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PERFIL DE USUÁRIO QUE OPTA PELA VASECTOMIA NA REDE PÚBLICA DE SAÚDE*

USER PROFILE THAT OPENS BY VASECTOMY IN THE PUBLIC HEALTH NETWORK

Carine Jamile Feitosa da Silva Maia1


Eneida Cirqueira Regis Santos2
Maria Joseane Galvão Oliveira2

1- Especialista em Saúde Pública e PSF; Enfermagem do Trabalho; Preceptoria no SUS;


Professora da Faculdade São Francisco de Barreiras.

2- Discente do curso de Enfermagem da Faculdade São Francisco de Barreiras.

Endereço para Correspondência

1- Faculdade São Francisco de Barreiras, Avenida São Desiderio, nº 2440, Bairro Ribeirão,
CEP 47.808-180. E-mail: carinejamile@hotmail.com

RESUMO

Introdução: A vasectomia é definida como um método cirúrgico seguro e eficaz, que consiste na
interrupção dos dois ductos deferentes, impedindo assim, a passagem dos espermatozoides para
as vesículas seminais, promovendo a azoospermia1. O interesse pelo o tema surgiu durante
estágio em atividades práticas, onde observamos uma pequena demanda de homens no
Planejamento Familiar com interesse em realizar a vasectomia. Objetivo: Analisar o perfil do
usuário que opta pela vasectomia na rede pública. Método: Trata-se de uma pesquisa com
abordagem quantitativa, baseada em análise de levantamento de dados com caráter descritivo e
de cunho transversal. Os dados foram coletados através de questionário formulado pelas
próprias autoras, que foi aplicado à 25 homens que utilizam o Sistema Único de Saúde – SUS,

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desenvolvida em uma unidade secundaria de referencia em Planejamento Familiar. Os dados


foram tabulados e transcritos em uma planilha, utilizando o programa Microsoft Excel,
possibilitando a análise, disposto em tabelas e figuras. Resultado: O presente estudo evidenciou
que aqueles que optaram pela realização da vasectomia são homens entre 35-40 anos com o
percentual de 9 (36%), casados com 2 a 3 filhos totalizando 14 (56%) dos casos, com ensino
médio completo 12 (48%) e renda mensal de R$ 501,00 a R$ 1.500,00 reais 10 (40%), a maioria
levou cerca de um ano até a decisão 7 (28%), pois mesmo acreditando que é um método seguro
e eficaz, ainda possuem medo da impotência 4(66%). Conclusão: Nota-se que o atendimento em
planejamento familiar abrange homens, mulheres ou casais, contudo verificou-se que o
programa está tendencioso ao atendimento às mulheres, uma vez que percebe-se que a oferta de
métodos contraceptivos pelo Ministério da Saúde em sua maioria está voltado para população
feminina. Assim é notório, que o controle de natalidade da família ainda está atribuído à mulher.

Palavras-chaves: Vasectomia; Usuário; Planejamento Familiar.

ABSTRACT

Introdution: Vasectomy is defined as a safe and effective surgical method, which consists of the
interruption of the duct deferens, thus preventing the passage of sperm through the seminal vesicles,
promoting azoospermia¹. The interest for the theme arose during the internship, where we observed
a small demand of men in Family Planning with interest in vasectomy. Objective: To analyze the
profile of the user who opts for vasectomy in the public network. Method: It is a research with a
quantitative approach, and data analysis of descriptive character and transversal. The data were
collected through a questionnaire formulated by the authors, which was applied to 25 men using
the Sistema Único de Saúde – SUS (Unified Health System – SHU), developed in a secondary unit
of reference in Family Planning. The data is tabulated and transcribed in a spreadsheet, using the
program Microsoft Excel, allowing an analysis, arranged in tables and figures. Results: The present
study showed that those who chose vasectomy were men between 35-40 years with a percentage of
9 (36%), %), married with 2 to 3 children totaling 14 (56%) of cases, with full secondary school 12
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(48%) and income in around 10 (40%) from R $ 501.00 to R $ 1,500.00 monthly, the majority took
about a year until decision 7 (28%), because even believing it to be a safe and effective method still
have fear of impotence 4 (66.6%). Conclusion: It is noted that family planning care covers men,
women or couples, however, it was verified that the program is biased towards providing care to
women, since it is perceived that an offer of contraceptive methods for the Ministry of Health is
mostly focused on the female population. Thus, the birth control of the family is still attributed to
the woman.

