da estufa,
amostras de 25 a 30 gramas são expostas a temperatura de 105°C por um período de 24 a 72 horas.
Em seguida, as amostras são colocadas em um dessecador até atingir a temperatura ambiente, para
então ser feita à pesagem. O cálculo do teor de água é feito da seguinte forma:

Exemplo:
Massa do vasilhame (Mv): 12g
Massa da amostra mais o vasilhame inicial (Mavi): 42 g
Massa final da amostra mais o vasilhame (Mfav): 37 g

 M avi − M fav  42 − 37 
U =  .100 =  .100 = 16,7%
 M avi − M v   42 − 12 

Quanto ao uso de destiladores, consiste em colocar a amostra de grãos, geralmente de 100 g,


em banho de óleo de soja, e remover a água do grão por aquecimento. Se ao destilador for
acoplado um condensador, a água evaporada será medida em volume. Assim, por exemplo, se de
100 gramas de grãos evaporar 13,5 mL de água, o teor de água da amostra será de 13,5%.
Outro procedimento é pesar o vasilhame com a amostra em banho de óleo antes e após o
aquecimento conforme mostrado na Figura 4. A diferença corresponde a quantidade de água
evaporada, que nesse caso foi 13,5 gramas. Como a amostra de grãos foi de 100g o teor de água
corresponde a 13,5%.

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Termômetro

Óleo e grãos

Balança

458,9 g 445,4 g

1 - Massa inicial Aquecimento / Evaporação 2 - Massa final

Figura 4 – Determinador de umidade tipo destilador idealizado por pesquisadores da UFV.

Nota: Para cada produto o aquecimento é feito até uma dada temperatura. Por exemplo, para arroz
em casca é 200 °C, arroz beneficiado 195 °C, feijão 175 °C, milho 195 °C, soja 175 °C, sorgo 195 °C
e trigo 190 °C.

2.1.2 Métodos indiretos


Os métodos indiretos utilizam como princípios de funcionamento a medição de característica
dos grãos que alteram em função do teor de água da amostra. Dentre as essas características as
mais empregadas são a resistência imposta ao fluxo de corrente elétrica e a capacitância.

a) Determinadores – princípio resistivo


O determinador de umidade universal, Figura 5, mede o teor de água dos grãos com base no valor
da resistência elétrica imposta a passagem de uma corrente.

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Figura 5 - Esquema do determinador de umidade universal e o circuito elétrico simplificado.

Conforme o circuito elétrico, lado direito da Figura 5, a amostra de grãos funciona como um resistor,
e a corrente elétrica liberada pela bateria tem a intensidade medida pelo indicador. É de conhecimento
que quanto mais úmida estiver a amostra menor será resistência. Em alguns modelos do aparelho
universal, geralmente, a bateria é substituída pelo megômetro que funciona como um gerador de
eletricidade.
Para a determinação do teor de água, as amostras devem ser pesadas e colocadas no recipiente de
entrada para serem prensadas conforme as especificações do aparelho. Em sequência o operador
deverá: (i) girar a alavanca do megômetro; (ii) proceder à leitura do mostrador do megômetro; (iii) ler
a temperatura dos grãos; e por fim (iv) proceder à leitura na régua do conversor de umidade, utilizando
como dados as leituras do megômetro e termômetro.
Segundo os princípios de eletricidade, quanto maior é a temperatura do resistor, menor será a
resistência oferecida à passagem de corrente. Portanto, quando da medição do teor de água de
amostras com altas temperaturas, leituras falsas podem ocorrer. O ideal, é que as amostras estejam
à temperatura próxima a do ambiente e que os valores de umidade estejam entre 10 a 20%.
Quanto à operação do determinador de umidade universal são feitas as seguintes
recomendações: (1) consultar o manual do aparelho, pois para cada tipo de produto é indicada uma
compressão diferente e além de poder ser indicada correções; (2) limpar com frequência o recipiente
de amostra e o eletrodo; (3) ajustar periodicamente o sistema de compressão; e (4) deixar em repouso
por alguns minutos as amostras retiradas do secador para que a umidade distribua no produto. Se
isso não for observado, o teor de água determinado será menor que o real.

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b) Determinadores – princípio capacitivo
Esses determinadores fundamentam no princípio da capacitância, em que a cuba de amostra é
um capacitor constituído de duas placas metálicas. Desse modo, a depender do material entre as
placas, o que se denomina meio dielétrico, o capacitor armazenará mais ou menos cargas elétricas.
Estruturalmente, os determinadores capacitivos são dotados de dois osciladores gerando ondas
eletromagnéticas em dadas frequências. O primeiro oscilador tem por componente o capacitor
formado pela cuba de amostra, e o segundo, é constituído por componentes eletrônicos, que durante
a operação, automaticamente, gera uma frequência de igual valor a do primeiro oscilador. Ocorrido
isso, o circuito estará balanceado, quando então é inferido o teor de água da amostra.
Os equipamentos mais antigos, representado a direita da Figura 6, não dispunham do oscilador de
frequência automatizado. Cabia ao operador ajustar o dial até balancear o circuito. No eixo do dial há
um grande disco com escalas de teores de água para diversos tipos de grãos.
Os determinadores de umidade capacitivos estão sujeitos a interferência de fatores, tais como: (i)
temperatura da amostra; (ii) teor de impureza; (iii) massa especifica do produto; (iv) a forma como a
amostra é depositada na câmara de medição; e (v) a variedade do grão. Para minimizar a influência
destes fatores os equipamentos fabricados, atualmente, apresentam alto grau de automatização, o
que aprimorou a precisão. Fato que tem contribuído pela preferência por esse tipo de equipamento.
Legenda:
1 - Placa do capacitor
2 - Termômetro
3 - Bobina
4 - Mostrador balanceamento
5 - Mostrador teor de umidade
6 - Capacitor variável
7 - Circuito gerador de frequência

