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Pré-Vestibular Social
Geografia
8ª edição
revisada e ampliada
Módulo 2
2015
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Governador
Luiz Fernando de Souza Pezão
Fundação Cecierj
Presidente
Carlos Eduardo Bielschowsky
Vice-Presidente Científica
Mônica Damouche
Pré-Vestibular Social
Diretora
Celina M. S. Costa
Coordenadoras de Geografia
Ronaldo P. de Carvalho Junior
Sonia V. G. da Gama
Capítulo 1
A dinâmica mundial da população
7
Capítulo 2
A população brasileira
19
Capítulo 3
Regiões brasileiras
33
Capítulo 4
Tipos climáticos do Brasil
49
Capítulo 5
Biomas e domínios do relevo do Brasil
61
Capítulo 6
As questões ambientais
75
Capítulo 7
Fundamentos de cartografia
91
Capítulo 8
Estado do Rio de Janeiro
99
Capítulo 9 155
Exercícios de fixação
Referências
bibliográficas 128
Apresentação
Caro Aluno,
Este conjunto de apostilas foi elaborado de acordo com as necessidades e a lógica do projeto do Pré-
Vestibular Social. Os conteúdos aqui apresentados foram desenvolvidos para embasar as aulas semanais
presenciais que ocorrem nos polos. O material impresso por si só não causará o efeito desejado,
portanto é imprescindível que você compareça regularmente às aulas e sessões de orientação acadêmica
para obter o melhor resultado possível. Procure, também, a ajuda do atendimento 0800 colocado à sua
disposição. A leitura antecipada dos capítulos permitirá que você participe mais ativamente das aulas
expondo suas dúvidas o que aumentará as chances de entendimento dos conteúdos. Lembre-se que o
aprendizado só acontece como via de mão dupla.
Aproveite este material da maneira adequada e terá mais chances de alcançar seus objetivos.
Bons estudos!
:: Objetivo ::
• Caracterizar aspectos socioeconômicos da população mundial.
8 :: Geografia :: Módulo 2
População mundial na tabela 1.1, a China é o país mais populoso, ou seja, possui a maior população
absoluta (1.339 milhões). Mas quando consideramos a distribuição deste número
Com o acelerado crescimento da população mundial, sobretudo nos países de habitantes pelo território chinês, o valor da densidade demográfica não é tão alto
subdesenvolvidos, no ano de 2013, a população mundial atingiu cerca de 7,1 (140,48 hab/km ), porque a China tem uma grande superfície (mais de 9 milhões
2
bilhões de habitantes. Nesta perspectiva, ela poderá alcançar, no ano de 2050, de km ). Por outro lado, o Japão é o país mais povoado (343,49 hab/km ), pois,
2 2
em torno de 10 bilhões de habitantes em todo o planeta. apesar de ter um número menor de habitantes que a China (128 milhões), a sua
Os países que terão a maior contribuição no crescimento da população área territorial é bem pequena para tantas pessoas (pouco mais de 372 mil).
mundial, neste século XXI, devem ser Índia, Paquistão, Nigéria, República
Democrática do Congo, Bangladesh, Uganda, Etiópia e China. Contudo, este Tabela 1.1: População absoluta, densidade demográfica e área de alguns países.
crescimento populacional não é igual em todas as regiões do mundo. Vários População em Densidade
País 2013 (hab./km²) Área (km²)
países da África subsaariana (localizados ao sul do deserto do Saara), como
(em milhões) (2013)
Chade, Congo, Libéria, Uganda e Burundi, juntos com o Afeganistão (situado na
Alemanha 80,22 224,87 356.733
região sudoeste da Ásia) devem triplicar a sua população no decorrer das primeiras
Angola 24,30 19,50 1.246.700
décadas deste século XXI.
Austrália 21,73 2,83 7.682.300
Mas, você sabe o significado do termo população? Qual a importância de se
Brasil 200,00 23,52 8.514.205
conhecer o número de pessoas no mundo ou em algum país em particular? Por
Canadá 33,47 3,36 9.970.610
que devemos estudar as características da população?
China 1339,72 140,48 9.536.499
Podemos responder, de forma geral, que conhecer as características da
Estados Unidos 308,75 32,94 9.372.614
população mundial ou de uma região específica nos ajuda a entender em que
Nigéria 140,43 152,02 923.768
condições estas pessoas vivem. A partir daí podemos planejar ações para resolver
Federação Russa 143,44 8,40 17.075.400
problemas, ou, pelo menos, minimizá-los.
Japão 128,06 343,49 372.819
O termo “população” significa um conjunto de pessoas que vivem em um
Fonte: http://unstats.un.org/unsd/demographic/products/dyb/dybsets/2013.pdf, acesso em
território (uma área delimitada politicamente). Podemos nos referir à população de 25/11/2014
uma cidade, região, estado, país, ou ainda, à população do planeta. Neste capítulo
vamos estudar vários aspectos da população mundial, especialmente por meio dos
Atividade 1
indicadores sociais (as taxas de natalidade e de mortalidade, a expectativa de
vida, os índices de analfabetismo, a participação na renda, dentre outros), para Considerando a tabela 1.1:
entendermos melhor as diferenças nas condições de vida das pessoas. a) Faça uma lista, em ordem crescente, dos países populosos e dos países
Não podemos esquecer que a população mundial caracteriza-se ainda pela povoados.
disparidade social. Vivemos num mundo onde apenas um terço da população
desfruta de benefícios, enquanto uma outra parte vivencia as desigualdades, a
fome, a miséria e o desemprego. b) O Brasil pode ser considerado um país populoso ou povoado?
Seguem alguns significados importantes para a compreensão da dinâmica
populacional:
A análise das características socioeconômicas da população mundial leva
População absoluta e População relativa ao uso frequente dos termos superpopulação e superpovoamento. Uma área é
considerada superpovoada quando sua população é muito grande em relação
O total de habitantes de um lugar constitui sua população absoluta. Podemos
à disponibilidade de recursos para sua subsistência. A Nigéria, por exemplo,
dizer que a população absoluta da Terra é superior a 7 bilhões de habitantes.
é considerada superpovoada, pois os recursos socioeconômicos do país não
Considerando a presença humana num determinado espaço, utilizamos, além
conseguem atender às necessidades básicas da população. Deste modo, é comum
disso, o conceito de população relativa, que indica a distribuição da população em
ocorrer a situação de fome, propagação de vários tipos de doenças, falta de
relação à superfície (área total) do lugar. Portanto, a população relativa, também
atendimento médico e educacional, grande desemprego, entre outros problemas.
chamada de densidade demográfica, corresponde ao número de habitantes por
De forma inversa, países com maior desenvolvimento econômico e
unidade de área, ou seja, é uma relação matemática, onde geralmente a unidade
tecnológico possuem maior capacidade de fornecer boa qualidade de vida para
(de medida) utilizada é o quilômetro quadrado (hab/km ). 2
os seus habitantes. Neste caso, um bom exemplo são os Estados Unidos, cuja
população é mais que o dobro da Nigéria, entretanto, os norte-americanos
Populoso e povoado
possuem bons serviços médicos, educacionais, opções de emprego etc.
Populoso é o conceito que se refere à população absoluta, e povoado diz Nos últimos anos, a China vem superando a situação de superpovoamento.
respeito à população relativa de um determinado lugar. Dos países relacionados No passado, a maior parte da população passava fome, havia elevado índice de
Capítulo 1 :: 9
mortalidade infantil, entre outros problemas. As reformas realizadas pelo governo Crescimento demográfico
nas últimas décadas mudaram esse quadro, garantindo um melhor padrão de vida
para as pessoas. O termo crescimento demográfico corresponde ao aumento da população de
um país. Este crescimento está relacionado a dois índices (figura 1.1):
Crescimento Demográfico
Países como Nigéria, Haiti e Bangladesh apresentam um elevado crescimento • crescimento natural ou vegetativo – diferença entre nascimentos (taxa de
natural, isto é, a população aumenta devido ao maior número de nascimentos do natalidade) e óbitos (taxa de mortalidade);
que de óbitos (morte). No entanto, em outros países verifica-se um crescimento • taxa de migração – diferença entre a entrada (imigração) e a saída
vegetativo nulo ou negativo. Na Alemanha, Japão e Rússia, por exemplo, o (emigração) de pessoas de uma região.
número de óbitos supera ou fica igual ao número de nascimentos, diminuindo ou
mantendo a quantidade de habitantes no país. Neste caso, a quantidade total da Tabela 1.2: Crescimento da população mundial por diferentes períodos.
população só vai ser alterada se ocorrer a entrada de imigrantes (pessoas vindas Ano/Era Número de Habitantes
de outras partes do mundo). Era Cristã 250 milhões
Os Estados Unidos, por exemplo, possuem uma elevada taxa de imigração, 1650 500 milhões
pois milhares de pessoas de outros países entram (de forma legal ou ilegal) no seu 1850 1 bilhão
território a cada ano. De forma inversa, Ruanda e Nigéria perdem vários habitantes 1950 2 bilhões
por ano, que saem para outro país em busca de melhores condições de vida. 1995 5,6 bilhões
Podemos concluir que para ocorrer crescimento demográfico num país um dos 2004 + 6 bilhões
dois índices (taxa de migração e crescimento vegetativo) tem que ser elevado, 2010 + 7 bilhões
para aumentar o número de habitantes.
No entanto, este crescimento vegetativo (ou populacional) vem ocorrendo de
As fases do crescimento forma diferenciada nas várias regiões do mundo, como foi colocado anteriormente.
demográfico Cada área ou país passa por um processo de transição demográfica, que contém
basicamente 3 fases (figura 1.2):
No decorrer da história, a população mundial tem crescido em função de • Primeira fase ou pré-industrial: caracterizada pelo equilíbrio demográfico e
a taxa de natalidade ser superior à de mortalidade. Avaliando a marcha de por baixos índices de crescimento vegetativo, já que há elevadas taxas de natali-
crescimento populacional, podemos distinguir duas fases: dade e de mortalidade. A elevada taxa de mortalidade relaciona-se principalmente
1. Crescimento lento: até o séc. XVII, em função da inexistência de condições às precárias condições higiênico-sanitárias, às epidemias, às guerras, fome etc.
sanitárias adequadas, guerras, epidemias etc., a taxa de mortalidade era elevada; • Segunda fase ou transicional: redução da mortalidade com o fim de epide-
2. Crescimento rápido: compreende principalmente os séculos XVIII, XIX e a mias e com os avanços médicos (decorrentes da Revolução Industrial). Contudo a
segunda metade do séc. XX, quando os avanços científicos e das melhorias das natalidade ainda se mantém elevada, ocasionando um grande crescimento popu-
condições higiênico-sanitárias provocaram uma queda nas taxas de mortalidade. lacional; numa segunda etapa, a natalidade começa a cair, reduzindo-se, então,
Nessa fase, o mundo deparou-se com um acelerado crescimento populacional o crescimento populacional.
(tabela 1.2). • Terceira fase ou Evoluída, momento em que a transição demográfica fina-
liza-se, com a retomada do equilíbrio demográfico, este apoiado em baixas taxas
10 :: GeoGrafia :: módulo 2
de natalidade e de mortalidade. Atualmente, estão nessa fase os países desenvol- Teoria Neomalthusiana
vidos, a maior parte dos quais apresenta taxas de crescimento inferiores a 1% e
A segunda aceleração do crescimento populacional ocorreu a partir de
até negativas, ou seja, países cujo crescimento vegetativo encontra-se estagnado.
1950, particularmente nos países subdesenvolvidos. Nesta época houve grandes
conquistas na área da saúde, como a produção de antibióticos e de vacinas contra
uma série de doenças. Tais conquistas espalharam-se pelos países subdesenvolvidos
graças à atuação de entidades internacionais de ajuda e cooperação, como a
Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Cruz Vermelha Internacional.
Deste modo, ocorreu uma acentuada redução nas taxas de mortalidade,
principalmente a infantil, que até então eram muito elevadas nos países
subdesenvolvidos. A diminuição da mortalidade e a permanência das altas taxas
de natalidade resultaram num grande crescimento populacional, que atingiu seu
apogeu na década de 1960 e ficou conhecido como explosão demográfica.
Com a nova aceleração populacional, voltaram a surgir estudos baseados
nas ideias de Malthus, dando origem a um conjunto de teorias e propostas
denominadas neomalthusianas. Os teóricos relacionavam o subdesenvolvimento e
Figura 1.2: Diferenças nas taxas de natalidade e mortalidade no decorrer do tempo caracterizando a pobreza ao crescimento populacional, o qual provocaria a elevação dos gastos
as fases de transição demográfica. governamentais com os serviços de educação e saúde. Com isso, os investimentos
produtivos nos setores agrícola e industrial diminuiriam e o país, sem produção
Os países que já chegaram na 3a fase correspondem basicamente aos desen- econômica, se tornaria cada vez mais pobre.
volvidos. A maior parte da população mora em cidades, onde há acesso fácil a Segundo esta teoria, para acabar com a pobreza da população e o
métodos anticoncepcionais, a mulher entra para o mercado de trabalho e o custo subdesenvolvimento do país, os seus governos deviriam estimular o controle
de criação dos filhos é alto pela necessidade de manter uma boa educação. Para da natalidade – diminuindo a população, acabaria a pobreza do país e da sua
preservar um bom padrão de vida, os casais escolhem ter um ou dois filhos. Com população. Na verdade, esta ideia servia para mascarar os reais fatores do
isso, a taxa de natalidade se reduziu intensamente nas últimas décadas. subdesenvolvimento.
Alguns países subdesenvolvidos, que já alcançaram um significativo nível de É sempre bom lembrar que planejamento familiar é muito diferente de
industrialização e urbanização, caso do Brasil, Argentina, África do Sul etc., tam- controle da natalidade e que a mulher deve ser o sujeito e não apenas um objeto
bém estão entrando na 3a fase de transição demográfica. desse planejamento. Essas políticas são adotadas até hoje e conduzidas pela
Organização das Nações Unidas (ONU) e o Fundo Monetário Internacional (FMI),
As teorias demográficas que condicionam a aprovação de empréstimos para os países subdesenvolvidos à
adoção de programas de controle de natalidade, que são financiados pelo Banco
Ao longo do tempo, o aumento da população mundial estimulou a Mundial (Bird).
formulação de teorias populacionais para tentar explicar como ocorria o O planejamento familiar é feito por entidades privadas e públicas, que se
crescimento populacional. Dentre as teorias, podemos citar a Teoria de Malthus, a associam à indústria farmacêutica e à classe médica e recebem apoio dos meios
Neomalthusiana e a Reformista, que serão vistas a seguir. de comunicação. O controle populacional é realizado de várias maneiras, indo
da distribuição gratuita de anticoncepcionais até a esterilização em massa de
Teoria Malthusiana populações pobres como Índia, Colômbia e Brasil.
Esta teoria foi criada por Thomas Malthus em 1798 (final do século XVIII), Teoria Reformista (ou marxista)
quando ocorria um forte crescimento populacional na Europa (esta região
estava na 2a fase da transição demográfica). Para o autor, em poucos anos, a Seguidores do filósofo socialista Karl Marx, os teóricos desse pensamento
produção de alimentos não seria suficiente para alimentar tantas pessoas. Assim, afirmam que a causa da superpopulação é o modo de produção capitalista, e
a população tenderia a crescer além dos limites de sua sobrevivência, e disso que a sobrevivência do capitalismo, como sistema, exige um crescimento
resultariam a fome e a miséria. excessivo da população. Em outras palavras, ao contrário dos neomalthusianos, os
Ao lançar suas ideias, Malthus desconsiderou as possibilidades de aumento reformistas consideram a miséria como a principal causa do acelerado crescimento
da produção agrícola com o avanço tecnológico. Ele não previu, também, os populacional. Assim, defendem a necessidade de reformas socioeconômicas que
efeitos decorrentes da urbanização na evolução demográfica. Aos poucos, essa permitam a melhoria do padrão de vida da população mais pobre. Essa teoria foi
teoria foi caindo em descrédito e desmentida pela própria realidade. elaborada em resposta aos neomalthusianos e ela inverte a conclusão das duas
teorias demográficas anteriores.
Capítulo 1 :: 11
Estrutura da população
Outros conceitos importantes no estudo da população são:
• Estrutura etária – quantidade de jovens (crianças e adoslecentes), adultos
e idosos. É analisada por meio de “pirâmides etárias”, que são gráficos que
caracterizam a população por faixa de idade e por sexo.
• Distribuição da população economicamente ativa (PEA) pelos setores
econômicos – primário (atividades agropecuárias, extrativismos), secundário
(atividades industriais) e terciário (atividades de comércio e serviços).
• Distribuição de renda – o que cada segmento da população recebe de salário.
A análise destes dados ajuda a entender e a prever problemas numa região
ou país. Por exemplo, um país com grande número de jovens precisaria investir
Figura 1.4: Pirâmide etária da Austrália, considerando dados populacionais do ano de 2010.
em educação, com o objetivo de preparar esta parte da população para o mercado
de trabalho formal. No caso de um país com grande número de adultos, o governo
deveria criar opções de trabalho por meio de estímulos às atividades econômicas.
Atualmente, vários países desenvolvidos vêm passando por um problema
sério de envelhecimento da população. O aumento no número de idosos (que
não trabalham mais) significa um grande gasto com a previdência social
(aposentadorias) e com atendimento médico. Como o número de adultos que
contribuem com a previdência social está diminuindo, os governos destes países
têm que arcar com estes custos e/ou reformular o sistema de aposentadorias.
Figura 1.5: Pirâmide etária do Japão, considerando dados populacionais do ano de 2010.
Atividade 2
80 Capítulo 1 :: 13
60
Atividade 3 Figura 1.6: Distribuição da renda nacional por diferentes classes sociais. Classe A – 20% mais
40 Classe E – 20% mais pobres; Classes B, C e D – classes intermediárias. Fonte: ONU/Banco
ricos;
Considerando a tabela 1.3, verifique se as afirmativas a seguir são falsas ou Mundial, 2002.
verdadeiras: 20
( ) O baixo percentual de PEA no setor secundário de Angola mostra que este 0
A figura 1.7 demonstra melhor a desigualdade social dos países. A diferença
país é muito pouco industrializado. de renda entre os 10% maisBrasil
Paraguai ricos e os 20% EUA
mais pobres éAlemanha
muito grande tanto no
Áustria
( ) O baixo valor da PEA no setor primário dos Estados Unidos indica que este Paraguai Classe
quantoA no Brasil. Por outro lado, na Áustria a renda dos 10% mais ricos
Classe B Classe C Classe D Classe E
país quase não produz mercadorias agropecuárias, como alimentos e carne.
é somente um pouco maior do que a dos 20% mais pobres do país.
( ) Na Austrália a maior parte das pessoas trabalha em atividades como turismo,
bancos, comércio, administração pública etc.
%
( ) Boa parte da PEA da Coreia do Sul está trabalhando no setor secundário, 50
caracterizado por indústrias bem diversificadas, desde indústrias de base até de
eletrônicos. 40
( ) Na Bolívia o setor primário emprega a maior parte da PEA, indicando que a 30
agropecuária e o extrativismo vegetal é altamente produtivo.
Observando a tabela 1.4, verifica-se que em alguns países a população tem 20
uma renda per capita bem melhor do que em outros.
10
Mas este é um dado que representa a realidade da população de um país?
Todos os brasileiros recebem o equivalente a 12.594 dólares por ano? 0
Este índice é calculado dividindo-se o valor de todas as riquezas do país pela Paraguai Brasil EUA Alemanha Áustria
quantidade de habitantes. Ele só representa uma média que permite comparar, de 20% mais pobres 10% mais ricos
forma geral, um país com outro.
País PIB per capita (em US$) (2011) Figura 1.7: Distribuição da renda nacional considerando os 20% mais pobres e os 10% mais ricos
Paraguai 3.485 da população. Fonte: ONU/Banco Mundial, 2002.
Brasil 12.594
Estados Unidos 47.882 A distribuição de renda desigual num país está associada a vários fatores:
Alemanha 43.865 • Boa parte da população tem baixo nível educacional, não conseguindo
Áustria 49.683 empregos de melhor renda.
• Grande carga tributária, especialmente impostos indiretos (cobrado sobre
Tabela 1.4: Renda per capita calculada em dólares considerando o ano de 1999. Fonte: ONU/
Banco Mundial as mercadorias), que acaba aumentando o custo de vida no país. Neste caso, uma
família pobre paga o mesmo imposto que uma família rica quando compra um
A distribuição de renda em qualquer país não é igual para todas as classes pacote de biscoito.
sociais. Há trabalhos que são melhor remunerados do que outros, relacionando-se • Grande desemprego estrutural e conjuntural.
ao tipo de qualificação e nível educacional da pessoa, entre outras coisas. No • Baixo investimento nos setores produtivos, que não cria novas
entanto, nos países subdesenvolvidos existe claramente a concentração de renda oportunidades de empregos.
nas mãos de poucas pessoas. Observe na figura 1.6, que no Paraguai e no Brasil A desigualdade social cria o problema da exclusão social. São pessoas que
a classe A (20% mais ricos da população) concentra mais de 60% de toda a renda não conseguem ter acesso a meios de se qualificarem melhor, para a partir daí
do país, enquanto as demais classes possuem menos de 40% desta renda. conseguirem ter melhor renda, educação, saúde e qualidade de vida (saneamento
Nos Estados Unidos, na Alemanha e na Áustria existe um maior equilíbrio na básico, casa própria, água potável etc.).
distribuição da renda entre as classes. Considerando o exemplo da Alemanha, os
20% mais ricos da população controlam em torno de 38% da renda nacional e as
demais classes dividem mais de 60% da renda do país.
Os movimentos populacionais
% Os movimentos populacionais são muito antigos na história da humanidade.
100
Mas os autores são unânimes em afirmar que nunca foram tão intensos quanto nas
80
últimas décadas do século passado (XX) e os a primeiros anos deste século (XXI).
60 O deslocamento de pessoas entre diferentes regiões do mundo está relacionado a
40 questões religiosas, naturais, guerras, problemas econômicos, entre outros fatores.
Atualmente, os principais motivos que provocam a migração de pessoas são de
20
ordem econômica (pobreza, desemprego, concentração de renda, crises financeiras).
0 Neste caso, os países subdesenvolvidos, especialmente os africanos, são áreas de re-
Paraguai Brasil EUA Alemanha Áustria
pulsão, enquanto os países desenvolvidos (Estados Unidos e países da Europa ociden-
Classe A Classe B Classe C Classe D Classe E
tal – Inglaterra, Alemanha, Itália, França etc.) são áreas de atração de imigrantes.
%
50
40
14 :: Geografia :: Módulo 2
Há também países, que, mesmo sendo subdesenvolvidos, mas que direita pudessem ter sucesso nos “democráticos” países industrializados
regionalmente apresentam melhores condições econômicas, podem atrair europeus. Na Alemanha, onde especialmente o antissemitismo marcou a
imigrantes. Por exemplo, o Brasil atrai pessoas de outros países sul--americanos; história, impera o silêncio diante do avanço da extrema-direita nos países
os pequenos estados-nação produtores de petróleo da região do Golfo Pérsico vizinhos... É notável, também, que o fenômeno do neonazismo tem
recebem paquistaneses, indianos, iraquianos e filipinos. aumentado nas escolas. Ocorrem em paralelo a muitas demonstrações
Os dados da ONU apontam que cerca de 190 milhões de pessoas vivem nazistas que já há bastante tempo vêm acontecendo, com ódio a
atualmente fora de seus países de origem. Elas vão em busca de trabalho e melhor imigrantes e resistência contra o governo alemão, manifestações
remuneração, muitas vezes enviando parte da sua renda para os familiares que contrárias de combate a um possível crescimento da xenofobia. Mas,
vivem na terra natal. Essas remessas são bastante significativas, principalmente também, entre o leste e o oeste da Alemanha, o “muro na cabeça” dos
considerando a economia de certos países pobres. alemães ainda não caiu. Os salários mais baixos e o maior desemprego
Alguns países, como Inglaterra, França e Alemanha, necessitam de no leste demonstram que, após 12 anos, a unificação alemã ainda não
imigrantes, pois a população destes países está envelhecendo rapidamente. A foi alcançada. A divisa continua sendo publicamente reforçada através
taxa de fecundidade não passa de 1,5 filhos por mulher, ou seja, as mulheres das constantes comparações e da rotulagem do leste como “os novos
destes países praticamente só têm um filho. Segundo a ONU, se não fosse o Estados” o que, de fato, confirma a existência de uma Alemanha no
grande número de migrantes, a Europa ocidental poderia apresentar redução de leste e outra no oeste... A crise da economia e do Estado de bem-estar
população absoluta. social, associada às rápidas transformações tecnológicas, ocasionou um
A baixa taxa de fecundidade, acompanhada pelo envelhecimento da crescente desemprego e colocou a competitividade a qualquer custo como
população, diminui a disponibilidade de mão de obra para vários tipos de serviços. única alternativa de sobrevivência. Esta conjuntura gera insegurança,
A migração compensa esta queda natural da mão de obra, principalmente em se ressentimento e violência. Com o gradativo desmonte do Estado de bem-
tratando de atividades de baixa remuneração que a população nativa dos países estar social por parte dos governos social-democratas, os quais até agora se
desenvolvidos não querem exercer. apresentaram como alternativa contra os partidos de direita, a população
ficou desorientada, especialmente os desempregados, trabalhadores e
Atividade 4 jovens... É, por exemplo, mais fácil responsabilizar os estrangeiros pelo
desemprego, pela criminalidade e pela insegurança, do que entender as
Analise a afirmativa:
complexas razões dos problemas. As soluções apresentadas são, então,
A Europa ocidental já foi, no passado, uma área importante de
também bem simples e conduzem à xenofobia, quando os estrangeiros são
repulsão de migrantes, mas, de meados do século XX para cá, se tornou
tratados como concorrência indesejada. Mas, a xenofobia expõe os países
uma área de forte atração populacional.
europeus a uma séria contradição econômica. Por causa do baixo índice
de natalidade e da crescente expectativa de vida da população, existe a
tendência de que a Europa venha a ser a sociedade mais idosa do mundo.
(Antonio Inacio Andrioli - Revista Espaço Acadêmico Ano II, no 13, Junho 2002)
O fenômeno da xenofobia
Os dicionários explicam o termo “xenofobia” como aversão a outras raças
e culturas e, muitas vezes, pode ser compreendido como característica de um
nacionalismo excessivo. Apresenta-se como um medo injustificado perante a
estranhos ou estrangeiros. Esse medo chega a ser intensivo, descontrolado
e desmedido em relação a pessoas ou grupos diferentes, com as quais nós
habitualmente não entramos em contato. É bom esclarecer que, muitas pessoas
confundem com “racismo” – este não passa de uma crença que diz que algumas
raças são superiores sobre outras.
Atividade 5
Leia o texto com atenção e prepare pelo menos duas perguntas ao seu
professor:
Na Europa, muitas pessoas estão chocadas com o avanço do
neofascismo. A maioria não queria acreditar que partidos de extrema
Capítulo 1 :: 15
Exercícios
1) A tabela a seguir mostra outros dados importantes sobre população. Analise os dados e responda às questões.
Crescimento Expectativa de vida Expectativa de vida
Fecundidade População urbana
País demográfico para homens para mulheres
(filhos por mulher) 1
(%) (2000)
(% ao ano) 1
(em anos) 1
(em anos) 1
c) Justifique a taxa de fecundidade dos diferentes países com base na taxa de população urbana.
2) (UFRRJ/2005) Os dados abaixo demonstram as consequências da política (C) as mulheres que trabalham neste setor têm direito à licença maternidade.
demográfica adotada pela China nos últimos 30 anos. (D) não dá garantias trabalhistas estabelecidas em lei.
Mais homens que mulheres
• 642,7 milhões de homens 4) (UERJ/1998) No conjunto das regiões metropolitanas brasileiras, a do
• 616,2 milhões de mulheres Rio de Janeiro vem se destacando nas últimas décadas por apresentar um dos
Apresente os princípios básicos dessa política relacionando-a a situação retratada. mais baixos índices de incremento demográfico. A forte desaceleração de seu
crescimento populacional se deve fundamentalmente à:
(A) elevação da taxa de mortalidade, ligada ao aumento da violência na área
metropolitana
3) (UFRRJ/2005, modificada) (B) redução da taxa de natalidade, promovida pela política municipal de
planejamento familiar
A vida econômica nas aglomerações latino-americanas apresenta
(C) elevação do fluxo migratório para a periferia metropolitana, preferida pela
características peculiares. A modernização (...), que produziu esse processo qualidade ambiental
de metropolização, introduziu atividades econômicas seletivas, com índice (D) redução da capacidade de atração de fluxos migratórios, relacionada à baixa
elevado de tecnologias que não exigem grande absorção de mão de obra. oferta de empregos
Ao lado desse setor, desenvolveu-se um conjunto enorme de atividades
de menor porte econômico, que não dependem de avanços tecnológicos 5) (UFF/1997)
e oferecem um grande número de empregos ou ocupações. O geógrafo PARIS – Advogados de organizações humanitárias invadiram a
Milton Santos chamou esse fenômeno de circuito inferior da economia Justiça francesa com uma série de apelos para evitar a expulsão dos 210
urbana (camelôs, biscateiros, pequenos prestadores de serviços). imigrantes africanos que foram desalojados à força na sexta-feira da Igreja
Adap. de OLIVA, J.;GIANSANTI, R. Temas da geografia Mundial. São Paulo: Atual,1996, p. 133.
de S. Bernardo, em Paris, que ocuparam por 50 dias, 10 deles em greve
de fome de protesto contra a política de imigração francesa.
Sobre o fenômeno de “circuito inferior da economia urbana” é ERRADO afirmar que:
(A) é constituído por trabalhadores sem trabalho regular. Jornal do Brasil, 25/8/96
(B) Não há vínculo empregatício. O texto fala dos “sem documentos”, ilustrando uma forma típica de movimento
16 :: Geografia :: Módulo 2
migratório internacional do final do século XX. Uma característica correta desse do planeta será maior, crescerá em ritmo mais lento, será cada vez mais
movimento é: urbana e também mais idosa do que foi nos últimos 100 anos.
(A) Mudança da direção das migrações, concentrando-se entre os “países Assim como ninguém que tenha vivido até 1930 conseguiu presenciar a
desenvolvidos”.
população mundial dobrar de tamanho, tudo indica que nenhum ser humano
(B) Acentuação das migrações, dos “países desenvolvidos” para os “países
subdesenvolvidos”. nascido após 2050 viverá tempo suficiente para testemunhar esse fenômeno
(C) Acentuação das migrações, dos “países subdesenvolvidos” para os “países novamente. Nunca é demais recordar que o ritmo máximo de crescimento da
desenvolvidos”. população mundial foi atingido por volta da segunda metade da década de
(D) Reorientação da direção das migrações, que passam a ser predominantes no 1960 e se o total de seres humanos no planeta só atingiu seu primeiro bilhão
interior dos “países subdesenvolvidos”. no início do século XIX, atualmente esse número é incorporado à população
(E) Indefinição dos fluxos migratórios, que tomaram direções aleatórias.
mundial a cada 15 anos.
Segundo estimativas, em 2050, o planeta deverá abrigar um número
6) (UFF/2000)
pouco superior a 9 bilhões de habitantes, isto é, mais ou menos 2,5 bilhões
África Subsaariana - Principais indicadores sociais de pessoas a mais do que possui atualmente. Esse aumento corresponde
Renda per Expectativa Taxa de ao número de pessoas que o mundo possuía em 1950. Atualmente, a
País
capita (US$) de vida analfabetismo cada ano são incorporados à população do planeta, cerca de 75 milhões de
África do Sul 3.040 65 anos 18,0% seres humanos, isto é, um pouco menos da metade da população brasileira,
Uganda 190 45 anos 50,0% ou cerca de quase duas vezes o contingente populacional da Argentina.
Angola 430 46 anos 57,5% Todavia, a dinâmica do crescimento demográfico mundial é muito
Nigéria 280 56 anos 43,0% desigual. Estima-se que ao longo dos primeiros 50 anos do século XXI,
Ruanda 80 46 anos 40,0% a população de alguns países asiáticos, como o Afeganistão e um grande
República do número de nações da porção subsaariana da África (como Libéria, Uganda,
650 48 anos 33,0%
Congo Burundi, Chade e Congo), assistirão seu contingente populacional triplicar.
Fonte: Banco Mundial, 1996 Deve-se recordar que estes países estão entre os mais pobres do mundo.
Considerando as informações do quadro e a realidade que as sociedades da África Mesmo tendo taxas de mortalidade acima da média mundial, os países
Subsaariana têm vivido, pode-se assegurar: em questão têm apresentado taxas de natalidade persistentemente altas.
(A) O longo período das guerras de libertação colonial explica os péssimos
Nesses países, em média, uma mulher tem o dobro de filhos do que as
indicadores de Uganda, Ruanda e Nigéria em termos da expectativa de vida e dos
índices de analfabetismo da população. mulheres que vivem nas nações mais ricas.
(B) Embora a África do Sul apresente os melhores indicadores, ainda persistem, Cerca de metade do incremento populacional que ocorrerá até 2050,
no país, fortes desigualdades sociais em função do “recorte racial” econômico, terá como “responsáveis” nove países: Índia, Paquistão, Nigéria, República
diferenciando as condições de vida entre a minoria branca e a maioria negra. Democrática do Congo, Bangladesh, Uganda, Estados Unidos, Etiópia e
(C) Na África Subsaariana, a maioria dos países que se orientaram pelo modelo China. A surpresa fica por conta da presença dos Estados Unidos nesta lista,
soviético de socialismo — a exemplo da República do Congo —conseguiram
fato explicado pelo alto número de imigrantes que o país deverá receber ao
aliviar os mais sérios problemas socioeconômicos da região.
(D) A descolonização mais recente da Nigéria e as violentas guerras civis em longo das próximas décadas.
Angola respondem pelos indicadores sociais que, inclusive, são os menos Por outro lado, pelo menos 50 países, a maioria de alto nível
favoráveis de toda a África Subsaariana. econômico, como a Alemanha, o Japão e a Itália, provavelmente terão
(E) A inserção subordinada do continente africano na globalização da economia uma diminuição de sua população em termos absolutos. Outros países,
obrigou os governos de Uganda e do Congo a concentrarem seus investimentos na embora com um padrão econômico inferior ao dos países citados, como é o
extração e comercialização do petróleo, deixando de lado o bem-estar da população.
caso da Rússia, também deverão ter sua população diminuída. O exemplo
russo é emblemático, pois reflete a falência dos sistemas públicos de
Complemente seus saúde e o incremento de mortes causadas por câncer, doenças cardíacas,
conhecimentos alcoolismo, suicídios e homicídios, decorrentes da brutal queda do padrão
de vida após o fim da União Soviética.
Previsões da população mundial para a metade século XXI O século XX foi o único da história em que o número de jovens foi maior
que o de idosos. Até a metade do século passado, o contingente de crianças
Nelson Bacic Olic. Revista Pangea, 14/11/2005.
com idade inferior a 5 anos era maior que a de pessoas com mais de 60
Nos dias que correm vêm ocorrendo e se cristalizando importantes anos. Atualmente, cada um desses grupos etários corresponde a 10% da
mudanças na composição e na dinâmica da população mundial. Apesar população mundial, mas daqui para frente, os idosos serão cada vez mais
de muitas dessas transformações terem se iniciado nas últimas décadas numerosos. Contudo, o envelhecimento da população não ocorre de forma
do século XX, pode-se afirmar que ao longo do século atual, a população semelhante em todos os países. Em 2050, nas regiões mais desenvolvidas
Capítulo 1 :: 17
do mundo, uma em cada três pessoas terá mais de 60 anos, enquanto que
nas áreas menos desenvolvidas elas serão cerca de 20% do total.
Mantendo as tendências demográficas observadas na atualidade, até
2050 a quase totalidade do crescimento da população mundial acontecerá
em áreas urbanas. Estima-se que por volta de 2007, o número de pessoas
morando em cidades será superior ao contingente de pessoas do campo.
As populações urbanas crescem mais rápido nos países pobres do que
nos países mais ricos. Aproximadamente 60% do crescimento urbano nos
países pobres será devido ao crescimento vegetativo ao qual será acrescido
o êxodo rural, fenômeno que ocorrerá com maior intensidade no sul,
sudeste e leste da Ásia e também na África Subsaariana.
As projeções que indicam bilhões de pessoas a mais nos países pobres,
mais idosos no mundo, juntamente com a expectativa de um crescimento
econômico mundial maior que o atual, levanta questões sobre o grau de
sustentabilidade da população atual e futura.
A princípio, nosso planeta pode fornecer espaço e alimento para pelo
menos três bilhões a mais de pessoas das que existem atualmente. O
problema é que grande parte dos 6,5 bilhões de seres humanos que vivem
atualmente na Terra, não se satisfaz apenas em ter o que comer.
Segundo organismos internacionais que estudam o problema,
estabelecendo-se uma relação entre alimentos, energia e recursos naturais,
na atualidade, os habitantes da Terra já estariam consumindo 42,5% além
da capacidade de reposição da biosfera, déficit que tem aumentado cerca
de 2,5% ao ano. Se todos os seres humanos passassem a consumir o
que consome um europeu ou um norte-americano, seriam necessários três
planetas como o nosso!
2
A população brasileira
:: Objetivo ::
• Apresentar as características da população brasileira quanto à diversidade racial, dinâmica de
crescimento demográfico, faixa etária, renda e mobilidade espacial.
20 :: Geografia :: Módulo 2
Há quem elabore um raciocínio simplista e pérfido de hectares por brasileira atual, por outro, a sofrer um extermínio, a enfrentar conflitos diversos
índios viventes em reservas, comparando o seu pedaço percentual de terras (garimpeiros, fazendeiros, industriais, posseiros e grileiros) e a sofrer preconceitos
com a parcela que caberia a cada brasileiro caso se dividisse o território por parte da sociedade brasileira.
total do Brasil pela população total do país, sem levar em conta que a maior Antes da colonização do Brasil (século XVI), a população indígena era
parte das terras rurais estão nas mãos de poucos privilegiados brasileiros e estimada entre dois a cinco milhões de índios pertencentes a várias nações cujos
que mais de 70% da nossa população encontram-se em cidades de todos grupos linguísticos (Tupi, Jê, Aruaque, Caraíba, Pano, dentre outros) estavam
os portes...A ideia vitoriosa das reservas indígenas destina-se à proteção presentes em todo o território nacional, com predomínio dos grupos Jê e Tupi-
de comunidades herdeiras da pré-história, vivendo uma proto-história Guarani.
incômoda, devido aos assédios de grupos humanos rústicos, empurrados Ao final do século XXI, no ano de 2010, o Censo do IBGE apontou uma
por capitalistas vorazes para dentro da territorialidade indígena. população indígena de aproximadamente 818 mil indivíduos, concentrados nas
Ab’Saber, Aziz Nacib. A Amazônia: do discurso à praxis.
regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil. A ausência da noção de propriedade
privada da terra, ou seja, a apropriação simbólica da terra pelos indígenas (a terra
é um bem coletivo), a concepção da natureza como fonte de vida (produção de
Os povos formadores do valor de uso), que por sua vez não provoca a geração de produção de excedentes
Brasil: os que aqui estavam e para a comercialização (produção de valor de troca), dentre outros, são aspectos
os que aqui chegaram importantes que devem ser considerados na análise que se faz sobre a situação
atual das populações indígenas.
Os indígenas, o branco e o negro africano são os três tipos étnicos formadores A distribuição geográfica atual das terras indígenas* demonstra que as
da população brasileira e, mais recentemente, os asiáticos, representados pelos mais extensas estão localizadas em áreas de menor densidade demográfica do
japoneses, chineses e coreanos. A miscigenação dessas etnias vêm contribuindo território nacional como é o caso da região Norte do país (figura 2.1). Nesta
para a formação de diversos outros grupos, denominados de mestiços, dentre os região brasileira encontram-se as reservas Vale do Javari, perto da fronteira
quais destacam-se o mulato (branco e negro), os mamelucos, caboclo, caiçara, com o Peru, Alto Rio Negro, perto da fronteira com a Colômbia, e Ianomâmi,
caipira, capiau (índio e branco), o cafuzo (índio e negro) e o ainocô (amarelo e perto da fronteira com a Venezuela – todas com grandes dimensões e em áreas
outras etnias). Mas, é o Brasil indígena que antecede o Brasil europeu (lusitano), fronteiriças. Nesta faixa da fronteira há sérios problemas de tráfico de drogas e
africano e o Brasil contemporâneo, conforme veremos a seguir. de armas, movimentos guerrilheiros de outros países, tráfico de animais silvestres
As populações indígenas foram, por um lado, as primeiras a habitar o e dificuldade de monitoramento de outras atividades ilegais, como biopirataria,
território brasileiro e a participar consideravelmente da formação da população desmatamento etc.
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Figura 2.1: Terras indígenas. Fonte: Ferreira, Graça M. L. Atlas Geográfico. Espaço mundial, p.14. (adaptada)
Capítulo 2 :: 21
que também, como outros colonos das demais nacionalidades, sofreram por
*Segundo o IBGE (2000), “as terras indígenas correspondem ao escravidão e por dificuldades de adaptação e integração cultural. Destacam-se
espaço físico reconhecido oficialmente pela União como sendo de ainda os coreanos e os chineses que, assim como os japoneses, se fixaram nos
posse permanente de grupos tribais que a ocupam. Tal ocupação se dá estados de São Paulo e Paraná, principalmente.
com o intuito de preservar o habitat e garantir a sobrevivência físico-
cultural dos grupos indígenas, reproduzindo, dessa forma, condições A imigração e a
para a continuidade econômica e sociocultural da comunidade”. emigração no Brasil
Os movimentos migratórios, em geral, se caracterizam por populações de
O grande número de reservas indígenas na região Norte pode ser explicado baixa renda, em que a condição de pobreza e miséria prevalece, podendo ser
pela ocupação intensa do litoral desde a Colônia, o que resultou no extermínio expressa pelas precárias condições das moradias que se instalam. Historicamente,
das populações nativas dessas regiões que não submeteram-se à lógica produtiva as possibilidades de sucesso para as populações de migrantes estão muito
imposta pelos colonizadores. Por isso, as regiões Norte e a porção setentrional relacionadas com as disponibilidades de recursos para a ocupação de novos
da região Centro-Oeste (áreas de ocupação mais recente )concentram o maior territórios. Quando os recursos foram abundantes, os imigrantes encontraram
percentual de povos nativos pois sofreram menos o impacto dos sucessivos ciclos pouca resistência, se fixaram e, em muitos casos, alcançaram ascensão social. As
econômicos ao longo dos séculos. Somente em meados do século XX, após a populações de imigrantes, num primeiro momento, lutam para não perderem sua
implantação da ditadura civil-militar em 1964, é que os estados do Norte passaram identidade, procuram manter as lembranças e as tradições dos lugares de origem
a ter uma inserção mais efetiva na economia nacional (política de integração e, num segundo momento, lutam para garantir seus privilégios como pioneiros.
nacional – governos militares), com a tomada de iniciativas e incentivos vários Sobre a imigração brasileira, esta pode ser compreendida em três fases: a
(construção de rodovias, exploração agropecuária e mineral, construção de primeira de 1808 (abertura dos portos do Brasil às nações amigas) ao ano de
hidrelétricas). A partir daí, agravaram-se os conflitos entre os indígenas e os 1850 (proibição do tráfico de escravos), a segunda de 1850 ao ano de 1930
garimpeiros, posseiros, grileiros, fazendeiros, empresas agropecuárias ou (queda da bolsa de Nova Iorque) e a terceira, de 1930 até os dias atuais. Analise
mineradoras. as principais características de cada fase:
O branco que participou da formação da população brasileira é originário de • 1808-1850: a primeira fase foi marcada por um pequeno fluxo imigrató-
vários grupos étnicos, tanto europeus como asiáticos e africanos. Os imigrantes rio, explicado pelas facilidades de obtenção de mão de obra escravizada; instabi-
europeus dividem-se em três grupos, segundo a origem: os atlanto-mediterrâneos, lidade política do período da Regência; Guerra dos Farrapos que se prolongara e
dos quais descendem a maior parte da população brasileira (representada pelos existência da escravidão no Brasil que fazia com que os imigrantes temessem ser
portugueses, italianos, espanhóis e franceses), os germanos ou teutões (alemães, tratados como os escravos. Neste período, 1.500 famílias açorianas foram para o
austríacos, neerlandeses ou holandeses, suíços, ingleses e escandinavos) os Rio Grande do Sul, 100 famílias suíças para o Rio de Janeiro (hoje Nova Friburgo),
eslavos (russos, poloneses, tchecos, eslovacos e iugoslavos). Os imigrantes inúmeras famílias alemãs se dirigiram para o Rio Grande do Sul, Paraná, Santa
asiáticos são representados pelos sírio-libaneses e os judeus e os imigrantes Catarina e São Paulo, e 140 prussianos vieram para Pernambuco.
africanos pelos egípcios. • 1850-1930: a segunda fase caracterizou-se por ser o período de maior
Destes, o destaque é para os imigrantes portugueses cuja história se entrada de imigrantes no Brasil, favorecido pelo desenvolvimento da cafeicultura
confunde com a própria história do Brasil. São considerados como os que iniciaram (que exigiu numerosa mão de obra), pela proibição do tráfico de escravos (Lei
a neopopulação brasileira por meio da miscigenação com os índios e os negros Euzébio de Queirós), pela disposição do fazendeiro de café que facilitava a vinda
africanos, uma vez que, durante três séculos, eram os únicos que podiam entrar do imigrante, cobrindo-lhe as despesas no primeiro ano, além de fornecer uma
livremente no Brasil. parcela de terra (para cultivo de produtos de primeira necessidade), pelo paga-
O negro foi trazido da África para o Brasil na condição de escravo e participou mento de gastos com o transporte do próprio imigrante (até o ano de 1889),
das principais atividades econômicas como a da agroindústria da cana-de-açúcar pela abolição da escravatura e pelo desemprego na Itália (tanto no setor industrial
iniciada no século XVI (Nordeste e Recôncavo Baiano), a lavoura do algodão nos como no agrícola) à época da unificação política do país.
séculos XVII e XVIII (Maranhão), a mineração nos séculos XVII e XVIII (Planalto • 1930- dias atuais: a terceira fase caracterizou-se pela queda acentuada do
Central e em Minas Gerais), a lavoura da cana-de-açúcar no século XIX (Rio de fluxo migratório, com exceção das décadas de 1950 e 1970. Foi no início da década
Janeiro) e a cultura cafeeira, também no século XIX (Espírito Santo, Rio de Janeiro de 1950 que o Brasil recebeu muitos imigrantes europeus, todos em busca de novas
e São Paulo). Assim como os indígenas (ou até mais do que eles), os negros oportunidades (pois estavam arrasados pela guerra) e, por outro lado, se sentiram
foram submetidos a brutais condições de existência e, nos dias atuais, grande atraídos pelas condições favoráveis da indústria brasileira na época da construção de
parte da população negra sofre discriminação e preconceito. Brasília, que precisou de um enorme contingente populacional. Já a década de 1970
Os asiáticos aportaram no Brasil no início do século XX para trabalhar nas (época do chamado “milagre brasileiro”) atraiu famílias, investimentos e mão de
lavouras de café no interior do estado de São Paulo. Eram colonos japoneses obra estrangeiros (principalmente chilenos, argentinos e uruguaios).
