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RESUMO
O artigo parte da premissa de que a construção do conhecimento científico é um processo
social caracterizado pela dinâmica recursiva entre as dimensões social e intelectual. Em face
dessa assertiva, investigamos como se caracterizou a construção do conhecimento científico
da perspectiva institucional nos estudos organizacionais no Brasil, no período de 1993 a 2007,
com base em pesquisa documental de artigos publicados em periódicos e eventos científicos.
Para tanto, utilizamos análise de redes sociais e indicadores bibliométricos com a finalidade
de mapear os relacionamentos de cooperação entre pesquisadores e os quadros intelectuais,
com base em autores citados. Os resultados evidenciaram a influência dos relacionamentos
sociais no processo de construção do conhecimento científico. Os achados demonstram que a
expansão do campo, com crescente elaboração da organização social fortemente ligado à
atuação de pesquisadores continuantes e transientes, denotando estratificação da produção e
dos relacionamentos, já que esses grupos foram responsáveis pela intermediação das relações
e consolidação da produção. Os achados também revelaram uma dinâmica secundária da
atuação de pesquisadores localizados na margem da rede e a presença de pesquisadores
brasileiros entre os autores mais citados, indicando uma base intelectual local legitimada.
INTRODUÇÃO
A área de estudos organizacionais passou por amplo desenvolvimento nos últimos
cinquenta anos. Ao longo dessas cinco décadas, diferentes perspectivas teóricas foram
desenvolvidas e colocadas à prova, marcando um período de grande criatividade. Diversos
modelos racionais foram contrastados e também combinados com outros de ênfase política ou
cultural, representando a preocupação crescente com níveis de análise mais amplos e
diferentes facetas do ambiente (SCOTT, 2001).
Nesse contexto, uma abordagem em especial vem ganhando destaque: o
institucionalismo organizacional (DACIN, GOODSTEIN; SCOTT, 2002; FARASHAHI,
HAFSI; MOLZ, 2005; MACHADO-DA-SILVA E FONSECA, 1993; MIZRUCHI; FEIN,
1999; SCOTT, 2001), notadamente sua vertente sociológica. De acordo com Greenwood et al.
(2008), a teoria institucional é provavelmente a abordagem dominante nos estudos
organizacionais. Por sua vez, Haveman e David (2008) atestam que constitui a perspectiva
predominante nas submissões da Organization and Management Theory Division em edições
recentes do Encontro Anual da Academy of Management. No Brasil, dados desta natureza
ainda não estão disponíveis, mas a adesão de pesquisadores e o incremento de estudos sob
essa perspectiva é notável segundo Machado-da-Silva, Fonseca e Crubellate (2005), Rossoni
(2006), Caldas e Fachin (2007) e Guarido Filho (2008).
Do ponto de vista da sociologia do conhecimento, consideramos importante
compreender os processos sociais que participam da formação do conhecimento científico
referente ao programa intelectual da área. Nesse sentido, seria plausível refletir acerca dos
contornos desse programa e em que medida vem ganhando proeminência na comunidade
acadêmica. Antes, porém, se faz necessário mapear o desenvolvimento do institucionalismo
organizacional, e foi com esse propósito que procuramos, no presente artigo, traçar a trajetória
da perspectiva institucional no campo dos estudos organizacionais no Brasil a partir de dados
empíricos referentes às publicações científicas produzidas entre 1993 e 2007. Estamos
utilizando a expressão estudos organizacionais para abranger também os trabalhos
classificados como estratégia em organizações em território brasileiro, uma vez que não faz
sentido tratá-los em separado quando se utiliza a perspectiva institucional de análise.
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idéias em continuidade. Isso pode ser observado pela proporção ascendente de pesquisadores
e trabalhos produzidos a cada ano, alcançando as maiores taxas em 2006 e 2007.
Respectivamente, nesse período constatou-se 18,2% e 16,5% do total de artigos produzidos
no campo, bem como a maior participação de pesquisadores na atividade de produção
científica com cerca de 31,6% e 27,0% da comunidade ligada à perspectiva envolvida na
publicação de trabalhos. O número de autorias, por sua vez, reforça esses dados, mas indica,
mais do que isso, taxas positivas de colaboração entre pesquisadores no momento da
produção científica.
