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A ética está para a filosofia enquanto que moral está para religiosidade.
Mesmo a ética menor também chamada de etiqueta4, existe para prover a
melhor convivência de diferentes pessoas que habitam o mesmo
contexto.
A ética proposta pela modernidade elabora cada base a partir daquilo que
as suas autoridades prescrevem como verdades. O poder desses peritos
funciona como o legislativo e o judiciário6 ao mesmo tempo.
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Tabula rasa é expressão latina que significa literalmente tábua raspada e tem o sentido de folha de
papel em branco. A palavra tabula, refere-se às tábuas cobertas com fina camada de cera, usada na
Antiga Roma, para escrever, fazendo-se incisões sobre a cera com uma espécie de estilete. Como
metáfora, o conceito de tabula rasa foi utilizado por Aristóteles em oposição a Platão e difundido
principalmente por Alexandre de Afrodísias, para indicar uma condição em que a consciência é
desprovida de qualquer conhecimento inato, tal como uma folha em branco, a ser preenchida.
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Otto Ohlendorf (1907-1951) foi oficial alemão que serviu na SS nazista com a patente de
Gruppenführer e também foi chefe da Inland-SD (responsável pela inteligência e pela segurança
interna), uma subdivisão da Sicherheitsdienst (SD). Ohlendorf foi comandante da Einsatzgruppe D, que
perpetrou vários assassinatos e outras atrocidades na Moldávia, no sul da Ucrânia, na Crimeia e,
durante 1942, no norte do Cáucaso russo. Por estas ações, Otto Ohlendorf foi considerado uma das
figuras mais proeminentes do Holocausto. Em 1951, ele foi condenado e executado por crimes de
guerra e contra a humanidade cometidos durante a Segunda Guerra Mundial.
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O julgamento de Nuremberg constituiu uma série de tribunais militares, realizado pelos Aliados que
venceram a Segunda Grande Guerra Mundial, conhecidos pelos processos contra os proeminentes
membros da liderança política, militar e econômica da Alemanha Nazista. Os julgamentos ocorreram na
cidade de Nuremberg, na Alemanha, e ocorrera entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de
1946. Oito juízes representaram os quatro países vencedores da referida guerra e compuseram a corte.
O presidente do tribunal era britânico, mas coube aos norte-americanos o papel mais relevante na
preparação do processo. Os países neutros não tiveram nenhuma participação. Os juristas têm suscitado
a questão das violações de direitos fundamentais com a realização de um tribunal ad hoc, um tribunal
de exceção, sem a escolha de advogados pelos réus. Segundo alguns doutrinadores, seria um tribunal de
exceção e não poderia punir com a pena capital, mas somente com a prisão, entre outras formas de
responsabilização. Porém, em Nuremberg, foram os vencedores que ditaram todas as regras e todo o
funcionamento do tribunal, mesmo em detrimento do respeito aos direitos fundamentais dos réus, bem
como o princípio do juiz natural tão conhecido pelos ingleses.
A aplicação da justiça dos vencedores poderia igualmente explicar porque jamais fora cogitada a
possibilidade de punição ou mesmo julgamento dos responsáveis pela morte de civis em decorrência de
inúmeros bombardeios aliados contra as cidades alemães como Dresden, Colônia, Darmstadt,
Hamburgo, Stuttgart e Konisberg entre outras ou mesmo pelo lançamento de bombas atômicas sobre
Hiroshima e Nagasaki.
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contam com a força para fazê-las cumprir, são sujeitos que desenvolvem o
senso de responsabilidade necessário para lidar com situações que exigem
consenso.
A não percepção dos primeiros sinais de que algo pode dar ou já está
dando errado com nossa capacidade de conviver e, com a convivência
com a comunidade humana, e que, se nada for feito, as coisas poderão
piorar, significa que o perigo saiu de nossa vista e, tem sido subestimado
por tempo suficiente para desabilitar as interações humanas como fatores
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Mas o que é o bem em si? Aristóteles tinha dito, a felicidade. Kant, contrapondo-se a essa velha
resposta, afirma que é a boa vontade. Para ele, todas as capacidades humanas podem causar resultados
daninhos, quando a pessoa que os maneja não é boa. E o poder, a honra, a alegria e tudo o mais que
ligamos à palavra felicidade não geram ações boas, senão quando elas são movidas por uma boa
vontade. Assim, embora negue a palavra aristotélica, Kant reforça a desvinculação aristotélica entre o
bem e o prazer.
