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MODELAGEM E SIMULAÇÃO DA TRANSESTERIFICAÇÃO

DO BIODIESEL POR ROTA SUPERCRÍTICA ETANÓLICA

POTRICH E¹, CHAMAS BES², CRUZ AJG1,2 e GIORDANO RC1,2


1
Universidade Federal de São Carlos, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química,
PPGEQ/UFSCar
2
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Química, DEQ/UFSCar
E-mail para contato: erich.potrich@gmail.com

RESUMO – Em 2016, o Brasil produziu 3,8 milhões de m³ de biodiesel, sendo que


76,4% dessa produção utilizou o óleo de soja como matéria-prima. Apesar de o
biodiesel ser considerado um biocombustível, a principal rota de produção dele se
utiliza do metanol como reagente, um combustível não renovável que advém do gás
natural. Além disso, o uso de catalisador e sua posterior neutralização e tratamento
também pode contribuir de alguma forma na poluição ambiental. O objetivo deste
trabalho é o estudo, por meio da modelagem e simulação, da produção de biodiesel
pela transesterificação supercrítica etanólica sem a presença de catalisador. Para a
modelagem e simulação utilizou-se do software EMSO (Environment for Modeling,
Simulation and Optimization) já bem trabalhado pela equipe de pesquisa. A planta
simulada tem as etapas de reação de transesterificação, recuperação do etanol e
separação do glicerol e do biodiesel. Os resultados obtidos ficaram próximos dos dados
da literatura, mostrando ser uma opção ambientalmente viável para a substituição da
rota tradicional. Trabalhos futuros poderão fazer uma análise tecno-econômica para
verificar se é viável economicamente.

1. INTRODUÇÃO
O Brasil é o segundo maior produtor tanto de etanol como de biodiesel do mundo. Em
2016 o Brasil produziu 3,8 milhões de m³ de biodiesel, já de etanol foram 28,1 milhões de m³
(MME, 2018).

O processo de transesterificação para a produção de biodiesel pode envolver tanto


metanol como etanol. O metanol é mais usado devido ao menor custo em relação ao etanol,
além de menor possibilidade de reações paralelas como a saponificação (geração de sabões).
A principal forma de obtenção do metanol é a partir do metano obtido do gás natural,
enquanto o etanol é uma fonte renovável que é a cana-de-açúcar. Contudo, é necessária a
importação de etanol para atender a demanda interna, enquanto o etanol é exportado devido a
alta produção. Além de que a rota metílica produz 33% mais gases de efeito estufa em
comparação a rota etílica (SOUZA, 2010).

Outra maneira de tornar a produção de biodiesel mais ambientalmente correta e


diminuir a possibilidade de saponificação pela reação com etanol é a transesterificação em
meio supercrítico sem catalisador. Essa reação é conduzida em níveis de pressão e
temperatura além da pressão crítica e da temperatura crítica do agente de alcoólise (metanol
ou etanol). As vantagens deste processo são a obtenção de elevados rendimentos, tempo
reduzido de reação e maior simplicidade na purificação (Farobie e Matsumura, 2015).

A simulação é uma maneira rápida, eficiente e barata para avaliar novos processos
industriais. Para a simulação e modelagem do processo de transesterificação supercrítica foi
utilizado o software EMSO (Environment for Modeling, Simulation and Optimization). O
EMSO possui estrutura baseada em equações, seus modelos matemáticos são acessíveis ao
usuário, permitindo que o mesmo escreva as equações da forma desejada e que possa realizar
modificações quando houver a necessidade (Soares e Secchi, 2003).

2. MATERIAIS E MÉTODOS
A reação de transesterificação simulada considera a reação entre o óleo de soja com
etanol anidro gerando biodiesel. Não foi considerado a presença de água na simulação. O óleo
de soja considerado nesse trabalho tem composição molar de 12,2% de tripalmitina
(C51H98O6), 4,00% de tristearina (C 57H10106), 24,86% de trioleína (C57H104O6) e 58,94% de
trilinoleína (C57H98O6). O biodiesel gerado tem composição molar de 12.2% de palmitato de
etila (C18H36O2), 4.0% de estearato de etila (C20H40O2), 24.86% de oleato de etila (C20H38O2)
e 58.94% de linoleato de etila (C20H36O2).

