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1ª RODADA
CEI-JURISPRUDÊNCIA
DE TRIBUNAIS
INTERNACIONAIS DE
DIREITOS HUMANOS
01/12/2014
Círculo de Estudos pela Internet
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CORPO DOCENTE
CAIO PAIVA
Defensor Público Federal, titular do 2º Ofício Criminal da DPU/Manaus, unidade em que é Chefe-
Substituto. Membro do GT – Grupo de Trabalho da DPU sobre presos. Especialista em Ciências
Criminais. Exerceu o cargo de assessor de juiz de direito (2010-2013). Fundador do CEI. Editor do site
www.oprocesso.com.
E-mail: caio.paiva@cursocei.com
Twitter: @caiocezarfp
THIMOTIE HEEMANN
Advogado. Graduado pela Fundação Escola Superior do Ministério Público – FMP. Pós Graduando
em
Direito Penal e Processo Penal com ênfase em Processo Penal Internacional.
E-mail: thim.heemann@cursocei.com
Twitter: @thim3108
COORDENAÇÃO CEI
Página - 2
MEDIADOR: CAIO PAIVA - caio.paiva@cursocei.com
SENTENÇA: 16/11/2009.
RESUMO DO CASO
As jovens Laura Berenice Ramos Monárrez (17 anos), Cláudia Ivette González (20 anos) e Esmeralda
Herrera Monreal (15 anos) desapareceram, respectivamente, nos dias 25/09/2001, 10/10/2001 e 29/10/2001,
em Ciudad Juárez, no México. Devidamente cientificado, os únicos expedientes adotados pelo Estado
consistiram em elaborar os registros de desaparecimento, os cartazes de busca e a tomada de declarações
dos familiares, além de ter procedido com envio de ofício à Polícia Judiciária. Não há prova de que as
autoridades tenham efetivamente feito circular os cartazes de busca nem tampouco que efetuaram uma
investigação mais profunda sobre o caso. Consta nos autos, porém, a informação de que funcionários
do Estado teriam se comportado de forma indiferente e até mesmo discriminatória diante do contexto
evidenciado, eis que haviam feito comentários sobre a vida censurável e o comportamento sexual das
vítimas, deduzindo poderiam não estar “desaparecidas”, mas sim em companhia de seus namorados ou
outros parceiros.
No dia 06/06/2011, as vítimas foram encontradas numa plantação de algodão (daí, pois, o título do
Caso: “Campo Algodonero”; em português: “Campo Algodoeiro”), com gravíssimas marcas de estupro e
violência sexual cometidas com extrema crueldade.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos afirmou que “Ciudad Juárez se converteu no foco de
atenção da comunidade nacional e internacional em razão da situação particularmente crítica da violência
contra as mulheres que impera desde 1993 e à deficiente resposta do Estado diante desses crimes”.
A Corte Interamericana declarou o México responsável pela violação de inúmeros direitos humanos,
tais como: (a) obrigação geral de garantia prevista no art. 1.1 e à obrigação de adotar as disposições do
direito interno contempladas no artigo 2 (ambos da CADH), bem como às obrigações contempladas no
art. 7.b e 7.c da Convenção de Belém do Pará, em detrimento das vítimas; (b) obrigação de investigar e,
consequentemente, de garantir o direito à vida, à integridade pessoal e à liberdade pessoal das vítimas,
acarretando com isso, também, violação aos direitos de acesso à justiça e à proteção judicial previstos
nos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção Americana e artigos 1.1 e 2 da mesma, e também artigos 7.b e 7.c da
Convenção de Belém do Pará; (c) o dever de não discriminação; (d) os direitos da criança – Esmeralda e
Laura eram adolescentes; dentre outros.
Decidiu a Corte, também, que em memória das vítimas de homicídio por razões de gênero, o Estado
deveria erigir um monumento em Ciudad Juárez, na plantação de algodão onde foram encontradas
as vítimas, a ser revelado na mesma cerimônia na qual reconheça publicamente sua responsabilidade
internacional, como forma de dignificá-las e como recordação do contexto de violência que padeceram
e que o Estado se compromete a evitar no futuro.
