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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção


Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

IMPLANTAÇÃO DO CONTROLE
ESTATÍSTICO DE PROCESSOS EM UMA
INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE
CASTANHAS DE CAJU
Samuel Ferrer da Costa e Silva (UFC)
samuel.silva@iracema.com.br
Juliana Matos Monteiro Vieira (UFC)
julianammonteirov@gmail.com
Hanna Pamplona Hortencio (UFC)
hannapamplona@gmail.com
Sergio Jose Barbosa Elias (UFC)
serglias@secrel.com.br
Felipe Costa Timbo (UFC)
feltim@hotmail.com

As organizações deparam-se com problemas que envolvem excessivas


perdas de produção devido a retrabalhos, desperdícios, reclamações
de clientes, decréscimo de vendas, competição no mercado e pressão
da sociedade sobre a melhoria da qualidadde. A sobrevivência de uma
empresa no mercado competitivo atual está diretamente ligada à
produção de manufaturas que conseguem atender às necessidades do
cliente, com qualidade e baixo custo. O controle estatístico do processo
é uma técnica que permite reduzir a variabilidade nas características
de qualidade de um produto, contribuindo para a melhoria contínua da
qualidade, da produtividade, confiabilidade e redução de custo do
processo. O presente trabalho tem como objetivo apresentar um estudo
de caso sobre a proposta de implantação do controle estatístico de
processos (CEP) em uma indústria de beneficiamento de castanhas de
caju. A implantação do CEP na empresa possibilitou o incremento da
capabilidade do processo, com consequentes ganhos de qualidade e
produtividade.

Palavras-chaves: Variabilidade, controle estatístico de processos,


beneficiamento de castanha de caju
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

1. Introdução
O Brasil é um dos líderes mundiais de produção e processamento de castanha de caju,
reconhecido pela qualidade de suas amêndoas e confiabilidade de seus fornecedores. É no
Nordeste que se encontram 100% das indústrias de beneficiamento de castanha de caju do
país.
Nas indústrias alimentícias, os fatores que se destacam entre os concorrentes são a
conformidade e a confiabilidade, garantidos pelo nível de qualidade do produto. As indústrias,
contudo, possuem problemas de qualidade nos produtos que as privam de obter maiores
lucros, além de comprometer a satisfação do cliente.
Nos sistemas de gerenciamento necessários a garantia da qualidade são definidas técnicas que
visam à obtenção e manutenção da qualidade de um produto ou serviço, identificando e
eliminando as causas de problemas de qualidade. Estas técnicas enunciam o controle da
qualidade devendo ser feito através do uso de ferramentas estatísticas (OAKLAND, 1994).
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de implantação do controle
estatístico de processo no setor de torragem de uma indústria de beneficiamento de castanha
de caju situada em Fortaleza, para o produto castanha de caju torrada e salgada em
embalagem sachê de 50 gramas, visando à redução na variação do processo.
2. Revisão bibliográfica
2.1. Controle estatístico de processo
2.1.1. Conceito
Para Paladini (1995), a qualidade deve ser gerada a partir do processo produtivo. Todos os
processos de produção apresentam variações, gerando produtos ou serviços que diferem entre
si. Como a variabilidade só pode ser descrita em termos estatísticos, os métodos estatísticos
desempenham papel central nos esforços para a melhoria da qualidade.
O Controle Estatístico do Processo (CEP) utiliza técnicas estatísticas para analisar o
comportamento do processo de fabricação, efetuar ações corretivas que permitam mantê-lo
dentro de condições preestabelecidas, objetivando evitar a produção de itens de qualidade
insatisfatória, melhorando e assegurando a qualidade dos produtos produzidos.
2.1.2. Variabilidade
A variabilidade de um processo pode ser devida à duas categorias de causas: causas comuns,
variações inerentes a um processo que se encontra sob controle estatístico e é inevitável, e
causas especiais, cujas fontes de variações são relativamente grandes sendo identificáveis,
evitáveis e devem ser eliminadas, pois causam defeitos. Segundo Paladini (1995), o processo
cujas variações são devidas somente a causas aleatórias é um processo sob controle
estatístico.
2.1.3. Cartas de controle
As Cartas de Controle são o principal elemento do CEP. Essa ferramenta utiliza como dados
de entrada medições realizadas de uma característica de qualidade ou parâmetro de processo

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que influencie na qualidade dos produtos manufaturados. As medições são realizadas em


pontos espaçados de tempo e registradas graficamente nas cartas, sendo então comparadas
contra as linhas horizontais, chamadas de limite superior de controle (LSC), linha média (LM)
e limite inferior de controle (LIC). A Figura 1 apresenta um exemplo de carta de controle com
os respectivos limites.

