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01/12/2014

1ª RODADA

CEI-JURISPRUDÊNCIA
DE TRIBUNAIS
INTERNACIONAIS DE
DIREITOS HUMANOS
01/12/2014
Círculo de Estudos pela Internet
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CORPO DOCENTE

CAIO PAIVA
Defensor Público Federal, titular do 2º Ofício Criminal da DPU/Manaus, unidade em que é Chefe-
Substituto. Membro do GT – Grupo de Trabalho da DPU sobre presos. Especialista em Ciências
Criminais. Exerceu o cargo de assessor de juiz de direito (2010-2013). Fundador do CEI. Editor do site
www.oprocesso.com.
E-mail: caio.paiva@cursocei.com
Twitter: @caiocezarfp

THIMOTIE HEEMANN
Advogado. Graduado pela Fundação Escola Superior do Ministério Público – FMP. Pós Graduando
em
Direito Penal e Processo Penal com ênfase em Processo Penal Internacional.
E-mail: thim.heemann@cursocei.com
Twitter: @thim3108

COORDENAÇÃO CEI

CAIO PAIVA - caio.paiva@cursocei.com

Página - 2
MEDIADOR: CAIO PAIVA - caio.paiva@cursocei.com

CASO: González e Outras (“Campo Algodonero”) Vs. México.

ÓRGÃO JULGADOR: Corte Interamericana de Direitos Humanos.

SENTENÇA: 16/11/2009.

RESUMO DO CASO

As jovens Laura Berenice Ramos Monárrez (17 anos), Cláudia Ivette González (20 anos) e Esmeralda
Herrera Monreal (15 anos) desapareceram, respectivamente, nos dias 25/09/2001, 10/10/2001 e 29/10/2001,
em Ciudad Juárez, no México. Devidamente cientificado, os únicos expedientes adotados pelo Estado
consistiram em elaborar os registros de desaparecimento, os cartazes de busca e a tomada de declarações
dos familiares, além de ter procedido com envio de ofício à Polícia Judiciária. Não há prova de que as
autoridades tenham efetivamente feito circular os cartazes de busca nem tampouco que efetuaram uma
investigação mais profunda sobre o caso. Consta nos autos, porém, a informação de que funcionários
do Estado teriam se comportado de forma indiferente e até mesmo discriminatória diante do contexto
evidenciado, eis que haviam feito comentários sobre a vida censurável e o comportamento sexual das
vítimas, deduzindo poderiam não estar “desaparecidas”, mas sim em companhia de seus namorados ou
outros parceiros.

No dia 06/06/2011, as vítimas foram encontradas numa plantação de algodão (daí, pois, o título do
Caso: “Campo Algodonero”; em português: “Campo Algodoeiro”), com gravíssimas marcas de estupro e
violência sexual cometidas com extrema crueldade.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos afirmou que “Ciudad Juárez se converteu no foco de
atenção da comunidade nacional e internacional em razão da situação particularmente crítica da violência
contra as mulheres que impera desde 1993 e à deficiente resposta do Estado diante desses crimes”.

O QUE DECIDIU A CORTE INTERAMERICANA?

A Corte Interamericana de Direitos Humanos reconheceu que os homicídios praticados decorreram


de violência de gênero, tratando-se, pois, de “feminicídio”, e concluiu que “é preocupante o fato de que
alguns destes crimes parecem apresentar altos graus de violência, incluindo sexual, e que em geral foram
influenciados, tal como aceita o Estado, por uma cultura de discriminação contra a mulher, a qual,
segundo diversas fontes probatórias, incidiu tanto nos motivos como na modalidade dos crimes, bem
como na resposta das autoridades. Nesse sentido, cabe destacar as respostas ineficientes e as atitudes
indiferentes documentadas em relação à investigação destes crimes, que parecem haver permitido
que se tenha perpetuado a violência contra a mulher em Ciudad Juárez”.

A Corte Interamericana declarou o México responsável pela violação de inúmeros direitos humanos,
tais como: (a) obrigação geral de garantia prevista no art. 1.1 e à obrigação de adotar as disposições do
direito interno contempladas no artigo 2 (ambos da CADH), bem como às obrigações contempladas no
art. 7.b e 7.c da Convenção de Belém do Pará, em detrimento das vítimas; (b) obrigação de investigar e,
consequentemente, de garantir o direito à vida, à integridade pessoal e à liberdade pessoal das vítimas,
acarretando com isso, também, violação aos direitos de acesso à justiça e à proteção judicial previstos
nos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção Americana e artigos 1.1 e 2 da mesma, e também artigos 7.b e 7.c da
Convenção de Belém do Pará; (c) o dever de não discriminação; (d) os direitos da criança – Esmeralda e
Laura eram adolescentes; dentre outros.

Decidiu a Corte, também, que em memória das vítimas de homicídio por razões de gênero, o Estado
deveria erigir um monumento em Ciudad Juárez, na plantação de algodão onde foram encontradas
as vítimas, a ser revelado na mesma cerimônia na qual reconheça publicamente sua responsabilidade
internacional, como forma de dignificá-las e como recordação do contexto de violência que padeceram
e que o Estado se compromete a evitar no futuro.

Em cumprimento à sentença da Corte, o México erigiu o seguinte monumento1:

FONTE

Íntegra da sentença do Caso González e outras (“Campo Algodonero”) Vs. México, em por tuguês: http://
www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_205_por.pdf

PONTOS IMPORTANTES SOBRE O CASO

1 Imagem obtida em: http://mexico.cnn.com/nacional/2012/10/02/campo-algodonero


1) Foi a primeira vez, conforme anota André de Carvalho Ramos, que a Corte Interamericana analisou
a situação de violência estrutural de gênero: “A sentença voltou-se, além da indenização aos familiares,
também à promoção de medidas gerais de compatibilização do direito interno com parâmetros
internacionais de proteção à mulher – sobretudo em relação à Convenção de Belém do Pará. Tendo em
vista a existência de múltiplos casos de feminicídio que ocorrem em Ciudad Juárez, a Corte determinou a
necessidade de as autoridades estatais adotarem medidas amplas de luta contra os casos de violência
ligados a estereótipos de gênero socialmente dominantes, bem como combaterem a impunidade nos casos
de violência contra as mulheres (mais um uso do Direito Penal pelos Tribunais de Direitos Humanos)”2.

