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Ensino Superior de Angola

Universidade Católica de Angola


Faculdade de Direito

Trabalho de Direito Administrativo

Tema:

A Relação Jurídica Administrativa

Nome: Claudiney J.L. Chipi


Ano: 2o
Turma: B
Sala:MO101
No de Estudante: 1000022636
Docente:

_________________

Luanda aos 09 de abril de 2020


A relação jurídica administrativa

Sobre esta matéria pude perceber em primeira instância que anteriormente se tinha a
dúvida em relação a questão de que se havia ou não uma relação jurídica no Direito
Administrativo e se há em que as mesmas consistem?

Também não pude deixar de notar que que na atualidade, a doutrina do Direito
Administrativo tem atribuído grande importância ao conceito de relação jurídica no contexto
de ciência direito Direito Administrativo, e que mitos consideram de facto que só a relação
jurídica pode constituir a base fundamental da construção teórica ou exposição didática da
parte geral desta disciplina.

Essa descoberta não é recente, nem pode ser considerada pacifica sendo que foi
causadora de muita discussão para se achar realmente se há no campo do Direito
Administrativo uma relação jurídica, a mesma tem grande importância em termos dogmáticos
ou pedagógicos.

Quando se falou que não era uma descoberta recente, e não o e, remonta-nos voltar ao
principio do seculo XX onde as doutrinas alemães e italianas, já se referiam de forma
consciente e desenvolvidamente, à presença e à importância da relação jurídica
administrativa» na construção teórica do Direito Administrativo. E, em Portugal, Marcello
Caetano, no primeiro volume do seu Tratado Elementar de Direito Administrativo, adaptou,
mutatis mutandis, a este ramo do direito público a teoria da relação jurídica, mais cedo
elaborada pelos civilistas alemães e italianos.

Este assunto tem sido abordado sob três perspetivas:

a) Há ou não há, no campo do direito administrativo, verdadeiras relações


jurídicas? Se há, em que consistem?

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b) Admitindo que a resposta à primeira pergunta seja positiva, pode ou
não pode o conceito de «relação jurídica» ser a base fundamental, núcleo essencial, da
construção dogmática do Direito Administrativo?

c) Independentemente da opinião que se tiver sobre a segunda q tão, é ou


não é a perspetiva da relação jurídica administrativa a m adequada para expor, no
plano didático, a parte geral do Direito Administrativo?

Em relação à primeira pergunta, cremos não haver hoje em dia d opiniões: todos
entendem que também no Direito Administrativo e tem relações da vida social tuteladas pelo
Direito, que podem e devem qualificadas como relações jurídicas administrativas, ou se se
preferir, com relações jurídico-administrativas.

A partir do momento em que se aceite relações individuais noção teórica da «relação


jurídica», e desde que as relações individuais entre a Administração Pública e os particulares
(entre outras) são reguladas das e protegidas pelo Direito Administrativo, não há nenhuma
razão para negar a existência dessas relações jurídicas como tais.

Em que consistem? Remetemos para daqui a pouco uma resposta mais trabalhada;
para já, podemos avançar que elas são (pelo menos relações entre uma pessoa coletiva
pública e um particular, em primeira actue investida de poderes de autoridade e em que os
dois sujeitos disponham de poderes e deveres correlativos conferidos por no de Direito
Administrativo».
Exemplos: as relações entre o Estado e o contribuinte.

Pra se perceber de forma extensiva a noção de << relação jurídico-administrativa >>,


convém e necessário classificar as principais espécies que são abrangidas pelo conceito, não
falar-se-á de todas, mas sim as mais relevantes no contexto do manual em causa, tomou-se
por base o critério dos sujeitos, o critério da fonte e critério do conteúdo da relação
administrativa.
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a) Quanto aos sujeitos da relação jurídica.- Qualquer relação jurídica se estabelece,
como é sabido, entre dois ou mais sujeitos de direito, activos ou passivos. Ora, quanto aos
sujeitos, podemos encontrar três espécies de relações jurídicas administrativas:

1) Relações entre uma ou mais entidades públicas e um ou mais


particulares: são as mais frequentes. Ex.: as relações entre expropriante e expropriado,
entre o Fisco e o contribuinte, entre um serviço público e os respetivos utentes, etc.