Dados termodinâmicas eram necessários para simulação, sendo utilizados diferentes


métodos de contribuição de grupos para estimar esses dados. O ponto de fusão, ponto de
ebulição, propriedades críticas, entalpia e Gibbs de formação, além da capacidade calorífica
do gás ideal foram estimadas pelo método de Contantinou e Gani. O cálculo da capacidade
calorífica foi feito a partir do método de Bondi e a pressão de vapor a partir de Riedel. Foi
utilizado o modelo termodinâmico UNIFAC para os desvios da idealidade da fase líquida.

Segundo Farobie e Matsumura (2015) há uma conversão de 100% para o óleo de canola
nas condições de operação de 400 oC, 20 MPa, 10 minutos de reação e relação molar
óleo/etanol de 1/40. Essas foram as condições adotadas na simulação, além de que o óleo de
canola tem sua composição baseada nos mesmos elementos do óleo de soja. Como uma planta
de produção média de óleo de soja refinado tem uma produção em torno de 25t/h de óleo, essa
foi considerada como a vazão de entrada no processo. Na Figura 1 há um esquema do
processo simulado. Primeiramente houve a mistura do etanol com óleo de soja refinado,
depois foi bombeado para aumentar a pressão de 1 atm até 20 MPa, e finalmente um
aquecedor para chegar na temperatura de reação de 400 oC. Após o reator há um tanque flash
adiabático que faz a pressão do sistema decair até a pressão atmosférica, com isso todo o
etanol vai para a corrente vapor, que depois é condensado e retorna ao processo. A corrente
líquida que sai do flash é resfriada e depois ocorre a separação do glicerol do biodiesel por
decantação.
Figura 1 – Fluxograma do processo de transesterificação supercrítica simulada no EMSO.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Tabela 1 encontra-se os principais dados de processo obtidos:

Tabela 1 – Valores das correntes e dos equipamentos na simulação

Calor ou potência
Equipamento Vazão (t/h)
requerida (kW)

Óleo de soja - 25

Etanol – 3,9597
Misturador
Etanol reciclo -
48,8361

Bomba 77,7958 661,552

Aquecedor 77,7958 24.780,1


Vapor - 48,8361
Flash
Líquido – 28,9597

Condensador 48,8361 -19.016,0

Resfriador 28,9597 -5.442,64

Biodiesel – 26,0853
Decantador
Glicerol – 2,8744

4. CONCLUSÕES
Como não há processos industriais com produção supercrítica do biodiesel, a simulação
estimou calores e potencias necessárias para a operação de seus principais equipamentos. A
próxima etapa série a análise econômica para verificar sua viabilidade.

5. REFERÊNCIAS
FAROBIE O, MATSUMURA Y, A comparative study of biodiesel production using
methanol, ethanol, and tert-butyl methyl ether (MTBE) under supercritical conditions.
Bioresour. Technol., v. 191, p. 306-311, 2015.
MME – Ministério de Minas e Energia. Boletim mensal dos combustíveis renováveis.
Disponível em: <http://www.mme.gov.br/web/guest/secretarias/petroleo-gas-natural-e-
combustiveis-renovaveis/publicacoes/boletim-mensal-de-biocombustiveis/2017>. Acesso em:
março, 2018.
SOARES RP, SECCHI AR, EMSO: A new environment for modelling, simulation and
optimization. Comput. Aided Chem. Eng., v. 14, p. 947-952, 2003.
SOUZA SP, Produção Integrada de Biocombustíveis: Uma Proposta para Reduzir o Uso de
Combustível Fóssil no Ciclo de Vida do Etanol de Cana-De-Açúcar. Dissertação do curso de
Ciências da Engenharia Ambiental da USP, 2010.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

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