2) O Caso Campo Algodonero representa, também, segundo Lucas Lixinski, “a primeira vez em que
um tribunal internacional reconheceu a existência de feminicídio como crime”. E avança o autor na sua
explicação para dizer que “feminicídio é uma alusão ao crime internacional de genocídio, que está
codificado na Convenção de 1948 contra o Crime de Genocídio como sendo atos cometidos com a intenção
de destruir, em sua totalidade ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Esses atos são:
matar membros do grupo; causar dano corporal ou mental sério a membros do grupo; deliberadamente
impor condições de vida a um grupo que levem à sua destruição física em todo ou em parte; imposição de
medidas para impedir nascimentos dentro do grupo; e transferência forçada de crianças de um grupo para
outro (Artigo 2 da Convenção). Note-se que os grupos que podem ser vítimas de genocídio não incluem
“gênero”. Mas a ideia de destruição de um grupo pela simples razão de existir é o que importa para a
definição de feminicídio”3.

3) O México alegou a incompetência da Corte Interamericana para analisar violações a respeito da


Convenção de Belém do Pará, aduzindo que a competência da Corte deve ser estabelecida por
“declaração especial” ou por “convenção especial”, ao que a Corte respondeu que “a declaração especial
para aceitar a competência contenciosa da Corte segundo a Convenção Americana, levando em
consideração o artigo 62 da mesma, permite que o Tribunal conheça tanto de violações à Convenção
como de outros instrumentos interamericanos que lhe concedem competência”. O Estado do México
arguiu, ainda, que o art. 12 da Convenção de Belém do Pará menciona expressa e exclusivamente a
Comissão Interamericana como o órgão encarregado da prevenção da Convenção, através do
procedimento de petições individuais, nada prevendo a respeito da Corte, que seria, pois, no seu
entender, incompetente. A Corte, porém, considera errônea essa interpretação e afirma que “o teor
literal do artigo 12 da Convenção de Belém do Pará concede competência à Corte ao não excetuar de
sua aplicação nenhuma das normas e requisitos de procedimento para as comunicações individuais”,
concluindo que “a conjunção entre as interpretações sistemática e teleológica, a aplicação do princípio do
efeito útil, somadas à suficiência do critério literal no presente caso, permitem ratificar a competência
contenciosa da Corte a respeito de conhecer de violações do artigo 7 da Convenção de Belém do Pará”.
Para efeito de síntese: a Corte Interamericana possui competência para analisar violações de
outros tratados que compõem o sistema interamericano,

2 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 334.
3 LIXINSKI, Lucas. Caso do Campo de Algodão: Direitos Humanos, Desenvolvimento, Violência e Gênero. Nota de ensino.
Casoteca Direito GV – Produção de Casos 2011, p. 15. Acessível em: http://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/campo_de_
algodao_-_nota_de_ensino.pdf
a exemplo, pois, da Convenção de Belém do Pará.

4) A primeira vez em que a Corte Interamericana aplicou a Convenção de Belém do Pará foi no Caso
do Presídio Miguel Castro Castro Vs. Peru, em 2006.

5) A primeira vez em que a Comissão Interamericana aplicou a Convenção de Belém do Pará foi no
Caso Maria da Penha Vs. Brasil, em 2000.

6) Atenção: a Corte já estabeleceu que “nem toda violação de um direito humano cometida em prejuízo
de uma mulher leva necessariamente a uma violação das disposições da Convenção de Belém do Pará”
(Caso Peroso e outros Vs. Venezuela).

7) Consta na decisão da Corte Interamericana que, no contexto da obrigação de proteger o direito à


vida, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos desenvolveu a “teoria da obrigação processual” de o
Estado efetuar uma investigação oficial efetiva em casos de violações a este direito (Casos Ergi Vs. Turquia,
Akkok Vs. Turquia e Killiç Vs. Turquia). A Corte Interamericana, da mesma forma, já aplicou esta
teoria em diversos casos (Casos Juan Humberto Sánchez Vs. Honduas, Valle Jaramillo e outros Vs.
Colômbia e Garibaldi Vs. Brasil). Ainda no que diz respeito à jurisprudência comparada, fruto de um
diálogo de Cortes, consta também na decisão da Corte Interamericana que o Tribunal Europeu de
Direitos Humanos já declarou que “a falha do Estado em proteger as mulheres contra a violência
doméstica viola o seu direito à igual proteção da lei e esta falha não necessita ser intencional” (Caso Opuz
Vs. Turquia).

8) Ainda sobre o desenvolvimento do tema “direito das mulheres” no Direito Internacional dos Direitos
Humanos, Flávia Piovesan afirma que “Destacam-se também [além do Caso Campo Algodonero]
relevantes decisões do sistema interamericano sobre discriminação e violência contra mulheres, o que
fomentou a reforma do Código Civil da Guatemala [Caso María Eugenia Vs. Guatemala], a adoção de uma
lei de violência doméstica no Chile, a adoção da Lei Maria da Penha no Brasil, dentre outros avanços”4.

INCIDÊNCIA DO TEMA EM PROVAS DE CONCURSOS


Concurso da Defensoria Pública do Estado do Paraná (2014)

O caso conhecido como “Campo Algodonero”, julgado pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos em 16 de novembro de 2009 (exceção preliminar, fundo, reparações e custas), tornou-
se célebre por tratar

a) da violência estrutural de gênero (feminicídio).

b) dos direitos humanos dos trabalhadores migrantes indocumentados.

c) do impacto do uso intensivo de agrotóxicos sobre o meio ambiente natural.

d) dos parâmetros de reparação adotados pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.


4 PIOVESAN, Flávia. A Proteção Internacional dos Direitos Humanos das Mulheres. R. EMERJ, v. 15, n. 57 (Edição Especial), p.
79, jan-mar, 2012. Acessível em: http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista57/revista57_70.pdf
e) do primeiro caso decorrente de uma comunicação apresentada por um Estado parte em face
de outro perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

GABARITO: letra (A).