Ano %C %P
1993 0,8% 0,7%
1994 0,8% 0,7%
1996 0,8% 0,3%
1997 1,6% 1,3%
1998 1,2% 0,7%
1999 5,5% 3,7%
2000 8,6% 4,7%
2001 9,8% 5,4%
2002 13,3% 8,4%
2003 18,4% 10,1%
2004 26,2% 14,1%
2005 25,8% 15,2%
2006 31,6% 18,2%
2007 27,0% 16,5%
TOTAL 256 297
artigos produzidos no campo, o que indica uma produtividade total igual a 3,3, superior aos
entrantes (2,5), retirantes (2,4) e one-timers (1,0). Tais dados apontam para o fato de que
ambas as categorias, continuantes e transientes, sejam reconhecidos como representantes das
bases de sustentação e continuidade da pesquisa no campo em estudo.
Com relação ao alto volume de one-timers, embora parte deles possa retornar ao campo
no futuro com novas publicações, sendo reclassificados como entrantes ou transientes, chama
atenção que se trata de publicações isoladas, no âmbito do histórico de trabalhos desses
autores no campo investigado. De fato, é possível considerar que parte desses autores possa
ser considerada estranha ao campo, por terem interesse predominante em outra área de estudo,
tendo apenas contribuído pontualmente para a perspectiva institucional nos estudos
organizacionais. Porém é mais provável que trabalhos publicados por autores dessa categoria
sejam fruto de dissertações de mestrado com orientação de outros pesquisadores já
estabelecidos no campo, ou ainda que sejam decorrentes de janela de oportunidade que o
crescimento da abordagem provoca para muitos pesquisadores no âmbito de desenvolvimento
de trabalhos com chances de publicação. One-timers podem também representar atratividade
do campo enquanto perspectiva adequada para a explicação de fenômenos organizacionais,
estimulando assim sua expansão e visibilidade.
Os dados até aqui permitem concluir que o campo da perspectiva institucional nos
estudos organizacionais segue trajetória de crescimento no que tange ao número de artigos
produzidos, bem como da comunidade acadêmica. Esse crescimento sustenta-se, em certa
medida, na atividade de autores continuantes e transientes, os quais, juntos, concentram a
maioria dos trabalhos publicados ao longo do período analisado, o que aponta a estratificação
da produção científica (vide Merton, 1996) em torno de um número reduzido de autores,
especialmente continuantes.
Continuantes e intermediação. Quando analisados os padrões de cooperação em relação à
categorização dos autores, algumas considerações merecem destaque. Primeiramente, cabe
observar que a proporção de trabalhos em co-autoria alcança 71,2% da produção, quando
considerado todo o período analisado. Continuantes e retirantes aparecem como os grupos
com a maior proporção de autores que exerceram colaboração com outros de categorias
distintas daquela em que se enquadram, seguidos por entrantes e transientes. Além disso,
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nota-se que os one-timers são o grupo com menor envolvimento com outras categorias
distintas, apresentando maior volume (18,1%) de autores isolados (sem relacionamento de
cooperação), além da maior proporção de autores cujas ligações se restringem internamente à
categoria. Todas as demais categorias, inversamente, apresentam comportamento que
privilegia as relações com outras, mantendo apenas proporção pequena de autores com
relações exclusivas à própria categoria. O E-I Index positivo de 0,146, calculado a partir da
matriz de cooperação entre os pesquisadores, com as categorias de autores como atributo,
evidencia esse aspecto.
Dentre os continuantes, a média de laços de co-autoria, ou seja, o volume de relações de
cooperação, é visivelmente superior aos demais, chegando a ter cerca de 80% dos autores
mantendo laços com 4 ou mais autores. Outro ponto que chama atenção é a proporção elevada
de pesquisadores cujo relacionamento de cooperação ocorre com outros de categorias
distintas; continuantes apresentam ligações com 18,1% de one-timers, 34,6% de entrantes,
45,2% de transientes e 47,6% de retirantes, demonstrando importante participação na
intermediação dos relacionamentos das diferentes categorias de autores. Outro grupo que
parece exercer importante papel na configuração dos relacionamentos de co-autoria são os
transientes, cujos integrantes cooperaram com 16,8% de one-timers e 26,9% de entrantes.
Esses relacionamentos foram representados na Figura 2.
