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Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3

Cadernos PDE

I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
NOVOS CAMINHOS PARA FONTES HISTORICAS: ICONOGRAFIA, FOTOS E
OBJETOS

Ivanir Lourdes Marques Nalin1


Luis de Castro Campos Júnior

Resumo

O objetivo deste artigo foi o de analisar a possibilidade de tornar mais dinâmico o processo
ensino/aprendizagem de história em sala de aula, indo além da metodologia apoiada no livro
didático, permitindo o uso de outras possibilidades de fontes históricas ricas de informações
e como forma de contribuir para o conhecimento histórico do aluno, tendo como local da
pesquisa alunos do 9º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Anésio de Almeida
Leite, localizada no município de Jacarezinho. Foram desenvolvidas atividades apoiadas na
utilização de imagem e outros meios iconográficos, como filmes, bem como a História oral e
local, na qual se inferiu pós-avaliação que a utilização de meios alternativos, tais como o
mencionado, contribuem eficientemente para o processo de ensino e aprendizagem em
História, sendo uma forma de complemento ao currículo geral da disciplina, tal como
preconiza o artigo 26 da LDB. Inferiu-se também das dinâmicas aplicadas oportunizaram
que os alunos conheceram que a História não se resume a eventos e personagens, mas sim
que ela pode estar presente em muitos contextos, dos quais alguns estão muito próximos de
sua realidade. Igualmente foi constatado que o uso de metodologias alternativas com o uso
de imagens e iconografias diversas o aluno se sente mais motivado a aprender História,
emancipando da monótonia do livro didático.

Palavras-chave: Imagem. Iconografia. História. História Local. História Oral.

Abstract

The aim of this paper was to examine the possibility of making more dynamic the teaching /
learning history in the classroom, beyond the methodology supported in the textbook,
allowing the use of other possibilities of rich historical sources of information and as a way to
contribute to the historical knowledge of the student, with the site of research students in the
9th grade of elementary school at the State School Anésio de Almeida Leite, located in the
city of Jacarezinho. Supported activities were developed in the use of image and other
iconographic media such as movies as well as oral and local history, which was inferred
post-evaluation that the use of alternative means, such as mentioned above, contribute
efficiently to the teaching process and learning in history, and a way to supplement the
general curriculum of discipline, such as stated in Article 26 of the LDB. It is also inferred the
dynamics applied they had the opportunity students known that history is not just about
events and characters, but it can be present in many contexts, some of which are very close
to their reality. It was also found that the use of alternative methodologies using images and
iconography many students feel more motivated to learn history, freeing the monotone of
the textbook.

Keywords: Image. Iconography. History. Local History. Oral history.

1
Professora de História da Rede Estadual de Ensino. Participante do Programa de Desenvolvimento
1
Educacional - PDE/2015. E-mail: ivanirnalin@seed.pr.gov.br= Orientador: Dr. Luis de Castro Campos
Jr / Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) E-mail:
1 INTRODUÇÃO