22 :: Geoografia :: Módulo 2
Por outro lado, é bom reforçar que vários foram os motivos que frearam a Igreja). Essa data é considerada como marco para os estudos geográficos da
imigração nesse mesmo período: as revoluções de 1930 e 1932 que geraram população brasileira, quando se teve o controle dos registros de nascimentos,
instabilidade política, a Lei de Cotas de Imigração (Constituição de 1934 e 1937 mortes e casamentos.
que restringiam o número de imigrantes), a determinação de que 80% dos Alguns recenseamentos foram realizados de maneira muito irregular até a
imigrantes deveriam ser agricultores, a Segunda Grande Guerra (1939-1945), criação do IBGE em 1938 e, a partir de 1940, é que são realizados com uma
o desenvolvimento econômico de vários países europeus, que reorientou o fluxo certa periodicidade. Observe a tabela a seguir, com dados até o censo de 2010
migratório, o Golpe de Estado de 1964 e o grande endividamento externo com (tabela 2.1):
reflexos na economia interna (desemprego, inflação alta, diminuição do ritmo da
atividade econômica). Ano População
Já na década de 1980, o Brasil tornou-se um país de emigração, basica- 1872 9.930478
mente por ter enfrentado uma grave crise econômica. Esta gerou desemprego, 1890 14.333915
fez com que houvesse uma perda sistemática do valor real do salário e elevou os 1900 17.438434
índices de inflação (queda do crescimento do PIB e da atividade econômica). Em 1920 30.635605
sua maioria, os que deixavam o país eram descendentes de japoneses (cerca de 1940 41.236315
150.000, com o objetivo de juntar dinheiro no Japão e retornar com o seu próprio 1950 51.944397
negócio). Nas décadas de 1980 e 1990, estima-se que cerca de 330.000 bra- 1960 70.119071
sileiros buscaram nos EUA (Miami, Nova York e Boston) uma nova oportunidade 1970 93.139037
de vida, cuja expectativa maior é conseguir maiores salários e guardar dinheiro 1980 119.070865
para investimentos. 1991 146.155000
Cabe destacar, ainda, aqueles brasileiros que emigraram para o Paraguai 2010 190.732.694
(“brasiguaios”) compreendendo sem-terra ou agricultores de posse atraídos por Tabela 2.1: Evolução da População Brasileira. Fonte: IBGE, Anuário Estatístico, 2010 (dados
terras mais baratas para cultivo, sendo que muitos deles voltaram ao Brasil mais preliminares de 1991)
tarde; para o Uruguai, motivados pelos preços das terras mais baixos e pela
implantação do Mercosul e para a Bolívia, fazendeiros de soja à procura de solos O período de 1940 – 1960 é considerado pelos autores como aquele em
férteis e motivados pela doação de terras por parte do governo. que a população brasileira sofreu uma certa aceleração demográfica ou mesmo
Cerca de 600.000 brasileiros deixaram o país no decorrer das décadas de explosão demográfica, acompanhando o fenômeno que ocorreu em todo o mundo,
1980 e 1990, dentre eles cientistas, pesquisadores e professores que emigraram principalmente nos “países subdesenvolvidos”. A explicação para tal deve-se à
devido às precárias condições de trabalho e, hoje, o Brasil se tornou um país onde persistência de elevadas taxas de natalidade e à redução de taxas de mortalidade,
o fluxo migratório é negativo, ou seja, o total de emigrantes é maior que o número relacionadas, principalmente, à revolução da tecnologia bioquímica (progresso
de pessoas que ingressam no país. Muitos brasileiros têm se transferido para os da medicina no campo da terapêutica, com a descoberta dos antibióticos e de
Estados Unidos, Japão e Europa, sempre em busca de melhor qualidade de vida, quimioterápicos e pela melhoria das condições sanitárias).
lembrando que os salários médios do Brasil estão entre os mais baixos do mundo. Neste período, a taxa de fecundidade (relação entre o número de crianças
com menos de 5 anos de idade e o número de mulheres em idade reprodutiva –
O crescimento natural da 15 e 49 anos) situava-se em torno de 6,0, ou seja, elevada se comparada ao dos
população brasileira países desenvolvidos que era em torno de 2,5. Os casamentos ou uniões livres em
idade precoce também contribuíram para o crescimento populacional (os métodos
Vamos relembrar como a população brasileira se comportou em relação ao contraceptivos ainda não se encontravam tão disseminados e a população em
seu crescimento natural. Vocês se lembram da definição de crescimento vegetativo geral não tinha acesso a eles).
ou natural? Pois é, o crescimento natural ou vegetativo corresponde à diferença Existe, portanto, uma relação estreita entre “desenvolvimento econômico e
entre as taxas de natalidade e de mortalidade. Para calcularmos essas taxas é taxa de fecundidade e de natalidade”. Os países “desenvolvidos” apresentam
essencial que os números (absoluto e relativo da população – nascimento e baixa taxa de fecundidade e de natalidade, acrescidos do alto nível educacional e
morte) estejam disponíveis e, para tal, que o recenseamento tenha sido realizado. da presença da mulher no mercado de trabalho. Já nos países “subdesenvolvidos”
Para o crescimento vegetativo aumentar, é necessário que a taxa de ocorre o inverso.
mortalidade seja menor que a de natalidade e, para o crescimento vegetativo Mas foi a partir da década de 1960 que ocorreu uma desaceleração
diminuir, é necessário que a queda da natalidade seja mais acentuada que a de demográfica e iniciou-se uma transição demográfica. O Brasil registrou uma
mortalidade. diminuição significativa da taxa de crescimento vegetativo, quando a urbanização
Pois bem, no Brasil, somente a partir do ano de 1889 é que o Estado acelerada fez com que a taxa de natalidade passasse a cair de forma mais
implantou o registro civil obrigatório, até então sob o controle da Igreja (época acentuada que a taxa de mortalidade. Entre as décadas de 1960 e 1970, a
em que houve a consolidação da República e a separação entre o Estado e a taxa era de 2,76%, entre 1970 e 1980 de 2,48% e entre 1980 e 1991 de
Capítulo 2 :: 23
Contudo, a queda no crescimento da população brasileira observada nos a demanda populacional; qual é o investimento necessário que deve ser feito para
últimos trinta anos não interferiu no desempenho da economia, principalmente em atender às demandas de infraestrutura sanitária, dentre outras questões.
relação ao desenvolvimento e à distribuição de renda. É o que veremos a seguir. A composição por idades e por sexo de uma população pode ser melhor
compreendida por meio de gráficos que relacionem a quantidade de habitantes
A estrutura da população: de um dado país, estado, região ou município, segundo a sua constituição por
faixas etárias e distribuição idade e por sexo.
de renda Essa representação gráfica é o que denominamos de pirâmide etária, que pode
ser interpretada a partir de suas três partes: a base (porção inferior) que representa
Vocês devem estar acostumados a estudar os componentes da população a população jovem (0-14 anos ou 19 anos); o corpo (porção intermediária) que
por idade e por sexos sem, contudo, dar maior importância para os dados e as representa a população adulta (de 15 a 59 anos ou de 20 a 59 anos) e o topo
representações na forma de pirâmides. (porção superior) que representa a população idosa (60 anos ou mais).
Segundo Melhem Adas “o total absoluto da população de um país, região Observe a figura 2.2 que se segue: ela mostra as pirâmides etárias do Brasil
ou um município não tem grande significado se não estiver relacionado a outros nos anos de 1980 a 2010, segundo os dados de recenseamentos e estimativas
dados populacionais e estes, por sua vez, a dados de economia, saúde, educação, do IBGE. Vamos acompanhar o comportamento da população brasileira, segundo
habitação, transportes, produção agrícola, dentre outros”. Destacam-se, contudo, o perfil que cada pirâmide apresenta, e tentar compreender o significado das
os dados sobre a composição da população por idades e sexos. mudanças mostradas por elas. Essas mudanças são resultado de alterações na
Sua relevância constitui-se na possibilidade de interpretação da situação de dinâmica demográfica brasileira nos últimos vinte anos (conforme visto nesse
uma dada população em relação ao planejamento socioeconômico, podendo, dessa capítulo), onde destacam-se: o declínio das taxas de natalidade, fecundidade e
maneira, compreender: quantos empregos podem ser criados anualmente para mortalidade geral, o aumento da população idosa no conjunto da população e a
absorver o contingente populacional que entra todos os anos no mercado de trabalho; tendência para o ano de 2010 do Brasil atingir um perfil de “país desenvolvido”,
quantas vagas escolares ou quantos leitos hospitalares são necessários para atender que é aquele país no estágio de transição demográfica concluída.
Figura 2.2: Pirâmides Etárias do Brasil – anos de 1980, 1991, 2000, 2010 (recenseamento e projeção do IBGE).
Capítulo 2 :: 25
A economia informal que se instalou no Brasil está intimamente interligada RENDA MÉDIA MENSAL (em R$) – ANO BASE 2005
à economia formal, pois os negócios informais fornecem produtos e serviços Brasil e 40% mais pobres 10% mais ricos
(a baixos preços) para as empresas legalizadas. Por outro lado, quando um regiões Total Homem Mulher Total Homem Mulher
trabalhador informal tem sua renda, pode se utilizar de serviços (hospitais, escolas Brasil 226 255 196 3.579 4.067 2.769
etc.) e comércio (fazer crediário em grandes lojas etc.) formais. Norte* 230 256 196 2.627 2.875 2.166
O grande crescimento da economia informal no Brasil também está Nordeste 129 148 101 2.299 2.510 1.933
relacionado ao desemprego, que pode ser conjuntural ou estrutural. O primeiro Sudeste 285 336 235 4.060 4.687 3.077
caso (desemprego conjuntural) está relacionado a recessão econômica e a Sul 289 335 243 3.734 4.349 2.682
situações específicas, como a abertura da economia às importações a partir da Centro-
década de 1990, isenções fiscais que atraem indústrias e negócios de uma região 268 311 224 4.302 4.846 3.440
Oeste
para outra etc. Nestes momentos, algumas indústrias e/ou empresas podem
Tabela 2.6: Diferença da renda média mensal (em R$) entre as regiões brasileiras, entre os 40%
ir à falência ou serem obrigadas a reduzir o quadro de empregados, podendo, da população brasileira mais pobres e os 10% mais ricos e entre homem e mulher. Fonte: IBGE,
posteriormente, reequilibrar as finanças e readmitir os funcionários, sem que os Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD), 2005. * Não inclui a população rural dos
estados do Norte.
postos de trabalho tenham se extinguido.
No caso do desemprego estrutural, o avanço tecnológico em várias atividades,
principalmente relacionado à informatização e automação, diminui ou extingue
alguns postos de trabalho. Os exemplos clássicos desta situação são o uso de Atividade 2
braços mecânicos em indústrias e a informatização (caixas eletrônicos) do setor
Com base nos dados apresentados na tabela 2.6, analise as diferenças de
bancário. Mas ao mesmo tempo em que ocorre a extinção de alguns postos de
salário entre as regiões brasileiras.
trabalho, outros são criados. No entanto, os novos postos geralmente exigem
maior qualificação profissional e nível de instrução, o que o Estado brasileiro não
tem conseguido fornecer por meio da educação. Assim, um trabalhador demitido
de um banco, que poderia se inserir no mercado formal aprendendo a lidar com
computadores e programas, ao não conseguir esta qualificação por meio de A distribuição e a mobilidade
cursos, acaba procurando emprego no setor informal da economia. espacial da população
Os dados estatísticos mostram que a participação dos pobres na renda
Quais são os fatores que comandam a distribuição espacial de uma popula-
nacional diminuiu e a dos ricos aumentou. Essa dinâmica pode ser explicada pelo
ção? Lembrando que ao lado dos fatores naturais, os fatores de ordem histórica
processo inflacionário de preços que não é repassado aos salários, e também
também pesam consideravelmente na distribuição da população pelo espaço
por um sistema tributário em que a carga de impostos indiretos (ICMS, IPI, ISS,
geográfico, vamos pensar na ocupação do território brasileiro em seus primórdios.
dentre outros) chega a 50% da arrecadação e não distingue as faixas de renda.
A história das imigrações para o Brasil, os movimentos migratórios internos e
Os impostos diretos (renda, IPTU, IPVA), que possuem alíquotas progressivas e
ainda a marcha do povoamento do território brasileiro podem ser bons exemplos
são diferenciados segundo a renda, ou são sonegados ou incluídos no preço de
de como os fatores históricos também podem influenciar na ocupação e na
mercadorias, tornando-se indiretos para os consumidores de modo geral.
produção do espaço geográfico.
Em 2001, apenas 42% dos trabalhadores eram do sexo feminino (enquanto
A distribuição espacial da população nos dias atuais obedece à mesma dinâmica
que nos países desenvolvidos é de 50%; ver tabela 2.5). A inserção da mulher
da formação de áreas de atração e de repulsão da população, característica do
brasileira no mercado de trabalho está ligada à perda de poder aquisitivo dos
povoamento do território brasileiro. O recurso que se utiliza na avaliação da
salários, fazendo com que ela trabalhe para complementar a renda familiar.
distribuição da população pelo espaço geográfico é denominado de densidade
demográfica. A densidade demográfica, também conhecida como população relativa
Participação (%) feminina e masculina na PEA
(Pr), é a relação entre a população absoluta (Pa) e a área territorial ou a superfície
Ano
1940 1950 1960 1970 1980 1990 1995 2001 por ela ocupada (S). Desse modo, temos: Pr = Pa/S.
Sexo
No Brasil, em 2000, a densidade demográfica era de 19,94 habitantes por
Fem. 19 14,5 18 21 27 35,5 40,4 41,8
quilômetro quadrado, ou seja, Pr = 19,94 hab/km². Mas qual é o significado
Masc. 81 85,5 82 79 73 64,5 59,6 58,2
desse número? Comparando-se a outros países, pode-se dizer que é um país de
Tabela 2.5: Percentual (%) de participação feminina e masculina na PEA (anos de 1940 – 2001), baixa densidade demográfica, ou ainda, pouco povoado (apesar de populoso, não
segundo o IBGE (Anuário Estatístico do Brasil)
é mesmo?). Observe a tabela que se segue (tabela 2.7) e compare a densidade
Alguns autores comentam que tal situação faz com que os empresários prefi-
demográfica dos países com a classificação de mais populoso.
ram, para suas diversas atividades, a mão de obra feminina que, por necessidade
de trabalho, acaba se sujeitando a salários menores àqueles pagos pelos homens
numa mesma função (tabela 2.6).
Capítulo 2 :: 27
Densidade Países mais Quanto às migrações pelo território brasileiro, assim como qualquer
País
demográfica populosos movimento populacional, ocorrem por motivos que forçam a população a se
Nigéria 428,4 10º deslocar pelo espaço de forma permanente ou temporária. Nessa mobilidade
Japão 349,3 9º espacial da população brasileira, destacamos as migrações internas que se
Bangladesh 1078,4 8º dividem em:
Paquistão 188,1 7º • migrações inter-regionais: movimentos das pessoas entre as regiões;
Fed. Russa 8,6 6º • migrações intrarregionais: movimentos das pessoas dentro de uma mes-
Brasil 19,94 5º ma região;
Indonésia 118,6 4º • transumância: movimentos pendulares ou temporários, relacionados às es-
EUA 31,1 3º tações do ano ou às atividades econômicas (migração temporária do campo para
Índia 344,8 2º a cidade; migração dos indígenas já aculturados para as cidades; deslocamento
China 137,8 1º dos filhos de pequenos proprietários para servirem como peões; deslocamento de
Tabela 2.7: Densidade demográfica dos dez países mais populosos do mundo (2000) (IBGE) trabalhadores rurais e urbanos para se empregarem em usinas hidrelétricas; deslo-
camento de trabalhadores de entressafra para áreas de garimpo e os movimentos
O Brasil possui uma distribuição espacial desigual da população, resultado, realizados diariamente por milhares de trabalhadores urbanos que se deslocam
sobretudo, de fatores histórico-econômicos. A concentração e a dispersão para sua moradia).
populacional brasileira acompanharam, em certa medida, a própria evolução do Ao longo da história, verificamos que esses movimentos migratórios estão
capitalismo. Procure consultar um Atlas Geográfico para acompanhar melhor o associados, desde o período colonial, a fatores econômicos. A transumância, por
desenvolvimento desse tema (identifique o Mapa de Densidade Demográfica). exemplo, é observada em vários lugares do país: no Nordeste, onde ocorre entre o
Consultando o mapa, observe que a maior concentração populacional é na Sertão e o Agreste e a Zona da Mata; em São Paulo, quando trabalhadores rurais
porção leste do território, ou seja, no litoral do Brasil ou em suas proximidades, se deslocam para o Paraná a fim de colher o algodão e depois retornam para a
onde também estão localizadas as metrópoles brasileiras (com exceção de Belo colheita da cana-de-açúcar; os trabalhadores rurais da Bahia, Minas Gerais, Piauí e
Horizonte, no interior do estado de Minas Gerais). Maranhão que se deslocam para São Paulo na época do corte da cana-de-açúcar;
A maior concentração populacional localiza-se nas regiões Sudeste e Nordeste dentre outros.
do país. As maiores densidades demográficas localizam-se nas áreas metropolita- O êxodo rural, também denominado migração campo-cidade, é o mais
nas (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Fortaleza), nos municípios que importante movimento populacional interno do país, tendo como marco a
correspondem às capitais (Natal, João Pessoa, Maceió, Aracaju e Vitória) e na segunda metade do século XX (1950). Foi a partir do declínio da população
zona cacaueira do sul da Bahia (municípios de Ilhéus, Itabuna e Ipiaú), com índi- rural, em 1940, que o percentual da população urbana começou a aumentar,
ces superiores a 100 hab/km² e as imediações dos municípios citados, alcançam ultrapassando a rural nos anos de 1970. Em 2001, no conjunto das Grandes
entre 25,01 e 100 hab/km2. Dos estados brasileiros, é o estado de São Paulo Regiões, o destaque foi para a região Sudeste por possuir o maior percentual de
aquele que apresenta a maior área contínua de densidade demográfica acima população em área urbana (93,1% contra 6,9% em áreas rurais), seguida das
de 100 hab/km², representada por importantes eixos rodoviários como as Vias regiões Centro-Oeste e Sul. Atualmente, as regiões Norte e Nordeste são as que
Anhanguera, Washington Luís, Castelo Branco e Raposo Tavares. possuem o maior percentual de população vivendo em áreas rurais.
Dirigindo-se para o interior do país, as densidades demográficas declinam Essas migrações, que ocorreram no país a partir do ano de 1940, podem ser
para os intervalos de 10 a menos de 25 hab/km², 1 a menos de 10hab/km² assim resumidas:
e menos de 1hab/km², com algumas exceções como as áreas de entorno das • 1940 a 1950: deslocamentos para a região Centro-Oeste e para o Norte
capitais e as próprias capitais. As áreas com o menor índice estão nas áreas do Paraná, tendo como atrativo a busca de terras para agricultura (do Sudeste e
cobertas pela Floresta Amazônica e por trechos do Cerrado. Verifique a evolução Nordeste);
das densidades demográficas na tabela que se segue (tabela 2.8). • 1950 a 1960: grande fluxo migratório para o Sudeste, tendo a indústria
como principal atrativo, e para outros locais com atrativos diversos (Maranhão:
Densidades demográficas (hab/km2)
babaçu; Mato Grosso: garimpo; Rondônia: mineração; Paraná: café; Goiás:
Regiões 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
construção de Brasília);
Norte 0,41 0,52 0,72 1,01 1,65 2,59 3,35
• 1960 a 1970: continuidade da marcha para o Centro-Oeste e expansão
Centro-Oeste 0,67 0,92 1,57 2,7 4,01 5,85 7,24
para a Amazônia, tendo como principal atrativo os projetos agropecuários com
Nordeste 9,36 11,65 14,38 18,23 22,57 27,22 30,72
incentivos fiscais pelo governo;
Sul 10,2 13,95 20,95 29,35 33,86 38,34 43,57
• 1970 a 1990: os movimentos em direção à Amazônia, no contexto da
Sudeste 19,97 25,54 33,34 43,38 56,31 67,66 78,32
ideologia dos governos militares em promover a ocupação (construção de rodovias);
Brasil 4,88 6,14 8,29 11,01 14,07 17,18 19,94
• 1970 a 1991: migrações realizadas para Rondônia por meio do Programa
Tabela 2.8: As densidades demográficas (hab/km2) no Brasil por regiões. Fonte: IBGE, Anuário
Estatístico, 2001. Integrado de Colonização, do Projeto de Assentamento e do Planoroeste;
28 :: Geoografia :: Módulo 2
• 1970 a 1991: migrações realizadas para Roraima atraídas principalmente Exercícios de vestibular
pela garimpagem;
• década de 1990: mesmas tendências observadas na década de 1980 1) (CEDERJ / 2001) Nos últimos quinze anos, registra-se uma significativa
(queda do movimento migratório interno em direção à região Sudeste; diminuição emigração de brasileiros para o Paraguai e para a Bolívia. No Paraguai, por
exemplo, já há cerca de 300 mil imigrantes brasileiros legalizados.
do crescimento populacional do município de São Paulo; permanência do vetor
Pode-se afirmar que esse fluxo migratório:
em direção à Amazônia; crescimento dos municípios de médio e pequeno portes). (A) é produto do deslocamento, para o Cone Sul, de empresas brasileiras dos
As indicações são, portanto, no sentido de uma redistribuição geográfica, setores industriais e de serviços;
quando as grandes cidades deverão sofrer uma desconcentração populacional, (B) faz parte de um movimento sazonal vinculado às oportunidades da expansão
e as pequenas e médias deverão crescer. As indústrias já estão se estabelecendo do comércio varejista;
em cidades de pequeno e médio portes, fazendo com que o fluxo interno (C) resulta da livre circulação da força de trabalho e capitais entre os países-
membros do Mercosul;
sofra alterações. Atreladas a essas novas possibilidades de emprego, estão as
(D) está relacionado às melhores condições de apropriação de terras e à expansão
oportunidades nos negócios, a oferta de centros médicos e hospitalares, as da produção de soja e trigo;
faculdades e universidades, o custo de vida mais baixo e a perspectiva de uma (E) foi determinado pela estratégia geopolítica brasileira de ocupação de áreas
melhor qualidade de vida. devolutas da fronteira oeste.
Grupo de idade
deve às migrações direcionadas às regiões Norte e Centro-Oeste, 60 - 69 Urbana Rural 60 - 69
que datam desde final do século XIX com atividades ligadas aos
50 - 59 50 - 59
seringais e se intensificam a partir da década de 60 com as políticas
40 - 49 40 - 49
de colonização dessas regiões. Os homens deixam suas famílias
30 - 39 30 - 39
no Nordeste e migram para essas regiões em busca de trabalho,
20 - 29 20 - 29
porém muitas vezes não retornam aos seus lares. Um dos principais
10 - 19 10 - 19
motivos são as dificuldades de juntar dinheiro para o retorno, já
0-9 0-9
que as relações de trabalho nestes lugares são extremamente
precárias, ocorrendo casos de escravidão por dívida. 2.000 1.600 1.200 800 400 0 400 800 1.200 1.600 2.00
População (em 1.000)
3) (UFF/2000)
Texto 1 :: Os DEKASSEGUI
II. Das opções a seguir, quais NÃO explicam as principais características e 390.000 a 403.510
condições de migração dos brasileiros para o Japão na década de 90 deste século. 456.546 Sul
(a) Busca de melhores condições de emprego e salário.
(b) Migração seletiva em função da descendência étnica.
(c) Migração subordinada à permissão do governo brasileiro. Observe, no mapa acima, o fluxo migratório de ida e volta entre o Nordeste e o
(d) Mão de obra destinada às atividades industriais, sobretudo no setor de Estado de São Paulo.
autopeças, de eletrônica e alimentar. Identifique e explique a sua característica principal.
:: Objetivos ::
• Apresentar as formas de regionalização do Brasil.
• Caracterizar aspectos ambientais e socioeconômicos dos complexos regionais.
34 :: Geografia :: Módulo 2
O Brasil é um país de grandes dimensões. O nosso território possui cerca de país, elaborar propostas de planejamento adequadas a cada região. Além disso,
8,5 milhões de km2, onde podemos perceber uma grande diversidade ambiental os estudos para estabelecer uma divisão regional do Brasil criavam a necessidade
(grande variedade de tipos climáticos, de vegetação e de formas de relevo). de aprofundar o conhecimento sobre o território nacional (seus recursos naturais,
Somando-se a essa diversidade de paisagens naturais, há enormes diferenças aspectos da população, atividades industriais etc.).
quanto às características sociais e econômicas. Dentro desse contexto, foram criados dois órgãos federais: o Conselho
Nacional de Estatística, criado em 1936, e o Conselho Nacional de Geografia,
Atividade 1 criado em 1937. Em 1938, tais órgãos foram unificados, constituindo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IBGE estabeleceu, a partir de 1942,
Você é capaz de identificar a que regiões brasileiras pertencem as fotos abaixo?
uma divisão regional do Brasil oficial, a ser adotada em todos os ministérios. As
características físicas do território brasileiro continuavam como o principal critério
de definição das macrorregiões, entretanto, o limite destas seguia a divisão
política dos estados e municípios. Deste modo, atendia-se a uma necessidade
prática de divulgação de dados estatísticos.
A divisão regional do IBGE passou por reavaliações, estabelecendo, em 1970,
cinco grandes regiões: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Embora esta
Foto A (Foto de Silvio Bahiana) Foto B (Foto de Rosana dos Santos)
divisão seja fixa, houve algumas adaptações no decorrer do tempo, pois novos
estados foram criados. O exemplo mais recente é o do Estado de Tocantins,
criado em 1988, a partir da divisão do Estado de Goiás. Oficialmente, o Tocantins
pertence à região Norte, entretanto, quando esta área ainda fazia parte de Goiás,
era integrada à região Centro-Oeste. Acompanhe esta mudança pela figura 3.1.
Por que o novo Estado de Tocantins foi considerado integrante da região
Norte e não da região Centro-Oeste?
Foto C (Foto do acervo do NEQUAT/UFRJ) Foto D (Foto de Carla Maciel Salgado)
Será que a divisão regional do IBGE é realmente ideal?
Responder tais questões não é uma tarefa fácil, pois vários critérios podem
Marque com um X o nome das regiões brasileiras relacionadas a cada foto. ser empregados para delimitar uma região. No caso do IBGE, os critérios estão
Regiões Brasileiras associados a aspectos naturais e a algumas características socioeconômicas. Além
Fotos Centro- disso, este órgão dá ênfase ao limite político-administrativo, ou seja, um estado
Norte Nordeste Sudeste Sul
Oeste
não pode pertencer a mais de uma região. Para o IBGE, o Estado de Tocantins
A
apresenta mais semelhanças (vegetação, clima e atividades econômicas) com o
B
Norte do que com o Centro-Oeste.
C
A obediência ao limite político dos estados é um dos elementos mais criticados
D
nesta divisão regional do IBGE. Contudo, os diversos aspectos sociais, econômicos
e naturais encontrados no Brasil não coincidem com os limites estaduais. Vamos
Com tantos lugares apresentando aspectos naturais e socioeconômicos
ver alguns exemplos (acompanhe com o mapa B da figura 3.1):
diferentes, surgiu a necessidade de estabelecer uma divisão regional do Brasil. Este
• A área com clima semiárido, onde a população sofre com problemas de
procedimento de delimitar regiões é usado para planejar ações e investimentos
seca prolongada e latifúndios impedindo o acesso do pequeno agricultor à terra,
necessários ao desenvolvimento de uma área.
se estende desde o interior dos Estados do Nordeste até o setor norte de Minas
Neste capítulo, vamos conhecer alguns métodos de regionalização do Brasil
Gerais (região Sudeste).
e as características principais das macrorregiões brasileiras.
• As atividades agropecuárias realizadas em boa parte do Mato Grosso do
Sul (região Centro-Oeste) estão mais ligadas ao Estado de São Paulo (região
Regionalização do Brasil Sudeste), do que aos demais estados do Centro-Oeste. A mesma coisa acontece
com o norte do Paraná (região Sul), onde há também grande semelhança quanto
As primeiras propostas de divisão regional do Brasil datam do início do século
ao tipo de solo e de clima com o Estado de São Paulo.
XX, tomando como base apenas os elementos do meio físico. No entanto, as
• A vegetação densa e o clima quente e úmido que caracterizam a Amazônia
profundas transformações na organização do espaço brasileiro, principalmente a
não estão restritos aos estados da região Norte. Uma parte do Estado do Mato
partir da década de 1930 (Governo Vargas impulsionando a industrialização),
Grosso (região Centro-Oeste) e do Maranhão (região Nordeste) também possuem
estimularam novas discussões sobre os critérios de regionalização. Vários interesses
estas características ambientais.
estavam por trás destas discussões: aumentar o poder do governo federal sobre
as demais esferas políticas (estados e municípios), facilitar a administração do
Capítulo 3 :: 35
diferentes áreas deste complexo regional. Por exemplo: bancos com sede em São
Paulo investem pesadamente no agronegócio em estados do Sul e Centro-Oeste;
agricultores e pecuaristas do Sul e do Sudeste compraram terras no Centro-Oeste;
uma parte da soja produzida em Mato Grosso e Goiás é exportada pelo porto de
Santos (SP).
Complexo do Nordeste – Área de colonização mais antiga do país, que
começou a apresentar estagnação econômica, principalmente em meados do
século XX, devido à falta de investimentos em novas tecnologias de cultivo,
problemas de concentração fundiária, grande desemprego etc. Desde o século
XIX, vinha se caracterizando como uma área de repulsão populacional, que
migrou especialmente para estados do Sudeste e do Norte. Este complexo regional
engloba o polígono da seca – área frequentemente atingida por estiagens, que
podem durar mais de dois anos seguidos.
Complexo do Norte – As primeiras características que vêm à mente sobre
esta região são o clima quente e bem úmido e a vegetação densa (Floresta
Amazônica conhecida pela grande biodiversidade). No entanto, esta região
diferencia-se das demais devido à fraca densidade demográfica, exceto nas
grandes capitais (Manaus e Belém, principalmente), onde há desenvolvimento
de atividades industriais e comerciais. Sua economia caracteriza-se por atividades
primárias: extrativismo vegetal e mineral, agricultura e pecuária extensivas. Com
exceção de algumas modalidades de mineração, tais atividades são praticadas
com baixo nível tecnológico.
Esses grandes complexos regionais podem, ainda, ser divididos em regiões
menores, considerando uma análise histórica de alguns aspectos: tipos de
aproveitamento dos recursos naturais, objetivos da produção (para exportação ou
para consumo interno, por exemplo), estrutura social, entre outros.
Atividade 2
Compare a divisão regional do Brasil proposta por Pedro Geiger (figura 3.2)
com a do IBGE (figura 3.1) e responda às questões a seguir.
Figura 3.1: Macrorregiões brasileiras definidas pelo IBGE, antes (mapa A) e depois (mapa B) da
formação do Estado de Tocantins. OCEANO
ATLÂNTICO
Equador
Outros pesquisadores propuseram divisões regionais diferentes daquela
oficializada pelo IBGE. A mais conhecida foi elaborada por Pedro Geiger, em 1964. AMAZÔNIA
Nesta, o Brasil é dividido em três Complexos Regionais: Centro-Sul, Nordeste e
Norte (Amazônia) (figura 3.2). Enquanto a divisão do IBGE leva em consideração
os limites políticos dos estados, a proposta de Pedro Geiger desconsidera tais NORDESTE
a) Aponte as principais diferenças entre elas. pelos extensos engarrafamentos que lançam gases na atmosfera. Nos meses de
inverno, quando há sequências de dias com pouco ou nenhum vento para dispersar
a poluição, a qualidade do ar fica péssima, prejudicando a saúde dos paulistanos.
b) Na tabela a seguir, escreva os estados (e parte destes) que compõem os
Os gases na atmosfera também podem formar chuva ácida, que corrói estruturas
Complexos Regionais.
de construções diversas (casas, prédios, pontes etc.).
Complexos Estados e áreas que
regionais integram os complexos regionais
principalmente ao longo do vale do rio Paraíba do Sul, levando à formação de artificiais encaixados entre o litoral e as escarpas da Serra do Mar) não eram
uma megalópole. propícias à instalação de atividades como essas.
Além do crescimento das cidades no eixo Rio-São Paulo, há o desenvolvimento É importante considerar que existem níveis diferenciados de comprometimento
urbano em diversos outros pontos desta região. Em Goiás e Mato Grosso do ambiental, devido principalmente à ocorrência das diversas combinações de fatores
Sul, por exemplo, as cidades estão florescendo por meio do estabelecimento que envolvem as atividades industriais, os diferentes tamanhos das fábricas, as
dos complexos agroindustriais. Estes atraem empresas dos setores de serviços tecnologias de transformação utilizadas e os aspectos de infraestrutura das áreas
(bancos, hospitais, escolas etc.) e de comércio, que se concentram em pequenas do entorno. Desse modo, resultam em ações poluidoras desiguais fazendo com
cidades, estimulando o seu desenvolvimento. que umas aglomerações sofram mais do que outras.
Contrastando com o elevado número de cidades médias e grandes, há extensas
áreas ocupadas pelas atividades agrícolas e pecuárias, praticadas em moldes Atividade 3
tradicionais ou adotando modernas tecnologias de produção. Este fato confere uma
Pesquise em jornais e revistas acontecimentos que ilustrem o contraste entre
grande diversidade de formas de ocupação do espaço na região Centro-Sul.
o “Centro-Sul moderno e próspero” e o “Centro-Sul antiquado e decadente”. Anote
O Estado de São Paulo se destaca, nesta região brasileira, devido à sua mo-
aqui sua análise.
derna estrutura produtiva. Tanto o setor agrícola quanto o industrial apresentam
alto nível tecnológico. A cidade de São Paulo concentra empresas de diversos seto-
res, promovendo fluxos nacionais e internacionais de capital, de mercadorias e de
pessoas. Para isso, esta cidade possui uma boa rede de comunicação, aeroportos
bem equipados e um sistema viário conectado ao resto do país.
Até aqui, você pode pensar que o Centro-Sul é um “mar de prosperidade
Nordeste
e de modernidade”. No entanto, o dinamismo econômico da região não atinge
a toda população ou a todos os municípios. Há algumas áreas com problemas O Nordeste apresenta questões sociais marcantes: grande concentração de
de estagnação econômica gerando desemprego, de concentração fundiária renda por parte de uma pequena elite ao lado de um baixo nível de vida da maior
dificultando o acesso do pequeno agricultor à terra, de desigualdade social parte da sua população. Esta profunda desigualdade social e a falta de perspectiva
devido à concentração de renda, aumento da criminalidade e do setor informal de trabalho leva uma parte da população nordestina a procurar empregos em outras
da economia etc. As modernas formas de produção atuais contrastam com antigas regiões. Assim, o Nordeste pode ser considerado um reservatório de mão de obra
relações de trabalho, inclusive trabalho escravo, como já foi detectado em São barata. Devido ao baixo nível de escolaridade, muitos nordestinos trabalham como
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro nos últimos anos. porteiros de prédios, na construção civil, como empregados domésticos ou como
Quanto aos aspectos ambientais na região Centro-Sul, os efeitos da camelôs, quando migram para as cidades, especialmente as do Centro-Sul. As opções
industrialização como a poluição do ar e da água nos espaços urbanos e rurais de trabalho no Norte geralmente são como garimpeiro, empregados de fazendas (de
são de abrangência local e regional. Os municípios mais urbanizados apresentam cultivo ou de criação de gado), extrativistas ou eles se fixam como posseiros.
índices de poluição e de degradação ambiental mais elevados associados às Os problemas sociais verificados atualmente tiveram sua origem relacionada
indústrias que os municípios menos urbanizados. Esses últimos apresentam à grande exploração da mão de obra por parte de uma pequena elite, desde
elevados índices de poluição associados às práticas de monocultura, silvicultura o período colonial. A estrutura de sesmarias perpetuou-se com os latifúndios,
e ao agronegócio (queimada, uso excessivo de agrotóxicos, desmatamento de ocupando as melhores terras. Até o final do século XIX, a economia desta região
nascentes de rios etc.). era próspera, com a produção e a exportação de produtos tropicais. Contudo, esta
Cubatão, Paulínia, Itabira, João Monlevade, Resende, Mariana, Pindamo- riqueza não revertia-se em benefícios para toda a população.
nhangaba, Barroso são exemplos de cidades nas quais a industrialização predo- A partir do século XX, a economia do Nordeste entrou em declínio devido
minante baseia-se em atividades poluidoras como a metalurgia, a química e o à falta de investimentos e modernização das atividades. A concorrência com os
processamento e extração de minerais. As aglomerações urbanas de escala metro- produtos gerados nos estados do Sudeste, especialmente São Paulo, provocou
politana são também exemplos, destacando-se as regiões metropolitanas de São falências e prejuízos em vários setores econômicos nordestinos.
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e as aglomerações de Campinas, Santos, Com a estagnação econômica, as oligarquias (elite controladora de atividades
São José dos Campos, Vitória, Sorocaba, Jundiaí, Guaratinguetá/Aparecida, Barra econômicas e políticas) se beneficiam de políticas de planejamento do governo
Mansa/Volta Redonda, Ipatinga/Coronel Fabriciano, dentre outros. O exemplo federal. O problema das secas é usado como justificativa para receber vários
clássico de poluição por fontes industriais em área urbana é o de Cubatão, muni- tipos de auxílios: construção de açudes e de estradas dentro dos seus latifúndios,
cípio pertencente à aglomeração urbana de Santos e sede do complexo industrial facilidade de acesso a créditos e financiamentos bancários etc. Assim, foi criada
petroquímico e siderúrgico, que se vincula à grande estrutura portuária de Santos. a “indústria da seca”. A força política dos “coronéis” nordestinos levou à criação
Neste sentido, o resgate histórico mostra a instalação da primeira indústria na oficial do “Polígono das Secas” em 1936, cuja área foi alterada posteriormente
década de 1950, seguida de refinarias e companhias siderúrgicas, onde as con- para abranger outros municípios (figura 3.3).
dições geomorfológicas da baixada santista (estreitas áreas de mangue e aterros
38 :: Geografia :: Módulo 2
cultivo de algodão, café e sisal. As cidades de Campina Grande (PB), Caruaru (PE)
e Garanhuns (PE) se destacam como capitais regionais, devido ao comércio de
produtos do interior vendidos para o litoral.
4. Zona da Mata – Correspondendo ao litoral leste, apresenta clima tropical
úmido. As atividades econômicas tradicionais desta área são a cana-de-açúcar (do
Rio Grande do Norte até o norte da Bahia), o fumo (no Recôncavo Baiano) e o
cacau (no sul da Bahia). A exploração mineral, de sal marinho e de petróleo,
constitui-se em atividades lucrativas.
dos argumentos de defesa dos fazendeiros (arrozeiros/rizicultores) é que 3) Observe os dados apresentados na tabela.
eles garantiriam, de uma forma mais eficaz do que os índios, a soberania
e a segurança nacional. Outros, contudo, afirmam que essa hipótese não é Área em relação Grau de urbanização
Regiões
ao Brasil (%) (%)
verídica, pois apenas a ação efetiva do Estado pode garantir a soberania e
1 10,9 90,52
não a iniciativa privada.
O Pará é um dos estados da região Norte que mais apresentam problemas 2 18,7 86,73
de conflitos. No setor sul deste estado a situação é mais crítica, pois há fazendas 3 18,2 69,04
que estão há anos para ser desapropriadas devido à prática de trabalho escravo, 4 6,8 80,93
crimes ambientais e grilagem de terras da União, mas em virtude da demora dos Fonte: IBGE, 2000
processos e recursos na justiça, não podem ser ocupadas por trabalhadores sem Os números 1, 2, 3 e 4 representam, respectivamente, as seguintes regiões
terra. Deste modo, estabelece-se o conflito entre os ocupantes (famílias sem terra) brasileiras:
e os jagunços comandados por fazendeiros, gerando vários casos de assassinatos (a) Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste.
de trabalhadores, lideranças, além de religiosos e pessoas simpatizantes ao (b) Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.
(c) Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Sul.
movimento de trabalhadores rurais sem terra.
(d) Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Sul.
O Estado do Pará também apresenta sérios problemas com desmatamento (e) Centro-Oeste, Sudeste, Nordeste e Sul.
e trabalho escravo. Neste último caso, o aliciamento (recrutamento dos
trabalhadores) ocorre, normalmente, nos bolsões de pobreza da área rural e
urbana. Estas são áreas muito pouco atendidas pelo Estado na promoção de
Exercícios de vestibular
empregos, de qualificação profissional e de geração de renda.
1) (CEDERJ / 2002) O Censo-2000 do IBGE revela as seguintes informações
acerca dos estados da federação que apresentam as mais baixas taxas de
Exercícios de Fixação alfabetização e de renda média do responsável pelo domicílio:
Rio Trombetas
2) (UFRJ / 2006) Pantanal – “Santuário Ecológico”
O Complexo do Pantanal é cortado por uma densa rede hidrográfica. Por sua
Rio S
rica biodiversidade foi declarado Reserva da Biosfera pela UNESCO. Muitas das olimõ
es
ameaças à integridade ecológica do Pantanal estão nas regiões que o cercam. Peru nas Bauxita
Amazonas azo
Am Cassiterita
Rio
a) Apresente duas atividades praticadas nas regiões circunvizinhas que ameaçam Pará
Ouro
o equilíbrio ecológico do Pantanal. Urânio
3) (PUC/2005) O texto abaixo se refere aos grandes conjuntos climatobotânicos. MAGNOLI, De & ARAÚJO, R. A nova Geografia: estudos de Geografia do Brasil.
A vegetação é reflexo das condições naturais, principalmente do solo e São Paulo: Moderna, 1996.
do clima do lugar onde ocorre. O Brasil, por contar com grande diversidade
Criado em 1985, o Projeto Calha Norte é uma comprovação de que a
climática, apresenta várias formações vegetais. Tem desde densas florestas
Amazônia não é mais uma “fronteira fria”, como se dizia há 40 ou 50 anos,
latifoliadas tropicais, que ocupam mais da metade de seu território, até
quando as atenções estavam direcionadas à Região Sul, ou seja, ao Prata. A
formações xerófitas, como a caatinga.
Amazônia é hoje uma “fronteira quente”, tendo em vista a ocorrência crescente
SENE, E. de e MOREIRA, J. C. Geografia Geral e do Brasil: Espaço Geográfico e Globalização. de conflitos diversos e o surgimento de problemas como o tráfico de drogas, que
São Paulo: Scipione, 1998. p.484.
põe em risco, até mesmo, a segurança do território brasileiro.
Correlacione as colunas, associando a vegetação aos tipos climáticos. a) Cite dois atores sociais presentes nesses conflitos.
(e) o esgotamento das reservas minerais de ferro e bauxita extraídas do subsolo 8) (UFF / 2002) No semiárido nordestino existem cerca de 70.000 açudes:
por grandes empresas mineradoras. “máquinas d’água” destinadas à irrigação de lavouras e ao abastecimento do
homem e dos animais. Apesar de sua importância para a população local e regional,
6) (UFF / 2002 – adaptada) Sabe-se que ao longo do século XX os governos os açudes geram problemas ambientais. Dentre esses problemas, destaca-se:
procuraram melhorar a qualidade dos serviços de saneamento em nosso extenso (A) a redução do potencial aquífero dos açudes, em função do uso inapropriado
país. Entretanto, não se pode negar que as condições desses serviços ainda são por parte de pequenos e médios agricultores;
precárias. As informações, a seguir, apresentam desigualdades regionais no tocante (B) a inundação de áreas agricultáveis na época das chuvas, em virtude da
à distribuição dos serviços de saneamento básico e aos casos de mortalidade infantil. utilização esporádica dos grandes reservatórios aquíferos;
(C) a salinização dos corpos d’água e, consequentemente, das áreas irrigadas,
Porcentagem dos
domicílios urbanos Crianças de 0 a 4 anos
devido à intensa evaporação e às características dos solos onde os açudes se
Regiões servidos por água que morrem por diarreia localizam;
tratada, esgoto e coleta e infecções intestinais (D) a alteração climática provocada pela elevada evapotranspiração de pequenos
de lixo. e médios reservatórios localizados nas chapadas e tabuleiros;
Norte 14,2% 3.394 (E) o desmatamento das áreas de várzea provocado pelas obras de drenagem de
Nordeste 31,0% 17.310 rios e pelo uso extensivo dos recursos hídricos.
