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IMPLANTAÇÃO DO CONTROLE
ESTATÍSTICO DE PROCESSOS EM UMA
INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE
CASTANHAS DE CAJU
Samuel Ferrer da Costa e Silva (UFC)
samuel.silva@iracema.com.br
Juliana Matos Monteiro Vieira (UFC)
julianammonteirov@gmail.com
Hanna Pamplona Hortencio (UFC)
hannapamplona@gmail.com
Sergio Jose Barbosa Elias (UFC)
serglias@secrel.com.br
Felipe Costa Timbo (UFC)
feltim@hotmail.com
1. Introdução
O Brasil é um dos líderes mundiais de produção e processamento de castanha de caju,
reconhecido pela qualidade de suas amêndoas e confiabilidade de seus fornecedores. É no
Nordeste que se encontram 100% das indústrias de beneficiamento de castanha de caju do
país.
Nas indústrias alimentícias, os fatores que se destacam entre os concorrentes são a
conformidade e a confiabilidade, garantidos pelo nível de qualidade do produto. As indústrias,
contudo, possuem problemas de qualidade nos produtos que as privam de obter maiores
lucros, além de comprometer a satisfação do cliente.
Nos sistemas de gerenciamento necessários a garantia da qualidade são definidas técnicas que
visam à obtenção e manutenção da qualidade de um produto ou serviço, identificando e
eliminando as causas de problemas de qualidade. Estas técnicas enunciam o controle da
qualidade devendo ser feito através do uso de ferramentas estatísticas (OAKLAND, 1994).
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de implantação do controle
estatístico de processo no setor de torragem de uma indústria de beneficiamento de castanha
de caju situada em Fortaleza, para o produto castanha de caju torrada e salgada em
embalagem sachê de 50 gramas, visando à redução na variação do processo.
2. Revisão bibliográfica
2.1. Controle estatístico de processo
2.1.1. Conceito
Para Paladini (1995), a qualidade deve ser gerada a partir do processo produtivo. Todos os
processos de produção apresentam variações, gerando produtos ou serviços que diferem entre
si. Como a variabilidade só pode ser descrita em termos estatísticos, os métodos estatísticos
desempenham papel central nos esforços para a melhoria da qualidade.
O Controle Estatístico do Processo (CEP) utiliza técnicas estatísticas para analisar o
comportamento do processo de fabricação, efetuar ações corretivas que permitam mantê-lo
dentro de condições preestabelecidas, objetivando evitar a produção de itens de qualidade
insatisfatória, melhorando e assegurando a qualidade dos produtos produzidos.
2.1.2. Variabilidade
A variabilidade de um processo pode ser devida à duas categorias de causas: causas comuns,
variações inerentes a um processo que se encontra sob controle estatístico e é inevitável, e
causas especiais, cujas fontes de variações são relativamente grandes sendo identificáveis,
evitáveis e devem ser eliminadas, pois causam defeitos. Segundo Paladini (1995), o processo
cujas variações são devidas somente a causas aleatórias é um processo sob controle
estatístico.
2.1.3. Cartas de controle
As Cartas de Controle são o principal elemento do CEP. Essa ferramenta utiliza como dados
de entrada medições realizadas de uma característica de qualidade ou parâmetro de processo
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A teoria estatística desenvolvida por W. A. Shewhart para o cálculo dos limites de controle
afirma que quando o processo é estável, as amostras terão uma probabilidade próxima a um
de estar no intervalo de três desvios-padrões, a partir da média da população. Quando um
valor observado cair fora desse intervalo, assume-se que a hipótese de estabilidade do
processo não é válida, indicando uma causa especial de variação (ROTONDARO, 2002).
As cartas de controle se dividem em duas categorias: variáveis, cujo valor da característica de
qualidade é uma medição (peso, tempo) e atributos, no qual o resultado de uma característica
da qualidade é uma contagem (número de defeituoso, número de erros).