A história é dinâmica, os fatos históricos não esgotam em si mesmo, em


cada momento histórico há algo a ser explorado presente em quaisquer e meros
elementos, muitas vezes preteridos de análise mais significativa; ao historiador cabe
a função de dar sentido a estes elementos esquecidos e relacionar aos fatos
históricos, enriquecendo-os, ultrapassando o sentido de narração comumente
observado nos livros didáticos ou em fontes de credibilidade duvidosa, muitas vezes
manipuladas por interesses ideológicos.
Diante desta perspectiva, é possível compreender que a história e a
historiografia são ricas, embora, no processo ensino/aprendizagem elas se limitem
ao tradicional, à explanação da narração de fatos históricos, empobrecendo-as; bem
como limitando o saber histórico de quem recebe a informação.
Desta forma, é possível mencionar que há um campo aberto para se fazer
história em que fontes diversas possuem essência histórica e auxiliam sobremaneira
não somente a historiografia, o fazer histórico, mas principalmente, contribuem
eminentemente para o ensino de história.
Elementos representados pela imagem, iconográficos dentre outros tem
em sua essência grande potencial histórico e didático contribuindo para o processo
ensino/aprendizagem.
Diante desta perspectiva, o objetivo deste artigo é o de fazer uma análise
da dinamicidade do processo ensino/aprendizagem de história em sala de aula,
emancipando do livro didático, permitindo um fazer histórico a partir de outras
possibilidades de fontes históricas ricas de informações e como forma de contribuir
para o conhecimento histórico do aluno, tendo como local da pesquisa alunos do 9º
ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Anésio de Almeida Leite, localizada
no município de Jacarezinho.
A partir deste objetivo, tem-se o seguinte problema: é possível dinamizar
o processo de ensino/aprendizagem de história com fontes alternativas, indo além
do uso do livro didático?
Assim sendo, diante destas colocações supra, este trabalho se justifica no
sentido de realçar a importância da utilização das mais diversas fontes históricas no
processo ensino/aprendizagem da disciplina, permitindo ao docente, não somente
dinamizar sua prática em sala de aula, mas principalmente levar a essência da
história aos alunos, indo além do contexto político-econômico presente nas
narrações dos fatos históricos, mas, principalmente, desvelar os eventos nas
entrelinhas da história e que também constituem os fatos históricos, ampliando o
horizonte dos alunos a partir das perspectivas socioculturais inerente nos eventos
que fazem parte da história.

2 FONTES ALTERNATIVAS DE HISTÓRIA

A utilização de distintas fontes e linguagens para o ensino de história tem


colaborado não somente para secundar a área de estudo da disciplina, mas
igualmente para que novas possibilidades de se fazer a história sejam consideradas,
refletindo a dinamicidade da disciplina, além de ser um novo paradigma de
ensino/aprendizagem, fazendo com que esse processo se torne mais dinâmico. A
utilização de imagens e outros documentos têm colaborado para oferecer um novo
significado ao contexto histórico, transformando-o em real, propiciando uma nova
dimensão na transposição didática do conhecimento histórico. (MEDEIROS, 2005)
Nesse sentido Gasman (2007, p. 13) comenta:

Ensinar história não é ensinar repetições; é conduzir o aluno a


aprender a adotar uma forma de pensamento crítico, a investigar
fontes que informam os fatos, a avaliar fatos na base de critérios
previamente estabelecidos, a discriminar fatos estudados sob
ângulos generalizadores daqueles históricos, que procuram a
individualização; é em suma levar o aluno a adquirir ou desenvolver
categorias que o habilitem a situar-se a pensar historicamente.

A incorporação de distintas possibilidades para o ensino de História


considera não somente a relação entre o saber escolar e o contexto social; mas
igualmente a necessidade de reconstrução do processo ensino/aprendizagem.
(FONSECA, 2003).
De acordo com Medeiros (2005), a perspectiva construtivista tem uma
significativa influência nas práticas pedagógicas para o processo de elaboração do
conhecimento histórico. As questões em torno do currículo sofrem significativos
debates com o pressuposto de discutir a validação dos conhecimentos transmitidos
pela escola.
As transformações culturais e socioeconômicas, como a globalização e a
ascensão maciça da tecnologia na realidade social, que ocorrem exigem novas
condutas dos docentes, apontando para a necessidade de ter o conhecimento
destas transformações, ajustando-as às novas necessidades que delas emergem.
Assim, pode-se considerar que a História teve seu paradigma alterado, de função
moralizadora, muito evidente durante as décadas de 1960 a 1980, para uma
perspectiva que permita a constituição de sujeitos críticos e criativos. (CARBONARI,
2011)
Contemporaneamente, novas metodologias de ensino contribuem para o
aperfeiçoamento de uma nova concepção de homem, de mundo e de conhecimento.
Uma concepção com a capacidade de construir um aluno além do sentido de mero
receptor, mas um indivíduo com iniciativa, compromisso e liberdade. Uma
concepção de mundo que o impulsione a relacionar-se com a realidade de forma
ampla. (GOMES DA COSTA, 2003).
Assim, considerando a posição do autor citado, o trabalho com distintas
fontes, linguagens e possibilidades exige o aprimoramento constante do docente,
uma vez que tais instrumentos possuem metodologias específicas de abordagem,
em contrapartida, possibilita ao aluno a real construção do conhecimento histórico,
formação de competências para se manter inserido em um universo altamente
complexo. (MEDEIROS, 2005)
Desta forma, é fundamental criar instrumentos históricos que
proporcionam o diálogo com o saber acadêmico. Destarte proporcionar um novo
paradigma na elaboração da história escolar é crucial para o processo de
ensino/aprendizagem de história em sala de aula. Dentre estas perspectivas está o
uso de fontes diversas.
Cerri e Ferreira (2007, p. 72) comentam:

