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SOCIOLOGIA

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A sociedade capitalista e suas contradições – uma introdução
à sociologia de Karl Marx
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uma introdução à sociologia de Karl Marx

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------------------- 5

4.1 O modo de produção e a estrutura social --------------------------------------------------------- 6

4.2 O materialismo histórico ---------------------------------------------------------------------------- 7

4.3 O sistema capitalista --------------------------------------------------------------------------------- 9

4.4 A mais-valia ------------------------------------------------------------------------------------------- 12

4.5 Alienação e consciência de classe -------------------------------------------------------------------- 14

REFERÊNCIAS -------------------------------------------------------------------------------------------- 17

ANEXO - GLOSSÁRIO ---------------------------------------------------------------------------------- 18

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Introdução

Nessa unidade continuaremos a conhecer os pensadores que são considerados os precursores da

Sociologia. Até o momento, reconstruímos o percurso que vai desde o surgimento do pensamento

sociológico até a organização das primeiras teorias sobre a sociedade. Nessa trajetória, foi possí-

vel perceber que a realidade social em que vivemos pode ser analisada e concebida de diferentes

maneiras, cada uma delas enfatizando um elemento ou características específicas dessa realidade.

Abordamos o modelo proposto por Durkheim, no qual a sociedade se apresenta sendo mais do que

a soma de indivíduos, mas sim como uma estrutura constituída por normas, instituições e cultura

que formam uma consciência coletiva moral. Tal consciência atua de forma diferente e mais pode-

rosa que o mero agrupamento individual, determinando os modos de vida e pensamento das pes-

soas que a compõe. Passamos então por Weber, que por meio de uma perspectiva mais dinâmica e

interpretativa, explicou os fatos sociais à luz da história e da subjetividade da ação individual. Para

esse autor, a estrutura social não é apenas fonte de determinações sobre a vida individual. O agente

pode alterar a realidade que o cerca na medida em que interpreta as situações, interage com outras

pessoas e reproduz valores e ideias.

A partir de agora poderemos compreender as concepções sobre a

vida em sociedade de Karl Marx (Imagem 1). Esse autor – assim


como os anteriores apresentados no curso – está preocupado em

delimitar a relação que ocorre entre indivíduo e sociedade, suas

características e consequências. Sendo assim, desde já é possível

dizer que Marx se aproxima de Durkheim ao apontar o poder

da estrutura social na imposição de ideologias e práticas sobre a


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ação individual, porém, ele também pode ser comparado a We-

ber na importância que concede à história e aos valores reprodu-

zidos pelos indivíduos.

Imagem 1: Karl Marx (1818 – 1883)

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O objetivo da unidade é apresentar aos leitores uma visão panorâmica da interpretação de Marx

sobre uma realidade social que, para o autor, é tensa, conflituosa e está sempre em movimento.

4.1 O modo de produção e a estrutura social.

Imagem 2: Os modos de produção ao longo da história

De acordo com Karl Marx, embora a sociedade seja o produto da ação recíproca entre os homens

ela não pode ser considerada uma obra que esses realizam segundo seus desejos particulares. Isso

ocorre porque a própria relação entre os indivíduos seria sempre reflexo das forças produtivas vi-

gentes em sua sociedade, ou seja, da maneira como são produzidas as riquezas e os bens materiais

necessários para a sobrevivência. O desenvolvimento da produção vai determinar a combinação e o


uso de diversos elementos como os recursos naturais, mão de obra disponível, instrumentos e téc-

nicas produtivas.