Frequência 1 Balançeado? Frequência 2


1
7
Sim
6
15,6%
3 5 Gerador de
Umidade Frequência

Figura 6 – Representação esquemática do circuito eletrônico do determinador de umidade


capacitivo.

2.2 Massa Específica


A massa específica (Tabela 2) é a relação matemática entre a massa de um produto e o volume
ocupado. A unidade utilizada pode ser kg/m 3 ou t/m3. Portanto, a determinação é simples. Basta ter

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um vasilhame com volume conhecido, pesar a quantidade de produto acondicionada, e em seguida
calcular a relação.

Tabela 2 – Valores de massa específica


Produto Massa específica
(kg/m³) (t/m³) (sacas de 60 kg /m³)
Arroz com casca 580 a 629 0,580 a 0,629 9,67 a 10,48
Arroz sem casca 750 a 820 0,750 a 0,820 12,50 a 13,67
Café em coco 340 a 420 0,340 a 0,420 5,67 a 7,00
Café beneficiado 600 a 680 0,600 a 0,680 10,00 a 11,33
Feijão 750 a 800 0,750 a 0,800 12,50 a 13,33

Milho granel 750 0,750 12,50


Soja 750 a 840 0,750 a 0,840 12,50 a 14,00
Sorgo 641 0,641 10,68
Trigo 720 a 840 0,720 a 0,840 12,00 a 14,00

Os valores de massa específica são empregados no cálculo da capacidade estática de


secadores, silos, graneleiros, moegas, caminhões, vagões, navios, e no dimensionamento de
transportadores de grãos como: correias transportadoras e elevadores de caçamba.
O peso hectolítrico – PH é outra forma comercial de expressar a massa específica, sendo utilizada
desde a antiguidade. O peso hectolítrico corresponde à relação da massa de produto para um volume
de 100 litros (1 hectolitro). Desse modo, uma amostra de trigo com PH 78 equivale a 78 quilos de
produto em um volume de 100 litros. E para transformar o PH em massa especifica basta multiplicar
por 10. Portanto, para o PH 78 a massa específica será 780 kg/m 3.

2.3 Ângulo de Repouso


O ângulo de repouso corresponde à inclinação do talude naturalmente formado pelo produto em
relação ao plano horizontal, Figura 7. Isso ocorre pelo fato de a massa de grãos não comportar como
um fluido perfeito, mas sim como material particulado, existindo, assim, um coeficiente de atrito entre
as partículas.

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Ângulo de repouso

Figura 7 - Representação esquemática do ângulo de repouso.

O conhecimento do ângulo de repouso é aplicado no: (i) dimensionamento de instalações de


armazenagem – moegas, silos e graneleiros; (ii) definição de altura de elevadores e inclinação de
dutos; e (iii) dimensionamento de transportadores.
Na Tabela 3 são apresentados valores de ângulos de repouso para diversos produtos em função
do teor de umidade.
O ângulo de repouso tem valor alterado em função: (i) teor de água – geralmente, quanto mais úmido
o produto maior é o ângulo de repouso; (ii) impurezas - quanto maior o índice maior é o ângulo de
repouso; e (iii) formato do grão - quanto mais esférico é o grão menor é o ângulo de repouso.
Outra forma de expressar o ângulo de repouso é por meio da percentagem que descreve a inclinação
do talude formado pelos grãos. Assim, conforme a Tabela 4, para o ângulo de repouso de 30°, a
inclinação correspondente é 57,7%. Ou seja, em cada 100 m linear a altura do talude será de 57,7 m.
Exemplo: em um silo com diâmetro de 10 m a altura do cone de grãos será 5,77 m.

Tabela 3 - Ângulo de repouso (em graus) como função da umidade do produto

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Grãos Teor de Ângulo de Grãos Teor de Ângulo de
água (%) repouso (º) água (%) repouso (º)
Arroz 12-16 36,0 Café 12-16 28,0
beneficiado
Milho 7,5 34,0
Soja 12-16 30,0 13,0 34,9
16,2 35,1
Cevada 7,9 29,0 19,5 39,0
10,7 30,5
13,3 31,0 Trigo 7,3 29,6
16,2 32,2 11,0 29,3
19,5 33,0 14,1 31,0
23,1 33,8 17,1 35,6
Café em 12-16 31,0 19,3 41,0
coco

Tabela 4 – Correspondência das inclinações expressas em graus e em percentagem

Ângulo de repouso (°) Tangente do ângulo Inclinação do talude (%)

