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Desenho de Operação Logística Internacional de Curto e Médio Prazos
Desenho de Operação Logística Internacional de Curto e Médio Prazos
Data: 10/07/2008
Fábio Abrahão e Juliana Eiras
INTRODUÇÃO
Diante deste cenário de baixa eficiência dos modais de transporte, é necessário que as
empresas busquem as melhores opções de escoamento de exportações e de importações e
avaliem necessidades de investimentos em infraestrutura logística ao longo do tempo. É
primordial que a logística estruturada esteja orientada a minimizar os impactos do chamado
Custo Brasil, a fim de manter as empresas nacionais competitivas em relação aos seus
concorrentes internacionais.
Isto é válido não somente para as empresas que se responsabilizam pelo transporte de suas
mercadorias no sistema CIF –(Cost, Insurance and Freigth), mas também para aquelas que
optam pela modalidade FOB –(Free on Board). A eficiência ou ineficiência da movimentação e
o custo logístico e fiscal resultantes irão se refletir no custo final de seus produtos e, portanto,
em sua competitividade, em ambos os casos.
Já as ações de outros atores do mercado, por sua vez, têm de ser mapeadas devido ao
impacto que podem gerar na capacidade de movimentação dos corredores, seja no sentido de
ampliá-la (provedores de serviços logísticos, por exemplo), seja no sentido da utilização da
mesma pelos usuários. Uma trading de soja, por exemplo, não compete por infraestrutura
logística apenas com outras empresas que movimentam soja. Os veículos graneleiros, a
capacidade da hidrovia, da ferrovia, de armazenagem, de movimentação no porto e de
atracação nos berços é compartilhada entre a soja e outros granéis agrícolas. Sendo assim, é
fundamental analisar as tendências de outros produtos que competem pelos mesmos ativos
logísticos – os concorrentes logísticos –, a fim de antecipar gargalos.
Dois grandes conceitos devem ser considerados neste processo: o Custo Cadeia e a Análise
de Viabilidade Operacional. O primeiro se refere aos custos logísticos e fiscais incorridos desde
a saída do produto da empresa até sua chegada ao cliente final internacional, no caso da
exportação, e desde a saída do produto do fornecedor estrangeiro até o site da empresa de
destino, no caso da importação. A análise da viabilidade operacional, por sua vez, avalia a
eficiência dos ativos, a conjuntura ambiental, social e política dos sistemas analisados e
permite o estudo e mapeamento de áreas de greenfield para a construção de novos portos e
terminais.
O Custo Cadeia compreende a somatória dos custos de transporte, portuários e fiscais e o frete marítimo
incorridos em uma movimentação internacional desde a origem da carga.
- Custos fiscais: são mapeados os impostos que podem interferir na escolha de um corredor de
movimentação, como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e o
AFRMM (Adicional ao Frete da Marinha Mercante), além de benefícios fiscais localizados.
O frete marítimo internacional é o item de custo de maior valor na operação terrestre e marítima de
exportação ou importação. Considerando uma operação média de diversos tipos de navio, carga e
produto, o frete marítimo internacional é responsável por 52% do custo total, como mostra a Figura 5.
Figura 5: Custo de operação terrestre e marítima internacional
Dentre os custos com frete marítimo e despesas portuárias, em uma visão mais detalhada, os gastos com
as diárias do navio no período em que este está em alto-mar são os mais relevantes (como se vê na
Figura 6). Em seguida, encontra-se o custo com as diárias do navio no próprio porto, altamente
influenciado pela produtividade de carregamento. Uma prancha de carregamento mais produtiva impõe
menos tempo do navio atracado para carregamento, reduzindo os gastos com diária e combustível no
porto. Os custos mantêm, portanto, uma relação de interdependência.
A hidrovia Tietê-Paraná, por exemplo, aumentou o volume movimentado em 27% de 2006 para
2007. A utilização da hidrovia, entretanto, ainda é baixa e permite a movimentação de maiores
volumes. Segundo o Departamento Hidroviário de São Paulo, a via estará ambientalmente
habilitada a movimentar etanol em alguns meses, configurando-se como mais uma opção de
escoamento do combustível.
É importante perceber que, neste momento, devem ser considerados não apenas o aumento de volume e
possíveis investimentos para aumento de capacidade de escoamento da própria empresa, mas também
do mercado como um todo. A competição por espaço nos modais se dará por todos os competidores
logísticos daquele corredor, e a influência nesta capacidade pode ser alterada por diversos players. Desta
forma, é mapeada a projeção de volumes e investimentos em capacidade de cada corredor logístico
utilizado, objetivando-se formar um gráfico de capacidade versus utilização ao longo do tempo (conforme
exemplificado na Figura 7). A ferrovia da MRS, por exemplo, no trecho da Cremalheira (SP), deverá ter
sua capacidade ampliada devido à alocação do volume de minério transportado em uma correia
transportadora de longa distância, o que liberará capacidade na ferrovia.
- Acesso terrestre: Avaliação da condição do acesso rodoviário e vias internas dos portos e
condição da via férrea e sua conectividade com as plantas da empresa. O acesso ferroviário é
avaliado segundo os aspectos de condições dos trechos, ocupação da linha, necessidade de
investimentos em material rodante e em terminais de transbordo e licença ambiental dos
terminais.
Além destes aspectos, são levantadas possíveis opções de greenfield para a construção de
novos portos. Para tal, são consideradas a disponibilidade de terras amplas e planas, a
facilidade de acesso, a estabilidade geomorfológica e sedimentológica (que dirá se é
necessária ou não a realização de dragagens, e em que frequência) e a possibilidade de
crescimento sustentável.
Os cenários eleitos como mais interessantes são avaliados financeiramente, esclarecendo quais
investimentos em infraestrutura logística devem ser realizados e quando devem ter sua construção
iniciada.
Figura 9: Modelo de desenho de operação logística internacional
CONCLUSÃO
A metodologia sugerida tem como foco garantir a viabilidade e competitividade das operações
da empresa ao longo do tempo, e traz ainda a visualização de oportunidades. O mapeamento
de gargalos do sistema logístico utilizado ressalta oportunidades para a prestação de serviços
logísticos. O gargalo percebido pela empresa pode afetar a operação de outras organizações, e
desta forma investimentos para o aumento de capacidade daquele ponto podem originar a
criação de outros modelos de negócio. Esta visão reforça ainda mais a importância do desenho
das operações logísticas futuras.
BIBLIOGRAFIA