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Propriedades física
dos grãos:
amostragem,
determinação de
impurezas e umidade
Luís César da Silva
Viçosa – MG
(Julho – 2020)
Índice
1. Introdução ...................................................................................................................... 1
2. Propriedades .................................................................................................................. 4
2.1 Teor de água ............................................................................................................ 4
2.1.1 Métodos Diretos................................................................................................. 6
2.1.2 Métodos indiretos .............................................................................................. 7
2.2 Massa Específica ................................................................................................... 10
2.3 Ângulo de Repouso ............................................................................................... 11
2.4 Porosidade ............................................................................................................. 12
2.4.1 Utilizando o picnômetro de comparação a ar ................................................... 13
2.5 Calor específico – entalpia específica..................................................................... 14
3. Amostragem de cargas de grãos .................................................................................. 15
4. Equações de Desconto de Secagem e Limpeza .......................................................... 16
5. Exemplos aplicativos .................................................................................................... 21
6. Referências .................................................................................................................. 26
7. Exercícios..................................................................................................................... 28
1
1. Introdução
Para o perfeito entendimento dos processos aplicados ao pré-processamento,
beneficiamento e processamento de grãos a compreensão de conceitos relativos à
estrutura e propriedades físicas dos grãos é necessária.
As sementes quando lançadas ao solo germinam, passam pelo ciclo vegetativo,
formam novas plantas, que florescem, e ao serem fecundadas dão origem a novas
sementes.
Uma flor completa possui os órgãos masculino e feminino, Figura 1. O estame é a
estrutura masculina. Em sua extremidade está a antera que internamente guarda os grãos
de pólen. Estes quando maduros são levados pelo vento, insetos ou pássaros. Dentre
muitos, alguns grãos de pólen chegarão ao estigma, que é a estrutura da flor onde
localiza o órgão feminino.
nutricionais, para que a nova semente ao ser lançada ao solo tenha vigor para germinar e
dar origem a uma nova planta.
Durante o desenvolvimento da semente o teor de matéria seca aumenta até ser
atingido o ponto de maturação fisiológica, enquanto o teor de água reduz, Figura 2.
O ponto de maturação fisiológica, geralmente, está associado à máxima qualidade
fisiológica da semente. Para os grãos de milho esse ponto é percebível visualmente,
quando surge na base do grão uma macha negra. Para soja é quando as vagens
começam a tomar a tonalidade castanha. Por esta ocasião grãos de milho e soja
apresentam teor de água entre 35 a 40%.
Até o ponto de maturação fisiológica a semente permanece vinculada com a planta
mãe e teoricamente logo após esse ponto já poderia ser colhida de tal forma a preservar o
máximo de matéria seca. No entanto, devido ao teor de água do produto estar superior a
30% é recomendado que o mesmo permaneça no campo até que seja atingido o ponto
ideal para colheita mecanizada.
Ponto de
maturação
fisiológic
a
Teor de matéria seca
Teor de água
35 a 40%
Ponto ideal
colheita
de
mecanizada < 24%
Tempo
2. Propriedades
As propriedades físicas são importantes parâmetros dos grãos para a aplicação de
princípios de engenharia nas operações de colheita, pré-processamento, beneficiamento
e processamento. Dentre as diversas características são descritas a seguir: teor de água,
massa específica, ângulo de repouso e porosidade.
Ma
U bu x100 eq. 01
Mt
em que:
Ubu = teor de água em base úmida, %;
Ma = massa de água contida na amostra de grãos, kg (gramas ou toneladas); e
Mt = massa total da amostra, kg (gramas ou toneladas).
5
Assim, por exemplo, se em uma amostra de 1 kg de milho, o teor de água for igual
a 13%, pode ser afirmado que 0,130 kg é água e 0,870 kg é matéria seca. Outro exemplo,
se para uma carga de 18 toneladas tem o teor de água de 13% é o mesmo que afirmar
que 2,34 t é água e 15,6 t é matéria seca.
A quantidade de matéria seca refere-se a todos os componentes dos grãos menos
a porção água. Portanto, conforme a Tabela 1, a matéria seca corresponde às frações de:
proteína, lipídeos, carboidratos e cinzas.
Ma
U bs eq. 02
Mms
em que:
Ubs = teor de água em base seca, decimal;
Ma = massa de água contida na amostra de grãos, kg (gramas ou toneladas); e
Mms = massa de matéria seca da amostra de grãos, kg (gramas ou toneladas).
Para transformar o teor de água expresso em base úmida para base seca
emprega-se a equação 03 e ao contrário utiliza-se a equação 04. Essas transformações
são frequentes em programas de computador que simulam o processo de secagem.
