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Ministério da educação

Universidade Federal do Ceará


Centro de Ciências Agrárias
Curso de Bacharelado em Agronomia
AC-0478 Entomologia Agrícola 64h

RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA:

USO DE FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS PARA CONTROLE DE PRAGAS


AGRÍCOLAS

Docente: Dra. Erica Costa Calvet

Discente responsável pela aula: Pedro Vitor Moura Silva

Discentes:

1 – Ana Caroline Sales de Melo

2 – Valesca Farias Feitosa

Fortaleza, 2023
Introdução
O controle biológico é uma estratégia utilizada para o manejo de pragas e doenças
agrícolas que se baseia no uso de organismos vivos para suprimir a população de
pragas. Suas vantagens são o menor impacto ambientai em comparação aos pesticidas
químicos, sustentabilidade, específico para o alvo e capacidade de reduzir o
desenvolvimento de resistência nas pragas. O fungos entomopatogênicos são um
exemplo de agentes de controle biológico eficazes no combate a insetos-praga.
Os fungos entomopatogênicos possuem a capacidade de infectar e matar insetos e
outros artrópodes, esses fungos geralmente penetram no exoesqueleto dos insetos e
liberam enzimas e toxinas que causam a morte do hospedeiro. Podem ser aplicados
diretamente sobre as pragas alvo ou utilizados como agentes de controle biológico em
formulações comerciais.
O Metarhizium anisopliae é um fungo entomopatogênico amplamente utilizado no
controle biológico de pragas. Possui uma ampla gama de hospedeiros e é eficaz contra
várias espécies de insetos. O modo de ação se dá ao produzir esporos que aderem ao
corpo do inseto hospedeiro, germinam e invadem o hospedeiro através do exoesqueleto,
causando a morte. O fungo é utilizado no controle de pragas agrícolas, como besouros,
moscas, cupins e cigarrinhas.
A Beauveria bassiana é outro fungo entomopatogênico amplamente utilizados
para controle biológico. É eficaz contra uma variedade de insetos e ácaros. O modo de
ação ocorre quando os esporos da Beauveria bassiana aderem ao corpo do inseto
hospedeiro e penetram no exoesqueleto, colonizando-o internamente e causando a morte
do insteto. É usado no controle de pragas como pulgões, mosca-branca, tripes e lagartas.
O Cordyceps javanica é um fungo entomopatogenico que pertence ao gênero
Cordyceps. É conhecido por sua capacidade de infectar e matar insetos. O modo de ação
consiste na infecção do hospedeiro pelo fundo, tomando controle do seu sistema
nervoso e faz se mover para uma posição adequada para a dispersão dos esporos, o
hospedeiro infectado eventualmente morre e os esporos são liberados. O fungo tem se
mostrado muito eficiente no controle de ninfas de Bemisia tabaci.
A aula prática laboratorial de fungos entomopatogenicos para controle de pragas
agrícolas teve como objetivo familiarizar os estudantes com os fungos e avaliar a
eficácia dos fungos entomopatogenicos testados no controle das pragas-alvo, bem como
discutir os resultados obtidos considerando a viabilidade desses fungos como agentes de
controle biológico no manejo integrado de pragas agrícolas.
Metodologia

O material utilizado foi:


• Cepas dos fungos C. javanica, M. anisopliae e B. bassiana.
• Insetos-praga selecionados
• Tubos Falcon
• Placas de Petri
• Alça de inoculação
• Alça de Drigalsky
• Pipeta automática
• Proveta graduada 1.000 ml
• Solução Tween
• Meio de cultura BDA
• Autoclave
• Microscópio
• Microondas
• Estufa e incubadora
• Câmara de Neubauer
• Câmara de fluxo