Sudeste 85,1% 7.522
9) (UFF / 2002)
Sul 63,1% 2.561
O Urucúia vem dos montes oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá
Centro-Oeste 41,0% 1.829
– fazendões de fazendas, almagem de vargens de bom render, as vazantes;
Fonte: Fundação Nacional de Saúde. In Folha de São Paulo, 2000 culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens
Assinale a opção que explica uma relação entre as informações apresentadas e o dessas há lá. O geraes corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada
quadro regional brasileiro. um que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães (...). O
(A) As políticas públicas de implantação de serviços de saneamento, que Sertão está em toda parte.
privilegiaram as grandes concentrações urbanas, explicam a distribuição desigual
de casos de mortalidade infantil pelas regiões brasileiras. ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 10a ed. Rio de Janeiro: J. Olympio,1976, p. 9
(B) A concentração da população no espaço rural das Regiões Sul e Centro-Oeste O trecho acima revela a visão particular de uma paisagem típica do Brasil – o
explica seus poucos casos de mortalidade infantil, quando comparados aos sertão – que se caracteriza por apresentar:
observados nas outras regiões mais urbanizadas. (A) espaços interioranos ocupados por lavouras e pecuária extensiva;
(C) Nas regiões mais desenvolvidas econômica, educacional e tecnologicamente é (B) lugares constituídos de vales fluviais cercados por matas, galerias e lavouras
maior o percentual de domicílios atendidos pelos serviços de saneamento, o que de subsistência;
explica os poucos casos de mortalidade infantil observados nessas regiões. (C) áreas litorâneas de vegetação rasteira e exploração extrativa;
(D) A Região Nordeste apresenta o maior número de casos de mortalidade infantil, (D) regiões de vegetação herbácea de domínio da pecuária intensiva;
o que é explicado pela grande concentração demográfica nas suas áreas rurais, (E) territórios de baixa densidade demográfica cobertos por florestas densas.
hoje desprovidas de serviços de saneamento.
(E) A distribuição do saneamento básico, os níveis de renda e a concentração
demográfica são fatores que explicam as diferenças regionais nos casos de 10) (UFPR / 2005)
mortalidade infantil. A dinâmica da natureza e as diferentes combinações entre os elementos
produziram certas diferenciações dentro do território brasileiro, configurando
7) (UERJ / 2008) a existência de seis porções relativamente distintas, chamadas domínios
Duas grandes secas abalaram o Nordeste em 1952 e em 1958. Cenas morfoclimáticos ou domínios naturais.
conhecidas desde os tempos coloniais se repetiam: rios secos, gado morrendo, COELHO, M. de A. Geografia do Brasil. São Paulo: Moderna, 1996. p. 107.
retirantes. Fugindo da seca, milhares de nordestinos migravam para o sul do país.
Em relação ao relevo e à cobertura vegetal dos diferentes domínios, considere
Em 1953, por exemplo, segundo relatório do Ministério da Agricultura, 600.000
as afirmativas a seguir.
pessoas deixaram o Nordeste, em busca de melhores condições de vida em São
I. No domínio do cerrado, a vegetação característica é de herbáceas, com
Paulo, Rio de Janeiro e norte do Paraná.
predomínio das gramíneas.
Adaptado de Nosso Século. São Paulo: Abril Cultural, 1980. II. A Floresta Ombrófila Mista, ou Floresta com Araucária, é típica das pradarias.
O texto apresenta problemas sociais que afligiram o Brasil na década de 1950. III. No domínio amazônico, o relevo caracteriza-se pela presença de planícies,
Uma ação governamental e uma reação da sociedade civil associadas a esses depressões e baixos planaltos.
problemas, naquele momento, foram: IV. Na faixa oriental do Brasil, marcadamente na região Sudeste, o relevo
(A) reforma agrária – êxodo rural
predominante é de planaltos e serras, constituindo paisagens conhecidas como
(B) criação da SUDENE – organização das Ligas Camponesas
(C) estímulo à emigração – fundação de cooperativas agrícolas “mares de morros”.
(D) ampliação do crédito para o pequeno produtor – invasão de terras devolutas Assinale a alternativa correta.
Capítulo 3 :: 43
(A) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. 14) (UNESP / 2003) Leia o texto.
(B) Somente a afirmativa I é verdadeira. ...E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos
(C) Somente a afirmativa II é verdadeira. de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se
(D) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte
(E) Todas as afirmativas são verdadeiras.
(de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em
qualquer idade, e até gente não nascida). Somos muitos
11) (UFPR / 2005) Dentre as muitas visões estereotipadas sobre a diversidade
regional brasileira, duas são bastante comuns: a de que o conjunto da Amazônia Severinos iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras,
constitui um “vazio demográfico” e a que associa toda a região Nordeste ao clima suando-se muito em cima, a de tentar despertar terra sempre
seco. Com base nessa afirmação e nos conhecimentos de geografia brasileira, mais extinta, a de querer arrancar algum roçado da cinza.
assinale a alternativa correta. Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor
(A) A noção de “vazio demográfico” serviu para justificar políticas de “integração possam seguir a história de minha vida, passo a ser
nacional” que objetivavam direcionar os imigrantes nordestinos para a Amazônia,
severino que em vossa presença emigra.
as quais resultaram em fracasso.
(B) A ideia de que o problema da seca afeta o conjunto do Nordeste advém do fato Esta pequena parte do Auto de Natal pernambucano – Morte e Vida Severina,
de que a maior parte da população nordestina habita o sertão, que possui clima árido. de João Cabral de Mello Neto – retrata a realidade do nordeste do Brasil.
(C) A Sudene foi instituída no período militar com o objetivo de implementar obras Assinale a alternativa que melhor expressa tal realidade.
contra a seca, o que generalizou a ideia de que a região é árida em seu conjunto. (a) Açudes, desnutrição e imigração.
(D) A noção de “vazio demográfico” é válida apenas para as áreas da Amazônia (b) Solo pedregoso, imigração e doenças.
ocupadas por populações indígenas, devido ao caráter nômade desses povos. (c) Desnutrição, emigração e escassez de água.
(E) A Sudam, com obras de saneamento e combate a epidemias, visa promover (d) Solo pedregoso, emigração e alta esperança de vida.
a ocupação da Amazônia Legal, devido a ser essa a área específica que, por ser (e) Escassez de água, roçado e imigração.
insalubre, apresenta-se “vazia”.
15) (UFF / 2004) Asa Branca Luiz Gonzaga
12) (UFPE / 2005) O Brasil é um país muito rico em biomas. Existem no Quando olhei a terra ardendo qual fogueira de São João,
território brasileiro pelo menos cinco tipos de florestas, reunidos em dois grupos: Eu perguntei a Deus do céu, ai! por que tamanha judiação.
o das florestas ombrófilas e o das florestas estacionais. As florestas estacionais Que braseiro! Que fornalha! Nenhum pé de plantação.
são aquelas que:
Por falta d’água perdi meu gado, morreu de sede meu alazão.
(A) se localizam em solos hidromórficos ou litólicos e não se prestam ao
extrativismo vegetal. Até mesmo a asa-branca bateu asas do sertão.
(B) apresentam árvores que perdem parcialmente ou quase totalmente as folhas Então, eu disse: Adeus, Rosinha! Guarda contigo meu coração.
na estação seca. Hoje longe, muitas léguas, numa triste solidão,
(C) se localizam em áreas de elevada umidade, semestação seca. Espero a chuva cair de novo pra eu voltar pro meu sertão.
(D) surgem apenas em áreas de clima subtropical. Quando o verde dos teus olhos se espalhar na plantação,
(E) apresentam árvores as quais mantêm as folhas em todas as estações do ano.
Eu te asseguro, não chores não, viu? Eu voltarei pro meu sertão.(...)
Retratado na canção Asa Branca, o sertão nordestino se caracteriza como uma
13) (UFU / 2006) Na obra Os Sertões, ao descrever a travessia da caatinga por sub-região marcada por fortes conflitos.
um viajante, Euclides da Cunha escreveu que: Analise as condições sociais do sertão nordestino, tendo em vista sua estrutura
[...] a caatinda o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o econômica e fundiária.
na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com
o espinho, com os graveros estalados em lanças; o desdobra-se-lhe na frente
léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos
estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou Complemente seus
estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da conhecimentos
flora agonizante.
Sobre as principais características do domínio morfoclimatobotânico acima
mencionado, é correto afirmar que: Geopolítica da Amazônia
(A) esse constitui-se como área de transição na qual se destaca uma vegetação De início, cabe uma pequena explanação sobre geopolítica: trata-se de um
típica de clima tropical, com elevada temperatura. campo de conhecimento que analisa relações entre poder e espaço geográfico.
(B) Predominam extensos planaltos e chapadas sedimentares cobertas por solos Foi o fundamento do povoamento da Amazônia, desde o tempo colonial,
ácidos e profundos. uma vez que, por mais que quisesse a Coroa, não tinha recursos econômicos
(C) O relevo é formado basicamente por planaltos (planaltos da Bacia do Parnaíba
e população para povoar e ocupar um território de tal extensão. Portugal
e da Borborema) e por depressões (Depressão Sertaneja e do São Francisco)
(D) Possui solos profundos e formas mamelonares resultantes da ação do conseguiu manter a Amazônia e expandi-la para além dos limites previstos no
intemperismo químico. tratado de Tordesilhas, graças a estratégias de controle do território. Embora
44 :: Geografia :: Módulo 2
os interesses econômicos prevalecessem, não foram bem-sucedidos, e a para lidar com o trópico úmido. Essa riqueza tem de ser melhor utilizada. Sustar
geopolítica foi mais importante do que a economia no sentido de garantir a esse padrão de economia de fronteira é um imperativo internacional, nacional
soberania sobre a Amazônia, cuja ocupação se fez, como se sabe, em surtos e também regional. Já há na região resistências à apropriação indiscriminada
ligados a demandas externas seguidos de grandes períodos de estagnação e de seus recursos e atores que lutam pelos seus direitos. Esse é um fato
de decadência. novo porque, até então, as forças exógenas (externas) ocupavam a região
A geopolítica sempre se caracterizou pela presença de pressões de todo livremente, embora com sérios conflitos. Essa é uma das hipóteses deste texto.
tipo, intervenções no cenário internacional desde as mais brandas até guerras Com as resistências regionais, os conflitos na região alcançam um patamar
e conquistas de territórios. Inicialmente, essas ações tinham como sujeito mais elevado. Não se trata mais apenas de conflito pela terra; é o conflito de
fundamental o Estado, pois ele era entendido como a única fonte de poder, uma região em relação às demandas externas. Esses conflitos de interesse,
a única representação da política, e as disputas eram analisadas apenas entre assim como as ações deles decorrentes contribuem para manter imagens
os Estados. Hoje, esta geopolítica atua, sobretudo, por meio do poder de influir obsoletas sobre a região, dificultando a elaboração de políticas públicas
na tomada de decisão dos Estados sobre o uso do território, uma vez que a adequadas ao seu desenvolvimento.
conquista de territórios e as colônias tornaram-se muito caras. Para que se possa mudar esse padrão de desenvolvimento é necessário
Verifica-se o fortalecimento do que se chama de coerção velada. Pressões entender os diferentes projetos geopolíticos e seus atores, que estão na base dos
de todo tipo para influir na decisão dos Estados sobre o uso de seus territórios. conflitos, para tentar encontrar modos de compatibilizar o crescimento econômico
Essa mudança está ligada intimamente à revolução científico-tecnológica e com a conservação dos recursos naturais e a inclusão social. Enfim, não se trata
às possibilidades criadas de ampliar a comunicação e a circulação no planeta de mero ambientalismo, muito menos de mais um momento destrutivo.
através de fluxos e redes que aceleram o tempo e ampliam as escalas de Como efetuar tal compatibilização? Esse é um grande desafio para a Ciência
comunicação e de relações, configurando espaços-tempos diferenciados. e Tecnologia, e se apontarão aqui problemas em que a Ciência pode contribuir
O espaço sempre foi associado ao tempo. E hoje, na acentuação por meio de três hipóteses:
de diferentes espaços-tempos reside uma das raízes da geopolítica 1. o novo significado geopolítico da Amazônia em âmbito global como a
contemporânea. As redes são desenvolvidas nos países ricos, nos centros do grande fronteira do capital natural;
poder, onde o avanço tecnológico é maior e a circulação planetária permite 2. o novo lugar da Amazônia no Brasil;
que se selecionem territórios para investimentos, seleção que depende 3. a urgência de uma nova política de desenvolvimento e de estratégias
também das potencialidades dos próprios territórios. Ocorre que ao se básicas para implementá-la.
expandirem e sustentarem as riquezas circulante, financeira e informacional,
A Amazônia e a mercantilização da natureza
as redes se socializam. E essa socialização está gerando movimentos sociais
O ponto de partida para se fazer essa análise é o reconhecimento de profundas
importantes, os quais também tendem a se transnacionalizarem.
mudanças estruturais que ocorreram na Amazônia nas últimas décadas do século
Há, hoje, portanto, dois movimentos internacionais: um em nível do sistema
XX. Todos sabem como o projeto de integração nacional acarretou perversidades
financeiro, da informação, do domínio do poder efetivamente das potências; e
em termos ambientais e sociais. Mas, com sangue, suor e lágrimas deve-se
outro, uma tendência ao internacionalismo dos movimentos sociais. Todos os
reconhecer o que restou de positivo nesse processo, porque são elementos com os
agentes sociais organizados, corporações, organizações religiosas, movimentos
quais a região conta hoje para seu desenvolvimento. E não se pode esquecê-los.
sociais etc., têm suas próprias territorialidades, acima e abaixo da escala do
Estado, suas próprias geopolíticas, e tendem a se articular, configurando uma A dinâmica regional recente
situação mundial bastante complexa. No final do século XX, houve, portanto, impactos negativos, mas também
A Amazônia é um exemplo vivo dessa nova geopolítica, pois nela se mudanças estruturais e novas realidades geradas na fronteira, a qual tomo como
encontram todos esses elementos. Constitui um desafio para o presente, não espaço não plenamente estruturado e por isso mesmo capaz de gerar realidades
mais um desafio para o futuro. Qual é este desafio atual? A Amazônia, o Brasil, novas. Dentre as mudanças, destaca-se a da conectividade regional, um dos
e os demais países latino-americanos são as mais antigas periferias do sistema elementos mais importantes na Amazônia. Não se trata apenas das estradas,
mundial capitalista. Seu povoamento e desenvolvimento foram fundados de elementos que contribuíram para depredação dos recursos e da sociedade, mas
acordo com o paradigma (modelo) de relação sociedade-natureza, que Kenneth sim, sobretudo, das telecomunicações, porque a rede de telecomunicações na
Boulding denomina de economia de fronteira, significando com isso que o Amazônia permitiu articulações locais/nacionais, bem como locais/ globais.
crescimento econômico é visto como linear e infinito, e baseado na contínua Outra mudança importante é a da economia, que passou da exclusividade do
incorporação de terra e de recursos naturais, que são também percebidos como extrativismo para a industrialização, com a exploração mineral e com a Zona
infinitos. Esse paradigma da economia de fronteira realmente caracteriza toda Franca de Manaus, que foi um posto avançado geopolítico colocado pelo Estado na
a formação latino-americana. fronteira norte, em pleno ambiente extrativista tradicional. Há problemas na Zona
Hoje, o imperativo é modificar esse padrão de desenvolvimento que alcançou Franca, mas hoje ela é grande produtora não só de bens de consumo duráveis,
o auge nas décadas de 1960 a 1980. É imperativo o uso não predatório das como da indústria de duas rodas, de telefonia e mesmo de biotecnologia.
fabulosas riquezas naturais que a Amazônia contém e também do saber das Uma grande modificação estrutural ocorreu no povoamento regional que
suas populações tradicionais que possuem um secular conhecimento acumulado se localizou ao longo das rodovias e não mais ao longo da rede fluvial, como
Capítulo 3 :: 45
no passado, e no crescimento demográfico, sobretudo urbano. Processou-se isótopos de hidrogênio, questão teórica ainda não solucionada, mas que vem
na região uma penosa mobilidade espacial, com forte migração e contínua sendo pesquisada em muitos países, especialmente na Alemanha e nos EUA.
expropriação da terra e, assim, ligada a um processo de urbanização. Em vista Torna-se patente que, se há uma valorização da natureza e da Amazônia, há
disso, a Amazônia teve a maior taxa de crescimento urbano no país nas últimas também a relativização do poder da virtualidade dos fluxos e redes do mundo
décadas. No censo de 2000, 70% da população na região Norte estavam contemporâneo, com a globalização, que acaba com as fronteiras e com os Estados.
localizados em núcleos urbanos, embora carentes dos serviços básicos. Muitos Na verdade, os fluxos e redes não eliminam o valor estratégico da riqueza localizada,
discordam dessa tese, porque não consideram tais nucleamentos como urbanos. in situ; eles sustentam a riqueza circulante do sistema financeiro, da informação,
Mas esse é o modelo de urbanização no Brasil e, ademais, a urbanização não mas a riqueza localizada no território também tem seu papel e seu valor.
se mede só pelo crescimento e surgimento de novas cidades, mas também pela Isso, consequentemente, trouxe uma disputa das potências pelos estoques
veiculação dos valores da urbanização para sociedade. Por essa razão, desde a das riquezas naturais, uma vez que a distribuição geográfica de tecnologia
década de 1980, chamo a Amazônia de uma “floresta urbanizada”. e de recursos está distribuída de maneira desigual. Enquanto as tecnologias
Por outro lado, organizou-se a sociedade como nunca antes verificado. avançadas são desenvolvidas nos centros de poder, as reservas naturais
Os grandes conflitos de terras e de territórios das décadas de 1960 a 1980 estão localizadas nos países periféricos, ou em áreas não regulamentadas
constituíram um aprendizado político e, na década de 1990, transformaram- juridicamente. Esta é, pois, a base da disputa.
se em projetos alternativos, com base na organização da sociedade civil. É Há três grandes eldorados naturais no mundo contemporâneo: a Antártida,
extremamente importante lembrar que hoje, essa sociedade tem voz ativa na que é um espaço dividido entre as grandes potências; os fundos marinhos,
Amazônia e no Brasil, inclusive muitos grupos indígenas. Essa organização da riquíssimos em minerais e vegetais, que são espaços não regulamentados
sociedade política trouxe, por sua vez, mudanças no apossamento do território, juridicamente; e a Amazônia, região que está sob a soberania de estados
com a multiplicação de unidades de conservação federais e estaduais, assim nacionais, entre eles o Brasil.
como também com a demarcação de terras indígenas. Esse contexto geopolítico, principalmente na década de 1980 e 1990,
Que projetos e que atores produzem hoje a dinâmica regional e os novos gerou sugestões mundiais pela soberania compartilhada e o poder de gerenciar
significados da Amazônia? Essas transformações não são vistas de forma a Amazônia, que abalou até o Direito Internacional. Hoje, contudo, são
homogênea pelos diferentes atores, porque dependem de interesses diversos crescentes os interesses ligados à valorização do capital natural, que tende a se
e geram ações diferentes na região. Existem muitos conflitos dentro dessas sobrepor à lógica cultural.
percepções, mas há algumas dominantes. Observa-se um processo de mercantilização da natureza. Elementos da natureza
O uso do método geográfico para análise dos projetos geopolíticos e seus estão se transformando em mercadorias fictícias, usando a expressão de Karl
atores por diferentes escalas geográficas é útil para colaborar nessa análise. Polanyi, em seu livro “A grande transformação”. Fictícias por quê? Porque elas não
foram produzidas para venda no mercado – o ar, a água, a biodiversidade. Mas,
Globalização e Amazônia como fronteira do capital natural
no entanto, através desta ficção são gerados mercados reais e isto se deu, como
A primeira hipótese é a constituição da Amazônia como fronteira do capital
Polanyi mostra muito bem, no início da industrialização, quando terra, dinheiro e
natural em nível global, em que se identificam dois projetos: o primeiro é um
trabalho foram transformados em mercadorias fictícias, gerando mercados reais.
projeto internacional para a Amazônia, e o segundo é o da integração da
O que é o protocolo de Kyoto se não o mercado do ar? É a tentativa
Amazônia, sul-americana, continental.
de estabelecer cotas de emissão de carbono nos países fortemente
Até recentemente, dominava no projeto internacional a percepção da
industrializados e poluidores em troca de manutenção de florestas em
Amazônia como uma imensa unidade de conservação a ser preservada, tendo
países com elas dotadas. O mercado do ar é o mais avançado. Em outras
em vista a sobrevivência do planeta, devido aos efeitos do desmatamento sobre
palavras, esses mercados reais tentam se institucionalizar em fóruns
o clima e a biodiversidade. A base dessa percepção teve como origem, em
globais, o que também é uma vertente nova dentro do Direito Internacional.
grande parte, a tecnologia dos satélites, que permitiu pela primeira vez uma
Não é fantasia o fato de que está em curso na Amazônia a
visão de conjunto da superfície da Terra e da sua unidade trazendo o sentimento
transformação de bens da natureza em mercadorias. É o caso da Peugeot,
da responsabilidade comum, assim como a percepção do esgotamento da
que faz investimentos no sentido de sequestro do carbono no Mato Grosso;
natureza, que se tornou um recurso escasso.
na ilha do Bananal, a empresa inglesa S. Barry; a Mil Madeireira que, tem
A natureza foi então reavaliada e revalorizada a partir de duas lógicas
um projeto neste sentido no estado do Amazonas; a Central South West
muito diferentes, mas que convergem para o mesmo projeto de preservação
Corporations, de Dallas, uma empresa de energia que fez uma aquisição
da Amazônia. A primeira lógica é a civilizatória ou cultural, que possui uma
no Paraná de setecentos mil hectares, através da mediação da National
preocupação legítima com a natureza pela questão da vida, o que dá origem
Conservancy, da reserva da Serra de Itaqui; além dos projetos que não
aos movimentos ambientalistas. A outra lógica é a da acumulação, que vê
conhecemos, visto que uns são oficiais e outros não. Há restrições a colocar
a natureza como recurso escasso e como reserva de valor para a realização
nesse sentido porque a terra e a floresta são bens públicos, e a venda de
de capital futuro, fundamentalmente no que tange ao uso da biodiversidade
floresta significa venda de território e não é correta do ponto de vista do país.
condicionada ao avanço da tecnologia. Outro recurso de que pouco se fala, mas
É digno de nota lembrar que existem esforços para regular o mercado da
que já é fundamental, é a água como fonte de vida e de energia em razão dos
biodiversidade, como a Prototipe Carbon Fund, do Banco Mundial, sistema
46 :: Geografia :: Módulo 2
difícil de implementar, visto que as patentes e a distribuição de benefícios Primeiro, porque a união dos países amazônicos pode fortalecer o Mercosul
para as populações locais não foram ainda regulamentadas no país. e, de certa maneira, construir um contraponto nas relações com a Alca e com
O mercado dos recursos hídricos é o mais atrasado, embora haja a própria União Europeia. Em segundo lugar, para ter uma presença coletiva e
múltiplas tentativas de regularização desse mercado. A água é considerada uma estratégia comum no cenário internacional, fortalecendo a voz da América
o ouro azul do século XXI, em termos globais, porque há escassez e do Sul. Em terceiro lugar, porque é fundamental para estabelecer projetos
consumo crescente no mundo, sobretudo nos países semiáridos que conjuntos quanto ao aproveitamento da biodiversidade e da água, inclusive nas
utilizam a irrigação. Ademais, há previsões de que a disputa por água pode áreas que já possuem equipamento territorial e intercâmbio, como é o caso das
chegar até a conflitos armados. cidades gêmeas localizadas em pontos das fronteiras políticas.
Polanyi mostra que há uma necessidade de organização da sociedade para Além disso, esse dado é importante porque pode ajudar a conter as atividades
impedir o livre jogo das forças de mercado em relação aos elementos vitais para ilícitas – narcotráfico, contrabando, lavagem de dinheiro etc. – e uma possível
o homem. Para tanto, foram criados sindicatos para proteger o mercado do “ajuda” militar no território brasileiro. Há uma crescente presença militar na
trabalho e organizadas associações para regular o mercado da terra e o papel fachada do Pacífico e na América Central, através do que se denomina de
do estado tornou-se fundamental. Que vamos fazer no Brasil, e qual deve hoje “localidades de operação avançada”, cuja maior expressão é o Plano Colômbia.
ser nossa reação? Temos todos esses trunfos – florestas, biodiversidade, água; O Brasil virou uma ilha cercada de “localidades de operação avançada” por todos
como a sociedade e o governo brasileiro devem se comportar em relação ao os lados, com instalações norte-americanas apoiadas pela União Europeia, com
seu uso? Hoje, o movimento de mercantilização é irreversível e temos de saber exceção das fronteiras com a Venezuela e a Argentina. O Brasil tenta impedir esse
como lidar com ele. Parece-me que caberia ao governo e à sociedade lutar pela cerco com várias respostas, como com a criação do Ministério do Meio Ambiente
regulação desses mercados, mas ela deveria ser bem negociada. e o projeto Sipam (Sistema de Informação para Proteção da Amazônia), embora
Quais são os principais atores nesse projeto internacional? Os tenha apoio financeiro para o aparelhamento da Polícia Federal.
movimentos ambientalistas, onde se destacam as ONGs nacionais e Esse processo levou a uma forte reativação das fronteiras políticas da
internacionais, a cooperação internacional técnica, financeira, científica Amazônia, consideradas anteriormente como fronteiras mortas, e basta ir
em grandes projetos, como é o caso do Programa Piloto para Proteção a Tabatinga e a Letícia para constatar a vivificação das mesmas, o que vem
das Florestas Tropicais Brasileiras (PP-G7), do LBA e do Probem1, além a constituir uma preocupação para todos os países.
de organizações religiosas de todos os tipos, assim como de agências Mas o fato de a globalização incidir na Amazônia dos países vizinhos
de desenvolvimento de governos estrangeiros e também de empresas através da presença militar, e no Brasil por intermédio da cooperação
voltadas para o sequestro de carbono e/ ou madeira certificada. internacional, constitui uma diferença importante.
A cooperação internacional é fundamental para o desenvolvimento Realiza-se uma articulação sul-americana por meio do resgate do Tratado
da Ciência e da Tecnologia no Brasil. Mas, por vezes, essa cooperação de Cooperação Amazônica (OTCA), e também a partir da iniciativa do
tecnocientífica tem um excesso de autonomia. A questão crucial é o planejamento físico da integração por meio de transporte multimodal, difusão
controle da informação, porque muitas vezes os pesquisadores brasileiros, da internet nos países vizinhos e intercâmbio energético. Em Roraima deu-se
em parcerias, conhecem o subprojeto ligado à sua parceria, mas não o o primeiro passo para a integração oficial através da construção da estrada
projeto como um todo. Deve haver, portanto, uma conscientização dos que liga Manaus à Venezuela. O gás já vem sendo transferido da Bolívia e
pesquisadores no sentido da globalização da pesquisa, de modo que não do Peru, e a Bolsa de Mercadorias e Estudos propõe a extensão da fronteira
tenham acesso apenas a uma parte da informação. agropecuária do centro-oeste brasileiro para os países vizinhos.
A cooperação internacional tem um lado extremamente importante que é Desejamos que a integração sul-americana se faça nos moldes do que foi
o da relação com as comunidades locais, graças às redes de telecomunicação. a integração dos anos de 1970? Nada contra expandir a soja e a pecuária
Há uma forte presença internacional que se estabeleceu na Amazônia devido para áreas propícias do cerrado, mas não que se faça tal expansão em áreas
também aos impactos do projeto anterior, que excluía as populações de florestas. Esse é um desafio à Ciência e à Tecnologia. A integração deve ser
regionais, expulsava pequenos produtores e ameaçava índios, e esses baseada na circulação fluvial, que merece um investimento enorme, pois sempre
grupos conseguiram apoios internacionais, como foi o caso de Chico Mendes, foi o grande meio de circulação na Amazônia, e também na aérea, que foi muito
que foi a Washington para obter um reforço a fim de manter sua própria importante e ainda o é para o transporte de cargas de alto valor agregado.
sobrevivência. É necessário que a sociedade e o governo estejam atentos Um outro elemento importante da integração reside nas cidades gêmeas
à questão da face interna da soberania, no sentido de reconhecer que o – Santa Helena e Pacaraima em Roraima, Tabatinga e Letícia no Amazonas,
povo não é homogêneo, tem demandas diferentes que não são devidamente além de outras no Acre, onde já existem embriões de integração, fluxos
atendidas, o que gera conflitos que afetam a governabilidade. e equipamentos que podem acelerar o intercâmbio. Aliás, a cidade é um
elemento fundamental no desenvolvimento e planejamento da Amazônia,
A integração da Amazônia sul-americana
porque nela a população está concentrada, constitui o nó das redes de
Um segundo projeto internacional diz respeito à integração da Amazônia
relações, e pode, inclusive, impedir a expansão demográfica na floresta.
transnacional, da Amazônia sul-americana. Trata-se de uma nova escala para
pensar e agir na Amazônia. Esse dado é importante por múltiplas razões. A Amazônia no espaço nacional: uma região em si
Capítulo 3 :: 47
A segunda hipótese proposta para debate diz respeito ao lugar da e fazem a grilagem em imensas glebas. Um lado tragicômico é que existem, no
Amazônia no Brasil. Afirma-se aqui que a Amazônia não é mais mera área Sul do Amazonas, muitos fazendeiros que vieram do Pontal do Paranapanema
de expansão da fronteira móvel, mas sim uma região em si, com base em (SP), expulsos pelo MST, porque não tinham terras regularizadas, e o MST sabe
dois argumentos: a nova feição da fronteira e os avanços regionais em muito bem quem possui ou não terras regularizadas.
termos econômicos, sociais e políticos. Mas o mais importante elemento que justifica a hipótese aqui tratada
A situação de conflito entre desenvolvimento e proteção ambiental é a consolidação do povoamento, em contrapartida às frentes de expansão.
transparecia nas políticas públicas da década de 1990 que eram, a um só
A consolidação do povoamento
tempo, expressão e indução do conflito. Por um lado, o Ministério do Meio
A tendência à consolidação do povoamento é patente no avanço econômico
Ambiente que fazia a política da proteção das florestas e, por outro lado, o
significativo e na tecnificação da agroindústria no cerrado, particularmente
Ministério do Planejamento e Orçamento, criando corredores de exportação.
no Mato Grosso, que planta soja e agora também algodão colorido. Com o
Evidentemente, os corredores de exportação coincidiam com os ecológicos.
crescimento da produção e o aumento da produtividade da soja, a terra não é
Multiplicaram-se as unidades de conservação, foram demarcadas terras
mais ocupada como reserva de valor, como foi na época da fronteira anterior.
indígenas e se criou o projeto Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), uma
Agora o que sucede é o uso produtivo da terra. Acrescem mudanças também na
iniciativa do Banco Mundial e do WWF para ampliar em 10% as áreas
pecuária, principalmente no Sudeste do Pará e no Mato Grosso, onde ocorrem
protegidas até 2010. Trata-se de um projeto preservacionista que só com
melhorias com respeito às pastagens, aos rebanhos e à indústria de couro e de
a pressão da ministra Marina Silva aceitou aumentar muito pouco a área de
leite. Mudanças bastante significativas em termos econômicos.
uso sustentável (noventa mil quilômetros quadrados). Portanto, a Amazônia
As redes e cidades permitem a expansão dessa área econômica avançada
terá, em breve, mais de 30% do seu território em áreas protegidas, uma área
que é chamada de “arco de fogo”, ou do desmatamento ou “de terras
equivalente ao território da Espanha. Que resultou desse conflito?
degradadas”, porque foi onde se expandiu a fronteira e o desmatamento. Mas
As novas feições da fronteira móvel está na hora de mudar essa denominação, tendo em vista que se trata da
Aqui se coloca uma hipótese polêmica: na década de 1990, o maior área produtora mundial de soja. O Rio de Janeiro já foi um pântano,
ambientalismo dominou e se delineou como uma tendência ao esgotamento mas não é, hoje, denominado de pântano, e sim de metrópole. Sugere-se,
da Amazônia como fronteira móvel, isto é, como fronteira de expansão então, a mudança de nome para área de povoamento consolidado, porque a
econômica e demográfica no território. As frentes passaram a apresentar denominação de arco do fogo atrapalha a política pública.
diferenças com a expansão da fronteira na década de 1970, tais como: Existe, assim, um gigantesco confronto entre a expansão da
1. Nos anos de 1970, o que sustentou a fronteira foram os incentivos agroindústria da soja, da pecuária, assim como da exploração da madeira
fiscais e a migração generalizada do país inteiro, esta induzida pelo governo e o uso conservacionista da floresta, defendido pela produção familiar,
federal. Atualmente, a migração dominante é intrarregional, de um estado pelos ambientalistas e por diversas categorias de cientistas.
para o outro e, sobretudo, rural-urbana (exceção feita ao Mato Grosso, que Nos últimos anos, houve uma retomada vigorosa das frentes, nas três
continua atraindo população de fora, principalmente do Sul e do Nordeste). localizações referidas, devido à valorização da soja no mercado internacional
2. Outro elemento importante de diferenciação é o comando das frentes por e as incertezas da economia nacional. Conclui-se, assim, que a fronteira é um
parte de Belém e de Cuiabá, sobretudo, hoje de âmbito regional. Assim, o que elemento estrutural do crescimento econômico no Brasil, mas hoje depende
há de novo na expansão das frentes é que são comandadas por madeireiras,
da conjuntura; ou seja, ela se expande ou se retrai em função da conjuntura
pecuaristas e produtores de soja já instalados na região, que a promovem com
econômica e política. É, portanto, um conceito espaço-temporal. É muito difícil
recursos próprios. Não se trata mais, pois, de uma expansão subsidiada pelo
estabelecer um prognóstico sobre o conflito entre agronegócio e conservação
governo federal, como foi a da fronteira nos anos de 1970.
da floresta. Um grupo de pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de
3. Ademais, as frentes hoje são localizadas. Nos anos de 1970 elas se
Pesquisas da Amazônia), liderado por um norte-americano, realizou um
localizavam nas duas grandes artérias, Belém-Brasília e Brasília-Cuiabá, de
modelo afirmando que, em 2020, a Amazônia estaria totalmente destruída.
modo que a expansão seguiu a fímbria das florestas. Agora, as frentes estão
Um modelo linear, que não prevê alteração alguma, o que não se pode
mais localizadas em torno das estradas que já existiam, as que pretendem
aceitar num mundo de imprevisibilidade.
ser pavimentadas ou as abertas pelos próprios madeireiros e pecuaristas.
Hoje, a Amazônia não é mais mera fronteira de expansão de forças
Na virada do milênio, entretanto, a fronteira tomou novo alento. São
exógenas nacionais ou internacionais, mas sim uma região no sistema espacial
três as grandes frentes na Amazônia hoje: uma parte de São Felix do
nacional, com estrutura produtiva própria e múltiplos projetos de diferentes
Xingu, Sudeste do Pará, em direção ao rio Iriri; outra parte do extremo
atores. Nela, a sociedade civil passou a ser um ator fundamental, tanto no campo
Norte de Mato Grosso pela rodovia Cuiabá-Santarém, em torno de cuja
como nas cidades, especialmente pelas suas reivindicações de cidadania, que
pavimentação há grande discórdia, pois ela atravessa não mais a borda,
inclusive influem no desenvolvimento urbano. O Grupo de Trabalho Amazônico
mas o meio da floresta; a terceira parte do Norte de Mato Grosso e de
(GTA) tem 315 associações, entre elas a federação das organizações indígenas.
Rondônia em direção ao Sul do Estado do Amazonas.
Os índios são espertíssimos, aprendem tudo rapidamente, mantêm a sua cultura
A tecnologia serve também para a destruição da floresta: os madeireiros
e crescem num ritmo que é o dobro da taxa nacional. Além disso, criam ONGs
estão se apossando de terras via satélite, descobrem onde há terras disponíveis
48 :: Geografia :: Módulo 2
para ajudar outras comunidades não tão informadas como a deles. discussão com a sociedade: gestão ambiental e ordenamento do território, novo
Outro grupo importante, mais localizado, é o de Altamira, antigo projeto padrão de financiamento, inclusão social, infraestrutura para o desenvolvimento
de colonização em que a produção familiar é organizada e tem uma força e produção sustentável com inovação tecnológica e competitividade.
política significativa, resistindo à construção da hidrelétrica de Belo Monte. O ponto central, que gera conflitos, é a questão da pavimentação da
Atores fundamentais são os governos estaduais, que, com a crise do Estado rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163), porque as corporações da soja, por um lado,
central, assumiram responsabilidades e força política. É interessante e importante pressionam o governo para a pavimentação rápida, visto que é considerada um
saber que esses governos, por suas condições histórico-geográficas, têm estratégias elemento central para o escoamento da produção, pelo Norte, com o objetivo de
diferentes. O Mato Grosso e o Pará têm estratégias extensivas de uso da terra, o encurtar distâncias e baixar custos. Por outro lado, os ambientalistas e a produção
estado do Amazonas tem uma estratégia pontual industrial, localizada em Manaus; familiar não querem a pavimentação. O governo propôs que se fizesse um
o Acre e o Amapá se baseiam na estratégia da florestania, modernização do modelo para transformar a rodovia Cuiabá-Santarém numa estrada indutora de
extrativismo; em Rondônia procura-se expandir a pecuária e mesmo a soja, e, em desenvolvimento, em vez de uma indutora de depredação. É importante registrar
Roraima, a soja no lavrado (cerrado) cercado por florestas e terra indígenas. O que há em Brasília a criação de grupos de trabalho interministeriais para os planos
município também é um ente político que tem voz na região, embora sem recursos governamentais, algo extremamente positivo, com catorze ministérios participando
financeiros. Economicamente, não tem força, mas a tem do ponto de vista político, e para fazer o novo planejamento da estrada como instrumento de desenvolvimento.
é responsável pela urbanização recente, transformando as vilas em cidades. O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) está fazendo
As empresas do agronegócio, além das madeireiras e pecuaristas, são um esforço no sentido de preparar um cadastro tendo em vista a centralidade da
outros atores que estão se firmando e se expandindo não só no Mato Grosso. questão fundiária. Em vez de dar títulos de terra, poder-se-ia fazer concessões de
O que tem passado despercebido, no meu entender, em todos os projetos e em terra condicionadas a determinados comportamentos. O problema é que todos
todas as escalas, é justamente o fato de a Amazônia hoje ser uma região que os atores na Amazônia (pecuaristas, madeireiros, índios, pequenos produtores)
possui uma dinâmica própria: tem vinte milhões de habitantes, há demandas querem, como primeira demanda, a presença do Estado, por motivações diferentes.
específicas e resistências organizadas e uma estrutura produtiva própria, o que Como segunda demanda desejam o zoneamento. Tais demandas expressam,
comprova a sua mudança de caráter, inclusive com uma nova geografia. Nela por um lado, a necessidade de definição clara das regras do jogo, ou seja, do
reconheço três macrorregiões: a primeira é essa que chamam de “arco do fogo” fortalecimento institucional e, por outro, a pertinência da sub-regionalização,
e que denomino de “arco do povoamento consolidado”, porque é onde estão as porque as regiões têm finalidades próprias e problemas específicos. O Estado
cidades, as densidades demográficas maiores, as estradas e o cerne da economia; pode dialogar melhor com essas necessidades específicas, encontrar as parcerias
a outra macrorregião, da “Amazônia central”, corresponde ao restante do estado necessárias e direcionar melhor os recursos para melhor atendê-las.
do Pará, que é a porção mais vulnerável da Amazônia, porque cortada pelos eixos, Finalmente, mas não menos importante, a par do fortalecimento
pelas estradas e onde estão duas das frentes localizadas; a última é a “Amazônia institucional e da regionalização, cabe à Ciência, Tecnologia e Inovação,
ocidental”, que tem a maior área de fronteira política e é a mais preservada papel primordial na sustentabilidade dos ecossistemas florestais, por sua
(porque não foi cortada por estradas e seu povoamento foi pontual, na Zona importância econômica, social e política.
Franca de Manaus, enquanto o resto do estado ficou abandonado). E o fato de A floresta só deixará de ser destruída se tiver valor econômico para com-
ser uma região em si, constitui uma força de resistência à destruição da floresta. petir com a madeira, com a pecuária e com a soja. Mesmo com os grandes
avanços na sua proteção, a questão de manter a capacidade sustentável da
Como impedir a destruição das florestas?
floresta ainda não foi solucionada. Florestas e terras são bens públicos e, por
O papel das políticas públicas
isso, são trunfos que estão sob o poder do Estado, que tem autoridade para
Se a Amazônia é efetivamente uma região, então há que se substituir a
dispor deles, segundo o interesse da nação. Propõe-se, assim, uma verdadei-
“política de ocupação” por uma “política de consolidação do desenvolvimento”.
ra revolução científico-tecnológica para a Amazônia Florestal.
Uma política de ocupação não tem mais cabimento, porque a região já está
O Brasil já efetuou três grandes revoluções tecnológicas: a exploração
ocupada. As florestas que restaram devem permanecer com seus habitantes.
do petróleo em águas profundas; a transformação de cana-de-açúcar em
É necessário articular os diferentes projetos e os diversos interesses e conflitos
combustível (álcool) na Mata Atlântica e a correção dos solos do cerrado, que
que incidem na região. O governo atual pretende ser um marco no rumo do
permitiu a expansão da soja. Está na hora de implementar uma revolução
desenvolvimento regional. Elaborou um novo Plano Amazônia Sustentável
científico-tecnológica na Amazônia que estabeleça cadeias tecnoprodutivas
(PAS), com o qual pretende superar a polaridade conflitiva entre a política
com base na biodiversidade, desde as comunidades da floresta até os centros
ambiental e a de desenvolvimento.
da tecnologia avançada. Esse é um desafio fundamental hoje, que será ainda
O governo atual propõe também no PPA, (Plano Plurianual 2004-2007)
maior com a integração da Amazônia sul-americana.
a necessidade tanto da produtividade e competitividade, como da inclusão
Notas - LBA é um vasto projeto de pesquisa coordenado pelo Brasil em parceria com a
social, emprego e renda. No caso da Amazônia, existe um novo princípio,
Nasa e, em menor escala a União Europeia, denominado Large Scale Biosphere-Atmosphere
da transversalidade, em que o meio ambiente deixa de ser tratado como Experiment in the Amazon. O Probem foi criado para implantar a pesquisa e desenvolver o uso
uma variável independente e participa das políticas de todos os ministérios. da biodiversidade através do fortalecimento da biotecnologia.
Importante também são os cinco eixos estratégicos do PAS, que vai ser posto em Becker, Bertha K. Revista Estudos Avançados, vol.19, no. 53, São Paulo, 2005.
4
Tipos climáticos do Brasil
:: Objetivos ::
• Mostrar o funcionamento da circulação geral da atmosfera;
• Caracterizar os principais tipos climáticos brasileiros.
