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MÓDULO DE:

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: NOVAS FORMAS DE GESTÃO E


COMPETITIVIDADE NO BRASIL E NO MUNDO

AUTORIA:

Dr. DANIEL PERTICARRARI


Dra. FERNANDA FLÁVIA COCKELL

Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil

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Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil
Módulo de: INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: NOVAS FORMAS DE GESTÃO E COMPETITIVIDADE NO BRASIL E
NO MUNDO.

Autoria: Dr. Daniel Perticarrari


Dra. Fernanda Flávia Cockell

Primeira edição: 2008

CITAÇÃO DE MARCAS NOTÓRIAS

Várias marcas registradas são citadas no conteúdo deste módulo. Mais do que simplesmente listar esses nomes
e informar quem possui seus direitos de exploração ou ainda imprimir logotipos, o autor declara estar utilizando
tais nomes apenas para fins editoriais acadêmicos.
Declara ainda, que sua utilização tem como objetivo, exclusivamente na aplicação didática, beneficiando e
divulgando a marca do detentor, sem a intenção de infringir as regras básicas de autenticidade de sua utilização
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E por fim, declara estar utilizando parte de alguns circuitos eletrônicos, os quais foram analisados em pesquisas
de laboratório e de literaturas já editadas, que se encontram expostas ao comércio livre editorial.

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A presentação

Neste módulo você irá estudar como o processo inovativo pode impactar, não somente sobre
o trabalho, mas também servir como incremento na competitividade de empresas e regiões.

A apresentação do chamado modelo japonês de produção e trabalho, se justifica, por aquele


facilitar o processo de difusão de informações, tão importante numa sociedade pautada, cada
vez mais, no conhecimento, o que nos leva a considerar que se trata de um modelo novo, ou
apenas uma variante do taylorismo/fordismo.

Entre os poucos consensos estabelecidos no intenso debate que procura entender o atual
processo de globalização, encontra-se o fato de que a inovação e o conhecimento são os
principais fatores que definem a competitividade e o desenvolvimento de nações, regiões,
setores, empresas e até indivíduos no mundo moderno. Entender como esse processo se dá
é o principal objetivo deste módulo.

Dedique-se à leitura dos textos, buscando aprofundar seus conhecimentos sobre cada
assunto.

Bons estudos!

O bjetivo

Apresentar diversos estudos que apontam as transformações nas formas de gestão e a


inovação tecnológica e organizacional como fator de incremento da competitividade em
empresas e regiões.

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E menta

Pós-Fordismo e o Modelo Japonês;

O Modelo Japonês Revisitado;

Tecnologias da Informação: A Sociedade em Transformação;

Sistemas de Inovação Como Fator de Competitividade;

Inovação na Era do Conhecimento;

Visões Sobre as Mudanças do Trabalho no Brasil.

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S obre o Autor

Dr. Daniel Perticarrari

Pós-Doutorado pela UNICAMP – Faculdade de Educação;

Doutor em Sociologia Industrial e do Trabalho pela Universidade Federal de São Carlos


(UFSCar) – SP, 2007;

Mestre em Política Científica e Tecnológica pela UNICAMP, 2003;

Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos, 1999;

Desenvolveu e desenvolve projetos de pesquisa científica junto à UFSCar, UNICAMP, e


CARDIFF UNIVERSITY – Inglaterra.

Dra. Fernanda Flávia Cockell

Doutora em Engenharia de Produção (Saúde e Trabalho) pela Universidade Federal de São


Carlos (UFSCar) – SP, 2008;

Mestre em Engenharia de Produção (Ergonomia) pela Universidade Federal de São Carlos


(UFSCar) – SP, 2004;

Graduada em Fisioterapia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, 2001.

Desenvolveu pesquisas na área de ergonomia junto à UFMG, FUNEP e UFSCar.


Atualmente, participa de projeto de pesquisas na UFSCar e UNICAMP, nas áreas de
Sociologia do Trabalho e Saúde do Trabalhador. Tem experiência em treinamentos, comitês
de ergonomia e projetos de intervenção ergonômica nas empresas: UNILEVER, Telemig
Celular, Multibrás (Brastemp), SOICOM, CRB, Johnson & Johnson, PMMG, Companhia
Mineira de Metais, entre outras.

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S UMÁRIO

UNIDADE 1 ........................................................................................................... 9
Pós – fordismo e modelo japonês: uma discussão conceitual.......................... 9
UNIDADE 2 ......................................................................................................... 16
Pós – fordismo e modelo japonês: uma discussão conceitual........................ 16
UNIDADE 3 ......................................................................................................... 20
Pós – fordismo e modelo japonês: uma discussão conceitual........................ 20
UNIDADE 4 ......................................................................................................... 27
Debatendo o caso japonês .............................................................................. 27
UNIDADE 5 ......................................................................................................... 31
Debatendo o caso japonês .............................................................................. 31
UNIDADE 6 ......................................................................................................... 39
A japonização do fordismo............................................................................... 39
UNIDADE 7 ......................................................................................................... 45
O modelo japonês revisitado ........................................................................... 45
UNIDADE 8 ......................................................................................................... 52
O modelo japonês revisitado ........................................................................... 52
UNIDADE 9 ......................................................................................................... 57
O modelo japonês revisitado ........................................................................... 57
UNIDADE 10 ....................................................................................................... 61
Reestruturação na indústria metalúrgica e impactos de gênero ..................... 61
UNIDADE 11 ....................................................................................................... 66
Reestruturação na indústria metalúrgica e impactos de gênero ..................... 66
UNIDADE 12 ....................................................................................................... 75
Tecnologias da Informação: a sociedade em transição .................................. 75
UNIDADE 13 ....................................................................................................... 78
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Tecnologias da Informação: a sociedade em transição .................................. 78
UNIDADE 14 ....................................................................................................... 82
Sistemas de Inovação como fator de competitividade .................................... 82
UNIDADE 15 ....................................................................................................... 85
Sistemas de Inovação como fator de competitividade .................................... 85
UNIDADE 16 ....................................................................................................... 90
Sistemas de Inovação como fator de competitividade .................................... 90
UNIDADE 17 ....................................................................................................... 96
Sistemas de Inovação como fator de competitividade .................................... 96
UNIDADE 18 ..................................................................................................... 103
Sistemas de Inovação como fator de competitividade .................................. 103
UNIDADE 19 ..................................................................................................... 106
Inovação na Era do Conhecimento................................................................ 106
UNIDADE 20 ..................................................................................................... 109
Inovação na Era do Conhecimento................................................................ 109
UNIDADE 21 ..................................................................................................... 115
Inovação na Era do Conhecimento................................................................ 115
UNIDADE 22 ..................................................................................................... 119
Inovação na Era do Conhecimento................................................................ 119
UNIDADE 23 ..................................................................................................... 123
Inovação na Era do Conhecimento................................................................ 123
UNIDADE 24 ..................................................................................................... 128
Inovação na Era do Conhecimento................................................................ 128
UNIDADE 25 ..................................................................................................... 134
Inovação na Era do Conhecimento................................................................ 134
UNIDADE 26 ..................................................................................................... 138
Visões sobre as mudanças do trabalho no Brasil ......................................... 138
UNIDADE 27 ..................................................................................................... 144

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Visões sobre as mudanças do trabalho no Brasil ......................................... 144
UNIDADE 28 ..................................................................................................... 149
Visões sobre as mudanças do trabalho no Brasil ......................................... 149
UNIDADE 29 ..................................................................................................... 156
Visões sobre as mudanças do trabalho no Brasil ......................................... 156
UNIDADE 30 ..................................................................................................... 163
Visões sobre as mudanças do trabalho no Brasil ......................................... 163
GLOSSÁRIO ..................................................................................................... 168

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 179

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U NIDADE 1
Pós – fordismo e modelo japonês: uma discussão conceitual

Objetivo: Discutir, conceitualmente, se o modelo japonês constitui-se em uma ruptura com o


taylorismo/fordismo, ou apenas uma adaptação de ferramentas de gestão da produção e do
trabalho.

Nas primeiras unidades, iremos trabalhar com um texto clássico de Stephen Wood, chamado
“O modelo japonês em debate: pós – fordismo ou japonização do fordismo”. A tradução é de
Vera Pereira. Neste artigo, o autor trata da emergência do fordismo e das alterações que o
mesmo sofreu durante décadas de existência. Junto a isso, a emergência do que se
costumou chamar de “modelo japonês de produção e trabalho”. O autor irá discutir se as
ferramentas de gestão da produção e do trabalho, assim como se a estrutura envolvida
nesses modelos constitui-se em uma ruptura ou apenas uma adaptação do taylorismo /
fordismo para um modelo cuja essência é a mesma. Atente para as discussões conceituais e
para o debate sobre o modelo japonês.

Leia com atenção, pois se trata de uma discussão conceitual e bom estudo.

Introdução

O fordismo emergiu nos anos 70 como elemento central nos debates da sociologia do
trabalho, estimulado, em grande parte, (a) pela teoria da desqualificação de Braverman
(1974), que provocou uma controvérsia sobre o processo de trabalho, e (b) pela escola
francesa da regulação, com sua interpretação da crise capitalista como uma ‘crise do
fordismo’. Mais recentemente, - conceitos como os de especialização flexível e pós-fordismo
têm assumido o primeiro plano. O centro do debate tem se deslocado, portanto, da
desqualificação para a flexibilidade, a qualificação polivalente e a organização coletiva, que
vêm sendo chamadas, nos círculos gerenciais, de trabalho em equipe. Assim como o

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fordismo trouxe novo ímpeto para boa parte da sociologia do trabalho nos anos 70 e inicio
dos 80, o conceito de pós-fordismo promete agora ter o mesmo efeito.

A atenção prestada ao Japão tem sido igualmente significativa para a sociologia do trabalho,
particularmente no que diz respeito à importância que as formas de organização do trabalho
e as relações industriais vêm recebendo nas tentativas de compreender o notável
desempenho econômico do país.

No início dos anos 70, o livro de Dore, British factory, Japanese factory (1974), reanimou a
sociologia do trabalho e reacendeu o interesse pelo tema da convergência. Nos últimos anos,
o exemplo japonês trouxe novo alento ao debate sobre o processo de trabalho, pelo menos
na Grã-Bretanha, desde que alguns comentadores descobriram o que vieram a chamar de
‘japonização’ da organização do trabalho (Oliver e Wilkinson, 1988). Sem dúvida, é ainda
prematuro e, talvez, conceitualmente um tanto simplista defender essa idéia (Wood, 1991);
mas não é de todo irrealista - pelo menos na Grã-Bretanha, novamente - falar de uma
substancial ‘japonização’ da teoria do processo de trabalho, embora isso também possa ser
um pouco exagerado.

Cada vez mais associados ao pós-fordismo, o Japão e a difusão de seus métodos de


organização têm ocupado uma posição central em boa parte da ciência social moderna. O
problema, então, é se os métodos e práticas japoneses significam uma ruptura com o
fordismo, conforme afirmaram, entre outros, Tolliday e Zeitlin (1986, p. 28). Trata-se de saber
se esses métodos e práticas modificam radicalmente ‘princípios centrais’ do fordismo e
introduzem um sistema de produção qualitativamente novo, a que Zeitlin e Tolliday preferem
chamar - seguindo Piore e Sabel (1984) - de especialização flexível, em vez de pós-fordismo.
Ou se, ao contrário, os métodos são uma continuação, um aperfeiçoamento, do fordismo,
implicando talvez ‘grande avanço’ na mesma direção dos sistemas fordistas (ibid, p. 20).
Neste caso, teríamos uma espécie de ‘japonização’ do fordismo.

Roobeck (1987), criador da expressão ‘japonização do fordismo’, referia-se especialmente à


maneira como o fordismo se desenvolveu no Japão em um contexto muito diferente daquele

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das economias ocidentais do pós-guerra. No Ocidente, o fordismo desenvolveu-se nos
marcos de um Estado do Bem-Estar, com sindicatos fortes e acordos políticos
corporativistas, condições que, a seu ver, estão ausentes no Japão. Embora eu reconheça a
importância do contexto, quero concentrar-me, neste ensaio, na questão do processo de
trabalho.

Considero, assim, que a expressão ‘japonização do fordismo’ se refere à possibilidade de as


empresas japonesas introduzirem inovações neste processo. A expressão pode também ser
usada num segundo sentido, para referir-se ao modo como o Japão entrou no ‘debate
fordista’, ou seja, na controvertida discussão sobre a natureza, a crise potencial e a
superação do modelo, que tem sido um dos estímulos para o pós-fordismo. (1) Esse debate
inclui o que chamo de aparato conceitual fordista da escola francesa da regulação, (2) bem
como as utilizações menos holistas e deterministas do termo, mais centradas no processo de
trabalho (Littler, 1982, por exemplo).

Abrange ainda a discussão sobre o fim do fordismo, sustentada pelos teóricos do pós-
fordismo e da especialização flexível. Neste ensaio, faço algumas observações críticas
acerca dessas duas concepções de ‘japonização’ e proponho, particularmente, que existe
uma ‘japonização do fordismo’, pelo menos no Japão, fato que enfraquece os argumentos
daqueles que levam o debate ao pós-fordismo mais extremado.

Este ensaio divide-se em quatro seções. A primeira introduz o leitor nos principais
parâmetros do debate sobre o Japão e o processo de trabalho; na segunda, apresento
algumas críticas à discussão mais geral sobre o fordismo e seus desenvolvimentos; na
terceira, focalizo a questão específica do Japão; na última parte, desenvolvo a tese de que
as principais características do chamado modelo japonês de gestão (o just in time etc.)
seriam mais bem analisadas no âmbito do neofordismo. Nas seções conclusivas, levanto
alguns dos problemas mais importantes que ainda precisam ser examinados para que
possamos mudar significativamente o campo do debate, livrando-nos de uma discussão
rigidamente dicotomizada entre fordistas e teóricos do processo de trabalho, de um lado, e
defensores do pós-fordismo, de outro.

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A ‘japonização’ da teoria do processo de trabalho

Tanto os defensores da especialização flexível quanto os pós-fordistas tendem a concluir -


como ilustra a citação de Hirst e Zeitlin na epígrafe deste ensaio - que o Japão avança
rapidamente em direção a um novo modelo de organização, tendo renunciado à produção
em massa.

Seus opositores recorrem ao mesmo exemplo japonês para solapar a tese do pós-fordismo,
argumentando, como Sayer na citação em epígrafe, que a produção em massa está bem
viva e florescente no Japão. Com base na associação entre o Japão e a produção em série,
poderíamos então concluir que o caso japonês é uma nova ilustração da tendência à
desqualificação dos processos capitalistas de trabalho, à moda de Marglin (1974) e
Braverman (op. cit.). No aparato conceitual fordista, o Japão representaria, dessa maneira,
uma espécie de fordismo ‘avançado’.

Há, contudo, uma terceira possibilidade: a de que o exemplo japonês coloque problemas tão
graves aos conceitos fordistas e pós-fordistas que exija uma revisão, ou mesmo o abandono,
dessas noções. Sayer (1989) e Williams et. al. (1987), de fato, reivindicam essa posição,
embora tenham usado o mesmo exemplo para ressaltar que a produção em série mantém
sua importância.

Defendendo que “a produção em massa não está em declínio, mas em expansão,


particularmente no Japão”, Sayer (1989, p. 671) contesta a hipótese de uma crise básica do
fordismo. Os problemas da produção em massa que porventura existam no Ocidente
resultam do êxito dessa produção no Japão; isto é, “são determinados de fora, a partir da
concorrência do Japão e dos novos países industrializados”. No entanto, Sayer termina
indagando sobre a relevância do fordismo, ou, mais especificamente, do aparato conceitual
fordista, pelo menos no caso japonês. Isso porque “enquanto o Japão apresenta formas de
organização semelhantes àquelas descritas sob o rótulo de ‘especialização flexível’, ele
também reúne outras características que não podem ser subsumidas em quaisquer das
versões ocidentais do fordismo ou do pós-fordismo” (op. cit., p. 667).

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Assim, embora Sayer continue a falar de produção em massa fordista no Ocidente, convida-
nos a discutir a relevância do contraste entre fordismo e flexibilidade, além do próprio valor
do fordismo como conceito central. Williams et. al., indagando se “o fordismo alguma vez
predominou”, vão mais além e explicitamente defendem essa crítica, pois o conceito esconde
muitas diferenças e cria um estereótipo nada esclarecedor.

Apesar das diferenças entre as concepções de Hirst e Zeitlin, Williams et al. e outros
analistas envolvidos no debate fordista, uma clara semelhança os aproxima: todos atribuem
ao modelo japonês um significado teórico fundamental, não só por sua atual prática
econômica global, como também por uma certa tendência a defini-lo como caso histórico
peculiar.

Hirst e Zeitlin (1990, p. 33) levam-nos a concluir que, aparentemente, ainda existe outro
ponto de semelhança no pensamento dos diversos analistas: o de caracterizarem da mesma
maneira alguns aspectos fundamentais do sistema japonês. Esses aspectos são assim
definidos pelos dois autores: ritmo acelerado de renovação de modelos e de
desenvolvimento de novos produtos; flexibilidade produtiva alcançada por meio de inovações
organizacionais, como o suprimento just in time de componentes; troca rápida de matrizes ou
linhas de montagem adaptadas para vários modelos; predominância da rotação de cargos,
do trabalho em equipe e de outras formas de flexibilidade funcional em amplos segmentos da
força de trabalho; e importância da ‘relação de subcontratação’ entre grandes e pequenas
empresas.

Dada a aceitação implícita das principais características do modelo japonês, chamá-lo de


pós-fordismo, neofordismo ou qualquer outra coisa é uma questão de semântica. Refletindo
sobre a solução japonesa aos problemas do balanceamento e das rigidezas da linha, Sayer
diz que, na verdade, chamar suas consequências de neo, pós-fordismo ou até de um tipo de
produção não fordista é, antes de tudo, uma questão de semântica. Sua atitude de aparente
desdém em relação a esses problemas não se deve, porém, a uma recusa às questões
conceituais; é que, para ele, o fato fundamental é a prosperidade atual da produção em
massa no Japão.

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Hirst e Zeitlin, ao contrário, querem mostrar que uma análise da mudança de natureza na
estratégia manufatureira japonesa nos leva para além do modelo fordista. Os elementos
fundamentais da indústria japonesa são a rápida mudança de produtos ou modelos e o
aumento da flexibilidade. A transformação no que esses autores chamam de antigas
indústrias de produção em massa alerta-nos para o movimento em direção à especialização
flexível que ora observamos no Japão. Para Hirst e Zeitlin, a indústria japonesa vinha
adotando métodos de produção em massa durante seu período de crescimento no pós-
guerra, mas, hoje, as empresas líderes “vêm aumentando sensivelmente o ritmo de inovação
de produtos, expandindo a gama dos modelos que podem ser fabricados com determinada
combinação de homens e máquinas e devolvendo responsabilidade aos fornecedores pelo
suprimento de componentes, montagem final e desenvolvimento de produtos”.

Afirmam que tal tendência já ultrapassou os limites de uma concepção alternativa de


neofordismo ou produção em massa flexível. Para eles, o debate não precisa mais ser
travado em termos de uma dicotomia entre especialização flexível e produção em série, mas
sim entre especialização flexível e pós-fordismo. Defendem enfaticamente que se estabeleça
uma diferenciação entre os dois últimos conceitos, alegando que a noção de pós-fordismo
implica um quadro de referência determinista (embora a especialização flexível seja
claramente pós-fordista, no sentido mais óbvio do termo).

Apesar da insistência de Zeitlin em levar o debate para o terreno do ‘fim do fordismo’, outros
analistas ainda estão dispostos a discutir o problema anterior: se o êxito japonês é prova da
difusão da especialização flexível ou um desenvolvimento da flexibilidade dentro da produção
em massa. Ademais, também existem aqueles que indagam como Sayer e outros, se o
exemplo japonês não estaria propondo uma questão mais fundamental: se é possível discuti-
lo com os conceitos atualmente disponíveis ou se ele exigiria novos termos. Não será o caso
japonês um reforço à posição de que esses conceitos têm pouca relevância interpretativa em
escala mundial, isto é, fora do próprio Japão?

Duas discussões, frequentemente misturadas, desenvolvem-se, portanto, no interior do que


se poderia chamar de ‘japonização’ do debate sobre o processo de trabalho: (a) uma que se
ocupa da exata localização do Japão no interior do aparato conceitual fordista, ou seja, se é

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um caso de fordismo simples, de neofordismo, de pós-fordismo, de especialização flexível ou
até mesmo de pré-fordismo; e (b) uma discussão mais básica, sobre o valor e a relevância
desse arcabouço conceitual.

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U NIDADE 2
Pós – fordismo e modelo japonês: uma discussão conceitual

Objetivo: Discutir, conceitualmente, se o modelo japonês constitui-se em uma ruptura com o


taylorismo/fordismo, ou apenas uma adaptação de ferramentas de gestão da produção e do
trabalho.

Nesta unidade continuaremos lendo o texto de Stephen Wood, chamado “O modelo japonês
em debate: pós – fordismo ou japonização do fordismo”. A tradução é de Vera Pereira. Como
dissemos, o autor trata da emergência do fordismo e das alterações que o mesmo sofreu
durante décadas de existência. Junto a isso, a emergência do que se costumou chamar de
“modelo japonês de produção e trabalho”. O autor irá discutir se as ferramentas de gestão da
produção e do trabalho, assim como se a estrutura envolvida nesses modelos constitui-se
em uma ruptura ou apenas uma adaptação do taylorismo / fordismo para um modelo cuja
essência é a mesma. Nesta parte, o autor faz uma discussão mais conceitual propriamente
dita, em relação ao debate sobre o uso de determinados conceitos.

Questões conceituais internas ao debate

Antes de qualquer coisa, há uma série de problemas conceituais. Em primeiro lugar, os


autores não usam os conceitos da mesma maneira. A principal noção do debate - o fordismo
- pode ser e é frequentemente usada de diferentes maneiras. Para certos autores, o conceito
é sinônimo, alternativamente, de taylorismo, produção em massa, linha de montagem
automatizada. Para outros, fordismo refere-se a todo um modo de vida (por exemplo, De
Vroey, 1984, p. 52).

Enquanto certos autores limitam sua aplicação ao processo de trabalho e aos métodos de
gestão, outros querem inseri-lo num conjunto de conceitos gerais voltados para a explicação
das sociedades como um todo. Realmente, para os teóricos da escola da regulação o

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fordismo é uma premissa científica que, empregada no âmbito de seu aparato conceitua)
geral, permite identificar uma época particular do capitalismo - aquela em que a produção em
massa prosperou, as rendas reais aumentaram regularmente e o consumo em massa
desenvolveu-se em ritmo acelerado.

Em segundo lugar, há muitas vezes uma indeterminação, ou generalidade, no uso de certos


termos, ainda que ocupem uma posição central na argumentação dos autores. Um bom
exemplo é a utilização que Sabel (1982, p. 33) faz do conceito de fordismo: “uma expressão
abreviada que indica os princípios organizacionais e tecnológicos característicos da grande
fábrica moderna”. Outro exemplo é a especificação inadequada das alternativas ao fordismo.
Paira uma certa imprecisão em diversas explicações, tanto da especialização flexível, quanto
do pós-fordismo.

Em relação à especialização flexível, por exemplo, quase não se dá atenção ao montante


exato da flexibilidade de que se está falando (Block, 1985, p. 500; Wood, 1989a, pp. 15-16;
1988b, pp. 28-29). As fábricas de automóveis - um dos exemplos mais citados no debate -
podem produzir diferentes modelos dentro da mesma linha, carros de linhas diferentes,
carros e caminhões ou automóveis num dia e outro produto no dia seguinte? Com efeito, há
o perigo de que a tese da especialização flexível se torne, ela mesma, altamente flexível,
permitindo predizer qualquer coisa que seu proponente deseje.

A expressão pós-fordismo ficou também mal definida em muitas de suas utilizações iniciais.
A noção de fordismo parecia ser tão bem conhecida e aceita que falar de sua superação não
colocava problema algum. As explicações iniciais foram mais claras no nível dos cargos; seu
objetivo principal parecia ser o de chamar a atenção para a reestruturação não só da divisão
horizontal do trabalho - como fizeram os que primeiro usaram o termo neofordismo - quanto
da divisão vertical. (3) A natureza exata da reestruturação, entretanto, não foi explicada de
modo detalhado.

Quando exaltavam a reestruturação pós-fordista, os autores geralmente se referiam apenas


a um conjunto de supostas práticas modernas - a polivalência, o just in time, a operação
flexível, o achatamento das hierarquias gerenciais, o trabalho em equipe - sem que,

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infelizmente, fosse feita uma análise suficiente das práticas indicadas por esses termos. Em
conseqüência, certas práticas, como o trabalho em equipe, são tratadas pelos pós-fordistas
de modo homogêneo, presumindo-se, muitas vezes sem nenhuma crítica, que elas implicam
automaticamente a requalificação.

Outro exemplo é a tendência generalizada de assimilar um tipo de manutenção (em que se


dá aos operadores responsabilidade pela conservação parcial ou total de suas máquinas) ao
alargamento da qualificação, ou à polivalência, sem que se faça uma discussão da extensão
em que foi alterada a natureza do trabalho de manutenção. O uso de certas máquinas
modernas não terá permitido tamanha rotinização ou simplificação das tarefas de
manutenção que se pode agora deixá-las ao encargo de níveis inferiores na organização?

Terceiro, há problemas quanto ao estatuto teórico de diversos conceitos e argumentos.


Certos autores parecem usar os conceitos de fordismo e pós-fordismo como ‘tipos ideais’,
em relação aos quais se contrapõem os acontecimentos históricos reais. O problema é que,
dessa maneira, o debate pode jamais ultrapassar o tema da utilidade dos conceitos e do
julgamento do grau em que as empresas ou as sociedades deles se aproximam, com todas
as restrições e incertezas que cercam os modelos ideal-típicos.

A própria expressão ‘tipo ideal’ muitas vezes se insinua na discussão como uma espécie de
defesa contra críticas que lembram que o mundo não se conforma nem ao modelo pós-
fordista, nem à especialização flexível. Defesa semelhante é o recurso à noção de tendência,
frequentemente pouco especificado.

Mathews (1989, p. 192), por exemplo, defendendo de críticas empíricas os teóricos do pós-
fordismo e da especialização flexível, argumenta que eles estão se referindo a uma
“tendência que se poderia manifestar nos anos 90, dadas certas condições favoráveis”; em
sua opinião, “eles não estão descrevendo uma direção dominante”. Há, portanto, um
problema de fundo quanto ao estatuto teórico dessas afirmações, mais especificamente,
quanto à sua falsificabilidade. Ademais, o argumento pode facilmente tornar-se normativo;
autores como Sabel, Zeitlin e Hirst, por exemplo, assumem abertamente um tom doutrinário,

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instando as empresas, os políticos e os acadêmicos a adotarem medidas de promoção da
nova era da especialização flexível.

Não resta dúvida de que todas essas asserções persuasórias se fundamentam em fortes
objeções às supostas deficiências da produção em massa, ou fordismo. Realmente, nas
teses do pós-fordismo e da especialização flexível predomina uma tendência a afirmar a
existência de um problema, cada vez mais generalizado, com que se deparam as formas de
organização fordistas, tidas como preponderantes no imediato pós-guerra, em determinados
sentidos. Embora alguns autores admitam que a tendência principal não represente ainda o
pós-fordismo ou a especialização flexível, na plena acepção desses conceitos, acredita-se
que a crise do modelo e as tentativas de solucioná-la são muito significativas. Essa questão
nos conduz a alguns problemas mais substantivos.

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Pós – fordismo e modelo japonês: uma discussão conceitual

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taylorismo/fordismo, ou apenas uma adaptação de ferramentas de gestão da produção e do
trabalho.

Nesta unidade continuaremos lendo o texto de Stephen Wood, chamado “O modelo japonês
em debate: pós – fordismo ou japonização do fordismo”. A tradução é de Vera Pereira. Como
dissemos, o autor trata da emergência do fordismo e das alterações que o mesmo sofreu
durante décadas de existência. Junto a isso, a emergência do que se costumou chamar de
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produção e do trabalho, assim como se a estrutura envolvida nesses modelos constitui-se
em uma ruptura ou apenas uma adaptação do taylorismo / fordismo para um modelo cuja
essência é a mesma. Nesta parte, o autor faz uma discussão mais conceitual propriamente
dita, em relação ao debate sobre o uso de determinados conceitos assim como os problemas
inerentes ao debate conceitual.

Problemas substantivos internos ao debate

Primeiro, há diferenças entre as teorias quanto à natureza exata do ‘problema do fordismo’.


Para Piore e Sabel (1984), o problema reflete a maior fragmentação das preferências dos
consumidores e o desajuste entre os antigos regimes de produção em massa e a
necessidade de atender a demandas de mercado crescentemente heterogêneas. Para a
escola francesa da regulação, a crise do taylorismo e do fordismo originou-se não de seu
fracasso, mas do seu êxito, já que a ênfase recai sobre os limites ao aumento da
produtividade dentro das condições de organização existentes, consideradas fordistas.

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O argumento é que as linhas de montagem estão perfeitamente equilibradas, os cargos
foram analisados à perfeição quanto aos ‘conteúdos de trabalho’ e os tempos definidos aos
operários foram estabelecidos em níveis ótimos. Para Piore e Sabel, a crise é um reflexo da
obsolescência do fordismo diante dos novos padrões de consumo, enquanto para os teóricos
da escola da regulação trata-se mais exatamente da exaustão do fordismo, que não pode
gerar ganhos adicionais de produtividade. É importante ter em mente essas diferenças. No
modelo da especialização flexível, os problemas do fordismo são exógenos ao sistema
produtivo; na teoria da regulação, eles residem em seu interior - para sermos mais precisos,
em seus limites.

Um problema observável em grande parte da discussão é que as teorias pós-fordistas são


tratadas homogeneamente, não se dando suficiente atenção às suas diferentes raízes e
implicações (Bagguley, 1991, por exemplo). Os próprios defensores dessas teorias têm
procurado, nos últimos anos, retificar a falha (Hirst e Zeitlin, 1990; Jessop, 1990). Mas, até
agora, não se fez tentativa alguma para especificar com clareza qual das teorias é mais
válida. Ainda há uma inadequada análise da natureza exata da crise; tende-se a assimilá-la
aos problemas permanentes das economias ocidentais, especialmente à lentidão do
aumento da produtividade e à inflação salarial dos anos 70.

Mas o que nos vem afligindo cada vez mais é a definição da natureza da chamada ‘crise do
fordismo’. Será assim tão evidente a saturação dos mercados, mesmo num país
relativamente afluente como os EUA? Será, de fato, de tanta utilidade esse conceito?
Supondo que sim, ainda parece prematuro falar, como fez Mathews (1989, p. 30), de
tamanha saturação dos mercados que a ‘lógica fordista’ tenha sido ‘radicalmente’ abalada,
quando se sabe que a demanda por automóveis, aparelhos de televisão e eletrodomésticos
aumentou nos países da OCDE durante os anos 80. E o que dizer do contínuo crescimento
da demanda por novos produtos, como microcomputadores, vídeos e fast food? A maioria
dos bens associados à ascendência do Japão no comércio internacional constitui, além
disso, exemplos clássicos de mercadorias massificadas, como máquinas fotográficas,
transistores, televisores, automóveis. O Japão, mais do que qualquer outro pais, tem aberto
seus mercados aos novos produtos massificados, como videocassetes e gravadores.

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Grande parte dos argumentos pós-fordistas parece ser uma fusão da concepção de ‘crise do
fordismo’ com o aumento da concorrência estrangeira que os fabricantes ocidentais têm
enfrentado, particularmente a japonesa. Conforme diz Sayer (1989, p. 670) “as dificuldades
da produção em massa fordista ocidental não são tanto determinadas de dentro quanto de
fora, na forma da concorrência japonesa e dos novos países industrializados”. De certa
forma, esses analistas estão apontando para uma crise da produção em série no Ocidente.

De fato, certos autores, como Mathews (1989, p. 29), ao relacionar os diversos fatores que
limitam a expansão do chamado sistema fordista, incluem explicitamente o desafio do
“Oriente, primeiro do Japão e depois dos imitadores da produção em massa, como a Coréia
do Sul, Hong Kong, Taiwan e Cingapura”. Além do mais, há o perigo de exagerar-se a
extensão da concorrência e o grau da devastação causada ao empresariado ocidental.

Em certo ponto do livro de Mathews (1989, p. 31), fabricantes do Extremo Oriente são
tratados da mesma forma que os dá Europa Oriental, como se todos estivessem
conquistando grandes fatias de mercados ocidentais estratégicos. Se, de um lado, os dados
do comércio internacional não sustentam essa hipótese (Schoenberger, 1989), de outro, uma
rápida olhada nas estradas mostra que os Yugos e os Ladas não chegam a representar uma
grave ameaça aos produtores ocidentais de automóveis, nem as multinacionais têm-se
disposto a exportar carros do Hemisfério Sul para os mercados mais estabelecidos, embora
tenha sido observado um deslocamento da produção para o Sul da Europa durante os anos
80.

Em terceiro lugar, os teóricos das duas correntes tendem a pressupor todo um conjunto de
associações, em vez de examiná-las em profundidade ou tratá-las como contingentes. O
exemplo mais evidente é o modo como se vinculam automaticamente fordismo e
desqualificação. Uma consequência tem sido a excessiva concentração em apenas um
elemento da organização fordista - o operário de linha de montagem -,negligenciando-se, por
exemplo, a criação de novas qualificações, especialmente as funções de engenharia
industrial ou os operários especializados necessários à fabricação de ferramentas, ao
conserto de máquinas etc. Outra decorrência é atribuir à linha de montagem o monopólio da
rigidez e do rigoroso controle gerencial, desde que a linha se tornou “uma metáfora para a

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degradação do trabalho e o controle do capital”, como diz Linn (1987, p. 129), no rastro da
teoria do processo de trabalho de Braverman. Pode insinuar-se, então, a pressuposição de
que onde não há linha de montagem também não há rigidez e falta de autonomia, fazendo
com que os métodos de transmissão automatizada sejam vistos como inerentemente
flexíveis.

Entre teóricos das duas correntes, também se nota uma tendência a presumir que a
padronização acompanha passo a passo os mercados relativamente estáveis, caracterizados
por um ritmo lento de mudança de produtos, pouca ou nenhuma modificação nos modelos
durante seus ciclos de vida e importância secundária da qualidade em relação à competição
via preços.

Ao contrário, numa era pós-fordista, preferências e produtos não padronizados impõem


constantes modificações e variações nas mercadorias, rápido desenvolvimento e introdução
de novos produtos ou serviços, além da primazia da qualidade sobre o preço, tanto do ponto
de vista dos fabricantes quanto dos consumidores. Como afirmam Piore e Sabel (1984, p.
17), ela é “uma estratégia de permanente inovação: uma adaptação à contínua mudança”.
Supõe-se, ainda, que a adaptação incessante esteja “baseada na utilização múltipla e flexível
dos equipamentos, dos operários especializados e (...) signifique um renascimento de formas
artesanais de produção”.

Como afirmei em trabalho anterior (Wood, 1989a, p. 15), o perigo dessa concepção é
pressupor, sem a devida análise, toda uma série de relações. Entre estas, a de que o
aumento da fragmentação e da complexidade do mercado ‘demanda’ uma tecnologia flexível,
a qual ‘demanda’ um operário ‘flexível’, visto como uma espécie de ‘artesão polivalente’.

Conforme propus nesse ensaio (ibid, pp. 15-20), é possível contestar toda essa linha de
argumentação. Atender a necessidades definidas pelo cliente, por exemplo, pode não alterar
significativamente a extensão do uso de peças padronizadas. Cerca de 90% das máquinas
de comando numérico produzidas por uma empresa japonesa que visitei eram específicas
para o cliente e, no entanto, 90% das peças utilizadas eram padronizadas, aproveitáveis,
portanto, em uma grande variedade de equipamentos. Uma outra crítica é a de que nem

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sempre o uso extensivo de tecnologia flexível e a receptividade às flutuações do mercado
exigem grandes mudanças na divisão do trabalho ou aumentos substanciais nos ciclos de
trabalho, mesmo em relação aos operários especializados (Shaiken et al., 1986; Wood,
1988b).

Quarto: há inúmeros problemas envolvidos no contraste entre o sistema de produção em


massa e o de produção flexível. A aproximação entre fordismo e inflexibilidade negligencia
um aspecto básico do taylorismo: o de ter buscado um tipo de projeto de postos de trabalho
que permitisse reduzir ao mínimo os tempos de treinamento, de modo que as empresas
pudessem auferir ao máximo o que hoje se chama flexibilidade numérica ou externa
(Atkinson, 1988; Streeck, 1987, p. 290); ou seja, facilitar a demissão e admissão de pessoal.
O contraste é também historicamente inexato, posto que as ideias de Alfred Sloan, por
exemplo, tão fundamentais para o desenvolvimento da General Motors e da produção em
massa de automóveis, visavam exatamente introduzir flexibilidade no fordismo ‘clássico’
(Meyer, 1989).

Quinto: há um progressivo repúdio à idéia de viabilidade de uma transformação dentro do


fordismo, em vez de uma transformação do fordismo, que seriam as chamadas soluções
neofordistas. Observa-se, cada vez mais, um afastamento do ponto de partida da suposta
‘crise do fordismo’ ou produção em massa para o abandono das estratégias neofordistas, a
pretexto de que elas estão fadadas ao fracasso, não constituindo verdadeiras soluções aos
problemas do modelo fordista; além disso, as gerências vêm se informando sobre soluções
mais novas e consideradas mais autênticas. Dá-se então prioridade, na argumentação e na
investigação da realidade, às formas recentes - consideradas mais viáveis - de organização,
relegando-se a ampliação da produção em massa ou dos melhoramentos neofordistas.