Key words: Vasectomy; User; Family Planning.

INTRODUÇÃO

O Planejamento Familiar é um conjunto de ações que proporciona informações que


garantem o direito reprodutivo relacionado à fecundidade de todo e qualquer cidadão de forma
igualitária entre homens e mulheres1;2.
Por um longo período de tempo a decisão do casal relacionada ao Planejamento Familiar
se resumia na opinião ininterrupta das mulheres, entretanto aos poucos o homem vem se
aproximando e decidindo junto os melhores métodos contraceptivos para o casal, apesar de
ainda hoje, não se ter muita opção destinada ao homem. Atualmente se resume em dois métodos,
o de barreira e a vasectomia, este último é pouco citado, devido os tabus que se forma em torno
da masculinidade3.
A vasectomia é um método eficaz, permanente que é realizado a nível ambulatorial com
anestesia local e duração rápida de cerca de trinta e cinco minutos, que tem como objetivo
obstruir o canal deferente e desta forma impedir a chegada de espermatozóides ao líquido
seminal4.
Na maioria dos casos os homens que se direcionam ao serviço de saúde para a realização
da vasectomia possuem grandes receios, como esterilidade e medo do procedimento. Desta
forma buscam informações por meio de amigos que já passaram pela experiência a fim de se
sentirem tranquilos quanto à eficácia e segurança do ato cirúrgico. Assim chegam já decididos,

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levando em conta fatores como o de intolerância das mulheres a anticoncepcionais, o fato de suas
mulheres não poderem engravidar por fator relacionada à saúde, o número de filhos que já
possuem e principalmente a preocupação financeira em torno da família4.Percebe-se ainda o fato
da vasectomia ser considerada um método simples e seguro, quando comparado a laqueadura5.
A preferência pela temática surgiu durante a realização das atividades práticas em campo
de estágio, na qual foi identificada a baixa demanda de homens em busca da esterilização
cirúrgica. Nesse contexto buscamos aprofundar nossos conhecimentos em torno da temática
escolhida a fim de conhecer o processo de escolha e a quebra de paradigmas do ato cirúrgico
para traçarmos o perfil de usuário que opta pela vasectomia na rede pública de saúde. Diante do
exposto apresentado surge o seguinte questionamento: Qual o perfil de usuário que opta pela
vasectomia na rede pública de saúde?
Neste contexto, este estudo teve como objetivo: analisar o perfil do usuário que opta pela
vasectomia na rede pública bem como, traçar o perfil sociodemográfico do usuário que opta pela
vasectomia; verificar os fatores motivacionais para a escolha do método e correlacionar o tempo
percorrido desde o interesse até a decisão pela esterilização cirúrgica.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa com abordagem quantitativa, baseada em análise de


levantamento de dados com caráter descritivo e de cunho transversal. A pesquisa foi realizada
em uma cidade do oeste baiano em um centro de referência em planejamento familiar. A amostra
final foi composta por 25 usuários, que optaram pela realização da vasectomia na rede pública
de saúde no período de Abril a Outubro de 2017, e que aceitaram assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),. O instrumento de coleta de dados tratou-se de um
questionário confeccionado pelos próprios pesquisadores contendo variáveis como: faixa etária,
estado civil, números de filhos, renda familiar, entre outros dados.

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Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade São
Francisco de Barreiras com o número do Parecer 2.030.359, respeitando a resolução nº466/12
da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde.
Posteriormente a coleta de dados os dados foram analisados por meio de estatística
descritiva, utilizando para isso o programa Microsoft Excel, possibilitando a análise dos dados
com validade e fidedignidade.