[...] os questionamentos sobre o uso restrito e exclusivo de fontes


escritas conduziu a investigação histórica a levar em consideração o
uso de outras fontes documentais, aperfeiçoamento as várias formas
de registros produzidos. A comunicação entre os homens, além de
escrita, é oral, gestual, figurada, músical e rítmica.

De acordo com Xavier (2010) o docente atua como mediador na sala de


aula, atuando entre o aluno e o conhecimento, assim, ao atender a função cognitiva
presente na aprendizagem, tem o potencial de transformar as fontes em
instrumentos para expor didaticamente ao aluno como a história é feita a partir dos
vestígios deixados por estas fontes, possibilitando compreender como o contexto
inserido nelas contribuiu para a constituição social no tempo e no espaço.
Dentre as possibilidades de fontes históricas suscetíveis que podem ser
utilizadas em sala de aula menciona-se a imagem e outras fontes iconográficas. O
trabalho com imagem como fonte histórica, segundo Flamarion Cardoso e Mauad
(apud. PINSKY et al, 2010) é algo surpreendente, pois exige a tarefa de desvendar
uma variedade de significações, em que homens e signos dialogam na composição
da realidade, revelando aspectos da vida material de um determinado tempo do
passado que a mais detalhada descrição verbal não daria conta, exigindo uma
avaliação que vai além do contexto descritivo.

3 IMAGENS, ICONOGRAFIA E OUTRAS FONTES HISTÓRICAS.

As imagens estão comumente presentes no ensino de História, contudo,


sua essência historiográfica é deixada de lado. Imagens são comuns em livros
didáticos, contudo, trazem em sua essência a ideologia dominante, controlada, a fim
de que a verdadeira realidade mantenha-se dissimulada.
A imagem tem significativo potencial didático e pedagógico, possibilitando
ao aluno interacionar diretamente com fatos históricos. A utilização de imagens no
processo ensino/aprendizagem em História, no entanto, exige uma metodologia
apoiada em fundamentos pedagógicos e historiográficos, para que realmente possa
representar uma relevante fonte para este processo. (MEDEIROS, 2005)
Bittencourt (2004, p. 364) comenta que:

No campo educacional existem, na atualidade, pesquisas com maior


preocupação quanto ao tratamento cognitivo da informação
transmitida pela imagem [...]. Os aspectos relevantes que
pesquisadores têm destacado concentram-se na forma de recepção
da imagem e nas possibilidades didáticas para a renovação dos
métodos de ensino para as diversas disciplinas escolares.