20 0,364 36,4
22 0,404 40,4
24 0,445 44,5
26 0,488 48,8
28 0,532 53,2
30 0,577 57,7
32 0,625 62,5
34 0,675 67,5
36 0,727 72,7
38 0,781 78,1
40 0,839 83,9
42 0,900 90,0
44 0,966 96,6
45 1,000 100,0

2.4 Porosidade

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Os grãos armazenados se apresentam como uma massa porosa, constituída pelos grãos e o espaço
intergranular, também denominado de intergranular. A porosidade refere-se à relação percentual
entre o volume intergranular e o volume total da amostra.
Para a medição da porosidade, Figura 8, coloca-se a amostra de produto em uma proveta e
mede-se o volume. Em sequência, utilizando uma segunda proveta contento o álcool tolueno, mede-
se o quanto deste produto foi necessário para ocupar o espaço vazio na massa de grãos.
A porosidade difere entre espécies de grãos e é influenciada pelo tamanho, formato e
rugosidade dos grãos, teor de água e de impurezas.
Legenda: 2
1 - Proveta cheia de grãos
2 - Proveta contendo tulueno

Figura 8 - Representação esquemática determinação de porosidade.

O conhecimento da porosidade dos grãos é necessário em projetos de aeração. Na Tabela 4 é


apresenta a porosidade para diferentes tipos de grãos.

Tabela 4 - Valores de porosidade expressos em %


Produto Porosidade (%)
Arroz com casca 59,6
Milho granel 40,0
Soja 38,0
Sorgo 42,0
Trigo 45,0

2.5 Calor específico – entalpia específica


O calor específico expressa a quantidade de energia térmica necessária para elevar a temperatura
em 1 °C de 1,0 kg de um determinado produto. O conhecimento dessa propriedade faz-se necessário
em aplicações como modelagem e simulação de secadores, dimensionamento de sistemas de
refrigeração e de secagem.

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Um dos métodos empregados para determinação é o método das misturas diretas, em que:
𝑄𝑎𝑔𝑢𝑎 + 𝑄𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟𝑖𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 = 𝑄𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜

𝑄𝑎𝑔𝑢𝑎 = 𝑐𝑎 . 𝑚𝑎 . (𝑇𝑎 − 𝑇𝑒𝑞 )

𝑄𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟𝑖 = 𝐶𝑡. (𝑇𝑎 − 𝑇𝑒𝑞 )

𝑄𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 = 𝑐𝑝 . 𝑚𝑝 . (𝑇𝑒𝑞 − 𝑇𝑝 )

em que:
Qagua = quantidade de calor da água, kJ, kcal;
Qcalori = quantidade de calor do calorímetro, kJ, kcal;
Qproduto = quantidade de calor do produto, kJ, kcal;
Ct = capacidade térmica do calorímetro, kJ/K, kcal/°C;
cp = calor específico do produto, kJ/kg.K, kcal/kg.°C;
ca = calor específico do água, k J/kg.K, kcal/kg.°C;
ma = massa de água, kg;
mp = massa de produto, kg;
Ta = temperatura da água, K, °C;
Tcal = temperatura do calorímetro, K, °C; e
Teq = temperatura do equilíbrio, K, °C.

3. Amostragem de cargas de grãos


A amostragem é um procedimento estatístico conduzido para obtenção de amostras
representativas, que ao serem analisadas possibilitam a inferência de características do produto o
mais próximo do valor real. Erros nos procedimentos de amostragem causam prejuízos à
administração da unidade armazenadora ou aos depositários.
Normalmente, as amostras de trabalho são de um quilograma, sendo obtidas da
homogeneização de amostras simples, como representado na Figura 8. O tamanho da amostra de
trabalho é definido em função dos procedimentos laboratoriais que podem compreender classificação
e determinações de teores de água e de impurezas, massa específica (peso hectolítrico), níveis de
micotoxina e transgenia.

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Na coleta de amostras em cargas a granel é empregado o calador seccionado ou amostradores
pneumáticos, sendo necessário amostrar diversas camadas e em pontos distintos, Figura 9, para ser
formada a amostra composta e, por fim, a amostra de trabalho.
A amostragem deve ser feita de forma criteriosa de tal forma a garantir a obtenção de amostras
fidedignas ao produto recebido, expedido ou comercializado. Recomenda-se consultar
periodicamente as normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para adequar aos
procedimentos de amostragem.

Amostra
simples nº 1

Amostra
simples nº 2

Amostra Composta Amostra de


Amostra Trabalho
simples nº ...
15,0 kg de produto 1,0 kg de produto

Amostra
simples nº 30

Figura 8 – Composição da amostra de trabalho.

21
Caminhões ou Vagões até 15 t Caminhões ou Vagões até 30 t

Posições de amostragem Posições de amostragem

5 pontos amostragem 8 pontos amostragem

Caminhões ou Vagões de 30 a 50 t

Posições de amostragem

11 pontos amostragem

Figura 9 – Representação do número de amostragem em caminhões.