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Conforme Bauman nos instigou, há uma outra indagação é feita: Por que
devo ser moral? E daí, surgiram outras questões: O que me torna
responsável pelo Outro? Esses questionamentos são cada vez mais
atormentantes por conta da liquefação da ética e a liquefação do mundo.
“Se não houver essa força e essa autoridade, os seres humanos estarão
abandonados ao seu próprio juízo e à sua própria vontade. E, estes, como
os filósofos argumentam e os pregadores tentam fazer com que as
pessoas entendam, e podem dar à luz apenas o pecado e o mal; como os
teólogos nos explicaram de forma convincente, não se pode confiar neles
para produzir com comportamento correto ou fazer passar um julgamento
correto. Não pode haver algo como uma “moral eticamente infundada”, e
uma moralidade autofundada é, gritante e deploravelmente, algo
infundado do ponto de vista ético. De uma coisa podemos ter certeza: não
importa quanta moralidade haja ou possa haver numa sociedade que
tenha reconhecido estar sem chão, sem propósito e diante do abismo
atravessado apenas por uma frágil prancha feita por convenções, ela pode
apenas ser uma moral eticamente infundada. Como tal, é e continuará a
ser incontrolável, imprevisível. Ela se constrói da mesma maneira pode se
especificam o sentido da natureza e, introduzem ao lado de uma acepção física do termo, também uma
dimensão mais antropológica, à qual dão maior destaque. Na discussão contemporânea sobre a ética
há temas da vida humana sempre apresentada pelas possibilidades oferecidas pela ciência e pela
técnica de intervir sobre as estruturas da vida.
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O pensamento de Horkheimer é um dos mais importantes da filosofia contemporânea. Ao enfrentar a
"razão instrumental" com sua "teoria crítica", ele denuncia essa razão como criadora de perigosos mitos,
situando-se em um marxismo não-ortodoxo, ligado também a certo humanismo individualista.
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O homem é, portanto, um ser que produz a si mesmo, natural e socialmente: (...) os indivíduos fazem-
se uns aos outros, tanto física quanto espiritualmente (...). Em outros termos, A produção da vida, tanto
da própria, no trabalho, como da alheia, na procriação, aparece agora como uma dupla relação: de um
lado, como relação natural, de outro, como relação social – social no sentido de que se entende por isso
a cooperação de vários indivíduos, quaisquer que sejam as condições, o modo e a finalidade.
O processo de autoconstrução dos seres humanos é ao mesmo tempo o processo de produção das
individualidades sociais e da própria sociabilidade.
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Bauman denominou a Ética na Pós-Modernidade como a “Era da Moral”. Esse fundamento nuclear
dos fenômenos éticos não consegue ser exaurido dentro de normas precisas e calculáveis. A Moral, para
o referido autor, não pode ser demonstrada tampouco logicamente deduzida. A mencionada categoria é
contingente, ambivalente, incontível.
É a única autoridade capaz de orientar os seres humanos para a compreensão de si, pois flui na
incerteza do desejo.
A ambivalência retrata o caráter fragmentário da vida. É a incerteza produzida pelas nossas percepções
sobre o que é – ou venha a ser – razoável e irrazoável. Essas “conseqüências não-antecipadas ”mostram
a necessária ponderação na qual precisa ser realizada a fim de compreender o trânsito entre os aspectos
“dicotômicos” da vida.
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“Numa moralidade21 que vem antes de o ser existir, não há nada para
justificar minha responsabilidade, e ainda, menos para determinar que eu
seja responsável e, que a responsabilidade é minha; a determinação e
justificação são traços do ser, do ser ontológico, o único ser que há, afinal.
E o leitor razoável estará certo ao apontar que “antes do ser” não existe
nada e mesmo se existisse, não saberíamos nada sobre ele de alguma
forma – não da forma – como sabemos sobre fatos (...) não existe nenhum
outro lugar para a moralidade senão antes do ser (...)”. (In: BAUMAN,
Zygmunt. Ética Pós-Moderna).