No final dos anos 70 e início dos 80, quando se falava muito em neofordismo, havia
realmente diferentes utilizações do conceito. Recorria-se a ele, em todos os casos, para
aludir aos vários processos através dos quais a ‘crise do fordismo’, embora definida
diversamente, vinha sendo enfrentada sem provocar mudanças fundamentais nos processos
de produção. Apontavam-se as mudanças em um ou outro nível da automação, nas
estruturas de cargos das empresas ou na divisão espacial do trabalho.

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Os analistas, entretanto, divergiam na concepção da crise. Subjacente às diferenças de
concepção estava o contraste acentuado entre as teorias da especialização flexível e da
regulação. Aglietta (1979) e outros teóricos da escola da regulação empregavam o termo
neofordismo de forma tal que todas as mudanças eram ajustamentos fordistas, pois
mantinham uma nítida separação entre concepção e execução e o trabalho desqualificado
permanecia sendo a norma.

Para Sabel, a evolução neofordista refletia principalmente uma falha gerencial em


compreender corretamente as implicações da nova situação de mercado sobre a
organização do trabalho e a divisão espacial da produção. Os programas de controle das
condições de trabalho (quality of worklife) na indústria automobilística norte-americana, por
exemplo, foram apenas adaptações parciais e refletiam uma certa hesitação das gerências
quanto a mudanças em grande escala na organização do trabalho, comparáveis à
especialização flexível. O ‘carro mundial’ - o paradigma da reestruturação neofordista da
divisão espacial do trabalho, na opinião de Sabel - foi uma aberração que fracassou
economicamente e não conseguiu harmonizar-se com a crescente diferenciação dos gostos
dos consumidores (Sabel, 1984). O pós-fordismo edificou-se sobre o suposto de que a
reversão da divisão do trabalho, a tecnologia flexível e a reconcentração geográfica da
produção em ‘distritos industriais’ constituiriam o cenário futuro, a alternativa
economicamente viável.

Ao contrário, o uso inicial feito pelos franceses do termo neofordismo operava numa
perspectiva de acentuar a necessidade do controle gerencial e a separação total entre
concepção e execução (Braverman, 1974). No limite, escreveu Aglietta (1979, p. 126), as
gerências têm de separar concepção e execução, para garantir a sobrevivência do regime de
acumulação intensiva.

Uma contestação desse pressuposto está implícita no recente empenho dos teóricos da
escola da regulação em abandonar o neofordismo pelo pós-fordismo. Na realidade, trata-se
de uma reação ao que eles vêem não só como uma fusão de relações horizontais - entre
postos diretos e indiretos, por exemplo -, mas como um colapso da hierarquia: a separação
entre o trabalho de programação e de operação de máquinas-ferramenta, entre outros. Pode

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ser que, anteriormente, esses analistas tenham considerado tais fatos como inevitáveis, por
causa da influência de um suposto imperativo de desqualificação que, hoje, percebem estar
em processo de dissolução.

Embora às vezes se use a expressão neofordismo de modo preciso e se estabeleça


claramente sua diferença em relação ao pós-fordisno, nem sempre foi assim. Na verdade,
existe uma tendência à multiplicação dos termos em uso em algumas discussões; quando os
autores descobrem que as situações não se enquadram na forma pura, procuram inventar
outra palavra, dentro da terminologia fordista, que apreenda melhor o caso em questão. Uma
ilustração disso é a noção de ‘fordismo híbrido’ - um caso exemplar não só por ser mal
definido, mas também por gerar problemas sobre o ‘tipo ideal’ contra o qual se comparou a
realidade.

Fórum 1 – O Toyotismo fora do Japão

Questão para ser discutida:

Debata como o ocidente incorporou das técnicas japonesas de gestão e trabalho e


instrumentalizou sem levar em consideração o contexto cultural.

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U NIDADE 4
Debatendo o caso japonês

Objetivo: Discutir, conceitualmente, se o modelo japonês constitui-se em uma ruptura com o


taylorismo/fordismo, ou apenas uma adaptação de ferramentas de gestão da produção e do
trabalho.

Nesta unidade continuaremos lendo o texto de Stephen Wood, chamado “O modelo japonês
em debate: pós – fordismo ou japonização do fordismo”. A tradução é de Vera Pereira. Como
dissemos, o autor trata da emergência do fordismo e das alterações que o mesmo sofreu
durante décadas de existência. Junto a isso, a emergência do que se costumou chamar de
“modelo japonês de produção e trabalho”. O autor irá discutir se as ferramentas de gestão da
produção e do trabalho, assim como se a estrutura envolvida nesses modelos constitui-se
em uma ruptura ou apenas uma adaptação do taylorismo / fordismo para um modelo cuja
essência é a mesma. Nesta parte, faz um debate sobre o caso japonês referindo-se à
organização japonesa do trabalho e suas principais ferramentas associadas.

Debatendo o caso japonês

Vimos que as tentativas de compreender o Japão através dos conceitos fordistas ou de


apresentá-lo como caso típico de pós-fordismo ou de especialização flexível têm se
multiplicado. Às vezes, as duas interpretações vêm ao mesmo tempo. Infelizmente, essas
tentativas refletem muitos problemas que apontei.

Os autores nem sempre têm clareza a respeito do nível de análise em que estão operando,
de modo que, ao usarem o conceito de pós-fordismo em relação ao Japão, fica muitas vezes
obscuro se estão se referindo apenas ao processo de trabalho, ao sistema geral de
organização ou ao conjunto da sociedade. Há um perigo concreto de que palavras como

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‘Japão’, ‘exemplo japonês’ e até mesmo ‘sistema de gestão just in time’ sejam usadas de
modo quase intercambiável.

Nas páginas que se seguem estarei me referindo basicamente à organização japonesa do


trabalho e, em particular, ao sistema just in time, concentrando-me no tratamento dado por
alguns autores mais importantes.

Sob outro ângulo, os analistas podem não estar usando o termo fordismo de maneira
uniforme. Kato e Steven (1989) ilustram bem o problema: raciocinando com os conceitos da
teoria da regulação, eles querem inferir a resistência no chão-de-fábrica na definição de pós-
fordismo, assim como o seu eventual efeito sobre o aumento da produtividade e, em
consequência, sobre a precipitação de uma ‘crise do fordismo’.

Acredita que a resistência está de certo modo ausente no Japão, o que os leva a concluir
que o país é pré-fordista. Seu trabalho apresenta, contudo, certa contradição entre essa
conclusão e uma visão ultrafordista do Japão, uma vez que a falta de resistência leva à
‘superexploração’. Kato e Steven querem também atribuir o status de pró-fordismo ao
sistema just in time, e nisso são absolutamente claros.

No entanto, não justificam a hipótese, nem a desenvolvem. É evidente que Kato e Steven,
assim como outros, estabelecem uma conexão entre fordismo e empresas verticalmente
integradas, ou consideram essa ligação como outra característica do fordismo. Entendem
que o padrão complexo de relações entre empresas e os acordos de subcontratação são o
reverso da integração vertical que teria caracterizado as indústrias ocidentais de produção
em massa.

Dessa maneira, implicitamente, eles introduzem o sistema just in time no contexto da


subcontratação. Não parece haver vantagem ou razão alguma para incluir a resistência
operária ou a integração vertical na definição de fordismo; na realidade, fazê-lo pode induzir
a erro e ser um total equívoco.

Conforme acentuam Kumazawa e Yamada (1989), as relações japonesas de trabalho


deveriam ser usadas para contestar o pressuposto da onipresença da resistência operária. A

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resistência não é de modo algum inevitável, mesmo nos processos de trabalho altamente
rotinizados e menos opressivos. Relações de trabalho antagônicas podem ter caracterizado
grande parte do desenvolvimento histórico da indústria automobilística; mesmo nesse caso,
entretanto, não houve uniformidade no tempo e no espaço.

Além do mais, é duvidoso se houve mais conflitos nos setores fordistas do que nos
segmentos industriais não fordistas, como sugere Sayer (1989, p. 66) - o exemplo da
indústria de mineração logo nos vem à mente. Em grandes segmentos do processo de
produção fordista, especialmente nos eletrodomésticos, nos eletrônicos de consumo e na
indústria de componentes - inclusive onde o emprego feminino não necessariamente
predomina no nível operativo - jamais se verificou uma expressiva resistência operária.

De igual modo, há sérios riscos de exagerar-se a extensão da integração vertical nas


indústrias ocidentais de produção em massa. No que parece ter sido o apogeu da indústria
automobilística norte-americana - o exemplo mais citado de verticalização - houve
considerável variação entre as ‘três grandes empresas’ do ramo no grau de integração
vertical de cada uma delas.

Os números relativos à produção de peças dentro da própria General Motors, a empresa


mais integrada, nunca superaram a casa dos 70%. Segundo fontes das companhias, no
auge da integração os dados da General Motors eram de 70%, os da Ford de 50% e de
apenas 30% na Chrysler, porcentagens relativas ao número de peças produzidas dentro das
empresas. Quanto ao valor da produção, os dados da General Motors (única fábrica para a
qual disponho de informações) indicam entre 60% e 65%. Na Ford, a porcentagem estava
diminuindo durante os anos 80, enquanto na General Motors a produção interna diminuiu
apenas ligeiramente no mesmo período.

Usado com excessiva liberalidade, o conceito de flexibilidade vem sempre associado ao


Japão, mas, novamente, sem uma especificação clara de seu significado e de sua referência.
Kernny e Florida (1988) definem o pós-fordismo pelo aumento da flexibilidade, que apontam
como característica do Japão.

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Muita coisa, no entanto, permanece inexplicada, pois não se esclarece a natureza desse
aumento. Pelo menos no que se refere ao processo de trabalho, esses autores tendem a
explicar o pós-fordismo a partir de sua concepção do que é a organização japonesa – não
classificação de cargos, sobreposição de regras de trabalho e produção organizada em tomo
de equipes de trabalhadores que realizam conjuntos de tarefas (Kenny e Florida, 1989, p.
144) - e de uma comparação implícita com o fordismo tradicional, ao estilo norte-americano.

Mas quando se expressam de modo mais claro, eles se tomam excessivamente categóricos:
a produção japonesa se baseia num sistema just in time de relações entre produtor e
fornecedor, e as famosas linhas de transmissão e esteiras rolantes - tão estimadas pelos
fabricantes norte-americanos - são substituídas por sistemas modulares, passíveis de
reconversão. A Primeira afirmação não prenuncia
necessariamente o pós-fordismo, e a segunda é um exagero flagrante. Além de duvidosas
muitas afirmações sobre o Japão incluem pressupostos normativos, como se o êxito
econômico desse país decorresse de novas formas de organização, afastadas da ‘crise do
fordismo’.

Essas observações nos levam ao núcleo da contradição existente em boa parte do


pensamento a respeito do Japão e nos recolocam problemas mais substantivos. Se, como
pensa Jessop (1990), o pós-fordismo implica a resposta a alguma crise dentro do fordismo, a
suposição de que ele foi introduzido no Japão deve refletir, por uma questão de lógica, a
ocorrência de problemas passados. Mas se não houve crise do fordismo nesse país, ou
mesmo se não houve fordismo, o Japão, “como sempre, representa um problema”, para
usarmos os termos do próprio Jessop.

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U NIDADE 5
Debatendo o caso japonês

Objetivo: Discutir, conceitualmente, se o modelo japonês constitui-se em uma ruptura com o


taylorismo/fordismo, ou apenas uma adaptação de ferramentas de gestão da produção e do
trabalho.

Nesta unidade continuaremos lendo o texto de Stephen Wood, chamado “O modelo japonês
em debate: pós – fordismo ou japonização do fordismo”. A tradução é de Vera Pereira. Como
dissemos, o autor trata da emergência do fordismo e das alterações que o mesmo sofreu
durante décadas de existência. Junto a isso, a emergência do que se costumou chamar de
“modelo japonês de produção e trabalho”.

O autor irá discutir se as ferramentas de gestão da produção e do trabalho, assim como se a


estrutura envolvida nesses modelos constitui-se em uma ruptura ou apenas uma adaptação
do taylorismo / fordismo para um modelo cuja essência é a mesma. Nesta parte, Wood faz
um debate sobre o caso japonês referindo-se à organização japonesa do trabalho e suas
principais ferramentas associadas.

Debatendo o caso Japonês

Dada a centralidade da produção em massa durante o ‘milagre japonês’, parece legítimo


perguntar, pelo menos em relação ao Japão: onde está a crise do fordismo? E o que dizer
sobre os resultados obtidos pela gestão japonesa na superação de alguns dos mais
insistentes problemas dos sistemas fordistas de produção em massa, como a prioridade da
quantidade sobre a qualidade; a complexidade dos balanceamentos de linha e a exigência
de extrema atenção na realização de tarefas monótonas? Apesar de aparentemente
preocupados com os sistemas de produção, Piore e Sabel, bem como os demais pós-
fordistas, negligenciam ou mesmo esquecem esses aspectos. Volto a afirmar que, para os

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autores franceses da escola da regulação, a crise do fordismo apareceu porque as gerências
foram muito bem-sucedidas na implantação desse modelo. O que se enfatiza são os limites
ao aumento da produtividade dentro dos atuais arranjos fordistas. Na opinião de Piore e
Sabel, isso decorre do arcaísmo dos processos fordistas de trabalho, inadequados ao
mercado.

Nenhuma das duas teorias atribui grande importância aos problemas do dia-a-dia da
administração dos sistemas de produção. O aspecto decisivo, para Piore e Sabel, é a
excessiva inflexibilidade desses sistemas. Para os teóricos da escola da regulação, o
fordismo já atingiu sua conclusão lógica: aperfeiçoou-se a tal ponto que se tomou
impraticável obter ganhos adicionais de produtividade dentro dele.

Um aspecto primordial do modelo japonês de gestão, no entanto, é o de ter ressaltado a


importância dos problemas cotidianos do taylorismo, enfrentando-os de modo inovador, pela
criatividade das gerências e o maior envolvimento dos trabalhadores, em relação ao que
ocorre no fordismo convencional. Na verdade, o exemplo japonês permite que se discuta até
que ponto as gerências ocidentais têm sido bem sucedidas na administração do seu próprio
fordismo. Afinal, que êxito é esse, em que se constroem carros nos quais as partes internas
se soltam antes que o restante da carroceria se desgaste? Que tipo de sucesso obtinham as
gerências quando a produtividade caía, em vez de aumentar? Essas indagações nos
lembram a possibilidade de haver melhores modos de lidar com certos problemas de gestão
do que aqueles contidos na prática fordista tradicional ou nas intenções originais de Taylor.
Em certo sentido, os problemas do dia-a-dia jamais são resolvidos (pelo menos, não para
sempre). Lida-se com eles de maneira mais ou menos bem-sucedida.

Assim, é ilusória até mesmo a frase de Sayer, para quem os aperfeiçoamentos japoneses
“resolveram a maior parte dos problemas de balanceamento e de rigidez da linha de
montagem”. Os problemas rotineiros sempre existirão e têm que ser continuamente
administrados. Nunca são eliminados. A questão é como enfrentá-los. No caso da qualidade,
por exemplo, sempre haverá arranhões nos painéis de controle dos automóveis, como me
disse o gerente de uma filial japonesa. A questão é decidir entre colocá-los assim mesmo
(porque, afinal, ninguém vai reparar), jogá-los fora, analisar as causas do defeito e tentar

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reduzir sua incidência, ou ainda envolver mais os trabalhadores para que aumente a
possibilidade de evitar erros e de fazer certo logo da primeira vez.

Será neofordista o modelo japonês de gestão? Sem dúvida, a gerência japonesa obteve
excelentes resultados na solução de alguns problemas permanentes dos sistemas fordistas
de produção. Entre estes, o da qualidade, do balanceamento da linha e da redução do
excesso de horas paradas, em parte através do maior envolvimento de “pessoas que têm um
conhecimento prático das tarefas”, como costumam dizer operários e gerentes. Contudo, o
sistema just in time, ou ‘toyota’, como se tomou conhecido (Monden, 1983), avançou mais do
que isso: é uma autêntica inovação que se desenvolveu dentro do fordismo e levou a novos
princípios.

Segundo Ohno (1988, pp. 93-109), o fordismo tinha dois fundamentos básicos: a eliminação
do desperdício, de material e de esforços, e a produção para consumo de massa. Na prática,
ele acentuava o último principio, acarretando superprodução ou subutilização do capital, o
que intensificava o problema do desperdício em geral.

O método just in time se desenvolveu como uma forma de aumentar a utilização da


capacidade instalada, na medida em que os engenheiros tentavam reduzir o tamanho dos
lotes sem gerar deseconomias inúteis, procurando, por exemplo, diminuir os tempos de
preparação das máquinas. O resultado foi o desenvolvimento de novos princípios básicos de
gestão, que colocavam em xeque as diretrizes subjacentes à prática do fordismo, ainda que
não fossem inerentes à sua teoria.

Esses princípios podem ser assim apresentados: só é possível produzir eficientemente com
grandes lotes ou com longo tempo de operação das máquinas, e uma utilização mais
intensiva da capacidade supõe a existência de grandes estoques intermediários de material e
de produtos primários. A esses fundamentos acrescentava-se a aceitação da ideia - falar
aqui em princípio seria muito forte - de que só se pode melhorar a qualidade da produção
elevando-se os custos.

O sistema japonês reverte esses princípios: mostra que é possível produzir eficientemente
com lotes menores; que a minimização dos estoques intermediários e o suprimento just in

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time de peças ‘perfeitas’ aumenta o rendimento do processo; e que é possível melhorar a
qualidade sem incorrer em custos adicionais. Conforme disse em outro trabalho (Wood,
1989b), o just in time não chega exatamente a reverter os dogmas fundamentais da
produção em massa, como às vezes se pensa, mas revertem os modos convencionais de
operacionalizá-los.

O sucesso na adoção do just in time depende de importantes elementos do aparato fordista -


não os substitui -, particularmente a medição e padronização, exata e cuidadosa, do trabalho.

Assim, soa falso o argumento pré-fordista de Kato e Steven. Se pudessem ocorrer flutuações
desordenadas no tempo de execução de uma tarefa, de que maneira se poderia garantir a
produção e distribuição just in time, ou mesmo decidir o que é uma distribuição just in time?
Apesar de esse sistema depender de uma considerável dose de padronização e de uma
exata e detalhada medição do trabalho, a abolição dos estoques intermediários, a
centralização do controle de qualidade e a soberania do engenheiro industrial foram todos
postos em foco pela experiência japonesa. Nesse sentido, o sistema japonês representa uma
transformação significativa no interior do fordismo e justifica a noção de neofordismo.

A concepção de que o modelo japonês não passa de uma forma de fordismo ‘avançado’, de
que ele simplesmente aperfeiçoou o fordismo, nos parece, então, muito limitada. Na medida
em que a abordagem japonesa - ou ‘toyota’ - envolve operários e supervisores na engenharia
e no planejamento da produção (Wood, 1989b, 1991), modificam-se radicalmente certas
dimensões fundamentais do taylorismo.

No fordismo, tais funções eram uma prerrogativa da gerência. As técnicas kaisen (Wickens,
1987, p. 46) pretendem tornar os trabalhadores conscientes de que cada um deles realiza a
função do engenheiro industrial. Visam a desenvolver sua percepção da necessidade de
contínuo aperfeiçoamento, levando-os a renunciar ao que o gerente de uma fábrica japonesa
do Norte da Inglaterra descreveu como plateau thinking, isto é, a tendência a parar de
inventar novas maneiras de fazer as coisas, depois de atingir certo nível de realizações.
Contudo, algumas premissas da implantação bem-sucedida dos ‘novos’ métodos não se
contrapõem totalmente ao taylorismo.

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É perfeitamente concebível que operários integrantes dos pequenos grupos de trabalho, ao
estilo japonês, retomem aos seus postos fortemente ‘taylorizados’. Um sindicalismo ‘fraco’ e
processos intensivos e muito complexos de seleção, por exemplo, reproduzem as próprias
palavras de Taylor. O que já não é tão obviamente taylorista é a ampla utilização de sistemas
de avaliação e treinamento para necessidades futuras e para a escolha dos mais
capacitados, além da consequente segmentação do mercado interno de trabalho.

Maiores oportunidades de treinamento, o aprendizado voltado para necessidades futuras e


seu uso como instrumento de seleção dos melhores candidatos à promoção são processos
distintos da ênfase fordista no treinamento para necessidades imediatas e para o
desempenho de tarefas minuciosamente definidas. Mas a gerência japonesa continua a
projetar postos de ciclos curtos, a fragmentar a mão-de-obra e a operar segundo concepções
de trabalho padronizado.

Kato e Steven, além de Doshe et al., acentuam a existência de um controle gerencial


irrestrito e quase absoluto no Japão. “Os trabalhadores japoneses há muito perderam o
controle sobre o processo de trabalho, e cada um deles funciona por sua própria conta”,
escrevem Kato e Steven (1989, p. 22). Técnicas de gestão como os ‘círculos de controle de
qualidade’ são mecanismos engenhosos “de garantir que as reuniões dos operários se
realizem para discutir modos de promover os interesses da gerência, em vez dos interesses
dos trabalhadores, e que a dinâmica predominante seja mais de competição do que de
cooperação”. Doshe et al. afirmam igualmente que o “toyotismo nada mais é do que a prática
dos princípios organizacionais do fordismo, diante das prerrogativas quase ilimitadas da
gerência”. Assim, o toyotismo seria uma espécie de ‘fordismo avançado’.

Entretanto, afirmei há pouco que os japoneses fizeram inovações nos princípios de


organização para aperfeiçoar o conhecimento global da empresa e, particularmente no nível
do chão-de-fábrica, o diagnóstico das habilidades. As opiniões de Kato e Steven, e talvez em
menor extensão a de Doshe et al., fundamentam-se por demais no problema do trabalho e
atribuem pouca importância às questões do mercado, da tecnologia e da concorrência. A
perspectiva de Kato e Steven confere primazia total à ‘luta de classes’.

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O que, no entanto, interessa reter dessas análises é a importância da competição dentro do
processo japonês de trabalho (Kumazawa e Yamada, 1989).

Entretanto, ao se referirem ao trabalhador como indivíduo, Kato e Steven sugerem,


equivocadamente, que a competição se produz inteiramente à custa da cooperação ou da
solidariedade operária. Na realidade, parece-me que a organização japonesa é tão
interessante exatamente por sobrepor competição e trabalho em equipe, bem como métodos
inovadores de gestão e intensificação do trabalho.

Discutindo o envolvimento dos trabalhadores no Japão, os pós-fordistas, ao contrário, foram


longe demais no sentido inverso, o da concepção de um ‘fordismo avançado’, como
sustentam Doshe et al. Primeiro, a organização do trabalho é caracterizada, de modo
superficial, pelo trabalho em equipe altamente cooperativo, sem que se admita a existência
de seu inverso, a competição dentro da equipe, ou o contexto que a promove - o mercado de
trabalho segmentado dentro da empresa e a ausência de um verdadeiro mercado externo de
trabalho para trabalhadores especializados.

Segundo, no pós-fordismo permanece uma vinculação não esclarecida entre trabalho em


equipe e requalificação. Nas palavras de Mathews (1989, p. 140), “no Japão, dá-se especial
importância aos operários altamente qualificados, autônomos” (o grifo é meu). O autor
adverte, porém, que há implicações tayloristas na organização do trabalho.

Deixando de lado essa advertência, o que importa observar é o uso acrítico do termo
autônomo. Qual é a autonomia de trabalhadores vigiados de perto por supervisores que os
avaliam regularmente, que lideram as reuniões diárias das equipes e formam sua opinião
pelo nível de produção da véspera e os detalhes do trabalho e dos problemas a serem
enfrentados no dia seguinte? De mais a mais, os trabalhadores não dão sugestões
espontaneamente, seguindo um processo de descobertas acidentais.

Eles são treinados para a criatividade, para o trabalho em grupo, com métodos estatísticos,
a fim de se capacitarem a participar do kaizen, a estratégia do aperfeiçoamento contínuo.
Dada a desconsideração dessas dimensões da ‘vida em grupo’ nas explicações sobre o
Japão, dificilmente se escapa da conclusão de que as concepções pós-fordistas (e suas

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fantasias) são incapazes de compreender o papel do operário no sistema. Convencionou-se
que, sociologicamente, o fordismo é uma configuração particular de papéis que gira em torno
do engenheiro industrial. O modelo japonês, ao contrário, se constrói em torno do supervisor.
Por causa do papel central deste último e do líder do grupo, mesmo no ‘círculo de controle de
qualidade’ e em outras atividades dos pequenos grupos - que, por sua vez, são vigiados pela
gerência - a participação do trabalhador guarda muito pouco da autonomia associada ao
moderno quadro social e técnico.

Como a forma de organização do trabalho é quase mecanicamente associada à


flexibilidade, não há espaço para discutir as rigidezas predominantes. Na sociedade
japonesa, a forma mais evidente de rigidez é a permanente discriminação entre trabalho
masculino e feminino e a extrema inflexibilidade dos empresários em relação às mulheres.

Isso nos traz de volta ao ponto inicial, ou seja, à caracterização do Japão feita por Hirst e
Zeitlin e ao pressuposto de que, de modo geral, todos concordam com a definição dos fatos.
Uma primeira conclusão das idéias expostas aqui é a de que isso talvez não seja verdade.
Acima de tudo, a caracterização feita por Hirst e Zeitlin sobre os eventos fundamentais da
industrialização japonesa retira do seu contexto alguns fatores principais. Subtraído da
segmentação do mercado de trabalho (Kumazawa e Yamada, 1989; Wood, 1989b), o
envolvimento dos trabalhadores, por exemplo, é apresentado numa perspectiva unilateral,
nos induzindo a considerar apenas o aspecto cooperativo do trabalho em equipe, e não a
competição e a rigorosa vigilância.

Além do mais, no Japão e em outros lugares, é discutível a extensão em que se aplica o


modelo de gestão just in time. Mesmo na indústria automobilística, exemplo mais celebrado,
seu uso varia entre as empresas. Na própria Toyota, diferentes peças são distribuídas
segundo esquemas distintos. Na área dos eletrônicos de consumo, por exemplo, em que a
troca de modelos é muito rápida - fala-se numa frequência de cada três meses - o just in time
não é muito prático.

É comum manter estoques para certas etapas do processo de produção, a fim de facilitar
eventuais mudanças de última hora nos planos. Em consequência, alguns estoques podem

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não ser necessários e, em última análise, são desperdiçados. Essas práticas levantam a
questão de se o just in time não seria muito mais um fenômeno da produção em massa
padronizada, ou principalmente da fabricação de automóveis. De fato, o just in time é um
modelo desenvolvido no rastro da engenharia e da gestão ocidentais de produção em série.

Também é importante atentar para o fato de que, embora os analistas pareçam apoiar a
necessidade de encarar o modelo japonês do ponto de vista histórico, eles tendem a
conceber suas principais características de modo bastante estático. O que tem sido
analisado como modelo japonês de gestão se desenvolveu durante longo tempo e está longe
de ser um padrão generalizado no próprio Japão. Voltamos assim ao ponto de partida, ao
problema proposto pelos que descrêem do aparato fordista, como Williams et al., por
exemplo. Lidar com a diversidade é um problema tanto para os estudiosos do Japão quanto
para os que levam a noção de fordismo ao extremo da teoria da regulação.

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U NIDADE 6
A japonização do fordismo

Objetivo: Discutir, conceitualmente, se o modelo japonês constitui-se em uma ruptura com o


taylorismo/fordismo, ou apenas uma adaptação de ferramentas de gestão da produção e do
trabalho.

Nesta unidade leremos um único trecho do texto de Stephen Wood, chamado “O modelo
japonês em debate: pós – fordismo ou japonização do fordismo”. A tradução é de Vera
Pereira. Como dissemos, o autor trata da emergência do fordismo e das alterações que o
mesmo sofreu durante décadas de existência. Junto a isso, a emergência do que se
costumou chamar de “modelo japonês de produção e trabalho”. O autor irá discutir se as
ferramentas de gestão da produção e do trabalho, assim como se a estrutura envolvida
nesses modelos constitui-se em uma ruptura ou apenas uma adaptação do taylorismo /
fordismo para um modelo cuja essência é a mesma. Nesta parte, o autor conclui afirmando
que há mais aspectos relacionados entre os distintos modelos do que se possa imaginar, o
que não justifica a idéia de que se trata de um modelo único e exclusivo que rompe
totalmente com as características do fordismo.

Conclusões

A primeira e mais evidente conclusão que se pode tirar das minhas observações sobre o
debate em torno do fordismo e do Japão é que não há consenso claro. Os problemas são
muito mais do que semânticos, e os autores frequentemente debatem e criticam-se entre si
usando conceitos e quadros de referência distintos. A segunda conclusão é mais
especulativa: em boa parte da discussão, parece estar subentendida a ideia de que o Japão
é um caso excepcional. Isso fica explícito em Kato e Steven, que identificam a peculiaridade
japonesa com o alto nível de conformidade no trabalho. Acrescente-se a isso a noção de que

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o capitalismo se desenvolveu através de etapas, misture-se tudo com a noção de fordismo e
se chegará a uma das conclusões seguintes: ou o Japão é pré-fordista ou é um caso de pós-
fordismo. Para os defensores desta última linha, como Kenny e Florida (1989, p. 144-5),
parece que o Japão é, até agora, único em seu pósfordismo, mas o próprio êxito de sua
transferência mostra que o modelo também pode se desenvolver e estabelecer com êxito em
outros lugares.

Minhas afirmações neste ensaio sugerem que não há razão para se tomar como ponto de
partida a ideia de que ‘o Japão é único’. Muitos aspectos desse país, inclusive aqueles
geralmente considerados como traços distintivos, diferem apenas em grau, e não em
espécie, dos que se observam em outros países desenvolvidos. A rigidez a que nos
referimos antes - o elevado grau de segregação de gênero no mercado de trabalho, por
exemplo - não é peculiar ao Japão.

A tendência atual, quando o debate está consolidado no terreno ‘fordista’, é de as


discussões se tomarem desnecessariamente polarizadas entre fordistas ou teóricos do
processo de trabalho, de um lado, e pós-fordistas, de outro (Wood, 1989a, p. 10). Quanto
aos que discutem o Japão, as posições extremas se encontram entre os pré ou ultrafordistas
e os pós-fordistas. Desse modo, corre-se o risco de menosprezar a crítica de todas as outras
interpretações e de presumir-se, correlativamente, que as objeções refletem a força dos
argumentos contrários e que toda critica formulada por um dos lados significa irrestrita
aceitação da posição oposta.

Se a teoria de Kato e Steven e, de modo geral, a teoria do processo de trabalho estão


ameaçadas por uma formulação excessivamente unidimensional, reduzindo tudo ao controle
do trabalho, a teoria pós-fordista corre o risco de misturar todo um conjunto de elementos
que supostamente caminham no mesmo sentido - a tecnologia, a escala de produção, as
qualificações da mão-de-obra, a flexibilidade dos postos, as estratégias de mercado, a
internacionalização e a diferenciação de produtos-, negligenciando-se a
multidimensionalidade desses elementos.

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De certa maneira, meu ponto de partida foi tratar o fordismo, o taylorismo e mesmo as novas
formas de organização - sejam elas trabalho em equipe ou outra coisa qualquer - como
multidimensionais. Essa é a principal importância do convincente estudo de Berggren (1980)
sobre a passagem sueca para os ‘grupos semiautônomos’. Pelo menos nesse caso
particular, o trabalho revela que é possível reverter certos aspectos do taylorismo, modificar
alguns e reforçar outros, além de deixar intactos os demais. Pode-se aplicar esse argumento
ao Japão.

O modelo japonês de gestão (just in time e ‘círculos de controle de qualidade’), na medida


em que envolve os trabalhadores na engenharia industrial, reverte determinadas dimensões
do fordismo - sua ênfase taylorista numa nítida e absoluta separação entre as
responsabilidades gerenciais e a concepção. No entanto, sustentei que a gestão japonesa
continua a projetar postos de trabalho de ciclo curto e a fragmentar a mão-de-obra e as
tarefas segundo concepções de trabalho padronizado. O modelo japonês não se
desenvolveu isolado dos progressos na teoria ocidental de administração, nem desligado dos
fundamentos do pensamento japonês original sobre a administração da produção.

O modelo busca, ao mesmo tempo, superar algumas fragilidades permanentes do fordismo e


avançar em relação a elas. O kanban e o kaizen devem ser tratados como autênticas
inovações na teoria e na prática da gestão (Wood,1989b e 1991). Considerá-los assim não é
igual a dizer que os métodos japoneses viram pelo avesso os dogmas centrais da produção
em massa.

Pode-se compreender melhor o modelo japonês de gestão como um amálgama entre as


teorias correntes de organização, ainda que baseadas na administração científica, e as
novas descobertas, principalmente os métodos de produção just in time, as formas recentes
de controle de qualidade e a importância atribuída ao estreitamento das relações entre
fornecedores e usuários finais. O exemplo japonês ilustra, portanto, o argumento de que
precisamos de concepções mais matizadas a respeito das formas de organização do
trabalho.

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É preciso, por exemplo, distinguir claramente entre equipe de trabalho no Japão, com sua
forte ênfase na supervisão estrita e na avaliação dos trabalhadores, e o que se costuma
tomar como o modelo sueco de grupos semiautônomos, que operam quase sem supervisão.
Além disso, é necessário analisarem detalhadamente as variedades de trabalho em equipe,
mesmo no Japão e em outros lugares, e não tratar a palavra ‘equipe’ de modo
indeterminado, potencialmente descuidado. A pesquisa empírica deve tentar descobrir se
determinadas formas de trabalho em equipe alteram de algum modo os níveis de
qualificação. Não se pode presumir a priori que elas sempre elevem as qualificações. Muita
coisa ainda está por fazer. Sabemos pouco sobre os detalhes cotidianos da dinâmica da vida
industrial japonesa, ou seus processos e orientações de planejamento em longo prazo, para
emitir os julgamentos definitivos que são feitos pelos analistas interessados na questão
(embora possamos compreender suas razões). Tentei demonstrar que a importância do
Japão está em chamar a atenção para as contradições existentes em nossas concepções
sobre o fordismo e, de modo mais amplo, para muitas questões da ciência social moderna.

Os persistentes problemas conceituais sobre a coexistência de individualismo e coletivismo,


cooperação e competição, conflito e consenso, são apenas expostos mais abertamente pelo
caso japonês. Não são descobertos por ele. Portanto, para mim, o Japão dá uma importante
contribuição à tarefa de recompor o campo do debate a respeito do processo de trabalho, ao
qual me referi em outro texto (Wood, 1989a). Espera-se que também venha a oferecer
subsídios relevantes. Até o momento, a centralidade da produção em massa no
desenvolvimento japonês implica, sem dúvida, que pode ser por demais prematuro o
abandono de uma concepção de fordismo, assim como as novas áreas de produção em
série: fac-símiles, microcomputadores, impressoras e pizzas, alguns dos principais produtos
dos anos 80.

Um problema básico é o de como analisar o fato óbvio da diversidade no interior do


capitalismo. É possível que um resultado dos atuais desenvolvimentos seja o aumento das
diferenças. Outra questão: até que ponto queremos levar adiante a discussão da
importância, atual ou passada, da produção em massa? Até o ponto de contestar toda a
concepção fordista que sustenta o debate, como fazem Williams et al. (1987)? Mesmo se

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não quisermos ir tão longe - e nada do que eu disse encoraja isso -, resta o problema de
como devemos proceder. As tentativas de explicar ou compreender a diversidade através de
estudos de caso de empresas não nos têm levado muito longe - apenas a uma relação de
fatores explicativos, como faz a abordagem contingente da teoria das organizações. O
exame da diversidade, especialmente no plano dos níveis de qualificação, exige que se tome
como unidade de análise todo um processo de produção. É excessivamente restritivo
concentrarmo-nos nas montadoras; precisamos olhar para o processo completo de produção
de automóveis, do começo ao fim.

No exame da diversidade encerra-se também o problema de que quanto mais se olha para
os detalhes das práticas, mais se percebe a necessidade de reconhecer diferenças. Isso
para mim não é simplesmente uma questão de graus de abstração, como dizem Burawoy e
Lukacs (1989). Para tomarmos o exemplo da gestão sueca - ou japonesa - podem-se tratar
ambos os casos como formas de trabalho em equipe e depois, em alto nível de abstração,
considerá-los como pertencendo à mesma categoria. Mas, a um exame mais acurado,
observa-se que são tão diferentes que ficamos constrangidos com a assertiva inicial.

Finalmente, deve-se evitar toda concepção exagerada do papel teórico do modelo japonês
de gestão, bem como de seu significado empírico. O desafio proposto pelo caso japonês não
é necessariamente o de localizar seu lugar numa escala entre pré e pós-fordismo, ou mesmo
de formular novos conceitos. E, sobretudo, o de entender o papel e o desenvolvimento do
processo de trabalho fordista em um novo campo de debate, no qual conceitos como os de
autonomia, modelos de controle soma-zero e mesmo flexibilidade possam ser menos
importantes.