FONTE
Íntegra da sentença do Caso González e outras (“Campo Algodonero”) Vs. México, em por tuguês: http://
www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_205_por.pdf
2) O Caso Campo Algodonero representa, também, segundo Lucas Lixinski, “a primeira vez em que
um tribunal internacional reconheceu a existência de feminicídio como crime”. E avança o autor na sua
explicação para dizer que “feminicídio é uma alusão ao crime internacional de genocídio, que está
codificado na Convenção de 1948 contra o Crime de Genocídio como sendo atos cometidos com a intenção
de destruir, em sua totalidade ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Esses atos são:
matar membros do grupo; causar dano corporal ou mental sério a membros do grupo; deliberadamente
impor condições de vida a um grupo que levem à sua destruição física em todo ou em parte; imposição de
medidas para impedir nascimentos dentro do grupo; e transferência forçada de crianças de um grupo para
outro (Artigo 2 da Convenção). Note-se que os grupos que podem ser vítimas de genocídio não incluem
“gênero”. Mas a ideia de destruição de um grupo pela simples razão de existir é o que importa para a
definição de feminicídio”3.
2 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 334.
3 LIXINSKI, Lucas. Caso do Campo de Algodão: Direitos Humanos, Desenvolvimento, Violência e Gênero. Nota de ensino.
Casoteca Direito GV – Produção de Casos 2011, p. 15. Acessível em: http://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/campo_de_
algodao_-_nota_de_ensino.pdf
a exemplo, pois, da Convenção de Belém do Pará.
4) A primeira vez em que a Corte Interamericana aplicou a Convenção de Belém do Pará foi no Caso
do Presídio Miguel Castro Castro Vs. Peru, em 2006.
5) A primeira vez em que a Comissão Interamericana aplicou a Convenção de Belém do Pará foi no
Caso Maria da Penha Vs. Brasil, em 2000.
6) Atenção: a Corte já estabeleceu que “nem toda violação de um direito humano cometida em prejuízo
de uma mulher leva necessariamente a uma violação das disposições da Convenção de Belém do Pará”
(Caso Peroso e outros Vs. Venezuela).
8) Ainda sobre o desenvolvimento do tema “direito das mulheres” no Direito Internacional dos Direitos
Humanos, Flávia Piovesan afirma que “Destacam-se também [além do Caso Campo Algodonero]
relevantes decisões do sistema interamericano sobre discriminação e violência contra mulheres, o que
fomentou a reforma do Código Civil da Guatemala [Caso María Eugenia Vs. Guatemala], a adoção de uma
lei de violência doméstica no Chile, a adoção da Lei Maria da Penha no Brasil, dentre outros avanços”4.
O caso conhecido como “Campo Algodonero”, julgado pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos em 16 de novembro de 2009 (exceção preliminar, fundo, reparações e custas), tornou-
se célebre por tratar
ATENÇÃO: O Caso Campo Algodonero consta no Ponto IV da disciplina de Direitos Humanos do XXV
Concurso para a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Confira: http://www.portaldpge.rj.gov.
br/Portal/sarova/imagem-dpge/public/concurso/20140702_154713_Relacao_pontos_todas_as_Bancas.pdf
(página 16).
PARA APROFUNDAR
PIOVESAN, Flávia. A Proteção Internacional dos Direitos Humanos das Mulheres. Acessível em: http://www.
emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista57/revista57_70.pdf
PIOVESAN, Flávia; PIMENTEL, Silvia. A Lei Maria da Penha na Perspectiva da Responsabilidade Internacional
do Brasil. Acessível em: http://www.compromissoeatitude.org.br/wp-content/uploads/2014/02/1_6_
responsabilidade-internacional.pdf
MEDIADOR: CAIO PAIVA - caio.paiva@cursocei.com
CASO: Nórin Catrimán e outros (dirigentes, membros e ativista do povo indígena Mapuche) Vs.