Para cada forma de organização das forças produtivas, há uma relação de produção corresponden-

te. Essas relações de produção nada mais são que as formas pelas quais os homens se organizam
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para executar as atividades produtivas, isto é, as maneiras pelas quais são apropriados e distribuídos

os elementos envolvidos no processo de trabalho: as matérias primas, as técnicas, os instrumentos,

os trabalhadores e o próprio produto final. Forças produtivas e relações de produção são frutos das

condições naturais e históricas que perpassam a estrutura social e configuram um tipo de modo

de produção. É por essa razão que, ao longo da história humana, encontramos diferentes tipos de

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sociedades, que seriam resultados de diferentes modos de produção, como, por exemplo, constata-

mos ao analisar as sociedades escravistas (antiguidade e sociedades coloniais latino-americanas),

sociedades servis (feudalismo) ou capitalistas (modernidade). (Imagem 2)

Modo de produção: Constitui a base infraestrutural mais importante de qualquer

sociedade, pois diz respeito à maneira como os bens e riquezas são produzidos, orga-

nizados e distribuídos. Ou seja, diz respeito à força produtiva que move cada povo e

suas relações sociais correspondentes. Ao longo da história humana, encontramos di-

ferentes tipos de sociedades, que seriam resultados de diferentes modos de produção.

Percebam, portanto, que na visão de Marx a base de toda a estrutura social, ou seja, seus funda-

mentos mais relevantes e determinantes encontram-se no modo de produção enraizado em cada

sociedade. Por isso, o estudo do modo de produção é essencial para compreender como funcionam

as instituições, as relações entre os indivíduos e a própria cultura. Marx entende que se a economia

é a base, todos os outros aspectos da vida em sociedade seriam superestruturas, ou seja, deriva-

ções do modo de produção. Assim, os modelos de família, as leis, a religião, as ideias políticas, os

valores sociais são dimensões dependentes e determinadas pela base econômica. Nosso autor não

deixa de analisar a existência de vários modos de produção ao longo da história e é esse estudo que

o fará constatar que a própria história humana é uma história de desenvolvimento e colapso dos
modos de produção, gerando assim a transformação social. Para ele, a passagem de um modo de

produção para outro é consequência da luta de classes, conceito que veremos a seguir.

4.2 O materialismo histórico.


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Marx concebe a sociedade como uma composição entre o velho e o novo, entre forças contrárias que

se complementam, mas principalmente, que se enfrentam. O que nosso autor indica por meio dessa

ideia é o fato de que nenhum modo de produção é estático. As forças produtivas e as relações de

produção se transformam com o tempo e por isso dão origem a novas formas de organização social.

No entanto, quando um novo modo de produção nasce, inevitavelmente ele irá entrar em choque

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com o modo de produção vigente. Esse embate dialético provoca uma série de mudanças na vida

em sociedade. Para Marx, a história da humanidade é a história desse embate constante entre os

interesses dos que já foram e dos que ainda estão por vir. Leiam o trecho escrito pelo próprio autor

sobre o assunto:

(MARX, Karl. Carta a Annenkov. In: Obras escogidas de Marx y Engels, Madrid: Fundamentos, 1975)
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Para cada novo modo de produção que emerge, aparecem também novos protagonistas, que terão

o domínio sobre os meios de produção e que, por isso, poderão exercer sua influência e hegemonia

sobre a estrutura social. O problema é que esses novos protagonistas ao conquistarem espaço e im-

portância entram em choque com os protagonistas do sistema anterior de produção, gerando assim

um confronto que é sempre tenso e transformador. O processo de transformação dos modos de

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produção ao longo da história é chamado por Marx de materialismo histórico. E o conflito entre os

grupos que disputam o modo de produção é chamado de luta de classes.

São as relações de propriedade que dão origem às diferentes classes sociais. Assim como não pode-

mos escolher quem serão nossos pais, não podemos escolher a priori a que classe iremos pertencer.

Esse pertencimento está ligado ao lugar que ocupamos na produção. O pertencimento de classe dá

origem a diferentes percepções políticas, éticas, filosóficas e religiosas. Quando um modo de produ-

ção começa a dar lugar a outro, consequentemente, as diferentes classes sociais ligadas a cada um

deles tenderão a entrar em conflito. A afirmação do “novo” modo de produção selará a hegemonia de

uma “nova” classe social, que passará a ter o status e o poder de classe dominante.

