Você está na página 1de 6

1.

Definição dos conceitos

1.1. Filosofia

A palavra Filosofia é composta de duas outras palavras de origem grega filos, que significa
amor, amizade, e Sofia, que traduzimos como sabedoria ou conhecimento. A criação desta
palavra é atribuída a Pitágoras de Samos (571 a.C. – 496 a.C.), que quando solicitado por um rei
a demonstrar seu saber, disse-lhe que não era sábio, mas Filósofo, ou seja, amigo da sabedoria
(CABRAL, 2012).

Na Grécia Antiga, e tentando definir melhor o sentido da Filosofia, Platão (428 a.C. – 347 a.C.)
mostra que o amor (Filos) é carência, desejo de algo que não se tem, logo, a Filosofia é carência,
mas também recursos para buscar o que se precisa, e o filósofo não é aquele que possui o saber,
mas sim quem busca conhecer continuamente (CABRAL, 2012).

1.2. Imagem
O termo imagem origina-se na expressão latina imago, que significa figura, sombra e imitação.
É possível verificar o significado de imagem no dicionário de Aurélio (2001) citado por
BARBOSA (2011), da seguinte forma: representação gráfica, plástica ou fotográfica de uma
pessoa ou objeto; representação dinâmica, cinematográfica ou televisionada, de pessoa,
animal, objeto, cena etc; representação exata ou analógica de um ser, de uma coisa;
representação mental de um objeto, de uma impressão.

1.3. Imagem de homem


Para a metafísica, de acordo com BLACKBURN (1997) citado por BARBOSA (2011), para ser
uma pessoa é necessário apresentar certas características ou propriedades atribuídas tipicamente
à pessoa, em contraste com outras formas de vida, tais como, racionalidade, domínio de
linguagem, consciência de si, controle e capacidade para agir, e valor moral ou direito a ser
respeitado. Embora essas características não sejam adotadas por todos, pode-se dizer que os
aspectos essências que dão singularidade à pessoa, é a de um ser autônomo, logo, racional, livre,
responsável, que se constrói ao longo da vida, singular, único, irrepetível, relacional e
comunicativo.

Consoante aduz Rachels (2006, p. 132) citado por FONSECA (2002), Kant acreditava que os
seres humanos ocupam um lugar especial na criação. Para ele, os seres humanos possuem um
valor intrínseco, isto é, dignidade, o que os torna valiosos acima de tudo. Outros animais, por
outro lado, possuem valor apenas enquanto servem os propósitos humanos. Os humanos, todavia,
nunca podem ser usados como meio para se alcançar um fim, ainda que vise o bem-estar da
maioria. Trata-se, portanto, de formulação importante do imperativo categórico kantiano,
princípio moral fundamental do qual todas as nossas obrigações e responsabilidades devem
derivar.

Kant destaca o caráter racional do ser humano que o diferencia de todas as outras coisas
(incluindo os animais não-humanos), por disporem de desejos e objetivos autoconscientes. Em
outras palavras, os seres humanos são agentes racionais, ou seja, agentes livres capazes de tomar
suas próprias decisões, estabelecer seus próprios objetivos e guiar suas condutas por meio da
razão (RACHELS, 2006 citado por FONSECA, 2002).

Xavier (2009) citado por BARBOSA (2011), afirma que o filósofo cristão Santo Tomás de
Aquino (1225-1274), ressaltou, sobretudo, a singularidade da pessoa humana, distinguindo-a de
todos os demais seres pela sua completude, incomunicabilidade, especialidade e racionalidade.

2. Tipo de imagem do homem na educação


De acordo com HOELZEL (2014), cada sociedade em sua determinada época histórica, criava a
sua concepção do ser humano ou, uma imagem ideal do homem. Essa imagem-ideal, que
engloba também a antiimagem-ideal, ou seja, a quilo que a sociedade não aceita como padrão de
comportamento dos seus membros é que vai dar forma ao processo educativo.

Nas civilizações orientais antigas, tais como China, Índia, Egipto, Babilónia, Palestina e Pérsia, a
imagem-ideal do homem está associada a um passado idealizado, a uma suposta época de ouro, o
processo educativo visa a submissão acrítica a esse modelo situado no passado. Na Grécia antiga,
surge outra imagem-ideal do homem e, consequentemente, outro conceito de processo educativo.
Este visa o homem como ser livre e responsável, como a aquele que constrói o seu próprio
presente sem, no entanto, negar o eu passado, o homem que pode até desafiar o próprio destino.
Na Roma antiga, seguia-se a mesma imagem do homem que a Grécia, entretanto, dava-se feições
próprias sem fugir do carácter prático e das aspirações nacionais consonantes com a sua peculiar
organização social e política (HOELZEL, 2014).

Na Europa medieval, com o cristianismo, a imagem-ideal do homem é fornecida pelos


ensinamentos de Jesus Cristo e o processo educativo visa a imitação do próprio Cristo fazendo
com que o educando se aproxime da perfeição divina. Enquanto os filósofos gregos davam mais
importância ao aspecto intelectual do homem, o cristianismo, pelo contrário, passou a dar maior
importância ao aspecto moral da pessoa humana. Durante toda a Idade Média predominou uma
concepção do homem e da educação que se opunha ao conceito liberal e individualista dos
gregos, e ao conceito de educação prática e social dos romanos (HOELZEL, 2014).