A ‘japonização do fordismo’ - em minha opinião, o neofordismo japonês - sugere que a


evolução das teorias gerenciais e sua implementação devem ser uma dimensão básica. A
teoria do processo de trabalho tem se tomado confusa por causa de suas raízes em um
conceito absolutista, a - histórico, do taylorismo como o processo de trabalho capitalista.

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EXERCÍCIOS DISSERTATIVOS:

1. Até que ponto pode-se dizer que o modelo japonês configura-se em pós-fordismo (ruptura)
ou neofordismo (fordismo adaptado)?

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U NIDADE 7
O modelo japonês revisitado

Objetivo: Rever o modelo japonês de gestão da produção e do trabalho e a dinâmica de sua


competência.

Nas unidades 7 e 8 e 9 veremos o texto de Helena Hirata e Philippe Zarifian, intitulado “Força
e fragilidade do modelo japonês” e publicado na revista ‘Estudos avançados’. Nele os autores
fazem uma apreciação do "modelo japonês" de relação e organização industriais, que parte
da análise da dinâmica da competência tecnológica no Japão, detendo-se nas formas como
os assalariados de base participam nas inovações para discutir, em seguida as condições
sociais da eficácia industrial japonesa, mostrando o custo e as contradições crescentes do
"modelo".

Bom estudo!

Introdução

O modelo japonês de organização e de relações industriais se tornou uma referência


sistematicamente utilizada pelos meios patronais dos países ocidentais. As razões desse
interesse, na verdade, desse entusiasmo, são fáceis de entender: a produtividade japonesa
surpreende, sua competitividade preocupa e seu grau de eficiência intriga.

Porém, existe um risco, o do modelo japonês ser visto de forma truncada: um conjunto de
receitas, na verdade, de princípios de administração, totalmente isolados de seu contexto, de
sua história e das contradições sociais no cerne das quais foram gerados.

Gostaríamos de tentar fornecer um esclarecimento sobre o modelo japonês, visto do ângulo


da realidade social japonesa, sem dissimular o interesse representado pelo alto grau de

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eficiência econômica atingido por suas grandes empresas, mas acentuando o preço que se
paga por essa eficiência e as crescentes contradições do modelo.

Uma força incontestável: a dinâmica da competência tecnológica no Japão

1. Da assimilação ao autodesenvolvimento da inovação tecnológica: uma trajetória


particular.

Partiremos de uma idéia central, expressa por Afonso Fleury: "a indústria japonesa
adotou uma trajetória particular de desenvolvimento de sua competência tecnológica
que permitiu fazer emergir novos princípios de eficácia industrial".

Propositalmente, falaremos primeiro de tática de competência tecnológica e não


simplesmente de tecnologia. Muito frequentemente, associamos esta última a um
conjunto de técnicas, de máquinas, de sistemas mais ou menos sofisticados,
concebidos pelos pesquisadores e engenheiros e aplicados nas fábricas.

Ora, o termo "competência tecnológica" é muito mais adequado para explicar a


conduta japonesa. Essa competência é um conjunto de conhecimentos, de
comportamentos, de práticas sociais que asseguram o desenvolvimento concreto das
ciências e das técnicas no cerne dos processos industriais. E seu desenvolvimento diz
respeito a todas as categorias de assalariados. A trajetória adotada pelo Japão é
singular, no sentido de que a competência tecnológica primeiramente se polarizou em
inovações diferenciais, isto é, em inovações que, partindo de técnicas já existentes,
permitem, à força de constantes melhorias, alcançar performances superiores às dos
concorrentes.

É preciso reconhecer ao patronato japonês a inteligência de ter percebido todo o


proveito que podia tirar de uma estreita combinação entre tecnologia e performance:
não basta conceber técnicas, é preciso saber utilizá-las da melhor forma nos
processos concretos; de um diagnóstico de falta de performance, portanto, de
utilização precária de capacidades tecnológicas nos países ocidentais; de condutas

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sociais, permitindo o envolvimento, no Japão, de uma maioria de trabalhadores
estáveis das grandes empresas, no impulso da competência tecnológica.

Sabe-se que os japoneses começaram por assimilar as tecnologias existentes nos


países europeus de industrialização avançada. Mas, não se limitaram a uma simples
imitação. Estabeleceram um rigoroso processo de seleção e de reapropriação dessas
tecnologias, aperfeiçoando, assim, o seu uso. Pode-se até mesmo dizer que criaram
novos critérios de performance industrial e, em seguida, por força da concorrência,
impuseram-nos ao Ocidente. Essa escolha é compreensível: partindo de um mercado
limitado, de raros e dispendiosos recursos, de uma indústria ocidental concorrente
com maturidade já obtida, o Japão só poderia se impor comportando-se de forma
diferente. Assim, também, os princípios do just-in-time, da qualidade total, as práticas
chamadas zeros (zero erro, prazo zero, enguiço zero, etc.) são maneiras de impor
novos critérios de performance, que só podem ser atingidos graças a uma qualidade
inédita de organização e de implicação dos trabalhadores.

Partindo, então, dessa estratégia de inovações diferenciais, os industriais japoneses


investiram em inovações radicais, isto é, gerando uma renovação qualitativa das
técnicas e dos processos de produção nos diferentes setores. Hoje, empenha-se na
direção de inovações revolucionárias - como a opto-eletrônica - suscetíveis de abalar
o conjunto dos sistemas técnicos. Ora, o importante é que essas inovações radicais,
ou mesmo revolucionárias, procedem da aquisição constituída pelas inovações
diferenciais.

Tendo aprendido a dominar e a aperfeiçoar as técnicas existentes, as indústrias


japonesas acumularam um conjunto de conhecimentos e de práticas sociais
orientadas para a inovação e, a partir de então, seria muito mais fácil a aplicação de
novas técnicas.

O exemplo da robótica ilustra isso muito bem. No Japão, os robôs são, em geral,
tecnicamente menos aperfeiçoados e menos sofisticados que na França. Eles não são
muito mais numerosos, se levarmos em conta o fato de que, no Japão, se contabiliza

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como robô equipamentos que na França são classificados na categoria de simples
máquinas programáveis. De onde vem, então, a superioridade japonesa?

De um melhor domínio e confiança nos robôs (um mínimo de panes), de uma melhor
distribuição nas oficinas, de uma melhor adaptação às necessidades concretas desta
ou daquela linha de produção.

O segredo japonês - se segredo existe - é que a concepção e a fabricação dos robôs


decorrem das necessidades concretas e de seu uso. Por isso, em vários casos, robôs
simples, ou rústicos, facilmente controlados por operários, são escolhidos e
implantados.

De certa maneira, é simples explicar a superioridade japonesa: as inovações radicais


são introduzidas como inovações diferenciais, ou seja, baseando-se sempre em um
permanente desenvolvimento da competência tecnológica e nunca perdendo de vista
as condições a serem reunidas para utilizar as tecnologias com um alto grau de
performance industrial. Resumindo: a concepção deve partir do uso concreto e a ele
retornar.

2. As redes de relações e o sistema de emprego: uma estreita combinação entre trabalho


e inovação.

Na França, fala-se frequentemente do valor dos métodos japoneses, mas,


imediatamente acrescenta-se: "não conseguiríamos, na França, aceitar o que os
trabalhadores japoneses suportam!".

E, se o que há de mais positivo no Japão residisse na própria atividade dos


trabalhadores japoneses? E, se o que causa problema na França fosse importar os
métodos, deixando de lado essa atividade?

Comecemos salientando um certo número de experiências da situação japonesa:

Primeiro: o sistema de emprego vitalício (até a aposentadoria aos 55 anos) dos


trabalhadores do sexo masculino com estatuto regular nas grandes empresas -

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sistema negociado entre o patronato e os sindicatos entre as duas guerras - introduziu
uma estabilidade de emprego que age de várias maneiras.

Age no comportamento dos trabalhadores face à inovação: esta não traz o risco de
perda de emprego e compreende-se facilmente que essa situação ajuda muito a
relação dos trabalhadores com respeito à inovação. Essa estabilidade introduz um
longo tempo de carreira e de promoção na empresa, permitindo gerir, em longo prazo,
a trajetória da competência tecnológica. Age, enfim, sobre o comportamento dos
diretores de empresas que não hesitam em investir na formação profissional de seus
assalariados e na ampliação de suas competências.

Eles sabem que seus assalariados estão ligados à empresa por longo tempo.
Segundo: a estabilidade de emprego está atrelada a princípios de organização do
trabalho muito diferentes dos princípios franceses. Desde então, começamos a
entender melhor o papel que desempenha, no sistema japonês, a polivalência das
funções dos operários, que permite combinar competências na fabricação, na
manutenção, no controle de qualidade, na administração dos fluxos. Essa combinação
favorece curtos percursos de obtenção de informação e de intervenção dos
trabalhadores da fábrica nos sistemas técnicos, sem que se tenha necessidade de
apelar a níveis hierárquicos superiores ou a serviços conexos. O ganho de
produtividade não apenas é evidente, como também essas práticas de organização
criam, nos operários, uma familiaridade com os problemas técnicos e a busca de suas
soluções.

Porém, conhecemos menos bem em que se apóia essa organização e,


consequentemente, as condições de eficácia dessa polivalência. Kurumi Sugita
mostrou notavelmente o fato de que o elemento primordial da organização do trabalho
é o coletivo de base. E ele que constitui, ao mesmo tempo, o laço social elementar e o
ator, considerado como elementar na organização. Disso resulta uma valorização da
competência coletiva do grupo de base, no cerne do qual podem ser organizadas e
modificadas as atribuições dos indivíduos aos postos em função de seus níveis de
conhecimento e de suas necessidades variáveis da produção.

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Disso também resulta uma série de consequências. O fato dessa competência coletiva
ser explicitamente reconhecida e valorizada pelo funcionamento da organização e
pelas regras de administração social favorece consideravelmente as trocas de
conhecimentos no meio coletivo. Contrariamente à prática dominante na França, em
que cada indivíduo teria interesse, para sua própria promoção e para sua própria
proteção, em reter saber, no Japão, a atitude é diametralmente inversa.

Não apenas as transferências recíprocas de conhecimento e de experiência são


legítimas e favorecidas, como também os comportamentos individualistas de reter
saberes são julgados negativamente e enfraquecem a posição do indivíduo que os
praticaria. Por outro lado, sendo o coletivo a base da organização, ele se torna
naturalmente um lugar de acolhimento e de socialização, onde as diferenças de
competência são reconhecidas como normais e motivam a tomada de iniciativa, por
parte do coletivo, do preenchimento de carências ou deficiências profissionais que os
indivíduos venham a manifestar. Enfim, essa organização favorece uma estruturação
das relações em redes, não apenas no centro de cada coletivo, mas também de
maneira transversal.

O ponto fundamental dessa organização nos parece ser, incontestavelmente, o


caráter legítimo e valorizador da expressão e da transferência dos conhecimentos.
Justamente aqui, é que podemos medir o contraste com a situação francesa! Terceiro:
as duas experiências precedentes se esclarecem quanto ao que é provavelmente o
essencial: relação dos trabalhadores com respeito à inovação.

No Japão, a inovação - insistimos neste ponto - é considerada uma trajetória, ou seja,


um processo contínuo que se desenvolve em uma duração que é, não apenas longa,
como, podemos dizer, infinita. A inovação não termina nunca e seu horizonte de
realização é incessantemente impelido à medida que as etapas sejam transpostas.
Isso se nota claramente na organização da produção: qualquer irregularidade,
qualquer insuficiência, qualquer defeito são encarados como um problema, do qual é
preciso elucidar a causa primeira para resolvê-lo. A política dos zeros, já mencionada,
deve ser interpretada neste sentido: como uma incitação a um permanente

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aperfeiçoamento (Kaizen), learning by doing, em um contexto em que qualquer
estágio da técnica, da organização, dos conhecimentos é entendido como provisório.

Como mostra Kurumi Sugita: a fábrica japonesa é um permanente canteiro. Nesse


contexto, a participação dos trabalhadores na inovação, em qualquer nível hierárquico
que se situem, é normal, no sentido em que ela faz parte das normas de base de
realização do trabalho industrial. Estamos, aqui, diante de outra modalidade da divisão
do trabalho de concepção e de execução. A empresa japonesa funciona baseada em
um continuum de produção de conhecimentos. Os coletivos de base, na fábrica, têm
um papel a desempenhar na concepção e no aperfeiçoamento dos processos de
produção. Papel evidentemente limitado pela estruturação hierárquica, mas a divisão
do trabalho não se situa entre aquele que concebe e aquele que executa. Ela se situa
em uma estratificação hierarquizada desse continuum.

Não poderíamos entender de outra forma o papel dos círculos de qualidade e dos
múltiplos grupos de trabalho equivalentes. Se, do ponto de vista da política de
administração da mão-de-obra, os círculos de qualidade têm o objetivo de mobilização
em torno de certas preocupações da empresa, do ponto de vista da eficiência da
organização industrial, eles apenas têm sentido e alcance porque se inscrevem nessa
participação aberta à inovação (e, em particular, à inovação diferencial). Sem o quê,
torna-se rapidamente inútil.

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U NIDADE 8
O modelo japonês revisitado

Objetivo: Rever o modelo japonês de gestão da produção e do trabalho e a dinâmica de sua


competência

Nesta unidade continuaremos o texto de Helena Hirata e Philippe Zarifian, intitulado “Força e
fragilidade do modelo japonês”. Como dito, nele os autores fazem uma apreciação do
"modelo japonês" de relação e organização industriais, que parte da análise da dinâmica da
competência tecnológica no Japão, detendo-se nas formas como os assalariados de base
participam nas inovações para discutir, em seguida as condições sociais da eficácia industrial
japonesa, mostrando o custo e as contradições crescentes do "modelo".

Seleção e opressão: condições de eficácia do modelo japonês

O modelo japonês de organização e de relações industriais tem o seu reverso, e é sobre ele
que gostaríamos de insistir agora.

1. Emprego vitalício: para quem? Em detrimento de quem?

O sistema de emprego vitalício diz respeito apenas a uma parte dos assalariados ativos no
Japão (menos de 40% dos assalariados que pertencem às grandes empresas).

A entrada nesse sistema é altamente seletiva. O jovem, no fim dos estudos do Ensino Médio
ou da universidade, é cuidadosamente selecionado através das relações que a direção do
pessoal das grandes empresas mantém diretamente com as direções dos organismos
escolares.

As escolhas efetuadas no fim do sistema educativo são radicais: a divisão, entre os que têm
acesso ao emprego vitalício e os que a este não têm acesso, é portadora de consequências

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duradoras, que marcarão a vida inteira. O recrutamento em meio de carreira em uma grande
empresa era, até recentemente, raríssimo.

Podemos dizer que as grandes empresas conseguem encontrar, nos jovens recém-formados
no Japão, uma reserva permanente, que controlam no momento da primeira atividade
profissional em função da planificação de suas necessidades.

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Se raciocinarmos de forma mais ampla, veremos que a menor divisão profissional do
trabalho no Japão tem, por contrapartida, uma divisão social mais acentuada em outras
áreas: portanto, a divisão do trabalho de acordo com os sexos.

O trabalho profissional das mulheres é estruturado de uma maneira radicalmente diferente do


dos homens. A partir da faixa de idade dos 20 aos 25 anos, a taxa de atividade das mulheres
cai brutalmente. Desce a um nível aproximado de 45% e sobe novamente a cerca de 70%
para a faixa de idade dos 40 aos 55 anos. Geralmente, é muito inferior dos homens.
Poderíamos adiantar uma das explicações: a organização da atividade doméstica e a
marcada distinção sexual no trabalho profissional que ela estimula. Retomaremos esse
ponto, pois mantém uma relação direta com a organização industrial.

Notemos desde já esta consequência: as mulheres jovens que, teoricamente, poderiam ter
acesso ao sistema de emprego vitalício, estando empregadas como assalariadas estáveis
em grandes empresas, são, de fato, precocemente rejeitadas quando estão em idade de ter
filhos e forçadas, social e materialmente, a dedicar-se exclusivamente à atividade doméstica.
Uma vez terminada a criação dos filhos, para uma parte dentre elas, o retorno a uma
atividade assalariada as exclui do sistema dominante de emprego e torna-as, de fato, uma
das reservas privilegiadas da constituição de mão-de-obra precária, especialmente as
assalariadas em regime parcial.

Essa divisão sexual do trabalho representa uma característica marcante do funcionamento


da sociedade japonesa e atua nas relações de classe: o comportamento do mundo operário
face ao patronato não seria provavelmente idêntico sem uma distinção dessa ordem entre
homens e mulheres.

A conclusão a que chegamos é que essa clivagem é mais estruturadora e muito mais
importante que a oposição, frequentemente evocada na França, entre grandes empresas
(=estabilidade) e pequenas empresas (=precariedade). Certamente, essa oposição é
pertinente, mas complexa. Uma parte das pequenas e médias empresas, e especialmente
aquelas que conseguiram travar relações duradouras de subcontratação com os grandes
grupos, acabaram por incorporar certos traços do modelo dominante.

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2. Vida da empresa = vida pessoal

Para os trabalhadores de sexo masculino, o sistema de emprego vitalício leva a uma dupla
identificação: identificação da vida profissional à vida de uma empresa, identificação da vida
da empresa à vida pessoal.

A impregnação da referência à empresa é considerável. E o reverso da medalha: as


conquistas da organização do emprego se pagam pelo fechamento no universo restrito da
empresa à qual o assalariado pertence. Tomemos o exemplo da jornada de trabalho: esta
não apenas é visivelmente superior à da Europa - o que falseia todos os cálculos
comparativos sobre a produtividade do trabalho - mas também é de certa forma, incalculável.

Incalculável, porque a pressão da organização e as regras implícitas de funcionamento da


empresa fazem com que o horário seja estendido em função das necessidades. Os
interesses da empresa estão acima de qualquer outra consideração. Incalculável porque vida
profissional e vida pessoal acabam quase por se confundir. As preocupações relativas ao
trabalho estendem sua interferência além das horas estritamente passadas na fábrica:
alimentam as conversas à noite e nos fins de semana, onde se encontram os assalariados
que trabalham em um mesmo departamento ou fábrica...

Compreendemos que esse equilíbrio seja frágil: o tempo, a energia e a disposição de espírito
que o assalariado japonês deve dedicar à empresa apenas se sustentam se este se
beneficia de um reconhecimento por parte da empresa. De fato, a consideração simbólica e
os aspectos positivos da organização do trabalho japonês podem ser vistos, por sua vez,
como a contrapartida necessária das dificuldades que o trabalhador sofre.

Da mesma forma, compreendemos a importância da distinção sexual no trabalho: não


apenas as mulheres no lar são o descanso materialmente indispensável às longas horas
passadas pelos homens na e para a empresa, como também o estatuto inferiorizado das
mulheres intervém nos jogos simbólicos que mantém, para os homens, a aceitabilidade do
sistema. Mas, até que ponto, até quando esse equilíbrio pode ser sustentado?

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3. A autonomia controlada.

É preciso, enfim, voltar ao papel dos coletivos de base. Vimos seus aspectos positivos, mas
eles não existem sem que se exerça uma dupla forma de coerção.

Em primeiro lugar, o papel do coletivo de trabalho é severamente controlado. Por exemplo:


os operários têm um direito legítimo de participação na inovação. Mas, inversamente: tudo
concorre para a mudança desse direito em dever.

Os círculos de qualidade e as fórmulas organizacionais equivalentes são mecanismos


institucionalizados na escala da empresa através dos quais resultados são esperados (e
inicialmente, esse primeiro resultado: a identificação dos trabalhadores com os interesses da
empresa) e através dos quais são registrados e analisados os comportamentos da oposição.

Os trabalhadores que pouco aceitam fazer o jogo são identificados e submetidos a um


julgamento negativo. Apesar de não serem levados à perda do emprego (embora os
diretores da empresa saibam bem como usar os motivos de ordem política para chegar a
esse fim), a persistência de um comportamento de oposição os marginalizará na tomada e
no exercício de responsabilidades e, até mesmo, no acesso às promoções.

É difícil dizer como e até que ponto esse tipo de risco está integrado, psicologicamente, no
trabalhador japonês. Mas isso nos parece ser um importante modo de controle da
organização de trabalho.

Em segundo lugar, o indivíduo é, de fato, controlado pelo coletivo. Se os coletivos de base


são lugar de acolhimento e de amparo, a forma estritamente pessoal de individualidade deve
apagar-se: deve adequar-se à necessidade do coletivo.

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U NIDADE 9
O modelo japonês revisitado

Objetivo: Rever o modelo japonês de gestão da produção e do trabalho e a dinâmica de sua


competência

Nesta unidade continuaremos o texto de Helena Hirata e Philippe Zarifian, intitulado “Força e
fragilidade do modelo japonês”. Como dito, nele os autores fazem uma apreciação do
"modelo japonês" de relação e organização industriais, que parte da análise da dinâmica da
competência tecnológica no Japão, detendo-se nas formas como os assalariados de base
participam nas inovações para discutir, em seguida as condições sociais da eficácia industrial
japonesa, mostrando o custo e as contradições crescentes do "modelo".

As crescentes contradições do modelo

A forte e prolongada expansão econômica que o Japão vem conhecendo desde 1986
introduziu falhas na instituição.

1. O emprego vitalício desestabilizado.

Certo número de grandes empresas começou a efetuar o recrutamento na metade da


carreira de assalariados provenientes de outros ramos industriais. O objetivo é desenvolver
uma estratégia de diversificações das atividades produtivas que dependem da vinda de
novas competências.

Com essa recente tendência ao recrutamento na metade da carreira, o emprego chamado


vitalício desaparece. A mobilidade interempresas começa a aparecer e as carreiras não
podem mais se desenvolver de maneira tão linear como antes.

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2. Uma profunda mudança do mercado de trabalho.

A falta de mão-de-obra, no contexto do boom econômico, modifica o certo número de dados


fundamentais do modelo japonês.

Em primeiro lugar, a atividade profissional das mulheres aumenta consideravelmente,


sobretudo como assalariada em regime parcial. Assim, entre 1983 e 1987, o número de
mulheres assalariadas em regime parcial aumentou 38,2% e hoje representa um terço do
conjunto das mulheres assalariadas. Esse regime parcial é, na verdade, quase equivalente,
em sua duração, a um regime integral. Mas o estatuto salarial é precário e reforça a
discriminação face às essas assalariadas, que se encontram essencialmente no comércio,
nos serviços e nos empregos repetitivos criados pela automatização.

Assim, o que poderia ser eventualmente positivo - o crescimento da atividade profissional


das mulheres - é extremamente limitado pelo tipo de emprego que a elas se propõe.

Todavia, importantes modificações começam a surgir: assistimos ao recrutamento de certo


número de mulheres universitárias para ocuparem postos qualificados na indústria eletrônica
e na informática, nos laboratórios industriais, no setor de pesquisa e desenvolvimento.

Sinal de um começo de mudanças da situação das mulheres no Japão?

Finalmente, o trabalho dos estrangeiros vem crescendo há cinco ou seis anos e perturba
muito o modelo japonês de relações profissionais. Esse trabalho é ilegal - o único trabalho
autorizado para estrangeiros está relacionado a atividades como o ensino de línguas e
cozinha estrangeira -, mas se desenvolve com alta velocidade, por ocupar os empregos não-
qualificados ou pouco qualificados.

Assim, o trabalho clandestino na construção civil, na indústria ou nos serviços é executado


principalmente pelos asiáticos: oriundos das Filipinas, do Paquistão, de Bangladesh, da
China, da Coréia do Sul, da Tailândia. Vemos, também, surgir o trabalho dos brasileiros de
origem japonesa, filhos de segunda ou terceira gerações, impelidos pela crise econômica no
Brasil e tentando uma nova imigração na terra de seus pais. Estima-se essa força de

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trabalho estrangeira em aproximadamente 200 mil, mas esse número certamente está longe
de abranger a amplitude do fenômeno.

Podemos ver: alta da mobilidade interempresas, aumento do trabalho profissional das


mulheres, chegada da mão-de-obra imigrante; o modelo japonês de emprego e de relações
de trabalho começa a ser submetido a fortes pressões.

Conseguirá ele manter seus princípios? Deverá transformar-se profundamente? E muito


cedo para dizer.

Conclusão

A eficiência industrial do modelo japonês de organização e de relações industriais não pode


deixar dúvidas. Também não há dúvida que as recentes mudanças do modo de vida e a
abertura do Japão ao mundo exterior fazem realçar os aspectos mais discutíveis desse
modelo e questionam sua perenidade.

O aspecto que nos parece definitivamente mais significativo da fragilidade estrutural desse
modelo é sua débil capacidade de admitir o heterogêneo e sua propensão a controlar, na
verdade, a excluir os indivíduos ou os grupos sociais suspeitos de contestação, de oposição,
ou mesmo de diferença.

Paradoxo: o Japão se impôs como o ponto máximo do sucesso em matéria de flexibilidade


industrial, porém, sob o preço de uma rigidez nas práticas e comportamentos sociais dos
quais começamos a perceber os primeiros estalidos.

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ATIVIDADE DE TRABALHO:

1. Pesquise um ramo de atividade que se diz flexível e avalie as técnicas empregadas.

Obs. Assinale até que ponto suas técnicas são consideradas inovativas ou adaptadas do
fordismo (padronização, rotinização, controle do trabalho, etc).

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U NIDADE 10
Reestruturação na indústria metalúrgica e impactos de gênero

Objetivo: Traçar o panorama de transformações industriais do ramo metalúrgico e


demonstrar as principais transformações no perfil de gênero deste setor.

Nas unidades 10 e 11 leremos um trecho da tese de doutorado de Daniel Perticarrari que


trata das principais transformações tecnológicas na indústria metalúrgica e os impactos para
o perfil de gênero.

Transformações na indústria metalúrgica

A indústria brasileira (em especial a metalúrgica) vem passando por uma série de
transformações que tem sido ocasionadas pelo processo de reestruturação com a introdução
de inovações tecnológicas, produtivas e organizacionais.

Busnardo (2003) distingue três períodos principais do fenômeno de reestruturação. O


período que compreende o final dos anos 70 e meados dos anos 80, marcado pela difusão
de técnicas organizacionais como, por exemplo, os círculos de controle de qualidade. O
segundo período que se estendeu até o início dos anos 90, caracterizado pela incorporação
por parte da maioria das empresas, de equipamentos e a introdução de técnicas associadas
ao modelo toyotista de produção, como por exemplo, o just-in-time e o kanban, bem como o
trabalho em células. E o terceiro período, a partir de meados dos anos 90, quando as
empresas, efetivamente, investiram em técnicas de gestão, com ênfase na flexibilização do
trabalho.

Cada segmento que compõem o ramo metalúrgico estabeleceu, diferencialmente e


singularmente, novas práticas de gestão da produção e da organização do trabalho, em
resposta ao arrefecimento da atividade econômica mundial exacerbada nos anos 70, às

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pressões competitivas, às exigências do mercado e ao processo de globalização. Como
consequências, têm sido expressivas o crescimento da mão-de-obra feminina. Araújo e
Oliveira (2005) demonstram que houve o aumento de 12% para quase 16% (nos últimos 15
anos) no número de mulheres trabalhando no setor metalúrgico em Campinas,
principalmente nas funções de chão-de-fábrica.

Essas transformações têm ocorrido, contudo, já há algum tempo, e de maneira geral no


Brasil como um todo. Segundo Araújo et al (2001), no final dos anos 70 foram introduzidas
no setor metalúrgico brasileiro as primeiras técnicas inspiradas no modelo de produção
japonês com o intuito de resolver problemas de trabalho a partir da apropriação do
conhecimento dos trabalhadores sobre o processo produtivo, por meio da implantação dos
chamados “Círculos de Controle de Qualidade” (CCQ), que pressupunham uma mão-de-obra
mais engajada.

Só para relembrar, os Círculos de Controle de Qualidade (CCQ’s) são modelos participativos


de gestão que buscam obter a solução de problemas a partir do saber operário. Tal modelo
pressupõe que um pequeno grupo de funcionários se reúna “voluntariamente” para discutir
problemas de qualidade e encontrar formas de conduzir atividades de controle de qualidade
dentro da mesma área de trabalho. Para Abramides e Cabral (2003, p.5), os CCQ’s são
“instrumentos diretos de propagação ideológica e de cooptação dos trabalhadores.
Estabelecem o ‘envolvimento cooptado’, em que a subsunção do trabalho ao capital é
superior à existente nos processos de trabalho anteriores, em que na nova lógica
organizacional o trabalhador passa a ser o controlador de si mesmo”.

Em meados da década de 80, mais tardiamente quando comparado com os países centrais
capitalistas, inicia-se no setor a introdução das técnicas japonesas de programação e
controle da produção como o just-in-time e o kanban e a difusão de inovações
microeletrônicas, ainda que de forma pontual e seletiva como argumentam Araújo et al
(2001).

As tecnologias de base microeletrônicas permitiram que as empresas do setor utilizassem a


informática e a eletrônica na produção automatizada, proporcionando maior velocidade de

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operação das máquinas, maior precisão e maior controle do processo produtivo por meio de
inovações tecnológicas como Controle Numérico Computadorizado (CNC), ao mesmo tempo
em que contribuíram com a redução do número dos postos de trabalho ao diminuírem a
necessidade da interferência direta do trabalhador no andamento das operações produtivas
(MAGALHÃES, 1998).

Nesse período, já é possível observar um pequeno aumento do número de mulheres


trabalhando no setor metalúrgico, principalmente, pelo próprio aumento da escolaridade e
qualificação do trabalho feminino, fruto da exigência das fábricas por uma mão-de-obra mais
qualificada e com maior escolaridade formal. Juntamente com a implementação das
inovações de base microeletrônicas, surgem nas empresas metalúrgicas novas formas de
organização do trabalho, como por exemplo, a introdução dos Programas de Qualidade
Total, visando à produção orientada com a máxima qualidade por meio da eliminação da
propagação dos defeitos.

Vale lembrar que o programa de Qualidade Total busca orientar práticas de gestão voltadas
para o controle da qualidade, desde a elaboração do projeto, passando pelo monitoramento
das etapas de produção e inspeção do produto final. De acordo com Turchi (1997, p.14),
“com a difusão dos círculos de qualidade e de outras práticas organizacionais tais como
kanban e just-in-time, o controle de qualidade, antes sob responsabilidade dos engenheiros e
gerentes de um departamento específico, passa a ser atividade rotineira de todos os
trabalhadores e departamentos da empresa. A percepção do controle de qualidade como
uma responsabilidade de todos os trabalhadores da empresa introduz uma dimensão cultural
e organizacional ao conceito de qualidade”.

Na década de 80, o processo de reestruturação produtiva no setor metalúrgico esteve,


primordialmente, concentrado no setor automobilístico. Há que se ressaltar, que a entrada
das montadoras japonesas no oligopólio mundial de produção automobilística, significou o
aumento da concorrência e a intensificação do processo competitivo, com o aumento da
incorporação de novas técnicas de gestão organizacional (CARVALHO, 2003).

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O que é interessante afirmar é que a indústria automobilística registra no final da década de
80 e início na década de 90 um aumento significativo do número de mulheres se comparado
ao início da década de 80.

Os novos cenários econômicos de concorrência e de globalização da década de 90


impulsionaram os demais segmentos do setor metalúrgico a implementarem de forma mais
sistematizada modelos flexíveis de produção, além do trabalho em grupo e a adoção de
Círculos de Controle da Qualidade.

Neste momento, a prática de subcontratação e terceirização estende-se ao longo da cadeia


produtiva e intensifica-se dentro das empresas através da terceirização dos setores de
serviços, das atividades ligadas à pós-venda, dos serviços de manutenção, atingindo em
alguns casos, as atividades fim da empresa. Neste cenário, a supressão de mão-de-obra
direta nas grandes empresas do setor foi grande, com impactos diretos sobre o trabalhador,
sendo que parte das grandes empresas durante a década de 90 terceirizaram algumas de
suas atividades (RACHID et al, 2004a).

Um dos grandes subsetores da indústria metalúrgica, a indústria de linha branca (que


compreende o conjunto de empresas que fabricam eletrodomésticos não portáteis, como por
exemplo, geladeira, fogão, máquinas de lavar, etc) se insere nesse contexto de
transformação e incorporação de novas técnicas de gestão e reestruturação produtiva.

Essa indústria no Brasil sofreu profundas transformações durante a década de 90,


caracterizadas pela aquisição das principais empresas do setor, que antes eram de grandes
grupos nacionais, líderes mundiais, o que intensificou o processo de reestruturação da
maioria destas empresas, tendo como desdobramento a adoção de novas técnicas de
organização e gestão; incorporação de técnicas de controle de qualidade; desenvolvimento
de sinergias entre diferentes unidades, além da intensificação do desenvolvimento e adoção
de inovações de produto e processo.

Neste período ocorreu a difusão da automação em cada etapa do processo produtivo da


indústria de linha branca bem como a padronização dos componentes com decorrente
aumento da escala de produção. O processo de reestruturação produtiva no setor trouxe

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profundas implicações para o perfil do emprego, marcado pela queda sistemática de 18,7%
do número de trabalhadores da indústria de eletrodomésticos de linha branca no Brasil entre
1994 e 2000, pelo aumento expressivo dos níveis de escolaridade, queda extremamente
acentuada do patamar salarial, aumento no tempo de serviço e uma diminuição, da ordem de
6%, da diferença entre o número de trabalhadores homens e mulheres.

Esta diferença, apesar de parecer pequena, denota uma importante mudança no perfil do
emprego, já que tradicionalmente o setor metalúrgico é tido como predominantemente
masculino. Além disso, pôde-se constatar que entre as mulheres, os menores níveis de
escolaridade diminuíram em uma proporção maior que a dos homens. Ao contrário, as faixas
de maior escolaridade aumentaram em maior proporção entre as mulheres. Em
contrapartida, pôde-se observar que as mulheres se concentravam nas menores faixas de
remuneração (PERTICARRARI, 2003).

A reestruturação produtiva no setor de linha branca não ocorreu de forma homogênea para
homens e mulheres. As inovações tecnológicas e organizacionais dos anos 90 auxiliaram na
ampliação dos espaços de atuação das mulheres com maiores níveis de escolaridade em
cargos de comando antes considerados como redutos masculinos.

Contudo, a segregação horizontal do trabalho feminino estaria expondo as mulheres do chão


de fábrica à execução de atividades repetitivas, monótonas e intensivas, causando a estas
trabalhadoras situações de desconforto físico e de adoecimento pelo trabalho, uma vez que
suas atividades não foram automatizadas. As trabalhadoras metalúrgicas permaneceram
concentradas em ocupações de menor remuneração e com pouca mobilidade de carreira
(SILVA, 2005).

Antes de dar continuidades aos seus estudos é fundamental que você acesse sua
SALA DE AULA e faça a Atividade 1 no “link” ATIVIDADES.

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U NIDADE 11
Reestruturação na indústria metalúrgica e impactos de gênero

Objetivo: Traçar o panorama de transformações industriais do ramo metalúrgico e


demonstrar as principais transformações no perfil de gênero deste setor.

Transformações na indústria e perfil de gênero

As transformações decorrentes do processo de globalização, apesar de presentes e


difundidas nos anos 90 entre os demais ramos do setor metalúrgico ocorreram de forma mais
intensa, novamente, no setor Automobilístico marcado, principalmente, pela reorganização
geográfica do setor, constituição de joint ventures e fusões, desenvolvimento de plataformas
comuns a dois ou mais tipos de veículos (por vezes de montadoras distintas) e o
estabelecimento de fornecedores globais – global e follow sourcing (NASCIMENTO et al,
2003).

O setor automobilístico aprofundou os processos de reestruturação produtiva, que haviam


sido começados, timidamente, na década anterior. A reestruturação do setor foi marcada
pela desconglomerização e pela formação de redes de subcontratação, com enormes
plantas industriais dando lugar a empresas mais enxutas, pela introdução de inovações
tecnológicas através da introdução de robôs; sistemas CAD/CAM de engenharia e design;
Máquinas-ferramenta com comando numérico computadorizado; controladores programáveis
para comando de painéis eletrônicos e sistemas de transporte automático e flexível, bem
como pela introdução de inovações organizacionais introduzidas na produção como, por
exemplo, redução dos estoques e mecanismos de controle da qualidade (MANZANO, 2004).

Rachid et al (2004b) e Garcia (2005) mostram que na década de 90, ocorreu a reorganização
geográfica do setor, caracterizada pela localização de novas plantas em regiões sem
tradição na produção automotiva e pela mudança do perfil da mão-de-obra recrutada.

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Garcia (2005) investigou as implicações do processo de globalização ocorrido no Complexo
Industrial Automotivo de Gravataí nas relações de trabalho no setor metalúrgico da região e
no perfil da mão-de-obra local. Constatou impactos positivos na escolaridade e tendências de
alteração na composição etária, com crescimento dos trabalhadores mais jovens e dos
trabalhadores mais velhos em detrimento de trabalhadores entre 30 a 40 anos e na
distribuição por gênero da mão-de-obra. No que se refere ao sexo, os dados revelaram uma
tendência à redução da participação feminina no setor, que em 1999 representavam 13,4%
da mão-de-obra metalúrgica local e, em 2002, totalizavam 12.4%.

Rachid et al (2004b) pesquisou a instalação de uma nova planta de motores fora da região
tradicional da indústria automobilística, localizada na cidade de São Carlos. Observou-se que
no início da constituição da fábrica o processo de recrutamento dos trabalhadores privilegiou
a contratação de jovens (idade média de 29 anos), com no mínimo o segundo grau completo
e sem a "cultura metalúrgica" observada no ABC e não habituados a trabalhar nos moldes
mais tradicionais da indústria automobilística, assim como não ligados a questões sindicais.

