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58 Consultório Técnico

Regime especial dos bens


em segunda mão
Uma empresa nacional cuja actividade é a ven- Contudo, o sujeito passivo poderá optar pela li-
da de automóveis usados e que normalmente quidação do imposto nos termos gerais do CIVA,
aplica nestas operações o regime especial de relativamente a cada transmissão sujeita ao regi-
bens em segunda mão, ou seja, «IVA da mar- me especial, nos termos do artigo 7.º do Decre-
gem», ao adquirir viaturas usadas para revenda to-Lei n.º 199/96, sabendo-se, porém, que esta
a um sujeito passivo no mercado intracomuni- opção acarretará um preço final mais elevado ou
tário, cuja liquidação de IVA ocorre no país de uma margem de lucro mais estreita.
origem e vem devidamente discriminado na Partindo da hipótese que o sujeito passivo
factura, pode optar pela liquidação do imposto alemão é um revendedor, vamos analisar as duas
apenas sobre a margem, suportando o IVA da hipóteses que se colocam:
compra ou terá que liquidá-lo sobre o valor de a) Se a transmissão, pelo revendedor no Estado
venda? Ou, em alternativa, deverá considerar membro de origem (neste caso, Alemanha), for
uma aquisição intracomunitária, liquidando e efectuada pelo regime geral das transacções in-
deduzindo-o sobre a compra e posteriormente tracomunitárias:
liquidar IVA sobre a venda e neste caso deverá - O sujeito passivo revendedor nacional, está
recusar a factura de compra com o imposto li- a efectuar uma aquisição intracomunitária,
quidado na origem? nos termos do Regime do IVA nas Transacções
Intracomunitárias (RITI), pelo que, sendo
O regime especial de tributação dos bens em operador registado, releva no campo 10 da
segunda mão, regulamentado pelo Decreto- declaração periódica o valor tributável da
-Lei n.º 199/96, de 18 de Outubro, aplica-se aquisição, e fará a liquidação/dedução, nos
aos sujeitos passivos revendedores que te- campos 11 e 22, respectivamente. Não sendo
nham adquirido os bens no interior da União operador registado é a Direcção-Geral das
Europeia, em qualquer uma das seguintes Alfândegas que liquida o IVA.
condições (n.º 1 do artigo 3.º): - Em conclusão, neste caso, é sempre devido IVA
- A uma pessoa que não seja sujeito passivo do em Portugal (independentemente de ter sido li-
imposto (inclui particulares); quidado IVA na origem!), pela aquisição intraco-
- A um sujeito passivo, desde que a transmissão munitária, através do mecanismo do reverse
feita por este tenha beneficiado de isenção ao charge ou liquidado pela Direcção-Geral das
abrigo de disposição legal, vigente no Estado Alfândegas.
membro onde tiver sido efectuada a transmissão, - Aquando da revenda em Portugal, o IVA é li-
idêntica ao disposto n.º 33 do artigo 9.º ou no ar- quidado pelo preço de venda, porque a aqui-
tigo 53.º do CIVA; ou sição não foi efectuada ao abrigo de nenhuma
- A um sujeito passivo revendedor, desde que a das situações acima mencionadas.
transmissão feita por este tenha sido aplicado o b) Se a transmissão, efectuada pelo revendedor
regime especial de tributação da margem vigen- no Estado membro de origem, (neste caso, Ale-
te no Estado membro onde tiver sido efectuada a manha), for efectuada pelo regime da margem:
transmissão. - A aquisição intracomunitária não se encontra
Assim sendo, mesmo tratando-se de um sujeito sujeita a IVA em Portugal;
passivo revendedor, quando não tenha adquirido - Aquando da revenda em Portugal, aplica-se o
as viaturas em nenhuma das situações acima des- Regime Especial pela margem.
critas, a aplicação do regime geral torna-se obri- A grande dificuldade em todo este processo
gatória. consiste em determinar, se a transmissão foi
Caso a aquisição da viatura tenha sido efectuada efectuada pelo regime da margem no país da
numa das situações acima descritas, aplica-se o origem, nomeadamente, pela dificuldade da
regime especial de tributação pela margem. língua.
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No caso da Alemanha, a expressão utilizada na Nestas circunstâncias, havendo dúvidas, deve
factura será «§ 25 a UStG», o que significa que a contactar-se o fornecedor e indagar se foi utiliza-
transmissão foi efectuada ao abrigo da legislação do o regime da margem vigente no seu Estado
alemã que regulamenta o regime da margem. membro, ou eventualmente, solicitar apoio aos
Se o fornecedor alemão liquida o IVA local sobre Serviços do IVA. ★
o valor total da venda, significa, claramente, que
a transmissão não foi efectuada ao abrigo da mar- (Resposta redigida em Março de 2006)
gem, pelo que o revendedor português, quando
efectuar a venda da viatura em Portugal, tem
obrigatoriamente, como já vimos, que utilizar o
regime geral.