U bu
U bs eq. 03
(100 U bu )
6
U bs
U bu 100 eq. 04
(1 U bs )
Exemplo:
Massa do vasilhame (Mv): 12g
Massa da amostra mais o vasilhame inicial (Mavi): 42 g
7
M avi M fav 42 37
U .100 .100 16,7%
M avi M v 42 12
Termômetro
Óleo e grãos
Balança
458,9 g 445,4 g
Nota: Para cada produto o aquecimento é feito até uma dada temperatura. Por exemplo,
para arroz em casca é 200 °C, arroz beneficiado 195 °C, feijão 175 °C, milho 195
°C, soja 175 °C, sorgo 195 °C e trigo 190 °C.
Legenda:
1 - Placa do capacitor
2 - Termômetro
3 - Bobina
4 - Mostrador balanceamento
5 - Mostrador teor de umidade
6 - Capacitor variável
7 - Circuito gerador de frequência
Ângulo de repouso
20 0,364 36,4
22 0,404 40,4
24 0,445 44,5
26 0,488 48,8
28 0,532 53,2
30 0,577 57,7
32 0,625 62,5
34 0,675 67,5
36 0,727 72,7
38 0,781 78,1
40 0,839 83,9
42 0,900 90,0
44 0,966 96,6
45 1,000 100,0
2.4 Porosidade
Os grãos armazenados se apresentam como uma massa porosa, constituída pelos
grãos e o espaço intergranular, também denominado de intergranular. A porosidade
refere-se à relação percentual entre o volume intergranular e o volume total da amostra.
Para a medição da porosidade, Figura 8, coloca-se a amostra de produto em uma
proveta e mede o volume. Em sequência, utilizando uma segunda proveta contento o
álcool tolueno, mede-se o quanto deste produto foi necessário para ocupar o espaço vazio
na massa de grãos.
A porosidade difere entre espécies de grãos e é influenciada pelo tamanho,
formato e rugosidade dos grãos, teor de água e de impurezas.
13
Legenda: 2
1 - Proveta cheia de grãos
2 - Proveta contendo tulueno
( )
( )
14
( )
Legenda: 1 M 2
1 - Válvula de entrada de ar
2 - Manômetro
3 - Cilindro 1 (vazio) 4
4 - Registro
5 - Cilindro 2 (cheio de grãos) 5
3
em que:
Qagua = quantidade de calor da água, kJ, kcal;
Qcalori = quantidade de calor do calorímetro, kJ, kcal;
Qp = quantidade de calor do calorímetro, kJ, kcal;
Ct = capacidade térmica do calorímetro, kJ/K, kcal/°C;
15
Amostra
simples nº 2
Amostra
simples nº 30
Caminhões ou Vagões de 30 a 50 t
Posições de amostragem
11 pontos amostragem
A amostragem deve ser feita de forma criteriosa de tal forma a garantir a obtenção
de amostras fidedignas ao produto recebido, expedido ou comercializado. Recomenda-se
consultar periodicamente as normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento para adequar os procedimentos de amostragem.
Campo de Produção
Quebra de umidade ou
Reumedecimento
Armazenagem
Quebra técnica
Expedição
a) Quebra de impureza
Denomina-se quebra de impureza o percentual de desconto a ser aplicada a
massa de grãos recebida com o objetivo de estimar a massa de impureza a ser removida.
Entende-se por impurezas materiais estranhos ao produto, tais como: partículas de solo,
pedras, restos vegetais e grãos de outras espécies. E por teor de impurezas a relação
percentual entre as quantidades de impurezas e de produto.
O cálculo da quebra de impureza não pode ser feito pela simples subtração entre
os teores de impurezas inicial e final, equação 05. Porque, sob o aspecto matemático, o
correto é calcular a quebra de impurezas por meio da equação 06. Uma vez que os
denominadores das relações que expressam os teores de impureza inicial e final são
diferentes. E de acordo com as regras aritméticas, a soma ou subtração de frações
somente aplicam-se quando os denominadores são iguais.
QI I i I f eq. 05
Ii I f
QI 100 eq. 06
100 I
f
18
em que:
QI = quebra de impurezas, %;
Ii = teor de impureza inicial, %; e
If = teor de impureza final, %.