Esse processo de embate e transformação ocorreu em diversos momentos históricos que foram ana-

lisados por Marx, mas nenhum desses momentos para o autor traz em si o potencial tão latente de

luta de classes quanto o modo de produção capitalista. De fato, o capitalismo seria um sistema mar-

cado por profundas contradições que foram exaustivamente estudadas e explicitadas por Karl Marx.

4.3 O sistema capitalista.

Ao contrário do que nosso senso comum possa acreditar, é possível dizer que Marx olha para o ca-

pitalismo com significativa fascinação. Isso ocorre porque em nenhum outro momento da história

a humanidade foi capaz de realizar tanto, de produzir com tanta velocidade um número tão grande

de bens. As forças da natureza foram postas a serviço da indústria, as possibilidades de comunica-

ção e locomoção se multiplicaram e as cidades cresceram e floresceram. Contudo, mesmo diante de


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tamanhos ganhos e progressos nosso autor não deixa de se assustar com a escalada de problemas

assustadores, frutos inequívocos desse mesmo sistema. A exploração, o aumento da miséria e a

enorme desigualdade entre as classes sociais no interior do capitalismo são exemplos claros dessas

situações que permeiam a dinâmica das sociedades que se estruturam sobre esse modo de produção

na modernidade.

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De acordo com Karl Marx o que diferencia o capitalismo de todos os outros modos de produção

anteriores é o fato de que nele, o grande objetivo da produção passa a ser a acumulação de lucros

por uma classe específica. Sendo assim, os bens materiais não são produzidos apenas com o objetivo

de garantir a sobrevivência social, mas são produzidos, especialmente, para promover o enriqueci-

mento do grupo econômico dominante. É assim que o autor compreende a origem das desigualdades

sociais: uma enorme quantidade de riquezas que se concentra, ao longo do tempo, nas mãos de pou-

cos indivíduos que têm o objetivo e as possibilidades de acumularem bens e obterem lucros cada vez

maiores. É necessário compreendermos, portanto, como é possível que apenas um grupo possa ter

acesso aos bens e riquezas produzidos no contexto capitalista.

Primeiramente, é importante saber que para existir qualquer produção de bens, são necessários

meios específicos para que essa produção ocorra - como as máquinas, as instalações, a energia, a

matéria prima, a terra, entre outros. Esses meios de produção, no capitalismo, não estão disponíveis

para a posse de todos os indivíduos. Notem que enquanto na Idade Média e no Renascimento a pro-

dução artesanal era aquela que imperava e o trabalhador era dono de sua própria oficina e dos ins-

trumentos de produção, na modernidade capitalista a produção passa a ser em larga escala e apenas

os indivíduos enriquecidos podem ter acesso à compra de grandes espaços e a um grande número de

instrumentos e de eficiente maquinário. Logo, a sociedade se torna dividida entre dois importantes
grupos: aqueles que são donos dos meios de produção e aqueles que não têm acesso a eles.

O grupo que é dono dos meios de produção é denominado por Marx de burguesia. Essas pessoas

participam da produção capitalista fornecendo os meios de produção, garantindo uma produção em

larga escala que crie excedente e, por fim, vendendo esse excedente como mercadoria e consolidan-

do o lucro de sua produção.


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Burguesia: Representa o grupo dos que participam da produção capitalista forne-

cendo os meios de produção (máquinas, instrumentos, terras e capital) garantindo

uma produção em larga escala que cria excedente para ser vendido como mercadoria

e gerar lucro.

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Porém, a classe burguesa sozinha não é suficiente para que esse sistema de produção sobreviva.

Isso ocorre porque são necessários aqueles indivíduos que coloquem em movimento a produção dos

bens. Dessa forma, seria o restante da população - aqueles que não têm acesso aos meios de produ-

ção e que por isso não têm acesso ao lucro e às riquezas produzidas – o grupo que compõe a força

de trabalho, para que tudo isso possa ser efetivamente produzido. Essas pessoas vendem sua mão

de obra em troca de um salário para que possam sobreviver. De acordo com Marx, essa é a classe do

proletariado e sua função no capitalismo é garantir que os meios de produção sejam postos em

movimento.