IVA – Subsídios e direito a dedução


Estão os subsídios atribuídos anualmente aos em- As subvenções do tipo "à exploração" atribuí-
presários do sector agrícola pelo INGA/FEOGA, das para melhorar a posição económica das
para caprinos, ovinos, olival e floresta, isentos de empresas (por exemplo, cobertura de défices,
IVA? Em caso afirmativo, haverá lugar à aplicação responsabilização por uma parte das despesas
do método do pro-rata no IVA dedutível? gerais de exploração, participação em certas
despesas) que não são, contudo, calculadas
Segundo o disposto na alínea c) do n.º 5 do art. com referência a preços ou quantidades ven-
16.º do Código do IVA, o valor tributável das didas, não se ajustam aos limites estabeleci-
transmissões de bens e prestações de serviços su- dos na alínea c) do n.º 5 do art. 16.º, inte-
jeitas a imposto incluirá «as subvenções directa- grando, consequentemente, a categoria de
mente conexas com o preço de cada operação, subvenções não tributadas.
considerando como tais as que são estabelecidas Do mesmo modo, os subsídios de equipa-
em função do número de unidades transmitidas mento destinados a custear capital fixo, não
ou dos serviços prestados e sejam fixadas ante- devem ser incluídos no valor tributável das
riormente à realização das operações». operações realizadas, sendo igualmente sub-
Ajusta-se aos limites conceptuais de subvenções sídios não tributados.
ligadas directamente ao preço de cada operação, No caso em apreço – subsídio para o sector
quando o elemento de conexão entre a sub- agrícola (INGA/FEOGA) para caprinos, ovinos,
venção e o preço das operações subvencionadas olival e floresta – tem plena aplicação o teor do
resulta, de forma inequívoca, do facto do mon- ponto 3 da informação n.º 130, de 15/10/91 do
tante dos subsídios ser determinado com re- gabinete do subdirector-geral do IVA averbada
ferência quer ao preço de venda, quer às quanti- de despacho concordante do secretário de Es-
dades vendidas ou volume de serviços prestados. tado dos Assuntos Fiscais da mesma data, pelo
A Administração Fiscal tem entendimento firmado que, tais subvenções comunitárias à agricultura
no sentido de se considerar como de integrar no va- não sendo sujeitas a IVA, não são tributadas,
lor tributável sujeito a imposto, apenas aqueles sub- não são de incluir no numerador nem no de-
sídios ou subvenções que, estando directamente co- nominador da fracção a que se refere o n.º 4 do
nexos com os preços de cada operação, preencham art. 23.º do CIVA. ★
cumulativamente as seguintes condições:
– sejam estabelecidas em função do número de (Resposta redigida em Março de 2006)
unidades transmitidas ou do volume de ser-
viços prestados;
– sejam fixadas anteriormente à realização das
operações.
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Refeição aos trabalhadores


Pode deduzir-se o IVA das águas e copos para con- gratuita, o que quase regra universal nas empre-
sumo do pessoal da empresa e do respectivo con- sas), o valor normal do serviço, tal como está es-
trato de aluguer relativamente a uma máquina tipulado na alínea c) do n.º 2 do artigo 16.º e de-
com garrafão de água? finido no n.º 4 do mesmo artigo.
Por outro lado, de acordo com o disposto no n.º
Nos termos do disposto na alínea d) do n.º 1 do 40 do artigo 9.º do CIVA, estão isentas de IVA os
artigo 21.º do CIVA, não é possível exercer-se o serviços de alimentação e bebidas fornecidas pe-
direito à dedução do IVA contido nas despesas las entidades patronais aos seus empregados.
de alojamento, alimentação, bebidas, tabacos e De acordo com a doutrina existente, nomeadamen-
despesas de representação. te o Ofício-Circulado n.º 105 643, de 17/11/88, do SI-
Contudo, a alínea b) do n.º 2 do referido artigo VA, este tipo de fornecimento considera-se abrangi-
estabelece que não se verificará a exclusão do di- do pela isenção acima referida, tendo como conse-
reito à dedução do imposto contido nas despe- quência a não liquidação do IVA, não conferindo,
sas relativas a fornecimento ao pessoal da em- portanto, o direito à dedução, devendo observar-se
presa, pelo próprio sujeito passivo, de alojamen- as regras do artigo 23.º, ou seja, a existência simultâ-
to, refeições, alimentação e bebidas, em cantinas, nea de operações que conferem o direito à dedução
economatos, dormitórios e similares. (operações normais da empresa e operações que
Importa referir, contudo, que a disposição pre- não conferem o direito à dedução - fornecimento de
vista na alínea b) do n.º 2 do artigo 21.º do CIVA, água engarrafada, cafés, refeições, etc.)
tem de ser enquadrada no contexto geral do di- Assim sendo, no caso concreto da distribuição de
reito à dedução prevista no artigo 20.º, isto é, só cafés, águas, e açúcar a clientes, fornecedores e
haverá possibilidade do direito à dedução se as trabalhadores não é possível exercer o direito à
despesas estiverem ligadas à realização das ope- dedução.
rações previstas no referido artigo 20.º. A contabilização indicada para esse tipo de des-
À partida, o fornecimento de água engarrafada e pesas será numa subconta da conta 62 – Forne-
o café aos trabalhadores constitui uma operação cimento e serviços externos. ★
tributável cujo valor de incidência seria o da con-
traprestação ou, caso esta não exista (operação (Resposta redigida em Março de 2006)