Resultados

No quadro 1 1 caracteriza o Perfil sociodemográfico dos participantes da pesquisa. No que


se refere a faixa etária de 25-30 anos 3 (12%), 30-35 anos 5 (20%), 35-40 anos 9 ( 36%), >40
anos 8 (32%).Em relação ao estado civil casados 14 (56%), união estável 7 ( 28%), separado 2 (
8%), divorciado 2 ( 8%). A raça /etnia branco 6 (24%), amarelo/oriental 1 (4%), pardo 11
(44%), negro 7 (28%). No que se reporta ao número de filhos: 16 (64%) 2 filhos, 6 (24%)3 filhos,
2 (8%) 4 filhos, 1 (4%) 5 filhos.

Averiguou-se que a prevalência da faixa etária está entre 35-40 anos com a proporção de
9 (36%) dos pesquisados, e também constatou que os participantes apresentam idade maior ou
igual 40 anos, 8 (32%). No que concerne a variável estado civil, pode-se afirmar que a maioria
dos pesquisados são casados, totalizando 14 (56%) dos casos, mas destaca-se os participantes
com união estável com a proporção de 7 (28%). No que se refere a questão da raça/ etnia, o
estudo revelou que 11 (44%) dos participantes são pardos, seguido de 7 (28%) do que se
denominam negros. Quando questionados quanto ao número de filhos, 16 (64%) dos casos
assinalaram ter 2 filhos, seguido de (6) 24% com 3 filhos.

No quadro apresenta o Perfil socioeconômico dos participantes levando em análise:


escolaridade/ formação, renda mensal. Na variável escolaridade/formação, dos pesquisados,
apenas um (1) respondeu que não possuía nenhuma escolaridade (4%), ensino médio 12 (48%),
ensino fundamental 6 (24%), ensino superior 6 (24%) e nenhum participante possui mestrado
ou doutorado. No que se reporta a renda mensal, apenas um respondente disse que tenha renda

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menor que R$ 500 reais (4%), entre R$ 501 e R$ 1.500 reais 10 (40%), entre R$ 1.501 e R$ 2.500
reais 8 (32%) e entre R$ 2.501 e R$ 3.500 reais 2 (8%), acima de R$ 3.500 reais foram 4 (16%).

Tabela 1. Perfil sociodemográfico Tabela 2. Perfil socioeconômico dos


participantes da pesquisa
dos participantes da pesquisa
Características n %
Faixa Etária
Características n %
25 - 30 3 12
30 - 35 5 20 Escolaridade/
Formação
35 - 40 9 36
>40 8 32 Nenhuma escolaridade 1 4
Estado civil Ensino Fundamental 6 24
Solteiro - -
Casado 14 56 Ensino Médio 12 48
União Estável 7 28 Ensino Superior 6 24
Separado 2 8
Mestrado/Doutorado - -
Divorciado 2 8
Renda Mensal
Raça/ Etnia
Branco 6 24 < R$ 500 1 4
Amarelo/Oriental 1 4 R$ 501-R$1500 10 40
Negro 7 28
R$ 1501-R$2500 8 32
Pardo 11 44
Nº de Filhos R$ 2501- R$3500 2 8
2 16 64 > R$ 3500 4 16
3 6 24
4 2 8
5 1 4
6 ou mais - -
Fonte: dados da pesquisa

Observou-se que 48% dos participantes possuem ensino médio, destaca-se também o
ensino fundamental com 24%. No que se refere a renda familiar dos participantes, 40% tem
salário entre R$ 501,00 a R$ 1.500,00 e 32% com rendimentos mensais entre R$ 1.501 – R$
2.500,00. Sendo assim, a renda familiar dos participantes variou < 1 a 3 salários mínimos.