Figura 1 - Carta de controle (Fonte: Adaptado de Rotondaro, 2002)

A teoria estatística desenvolvida por W. A. Shewhart para o cálculo dos limites de controle
afirma que quando o processo é estável, as amostras terão uma probabilidade próxima a um
de estar no intervalo de três desvios-padrões, a partir da média da população. Quando um
valor observado cair fora desse intervalo, assume-se que a hipótese de estabilidade do
processo não é válida, indicando uma causa especial de variação (ROTONDARO, 2002).
As cartas de controle se dividem em duas categorias: variáveis, cujo valor da característica de
qualidade é uma medição (peso, tempo) e atributos, no qual o resultado de uma característica
da qualidade é uma contagem (número de defeituoso, número de erros).
2.2.4. Subgrupos racionais
Para definir um subgrupo ou amostras é necessário compreender a funcionalidade dos
gráficos R e X . O gráfico R mede a amplitude que é a variação dentro de cada amostra, em
um dado momento. No gráfico X é monitorada a variação entre as amostras, ao longo do
tempo. Ao controlar um processo através de gráficos, é preciso maximizar a probabilidade de
ocorrer variação entre amostras e minimizar a probabilidade de haver variação dentro de
amostras (VIEIRA, 1999).
Não se pode estabelecer nenhuma regra geral para a escolha do tamanho e a freqüência do
subgrupo (PARANTHAMAN, 1990). Vieira (1999) apresenta duas estratégias para
estabelecer a coleta de dados: (i) tomar amostras pequenas e freqüentes ou (ii) tomar
amostras grandes e pouco freqüentes.
2.2.5. Cartas de controle para variáveis
As cartas de controle para variáveis são utilizadas quando as características de qualidade
podem ser expressas em uma escala contínua de valores (MONTGOMERY, 2004). Se for
escolhida a forma de medição variável, as cartas usadas dependem do tamanho da amostra e,
conforme: Kume (1993), Montgomery (2004), Costa (2004) e Rotondaro (2002) são: Gráfico
“ X e R” (média e amplitude, Gráfico “ X e S” (média e desvio-padrão, Gráfico “X e R”
(mediana e amplitude) e Gráfico “Xi e AM” (X individual e amplitude móvel).

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2.2.6. Cartas de controle para atributos