ATENÇÃO: O Caso Campo Algodonero consta no Ponto IV da disciplina de Direitos Humanos do XXV
Concurso para a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Confira: http://www.portaldpge.rj.gov.
br/Portal/sarova/imagem-dpge/public/concurso/20140702_154713_Relacao_pontos_todas_as_Bancas.pdf
(página 16).

PARA APROFUNDAR

PIOVESAN, Flávia. A Proteção Internacional dos Direitos Humanos das Mulheres. Acessível em: http://www.
emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista57/revista57_70.pdf

PIOVESAN, Flávia; PIMENTEL, Silvia. A Lei Maria da Penha na Perspectiva da Responsabilidade Internacional
do Brasil. Acessível em: http://www.compromissoeatitude.org.br/wp-content/uploads/2014/02/1_6_
responsabilidade-internacional.pdf
MEDIADOR: CAIO PAIVA - caio.paiva@cursocei.com

CASO: Nórin Catrimán e outros (dirigentes, membros e ativista do povo indígena Mapuche) Vs.
Chile.

ÓRGÃO JULGADOR: Corte Interamericana de Direitos Humanos.

SENTENÇA: 29/05/2014.

RESUMO DO CASO

Segundo Aniceto Norin Catrimán, Pascual Huentequeo Pichún Paillalao, Víctor Manuel Ancalaf Llaupe,
Juan Ciríaco Millacheo Licán, Florencio Jaime Marileo Saravia, José Benicio Huenchunao Mariñán, Juan
Patrício Marileo Saravia e a senhora Patricia Roxana Troncoso Robles são chilenos, sendo que sete deles
são ou eram na época dos fatos autoridades tradicionais do Povo Indígena Mapuche e a outra é ativista
pela reinvindicação dos direitos do mencionado Povo Indígena. Todos foram processados e condenados
criminalmente por fatos ocorridos nos anos de 2001 e 2002, relativos a incêndio de prédio florestal,
ameaça de incêndio e queima de um caminhão de empresa privada, sem afetar a integridade física nem
a vida de ninguém. A qualificação jurídica atribuída à conduta deles foi a de “atos terroristas”, razão pela
qual se lhes aplicou a Lei chilena 18314, conhecida como “Lei Antiterrorismo”.

A época do crime (2001 e 2002) foi marcada por existir no Sul do Chile uma situação social de numerosos
reclamos, manifestações e protestos sociais por parte dos membros do Povo Indígena Mapuche, que
reivindicavam basicamente a recuperação de seus territórios ancestrais e o respeito do uso e gozo das
ditas terras e seus recursos naturais.

O QUE DECIDIU A CORTE INTERAMERICANA?

O principal ponto da decisão da Corte Interamericana relaciona-se com o reconhecimento da violação


dos princípios da legalidade e da presunção de inocência na elaboração da Lei 18314 pelo Chile, já que,
relembra a Corte, “Tratando-se da tipificação de delitos de caráter terrorista, o princípio da legalidade
impõe uma necessária distinção entre ditos delitos e os tipos penais ordinários, de forma que tanto cada
pessoa como o juiz penal contem com suficientes elementos jurídicos para prever se uma conduta é
sancionável por um ou por outro tipo penal”. Vejamos o que dispõe o dispositivo legal atacado:

Lei 18314

Art. 1º. Art. 1º. Constituirão delitos terroristas os enumerados no artigo 2º, quando
neles concorrer alguma das circunstâncias seguintes:

1ª Que o delito tenha sido cometido com a finalidade de produzir na população ou


em uma parte dela o temor justificado de ser vítima de delitos da mesma espécie,
seja pela natureza e efeitos dos meios empregados, seja pela evidência de que
obedece a um plano premeditado de atentar contra uma categoria ou grupo
determinado
de pessoas.

Se presumirá a finalidade de produzir dito temor na população em geral,


salvo se verificar-se o contrário, pelo fato de cometer-se o delito mediante
artifícios explosivos ou incendiários, armas de grande poder destrutivo, meios
tóxicos, corrosivos ou infecciosos ou outros que puderem ocasionar grandes estragos,
ou mediante envio de cartas, pacotes ou objetos similares, de efeitos explosivos ou
tóxicos. (...)

Foi questionado perante a Corte o trecho em negrito da redação do texto legal, que estabelece uma
presunção de “intenção terrorista” quando, p. ex., o agente cometer o delito mediante artifícios explosivos
ou incendiários, o que a Corte considera como uma violação dos princípios da legalidade e da presunção
de inocência previstos, respectivamente, nos artigos 9 e 8.2 da CADH. Esclareceu e advertiu a Corte
Interamericana que “As medidas eficazes de luta contra o terrorismo devem ser complementares e não
contraditórias com a observância das normas de proteção dos direitos humanos. Ao adotar medidas
que busquem proteger as pessoas contra atos de terrorismo, os Estados têm a obrigação de garantir
que o funcionamento da justiça penal e o respeito às garantias processuais se apeguem ao princípio da
não discriminação. Os Estados devem assegurar que os fins e efeitos das medidas que se tomem na
persecução penal de condutas terroristas não discriminem permitindo que as pessoas se vejam submetidas
a caracterizações ou estereótipos étnicos”.

A Corte declarou que o Chile violou o princípio da legalidade e o direito à presunção de inocência
previstos nos artigos 9 e 8.2 da CADH; o princípio da igualdade e da não discriminação e o direito à
igual proteção da lei, consagrados no artigo 24 da CADH; o direito da defesa de interrogar testemunhas
consagrado no artigo 8.2.f da CADH5; o direito a recorrer da sentença a um juiz ou tribunal superior,
consagrado no artigo 8.2.h da CADH; entre outros.