50 :: Geografia :: Módulo 2
B B
qual a atmosfera se torna muito estável), passando a se deslocar em direção
Trópico
aos polos. É importante lembrar que próximo ao chão no Equador a pressão de Capricórnio A
A A
atmosférica se torna baixa, já que o ar está deixando de exercer pressão no local
devido à sua ascensão. ESCALA B
0 2870 5740
Nos polos ocorre o inverso: a pouca intensidade da radiação solar que Km
A Centro de Alta Pressão Atmosférica Ventos Alísios
atinge essas áreas gera temperaturas extremamente frias, fazendo com que as B Centro de Baixa Pressão Atmosférica Ventos de Oeste
moléculas do ar fiquem “pesadas” (pouca agitadas) e “desçam”. Essa corrente
Figura 4.2: Deslocamento dos ventos alísios e de oeste pelo planeta.
de ar descendente chega até o chão e se desloca em direção ao Equador. Essa
movimentação de descida do ar cria um ponto de alta pressão atmosférica junto à Na figura 4.3 observa-se a circulação dos principais ventos do planeta
superfície polar, já que as moléculas estão se acumulando. em planta e em perfil. Em setas diferentes, destacam-se os ventos alísios, que
Verifique que na figura 4.1 a corrente de ar que subiu na faixa equatorial não convergem para o Equador constituindo a Zona de Convergência Intertropical
alcança os polos, pois em altitude (12 a 16 km de altitude) o ar fica muito frio (ZCIT); os ventos de oeste, que saem das altas pressões subtropicais e vão para a
(-70º C) e denso, constituindo uma corrente de ar descendente na latitude aproximada latitude de 60º, encontrando os ventos de leste (polares).
de 30º Norte e Sul. Com a descida do ar, ocorre o acúmulo de moléculas gasosas junto à
superfície, formando um centro de Alta Pressão atmosférica na latitude subtropical (altas
subtropicais). A partir deste ponto são gerados ventos que se deslocam junto à superfície
em direção ao polo (ventos de oeste) e em direção ao Equador (ventos alísios). 90º N A
Quando este centro de alta pressão ocorre sobre os continentes cria um clima 60º N B
B
seco (desertos), pois o ar descendente possui pouca umidade. Consequentemente,
as áreas das altas subtropicais apresentam céu claro e chuvas raras, pois qualquer 30º N A
A
umidade junto à superfície não consegue subir e se condensar para formar nuvens
e, posteriormente, se precipitar. 0º B B
ZCIT
O vento que se desloca para os polos a partir da latitude de 30º se encontra
com o vento frio que vem do polo, formando um centro de baixa pressão na 30º S A A A
latitude de 60º, onde se configura uma corrente de ar ascendente. As massas de
ar frias trazidas do polo e as massas de ar quentes trazidas do trópico quando 60º S
B B
se encontram não se misturam, mas formam uma superfície de contato onde
90º S A
geralmente ocorrem tempestades (sistema frontal). A massa tropical (mais leve e, Ventos Alísios
às vezes úmida) é “jogada” para cima pela massa polar (mais pesada). Ventos de Oeste
Ventos de Leste
Circulação Geral da Atmosfera Outros deslocamentos de ar
Figura 4.3: Circulação geral da atmosfera representada em planta e em perfil, destacando-se os
Corrente de ar Corrente de ar Corrente de ar
ascendente descendente principais ventos planetários (ventos alísios, ventos de oeste e ventos de leste).
descendente
Baixa Pressão Ventos Alísios Ventos de Oeste Alta Pressão
0º 30º 60º 90º A circulação de ar na faixa entre os trópicos de Câncer (Hemisfério Norte)
Equador Alta Pressão Baixa Pressão Polo
e Capricórnio (Hemisfério Sul), abrangendo o Equador, é constituída pela
convergência de ventos (ventos alísios) e ascensão do ar, ocasionando acúmulo,
Figura 4.1: Esquema da Circulação Geral da Atmosfera, constituída a partir de centros de alta e
baixa pressões atmosféricas e deslocamento de ventos por todo o planeta.
subida e condensação de vapor d’água. Deste modo, a subida e condensação
constantes de vapor d’água formam nuvens com grande desenvolvimento
Capítulo 4 :: 51
vertical, chamadas cumulonimbus (nuvens de temporais), que ocasionam chuvas O modelo de circulação de ar apresentado na figura 4.4 pode ser aplicado
frequentes na região equatorial. Todo este conjunto de circulação de ar, nuvens e para entender a formação de brisas marítima e terrestre e de monções.
precipitação é denominado Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Considerando a grande extensão territorial do Brasil, verifica-se a atuação
Os cinturões e células de pressão se deslocam de acordo com as estações do sazonal de segmentos da Circulação Geral da Atmosfera em diferentes regiões
ano (Figura 4.4). Durante o inverno do Hemisfério Norte, a atividade polar ártica brasileiras, influenciando as características climáticas. A Zona de Convergência
se intensifica empurrando todo o sistema de circulação para o sul (Figura 4.4A). Intertropical (convergência dos ventos alísios na faixa equatorial), por exemplo,
Por outro lado, no Hemisfério Sul seria verão, atraindo a Zona de Convergência se desloca para o Hemisfério Sul durante o verão, provocando chuvas abundantes
Intertropical (ZCIT). O sistema de circulação se desloca para a direção norte nos estados do litoral norte da Região Nordeste (Ceará, Piauí, Maranhão, por
quando no inverno do Hemisfério Sul a atividade polar na Antártica aumenta exemplo) e em alguns estados da Região Norte (Pará, Amapá e Amazonas).
(Figura 4.4B) e a ZCIT se desloca para o Hemisfério Norte, quando este está no O grande centro de Alta Pressão Atmosférica situado no oceano Atlântico Sul se
período de verão. aproxima do Brasil durante o inverno, deixando o tempo muito seco, especialmente
nos estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste. Este centro de alta pressão
ZCIT
Inverno no Hemisfério Norte Verão no Hemisfério Sul também é responsável pela formação dos ventos alísios (ventos permanentes), que
A atuam constantemente no litoral dos estados do Nordeste (Figura 4.6). O Estado
do Rio Grande do Norte, por exemplo, tem um grande potencial de produção de
energia eólica e de sal devido à atuação dos ventos alísios.
90ºN 60ºN 30ºN 0º 30ºS 60ºS 90ºS
Equador
O Brasil é um país cortado pelas latitudes do Equador e do Trópico de Ao lado da latitude, as massas de ar constituem um outro fator climático
Capricórnio. Isto significa que a radiação solar incide de forma direta na superfície extremamente importante na definição dos climas brasileiros. As massas de ar
(em ângulo de 90º ou um pouco menor), causando um grande aquecimento influenciam na intensidade e na sazonalidade dos períodos chuvoso e seco que
(Figura 4.7). A latitude tropical do Brasil também faz com que o tempo de caracterizam os climas do país.
incidência solar não varie muito ao longo do ano. Assim, a faixa equatorial tem A Massa Equatorial Continental (mEc) é formada na zona aquecida e úmida da
um tempo de exposição ao sol de 12 horas durante todo o ano, apresentando floresta Amazônica. Esta área recebe ventos oceânicos (alísios) que vão constituir
então baixíssima variação da temperatura do ar entre inverno e verão (baixa a mEc, contribuindo para sua elevada umidade. O intenso aquecimento da área
amplitude térmica anual). provoca instabilidade convectiva (ascensão do ar quente) levando à formação de
grandes nuvens (cumulonimbus) e precipitação abundante. Durante o verão a
mEc se amplia atingindo as regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil (Figura 4.8),
Sol
levando grande umidade, o que favorece a formação de precipitação, às vezes
muito forte. Esta massa de ar pode alcançar também alguns estados da Região
Nordeste e do Sul, levando calor e umidade. Durante o outono esta massa de ar
começa a diminuir sua atuação sobre o Brasil e se desloca para a direção Norte,
ficando restrita a uma pequena área ao norte do Brasil no período de inverno. Na
primavera a mEc volta a se ampliar.
Figura 4.7: Variação dos ângulos de incidência da radiação solar na superfície terrestre de acordo 20º
com as diferentes latitudes (equatorial e polar). Quanto menor o ângulo, menos aquecimento da
superfície irá ocorrer, como nos polos. mTc
mTa
No entanto, ao sul da linha do Trópico de Capricórnio ocorre uma significativa 40º FPA
variação da incidência solar: o ângulo e o tempo de exposição ao sol mudam. Esta
mudança pode ser sentida desde o Estado do Rio de Janeiro, quando no verão mPa
(10h de exposição ao sol). Por isso, as temperaturas ficam muito diferentes entre 20º
inverno e verão, constituindo uma significativa amplitude térmica anual. Observe
na tabela 4.1 as variações de temperatura entre verão (mês de janeiro) e inverno mTa
(mês de julho) de diferentes cidades brasileiras.
40º FPA
Temperatura ( C) o
Amplitude mPa
Cidade Latitude mPp
Janeiro Julho Térmica (oC)
Manaus 3oS 26 26 0 mEc – massa Equatorial continental mTa – massa Tropical atlântica
mEa – massa Equatorial atlântica mPa – massa Polar atlântica
Rio de Janeiro 22 So
26 21 5 mEn – massa Equatorial norte mPp – massa Polar pacífica
mTc – massa Tropical continental FPA – Frente Polar atlântica
Porto Alegre 30oS 24 14 10
Figura 4.8: Atuação de massas de ar sobre o Brasil nos períodos de verão e inverno. Fonte: Nimer, E.
Tabela 4.1: Variação de temperatura de diferentes cidades brasileiras. Climatologia do Brasil. IBGE, 1989 (modificado).
Capítulo 4 :: 53
Ao diminuir sua atuação durante os meses de outono e inverno, a massa litorâneos). Quando a mPa chega ao sul da região amazônica causa o fenômeno
Equatorial continental deixa espaço para outras massas de ar quente avançar. da friagem, expresso pela queda repentina da temperatura do ar, já que esta área
Deste modo, as massas Equatorial atlântica (mEa) e Tropical atlântica (mTa) é bastante quente.
ocupam a maior parte do Brasil no período de inverno. Embora a área de origem A massa Tropical continental (mTc) tem atuação restrita ao setor oeste
dessas massas de ar seja no oceano, há um movimento de descida do ar (sub- da região Sul do Brasil. É uma massa de ar quente e seca, pois se desenvolve
sidência) que dificulta a formação de nuvens e de precipitação. Portanto, tais no interior do continente durante o verão. Devido a mTc, várias cidades do sul
massas deixam o tempo seco, sendo que em alguns locais a umidade relativa do apresentam problemas de estiagem que afetam o abastecimento de água para o
ar pode chegar a 12%. Esta baixíssima umidade relativa causa muitos problemas meio urbano e para as atividades pecuárias, comuns na região.
respiratórios, especialmente em crianças e idosos. A altitude e orientação do relevo também interferem na formação dos climas
A estabilidade destas massas de ar pode ser quebrada com a chegada da brasileiros. Grande parte do Brasil tem baixas altitudes (até 500m), quase não
massa Polar atlântica (mPa), constituindo uma frente fria sobre o continente. interferindo na temperatura. No entanto, para os estados do Sul e do Sudeste
A frente fria faz parte de um sistema meteorológico maior, conhecido como há planaltos e serras com altitudes superiores a 800m, deixando o ar mais
sistema frontal. Este surge a partir do contato entre as massas de ar polar e tropi- frio. Além disso, a orientação do relevo mais elevado pode ser um obstáculo a
cal, que se deslocam fazendo um giro (Figura 4.9). Durante este giro, o segmento ventos úmidos, como é a situação da Serra do Mar no Sudeste. Neste caso, os
em que a massa polar avança sobre a massa tropical é chamada de frente fria. ventos úmidos vindos do mar são forçados a subir a serra, o que provoca um
Percebemos a frente fria com uma mudança das condições do tempo: rajadas de resfriamento do ar. O conteúdo de vapor d’água então se condensa formando
vento, formação de nuvens grandes, queda de temperatura e precipitação. nuvens e precipitação.
A frente quente corresponde a um outro segmento do sistema frontal, em que Outro fator climático importante é a vegetação, embora seu efeito seja
a massa tropical avança sobre a massa polar. No caso do Brasil, geralmente a frente mais local do que regional. Assim, em áreas onde há preservação de cobertura
quente ocorre em alto mar. No decorrer do giro entre as duas massas de ar, a massa vegetal densa o ar tende a ficar mais fresco e úmido, conferindo um bom conforto
tropical é jogada para cima por ser mais leve, enquanto a massa polar avança sobre térmico aos habitantes do local. Mas no Brasil ainda há a extensa cobertura de
a superfície por ser mais pesada. Este conjunto de movimentos das massas de ar floresta amazônica, que fornece para a atmosfera uma grande quantidade de
causa grande instabilidade, provocando precipitação por onde avança. vapor d’água e núcleos de condensação (partículas sólidas), que em conjunto são
responsáveis pela formação de nuvens.
A grande extensão territorial do Brasil ainda possibilita a atuação de dois
fatores climáticos: continentalidade e maritimidade. As áreas mais distantes do
mar sofrem com o efeito da continentalidade, que corresponde à capacidade do
solo rapidamente se aquecer (durante o dia e ao longo do verão) e se resfriar
Equador
(durante a noite e ao longo do inverno). Com isso, o ar acima do solo apresenta
temperaturas contrastantes entre o dia e a noite e entre o verão e o inverno,
caracterizando uma grande amplitude térmica.
As áreas próximas ao mar sofrem o efeito da maritimidade, pois a água
Massa demora mais a se aquecer e a se resfriar. Por isso a variação de temperatura do
Trópico de Tropical ar fica menor. No entanto, deve ser também considerada a presença de correntes
Capricórnio Atlântica
marítimas quentes, que deixam o ar mais úmido e quente. Em áreas com presença
de correntes marítimas frias, a tendência é o ar ser mais frio e seco, já que a
Oceano Pacífico
evaporação se torna mais difícil.
Massa
Polar
Atlântica
Oceano Atlântico
Características climáticas
Frente Fria
do brasil
Frente Quente
Direção do deslocamento Apesar de o Brasil ser um país com predominância de clima tropical, há
algumas diferenças climáticas devido à atuação diversificada de fatores. Deste
Figura 4.9: Sistema frontal, constituído por frente fria (segmento sobre Climas
o continente)
doe frente
Brasil quente
(Classificação segundoos Strahler)
na América do Sul/Brasil. O sistema frontal surge a partir do encontro das massas de ar diferentes. modo, veremos principais fatores climáticos que contribuem para a formação dos
climas brasileiros, definidos a partir da classificação do geógrafo Strahler (Figura
A massa Polar atlântica (mPa) atua durante o ano Boa todo
Vistanos estados do Sul do 4.10). Esta classificação se baseia principalmente na ocorrência e movimentação
Brasil, formando frentes frias (e consequente precipitação) que às vezes avançam de massas deCorrente das Guianas
ar, gerando grandes extensões de unidades climáticas no território
sobreEquador
os estados do Sudeste. Mas durante os meses de inverno, a mPa tem mais força Macapá
brasileiro. Contudo, são apontados outros fatores que influenciam
Corrente os climas em
Sul Equatorial
e pode alcançar estados das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste (estados escalas de maior detalhe, seguidos de climogramas.
:: Climogramas ou climatograma ::
São gráficos reunindo os valores mensais de temperatura e de precipitação de um local. Na base do gráfico (eixo X) ficam dispostos os meses
Massa
do ano, enquanto os eixos laterais (eixos Y) correspondem à temperatura e à precipitação.
Trópico de Tropical
A temperatura é geralmente representada porAtlântica
Capricórnio linha, enquanto a precipitação é ilustrada por colunas. Ao analisar o gráfico de climograma,
deve-se prestar atenção à escala de valores de temperatura e precipitação.
Os dados
Oceano de médias mensais usados na montagem de climogramas correspondem, preferencialmente, a normais climatológicas. Estas
Pacífico
compreendem médias calculadas com Massavalores obtidos num intervalo de 30 anos. A última normal climatológica calculada foi a de 1961-1990 e a
Polarcoletados entre 1991 e 2020.
próxima será calculada com os dados
Atlântica
Frente Fria Oceano Atlântico
Frente Quente
Direção do deslocamento
Boa Vista
Corrente das Guianas
Macapá Corrente Sul Equatorial
Equador
Precipitação Temperatura
Co
Cuiabá
Climas controlados
por massas de ar
Belém São Luís Fortaleza Goiânia
mmequatoriais e tropicais Manaus ºC
Manaus 400 30
Equatorial Úmido B
300 Teresina Capítulo Natal4 :: 2555
Litorâneo Úmido
João Pessoa
Campo
20 Grande
200 Tropical Trópico de Capricórnio 15
Tropicalatlântica
100e Tropical Semiárido Recife
Clima equatorialPortoúmido norte) (atua mais no centro-sul), além da proximidade 10 do
Corrente
Velho Maceió
Rio Branco centro de Palmas
0 alta pressão atmosférica do Atlântico Sul. No verão, por outro 5 lado,
do Brasil
Climas
J Fcontrolados
M A M J J A S O
Aracaju N D Cur
O clima equatorial úmido apresenta muito pouca variação de temperatura a precipitação
por massasmensal de pode chegar a 200mm, sendo causada principalmente
arPrecipitação Temperatura
ao longo do ano, devido ao efeito da latitude, visto anteriormente. A temperatura pela expansão
tropicais da massa Equatorial continental (mEc),
e polares Salvadororiunda da Amazônia. Flo
Cuiabá OCEANO
também é praticamente a mesma por toda extensão territorial em que este tipo
Climas controlados DF Úmido
Subtropical ATLÂNTICOºC Porto Ale
climáticopor
ocorre (EstadosdedoarPará, Amazonas, Amapá etc.).
massas
mm Brasília Brasília
400 Corrente quente 30
Porequatoriais
meio da figurae 4.11, percebe-se a linha quase reta de temperatura na
tropicais Goiânia Corrente fria
300 25 C
cidade de Manaus (estado do Amazonas). Por outro lado, a precipitação não é Belo Horizonte 20
Equatorial Úmido 200
homogênea Litorâneo
ao longo Úmido
do ano, com alguns meses bem mais chuvosos do que Corrente 15
Campo Grande Vitória
outros. Os meses de
Tropical fevereiro, março e abril, por exemplo, apresentam os maiores 100 do Brasil 10
Trópico de Capricórnio mm
0 Manaus 5ºC
acumulados Tropical
de chuvaSemiárido
(acima de 288mm), refletindo a atuação da Zona de 400 J F M A RioMde Janeiro J J A S O N D 30
Convergência Intertropical (ZCIT) e da massa Equatorial continental (mEc) como São Paulo 25
300 Precipitação Temperatura
sistemasClimas controlados
produtores de precipitação neste período. Nos meses de julho, agosto e Curitiba 20
setembropor massas dediminuiar significativamente (menor que 87mm), mas não 200
a pluviosidade 15
tropicais e polares 100 Florianopólis
caracteriza seca ou estiagem vivenciada em outras áreas brasileiras. Figura 4.12: Climograma da cidade de Brasília (Distrito Federal), relacionando precipitação 10
e
Subtropical Úmido temperatura Fortaleza
0 mm com os meses do ano. Fonte: INMET. Normais Climatológicas 1961-1990. ºC5
Apesar da cidade de Manaus se localizar aproximadamente no centro da 400 Porto
J Alegre
F M A M J J A S O N D 30
Corrente
região amazônica, comquente
milhares de quilômetros de distância do mar, o efeito da 25
300
A região ocupada pelo clima tropical apresenta
Precipitação variações de altitudes, que
Temperatura
Corrente fria
continentalidade é amenizado pela grande quantidade de vapor d’água fornecido Corrente das Falkland
200 influenciar nas médias de temperatura. Brasília, por exemplo, está numa
20
podem 15
pela floresta e trazido pelos ventos alísios que penetram na região.
altitude
100 de 1159m, apresentando temperatura média anual de 21ºC, enquanto
mm Brasília 10
ºC
cidades próximas, como Goiânia (741m de altitude) e Paranã (275m de altitude)
4000 530
mm Manaus ºC J F M A M J J A S O N D
apresentam
300 temperaturas médias de 23ºC e 25ºC, respectivamente. 25
400 30
Precipitação Temperatura
300 25 O clima tropical se estende até o litoral norte do Nordeste. Neste20caso
200
15
20 outros
100 fatores influenciam este tipo climático. A atuação dos ventos alísios,10 que
200
15 vêm do oceano, deixa o ar mais úmido, mesmo no inverno. As chuvas ocorrem
100 0
mm Recife (PE) ºC5
10
400 J
principalmente Fno final
M doA verão M e JinícioJ do Aoutono, S relacionando-se
O N D com30 o
0 5
J F M A M J J A S O N D deslocamento
300 da Zona de Convergência
Precipitação Intertropical (ZCIT) para o hemisfério
Temperatura 25 Sul.
Observe 20
Precipitação Temperatura 200 o climograma de Fortaleza que exemplifica esta situação (Figura 4.13).
15
100 10
mm
0 Fortaleza ºC5
Figura mm
4.11: Climograma da cidade de Manaus (Estado do Amazonas), relacionando precipitação
Brasília ºC 400 30
e temperatura com os meses do ano. Fonte: INMET. Normais Climatológicas 1961-1990. 30 J F M A M J J A S O N D
400
300 25
25 Precipitação Temperatura
300 20
Em outros locais da região a quantidade de precipitação pode ser20bem 200
15
200
grande. Em Soure (Ilha de Marajó no Pará), por exemplo, a média anual de chuva
15 100 10
100
é de 3.215mm, enquanto em Manaus a média anual é de 2.286mm. 10 0mm Cabo Frio (RJ) ºC 5
0 5 400 J F M A M J J A S O N D 30
J F M A M J J A S O N D
300 Precipitação Temperatura 25
Clima tropical
Precipitação Temperatura 20
200
15
O clima tropical também ocupa grande parte do território brasileiro (Figura 1004.13: Climograma da cidade de Fortaleza (Estado do Ceará), relacionando precipitação
Figura 10 e
mm Recife (PE) ºC
4.10) e, dependendo do estado e/ou cidade, pode apresentar características um 0 com os meses do ano. Fonte: INMET. Normais Climatológicas 1961-1990.
temperatura
400 J
5
30
mm Fortaleza ºC F M A M J J A S O N D
pouco
400diferenciadas. 30
300 25
Precipitação Temperatura
Pelo
300 climograma de Brasília (Figura 4.12), observa-se que a linha de tempe-
25 Atividade 1 20
200
ratura 20
200apresenta uma ligeira queda nos meses de junho e julho, caracterizando o
15
15 100
Compare os climogramas de Brasília e de Fortaleza e descreva aqui10suas
inverno
100
com temperaturas amenas. A precipitação entre os meses de maio e se- mm Ubatuba (litoral SP) ºC
10 semelhanças
0 e diferenças. 5
tembro fica extremamente baixa (menor que 38mm), caracterizando um período 400 J F M A M J J A S O N D 30
0 5
de outono/inverno
J F bem
M seco.
A ÉM típico JnestaJ época
A do Sano aO umidade
N Drelativa do 300 25
Precipitação Temperatura
20
ar baixar até 10% em algunsPrecipitação
dias, afetando aTemperatura
saúde dos habitantes. 200
15
A falta de chuva e a baixa umidade relativa do ar podem durar 2 ou 3 meses, 100 10
dependendo da intensidade das massas de ar Equatorial atlântica (atua mais ao 0
mm Cabo Frio (RJ) ºC5
mm Recife (PE) ºC J F M A M J J A S O N D
400 30
400 30 Precipitação Temperatura 25
300
300 25 20
20 200
200 15
15 100
100 mm Petrolina (PE) ºC10
10
Corrente fria
0 5 Corrente das Falkland
J F M A M J J A S O N D
0 Precipitação Temperatura 5
J F M A M J J A S O N D
Fonte: O Globo, 12/07/2003. (adaptado)
Precipitação Temperatura
15
20
100 200
mm Ubatuba (litoral SP) ºC 10
15
0 400
100 30 5
J F M A M J J A S O N D 10
mm Ubatuba (litoral SP) ºC 3000 25
5
400 30 F Precipitação M Temperatura D 20
200 J M A J J A S O N
300 25 15
Precipitação Temperatura
Capítulo 4 :: 10
57
20 100
200
15 0 5
mm Ubatuba (litoral SP) ºC
100 10 J F M A M J J A S O N D
A temperatura do ar fica em torno de 26º C e, combinada com a pouca400 mm Florianópolis (SC)
30
ºC
0 5 Precipitação Temperatura 25
precipitação,
J criaF ótimas
M condições
A M para J cultivos
J A de SfrutasO o ano
N todo,
D desde300 400 30
20
que haja irrigação. Deste modo, o vale do rio São Francisco, que corta a região200 300 25
Precipitação Temperatura 15 20
semiárida, se tornou um grande produtor e exportador de frutas. 100 200 10
mm Petrolina (PE) ºC15
0 100
400 5 30
10
J F M A M J J A S O N D
mm Petrolina (PE) ºC 300 0 25
5
400 30 J F Precipitação
M A M Temperatura
J J A S O N D 20
200
300 25 15
Precipitação Temperatura
20 100 10
200
15 0 5
mm Petrolinade(PE) ºC relacionando
100 10 400 Figura 4.18: J Climograma
F Mda cidade
A MFlorianópolis
J J(EstadoA de Santa
S Catarina),
O N
30
D
precipitação
mm e temperatura com os meses Sãodo ano. Fonte: (SC)
Joaquim INMET. Normais Climatológicas 1961-1990.
ºC
0 5 Precipitação Temperatura 25
J F M A M J J A S O N D 300 400 30
20
Precipitação Temperatura 200 Na
300 região Sul do Brasil há presença de relevo com altitudes significativas
25
15
20 a
100 (Serras200mmGaúcha e Catarinense com altitudes em torno de 1000m), deixando
Florianópolis (SC) 10 ºC15
Figura 4.17: Climograma da cidade de Petrolina (Estado de Pernambuco), relacionando precipitação 0 temperatura
400 mais baixa ao longo do ano. O relevo elevado também 5 funciona
30
100 10
e temperatura com os meses do ano. Fonte: INMET. Normais Climatológicas 1961-1990. Jcomo F M A M J J A S O N D
mm Florianópolis (SC) ºC 3000barreira orográfica para o deslocamento de sistemas atmosféricos (ventos 25
5
400 30 oceânicos, Jfrentes
F Precipitação
frias
M etc.),
A provocando
M Temperatura
J aumento
J A na quantidade
S O Ne, àsD 20 na
vezes,
200
300 25 15
intensidade
100
da chuva na região serrana. Um exemplo
Precipitação desta situação é a cidade
Temperatura de
20 10
200
:: Temperatura do Ar e Sensação Térmica :: 15 São Joaquim (Figura 4.19), situada em Santa Catarina, a uma altitude de 1.360m.
0 5
100
Às vezes, no inverno, os jornais divulgam que a temperatura 10 400 Nesta cidade,
mm F Florianópolis
J durante M o inverno,
A (SC)J
M pode ocorrer
J precipitação
A S OemºCforma
N Dde neve e
30
0 do ar é um determinado valor, mas a sensação térmica é de 5 congelamento da superfície dosPrecipitação
riachos. ObserveTemperatura
como a linha de temperatura
25 entre
J F M A M J J A S O N D 300
um frio maior. Isto acontece porque o corpo humano pode as duas cidades catarinenses mostram temperaturas bem diferentes. 20
Precipitação Temperatura 200
Minas Gerais 15
se resfriar (causando a sensação de frio) com a ocorrência 100
mm São Joaquim (SC) 10 ºCRio de Janeiro
de ventos que “roubam” calor do nosso corpo, por exemplo. Fre
0 400 nte 5 30
Por outro lado no verão, podemos sentir mais calor do que J F M A M J J FriaA S O N D
mm São Joaquim (SC) ºC 300 25
400 o registrado pela temperatura do ar. Esta sensação térmica de 30 Precipitação Temperatura 20
200
300 calor pode estar relacionada à alta umidade do ar e à falta de 25
São Paulo 15
20 100
200 ventos, exigindo que o nosso corpo transpire mais para buscar
10
15 0 5
100 resfriamento, causando inclusive fadiga. 10 400
mm
J F
São Joaquim (SC)
M A M J J A Fonte:
ºC
S OOGlobo,N 12/07/2003.
D (adaptado)
30
0 5 Precipitação Temperatura 25
J F M A M J J A S O N D 300
20
Precipitação Temperatura 200 Figura 4.19: Climograma da cidade de São Joaquim (Estado de Santa Catarina), 15relacionando
Clima subtropical úmido 100 precipitação e temperatura com os meses do ano. Fonte: INMET. Normais Climatológicas 1961-1990.
10 Climogramas
0 5
Os estados da Região Sul do Brasil e o extremo sul do estado de São Paulo J F M A M J J A S O N D
Precipitação Precipitação Minas Gerais
possuem um clima com temperaturas mais amenas e chuvas bem distribuídas Exercícios mm
Temperatura
Rio de Janeiro
ao longo do ano. Estas características climáticas se relacionam principalmente
Minas Gerais 400 Fre
nte
1) (UERJ / 2004) O esquema abaixo I Fria representa o avanço de umaII frente fria no
III
à latitude extratropical (ao sul do Trópico de Capricórnio) e à ocorrênciaRioquase de Janeiro
Fre
semanal de frentes frias. nte dia 12 de julho
300 de 2003, no Estado do Rio de Janeiro.
Fria
Em comparação aos demais climogramas, o da cidade de Florianópolis São Paulo
Minas Gerais
(Estado de Santa Catarina) apresenta a linha de temperatura mais sinuosa (Figura 200
4.18), evidenciandoSãoumPaulo
maior contraste de temperatura entre inverno e verão do Fre
Rio de Janeiro
Fonte: O Globo, 12/07/2003. (adaptado)
nte
que os gráficos anteriores. Esta variação maior de temperatura está relacionada à 100 Fria
latitude extratropical, que cria uma significativa diferença do tempo de exposição
Fonte: O Globo, 12/07/2003. (adaptado)
ao sol entre o verão e o inverno, como colocado no início do capítulo. 0
São Paulo JFMAMJJASOND JFMAMJJASOND JFMAMJJASON
Neste climograma também se verifica a ausência de um período de seca. Climogramas
Em todos os meses há quase a mesma quantidade de precipitação, característica Fonte: FERREIRA, Graça Maria
Climogramas Fonte: O Globo, 12/07/2003. (adaptado)
fornecida pela passagem semanal de frentes frias, mesmo no verão. Precipitação
mm
a) Explique o processo de formação de uma frente fria.
Precipitação 400 Temperatura
mm mm I ºCºC II III
400 400
300
40 30 Climogramas
I II III IV
300 25
300 Precipitação 30
200
mm 200 20
Precipitação Temperatura Manaus
100 15
acarreta reduções de até 15-20% nas vazões do rio São Francisco. Aquecimento global, com a elevação do nível dos oceanos, aumento
O Relatório do Clima do Brasil, produzido recentemente pelo Instituto da intensidade e da frequência das ressacas nos últimos anos, a ocupação
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), tem estudado as mudanças de irregular da orla e mudanças provocadas pelo homem nos rios que
clima no Brasil, e para o Nordeste, para finais do século XXI. Este relatório desaguam no mar são apontados, por especialistas em climatologia e
tem usado modelos regionais de até de resolução animados no modelo fenômenos marinhos, como causas mais prováveis da redução das praias.
global de HadAM3 do Centro Climático do Reino Unido (Hadley Centre). Uma elevação de no nível do Atlântico poderia consumir de praia no Norte
Segundo este relatório do Inpe, estes seriam os possíveis impactos da e no Nordeste. Em Recife, por exemplo, a linha costeira retrocedeu de
mudança de clima, considerando os cenários otimistas e pessimistas 1950, e mais de de 1985 e 1995.
propostos pelo IPCC: Os ambientalistas estão preocupados também com a caatinga,
No cenário climático pessimista, as temperaturas aumentariam de 2 apontada como uma das ações mais urgentes. A caatinga é o único bioma
ºC a 4 ºC e as chuvas de reduziriam entre 15-20% no Nordeste até o final exclusivamente brasileiro, abriga uma fauna e uma flora únicas, com
do século XXI. No cenário otimista, o aquecimento seria entre 1-3 ºC e a muitas espécies endêmicas, ou seja, que não são encontradas em nenhum
chuva ficaria entre 10-15% menor que no presente. outro lugar do planeta. Trata-se de um dos biomas mais ameaçados do
Essas mudanças no clima do Nordeste no futuro podem ter os Brasil, com grande parte de sua área tendo já sido bastante modificada
seguintes impactos: pelas condições extremas de clima observadas nos últimos anos, e
• A caatinga pode dar lugar a uma vegetação mais típica de zonas potencialmente são muito vulneráveis às mudanças climáticas.
áridas, com predominância de cactáceas. O desmatamento da Amazônia O clima mais quente e seco poderia ainda levar a população a migrar
também afetará a região. para as grandes cidades da região ou para outras regiões, gerando ondas
• Um aumento de 3ºC ou mais na temperatura média deixaria ainda de “refugiados ambientais”, aumentando assim os problemas sociais já
mais secos os locais que hoje têm maior déficit hídrico no semiárido. existentes nos grandes centros urbanos do Nordeste e do Brasil.
• A produção agrícola de subsistência de grandes áreas pode se
tornar inviável, colocando a própria sobrevivência do homem em risco. O que pode ser feito: avaliações do impacto e vulnera-
• O alto potencial para evaporação do Nordeste, combinado com o bilidade às mudanças climáticas
aumento de temperatura, causaria diminuição da água de lagos, açudes A população mais pobre é a que sofrerá mais e a região mais afetada
e reservatórios. seria um quadrilátero no Nordeste, compreendendo desde o oeste do Piauí,
• O semiárido nordestino ficará vulnerável a chuvas torrenciais o sul do Ceará, o norte da Bahia e oeste de Pernambuco, onde estão as
e concentradas em curto espaço de tempo, resultando em enchentes e cidades com menor desenvolvimento humano. As projeções de clima para
graves impactos socio-ambientais. Porém, e mais importante, espera-se o futuro indicam riscos de secas de 10 anos ou mais.
uma maior frequência de dias secos consecutivos e de ondas de calor Para um país com tamanha vulnerabilidade, o esforço atual de mapear
decorrente do aumento na frequência de veranicos. tal vulnerabilidade e risco, conhecer profundamente suas causas setor por
• Com a degradação do solo, aumentará a migração para as cidades setor, e subsidiar políticas públicas de mitigação e de adaptação ainda se situa
costeiras, agravando ainda mais os problemas urbanos. bem aquém de suas necessidades. O conhecimento sobre impactos setoriais
avançou um pouco sobre a vulnerabilidade da mega diversidade biológica e de
Consequências da mudança do clima no Nordeste: alguns agroecossistemas (milho, trigo, soja e café) às mudanças climáticas,
As projeções apresentadas no Relatório do Clima do Inpe foram com indicações iniciais de significativa vulnerabilidade. Nos setores de saúde,
geradas usando modelos climáticos globais e regionais, e o fato de recursos hídricos e energia, zonas costeiras, e desenvolvimento sustentável
todos os modelos convergirem numa situação de clima mais quente e do semi-árido e da Amazônia, a quantidade de análises de impactos e
seco pode fazer com que consideremos essas projeções como tendo vulnerabilidade é substancialmente menor, o que aponta para uma premente
um grau de certeza grande. Considerando um modelo em particular necessidade de induzir estudos para esses setores.
(o modelo do Centro Climático britânico – Hadley Centre) e o cenário São mais comuns os estudos de vulnerabilidade a mudanças dos usos
pessimista, apresenta uma tendência de extensão da deficiência hídrica por da terra, aumento populacional e conflito de uso de recursos naturais,
praticamente todo o ano para o Nordeste, isto é, tendência a “aridização” porém, é urgente um esforço nacional para a elaboração de um “Mapa
da região semiárida até final do século XXI. Define-se “aridização” como Nacional de Vulnerabilidade e Riscos às Mudanças Climáticas”, integrando
sendo uma situação na qual o déficit hídrico que atualmente apresenta- as diferentes vulnerabilidades setoriais e integrando estas com as demais
se no semiárido durante 6-7 meses do ano seja estendido para todo o causas de vulnerabilidade. Um plano contra a mudança climática incluiria
ano, consequência de um aumento na temperatura e redução das chuvas. tanto ações de adaptação (como mudar o zoneamento em cidades
Em resumo, grande parte do semiárido nordestino, onde a agricultura não litorâneas para evitar o avanço do mar) quanto de mitigação.
irrigada já é atividade marginal, tornar-se-ia ainda mais marginal para a Jose A. Marengo é pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, do
prática da agricultura de subsistência. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe) - Email: marengo@cptec.inpe.br.
5
Biomas e Domínios
do Relevo do Brasil
62 :: Geografia :: Módulo 2
SOBRE OS BIOMAS, é baseada nas ligações dos aspectos biológicos e físicos de uma determinada
OS ECOSSISTEMAS formação. Cada tipo de bioma apresenta um conjunto de ecossistemas que
E OS DOMÍNIOS funcionam de forma estável, sendo caracterizado por um tipo principal de
MORFOCLIMÁTICOS vegetação (num mesmo bioma podem existir diversos tipos de vegetação). Desse
modo, os sistemas ambientais utilizam-se da classificação de vegetação para
Este capítulo tem como objetivo entender quais são os principais bio- melhor evidenciar as diversas paisagens naturais, aqui entendidas como biomas.
mas, ecossistemas e domínios morfoclimáticos brasileiros ou mesmo, o Quanto aos ecossistemas, são considerados como as unidades naturais do
significado destes na dinâmica terrestre. Para tal, é importante destacar planeta que compõem os diferentes tipos de biomas, constituindo-se no foco de
conceitos, definições, terminologias, características, distribuição e principais estudo da Ecologia. São formados por seres vivos (meio biótico), por locais onde
usos. Iniciaremos com os termos fitofisionomia, formação e bioma. Fitofisio- vivem (meio abiótico) e por todas as relações destes com o meio e dividem-se em
nomia indica o aspecto da vegetação que se encontra em determinado lugar terrestres e aquáticos, podendo variar de tamanho, desde uma poça d’água até
e foi proposto praticamente ao mesmo tempo que o termo formação, que indica uma grande floresta. Em outras palavras, são considerados como o “conjunto de
a vegetação como resultante da interação entre solo, relevo, clima, fauna, flora, todos os organismos (biocenose) que habitam em um determinado espaço vital
hidrografia e outros. O termo bioma, proposto mais tarde, apenas adicionou a (ecótopo), com a totalidade de fatores inanimados desse espaço” ou, conjunto
fauna à uniformidade fitofisionômica e climática, características desta unidade bio- formado por todas as comunidades que vivem e interagem em uma certa região
lógica. Várias modificações conceituais foram apresentadas por diversos autores, e pelos fatores abióticos que agem sobre essas comunidades. E, finalmente, a
ao longo do tempo, acrescentando outros fatores ambientais ao conceito original, associação de ecossistemas similares formam então um tipo de bioma.
como o solo, por exemplo. Walter propôs um conceito essencialmente ecológico, Os domínios morfoclimáticos (morpho = formas + clima) foi proposto nos
considerando bioma como uma área de ambiente uniforme, definido de acordo anos de 1970 por Aziz Ab´Saber, para classificar as interações entre os elementos
com a zona climática em que se encontra. naturais construídas ao longo do tempo. Os domínios se referem a unidades
paisagísticas resultantes, principalmente, das relações entre clima e relevo.
De origem grega, a palavra bioma (bio = vida + oma = Quanto à conceituação de domínios, podem ser entendidos como ‘faixas ou zonas
grupo) foi utilizada pela primeira vez por Frederic Clements nos de transição’ que funcionam como ‘limites’ entre as paisagens, evidenciando que
anos de 1940. O objetivo era o de designar grandes unidades essa passagem se dá de forma gradual e não abrupta.
caracterizadas por certa uniformidade em sua distribuição As diferentes paisagens que se estendem pelo globo terrestre podem
no planeta, bem como o predomínio de espécies de flora e ser agrupadas segundo alguns critérios, capazes de agregar regiões com
fauna, associadas às outras características do meio físico como características semelhantes e facilitar o entendimento dos fenômenos naturais e
relevo, solo e clima. Essa classificação foi aprimorada e passou sociais. Isso significa que, quando falamos em paisagens naturais, dois conceitos
a designar grandes unidades com características semelhantes, são importantes: bioma e domínio morfoclimático.
destacando-se a fisionomia, as formas de vida, as estruturas
e os fatores ambientais associados, introduzindo-se o fator BIOMAS NO MUNDO
hidrografia. Há muitas definições sobre esse conceito, mas
começou de fato a ser mais utilizado a partir da década de A nossa visão de mundo é político-administrativa, não é mesmo? Dividido
1990 para facilitar o planejamento de ações de conservação e em continentes, países, estados, cidades, vilas, povoados, aldeias... Raramente
proteção ambiental específicas para cada bioma. nos damos conta de que vivemos em um determinado bioma, cujas características
são únicas e se diferenciam dos outros biomas. Na escala global, os biomas são
unidades que evidenciam grande homogeneidade na natureza de seus elementos,
O bioma pode ser considerado como uma área do espaço geográfico, com como por exemplo as florestas tropicais que distribuem-se pela América, África, Ásia
dimensões de até mais de um milhão de quilômetros quadrados e que tem por e Oceania. Embora semelhantes, possuem diferentes comunidades ecológicas e são
características a uniformidade de um macroclima definido, de uma determinada essas particularidades, que fazem com que algumas vegetações embora parecidas
fitofisionomia ou formação vegetal, de uma fauna e outros organismos vivos entre si, mostrem-se distintas. Assim como em outros biomas, cada uma dessas
associados, e de outras condições ambientais, como a altitude, o solo, alagamentos, florestas tem sua importância no contexto local.
o fogo, a salinidade, entre outros. Estas características todas lhe conferem uma Os biomas são classificados de acordo com algumas características, tais
estrutura e uma funcionalidade peculiares, ou seja, uma ecologia própria. como: grau de umidade, folhas e formas e a maioria dos autores concordam em
Entende-se então, que os biomas apresentam um somatório de ecossistemas identificar onze biomas no globo: Tundra, Taiga, Florestas Temperadas, Vegetação
vizinhos e semelhantes, podendo ser divididos em terrestres e aquáticos. Mediterrânea, Pradaria, Estepes, Deserto, Savana, Florestas Tropicais e Subtropicais
Como vocês sabem, o ambiente terrestre é dividido em grandes comunidades, e Vegetação de Montanha (Figura 5.1). Lembramos que, atualmente, além da
apresentando características distintas entre si, e essa classificação dos biomas irreversível extinção de espécies (ou da biodiversidade), podemos mencionar outra
Capítulo 5 :: 63
crise, a dos biomas, que por resultar na perda dos ambientes naturais onde as Interessante notar que, ainda que sua riqueza baseia-se em espécies nativas,
espécies nascem, desenvolvem-se e deslocam-se, passou a ser uma preocupação a maior parte das atividades econômicas nacionais são de espécies exóticas. Na
recorrente mencionada na literatura. agricultura, destacam-se a cana-de-açúcar (Nova Guiné), o café (Etiópia), o arroz
(Filipinas), a soja e a laranja (China), o cacau (México) e o trigo (Ásia); na
silvicultura, os eucaliptos (Austrália) e pinheiros (América Central); na pecuária, os
bovinos (Índia), os equinos (Ásia) e os caprinos (África); na piscicultura, as carpas
(China), as tilápias (África Oriental); e na apicultura, as variedades de abelha
provenientes da Europa e da África.
Os produtos da biodiversidade no Brasil respondem por 31% das exportações,
com destaque para o café, a soja e a laranja. As atividades de extrativismo
florestal e pesqueiro empregam mais de três milhões de pessoas. A biomassa
vegetal, incluindo o etanol da cana-de-açúcar, e a lenha e o carvão derivados de
florestas nativas e plantadas respondem por 30% da matriz energética nacional
– e em determinadas regiões, como o Nordeste, atendem a mais da metade
da demanda energética industrial e residencial. Além disso, grande parte da
população brasileira faz uso de plantas medicinais para tratar seus problemas de
saúde. Diante deste quadro, é de fundamental importância que as pesquisas sejam
intensificadas no país para o melhor aproveitamento da biodiversidade brasileira
pois, ainda é reduzido o conhecimento sobre as espécies, principalmente nas
áreas tropicais úmidas. Essa condição torna-se crítica à medida que as alterações
ambientais antropogênicas se acentuam, modificando habitats e impingindo uma
perda de patrimônio biológico.
Figura 5.1: Biomas no Mundo
PRINCIPAIS TIPOS DE
BRASIL: PAÍS DE MAIOR BIOMAS DO BRASIL
BIODIVERSIDADE DO
PLANETA É grande a variedade de formações vegetais pelo planeta, como florestas
equatoriais, tropicais, desertos, savanas, campos, dentre outros, sendo
Segundo a Conservation International (CI), o Brasil é considerado “megabio
possível identificarmos características comuns em todo o mundo. Apesar da
diverso” ou seja, um país que reúne pelo menos 70% das espécies vegetais e
homogeneização dos biomas, cada formação no planeta apresenta espécies
animais do Planeta. Primeiro país signatário da Convenção sobre a Diversidade
específicas daquela área. A divisão político-administrativa do Brasil está no nosso
Biológica (CDB), sua biodiversidade é qualificada pela diversidade de ecossistemas,
imaginário e rapidamente nos situamos diante de um mapa. Mas qual é o bioma
de espécies biológicas, de endemismos e de patrimônio genético.
que vivemos por exemplo, aqui no estado do Rio? Este bioma está associado a
As dimensões continental, as variações geomorfológica e climática, além da
qual zona climática?
maior rede hidrográfica, são responsáveis pela formação de zonas biogeográficas
Vamos rever de modo sucinto quais são os principais biomas brasileiros e
distintas ou biomas, a saber: a Floresta Amazônica, maior floresta tropical úmida
como estão distribuídos espacialmente. O espaço geográfico brasileiro se estende
do mundo; o Pantanal, maior planície inundável; o Cerrado de savanas e bosques;
por mais de 8,5 milhões de km², situados em latitudes que vão desde aproxima-
a Caatinga de florestas semiáridas; os campos dos Pampas; e a floresta tropical
damente 5ºN até quase 34ºS, onde cada bioma tem seus limites definidos por
pluvial da Mata Atlântica. Além disso, em seu litoral estão os ecossistemas como
uma combinação de diferentes fatores tais como clima, temperatura, precipitação
recifes de corais, dunas, manguezais, lagoas, estuários e pântanos.
de chuvas, umidade relativa, tipo de componentes do solo, compartilhando das
Essa variedade de biomas reflete a enorme riqueza da flora e da fauna e faz
mesmas características biológicas e climáticas. Podemos citar alguns exemplos
com que o Brasil tenha a maior biodiversidade do planeta. Podemos citar, além
como os dos moradores de Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória que encon-
disso, as espécies endêmicas e diversas espécies de plantas de importância econô-
tram-se nos limites do bioma de Mata Atlântica e os de Goiânia, Brasília e Cuiabá
mica mundial – como o abacaxi, o amendoim, a castanha do Brasil (ou do Pará),
nos limites do bioma do Cerrado.
a mandioca, o caju e a carnaúba – que são originárias do Brasil. Abriga ainda,
São inúmeras as divisões dos tipos de biomas no Brasil e, neste curso
uma rica sociobiodiversidade, representada por mais de 200 povos indígenas e
adotamos as propostas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
por diversas comunidades – como quilombolas, caiçaras e seringueiros, para citar
que define o bioma como “conjunto de espécies animais e vegetais que vivem
alguns – que reúnem um inestimável acervo de conhecimentos tradicionais sobre
em formações vegetais vizinhas em um território que possui condições climáticas
a conservação da biodiversidade.
similares e história compartilhada de mudanças ambientais, o que resulta em uma
64 :: Geografia :: Módulo 2
diversidade biológica própria”. Nessa perspectiva, o bioma pode ser nomeado O bioma da Amazônia (conhecida como Floresta Equatorial, Tropical e Úmida)
em função da vegetação predominante (Cerrado, Mata Atlântica), do relevo compreende cerca de 42% do território nacional e está presente nos estados do Acre,
(Pantanal), das condições climáticas (Caatinga no semiárido nordestino) ou do Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins,
meio físico ( zonas costeira e marinha). além de outros países sul-americanos, em áreas de climas Equatorial e Tropical
Lançado em 2004 pelo IBGE, o Mapa dos Biomas Brasileiros apresenta úmido. Possui a maior biodiversidade do planeta e compõe-se por vegetação de
uma divisão onde um mesmo bioma contém paisagens distintas da vegetação grande porte, verdes, com grandes folhas (latifoliadas) e grande densidade.
dominante. É o caso dos Campos e Manchas de Cerrado existentes na Amazônia. O bioma da Caatinga, cuja vegetação é adaptada às condições de aridez,
Ao considerar ecossistemas distintos do predominante em um mesmo bioma, é único no mundo, abrange cerca de 10% do território nacional e engloba os
tenta-se mostrar que eles precisam ser tratados de maneira integrada. O que afeta estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
um ecossistema provoca impactos em outros ecossistemas vizinhos, mesmo que o Alagoas, Sergipe, Bahia (região Nordeste do Brasil) e parte do norte de Minas
primeiro não seja a paisagem preponderante. Gerais (região Sudeste do Brasil).
