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Resumo
Introdução
Desde a ampliação do acesso à escola, na década de 1970, vimos discutindo, no
Brasil, a necessidade de tornar garantir escolas públicas, gratuitas e de qualidade para a
população. Qualidade, aqui, é entendida no sentido de oferecer e garantir a todos os
sujeitos ensino dos conhecimentos e dos instrumentos construídos pela humanidade ao
longo de nossa história, para que cada um possa utilizá-los para constituição de uma
vida e uma sociedade dignas. O reconhecimento da diversidade cultural e das diferenças
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Marco Teórico
A transformação de escolas em Comunidades de Aprendizagem foi desenhada
para além das teorias da denúncia; pelo contrário, procuram abrir espaços nos quais se
possam construir e reconstruir valores como a solidariedade, o respeito pelos direitos
humanos, a igualdade de oportunidades e a luta contra todo e qualquer tipo de
discriminação, tomando a diversidade e a diferença humanas como fonte de riqueza.
Sua realização se dá a partir da confluência de três correntes fundamentais para a
compreensão da problemática educativa atual: a teoria da Ação Comunicativa, de
Habermas, como teoria da sociedade; a teoria da Resistência, de Giroux, Apple e
Flecha, no âmbito da sociologia da Educação e a teoria educacional, de Paulo Freire.
De acordo com Ferrada (2001), há sete postulados que caracterizam essa
proposta comunicativa da educação:
1. Todos os processos educativos devem promover uma racionalidade
comunicativa: esta ideia está relacionada com a forma como a comunidade escolar
utiliza os diferentes conhecimentos. A ideia é incorporar uma racionalidade
comunicativa como base da ação escolar, considerando que ela consegue contemplar, de
forma mais completa, os aspectos educativos ao incluir a aceitação dos conflitos
mediante pretensões de validade, isto é, mediante a validade dos argumentos
apresentados por todos que compõem a escola.
2. A realidade educativa deve ser entendida como um processo sociológico, sem
desconsiderar as contribuições provenientes do âmbito psicológico: a partir desta
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quais a escola exerce a função de reproduzir a cultura e o poder de uns grupos sociais
sobre outros, contribuindo para a manutenção das desigualdades. A autora indica que,
inevitavelmente, a escola exerce também uma função reprodutora, assim como criadora
e transformadora, mas sugere que essa função reprodutora seja alimentada a partir de
uma nova vertente: a de reproduzir valores culturais, sociais e materiais que contribuam
para se alcançar uma sociedade mais justa e igualitária, mais dialógica e libertadora.
Nesse sentido, a escola deve cumprir tanto a função de reprodução como de criação e
transformação da realidade social.
7. Incorporação do conceito de crítica em forma multidirecional - todas as
proposições ficam sujeitas a críticas fundamentadas racionalmente: este tópico diz
respeito ao fato de qualquer proposta estar, sempre, suscetível a receber críticas
pautadas numa racionalidade comunicativa. Ser uma Comunidade de Aprendizagem
implica uma postura aberta à incorporação de novos elementos na medida em que
possuam a razão de um argumento melhor diante do que se propõe, sem perder de vista,
porém, valores considerados universais, como a igualdade, a solidariedade, a
democracia e o valor do coletivo.
A partir destes tópicos, é possível compreender as Comunidades de
Aprendizagem como uma proposta de transformação social e cultural:
A transformação de comunidades se baseia em não aceitar a
impossibilidade de mudança, tanto das pessoas concretas como das
estruturas educativas internas de uma escola ou externas de um sistema
educativo. Implica uma mudança dos hábitos de comportamento habituais
para familiares, para o professorado, para o alunado e para as comunidades;
uma transformação cultural, porque tem a intenção de transformar a
mentalidade da recepção de um serviço público pela mentalidade da gestão
pública. (ELBOJ et al, 2002, p.74/75)
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Desenvolvimento da Proposta
Uma Comunidade de Aprendizagem pode ser implementada em qualquer escola
que deseje se abrir para a participação efetiva da comunidade de entorno em sua vida,
garantindo aprendizagem máxima de conteúdos escolares por todos e cultivo da
diversidade e da diferença como fontes da riqueza humana. A transformação que as
Comunidades de Aprendizagem propõem está pensada prioritariamente para escolas que
apresentam maiores problemas de desigualdade e pobreza, portanto, com maior
necessidade de transformação para se conseguir os direitos educativos para todas as
pessoas que a frequentam. (ELBOJ et al., ibid.)
O processo de transformação de uma escola em uma comunidade de
aprendizagem inclui um programa destinado a garantir que todas as partes
(professorado, direção e familiares) entendam os objetivos da proposta e se
comprometam em realizá-la. Se uma das partes envolvidas não quiser a transformação
da escola, então ela não acontece. Esta deve ser escolha de todos aqueles que compõem
a escola.