4. Equações de Desconto de Secagem e Limpeza


O pré-processamento de grãos ocorre mediante a execução de operações unitárias conforme
destacado no fluxograma da Figura 10. Na operação de limpeza são removidas impurezas, na de
secagem água, e durante o período de armazenagem ocorre redução de massa devido à respiração
dos grãos e ação de pragas. Para estimar as quantidades de impurezas, água removida e perda da
massa durante a armazenagem são calculados os índices percentuais denominados: Quebra de
Impurezas, Quebra de Umidade e Quebra Técnica, respectivamente.

22
Campo de Produção

Produto Sujo e Úmido

Limpeza Quebra de impureza

Secagem Quebra de umidade

Quebra de umidade ou
Reumedecimento
Armazenagem

Quebra técnica

Expedição

Produto Limpo e Seco

Figura 10 - Representação esquemática das quebras de impureza, umidade e técnica.

a) Quebra de impureza
Denomina-se quebra de impureza o percentual de desconto a ser aplicada à massa de grãos recebida
com o objetivo de estimar a massa de impureza a ser removida. Entende-se por impurezas materiais
estranhos ao produto, tais como: partículas de solo, pedras, restos vegetais e grãos de outras
espécies. E por teor de impurezas a relação percentual entre as quantidades de impurezas e de
produto.
O cálculo da quebra de impureza não pode ser feito pela simples subtração entre os teores de
impurezas inicial e final, equação 05. Porque, sob o aspecto matemático, o correto é calcular a quebra
de impurezas por meio da equação 06. Uma vez que os denominadores das relações que expressam
os teores de impureza inicial e final são diferentes. E de acordo com as regras aritméticas, a soma ou
subtração de frações somente aplicam-se quando os denominadores são iguais.
𝑄𝑢 = 𝐼𝑓 − 𝐼𝑖 eq. 05

23
(𝐼𝑖 − 𝐼𝑓)𝑥100 eq. 06
𝑄𝐼 =
(100 − 𝐼𝑓)
em que:
QI = quebra de impurezas, %;
Ii = teor de impureza inicial, %; e
If = teor de impureza final, %.

Desse modo, por exemplo, se fosse recebida 30 mil toneladas com 4,00% de impurezas, e o padrão
de comercialização fosse 1,00%, por meio da equação 01 a quebra de impureza seria de 3,00% e
pela equação 02 3,03%, o que corresponderia aos descontos de 270,0 e 272,7 toneladas de
impurezas, respectivamente. Portanto, uma diferença de 2,7 t, que quando não contabilizada poderá
incorrer em erros no balanço final da movimentação de produto.

b) Quebra de umidade
A quebra de umidade refere ao valor percentual relativo a quantidade de água a ser removida do
produto no processo de secagem. Ao ser utilizado teores de água expressos em base úmida emprega-
se a equação 07. No entanto, se estes teores forem expressos em base seca emprega-se equação
08.
(𝑈𝑖 − 𝑈𝑓)𝑥100 eq. 07
𝑄𝑈 =
(100 − 𝑈𝑓)
em que:
QU = quebra de umidade, %;
Ui = teor de água inicial em base úmida, %; e
Uf = teor de água final em base úmida, %.

𝑄𝑈𝑏𝑠 = (𝑈𝑏𝑠𝑖 − 𝑈𝑏𝑠𝑓) eq. 08


em que:
QUbs = quebra de água em base seca, decimal;
Ubsi = teor de água inicial expresso em base seca, decimal; e
Ubsf = teor de água final expresso em base seca, decimal.
d) Desconto de remoção de impureza e água do produto

24
Para o cálculo dos descontos totais relativos à remoção de impureza e do excesso de água do
produto utiliza-se a equação 09 definida em função dos índices percentuais das quebras de impurezas
e de umidade.

(100 − 𝑄𝐼 ). (100 − 𝑄𝑈) eq. 09


𝐷𝐸 = 100 −
100
em que:
𝐷𝐸 - desconto total relativo à remoção de impureza e do excesso de água do
produto, %.
𝑄𝐼 - quebra de impureza, %; e
𝑄𝑈 - quebra de umidade, %.

Na Tabela 6 são exemplificados valores de desconto total calculados para os teores finais de água
igual a 13% e impurezas 1%. Nota:

Tabela 6 - Desconto total para quebras de impurezas e umidade, expresso em percentagem, ao


considerar teor de águ final igual a 13% e de impurezas 1%
Teor de Teores iniciais de impurezas (%)
água
inicial % 7 6 5 4 3 2
26 20,10 19,24 18,38 17,52 16,66 15,80
25 19,02 18,15 17,28 16,41 15,53 14,66
24 17,94 17,06 16,17 15,29 14,41 13,53
23 16,86 15,96 15,07 14,18 13,28 12,39
22 15,78 14,87 13,97 13,06 12,16 11,25
21 14,70 13,78 12,86 11,95 11,03 10,11
20 13,62 12,69 11,76 10,83 9,90 8,97
19 12,54 11,60 10,66 9,72 8,78 7,84
18 11,46 10,51 9,56 8,60 7,65 6,70
17 10,38 9,42 8,45 7,49 6,53 5,56
16 9,30 8,32 7,35 6,37 5,40 4,42
15 8,22 7,23 6,25 5,26 4,27 3,29
14 7,14 6,14 5,14 4,14 3,15 2,15

25
e) Taxa de umedecimento
Durante o período de armazenagem dificilmente pode ocorrer que a massa de grãos por
diferentes motivos venha adsorver água, ocorrendo então o umedecimento. Para calcular a taxa de
umedecimento é empregada a equação 10. Para este caso Ui corresponde ao teor de água quando
do início do período de armazenagem e Uf ao teor por ocasião da expedição.