Os trabalhadores contratados teriam passado por um processo intensivo de treinamento e,


com o tempo, continuaram sendo estimulados pela empresa à capacitação como forma de
progredir na carreira profissional. Com o passar dos anos, os trabalhadores selecionados
como "flexíveis" adquirem certa rigidez, passam a reivindicar por um piso salarial menos
desigual aos valores dos grandes centros e anseiam por melhores oportunidades de carreira
e sucesso profissional.

Em síntese, o processo de reestruturação produtiva no setor metalúrgico trouxe mudanças


nas relações de trabalho e no emprego metalúrgico. O novo paradigma de produção
demandou um novo perfil de trabalhador com maiores níveis de escolaridade, multifuncional,
flexível, polivalente, criativo, isto é, com iniciativa, sujeito a desempenhar várias tarefas,
melhor qualificado, aberto a inovações e com capacidade de trabalhar em grupo (GITAHY,
1994) bem como disposto a colaborar com os novos ideais das empresas.

Trouxe, ainda, mudanças significativas no volume do emprego. No período de 1987 a 2002 a


indústria metalúrgica perdeu cerca de 1,5 milhões de trabalhadores, passando de 2.757.949

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trabalhadores em 1987 para 1.319.793 em 2002. Dentre os motivos para a redução de mais
de 50% no número de postos de trabalho no ramo metalúrgico ao longo de quinze anos, está
o processo de reestruturação produtiva, as modificações ocorridas nos modelos de gestão e
produção, a abertura indiscriminada a importações, ausência de crédito público para
fomento, aumento da carga tributária e os baixos investimentos destinados ao setor
(DIEESE, 2005).

Essas transformações ocorridas no volume do emprego na indústria metalúrgica foram


acompanhadas pelo aumento da produtividade. A redução do emprego em números
absolutos ocorreu simultaneamente com a elevação da produtividade e do faturamento das
empresas, principalmente, em decorrência da difusão das inovações tecnológicas e
organizacionais ao longo da cadeia produtiva, assim como em função da intensificação da
prática da terceirização e do enxugamento das grandes empresas. Juntamente com a
redução do volume do emprego, houve nas últimas décadas mudanças na distribuição do
emprego metalúrgico em relação ao porte das empresas. Tendo como exemplo a região de
Campinas, Araújo et al (2001) mostram que as empresas com mais de mil empregados
passaram a empregar em 1997 cerca de 26% dos trabalhadores ao passo que em 1987
concentravam 50,1% do emprego total no setor. Por outro lado, as empresas de até 249
funcionários que em 1986 empregavam 27,9% atingiram em 1997 o percentual de 46,2%.

A reestruturação produtiva na maioria das empresas do setor metalúrgico veio


acompanhada, como afirmado anteriormente, pelo aumento no número de mulheres em
ocupações predominantemente masculinas, embora em condições salariais e de trabalho
mais precário, conforme observado nas Tabelas 1 e 2, nos anos de 1995 e 2000.

Ainda é importante ressaltar que Fonseca (2004) defende a idéia de que a necessidade de
acumulação de riquezas no sistema capitalista ultrapassa todos os limites do bom senso.
Nesse contexto, os processos de reestruturação produtiva, que têm causado inúmeros
impactos sobre a mão-de-obra trabalhadora, teriam como principal preocupação as
necessidades da produção, prevalecendo a ética do lucro seja quais forem as consequências
sociais ou a violação de direitos ocorridos devido a esse processo. Uma dessas
consequências teria sido a exclusão ou, nas palavras da autora, a sub-inclusão ou inclusão

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precarizada das mulheres, o que contribuiria para a perpetuação das desigualdades e o
aprofundamento das assimetrias da divisão sexual do trabalho.

Tabela 1 – Distribuições de ocupações na indústria metalúrgica segundo sexo em 1995 no


Brasil

1995 MASCULINO FEMININO % %


Masc Fem.

Engenheiros 9.472 451 95,5 4,5

Diretores de Empresas 1.876 162 92,1 7,9

Gerentes de Empresas 11.310 1.036 91,6 8,4

Chefe Administrativo Intermediário 8.438 2.224 79,1 20,9

Secretários 345 4.823 6,7 93,3

Supervisores de Compras e de 5.313 1.408 79,1 20,9


Vendas

Cozinheiros e Trab. Assemelhados 602 1.818 24,9 75,1

Trab. de Serviços Administrativos 4.474 2.722 62,2 37,8

Trabalhadores da Usinagem de 141.819 8.375 94,4 5,6


Metais

Soldad Chapeadores Caldeireiros 50.544 709 98,6 1,4


Mont Estruturas Metálicas

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Operador de Máquinas Fixo (tornos, 12.038 1.240 90,7 9,3
etc)

Trabalhadores Braçais (montagem, 42.875 5.121 89,3 10,7


etc.)

Fonte: Elaboração própria a partir do banco de dados RAIS.

Tabela 2 – Distribuições de ocupações na indústria metalúrgica, segundo sexo em 2000 no


Brasil

2000 MASCULINO FEMININO % % Fem


Masc

Engenheiros 8.230 516 94,1 5,9

Diretores de Empresas 1.392 133 91,3 8,7

Gerentes de Empresas 11.343 1.463 88,6 11,4

Chefe Administrativo 5.604 1.785 75,8 24,2


Intermediário

Secretários 349 3.561 8,9 91,1

Supervisores de Compras e de 4.819 1.675 74,2 25,8


Vendas

Cozinheiros e Traba. 437 1.347 24,5 75,5


Assemelhados

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Trab. de Serviços 6.440 3.108 67,4 32,6
Administrativos

Trabalhadores da Usinagem de 132.129 7.455 94,7 5,3


Metais

Soldad Chapeadores 53.691 834 98,5 1,5


Caldeireiros Mont Estruturas
Metálicas

Operadores de Máquinas Fixas 9.205 1.395 86,8 13,2


(tornos, etc)

Trabalhadores Braçais 41.827 4.928 89,5 10,5


(montagem, etc.)

Fonte: Elaboração própria a partir do banco de dados RAIS.

As transformações no perfil ocupacional dos trabalhadores da indústria metalúrgica segundo


sexo denotam que, apesar do emprego masculino ainda ser dominante, há um aumento da
força-de-trabalho feminina – e nota-se que, mesmo persistindo uma segregação horizontal, a
mão-de-obra feminina se encontra em tendência de aumento em ocupações como
operadores de máquinas, tornos, engenheiras, gerentes, chefes administrativos,
supervisores de compra e venda, assim como uma diminuição em postos como
“trabalhadores em serviços administrativos”, secretárias e outros, permitindo inferir o
processo de aumento da mão de obra feminina em cargos intermediários com implicações
em termos salariais.

Esse processo é parecido, quando analisamos o perfil da mão de obra no ramo metalúrgico
de São Carlos, em São Paulo, observado nas tabelas 3 e 4.

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Tabela 3 – Distribuições de ocupações na indústria metalúrgica, segundo sexo em 1995 em
São Carlos.

1995 MASCULINO % FEMININO %


Masc Fem.

Engenheiros Arquitetos 67 97,1 2 2,9

Diretores de Empresas 16 100,0 0 0,0

Gerentes de Empresas 81 91,0 8 9,0

Chefes Administrativo de Contabilidade 51 82,3 11 17,7


e Finanças

Secretários, 1 2,3 42 97,7

Trabalhadores de Serviço de 50 67,6 24 32,4


Contabilidade Caixas

Trab. Serv. Administrativos, 277 73,9 98 26,1

Supervisores de Compras e de Vendas, 34 79,1 9 20,9


Compradores

Cozinheiros, Garçons, 0 0,0 3 100,0

Trab. Serv. Admin, Conserv, Limp de 14 63,6 8 36,4


Edificios

Trabalhadores Metalúrgicos e 1.025 83,5 202 16,5


Siderúrgicos

Trabalhadores da Usinagem de Metais 3.557 87,5 509 12,5

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Encanad. Soldadores Chapeadores 271 96,4 10 3,6
Caldeireiros Mont Estruturas Metálicas

Operadores de Maquinas Fixas e de 16 100,0 0 0,0


Equipamentos Similares

Trabalhadores Braçais não Classificados 165 85,9 27 14,1


sob Outras Epigrafes

Fonte: Elaboração própria a partir do banco de dados RAIS.

Tabela 4 – Distribuições de ocupações na indústria metalúrgica, segundo sexo em 2000 em


São Carlos.

2000 MASCULINO % Masc FEMININO % Fem.

Engenheiros arquitetos 82 96,5 3 3,5

Técnicos desenhistas 375 98,2 7 1,8


técnicos

Diretores de empresas 7 100,0 0 0,0

Gerentes de empresas 81 94,2 5 5,8

Chefes intermediários 57 87,7 8 12,3


administrativos

Secretários, 2 6,9 27 93,1

Supervisores de compras e 40 81,6 9 11,0

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de vendas,

Cozinheiros, garçons 0 0,0 7 100,0

Trab. serv admin, conserv, 21 67,7 10 14,8


limp de edifícios

Trabalhadores da usinagem 4.760 85,4 817 14,6


de metais

Encanadores e soldadores 449 87,5 64 12,5


chapeadores caldeireiros
mont. estruturas metálicas

Operadores de máquinas 22 100,0 0 0,0


fixas e de equipamentos
similares

Trabalhadores braçais 222 95,3 11 4,7

Fonte: Elaboração própria a partir do banco de dados RAIS.

É possível observar o aumento percentual (ainda que pequeno) de mulheres engenheiras,


assim como um aumento expressivo de mulheres soldadoras, encanadoras e caldereiras. Tal
transformação no perfil do emprego segundo sexo na indústria metalúrgica de São Carlos, se
não permite inferir que há um processo de feminização, demonstra um incremento de mão-
de-obra feminina em ocupações que antes eram consideradas tipicamente masculinas.

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U NIDADE 12
Tecnologias da Informação: a sociedade em transição

Objetivo: Apresentar a tendência de transformação social por meio da introdução e


disseminação das tecnologias da informação.

Nas próximas duas unidades usaremos o artigo de Márcia Maria Palhares, Rachel Inês da
Silva e Rosemar Rosa intitulado, “As novas tecnologias da informação numa sociedade em
transição”. Nele, os autores apresentam um relato sobre a história contemporânea no qual
ressaltam que as tecnologias da informação passaram a exercer uma forte influência sobre a
sociedade, o que torna um desafio para todos os agentes envolvidos.

Introdução

A sociedade contemporânea vem passando por inúmeras mudanças em todas as áreas do


conhecimento humano. Os impactos produzidos nos últimos tempos na sociedade através
dos meios de comunicação altamente sofisticados como a TV, satélites, internet, têm
provocado uma profunda modificação no estilo de conduta, atitudes, costumes e tendências
das populações mundiais, principalmente no Brasil.

É importante ressaltar que essas mudanças só ocorrem por causa do avanço das
tecnologias, sobretudo no ramo das telecomunicações. Isso é percebido diariamente em
todos os países do mundo, principalmente os mais evoluídos, pois os mesmos produzem
tecnologia de forma acelerada e com uma eficiência singular.

As novas tecnologias auxiliam a sociedade em todos os ramos, tanto na Medicina, quanto na


Agricultura, tanto na Educação quanto nos Esportes, e assim sucessivamente. A era da
tecnologia produz um efeito crescente de desenvolvimento em todos os cantos do mundo,
isso faz com que haja uma revolução do próprio processo de compreensão do mundo.

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O vertiginoso aumento das tecnologias da comunicação e informação impulsiona ainda mais
o processo de mudança comportamental no Brasil e no mundo, isso acontece porque todos
os envolvidos com essas tecnologias têm que se adaptar a elas para se estabelecerem no
mercado e/ou na vida de um modo geral.

Baseado nisso, é que com todas essas mudanças, a valorização do conhecimento é ainda
mais necessária. Pois as novas tecnologias produzem ferramentas que auxiliam na
organização e disseminação do conhecimento.

A preocupação com a existência das novas tecnologias gera um estudo em que mostra como
elas contribuem para o andamento de uma sociedade sempre em transição.

A Sociedade da Informação

Entende-se a sociedade da informação como um estágio de desenvolvimento social


caracterizado pela capacidade de seus membros (cidadãos, empresas, poder público) de
obter e compartilhar qualquer informação, instantaneamente, de qualquer lugar e da maneira
mais adequada. A sociedade da informação designa uma forma nova de organização da
economia e da sociedade.

Na sociedade da informação as pessoas têm capacidade de gerar e armazenar suas


próprias informações bem como disseminá-las e ter acesso às informações de terceiros.
Essa mudança comportamental permite o acesso à informação que pode desencadear uma
série de transformações sociais, pois provocam mudanças nos valores, nas atitudes, e no
comportamento, mudando com isso também a cultura e os costumes da sociedade.

Nesse caso, a informação deve ser considerada apenas como um elemento facilitador que
amplia as transformações sociais e culturais. A sociedade da informação tem fatores
fundamentais e se baseia na relação entre eles: usuários (pessoas); infraestrutura (meios
técnicos), conteúdo (produtos e serviços), entorno (fatores diversos que influenciam a
sociedade da informação).

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Apesar da explosão informacional, e a acelerada evolução nas tecnologias, pelas quais se
consegue tudo em tempo real, a cultura não se igualou, ao contrário, muitos grupos ainda
resistem às novas tecnologias, e não a introduzem como uma cultura global. Cada país tem
suas peculiaridades e a sociedade da informação tem que se adaptar a elas.

No Brasil a facilidade de comunicação é visível, pois entre as novas tecnologias da


informação, a internet é uma forma habitual de comunicação. Pois se estabelece como uma
importante fonte de informação e pesquisa.

O desenvolvimento da sociedade da informação acontece de forma lenta, e grandes


mudanças só acontecerão em longo prazo. O que se percebe é que essas mudanças
produzirão melhorias na qualidade de vida da sociedade, elas facilitarão o acesso à
informação necessária para a participação social e política do país.

Através dessa evolução, pode-se verificar que dentre as novas tecnologias da informação, a
mais presente no dia-a-dia das pessoas será a TV por satélite, que estará presente em todo
o país. As outras tecnologias como telefonia móvel, fibra ótica, serão ampliadas de acordo
com sua importância, mesmo que no âmbito restrito das grandes cidades.

Diante disso, uma alternativa para disseminar o desenvolvimento dessas novas tecnologias é
potencializar o uso dos serviços eletrônicos da informação. Contudo, espera-se que todos os
cidadãos incorporem as novas tecnologias no seu dia-a-dia e tirando delas o máximo de
proveito para seu trabalho, lazer, saúde e educação.

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U NIDADE 13
Tecnologias da Informação: a sociedade em transição

Objetivo: Apresentar a tendência de transformação social por meio da introdução e


disseminação das tecnologias da informação.

Nesta unidade, continuaremos lendo o artigo de Márcia Maria Palhares, Rachel Inês da Silva
e Rosemar Rosa intitulado, “As novas tecnologias da informação numa sociedade em
transição”. Como já dito, os autores apresentam um relato sobre a história contemporânea no
qual ressaltam que as tecnologias da informação passaram a exercer uma forte influência
sobre a sociedade, o que torna um desafio para todos os agentes envolvidos.

As Novas Tecnologias da Informação

As novas tecnologias da informação estão integrando o mundo em redes globais de


comunicação. A tendência social e política característica da década de 90 é a construção de
um mundo cada vez mais globalizado, interagindo mutuamente com tudo e com todos.

A mudança histórica das tecnologias mecânicas para tecnologias da informação ajuda a


desmistificar a ideia de soberania e autosuficiência promovida no passado.

Sem dúvida, desde o início da década de 70, a inovação tecnológica tem sido conduzida pelo
mercado, provocando uma difusão mais rápida dessa inovação. Na realidade, a inovação
descentralizada estimulada por uma cultura de criatividade tecnológica e por modelos
tecnológicos de sucesso é que as novas tecnologias prosperam.

Baseado nisso, Lojkine (2002, p. 77) afirmou que: Uma das características da revolução
tecnológica é a crescente convergência de tecnologias especificas para um sistema
altamente integrado, no qual, trajetórias tecnológicas antigas ficam literalmente impossíveis
de se distinguir em separado.
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Assim, microeletrônica, as telecomunicações, a optoeletrônica e os computadores são todos
integrados nos sistemas de informação. Nesse caso, as tecnologias da informação são
apenas uma forma de processamento da informação; as tecnologias de transmissão e
conexão estão cada vez mais diversificadas e integradas na mesma rede operada por
computadores.

A informação como matéria-prima das novas tecnologias, é parte integrante de toda atividade
humana e todos os processos da existência individual ou coletiva são moldados pelo novo
meio tecnológico.

O atual processo de convergência em que se encontra a informação leva a uma lógica


aparente, toda informação produzida num sistema de informação avançado alcança novas
fronteiras de velocidade, armazenamento e flexibilidade no tratamento da informação vinda
de múltiplas fontes.

Diante disso, a dimensão da revolução da tecnologia da informação destina-se a promover


uma interação entre tecnologia e sociedade. Ambas se completam no que diz respeito à
sociedade da informação.

A Sociedade em Transição

A Revolução Industrial começou na Inglaterra, quando a máquina a vapor foi inventada, na


metade do século XVIII. Logo surgiram as ferrovias e indústrias. As pessoas trocaram o
campo pela cidade. As mudanças tecnológicas praticamente cessaram no século XIX,
quando surgiram várias inovações: motor de combustão interna, eletricidade, automóvel, etc.
que alteraram a economia mundial. Essas, por sua vez geraram uma nova classe de
trabalhadores, aumentou o número de pessoas com acesso à educação e que tinham
dinheiro. Começaram os problemas de desemprego, surgiu o materialismo e a
descentralização da família.

Já no século XX, a partir da década de 70 as novas tecnologias da informação já se


apresentavam em âmbito internacional, substituindo as tecnologias intensivas em material e

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energia, de massa, características do ciclo do petróleo. Nesse cenário marcado por
mudanças cruciais, a necessidade de informação sobre futuros desenvolvimentos tornou-se
ainda mais vital. O acesso a uma ampla base de informações e conhecimentos científicos e
tecnológicos, que se constituía numa vantagem no passado transformou-se em uma
necessidade fundamental no presente.

Com a nova ordem mundial, as mudanças ocorreram de forma acelerada contribuindo para
os avanços das tecnologias da informação e comunicação. Segundo Dertouzos (1997, p.
106). Essas transformações se manifestam na transmissão de dados à velocidade da luz, no
uso de satélites, na revolução da telefonia, na difusão da informática na maioria dos setores
da produção e dos serviços e na miniaturização dos computadores e sua conexão em redes
à escala planetária.

A acelerada disponibilização das novas tecnologias aponta para uma era de crescente
globalização, inclusive tecnológica. Isso acontece dado ao caráter do processo de geração,
transmissão e difusão das tecnologias. As mudanças em curso podem gerar impactos e
efeitos na economia mundial, para os mercados interno e externo, já que a difusão das novas
tecnologias acontece em escala mundial. Nesse caso, os principais movimentos que
caracterizam as novas tecnologias são fortemente centrados nos países mais desenvolvidos
que marginalizam os menos desenvolvidos, inclusive o Brasil.

Conclusão

Em relação às novas tecnologias, as evidências apontam para uma exploração internacional,


que é a única dimensão que vem conhecendo efetivamente um processo de globalização. Na
revolução das novas tecnologias da informação e comunicação, o conhecimento tecnológico,
ao se constituir num dos principais meios da globalização, permanece, na sua essência,
restrito ao âmbito daqueles que detêm o conhecimento.

O mercado da informação está provocando uma transformação maior e mais profunda. Os


efeitos das novas tecnologias na vida das pessoas provocarão mudanças econômicas,

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políticas, sociais e psicológicas significativas. O novo mundo da informação está
economicamente parecido com o mundo do século XX, em que predominavam mercadorias
e serviços. Atualmente, existem muitas inovações que com o tempo serão inúteis se não
forem processadas.

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U NIDADE 14
Sistemas de Inovação como fator de competitividade

Objetivo: Apresentar como as políticas de inovação tecnológica podem ser fatores decisivos
na competitividade de empresas e nações.

“Novas políticas para o desenvolvimento industrial e tecnológico vêm sendo formuladas em


resposta às importantes transformações vividas nas últimas décadas”. No texto de José
Eduardo Cassiolato e Helena Maria Martins Lastres “Sistema de inovação, políticas e
perspectivas”, os autores trabalham a questão da importância de um sistema nacional de
inovação, dado ao fato de que inovação e conhecimento são, hoje, os principais fatores que
definem competitividade entre nações, empresas, etc. Das unidades 14 a 18 leremos partes
do artigo supramencionado.

Introdução

Entre os poucos consensos estabelecidos no intenso debate que procura entender o atual
processo de globalização, encontra-se o fato de que inovação e conhecimento são os
principais fatores que definem a competitividade e o desenvolvimento de nações, regiões,
setores, empresas e até indivíduos.

A globalização tem acirrado a concorrência que cada vez mais está baseada em
conhecimento e na organização dos processos de aprendizado. Observa-se crescente
importância de outros fatores que não os relacionados diretamente a preços na concorrência
entre empresas. As capacitações das empresas, em termos de produção e uso do
conhecimento, têm cada vez mais um papel central, na sua competitividade.

A crescente competição internacional e a necessidade de introduzir eficientemente, nos


processos produtivos, os avanços das tecnologias de informação e comunicações têm
levado as empresas a centrar suas estratégias no desenvolvimento de capacidade inovativa.
Esta é essencial até para permitir a elas a participação nos fluxos de informação e
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conhecimentos (como os diversos arranjos cooperativos) que marcam o presente estágio do
capitalismo mundial.

Como principais questões que contribuíram para um melhor entendimento do processo de


inovação nos últimos anos, destacam-se:

Reconhecimento de que inovação e conhecimento (ao invés de serem considerados como


fenômenos marginais) colocam-se cada vez mais visivelmente como elementos centrais da
dinâmica e do crescimento de nações, regiões, setores, organizações e instituições;

A compreensão de que a inovação constitui-se em processo de busca e aprendizado, o qual,


enquanto dependente de interações, é socialmente determinado e fortemente influenciado
por formatos institucionais e organizacionais específicos;

A ideia de que existem marcantes diferenças entre os agentes e suas capacidades de


aprender (as quais refletem e dependem de aprendizados anteriores, assim como da própria
capacidade de esquecer);

Entendimento de que existem importantes diferenças entre sistemas de inovação de países,


regiões, setores, organizações, etc. em função de cada contexto social, político e institucional
específico;

A visão de que, se por um lado informações e conhecimentos codificados apresentam


condições crescentes de transferência dada a eficiente difusão das TIs-conhecimentos
tácitos de caráter localizado e específico continuam tendo um papel primordial para o
sucesso inovativo e permanecem difíceis (senão impossíveis) de serem transferidos.

As transformações no processo inovativo ao longo das últimas duas décadas acontecem no


sentido de que ele passa a depender cada vez mais de processos interativos de natureza
explicitamente social. Tais interações ocorrem em diferentes níveis. Observa-se,
inicialmente, uma crescente interação entre as diferentes fases do processo inovativo.

Pesquisa, desenvolvimento tecnológico, e difusão constituem parte de um mesmo processo.


Mais ainda, o processo inovativo caracteriza-se também por necessárias interações entre

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diferentes instâncias departamentais dentro de uma dada organização (produção, marketing,
P&D, etc.) e entre diferentes organizações e instituições.

Assim, conforme relatório recente da União Européia, quatro tendências principais relativas
às novas especificidades do processo inovativo observadas na última década podem ser
destacadas. Inicialmente observa-se uma significativa aceleração da mudança tecnológica
nas últimas décadas.

O acontecimento é constantemente ilustrado pelo fato de que o tempo necessário para se


lançar novos produtos tem se reduzido, que o processo que leva a produção do
conhecimento até a comercialização é mais curto e que os ciclos de vida dos produtos são
também menores. O rápido desenvolvimento e uso amplo das tecnologias de informação e
comunicações certamente têm jogado um papel fundamental nesta mudança.

Ao mesmo tempo, a colaboração entre firmas e a montagem de redes industriais tem


marcado o processo inovativo. Novos produtos têm sido desenvolvidos a partir da integração
de diferentes tecnologias e estas são crescentemente baseadas em diferentes disciplinas
científicas. Mesmo grandes empresas têm dificuldade em dominar a variedade de domínios
científicos e tecnológicos necessários, o que explica a expansão de acordos colaborativos e
a crescente expansão de redes industriais. A integração funcional e a montagem de redes
têm oferecido vantagens às empresas na busca de rapidez no processo inovativo. A
flexibilidade, interdisciplinaridade e fertilização cruzada de idéias ao nível administrativo e
laboratorial são importantes elementos do sucesso competitivo das empresas.

Finalmente, observa-se a crescente colaboração com centros produtores do conhecimento


dada a crescente necessidade do processo inovativo se apoiar em avanços científicos em
praticamente todos os setores da economia.

Conforme destacado em trabalhos anteriores, os países mais avançados têm enfrentado as


mudanças acima descritas de maneira diferenciada. Particularmente, ressalta-se que a forma
de atuação do Estado no campo das políticas industriais e tecnológicas tem se alterado
significativamente.

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U NIDADE 15
Sistemas de Inovação como fator de competitividade

Objetivo: Apresentar como as políticas de inovação tecnológica podem ser fatores decisivos
na competitividade de empresas e nações.

Seguiremos lendo o texto de José Eduardo Cassiolato e Helena Maria Martins Lastres
“Sistema de inovação, políticas e perspectivas”, no qual os autores abordam a questão da
importância de um sistema nacional de inovação, dado ao fato de que inovação e
conhecimento são, hoje, os principais fatores que definem competitividade entre nações,
empresas, etc. Nesta unidade, os autores apresentam as novas políticas de inovação em
vigor nos países da OCDE.

As novas políticas de inovação em vigor nos países da OCDE

Em praticamente todos os países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento


Econômico-OCDE, os governos têm considerado imperativo contrabalançar o grau elevado
de abertura ao exterior que se seguiu à importante redução de barreiras tarifárias (que em
alguns casos foi completa), mobilizando e desenvolvendo uma ampla gama de instrumentos
visando melhorar a competitividade de suas empresas, tanto no que se refere às
exportações quanto em relação aos mercados internos expostos à concorrência externa.

Hoje em dia, o principal fator que efetivamente fixa os limites cada vez mais severos, em
nível dos investimentos públicos necessários à manutenção das dimensões estruturais da
competitividade, é a crise fiscal do Estado e a sua dificuldade em financiar as despesas de
médio e longo prazo. Mas não se pode confundir as restrições advindas da crise fiscal - reais
e sérias - com a anulação do papel do Estado na definição e implementação de políticas
industriais e tecnológicas. No Japão, na Alemanha, na França e nos EUA os governos vêm

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agindo pragmaticamente na defesa ou reforço de sua competitividade industrial, pois desta
depende sua soberania.

É verdade que, na maior parte dos países da OCDE, reconhece-se que a pressão da
concorrência externa nos oligopólios locais é considerada positiva. Porém, uma série de
outros parâmetros é considerada pelos governos locais. Entre estes, destacam-se a
preservação dos componentes principais da soberania nacional, particularmente, o domínio e
algum grau de autonomia parcial em ‘tecnologias críticas’. A racionalidade para este
parâmetro combina considerações militares e industriais cujo mix varia de acordo com o país.
Outros parâmetros importantes incluem a questão do emprego, o balanço comercial e,
principalmente, aumentar os retornos de processos tecnológicos interativos.

Estes são a base das políticas atuais de inovação ora em vigor nos países da OCDE. Tais
políticas, porém, não devem ser confundidas com a geração anterior de políticas industriais e
tecnológicas, no sentido de que elas não possuem nem a simplicidade nem a relativa
legibilidade daquelas. O contexto histórico sobre o qual as políticas de inovação e
competitividade têm sido criadas, particularmente o conflito por elas apresentado com
relação aos princípios da livre concorrência, fazem com que elas sejam, na maior parte dos
casos, de baixa transparência.

Mas sua dificuldade de análise é igualmente devida ao fato de que, se as novas políticas
incluem certo número de instrumentos tradicionais da política industrial, elas também
recorrem a um número maior e mais complexo de instrumentos. Na prática, tal complexidade
dá um caráter ad hoc muito pronunciado às políticas.

Porém, um conceito chave é o reconhecimento que as políticas comerciais de investimento e


de inovação devem ser consideradas de maneira holística, conjuntamente, e não de maneira
separada. A interface entre tais políticas é particularmente visível nas políticas de apoio à
exportação e no erguimento das barreiras não tarifárias. As primeiras são centradas em
apoio indireto via programas, voltados principalmente à inovação e ao desenvolvimento
regional.

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As segundas referem-se fundamentalmente a considerações de natureza ambiental,
oferecem a diversos setores uma proteção efetiva, compensam a que foi perdida como
resultado da eliminação das tarifas e são, de fato, instrumentos setoriais de política de
competitividade. Em ambos os casos, utilizam mecanismos permitidos pelo acordo que levou
à criação da Organização Mundial do Comércio. Não é surpresa que, em tal acordo, as três
áreas nas quais o apoio público é ainda permitido são exatamente: inovação,
desenvolvimento regional e meio ambiente.

O banco de dados da OCDE sobre programas de apoio à indústria mostra que, a partir da
segunda metade dos anos 80, os gastos públicos destinados ao auxílio ao investimento, de
caráter geral, diminuíram principalmente em razão de reformas que reduziram incentivos
fiscais.

Porém, tal diminuição foi mais do que compensada por um aumento significativo de outras
medidas de política que foram reforçadas. Entre estas, devem destacar-se as medidas de
caráter regional e de apoio à inovação, as que mais crescem. No que se refere às medidas
de apoio à inovação, apesar do apoio à P&D ser um mecanismo de política há muito
utilizado, ele mudou substancialmente ao longo da presente década, transformando-se no
mais importante instrumento de política industrial utilizado pelos países da OCDE.

Anteriormente o apoio à inovação se constituía fundamentalmente de subvenções pagas às


empresas sob a forma de contratos de P&D estabelecidos com o objetivo da obtenção de
resultados específicos, prolongando-se, em caso de sucesso, sob a forma de compras
governamentais. Na maioria das vezes, tal apoio era ligado a grandes programas concebidos
e coordenados pelos Estados (armamentos, aeronáutica, computadores, etc.).

Hoje em dia, na maior parte dos países da OCDE, a ênfase nas medidas de apoio à
inovação tecnológica, por parte dos países mais avançados, está estreitamente vinculada ao
desenvolvimento, difusão e utilização eficiente das novas tecnologias (especialmente as de
informação e comunicações) na economia baseada no conhecimento.

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Além da referida convergência entre as diversas políticas, particularmente as de comércio
internacional, industrial e tecnológica, observa-se um crescente reconhecimento da
importância da inovação e dos sistemas nacionais de inovação em tais países.

Em síntese, as políticas recentes adotadas pelos países membros da OCDE e da UE se


relacionam principalmente:

À nova ênfase das políticas a blocos agregados de desenvolvimento (particularmente


sistemas produtivos e de inovação) os quais geralmente incluem diversos setores e
atividades correlatos, assim como as políticas que focalizam atividades de serviços
relacionadas a diferentes partes da indústria.

Ao reconhecimento de que investir apenas para ter acesso a novas tecnologias e sistemas
avançados não basta, uma vez que o conhecimento e o aprendizado estão amarrados a
pessoas; assim, tem sido enfatizado o investimento na capacitação e treinamento de
recursos humanos.

Ao entendimento de que, dada a natureza sistêmica e interativa dos processos de inovação e


aprendizado, não há sentido em continuar promovendo políticas que privilegiem apenas o
lado da oferta ou da demanda de tecnologias. Em particular, tem se observado a promoção
de redes de todos os tipos e em níveis local até o supranacional (com a finalidade de ajudar
a criar um sistema mais interdependente e coerente que torne as empresas mais
competitivas).

À importância conferida à internacionalização do desenvolvimento e utilização de


tecnologias, que tem levado os governos a apoiarem empresas em seus esforços de
internacionalizar suas atividades - até como forma de promover possibilidades de as mesmas
participarem de programas cooperativos mundiais - o que inclui sistemas de previsão
tecnológica e o estabelecimento de regras para partilhar e proteger direitos de propriedade
intelectual.

Destaca-se que a ênfase ao enfoque de sistema de inovação em si já traz pelo menos duas
orientações de política embutidas para nortear os policy-makers quanto às novas formas de

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promoção à inovação:(i) que o processo inovativo, assim como as políticas para estímulo do
mesmo, não podem ser vistos como elementos isolados de seus contextos nacional, setorial,
regional, organizacional, institucional; e portanto,(ii) a importância de se focalizarem a
relevância de cada subsistema envolvido, assim como as articulações entre estes e entre
agentes.

Estudo sobre estas novas políticas realizado pelo Grupo de Economia da Inovação da UFRJ
para o IEDI, sob coordenação dos autores, apresenta diversos exemplos. As experiências
mostram que importantes mudanças institucionais foram realizadas nos diversos países. Em
meados da década passada, a Alemanha funde o Ministério da Educação e Ciência e o
Ministério da Pesquisa e Tecnologia num novo Ministério Federal de Educação, Ciência,
Pesquisa e Tecnologia (BMBF). A reestruturação foi realizada a partir do diagnóstico sobre a
perda de competitividade da indústria e da queda verificada a partir de 1990, dos gastos
totais do setor privado em P&D.

No caso dos EUA, a reorganização institucional se deu particularmente no âmbito do


Departamento de Comércio com a transformação do National Institute for Standards and
Technology (NIST) que teve suas funções redefinidas, passando a contemplar especialmente
o financiamento de pesquisas “genéricas de caráter pré-competitivo” em firmas industriais-
através do Advanced Technology Program (ATP)- e a montagem de diversos programas de
colaboração entre governo, empresas e instituições de ensino e pesquisa.

Em alguns países (destacam-se os casos de Holanda, Dinamarca e Suécia) as novas


tendências estão até transformando a natureza da intervenção do governo, associada a uma
mudança na direção de um maior entendimento das complexidades e dinâmica do processo
de inovação, assim como de seu papel na Economia do Aprendizado. No caso da Espanha,
em março de 2000, o novo governo cria um Ministério da Inovação.

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U NIDADE 16
Sistemas de Inovação como fator de competitividade

Objetivo: Apresentar como as políticas de inovação tecnológica podem ser fatores decisivos
na competitividade de empresas e nações.

Seguiremos lendo o texto de José Eduardo Cassiolato e Helena Maria Martins Lastres
“Sistema de inovação, políticas e perspectivas”, no qual os autores abordam a questão da
importância de um sistema nacional de inovação, dado ao fato de que inovação e
conhecimento são, hoje, os principais fatores que definem competitividade entre nações,
empresas, etc. Nesta unidade, os autores trabalham com a ciência e inovação no Brasil e
nos países da América Latina.

O Brasil e os países Latino-americanos

Os desafios e impasses enfrentados pelos países menos avançados face ao processo de


aceleração da globalização e à crescente importância de inovação e conhecimento na
competitividade são semelhantes e até mais sérios do que aqueles identificados no caso dos
países mais avançados. Salienta-se aqui, a argumentação daqueles autores que vêem como
consequência real da aceleração do processo de globalização o acirramento das
disparidades e a aceleração do processo de polarização entre regiões, países e grupos
sociais (ricos e pobres em informação; integradas e não integradas globalmente).

Os países latino-americanos defrontam-se com as atuais transformações a partir de sistemas


nacionais de inovação formados ao longo do período de substituição de importações que,
além de intensa importação de tecnologia, apresentavam as seguintes características:

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Níveis extremamente reduzidos de gastos em C&T (Ciência e Tecnologia) e P&D (Pesquisa
e Desenvolvimento), particularmente se comparados com os países da OCDE e do Sudeste
Asiático;

A maioria significativa das atividades de P&D realizadas por institutos de pesquisa e


universidades públicas e por laboratórios de P&D de empresas públicas, com participação
extremamente reduzida de empresas privadas;

As universidades públicas tiveram papel fundamental no treinamento de recursos humanos


especializados.

Portanto, de maneira geral, o setor público desempenhava o papel mais importante no


desenvolvimento dos sistemas nacionais de inovação desses países. Aponta-se ainda que,
durante o período de substituição de importações, a maior parte das tecnologias adquiridas
pelos países latino-americanos eram relativamente maduras. Considerava-se que a maior
parte da capacitação necessária para usar e operar as tecnologias de produto e processo
podia ser adquirida uma maneira relativamente fácil via treinamento em rotinas básicas. Por
outro lado, não se requeria ou estimulava, de forma efetiva, a acumulação da capacitação
necessária para gerar novas tecnologias, sendo tais requisitos ainda mais limitados em
setores onde a proteção isolava as empresas dos efeitos das mudanças geradas na
economia internacional.

Tais considerações são consistentes com a caracterização das empresas latino-americanas


em geral, dada a maneira com que elas foram constituídas, a partir das políticas de
substituição de importações e/ou promoção de exportações. Como enfatizou Carlota Perez:

“a maior parte das empresas não foi constituída para evoluir. A maioria o foi para operar
tecnologias maduras, supostamente já otimizadas. Não se esperava que as empresas
alcançassem competitividade por elas próprias. A lucratividade era determinada por fatores
exógenos, como a proteção tarifária, subsídios à exportação e numerosas formas de auxílio
governamental, ao invés da capacidade da própria empresa aumentar a produtividade ou
qualidade. As empresas não são conectadas (tecnicamente)… (e tem sido) difícil a geração
de sinergias nas redes e complexos industriais.”