Chile.
SENTENÇA: 29/05/2014.
RESUMO DO CASO
Segundo Aniceto Norin Catrimán, Pascual Huentequeo Pichún Paillalao, Víctor Manuel Ancalaf Llaupe,
Juan Ciríaco Millacheo Licán, Florencio Jaime Marileo Saravia, José Benicio Huenchunao Mariñán, Juan
Patrício Marileo Saravia e a senhora Patricia Roxana Troncoso Robles são chilenos, sendo que sete deles
são ou eram na época dos fatos autoridades tradicionais do Povo Indígena Mapuche e a outra é ativista
pela reinvindicação dos direitos do mencionado Povo Indígena. Todos foram processados e condenados
criminalmente por fatos ocorridos nos anos de 2001 e 2002, relativos a incêndio de prédio florestal,
ameaça de incêndio e queima de um caminhão de empresa privada, sem afetar a integridade física nem
a vida de ninguém. A qualificação jurídica atribuída à conduta deles foi a de “atos terroristas”, razão pela
qual se lhes aplicou a Lei chilena 18314, conhecida como “Lei Antiterrorismo”.
A época do crime (2001 e 2002) foi marcada por existir no Sul do Chile uma situação social de numerosos
reclamos, manifestações e protestos sociais por parte dos membros do Povo Indígena Mapuche, que
reivindicavam basicamente a recuperação de seus territórios ancestrais e o respeito do uso e gozo das
ditas terras e seus recursos naturais.
Lei 18314
Art. 1º. Art. 1º. Constituirão delitos terroristas os enumerados no artigo 2º, quando
neles concorrer alguma das circunstâncias seguintes:
Foi questionado perante a Corte o trecho em negrito da redação do texto legal, que estabelece uma
presunção de “intenção terrorista” quando, p. ex., o agente cometer o delito mediante artifícios explosivos
ou incendiários, o que a Corte considera como uma violação dos princípios da legalidade e da presunção
de inocência previstos, respectivamente, nos artigos 9 e 8.2 da CADH. Esclareceu e advertiu a Corte
Interamericana que “As medidas eficazes de luta contra o terrorismo devem ser complementares e não
contraditórias com a observância das normas de proteção dos direitos humanos. Ao adotar medidas
que busquem proteger as pessoas contra atos de terrorismo, os Estados têm a obrigação de garantir
que o funcionamento da justiça penal e o respeito às garantias processuais se apeguem ao princípio da
não discriminação. Os Estados devem assegurar que os fins e efeitos das medidas que se tomem na
persecução penal de condutas terroristas não discriminem permitindo que as pessoas se vejam submetidas
a caracterizações ou estereótipos étnicos”.
A Corte declarou que o Chile violou o princípio da legalidade e o direito à presunção de inocência
previstos nos artigos 9 e 8.2 da CADH; o princípio da igualdade e da não discriminação e o direito à
igual proteção da lei, consagrados no artigo 24 da CADH; o direito da defesa de interrogar testemunhas
consagrado no artigo 8.2.f da CADH5; o direito a recorrer da sentença a um juiz ou tribunal superior,
consagrado no artigo 8.2.h da CADH; entre outros.
FONTE
Íntegra da decisão da sentença no Caso Norín Catrimán e outros (dirigentes, membros e ativista do Povo
Indígena Mapuche) Vs. Chile, em espanhol: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_279_
esp.pdf
2) A Corte Interamericana não precisou condenar o Chile a reformar a sua legislação interna, já que o
referido país editou, em 2010, a Lei 20467, pela qual eliminou a presunção legal de intenção terrorista que
foi aplicada, neste Caso, para condenar as vítimas integrantes do Povo Indígena Mapuche.