(U fr − U ir )  100
TU = eq. 10
(100 − U fr )
em que:
TU = taxa de umedecimento, %.
Uir = teor de água inicial no umedecimento em base úmida, %; e
Ufr = teor de água final no umedecimento em base úmida, %.

f) Quantidade ajustada

Quantidade ajustada (Qaj) corresponde à quantidade de produto para um teor desejado, após a
ocorrência de processos como a limpeza, secagem, supersecagem e avaliação de perdas devido a
supersecagem. O teor desejado pode-se referir aos teores como de impureza, de água ou de ardidos,
conforme a equação 11

(100 − 𝑇𝑎 )
𝑄𝑎𝑗 = . 𝑄𝑝𝑎 eq. 11
(100 − 𝑇𝑑 )
em que,
Qaj - quantidade de produto ajustada, t;
Ta - teor atual (impureza, água ou ardidos), %;
Td - teor desejado (impureza, água ou ardidos), %;
Qpa - quantidade de produto atual, t.

Exemplo 1 – Calcule a massa de uma carga de milho ao ser seca para 13%. Inicialmente a massa
era de 25.0000 kg e o teor de água é 18%.

26
(100 − 18)
𝑄𝑎𝑗 = .25000 = 23.563 𝑘𝑔 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 𝑐𝑜𝑚 13% 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
(100 − 13)

➔ Portanto, na secagem foi removido 1.437 kg de água (= 25.000– 23.563).

Exemplo 2 – Por erro de operação uma carga de milho foi super-seca sendo constatada a massa de
34.500 kg e teor de umidade de 11,0%. Calcule qual deveria ser a massa da carga se o teor de água
fosse 13%.

(100 − 11)
𝑄𝑎𝑗 = .34500 = 35.293 𝑘𝑔 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 𝑐𝑜𝑚 13% 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
(100 − 13)

➔ Portanto, com o erro da super-secagem foi removido em excesso 793 kg de água (= 35.293 –
34.500).

A equação 11 pode ser empregada para calcular simultaneamente os descontos relativos às


operações de limpeza, secagem e remoção de ardidos, equação 12.

(100 − 𝐼𝑖 ) (100 − 𝑈𝑖 ) (100 − 𝐴𝑖 )


𝑄𝑎𝑗 = . . . 𝑄𝑝𝑎 eq. 12
(100 − 𝐼𝑓 ) (100 − 𝑈𝑓 ) (100 − 𝐴𝑓 )

em que,
Ai - teor de ardidos inicial, %; e
Af - teor de ardidos final, %.

g) Quebra técnica
A quebra técnica corresponde ao valor percentual devido à perda de massa durante o período
de armazenagem, o que pode estar associado, dentre outros fatores, à respiração da massa de grãos
e ao consumo por insetos, fungos e roedores.
Operacionalmente, a quebra técnica define uma quantidade de produto a ser retida a cada
expedição para assegurar ao agente armazenador a existência de produto até a última expedição.
Um dos índices empregados é de 0,01% ao dia (0,15% a quinzena ou 0,3% ao mês) o que certamente
gerará sobras de produto, se boas práticas de armazenagem estiverem sendo aplicadas. Desse

27
modo, conforme a política administrativa da empresa ou cooperativa, as sobras devem ser rateadas
aos usuários, proporcionalmente á quantidade depositada.
Normalmente a aplicação do índice de quebra técnica é feita sobre a quantidade de produto
armazenado, indiferentemente, se ocorreu ganho ou perda de umidade durante o período de
armazenagem

5. Exemplos aplicativos

a) Descontos de remoção de impurezas e excesso de água do produto


- Suponha que foi recebido 25.300 kg de milho a granel (421,66 sacas) com os teores de
impureza e de água de 4% e 26%, respectivamente. Calcule a quantidade de produto que será
armazenada. Considere como condições de armazenagem teor de água 13% e de impureza 1%.

➔ Solução Método 1
Passo 1 - Calcular a quebra de impurezas (QI) e quantidade de impurezas removida
 Ii − I f 
QI =    100 =  4 − 1   100 = 3,0303%
 100 − I   100 − 1 
 f 
Quantidade de impureza = Quantidade de Produto Recebida x QI
= 25.300 x 3,0303% = 766,66 kg de impurezas

Passo 2 - Abater a quantidade de impurezas

Produto Limpo = Quantidade de Produto Recebida – 766,66 kg


= 25.300 – 766,66 = 24.533,33 kg

Passo 3 – Calcular a quebra de umidade (QU)