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O pequeno esforço quanto ao desenvolvimento de atividades inovadoras e as consequentes
fragilidades e deficiências tecnológicas da indústria local foram considerados como não
tendo representado empecilho significativo ao crescimento econômico durante o processo de
substituição de importações. Na fase mais recente, todavia, estes fatores constituem um
importante gargalo. De fato, um importante contraste entre a tendência dos países mais
avançados e o caso brasileiro refere-se, por exemplo, ao engajamento do setor empresarial
nos esforços inovativos e de P&D.

As reformas estruturais dos anos 90 realizadas na região, sem a preocupação de priorizar a


capacidade inovativa das empresas locais, trouxeram importantes impactos aos sistemas
nacionais de inovação. Na falta de uma participação mais efetiva das empresas locais no
esforço inovativor, a maior parte das estratégias tecnológicas adotadas parece apoiar-se na
crença de que a tecnologia se “globalizou” e o investimento estrangeiro seria condição
necessária e suficiente para modernizar o parque produtivo local e para conectar a economia
ao processo de globalização. Porém, uma série de trabalhos importantes mostra que, longe
de ter se tornado “global”, a tecnologia, a inovação e o conhecimento têm se caracterizado
como componentes crescentemente estratégicos, de cunho localizado.

Durante a década de 90, as políticas industriais e tecnológicas dos países latino-americanos


foram ancoradas num duplo eixo. Por um lado, supunha-se que, à semelhança do período
anterior, as tecnologias seriam passíveis de aquisição no mercado internacional. Por outro
lado, considerava-se que as subsidiárias das empresas transnacionais teriam um papel
chave no processo de catch up industrial e tecnológico: (i) trazendo os novos investimentos
necessários para integrar as economias locais ao processo de globalização; (ii) “transferindo”
suas novas tecnologias para as economias atrasadas e pressionando os concorrentes locais
a se modernizarem. Assim, para atrair um novo fluxo de investimentos estrangeiros
bastavam serem seguidos os preceitos de liberalização, desregulamentação e privatização,
deixando que o mercado tomasse conta do resto.

A consecução de tais preceitos tem resultado numa intensa competição entre governos
locais na tentativa de atrair novos investimentos por parte de empresas transnacionais. Tal
competição está baseada na concessão de incentivos fiscais de diversa natureza. Tais

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incentivos, que resultam em custos altamente elevados, englobando incentivos os mais
variados, desde facilidades de aquisição de terrenos, criação de infraestrutura até isenções
fiscais e financiamentos de longo prazo – caminham em direção oposta aos novos
instrumentos acima apontados. A sua inadequação refere-se ao fato de, se tais medidas não
forem acompanhadas de outras que exijam o cumprimento de certas exigências quanto ao
desempenho das empresas beneficiárias (como, por exemplo, obtenção de certas metas
quanto a exportações e aumento do valor agregado, em nível local), a tendência é que o
encadeamento com a economia local continuará se reduzindo e os empreendimentos
continuarão tendo impacto negativo na balança comercial, dado o seu caráter intensivo em
importação.

De fato, como argumentam diversos autores, encontram-se crescentes evidências que as


guerras fiscais para atrair investimentos não atraem o tipo de investimento que gera
aprendizado e inovação. Uma das conclusões aqui é que, na falta de promoção dos
processos de aprendizado e de capacitação inovadora, e do fortalecimento de redes e
vínculos que incluam agentes locais, as empresas receptoras dos subsídios encontram
poucas razões para se enraizar nas regiões hospedeiras.

Assim, apesar de importantes esforços, o ajuste produtivo realizado pela maioria das
empresas brasileiras tem consistido basicamente de uma estratégia defensiva de
racionalização da produção, visando reduzir custos. Tal movimento tem se dado
basicamente através da introdução parcial e localizada de equipamentos de automação
industrial, e de novas técnicas organizacionais do processo de trabalho, ou através do
“enxugamento” da produção, com redução de pessoal e eliminação de linhas de produção
(movimentos de desverticalização, subcontratação e especialização).

Deve-se reconhecer que o ajuste empreendido aumentou a eficiência e evitou a


desindustrialização (a menos de áreas específicas, como no caso do setor de
microeletrônica). Mais ainda, o aumento de produtividade e da qualidade dos produtos, a
redução dos prazos de produção e entrega, e o início de utilização de novas técnicas de
organização constitui-se, certamente, em aspectos positivos da reestruturação brasileira.

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Porém, no ajuste defensivo atual, em várias empresas, o “enxugamento” da produção levou
ao abandono de linhas de produtos de maior nível tecnológico, que incorporam maior valor
adicionado, em favor de produtos mais padronizados, caracterizando um processo oposto à
tendência internacional, o downgrading da produção. Neste ajuste produtivo foram
privilegiadas faixas médias e baixas do consumo e equipamentos básicos à produção.

Enfim, a estrutura produtiva orientou-se para a produção relacionada aos segmentos sujeitos
a menores riscos no mercado, provocando um significativo descolamento da estrutura
industrial nacional em relação aos segmentos mais dinâmicos na pauta de consumo dos
países industrializados e no comércio internacional. O resultado líquido de tais movimentos
tem sido uma progressiva (e conhecida) erosão da competitividade internacional das
empresas brasileiras, que se manifesta na perda de importância do país no comércio
internacional a partir do final da década de 80.

Assim, de uma maneira geral, os seguintes impactos no sistema nacional de inovação


brasileiro (à semelhança de outros países latino-americanos) já podem ser observados:

Dada a retração do Estado no financiamento das atividades científico-tecnológicas,


esperava-se que os agentes privados passassem a desempenhar um papel mais importante.
Na prática, porém, tem se observado que a diminuição dos gastos públicos não tem sido
acompanhada por um aumento nos gastos privados.

A política governamental tem promovido a privatização parcial dos institutos tecnológicos


públicos, forçando-os a obter uma crescente parcela de seus gastos correntes no setor
privado.

A liberalização diminuiu o custo de bens de capital importados, encorajando, portanto, o seu


uso em detrimento das máquinas e equipamentos localmente produzidos. Tanto no caso da
privatização das empresas públicas, quanto na expansão dos conglomerados locais, o
estabelecimento de novas capacidades produtivas baseia-se fortemente no uso de
equipamentos e bens intermediários importados. O resultado final é que a produção tem se
tornado menos intensiva no uso de capacitações técnicas e engenharias locais.

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O uso crescente de componentes importados teve um impacto negativo nas empresas locais,
uma vez que destruiu cadeias de produção em um número grande de firmas locais
(especialmente PMEs) que serviam como fornecedoras de empresas estrangeiras.

As subsidiárias das empresas transnacionais-como passaram a poder operar com base em


partes e componentes importados – reformularam suas estratégias de “adaptação de
tecnologia” e algumas descontinuaram programas tecnológicos locais que se justificavam
nas economias mais fechadas do passado.

A maior parte das firmas locais que desenvolveram capacitações tecnológicas no passado-
premidas pelo aumento da concorrência e tendo que operar num ambiente em que, à
diferença de suas competidoras internacionais, o Estado abstém-se de formular e
implementar políticas industriais - ou estão sendo absorvidas por subsidiárias de empresas
transnacionais ou estão desaparecendo; em ambos os casos, os esforços tecnológicos estão
sendo perdidos.

As firmas locais com capacidade tecnológica que sobreviveram, tendem a apresentar


modestas ou nulas taxas de crescimento nos últimos anos - até como estratégia de
sobrevivência no cenário “globalmente competitivo”- o que pode acarretar importantes
problemas para a manutenção de suas capacitações, dada a conhecida associação entre
estas e o crescimento da firma.

O resultado líquido é que o capital tecnológico assim como parte importante da capacitação
dos recursos humanos gerados e acumulados desde o período de substituição de
importações tornaram obsoletos no período atual.

Assim, a preocupação com os ajustes macroeconômicos de curto prazo (foco central da


visão neoliberal) tem trazido imenso impacto na acumulação de capacitações que em longo
prazo são essenciais para o desenvolvimento econômico.

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U NIDADE 17
Sistemas de Inovação como fator de competitividade

Objetivo: Apresentar como as políticas de inovação tecnológica podem ser fatores decisivos
na competitividade de empresas e nações.

Seguiremos lendo o texto de José Eduardo Cassiolato e Helena Maria Martins Lastres
“Sistema de inovação, políticas e perspectivas”, no qual os autores abordam a questão da
importância de um sistema nacional de inovação, dado ao fato de que inovação e
conhecimento são, hoje, os principais fatores que definem competitividade entre nações,
empresas, etc.

Algumas diretrizes gerais quanto à definição de políticas de inovação

A operacionalização das novas políticas exige menos do Estado do ponto de vista de


recursos financeiros e significativamente mais no que se refere à sua capacidade de
intervenção; exige um Estado melhor preparado para compreender as importantes mudanças
associadas à denominada Era do Conhecimento. No que se refere especificamente às
políticas de inovação, o enfoque principal a partir do qual elas têm sido desenhadas é o de
Sistemas de Inovação, em suas diferentes dimensões (supranacional nacional e
subnacional).

Um sistema de inovação pode ser definido como um conjunto de instituições distintas que
conjuntamente e individualmente contribuem para o desenvolvimento e difusão de
tecnologias. Tal noção envolve, portanto, não apenas empresas, mas, principalmente,
instituições de ensino e pesquisa, de financiamento, governo, etc.

Este conjunto constitui o quadro de referência no qual o governo forma e implementa


políticas visando influenciar o processo inovativo. Em termos gerais, tal sistema seria

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constituído por elementos (e relações entre elementos) onde diferenças básicas em
experiência histórica, cultural e de língua refletem-se em idiossincrasias em termos de:
organização interna das firmas, relação interfirmas e inter instituições, papel do setor público
e das políticas públicas, montagem institucional do setor financeiro, intensidade e
organização de P&D, etc.

A utilidade do conceito de ‘sistemas nacionais de inovação reside no fato de o mesmo tratar


explicitamente questões importantes, ignoradas em modelos mais antigos de mudança
tecnológica - especificamente o da diversidade e do papel dos investimentos intangíveis em
atividades de aprendizado inovativo. Além disso - e baseando-se na consideração de que
uma diversidade significativa existe entre os países e instituições na forma, nível e padrão
dos investimentos em aprendizado -focalizam-se particularmente as ligações entre
instituições e suas estruturas de incentivos e capacitações. Num plano mais descentralizado,
têm sido concebidos sistemas regionais, estaduais e locais de inovação.

O corolário principal desta discussão é o de que não existem formas e mecanismos de


política de aplicabilidade universal. Pelo contrário, formas e mecanismos variarão em função
das diferentes especificidades. Na raiz de tal problemática está a questão – central na visão
de sistemas de inovação – da diversidade. Encontra-se heterogeneidade ao nível da firma,
de seu ambiente de atuação, das relações mesoeconômicas e da economia como um todo.
Ao nível micro, isto significa, entre outras coisas, que trabalhamos com um enfoque que
despreza conceitos de “firma representativa”, assumindo-se que as firmas não responderão
da mesma maneira a mudanças econômicas ou de política. Ao nível macro, na análise, por
exemplo, de crescimento econômico, a diversidade significa que podem existir diferentes
combinações de atividades nas trajetórias de crescimento de países e regiões.

Do ponto de vista da política econômica, a diversidade implica em que não existem regras
gerais com relação à promoção de inovação e crescimento e que, portanto, é necessário
pensar em detalhe com relação às características específicas dos contextos onde as
políticas serão implementadas. O problema principal de tal visão, porém, é como entender a
questão da diversidade numa perspectiva mesoeconômica. O ponto é particularmente

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importante tendo em vista que as novas formas de intervenção pública ocorrem exatamente
neste nível.

Para se responder tal questão, dois pontos merecem ser enfatizados. O primeiro refere-se ao
próprio conceito de inovação utilizado. Inovação não é algo que só ocorra nos países
avançados, em grandes corporações multinacionais ou em indústrias hi-tech. Estes três
mitos ainda são presentes hoje em dia quando se discutem sistemas de inovação e existem
boas razões para esse equívoco. Uma delas é que parcela significativa das análises
disponíveis se baseia em indicadores extremamente imperfeitos do processo inovativo, tais
como gastos em P&D e patentes como representativos de, respectivamente, insumos e
resultados do processo inovativo. Não é necessário que aqui nos detenhamos numa crítica
detalhada sobre tais indicadores. O importante é que possamos partir de uma definição mais
apropriada sobre o processo inovativo.

Podemos utilizar, por exemplo, a noção de que inovação é o processo pelo qual as empresas
dominam e implementam o design e a produção de bens e serviços que sejam novos para
elas, independentemente do fato de serem novos para seus concorrentes – domésticos ou
internacionais. Definir inovação dessa maneira não significa negar o papel da P&D na
geração de novos conhecimentos, mas permite uma perspectiva mais ampla para o
entendimento dos processos de capacitação e aprendizado realizado pelas firmas na busca
de competitividade.

A segunda refere-se ao conceito de “setor” utilizado. Obviamente, têm sido cada vez mais
reconhecidas as dificuldades (e suas consequências) de se estabelecer fronteiras claras
entre atividades econômicas que crescentemente se entrelaçam e classificá-las dentro de
limites estritamente “setoriais”; por exemplo, como definir a fronteira entre os setores
industriais e de serviços, na economia atual? Porém, outra observação é fundamental para a
discussão sobre política industrial e de inovação e que se refere à intensidade relativa de
esforços inovadores pelos diferentes “setores” da economia.

A visão tradicional, baseada no indicador gasto em P&D sobre faturamento (ou qualquer
outra variável de desempenho, como por exemplo, receita operacional) associa intensidade

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do dinamismo tecnológico com tal variável; assim “setores” caracterizados por altos gastos
em P&D sobre vendas são denominados como sendo de alta intensidade tecnológica
enquanto “setores” caracterizados por baixos gastos em P&D são denominados como sendo
de baixo dinamismo tecnológico.

A utilização da definição de inovação acima permite diferentes análises e interpretações.


Assim, a tabela 1 apresenta dados das Innovation Surveys, realizadas por diversos países da
União Européia, que se referem à contribuição dada por produtos novos às vendas para
diferentes setores industriais.

Deve-se lembrar que, nas Innovation Surveys, tal indicador é utilizado como melhor
aproximação do esforço inovativo do que gastos em P&D ou patentes. Os países
representados na tabela são a Alemanha, a Noruega, a Dinamarca e a Holanda. O ponto
principal a ser destacado da tabela 1 é que existe uma proporção significativa das vendas
que são ligadas a novos produtos e que esta proporção se encontra ao longo de
praticamente todos os setores industriais. Analisada desta maneira, a inovação não se
confina a alguns poucos setores hi-tech e os dados da tabela sugerem que existe uma rápida
mudança na composição de produtos das empresas inovadoras.

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Fonte: OCDE

Um corolário a ser enfatizado, é que a inovação, no sentido da introdução de novos produtos


e processos, é mais equitativamente distribuída pelos diferentes setores; é pervasiva, não se
restringindo aos setores hi-tech. Tal ponto sugere que nada impede que os chamados
setores tradicionais sejam inovativos. A literatura inclusive tem mostrado casos importantes
que exemplificam como empresas e aglomerações produtivas destes “setores” têm sido
capazes de inovar fazendo uso eficiente das tecnologias de informação e comunicações.

Tais considerações levantam uma questão mais ampla. A inovação envolve aprendizado e
criação do conhecimento, de novas e diferentes competências relacionadas ao
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desenvolvimento e implementação de produtos e processos. Para melhor tentar entendê-la
devemos introduzir uma discussão sobre estática e dinâmica.

Sistemas de inovação têm sido muitas vezes confundidos com clusters. Aqui o problema
maior é o de não se adotar uma visão estática. Por exemplo, há uma tendência de se definir
o “cluster” em termos da classificação industrial tradicional (cluster de calçados, de cerâmica,
etc.) com suas fronteiras fixas e os atores configurados em relação aos produtos e processos
existentes.

A visão de cluster baseada em setor, porém, não captura situações nas quais as fronteiras
dos setores industriais encontram-se em mutação, tornando-se fluidas. Assim, de uma
perspectiva dinâmica, os setores industriais devem ser reconceitualizados, enquanto
sistemas mais amplos e em contínua mutação baseados em conjuntos de tecnologias e
soluções.

Por exemplo, recente pesquisa realizada em alguns países desenvolvidos, utilizando a visão
evolucionista de sistemas de inovação sugere que o aumento da produção e exportação e
melhoria da competitividade de diversos sistemas locais têm origem em duas fontes
principais. Inicialmente, a extensão em que a base de conhecimentos locais em tais sistemas
se aprofundou e ampliou no sentido de incluir design, controle de qualidade, informação
relativa a mercados e marketing e capacitações ligadas às tecnologias de informação e
comunicações.

Em segundo lugar, o estabelecimento de ligações técnicas por parte das diversas instituições
e organizações que compõem o sistema, na direção de ampliar a gama de insumos ligados
ao conhecimento. Assim, como exemplo extremo, observam-se empresas de serviços como
supermercados instalando laboratórios de P&D, contratando químicos e biólogos para
realizar pesquisas conjuntamente com empresas alimentícias, empresas químicas
produzindo insumos, etc.

Os pontos a serem ressaltados referem-se, em primeiro lugar, a que empresas em qualquer


“setor” necessitam ampliar sua base de conhecimento interno para melhor se apropriar –
através de diferentes mecanismos de interação – da base de conhecimentos externa à firma.

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Em segundo lugar, que a competitividade de aglomerações produtivas, mesmo em áreas
tradicionalmente identificadas como de baixa intensidade tecnológica (calçados, vestuários,
etc.) está cada vez mais vinculada à existência-dentro de, e fazendo parte, das
aglomerações - de organizações e instituições (firmas, institutos de pesquisa, etc) que
possuam capacitações nas novas tecnologias da informação e das comunicações.

Utilizando-se como exemplo a indústria de pesca, o processo inovativo e as tecnologias são


baseados em materiais avançados, incorporam conhecimentos de design, o monitoramento
depende de imagens computacionais e tecnologias de reconhecimento, os sistemas de
alimentação e saúde envolvem o uso de robótica, insumos farmacêuticos e conhecimento de
nutrição crescentemente ligados à biotecnologia, novas técnicas de preservação,
armazenamento e empacotamento que são baseadas em tecnologias de resfriamento,
bacteriologia, microbiologia, engenharia e informática. Uma gama enorme e diversa de
capacitações torna-se necessária para se obter competitividade em situações cada vez mais
complexas.

Assim, a visão sistêmica da inovação se preocupa não apenas com o desempenho da firma
isoladamente, mas, principalmente, com a integração das firmas em complexas relações
econômicas e sociais com o seu ambiente. Do ponto de vista de política, a política de
inovação é complementar à política científica – que se preocupa com o desenvolvimento
científico e com a formação de cientistas– e da política tecnológica que objetiva o suporte,
melhoria, promoção e desenvolvimento de tecnologias. A política de inovação leva em
consideração as complexidades do processo inovativo e focaliza as interações dentro do
sistema. Ela é cada vez mais necessária para se alcançar a competitividade nos diferentes
setores da economia e deve centrar-se na criação de condições para que os diferentes
agentes apropriem-se, eficientemente, dos ganhos potenciais trazidos pelas tecnologias de
informação e comunicações. Porém, tal eficiência só será alcançada se as capacitações e
conhecimentos associados a tais tecnologias forem enraizados nos sistemas produtivos
locais.

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U NIDADE 18
Sistemas de Inovação como fator de competitividade

Objetivo: Apresentar como as políticas de inovação tecnológica podem ser fatores decisivos
na competitividade de empresas e nações.

Leremos o texto de José Eduardo Cassiolato e Helena Maria Martins Lastres “Sistema de
inovação, políticas e perspectivas”, na qual os autores concluem a questão da importância de
um sistema nacional de inovação, dado ao fato de que inovação e conhecimento são, hoje,
os principais fatores que definem competitividade entre nações, empresas, etc.

Conclusões

Conforme discutido acima, a análise das tendências sobre políticas industriais e de inovação
na chamada “Era do Conhecimento” vem privilegiando a promoção de inovação e sistemas
de inovação como componente mais importante da competitividade de organizações e
países.

Destaca-se a importância de discutir as novas demandas e desafios associados à


conformação da Economia do Conhecimento. Em particular, que se trata de uma era em que
o conhecimento coloca-se como recurso principal e o aprendizado como processo central.
Considera-se que quão mais forte for a base de recursos humanos, maior a possibilidade de
acelerar o processo de inovação, e que quão mais forte o potencial para inovação, maior a
probabilidade de o sistema atrair e absorver pressões competitivas. Nesta discussão,
concorda-se com a idéia de que, no caso das políticas de inovação, estas podem e vão além
da criação de um ambiente dinâmico para a acumulação de capital.

A variedade e maior sofisticação dessas novas formas de se definir e implementar políticas


contradizem as teses sobre o enfraquecimento dos Estados - nação e sua capacidade de

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formular políticas nacionais. Particularmente, destaca-se o novo papel dos Estados nacionais
de se pronunciarem e definirem políticas domésticas (tanto nacionais como subnacionais),
crescentemente articuladas ao nível de blocos regionais.

O erro, portanto, estaria em tomar tais tendências como antagônicas à experiência anterior.
Evidentemente, reconhece-se que as transformações econômicas e sociais que caracterizam
as duas últimas décadas do século XX certamente trazem novos desafios à definição e
implementação de projetos e políticas nacionais.

Ao mesmo tempo, abrem-se também novas oportunidades, que são mais bem aproveitadas
pelas sociedades que têm coesão, estratégia e medidas eficientes para delas tirar proveito.
Assim, tais desafios devem ser vistos, não em contraposição à própria alternativa de se
definirem políticas nacionais, mas sim, como novas exigências a serem equacionadas.

Argumenta-se, portanto, que ao invés de perderem sentido, na verdade as políticas nacionais


passam a ter seu alcance desenho, objetivos e instrumentos reformulados, visando o
atendimento dos novos requerimentos impostos por um conjunto de fatores associados à
inauguração do atual padrão de acumulação.

Reconhece-se que o enfrentamento das intensas mudanças observadas em escala mundial


não é tarefa trivial. Conforme lembrado por Chris Freeman e Carlota Perez: (i) a adaptação
da economia tenderá a se transformar num processo lento e doloroso se deixado por si só,
principalmente em períodos de mudanças tecnológica e institucional radicais; (ii) o papel de
políticas públicas e privadas estimulando a promoção e renovação do processo cumulativo
de aprendizado é particularmente destacado em tais ocasiões;(iii) geralmente em períodos
de mudanças radicais observa-se um processo de “destruição criadora” não apenas no que
concerne às atividades e estruturas econômicas e técnicas, mas também às atividades e
estruturas sócio-políticas.

Um último ponto a sublinhar aqui se refere ao reconhecimento de que variações nacionais e


locais podem levar a diferentes caminhos de desenvolvimento e à crescente diversidade, ao
invés da padronização e convergência apregoada pelas teses mais radicais sobre influências
da globalização em políticas nacionais e subnacionais.

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Conforme destaca Celso Furtado, “globalização está longe de conduzir à adoção de políticas
uniformes. A miragem de um mundo comportando-se dentro das mesmas regras ditadas por
um super FMI existe apenas na imaginação de certas pessoas. As disparidades entre
economias não decorrem apenas de fatores econômicos, mas também de diversidades nas
matrizes culturais e das particularidades históricas. A ideia de que o mundo tende a se
homogeneizar decorre da aceitação a crítica de teses economicistas”.

Nós acrescentaríamos: e apenas daquelas que ignoram os processos históricos e sociais


envolvidos.

Fórum 2 – Inovação e Competitividade

Questão para ser discutida:

Debata o papel do Estado no auxílio à inovação.

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U NIDADE 19
Inovação na Era do Conhecimento

Objetivo: Demonstrar como o conhecimento pode ser fator decisivo no processo inovativo e,
assim, importante instrumento de incremento da competitividade.

Como diz Cristina Lemos em seu texto “Inovação na era do conhecimento”, o atual contexto
econômico é caracterizado por mudanças aceleradas que vêm afetando os mercados, as
tecnologias e as formas organizacionais em curso, de maneira que a capacidade de absorver
informação é fator crucial no processo de inovação e, por conseguinte, de aumento da
competitividade de empresas e regiões. É exatamente isso que a autora tenta demonstrar no
texto mencionado acima e que leremos a seguir. Esse conteúdo faz parte das unidades 19 a
25 e trata da economia baseada no conhecimento e no aprendizado como fator de
competitividade.

Boa leitura.

Introdução

O contexto atual se caracteriza por mudanças aceleradas nos mercados, nas tecnologias e
nas formas organizacionais e a capacidade de gerar e absorver inovações vêm sendo
considerados, mais do que nunca, crucial para que um agente econômico se torne
competitivo. Entretanto, para acompanhar as rápidas mudanças em curso, torna-se de
extrema relevância a aquisição de novas capacitações e conhecimentos, o que significa
intensificar a capacidade de indivíduos, empresas, países e regiões de aprender e
transformar esse aprendizado em fator de competitividade para os mesmos. Por esse motivo,
vem-se denominando esta fase como a da Economia Baseada no Conhecimento ou, mais
especificamente, Baseada no Aprendizado.

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Apesar de muitos considerarem, atualmente, que o processo de globalização e a
disseminação das tecnologias de informação e comunicação permitem a fácil transferência
de conhecimento, observa-se que, ao contrário dessa tese, apenas informações e alguns
conhecimentos podem ser facilmente transferíveis. Elementos cruciais do conhecimento,
implícitos nas práticas de pesquisa, desenvolvimento e produção, não são facilmente
transferíveis espacialmente, pois estão enraizados em pessoas, organizações e locais
específicos. Somente os que detêm esse tipo de conhecimento podem ser capazes de se
adaptar às velozes mudanças que ocorrem nos mercados e nas tecnologias e gerar
inovações em produtos, processos e formas organizacionais. Dessa forma, torna-se um dos
limites mais importantes à geração de inovação por parte de empresas, países e regiões o
não-compartilhamento desses conhecimentos que permanecem específicos e não-
transferíveis.

Assim, enormes esforços vêm sendo realizados para tornar novos conhecimentos
apropriáveis, bem como para estimular a interação entre os diferentes agentes econômicos e
sociais para a sua difusão e consequente geração de inovações. Reconhece-se, portanto, no
contexto atual de intensa competição, que o conhecimento é a base fundamental e o
aprendizado interativo é a melhor forma para indivíduos, empresas, regiões e países estarem
aptos a enfrentar as mudanças em curso, intensificarem a geração de inovações e se
capacitarem para uma inserção mais positiva nesta fase.

Este texto objetiva identificar as principais alterações no entendimento do processo inovativo,


e as formas de inovação características da atual fase. Para tal, na Seção 2, abordam-se os
principais elementos do processo inovativo, sua natureza e fontes, bem como os
conhecimentos necessários para sua geração. São discutidos, na Seção 3, aspectos dos que
vêm sendo apontados como a Economia Baseada no Conhecimento, e posteriormente, na
Seção 4, as mudanças mais recentes na dinâmica de geração e aquisição desses
conhecimentos e as tendências de intensificação de sua codificação.

Objetiva-se enfocar, na Seção 5, a relevância do aprendizado como processo central para a


inovação e, na Seção 6, os novos formatos organizacionais que vêm sendo considerados
como mais adequados para se participar desse processo. Na Seção 7, apresentam-se

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argumentos sobre a importância de sistemas locais na geração de inovação. Discutem-se, na
Seção 8, as alterações por que vêm passando políticas de promoção de inovações e, por
fim, na conclusão, argumenta-se que, se houve uma mudança na compreensão desse
processo, é necessário que as novas políticas reconheçam e incorporem tais alterações,
reformulando seus formatos e objetivos.

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U NIDADE 20
Inovação na Era do Conhecimento

Objetivo: Demonstrar como o conhecimento pode ser fator decisivo no processo inovativo e,
assim, importante instrumento de incremento da competitividade.

Nesta unidade, leremos a parte do texto de Cristina Lemos “Inovação na era do


conhecimento”, que trata dos novos elementos no processo de inovação. Lembre-se de que
o que está em jogo nesse contexto é a capacidade de absorver informação no processo de
inovação e, por conseguinte, de aumento da competitividade de empresas e regiões.

Novos elementos no processo de inovação

No âmbito da economia, ao longo deste século, muito vem se discutindo sobre a inovação,
sua natureza, características e fontes, com o objetivo de buscar uma maior compreensão de
seu papel frente ao desenvolvimento econômico, ressaltando-se como marco fundamental a
contribuição de Joseph Schumpeter, na primeira metade deste século, que enfocou a
importância das inovações e dos avanços tecnológicos no desenvolvimento de empresas e
da economia.

De forma genérica, existem dois tipos de inovação: a radical e a incremental. Pode-se


entender a inovação radical como o desenvolvimento e introdução de um novo produto,
processo ou forma de organização da produção inteiramente nova. Esse tipo de inovação
pode representar uma ruptura estrutural com o padrão tecnológico anterior, originando novas
indústrias, setores e mercados. Também significam redução de custos e aumento de
qualidade em produtos já existentes.

Algumas importantes inovações radicais, que causaram impacto na economia e na


sociedade como um todo e alteraram para sempre o perfil da economia mundial, podem ser

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lembradas, como, por exemplo, a introdução da máquina a vapor, no final do século XVIII, ou
o desenvolvimento da microeletrônica, a partir da década de 1950. Estas e algumas outras
inovações radicais impulsionaram a formação de padrões de crescimento, com a
conformação de paradigmas tecno-econômicos Freeman, 1988).

As inovações podem ser ainda de caráter incremental, referindo-se à introdução de qualquer


tipo de melhoria em um produto, processo ou organização da produção dentro de uma
empresa, sem alteração na estrutura industrial (Freeman, 1988). Inúmeros são os exemplos
de inovações incrementais, muitas delas imperceptíveis para o consumidor, podendo gerar
crescimento da eficiência técnica, aumento da produtividade, redução de custos, aumento de
qualidade e mudanças que possibilitem a ampliação das aplicações de um produto ou
processo. A otimização de processos de produção, o design de produtos ou a diminuição na
utilização de materiais e componentes na produção de um bem podem ser considerados
inovações incrementais.

Até pouco tempo, era grande a rigidez para caracterizar o processo de inovação, suas fontes
de geração e formas como se realiza e difunde. Evidentemente que a compreensão do
processo de inovação está estreitamente influenciada pelas características dominantes de
contextos histórico-econômicos específicos. Atualmente, aspectos negligenciados por não
terem relevância nos períodos em questão começam a ser plenamente reconhecidos como
de papel fundamental para o êxito do processo inovativo. À medida que melhor se conhecem
as especificidades da geração e difusão de inovação, mais se sabe sobre sua importância
para que empresas e países reforcem sua competitividade na economia mundial.

Cabe ressaltar que, em correntes tradicionais da economia, ainda hoje existem dificuldades
de análise do processo inovativo. Essas vertentes, em geral, consideram a tecnologia um
fator exógeno à dinâmica econômica, que se encontra facilmente disponível e transferível a
qualquer agente econômico.

Consideram, ainda, que o processo inovativo é igual para esses agentes,


independentemente do seu tipo, setor, estágio de capacitação tecnológica, local ou país em
que está localizado. Diferentemente desse enfoque, destaca-se neste capítulo a abordagem

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neo-schumpeteriana que aponta para uma estreita relação entre o crescimento econômico e
as mudanças que ocorrem com a introdução e disseminação de inovações tecnológicas e
organizacionais.

Compreende-se, sob esse ponto de vista, que os avanços resultantes de processos


inovativos são fator básico na formação dos padrões de transformação da economia, bem
como de seu desenvolvimento de longo prazo. Entretanto, reconhece-se que o entendimento
existente sobre a natureza das inovações e seus efeitos sobre o crescimento econômico são
ainda limitados. A busca de uma maior compreensão deste processo levou ao notável
crescimento dos estudos nesta área, ao longo das últimas décadas. À medida que se
intensificaram formas anteriormente não sistematizadas no estudo do processo inovativo,
novos aspectos puderam ser incorporados ao quadro de referência anterior.

Dessa forma, noções lineares sobre o processo inovativo, como aquelas que o tratavam
como resultado das atividades realizadas na esfera da ciência, que evoluiria
unidirecionalmente para a tecnologia, até chegar à produção e ao mercado, já não se
colocam mais no centro do debate. Adicionalmente, na mesma medida que a ciência não
pode ser considerada como fonte absoluta de inovações, também as demandas que vêm do
mercado não devem ser tomadas como o único elemento determinante do processo de
inovação, como apresentavam teses contrárias.

Quando se aceita a existência de uma estrutura complexa de interação entre o ambiente


econômico e as direções das mudanças tecnológicas, deixa-se de compreender o processo
de inovação como um processo que evolui da ciência para o mercado, ou como seu oposto,
que o mercado é a fonte das mudanças. Os diferentes aspectos da inovação a tornam um
processo complexo, interativo e não-linear. Combinados, tanto os conhecimentos adquiridos
com os avanços na pesquisa científica, quanto as necessidades oriundas do mercado levam
a inovações em produtos e processos e a mudanças na base tecnológica e organizacional de
uma empresa, setor ou país, que podem se dar tanto de forma radical como incremental.

Longe de ser linear, o processo inovativo se caracteriza por ser descontínuo e irregular, com
concentração de surtos de inovação, os quais vão influenciar diferentemente os diversos

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setores da economia em determinados períodos. Além de não obedecer a um padrão linear,
contínuo e regular, as inovações possuem também um considerável grau de incerteza, posto
que a solução dos problemas existentes e as consequências das resoluções são
desconhecidas a priori. Revelam, por outro lado, um caráter cumulativo, tendo em vista que a
capacidade de uma empresa realizar mudanças e avanços, dentro de um padrão
estabelecido, é fortemente influenciada pelas características das tecnologias que estão
sendo utilizadas e pela experiência acumulada no passado (Dosi, 1988). Com a maior
compreensão sobre a natureza e as fontes de geração de inovações, flexibilizou-se a
abrangência de sua definição e ampliou-se o leque de atividades consideradas de inovação.

De forma geral, considera- se, atualmente, que a mesma envolve diferentes etapas no
processo de obtenção de um produto até o seu lançamento no mercado. Não significa algo
necessariamente inédito, nem resulta somente da pesquisa científica. Não se refere apenas
a mudanças na tecnologia utilizada por uma empresa ou setor, mas inclui também mudanças
organizacionais, relativas às formas de organização e gestão da produção.

A definição de inovação que vem sendo mais comumente utilizada caracteriza-a, portanto,
como a busca, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos
produtos, processos e novas técnicas organizacionais (Dosi, 1988). Objetivando apontar para
as possibilidades de inovação em países em desenvolvimento, Mytelka (1993) desfaz a
noção de que inovação deve ser algo absolutamente novo no mundo e colabora para a sua
compreensão, ao focar a inovação sob o ponto de vista do agente econômico que a está
implementando.

Assim, considera inovação o processo pelo qual produtores dominam e implementam o


projeto e produção de bens e serviços que são novos para os mesmos, a despeito de serem
ou não novos para seus concorrentes— domésticos ou estrangeiros. Importante também foi
o entendimento de que cada uma das fontes de geração de inovações—baseadas na
ciência, ou na experiência cotidiana de produção, design, gestão, comercialização e
marketing dos produtos—podem ter maior relevância e impacto distinto para o processo
dependendo sobremaneira da estrutura e tipo da empresa, dos setores e países em questão.
Está também relacionada à natureza da inovação, caso se refira a aperfeiçoamentos ou se

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representar rupturas nos sistemas tecnológicos, ou seja, se são inovações incrementais ou
radicais.

Da mesma forma, cada uma dessas fontes de inovação vai ser em maior ou menor grau
prevalecente, dependendo do estágio em que se encontra o paradigma. Na emergência de
um paradigma, quando novas tecnologias surgem com mais intensidade, parece ser mais
evidente que as fontes baseadas em conhecimentos científicos possuem papel fundamental
para a introdução de inovações de cunho mais radical. Já em sua maturidade, quando as
tecnologias já estão dominadas, as fontes relacionadas a conhecimentos adquiridos com a
experiência da empresa se tornam mais e mais importantes para que as firmas estejam
aptas a gerar aperfeiçoamentos e obter inovações incrementais (Freemaan, 1988).

Assim, é necessário considerar que uma empresa não inova sozinha, pois as fontes de
informações, conhecimentos e inovação podem se localizar tanto dentro, como fora dela. O
processo de inovação é, portanto, um processo interativo, realizado com a contribuição de
variados agentes econômicos e sociais que possuem diferentes tipos de informações e
conhecimentos.

Essa interação se dá em vários níveis, entre diversos departamentos de uma mesma


empresa, entre empresas distintas e com outras organizações, como aquelas de ensino e
pesquisa. O arranjo das várias fontes de ideias, informações e conhecimentos passou, mais
recentemente, a ser considerado uma importante maneira das firmas se capacitarem para
gerar inovações e enfrentar mudanças, tendo em vista que a solução da maioria dos
problemas tecnológicos implica o uso de conhecimento de vário tipos.

Observa-se que a emergência do atual paradigma, baseado nas novas tecnologias de


informação e comunicação, que possibilitou uma transformação radical nas formas de
comunicação e de troca de informações, colocou em relevo as características elencadas
anteriormente, ou seja, a importância das diferentes fontes de inovação e da interação entre
as mesmas.