A Tabela 1 apresenta a Distribuição dos participantes segundo os métodos contraceptivos


mais utilizados por eles e/ou pela parceira; as principais fontes de conhecimento em torno da
vasectomia; o motivo pela decisão em realizar a vasectomia e o percentual dos participantes que
discutem com sua companheira antes de tomar a decisão pela realização da vasectomia. Segue-

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se do seguinte modo: métodos de barreira 8 (32%), método comportamental 2 (8%), método


hormonal 13 (52%), nenhum 1 (4%) e outros métodos 1 (4%). Sobre as principais fontes de
conhecimento em torno da vasectomia: amigos 4 (16%), esposa/ companheira 11 (44%) , família
2 (8%), jornais/ revistas 2 (8%), médico/enfermagem 3 (12%) e outros meios 3 (12%). Motivo
dos participantes optarem pela decisão de realizar a vasectomia: a esposa possui problemas
durante a gestação 3 (12%), esposa não gosta de outros métodos 2 (8%), gravidez não planejada
recente 2 (8%), número de filhos desejados 4 (16%), maneira segura de evitar filhos 10 (40), não
gosta de outros métodos 2 (8%), não interfere no desempenho sexual 2 (8%). E o percentual dos
participantes que discutem com sua companheira antes de tomar a decisão pela realização da
vasectomia. Nestas variáveis considera-se: sim 22 (88%) e não 3 (12%).

Tabela 1. Distribuição dos participantes segundo os métodos contraceptivos mais


utilizados por eles e/ou pela parceira, 2018
Características n %
Métodos contraceptivos
Barreira 8 32
Comportamental 2 8
Hormonal 13 52
Nenhum método 1 4
Outros métodos 1 4
Fonte de conhecimento sobre vasectomia
Amigos 4 16
Esposa/Companheira 11 44
Família 2 8
Jornais /revistas 2 8
Médico/enfermagem 3 12
Outros meios 3 12
Fator motivacional na decisão pela vasectomia
Problemas durante a gestação 3 12
Esposa não gosta de outros métodos 2 8
Gravidez não planejada recente 2 8
Número de filhos desejado 4 16
Maneira segura de evitar filhos 10 40
Não gosta de outros métodos 2 8
Não interfere no desempenho sexual 2 8
Discutiu a decisão com a parceira
Sim 22 88
Não 3 12
Fonte: dados da pesquisa

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Percebe-se que o método contraceptivo mais utilizado é o hormonal com 13 (52%),


também notou-se a preferência pela utilização do método de barreira com 8 (32%). Relatam
ainda que, o conhecimento a respeito da vasectomia deu-se a partir da figura da
esposa/companheira 11(44%), seguido pelos amigos com 4 (16%). Quando questionados sobre
o fator motivacional para a decisão pela realização da vasectomia, entende-se que 10 (40%)
decidiram pela realização considerando o fato de ser uma maneira segura de evitar filhos, 4
(16%) optaram por já possuírem muitos filhos e 3 (12%) relatam que a esposa passou por algum
problema durante a gestação. E 22 (88%) dos pesquisados relatam que discutiram com suas
parceiras antes de tomarem a decisão da realização da vasectomia.
A Tabela 2 traz a ocorrência de Motivo dificultador para a realização da vasectomia e deste
sua classificação. Neste contexto apresentam as seguintes variáveis para a ocorrência: sim 6
(24%), não 19 (76%). Dentre a ocorrência estão classificados em: medo da dor 1 (16,6%), medo
da impotência 4 (66,6%), medo da cirurgia 1 (16,6%), as demais variáveis apresentadas não
foram citadas pelos participantes.

Tabela 2. Motivo dificultador antes da escolha pela vasectomia

Características n %
Presença de motivo dificultador
Sim 6 24
Não 19 76
Motivo dificultador
Dor 1 16,7
Inchaço - -
Impotência sexual 4 66,6
Falha do método - -
Insegurança - -
Ansiedade - -
Medo da cirurgia 1 16,7
Outros - -

Apenas uma minoria revelou que tiveram motivos dificultadores antes da realização da
escolha do método, cerca de 6 (24%) relatam que sim, possuíram alguma dificuldade e destes
cerca de 19 (66,6%) evidenciam o medo de impotência.