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Jurandir Freire Costa, citando Bauman e Ehrenberg, afirma que “o indivíduo incerto de hoje se tornou
um ‘colecionador de sensações’ e não mais um asceta dos sentimentos (...). Pouco a pouco, aprendemos
a querer dos ‘sentimentos’ o que esperamos das ‘sensações’. Ou seja, assim como na gramática das
sensações aprendemos a repudiar com veemência toda dor ou qualquer desprazer, também queremos
evitar sentimentos que nos façam sofrer. O autor assinala que “no presente, o comércio das imagens e
sensações é a âncora identificatória dos indivíduos. Saber quem ou o que se é significa tomar a) o que se
‘experimenta’ como sensações e b) o que é oferecido nos modelos publicitários como critério para saber
o que se deve ser. As drogas legais ou ilegais, os cuidados corporais, as imagens televisivas deixaram de
ser meios marginais na construção das identidades subjetivas; tornaram-se os instrumentos por
excelência do acesso ‘às verdades da nossa natureza’. Em função do poder de compra, temos acesso a
alguns deles ou a todos eles, mas nenhum grupo socioeconômico, pelo menos nas cidades, escapa de
sua ação”.
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Afirmou Bauman que o postulado de universalidade sempre foi demanda sem endereço, ou um pouco
mais concretamente, espada com o gume voltado para grupo seleto. Sempre estavam na mira do
canhão da universalidade os costumes paroquianos, práticas comunais.
Nas tentativas de libertar o ser humano do jugo dos mitos, da religião e do despotismo acabou-se por
impor determinados limites que, à luz dos nossos dias, caminharam na direção oposta a seus propósitos.
O esforço desmedido da modernidade em conquistar um código que pudesse resolver tais diferenças e
ambiguidades resultou em uma ilusão. Por outro lado, o indivíduo viu-se obrigado a cumprir uma
moralidade determinada pelo Estado na sua legislação. O que significaria emancipação e autonomia das
práticas locais configurou-se determinantemente na heteronomia legalista da nação-Estado; a
moralidade passa a ser determinada nos códigos e, paulatinamente, torna-se a única obrigação moral
dos indivíduos. Desta forma, até o próprio Estado viu-se vítima de seu postulado, pois o postulado da
universalidade não só alui as prerrogativas morais das comunidades agora transformadas em unidades
administrativas da nação-Estado homogênea, mas também torna inteiramente insustentável a
pretensão de ser a única autoridade moral.
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O processo de identidades e culturas se reflete, por exemplo, no Homem Aranha o alter ego de Peter
Parker que pertence à galeia daqueles que adquiriram seus poderes em laboratório. Ele é Peter Parker,
um estudante, uma pessoa comum que adquire seus poderes após ter sido picado por uma aranha
radioativa. Seus poderes passaram a ser de aracnídeos e não de seu próprio corpo, de ser humano.
Assim, o herói vive o duplo e a mesma necessidade de se esconderem entre os comuns.
O personagem carrega em seu mito de criação os traços de americanismo que auxiliam na aproximação
do leitor para si e difusão de valores implícitos, que nos ensinam comportamentos e pensamentos
direcionados para o que sentir, pensar, acreditar, temer e desejar.
Peter Parker faz parte do proletariado e nem sempre se considera triunfante em suas missões, concebe
o jornal como uma metáfora da concentração burguesa dos meios de produção, trata os problemas
sociais como algo maior que os conflitos psicológicos de um indivíduo. O herói tem conflitos complexos
em relação aos seus papéis sociais.
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O homem é ser moral porque é um ser de consciência, ou seja, que tem consciência, um ser de
convivência e um ser de liberdade. É necessário, antes de tudo, que o homem se assuma como um
sujeito, dotado de individualidade irredutível a outras individualidades, uma existência diferente e
diferenciada. O núcleo central da moralidade é o eu, mas não um eu encerrado sobre si mesmo, autista,
reduzido a uma prisão aquário, antes um eu aberto ao exterior, curioso e em trânsito.
Aquilo que faz com que se possa perceber-se como sujeito e, constituir-se como indivíduo é a
consciência. Este "eu" de que me apercebo através da consciência não se limita a um corpo ou um
conjunto de sensações, mas também não se reduz ao espírito.
Se não posso ou não devo considerar os sentidos e os sentimentos como ilusões também não posso
esquecer a importância do pensamento como instrumento precioso de investigação da realidade. Este
eu de que me apercebo através da consciência não é uma identidade estática, inalterável, mas uma
complexidade e um edifício em construção.