Contribuiu, ainda, para compreender que esses aspectos do processo de inovação sempre
estiveram presentes, mas, no atual contexto, são mais do que nunca condição necessária

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para a geração de inovações. O fato é que o processo de inovação aumentou
consideravelmente sua velocidade nas últimas décadas. A aceleração da mudança
tecnológica é de tal ordem que se nota uma alteração radical no uso do tempo na economia,
com uma crescente redução do tempo de produção de bens— por meio da utilização das
novas tecnologias, formas organizacionais e técnicas de gestão da produção—e também de
consumo dos bens— com a planejada diminuição do tempo de vida dos produtos.

A necessidade de colaboração, mesmo para grandes conglomerados, torna-se, portanto,


muito maior, para que se possa acompanhar o ritmo dessas mudanças e não ficar para trás.
Dessa forma é que se observa a crescente articulação dentro das empresas e entre estas e
outras organizações, em especial as instituições de pesquisa.

Antes de dar continuidades aos seus estudos é fundamental que você acesse sua
SALA DE AULA e faça a Atividade 2 no “link” ATIVIDADES.

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U NIDADE 21
Inovação na Era do Conhecimento

Objetivo: Demonstrar como o conhecimento pode ser fator decisivo no processo inovativo e,
assim, importante instrumento de incremento da competitividade.

Nesta unidade, leremos a parte do texto de Cristina Lemos “Inovação na era do


conhecimento”, que trata da economia baseada no conhecimento e no aprendizado. Lembre-
se de que o que está em jogo nesse contexto é a capacidade de absorver informação no
processo de inovação e, por conseguinte, de aumento da competitividade de empresas e
regiões.

A economia baseada no conhecimento e no aprendizado.

Desde o pós-guerra, vem se reconhecendo, paulatinamente, que a produtividade e a


competitividade dos agentes econômicos dependem cada vez mais da capacidade de lidar
eficazmente com a informação para transformá-la em conhecimento.

Uma grande e crescente proporção da força de trabalho passou a estar envolvida na


produção e distribuição de informações e conhecimentos e não mais na produção de bens
materiais, gerando reflexos no crescimento relativo do setor de serviços, frente ao industrial.
Dessa forma, apontou-se para uma tendência de aumento da importância dos recursos
intangíveis na economia—particularmente nas formas de educação e treinamento da força
de trabalho e do conhecimento adquirido com investimento em pesquisa e desenvolvimento.

A emergência do atual paradigma intensificou a relevância dessas características e a


importância dos recursos intangíveis na economia. As tecnologias de informação e
comunicação propiciam o desenvolvimento de novas formas de geração, tratamento e
distribuição de informações. Através de ferramentas de base eletrônica que diminuíram

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enormemente o tempo necessário para comunicação, transformam-se as formas tradicionais
de pesquisa, desenvolvimento, produção e consumo da economia, facilitando e
intensificando a muito rápida ou instantânea comunicação, processamento, armazenamento
e transmissão de informações em nível mundial a custos decrescentes. Três aspectos devem
ser destacados no que se refere a essas novas tecnologias.

O primeiro são os avanços observados na microeletrônica—que tiveram como


consequências de maior impacto para a economia e para a sociedade o desenvolvimento do
setor de informática e a difusão de micro computadores e de softwares que vêm englobando
grande parte das tarefas que anteriormente eram realizadas pelo trabalho humano direto.

O segundo se refere aos avanços nas telecomunicações. A introdução e disseminação de


algumas das novas tecnologias, como por exemplo, as comunicações via satélite e a
utilização de fibras óticas, revolucionaram os sistemas de comunicação. Por fim, a
convergência entre essas duas bases tecnológicas permitiu o acelerado desenvolvimento
dos sistemas e redes de comunicação eletrônica mundiais.

A difusão dessas novas tecnologias permitiu a expansão das relações e da troca de


informações possibilitando a interação entre diferentes unidades dentro de uma empresa—
como a pesquisa, engenharia, design e produção—e fora dela, com outras empresas ou
outros agentes que detenham distintos tipos de conhecimentos.

A incorporação de ferramentas cada vez mais velozes e de menor custo se dá em todos os


setores da economia, permitindo acesso a informações como nunca foi possível e, para
aqueles que concentram esforços na aquisição de conhecimentos, uma maior capacidade de
gerar alternativas tecnológicas.

Essas tecnologias alteraram radicalmente os padrões até então estabelecidos e vêm


exercendo uma influência decisiva em inúmeros aspectos das esferas sócio-econômico-
político-cultural. Assim é que se considera que as mesmas são a base técnica do que vem
sendo chamado por alguns autores de “revolução informacional”, que contribui para a
conformação de uma nova Era, Sociedade ou Economia da Informação, do Conhecimento ou
do Aprendizado, conforme a maior ênfase que se queira dar a um desses aspectos (Lojkine,

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1995; Castells, 1997; Foray e Lundvall, 1996; Lundvall e Borrás, 1998 e Cassiolato e Lastres,
1999, entre outros).

A despeito da atual maior visibilidade das informações, alguns autores argumentam que essa
fase se caracteriza pelo fácil acesso às informações, mas ponderam que o conhecimento é
central, e sem ele não é possível decodificar o conteúdo das informações e transformá-las
em conhecimento. Assim, preferem se referir à mesma como a Economia Baseada no
Conhecimento.

A ênfase no conhecimento deve-se também ao fato de que as tecnologias líderes dessa fase
são resultado de enormes esforços de pesquisa e desenvolvimento. As altas taxas de
inovações e mudanças recentes implicam, assim, uma forte demanda por capacitação para
responder às necessidades e oportunidades que se abrem. Exigem, por sua vez, novos e
cada vez maiores investimentos em pesquisa, desenvolvimento, educação e treinamento.

Argumenta-se, dessa forma, que os instrumentos disponibilizados pelo desenvolvimento das


tecnologias de informação e comunicação— equipamentos, programas e redes eletrônicas
de comunicação mundial —podem ser inúteis se não existir uma base capacitada para
utilizá-los, acessar as informações disponíveis e transformá-las em conhecimento e
inovação.

Na atual fase, na qual se destacam dois fenômenos interrelacionados, o processo de


aceleração das inovações e a globalização em curso, aparentemente a disponibilização de
meios técnicos que possibilitam o acesso a informações torna o conhecimento transferível
para todos. Entretanto, nota-se que os conhecimentos envolvidos na geração de inovações
podem ser tanto codificados como tácitos, públicos ou privados e vêm se tornando cada vez
mais interrelacionados. A informação e o conhecimento codificado podem ser facilmente
transferidos através do mundo, mas o conhecimento que não é codificado, aquele que
permanece tácito, só se transfere se houver interação social, e esta se dá de forma
localizada e enraizada em organizações e locais específicos.

Assim, para se entender a formação do conhecimento, deve-se ter em conta as


especificidades das relações estabelecidas dentro das firmas e entre diferentes firmas e

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outros agentes econômicos e sociais, as características das relações industriais em nível
local, nacional e regional, além de outros fatores institucionais, que evidentemente
contribuem para a compreensão das diferenças nas formas de aquisição de conhecimento e
na capacidade inovativa de cada um destes níveis.

A relevância do conhecimento como base da inovação e recurso fundamental desta fase


impõe a exploração e interação das mais diferentes fontes para sua obtenção. Com todos os
recursos disponíveis atualmente e com a rapidez com que as mudanças vêm se dando, há
uma exigência crescente de combinação de fontes, informação e conhecimento, facilitada
por esses recursos. Isto levou a um crescimento substancial do grau de interação entre
organizações.

Nesse sentido, muitos autores vêm reconhecendo, no período atual de mudança radical, que
o conhecimento e o aprendizado possuem papel-chave e afetam a economia e a sociedade
como um todo. Dentre aqueles que argumentam que tais mudanças se dão no modo de
geração e difusão de conhecimento, nas fontes de crescimento e de competitividade e nos
processos de aquisição de capacitação, incluem-se Foray e Lundval (1996), os quais
destacam especialmente a mudança na dinâmica de formação do conhecimento, a
aceleração do processo de aprendizado interativo e a crescente importância das redes de
cooperação, pontos que serão abordados mais detalhadamente nas próximas seções.

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U NIDADE 22
Inovação na Era do Conhecimento

Objetivo: Demonstrar como o conhecimento pode ser fator decisivo no processo inovativo e,
assim, importante instrumento de incremento da competitividade.

Nesta unidade, leremos a parte do texto de Cristina Lemos “Inovação na era do


conhecimento”, que trata das mudanças na dinâmica do conhecimento. Lembre-se de que o
que está em jogo nesse contexto é a capacidade de absorver informação no processo de
inovação e, por conseguinte, de aumento da competitividade de empresas e regiões.

Mudanças na dinâmica do conhecimento

Conforme apontado anteriormente, as mudanças características do novo paradigma


imprimiram uma nova dinâmica nas formas de geração e aquisição de conhecimento e
mudanças nas relações entre conhecimento tácito e codificado. Visando maiores chances de
apropriação do conhecimento, vem se notando uma necessidade intensificada de
capacitação e expansão das fronteiras do conhecimento se fundamentalmente às velozes
mudanças na geração desse conhecimento codificado.

A tendência a uma codificação crescente do conhecimento relacionado e de inovações. O


processo de codificação do conhecimento vem sendo intensificado, em última instância, para
dotar o conhecimento de novos atributos que o tornem similares aos bens tangíveis e
convencionais aproximando-o de uma mercadoria, objetivando facilitar sua apropriação para
uso privado ou comercialização. Transformando-se em uma mercadoria com características
bastante específicas, o conhecimento codificado como informação permite ser armazenado,
memorizado, transacionado e transferido, além de poder ser reutilizado, reproduzido e
comercializado indefinidamente, a custos extremamente baixos. Assim é que se argumenta

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sobre uma tendência à expansão cumulativa da base de conhecimentos codificados (Cowan
e Foray, 1998).

Para melhor definição da relação entre os dois tipos de conhecimento, cabe salientar que
conhecimento codificado refere-se ao conhecimento que pode ser transformado em uma
mensagem, podendo ser manipulado como uma informação. Atualmente, é grande a
facilidade de transferência do conhecimento codificado, por meio de ferramentas como as
mencionadas anteriormente.

Conhecimento tácito, por seu turno, é o conhecimento que não pode ser explicitado
formalmente ou facilmente transferido; refere-se a conhecimentos implícitos a um agente
social ou econômico, como as habilidades acumuladas por um indivíduo, organização ou um
conjunto delas, que compartilham atividades e linguagem comum. Não está disponível no
mercado para ser vendido ou comprado e requer um tipo específico de interação social,
similar ao processo de aprendizado, para que seja transferido (Lundvall e Borrás, 1998 e
Cowan e Foray, 1998).

Alerta-se, entretanto, para os limites inerentes ao processo de codificação do conhecimento.


Não se deve supor que todo conhecimento tácito tende a ser codificado e que os dois tipos
de conhecimento podem ser tratados de forma substitutiva ou excludente. Tal alerta mostra-
se importante porque alguns autores tendem a considerar, atualmente, que se verifica um
aumento relativo do estoque de conhecimento codificado frente ao de conhecimento tácito, o
que conduziria em última instância à codificação completa do conhecimento.

Entretanto, existem poucas evidências empíricas que comprovem a alteração da proporção


de cada um dos dois tipos no estoque total de conhecimento. Em direção contrária à
assertiva de que a codificação pode atingir todo tipo de conhecimento tácito, considera-se
que o processo de codificação nunca será completo, “... car la codification noffre que des
solutions incomplètes à lexpression de la conaissance”(Cowan e Foray, 1998: 315). Isto
significa que toda codificação de um conhecimento é acompanhada de criação equivalente
na base do conhecimento tácito.

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Ambos os conhecimentos, tácito e codificado, devem ser tratados como complementares,
pois sempre haverá alguma forma de conhecimento tácito específico implícito nas práticas
comuns a cada firma, setor ou região. Ou seja, ao mesmo tempo em que se observa uma
expansão cumulativa na base do conhecimento codificado, essa codificação será sempre
incompleta, pois se intensifica a importância e irredutibilidade do conhecimento tácito como
recurso fundamental, que permanece na esfera de indivíduos e empresas específicas.

Apesar de ser permanentemente vital na inovação, o conhecimento tácito, por suas


características bastante peculiares, só é compartilhado através da interação humana, nas
relações realizadas entre indivíduos ou organizações em ambientes com dinâmica
específica, o que, em última instância, torna a inovação localizada e restrita ao âmbito dos
agentes envolvidos. A capacitação necessária para compreender e usar os códigos locais
pode se dar somente com sua inserção nas redes de relações para participação do processo
de aprendizado interativo.

O sucesso de alguns arranjos produtivos com concentração geográfica, como os distritos


industriais que apresentam forte dinâmica, ilustra sobremaneira tal consideração. Os agentes
de tais arranjos detêm um considerável estoque de conhecimento tácito, que circula
eficazmente para a difusão de conhecimento local, com custos extremamente baixos.

Não existe necessidade de uma intensificação da codificação dos mesmos, muitas vezes
porque atuam no mesmo setor, conjunto de tecnologias, conhecimentos ou cadeia produtiva,
compartilhando dos mesmos recursos e capacitações. A codificação do conhecimento
nesses tipos de arranjo, por seu turno, é também relacionada aos contextos específicos onde
se compartilham códigos, linguagem comum, identidade, confiança e conhecimentos tácitos
necessários para a interpretação precisa da mensagem codificada.

Nesse sentido, o acesso aos conhecimentos específicos de uma firma, arranjo ou setor pode
explicar em larga medida a intensificação dos esforços para a formação de redes de
cooperação no contexto atual, objetivando a criação de uma interação positiva para a
absorção dos conhecimentos tácitos existentes.

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Chega-se, portanto, a uma importante observação para a compreensão das formas de
geração e difusão de conhecimento. Atualmente existem possibilidades concretas de acesso
e transferência de informações/ conhecimento codificado, propiciadas pelas novas
tecnologias de informação e comunicação.

Entretanto, essas possibilidades não são distribuídas equanimemente para todos, com
informações acessíveis para qualquer empresa, setor, país ou região. Por outro lado, o
acesso a informações/conhecimento codificado não é suficiente para que um indivíduo,
empresa, país ou região se adapte às condições técnicas e de evolução do mercado.

É crucial que esses agentes mantenham interação social com outros. As mudanças são
muito rápidas e somente aqueles que estão envolvidos na criação do conhecimento dispõem
de possibilidades reais de acesso aos seus resultados. Nesse sentido, ressalta-se que
apenas poucas empresas ou países no mundo concentram as maiores taxas de investimento
na geração de conhecimento—traduzido em atividades de pesquisa, desenvolvimento,
educação e treinamento—e de inovações e, portanto, a maior participação no ambiente
competitivo mundial, enquanto outros permanecem marginais a esse processo. Além disso,
cada vez mais os investimentos em capacitação para participar da Economia do
Conhecimento se tornam maiores, dificultando ainda mais a entrada de empresas e países
distantes desse processo.

ATIVIDADES OPTATIVAS:

1. Discuta as mudanças na dinâmica do conhecimento.

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U NIDADE 23
Inovação na Era do Conhecimento

Objetivo: Demonstrar como o conhecimento pode ser fator decisivo no processo inovativo e,
assim, importante instrumento de incremento da competitividade.

Nesta unidade, leremos a parte do texto de Cristina Lemos “Inovação na era do


conhecimento”, que trata do processo de aprendizado interativo e os novos formatos
organizacionais. Lembre-se que o que está em jogo nesse contexto é a capacidade de
absorver informação no processo de inovação e, por conseguinte, de aumento da
competitividade de empresas e regiões.

O processo de aprendizado interativo

Conforme já argumentado, crescentemente se reconhece a importância do aprendizado


contínuo e interativo no processo de inovação. Ao mesmo tempo em que isso se verifica, as
características já ressaltadas do atual paradigma—baseado fortemente no conhecimento e
com mudanças extremamente rápidas—impõem uma maior intensificação desse
aprendizado. A existência de uma capacitação adequada através de aprendizado constante
é necessária para o enfrentamento das mudanças e isso se dá de forma mais completa com
a interação para a troca de informações, conhecimento codificado e tácito e a realização de
atividades complementares entre eles.

O processo de geração de conhecimentos e de inovação vai implicar, portanto, o


desenvolvimento de capacitações científicas, tecnológicas e organizacionais e esforços
substanciais de aprendizado com experiência própria, no processo de produção (learning-by-
doing), comercialização e uso (learning-by-using); na busca incessante de novas soluções
técnicas nas unidades de pesquisa e desenvolvimento ou em instâncias menos formais
(learning-by-searching); e na interação com fontes externas, como fornecedores de insumos,
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componentes e equipamentos, licenciadores, licenciados, clientes, usuários, consultores,
sócios, universidades, institutos de pesquisa, agências e laboratórios governamentais, entre
outros (learning-by-interacting).

Conforme salientado anteriormente, o reconhecimento das diversas fontes de conhecimento


foi muito importante para a compreensão da forma como é conduzido o processo inovativo.
Como resultado, uma das importantes percepções atuais é que o processo inovativo é um
processo de interação de natureza social.

O grau de interação com que se dá o aprendizado vai variar conforme os agentes envolvidos,
o tipo de relação que mantêm entre si, a existência de linguagem comum, identidades,
sinergias, confiança, assim como o ambiente em que se inserem. No momento atual,
caracterizado por uma competição que não se dá somente via preços, o mais importante não
é apenas ter acesso a informação ou possuir um conjunto de habilidades, mas
fundamentalmente ter capacidade para adquirir novas habilidades e conhecimentos (learn-to-
learn). Isto se traduz na capacidade de aprender e de transformar o aprendizado em fator
competitivo.

Ou seja, na possibilidade de constante reconstrução das habilidades dos indivíduos e das


competências tecnológica e organizacional da firma (Lundvall e Borrás, 1998). O
aprendizado é importante tanto para se adaptar às rápidas mudanças nos mercados e nas
condições técnicas, como para gerar inovações em produtos, processos e formas
organizacionais. Argumenta-se, portanto, que o conhecimento é o principal recurso e o
aprendizado o processo central dessa fase. Assim, na Economia Baseada no Conhecimento,
a preocupação com o processo de aprendizado se torna ainda mais crucial, tanto que alguns
autores denominam o atual período mais precisamente como da Economia Baseada no
Aprendizado (Foray e Lundvall, 1996; Lundvall e Borrás, 1998 e Cassiolato e Lastres, 1999).

Conforme já mencionado, o destaque a cada um desses aspectos pode variar conforme a


ênfase que se propõe. Lundvall e Borrás (1998: 35) ressaltam, por exemplo, que “a razão
mais fundamental da preferência por usar a Economia do Aprendizado como conceito-chave
é que este enfatiza a alta taxa de mudança econômica, social e técnica que perpassa

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continuamente o conhecimento especializado (e codificado). E torna claro que o que
realmente importa para o desempenho econômico é a habilidade de aprender (e esquecer) e
não o estoque de conhecimento”.

Apesar dessa discussão geralmente colocar-se para tecnologias avançadas, em grandes


corporações e países desenvolvidos, aponta-se para a importância do aprendizado também
em empresas ou países que se concentram em atividades tradicionais e de baixo conteúdo
tecnológico. Dessa forma, deve-se evitar a crença de que em setores menos intensivos em
conhecimento, o processo de aprendizado deve ser negligenciado. Pelo contrário, em todos
os setores da economia existem possibilidades de aprendizado, aperfeiçoamentos e
mudanças.

Novos formatos organizacionais

Da mesma forma que se identificam os principais recursos e processos, podem ser também
apontados os formatos dominantes na atual fase. Assim, e como uma decorrência da
discussão travada anteriormente, vem se considerando a formação de redes como o formato
organizacional mais adequado para promover o aprendizado intensivo para a geração de
conhecimento e inovações.

Até há pouco tempo, as análises econômicas relativas a atividades inovativas se


concentravam no estudo de inovações individuais e específicas. Somente a partir de meados
da década de 1980, intensificaram-se as investigações de formatos organizacionais forjados
para enfrentar inovações.

Duas especificidades passaram a ser consideradas elementos de influência no


desenvolvimento econômico e na sua capacidade de inovação:

a) Os variados formatos organizacionais em redes para promoção da interação entre


diferentes agentes, nos quais se mencionam, entre outros, alianças estratégicas,
arranjos locais de empresas, clusters e distritos industriais, e;

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b) O ambiente onde estes se estabelecem. Indica-se uma tendência crescente de
constituição de formatos organizacionais específicos entre diferentes tipos de agentes
sociais e econômicos, em ambientes propícios para a geração de inovações,
envolvendo desde etapas de pesquisa e desenvolvimento e produção, até a
comercialização. Tais formas de interação vêm interligando as diversas unidades
dentro de uma empresa, bem como articulam diferentes empresas e outros agentes—
destacando-se, particularmente, instituições de ensino e pesquisa, organismos de
infraestrutura, apoio e prestação de serviços e informações tecnológicas, governos
locais, regionais e nacionais, agências financiadoras, associações de classe,
fornecedores de insumos, componentes e tecnologias e clientes—visando promover
uma fertilização cruzada de ideias, e responder e se adaptar às rápidas alterações,
com a promoção de mudanças e aperfeiçoamentos nas estruturas de pesquisa,
produção e comercialização.

Esses novos formatos são vistos, portanto, como a forma mais completa para permitir a
interação e o aprendizado, assim como a geração e troca de conhecimento. Alguns autores
caracterizam a formação e operação de redes como um fenômeno intimamente ligado à
emergência do sistema de produção intensivo em informação e como a principal inovação
organizacional associada ao atual paradigma (ver Lemos, 1996).

Conforme já ressaltado, com o potencial oferecido pelos novos meios técnicos


disponibilizados com as tecnologias de informação e comunicação, intensifica-se a geração e
absorção de conhecimento e as possibilidades de implementação de inovações. As
exigências de especialização ao longo da cadeia de produção se tornam cada vez maiores.

As tecnologias estão crescentemente baseadas em diferentes disciplinas e a maioria das


empresas não possui capacitação ou recursos para dominar toda essa variedade. As novas
tecnologias acarretam, assim, tanto os meios para a cooperação, como a necessidade de
criação de mais intensivas e variadas formas de interação e aprendizado intensivo. A
parceria é considerada uma condição para a especialização, uma vez que capacita os

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agentes envolvidos para o desenvolvimento de competências interrelacionadas e a
participação em redes se torna um imperativo para a sobrevivência das empresas.

Além disso, as redes permitem às empresas a possibilidade de identificar oportunidades


tecnológicas e impulsionar o processo inovativo. Considerando-se a existência de
dificuldades cada vez maiores de obtenção de conhecimento e realização de pesquisa e
desenvolvimento que abranjam as mais diversas áreas, a complementaridade tecnológica é
vista como um forte motivo de inserção em redes.

Participar destas é uma forma útil de monitorar novos desenvolvimentos e de avaliar, através
de processo de interação, outras tecnologias que não as disponíveis pela firma, necessárias
para a viabilização de uma inovação. A participação em redes pode proporcionar um largo
conjunto de experiências, estimulando o aprendizado e gerando conhecimento coletivo, e
este aprendizado promovido entre os agentes é considerado como uma de suas maiores
contribuições.

As redes também podem enriquecer o ambiente territorial através das oportunidades que
oferecem de troca de informações, transmissão de conhecimento explícito ou tácito e
mobilidade de competências. A participação de variados agentes é importante para o
desenvolvimento de conhecimento conjunto, destacando-se especialmente as instituições de
ensino e pesquisa que atuam na promoção dessas atividades e têm importante papel de
possibilitar a abertura da rede a um largo número de usuários locais potenciais (Lemos,
1996).

ATIVIDADES OPTATIVAS:

2. Discuta o processo de aprendizado interativo.

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U NIDADE 24
Inovação na Era do Conhecimento

Objetivo: Demonstrar como o conhecimento pode ser fator decisivo no processo inovativo e,
assim, importante instrumento de incremento da competitividade.

Nesta unidade, leremos a parte do texto de Cristina Lemos “Inovação na era do


conhecimento”, que trata da dimensão local da inovação e das novas abordagens para
políticas de inovação. Lembre-se de que o que está em jogo nesse contexto é a capacidade
de absorver informação no processo de inovação e, por conseguinte, de aumento da
competitividade de empresas e regiões.

A dimensão local da inovação

Conforme salientado, o processo de inovação é atualmente entendido como interativo e


dependente das diferentes características de cada agente e de sua capacidade de aprender
a gerar e absorver conhecimentos, da articulação de diferentes agentes e fontes de
inovação, bem como dos ambientes onde estes estão localizados e do nível de
conhecimentos tácitos existentes nesses ambientes.

A atenção que passou a ser dada ao caráter localizado da inovação e do conhecimento


surgiu, particularmente, na observação da distribuição espacial desigual da capacidade de
geração e de difusão de inovações. Aponta-se para uma significativa concentração em nível
mundial da taxa de introdução de inovações, com algumas regiões, setores e empresas
tendendo a desempenhar o papel de principais indutores de inovações, enquanto outras
parecem ser relegadas ao papel de adotantes.

Nessa direção, enfatiza-se a noção de que o processo inovativo e o conhecimento


tecnológico são altamente localizados. A interação criada entre agentes econômicos e

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sociais localizados em um mesmo espaço propicia o estabelecimento de significativa parcela
de atividades inovativas. Ou seja, um quadro institucional local específico que dispõe de
mecanismos particulares de aprendizado e troca de conhecimentos tácitos pode promover
um considerável processo de geração e difusão de inovações. Assim, diferentes contextos
locais com diferentes estruturas institucionais terão processos inovativos qualitativamente
diversos (Lastres et alii, 1999).

Nesse sentido, cabe ressaltar formatos organizacionais baseados na proximidade


local, alguns já mencionados, como os clusters e distritos industriais, que se baseiam
em redes locais de cooperação. Esses formatos apresentam aprendizado interativo,
relevância da confiança nas relações e as proximidades geográficas e culturais como
fontes importantes de diversidade e vantagens comparativas, assim como a oferta de
qualificações técnicas e organizacionais e conhecimentos tácitos acumulados. O
aspecto confiança, por seu turno, vem sendo apontado como fator crítico para o
estabelecimento de relações de cooperação e interação, para que se possam superar
as incertezas existentes ao longo do processo de inovação. Ressalte-se que a
confiança tem melhores possibilidades de ser promovida em um ambiente comum de
proximidade e identidade entre os agentes, como os arranjos locais (Saxenian, 1994).

Neste contexto, adquire especial importância a adoção do conceito de sistemas nacionais de


inovação. Desenvolvido por Lundvall (1992) e Freeman (1995), tal conceito tem por base a
consideração de que os atores econômicos e sociais e as relações entre eles determinam
em grande medida a capacidade de aprendizado de um país e, portanto, aquela de inovar e
de se adaptar às mudanças do ambiente. Desempenhos nacionais, relativos à inovação,
derivam claramente de uma confluência social e institucional particular e de características
histórico-culturais específicas (Lastres et alii, 1999). Esse conceito já vem sendo discutido
em níveis locais e regionais.

Os sistemas nacionais, regionais ou locais de inovação podem ser tratados, dessa forma,
como uma rede de instituições dos setores público (instituições de pesquisa e universidades,
agências governamentais de fomento e financiamento, empresas públicas e estatais, entre
outros) e privado (como empresas, associações empresariais, sindicatos, organizações não-

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governamentais etc.) cujas atividades e interações geram, adotam, importam, modificam e
difundem novas tecnologias, sendo a inovação e o aprendizado seus aspectos cruciais.

O enfoque dos sistemas nacionais de inovação se contrapõe à ideia de que a crescente


globalização vem ocorrendo em todos os níveis. Pelo contrário, dados empíricos
demonstram que a geração de inovações e de tecnologias é localizada e circunscrita às
fronteiras localizadas nacional ou regionalmente (Maldonado, 1996 e Lastres, 1997).

Tendo em vista que os conhecimentos que se geram no processo inovativo são tácitos,
cumulativos e localizados, existiria um espaço importante em nível nacional, regional ou local
para o desenvolvimento de capacitações tecnológicas endógenas. Essas capacitações são
imprescindíveis para se absorver de forma eficiente o que vem de fora e adaptar, modificar e
gerar novos conhecimentos.

Novas abordagens para políticas de inovações

As considerações apontadas nas seções anteriores indicam que a Economia Baseada no


Conhecimento ou no Aprendizado reúne alguns elementos de extrema relevância que devem
ser incorporados para o estabelecimento de políticas de inovação alternativas. Nesta seção,
serão discutidos dois aspectos referentes a novas formulações de políticas científicas,
tecnológicas, industriais e de inovação e algumas observações sobre o papel do Estado na
condução dessas políticas.

Em primeiro lugar, observa-se que políticas de promoção tenderam tradicionalmente a focar


em padrões de promoção do desenvolvimento tecnológico de firmas ou projetos pontuais e
individuais. Atualmente, surge uma necessidade de se repensarem políticas que visem o
desenvolvimento individual de firmas, bem como de repensar as organizações e instituições
envolvidas no processo de formulação de tais políticas, à luz das rápidas mudanças trazidas
com o paradigma das tecnologias de informação e comunicação e refletidas no próprio
processo de inovação.

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É importante reconhecer que já ocorrem mudanças no foco de políticas em alguns países.
No âmbito dessas novas políticas que vêm sendo formuladas, nota-se uma tendência à
mudança em formatos e conteúdos. Assim, observam-se novas formas de entender políticas
científicas, tecnológicas e industriais como fazendo parte de um mesmo conjunto, que tende
a privilegiar o desenvolvimento, disseminação e uso de novos produtos, serviços e
processos. Enfatiza-se, também, o estimulo à formação de redes de diferentes agentes para
intensificar o processo de aprendizado interativo na pesquisa, desenvolvimento, produção e
comercialização desses bens.

As políticas de inovação se tornam atualmente mais importantes do que no passado, tendo


em vista seu papel crucial para intensificar a competitividade, através do fortalecimento da
capacidade de aprender de indivíduos e empresas. Nesse sentido, um passo importante é a
incorporação do elemento aprendizado como o processo central para capacitar um país ou
região.

Amplia-se, também, a relevância para as políticas do enfoque de sistemas nacionais,


regionais ou locais de inovação, no qual é central a noção de que o processo inovativo é
localizado e, portanto, depende de seus contextos empresarial, setorial, organizacional e
institucional específicos. Nesses casos, todo o conjunto de agentes que conformam um
sistema é considerado para o incentivo ao desenvolvimento do sistema local, regional ou
nacional específico.

Em segundo lugar, observam-se, por vezes, tendências a se o papel de promotores de


políticas científica, tecnológica e de inovação de governos nacionais ou regionais. Nesse
sentido, destaca-se o conflito, por vezes existente, entre formuladores de políticas
influenciados por modelos neoclássicos—os quais desconsideram o papel da tecnologia e.

2. Salienta-se particularmente o caso da União Européia e de seus países separadamente,


no qual as políticas industriais vêm sendo reorientadas para o reforço à promoção da
inovação. Para detalhes, ver Cassiolato e Lastres, 1998 e Cassiolato e Lastres, 1999 da
inovação para o desenvolvimento de um país ou região—e aqueles que enfatizam o enfoque
inovativo. Muitas vezes os primeiros tendem a negligenciar atenção a políticas inovativas e

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reduzir o volume de recursos a serem aplicados nestas (Lundvall e Borrás, 1998 e Cassiolato
e Lastres, 1999).

Ressalta-se também que, em face do contexto atual de acelerado processo de globalização


e das facilidades resultantes das tecnologias de informação e comunicação, considera-se,
por vezes, não ser mais necessário o investimento de governos nacionais na promoção de
atividades de geração de conhecimento e inovação.

Para os que compartilham desses argumentos, o processo de globalização também incluiria


a geração, difusão e acesso a informações e conhecimentos por todo o mundo,
uniformemente, e, portanto, não mais se fariam prementes investimentos nessas atividades,
posto que tivessem seus resultados públicos e disponíveis internacionalmente

3 A esse respeito, cabe reforçar os argumentos anteriormente mencionados sobre as


crescentes barreiras criadas ao acesso a conhecimento codificados e particularmente tácitos
— traduzidos em termos das necessidades de constantes investimentos em capacitação dos
indivíduos e interação social — bem como a importância particular destes últimos para o
processo de aprendizado inovativo. Ou seja, somente aqueles que tiverem capacitação terão
chances de aproveitar as oportunidades de acesso a essas redes de conhecimentos.
Evidencia-se, adicionalmente, que a distribuição de conhecimento permanece desigual entre
empresas, países e regiões, sendo ainda mais relevante que se realizem investimentos para
aumentar o estoque de conhecimentos e informações e capacitar recursos humanos para
promover inovações.

A introdução do novo paradigma tecno-econômico, com altas e velozes taxas de mudanças,


aliada ao processo de globalização, inclui novos elementos à questão da promoção de
inovação. Como destacam alguns autores, mudanças vêm ocorrendo rapidamente, e para
melhor inserção na Economia Baseada no Aprendizado importa que se estimule este
processo. Nesse sentido, é importante reconhecer que também a formulação de políticas
deve ser tratada como um processo de aprendizado, pois é necessário que se compreendam
e se adaptem as políticas a tais mudanças, para estabelecer diretrizes consonantes com os
contextos específicos.

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ATIVIDADES OPTATIVAS:

3. Discuta a dimensão local da inovação.

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U NIDADE 25
Inovação na Era do Conhecimento

Objetivo: Demonstrar como o conhecimento pode ser fator decisivo no processo inovativo e,
assim, importante instrumento de incremento da competitividade.

Como vimos no texto de Cristina Lemos “Inovação na era do conhecimento”, o atual contexto
econômico é caracterizado por mudanças aceleradas que vêm afetando os mercados, as
tecnologias e as formas organizacionais em curso, de maneira que a capacidade de absorver
informação é fator crucial no processo de inovação e, por conseguinte, de aumento da
competitividade de empresas e regiões. Nesta unidade veremos a parte final, em que a
autora conclui seus argumentos.

Conclusão

A breve exposição das atuais características da inovação salientou:

a) A sua importância para o sucesso de empresas e países;

b) A necessidade de intenso investimento em conhecimento, entendido este como o


principal recurso do atual paradigma, gerado e absorvido particularmente por
indivíduos;

c) A relevância fundamental para sua geração de um processo de aprendizado interativo;

d) Que é localizado em agentes e ambientes específicos e;

e) Os novos formatos organizacionais que facilitam esse aprendizado.

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As mudanças que vêm sendo observadas em nível de políticas em alguns países ou regiões
do mundo, particularmente naqueles mais desenvolvidos, foram fundamentadas no
reconhecimento de como é crucial a formulação de políticas de promoção de inovações no
quadro atual. Ainda, baseiam-se na compreensão de que o processo de inovação é um
processo de aprendizado interativo, que envolve intensas articulações entre diferentes
agentes, requerendo novos formatos organizacionais em redes.

Para se estar apto a entrar nessas redes e nesse novo contexto, é fundamental o
investimento na capacitação de recursos humanos, responsáveis pela geração de
conhecimentos.

O processo de aquisição de conhecimentos que possibilitem a utilização eficiente de


tecnologias é longo e difícil, mas imprescindível. Nesse processo coletivo de aprendizagem,
apesar do epicentro estar constituído pelas empresas nos diferentes setores onde atuam
outros atores e instituições públicas e privadas possui importante participação.

Ressalta-se, particularmente, o papel das instituições de pesquisa e das universidades, que


fornecem a base do desenvolvimento científico e tecnológico para a geração de
conhecimentos e capacitação de pessoas. Portanto, é necessário se compreender que
mesmo sendo a empresa o locus do processo de inovação, a mesma não inova sozinha e
necessita de articulação com os demais agentes, tendo em vista este ser um processo
interativo.

No caso específico dos países em desenvolvimento, um importante instrumento de políticas


de implementação e modernização de estruturas industriais, tradicionalmente existentes,
traduziu-se no estímulo à aquisição de tecnologias por meio da sua compra, considerando-se
que seria suficiente para o desenvolvimento de uma empresa ou setor.

Entendendo-se tecnologia como conhecimento, considera-se que ela não pode ser
facilmente transferida. Conforme apontado anteriormente, podem-se transferir ou comprar os
conhecimentos codificados, mas não os tácitos e sem estes, não se tem a chave para a
decodificação dos conhecimentos adquiridos como tecnologia. Nesse sentido, reforça-se a
importância dos investimentos em capacitação, pesquisa e desenvolvimento e em particular

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do aprendizado, paralelamente à importação de tecnologia, para que seja possível o
desenvolvimento tecnológico endógeno.

Cabe destacar, ainda para países em desenvolvimento como o Brasil, que é necessário que
se reconheça, primeiramente, a importância da inovação para capacitar o país a acompanhar
as mudanças em curso, possibilitar a maior participação destes no crescimento econômico
mundial e contribuir para o seu desenvolvimento econômico e social.

Nesse sentido, cabe evidenciar que, por vezes, a compreensão do processo inovativo em
países em desenvolvimento é ainda restrita. A importância de redimensionar a definição de
inovação reside na observação de que, em países que não estão na liderança do paradigma
vigente, uma definição rígida de inovação e de seu processo limita a abrangência de sua
ação.

Pode levar indivíduos, empresas, instituições de ensino e pesquisa, governos,


particularmente os formuladores de políticas, e outros agentes sociais e econômicos
envolvidos a supor que a geração de inovações deve ser algo absolutamente novo, baseado
em tecnologias avançadas, localizado em grandes empresas, em setores de ponta. Ao
contrário disso, os esforços devem focar particularmente as especificidades locais, incluindo
também os conjuntos de empresas de menor porte e os setores mais tradicionais, tendo em
vista as possibilidades de aprendizado e de capacitação para as mudanças que podem
significar tais investimentos.