Segundo Kossoy (2002), é a materialidade e a representação presente na


imagem que faz da fotografia um documento real de fonte histórica, contudo,
ressalta o autor que é necessário considerar que o processo de construção da
imagem, uma vez que a realidade fotográfica pode não corresponder à verdade
histórica, mas sim somente um registro de uma aparência, condição esta que faz
com que a fotografia permita interpretações múltiplas de um momento específico,
uma vez que uma expressão singular pode representar significações diversas.
De acordo com Medeiros (2005), a utilização de imagens como
ilustrações diversas como gravuras e pinturas, igualmente, são possibilidades para
se debruçar em momentos históricos; enfatiza a autora que o trabalho com estas
fontes exige uma postura questionadora do documento, no sentido de interpretação
da mensagem promovida por ele e reconstruindo contextos e momentos históricos.
De acordo com Flamarion Cardoso e Mauad (apud. PINSKY, 2010)
muitas das iconografias, como obras de arte em forma de pintura, painéis,
esculturas, entre outras foram criadas para retratar um momento histórico, mas é
importante destacar que muito da história tradicional discorrida pela literatura trata-
se de uma historia de classe, em que grande parte dos detalhes dos eventos
históricos são dissimulados. Desta forma, ao considerar como fiel o reflexo de uma
obra de arte, seria cair numa armadilha tendenciosa.
Observa-se, porém, que o uso da iconografia como elemento de pesquisa
histórica possibilita diversas possibilidades de se conhecer os fatos históricos,
principalmente no que se refere a hábitos, a costumes, religiosidade, entre outros,
portanto o estudo da história pela iconografia é ilimitado.
As mais diversas formas de iconografia históricas foram criadas no
sentido de impressionar o leigo, passando uma imagem para provocar impacto ao
longo do tempo, por isso é que ao observar gravuras, por exemplo, como a da
Proclamação da Independência e da República, elas transmitem algo sublime e
renovador para o período, quando se sabe que foi somente um fato histórico que
não provocou significativas transformações sociais ou econômicas para toda a
sociedade. (BITTENCOURT, 2004)
Por tal motivo é importante observar os limites da iconografia para se
interpretar a história, pois há o risco de inventar realidades históricas. Harmonizar
outros elementos históricos, como as mais diversas espécies de documentos, com a
iconografia seria o fundamental para se criar uma interpretação mais real dos fatos
históricos, bem como os valores que vieram a contribuir para a sua formação.
Portanto, a iconografia para delinear um fato histórico não basta, pois somente por
meio dela se inventam significados, a mesma conduta quando as mais diversas
obras de artes históricas foram criadas.
Neste novo universo de fontes alternativas para a disciplina de História
menciona-se a História local, não obstante a posição de privilégio da historiografia
tradicional, independente da forma que a História Regional e Local se caracteriza,
trata-se de uma forma de fazer história que emancipa o contexto hermético e
refratário da História Tradicional. Por ser em sua essência narrativa, a História
Regional ou Local em nada se aproxima da ficção, aspecto comum das narrativas.
De acordo com Barros (apud. FAGUNDES, 2006), a história narrativa tem a
potencialidade de assumir a forma de síntese entre a “nova” e a “velha” história,
permitindo com isso, uma relação entre os historiadores e um público mais amplo e
com características diversas.
Um aspecto comum à História Regional ou Local é o recorte geográfico,
uma vez que o conceito “região” e “localidade” remetem a um sentido de valores e
culturas específicas que não se observa na historiografia tradicional, por meio dessa
especificidade, tem-se a possibilidade de identificar comportamentos e valores
específicos de uma coletividade. (FAGUNDES, 2006).
Igualmente destaca-se a História Oral, conforme o próprio nome reflete,
trata-se de uma forma de se fazer a historiografia por intermédio de fontes orais, ou
seja, ao invés de análise de documentos, são colhidas informações junto a pessoas
que vivenciaram um determinado momento ou fato histórico.
A História Oral é definida da seguinte forma por Thompson (apud
KARNAL, 2007, p. 44):

A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela


lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo
de ação. Admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentre a
maioria desconhecida do povo.