G 2,405
I 14,724
F 32,732
G 1,406
I 0,000
F 1,967
G 7,857
G 1,962 I 241,732
I 5,500 F 451,014
F 12,512
G 2,571
I 5,825
F 11,734
Figura 2 – Relacionamento entre Categorias de Pesquisadores e Centralidade das Categorias
Obs: G = centralidade de grau; I = centralidade de intermediação; F = centralidade de fluxo. Os laços
correspondem a matriz imagem resultante da avaliação da força dos laços entre as categorias e a densidade
calculada para o conjunto de conexões entre os autores no campo. Foram considerados apenas os
relacionamentos cuja intensidade foi maior do que a densidade da matriz de co-autoria.
Fonte: resultados da pesquisa
Vale destacar que esses dados apontam o papel dos continuantes na intermediação dos
relacionamentos entre diferentes categorias de autores. As medidas de centralidade deixam
esse ponto ainda mais evidente. Isso significa que pesquisadores dessa categoria tendem a
estarem posicionados no caminho dos relacionamentos de cooperação entre autores, o que
possibilita crer em sua influência sobre o fluxo e conteúdo das informações (vide centralidade
de intermediação na Figura 2). Tais aspectos fazem sentido por admitirmos, em concordância
com Borgatti (2005), que, no campo científico, os relacionamentos sociais sejam também
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canais de influência intelectuais; relações entre atores representam fluxos de influência que,
por meio da interação, podem afetar a forma de pensar ou agir de outros atores (vide
centralidade de fluxo na Figura 2). Traduzindo para a rede de colaboração entre
pesquisadores, temos que, por meio de relações sociais, ocorre o fluxo de idéias articuladas
enquanto estruturas cognitivas compartilhadas.
Em suma, a análise dos dados aponta o papel exercido por continuantes na
intermediação dos relacionamentos. Além de atuarem como canalizadores/distribuidores de
relações entre autores de categorias distintas, são ao mesmo tempo responsáveis pela
consolidação da produção. A mesma observação vale para os pesquisadores transientes,
especialmente por também se apresentarem como grupo receptor de entrantes. Em ambos os
casos, os resultados indicam a existência de um mecanismo social ligado à intermediação
participando da construção do conhecimento científico.
Organização social: crescimento organizado. Os 256 autores identificados nos 297 artigos
analisados compõem a comunidade acadêmica de pesquisa em estudos organizacionais à luz
da perspectiva institucional e estão identificados pelos nós que fazem parte da Figura 3 (vide
ano 2007). A representação gráfica do relacionamento entre autores foi gerada a partir da
soma dos laços de cooperação de cada ano, de modo que cada nó representa um único autor e
os laços indicam a existência de relação de co-autoria em algum momento, ao longo do
período estudado.
A alta fragmentação da rede, por si só, pode ser considerada uma característica desse campo,
porquanto além de grande número de autores isolados, não representados na figura, notam-se
diversos pequenos componentes – subredes cujos nós estão conectados entre si
(WASSERMAN; FAUST, 1994). Esses circundam cinco outros de maior tamanho e que
juntos representam 48,1% da rede, no tocante ao número de autores. O maior deles –
componente principal – envolve 20,3% de todos os autores que participaram da produção
científica no período investigado. O segundo maior componente, por sua vez, apresenta
proporção menor, com 14,5% do total de pesquisadores do campo.
A configuração dos componentes permite perceber a desigualdade na formação de
relacionamentos. O mesmo vale para o coeficiente de agrupamento, medida que verifica a
estrutura local da rede em termos de densidade (coeficiente igual a 0,722). É interessante
notar que o caráter fragmentado da rede é acompanhado de maior aglomeração localizada dos
nós, o que, potencialmente, pode ser fator condicionante de práticas de pesquisa e
compartilhamento de perspectivas. Diante disso, a presença de uma rede pouco conectada,
com componentes em escala reduzida, implica canais restritos de comunicação entre partes
diferentes da rede, o que pode revelar tendência para formação de grupos de pesquisadores
compartilhando interesses e preferências distintas entre si, sejam elas epistemológicas,
teóricas ou temáticas. A análise longitudinal da rede social de colaboração (vide Figura 3)
permite acompanhar esse processo no decorrer dos anos.