FONTE

Íntegra da decisão da sentença no Caso Norín Catrimán e outros (dirigentes, membros e ativista do Povo
Indígena Mapuche) Vs. Chile, em espanhol: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_279_
esp.pdf

PONTOS IMPORTANTES SOBRE O CASO

1) Um dos pontos polêmicos encontrados na decisão da Corte é a admissão excepcional da denominada


“testemunha anônima”. Muito embora a Corte Interamericana já tenha se pronunciado em
oportunidades anteriores acerca de violações do direito da defesa de interrogar testemunhas em casos
que tratavam de medidas que no marco da jurisdição penal militar impunham uma absoluta restrição para
contrainterrogar testemunhas de cargo (Caso Palamara Iribarne Vs. Chile), outros em que havia não
somente “testemunhas
5 Conferir explicação no ponto X dos mais relevantes do Caso.
sem rosto” senão também “juízes sem rosto” (Caso Castillo Petruzzi e outros Vs. Peru; Caso Lori
Berenson Mejía Vs. Perú; entre outros), e noutro que se refere a um juízo político celebrado ante o
Congresso no qual aos magistrados processados não se lhes permitiu contrainterrogar as
testemunhas em cujos depoimentos se baseou sua destituição (Caso do Tribunal Constitucional Vs.
Peru), neste caso, excepcionalmente, a Corte decidiu que “O dever estatal de garantir a vida e a
integridade, a liberdade e a segurança pessoais daqueles que declaram no processo penal pode justificar a
adoção de medidas de proteção. Nesta matéria o ordenamento jurídico chileno compreende tanto
medidas processuais (como a reserva de dados de identificação ou de suas características físicas que
individualizem a pessoa) como extraprocessuais (como a proteção de sua segurança pessoal). A Corte
admite a reserva de identidade das testemunhas quando tal expediente, além de não poder fundar
unicamente ou em grau decisivo uma condenação, estiver suficientemente compensado por medidas de
contrapeso, tais como as seguintes: (a) a autoridade judicial deve conhecer a identidade da testemunha
e ter a possibilidade de observar seu comportamento durante o interrogatório com o objeto de que
possa formar sua própria impressão sobre a confiabilidade da testemunha e de sua declaração; e (b)
deve conceder à defesa uma ampla oportunidade de interrogar diretamente a testemunha em alguma
das etapas do processo, sobre questões que não estejam relacionadas com sua identidade ou paradeiro
atual”. Em resumo: a Corte admitiu a oitiva de testemunhas sem identificação desde que se
verifique, no caso concreto, primeiro, medidas de contrapeso deste expediente, e segundo,
que o depoimento de tais testemunhas não possa determinar exclusivamente ou em grau
decisivo uma condenação. Neste Caso aqui resumido/explicado, a Corte considerou que o Chile
violou o direito à defesa de dois dos acusados, já que o depoimento de testemunha não identificada
teria sido determinante para a sentença condenatória.

2) A Corte Interamericana não precisou condenar o Chile a reformar a sua legislação interna, já que o
referido país editou, em 2010, a Lei 20467, pela qual eliminou a presunção legal de intenção terrorista que
foi aplicada, neste Caso, para condenar as vítimas integrantes do Povo Indígena Mapuche.

3) O Brasil ratificou a Convenção Interamericana contra o Terrorismo em 2005, a qual foi promulgada,
aqui, através do Decreto nº. 5639/2005, cuja leitura é recomendada: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2004-2006/2005/Decreto/D5639.htm

4) Tramita no Senado Federal o Projeto de Lei nº. 499/2013, que “Define crimes de terrorismo e dá outras
providências”: http://www.senado.leg.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=141938&tp=1

PARA APROFUNDAR

La otra transición chilena: derechos del pueblo Mapuche, política penal y protesta social en un Estado
democrático, acessível em: http://www.politicaspublicas.net/panel/images/stories/docs/2006-fidh-
informe-mision-chile-mapuche.pdf

Notícia – Chile promete cumprir sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, já o Brasil...,
acessível em: http://jornalggn.com.br/blog/frederico-fuellgraf/mal-humorado-chile-promete-cumprir-
sentenca-da-corte-interamericana-de-direitos-humanos-ja-o-brasil (com alguns dados políticos da
época da criação da Lei chilena antiterrorista questionada no Caso resumido/explicado).

Igualmente, o seguinte livro: um clássico, não indicado para estudo para concursos, e sim como bibliografia
para quem se interessar em pesquisa sobre o assunto “terrorismo” – FRAGOSO, Heleno. Terrorismo e
Criminalidade Política. Rio de Janeiro: Forense, 1981.

Terrorismo Internacional: Inimigo sem rosto - combatente sem pátria. José Cretella Neto. Editora
Millenium,
2008.
MEDIADOR: THIMOTIE HEEMANN - thim.heemann@cursocei.com

CASO: Comunidades Indígenas da Bacia do Rio Xingu vs. Brasil (“Caso Belo Monte”).

ÓRGÃO JULGADOR: Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

DECISÃO: Medida Cautelar expedida no dia 1º de abril de 2011 e reavaliada na sessão do dia 29
de junho de 2011.

RESUMO DO CASO

O polêmico caso envolvendo a construção da usina hidrelétrica (UHE) de Belo Monte na Bacia do Rio
Xingu já dura mais de 30 anos. Desde o início, os ambientalistas e as comunidades indígenas afetadas se
insurgiram contra o empreendimento. O projeto envolvendo a construção da hidrelétrica existe desde o
ano de 1975, quando se realizaram os primeiros estudos de inventário da bacia hidrográfica do Rio Xingu.

Devido ao grande impacto ambiental causado pelo empreendimento em razão de sua dimensão, bem
como pela grande quantidade de comunidades indígenas afetadas, o empreendimento da UHE de Belo
Monte sempre caminhou a passos curtos, sofrendo inclusive diversas intervenções do Poder Judiciário
brasileiro ao longo dos anos, como o embargo das obras, a cassação dos licenciamentos ambientais
envolvendo o projeto, entre outras medidas.

Desse modo, como a construção da UHE de Belo Monte é uma obra do governo federal (considerada
inclusive a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC), a discussão envolvendo o
respeito aos direitos humanos das comunidades indígenas ficou em segundo plano, comprometendo a
proteção e o respeito aos direitos em âmbito nacional. Caracterizou-se a omissão da jurisdição interna
em proteger as comunidades indígenas.