As cartas de controle para atributos são utilizadas quando a característica de qualidade
avaliada não pode ser representada numericamente, classificando-se cada item inspecionado
como conforme ou não conforme (MONTGOMERY, 2004). Se for escolhida a forma de
medição por atributo, as cartas usadas irão depender da categoria do gráfico (classificação ou
contagem) e do tamanho da amostra, conforme Kume (1993), Montgomery (2004), Costa
(2004) e Rotondaro (2002) são:
Gráfico p ou da Proporção de Defeituosos, Gráfico np ou do Número Total de Defeituosos,
Gráfico c ou de Número de Defeitos na Amostra e Gráfico u ou de Defeitos por Unidade.
2.2.7. Interpretação das cartas de controle
Um processo é considerado estável quando não apresenta causas especiais, ou seja, quando os
pontos estão dentro dos limites de controle e distribuídos aleatoriamente. O padrão de
comportamento apresentado na carta de controle indica a estabilidade do processo.
Para concluir se um processo está fora de controle estatístico, deve-se observar os critérios a
seguir (DALLARETTI, 1994, KUME, 1993, PARANTHAMAN, 1990, e WERKEMA,
1995): Pontos fora dos limites de controle, periodicidade, seqüência, tendência, aproximação
dos limites de controle, aproximação da linha média.
2.2.8. Capabilidade do processo
O estudo de capabilidade de um processo refere-se à capacidade que este tem de produzir
produtos que atendam às especificações de projeto e conseqüentemente, possam satisfazer as
necessidades dos clientes quanto ao nível de qualidade esperada. Esse estudo é realizado
somente após a eliminação de causas especiais.
Para se avaliar a capabilidade do processo é necessário conhecer a distribuição da variável
que se controla e estimar a média e a variabilidade dos valores individuais, que representam
os limites naturais do processo. A capabilidade do processo se refere à uniformidade do
processo fazendo uma comparação entre os limites naturais de variação da variável de
interesse e os limites especificados para ela (MONTGOMERY, 2001).
A medida mais simples da capabilidade (Cp) é dada pela razão entre a faixa de especificação
e a variação natural do processo (isto é 3 desvios-padrão). (SLACK ET. AL, 1999)
Também pode-se usar a menor capabilidade unilateral (Cpk) como a capabilidade do processo
quando a faixa do processo é viesada em relação a faixa especificada.
3. A empresa
O presente estudo foi realizado em uma empresa de beneficiamento de castanha de caju,
constituída de três fábricas, situadas em Fortaleza-CE. Atualmente a empresa emprega 2.000
funcionários, com um processamento de 70.000 ton de castanha in natura por ano, isto
confere o título de maior empresa nacional do ramo. A empresa produz amêndoas de
castanhas de caju cruas e torradas para o mercado interno, exportação e produtos para
aperitivos snacks vendidos internamente.
É apresentado na Figura 2 o macro fluxograma do processo do beneficiamento da castanha de
caju, bem como as descrições das etapas desses processos.

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Toda castanha de caju que chega às fábricas é pesada em balanças rodoviárias e são
classificadas por tamanho nos tipos: pequena, média 1, média 2 e graúda. Este processo é
feito em classificadores de rolos, que consistem em cilindros rotatórios com paredes formadas
por chapas perfuradas.
As castanhas separadas por tipo são acondicionadas em silos e imersas em água. Essa etapa é
chamada de tratamento e o objetivo é aumentar a umidade da casca e da amêndoa para
facilitar a retirada do óleo da casca e proteger a amêndoa da alta temperatura do cozimento.

ETAPAS

PESAGEM

SECAGEM

CLASSIFICAÇÃO

LAVAGEM

UMIDIFICAÇÃO/
REPOUSO

COZIMENTO

RESFRIAMENTO

DECORTICAGEM

PENEIRAMENTO

ESTUFAGEM

DESPELICULAGEM

AMÊNDOAS INTEIRAS AMÊNDOAS EM PEDAÇOS

SELEÇÃO SELEÇÃO DE
DE REJEITOS REJEITOS

CORREÇÃO SEPARAÇÃO
DE REJEITOS POR TAMANHO

CLASSIFICAÇÃO CORREÇÃO DE
TAMANHO REJEITOS

SEPARAÇÃO
POR COR

ESTUFAGEM

EMBALAGEM

Fonte: Empresa pesquisada

Figura 2 - Macrofluxograma – Beneficiamento de Castanha de Caju

O cozimento tem por objetivo fragilizar a casca para a decorticagem. O cozimento é realizado
no próprio LCC (líquido da castanha de caju) a uma temperatura de aproximadamente de
220°C. As castanhas após resfriadas são transportadas para os decorticadores onde é realizada