2.2.4. Subgrupos racionais
Para definir um subgrupo ou amostras é necessário compreender a funcionalidade dos
gráficos R e X . O gráfico R mede a amplitude que é a variação dentro de cada amostra, em
um dado momento. No gráfico X é monitorada a variação entre as amostras, ao longo do
tempo. Ao controlar um processo através de gráficos, é preciso maximizar a probabilidade de
ocorrer variação entre amostras e minimizar a probabilidade de haver variação dentro de
amostras (VIEIRA, 1999).
Não se pode estabelecer nenhuma regra geral para a escolha do tamanho e a freqüência do
subgrupo (PARANTHAMAN, 1990). Vieira (1999) apresenta duas estratégias para
estabelecer a coleta de dados: (i) tomar amostras pequenas e freqüentes ou (ii) tomar
amostras grandes e pouco freqüentes.
2.2.5. Cartas de controle para variáveis
As cartas de controle para variáveis são utilizadas quando as características de qualidade
podem ser expressas em uma escala contínua de valores (MONTGOMERY, 2004). Se for
escolhida a forma de medição variável, as cartas usadas dependem do tamanho da amostra e,
conforme: Kume (1993), Montgomery (2004), Costa (2004) e Rotondaro (2002) são: Gráfico
“ X e R” (média e amplitude, Gráfico “ X e S” (média e desvio-padrão, Gráfico “X e R”
(mediana e amplitude) e Gráfico “Xi e AM” (X individual e amplitude móvel).
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Toda castanha de caju que chega às fábricas é pesada em balanças rodoviárias e são
classificadas por tamanho nos tipos: pequena, média 1, média 2 e graúda. Este processo é
feito em classificadores de rolos, que consistem em cilindros rotatórios com paredes formadas
por chapas perfuradas.
As castanhas separadas por tipo são acondicionadas em silos e imersas em água. Essa etapa é
chamada de tratamento e o objetivo é aumentar a umidade da casca e da amêndoa para
facilitar a retirada do óleo da casca e proteger a amêndoa da alta temperatura do cozimento.
ETAPAS
PESAGEM
SECAGEM
CLASSIFICAÇÃO
LAVAGEM
UMIDIFICAÇÃO/
REPOUSO
COZIMENTO
RESFRIAMENTO
DECORTICAGEM
PENEIRAMENTO
ESTUFAGEM
DESPELICULAGEM
SELEÇÃO SELEÇÃO DE
DE REJEITOS REJEITOS
CORREÇÃO SEPARAÇÃO
DE REJEITOS POR TAMANHO
CLASSIFICAÇÃO CORREÇÃO DE
TAMANHO REJEITOS
SEPARAÇÃO
POR COR
ESTUFAGEM
EMBALAGEM
O cozimento tem por objetivo fragilizar a casca para a decorticagem. O cozimento é realizado
no próprio LCC (líquido da castanha de caju) a uma temperatura de aproximadamente de
220°C. As castanhas após resfriadas são transportadas para os decorticadores onde é realizada
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a abertura da castanha mecanicamente por impacto. São separadas as amêndoas das cascas
através de peneiras e máquinas pneumáticas.
Após isso, as amêndoas são enviadas para estufa contínua que tem por objetivo reduzir a
umidade das amêndoas, facilitando a retirada da película na próxima etapa. O processo de
despeliculamento acontece através de uma corrente de ar comprimido, injetado em um cesto
metálico contendo uma tela perfurada regulada por uma mola, fazendo com que as castanhas
se atritem umas contra as outras, retirando a película.
Através da separação por peneiras, as amêndoas inteiras são separadas dos pedaços que
seguem para o setor de pedaços da fábrica e são vendidas, ao final do processo como
subprodutos.
As amêndoas são classificadas eletronicamente por tamanho e manualmente por cor. As
amêndoas inteiras obtidas no final dessa etapa, após analisadas pelo controle de qualidade são
enviadas para estufagem, que tem por finalidade reduzir a carga microbiana que esteja junto
ao produto.
Após estufadas, as amêndoas passam por um detector de metais, são envasadas em sacos
aluminizados. Nessa etapa a amêndoa crua pode ser vendida ou pode ir para o setor de
torragem de inteiras.