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A Tabela 3 apresenta a Distribuição dos participantes segundo os sentimentos


relacionados ao procedimento; tempo percorrido desde o interesse até a tomada pela decisão da
realização da vasectomia. Dentre os sentimentos relacionados ao procedimento: ansiedade 3
(12%), insegurança 2 (8%), indiferença 1 (4%), segurança/confiança 18 (72%) e outros 1 (4%).
E o Tempo percorrido desde o interesse até a tomada pela decisão da realização da vasectomia
sendo que 6 (24%)< 1 ano, 7 (28%), 1 ano,1 (4%) 2 anos ,4 (16%) 3 anos, 4(16%) 4 anos, 3
(12%) > 5 anos.

Tabela 4. Distribuição dos participantes segundo os sentimentos relacionados ao procedimento,


e tempo entre o interesse e a decisão pela vasectomia

Características n %
Sentimentos Relacionados ao procedimento
Ansioso 3 12
Inseguro 2 8
Indiferente 1 4
Seguro/confiante 18 72
Outros 1 4

Tempo entre o interesse e a decisão pela vasectomia


<1ano 6 24
1 ano 7 28
2 anos 1 4
3 anos 4 16
4 anos 4 16
>5 anos 3 12

Cerca de 18 (72%) dos entrevistados revelam que se sentem seguros e confiantes diante
da situação. Nota-se que 7 (28%) dos participantes levaram um ano até tomarem a decisão pelo
procedimento, e cerca de 6 (24%) optaram pela a realização no período inferior a um ano.

DISCUSSÃO

Em uma pesquisa realizada em Limeira /SP em 2010, sinaliza que a população estudada
tinha uma prevalência de jovens entre 25-35 anos 6. Enquanto que no presente estudo a idade
predominante foi de 35 – 40 anos, sinalizando um público que se encontra na terceira e quarta
década da vida. Desse modo, fica evidenciado que a possibilidade de arrependimento diminui,
pois, uma das condições do candidato a realizar vasectomia está baseada na maturidade no

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momento da decisão7. Já em um terceiro estudo realizado indica que os homens que optam pela
vasectomia estão na faixa etária entre 27-45 anos, neste sentido, denota-se estarem no auge da
idade reprodutiva e que o arrependimento pode surgir por conta da falta de maturidade para
decisão8.
No que se refere ao estado civil, uma pesquisa realizada em 2010, o autor constatou que
a maior parte dos pesquisados possuíam união estável, o que para ele reforça a ideia de um
declínio das uniões legais e um aumento das uniões consensuais dentre os casais jovens9. O que
difere do presente estudo, uma vez que os entrevistados 14 (56%) são casados, e 7 (28%)
possuem união estável. Quanto a raça/ etnia houve a predominância dos que se declaram pardos.
O que se assemelha ao estudo realizado em 2012, onde cerca de 90% dos entrevistados eram
pardos 10. Nesta mesma pesquisa cerca de 80% dos entrevistados tinham entre 2 a 4 filhos.10
Denota que a mesma corrobora com o presente estudo, onde a maioria assinalou ter 2 filhos,
seguido de (6) 24% com 3 filhos. Em contrapartida, na pesquisa realizada em 2006, menos da
metade dos seus pesquisados tinham até dois filhos1.

O nível educacional tem grande relevância quando o enfoque é o planejamento familiar,


pois quanto mais alto o grau de escolaridade, melhor é evidenciada a eficácia no planejamento
familiar 11.O que permite acreditar que essa mesma eficácia ocorrerá para a maioria dos
participantes dessa pesquisa, pois apenas 1 (4%) não apresentam escolaridade. No que refere a
renda mensal atualmente no Brasil a média salarial per capita é de R$ 1.226,00 12. O que denota
proximidade quanto ao perfil dos participantes da pesquisa.

Em uma pesquisa realizada em 2012 de semelhante modo, o motivo dos participantes


utilizarem métodos contraceptivos é o controle de natalidade e o método mais conhecido é o
preservativo, porém, o mais utilizado ainda são os contraceptivos hormonais13. No que se refere
ao conhecimento os mesmos relatam que as informações da esposa foram de grande relevância
no conhecimento acerca da vasectomia1. Sendo considerado em outra pesquisa que as maiores
incentivadoras desse processo uma vez que estas estão mais ativas dentro da Atenção Primária
14. Corroborando com a presente pesquisa. Em contrapartida em outro estudo é o profissional de
saúde a principal fonte dessa informação15.