2) Relações entre duas ou mais entidades públicas entre si: dantes, a


doutrina não dava conta delas; mas hoje em dia são cada vez mais frequentes. Ex.:
relações de superintendência entre o Estado e a sua administração indirecta; relações
de tutela entre o Estado e as administrações autónomas, etc.

3) Relações de duas ou mais entidades privadas entre si: só muito


recentemente se admitiu que pudesse haver relações jurídico-públicas, de direito
administrativo, estabelecidas apenas entre sujeitos de direito privado, mas elas
existem e não são despiciendas. Por ex.: relações de direito administrativo entre
concessionário privado e utente; entre utentes de serviços públicos e outros utentes
dos mesmos, etc.

4) Há ainda a considerar as chamadas relações poligonais, que são as tem


três ou mais sujeitos, um de natureza pública, e dois ou mais, de caracter privado. Ex.:
o órgão competente que outorga uma licença de construção.

A outra classificação de espécie é:

a) Quanto à fonte da relação jurídica.- São numerosos e variados os


tipos de fontes de que podem emergir relações jurídicas administrativas, a saber:

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1) Fontes internacionais: trata-se, designadamente, dos actos normativos
de organizações internacionais que conferem direitos aos particulares impõem deveres
ou encargos à Administração pública perante outrem.

2) A lei ou o regulamento: por exemplo, a lei que aumenta anualmente os


vencimentos dos funcionários públicos ou as pensões dos aposentados dos; os
regulamentos da segurança social imediatamente aplicáveis a respetivos beneficiários,
etc.

3) O acto administrativo: as relações jurídicas administrativas ou por


fonte um acto administrativo são, ainda hoje, as mais frequentes Resultam quer de
actos primários «impositivos» ou «permissivos. de actos secundários. Muitas vezes,
quando os actos são de eveu continuada, tais actos dão origem a relações jurídicas
duradoiras: proibições, licenças, concessões, actos sancionatórios de efeito
prolongado no tempo, etc..

4) O contrato administrativo: por definição, a maioria, senão a totalidade,


dos contratos administrativos são de execução continuada; como tais, produzem
relações duradoiras: entre dono da obra e empreiteiro enquanto durar a construção da
obra; entre uma entidade pública e um privado que se vincula a um fornecimento
contínuo por certo prazo entre o Estado e a concessionária de uma obra pública
(autoestrada, ponte, porto marítimo), enquanto durar a concessão, etc.

5) Simples factos jurídicos: estes, sejam naturais ou humanos, constituem


frequentemente fonte de relações jurídicas administrativas. Por ex.: o completamento
da idade legal determina, por forma automática e não mediante decisão
administrativa, a conversão da relação de em prego público em relação de
aposentação; a morte faz cessar ou transmitir para outrem numerosas relações
jurídicas administrativas, a conduta dolosa ou meramente negligente de um órgão ou
agente administrativo faz nascer uma obrigação de indemnizar o lesado, etc.

A terceira classificação de de espécies:


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C) Quanto ao conteúdo:

Quanto ao conteúdo: existência ou ausência de poderes de autoridade na relação


jurídica. - Durante muito tempo, a doutrina administrativista, nos países com um sistema
administrativo de tipo francês, considerou que só havia relação jurídico-pública, regulada por
normas de direito administrativo, quando a Administração pública figurasse investida em
poderes de autoridade (ius imperii ) e os particulares aparecessem vinculados a deveres,
obrigações, encargos ou sujeições perante ela; se a Administração actuasse despida das suas
vestes de autoridade, e em condições de igualdade ou paridade com os particulares, entendia-
se que a relação era de direito privado.