A Figura 3 apresenta o macrofluxograma do processo de torragem a óleo de castanha de caju
inteira.
De acordo com a programação de produção, as amêndoas inteiras cruas aprovadas pela
qualidade são recebidas do setor de material cru para torrar. A castanha é torrada a óleo de
algodão a uma temperatura entre 140 - 145°C e tempo de contato de 4 – 5 minutos.
Após a torragem a castanha passa por exaustores para resfriar a 80°C, adiciona-se sal e o
produto é resfriado a temperatura ambiente por aproximadamente 24 horas.
A etapa da pesagem utiliza uma balança eletrônica que regula de acordo com peso do
conteúdo do produto que está sendo produzido, e então o produto final, pode ser envasado em
sachês ou em latas. Os sachês ou latas são acondicionados em caixas e enviados para
armazenagem.
ETAPAS
RECEBIMENTO
TORRAGEM
RESFRIAMENTO
C/EXAUSTORES
SALINADOR
REPOUSO
PESAGEM
ENVASE
EMPACOTAMENTO
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LSC = 56,37
Média = 55,18
LIC = 54,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38
Média = 3,84
LIC = 0,86
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LSC = 6,83
Média = 3,84
LIC = 0,86
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38
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Figura 6 - Diagrama de causa e efeito para as prováveis causas de variação para conteúdo líquido
Realizado o levantamento e análises das causas, foram tomadas providências para solução das
mesmas. Foram elaborados procedimentos e listas de verificação visando padronização entre
turnos, checagem das máquinas durante a produção e ações corretivas.
Após a solução das causas especiais levantadas, foram coletadas novas amostras, repetindo a
amostragem anterior e montados os gráficos das médias e das amplitudes para verificação da
estabilidade do processo. Os gráficos são mostrados nas Figuras 7 e 8. Avaliando-os, verifica-
se a não existência de pontos fora dos limites de controle. Assim pode-se considerar o
processo sob controle.
LSC = 53,71
Média = 53,10
LIC = 52,49
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
LSC = 3,51
Média = 1,98
10
LIC = 0,44
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LSC = 3,51
Média = 1,98
LIC = 0,44
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
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Figura 10 - Histograma com estudo de capabilidade do processo coleta 2 após eliminação das causas especiais de
variabilidade
Na figura 9, verifica-se que distribuição da variável concentra-se entre o valor alvo e o limite
superior especificado, apresentando valores fora desse limite, constatando processo não capaz
de atender às especificações, com valores de Cp = 1,33 e Cpk = 0,48.
Na figura 10, após a identificação e eliminação de causas especiais de variabilidade, verifica-
se que distribuição da variável concentra-se próximo do valor alvo. Neste caso não foi
verificado nenhum valor fora dos limites de controle, constatando que o processo é capaz de
atender às especificações, com valores de Cp = 2,89 e Cpk = 2,39.
Com o objetivo de manter a variável dentro do controle estatístico elaborou-se um
procedimento e cartas de controle para preenchimento e acompanhamento pelo operador ao
longo do turno de produção. As cartas possuem regras de decisão para impedir a produção de
itens fora de especificação.
4.1.9. Avaliação do sistema CEP implantado
Durante a implantação do CEP devem ser testados os conceitos estatísticos aplicados e a
interação com o sistema de produção em estudo. É importante ter um referencial de controle
de melhoria que possa ser medido para a avaliação antes, durante e depois da implantação.
A avaliação do sistema de Controle Estatístico de Processo é analisada comparando os dados
detectados na primeira coleta de dados, que estavam fora de controle, com a segunda coleta de
dados onde foram estudadas as causas de variabilidade e tomadas ações corretivas. Os
resultados são vistos na tabela 1.
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Verifica-se uma redução da média e desvio padrão do processo. Na primeira coleta constata-
se que a média do processo está 5,4% acima do valor alvo, ocasionando perda financeira para
a empresa. Na segunda coleta, a média do processo ficou apenas 1,4% acima do valor alvo e
um desvio padrão 54% menor do que a primeira coleta, significando redução na variabilidade
do processo.