É pela consciência que o homem se distingue do animal, é pela consciência que o homem se define
como ser moral. É mediante a consciência que o homem se define como ser moral. É mediante a
consciência que alguns atos do homem se convertem em ações significativas e transformadoras do
próprio homem. É a consciência que possibilita quer uma visão retrospectiva quer projetiva da realidade
e das nossas ações e desta forma ultrapassar a sensação do imediato, tornando-nos seres de horizontes
amplos.
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fim de sua voz tornar-se audível, mas nem sempre esse fenômeno é
possível.
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O poder disciplinar segundo Bauman não pode mais ser exercido pela comunidade, por métodos
tradicionais, eu te observo e você me observa. Era necessário um agente novo, mais poderoso e capaz
de projetar, organizar, gerenciar e acompanhar conscientemente o novo problema criado que seria as
legiões de homens livres e as classes perigosas. Esse agente era o Estado. Assim nos séculos XVI e XVII
em França e Reino Unido, a atividade legislativa era voltada ao combate às classes perigosas.
Já na pós-modernidade há um aperfeiçoamento crescente dos mecanismos de controle, o
monitoramento através de câmeras e leituras e reconhecimentos ergométricos. O Estado-educador é
responsável de fazer os seres humanos ascenderem à perfeição exigida pela ordem social, da forma
adequada e renomeada de bem-comum.
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Mas por que devo ser moral? A resposta é complexa. A Moral não se
justifica, mas existe no momento em que há a pessoa.
da justiça. Por isso que Lévinas afirmou que a relação com o outro é, ela mesma, justiça.
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"Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar".
Trecho da letra e música Antonio Machado,
Intitulada Cantares. Tradução de Maria Tereza Almeida Pina.
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A relatividade não se coaduna com o uso moral da palavra bem, na medida em que o Bem moral deve
ser absoluto, no sentido de ser bom em si. Na República de Platão, Glaucon pergunta a Sócrates: “não te
parece que há uma espécie de bem em si mesmo, que gostaríamos de possuir, não por desejarmos as
suas consequências, mas por estimarmos por si mesmo”? (357ª.C). Este é o bem moral, que reivindica
para si uma espécie de incondicionalidade, o que faz ser bom independentemente de suas
consequências.
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A palavra ética provém do grego ethos que significa morada, habitat, refúgio, ou seja, o lugar onde as
pessoas habitam. Aristóteles acreditava que a ética é caracterizada pela finalidade e pelo objetivo a ser
atingido, que seria viver bem, ter uma boa vida, juntamente e para os outros.
Também pode ser definida como um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do
comportamento humano na tentativa de explicar as regras morais de forma racional e fundamental.
A ética é parte da filosofia que estuda a moral, pois reflete e questiona sobre as regras morais.
Moral é originária do termo latino morus e se refere aos costumes, isto é, aquilo que se consolidou
como sendo verdadeiro do ponto de vista da ação. Moral é fruto de padrão cultural, social vigente e
engloba as regas tidas como necessárias para o bom convívio entre os membros que fazem parte de
determinada sociedade.
A moral é formada pelos valores previamente estabelecidos pela própria sociedade e os
comportamentos socialmente aceitos e passíveis de serem questionados pela ética.
No sentido prático, a finalidade da ética e da moral apesar de ser bastante semelhante, pois ambas são
responsáveis por construir as bases que guiarão a conduta do homem determinando o seu caráter e a
sua forma de se comportar em determinada sociedade.
Vásquez aponta que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prática. Uma
completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o
agir são indissociáveis.
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Mas que disposição da alma é uma excelência moral?
Para Aristóteles, as deficiências morais são apresentadas como excessos, e a posição intermediária que
anula esses excessos é a medida adequada de uma ação moralmente adequada. Com relação ao medo,
por exemplo, uma pessoa pode ser covarde (quando o medo excessivo leva ao não enfrentamento dos
riscos) ou temerária (quando a excessiva falta de medo faz com que os riscos sejam simplesmente
desconsiderados).
No meio termo, está o corajoso, que tem a dimensão adequada da ação, assumindo os riscos
necessários.
Porém, o termo médio não é equidistante dos extremos, na medida em que a coragem se aproxima
muito mais da temeridade que da covardia. Uma ação temerária pode até ser confundida com uma
corajosa, mas uma ação covarde está muito distante desses dois pontos.