Em novembro de 2010, em razão dos acontecimentos até então ocorridos, o Brasil foi denunciado à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A petição encaminhada contra o Estado brasileiro
foi assinada por vários movimentos e associações ligados às comunidades indígenas afetadas pelo
empreendimento da UHE de Belo Monte, como por exemplo o Movimento Xingu Vivo para Sempre
(MXVPS), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), o Conselho
Indígena Missionário (CIMI), Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), a Justiça Global
e Associação Interamericana para a Defesa do Ambiente (AIDA) entre outros.

O QUE DECIDIU A COMISSÃO INTERAMERICANA?

Em um primeiro momento, a Comissão Interamericana outorgou medida cautelar entendendo que o


direito à vida e à integridade pessoal das comunidades indígenas residentes no entorno da área do Rio
Xingu seria afetado pela construção da UHE de Belo Monte. Assim determinou “suspender imediatamente
o processo de licenciamento do projeto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte” e impedir “a realização
de qualquer obra material de execução” até que fosse possível estabelecer condições para resguardar
o mínimo existencial6 das comunidades indígenas afetadas. A Comissão Interamericana de Direitos
Humanos também determinou que se assegurasse a realização de consultas com as comunidades
indígenas afetadas. No dia 29 de julho de 2011, após ouvir a recusa do Estado brasileiro em cumprir suas
determinações, a Comissão Interamericana alterou o objeto da medida cautelar, deixando de fora a parte
referente ao licenciamento da UHE de Belo Monte e restringindo seu conteúdo, solicitando ao Brasil que:

“1) Adote medidas para proteger a vida, a saúde e a integridade pessoal dos
membros das comunidades indígenas em situação de isolamento voluntário da
bacia do Xingu e da integridade cultural de mencionadas comunidades, que
incluam ações efetivas de implementação e execução das medidas jurídico-
formais já existentes, assim como o desenho e implementação de medidas
específicas de mitigação dos efeitos que terá a construção da represa Belo Monte
sobre o território e a vida destas comunidades em isolamento;

2) Adote medidas para proteger a saúde dos membros das comunidades indígenas
da bacia do Xingu afetadas pelo projeto Belo Monte, que incluam (a) a finalização e
implementação acelerada do Programa Integrado de Saúde Indígena para a região
da UHE Belo Monte (…) e

3) Garantisse a rápida finalização dos processos de regularização das terras dos


povos indígenas na bacia do Xingu que estão pendentes, e adote medidas efetivas
para a proteção de mencionados territórios ancestrais ante apropriação ilegítima
e ocupação por não-indígenas, e frente à exploração ou deterioramento de seus
recursos naturais”7

FONTE

a) http://www.cidh.oas.org/medidas/2011.port.htm (íntegra das medidas cautelares)

b) http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/solicitacao-da-comissao-
interamericana-de-direitos-humanos-cidh-da-oea

PARA APROFUNDAR

a) TEIXEIRA, Gustavo de Faria Moreira. Greening no Sistema Interamericano de Direitos Humanos.


Ed. Curitiba: Editora Juruá. 2011

b) VITORELLI, Edilson. Estatuto do Índio. 2ª edição. Bahia: Juspodivm 2014.

c) Convenção 169 da OIT (internalizada no Brasil pelo Decreto nº 5.051/2004) http://www.planalto.gov.br/

6 As cortes internacionais se referem ao mínimo existencial através da expressão “minimum core obligation”.
7 Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Medidas cautelares outorgadas pela CIDH no ano de 2011. Disponível em:
<http://www.cidh.oas.org/medidas/2011.port.htm>.
ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5051.htm

d) Declaração das Nações Unidas sobre Povos Indígenas http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/indios/


decindio.htm

INTERESSANTE

No início dos trabalhos, o projeto se chamava “complexo Kararaô”. O nome foi alterado para Belo Monte
em respeito às comunidades indígenas.

PONTOS IMPORTANTES SOBRE O CASO

1) Descumprimento da medida cautelar pelo Brasil: Infelizmente, o Brasil ainda não assume a postura
necessária perante a comunidade internacional quando o assunto envolve direitos humanos. O Estado
brasileiro basicamente ignorou a primeira medida cautelar exarada pela Comissão Interamericana
de Direitos Humanos sob o argumento de que esta não seria dotada de caráter vinculante. Alguns
examinadores costumam questionar os candidatos sobre casos em que o Brasil descumpriu medidas
cautelares/provisórias expedidas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos ou pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos. O Caso Belo Monte é mais um precedente a entrar nesta triste lista
de medidas descumpridas pelo Brasil envolvendo a proteção internacional dos direitos humanos.

2) Violação do direito de consulta e consentimento das comunidades indígenas: Segundo o art. 6º


da Convenção 169 da OIT (principal diploma normativo das comunidades indígenas no plano
internacional), a população indígena possui o direito de consulta e participação antes da imposição de
qualquer tipo de política pública que os possa afetar. Embora o Brasil considere que o resultado dessa
consulta não seja vinculante, mas meramente opinativo8, a jurisprudência da Comissão e da Corte
Interamericana de Direitos Humanos é uníssona pela necessidade de se consultar os povos indígenas
antes de qualquer imposição de política pública que possa afetá-los, bem como pelo caráter vinculante
desta consulta9. Há portanto uma dissonância entre a jurisprudência internacional e a
jurisprudência nacional!

3) Normas de proteção do meio ambiente como obrigações erga omnes10: Para boa parte da
doutrina, as normas de proteção internacional do meio ambiente seriam verdadeiras obrigações erga
omnes11. Isso porque toda comunidade internacional possui o interesse em proteger os valores ambientais.
Sobre o conceito de obrigação erga omnes para o Direito Internacional dos Direitos Humanos, é a lição
de André de Carvalho Ramos12: “Considera-se obrigações erga omnes a obrigação que protege valores

8 Foi a posição firmada pelo Supremo Tribunal Federal no famoso caso “Raposa Serra do Sol” (STF, PET 3388).
9 Comunidade Indígena Kichwa de Sarayaku vs. Equador (Corte Interamericana: Sentença de 27 de junho de 2012) e
Comunidade ITribal Saramaka vs. Surianame (Corte Interamericana: Sentença de 28 de novembro de 2007).
10 As obrigações erga omnes foram conceituadas pela primeira vez, em obter dictum, na sentença do caso Barcelona Traction
Light Power and Company (Bélgica vs. Espanha), 1970, Corte Internacional de Justiça, parágrafo 34, p. 32).
11 ACCIOLY, Hidelbrando, DO NASCIMENTO E SILVA, G.E. e CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público.
21 ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 46).
12 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 51.
de todos os Estados da comunidade internacional, fazendo nascer o direito de qualquer um de seus
membros em ver respeitada tal obrigação”.