So mais recentemente a doutrina se apercebeu- primeiro no domínio dos contratos


administrativos, depois nos restantes sectores do Direito Administrativo, com relevo para o
capítulo do acto administrativo - de ta- OS is- me pode haver, e há, relações jurídicas de
direito administrativo (i, e. a direito público) que não se traduzem numa situação de
supremacia- subordinação, mais sim numa situação, de paridade público-privada. Assim, com
base no critério indicado, podemos ter:

1) Relações de supremacia pública: são aquelas em que a Administração


goza de poderes de autoridade, a que o particular está sujeito. Por ex., impostos,
mobilização militar em caso de guerra, expropriações, nacionalizações, poderes de
direcção e modificação unilateral dos contratos administrativos, etc.;

2) Relações paritárias: aqui os dois sujeitos de direito estão em situação de igualdade


um com o outro. Se a relação jurídica for entre a Administração pública e um particular,
haverá «paridade público-privada»; se , teremos antes uma «paridade pública», ou uma
«paridade privada». EX.: no primeiro caso, uma autarquia local (pública) coopera com
misericórdia (privada) para fins de solidariedade social; no segundo, mais municípios
(públicos) montam e exploram em comum a inica estação de tratamento de resíduos sólidos;
na terceira, um aluno da Universidade Agostinho Neto (que é um privado) troca a sua
situação, nos termos da lei, com um colega da Universidade Kimpa Vita (tambem ele ee um
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privado ), passando cada um a frequentar a anterior faculdade nos termos da lei, com um
colega da outro, sem aumento ou diminuição de vagas.

Reelaboração do conceito de relação jurídica administrativa

À luz do conceito e das espécies de relações jurídicas administrativas enunciámos no


número anterior, estamos agora em condições de propor uma definição mais trabalhada, Ela
há de, nomeadamente, ter em com três aspectos essenciais:

a) que não há apenas relações deste tipo entre Administração e particulares, mas
também entre entidades publica mente, ou tão-só entre particulares, desde que no exercício de
direto deveres públicos;

(b) que nem todas as relações jurídicas administrativas derivam apenas da lei ou de
contrato administrativo;

b) e que nem todos elas conferem à Administração pública, ou seus


substitutos, poderes Da autoridade a exercer por acto unilateral.

Sendo assim, e tendo todos os dados recolhidos em mente, propõe-se a seguinte


definição: a «relação jurídica administrativa» é toda a relação entre sujeitos de direito,
públicos ou privados, que actuem no exercício de poderes deveres públicos, conferidos por
normas de direito administrativo Esta definição remete, propositadamente, para a noção de
«norma administrativas», que já é nossa conhecida.

Função do conceito de relação jurídica administrativa na construção


da teoria geral do Direito Administrativo

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Como já tem explicado várias vezes, ao longo do nosso ensino, temos por evidente
algumas certezas:

a) Que não é possível fazer uma construção dogmática adequada d Direito


Administrativo, nos quadros de um Estado de Direito democrático, sem reconhecer e utilizar
amplamente, sempre que for caso disso o conceito e a teoria da relação jurídica
administrativa;

b) Que esta não esgota, no plano científico, a parte geral do Da Administrativo (lato
sensu), porquanto, além do mais, não se presta

incorporar o estudo aprofundado da «teoria da organização administrativa, nem o da


«teoria do procedimento administrativo», nem o da «teoria do contencioso administrativo»,
sobretudo no que concerne quer ao direito processual administrativo», quer ao «direito da
organização judiciaria administrativa.

c)Que o critério da relação jurídica administrativa não é o mais indicado - tanto do


ponto de vista científico como sob o aspecto pedagógico - para expor nas aulas, ou em livro,
a parte geral do Direito Administrativo.

Temo-nos mantido fiéis, no essencial, ao esquema geral então proposto-organização,


actividade, garantias -, que, aliás, por sugestão nossa, ou o Prof. Marcello Caetano retomou a
partir da 8.* edição do seu Manual de vas das Direito Administrativo (1968), data em que
tivemos a honra e o gosto de ser de colaborador da referida obra.

Porém, os tempos vão mudando e as concepções dos especialistas mais jovens


começam, como é natural, a tentar trilhar novos caminhos.

O primeiro ataque à concepção anterior - apelidada de «tradicional» provejo de Vasco


Pereira da Silva, em 1996, na sua excelente tese de doutoramento, intitulada Em busca do
acto administrativo perdido (Almedina, Coimbra).