De acordo com o IBGE (Figura 5.2 e Tabela 5.1), são seis os grandes biomas O bioma dos Campos são formados basicamente por herbáceas, gramíneas
brasileiros continentais (Caatinga, Campos, Cerrado, Amazônia, Mata Atlântica e e pequenos arbustos de diversas características, variando de acordo com a região,
Pantanal) e um bioma aquático (Oceânico, Litorâneo e Lacustre). Observe ainda, ocupando áreas descontínuas no país. Na região Norte, apresenta-se como savanas
os limites dos Biomas e os limites dos tipos Climáticos (Figura 5.3) de gramíneas baixas; na região Sul, como pradarias mistas subtropicais formadas
principalmente pelo Pampa gaúcho, onde o clima é subtropical e a vegetação
(aberta e de pequeno porte) se estende do Rio Grande do Sul à Argentina e ao
Uruguai. Podem ainda ser encontrados em diversas regiões do planeta tais como,
nas estepes russas, nas pradarias norte-americanas e nas savanas africanas.
O bioma do Cerrado localiza-se principalmente no Planalto Central Brasileiro,
ocupa cerca de 20% do território brasileiro e é o segundo maior bioma do
Brasil. Composto por árvores relativamente baixas (distribuídas entre arbustos e
gramíneas), de troncos e ramos retorcidos, cascas espessas e folhas grossas. É um
ecossistema similar às chamadas Savanas da África e da Austrália, e é reconhecido
como a savana mais rica do mundo em biodiversidade.
O bioma do Pantanal localiza-se no sudoeste de Mato Grosso e oeste de
Mato Grosso do Sul e faz a ligação entre o Cerrado (no Brasil Central), o Chaco
(na Bolívia) e a Floresta Amazônica (ao Norte do país). Constitui-se numa área
de transição e é considerado uma das maiores planícies inundáveis do planeta,
formado por uma grande variedade de ecossistemas.
O bioma Mata Atlântica ocupa toda a faixa continental atlântica leste brasileira
e se estende para o interior nas regiões Sudeste e Sul do País, ou seja, do Piauí ao
Figura 5.2: Biomas Brasileiros. Fonte: IBGE, 2004
Rio Grande do Sul, ocupando inteiramente três estados – Espírito Santo, Rio de
Janeiro, Santa Catarina, 98% do Paraná, além de porções de outras 11 unidades da
federação. Definido pela vegetação florestal e por relevo diversificado, é considerado
um dos biomas mais ricos do mundo em espécies da flora e da fauna.
entanto, numerosos pequenos afluentes da região semi-árida cruzada pelo relativamente chuvosas, ou de rios espaçados do domínio de cerrados.
Rio São Francisco, na Bahia, comportam-se segundo o modelo mais amplo Trata-se, portanto, de um curso d’água perene de tipo marcadamente
dominante no semi-árido brasileiro, ou seja, como rios intermitentes, alóctone. O Jaguaribe, para onde se pretende transpor parte das suas
sazonários, exorréicos. As chuvas do semi-árido são-franciscano totalizam águas, enquadra-se na categoria de rios intermitentes, sazonários e
volumes de 500 a 600 mm anuais por oposição aos 1.500-1.800 mm abertos para o mar (exorréicos). Fato que precisa ser repetido muitas
predominantes no domínio dos cerrados. vezes para os planejadores dotados de baixa interdisciplinaridade. Convém
O quarto conjunto hidroclimático do Rio São Francisco corresponde lembrar também, nesse sentido, que quase 100% dos rios brasileiros inter
à chamada Zona da Mata costeira, onde as precipitações, num espaço e subtropicais chegam ao mar pelos mais variados caminhos, enquadrando-
relativamente limitado (Sergipe, Alagoas), atingem um total de 1.200 se na categoria de drenagens abertas para o oceano (tecnicamente dito
a 2.100 mm, aproximadamente. Para ser mais detalhado, convém, exorréicos). Não existem verdadeiras drenagens endorréicas e arréicas no
entretanto, registrar as fortes transições progressivas existentes entre os território brasileiro. Trata-se de uma vantagem a nosso favor, relacionada
climas tropicais úmidos das cabeceiras, os climas do médio vale mineiro ao fato de que todos os sais minerais retirados das rochas decompostas
do São Francisco, o clima da região semi-árida baiana e, por fim, os climas ou alteradas são dejetados para o oceano de tal modo que é uma idiotice
tropicais úmidos da região costeira. Com um detalhe a mais, em relação total quando alguém comenta que os problemas do Nordeste seco estariam
à transição rápida e complexa entre o clima dos sertões secos do São relacionados ao fato de que todas as suas águas escoariam para o mar.
Francisco e as faixas úmidas da Zona da Mata. Há muito, o próprio povo Mal sabem eles que a qualidade relativa dos solos de todos os sertões
identificou a longa e irregular faixa de transição entre o muito seco e e, sobretudo, os do Ceará está relacionada com a dinâmica chamada
o relativamente muito úmido sob o nome de área dos agrestes. De tal exorreísmo. Sem conhecer esses fatos alguém já comentou para justificar a
forma que essa expressão tem validade tanto hidroclimática e ecológica, transposição das águas do São Francisco para além-Araripe que: “Já que as
assim como de suas ofertas para atividades agrárias, valendo como uma águas vão para o mar que mal existe com que elas sejam transpostas?”.
identificação científica intuitiva quase perfeita. Tais raciocínios são mais tristes quando se sabe que as grandes barragens
De toda esta análise, fica bem patente que o semi-árido nordestino do sertão provocam localmente salinização, sobretudo no caso de Orós.
brasileiro possui o mesmo ritmo sazonário dos planaltos interiores Por meio desses raciocínios singelos e inconseqüentes, não se pode
dominados por cerrados, existindo, porém, uma diferença fantástica de avaliar que as águas doces poluídas do São Francisco, ao serem despejadas
volume de precipitações anuais entre os extensos cerrados e os grandes do outro lado do Araripe, irão se misturar com as águas semi-salinizadas de
sertões. Nos planaltos interiores recobertos por cerrados e recortados por um grande açude (Orós), ou prejudicar as águas doces retidas abaixo dos
densas florestas de galerias, as precipitações anuais totais chegam a três ou sedimentos arenosos, dos leitos de rios dependentes, das águas de alta
quatro vezes mais do que os totais de chuvas tombadas na mesma época qualidade provenientes de chuvas dos sertões semi-áridos (“de inverno”
nos sertões quentes e secos, dotados de caatingas herbáceas, arbustivas, no dizer do sertanejo).
altos “pelados” e cactáceas em lajedos de solos líticos e inselbergs. Deve-se lembrar que até hoje normalmente as águas poupadas entre
Convém lembrar que a melhor maneira para delimitar o Polígono das soleiras rochosas que seccionam transversalmente os rios dos sertões
Secas, em relação aos domínios morfoclimáticos e fitogeográficos do seu nordestinos constituem o mais importante manancial para obtenção de
entorno, é o espaço até onde ocorrem as caatingas e áreas de rios e riozi- água potável nas áreas cortadas por rios de leito arenoso. Bastaria lembrar
nhos intermitentes, sazonários: aí está a core-área do domínio dos sertões o cenário das crianças sertanejas puxando jegues com pipotes para obter
nordestinos. De tal maneira que fica fácil para os cientistas, os planeja- águas doces nas pequenas cavas feitas no leito superficialmente seco, mas
dores e os governantes saberem alguma coisa do espaço total regional, dotado de águas subsuperficiais retidas, não-evaporadas, a um ou dois
dominado por rusticidades e grandes problemas para o homem habitante. metros de profundidade.
Um fato absolutamente deplorável no projeto de transposição de Ao se iniciar a idéia da transposição de águas do São Francisco para o
águas do São Francisco para o setor além-Araripe do Nordeste seco diz Ceará e Rio Grande do Norte, ninguém se preocupou com os problemas da
respeito à total ausência de estudos básicos sobre a dinâmica climática própria região de onde sairiam as águas. Era uma idéia fixa por transpor,
macrorregional. Não é possível afirmar, em termos genéricos, que o apesar das observações corretas feitas pelo então bispo de Barra ao
projeto prevê a retirada de apenas 1% do volume das águas do “Velho então candidato a presidente e alguns de seus companheiros. Caberia ao
Chico” e que, por essa razão mesma, não haverá prejuízo para as funções sucessor de dom Itamar Vian – Luiz Flávio Cappio – a tarefa histórica de
permanentes do rio em relação às hidroelétricas de Paulo Afonso, Itaparica um protesto contra o simplismo e a desatenção dos responsáveis pelo
e Xingó. Em uma comparação muito próxima, já se sabe que o Nilo projeto em relação aos próprios problemas do setor semi-árido do São
atravessa o deserto, enquanto o São Francisco cruza um bom trecho de Francisco. Tinha muita razão dom Cappio ao fazer sua greve de fome em
caatinga em seu baixo-médio vale até a Bahia, Pernambuco e Alagoas. Cabrobó, em frente à represa de Sobradinho. O episódio balanceou os
Na realidade, o São Francisco é dependente das áreas úmidas de seu alto ânimos dos autoritários e incompetentes mentores do projeto. Dom Cappio
vale acrescidas das águas de alguns de seus afluentes provindos de áreas foi induzido a acabar com seu histórico protesto de repercussão nacional.
68 :: Geografia :: Módulo 2
Seu principal argumento era que a faixa de utilização agrária, no sudoeste para nordeste, marcados por estreitas e alongadas florestas
setor sertanejo do São Francisco, era muito restrita. Nesse sentido, tinha ciliares (florest galarie): um conjunto espacial sujeito à expansão da soja
bastante razão; mesmo porque, comparado com os sertões do Ceará, onde e à multiplicação do sistema de irrigação por pivôs. As precipitações nessa
existia gente por toda a parte, as beiradas do “Velho Chico” eram mais área atingem, em média, pouco mais do que 1.600 mm anuais, com uma
rústicas e pobres do que as colinas sertanejas de além-Araripe. grande predominância de chuvas de verão e inverno relativamente seco.
Esses argumentos tornam-se mais verdadeiros quando se considera a Uma transição brusca nas condições climáticas acontece nos confins do São
grande extensão de dunas da região de Xique-Xique, que elimina qualquer Francisco baiano, surgindo bruscamente diferentes fácies de caatingas, em
possibilidade de uso do espaço na margem esquerda do rio, frente à velha terras baixas, encarceradas entre a Chapada Diamantina e os chapadões
cidadezinha. A não-consideração da fantástica quantidade de areias do sedimentares cretácicos de oeste (areado).
paleodeserto de Xique-Xique, além da limitação para usos tradicionais É, grosso modo, a partir da fronteira de Minas Gerais com a Bahia,
de sobrevivência da população regional, constitui uma área matriz de que o São Francisco começa a cruzar o setor regional de caatingas. As
fornecimento detrítico para assoreamento do rio. Um atestado a mais precipitações baixam gradualmente de 1.100 mm para 600 ou 400 mm,
do pouco conhecimento dos mentores do projeto, que teimam em dar prosseguindo em condições semi-áridas por todo o médio-baixo vale até o
propostas simplistas para o que chamam de revitalização do vale. Uma cotovelo do rio e os sertões de Alagoas e Sergipe; estendendo caatingas
tarefa para a qual não estão preparados, pelo pouco conhecimento que pelas próprias paredes do cânion de Xingó.
possuem em relação a um rio que tem 2.000 quilômetros de extensão sul- Por longos espaços, o São Francisco comporta-se como o único curso
norte, desde as suas cabeceiras tropicais úmidas de planalto, e pela região d’água perene da região, em que, no seu conjunto, efetivamente predo-
dos cerrados tropicais a duas estações, até chegar ao baixo-médio vale, mina uma drenagem intermitente sazonária exorréica, que é incapaz de
onde atravessam caatingas na condição de curso d’água alóctone. Não manter qualquer lençol d’água subsuperficial que garanta uma perenidade
considerando a grande extensão sul-norte do vale e seus diferentes setores de todos os córregos, rios e riozinhos regionais; já que o aprofundamento
climático-hidrológicos, assim como a diversidade de ocupação antrópica do lençol força um sistema hidrológico em que o calor e a evaporação obri-
nos diferentes setores do vale, é totalmente impossível aplicar um termo gam os pequenos cursos de água a alimentarem o lençol abaixo de seus
tão genérico quanto “(re)vitalização”. leitos temporariamente secos por cinco a sete meses do ano. Exatamente
Em função de seu longo traçado sul-norte no Brasil tropical centro- quando, em pleno inverno astronômico, o exagerado aquecimento produz
-oriental, o Rio São Francisco atravessa quatro setores de domínios da uma condição chamada de “verão sertanejo”.
natureza do território brasileiro. Desde o altiplano cristalino da Serra da Ultrapassados os “altos sertões” de Pernambuco e Alagoas e pro
Canastra – a nordeste do Triângulo Mineiro – até o mar, na fronteira parte Sergipe, o São Francisco cruza faixas irregulares de agrestes. Essa
de Alagoas com Sergipe; devendo ser lembrado que o rio totaliza 2.170 banda leste do espaço principal dos sertões semi-áridos inclui o mais
quilômetros de extensão. Atravessando setores de quatro domínios morfo- variado mosaico de ecossistemas nordestinos, envolvendo caatingas
climáticos e fitogeográficos intertropicais brasileiros – em um eixo maior arbóreas, matinhas ralas e, por fim, na periferia interior da Zona da Mata
nitidamente longitudinal –, o “Velho Chico” percorre espaços climático- costeira típica, uma alongada e sinuosa faixa de vegetação designada
-hidrológicos muito diferentes entre si: como já expusemos, nasce em um por “matas secas biodiversas”. No interior desse conjunto complexo do
altiplano dotado de campestres e matinhas biodiversas de cimeira, passan- agreste, em áreas rebaixadas de solos razoáveis, acontece um protótipo
do logo a percorrer regiões tropicais úmidas de planalto, outrora recobertas regional de atividades agrárias que comporta cercas-vivas reticuladas;
por matas biodiversas de transição, hoje dominadas por atividades agrárias onde se separam terrenos para plantações e terrenos para criação de
diversificadas. Recebendo precipitações anuais superiores a 1.100 mm em gado. Esse agroecossistema indica sempre condições climáticas, fitogeo-
média, bem distribuídas, as terras regionais têm condições de possuir len- gráficas e ecológicas moderadas de grande tipicidade e importância social,
çóis d’água subsuperficiais suficientes para manter a perenidade de todo o recebendo de 750 a 950 mm em média de precipitação anual. Somente
Alto Vale do São Francisco. Após algumas centenas de quilômetros para o as chamadas matas secas se diferenciam dos agrestes, localizando-se
norte, ocorre uma rápida transição para a vegetação do cerrado, cerradões sempre nos confins da mata atlântica sublitorânea, onde ocorrem estreitas
e campestres cruzados por florestas-galerias. faixas de florestas tropicais úmidas biodiversas em colinas e tabuleiros,
Aos poucos, passam a dominar cerrados e cerradões degradados na com verdadeiras faixas de florestas tropicais biodiversas. Esta última é
depressão interplanáltica do médio vale são-franciscano, sob um clima uma área que, ao longo de cinco séculos de ocupação agrária baseada
tropical a duas estações. Florestas-galerias e eventuais veredas marcam sobretudo na plantação de cana de açúcar, na prática perdeu quase todos
a relativamente estreita planície do rio. A leste, a partir das montanhas do os seus ecossistemas naturais.
quadrilátero auro-ferrífero, estende-se a dorsal da Serra do Espinhaço, e os Tão importante quanto entender o transecto geral dos espaços cli-
altiplanos da Chapada Diamantina, onde ocorrem campestres de cimeira e mático-ecológicos do Vale do São Francisco, em um curso de mais de
mini-relictos de cactáceas. A oeste, pronunciam-se os chapadões cretácicos 2.100 quilômetros de extensão, é o entendimento de suas complexas
do noroeste da Bahia, com sua rede de cursos afluentes, orientados de áreas de transição e contacto, que muitas vezes apresentam mosaicos
Capítulo 5 :: 69
de ecossistemas diferenciados em sucessivas áreas, desde o extremo sul projetos de irrigação nas colinas das margens do vale. A maneira pela qual
até a área em que o rio transpõe caatingas. Além da presença de minibio- os técnicos e funcionários das instituições gerenciadoras dos projetos de
mas relictuais; redutos de matas na cimeira de morros e maciços antigos; irrigação vêm tratando os pobres sertanejos que se associaram aos projetos
baixios de pé-de-serra; bizarros montes cársticos; vazantes ribeirinhas lo- é mais do que injusta e incompreensível.
dosas, envolvendo argilas e partículas de calcários; corpos de dunas de um Pior do que isso é a desatenção que os técnicos têm tido para com
paleodeserto arenoso (psamo-bioma); além de rios afluentes empestados os que procuram a direção dos açudes por ocasião das grandes secas.
por resíduos de defensivos agrícolas; e um afluente de exceção na margem O autoritarismo e a ausência de sensibilidade social e humana dos
direita do rio, proveniente de grandes cidades e áreas minero-siderúgicas. gestores têm sido abomináveis e discriminatórios. Além de uma total
De tal forma que o alto e médio Vale do Rio das Velhas possui um comple- falta de criatividade e espírito de inovações técnicas, socioeconômicas e
xo metabolismo urbano-industrial e forte poluição hídrica. socioculturais em relação aos brios culturais da gente sertaneja. Se tal
No espaço total da bacia hidrográfica do Rio São Francisco existe, situação continuar prevalecendo, não será possível acreditar minimamente
portanto, uma setorização climático-hidrológica regional que garante sua nos efeitos sociais e psicossociais da propalada transposição.
perenidade, possibilitando o cruzamento das caatingas e paleodesertos Tinha, portanto, mais do que razão dom Luiz Flávio Cappio em protes-
arenosos, ocorrentes no médio vale inferior da bacia hidrográfica regio- tar contra o ligeirismo e a deficiência dos conhecimentos dos fatos antrópi-
nal. É importante relembrar que a área dos cerrados do médio vale são- cos nos projetos elaborados às pressas de transposição das águas do São
-franciscano tem a mesma sazonalidade que o Polígono das Secas; porém, Francisco para o Ceará, Rio Grande do Norte, e os cariris novos, cabeceiras
totaliza de três a quatro vezes mais o volume de chuvas de inverno do que do Rio Paraíba do Norte. Convém lembrar que, em um projeto democrático,
o total das precipitações do Nordeste seco. Esta última pode ser conside- inteligente e bem elaborado, nunca se poderá dizer autoritariamente que
rada a mais ampla, complexa e socialmente importante faixa de transição “se trata de um projeto político do presidente”, mesmo porque todo pro-
de todo o Nordeste, por toda a parte reconhecida pelo termo “agrestes” jeto exclusivamente político é, por princípio, uma auto-afirmação sobre o
ou “terras agrestadas”. Na continuidade espacial para a zona litorânea e seu caráter demagógico e eleitoreiro. Ao invés desse enunciado preferimos
sublitorânea – zona da mata propriamente dita – os totais de precipita- que se diga que se trata de um projeto de governo metodicamente bem
ções anuais sujeitas a chuvas de verão e de inverno alcançam de 1.500 a elaborado, e de aplicabilidade macrorregional, interdisciplinar, de grande
2.100 mm anuais, em média. O conhecimento de tais fatos, para qualquer interesse social. Ninguém seria contra a transposição de águas do São
tipo de planejamento, é indispensável, obrigando os órgãos de gerencia- Francisco se houvesse projetos paralelos simples e bem distribuídos por
mento regional a um aprofundamento do conhecimento e da obtenção de todos os sertões a fim de fazer ascender socioeconômica e sociocultural-
dados meteorológicos sobre os mais diversos espaços do sertão. Sendo mente os mais pobres e desventurados habitantes do interior brasileiro.
absolutamente necessário incorporar sempre, às condicionantes do mundo No Nordeste seco existe gente por toda a parte: um fato que
físico e ecológico, o conhecimento socioambiental das comunidades serta- transformou a nossa região sertaneja sofrida na região semi-árida mais
nejas residentes, semi-escravizadas pelas dificuldades quase incorrigíveis povoada do mundo e de mais difícil atendimento social efetivo a sua brava
da radical estrutura agrária vigorante na região. Por fim, um fato básico, gente (Jean Dresch). Tudo levando a crer que um projeto certamente
nem sempre levado em consideração por políticos e planejadores: é exa- eleitoreiro e desenvolvimentista somente vai atender a fazendeiros
tamente no inverno (astronômico), quando as águas do Rio São Francisco absenteístas da beira alta de alguns vales e a empreiteiras desesperadas
ficam mais baixas, que é necessário maior volume delas para manter as por um novo ciclo de lucratividades.
hidrelétricas de Paulo Afonso, Itaparica e Xingó. No mesmo período em As considerações aqui feitas são uma homenagem a Luiz Flávio Cappio
que seria necessário transpor mais águas para além-Araripe, onde todos os e ao seu antecessor Itamar Vian, grandes conhecedores das realidades
rios sertanejos perdem correnteza por longos meses. físicas, sociais e econômicas do Vale do São Francisco.
Para justificar o projeto de transposição de águas perante a opinião Fonte: REVISTA USP, São Paulo, nº 70, p. 6-13, junho/agosto 2006; http://www.usp.br/
pública nacional, falou-se em “águas para todos” – todos os nordestinos, revistausp/70/01-aziz.pdf, acesso em 22/10/2014
evidentemente – e, a partir daí, passou-se a falar que seriam beneficiados
milhões de sertanejos. E nunca se mencionou para que classes sociais a
TEXTO 2
transposição iria interessar. Os proprietários de terras absenteístas ficaram
radiantes porque, antes que as obras começassem, houve valorização des-
O QUE PRECISA SER FEITO
sas terras. Os vazenteiros, que cultivavam o leito e faziam culturas de ciclo
curto no leito exposto do rio por cinco a seis meses, ficaram apavorados Pelo Governo Brasileiro
porque iriam perder o único espaço possível de utilização pelos sertanejos • Adotar medidas urgentes para zerar o desmatamento na Amazônia
roceiros sem-terras. Brasileira até 2015. Isso inclui a adição imediata de uma moratória de
Os mentores do projeto nem mesmo previram um sentido de prioridade cinco anos para o desmatamento, dando tempo para o país desenvolver os
para que os vazenteiros tivessem a possibilidade de se integrar a possíveis
70 :: Geografia :: Módulo 2
instrumentos necessários para atingir o desmatamento zero; planeta. Em particular, pressionar governos por um forte acordo para a
• Apoiar um forte protocolo de Clima a ser firmado em Copenhagem redução de emissões em Copenhagen em 2009;
em 2009, que inclua um fundo internacional para reduzir emissões por • Adotar um estilo de vida visando a reduzir suas próprias emissões
desmatamento e degradação (conhecido como REDD). Para que este de carbono. Isto pode incluir a redução na quantidade de carne consumida
mecanismo financeiro tenha credibilidade para proteger as florestas, ele ou exigir que comerciantes apresentem a origem dos produtos que vendem.
deve obedecer aos seguintes princípios: Fonte: GREENPEACE, O Rastro da Pecuária na Amazônia, Manaus, AM, 2008; http://www.
–– prover imediatamente fundos anuais suficientes para reduzir o greenpeace.org.br/amazonia/pdf/atlasweb.pdf, acesso em 22/10/2014
desmatamento em florestas tropicais;
–– ser acessível a todos os países com florestas tropicais, mesmo
aqueles com baixas taxas de desmatamento;
OS DOMÍNIOS
–– proteger a biodiversidade e o modo de vida dos povos indígenas;
MORFOCLIMÁTICOS
–– ser protegido contra manobras contábeis nacionais e abordagens de
DO BRASIL
redução de desmatamento;
O geógrafo brasileiro Aziz Ab’Saber, propôs ainda na década de 1960 uma
–– não incluir diretamente a comercialização de títulos de carbono;
classificação de ambientes que denominou de Domínios Morfoclimáticos. Nestes,
–– não encorajar a substituição de florestas naturais por plantadas e
as formas do relevo e os tipos climáticos caracterizam cada domínio (limite, zona)
não subsidiar a expansão da indústria madeireira, do agronegócio e outras
e também faixas de transição entre eles (Figura 5.7), levando em consideração
práticas destrutivas em áreas de floresta;
também os aspectos de vegetação, solo, e hidrografia. Apresentam localização, área,
• Não permitir alterações no Código Florestal brasileiro que
povoamento, condições bio-hidro-climáticas, preservação ambiental e economia local
possibilitem ampliar o desmatamento legalizado;
bem distintas. São 6 áreas nucleares e 3 áreas de transição, a saber:
• Redirecionar os investimentos hoje destinados a atividades
• Domínio Amazônico: região norte do Brasil (60% território), bacia amazônica,
destrutivas para iniciativas sustentáveis, incluindo uso responsável de
terras baixas e grande processo de sedimentação; clima e floresta equatorial; baixa
produtos florestais por populações tradicionais;
densidade demográfica; devastação da floresta é antiga (borracha, minérios,
• Ampliar os recursos materiais e humanos destinados a monitorar
madeira) compromete os ecossistemas;
e controlar os crimes ambientais, para garantir o cumprimento da lei e a
• Domínio dos Cerrados: região central do Brasil, vegetação tipo cerrado,
presença do Estado na Amazônia. pela indústria
formações de chapadões e chapadas; devastado primeiramente na construção de
• Apoiar publicamente o Desmatamento Zero na Amazônia;
Brasília, projetos agropecuários; processos erosivos;
• Interromper a produção e o comércio de produtos relacionados com
• Domínio dos Mares de Morros: região leste (litoral brasileiro), onde se
novos desmatamentos e comunicar aos seus fornecedores que não comprarão
encontra a floresta Atlântica e clima diversificado; morros de formas residuais;
mais de fazendas ou empresas responsáveis por novos desmatamentos;
devastado desde os primórdios;
• Divulgar amplamente a origem de seus produtos, como carne ou
• Domínio das Caatingas: região nordestina do Brasil (polígono das secas),
couro, aos consumidores;
formações cristalinas, área depressiva intermontanas e clima semiárido; devastado
• Reduzir suas próprias emissões de gases do efeito estufa, em
desde os primórdios da colonização;
acordo com os cortes globais de emissões necessários;
• Domínio das Araucárias: região sul brasileira, habitat da araucária (pinheiro
• Exigir publicamente dos governos um forte protocolo do Clima a ser
brasileiro), região de planalto e clima subtropical; devastação mais recente, século XIX;
firmado em Copenhagen em 2009, que inclua um fundo internacional para
• Domínio das Pradarias: região do sudeste gaúcho, local de coxilhas
proteger as florestas e reduzir emissões por desmatamento e degradação.
subtropicais; latifúndios agropastoris;
Este fundo deve financiar os serviços ambientais prestados pelas florestas
• Faixas de Transição Nordestinas: zona dos cocais (importante fonte de
em terras públicas e privadas.
renda à população nordestina) e o meio-norte que se estabelece entre a caatinga
Pelos Bancos e Investidores do sertão e a Amazônia (carnaúba e babaçu);
• Interromper o financiamento de empresas envolvidas em desmatamento • Faixa de Transição da Região Sul Brasileira: transição entre Araucária e
no bioma Amazônia. Pradarias;
• Faixa de Transição Pantanal: reservatório de água, exploração mineral,
Pelos Cidadãos monoculturas.
• Unir-se ao Greenpeace na campanha pelo Desmatamento Zero na Ama-
zônia até 2015, participando de petições ao governo brasileiro, governos de
outros países e à comunidade internacional, para acabar com o desmatamento;
• Exigir, junto com o Greenpeace, que governos e empresas adotem
medidas reais para interromper o desmatamento e salvar o clima do
Capítulo 5 :: 71
Figura 5.8: Mapa das Unidades de Relevo do Brasil (Jurandyr Ross, 1998)
Fonte: Geografia do Brasil, Jurandyr L. S. Ross.
Planaltos
Figura 5.7: Mapa dos Domínios Morfoclimáticos e Faixas de transição (Ab Saber, 1970)
1. Planalto da Amazônia Oriental: planalto sedimentar que se estende de Ma-
Já o geógrafo Jurandyr Ross, na década de 1990, redefiniu e atualizou os naus até o oceano Atlântico, constituindo-se nos limites norte e sul da bacia Amazô-
domínios morfoclimáticos, propondo uma classificação a partir do levantamento nica. Em seu limite norte, o relevo é escarpado e definido por uma frente de cuesta,
realizado pelo projeto RADAMBRASIL e dos avanços em estudos geomorfológicos com altitude média de 400 metros, recoberto por mata densa (seringueira e cacauei-
(processos de erosão, transporte e sedimentação; cotas altimétricas e estruturas ro). Seus topos são arredondados, e alguns são morros residuais de topo plano.
geológicas). Identificou portanto, 3 tipos de relevo: os planaltos (porções 2. Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba: são formados por terrenos de
residuais salientes do relevo, que oferecem mais resistência ao processo bacia sedimentar e ocupam vasto território que se estende do Maranhão à Brasília,
erosivo); as planícies (superfícies essencialmente planas, nas quais o processo de onde as formas de chapadas são predominantes.
sedimentação supera o de erosão) e; as depressões (áreas rebaixadas por erosão 3. Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná: são terrenos sedimentares com
que circundam as bordas das bacias sedimentares, interpondo-se entre estas e os formação arenítico-basálticas que se estendem de Goiás até o Rio Grande do Sul,
maciços cristalinos). cujas altitudes atingem cerca de 1.000 m.
Para explicar essa nova divisão do relevo brasileiro, baseou-se contudo, em 4. Planaltos Residuais Norte Amazônicos: estendem-se do Amapá até o
três importantes fatores geomorfológicos: morfoestrutural (leva em consideração norte do estado do Amazonas, com altitudes que variam de 600 a l.000 metros,
a estrutura geológica), morfoclimático (onde considera o clima e o relevo) e, chegando a atingir 3.000 metros nas partes mais elevadas. Compostos por rochas
morfo escultural (que considera a ação dos agentes externos). Na verdade, cada cristalinas e de formas serranas residuais e descontínuas (Tapirapecó, Imeri,
um desses fatores utilizados criou um grupo diferente de formas de relevo ou, Parima, Acaraí, Tumucumaque e do Navio), são ricos em manganês. É nessa
níveis diferentes denominados taxons. unidade de relevo que encontram-se os picos mais elevados do Brasil: o pico da
O primeiro taxon – morfoestrutural, considera a forma de destaque na Neblina, com 3 014 metros, e o pico 31 de Março, com 2 992 metros, ambos
paisagem, sejam os planaltos, as planícies ou as depressões; o segundo taxon situados no estado do Amazonas.
- morfoclimático considera a estrutura geológica em que os planaltos foram 5. Planaltos Residuais Sul Amazônicos: são planaltos cristalinos que se
modelados (bacias sedimentares, núcleos cristalinos arqueados, cinturões estendem desde o sul do Pará até Rondônia, cujo aspecto é de uma vasta área
orogênicos, coberturas sedimentares sobre o cristalino) e; o terceiro taxon - morfo plana com morros de topos arredondados, distribuídos de modo descontínuo. Ao
escultural, considera a modelagem do relevo ou nas unidades morfo esculturais lado desses morros encontram-se áreas de coberturas sedimentares antigas, que
(formadas por planaltos, planícies ou depressões), somando no total, 11 apresentam topo plano e correspondem às chapadas, como a do Cachimbo. Nessa
planaltos, 6 planícies e 11 depressões conforme mostra a Figura 5.8: formação, localiza-se a serra dos Carajás, onde há grande ocorrência de minerais,
como ferro, manganês, cobre e ouro.
6. Planalto e Chapada do Parecis: são planaltos que se estendem no
sentido leste-oeste, indo de Mato Grosso até Rondônia, formados por terrenos
sedimentares, com altitudes entorno de 800 m. O relevo de chapadas de topo
plano servem como divisores de águas das bacias do Amazonas - Paraguai.
7. Planalto de Borborema: são terrenos de formação pré-cambriana
72 :: Geografia :: Módulo 2
localizados no leste de Pernambuco, com grande núcleo cristalino isolado e 5. Planície e Pantanal do Rio Paraguai ou Mato-Grossense: ocupa a parte
altitudes que atingem cerca de 1.000m. mais ocidental do Brasil Central, estendendo-se também pela Bolívia e Paraguai.
8. Planalto Sul Rio-grandense: localizado no sul do Rio Grande do Sul com Altitudes entorno dos 100 metros e caracterizam-se pela deposição sedimentar
altitudes que não ultrapassam os 450 m. recente, no verão/outono o rio causa inundações e esse alagamento origina as
9. Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste: formação pré-cambriana, ocu- “bacias” conhecidas como Baías do Pantanal Mato-Grossense.
pam terrenos cristalinos (em sua maior parte) e se estendem de Santa Catarina até 6. Planícies das Lagoas dos Patos e Mirim: estendem-se pelo litoral gaúcho
a Bahia. Caracterizados por serras de altitudes elevadas (mais de 2.000m), como até o Uruguai, formadas por sedimentos depositados pelas correntes marinhas.
é o caso da Serra da Mantiqueira com 2.890m. Nestes planaltos estão as serras do
Mar e do Espinhaço, além de fossas tectônicas como o vale do Paraíba do Sul (Fi- Depressões
gura 5.8). No reverso das serras, há o domínio de superfícies bastante acidentadas
1. Depressão da Amazônia Ocidental: faz limite com as depressões Norte
caracterizadas por morros baixos e convexos, denominadas como mares de morros.
Amazônica e Sul Amazônica, cortada pela Planície do Rio Amazonas. Os terrenos
baixos apresentam altitudes inferiores a 200 metros, cujos topos planos são
sustentados principalmente por rochas sedimentares.
2. Depressão Marginal Norte Amazônica: situada entre os Planaltos Residuais
Norte Amazônicos ao norte, e a Depressão da Amazônia Ocidental e o Planalto da
Amazônia Oriental, ao sul. Altitude oscila entre 200 e 300 metros; no limite norte,
apresenta escarpas e, ao sul, frentes de cuesta.
3. Depressão do Araguaia-Tocantins: situa-se na região central do Brasil,
acompanhando o rio Araguaia, com formas de relevo quase planas e de baixas
altitudes que não passam de 350 m.
Figura 5.9: Esquema simples da Fossa tectônica do Vale do Paraíba
4. Depressão do Tocantins: terrenos de formação cristalina pré-cambriana
que acompanham o rio Tocantins e altitudes de até 400 metros.
10. Planaltos e Serras de Goiás - Minas:são terrenos predominantemente
5. Depressão Cuiabana: ocupa terrenos localizados na parte central do Brasil,
cristalinos, de formação antiga, que se estendem de Brasília até o sul de Minas
caracterizados pela presença de terrenos sedimentares e de altitudes moderadas
Gerais, cujas altitudes atingem cerca de 1.960m. Destacam-se as serras da
que oscilam entre 150 à 400 m.
Canastra e Dourada e as chapadas próximas do Distrito Federal e a dos Veadeiros.
6. Depressão do Alto Paraguai-Guaporé: localizada no extremo norte da Planí-
11. Serras Residuais do Alto Paraguai: são terrenos predominados por
cie do Pantanal e a Chapada dos Parecis, no Mato Grosso, caracteriza-se pelo pre-
rochas cristalinas e rochas sedimentares antigas, e compõem o cinturão orogênico
domínio de rochas sedimentares e com altitudes que variam entre 150 à 200 m.
Paraguai - Araguaia. Concentrados ao sul e ao norte do Pantanal Mato-Grossense,
7. Depressão do Miranda: situada no Mato Grosso do Sul, nas proximidades
onde a porção Meridional corresponde à Serra da Bodoquena, e a porção
do Pantanal com predomínio de rochas cristalinas pré-cambrianas e é cortada pelo
setentrional corresponde à Província Serrana.
rio Miranda com altitudes que não passam de 150 m.
8. Depressão Sertaneja e do São Francisco: considerada uma das mais lon-
Planícies
gas depressões, estendendo-se do litoral do Nordeste setentrional até o interior de
1. Planície do Rio Amazonas: faixa que acompanha as margens do rio Minas Gerais, acompanhando quase todo rio São Francisco. Apresentam formas e
Amazonas e de alguns afluentes, delimitada por terrenos do Planalto da Amazônia estruturas geológicas variadas, com predomínio de terrenos sedimentares e crista-
Oriental, a leste, e da depressão da Amazônia Ocidental, a oeste; sua área mais linos, como por exemplo a Chapada de Diamantina (norte da Serra do Espinhaço)
ampla situa-se na ilha de Marajó. Coberta por uma mata densa e por áreas ou Chapada das Mangabeiras.
alagadas, onde nos trechos inundados, desenvolve-se a mata de igapó. 9. Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia do Paraná: ampla faixa de
2. Planície do Rio Araguaia: estende-se pelas regiões Norte e Centro-Oeste, terra que se estende de São Paulo até o limite do Rio Grande do Sul com Santa
planas, com altitudes de até 200 metros, constituída por sedimentos recentes e Catarina. Com formas enrugadas, altitudes que variam entre 600 e 900 m. Em
vegetação de cerrados abertos e campos limpos. São Paulo é conhecida como Depressão Periférica Paulista e no Paraná como
3. Planície e Pantanal do Rio Guaporé: ocupa trechos do estado de Segundo Planalto.
Rondônia e da Região Centro-Oeste, com forma de relevo plana e pantanosa e 10. Depressão Periférica Sul Rio-Grandense: localizada nas terras sedimenta-
altitude média de 200 metros. res drenadas pelas águas dos rios Jacuí e Ibicuí, no Rio Grande do Sul e com baixas
4. Planícies e Tabuleiros Litorâneos: ocorrem no litoral do Pará e do altitudes (em média 200 m).
Amapá, formados por sedimentos recentes de origem marinha, sendo que, nas
proximidades da ilha de Marajó, misturam-se aos sedimentos carregados pelo
rio Amazonas.
Capítulo 5 :: 73
Atividade
Acesse o site: <http://www.colegioweb.com.br/trabalhos-escolares/geografia/relevo/unidades-do-relevo.html#ixzz3IDL2ecgU>
Qual a diferença entre Biomas, Domínios Morfoclimáticos e os Domínios morfoestruturais? O que mudou? Observe bem as Figuras 5.7 e 5.8 que mostram os mapas dos
professores Aziz Ab’Saber e Ross. E as Figuras 5.2 e 5.3 que mostram os mapas dos Tipos de Biomas e de Climas. Após uma rápida comparação entre as classificações,
complete o quadro:
Biomas - IBGE Domínios - Ab'Saber Domínios - Jurandyr Ross
(vegetação + clima) (relevo + clima + processos) (relevo+ clima + processos + geologia)
Planalto: região alta, sofre processo de erosão Planalto: região alta, sofre processo de erosão
Tropical, Equatorial, Semiárido, Subtropical, Tropical Planície: região baixa, sofre processo de sedimentação Planície: região baixa, sofre processo de sedimentação
Litorâneo, Tropical de Altitude Áreas de Transição Depressão: região intermediária entre Planalto
e Planície
O que muda:
6 Biomas Continentais e 1 Bioma Aquático 6 Domínios e 3 Áreas de Transição 11 Planaltos, 11 depressões e 6 Planícies
1. Bioma Cerrado 1. Domínio do Cerrado Planalto Central foi dividido em 12 partes:
5 planaltos, 2 planícies, 5 depressões
2. Bioma Amazônia – clima equatorial 2. Domínio Amazônico Planalto, Planície, Depressão
3. Bioma 3. Domínio de Mares de Morros
4. Bioma 4. Domínio das Caatingas Depressão Sertaneja e do São Francisco
5. Bioma 5. Domínio das Araucárias
5. Bioma 6. Domínio das Pradarias
7. Áreas de Transição
EXERCÍCIOS 3) Em razão de sua grande extensão territorial, o Brasil possui diversos tipos de ve-
getação, apresentando um complexo mostruário das principais paisagens e ecologias
do planeta. Faça a correspondência correta entre os biomas e as regiões brasileiras.
(Adaptado, UERJ/UDESC/ UFRGS - Vestibular 2013) (1) Região Norte ( ) Pampa
(2) Região Centro ( ) Cerrado
1) Na linha de costa brasileira, uma vegetação de mata em solo lamacento
desenvolve-se no encontro das águas do mar com as águas fluviais e apresenta-se (3) Região Sudeste ( ) Pantanal
como berçário para inúmeras espécies de peixes, crustáceos, mamíferos, aves e (4) Região Nordeste ( ) Caatinga
insetos. Marque a opção que corresponde ao bioma descrito: (5) Estado do Mato Grosso do Sul ( ) Mata Atlântica
(A) Cerrado
(6) Estado do Rio Grande do Sul ( ) Floresta Amazônica
(B) Mangue
(C) Caatinga
(D) Pantanal 4) Na Região Centro-Oeste, encontra-se um bioma que é caracterizado pela
(D) Mata de Cocais presença de pequenos arbustos e árvores retorcidas, com cascas grossas e folhas
recobertas de pelos. O solo apresenta deficiência em nutrientes e alta concentração
2) “... Essa formação é característica das áreas onde o clima apresenta duas de alumínio. Marque a alternativa que corresponde ao bioma que apresenta as
estações bem marcadas: uma seca e outra chuvosa, como no Planalto Central. características descritas:
Dois estratos a identificam: um arbóreo - arbustivo, onde as espécies tortuosas têm (A) Mangue
os caules geralmente revestidos de casca espessa, e outro herbáceo, geralmente (B) Caatinga
dispostos em tufos”. Marque a opção que corresponde ao bioma descrito: (C) Campos
(A) Cerrado (D) Cerrado
(B) Caatinga (E) Mata de araucária
(C) Floresta tropical
(D) Mata semiúmida 5) Sobre os Biomas existentes no Brasil, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).
(E) Formação do Pantanal (A) A Caatinga é caracterizada por ser uma floresta úmida da região litorânea do
Brasil, hoje muito devastada.
(B) O Mangue ocorre desde o Amapá até Santa Catarina e desenvolve-se em
estuários, sendo utilizados por vários animais marinhos para reprodução.
(C) O Pampa ocorre na Região Centro-Oeste onde o clima é quente e seco. A flora
e a fauna dessa região são extremamente diversificadas.
74 :: Geografia :: Módulo 2
(D) A Floresta Amazônica está localizada nos estados do Maranhão e do Piauí e as essa energia seria devolvida para a atmosfera em forma de calor, o que elevaria
árvores típicas dessa formação são as palmeiras e os pinheiros. as temperaturas médias.
(E) O Cerrado é uma formação fitogeográfica caracterizada por uma floresta III. O aumento do processo erosivo leva a um empobrecimento dos solos, como
tropical que cobre cerca de 40% do território brasileiro, ocorrendo na Região Norte. resultado da retirada de sua camada superficial. Isso, muitas vezes, acaba invia-
(F) A Mata Atlântica é uma formação que se estende de São Paulo ao Sul do bilizando a agricultura.
país, onde predominam árvores como o babaçu e a carnaúba, e está muito bem
preservada. Das afirmativas acima,
(G) O Pantanal ocorre nos estados do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso, carac- (A) apenas I está correta.
terizando-se como uma região plana que é alagada nos meses de cheias dos rios. (B) apenas II está correta.
(C) apenas III está correta.
6) Numere as colunas relacionando a vegetação à sua característica: (D) apenas I e II estão corretas.
(1) Floresta de Coníferas (E) I, II e III estão corretas.
(2) Vegetação Mediterrânea
(3) Tundra 8) De acordo com Jurandyr Ross (1998), no território brasileiro, as estruturas e
(4) Pradaria as formações litológicas são antigas, mas as formas de relevo são recentes, pois
(5) Savana foram produzidas:
(6) Estepe (A) pelo vento, que exerce importante papel de desgaste e transporte de partículas.