 Ui − Uf   26 − 13 
QU =   x100 =   x100 = 14,9425%
 100 − Uf   100 − 13 

Passo 4 - Calcular a quantidade de água a ser evaporada

Água Evaporada = Produto Limpo x QU = 24.533,33 x 14,9425% = 3.665,90 kg

28
Passo 5 – Quantidade de produto armazenada

Quantidade de Produto Armazenado = Produto Limpo - Água Evaporada


= 24.533,33 - 3.665,90 = 20.867,43 kg
Passo 6 – Total de descontos
Desconto = Quantidade de Produto Recebida - Quantidade de Produto Armazenado
= 25.300 - 20.867,43 = 4.432,57 kg = 4,43 toneladas

➔ Solução Método 2 (Quantidade ajustada)

Passo 1 – Calcular a quantidade de produto limpo (Qpl)

(100 − 𝐼𝑖 ) (100 − 4)
𝑄𝑎𝑗 = . 𝑄𝑝𝑎 = . 25.300 = 24.533,33 𝑘𝑔
(100 − 𝐼𝑓 ) (100 − 1)

Passo 2 - Quantidade de impurezas removida

Quantidade de impurezas = Quantidade de Produto Recebida – Produto limpo


= 25.300 – 24.533,33 = 766,66 kg

Passo 3 – Calcular a quantidade de produto limpo e seco (Qpls)

(100 − 𝑈𝑖 ) (100 − 26)


𝑄𝑎𝑗 = . 𝑄𝑝𝑎 = . 24.533,33 = 20.867,43 𝑘𝑔
(100 − 𝑈𝑓 ) (100 − 13)

Passo 4 - Calcular a quantidade de água a ser evaporada

Água Evaporada = Produto Limpo e Seco – Produto Limpo


= 24.533,33 – 20.867,43 = 3.665,90 kg

Passo 5 – Total de descontos

Desconto = Quantidade de Produto Recebida - Quantidade de Produto Armazenado

29
= 25.300 - 20.867,43 = 4.432,57 kg = 4,43 toneladas

Passo 6 – Se fosse desejado calcular a quantidade de produto limpo e seco (Qpls) diretamente.

(100 − 𝐼𝑖 ) (100 − 𝑈𝑖 ) (100 − 4) (100 − 26)


𝑄𝑎𝑗 = . . 𝑄𝑝𝑎 = . . 25300 = 20.867,43 𝑘𝑔
(100 − 𝐼𝑓 ) (100 − 𝑈𝑓 ) (100 − 1) (100 − 13)

b) Massa Específica

- Calcular o quanto de milho, soja ou trigo poderia ser armazenado com as seguintes
dimensões: diâmetro 14,60 m e altura de cilindro 18,39 m. Considere que a massa de grãos será
aplainada no topo.

Passo 1 - Desenho esquemático do silo e cálculo da área da base do silo

3,14.D 2 3,14.(14,6) 2
H = 18,39 m

Área = = = 167, 3 m2
4 4

D = 14,6 m

Passo 2 – Calcular volume do silo

Volume = Área x Altura = A x H = 167,3 x 18,39 = 3.076,65 m 3

Passo 3 – Calcular o quanto de milho, soja ou trigo podem ser armazenados.

Basta multiplicar o volume do silo pela massa específica do produto apresentada na Tabela 2.

30
Quantidade de Milho = Volume x Massa específica = 3.076,65 m3 x 750 kg/m3
= 2.307.487,50 kg = 2.307,5 toneladas

Quantidade de Soja = 3.076,65 m3 x 795 kg/m3


= 2.445.936,75 kg = 2.445,9 toneladas

Quantidade de Trigo = 3.076,65 m3 x 780 kg/m3


= 2.399.787,00 kg = 2.399,8 toneladas

c) Massa específica e ângulo de repouso

- Calcular o quanto de milho, soja ou trigo poderia ser armazenado no silo da questão anterior,
mas sem aplainar no topo. Considere o ângulo de repouso do milho igual a 35 o.

Passo 1 – Calcular o volume a ser ocupado pela massa de grãos

O volume a ser ocupado será igual ao volume do cilindro


Volume
do mais o volume do cone. O volume do cilindro foi calculado no
cone
exemplo anterior 3.076,65 m3. O necessário é calcular o
H = 18,39 m

volume do cone:
Volume do 1
cilindro Volume do cone = . Abase.Hcone
3
Abase – área da base foi calculada no exemplo anterior
167,3 m2.
D = 14,6 m

O que falta é calcular a Hcone – altura do cone

31
Passo 2 – Calcular altura do cone
Para o cálculo da altura do cone basta utilizar a função
trigonométrica tangente.
Hcone
35o CatetoOposto Hcone
tg 35o = = = 0,7
7,3 m CatetoAdjacente 7,3
raio do silo

Hcone = 0,7x 7,3 = 5,11 m

Passo 3 – Calcular o volume do cone


1 1
Volume do cone = . Abase.Hcone = .167,3.5,11 = 284,9 m3
3 3

Passo 4 – Calcular o volume total a ser ocupado pela massa de grãos


Volume total = Volume do cilindro + Volume do cone = 3.076,65 m3 + 284,9 m3
Volume total = 3.361,55 m3

Passo 5 – Calcular o quanto de milho, soja ou trigo podem ser armazenados.


Basta multiplicar o volume total pela massa específica do produto apresentado na Tabela 2.