3) O Brasil ratificou a Convenção Interamericana contra o Terrorismo em 2005, a qual foi promulgada,
aqui, através do Decreto nº. 5639/2005, cuja leitura é recomendada: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2004-2006/2005/Decreto/D5639.htm
4) Tramita no Senado Federal o Projeto de Lei nº. 499/2013, que “Define crimes de terrorismo e dá outras
providências”: http://www.senado.leg.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=141938&tp=1
PARA APROFUNDAR
La otra transición chilena: derechos del pueblo Mapuche, política penal y protesta social en un Estado
democrático, acessível em: http://www.politicaspublicas.net/panel/images/stories/docs/2006-fidh-
informe-mision-chile-mapuche.pdf
Notícia – Chile promete cumprir sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, já o Brasil...,
acessível em: http://jornalggn.com.br/blog/frederico-fuellgraf/mal-humorado-chile-promete-cumprir-
sentenca-da-corte-interamericana-de-direitos-humanos-ja-o-brasil (com alguns dados políticos da
época da criação da Lei chilena antiterrorista questionada no Caso resumido/explicado).
Igualmente, o seguinte livro: um clássico, não indicado para estudo para concursos, e sim como bibliografia
para quem se interessar em pesquisa sobre o assunto “terrorismo” – FRAGOSO, Heleno. Terrorismo e
Criminalidade Política. Rio de Janeiro: Forense, 1981.
Terrorismo Internacional: Inimigo sem rosto - combatente sem pátria. José Cretella Neto. Editora
Millenium,
2008.
MEDIADOR: THIMOTIE HEEMANN - thim.heemann@cursocei.com
CASO: Comunidades Indígenas da Bacia do Rio Xingu vs. Brasil (“Caso Belo Monte”).
DECISÃO: Medida Cautelar expedida no dia 1º de abril de 2011 e reavaliada na sessão do dia 29
de junho de 2011.
RESUMO DO CASO
O polêmico caso envolvendo a construção da usina hidrelétrica (UHE) de Belo Monte na Bacia do Rio
Xingu já dura mais de 30 anos. Desde o início, os ambientalistas e as comunidades indígenas afetadas se
insurgiram contra o empreendimento. O projeto envolvendo a construção da hidrelétrica existe desde o
ano de 1975, quando se realizaram os primeiros estudos de inventário da bacia hidrográfica do Rio Xingu.
Devido ao grande impacto ambiental causado pelo empreendimento em razão de sua dimensão, bem
como pela grande quantidade de comunidades indígenas afetadas, o empreendimento da UHE de Belo
Monte sempre caminhou a passos curtos, sofrendo inclusive diversas intervenções do Poder Judiciário
brasileiro ao longo dos anos, como o embargo das obras, a cassação dos licenciamentos ambientais
envolvendo o projeto, entre outras medidas.
Desse modo, como a construção da UHE de Belo Monte é uma obra do governo federal (considerada
inclusive a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC), a discussão envolvendo o
respeito aos direitos humanos das comunidades indígenas ficou em segundo plano, comprometendo a
proteção e o respeito aos direitos em âmbito nacional. Caracterizou-se a omissão da jurisdição interna
em proteger as comunidades indígenas.
Em novembro de 2010, em razão dos acontecimentos até então ocorridos, o Brasil foi denunciado à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A petição encaminhada contra o Estado brasileiro
foi assinada por vários movimentos e associações ligados às comunidades indígenas afetadas pelo
empreendimento da UHE de Belo Monte, como por exemplo o Movimento Xingu Vivo para Sempre
(MXVPS), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), o Conselho
Indígena Missionário (CIMI), Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), a Justiça Global
e Associação Interamericana para a Defesa do Ambiente (AIDA) entre outros.