4) “Greening” e o sistema interamericano de direitos humanos: Embora a medida cautelar expedida


pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos vise tutelar o direito à vida e a integridade das
comunidades indígenas afetadas, o caso Belo Monte acaba por tutelar, ainda que de forma indireta ou
“por ricochete”, interesses ambientais. Esse fenômeno de se proteger direitos de cunho ambiental nos
sistemas regionais de direitos humanos, que foram concebidos em sua origem para receber denúncias
ou queixas sobre violações de direitos civis e políticos é denominado de “greening” ou “esverdeamento”.
Assim, é possível afirmar que no caso Belo Monte houve um verdadeiro “esverdeamento do direito à
vida” ou ainda um “esverdeamento do direito à integridade física das comunidades indígenas”. Nesse
sentido, são as palavras de Valério Mazzuoli, no prefácio do livro de Gustavo de Faria Moreira
Teixeira13: “O chamado greening – ou “esverdeamento” – é o fenômeno que ocorre quando se tenta
(e se consegue) proteger direitos humanos de cunho ambiental nos sistemas regionais de direitos
humanos, que são sistemas aptos (em princípio) a receber queixas e petições que contenham denúncias de
violação de direitos civis e políticos”.

ATENÇÃO: O caso Belo Monte consta como ponto específico do edital da Defensoria Pública do Rio
de Janeiro (prova objetiva marcada para janeiro de 2015).

INCIDÊNCIA DO TEMA EM PROVAS DE CONCURSOS

(FCC - 2013 - DPE-AM - Defensor Público) A outorga de medida cautelar a favor dos membros das
comunidades indígenas da bacia do Rio Xingu, relativa à usina hidroelétrica Belo Monte, no Estado do
Pará (Brasil), foi expedida pela

a) Corte Interamericana de Direitos Humanos e determinou a paralisação das obras da usina até que
as comunidades indígenas beneficiárias tivessem acesso ao Estudo de Impacto Social e Ambiental do
projeto, em um formato acessível, incluindo a tradução aos idiomas indígenas respectivos.

b) Comissão Interamericana de Direitos Humanos e solicitou a adoção de medidas para proteger


a vida, a saúde e integridade pessoal dos membros das comunidades indígenas em situação de
isolamento voluntário.

c) Corte Interamericana de Direitos Humanos e solicitou a rápida finalização dos processos de regularização
das terras ancestrais dos povos indígenas que estão pendentes, e a adoção de medidas efetivas para a
proteção de mencionados territórios ancestrais.

d) Comissão Interamericana de Direitos Humanos e referendada pela Corte Interamericana de Direitos


Humanos, determinando o reassentamento das populações indígenas em área equivalente à atingida

13 TEIXEIRA, Gustavo de Faria Moreira. Greening no Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Ed. Curitiba: Editora
Juruá. 2011.
pelas obras.

e) Comissão Interamericana de Direitos Humanos e determinou realização de processos de consulta, em


cumprimento das obrigações internacionais do Brasil, com o objetivo de chegar a um acordo em relação
a cada uma das comunidades indígenas afetadas pelas obras.

GABARITO: Letra B.

Nota-se que a banca examinadora tenta confundir o candidato ao trocar “Comissão Interamericana de
Direitos Humanos” por “Corte Interamericana de Direitos Humanos”. Saber qual foi o órgão prolator
da medida já ajudaria o candidato a eliminar boa parte das assertivas. As assertivas ‘d’ e ‘e’, embora
mencionem a Comissão Interamericana de Direitos Humanos como órgão prolator da medida cautelar,
trazem dados inverídicos sobre o tema.

(FCC - 2013 - DPE-SP- Defensor Público) Sobre os direitos humanos dos povos indígenas é correto
afirmar:

(B) A Corte Interamericana de Direitos Humanos adotou as medidas provisórias no caso da construção
da Usina Belo Monte no Pará, determinando a suspensão da obra para preservação dos direitos dos
povos indígenas (vida, saúde e integridade pessoal e cultural) em situação de isolamento voluntário na
bacia do Xingu. No entanto, após informações do governo brasileiro, a Corte modificou a sua decisão
determinando que fossem tomadas medidas de preservação dos direitos dos índios sem a suspensão da
obra.

Errado: A referida medida cautelar foi determinada pela Comissão.

Questão da prova oral do 27º Concurso de Procurador da República (2014): Qual a posição da
Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre o direito de consulta às populações indígenas?

Breve resposta: Conforme explanado no segundo item do tópico “pontos importantes sobre o caso”, a
Corte Interamericana de Direitos Humanos entende que a resposta proferida pelas comunidades indígenas
ante a consulta realizada possui caráter vinculante. Infelizmente, o Brasil ainda não alberga essa posição, o
que ocasiona uma dissonância entre a jurisprudência nacional e a jurisprudência internacional, conforme
posição firmada pelo Supremo Tribunal Federal no célebre caso Raposa Serra do Sol.

Questão da prova oral do 26º Concurso de Procurador da República (2012/2013): Fale sobre um
caso em que o Brasil descumpriu uma medida cautelar imposta pela Comissão Interamericana de
Direitos Humanos.

Breve resposta: O caso envolvendo a UHE de Belo Monte é um exemplo que poderia ser lembrado pelo
candidato.