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a abertura da castanha mecanicamente por impacto. São separadas as amêndoas das cascas
através de peneiras e máquinas pneumáticas.
Após isso, as amêndoas são enviadas para estufa contínua que tem por objetivo reduzir a
umidade das amêndoas, facilitando a retirada da película na próxima etapa. O processo de
despeliculamento acontece através de uma corrente de ar comprimido, injetado em um cesto
metálico contendo uma tela perfurada regulada por uma mola, fazendo com que as castanhas
se atritem umas contra as outras, retirando a película.
Através da separação por peneiras, as amêndoas inteiras são separadas dos pedaços que
seguem para o setor de pedaços da fábrica e são vendidas, ao final do processo como
subprodutos.
As amêndoas são classificadas eletronicamente por tamanho e manualmente por cor. As
amêndoas inteiras obtidas no final dessa etapa, após analisadas pelo controle de qualidade são
enviadas para estufagem, que tem por finalidade reduzir a carga microbiana que esteja junto
ao produto.
Após estufadas, as amêndoas passam por um detector de metais, são envasadas em sacos
aluminizados. Nessa etapa a amêndoa crua pode ser vendida ou pode ir para o setor de
torragem de inteiras.
A Figura 3 apresenta o macrofluxograma do processo de torragem a óleo de castanha de caju
inteira.
De acordo com a programação de produção, as amêndoas inteiras cruas aprovadas pela
qualidade são recebidas do setor de material cru para torrar. A castanha é torrada a óleo de
algodão a uma temperatura entre 140 - 145°C e tempo de contato de 4 – 5 minutos.
Após a torragem a castanha passa por exaustores para resfriar a 80°C, adiciona-se sal e o
produto é resfriado a temperatura ambiente por aproximadamente 24 horas.
A etapa da pesagem utiliza uma balança eletrônica que regula de acordo com peso do
conteúdo do produto que está sendo produzido, e então o produto final, pode ser envasado em
sachês ou em latas. Os sachês ou latas são acondicionados em caixas e enviados para
armazenagem.
ETAPAS

RECEBIMENTO

TORRAGEM

RESFRIAMENTO
C/EXAUSTORES

SALINADOR

REPOUSO

PESAGEM

ENVASE

EMPACOTAMENTO

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Fonte: Empresa pesquisada

Figura 3 - Macrofluxograma – Torragem a Óleo de Castanha de Caju Inteira

4. Proposta para implantação do CEP


4.1. Metodologia proposta e aplicação
Para o desenvolvimento deste estudo, a empresa selecionou o setor de torragem e a
característica de qualidade escolhida foi o conteúdo líquido do produto amêndoa de castanha
de caju torrada em embalagem sachê de 50 gramas.
Foi definida a metodologia para implantação do CEP baseada em um modelo apresentado por
Soares (2001), composto por 10 etapas.
4.1.1. Seleção da Linha Piloto
Foi definido o local de teste do modelo de implantação do CEP através de uma reunião entre
diretoria, gerência de produção e qualidade.
Escolheu-se o setor de torragem, por ser um processo simples e estar em expansão devido o
aumento de vendas no mercado interno. O produto escolhido foi a castanha de caju torrada em
embalagem sachê de 50 gramas e a característica de qualidade a ser estudada, o conteúdo
líquido do produto.
4.1.2. Formação da equipe de trabalho
Consiste em selecionar quais os funcionários envolvidos no projeto e definir o programa de
treinamento dos funcionários. O produto é produzido em uma linha com total de 21
funcionários.
Para o desenvolvimento da implantação do CEP montou-se uma equipe de operadores,
líderes, supervisores e analistas responsáveis pela produção do produto, além do gerente de
produção e coordenador de qualidade. Ministrou-se um seminário sobre CEP para a equipe.
4.1.3. Escolha das características da qualidade do produto
Definiu-se com o Departamento Técnico e Qualidade quais as Características da Qualidade
críticas do produto, do ponto de vista empresa e consumidor.
A característica escolhida foi o conteúdo líquido do produto, pois apresentou uma ocorrência
de notificação do INMETRO para o produto não-conforme nessa característica.
4.1.4. Elaborar o sistema de coleta de dados
Definiu-se o modelo de coleta de dados e verificou-se se os equipamentos que serão utilizados
nas medições são compatíveis com o nível de qualidade exigida nas especificações.
Para coleta de dados foi elaborada uma folha de verificação, na qual são registrados data,
turno, linha de produção, produto e o valor do conteúdo líquido pesado. Os dados coletados
são digitados em uma planilha para cálculos estatísticos e elaboração das cartas de controle.
4.1.5. Coleta de dados
Essa etapa é composta pela implementação do sistema de coleta de dados bem como a
sistemática de coleta.