Sócios gerentes isentos de Segurança Social


Determinada sociedade, está dividida em duas O assunto reveste-se de polémica e tem sido ao
quotas de igual montante e com gerência dos dois longo dos tempos alvo de controvérsia. O que im-
sócios. Um dos gerentes é reformado pelo que pe- porta caracterizar para se poder avaliar a situação
diu a isenção na Segurança Social e o outro solici- é o âmbito das actividades desempenhadas.
tou o mesmo, uma vez que é trabalhador inde- Se nas funções definidas como trabalho depen-
pendente (prestador de serviços), e paga as res- dente existe uma parte de remuneração variável e
pectivas contribuições.Nenhum dos gerentes tem outra fixa o tratamento a dar à remuneração é sem-
remuneração na empresa. pre dentro do enquadramento da categoria A.
No entanto, o sócio gerente que está colectado No caso de um trabalhador dependente de de-
como independente passa ao longo do ano re- terminada empresa desempenhar outras funções
cibos verdes emitidos em seu nome à empresa diferentes das do âmbito do seu contrato de tra-
da qual é proprietário, sendo esta a forma en- balho, e quando estas forem desempenhadas fo-
contrada para ser ressarcido do serviço presta- ra do horário de trabalho, não existe nenhuma in-
do à mesma. Esta forma é legal? O sócio-geren- compatibilidade no exercício de trabalho que ori-
te pode emitir recibos verdes em seu nome à gina rendimentos de categorias diferentes dentro
sua empresa? da mesma empresa e para o mesmo trabalhador.
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Assim, e concretamente para a questão colocada, Caso exista efectivamente um serviço prestado,
do ponto de vista fiscal nada impede que um tra- este será considerado rendimento da categoria
balhador dependente da empresa lhe possa pres- B (rendimentos empresariais e profissionais) na
tar serviços com carácter de independência, fora esfera do sócio, pelo que, deverá o mesmo emi-
das horas de trabalho, caso em que terá de emi- tir factura ou recibo modelo oficial (recibo ver-
tir o competente recibo de quitação. de) para débito dessa prestação de serviços à
O que não pode acontecer é que essas alegadas sociedade. ★
«prestações de serviços» sirvam de pretexto para
remunerar as funções de gerente, ou para retirar (Resposta redigida em Março de 2006)
«lucros» da sociedade.