Com a Renascença (século XVI), imagem-ideal da Antiguidade retorna, sobretudo da Grécia. A


Renascença assume plenamente a imagem-ideal do homem que se torna humano. Entretanto, o
ideal renascentista vai além do ideal clássico pelo fato de reconhecer que a própria criatividade
inerente ao homem lhe abre perspectivas incalculáveis quanto à realização da sua humanidade.
As virtudes renascentistas são o orgulho, a ousadia e a sede pela ventura de viver(HOELZEL,
2014).

No século XVII, tem início o longo período de emancipação do passado. A tradição é relegada
ao passado e o homem dela se emancipa. O processo educativo, por sua vez, rejeita o ensino
verbal e a memorização, atribui força à intuição directa da realidade, procura a simplificação do
ensino (o latim, por exemplo, é substituído pela língua materna), valoriza as ciências naturais e a
educação física, enfim, procura adaptar-se às necessidades do mercantilismo emergente
(HOELZEL, 2014).

Depois temos o Iluminismo que propaga a imagem-ideal do homem iluminado pela luz da razão,
ou seja, do homem cujo princípio supremo de juízo diante da realidade é a razão. Rousseau,
porém, se opõe ao intelectualismo preconizado pelo Iluminismo e prega a volta à natureza. E o
único meio de recuperar o estado natural é, segundo ele, o processo educativo. O ideal do
processo educativo consiste em dêsenvolver o educando de acordo com a natureza, na evolução
harmoniosa do amor-próprio e do amor a o próximo, levá-lo a desenvolver-se na liberdade
iluminada pela razão. Assim, desenvolver-se-á nele a verdadeira felicidade, e o educando se
elevará ao verdadeiro ideal do homem (HOELZEL, 2014).

O período pós-rousseauniano caracteriza-se pela secularização do sistema educativo, efectuada


pela burguesia, o ensino passa a ser organizado pelo poder público que substitui os mestres
religiosos por mestres leigos. O ideal dos novos educadores será o de formar a natureza humana
comum a todas as raças e povos. Para isso propõe-se a criação e a organização de uma instrução
pública, comum para todos os cidadãos, gratuita em todos os níveis de ensino, indispensável para
todos os homens. Surge, então, o marxismo com suas críticas a esse ideal burguês, a escola
coloca a teoria antes da prática, apresentando um ensino que se oferece a todos, uma
oportunidade de ascensão social, independentemente da origem social do educando (HOELZEL,
2014).

A época contemporânea caracteriza-se pela pluralidade de imagens-ideais. Além da persistência


das que vimos anteriormente, temos as imagens-ideais do modelo revolucionário, do modelo
existencialista, do modelo tecnocrático. Trata-se, de um pluralismo com vista a superar os
dogmatismos e os fanatismos (HOELZEL, 2014).

Actualmente, a maioria dos educadores concorda com a humanização do processo educativo,


caso contrário não havera necessidade de educadores. As divergências e confrontos surgem
justamente no momento de dizer o que o ser humano é Parafraseando Guimarães Rosa: a
natureza da gente não cabe em nenhuma certeza (BARBOSA, 2011).
3. Conclusão
A Filosofia tem a função de explicar e justificar os princípios em que as ciências se
fundamentam. Nesse sentido, surge o elo de ligação entre a filosofia e educação, pois é preciso
considerar que a justificação das acções educativas precisam de um substrato filosófico. Como
fora afirmado em alguns pontos do texto, a filosofia é a amizade ou amor ao saber, e o busca
pelo saber é a base de todo processo educacional.

O homem é moldado pelo meio que o cerca, e a sociedade é responsável por identificar a
imagem ideial do homem que vai de acordo com o seu momento histórico, sendo ao mesmo
tempo tarefa da educação, moldar essa imagem de homem para o futuro.

Em suma, pode-se perceber que a Filosofia da Educação é imprescindível, pois se constitui como
uma disciplina que ordena todos os conhecimentos pedagógicos com vista a percepção do
homem e a humanização do processo educativo.
4. Referências bibliográficas
CABRAL, J. F. P. O conceito de Filosofia. Brasil Escola. 2012. Acesso em 22 de junho de
2020. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-filosofia-grega.htm.

BARBOSA, E. S. O conceito de homem, pessoa e ser humano sob as perspectivas da


Antropologia Filosófica e do Direito. 2011. Acesso em 19 de junho de 2020. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-90/o-conceito-de-homem-pessoa-e-ser-humano-
sob-as-perspectivas-da-antropologia-filosofica-e-do-direito/

FONSECA, M. J. Ciências da educação e filosofia da educação. 2002. Acesso em 19 de junho


de 2020. Disponível em: http://www.ipv.pt/millenium/pce6_mjf.htm

HOELZEL, C. G. M. et al. História da educação. 2014. Acesso em 19 de junho de 2020.


Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/16443/Curso_Let-Portug-
Lit_Historia-Educacao.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Você também pode gostar