Conforme se observa, a utilização de linguagens alternativas no ensino de


História tem a potencialidade de ampliar as metodologias do docente, tornando o
processo de aprendizagem mais dinâmico proporcionando significação ao
conhecimento histórico trabalhado.
Diante destas possibilidades alternativas de fontes históricas, na
sequência serão analisadas as dinâmicas realizadas na prática pedagógica na
disciplina de História junto a alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio
Estadual Anésio de Almeida Leite, em que foram utilizadas fontes alternativas de
História destacadas neste trabalho.
4 METODOLOGIA

A metodologia aplicada foi o da pesquisa quantitativa, por meio de


entrevistas, para a revisão de literatura, utilizando-se da discussão da historiografia
sobre fontes alternativas de história e o da qualitativa para a análise das propostas
pedagógicas presentes da Unidade Didática que serviu de referência para este
artigo, em que os resultados obtidos foram comparados com a literatura existente.
A pesquisa neste trabalho teve como pressupostos aprofundar os estudos
referentes ao contexto escolar, por intermédio da observação da realidade, a partir
de propostas de utilização de fontes alternativas para o ensino de história, como a
fotografia, historia oral e local, tendo como resultado dados com potencial de
explicar e fornecer subsídios para interpretações do lócus investigado.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a efetivação deste projeto “Novos caminhos para fontes históricas:


iconografia, fotos e objetos”, foram desenvolvidas atividades junto aos alunos do 9º
ano do ensino Fundamental do Colégio Estadual Anésio de Almeida Leite,
localizado no município de Jacarezinho, PR, sendo realizadas no primeiro semestre
letivo do ano de 2015.
A respeito das atividades, foram enfatizadas a utilização de imagens por
meio de fotografias e a história oral e local, com o objetivo de que os alunos
pudessem extrair destes meios o conhecimento histórico, consequentemente,
compreender a amplitude das possibilidades historiográficas presentes em
elementos comuns à realidade deles. Foram desenvolvidas as seguintes atividades:
trabalhar a historicidade a partir da análise de imagem e fotografia, visitas a
edificações históricas no município de Jacarezinho, como o antigo Instituto
Brasileiro do Café, atualmente depredado; bem como à Catedral do município,
Colégios Imaculada Conceição, dentre outros, exposição de objetos e realização de
entrevistas; aliado a esta dinâmica seriam realizadas atividades de
interdisciplinaridade, possibilitando aos alunos a relacionar o contexto histórico a
outras disciplinas, como as artes, meio ambiente, geografia dentre outras.
Em relação às atividades de historicidade2, a partir de análise de
imagens e fotografias, a primeira atividade proposta foi a analise da fotografia do
Assentamento da Água da Pedra de 1888 , fotografia esta que representa a origem
do município de Jacarezinho. O objetivo desta atividade foi de possibilitar ao aluno
relacionar a história local à História do Brasil, no contexto histórico sociocultural e
econômico-político.
Nikitiuk (2004, p. 161) comenta esta possiblidade de relação
proporcionada pela ênfase à História Local na prática pedagógica de História:

[...] a história local se vista como eixo curricular demonstra ser o local
de construção e espaço identitário e facilitador de relações solidárias
num mundo planetário e global. Propicia olhar o ontem com os
valores de hoje e facilita tornar mais significativos os conteúdos
universalmente postos como saberes escolares. Se a história local
for vista como estratégia pedagógica propiciará maior inserção na
comunidade criando historicidades e localizando professores e
alunos dentro da História. Esta postura valoriza o processo de lutas e
conquistas sociais dos grupos de referência dos educandos e
comunidade, além de fazer perceber a existência de diferentes
visões sobre os acontecimentos cotidianos e fazer diversas leituras
de mundo.