O crescimento em número de autores e componentes, quando observado em temos
globais, resultou numa configuração pouco densa, com relacionamentos esparsamente
distribuídos; com o passar do tempo, a média de laços de co-autoria por pesquisador
diminuiu, embora tenha aumentado o volume total de colaboração na produção de artigos.
Contudo, esse efeito, quando analisado mais de perto, indica a existência de ligações locais
mais densas entre os pesquisadores, evidenciando crescimento organizado dos
relacionamentos ao longo do período estudado. É possível notar que, a medida em que se
sucedem os anos, o acréscimo de laços de co-autoria se orientaram em torno da formação e
consolidação dos componentes, especialmente dos dois maiores. Cabe enfatizar que a maioria
dos pesquisadores continuantes está presente nesses componentes, os quais garantem a
continuidade da produção – como visto anteriormente – mantendo alto grau de produtividade
e atraindo novos relacionamentos.
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1993 1997
1999 2000
2001 2002
9
2003 2004
2005 2006
2007
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Posto isto, é interessante notar que entre os seis autores mais citados, dois são
brasileiros: Scott, W.R. com 442 indicações nas referências, Machado-da-Silva, C.L. aparece
logo a seguir com 417 citações, DiMaggio, P.J. com 361, Powell, W.W. com 337, Meyer,
J.W. com 278 e Fonseca, V.S., citada em 274 oportunidades. A presença de dois brasileiros,
Machado-da-Silva e Fonseca, entre autores estrangeiros considerados clássicos no campo do
institucionalismo organizacional revela o crescente peso que os pesquisadores nacionais vem
exercendo na estrutura intelectual da perspectiva institucional no país. Três outros brasileiros
também figuram entre os autores mais citados, com indicações entre 150 e 100 referências:
Vieira, M.M.F. com 144, Carvalho, C.A.P. com 122 e Fernandes, B.H.R. com 115. Estes
autores também figuraram entre os autores citados com maior h-index (HIRSCH, 2005),
índice bibliométrico que indica sua representatividade como quadro de referência válido para
a fundamentação de trabalhos, o que indiretamente expressa seu reconhecimento intelectual
pelos pesquisadores do campo em estudo.
CONCLUSÕES
O presente estudo partiu da premissa de que a construção do conhecimento científico
envolve a recursividade entre duas dimensões, a social e a intelectual, que são, ao mesmo
tempo, meio e resultado da atividade social dos pesquisadores, cujas escolhas realizam a
produção científica; seja no modo como estabeleceram relacionamentos de colaboração com
seus pares, seja na base de referências utilizada para fundamentar seus trabalhos. Procuramos,
ao longo das etapas de pesquisa discutir esses aspectos, cujos principais achados são
sucintamente recapitulados aqui:
• Expansão quantitativa em termos de pesquisadores e artigos: cerca de 20% ao ano,
com taxas mais altas de atividade em anos recentes;
• Elaboração da organização social em torno da perspectiva institucional, com maior
cooperação entre os pesquisadores e formação de agrupamentos de co-autoria, com os
dois maiores concentrando 34,7% dos pesquisadores e 57,6% da produção no período;
• Crescimento organizado em torno de alguns autores classificados como continuantes e
transientes, denotando estratificação da produção e dos relacionamentos, já que esses
grupos são responsáveis pela intermediação das relações e consolidação da produção;
• Dinâmica secundária apoiada sobre a atuação de pesquisadores localizados às margens
da rede, cuja atuação esporádica pode contribuir para a legitimação de quadros de
conhecimento e de referências;
• Presença de pesquisadores brasileiros entre os autores mais citados, indicando seu
reconhecimento e a formação de uma base intelectual local legitimada na produção de
conhecimento na área.
Tais resultados chamam a atenção para a influência dos relacionamentos sociais no
processo de construção do conhecimento científico, o que equivale dizer que se dá por redes
sociais de pesquisadores. Constatamos que o campo da perspectiva institucional nos estudos
organizacionais no Brasil, no âmbito da colaboração na produção científica, configura uma
rede fragmentada em torno de dois agrupamentos principais, que concentram a maior parte
dos trabalhos e dos pesquisadores.
Contudo, em ambos os referidos componentes, os autores mais centrais são também
categorizados como continuantes, sendo ainda aqueles com maior tempo de atividade no
campo. Embora existam variações quanto às diferenças entre as características estruturais
desses componentes, ficou evidente o crescimento do campo seu deu em seu entorno.