Proletariado: Representa o grupo daqueles que não têm a posse dos meios de pro-

dução e que, por isso, não têm acesso ao lucro. Participam da produção capitalista

fornecendo sua mão de obra em troca de um salário.

Notem que a sociedade capitalista baseia-se nessa ideologia da igualdade e equilíbrio. No contexto

da divisão de classes estaria, de um lado, o trabalhador que oferece no mercado sua força de trabalho

e de outro, o empregador que a adquire por um salário. A ideia de equivalência nessa dinâmica é

crucial para a estabilidade do sistema. Porém, o que nosso autor aponta é que, na prática, a divisão

entre essas duas classes é completamente desigual na sociedade capitalista. Embora o discurso domi-

nante, que é o discurso burguês, procure fazer com que a sociedade acredite no ideal da igualdade, o
que ocorre na prática – de acordo com Marx – é uma prática completamente oposta, que se traduz

na dominação e exploração do trabalho da classe proletária. Mas como ocorreria tal exploração no

capitalismo? Na visão de Marx, a raiz da opressão do trabalhador está naquilo que ele denomina

como mais-valia . Esse conceito, expressa uma prática fundamental da classe burguesa na organi-

zação da produção e precisa ser explicado com calma.


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Mais-valia: É a fonte da exploração do trabalhador no sistema capitalista. Consiste

na diferença entre o que é produzido pelo trabalhador e o que é efetivamente pago a ele

como salário pelo burguês. Tal diferença é apropriada gratuitamente pela burguesia e

se transforma em lucro que beneficia apenas essa classe.

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4.4 A mais-valia.

Para entendermos o que é a mais-valia partiremos de um exemplo. Suponhamos que um operário

tenha uma jornada de trabalho de nove horas diárias e confeccione um par de sapatos a cada três

horas. Cada par de sapato produzido custa 150 reais. Ao final de um dia de expediente o trabalhador

produziu o equivalente a 450 reais. Porém, o salário do operário naquele dia equivale a 50 reais, ou

seja, corresponde a apenas uma hora trabalhada. Assim, como o burguês lhe paga o valor correspon-

dente a apenas uma parcela de sua força de trabalho, o restante da jornada, ou seja, oito horas de

trabalho diárias, o operário produz mais mercadorias, gerando um valor muito maior do que aquilo

que lhe é pago na forma de salário. Todo esse tempo restante da jornada de trabalho pode, assim, ser

apropriado gratuitamente pelo patrão como parte de seu próprio lucro (Imagem 3).

Produção diária do trabalhador: 450 reais

Salário do trabalhador 50 reais


(equivalente a 1 dia de trabalho):
Produção excedente diária apropriada 400 reais
pelo burguês como lucro:

Imagem 3: Tablela que ilustra a estratégia da “mais-valia”

A mais-valia, portanto, é a diferença entre o que é produzido pelo trabalhador e o que é efetiva-

mente pago a ele. Tal diferença garante o lucro da burguesia desde o início da organização produ-
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tiva. Isso significa que mesmo que o consumo de mercado sofra redução por algum motivo, o lucro

dos burgueses continua assegurado. Ela se transforma, assim, em uma riqueza que é gerada à custa

do trabalho não remunerado da classe proletária. O capitalista pode obter mais-valia aumentando

constantemente a jornada de trabalho, porém, essa não é uma ação possível indefinidamente. Sen-

do assim, as outras maneiras de aumentar a mais-valia é através do aumento da produtividade do

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trabalhador. A tecnologia, por exemplo, pode fazer com que as nove horas de jornada de trabalho

sejam ainda mais produtivas. O processo descrito esclarece a dependência do capitalismo em rela-

ção ao desenvolvimento das tecnologias de produção. Mostra, ainda, como o trabalho, sob a lógica

do capitalismo, perde todo o atrativo e faz do operário mero “apêndice da máquina”.