É relevante mencionar que o contexto da Historia Local de uma região é


uma extensão da História do Brasil, muito embora com suas peculiaridades
socioculturais, pode-se mencionar no que se refere ao contexto sociopolítico, a
constituição é muito semelhante.
Tal condição pode ser percebida na dinâmica de análises de fotografias
do que restou das edificações do Instituto Brasileiro do Café – IBC no município de
Jacarezinho; a partir de uma abordagem mais ampla a respeito desta instituição, é
possível que os alunos compreendam a trajetória do café para o Brasil, sua
importância para a economia e como tais conjunturas contribuíram para o
município.
O Instituto Brasileiro do Café para o município de Jacarezinho é parte
integrante de sua história, de forma que os bairros localizados em torno do edifício
do IBC se desenvolveram e existem até hoje por conta dessa instituição, como Vila
Setti e Jardim São Luiz.
Em outra dinâmica realizada neste projeto com ênfase à História Oral, em
entrevista realizada junto a antigo funcionário administrativo que prestou serviços à
2
Dinâmicas voltadas para a compreensão histórica
instituição por três décadas, vindo de outra localidade e com o fim do IBC, logo após
sua aposentadoria permaneceu como morador do município, residindo no bairro da
Vila Setti. A entrevista foi realizada informalmente, por meio de colóquio, não sendo
gravada e documentada por meio de formulário simples, sendo consideradas
somente anotações, conforme apêndice 2.
Os alunos tiveram subsídios bastantes para compreender a importância do
café para o cenário socioeconômico do país a partir de um contexto micro, como o
município de Jacarezinho. Segundo o entrevistado, o bairro da Vila Setti era como
se fosse o centro da cidade, ali se desenvolveu um comercio dinâmico e ponto de
encontro de muitos cafeicultores.
Complementa o ex-servidor do IBC que uma das características da
população do Jardim São Luiz, bairro que se desenvolveu no perímetro da
instituição, é a de que a sua população é majoritariamente constituída de negros,
pela forte influência dos “trapicheiros” e “chapas” que trabalhavam na carga e
descarga de vagões de trens que chegavam ao Instituto. Esses trabalhadores
vinham de Paranaguá, juntamente nos trens e muitos deles fixaram residência no
município.
Destarte, evidente está que o Instituto Brasileiro do Café é essência da
História Local de Jacarezinho, embora para o contexto macro da historiografia essa
condição seja irrelevante, no entanto, para o município, a preservação da edificação
deste órgão é de crucial relevância, não somente no que se refere ao conjunto
arquitetônico, substancialmente degradado, mas sim, especialmente, pelo que ele
representou para o desenvolvimento do município.
Cardoso e Vainfas (2012, p. 176):

Esta perspectiva que explora as relações entre memória e história


possibilitou uma abertura para a aceitação do valor dos testemunhos
diretos ao neutralizar as tradicionais críticas e reconhecer que a
subjetividade, as distorções dos depoimentos e a falta de veracidade
a eles imputadas podem ser encaradas de uma nova maneira, não
como uma desqualificação, mas como uma fonte adicional para a
pesquisa.

Com a ênfase à alternativa de utilização de fontes históricas para a prática


pedagógica em sala de aula, o docente passa a corresponder ao que preconiza o
artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação conforme segue:
Artigo 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental
e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser
complementada, em cada sistema de ensino e em cada
estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
economia e dos educandos.

Outras abordagens utilizando imagens como a do Coliseu de Roma


associado a um filme que trata do monumento romano possibilitaram aos discentes
uma abordagem mais ampla da História da Antiguidade, principalmente ao que se
refere aos hábitos culturais inerentes à sociedade romana do período, contexto este
pouco tratado na metodologia tradicional.
A interdisciplinaridade esteve relacionada a outras dinâmicas, como, por
exemplo, no trabalho com a imagem da Torre Eiffel em Paris e o Jardim do Palácio
de Versalhes, cujos temas foram relacionados à matemática, geometria e artes. Em
relação à Torre Eiffel em que foram propostas aos alunos desenharem o monumento
e efetuarem o cálculo da altura do mesmo estimulando o conhecimento matemático
e geométrico na realização de cálculos; artes e meio ambiente em relação ao Jardim
do Palácio de Versalhes, foi proposto aos alunos o desenho simétrico desta obra e
fazer uma análise no contexto ambiental presente na imagem.
Lima e Azevedo (2013) colocam que o trabalho articulado de forma
transversal enseja com que dinâmicas desenvolvidas sejam complementos de
outras áreas. A transversalidade como questões sociais e outros temas são
direcionadas à construção da cidadania e pela democracia, como, por exemplo,
abordagens voltadas ao tratamento de questões ambientais.
De acordo com os PCN (1988, p. 30):

A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na


prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos
teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as
questões da vida real e de sua transformação (aprender na realidade
e da realidade). É uma forma de sistematizar esse trabalho e incluí-lo
explícita e estruturalmente na organização curricular, garantindo sua
continuidade e aprofundamento ao longo da escolaridade.