Quantidade de milho = Volume Total x Massa específica = 3.361,55 m3 x 750 kg/m3


= 2.521.162,50 kg = 2.521,2 toneladas

Quantidade de soja = 3.361,55 m3 x 795 kg/m3


= 2.672.432,25 kg = 2.672,4 toneladas

Quantidade de trigo = 3.361,55 m3 x 780 kg/m3


= 2.622.099 kg = 2.622,1 toneladas

Obs: Considerando o cone a capacidade estática do silo aumentou cerca de 9,0%.

6. Referências

32
01. BAKKER ARKEMA, F. W. [editor] Agro-Processing Engineering. Edited by CIGR - The
International Commission of Agricultural Engineering. Volume IV. ASAE.1999.
02. BRANDÃO, F. Manual do Armazenista. Editora UFV. Viçosa: MG. 1989. 296p.
03. BROOKER, D. B., BAKKER-ARKEMA F. W., HALL, C. W.. Drying and Storage of Grains and
Oilseeds. New York: Van Nostrand Reinhold. 1992.
04. CARAVALHO, N. M., NAKAGAWA J. [Coordenadores] Sementes: Ciência, Tecnologia e
Produção. Fundação Cargill, 3a Edição. 1988. 424p.
05. CESA - Companhia Estadual de Silos e Armazéns. Grãos: Beneficiamento e Armazenagem. Porto
Alegre: RS. 1974. 148 p.
06. HALL, C. W. Drying Farm Crops. Agricultural Consulting Associates, Inc. Reynoldsburg: Ohio,
EUA. 1957. 336p.
07. LOEWER, O. J., BRIDGES T. C., BUCKLIN, R. A. On-farm drying and storage systems. ASAE
Publication 9, American Society of Agricultural Engineers. 1974.
08. MOHSENIN, N. N. Physical Properties of Plant and Animal Materials. Volume I. Gordon and
Breach Science Publishers. 1970. 734p.
09. PUZZI, D. Abastecimento e Armazenagem de Grãos. Instituto Campineiro de Ensino Agrícola.
Campinas: SP 1986. 603 p.
10. SILVA, J. S. [editor] Pré-Processamento de Produtos Agrícolas. Instituto Maria. Juiz de Fora. 1995.
509 p.
11. WEBER, E. A. Armazenagem Agrícola. Editora. Livraria e Editora Agropecuária, Guaíba: RS.
2001. 396 p.

33
7. Exercícios

1) Defina: teor de água em base úmida, teor de água em base seca, quebra de umidade, quebra de
impurezas e quebra técnica.

2) Transforme para base úmida os teores de água expressos em base seca: a) 0,15; b) 0,70, c) 0,38;
e d) 0,07.

3) Transforme para base seca os teores de água expressos em base úmida: a) 18%; b) 90%; c) 78%;
e d) 5%.

4) Qual a importância conhecimento das propriedades físicas dos grãos? Escolha uma das estudadas
– defina e apresente suas aplicabilidades.

5) Por que o método de determinação do teor de água de grãos pelos princípios resistivo e capacitivo
são classificados como métodos diretos? Correto. Justifique

6) Uma carga de milho após o processo de secagem apresenta teor de água em base seca igual a
0,15 e massa de matéria seca igual a 30,5 t. Pede-se calcular: (a) a massa inicial da carga e (b) a
massa final da carga; sabendo que o teor de água inicial em base úmida é 28%.

7) No dia 15/04/2016 o Sr. Lucas Gabriel colheu 27,2 toneladas de milho com teor de umidade e
impurezas igual a 18,5% e 5%, respectivamente. O padrão da cooperativa é a armazenagem com
teores de umidade e impurezas iguais a 13% e 1%, respectivamente, e taxa de quebra técnica igual
a 0,01% ao dia. Pede-se
(a) Calcule a quantidade de produto depositada em 15/04;
(b) Suponha que em 22/06 (decorridos 68 dias) o Sr. Lucas Gabriel Inácio faça uma retirada de 12
toneladas. Nesta ocasião o teor de umidade do produto era igual a 12,5%. Nota: Debite as
quantidades relativas às quebras de umidade e técnica no saldo de produto remanescente; e calcule
o saldo de produto remanescente.
(c) Em 31/07 decorrido 107 dias o proprietário solicita a retirada do saldo restante. Nessa ocasião o
teor de umidade do produto era de 12%. Calcule o saldo efetivamente entregue ao depositário.
Obs.: calcule os valores das quebras de umidade e técnica de forma individual, ou seja sem
sobreposição.

8) Em um silo de fundo plano com diâmetro de 18,30 m e altura de cilindro 21 m está armazenado
trigo com PH 78, teor de água de 12% e ângulo de repouso de 28 o. Por erro operacional, foi feita
aeração com ar com alto valor de umidade relativa. Isso ocasionou o umedecimento da massa de
grãos aumentando, hipoteticamente, o teor de água para 14,5%. Calcule: (a) o quanto de água a
massa de grãos absorveu; e (b) a quantidade de produto após o umedecimento. (Obs.: Este exercício
é uma suposição teórica. Dificilmente a massa de grãos absorverá toda água. Boa parte da mesma
ficará dispersa no espaço intergranular).