(B) pelos desgastes erosivos que ocorreram e continuam ocorrendo.
( ) Vegetação rasteira de ciclo vegetativo curto. Exemplo: musgos e líquens. (C) pelos processos mais recentes associados aos falhamentos.
( ) Vegetação herbácea, esparsa e ressecada. Surge em climas semiáridos, na (D) pelo desgaste erosivo de climas anteriores.
faixa de transição de climas úmidos para desertos. (E) pelo vento e desgaste erosivo de climas atuais.
( ) Formação florestal típica da zona temperada. É conhecida como Taiga e
predominam os pinheiros. 9) Sobre o domínio amazônico, assinale a alternativa falsa:
( ) Vegetação esparsa que possui três estratos. Um arbóreo, um arbustivo e um (A) Compõe-se em sua maior parte por baixos planaltos e planícies.
herbáceo. Predomina em regiões de clima mediterrâneo. (B) A hidrografia é riquíssima, com furos, igarapés, paranás-mirins e lagos da várzea.
( ) Formação herbácea, composta por capim, que aparece em regiões de clima (C) Devido a riqueza mineral orgânica das águas dos rios é grande a piscosidade.
temperado continental. (D) Devido à exportação de peixes a matança tem-se descontrolado, colocando
Vegetação complexa que surge por influência do clima tropical, alternadamente em risco várias espécies.
úmido e seco. Ocorre na África e abriga animais de grande porte como leões, (E) O solo amazônico tem-se mostrado fertilíssimo, prestando-se a grande mono-
elefantes e girafas. cultura exportadora.
:: Objetivos ::
• Mostrar os problemas ambientais decorrentes das atividades humanas e os aspectos políticos
da questão ambiental.
76 :: Geografia :: Módulo 2
Os tempos da Sociedade
e da Natureza
As transformações impostas pelos fenômenos da natureza e pelas ações
humanas às paisagens terrestres possuem temporalidades muito diferenciadas. Os
seres humanos passaram a transformar as paisagens há apenas alguns milhares
de anos, e aquelas decorrentes de fenômenos naturais podem ter origem em
épocas longínquas, ou mesmo bilhões de anos atrás.
Para a melhor compreensão destas diferenças, foi criada uma escala temporal
que distingue o período de ocorrência dos eventos naturais (correspondente ao
tempo geológico) do período de ocorrência dos eventos humanos (correspondente
ao tempo histórico).
Figura 6.3: Esquema representativo de uma indústria – marco da apropriação
e transformação dos recursos naturais. Ilustração: Sami Sousa
Tempo Histórico: é o período de ocorrência dos
eventos humanos. O tempo é subdividido em Idades
e Períodos com suas características e duração em A utilização econômica
milhares de anos, por exemplo, da Pré-História à dos recursos
Idade Contemporânea, que são 600 mil anos atrás
aos dias atuais. O uso intensivo de determinados elementos da Natureza marca a civilização
Tempo Geológico: É o período de ocorrência dos urbano-industrial da atualidade e está diretamente ligado ao processo de
eventos naturais. O tempo é subdividido em Eons, degradação ambiental, que se caracteriza por uma crise ecológica de escala global.
Eras, Períodos e Épocas com características e duração Os recursos naturais são divididos em recursos renováveis e recursos não
em milhões de anos. Por exemplo: de 4,6 bilhões de renováveis.
anos, surgimento da Terra até o surgimento dos seres
humanos primitivos. Recursos Renováveis
Neste caso, o avanço da tecnologia de prospecção (descoberta de novas O consumismo como padrão de comportamento
reservas) e de exploração contribui para valorizar ainda mais o recurso. Por en-
Os autores são unânimes em afirmar que as raízes do comportamento
quanto, o problema não é o esgotamento físico dos recursos, e sim o investimento
consumista estão na sociedade norte-americana do século XX. Os Estados Unidos
para torná-los acessíveis.
foram o primeiro país a sentir os impactos da revolução tecnológica industrial.
Veja a observação do ambientalista Maurício Andrés Ribeiro:
Além de novos tipos de bens de consumo, criou novas formas de entretenimento
No início do século XXI, o planeta Terra já abriga mais de 6 bilhões de
e lazer, como o cinema, a televisão e os shopping centers, introduzindo um novo
habitantes. Os recursos naturais – água, terra cultivável, bens minerais, a
estilo de vida, o American way of life.
biodiversidade, na forma de alimentos e produtos para outras finalidades
Assim, o “consumismo” pode ser entendido como a aquisição de produtos
–, são exigidos em grandes quantidades, devido aos crescentes padrões
totalmente dispensáveis à subsistência ou o simples desejo de comprar algo
de consumo per capita. A sociedade industrial contemporânea acostumou-
que não seja necessário. Com a implantação de indústrias multinacionais nos
se a conviver com curvas geométricas de crescimento populacional, de
continentes europeu, asiático e latino-americano, o estilo de vida “consumista”
necessidade de energia, de invenções, de consumo dos mais variados
americano foi levado para outros países (facilitado pelas redes de supermercados,
bens. Entretanto, é limitada a capacidade do planeta para prover recursos e
hipermercados, magazines e shoppings).
para absorver resíduos. Noutras palavras, a capacidade de suporte da Terra
No Brasil, até o início da década de 1970, os produtos industrializados eram
e de cada uma de suas regiões é insuficiente para atender às necessidades
vendidos em pequenos e médios estabelecimentos. Hoje, estes produtos são
ilimitadas de sua população.
vendidos em grandes redes de super e hipermercados.
Mauricio Andrés Ribeiro, in Jornal do Meio Ambiente, MT – 19/10/2004
Os Estados Unidos também exportaram suas produções televisivas,
cinematográficas e fotográficas. Diversos países receberam influências no modo
Como os padrões de vestir, nos hábitos alimentares, na língua, nos estilos de música com o jeans,
capitalistas vêm atingindo o os fast foods, o rock, o rap ou a dance music.
meio ambiente e a sociedade?
A possível falência do modelo consumista
• a extinção de nascentes; – NOx, monóxidos de carbono – CO) e materiais particulados (chumbo – Pb,
• a diminuição de índices pluviométricos; poeiras industriais, aerossóis, fumaças negras, hidrocarbonetos, solventes, ácidos)
• a elevação de temperaturas; na atmosfera. Os responsáveis são: as indústrias, as centrais termoelétricas, as
• a desertificação; instalações de aquecimento e, principalmente, alguns sistemas de transportes.
• a redução ou mesmo o fim de práticas extrativas vegetais; Os efeitos destes gases sobre os seres humanos são graves, atingindo o
• a proliferação de pragas e a disseminação de doenças. sistema respiratório, causando perturbações nervosas e anemia; quanto às
Nos ecossistemas agrícolas o impacto ambiental manifesta-se com intensidade partículas, os efeitos são irritantes, fibrosantes, alérgenos ou cancerígenos.
na degradação dos solos. Na busca de aumentar a produtividade do cultivo, foram A inversão térmica é um fenômeno natural que agrava a concentração de
introduzidas novas técnicas agrícolas. Tais técnicas causam desequilíbrios, graças poluentes na atmosfera, dificultando a sua dispersão, ou circulação atmosférica.
à poluição por agrotóxicos, à erosão do solo e à irrigação descontrolada, associada Quando ocorre em grandes cidades provoca problemas na saúde da população.
a uma insuficiente drenagem do terreno. De forma geral, a inversão térmica ocorre em qualquer parte do planeta,
O aumento da produção de alimentos foi favorecido pela padronização especialmente nos meses de inverno, quando no final da madrugada se registram
dos cultivos (predomínio de determinadas culturas em uma mesma região, as temperaturas mais baixas do ar e do solo. É mais comum em lugares onde o
a exemplo dos cinturões agrícolas). As monoculturas, por sua vez, fizeram solo ganha muito calor de dia e perde à noite, deixando a camada atmosférica
com que aumentasse a utilização de inseticidas no combate às pragas, que, mais baixa (próxima ao chão) muito fria. O ar frio é mais pesado e impede a
consequentemente, favorece a diminuição de predadores naturais, provocando dispersão dos poluentes emitidos pelos carros, ônibus, indústrias etc.
desequilíbrios nas cadeias alimentares. Nas grandes cidades também ocorre o fenômeno “ilha de calor”, caracterizado
Como consequência, há maior incidência de processos erosivos nos solos, que pela elevação das temperaturas médias nas zonas centrais da mancha urbana
estão se tornando improdutivos: as terras moderadamente degradadas abrangem (figura 6.4). Os materiais utilizados nas construções (como o asfalto, cimento e
quase 9 milhões de quilômetros quadrados (aproximadamente a área da China), e o concreto) absorvem e emitem muito calor, que fica retido entre as ruas estreitas
as terras severamente degradadas abrangem 3 milhões de quilômetros quadrados junto com os poluentes. Em casos extremos, a diferença de temperatura entre as
(dois terços dessas áreas estão na África). A perda de milhares de toneladas de zonas periféricas e o centro pode ser de até 10º C.
solos agricultáveis por erosão, principalmente na zona tropical do planeta, é um
dos principais problemas enfrentados pela economia agrícola.
Nos sistemas urbanos o impacto ambiental manifesta-se nas escalas local,
regional e global. A cidade interfere em vários ecossistemas situados a milhares
de quilômetros de distância na medida em que é considerada uma etapa
consumidora. Pode consumir matéria, energia e gerar subprodutos, traduzidos nos
resíduos sólidos (lixos), líquidos (esgotos) e gasosos (fumaças e gases), e não
tem a capacidade de reciclar nada.
Como consequência, os resíduos excedentes, acumulados no ar, no solo Figura 6.4: Fenômeno da ilha de calor na zona central da cidade.
que reagem com a água da chuva, deixando-a com um pH ácido. A chuva ácida A poluição das águas em ecossistemas naturais
provoca a corrosão de metais, de pinturas e de monumentos históricos, além da
A poluição das águas caracteriza-se pelo lançamento de resíduos inorgânicos
destruição da cobertura vegetal. Como na atmosfera não há barreiras entre uma
não-biodegradáveis (que não se degradam facilmente) e o de resíduos orgânicos
região e outra, é comum os poluentes emitidos numa cidade provocarem chuva
acima da capacidade de absorção pelos organismos decompositores nos córregos,
ácida em regiões vizinhas, pois os poluentes podem viajar vários quilômetros de
rios, lagos, águas subterrâneas e mares.
distância. Até há pouco tempo, as chuvas ácidas eram um problema restrito aos
As fontes de água doce são as que mais recebem poluentes, e muitos lugares
países da Europa e dos Estados Unidos. No entanto, está se tornando comum em
do planeta estão ameaçados de ficar sem água, devido, principalmente, ao aumento
áreas industrializadas do mundo subdesenvolvido – por exemplo no leste asiático
acelerado da ocupação desordenada em regiões de preservação de nascentes.
e na América Latina.
Uma das piores fontes de poluição das águas num ecossistema natural é
o derrame de mercúrio (metal pesado e tóxico). O homem utiliza o mercúrio
A poluição do solo
na separação do ouro de outros materiais, como os cascalhos e a areia, que,
A poluição do solo resulta do acúmulo de excedentes de resíduos sólidos contaminados, são despejados novamente nos rios ou nos solos. Uma vez
(lixo) presentes nas cidades. Tende a se agravar com o crescimento populacional introduzido no organismo humano (pela alimentação, pele ou respiração) o
e, principalmente, com o estímulo ao consumismo. Como exemplo, temos a mercúrio pode causar sérios problemas neurológicos. Nas áreas de garimpo, é
cidade de São Paulo que produz, aproximadamente, 16 mil toneladas de lixo comum o registro de animais e peixes contaminados, além do homem.
sólido por dia, para uma população de 10 milhões de habitantes, ou seja, são 1,6 As águas também podem ser poluídas por agrotóxicos (pesticidas, herbicidas,
kg de lixo produzidos por cada habitante. inseticidas) e por fertilizantes, quando tais substâncias são carreadas das áreas
O acúmulo de lixo no solo traz uma série de problemas: de cultivo pelas águas de escoamento superficial e pelas águas que se infiltram
• proliferação de insetos e ratos, que podem transmitir doenças como a nos solos. O carreamento de matérias nutritivas (nitratos e fosfatos) ocasiona
peste bubônica e a leptospirose, dentre outras; o fenômeno conhecido como eutrofização (eu = bem; trofe = alimentado) das
• decomposição bacteriana da matéria orgânica, que, além de gerar mau águas, em que o excesso de “alimento” provoca uma enorme proliferação de
cheiro, produz o chorume, um caldo escuro e ácido que se infiltra no subsolo algas. Quando uma grande quantidade de algas morre, a sua decomposição
(contaminando o lençol freático); consome muito de oxigênio da água, matando os peixes por asfixia.
• contaminação do solo e de pessoas que manipulam o lixo com produtos Os acidentes em águas doces ou oceanos são considerados como fontes de
tóxicos; poluição. Um exemplo é o derramamento de petróleo (ou derivados), que causa
• acúmulo de materiais não-biodegradáveis. graves danos ambientais afetando peixes e aves, além do próprio homem.
A destinação final do lixo é o segmento do Sistema de Limpeza Urbana mais
crítico no Brasil – em 1999 apenas 17% dos resíduos coletados são dispostos em A poluição das águas em sistemas urbanos
aterros sanitários (locais preparados para receber o lixo sem haver contaminação
Em sistemas urbanos, a poluição das águas assume proporções catastróficas,
do solo e da água), segundo dados do IBGE (2000). Contudo, a mudança na
pois é nas cidades que estão concentrados os maiores contingentes populacionais
Política Nacional de Resíduos Sólidos (em 2010, a Lei nº 12.305 alterou a Lei
e a maioria das indústrias. O consumo de água é elevado, e existe uma infinidade
9.605/98) tornou mais rigoroso o controle e destinação final dos resíduos sólidos.
de fontes poluidoras, desde esgotos domésticos até efluentes industriais, sendo
Mesmo antes da entrada em vigor da nova legislação, melhorias foram observadas
esta enorme quantidade de água retirada da Natureza e devolvida ao meio
na destinação final dos resíduos sólidos, porém, ainda é um grave problema. As
ambiente parcial ou totalmente poluída. A poluição tóxica é a mais perigosa,
formas mais usuais são os lixões, depósitos de resíduos a céu aberto, que devem ser
sendo metade dela lançada pelas indústrias químicas e, em torno de um terço,
localizados afastados das aglomerações, o que, infelizmente, não é o que se vê. Em
pelas fábricas de metais.
2008, o lixo coletado diariamente no Brasil chegava a 259.547 toneladas, sendo
que 50,8% era destinado a lixões, 22,5% a aterros controlados e apenas 27,7% a
De quem é a responsabilidade maior?
aterros sanitários (Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 (PNSB
2008), http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/ Os países desenvolvidos são os maiores consumidores de recursos naturais.
pnsb2008/, acesso em 22/102/2014). Estes recursos são necessários para abastecer os parques industriais e as filiais
A grande dificuldade para um melhor aproveitamento do lixo está exatamente das multinacionais localizadas nas nações subdesenvolvidas e nos países ex-
na forma de coleta. Para uma coleta seletiva, seria necessário aumentar o número socialistas. Por outro lado, são também responsáveis pela maior parte dos rejeitos
de coletas e melhorar a conscientização da sociedade. O problema continua sendo industriais, do lixo e dos gases tóxicos lançados na atmosfera.
o combate à poluição, composta basicamente de dejetos orgânicos. A composição A transformação do espaço geográfico também tem sido intensa nos países
do lixo varia de país para país, de cidade para cidade, sendo que se tem registro subdesenvolvidos e de economia em transição. Portanto, não estão isentos de
do aumento da presença de plástico. responsabilidade em relação à degradação ambiental.
As políticas voltadas para a preservação ambiental em países economicamente
82 :: Geografia :: Módulo 2
mais pobres não são consideradas como prioritárias e favorecem o desenvolvimento biodiversidade natural (fauna e flora), o desenvolvimento social, o conhecimento
de atividades econômicas que comprometem a qualidade ambiental. científico e a educação ambiental. São 350 reservas em mais de 80 países, com
área correspondente a aproximadamente 220 milhões de hectares, destinados à
A aculturação das sociedades tradicionais preservação.
As Unidades de Conservação Ambiental podem ser divididas em várias
No mundo ainda devem existir cerca de cinco mil comunidades tradicionais,
categorias – Parques, Reservas Ecológicas, Estações, Áreas de Proteção e as
vivendo de acordo com seus costumes originais ou hábitos nativos total ou
Reservas Biológicas já citadas.
parcialmente preservados. Este número vem caindo, e essas sociedades estão
cada vez mais influenciadas pelas tecnologias e pelos costumes da sociedade de
consumo. Os biomas atuais são alvos de madeireiros, fazendeiros, mineradores e
Os Interesses Econômicos:
demais grupos que exercem forte pressão sobre as decisões governamentais na
a Situação Atual
legalização da exploração ambiental para fins econômicos.
Biopirataria
As perspectivas para o futuro: Rio-92
A biopirataria caracteriza-se pelo comércio ilegal operado por traficantes,
A Rio-92 reuniu chefes de Estado e representantes de ONGs da maioria dos
que, por sua vez, são recrutados pelos laboratórios farmacêuticos internacionais.
países. Foram discutidos problemas ambientais e seus impactos, tendo-se em
Esses traficantes se fazem passar por turistas, pesquisadores ou missionários e
vista minimizá-los no futuro. Para tal, foram elaboradas as Convenções sobre a
vendem a informação sobre o uso de plantas no exterior. Apropriam-se de recursos
Biodiversidade (medidas para a preservação de espécies) e Mudanças Climáticas
biológicos e dos conhecimentos de indígenas e de comunidades tradicionais.
(medidas para diminuir a emissão de poluentes e impedir a destruição da camada
No Brasil, a biopirataria está presente principalmente na Floresta Amazônica.
de ozônio), a Declaração de Princípios, a Declaração sobre as Florestas e um Plano
Como consequência, o país perde anualmente cerca de um bilhão de dólares em
de Ação (Agenda 21, atual Programa 21).
recursos naturais e deixa de registrar patente sobre produtos, perdendo, assim, os
A Rio-92 ficou marcada por ter sido o primeiro encontro após o término da Guerra
royalties a que faria jus.
Fria. Seus resultados significaram, também, a realização de princípios internacionais
de direitos humanos, como os da indivisibilidade e da interdependência, agora
Biossegurança
conectados às regras internacionais de proteção ao meio ambiente e aos seus
princípios instituidores. No ano de 2002, em Joanesburgo (África do Sul), na ocasião Questões de biossegurança são as que dizem respeito ao controle e à
da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (também conhecida como minimização dos riscos provenientes da aplicação de diferentes tecnologias
Rio+10 ou Cúpula da Terra II) o ponto principal era discutir os avanços da Agenda 21. ao meio ambiente. Estas questões levantam a necessidade de assegurar-se o
No ano de 2012, a cidade do Rio de Janeiro sediou a Rio+20 a Conferência desenvolvimento científico, proteger-se a saúde humana e manter-se o equilíbrio
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, visando a renovação do de ecossistemas.
engajamento dos líderes mundiais com o desenvolvimento sustentável do planeta.
Nesta perspectiva, as ONGs (Organizações Não Governamentais) têm uma Tecnologias limpas
atuação importante como defensoras das questões ambientais, discutindo a relação
A tecnologia limpa é aquela utilizada sem causar danos ou minimizando
entre a natureza e a sociedade. São o símbolo da conscientização e da organização das
impactos ao meio ambiente. Produz menos resíduos sólidos, emite menor
sociedades na luta pela preservação ambiental e atuam em todas as partes do mundo.
quantidade de efluentes e utiliza-se de matérias-primas recicláveis ou
Destacam-se a WWF, que atua em prol da preservação de ecossistemas ameaçados; o
biodegradáveis.
Greenpeace, criado em 1971, hoje com mais de 5 milhões de filiados em 29 países; a
A dificuldade relativa ao uso de tecnologias limpas reside na necessidade de
SOS Mata Atlântica (Brasil), criada em 1986 com o objetivo de preservar as florestas.
cooperação de países desenvolvidos com nações economicamente mais pobres,
promovendo intercâmbio de conhecimentos e transferência de tecnologias.
A criação de unidades de conservação
Por iniciativa da ONU (Organização das Nações Unidas) foram criadas áreas
destinadas à proteção ambiental em todo o mundo. Por conta disto, o Sistema
de Reservas da Biosfera da Unesco determina áreas para a conservação da
Capítulo 6 :: 83
Figura 6.5: Geração de um sismo a partir do atrito entre duas placas tectônicas oceânicas. As
vibrações se propagam, até atingir a lâmina d’água e formar um tsunami.
Figura 6.9: Grande quantidade de lixo retido pela base de uma ponte, construída de forma
inadequada, no rio Imboassu (município de São Gonaçalo/RJ). Foto de Tatiane da Cruz Silva (2005). Ventos alísios com direção normal
d’água e o dióxido de carbono. O vapor d’água tem sua quantidade aumentada partir do momento em que a radiação solar atinge a superfície terrestre (superfícies
em áreas litorâneas, enquanto no interior dos continentes ou nos desertos seu continental e oceânica), esta é aquecida e passa a transferir o seu calor para a
percentual é muito baixo. atmosfera (figura 6.11). Somente alguns gases conseguem captar a radiação
Todos os gases atmosféricos têm fontes de origem naturais: o oxigênio é emitida pela superfície terrestre (radiação infravermelha): são os chamados gases
produzido por algas marítimas e plantas terrestres; o vapor d’água é gerado pela estufa. O vapor d’água, o dióxido de carbono (CO2), o óxido de nitrogênio (N2O) e
evaporação de corpos hídricos (oceanos, rios e lagos); o dióxido de carbono e o metano (CH4) são exemplos de gases estufa. Deste modo, a atmosfera inferior se
o metano são lançados na atmosfera pelos vulcões, decomposição de materiais aquece pelo contato com o chão, ou seja, de baixo (mais quente) para cima (mais
orgânicos etc. frio). De forma geral, os gases estufa ajudam a equilibrar a temperatura da Terra,
Os gases permanentes e os variáveis que constituem a atmosfera da Terra reduzindo a variação térmica entre o dia e a noite ou entre o inverno e o verão.
praticamente não se aquecem com o tipo de radiação emitido pelo Sol. Mas, a
Observando novamente a tabela 6.2, vocês podem verificar que a quantidade No entanto, pesquisas realizadas nas últimas décadas em diferentes regiões
de gases estufa na atmosfera é extremamente pequena (não chega a 1%), mas do planeta indicam uma pequena elevação da temperatura na atmosfera terrestre
esta concentração é suficiente para manter a média geral de temperatura na Terra – processo chamado de aquecimento global. Tal processo pode estar relacionado
em 15º C. Se não houvesse gases estufa, a temperatura média do planeta seria ao grande lançamento de gases estufa por fontes antrópicas (indústrias, veículos,
-18º C (dezoito graus negativos!). queimada de florestas etc.), principalmente a partir do século XX, quando o
petróleo se tornou a principal fonte de energia.
Radiação solar Radiação terrestre
absorvida pelos A tabela 6.3 mostra como os gases estufa tiveram suas concentrações
gases estufa aumentadas entre 1750 e 1992, devido a diferentes atividades realizadas pelo
homem. O potencial de aquecimento de cada gás é medido a partir da capacidade
de aquecimento do dióxido de carbono. Isto quer dizer que 1kg do gás metano
(CH4) aquece a atmosfera 21 vezes mais que o dióxido de carbono (CO2). Mas,
por outro lado, o metano pode durar até 17 anos na atmosfera, enquanto o CO2
Terra pode permanecer na atmosfera por até 200 anos.
O dióxido de carbono vem sendo apontado como grande responsável pelo
aquecimento global pois sua participação na atmosfera é muito grande em relação
a outros gases estufa – em 1992 sua concentração era 355 partes por milhão
Atmosfera terrestre em volume (ppmv), isto significa que num volume de um milhão de moléculas
de gás, 355 são de CO2. A concentração de metano é bem menor – em 1992
havia 1714 partes por bilhão em volume, ou seja, num volume de um bilhão de
Figura 6.11: Aquecimento da atmosfera pela radiação terrestre (radiação infravermelha). A
radiação solar não aquece diretamente a atmosfera. moléculas de gás, 1714 moléculas eram de metano.
Capítulo 6 :: 87
A partir do momento que a atmosfera fica mais aquecida, alguns fenômenos que também pode afetar algumas regiões litorâneas. A elevação do nível do mar
meteorológicos podem se tornar mais intensos – é o que vem sendo apontado também está relacionada ao aumento do volume da água, devido à expansão das
pelos estudos reunidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas moléculas com o aquecimento.
(sigla em inglês IPCC), criado em 1988 pela Organização Mundial de Meteorologia
e Organização das Nações Unidas. Tipos de armazenamento de água % de água
Oceanos 97,3
Calotas polares 1,86
O IPCC é uma organização de vários cientistas e
Lençóis freáticos 0,81
representantes de governos de diversos países, que se
Rios e lagos 0,008
reúnem periodicamente para discutir resultados de pesquisas
Outros (pântanos, solos) 0,022
relacionadas a fatores e elementos que possam afetar o clima
da Terra. Seus integrantes se dividem em três grupos de Tabela 1.4: Distribuição de água segundo as formas de armazenamento.
ambientais que dificultam as atividades humanas) ou permitiram ampliar áreas Período de verão no hemisfério norte
emissões de gases realizadas pelo homem – emissões relacionadas a fontes ener- Corrente ascendente de ar Furacão
géticas que não serão substituídas facilmente nas próximas décadas. Tempestades que dão
Corrente descendente de ar origem a furacões
Além disso, há um número muito maior de pessoas no mundo, que certamen-
te serão prejudicadas com eventos atmosféricos intensos (furacões, tempestades, Figura 6.12: Correntes ascendentes de ar no Oceano Atlântico ao norte do Equador (Hemisfério
secas, enchentes etc.). Os países subdesenvolvidos, inclusive algumas áreas de Norte), causando tempestades e furacões, e corrente descendente de ar, inibindo a formação de
nuvens e causando seca na Amazônia.
países desenvolvidos, que possuem infraestrutura deficiente, em termos de organi-
zação de cidade, abastecimento de água potável, saneamento básico, áreas de ris-
co de deslizamento etc., podem ter grande perda de vidas e prejuízos econômicos.
Exercícios
Eventos atmosféricos extremos no ano de 2005
1) (UFMG/2002) Considerando-se a degradação dos recursos naturais brasileiros,
O ano de 2005 foi marcado pela ocorrência de uma temporada de muitos e é incorreto afirmar que:
(A) a extração dos recursos minerais no país é acompanhada pelo desmatamento
intensos furacões (incluindo o Katrina) e pela seca na Amazônia. Esta duas situações
de áreas expressivas, pelo acúmulo de grande volume de rejeitos sólidos não
estão interligadas, pois fazem parte da mesma célula de circulação atmosférica. biodegradáveis, que, uma vez transportados até os cursos de água, têm resultado
Próximo à linha do Equador, há correntes de ar ascendentes, que elevam na morte de rios e ribeirões;
o vapor d’água, formando nuvens altas. Estas podem se constituir em grandes (B) as atividades econômicas desenvolvidas na atual área de expansão da
tempestades no mar e, quando se intensificam, podem gerar furacões. Esta fronteira agrícola brasileira, situada na Amazônia Legal, resultaram na criação de
situação é comum de ocorrer no oceano Atlântico ao norte do Equador, durante os extensas áreas desertificadas, onde os solos se encontram em estado de exaustão
e esterilidade irreversíveis;
meses de verão do Hemisfério Norte. O ar que subiu tende a descer no meio dos
(C) o processo histórico de destruição dos recursos naturais do país teve início
oceanos (Atlântico e Pacífico) – formando uma corrente descendente de ar. Nos no século XVI, com a exploração do pau-brasil, a que se seguiu, entre outras
locais em que o ar desce não há formação de nuvens e de chuva, pois o vapor ações, a derrubada das matas para implantação de atividades de monoculturas
d’água não consegue se elevar – gerando áreas mais secas. e pecuaristas;
Em 2005, as correntes ascendentes de ar ficaram muito fortes (figura 6.12), (D) os recursos hídricos vêm sendo poluídos, orgânica e quimicamente, seja por
levando à formação de tempestades severas e vários furacões, que atingiram resíduos industriais, esgotos e lixo provenientes de grandes aglomerações urbanas,
seja pela contaminação das águas de superfície e dos aquíferos mediante, entre
países do Caribe e os Estados Unidos. Enquanto isto ocorria ao norte do Equador,
outros fatores, o uso indiscriminado de defensivos agrícolas nas áreas rurais.
formou-se uma corrente de ar descendente sobre a região sul da Amazônia, a qual
inibiu a formação de nuvens e provocou uma intensa seca. Este episódio de seca já 2) (UFMG/2002) Com relação ao lixo produzido pelas aglomerações urbano-
ocorreu algumas vezes no passado, mas atualmente esta região encontra-se mais industriais do mundo, é incorreto afirmar que:
densamente povoada e sofreu com grandes prejuízos sociais e econômicos (doenças, (A) a parcela da população urbana pertencente à classe economicamente
falta de água potável e alimentos etc.). favorecida, que tem melhores condições de acesso a bens e serviços, produz maior
quantidade de lixo per capita;
(B) a reciclagem já é uma realidade em muitos países industrializados, na busca
de solução para o destino final do lixo urbano, e constitui um processo que,
comumente, reaproveita papel, plástico, metal e vidro.
(C) o lixo, de procedência doméstica, hospitalar e industrial, é acumulado a
céu aberto em depósitos, chamados lixões, e em aterros sanitários ou, ainda, é
incinerado ou reciclado;
(D) os hábitos modernos de consumo e o aumento do nível de escolaridade têm
provocado a redução do volume de lixo produzido nas sociedades urbano-industriais.
Capítulo 6 :: 89
3) (UFSCAR/2003) A organização das Nações Unidas realizou três importantes Cite dois problemas relacionados à atual crise da água.
conferências sobre o meio ambiente: na Suécia, em 1972; no Brasil em 1992 e,
na África do Sul em 2002. Fazendo-se uma avaliação desses trinta anos, pode-se
afirmar que:
(A) os problemas ambientais ampliaram-se, apesar dos países industrializados
diminuírem muito o consumo de produtos agropecuários;
(B) os países de agricultura moderna deixaram de utilizar agrotóxicos para evitar
problemas vividos pelos países já industrializados;
Complemente seus
(C) aumentou a preocupação com o meio ambiente, mas os países capitalistas não conhecimentos
se dispõem a diminuir a produção industrial e a modificar os padrões de consumo;
(D) os conflitos religiosos entre países ricos e pobres são as causas da não
A questão da água no mundo e no Brasil
obediência aos acordos assinados nas conferências sobre meio ambiente;
(E) os países pobres, em função da falta de educação ambiental, são os principais A água potável é um recurso finito, que se reparte desigualmente
responsáveis pelo aumento dos problemas ambientais. pela superfície terrestre. Se pelo ângulo de seu ciclo natural a água é um
recurso renovável, suas reservas não são ilimitadas. Diversos especialistas
4) (UFRRJ/2002) A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, têm alertado que, se o consumo continuar crescendo como nas últimas
encerrada em 4 de setembro de 2002, vem recebendo análises nada entusiásticas décadas, todas as águas superficiais do planeta estarão comprometidas
de delegados e observadores, em função do pouco que foi alcançado em termos por volta de 2100.
de metas, prazos e meios de financiamentos concretos para implementar os A carência de água é resultado da combinação de efeitos naturais,
compromissos assumidos na Conferência do Rio de Janeiro, em 1992. Leia as
demográficos, socioeconômicos e até culturais. Chuvas escassas, alto
afirmativas abaixo:
crescimento demográfico, desperdício e poluição de mananciais se
I. A primeira Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente foi
combinam para gerar uma situação denominada de “estresse hídrico”.
realizada em 1982, em Nova Iorque, quando a comunidade internacional se
A escassez de água em áreas do mundo, especialmente no Oriente
reuniu para discutir a composição do conselho de proteção ambiental e formas
Médio, tem feito surgir situações hidroconflitivas, isto é, casos de tensões
alternativas de crescimento.
geopolíticas geradas por conta da disputa pelo domínio e utilização de
II. No Relatório “Nosso Futuro Comum” foi usada, pela primeira vez, a
fontes de água, especialmente rios, quando estes atravessam regiões de
definição de desenvolvimento sustentável, caracterizado como o desenvolvimento
vários Estados. Um dos pontos da explosiva Questão Palestina diz respeito
que atende às necessidades atuais sem comprometer a capacidade de as futuras
à utilização das fontes hídricas existentes na Cisjordânia, região localizada
gerações terem suas próprias necessidades atendidas.
junto ao baixo vale do rio Jordão.
III. A Conferência do Rio gerou o documento Agenda 21 – que define o
Síria, Iraque e Turquia há muito tempo vêm tendo desavenças sérias
contorno de políticas essenciais para alcançar o modelo de desenvolvimento
no que diz respeito à utilização das águas dos rios Tigre e Eufrates, que
sustentável que atendesse às necessidades dos pobres e reconhecesse os limites
têm suas nascentes em território turco mas, que cruzam áreas dos outros
do desenvolvimento.
dois países. Muitos especialistas já chegam a afirmar que os eventuais
IV. O que motivou a realização da Cúpula de Johannesburgo foi a constatação
conflitos que ocorrerem no Oriente Médio ao longo do século XXI serão
de que, num quadro de crescente exclusão social e degradação ambiental planetárias,
causados cada vez mais pela água e cada vez menos pelo petróleo.
são necessárias profundas mudanças no sistema vigente de governança global.
Apesar de 75% da superfície do planeta ser recoberta por massas
V. Na Rio + 10, o Brasil defendeu a proposta de utilização de apenas 30%
líquidas, a água doce não representa mais que 3% desse total. O problema
das reservas de petróleo, para evitar o esgotamento, contrariando os interesses
é que apenas um terço da água (presente nos rios, lagos, lençóis freáticos
dos produtores de petróleo, sobretudo os países árabes.
Marque a alternativa correta: superficiais e atmosfera) é acessível. O restante está imobilizado nas
(A) Todas as afirmativas estão corretas. geleiras, calotas polares e lençóis freáticos profundos.
(B) Somente as alternativas III e V estão corretas. Atualmente cerca de 50% das terras emersas já enfrentam um estado
(C) Somente as alternativas I, III e V estão corretas. de penúria em água. De cada 5 seres humanos, um está privado de água
(D) Somente as alternativas II e IV estão corretas. de boa qualidade para consumo e cerca de metade dos habitantes do
(E) Somente as alternativas II, III e IV estão corretas.
planeta não dispõe de uma rede de abastecimento satisfatória.
Ao longo do século XX, a população mundial foi multiplicada por três,
9) (UFRJ/2001)
as superfícies irrigadas por seis e o consumo global de água por sete.
A água limpa do planeta caminha para assumir o papel que tinha o
Ao mesmo tempo, nas últimas cinco décadas, a poluição dos mananciais
petróleo em 1973: uma “commodity” em crise, com potencial para lançar
reduziu as reservas hídricas em um terço.
a economia mundial num estado de choque (...)
Os recursos disponíveis atualmente poderiam ser utilizados de forma
“Folha de São Paulo”, 02/07/1999.
mais eficaz se fossem reduzidas a poluição, desenvolvidos processos de
90 :: Geografia :: Módulo 2
reciclagem das águas, houvesse uma melhor conservação das redes de decorrem da combinação da irregularidade das condições climáticas,
distribuição, fosse evitado o desperdício e aceleradas as pesquisas sobre especialmente pluviométricas (Sertão do Nordeste), do crescimento
culturas agrícolas menos exigentes à água e mais tolerantes ao sal. A exagerado do consumo e degradação ambiental de outras áreas (grandes
dessalinização da água do mar só é realizada em poucos países e, mesmo metrópoles, por exemplo).
assim, as quantidades obtidas não cobrem as grandes necessidades. Essa situação tem como pano de fundo o rápido e caótico processo
A escassez de água, que muitos apontam como um dos principais de expansão urbano-industrial e a ausência de planejamento ambiental na
problemas ambientais do mundo para o século XXI, afeta ou pode afetar o valorização econômica de amplas áreas do país.
Brasil? Do ponto de vista genérico, a resposta é não. Em outras escalas de Nelson Bacic Olic. Revista Pangea, 28/9/2001
análise a resposta é positiva.
Localizado em sua maior parte na Zona Intertropical, com domínio
de climas quentes e úmidos, cerca de 90% do território brasileiro recebe
chuvas cujos totais normalmente variam de 1.000 a 3.000 milímetros
anuais. A única grande área que foge a este padrão é o Sertão nordestino,
região que ocupa cerca de 10% do território nacional.
Devido a estas características climáticas e às condições geomorfológicas
dominantes, o Brasil possui importantes excedentes hídricos cujo resultado
é o da existência de uma das mais vastas e densas redes de drenagem
fluvial do mundo. Como consequência, nossa produção hídrica equivale a
pouco mais que metade do total da América do Sul e cerca de 12% do
total mundial.
Quatro grandes bacias hidrográficas – Amazônica, Tocantins-Araguaia,
São Francisco e Paraná – são responsáveis por 85% de nossa produção
hídrica. Se é verdade que o Brasil possui abundância de águas superficiais,
é também verdade que esses recursos hídricos não estão distribuídos
equitativamente pelo território.
Apenas na área das bacias Amazônica e do Tocantins-Araguaia,
a produção hídrica corresponde a 73% do total do país. Nessas áreas,
de forma geral, as densidades demográficas são muito baixas e variam
de 2 a 5 hab/km . No outro extremo, na bacia do Paraná (6,5% da
2
:: Objetivos ::
• Apresentar as possibilidades de espacialização da informação geográfica;
• Ajudar na compreensão de mapas e escalas;
• Explicar o porquê das mudanças de horários no globo terrestre.
92 :: Geografia :: Módulo 2
Meridian Time, cuja sigla é GMT). Isto ocorre porque a Terra gira de oeste para les- Veja os horários dos voos internacionais que saem do Aeroporto Internacional Tom
te. Por exemplo, se tem alguem vindo da Europa para o Brasil, é preciso diminuir Jobim (Rio de Janeiro) para a Europa e depois a Ásia. É um bom exercício que fixa
as horas e, se tem alguém indo do Brasil para a Europa, é preciso somar as horas. bem esse conteúdo.
A partir de 1986, a hora GMT foi substituída pelo sistema chamado de UTC Vocês podem estar perguntando: e quando estivermos no horário de verão?
(ou seja, Universal Time Coordinated), mensuração baseada nos padrões atômicos Como fazer esse cálculo para não errarmos a hora? O horário de verão é adotado
e não mais na rotação da Terra. Com isso, todos os fusos horários são definidos no Brasil, na Europa, como também os Estados Unidos e o Japão. A justificativa é
em relação ao Tempo Universal Coordenado em Londres, cuja sigla é UTC. É bom a economia de energia elétrica no início da noite, horário em que ocorre sobrecarga
lembrar que, apesar de cada fuso ser múltiplo de 15º, encontraremos formas no sistema e que chega a causar blackout. A solução encontrada foi a de utilizar o
diferenciadas de acordo com as fronteiras ou questões políticas dos países. Desse máximo a luminosidade natural e para tal, adianta-se em uma hora os relógios.
modo, podemos citar a China como exemplo: o país poderia ter até quatro fusos Agora que você já entendeu um pouco sobre fusos horários, pergunta-se: em
horários distintos, no entanto, utiliza o horário de Pequim, o que causa algumas que localidade o Ano Novo entra primeiro? Essa é uma boa pergunta para pesquisa.
diferenças no oeste quando o sol nasce mais tarde (9:00h da manhã). A seguir, estão os mapas do Brasil e do Mundo com a divisão de zonas horárias.
Então, para calcular a hora em qualquer localidade do mundo, é preciso saber Chama-se a atenção para o fato de que, atualmente, o Brasil não mais utiliza o quarto
em que meridiano se encontra, e se está a oeste ou leste do meridiano de Greenwich. fuso (com – 5 horas GMT e – 2 horas de Brasília) conforme está mostrando o mapa.
Para acompanhar a hora oficial do Brasil, visite os endereços: <http:// • Escala Gráfica: é expressa através de um gráfico dividido em km.
pcdsh01.on.br/HoraLegalBrasileira.asp> e <http://www.on.br/conteudo/ Ex: 100m – 200m – 300m ou seja, a cada parte do mapa é equivalente a
modelo.php?endereco=dsho/projetos/hora_legal.html> 100m no espaço representado.
Entre no endereço <http://24timezones.com/hora_certa.php> e verifique • Escala Numérica: é expressa por representação de fração ordinária.
a hora em qualquer parte do mundo. Ex: 1:10.000 (um por dez mil) ou seja, um mapa com essa escala indica que a
distância real é 10 mil vezes maior do que no mapa, onde 1cm tem 100m ou 1km.
Vamos entender o que é escala de um mapa Vamos fazer um exercício juntos, desse modo você entenderá a lógica da
escala, adotaremos:
A Escala é a relação entre a distância gráfica (mapa) e a distância do mundo
E=Escala;
real. Com a escala podemos avaliar a extensão espacial seja local, estadual,
D=Distância da realidade e;
regional, nacional, continental, internacional..., além de nos apontar o nível de
d=Distância do mapa
redução da realidade. Os principais tipos de Escala são a Gráfica, que permite a
leitura da distância diretamente sobre o mapa e, a Numérica, quando a unidade
do terreno é a mesma do mapa. Portanto,
Capítulo 7 :: 95
Exemplo 1 3) Às linhas imaginárias que têm como função localizar qualquer ponto da
superfície terrestre, dá-se o nome de:
Qual é a distância real aproximada entre o Rio de Janeiro e Niterói? (A) cartografia
No mapa, cuja escala é de 1:1000.000, a distância mede 1,5cm (em (B) projeções cartográficas
linha reta) (C) coordenadas geográficas
E=1:1.000.000; logo 1cm = 10km (D) linhas astronômicas
(E) latitude e longitude
D=1,5cm
Aplica-se a fórmula: D= d.E (ou d x E)
4) Marque V (verdadeiro) ou F (falso).
D=1,5cm x 10km = 15km (A) O movimento de rotação da Terra é responsável pela geração do dia e noite e
Resposta: a distância real é 15km aproximadamente pelas diferenças no horário dos diversos pontos longitudinais da Terra. ( )
(B) O meridiano de Greenwich é referencia para a latitude. ( )
Exemplo 2 (C) Latitude é a medida, em graus, de qualquer lugar até o Equador. ( )
(D) A escala expressa o quanto a realidade foi reduzida para se caber em um
Vamos inverter o processo para descobrirmos a distância no mapa mapa. Ela pode ser numérica ou gráfica. ( )
d= D/E = 15km/10km = 1,5cm (E) Longitude é medida em graus de qualquer lugar até o Equador. ( )
d= 1,5cm
5) Numa situação hipotética, você está na praça principal do centro de uma
cidade e pretende chegar até o teatro municipal que situa-se ao final da rua. Você
Exemplo 3 consulta o mapa para saber “quanto” deverá caminhar. Este mapa tem escala
1:8.000 e a distância de onde você se encontra até o teatro é equivalente a
Para descobrir a escala é preciso dividir D por d.
20cm. Portanto, quanto deverá caminhar?
D/d= 15/1,5=10
Ou seja, cada 1cm equivale a 10km.
Para você guardar:
Classificação dos Mapas segundo Escalas de Representação
6) Exercícios sobre Fuso Horário (se for preciso, consulte o Mapa Mundi de Fuso
Escalas Classificação Horário):
< 1:5.000.000 Global muito pequena a) Quando são 14:00h em Greenwich (Europa), qual será a hora em Nova York
(EUA)?
1:5.000.000 – 1:250.000 Geográfica pequena
1:250.000 – 1:50.000 Topográfica média
b) quando são 18:00h em Rio Branco (Acre, Brasil), qual será a hora em
1:50.000 – 1:5.000 Cadastral grande
Greenwich (Inglaterra, Europa)?
> 1: 5.000 Planta muito grande
c) Quando forem 11:00h no Rio de Janeiro (Brasil), qual será a hora em Moscou
Exercícios (Eurásia)?
1) Quando os raios solares atingem perpendicularmente o trópico de Capricórnio,
ocorre:
(A) solstício de verão no hemisfério sul d) São 21:00h em São Paulo (Brasil), qual será a hora em Tóquio (Japão, Ásia)?
(B) solstício de inverno no hemisfério sul
(C) solstício de verão no hemisfério norte
(D) equinócio
(E) solstício de inverno no hemisfério norte
20m
25º Rio de Janeiro Equidistância
25º
75º 70º 65º 60º 55º 50º 45º 40º 35º 420 Vertical
20m
5º 5º 416
30º 400 30º
0º 0º
A B 75º 70º 65º 60º 55º 50º 45º 40º 35º
C
5º 5º
440 456 416 432
420
10º 10º 400
20m
Equidistância
e outra tem que ser constante. Essa equidistância é o espaçamento
420 ou a distância
Vertical
Rio de Janeiro 25º
20m
25º vertical entre as curvas de nível e pode 416
variar de acordo com400 a escala da carta com
o relevo e com a precisão do levantamento. Atenção: equidistância portanto, não
30º 30º
significa a distância constante entre uma curva e outra e sim, o desnível altimétrico
75º 70º 65º 60º 55º 50º 45º 40º 35º
do relevo ou seja, a 440altitude 456
entre elas. Para
432
facilitar a leitura, convencionou-se
420 416
adotar dentro de 400umdamesmo
Vista carta intervalo altimétrico, algumasVistacurvas desenhadas
da carta
http://www.ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas (adaptado) com um traço mais grosso conhecidas como Curvas Mestras, outras com traço
a) O segmento AB no norte do País possui 2 cm no mapa. O mesmo segmento mais fino conhecidas como Curvas Auxiliares.
corresponde a 1.112 km na realidade.