Desse modo, por exemplo, se fosse recebida 30 mil toneladas com 4,00% de
impurezas, e o padrão de comercialização fosse 1,00%, por meio da equação 01 a quebra
de impureza seria de 3,00% e pela equação 02 3,03%, o que corresponderia aos
descontos de 270,0 e 272,7 toneladas de impurezas, respectivamente. Portanto, uma
diferença de 2,7 t, que quando não contabilizada poderá incorrer em erros no balanço final
da movimentação de produto.
b) Quebra de umidade
A quebra de umidade refere ao valor percentual relativo a quantidade de água a
ser removida do produto no processo de secagem. Ao ser utilizado teores de água
expressos em base úmida emprega-se a equação 07. No entanto, se estes teores forem
expressos em base seca emprega-se equação 08.
eq. 07
em que:
QU = quebra de umidade, %;
Ui = teor de água inicial em base úmida, %; e
Uf = teor de água final em base úmida, %.
eq. 08
em que:
QUbs = quebra de água em base seca, decimal;
Ubsi = teor de água inicial expresso em base seca, decimal; e
Ubsf = teor de água final expresso em base seca, decimal.
eq. 09
em que:
- desconto total relativo à remoção impureza e do excesso de água do
produto, %.
- quebra de impureza, %; e
- quebra de umidade.
e) Taxa de umedecimento
Durante o período de armazenagem pode dificilmente ocorrer que a massa de
grãos por diferentes motivos venha absorver água, ocorrendo então o umedecimento.
Para calcular a taxa de umedecimento é empregada a equação 08. Para este caso Ui
corresponde ao teor de água quando do início do período de armazenagem e Uf ao teor
por ocasião da expedição.
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(U fr U ir ) 100
TU eq. 10
(100 U fr )
em que:
TU = taxa de umedecimento, %.
Uir = teor de água inicial no umedecimento em base úmida, %; e
Ufr = teor de água final no umedecimento em base úmida, %.
f) Quantidade ajustada
eq. 11
em que,
Qaj - quantidade de produto ajustada, t;
Ta - teor atual (impureza, água ou ardidos), %;
Td - teor desejado (impureza, água ou ardidos), %;
Qpa - quantidade de produto atual, t.
Exemplo 1 – Calcule a massa de uma carga de milho ao ser seca para 13%. Inicialmente
a massa era de 25.0000 kg e o teor de água é 18%.
Exemplo 2 – Por erro de operação uma carga de milho foi super-seca sendo constatada a
massa de 34.500 kg e teor de umidade de 11,0%. Calcule qual deveria ser a massa da
carga se o teor de água fosse 13%.
21
eq. 12
( ) ( ) ( )
em que,
Ai - teor de ardidos inicial, %; e
Af - teor de ardidos final, %.
g) Quebra técnica
A quebra técnica corresponde ao valor percentual devido à perda de massa
durante o período de armazenagem, o que pode estar associado, dentre outros fatores, à
respiração da massa de grãos e ao consumo por insetos, fungos e roedores.
Operacionalmente, a quebra técnica define uma quantidade de produto a ser retida
a cada expedição para assegurar ao agente armazenador a existência de produto até a
última expedição. Um dos índices empregados é de 0,01% ao dia (0,15% a quinzena ou
0,3% ao mês) o que certamente gerará sobras de produto, se boas práticas de
armazenagem estiverem sendo aplicadas. Desse modo, conforme a política administrativa
da empresa ou cooperativa, as sobras devem ser rateadas aos usuários,
proporcionalmente, á quantidade depositada.
Normalmente a aplicação do índice de quebra técnica é feita sobre a quantidade
de produto armazenado, indiferentemente, se ocorreu ganho ou perda de umidade
durante o período de armazenagem
5. Exemplos aplicativos
Solução Método 1
Passo 1 - Calcular a quebra de impurezas (QI) e quantidade de impurezas removida
Ii I f
QI 100 4 1 100 3,0303%
100 I 100 1
f
Quantidade de impureza = Quantidade de Produto Recebida x QI
= 25.300 x 3,0303% = 766,66 kg de impurezas
Ui Uf 26 13
QU x100 x100 14,9425%
100 Uf 100 13
( )
Passo 2 - Quantidade de impurezas removida
23
( )
( ) ( )
b) Massa Específica
H = 18,39 m
3,14.D 2 3,14.(14,6) 2
Área = 167, 3 m2
4 4
D = 14,6 m
volume do cone:
Volume do 1
cilindro Volume do cone = . Abase.Hcone
3
Abase – área da base foi calculada no exemplo anterior
167,3 m2.
D = 14,6 m
6. Referências
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7. Exercícios
1) Defina: teor de água em base úmida, teor de água em base seca, quebra de umidade,
quebra de impurezas e quebra técnica.
2) Transforme para base úmida os teores de água expressos em base seca: a) 0,15; b)
0,70, c) 0,38; e d) 0,07.