“1) Adote medidas para proteger a vida, a saúde e a integridade pessoal dos
membros das comunidades indígenas em situação de isolamento voluntário da
bacia do Xingu e da integridade cultural de mencionadas comunidades, que
incluam ações efetivas de implementação e execução das medidas jurídico-
formais já existentes, assim como o desenho e implementação de medidas
específicas de mitigação dos efeitos que terá a construção da represa Belo Monte
sobre o território e a vida destas comunidades em isolamento;
2) Adote medidas para proteger a saúde dos membros das comunidades indígenas
da bacia do Xingu afetadas pelo projeto Belo Monte, que incluam (a) a finalização e
implementação acelerada do Programa Integrado de Saúde Indígena para a região
da UHE Belo Monte (…) e
FONTE
b) http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/solicitacao-da-comissao-
interamericana-de-direitos-humanos-cidh-da-oea
PARA APROFUNDAR
6 As cortes internacionais se referem ao mínimo existencial através da expressão “minimum core obligation”.
7 Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Medidas cautelares outorgadas pela CIDH no ano de 2011. Disponível em:
<http://www.cidh.oas.org/medidas/2011.port.htm>.
ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5051.htm
INTERESSANTE
No início dos trabalhos, o projeto se chamava “complexo Kararaô”. O nome foi alterado para Belo Monte
em respeito às comunidades indígenas.
1) Descumprimento da medida cautelar pelo Brasil: Infelizmente, o Brasil ainda não assume a postura
necessária perante a comunidade internacional quando o assunto envolve direitos humanos. O Estado
brasileiro basicamente ignorou a primeira medida cautelar exarada pela Comissão Interamericana
de Direitos Humanos sob o argumento de que esta não seria dotada de caráter vinculante. Alguns
examinadores costumam questionar os candidatos sobre casos em que o Brasil descumpriu medidas
cautelares/provisórias expedidas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos ou pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos. O Caso Belo Monte é mais um precedente a entrar nesta triste lista
de medidas descumpridas pelo Brasil envolvendo a proteção internacional dos direitos humanos.
3) Normas de proteção do meio ambiente como obrigações erga omnes10: Para boa parte da
doutrina, as normas de proteção internacional do meio ambiente seriam verdadeiras obrigações erga
omnes11. Isso porque toda comunidade internacional possui o interesse em proteger os valores ambientais.
Sobre o conceito de obrigação erga omnes para o Direito Internacional dos Direitos Humanos, é a lição
de André de Carvalho Ramos12: “Considera-se obrigações erga omnes a obrigação que protege valores
8 Foi a posição firmada pelo Supremo Tribunal Federal no famoso caso “Raposa Serra do Sol” (STF, PET 3388).
9 Comunidade Indígena Kichwa de Sarayaku vs. Equador (Corte Interamericana: Sentença de 27 de junho de 2012) e
Comunidade ITribal Saramaka vs. Surianame (Corte Interamericana: Sentença de 28 de novembro de 2007).
10 As obrigações erga omnes foram conceituadas pela primeira vez, em obter dictum, na sentença do caso Barcelona Traction
Light Power and Company (Bélgica vs. Espanha), 1970, Corte Internacional de Justiça, parágrafo 34, p. 32).
11 ACCIOLY, Hidelbrando, DO NASCIMENTO E SILVA, G.E. e CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público.
21 ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 46).
12 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 51.
de todos os Estados da comunidade internacional, fazendo nascer o direito de qualquer um de seus
membros em ver respeitada tal obrigação”.
ATENÇÃO: O caso Belo Monte consta como ponto específico do edital da Defensoria Pública do Rio
de Janeiro (prova objetiva marcada para janeiro de 2015).
(FCC - 2013 - DPE-AM - Defensor Público) A outorga de medida cautelar a favor dos membros das
comunidades indígenas da bacia do Rio Xingu, relativa à usina hidroelétrica Belo Monte, no Estado do
Pará (Brasil), foi expedida pela
a) Corte Interamericana de Direitos Humanos e determinou a paralisação das obras da usina até que
as comunidades indígenas beneficiárias tivessem acesso ao Estudo de Impacto Social e Ambiental do
projeto, em um formato acessível, incluindo a tradução aos idiomas indígenas respectivos.
c) Corte Interamericana de Direitos Humanos e solicitou a rápida finalização dos processos de regularização
das terras ancestrais dos povos indígenas que estão pendentes, e a adoção de medidas efetivas para a
proteção de mencionados territórios ancestrais.