456 Essa correspondência é a escala do mapa.
Então, qual é a escala desse mapa? Vista oblíqua Vista oblíqua
440
432
20m
Equidistância
420 Vertical
b) Os pontos C e D representam duas localidades,
416 no NE e no CO respectivamente. Vista de perfil Vista de perfil
20m
400
Quais são as coordenadas geográficas dessas localidades?
Aplicando o conhecimento
cartográfico na geografia
Vista da carta Vista da carta
O relevo de uma determinada área pode ser representado por curvas de nível,
por perfis topográficos, por cores hipsométricas, por sombreamento, dentre outros.
Figura 7.4: Diferentes vistas das curvas de nível. Fonte: IBGE, adaptado.
Veremos então, os métodos mais convencionais.
A
A representação por Curvas de Nível nos permite ter um valor aproximado URC
Resumindo, Curvas Mestras são aquelasPraia em destaque para ajudar na
da altitude em qualquer parte da Carta Topográfica. Nesta, o relevo é cortado por leitura do mapa, principalmente quando trata-seVermelha
de relevo escarpado e as curvas
planos horizontais Vista
paralelos entre si. As curvas de nível correspondem
de perfil às linhas
Vista de perfil aparecem muito juntas e; as Curvas Auxiliares, são aquelas de desenho mais
de interseção do relevo com os planos horizontais, projetados ortogonalmente fino e apontam a equidistância entre as curvas, principalmente para ressaltar as
no plano da carta topográfica e facilitam a leitura do mapa (observe a figura pequenas altitudes. Observe a Figura 7.5 e a Tabela 7.1 que se seguem:
400
7.3 - Curvas de Nível).
300
200
A
100 URC
0
Praia
Vermelha
456
440 400
432
20m
Equidistância 300
420 Vertical
20m
416
400 200
Capítulo 7 :: 97
A
URC
100
Vamos fazer uns exercícios juntos para vocês entenderem as duas formas de
440 456 416 432 representação do relevo e testarem o que aprenderam até o momento.
420 0
400
8) Observem as Figuras 1 e 2 que hipoteticamente podem representar um relevo
400
similar ao do Morro do Pão de Açucar.
300
Vista oblíqua Vista oblíqua Figura 1
380 380
200
360
100
520
0 C Y
X A 540 B 500 480 460
440
Figura 7.5: Reprodução de Carta Topográfica (as curvas mestras dão o realce ao relevo
Vista da carta Vista da carta 420 Escala
escarpado). Fonte: IBGE, adaptado. 360 380 400 0 500
m
FiguraFigura
1 2
Escala Equidistância Curvas mestras 380 380
560
1:25.000 10m 50m 360
540
520
1:50.000 20m 100m 500
480
460 520
1:100.000 50m 250m 440 C Y
Vista de perfil Vista de perfil X420
A 540 B 500 480 460
1:250.000 100m 500m 400 440
380
1:1.000.000 100m 500m X A B C Escala Y (km)
380 420
360 400 0 500
m
Tabela 7.1: Relação entre a Escala do Mapa, a Equidistância das Curvas e as Curvas Mestras. a) Identifique o tipo de representação do relevo utilizada em cada figura.
Figura 2
Figura 1:
O Perfil Topográfico é a representação cartográfica de um corte vertical da 560
540
superfície terrestre. Para realizar o Perfil, é preciso conhecer as altitudes e a Figura 2:
520
500
distância entre elas. Observe a figura 7.6. 480
460 N
b) Identifique as áreas A, B e C nas duas figuras. Cite pelo menos um uso do solo
440
420
mais adequado em cada uma dessas áreas e justifique.
400
380
Praia
Vermelha X A B C Y (km)
9) (UNICAMP / adaptado) A seguir, você tem uma figura que representa parte
540
do relevoAde uma carta topográfica. Essa carta é de umBmunicípio hipotético de
Minas Gerais,
x cuja escala é de 1:50.000 com distância x entre as curvas de nível
de 20 metros.
520 N
Rio
A
URC
540
A 500 B 600
x x
500 560
580
520 520 540 620
640
400 Rio
300
200
500 600
100
500 560
580
0
520 540 620
640
Figura 7.6:Perfil Topográfico do Morro do Pão de Açúcar na morro do Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: IBGE, adaptado.
Figura 1
380 380
360
98 :: Geografia :: Módulo 2
a) Considere a distância de 5 cm entre os pontos A e B na carta topográfica. Qual coordenadas dos pontos de controle com GPS (Sistema de Posicionamento Global)
é a distância real em quilômetros entre esses dois pontos? ou então com o erro planimétrico associado à escala dos mapas.
Cabe mencionar, que o Sensoriamento Remoto representa importante fonte
de informação atualizada para o SIG e decorre de alguns procedimentos tais como
b) Observe a orientação da carta e indique o sentido dos rios e qual margem do
rio é mais apropriada para cultivos temporários. o de correção geométrica das imagens, o de georeferenciamento das imagens
e o processamento digital dessas imagens. Os dados obtidos pelos satélites da
série LANDSAT, SPOT, CBERS, IKONOS, GOES, METEOSAT, RADARSAT vêm sendo
utilizados nas mais diferentes áreas do conhecimento e, em especial, pela Geografia.
Cartografia e cartografia
automatizada :: base para o
geoprocessamento
Conforme vimos até aqui, ficou claro que a Cartografia tem uma missão
importante que é a de criar um modelo de representação de dados para os
processos que ocorrem no espaço geográfico. De outro, a Geografia requer uma
Cartografia mais dinâmica, que consiga expressar as marcas da sociedade no
passado, no presente e também no futuro. Com a introdução das ferramentas
computacionais nas diversas áreas da pesquisa principalmente no final do século
XX, deu-se um novo impulso aos estudos do espaço geográfico e portanto,
nas técnicas cartográficas. Os desenhos que utilizavam lápis (grafite) e caneta
(nanquim) passaram a ser traçados pelo mouse do computador. Os programas
de desenho gráfico foram aprimorados (Auto Cad), o que se convencionou a
chamar de Cartografia Automatizada. E, desde então, programas específicos Figura 7.6: Imagem obtida do satélite LANDSAT: áreas queimadas por incêndios florestais a leste
de San Diego. Fonte: http://science.nasa.gov/media/medialibrary/2010/03/31/landsatfire.jpg
da Cartografia foram desenvolvidos sob um novo conceito: o dos Sistemas de (Acessado em 01/11/11)
Informação Geográfica (SIG).
Os Sistemas de Informação Geográfica fornecem as técnicas matemáticas
e os modelos computacionais para tratar os processos que ocorrem no espaço Gabarito
geográfico. Então, o Geoprocessamento representa a área do conhecimento que
utiliza essas técnicas. 1) A
Portanto, os dados espaciais são caracterizados pelo atributo da localização
geográfica, importante em todo o processo de representação. Qualquer objeto 2) B
somente terá sua localização geográfica estabelecida quando for possível
descrevê-lo em relação a outro objeto ou em relação ao sistema de coordenadas. 3) C
Chamamos de objeto uma cidade, uma ponte, um pico de uma montanha, a foz
4) V, F, V, V; F
de um rio, dentre outros.
A ciência cartográfica utiliza-se de conceitos apropriados que são a base do
5) D= 1.600m
geoprocessamento, tais como: geodésia, elipsoide, datum planimétrico, datum
vertical ou altimétrico, dentre outros, todos importantes para a precisão da 6) a) Pelo mapa, NY está no fuso Q, correspondendo a UT – 4, ou seja, quatro
informação gerada. horas a menos que em Greenwich, logo HNY = HG (UT) –4 = 14:00 – 4 = 10:00
Para a nossa aula, basta lembrarmos que no Brasil , o ponto de referência para b) Fuso do Acre = UT –5
o datum vertical é o marégrafo de Imbituba, em Santa Catarina e que coexistem HAC = UT –5 18:00 = UT –5 •• UT = 18:00 + 5 = 23:00
dois sistemas geodésicos de referência: Córrego Alegre (antigo datum planimétrico c) Fuso do Rio de Janeiro UT –3. Fuso de Moscou UT + 3, logo HRJ = UT –3
e HM = UT + 3. Considerando então que UT = HM = (HRJ + 3) + 3, portanto
brasileiro) e SAD- 69 (atual datum planimétrico). As discrepâncias entre eles são
HM = HRJ + 6, assim a hora em Moscou será 17:00, do mesmo dia.
de algumas dezenas de metros sobre a superfície do território brasileiro. O erro d) Fuso de São Paulo UT –3 (P)
de localização é sempre uma preocupação para os cartógrafos e, desse modo, Fuso de Tóquio UT + 9, logo pelas mesmas considerações do exercício anterior HT =
o componente de erro mais explorado é o da incerteza quanto à localização (HSP + 3) + 9, assim HM = (21:00 + 3) + 9 = 33:00, ultrapassando as 24:00,
do objeto. A exatidão no posicionamento será dada pelo erro na posição ou na que subtraídas fornecem o valor de 9:00. Houve transposição da linha de mudança
localização, com relação ao sistema de referência da base de dados e de pontos de data, caracterizando a data do dia D+1 em relação ao dia em São Paulo.
bem definidos. Cabe ao usuário de SIG preocupar-se com o erro na medição das
8
Estado do Rio de Janeiro
:: Objetivo ::
• Apresentar a evolução urbana da cidade do Rio de Janeiro e características socioeconômicas
do Estado do Rio de Janeiro.
100 :: Geografia :: Módulo 2
Figura 8.1: Local de fundação da cidade do Rio de Janeiro (Morro Cara de Cão), local de transfe-
Do século XVI ao século XVII, a cidade do Rio de Janeiro se constituía rência da cidade (Morro do Castelo) e direções de expansão da cidade. Fonte: Fundação CIDE, 2006.
basicamente num ponto de defesa do litoral sudeste brasileiro. A estreita entrada
da Baía de Guanabara servia para a defesa, enquanto que o extenso litoral e as O surgimento de novos bairros residenciais mais afastados levou a um
águas tranquilas da baía favoreciam a construção de diversos portos e a pesca. esvaziamento de antigos casarões da área mais antiga da cidade. Alguns foram
O clima tropical úmido, a Mata Atlântica e os maciços litorâneos constituíam convertidos em prédios comerciais e muitos outros em casas de cômodos (cortiços).
fonte de águas, madeira, rochas para construção civil e produtos para exploração As ruas estreitas, não pavimentadas, a ausência de saneamento básico e a
extrativista. Tais fatores ambientais mostraram-se extremamente favoráveis à deficiente infraestrutura de transporte e energia transformaram o centro do Rio
instalação da cidade, inicialmente no Morro Cara de Cão, no lado oeste da entrada em um espaço insalubre e decadente ao fim do século XIX. A opção política feita
da baía, e posteriormente na altura da Praça XV, entre os morros do Castelo, Santo para reverter este aspecto foi a realização de grandes reformas urbanas no centro
Antônio, São Bento e da Conceição (área hoje designada como o Corredor Cultural da cidade, no início do século XX: alargamento de ruas (como a Av. Primeiro de
do centro da cidade do Rio de Janeiro). Março, a Av. Rio Branco e, posteriormente, a Av. Presidente Vargas), demolição de
A transferência da sede do poder político colonial brasileiro para o Rio de diversos morros (como o do Senado, do Castelo e de Santo Antônio) e a realização
Janeiro em 1763, a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808 e a de grandes aterros litorâneos, a fim de ampliar a zona portuária e os acessos viários
independência em 1822 fizeram crescer a importância, a população e os limites (Av. Beira-Mar, Aterro do Flamengo, aeroporto Santos Dumont etc.).
da cidade com o surgimento de novos bairros. A partir de meados do século XIX, A demolição do casario antigo no centro da cidade deu lugar a grandes ave-
a urgência em implantar meios de transporte para esses novos bairros levou à nidas, a prédios públicos e privados. A implantação das redes de infraestrutura de
construção de ferrovias em direção à Zona Norte (E.F. Leopoldina) e à Zona Oeste transporte, saneamento básico e energia trouxe a esta região central um aspecto
(E.F. Central do Brasil) onde surgiram diversos bairros populares (figura 8.1). As mais “civilizado”, salubre e moderno. No entanto, tais procedimentos foram ex-
áreas mais próximas do Centro foram beneficiadas com a construção de bondes tremamente criticados por terem negligenciado a população de baixíssima renda
(bairros da Zona Sul , Santa Teresa, Tijuca e Méier, este último também atendido que habitava os cortiços. Grande parte dessa população não dispunha de recursos
por ferrovias). para comprar casas em outras áreas ou não desejava morar nos bairros populares
Cabe destacar que, historicamente, os bairros surgidos ao longo das redes afastados do centro. Estas pessoas tinham necessidade de morar em áreas pró-
ferroviárias foram menos favorecidos pelos investimentos para a instalação de ximas ao mercado de trabalho e que oferecessem benefícios públicos (hospitais,
serviços públicos (como escolas e hospitais) e infraestrutura (água, saneamento, escolas etc.). Muitos aproveitaram os restos de demolições para construir residên-
pavimentação, drenagem urbana etc.). Os bairros mais elitizados (concentrando cias precárias nas encostas dos morros e maciços da região central, o que resultou
população de renda média e alta), mais próximos ao centro, sempre foram na consolidação do processo de favelização dessas áreas.
priorizados neste aspecto, resultando em áreas mais valorizadas e melhor A partir da década de 1940, muitos novos elementos entraram em pauta
atendidas pelo poder público (figura 8.2). para compreender os processos urbanos no Rio de Janeiro. A industrialização
intensificou-se no país, sobretudo após os anos 1950. Este fato estimulou a
construção de grandes rodovias na periferia da cidade, a fim de criar eixos para
implantação de infraestrutura que atraísse indústrias, como ocorreu ao longo da
Avenida Brasil e da Rodovia Presidente Dutra.
Capítulo 8 :: 101
serviços públicos em bairros populares, há muito tempo habitados, e a gravidade do Características físico-
problema das favelas. Esses novos bairros apresentam formas urbanas específicas, Ambientais do Estado
como grandes avenidas expressas, condomínios fechados, prédios extremamente do Rio de Janeiro
altos, grandes centros comerciais (shoppings) e empresariais.
O relevo do Estado do Rio de Janeiro caracteriza-se pela presença de serras
(que integram a unidade geomorfológica da Serra do Mar), de maciços litorâneos
:: Origem e expansão das favelas na cidade
do Rio de Janeiro :: (agrupamento de morros ou morros isolados) e de terrenos de baixada (figura 8.3).
Segundo o geógrafo Andrelino Campos (2005), as favelas
cariocas originaram-se de três principais processos: (1) da ocu-
pação das encostas das áreas centrais por parte da população
negra que retornara da guerra do Paraguai; (2) da reforma
urbana promovida no governo de Pereira Passos, que resultou
na derrubada das “cabeças de porco” e na expulsão dos mora-
dores mais pobres do centro da cidade; (3) da necessidade da
população mais pobre em residir próximo às áreas onde se con-
centravam as oportunidades de trabalho. Em todos os processos,
verifica-se a política de exclusão das classes mais pobres, política
esta adotada e reproduzida em tempos atuais pelo Estado bra-
sileiro, e que em muito contribui para o processo de expansão
das favelas.
Figura 8.3: Distribuição espacial das três principais unidades de relevo do Estado do Rio de Janeiro.
Esboço elaborado segundo informações do IBGE, 2006.
Atividade 1 Nas áreas serranas, sobretudo nos pontos mais elevados, há remanescentes
da Mata Atlântica. Apesar do desmatamento contínuo por séculos, verificam-se
Há diferenças entre os bairros na sua cidade?
evidências de regeneração natural da floresta.
Descreva as características que diferenciam um bairro do outro quanto
Os terrenos de baixada distribuem-se por várias áreas do estado: Baixada
a arruamento (rua com ou sem asfalto, presença de calçadas), tipos de
dos Goytacazes (ou Campista), Baixada dos Rios Macaé e São João, Baixada da
equipamentos urbanos (ponto de ônibus com toldos de cobertura, com bancos ou
Guanabara e Baixada de Sepetiba. A denominação Baixada Fluminense refere-se
simplesmente com uma placa; postes de luz; latas de lixo; placas de localização
à área que abrange os municípios de Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Queimados,
etc.), abastecimento regular de água, coleta de lixo, entre outros aspectos
Belford Roxo, Japeri, Mesquita, Nilópolis e São João de Meriti.
importantes para a qualidade de vida da população.
A bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul é a mais importante, devido à sua
Faça um desenho esquemático da sua cidade e localize os bairros, para você
grande extensão e o expressivo número de afluentes, sendo estes responsáveis
entender a disposição espacial das principais diferenças.
pelo abastecimento de água para consumo doméstico, industrial e agrícola de
várias cidades do Estado. Outras bacias hidrográficas importantes são as dos rios
Guandu, Itabapoana, Macabu, Macaé, São João e o Mambucaba.
Apenas 31,7% do território estadual são cobertos por vegetação remanescente
(florestas, mangues e restingas) e secundária, segundo o levantamento do Uso
e Cobertura do Solo (2001), realizado pela Fundação CIDE (atual CEPERJ). O
restante da área do estado é ocupado principalmente por pastagens, áreas
cultivadas e/ou urbanizadas.
Os ecossistemas de florestas, mangues e restingas têm sofrido intensa e
contínua degradação devido à expansão urbana, especulação imobiliária e/
ou ampliação de áreas agropecuárias. As áreas naturais legalmente protegidas
(denominadas Unidades de Conservação) pelo poder federal e estadual cobrem
cerca de 10,7% da área do Estado. A fiscalização deficiente nas unidades de
conservação possibilita a degradação da fauna e da flora dessas áreas, já que
essa fiscalização não consegue evitar incêndios, queimadas, desmatamentos e
ocupações irregulares.
Capítulo 8 :: 103
Região Serrana
Região Centro-Sul Atividade 2
Fluminense
Região Médio Paraíba
Com base no gráfico da figura 8.5, analise a evolução do percentual de
Região Norte
Fluminense população urbana do Estado do Rio de Janeiro ao longo das décadas representadas
no gráfico.
Figura 8.4: Divisão regional do Estado do Rio de Janeiro. Fonte: Fundação CIDE, 2006. Atividade 3
Com base na tabela 8.1, caracterize a distribuição irregular da população no
A população do Estado do Rio de Janeiro está concentrada, predominante-
Estado do Rio de Janeiro.
mente, em cidades (figura 8.5). A tabela 8.1 mostra que 74% da população
fluminense ocupa a Região Metropolitana, cuja área corresponde a somente 11%
do território do estado. Deste modo, a densidade demográfica na região metropo-
litana é bem elevada. De forma oposta, as regiões Noroeste e Norte Fluminense
O Estado do Rio de Janeiro tem sofrido um processo de enfraquecimento
possuem uma área maior e apresentam valores de densidade demográfica meno-
econômico nas últimas décadas. Um dos fatores que contribuíram para esta
res. Verifica-se, assim, uma distribuição espacial desigual da população no estado.
situação foi a fraca infraestrutura no estado e a concentração de negócios e
investimentos na cidade do Rio de Janeiro, desde a época colonial até a década
de 1960 (quando a capital do país foi transferida para Brasília), praticamente
negligenciando as demais regiões do estado.
Durante o longo período em que a cidade do Rio de Janeiro foi a capital
do país, o Governo Federal realizava investimentos em infraestrutura, ampliando
avenidas, implantando linhas de trem, abrindo vias de acesso entre diferentes
bairros, ampliando a rede de saneamento básico etc. No entanto, estes
investimentos não foram estendidos a outras cidades do estado, deixando-as
Figura 8.5: Percentuais da população urbana e rural do Estado do Rio de Janeiro entre as décadas
pouco atraentes para empreendimentos industriais, de comércio e de serviços. As
de 1940 e 2000. Fonte: IBGE (2005) e CIDE (2006). cidades fluminenses que ainda eram capazes de atrair investimentos econômicos
104 :: Geografia :: Módulo 2
situavam-se ao longo dos principais eixos rodoviários que conectam a cidade do Esta desconcentração econômica está relacionada a vários fatores,
Rio de Janeiro à São Paulo e à Minas Gerias, além dos municípios vizinhos à especialmente pela saturação e esgotamento da infraestrutura da cidade do Rio de
capital, como Duque de Caxias e Nova Iguaçu. Janeiro, que não consegue atrair novos empreendimentos industriais significativos,
Por outro lado, no Estado de São Paulo, a infraestrutura foi melhor montada e a crise econômica brasileira na década de 1980. O Porto do Rio de Janeiro, por
devido à maior disponibilidade de capital fornecido pela atividade cafeeira. Os exemplo, não tem boa capacidade para receber e despachar um grande volume de
municípios do interior paulista contavam com uma boa rede de estradas, linhas de mercadorias, já que os equipamentos para tais operações não foram devidamente
comunicação e energia, entre outros elementos, integrando a capital paulista às modernizados. Além disso, a Baía de Guanabara tem pouca profundidade para
cidades do interior. Esta situação promoveu um desenvolvimento econômico mais receber navios de grande calado. Estes e outros problemas limitam as atividades
forte e homogêneo no Estado de São Paulo. Além da melhor infraestrutura no de importação e exportação, não atraindo, portanto, novas indústrias para a
estado, a cidade de São Paulo concentrou, ao longo das décadas do século XX, es- cidade e sua região de entorno.
critórios de grandes empresas e de importantes bancos nacionais e internacionais. Por outro lado, a exploração de petróleo no Norte Fluminense e a implan-
Em relação ao Estado do Rio de Janeiro, processos históricos e políticos tação de novas indústrias do setor automobilístico na Região do Médio Paraíba
levaram a uma centralização de poder na cidade do Rio de Janeiro: 1º) função do Sul se tornaram atividades econômicas extremamente rentáveis para estas
militar para a defesa do território da província, com a construção de vários fortes; regiões do estado.
2º) função comercial devido à instalação do porto, responsável pelo escoamento Apesar da perda de importância na economia nacional nas últimas décadas, o
de vários produtos até hoje, além de outros empreendimentos comerciais e de Estado do Rio de Janeiro, como um todo, mantém um rol de atividades econômicas
serviços; 3º) função administrativa, enfatizada com a vinda da Família Real relativamente diversificado.
portuguesa, permanecendo como capital federal até 1960; 4º) função industrial, O Norte Fluminense é uma região tradicional de produção e processamento
atraindo diversos tipos de indústrias (têxtil, metal-mecânico etc.). Esta centralidade de cana-de-açúcar (tabela 8.3), especialmente o município de Campos. Embora a
construída ao longo de séculos levou à concentração de atividades econômicas na sua produção seja pequena e com tecnologia fraca, se comparada com o Estado
cidade do Rio de Janeiro e à falta de interesse para investimentos nas outras de São Paulo, esta atividade ainda é importante para a economia de alguns
regiões do estado. A concentração econômica pode ser observada na tabela 8.2. municípios da região. O Proálcool (Programa do Governo Federal para estimular
a produção de álcool combustível), na década de 1970, revigorou a atividade
Áreas 1991 2000 canavieira desta área, que já se encontrava estagnada. Foram criadas novas usinas
POPULAÇÃO (%) produtoras de álcool e açúcar, mas que atualmente estão com a sua capacidade
RMRJ 76,6 75,7 ociosa devido à queda na produção de cana-de-açúcar. Alguns fazendeiros estão
RJ 42,8 40,7 preferindo cultivar e beneficiar frutas, aproveitando o auxílio do Governo Estadual
Outras 23,4 24,3 por meio do Programa Frutificar. Outros ainda estão produzindo álcool-combustível
PRODUTO INTERNO BRUTO (%) já que abriram-se novas possibilidades de consumo com a entrada no mercado de
RMRJ 82,4 70,7 carros bicombustíveis e com o enorme aumento do preço do petróleo no mercado
RJ 60,3 54,9 internacional.
Outras 17,6 29,3
Tabela 8.2: Percentual de população e participação no Produto Interno Bruto da Região Produção de Cana-de-Açúcar
Regiões do Estado
Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), da cidade do Rio de Janeiro (RJ) e das demais regiões do toneladas %
Estado do Rio de Janeiro (outras) em relação aos valores totais do estado. Fontes dos dados: Cide
Região Metropolitana 8223 0,1
(2001 e 2002); IBGE (2002).
Região Noroeste Fluminense 141875 2,5
Verifica-se na tabela 8.2 que a Região Metropolitana (RMRJ - englobando a Região Norte Fluminense 5307680 92,5
cidade do Rio de Janeiro e os municípios vizinhos) concentrava, em 1991, 76% Região das Baixadas
230440 4,0
da população total do estado. Considerando somente a cidade do Rio de Janeiro, Litorâneas
42% da população do estado moravam nesta, enquanto que 23% habitavam as Região do Médio Paraíba 41006,3 0,7
demais cidades do estado. No ano 2000, a concentração da população na RMRJ Região da Costa Verde 6508 0,1
e na cidade do RJ diminuiu. Total no Estado 5735732 100,0
O mesmo processo de desconcentração ocorreu em relação ao PIB (soma de Tabela 8.3: Produção de cana-de-açúcar segundo as regiões do Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: Fundação CIDE.
todas atividades econômicas) entre 1991 e 2000, e continua acontecendo até hoje.
Em 1991, 60% das riquezas geradas no estado ficavam concentradas na cidade do Contrastando com a estagnação econômica da atividade canavieira nos anos
Rio de Janeiro e 82% eram produzidas na RMRJ. Mas em 2000 esta participação no de 1990, a atividade de exploração de petróleo e gás natural no litoral norte
PIB estadual se reduziu para 54%, no caso da cidade do Rio de Janeiro, e para 70%, fluminense vem provocando profundas transformações no espaço geográfico e na
no caso da RMRJ. As demais regiões só produziam 17% do PIB estadual em 1991. importância política de algumas cidades desta região.
Em 2000, no entanto, esta participação aumentou para 29%.
Capítulo 8 :: 105
Antes de falarmos dessas transformações, vamos entender onde ocorre a Outra região com destacada atividade industrial é o médio vale do rio Paraíba
exploração de petróleo e gás natural no Estado do Rio de Janeiro. A área de do Sul, onde encontramos a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), inaugurada
exploração petrolífera é denominada “bacia de Campos”. Esta é uma bacia por Getúlio Vargas em 1941. Nos últimos anos, indústrias automobilísticas foram
sedimentar que abrange grande parte do litoral do estado, não ficando restrita atraídas para essa região devido aos incentivos fiscais, à posição geográfica entre
ao litoral do município de Campos. Na prática, os principais pontos da bacia dois grandes centros consumidores (as regiões metropolitanas de São Paulo e do
sedimentar onde está ocorrendo a extração de petróleo e gás natural ficam no Rio de Janeiro), à disponibilidade de meios de transporte da produção (por meio
litoral do município de Macaé. da Rodovia Presidente Dutra) e à proximidade ao porto de Sepetiba.
Deste modo, Macaé vem sofrendo transformações na sua área urbana em O setor industrial que tem se destacado na região Serrana é o de confecções.
função da atividade petrolífera liderada pela Petrobrás. Isto significa construção Em muitos casos, a produção é terceirizada, ou seja, a empresa dona de uma
de casas e condomínios residenciais, hospital bem equipado, ampliação das marca famosa encomenda as mercadorias a microempresas e a confecções
atividades de comércio etc. O crescimento de Macaé lança dúvidas sobre a informais (sem registro). Esse procedimento torna as mercadorias mais baratas
importância e a liderança política tradicionalmente exercida por Campos dentro e emprega um grande contingente de trabalhadores. No entanto, como muitas
do Norte Fluminense. confecções não têm registro e precisam se sujeitar aos preços ditados pelas
Mais de 80% do petróleo extraído em território brasileiro vêm da Bacia de grandes empresas, não há melhoria de padrão de vida desses empregados.
Campos. Isto se reverte em capital para os municípios com litoral abrangido pela Além da indústria de confecções, essa região fluminense também é grande
Bacia de Campos, por meio do pagamento de “royalties” (pagamento pelo uso produtora de hortifrutigranjeiros, caracterizando-se como cinturão verde junto com
de um bem de terceiros, neste caso a Petrobrás paga para explorar o petróleo e o alguns municípios da região Centro-Sul.
gás natural pertencentes aos municípios).
A produção petrolífera é transportada pelo continente através de dutos Reestruturação produtiva
(gasoduto e oleoduto), que se dirigem para polos industriais na Região no Estado do Rio de Janeiro
Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) e para São Paulo (figura 8.6). O
município de Duque de Caxias, dentro da região metropolitana, se destaca no A reestruturação produtiva é um processo que expressa grandes transformações
refino e na produção de derivados do petróleo, com a Reduc (Refinaria Duque de na produção e na lógica de localização das bases industriais. A modernização
Caxias) e com o recém-inaugurado Polo Gás-Químico. dos sistemas de comunicação e dos meios de transporte possibilitou ao capital
industrial uma maior mobilidade, ou seja, as bases produtivas industriais tendem
a se instalar nos locais onde as possibilidades de se obter o lucro ampliado sejam
Oleoduto
maiores. No caso do Estado do Rio de Janeiro, a reestruturação produtiva vem
Gasoduto se caracterizando pela descentralização das atividades produtivas, gerando um
esvaziamento produtivo da cidade do Rio de Janeiro ao mesmo tempo em que se
detecta novos investimentos produtivos no interior do estado.
Segundo OLIVEIRA (2003): “No decorrer da década de 1980, o Estado
do Rio de Janeiro – ainda que envolvido em uma crise estrutural de natureza
econômica que atingiu todo o país e reduziu significativamente a participação do
estado na composição do Produto Nacional Bruto (PNB) – sofreu significativas
mudanças nas políticas de gestão do território, em termos tanto de ações do
governo do estado quanto das políticas por parte das organizações e instituições
0 50 km locais, em grande parte do território fluminense. Pela primeira vez em sua história,
o território do Rio de Janeiro era visto em sua totalidade: núcleo e interior. (...) A
crise ou esvaziamento econômico do Estado do Rio de Janeiro, alardeada durante
Figura 8.6: Rede de dutos que transportam petróleo e gás natural para refinarias e indústrias
químicas. Fonte: Fundação CIDE, 2006. anos para justificar as sucessivas quedas nos índices econômicos no estado, ao
nosso ver, na verdade esteve o tempo todo associado à “ascensão” e à “queda”
De forma geral, a atividade industrial no Estado do Rio de Janeiro é bem de um modelo de industrialização centralizado na cidade do Rio de Janeiro,
diversificada, mas espacialmente, as indústrias se concentram na RMRJ. São sendo também resultante dos processos de reestruturação produtiva, geradora de
indústrias químicas, metalúrgicas, têxtil e de confecção, alimentícia, de matérias importantes mudanças na organização industrial em todo o mundo.”
plásticas, entre outras, situadas nos municípios de Queimados, Nova Iguaçu, A saída das atividades produtivas da cidade do Rio de Janeiro em direção ao
São João de Meriti, Belford Roxo etc. que compõem a região metropolitana. interior do estado justifica-se pelas deseconomias de aglomeração que, em outras
Recentemente, o setor de indústria naval foi revitalizado por conta da atividade palavras, são os fatores negativos aos investimentos produtivos na cidade do Rio
petrolífera, fazendo encomendas aos estaleiros de reformas de plataformas de (Sistema de trânsito caótico, o alto índice de violência urbana, o alto valor dos
exploração de petróleo e outras embarcações usadas na Bacia de Campos. terrenos, etc.).
106 :: Geografia :: Módulo 2
b) os impactos ambientais que surgem a partir dessa atividade petrolífera. Baía de Guanabara
Baía de Guanabara Ilha do Governador
Manguezais Manguezais
Mata Atlântica Manguezais degradados
Restingas Remanescentes de Mata Atlântica
Brejos, pântanos e alagados Área urbana
Outros sistemas Áreas agrícolas, pastagens e outros sistemas
Várzeas
Restingas
b) dois fatores que têm levado à sua intensa destruição. (B) a alteração nos padrões de habitação causada pelo abandono das regiões
centrais, de maior densidade, em favor das periferias urbanas;
(C) o crescimento demográfico provocado pelas altas taxas de natalidade e a
2) (UERJ / 2006) consequente concentração populacional nas encostas circunvizinhas à cidade;
(D) a localização de empreendimentos imobiliários na orla marítima, ampliando o
volume da descarga fluvial na baía de Guanabara;
principais concentrações populacionais (E) o processo de apropriação e produção do espaço urbano que modificou as
principais eixos de urbanização
bacias de drenagem originais, dificultando o escoamento das águas pluviais.
Itabapoana, com a população se dirigindo para outras áreas, como Macaé recursos têm o caráter de compensar os municípios pelos possíveis
e Região das Baixadas Litorâneas. transtornos causados pela atividade do petróleo, como consequências
Recentemente foi implantado no município de Campos o Projeto ambientais, além de promover atividades produtivas que garantam
Frutificar, que busca dinamizar a atividade agrícola com o beneficiamento dinamismo econômico após o término da extração.
de frutas cultivada na região. Este programa conta com incentivos dos As cidades de Campos e Macaé atuam como centros regionais que
governos estadual e federal e já atrai investimentos industriais externos. se complementam. A primeira, polarizando inclusive a Região Noroeste
A atividade agroindustrial passa por um processo de modernização e está Fluminense, sempre foi uma grande cidade da região devido à sua
ligada aos incentivos governamentais. Mesmo assim a agricultura perde importância administrativa, ao escoamento do café, à produção de açúcar
espaço para as atividades ligadas ao petróleo. e aguardente, e posteriormente, do álcool combustível. Com o declínio
A indústria extrativa de petróleo na Bacia de Campos promove da atividade açucareira, houve, paralelamente, o desenvolvimento
mudanças na economia agrícola tradicional com o passar dos anos, pois da atividade do petróleo, impedindo que ocorresse a sua estagnação
a produção petrolífera apresenta crescimento exponencial. A cidade de econômica. As marcas da sua consolidação são os serviços urbanos, com
Macaé, antiga localidade portuária, foi escolhida para sediar a estrutura destaque para a educação técnica e superior com atividades de pesquisa e
operacional da Petrobras na região. No seu porto e a área adjacente foi mais de vinte mil matrículas. Entre as instituições mais importantes estão
instalada a Unidade de Negócios da Bacia de Campos (UNBC), como o CEFET, a UENF e a Cândido Mendes. Macaé ascende rapidamente como
centro administrativo e de abastecimento das plataformas marítimas de centro urbano, com um dos maiores PIB per capita do estado e, ainda,
exploração de petróleo. Ao sul da cidade, a referida empresa implantou o estende a sua atuação até Cabo Frio, em virtude da atividade do petróleo,
Parque de Tubos e, mais ao norte do município, o Terminal de Cabiúnas que promove um intenso fluxo de mão de obra.
da subsidiária Transpetro. Esta instalação recebe o petróleo e o gás das
plataformas, os armazena e os transfere para a Refinaria Duque de Caxias Região Serrana
(Reduc). Há ainda grandes plantas industriais de beneficiamento do gás. A Região Serrana é marcada pela sua beleza e diversidade econômica
Uma das plantas serve exclusivamente ao abastecimento do Polo Gás- no contexto do estado do Rio de Janeiro, situando-se no interior deste. É
químico, na área da Reduc. composta por quatorze municípios: Petrópolis, Nova Friburgo, Teresópolis,
Na Reduc ocorre o beneficiamento do petróleo e do gás em Bom Jardim, Cantagalo, Carmo, Cordeiro, Duas Barras, Macuco, Santa
produtos como gasolina, óleos lubrificantes, óleo diesel, gás de cozinha e Maria Madalena, São José do Vale do Rio Preto, São Sebastião do Alto,
automóvel. O gás é transformado também em produtos plásticos, graças Sumidouro e Trajano de Moraes.
ao Polo Gás-químico. Em poucos anos, em 2012, entrará em operação o A maior parte do seu território é constituída pela formação geomorfo-
Polo Petroquímico em Itaboraí (COMPERJ) na Região Metropolitana, que lógica denominada escarpas e reversos da Serra do Mar, que neste trecho
irá transformar o petróleo da Bacia de Campos em produtos químicos para recebe o nome de Serra dos Órgãos. Uma parte da região ainda apresenta
as fábricas de plástico, tintas e tecido. cobertura florestal da Mata Atlântica.
O setor petrolífero promove mudanças significativas na região como: a A Serra do Mar é responsável pela diminuição das temperaturas e
atração de dezenas de empresas nacionais e estrangeiras, a intensa atração interfere na distribuição das chuvas, contribuindo, assim, com a diversidade
populacional e valorização imobiliária na cidade de Macaé, a implantação climática do estado. Tal diversidade ambiental potencializa o território
de infraestrutura viária e intenso fluxo da mão de obra entre Macaé e os da região para diferentes usos, como nos setores agrícola, floricultura e
municípios vizinhos como Rio das Ostras, Casimiro de Abreu e Carapebus. turístico. A criação de trutas, por exemplo, só é possível em área de serra,
Vale ressaltar que a cidade de Campos é a origem de maior parte da mão de pois as águas devem ser limpas e muito frias, condições encontradas em
obra do setor, pois trata-se de um importante centro urbano regional, com Nova Friburgo.
estrutura educacional consolidada de nível técnico e superior. A região serrana destaca-se no contexto fluminense pelo seu perfil
O município de Macaé está atraindo cada vez mais empresas e mão industrial e agrícola, pois sendo o quarto polo econômico, é responsável
de obra estrangeiras, sobretudo dos Estados Unidos. Existe também a por 3% do PIB estadual (CIDE, 2004). Abriga um significativo contingente
atração populacional de outros municípios, tratando-se de pessoas que populacional, num total de 783.525 pessoas – 3% da população do estado.
estão em busca de emprego nestas novas indústrias, mas nem sempre Nesta região é possível perceber três importantes processos: a
conseguem pela alta qualificação exigida. Com isso, está ocorrendo o consolidação e a diversificação da atividade turística, desenvolvimento da
aumento de excluídos e de moradias precárias em contraste com os bairros atividade agrícola e um novo dinamismo do setor industrial.
altamente valorizados. Embora as grandes indústrias têxteis tenham fechado, ainda há as
As prefeituras da região estão arrecadando um grande volume de indústrias de gêneros diversos, como metalurgia, mecânica, matéria-
recursos com os “royalties” do petróleo. Cada governo municipal prioriza plástica, editorial e gráfica, vestuário e têxtil. Atualmente existe uma
alguns setores para os investimentos em prejuízo a outros, o que tem especialização no setor de vestuário: em Friburgo há um grande número
causado muita polêmica nas diversas instâncias governamentais. Estes de fábricas de lingerie, em Petrópolis prevalece o setor de confecções de
110 :: Geografia :: Módulo 2
roupa de tecido e em Teresópolis destacam-se fábricas de linha e de roupa Região Centro Sul Fluminense
de tricô. As fábricas de lingerie trabalham em conjunto como um APL A Região Centro Sul Fluminense é composta por nove municípios: Três
(Arranjo Produtivo Local), realizando compras e vendas de forma conjunta, Rios, Vassouras, Comendador Levy Gasparian, Paty de Alferes, Engenheiro
além de exportar a produção para vários países. Paulo de Frontin, Areal, Mendes, Miguel Pereira e Sapucaia. Fica na área
Em Cantagalo a extração de calcáreo e a produção de cimento tiveram central do estado, onde se destaca o Vale do Paraíba do Sul. Nota-se
novos investimentos de capital nacional e estrangeiro, mas o município foi que a ferrovia e a rodovia BR-393 acompanham o seu curso, sendo uma
desmembrado com a emancipação do distrito de Macuco. estrutura viária que articula os municípios e confere unidade à região.
O município de Petrópolis abriga várias indústrias de alta tecnologia Atualmente a região contribui com 1% do PIB estadual e abriga 266
nas áreas de mecânica de aviões e ótica. Porém, nos últimos anos ganhou mil habitantes, 2% dos fluminenses. A produção do tomate em Paty do
importância a produção de equipamentos e programas de informática Alferes e em Vassouras é a atividade agrícola de maior destaque.
(software). São empresas voltadas para o mercado interno, mas exportam A região apesar de não ser a grande produtora de leite do estado,
parte da produção. Na cidade encontra-se, ainda, um parque de alta contribui com o abastecimento. Sapucaia e Vassouras, onde a atividade
tecnologia, a FUNPAT, e, ainda, o Laboratório Nacional de Computação econômica primordial é a pecuária leiteira, são os municípios responsáveis
Científica (LNCC) – o maior centro público de pesquisa e ensino neste por uma parcela significativa da mão de obra envolvida no setor agropecuário.
setor. Esta atividade está sendo conduzida também para Teresópolis e A atividade industrial se desenvolve em Três Rios, Areal e Comendador
Nova Friburgo. Levy Gasparian. A estrutura da Companhia Industrial Santa Matilde em
A Região Serrana destaca-se atualmente pela produção agrícola, Três Rios está retomando as suas atividades com o estabelecimento de
principalmente de hortaliças e legumes. A produção orgânica, hidropônica um condomínio industrial ferroviário a partir da implantação da fábrica
e de plantas medicinais agregam mais valor às mercadorias. As áreas de de vagões Maxion e da concessionária ferroviária MRS Logística. Tal fato
cultivo são os interiores dos municípios de Nova Friburgo, Teresópolis, irá influenciar também o setor metalúrgico nos municípios a sua volta.
Petrópolis, Duas Barras, Bom Jardim, Sumidouro, São Sebastião do Areal apresenta uma indústria farmacêutica e o setor de computação já
Alto e São José do Vale do Rio Preto. A maior parte dos alimentos é desponta na região como uma atividade que cresce em virtude do Polo de
comercializada em Nova Friburgo e consumida nas regiões Metropolitana Informática de Petrópolis.
e Baixadas Litorâneas. Uma atividade que desponta como um importante gerador de postos
Esta região é, ainda, a maior produtora estadual de flores, leite de trabalho e renda é o turismo. Um dos principais fatores para o Centro
de cabra e truta. O município de Nova Friburgo é o maior produtor, Sul Fluminense ser considerado uma localidade turística têm muito a ver
encontrando-se ainda em suas terras a Queijaria Escola, que transforma o com a presença de antigas fazendas de café no Vale do Paraíba, que foram
leite de cabra em leite em pó e em queijos mais sofisticados. transformadas em hotéis-fazenda. Elas atraem os turistas que valorizam
O turismo sempre foi uma atividade desenvolvida na região, os a história do interior do estado e a vida no campo. Outro elemento é a
atrativos são muitos: a bela paisagem da serra, a floresta de encosta da condição climática serrana, apresentando temperaturas mais baixas do que
Mata Atlântica preservada, o clima frio, os pratos culinários de origem as da Região Metropolitana.
alemã e suíça (com chocolates e queijos) e o comércio de lingerie, roupa O turismo-veraneio em casas e sítios ocorre, sobretudo, em Miguel
de tricô e tecido. Porém, o ponto turístico mais importante é a cidade Pereira, Mendes, Engenheiro Paulo de Frontin e Vassouras. Além disso,
histórica de Petrópolis, com palácios, praças e igrejas da época em que o turismo de aventura tem também o seu lugar, como por exemplo nas
o Brasil era um Império, além da casa de Santos Dumont. A região descidas de rios (especialmente o rio Paraibuna) em botes e caminhadas
também possui vários pequenos centros urbanos turísticos como Itaipava em trilhas por dentro da área de floresta.
(em Petrópolis), Muri, Lumiar e São Pedro da Serra (em Nova Friburgo). Todas essas atividades são facilitadas pela proximidade com a capital
Por tudo isto a região apresenta muitos hotéis, restaurantes e lojas que e pela estrutura viária da região, que é servida por ferrovia e pelas rodovias
atendem aos turistas e empregam a mão de obra local. BR-040 (Rio-Brasília), BR-116 e BR-393. A primeira aproveitou alguns
As cidades de Petrópolis e Nova Friburgo são as cidades mais trechos da antiga Estrada União-Indústria. A última atravessa a região em
importantes, como os maiores valores do PIB; logo a seguir vem Teresópolis. vários municípios, de forma paralela ao rio Paraíba do Sul.
O comércio e a prestação de serviços (banco, hospitais, escolas, escola Os centros urbanos principais são Três Rios e Vassouras, que
agrícola e universidades) atendem à toda região. O Mercado do Produtor apresentam comércio (lojas e mercados) e serviços (banco, correio, serviço
em Friburgo serve para concentrar e vender a produção agrícola de vários médico, escola e universidade), que atendem aos demais municípios da
municípios serranos. Alguns municípios, que até a crise do café estavam região. A cidade de Três Rios é um centro industrial e um importante
decadentes, estão crescendo com a agropecuária e o turismo histórico, entroncamento rodoviário, ferroviário e hidroviário. Vassouras, uma cidade
com hotéis-fazendas. que foi muito próspera no século XIX, em virtude do café, hoje se destaca
pelo turismo e o ensino universitário de qualidade.