Mais-valias:
expropriação parcial de um terreno
Em 1999, determinada empresa adquiriu um ter- Caso a escritura de compra e venda não indi-
reno em zona industrial com cerca de 20 mil me- que expressamente o valor do terreno, o va-
tros quadrados, o qual incluía um pavilhão indus- lor a atribuir-lhe será o correspondente a 25
trial com 7 500 metros quadrados (em bom esta- por cento do valor global, a não ser que o su-
do de uso e que tem vindo a ser utilizado, apesar jeito passivo estime outro valor e este seja
de ter sofrido algumas obras de adaptação). aceite pela DGCI.
Como a escritura de compra não fazia referência em O valor atribuído, porém, nunca pode ser in-
separado aos valores relativos ao terreno e ao pa- ferior ao determinado nos termos do CIMI
vilhão construído,contabilisticamente afectou-se 25 (então Código da Contribuição Autárquica) e
por cento do valor total da compra ao terreno e os constante da matriz à data de aquisição do
restantes 75 por cento do valor total ao pavilhão. imóvel.
Em 2004, parte do terreno foi objecto de uma ex- Face ao exposto, se o terreno adquirido em
propriação parcial (cerca de 340 metros quadra- 1999 corresponde de facto «ao terreno subja-
dos), destinada à construção de parte de uma ro- cente à construção do pavilhão industrial e ao
tunda. que lhe serve de logradouro» e se o valor que
Para efeitos do cálculo de mais-valia ou menos-valia lhe foi atribuído na contabilidade (25 por cen-
relativa à parcela expropriada,mantém-se o mesmo to do valor global) não é inferior ao referido
critério? Ou seja,o custo do metro quadrado do ter- no ponto anterior, conclui-se ter sido respei-
reno é aquele que foi contabilisticamente obtido pe- tado o disposto no art. 11.º do Decreto-Regu-
la aplicação da regra 25/75 por cento? lamentar n.º 2/90.
Tendo sido agora o terreno objecto de uma ex-
Para efeitos do cálculo das quotas de reinte- propriação parcial, o cálculo da mais ou menos-
gração de bens imóveis, estabelece o n.º 1 do art. valia fiscal que irá influenciar o lucro tributável
11.º do Decreto-Regulamentar n.º 2/90, de 12 de relativo ao exercício de 2004 deve ter em consi-
Janeiro que ao respectivo custo de aquisição é deração o valor atribuído ao terreno em 1999
deduzido o valor do terreno ou, tratando-se de que, em termos proporcionais, corresponde à
terrenos de exploração, a parte não sujeita a de- parcela expropriada. Assim:
perecimento. - Valor de realização: Valor da indemnização
Por sua vez, a alínea a) do n.º 2 do mesmo arti- - Custo de aquisição: Valor atribuído na contabi-
go refere que, para cumprimento do disposto no lidade x 340/20 000
n.º 1, devem ser evidenciados separadamente na - Coeficiente de desvalorização da moeda: o cons-
contabilidade o valor da construção e o valor do tante da Portaria n.º 376/2004, de 14 de Abril. ★
terreno, sendo este apenas o do terreno subja-
cente à construção e o que lhe serve de logra- (Resposta redigida em Dezembro de 2005)
douro.
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IVA – adiantamentos
Determinado sujeito passivo celebrou um contra- devido no momento do recebimento desse mon-
to de empreitada com um seu cliente em Dezem- tante, pelo montante recebido.
bro de 2004, tendo recebido por conta um adian- Deste modo, face às disposições acima referidas,
tamento titulado por cheque pré-datado com data no caso dos «adiantamentos», o imposto é devido
de desconto em Fevereiro de 2005 e emitiu a fac- e torna-se exigível no momento do recebimento,
tura dos serviços efectuados no mês anterior do pelo montante recebido, devendo o sujeito pas-
mesmo ano. sivo emitir factura ou documento equivalente
Aquele sujeito passivo tem uma conta de gestão respeitando a forma legal, pelos pagamentos que
de cheques pré-datados, onde depositou o referi- lhe sejam efectuados antes da data da prestação
do cheque, tendo-lhe sido adiantado 80 por cento dos serviços e entregar o imposto nos termos e
do seu valor ainda em Dezembro de 2004, confor- condições previstas no art. 40.º do CIVA.
me consta da informação do seu extracto bancá- Por sua vez, quando da conclusão da operação,
rio desse mês. deverá ser emitida uma factura ou documento
Questionado pela origem do movimento a crédito equivalente, também esta com os requisitos exi-
no banco remeteu para o contacto com o gerente gidos por lei, podendo o imposto ser liquidado:
da instituição bancária, que confirmou a situação - sobre a diferença entre o valor da factura final
exposta tendo, inclusive, enviado um fax com es- e o valor do adiantamento; ou
sa explicação. - sobre o valor total da operação na factura final,
Este movimento (adiantamento do cliente),dá ori- sendo que neste caso, as duas partes interve-
gem a liquidação de IVA (art.os 7.º,8.º e n.º 1 do art. nientes (fornecedor e cliente) deverão proceder