De acordo com Marx, no livro O capital, o trabalho apropriado pelo capitalismo é “trabalho forçado,

ainda que possa parecer o resultado de uma convenção contratual livremente aceita”. Para nosso au-

tor, a raiz da exploração do trabalhador é a mais valia. O capitalismo faz com que o trabalho humano

não seja livre, passando a ser algo apenas ligado à sobrevivência. A existência humana degrada-se,

em função do capitalista só reconhecer o homem enquanto um ser a se explorar. O desempregado,

o miserável e o doente eram vistos como “fantasmas” inúteis para o capitalista. E o resultado disso

tudo é resumido por Marx no seguinte trecho:

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(MARX, Karl. Manuscritos Econômicos Filosóficos. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008).

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4.5 Alienação e consciência de classe

A partir da análise realizada, a grande questão que Marx elabora é a seguinte:

Se o capitalismo depende da força de trabalho do proletariado, e se essa força de trabalho é constan-

temente explorada pela classe burguesa, então, por que é que o trabalhador aceita essa desigualdade

e exploração?

Para Marx, não existiria uma saída para a opressão sobre o trabalhador dentro do sistema do capi-

tal. A única possibilidade de ruptura vislumbrada por ele seria aquela da retirada completa da classe

proletária desse círculo de exploração.

Sendo assim, qual seria a razão que explica a permanência dos trabalhadores no próprio sistema que

os oprime?

A resposta a tal questão encontra-se no conceito de alienação. Na visão marxista, estar alienado

significa uma condição existencial, na qual o proletariado não consegue reconhecer as condições

que estruturam o modo de produção capitalista; não enxerga a reprodução da exploração perpe-

tuada sobre si próprio e é mesmo incapaz de se compreender como parte desse sistema. Isso ocorre

porque, desde cedo, o trabalhador nada mais é que força motriz e todo seu tempo disponível é tempo
de trabalho e pertence à valorização do capital. O processo de produção capitalista acaba por desumanizar o

trabalho, isolando os operários uns dos outros e deixando-os à exaustão de uma rotina que não os faz crescer

como indivíduos, não os deixa estabelecer laços entre si e nem serem livres.

Alienação: Condição existencial, na qual o proletariado não consegue reconhecer as

condições que estruturam o modo de produção capitalista; não enxerga a reprodução


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da exploração perpetuada sobre si próprio e é mesmo incapaz de se compreender como

parte desse sistema. O resultado da alienação é a facilidade de influência das ideias do-

minantes burguesas sobre os trabalhadores, que acabam por adotar um estilo de vida

da burguesia. 

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Referências 15

Em suma, o operário não se reconhece no produto que criou, nem vê no trabalho que realiza qual-

quer finalidade que não seja a de garantir sua sobrevivência. E o pior: por não se darem conta dessas

condições, os trabalhadores acabam aderindo ao modo de vista capitalista, internalizando os ideais e

valores da burguesia. Assim, o trabalhador acaba aplicando seu próprio salário no consumo de mer-

cadorias que ele mesmo produziu, devolvendo seu escasso capital aos donos dos meios de produção,

que formam a classe burguesa dominante (Imagem 4).

Imagem 4: A charge revela a dimensão da alienação do trabalhador discutida por Karl Marx.
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Sendo assim, ao invés de compreenderem que fazem parte de uma mesma classe explorada, os pro-

letários se isolam e fragmentam-se, em um contexto de competição no qual reproduzem entre si a

lógica da desigualdade e opressão. Não buscam, portanto, a derrubada do sistema que os subjuga,

mas sim almejam chegarem, um dia, à condição de burgueses.