13 TEIXEIRA, Gustavo de Faria Moreira. Greening no Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Ed. Curitiba: Editora
Juruá. 2011.
pelas obras.
GABARITO: Letra B.
Nota-se que a banca examinadora tenta confundir o candidato ao trocar “Comissão Interamericana de
Direitos Humanos” por “Corte Interamericana de Direitos Humanos”. Saber qual foi o órgão prolator
da medida já ajudaria o candidato a eliminar boa parte das assertivas. As assertivas ‘d’ e ‘e’, embora
mencionem a Comissão Interamericana de Direitos Humanos como órgão prolator da medida cautelar,
trazem dados inverídicos sobre o tema.
(FCC - 2013 - DPE-SP- Defensor Público) Sobre os direitos humanos dos povos indígenas é correto
afirmar:
(B) A Corte Interamericana de Direitos Humanos adotou as medidas provisórias no caso da construção
da Usina Belo Monte no Pará, determinando a suspensão da obra para preservação dos direitos dos
povos indígenas (vida, saúde e integridade pessoal e cultural) em situação de isolamento voluntário na
bacia do Xingu. No entanto, após informações do governo brasileiro, a Corte modificou a sua decisão
determinando que fossem tomadas medidas de preservação dos direitos dos índios sem a suspensão da
obra.
Questão da prova oral do 27º Concurso de Procurador da República (2014): Qual a posição da
Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre o direito de consulta às populações indígenas?
Breve resposta: Conforme explanado no segundo item do tópico “pontos importantes sobre o caso”, a
Corte Interamericana de Direitos Humanos entende que a resposta proferida pelas comunidades indígenas
ante a consulta realizada possui caráter vinculante. Infelizmente, o Brasil ainda não alberga essa posição, o
que ocasiona uma dissonância entre a jurisprudência nacional e a jurisprudência internacional, conforme
posição firmada pelo Supremo Tribunal Federal no célebre caso Raposa Serra do Sol.
Questão da prova oral do 26º Concurso de Procurador da República (2012/2013): Fale sobre um
caso em que o Brasil descumpriu uma medida cautelar imposta pela Comissão Interamericana de
Direitos Humanos.
Breve resposta: O caso envolvendo a UHE de Belo Monte é um exemplo que poderia ser lembrado pelo
candidato.
ATENÇÃO ALUNOS QUE ESTUDAM PARA A DPU: Notícia veiculada no site da Defensoria Pública da
União no dia 18/11/2014:
1. DPU TERÁ SEIS DEFENSORES PARA ASSISTIR MORADORES IMPACTADOS PELA USINA DE
BELO
MONTE
A Defensoria Pública da União (DPU) vai designar seis defensores públicos federais para atuarem na região
da bacia do rio Xingu, nas proximidades da cidade de Altamira, sudoeste do Pará. O objetivo é prestar
assistência jurídica aos moradores que serão atingidos pelo deslocamento compulsório promovido para
instalação do reservatório de água da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que alagará a área. O tempo
de duração e a data de início da ação itinerante estão em discussão no órgão. A atividade integra o
programa Eu Tenho Direito.
A DPU manifesta preocupação com as denúncias de que cerca de nove mil famílias, 600 delas indígenas,
estão sendo prejudicadas no processo de realocação de suas moradias. “Existe uma condicionante para
a instalação do reservatório que é a realocação, com uma indenização ou uma moradia. No entanto,
ouvimos depoimentos de que, na prática, a construtora está impondo uma indenização em valor baixo”,
explica o defensor público federal Francisco Nóbrega, que atua no grupo de trabalho de atendimento às
comunidades indígenas da DPU.