ATENÇÃO ALUNOS QUE ESTUDAM PARA A DPU: Notícia veiculada no site da Defensoria Pública da
União no dia 18/11/2014:

1. DPU TERÁ SEIS DEFENSORES PARA ASSISTIR MORADORES IMPACTADOS PELA USINA DE
BELO
MONTE

A Defensoria Pública da União (DPU) vai designar seis defensores públicos federais para atuarem na região
da bacia do rio Xingu, nas proximidades da cidade de Altamira, sudoeste do Pará. O objetivo é prestar
assistência jurídica aos moradores que serão atingidos pelo deslocamento compulsório promovido para
instalação do reservatório de água da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que alagará a área. O tempo
de duração e a data de início da ação itinerante estão em discussão no órgão. A atividade integra o
programa Eu Tenho Direito.

A DPU manifesta preocupação com as denúncias de que cerca de nove mil famílias, 600 delas indígenas,
estão sendo prejudicadas no processo de realocação de suas moradias. “Existe uma condicionante para
a instalação do reservatório que é a realocação, com uma indenização ou uma moradia. No entanto,
ouvimos depoimentos de que, na prática, a construtora está impondo uma indenização em valor baixo”,
explica o defensor público federal Francisco Nóbrega, que atua no grupo de trabalho de atendimento às
comunidades indígenas da DPU.

Nóbrega participou de audiência pública realizada pelo Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA) em
Altamira, na quarta-feira (12), para ouvir os moradores que são atingidos pela obra. Estavam presentes
ao encontro representantes da Secretaria-Geral da Presidência da República, Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente (Ibama), Fundação Nacional do Índio (Funai), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e Prefeitura de Altamira. Segundo o
MPF/PA, a presença do Estado brasileiro em Altamira tem sido marcada pela parcialidade, com foco
excessivo no cronograma e na rapidez da obra, deixando de atuar na garantia dos direitos da população
impactada.

Programa Eu Tenho Direito

A ação itinerante do programa Eu Tenho Direito, promovido pela DPU, tem o objetivo de aproximar a
instituição de seu público-alvo: a população brasileira com renda familiar de até três salários mínimos. A
iniciativa já atendeu este ano os municípios de Aruanã, Ceres e Águas Lindas, em Goiás; Picos, no Piauí;
Ponta Grossa, Foz do Iguaçu, Telêmaco Borba, Terra Roxa, Ibaiti, Arapongas e Santa Helena, no
Paraná; Brusque, Itajaí, Chapecó, Concórdia, Joaçaba, São Miguel do Oeste, Arananguá, Tubarão,
Laguna, Lages, Mafra, Jaraguá do Sul e São Francisco do Sul, em Santa Catarina; Camaquã, no Rio
Grande do Sul; Feijó, no Acre; Distrito de Extrema e Baixo Madeira, em Rondônia.

Reservatório da Usina

O projeto da hidrelétrica prevê a construção de uma barragem principal no Rio Xingu, localizada a cerca
de 40 quilômetros abaixo da cidade de Altamira, que formará o reservatório principal da usina, com 503
quilômetros quadrados. De acordo com a Norte Energia S.A., a Usina Belo Monte levará desenvolvimento
à região de Altamira e aos municípios vizinhos, além de propiciar a melhoria das condições de vida de
cerca de cinco mil famílias que residem em palafitas. A empreiteira também afirma que a região receberá
uma compensação financeira anual de R$ 88 milhões. A concessão para a construção da hidrelétrica, no
município de Vitória do Xingu, foi objeto de leilão realizado no dia 20 de abril de 2010. A outorga coube
à Norte Energia S.A. por um prazo de 35 anos.

Assessoria de Comunicação
Social Defensoria Pública da
União FONTE:
http://www.dpu.gov.br/index.php?option=com_content&view=ar ticle&id=24482:dpu-tera-seis-
defensores-para-assistir-moradores-impactados-pela-usina-de-belo-monte&catid=215:noticias-
slideshow&Itemid=458
MEDIADOR: THIMOTIE HEEMANN - thim.heemann@cursocei.com

CASO: Charles Taylor “Caso diamantes de sangue”.

ÓRGÃO JULGADOR: Tribunal Especial para Serra Leoa – TESL.

DECISÃO: Sentença proferida no dia 30 de março de 2012.

RESUMO DO CASO

No final da década de 80, Charles Taylor era a principal liderança de uma militância armada e deu
início à guerra civil na Libéria, que somente cessou após a realização de um tratado de paz no ano de
1995. Passados dois anos, Charles Taylor foi eleito presidente da Libéria e seu governo durou seis anos,
até a tomada do país por rebeldes, que o forçaram a se exilar na Nigéria.

Durante o período que esteve no poder, diversas foram as acusações imputadas ao ex-presidente da
Libéria. Ao total, são onze acusações por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, que incluem
aterrorizar civis, estupros, escravidão sexual e recrutamento de crianças para servir na guerra civil. Estas
acusações estão relacionadas a um possível poder de influência de Taylor na guerra civil na nação vizinha
de Serra Leoa, onde Taylor foi acusado de apoiar rebeldes responsabilizados por massacres em massa
contra a população serra-leonense.

O ex-presidente liberiano foi acusado de vender diamantes e comprar armas para a FARS – Frente
Revolucionária de Unida de Serra Leoa. Na época, a FARS era o principal grupo revolucionário violador de
direitos humanos no continente africano; seus membros eram conhecidos por amputar as mãos e pernas
dos civis durante a revolução. Tendo em vista seu apoio a esse grupo, Taylor foi acusado de fomentar o
caos e a morte de milhares de pessoas nos conflitos interligados entre Serra Leoa e Libéria.

O QUE DECIDIU O TRIBUNAL INTERNACIONAL PARA SERRA LEOA?

No dia 30 de maio de 2012, o Tribunal Especial para Serra Leoa, órgão criado pelo governo local em
acordo com a Organização das Nações Unidas, condenou Charles Taylor a 50 anos de prisão por crimes
de guerra e contra a humanidade cometidos na Libéria e também no território de Serra Leoa. A pena
atribuída pelo TESL é inferior aos 80 anos pugnados em juízo pela acusação.

A Corte Especial de Serra Leoa entendeu que o ex-presidente da Libéria utilizou de sua influência como
Chefe de Estado e membro da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental para ajudar a
estimular a prática de crimes em Serra Leoa.

