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ARTIGO - As Publicações Do Instituto Nacional Do Livro e Sua Trajetória PDF
ARTIGO - As Publicações Do Instituto Nacional Do Livro e Sua Trajetória PDF
editorial
Brazil in edition: the publications of the Instituto Nacional do Livro and its editorial
trajectory
Resumo:
O presente trabalho procura discutir a trajetória editorial do Instituto Nacional do Livro (INL),
destacando de que maneira se estruturou no Brasil do século XX uma instituição responsável
por regulamentar e por fomentar a edição de livros, além de cuidar da leitura e da criação das
bibliotecas públicas brasileiras. Por este motivo, dedico-me a estudar as funções culturais e
sociais das publicações do Instituto do Livro, salientando de que forma as mesmas
procuravam desempenhar com afinco algumas de suas funções, a saber: a de “Editar toda a
sorte de obras raras ou preciosas para a cultura nacional” e “promover medidas para aumentar,
melhorar e baratear a edição de livros”, dois dos principais lemas que movimentaram a
referida Instituição. Neste escopo destacam-se a circulação de obras, a quase produção de uma
Enciclopédia Nacional e as diversas políticas editoriais de coleção, coedição, entre outras.
Abstract:
The present paper seeks to discuss the editorial trajectory of the Instituto Nacional do Livro
(INL), highlighting how a 20th century institution was established in Brazil, responsible for
regulating and promoting book publishing, as well as reading and creating public libraries in
Brazil. For this reason, I dedicate myself to studying the cultural and social functions of the
publications of the Instituto do Livro, emphasizing how they tried to carry out some of their
functions, namely: "Edit all sorts of rare works or precious for the national culture "and"
promote measures to increase, improve and make cheaper the edition of books ", two of the
main slogans that moved the Institution. In this scope we highlight the circulation of works,
the almost production of a Enciclopédia Brasileira and the various editorial policies of
collection, co-publication, among others.
1
Doutoranda em História Social pelo PPGH-UFF com pesquisa acerca do Instituto Nacional do Livro sob
orientação da profª Giselle Martins Venancio. Bolsista de doutorado pela Capes. E-mail:
historia.mari@gmail.com.
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A trajetória do Instituto Nacional do Livro não pode ser omitida quando se trata do
histórico do mercado editorial brasileiro. Criado sob os auspícios do Estado Novo que
pretendia atender aos princípios do Plano Nacional de Educação (PNE) que contemplava a
educação extraescolar, considerada como elo vital na corrente de formação educacional e
cultural que se pretendia para os brasileiros. Assim sendo, o Instituto do Livro teve por
incumbências as seguintes atividades: a) organizar e publicar a Enciclopédia Brasileira e o
Dicionário de Língua Nacional, revendo-lhes as sucessivas edições; b) editar toda sorte de
obras raras ou preciosas, que sejam de grande interesse para a cultura nacional; c) promover
as medidas necessárias para aumentar, melhorar e baratear a edição de livros no país bem
como para facilitar a importação de livros estrangeiros; d) incentivar a organização e auxiliar
a manutenção de bibliotecas públicas em todo o território nacional (SILVA, 1992, p.44 e
Decreto Lei nº 93 de 21 de dezembro de 1937).
Destacam estudos do período republicano que a preocupação com a “existência” de
leitores foi uma constante na paisagem intelectual da “República das Letras” no Brasil do
início do século XX. Para tanto, já desde meados do século XIX, havia certo fortalecimento
das condições sociais e técnicas que propiciariam a formação de um público leitor e o
comércio livresco, mesmo que ainda incipiente. Segundo Eliana Dutra, “estas condições
traduziram-se no estabelecimento de políticas voltadas à escolarização, na abertura de
bibliotecas e na instalação – particularmente no Rio de Janeiro – de livrarias e tipografias”
(DUTRA, 2005, p.21).