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Para Karl Marx, se não houver a ruptura desse ciclo alienante, as injustiças e mazelas sociais do

capitalismo não poderão ser superadas. O que o autor propõe é que as capacidades de produção

e inovação trazidas pelo próprio contexto do capital sejam reorganizadas em favor não apenas de

uma única classe social, mas do conjunto de toda a sociedade. O livre desenvolvimento de cada um

seria a condição para o livre desenvolvimento de todos. Mas para chegar a esse ponto de superação

do sistema o proletariado precisaria se unir enquanto classe. Essa tomada de consciência represen-

ta o reconhecimento dos trabalhadores quanto à sua posição social, suas lutas e suas expectativas

em comum. Voltando ao movimento dialético da história visualizado por Marx, é possível apontar

que a ruptura com a “velha ordem”, ou seja, com a opressão capitalista, só poderá ocorrer quando

o proletariado compreender seu papel coletivo no modo de produção e a exploração sob a qual está

submetido enquanto grupo, fundando assim uma “nova ordem” produtiva capaz de transformar a

realidade social através de parâmetros de justiça e redistribuição. A famosa frase de Marx que fecha

seu famoso livro O manifesto do partido comunista sintetiza essa dimensão tão almejada pelo pen-

sador: “operários de todo o mundo: uni-vos!” (Imagem 5).


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Imagem 5: Pintura da artista plástica brasileira Tarsila do Amaral “Operários”.

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Referências Bibliográficas

BOMENY, Helena; FREIRE-MEDEIROS, Bianca (coord.) (2010). Tempos modernos, tempo de so-

ciologia. Editora do Brasil, São Paulo.

COSTA, C. (2010). Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3ª edição. Editora Moderna, São

Paulo, SP.

MARX, Karl. Manuscritos Econômicos Filosóficos. (Tradução e Notas Jesus Ranieri). São Paulo:

Boitempo Editorial, 2008.

MARX, Karl. Carta a Annenkov. In: Obras escogidas de Marx y Engels, Madrid: Fundamentos,

1975

 MARX, Karl. O Capital. Vol. 2. 3ª edição, São Paulo, Nova Cultural, 1988.

MARX, K.; ENGELS F. Manifesto do partido comunista. In: Obras escogidas de Marx y Engels,

1975.

QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M.; OLIVEIRA, M. (2003). Um toque de clássicos: Marx, Durkheim

e Weber. 2ª edição revista e ampliada. Editora UFMG, Belo Horizonte.

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Glossário

Idade Média: A Idade Média na Europa foi um período compreendido entre os séculos V e XV, que

se estendeu por mil anos na história. Tal época se divide da seguinte forma: Alta Idade Média e Bai-

xa Idade Média; a primeira com início marcado pelas invasões germânicas (bárbaras), e a segunda

finalizada pela retomada comercial e pelo renascimento urbano. 

Relatos históricos e renascentistas definiam o mundo medieval como a “idade das trevas”, ou seja,

uma época sucumbida pela ausência de desenvolvimento racional, representando um retrocesso

para a ciência. Essa perspectiva foi corroborada pelo domínio ideológico empregado pela Igreja Ca-

tólica, deixando a sociedade passível de manipulação, pelo poder da informação. Entretanto, a Idade

Média possui avanços artísticos e científicos que proporcionaram conhecimentos para os dias atuais.

(Disponível em: http://idade-media.info/)

Renascimento: O Renascimento foi um importante movimento de ordem artística, cultural e

científica que se deflagrou na passagem da Idade Média para a Moderna. Em um quadro de sensíveis

transformações que não mais correspondiam ao conjunto de valores apregoados pelo pensamento

medieval, o renascimento apresentou um novo conjunto de temas e interesses aos meios científicos

e culturais de sua época. Ao contrário do que possa parecer, o renascimento não pode ser visto como
uma radical ruptura com o mundo medieval.

Essa valorização das ações humanas abriu um diálogo com a burguesia que floresceu desde a Baixa

Idade Média. Suas ações pelo mundo, a circulação por diferentes espaços e seu ímpeto individualista

ganharam atenção dos homens que viveram todo esse processo de transformação privilegiado pelo
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Renascimento. Ainda é interessante ressaltar que muitos burgueses, ao entusiasmarem-se com as

temáticas do Renascimento, financiavam muitos artistas e cientistas surgidos entre os séculos XIV

e XVI. Além disso, podemos ainda destacar a busca por prazeres (hedonismo) como outro aspecto

fundamental que colocava o individualismo da modernidade em voga.

(Disponível em: http://www.brasilescola.com/historiag/renascimento.htm)

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