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Quando abordados quanto aos fatores motivacionais em um estudo semelhante, realizado


no Estado de Santa Catarina, o principal motivo que levou os participantes a escolher a
vasectomia, é o fato de ser um método seguro e eficaz na contracepção16. Em contrapartida, na
pesquisa concluída em 2012, expõe como foco principal para realização da esterilização
masculina a satisfação de número de filhos já existentes, além disso, a saúde da esposa aparece
como fator relevante na hora da decisão17.O que difere do estudo em questão, onde 10 (40%)
tem como fator motivacional a maneira segura de evitar filhos.

É notório que os casais chegam ao programa de Planejamento Familiar já decidido em


comum acordo por realizar a vasectomia, mesmo assim, não impossibilita o enfermeiro fornecer
orientações acerca da decisão pela esterilização masculina8. Fica nítida a parceria do casal na
decisão tomada, uma vez que para a realização do procedimento o casal necessita estar em
comum acordo, pois se trata de uma decisão definitiva entre o casal16. O que fica bem evidente
na pesquisa, pois 22 (88%) discutem com a parceira antes de tomar a decisão.

Quando abordado os motivos dificultadores foi realizada uma pesquisa, na qual


questionou se os participantes teriam algum receio referente à vasectomia, os mesmo de forma
unânime relataram que não tinham nenhum medo nem mesmo o de impotência uma vez que
estes tiveram acesso a esclarecimentos durante o planejamento familiar e que investigaram a
respeito do processo com outros homens que já haviam realizado o procedimento, e dessa forma
tornavam-se seguros da decisão6. Contudo, em um estudo realizado em 2012 relata que tanto os
desejos como o medo andam juntos rumo à decisão de realização da vasectomia, uma vez que faz
parte do processo a ligação do procedimento a mitos e desinformações associadas a impotência,
sendo evidenciadas nas falas por ele apresentada na qual fica claro que até a sua realização o
homem passa por um longo período de adaptação à ideia 8. Contudo nessa pesquisa 4(66,6%)
apresentaram medo de impotência sexual.

Notou-se -se que a maioria dos participantes sente-se seguros e confiantes em relação ao
procedimento. Em uma outra pesquisa de semelhante modo os homens se deparam com
sensações positivas e negativas inegáveis, entretanto os mesmos relatam que a partir das
experiências de terceiros tornam-se candidatos confiantes e seguros em relação ao
procedimento 8. Em contrapartida um estudo realizado em 2010, traz que diante da situação

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muitos se deparam com sentimento de arrependimento e insegurança diante do processo com a


incerteza se realmente não irão querer em um futuro aumentar sua família6. No presente estudo
o arrependimento não foi mencionado pelo participante.

Quanto ao tempo percorrido, o intervalo necessário dentre o interesse e a decisão ocorre


em um curto período de tempo, sendo este determinado em até um ano para decisão8.
Assemelhando-se com a pesquisa em questão.

Já em outra pesquisa considera-se que alguns homens requeiram um momento de maior


reflexão, pois trata-se de um procedimento definitivo1.

CONCLUSÃO

O estudo nos mostrou que a escolha pela vasectomia não parte exclusivamente do homem,
sendo evidenciado a grande influência que a esposa traz sobre esta decisão, uma vez que o
controle de natalidade da família ainda está atribuída à mulher.

Logo esta pesquisa traz como sugestão que haja aperfeiçoamento nos programas e no
treinamento das equipes multiprofissionais existentes dentro da Atenção Básica, para que desta
forma possa ter insumos suficientes para ofertar um bom atendimento voltado à saúde do
homem, trazendo-o para a atenção primária e desta forma inserindo-o na saúde pública, pois a
Unidade Básica de Saúde é porta de entrada para a realização da vasectomia.

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INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA


Esta pesquisa é um recorte de uma monografia apresentada a Faculdade São Francisco de
Barreiras, das mesmas autoras para a conclusão do curso de graduação em enfermagem. No
ano de 2017.

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