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Decidiu-se pela coleta de amostras de tamanho n=10 e freqüência de 30 minutos. As amostras


de sachês foram coletadas após a etapa de selagem na máquina, em seguida pesadas em uma
balança e os valores registrados na folha de verificação.
O valor do Limite Inferior de Especificação (LIE) para o conteúdo líquido foi estabelecido
pelo INMETRO, que fixa os procedimentos para execução dos exames de verificação
quantitativa em produtos pré-medidos comercializados em unidade de volume e conteúdos
nominais iguais. Ele estabelece valores para Tolerância Individual (Ti) e critérios de
Aceitação para a Média (CAx) . O Limite Superior de Especificação (LSE) foi estabelecido
pelo departamento de engenharia da empresa.
Um fator importante na busca dos dados corretos é que o equipamento de medição utilizado
na análise da característica do produto esteja calibrado. Para isso, a balança utilizada foi
previamente calibrada em laboratório credenciado de metrologia.
4.1.6. Montagem dos gráficos de controle
Foram definidos os tipos de gráficos de controle a serem usados. Sendo conteúdo líquido uma
variável contínua expressa em números, escolheu-se dentre os gráficos de controle para
variáveis, os gráficos X e R e n = 10.
Os dados coletados foram lançados em uma planilha para elaboração dos gráficos X e R e
cálculos dos limites de controle. Pode-se observar nas figuras 4 e 5 o comportamento dos
dados.

LSC = 56,37

Média = 55,18

LIC = 54,00

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38

Fonte: Empresa pesquisada

Figura 4 - Gráfico das Médias dos valores de conteúdo líquido coleta 1


LSC = 6,83

Média = 3,84

LIC = 0,86

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LSC = 6,83

Média = 3,84

LIC = 0,86

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38

Fonte: Empresa pesquisada


Figura 5 - Gráfico das Amplitudes para a variável conteúdo líquido coleta 1
4.1.7. Análise dos gráficos de controle
A etapa consiste na interpretação das informações obtidas nos gráficos elaborados com os
dados coletados.
Analisando o gráfico da Figura 4 para as médias de conteúdo líquido, verificou-se a presença
de pontos fora dos limites de controle, (um ponto acima do LSC e outro abaixo do LIC)
verificando-se a presença de causas especiais, caracterizando um processo fora de controle
estatístico. O gráfico da Figura 5 para as amplitudes ratifica esta conclusão, ao apresentar
causas especiais, com vários pontos excedendo os limites de controle.
As amostras são consequência de causas especiais por excederem limites de controle ou por
apresentarem comportamento tendencioso nos dados, ou seja, pontos em tendência crescente
ou decrescente, além de excesso de variabilidade.
O comportamento dessas amostras foi observado em toda a população coletada durante mais 4
programações de produção, confirmando a necessidade de um estudo maior dos agentes
causadores desse descontrole no processo.
Como forma de análise das possíveis causas especiais para variação de conteúdo líquido, foi
feita uma reunião e realizou-se um “brainstorming” para elaboração de um diagrama de
causa e efeito para o problema.
O diagrama de causa e efeito é utilizado para mostrar a relação entre uma característica da
qualidade e os fatores de causa de um processo, ajudando a identificar a causa que pode estar
afetando o processo. A Figura 6 mostra o diagrama de causa e efeito.

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Fonte: Empresa pesquisada

Figura 6 - Diagrama de causa e efeito para as prováveis causas de variação para conteúdo líquido

Realizado o levantamento e análises das causas, foram tomadas providências para solução das
mesmas. Foram elaborados procedimentos e listas de verificação visando padronização entre
turnos, checagem das máquinas durante a produção e ações corretivas.
Após a solução das causas especiais levantadas, foram coletadas novas amostras, repetindo a
amostragem anterior e montados os gráficos das médias e das amplitudes para verificação da
estabilidade do processo. Os gráficos são mostrados nas Figuras 7 e 8. Avaliando-os, verifica-
se a não existência de pontos fora dos limites de controle. Assim pode-se considerar o
processo sob controle.

Atingido o controle estatístico, é fundamental avaliar se o processo é capaz de atender às


especificações, através da análise gráfica e do cálculo dos índices de capabilidade do
processo.