Nóbrega participou de audiência pública realizada pelo Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA) em
Altamira, na quarta-feira (12), para ouvir os moradores que são atingidos pela obra. Estavam presentes
ao encontro representantes da Secretaria-Geral da Presidência da República, Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente (Ibama), Fundação Nacional do Índio (Funai), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e Prefeitura de Altamira. Segundo o
MPF/PA, a presença do Estado brasileiro em Altamira tem sido marcada pela parcialidade, com foco
excessivo no cronograma e na rapidez da obra, deixando de atuar na garantia dos direitos da população
impactada.
A ação itinerante do programa Eu Tenho Direito, promovido pela DPU, tem o objetivo de aproximar a
instituição de seu público-alvo: a população brasileira com renda familiar de até três salários mínimos. A
iniciativa já atendeu este ano os municípios de Aruanã, Ceres e Águas Lindas, em Goiás; Picos, no Piauí;
Ponta Grossa, Foz do Iguaçu, Telêmaco Borba, Terra Roxa, Ibaiti, Arapongas e Santa Helena, no
Paraná; Brusque, Itajaí, Chapecó, Concórdia, Joaçaba, São Miguel do Oeste, Arananguá, Tubarão,
Laguna, Lages, Mafra, Jaraguá do Sul e São Francisco do Sul, em Santa Catarina; Camaquã, no Rio
Grande do Sul; Feijó, no Acre; Distrito de Extrema e Baixo Madeira, em Rondônia.
Reservatório da Usina
O projeto da hidrelétrica prevê a construção de uma barragem principal no Rio Xingu, localizada a cerca
de 40 quilômetros abaixo da cidade de Altamira, que formará o reservatório principal da usina, com 503
quilômetros quadrados. De acordo com a Norte Energia S.A., a Usina Belo Monte levará desenvolvimento
à região de Altamira e aos municípios vizinhos, além de propiciar a melhoria das condições de vida de
cerca de cinco mil famílias que residem em palafitas. A empreiteira também afirma que a região receberá
uma compensação financeira anual de R$ 88 milhões. A concessão para a construção da hidrelétrica, no
município de Vitória do Xingu, foi objeto de leilão realizado no dia 20 de abril de 2010. A outorga coube
à Norte Energia S.A. por um prazo de 35 anos.
Assessoria de Comunicação
Social Defensoria Pública da
União FONTE:
http://www.dpu.gov.br/index.php?option=com_content&view=ar ticle&id=24482:dpu-tera-seis-
defensores-para-assistir-moradores-impactados-pela-usina-de-belo-monte&catid=215:noticias-
slideshow&Itemid=458
MEDIADOR: THIMOTIE HEEMANN - thim.heemann@cursocei.com
RESUMO DO CASO
No final da década de 80, Charles Taylor era a principal liderança de uma militância armada e deu
início à guerra civil na Libéria, que somente cessou após a realização de um tratado de paz no ano de
1995. Passados dois anos, Charles Taylor foi eleito presidente da Libéria e seu governo durou seis anos,
até a tomada do país por rebeldes, que o forçaram a se exilar na Nigéria.
Durante o período que esteve no poder, diversas foram as acusações imputadas ao ex-presidente da
Libéria. Ao total, são onze acusações por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, que incluem
aterrorizar civis, estupros, escravidão sexual e recrutamento de crianças para servir na guerra civil. Estas
acusações estão relacionadas a um possível poder de influência de Taylor na guerra civil na nação vizinha
de Serra Leoa, onde Taylor foi acusado de apoiar rebeldes responsabilizados por massacres em massa
contra a população serra-leonense.
O ex-presidente liberiano foi acusado de vender diamantes e comprar armas para a FARS – Frente
Revolucionária de Unida de Serra Leoa. Na época, a FARS era o principal grupo revolucionário violador de
direitos humanos no continente africano; seus membros eram conhecidos por amputar as mãos e pernas
dos civis durante a revolução. Tendo em vista seu apoio a esse grupo, Taylor foi acusado de fomentar o
caos e a morte de milhares de pessoas nos conflitos interligados entre Serra Leoa e Libéria.