35.º), por parte do referido sujeito passivo? à regularização do imposto liquidado no adian-
tamento.
“A” e “B” celebraram um contrato de empreitada Nas situações que envolvem o recebimento de
em Dezembro de 2004, tendo o primeiro recebi- cheques pré-datados, como é o caso em apreço,
do do segundo por conta do contrato celebrado entendemos, ainda que o sacador por força de
e respeitante a trabalhos a realizar no decurso de contrato de depósito bancário com a instituição
Janeiro de 2005, um cheque pré-datado com da- de que é cliente, venha a ver em data anterior ao
ta de desconto de Fevereiro do mesmo ano. desconto do cheque, reembolsada pelo banco,
Ainda no decurso de Dezembro de 2004, “A” proce- total ou parcialmente a quantia titulada, não se
deu ao depósito bancário do cheque referido, ten- pode falar de adiantamentos para efeitos do dis-
do-lhe o banco depositário adiantado uma quantia posto no art. 8.º, n.º 1 alínea c) do CIVA.
correspondente a 80 por cento do valor do cheque. Com efeito, a cobrança efectiva do cheque pré-
Sobre a questão se o cheque aceite por “A” e par- -datado acordado como meio de pagamento do
cialmente reembolsado pela instituição bancária, serviço prestado, ocorre na data estipulada do
configura ou não para efeitos de IVA um adian- desconto do mesmo, sendo marginal à operação
tamento, exigível em Dezembro de 2005, de eventuais acordos bancários estipulados entre o
acordo com a alínea b) do n.º 1 do art. 28.º do prestador e a sua instituição de crédito, nomea-
CIVA, os sujeitos passivos estão obrigados à damente os que se consubstanciam no reembol-
emissão de uma factura ou documento equiva- so antecipado do cheque pré-datado.
lente, por cada transmissão de bens ou prestação Face ao exposto, não deve pois o montante cor-
de serviços, bem como pelos pagamentos que respondente ao meio de pagamento recebido por
lhe sejam efectuados antes da realização dos “A” no caso em apreço ser objecto de liquidação
mesmos, nomeadamente os pagamentos efectua- de IVA em Dezembro de 2004, nem relevado na
dos a título de sinal, adiantamento ou provisão. correspondente declaração periódica de IVA, sen-
Por outro lado, a alínea c) do n.º 1 do art. 8.º do do antes considerado como a contraprestação a re-
CIVA, determina que se a transmissão de bens ou ceber de “B” pela realização dos trabalhos efec-
prestação de serviços der lugar ao pagamento, tuados no decurso de Janeiro de 2005. ★
ainda que parcial, anteriormente à emissão da
factura ou documento equivalente o imposto é (Resposta redigida em Março de 2006)
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A centralização da contabilidade
Uma empresa de construção civil tem sede em pois de acordo com o n.º 1 do artigo 4.º do Có-
Portugal. Os capitais são alemães e desenvolve digo do IRC, «relativamente às pessoas colecti-
obras em França e na Alemanha. vas e outras entidades com sede ou direcção
Essas obras são consideradas “estabelecimentos efectiva em território português, o IRC incide
estáveis”,pois pagam os respectivos impostos nos sobre a totalidade dos seus rendimentos, in-
países onde se situam e as suas contabilidades são cluindo os obtidos fora desse território.»
lá efectuadas. Por integração deverá entender-se a repro-
Em Portugal,a sede só tem a pagar IRC sobre os divi- dução de todo o movimento escriturado na
dendos (lucros) das mesmas. Tem a empresa (sede) contabilidade de cada uma das sucursais na
que escriturar as operações dos estabelecimentos to- contabilidade da sede em Portugal.
dos os meses, ou pode fazer um só movimento no fi- Este processo pode ser efectuado de duas formas:
nal do ano de exercício a integrar os resultados dos es- através de fotocópias dos documentos ou através
tabelecimentos? de resumo mensal dos movimentos reproduzin-
do-os nas correspondentes contas, por extracção
Relativamente aos “estabelecimentos está- dos balancetes a enviar pelas sucursais, acom-
veis” na Alemanha e na França, todos os panhados também de fotocópia dos documentos.
movimentos contabilísticos deverão ser in- Refira-se que, embora a Administração Fiscal não
tegrados na contabilidade da empresa-mãe aceite fotocópias, nesta situação devem ser acei-
em Portugal, o que não dispensa o apura- tes, não só devido à particularidade do caso, co-
mento do lucro tributável relativo à activi- mo também devido ao facto dos originais da do-
dade desenvolvida em cada um destes paí- cumentação terem que permanecer em cada uma
ses de acordo com as regras fiscais e conta- das sucursais para serem apresentados à fiscali-
bilísticas de cada uma destas jurisdições. zação do país onde esta se encontra localizada. ★
Posteriormente, esses movimentos serão inte-
grados na contabilidade da sede em Portugal, (Resposta redigida em Janeiro de 2006)