As políticas, nesta fase de rápidas mudanças, são extremamente importantes para adaptar e
reorientar os sistemas produtivos e de inovação a esse novo contexto. As formulações de
políticas devem incorporar, não só uma maior flexibilização do que significa o processo
inovativo, como também reformular o foco de sua ação, ao privilegiar conjuntos de indústrias
e setores em articulação com outros agentes que contribuam para o fortalecimento da
capacitação tecnológica e que podem acrescer a sua competitividade.

Os desafios que se colocam são muitos e acima de tudo critica-se o argumento de que o
processo de globalização promoverá a distribuição automática e igual do conhecimento. Este
certamente ficará restrito à esfera de empresas, setores, países e regiões que invistam

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pesadamente na capacitação de seus recursos humanos para promover um processo de
constante aprendizado interativo entre seus agentes econômicos e sociais e a formação de
um ambiente local capacitado para se adaptar às mudanças frequentes e aumentar a sua
capacidade inovativa.

EXERCÍCIOS DISSERTATIVOS:

2. Em que medida o conhecimento pode contribuir com o processo inovativo e, assim,


incrementar a competitividade de empresas e países?

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U NIDADE 26
Visões sobre as mudanças do trabalho no Brasil

Objetivo: Identificar os principais argumentos relacionados com os impactos da introdução de


inovações sobre o trabalho em grandes empresas.

Nas últimas unidades deste módulo, trabalharemos com o artigo de Marcelo Weishaupt Proni
e Patrícia da Conceição intitulado “Mudanças na gestão do trabalho no Brasil: levantamento
de diferentes visões”, publicado na Revista Gestão Industrial de 2006, em que os autores
tentam identificar os principais argumentos que têm sido levantados no debate nacional
relacionado com os impactos da introdução de inovações tecnológicas e/ou organizacionais
sobre o trabalho em grandes empresas, junto a gerentes e diretores das mesmas. Vamos ao
texto.

Introdução

Nos países desenvolvidos, desde o final da década de 70 e o início dos anos 80, foram
sendo implementadas mudanças nas estratégias de concorrência e de gestão das empresas,
num contexto de inovações tecnológicas e de incertezas sobre o desenvolvimento
macroeconômico, incentivando a adoção de experiências de reestruturação empresarial, em
particular no campo industrial e no campo dos serviços modernos.

Segundo alguns autores, a Terceira Revolução Industrial, a globalização econômica e a


liberalização dos mercados financeiros internacionais mudaram o próprio padrão de
concorrência intercapitalista, pressionando as grandes empresas a adotar medidas para
aumentar a competitividade, buscando mais agilidade e eficiência no processo produtivo e na
distribuição, assim como reduzir o custo do trabalho (Coutinho, 1992).

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Na economia globalizada, as empresas mais dinâmicas e inseridas em mercados externos
começaram a experimentar um novo modelo de gestão dos negócios, adequado às
características de organizações transnacionais, que precisam obter vantagens comparativas
e explorar ao máximo todos os benefícios da expansão global.

Ao mesmo tempo, a transformação do cenário empresarial tem modificado a organização do


processo de trabalho. Nesse sentido, pode-se afirmar que o antigo fordismo – entendido
como padrão de organização do trabalho e produção – passou a combinar-se com ou ser
substituído pela flexibilização dos processos de trabalho e produção, dando lugar a um
padrão mais compatível com as novas exigências do mercado mundial, combinando
produtividade, capacidade de inovação e competitividade (Ianni, 1996).

O surgimento de novos setores produtivos e de inovações comerciais, tecnológicas e


organizacionais, de um lado, e a expansão dos mercados financeiros com menor ritmo de
crescimento econômico, de outro, tiveram várias consequências sobre o funcionamento dos
mercados de trabalho nacionais.

Junto com o persistente e alto desemprego, verificou-se uma tendência à redução no quadro
de pessoal e nas hierarquias das grandes empresas, assim como se acentuou a busca por
maior flexibilização das relações de trabalho, contribuindo para gerar uma crescente
insegurança no mundo do trabalho (Mattoso, 1995). A adoção de novas tecnologias (em
particular a automação industrial e a microeletrônica) e a adoção de novas formas de
organização do trabalho (just-in-time, qualidade total, etc.) foram as formas preferidas de
resposta das empresas líderes ao novo contexto da concorrência intercapitalista (Meireles
Filho, 1998).

Contudo, não devemos imaginar que houve aí um determinismo em relação aos impactos
desse processo sobre as condições de trabalho e a organização dos trabalhadores, uma vez
que os sindicatos exerceram uma influência, maior ou menor de acordo com o país, na
definição do ritmo e extensão da introdução de tais inovações (Freyssinet, 1998).

Por outro lado, o avanço do neoliberalismo e o enfraquecimento das forças sociais que
defendem a manutenção dos controles públicos dos mercados, assim como dos direitos

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sociais (ou o chamado Welfare State), tornam mais fácil a revisão da legislação trabalhista e
a flexibilização das relações de trabalho. Mas, não podemos deixar de registrar que a
racionalização econômica não afetou com a mesma intensidade a proteção aos
trabalhadores nos principais países capitalistas avançados (Dedecca, 1999).

Não se pode esquecer que há autores que enfatizam a conformação de uma sociedade
informatizada, com circulação mais rápida de informação e de conhecimento, o que
possibilitou o surgimento de grandes empresas que operam em rede (on line) e trouxe uma
série de consequências em termos de configuração da vida social (Castells, 2000).

Entre outras consequências, a “sociedade informacional” tem mudado a forma de operar das
empresas e tem aumentado as exigências de qualificação para trabalhar nos departamentos
responsáveis por alimentar essas “redes”, agilizando trocas e comunicações. Também nessa
abordagem, a reestruturação empresarial acabou tendo impactos prejudiciais sobre o mundo
do trabalho, provocando uma maior polarização e fragmentação social.

Acrescente-se que, no novo contexto, o trabalho industrial não se organiza mais na interface
do operador/máquina/posto de trabalho, na qual os tempos e gestos podem ser facilmente
programados e controlados. Tornam-se imprescindíveis o trabalho em equipe, os tempos
compartilhados, a troca constante de informação e a participação dos trabalhadores na
gestão da produção.

Procura-se a todo custo a eliminação dos tempos perdidos com a preparação das máquinas,
com limpeza e manutenção e com outras interrupções, buscando o máximo de produtividade.
Dessa maneira, o operário é estimulado a intervir no processo para prevenir problemas. A
produtividade da empresa não está mais assentada na rapidez dos gestos e movimentos
próprios do taylorismo/fordismo, mas na rapidez de planejamento e na resolução dos
problemas que surgem em diferentes situações (Neves, 1998).

Em suma, na era da informação e da globalização, a estrutura organizacional das grandes


empresas passou por profundas mudanças, que implicaram a preferência por trabalhadores
polivalentes e por equipes multifuncionais de trabalho, com metas bem definidas, mas sem a
segurança no emprego que caracterizava o período anterior. E parece haver um consenso

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de que a adoção de novas tecnologias e a adoção de novas formas de organização do
trabalho não só afetaram as condições de trabalho como alteraram a forma de subordinação
(e a capacidade de negociação) dos trabalhadores.

Neste renovado contexto empresarial, passou a predominar um novo discurso entre os


responsáveis pela gestão do trabalho. Na medida em que o “recurso” mais importante para o
sucesso da empresa inserida num mercado em constante mudança passou a ser o
conhecimento, a antiga Administração de Recursos Humanos cedeu lugar a uma nova
abordagem: a Gestão de Pessoas (Chiavenato, 2002).

Desde os anos 80, quando avança a globalização econômica, o discurso dos gurus da
administração, condicionado pelas mudanças na organização do trabalho em razão das
inovações tecnológicas e organizacionais, passou a enfatizar necessidade de adotar novas
diretrizes na gestão de recursos humanos, assim como a importância da qualificação
profissional para a competitividade das empresas (Fleury et al., 1990). Pouco a pouco, vai
ganhando adeptos a valorização das competências individuais, ao passo que vai se
difundindo o conceito de empregabilidade e começa a ser veiculada a ideia de liderança
compartilhada. A proposição de novos modelos de gestão de pessoas foi freqüente ao longo
dos anos 90 (Neri, 1999; Wood Jr., 2001).

Contudo, foram surgindo leituras críticas do discurso que enaltece a transformação dos
trabalhadores em “parceiros” ou “colaboradores”, assim como a pretensa autonomia destes
na nova distribuição de poder dentro das empresas.

Um tipo de crítica é aquela que denuncia a desumanização dos “recursos humanos”, ou


melhor, a degradação das relações humanas numa sociedade que absorve cada vez mais os
princípios do mercado como norteadores das normas que regulam o mundo do trabalho
(Ackerman, 1998).

Outro tipo de crítica, indo numa direção semelhante, é a que destaca o fato de as novas
formas de gestão e cultura empresarial desenvolverem uma forma velada de controle
baseada na subjetividade do trabalhador, que mina os laços de solidariedade (Neves, 1998).
No limite, o capitalismo contemporâneo e suas empresas flexíveis vêm formatando a própria

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personalidade dos trabalhadores que se adaptam aos novos empregos, deixando as pessoas
psicologicamente “à deriva” em razão da insegurança cotidiana e produzindo
comportamentos socialmente conservadores (Sennett, 2000).

Também deve ser lembrado nesse debate o argumento que afirma serem diferentes as
condições de implementação dos novos modelos de gestão, conforme a evolução do cenário
econômico, a força política dos sindicatos e o quadro jurídico-institucional. Nesse sentido, é
importante frisar que a flexibilização das relações de trabalho, no Brasil, tendeu a deteriorar
as condições de trabalho numa amplitude muito maior do que nos países desenvolvidos,
abrindo uma grande margem de manobra para a implementação, no interior das empresas,
de normas e programas autoritários, que não foram objeto de negociação com os respectivos
sindicatos (Carvalho Neto e Parreiras de Oliveira, 1998).

Portanto, a contrapartida do processo de reestruturação empresarial tem sido a terceirização


das atividades, a subcontratação e a diminuição da base sindical, de um lado, e o ataque aos
direitos trabalhistas e uma postura limitadamente defensiva por parte das categorias melhor
organizadas, de outro. Verificou-se uma exclusão dos sindicatos do chão da fábrica e a
fragilização de seu papel de representação coletiva dos trabalhadores (Neves, 1998). Além
disso, permanecem os problemas decorrentes da divisão sexual do trabalho, com
desigualdades exageradas nas relações de gênero.

Também no Brasil, a produção flexível provocou uma intensificação do trabalho, sem que
fossem eliminadas as funções repetitivas, o que acarretou um aumento da LER e de outras
doenças ocupacionais (Hirata, 1998). No Brasil, os estudos de caso sobre os impactos das
novas tecnologias e formas de organização da produção sobre a saúde e o comportamento
dos trabalhadores têm se concentrado no setor secundário, mais especificamente na
indústria de transformação.

Em 1997, de modo pioneiro, a Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT se


preocupou em realizar uma pesquisa de campo sobre o processo de inovação no segmento
automobilístico, seus impactos sobre a política de recursos humanos e a percepção dos

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trabalhadores a respeito das mudanças no processo de trabalho e das novas exigências
decorrentes (Carvalho, 1998).

Com exceção do ramo financeiro, para o qual também têm sido realizados vários estudos a
este respeito, são raros os segmentos do setor de serviços que contam com pesquisas de
campo. Por fim, lembre-se de que, num contexto de inúmeras arbitrariedades e de
dificuldades crescentes para uma parcela majoritária dos trabalhadores em grandes
empresas, os críticos têm denunciado inclusive o discurso aparentemente convincente da
responsabilidade social empresarial.

Em tese, a adoção de práticas mais humanizadas de administração, colocando no centro das


atenções da empresa a qualidade de vida das pessoas, deveria ser um compromisso
irrevogável (Karkotli e Aragão, 2004). Mas, não é isso que se observa no Brasil. Feita esta
rápida resenha da literatura sobre o tema, podemos esclarecer que a intenção deste artigo é
mostrar nuances das interpretações a respeito das consequências para os trabalhadores das
mudanças que vêm sendo implementadas. Mais especificamente, pretendem-se identificar
os principais argumentos que têm sido levantados no debate nacional relacionado com os
impactos da introdução de inovações tecnológicas e/ou organizacionais sobre o trabalho em
grandes empresas.

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U NIDADE 27
Visões sobre as mudanças do trabalho no Brasil

Objetivo: Identificar os principais argumentos relacionados com os impactos da introdução de


inovações sobre o trabalho em grandes empresas

Nesta unidade, continuaremos lendo o artigo de Marcelo Weishaupt Proni e Patrícia da


Conceição intitulado “Mudanças na gestão do trabalho no Brasil: levantamento de diferentes
visões”, publicado na Revista Gestão Industrial de 2006, que, como dito, tenta-se identificar
os principais argumentos que têm sido levantados no debate nacional relacionado com os
impactos da introdução de inovações tecnológicas e/ou organizacionais sobre o trabalho em
grandes empresas, junto a gerentes e diretores das mesmas. Nesta parte os autores tratam
dos impactos das inovações tecnológicas sobre a organização do trabalho.

Impactos das inovações tecnológicas sobre a organização do trabalho

Em primeiro lugar, é oportuno perceber como os responsáveis pela gestão de grandes


empresas compreendem as mudanças em curso.

De acordo com Mórgan Fleury Batista dos Santos, gerente da linha de produtos Mundial em
Porto Alegre, a adoção de um modelo flexível de organização do trabalho é uma exigência
do novo padrão tecnológico e das novas estratégias de concorrência adotadas nos mercados
atuais.

Perguntado sobre o impacto das inovações tecnológicas ocorridas nos últimos 10-15 anos
sobre os métodos de organização do trabalho em uma empresa industrial, ele respondeu que
é preciso qualificar o processo das mudanças. Segundo suas palavras: “Este impacto atingiu
fortemente dois focos, quais sejam: a) aumento da competitividade e b) otimização dos
recursos humanos.

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Com a concorrência em alta, as empresas se vêem cada vez mais obrigadas a investir
fortemente em tecnologia para se manterem competitivas. Estas tecnologias trouxeram
consigo o aprimoramento dos modelos de gestão, por meio dos quais se buscou maior
competitividade. Foi neste período que surgiram vários processos tais como: dowsizing,
reengenharia, qualidade total, six sigma etc. Por outro lado, tornou-se também importante os
funcionários exercerem diversas tarefas simultâneas. Não basta mais desempenhar a sua
atividade técnico-profissional. Deve-se ao mesmo tempo preocupar-se com fazer bem e de
uma única vez. A tecnologia traz consigo a necessidade do aprimoramento e elevação do
nível de escolaridade.”

Já no entendimento de Kjeld Jakobsen, presidente do Instituto Observatório Social (onde têm


sido desenvolvidos estudos em cooperação com sindicatos de trabalhadores e empresas
multinacionais) há um amplo consenso de que também no Brasil houve transformações
profundas nos métodos de produção e nas formas de gestão do trabalho.

Mas, são raros os casos de geração de inovações, uma vez que a maioria das empresas no
País acaba importando equipamentos, métodos e soluções desenvolvidos nos países mais
avançados economicamente. Para ele, há exemplos (principalmente no setor industrial, mas
também no setor serviços) em que foi a introdução de inovações tecnológicas que exigiu a
adoção de modelos mais flexíveis de organização do trabalho, assim como há exemplos em
que as novas formas de organização do trabalho independem da base tecnológica. “Nesse
sentido, deve-se ter em conta que não há determinismo na relação entre tecnologia e
trabalho.”

Para João Vaccari Neto, da Secretaria de Relações Internacionais da CUT, as mudanças


ocorreram em dois momentos: inicialmente, o trabalho foi organizado de uma forma mais
racional com o objetivo de elevar a produtividade, utilizando ainda os mesmos meios de
produção; depois, principalmente nos últimos dez anos, houve outro processo, no qual as
empresas procuraram incorporar as novas tecnologias.

Ele acrescenta: “Então, são duas coisas que fazem com que haja o crescimento da produção
de forma bastante grande. E, ao mesmo tempo, os salários não acompanham essa evolução.

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O número de empregados diminuiu e a produtividade explodiu. Então, se você pegar
qualquer setor da indústria, percebe que houve um crescimento da produtividade nos últimos
20 anos de forma muito grande. Isso foi um reflexo das inovações.”

Segundo o seu ponto de vista, nesse período, duas novidades foram adotadas na maioria
das empresas industriais. Uma é a cobrança de metas nas empresas, metas coletivas e
individuais: “Qualquer empresa hoje trabalha com esse método de metas.” A outra é a
adoção de novos métodos de controle e gestão de pessoal, nos quais o próprio trabalhador
passa a colaborar para prevenir problemas. “A empresa tem que produzir X e o funcionário
tem que produzir uma fração de X. A somatória de todos vai fazer com que o valor do X
cresça, vá lá em cima.

Então, nós temos dois tipos de metas: uma é o objetivo da empresa e a outra meta é
estabelecida individualmente. Ao mesmo tempo, as empresas buscam construir formas de
controle coletivo sobre a produção. Desse modo, essas metas permitem várias formas de
você fazer a gestão de pessoal e o controle produtivo. Vai estabelecendo justamente isso:
“as metas individuais, coletivas, setoriais vão somando para que no final haja uma explosão
da produtividade em todos os setores.”

Por sua vez, Gustavo Codas, assessor da CUT e um dos responsáveis pela organização do
V Fórum Social Mundial, considera que é difícil separar as “inovações tecnológicas” das
“inovações organizacionais”, uma vez que as empresas buscam combinar inovações nas
máquinas, nas matérias primas utilizadas e na organização do trabalho e da produção.

Para ele, do ponto de vista do trabalho, esses processos refletem a tentativa das empresas
de encontrar formas mais sofisticadas de subordinar os trabalhadores à lógica da
acumulação e aos seus interesses imediatos: “Pode-se ler o acontecido nos anos 90 como
uma ‘disputa ideológica’ do capital com o trabalho, na qual o capital tomou importantes
iniciativas no plano dos métodos de organização do trabalho, ajudado muitas vezes pelas
novas possibilidades oferecidas pelos novos equipamentos (mas não somente). A minha
percepção é de que, na mencionada disputa ideológica, o capital em muitos casos

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redesenhou a organização do trabalho. Digo em muitos casos porque em outros (talvez a
maioria), apenas intensificou o modelo anterior.”

Das várias diretrizes que norteiam os novos métodos de organização do trabalho, Codas cita
duas. Primeiro: a apropriação do saber operário. O trabalhador não é um “gorila amestrado”
(Taylor); acumulou saber e é preciso aproveitá-lo, extrair esse conhecimento para seu uso
pela empresa. Segundo: o trabalho em equipe e polivalente elimina “tempos mortos” (e corta
postos de trabalho), aumentando a produtividade.

Assim, supera-se a segmentação e fragmentação do trabalho, que reduzem a produtividade


porque implicam em tempos mortos para a produção, e evita-se a malandragem operária,
que tenta sempre ampliar os tempos mortos. Nas suas palavras: “O trabalhador é
‘recompensado’ com uma maior qualificação e enriquecimento do seu trabalho, ao mesmo
tempo em que é induzido a um trabalho mais intenso e à competição com outros
trabalhadores, minando o sentido de solidariedade da classe trabalhadora que o modelo
anterior suscitava.”

A explicação e a possibilidade de sucesso dessa estratégia estão dadas pelo


condicionamento macroeconômico, em particular porque os anos 90 foram marcados pelo
grande aumento da taxa de desemprego. O raciocínio é bastante contundente: “O
desemprego sempre foi considerado pelo pensamento político e econômico conservador
como um método disciplinador da mão-de-obra. Até que a taxa de desemprego baixe
sensivelmente, não há como saber quando é disciplina imposta e quando é ‘colaboração’ ou
adesão ideológica do trabalhador ao capital. Mas, podemos afirmar que foi essa alta do
desemprego que permitiu um recrudescimento do taylorismo em alguns setores
(notadamente nos setores de serviços).”

Por último, Gustavo Codas lembra que a situação dentro das empresas que produzem bens
importáveis se alterou de forma importante com a mudança do regime cambial em janeiro de
1999. Ele explica: “Até então, a ‘âncora cambial’ operava como um argumento muito
concreto contra as reivindicações dos trabalhadores, já que fixava um ‘teto’ para os custos de
produção, que se ultrapassado levaria ao fechamento da empresa. Com a liberalização do

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câmbio e sua desvalorização competitiva, houve grande alívio nos locais de trabalho. Antes,
cada mudança organizacional contabilizava algum pequeno percentual de ganho de
produtividade e competitividade. Agora, a desvalorização cambial resolvia os problemas”.

No Paraná, essas tendências também se manifestaram. Roni Anderson Barbosa, presidente


da CUT-PR, argumenta que a inovação tecnológica afetou de várias formas o mundo do
trabalho. A informatização e a automação mudaram o ambiente de trabalho.

Com isso, a organização interna do trabalho também mudou. Mas, na maioria dos casos, as
novas tecnologias foram introduzidas sem destruir as antigas plantas industriais. Conforme
ele mesmo explica: “O que a gente vê no Brasil é que a maior parte das indústrias não
construiu parques fabris novos, elas foram adaptando os parques fabris antigos para as
novas tecnologias e, com isso, foi preciso o trabalhador se desdobrar.

Um equipamento antigo com uma tecnologia nova. Isso é o que eu vejo que aconteceu
desde a década de 1990 para cá. (...) Com a tecnologia nova, a maioria fez adaptações e
isso ocasionou diversas adaptações para o mundo do trabalho, como a redução dos
trabalhadores, que foi muito forte. Houve redução de trabalhadores em vários postos de
trabalho em razão disso. “E com isso veio à reestruturação, reestruturação que não é só uma
questão tecnológica.”

De acordo com ele, a prevalência da política neoliberal fez o Estado brasileiro abrir mão de
políticas industriais e isso trouxe consequências que prejudicaram muito fortemente o
trabalho, num contexto de reestruturação produtiva e de adoção de uma série de programas,
como a qualidade total, que também ajudaram na redução de pessoal e na reorganização do
trabalho. Portanto, no entendimento de Roni Anderson Barbosa, a gestão de pessoas foi
uma das áreas afetadas pelas mudanças ocorridas: “A gente vê que algumas coisas estão
surgindo no mundo do trabalho, pelo lado das empresas, que antes nós não víamos. Tem
mudado a gestão de recursos humanos. Elas fizeram, quase todas as empresas fizeram
readaptações da década de 1990 em função da tecnologia e da concorrência externa.”

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U NIDADE 28
Visões sobre as mudanças do trabalho no Brasil

Objetivo: Identificar os principais argumentos relacionados com os impactos da introdução de


inovações sobre o trabalho em grandes empresas

Nesta unidade, continuaremos lendo o artigo de Marcelo Weishaupt Proni e Patrícia da


Conceição intitulado “Mudanças na gestão do trabalho no Brasil: levantamento de diferentes
visões”, publicado na Revista Gestão Industrial de 2006, que, como dito, tenta identificar os
principais argumentos que têm sido levantados no debate nacional relacionado com os
impactos da introdução de inovações tecnológicas e/ou organizacionais sobre o trabalho em
grandes empresas, junto a gerentes e diretores das mesmas. Nesta parte os autores tratam
do papel do departamento de recursos humanos.

O papel do Departamento de Recursos Humanos

A questão a ser examinada, nessa seção, diz respeito ao papel que tem sido atribuído, nas
grandes empresas, ao Departamento de Recursos Humanos. E, nesse sentido, verificar o
que tem sido feito para adaptar os trabalhadores aos novos requisitos associados ao
capitalismo desregulado, à difusão da inovação tecnológica e às pressões derivadas da
competição globalizada.

Para Mórgan Fleury Batista dos Santos, o departamento responsável pela gestão dos
chamados “Recursos Humanos” também foi impactado fortemente pelas mudanças no
funcionamento das empresas. De fato, o papel desse departamento foi expandido: “O antigo
Departamento Pessoal deu lugar ao Departamento de Recursos Humanos, que pode ainda
assumir diversas nomenclaturas, tais como: Talentos Humanos, Inteligência Humana, Área
de Emoções etc. Também houve uma mudança na postura: o RH paternalista deu lugar a um
RH que deve ser focado em resultados, buscando formas de auxiliar a empresa a atingir
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seus resultados. Novos programas de desenvolvimento e formas de remuneração por
resultados vieram em conjunto. O profissional de RH deve agora aprender a linguagem do
negócio. A formação financeira passa a acompanhar o dia-a-dia destes profissionais.”

Por outro lado, Marino Vani, com base na experiência acumulada como coordenador de
formação sindical dos trabalhadores metalúrgicos, enfatiza a estratégia agressiva adotada
pelas empresas brasileiras, através dos responsáveis pelas políticas de RH, buscando
ganhar a confiança e a cooperação dos trabalhadores para o melhor desempenho possível
no mercado.

Nas suas palavras: “A grande maioria das empresas trabalha com uma política de
aproximação e de convencimento de que o sucesso da empresa depende dos trabalhadores
e os trabalhadores dependem da empresa. Essa política de colocar os trabalhadores como
coresponsáveis por todo desempenho, pelos resultados da empresa, é uma política muito
agressiva, na qual os trabalhadores se tornam mais responsáveis do que o próprio dono da
empresa. E sofrem com estresse, sofrem muito com a pressão, E buscam cumprir as metas
se responsabilizando pelos resultados finais da empresa. Mas, na grande maioria dos casos,
as metas colocadas através de programas de PLR – participação dos lucros e resultados, de
programas que envolvem os trabalhadores para atingir o que foi estabelecido pela empresa,
são metas quase sempre impossíveis de serem alcançadas.”

O envolvimento dos funcionários na gestão da produção acaba fazendo que o ritmo da


produção (e do trabalho) seja aumentado pelos próprios trabalhadores, muitas vezes sem a
necessidade da direção da empresa emitir uma ordem. Ou seja, os próprios trabalhadores,
através dos novos processos de organização do trabalho, vão se auto-organizando e
buscando alternativas para garantir a satisfação das metas. Marino Vani explica que muitos
departamentos de RH acabaram assumindo, nesse período de transição, de mudanças no
processo produtivo e no foco da empresa, o papel de administrar também o trabalho
realizado em outras pequenas empresas ou por outros grupos de trabalhadores, que
aparecem como cooperativas.

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O RH acaba tendo a função de fazer a gestão junto a outras empresas ou grupos que
trabalham de forma subordinada a um mesmo processo produtivo. Segundo Vani: “Então, o
RH passou a ser um administrador de contratos onde a empresa negocia o fornecimento de
serviços de assistência técnica, de montagem, que a empresa deixou de fazer nos últimos
tempos.

Em alguns casos, quando o sindicato tem uma relação mais forte, os RH das empresas
acabam sendo acionados para resolver algum problema de conflitos trabalhistas no âmbito
de empresas terceirizadas (ou mesmo de cooperativas). Então, o RH tenta administrar esses
conflitos. O problema é que essa estratégia do RH de tentar terceirizar o máximo possível da
produção acaba fazendo com que os trabalhadores tenham dentro da mesma empresa (ou
processo produtivo) relações e condições diferenciadas.

Os trabalhadores terceirizados têm salários e benefícios, na maioria das vezes, 50%


menores do que outros trabalhadores similares. E a grande maioria já trabalhou na própria
empresa, mas agora são funcionários de uma pequena empresa que o chefe ou o líder
daquele setor criou (ou o presidente da cooperativa é um ex-chefe de um determinado setor).

Além de administrar conflitos da relação capital-trabalho, a nova política de RH deve


contribuir para que as empresas diminuam os seus custos. Além de cuidar da seleção,
contratação, pagamento e treinamento dos funcionários, o departamento de RH agora
precisa cuidar de contratos comerciais, com os quais a empresa pode ganhar mais ou menos
dependendo do desempenho dos trabalhadores terceirizados (ou cooperados).

A maior parte dos custos da empresa deve ser variável (conforme varia a produção). Reduzir
a folha de pagamentos (custo fixo) e recorrer a trabalhadores subcontratados pode até não
ser medida muito mais rentável, mas se torna uma estratégia cada vez mais comum à
medida que os concorrentes passam a adotá-la.

Para concluir o raciocínio, Marino Vani acrescenta: “O RH mudou as funções, assumiu novas
funções e hoje desempenha um papel mais importante que no passado. É um papel que vai
além das relações com os trabalhadores e com os sindicatos. Ele agora tem uma relação
com outras empresas, outros setores, ele contrata a mão-de-obra de outro parceiro e de

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outra empresa. E isto faz com que os responsáveis pelo RH tenham que ter uma formação
muito maior: têm que estar preparados para negociações com outros empresários, além dos
sindicatos, é claro. Mas, esses contatos têm que estar muito bem estabelecidos, porque a
Justiça do Trabalho, muitas vezes, considera isso como um vínculo empregatício. E
futuramente virão consequências, pode acarretar custos maiores para a empresa.

Então, hoje, o RH tem uma assessoria jurídica muito grande, uma assessoria que não existia
nesse setor. Claro que isso não é em todas as empresas. Mas vejo isso no ramo de bens de
capital, na indústria de máquinas, nas empresas que fazem montagem de eletro-eletrônicos,
no setor automobilístico. Enfim, o RH é um coordenador de mão-de-obra da própria empresa
e de outras que trabalham articuladas no mesmo processo. Por isso, a responsabilidade do
Departamento de RH é muito maior em relação ao passado.

Por sua vez, Fernando Lopes, secretário geral da CNM, enfoca a questão da política de
Recursos Humanos das empresas brasileiras de outro ponto de vista: as razões do sucesso
das estratégias implementadas. Ele é bastante claro em sua argumentação: “Avaliamos que
a política de RH tem sido vitoriosa na sua implantação, do ponto de vista dos objetivos
empresariais.” E isso é possível por conta de três motivos:

1) Essas políticas evocam um discurso democrático, participativo. Na realidade, elas são


implementadas num ambiente profundamente antidemocrático. O trabalhador não tem
opção entre aceitar ou não essas políticas participativas, o controle de qualidade e
todos esses métodos japoneses. Então, isso é um fator importante para o sucesso da
empresa. Na realidade, é uma política de costumes democráticos, mas tem um
método de implementação autoritário. Até porque, no Brasil, existe a questão do
desemprego... E num país sem emprego o trabalhador não pensa duas vezes em
acatar ou não acatar uma determinação da empresa. Esse é um fator importante.

2) Os trabalhadores são críticos dos antigos métodos de trabalho. Ou seja, quem


trabalha num ambiente com supervisor, com hierarquia bastante rígida dentro da
empresa, é favorável à mudança. Se existe um ambiente onde, minimamente, mesmo
de forma limitada, você tem condições de participar das decisões, torna-se uma coisa

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atrativa pelo lado dos trabalhadores. Portanto, essas políticas oferecem algo que vai
ao encontro dos desejos de todos, que é trabalhar num ambiente onde não há
necessariamente um chefe que mande neles. Essas políticas seduzem os
trabalhadores.

3) Outro fator de sucesso dessas políticas é a incapacidade dos sindicatos de dialogar


com isso e enfrentar essas políticas de forma dignamente competente. Raramente os
sindicatos se opõem à implementação dessas políticas na empresa. Mas, por conta de
não estarem presentes no local de trabalho, não conhecerem diretamente como
funciona a fábrica.

Acaba fazendo um discurso fora do portão da fábrica, diferente dos trabalhadores. Até
porque os funcionários são novos trabalhadores, são estudantes saídos de escolas técnicas.
Então, o discurso sindical não consegue ganhar os trabalhadores para fazer o enfrentamento
consequente da política das empresas. Esses são os três fatores que contribuem para que
essas políticas sejam implementadas. (...)

Em suma, essa política empresarial parece ter sido bem sucedida, no Brasil. Nessa política,
um aspecto se destaca: tem sido muito difundido o discurso do trabalhador como parceiro,
colaborador. Inclusive, muitos sindicatos atualmente assumem essa estratégia de atuar como
parceiro da empresa. Para João Vaccari Neto, porém, esse discurso é apenas mais uma
forma de tentar mascarar o conflito inerente à relação capital-trabalho.

“Eu não acredito que o trabalhador seja parceiro porque, no meu entendimento, parceiro é
quando a sua opinião é aceita, você compartilha da opinião. Aí sim podemos dizer ‘somos
parceiros, vamos discutir coisas juntos’. Mas não é assim. As metas, muito provavelmente
são estabelecidas por alguém que não te conhece, não frequenta o seu local de trabalho,
não sabe como é, mas tem um objetivo financeiro – o resultado econômico que ele deseja
atingir.

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E a partir daí fixa uma meta e não permite questionamento. (...) Eu acho importante dizer
isso, porque é preciso ter claro que a relação capital-trabalho deve ser uma relação regrada,
com critérios, com princípios, feitos entre os verdadeiros representantes: o sindicato de um
lado e os empresários do outro. (...) Uma relação de parceria entre o trabalhador e a
empresa teria que ter uma natureza voluntária.

Por isso, já coloco de antemão que ‘colaboração’ não é o que ocorre com o trabalhador que
está na produção, no escritório, numa empresa de serviço, num navio, num avião. Isso não
acontece. (...) Então, essa história de parceiro é uma tentativa de mascarar a relação capital-
trabalho. Acho que é muito melhor a gente tratar de forma mais transparente, com objetivos
para discutir com todos os envolvidos.”

Em resumo, para Vaccari, como os Departamentos de Recursos Humanos têm procurado se


adaptar a uma nova realidade, hoje também as negociações entre os representantes dos
patrões e dos trabalhadores também têm sido afetadas. Os sindicatos estão procurando se
adaptar a esse novo ambiente de negociações, porém, com os velhos argumentos. Por outro
lado, hoje há mais consultores trabalhando para resolver os conflitos trabalhistas nas
empresas, mas os problemas continuam tão graves como antigamente.

Por sua vez, Roni Anderson Barbosa acredita que, no Paraná, os gestores das empresas,
inclusive nos Departamentos de RH, não estão preocupados com estimular os empregados a
melhorar o produto ou aumentar o ritmo de produção. Para ele, predominam as tentativas de
reduzir os custos de produção. Em suas palavras: “Acho que são pouquíssimas as empresas
que se preocupam com esse lado de estimular o trabalhador, porque o que a gente fala
muita vezes é que, se o trabalhador no geral tivesse meio de se organizar, de se ajudar, de
se reunir no próprio local de trabalho para remodelar o processo produtivo, certamente isso
beneficiaria. O trabalhador pode ter certa autonomia para decidir algumas coisas, ser ouvido.
Ajudaria até para a própria empresa, porque o trabalhador se sentiria valorizado enquanto
participante dessa mudança. Certamente, isso beneficiaria a empresa na melhoria da
produção.”

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De qualquer forma, Barbosa acrescenta que houve uma reestruturação no quadro dos
empregados e na política de RH, à medida que novas relações de produção e trabalho foram
construídas a partir da eliminação de alguns cargos na hierarquia das grandes empresas.

Em nome da qualidade dos produtos e serviços prestados, as empresas paranaenses


passaram a adquirir inovações tecnológicas, a exigir um novo perfil de trabalhador e a adotar
novos critérios de gestão do pessoal. No novo discurso adotado, a troca de conhecimentos e
a sistematização de experiências foram valorizadas. Nesse sentido, ele concorda que houve
alguns resultados positivos:

“Há pouco, eu falei da questão da organização no local de trabalho, que é muito restringida.
Tem algumas empresas que atuaram nesse sentido de eliminar níveis hierárquicos,
constituíram grupos nos locais de trabalho e em determinados setores deram maior
autonomia a esses trabalhadores.

E eles tiveram resultados em aumentar a produtividade. Houve melhoria numa série de


questões, como o clima organizacional na empresa. Toda vez que você dá certa autonomia
ao trabalhador, não só para fazer aquilo que ele foi contratado, surgem oportunidades de
participar das decisões da empresa. Isso melhora o clima e consequentemente a
produtividade. E certamente melhora o ambiente de trabalho como um todo.”

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U NIDADE 29
Visões sobre as mudanças do trabalho no Brasil

Objetivo: Identificar os principais argumentos relacionados com os impactos da introdução de


inovações sobre o trabalho em grandes empresas

Nesta unidade, continuaremos lendo o artigo de Marcelo Weishaupt Proni e Patrícia da


Conceição intitulado “Mudanças na gestão do trabalho no Brasil: levantamento de diferentes
visões”, publicado na Revista Gestão Industrial de 2006, que, como dito, tenta identificar os
principais argumentos que têm sido levantados no debate nacional relacionado com os
impactos da introdução de inovações tecnológicas e/ou organizacionais sobre o trabalho em
grandes empresas, junto a gerentes e diretores das mesmas. Nesta parte os autores tratam
das consequências dos novos métodos de gestão para os empregados.

Consequências dos novos métodos de gestão para os empregados

O conjunto de mudanças aqui relatadas tem diferentes significados para os diversos atores
sociais. Mas, um dos consensos é que esse processo de reestruturação empresarial tem
causado impactos na vida dos trabalhadores, para os sindicatos, para a sociedade em geral
e mesmo para o meio ambiente. A seguir, é apresentada a opinião dos entrevistados a
respeito das principais consequências dos novos métodos de gestão do trabalho para os
empregados da grande empresa.