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Logo nos princípios do livro, depois da crítica frontal à ideia do «acto administrativo
como conceito central do Direito Administrativo , o A. dá como epígrafe, esta outra ideia: «A
relação jurídica como novo conceito central do Direito Administrativo». A argumentação
principal é exposta, na ótica da defesa do cidadão perante 1Administração pública, na noção
de «alargamento dos direitos subjetivo públicos dos particulares», incluindo nestes,
designadamente, os «direitos fundamentais», por um lado, e os chamados «interesses
legítimos» Ou interesses legalmente protegidos», por outro.

Em 2007, novo ataque e, desta vez, mais forte foi feito à conceção «tradicional» de
Otto Mayer, na Alemanha e de Marcello Caetano, em Portugal, na também excelente dissensa
de doutoramento de Pedro Machete, intitulada Estado de Direito Dem tico e Administração
paritária “Almedina, Coimbra".

Os pontos de vista ficaram divididos em concordâncias e discordâncias, os pontos de


concordância:

a) num Estado de Direito Democrático todos os poderes da Administração são


conferidos pelo Direito, a e subordinados;

b) consequentemente, os poderes de autoridade administração advêm-lhe


da Constituição e da lei, e não de qualquer autoridade natural, ou prerrogativa
tradicional, ou poder inerente (aqui pode discordar de que, na monarquia britânica, a
«royal prerogative» tenha fundamento na lei, mas é obvio que tem um fundamento
jurídico na Constituição consuetudinária, e para nós o costume é fonte do Direito
Administração é um sujeito de direito - ou um conjunto de sujeitos direito -,
submetida à lei e ao Direito, pelo que todas as suas relações com os particulares,
juridicamente reguladas, são relações jurídicas administrativas. Por isso, num plano
jurídico-formal, «todas as relações jurídica administrativas são paritárias», ao menos
no sentido de que se estabelecem entre sujeitos de direito, todos dotados de
personalidade jurídica: de capacidade jurídico-pública.

Os pontos de divergência:
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a) numa análise realista, ou jurídico-substancial (que é o que mais interessa), se é
certo que as entidades públicas que integram a Administração podem figurar, mesmo no
âmbito do die público, despidas de qualquer jus imperii - e aí há «relações paritarias não
é menos verdade que, em grande número de casos (que tele aumentar e não a diminuir), o
direito confere à Administração autênticos poderes de autoridade, a que correspondem do
lado dos particulares verdadeiros deveres de obediência (activa) ou estados de sujeição
(passiva) -e aqui a relação jurídica não é paritária, ou de igualdade, mas de supremacia-
subordinação, e portanto de desigualdade jurídica;

b) é pois mais realista a conceção de que as relações jurídicas administrativas podem


ser, quanto ao conteúdo ou objecto imediato, de dois tipos diferentes - as de supremacia e as
de paridade. Sendo certo que as primeiras continuam a ser hoje em dia mais numerosas do
que as segundas, e a exigir maior atenção dos juristas, justamente para uma melhor defesa e
garantia dos particulares;

c) de tudo o que antecede resulta que não podemos aceitar a ideia de que, num Estado
de Direito Democrático, a Administração já não possa mais ser considerada como um poder
do Estado, a par dos Poderes Legislativo e Judicial. Se assim fosse, que lugar se daria ao
Poder Executivo em teoria geral do Estado? E certo que a conceção da Administração como
poder público, ou poder do Estado, tem de ter por base a Constituição e a lei. Claro. Mas
também é evidente que a nossa lei fundamental 2As nossas leis administrativas reservam o
monopólio do uso legítimo da força pública (militar e policial) à Administração: é isso que
faz dela um poder do Estado - a que chama, por tradição, e porque é cientificamente correcto,
Poder Executivo -, ao qual cabe executar as leis não exequíveis por si mesmas, as sentenças
dos tribunais, suscetíveis de execução coativa, e os actos administrativos executórios.
Paradoxalmente, dos três poderes do Estado caracterizados por Montesquieu, o mais forte e o
único completo é o Poder Executivo - porque dispõe de «powers of enforcement, if necessary
through the use of reasonable force». E é bom que assim seja, pois uma democracia sem
autoridade do Estado depressa degenera em desordem e, eventualmente, em anarquia.

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