As dinâmicas aplicadas permitiram aos alunos um contato com


possibilidades ainda não exploradas nas aulas de História, alternativas que se
mostraram receptiva pelos alunos por conta da dinamicidade proporcionada pelas
práticas, principalmente as que exigiram visita in loco para a exploração da
historicidade presente nos elementos analisados.
Observou-se, igualmente, que os alunos se apresentaram mais motivados
a aprender História, bem como a fazer a História ao se ter contato com um universo
próximo repleto de representatividade histórica e que praticamente não conheciam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi constatado pela avaliação do projeto em tela que os objetivos


pretendidos com as dinâmicas foram atingidos, corroborando que o uso de materiais
alternativos, como imagens e outros meios iconográficos, constatando-se também
que a história local e oral podem ser meios eficientes para o processo de
ensino/aprendizagem em História, complementando o currículo geral da disciplina,
possibilitando aos alunos uma maior amplitude de conhecimento acerca da
dimensão presente na História. Outro ponto importante é que a historiografia pode
ser realizada a partir de situações e meio diversos, permitindo ao docente uma maior
possibilidade de ensino e ao aluno um maior conhecimento dos fatos históricos,
além de narrativas, personagens e posições ideológicas comumente presentes na
metodologia reprodutivista detectada no ensino de História tradicionalmente
praticado.
A conclusão exposta no parágrafo anterior foi constatada a partir do
aproveitamento das dinâmicas realizadas, da qual se observou a participação ativa
dos alunos, bem como a boa receptividade por parte deles, por não se tratar de
atividades diferenciadas em relação às realizadas a partir do livro didático.
Juntamente a este contexto, realizou-se abordagem junto aos alunos no sentido de
que expusessem a concepção das intervenções realizadas por meio de uma
redação, todos os alunos foram unânimes em considerar que a disciplina de história
tornou-se mais agradável.
A História é dinâmica em sua plenitude, os fatos históricos não encerram
em si mesmo, nem tampouco acabam limitados pela sua escrita, a história é
significativamente ampla. É imprescindível aos docentes buscarem o aprimoramento
necessário para poderem trabalhar com alternativas pedagógicas como o uso das
imagens e outras iconografias, bem como a história local e oral, elementos estes
marginalizados da metodologia tradicional do ensino de História. Além de propiciar
uma nova dinâmica ao conhecimento histórico, o docente tende a tornar a aula mais
atrativa aos alunos, estimulando o processo de ensino/aprendizagem.
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Acesso em: 24 nov. 2014
APÊNDICE 1 – Imagens utilizadas para a aplicação do projeto

Figura 1 – Assentamento da Água da Pedra


Fonte: Silva, s.d.

Figura 2: Coliseu de Roma


Fonte: a autora (2011)
Figura 3: Coliseu de Roma
Fonte: a autora (2011)

Figura 4 - Galpão do Instituto Brasileiro do Café em Jacarezinho-PR


Fonte: Silva; s.d
Figura 5 – Parte externa da Catedral Imaculada Conceição – Jacarezinho/Pr
Fonte: da autora (2014)

Figura 6 – Torre Eiffel


Fonte: a autora (2011)
Figura 7 – Jardim de Versalhes
Fonte: da autora (2011)
Apêndice 2: Entrevista com funcionário aposentado do Instituto Brasileiro do
Café

1. Qual o cargo que o Senhor ocupava na época em que trabalhou


no IBC?

2. Quantos anos trabalhou no IBC?

3. Quais suas recordações do movimento da safra de café nos


armazéns do IBC?

4. A cidade de alguma forma se beneficiou com a existência do


IBC no município?

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