Tal processo se intensificou a partir das décadas 30 e 40 do século XX, especialmente
a partir da implementação de políticas públicas pelo Estado que passou a intervir em diversas
dimensões da vida social. Houve investimento e iniciativas políticas de conotação autoritária,
modernização da máquina do Estado, formação de uma burocracia estatal, legislação
trabalhista, valorização da cultura nacional, industrialização, extensão da educação pública,
entre outros (FERREIRA, 2003, p. 303)2. Após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, o
cenário internacional e brasileiro foi alterado profundamente. Tempo de prosperidade
econômica, sobretudo, pelo mundo ocidental que passou a difundir um modo de vida
propiciado pela produção em massa de bens manufaturados de uso doméstico e pessoal. Neste
momento no Brasil consolidava-se a sociedade de massa, expandindo os meios de
2FERREIRA, Jorge. Crise da República: 1954, 1955 e 1961. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de
Almeida Neves (orgs.). O Brasil republicano: o tempo da experiência democrática (1945-1964). Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003a, p. 301-342. v. 3.
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comunicação, modificando a paisagem urbana e consagrando o governo Kubistcheck
enquanto os anos dourados3. A época das publicações do Instituto Nacional do Livro, cuja
periodicidade de publicação fora esparsa e a maioria de suas edições acontecera ao longo dos
anos 1950-60, o momento histórico nacional preconizava por maior investimento educacional,
industrial, além das propostas de cunho nacionalista, medida que desempenhou como
ideologia uma função importante nestas décadas, na medida em que serviu como agente
mobilizador político4.
Neste ponto, é preciso salientar alguns aspectos importantes. O primeiro deles é que o
Instituto Nacional do Livro, na condição de instituição responsável pela função editorial
estatal, concentrava o lançamento de diversas obras consideradas raras, além de tantas outras
de valor gramático e linguístico. Desde 1937, ano de sua fundação, o INL dedicava-se a
produção editorial e galvanizava as questões livrescas do país.
O segundo deles é o caráter pedagógico assumido pelo Instituto Nacional do Livro que
desde a sua instalação se assentou na prerrogativa de promover medidas para melhorar e
baratear a edição de livros no país, distribuir as suas publicações às bibliotecas filiadas e
vender a preços parcialmente compensatórios as suas produções. Ao afirmar este caráter
educativo do Instituto é possível pô-lo em discussão e até mesmo apontar as diversas
historicidades que tracejam a sua trajetória institucional.
Considerando como fundamental de que maneira estruturou o Instituto Nacional do
Livro conforme já enunciado no início desta narrativa, sabe-se que o INL foi organizado em,
pelo menos, três seções, sendo uma delas a de Publicações. O Instituto do Livro teve em seus
primórdios a adoção de medidas que procuravam, não só, reeditar obras de completas e raras,
mas promover medidas de aumento, barateamento e melhoria da edição de livros no país, bem
como facilitar o intercâmbio de livros estrangeiros (MEC, 1987, p.6).
Pode-se considerar que o programa de publicações do Instituto Nacional do Livro foi,
ao longo tempo, bastante variado. Tendo como meta zelar pela melhoria, pelo fomento e pelo
barateamento do livro, além de cuidar das questões relativas à facilidade de importação de
obras necessárias ao desenvolvimento técnico dos profissionais brasileiros, o Instituto do
Livro esbarrou com a problemática da indústria livreira e do reduzido parque gráfico do país.
Segundo Suely Braga, já em 1939 Sérgio Buarque de Holanda pretendia criar uma
coleção chamada Coleção Biblioteca Popular Brasileira, que ele batizava por Biblioteca
3
Para maiores detalhes ver: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Sociedade/Anos1950. Acesso em 30
maio 2018.
4
Para maiores detalhes ver: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Economia/ISEB. Acesso em 30 maio
2018.
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Brasileira. Com isso, Buarque de Holanda pretendia estabelecer uma iniciativa editorial que
levasse a população obras de qualidade literária a preços exíguos, mas primando pela
qualidade das edições. Para Américo Facó (1944) o critério para a inserção de uma obra na
coleção era a sua raridade, fosse pelo elevado custo, fosse pela escassa compensação
financeira para as editoras que não se interessavam por suas reedições. Em suas palavras
“considerou-se algumas obras clássicas sobre o Brasil, sua história, sua geografia, sua vida
social no passado, que se tinham tornado sumamente raras nas livrarias e bibliotecas” (FACÓ
Apud BRAGA, 1992, p.58).