ESPECIFICAÇÃO PROCESSO COLETA 1 COLETA 2
Cp 1,33 2,89
Fazendo uma análise estimada de perda financeira e comparando a média do processo fora de
controle, a média do processo sob controle estatístico e a média de vendas mensal em
unidades no ano de 2011 (Tabela 2), verifica-se uma perda estimada de faturamento mensal
da empresa em torno de R$ 24.494,45.
Conclui-se que mesmo o processo sendo capaz de atender as especificações e estando sob
controle estatístico, a empresa ainda está embalando o produto com conteúdo líquido acima
do valor alvo, significando perdas financeiras. Verifica-se oportunidade de deslocar o
processo para o valor alvo, reduzindo mais as perdas decorrentes de conteúdo líquido acima
do especificado.
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4. Conclusão
Este trabalho apresentou a implantação do controle estatístico de processo em uma empresa
de beneficiamento de castanha de caju, baseado no monitoramento e controle de variável para
o produto final, objetivando garantir a qualidade do produto através da atuação preventiva.
Foi proposta de implantação para o controle estatístico do processo e as fases de implantação.
Verificou-se inicialmente que o processo estava fora de controle estatístico para a variável em
estudo. Realizou-se um estudo de causas de variabilidade, tomadas as ações corretivas e
verificada a condição de controle estatístico sem a ocorrência de pontos fora de controle.
Na avaliação da capabilidade do processo em atender às especificações estabelecidas,
verificou-se que o processo é capaz, com média um pouco acima do valor alvo, significando
oportunidade de melhoria para centrar no alvo, diminuindo perdas por peso acima.
As cartas de controle foram implantadas como regras de decisão para manter a variável sob
controle, evitando a produção de itens fora de especificação. Os resultados obtidos foram
mostrados, bem como sugestões de melhorias apresentadas.
Os objetivos definidos foram alcançados, sendo os resultados obtidos satisfatórios. Como
trabalhos futuros, o CEP deverá ser implantado na produção dos outros produtos da empresa,
onde se esperam obter benefícios semelhantes aos obtidos no processo enchimento da
castanha de caju torrada sachê de 50 gramas.
Referências
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DALLARETTI, O. F.; DRUMOND, F. B. – Itens de Controle e Avaliação de Processos. Belo Horizonte,
Fundação Christiano Ottoni, 1994.
KUME, Hitoshi. Métodos Estatísticos para Melhoria da Qualidade. 10 ed. São Paulo: Gente, 1993.
MONTGOMERY, D.C. Introdução ao Controle Estatístico da Qualidade. 4 ed, Rio de Janeiro: LTC, 2004.
OAKLAND, J. Gerenciamento da Qualidade Total. São Paulo: Nobel, 1994.
PALADINI, E. Pacheco – Gestão da Qualidade no Processo: a qualidade na produção de bens e serviços. São
Paulo: Atlas,1995.
PARANTHAMAN, D. Controle da qualidade. Technical Teacher´s Training Institute, Madras. São Paulo:
McGraw-Hill, 1990.
ROTONDARO, Roberto G. – Seis Sigma Estratégia Gerencial para a Melhoria de Processos, Produtos e
Serviços. São Paulo: Atlas, 2002.
SLACK, N; CHAMBERS, S.; HARLAND, C.;HARRISON A.; JOHNSTON, R. Administração da
produção. 3ª Ed.São Paulo: Atlas, 2009.
SOARES, M. V. P. P. Gonçalo. Aplicação do controle estatístico de processo em indústria de bebidas: um
estudo de caso 2001. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Programa de pós-graduação em
Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.
VIEIRA, Sonia. Estatística para a Qualidade: como avaliar com precisão a qualidade em produtos e serviços.
Rio de Janeiro: Campus, 1999.
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Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
WERKEMA, Maria Cristina. Ferramentas Estatísticas Básicas para o Gerenciamento de Processos. Vol. 2.
Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1995.
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