Documentos de transporte
É possível a uma pessoa colectiva utilizar um veí- «Os documentos de transporte são processados
culo de transporte de outra entidade que nada pelos sujeitos passivos referidos na alínea a) do n.º 1
tem a ver com essa empresa para transporte de do artigo 2.º do Código do IVA e pelos detentores
mercadorias? Quem deve emitir os respectivos do- dos bens e antes do início da circulação nos ter-
cumentos de transporte? mos do n.º 2 do artigo 2.º do presente diploma.»
Note-se que o remetente e o transportador
Todos os bens em circulação, em território não têm de ser a mesma pessoa (e muitas
nacional, seja qual for a sua natureza ou es- vezes não o são), sendo que o próprio di-
pécie, que sejam objecto de operações rea- ploma prevê normas aplicáveis num e nou-
lizadas por sujeitos passivos de imposto so- tro caso. Aqui parece-nos ficar ultrapassada
bre o valor acrescentado deverão ser acom- a questão da viatura utilizada no transporte,
panhados de documentos de transporte pro- que não tem necessariamente de ser pro-
cessados nos termos do Decreto-Lei priedade do detentor da mercadoria.
n.º 147/2003, de 11 de Julho, havendo, por Parece-nos que poderá estar aqui inerente
isso, de conferir especial atenção na análise outra questão a resolver e que se refere ao
do diploma e das definições e requisitos facto de a viatura em questão estar, ou não,
contidos no mesmo. devidamente licenciada para o tipo de ope-
Assim, no que se refere à entidade que deve emi- ração que se propõe efectuar. ★
tir os documentos de transporte, temos que, de
acordo com o n.º 1 do art. 6.º daquele diploma: (Resposta redigida em Dezembro de 2005)
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Declaração de rendimentos
Numa situação em que ocorre o falecimento de um tem bens não existe «herança», logo não existe ca-
sujeito passivo num determinado ano, sendo este di- beça de casal, pelo que se considera que os as-
vorciado sem filhos e sem bens, tendo como re- cendentes nunca poderiam ser responsabilizados
sidência a dos seus ascendentes,compete a estes de- pela entrega da declaração.
clarar os rendimentos usufruídos pelo falecido nes- No entanto, se o fizeram e relativamente ao seu
se ano? Essa declaração de rendimentos foi efectua- pagamento, nos termos do artigo 2071.º do Có-
da pelos ascendentes mas em nome do falecido (via digo Civil, a herança só responde pelos encargos
internet).Caso haja IRS a pagar respeitante,serão os respectivos aos bens inventariados (que neste ca-
ascendentes obrigados a efectuar o pagamento, sa- so não existem). Igualmente o n.º 2 do mesmo
bendo que o falecido não detinha qualquer tipo de artigo responsabiliza os herdeiros pelos encar-
bens? Se não o fizerem incorrem em multas e pe- gos/dívida que não exceda o valor dos bens her-
nhora de bens/vencimento? dados. Ora se não existem bens herdados não
podem ser responsabilizados por qualquer paga-
Falecendo um sujeito passivo não casado, os rendi- mento.
mentos correspondentes ao período até ao óbito No caso de existência de processo executivo de-
constarão da declaração a apresentar pela pessoa a verão os ascendentes comunicar ao órgão exe-
quem incumbe o encargo de cabeça de casal da he- cutor (chefe do Serviço de Finanças) a morte do
rança, porquanto é uma das atribuições dadas ao executado e declarar que o mesmo não deixou
mesmo pelo artigo 2080.º do Código Civil. quaisquer bens nos termos do artigo 827.º do
No entanto, no presente caso, devemos verificar CPC e n.º 2 do artigo 2071.º do Código Civil, pe-
a noção de sucessão a herança, e o artigo 2024.º lo que deverá o processo executivo ser conside-
do Código Civil diz-nos que sucessão é o cha- rado extinto. As infracções/coimas extinguem-se
mamento de uma ou mais pessoas à titularidade pela morte do infractor, nos termos do artigo 62.º
das relações jurídicas patrimoniais de uma pes- do RGIT. ★
soa falecida e a consequente devolução dos bens
que a esta pertenciam, uma vez que se não exis- (Resposta redigida em Março de 2006)