3) Transforme para base seca os teores de água expressos em base úmida: a) 18%; b)
90%; c) 78%; e d) 5%.
4) Qual a importância conhecimento das propriedades físicas dos grãos? Escolha uma
das estudadas – defina e apresente suas aplicabilidades.
5) Por que o método de determinação do teor de água de grãos pelos princípios resistivo
e capacitivo são classificados como métodos diretos? Correto. Justifique
6) Uma carga de milho após o processo de secagem apresenta teor de água em base
seca igual a 0,15 e massa de matéria seca igual a 30,5 t. Pede-se calcular: (a) a massa
inicial da carga e (b) a massa final da carga; sabendo que o teor de água inicial em
base úmida é 28%.
7) No dia 15/04/2016 o Sr. Lucas Gabriel colheu 27,2 toneladas de milho com teor de
umidade e impurezas igual a 18,5% e 5%, respectivamente. O padrão da cooperativa
é a armazenagem com teores de umidade e impurezas iguais a 13% e 1%,
respectivamente, e taxa de quebra técnica igual a 0,01% ao dia. Pede-se
(a) Calcule a quantidade de produto depositada em 15/04;
(b) Suponha que em 22/06 (decorridos 68 dias) o Sr. Lucas Gabriel Inácio faça uma
retirada de 12 toneladas. Nesta ocasião o teor de umidade do produto era igual a
12,5%. Nota: Debite as quantidades relativas às quebras de umidade e técnica no
saldo de produto remanescente; e calcule o saldo de produto remanescente.
(c) Em 31/07 decorrido 107 dias o proprietário solicita a retirada do saldo restante.
Nessa ocasião o teor de umidade do produto era de 12%. Calcule o saldo
efetivamente entregue ao depositário.
Obs.: calcule os valores das quebras de umidade e técnica de forma individual, ou seja
sem sobreposição.
10) Calcule a capacidade estática de um silo com fundo cônico de 45o, sabendo que será
armazenado milho com massa específica de 750 kg/m 3 e ângulo de repouso de 29 o. O
silo tem diâmetro de 7,3 m e altura de cilindro de 9,30 m.
Para a definição do número necessário de silos de fundo plano: (i) escolha um dos
modelos do quadro abaixo, (ii) considere a massa específica do milho igual a 780
kg/m3; e (iii) considere o ângulo de repouso igual a 28,5 o
ângulo de repouso
13) Uma tulha para armazenagem de café, construída
em madeira, tem seção quadrática 3 x 3 m e altura
de 2,80 m. O fundo tem inclinação de 45o. Calcule 2,80 m
3,00 m
quanto de café em coco e beneficiado podem ser
armazenados. Considere para o café em coco o
ângulo de repouso de 31 o e massa específica de 45o
390 kg/m3; e para o café beneficiado o ângulo de
repouso de 28o e massa específica de 640 kg/m3.
14) A Trade MDA adquiriu cinco cargas de soja da cooperativa COOPERTOL com as
características abaixo.
Massa das cargas (kg) Impureza (%) Umidade %
34.000 1,0 12,0
34.000 1,0 14,0
34.000 2,0 15,0
34.000 1,0 11,0
Repostas
1) ________________
2) (a) 13,0 % b.u.; (b) 41,2 % b.u.;; (c) 27,5 % b.u.; e (d) 6,5 % b.u.;
3) (a) 0,22; (b) 9,00; (c) 3,55; e (d) 0,05
4) ________________
5) ________________
6) (a) 42,4 toneladas; e (b) 35,1 toneladas.
7)
Cooperado Gestor
Romaneio
Data Movimentação Quantidade (sacas) Saldo (Sacas) Reserva QT Saldo QT
15/abr Recebimento 411,79 411,79
22/06 Retirada 1 -200,00 211,79
22/06 Retenção de Quebra Técnica -1,36 210,43 1,36 1,36
22/06 Erro supersecagem 210,43 -1,14 0,22
31/07 Retenção de Quebra Técnica -2,25 208,18 2,25 2,47
31/07 Erro supersecagem 208,18 -2,39 0,08
31/07 Retirada 2 -208,18 0,00
0,00
SA-01 10,59 11
SA-02 4,93 5
SA-O3 3,64 4
13)
Capacidade estática kg Sacas
14)
Supersecagem -790,70 kg
0,00 kg
Fora de Padrão -734,79 kg
Supersecagem -1186,05 kg
Total (kg) -734,79 kg -1976,74 kg
Total (sacas) -12,25 -32,95
Prejuízos -R$ 918,49 -R$ 2.470,93