Mórgan Fleury Batista dos Santos destaca que aumentou, significativamente, a pressão
exercida sobre o trabalhador na busca por resultados. Cada vez menos “colaboradores”
devem se responsabilizar por mais tarefas, o que se traduz em aumento de produtividade.

Olhando especificamente a situação dos trabalhadores com nível superior, ele atesta que o
mercado de trabalho está restrito, fazendo com que profissionais qualificados submetam-se a

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condições de trabalho bem menos qualificadas. E mesmo nesse nicho, a informalidade está
aumentando; por consequência a formalização do emprego diminui entre os graduados. Daí,
ele projeta: “O trabalhador do futuro deverá ser o gerente de sua carreira.”

Para ele, os departamentos de RH têm estimulado os funcionários a buscar melhorar o


currículo, inclusive oferecendo cursos in company, que passaram a fazer parte do dia-a-dia
das grandes empresas. Mas, o autodesenvolvimento passou a ser a palavra de ordem.
Como tendência, ele visualiza: “As carreiras autogerenciáveis, em que os profissionais
passam de uma atitude passiva (as empresas investiam em cursos) para uma postura pró-
ativa (o trabalhador passa a investir na sua empregabilidade).”

Em contrapartida, Kjeld Jakobsen relata que a busca da competitividade virou uma obsessão
que, somada aos novos modelos de gestão implantados pelas grandes empresas, contribuiu
não só para o aumento no número de desempregados e para a proliferação de precárias
condições de trabalho; também contribuiu para exacerbar o individualismo dos trabalhadores.
Conforme aumenta a concorrência entre eles, diminui a capacidade de mobilização coletiva.
Os sindicatos de trabalhadores viram o seu poder de barganha diminuir, assim como o
número de sindicalizados.

Por sua vez, João Vaccari Neto procura estabelecer uma avaliação que reconhece aspectos
positivos e aspectos negativos, no que se refere ao impacto dos novos métodos de
organização do trabalho. Mas destaca os aspectos negativos, argumentando assim: “É
importante dizer que há ganhos do ponto de vista das condições de trabalho e há ganhos do
pontos de vista do ambiente de trabalho. Mas, em contrapartida, há uma pressão psicológica,
uma pressão bastante grande sobre o trabalhador. Por exemplo, quando circula um carro
numa linha de produção, ele circula mais ou menos com os tempos contados de entrada e
saída. E os trabalhadores têm que competir com a esteira, o tempo todo ele compete com a
esteira. E para vencer vai sendo adequado na justa medida da sua velocidade.

Quanto mais rápido o trabalhador executar a tarefa, mais rápido a esteira vai andar.” Vaccari
diz que há uma constante na implantação de novas tecnologias. Primeiro, surge o debate
sobre os ganhos e prejuízos, uma projeção das perdas e avanços. Em seguida, vem um

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determinado espaço de adaptação, de aceitação das novas tecnologias. Depois, vem uma
reação, quando os trabalhadores começam a sentir que a situação não ficou melhor, mas
piorou. E os sindicatos melhor organizados procuram fazer uma nova política de
enfrentamento.

Outro aspecto destacado por Vaccari é a intensificação do trabalho e o uso de mão-de-obra


de terceiros. Isso também, num primeiro momento, é visto como uma coisa boa (no caso de
funcionários que passam a prestar serviços para a empresa), mas depois os trabalhadores
vão se conscientizando de que seus problemas não foram resolvidos.

A terceirização muitas vezes é defendida como uma maneira de dar mais autonomia aos
funcionários, de melhorar a vida dos trabalhadores, mas acaba aumentando a exploração do
trabalho, aumentando os ganhos das empresas. Para ele: “O fundamental é dizer que os
ganhos tecnológicos, nesse último período, não estão sendo incorporados ao patrimônio dos
trabalhadores, seja nos salários, seja nos direitos, seja na qualidade de vida ou na
convivência social.”

Por último, Vaccari contribui relatando como as mudanças interferiram nas relações
interpessoais dos trabalhadores: “As mudanças interferiram nas relações dos trabalhadores
na medida em que você passa a ter uma competitividade bastante grande e aqueles que não
correspondem são eliminados. Quem trabalha mais devagar, a tendência é o coletivo excluir.
Isso ocorre muito com as mulheres, porque elas ficam grávidas, rendem menos, isso é
normal. Então, não é o patrão que vai excluir o sujeito, são os próprios colegas. Essa é uma
grande ‘sacanagem’, porque eles não vêem o ponto de vista do colega, vêem o ponto de
vista da produção. Tem empresa em que o funcionário adquire uma doença e isso cria uma
segregação.”

Por sua vez, Marino Vani ressalta que é impressionante como aumentaram as queixas de
problemas emocionais, psicológicos, de estresse, depressão. Aparentemente, quanto mais
moderna é a empresa, mais doenças relacionadas ao trabalho são diagnosticadas.

Ele explica: “A empresa moderna traz mais esse tipo de doenças profissionais. Uma, porque
o ritmo de trabalho é muito grande. Temos empresas automobilísticas com 1.500

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trabalhadores na planta e, desses, em torno de 500 trabalhadores já fizeram ficha de
acidente de trabalho ficando mais de 15 dias afastados por problemas que antes não
existiam (a LER, por exemplo). Isso porque as empresas não têm uma política de trocar os
trabalhadores de setores e também por motivos relacionados ao estresse. Quase 1/3 dos
trabalhadores das empresas montadoras tem ou está tendo problemas com doenças
profissionais graves, que acabam fazendo lesões e levam os trabalhadores a, futuramente,
estar fora de qualquer possibilidade de trabalho. E isso vem aumentando principalmente nas
grandes empresas e nas empresas mais modernas.”

Outra consequência apontada por Marino Vani, com a redução no número de trabalhadores
da categoria, é o baixo grau de sindicalização. Além disso, as novas políticas empresariais
dificultam ainda mais a organização autônoma dos trabalhadores e sua representação
coletiva. Segundo ele: “Nosso sindicato tem certa dificuldade de identificar quem são os
contratados pela empresa- mãe e quais são os das terceirizadas, das cooperativas. Com
isso, nas mobilizações que fazemos agora, dentro ou fora da fábrica, para a campanha
salarial ou para qualquer campanha que o sindicato desenvolva, há uma participação menor;
e é cada dia maior o medo dos trabalhadores em perder o emprego na empresa-mãe (e ser
terceirizado). Ou seja, aumenta também o estresse diário dos trabalhadores.”

Também no entendimento de Fernando Lopes, as consequências dos novos métodos de


organização dos trabalhadores são claramente prejudiciais: “A minha avaliação é que as
consequências dessas políticas são ruins para os trabalhadores. Em médio prazo, existe
uma perda da autonomia no trabalho que, aparentemente, no começo não é evidente.

Existe uma sobrecarga do trabalho. Existe um aumento do ritmo do trabalho. E existe um


prejuízo na relação do trabalhador com a entidade sindical. É um processo gradativo. Mas os
resultados negativos não têm sido revertidos. Poucas experiências de política sindical, no
Brasil, foram capazes de ser inovadoras para enfrentar essa situação.”

Para Gustavo Codas, o contexto em que vêm sendo aplicados os novos métodos de gestão
do trabalho tem sofrido importantes mudanças ao longo dos últimos 15 anos. Isso dificulta
tirar conclusões. Talvez as tendências atuais sejam diferentes daquelas percebidas na

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década passada. De qualquer modo, ele sugere que o impacto principal foi uma maior
desigualdade no interior dos empregados ligados aos segmentos mais dinâmicos da
economia brasileira, fazendo a seguinte avaliação:

“Antes de janeiro de 1999, diria que as principais tendências eram:

a) Diminuição do número de trabalhadores diretos nas empresas e melhora da


remuneração deles em relação ao crescente número de terceirizados (e, em alguns
casos, em relação a sua situação anterior);

b) Aumento da qualificação dos trabalhadores diretos;

c) Aumento do ritmo de trabalho, tanto dos funcionários diretos como dos terceirizados; e
a) diminuição do poder de pressão pelo aumento do grau de diferenciação entre
trabalhadores.”

Por fim, em relação ao contexto paranaense, Roni Anderson Barbosa confirma que os novos
métodos de gestão contribuíram para o aumento de doenças profissionais nas grandes
empresas. Nas suas palavras: “Por exemplo, se pegarmos a categoria dos bancários: com o
aumento da tecnologia e o uso de computadores, os acessos são todos informatizados, as
compensações bancárias que antes demoravam horas e horas, hoje você tem a informática
para ajudar. Mas, os bancários continuam tendo problemas de lesões por esforço repetitivo,
porque a mudança na organização do trabalho não diminuiu o ritmo do trabalho, a uma série
de outros fatores. Eu vejo que isso está conectado. Os acidentes de trabalho, as doenças
ocupacionais têm continuado a crescer e a se desenvolver. A doença mais frequente é a
LER, não só na categoria dos bancários, em outras categorias também.” Ele aponta, ainda, o
crescimento de problemas psicológicos decorrentes do estresse emocional a que são
submetidos os trabalhadores nos tempos atuais:

“Tem problemas relacionados ao estresse, que decorrem da forte pressão psicológica sobre
os trabalhadores para aumentar a produção e a produtividade, a qualidade. A gente sabe de
muitas indústrias por aí nas quais o número de trabalhadores que está com dependência

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química, tomando remédios para tratamento de depressão, com problemas de saúde em
geral e problemas psicológicos sérios. Até casos de trabalhadores que se matam no local de
trabalho. Isso não é de agora, não é da década de 1990 para cá, já existia, mas não era tão
visível. Acho que isso acirrou muito nos últimos anos, cresceu bastante esse tipo de doença
relativa à saúde mental do trabalhador, vamos dizer assim.”

Além disso, Roni Barbosa diz que também vem aumentando o registro de queixas de
assédio moral, ou seja, problemas decorrentes do abuso de autoridade, humilhação dos
funcionários, desvalorização do ser humano. Ele explica: “O assédio moral que a gente fala
vem crescendo bastante nas empresas e isso contribui para o aumento dessas doenças
psicológicas. O que contribui para o aumento desse assédio moral é o aspecto da
competição no mercado [de trabalho] aberto, as novas exigências feitas aos trabalhadores.”

Perguntado sobre as mudanças que se verificaram na vida dos trabalhadores, Roni Barbosa
diz que o impacto principal foi o afastamento dos vínculos afetivos que existiam dentro
daquele grupo de pessoas. “Antes você tinha um bom relacionamento no local de trabalho.
Em geral, via os trabalhadores no seu local de trabalho mais unidos, participando de
churrascos, futebol, de esportes juntos. Isso diminuiu bastante de um período para cá.

Eu acho que essa inovação tecnológica, aliada à pressão interna por produção, mais o
assédio moral, todas essas questões levaram ao que a gente chama de individualismo. Os
trabalhadores se fecharam no mundo deles, diminuindo o sentimento de coletividade.
Porque, em muitas empresas, o que predomina é o discurso individualista, que certamente
influenciou nessa relação interpessoal no local de trabalho.”

Em suma, no Paraná, de acordo com Roni Barbosa, aquelas inovações não vieram para
benefício do trabalhador – pelo menos, esse é o sentimento que predomina entre os
trabalhadores. A exploração do capital sobre o trabalho, diz ele, continuou nesse período,
mesmo com as inovações tecnológicas. Mas ele acrescenta: “Não quer dizer que eu sou
contra as inovações tecnológicas, pelo contrário. Eu acho que é um fator importante, que
vem ajudar no mundo do trabalho. Mas, é preciso repartir isso com o trabalhador. Quem está
ganhando, até agora, são os donos dos meios de produção, os capitalistas.

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Tanto é que uma das principais reivindicações da CUT, nesse período agora, é a redução da
jornada de trabalho, porque tem espaço no Brasil para reduzir a jornada de trabalho. Então,
esse seria um dos mecanismos de repartir com os trabalhadores os ganhos de produtividade
que a tecnologia trouxe”.

Fórum 3 – Visões sobre as mudanças no trabalho

Questão para ser discutida:

Discuta até que ponto o discurso empresarial do “gestor” impacta sobre as condições de
trabalho ou auxiliam os trabalhadores no mercado

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U NIDADE 30
Visões sobre as mudanças do trabalho no Brasil

Objetivo: Identificar os principais argumentos relacionados com os impactos da introdução de


inovações sobre o trabalho em grandes empresas

Nesta unidade, leremos, por fim, mais uma parte do artigo de Marcelo Weishaupt Proni e
Patrícia da Conceição intitulado “Mudanças na gestão do trabalho no Brasil: levantamento de
diferentes visões”, publicado na Revista Gestão Industrial de 2006, que, como dito, tenta
identificar os principais argumentos que têm sido levantados no debate nacional relacionado
com os impactos da introdução de inovações tecnológicas e/ou organizacionais sobre o
trabalho em grandes empresas, junto a gerentes e diretores das mesmas. Nesta parte os
autores tratam das consequências das mudanças para a sociedade como um todo.

Consequências das mudanças para a sociedade como um todo

Certamente, as mudanças mencionadas estão presentes na produção, no comércio, no


consumo, na tecnologia, na informação, na maioria dos segmentos da atividade econômica,
influenciando na criação de novos hábitos e diferentes visões de mundo. A consequência
imediata dessa nova realidade vem sendo percebida através de manifestações concretas em
que se alteram os papéis de pessoas, empresas e até mesmo das instituições
governamentais.

Nesta seção final, são apresentados os depoimentos dos entrevistados com relação às
consequências dos novos métodos de gestão do trabalho que extrapolam o universo das
relações de trabalho, envolvendo outras dimensões da sociedade brasileira.

Mórgan Fleury Batista dos Santos acredita que as novas políticas empresariais e os novos
métodos de gestão do trabalho não só influenciam a vida dos trabalhadores como trazem

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mudanças para a sociedade. Para ele, a principal consequência é a mudança de atitude, no
comportamento das pessoas, que querem ser bem atendidas e atuarem de forma mais
eficiente e econômica. Para ele, as pessoas introjetam os princípios ditados pela empresa
bem-sucedida. Nas suas palavras: “O trabalhador reproduz em casa o modelo de
organização do trabalho da empresa. A sociedade vive a expectativa de uma prestação de
serviços rápida. O consumidor não aceita a baixa qualidade.”

Apontando em outra direção, Gustavo Codas enfatiza a íntima relação entre a organização
empresarial e a organização social, sugerindo que há o projeto de reestruturação produtiva
está em acordo com o projeto neoliberal de reordenamento da economia e da sociedade nos
países industrializados e no Brasil. Ele explica: “Assim como o ‘fordismo’ foi visto (pelo
Gramsci) não somente como uma forma de organizar a fábrica, mas também a sociedade,
estes novos métodos estão inseridos na lógica do combate que o capital trava, através do
neoliberalismo, contra as conquistas da classe trabalhadora desde inícios dos anos 1980.
Trata-se de remodelar a empresa e a sociedade, ao mesmo tempo. Uma só pode acontecer
junto com a outra. E a crise do projeto de sociedade (o neoliberalismo) ainda deve ser
estudada de que maneira está refletindo dentro da organização do trabalho.”

Por sua vez, Juçara Dutra Vieira diz que, nos últimos anos, o processo científico e
tecnológico reconfigurou as relações de trabalho, mas especialmente pela influência das
empresas de tecnologia de ponta, das empresas que necessitavam de trabalho
especializado. Ao mesmo tempo, verificou-se um grande segmento dos trabalhadores indo
para a informalidade, abrangendo um número maior de áreas da atividade humana e
marginalizando grandes contingentes da população.

Portanto, ela ressalta o processo de exclusão social associado à modernização tecnológica:


“O progresso técnico não tem servido para inclusão e nem para melhorar as relações de
trabalho. Por outro lado, também se percebe que há nesse setor mais informal uma variação
muito grande, porque tanto há aquelas pessoas que, tendo o seu computador em casa,
conseguem trabalhar sozinhas e ter uma boa renda, como temos aqueles que estão à
margem de toda essa inovação tecnológica.”

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Kjeld Jakobsen, por sua vez, lembra que muitas empresas vêm adotando o conceito de
Responsabilidade Social Empresarial a fim de legitimar o seu papel na sociedade em geral e
diante dos demais segmentos com os quais interagem (clientes, fornecedores, sindicatos,
governo, mídia etc.) Porém, as empresas não aceitam dialogar com os sindicatos as ações e
os procedimentos relativos ao tema, isto é, recusam-se a discutir o que caracteriza uma
atitude socialmente responsável.

Em particular, cita o levantamento feito pelo Instituto Observatório Social a respeito de


programas implementados por multinacionais no Brasil, afirmando que há ainda muito que
avançar, inclusive considerando o universo do empresariado nacional. O debate sobre a
responsabilidade social, em suma, coloca para os sindicatos novos desafios, que exigem
também deles um reposicionamento quanto às formas de intervenção nos rumos da
sociedade brasileira.

Ainda sobre o tema da responsabilidade social das empresas, Marino Vani relata um aspecto
negativo de algumas experiências. Segundo ele: “Na maioria das vezes, os trabalhadores
são envolvidos em programas e políticas da empresa objetivando buscar uma imagem junto
à sociedade, nos quais assume de forma voluntária uma carga horária, uma jornada extra,
legitimando a empresa como socialmente responsável.

Contudo, na grande maioria são programas de caráter populista, assistencialista, fazendo


com que os trabalhadores acabem criando essa visão de que ajudar e ser solidário com os
outros é apenas dar alguma coisa que sobra ou que eles possam tirar do seu próprio fruto. E
a grande maioria das políticas acaba deixando as populações ou os grupos atendidos
através desses programas mais dependentes. E muitas vezes até fazendo uma propaganda
exagerada do que realmente foi feito.”

Conforme João Vaccari Neto, a responsabilidade social que as empresas deveriam ter inclui
um conjunto de deveres: respeitar as leis, trabalhar bem, tratar bem seus trabalhadores,
cuidar do local de trabalho. Elas também deveriam demonstrar uma preocupação com o local
de trabalho, com o meio ambiente, com a comunidade. É preciso, portanto, ampliar o
significado do conceito. Nas suas palavras: “Porque não adianta você ter um local de

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trabalho que paga mal, produz mal, é conivente com acidentes de trabalho, é um gerador de
doenças do trabalho, é um construtor de problemas para o entorno, polui o meio ambiente. E
você resolve, então, para aliviar sua consciência, fazer doação para o UNICEF, porque é
uma ação social. Eu acho que Responsabilidade Social não é isso. É uma mudança de
atitude, é uma mudança de cultura, que tem que atingir o conjunto.”

Por fim, este tem sido um tema discutido também no Paraná. De acordo com Roni Anderson
Barbosa, se as empresas querem ser socialmente responsáveis, devem começar
promovendo condições de trabalho seguras e saudáveis, promovendo a igualdade de
oportunidades entre homens e mulheres, recusando qualquer tipo de discriminação no
ambiente de trabalho. Assim, estarão contribuindo para construir uma sociedade melhor e
mais justa.

Ele argumenta da seguinte forma: “A questão da responsabilidade social das empresas não
pode se restringir à visão que algumas empresas têm que é destinar um recurso para
comprar cestas básicas ou para ajudar uma determinada comunidade, um mero
assistencialismo. A empresa deve cumprir os compromissos que ela tem com os seus
trabalhadores, ou seja, cumprir a legislação trabalhista, cumprir os acordos coletivos, cumprir
os contratos. Deve ter regras de conduta, código de ética, que valem para todos.

Então, a responsabilidade social, na nossa visão, começa com você fazendo o dever de
casa, ou seja, você trata os trabalhadores com dignidade e a partir daí você pode
implementar ações que possam ajudar, seja na geração de empregos, seja na qualificação,
seja no desenvolvimento da cultura em determinada comunidade ou com outras ações.”

Certamente, se no mundo do trabalho fossem valorizados certos princípios e atitudes, isso


poderia contribuir para a difusão de novos valores na sociedade. Contudo, segundo Roni
Barbosa, apenas uma minoria das empresas paranaenses possui códigos de ética. Assim, o
exemplo dado não é dos melhores: “Geralmente, são grandes empresas, em especial as
multinacionais, que possuem um código de ética. Mas, eu não vejo a utilização. Muitas
vezes, acabam não cumprindo o próprio código de ética. Você vê gerente não agindo de
acordo com a conduta ética que a empresa mesmo estabeleceu.”

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Em suma, nota-se que há uma variedade de opiniões a respeito das consequências sociais,
diretas e indiretas, da adoção de novas tecnologias e de novos métodos de gestão do
trabalho.

Concluindo, os depoimentos das lideranças sindicais entrevistadas sobre questões


referentes à manifestação das novas tendências de gestão do trabalho no Brasil permitiram
registrar muitas críticas ao discurso empresarial, que enaltece as vantagens dos novos
métodos gerenciais para os próprios trabalhadores. Não há espaço, neste artigo, para
aprofundar esta discussão.

Acredita-se que as falas aqui apresentadas, ao oferecerem um quadro com diferentes visões
a respeito da problemática exposta na Introdução, possam estimular mais debates e novas
investigações.

Antes de dar continuidades aos seus estudos é fundamental que você acesse sua
SALA DE AULA e faça a Atividade 3 no “link” ATIVIDADES.

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G LOSSÁRIO

ABSENTEÍSMO

Ausência dos trabalhadores no processo de trabalho, seja por falta seja por atraso devido a
algum motivo interveniente.

ALIENAÇÃO

Perda da compreensão de seu status e papel dentro da organização.

ANTROPOLOGIA

Estudo dos valores simbólicos de uma determinada cultura ou grupo social;

AUTOMAÇÃO

Diz respeito à substituição ou apoio ao esforço mental do homem para a realização de uma
determinada série de operações, está relacionada, portanto, à realização de um conjunto de
operações sem interferência imediata do homem.

BIOTECNOLOGIA

É tecnologia baseada na biologia, especialmente quando usada na agricultura, ciência dos


alimentos e medicina.

CADEIA PRODUTIVA

É um conjunto de etapas consecutivas, ao longo das quais os diversos insumos sofrem


algum tipo de transformação, até a constituição de um produto final (bem ou serviço) e sua
colocação no mercado. Trata-se, portanto, de uma sucessão de operações (ou de estágios
técnicos de produção e de distribuição) integradas, realizadas por diversas unidades
interligadas como uma corrente, desde a extração e manuseio da matéria-prima até a
distribuição do produto.

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CEPAL

Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe foi criada em 1948 pelo Conselho
Econômico e Social das Nações Unidas com o objetivo de incentivar a cooperação
econômica entre os seus membros. Ela é uma das cinco comissões econômicas da
Organização das Nações Unidas (ONU) e possuem 43 estados e oito territórios não
independentes como membros. Além dos países da América Latina e Caribe fazem parte da
CEPAL, o Canadá, França, Japão, Países Baixos, Portugal, Espanha, Reino Unido e
Estados Unidos da América.

CEPALINA

Referente à CEPAL

CÍRCULO DE CONTROLE DE QUALIDADE (CCQ)

É um conjunto de colaboradores que voluntariamente realizam reuniões regularmente em


busca da qualidade em suas organizações. Os círculos de qualidade iniciaram no Japão em
1962 (Kaoru Ishikawa é considerado o criador dos Círculos de Qualidade) como um novo
método para melhorar a qualidade. O movimento no Japão era coordenado pela União
Japonesa de Cientistas e Engenheiros.

CLT – CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO

Foi criada através do Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943 e sancionada pelo então
presidente Getúlio Vargas, unificando toda legislação trabalhista então existente no Brasil.
Seu objetivo principal é a regulamentação das relações individuais e coletivas do trabalho,
nela previstas.

CLUSTER

No mundo da indústria, é uma concentração de empresas relacionadas entre si, numa zona
geográfica relativamente definida, que conformam um pólo produtivo especializado com
vantagens competitivas.

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COGNIÇÃO

É o ato ou processo de conhecer, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio,


juízo, imaginação, pensamento e linguagem

CONTEXTO

Ambiente externo da organização que, de forma direta ou indireta, influencia a sua atuação e
o seu desempenho.

COOPERATIVA

Representa a união entre pessoas voltadas para um mesmo objetivo. Através da


cooperação, busca-se satisfazer as necessidades humanas e resolver os problemas comuns.
O fim maior é o homem, não o lucro. Uma organização dessa natureza caracteriza-se por ser
gerida de forma democrática e participativa, de acordo com aquilo que pretendem seus
associados, ou seja, empresa onde os trabalhadores são ao mesmo tempo sócios.

COORDENAÇÃO

Desenvolvimento de atividades de forma coordenada e controlada para atingir determinados


resultados. Este controle é geralmente efetuado por um líder, mas encontram-se muitas
vezes organizações em que estas tarefas são efetuadas por todos os membros em conjunto.

CORPORAÇÃO

(do latim corporis e actio, corpo e ação), é um grupo de pessoas que agem como se fossem
um só corpo, uma só pessoa, buscando a consecução de objetivos em comum. Num sentido
amplo é um grupo de pessoas submetidas às mesmas regras ou estatutos, e neste sentido é
sinônimo de agremiação, associação ou ainda empresa. Num sentido mais estrito é uma
pessoa jurídica (diferente de pessoa física) que possui direitos similares a uma pessoa física,
mas sem se confundir com a natureza desta última.

DIREITO

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Estudo do aparato jurídico e legislativo.

DORT

Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. É um grupo heterogêneo de


distúrbios funcionais e/ou orgânicos. Induzidos por fadiga neuro-muscular devido ao trabalho
realizado numa postura fixa (trabalho estático) ou com movimentos repetitivos,
principalmente dos membros superiores.

DOWNSIZING

Enxugamento no quadro de funcionários.

ECONOMIA

Estudo das relações de troca e de produção

ECONOMIA INFORMAL

Envolve as atividades que estão à margem da formalidade, sem firma registrada, sem emitir
notas fiscais, sem empregados registrados, sem contribuir com impostos ao governo. No
mais, existem vários tipos de economia informal ex: vendedores ambulantes que trazem suas
mercadorias contrabandeadas para vender nos grandes centros.

É tudo que é produzido pelo setor primário, secundário ou terciário sem conhecimento do
governo (o governo não consegue arrecadar impostos e não são recolhidos os encargos
sociais dos trabalhadores da informalidade)

FORDISMO

Dando prosseguimento à teoria de Taylor, Henry Ford (1863-1947), dono de uma indústria
automobilística (pioneiro), desenvolveu seu procedimento industrial baseado na linha de
montagem para gerar uma grande produção que deveria ser consumida em massa. Os
países desenvolvidos aderiram totalmente, ou parcialmente, a esse método produtivo
industrial, que foi extremamente importante para consolidação da supremacia norte-
americana no século XX.

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GÊNERO

Refere-se às diferenças entre homens e mulheres. Ainda que gênero seja usado como
sinônimo de sexo, nas ciências sociais refere-se às diferenças sociais, conhecidas nas
ciências biológicas como papel de gênero. Historicamente, o feminismo posicionou os papéis
de gênero como construídos socialmente, independente de qualquer base biológica. Pessoas
cuja identidade de gênero difere do gênero designado de acordo com o sexo são
normalmente identificadas como transexuais ou transgêneros.

GLOBALIZAÇÃO

É um dos processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural, política,


com o barateamento dos meios de transporte e comunicação dos países do mundo no final
do século XX e início do século XXI. É um fenômeno gerado pela necessidade da dinâmica
do capitalismo de formar uma aldeia global que permita maiores mercados para os países
centrais (ditos desenvolvidos) cujos mercados internos já estão saturados. O processo de
Globalização diz respeito à forma como os países interagem e aproximam pessoas, ou seja,
interliga o mundo, levando em consideração aspectos econômicos, sociais, culturais e
políticos. Com isso, gerando a fase da expansão capitalista, na qual é possível realizar
transações financeiras, expandir seu negócio até então restrito ao seu mercado de atuação
para mercados distantes e emergentes, sem necessariamente um investimento alto de
capital financeiro, pois a comunicação no mundo globalizado permite tal expansão, porém,
obtém-se como conseqüência o aumento acirrado da concorrência.

INDÚSTRIA

É toda atividade humana que, através do trabalho, transforma matéria-prima em outros


produtos, que em seguida podem ser, ou não, comercializados. De acordo com a tecnologia
empregada na produção e a quantidade de capital necessária, a atividade industrial pode ser
artesanal, manufatureira ou fabril.

INOVAÇÃO

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Significa novidade ou renovação. A palavra é derivada dos termos latins novus (novo) e
innovatio (algo criado novo) e se refere a uma ideia, método ou objeto que é criado e que
pouco se parece com padrões anteriores. Hoje, a palavra inovação é mais usada no contexto
de ideias e invenções assim como a exploração econômica relacionada, sendo que inovação
é invenção que chega ao mercado.

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

É um termo usado para diferenciar inovações. A inovação tecnológica abrange os tipos


inovação de processo e inovação de produto.

JUST-IN-TIME / KANBAN

Sistema de organização da produção orientado para fabricar determinado produto apenas na


quantidade e no momento exatos. A produção é puxada por vendas e internamente o mesmo
ocorre, com processos finais “pedindo” componentes para os processos anteriores. A
expressão inglesa pode ser traduzida por “na hora certa”.

LAYOUT

“A configuração de instalação” estabelece a relação física entre as várias atividades. O


layout pode ser simplesmente o arranjar ou o rearranjar das várias máquinas ou
equipamentos até se obter a disposição mais agradável. No entanto, numa grande indústria
este procedimento não é tão simples, pois um simples erro pode levar a sérios problemas na
utilização dos locais, pode originar a demolição de estruturas, paredes e até mesmo edifícios
e consequentemente causar custos altíssimos no rearranjo. Para evitar tudo isto é
necessário realizar um estudo, encontrando assim o melhor planejamento de layout. Pois, os
custos relativos ao planejamento de um layout são inferiores aos custos relativos ao
rearranjo de um layout defeituoso (Muther, 1978, p. 1). Existem vários tipos de layouts e cada
um deles se adequa a determinadas características, sendo uns mais vantajosos que outros
(Tompkins, 1996, p. 290). No planejamento do layout é necessário ter em conta todos os
fatores (os materiais, a maquinaria o Homem, o movimento, a espera, o serviço, a

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construção e a mudança, pois estes fatores podem influenciar negativamente o planejamento
do layout (Muther, 1955, p. 27).

LER

Lesão por esforço repetitivo. Representa uma síndrome de dor nos membros superiores,
com queixa de grande incapacidade funcional, causada primariamente pelo próprio uso das
extremidades superiores em tarefas que envolvem movimentos repetitivos ou posturas
forçadas.

LINHA DE MONTAGEM

Mecanismo de transferência, que pode ser um trilho, uma esteira, ou um conjunto de


ganchos ligados a um mecanismo de tração integrado a um conjunto único que lhe transmite
um movimento regular ao longo do tempo. A cada um desses ganchos, ou em cima da
superfície da esteira, os objetos de trabalho são atados e assim transferidos para
praticamente todas as seções de trabalho em que se divide o setor de produção, sofrendo a
intervenção dos trabalhadores (que, por sua vez, se encontram distribuídos uniformemente
em cada ponto dessas seções) até que possa ser então, retirado dessa linha, testado,
embalado, e levado ao estoque de produtos acabados.

NEOLIBERALISMO

É um termo que foi usado em duas épocas diferentes com dois significados semelhantes,
porém distintos: Na primeira metade do século XX, significou a doutrina proposta por
economistas franceses, alemães e norte-americanos voltada para a adaptação dos princípios
do liberalismo clássico às exigências de um Estado regulador e assistencialista. A partir da
década de 1970, passou a significar a doutrina econômica que defende a absoluta liberdade
de mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta ocorrer
em setores imprescindíveis e ainda assim num grau mínimo (minarquia). É nesse segundo
sentido que o termo é mais usado hoje em dia.

OBJETIVOS

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Metas ou resultados pretendidos.

OLIGOPÓLIO

(do grego oligos, poucos + polens, vender) é uma forma evoluída de monopólio, no qual um
grupo de empresas promove o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços,
como empresas de mineração, alumínio, aço, montadoras de veículos, cimentos, laboratórios
farmacêuticos, aviação, comunicação e bancos. O Oligopólio que tem a maior Participação
no PIB Em termos de Receita Operacional.

ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

De forma geral, diz respeito ao conjunto formado pelo arranjo físico e tipo dos equipamentos,
pelos fluxos de materiais e pela organização do trabalho que compõem um sistema de
produção.

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Diz respeito aos métodos, conteúdos do trabalho e relações entre os ocupantes de cargos
em um determinado sistema de produção.

OUTSOURCING

(em inglês, "Out" significa "fora" e "source" ou "sourcing" significa fonte) designa a ação que
existe por parte de uma organização em obter mão-de-obra de fora da empresa, ou seja,
mão-de-obra terceirizada. Está fortemente ligado a idéia de subcontratação de serviços.

POLÍTICA

Estudo das relações de poder (estrutura política, partidos, mídia, etc.);

POSTO DE TRABALHO

Os trabalhadores são uniformemente dispostos lado a lado, a cada trecho por onde passa o
objeto de trabalho trazido pelo mecanismo de transferência, e nos quais já estão presentes,
na forma de pequenos estoques e com mecanismos que permitam seu mais fácil acesso aos

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trabalhadores, os instrumentos, as ferramentas e as matérias-primas que serão utilizadas por
eles na tarefa estritamente determinada que tenham para cumprir. Esses postos de trabalho
são geralmente numerosos, ocupados por um trabalhador cada e ordenados de forma linear
e, sendo mínima a intervenção de cada um na produção como um todo.

PROLETARIADO

É a classe social dentro do Capitalismo que trabalha com os instrumentos de outra pessoa,
isso é, destituídos dos meios de produção, eles possuem apenas a venda de sua força de
trabalho para sobreviverem.

PRIVATIZAÇÃO

Ou desestatização é o processo de venda de uma empresa ou instituição do setor público -


que integra o patrimônio do Estado - para o setor privado, geralmente por meio de leilões
públicos. No Brasil, o processo de desestatização consistiu principalmente em tornar o
Estado um sócio minoritário, pois grande parte das empresas já era de capital aberto e
negociadas em bolsa de valores e o Estado Brasileiro, através do BNDES, continuou como
sócio minoritário.

QUALIFICAÇÃO

É a preparação do indivíduo através de uma formação profissional ou técnica para que ele ou
ela possa aprimorar suas habilidades para executar funções específicas demandadas pelo
mercado de trabalho.

RECURSOS

Os meios disponíveis à organização necessários à realização das suas atividades. Incluem-


se: os recursos humanos, os recursos materiais e tecnológicos, os recursos financeiros, etc.

REENGENHARIA

Reestruturação tecnológica e estrutural de uma empresa.

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SCHUMPETER

Sua teoria do ciclo econômico é fundamental para a ciência econômica contemporânea. A


razão, segundo o autor, para que a economia saia de um estado de equilíbrio e entre em um
boom (processo de expansão) é o surgimento de alguma inovação, do ponto de vista
econômico, que altere consideravelmente as condições prévias de equilíbrio.

SINDICALISMO

É o movimento social de associação de trabalhadores assalariados para a proteção dos seus


interesses. Ao mesmo tempo, é também uma doutrina política segundo a qual os
trabalhadores agrupados em sindicatos devem ter um papel ativo na condução da sociedade.

SOCIOLOGIA

Estudo das instituições, grupos, interações, etc.

SUSTENTABILIDADE

É um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais,


culturais e ambientais da sociedade humana. Propõe-se a ser um meio de configurar a
civilização e atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros e as suas
economias possam preencher as suas necessidades e expressar o seu maior potencial no
presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais,
planejando e agindo de forma a atingir pró-eficiência na manutenção indefinida desses
ideais.

TAYLORISMO

O Taylorismo é uma teoria criada pelo engenheiro Americano Frederick W. Taylor (1856-
1915) que a desenvolveu a partir da observação dos trabalhadores nas indústrias. O
engenheiro constatou que os trabalhadores deveriam ser organizados de forma
hierarquizada e sistematizada, ou seja, cada trabalhador desenvolveria uma atividade
específica no sistema produtivo da indústria (especialização do trabalho). No taylorismo, o
trabalhador é monitorado segundo o tempo de produção, cada indivíduo deve cumprir sua

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tarefa no menor tempo possível, sendo premiados aqueles que se sobressaem, isso provoca
a exploração do proletário que tem que se “desdobrar” para cumprir o tempo cronometrado.

TECNOLOGIA

Conjunto de conhecimentos registrados e disponíveis para a fabricação de determinado


produto. Resumidamente, as diversas formas de se fabricar uma coisa ou prestar um serviço.
Não se relaciona somente aos equipamentos, mas aos métodos de trabalho e
gerenciamento.

TOYOTISMO

É um modo de organização da produção capitalista originário do Japão, resultante da


conjuntura desfavorável do país. O toyotismo foi criado na fábrica da Toyota no Japão após a
Segunda Guerra Mundial, este modo de organização produtiva, elaborado por Taiichi Ohno e
que foi caracterizado como filosofia orgânica da produção industrial (modelo japonês),
adquirindo uma projeção global.

TRABALHO PROLETÁRIO

Surge com a Revolução Industrial. Com o surgimento da Indústria, o proletário passa a ser
um empregado, recebendo um salário ruim, e cujo resultado de seu trabalho vai para a
burguesia. Assim, o proletário perde sua liberdade, fazendo sempre o mesmo serviço, se
alienando em sua produção, como Karl Marx dizia.

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B IBLIOGRAFIA

ABRAHAO, Júlia Issy; SILVINO, Alexandre Magno Dias; SARMET, Maurício Miranda.
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