Do mesmo modo, a liberalidade pode às vezes ser confundida com a prodigalidade, mas nunca com
avareza. Assim, o homem excelente deve ser capaz de identificar em cada ação os extremos a que
levaria uma deficiência moral, e ter uma disposição moral que aponte para a realização do meio termo
justo, que se coloca entre eles.
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A definição sobre o que seja bom, bem como os seus contrários, não pode
ser elaborada pela mistura de percepções do homem comum. A trilha
desenhada pelos seus interesses é confusa, ambígua e incerta.
Frise-se que nenhuma ação moral existe fora do contexto social. Por esse
motivo, qualquer atitude é uma escolha moral. Envolve um juízo de
preferência na qual precisa fundamentado pela razão lógica.
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Podemos intuir que as moralidades empresariais são pode demais frágeis para resistir aos princípios
de conduta fundantes que as regulam. Os próprios processos éticos dos agentes empresariais, dos
sócios ou dos acionistas, levando em conta as definições de ética que podem se opor a moralidade
empresarial.
A humanidade é moldada e contida pela moralidade dos mercados ou dos Estados, tornam-se rebanhos
domesticados que não escolhem nem o pasto para se alimentar ou o tempo de permanecer no campo e,
tudo isso, validado pelas religiões que são poderosos instrumentos de controle social, pois pregam a
submissão existencial e criam esperanças no porvir.
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Referências:
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Há diferentes propostas em relação do problema da modernidade e seu desdobramento na ética, a
saber:
a) A proposta modernizante liberal que implica na integral aceitação da modernidade, social e cultural,
na perspectiva da expansão e consolidação dos mecanismos de mercado, da democracia liberal e da
tecnociência. No plano da ética, o que se verifica é que a racionalidade sistêmica que caracteriza a
modernização social é insuficiente para fundamentar a moral, em consequência tende-se ao
irracionalismo moral e à hipertrofia da dimensão sistêmica da sociedade (produção-consumo) em
detrimento da dimensão interacional da existência (valor, sentido), o que Habermas designou como
"colonização do mundo da vida através dos imperativos dos sistemas funcionais".
2. A proposta modernizante neoconservadora que implica na aceitação da modernidade social e na
rejeição da modernidade cultural, na perspectiva de uma conciliação da economia de mercado e da
ciência com valores e concepções da sociedade tradicional pré-moderna. Essa posição neoconservadora
pressupõe que o conteúdo da moral seja a histórico e possa a ser transportado de uma época para
outra, mas o que se verifica é que essa dualidade entre sociedade (moderna) e cultura (pré-moderna) é
insustentável. A racionalidade sistêmica ou moderna inviabiliza culturalmente significativa a
racionalidade substancial (pré-moderna) típica das grandes concepções religiosas do passado.
3. A proposta pós-modernizante implica na rejeição integral da modernidade social e cultura, não a
perspectiva de um impossível retorno ao passado, mas visando uma desconstrução do projeto moderno
como projeto de unificação e homogeneização da história. Pretende-se, assim, possibilitar a emergência
de diferenças irredutíveis (étnicas, sexuais, individuais) que escapem da camisa-de-força normativa que
caracterizou até hoje o logocentrismo ocidental. O que se verifica, entretanto, é que a posição pós-
moderna parece debater-se entre a virulência do discurso que produz e a integração ao individualismo
necessário de uma sociedade que realimenta o consumo através da máxima diferenciação dos gostos,
dos estilos de vida e dos valores subjetivos.
4. A proposta dialetizante que implica na aceitação da modernidade cultural, isto é, de uma cultura
secular e diferenciada em esferas autônomas de racionalidade e numa crítica forte das patologias da
modernização social na perspectiva de uma dialética interna do projeto iluminista. Assim, as pretensões
funcionais da economia e da administração seriam contidas pelo dinamismo das interações
comunitárias, pelo vigor do mundo da vida (Lebenswelt). A racionalidade sistêmica não seria rejeitada,
mas subsumida numa nova forma de racionalidade, e comunicacional, capaz de fundar sem
reducionismo o discurso ético.
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COSTA, Jurandir Freire. Sem fraude e nem favor. Rio de Janeiro: Editora
Rocco, 1993.
Peço desculpas se não consegui lembrar de todos com quem passei bons
momentos de aprendizagem. Sinceramente espero que não percamos o
contato.