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Alguns Resultados
A perspectiva central em Comunidades de Aprendizagem é que se converse
entre todas as pessoas (profissionais da escola, estudantes, familiares e pessoas do
bairro) quais conteúdos são necessários para o conhecimento das crianças, jovens e
adultos e, portanto, os mesmos devem ser trabalhados em sala de aula ou em outros
espaços da escola. Nesse entendimento, outras pessoas, além do professorado, se
dispõem a ensinar aquilo que sabem e se responsabilizam, junto com a escola, pela
educação dos jovens e das crianças.
Na Espanha, mais de cem escolas se transformaram em Comunidades de
Aprendizagem. No Brasil, três escolas estão assim se desenvolvendo. Em pesquisas
realizadas pelas autoras na última década, junto a Comunidades de Aprendizagem
espanholas e brasileiras os resultados têm mostrado que essa parceria constrói e
alimenta a qualidade do ensino:
Antes de ser uma Comunidade eu apenas tomava conta do laboratório de
informática, ia lá, via alguma coisa que estava precisando na máquina,
arrumava etc. Depois, eu pude dar aulas de informática para várias turmas de
crianças e adultos, que foi um de meus sonhos levantados nas primeiras
reuniões feitas com os familiares sobre a proposta de Comunidades de
Aprendizagem (voluntário adolescente, vizinho da escola - Brasil)
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se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se
confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente
movimento da História”
A possibilidade de compartilhar a responsabilidade pela aprendizagem também
transforma a relação do professorado com as crianças e com os familiares. A atuação
docente passa a ser mais efetiva, porém mais leve, menos solitária e mais prazerosa.
Eu aprendi muita coisa com o grupo da biblioteca, de ouvir as crianças, de
ver o que elas precisavam (...) aprendi a dividir meu trabalho com as
crianças porque elas estavam lá e tinham que, ao mesmo tempo, aprender e
ensinar também. Aprendi a sair do papel de professora para aprender junto.
(professora de uma Comunidade, voluntária na Biblioteca no contra
turno – Brasil)
A atividade, por exemplo, que eu dava, que eu sabia que levava meia hora,
agora as crianças já a realizam em dez minutos. Às vezes nem eu acreditava
que eles estavam dando conta de fazer tudo. (professora de uma
Comunidade, referindo-se às atividades realizadas em sala com a ajuda
de voluntários – Grupos Interativos - Brasil).
Eu, nesses dois anos que a gente está com o Comunidades, eu também
percebi, assim, que a minha relação com as outras pessoas melhorou
mesmo! Assim, eu nunca tive muita dificuldade com relação às crianças,
desde quando eu comecei a docência. Mas percebo, por exemplo, que eu
tenho parado mais para ouvi-las (...). E eu acho que para mim está sendo
um ganho também, porque acho que é bem aquilo que a Profa. 10 falou:
uma coisa é você pensar essas coisas, ter livros sobre isso, e aí é muito
diferente quando você vê que as coisas acontecem mesmo. (...) Então eu
acho que a gente pode vivenciar isso, de coisas que a gente leu e que a
gente estudou e em determinado tempo, ver que aquelas coisas acontecem
mesmo! Então, eu acho isso muito bom, e melhora muito para mim, para
nossa vida mesmo. Eu acho que é um ganho! (Professora de uma
Comunidade – Brasil)
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Pais que jamais imaginariam, por exemplo, que a escola faria um coral para
adultos ou ofereceria aulas de espanhol, estavam tendo oportunidade de ter
tudo isso (...) de ver que a escola estava mudando. (Diretora de uma
Comunidade - Brasil)
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Referências
BRAGA, F. M. Comunidades de aprendizagem: uma única experiência em dois
países (Brasil Espanha) em favor da participação da comunidade na escola e da
melhoria da qualidade do ensino. Tese (Doutorado em Educação) – Centro de
Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, 2007.
ELBOJ, C.; PUIGDELLÍVOL, I.; SOLER, M.; VALLS, R. Comunidades de
Aprendizaje: Transformar la educación . Graó. Barcelona, 2002.
FERRADA, Donatila. Curriculum Crítico Comunicativo. Barcelona: Editora El Roure,
2001.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 42ª Edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
GABASSA, V. Comunidades de Aprendizagem: a construção da dialogicidade na
sala de aula. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, 2009.
MELLO, R. R. Comunidades de Aprendizagem: contribuições para a construção de
alternativas para uma relação mais dialógica entre a escola e grupos de periferia urbana.
Barcelona: Centro de Investigação Social e Educativa (CREA), Universidade de
Barcelona, Relatório de Pós-Doutorado, 2002.
______________. Comunidades de Aprendizagem: aposta na qualidade da
aprendizagem, na igualdade de diferenças e na democratização da gestão da escola.
Relatório de Pesquisa. São Paulo: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo, 2009.
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