O fungo utilizado como objeto de estudo foi o Beauveria bassiana, obtido a


partir de um inseto externo infectado em campo. A partir disso, o inseto deve ser bem
conservado em condições de laboratório para que se obtenha o recolhimento da amostra
de fungo e a obtenção de uma cepa do fungo entomopatogenico.
O segundo passo é preparar o meio de cultura BDA (Batata-Dextrose-Ágar), em
placas de Petri. O meio de cultura é obtido de acordo com a quantidade de placas a
serem utilizadas, foi utilizado 800 ml de água para dissolver o meio BDA, que depois
foi levado ao micro-ondas sobre monitoramento constante por pelo menos 1 minuto.
Todo o material deve ser esterilizado em autoclave antes da inoculação do fungo.
O próximo passo é ligar a luz U.V antes de utilizar a câmara de fluxo lâminar,
onde se coloca todo o material de inoculação do fungo, a câmara garante que o ambiente
permaneça estéril durante a inoculação do fundo entomopatogenico. Após verter o
meio, deixar sobre a ação U.V por pelo menos 15 minutos.
No ato de repicagem, ou seja, durante a inoculação os matérias devem ser
higienizados, a alça de inoculação deve ser flambada a cada repicagem. A identificação
das placas deve ser feita com um pincel identificando o nome do isolado, a data de
inoculação e o CJ da empresa com o número.
O próximo passo é o preparo da suspensão de esporos do fundo
entomopatogenico C. javanica. Deve ser colhido os esporos do fungo a partir das
colônias fungicas, raspando suavemente a superfície com a alça de inoculação
esterilizada ou lavando as colônias com uma solução de suspensão para coletar os
esporos. Uma opção comum é usar uma solução de Tween 80 (polissorbato 80) a uma
concentração de 0,01% como diluente. O Tween 80 ajuda a melhorar a dispersão e
estabilidade dos esporos na suspensão.
Em seguida deve-se realizar diluições seriadas em tubos de falcon para obter
uma contagem precisa de esporos fungicos presentes na suspensão, utilizando a câmara
de Neubauer. Foi demonstrado em aula que o valor da concentração pode ser ajustado,
basta fazer a relação com a dose recomendada.
A partir da concentração nos tubos, deve-se obter em placa o número de esporos
germinados, em relação ao número total de esporos presentes na lâmina em placa.
Deve-se calcular a porcentagem de germinação dos esporos com base na contagem
realizada. Esse valor indicará a viabilidade do fungo e sua capacidade de germinar e
formar estruturas fúngicas.
Para os testes de virulência, foi realizado um experimento utilizando dois insetos
da ordem coleóptera, Bemisia tabaci, inseto-alvo, e Chrysoperla externa, inimigo
natural da mosca branca. A planta utilizada foi a do melão. Foram observadas 9 placas
de petri, 3 com os fungos M. anisopliae, B. bassiana e C. javanica, 3 com os fungos e o
inimigo natural, para observar se ocorre também sua mortalidade, e mais 3 placas com
Bemisia tabaci e uma folha pulverizada com 250 µL da suspensão de esporos do fungo
entomopatogenico utilizando o pulverizador. Foi feito o delineamento inteiramente
casualizado com os vasos de plantas do melão de 10 dias de idade, com quatro
repetições de duas mudas por vaso, mantidas a temperatura e umidade relativa ideias
para o inseto. O teste de Wilcoxon-Mann-Whitney é um teste estatístico não
paramétrico utilizado para comparar duas amostras independentes, utilizado quando se
deseja fazer uma comparação entre grupos ordinais.
Resultados e discussão (até duas páginas)
Sob condições laboratoriais, as ninfas de B. tabaci ficaram dessecadas ou com
sintomas amarelados com crescimento micelial ou conidial no cadáver do inseto para os
três fungos, M. anisopliae, B. bassiana e C. javanica, e não afetaram o inimigo natural
Chrysoperla externa.

Figura1: Fungos M. anisopliae, B. bassiana e C. javanica inoculados em Placa de Petri.


Fonte: Valesca Farias Feitosa.

Estudos sobre pragas direcionados ao fungo M. anisopliae, demonstraram a


eficiência de seu controle biológico para diferentes espécies de importância econômica
como, Sitophilus oryzae L. (Agostini et al., 2015; Kavallieratos et al., 2014), e
Ulomoides dermestoides (TORRES et al., 2019).
Figura 2: Placas de Petri com Bemisia tabaci nos fungos estudados.
Fonte: Valesca Farias Feitosa.

Unido a outros métodos sua eficácia é aumentada, como afirmado por TORRES
(2019): “algumas pesquisas têm evidenciado que o uso destes entomopatógenos,
acrescido de outros compostos com modo de ação diferenciadas, pode aumentar a
eficiência de controle destas pragas”.
Como afirmado por SOUZA (2015), “a cultura do algodoeiro apresenta um rico
complexo de inimigos naturais associados às pragas, dentre eles, destaca-se o
predador Chrysoperla externa (Hagen) e o fungo entomopatogênico Metarhizium
anisopliae (Metschnikoff) Sorokin”. Que foi objeto de estudo na prática realizada.
Figura 3: Placas de Petri com Chrysoperla externa inimigo natural da mosca branca (Bemisia tabaci).
Fonte: Valesca Farias Feitosa.

Em couve, o fungo M. anisopliae também demonstrou-se eficiente para Bemisia


tabaci (GÊA, 2022).
Para o fungo Beauveria bassiana, a efetividade do seu uso são confirmados por
Azevedo et al. (2005). Para o fungo Cordyceps javanica, sua efetividade como fungicida
para diversas espécies de interesse agronômico foram confirmados por COSTA (2023)
para Spodoptera frugiperda e para Bemisia tabaci, confirmado por Godoi (2019).

Conclusões
A aula prática foi bastante proveitosa para o entendimento de controle biológico e
sua importância na agricultura sustentável. Através da aula os alunos podem conseguir
identificar e distinguir diferentes espécies de fungos entomopatogênicos, como
Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana e Cordyceps javanica. Também foi possível
compreender como preparar suspensões de esporos de fungos e observar a mortalidade
dos mesmos nos testes de patogenicidade.
A partir disso os estudantes podem refletir sobre a aplicação prática dos
conhecimentos adquiridos, considerando a viabilidade e a implementação de estratégias
de controle biológico com fungos entomopatogênicos em sistemas agrícolas reais.
Referências Bibliográficas

AGOSTINI, T. T.; AGOSTINI, L. T.; DUARTE, R. T.; VOLPE, H. X. L.; SALAS,


C.; POLANCZYK, R. A. Eficiência de fungos entomopatogênicos para o controle
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AZEVEDO, F.R. de et al. EFICIÊNCIA DE PRODUTOS NATURAIS PARA O


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EM MELOEIRO. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v. 1, p. p.73-79, 28 maio 2005.

BOAVENTURA, Heloiza Alves. Eficácia de Cordyceps javanica sozinho ou em


combinação com inseticidas químicos no controle de Bemisia tabaci e persistencia em
folhas de soja. 2019. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
2019.
COSTA, KELVIN LUAN SOARES. VIRULÊNCIA DE Cordyceps javanica A
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Universidade Federal de São Carlos, [S. l.], 2023.

GODOI, Gabriella de Almeida. PERSISTÊNCIA DE Cordyceps javanica E


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Acesso em: 18 jun. 2023.

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Helicoverpa armigera (Hubner) (Lepidoptera: Noctuidae): Efeitos letais, subletais, e
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https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/agrarian/article/view/8242. Acesso em: 18 jun. 2023.

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