No dia 30 de maio de 2012, o Tribunal Especial para Serra Leoa, órgão criado pelo governo local em
acordo com a Organização das Nações Unidas, condenou Charles Taylor a 50 anos de prisão por crimes
de guerra e contra a humanidade cometidos na Libéria e também no território de Serra Leoa. A pena
atribuída pelo TESL é inferior aos 80 anos pugnados em juízo pela acusação.
A Corte Especial de Serra Leoa entendeu que o ex-presidente da Libéria utilizou de sua influência como
Chefe de Estado e membro da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental para ajudar a
estimular a prática de crimes em Serra Leoa.
a) http://www.rscsl.org/Documents/Decisions/Taylor/1285/SCSL-03-01-T-1285.pdf (íntegra);
b) http://www.onu.org.br/tribunal-da-onu-condena-ex-presidente-liberiano-charles-taylor-a-50-anos-
de-prisao/
PARA APROFUNDAR
a) Filme Diamante de Sangue (2006). O filme se passa em Serra Leoa e foi baseado no caso Charles Taylor.
INTERESSANTE
a) A modelo Naomi Campbell testemunhou no caso Charles Taylor, pois haveria recebido um
“diamante de sangue” do ex-presidente liberiano.
b) O personagem principal do filme Senhor das Armas (2005) foi inspirado em Charles Taylor.
1) Condenação histórica: Charles Taylor foi o primeiro ex-chefe de Estado condenado por um tribunal
internacional desde a Segunda Guerra Mundial. É uma condenação histórica que gerou importante
precedente para combater as massivas violações de direitos humanos no continente africano.
Ainda sobre a criação do Tribunal Especial para Serra Leoa, são as palavras de André de Carvalho
Ramos15:
ATENÇÃO: Segundo André de Carvalho Ramos16, os tribunais internacionais mistos ou “híbridos” são
considerados tribunais internacionais de quarta geração.
3) Taylor nunca esteve em Serra Leoa: O ex-presidente Charles Taylor foi condenado por crime de
guerra e crimes contra a humanidade em Serra Leoa mesmo sem jamais ter pisado em solo serra-
leonense. Os crimes contra de guerra e crimes contra a humanidade afetam valores essenciais de toda
comunidade internacional.
5) Não-obrigatoriedade dos membros da ONU de cooperar com o Tribunal Especial para Serra
Leoa: O Tribunal Especial para Serra Leoa não foi estabelecido por resolução do Conselho de Segurança e
sim por um acordo entre a ONU e o governo de Serra Leoa. Assim, o formato de instauração do Tribunal
Internacional para Serra Leoa desobriga os membros da ONU a qualquer ato cooperacional com o TESL.
Entretanto, é possível a negociação de acordos bilaterais visando o cumprimento de suas decisões.
Questão da Prova Oral do 27º CPR: Fale sobre a experiência do Tribunal Internacional Especial
para Serra Leoa no caso de Charles Taylor.
Breve resposta: Diante de todos os motivos expostos nesta rodada, é de se concluir pela experiência
extremamente positiva do Tribunal Internacional Especial para Serra Leoa no caso Charles Taylor. Isso
porque,com a efetiva condenação do ex-presidente da Libéria, os tribunais internacionais híbridos
começam a ganhar espaço e credibilidade no cenário da proteção internacional dos direitos humanos.
Questão da Prova Oral do 27º CPR: O Brasil é obrigado a cumprir as ordens dos tribunais
internacionais híbridos?
Breve resposta: Conforme já explanado no último item do tópico “pontos importantes sobre o caso”, o
Tribunal Especial para Serra Leoa foi estabelecido por um acordo entre o governo local de Serra Leoa e
a Organização das Nações Unidas - ONU. Em razão disso, o Brasil não é obrigado a cumprir as ordens
ordens exaradas pelo Tribunal Especial para Serra Leoa. O mesmo raciocínio vale para qualquer tribunal
16 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 318
internacional híbrido estabelecido por acordo entre o governo local de determinado Estado e a ONU.