Outro ponto que mereceu destaque nas publicações do Instituto Nacional do Livro
foram obras que abordaram aspectos relacionados às questões da língua portuguesa, de sua
linguística e outras de ordem lexicográfica. De acordo com Eliana Dutra, a busca pelo sentido
de nacionalidade fora almejada no Brasil desde a Primeira República. Tal percepção fora
buscada pelos intelectuais do período e esteve presente nas páginas do Almanaque Garnier e
demonstra de que maneira a língua e a literatura foram acrescidas da salvaguarda da tradição
que nutria as raízes da solidariedade cultural e social, capazes de solidificar uma comunidade
nacional (DUTRA, 2005, p.118). Tal como postula Gérard Noiriel (1995), a Nação estaria
alicerçada no tripé tradição, língua e sensibilidade demonstrando de que maneira o que há de
comum, natural, original, entre os membros de uma comunidade. Discutindo estes pontos
entre os anos 1950-60, observa-se a retomada dos aspectos político-linguísticos pelo Instituto
Nacional do Livro por meio do viés consolidador de um órgão que pautava a organização da
produção de dicionários, que buscava as origens filológicas da língua portuguesa, todas estas
questões voltadas para atender a primeira função da instituição que fora a de: a) organizar e
publicar a Enciclopédia Brasileira e o Dicionário de Língua Nacional, revendo-lhes as
sucessivas edições. A respeito da Enciclopédia e do Dicionário é sabido que jamais foram
publicados. Em grande medida a justificativa para não publicação reside no fato de que a
necessidade de se publicar uma obra deste gênero foi premente nos anos em que havia a
carência de definição dos contornos nacionais. Com isso, desenhou-se um arquétipo
tipicamente brasileiro que sobreviveu às práticas editoriais do Instituto do Livro até meados
dos anos 1950 quando os projetos editoriais do órgão e da própria Enciclopédia foram
redefinidos (TAVARES, 2016, p.107).
À luz das edições encampadas pelo Instituto Nacional do Livro não se pode deixar de
perscrutar outras publicações congêneres de seu tempo histórico. Uma delas foi a coleção
História Geral da Civilização Brasileira (HGCB) que nas palavras de André Furtado (2014) se
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inseriu por completo no processo de reconfiguração e institucionalização das Ciências Sociais
no Brasil, em curso com mais expressão a partir da segunda metade do século XX (2014,
p.69). Segundo Furtado, a HGCB se insere como uma contrapartida acadêmica oriunda das
universidades criadas na década de 1930 que buscavam transmitir à intelectualidade nacional
a especialização dos saberes na escrita da História. Diferentemente das edições do Instituto
Nacional do Livro, o caráter da HGCB primava pela especialização, pois envolveu uma gama
de pesquisadores escolhidos pelo coordenador da edição e também professor universitário,
Sérgio Buarque de Holanda. Quanto a este último e já citado neste capítulo, vê-se aqui dois
momentos distintos de sua trajetória intelectual. Quando da sua atuação no INL e no setor de
publicação, conheceu-se uma versão de “Sérgio Buarque” mais afeita ao gênero ensaístico, de
caráter generalista nas análises sobre o Brasil. Além disso, o “Sérgio Buarque” do INL esteve
muito atento às questões relativas à promoção da leitura de qualidade e baixo custo à
população brasileira. Distintamente de sua posição na Universidade de São Paulo (USP) e
como organizador da HGCB, momento de cristalização de sua posição acadêmica.
Por fim, na tarefa de construção e afirmação de uma autonomia linguística e literária, e
no intuito de conquistar leitores, o Instituto Nacional do Livro acresceu-se de uma dimensão
de salvaguarda da tradição, nutrindo as raízes de uma solidariedade social e cultural, capazes
de agregar uma comunidade nacional, desta vez, pautada num novo desenvolvimento
(DUTRA, 2005).
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