Diferentes razões podem ter contribuído para isso.
A primeira delas remete ao fato de que a existência de autores mais centrais e
continuantes implica considerá-los força de difusão e de legitimação do conhecimento
praticado no campo, diante do capital social que construíram (ZUCKER; DARBY, 1996).
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Como tais, podem apresentar a preocupação em cultivar relacionamentos que possam dar
prosseguimento aos desenvolvimentos intelectuais em que se encontram envolvidos. De
forma menos intencional, autores mais centrais estão envolvidos em grande número de
relacionamentos, ativando uma gama de contatos, de modo a ganharem destaque ou
visibilidade enquanto canal influente de informação (WASSERMAN; FAUST, 1994). Diante
disso, pode-se inferir que pesquisadores com essas características são capazes de exercer certa
liderança, no sentido de promoverem a difusão de idéias, mobilizarem estruturas e gerar
produção científica. Há de se considerar que relações hierarquizadas entre aluno e orientador
também influenciam na configuração social e na produção científica. A Figura 4 ilustra esse
aspecto por meio dos pesquisadores continuantes, associando a origem dos dois maiores
componentes de co-autoria com as relações de orientação em nível de mestrado ou doutorado.
É interessante notar que, apesar de derivarem de uma origem comum, os dois componentes se
desenvolveram separadamente, o que pode indicar preferências distintas sobre o modo como
abordar o fenômeno organizacional à luz do institucionalismo, a despeito da relação de
orientação ocorrida.
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mecanismos podem ser também responsáveis pela difusão para além das fronteiras dos
componentes, já que a reputação alcançada por certos pesquisadores, associada ao fato de
também serem os mais profícuos, os colocam como base de referência para o
desenvolvimento de novos trabalhos. Por outro lado, podem transmitir legitimidade para essas
pesquisas, estabelecendo um ponto de contato com o conhecimento já reconhecido e
considerado válido (MCKINLEY, MONE; MOON, 1999). Em que pese o até aqui discutido
por meio dos mecanismos de intermediação e estratificação, mas ainda deles dependentes, a
estrutura cognitiva pode seguir caminhos cerimoniais, pelos quais determinadas unidades
citadas passam a ser mais consideradas como meios simbólicos de legitimação de idéias do
que fundamento epistemológico. Vale destacar que tais aspectos parecem ter relação com a
formação gradual de uma base legítima de fundamentação por meio da qual se sustenta a
análise de diferentes fenômenos sob a perspectiva institucional. Desdobramentos dessa
questão estariam expressos nos quadros de referência utilizados por pesquisadores e grupos de
pesquisadores, esboçando não apenas a diversidade temática, mas recortes epistemológicos e
divergências intelectuais presentes no debate científico.
Transpondo essas idéias para o campo da produção científica, no âmbito do interesse do
presente trabalho, é possível admitir que textos (publicações) influenciam a estrutura do
conhecimento, não apenas como repositório de informações, mas também por propiciar
elementos que afetam a dinâmica do conhecer, ou o exame do conhecimento acadêmico, por
meio da análise de conteúdos, relações de autoria, transmissão e genealogia de textos e idéias,
entre outros aspectos. Outro painel de interesse diz respeito ao modo como padrões de
autoridade e de organização social podem exercer influência sobre a produção científica.
Nesse sentido, é viável admitir que a autoridade do conhecimento possa ter relação com
padrões sociais de autoridade (grupos, pessoas, instituições), o que influenciaria a disposição
de abordagens, métodos ou fundamentos (referências) no campo. Ademais, estruturas de
relacionamento entre atores no campo acadêmico podem ter influência sobre o modo como o
conhecimento se organiza, conforme já observado por Fuller (2002).
Por fim, reforçamos que, embora tenhamos dado maior ênfase em nossas análises à
dimensão social do que à intelectual, consideramos que ambas são recursivamente construídas
e, portanto, precisam ser compreendidas de modo conjugado. Contudo, em razão da limitação
de espaço a ampliação deste debate, no que se refere a temáticas, estruturas de conhecimento,
consolidação nos programas acadêmicos, será objeto de trabalho em elaboração.
REFERÊNCIAS
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CALDAS, M. P.; FACHIN, R. Paradigma funcionalista: desenvolvimento de teorias e
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