LSC = 53,71

Média = 53,10

LIC = 52,49

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Fonte: Empresa pesquisada

Figura 7 - Gráfico das Médias dos valores de conteúdo líquido coleta 2

LSC = 3,51

Média = 1,98

10
LIC = 0,44
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LSC = 3,51

Média = 1,98

LIC = 0,44

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Fonte: Empresa pesquisada

Figura 8 - Gráfico das Amplitudes para a variável conteúdo líquido coleta 2

4.1.8. Cálculo dos índices de capabilidade


Além dos cálculos destes índices numéricos, é feita uma análise gráfica da capabilidade do
processo com a interpretação do histograma dos dados coletados. Esta etapa será executada na
avaliação da característica da qualidade cujo processo pode ser considerado sob controle
estatístico.
Para análise e cálculo da capabilidade do processo através da avaliação gráfica utilizou-se o
software MINITAB. As figuras 9 e 10 apresentam os histogramas com uma avaliação da
capabilidade do processo para o conteúdo líquido na primeira coleta, onde o processo foi
considerado fora de controle, e a segunda coleta após eliminação das causas de variabilidade.
Cada histograma representa os valores individuais das amostras comparando-as com os
limites superior e inferior especificados e cálculos de Cp e Cpk.

Process Capability of Peso

LSL Target USL


P rocess Data Within
LS L 47,82 Ov erall
Target 52,32
USL 56,82 P otential (Within) C apability
S ample M ean 55,1843 Cp 1,33
S ample N 380 C P L 2,18
C P U 0,48
S tDev (Within) 1,12645
S tDev (O v erall) 1,28122 C pk 0,48

48,0 49,5 51,0 52,5 54,0 55,5 57,0 58,5

Fonte: Empresa pesquisada

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Figura 9 - Histograma com estudo de capabilidade do processo coleta 1

Process Capability of Peso

LSL Target USL


P rocess Data Within
LS L 47,82 Ov erall
Target 52,32
USL 56,82 P otential (Within) C apability
S ample M ean 53,1017 Cp 2,89
S ample N 240 C P L 3,40
C P U 2,39
S tDev (Within) 0,518524
S tDev (O v erall) 0,597803 C pk 2,39

48,0 49,2 50,4 51,6 52,8 54,0 55,2 56,4

Fonte: Empresa pesquisada

Figura 10 - Histograma com estudo de capabilidade do processo coleta 2 após eliminação das causas especiais de
variabilidade

Na figura 9, verifica-se que distribuição da variável concentra-se entre o valor alvo e o limite
superior especificado, apresentando valores fora desse limite, constatando processo não capaz
de atender às especificações, com valores de Cp = 1,33 e Cpk = 0,48.
Na figura 10, após a identificação e eliminação de causas especiais de variabilidade, verifica-
se que distribuição da variável concentra-se próximo do valor alvo. Neste caso não foi
verificado nenhum valor fora dos limites de controle, constatando que o processo é capaz de
atender às especificações, com valores de Cp = 2,89 e Cpk = 2,39.
Com o objetivo de manter a variável dentro do controle estatístico elaborou-se um
procedimento e cartas de controle para preenchimento e acompanhamento pelo operador ao
longo do turno de produção. As cartas possuem regras de decisão para impedir a produção de
itens fora de especificação.
4.1.9. Avaliação do sistema CEP implantado
Durante a implantação do CEP devem ser testados os conceitos estatísticos aplicados e a
interação com o sistema de produção em estudo. É importante ter um referencial de controle
de melhoria que possa ser medido para a avaliação antes, durante e depois da implantação.
A avaliação do sistema de Controle Estatístico de Processo é analisada comparando os dados
detectados na primeira coleta de dados, que estavam fora de controle, com a segunda coleta de
dados onde foram estudadas as causas de variabilidade e tomadas ações corretivas. Os
resultados são vistos na tabela 1.

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Verifica-se uma redução da média e desvio padrão do processo. Na primeira coleta constata-
se que a média do processo está 5,4% acima do valor alvo, ocasionando perda financeira para
a empresa. Na segunda coleta, a média do processo ficou apenas 1,4% acima do valor alvo e
um desvio padrão 54% menor do que a primeira coleta, significando redução na variabilidade
do processo.
ESPECIFICAÇÃO PROCESSO COLETA 1 COLETA 2