34
9) Ao se proceder a uma auditoria em uma cooperativa foi necessário calcular a quantidade de produto
antes das operações de limpeza e secagem. Para o momento sabe-se que a quantidade de produto
após a condução dessas operações é 450 t de soja com 13% de teor de água e 1% de teor de
impurezas. Quando da recepção do produto apresentava teor de impurezas de 4% e de água 18,5%.
Pede-se calcular a massa inicial da carga.

10) Calcule a capacidade estática de um silo com fundo cônico de 45o, sabendo que será armazenado
milho com massa específica de 750 kg/m 3 e ângulo de repouso de 29 o. O silo tem diâmetro de 7,3 m
e altura de cilindro de 9,30 m.

11) Considere os dados do exercício 8 e calcule o volume de ar intergranular sabendo que a


porosidade do milho é de 40%.

12) Em um projeto de unidade armazenadora é preciso calcular o número de silos necessários para
armazenar produto com 1% de impurezas e 13% de teor de água. Sabe-se que a previsão de
recebimento na safra verão é de 13.500 toneladas de milho. Estudos estatísticos da região relativos
às características das cargas provenientes das lavouras levaram a elaboração das Tabelas 1 e 2
relativas a distribuição de frequência para os parâmetros: teor de impureza e teor de água.

Tabela 1 – Distribuição percentual Tabela 2 – Distribuição percentual das


das cargas segundo teor de cargas segundo teor de água
impurezas
Teor de % das Cargas Teor de água % (bu) % das Cargas
impureza % (bu)
6 45 26 25
4 55 24 55
18 20

Para a definição do número necessário de silos de fundo plano: (i) escolha um dos modelos do quadro
abaixo, (ii) considere a massa específica do milho igual a 780 kg/m3; e (iii) considere o ângulo de
repouso igual a 28,5o

Modelo Diâmetro (m) Altura de cilindro (m)


SA-01 10,91 13,82
SA-02 14,55 16,56
SA-O3 18,19 13,83

35
ângulo de repouso
13) Uma tulha para armazenagem de café,
construída em madeira, tem seção quadrática 3 x 3 m
e altura de 2,80 m. O fundo tem inclinação de 45 o. 2,80 m
3,00 m
Calcule quanto de café em coco e beneficiado podem
ser armazenados. Considere para o café em coco o
ângulo de repouso de 31 o e massa específica de 390 45o

kg/m3; e para o café beneficiado o ângulo de repouso


de 28o e massa específica de 640 kg/m 3.

14) A Trade MDA adquiriu cinco cargas de soja da cooperativa COOPERTOL com as
características abaixo.
Massa das cargas (kg) Impureza (%) Umidade %
34.000 1,0 12,0
34.000 1,0 14,0
34.000 2,0 15,0
34.000 1,0 11,0

O padrão de comercialização é impureza 1,0% e umidade 14%. Em contrato MDA e a COOPERTOL


firmaram que cargas com impurezas e, ou umidade acima dos valores padrão devem ser ressarcidas
monetariamente pela COOPERTOL, segundo a cotação do produto em valores correspondes às
quebras de impurezas e ou umidade. Sendo você gestor dos armazéns da COOPERTOL calcule a
receita e prejuízos da transação descrita. Considere a cotação da soja R$ 75,00/saca de 60 kg

Repostas
1) ________________
2) (a) 13,0 % b.u.; (b) 41,2 % b.u.;; (c) 27,5 % b.u.; e (d) 6,5 % b.u.;
3) (a) 0,22; (b) 9,00; (c) 3,55; e (d) 0,05
4) ________________
5) ________________
6) (a) 42,4 toneladas; e (b) 35,1 toneladas.
7)

Cooperado Gestor
Romaneio
Data Movimentação Quantidade (sacas) Saldo (Sacas) Reserva QT Saldo QT
15/abr Recebimento 411,79 411,79
22/06 Retirada 1 -200,00 211,79
22/06 Retenção de Quebra Técnica -1,36 210,43 1,36 1,36
22/06 Erro supersecagem 210,43 -1,14 0,22
31/07 Retenção de Quebra Técnica -2,25 208,18 2,25 2,47
31/07 Erro supersecagem 208,18 -2,39 0,08

36
31/07 Retirada 2 -208,18 0,00
0,00

8) (a) 135,69 t de água; e (b) 4.776,34 t (ou 79.605,66 sacas de 60 kg).


9) (a) 495,38 t de produto com 18,5% de umidade e 4% de impureza.
10) 351,28 t (ou 5.854,67 sacas de 60 kg)
11) 2.379,82 m3 de ar (ou 2.379.820 L de ar)
12)
Modelo Nº de Nº de Silos
Silos (arredondamento)
SA-01 10,59 11
SA-02 4,93 5
SA-O3 3,64 4

13)
Capacidade estática kg Sacas
Café em coco 12637,51 210,63

Café em beneficiado 20539,32 342,32

14)

Ororrências Penalidades Erros Operacionais (Deficit Estoque)

Supersecagem -790,70 kg
0,00 kg
Fora de Padrão -734,79 kg
Supersecagem -1186,05 kg
Total (kg) -734,79 kg -1976,74 kg
Total (sacas) -12,25 -32,95
Prejuízos -R$ 918,49 -R$ 2.470,93

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