Benefício fiscal previsto no artigo 17.º


do Estatuto Fiscal Cooperativo
Existem dúvidas para os trabalhadores em coope- celebrados com vista à aquisição, construção, re-
rativas de habitação quanto à actualidade do be- cuperação ou beneficiação de imóveis para ha-
nefício fiscal previsto no art. 17.º do Estatuto Fis- bitação própria e permanente, sem que seja efec-
cal Cooperativo (Lei n.º 85/98), já que o OE de tuada explicitamente qualquer exigência relativa
2005 (Lei 55-B/2004) revoga o(s) artigo(s) que à permanência das entregas.
prevêem o limite estabelecido para as contas pou- A remissão feita no n.º 1 do referido art. 17.º do EFC
pança-habitação e que rege também as entregas para o Decreto-Lei n.º 382/89, de 6 de Novembro,
dos cooperadores. A confusão é tal que diversas (após revogação deste Decreto-Lei n.º 27/2001, de 3
repartições contactadas dão respostas antagónicas. de Fevereiro) refere-se ao limite da dedução.
É nosso entendimento que se o legislador pre-
O n.º 1 do art. 17.º do Estatuto Fiscal Cooperati- tendesse a revogação da referida norma o teria
vo (EFC), aprovado pela Lei n.º 85/98, de 16 de feito. Assim, afigura-se-nos que as importâncias
Dezembro, permite a dedução à colecta do IRS pagas às cooperativas de habitação e construção
de 25 por cento das importâncias entregues às pelos respectivos membros, em resultado dos
cooperativas de habitação e construção pelos contratos entre eles celebrados com vista à aqui-
respectivos membros, em resultado de contratos sição, construção, recuperação ou beneficiação
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de imóveis para habitação própria e permanente declaração Modelo 3 de rendimentos de 2005 e


são, desde que devidamente comprovadas, de- anteriores onde se pode verificar a inscrição de
dutíveis à colecta do IRS com o limite estabeleci- «não dedutível em 2005» para os benefícios revo-
do art. 18.º do EBF antes da sua revogação, ou gados pelo OE de 2005, excepto incentivos pre-
seja, 25 por cento do valor aplicado com o limi- vistos pelo Estatuto Cooperativo. ★
te de 564,28 euros.
Reforçando o nosso entendimento, chama-se a (Resposta redigida em Março de 2006)
atenção para as instruções oficiais do anexo H da

Valorimetria do imobilizado
Uma empresa com a actividade de prestação de reito à dedução, ou porque o sujeito passivo que
serviços de saúde adquiriu um equipamento de o adquiriu é isento sem direito à dedução, o IVA
trabalho (que se enquadra no n.º 1590 - Aparelho não é dissociado do custo de aquisição. Tal co-
médico-cirúrgico de rápida evolução técnica do mo as demais taxas e encargos, o IVA faz parte
Decreto-Regulamentar n.º 2/90, de 12 Janeiro - dos gastos suportados directa ou indirectamente
Amortizações), pelo seguinte valor: equipamento para o colocar no seu estado actual na empresa.
50 mil euros + IVA 10 500 euros = 60 500 euros. Até porque é esperado que o bem esteja ao ser-
Estará correcta a seguinte classificação:conta 42 = viço da empresa por vários exercícios, não se jus-
50 000, conta 6312 = 10 500? tifica a individualização do IVA na conta 63 para
Numa empresa de IVA dedutível, este imposto é que o encargo inerente seja custo do exercício da
classificado na conta 2432 e é deduzido na decla- sua aquisição. O entendimento para efeitos fis-
ração do período. Ora, o Estado já recebeu (de cais é concordante com as normas contabilísticas.
uma só vez) o valor do imposto liquidado pelo for- Senão vejamos:
necedor.A empresa em referência já o pagou.Tra- O n.º 4 do art. 2.º do Decreto Regulamentar n.º 2/90,
tando-se de imposto de um bem dedutível admite- de 12 de Janeiro, refere a propósito da valorime-
-se que a empresa seja penalizada e que tenha de tria dos elementos reintegráveis ou amortizáveis,
dividir este custo (IVA) por três anos, procedi- que «no custo de aquisição ou custo de produção
mento diferente de uma empresa do regime geral inclui-se o imposto sobre o valor acrescentado
(que o deduz de imediato)? (IVA) que, nos termos legais, não for dedutível,
designadamente em consequência de exclusão
A questão colocada tem subjacente a definição do direito à dedução, não sendo, porém, esses
do que se considera custo de aquisição de um custos influenciados por eventuais regulari-
bem adquirido com o objectivo de servir de meio zações ou liquidações efectuadas em exercícios
de produção ao exercício da actividade da em- posteriores ao da entrada em funcionamento».
presa, isto é, de um bem do activo imobilizado. Não se pode entender que esta norma apenas é
O ponto 5.4.2. do Plano Oficial de Contabilidade aplicável a situações em que o IVA não é dedutí-
(POC), relativo à valorimetria do imobilizado, re- vel por exclusão do direito à dedução em con-
fere que o custo de aquisição e o custo de pro- formidade com o artigo 21.º do CIVA, porque ao
dução dos elementos do activo imobilizado de- usar-se a palavra «designadamente» pretende-se
vem ser determinados de acordo com as defi- apenas dar exemplos de situações em que o IVA
nições adaptadas para as existências. não é dedutível, não se excluindo outras (por
De acordo com os critérios de valorimetria das exemplo as que resultam da conjugação dos ar-
existências (ponto 5.3.2. do POC) «considera-se co- tigos 19.º e 20.º do CIVA com o artigo 9.º do mes-
mo custo de aquisição de um bem a soma do res- mo Código). E se o legislador apenas quisesse
pectivo preço de compra com os gastos suporta- abranger os bens excluídos do direito à dedução
dos directa ou indirectamente para o colocar no nos termos do artigo 21.º do CIVA, não teria in-
seu estado actual e no local de armazenagem». cluído a expressão «designadamente». ★
Ora, quando se adquire um bem cujo IVA não é
dedutível, ou por se verificar a exclusão do di- (Resposta redigida em Março de 2006)
66 Consultório Técnico