Capítulo 8 :: 111
na República Velha, até os anos 30, na Era Vargas. A implantação da Região da Costa Verde
indústria siderúrgica foi um importante marco na realização do projeto A região está localizada na porção sul do estado e tem como centro
urbano-industrial do governo, com destaque para a Siderúrgica Barra regional a cidade de Angra do Reis, localidade que se desenvolveu, desde
Mansa em 1937 e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), no distrito os primórdios do período colonial, em função das atividades açucareira,
de Volta Redonda, em Barra Mansa em 1946. O distrito de Volta Redonda do cultivo da banana, e das atividades portuária, industrial e turística.
foi emancipado em 1954. Os municípios que fazem parte desta unidade do estado são Itaguaí,
A grande vantagem de Volta Redonda era ser uma grande área de Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty.
convergência de rodovias e ferrovias, que facilitava o abastecimento de O território da região é formado pela Serra do Mar, que nesse trecho
matérias-primas de Minas Gerais, o escoamento da produção para São se aproxima muito do mar formando um litoral escarpado, com enseadas,
Paulo e Rio de Janeiro, além de possuir grande oferta de recursos hídricos e praias em arco, planícies em pequenas extensões cortadas por inúmeros
energia. No entorno da siderúrgica CSN, articulam-se metalúrgicas e outras rios, que descem da serra. São identificadas duas baías: a baía da Ilha
indústrias que dão suporte à atividade. Grande com centenas de ilhas e a baía de Sepetiba, parcialmente fechada
Nos anos 1990, a CSN foi privatizada, com o quadro de funcionários pela restinga de Marambaia (esta ainda preservada pela ocupação do
cortado em dois terços. Porém permanece até os dias de hoje como a exército). É um litoral com clima quente e chuvoso a maior parte do
maior siderúrgica da América Latina. Atualmente, produz também para o ano. Nas encostas da serra são encontradas extensas porções de mata
exterior, arrendando, para tanto, o porto de Sepetiba, além de utilizar os de encosta do Bioma Mata Atlântica, atualmente preservadas devido
portos do Rio de Janeiro e de Angra dos Reis para importação e exportação. à implantação de diferentes categorias de unidades de conservação
O setor de comércio e serviços está relacionado não só à expansão ambiental: Parque Nacional da Serra da Bocaina, Área de Proteção
industrial como às atividades de lazer e turismo nas localidades de Penedo Ambiental (APA) de Mangaratiba, APA de Cairuçu, Parque Estadual da Ilha
(colonização finlandesa), Visconde de Mauá, entre outras. Esta atividade Grande, entre outros.
teve como importante vetor o estabelecimento do Parque Nacional de O espaço geográfico da região foi sendo produzido pelas atividades
Itatiaia, o primeiro do Brasil, criado em 1937. implantadas e as intervenções do Estado, sobretudo da esfera federal.
O turismo da região está voltado também para a memória da atividade A atividade da cana-de-açúcar se desenvolveu nas planícies em toda a
cafeeira. As cidades de Valença, Conservatória, Barra do Piraí, Rio das região no período colonial, seu dinamismo originou as grandes fazendas,
Flores, entre outras, são chamadas de “Vale do Café” pela Turisrio. O os centros comerciais e os portos.
forte é o turismo histórico e rural, com hotéis-fazenda (nas antigas sedes), Paraty teve seu período áureo no século XVIII, como cidade portuária
haras, serestas e pesque-pagues – constituindo-se em as novas funções da rota do ouro que era extraído das Minas Gerais. Novos traçados no
para as antigas formas geográficas. caminho entre a região produtora e o porto do Rio de Janeiro foram
O Médio Paraíba apresentou um dos maiores índices de crescimento responsáveis pela sua perda de dinamismo, pois excluíram Paraty e
econômico do país nos últimos anos. O setor mais importante foi o industrial passaram a atravessar o Recôncavo da Guanabara. A arquitetura e o tecido
nos seguintes ramos: siderúrgico; químico; automotivo, pela presença das urbano permaneceram, agora com novas funções ligadas ao turismo.
fábricas de caminhões da Volkswagem (em Resende) e de automóveis Os portos da região tiveram papel importante no escoamento de
com a Peugeot-Citroën e empresas fornecedoras que formam um parque mercadorias durante o período do café. Esta atividade desenvolvida
industrial (em Porto Real); bebida (em Piraí); mecânico, com destaque principalmente no Vale do Paraíba, foi responsável pela construção de
para a Xerox (em Resende); além do enriquecimento de urânio pela estradas entre as áreas produtoras e os portos e pelo crescimento das
Fábrica de Combustível Nuclear das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) cidades da região, até a construção da malha ferroviária na segunda metade
(em Resende). A presença dos centros universitários da UERJ e da UFF e do século XIX.
de escolas técnicas são elementos fundamentais na qualificação da mão A região já foi a maior produtora de banana do país nos anos 1950 e
de obra e produção do conhecimento. A prefeitura de Piraí foi premiada 1960, com produção para o mercado interno e externo. As condições físicas
e denominada “cidade digital” em virtude da instalação de computadores da região são propícias para este cultivo, com chuvas abundantes, poucos
com acesso à internet para a população em vários locais públicos. ventos e muitas encostas. A sua decadência começou com a construção
A região em questão sofreu importantes transformações: as privati- da BR 101 (Rodovia Rio-Santos) na década de 1970, que articulou esta
zações da CSN e da Light e a implantação de novas estruturas industriais. área com o centro metropolitano e potencializou a sua inserção no estado
Tais processos de “modernização” ocorreram e ocorrem sob a égide do do Rio de Janeiro como área turística. A valorização das terras foi muito
Neoliberalismo e da Reestruturação Produtiva, que tem como uma das rápida assim como a disseminação de hotéis, mansões e condomínios de
características a descentralização geográfica da produção. Desta forma, a elite. Outro fator importante foi o estabelecimento de várias unidades de
produção do espaço geográfico da Região do Médio Paraíba está inserida conservação ambiental proibindo a prática agrícola.
no recente processo de descentralização produtiva e populacional do estado A atividade industrial é muito importante na área, destacando-se o
do Rio de Janeiro. setor naval, sobretudo o Estaleiro Verolme de grande porte. Recentemente
Capítulo 8 :: 113
este estaleiro foi arrendado pelo grupo de Cingapura Fels Setal, inserindo-se
na revitalização da indústria naval, impulsionada pela atividade de petróleo.
Os investimentos do Governo Federal na região foram os responsáveis
pela implantação de estruturas fundamentais, como o Colégio Naval nos
anos 1950, a estrada BR-101, a Usina Nuclear de Angra dos Reis, nos anos
1970, e o Terminal portuário de petróleo da Petrobras nos anos 1980. Entre
as grandes estruturas privadas dos anos 1970, estão o Terminal Portuário
de Minério MBR em Mangaratiba e o Estaleiro Verolme em Angra dos Reis.
É importante salientar que os Portos de Angra dos Reis e Sepetiba
estão diretamente articulados à atividade da CSN - Companhia Siderúrgica
Nacional sediada em Volta Redonda, na Região do Vale do Paraíba. Estes
portos são interligados às linhas férreas, que são utilizadas pela usina para
o abastecimento de minério e o escoamentos das bobinas de aço.
A região se consolida com várias atividades que promovem o
desenvolvimento urbano-industrial e turístico. Muitas delas entram em
conflito direto com as atividades tradicionais na região, como pode ser
visualizado a seguir.
• Ascensão do turismo – pode-se afirmar que é uma atividade em
pleno crescimento, com a presença de inúmeras pousadas, grandes
redes nacionais e internacionais de hotéis e condomínios de elite,
que fazem da região um importante centro turístico nacional e
internacional.
• Ampliação da indústria naval – o dinamismo do Estaleiro Verolme
está articulado à expansão da indústria petrolífera brasileira na
construção e reparo das plataformas e navios. É uma atividade
que se caracteriza pelo uso de mão de obra em larga escala, são
milhares de novos empregos, promovendo assim o dinamismo e
o crescimento das áreas urbanas da região.
• Agravamento dos conflitos de uso do território – o crescimento do
números de marinas para aporte de barcos, a construção de novos
condomínios e campings, os derrames de óleo e minério na orla,
além do lançamento de esgoto doméstico e rejeitos industriais
põem em risco o meio ambiente e a ocupação dos pescadores das
inúmeras colônias ali presentes. A atividade turística voltada para a
elite convive de forma tensa com as áreas ocupadas pelas classes
de menor renda, como os campings e os bairros de operários e
pescadores.
• Internacionalização – implantação de hotéis de redes internacio-
nais, a fama da Ilha Grande, como área de ecossistemas preserva-
dos do Bioma Mata Atlântica, e de Paraty, com eventos literários
de abrangência internacional.
9
Exercícios de fixação
:: Objetivo ::
• Revisar aspectos importantes do conteúdo de Geografia para o vestibular.
116 :: Geografia :: Módulo 2
3) (Fuvest / 2002) Analise os croquis cartográficos e caracterize a organização Fonte: Turner, B. L. (ed.). The earth as transformed by human action. Cambridge. 1995.
da economia mundial em cada período indicado. (1) A diferença do nível de urbanização entre as “regiões mais desenvolvidas”
e as “regiões menos desenvolvidas” do mundo, observada no gráfico, deve-se
Década de 1960
ao fato de que aquelas eram também as que apresentavam maior contingente
populacional no século XIX e, portanto, urbanizaram-se mais cedo.
(2) O nível de urbanização das “regiões menos desenvolvidas” apresenta-se
abaixo da média mundial em função de políticas protecionistas à atividade agrícola
ali verificadas.
(3) A rápida diminuição da taxa de mortalidade contribuiu para aumentar o nível
de urbanização nos países menos desenvolvidos, nível que se elevou em mais de
20% nos últimos 50 anos.
(4) Apesar das diferenças de taxas de crescimento de urbanização mostradas no
gráfico, as características desse processo são as mesmas para ambos os grupos
de países.
Década de 1990 (5) No ano 2000, o “nível de urbanização” correspondente ao “mundo” deveria
ser a média aritmética dos níveis de urbanização correspondentes às “regiões mais
desenvolvidas” e às “regiões menos desenvolvidas”.
identidades locais: as nações estão interligadas em um sistema mundial em que 9) (UNB / 2000 - adaptada)
cada cultura pode expressarse e interagir com outras; por isso, a globalização não A atual conduta dos mercados energéticos mundiais parece estar embasada
está limitada apenas à transnacionalização dos sistemas econômicos e financeiros. em uma fé cega na capacidade da ciência de oferecer fontes alternativas de
(2) Tendo como suporte a economia americana, o NAFTA, cujo objetivo é o
energia para quando as atuais fontes de energia tiverem se esgotado
desenvolvimento de programas de ajuda social e combate às desigualdades
econômicas, constituiuse como um bloco de economia diversificada, que apresenta (AIESEC, Global Seminar Series. Guia de Acción Joven sobre Desarollo Sostenible. Palermo,
grandes desníveis econômicos e sociais entre os países membros. 1992; adaptado).
(3) A formação de megablocos econômicos supranacionais representa a expressão Assinale a(s) alternativa(s) correta(s), com relação ao assunto do texto.
de uma política territorial para reduzir as barreiras impostas pelas fronteiras (1) Uma medida significativa para a economia dos recursos energéticos seria o
nacionais à livre circulação de mercadorias e de capitais. desenvolvimento de novas tecnologias, que requeiram menor consumo de energia
(4) A circulação financeira no mundo ligado em rede proporciona a estabilidade e que sejam mais eficientes do ponto de vista energético.
econômica e política dos países dependentes dos financiamentos de curto prazo, (2) A intensificação no uso de energias renováveis é irrelevante do ponto de vista
porque as aplicações, por sua vez, também são transmitidas via rede, permitindo da economia de recursos nãorenováveis, uma vez que o potencial energético das
maior rapidez nos investimentos. fontes renováveis é desprezível.
(3) Após as crises do petróleo ocorridas na década de 1970, a diversificação de
7) (UNB / 2000 - adaptada) Diferentemente do mundo digital, o do trabalho áreas produtoras de petróleo no mundo eliminou a problemática geopolítica em
tradicional é um espaço territorial concreto e de fronteiras fixas. Cada Estado torno dessa fonte energética.
exerce sua soberania plena para formular as políticas que regulamentam questões (4) Um dos motivos do sucesso do Próalcool no Brasil está na fonte da matéria
relacionadas ao trabalho e, consequentemente, às de controle da migração. prima: o cultivo da cana-de-açúcar não traz impactos ambientais nem sociais.
A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). (5) Ao anunciar recentemente ao mundo a construção de novas usinas nucleares
(1) A criação dos blocos regionais tem facilitado o fluxo de milhões de migrantes, para a geração de energia elétrica, a Alemanha deu sinais de possuir a “fé cega”,
legais ou ilegais, como é o caso do NAFTA, que provoca o deslocamento de citada no texto, pois aumenta o uso daquela fonte renovável de energia.
migrantes mexicanos para trabalhar no Vale do Silício, e da União Europeia, (6) O carro a álcool poderá ser um grande aliado na independência com relação
que recebe africanos fugitivos das guerras para realizarem trabalhos menos ao petróleo, porque o seu motor é mais eficiente que o motor a gasolina, já que
especializados. utiliza o ciclo de Carnot, tendo, por isso, rendimento superior a 90%.
(2) A expectativa de melhores oportunidades de emprego, salário e acumulação
rápida de riqueza tem provocado, em certas regiões, um tipo de migração 10) (UNB / 2002 - adaptada) Segundo Milton Santos, vive-se hoje o período
contratada, que tem levado à superexploração do trabalho do imigrante, sob técnico-científico-informacional, em que ocorrem importantes processos de
condições de semi-escravidão. remodelação do território, o que é essencial às produções hegemônicas, que
(3) Uma característica importante no espaço das economias pós industriais é a necessitam desse novo meio geográfico para sua realização. Nesse sentido, o
presença de uma estrutura de distribuição setorial da população economicamente estudo das cidades mundiais adquire grande importância para a compreensão da
ativa concentrada no setor secundário, devido ao grande desenvolvimento das organização do espaço.
atividades tecnológicas na produção. A respeito das características desse novo processo da urbanização, assinale a(s)
(4) O processo de migração internacional tornouse mais intenso na década de alternativa(s) correta(s).
1990, devido às disparidades de oferta/escassez de postos de trabalho e de (1) Do processo de globalização emergiram novas territorialidades regionais,
distribuição da riqueza, o que provocou novas tensões mundiais, evidenciando não e as grandes cidades tornaram-se base logísticas para a gestão do território,
mais uma linha de ruptura geopolítica, mas, sim, geoeconômica. constituindo-se nós relevantes da rede mundial de regiões.
(2) As metrópoles mundiais dos países menos desenvolvidos podem ser
8) (UNB / 2000 - adaptada) Há aproximadamente trezentos anos, em torno definidas pela presença de complexas redes de distribuição, usuários das novas
de 90% dos trabalhadores cultivavam as terras para alimentar uma população tecnologias, pelos setores financeiros e fluxos de informações, não devendo ser
muito menor que a atual, enquanto, hoje, a proporção de pessoas que trabalham consideradas, para tanto, as condições de vulnerabilidade econômica e social
na terra nos países desenvolvidos diminuiu para cerca de 10% e, em alguns existentes nesses países.
casos, para bem menos que isso. Com referência a esse assunto, assinale a(s) (3) No Brasil, o desenvolvimento e a consolidação de uma região urbana global,
alternativa(s) correta(s). de posição elevada no sistema mundial de cidades, são viabilizados pela isonomia
(1) Baixo percentual de mão de obra empregada na agricultura é um fato competitiva existente entre ela e as demais cidades ou regiões urbanas globais.
exclusivo dos países desenvolvidos e industrializados. (4) As cidades mundiais fornecem os elos de integração dos mercados global,
(2) Em função do intenso desenvolvimento industrial e tecnológico e da nacional e local, configurando-se em estratégia territorial para o equacionamento
capacitação dos trabalhadores, os países desenvolvidos desconhecem, hoje, o dos problemas de violência e pobreza urbana.
problema do desemprego, seja no campo ou na cidade.
(3) Os países subdesenvolvidos mantêm as características de baixo nível 11) (UNB / 2002 - adaptada) Compatível com a globalização, a organização
de qualidade de vida da população por não terem, ainda, se tornado países de blocos econômicos regionais constitui importantes mercados ampliados pela
industrializados. integração das economias. No processo de integração latino-americana, apesar
(4) Entre os países desenvolvidos, a mecanização do campo, reduzindo a das particularidades sensíveis entre os parceiros e os obstáculos próprios de uma
população nele empregada, acarretou uma diminuição no total das áreas de terras integração econômica e política, a regionalização do Cone Sul representa uma
cultivadas, mas, no entanto, aumentou a produtividade. importante estratégia geopolítica e econômica para a América Latina. A respeito
118 :: Geografia :: Módulo 2
do processo de formação do Mercado Comum do Sul (Mercosul), assinale a(s) (B) De Rondônia, que apresentou emigração em meados do século XX, devido à
alternativa(s) correta(s). decadência do extrativismo da borracha.
(1) A macrorregionalização, em decorrência do processo de globalização, (C) Do médio vale do Rio São Francisco que, na atualidade, recebe capital e
configura-se como iniciativa política do Estado-Nação, voltada à organização tecnologia para a fruticultura, visando a mercados externos e internos.
de blocos econômicos regionais, com cessões de soberania em favor das (D) Do médio do Rio São Francisco onde, hoje, a agricultura para autossustento
macrorregiões. depende dos projetos de irrigação.
(2) O Mercosul é uma experiência inovadora no processo de integração latino- (E) Do pampa gaúcho que, até o final do século XX, mantinha suas atividades
americana, no qual se destacam as trocas comerciais de produtos agropecuários agrícolas ligadas à viticultura.
e agroalimentares.
(3) O processo decisório de integração do Mercosul foi conduzido pelo setor 14) (Fuvest / 2005) Observe o mapa:
privado dos países envolvidos, com grande participação das organizações sociais,
culturais e educacionais. Ferrovias no Brasil – 1999
(4) A liberalização comercial, atualmente em curso na América Latina, valeu-se
da proximidade geográfica, e, como resultado, as trocas entre países vizinhos 1999
cresceram acentuadamente. Equador
Equador
OCEANO
ATLÂNTICO
0 520 Km
Expansão desde a década de 1970
O autor utiliza o termo “contratualização” para caracterizar as relações entre (d) Nova Bandeirantes destaca-se pela menos densidade demográfica.
sociedade e Estado, nas quais este último é legítimo e deve promover o bem-estar (e) Nova Cruz tem elevadas taxas de urbanização e também de densidade
econômico e social e a segurança. Considerando que o texto chama a atenção demográfica.
para uma forma de divisão no seio da sociedade e que, no caso de metrópoles
como o Rio de Janeiro, essa situação corresponde à chamada segregação social 24) (UFRJ / 2002)
e espacial, apresente:
a) dois fatores socioeconômicos que reforçam essa segregação no espaço urbano; Números de cidades, segundo tamanho, no período de 1940-1996
Habitantes 1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996
b) um argumento que confirme a ideia de que o Estado contribui para a exclusão Entre 100 mil e
6 4 18 38 56 78 90
social resultante dessa segregação no Brasil. 200 mil
Entre 200 mil e
4 5 6 15 32 45 61
500 mil
22) (Fuvest / 2001) No Brasil, os temas “crescimento populacional” e “exclusão Mais de 500 mil 2 3 4 8 13 22 24
social” aparecem, muitas vezes, vinculados às discussões sobre crescimento Mais de 1
2 2 2 5 9 9 12
urbano. Considerando as associações mencionadas, assinale a alternativa correta. milhão
(a) As altas taxas de crescimento populacional, decorrentes da industrialização, Fonte: Santos e Silveira, 2001.
produzem a exclusão social nas grandes cidades.
(b) As altas taxas de crescimento vegetativo nas grandes cidades produzem crise A tabela anterior mostra o crescimento do número de cidades com mais de 100 mil
de habitação, sendo responsáveis pela existência dos “sem-teto”. habitantes no período de 1940 a 1996 no Brasil. Nas últimas décadas, observa-se
(c) O alto índice de crescimento demográfico e os baixos investimentos privados um crescimento das cidades com menos de 500 mil habitantes, confirmando a
em infraestrutura urbana geram uma população socialmente excluída. tendência à desmetropolização. A população dessas cidades cresce mais depressa
(d) A macrocefalia urbana, decorrente da superpopulação e da ampliação da do que a população urbana total do país, aumentando a sua importância e dando
megalópole, gera uma população socialmente excluída. origem a novos processos econômicos, sociais e culturais.
(e) As altas taxas de crescimento populacional nas grandes cidades e a má Apresente duas mudanças que ocorrem nessas cidades e que expressam esses
distribuição de renda conduzem à exclusão social. processos.
26) (Unicamp / 2001) como as termelétricas, nem rejeito radioativo, como as usinas nucleares, mas,
por outro lado, também são impactantes. Indique dois impactos causados pelas
Brasil: consumo de energia primária – 1970 e 1994 hidrelétricas, justificando a resposta.
1970 1994
29) (UFSCAR
13,3% / 2004) A ampliação Carvão mineral
e a diversificação da matriz energética
Carvão mineral 5,2%
42% brasileira são uma necessidade Produtos
frente às de cana-de-açúcar
possibilidades de retomada do crescimento
3% Produtos de cana-de-açúcar
5% econômico
35,8% e 10%
industrial do país. O mapa
Petróleo ilustra o gasoduto Bolívia – Brasil. Sobre
Petróleo o gás natural e seu uso como fonte
4,3% energética no Brasil, é correto afirmar que:
16% Energia hidráulica
Energia hidráulica
34% 31,5% Lenha
Lenha MT Outros BA
GO
Bolívia Brasil MG
Santa Cruz
de La Sierra ES
1994
MS SP
13,3% Carvão mineral Paraguai
vão mineral 5,2% RJ
Produtos de cana-de-açúcar
dutos de cana-de-açúcar 10% PR
35,8% Petróleo
róleo 4,3% Energia hidráulica SC
ergia hidráulica Argentina
31,5% Lenha
nha RS OCEANO
Outros ATLÂNTICO
Uruguai
Fonte: Anuário Estatístico do Brasil 1970 a 1995.
Sobre esses conflitos, é correto afirmar: (B) admitiu as regulações governamentais protecionistas que engessaram o
(a) Como os conflitos agrários são decorrência direta da elevada concentração mercado de trabalho e aumentaram a competitividade.
fundiária do país, as mudanças observadas nos dados são reflexo das variações no (C) golpeou a organização sindical que, na defensiva, perdeu parte do seu poder
nível de concentração a cada ano. ( ) de representação e enfrentamento.
(b) A edição, no ano 2000, de uma Medida Provisória que pune as invasões, (D) alterou o processo produtivo e o trabalho envolvido na produção, acentuando
suspendendo as vistorias em terras invadidas, levou os movimentos sociais de a exclusão econômica e social.
sem-terra a investir mais em outras formas de pressão. ( ) (E) afetou o mundo do trabalho ao mudar as relações no processo produtivo, a
(c) A elevação dos conflitos no ano de 2003 deveu-se ao cancelamento dos divisão do trabalho e as negociações coletivas.
investimentos previstos para o assentamento de famílias sem-terra nesse ano. ( )
(d) A intensificação dos conflitos agrários é reflexo da crise econômica, de modo 34) (UFPR / 2005) Sobre os recursos naturais utilizados na produção de
que os anos de maior crescimento do PIB e de diminuição do desemprego são energia, considere as seguintes afirmativas:
aqueles em que há queda acentuada do número de mortes e de invasões.( ) I. Alguns combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás natural são considerados
recursos naturais renováveis.
31) (PUC-Rio / 2005) Entre 1930 e 1980, o Brasil viveu intenso crescimento II. A água dos rios, utilizada como fonte de energia, é considerada uma energia
econômico. Um crescimento baseado em um processo de substituição de “limpa” porque não emite poluentes para a atmosfera.
importações. ... (CAMARGO, José Márcio. Folha de São Paulo. 19 de set de 2004.) III. Uma das críticas que se faz em relação ao uso de material radioativo na
A alternativa que NÃO indica uma característica desse período do crescimento da produção de energia refere-se à destinação do lixo atômico.
economia brasileira é: IV. O Brasil destaca-se pelo uso da biomassa como fonte de energia.
(A) o Estado investia na criação de empresas estatais em setores considerados Assinale a alternativa correta.
estratégicos. (A) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
(B) o Estado lançava mão de sua capacidade de se endividar, tanto com credores (B) Somente a afirmativa I é verdadeira.
internacionais quanto com credores nacionais. (C) Somente a afirmativa II é verdadeira.
(C) o Estado direcionava preferencialmente seus recursos para os detentores do (D) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
capital, o que aumentava a concentração da renda. (E) Todas as afirmativas são verdadeiras.
(D) o modelo de desenvolvimento gerava uma estrutura produtiva competitiva
graças às políticas de privatização dos setores estatais. 35) (UERJ-2009) Pé na estrada, de novo
(E) o modelo criava planos e metas de produção e de construção de uma Assim, conversinha mole e a criançada que se multiplica. “Eu não vou para São
infraestrutura que envolvia empresas públicas e privadas. Paulo”, anuncia Ari Félix. Mas o irmão dele foi. “Difícil ficar” é a frase mais
repetida. Safras perdidas, falta de emprego, família crescendo. A soma faz os
32) (UFRRJ / 2005) homens alternarem: seis meses lá, seis meses cá.
Esses países foram locais tradicionais de transferência, sem cerimônias, de Acostumada às despedidas, Vila São Sebastião sabe a rotina: abraços, apertos de
indústrias e tecnologias de alta periculosidade (insumos poluentes) e de grande mão e adeusinhos frenéticos que, no caso deles, sempre querem dizer “até logo”.
O movimento populacional descrito na reportagem é classificado especificamente
impacto ambiental (uso intensivo de energia) de outros países. Absorveram assim
como:
os “custos do progresso” industrial – tecnológico, sob a forma de degradação (A) uniforme
ambiental de muitas áreas. Há ainda interesse em “desovar”, nos países de (B) pendular
industrialização recente, indústrias superadas e poluidoras. (C) compulsório
(D) de transumância
OLIVA, J.; GIANSANTI, R. Temas da geografia Mundial. São Paulo: Atual,1996, p. 319.
a) Após a leitura do texto, indique dois motivos determinantes para a aceitação 36) (PUC-RJ / 2001) Entre as décadas de 50 e 70, as ações governamentais
desse modelo pelos países de industrialização recente. que tinham, entre seus objetivos, a integração do território nacional, promoveram
uma pequena redução nas fortes desigualdades econômicas existentes no Brasil.
Entre as razões que permitiram a redução das desigualdades regionais, encontram-
b) Cite 2 (duas) consequências desse fato para os ecossistemas dos países de se as relacionadas abaixo, exceto:
industrialização recente. (a) a criação de polos de crescimento regional, como a Zona Franca de Manaus;
(b) a concessão para a exploração da infraestrutura energética e de telecomu-
nicações;
33) (UFRRJ / 2006) Com a emergência da Terceira Revolução Industrial e da (c) a política fiscal que oferecia incentivos aos investimentos feitos nas áreas
reestruturação do capitalismo, nas últimas décadas do século passado, além da de fronteira;
ruptura do modelo industrial e tecnológico, eram questionadas também as relações (d) a construção, pelo Estado, de rodovias de integração inter-regional, como a
econômicas, sociais e políticas definidas pelo padrão de industrialização fordista. Belém Brasília;
Sobre a reestruturação do capitalismo e as consequências sobre a organização do (e) a atuação das superintendências de desenvolvimento regional, como a SUDENE.
trabalho NÃO é correto afirmar que
(A) reverteu o longo período de alinhamento da relação capital/trabalho,
relativamente favorável ao segundo.
Capítulo 9 :: 123
37) (UFU / 2007) Com relação à produção de minério de ferro no Quadrilátero durante o século XX, tendo em vista que a população foi multiplicada por quase
Ferrífero, assinale a alternativa INCORRETA. dez vezes entre os censos de 1990 e 2000.
(A) A Cia. Vale do Rio Doce (CVRD) – responsável pela exploração, pelotização e Contudo, o crescimento relativo vem declinando consistentemente, desde a
comercialização do minério de ferro da região - exporta grande parte da produção
década de 1970, atingindo o seu ritmo mais intenso durante a década de 1950,
brasileira para os Estados Unidos, Japão e União Europeia.
(B) A região do Quadrilátero Ferrífero possui a maior reserva de minério de ferro quando a população registrou uma taxa média de incremento anual de cerca de
do mundo e constitui a segunda maior área produtora do país, depois da Serra 3,0%. A partir de 1970 a taxa de crescimento demográfico vem se desacelerando,
do Carajás no Pará. em função da acentuada redução dos níveis de fecundidade e seus reflexos sobre
(C) Parte do minério de ferro, que não é exportada, é utilizada nos complexos os índices de natalidade.
siderúrgicos da região Sudeste, na Cia. Siderúrgica Nacional, na Cia. Siderúrgica
Adaptado de Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística, Censo Demográfico 2000, p. 29
Paulista, na USIMINAS e na Cia. Siderúrgica Tubarão.
(D) O minério exportado é transportado pela estrada de ferro Vitória-Minas, que a) O que é índice de natalidade?
liga o Quadrilátero ao porto de Tubarão no Espírito Santo, e pela estrada de ferro
Centro-Atlântica, que liga a região ao porto de Sepetiba no Rio de Janeiro.
b) Por que houve redução da taxa de fecundidade média no Brasil, sobretudo a
38) (UFPE / 2005) A privatização das grandes estatais brasileiras foi uma partir de 1970?
das mais importantes mudanças estruturais ocorridas na economia do País, nos
últimos anos. Considerando esse tema, é correto dizer que:
1) a privatização foi uma decisão política, tomada, ainda que de maneira tímida, c) Quais são os motivos da redução da taxa de mortalidade no Brasil durante o
no Governo Sarney, com o objetivo de fazer caixa para o Tesouro. século XXI?
2) depois da redemocratização do País, os governos de tendência socialista
promoveram a privatização de grandes empresas estatais que não davam lucro.
3) no governo Collor, a privatização de empresas públicas também teve uma
41) (UFMG / 2004) Considerando-se a disponibilidade hídrica do Planeta, é
motivação ideológica.
INCORRETO afirmar que:
4) durante o Governo de Luis Inácio, o processo de desestatização tem estado
(A) a água acumulada nos aquíferos subterrâneos, apesar de apresentar volume
paralisado.
inferior àquele acumulado na superfície, em rios e lagos, tem distribuição
5) as privatizações mais importantes que ocorreram no mandato de Itamar Franco
homogênea nas diversas unidades geológicas do Globo.
foram a CSN, a de empresas do setor de fertilizantes e da indústria petroquímica.
(B) a água dos oceanos e mares apresenta volume muito superior ao encontrado
Estão CORRETAS:
nos continentes, mas exige, para consumo humano, sua conversão em água doce,
(A) 1, 3, 4 e 5 apenas
em usinas de dessalinização.
(B) 1, 2, 3, 4 e 5
(C) a água de mais fácil aproveitamento pelo homem, em suas diversas atividades,
(C) 1 e 2 apenas
é doce, se encontra em estado líquido e está distribuída, na superfície dos
(D) 1, 2 e 5 apenas
continentes, em rios e lagos.
(E) 2, 3 e 4 apenas
(D) a água doce armazenada em estado sólido é encontrada nas calotas glaciais,
que ocupam as áreas polares, e nas geleiras de montanha, que ocupam zonas
39) (UFF / 2005) Em 1970, o trabalho feminino correspondia a 20 da climáticas diversas, inclusive tropicais.
população economicamente ativa (PEA) brasileira. Nas últimas décadas, observa-
se um aumento significativo das mulheres no mercado de trabalho e, atualmente,
42) (UFMG / 2004) Considerando-se a organização espacial da indústria na
sua participação na PEA brasileira ultrapassa 40 % do total. O crescimento do
Região Sudeste brasileira, é INCORRETO afirmar que
trabalho feminino está associado, sobretudo:
(A) a concentração geográfica da indústria no espaço intrarregional foi responsável,
(A) Ao aumento da industrialização brasileira e à consequente expansão das
em décadas recentes, pelos processos de deseconomia de aglomeração na Região.
oportunidades de trabalho no setor secundário;
(B) o transporte ferroviário constituiu a principal via de integração do espaço
(B) A uma grande absorção da mão de obra feminina no setor terciário em
oriental brasileiro, viabilizando a expansão do mercado interno da produção
atividades com baixa qualificação e remuneração;
industrial do Sudeste.
(C) À acentuada redução das disparidades dos ganhos salariais entre homens e
(C) a moderna industrialização do campo foi introduzida nessa Região, de forma
mulheres;
pioneira no País, com o desenvolvimento da agroindústria de soja e laranja em
(D) À total desincorporação da mulher do trabalho rural devido ao intenso processo
São Paulo.
de urbanização.
(D) o processo de industrialização, ainda em sua etapa inicial, recebeu suporte do
(E) Ao maior nível de escolarização da população feminina no período e a sua
Governo pela implantação de empresas estatais no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
ocupação em atividades mais qualificadas e melhor remuneradas.
43) (UFMG / 2004) Todas as alternativas apresentam aspectos da evolução da
40) (UNICAMP / 2007) Leia o texto a seguir e responda as questões:
economia da Região Sul do Brasil nos últimos anos, EXCETO
A população brasileira, segundo o censo demográfico 2000, atingiu um total (A) A atração do capital internacional ligado ao setor automotivo por esse espaço
de 169.799.170 pessoas em 1º de agosto de 2000. A série histórica dos censos regional, privilegiado pela facilidade de acesso ao consumo de um mercado comum.
brasileiros revela o importante crescimento populacional que o país experimentou (B) As consequências favoráveis advindas da centralidade geográfica dessa Região
no bloco de integração econômica do Cone Sul.
124 :: Geografia :: Módulo 2
(C) A dinamização e a verticalização da agroindústria, estimuladas pela ampliação 47) (UFMG / 2007) Considerando-se a tropicalidade dos climas – e suas
das perspectivas de acesso ao mercado externo. consequentes repercussões na vida humana – em vastas extensões do território
(D) A relação entre oferta e demanda de trabalho restabeleceu os fluxos migratórios brasileiro, é INCORRETO afirmar que
tradicionais em direção à região, ampliando o mercado consumidor interno. (A) a alternância típica das estações chuvosa e seca – verão e inverno – ainda
influencia o calendário agrícola de amplas regiões, mesmo daquelas em que já se
44) (UFMG / 2004) Nos últimos anos, vem crescendo, no Brasil, o excedente utiliza a irrigação.
de trabalhadores rurais. Todas as alternativas apresentam razões que podem, em (B) a redução da intensidade da radiação solar e da duração do dia no inverno,
parte, explicar esse fato, EXCETO: embora pouco significativa, torna o sol alternativa energética inviável nessa
(A) Áreas de agricultura familiar, a exemplo do que vem ocorrendo no norte do estação do ano.
Paraná, voltaram-se para cultivos altamente mecanizados – como os da soja e (C) a umidade relativa do ar apresenta variação estacional semelhante à das
do trigo. chuvas, com expressiva redução durante os dias de inverno, o que implica efeitos
(B) Regiões que se especializaram na agricultura de exportação seguem o padrão sobre a saúde humana.
internacional de redução de custos do trabalho na produção. (D) as diferenças de temperatura entre verão e inverno, embora reduzidas,
(C) Espaços de incorporação recente à economia agrícola – como o sul do aumentam com a latitude, sem que o frio se torne fator limitante para a agricultura
Maranhão e o oeste da Bahia – optaram por técnicas modernas, que dificultam a em muitas regiões.
retenção da mão de obra no campo.
(D) Parcelas de terra de cultivo têm permanecido ociosas em consequência da 48) (UFMG / 2006) É INCORRETO afirmar que a atual política externa brasileira
oscilação negativa da demanda de alimentos no mercado internacional. e o papel geopolítico do País, hoje, no mundo, representam
(A) uma aproximação do NAFTA, em razão da necessidade de se concretizarem
45) (UFMG / 2004) O quadro de paz e estabilidade que se previa ao final da os tratados comerciais entre esse bloco e o Mercosul, tendo-se em vista a imple-
Guerra Fria parece, ainda, longe de ser alcançado nestes primeiros anos do século mentação da ALCA.
XXI. Considerando-se essa situação, é INCORRETO afirmar que (B) um reforço em sua posição econômica e, possivelmente, um novo papel
(A) a vitalidade expressiva do crescimento de algumas economias não-ocidentais, geopolítico no mundo, graças à qualidade de potência regional do Brasil na
em face às atuais potências mundiais, tem interferido nas relações de força que América do Sul.
imperam na política internacional. (C) um repúdio à ocupação do Iraque e, por outro lado, um apoio à criação do
(B) o desarmamento mundial, que ultrapassou as propostas originais para Estado da Palestina, posições formalmente defendidas nos foros internacionais de
esse processo, tornou vulneráveis os países considerados esteios da segurança que o Brasil participa.
internacional. (D) uma defesa da ideia do perdão, tanto pelo Brasil quanto pelos países centrais,
(C) o fim de uma ameaça global, representada pela disputa entre capitalismo e da dívida dos países mais pobres do mundo, especialmente os africanos.
socialismo, abriu espaço para múltiplos conflitos de motivação étnico-religiosa e
de nacionalidades. 49) (PUC-RIO / 2009) A “crise ambiental oceânica” é resultado de uma série
(D) o notável crescimento demográfico de populações muçulmanas vem de fatores, dentre eles o desaparecimento da vida marinha. Nesse sentido,
constituindo um contingente numeroso, geograficamente disperso, que abriga surgem “zonas mortas”, uma das contribuições para a extinção dos ecossistemas
valores divergentes da civilização ocidental. marinhos. Assinale a única alternativa CORRETA para as origens e causas das
zonas mortas.
46) (UFMG / 2006) O comércio internacional, após o fim da Guerra Fria, foi (A) A contaminação das águas litorâneas pelo excesso de chorume (fósforo e
marcado por importantes mudanças. oxigênio) contido nos depósitos de lixo litorâneos.
Assim sendo, é INCORRETO afirmar que, entre essas mudanças, se inclui o fato de que (B) As zonas mortas concentram-se, principalmente, nos litorais do Atlântico e do
(A) a nova configuração do mercado internacional, resultante do crescente anta- Pacífico dos EUA; dos países africanos; do litoral antártico e dos países banhados pelo
gonismo entre países pobres e ricos, ou seja, entre Sul e Norte, provocou redire- Mar de Aral, isto é, onde as atividades industriais e agrícolas são mais marcantes.
cionamento dos fluxos de troca. (C) Nos últimos cinquenta anos, a população mundial dobrou, enquanto o consumo
(B) a Organização Mundial do Comércio (OMC), visando a ampliar a redução de de frutos do mar aumentou cinco vezes. A natureza não está conseguindo repor os
tarifas alfandegárias e a dar à instituição maior poder de controle sobre o comércio estoques pesqueiros além da capacidade de recuperação das populações.
internacional, substituiu o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). (D) Essas zonas são causadas pela redução do oxigênio decorrente da
(C) o comércio apresentou grande crescimento em algumas áreas continentais, decomposição de algas, que proliferam devido aos resíduos orgânicos, ao fósforo
chegando a superar, em certos casos, as trocas realizadas com países situados a e ao nitrogênio despejados no mar pelas atividades industriais e agrícolas.
distâncias maiores. (E) Uma zona morta surge quando a concentração de nitrogênio é insuficiente
(D) o comércio internacional adotou regras que facilitam as trocas, mas, por outro para a manutenção da vida, exceto pela presença de algumas bactérias.
lado, conservou, ainda, artifícios que restringem as vantagens dos países menos
desenvolvidos. 50) (UFMG / 2007) Considerando-se alguns dos países do grupo classificado, na
atualidade, como emergente, é INCORRETO afirmar que
(A) a China vem direcionando o setor de bens de consumo duráveis para o
atendimento da demanda de seu mercado interno, em detrimento das exportações.
(B) a Índia, embora com um elevado percentual da população abaixo da linha
da pobreza, se tem destacado pela exportação de mão de obra qualificada e de
tecnologia de ponta no setor de informática.
Capítulo 9 :: 125
(C) a Rússia contrapõe sua condição de membro do grupo de países mais 53) (Enem 2013)
desenvolvidos do mundo – o G-8 – a um desempenho econômico típico de países Trata-se de um gigantesco movimento de construção de cidades, necessário
emergentes. para o assentamento residencial dessa população, bem como de suas necessidades
(D) o México vem alcançando rápido crescimento industrial ao adotar um modelo
de trabalho, abastecimento, transportes, saúde, energia, água etc. Ainda que o
de zonas francas, onde se instalaram as empresas maquiladoras de países norte-
americanos. rumo tomado pelo crescimento urbano não tenha respondido satisfatoriamente a
todas essas necessidades, o território foi ocupado e foram construídas as condições
51) (Enem 2013) para viver nesse espaço.
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma MARICATO, E. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. Petrópolis, Vozes, 2001.
estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo
A dinâmica de transformação das cidades tende a apresentar como consequência
e a perspectiva das planuras francas. Ao passo que a outra o afoga; abrevia-lhe a expansão das áreas periféricas pelo(a)
o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; (a) crescimento da população urbana e aumento da especulação imobiliária.
repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em (b) direcionamento maior do fluxo de pessoas, devido à existência de um grande
lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado; número de serviços.
árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, (c) delimitação de áreas para uma ocupação organizada do espaço físico,
melhorando a qualidade de vida.
apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando
(d) implantação de políticas públicas que promovem a moradia e o direito à
um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante… cidade aos seus moradores.
CUNHA, E. Os sertões. Disponível em: http://pt.scribd.com. Acesso em: 2 jun. 2012. (e) reurbanização de moradias nas áreas centrais, mantendo o trabalhador
próximo ao seu emprego, diminuindo os deslocamentos para a periferia.
Os elementos da paisagem descritos no texto correspondem a aspectos
biogeográficos presentes na
54) (Enem 2013)
(A) composição de vegetação xerófila.
(b) formação de florestas latifoliadas.
(c) transição para mata de grande porte. Texto I
(d) adaptação à elevada salinidade. A nossa luta é pela democratização da propriedade da terra, cada vez mais
(e) homogeneização da cobertura perenifólia.
concentrada em nosso país. Cerca de 1% de todos os proprietários controla 46%
das terras. Fazemos pressão por meio da ocupação de latifúndios improdutivos
52) (Enem 2013)
e grandes propriedades, que não cumprem a função social, como determina
a Constituição de 1988. Também ocupamos as fazendas que têm origem na
grilagem de terras públicas.
Disponível em: www.mst.org.br. Acesso em: 25 ago. 2011 (adaptado).
Texto II
O pequeno proprietário rural é igual a um pequeno proprietário de
loja: quanto menor o negócio mais difícil de manter, pois tem de ser
produtivo e os encargos são difíceis de arcar. Sou a favor de propriedades
produtivas e sustentáveis e que gerem empregos. Apoiar uma empresa
produtiva que gere emprego é muito mais barato e gera muito mais do
que apoiar a reforma agrária.
LESSA, C. Disponível em: www.observadorpolítico.org.br. Acesso em: 25 ago. 2011 (adaptado).
O processo registrado no gráfico gerou a seguinte consequência demográfica: Nos fragmentos dos textos, os posicionamentos em relação à reforma agrária se
(a) Decréscimo da população absoluta. opõem. Isso acontece porque os autores associam a reforma agrária, respectiva-
(b) Redução do crescimento vegetativo. mente, à
(c) Diminuição da proporção de adultos. (a) redução do inchaço urbano e à crítica ao minifúndio camponês.
(d) Expansão de políticas de controle da natalidade. (b) ampliação da renda nacional e à prioridade ao mercado externo.
(e) Aumento da renovação da população economicamente ativa. (c) contenção da mecanização agrícola e ao combate ao êxodo rural.
(d) privatização de empresas estatais e ao estímulo ao crescimento econômico.
(e) correção de distorções históricas e ao prejuízo ao agronegócio.
126 :: Geografia :: Módulo 2
Gabarito
51) (Enem 2013) Resposta da questão 1:
[A]
Como mencionado corretamente na alternativa [A], o texto faz referencia a uma
paisagem típica da caatinga, cujas citações do texto, como “trama espinescente”
Na imagem, visualiza-se um método de cultivo e as transformações provocadas no
(espinhosa), “folhas urticantes”, “gravetos em lança”, “árvores sem folhas”,
espaço geográfico. O objetivo imediato da técnica agrícola utilizada é
remetem às características de uma vegetação adaptada à baixa umidade,
(a) controlar a erosão laminar.
denominadas xerófilas.
(b) preservar as nascentes fluviais.
Estão incorretas as alternativas: [B], porque formações florestais latifoliadas são
(c) diminuir a contaminação química.
compostas por porte arbóreo, perenes e heterogêneos, típicos dos climas tropicais
(d) incentivar a produção transgênica.
e equatoriais com elevada pluviosidade; [C], porque a vegetação de transição para
(e) implantar a mecanização intensiva.
matas de grande porte é composta por porte arbóreo; [D], porque os elementos
do texto indicam adaptação à seca e não à salinidade; [E], porque o texto não
indica homogeneização da vegetação – que geralmente ocorre em áreas mais
frias – ou presença de vegetação perenifólia – formações que não perdem folhas
com a mudança da estação do ano.
Capítulo 9 :: 127
A elaboração deste material didático procurou utilizar as bibliografias recomendadas nas escolas par-
ticulares e públicas de Ensino Médio e aquelas indicadas nos cursos de pré-vestibulares do Estado do
Referências Rio de Janeiro, além de pesquisa na internet de fontes oficiais como o IBGE, Fundação CIDE/RJ, MMA,
bibliográficas Universidades e concursos de vestibulares do Brasil.
O conjunto de capítulos distribuídos nos dois módulos apresenta a seguinte bibliografia:
ABSABER, Aziz N. Os domínios da natureza do Brasil: potencialidades OLIVEIRA, F. J. G. Reestruturação produtiva e regionalização da economia no
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