A exploração financeira do conflito, a brutalidade com que os crimes foram cometidos e a


extraterritorialidade dos atos foram consideradas como agravantes da pena. O fato de o apoio bélico de
Taylor aos rebeldes ter ocasionado o prolongamento dos conflitos em Serra Leoa também foi levado
em consideração na condenação. A sentença proferida pelo Tribunal Especial para Serra Leoa comporta o
recurso de apelação.
FONTE

a) http://www.rscsl.org/Documents/Decisions/Taylor/1285/SCSL-03-01-T-1285.pdf (íntegra);

b) http://www.onu.org.br/tribunal-da-onu-condena-ex-presidente-liberiano-charles-taylor-a-50-anos-
de-prisao/

PARA APROFUNDAR

a) Filme Diamante de Sangue (2006). O filme se passa em Serra Leoa e foi baseado no caso Charles Taylor.

b) Processo Internacional de Direitos Humanos. RAMOS, André de Carvalho. Ed Saraiva. 2013.

c) Site do Tribunal Especial para Serra Leoa: http://www.rscsl.org/

INTERESSANTE

a) A modelo Naomi Campbell testemunhou no caso Charles Taylor, pois haveria recebido um
“diamante de sangue” do ex-presidente liberiano.

b) O personagem principal do filme Senhor das Armas (2005) foi inspirado em Charles Taylor.

PONTOS IMPORTANTES SOBRE O CASO

1) Condenação histórica: Charles Taylor foi o primeiro ex-chefe de Estado condenado por um tribunal
internacional desde a Segunda Guerra Mundial. É uma condenação histórica que gerou importante
precedente para combater as massivas violações de direitos humanos no continente africano.

2) Condenação proferida por um Tribunal internacional híbrido14: Os Tribunais internacionais


híbridos são aqueles cuja sua formação é solicitada pelo governo do Estado onde os crimes foram
perpetrados. O Tribunal Especial para Serra Leoa se formou após a realização de um acordo entre o
governo local e a Organização das Nações Unidas (ONU). Nestes tribunais, há juízes do Estado
requerente e também juízes internacionais, aplicando-se tanto o direito interno quanto o direito
internacional. São exemplos de Tribunais Internacionais híbridos: o Tribunal Especial de Serra Leoa, as
Câmaras Extraordinárias dos Tribunais no Camboja e o Tribunal Especial para o Líbano.

Ainda sobre a criação do Tribunal Especial para Serra Leoa, são as palavras de André de Carvalho
Ramos15:

“O Tribunal Especial para a Serra Leoa foi estabelecido a pedido do governo do


país, com base na Resolução n. 1315 do Conselho de Segurança, de 14 de agosto de
2000, sendo instalado em 2002. Sua sede é Freetown (capital de Serra Leoa) e conta

14 Os tribunais internacionais híbridos também são chamados de “tribunais internacionalizados”.


15 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 318
com o apoio logístico do TPI. Há juízes nacionais e internacionais, e os acusados são
julgados pela prática de crimes de jus cogens (crimes contra a humanidade e
crimes de guerra) e ainda por crimes comuns pelo direito local”.

ATENÇÃO: Segundo André de Carvalho Ramos16, os tribunais internacionais mistos ou “híbridos” são
considerados tribunais internacionais de quarta geração.

3) Taylor nunca esteve em Serra Leoa: O ex-presidente Charles Taylor foi condenado por crime de
guerra e crimes contra a humanidade em Serra Leoa mesmo sem jamais ter pisado em solo serra-
leonense. Os crimes contra de guerra e crimes contra a humanidade afetam valores essenciais de toda
comunidade internacional.

4) “Desaforamento internacional”: O julgamento do ex-presidente da Libéria aconteceu na Holanda


por motivos de segurança, já que Taylor era dotado de grande influência no continente africano. Temia-
se que, se o Tribunal Internacional de Serra Leoa fosse instalado na própria região, a imparcialidade do
julgamento restasse comprometida. Ressalta-se que, embora a Corte Especial para Serra Leoa tenha
sido instaurada em Haia, na Holanda, o estado holandês não aceitou que Taylor cumprisse pena em seu
território. Assim, atualmente, o ex-presidente cumpre pena na Grã-Bretanha.

5) Não-obrigatoriedade dos membros da ONU de cooperar com o Tribunal Especial para Serra
Leoa: O Tribunal Especial para Serra Leoa não foi estabelecido por resolução do Conselho de Segurança e
sim por um acordo entre a ONU e o governo de Serra Leoa. Assim, o formato de instauração do Tribunal
Internacional para Serra Leoa desobriga os membros da ONU a qualquer ato cooperacional com o TESL.
Entretanto, é possível a negociação de acordos bilaterais visando o cumprimento de suas decisões.

INCIDÊNCIA DO TEMA EM PROVAS DE CONCURSOS

Questão da Prova Oral do 27º CPR: Fale sobre a experiência do Tribunal Internacional Especial
para Serra Leoa no caso de Charles Taylor.

Breve resposta: Diante de todos os motivos expostos nesta rodada, é de se concluir pela experiência
extremamente positiva do Tribunal Internacional Especial para Serra Leoa no caso Charles Taylor. Isso
porque,com a efetiva condenação do ex-presidente da Libéria, os tribunais internacionais híbridos
começam a ganhar espaço e credibilidade no cenário da proteção internacional dos direitos humanos.

Questão da Prova Oral do 27º CPR: O Brasil é obrigado a cumprir as ordens dos tribunais
internacionais híbridos?

Breve resposta: Conforme já explanado no último item do tópico “pontos importantes sobre o caso”, o
Tribunal Especial para Serra Leoa foi estabelecido por um acordo entre o governo local de Serra Leoa e
a Organização das Nações Unidas - ONU. Em razão disso, o Brasil não é obrigado a cumprir as ordens
ordens exaradas pelo Tribunal Especial para Serra Leoa. O mesmo raciocínio vale para qualquer tribunal

16 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 318
internacional híbrido estabelecido por acordo entre o governo local de determinado Estado e a ONU.

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