LSE 56,82 LSC 56,37 53,71

ALVO 52,32 MÉDIA 55,18 53,10

LIE 47,82 LIC 54,00 52,49

Desv Pad 1,28 0,59

Cp 1,33 2,89

Cpk 0,48 2,39

Tabela 1 - Comparação do processo fora de controle com o processo sob controle

Fazendo uma análise estimada de perda financeira e comparando a média do processo fora de
controle, a média do processo sob controle estatístico e a média de vendas mensal em
unidades no ano de 2011 (Tabela 2), verifica-se uma perda estimada de faturamento mensal
da empresa em torno de R$ 24.494,45.
Conclui-se que mesmo o processo sendo capaz de atender as especificações e estando sob
controle estatístico, a empresa ainda está embalando o produto com conteúdo líquido acima
do valor alvo, significando perdas financeiras. Verifica-se oportunidade de deslocar o
processo para o valor alvo, reduzindo mais as perdas decorrentes de conteúdo líquido acima
do especificado.

Média de vendas mensal 2007 (unid) 428.298

Média de peso por unidade no processo fora de controle (g) 55,18

Média de peso por unidade no processo sob controle (g) 53,1

Redução da média em gramas por unidade 2,08

Perda média mensal em peso (g) 890.860

Perda média mensal em unidades de produto 16.777

Valor de venda por unidade (R$) 1,46

Perda mensal de faturamento (R$) R$ 24.494,45

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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

Perda anual de faturamento (R$) R$ 293.933,42

Tabela 2 - Análise estimada de perda financeira

4. Conclusão
Este trabalho apresentou a implantação do controle estatístico de processo em uma empresa
de beneficiamento de castanha de caju, baseado no monitoramento e controle de variável para
o produto final, objetivando garantir a qualidade do produto através da atuação preventiva.
Foi proposta de implantação para o controle estatístico do processo e as fases de implantação.
Verificou-se inicialmente que o processo estava fora de controle estatístico para a variável em
estudo. Realizou-se um estudo de causas de variabilidade, tomadas as ações corretivas e
verificada a condição de controle estatístico sem a ocorrência de pontos fora de controle.
Na avaliação da capabilidade do processo em atender às especificações estabelecidas,
verificou-se que o processo é capaz, com média um pouco acima do valor alvo, significando
oportunidade de melhoria para centrar no alvo, diminuindo perdas por peso acima.
As cartas de controle foram implantadas como regras de decisão para manter a variável sob
controle, evitando a produção de itens fora de especificação. Os resultados obtidos foram
mostrados, bem como sugestões de melhorias apresentadas.
Os objetivos definidos foram alcançados, sendo os resultados obtidos satisfatórios. Como
trabalhos futuros, o CEP deverá ser implantado na produção dos outros produtos da empresa,
onde se esperam obter benefícios semelhantes aos obtidos no processo enchimento da
castanha de caju torrada sachê de 50 gramas.
Referências
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DALLARETTI, O. F.; DRUMOND, F. B. – Itens de Controle e Avaliação de Processos. Belo Horizonte,
Fundação Christiano Ottoni, 1994.
KUME, Hitoshi. Métodos Estatísticos para Melhoria da Qualidade. 10 ed. São Paulo: Gente, 1993.
MONTGOMERY, D.C. Introdução ao Controle Estatístico da Qualidade. 4 ed, Rio de Janeiro: LTC, 2004.
OAKLAND, J. Gerenciamento da Qualidade Total. São Paulo: Nobel, 1994.
PALADINI, E. Pacheco – Gestão da Qualidade no Processo: a qualidade na produção de bens e serviços. São
Paulo: Atlas,1995.
PARANTHAMAN, D. Controle da qualidade. Technical Teacher´s Training Institute, Madras. São Paulo:
McGraw-Hill, 1990.
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Serviços. São Paulo: Atlas, 2002.
SLACK, N; CHAMBERS, S.; HARLAND, C.;HARRISON A.; JOHNSTON, R. Administração da
produção. 3ª Ed.São Paulo: Atlas, 2009.
SOARES, M. V. P. P. Gonçalo. Aplicação do controle estatístico de processo em indústria de bebidas: um
estudo de caso 2001. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Programa de pós-graduação em
Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.
VIEIRA, Sonia. Estatística para a Qualidade: como avaliar com precisão a qualidade em produtos e serviços.
Rio de Janeiro: Campus, 1999.

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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
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Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

WERKEMA, Maria Cristina. Ferramentas Estatísticas Básicas para o Gerenciamento de Processos. Vol. 2.
Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1995.

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