Estatuto dos Benefícios Fiscais


Pela Lei n.º 55/2004,o artigo 56.º do Estatuto dos Be- Estamos convictos que a disposição do n.º 4 do
nefícios Fiscais (EBF) passou a dispor dos números artigo 56.º está em estrita ligação, ou seja, é em
3 e 4. No n.º 4 os rendimentos a que se refere o resultado da norma do n.º 3 do mesmo artigo, ou
n.º 1 podem ser distribuídos por um período máxi- seja o se ter limitado o beneficio em 27 194 eu-
mo de três anos. O que é que o legislador pretende ros.
com a introdução deste novo número? O alcance da norma em termos práticos apenas
nos parece fazer sentido no seguinte cenário:
Da leitura do n.º 4 do artigo 56.º do EBF o que - um autor que num determinado ano produz um
podemos retirar é que estamos perante um caso best-seller, que no ano do lançamento tem ven-
de deferimento de rendimentos, ou seja, que os das muito superiores ao normal, o que levaria a
mesmos podem ser repartidos por um máximo que nesse ano houvesse uma tributação desme-
de três anos. surada.
Não é clara a intenção do legislador, porquanto Neste cenário poderia o autor deferir o rendimen-
em outras normas expressas no CIRS a intenção to por três anos, sendo assim tributado de modo
é sempre de tributar os rendimentos no ano em mais real e normal, isto partindo do princípio de
que são auferidos. Um exemplo claro disso é a que não produziria nesse espaço de tempo mais
situação do artigo 62.º (rendimentos litigiosos), nenhum best-seller. Até ao momento a Adminis-
que obriga a englobamento no ano do recebi- tração Fiscal não se pronunciou sobre esta maté-
mento os rendimentos em litígio, os quais po- ria. Consideramos que o devia ter feito de modo a
derão ter sido produzidos em diversos anos, ou evitar leituras diversas da mesma norma. ★
seja, é uma situação a contrario da disposição
agora prevista no artigo 56.º do EBF. (Resposta redigida em Março de 2006)

Distribuição de lucros e taxa


a aplicar para retenção na fonte
Se uma pessoa colectiva sedeada em território na- rendimentos ser englobados, pelo seu valor ilí-
cional decidir atribuir lucros ou dividendos aos quido, para efeitos de tributação.
seus sócios ou accionistas, também residentes em A partir de 1 de Janeiro de 2006, com a entrada
território nacional,qual a taxa em sede de IRS que em vigor da nova redacção dada à alínea c) do
aquela pessoa colectiva deve aplicar? Deve fazê-lo n.º 3 do artigo 71.º do CIRS, pelo Decreto-Lei
a 20 por cento conforme o descrito na alínea c) do n.º 192/2005, de 7 de Novembro, a distribuição
n.º 3 do artigo 71.º do CIRS ou deve fazê-lo a 15 de lucros passa a estar sujeita a retenção na fon-
por cento,conforme o preceituado na alínea a) do te de IRS à taxa de 20 por cento, prevista no ar-
n.º 1 do artigo 101.º do mesmo código? tigo 71.º, n.º 3, alínea c), do Código do IRS.
Esta retenção de IRS tem natureza liberatória, po-
A distribuição de lucros, a efectuar até 31 de De- dendo, no entanto, os titulares destes rendimen-
zembro de 2005 por pessoas colectivas residentes tos optar pelo respectivo englobamento para
a pessoas singulares também residentes em terri- efeitos de tributação, nos termos previstos no
tório português, está sujeita a retenção na fonte de n.º 6, alínea c), do artigo 71.º, do CIRS, com a re-
IRS por aplicação da taxa de 15 por cento prevista dacção dada pelo Decreto-Lei n.º 192/2005, de 7
no artigo 101.º, n.º 1, alínea a), do Código do IRS. de Novembro. ★
Esta retenção na fonte de IRS tem a natureza de
pagamento por conta, devendo os respectivos (Resposta redigida em Março de 2006)

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